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DIREITO À SAÚDE
Organizadores:
Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthaler
Rosângela Maria Herzer dos Santos
Lucas Lazzaretti
Vanessa Rodrigues Pereira
Fernanda Beal Pacheco
Estefani Teixeira
Ana Paula Adede y Castro
D635
Direito à saúde/. Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthaler, Lucas
Lazzaretti...[et.al] (Organizadores). Porto Alegre: OABRS, 2021.
p.154
ISBN: 978-65-88371-14-5
1. Direito. 2. Saúde. I Título
CDU 368.42
Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10/1517
DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021
CONSELHO PEDAGÓGICO
CORREGEDORIA
OABPrev
COOABCred-RS
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
Apresentar esta obra é um privilégio. Trata-se de oportuna coletânea de estudos sobre direito
à saúde, idealizado pelos organizadores e articulistas da Comissão Especial da Saúde da Ordem dos
Advogados do Rio Grande do Sul – OAB/RS. Os autores são estudiosos que se dedicam à reflexão
sobre o direito à saúde, debruçando-se sobre temas relevantes e inquietantes, essenciais em tempos
de pandemia, ocasionada pelo coronavírus, a requerer muitas pesquisas e estudos para informar e
conscientizar a população.
O presente e-book foi idealizado com a finalidade celebrar e os 36 anos da Escola Superior
de Advocacia – ESA e homenagear a Dra. Rosângela Maria Herzer dos Santos, diretora da ESA, os
quais foram dedicados aos estudos e à pesquisa em Direito. A trajetória acadêmica da homenageada
compreende grande experiência na pesquisa acadêmica, advocacia e docência, sendo uma renomada
profissional.
A ESA foi fundada em 1985, por inciativa da OAB/RS, sendo a primeira de sua espécie, por
força da Resolução n. 24/1985. O Presidente da OAB/RS à época, em reunião ordinária de 03 de
setembro de 1985 do Egrégio Conselho Seccional, aprovou a criação da ESA com destinação a
centralizar e coordenar – na condição de departamento cultural do conselho seccional – as atividades
culturais, por meio de cursos, estudos, seminários, congressos, publicações e demais programações
que visem à elevação do nível cultural dos advogados gaúchos.
A Dra. Rosângela Maria Herzer dos Santos expressa a dedicação à ESA gaúcha, seja na
docência ou na pesquisa, já que ela possui um currículo de extrema relevância acadêmica e jurídica.
Conforme se observa destas páginas, a obra contempla estudos que atendem profissionais de diversas
áreas, fomenta dúvidas, provoca inquietações e reflexões e, sobretudo, aponta caminhos. Nesse
sentido, é uma preciosa contribuição para a comunidade, auxiliando na compreensão de temáticas
atuais e por vir, sendo recomendada a leitura.
Portanto, os organizadores, articulistas e a Comissão Especial da Saúde, em nome da
presidente Dra. Mariana Diefenthäler, homenageiam a Escola Superior de Advocacia, pelos seus 36
anos, e a Dra. Rosangela Maria Herzer dos Santos, por sua dedicação, trajetória, contribuição e
ensinamentos à Ciência Jurídica brasileira, com votos de sucesso e agradecimento de: Mariana
Polydoro de Albuquerque Diefenthäler, Estéfani Luise Fernandes Teixeira, Ana Paula Adede y
Castro, Fernanda Beal Pacheco, Lucas Lazzaretti e Vanessa Rodrigues Pereira.
Resumo: Objetiva-se com o presente artigo, analisar-se a lei das videochamadas sob o
enfoque da terapêutica voltada ao paciente, como o próprio título apresenta. É apresentado
uma breve contextualização dos efeitos da pandemia causada pelo Sars-CoV-2, aliado ao
avanço das doenças crônicas não transmissíveis pelo mundo como efeito do progresso
científico que prolongou a vida daqueles acometidos por estas enfermidades. E, finalmente,
abordar-se-á as controvérsias e evolução da utilização da lei das videochamadas.
Palavras-chave: Covid-19. Internação. Cuidado. Paciente. Empatia.
1 INTRODUÇÃO
Já restou claro após quase dois anos vivenciando os efeitos da síndrome respiratória
causada pelo Sars – CoV-2, que a pandemia disseminada por ele e com efeitos avassaladores
sobre toda a população mundial, foi um acelerador do futuro. Mas não apenas isso! Ela
reacendeu discussões a respeito da morte e do morrer, dos direitos no fim de vida e dos
cuidados centrados no paciente, grandes questões já há muito vistas pela Bioética e o
Biodireito.
Segundo Gawande (2015), durante a maior parte da história da humanidade, a morte
era uma possibilidade comum, sempre presente, vivíamos em uma verdadeira roleta-russa,
que com o decorrer dos anos e o advento do saneamento básico e outras medidas de saúde
pública, reduziram-se drasticamente o risco da provável morte.
Não obstante, na medida em que o risco da provável morte foi afastado pelo
progresso científico, levando a um prolongamento na expectativa de vida e cura de algumas
doenças consideravas ameaçadoras, o uso abusivo da tecnologia fez com que inúmeros e
complexos dilemas éticos aparecessem. Como entende França (2021), a medicina curativa
1
Graduada em direito pela Universidade Luterana do Brasil- ULBRA, Especialista no Novo Direito Processual
Civil Brasileiro pela Unisinos e Direito Tributário pela Anhanguera, inscrita na OAB/RS sob nº 58.586, email:
apaula_oliveira@hotmail.com;
2
Graduada em direito pela Pontifícia Universidade Católica do RGS- PUC/RS, Especialista em Direito Público
pela Universidade Caxias do Sul – UCS, inscrita na OAB/RS sob nº 30.350, email: chs.peres@gmail.com
3
Graduada em direito pela Universidade Caxias do Sul- UCS, Especialista em Bioética pela Universidade
Caxias do Sul- UCS, email: priscila_baruffi@yahoo.com.br
11
tornou-se uma instituição, que má utilizada, pode nos levar a programação arbitrária de
pessoas, controle abusivo da sociedade e domínio abjeto da natureza pela utilização do que
se chama de “obstinação terapêutica” ou “terapêutica fútil”.
É diante desse quadro que se apresenta uma morte longa e muitas vezes sofrida, fruto,
na maioria das vezes, da obstinação terapêutica e da necessidade médica e de muitos
familiares em manter seus pacientes internados a qualquer custo, mas também pelo fato de
que, como em doenças já consideradas crônicas e altamente transmissíveis como a causada
pelo Sars – CoV-2, não existe possibilidade de alta, cabendo ao médico não a cura, mas
minorar o sofrimento do paciente, aliviar seu desconforto e oferecer condições dignas e
respeitosas no fim de vida.
Veremos neste trabalho, a partir de pesquisa realizada por meio de estudo de
referencial biográfico, de que forma foi possível atender ao anseio da sociedade por levar
àqueles pacientes acometidos da “doença do coronarívus 2019”, mas não apenas estes, a
todos aqueles que se encontram em uma situação de extrema dor e fragilidade, um pouco de
conforto, carinho e esperança.
A chegada de uma síndrome respiratória aguda grave causada pelo Sars-CoV-2 e que
ficou conhecida como “doença do coronavírus 2019” ou covid-19 foi noticiada pela primeira
vez em dezembro de 2019, tendo como origem a cidade de Wuhan, Província de Hubei, na
China (CHAN et al., 2020). O vírus causador do covid-19 pode ser transmitido através de
secreções de saliva, espirro, tosse, fala e contato com superfícies contaminadas. Ou seja,
basta o contato próximo (menos de um metro de distância) com uma pessoa que esteja
infectada para que possa ocorrer a transmissão (OPAS, 2021).
Como o covid-19 possui alta transmissibilidade, foi necessário que os países colocassem em
prática medidas sanitárias na tentativa de diminuir o caos instalado pela doença. Ocorreu o
fechamento de escolas e universidades, proibição de eventos em massa e aglomerações, bem
como restrições de viagens, por exemplo (AQUINO et al., 2020).
O quadro clínico dos pacientes acometidos pelo covid-19 varia de leve, moderado e
grave (WIERSINGA et al., 2020). Cerca de 14% dos infectados evoluem para casos clínicos
graves, apresentando dispnéia, envolvimento pulmonar acima de 50% e 5% evoluem para
doença crítica com insuficiência respiratória, choque e/ou falência de múltiplos órgãos
(MICHELIN et al., 2020). Além disso, estudos apontam que pelo menos 17% a 35% dos
12
não existia nenhuma lei que a embase algumas cidades liberaram a prática através de leis
municipais como São Paulo e Rio de Janeiro, mas mesmo assim, acabava dependendo de
vários outros fatores para acontecer esse contato, afinal, não existia critérios legalmente
constituídos.
Dessa forma, iniciou-se uma campanha chamada “preciso dizer que te amo”
encabeçada pela médica Ana Cláudia Arantes ([2021]) que buscava a aprovação de uma Lei
Federal que tratasse das videochamadas hospitalares, através do Projeto de Lei (PL) n. 2136
e sua consequente aprovação.
O Projeto de Lei de autoria do Deputado Federal Célio Studart passou por uma
votação simbólica e foi aprovada em 11 de agosto de 2021, seguindo para sanção do
Presidente da República.
Dentre os pontos mais importantes do antigo Projeto de Lei e agora Lei n. 14.198
(Lei das Videochamadas) pode-se destacar: mínimo de uma chamada diária a pacientes
internados; em caso de existir contraindicação para videochamada deverá ser justificada e
anotada no prontuário médico; no caso de pacientes inconscientes, as videochamadas devem
ser realizadas desde que previamente autorizadas pelo próprio paciente enquanto gozava da
capacidade de se expressar de forma autônoma, ainda que oralmente ou por familiar.
No mesmo mês que ocorria a tramitação do PL no Senado Federal, a média de mortes
diárias no Brasil atingiu a marca de 777 óbitos, menor número do ano (PINHEIRO, 2021).
grau de contágio da doença que impossibilitava o contato com familiares para prestar
informações sobre o quadro do paciente ou levar informações aos mesmos, gerando um
afastamento e uma grave ansiedade para todos os envolvidos – familiares, pacientes e equipe
médica.
Diante desse contexto, as videochamadas eram a única forma de minimizar o
afastamento do paciente e seu familiar, sempre com a certeza que esse contato era essencial
para a recuperação da doença. Na busca da aproximação do paciente e seu familiar, as
instituições de saúde se utilizaram de diversas práticas na lacuna da regulamentação. No
Hospital Universitário Júlio Muller, no Estado do Mato Grosso, as videochamadas
começaram a ser feitas de forma regular já no ano passado, com regras claras para o
procedimento.
Nesse período foram promulgadas leis municipais – Rio de Janeiro, São Paulo e
Londrina e Resoluções de Conselhos Estaduais de Medicina, como o Conselho Regional de
Medicina do Estado de São Paulo que trouxeram algumas regulamentações para a realização
das videochamadas.
Com o advento da Lei n. 14.198/21, aguarda-se uma maior efetividade da prática
pelas instituições de saúde, tanto no cumprimento do direito segurado, quanto na extensão
aos demais pacientes em situação de isolamento ou internação intensiva, uma vez que,
segundo uma nota do governo federal sobre a lei.
Ainda não se pode sentir de forma concreta, dada sua promulgação ser muito recente,
em 02 de setembro de 2021, e depender da operacionalização dos serviços de saúde, como
dispõe o art. 3º da referida lei, mas, a toda evidência, já se tem uma vitória na concretização
do direito do paciente e seu familiar.
4 CONCLUSÃO
É sob tal perspectiva que devemos entender que o foco no paciente sempre deverá
ser o objetivo a permear qualquer ato médico, especialmente aqueles atos que farão parte de
momentos de grande sofrimento da vida de um enfermo, ou daqueles que determinarão de
que forma serão os últimos momentos de vida de um ser humano, o último acontecimento
da nossa vida, a morte!
Segundo a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial
de Saúde, com dados que cobrem o período de 2000 a 2019, as Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT), são a causa principal de mortalidade e de incapacidade prematura
no mundo, incluindo países do nosso continente e o Brasil. Destacam a necessidade urgente
de intensificar a prevenção de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças
respiratórias crônicas, conforme estabelecido na agenda dos objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) da ONU.
E diante desse quadro o que temos é uma morte longa e sofrida diante, na maioria
16
Dito isso, os cuidados paliativos são aqueles que objetivam garantir ao paciente
qualidade de vida até o momento de sua morte, assegurando que ela ocorra de forma digna,
com cuidados e buscando o menor sofrimento possível. É nesse cenário que se perpetuam
os maiores conflitos segundo França (2021), levando-se em conta os princípios antagônicos
de preservação da vida e do alívio do sofrimento, sendo uma das tarefas da Bioética o
estabelecimento e articulação entre seus princípios fundamentais, como forma de resolver o
conflito.
O Direito dos Pacientes baseia-se em normas de direitos Humanos, que se aplicam a
qualquer pessoa, independentemente de sua condição ou tipo de relação com os serviços ou
os profissionais de saúde (ALBUQUERQUE, 2020, p. 33). Dentre os Direitos Humanos do
Paciente, temos: direito à vida; direito à privacidade, direito a não ser discriminado; direito
à informação, direito à saúde e remédios (jurídicos efetivos) e de onde derivam os Direitos
do Paciente, quais sejam: cuidados em saúde de qualidade e seguro; autodeterminação e
confidencialidade de dados pessoais; não ser discriminado; direito à informação sobre sua
17
Assim, concluindo que o paciente é um ser multifatorial e possui dores que não são
apenas físicas e ultrapassam sua dimensão biológica, é através do humanismo, dos cuidados
paliativos e da saúde centrada no paciente, que a Lei n.º 14.198 (Lei das Videochamadas),
deve ter seu enfoque e aplicabilidade, de forma a possibilitar a presença da família junto ao
paciente favorecendo a efetividade desta relação de humanidade, bem-estar e segurança.
REFERÊNCIAS
ARANTES, Ana Cláudia Quintana. Preciso dizer que te amo. [S.l., 2021]. Disponível em:
https://precisodizerqueteamo.com. Acesso em: 11 out. 2021.
BRASIL. Projeto de Lei n. 2136, de 2020. Dispõe sobre a visita virtual, por meio de
videochamadas de familiares, a pacientes internados em decorrência do novo coronavírus
(COVID-19). Brasília: Câmara dos Deputados, 2020. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=node0r1eia5rf
5mf418sl9fvnr69zv2318834.node0?codteor=1885437&filename=PL+2136/2020. Acesso:
11 out. 2021.
CHAN, J. F.; YUAN, S.; KOK, K. H.; TO, K. K.; CHU, H.; YANG, J.; XING, F.; LIU, J.;
YIP, C. C.; POON, R. W.; TSOI, H. W.; LO, S. K.; CHAN, K. H.; POON, V. K.; CHAN,
W. M.; IP, J. D.; CAI, J. P. ; CHENG, V. C.; CHEN, H.; HUI, C. K.; YUEN, K. Y (2020).
A familial cluster of pneumonia associated with the 2019 novel coronavirus indicating
person-to-person transmission: a study of a family cluster. Lancet, London, v. 395, n. 10223,
p. 514-523. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30154-9. Acesso em: 20
out. 2021.
CRISPIM, D.; SILVA, M. J. P. , CEDOTTI, W.; CÂMARA, M., & ANANDA, S. Visitas
virtuais durante a pandemia do Covid-19: recomendações práticas para comunicação e
acolhimento em diferentes cenários da pandemia. [S.l., 2020]. Disponível em:
https://ammg.org.br/wp-content/uploads/Visitas-virtuais-COVID-19.pdf. Acesso em: 20
out. 2021.
FRANÇA, Genival Veloso de. Direito médico. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
GAWANDE, Atul. Mortais: nós, a medicina e o que realmente importa no final. Tradução
de Renata Telles. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
NUNES, T. N. et al. Visitas virtuais: possibilidades de participação das famílias nas UTIs
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https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/visitas-virtuais-possibilidades-de-participacao-
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19 e seus familiares. O Globo, São Paulo, 27 jun. 2021. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/saude/medica-quer-lei-para-liberar-videochamadas-de-pacientes-
internados-com-covid-19-seus-familiares-1-25078346. Acesso em: 12 nov 2021.
PINHEIRO, Lara. Agosto foi o mês com menor número de mortes por Covid no ano,
apontam secretárias de saúde. G1, [s.l.], 01 set. 2021. Disponível em:
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/09/01/agosto-foi-o-mes-com-
menor-numero-de-mortes-por-covid-no-ano-apontam-secretarias-de-saude.ghtml. Acesso
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SANDER, Stephany. Hospital de Igrejinha cria sistema de visitas virtuais para pacientes de
UTIs. Correio do Povo, [s.l.], 17 mar. 2021. Disponível em:
https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/cidades/hospital-de-igrejinha-cria-
sistema-de-visitas-virtuais-para-pacientes-de-utis-1.588210. Acesso em: 22 out 2021.
SIQUEIRA, José Eduardo de. A bioética e a revisão dos códigos de conduta moral dos
médicos no brasil. Revista Bioética, v. 16, n. 1, p. 85-95, 2008. Disponível em:
https://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/57. Acesso em: 20
out. 2021.
1 INTRODUÇÃO
1
Advogada. OAB/RS 60.544. Pós-graduada - LL-M em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas -
FGV. Pós-graduanda em Direito Médico e da Saúde pela Ulbra. E-mail: cintia.zwetsch@gmail.com.
22
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...].
Art. 6.º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
Mais adiante em sua redação, ao tratar da Ordem Social, a Lei Maior3 estabelece que:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação.
Os dispositivos legais acima transcritos têm por intuito assegurar direitos básicos,
inerentes à condição humana, fundamentais para a manutenção da vida e pleno
desenvolvimento de todos os cidadãos brasileiros.
A saúde, que tempos atrás era tida como sinônimo de ausência de doença e enfermidade,
teve seu conceito bastante ampliado, sendo modernamente compreendida como um estado
de completo bem-estar físico, mental, emocional, social e espiritual. Isso porque a saúde
passou a ser analisada em suas dimensões subjetivas, também chamadas de biopsicossociais,
sendo parte importante ainda a busca e preservação da qualidade de vida das pessoas.
2
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 24 out. 2021.
3
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 24 out. 2021.
23
4
PEBMED. G12 – Atrofia Muscular Espinal e Síndromes Correlatas. [S.l., 20--]. Disponível em:
https://pebmed.com.br/cid10/g12-atrofia-muscular-espinal-e-sindromes-correlatas/. Acesso em: 24 out. 2021.
5
INSTITUTO NACIONAL DA ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL (INAME). Pelo SUS, benefícios e
outros. [S.l., 20--]. Disponível em: https://iname.org.br/vivendo-com-ame/beneficios/. Acesso em: 24 out.
2021.
24
Aplica-se ao caso ainda o Tema 7938 do Supremo Tribunal Federal (fixado por
ocasião do julgamento em sede de repercussão geral do RE n.º 855.178), o qual determina
que
6
NOBRE, Noéli. Projeto garante tratamento de atrofia muscular espinhal no SUS. Agência Câmara de
Notícias, Brasília, 10 jun. 2021. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-
tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/. Acesso em: 24 out. 2021.
7
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Primeira Seção. Tema Repetitivo n. 106. Relatoria: Ministro Benedito
Gonçalves. Julgado em: Brasília, 03 maio 2018. Publicado em: Brasília, 04 maio 2018. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&tipo_pesquisa=T&c
od_tema_inicial=106&cod_tema_final=106. Acesso em: 24 out. 2021.
8
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenário. Repercussão Geral em Recurso Extraordinário n. 855178
– Tema 793. Relatoria: Ministro Luiz Fux. Julgado em: Brasília, 23 maio 2019. Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4678356. Acesso em: 24 out. 2021.
25
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STP 803)9 debruçou-se sobre o tema e exarou
acórdão paradigmático ao determinar a entrega do medicamento ZOLGENSMA® a uma
criança de 03 (três) anos de idade da cidade de São Paulo, portadora de AME.
Colacionamos importante trecho do leading case, da lavra do Ministro Luiz Fux:
Nesse sentido, tratando o caso dos autos de medicamento órfão para doença rara,
os requisitos da tese vinculante formada por esta Corte parecem estar atendidos.
Ademais, merecem relevância os relatórios dos profissionais médicos que
acompanham a criança, os quais corroboram a necessidade de prescrição do
medicamento, inclusive considerando as condições de idade e de peso da
interessada, para, de forma segura e eficaz, minimizar os efeitos da doença que
sofre.
Ademais, não se deve olvidar que a ordem constitucional vigente, em seu artigo
196, consagra o direito à saúde como dever do Estado, que deverá, por meio de
políticas sociais e econômicas, propiciar aos necessitados tratamentos eficazes,
capazes de lhes garantir maior dignidade e menor sofrimento. Deveras, na
complexa ponderação entre, de um lado, os importantes argumentos de ordem
financeira, e, de outro, a concretização do direito de acesso à saúde, não se pode
desconsiderar a relevância do direito à vida, para cuja garantia devem todos os
cidadãos ser incentivados a cooperar. Eis a máxima da justiça social preconizada
pela Constituição de 1988, calcada nos valores de solidariedade tão caros à
sociedade brasileira.
9
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Presidência. Suspensão de Tutela Provisória n. 803. Relator: Ministro
Luiz Fux. Julgado em: Brasília, 17 jul. 2020. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6220257. Acesso em: 24 out. 2021.
10
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 481-482.
11
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 483.
26
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
12
BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
outras providências. Brasília, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm.
Acesso em: 24 out. 2021.
13
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
direito constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 285-286.
27
Sopesando todos os aspectos envolvidos na questão posta, nos parece evidente que o
direito à vida deverá prevalecer sempre. Alcançar um medicamento de alto custo a um bebê
portador de doença neurodegenerativa equivale a investir em seu futuro, dando a ele a
oportunidade de crescer, se desenvolver e, quiçá, ter uma vida plena na idade adulta.
Embora os estudos acerca da AME ainda sejam incipientes, é sabido que as crianças
que estão recebendo aplicação da terapia gênica com o medicamento ZOLGENSMA® tem
respondido adequadamente ao tratamento, que possui prognóstico bastante promissor. Por
certo que durante um bom tempo seguirão com acompanhamento médico (pediatra,
geneticista, neurologista, pneumologista) e equipe multiprofissional (fisioterapeuta
respiratória e motora, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, entre outros) mas, embora ainda
exista o risco de óbito, a esperança de dias melhores e na melhor recuperação possível graças
aos benefícios clínicos do fármaco faz com que o pensamento acerca dessa possibilidade se
dissipe instantaneamente.
O preço proibitivo do medicamento, assim considerado até mesmo nos países ricos
– USD 2.125.000,000 (dois milhões cento e vinte e cinco mil dólares), faz com que a
judicialização para fornecimento do remédio pelo Poder Público seja a única alternativa
viável para a aplicação de sua dose única.
Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n.º 1.531/21,
proposta pelo deputado Guilherme Mussi, que visa garantir à pessoa com atrofia muscular
espinhal o direito de receber a terapia gênica sem custo, via Sistema Único de Saúde14.
Importante consignar que o custo extremamente elevado do ZOLGENSMA® se dá em razão
de sua condição de medicamento órfão, ou seja, é dirigido ao tratamento de doença rara, cuja
comercialização não se dará em grandes proporções. Diante dessa limitação de mercado
(poucos pacientes com a doença), em regra as grandes farmacêuticas não possuem interesse
em desenvolver pesquisas extremamente caras para introduzir um remédio no mercado cujo
vultoso investimento financeiro dificilmente será recuperado com as vendas.
14
NOBRE, Noéli. Projeto garante tratamento de atrofia muscular espinhal no SUS. Agência Câmara de
Notícias, Brasília, 10 jun. 2021. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-
tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/. Acesso em: 24 out. 2021.
28
REFERÊNCIAS
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Primeira Seção. Tema Repetitivo n. 106. Relatoria:
Ministro Benedito Gonçalves. Julgado em: Brasília, 03 maio 2018. Publicado em: Brasília,
04 maio 2018. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&ti
po_pesquisa=T&cod_tema_inicial=106&cod_tema_final=106. Acesso em: 24 out. 2021.
NOBRE, Noéli. Projeto garante tratamento de atrofia muscular espinhal no SUS. Agência
Câmara de Notícias, Brasília, 10 jun. 2021. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-tratamento-de-atrofia-
muscular-espinhal-no-sus/. Acesso em: 24 out. 2021.
1
Advogado pós graduando em Direito Médico e da Saúde – Bagé/RS.
31
non-compliance with the constitutional pact and , finally, to investigate the need for
judicialization for drug search. As for the methodology, the bibliographic research technique
was applied, developed based on already prepared material, consisting mainly of books and
scientific articles in order to know and analyze the main existing theoretical contributions
on the subject, in particular, they were used as a source of given the legislation, the doctrine
(composed of books, scientific articles and other academic works, as well as other materials
already published on the subject) and the Brazilian jurisprudence. In conclusion, the
resolution of this problem would be the return of the State to its position of guarantor of
rights, improving and expanding the health network, so that the entire Brazilian population
can effectively enjoy full health and life.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
DESENVOLVIMENTO
Deste modo, segundo Santos (2018) o direito à saúde como direito fundamental é um
mandamento de otimização, reafirmando o compromisso do Estado de cumprir e fazer
cumprir o pleno exercício da saúde, através de políticas públicas para que a prestação da
saúde ocorra de forma igual para todos, independente do cenário socioeconômico e suas
desigualdades, bem como para a prestação de serviços médicos preventivos, de recuperação
e promoção. Restando demonstrado que a saúde não reside apenas no fato de ser essencial
para a manutenção da vida, mas, também, por ser um direito imprescindível para o exercício
dos demais.
34
Sob ótica nacional, Dallari (2009) observou que no decorrer dos anos, após o pacto
federal de 1988, juntamente com a criação do SUS mediante Lei sob nº 8.080/90 tecida
anteriormente nesta pesquisa, que delegou as esferas subnacionais o dever de proteção e
defesa da saúde, percebeu-se uma atribuição de responsabilidades cabíveis aos três
poderes, ou seja, caso o Estado descumpra a norma constitucional, declinando-se de
garantir o mínimo para restabelecimento à saúde do cidadão brasileiro, este poderá recorrer
ao Poder Judiciário por ser guardião de direitos.
35
Neste viés, percebe-se que nos anos de 1990 a 2000, ocorreu a maior violação dos
direitos, por ausência do Estado na área social suscitada por uma política macroeconômica
neoliberal que defendia uma economia de mercado, privatizando os direitos sociais,
ocasionando para Araújo (2014) implicações na política de saúde, tornando-a um bem de
consumo.
Nota-se, segundo Araújo (2014) que esta privatização foi um dos entraves para que
não houvesse a implementação plena do Sistema Único de Saúde, sendo institucionalizado
num cenário de um Estado mínimo adverso dos ideais democráticos, corroborando na
existência de um sistema híbrido de saúde, tornando-o cada vez mais sucateado, retirando
da sociedade o gozo de desfrutar daquilo que é seu por direito, a saúde, a vida.
Soares (2010) divide essa violação em duas vertentes: macro estrutural, que
flexibiliza a materialização do SUS através de um reformismo, refuncionalizando os
princípios do sistema de saúde para atender as exigências sociais do capital,
subfinanciando a saúde com sistemáticos desvios de recursos por meio da Desvinculação
das Receitas da União, reduzindo a participação do Governo Federal nos gastos com a
saúde, retirando a capacidade deliberativa dos Conselhos e Conferências de Saúde, através
de violação do controle social por meio da falta de funcionamento e estrutura dos
dispositivos, sendo, sucessivamente, substituídos por colegiados consultivos sem atuação
da população. Já a micro estrutural encontra-se na terceirização dos serviços de saúde,
violando o art. 199 da Constituição Federal que proíbe o repasse de verba pública para
entidades privadas com fins lucrativos, ensejando na transgressão do direito à saúde, visto
36
METODOLOGIA
A presente pesquisa realizada, quanto ao seu objetivo, foi descritiva, pois pretendeu
estabelecer relação entre o princípio da dignidade da pessoa humana como corolário do
direito à saúde, diretamente ligado as demandas judiciais por busca de medicamentos a fim
de garantir tratamento digno ao cidadão.
Segundo Gil (2010) as pesquisas podem ser classificadas em três grupos conforme
seus objetivos, sendo essas exploratórias, descritivas e explicativas. A pesquisa exploratória
busca proporcionar familiaridade com o problema, torná-lo mais explícito e construir
hipóteses. A descritiva tem como objetivo a descrição das características da população ou
fenômeno e estabelecer relações entre as variáveis. A explicativa objetiva identificar fatores
que determinam ou contribuem para a ocorrência do fenômeno.
Para a realização deste trabalho foi aplicada a técnica de pesquisa bibliográfica, que
conforme preleciona Gil (2010), é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos. Como resultado do primeiro passo,
é identificado um perfil geral do profissional e são gerados subsídios para a construção do
questionário de entrevista, se desenvolve tentando explicar um problema através de teorias
publicadas em livros ou obras do mesmo gênero. O objetivo deste tipo de pesquisa é de
conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre um determinado
assunto ou problema, tornando-se um instrumento indispensável para qualquer pesquisa,
pois busca dominar o conhecimento disponível utilizá-lo como instrumento, aplicar o
38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GIL, Antonio.Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas, 5ª
ed., 2010.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 33ª ed. São Paulo. Atlas, 2017.
ORDACGY, André da Silva. Advocacia de Estado e Defensoria Pública. 1ª Ed. São Paulo.
Editora Letra da Lei, 2009.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 4. ed. rev. e atual. Até a
Emenda Constitucional n. 95, de 15.12.2016. São Paulo: Malheiros, 2017.
1 INTRODUÇÃO
A morte nas últimas décadas tem passado por grandes transformações, se antes era
vista como um processo natural, ainda que se mantenha essa característica passou a ser
entendida como uma derrota, vindo a demonstrar a fragilidade da Medicina e a
vulnerabilidade dos médicos.2
Temos presenciado a cada dia o avanço da Medicina através do desenvolvimento
científico- tecnológico; e na ânsia de buscar o prolongamento da vida artificial a qualquer
preço são realizados procedimentos invasivos, dolorosos e desnecessários, trazendo maior
sofrimento para o paciente, familiares e cuidadores.
O indivíduo é impedido de viver a sua morte de forma digna, sendo detentor das suas
vontades, junto a seus entes queridos, delegando funções, reatando laços, se despedindo e se
preparando para a sua partida.
Por essa razão, o Direito tem debatido os questionamentos acerca dos direitos dos
pacientes terminais e em fim de vida. Assim, emerge o “direito de morrer”, onde buscam
amparo os defensores da eutanásia, suicídio assistido, e demais institutos que visam garantir
o direito desses pacientes a morrer com dignidade com as diretivas antecipadas de vontade.3
Para Luciana Dadalto:
1
Graduada em Direito pela Universidade da Cidade, Especialista em Direito e Saúde pela ENSP – Fiocruz,
inscrita na OAB/RJ sob o nº 142.621, e-mail: coelhoconsultoria.net@gmail.com.
2
DADATO, L. Testamento Vital. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2015 p. 01.
3
DADALTO, L. Testamento Vital. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 01.
42
Dadalto, conceitua:
4
DADALTO, L. Testamento Vital. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 02.
5
DADALTO, L. Declaração antecipada de vontade. Revista Bioética, v. 17, n. 3, p. 524, 2009. Disponível
em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_/article/view/515/516. Acesso em: 22 out. 2021.
43
2 TESTAMENTO VITAL
A adoção do nome testamento vital no Brasil se deu pela tradução literal de living
will, entretanto, não parece ser a melhor denominação, por remeter ao instituto do
testamento, que é um negócio jurídico unilateral, com eficácia após a morte. Contudo,
assemelham-se por ser um negócio jurídico, unilateral, personalíssimo, gratuito e revogável,
distanciando-se pelo efeito pos mortem e a solenidade.6
Assim, torna-se inadequada a nomenclatura testamento vital para designar uma
declaração de vontade, de uma pessoa com discernimento sobre os cuidados que deseja ou
não receber quando estiver em estágio de fim de vida e impossibilitado de manifestar a sua
vontade.7
Entretanto, toda crítica a nomenclatura acabou optando pelo caminho mais fácil por
aqueles que desconheciam a história do instituto em tornar o Testamento Vital sinônimo de
Diretivas Antecipadas de Vontade.8
O testamento vital, é um instrumento de manifestação que a pessoa capaz pode
expressar os seus desejos sobre a suspensão de tratamentos, a ser utilizado quando o
outorgante estiver em estado terminal, em (EVP) Estado Vegetativo Persistente, ou com uma
doença incurável, impossibilitado de manifestar livre e conscientemente sua vontade.9
Deverá ser escrito por pessoa com discernimento, sendo eficaz apenas em situações
de terminalidade, quando o paciente não puder exprimir a sua vontade, devendo ser mantido
o tratamento ordinário ou cuidados paliativos para amenizar o sofrimento, assegurando ao
paciente a qualidade de vida.10
Nele deve versar apenas sobre a suspensão do tratamento extraordinários ou fúteis,
que visam o prolongamento da vida e não alteram a situação de terminalidade do paciente,
ressaltando, que o tratamento ordinário deve permanecer, afinal, o paciente, ainda que em
estado terminal, deve ser respeitado como ser humano autônomo, e sua vontade mesmo que
6
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 02.
7
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 03.
8
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p .03.
9
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 97.
10
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 98.
44
3 MANDATO DURADOURO
11
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 98.
12
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 99.
13
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 99.
14
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 99.
15
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 100.
16
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 102.
45
Para a melhor escolha deve se considerar que o procurador tenha contato próximo
com o paciente, devendo saber exatamente qual é a vontade do mesmo, para que não tome
uma decisão com base em seus próprios desejos, desrespeitando o que espera o mandatário.
Nesse sentido Naves e Rezende apud Dadalto, apresenta o entendimento de não ser possível
que o procurador seja um terceiro imparcial, o juiz ou a equipe médica, mas sim um parente
próximo.22
Assim, surge outro problema, pois existe relatos de parentes que não desejam cumprir
17
DADALTO L. Declaração antecipada de vontade. Revbioét. [Internet]. 2009 [acesso em 2016 abr 1]; 17
(3): 523-543. Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_/article/view/515/516.
18
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 95.
19
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 93.
20
DADALTO, L. Testamento vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 245 p.
21
DADALTO, L. Testamento vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 245 p.
22
DADALTO, L. Declaração antecipada de vontade. Revista Bioética, v. 17, n. 3, p. 523-543, 2009.
Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_/article/view/515/516. Acesso em: 22 out.
2021.
46
a vontade do paciente, por questões éticas ou religiosas. Desta forma, nomear o cônjuge, os
filhos ou os pais é razoável devido à proximidade e ao afeto que os une. Mas pode ser
perigoso, pois, essas pessoas possuem valores próprios, que podem diferentes dos do
paciente, além da proximidade afetiva, que tende a dificultar a tomada de decisões.23
Segundo Beauchamp e Childress, “[…] tornou-se cada vez mais difícil encontrar
pessoas apropriadas que desejam assumir a pesada tarefa de tutelar pessoas mentalmente
inaptas que estejam institucionalizadas, e as famílias algumas vezes tomam decisões que
entram em choque com os desejos aparentes da pessoa atualmente incapaz”.24
Assim, “afirmam que o modelo dos melhores interesses pode ser usado para invalidar
decisões do substituto que sejam claramente contrárias aos melhores interesses do
paciente”.25
O mandato duradouro como já dito anteriormente tem um alcance mais amplo porque
demonstra seus efeitos cada vez que a pessoa que o outorgou seja incapaz de tomar uma
decisão, ainda que de forma temporária, enquanto, a declaração prévia de vontade do
paciente terminal só produzirá efeito nos casos de incapacidade definitiva do paciente.26
No Brasil até a presente data não há lei específica sobre o testamento vital, sequer
projeto de lei em tramitação. A fundamentação da sua validade é trabalhada em cima de
regulamentações, decisões judiciais e alguns princípios que veremos a diante.
Em 28 de novembro de 2006 foi editada a Resolução n. 1.805 pelo CFM (2006),
constando no seu preâmbulo a permissão para o médico limitar ou suspender, na fase
terminal de enfermidades graves, tratamentos que prolonguem a vida do doente, devendo,
23
DADALTO, L. Declaração antecipada de vontade. Revista Bioética, v. 17, n. 3, p. 523-543, 2009.
Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_/article/view/515/516. Acesso em: 22 out.
2021.
24
BEAUCHAMP T.; CHILDRESS J. Princípios de ética biomédica. São Paulo: Loyola, 2002. Disponível
em: https://www.google.com.br/books/edition/Principios_de_etica_biomedica/1i-WZeYTqicC?hl=pt-
BR&gbpv=0. Acesso em: 01 abr. 2016.
25
BEAUCHAMP T.; CHILDRESS J. Princípios de ética biomédica. São Paulo: Loyola, 2002. Disponível
em: https://www.google.com.br/books/edition/Principios_de_etica_biomedica/1i-WZeYTqicC?hl=pt-
BR&gbpv=0. Acesso em: 01 abr. 2016.
26
BEAUCHAMP T.; CHILDRESS J. Princípios de ética biomédica. São Paulo: Loyola, 2002. Disponível
em: https://www.google.com.br/books/edition/Principios_de_etica_biomedica/1i-WZeYTqicC?hl=pt-
BR&gbpv=0. Acesso em: 01 abr. 2016.
47
contudo, ser mantidos os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao
sofrimento, na perspectiva de uma assistência integral, respeitada a vontade do paciente ou
de seu representante legal.27
Se tratando a Resolução n. 1.805/2006 de uma norma que vincula apenas a
comunidade médica, a aprovação desta resolução foi parar nos tribunais devido a sua
repercussão social, onde o Ministério Público Federal do Distrito Federal questionou o poder
de regulamentação do CFM para estabelecer conduta ética uma conduta que é tipificada
como crime, e propôs a ação civil pública n. 2007.34.00.014809-3 na 14ª Vara Federal do
Distrito Federal.28
A referida resolução foi suspensa liminarmente após decisão do Juiz Federal Roberto
Luis Luchi Demo, que apesar de ter reconhecido que a ortotanásia não antecipa o tempo da
morte, fazendo com que apenas esta ocorra em tempo natural, entendeu que por estar em
tramitação no Congresso Brasileiro um anteprojeto de reforma da parte especial do Código
Penal colocando a eutanásia como homicídio privilegiado e descriminalizando a ortotanásia,
logo seria crime a quando da propositura da ação.29
Após o ajuizamento desta ação civil pública, o CFM aprovou o novo Código de Ética
Médica em 24 de setembro de 2009 estabelecendo entre os seus principais fundamentos, que
diante de situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de
procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários, propiciando aos pacientes sobre
sua atenção todos os cuidados paliativos.30
Corroborando com toda essa evolução em 31 de agosto de 2012 o Conselho Federal
de Medicina aprovou a Resolução nº 1.995, dispondo sobre diretivas antecipadas de vontade
no Brasil, passando a ser a primeira regulamentação sobre o tema no país.31
Sobre a resolução o CFM esclareceu afirmando, que a resolução respeita a vontade
do paciente conforme o conceito de ortotanásia e não possui qualquer relação com a prática
de eutanásia, tendo a intenção de reafirmar um limite inerente ao instituto, trazendo como
fundamento a decisão advinda do julgamento da ação civil pública 2.007.34.00.014809-3
em que considerou a eutanásia proibida e a ortotanásia permitida no Brasil.32
Luciana Dadalto, esclarece que a Resolução 1995/2012 não legalizou as diretivas
27
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 155.
28
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 157.
29
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 157-158.
30
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 161.
31
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 163.
32
DADALTO, L. Testamento vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 245 p.
48
antecipadas de vontade no país por não possuir força de lei, não tendo o CFM competência
para legislar a respeito.33
Deve ainda ser ressaltado, que a referida Resolução estabelece dentre outras
diretrizes no seu parágrafo segundo que o médico deverá registrar em prontuário as diretivas
antecipadas de vontade que lhes forem diretamente comunicadas pelo paciente, o que para
Dadalto iria de encontro com o papel que o médico tem nas DAV nos demais países, porque
a sua função vai muito mais além de transcrever a vontade do paciente, mas esclarecer o
declarante quanto aos procedimentos que podem ou não ser recusados.34
Entende ainda, ser imprescindível a orientação de um outro médico de confiança para
a realização das diretivas antecipadas, sendo toda a precaução e informação exatamente o
que garante ao declarante que a sua expressão de vontade será pura e verdadeira.35
Outro avanço importante, apesar de algumas falhas, se deu através do Enunciado 37
da I Jornada de Direito da Saúde do Conselho Nacional de Justiça que dispõe que:
33
DADALTO, L. Testamento vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 164.
34
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 165.
35
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 166.
36
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 177.
37
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 177-178.
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
38
DADALTO, L. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 179.
39
DADALTO, L. Aspectos registrais das diretivas antecipadas de vontade. Civilistica.com, a. 2, n. 4, 2013.
Disponível em: http://civilistica.com/wp-content/uploads/2015/02/Dadalto-civlistica.com-a.2.n.4.2013.pdf.
Acesso em: 28 mar. 2016.
40
DADALTO, L. Testamento vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 245 p.
41
DADALTO, L. Testamento vital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 203 p.
50
mero expectador, ele deve ser informado e entender de fato o tratamento que será realizado,
podendo se for o caso recorrer a negativa de tratamento que considera dolorosos em casos
que não alterará o fim da vida ou a terminalidade.
Quanto a nomeação de um procurador de saúde, ainda tem causado muita angústia
no paciente, familiares e a quem for nomeado. A falta de esclarecimento quanto a melhor
pessoa para tomar a decisão mais acertada ainda é uma dúvida.
Resta claro que o procurador deve cumprir os desejos expressos pelo paciente, não
podendo mudar a decisão de acordo com as suas convicções ou religião. Deve prevalecer a
autonomia de vontade do paciente e a dignidade da pessoa humana, estando vinculado ainda
ao efeito erga omnes do testamento vital, com a finalidade de que não ocorra uma
judicialização do “direito de morrer”.
No Brasil ainda estamos começando a conhecer esse instituto, procurando
internalizá-lo na nossa cultura e sociedade. Não existe uma lei específica no nosso
ordenamento jurídico que regulamente o instituto.
Tal regulação se faz necessária, com a finalidade de possa ser esclarecido a forma,
conteúdo, validade, registro e normas para nomeação de procurado de saúde, entre outras
para que as diretivas antecipadas de vontade continuem sendo garantidoras da autonomia de
vontade e dignidade da pessoa humana.
REFERÊNCIAS
Resumo: Este artigo reflete sobre o direito fundamental à saúde e o aumento dos Transtorno
do Espectro Autista (TEA), apresentando a medicina personalizada como alternativa eficaz
para o diagnóstico precoce, de forma a propiciar tratamentos dignos, mais eficazes, menos
penosos, mais assertivos e de maneira individualizada. Nesse contexto, examina-se o TEA e
sua correlação com as normas constitucionais e infraconstitucionais a partir do direito
fundamental à promoção da saúde. Em seguida, investiga-se as relações como justa
igualdade de oportunidades nas relações humanas, averiguando as medidas governamentais
efetivas. Oportunamente, analisa-se as tecnologias como big data e blockchain para fins de
proteger os dados pessoais e sensíveis do titular. Da mesma forma, avalia-se os benefícios
da aplicação da medicina de personalizada para a promoção da saúde e tratamentos mais
eficazes. Por fim, a metodologia proposta para atingir os objetivos é hipotético-dedutiva com
cunho exploratório e realizada por meio de levantamento bibliográfico.
1 INTRODUÇÃO
1
Mestranda em Direito pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Especialista em Direito Material e Processual
do Trabalho e Bacharela em Direito pela Pontifícia Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Membro da
Comissão Especial de Educação e da Comissão Especial da Saúde da OAB/RS. Advogada.
53
brasileiro, em assembleia Nacional constituinte […].”2 Este Estado de direito tem como
objetivos essenciais “[…] assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos […].”,3 sendo, por seu
turno, “fundado na harmonia social” e comprometendo-se, na ordem interna e internacional,
a agir de forma pacífica
A pesquisa tem por objetivo analisar as inovações tecnológicas (big data e
Blockchain) para a aplicação da medicina de precisão no setor da saúde, notoriamente nos
casos de pacientes com TEA. Assim, proporcionando melhor qualidade de vida ao paciente
e titular dos dados com tratamentos eficazes e menos penosos aos que já adquiriram a doença
mapeando os dados do paciente: pré-disposição genética, estilo de vida, sinais, sintomas,
histórico pessoal e familiar, exames anteriores, bem como fatores ambientais. Em suma,
todos e quaisquer dados, utilizando-se do sequenciamento genético, big data e blockchain
como ferramentas para aplicação da medicina de precisão. Outrossim, o estudo contemplará
os valores supremos da CRFB, dos Direitos Humanos, sociais, das diretrizes da saúde: leis,
regulamentos, recomendações, demonstrando a importância de recursos públicos em ambos
os setores: tecnologias e saúde, bem como, uma atuação ativa do governo para ter-se um
Estado Democrático de Direito, conforme previsto na CRFB.
Ademais, destaca-se que as inovações tecnológicas são irreversíveis e irrefreáveis a
sociedade 4.0 (indústria 4.0) já está atenta a esta revolução, bem como a sociedade 5.0
(denominada sociedade inteligente, criada no Japão) que tem por objetivo, dentre outros, a
transformação/resolução dos problemas globais e sociais mundiais. Sendo assim, é
necessária a pesquisa das novas frentes de diagnósticos e tratamentos médicos na área
tecnológica, repensando a saúde e criando estratégias.
Diante o exposto, o cerne do artigo é, portanto: avaliar a aplicabilidade da medicina
de precisão nos tratamentos de pacientes com TEA via a tecnologia do Big Data e
Blockchain objetivando promover o direito fundamental à saúde.
Nesse sentido, a proposição de políticas públicas que sejam inovadoras, eficazes e
eficientes é crucial à prestação de serviços de saúde, que respeitem a dignidade da população,
especialmente a carente, principal usuária do SUS. Ademais, referido desiderato encontra-
2
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 8. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2019. Posição 1749.
3
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 8. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2019. posição 1756.
54
4
SELLA; Carolina Ana, RIBEIRO, Mendonça Daniela. Análise do comportamento aplicada do Transtorno
do Espectro Autista. Curitiba: Appris, 2018. p. 25.
5
SELLA; Carolina Ana, RIBEIRO, Mendonça Daniela. Análise do comportamento aplicada do Transtorno
do Espectro Autista. Curitiba: Appris, 2018. p. 25.
6
SELLA; Carolina Ana, RIBEIRO, Mendonça Daniela. Análise do comportamento aplicada do Transtorno
do Espectro Autista. Curitiba: Appris, 2018. p. 25.
55
Os pacientes com TEA tem o direito de tratamento digno e eficaz por meio de
legislações e regulamentos. No Brasil não temos um estudo das crianças diagnosticadas com
TEA. Todavia, percebe-se um aumento de pais que procuram ajuda para os seus filhos com
o transtorno. Importante mencionar que, hoje adultos são diagnosticados com TEA, ou seja,
não é somente crianças. A sociedade Brasileira de Pediatria diz que o TEA, é “[…] um
transtorno do desenvolvimento neurológico, caracterizado por dificuldades de comunicação
e interação social e pela presença de comportamentos e/ ou interesses repetitivos ou
restritos”.9 Frisa-se ao analisar que se tem vários outros conceitos e o maior deles está ligado
aos movimentos repetitivos restritos do paciente.
A Lei n. 12.764/2012,10 a qual foi um marco para o direito dos autistas, em seu artigo
5º proíbe os planos privados de assistência à saúde de impedir a participação da pessoa
autista em razão da sua deficiência. Com base nessa lei, pacientes com TEA tiveram uma
base legal mais concreta, principalmente em questão do tratamento, da intervenção precoce,
7
BERNIER, Raphael A.; DAWSON, Geraldine; NIGG, Joel T. O que a ciência nos diz sobre o transtorno
do espectro autista: fazendo as escolhas certas para o seu filho. Porto Alegre: Artmed, 2021. e-Book. p. 56.
8
BERNIER, Raphael A.; DAWSON, Geraldine; NIGG, Joel T. O que a ciência nos diz sobre o transtorno
do espectro autista: fazendo as escolhas certas para o seu filho. Porto Alegre: Artmed, 2021. e-Book. p. 56.
9
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Departamento Científico de Pediatria do
Desenvolvimento e Comportamento. Transtorno do Espectro do Autismo. Manual de Orientação n. 05. São
Paulo: SBP, abr. 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21775d-MO_-
_Transtorno_do_Espectro_do_Autismo__2_.pdf. Acesso em: 30 de ago. 2021.
10
BRASIL. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos
da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de
1990. Brasília, 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em: 30 de ago. 2021.
56
da intervenção da possibilidade de estudos nas escolas e como deve ser feita essa adaptação.
Faz-se necessário frisar a Lei Brasileira de Inclusão (Lei n. 13.146/2015), 11 em seus
artigos 20 e 23, proíbe qualquer forma de discriminação dos planos e seguros privados, em
razão da deficiência e garante à pessoa com deficiência, no mínimo, todos os serviços e
produtos ofertados aos demais clientes.
Sendo assim, importante mencionar que uma lei complementa a outra. Em casos de
pacientes com TEA se faz necessário buscar outras legislações, tais como, o Instituto da
criança e do adolescente, CRFB, doutrinas e jurisprudência, entre outras para concretizar os
direitos fundamentais e proporcionar dignidade nos tratamentos dos pacientes com essa
deficiência, seja no SUS ou nos planos de saúde.
Nessa esteira, Sarlet aduz que o termo “direitos fundamentais […] se aplica àqueles
direitos (em geral atribuídos à pessoa humana) reconhecidos e positivados na esfera do
direito constitucional positivo de determinado Estado”,12 enquanto os direitos humanos estão
relacionados com o direito internacional
[…] por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano
como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem
constitucional, e que, portanto, aspiram à validade universal, para todos os povos
e em todos os lugares, de tal sorte que revelam um caráter supranacional
(internacional) e universal.13
11
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 30 ago. de 2021.
12
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 8. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2019. p. 307.
13
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 8. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2019. p. 307
14
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz.
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva; Almedina, 2018. posição 1078.
15
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Segunda Turma. Agravo Regimental em Agravo de Instrumento n.
734.487. Relatoria: Ministra Ellen Gracie. Julgado em: Brasília, 03 ago. 2010. Publicado em:Brasília, 20 ago.
2010. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=%201814. Acesso em: 18
mar. 2021.
57
16
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais na Constituição
Federal de 1988. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015. p. 473-474.
17
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileirose aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade […].” Cf. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 18 ago. 2021.
18
Na Constituição Federal de 1988, o direito à vida foi expressamente contemplado no elenco do artigo 5.º,
caput, na condição mesma – teor do texto constitucional – de direito “inviolável”. Além da proteçãogenérica já
referida, a vida encontrou proteção constitucional adicional, mediante a proibição da pena de morte, salvo em
caso de guerra declarada (art.5.º, XLVII, a), guardando, portanto, sintonia textual com o sistema internacional
(pacto dos direitos civis e políticos e Protocolo Adicional) e regional (interamericano) de proteção dos direitos
humanos.” Cf. SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de
direito constitucional. 8. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2019. posição: 8979.
19
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 8. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2019. p. 307.
58
Vale ressaltar que esta nova área da saúde pretende descobrir o tratamento certo, para
o paciente certo, no momento exato, quando há alguma enfermidade. Partindo-se da
predisposição genética e do estilo de vida e fatores ambientais que afetam o indivíduo.
A sociedade 4.0 congrega várias tecnologias para buscar maior efetividade, em prol
de maior eficiência, sendo incrementadas no setor da saúde, possibilitando vida digna ao ser
20
UZIEL, Daniela. Medicina de precisão: o que é e que benefícios traz? Centro de Pesquisa em Ciência,
Tecnologia e Sociedade do IPEA, [s.l.], 30 ago. 2021. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-
de-conteudo/artigos/artigos/95-medicina-de-precisao-o-que-e-e-que-beneficios-traz. Acesso em: 18 ago. 2021.
21
SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. 5. ed. São Paulo: Edipro, 2018. p. 29.
22
SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. 5. ed. São Paulo: Edipro, 2018. p. 30.
59
humano. Isso significa, em última análise, proporcionar aos pacientes uma medicina
eficiente e precisa ou um tratamento com maior índice de assertividade, sendo menos penoso
ao paciente. As relações humanas e biológicas foram modificadas, criando uma necessidade
de se imprimir tecnologia de ponta tanto no setor público, quanto no privado, no sentido de
tutelar os direitos fundamentais da pessoa humana previstos na CRFB, razão pela qual os
reflexos de tais inovações não podem ser ignoradas no âmbito do direito.
Sobreleva mencionar que é indispensável na medicina personalizada para a proteção
dos dados pessoais e sensíveis dos pacientes com TEA entre outras enfermidades se faz
necessário aplicar softwares para o tratamento de dados. Valendo-se dos dados da Big Data
que
Da mesma forma,
23
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio de Janeiro:
Forense, 2019. p. 40.
24
PINHEIRO, Patrícia Peck; WEBER, Sandra Tomazi; OLIVEIRA NETO, Antônio Alves de. Fundamentos
dos negócios e contratos digitais. São Paulo: Thomson Reuters Revista dos Tribunais, 2019. p. 12.
25
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Brasília, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm. Acesso em: 18 ago.
2021.
60
26
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Brasília, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm. Acesso em: 18 ago.
2021.
27
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Senado Federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 18 ago. 2021.
28
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Senado Federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 18 ago. 2021.
29
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 8. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2019. posição 5536
30
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicasque
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às açõese serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.” Cf. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 18 ago. 2021.
31
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz.
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva; Almedina, 2018. p. 10353.
61
Em nosso país ainda se tem uma situação muito precária, notoriamente no setor da
saúde pública pela influência direta na gênese das patologias com maior prevalência. As
políticas públicas atuais não são capazes de reverter esse quadro, contudo, um conjunto de
políticas sociais, pode contribuir significativamente para a promoção da cidadania de uma
parcela expressiva da população brasileira.32
Diante do exposto, se faz necessário um diagnóstico preciso, assertivo para melhorar
a qualidade de vida dos pacientes com TEA por meio da medicina personalizada. Assim,
proporcionando tratamentos mais eficazes e eficientes para os pacientes. Assim, tutelando
os direitos e garantias fundamentais elencados nos artigos da CRFB bem como, qualidade
de vida para pacientes com TEA e seus familiares.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
32
PUSTAI, Odalci José; FALK, João Werner. O sistema de saúde no Brasil. In: DUNCAN, Bruce B.;
SCHMIDT, Maria Inês; DUNCAN, Michael Schmidt; GIUGLIANI, Camila. Medicina ambulatorial:
condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 18.
33
IRIART, Jorge Alberto Bernstein. Medicina de precisão/medicina personalizada: análise crítica dos
movimentos de transformação da biomedicina no início do século XXI. Caderno de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 35, n. 3, 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X2019000303001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 10 mar. 2021
34
IRIART, Jorge Alberto Bernstein. Medicina de precisão/medicina personalizada: análise crítica dos
movimentos de transformação da biomedicina no início do século XXI. Caderno de Saúde Pública, Rio de
62
REFERÊNCIAS
BERNIER, Raphael A.; DAWSON, Geraldine; NIGG, Joel T. O que a ciência nos diz sobre
o transtorno do espectro autista: fazendo as escolhas certas para o seu filho. Porto Alegre:
Artmed, 2021. Versão Kindle.
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art.
98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Brasília, 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em: 30
de ago. 2021.
PILAU SOBRINHO, Liton Lanes. Comunicação e direito à saúde. Espanha: Punto Rojo,
2016.
PINHEIRO, Patrícia Peck; WEBER, Sandra Tomazi; OLIVEIRA NETO, Antônio Alves de.
Fundamentos dos negócios e contratos digitais. São Paulo: Thomson Reuters Revista dos
Tribunais, 2019.
PUSTAI, Odalci José; FALK, João Werner. O sistema de saúde no Brasil. In: DUNCAN,
Bruce B.; SCHMIDT, Maria Inês; DUNCAN, Michael Schmidt; GIUGLIANI, Camila.
Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2013.
ROMITA, Arion Sayão. Direitos fundamentais nas relações de trabalho. 3. ed. São Paulo:
LTr, 2009.
64
SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. 5. ed. São Paulo: Edipro, 2018.
UZIEL, Daniela. Medicina de precisão: o que é e que benefícios traz? Centro de Pesquisa
em Ciência, Tecnologia e Sociedade do IPEA, [s.l.], 30 ago. 2021. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/artigos/artigos/95-medicina-de-precisao-
o-que-e-e-que-beneficios-traz. Acesso em: 18 ago. 2021.
65
INTRODUÇÃO
Os conflitos de maneira geral geram mudanças. Essas mudanças podem trazer
aprendizados que permitem a evolução que vemos acontecendo, desde a promulgação da
Constituição Federal de 1988, a qual colocou holofotes na forma como se compreendia os
direitos fundamentais, ampliando sobremaneira a proteção aos cidadãos brasileiros. O direito
à saúde foi uma dessas consequências advindas da constituição cidadã.
E o direito e a medicina são ciências antigas, que convergem para o interesse do bem
comum, cada uma das áreas com suas características e que se tem notado merecem cada dia
mais atenção de forma a viabilizar as mudanças evolutivas que buscamos.
Esse estudo pretende elucidar mais como podemos nos relacionar de forma
construtiva, até mesmo diante de conflitos tão densos como os que envolvem a área da saúde,
1
Advogada (OAB-RS 54.001) especializada em Direito Médico. Defensora dativa nomeada junto ao
CREMERS. Membro da Comissão Especial da Saúde da OAB-RS. Membro da Comissão da Saúde da Família
do IBDFAM-RS.
2
Advogada (OAB/RS 99.174) e mediadora de conflitos. Mestre em Estudos de Paz e Transformação de
Conflitos pela Cátedra de Estudos de Paz da UNESCO da Universidade Innsbruck, na Áustria. Instrutora em
cursos de mediação, negociação, liderança, comunicação e justiça restaurativa. Sócia da Teia - Consultoria
Empresarial, que consolida culturas de comunicação assertiva nas organizações.
66
lançando mão de ferramentas que vem sendo elaboradas e experimentadas em diversas áreas
do conhecimento. Fomentar o debate e permitir a convergência de interesses para a
construção de relacionamentos permeados pelo diálogo, cooperação e boa-fé é o que nos
move para sugerir esse novo desdobramento para os conflitos.
Saúde e tempo cada dia estão mais atrelados como dois fatores determinantes para a
boa qualidade de vida das pessoas, todos precisamos de atenção à saúde, seja em nível básico
até o mais complexo. Para dimensionar, o volume de demandas primárias – assistência
básica de saúde – representa 80% do nosso Sistema Único de Saúde (SUS), conforme dados
coletados pelo Ministério da Saúde (GONÇALVES, 2014, p.54).
E quando enfrentamos conflitos que envolvam a área da saúde, direito fundamental
para qualquer cidadão brasileiro, sob o manto da Constituição Federal de 1988, as estratégias
para se trabalhar o tempo são ainda mais vitais. Veja-se o grande espectro que abrange o
SUS, pois não possui precedentes na história, especialmente em vista da grande quantidade
de vidas que abrange (FRANÇA, 2017, p. 86).
A dinâmica desses bens da vida (saúde e tempo) são resguardados por inúmeros
profissionais que conhecem bem a palavra emergência, urgência, pressa... E isso precisava
se estender até a profissões mais ortodoxas, como advocacia ou magistratura, muito atreladas
a códigos, normas e praxes que frequentemente não acompanham a velocidade e dinâmica
da vida humana – especialmente agora em que fração de segundos as informações são
rapidamente propagadas.
Os operadores do direito atualmente buscam desenvolver conhecimentos de outros
métodos, outras portas, para a solução de controvérsias. E as questões que embasam o direito
à saúde e o direito médico demandam ainda mais urgência nessa visão, acerca da ampliação
de portas para acesso à justiça. Pois, a cultura do litígio, submetido a um terceiro, chamado
de estado-juiz, para decidir sobre conflitos de saúde se mostra cada dia menos eficaz diante
das demandas de saúde.
Na saúde, o equilíbrio de interesses e propósitos é importante para manter a relação
entre os envolvidos. Por exemplo: planos de saúde que buscam a sua sustentabilidade, bem
como retorno financeiro, e beneficiários que precisam de tratamento diferenciado, diante de
inúmeras particularidades; metodologia do médico que gerou desconforto emocional e moral
67
no seu paciente; lista de medicamentos incorporados para os tratamentos pelo SUS, mas
ausentes em farmácias populares, entre outros exemplos.
Tanto o profissional do direito quanto o de saúde costuma ser chamado quando há
um problema, normalmente não se faz um trabalho preventivo. A sensação por isso é sempre
de corrida contra o tempo. E na medida em que mais pessoas são envolvidas, mesmo que
profissionalmente, o nível de tensão só tende a aumentar. Essa tensão resta traduzida em
palavras e ações, que podem gerar outros ou maiores conflitos.
Nesses tempos de pandemia, desencadeada para os brasileiros em março de 2020,
todo esse desgaste se potencializou. Observando os fatos passados podemos perceber que
houve legado positivo, pois houve uma ampliação do diálogo, possibilitando sim a
autocomposição. Todos tivemos que ceder e flexibilizar as formas de nos comunicar. As
sessões e audiências virtuais, as comunicações por meios eletrônicos, passaram a ser a única
ferramenta que dispúnhamos, e conseguimos sim construir e viabilizar essas alternativas.
Veja-se, por exemplo, os Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de
Conflitos (NUPEMECs) e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania
(CEJUSCs) que têm trabalhado ativamente para que novas ferramentas sejam
disponibilizadas para o crescimento dos entendimentos, de forma a transformar efetivamente
a cultura do litígio (CNJ 2021).
A situação da pandemia evidenciou a dinâmica do direito à saúde e direito médico,
que invariavelmente é fruto de uma urgência, que não converge com o rito dos
procedimentos de intervenção de terceiro na tomada de decisão. A demora na tomada de
decisão impacta negativamente a obtenção do bem que é a vida e a dignidade. Os
procedimentos autocompositivos ficaram mais evidentes, pela agilidade e eficácia, nestes
tempos atípicos, e em que especialmente a saúde, em toda sua definição descrita pela OMS,
está em xeque.
Não é novidade que trabalhar na área da Saúde e Direito Médico vem se tornando
cada dia mais desafiador. Requerer, provar e demonstrar a urgência do direito invocado
precisa estar alinhado aos temas de estudos recentes dos tribunais, que a cada dia se
aprofundam mais nas minucias. Os magistrados estão sendo convidados a analisar atos e
fatos jurídicos perante a lei vigente que deveriam ser de prontos observados pelos envolvidos
na demandada, que buscam o acesso à saúde. Veja-se a Constituição Federal e as leis que
disciplinam as relações nessa área são cristalinas, de modo que a premissa de “tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de sua igualdade” se observada
pelos princípios da boa-fé e cooperação simplificaria muito o acesso à justiça.
A soberania do ato médico e a autonomia de vontade do paciente acabam sendo
dissipadas pelo protagonismo da “obtenção da liminar”, pela busca à prestação jurisdicional
que obriga magistrados a se aprofundar mais do que o necessário na área de saúde.
De outro lado, os métodos autocompositivos, como a mediação e a conciliação
buscam a ajuda de uma terceira pessoa para intermediar esse diálogo, possibilitando o uso
de ferramentas que validem e deem maior empoderamento aos argumentos dos mais
fragilizados nas relações. E nestes dois métodos de resolução de conflitos, igualmente a
flexibilização é fundamental para se evoluir e possivelmente se chegar a um entendimento.
A conciliação costuma ser indicada para relações que não se pretendem manter após
a resolução do conflito. Não há a necessidade de se aprofundar o diálogo para se buscar os
pontos convergentes e dele se traçar opções para o prosseguimento de um relacionamento
profissional ou pessoal, comercial ou de consumo, político ou religioso (TARTUCE, 2016).
Por seu turno, a mediação é o método mais indicado para situações nas quais os
conflitos são mais profundos, emocionais e envolvem as pessoas que já possuíam uma
relação anterior. De forma que, o processo de diálogo conduzido por um terceiro imparcial
possibilita a tomada de decisão informada e esclarecida, sem imposições de convicções
alheias, prestigiando a autonomia e desencadeando o sentimento de empoderamento frente
às dificuldades (TARTUCE, 2016).
exemplo. Escuta, atenção e respeito também são necessidades legítimas que se encontram
aqui.
Em qualquer interação humana, podemos nos perguntar: quais
necessidades/interesses, desejos, preocupações ou temores estão em jogo, motivando as
ações das partes? Aí está a chave. Nesta linha, como afirma William Ury (2014, p. 58),
"Interesses são motivadores. (...) A sua posição é algo sobre o qual você decidiu. Seus
interesses são o que o levaram a tomar esta decisão”.
Se a busca pela identificação das necessidades das partes, através da utilização da
ferramenta de diálogo CNV, ainda parece distante na área da saúde, vamos percorrer
algumas perguntas, com o intuito de verificar se há pelo menos um potencial abertura para
estas ferramentas adentrarem no universo da saúde. William Ury (2014, p. 84) nos provoca
com as seguintes reflexões: "Temos interesses comuns em preservar nosso relacionamento?
Que oportunidades teremos pela frente para cooperar e usufruir de benefícios mútuos? Qual
seria nosso custo se essas negociações fracassassem?".
Do que sabemos, as respostas para essas perguntas indicam que, nos conflitos de
saúde:
há, sim, o interesse tanto de beneficiários quanto das operadoras de saúde de preservar seu
relacionamento;
as oportunidades se ampliam quando há cooperação para chegar a um acordo, gerando
benefícios mútuos, representem eles vantagens financeiras, na forma da ausência de
prejuízo, ou o atendimento das condições que preservam a saúde dos beneficiários, dentre
outros;
caso as negociações falhem, o custo é alto para ambas as partes: desgaste financeiro e de
tempo, em função do moroso processo judicial, além do risco de ver a saúde (e por vezes a
própria vida) em condições cada vez mais precárias.
Assim, acreditamos que a CNV, enquanto metodologia facilitadora de diálogos, pode
ser utilizada nas questões atinentes à saúde, pelos mais diversos atores:
- Por advogados: num telefonema com cliente, para compreender de forma mais clara sua
real necessidade; nas tratativas com as operadoras de saúde ao buscar uma solução direta,
reconhecendo seus interesses como legítimos.
- Por colaboradores das operadoras de saúde: ao ouvir pedidos e reclamações de
beneficiários e seus advogados, tentando já identificar suas necessidades reais; ao sentar na
71
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MASLOW, Abraham H. The farther reaches of human nature. Edição Kindle. Nova
York: Penguin, 1993.
TARTUCE, Fernanda. Mediação nos conflitos civis. São Paulo: Método, 2016.
URY, William. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. São
Paulo: Sextante, 2014.
73
Resumo: O artigo tem o objetivo de responder como seria possível, considerando o modelo
paradigmático paternalista implantado na relação médico-paciente, salvaguardar a liberdade
de escolha do paciente como um instrumento da sua autonomia. Busca-se demonstrar que a
medicina, assim como a sociedade, se transformou com o decorrer do tempo e, com ela, a
forma da relação entre médicos e pacientes. O modelo paradigmático paternalista, no sentido
de cumprimento irrestrito das determinações médicas (prescrições), no qual não havia
espaço para contestações as decisões dos profissionais da saúde, cedeu espaço ao Estado
Democrático de Direito e às suas respectivas liberdades civis. As pesquisas bioéticas
(biomédicas), aliadas a algumas atrocidades, também impulsionaram na construção de
normas universais garantidoras dos Direitos Humanos, dentre elas o meta-princípio da
dignidade da pessoa humana. Passou-se a compreender que a saúde não poderia ser objeto
de uma decisão isolada, soberana, do profissional médico, reconhecendo-se a necessidade
de uma participação mais ativa, livre e consciente do paciente na construção do seu
tratamento médico. Dividiu-se a metodologia em método de abordagem e método de
procedimento. Optou-se pela linha de pesquisa que se refere ao método dedutivo, isto é,
parte-se de uma premissa, por exemplo, autonomia do paciente para decidir a que tratamento
irá ou não se submeter, para alcançar uma conclusão logicamente correta ou não. Como
método de procedimento a ser utilizado decidiu-se predominantemente pela pesquisa
bibliográfica na qual foram analisados livros, periódicos nacionais e internacionais, bem
como páginas da internet que exploram a temática do princípio da autonomia do paciente.
Abstract: The text aims to answer how it would be possible, considering the paternalistic
paradigmatic model implemented in the doctor-patient relationship, to safeguard the patient's
freedom of choice as an instrument of his autonomy. It seeks to demonstrate that medicine,
as well as society, has changed over time and, with it, the form of the relationship between
doctors and patients. The paternalistic paradigm model, in the sense of unrestricted
1
Mestrando em Direito pela Faculdade Meridional – IMED/Passo Fundo-RS, Pós-Graduado em Direito
Processual Civil (URI-FW), Direito Tributário (Unoesc), Direito Médico e Hospitalar (EPD-SP) e Direito da
Medicina (Coimbra-PT)
74
compliance with medical determinations (prescriptions), in which there was no room for
contesting the decisions of health professionals, gave way to the Democratic State of Law
and their respective civil liberties. Bioethical (biomedical) research, combined with some
atrocities, also boosted the construction of universal norms that guarantee Human Rights,
including the meta-principle of human dignity. It was understood that health could not be
the object of an isolated, sovereign decision by the medical professional, recognizing the
need for a more active, free and conscious participation of the patient in the construction of
their medical treatment. The methodology was divided into approach method and procedure
method. We chose the line of research that refers to the deductive method, that is, it starts
from a premise, for example, the patient's autonomy to decide which treatment he will or
will not undergo, to reach a logically correct conclusion or not. As a method of procedure to
be used, it was decided to predominantly use bibliographical research, which analyzed
books, national and international journals, as well aspages internet that explore the theme of
the principle of patient autonomy.
Keywords: Dignity of human person; Freedom of choice; Doctor-patient relationship;
Autonomy.
INTRODUÇÃO
A saúde desperta o interesse da humanidade desde a sua origem, sendo que o combate
aos males que afligem o ser humano e o fascínio em desafiar Deus sempre foi objeto de
estudos e investigações, convertendo-se de uma ciência incipiente para um dos ramos da
ciência mais respeitados e complexos da atualidade.
Durante muito tempo o ser humano preocupou-se tão somente pela “busca da
preservação da saúde humana ou, noutra perspectiva, a luta contra a doença ou a enfermidade
que acompanha a história da humanidade2”.
De acordo com Drumond3 foi fundada no temor do homem com a sua saúde que se
originou a medicina:
[...] a medicina, entendida como ato de socorro ou ajuda ao ser humano, teve
início, de fato, com aparecimento do homem no planeta. Seus primeiros
praticantes foram feiticeiros – médicos ou xamâs – que utilizavam rezas,
exorcismos e invocações a deuses ou ao desconhecido, juntamente com
tratamentos físicos (frio, calor), plantas medicinais e certas intervenções cruentas,
como trepanações, como forma de libertar o enfermo dos demônios que o
possuíam.
2
ESTOURINHO, Maria João; MACIEIRINHA, Tiago. Direito da saúde. Lisboa: Universidade católica
Editora, 2014, p. 9.
3
DRUMOND, José Geraldo de Freitas. A história da ética na medicina. In: FIGUEIREDO, Antônio Macena;
LANA, Roberto Lauro (Coord.). Direito médico: implicações práticas e jurídicas na prática médica. Rio
de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2009, p. 21.
76
Inicialmente o médico, em decorrência das suas práticas nada usuais para a época -
com experimentos que confrontavam a moral e a ética -, acabou por assumir uma postura
paternalista relegando qualquer intervenção ou participação do paciente no processo de
decisão médica.
Nesta fase da humanidade o paciente era tratado como se fosse uma criança, isolada
do processo decisório na busca do melhor tratamento. Assumia o médico uma condição de
protetor (ideia de beneficência) existindo um cumprimento irrestrito (sem objeção) as suas
decisões.
A liberdade de escolha efetiva do paciente claramente sofria a influência de
circunstancias alheias a sua vontade. Ao debilitado ser humano era imposto uma falsa
interpretação social da realidade (médico era visto como uma divindade), restando ao
paciente apenas aquiescer ao tratamento que lhe fora decretado.
O período pós Segunda Guerra Mundial marcou a ruptura, que já havia se iniciado
no século XVI com um movimento sócio-político que reconhecia a liberdade dos cidadãos
e, por corolário lógico, a sua autonomia, com o modelo paternalista.
A partir do julgamento dos crimes de guerra praticados pelos nazistas durante a
Segunda Guerra Mundial, verificou-se uma relevante alteração no padrão da ética médica
relacionada com a experimentação humana. A relação até então autoritária foi substituída
pela autonomia do paciente, erigindo-se a dignidade da pessoa humana como um dos
fundamentais consensos éticos da humanidade.
As barbáries praticadas pelos nazistas, em suas pesquisas com seres humanos,
resultou na primeira resposta “ético-jurídica às intervenções médicas não autorizadas”, qual
seja, o Código de Nuremberg4 de 1948, passando-se a se preocupar não só com o conteúdo
das informações prestadas aos pacientes, mas inexoravelmente com a qualidade das
informações prestadas pelos médicos.
4
Diz o Código de Nuremberg, em seu artigo 1º: “O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente
essencial. Isso significa que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser legalmente capazes de
dar consentimento; essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem qualquer intervenção de
elementos de força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior; devem ter
conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomarem uma decisão. Esse último aspecto exige que sejam
explicados às pessoas a natureza, a duração e o propósito do experimento; os métodos segundo os quais será
conduzido; as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos sobre a saúde ou sobre a pessoa do participante,
que eventualmente possam ocorrer, devida à sua participação no experimento. O dever e a responsabilidade de
garantir a qualidade do consentimento repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou
se compromete nele. São deveres e responsabilidades pessoais que não podem ser delegados a outrem
impunemente.”
77
Para Dantas5 não há que confundir consentimento informado com a efetiva prestação
da obrigação de informar. Nesse sentido vejamos o que observa Roberto6:
Se o paciente recusa, portanto, a operação que salvaria sua vida, ou a necessária internação numa
unidade de tratamento intensivo, deve o médico abster-se de tais medidas e, se for o caso, deixar
o paciente morrer. Esta solução é deduzida, corretamente, da autonomia da personalidade do
paciente, que pode decidir a respeito do alcance e da duração de seu tratamento.
Vale ressaltar que não está o médico proibido de expor a sua opinião técnica sobre o
tratamento que acredita ser o mais indicado ao paciente. Contudo, para Dantas “duas coisas
não pode fazer: a primeira é impor sua vontade com relação ao tratamento; e a segunda é
omitir informações sobre caminhos possíveis ou outros tratamentos9”.
Da mesma forma, não está o médico sujeito aos desejos do paciente, tornando-se
legítima a recusa do profissional em assistir um paciente que não consinta com o tratamento
5
DANTAS, Eduardo. Direito médico. Salvador: Editora JusPodivm, 2019, p. 110.
6
ROBERTO, Luciana Mendes Pereira. Responsabilidade civil do profissional da saúde e consentimento
informado. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2012, p. 83.
7
DANTAS, ob. cit., p. 112.
8
ROXIN, Claus. A proteção da vida humana através do direito penal. Disponível em:
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/25456-25458-1-PB.pdf. Acesso em: 21 jul. 2020, p.
7.
9
DANTAS, op. cit., p. 113.
78
indicado. Desta feita, estar-se-á garantindo ao médico o direito de se pautar em seus padrões
ético-científicos.
Neste contexto, observamos que o paradigma paternalista “foi mitigado” cedendo
lugar à autonomia do paciente. Não se encontra autorizado o profissional médico a impor
qualquer espécie de tratamento sem que ocorra a participação efetiva do paciente nas
decisões a respeito de sua integridade psicofísica, salvo como veremos a seguir nas hipóteses
de iminente risco de morte.
10
ROBERTO, ob. cit., p. 36.
11
SÁ, Maria de Fátima Freire de; SOUZA, Iara Antunes de. Termo de consentimento livre e esclarecido e
responsabilidade civil do médico e do hospital. In: Nelson; MENEZES, Joyceane Bezerra de; DADALTO,
Luciana. Responsabilidade civil e medicina. São Paulo: Editora Foco, 2020, p. 56-59.
12
BORGES, Gustavo. Erro médico nas cirurgias plásticas. São Paulo: Atlas, 214, p. 86.
79
[...] os atos de autonomia nas decisões afetas ao próprio corpo, saúde e vida são
cruciais para viver com dignidade. [...] A rigor, o respeito à autonomia do paciente
é totalmente compatível com a tendência hodierna de valorização aos direitos do
paciente no contexto geral da prestação de serviços de saúde.
13
BEAUCHAMP, Tom L.; CHILDRESS, James F. Princípios de ética biomédica. São Paulo: Edições
Loyola, 2002, p. 137.
14
ROBERTO, op. cit., p. 48.
15
SCHULMAN, Gabriel; ALMEIDA, Vitor. Novos olhares sobre a responsabilidade civil na saúde:
autonomia, informação e desafios do consentimento na relação médico-paciente. In: ROSENVALD,
Nelson; MENEZES, Joyceane Bezerra de; DADALTO, Luciana. Responsabilidade civil e medicina. São
Paulo: Editora Foco, 2020, p. 30.
80
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BEAUCHAMP, Tom L.; CHILDRESS, James F. Princípios de ética biomédica. São Paulo:
Edições Loyola, 2002.
BORGES, Gustavo. Erro médico nas cirurgias plásticas. São Paulo: Atlas, 2014.
ROXIN, Claus. A proteção da vida humana através do direito penal. Disponível em:
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/25456-25458-1-PB.pdf. Acesso
em: 21 jul. 2021.
SÁ, Maria de Fátima Freire de; SOUZA, Iara Antunes de. Termo de consentimento livre e
esclarecido e responsabilidade civil do médico e do hospital. In: Nelson; MENEZES,
Joyceane Bezerra de; DADALTO, Luciana. Responsabilidade civil e medicina. São Paulo:
Editora Foco, 2020.
82
Jovana de Cezaro1
1 INTRODUÇÃO
A forma com que se faz publicidade mudou drasticamente nos últimos anos. As
mudanças comportamentais dos consumidores, a consolidação da globalização dos
mercados, o avanço da internet e as revoluções tecnológicas desafiam cada vez mais o
mercado publicitário brasileiro.
Hodiernamente os consumidores são bombardeados com uma série de anúncios
publicitários, que utilizam da criatividade para convencer e persuadir o consumidor a
consumir cada vez mais. A fim de conquistar o consumidor, a publicidade apela para o desejo
e para a fantasia das pessoas.
O presente artigo analisa os cuidados redobrados com a publicidade de
medicamentos direcionada a população idosa os hipervulneráveis, que além da saúde
fragilizada, são facilmente ludibriados. O excesso de informações também pode acarretar na
falta de informações confiáveis, principalmente em tempos de pandemia.
1
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade de Passo Fundo - UPF. Especialista
em Direito do Trabalho pela Faculdade Venda Nova do Imigrante – FAVENI. Bacharela em Direito pela
Universidade de Passo Fundo - UPF. Advogada. E-mail: jovanadc@hotmail.com
84
Miragem afirma que “há na sociedade atual o desequilíbrio entre dois agentes
econômicos, consumidor e fornecedor, nas relações jurídicas que estabelecem entre si”.
Reconhecendo essa situação surge a necessidade de uma “lei retione personae de proteção
do sujeito mais fraco da relação de consumo”.3
2
MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Código de Defesa do Consumidor: o princípio da vulnerabilidade no
contrato, na publicidade, nas demais práticas comerciais: interpretação sistemática do direito. 3. ed. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 125.
3
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 114.
85
4
Essencial salientar que existe um Projeto de Lei nº 5383/19, em análise na Câmara dos Deputados, proposto
pelo deputado João Campos, que altera a legislação vigente, passando a considerar pessoas idosas a partir dos
65 anos de idade. A fundamentação do referido projeto é o aumento da expectativa de vida no Brasil. Cf.
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 5383/2019. Brasília, 2019. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2223942. Acesso em: 22 out.
2021.
5
BRASIL. Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências.
Brasília, 2003. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 22 out. 2021.
6
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 out. 2021.
7
BRASIL. Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências.
Brasília, 2003. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 22 out. 2021.
8
FREITAS JUNIOR, Roberto Mendes de. Direitos e garantias do idoso: doutrina, jurisprudência e legislação.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 57.
86
sofrem com a massificação do consumo [...]. Benjamin reforça que o fato de ser um
consumidor de uma classe diferente ou minoritária, não o faz “menos consumidor, nem
menos cidadão, tampouco merecedor de direitos de segunda classe ou proteção apenas
retórica do legislador”.9
Grinover et al. definem os mesmos como “consumidores ignorantes e de pouco
conhecimento, de idade pequena ou avançada, de saúde frágil, bem como aqueles cuja
posição social não lhes permite avaliar com adequação o produto ou serviço que estão
adquirindo”. A hipervulnerabilidade é limitada a alguns, mas nunca a todos consumidores.10
O envelhecimento da população é considerado um fato social pós-moderno11 e a
preocupação com a proteção do consumidor idoso não é nova. Os avanços tecnológicos
juntamente com o envelhecimento da população mundial, leva a sociedade a uma atenção
especial com a proteção dos idosos.12
O Estatuto do Idoso, vigente desde janeiro de 2004, conforme Schmitt “visa permitir
a inclusão social dos idosos no Brasil, garantindo-lhes tratamento igualitário”. Ainda, por
meio do Estatuto do Idoso “pretende-se impedir que os idosos continuem sendo mantidos,
em sua maioria, à margem da sociedade, como se fossem cidadãos de segunda classe”.13
Tendo em vista sua idade avançada o consumidor idoso é hipervulnerável e deve ser
protegido pelo Código de Defesa do Consumidor. A vulnerabilidade do consumidor idoso,
conforme aponta Miragem, é demostrada por dois aspectos principais, quais sejam “a
diminuição ou perda de determinadas aptidões físicas ou intelectuais que os tona mais
suscetível e débil em relação à atuação negocial dos fornecedores”, bem como “a
9
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Segunda Turma. Recurso Especial n. 586.316/MG. Relatoria:
Ministro Herman Benjamin. Julgado em: Brasília, 17 abr. 2017. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ITA?seq=683195&tipo=0&nreg=200301612085&SeqCg
rmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20090319&formato=PDF&salvar=false. Acesso em: 03 set. 2021. p. 3.
10
GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores
do anteprojeto: direito material e processo coletivo. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, v. único. p. 381.
11
Afonso aborda que “nos últimos 60 anos, foram muitas as conquistas no campo da medicina e que auxiliaram
na prevenção e cura de doenças. Entre elas, destacam-se a assepsia, as vacinas, os conceitos de medicina
preventiva, os tratamentos de químo e radioterapia. Essas descobertas foram relevantes para o aumento da
expectativa de vida e, consequentemente, para o aumento no número de idosos. Não só́ a evolução da ciência
possibilita o aumento da expectativa de vida das pessoas. A expansão da economia e a melhoria nas condições
de vida também são fatores importantes na avaliação das causas da maior longevidade”. Cf. AFONSO, Luiz
Fernando. Publicidade abusiva e proteção do consumidor idoso. São Paulo: Atlas, 2013. p. 137.
12
AFONSO, Luiz Fernando. Publicidade abusiva e proteção do consumidor idoso. São Paulo: Atlas, 2013.
p. 136.
13
SCHMITT, Cristiano Heineck. A “hipervulnerabilidade” do consumidor idoso. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 2, p. 463-493, abr. 2011. p. 6.
87
A publicidade deve ser difundida por meio de informações claras e corretas que
objetiva responsabilizar quem a veicula e responsabilizar os fornecedores, exigindo-se a boa-
fé entre fornecedor e consumidor e buscando assegurar maior transparência nas relações de
consumo16.
Marques afirma que “a publicidade é um meio lícito de promover, de estimular o
consumo de bens e serviços, mas deve pautar-se pelos princípios básicos que guiam as
relações entre fornecedores e consumidores, especialmente o da boa-fé”. Ainda, as relações
14
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 119.
15
SOUZA, Maria Claudia da Silva Antunes de; STOHRER, Camila Monteiro Santos. Consumo Consciente
como mecanismo da sustentabilidade. In: BENACCHIO, Marcelo; GARCIA, Marcos Leite; ARCE, Gustavo.
Direito e sustentabilidade. Florianópolis: CONPEDI, 2016. p. 110
16
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações
contratuais. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 800.
88
de consumo “devem guiar-se pela lealdade e pelo respeito entre fornecedor e consumidor”.17
No Brasil ocorre uma limitação da publicidade por meio de instrumentos legais, dentre os
quais destaca-se a Constituição Federal e o Código de Defesa do Consumidor.
O artigo 220, § 3º e 4º da Constituição Federal trazem restrições à veiculação
publicitária. Tal publicidade está sujeita as restrições legais e deverá conter, sempre que
necessário, advertências sobre os malefícios decorrentes de seu uso18. A lei nº 9.294 de 1996
conhecida como lei Murad, dispõe “sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos
fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do
§ 4° do art. 220 da Constituição Federal”.19 Ainda, o Código de Defesa do Consumidor,
conforme artigo 37, conceitua duas espécies de publicidades que são vedadas aos
fornecedores, sendo elas a enganosa e a abusiva.20
Por ser o público idoso parcela bastante lucrativa no mercado consumidor global,
face à grande utilização de medicamentos, principalmente, é assegurado aos mesmos,
proteção contra a publicidade. O envelhecimento da população é um fato natural, irreversível
e mundial. Frente a esse cenário, o amparo ao idoso é uma preocupação cada vez maior do
Estado, da família e da sociedade civil.21
O idoso padece com a pouca ou nenhuma intimidade com as novas tecnologias em
todas as suas formas de manifestação. Percebe-se a “dificuldade desse indivíduo frente aos
novos tipos de relação de consumo na pós-modernidade e dessa maneira age a publicidade
enganosa e abusiva”.22
É considerada prática abusiva, conforme artigo 39, inciso IV do Código de Defesa
do Consumidor, “a divulgação de anúncio para venda de produtos e serviços que se prevaleça
17
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações
contratuais. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 803-804.
18
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 out. 2021.
19
BRASIL. Lei n. 9.294, de 15 de julho de 1996. Dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos
fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4° do art. 220
da Constituição Federal. Brasília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9294.htm.
Acesso em: 22 out. 2021.
20
Define-se como publicidade enganosa aquela que “viola o dever de veracidade e clareza estabelecidos pelo
CDC”. Já a publicidade abusiva “é aquela que viola valores ou bens jurídicos considerados relevantes
socialmente (tais como meio ambiente, segurança e integridade dos consumidores)” bem como, “a que se
caracteriza pelo apelo indevido a vulnerabilidade agravada de determinados consumidores, como crianças e
idosos. Cf. MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2013. p. 251.
21
AFONSO, Luiz Fernando. Publicidade abusiva e proteção do consumidor idoso. São Paulo: Atlas, 2013.
p. 136-138.
22
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 251.
89
O medo da morte ou do sofrimento pelo idoso torna-se fato próximo e concreto com
o passar dos dias, o que fragiliza o consumidor e torna-o objeto fácil da publicidade que
pretende vender produtos que se dizem milagrosos ou que prometem cura fácil para todos
os males. Utilizando-se os fornecedores do medo da morte ou do sofrimento para venda dos
produtos ou serviços resta-se comprovada a publicidade abusiva26.
Também, quando se fala em risco a saúde deve-se levar em conta, além do consumo
de medicamentos, a automedicação. Kaplan, Jauregui e Rubin afirman que “la prescripción
de medicamentos es un elemento fundamental en el cuidado de la salud de los adultos
mayores” e que “el uso inapropiado de fármacos supone un gran impacto en salud”.27
Os medicamentos têm forte influência e presença na vida das pessoas, pois são
produtos elaborados especialmente com a finalidade de diagnosticar, prevenir e curar
doenças, produzidos para atender às especificações. Porém, em demasiadas vezes, os
23
AFONSO, Luiz Fernando. Publicidade abusiva e proteção do consumidor idoso. São Paulo: Atlas, 2013.
p. 190.
24
AFONSO, Luiz Fernando. Publicidade abusiva e proteção do consumidor idoso. São Paulo: Atlas, 2013.
p. 191.
25
AFONSO, Luiz Fernando. Publicidade abusiva e proteção do consumidor idoso. São Paulo: Atlas, 2013.
p. 194.
26
AFONSO, Luiz Fernando. Publicidade abusiva e proteção do consumidor idoso. São Paulo: Atlas, 2013.
p. 194-195.
27
KAPLAN, Roberto; JAUREGUI, José R.; RUBIN, Romina K. Los grandes síndromes geriátricos.
Argentina: Edimed – Ediciones Médicas SRL, 2009. p. 159.
90
mesmos são destacados como objetos mágicos, onde as pessoas depositam toda confiança
em seu poder de cura, vendo naquele medicamento uma chance de alívio para os indicativos
que sente.
A concorrência no mercado de medicamentos é grande, o que faz com que os
laboratórios apostem em estratégias como a publicidade, que tem forte poder de persuasão e
influência na compra desses produtos. Porém, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) estabelece regras a fim de proteger o indivíduo nas relações de consumo, tais
como a proibição à publicidade enganosa28 e ao incentivo à automedicação, permitindo a
publicidade de medicamentos tidos como não controlados.
A Resolução da Diretoria Colegiada-RDC da ANVISA de número 96, de 17 de
dezembro de 2008, dispõe sobre a propaganda e publicidade de medicamentos. Em seu artigo
3º aborda que somente é permitida propaganda ou publicidade de medicamentos
regularizados na ANVISA, conforme artigo 7º as informações divulgadas devem ser
comprovadas cientificamente.29
O artigo 8º da referida resolução estabelece restrições a propaganda e publicidade de
medicamentos, enquanto o artigo 9º traz permissões. Os artigos seguintes trazem requisitos
para a correta propaganda ou publicidade de medicamentos.30 Importante mencionar a
Portaria n. 344/199831 que se refere ao Regulamento Técnico sobre substâncias e
medicamentos sujeitos a controle especial.
A publicidade pode apresentar-se também como buzz marketing, forma mais antiga
de realizar a comunicação de marketing, é conhecido como a propaganda boca a boca, ou
28
Artigo 4º da Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária número 96, de
17 de dezembro de 2008: “Não é permitida a propaganda ou publicidade enganosa, abusiva e/ou indireta.
Parágrafo único - Fica vedado utilizar técnicas de comunicação que permitam a veiculação de imagem e/ou
menção de qualquer substância ativa ou marca de medicamentos, de forma não declaradamente publicitária,
de maneira direta ou indireta, em espaços editoriais na televisão; contexto cênico de telenovelas; espetáculos
teatrais; filmes; mensagens ou programas radiofônicos; entre outros tipos de mídia eletrônica ou impressa”. Cf.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução de Diretoria Colegiada –
RDC n. 96, de 17 de dezembro de 2008. Brasília, 2008. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/rdc0096_17_12_2008.html. Acesso em: 01 set. 2021.
29
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução de Diretoria Colegiada
– RDC n. 96, de 17 de dezembro de 2008. Brasília, 2008. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/rdc0096_17_12_2008.html. Acesso em: 01 set. 2021.
30
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução de Diretoria Colegiada
– RDC n. 96, de 17 de dezembro de 2008. Brasília, 2008. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/rdc0096_17_12_2008.html. Acesso em: 01 set. 2021.
31
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Portaria n. 344, de 12 de maio de
1998. Brasília, 1998. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs/1998/prt0344_12_05_1998_rep.html. Acesso em: 01 maio
2020.
91
seja, quando uma pessoa fala naturalmente de um produto ou serviço, seja positiva ou
negativamente. Tal forma de comunicação ganha importância devido à confiabilidade que
se tem na fonte que profere a mensagem.32
Com relação aos medicamentos, verifica-se que têm forte influência e presença na
vida dos idosos, pois são produtos elaborados especialmente com a finalidade de prevenir e
curar doenças. Porém, em demasiadas vezes, os mesmos são destacados como objetos
mágicos, em que as pessoas depositam toda confiança em seu poder de cura, vendo naquele
medicamento uma chance de alívio para os indicativos que sente. Como acompanhado
diariamente no noticiário, vê-se a publicidade escancarada de medicamentos. Também,
conclui-se que os indivíduos estão consumindo medicamentos por conta própria e
colocando-se em perigo quanto aos efeitos colaterais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
32
ANDRADE, Josmar; TOLEDO, Ana Carolina; MARINHO, Monique Terra. Uma reflexão crítica sobre o
buzz marketing e suas implicações éticas como estratégia de comunicação de marketing. Cadernos de
Comunicação, Santa Maria, v. 17, n. 18, p. 187-209, jan./jun. 2013. p. 189-190.
92
que compõem o sistema nacional de defesa do consumidor, com vistas a fiscalizar a prática
de publicidade enganosa e abusiva de medicamentos destinados ao público idoso.
O Brasil possui legislação suficiente para evitar tais práticas, dentre elas está o
Código de Defesa do Consumidor, Estatuto do Idoso e a Constituição Federal de 1988, mas
o que precisa ser realmente efetivada é a fiscalização.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Josmar; TOLEDO, Ana Carolina; MARINHO, Monique Terra. Uma reflexão
crítica sobre o buzz marketing e suas implicações éticas como estratégia de comunicação de
marketing. Cadernos de Comunicação, Santa Maria, v. 17, n. 18, p. 187-209, jan./jun.
2013.
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 5383/2019. Brasília, 2019. Disponível
em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2223942.
Acesso em: 22 out. 2021.
KAPLAN, Roberto; JAUREGUI, José R.; RUBIN, Romina K. Los grandes síndromes
geriátricos. Argentina: Edimed – Ediciones Médicas SRL, 2009.
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013.
SOUZA, Maria Claudia da Silva Antunes de; STOHRER, Camila Monteiro Santos.
Consumo Consciente como mecanismo da sustentabilidade. In: BENACCHIO, Marcelo;
GARCIA, Marcos Leite; ARCE, Gustavo. Direito e sustentabilidade. Florianópolis:
CONPEDI, 2016.
94
Karla Schostack1
1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
1
Advogada Palestrante, coordenadora e fundadora do escritório Karla Schostack Advocacia e Consultoria, atua
na área das Famílias e Sucessões, Direito Médico, na defesa dos Direitos das Mulheres e Direitos Humanos,
Pós-graduada em Direito Empresarial PUCRS, Pós-graduanda em Direito Médico pelo Verbo Jurídico,
Presidente da Comissão da Mulher ABA/RS, Vice-Presidente da Comissão Nacional de Direito das Famílias
e Sucessões da ABA e Membro da Comissão Especial da Saúde OAB/RS.
95
2
SOUZA, Alessandra Varrone de Almeida Prado. Resumo de direito médico. Leme: JH Mizuno, 2020, v. 16.
97
3
BRASIL. Lei n. 13.931, de 10 de dezembro de 2019. Altera a Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003,
para dispor sobre a notificação compulsória dos casos de suspeita de violência contra a mulher. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13931.htm. Acesso em: 22 out. 2021.
4
BRASIL. Lei n. 10.778, de 24 de novembro de 2003. Estabelece a notificação compulsória, no território
nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados.
Brasília, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.778.htm. Acesso em: 22
out. 2021.
99
Será que as mulheres não vão acabar deixando de ir ao médico com medo que ele
possa fazer a denúncia contra o seu companheiro?
Não podemos esquecer:
A violência doméstica e familiar inicia em um relacionamento abusivo e ela é cíclica,
tendo 3 fases:
1. onde começa a tensão
2. o ato de violência: agressões físicas, verbais
3. arrependimento, comportamento carinhoso, onde o agressor fala que vai mudar...
Como podemos ajudar que está em um relacionamento abusivo?
É fundamental orientar a procurar ajuda de uma equipe multidisciplinar: com
psicóloga(o), assistente social, coaching, advogada(o).
Formas de denúncia são:
Preferencialmente na delegacia da mulher, delegacia online, 190 da Brigada Militar
e 180 Disque Denúncia.
Devemos acolher essa mulher e não julgar.
Muitas mulheres não saem da situação de violência doméstica por ter dependência
financeira, por ter filhos pequenos, por dependência emocional, por não ter apoio da família
e amigos, por achar que é assim mesmo (que mulher deve ser tratada dessa forma), e
principalmente pelo desconhecimento da Lei Maria da Penha.
O médico precisa orientar essa mulher sobre os tipos de violência, alertá-la de que
pode estar em uma situação de violência doméstica, e questioná-la sobre o interesse ou não
em denunciar.
Diante da determinação que prevê que o médico tem o dever de fazer a notificação
compulsória em 24 horas para as autoridades policiais, seria interessante uma alteração na
Lei n. 13.931/2019, prevendo que a paciente dê uma autorização expressa de sua vontade,
assinando um Termo de Autorização, para que o médico fizesse a notificação às autoridades
Policiais e Sanitárias.
Caso a paciente, vítima de violência doméstica e familiar, mesmo após ser
esclarecida pelo médico, fosse contrária a notificação às autoridades, seria recomendado
pedir uma declaração de não autorização de notificação, desta forma o médico estaria
acolhendo a vontade de sua paciente, deixando que ela ficasse livre para escolher o que é
melhor para ela.
Essa é uma ação de transparência, lealdade e boa-fé com a vida da paciente.
100
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Internet:https://blog.ipog.edu.br/saude/voc-conhece-o-termo-de-consentimento-informado-
entenda-a-importncia-do-documento-para-pacientes-e-mdicos/ (está nas páginas 2 e 3)
https://cardiopapers.com.br/qual-diferenca-entre-cirurgia-de-emergencia-de-urgencia-e-
eletiva/ (está nas páginas 3 e 4)
101
INTRODUÇÃO
De acordo com o texto do PL, a telemedicina foi autorizada para qualquer atividade
da área da saúde. O uso de tecnologias de informação e de comunicação, como
102
1
https://odocumento.com.br/camara-aprova-projeto-que-autoriza-telemedicina-durante-pandemia-de-
coronavirus/
103
1.1 Particularidades
2
http://www.sbd.org.br/noticias/deputados-aprovam-pl-que-permite-cobranca-de-honorarios-em-
telemedicina-e-exige-respeito-a-normas-eticas/
104
consultas. Ainda, pode-se afirmar que o uso da telemedicina na saúde primária é capaz de
diminuir as internações desnecessárias, tudo non sentido de possibilitar, também, economia
de custos operacionais, seja para o paciente, seja para os profissionais e estabelecimentos de
saúde.
Já com relação aos convênios de saúde privados, os médicos credenciados já estão
habilitados, em seus consultórios e clínicas, a prestar o atendimento a ser remunerado pelo
convênio, mediante as normas deste.
3
https://www.camara.leg.br/noticias/648408-camara-aprova-projeto-que-autoriza-telemedicina-durante-
pandemia-de-coronavirus/
105
Oficio 1756/2020
(...)
5. Este Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu aperfeiçoar ao máximo a
eficiência dos serviços médicos prestados e, EM CARÁTER DE
EXCEPCIONALIDADE E ENQUANTO DURAR A BATALHA DE COMBATE AO
CONTÁGIO DA COVID-19, reconhecer a possibilidade e a eticidade da
utilização da telemedicina, além do disposto na Resolução CFM nº 1.643, de 26
de agosto de 2002, nos estritos e seguintes termos:
4
http:// /noticias/deputados-aprovam-pl-que-permite-cobranca-de-honorarios-em-telemedicina-e-exige-
respeito-a-normas-eticas/
5
https://portal.cfm.org www.sbd.org.br.br/images/PDF/2020_oficio_telemedicina.pdf
107
5. CONCLUSÃO
6
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=98094
7
https://portal.cfm.org.br/noticias/conselheiros-do-cfm-revogam-a-resolucao-no-2-227-2018-que-trata-da-
telemedicina/
8
https://portal.cfm.org.br/images/PDF/resolucao222718.pdf
108
regulamentação Federal ao tema. Entretanto, considerando que o país ainda é marcado por
grandes divergências econômicas, sociais e culturais, o compromisso e a responsabilidade
de todos é primordial para que as políticas públicas e privadas tenham valia.
Eventos adversos e riscos (inclusive sobre dados) deverão ser sempre ponderados e
medidos ao máximo. Mas, com a obediência rígida às normas e aos planos estruturais a
caminho da inovação, tais riscos poderão ser evitados ou minimizados, angariando-se bons
resultados.
Aliás, pode ser compreendido que esse tipo de atendimento médico é algo que veio
para ficar. É esperado que, nos próximos anos, o número desses atendimentos cresça
consideravelmente em razão de todos os benefícios que oferece.
Ao término da urgência provocada pela pandemia, competirá aos Conselhos Federais
de Classe dispor, novamente, sobre os atendimentos remotos. Todavia, já se pode antever
que a inovação está a caminhar lado a lado com saúde e que, ceifar o atendimento remoto,
será como um retrocesso à caminhada para a evolução tecnológica e assistencial do pais.
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
9
Advogada Sócia da Alfaro&Voltz; fundadora da DMO–Direito Médico, Odontológico e da Saúde pela
Paties&Alfaro. Palestrante e moderadora. Especialista em Direito Público; Membro da Comissão Especial da
Saúde da OAB/RS e da Comissão de Saúde da ABA-RS, Coordenadora do GT de Direito Odontológico da
ABA/RS. Ex-Procuradora dos Conselhos Profissionais de Enfermagem (Coren/RS), Educação Física (CREF2)
e Odontologia (CRO/RS).
110
2 DESENVOLVIMENTO
10
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-198, de 29 de janeiro de 2019.
Brasília, 29 jan. 2019. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2019/198. Acesso em: 20 out.
2021.
11
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-176, de 06 de setembro de 2016.
Brasília, 06 set. 2016. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2016/176. Acesso em: 20 out.
2021
12
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-112, de 02 de setembro de 2011.
Brasília, 02 set. 2011. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2011/112. Acesso em: 20 out.
2021.
111
13
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-145, de 27 de março de 2014.
Brasília, 27 mar. 2014. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2014/145. Acesso em: 20 out.
2021.
14
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-146, de 16 de abril de 2014.
Brasília, 16 abr. 2014. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2014/146. Acesso em: 20 out.
2021.
15
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-176, de 06 de setembro de 2016.
Brasília, 06 set. 2016. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2016/176. Acesso em: 20 out.
2021.
16
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-198, de 29 de janeiro de 2019.
Brasília, 29 jan. 2019. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2019/198. Acesso em: 20 out.
2021.
17
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-218, de 18 de dezembro de 2019.
Brasília, 18 dez. 2019. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2019/218. Acesso em: 20 out.
2021.
18
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-230, de 14 de agosto de 2020.
Brasília, 14 ago. 2020. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2020/230. Acesso em: 20 out.
2021.
112
19
SANTOS, J. S.; SANKARANKUTTY, A. K.; SALGADO JR., W.; KEMP, R.; LEONEL, E. P.; CASTRO
E SILVA JR., O. Cirurgia ambulatorial: do conceito à organização de serviços e seus resultados. Medicina,
Ribeirão Preto, SP, v. 41, n. 3, p. 274-286, 2008. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2783841/mod_resource/content/1/SIMP_4Cirurgia_ambulatorial.pd
f. Acesso em: 20 out. 2021.
20
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA. Estética: procura por procedimentos não
cirúrgicos aumenta 390%. [S.l.], 27 out. 2017. Disponível em
http://www2.cirurgiaplastica.org.br/2017/10/27/estetica-procura-por-procedimentos-nao-cirurgicos-aumenta-
390/. Acesso em: 20 out. 2021.
21
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-100, de 18 de março de 2010.
Brasília, 18 mar. 2010. Disponível em:
https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2010/100. Acesso em: 20 out.
2021.
113
A Saúde Estética é uma área do conhecimento em Saúde que possui afinidade com
várias profissões, e que, até o momento, não é de exercício privativo, pois não há norma
legal que assim estabeleça, exceto as especificidades descritas à Medicina. A Lei 12.842 de
10 de julho de 2013, que dispõe sobre o exercício da Medicina, normalmente invocada pelos
médicos para tratar a saúde estética como sendo privativa desta profissão, não é aplicada
para Odontologia, em consequência para os Cirurgiões-dentistas. O parágrafo 6º do artigo
4º dessa norma estabelece que o disposto neste artigo não se aplica ao exercício da
114
Odontologia, no âmbito de sua área de atuação, sendo que este artigo estabelece as atividades
privativas do médico (popularmente conhecido como ato médico).
Ao estudar os vetos desta Lei, resta claro que a intenção foi de preservar
procedimentos já realizados por outras profissões regulamentadas da saúde, visando à
manutenção de ações preconizadas em protocolos e diretrizes clínicas estabelecidas no
Sistema Único de Saúde e em rotinas e protocolos consagrados nos estabelecimentos
privados de saúde.
Dentre os vários artigos, parágrafos e incisos vetados, tem-se o inciso I e II do
Parágrafo 4º do Artigo 4º: “invasão da epiderme e derme com o uso de produtos químicos
ou abrasivos” e “invasão da pele atingindo o tecido subcutâneo para injeção, sucção,
punção, insuflação, drenagem, instilação ou enxertia, com ou sem o uso de agentes químicos
ou físicos”. E o inciso I do Parágrafo 5º do Artigo 4º que estabelecia a “aplicação de injeções
subcutâneas, intradérmicas, intramusculares e intravenosas, de acordo com a prescrição
médica”. Considerando os vetos citados listados da lei do ato médico, é evidente que os
procedimentos estéticos não cirúrgicos, ou cirúrgicos minimamente invasivos, não são
privativos da medicina.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirma que a aplicação da toxina
botulínica (popularmente denominada Botox) não é um procedimento cirúrgico, conforme a
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.22
Destarte, outro enfoque importante sobre o tema é discorrer sobre o local autorizado
para a prática da odontologia estética. Conforme já referido linhas acima, uma Resolução do
Conselho Federal de Odontologia (Resolução nº 218/2019) vedou a pratica de atos
odontológicos com vinculação, interação, parceira e/ou convênio com estabelecimentos de
estética, salões e/ou institutos de beleza e congêneres, sem a devida observância dos critérios
e recursos sanitários e de higiene referentes à realização dos procedimentos odontológicos.
Assim, considerando que a harmonização orofacial é um conjunto de procedimentos
odontológicos, inclusive, reconhecida como especialidade odontológica, se faz necessário
que o profissional possua os respectivos alvarás sanitários de localização e/ou
funcionamento e saúde do respectivo local onde será executado o procedimento para sua
prática clínica. A competência para a análise e expedição dos alvarás sanitários é da
22
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA. Toxina Bontulínica. Disponível em:
http://www2.cirurgiaplastica.org.br/cirurgias-e-procedimentos/minimamente-nvasivos/toxina-botulinica/
Acesso em: 10 de nov. 2021.
115
Vigilância Sanitária competente pela área e localização do estabelecimento. Por óbvio que a
melhor orientação é a execução da odontologia estética nos consultórios e clínicas
odontológicas que já possuem as autorizações sanitárias para realização de qualquer
procedimento odontológico. Atualmente no âmbito do estado do Rio Grande do Sul, está em
vigor a Portaria nº 40/200023 que aprovou a Norma Técnica de Biossegurança em
Estabelecimentos Odontológicos e Laboratórios de Próteses não havendo, até o momento,
norma específica para consultórios e clínicas odontológicas que exerçam atividade
exclusivamente de harmonização orofacial.
Ocorre que como já referido, a saúde estética é atividade multidisciplinar e
interdisciplinar de várias profissões regulamentadas por lei e independentes, com legislações
específicas prevendo áreas e limites de atuação, que muitas vezes podem ser convergentes
na atuação prática. Assim, a prática da saúde estética pelo Cirurgião-dentista é exercício
regular de direito frente a sua profissão, desde que executada por profissional habilitado e
capacitado dentro dos limites legais e infralegais impostos.
A matéria foi, e ainda é, palco de discussões judiciais entre sociedades, associações
vinculadas às áreas da Medicina e Conselho Federal de Medicina em desfavor do Conselho
Federal de Odontologia com ações judiciais findas e em curso24, e ainda com inúmeras
denúncias administrativas recebidas nos Conselhos Profissionais de Odontologia em
desfavor de Cirurgiões-dentistas que atuam em Harmonização Orofacial, numa busca
incessante pela preservação de uma reserva de mercado que, salvo melhor juízo, inexiste.
Inclusive, na ação judicial em curso (nº 0012537-52.2017.4.01.3400), ainda sem decisão
judicial, foi exarado parecer pela Procuradora da República Dra. Márcia Brandão Zollinger,
em que analisou o mérito nos seguintes termos:
23
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Saúde. Portaria n. 40/2020. Porto Alegre, 26 dez. 2000.
Disponível em: https://saude-admin.rs.gov.br/upload/arquivos/202102/17140125-40-00-247-2912-2612.pdf.
Acesso em: 20 out. 2021.
24
Ações judiciais nº 0809799-82.2017.4.05.8400 e 0803567-56.2018.4.05.8000 extintas sem julgamento de
mérito; e, ainda esta em discussão na 8º Vara Federal da Justiça Federal de Brasília na ação judicial nº 0012537-
52.2017.4.01.3400.
116
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Saúde. Portaria n. 40/2020. Porto Alegre,
26 dez. 2000. Disponível em: https://saude-
admin.rs.gov.br/upload/arquivos/202102/17140125-40-00-247-2912-2612.pdf. Acesso em:
20 out. 2021.
SANTOS, J. S.; SANKARANKUTTY, A. K.; SALGADO JR., W.; KEMP, R.; LEONEL,
E. P.; CASTRO E SILVA JR., O. Cirurgia ambulatorial: do conceito à organização de
serviços e seus resultados. Medicina, Ribeirão Preto, SP, v. 41, n. 3, p. 274-286, 2008.
Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2783841/mod_resource/content/1/SIMP_4Cirurgi
a_ambulatorial.pdf. Acesso em: 20 out. 2021.
Resumo: Este artigo reflete sobre o rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS),
apresentando julgados que versam sobre a temática no âmbito do Superior Tribunal de
Justiça (STJ). Neste viés, examina-se o rol através de uma análise crítica do entendimento
da Terceira e Quarta Turma do referido Colegiado, as quais ainda não firmaram
entendimento uníssono sobre a temática. Por fim, a metodologia proposta para atingir os
objetivos é realizada por meio de levantamento bibliográfico e jurisprudencial.
Palavras-chave: Lei nº 9.656/98. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Saúde
Suplementar. Rol. Superior Tribunal de Justiça.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa abordar a Lei nº 9.656/98, conhecida como a lei dos planos
de saúde, as funções da ANS, explorando o entendimento do STJ sobre o rol da ANS ter
caráter taxativo ou exemplificativo.
Neste sentido, serão expostos os principais julgados do STJ que se referem ao rol da
ANS, através de uma análise crítica sobre o entendimento da Terceira e Quarta Turma do
referido Colegiado, as quais possuem entendimento diverso sobre a temática.
1
Artigo original primeiramente publicado no livro ESTUDO DE CASOS EM DIREITO MÉDICO E DA
SAÚDE (2021), promovido pela Escola Superior da Advocacia da OAB Bahia. A presente versão encontra-se
atualizada e com modificações.
2
Advogado OAB/RS nº 106.774. Professor. Pós-graduado em Direito Médico e da Saúde pela Faculdade
CERS. Presidente da Comissão da Saúde da OAB/RS, Subseção de Canoas. Vice-Presidente Interino da
Comissão Especial da Saúde da OAB/RS. E-mail: luclazzaretti@gmail.com.
120
3
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Agravo Interno no Agravo em Recurso Especial
n. 1.442.296/SP. Relatoria: Ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Julgado em: Brasília, 23 mar. 2020.
Publicado em: Brasília, 25 mar. 2020; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Agravo
Regimental no Agravo em Recurso Especial n. 708.082/DF. Relatoria: Ministro João Otávio de Noronha.
Julgado em: Brasília, 16 fev. 2016. Publicado em: Brasília, 26 fev. 2016; BRASIL. Superior Tribunal de
Justiça. Terceira Turma. Agravo Interno no Recurso Especial n. 1.929.629/RS, Relatoria: Ministro Moura
Ribeiro. Julgado em: Brasília, 25 maio 2021. Publicado em: Brasília, 28 maio 2021.
4
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Primeira Seção. Súmula n. 102. Julgado em: Brasília, 17 maio 1994.
Publicado em: Brasília, 26 maio 1994.
5
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. Agravo Interno no Recurso Especial n.
1.682.692/RO. Relatoria: Ministra Maria Izabel Gallotti. Julgado em: Brasília, 21 nov. 2019. Publicado em:
Brasília, 06 dez. 2019.
6
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. Recurso Especial n. 1.733.013/PR. Relatoria: Ministro
Luis Felipe Salomão. Julgado em: Brasília, 10 dez. 2019. Publicado em: Brasília, 20 fev. 2020.
121
7
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Decisão Monocrática. Agravo Interno no Recurso Especial n.
1.829.583/SP. Relatoria: Ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Julgado em: Brasília, 22 jun. 2020. Publicado
em: 26 jun. 2020.
8
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. Recurso Especial n. 1.733.013/PR. Relatoria: Ministro
Luis Felipe Salomão. Julgado em: Brasília, 10 dez. 2019. Publicado em: Brasília, 20 fev. 2020.
123
Para que existe precedente não basta apenas um enunciado acerca de questão
jurídica, mas é imprescindível que este enunciado tenha sido elaborado em
respeito à adequada participação em contraditório dos litigantes e, assim, tenha
surgido como um resultado do processo judicial, ou melhor, como um verdadeiro
resultado do debate entre as partes. É certo que se poderia dizer que o enunciado
da súmula provém das decisões judiciais, fruto da participação em contraditório.
Acontece que a súmula, só por isso, é diferente, carecendo de igual legitimidade,
ao menos quando se pensa na sua observância obrigatória ou na sua incidência
sobre a esfera jurídica de outros jurisdicionados.
Tal dissonância entre as turmas acarreta insegurança jurídica, pois o destino dos
casos, no momento, é questão de sorte(io). A Corte se afasta de sua função de Corte de
Precedentes, que é a de dar unidade ao Direito mediante a formação de precedentes e o
subsequente respeito ao precedente formado.
Devido a divergência entre a Turmas de Direito Privado do STJ, a Terceira Turma
afetou o Recurso Especial n. 1.867.027/RJ9 e a discussão foi levada à Segunda Seção do
Tribunal, colegiado que reúne os ministros dessas duas turmas e uniformiza as teses de
Direito Privado. A título elucidativo, o procedimento de afetação de um recurso à Seção
ocorre quando há posições diferentes sobre um mesmo assunto. O julgamento, que estava
previsto para o dia 28 de abril de 2021, foi retirado de pauta, devido ao falecimento da
recorrida e, posteriormente, realizado acordo entre as partes, tendo o caso transitado em
julgado em 20 de maio de 2021, sem ter firmado, definitivamente, entendimento uníssono
do STJ em relação ao caráter exemplificativo ou taxativo do rol de procedimentos da ANS.
Contudo, o STJ retornou o julgamento da questão através dos Embargos de
Divergência em Recurso Especial n. 1.886.929/SP10 e 1.889.704/SP,11 o qual ainda pende
de conclusão. Neste sentido, conforme o deslinde da resolução dos referidos casos, o
entendimento do STJ será no sentido do Rol da ANS ser considerado híbrido, ou seja, uma
proposta intermediária.
Assim, diante de casos específicos, o Rol poderá ser considerado exemplificativo,
todavia, em grande parte das discussões que envolvam o presente tema, o caráter da lista
exarada pela ANS deverá ser taxativo.
3 CONCLUSÃO
9
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 1.867.027/RJ. Relatoria: Ministra Nancy
Andrighi.
10
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Decisão Monocrática. Embargos de Divergência em Recurso
Especial n. 1.886.929/SP. Relatoria: Ministro Luis Felipe Salomão.
11
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Decisão Monocrática. Embargos de Divergência em Recurso
Especial n. 1.889.704/SP. Relatoria: Ministro Luis Felipe Salomão.
124
REFERÊNCIAS
BUZZI, Marco Aurélio. A mediação como solução à excessiva judicialização da saúde. In:
JOSÉ CECHIN, Judicialização de planos de saúde: conceitos, disputas e consequências.
Palmas: Esmat, 2020.
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011.
MELLO, Marco Aurélio. Análise jurídica do setor de saúde suplementar. In: JOSÉ
CECHIN, Judicialização de planos de saúde: conceitos, disputas e consequências. Palmas:
Esmat, 2020.
125
Resumo: Este artigo se propõe a estudar a politização da pandemia e como ela pode enviesar
o pensamento e manejo da crise sanitária. O estado democrático de direito hoje mais
considerado estado sanitário de direito repercute no acesso à saúde. Ressignificar o Direito
da Saúde integrando todas as disciplinas nesse tema contemporâneo transversal é desafiador.
A jurisdição e gestão tripartite em saúde torna complexo não politizar, razão pela qual driblar
a ideologia partidária e a judicialização é sintoma de desenvolvimento sustentável que exige
o holismo nesse aqui e agora.
1 INTRODUÇÃO
1
Advogada, especialista em processos civil, pós graduada em.psicologia forense básica e avançada, Presidente
da Comissão Especial da Saúde da OABRS e moderadora do Grupo de Estudo de Direito à Saúde na ESARS,
OABRS 53.106, e-mail: marianainternet@gmail.com
126
2 DA SECULARIZAÇÃO
3 O FENÔMENO DA PÓS-VERDADE
A secularização traz a raiz ambígua do tempo vista sob a ótica da teologia, sociologia
e psicanálise. Assim, a ciência política transcende e desencadeia na revisão dos conceitos de
política, soberania, povo, estado-nação e ganha um significado de nova constelação política.
Essa instância transcendente desmascara a ordem liberal e descreve a pós verdade que
modela a opinião pública, os fatos, às emoções e crenças na cultura política. A questão da
pós- verdade relaciona-se com a dimensão hermenêutica na fala de Nietzsche, admitindo-se
que “não há fatos, apenas versões”. A busca pela verdade, ressignificada. O cada novo “aqui
128
interno e externo do Brasil, no Distrito Federal, nos Estados e Municípios, que estão
“parados”, em isolamento social, salvo os serviços essenciais destacados nos vários
dispositivos normativos. Uma enxurrada de decretos, resoluções e medidas provisórias
sustentam os governos enquanto a saúde contabiliza os infectados, curados e mortos. A
economia já apresenta recessão e a segurança pública enfrenta altos índices de violência
doméstica e social, conforme declaração do chefe da ONU. António Guterres. Com a
educação em “banho maria”, as aulas online e o trabalho remoto são as únicas ferramentas
para a informação e o trabalho.
Nessa esteira, em tese, o Judiciário, com seu poder normativo e político segue
protagonizando a cena para assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, de acordo com a Constituição Federal.
reagir e controlar a crise interna, o colapso econômico não vai ceder parte da soberania
nacional em favor de instituições internacionais. É tempo de Páscoa para os cristãos, de
sacrifício. Cristo é o sacrifício da Páscoa. Páscoa significa “passar por cima”, do hebraico
passach, derivado do verbo passah, “saltar” ou “passar”. Portanto, com o signo da Páscoa
como um símbolo de paz, podemos passar por cima de algumas questões políticas e
“verdades absolutas” e admitir que o Judiciário precisa dessa automediação e autocrítica,
além dos poderes executivos e legislativo. O fortalecimento da democracia está na “UTI” e
esse caráter provisório é teleológico, sentido da praxis política e jurídica.
6 A MULTIDISCIPLINARIDADE
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
outras nações. As noções e os olhares de cada instituição pública ou privada são diferentes
e os aspectos políticos interferem em todas as áreas da nossa vida. As ontologias se
relacionam e no holismo sobre a pandemia foi rigorosamente evitado o purismo.
Sobre a virtude da palavra-chave pureza, o livro “O pequeno tratado das grandes
virtudes”, de André Comte-Sponville (2009) ensina. “A pureza não é pura”, mas a pureza
do olhar da autora sobre o tema, foi procurado ser puro no sentido de interesse político
partidário.
Por isso, encerra-se o artigo sem a pretensão sem descobrir qual a verdade por trás
de toda a repercussão política da pandemia, até porque, existem muitas verdades e não
acreditamos que alguma seja mais verdadeira do que outra. Afinal, a verdade importa?
REFERÊNCIAS
AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do estado. 41. ed. São Paulo: Globo, 2001.
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, visto por um advogado. 2. ed. Martins Fontes,
2015.
DOEHRING, Karl. Teoria geral do estado. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
REALE, Miguel. Teoria do direito e do estado. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
Melissa Daandels1
1 INTRODUÇÃO
1
Advogada. Pós-Graduada em Direito Processual Civil. Pós-Graduada em Direito Médico. MBA em Gestão
Jurídica Hospitalar e da Saúde. Certificada em Ética e Compliance pelo Hospital Albert Einstein (SP) e em Lei
Geral de Proteção de Dados e Compliance pelo Hospital Sírio Libanês (SP
2
Segundo Freeman (1994, p.4) “[...] stakeholders são indivíduos ou grupos que podem influenciar ou serem
influenciados pelas ações, decisões, políticas, práticas ou objetivos da organização”. De um modo geral, são
os atores que fazem parte da cadeia do setor da saúde, sofrendo influência e/ou influenciando as organizações,
com diferentes interesses e objetivos, como, por exemplo, pacientes, profissionais da saúde, operadoras de
planos de saúde, entre outros inseridos nesta cadeia.
134
quais se relacionam entre si por meio de parcerias com o intuito de disseminar conhecimento
e adotar novas técnicas assistenciais necessárias à assistência ao paciente.
Segundo Jonsen (2012), os médicos e os pacientes também estão sujeitos a diferentes
influências dos padrões da comunidade e dos profissionais, das normas legais, das políticas
governamentais e institucionais acerca do financiamento e acesso à saúde, dos métodos
computadorizados de armazenamento e recuperação de informações médicas, da relação
entre pesquisa e prática, bem como de outros fatores. Da mesma forma, a relação entre o
paciente e o médico é cercada pela família e pelos amigos do paciente, outros profissionais
da saúde, figurando o ambiente hospitalar como instituição.
Nesse ecossistema da saúde, as interações entre os diversos profissionais da saúde e
empresas do setor, à medida em que trazem inúmeros benefícios aos pacientes,
proporcionando a oportunidade de que avanços tecnológicos, novas descobertas clínicas e
novos tratamentos possam chegar até ele de modo veloz e eficaz, podem existir nessas
relações potenciais riscos de que interesses secundários (privados) não visem à promoção da
saúde na instituição hospitalar, situação a qual denominamos de conflito de interesses.
Sobre conflitos de interesse na área da saúde, Thompson (1993) afirma que se trata
de uma “[...] situação em que o julgamento de um profissional quanto a um interesse primário
tende a ser influenciado indevidamente por um interesse secundário”. Para o autor, os
interesses primários são determinados pelos deveres inerentes à profissão médica, enquanto
os interesses secundários têm o potencial de influenciar os juízos, as ações e as opiniões dos
médicos quanto aos interesses primários em relação aos pacientes, trazendo algum benefício
ao tomador da decisão.
Conceitualmente, Diniz (2015, p. 79) pontua que
[...] o interesse é uma projeção de ânimo pessoal que qualifica objetos como
necessários e oportunos à satisfação de necessidades para o progresso material e
moral. É fato jurídico que pode compor as circunstâncias (relevantes) de negócios,
assim como pode integrar a própria manifestação da vontade, produzindo efeitos
jurídicos que perpassam a validade e a eficácia e podem passar ao campo do ilícito.
desnecessário um real comprometimento dos interesses primários para que exista, bastando
que sua possibilidade esteja presente.
Nesse sentido, diferentes perspectivas entre os atores nas relações em saúde podem
levar a distintas facetas de conflitos, com importantes consequências para as organizações e
suas diferentes partes interessadas, especialmente quando se tratam de relações terapêuticas
que normalmente unem o médico e o paciente no ambiente hospitalar , haja vista que uma
eventual colisão faz com que se instaure um bloqueio no processo de tomada de decisão e
ação, que é intrínseco ao cuidado clínico, podendo, inclusive, comprometer a relação
médico-paciente.
No entanto, sinala-se que os interesses secundários nem sempre são, por si só,
negativos. Podem ser legítimos, razoáveis, valiosos e até desejáveis. Nesses casos, Jonsen
(2012, p. 167) sustenta que, se um conflito de interesses em potencial não resultar em
tratamento terapêutico injusto, “[...] não houve nenhuma violação ética”. Contudo, quando
dominam e indevidamente influenciam, distorcem ou corrompem a integridade do
julgamento médico em relação à conduta terapêutica a ser adotada para o paciente, os
interesses secundários acabam gerando o conflito de interesses.
Efetivamente, os princípios e valores estabelecidos pelas organizações são de grande
importância para a construção de uma cultura ética no ambiente hospitalar, na medida em
que influenciam o comportamento e a tomada de decisão de seus colaboradores. Como são
construídos em função do ambiente, acabam definindo os comportamentos esperados dos
colaboradores e defendidos pela organização hospitalar, especialmente pautando a forma
como a maioria deles irá se posicionar frente às decisões a serem tomadas.
Por essas razões e, considerando-se que no ambiente hospitalar estão presentes todos
os atores do sistema de saúde, cujo relacionamento é importante e necessário para a
disseminação do conhecimento a adoção de novas técnicas e avanços tecnológicos para a
promoção da saúde - ao passo que dependem de diversas e complexas contratações entre
estes -, é neste ambiente que se faz necessária a definição e disseminação de regras e limites
éticos para que estes relacionamentos aconteçam, bem como a criação de mecanismos de
controle para o monitoramento e detecção de eventuais desvios, decorrentes de potenciais
conflitos de interesses.
Para tanto, a implementação de uma cultura ética pela própria instituição de saúde a
toda a cadeia de saúde, inclusive terceiros, é fundamental para que os profissionais da saúde
possam identificar situações de conflitos de interesses dentro dos hospitais e adotar a
137
permitem a ciência pela instituição dos potenciais conflitos existentes e a atuação direta em
controles específicos que mitiguem os riscos ou impeçam a sua materialização.
Com efeito, em meio à multiplicidade de proposições para lidar com os conflitos de
interesse, o instrumento importante e efetivo, segundo Schneider, Lingner e Schwartz
(2007), é a implementação de programas de compliance nas instituições de saúde, com o
escopo de assegurar a transparência da melhor forma possível, revelando as relações entre
todos os players não somente na divulgação dos resultados, mas já na inclusão dos sujeitos.
Nessa linha evolutiva, sustenta Diniz (2019) que os programas de compliance podem
ser entendidos como um programa organizado para incrementar a gestão organizacional e a
capacidade regulatória para prevenção de infrações econômicas e controles de riscos morais,
como um novo modelo de cumprimento de normas de gestão que oferece novas perspectivas
de método para a revisão das teses tradicionais sobre a performance institucional e o lugar
do comportamento ético na empresa.
Objetivamente, pode-se verificar o impacto significante que as medidas de
governança e integridade tem na mudança do comportamento ético, na medida em que os
critérios objetivos de disclosure (revelação), após mensurados e ranqueados, geram valor
agregado ao comportamento com determinadas empresas, estimulando a declaração das
melhores práticas, oportunizando às empresas a tomar decisões concretas e efetivas em
termos de compliance, integridade e liderança.
Isso permite que a instituição de saúde atue com programas de compliance
específicos na mitigação de riscos de conflitos de interesses e, notadamente, para que essas
relações entre todos os stakeholders possam ocorrer de modo íntegro, transparente e com
interesses genuínos, gerando, efetivamente, benefícios aos pacientes.
Nesse cenário, a liderança da instituição hospitalar tem um papel fundamental
perante a sua equipe, direcionando-a ao comportamento ético e transparente por meio do
mapeamento de riscos, auxiliando na identificação de pontos de melhoria em seus processos
e desestimulando a recorrência da prática de atos desonestos, além de ser exemplo pelas suas
atitudes no dia a dia. Afinal, alguns conflitos de interesses, segundo Jonsen (2012), podem
ser eliminados pela legislação; outros podem e devem ser desencorajados pela instituição
hospitalar.
Sincronicamente, ações de treinamento e comunicação podem e devem ser efetivadas
nesses ambientes, com o intuito de que os profissionais da saúde conheçam os possíveis
riscos e conflitos de interesses materializados, oportunizando aos mesmos a identificação
139
destas situações de riscos em suas atividades diárias, de modo que saibam como agir e tomar
a decisão em caso de ocorrência de um conflito de interesse. A transparência assume um
papel de excelência nesses casos, juntamente com a ética e a integridade.
Dilemas éticos fazem parte do dia a dia dos serviços de saúde, não havendo uma
única solução capaz de impedir as distorções construídas ao longo das últimas décadas,
sendo necessário compreender todo esse panorama e implementar boas práticas de gestão
por meio de um modelo sustentável baseado em diretrizes estratégicas e alinhadas ao plano
de negócios, com o objetivo de potencializar e agregar o valor da empresa.
Para que se tenha êxito na implementação da cultura do compliance, esclarece Porto
(2020, p.64) “ é indissociável a identificação de uma ética que seja compreendida por todos,
mas, sobretudo, que apresente a missão daquela instituição, que é como ela se posicionará
no mercado”.
Programas de compliance, portanto, se bem estruturados e geridos por meio de seus
pilares estabelecidos, são uma ferramenta de monitoramento e controle para garantir um
ambiente mais seguro e justo para a assistência ao paciente, evitando perdas e danos e
contribuindo para o aumento da confiabilidade e a valorização das organizações prestadoras
de serviços de saúde. Por isso, salienta Fragoso (2017), investir em práticas de compliance
tem se mostrado um caminho sem volta para a longevidade dos negócios.
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
DINIZ, Gustavo Saad. Conflitos de interesses na sociedade anônima. In: COELHO, Fábio
Ulhôa. Tratado de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2015.
FRAGOSO, Ronaldo Perez. O real valor dos investimentos na busca por transparência. In:
BRANDÃO, Carlos Eduardo Lessa; FONTES FILHO, Joaquim Rubens; MURITIBA,
141
JONSEN, Albert R.; SIEGLER, Mark; WINSLADE, William J. Ética clínica: abordagem
prática para decisões éticas na medicina clínica. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
Resumo: Este artigo analisa a questão da constitucionalidade das normas que impõem a
obrigatoriedade de vacinação em emergências de saúde pública em âmbito nacional. O
presente estudo busca fazer uma breve análise passando por questões históricas, doutrinárias
e jurisprudenciais a respeito da constitucionalidade das normas que impõe a obrigatoriedade
da vacinação sob a ótica da colisão entre estas diferentes normas e a Constituição Federal.
Nesse estudo exploratório de revisão bibliográfica e jurisprudencial realizaremos uma
síntese das teorias doutrinárias aplicadas nas decisões judiciais partindo de uma perspectiva
histórica até chegar as decisões mais recentes proferidas pelo Supremo Tribunal Federal.
1 INTRUDUÇÃO
1
Advogado, Mestre em Desenvolvimento, Inovação e Mudança pela Università di Bologna, Especialista em
Gestão de Projetos de Investimentos em Saúde pela ENSP/Fiocruz. Premiado com Menção Honrosa pelo
Ministério da Saúde e agraciado com Voto de Louvor pelo Conselho Federal da OAB E-mail:
roberto.saraiva@rvssadvocacia.com
2
Advogada, Mestre em Direitos Humanos pela UniRitter Laureate International Universities, Especialista em
Ciências Penais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Docente no Curso de Especialização em Direito
das Famílias na Contemporaneidade da Universidade de Caxias do Sul – UCS. E-mail: alieggers@gmail.com
143
diferentes interpretações com relação ao método correto de solução para estas aparentes
antinomias alguns operadores do direito apontaram a hierarquia entre as diferentes normas
como o método adequado.
Os ilustres mestres referidos fazem também uma importante reflexão com a respeito
do da relação direito-dever e a responsabilidade do estado e dos indivíduos particulares para
com o direito à saúde dos demais destinatários do direito assegurado pelo texto
constitucional. Dizem os professores4:
3
SARLET, Ingo Wolfgang; FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES,
Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2.
ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 3.549-3.555.
4
SARLET, Ingo Wolfgang; FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES,
Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2.
ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 3.549-3.555.
144
5
BARBOSA, Plácido. Os serviços de saúde pública no Brasil: especialmente na cidade do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909, v. 1. (Esboço histórico).
145
No início do século 17, a varíola era uma das doenças transmissíveis mais temíveis
no mundo, atingindo, até a juventude, a maioria das pessoas e representando uma
alta taxa de mortalidade. Lady Mary Montagu, esposa do embaixador inglês em
Istambul, observou que a doença poderia ser evitada através de uma técnica
utilizada pelos muçulmanos, com a introdução, na pele de indivíduos sadios, de
líquido extraído de crostas de varíola de um paciente infectado. Esse processo,
conhecido por "variolação", provavelmente teve origem na China e foi levado à
Europa Ocidental, onde, embora tenha provocado vários casos de morte por
varíola, foi utilizado na Inglaterra e nos EUA até surgirem as primeiras
investigações do médico inglês Edward Jenner, publicadas no trabalho Variolae
Vaccinae, em 1798. Jenner estudou camponeses que desenvolviam uma condição
benigna conhecida por vaccinia, devido ao contato com vacas infectadas por
varíola bovina (cowpox), desenvolvendo as primeiras técnicas de imunização.
No Brasil, o uso de vacina contra a varíola foi declarado obrigatório para crianças
em 1837 e para adultos em 1846. Mas essa resolução não era cumprida, até porque
a produção da vacina em escala industrial no Rio só começou em 1884. Então, em
junho de 1904, Oswaldo Cruz motivou o governo a enviar ao Congresso um
projeto para reinstaurar a obrigatoriedade da vacinação em todo o território
nacional. Apenas os indivíduos que comprovassem ser vacinados conseguiriam ter
contratos de trabalho, matrículas em escolas, autorização para viagens, além de
outras dificuldades.
Desse modo, podemos verificar que é uma prática normativa adotada há séculos pelo
governo brasileiro a imposição da obrigatoriedade de vacinação associada a severas
restrições a quem se recusa a cumprir as normas referidas. Entretanto, cabe verificar se está
prática tradicional encontra guarida nos fundamentos do Estado Democrático de Direito
atual e na Constituição Federal de 1988.
6
FEIJÓ, Ricardo Becker; SÁFADI, Marco Aurélio P. Imunizações: três séculos de uma história de sucessos e
constantes desafios. Jornal de Pediatria, v. 82, n. 3 (supl.), p. s1-s3, 2006. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0021-75572006000400001. Acesso em: 24 out. 2021.
7
ROTELI-MARTINS, Cecilia Maria; TEIXEIRA, Júlio César. Vacinação compulsória: o limite entre o
público e o privado. Femina, São Paulo, v.48, n. 12, p. 715-716, 2020.
146
O ponto decisivo na distinção entre regras e princípios é que princípios são normas
que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das
possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Princípios são, por conseguinte,
mandamentos de otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos
em graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não
depende somente das possibilidades fálicas, mas também das possibilidades
jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e
regras colidentes. (...) Já as regras são normas que são sempre ou satisfeitas ou não
satisfeitas. Se uma regra vale, então, deve se fazer exatamente aquilo que ela exige;
nem mais, nem menos. Regras contêm, portanto, determinações no âmbito daquilo
que é fálica e juridicamente possível. Isso significa que a distinção entre regras e
princípios é uma distinção qualitativa, e não uma distinção de grau. Toda norma é
ou uma regra ou um princípio.
8
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. 5. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008.
9
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. 5. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008.
147
Outro ponto importante nas lições de Alexy10 diz respeito a natureza individual ou
coletiva dos direitos assegurados por princípios. Diz o autor:
Finalmente o autor11 apresenta uma solução para a colisão entre uma norma de direito
fundamental com caráter de princípio com um princípio antagônico:
Já se deu a entender que há uma conexão entre a teoria dos princípios e a máxima
da proporcionalidade. Essa conexão não poderia ser mais estreita: a natureza dos
princípios implica a máxima da proporcionalidade, e essa implica aquela. Afirmar
que a natureza dos princípios implica a máxima da proporcionalidade significa que
a proporcionalidade, com suas três máximas parciais" da adequação, da
necessidade (mandamento do meio menos gravoso) e da proporcionalidade em
sentido estrito (mandamento do sopesamento propriamente dito), decorre
logicamente da natureza dos princípios, ou seja, que a proporcionalidade é
deduzível dessa natureza. (...) Princípios são mandamentos de otimização em face
das possibilidades jurídicas e fálicas. A máxima da proporcionalidade em sentido
estrito, ou seja, exigência de sopesamento, decorre da relativização em face das
possibilidades jurídicas. Quando uma norma de direito fundamental com caráter
de princípio colide com um princípio antagônico, a possibilidade jurídica para a
realização dessa norma depende do princípio antagônico. Para se chegar a uma
decisão é necessário um sopesamento nos termos da lei de colisão. Visto que a
aplicação de princípios válidos - caso sejam aplicáveis - é obrigatória, e visto que
para essa aplicação, nos casos de colisão, é necessário um sopesamento, o caráter
principiológico das normas de direito fundamental implica a necessidade de um
sopesamento quando elas colidem com princípios antagônicos. Isso significa, por
sua vez, que a máxima da proporcionalidade em sentido estrito é deduzível do
caráter princípio lógico das normas de direitos fundamentais. A máxima da
proporcionalidade em sentido estrito decorre do fato de princípios serem
mandamentos de otimização em face das possibilidades jurídicas. Já as máximas
da necessidade e da adequação decorrem da natureza dos princípios como
mandamentos de otimização em face das possibilidades fáticas.
10
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. 5. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008.
11
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. 5. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008.
148
É relevante anotar ainda, que em casos de colisão entre princípios que sustentem
interesses coletivos com outros princípios que assegurem direitos individuais, exige-se a
criação ou a manutenção de situações que os satisfaçam, na maior medida possível, a
prevalência dos interesses coletivos sobre a satisfação de direitos individuais.
12
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenário. Recurso Extraordinário com Agravo n. 1.267.879/SP.
Relatoria: Ministro Roberto Barroso. Julgado em: Brasília, 17 dez. 2020. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755520674. Acesso em: 20 out. 2021.
13
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenário. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6.586/DF.
Relatoria: Ministro Ricardo Lewandowski. Julgado em: Brasília, 17 dez. 2020. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755517337. Acesso em: 20 out. 2020.
149
Por sua vez o Ministro Gilmar Mendes apontou no voto conjunto proferido nas ADIs
6.58614 E 6.58715 que:
14
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenário. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6.586/DF.
Relatoria: Ministro Ricardo Lewandowski. Julgado em: Brasília, 17 dez. 2020. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755517337. Acesso em: 20 out. 2020.
15
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenário. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6.587/DF.
Relatoria: Ministro Ricardo Lewandowski. Julgado em: 17 dez. 2020. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755517731. Acesso em: 20 out. 2021.
150
protegidas, mas insistiu que o Estado tinha amplos poderes para invadir essa esfera
quando “a segurança do público em geral assim o exigisse” (traduções livres).
16
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenário. Recurso Extraordinário com Agravo n. 1.267.879/SP.
Relatoria: Ministro Roberto Barroso. Julgado em: Brasília, 17 dez. 2020. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755520674. Acesso em: 20 out. 2021.
151
mesmo que incapazes e que ao recusar a vacinação com base na inviolabilidade da sua
integridade física pessoal, o indivíduo estará sujeito à restrição de outros direitos, inclusive
direitos fundamentais.
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva.
5. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755517731.
Acesso em: 20 out. 2021.
FEIJÓ, Ricardo Becker; SÁFADI, Marco Aurélio P. Imunizações: três séculos de uma
história de sucessos e constantes desafios. Jornal de Pediatria, v. 82, n. 3 (supl.), p. s1-s3,
2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0021-75572006000400001. Acesso em: 24
out. 2021.
POSFÁCIO
Deixar de assim agir, mesmo que, em nome da saúde, seria esquecer sua exclusiva e singular
função perante a sociedade. O Direito da Saúde somente se reafirmará no momento em que,
até mesmo na excepcionalidade de tempos pandêmicos, mesmo que soe tautológico, se
(re)configure como um DIREITO da Saúde.
Germano Schwartz
OAB/RS 39021