Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Uma das coisas que mais poderíamos lamentar, ainda hoje, é a ausência de um guia de falácias orientado para
o desmascaramento do neo-ateísmo.Digo isso porque já vi vários sites de ateus e neo-ateus com guias de
falácias. Praticamente todo site desse tipo tem um.
E esse ponto, na guerra em rede entre teísta e neo-ateus, é um atraso gigantesco. Basicamente, todo neo-ateu
que entra em sites ateus para criar “conhecimento anti-teísta” acaba se armando com alguma informação,
mesmo que por cima, de falácias.
Principalmente agora, com autores neo-ateus e seus seguidores, que são um cardápio cheio para esse tipo de
estudo.
Podemos não gostar do nível intelectual dos neo-ateus, mas temos que admitir uma coisa: eles são rápidos.
Cada vez que terminamos de refutar uma bobagem, vem outras quatro em seguida.
E dessa rapidez em divulgar bobagens, podemos tirar proveito fazendo do limão uma limonada: ao expô-las,
mostramos a grande coerência interna que esses militantes possuem.
Por exemplo, poderíamos fazer um verbete sobre o Falso Dilema da seguinte maneira:
Falso Dilema
Essa falácia ocorre quando o interlocutor apresenta um argumento baseado em uma consequência falsa ou
escolha forçada; se as opções não forem mutuamente excludentes, ou se ainda for possível uma terceira saída
para o problema, dizemos que o interlocutor incorreu nesse erro lógico.
Quando seu filho está com pneumonia, você pode levá-lo ao médico ou pode ficar em casa rezando. (Carl
Sagan)
Sagan deixa claro que OU levamos a criança ao médico OU ficamos em casa rezando.
Mas peraí: quem foi que disse que eu não posso levar o meu filho ao médico E rezar também?
Aliás, essa deve ser a atitude mais comum entre os pais religiosos. Fazer o tratamento médico e, ao mesmo
tempo, principalmente em casos graves, fazer preces a Deus para que tudo ocorra da melhor maneira. Não há
nada de “ou” e “ou” como tentou impingir Sagan. Não se trata de um dilema, pois há mais uma saída que não
foi posta na mesa na frase original.
projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/2012/08/27/porque-deveriamos-usar-ateus-para-estudar-e-criar-um-gu… 1/3
08/01/14 Porque deveríamos usar ateus para estudar e criar um guia de falácias | Projeto Quebrando o Encanto do Neo-ateísmo
Talvez o ateu diga que se o sujeito “fosse religioso mesmo, não precisaria ir até o médico. Ficaria rezando”.
Mas aí teríamos outra falácia: falácia do espantalho. Segundo os ensinamentos cristãos, Deus não é um call-
center (ver aqui). Jesus deixou claro que não devemos ficar tentando Deus. Se Deus nos permite um
conhecimento “X” seja usado para cura, não é correto da nossa parte ficar apontando e dizendo “Agora, Deus,
você vai fazer isso, agora você vai fazer aquilo e vou jogar os restantes dos conhecimentos fora”. Essa é uma
atitude completamente errada segundo a ortodoxia cristã.
A escolha entre “A” e “B”, nesse caso, é forçada. Por isso, Carl Sagan comete a falácia do falso dilema.
Outra falácia comum nos meios ateus que pode se encaixar aqui:
Claro que tal observação não tem o mínimo de sentido. Da forma como foi colocada a frase, pode-se interpretar
que há alguma divergência entre optar por trabalhar e fazer oração. Mas a pessoa pode trabalhar E rezar, sem
prejuízo de uma atividade para outra.
No mundo de hoje, uma pessoa trabalha, em média, umas 8h por dia. Rezar é uma atividade que só leva
alguns minutos e que não ocupa o horário que deve ser dedicado a um trabalho, dentro dos limites à saúde
humana. E mesmo quando a pessoa vai a um culto ou missa, por exemplo, que são mais longos, normalmente
o fazem em final de semanas ou em períodos em que estão fora do ambiente profissional. O ser humano
também precisa de lazer, descanso, aprofundamento de auto-consciência, etc, que pode ser conseguido
através da oração. O trabalho só serve conseguirmos um fim utilitário e prático determinado (como dinheiro), ao
contrário da oração, que serve para estabelecer, principalmente, a relação do indivíduo com Deus.
Esse slogan poderia ser facilmente parodiado como “Duas mãos trabalhando fazem mais do que mil lendo o
livro do Richard Dawkins” ou “Duas mãos trabalhando fazem mais do que mil pregando o neo-ateísmo na
internet”.
Enfim, a segunda frase não é possível, pois o trabalho e a oração tratam-se de atividades complementares na
vida de uma pessoa e de planos e objetivos diferentes. Ou será que vamos ter que construir campos de
concentração para as pessoas trabalharem o tempo todo em que estiverem conscientes, impedindo-as de
rezar?
***
Com esse tipo de verbete, a pessoa não só aprende os erros dos slogans neo-ateus como também aprende os
tipos de falácias, conhecimento que o habilitaria a não cair no jogo neo-ateu em outros casos não mencionados,
mas que seguissem essa mesma estrutura errada de raciocínio.
Talvez alguém diga que “nós temos que ir além da análise de falácias e erísticas”. Correto.
projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/2012/08/27/porque-deveriamos-usar-ateus-para-estudar-e-criar-um-gu… 2/3
08/01/14 Porque deveríamos usar ateus para estudar e criar um guia de falácias | Projeto Quebrando o Encanto do Neo-ateísmo
Mas também não podemos ir ALÉM do estágio inicial para pessoas que ainda não o dominam completamente.
Primeiro é preciso clarificar as coisas em sua base.
Hoje, na guerra em rede, os inimigos do teísmo não são grupos de filósofos altamente especializados. Nada
disso.
O perfil do debatedor médio é de um homem entre 15 e 23 anos, que escreve errado, nunca leu nada de
filosofia séria e utiliza, na maior parte do debate, slogans e frases de efeito.
É contra esse tipo de pessoa que temos que armar, primeiro, os debatedores teístas, até que esse tipo de
conversa finalmente esteja neutralizada por completo.
E a construção de um Guia de Falácias amplo, completo e direto é um dos primeiros passos que deveriam ser
dados nessa direção.
projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/2012/08/27/porque-deveriamos-usar-ateus-para-estudar-e-criar-um-gu… 3/3