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Oil Fantasy

Manifesto Oil Fantasy #03 - Os papéis dos


participantes
postado por Rafael Balbi em fevereiro 02, 2023

O mestre não quer matar os personagens dos jogadores, mas ele interpreta
monstros que querem, e vai dar o seu pior nessa empreitada. Vamos conhecer
quais os papéis do mestre e dos jogadores, em Oil Fantasy?
Você já teve um mestre tão, mas tão controlador, que temia a qualquer
momento que um raio caísse, do nada, na sua cabeça, porque você desafiou seu
NPC queridinho?

Ou já sentiu que suas decisões não importavam porque qualquer ação


significativa que não agradasse os planos do mestre para a sessão eram um tiro
n'água?
Oil Fantasy

Relação lúdica saudável

Quando você decide atacar os exércitos azuis em desvantagem, na proporção


de 2 contra 3 no WAR, você sabe muito bem o risco que está correndo. Se você
topou o risco, é porque provavelmente calculou o ganho possível e pensou: é
bem capaz deu me dar mal, mas se o destino sorrir para mim, ficarei muito
próximo de ganhar o jogo.

Só é possível fruir de um jogo, em sua plenitude,


com o conhecimento de seu funcionamento. Jogar
na ignorância significa tomar decisões inconscientes,
levando a interações sem significado.
Talvez RPGs - Roleplaying Games (ou JIPs - Jogos de Interpretação de Papéis,
para os Policarpos de plantão), não sejam somente sobre interpretar papéis no
faz de conta, mas também fora dele.

Em jogos, de forma geral, entender o que cabe a cada jogador é fundamental.


Quando todos os jogadores têm as mesmas atribuições, como numa partida de
WAR, seus papéis são simétricos. Quando há diferenças, chamamos de papéis
assimétricos, como no futebol.

O problema do D&D

O RPG nasceu como um jogo de papéis bem assimétricos: mestre e demais


jogadores. Desenhar bem o papel de cada um destes participantes é importante
por vários motivos. Um deles é que todos os participantes entendam o
funcionamento do jogo que estão jogando, porque isso permite decisões mais
conscientes dos riscos e impactos assumidos, levando a interações lúdicas mais
saudáveis, cheias de significado.
O que acontece no D&D, do clássico aos dias de hoje, é que o papel do mestre
Oil Fantasy
é ao mesmo tempo muito amplo, lacunar e mal desenhado. O normal é assumir
que os jogadores tomam conta dos seus personagens e todo o resto cabe a ele.
Todo o resto o que, exatamente?

Outros jogos ao longo das décadas atacaram esse problema, ora criando
limitações mecânicas à atuação do mestre - como no Apocalypse World, no
qual apenas os jogadores jogam dados, ora eliminando completamente seu
papel. Porém, algo se perde nesse processo.

Nossa proposta

Não há como medir o gigantesco volume de dicas de mestre que são produzidas
todos os dias nas comunidades de RPG, de todas as naturezas. Tais esforços
tentam, em maior ou menor grau, entender como evitar as relações lúdicas
pouco sadias que a figura do mestre provoca em jogos que não cuidaram de seu
papel mecanicamente.

Algumas delas são pura perda de tempo e reforçam os problemas, outras


realmente funcionam, mas não é incomum vermos a mesma pessoa dando dicas
contraditórias entre si ou que parecem pouco testadas fora do âmbito pessoal
de seu próprio grupo. Você ficaria surpreso com a quantidade de produtores de
conteúdo e até mesmo game designers que não jogam, não experimentam nem
testam nada fora de sua zona de conforto.

A proposta do Oil Fantasy é de estilo, e fica em um lugar entre o game design e


as práticas de mesa, porque tentamos estruturar uma visão do jogo clássico, a
partir das mesmas críticas que levaram jogos mais modernos a bloquear ou
eliminar o mestre, mas dando outras soluções, apontando outros caminhos,
sistematizando práticas de mesa, trabalhando eles em uma proposta bem
amarrada, para que o jogo se imprima de baixo para cima, de cada grupo até os
produtos do game design, de maneira artesanal.
Oil Fantasy
E para começar, vamos delimitar aqui o papel de cada partipante, tendo em
mente o que abordamos anteriormente: o jogo Oil Fantasy é focado na
construção e superação de desafios.

O mestre (DM) atua como desafiante.


Cabe a ele, ao propor o desafio:

Controlar o mundo de aventuras


Controlar os personagens não-jogadores (NPCs)
Fazer a interface dos jogadores com o mundo através de descrições
Gerir o uso e negociação das ferramentas do jogo (arbitragem)

Os jogadores atuam como desafiados.


Cabe a cada jogador, ao tentar superar desafios:

Acionar as descrições do DM mediante perguntas relativas ao espaço


sensorial de seus personagens no mundo de aventuras
Negociar com o DM a aplicação das regras do jogo
Decidir as ações de seus personagens
Gerir os riscos aos quais seus personagens se expõem

Desafiar é o que delineia os poderes do DM; peitar - ou não - o desafio, com


seus personagens, é o que desenha a atuação dos jogadores. Haverá sempre
espaços comuns a ambos no caos do jogo, mas isso fica mais pra frente.

Definir bem os papéis permite que cada lado dessa relação assimétrica se
aprofunde em suas atividades e traga perspectivas exclusivas que se
encontrarão no diálogo criativo, onde a magia acontece.

Por enquanto, é legal entender que o DM, enquanto perseguir algumas


diretrizes objetivas do que é um bom desafio, terá total carta branca pra atuar
em seu papel, dando seu pior para desafiar os jogadores que, por sua vez,
Oil Fantasy
devem fazer o seu melhor para domarem os riscos e superar os perigos
propostos.

Ao passo que vai parecer que vamos moldar o DM em seu papel clásssico - e
vamos mesmo - mas você vai ver que é libertador saber quando o exercício de
sua arbitrariedade é necessária e saudável ao jogo, e quando não é. Isso é
absolver o mestre e fazê-lo funcionar a favor de uma relação lúdica sudável,
entregando algo que não consegue com jogos que o limitam demais.

A pergunta que fica é: o que é um bom desafio, para Oil Fantasy?

Matheus Piquera, "o Bardo" 2 de fevereiro de 2023 às 20:25

Animado com o progresso do blog e feliz de ver as ideias que cultivamos em mesa
moldarem um playstyle tão recompensador boraaa

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Rafael Balbi 3 de fevereiro de 2023 às 01:44

A comunidade vinha empolgada, pedindo algum material pra ler sobre oil fantasy.
Espero conseguir transmitir em palavras tantas ideias legais que surgiram durante os
testes com vcs.
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Marcelão 14 de fevereiro de 2023 às 05:26

Balbi, achei similar ao descrito naquele livro Arbiter of Worlds, do Macri. Foi inspirado?
Rafael Balbi 20 de fevereiro de 2023 às 07:20
Oil Fantasy
Cara, não conheço esse livro nem o autor, mas se você achou parecido vou dar
uma olhada!

Rafael Balbi 5 de março de 2023 às 10:27

Opa Marcelão, agora li o Arbiter of Worlds. Eu conhecia o trabalho do autor


no ACK, mas nunca tinha lido nada dele fora esse core book.

Sobre o livro em si, há pontos em que nos aproximamos sim, mas em outros
não. O jeito dele ver regras, rulings e o papel do mestre são bem próximas às
minhas, principalmente. Ele tem um background jurídico que nem eu, achei
curiosas algumas leituras.

No aspecto diversão, concordo demais com ele, mas desenhamos o papel do


mestre de forma distinta. A provocação aparentemente foi a mesma (talvez o
Raggi) mas as soluções diferentes.

Um abraço e obrigado pela indicação! =)

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DM Sanguinius 21 de maio de 2023 às 18:34

Interessante a discussão levantada de papéis. Estava discutindo com um xará em um


grupo que defendia que o mestre deveria podar a agência dos jogadores em prol de
construir uma boa narrativa. Questionei: narrativa boa pra quem?

Biergotten 22 de maio de 2023 às 05:44

Exatamente, cara! Se o jogo é de contar histórias e não tem um sistema que


gamifique as vontades criativas mas, ao contrário, coloca muitos poderes na
mão do mestre, acaba que vira um jogo de agradar as vontades criativas dele em
chegar à narrativa idealizada, que não necessariamente a ideal para todos. E
agora, além da responsabilidade de guiar uma construção de narrativa guiada
com seus jogadores, agora o mestre tem a função de entreter jogadores que
dificilmente terão agência para engajarem com o jogo de forma satisfatória.

Muito louco né? rs

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Xikowisk 5 de julho de 2023 às 12:38


Quando vi que o Quiral ia bater papo sobre um blogue que não tinha assinado,
Oil Fantasy
interrompi a reprodução do vídeo e vim aqui. Na qualidade de 'Policarpo de Plantão',
me vejo obrigado a perguntar, por que não Fantasia Oleosa? 😁
Depois comento mais. Até.

Rafael Balbi 14 de julho de 2023 às 18:05

Porque não somos Policarpos de plantão. Um abraço!

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