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Coordenação e Organização
M922
ISBN: 978-65-88371-20-6
CDU 368.42
Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10/1517
CDU 368.42
A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos
assinados, são de responsabilidade dos seus autores.
DIRETORIA/GESTÃO 2022/2025
CONSELHO PEDAGÓGICO
CORREGEDORIA
OABPrev
COOABCred-RS
PREFÁCIO
Nos 37 anos da Escola Superior de Advocacia da OABRS (ESA), recebo o honroso convite
para prefaciar o livro em formato E-book, composto de artigos científicos, intitulado como
“Múltiplas faces de uma pandemia: reflexões acerca dos impactos ocasionados pelo covid-19”.
A coordenação e organização do E-book, além da Escola Superior da Advocacia, tem a
participação da Comissão Especial de Direito à Saúde da OAB/RS e do Grupo de Estudos
Direito à Saúde da ESA/RS.
Nesse sentido, é importante frisar o quanto nosso planeta foi impactado pelos efeitos do Covid
19, não sendo diferente no nosso país e, no caso em apreço, Direito Médico e da saúde, por ser
aliado dos profissionais da saúde que foram – e ainda são - linha de frente no combate da
pandemia.
Sendo assim, é importante destacar que o escopo do E-book é a publicação das produções
científicas oriundas de estudos e experiências práticas em pesquisas inerentes aos impactos
ocasionados pela covid-19 nas diversas áreas do direito da saúde e seus reflexos.
É importante mencionar que o incentivo ao estudo contínuo sobre temas relevantes para o
Direito e sociedade civil tem todo apoio do Presidente da OAB/RS, Leonardo Lamachia, e
também da Escola Superior da Advocacia da OAB/RS, na pessoa do seu Diretor-Geral, Rolf
Madaleno, aos quais parabenizo pelo estímulo ao aprimoramento do conhecimento da
Advocacia Gaúcha com iniciativas como esta, que contribui ainda mais para o aperfeiçoamento
profissional dos colegas advogados e advogadas.
Por fim, parabenizo todos os colegas que contribuíram para a construção desse E-book,
abrilhantando essa coletânea com seus trabalhos tão bem fundamentados e que nos propõe uma
reflexão para os impactos da Covid-19 em diversas áreas do Direito, mas também na mudança
comportamental da nossa sociedade.
Neusa Bastos,
Vice-Presidente da OAB/RS.
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APRESENTAÇÃO
Apresentar esta obra é um privilégio. Trata-se de oportuna coletânea de estudos sobre direito à
saúde, idealizado pelos organizadores e articulistas da Comissão Especial de Direito à Saúde
da Ordem dos Advogados do Brasil - Rio Grande do Sul – OAB/RS. Os autores são estudiosos
que se dedicam à reflexão sobre o direito à saúde, debruçando-se sobre temas relevantes e
inquietantes, no que concerne aos impactos ocasionados pelo coronavírus, a requerer muitas
pesquisas e estudos para informar e conscientizar a população.
O presente e-book foi idealizado com a finalidade celebrar os 37 anos da Escola Superior de
Advocacia – ESA e homenagear o Dr. Leonardo Lamachia, Presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil - Rio Grande do Sul - OABRS, os quais foram dedicados aos estudos e
ao em Direito.
A trajetória acadêmica do homenageado compreende grande experiência na advocacia, sendo
um renomado profissional. A ESA foi fundada em 1985, por inciativa da OAB/RS, sendo a
primeira de sua espécie, por força da Resolução n. 24/1985. O Presidente da OAB/RS à época,
em reunião ordinária de 03 de setembro de 1985 do Egrégio Conselho Seccional, aprovou a
criação da ESA com destinação a centralizar e coordenar – na condição de departamento
cultural do conselho seccional – as atividades culturais, por meio de cursos, estudos, seminários,
congressos, publicações e demais programações que visem à elevação do nível cultural dos
advogados gaúchos.
Conforme se observa destas páginas, a obra contempla estudos que atendem profissionais de
diversas áreas, fomenta dúvidas, provoca inquietações e reflexões e, sobretudo, aponta
caminhos.
Nesse sentido, é uma preciosa contribuição para a comunidade, auxiliando na compreensão de
temáticas atuais e por vir, sendo recomendada a leitura. Portanto, os organizadores, articulistas
e a Comissão Especial da Saúde, em nome da presidente Dra. Mariana Diefenthäler,
homenageiam a Escola Superior de Advocacia, pelos seus 37 anos, e o Dr. Leonardo Lamachia,
por sua dedicação, trajetória, contribuição e ensinamentos à Ciência Jurídica brasileira, com
votos de sucesso e agradecimento de: Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthäler, Estéfani
Luise Fernandes Teixeira, Ana Paula Adede y Castro, Camila Maciel e Lucas Lazzaretti.
Resumo: A crise de saúde mundial da pandemia da COVID-19, que ainda não terminou, atingiu
de forma avassaladora as mulheres, que ainda sofrem os reflexos da pandemia, mas
visivelmente, são as mulheres que respondem às múltiplas faces de uma pandemia e que, em
conjunto com a sociedade do cuidado, impulsionarão a recuperação em prol das políticas e
ações em favor da equidade de gênero, autonomia, desenvolvimento e sustentabilidade.
Necessária a reflexão sobre a economia dos cuidados, os cuidados remunerados e não
remunerados que não são recepcionados pelo Direito e que sofreram considerável golpe, com
a pandemia, afetando sobremaneira a saúde das mulheres cuidadoras e também, das pessoas
que carecem de cuidados. Este artigo dispõe sobre economia dos cuidados, os cuidados
invisíveis, desempenhados majoritariamente, pelas mulheres e que estão transversalizados com
questões sociais, econômicas, de saúde e de educação, que pela importância, devem avançar
para uma sociedade do cuidado e este é o objetivo da articulação da Agenda Regional de
Gênero, na América Latina e Caribe. O objetivo é destacar essa cuidatoria que deve estar no
centro da priorização da sustentabilidade, da vida e do planeta, com a necessidade de um
sistema integral de cuidados avançando para uma sociedade dos cuidados, que engrandecerá o
Estado de direito. A pesquisa é documental e de caráter qualitativo. A conclusão é que os
cuidados, são prioridade da vida e devem ser centrais no Sistema de Cuidados e Agendas, pois
se trata de tornar visível o invisível, relegitimar a democracia e reconhecer que interessa colocar
a cuidatoria na primeira ordem e a perspectiva de gênero ser aplicada para reduzir a
desigualdade. Imperioso reconhecer o direito ao cuidado em conjunto com medidas, respostas
para o combate dos efeitos da Covid-19 na consecução de um objetivo comum, entre Estado,
Instituições, família e comunidade, com mobilidade para além do ordenamento jurídico,
evoluindo para a sociedade do cuidado.
Palavras-Chave: Sociedade do Cuidado – Mulheres – Saúde – Pandemia
1. INTRODUÇÃO
1
Advogada inscrita na OABRS 24451, Sócia de Roque e Vasconcellos Advogados Associados, Bacharel em
Relações Internacionais, Pós graduação em Direito Público e Privado e em Estratégias e Estudos Internacionais,
Mestre em Direito das Relações Internacionais e Professora Universitária, endereço eletrônico
amritter@terra.com.br.
11
A sociedade ainda não retornou para o “antigo normal”, mas necessária a reflexão sobre
a cuidatoria, sobre a sociedade do cuidado, pois se o tema não for devidamente incluído no
centro dos sistemas integrais de cuidados, as cuidadoras e as pessoas que necessitam de
cuidados, irão perecer ainda mais e as consequências serão avassaladoras para toda a sociedade.
O trabalho de cuidados foi agravado pela pandemia, que muito impactou a saúde física
e mental das cuidadoras e familiares e ainda cumulou mais carga no trabalho de cuidados, maior
2
COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL). Trabalhadoras
remuneradas do lar na América Latina e no Caribe frente à crise do COVID 19. https://www.cepal.org/pt-
br/publicaciones/45725 acesso em 08/2020
3
COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL), Anuario Estadístico de
América Latina y el Caribe, 2020 (LC/PUB.2021/1-P), Santiago, 2021.
12
Assim, cabe salientar que os estudos e dados da CEPAL, ONU Mulheres e Fundação
Osvaldo Cruz, são importantes para caracterizar o impacto, as multifaces de uma pandemia e
vitais para dimensionar as necessidades de financiamento dos Sistemas de Cuidados,
planejamentos, ações e políticas públicas, para a promoção da saúde, dignidade, igualdade,
direitos, para quem cuida e quem é cuidado.
Neste artigo, a pretensão é tratar sobre economia dos cuidados, que são desempenhados
majoritariamente, pelas mulheres e que estão transversalizados com questões sociais,
econômicas, de saúde e de educação, que pela importância, devem avançar para uma sociedade
do cuidado e este é o objetivo da articulação da Agenda Regional de Gênero, na América Latina
e Caribe.a cuidatoria.
4
COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL) la-sociedad-cuidado-como-
horizonte-recuperacion-sostenible-igualdad-genero-sera-tema,
https://conferenciamujer.cepal.org/15/es/noticias/acesso 29/10/2022
13
A citada pesquisa foi realizada pela Fundação Osvaldo Cruz, entre os meses de agosto
e novembro de 2020 e revelou que 40% das cuidadoras estão com estado de saúde moderado
ou ruim e o mesmo percentual tem risco de COVID por doenças cardiovasculares e pulmonares.
Ainda a pesquisa mostrou que quase a metade dos cuidadores tem acesso ao SUS e que
48,5% estão com problemas de coluna, com dor aumentada e alguns com incapacidade, o que
afeta os cuidados necessários, necessitando a cuidadora de cuidadores.
Cabe dizer que 73,6% das cuidadoras trabalham com idosos todos os dias e que houve
aumento da carga de trabalho para até 24 horas.
5
Ritter, Andréa Marta Vasconcellos. A visibilidade do trabalho não remunerado das mulheres e a
cuidadotoria como propulsora da recuperação socioeconômica. Revista Eletronica da ESA/RS, Vol. 09,
Numero 1, 2021. https://admsite.oabrs.org.br/arquivos/file_611c182e9eb10.pdf
6
Fundação Osvaldo Cruz. Cuida-Covid: Pesquisa nacional sobre as condições de trabalho e saúde das pessoas
cuidadoras de idosos na pandemia principais resultados https://www.covid19.cuidadores.fiocruz.br/?p=pesquisa
acesso 05/10/2021
14
Assim, a cuidatoria deve ser considerada de forma transversal, tendo em vista as várias
conexões com a Agenda 2030, como vida, sustentabilidade, saúde e bem-estar, educação de
qualidade, igualdade de gênero, trabalho decente e crescimento econômico, ainda intersecções
com o meio ambiente, com a sustentabilidade e a promoção da ida no planeta, neste momento
de COVID-19, com setores econômicos que necessitam sobreviver e crescer, alterando a
estrutura de mercado e produtiva, com inclusão das cuidadoras invisíveis como mola
propulsora, resposta e recuperação da vida no mundo sustentável.
Importante dizer que isso significa incorporar todas as populações que necessitam de
cuidados e gerar sinergias com as políticas econômicas, de emprego, saúde, educação e proteção
social, a partir da promoção da corresponsabilidade social e de gênero, avançando ate a
sociedade do cuidado.
Neste diapasão, cabe trazer que na América Latina e no Caribe, nos últimos 20 anos, os
governos da região aprovaram uma série de acordos para o desenho e implementação de
políticas e cuidados, destacando a importância do papel do Estado e a coordenação com as
Instituições, assim como os níveis nacional e local, com enfoque interseccional.
No Brasil há muito para evoluir, eis que não está na Constituição Federal, o direito ao
cuidado e de igual forma, o Brasil, não mantém um sistema integral de cuidados, sendo
necessário um plano, um modelo que garanta o direito das pessoas a receber cuidados, cuidar-
7
COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL). Cuidados na América
Latina e no Caribe em tempos de COVID 19. Em direção a sistemas integrais para fortalecer a resposta e a
recuperação. https://www.cepal.org/es/publicaciones/45916-acesso em setembro de 2020.
8
COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL) Compromisso de Santiago
Instrumento Regional para responder Crise da Covid 19.
16
Necessário que o Brasil priorize políticas públicas e privadas, implantadas para médio
e longo prazo, com a finalidade de criar sistemas de cuidado que priorizem a transversalidade
e que visem à transformação do mercado de trabalho para permitir a redução do tempo e o misto
entre trabalho remunerado e os cuidados não remunerados, com a corresponsabilidade entre as
famílias, Estado, mercados e sociedade civil.
Cristalino que a cuidatoria deve sair urgente da invisibilidade, que os cuidados são parte
substantiva do desenvolvimento, que há uma integração entre as políticas econômica, social e
do trabalho, e especialmente, que o setor privado é solidário com o público para a promoção de
um sistema integral de cuidados a ser desempenhados entre a União, Estados e Municípios.
4. CONCLUSÕES
Mostrou a pandemia uma nova realidade, que as mulheres são partes do mundo laboral
e ainda uma massiva maioria, que tem a função de cuidar, em uma sociedade onde a carga de
cuidados é crescente e que são necessárias políticas públicas comprometidas, devendo os
cuidados e as cuidadoras serem colocadas no centro da resposta, da recuperação, sendo o motor
de propulsão, do desenvolvimento, com transcendência entre as políticas públicas.
O tema urgente, estratégico e requer avançar para uma sociedade de cuidados, em uma
Agenda de igualdade de gênero que emerge a paridade, o desenvolvimento econômico, a
sustentabilidade, que também estão nos cuidados, mas necessários bens, recursos,
18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 INTRODUÇÃO
A Auditoria é uma Ciência antiga, conforme o histórico cronológico que se tem registro.
No entanto, sua profissionalização e também aceitação seja considerada relativamente nova e
desafiadora para os profissionais envolvidos em suas diferentes interfaces. Cada serviço público
possui suas padronizações rotineiras. E na área de saúde isso não é diferente. Inclusive são
conhecidas mais comumente como POP (Procedimento Operacional Padrão).
Pensar, desenvolver, aplicar e numa fase mais avançada avaliar processos seguidos de
suas padronizações no tangente a desempenho é, e sempre será no mínimo desafiador para
qualquer equipe de trabalho na área de gestão.
1
Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela UNISINOS. Pós-graduada em MBA em Auditoria em Saúde pela
UNINTER. Pós-graduada em Controle de Infecção Hospitalar pelo INSTITUTO SÃO CAMILO SUL, Pós-
graduada em Enfermagem do Trabalho pelo INSTITUTO SÃO CAMILO SUL, Pós-graduada em Saúde da
Família pela UNILASALLE, Pós-graduada em Metodologia do Ensino pela UFGRS, Pós-graduada em
Administração Hospitalar com Ênfase no Gerenciamento dos Serviços de Enfermagem pelo IACHS/PUCRS
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Conformidade – Examina a legalidade dos atos de gestão dos responsáveis sujeitos a sua
jurisdição, quanto ao aspecto assistencial, contábil, financeiro, orçamentário e patrimonial.
A Auditoria em Sistemas de Saúde Públicos contribui para oferecer uma melhor qualidade
na prestação de serviços para a população em geral. O que implica na sua íntima ligação com a
Ciência da Epidemiologia, que em um conceito mais genérico representa o estudo sobre as
populações. Também estimula o avanço na área de Gestão Pública dentro de um país, estado
e/ou região/localidade atuando como parceria determinante no combate às fraudes. Por isso,
entende-se ser desafiadora por exigir profissionais qualificados, comprometidos e éticos.
Além disso, a Auditoria em Saúde tem recebido crescente espaço no campo de estudos e
pesquisas, justamente por sua capacidade de proporcionar conhecimento aprofundado para
gestores locais acerca das questões de qualidade dos serviços prestados, forte tendência para os
tempos atuais aonde uma ferramenta bem aplicada pode mudar o curso ou o destino de
indicadores de desempenho.
Sendo assim, novos campos de atuação se abrem diante de profissionais preparados para
se tornarem eficazes dentro de todo um Sistema de Gestão Estratégica. E neste contexto a
Auditoria em Saúde surge como um recurso imprescindível a ser empregado nas instituições
públicas, entre elas, o de saúde.
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A sociedade é um segmento para o qual muitos estudos se aplicam, e dentro desta óptica
de pensamento podemos desenvolver várias linhas de entendimento e pesquisa, no tange à área
da saúde.
Por fim todos critérios que contribuem para que se entenda o motivo de Auditoria em
Saúde ser detentora de um policonceito. A seguir algumas destas definições eram apresentadas.
Para Crepaldi (2002, p. 23): “De forma bastante simples, pode-se definir auditoria como o
levantamento, estudo e avaliação sistemática das transações, procedimentos, operações, rotinas
e das demonstrações financeiras de uma entidade. ”
Chiavenato (2002, p. 125) refere que:
Logo, partindo de um pressuposto que delimita este tipo de vínculo é que precisamos
explorar exaustivamente, ao que a Auditoria em Sistemas de Saúde Pública se propõe de uma
maneira geral e também registrar acontecimentos relevantes da cronologia histórica da
Auditoria no mundo e no Brasil.
Conforme Ayach, Moimaz e Garbin (2013) a Auditoria em Saúde é uma ferramenta que
verifica os processos e resultados da prestação de serviços, pressupondo o desenvolvimento de
um modelo de atenção adequado, de acordo com as legislações vigentes.
No Brasil o mesmo autor registra que em 1988, a própria Constituição Federal (BRASIL,
1988) impõe a necessidade dos processos de auditoria, sendo que seu Art. 197 dispõe:
De acordo com o disposto na Constituição Federal de 1988, foi criado o Sistema Único
de Saúde (SUS), que estabeleceu convergência universal e igualitária às práticas de saúde, com
uma territorialização e categorização, dissociação com direção singular em cada esfera
governamental.
mediador de tendência acerca de sobre qual modo operacional utilizar para obter leituras que
fidelizem os cenários vigentes.
Pinto e Melo (2010) afirmam que cada vez mais surgem oportunidades para o profissional
enfermeiro atuar na área de auditoria de contas hospitalares. A auditoria configura-se como uma
ferramenta gerencial utilizada pelos profissionais da saúde, em especial os enfermeiros, com a
finalidade de avaliar a qualidade da assistência de enfermagem e os custos decorrentes da
prestação dessa atividade.
Enfermeiros são profissionais que partem da graduação com duas competências básicas:
cuidar e gerenciar, e ao longo de seus feitos laborais e através da interface multidisciplinar
inerente aos seus respectivos cotidianos acabam, em sua maioria por dominar o processo de
gestão local com maestria contribuindo de forma relevante para a otimização de resultados dos
indicadores de qualidade em suas equipes.
critérios para definir o melhor instrumento para resenha e registro de acordo com a classificação
explanada no ato de introdução deste estudo.
Além disso, o mundo inteiro enfrentou uma Pandemia em função do novo Corona Vírus
(COVID-19) o que certamente, já implica num novo olhar acerca dos desafios vigentes na área
em questão. Fato que inerente e consequentemente acaba por direcionar o pensamento e as
ações para tendências futuras dentro da área de Auditoria em Saúde em Sistemas Públicos, para
uma nova janela, que desde já sinaliza a necessidade de se pensar nas formas de reorientação
processual das questões que se encontrarem diretamente implicadas a tais circunstâncias.
Como o cenário ainda é bastante incerto em relação a este assunto, pois os países do mundo
inteiro, por intermédio de seus governantes seguiram e seguem as determinações da ONU
(Organização das Nações Unidas) e até que seja encontrada uma solução efetiva (vacina) resta
à comunidade de Auditores se preparar para encontrar mudanças que estarão diretamente
ligadas à futura nova realidade.
Concorrente a isso temos a questão da habilitação e aceitação dos profissionais que atuam
na área de desenvolvimento de potencial humano com vistas à Auditoria em Saúde. Afinal, num
campo de desafios constantes e emergentes a implementação de mudanças é de extrema
relevância, sem perder o foco na realidade local.
Scarparo, Ferraz, Chaves e Gabriel (2014) salientam em termos de realidade local, por
exemplo, que o trabalho do Enfermeiro Auditor decorrerá de um ideário profissional, o qual
estará articulado com o seu campo de conhecimento e práticas de gestão.
Conforme Kruger (2018) as fraudes no Sistema de Saúde Pública no Brasil são uma
realidade bastante dispendiosa. O mesmo autor ainda registra que, um levantamento realizado
pela Controladoria Geral da União (CGU) detectou que, entre 2002 e 2015, o desvio de dinheiro
da Saúde Pública atingiu cerca de R$ 5,04 bilhões, o equivalente a 27,3% do total de fraudes
em todas as áreas do Governo.
De acordo com um estudo realizado por Lara (2017) sobre as “Evidências de Práticas
Fraudulentas em Sistemas de Saúde Internacional e no Brasil” publicado no mesmo ano pelo
Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), as principais fraudes no serviço público de
saúde estão relacionadas com:
● Roubo;
● Negociação de leitos hospitalares;
● Redução da qualidade do serviço assistencial;
● Negligência no atendimento ao paciente;
● Documentos fiscais falsos;
● Aquisição de recursos com preços acima do mercado;
● Falsa compra de materiais;
● Desvio de verba para pagar fornecedores,
● Práticas ilegais na contratação de médicos.
A mesma fonte ainda aponta que a Auditoria em Sistemas de Saúde contribui para o
Sistema Único de Saúde (SUS) oferecer uma melhor qualidade na prestação de serviços de
saúde para a população. Para avançar na gestão pública do Brasil e combater as fraudes no SUS,
a área da saúde necessita de profissionais capacitados, éticos e comprometidos para serem
auditores.
O serviço de Auditoria pode ser visto como um processo educativo no qual não se busca
responsáveis pela falha, mas questiona o porquê da não conformidade. Essa mudança de
percepção estimula a participação da equipe na identificação e na resolução dos eventos
adversos, citam Bazzanella e Slob (2013).
Num conceito bem objetivo a Gestão por Competências é um estilo de modelo processual
que trabalha com a identificação de conhecimentos, capacidades, saberes de uma equipe e os
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interliga com as habilidades, fazeres fundamentais desta mesma equipe para a execução e
garantia de uma estratégia; previamente definida pela Instituição.
Sobre a Gestão por Competências ainda pode-se dizer que é a forma que a área de recursos
humanos de uma determinada estratégia se utiliza enquanto ferramenta, para detectar e gerir
posturas profissionais capazes de renderem ao máximo suas potencialidades em prol de um
negócio/setor, buscando trabalhar interfaces de melhorias e constantes otimizações processuais,
polindo arestas e agregando conhecimento.
Já que a Auditoria além de visar melhorias no ambiente aonde se aplica, ela também torna-
se ferramenta aliada ao estimular a revisão e consequente melhoria das práticas laborais, como
um todo. Pois seus processos estão intimamente ligados com a busca, garantia e a permanente
comprovação da conformidade legal dos itens auditados. Considerando os tópicos
anteriormente dispostos, surge neste contexto a importante necessidade do estudo das relações
de Auditoria em Saúde em Sistemas Públicos, alguns de seus determinantes e impactos gerados
e as tendências para a sua aplicação.
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3 METODOLOGIA
O presente estudo de cunho descritivo foi realizado por intermédio de uma pesquisa
bibliográfica, seguida de análise de conteúdo cujos achados foram organizados de forma
qualitativa.
Desta forma a questão problema foi respondida através da complementação das percepções
obtidas pela interface inerente dos referenciais na fundamentação teórica, que abordou a
Auditoria em Saúde, Atuação do Profissional Auditor e Tendências.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por isso, cada vez mais investir em Educação Continuada para as equipes como um todo
deve ser competência basilar. Sistemas operacionais que constroem resultados pró ativos para
qualquer cenário de gestão, partem do investimento de uma gênese sólida nesse sentido.
Quando há constante investimento na área de capacitação permanente para os profissionais de
saúde e em específico para os Profissionais Auditores; estes últimos, em função da autonomia
que adquirem dentro das estratégias assistenciais aonde se encontram inseridos lançam-se entre
as equipes e suscitam a participação plena dos demais ao promoverem em suas práticas, ações
interdisciplinares. E, desta forma elevam a patamares de relevância a sua forma de pensar, fazer
e desenvolver a construção do saber na área da saúde, ao mesmo tempo que protagonizam
constituição de legado.
O fato da Auditoria se constituir como uma ferramenta potente no apoio à qualificação dos
serviços prestados para uma determinada população, a torna sempre tendência por critério
básico.
30
Então sendo a tendência tudo aquilo que é capaz de fazer com que um caminho seja seguido
e/ou um modelo seja referenciado como exemplo, pode-se também justificar por esta linha de
raciocínio a necessidade de se criar, expandir e ofertar mais espaços de atuação para
Profissionais Auditores atuarem no SUS, pois o quesito satisfação do cliente em relação a
estratégia, é um indicador cujo índice vem decaindo em termos conceituais nos últimos anos.
O atual momento de Mundo Pandêmico (COVID -19) controlado, via oferta de acesso às
vacinas desenvolvidas por intermédio de engajamento de toda a Comunidade Científica para as
populações, ainda é questão de muitas incógnitas mas que, no entanto, para aqueles que
conseguem prospectar visão e pensamentos com foco num futuro não distante, talvez já possam
começar a pensar e a desenvolver estratégias de adequação e readequação operacionais, levando
sempre em conta a classificação dos modos operacionais de auditoria já apontados neste estudo.
Durante este estudo surgiram vários conceitos para Auditoria, no entanto todos em sua
maioria convergem para a questão e que ela trabalha em prol da qualidade do SUS, competindo
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aos Profissionais Auditores serem éticos e qualificados para a execução de um trabalho que
realmente seja capaz de traduzir as necessidades de um setor ou de um Sistema Estratégico de
Gestão.
A realidade local é algo que está intimamente ligado ao trabalho de diagnóstico situacional
que este Profissional Auditor encontrará no caminho que tiver de percorrer para estabelecer os
limites de seu trabalho. Parâmetros tais como: qual estilo de processo aplicar, quais
normatizações, técnicas e procedimentos administrativos todos dependerão dos insumos
(humanos e patrimoniais) que o mesmo terá à disposição para a o desenvolvimento do seu
trabalho irão compor impreterivelmente, o seu Universo de boas práticas.
Por conseguinte, ainda se pode concluir em termos de tendências para a área de Auditoria
em Saúde no SUS o crescimento do engajamento da participação social na busca de soluções
que ajudem a visar melhorias com relação ao índice de satisfação da clientela. Para tais ações
o crescente acesso da população à Era Digital e também a alguns mecanismos de Inteligência
Artificial serão realidades positivas e agregadoras.
Logo, podemos inferir e reforçar esta inferência ao registrar que o trabalho do Profissional
Auditor Qualificado para a função é grande diferencial e contribuirá para conformidade e
subsequente, legitimidade de toda e qualquer informação em saúde produzida para estes fins
num cenário de mudanças em constante vigência.
Mudanças são feitos processuais e como tais pode-se dizer a inegável contribuição da
Auditoria em Saúde e suas respectivas interfaces, aqui subentendidos na estratégia como raio
de alcance.
Destarte, que ao seguir tendências e ao procurar nas mesmas, atemporalidade, que toda e
qualquer estratégia e seus recursos nesta área possam ser doravante sempre auditados por
Profissionais Auditores éticos, capacitados e que estejam dispostos a maximizarem suas
práticas conferindo às mesmas, um diferencial competitivo.
REFERÊNCIAS
AYACH, Carlos, MOIMAZ, Suzely Adas Saliba, GARBIN, Cléa - Auditoria no Sistema Único
de Saúde: o Papel do Auditor no Serviço Odontológico, 2013.
BAZANELLA, Neivo Andrade Lima, SLOB, Ednea – A Auditoria como Ferramenta para a
Melhoria da Qualidade no Serviço Prestado, UNINTER, 2013.
LARA, Natália Caio – Textos para Discussão n.º 62 - Evidências de Práticas Fraudulentas em
Sistemas de Saúde Internacionais e no Brasi., São Paulo, 2017
PINTO, Karina Araújo, MELO, Cristina Maria Meira de – A Prática da Enfermeira e Auditoria
em Saúde. São Paulo, 2010.
RUAS, Roberto Lima. ANTONELLO, Claudia Simone. BOFF, Luiz Henrique. Os novos
horizontes da gestão: aprendizagem organizacional e competências. Porto Alegre: Bookman,
2005
SCHMIDT, Célia Regina - Análise da percepção dos auditores sobre a auditoria interna na
gestão do Sistema Único de Saúde de Mato Grosso. Piracicaba/SP, 2014.
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Resumo: O presente artigo pretende examinar os impactos ocasionados pelo isolamento social
e o poder das redes sociais para denunciar as relações tóxicas. Em tempos de pandemia, tornou-
se fundamental adotar as recomendações das entidades médicas e governamentais para a não
propagação do vírus e proteção da sociedade em seu âmbito individual e coletivo. Nesse
contexto, ocorreu uma mudança profunda e cultural nas relações humanas. O isolamento
prolongado ocasionou um colapso nas relações humanas, sociais e econômicas, sem ter estudos
suficientes para a cura e respostas, iniciaram-se conflitos internos, externos e familiares.
Aponta-se, no artigo, que antes da pandemia as relações laborais em sua maioria das vezes eram
em lugar diverso e que migraram para a modalidade home office, quando possível. Desse modo,
misturaram-se lazer, trabalho, relações familiares, entre outras dimensões da vida. Ademais,
objetiva-se demonstrar, o aumento da violência doméstica familiar no período do
distanciamento social, tendo em vista que, o agressor e a vítima permaneceram no mesmo local.
Nesse ponto, para proteção da mulher, a ascensão feminina no ciberespaço através das redes
sociais, caracterizada pelo crescente uso das tecnologias, tem revolucionado o mundo ao
permitir o acesso facilitado à informação e a comunicação instantânea das vítimas. Por fim,
aponta-se o surgimento de uma campanha para denunciar o abusador quando não é possível
fazê-lo pela internet, a campanha do batom vermelho: “Sinal Vermelho Contra Doméstica em
Tempos de Pandemia”.
Palavras-chave: Violência doméstica; Isolamento Social; Direitos e garantias fundamentais;
Redes Sociais; Relações Familiares.
INTRODUÇÃO
1
Mestra em Direito pela UPF. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela PUCRS. Associada
do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul- IARGS. Membro e Coordenadora do GT de Pesquisa da
Comissão Especial do Direito à Saúde da OAB/RS. Vice-Presidente da Comissão Especial da Saúde da OAB/RS,
Subseção de Canoas. Advogada. Consultora. E-mail: estefani.f.teixeira@gmail.com
2
Advogada. Membro da Comissão Especial do Direito à Saúde da OAB/RS. E-
mail:advogada@camilamaciel.com.br.
3
Especialista em Direito Médico e da Saúde pela UERJ e Gestão Pública e Direito Administrativo pela FMP/RS.
Graduada em Direito. Conciliadora Judicial TJRS. Membro da Comissão Especial da Saúde da OAB/RS, Subseção
de Canoas. E-mail: mariana.oliveirassis@gmail.com.
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O tema merece atenção frente à inserção dos meios tecnológicos para o combate dos
abusos contra as mulheres.
Mediante isso, apresenta soluções cabíveis para a vítima realizar a denúncia, tutelando
os direitos e garantias fundamentais, a proteção da mulher e demonstrando que a informação se
tornou imprescindível a partir da situação vivida nos tempos de isolamento social.
O mundo, nos últimos anos, passou por incertezas e desafios, principalmente quando se
tratou do isolamento social e relações familiares.
Nesse ponto, a utilização de máscara ao sair de casa, a constante higiene das mãos, o
distanciamento social, bem como a restrição de mobilidade foram condutas essenciais, efeitos
de uma nova ordem social numa sociedade assustada com o desconhecido.
Antes do auge da pandemia, a nossa casa era vista, na maioria dos casos, como abrigo,
com a adoção das medidas restritivas impostas devido à disseminação da doença, o
confinamento, na maior parte do tempo, veio a transformar esse ambiente acolhedor em um
meio potencialmente conflitante, o que abalou a harmonia familiar, acabou por expor, em
índices ainda mais elevados, uma realidade cruel: a violência contra a mulher.
Em meio aos cuidados da proteção à contaminação causada pelo novo coronavírus, nos
deparamos com a obrigação de também atender às condições e requisitos morais/legais e
constitucionais impostos à proteção das mulheres expostas a situações de violência doméstica
e familiar. Com isso, garantindo-se medidas assistenciais de prevenção e proteção no tempo de
confinamento.
[...] é o uso da força física e psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa fazer
algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é incomodar, é
impedir a outra pessoa a manifestar seu desejo e sua vontade, sob pena de viver
gravemente ameaçada ou até mesmo ser espancada, lesionada ou morta. (TELES;
MELO, 2017, p. 90).
Isso se dá “[...] porque as mulheres em situação de violência encontram-se fechadas junto com
seus agressores, com oportunidades muito limitadas de sair de suas casas ou de buscar ajuda. ”
(ONU, 2020, p. 1).
Nesse contexto, a força do ambiente virtual apresenta-se como forma facilitadora para
a libertação dos laços emocionais abusivos, em virtude da propagação de informação pelos
meios virtuais. Assim, a internet possui papel crucial no despertar das vítimas de violência
doméstica, afinal dá voz para muitas mulheres que antes não conheciam a sua própria origem,
independentemente de classe social.
Com o advento da internet, surge o “ciberfeminismo” fazendo com que essas vozes
antes silenciadas ecoassem por uma vida fisicamente e psiquicamente saudável.
A ascensão das redes sociais, portanto, passou a proporcionar que as vítimas relatem
suas histórias quando preparadas, reflitam sobre suas vidas, bem como compartilhem
depoimentos e juntas aprendam a se amar do jeito que são.
Desse modo, compreendendo os tipos de abusos, as características dos abusadores,
sentindo-se acolhidas por outras mulheres que passaram pelas mesmas agressões e podem
ajudá-las de alguma forma, criando-se, portanto, uma rede virtual e do bem que pode mudar as
próximas páginas de suas histórias.
No próximo tópico adentra-se no surgimento da campanha do batom vermelho.
41
A expressão “não tira o batom vermelho” foi difundida nas redes sociais por uma
influenciadora digital chamada Jout Jout. Sem pretensões, ela fez um vídeo na plataforma
Youtube contando a história de uma menina que a encontrou no metrô com os olhos cheios de
lágrimas dizendo que a influenciadora contribuiu de forma significativa para o divórcio de sua
amiga que estava em um relacionamento destrutivo, há muito tempo, mas se mantinha em
negação. A autora e influenciadora arrepiou-se e resolveu dar voz a essas histórias e a muitas
outras. (JOUT, 2016, p. 150).
A moça que contou a história da sua melhor amiga referia-se a um vídeo chamado “Não
tira o batom vermelho”, que viralizou velozmente nas redes, pois trata-se de como identificar
se você está vivendo em um relacionamento abusivo (JOUT, 2016, p. 151). Mulheres de locais
diversos do Brasil agradeceram à influenciadora, pois, com as informações de seus vídeos,
também conseguiram extinguir esses laços.
A felicidade de conseguir libertar mulheres encarceradas emocionalmente tomou conta
de Jout Jout e prosseguiu com os seus vídeos para informar as vítimas de abuso. A autora com
propriedade aduz:
As pessoas querem alguém que fale o que elas já sabem, às vezes o que precisam é do
respaldo de desconhecidos para poder fazer algo a respeito. A gente precisa de
reafirmação o tempo todo para não dar um passo errado, arriscar tudo, fazer uma coisa
muito fora do comum. (JOUT, 2019, p. 151).
O batom vermelho tem o poder de empoderar a mulher, levantar sua autoestima, deixá-
la feliz e pronta para enfrentar o mundo. É uma maquiagem que é um símbolo de expressão
feminina. Um homem quando pede para a mulher “tirar o batom vermelho” por parecer uma
mulher vulgar, certamente se revela um abusador.
Desse modo, a vítima fazia um X em sua mão e ia até a farmácia mais próxima; os
atendentes entenderiam o seu pedido de socorro e denunciariam o abusador.
O protocolo é, de fato, simples: com um “X” vermelho na palma da mão, que pode ser feito
com caneta ou mesmo um batom, a vítima sinaliza que está em situação de violência. Com
o nome e endereço da mulher em mãos, os atendentes das farmácias e drogarias que aderirem
à campanha deverão ligar, imediatamente, para o 190 e reportar a situação. O projeto conta
com a parceria de 10 mil farmácias e drogarias em todo o país. Confira aqui a lista com as
redes de farmácia que assinaram o termo de adesão à campanha. (ZIUOVA, Cristiana apud
BANDEIRA, 2020)
A campanha teve por escopo ajudar as vítimas a denunciarem de forma silenciosa seus
agressores. Em tempos de distanciamento social, as mulheres ficaram confinadas em casa e não
conseguiram ir até uma delegacia fazer uma denúncia sem alertar o abusador, até mesmo de
forma virtual, pois o agressor retirou seu celular, quebrou seu computador, entre outras
atrocidades, dessa forma tinham dificuldade de efetuar um pedido de ajuda. Portanto, para os
criadores da campanha, ir a uma farmácia comprar remédios seria o momento propício para
pedir socorro.
A repercussão da campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica foi ampla
nas redes sociais. Figuras públicas de renome publicaram em suas mídias sociais uma foto com
o X de batom vermelho na mão, dando ainda mais ênfase, apoio e disseminação à causa. Diante
disso, “Não tira o batom vermelho”, além de exaltar a beleza feminina, pode salvá-la.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade do Rio de Janeiro teve o registro de 50% (cinquenta por cento) de aumento
nas denúncias por violência de gênero durante o período da quarentena, conforme o relatório
da ONU Mulheres (ONU, 2020)
A esse respeito, cabe ressaltar, que além de um dever constitucional, legal, a proteção
contra da mulher contra a violência doméstica trata-se de uma questão de direitos humanos,
moral.
Não obstante, os índices são muito altos e no mundo tenhamos a ascensão de diversos
abusos: emocionais, sexuais, físicos, de gênero entre muitos outros.
Nesse contexto, a mulher consegue libertar-se de laços construídos pelo seu companheiro,
estando ciente que as palavras humilhantes proferidas pelo abusador são inverídicas e que, uma
“tapinha”, entre qualquer tipo de violência, doí muito: psiquicamente, moralmente,
emocionalmente, fisicamente e deve ser denunciado. Destarte, é sabido que o acesso à
informação e a liberdade de expressão são a forma de garantir a democracia em nosso país.
Ademais, essa campanha teve uma forte disseminação e repercussão nas redes,
considerando que ir a uma farmácia para comprar fármacos com um X de batom vermelho é
mais acessível do que ir até uma delegacia efetivar a denúncia.
44
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, Regina. Sinal vermelho: CNJ lança campanha de ajuda a vítimas de violência
doméstica na pandemia. Agência CNJ de Notícias, [Brasília], 10 jun. 2020. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/sinal-vermelho-cnj-lanca-campanha-de-ajuda-a-vitimas-de-violencia-
domestica-na-pandemia/. Acesso em: 22 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.340/2006, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe
sobre a criação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código
Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República, [2015]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm. Acesso em: 06 abr. 2019.
JESUS, Damásio de. Violência contra a mulher. Porto Alegre: Saraiva, 2017.
JOUT, Jout. Tá todo mundo mal. São Paulo: Companhia das letras, 2016.
ONU. Organização das Nações Unidas. Prevenção da violência contra mulheres diante da
COVID-19 na América Latina e no Caribe. ONU Mulheres, [S.l.], 23 abr. 2020. Disponível em:
http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2020/05/BRIEF-PORTUGUES.pdf.
Acesso em: 22 jul. 2020.
SILVA, Jacilene Maria. Feminismo na atualidade: a formação da quarta onda. Recife, 2019.
45
TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São
Paulo: Brasiliense, 2017. (Coleção Primeiros Passos).
46
Resumo: O presente artigo tem por escopo realizar uma reflexão sobre o direito fundamental à
saúde e o aumento dos transtornos mentais em decorrência da pandemia da COVID-19,
apresentando os impactos do distanciamento social e dos transtornos mentais coletivos. Nesse
contexto, examina-se o adoecimento mental da população em larga escala. Promove-se uma
reflexão acerca das relações como justa igualdade de oportunidades nas relações humanas.
Dessa forma, averiguando quais medidas governamentais devem ser efetivadas para
proporcionar um Estado Democrático de Direito estabelecido pela CRFB/88. Oportunamente,
analisando a recente aprovação do Projeto de Lei 2.083/2020, que prevê apoio psicológico e
psiquiátrico no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. Por fim, a metodologia proposta para
atingir os objetivos é hipotético-dedutiva com cunho exploratório e realizada por meio de
levantamento bibliográfico.
Palavras-chave: Direitos Fundamentais; Pandemia; COVID-19; Saúde; Sistema único de
saúde – SUS; Políticas Públicas.
INTRODUÇÃO
O artigo tem por escopo analisar o direito fundamental à saúde no setor da saúde
brasileira, notoriamente no Sistema Único de Saúde (SUS), para a aplicabilidade efetiva dos
valores supremos constitucionais. Nesse segmento, se averigua as medidas de prevenção
adotadas de isolamento social associadas ao adoecimento da população no período pandêmico.
Destarte, é fundamental garantir saúde digna aos pacientes e para a tutela de direitos
fundamentais e garantias deles decorrentes, dispostas na Constituição da República Federativa
1
Mestre do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS,
Brasil. Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho pela Pontifícia Católica do Rio Grande do Sul
(PUC-RS). Bacharela em Direito pela PUCRS. Membro da Comissão Especial de Direito à Saúde da OAB/RS.
Advogada e consultora.
2
Advogada. Presidente da Comissão Especial de Direito a saúde da OABRS. Mediadora CNJ. Especialista em
Processos Civil pela Unisinos. Pós-graduação em psicologia forense básica e avançada pela Unisinos. Mestranda
em Direito pela, Universidade Fernando Pessoa em Portugal.
3
Procuradora do Conselho Regional de Medicina do Estado do RS – CREMERS. Mestranda em Direito da
Empresa e dos Negócios (UNISINOS). Especialista em Direito Médico e da Saúde (PUC-PR). Membro da
Comissão Especial de Direito à Saúde da OAB/RS.
47
A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um
direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com
qualidade de vida, visando à prevenção e à promoção da saúde. A gestão das ações e dos
serviços de saúde deve ser solidária e participativa entre os três entes da Federação: a União,
os Estados e os Municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tanto ações quanto
os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, média e de alta complexidade, os serviços
de urgência e emergência, a atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias
epidemiológica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica 5.
4
DUNCAN, Bruce B. et al. Condições de saúde da população brasileira.In: DUNCAN, Bruce B. et al.Medicina
ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 9.
5
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde (SUS): estrutura, princípios e como funciona. Brasília,
[s.d.]. Disponível em: http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude. Acesso em: 01mar. 2021.
6
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Segunda Turma. Agravo Regimental em Agravo de Instrumento n.
734.487. Relatoria: Ministra Ellen Gracie. Julgado em: Brasília, 03 ago. 2010. Publicado em: Brasília, 20 ago.
2010. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=%201814. Acesso em: 01mar.
2021
49
Ademais, a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/1990) dispõe sobre as condições para
a promoção, proteção e recuperação da saúde, organização e funcionamento,7 bem como sobre
os princípios norteadores (universalidade, equidade, integralidade) e as orientações
organizacionais (hierarquização, regionalização, descentralização e participação social). 8 Na
mesma direção, a CRFB, em seu artigo 196, aduz que a saúde é um direito de todos e um dever
do estado “[...] garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços a sua
promoção, proteção e recuperação”.9 Na mesma linha, a previsão do art. 198 da Constituição,
que estabelece a competência comum, bem como a organização em rede, regionalizada e
hierarquizada, a qual constitui um sistema único, prevendo uma ação conjunta e coordenada
entre os entes federativos na realização do princípio fundamental de proteção à saúde.10
Já a expressão “promoção” tem por objetivo dar melhor qualidade de vida ao paciente
por intermédio de ações que visem estabelecer as conjunções de vida e saúde dos indivíduos.
7
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm. Acesso em: 01mar. 2021.
8
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990...
9
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:01mar. 2021.
10
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988...
11
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação”. Cf. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988...
12
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz.
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva; Almedina, 2013. p. 10353.
50
Assim, oferta-se o mínimo existencial, que não poderá reduzir-se ao mínimo vital a propiciar
somente a existência física, mas sim assegurando uma vida efetivamente saudável.13
Nesse contexto, a CFRB, além de estabelecer no art. 6º que são direitos sociais, dentre
outros, a saúde,14apresenta uma ordem social com um vasto universo de normas que destinam
programas, tarefas, diretrizes e fins a serem perseguidos pelo Estado e pela sociedade, pelo que
se destacam dispositivos constitucionais constantes da ordem social, que fixam a saúde como
direitos de todos e dever do Estado (art. 196)15.
Em nosso país, ainda se tem uma situação muito precária, notoriamente no setor da
saúde pública pela influência direta na gênese das patologias com maior prevalência. As
políticas públicas atuais não são capazes de reverter esse quadro, contudo, um conjunto de
políticas sociais, pode contribuir significativamente para a promoção da cidadania de uma
parcela expressiva da população brasileira.16
Nesse contexto, de modo especial, importante frisar que o direito a saúde é um direito
individual, ligado à proteção da vida, da integridade física e corporal, bem como da referida
dignidade inerente ao ser humano.17 Em face dessa prerrogativa, a despeito da dimensão
coletiva e difusa de que possa se revestir, o direito à saúde deverá ser tutelado individualmente,
pois cada indivíduo possui um organismo diferenciado.
13
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz.
Comentários à Constituição do Brasil. p. 10354.
14
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição”. Cf.BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de
1988...
15
PIOVESAN, Flávia. Justiciabilidade dos direitos sociais e econômicos: desafios e perspectivas. In:
CANOTILHO, J. J. Gomes; CORREIA, Marcos Orione Gonçalves; Correia; BARCHA, Érica Paula. Direitos
fundamentais sociais. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 862.
16
PUSTAI, Odalci José; FALK, João Werner. O sistema de saúde no Brasil.In: DUNCAN, Bruce B. et al.Medicina
ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 18.
17
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz.
Comentários à Constituição do Brasil. p. 10353.
51
Nesta senda, o isolamento social ocasionado pelo coronavírus transformou a rotina dos
indivíduos da casa. Antes da pandemia tínhamos uma rotina de trabalho, momentos de lazer,
de estar com a família, mas em tempos de pandemia misturam-se as relações, ocasionando, em
muitos casos, doenças psicológicas, psíquicas, estresse, síndrome de Burnout, doenças advindas
da hiperconectividade, traumas coletivos pela perda de familiares.
18
BONNA, Alexandre Pereira. Direito de danos, políticas púbicas e a COVID-19: a pandemia que exige um novo
conceito de responsabilidade civil.In: ROSENVALD, Nelson; MONTEIRO FILHO, Carlos Edison do Rêgo;
DENSA, Roberta. Coronavírus e responsabilidade civil. Indaiatuba: Foco, 2020. p. 423.
19
BONNA, Alexandre Pereira. Direito de danos, políticas púbicas e a COVID-19: a pandemia que exige um novo
conceito de responsabilidade civil. p. 425.
52
de inúmeros direitos sociais (arts. 6º a 11º); ao estabelecer como dever do Estado a proteção do
consumidor e estipular que a ordem econômica deve observar a defesa do consumidor (arts. 5º,
XXXII e 170, V).”20
20
BONNA, Alexandre Pereira. Direito de danos, políticas púbicas e a COVID-19: a pandemia que exige um novo
conceito de responsabilidade civil. p. 428-429.
21
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidades civil dos hospitais: Código Civil e Código de Defesa do
Consumidor. 4. ed. São Paulo: Thomson Reuters, 2019. p. 479.
22
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidades civil dos hospitais. p. 480.
23
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidades civil dos hospitais. p. 479.
24
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidades civil dos hospitais. p. 480.
53
Sendo assim, a equidade deve prevalecer sobre a legalidade positiva, pois possibilita
uma consecução mais perfeita da justiça e do direito.25
John Rawls aduz que a concepção da justiça apresenta uma teoria pura da justiça, uma
concepção que o autor chama de justiça de equidade. Em razão disso, concebe as ideias e os
objetivos centrais dessa concepção como os de um pensamento filosófico. Dessa forma, o autor
consolida que a justiça como equidade pareça razoável e útil, mesmo que não seja.26
Rawls acredita que dois princípios de justiça poderiam emergir do contrato hipotético.
O primeiro oferece as mesmas liberdades básicas para todos os cidadãos, como liberdade de
expressão e religião. Esse princípio sobrepõe-se às considerações sobre utilidade social e bem-
estar geral. O segundo princípio refere-se à equidade social e econômica. Embora não requeira
uma distribuição igualitária de renda e riqueza, ele permite apenas as desigualdades sociais e
econômicas que beneficiam os membros menos favorecidos de uma sociedade.27
Portanto, sobreleva mencionar que o motivo principal do autor para buscar essa
alternativa é a fragilidade da doutrina utilitarista como fundamento das instituições da
democracia constitucional, embora o utilitarismo para John Rawls não possa explicar as
liberdades de direitos básicos dos cidadãos como pessoas livres e iguais, uma exigência de
importância absolutamente primordial para uma consideração das instituições democráticas.
Por fim, esboçou-se uma expressão mais geral e abstrata da ideia do contrato social usando,
para isso, a ideia da posição original. Explicando as liberdades e os direitos básicos e sua
prioridade, foi o primeiro objetivo da justiça como equidade. O seu segundo objetivo foi
integrar a explicação a um entendimento da igualdade democrática, o que conduziu ao princípio
da igualdade equitativa de oportunidades e ao princípio da diferença.28
25
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidades civil dos hospitais. p. 480.
26
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
27
SANDEL, Michael J. Justiça: o que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. Versão
Kindle.
28
RAWLS, John. Uma teoria da justiça.
29
NONET, Philippe; SELZNICK, Philip. Direito e sociedade: a transição do sistema jurídico responsivo. [S.l.]:
Revan, 2010. p. 8-19.
54
John Rawls tem como propósito criar uma sociedade justa. Para o filósofo, é um tipo de
organização social, onde há perfeita distribuição dos bens e dos desejos. Numa das primeiras
oposições considera-se que os bens materiais sejam escassos; e os desejos humanos, ilimitados.
Porém, os bens sociais são limitados e escassos: escassez dos bens sociais.
O autor cria uma espécie de conciliação entre liberdade representada nos desejos e
igualdade na concepção de distribuição de bens sociais, logo uma espécie de reconciliação dos
princípios liberais anteriores a II Grande Guerra (direitos fundamentais, liberdades individuais)
com princípios igualitaristas, uma ideia de igualdade política, material, e demais implicações,
ou seja, o filósofo não pretende abandonar uma sociedade liberal, mas sim propor uma forma
de pensar organização política de intervencionismo com políticas igualitaristas para corrigir o
que o liberalismo, em sua opinião, não tem por essência. Essa junção em conjugar
individualismo formal dos direitos fundamentais e o igualitarismo de bem estar social é o
objetivo do filosofo. Conciliando chama-se de justiça como equidade.31
30
WEBBER, Suelen da Silva; ROCHA, Leonel Severo. Direito e Sociedade em transição: respostas sociológicas
para decisões judiciais autopoiéticas. [S.l.: 201-]. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=914101ec47c52b48. Acesso em: 26 out. 2020. p. 15.
31
RAWLS, John. Uma teoria da justiça.
55
Nesse contexto, o Senado Federal aprovou projeto que cria, no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS), um programa específico para atender as pessoas que precisam de ajuda
psicológica, psiquiátrica, causado pela pandemia de covid-19.
Ante o exposto, percorrido o sinuoso terreno do coronavírus bem como, dos direitos e
garantias fundamentais, dentre os quais o direito à saúde e dignidade da pessoa humana devem
ser respeitados, pensando e colocando em prática a equidade e minimizando ou eliminado as
desigualdades sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
John Rawls argumenta que a “[...] maneira pela qual podemos entender a justiça é
perguntando a nós mesmos com quais princípios concordaríamos em uma situação inicial de
equidade.”32Com isso, torna-se cada vez mais importante o reconhecimento e tutela aos direitos
fundamentais no que tange a saúde no Brasil, especialmente para os indivíduos menos
favorecidos. Nesse contexto, vislumbrando uma sociedade com justa igualdade de
oportunidades no setor da saúde, bem como acerca da atuação ativa do governo para que se
tenha em Estado Democrático de Direito estabelecido pela CRFB.
Diante disso, salienta-se que para se ter uma sociedade justa com os direitos efetivados,
ou seja, no presente ensaio, uma saúde eficaz faz-se necessário instituir políticas públicas
eficientes que visem o ideal de justiça que John Rawls. Dessa forma, valem-se de um contrato
social ao que utilizam o denominado véu da ignorância para tornar possível. John Rawls
raciocina que, para definir os princípios que governarão nossa vida coletiva para elaborar um
contrato social, deve-se selecionar determinados princípios, salientando que “[...] pessoas
diferentes têm princípios diferentes, que refletem seus diversos interesses, crenças morais e
religiosas e posições sociais.”33 Logo, precisa-se chegar a um consenso.
Nas palavras de Michael J. Sandel, “[...] mesmo o consenso refletiria o maior poder de
barganha de alguns sobre o dos demais”,34 pelo que não há motivos para acreditar que um
contrato social elaborado dessa maneira seja um acordo justo. Nessa linha, utiliza-se o véu da
ignorância em que hipoteticamente não sabemos quem somos, não sabemos a classe social,
32
RAWLS, John. Uma teoria da justiça.
33
SANDEL, Michael J. Justiça. p. 233.
34
SANDEL, Michael J. Justiça. p. 233.
56
gênero, religião, raça, etnia e nossas opiniões políticas ou crenças religiosas. É dessa forma que
John Rawls, sem essas informações, considera um contrato social justo, um acordo com
equidade.
Por fim, assim deveriam ser as políticas públicas inovadoras no setor da saúde.
Propiciando uma análise do coletivo, partindo-se do pressuposto de não analisar os interesses
próprios. John Rawls acredita que “[...] dois princípios de justiça poderiam emergir do contrato
hipotético”.35 O primeiro princípio dispõe as mesmas liberdades básicas para todos os
indivíduos, tais como a liberdade de expressão e religião. Assim, sobrepõe-se a considerações
sobre utilidade social e bem-estar geral.36 O segundo princípio é “[...] inerente à equidade social
e econômica”.37 Dessa forma, preceitua-se que embora não “[...] requeira uma distribuição
igualitária de renda e riqueza, ele permite apenas as desigualdades sociais e econômicas que
beneficiam os membros menos favorecidos de uma sociedade.”38
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Medo líquido. Tradução de Carlos Roberto Medeiros. Rio de janeiro:
Zahar, 2008.
BRASIL registra 52 mil casos de Covid em 24 horas; média móvel aponta alta de 35% em 2
semanas. G1, [s.l.], 01 jan. 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/12/01/casos-e-mortes-por-
coronavirus-no-brasil-em-1-de-dezembro-segundo-consorcio-de-veiculos-de-imprensa.ghtml.
Acesso em: 01março. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
35
SANDEL, Michael J. Justiça. p. 235.
36
SANDEL, Michael J. Justiça. p. 235.
37
SANDEL, Michael J. Justiça. p. 235.
38
SANDEL, Michael J. Justiça. p. 235.
57
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde (SUS): estrutura, princípios e como
funciona. Brasília, [s.d.]. Disponível em: http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude.
Acesso em: 01 mar. 2021.
KFOURI NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidades civil dos hospitais: Código Civil e Código
de Defesa do Consumidor. 4. ed. São Paulo: Thomson Reuters, 2019. p. 479.
PILAU SOBRINHO, LitonLanes. Comunicação e direito à saúde. Espanha: Punto Rojo, 2016.
PUSTAI, Odalci José; FALK, João Werner. O sistema de saúde no Brasil.In: DUNCAN, Bruce
B. et al. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 10-19.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
SANDEL, Michael J. Justiça: o que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2015. Versão Kindle.
INTRODUÇÃO
A pesquisa analisa o aumento do superendividamento na atualidade principalmente no
contexto vivenciado pelo período pandêmico e durante o isolamento social nas relações de
1
Mestre em Direito pela Universidade de Passo Fundo RS. Especialista em Direito Material e Processual do
Trabalho - PUC/RS (2018). Pesquisadora acadêmica, integrou do Grupo de pesquisa Jurisdição Constitucional e
Democracia, sob a coordenação do Prof. Dr. Liton Lanes Pilau Sobrinho, sediado na UPF. Pesquisadora
acadêmica, integrou o Grupo de pesquisa, Análise econômica do direito, sob a coordenação da Profa. Dra. Karen
Beltrame Fritz, sediado na UPF. Pertenceu ao grupo de pesquisa Novas Tecnologias, Processo e Relações de
Trabalho, sob a coordenação da Profa. Dra. Denise Pires Fincato e Relações de Trabalho e Sindicalismo, sob a
coordenação do Prof. Dr. Gilberto Stürmer, sediado na PUC/RS. Graduada em Direito. PUC/RS (2017). Advogada
e consultora. http://lattes.cnpq.br/8764597431847436
2
Doutora em Ciência Jurídica Univali e Doutora en Agua y Desarollo Sostenible del Instituto Universitario del
Agua y de las Ciencias Ambientales (IUACA), Universidade de Alicante/ Espanha. Mestre em Desenvolvimento
Regional: Estado Instituições e Democracia. Advogada. Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais( Direito)
Universidade de Passo Fundo- UPF/RS. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, Especialista
em Direito Processual Civil. Professora Faculdade Corporativa da Associação Brasileira de Advogados- Uniaba-
Brasília DF. http://lattes.cnpq.br/1894496805941576 ; https://orcid.org/0000-0002-1434-4862
3 Mestranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade de Passo Fundo. Advogada. Graduada
em Direito na Universidade Luterana do Brasil. Especializada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho com
atualização pela Personalitté Educacional. Curso pelo Instituto Work Ab de Saúde e Segurança nos Diferentes
Modelos de Trabalho Pós-pandemia: diálogos transdisciplinares. Curso de Direito do Trabalho e Assédio Moral
pela (UNIFTEC 2021) http://lattes.cnpq.br/0370718248786711
59
No contexto atual, vive-se numa sociedade cercada das mais distintas tecnologias, o que
potencializa a propagação de informação e conhecimento de forma instantânea, ao que se tem
a manipulação dos algoritmos sobre os hábitos dos internautas hiperconectados. Passa-se por
uma transformação cultural e social, em que as pessoas da mesma casa permanecem
hiperconectadas, ocasionando na mistura das relações pessoais com as profissionais e tornando-
se ainda mais recorrente a compra pelo comércio digital.
Dessa forma, ocorreu grande aumento das pessoas superendividadas, ou seja, sem
dinheiro para quitar seus débitos e sua subsistência. Nesse período, foi aprovada a Lei do
Superendividamento, que dispõe sobre a prevenção e tratamento, como uma alternativa para
evitar a exclusão social desses consumidores.
A globalização e os avanços trazidos pela tecnologia têm impactado a vida das pessoas.
Nesse sentido, isso se deve ao crescimento célere no ambiente de consumo digital, ocasionando,
por vezes, novos conflitos, pelo que se torna necessário repensar as soluções cabíveis para
proporcionar um consumo saudável e inteligente, a exemplo da educação financeira para esta
nova forma de consumo.
entidades estão propiciando nesse período para contribuir com um consumo inteligente.
Destarte, diminuindo ou até mesmo eliminando o superendividamento no comércio digital.
O espaço virtual é caracterizado como uma relação de anarquia. A cada minuto milhares
de indivíduos criam e consomem um incalculável conteúdo digital na Internet que não tem
limites e regras. A Internet é o maior espaço sem governo no mundo. Hoje, estamos na era do
Big Data, em que “[...] o êxtase e o estado da arte de mineração dos dados, mais precisamente
essa tecnologia, permite que um volume descomunal de dados seja estruturado e analisado para
uma gama indeterminada de finalidades”.4
Com o objetivo de ilustrar o Big Data, Bioni 5 explica uma ação de uma empresa por
parte da varejista americana Target para identificar as consumidoras grávidas. Segundo a
analogia estratégica da empresa no período gravídico as futuras mães consomem muito mais
produtos:
Dessa forma, o autor esclarece que “[...] os algoritmos foram programados para
reestabelecer tal correlação, segmentando, dentre as milhares de consumidoras, aquelas com tal
perfil para fins de ação publicitária”7, o que importa em controle fraudulento sobre o
consumidor, conduta que viola direitos e garantias constitucionais.
4
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio de Janeiro:
GEN Forense, 2018, p.39.
5
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio de Janeiro:
GEN Forense, 2018, p.42
6
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio de Janeiro:
GEN Forense, 2018, p.42
7
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio de Janeiro:
GEN Forense, 2018, p.42
61
Nossa sociedade é uma sociedade de consumo, pois “Quando falamos de uma sociedade
de consumo, temos em mente algo mais que a observação trivial de que todos os membros dessa
sociedade consomem; todos os seres humanos, ou melhor, todas as criaturas vivas ‘consomem
desde tempos imemoriais”8
Diante do exposto, realizada essa reflexão sobre a ascensão digital, o novo perfil das
relações de consumo e do consumidor no comércio digital analisa-se a vulnerabilidade dos
consumidores nas mídias digitais e o aumento do superendividamento dos brasileiros,
principalmente durante o isolamento social no contexto pandêmico.
8
BAUMAN, Zygmunt. Globalização. ed. Digital Cidade: Rio de Janeiro, Zahar, 2012, p.83. Versão e-
book.
62
Destarte, a globalização tem sido pesquisada e conceituada por muitos autores. De Masi
trabalha com dez fases de globalização, qualificando de acordo com os objetivos propostos nas
diversas fases de expansão. Castells9 estuda a globalização econômica, sendo a expansão do
trabalho o ponto comum entre os autores. Bauman10 pontua que, para determinado grupo, a
globalização
[...] é o que devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa
infelicidade. Para todos, porém, “globalização” é o destino irremediável do mundo,
um processo irreversível; é também um processo que nos afeta a todos na mesma
medida e da mesma maneira. Estamos todos sendo “globalizados” — e isso significa
basicamente o mesmo para todos.
9
CASTELLS, Manuel. La era de la información: la sociedad red. 2. ed. Madrid: Alianza, 2001,
v. 1, p.96.
10
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. ed. Digital Cidade: Rio De Janeiro, Zahar, 2012, p.6
Versão e-book.
11
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento.
Rio de Janeiro: GEN Forense, 2018, p.28.
12
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento.
Rio de Janeiro: GEN Forense, 2018, p.29.
63
Segundo o autor, é por essa razão que é paradigmática a aquisição do WhatsApp pelo
Facebook, pois muito explica a respeito da promulgada monetização dos dados pessoais,
especialmente como estratégia comercial que influencia toda a celeuma regulatória no que tange
à proteção dos dados pessoais.13
Neste sentido, o CDC dispõe em seu artigo 54-A, § 1º, que superendividamento é
a “[...] impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade
de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial”.
De plano já restam excluídas as pessoas jurídicas do conceito. A seu turno, Marques, Lima e
Vial14 definem o superendividamento “[...] como a impossibilidade global do devedor-pessoa
física, consumidor, leigo e de boa-fé́ , de pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo
13
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento.
Rio de Janeiro: GEN Forense, 2018, p.35.
14
MARQUES, Claudia Lima; LIMA, Clarissa Costa de; VIAL, Sophia. Superendividamento dos consumidores
no pós-pandemia e a necessária atualização do Código de Defesa do Consumidor. [São Paulo, 2021, p.3]
Disponível em:https://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/ObrasJuridicas/105-
dc.pdf?d=637581604679873754. Acesso em: 15 out. 2022.
64
(excluídas as dívidas com o Fisco, oriunda de delitos e de alimentos)”. Nessa linha, Canto
15
afirma que
A experiência brasileira recomenda que matérias que sejam da essência das relações
de consumo (como o crédito, o superendividamento e o comércio eletrônico) façam
parte do corpo do CDC e beneficiem-se de sua estabilidade legislativa e principiologia
microssistêmica. Evita-se, dessa maneira, que se formem, pela especialização, novos
microssistemas, verdadeiros guetos normativos, divorciados, e até antagônicos ao
espírito e letra do CDC.
Portanto, nas próximas linhas será analisado a educação para o consumo inteligente e
consequentemente a Lei n. 14.181/2021, intentando a prevenção e tratamento para o
superendividamento.
Esse movimento que fizemos compulsoriamente por conta da pandemia nos fez
avançar ou regredir? A resposta pode ser encontrada ao começarmos a refletir sobre as
plataformas que deram sustentação de uma forma ou outra aos diferentes processos da ação
humana no mundo.
15
CANTO, Rodrigo Eidelvein do. Vulnerabilidade dos consumidores no comércio eletrônico. ed. 1, São Paulo,
Revista dos Tribunais, 2019, posição 3912. Versão e-book.
16
MARQUES, Claudia Lima; LIMA, Clarissa Costa de; VIAL, Sophia. Superendividamento dos consumidores
no pós-pandemia e a necessária atualização do Código de Defesa do Consumidor. [São Paulo, 2021, p.7]
Disponível em:https://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/ObrasJuridicas/105-
dc.pdf?d=637581604679873754. Acesso em: 15 out. 2022.
65
consumidores e fornecedores com os seus direitos e deveres para melhoria das relações de
consumo.
17
O Banco Central do Brasil contribuiu com um guia de excelência de educação
financeira do consumidor, dispondo que
[...] a educação financeira é mais eficaz quando o consumidor está motivado por certa
circunstância de vida, como a necessidade de adquirir uma casa. Nesse momento,
chamado “teachable moment”, ele estará mais “aberto” para aprender qual a melhor
forma de gerenciar sua vida financeira e avaliar opções de financiamento. [grifos do
autor]
17
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm. Acesso em: 18 set. 2021.
18
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm. Acesso em: 18 set. 2021.
66
[...] a proteção de dados pessoais alcançou uma dimensão sem precedentes no âmbito
da chamada sociedade tecnológica, notadamente a partir da introdução do uso da
tecnologia da informática e da ampla digitalização que já assumiu um caráter
onipresente e afeta todas as esferas da vida social, econômica, política e cultural
contemporânea no mundo, fenômeno comumente designado de Ubiquitous
Computing.
Importante ressaltar que a Lei Geral de Proteção de Dados objetiva proteger os dados
dos titulares e entrou em vigor no ano de 2021. A proteção de dados pessoais emerge no âmbito
da sociedade de informação como possibilidade de tutelar direitos da personalidade do
indivíduo contra os potenciais riscos a serem causados pelo tratamento de dados pessoais.
Sendo assim, uma vez compreendida esta interação, torna-se imperioso munir-se de uma
legislação que visa proteger os dados, resguardando garantias e direitos fundamentais. A
proteção de dados pessoais, em síntese, é a defesa dos dados de uma pessoa, mormente os que
dizem respeito aos direitos de personalidade, direitos humanos e direitos fundamentais.
Neste ínterim, importante trazer a letra do art. 54-A, caput e § 1º, do CDC após a
alteração trazida pela da Lei do Superendividamento, que assim dispõe:
19
MARQUES, Claudia Lima; LIMA, Clarissa Costa de; VIAL, Sophia. Superendividamento dos consumidores no
pós-pandemia e a necessária atualização do Código de Defesa do Consumidor. [São Paulo, 2021, p.6] Disponível
em:https://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/ObrasJuridicas/105-dc.pdf?d=637581604679873754.
Acesso em: 15 out. 2022.
67
Assim sendo, no caso do consumidor endividado, ele pode não conseguir pagar a
totalidade da dívida, mas consegue de forma parcial e esses débitos não comprometem a sua
subsistência. O consumidor ainda consegue levar uma vida econômica estável. Já no
superendividamento não existe meios de quitar os débitos e isso, em alguns casos, compromete
a sua subsistência.
20
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm. Acesso em: 18 set. 2021.
21
DALL’AGNOL, Laísa. Superendividamento? Saiba o que é e como fugir. Agora, São Paulo, 1 jul. 2019.
Disponível em: https://agora.folha.uol.com.br/grana/2019/07/superendividamento-saiba-o-que-e-e-como-
fugir.shtml. Acesso em: 19 set. 2021.
22
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. CNJ Serviço: o que muda com a Lei do Superendividamento? Brasília,
6 ago. 2021. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-o-que-muda-com-a-lei-do-superendividamento/.
Acesso em: 17 set. 2021.
68
econômica para não recair novamente em débitos. A nova lei do superendividamento acaba
sendo um alívio necessário organizacional para o consumidor.
Em razão disso, a educação financeira se torna uma grande aliada e deve ser ensinada,
desde cedo, nas escolas, nos balcões, nas entidades responsáveis, no mundo digital etc., pois o
acesso à informação torna-se essencial para diminuir ou eliminar esse consumo impensado e
desenfreado. A Lei do Superendividamento reforça princípios essenciais do CDC, bem como,
regulamenta a prevenção e o tratamento, sendo um ganho para a sociedade ao ensinar a
população a um consumo disciplinado e responsável, mesmo com as estratégias dos varejos no
e-commerce.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em razão disso, como forma de prevenção e tratamento, como já dito, umas das mais
eficazes soluções que deve ser exercida por todos é a educação financeira do consumidor, tendo
em vista que a educação é quesito essencial para a resolução dos conflitos. Portanto, é notória
a adaptação do consumidor as novas relações de consumo. Todavia, é necessário educar ou
reeducar os consumidores já no ensino básico, proporcionar disciplinas de consumo inteligente
e economia no ensino fundamental, nas redes sociais, balcões dos consumidores, entre outras
formas de divulgação da informação fidedigna para vivermos em uma sociedade mais
harmônica, menos imediatista e mais responsável nas relações de consumo.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Globalização. ed. Digital Cidade: Rio de Janeiro, Zahar, 2012. Versão
e-book.
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. ed. Digital Cidade: Rio De Janeiro, Zahar, 2012.
Versão e-book.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. CNJ Serviço: o que muda com a Lei do
Superendividamento? Brasília, 6 ago. 2021. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-
o-que-muda-com-a-lei-do-superendividamento/. Acesso em: 17 set. 2021.
CASTELLS, Manuel. La era de la información: la sociedad red. 2. ed. Madrid: Alianza, 2001,
v. 1.
DALL’AGNOL, Laísa. Superendividamento? Saiba o que é e como fugir. Agora, São Paulo, 1
jul. 2019. Disponível em: https://agora.folha.uol.com.br/grana/2019/07/superendividamento-
saiba-o-que-e-e-como-fugir.shtml. Acesso em: 19 set. 2021.
GAGLIANO, Pablo Stolze; OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Comentários à Lei do
Superendividamento (Lei nº 14.181, de 1º de julho de 2021) e o princípio do crédito
responsável: uma primeira análise. Revista Jus Navigandi, Teresina, a. 26, n. 6575, 2 jul. 2021.
ISSN 1518-4862. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/91675. Acesso em: 19 set. 2021.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. 2. ed.,Rio de Janeiro, Vozes, 2019. Versão e-book.
HUI, Yuk. Tecnodiversidade. 1. ed. São Paulo: Ubu, 2020. Versão e-book.
MARQUES, Claudia Lima; LIMA, Clarissa Costa de; VIAL, Sophia. Superendividamento dos
consumidores no pós-pandemia e a necessária atualização do Código de Defesa do
Consumidor. [São Paulo, 2021]. Disponível em:
https://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/ObrasJuridicas/105-
dc.pdf?d=637581604679873754. Acesso em: 15 out. 2022.
MASI, Domenico De. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. Tradução
de Yadyr A. Figueiredo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.
TUCCI, Flavio. Lei do superendividamento comentada – Lei 14.181/2021. 1. ed. Cidade: São
Paulo, Saraiva, 2017. Versão e-book.
71
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como temática a alteração da Lei n.º 9.656/1998 pela Lei n.º
14.454, publicada no Diário Oficial da União (D.O.U.) em 21 de setembro de 2022, que permitiu
a cobertura de exames, procedimentos, medicamentos e/ou tratamentos de saúde que não estão
incluídos no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar listados pela Agência
Nacional de Saúde (ANS), para elencar a dicotomia existente entre o direito universal a saúde
como dever estatal e as prerrogativas da saúde privada sob a ótica da teoria conhecida como
“tragédia dos comuns” como um dos inúmeros reflexos da pandemia do COVID -19 no Brasil.
1
Advogado OAB/RS 58.666. Professor. Mestre em Direito das Empresas e dos Negócios pela Unisinos; Membro
da Comissão Especial da Saúde da OAB/RS E-mail: fabio@brackebarbi.com.br
2
Advogada OAB/RS 116.901. Pós-graduada em Direito Médico e da Saúde pela Faculdade Verbo Educacional.
E-mail cassia@brackebarbi.com.br
72
Em tempo, mesmo não sendo objeto do presente, importante ressaltar que a alteração
referenciada vai de encontro ao entendimento exarado na ADI 1.931/2018, a qual entendeu, em
decisão declaratória positiva, que é de competência da Agência Nacional de Saúde Suplementar
emitir normas que definam o limite de coberturas à que se submetem as empresas Operadoras de
Planos de Saúde.
Neste contexto, verifica-se que o direito à saúde é uma garantia de ordem fundamental
estabelecido pela Constituição Federal, o qual se reveste de essencialidade perante a atuação
estatal, exigindo da administração pública medidas concretas para sua efetivação.
Devido ao cenário descrito, a Lei n.º 9.656/1998, referente aos planos e seguros privados
de assistência à saúde, foi alterada pela Lei n.º 14.454, publicada no Diário Oficial da União
(D.O.U.) em 21 de setembro de 2022.
A modificação adveio do Projeto de Lei (PL) n.º 2.033/2022, cujo propósito foi
estabelecer que o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde (REPS), atualizado pela Agência
Nacional de Saúde (ANS), sirva apenas como referência para os planos privados de saúde
contratados, ampliando o acesso a exames, medicamentos, procedimentos e tratamentos não
previstos de forma contratual ou normativa.
3
Painel Coronavírus. Disponível em < https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em 22/10/2022.
74
privado e que detém, a partir de agora, incumbências equivalentes ao Sistema Único de Saúde
(SUS), ainda que extrapolem o portfólio de serviços contratados e inviabilizem seu propósito
financeiro.
No presente caso, conceder ao Rol estabelecido pela Agência Nacional de Saúde (ANS)
caráter referencial é possibilitar aos usuários dos planos de saúde tratamentos que extrapolem o
conteúdo previsto contratualmente e que tem o condão de impactar, severamente, no balanço
financeiro atuarial das empresas do ramo, as quais irão repassar tal discrepância,
consequentemente, aos demais beneficiários dos serviços.
A dicotomia existente entre o interesse pessoal, qual seja, no presente caso, o interesse
de uma minoria que exigem tratamentos dispendiosos, e o bem-estar da maioria dos beneficiários,
os quais exigem os cuidados padrões previstos nas normas contratuais, foi bem exemplifica no
artigo denominado “A Tragédia dos Comuns”, escrito por Garret Hardin.
Em suas reflexões, o artigo expõe que a inclusão de animais sem restrições tornaria as
terras populosas e, por conseguinte, seria reduzida a capacidade da área de se recuperar para
manutenção de elevado rebanho, prejudicando assim à manutenção das ovelhas de forma
75
coletiva. De fato, e em resumo, por interesse de alguns que pretendiam maximizar seus ganhos
com o aumento de seus animais, a totalidade do campo seria inutilizada, prejudicando toda a
coletividade, e levando ao que o autor denominou de “Tragédia dos Comuns”.
Nas palavras de Hardin, ruína é o destino para o qual todos os homens correm, cada
um perseguindo seu próprio interesse em uma sociedade que acredita na liberdade dos bens
comuns. E continua, aduzindo que a seleção natural favorece as forças de negação psicológica4,
ou seja, negamos que agimos em interesse próprio por imposição da seleção natural, como atores
no palco coletivo, contrariamente a manutenção do mais puro conceito de sociedade.
O cenário narrado pelo escritor Garret Hardin não é diferente da discussão sob exame.
Isso porque, ao excluir o caráter taxativo do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde,
atualizado periodicamente pela Agência Nacional de Saúde (ANS), determinando que este sirva
apenas como referência para os planos privados de saúde contratados, ampliando o acesso a
exames, medicamentos, procedimentos e tratamentos não previstos de forma contratual ou
normativa, o legislador oferece acesso irrestrito aos recursos dos planos de saúde aos
beneficiários.
Como já dito, a saúde universal trata-se de um direito social que demanda da esfera
estatal o emprego de medidas efetivas para sua promoção e acessibilidade.
4
HARDIN, Garret. A tragédia dos Comuns. Tradução por José Roberto Bonifácio. Revista Science, vol. 162.
1.968. p. 1245-1246
76
Em apartada síntese, quando uma pequena parcela dos usuários de planos e saúde dispõe
de procedimentos extraordinários, o recurso utilizado com excesso e sem limitações reduz a
capacidade dos demais em utilizar com regularidade o plano inicialmente contratado.
Além disso, porém não menos importante, é de se reconhecer como fato que os planos
de saúde são um produto comercial, com seus riscos calculados para a construção de um “preço
de venda”. Frente à nova realidade imposta, e sendo necessária a criação de um “fundo”
financeiro para sinistros até então inexistentes, e considerando que tais imposições contemplam
os milhões de contratantes para os quais essa nova variável não estava prevista no momento do
acordo, os contratantes “futuros” terão encargos maiores, no intuito de sustentar os custos dos
contratantes “passados”.
Nessa seara, é evidente que as pessoas mais jovens, sobre as quais os problemas de
saúde não têm uma maior imposição estatística, se verão frente a escolha do risco e o alto valor
de compra, ocasionando um envelhecimento da população ligada aos planos de saúde e, por
decorrência, um aumento de custos assistenciais, em um círculo inescapável de termo aos
recursos finitos.
Logo, tendo em vista que a utilização sem restrições dos planos de saúde pode culminar
na diminuição do acesso da população e dos próprios benefícios a estes, é necessário que o
legislador e a administração pública concedam maior atenção ao referido risco, tendo em vista
que o acesso e qualidade dos referidos recursos podem ser severamente comprometidos, tornando
real a relação aqui delineada sobre a ausência de taxatividade do rol da Agência Nacional de
Saúde (ANS) e a Tragédia dos Comuns.
77
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme delineado, o presente artigo teve como propósito esclarecer como a retirada
do caráter taxativo do rol da Agência Nacional de Saúde (ANS) perante os planos de saúde
privados do país, como reflexo da pandemia do COVID – 19, arrisca a atividade econômica – e
função social - das empresas privadas do respectivo ramo, vez que visam a oferta de serviços de
forma irrestrita que, ao logo do tempo, pode implicar no aumento do ônus financeiro de planos
de saúde e beneficiários, culminando na analogia disposta na obra “Tragédia dos Comuns”, de
Garret Hardin.
Como direito social estabelecido pela Constituição Federal, a saúde, sua promoção,
oferecimento e efetividade constituem incumbências exclusivas da Administração Pública, a qual
deve atuar sempre em busca da melhor atuação em benefício da coletividade. Neste ponto, é
inegável que, no Brasil, devido a diversos fatores a saúde pública não é efetiva de forma
igualitária a toda população.
Mesmo face ao caráter de atuação apenas complementar, vez que a promoção da saúde
constitui ônus público, a mudança legislativa que determina que o Rol de Procedimentos e
Eventos em Saúde (REPS) serve apenas como referência para os planos privados contratados,
ampliando o acesso a exames, medicamentos, procedimentos e tratamentos não previstos de
forma contratual ou normativa, constitui um retrocesso a valorização e importância dos planos e
cooperativas de saúde.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n.° 9.656, DE 3 DE JUNHO DE 1998. Dispõe sobre os planos e seguros privados
de assistência à saúde. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9656.htm>.
Acesso em 21.11.2022.
79
HARDIN, Garret. A tragédia dos Comuns. Tradução por José Roberto Bonifácio. Revista
Science, vol. 162. 1.968. p. 1243-1248.
BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 1990.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em
21.11.2022.
BUZZI, Marco Aurélio. A mediação como solução à excessiva judicialização da saúde. In:
JOSÉ CECHIN, Judicialização de planos de saúde: conceitos, disputas e consequências.
Palmas: Esmat, 2020.
80
Resumo: Este artigo visa trazer à tona um problema alarmante entre os profissionais da saúde,
o burnout, que se potencializou e mostrou suas faces mais temíveis durante a pandemia de
COVID-19. Apresentar-se-á algumas dessas vertentes, como elas vem se apresentando, as
possíveis atenuantes e agravantes dessa condição.
Abstract: This article aims to bring to light an alarming problem among health professionals,
burnout, which has increased and showed its most fearsome faces during the COVID-19
pandemic. Some of these aspects will be presented, as they have been presenting themselves,
the possible mitigating and aggravating factors of this condition.
1. INTRODUÇÃO
1
Acadêmico do 5º ano do curso de Direito da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Email:
ra109227@uem.br.
2
Mestra em Direito pelo Centro de Ensino Superior de Maringá (CESUMAR). Advogada inscrita na OAB/PR sob
o n.º 42.545.E-mail: kbsengik2@uem.br.
81
2. Desenvolvimento
2.1. O que é burnout
O termo vem da língua inglesa e carrega consigo o sentido de que o profissional vem
sendo consumido pelo trabalho. Tal conceito emergiu na década de 1970, em um primeiro
momento “como um problema social e não acadêmico”, não sendo desenvolvido entorno de
uma teoria, mas embasada em anos de pesquisa exploratória. Em 1974, Freudenberger já
observava os sintomas de burnout em meio aos profissionais da saúde.
Não é algo atual a demanda por humanização na prestação dos serviços na área da saúde. Em
2003, o Governo Federal, através do Ministério da Saúde, lançou a Política Nacional de
82
3
De acordo com pesquisa disponibilizada pela CNN Brasil, houve queda de aproximadamente 70% nos
atendimentos para consultas, exames e cirurgias eletivas (CNN. Corrida de pacientes crônicos a hospitais pós-
pandemia preocupa especialistas. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/corrida-de-pacientes-
cronicos-a-hospitais-pos-pandemia-preocupa-especialistas/. Acesso em: 03 de outubro de 2022).
4
MASLACH, Christina. LEITER, Michael P. Trabalho: fonte do prazer ou desgaste? Campinas/SP: Papirus,
1997, p. 22.
5
PEBMED. 78% dos profissionais de saúde tiveram sinais de Burnout durante pandemia. Disponível em:
https://medicinasa.com.br/burnout-profissionais-de-saude/. Acesso em: 03 de outubro de 2022.
83
Necessário, desde já, enfatizar que esse trabalho não se trata de abstração teórica ou
utópica tendenciosa. Não é a intenção, aqui, apontar o dedo aos profissionais da saúde e os
utilizar como bodes expiatórios para o sistema que não os enxerga ou finge não o fazer.
Quando se fala em burnout, pode-se ter uma falsa impressão de que quem sofre é apenas
o profissional, o que não ocorre. Utilizando-se como baliza os aspectos apresentados pelo CID-
11, em um primeiro momento, apresenta-se as possíveis consequências dos mesmos quando
ocorrem entre profissionais da saúde e posteriormente serão apresentadas as relações desses
sintomas e possíveis erros de procedimento com eventual responsabilização através da
apresentação de casos reais, a fim de exemplificar a ocorrência de cada fator abordado.
6
MASLACH, C; SCHAUFELI, W. B.; LEITER, M. P. Job burnout. Annual Review Psychology, 52, p. 397 – 422.
84
aspecto abordado. No entanto, outra necessidade crítica é a seguinte: como cobrar de alguém
um serviço humano se o prestador é visto como máquina e depois cobrar sobre mecanização do
trabalho?
São cobranças em todas as frentes, pressão extrema vinda dos gestores, equipes e
familiares, decisões de vida e morte a todo momento. Se não há suporte ao profissional
(autonomia mitigada e baixo poder de decisão), se ele não é tratado humanamente, ele passa a
perder o entusiasmo, a trabalhar de forma mecânica, afastando-se dos colegas e pacientes, o
que diminui de forma expressiva a empatia, sensibilidade desse colaborador.
7
Idem.
8
CUT. Em 5 anos, número de afastamentos por transtornos mentais cresce mais de 50%. Disponível em:
https://www.cut.org.br/noticias/em-5-anos-numero-de-afastamentos-por-transtornos-mentais-cresce-mais-de-50-
7fe5. Acesso em: 04 de outubro de 2022.
85
De pronto é claro que com esses sintomas as decisões tomadas pelos profissionais da
saúde, que já são críticas, tornam-se muito perigosas, principalmente no que tange a
probabilidade de danos irreversíveis e responsabilização do hospital, médico e equipes. A falta
de investimento em atenção aos profissionais da saúde é uma promissória de valor muito alto
que os gestores vem assinando e que será cobrada em forma de processos de responsabilização
cada vez mais onerosos, posto que, não se trata apenas do dinheiro, mas também da imagem da
instituição.
Analisando os três aspectos apresentados no tópico anterior, nota-se que, além da falta
de suporte, autonomia e reconhecimento, já citados, há um que necessita ser enfatizado e que
se destacou durante a pandemia que são os valores institucionais que, muitas vezes, diferem-se
dos do profissional. Um caso recente que escancara essa realidade é o caso da Prevent Sênior
em que médicos denunciaram a pressão exercida pelos gestores da mesma a fim de obriga-los
a prescrever o kit Covid, bem como a prática de alteração de prontuários e atestados de óbito10.
Enquanto isso, o Ministério da Saúde passou pela direção de quatro ministros, cada um
com uma diretriz, o que fez com que as Secretarias Estaduais criassem diretrizes próprias de
enfrentamento e o Conselho Federal de Medicina (CFM) ficar em cima do muro. Verifica-se
uma atuação reguladora fracassada, tendo o judiciário que intervir como um churrasqueiro
apressado que deixa a varejeira pousar na carne, limpa o que está visível e a serve com tudo
9
APM. Os médicos e a Pandemia de COVID-19. Disponível em:
https://associacaopaulistamedicina.org.br/noticia/covid-19-81-dos-medicos-enxergam-segunda-onda-tao-ou-
mais-grave. Acesso em: 04 de outubro de 2022.
10
SÃO PAULO, Câmara Municipal. CPI ouve ex-médicos da Prevent que denunciaram atuação da empresa
durante a pandemia. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.leg.br/blog/cpi-ouve-ex-medicos-da-prevent-que-
denunciaram-atuacao-da-empresa-durante-a-pandemia/. Acesso em: 04 de outubro de 2022.
86
aquilo que não é visto e que, pode causar uma intoxicação aqueles que comem. Não
necessariamente irá causar um problema a curto prazo, mas é questão de tempo.
Com 687.423 óbitos acumulados por COVID-1911, nota-se que não precisou de tanto
tempo para que os vermes da varejeira aparecessem juntamente com os sintomas. De 2015 a
2020 o número de casos por responsabilidade civil por erro médico dobraram 12. Os bons
profissionais, muitas vezes, não tiveram amparo do CFM ou Ministério da Saúde, tendo que
tomar decisões críticas, como decidir quem receberá leito nas Unidades de Terapia Intensiva
(UTIs)13.
Apesar de toda a experiência com a pandemia, parece que não se aprendeu muito.
Profissionais que cuidam da saúde foram adoecidos, tendo o burnout sido cada vez mais
recorrente, potencializando-se com esses três anos de enfrentamento ao Coronavírus e, ao que
tudo indica, não há nenhuma política efetiva sendo colocada em prática para os recuperar, pelo
contrário, as cobranças sobre eles continuam.
O judiciário não é meio efetivo para sanar esse tipo de problema. É necessário um
esforço conjunto buscando três aspectos predição, prevenção e correção. Uma área em que a
aplicação dessa metodologia funcionou aqui no Brasil foi na aviação comercial.
O país era um dos mais perigosos para voar comercialmente, com diversos acidentes
aéreos anualmente14, o que passou a ser um empecilho para a internacionalização das rotas e
abertura do mercado para empresas estrangeiras. Para solucionar tais questões foram feitas,
principalmente, investigações profundas realizadas pelo Centro de Investigação e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).
11
BRASIL. Painel Coronavírus. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em 19 de outubro de 2022.
12
AMPLA. Aumenta o número de processos por responsabilidade civil do médico. Disponível em:
https://revistaampla.com.br/aumenta-o-numero-de-processos-por-responsabilidade-civil-do-medico/. Acesso em:
05 de outubro de 2022.
13
SUAREZ, J. Dois doentes, um respirador e um médico para decidir. Disponível em:
https://apublica.org/2020/04/dois-doentes-um-respirador-e-um-medico-para-decidir/. Acesso em: 05 de outubro
de 2022.
14
ALMEIDA, C. A.; FARIAS, J. L.; SANTOS, L. C. B.; SANTOS, F. F.; AZEVEDO, C. P. C.; MATHEUS, F.
L.; SERRA, L. A. Ocorrencias Aeronauticas: Panorama Estatistico da Aviação Brasileira – Aviação Civil 2006-
2015. Centro deInvestigação e prevenção de Acidentes aeronáuticos (CENIPA). Brasília. 2016. Fl. 35. Disponível
em: https://www2.fab.mil.br/cenipa/index.php/estatisticas/panorama. Acesso em 19 de outubro de 2022.
87
Os relatórios não buscam apenas punir, não é a busca principal, sendo ela a verificação
de qual a cadeia de erros que levou ao acidente - assim como ocorre com os erros médicos -
considerando desde erros humanos até falhas de equipamento. São observados, por exemplo,
os diálogos entre piloto, copiloto, engenheiro de bordo, comissários e torre, combustível
utilizado para abastecimento, fuselagem recuperada de forma microscópica para verificar o
impacto sofrido pela aeronave, dentre outros aspectos.
Com os relatórios são criados: checklists, cockpit resource management (CRM), recalls,
alterações de estruturas dos aeroportos, da logística, etc. Essas alterações são preventivas, que
buscam evitar possíveis erros decorrentes de falhas; corretivas, que consistem na manutenção
de peças que já apresentam defeito; e preditiva, a qual visa complementar a preventiva,
prevendo a vida útil dos equipamentos antes que falhem, realizando a antecipação de problemas
potenciais.
No que tange o tema aqui trabalhado, uma forma de atenuar a incidência do burnout
seria: a) realizar uma análise de recorrência de erros de atuação na prestação de serviços da
saúde e verificação de fatores que levaram a eles (humanos, de equipamento ou falta de
equipamento, estrutura, dentre outros), viabilizada através de cruzamento de auditoria dos
hospitais; b) verificação dos acertos de cada hospital em protocolos adotados; c) plano de ação;
d) aplicação do plano com investimento expressivo nas soluções encontradas; e) checagem
anual da efetividade dos serviços através de novo cruzamento de auditorias; f) verificação de
pontos positivos e negativos, modificando, descontinuando e continuando com medidas de
acordo com seu grau de efetividade; g) volta-se ao ponto c em ciclo de análise na metodologia
PDCA (planejar, fazer, checar e agir).
Aplicando na prática sobre o burnout ficaria dessa forma: a) criação de perfis de
segurança, por um gabinete de riscos formada por gestores dos hospitais, com análise dos
88
É claro que para isso ser possível é necessário dar segurança aos colaboradores para que
possam falar sem quaisquer consequências negativas, bem como, investimento, capacitação e
boa vontade dos hospitais para criação de um consórcio para enfrentamento conjunto dessa
crise juntamente às regionais de saúde. Pode parecer algo distante da realidade atual, mas, há
uma necessidade de esforço conjunto e árduo para uma alteração de cultura hospitalar antes que
não tenhamos mais quem possa tratar o paciente por se tornar um deles.
3. CONCLUSÕES
O adoecimento daqueles que tratam é um fator crítico e crescente a cada dia. Sem a
devida atenção, perderemos, cada vez mais, vidas, não só dos pacientes, como também dos
próprios profissionais, que estão perecendo a cada segundo. É preciso agir de forma honesta,
clara e em conjunto para que seja viável uma melhora na condição de trabalho e diminuição da
incidência de burnout entre os profissionais da saúde. Uma tarefa árdua, que não será do dia
para a noite, mas que envolve cultura, conscientização e humanidade.
89
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, C. A.; FARIAS, J. L.; SANTOS, L. C. B.; SANTOS, F. F.; AZEVEDO, C. P. C.;
MATHEUS, F. L.; SERRA, L. A. Ocorrencias Aeronauticas: Panorama Estatistico da Aviação
Brasileira – Aviação Civil 2006-2015. Centro deInvestigação e prevenção de Acidentes
aeronáuticos (CENIPA). Brasília. 2016. Fl. 35. Disponível em:
https://www2.fab.mil.br/cenipa/index.php/estatisticas/panorama. Acesso em 19 de outubro de
2022.
CUT. Em 5 anos, número de afastamentos por transtornos mentais cresce mais de 50%.
Disponível em: https://www.cut.org.br/noticias/em-5-anos-numero-de-afastamentos-por-
transtornos-mentais-cresce-mais-de-50-7fe5. Acesso em: 04 de outubro de 2022.
PEBMED. 78% dos profissionais de saúde tiveram sinais de Burnout durante pandemia.
Disponível em: https://medicinasa.com.br/burnout-profissionais-de-saude/. Acesso em: 03 de
outubro de 2022.
SÃO PAULO, Câmara Municipal. CPI ouve ex-médicos da Prevent que denunciaram atuação
da empresa durante a pandemia. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.leg.br/blog/cpi-
ouve-ex-medicos-da-prevent-que-denunciaram-atuacao-da-empresa-durante-a-pandemia/.
Acesso em: 04 de outubro de 2022.
Resumo: A presente pesquisa tem como objeto de estudo o cenário de calamidade global
instaurado pela Pandemia Covid-19, especialmente no que condiz a possibilidade de
responsabilização civil do Estado brasileiro por omissão, em decorrência da relativização das
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), vez tratar-se à saúde de uma
prestação constitucionalmente indispensável à proteção do ser humano, restando
desautorizados excessos e omissões. Partindo-se de premissas gerais, sem a intenção de exaurir-
se o assunto, serão analisadas e identificadas as características constitutivas básicas da
Organização Mundial da Saúde, suas atribuições, bem como a força vinculante de subordinação
às suas orientações.
Palavras-chave: Covid-19. OMS; Dever de proteção; Responsabilidade civil estatal.
1 INTRODUÇÃO
Mestre em Direito pela Faculdade Meridional – IMED, Pós Graduado em Direito Processual Civil (URI-FW),
1
Direito Tributário (Unoesc), Direito Médico e Hospitalar (EPD-SP) e Direito da Medicina (Coimbra-PT).
91
2
BERNARDO, Paulo. Brasil teve papel direto na fundação da OMS: entenda o que é a função da
organização. Disponível em: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-teve-papel-direto-na-fundacao-
da-oms-entenda-o-que-e-e-a-funcao-da-organizacao,70003256316. Acesso em: 06 ago. 2020.
3
OPAS. Organização pan-americana da saúde. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=885:opas-oms-
nobrasil&Itemid=672. Acesso em: 06 ago. 2020.
92
A Organização Mundial da Saúde possui, entre outras funções, consoante o artigo 2º, da
sua Constituição6, a de “atuar como autoridade diretora e coordenadora dos trabalhos
internacionais em assuntos relativos à saúde”, bem como “estabelecer e manter colaboração
efetiva com as Nações Unidas, as agências especializadas, as repartições governamentais de
saúde, os grupos profissionais e quaisquer outras organizações que pareçam indicadas”.
Nessa perspectiva o artigo 21, do citado diploma de saúde8, dispõe que a Assembleia
poderá adotar regulamentos concernentes “às medidas sanitárias e de quarentena ou qualquer
outro processo com o fim de impedir a propagação de doenças de um país a outro”, da mesma
maneira que poderá regulamentar “padrões com respeito a processos de diagnósticos para uso
internacional” e “padrões relativos à garantia, pureza e atividade dos produtos biológicos,
farmacêuticos e similares que se encontram no comércio internacional.”.
4
OMS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: https://www.who.int/es. Acesso em: 06 ago. 2020.
5
CABRAL, Cristiane Helena de Paula Lima. Ob. cit. p. 193.
6
O Brasil ratificou e aprovou a referida Constituição da Organização Mundial da Saúde pelo Decreto nº 26.042,
de 17 de dezembro de 1948.
7
BRASIL, Decreto nº 26.042 (Constituição da Organização Mundial da Saúde). Op. cit. s/p.
8
Ibidem.
93
9
CABRAL, Cristiane Helena de Paula Lima. Ob. cit. p. 195.
94
Ferrajoli10 expõe, em uma breve resenha, sob título “O vírus põe a globalização de
joelhos”, o caráter universal da contaminação:
É nesta conjuntura “de tutela estatal de direitos fundamentais” que se discorrerá acerca
da responsabilidade civil do Estado, tanto por ação como por omissão, no contexto da Pandemia
Covid-19.
10
FERRAJOLI, Luigi. O vírus põe a globalização de joelhos. Revista do Instituto Humanitas UNISINOS. 2020.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597204-o-virus-poe-a-globalizacao-de-joelhos-artigo-de-
luigi-ferrajoli. Acesso em: 7 ago. 2020.
11
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 14. ed. São Paulo: Atlas. 2020, p. 286.
95
todos, e não apenas por alguns. Consequentemente, deve o Estado, que a todos
representa, suportar os ônus da sua atividade, independentemente de culpa dos seus
agentes.
Impende atentar que não há que se confundir a teoria do risco administrativo com a
teoria do risco integral12. Seguindo a linha doutrinária de Cavalieri Filho13, tal distinção se faz
necessária “para que o Estado não venha a ser responsabilizado naqueles casos em que o dano
não decorra direta ou indiretamente da atividade administrativa.”.
Oportunamente agrega Cavalieri Filho14 que, acaso se admitisse a teoria do risco integral
na avaliação da responsabilidade da Administração Pública, “ficaria o Estado obrigado a
indenizar sempre e em qualquer caso o dano suportado pelo particular, ainda que não decorrente
de sua atividade, posto que estaria impedido de invocar as causas de exclusão do nexo causal.”.
À vista disso, optou-se por adotar a corrente doutrinária de Juarez de Freitas15, dentre
outros constitucionalistas modernos, que bem relaciona à responsabilidade civil do Estado a
eficácia, direta e imediata, dos direitos fundamentais, vedando-se excessos e omissões.
12
De acordo com Cavalieri Filho (2020, p. 196) “A teoria do risco integral é uma modalidade extremada da
doutrina do risco destinada a justificar o dever de indenizar até nos casos de inexistência de nexo causal [...]. Na
responsabilidade fundada no risco integral, todavia, o dever de indenizar é imputado àquele que cria o risco, ainda
que a atividade por ele exercida não tenha sido a causa direta e imediata do evento. Bastará que a atividade de
risco tenha sido a ocasião, mera causa mediata ou indireta do vento, ainda que se tenha tido por causa direta e
imediata fato irresistível ou inevitável, como a força maior e o caso fortuito.”.
13
CAVALIERI FILHO, Sergio. Op. cit. p. 287.
14
Ibidem.
15
Autor das obras: 1) Responsabilidade Civil do Estado e o princípio da proporcionalidade: vedação de excesso e
de inoperância. São Paulo: Malheiros, 2006; 2) A responsabilidade extracontratual do Estado e o princípio da
96
[...] o Estado brasileiro precisa ser responsável pela eficácia direta e imediata dos
direitos fundamentais, já em suas obrigações negativas, já em suas dimensões
prestacionais. Será, nessa perspectiva, proporcionalmente responsabilizável, tanto por
ações como por omissões [...].
A negligência estatal, assim, poderá despontar, caso se ateste que a adoção tempestiva
de medidas profiláticas, como o fornecimento oportuno de equipamentos de proteção individual
aos profissionais da saúde pública ou fechamento de fronteiras e o cancelamento de voos,
principalmente internacionais, teria contribuído para combater a contaminação, reduzindo o
risco de contagio e a velocidade de propagação do vírus.
18
STAFFEN, Márcio Ricardo. COVID-19 e a pretensão jurídica transnacional por transparência. Revista
Eletrônica Direito & Política. 2020. Disponível em:
https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rdp/article/view/16382/9272. Acesso em: 9 ago. 2020, p. 142.
19
FRAZÃO, Ana. Risco da empresa e caso fortuito externo. Disponível em: http://civilistica.com/wp-
content/uploads1/2016/07/Fraz%C3%A3o-civilistica.com-a.5.n.1.2016-3.pdf. 2016. Acesso em 07 de ago. de
2020, p. 23.
98
consideradas como tal, para fim de afastar a imputação, quando foram consideradas estranhas
ao risco”.
4 CONCLUSÃO
Esta infeliz rotina não foi diferente no Brasil, em nosso território chegamos ao disparate
de não só desrespeitar as orientações da Organização Mundial da Saúde, como sequer
conseguirmos obter um consenso, a respeito de qual norma seguir no enfrentamento da Covid-
19, entre os membros do atual governo.
REFERÊNCIAS
BERNARDO, Paulo. Brasil teve papel direto na fundação da OMS: entenda o que é a função
da organização. Disponível em: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-teve-papel-
direto-na-fundacao-da-oms-entenda-o-que-e-e-a-funcao-da-organizacao,70003256316.
Acesso em: 06 ago. 2022.
BISNETO, Cícero Dantas; SANTOS, Romualdo Baptista dos; CAVET, Caroline Amadori.
Responsabilidade civil do estado por omissão e por incitação na pandemia da covid-19.
Revista IBERC. v. 3, n. 2, maio/ago. 2020. Disponível em:
https://revistaiberc.responsabilidadecivil.org/iberc/article/view/111. Acesso em 07 de ago. de
2022.
CABRAL, Cristiane Helena de Paula Lima. Organização mundial da saúde e sua atuação no
âmbito da saúde pública internacional. In: BAHIA, Saulo José Casali Bahia; MARTINS, Carlos
Eduardo Behrmann Rátis (Coord.). Direitos e deveres fundamentais em tempos de coronavírus.
v. 2. São Paulo: Editora Iasp, 2020.
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 14. ed. São Paulo: Atlas.
2020.
FERRAJOLI, Luigi. O vírus põe a globalização de joelhos. Revista do Instituto Humanitas
UNISINOS. 2020. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597204-o-virus-
poe-a-globalizacao-de-joelhos-artigo-de-luigi-ferrajoli. Acesso em: 7 ago. 2022.
FRAZÃO, Ana. Risco da empresa e caso fortuito externo. Disponível em:
http://civilistica.com/wp-content/uploads1/2016/07/Fraz%C3%A3o-civilistica.com-
a.5.n.1.2016-3.pdf. 2016. Acesso em 07 de ago. de 2022.
FREITAS, Juarez. A responsabilidade extracontratual do estado e o princípio da
proporcionalidade: vedação de excesso e de omissão. Revista de Direito Administrativo. n.
241. Rio de Janeiro, 2005.
OMS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: https://www.who.int/es. Acesso em: 06
ago. 2022.
OPAS. Organização pan-americana da saúde. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=885:opas-oms-
nobrasil&Itemid=672. Acesso em: 06 ago. 2022.
STAFFEN, Márcio Ricardo. COVID-19 e a pretensão jurídica transnacional por transparência.
Revista Eletrônica Direito & Política. 2020. Disponível em:
https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rdp/article/view/16382/9272. Acesso em: 9 ago.
2022.
100
Resumo: o presente artigo tem como objetivo demonstrar a relevância das diretrizes da
Organização Mundial da Saúde (OMS) no tratamento jurídico da Covid-19 no Brasil. Para tal,
faz-se uma análise dos atos influenciados pelas recomendações de referida organização no
âmbito brasileiro. Na sequência, menciona-se a Arguição de Preceito Fundamental (ADPF) nº
672, proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), como um
exemplo de utilização das diretrizes sanitárias globais para a garantia da aplicação do Direito à
Saúde no Brasil. Em aportes conclusivos, demonstra-se a imprescindibilidade das diretrizes da
Organização Mundial da Saúde para o tratamento jurídico da Covid-19 no Brasil.
1 INTRODUÇÃO
1
Advogado (OAB/SC). Doutor pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1989) com pós-
doutorado em Sociologia do Direito pela Universita degli Studi di Lecce - Itália. Professor Titular da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos. Coordenador do Grupo de Pesquisa Teoria do Direito (CNPq).
2
Advogado (OAB/RS). Delegado da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB/RS. Doutorando em Direito
Público (Unisinos e Paris 1 Panthéon-Sorbonne). Bolsista CAPES/PROEX. Membro do grupo de pesquisa Teoria
do Direito (CNPq).
101
atuação do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) nos autos da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 672.
3
ORGANISATION MONDIALE DE LA SANTÉ. Lignes directrices. Disponível em : <
https://www.who.int/fr/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/technical-guidance >. Acesso em 31 out.
2022.
4
FLAMBÉE DE MALADIE À CORONAVIRUS 2019 (COVID-19).Organisation Mondiale de la Santé.
Disponível em : < https://www.who.int/fr/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019>. Acesso em 31 out.
2022.
5
WHO-PRESS CONFERENCES. 27/07/2020 (vídeo). Organisation Mondiale de la Santé. Disponível em : <
https://www.who.int/fr/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019>. Acesso em 31 out. 2022.
102
6
WHO-PRESS CONFERENCES. Organisation Mondiale de la Santé. Disponível em : <
https://www.who.int/fr/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019>. Acesso em 22 jul. 2020.
7
LIGNES DIRECTRICES POUR LE NOUVEAU CORONAVIRUS (2019-NCOV). Organisation Mondiale
de la Santé. Disponível em : < https://www.who.int/fr/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/technical-
guidance>. Acesso em 31 out. 2022.
8
BRASIL. Lei nº 13.979/2020. Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública
de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Disponível em: <
http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-13.979-de-6-de-fevereiro-de-2020-242078735>. Acesso em 31 out.
2022.
9
BRASIL. Decreto nº 10.212/2020. Promulga o texto revisado do Regulamento Sanitário Internacional,
acordado na 58ª Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde, em 23 de maio de 2005. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10212.htm>. Acesso em 22 jul. 2020.
10
BRASIL. Lei complementar nº 173, de 27 de maio de 2020. Estabelece o Programa Federativo de
Enfrentamento ao Coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19), altera a Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000,
e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp173.htm>. Acesso em
31 out. 2022.
103
Como consequência, imbuído nessa discussão, o governo federal passou a editar vários
atos que, segundo representantes de Estados e municípios, tentavam barrar os atos normativos
por eles editados diante da situação. Em destaque- ponto crucial para o questionamento judicial-
foi a resistência ao distanciamento social no início da Pandemia.
11
BRASIL. Lei complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas
para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp101.htm>. Acesso em 31 out. 2022.
12
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 31 out. 2022.
13
Entre referidos dispositivos destacam-se os seguintes: “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios: [...] II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das
pessoas portadoras de deficiência; Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: [...] IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,
desenvolvimento e inovação;” BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 31 out. 2022.
104
14
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF 672 / DF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF672liminar.pdf.> Acesso em 31 out. 2022.
15
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF 672 / DF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF672liminar.pdf.> Acesso em 31 out. 2022.
16
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF 672/ DF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF672liminar.pdf.> Acesso em 31 out. 2022.
105
17
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF 672/ DF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF672liminar.pdf.> Acesso em 31 out. 2022.
18
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF 6.341 Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF672liminar.pdf.> Acesso em 31 out. 2022..
19
RIO GRANDE DO SUL. Decretos Estaduais. Disponível em: < https://coronavirus.rs.gov.br/decretos-
estaduais>. Acesso em 31 out. 2022.
106
capital do Estado, Porto Alegre, com a edição contínua de decretos de alteração sobre as
permissões e proibições.20
Além da produção contínua de legislação entre Federação, Estados e municípios, outros
órgãos têm trabalhado com recomendações para o período de enfrentamento à Pandemia. Nesse
sentido, destaca-se a atuação do Ministério Público do Trabalho na edição de notas técnicas
sobre pontos específicos das controvérsias desse período. Esse é o caso da Nota Técnica MPT
| GT COVID-19, que trata especificamente da proteção à saúde dos professores durante a
pandemia.21
20
PORTO ALEGRE/RS. Decretos Municipais. Disponível em: < https://prefeitura.poa.br/coronavirus/decretos>
Acesso em 31 out. 2022.
21
NOTA TÉCNICA MPT | GT COVID-19 – Proteção à saúde dos professores durante a pandemia. Disponível
em: < http://abet-trabalho.org.br/nota-tecnica-mpt-gt-covid-19-protecao-a-saude-dos-professores-durante-a-
pandemia/>. Acesso em 31 out. 2022.
22
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Orientações aos gestores públicos
sobre o Coronavírus. Disponível em: <
http://www1.tce.rs.gov.br/portal/page/portal/tcers/institucional/esgc/ead/orientacoes_corona>. Acesso em 31 out.
2022.
107
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Líderes de alguns países, como é o caso do Brasil, negaram a aplicação das diretrizes da
Organização Mundial da Saúde (OMS) em um momento inicial da Pandemia.
Por consequência disso, foi necessário levar ao Poder Judiciário essa situação. Com
destaque nesse ponto, destacou-se a atuação do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil (CFOAB), com a propositura da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF) nº 672 junto ao Supremo Tribunal Federal.
Por essa razão, conclui-se, nos termos do artigo ora apresentado, que as diretrizes da
Organização Mundial da Saúde (OMS) foram imprescindíveis para que fosse garantida a
aplicação do Direito à Saúde no Brasil, tendo como exemplo destacado a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 672 na judicialização dessa questão.
REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Bolsista de
Iniciação Científica, BPA, e estagiária de direito. E-mail: laura.lino01@edu.pucrs.br.
2
Graduado em Direito pela PUCRS. Pós Graduado em Direito Processual Civil pela Academia Brasileira de
Direito Processual Civil. Advogado inscrito na OAB/RS sob o nº 65.682. Membro da Comissão Especial do Direito
à Saúde da OAB/RS. E-mail: riellamarcelo@gmail.com.
110
3
Nesse sentido: RODRIGUES, Ana Luíza de Morais. Ativismo judicial causas e fundamentos. RevistaJurídica
TJDFT. p. 142. Apud MONTESQUIEU, Charles Secondat. De l’esprit des lois. Paris: Éditions Gallimard,
1995. Disponível em: https://revistajuridica.tjdft.jus.br/index.php/rdj/article/view/44/32. Acesso em 19 out.
2022.
111
prevista com status de cláusula pétrea no artigo 60, § 4º, III, do texto constitucional,
estabeleceu um controle mútuo entre os Poderes, visto que cada um possuía certa autonomia
para exercer determinada função, mediante a possibilidade de intervenção nascompetências dos
demais poderes, visando a conter eventuais abusos destes, de modo a trazer maior equilíbrio
para a respectiva atuação de cada um deles.4 Assim, o contrapesoestaria no fato de que todos
os Poderes possuem funções distintas, e ainda com a prerrogativa de intervir nas competências
dos demais, almejando, desta forma, estabelecer a atuação independente e harmônica aos
Poderes.5
Desse modo, a adoção de uma postura ativa e criativa do Poder Judiciário não traza baliza
liberativa para que os julgadores possam ter uma discricionaridade absoluta para decidir
conforme suas próprias convicções valorativas sem qualquer pretensão de atingir uma verdade
ou de se atingir a uma resposta certa. Sobre isso, cumpre trazer à baila o entendimento do
filósofo Dworkin, o qual aduz que o juiz continua tendo o dever, mesmo nos casos difíceis,
de descobrir quais são os direitos das partes, e não de inventarnovos direitos retroativamente”.6
4
DE OLIVEIRA, Amanda Carvalho. O ativismo judicial em tempos de pandemia: uma análise do fenômeno
acerca do princípio da separação dos poderes. p.6. Jun. 2022. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/o-ativismo-judicial-em-tempos-de- pandemia-uma-
analise-do-fenomeno-acerca-do-principio-da-separacao-dos-poderes/. Acesso em: 20 out.2022.
5
RODRIGUES, Ana Luíza de Morais. Ativismo judicial causas e fundamentos. Revista Jurídica TJDFT. p. 142.
Apud MONTESQUIEU, Charles Secondat. De l’esprit des lois. Paris: Éditions Gallimard, 1995. Disponível em:
https://revistajuridica.tjdft.jus.br/index.php/rdj/article/view/44/32. Acesso em 19 out. 2022.
6
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 127.
7
BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. (SYN)THESIS, v.
5, n. 1, p. 23-32, 2012. B. p. 6.
8
STRECK, Lênio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Verdade e Consenso. Rio de Janeiro: LumenJúris, 2008,
p. 138.
112
Diante do comentado cenário atípico, verifica-se, porém, que, frente à inércia do Poder
Executivo - que atuou desprovido de efetividade para administrar os interesses públicos e para
elaborar planos com o objetivo de implementação desses - e da morosidade do Poder
Legislativo na elaboração de leis, o Poder Judiciário tem adotado esse comportamento !ativo”
no sentido de tomar decisões que propiciem a concretização de direitos fundamentais, a partir
de uma postura amparada por sua função precípua de zelar pelo efetivo cumprimento dos
enunciados constitucionais.9
9
COSTA, Elenild de Góes, MOURA, Josilene Botelho. Ativismo judicial e judicialização da saúde:impactos da
pandemia de covid-19 no judiciário brasileiro. Revista Direito. UnB | janeiro – abril, 2021,V. 05, N.2, p. 93-121.
10
PELEJA JR, Antônio Veloso. Ativismo Judicial em Tempos de COVID-19. Disponível em:
http://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/downloads/Imprensa/NoticiaImprensa/file/24%20-
%20ATIVISMO%20JUDICIAL%20EM%20TEMPOS%20DE%20COVID.pdf. Acesso em: 21 out. 2022.
113
legitimidade.
Desse modo, sob a ótica tendente a rechaçar tal postura, parte da doutrina suscitou
críticas, no sentido de que essa atividade traria insegurança jurídica aos cidadãos,
desnaturalizaria a função típica dos Poderes, além do que se mostraria tendente a ameaçardireitos
fundamentais e valores democráticos.11 A contrário sensu, percebe-se a posição doutrinária que
sustenta de modo favorável tal fenômeno jurídico, observa-o como a atividade de suprir lacunas
deixadas pelo legislador, bem como atesta a participação mais ampla e intensa do Poder
Judiciário na concretização dos valores, fins e direitos constitucionais, além do mais entende
que, com isso, se busca a efetivação de políticas públicas.12
Entretanto, entende-se que é essencial atingir um equilíbrio na adoção dessa conduta
proativa do Poder Judiciário, de modo que este não perfaça comportamento ativista tendente a
suprimir a política, o governo e a função do legislativo, sucedendo a uma inversão de papéis
entre os demais Poderes e as suas competências. Todavia, o PoderJudiciário deve atuar em busca
da efetivação de políticas públicas por meio de decisões que estejam em harmonia com o
sistema democrático. Além disso, é essencial que haja maior diálogo entre os poderes da
República, objetivando um esforço conjunto no sentidode minimizar impactos nos momentos de
crise, para que não ocorram lapsos no exercíciodas funções dos três Poderes, tal qual se verificou
no momento da epidemia de Covid- 19.13
Nestes termos, as decisões judiciais com cunho político devem ser pautadas em uma
atuação equilibrada dentre aquelas incumbências típicas e atípicas concedidas com a
redemocratização. É fundamental que a ingerência do Judiciário nas funções dos demaisPoderes
não substitua a atuação de gestor público do Executivo, de modo a interferir no mérito dos atos
da administração pública, bem como de ferir os princípios da legalidade e da separação dos
poderes. Logo, para preservar a atuação harmônica entre estes é indispensável que as medidas
direcionadas a amenizar o abalo econômico e as demais mazelas sociais advindas de crises
partam do Governo a partir de estudos técnicos e científicos, e não do Judiciário.
11
CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Dimensões do Ativismo Judicial do STF. 1. Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2014.
12
OLIVEIRA, Ramom Tácio de. Ativismo Judicial – Multiplicidade de sentidos. 1. Ed. Curitiba: Prismas, 2015.
13
TRAJANO, Maynara Cavalcante Trajano. COSTA, Alexandre Victor Murata. O direito à saúde emtempos de
pandemia e o ativismo judicial. Revista ibero-americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo,
v.7.n.12.dez. 2021. ISSN - 2675 – 3375. p. 1362-1374.
114
atuação ativista do Poder Judiciário14, que almejou fornecer a tutela estatal necessária edevida
aos cidadãos brasileiros.
O Poder Judiciário, diante da omissão dos demais Poderes públicos durante o contexto
de constante expansão do vírus SARS-CoV2, atuou, muitas vezes, visando a salvaguardar
direitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos. Nesse escopo, percebe-se que a
tomada de decisões, naquele momento, configurava não só a adoção deum posicionamento ativo
por parte dos julgadores, mas exprimiam importante conotação,ao desencadear consequências
práticas relevantes e decisivas à vida dos brasileiros, especialmente, devido aos impactos à
saúde decorrentes dessa postura.15
Durante esse período, houve a interferência das Cortes Supremas em decisões oriundas
do Executivo que objetivavam combater a crise da saúde pública. Sobre isso, vislumbra-se o
simbólico entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, assentado a partir do artigo
3º da Lei 13.979/2020, interpretado nos termos da Constituição Federal de 1988, de que a
União poderia legislar sobre medidas de enfrentamento do estado de emergência, decorrente da
pandemia de Covid-19. Todavia, o pleno exercício desta competência devia resguardar a
autonomia dos outros entes.16
14
Sobre essa atuação proativa referimo-nos àquelas adotadas em consonância à Carta Magna, implementadas em
momentos de inação dos demais Poderes e, logo, realizadas com o intuito de tutelar os direitos fundamentais e de
preservar os valores sociais inerentes aos cidadãos brasileiros.
15
PELEJA JR, Antônio Veloso. Ativismo Judicial em Tempos de COVID-19. Disponível em:
http://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/downloads/Imprensa/NoticiaImprensa/file/24%20-
%20ATIVISMO%20JUDICIAL%20EM%20TEMPOS%20DE%20COVID.pdf. Acesso em: 21 out. 2022.
16
DE OLIVEIRA, Amanda Carvalho. O ativismo judicial em tempos de pandemia: uma análise do fenômeno
acerca do princípio da separação dos poderes. p. 11-13.
115
A relevância desta decisão está centrada no ponto da percepção, por parte do Judiciário,
de que diante de um cenário de constantes tenções políticas reafirmou a possibilidade de que os
Estados, o Distrito Federal e os municípios adotassem, no plano legislativo e administrativo,
medidas para o combate à epidemia de Covid-19.18
17
SARLET Ingo Wolfgang. O STF e os direitos fundamentais na crise da Covid-19 — uma retrospectiva.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-jan-15/direitos-fundamentais-stf-direitos- fundamentais-covid-
19. Acesso em: 22 out. 2022.
18
DE OLIVEIRA, Amanda Carvalho. O ativismo judicial em tempos de pandemia: uma análise do fenômeno
acerca do princípio da separação dos poderes. p. 10-13.
19
BRASIL. Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 668 e 669. Brasília: Supremo
Tribunal Federal, 2020
20
Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental 668 e 669/DF: “Assim, ante a ausência de
demonstração concreta pelas requerentes da existência de atos direcionados à veiculação oficial pelo governo
federal ou pela Presidência da República de campanha publicitária denominada “O Brasil não pode parar”, as
ADPFs 668/DF e 669/DF não merecem ser conhecidas, por falta de apresentação de documentação apta à
comprovação da existência do ato do poder público nelas apontado como lesivo a preceitos fundamentais.”
21
DE OLIVEIRA, Amanda Carvalho. O ativismo judicial em tempos de pandemia: uma análise do fenômeno
acerca do princípio da separação dos poderes. p. 12-13.
116
brasileira. Sobre isso, ressalta-se que a campanha publicitaria promovida pelo Governo Federal
traria graves ameaças à vida e à saúde dos cidadãos22; conforme o entendimento do juiz de
direito Antônio Veloso Peleja Júnior23, essa decisão do Supremo Tribunal Federal invocou a
proteção do direito à vida, à saúde e à informaçãoda população, agindo, assim, em conformidade
ao que determina o texto constitucional no artigo 5º, caput, XIV e XXXIII, artigo 6º e artigo
196, bem como a incidência dos princípios da prevenção e da precaução, nos termos do artigo
225 da Constituição Federalde 1988, os quais orientam que “na dúvida quanto à adoção de uma
medida sanitária, deve prevalecer a escolha que ofereça proteção mais ampla à saúde”.24
5. CONCLUSÃO
22
Supremo Tribunal Federal ADPF 668 e 669 - Fonte:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752453503&prcID=5884084&ad=s.
Acesso em: 19 out. 2022.
23
PELEJA JR, Antônio Veloso. Ativismo Judicial em Tempos de COVID-19. Disponível em:
http://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/downloads/Imprensa/NoticiaImprensa/file/24%20-
%20ATIVISMO%20JUDICIAL%20EM%20TEMPOS%20DE%20COVID.pdf. Acesso em: 21 out. 2022.
24
Ibid.
117
com o estado de calamidade pública que se instaurava. A partir disso, o Poder Judiciário, nesses
momentos, adotou uma postura ativa e protagonista, visando a garantir direitos e a salvaguardar
valores e garantias constitucionais, almejando aplicar diretamente a Constituição Federal de
1988 ante este cenário.
Nesse sentido, a atividade do Poder Judiciário, que exerce atribuições com o deverde zelar
pela efetividade dos enunciados dispostos na Constituição Federal de 1988, tais como o direito
à vida, à saúde, à segurança, à educação, vem atuando proativamente, através do ativismo
judicial, com o intuito de reivindicar dos demais Poderes da República a responsabilidade no
sentido de efetivar tais garantias. Entretanto, verifica-seque essa atividade ativa não é bem aceita
pelos demais poderes, por denotar superioridadeante aos demais entes, igualmente instituídos
pelo poder constituinte originário.25
REFERÊNCIAS
25
COSTA, Elenild de Góes, MOURA, Josilene Botelho. Ativismo judicial e judicialização da saúde: impactos da
pandemia de covid-19 no judiciário brasileiro. Revista Direito. UnB | janeiro – abril, 2021,V. 05, N.2 | ISSN 2357-
8009| p. 93-121.
118
CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Dimensões do Ativismo Judicial do STF. 1.Ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2014.
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
RODRIGUES, Ana Luíza de Morais. Ativismo judicial causas e fundamentos. Revista Jurídica
TJDFT, p. 142. Apud MONTESQUIEU, Charles Secondat. De l"esprit des lois.Paris: Éditions
Gallimard, 1995. Disponível em: https://revistajuridica.tjdft.jus.br/index.
php/rdj/article/view/44/32. Acesso em 19 out. 2022.
STRECK, Lênio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Verdade e Consenso. Rio deJaneiro:
Lumen Júris, 2008, p. 138.
TOLEDO, Cláudia. Ativismo judicial vs. controle judicial – um estudo a partir da análise
argumentativa da fundamentação das decisões do poder judiciário brasileiro e do tribunal
constitucional da Argentina, México e Alemanha. (FAPEMIG – Projeto deDemanda Universal)
e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF – PROBIC).
TRAJANO, Maynara Cavalcante Trajano; COSTA, Alexandre Victor Murata. O direitoà saúde
em tempos de pandemia e o ativismo judicial. Revista ibero-americana de Humanidades,
Ciências e Educação. São Paulo, v.7.n.12.dez. 2021. p. 1362-1374.
120
Resumo: Este artigo debruça-se sobre os impactos da pandemia da COVID-19 no Brasil, com
especial ênfase à compulsoriedade de vacinação e a busca por proporcionalidade em tempos de
crise. Com isso, objetivou-se analisar a obrigatoriedade de vacinação contra a COVID-19 no
Brasil à luz da crise sanitária enfrentada desde março de 2020 no país. A partir da análise das
Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 6.586 e nº 6.587 julgadas em dezembro de 2020 pelo
Supremo Tribunal Federal do Brasil, observou-se a prevalência do caráter coletivo de direito à
saúde, que – sem admitir qualquer forma de violência – impõe a vacinação como dever social.
Em contrapartida, constatou-se a necessidade de exame de proporcionalidade, inclusive e
especialmente em tempos de crise, a fim de que não haja a imposição de medidas
desproporcionais, que culminem na violação de demais direitos fundamentais, na consecução
de objetivos constitucionais.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo debruça-se sobre os impactos da pandemia da COVID-19 no Brasil,
com especial ênfase à compulsoriedade de vacinação e à busca por proporcionalidade em
tempos de crise. A temática é atual face às controvérsias e aos dilemas que pautaram o cenário
de desastre pandêmico instaurado no país em março de 2020, reverberando pelos anos seguintes
e apontando para a necessidade de exame crítico das medidas impostas.
1
Graduado em Direito pela PUCRS. Pós Graduado em Direito Processual Civil pela Academia Brasileira de
Direito Processual Civil. Advogado inscrito na OAB/RS sob o nº 65.682. Membro da Comissão Especial do Direito
à Saúde da OAB/RS. E-mail: riellamarcelo@gmail.com.
2
Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Direito da PUCRS em Teoria Geral da Jurisdição e Processo, bolsista
CAPES/PROEX. Advogada inscrita na OAB/RS sob o nº 123.411. E-mail: linke.micaela@gmail.com.
121
3
GRAHAM, Barney; SULLIVAN, Nancy. Emerging viral diseases from a vaccinology perspective: preparing for
the next pandemic. In: Nature Immunology. Vol. 19. Berlin: Springer Nature, 2018. pp. 20–28.
4
CASCELLA, Marco; RAJNIK, Michael; CUORNO, Arturo; DULEBOHN, Scott; DI NAPOLI, Raffaela.
Features, Evaluation and Treatment Coronavirus (COVID-19). Bethesda: StatPearls Publishing LLC, 2020.
Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK554776/ Acesso em: 07 Set. 2022.
122
5
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Novel Coronavirus (2019-nCoV) - SITUATION REPORT – 1 -21
JANUARY 2020. Disponível em: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-
reports/20200121-sitrep-1-2019-ncov.pdf?sfvrsn=20a99c10_4. Acesso em 28 Set. 2022.
6
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHO Director-General's opening remarks at the media briefing on
COVID-19. Disponível em: https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-
the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020. Acesso em: 13 Set. 2022.
7
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Critical preparedness, readiness and response actions for COVID-
19. Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/critical-preparedness-readiness-and-response-
actions-for-covid-19. Acesso em: 05 Set. 2022.
8
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Regulamento Sanitário Internacional. 3 ed. 2016. Disponível em:
https://www.who.int/ihr/publications/9789241580496/en/. Acesso em: 18 Set. 2020.
9
BRASIL. Decreto nº 10.212/2020. Brasília: Presidência da República, 2020.
10
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. As determinações da OMS são vinculantes ao Brasil? Disponível em:
https://www.oab.org.br/noticia/58018/artigo-as-determinacoes-da-oms-sao-vinculantes-ao-brasil-porvalerio-de-
oliveira-mazzuoli. Acesso em: 19 set. 2022.
11
BRASIL. Decreto nº 7.257/2010. Brasília: Presidência da República, 2010.
12
ZANETI JÚNIOR, Hermes. Direito Processual dos Desastres. Palestra online ministrada no Grupo de Estudos
Araken de Assis (GEAK), coordenado pela Professora Mariângela Guerreiro Milhoranza da Rocha, em 22 de maio
de 2020.
123
Na conclusão dos testes, órgãos de saúde de diversos países iniciaram avaliações para
aprovar seu uso público e difundido como medida de contenção da crise e de remediação do
desastre da pandemia da COVID-19. No Brasil - país que já é conhecido globalmente pelo seu
Programa Nacional de Imunizações14, existente há mais de 40 anos15, sendo um exemplo
mundial - a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan, em conjunto com o
Ministério da Saúde, trabalharam a fim de esquematizar a produção e a distribuição nacional
de vacina para a enfermidade por meio do Sistema Único de Saúde, tendo em vista que a Lei nº
13.979/202016, promulgada no início do cenário pandêmico, previa a obrigatoriedade da
vacinação e de outras medidas profiláticas adotadas por autoridades no âmbito de suas
competências.
3. A COMPULSORIEDADE DE VACINAÇÃO
13
LI, Yingzhu; TENCHOV, Rumiana; SMOOT, Jeffrey; LIU, Cynthia; WATKINS, Steven; ZHOU, Qiongqiong.
A Comprehensive Review of the Global Efforts on COVID-19 Vaccine Development. In: ACS Central Science,
2021, 7, 4, pp. 512-533.
14
Sobre o Programa Nacional de Imunizações, vide: https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-
e-programas/programa-nacional-de-imunizacoes-vacinacao
15
BRASIL. Lei nº 6.259. Brasília: Congresso Nacional, 1975.
16
BRASIL. Lei nº 13.979. Brasília: Congresso Nacional, 2020.
124
vacinas e sobre a constante mudança de informações e incertezas sobre a doença. Com isso,
ajuizaram-se duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade, nº 6586 e nº 658717, e um Agravo
em Recurso Extraordinário, nº 1267879.18
17
BRASIL. Acórdão das Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 6.586 e nº 6.587. Brasília: Supremo Tribunal
Federal, 2020.
18
BRASIL. Acórdão em Repercussão Geral do Agravo em Recurso Extraordinário nº 1.267.879/SP. Brasília:
Supremo Tribunal Federal, 2020.
19
BRASIL. Lei nº 13.979. Brasília: Congresso Nacional, 2020.
20
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Assembleia Nacional Constituinte, 1988.
21
BRASIL. Acórdão das Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 6.586 e nº 6.587. Brasília: Supremo Tribunal
Federal, 2020. p. 3.
22
BRASIL. Lei nº 6.259. Brasília: Congresso Nacional, 1975.
23
BRASIL. Acórdão das Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 6.586 e nº 6.587. Brasília: Supremo Tribunal
Federal, 2020. p. 17.
125
No que tange ao direito fundamental à saúde, este restou positivado como direito
fundamental social explícito na Constituição da República Federativa do Brasil, em critérios
gerais e específicos, sendo estabelecido pelo diploma máximo do ordenamento jurídico pátrio
como dever do Estado a prestação do serviço de saúde de maneira universal e gratuita aos que
necessitarem a fim de assegurar o direito à vida e a dignidade humana. 24 Ainda, o direito à
saúde opera como direito de defesa com posições subjetivas negativas “quando se trata da
possibilidade de impugnar medidas que venham a afetar a saúde de alguém, ou menos interferir
nos níveis de proteção da saúde já concretizados pelo Estado”25 e como direito positivo quando
exige prestações estatais ou medidas de caráter normativo26, sendo princípio basilar para a
ordenação social.27
24
VASCONCELOS, Fernando A. de; BRANDÃO, Fernanda H. de V. Direito à Saúde, Desenvolvimento e
Cidadania no Estado Democrático de Direito. In: BASSO, Ana Paula; et all. Direito e Desenvolvimento
Sustentável: Desafios e Perspectivas. Curitiba: Editora Juruá, 2013. pp. 239-251.
25
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 6ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017. p. 355.
26
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 6ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017. p. 356.
27
REINHARDT, Jörn. Conflitos de direitos fundamentais entre atores privados: “efeitos horizontais indiretos” e
pressupostos de proteção de direitos fundamentais. In: Direitos Fundamentais & Justiça. Belo Horizonte, ano 13,
n. 41, jul./dez. 2019. pp. 59-91. p. 86.
28
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 6ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017. p. 631.
29
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na
perspectiva constitucional. 13. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018. p. 226.
30
Acerca do objetivo final ao qual se vinculam os direitos sociais prestacionais, indica-se: SARLET. Ingo
Wolfgang. A Dignidade (da Pessoa) Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 10. ed.
rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019.p. 135-136.
126
31
BRASIL. Acórdão das Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 6.586 e nº 6.587. Brasília: Supremo Tribunal
Federal, 2020.
32
ARENHART, Sérgio Cruz. A tutela coletiva de interesses individuais: para além da proteção dos interesses
individuais homogêneos. 2ªed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 37.
33
BRASIL. Lei nº 9.784. Brasília: Congresso Nacional, 1999.
34
FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 3ª ed. rev. e atual. São
Paulo: Editora Malheiros, 2004. p. 39.
35
FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 3ª ed. rev. e atual. São
Paulo: Editora Malheiros, 2004. p. 38-40.
36
FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 3ª ed. rev. e atual. São
Paulo: Editora Malheiros, 2004. p. 76.
127
Desse modo, a restrição a educação em qualquer contexto deve ser analisada com alto
grau de zelo a fim de que não haja violação ao direito à educação, majoritariamente de crianças
e adolescentes que possuem prioridade absoluta na ordem jurídica brasileira e a negativa de
matrícula a qualquer criança ou adolescente no sistema de ensino brasileiro é um tipo de
violência. Logo, conquanto proporcional a determinação de obrigatoriedade de vacinação no
país a fim de promover a saúde pública, entende-se necessário o aprofundamento do exame
sobre as restrições decorrentes da negativa de vacinação especialmente no que tange a grupos
vulneráveis como as crianças e os adolescentes, para que não se tolham direitos fundamentais
na ânsia de concretizá-los.
5. CONCLUSÃO
37
BRASIL. Lei nº 13.979. Brasília: Congresso Nacional, 2020.
38
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Assembleia Nacional Constituinte, 1988.
39
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 6ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017.
40
LINERA, Miguel Ángel Presno. Estado de alarma por coronavirus y protección jurídica de los grupos
vulnerables. In: El Cronista del Estado Social y Democrático de Derecho, 86-87, 2020. pp. 54-65. p. 2.
128
REFERÊNCIAS
ARENHART, Sérgio Cruz. A tutela coletiva de interesses individuais: para além da proteção
dos interesses individuais homogêneos. 2ªed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2014.
41
VASCONCELOS, Fernando A. de; BRANDÃO, Fernanda H. de V. Direito à Saúde, Desenvolvimento e
Cidadania no Estado Democrático de Direito. In: BASSO, Ana Paula; et all. Direito e Desenvolvimento
Sustentável: Desafios e Perspectivas. Curitiba: Editora Juruá, 2013. pp. 239-251. p. 245.
129
FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 3ª ed. rev.
e atual. São Paulo: Editora Malheiros, 2004.
LI, Yingzhu; TENCHOV, Rumiana; SMOOT, Jeffrey; LIU, Cynthia; WATKINS, Steven;
ZHOU, Qiongqiong. A Comprehensive Review of the Global Efforts on COVID-19 Vaccine
Development. In: ACS Central Science, 2021, 7, 4, pp. 512-533.
LINERA, Miguel Ángel Presno. Estado de alarma por coronavirus y protección jurídica de los
grupos vulnerables. In: El Cronista del Estado Social y Democrático de Derecho, 86-87, 2020.
pp. 54-65.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos
fundamentais na perspectiva constitucional. 13. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2018.
130
ZANETI JÚNIOR, Hermes. Direito Processual dos Desastres. Palestra online ministrada no
Grupo de Estudos Araken de Assis (GEAK), coordenado pela Professora Mariângela Guerreiro
Milhoranza da Rocha, em 22 de maio de 2020.
131
1. INTRODUÇÃO
1
Graduado em Direito pela Universidade FEEVALE, Especialista em Direito Tributário, Consumidor, Trabalho
e Direito Aplicado aos Serviços de Saúde pela Faculdade Dom Alberto, inscrito na OAB/RS sob nº 114.741, e-
mail: marcos.andrade.advocacia@gmail.com
132
Por fim, optou-se por estruturar o Referencial Teórico intitulado “Direito à Saúde no
período pandêmico: reflexões sobre os aspectos legais e sociais” a fim de facilitar a
compreensão do assunto em duas seções, sendo estas: “Direito Fundamental à Saúde” e “O
Direito à Saúde no contexto da pandemia Covid-19: análise jurisprudencial”.
Forte exemplo de tal dificuldade pode ser encontrada nos resultados do estudo realizado
por Mello et al (2017). Ao investigar o que consta na literatura científica sobre a regionalização
do SUS nos estados e municípios brasileiros, os autores identificaram desigualdade na
qualidade de atendimento, contextos socioeconômicos regionais desfavoráveis à realização das
políticas públicas federais, ausência de qualificação do corpo técnico no serviço público, falta
de unidade entre os municípios e os estados, atividades feitas de forma isoladas e não unificadas
com o direcionamento federal, baixo nível de fiscalização e interferências por parte dos atores
políticos locais (MELLO et al, 2017).
Claudio José Amaral Bahia e Ana Carolina Peduti Abujamra tecem comentários sobre
a concretização do direito à saúde no âmbito jurídico-legal brasileiro, como lê-se a seguir:
A reflexão dos autores baseia-se na oposição entre aquilo que especificam os princípios
fundamentais - da garantia indiscriminada à dignidade e à soberania (BRASIL, 1988), mais
especificamente - e a lógica neoliberal que atingiu a Administração Pública. Nesse sentido,
Viana e Silva (2018, p. 2107) afirmam que “o bem comum precisa ser defendido ou insulado
tanto da devassa provocada pelo capital financeiro quanto pela erosão e fragmentação
provocada pelo neoliberalismo nas instituições públicas e nos sistemas de proteção social”.
134
Dirceu Siqueira e Fabricio Fazolli, ao discorrer sobre o Direito à Saúde, afirmam a sua
relevância para o cumprimento do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Para os autores,
o direito à saúde deve ser atrelado ao “direito da personalidade” (SIQUEIRA; FAZOLLI, 2015,
p. 186), tendo em vista o seu caráter essencialmente individual.
Não se pode ignorar, todavia, que o alcance da saúde do indivíduo causa impactos na
saúde coletiva. Reflete-se, neste ponto, que o direito à saúde deve ser observado a partir de
ambos os seus desdobramentos, sendo eles o individual e o coletivo.
Destacar-se-á que tanto o inc. III quanto o inc. III-A do Art. 3º da Lei pontuam uma
obrigatoriedade amplamente debatida na doutrina. Não por acaso autores discorrem sobre as
“medidas drásticas de restrição aos direitos fundamentais em nome da preponderância do direito
à saúde” (CORREIA; MARINHO; TAKAOKA, 2020, p. 27) que estão contidas na referida lei.
O fenômeno das competências concorrentes também é observado em estudos sobre a temática.
Nesses casos, “o princípio da proporcionalidade atua nessas questões e pondera de forma a
equacionar e resolver os direitos em conflito” (ABUD; DE SOUZA, 2020, p. 40).
136
Na decisão do relator Ministro Gilmar Mendes, optou-se por priorizar o direito à saúde
frente ao direito fundamental de liberdade religiosa. Nesse caso, as diretrizes do STF são a da
consecução das orientações feitas pelos órgãos da saúde a nível internacional - como é o caso
da OMS - e nacional - como é o caso do MS. Privilegia-se, na decisão, a saúde coletiva frente
aos interesses individuais de um grupo religioso, tendo em vista a situação de calamidade
pública que é o combate à disseminação do vírus.
3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL. Vigésima Câmara Cívil. AI: 51409027320218217000
RS. Relatr: Dilso Domingos Pereira. Rio Grande do Sul. DJ: 29/09/2021, DP: 01/10/2021. Disponível em:
https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1318910839/agravo-de-instrumento-ai-51409027320218217000-rs.
Acesso em: 25 de novembro de 2021.
138
3. CONCLUSÃO
Dito isso, foi possível averiguar as hipóteses levantadas e observou-se que a eficácia do
Direito à Saúde é, de fato, essencialmente um problema da Administração Pública. Diante disso,
verificou-se também - com o auxílio da doutrina especializada e jurisprudência - que em crises
sanitárias emergenciais deve-se prevalecer o bem-estar e a saúde coletiva.
REFERÊNCIAS
ABUD, Carol Oliveira; DE SOUZA, Luciano Pereira. Uso obrigatório de máscara facial para
conter a COVID-19 no Brasil: limitação legítima ao direito fundamental de autodeterminação.
Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia (Health Surveillance under
Debate: Society, Science & Technology) -Visa em Debate, v. 8, n. 3, p. 34-43, 2020. Disponível
em: https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/1651/1193.
Acesso em: 25 de novembro de 2021.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de dezembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 14 de out. de 2022.
BRASIL. Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para enfrentamento
da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus
responsável pelo surto de 2019. Brasília, 2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13979.htm. Acesso em: 11 de
out. de 2022.
139
REGO, Sergio; PALÁCIOS, Marisa. Ética, saúde global e a infecção pelo vírus Zika: uma
visão a partir do Brasil. Revista Bioética, v. 24, p. 430-434, 2016. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/bioet/a/yJWYWr9ZpNLhk9Yvx33psTm/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 25 de out. de 2022.
rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1318910839/agravo-de-instrumento-ai-
51409027320218217000-rs. Acesso em: 25 de out. de 2022.
VIANA, Ana Luiza d’Ávila; SILVA, Hudson Pacífico da. Meritocracia neoliberal e
capitalismo financeiro: implicações para a proteção social e a saúde. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 23, p. 2107-2118, 2018. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csc/a/hMWpzWJRVVKC4h9TmMxJVtD/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 25 de out. de 2022.
141
Melissa Daandels1
Resumo: Como legado da pandemia da Covid-19, novas tecnologias na área da saúde crescem
de forma exponencial, criando novos paradigmas neste setor transdisciplinar ao exigir do
médico adaptações iminentes no seu modo de cuidar o paciente. Diversos são os reflexos
experimentados cm virtude da aplicação da tecnologia nas rotinas em saúde, especialmente no
exercício da Medicina e na interação entre os profissionais médicos e os pacientes. Necessárias
para que o tratamento possa ser realizado com a eficácia esperada, a implementação da
tecnologia na área da saúde e a adequada informação (como prática médica efetiva) modificam
a conduta humana de modo a reconectar a relação existente entre o médico e o paciente,
permitindo a retomada da proximidade e da confiança e tornando o cuidado mais humano e
personalizado, especialmente para a melhoria efetiva na qualidade do atendimento e no cuidado
do paciente.
1 INTRODUÇÃO
1
Advogada. Pós-Graduada em Direito Processual Civil. Pós-Graduada em Direito Médico. MBA em gestão
jurídica hospitalar e da saúde. Certificada em Lei Geral de Proteção de Dados e Compliance pelo Hospital Sírio
Libanês (SP) e em Ética e Compliance pelo Hospital Albert Einstein (SP). Secretária-Geral da CEDS da OAB/RS,
Subseção Canoas. Membro da CEDS da OAB/RS.
142
2
“Um algoritmo pode ser definido, de modo simplificado, como um conjunto de regras que define precisamente
uma sequência de operações para várias finalidades”. (HARTMANN; SILVA, 2019, p. 74)
3
Já o prontuário eletrônico médico é a versão digital dos tradicionais prontuários registrados em papel nos
consultórios médicos, nas clinicas e nos hospitais. Esses prontuários contêm os dados clínicos de cada paciente,
elaborados pelo médico ou equipe médica no consultório, clinica ou hospital e são usados para o diagnóstico e
144
o tempo de cuidado e guiar a tomada de decisão das equipes de atendimento, bem como para
“evitar que a cada consulta o paciente precise repetir todas as informações sobre a sua condição
de saúde e que os médicos peçam novamente os mesmos exames solicitados anteriormente”.
(KLAJNER, LOTTENBERG; SILVA, 2019, p. 38).
De fato, a introdução dos diversos instrumentos da tecnologia da informação e a
profusão de modernos e sofisticados equipamentos na área da saúde trouxeram muitos
benefícios e rapidez na luta contra as doenças, revolucionando a forma de tomada das decisões
e gerando impacto nas relações sociais e econômicas, na saúde e na ciência por meio da criação
de novos meios para coletar, manipular, analisar e exibir dados.
Segundo Klajner; Lottenberg; Silva (2019, p. 50), “as novas tecnologias também vem
melhorando a qualidade do atendimento e a experiência dos pacientes: aumentou a rapidez no
atendimento na atenção primária, os diagnósticos são mais precisos e o encaminhamento do
paciente a especialistas, quando necessário, é mais rápido”.
Nesse cenário, comemora Carvalho (2019, p.15), “uma instituição de saúde inteligente,
seja ela hospital, clínica médica ou o próprio consultório médico, investe nas novas tecnologias
sem perder o foco na motivação em equipe, obtendo, desta forma, excelentes resultados que
repercutem diretamente na motivação dos pacientes, que percebem a dedicação e o cuidado no
trabalho sendo espontaneamente fidelizados”.
De modo natural, cumpre-se o engajamento do paciente, pois este encontrará na
mediação por tecnologias uma forma de relação de continuidade remota com a equipe de saúde,
contribuindo de forma eficiente para o tratamento de sua saúde.
É a era das coisas, serviços e pessoas se conectando por meio de redes inteligentes,
suscitando uma mudança radical e de qualidade, em busca de um sistema de saúde mais
acessível, inteligente, humanizado e personalizado e com uma efetiva melhoria na qualidade do
atendimento percebida pelos pacientes, nos resultados e na sustentabilidade do sistema de
saúde.
Nesse cenário, e considerando-se que a utilização da tecnologia na área da saúde vem
promovendo uma mudança de paradigma - impulsionada pelo aumento da disponibilidade de
dados de assistência médica e pelo rápido progresso das técnicas de análise – em contraponto
tratamento. São mais valiosos do que os registros em papel porque permitem que os provedores acompanhem os
dados ao longo do tempo, identifiquem os pacientes para visitas e exames preventivos e possam monitorá-los
mais facilmente, melhorando a qualidade dos serviços de saúde (KLAJNER; LOTTEMBERG; SILVA, 2019, p.
39).
145
Com a implementação das novas tecnologias na área da saúde, acelerada pela pandemia
da COVID-19, profundas transformações ocorreram na dinâmica que envolve a interação do
médico e o paciente.
De fato, o advento da internet fomentou a criação de novos canais de comunicação entre
o profissional e o usuário do sistema de saúde e tem modificado as possibilidades para o médico
se relacionar com seus pacientes, transformando, inclusive, a forma como estes interagem com
a própria saúde.
A difusão das informações por meio digital impactou no perfil do paciente que, hoje,
muito mais informado, tem também maior poder de decisão e autonomia sobre o que fazer com
relação à sua saúde o que, por consequência, tornou o trabalho dos médicos mais interpretativo,
intuitivo e personalizado, em busca da oferta de serviços mais ágeis e práticos (KLAJNER;
LOTTENBERG; SILVA, 2019).
Diante de um amplo acesso à informação, os usuários do sistema de saúde tornam-se
mais exigentes com os serviços oferecidos, porquanto não buscam tão somente a qualidade no
atendimento: eles desejam que toda a experiência vivenciada e disponível em saúde seja
otimizada e atenda às suas expectativas, de modo a influenciar na relação médico-paciente.
Via de regra, ensina Timbó (2020, p. 90), a “relação médico-paciente é pautada na
confiança depositada bilateralmente, que tende a se renovar entre as partes, e que tem a marca
distintiva de ambas estarem envolvidas na persecução de um objetivo principal em comum: o
restabelecimento da saúde do paciente”.
Nesta relação bilateral e sinalagmática, sustenta DANTAS (2021), cumpre ao médico
não somente o comprometimento, de forma essencial e desde sempre, com a saúde e a vida de
seus pacientes, mas também o dever de informá-los sobre as possíveis abordagens para o seu
tratamento, envolvendo-o na escolha consciente, para fins de recebimento do seu
consentimento.
No que diz respeito ao acesso à informação, as novas tecnologias transformaram esse
encontro entre o profissional e o usuário da saúde de modo que ambos discutem e compartilham
146
responsabilidades pelas decisões, tornando os pacientes não somente mais próximos aos
médicos e com maior poder de decisão sobre a sua saúde, mas, também, exigindo do médico a
oferta de serviços mais individualizados e personalizados.
Como o acesso à informação adequada e precisa é fundamental para os pacientes, e,
uma vez que nesse encontro ambas as partes discutem e compartilham responsabilidades
mútuas e recíprocas pelas decisões, exige-se dos médicos uma mudança comportamental, de
modo a transformar todo o cuidado do paciente.
Trata-se de um modo contemporâneo de pensar, que demanda do profissional a
incorporação e utilização correta de equipamentos, com o escopo de evitar erros e desperdícios;
a compreensão do impacto negativo da indicação de exames desnecessários para a
sustentabilidade do sistema e para o próprio paciente, bem como a visualização, pelo
profissional, do seu paciente como o centro do seu cuidado. (KLAJNER; LOTTENBERG;
SILVA, 2019).
É preciso entender, ainda, que o uso da tecnologia, por si só, não agregará valor ao
atendimento se não souber exatamente os dados ou resultados que espera obter com a sua
aplicação. Afinal, sustenta Carvalho (2019, p. 122), “o abuso em procurar respostas na
tecnologia pode levar também ao aumento de posturas intervencionistas que não agregam
qualidade ou valor à vida das pessoas”, fazendo com que se perca o foco no paciente e a
capacidade de enxerga-lo como um todo.
Deveras, o paciente deve ser o centro do sistema em saúde, onde o equilíbrio está
atrelado não somente ao estabelecimento de uma boa relação do profissional com seus
pacientes, mas, também, à busca simultânea da melhoria na experiência do paciente com o
cuidado, o que envolve também a qualidade, segurança e informação, tratando-o de acordo com
a sua condição clínica, de forma personalizada e mais humana.
A proposta, aponta Klajner; Lottenberg; Silva (2019, p. 131), “é focada na promoção
da saúde, e não na doença, e os cuidados de saúde são organizados em uma rede de prevenção
e acompanhamento”, onde a experiência do paciente está diretamente ligada à adesão aos
tratamentos e a sua melhor recuperação.
Isso revela uma mudança radical e de qualidade, em busca de um sistema de saúde mais
acessível, inteligente, humanizado e personalizado, com uma efetiva melhoria na qualidade do
atendimento percebida pelos pacientes, nos resultados e na sustentabilidade do sistema de
147
saúde, de modo que a interação médico-paciente se apoie na tecnologia, mas não se limite a ela
(CARVALHO, 2019).
Nesse cenário, portanto, é preciso reconhecer-se a necessidade crescente de desenvolver
uma interação comunicativa mais próxima e aberta entre pacientes e médicos, possibilitando
melhor qualidade do atendimento e cuidados aos usuários da saúde, de modo a aproveitar as
oportunidades e desafios que a tecnologia oferece e criar condições para abordá-los
adequadamente.
CONCLUSÃO
O uso das tecnologias tem inovado o setor da saúde em todo o mundo, de modo a
incorporar uma verdadeira transformação digital neste setor, onde a pandemia causada pela
COVID-19 se mostrou como uma forte impulsionadora na sua aderência.
De fato, a tecnologia possibilita a prevenção do surgimento de doenças e antecipação
de diagnósticos e terapêuticas, permitindo a realização de exames mais complexos e até mesmo
em tempo real, evoluindo para procedimentos menos invasivos e possibilitando um
atendimento de qualidade aos pacientes e aos problemas da saúde.
Além disso, como benefícios evidentes advindos da tecnologia na área da saúde, pode-
se mencionar maior rapidez na descoberta de novos tratamentos, compilação de mais dados de
forma organizada no auxílio ao diagnóstico, celeridade na detecção de sintomas, descoberta e
desenvolvimento de novos medicamentos.
Em um cenário abastecido de informação, ciência e poder, as tecnologias surgem
trazendo soluções inovadoras e disruptivas, tornando os pacientes mais proativos sobre os
cuidados com a própria saúde, o que demanda e incentiva reflexões sobre o próprio processo
de construção da confiança que pauta o cuidado à saúde na relação médico-paciente.
A saúde, que é (e deve ser) centrada no cuidado à pessoa humana, precisa se apropriar
dos benefícios que a tecnologia proporciona para provocar o acesso à informação, com
velocidade e eficiência, de modo que esta ferramenta dinamize a relação médico – paciente. A
transformação digital deve ser centrada no paciente e não na tecnologia.
Com efeito, em um momento de aceleradas mudanças e incertezas, o caminho adequado
para o futuro requer que as relações humanas se tornem centrais, a fim de que as imprescindíveis
148
pontes em construção revelem bons resultados para os pacientes e para a sociedade como um
todo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTON, Lilian; NETTO, Antonio Valerio; TAKAHATA, André Kazuo. Ciência de dados e
a inteligência artificial na área da saúde. São Paulo: Dos Editores, 2022.
CARVALHO, Marinilza Bruno de. Inovação em saúde: uma nova era. Rio de Janeiro: Ciência
Moderna, 2019.
DALLARI, Analluza Bolivar; MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. LGPD na saúde. 1.ed.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021.
FRANÇA, Genival Veloso de. Comentários ao código de ética médica. 7.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2019.
KLAJNER, Sidney; LOTTENBERG, Cláudio; SILVA, Patrícia Ellen da. A revolução digital
na saúde. São Paulo: Dos editores, 2019.
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade civil do médico. 10.ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2019.
OMETTO, Rosália Toledo Veiga. Coord. ALVIM, Arruda. ALVIM, Thereza. MELLO,
Cecília. RODRIGUES, Daniel Colnago. Direito Médico. Aspectos materiais, éticos e
processuais. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021.
149
INTRODUÇÃO
Neste ponto, diante dos efeitos da judicialização, foi preciso reforçar e enaltecer novas
forma de tratamento de conflitos, bem como de que acesso à justiça e direito de ação não são
excludentes de soluções consensuais de controvérsias.
Dentro deste contexto esse estudo se debruçará sobre o novo conceito de acesso à justiça
e os métodos de tratamento de conflitos já validados no ordenamento brasileiro, especialmente
a mediação e como essa refletiu como forma mais indicada para áreas como as atinentes aos
conflitos da saúde.
A palavra “conflito” sempre foi muito associada a ideia de confrontos bélicos, guerras
ou brigas. No cenário dos operadores do direito isso não era muito diferente. Contudo, na última
década, o conceito de conflitos vem ganhando novo sentido no ordenamento jurídico brasileiro,
especialmente com a publicação da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) que “Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos
1
Advogada, OAB/RS 68.362, Mediadora de Conflitos Capacitada pela Escola da Magistratura – AJURIS.
Especializanda em MASCs – Meios Adequados de Solução de Conflitos e Docência no Ensino Superior na
Faculdade Verbo Educacional, e-mail veridianamartins@gmail.com
150
Contudo, apesar da instituição dessa nova política pública a expressão “conflito” era
compreendida de forma muito insipiente, começando a tornar-se matéria-prima dos operadores
jurídicos a partir do Código de Processo Civil de 2015, Lei nº 13.105/15, que introduziu a
mediação como uma etapa do processo, e da Lei nº 13.140/15, a Lei da Mediação, marco legal
da mediação no Brasil.
A introdução dessa nova forma de tratamento de conflitos pelo Poder Judiciário trouxe
não apenas um novo significado para a ideia de conflito como passou a ressignificar a ideia de
acesso à justiça.
Dentro deste cenário que vinha se estabelecendo no país, o CNJ editou o Manual de
Mediação Judicial onde esclareceu que acesso à justiça e acesso ao Judiciário são coisas
distintas. Acesso ao Judiciário resume-se unicamente em levar as demandas dos necessitados
ao Poder Judiciário, enquanto acesso à justiça implica em incluir os jurisdicionados que estão
à margem do sistema para que possam ter seus conflitos resolvidos ou receberem auxílio para
que resolvam suas próprias disputas, ou seja,
[...] o acesso à justiça está mais ligado à satisfação do usuário (ou jurisdicionado) com
o resultado final do processo de resolução de conflito do que com o mero acesso ao
poder judiciário, a uma relação jurídica processual ou ao ordenamento jurídico
material aplicado ao caso concreto [...] acesso à Justiça passa a ser concebido como
um acesso a uma solução efetiva para o conflito por meio de participação adequada –
resultados, procedimento e sua condução apropriada – do Estado.2
Disto verifica-se que o acesso à justiça através do Poder Judiciário somente ocorrerá se
este garantir a prestação jurisdicional efetiva, ou seja, com resultados que atendam as
necessidades dos jurisdicionados. Para tanto, faz-se necessário que essa tutela ocorra no tempo
2
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Azevedo, André Gomma de (Org.). Manual de Mediação
Judicial, 6ª Ed. Brasília: CNJ, 2016, 39
151
adequado, sob pena de não atender mais aos interesses do litigante. Declarar ou até mesmo
entregar “o direito” a destempo não serve para tratar o conflito e sim apenas para que o
Judiciário se livre dele. Tal interpretação de acesso à justiça encontra consonância com o inciso
LXXVIII ao art. 5º da CRFB o qual diz que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação”
O processo judicial tem se mostrado uma forma anacrônica de tratamento de conflitos,
pois o tempo do processo não é o tempo da sociedade. O poder jurisdicional do Estado oferece
ao cidadão uma alternativa “unissex de tamanho único”, a qual serve, mas nem sempre da
melhor forma possível3.
Contudo, a evolução legislativa vem possibilitando que seja assegurada ao cidadão o
tratamento mais adequado a cada conflito, considerando as especificidades de cada caso, em
similitude a ideia norte-americana do Tribunal Multiportas.
O conceito do Tribunal Multiportas surgiu no final da década de 1970, nos Estados
Unidos, e compreende uma forma de organização do Poder Judiciário como um centro de
resolução de disputas, o qual possibilita a escolha de diferentes procedimentos para cada caso,
em função das características específicas de cada conflito4.
Ou seja, em vez de existir uma única “porta” (o processo judicial) o Tribunal Multiportas
constitui um sistema amplo com várias opções de procedimentos no qual as partes podem ser
direcionadas ao mais adequado a cada disputa.
[...] a escolha do método de resolução mais indicado para determinada disputa precisa
levar em consideração características e aspectos de cada processo, tais como: custo
financeiro, celeridade, sigilo, manutenção de relacionamentos, flexibilidade
procedimental, exequibilidade da solução, custos emocionais na composição da
disputa, adimplemento espontâneo do resultado e recorribilidade.5
3
MARTINS, Veridiana Tavares. Mediação: uma alternativa fraterna para o tratamento de conflitos. In:
BARZOTTO, Luiz Fernando; MULLER, Felipe de Matos; COLPO, Luciana Dessanti, BARZOTTO, Luciane
Cardozo (org.). Direito e Fraternidade: outras questões. Porto Alegre: Editora Sapiens, 2017, p.271
4
MALLMANN, Manuela Scalco. Fórum de Múltiplas portas ou Tribunal Multiportas. In: MARODIN, Marilene;
MOLINARI, Fernanda (org.). Mediação de Conflitos: paradigmas contemporâneos e fundamentos para a prática.
Porto Alegre: Imprensa Livre, 2016, p.89.
5
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Azevedo, André Gomma de (Org.). Manual de Mediação
Judicial, 6ª Ed. Brasília: CNJ, 2016, 17
152
6
SPENGLER, Fabiana Marion. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de conflitos. 2.ed.
Ijuí: Editora Unijui, 2016, p. 159/160.
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SPENGLER, Fabiana Marion. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de conflitos. 2.ed.
Ijuí: Editora Unijui, 2016, p. 162
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Neste aspecto o CNJ vem empregando esforços para que a mediação seja respeitada em
seu papel no tratamento dos conflitos, orientando como deverá se dar a formação dos
mediadores já que, como referido acima, trata-se de uma atividade técnica, apresentando no
Anexo 1 do Manual de Mediação8 o conteúdo programático do curso básico de mediadores.
O mediador deve ter conhecimento multidisciplinar adequado para o bom desempenho
de seu papel. Eligio Resta9 atribui ao mediador o papel de “tradutor” que deve ficar no meio
das linguagens diversas e servir de meio, entre uma e outra.
Enquanto as partes litigam e só vêem seu próprio ponto de vista, cada um de maneira
especular em relação a outra, o mediador pode ver as diferenças comuns aos
conflitantes e recomeçar daqui, atuando com o objetivo de as partes retornarem a
comunicação, e exatamente o munus comum a ambas.
[...]
O mediador é agora meio para a pacificação, remédio para o conflito graças ao estar
entre os conflitantes, nem mais acima, nem mais abaixo, mas ao seu meio; [...]10
8
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Azevedo, André Gomma de (Org.). Manual de Mediação
Judicial, 6ª Ed. Brasília: CNJ, 2016, p.275-189
9
RESTA, Elígio. O direito fraterno. Tradução: Sandra Regina Vial. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004, p.131
10
RESTA, Elígio. O direito fraterno. Tradução: Sandra Regina Vial. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004, p.126
11
BARZOTTO, Luis Fernando. Teoria do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017, p.124.
12
RESTA, Elígio. O direito fraterno. Tradução: Sandra Regina Vial. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004, p.118
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dimensão pactuada e convencional, por ele chamada de “justiça de proximidade”, orientada por
uma filosofia de justiça restaurativa, que envolve modelos de composição e gestão de conflitos
menos impositiva.
O sucesso da mediação está no comprometimento das partes com a solução por elas
encontrada, tal fato se dá através de sua participação efetiva na construção da solução do
conflito. Ou seja, quando os litigantes decidem juntos a forma de tratamento do conflito, a
resistência ao seu cumprimento é muito menor, pois sentem-se parte do resultado.
Importante observar também que a mediação, além de ser orientada pela relação fraterna
e de igualdade entre os cidadãos, privilegia também a autonomia da vontade das partes fazendo
valer princípio da liberdade.
Disto pode-se afirmar que a mediação é a forma mais democrática de tratamento e
solução de conflitos, na qual a cidadania é exercida, ante aos princípios da liberdade, igualdade
e fraternidade.
Os valores consensuais trazidos pela evolução legislativa dão luz à concretização do que
vem preconizado no preâmbulo da CRFB “...uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,
com a solução pacífica das controvérsias…”.
Este novo aparato legislativo brasileiro apresenta em seu cerne os métodos consensuais
de tratamento de conflitos como caminho para a paz social e solução pacífica das controvérsias,
destacando-se a mediação como chave mestra para tal fim.
O CNJ ao editar o Manual de Mediação Judicial esclareceu que acesso à justiça e acesso
ao Judiciário são coisas distintas. Acesso ao Judiciário resume-se unicamente em levar as
demandas ao Poder Judiciário. Acesso à justiça implica em incluir os jurisdicionados que estão
à margem do sistema para que possam ter seus conflitos resolvidos ou receberem auxílio para
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Sob esse novo olhar, pode-se afirmar que o “acesso à justiça” está mais ligado à
satisfação do cidadão com a solução de conflito do que com o mero acesso ao Poder Judiciário.
Essa conclusão conduz à uma mudança de mentalidade e comportamento dos advogados -
essenciais para administração da justiça - especialmente ao se verificar que há um movimento
dos operadores do Poder Judiciário que acompanha essa nova ideia.
Dito isso, o Poder Judiciário passou a adotar medidas que não permitissem que a
pandemia provocada pela COVID-19 afetasse o acesso à justiça aos cidadãos. Destaca-se aqui
a Recomendação nº 01/2020 do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), de 25 de
março de 2020, que recomendava aos Tribunais do Trabalho “adoção de diretrizes excepcionais
para o emprego de instrumentos de mediação e conciliação de conflitos individuais e coletivos
em fase processual e fase pré-processual por meios eletrônicos e videoconferência”, uma das
primeiras a orientar os Tribunais na adoção de práticas autocompositivas como forma de
enfrentamento da crise que estava se vivenciando.
Dentre os ODS da Agenda 2030 merece destaque aqui: “Objetivo 16 - Paz, Justiça e
Instituições Eficazes” que se refere ao compromisso dos países em promover sociedades
13
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Disponível em:
<https://www.tjrs.jus.br/novo/noticia/cejusc-realiza-primeiro-acordo-em-projeto-piloto-de-conciliacao-em-
temas-da-saude/ > Acesso em 29 out.2022
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Como forma de atingir o ODS 16 fora aprovada, no XIII Encontro Nacional do Poder
Judiciário14, a Meta 9 do CNJ a qual consiste em integrar a Agenda 2030 ao Poder Judiciário a
partir da realização de ações de prevenção ou desjudicialização de litígios.
14
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Disponível em: < https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2020/01/Metas-Nacionais-aprovadas-no-XIII-ENPJ.pdf> Acesso em 29 out.2022
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CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BARZOTTO, Luis Fernando. Teoria do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017
SPENGLER, Fabiana Marion. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento
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RESTA, Elígio. O direito fraterno. Tradução de Sandra Regina Vial. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2004