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Curso – Saúde Coletiva

Ayres, J.R.C.M. O Conceito de Vulnerabilidade e


as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios

Aula 03

Prof. Ms. Mathias Glens


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Introdução
O conceito de “vulnerabilidade” em saúde surgiu na década de 1990,
ligado ao contexto do enfrentamento ao HIV/Aids.

Apesar desse tempo, o conceito ainda é muito desconhecido da


maioria dos profissionais da saúde.

No campo da Aids, tal conceito mostrou ser capaz de produzir um


conhecimento e práticas verdadeiramente interdisciplinares.

Desse modo, a vulnerabilidade pode ser capaz de gerar uma


renovação em todo a área da saúde.
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O surgimento do conceito
Isso porque o conceito de vulnerabilidade permite uma percepção
ampliada de que as doenças respondem a determinantes que vão
além da ação patogênica dos vírus, bactérias, etc.

Originário do Direito, o termo vulnerabilidade designa fragilizados


jurídica ou politicamente na garantia de seus direitos fundamentais.

Nos início dos anos 90, ocorre a apropriação desse conceito para se
pensar os rumos da epidemia de Aids no mundo.

Nesse contexto, o conceito permitiu a superação do pensamento nos


“grupos de risco” para uma ideia de vulnerabilidade social.
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O surgimento do conceito
Vimos, portanto, que a abordagem tradicional é a da redução dos
fatores de risco.

Aqui, a noção de “risco” (e noções dela derivadas como


“comportamento de risco”, etc), tem um papel central.

A vulnerabilidade vem tentando ir além desse paradigma.

Tal superação pode ser bem ilustrada no âmbito das diferentes etapas
históricas de experiência com a epidemia da Aids.
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Do risco à vulnerabilidade
Vejamos portanto como se caminhou do risco à vulnerabilidade no
enfrentamento à epidemia de Aids.

Período da descoberta (1981 – 1984): os centros de epidemiologia


identificaram rapidamente o surgimento da nova doença e logo se
iniciaram estudos buscando se identificar os seus fatores de risco.

Porém, os fatores de risco logo sofreu um deslizamento discursivo de


grande relevância: o conceito analítico de fator de risco se
transformou no conceito operativo de grupo de risco.
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Do risco à vulnerabilidade
Tal deslocamento não aconteceu somente no campo da Aids, ainda
que neste ele tenha sido muito intenso.

A noção de grupo de risco se difundiu e se tornou a base das poucas e


toscas estratégias de prevenção preconizadas pelas políticas de saúde
à época.

Isso gerou não apenas ineficácia do ponto de vista epidemiológico


mas também profundos preconceitos, especialmente contra
homossexuais, hemofílicos e usuários de heroína, que foram os
primeiros alvos das estratégias de prevenção.
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Do risco à vulnerabilidade
Nessa época, a prevenção se concentrou em torno do isolamento e
abstinência dos pertencentes aos grupos de risco...

... que não deveriam ter relações sexuais, doar sangue ou usar drogas
injetáveis.

Os resultados práticos foram mínimos e se gerou um grande estigma.

Período das primeiras respostas (1985 – 1988): a Aids já tinha


adquirido um caráter pandêmico, não mais respeitando limites
geográficos ou de orientação sexual.
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Redução de risco
Nessa época, o conceito de grupo de risco entra em processo de
crítica, especialmente estimulado pelo movimento gay.

As estratégias de isolamento/abstinência cederam lugar para as de


redução de risco:

- Difusão de informações, controle dos bancos de sangue, estímulo


ao uso de preservativos até a polêmica distribuição de agulhas e
seringas para usuários de drogas injetáveis.
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Comportamento de risco
O conceito de grupo de risco dá lugar ao de comportamento de risco.

Os ganhos dessa mudança conceitual são evidentes:

- Menor estigma em relação aos grupos nos quais a epidemia foi


inicialmente detectada.
- Universaliza a preocupação com o problema.
- Estimula o engajamento pessoal na prevenção.

O conceito de comportamento de risco, porém, também tinha suas


limitações, como uma tendência à culpabilização individual.

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