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Oil Fantasy

Manifesto Oil Fantasy #06: Sinalizar


oportunidades
postado por Rafael Balbi em fevereiro 06, 2023

Quando falamos em desafio, pensamos logo em perigo, risco, problema e nas


tretas que vêm pela frente, mas se esquecem de um elemento que muitas vezes
justifica todo esforço e responde àquela pergunta clássica: por que vou me
enfiar nessa masmorra podre, em que tudo é feito para me matar? A
oportunidade da recompensa.

Vamos ver como a Oil Fantasy encara a recompensa?

Risco e recompensa

O tempo todo os jogadores estão medindo risco e recompensa, em suas


decisões, em um jogo de Oil Fantasy. Muito risco sem uma isca interessante e à
altura não costuma engajar os jogadores. Ninguém topa enfrentar um mar de
Oil Fantasy
vermes gigantes e venenosos para resgatar uma armadura de couro ordinária e
toda esgarçada.

É importante sinalizar, logo de cara, oportunidades


de recompensas à altura dos desafios.
Um exemplo sempre faz bem, vamos lá:

"A Ilha de Segrelles finalmente emergiu, depois de 1.000 anos submersa. Nela, o
Grande Templo de Varilux, com seus lendários tesouros e segredos arcanos, aguarda
aventureiros que se arrisquem a desbravar seus labirínticos corredores e o temível
guardião invisível, que só pode ser visto pelos moribundos".

Informar o básico do desafio e da recompensa vai fazer um chamado para a


aventura consistente, portanto não dê chance que estas informações não sejam
comunicadas. Fazem parte da proposta de jogo e, a partir disto, os jogadores
poderão investigar detalhes, tomar linhas de ação e desenvolver a ficção.
Lembre-se: faz parte da agência do jogador a capacidade de se informar.

PORRADA
Oil Fantasy

É importante, também, entender como o jogo se relaciona com cada tipo de


recompensa. Mas que tipos são esses?

Recompensas mecânicas

Quando o sistema de jogo prevê determinada recompensa com tratamento


mecânico, a isca se torna ainda mais forte. Usando o D&D clássico de exemplo,
tesouros são a maior isca para os desafios, pois cada moeda de ouro resgatada à
civilização gera 1 ponto de XP que serve para ganhar níveis, progredindo de
poder mecanicamente.

Ter essas recompensas calçadas mecanicamente nos desafios vitais de uma


aventura, ou no início de uma campanha, garante uma isca quase irresistível,
porque mesmo que o personagem não tenha muitos motivos para comprar o
desafio, o jogador tem. Se a proposta é um jogo de exploração, é apropriado
estipular ganhos mecânicos para descoberta de marcos, distância viajada,
regiões mapeadas, etc. Quanto mais objetiva e quantificada, melhor. É uma
garantia de que os jogadores toparão mais facilmente os desafios e proporão
outros nesse sentido.

As recompensas mecânicas são uma espécie de


MacGuffin encarnado no Oil Fantasy.
Isso não quer dizer que não se possa incluir nos desafios recompensas sem
tratamento mecânico.

Recompensas dinâmicas

Conforme os jogadores tentam superar os desafios e evolui o mundo de


aventuras, novos conflitos, desejos e oportunidades surgirão. Elas podem ou
não tracionar a aventura, então não conte com o ovo no cu da galinha.
Oil Fantasy

Lembra desse exemplo?

"Através de um presságio, vocês descobriram que há como conseguir redenção de suas


vidas bandidas. Caso consigam fazer o podre Tio Massaroca confessar todos os seus
pecados, vocês serão poupados do inferno, em troca de uma vida eterna apenas
monótona. O que vocês fazem?"

Não há qualquer garantia que todos os personagens buscarão a redenção se não


houver uma recompensa mecânica atrelada a isto. Alguns podem buscar o
hedonismo até a danação, por exemplo, e levar a aventura para outro rumo.
Outros podem simplesmente não querer fazer nada a respeito porque não
acredita em deuses, e não há problema nenhum nisso.

É importante não depender de uma recompensa sem


tratamento mecânico para que o jogo ande a partir
de um chamado pra uma aventura.
Por outro lado, as recompensas sem tratamento meânico aparecem de forma
mais orgânica e trazem muito engajamento, caso perseguidas, porque gozam de
mais contexto na ficção e são percebidas, normalmente, por iniciativa dos
próprios jogadores.

Já vivi uma campanha em que, depois de muito caçar tesouros em incursões das
mais diversas, tendo o grupo já estabelecido seus domínios, ele precisou
encontrar velhos conhecidos em uma missão diplomática para conseguir que
certo povo goblin se aliasse em uma guerra contra um mal maior, que ameaçava
a cidade controlada pelos jogadores.

A recompensa - aliança com os goblins - não tem um tratamento mecânico


previsto, mas é uma isca muito boa para a perigosa missão diplomática, e o
melhor: é uma meta estabelecida pelos próprios jogadores.
Atuação do mestre
Oil Fantasy

É importane que o mestre fique atento a essas oportunidades que surgem


espontaneamente na ficção e as utilize como isca para elaborar novos desafios
paralelos, que podem ser perseguidos a qualquer momento pelos jogadores.

Além disso, em Oil Fantasy, buscamos mecanizar as recompensas relativas a


conquistas e relativas ao foco no desafio. Tratamos assim, de forma mecânica,
esta parte já mais objetiva da relação lúdica em vez de encapsular o
desenvolvimento narrativo espontâneo dos personagens, que fica livre e
emergente.

Outra coisa importante: as duas categorias não são estanques. O próprio ouro
em D&D clássico, no exemplo dado, cumpre o papel de uma recompensa
espontânea quando os personagens estiverem precisando de dinheiro, por
exemplo. As coisas se entrelaçam, mas podemos sempre usar esta lente para
entender melhor a oportunidade de ganho na construção do desafio.

Em seguida, vamos analisar como apimentar o jogo com perigos e


oportunidades paralelos.

Ícaro Agostino 6 de fevereiro de 2023 às 09:06

Muito elucidativo, isso é algo que já tinha impactado meu modo de abordar o jogo como
narrador desde que o assunto foi apresentado no café. É especialmente interessante com
esse tópico está conectado com a agência do jogador, precisamos propor um desafio
Oil Fantasy
atrativo quando sentamos na cadeira de mestre e evitar empurrar aventuras épicas
motivadas por puro altruísmo barato.

Rafael Balbi 6 de fevereiro de 2023 às 11:13

Épico não é algo que se propõe, é algo que eventualmente acontece, dizaí
hahahahah

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Dehumanizer 12 de fevereiro de 2023 às 14:52

Oi Balbi, estava refletindo sobre este artigo. Será que "recompensa ficcional" não seria
um melhor nome que "recompensa dinâmica"? "Recompensa mecânica" é um termo
mais óbvio, é objetivo, é um bônus ou um movimento especial. Já "dinâmica" é um
termo que me lembra energia e transformação. Acho que não é bem isso a idéia que
você estava passando. Me passou mais uma noção de "soft power", ou um "poder de
influência" qualitativo na narrative. Você deu o exemplo da aliança; outros seriam
informação, status ou autoridade social, e imóveis em jogo. Fiquei tentando achar um
advérbio que se encaixasse melhor para este conceito, mas acho que também não fui
muito feliz. O melhor que consegui foi "recompensa ficcional"... meio blá, não imprime
o potencial. É uma recompensa que ajuda o jogador a influenciar a narrativa ao invés do
resultado de rolagens, né?

Rafael Balbi 23 de fevereiro de 2023 às 07:10

Boa! Vc tem razão. Acho que não precisa nem de um nome. Vou colocar para
"recompensa sem tratamento mecânico"

RESPONDER

Xikowisk 5 de julho de 2023 às 13:01

Eu não gosto do conceito de tesouro=experiência. Acho errado passar para os jogadores


a falsa ideia de evolução pelo acúmulo de riqueza, pois reflete apenas propaganda
ideológica sem lastro com a materialismo histórico-dialético.

Rafael Balbi 14 de julho de 2023 às 18:05

Mané propaganda ideológica.

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