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Roberta Schaun
Fabrizio Bon Vecchio
André Machado Maya
Francis Rafael Beck
Alexandre Torres Petry
Organizadores
Roberta Schaun – Presidente da Comissão de Compliance da OAB/RS
Fabrizio Bon Vecchio – Vice-Presidente da Comissão de Compliance da OAB/RS
André Machado Maya – Membro da Comissão de Compliance da OAB/RS
Francis Rafael Beck – Membro da Comissão de Compliance da OAB/RS
Alexandre Torres Petry – Diretor de E-books e da Revista Eletrônica da ESA/RS
Revisora
Dieniffer de Souza Silva Lemes
C735
Compliance, Governança Corporativa e ESG: perspectivas e desafios
[recurso eletrônico]. / Roberta Schaun, Fabrizio Bon Vecchio, André
Machado Maya. et al. (Org). – Porto Alegre, OABRS, 2023. p. 173.
ISBN: 978-65-88371-26-8
1. Compliance 2. Corporativa. Schaun, Roberta. II. Bom Vecchio,
Fabrizio. III. Título
CDU 35.073
DIRETORIA/GESTÃO 2022/2025
CONSELHO PEDAGÓGICO
CORREGEDORIA
OABPrev
COOABCred-RS
APRESENTAÇÃO
Foi uma grande alegria receber o convite para a apresentação desta obra. Em especial, porque
ela é iniciativa da Comissão de Compliance, de cuja criação, no âmbito da OAB-RS fui
responsável, juntamente com o colega Marcos Eberhardt, e que contou com o apoio
incondicional do nosso ex-Presidente Ricardo Breier. Fiquei à frente dessa comissão nos
dois mandatos do Presidente Breier (2017-2022) e fico feliz e muito orgulhoso de ter
participado de todo o processo histórico de criação desta inovadora comissão, bem como de
todos os projetos que ali foram feitos. Importante ressaltar o pioneirismo da iniciativa: hoje,
parece claro e óbvia a necessidade de uma comissão dessa temática, mas, na primeira gestão,
quando se discutia o tema, a comissão teve de ser intitulada Comissão de Prevenção à
Corrupção, porque ainda não havia tradição a esse respeito no sistema OAB, nem se entendia
ainda muito bem ainda o termo compliance. Foi somente, na segunda gestão do Presidente
Breier que foi possível nomearmos a comissão com o nome que leva hoje, Comissão de
Compliance e, somente no início deste ano, a Comissão de Compliance do Conselho Federal,
da qual também faço parte, iniciou um processo de uniformização da temática em nível
nacional, o que demonstra também a importância do trabalho realizado.
No marco desse trabalho, foi-me confiado pelo ex-Presidente Breier também a função de
criar uma comissão para tratar dos temas de privacidade e proteção de dados. Foi, então, que,
a partir da Comissão de Compliance, foi criada a Comissão de Privacidade e Proteção de
Dados da OAB/RS, cujo primeiro presidente, foi escolhido dentre um dos membros da
Comissão de Compliance, o colega Andre Pontin. Ele assumiu essa tarefa e o trabalhos das
comissões sempre foi desenvolvido de maneira integrada, tendo em vista que Compliance e
Proteção de Dados devem ser pensados de maneira alinhada e conjunta. Por tudo isso, ser
lembrado para participar dessa iniciativa, demonstra toda a grandeza da nova gestão também
e reconhecer o legado e a importância dos projetos realizados. Nesse sentido, agradeço à
Presidente e a nova diretoria pela lembrança e pelo convite, que muito me honra.
Outra grande razão de alegria, é o que a responsável pelo convite foi própria Presidente atual
da Comissão, a colega Roberta Schaun, que conheci ainda quando era professor da PUCRS
na faculdade de direito. Ela foi aluna de uma das primeiras turmas nas quais lecionei nessa
instituição e é uma alegria vê-la brilhando a frente da Comissão de Compliance da OAB/RS.
O presente trabalho é prova da sua capacidade incrível de mobilização e de liderança e, nesse
sentido, parabenizo-a pela organização da obra e aproveito para estender as congratulações
aos demais organizadores da obra, os colegas Fabrizio Bon Vecchio, André Machado Maya,
Francis Rafael Beck e Alexandre Torres Petry pelo excelente trabalho realizado.
A obra traz a lume textos sobre os três eixos de debate mais relevantes da área de na
atualidade: Governança Corporativa e ESG, Sistema de Gestão de Compliance e Proteção
de Dados, que têm tido uma importância tão grande no cenário internacional, que muitos
autores, autoridades e organismos internacionais já os estão considerando parte de uma
mudança de paradigma no capitalismo contemporâneo, o Capitalismo Stakeholder1. Nesse
1
Ver, a esse respeito: Saavedra, Giovani. Compliance. São Paulo: Thompson Reuters, 2022, cap. 1; Saavedra,
Giovani. Capitalismo Stakeholder e a ética de mercado: ESG como forma de concretização dos direitos
8
sentido, são novas diretrizes organizacionais que têm raiz muito mais profunda do que a sua
exteriorização prática na forma de técnica de gestão ou de uma mera definição de políticas.
Elas fazem parte de um processo muito mais amplo de repensar a maneira como se faz
negócios: ficam para trás as formas de gestão focadas no curto prazo e passa-se a pensar no
desenvolvimento a longo prazo.
A palavra que une os três temas, portanto, é sustentabilidade. E é sob essa ótica, que o livro
deve ser lido, tanto a parte reservada aos temas de Governança, quanto aos de Compliance,
de ESG e de Proteção de dados, dado que eles visam incorporar o raciocínio de ética e
proteção aos direitos fundamentais e humanos no âmbito organizacional e de negócios e
representam a consolidação de um progresso moral civilizacional, que é incorporado pelo
mercado.
Se, por um lado, porém, o lado positivo de todo esse processo é indiscutível, os desafios são
vários: como gerenciar riscos da cadeia de terceiros? Como conciliar as diversas diretrizes e
normas internacionais sobre os temas? Como lidar com a pluralidade de fontes de obrigações
de compliance? Como conciliar as diretrizes de ESG e Direitos Humanos com a legislação
trabalhista pátria? Esses são temas complexos que merecem uma abordagem que concilia os
estudo acadêmico com uma análise das práticas de mercado. A presente obra tem o mérito
de enfrentar esses desafios ao longo de suas páginas.
Mas, para além disso, o presente livro tem o mérito também de enfrentar os reflexos desses
temas também para a advocacia. E essa é a principal função da OAB, capacitar a advocacia,
dando elementos para que os(as) advogados(as) possam prestar o serviço essencial à justiça,
que é a advocacia, de maneira sempre mais qualificada e com a excelência que dela se espera.
A presente obra, portanto, contribui a um só tempo para o desenvolvimento do debate e, mas
também traz para o profissional iniciante nesse mercado, a possibilidade de a ampliar seus
conhecimentos sobre o tema, bem como para a difusão da Integridade nos negócios
brasileiros.
E, por isso, é uma obra que vale a pena ser lida! Ficam aqui os votos de sucesso, a todos(as)
organizadores(as) e autores(as) do livro.
humanos/fundamentais. In: Nascimento, Juliana. Esg - O Cisne Verde e o Capitalismo de Stakeholder. São
Paulo: Thompson Reuteres, 2023.
9
PREFÁCIO
Cara leitora,
Caro leitor,
É com grande satisfação que a Comissão de Compliance da OAB/RS apresenta a você este
e-book abrangente sobre Compliance, Governança Corporativa e ESG. Em um contexto
global cada vez mais complexo e interconectado, as organizações estão sendo desafiadas a
repensar suas abordagens tradicionais e adotar práticas responsáveis e sustentáveis que
impulsionem o crescimento a longo prazo, alinhando o sucesso dos negócios com o bem-
estar da sociedade e a preservação do meio ambiente.
A tríade Compliance, Governança Corporativa e ESG emergiu como um conjunto de
princípios e diretrizes que transcendem as fronteiras dos setores econômicos e geopolíticos,
estabelecendo-se como pilares fundamentais para as empresas que desejam prosperar em um
mundo em constante mudança. A integridade, transparência e responsabilidade são valores
essenciais que permeiam a essência dessas disciplinas e sustentam a confiança dos
stakeholders, sejam eles investidores, colaboradores, clientes ou a sociedade como um todo.
Neste e-book, convidamos você a explorar as diferentes dimensões e facetas desses temas
cruciais. Ao longo das páginas que se seguem, você encontrará insights valiosos e
orientações para implementar essas práticas em sua própria organização. Nosso objetivo é
fornecer uma base sólida de conhecimento para que você possa compreender o contexto
atual e, assim, contribuir para um futuro mais justo, resiliente e sustentável.
A jornada rumo à sustentabilidade corporativa não é uma tarefa fácil, mas é uma jornada que
deve ser abraçada com determinação e comprometimento. Juntos, podemos moldar um
mundo de negócios mais ético e responsável, onde o sucesso econômico ande de mãos dadas
com o bem-estar das pessoas e a proteção do nosso planeta.
Com este projeto pronto, é necessário o agradecimento à Escola Superior da Advocacia, que
fazemos na pessoa do Dr. Alexandre Petry, Diretor de E-books e da Revista Eletrônica da
ESA/RS. A CECOM (Comissão de Compliance da OAB/RS) agradece a paciência e
generosidade do Dr. Alexandre. Sua orientação e apoio foram fundamentais para a
concretização deste projeto, permitindo-nos alcançar um nível de excelência que não seria
possível sem sua participação e visão inspiradora. Suas contribuições enriqueceram cada
página deste e-book, e somos imensamente gratos por tê-lo como parceiro nessa jornada.
Que sua dedicação ao trabalho de Ordem e expertise na área acadêmica continuem a
impulsionar o trabalho da Escola Superior da Advocacia. Seu comprometimento é uma fonte
de inspiração para todos nós, e estamos honrados por termos aprendido com alguém tão
respeitado e admirado em sua área de atuação.
Também não podemos deixar de expressar nossa profunda gratidão ao Presidente da
OAB/RS, Dr. Leonardo Lamachia, que tem liderado a OAB com maestria e dedicação
incomparáveis. Seu apoio incondicional aos projetos da CECOM foi fundamental para o
sucesso deste e-book. Seu compromisso com a excelência profissional tem sido uma
10
inspiração para todos nós. Agradecemos sinceramente pela confiança e pelo contínuo
suporte, e estamos honrados por trabalhar em colaboração com uma liderança tão exemplar.
Sua dedicação ao avanço da advocacia e ao fortalecimento da instituição é verdadeiramente
notável.
Gostaríamos, ainda, de expressar nossa profunda gratidão aos autores que generosamente
contribuíram com seus textos para este e-book. Em especial, queremos agradecer aos autores
que fazem parte da Comissão Especial de Compliance, cujo conhecimento e experiência
foram essenciais para enriquecer as páginas deste trabalho. Suas contribuições substanciais
e perspicazes permitiram que explorássemos diversos aspectos do compliance de forma
abrangente e atualizada. Estamos imensamente gratos pela dedicação e pela qualidade dos
textos que compartilharam conosco. Sua participação é um reflexo do comprometimento da
Comissão Especial de Compliance em promover boas práticas e disseminar conhecimento
na área. Muito obrigada a todos os autores pelo valioso e significativo trabalho que
realizaram.
Por fim, mas não menos importante, gostaríamos de estender nossos sinceros
agradecimentos a você, cara leitora/caro leitor. Sem sua curiosidade, interesse e dedicação
em explorar este e-book sobre Compliance, Governança Corporativa e ESG, nosso esforço
em compartilhar conhecimento e promover práticas responsáveis no mundo dos negócios
não teria sentido. Esperamos que este conteúdo seja enriquecedor e inspirador para você,
assim como foi para nós ao criar este material.
À medida que seguimos adiante nesta jornada rumo à sustentabilidade corporativa, contamos
com você para levar esses princípios e diretrizes para suas organizações, compartilhar com
seus colegas e colaborar para um futuro mais ético e consciente. Juntos, podemos moldar
uma realidade empresarial que contribua para o bem-estar de todos e a preservação de nosso
planeta.
Agradecemos por nos acompanhar nesta trajetória e esperamos que este e-book possa ser um
guia valioso para suas iniciativas e práticas. Que nossos esforços conjuntos tragam impactos
positivos e duradouros para a sociedade e o meio ambiente.
Boa leitura e muito obrigada.
Roberta Schaun
Presidente da Comissão de Compliance da OAB/RS
11
INTRODUÇÃO
As alterações legislativas de 2017 permitiram a terceirização da prestação de serviços
nas empresas, inclusive das suas atividades fim. Essa possibilidade legislativa não desonerou
as partes do cumprimento das legislações trabalhistas, nem de outras regras previstas no
ordenamento jurídico.
2
Advogada inscrita na OAB/RS sob o nº 98.818. Especialista em Direito Civil e Processual Civil. MBA em
Auditoria e Compliance. Graduada em Direito. Membro das Comissões Especiais de Privacidade e Proteção
de Dados e de Compliance OAB/RS. E-mail: amandaif92@gmail.com.
3
Advogada inscrita na OAB/RS sob o nº 98.714. Especialista em Direito e Processo do Trabalho. Graduada
em Direito. E-mail: juliana-brezolin@hotmail.com.
12
Com isso, os critérios ESG ganham espaço, e procedimentos como a due diligence
se tornam protagonistas para avaliação da cadeia de suprimentos, com desenvolvimento e
avaliação de questões ambientais e sociais, que impactam em toda a sociedade. Inciativas
como a Agenda 2030 da ONU e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assim como
a criação de normas internacionais para avaliação destes indicadores se tornam cada dia mais
comuns e necessários ao mercado.
Para Corrêa e Caon a percepção do cliente quanto ao que lhe for entregue na relação
de consumo não se aprofunda às ramificações da cadeia produtiva estruturada pela empresa
e, sim, limita-se ao momento que atendido. Assim, enfatizam a necessidade da
uniformização de valores entre empresa contratante e terceirizadora de mão de obra:
A avaliação da opção pela terceirização deve ter crivo gerencial quanto à criação de
valor para a rede, além da mera alteração na apropriação do valor criado. Ou seja, para alguns
stakeholders a opção pela terceirização pauta-se na opção por uma renegociação de formas
de contratação somente, porém a opção pode ser mais produtiva, focando na busca de melhor
performance com empresas especializadas que possuam boas práticas (CORRÊA; CAON,
2012, p. 371).
Por outro lado, Child refere que entre os riscos da má administração da terceirização
de uma atividade pode ocorrer a perda de controle. Explica que “confiar nas cláusulas de
um contrato talvez não seja suficiente para garantir que a atividades terceirizada esteja sob
controle para ser realizada satisfatoriamente” (CHILD, 2012, p. 279).
A criação da imagem é uma ponte que interliga a relação com os outros. Numa cadeia
produtiva, todos os envolvidos projetam um pouco de si na concepção daquele produto que
chega à prateleira para ser adquirida pelo consumidor final. Nessa trajetória podem existir
empresas que participam e que não estão alinhadas àquilo que a organização principal deseja
transmitir ao mercado. Isso fica evidente quando avaliamos as grandes crises de imagem de
empresas que foram denunciadas por utilização de trabalho análogo ao escravo e que se
enquadram em diversos segmentos como vestuário e até mesmo vinícolas. Nenhuma delas
se utilizava diretamente desta mão de obra indecente, e todas alegaram o desconhecimento
de sua utilização, mas se aliaram a terceirização para redução de custos, sem avaliar a forma
como essas terceirizadas se comportavam.
Já no pilar social, cada empresa deve avaliar as pautas que fazem sentido para seus
objetivos e metas a serem alcançados. Incentivos a redução das desigualdades de gênero e
oportunidades para populações carentes, negras, LGBTQIA+ e de pessoas com deficiência,
benefícios ofertados aos colaboradores, impactos na comunidade inserida e principalmente
o cumprimento mínimo da legislação trabalhista, são algumas das questões a serem
avaliadas.
A governança corporativa, por sua vez, é o pilar transversal aos demais e que apoia
o desenvolvimento de toda a estrutura socioambiental organizacional. Avaliação sobre
transparência, existência de código de conduta ética, políticas anticorrupção e de integridade,
gestão de riscos, controles internos, suporte da alta administração à responsabilidade
corporativa e à equidade entre todos os stakeholders. É importante destacar que, não existe
um modelo padrão de governança corporativa, mas é certo que, quanto maior for a
instituição, mais complexa será sua estrutura e, igualmente complexa sua governança
(PORTO, 2020, p. 99).
4
Consulta pública disponível em:
<https://servicos.ibama.gov.br/ctf/publico/areasembargadas/ConsultaPublicaAreasEmbargadas.php>
18
Na tradução literal, o termo “due diligence” pode ser entendido como Diligência
Prévia. Sua origem remonta ao Decreto Americano “US Securities Act”, de 1933, que
permitiu aos intermediários de negociações a avaliação prévia de informações e documentos
dos comerciantes, para repasse de esclarecimentos aos investidores (VAZ; MORENO, 2021,
p. 632). Nesse procedimento são analisadas questões jurídicas, financeiras, contábeis,
previdenciárias e tecnológicas da empresa, com a possibilidade de critérios específicos,
conforme a necessidade e objetivo do contratante. Esse procedimento dá segurança ao
tomador de serviços, com avaliação dos riscos da contratação e a criação de eventual plano
de ação para mitigação destes. No entanto, é importante destacar que não basta a diligência
prévia. Essa avaliação da cadeia de fornecimento deve ser realizada de forma periódica, a
fim de garantir que as condições avaliadas na contratação seguem sendo cumpridas e
melhoradas.
Ademais, a recente norma publicada pela ABNT, a PR 2030, traz conceitos, diretrizes
e modelo de avalição para direcionamento das organizações em relação aos tópicos de ESG,
e em sua extensa redação cita, por diversas vezes a relação com os fornecedores, a
necessidade de fomentar a sustentabilidade na cadeia de suprimentos, a observância a outras
normas regulatórias e a realização de procedimentos de due diligence como sugestões de
19
práticas que direcionam uma empresa para desenvolvimento destes critérios e a garantia de
uma organização economicamente, socialmente e ambientalmente sustentável e responsável.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CORRÊA, Henrique L.; CAON, Mauro. Gestão de serviços: lucratividade por meio de
operações e de satisfação dos clientes. [São Paulo/SP]: Grupo GEN, 2012. E-book. ISBN
9788522479214. Disponível em:
<https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522479214/>. Acesso em: 26 fev. 2023.
DOS NETO, João A.; ANJOS, Lucas Cardoso; JUKEMURA, Pedro K.; et al. ESG
Investing: um novo paradigma de investimentos? Editora Blucher, 2022. E-book. ISBN
9786555065619. Disponível em:
<https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555065619/>.
MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho. 11ª edição. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.
VAZ, Larissa S. Mocelin; MORENO, Laura Carréa de. ESG: Panorama da Due Diligence e
M&A. In: NASCIMENTO, Juliana Oliveira (coord.). ESG O Cisne Verde e o Capitalismo
de Stakeholder. A Tríade Regenerativa do Futuro Global. São Paulo: Thomson Reuters,
2021.
22
1 INTRODUÇÃO
A proteção de dados pessoais é um dos temas centrais para se pensar as novas
configurações da sociedade contemporânea. No Brasil, isso se reforça pela entrada em vigor
da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, que se insere no contexto de uma nova geração
de investidas regulatórias ao redor do globo e passa a reorganizar o contexto dos processos
jurídicos, políticos, econômicos diante da crescente digitalização e aplicação de novas
tecnologias.
1
Advogado (OAB/SP nº 480.161). Data Protection Officer e Information Security Officer (EXIN). Mestrando
em Direito Público e Graduando em Filosofia pela UNISINOS, bolsista PROEX/CAPES, membro do Grupo
de Pesquisa Teoria do Direito (CNPq). E-mail: ariel.moura@digitalattractor.com.br.
2
Advogado (OAB/RS nº 108.164). Delegado da ESA (Escola Superior da Advocacia) da OAB/RS.
Doutorando em Direito Público (UNISINOS e Paris 1 Panthéon-Sorbonne), bolsista PROEX e PDSE CAPES,
membro do Grupo de Pesquisa Teoria do Direito (CNPq). E-mail: bernardo@digitalattractor.com.br.
3
Professor titular UNISINOS e URI. Doutor pela École des Hautes études en Sciences Sociales. Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 1D. Coordenador do Grupo de Pesquisa Teoria do Direito
(CNPq). Lattes: http://lattes.cnpq.br/3283434447576859. E-mail: leonel@unisinos.br.
23
Isso quer dizer que o direito na cultura das redes, diante das novas tecnologias e dos
correspondentes novos modos de organização das práticas sociais, não pode garantir a
eficácia do direito à proteção de dados pessoais, assim como não o pode o Estado, de modo
isolado. O princípio da accountability orienta, neste sentido, não só uma série de
mecanismos regulatórios, como acima descritos, como também representa um ponto de
observação sobre o modo de “governar” a proteção de dados pessoais.
Ademais, destaca-se que a Lei Geral de Proteção de Dados (2018) brasileira têm
sua origem em um extenso debate multissetorial (governo, academia, sociedade civil,
iniciativa privada) desde a primeira década deste século, assim como o Marco Civil da
Internet (2014). Há, nesse sentido, uma transdisciplinaridade que é inerente ao próprio
26
Isso porque na atual cultura das redes, as “forças” que orientam as transformações
sociais também dependem, não só de conhecimentos teóricos, como antes já lecionava
Daniel Bell (1976), mas também incluem uma espécie de “[...] conhecimento implícito que
é inconscientemente assimilado em contextos práticos e passado horizontalmente entre as
pessoas, e.g. programadores”.4 (VESTING, 2022, p. 185, tradução nossa)
4
“[...] implicit knowledge that is unconsciously assimilated in practical contexts and passed on horizontally
between people, e.g. programmers”.
28
No contexto brasileiro, em que ainda não se sabe sobre a regulação de esses e outros
mecanismos para transferência internacional, como as denominadas “cláusulas contratuais-
padrão” e as “normas corporativas vinculantes”, essas certificações são um bom ponto de
ancoragem para garantir que os dados estão sendo protegidos quando transferidos – ainda
mais se se pensar que boa parte das operações de tratamento de dados pessoais, hoje,
compreendem a transferência internacional, desde a contratação de serviços em nuvem até
questões mais simples relacionadas ao uso de serviços de streaming e videochamadas.
Por fim, além das normas ISO, destaca-se, ainda que existem diversos outros
frameworks que orientam a construção da governança da Tecnologia e da Informação (e.g.
COBIT 2019) e/ou da governança de dados (e.g. DAMA-DMBOK) nas organizações, sem
as quais a proteção de dados pessoais não pode ser facilmente orquestrada, ainda mais se se
pensar que eles agregam valor (econômico) aos processos de sustentação das legislações
pelo fato das empresas se reestruturarem em acordo com os novos modos de geração de lucro
na economia de dados.
Porém, as Guidelines não apenas ressaltam que o rol não é taxativo, como
recomendam que ele seja feito caso exista dúvida sobre determinada atividade de tratamento,
já que é um dos instrumentos chaves para o compliance, mas também elencam os 9 critérios
para serem levados em consideração para avaliação do “elevado risco”. Esses 9 critérios
acabam por superar o engessamento das denominadas Black and White Lists e os exemplos
dados pré-estruturam as tomadas de decisões nas organizações.
exemplos, são fases anteriores ao próprio relatório que preparam o caminho para uma
transformação da organização em diversos outros sentidos para além da proteção de dados
pessoais – desde questões relacionadas a inovação, eficiência e redução de custos
operacionais até a mudança de estratégias mais amplas, como àquelas relacionadas ao ESG.
Em seu artigo 5º, inciso XVII, a lei brasileira o define como uma documentação do
controlador de dados que “contém a descrição dos processos de tratamento de dados pessoais
que podem gerar riscos às liberdades civis e aos direitos fundamentais, bem como medidas,
salvaguardas e mecanismos de mitigação de risco”. Não se prevê, aqui, a questão do
“elevado risco”. Apenas que este é um documento que poderá ser exigido pela ANPD (artigo
38, caput e parágrafo único, LGPD), principalmente nos casos de tratamentos de dados com
fundamento no legítimo interesse (artigo 10, § 3º, LGPD), e que deve conter:
“no mínimo, a descrição dos tipos de dados coletados, a metodologia utilizada para
a coleta e para a garantia da segurança das informações e a análise do controlador
com relação a medidas, salvaguardas e mecanismos de mitigação de risco
adotados”. (BRASIL, 2018).
Pode-se usar a forma risco/perigo de Luhmann, nesse sentido, para explicar que o
risco das tomadas de decisão denota uma reintrodução interna desta distinção para questões,
por exemplo, de “gerenciamento de riscos”, em relação as consequências futuras da própria
decisão, e em relação ao perigo, danos externos, isto é, referente as “causas” ambientais.
(LUHMANN, 1993). O risco, desse modo, não adentra a descrição da sociedade como um
todo, mas apenas como uma forma (risco/perigo) de observação extremamente útil para a
tomada de decisão em uma sociedade indeterminada. (ROCHA; AZEVEDO, 2012).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proteção de dados é uma temática central para se pensar as problemáticas da atual
cultura das redes. Os novos modos de governança (em rede) e (autor)regulação (regulada)
contemporâneo, quando aplicados à temática da proteção de dados pessoais, mostram toda
a complexidade que a efetividade desse direito carrega. Revela-se, nesse sentido, não só a
intricada relação entre processos políticos, jurídicos e econômicos globais e digitais, como,
também, a dimensão técnica, prática e organizacional da proteção de dados. O Relatório de
Impacto a Proteção de Dados Pessoais pode ser observado como um exemplo de “epicentro”
da reformulação da regulação e governança das questões atuais, no qual a prestação de contas
e a gestão integrada de riscos (de negócios, da informação e dos dados) em sistemas de
governança nas organizações, em um contexto de reestruturação em rede de diversos atores,
pode sustentar não só a proteção de dados pessoais como diversos outros direitos.
REFERÊNCIAS
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Direito proceduralizado: regulação de redes sociais e proceduralização. In: ABBOUD,
Georges; NERY JUNIOR, Nelson; CAMPOS, Ricardo (coord.). Fake news e regulação.
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33
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<redegovernanca.net.br/public/conferences/1/anais/ZANATTA,%20Rafael_2017.pdf>.
Acesso em: 10 nov. 2022.
37
1 INTRODUÇÃO
1
Advogado especializado em Compliance. Atuou em empresas relevantes como Banco do Brasil, Pinheiro
Neto, Ambev, Telefônica e PwC. Formado em Direito pela PUC/SP, pós-graduado em Compliance e
mestrando em Direito Público FGV/SP. Advogado inscrito na OAB/SP sob o nº 368.462. Com endereço de e-
mail: bruno.ferola@compliancepb.com.br.
2
Graduado em direito pela Faculdade Metropolitana Unida, Pós-graduando em Direito Empresarial pela
Fundação Getúlio Vargas. Lead Implementer ISO 37001 e 37301. Certificado na matéria pela LEC,
reconhecido CPC-A. Com endereço de e-mail: henrique.starck@compliancepb.com.br.
38
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 LEI Nº 12.846/2014 E DECRETO Nº 11.129/2022
preventivas se faz necessárias, vez que o art. 5º da Lei Anticorrupção prevê 7 (sete) hipóteses
de atos lesivos em processos licitatórios. Para tanto, é de suma importância que exista uma
constante fiscalização dos responsáveis por intermediar as ações da organização nesses
processos.
Sobre essas diligências, o art. 57, inc. XIV, define como parâmetro de avaliação do
Programa de Integridade a existência e utilização de Due Diligece em processo de fusão,
aquisição ou reestruturação societária, a fim de analisar os antecedentes da pessoa jurídica
adquirida, fusionada ou reestruturada.
3
Editais de licitação de grande vulto são aqueles com valor estimado igual ou superior a R$ 200 milhões.
44
Criada em 02 de abril de 2001, a CGU teve seu nome alterado em 2016, chamando-
se de Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União. Atualmente
o órgão retomou o seu nome original, Controladoria-Geral da União.
O Padrões de ética e conduta são as regras que estabelecem a missão, visão e valores
da organização, são os procedimentos que estabelecem quais condutas são toleradas e quais
são contrárias às diretrizes morais e princípios éticos da empresa, bem como aquelas
contrárias ao ordenamento jurídico nacional e internacional. A materialização destes padrões
se dá, em regra, pela elaboração de um Código de Conduta, que deve ser escrito de forma
clara, concisa e revisado periodicamente para corresponder ao apetite à riscos da
organização, bem como para se atualizar com novas legislações.
devem ser estruturados para que todos os colaboradores e terceiros possam encaminhar
denúncias contra irregularidades, fraudes ou qualquer outra informação que explicite
condutas ilícitas que possam acarretar danos à imagem e reputação da organização. O canal
deve garantir sigilo ao denunciante e prever medidas de não retaliação, garantindo a
confiança e incentivando o público-alvo a sua utilização.
Por fim, como último pilar do Programa de Integridade, a CGU elenca a estratégia
de monitoramento contínuo. As organizações devem monitorar continuamente o seu
Programa de Integridade como forma de identificar falhas e pontos de melhoria. É
recomendável a realização de uma análise de eficácia de todos os pilares, a fim de que sejam
definidos métricas da real funcionalidade dos controles internos, fato conhecido como KPI
(Key Performance Indicator), em livre tradução: indicador-chave de desempenho.
No ano de 2021, apenas a ‘Fraud Section’ acusou 26 pessoas, além de obter êxito
condenatório em 19 casos relacionados às infrações previstas no FCPA, seja por confissão
ou por julgamento. Vale mencionar o estudo realizado pela KPMG6 concluiu que 30% das
penas aplicadas pelos EUA com base na FCPA, entre os anos de 2016 e 2018, foram
direcionadas a empresas brasileiras, sendo que o valor total dessas multas ultrapassa R$ 7
bilhões, o que reflete a importância do tema para as empresas brasileiras.
4
https://www.justice.gov/agencies/chart.
5
https://www.justice.gov/criminal-fraud.
6
https://appkpmg.com/news/4789/em-linha-com-o-doj.
7
O U.S Sentencing Commission, desde 1984, estabelece critérios de dosimetria de sanções a serem utilizados
pelos juízes e promotores. Este aglomerado de recomendações é compilado no U.S. Sentencing Guidelines
Manual. Os critérios avaliativos de um Programa de Compliance estão contidos no índice § 8B2.1 do manual.
51
prosecution agreement - NPA’, instituto pelo qual permite que o promotor escolha em não
prosseguir com acusações fundamentadas nas infrações ao FCPA, para os casos em que a
empresa investigada tenha admitido a sua responsabilidade pela conduta/fraude, bem como
possua um Programa de Compliance efetivo e conforme às diretrizes do DOJ e U.S
Sentencing Guidelines.
O Guia prevê três questões fundamentais a serem analisadas pelo promotor quando
da avaliação de um programa de Compliance, sendo elas: (i) O programa de Compliance foi
bem planejado? (ii) O programa de Compliance está sendo implementado de forma sincera
8
Instituto originado pelo common law. Trata-se de um acordo privado entre a acusação e a defesa. É utilizado
quando após a existência de uma denúncia formal pelo DOJ. Além disso, sua utilização se dá para que o
acusado aceite em se declarar culpado em troca recebendo vantagens, como redução da pena, reduzir número
de crimes imputados, pena alternativa etc.
52
âmbito do Distrito Federal, permanecendo uma lacuna legal interpretativa quanto aos
parâmetros avaliativos destes programas.
O Anexo I do Decreto indica os tópicos que devem ser abordados pela pessoa jurídica
para elaboração do seu Relatório de Perfil, citamos como principais: a) Indicação dos setores
do mercado em que a Pessoa Jurídica atua; b) apresentação da estrutura organizacional
(hierarquia, competência de todos os seus setores e níveis e processo decisório); estrutura de
governança em forma de organograma; informar se as suas operações precisam de
autorizações de outra pessoa jurídica; informar se já foi condenada administrativamente ou
civilmente por atos de corrupção; c) descrição das suas participações societárias
(controladora, controlada, coligada ou consorciada); d) descrever as interações com a
administração pública, e) informação do quantitativo de colaboradores, f) se utiliza
intermediários para interação com agente público, g) data da instituição do Programa de
Integridade.
A Portaria determina que a avaliação do Programa de Integridade deve ser feita por
pontuação. A pontuação máxima de um programa é de 100 (cem) pontos, dividida em 6
(seis) áreas. Sendo 25 pontos para o: a) Comprometimento da Alta Direção e Compromisso
com a Ética; b) 20 pontos para Políticas e Procedimentos; c) 15 pontos para Comunicação e
Treinamento; d) 15 pontos para Análise de Risco e Monitoramento; e) 15pontos para
Transparência e 10 pontos para Canais de Denúncia e Remediação.
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
FACHINI, Tiago. Due diligence: o que é, tipos e como fazer. [S. l.], 17 jan. 2022.
Disponível em: <https://www.projuris.com.br/o-que-e-due-diligence/>. Acesso em: 25 out.
2022.
J. MANLEY, KWAME. “Lições Aprendidas” pelo DOJ dos Estados Unidos Levam a
Diretrizes Adicionais Para o Programa de Compliance Dinâmico. [S. l.], 4 jun. 2020.
Disponível em: <https://www.paulhastings.com/insights/client-
alerts/li%C3%A7%C3%B5es-aprendidas-pelo-doj-dos-estados-unidos-levam-a-diretrizes-
adicionais-para-o-programa-de-compliance-din%C3%A2mico>. Acesso em: 25 out. 2022.
WIKIPEDIA. Departamento de Justiça dos Estados Unidos. [S. l.], 202?. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Departamento_de_Justi%C3%A7a_dos_Estados_Unidos>.
Acesso em: 25 out. 2022.
58
INTRODUÇÃO
O art. 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos traz como um direito do ser
humano a liberdade de escolher o que irá exercer, desde que em condições equitativas e
satisfatórias e protegido contra o desemprego.
1
Advogada inscrita na OAB/RS nº 109.622 e tutora de pós-graduação, pós-graduada em Direitos Difusos e
Coletivos. Cursando pós-graduação em Direito Trabalhista e Direito Processual Trabalhista. E-mail:
carolinealbc@gmail.com.
59
Cada vez mais as empresas estão reconhecendo que as boas práticas ambientais,
sociais e de governança (ESG) podem trazer resultados positivos e estão incorporando esses
conceitos em seus planos de gestão. O objetivo é melhorar a competitividade, uma vez que
as grandes companhias não podem mais ignorar o impacto ambiental e social de suas
atividades e devem tomar decisões considerando esses fatores além do lucro.
A adoção de práticas ESG pelas empresas tem impactos significativos nas relações
trabalhistas, uma vez que a empresa passa a desempenhar um papel social importante ao
contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável e para o fortalecimento da
legislação trabalhista.
A sigla ESG teve origem em 2004, em uma publicação intitulada "Who Cares Wins",
produzida pelo Pacto Global em conjunto com o Banco Mundial. A ideia surgiu a partir de
um desafio lançado por Kofi Annan, secretário-geral da ONU, a 50 CEOs de grandes
instituições financeiras para integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado
de capitais.
signatários e gerencia ativos que ultrapassam USD 100 trilhões. Desde a sua criação, o PRI
registrou um crescimento de cerca de 20% em 2019.
A RSE é uma abordagem que evoluiu ao longo do tempo, e hoje é vista como uma
forma de gerenciamento estratégico que pode contribuir para a criação de valor a longo
2
BARBIERI, José Carlos Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática / José
Carlos Barbieri, Jorge Emanuel Reis Cajazeira. - 3. ed. - São Paulo: Saraiva, 2016, p. 66.
3
BARBIERI, José Carlos Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática / José
Carlos Barbieri, Jorge Emanuel Reis Cajazeira. - 3. ed. - São Paulo: Saraiva, 2016, p. 66.
61
prazo, tanto para a empresa como para a sociedade em geral. A integração de práticas ESG
nas empresas é uma das principais formas de implementar a RSE na prática.
Embora a ideia só tenha se popularizado nos últimos anos, a pesquisa sobre o tema
foi iniciada em 1953 por Howard Bowen, além das fundações caritativas criadas pelos
empresários John D. Rockefeller, Henry Ford e Andrew Carnegie na década de 1920.
Ao longo da história, o trabalho foi visto como uma relação desigual em que o mais
forte explorava o mais fraco. Essa visão foi perpetuada pelo significado original da palavra
"trabalho", que está associado ao sofrimento e à escravidão. No entanto, com a evolução dos
direitos humanos e a conscientização da importância do ser humano para a natureza e a
sociedade, o respeito à pessoa e aos seus direitos tornou-se um valor universal. Isso garante
uma existência digna dentro da sociedade estabelecida.6
4
BOWEN, H. Social Responsabilities of the Businessman New York, 1953.
5
BITTENCOURT, Epaminondas. Carrieri, Alexandre. Responsabilidade social: ideologia, poder e discurso
na lógica empresarial. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0034-75902005000500001>. Acesso em 19
fev. 2023.
6
ALECRIM, Renata Gondim. A conciliação entre trabalho decente e crescimento econômico na agenda 2030
da ONU: a responsabilidade das empresas privadas em tempos de modernidade líquida. Revista FIDES:
Revista de Filosofia do Direito, do Estado e da Sociedade, Natal, v. 11, n. 1, 16 jul. 2020. Disponível em:
<http://www.revistafides.ufrn.br/index.php/br/article/view/469/483>. Acesso em: 20 fev. 2023.
62
7
PACTO GLOBAL. Entenda melhor os ODS. São Paulo: Pacto Global, 2023. Disponível em:
<https://www.pactoglobal.org.br/ods>. Acesso em 10 fev. 2023.
8
<https://www.pactoglobal.org.br/pg/esg>. Acesso em 10 fev. 2023.
9
<https://www.pactoglobal.org.br/ods>. Acesso em 10 fev. 2023.
10
Szczepanik, Dayanne Marciane Gonçalves. Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8: Trabalho Decente
e Pleno Emprego. Disponível em:
<http://anpad.com.br/uploads/articles/120/approved/ae3a12e662884604c069b4dfc5a13afd.pdf>. Acesso em
20 fev. 2023.
63
racional para maximização dos resultados, a visão sobre a empresa atualmente vai muito
além de uma perspectiva meramente econômica. A sustentabilidade empresarial não se
limita a questões financeiras, mas também envolve responsabilidades sociais e ambientais.
Ao adotar práticas sustentáveis, as empresas podem contribuir para a realização dos ODS,
além de garantir sua própria longevidade e sucesso a longo prazo.11
No que tange ao Brasil, é necessário realizar uma análise conjuntural que leve em
conta as potencialidades, bem como a recente crise financeira e as possíveis consequências
das novas políticas aplicadas desde 2016, para prever as chances do país atingir os ODS da
Agenda 2030 da ONU. As condições para cumprir os compromissos assumidos ficaram
bastante comprometidas, principalmente após a adoção de uma política de austeridade que
impôs um rígido teto para gastos sociais, resultando em cortes orçamentários superiores a
50% em diversas áreas e reformas que agravaram a exclusão social e aumentaram as
desigualdades.12
11
FILHO, Hélio Afonso de Aguilar. FILHO, Hermógenes Saviani. A EVOLUÇÃO DA MACROECONOMIA
MODERNA ENTRE PERSPECTIVAS: EM BUSCA DE UMA SISTEMATIZAÇÃO. Disponível em
<https://doi.org/10.1590/198055272121>. Acesso em 10 fev. 2023.
12
VIEIRA, Igor Laguna; AIRES, Christiane Florinda De Cima; MATTOS, Ubirajara Aluizio de Oliveira;
SILVA, Elmo Rodrigues da. As condições de trabalho no contexto dos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável: os desafios da Agenda 2030. Disponível em: <http://osocialemquestao.ser.puc-
rio.br/media/OSQ_48_Art_13.pdf >. Acesso em 10 fev. 2023.
13
MARIANO, Cynara Monteiro Mariano. Emenda constitucional 95/2016 e o teto dos gastos públicos: Brasil
de volta ao estado de exceção econômico e ao capitalismo do desastre. Disponível em:
<https://doi.org/10.5380/rinc.v4i1.50289>. Acesso em 10 fev. 2023.
14
IBGE. Desemprego. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php>. Acesso em 26 fev.
2023.
64
Os valores sociais do trabalho são tão importantes no ordenamento jurídico que sua
proteção não engloba somente o trabalhador celetista, mas se estende ao autônomo e ao
empregador, enquanto empreendedor do crescimento do país.16
No âmbito laboral podemos afirmar que há uma estreita relação dos Direitos
Humanos com relação aos trabalhadores. Essa relação pode ser analisada por perspectivas
interseccionais: constitucional, filosófica e sociológica. Em todas elas podemos afirmar que
partimos sempre de um elemento central: o conceito de dignidade da pessoa humana.
15
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da
reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores—Mauricio Godinho Delgado. — 18.
ed.— São Paulo: LTr, 2019, p. 99.
16
SCHIAVi, Mauro. Proteção jurídica à dignidade da pessoa humana do trabalhador. Disponível em:
<https://www.lacier.com.br/cursos/artigos/periodicos/protecao_juridica.pdf >. Acesso em 10 fev. 2023.
17
RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. Ed.- São Paulo, LTr, 2000, p. 85.
65
18
Moraes, Alexandre de Direitos humanos fundamentais : teoria geral, comentários aos arts. 1" a 5" da
Constituição da Republica Federaliva do Brasil, doutrina e jurisprudência / Alexandre de Moraes. - 5. ed. - Sao
Paulo : Atlas, 2003, pag. 59.
19
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2019.
66
Além disso, a aplicação da agenda ESG pode promover a diversidade cultural, étnica,
social e de gênero dentro do ambiente corporativo, que também se demonstra fundamental.
Essas são apenas algumas das diversas medidas que podem ser adotadas para melhorar o
ambiente de trabalho.
A desagregação por cor ou raça mostra que, dentre o total de pessoas ocupadas, a
proporção da população de cor ou raça branca era 45,2%, e a de preta ou parda
53,8%, resultados próximos aos encontrados para a população na força de
trabalho. (Tabela 1.1). Entretanto, o olhar por atividades econômicas revela a
segmentação das ocupações e a persistência da segregação racial no mercado de
trabalho. A presença de pretos ou pardos é mais acentuada na Agropecuária
(59,5%), na Construção (66,2%) e nos Serviços domésticos (66,8%), justamente
atividades que possuíam rendimentos inferiores à média em todos os anos da série.
Já Informação, atividades financeiras e outras atividades profissionais e
Administração pública, educação, saúde e serviços sociais, cujos rendimentos
foram bastante superiores à média, foram os agrupamentos de atividades que
contaram com maior participação de pessoas ocupadas de cor ou raça branca.
20
SANTOS, Filipe C. P.; CASTRO, Fabrício; ARAÚJO, Thiago P. Responsabilidade social empresarial,
governança corporativa e ESG: uma revisão da literatura. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa
(RECADM), v. 19, n. 2, p. 235-254, 2020. Disponível em:
<http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/recadm/article/view/53395/30429>. Acesso em: 27 fev. 2023.
21
IBGE. Estatísticas de Gênero, indicadores sociais das mulheres no Brasil. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101784_informativo.pdf >. Acesso em 25 fev. 2023.
22
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2022 /
IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2022.
67
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARILE, Paolo. Diritti dell”uomo e libertà fondamentali. Bolonha: II Molino, 1984, p. 105,
“apud”, MORAIS, Alexandre. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários
aos arts. 1" a 5" da Constituição da Republica Federaliva do Brasil, 5ª Edição, São Paulo,
Atlas, 2003, p. 59.
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2019.
Carvalho, Sandro Sacchet de. Uma visão geral sobre a reforma trabalhista. Disponível
em: <https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8130/1/bmt_63_vis%C3%A3o.pdf>.
Acesso em 20 fev. 2023.
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
Brasileira: 2022 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro:
IBGE, 2022.
Moraes, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts.
1" a 5" da Constituição da Republica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência /
Alexandre de Moraes. - 5. ed. - Sao Paulo: Atlas, 2003.
PACTO GLOBAL. Entenda melhor os ODS. São Paulo: Pacto Global, 2023. Disponível
em: <https://www.pactoglobal.org.br/ods>. Acesso em 10 fev. 2023.
RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. Ed.- São Paulo, LTr,
2000.
VIEIRA, Igor Laguna; Aires, Christiane Florinda De Cima; Mattos, Ubirajara Aluizio de
Oliveira; Silva, Elmo Rodrigues da. As condições de trabalho no contexto dos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável: os desafios da Agenda 2030. Disponível em
http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_48_Art_13.pdf. Acesso em 25 Fev.
2023.
71
Abstract: The article discusses compliance and LGPD, addressing related and relevant
aspects for the management and governance of companies, institutions and organizations
when implemented in a consistent, continuous and customized way, they reduce the risks of
failure, monetize the results, collaborate with the achievement of objectives , with the
continuity of activities, and with a good corporate, institutional and organizational
reputation, and generate positive social and environmental impacts.
Keywords: LGPD, compliance, management, governance, ethics, reputation.
INTRODUÇÃO
1
Doutor em Ciência Política pela UFRGS, Advogado, Professor Universitário, Conferencista, Escritor.
Membro das Comissões de Relações Internacionais da OAB, e do IAB, veja mais em
http://lattes.cnpq.br/2747660806042611.
2
O termo ESG, a sigla em inglês “Environmental, Social and Governance“, representa uma mudança de
paradigma nas relações entre as empresas e seus investidores, já que as melhores práticas tradicionalmente
associadas à reputação, meio ambiente, impacto social e sustentabilidade passaram a ser consideradas como
parte da estratégia empresarial.
72
As ações realizadas pela pessoa física, podem ser diferenciadas da pessoa jurídica, e
tanto uma quanto a outra serem responsabilizadas objetivamente, pelos atos de corrupção.
No escopo de evitar os atos danosos e suas repercussões, a grande ferramenta é adoção de
programas de integridade/conformidade, de fiscalização e controle das atividades, em todos
os níveis das organizações e empresas.
O ambiente virtual criou uma realidade, e suas redes que se hospedam na rede
internacional de computadores, a internet. Esse ambiente é recente em termos históricos, são
poucas décadas. Ainda existe um número importante de pessoas que não participam dele, os
“excluídos digitais”. Por outro lado, a maioria da população global dele participa, e muitos
fazem desse ambiente a sua principal atividade diária, seja trabalhando e/ou outras
atividades, estudos, compras, lazer. As empresas e organizações dependem para desenvolver
as suas atividades de forma direta desse ambiente virtual, vale referir que as empresas mais
valiosas em nível global estão empresas desse setor, e/ou vinculadas.3
A atividade das pessoas no ambiente virtual deixa registros, que podem ser
minerados, classificados, e utilizados das mais diversas formas lícitas, e ilícitas, para a
obtenção de vantagens, proveitos sejam econômicos, financeiros, políticos, estratégicos,
militares. Somente para exemplificar a extensão, gravidade, e o potencial da utilização dos
dados/informações digitais, cita – se, o caso NSA, National Security Agency, - Edward
3
74
Dessa forma, a melhor compreensão das normas expostas na LGPD, e suas conexões
com os programas de integridade – Compliance, estão dentre os objetivos desse artigo que
irá destacar além das conexões entre os temas, aspectos relevantes para reflexão e
implementação de sistemas de informação aderentes a novel legislação e das boas práticas
de gestão, ambiental e social.
Vale referir que a LGPD, normatiza aspectos do Marco Civil da Internet no Brasil, a
Lei Federal nº. 12.965/2014, que combinados com outras legislações incidentes,
regulamentam o ambiente virtual no Brasil. No âmbito da LGPD, constam os seus
fundamentos dispostos no artigo 2°, o respeito à privacidade; a autodeterminação
informativa; a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; a
inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; o desenvolvimento econômico e
tecnológico e a inovação; a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
4
<https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/03/empresa-que-ajudou-trump-roubou-dados-de-50-milhoes-
de-usuarios-do-facebook.shtml>.
<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/07/entenda-o-caso-de-edward-snowden-que-revelou-espionagem-
dos-eua.html>.
75
No artigo 1º da LGPD, consta o seu propósito, qual seja, dispor sobre o tratamento
de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de
direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade,
e de privacidade, e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
Para um melhor entendimento cumpre referir os conceitos legais de dados, que são
três, e estão expostos no artigo 5°, dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural
identificada ou identificável; dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou
étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter
religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural, dado anonimizado: dado relativo a
titular que não possa ser identificado, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis
e disponíveis na ocasião de seu tratamento.
Existem exceções previstas na legislação para sua incidência que são objeto de
controvérsias, dentre as quais a localização/nacionalidade do operador do tratamento dos
dados. Apesar das controvérsias, a lei dispõe das exceções, em seu artigo 4°, afirmando que
a lei não se aplica ao tratamento de dados pessoais, realizado por pessoa natural para fins
exclusivamente particulares e não econômicos; e/ou realizado para fins exclusivamente,
jornalísticos, artísticos e acadêmicos.
5
https://www.camara.leg.br/noticias/565439-PEC-TRANSFORMA-PROTECAO-DE-DADOS-PESSOAIS-
EM-DIREITO-FUNDAMENTAL>.
76
Dentre eles, destaca – se, a finalidade, qual seja, a realização do tratamento para
propósitos legítimos, específicos, explícitos e informados ao titular. A adequação, que é a
compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas ao titular, de acordo com o
contexto do tratamento. A necessidade da utilização estritamente vinculada às finalidades do
tratamento de dados. A existência do livre acesso aos titulares, dos seus dados. A garantia
da qualidade dos dados dos titulares, da transparência das informações, sobre o tratamento,
e os agentes de tratamento. A segurança na utilização e na proteção dos dados pessoais de
acessos não autorizados, e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração,
comunicação ou difusão. A prevenção, a existência da prova do usuário de dados de terceiro,
da adoção de medidas para prevenir a ocorrência de danos em virtude do tratamento de dados
pessoais. A não discriminação, vedação do tratamento para fins discriminatórios ilícitos ou
abusivos. E ao final deste tópico, vale citar a responsabilização, a prestação de contas, por
parte do agente/usuário de dados de terceiro, de que não foi omisso, imperito e/ou negligente
no uso, guarda, transferência e tratamento dos dados de terceiros. Repete – se, o ônus da
prova tanto do consentimento do titular dos dados, quanto do uso, guarda e
compartilhamento dos dados de boa – fé, e o uso dos dados dentro dos princípios, e
disposições das legislações incidentes, cabendo ao agente que se utiliza dos dados de
terceiro.
Fica claro que as Instituições que possuírem banco de dados, e/ou efetuarem o
tratamento de dados, ou ainda utilizarem/compartilharem dados de terceiros estão abrangidas
na legislação, e são responsáveis pelas ações e pelos agentes, pela higidez e qualidade desses
dados, e necessitam possuir uma política do tratamento/utilização desses dados, assim como
necessitam da autorização de cada um dos titulares de dados, sejam pessoais, sensíveis ou
anonimizado.
Nesse momento vale referir algumas sanções, sejam administrativas, civis, e/ou
penais previstas na LGPD, em caso de descumprimento da lei, previstas no artigo 52; que
vão desde a advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas; a
aplicação de multa simples, de até 2% (dois por cento) do faturamento da pessoa jurídica de
direito privado, grupo ou conglomerado no Brasil no seu último exercício, excluídos os
tributos, limitada, no total, a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) por infração; ou
multa diária, observado o limite total a que se refere o inciso II; e ainda a publicização da
infração após devidamente apurada e confirmada a sua ocorrência.
Vale refletir sobre a publicização da infração, haja vista que essa publicização traz
danos importantes à reputação da Instituição infratora, podendo em alguns casos gerar danos
irreparáveis para sua atividade, ou em casos extremos levar até a sua extinção. A LGPD,
prevê a possibilidade da suspensão das atividades por tempo determinado, seja a suspensão
parcial do funcionamento do banco de dados a que se refere a infração pelo período máximo
de 6 (seis) meses, prorrogável por igual período, até a regularização da atividade de
tratamento pelo controlador. Ou ainda, a suspensão total do exercício da atividade de
tratamento dos dados pessoais a que se refere a infração, pelo período máximo de 6 (seis)
meses, prorrogável por igual período; e/ou a proibição parcial ou total do exercício de
atividades relacionadas a tratamento de dados.
Dentre as competências estão, zelar pela proteção dos dados pessoais, pela observância
dos segredos comercial e industrial, elaborar diretrizes para a Política Nacional de Proteção
de Dados Pessoais e da Privacidade; fiscalizar e aplicar sanções em caso de tratamento de
dados realizado em descumprimento à legislação; promover na população o conhecimento
das normas e das políticas públicas sobre proteção de dados pessoais e das medidas de
segurança. E ainda, promover ações de cooperação com autoridades de proteção de dados
pessoais de outros países, de natureza internacional ou transnacional. Ao encetar o derradeiro
tópico, no qual são expostas algumas conclusões acerca desse tema, impende mais uma vez
referir que o presente artigo visa propiciar o debate e o conhecimento desse tema relevante,
instigante e poderoso na sua influência seja governança e na gestão, e nos aspectos social,
ambiental, institucional e empresarial.
CONCLUSÃO
6
Lei nº 14.460, converteu a Medida Provisória nº 1.124/22 em lei ordinária. A Autoridade Nacional de
Proteção de Dados - ANPD é transformada, definitivamente, em autarquia de natureza especial, mantidas a
estrutura organizacional e as competências.
80
Com efeito, tais medidas de Compliance, podem não evitar de forma definitiva as
fraudes, os desvios e atos inapropriados, contudo minimizam os riscos, e possibilitam
minorar danos, inclusive reputacionais, haja vista que pode – se demonstrar, que foram
adotadas as melhores práticas, sociais, ambientais e de governança e gestão inclusive dos
dados e do ambiente virtual.
REFERÊNCIAS
BAIÃO, Renata Barros Souto Maior. Lei Geral de Proteção de Dados, direito ao
apagamento, correção dos dados e blockchain: análise da pertinência tecnológica.
Cadernos Jurídicos, São Paulo, v. 21, n. 53, p. 151-162, jan./mar. 2020. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/142292/lei_geral_protecao_baiao.pdf Acesso
em: 04 fev. 2021.
GONÇALVES, Victor Hugo Pereira. Marco civil da internet comentado. [1. ed.], 2.
tiragem. São Paulo: Atlas, 2017. Número de chamada: 340.0285 G635 MCD 2017.
PINHEIRO, Patricia Peck. Nova lei brasileira de proteção de dados pessoais (LGPD) e o
impacto nas instituições públicas e privadas. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 108, n.
1000, p. 309-323, fev. 2019.
SOUSA, Ana Karoline Fernandes de; ANDRADE, Raquel Colins; BRITO, Julia Barros de.
Governança algorítmica e a tutela do direito fundamental aos dados pessoais no Brasil:
a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/18) como sistema protetivo para
a efetivação da governança dos dados particulares nas redes sociais. Revista Fórum de
Direito na Economia Digital, Belo Horizonte, v. 4, n. 6, p. 9-22, jan./jun. 2020.
82
Jordana Isse1
Pauline Amaral Antunes2
Resumo: O presente artigo tem como objetivo dar visibilidade às principais barreiras
existentes para as mulheres adentrarem no mercado de trabalho e manterem-se nele, bem
como analisar algumas das melhores práticas no mercado atual no Brasil e no mundo, para
que sejam mitigados ou anulados alguns entraves, dentro das possibilidades. No mesmo
sentido, o artigo apresenta a implementação do sistema de Compliance pelas organizações
como uma alternativa para as mulheres no mercado laboral, com a finalidade de constituir
um meio ambiente digno e acessível, sem causar conflitos de escolha. Portanto, esse trabalho
intui viabilizar que a igualdade de gênero seja uma realidade, para todas as pessoas que ali
pertençam. Por fim, o artigo traça sugestões de medidas a serem implementadas, através de
um programa de Compliance. Os recursos utilizados para a realização deste trabalho foram
revisão bibliográfica e análise documental por meio de acesso a banco de dados públicos.
INTRODUÇÃO
Não parece demais a tratativa do assunto, pois, passada a análise profunda dos
desafios, as possíveis propostas de melhora do cenário estão na mesa: são questões de
decisão. E esta decisão deve partir de quem tem o poder para assim o fazer. Desse modo, o
desenvolvimento profissional da mulher deve ser reconhecido como parte essencial na
1
Advogada inscrita na OAB/RS sob n° 117.553, Graduada pela Universidade do Vale dos Sinos, Pós-
Graduanda em Direito Internacional do Mar pela Universidade de Caxias do Sul e empreendedora. E-mail:
jordanaisse@hotmail.com.
2
Advogada inscrita na OAB/RS sob nº 89.664 e Consultora de Compliance (CPC-A). Pós-graduada em Direito
Constitucional pela Universidade Anhanguera-Uniderp. Graduada em Direito pela UPF. E-mail:
paulineaantunes@gmail.com.
83
economia de um país, por ser peça chave no quebra-cabeça que, muitas vezes, é
embaralhado, trazendo conflitos de escolhas entre a vida profissional e a maternidade, com
o peso das questões de desigualdade de gênero, diferenças salariais, preconceitos, assédios,
etc.
Por tudo isso, a modernidade trouxe em seu bojo o Compliance, que foi se
ressignificando com o tempo, e hoje vem como parceiro dos sistemas de meio ambiente,
sociais e de governança corporativa (do inglês, environmental, social, and corporate
governance), na premente necessidade de melhora da ética das relações laborais. No mais,
as bases legais, até então existentes, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e
a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, devem ser premissas básicas para
o verdadeiro cumprimento das normas.
Outro movimento crescente é eco feminismo, o qual conecta a luta pela igualdade
não apenas de direitos, mas também de oportunidades entre os gêneros, com a defesa e a
preservação da natureza, tomando forma desde 1970. São organizações empenhadas na luta
pela preservação tanto dos direitos da mulher quanto da natureza. Esse movimento apresenta
soluções para alcançarmos uma sociedade mais igualitária e sustentável. Além disso, a
valoriza, mostrando que ela não deve ser subordinada ou ficar em segundo plano, mas ser
colocada em primeiro lugar. Examina o equilíbrio entre o ser humano e a natureza e o
respeito a todas as formas de vida. (BERNAL, 2021)
Através desses movimentos, surge a discussão sobre o direito da mulher em ter uma
vida plena, não mais pré-determinada ao papel de esposas e mães, modelo constituído pós-
guerras mundiais, onde o homem trabalhava fora de casa, enquanto ela atentava-se aos
serviços domésticos e da família. No mundo laboral, as hierarquias foram bem definidas:
quais são as profissões de homem e quais as de mulher, onde verificamos hoje, por exemplo,
no ensino brasileiro, mulheres são maioria absoluta no ensino escolar e os homens são
maioria no ensino universitário, estabelecendo os papéis de gênero e reiterando esse lugar
social. A partir dessa ótica dualista, enxergamos essa diferença, sendo ele a razão e a mente,
e ela o corpo e a natureza, assim, a humanidade se torna superior a natureza, justificando seu
uso e exploração.
80% dos empregados nas linhas de montagem do litoral da China são mulheres, e a
proporção no cinturão fabril do leste da Ásia é de, pelo menos, 70%. A explosão
econômica na Ásia foi, em grande parte, um resultado da capacitação econômica das
mulheres. “Elas têm dedos menores e são mais hábeis com as agulhas”, explicou o
gerente de uma fábrica de bolsas. “Elas são obedientes e trabalham mais que os
homens”, disse o chefe de uma fábrica de brinquedos. “E nós podemos pagar menos
a elas. (KRISTOF; WUDUNN. 2011. p. 23)
que anteriormente pouco tinham contribuído para o produto interno bruto (PIB),
inserindo-as na economia formal, aumentando em muito a força de trabalho. A
fórmula básica foi diminuir a repressão, educar as meninas assim como os meninos,
dar às meninas a liberdade de mudar para as cidades e trabalhar nas fábricas. Depois
se beneficiam de um dividendo demográfico ao se casar, mais tarde, diminuindo o
número de filhos. Em decorrência, as mulheres financiaram a educação dos parentes
mais jovens e pouparam bastante para impulsionar. (KRISTOF;WUDUNN. 2011.
p.23)
disponível para o mundo em desenvolvimento. Ou seja, não educar as meninas traz mais
custo para os países arcarem do que se não o fizerem (KRISTOF;WUDUN, 2011).
Notório é que a violência vem sendo o mecanismo que destrói e diminui a mulher. É
meio de controle, mantendo-as em um lugar que não é o seu.
Com todos estes desafios, estatísticas sugerem que sua força de trabalho é melhor. E
um dos primeiros a concluir isso foram as instituições bancárias, ao contratarem mais
mulheres. Atualmente, muitas empresas aderem a este tipo de contratação, também
estimulado por programas de Compliance, que vem como grande aliado para absorver, dar
visibilidade, inclusão a mão de obra feminina, algumas vezes desvalorizada. Assim, como
nas famílias, elas que administram as situações, na maioria dos casos, geralmente investem
seu dinheiro em bens duráveis e têm taxas de poupança mais altas, diferentes dos homens
que, além de serem mais orientados para o consumo, tendem a ter mais vícios, maior
envolvimento em acidentes e gastam mais em pequenos prazeres.
87
Com toda essa força e eficiência de trabalho, cumprindo todos os papéis: filha, irmã,
amiga, mãe, esposa, algumas vezes, recatada e do lar, outras à frente de grandes negócios,
gerindo empresas, riscos, muitas são as dificuldades diárias que as impedem de ter a
igualdade de salários, a paridade de vozes em cargos políticos, a representatividade nas
tomadas de decisões, a simetria nos cargos de alto escalão, ademais, neste ínterim, verificam-
se todas formas de assédio.
Uma pesquisa realizada pela empresa Mindsight (BARRETO, 2022) ouviu 11 mil
pessoas em todo o Brasil, mostrou que a mulher sofre três vezes mais assédio sexual do que
o homem nos ambientes de trabalhos, destacando que 97% das vítimas sequer denunciam o
crime.
No entanto, questões de assédio, apesar da extrema relevância, são uma parte diante
dos enormes contratempos enfrentados pela mulher no mercado de trabalho. Não se pretende
ignorar os enormes avanços sociais ocorridos nos últimos anos no mundo neste cenário, mas
cabe salientar que ainda restam diversas temáticas a serem levantadas com o fim de combater
os vieses existentes, sejam eles conscientes ou inconscientes, que ainda impactam a atividade
econômica da mulher em seu sentido mais amplo, e que merecem total observação.
89
Para cumprir com tais metas, empresas devem, antes de tudo, implementar um
sistema de Compliance que olhe para todas as vertentes apuradas na análise de riscos, sem
descuidar das questões de meio ambiente, sociais e de governança corporativa (ESG).
Alguns exemplos das questões que geram barreiras para o mercado de trabalho e as
diversas e complexas questões com elas relacionadas, que muitas vezes se traduzem como
verdadeiras discriminações sistêmicas, são a maternidade, a ausência de capacitação formal,
má condição menstrual, assédios, diferenças salariais, falta de oportunidades, dentre outras.
Outra questão tema de debate nacional, dentro e fora das empresas, é a equiparação
salarial entre homens e mulheres, com mesmo cargo e currículo similar. Segundo o IBGE
(OLIVEIRA, 2019), as mulheres ganham em média 20,5% a menos do que os homens em
todas as funções, ainda que, a população feminina detenha maior nível de escolaridade em
comparação a eles (GRANDA, 2018). Uma boa forma de solucionar esse problema, seria a
empresa instituir uma política de equiparação salarial, considerando a função e currículo, de
modo a oportunizar crescimento profissional da mesma forma entre gêneros.
CONCLUSÃO
Com esta análise, podemos pensar que educar as meninas é uma vantagem para a
sociedade, pois, além do crescimento pessoal, contribui para a economia global, por serem
elas a maior parcela da população. O impacto positivo se reflete através de suas habilidades
e conhecimentos, podendo ser o meio para auxiliar o desenvolvimento laboral. Todavia, o
fechamento das oportunidades por líderes à mulher, é uma decisão baseada em valores
outros, que são desconectados com as melhores práticas mundiais.
92
Mais do que uma atitude respaldada nos princípios constitucionais, incluir a mulher
e reduzir as desigualdades de gênero no mercado de trabalho, compreendendo as
peculiaridades existentes, é um meio para alcançar uma sociedade mais paritária. As
decisões tomadas hoje, possibilitará às meninas e às mulheres, desta e das futuras gerações,
alçarem voos mais altos, e chegar onde antes parecia – e era – impossível, afinal, “as
mulheres sustentam metade do céu” (provérbio chinês).
REFERÊNCIAS
BARRETO, Elis. CNN. Mulheres sofrem três vezes mais assédio sexual nas empresas
do que os homens. 2021. Disponível em:
<https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/mulheres-sofrem-tres-vezes-mais-assedio-sexual-
nas-empresas-do-que-os-homens/>. Acesso em: 20 out. 2022.
CARVALHO, André C.; BERTOCCELLI, Rodrigo de P.; ALVIM, Tiago C.; AL, et.
Manual de Compliance. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN
9786559640898. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559640898/>. Acesso em: 17 out.
2022.
GRANDA, Alana. IBGE: mulheres ganham menos que homens mesmo sendo maioria com
ensino superior. 2018. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-
03/pesquisa-do-ibge-mostra-que-mulher-ganha-menos-em-todas-ocupacoes>. Acesso em:
20 out. 2022.
93
MACIEL, Daniela. Mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança. Diário do
Comércio. Belo Horizonte, 2022. Disponível em:
<https://diariodocomercio.com.br/negocios/mulheres-ainda-sao-minoria-nos-cargos-de-
lideranca/>. Acesso em: 04 nov. 2022.
OLIVEIRA, Nielmar de. Pesquisa do IBGE mostra que mulher ganha menos em todas
as ocupações: A diferença entre carga horária trabalhada vem diminuindo. 2019. Disponível
em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-03/pesquisa-do-ibge-mostra-que-
mulher-ganha-menos-em-todas-ocupacoes>. Acesso em: 21 out. 2022.
INTRODUÇÃO
1
Professor e Coordenador do Curso de Direito da ULBRA/Guaíba. Advogado (OAB/RS 56.526). Doutor em
Sistemas Jurídicos e Político-Sociais Comparados pela Università degli Studi del Salento/Itália e Mestre em
Direito. Membro CEE ABNT 309 - Governança das Organizações. E-mail: josuemoller@axiosconsultoria.com
2
Doutora em Sistemas Jurídicos e Político-Sociais Comparados pela Università degli Studi del Salento/Itália
e Mestre em Direito pela Unisinos. Advogada (OAB/RS 56.407). E-mail: leticiamoller@axiosconsultoria.com
95
nem tampouco de algo que até bem pouco tempo atrás podia restar superficialmente
mascarado sob a pátina reluzente de iniciativas dos setores de marketing, mas de
transformações substanciais que estão a exigir compromissos e responsabilizações
concretas, quando não adequações e reposicionamentos significativos das organizações, sob
pena de ficarem para trás e deixarem de poder operar e existir. Um outro aspecto relevante
que deve ser destacado para a compreensão do movimento que se consolida diz respeito ao
impulso motriz partir preponderantemente de uma mobilização crescente e cada vez mais
consciente das 'partes interessadas' (stakeholders), envolvendo pessoas e organizações, que
se articulam em torno de seus propósitos próprios e de propósitos compartilhados, elevando
o nível das exigências e compromissos comuns, e consequentemente de regulamentações e
responsabilizações, inclusive implicando e influenciando decisivamente o
redimensionamento das relações público-privadas e da forma como operam agentes,
instituições e organismos nacionais e internacionais. Portanto, trata-se de um movimento
fortemente ancorado na livre-iniciativa, no exercício da autonomia e na autorregulação das
relações privadas, ainda que mantenha forte e relevante conexão com instâncias de regulação
de relações públicas, de acordo com parâmetros da legislação estatal e de normatização
internacional.
particularmente, quanto no que diz respeito ao que se afirma como expressão de um elevado
comprometimento das organizações com obrigações mandatórias que publicamente se lhe
impõe pela força jurídica da legislação e das normas jurídicas internacionais.
CONCLUSÕES
normativa que radica sua força própria nos propósitos das organizações e nas pretensões
vinculadas à promoção de boa governança, implicando sentidos éticos e jurídicos destinados
a orientar comportamentos, condutas e ações de gestores, colaboradores, fornecedores e
parceiros de negócios das organizações, considerando sempre todas as partes potencialmente
interessadas em relação às atividades que engendra socialmente e aos valores compartilhados
que gera como resultados.
REFERÊNCIAS
ASHLEY, Patrícia Almeida (Org.). Ética e responsabilidade social nos negócios. 2.ed. São
Paulo: Saraiva, 2005.
GHILLYER, Andrew. Ética nos negócios. 4.ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
ROE, Mark. Dodge v. Ford: what happened and why? Disponível em:
<https://corpgov.law.harvard.edu/2021/12/01/dodge-v-ford-what-happened-and-why>.
Acesso em: 08 nov. 2022.
is important and requires a dynamic of treatment, both for personal care, i.e., physical, and
for care via digital mechanisms. The present study verified how this dynamic is being applied
in the context of organizations, with emphasis on law firms. According to the results
obtained, organizations, especially law firms, have sought to intensify their services through
digital means, seeking to encourage and broaden the scope of their services, but still
maintaining physical services, thus seeking to ensure a balance with social purposes in
relation to the less fortunate citizens. For this analysis we used the doctrine, jurisprudence,
rules of the domestic and foreign legal system, as well as informative materials published on
websites.
Key words: Organizational management. Physical and digital customer service. Loyalty.
1 INTRODUÇÃO
Essa relação, que muitos entendem como um dos fenõmenos da globalização, onde
a aproximação com as pessoas se mostra mais necessária nas organizações via sistema digital
de comunicação, gera efeitos práticos e imediatos, tanto favoráveis, como, a depender das
medidas adotadas pelas organizações, desfavoráveis.
porém, nem sempre essa mesma tecnologia estará disponível para todas as pessoas, isso
devido a fragilidade de recursos de muitas dessas, necessitando de uma melhor e mais efetiva
inclusão social tecnológica por parte do mercado de trabalho.
Por essa razão, e levando em consideração a aderência por parte das organizações no
atendimento aos clientes, e demais indivíduos pela modalidade virtual, o presente estudo
visa analisar as principais peculiaridades da gestão organizacional com foco no atendimento,
aplicada por órgãos, entidades, e com ênfase aos escritórios de advocacia.
A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a
proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes
princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995).
Cumpre ressaltar, entretanto, a visão atual por parte do mercado não está ligada tão
somente na perspectiva de punição por má qualidade na prestação de seus serviços, mas,
principalmente, na perda de seus clientes, o que faz haver uma maior preocupação com a
fidelização destes e a melhora na qualidade do atendimento.
Mas, ainda que a preocupação com os clientes sejam mais destacadas no atual cenário
global, a concepção de que as normas representam uma garantia ao cidadão é reflexo social,
e o Estado deve buscar dar mais garantias quanto ao que necessita cada indivíduo,
observando, em especial, a individualidade de cada um, conforme ensina Mendes & Branco
(2021).
A ética na prestação de serviços por parte de empresas e demais setores econômicos, tem
uma linha muito tênue, entre a satisfação do cliente para fins de fidelização, ou não. Isso se deve,
pois, conforme a prestação dos serviços por parte das organizações, o cliente tende a retornar
por mais vezes, caso sinta-se realizado. Embora haja a perspectiva prática da concepção relativa
117
a valores pessoais, ou sociais, estes podem serem direcionados para atos ruins, como, por
exemplo, vender produtos defeituosos sem conhecimento do cliente, ou seja, há uma faculdade
de quem presta o serviço e oferece os produtos, conforme entendimento extraído dos
ensinamentos de Chauí (2008), porém, devem ser praticados com fins à honestidade e ao próprio
bem, pois isso é fundamental para uma organização de sucesso.
Mas, até chegar a esse ponto, ou seja, atendimento eficaz, há um longo processo. A
organização precisa se mostrar preparada para os anseios do cliente, visando economia de
tempo, excelência no atendimento e qualidade do serviço e produto. Para isso, é necessária
uma boa gestão, que perpassa por uma administração com objetivos de sucesso. Diante disso,
no contexto da administração, Bergue (2007, p. 17) a define como “um processo complexo
com várias definições possíveis. Uma delas, e provavelmente a mais simples, é: realizar de
modo constante e notável o processo administrativo”.
118
Com isso, observa-se que a gestão de recursos humanos tem um papel fundamental
na organização, pois não está preocupada só com o contexto interno da organização, mas em
prestar uma adequada assistência para o aprimoramento das políticas de efetivação de
objetivos voltados para o resultado.
A crise provocada pela pandemia Covid-19 fez com que setores da sociedade
empresarial, entidades de classe, órgãos da justiça, entre outros, necessitassem de
implementação tecnológica para atendimento ao público, isso, devido ao período em que as
restrições à presença física das pessoas eram mais limitadas, como forma de combater a
transmissão do referido vírus.
Essa situação despertou de forma mais acentuada o interesse por manter o sistema de
atendimento remoto, aperfeiçoando-o para que pudesse dar mais abrangência ao público e
com mais opões de serviços. Diante disso, observa-se, por exemplo, a Resolução nº 337 de
119
29/09/2020, emanada do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que determina no seu artigo
1º que:
As atividades dos servidores dos órgãos do poder judiciário podem ser executadas
fora de suas dependências, de forma remota, sob a denominação de teletrabalho,
observadas as diretrizes, os termos e as condições estabelecidas nessa resolução e
demais atos administrativos expedidos pela administração (BRASIL, 2019).
mesmo com a crise da Covid-19 chegando ao fim, escritórios mantiveram, e até aumentaram
o modelo de trabalho na forma remota (REDAÇÂO, 2020).
Aliado a essa modalidade de trabalho adotada pelos escritórios de advocacia, o
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios implantou o Juízo 100% digital,
conforme dispõe a portaria conjunta nº 21 de 18 de março de 2021, que diz no seu artigo 1º
que cabe a este Tribunal “instituir e regulamentar o "Balcão Virtual", no âmbito do TJDFT,
destinado ao atendimento de partes, de advogados ou de qualquer interessado nos processos
em tramitação nas unidades judiciárias, durante o horário de expediente, por meio da
ferramenta de videoconferência Microsoft Teams” (BRASIL, 2021).
Quanto à segurança das informações, sejam elas diretamente ligadas aos servidores
do poder judiciário ou advogados, demais órgãos e entidades, com a evolução tecnológica
manifestada por meio de alguns mecanismos, a título de exemplos, os acima citados, foi
criado ferramentas que possibilitam maior segurança para transferência de informações.
Com isso, cita-se, a assinatura digital, que confere autenticidade a assinatura de documentos,
conforme publicado no site do CNJ (2023).
Ainda a esse respeito, a lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, que é destinada a
proteção de dados (BRASIL, 2018), diz no seu artigo 1º que “esta lei dispõe sobre o
tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa
jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais
de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural”.
Diante disso, observa-se, que, aquelas pessoas que estão incumbidas de funções das
quais devam guardar dados de terceiros, e vierem a fazer mau uso, inclusive agindo sem as
precauções necessárias a evitar danos, podem sofrer penalidades, esse entendimento já está
sendo aplicado por meio da jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul,
vejamos:
organização no ambiente de trabalho, que esta seja propositiva, com fins de melhorar a forma
como são realizados os serviços para que surta um resultado mais qualitativo.
Colaborando com o entendimento do citado autor, Guimarães (2012) manifesta seu
posicionamento de forma que fica subentendido a necessidade de líderes propositivos, tendo
por objetivos alcançar resultados qualitativos, porém, o autor deixa entendido que para isso
se faz necessário uma organização, ou seja, estratégia para alcançar os fins desejados.
Importante observar, conforme já mencionado, as organizações precisam ter um
direcionamento voltado para a implementação tecnológica, mas sem esquecer que nem todas
as pessoas tem acesso aos meios digitais de comunicação, e por isso, é relevante haver um
equilíbrio na prestação dos serviços, seja pela modalidade virtual ou atendimento físico,
respeitando assim, o princípio da dignidade da pessoa humana e inserido nesse, a inclusão
social. Acrescenta-se, conforme ensinamentos de Gorga (2004), que as organizações
precisam analisarem o caso em concreto, ou seja, levando em consideração cada setor
regional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, foi possível observar que há uma tendência natural das
organizações em padronizar os seus trabalhos, aliando a tecnologia da informação aos
anseios sociais, voltados para a economia e qualidade de produtos e serviços, entretanto,
buscando manter um adequado atendimento para aquelas pessoas que ainda não dispõe de
tecnologias digitais por conta de suas condições financeiras precárias.
Com vistas a isso, está sendo aprimorada a tecnologia digital, que já está presente em
órgãos da administração pública, cita-se, por exemplo, o poder judiciário, onde a estrutura
organizacional deste, visa a economia material e processual, celeridade, acesso a serviços
por meio eletrônico e físico, assim como a eficiência, inclusive, permitindo o acesso seguro
por meio de assinatura digital.
Essa nova realidade, qual seja, tecnológica com vistas ao mundo digital, é tida por
muitos como a revolução do futuro, mas já está presente, o que significa dizer que as
organizações que não se adequarem a esse novo cenário poderão ficar estagnadas e perderem
seus engajamentos, possibilidade, com isso, perda de demandas, o que pode gerar menos
receita.
Por fim, a tecnologia aplicada no mercado e usada de forma mais constante por conta
do período da pandemia Covid-19, tem despertado muito interesse do mercado, sendo a nova
tendência, porém, há a necessidade de manter serviços básicos de atendimento na
modalidade física para aquelas pessoas que ainda não tem acesso aos meios digitais de
comunicação de forma efetiva, devendo ser aperfeiçoado o sistema digital, com vistas a
ampliação do atendimento e qualidade deste, para todas as pessoas, o que requer também
uma política de inclusão social voltada para o setor economico, ou seja, empregos, trabalhos
e rendas.
REFERÊNCIAS
_______. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação cível. Transporte aéreo de
passageiros. Direito do consumidor. Ação de indenização. Extravio temporário de
bagagem. Legitimidade passiva consagrada. Companhias aéreas integrantes do mesmo
grupo econômico. Teoria da aparência. Sentença de procedência ratificada. Danos
materiais e morais corroborados. Precedentes[...]. (Apelação Cível, Nº
50116487320138210001, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Guinther Spode, Julgado em: 12-12-2022).
CHAUI, Marilena. Iniciação à Filosofia. Volume único, 12. ed. São Paulo: Ática, 2008.
VALLS, A.L.M. O que é ética. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 2006.
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20.
VIEIRA, E. Os Direitos Sociais e a Política Social. São Paulo: Cortez, 2004, p. 116.
127
INTRODUÇÃO
Nesta esteira, surge então a necessidade de falar sobre a Criminal Compliance que
faz referência ao Direito Penal Econômico ganhando destaque na seara empresarial,
1
Advogado. Pós-Graduando em Compliance Contratual. Pós-Graduado em Direito Empresarial com Ênfase
em Direito Tributário. Mestrando em Direito Tributário. OAB/RS: 96.082. e-mail:
luisaugustoantunes@gmail.com.
128
2
BRITO, Teresa Quintela de. Relevância dos mecanismos de “compliance na responsabilização penal das
pessoas colectivas e de seus dirigentes In Anatomia do Crime – Revista de Ciências Jurídico-Criminais. N.O.
jul-dez. Almedisa, 2014. p.80.
3
A FCPA é a gênese da política criminal moderna contra a corrupção, “es decir de la exigência del sector
privado de que se implique y responsabilice em la lucha contra la corrupción. El rasgo más conocido de esta
129
inserir na gestão dos mesmos o fomento de práticas baseadas na ética e nos mecanismos de
cumprimento de normas.4
norma es que se aplica unicamente a la corrupción realizada por el empresário, pero no por el funcionario
publico que há cometido o delito. Aunque es uma ley destinada a la represión dela corrupción internacional,
em realidade au influencia se há estendido a todo tipo de corrupción”, vide: NIETO MARTIN, Adám. La
privatización de la lucha contra la corrupción ...) op. Cit., p. 194.
4
NIETO MARTIN, Adan. La responsabilidade penal de las pessoas juridicas: um modelo legislativo. Madrid:
Iustel, 2008. p.221
5
Artigo 9º, inciso VIII, conforme texto do segundo dispositivo apresentado pelo Deputado relator de Comissão
Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 6.826/2010. Disponível em
<HTTP:www.camara.gov.br/proposicoesweb`prop_mostrarintegra?codteor=982072&filename=SBT+27PL6
826107%3D%eE7PL+6826/2010> acessado em 31/10/2022.
130
A lei traz em seu bojo uma importante inovação, qual seja, a responsabilidade
objetiva, civil ou administrativa de empresas que praticam atos lesivos contra a
Administração Pública Nacional ou Estrangeira. Assim, a empresa responderá pelos danos
causados sem que precise comprovar culpa ou dolo das pessoas físicas que agiram por meio
da instituição, bastando ser comprovados os nexos de causalidade entre a conduta e o dano
ocorrido.
A lei pode, e deve, ser aplicada para Sociedades Empresárias, Sociedades Simples,
personificadas ou não, independentemente da forma de organização ou modelo societário
adotado, Fundações, Associações de Entidades ou Pessoas e Sociedades Estrangeiras
devidamente representadas em solo brasileiro.
Em âmbito administrativo a lei pode ser aplicada pelos Estados, União, Distrito
Federal e Municípios. Após o processo administrativo de responsabilização poderá incitar
as seguintes sanções: a) multa de 0,1% a 20% do faturamento bruto da empresa ou instituição
e b) publicação extraordinária da decisão condenatória.
Ainda no âmbito administrativo existe o Acordo de Leniência. Por meio do mesmo é possível
as empresas obterem uma atenuação ou isenção de sanções desde que colaborem com as
investigações e com o processo administrativo.
6
Artigo – Pressupostos de Compliance: Lei Anticorrupção, Imputação de Responsabilidade e Investigação
Corporativa Interna. FANTE, Leuza e SAAVEDRA, Giovani in Governança Corporativa, Compliance e
Proteção de Dados. Editora Eseni.Vol. 3, 1ª ed. 2022. p. 140.
131
Importante asseverar que a Lei Anticorrupção não é a única norma que coíbe práticas
empresariais ilegais, sendo igualmente possível a condenação de pessoas jurídicas por atos
de improbidade administrativa, infração à lei de licitações e contratos a e Lei de Prevenção
e Repressão contra Infração da Área Econômica (CADE).
Assumem assim uma função que excede a um mero encarregado responsável pela
vigilância, uma vez que passa a ter obrigações com a formação de seus subordinados, além
de supervisioná-los, tendo seus desempenho regulado pela Resolução nº 24 do COAF.
Cabe destacar que nos dias atuais o Compliance Officer é responsável por um número
expressivo de definições e atribuições em razão do cargo que ocupa. Podemos definir este
profissional como “o profissional responsável pela avaliação de riscos empresariais,
incumbindo a ele a elaboração de controles internos com o objetivo de evitar ou diminuir os
riscos de uma futura responsabilização civil, administrativa ou penal.8
7
BENEDETTI,Carla Rahal – Op. Cit. 2013. 315/316. Nota-se que as propostas de correção apontadas pelo
compliance officer e que, porventura não atendidas pelos seus superiores não devem ser dirigidas/denunciadas
a autoridades (disclosure). Para Silva Sánchez, um caminho viável será informar Onbudsman interno e/ou
advogados externos”.(LEUTERIO,Alex Pereira. Criminal Compliance e o pensamento penal de Silva-Sanchez.
Conteúdo Jurídico, Brasília – DF: 17 de maio de 2014. Disponível em: <HTTP://www.conteudo-
juridico.com.br/?artigo&ver=2.48120&seo=1>. Acesso em: 04 nov. 2022.
8
SAAVEDRA, Giovani A. Reflexões iniciais sobre criminal compliance. In Boletim IBCCRIM. São Paulo.
IBCCRIM, ano 18, n.218, p. 11-12, jan 2011.
132
Sobre este tema Luciano Souza e Regina Ferreira referem que: Muito mais do que
um meio de propagação da ética e da correção no mundo dos negócios, forçoso observar
expressamente que a criminal compliance é a porta de ntrada para mais intervenção do direito
penal no âmbito econômico, de modo ainda pouco seguro e amadurecido. A inicial louvável
adoção de boas práticas mediante códigos internos escritos, a serem controlados por
compliance officers, pode transfigurar-se na fixação de posição de garantidores do
cumprimento de tais deveres. Com isso, a um só tempo, facilitar-se-ia a questão probatória
de autoria em estruturas empresariais complexas, recaindo-se a atribuição de
responsabilidades sobre o garantidor, bem como abstrairia da necessidade de identificação
de qualquer lesividade concreta”.9
No Brasil existe uma questão de equivalência no artigo 13, § 2º do Código Penal que
dispõe: A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar
o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei a obrigação de cuidado,
9
SOUZA, Luciano Andersos, FERREIRA,Regina Cirino Alves. Op. Cit.2013, p. 296. Criminal Compliance e
as Novas Funções do Direito Penal Econômico. Revista do Direito Bancário e do Mercado de Capitais. Ano
16. Vol. 59. p. 281-302. São Paulo. Revista dos Tribunais. Janeiro-Março 2013.
133
Em razão deste artigo o Compliance Officer pode sim ser enquadrado como
“garante” nas funções e deveres que tenha assumido. Portanto é de suma importância que
todas as funções, deveres e responsabilidades do Compliance Officer sejam claramente
informadas e definidas em contrato formal e escrito, já que eventual responsabilização estará
condicionada às atribuições que lhe foram delegadas e sua real capacidade de agir.
Cabe destacar a relação entre ética e moral, pois são conceitos muito estreitos e
supletivos, mas que nem por isto podem se confundir. Existem muitas vertentes teóricas
sobre estes conceitos, mas todos tendem a confluir para um conceito fundamental: a ética é
uma atitude de reflexão sobre a moral convertida. A ética proporciona uma certa inquietação
sobre a orientação moral.”Com cuidadosa atenção, o que se deve considerar nesta relação
entre ética e moral, em linhas gerais, é o seguinte: a ética afirma-se como teoria da prática
moral responsável”.(MIETH, 2017, p.31)
Esta questão, nos parece não tem uma reposta única padronizada, mas sim algumas
hipóteses que julgamos relevantes para o bom desempenho de suas funções, quais sejam: a)
O dever de impulsionar uma análise eficaz de riscos, onde terá o papel de fomentador, com
o intuito dos mesmos serem devidamente administrados, viabilizando assim a atuação da
empresas visando o lucro e realizando negócios, sempre de maneira ética, assegurando que
exista a preocupação com adoção de políticas e procedimentos. b) Precisará garantir que seja
feita a apuração do “modus operandi” destes processos e como estão sendo cumpridos,
através de monitoramento ou auditorias.
10
Termos comumente utilizados para demonstrar o canal de contato para realização de denúncias ou pedidos
de ajuda, geralmente anônimos.
135
que ele próprio não seja tachado de “dedo-duro”, “cagueta” e outros termos pejorativos, que
de alguma forma, possa desacreditar sua imagem.
Busca-se, nos dias atuais um princípio plausível para uma regra básica de responsabilidade.
(GEWIRT, 1978, p. 31-33).
Esse princípio tem sido proposto com o seguinte teor: “atue sempre em consonância
com os direitos e deveres, tanto de sua própria pessoa quanto de todos os demais atores
atingidos pela sua ação! (STEIGLEDER, 1999, p. 110).
CONCLUSÃO
Estaria esta prática dentro do campo ético e moral? Ao longo do artigo procuramos
responder a estes questionamentos, analisando o instituto da Criminal Compliance no mundo
e no Brasil, as funções do Compliance Officer bem como suas responsabilidades penais e
por fim a influência da ética e da moral nas responsabilidades deste profissional.
REFERÊNCIAS
BUONICORE, Bruno Tadeu. Maio 2012. Criminal Compliance como Gestão de Riscos
Empresariais. Boletim IBCCRIM. n. 234, p. 17 – 18.
GEWIRT, Alan. Reason and Morality. Chicago: University of Chivcago – Press.. New
York: Oxford University Press. 1978.
HOME, David. Uma investigação sobre os princípios da moral. Tradução José Oscar de
Almeida Marques. São Paulo. Unicamp. 1995.
MIETH, Dietmar. Pequeno estudo de ética. Tradução Nélio Schneider. Aparecida. Ideias e
Letras. 2007.
SANDEL, Michael J. Justiça: o que é fazer a coisa certa. Tradução: Heloísa Matias e Maria
Alice Máximo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2011.
STEIGLEDER, Klaus. Die bergrindung der normativen etchick: der Ansatz von Alan
Gewirth. Ruhr; Universitãt Bochun. 1999.
TOLEDO, Cláudia; MOREIRA, Luiz. Ética e Direito. São Paulo. Editora Loyola. 2002.
138
INTRODUÇÃO
1
Bacharel em Direito formado nas Faculdades Integradas do Tapajós. Pós graduado em Direito e Processo
do Trabalho pela Universidade Cândido Mendes. Advogado inscrito pelos registros OAB/PA 24.426 e
OAB/RS 126.143-A. E-mail: muriloreissena@outlook.com.br.
139
sendo inverdade que a adequação satisfaz uma nova sede de consumo global, mas longe de
imprimir juízo de valor inadequado, faz-se necessário compreender como ferramentas
inicialmente utilizadas para o combate a corrupção, se casam tão bem com a aplicação
moderna da legislação laboral e ao avanço para um modelo mais justo e adequado ao
trabalhador comum.
Neste artigo, como veremos, os movimentos sociais são importantes para ditar como
devemos nos portar e quais culturas devemos escolher adotar em mecanismos de
conformidade e integridade.
Estas medidas não foram adotadas pelo acaso, o Congresso americano tomou esta
iniciativa visando sua imagem após o escândalo de Watergate, onde foi detectado um
esquema de fundos, em corporações transnacionais, que tinham várias finalidades escusas e,
dentre elas influenciar eleições, incluída a de Richard Nixon, MARTINS (2021).
Para entender melhor este relatório, precismos visitar a sua história, ressaltando que
sua criação em 1991, se dá devido uma crescente desconfiança na honestidade dos
investidores, impulsionado pelos colapsos financeiros de duas empresas grupo de papel
Coloroll e consórcio Polly Peck2.
Visível é, que tanto para a criação de mecanismos de conformidade, nos EUA, quanto
na Inglaterra, foram provocadas por fortes pressões para solucionar um ambiente de
desconfiança fruto de corrupção e vantagens obtidas de forma escusa em afeto ao mercado.
Isto demonstra um movimento de reação, que gerou um novo comportamento antecipatório.
2
The Cadbury Report. Disponível em: <https://cadbury.cjbs.archios.info/report>. Acessado em: 20 fev. 2023.
141
A renovação dada pelo decreto substituto (11.129/2022) em seu art. 56, impõe
adicionais ao antigo texto, como a prevenção e a criação de uma cultura de integridade em
um ambiente organizacional, contemplando pilares, estes que serão tratados mais adiante.
3
Jurisprudência 1000910112021502048. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=TRT-2+1000910-11.2021.5.02.0481> Acessado em:
17 fev. 2023.
142
Isto, pois, quando lançam mão da criação de uma cultura ética, abraçam a ideia de
que a norma, por assim, é um bem a ser perseguido, mas não é o único, tendo os princípios,
4
IBGC – Instituto de Governança Corporativa, 2023. Página institucional. Disponível em:
<https://www.ibgc.org.br/conhecimento/governanca-corporativa>. Acesso em: 15 fev. 2023.
5
Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa - 5ª Edição. Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa - São Paulo, SP: IBGC, 2015, p. 21.
143
como base, devem ser garantidos por meio de um comportamento já instalado dentro da
corporação. Assim, observemos a essência da ética e do direito aos olhos de Immanuel Kant:
Toda obrigação é um tipo de coerção. Desde que essa coerção não seja efeito de
uma necessidade bruta, ela é moral e pode ser dividida em interna e externa. No
primeiro caso, somos coagidos internamente apenas por meio de nosso próprio
arbítrio. Como exemplo, podemos citar o dever de ajudar o outro. Eu não posso
ser coagido pelo outro a realizar esse dever, pois isso descansa em meu próprio ato
discricionário. É possível falar, por outro lado, de uma obrigação externa na qual
a necessitação acontece por meio do arbítrio do outro na medida em que sou
coagido relutantemente a realizar uma ação, embota ainda a partir de motivos
morais. A título de exemplo, menciona-se, nesse caso, a obrigação de reparar uma
ofensa ao próximo.[…] Se o motivo pelo qual eu realizo uma ação é interno, posso
dizer que realizo a ação por dever, mas se esse motivo é exclusivamente externo,
eu realizo por coerção.6
CARLOTO (2020) aponta que a Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD, que possui
preceito aos princípios da dignidade humana, direito a privacidade e não discriminação,
casa-se perfeitamente com a Convenção 111 da OIT, que versa sobre a discriminação em
matéria de emprego e profissão.
CARLOTO (2020) aponta que uma das principais funções do compliance trabalhista,
é a redução de ações judiciais entre empregado e empregador. Mas trataremos do empenho
na redução da judicialização mais adiante, para neste momento olharmos segundo SILVA e
PINHEIRO (2020) para a ferramenta como “um conjunto de procedimentos e boas práticas”.
6
Lições de Ética. Immanual Kant. Traduzido por Bruno Leonardo Cunha, Charles Feldhaus. São Paulo. Editora
Unesp Digital – 2018, p. 20.
144
Esta movimentação pode ser visualizada, em sua última fase, pelo deslocamento da
produção e, acesso a matérias-primas e, por dois fatores, a redução de obstáculos, criando
maior competitividade internacional e um novo paradigma técnico-econômico, favorecendo
fases do processo produtivo e a sua dispersão e segmentação (CAMPOS e CANAVESES
2007).
7
Texto para discussão / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.- Brasília : Rio de Janeiro : Ipea , 2019.
Disponível em: <https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9246/1/TD-2475.pdf>. Acessado em: 17 fev.
2023.
8
CAMPOS, Luís. CANAVEZES, Sara. Introdução à globalização. p. 40. Disponível em:
<https://dspace.uevora.pt/rdpc/handle/10174/2468> Acessado em: 16 fev. 2023.
145
Neste cenário, um sinal de alerta se acende e já possui nome, o Dumping Social. Que
para além de muitos conceitos, foi traduzido por CAMPOS e GONAVAZES (2007, pag. 57)
como um nivelar os salários por baixo e os regimes de proteção social, fazendo as sociedades
periféricas competirem entre si na busca por investimentos estrangeiros.
9
CAMPOS, Luís. CANAVEZES, Sara. Introdução à globalização. p. 57. Disponível em:
<https://dspace.uevora.pt/rdpc/handle/10174/2468>. Acessado em: 16 fev. 2023.
146
O termo “tone fron the top” representa bem o comprometimento e o exemplo que
será dado pela administração da empresa, que deve além de segui-la, garantir sua efetividade
alocando os recursos necessários e, compreendendo suas virtudes.
Dito de outra forma, sem o “walk the talk”, tal programa de integridade
representará somente um custo (não um investimento) e/ou uma tratativa
dissimulada de aparentemente cumprir os ditames legais. Na ausência de uma
fonte de inspiração que cumpra e pratique, na “vida real”, o que fala e transmite a
Alta Administração, os stakeholders não terão a quem seguir e em quem se
inspirar, sendo o programa de integridade, lamentavelmente, um programa no
papel e cujas práticas conflitantes na teoria e na prática vão desmoronar. 10
10
BLOC, Marcella. Compliance e Governança Corporativa. 3 Edição. Rio de Janeiro. 2020, p. 54.
147
11
Tribunal Regional da 3ª Região. 0002230-94.2014.5.03.0008. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trt-3/1112642325>. Acessado em: 24 fev. 2023.
148
12
SALES, Émerson Nogueira. ALVARES, Adilson. A Importância Da Due Diligence Trabalhista Nos
Processos De Fusão E Aquisição. Disponível em: <https://liceu.fecap.br/LICEU_ON-
LINE/article/view/1735/1068>. Acessado em: 25 fev. 2023.
149
Tão logo, utilizar do due diligence como mecanismo que investigará o cumprimento
de legislação trabalhista e, as capacidades da empresa terceirizada, se tornou imprescindível
para a manutenção da relação contratual e, objetivamente, redução dos riscos e prejuízos.
Nesta toada, WAKAHARA (2017) trata do tema, observando que algumas empresas
utilizam do marketing social, no intuito de criar a imagem de lealdade entre consumidor e
empresa, para, agregar valor e status, que culminam em um atrativo movido pelo sentimento
social do consumidor. “[…] por meio do comprometimento da empresa com uma demanda
social, de modo que os consumidores façam a associação entre a marca, a empresa e o projeto
social automaticamente”. (WAKAHARA apud DUBEUX e KAMLOT, 2017. pag. 4)
do contrato realidade. Observemos que em decisão, o TRT2, apontou que houve a detecção
de conduta que se amolda ao bluewashing, em determinado caso, desacortinando que a
prática possuía a função de ativar os sentimentos dos consumidores, para assim, obter lucros.
Nesta linha ARAÚJO e COIMBRA (2021), destaca que o poder diretivo, é uma
prerrogativa do empregador, mas faz-se um destaque, que este seja para atender as
finalidades do empreendimento.
Para destacar a relevância internacional do tema, ZHOU (2020 apud LIU e LI 2017)
aponta que trabalhadores de plataforma não são mais empregados, ainda que em certos
termos possuam subordinação, mas que esta não se alinha a subordinação trabalhista, posto
que persiste a autonomia na prestação dos serviços.
justamente para que, excessos sejam sanados, contando com a participação do empregado,
o que importa em reconhecimento de sua importância.
Assim, podemos inclusive visualizar não só o efeito pós regulamento, mas também,
passamos a observar que anteriormente a qualquer implementação, já se faz necessário
compreender as condições trabalhistas que são imutáveis e aquelas que necessitam de
maiores graus de negociação. Justamente pensando nisso ASSI (2018), alerta que é
imperioso antes de preparar a redação do compliance ou mesmo sua publicação, avaliar os
riscos no cotidiano da operação, tanto interna como externamente, ou seja, na condição de
compliance trabalhistas, há a necessidade de avaliação dos direitos do empregado afetos as
152
novas condições, para que, prevendo risco, não infira alterações que possam repercutir danos
ao empreendimento e aos trabalhadores.
Neste ponto, o compliance trabalhista deve atuar em conjunto com os valores que o
empreendimento busca, alinhando-os, a legislação vigente, e neste, amparando sua
atualização, bem como, a maleabilidade do tempo e dos anseios sociais, posto que, para além
da legislação, conceitos de moral e ética sofrem alterações ao passo que a sociedade avança.
Demonstra-se que a busca pela redução de judicializações com a reforma dos direitos
trabalhistas, teve seu êxito. Os motivos e, os pontos de apoio são vastos, DIAS e SILVA
(2017), apontam que a terceirização é uma das portas para a melhoria da crise econômica e
estagnação da economia que o país vivenciava, frente a terceira revolução industrial em que
pouco a legislação nacional avançou.
Apontam como motivações sobre a reforma BIAVASCHI (et al, 2018, apud KREIN,
GIMENEZ, SANTOS, 2018), que a modulação dos direitos do trabalho, estão alinhadas ao
capitalismo, retirando a rigidez e reduzindo a judicialização, posto que, como já mencionado,
há a retirada de obstáculos antes previstos pela legislação laboral, insuflando mecanismos
atrativos de investimentos privados externos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARÁUJO, Francisco Rossal de, COIMBRA, Rodrigo. Direito do Trabalho. 2ª Ed. São
Paulo, 2021.
ASSI, Marcos, Compliance: como implementar. São Paulo: Trevisan Editora, 2018. E-
book.
DINIZ, Patrícia Dittrich Ferreira. RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Compliance e Lei
Anticorrupção nas Empresas. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p87.pdf>. Acessado em: 17
fev. 2023.
MARTINS, Tiago do Carmo. O Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) e uma reflexão sobre
o microssistema anti#corrupção brasileiro. Revista digital de direito administrativo.
Faculdade De Direito De Ribeirão Preto – Fdrp. Universidade De São Paulo – Usp.
Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rdda/article/view/185311>. Acessado em: 17
fev. 2023.
SOUZA, Raíssa Fabris de. BELLINET, Luiz Fernando. Compliance Trabalhista: Uma
Análise A Partir Da Função Social Da Propriedade E Da Responsabilidade Socioambiental
Da Empresa. Disponível em: <https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/180132>.
Acessado em: 14 fev. 2023.
Texto para discussão - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.- Brasília: Rio de Janeiro
: Ipea , 2019. Disponível em: <https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9246/1/TD-
2475.pdf>. Acessado em: 17 fev. 2023.
1
Advogada, mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, OAB n º 102.546.
2
Advogada, mestranda em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, OAB nº 124.571.
3
A governança corporativa como a conhecemos hoje em dia só começou a ganhar mais atenção nas décadas
de 1980 e 1990, com os escândalos financeiros envolvendo empresas como Enron e WorldCom, que levaram
a um aumento da regulamentação e fiscalização das práticas corporativas nos Estados Unidos e em outros
países.
159
fiscalizações. Ao longo dos anos, o tema evoluiu e hoje é central para uma boa gestão de
negócios, necessária para garantir a sustentabilidade à longo prazo.
A Lei faz parte de uma tendência global mais ampla em direção à responsabilidade
corporativa pelos direitos humanos, e a Alemanha é um dos vários países que introduziram
uma legislação específica para mensurar a adequação das empresas. A Lei estabelece
obrigações de due diligence para empresas com operações na Alemanha em suas cadeias de
fornecimento, a fim de identificar e prevenir violações aos direitos humanos e danos
ambientais.
4
No original, Lieferkettengesetz de onde se origina a sigla LkSG, que será utilizada no ensaio para referir a
legislação.
161
Além dessas ações, a Lei exige que as atividades da due diligence sejam
documentadas continuamente, possibilitando o acompanhamento da evolução das ações
tomadas, e sejam armazenadas por sete anos, como prova da adequação e eficácia da
diligência. Ainda, é uma obrigação legal a disponibilização do relatório anual sobre os
direitos humanos e os riscos ambientais identificados e a eficácia das medidas tomadas. As
medidas e obrigações serão acompanhadas pela autoridade supervisora alemã, o Escritório
Federal Alemão para Assuntos Econômicos e Controle de Exportação (BAFA).
Sem dúvida, as penalidades foram pensadas para incentivar a mais rápida adequação
das empresas, causando um impacto direito e quase imediato em toda a cadeia de
fornecedores do país. Uma vez que as grandes empresas são incentivadas a agir, buscando
melhores práticas de mercado, uma empresa fizer parte da cadeia de suprimentos de uma
empresa maior com sede na Alemanha direta ou indiretamente, começa a prestar atenção na
governança do seu próprio negócio e busca adequação independentemente do tamanho ou
localização, porque certamente será solicitada a cumprir a Lei mais cedo ou mais tarde.
A LkSG vem também de uma demanda cultural forte da Alemanha, cujo modelo de
operacionalização depende de elaboração legislativa que materialize os costumes e os
princípios em lei. O modelo de governança corporativa adotado pela Alemanha é nipo-
germânico, ou seja, conta com uma parcela grande de investidores que possuem uma parcela
significativa de ações e administração, adotando um sistema com um forte envolvimento dos
acionistas e um alto nível de transparência e responsabilidade (SLOMSKI, 2008).
O modelo é regulado por diversas leis e normas, incluindo a "Lei Alemã das
Sociedades Anônimas" (Aktiengesetz) e o "Código Alemão de Governança Corporativa"
(Deutscher Corporate Governance Kodex). O código alemão de governança corporativa
descreve os regulamentos legais para administração e supervisão de empresas alemãs
listadas, que se referem principalmente à Lei Alemã das SAs, e “visa aumentar a
transparência e a compreensão do sistema de governança corporativa alemão, a fim de
fortalecer a confiança de investidores nacionais e internacionais, clientes, funcionários e
público em geral na gestão e supervisão de empresas cotadas na Alemanha” (DCGK, 2023).
Isso não significa que não há legislação sobre o assunto no ambiente jurídico
brasileiro. A Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/76) e a Lei de Proteção de Dados
Pessoais (Lei nº 13.709/18) são exemplos de normativas que fazem a conexão entre o público
e o privado. Ainda, há legislações que são voltadas para o setor público que são referência
para empresas privadas, como a Lei de Conflito de Interesses (Lei nº 12.813/13) que define
situações de conflito de interesses e veda a participação de servidores públicos em decisões
que possam beneficiar interesses próprios ou de terceiros; a Lei Anticorrupção (Lei nº
12.846/13) que responsabiliza as empresas por atos lesivos contra a administração pública,
estabelecendo a obrigação de implementação de programas de compliance e a possibilidade
164
de aplicação de multas e outras sanções e a Lei das Estatais (Lei nº 13.303/16) que estabelece
regras para a governança corporativa das empresas estatais, incluindo regras para a
composição dos órgãos de administração, divulgação de informações, transparência e
controle social.
Proibição das piores formas de trabalho ➔ Constituição Federal de 1988: estabelece que é
infantil; proibido o trabalho noturno, perigoso ou insalubre
para menores de 18 anos e o trabalho em qualquer
atividade que comprometa a saúde, a segurança e a
moralidade dos menores de idade.
➔ Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): O ECA
estabelece a proteção integral dos direitos das
crianças e dos adolescentes, incluindo o direito à
educação, saúde, lazer, cultura, profissionalização e
proteção contra todas as formas de violência,
exploração, abuso e negligência e a probição do
trabalho infantil em todas as suas formas.
➔ Lei do Aprendiz (Lei nº 10.097/2000): estabelece
que as empresas de médio e grande porte devem
contratar jovens aprendizes com idade entre 14 e 24
anos, para trabalhar em atividades compatíveis com
a formação escolar, sob a orientação de um
supervisor e com direito a salário e benefícios
trabalhistas.
➔ Código Penal Brasileiro: estabelece penalidades para
quem explorar o trabalho infantil, com pena de
reclusão de dois a quatro anos e multa, além de outras
penalidades previstas em lei
exploração.
➔ Além disso, o Brasil ratificou diversas convenções
internacionais que proíbem o trabalho forçado, tais
como a Convenção 29 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) sobre o Trabalho Forçado e a
Convenção 105 da OIT sobre a Abolição do
Trabalho Forçado, a Convenção sobre a Escravatura
de 1926 e a Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial de 1965.
Proibição de discriminação, incluindo a ➔ Constituição Federal: estabelece que todos são iguais
exclusão de grupos vulneráveis, como perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
mulheres, pessoas LGBT+ e pessoas com garantindo a inviolabilidade do direito à vida, à
deficiência; liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
➔ Lei nº 7.853/1989: dispõe sobre o apoio às pessoas
com deficiência e estabelece medidas para a sua
integração social. Ela determina que as pessoas com
deficiência têm direito à educação, à saúde, ao
trabalho, à acessibilidade, à cultura, ao esporte e ao
lazer, entre outros direitos.
➔ Lei nº 9.029/1995: proíbe a prática de discriminação
de trabalhadores em razão de sexo, origem, raça, cor,
estado civil, situação familiar ou idade, inclusive a
discriminação de gênero no ambiente de trabalho e
em processos seletivos de emprego. Ela estabelece
que é proibido exigir teste de gravidez, estabelecer
diferenças salariais entre homens e mulheres que
desempenham a mesma função e restringir o acesso
de mulheres a determinados cargos.
➔ Lei nº 10.678/2003: estabelece medidas de promoção
da igualdade racial e combate à discriminação,
prevendo a criação de programas para a promoção da
igualdade racial, ações afirmativas para a inclusão de
negros em cargos públicos e privados e o combate ao
racismo.
➔ Lei nº 12.288/2010: institui o Estatuto da Igualdade
Racial e estabelece medidas para a promoção da
igualdade de oportunidades para a população negra.
Ela prevê a criação de políticas públicas para a
inclusão social e econômica da população negra, a
promoção da educação para a valorização da
diversidade étnica e o combate ao racismo e à
discriminação.
➔ Lei nº 13.146/2015: Essa lei institui a Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência e estabelece
medidas para a inclusão social das pessoas com
deficiência. Ela prevê a promoção da acessibilidade
em todos os espaços e serviços públicos e privados,
a reserva de vagas para pessoas com deficiência em
concursos públicos e a garantia do direito à
educação, saúde, trabalho e outros direitos.
➔ Lei nº 13.709/2018: Essa lei estabelece a Lei Geral
de Proteção de Dados Pessoais e estabelece medidas
para proteger a privacidade e a liberdade dos
167
Violações dos direitos à saúde e segurança no ➔ Constituição Federal de 1988: garante o direito à
trabalho, incluindo a exposição a produtos saúde como um direito fundamental e prevê a
químicos perigosos (como por exemplo, redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
produtos com adição de mercúrio, uso de normas de saúde, higiene e segurança.
mercúrio e tratamento de resíduos de ➔ Consolidação das Leis do Trabalho (CLT):
mercúrio), falta de equipamento de proteção e estabelece as normas e os direitos trabalhistas,
condições de trabalho perigosas; incluindo a proteção à saúde e à segurança do
Proibição de exportação e importação de certos trabalhador.
resíduos perigosos; ➔ Normas Regulamentadoras (NRs): são
regulamentações criadas pelo Ministério do
Trabalho e Emprego (atualmente Ministério da
Economia) que estabelecem requisitos e
procedimentos mínimos para garantir a segurança e
a saúde dos trabalhadores em diversos setores.
➔ Lei nº 8.213/91: dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e estabelece as
normas para a avaliação da incapacidade laboral
decorrente de acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais.
➔ Lei nº 12.645/12: dispõe sobre a obrigatoriedade de
notificação de acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais.
➔ Portaria nº 3.214/78: aprova as Normas
Regulamentadoras relativas à segurança e à saúde no
trabalho.
No âmbito formal e normativo, resta evidente que o Brasil têm uma preocupação com
a proteção social e ambiental, inclusive contando com os esforços da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT)5, que ao longo dos anos coordenou a elaboração de normas
que se relacionam e muito, com os riscos elencados pela LkSG, como por exemplo, a NBR
16001 sobre a responsabilidade social, a NBR ISO 26000, diretrizes sobre responsabilidade
social, a NBR ISO 9001, sobre sistemas de gestão da qualidade, a NBR ISO 14001, acerca
dos sistemas de gestão ambiental, a NBR ISO 31000, sobre a gestão de riscos, a NBR ISO
37000 sobre governança de organizações, e a ISO 4500, norma para o Sistema de Gestão de
Saúde e Segurança Ocupacional (SGSSO).
No entanto, no Brasil, ainda não há uma lei específica sobre due diligence de
fornecedores, prevendo expressamente a resposabilização objetiva como a LkSG, mas há
um movimento em que as empresas e organizações estão cada vez mais reconhecendo a
5
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é responsável por coordenar os processos de elaboração,
revisão e atualização das normas técnicas brasileiras em diversas áreas.
168
No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que os direitos sejam
efetivamente protegidos no contexto da vida cotidiana e não apenas no papel. As iniciativas
globais podem inspirar a realidade brasileira a buscar o seu próprio caminho de adequação
e cuidado com o meio ambiente e direitos humanos, uma vez que há um aspecto crucial do
desenvolvimento sustentável, que busca alcançar um equilíbrio entre economia, sociedade e
meio ambiente.
A due diligence, nesse contexto, envolve uma avaliação sistemática e contínua dos
riscos de violações de direitos humanos em suas cadeias de fornecimento, incluindo a
avaliação dos fornecedores e subfornecedores, buscando a identificação de questões
relevantes de direitos humanos, a avaliação dos riscos, a implementação de medidas de
prevenção e correção, e a monitoração contínua dos impactos e das ações tomadas. Isso
envolve a consulta a grupos afetados, a avaliação da conformidade com leis e normas
internacionais de direitos humanos e a cooperação com parceiros externos.
6
Os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos são um conjunto de
diretrizes adotadas pelas Nações Unidas em 2011, que estabelecem as responsabilidades das empresas no que
diz respeito ao respeito aos direitos humanos. Os Princípios são amplamente reconhecidos como o padrão
global para a responsabilidade das empresas em relação aos direitos humanos e são utilizados como referência
para a elaboração de políticas e regulamentos em diferentes países e setores.
169
CONSIDERAÇÕES FINAIS
alemã é uma das primeiras iniciativas na Europa nesse sentido e já influenciou a adoção de
legislação semelhante em outros países, incluindo a França e os Países Baixos.
No Brasil, há várias leis que protegem os direitos humanos, incluindo o Código Penal
e a Constituição Federal. Além disso, o país tem leis específicas que proíbem o trabalho
infantil, o trabalho escravo e outras formas de opressão. As empresas brasileiras também são
incentivadas a adotar práticas de governança corporativa e responsabilidade social.
As empresas, ao seu turno, não precisam esperar a edição de novas leis para analisar
os riscos de adotar uma cadeia de suprimentos que não esteja em conformidade com práticas
de governança corporativa e de responsabilidade social. A adoção de práticas de governança
corporativa é fundamental para garantir a sustentabilidade dos negócios, além de ser uma
forma de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável, ao mesmo
tempo que acrescenta valor na sua marca e operações ao promover a diversidade e a inclusão,
e respeitar os direitos humanos e ambientais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Áurea (Lei nº 3.353/1888). Presidência da República. Casa Civil. Subchefia
para Assuntos Jurídicos. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3353.htm>. Acesso em: 30 jan. 2023.
BRASIL. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 25 maio 2017. Seção 1, p. 1. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm>. Acesso em:
30 jan. 2023.
ONU. Guiding Principles on Business and Human Rights. 2011. Disponível em:
<https://www.ohchr.org/documents/publications/guidingprinciplesbusinesshr_en.pdf>.
Acesso em: 12 fev. 2022.