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Docência e Mediação Pedagógica On- line

Aula 02
As gerações de materiais didáticos em EaD

Objetivos Específicos
• Identificar e listar as diferentes gerações de materiais didáticos em EaD e sua
importância.

Temas
Introdução
1 Primeira geração: ensino por correspondência
2 Segunda geração: rádio e televisão
3 Terceira geração: abordagem sistêmica
4 Quarta geração: teleconferência
5 Quinta geração: computador e internet
Considerações finais
Referências

Professora
Wanderlucy A. Alves Corrêa Czeszak
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Introdução
Para estudarmos as diferentes gerações de materiais didáticos em EaD, é importante
que façamos uma rápida retrospectiva da história da EaD, comparando sua evolução com o
desenvolvimento das tecnologias. Talvez muitos de vocês se surpreendam em perceber que
a EaD já existe há bastante tempo: há relatos de primeiros indícios dessa modalidade já no
século XIX.

Para que possamos visualizar as gerações de materiais didáticos de forma mais organizada,
vamos adotar a classificação de Moore & Kearsley (2007), que aponta como sendo cinco as
gerações de EaD.

1 Primeira geração: ensino por correspondência


Desde o seu surgimento, a EaD já se preocupava em oferecer possibilidades de formação,
tanto profissional quanto cultural, para um grande número de pessoas que não tinha condições
de frequentar presencialmente as escolas por diversas razões, como distância geográfica,
incapacidade física, falta de disponibilidade de tempo, princípios religiosos ou dificuldades
financeiras, entre outras razões.

Ainda que haja outras formas de classificar as diferentes gerações da EaD, optamos por
adotar a classificação de Moore & Kearsley (2007), por considerá-la mais didática e detalhada:

Tabela 1 – Gerações de EaD

Materiais
Tecnologias utilizadas Formas de Comunicação
Pedagógicos
1ª geração Guias de estudo e
Imprensa e Correios Correios e correspondência
1880 auto-avaliação
Programas
teletransmitidos e
Rádio, TV e outros recursos
2ª geração pacotes didáticos
Difusão de rádio e TV didáticos, como: caderno
1921 entregues ao aluno
didático, apostilas, fita K7
por correio ou
pessoalmente
Encontros presenciais,
3ª geração
Universidades Abertas Apostilas integração de áudio, vídeo e
1970
correspondência
Teleconferências Recepção de lições
4ª geração
por áudio, vídeo e Apostilas veiculadas por rádio ou
1980
computador televisão e audioconferência
Conteúdos
5ª geração Aulas virtuais baseadas no
disponibilizados Síncrona e assíncrona
2000 computador e na internet
em AVAs ou rede

Fonte: Moore & Kearsley (2007).

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Alguns pesquisadores afirmam que desde a primeira metade do século XVIII há indícios
da oferta de cursos de formação a distância nos Estados Unidos. E há ainda alguns estudos
que apontam que já havia uma rede de comunicação a distância desde a antiguidade, quando
escritos de Platão eram enviados a seus alunos sob a forma de correspondência, que eram as
chamadas “Cartas Filosóficas”. Evidentemente, os propósitos eram bastante distintos dos que
existem hoje, no entanto, tais apontamentos deixam claro que a educação a distância é uma
modalidade muito mais antiga do que costumamos acreditar.

1.1 EaD por correspondência tradicional


Na segunda metade do século XIX surgiu, de fato, a EaD tradicional, em decorrência
da necessidade de uma formação sistemática que pudesse ser combinada ao trabalho
remunerado, possibilitando a associação entre a produção, o treinamento e a educação.

Assim, com a criação de uma escola de línguas para o ensino por correspondência em
Berlim, na Alemanha, surgiu em 1856 o primeiro curso a distância de forma estruturada. E no
final do século, a EaD era utilizada para o ensino universitário e pré-universitário.

O desenvolvimento de tecnologias nas áreas de transporte e meios de comunicação,


associado à Revolução Industrial, foi o principal fator que impulsionou a EaD nesse período.

1.2 EaD por correspondência no Brasil


A educação por correspondência no Brasil começou a se desenvolver no início do século
passado e, em meados da década de 1930, tendo como principais nomes o Instituto Monitor
e o Instituto Universal Brasileiro, era grande o número de pessoas que se formavam por
meio desses cursos a distância. Até meados da década de 1980 ainda havia grande procura
desta modalidade, principalmente por cursos de eletrônica e rádio, em decorrência da
popularização de eletroeletrônicos nesse período no Brasil. Na época, era comum o conserto
de aparelhos eletrônicos, diferente do que acontece na atualidade, que os aparelhos vão
sendo substituídos conforme param de funcionar, tornando-se sucatas.

Naquela mesma época, os cursos por correspondência também eram adotados para
cursos preparatórios e formação de oficiais pelas Forças Armadas, Marinha e Exército.

Na década de 1970 começou a haver também a oferta de cursos técnicos a distância nas
áreas jurídica, de contabilidade e de finanças.

1.3 Quem eram os alunos


Os cursos por correspondências eram procurados principalmente por trabalhadores de
baixa qualificação, que tinham necessidade de formação rápida e que habitavam localidades

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distantes do grandes centros, onde não havia oferta de cursos profissionalizantes. Estes
cursos eram vistos como uma forma de desenvolvimento de habilidades que proporcionavam
oportunidades de melhores empregos.

1.4 Como funcionava


Os interessados nesses cursos enviavam cartas às escolas que ofereciam os cursos. A
partir deste primeiro contato, uma pasta era criada para o aluno, que receberia um informativo
com seu número, previsão de datas em que as lições e as mensalidades deveriam ser enviadas,
e posterior envio dos exames.

Agora que você viu como se deu a primeira geração da EaD, acesse o link
disponível em nossa Midiateca e veja alguns exemplos e anúncios de época
veiculados em jornais e revistas.

2 Segunda geração: rádio e televisão


Com o advento do rádio e da televisão, inauguram-se as tecnologias da informação e
comunicação na educação por transmissão massiva, proporcionando novas concepções
educacionais. A partir de então, milhares de pessoas podiam ter acesso simultâneo aos
conteúdos veiculados pelas ondas do rádio ou antenas de televisão.

A perspectiva de um alcance tão amplo e, com o advento da televisão, com a possibilidade


de integração dos meios audiovisuais, teve início uma verdadeira revolução na forma de
comunicar-se, exigindo-se o desenvolvimento de novos tipos de linguagem.

2.1 O rádio
O rádio, recurso que utiliza emissões de ondas eletromagnéticas para transmissão a
distância de mensagens sonoras a numerosas audiências, é resultado do trabalho de vários
pesquisadores ao longo do tempo e teve sua primeira transmissão, comprovada e eficiente,
nos Estados Unidos, no início do século passado, emitindo trechos da Bíblia.

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2.2 O rádio no Brasil


O rádio surgiu no Brasil como proposta de um meio educativo, na década de 1920, a partir
da doação de Roquette-Pinto de uma rádio no Rio de Janeiro para o MEC, com a preocupação
de desenvolver projetos culturais que visassem ao progresso do país.

Acreditava-se que o rádio poderia resolver os problemas da educação no país. Com


esse intuito Anísio Teixeira, personagem central da história da educação no Brasil entre as
décadas de 1920 e 1930, encabeçou o desenvolvimento de uma didática especial para o
ensino radiofônico. Começou a ser possível, inclusive, o contato entre emissora e ouvinte.

Folhetos e esquemas das aulas radiofônicas eram enviados por correio para as pessoas
inscritas. Os alunos mantinham contato com as emissoras para devolutivas por carta, telefone
ou até visitas presenciais.

Na década de 1940, Sesc e Senac organizavam locais no interior paulista para recepcionar
alunos que ouviam as aulas em grupos, e debates eram promovidos e orientados por
professores.

Ainda que a intenção inicial fosse a cultura de massa, os primeiros cursos eram de
literatura francesa e italiana e lições de italiano, português e francês, refletindo a cultura
elitista da época. Houve também no mesmo período iniciativas como o programa Universidade
no Ar, que oferecia orientações metodológicas para professores do ensino médio.

As características do meio radiofônico como a linguagem oral, a mobilidade, o imediatismo,


a instantaneidade e a fácil penetração foram tornando o rádio cada vez mais difundido e
levaram ao aparecimento de inúmeras iniciativas, revelando o seu papel fundamental para o
processo de alfabetização.

2.3 A televisão
A televisão foi concebida como um veículo de entretenimento e educação. Entretanto, em
boa parte das vezes, por conta de sua grade de programação que visa o marketing e o consumo
desenfreado dos mais diversos produtos, ela caminhe na contramão da proposta educativa.

A educação por meio da televisão pode ocorrer, muitas vezes, de maneira informal, por
meio de programas considerados educativos, havendo uma grande variedade de formatos,
de nível e grau de teor educacional.

O Telecurso 2º Grau, no final da década de 1970, foi pioneiro no caráter de ensino


supletivo e a distância no Brasil. Ainda que estruturado para ser compreendido por qualquer
interessado, seu público-alvo eram pessoas acima de 21 anos que pretendiam obter o
certificado do ensino médio. Seu conteúdo era semanalmente disponiblizado em forma de

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fascículos nas bancas. Esta modalidade chegou a ser disponibilizada inclusive por rádio e
pode-se considerar que este tenha sido o primeiro passo para uma abordagem sistêmica.

3 Terceira geração: abordagem sistêmica


A partir da segunda metade do século passado, a educação a distância começou a ser
pensada como uma forma de ensino que deveria ter uma estrutura mais organizada, com
uma abordagem sistêmica, integrada, semelhante (ou mais sofisticada) àquela do ensino
oferecido presencialmente.

O melhor exemplo que podemos considerar quando falamos em sistema é o corpo


humano, no qual todas as partes inter-relacionam-se, em uma relação de interdependência
para o desempenho satisfatório das funções.

3.1 Importância
A importância de uma abordagem sistêmica na educação a distância deve-se ao fato de
que, nesta modalidade, diferentemente da educação presencial, a ausência de contato face a
face pode implicar dificuldades de comunicação, que devem ser evitadas por meio da adoção
de procedimentos que denotem uma estrutura organizada e bem definida, envolvendo
a análise de audiência, o estabelecimento de metas, a seleção, o desenvolvimento e a
organização de materiais, metodologias e estratégias de avaliação.

Dessa forma, as diferentes etapas para a organização de um curso devem envolver


profissionais de diversas áreas, levando-se em conta as necessidades dos alunos, o fato
de que os encontros presenciais são esporádicos ou inexistentes e os conteúdos devem
ser cuidosamente elaborados e disponibilizados impressos ou virtualmente conforme o
cronograma.

Tabela 2 – Modelo Sistêmico para EaD

Necessidades dos alunos, especialistas, filosofia da instituição,


Tipo de Curso estratégia pedagógica.
Design instrucional, planejamento de curso, produção de materiais,
Design estratégias de avaliação.
Impresso, vídeo/áudio, televisão/rádio, software, videoconferência,
Implantação redes de computadores.

Interações Professores, tutores, administração, alunos

Ambiente de Trabalho, residência, sala de aula, centro de aprendizagem, laboratório


aprendizagem de informática.

Fonte: Moore & Kearsley (2007).

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4 Quarta geração: teleconferência


A teleconferência, que começou a ser adotada na década de 1970, utiliza o mesmo
sistema televisivo que conhecemos, com transmissão de imagens e sons, no entanto, sua
aplicação tem fins didáticos. Podem ser utilizados vários pontos geradores de aula atingindo
um número infinito de pontos receptores.

4.1 Dinâmica
Em tempo real, os alunos assistem às aulas em polos nos quais são atendidos por tutores
que, além de responder a dúvidas gerais, encaminham questões aos professores e palestrantes.
Dependendo da tecnologia utilizada pelo polo, essas questões podem ser respondidas em
tempo real ou posteriormente. Nesses polos são realizadas também a distribuição dos
materiais impressos do curso em forma de apostilas e as avaliações presenciais.

4.2 Vantagens
Uma das grandes vantagens da teleconferência é a possibilidade da fala de um único
professor ou de qualquer expert em determinado assunto poder alcançar um número
indeterminado de alunos. Outra grande vantagem é a possibilidade dessas aulas serem
assistidas posteriormente, já que elas permanecem arquivadas, formando um importante
acervo de consulta para os alunos.

Para ampliar o que vimos até aqui sobre teleconferência, veja o vídeo
disponível da Fundação Vanzolini em nossa midiateca do GTE – Gestão de
Tecnologias Aplicadas à Educação. Ele nos leva a refletir sobre o fato de recursos
como esse recriar, a distância, as condições de um encontro presencial,
apoiando a abordagem de conteúdos e auxiliando no processo de ensino-
aprendizagem.

5 Quinta geração: computador e internet


Com o advento do uso computador e da internet na educação a partir do início do século
XXI, ampliaram-se de maneira nunca vista as possibilidades de interação, podendo trazer
benefícios inimagináveis para o processo de ensino-aprendizagem.

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5.1 Atividades
Por meio de atividades síncronas e assíncronas, o ensino a distância pode assumir diversas
formas, nas mais variadas áreas de conhecimento. Os recursos disponíveis podem simular
a realidade, possibilitando ao aluno a prática da resolução de problemas de toda ordem.
Além disso, o fácil acesso a todo o conteúdo disponível da internet favorece a pesquisa e o
contato entre distintas realidades. Podem ser promovidos debates com profissionais, experts,
pesquisadores e outros alunos das mais remotas localidades. E, com a recente facilidade de
acesso a programas de tradução, mesmo o contato com falantes de outros idiomas tornou-se
possível.

5.2 Materiais
Como há diversos recursos tecnológicos disponíveis na internet, podem ser adotados
como materiais didáticos textos preparados por conteudistas e disponibilizados nos ambientes
virtuais de aprendizagem, vídeos, podcasts, links para artigos e outros conteúdos da internet
selecionados para cada aula, entre outros. O que se tem hoje é uma infinidade de recursos
que podem ser combinados em uma convergência de materiais de modo que possam ser
criados os mais diversos tipos de curso a distância.

Considerações finais
Vimos que as diferentes gerações da educação a distância apresentam diversos materiais
didáticos, cujo uso tem sido adotado de forma combinada.

É importante ressaltar que uma geração não substitui ou anula a anterior. Portanto,
metodologias podem ser adotadas, combinando recursos de distintas gerações de EaD, bem
como combinando distintos materiais didáticos.

Saber identificar as diferentes gerações de materiais didáticos é essencial para que


possamos estruturar e organizar o planejamento de um curso de EaD, bem como tomar
decisões a respeito de quais recursos devemos selecionar para melhor atender determinados
requisitos para o desenvolvimento de um plano de ensino.

Referências
ANDRELO, R. et al. O rádio na educação a distância. 2009. Trabalho apresentado à 1ª Jornada
Científica de Comunicação da Universidade Sagrado Coração (USC), Bauru, 2009. Disponível em:
<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed677_o_radio_na_educacao_a_
distancia>. Acesso em: 31 de ago. 2013.

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BLOIS, M. M. Educação a distância via rádio e TV educativas: questionamentos e inquietações


Em Aberto. Brasília, ano 16, no. 70, abr/jun 1996. Disponível em: < http://www.rbep.inep.gov.
br/index.php/emaberto/article/viewFile/1051/953 Acesso em 31 de out. 2013.

HOLMBERG, B. The evolution of the character and practice of distance education. Open
Learning, London, v. 10, n. 2, pp. 47-53, junho 1995(b). Disponível em: <http://www.uni-
oldenburg.de/zef/cde/found/holmbg95.htm> Acesso em: 15 out. 2006.

MOORE, M.; KEARSLEY, G. A educação a distância: uma visão integrada. Trad. Roberto Galman.
São Paulo: Cengage Learning, 2007.

NEVADO, R. A. et al. “Metarreflexão e a construção da (trans)formação permanente: estudo no


âmbito de um curso de pedagogia a distância”. In: VALENTE, J.A.; BUSTAMANTE, S.B.V. Educação
a distância: prática e formação do professor reflexivo. São Paulo: Avercamp, 2009.

RABELLO, C. R. L.; PEIXOTO, M. A. P. Educação a distância: do ensino por correspondência


à aprendizagem virtual – garantia de sucesso? Revista EducaOnline, Rio de Janeiro,
Vol. 5, nº 1, jan./abr. de 2011. Disponível em: <http://www.latec.ufrj.br/revistas/index.
php?journal=educaonline&page=article&op=view&path%5B%5D=193&path%5B%5D=301>
Acesso em: 30 out. 2013.

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