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Organizadoras
Beatriz Maria Luchese Peruffo
Rosângela Maria Herzer dos Santos

Mulheres no Poder:
trajetória pessoal e profissional

Porto Alegre
OABRS
2018
Copyright © 2018 by Ordem dos Advogados do Brasil
Secção do Rio Grande do Sul
Todos os direitos reservados

Organização técnica
Beatriz Maria Luchese Peruffo
Luciana Almeida da Silva Teixeira
Fernanda Corrêa Osório
Karin Regina Rick Rosa
Rosângela Maria Herzer dos Santos
Recebimento dos textos, diagramação, ficha catalográfica
Jovita Cristina G. dos Santos
Arte da Capa
Carlos Pivetta
M749a
Mulheres no Poder: trajetória pessoal e profissional. Beatriz
Maria Luchese Peruffo; Rosângela Maria Herzer dos
Santos (Organizadoras) – Porto Alegre: OAB/RS, 2018.
237p. il:, 18x25cm.

ISBN: 978-85-62896-07-1

Edição Digital
Disponível em: portaldoaluno.oabrs.org.br
1. Narrativas. 2. Mulheres no Poder. I Título.
CDU: 929
Bibliotecária Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 1517/10º

O conteúdo é de exclusiva responsabilidade dos seus autores.


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ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE


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Presidente: Ricardo Ferreira Breier


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ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA

DIRETORIA/GESTÃO 2016/2018

Diretora-Geral: Rosângela Maria Herzer dos Santos


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Vice-Presidente: Márcia Heinen

COMISSÃO DA MULHER ADVOGADA

Presidente: Beatriz Maria Luchese Peruffo


Vice-Presidente: Aline Eggers
Secretária: Joice Raddatz
Coordenadora do GT Mulheres no Poder: Luciana Almeida Da Silva Teixeira
SUMÁRIO

Palavra do Presidente – Claudio Lamachia ................................................ 9


Mulher advogada – Ricardo Breier ........................................................... 11
Apresentação – Beatriz Maria Luchese Peruffo – Rosângela Maria Herzer
dos Santos .................................................................................................... 13
Mensagem - Cléa Carpi da Rocha .............................................................. 19
Adriane Schramm ........................................................................................ 23
Ana Amélia Lemos....................................................................................... 26
Ana Maria Brongar de Castro .................................................................... 30
Ana Paula Dalbosco .................................................................................... 34
Andréa Dutra Westphal ............................................................................... 40
Camila Toledo .............................................................................................. 42
Carina Ruas Balestreri ................................................................................ 45
Claudia Furlanetto ...................................................................................... 48
Cleuza Dias .................................................................................................. 51
Débora do Carmo Vicente ........................................................................... 56
Denise Rodrigues Marques ......................................................................... 61
Elaine Harzheim Macedo ............................................................................ 64
Elizéa Lima Bonapace ................................................................................. 67
Florencia de León Rivadavia ...................................................................... 69
Francine Nunes Ávila ................................................................................. 75
Iris Lima de Moraes .................................................................................... 77
Janaina Agostini Braido ............................................................................. 82
Jéssika Grazieli Maciel Assmann ............................................................... 86
Joanna Burigo ............................................................................................. 90
Jomara Costa de Souza ............................................................................... 94
Josiane Caleffi Estivalet .............................................................................. 97
Juliana Martin ........................................................................................... 102
Kamila Coelho Albuquerque Barros ........................................................ 104
Karina Meneghetti Brendler ..................................................................... 108
Lavina Dias de Souza ................................................................................ 111
Lelia Teresinha Lemos de Quadros .......................................................... 114
Ligia Marques Furlanetto ......................................................................... 119
Luci Duartes .............................................................................................. 122
Luciana Almeida da Silva Teixeira........................................................... 126
Macleine Frantz Machado ........................................................................ 129
Manuela D´Ávila ....................................................................................... 132
Mara Rochinhas ........................................................................................ 135
Marcia Rossatto Fredi ............................................................................... 137
Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira ................................................ 140
Maria Jacqueline Brenner Zamberlan ..................................................... 144
Maria Regina Wingert Abel ...................................................................... 146
Mariana Ferreira dos Santos .................................................................... 150
Mariana Melara Reis................................................................................. 151
Marina Panazzolo ...................................................................................... 154
Marlei Salete Flores .................................................................................. 158
Marlise Lamaison Soares .......................................................................... 160
Marta Rossi ................................................................................................ 163
Nádia Rodrigues Silveira Gerhard ............................................................ 167
Patricia Alves Marques da Silva ............................................................... 170
Patrícia Dall’Agnol Bianchi...................................................................... 172
Patricia Xavier Bittencourt........................................................................ 175
Paula Bulla ................................................................................................ 178
Paula Grill Silva Pereira ........................................................................... 181
Paula Mascarenhas ................................................................................... 184
Paula Silva Rovani Weiler......................................................................... 188
Quélen Kopper ........................................................................................... 189
Rosana Brogni Steinmetz Wainer ............................................................. 191
Salma Farias Valencio .............................................................................. 193
Sara Gavioli Doeler ................................................................................... 196
Silvana Bastian .......................................................................................... 198
Silvana Maldaner ...................................................................................... 201
Simone Diefenthaeler Leite ....................................................................... 204
Sueli Morandini Marini ............................................................................ 207
Sulamita Santos Cabral ............................................................................. 210
Suzana Velo ............................................................................................... 217
Tânia Terezinha da Silva .......................................................................... 221
Veralba Aparecida Branco Arnold ........................................................... 223
Yeda Crusius .............................................................................................. 225
Zulmara Colussi ........................................................................................ 228
Currículo – Rosângela Maria Herzer dos Santos. ................................. 231
Currículo – Beatriz Maria Luchese Peruffo .......................................... 232
Anexo 01: Fotos- Evento Mulheres no Poder- Março /2017 – OAB/RS e
TRE Mulheres nas esferas da política, das instituições e das empresas.
.................................................................................................................... 233
Anexo 02: Fotos - Conferências Regionais de Valorização da Mulher
Advogada da OAB/RS - 2017 .................................................................. 234
9

Palavra do Presidente

Na obra “Mulheres no Poder” (Dr. Claudio Lamachia – Presidente


Nacional da OAB). À frente da OAB Nacional tenho tido a oportunidade
de me dedicar a diversos temas, com o intuito de representar os anseios de
mais de um milhão de ADVOGADAS e advogados inscritos em nosso país.
Ao longo desse período, como uma das bandeiras fundamentais da gestão,
tenho ressaltado a importância da presença feminina nos quadros de nossa
entidade, contribuindo para a evolução de nossas atividades. Inclusive,
diversas têm sido as ações realizadas por todo o país com vistas a reforçar a
relevância da mulher em nossa sociedade e buscar devido respeito aos seus
direitos. Exemplo disso é que nossa luta garantiu a alteração do Código de
Processo Civil, conquistando a suspensão de prazos processuais quando do
nascimento de filhos das advogadas ou de adoção, além de outras vitórias para
advogadas grávidas e lactantes. No âmbito da OAB, também garantimos uma
cota de gênero nas eleições da entidade, exigindo que todas as chapas tenham
que contar com pelo menos 30% de representação de cada gênero, trazendo
mais diversidade para os cargos de dirigente da Ordem. Além dessas ações,
alterações no Estatuto da Advocacia asseguraram outras fundamentais
prerrogativas para profissionais grávidas ou lactantes, tais como não se
submeter a detectores de metais e aparelhos de raios X nas entradas dos
tribunais. A segunda edição da Conferência Nacional da Mulher Advogada,
10

em Belo Horizonte, também marcou história, com mais de 2.500


participantes. Sem dúvida, vivemos um dos momentos mais marcantes da
história em nossa entidade. Temos combatido toda e qualquer forma de
discriminação, notadamente a que vitima as mulheres. A evolução desse
compromisso tem aparecido ao longo dos anos, e um dos resultados é ver o
Plenário do CFOAB como o que tem o maior número de conselheiras na
história e também à frente das comissões nacionais. É assim que temos
materializado a campanha Mais Mulheres na OAB, encampada pela atual
gestão. Da mesma forma, esperamos ver concretizada essa igualdade em
nossa política. Sendo assim, é com imensa honra que teço essas breves
palavras para a obra “Mulheres no Poder”, reafirmando meu reconhecimento
à imprescindível contribuição das mulheres em nossa entidade e na sociedade
em geral. Cumprimentando todas as dirigentes de Ordem, presto minha
homenagem a todas as advogadas do RS e do nosso Brasil, não somente por
esta publicação, mas por tudo o que representam e engrandecem nossa
profissão. Tenham a certeza de que continuaremos na marcha por um futuro
mais igualitário.

Claudio Lamachia - Presidente Nacional da OAB


11

Mulher advogada

O trabalho e a relevância da mulher advogada, dentro da OAB/RS,


alcançam um protagonismo cada vez maior. Essa caminhada vem sendo
alicerçada em razão do engajamento crescente de profissionais responsáveis
e dedicadas.
Tenho orgulho de ter, em minha gestão, várias mulheres atuando como
presidentes de Subseções da OAB/RS, bem como Rosangela Herzer dos
Santos, ocupando a direção geral da Escola Superior de Advocacia (ESA) da
OAB/RS. Fico lisonjeado em ter tido a oportunidade de, em 2017, ver a nossa
sempre presidente Cléa Carpi receber a Medalha Rui Barbosa da OAB
Nacional – a primeira mulher advogada a ser reconhecida com a mais alta
comenda da advocacia brasileira.
Temos mulheres advogadas na diretoria, presidindo comissões e
liderando conferências estaduais. Um dos mais eloquentes exemplos é o de
Beatriz Maria Luchese Peruffo, presidente da Comissão da Mulher Advogada
da OAB/RS.
Com a realização das Conferências Regionais de Valorização da
Mulher Advogada da Ordem do Rio Grande do Sul, abrimos mais um canal
de aproximação e envolvimento das colegas com nossa entidade. A adesão
delas aos encontros comprova o sucesso desses encontros realizados em
12

diferentes regiões do Estado. E, agora, temos o lançamento da obra “Mulheres


no Poder”. Um registro necessário e marcante.
Os meus mais sinceros e efusivos aplausos de reconhecimento ao
trabalho que vem sendo realizado pelas mulheres advogadas. Essa
contribuição é fundamental na caminhada da nossa OAB/RS.
Ricardo Breier - Presidente da OAB/RS
13

Apresentação

No dia 15 de maio de 2017 foi realizado na sede da Ordem dos


Advogados do Brasil – Seccional Rio Grande do Sul o evento denominado
“Mulheres no Poder: Trajetória Pessoal e Profissional1” organizado pela
Comissão da Mulher Advogada (CMA) da OAB/RS, Escola Superior da
Advocacia (ESA da OAB/RS) e Escola Judiciária Eleitoral (EJE) do TRE/RS.
Tivemos a honra de participar da idealização e a coordenação
científica do evento, juntamente com a Presidente do Tribunal Regional
Eleitoral do Rio Grande do Sul e diretora da Escola Judiciária Eleitoral,
Desembargadora Liselena Schifino Robles Ribeiro; Débora do Carmo
Vicente, chefe de gabinete da Presidência do Tribunal Regional Eleitoral do
Rio Grande do Sul; e Luciana da Silva Almeida Teixeira, coordenadora do
GT Mulheres na Política da CMA - Comissão Estadual da Mulher Advogada
da OAB/RS.
A constatação da necessidade de refletirmos sobre o papel da mulher
e sua inserção nas instituições, nas empresas e na política, surgiu a ideia de
promovermos painéis com a participação de mulheres com liderança, nos

1
Anexo 01 - Fotos do Evento “Mulheres no Poder.”
14

seguintes segmentos: Mulheres na Política, painel coordenado pela Escola


Judiciária Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do RS; Mulheres nas
Instituições, coordenado pela Escola Superior da Advocacia da OAB/RS, e
Mulheres Empreendedoras, coordenado pela Comissão da Mulher
Advogada da OAB/RS.
O intuito do evento teve um viés acadêmico e cultural, para que as
pessoas pudessem ouvir e debater a trajetória de vida de cada uma das ilustres
mulheres participantes, que expuseram suas histórias e realidade de vida,
diante dos entraves culturais e sociais que enfrentaram, o que foi
extremamente enriquecedor, uma vez que as palestrantes possuem perfis
diversificados. Opiniões diversas sobre a lei de cotas de gênero, a participação
feminina na política, nas instituições, nas empresas, o assédio em ambientes
empresariais, o desrespeito, a insinuação de incapacidade, menores salários,
foram temas abordados e debatidos, dentre outros, no encontro.
Participaram do painel das “Mulheres na Política”, organizado pela
Escola Judicial do Tribunal Regional Eleitoral, tendo como Presidente de
Mesa: Débora Vicente - chefe de gabinete da Presidência do TRE-RS, as
seguintes convidadas:
Ana Amélia Lemos - Senadora da República
Yeda Crusius - Deputada Federal
Joanna Burigo - Mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of
Economics
Manuela d´Ávila - Deputada Estadual e Procuradora Especial da Mulher
Nádia Rodrigues Gerhard - Vereadora de Porto Alegre
Paula Mascarenhas - Prefeita de Pelotas
15

Salma Valêncio - Diretora do Departamento de Políticas para as Mulheres


da Secretaria do Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos
Humanos do Rio Grande do Sul
Tânia Terezinha da Silva - Prefeita de Dois Irmãos
O painel “Mulheres nas Instituições”, organizado pela Escola
Superior da Advocacia da OAB/RS, atuado como Presidente de Mesa:
Rosângela Maria Herzer dos Santos - Diretora-Geral da ESA – OAB/RS, as
seguintes convidadas:
Ana Cristina Cusin Petrucci - Subprocuradora-geral de Justiça do RS
Beatriz Renck – Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª. Região -
TRT4
Cléa Anna Maria Carpi da Rocha – Ex-Presidente da Ordem dos Advogados
do Brasil – Seccional Rio Grande do Sul – OAB/RS, e conselheira federal da
OAB nacional
Elaine Harzheim Macedo – Desembargadora aposentada. Ex-Presidente do
Tribunal Regional Eleitoral. Presidente do IGADE (Instituto Gaúcho de
Direito Eleitoral)
Elisângela Melo Reghelin – Delegada de Polícia. Diretora-geral da Academia
de Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul
Iris Helena Medeiros Nogueira – Corregedora-geral de Justiça do Tribunal
de Justiça do Rio Grande de Sul – TJRS
Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira - Secretária-geral adjunta da Ordem
dos Advogados do Brasil – Seccional Rio Grande do Sul - OAB/RS
Patrícia Maria Nunez Weber – Procuradora chefe da República no RS
Rosane Ramos - Presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Rio
Grande do Sul - CAARS
16

Sulamita Santos Cabral – Presidente do IARGS (Instituto dos Advogados do


Rio Grande do Sul)
Organizado pela Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS, o
painel Mulheres Empreendedoras, tendo atuado como Presidente de Mesa:
Beatriz Maria Luchese Peruffo - Presidente da CMA da OAB/RS,
participaram as seguintes convidadas:
Camila Toledo – Artista
Fabiana de Freitas – Diretora Jurídica do Grupo Boticário
Kamila Barros – ABMCJ – Presidente Estadual da Associação Brasileira das
Mulheres de Carreira Jurídica do Estado do Rio Grande do Sul
Maria Cristina Ferreira dos Santos - Coordenadora da Rede Brasil
Afroempreeendedores no RS - REAFRO/RS
Raquel Stein – Presidente da WLMB – Women in Law Mentoring Brazil -
Grupo de mentoring de advogadas de escritório e de jurídico interno
Silvana Bastian – Presidente da BPW Porto Alegre – Business and
Professional Women's – Organização de Mulheres de Negócios e
Profissionais
Simone Leite – Presidente da FEDERASUL
Tamanho foi o sucesso e a repercussão do evento Mulheres no Poder:
Trajetória pessoal e profissional, que fomentou a realização em cada
Conferência Regional de Valorização da Mulher Advogada da OAB/RS de
painéis semelhantes, ouvindo dezenas de mulheres líderes no interior gaúcho
e na Região da Grande Porto Alegre, onde apresentaram relatos de vida
pessoal e profissional nos mais diversos ramos.
17

Foram realizadas onze Conferências Regionais2, nas seguintes


Subseções da OAB/RS: Região da Serra (Canela), Região Planalto (Passo
Fundo), Região da Fronteira (Bagé), Região Fronteira II (Santana do
Livramento), Região da Fronteira I (Uruguaiana), Região Costa Doce (Rio
Grande), Região Litoral (Capão da Canoa), Região dos Vales (Santa Cruz do
Sul), Região das Missões (Cruz Alta), Região Grande Porto Alegre (Novo
Hamburgo) e Região Central (Santa Maria).
Na Conferência Estadual de Valorização da Mulher Advogada da
OAB/RS, realizada em Porto Alegre, cada Região indicou uma painelista, que
apresentou a narrativa de vida pessoal e profissional, resultando, assim, em
diversos relatos de mulheres destacadas pelo seu trabalho, em todo o estado
do Rio Grande do Sul.
Os diversos debates e narrativas apresentadas nas conferências
regionais e estadual da CMA realizadas em 2017, destacaram o papel da
mulher no âmbito jurídico, profissional e político, incentivando mais
mulheres a participar da sociedade, a ocupar espaços de liderança, a proteção
dos direitos da mulher cidadã, além de abordar, em painel específico, as
demandas das advogadas quanto as questões relativas as prerrogativas
profissionais e de gênero.
A Conferência Estadual de Valorização da Mulher Advogada da
OAB/RS contou com a presença da Presidente da CNMA - Comissão
Nacional da Mulher Advogada do Conselho Federal da OAB, Eduarda
Mourão, que palestrou sobre a valorização da advocacia feminina no Brasil.
Agradecemos ao Presidente da OAB/RS, Dr. Ricardo Breier, pelo
incondicional apoio e incentivo na realização de todos os eventos, bem como

2
Anexo 02 - Fotos do Evento “Conferências Regionais.”
18

ao Presidente Claudio Lamachia, Presidente do Conselho Federal da OAB,


que ao participar do primeiro evento Mulheres no Poder, registrou a
importância da participação das mulheres nos órgãos de decisão do sistema
OAB.
As narrativas estão selecionadas em ordem alfabética, antecedidas
pela mensagem especial da Dra. Cléa Carpi da Rocha - Medalha Rui
Barbosa, Conselheira Federal e Ex-Presidente da OAB/RS.
A presente obra tem o objetivo de condensar em formato de narrativas
individuais escritas pelas próprias mulheres, contando sua trajetória e
realidade de vida, com o intuito que esses depoimentos sirvam de inspiração,
reflexão e incentivo para as mulheres que lutam pela importância de ser
mulher num mundo com inúmeras adversidades e entraves culturais e sociais
a serem enfrentados.

Rosângela Maria Herzer dos Santos3 Beatriz Maria Luchese Peruffo4


Diretora-Geral da ESA-OAB/RS Presidente da CMA da OAB/RS

3
Currículo no final do livro.
4
Currículo no final do livro.
19

Mensagem - Drª Cléa Carpi da Rocha

Sinto-me profundamente honrada e feliz por ter recebido a Medalha


Rui Barbosa, que evoca o Patrono da Advocacia Brasileira, estadista,
exemplo de ética profissional e talento jurídico, cuja figura, no dizer de Paulo
Bonavides, avulta sempre agigantada em um país de tão reduzida cultura
política como o nosso, necessitado de paradigmas e referências valorativas.
Bem sei o que representa a responsabilidade de uma advogada receber
pela primeira vez tão destacada honraria. E o faço sempre partilhando esta
homenagem com as valorosas advogadas brasileiras, em especial as gaúchas,
como se todas tivessem realmente esta Medalha em seu peito.
Bravas mulheres, nas quais identifico o espírito combativo de Anita
Garibaldi, a heroína dos dois mundos, quando disse: Não tenha medo de viver,
de correr atrás dos sonhos. Tenha medo de ficar parada.
A participação das advogadas nos órgãos de decisão em todo o
Sistema OAB, constituindo metade do universo da advocacia, tem sido lenta,
mas estamos no bom caminho, pois a marcha é coletiva e exige a presença
atenta e constante de todos nós, advogadas e advogados.
Afinal, como disse certa vez Bento Gonçalves, herói da Revolução
Farroupilha: A causa que defendemos não é só nossa, ela é igualmente a
causa de todo o Brasil.
20

É, nesse sentido, a visão política e institucional, o apoio firme e eficaz


do Presidente do Conselho Federal da OAB, Claudio Lamachia.
E, no contexto, o nosso Presidente Ricardo Breier, que vem conduzido
a OAB gaúcha com empenho e sabedoria para a participação conjunta de
advogadas e advogados.
Sempre entendi que a vida é feita de escolhas, sempre escolhas, sendo
que a importância delas reside na fidelidade.
E tenho como uma das fidelidades de minha alma a OAB, por tudo o
que tem feito em relação à justiça social, aos direitos humanos e em defesa
das prerrogativas das advogadas e dos advogados, que são prerrogativas da
cidadania, visando à realização da justiça, essenciais ao Estado Democrático
de Direito, como dispõe o mandamento do art.44, do nosso Estatuto.
Essa dimensão humana que tem o exercício da advocacia, essa voz de
liberdade, me fascina e me apaixona. Não é por outro motivo que
Calamandrei aponta serem o advogado e a advogada dotados de superantenas
de justiça. Essa sensibilidade simbolizada pelas antenas é requisito
indispensável para o exercício da profissão.
Nessa direção e movida por tais valores, dediquei minha vida à Ordem
dos Advogados e a tudo o que essa extraordinária Instituição representa.
A OAB está na gênese do Estado constitucional vigente hoje no Brasil.
Esteve na vanguarda das lutas cívicas que propiciaram a redemocratização, a
anistia, o fim da censura, a liberdade de plena organização partidária, o
restabelecimento de eleições diretas em todos os níveis e, por fim, a
Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a Constituição da
República de 1988, consolidando todas essas conquistas.
21

Nos anos 80, lutamos por uma nova Constituição que, segundo
entendíamos, deveria ter sido vertida em uma assembleia nacional exclusiva,
não congressual.
Definido o modelo congressual, participamos ativamente da
construção do texto, e aqui destaco o trabalho e o empenho do nosso
Presidente Fernando Krieg da Fonseca, de quem tive a honra de integrar a
Diretoria como Vice-Presidente, vindicando a inserção de normas e princípios
em favor da cidadania e do social, bem como o importante princípio da
indispensabilidade dos advogados e das advogadas na administração da
justiça. Festejamos a obra constitucional em uma memorável Conferência
Nacional da Advocacia, realizada em Porto Alegre, no mês de outubro de
1988.
E hoje diante da realidade que nos rodeia, nos inquieta, nos preocupa,
nos atinge, nos mobiliza, abre-se para nós uma nova perspectiva no nosso
ofício, no nosso compromisso com a sociedade, na nossa luta pelo respeito
humano, na nossa atenção contínua, não só quanto à aplicação da lei, mas
quanto à efetiva distribuição da justiça.
Por isso, nossa mobilização para a plena concretização da democracia
procura garantir não somente um convívio social, mas um convívio social
justo, com o engajamento da sociedade em defesa de seus valores
fundamentais.
Nosso desafio – da OAB e de todos os setores organizados da
sociedade civil – é fazer com que o Brasil comece a dar conteúdo a estas duas
palavras vitais para a preservação da dignidade humana: justiça e cidadania.
Sem dúvida, no mundo atual que nos rodeia, outro mundo justo é
possível e cabe a nós fazê-lo possível.
22

Como afirma o sociólogo Edgar Morin, podemos não chegar ao


melhor dos mundos, mas a um mundo melhor.
Na minha caminhada de fé, luta e esperança estão presentes duas
pessoas muito caras ao meu coração: Leonida Carpi, meu pai. Sua inquietude,
sua rebeldia, sua crença, sua fé encontraram nesta terra, que tanto amou, o
veio de sua permanente luta para mudar a injusta condição humana, numa
visão universal do bem comum. Teve ao seu lado uma mulher que o
acompanhou com a sabedoria da bondade, sempre serena e firme nos
momentos mais duros da ditadura militar, Elisa Margarida, minha mãe.
De ambos recebi os valores de vida plena para todos, da liberdade, da
dignidade, da fidelidade, princípios que cimentam minha vida e me
conduziram até aqui.
Cléa Carpi da Rocha
Medalha Rui Barbosa, Conselheira Federal e Ex-Presidente da
OABRS.
23

Minha história de vida e superação é mais uma entre


muitas

Adriane Schramm5
Sempre enfrentei desafios, casei muito nova, tive 2 filhos, permaneci
casada por 10 anos, passei por um divórcio traumático, dificultoso e ao
mesmo tempo libertador, com várias cicatrizes de um casamento sofrido, e só
então, aquela menina de 17 anos que teve seus sonhos interrompidos,
começava a partir daquele momento uma nova vida.
Enfrentando o preconceito da família e sociedade, iniciava-se uma
grande batalha, a difícil missão de cuidar dos filhos, voltar aos estudos,
sustentar a casa, e principalmente buscar uma inspiração para continuar,
através do apoio dos meus pais, após muita discussão, comecei a refletir sobre
como seria ter uma vida diferente.
Morando no interior, criada numa família conservadora, passei a me
inserir no mundo político, num meio onde os homens não admitiam mulheres,

5
Prefeita do Município de Maçambará, eleita em 2016.
24

e até então era minimamente frequentado por mulheres, parecia algo


impossível de se realizar.
Começamos no ano de 1995, realizando um grande sonho dos
moradores da localidade, a emancipação da nossa pequena Vila para que se
tornasse uma linda cidade.

Em meio há tantos desafios, concorri a minha primeira eleição, não


obtive êxito, mas nunca desanimei, persisti, nas eleições seguintes, já formada
em Administração de Empresas, com mais maturidade e conhecimento, para
minha surpresa, fui eleita a vereadora mais votada, e a única mulher a ocupar
uma cadeira das nove vagas do Legislativo.
Muitas dificuldades, muitas lutas, cursos de qualificação, pós em
Gestão de Cidades.
Esse mundo foi me fascinando, percebendo que podia ser muito útil
para minha comunidade, queria sempre fazer mais, e com isso, concorri a vice
Prefeita, eleita e reeleita, percorri 8 anos de muita paciência e aprendizado,
encontrando muito preconceito, dificuldades, críticas e dúvidas, mas sempre
recebendo apoio do meu Pai, pessoa ímpar na minha vida e grande
incentivador, que me colocava a todo momento seu grande exemplo de vida,
através da honestidade, retidão, persistência, princípios éticos e humanos.
Como mulher, podemos ocupar qualquer papel na sociedade, mesmo,
os antes somente ocupado por homens, podemos obter êxito, ter o mesmo
sucesso que estes, e ainda continuar sendo mãe e dona de casa, posso dizer
que nós mulheres somos como polvos, cheias de tentáculos e abraçamos o
mundo de oportunidades que se descortina a nossa frente, sem pestanejar, e
sem deixar nossa família e filhos de lado.
Tive muitos sonhos adiados, alguns não realizados, mas muito orgulho
do caminho que percorri e do lugar onde me coloquei ao vencer esse percurso,
25

com muita perspicácia e nenhum arrependimento de ter buscado o melhor


para minha família e minha comunidade.

Atualmente sou Prefeita do Município de Maçambará, eleita em 2016,


com mais de 62,8% dos votos válidos. Dentre meus correligionários fui a
Prefeita eleita com o maior percentual de votos no Estado do RS.
Nessa sociedade preconceituosa, escolher a política, onde os homens
predominam, ter que provar que você é capaz de entender, discutir fatos,
estratégias e resultados exige muita persistência e também uma boa dose de
teimosia, mas acima de tudo tem que se ter muito amor pelo chão que você
escolheu morar. Porque o lugar que você mora tem que ser, com certeza o
melhor lugar para se viver.
Nunca foi fácil e nem será, mas devemos sempre insistir, mesmo que
os ventos soprem ao contrário, pois no final sempre valerá a pena todo esforço
dedicado a um mundo mais justo e fraterno.
26

Do jornalismo para a politica


Ana Amélia Lemos6
Nasci no interior de Lagoa Vermelha, nos Campos de Cima da Serra.
Filha mais velha entre nove irmãos. Meus pais, João e Cilene, como todas as
famílias pobres, lutavam para superar dificuldades e cuidar de tantos filhos.
Desde cedo aprendi a não perder as oportunidades, fossem elas pequenas ou
grandes conquistas pessoais e profissionais. Nunca esperei pelos outros. Fui
sempre em busca dos meus sonhos. O primeiro deles foi ter aceito, aos nove
anos, o convite de Dona Rosita Ache para ser sua dama de companhia em
Porto Alegre. Ali, ela abriu as portas à minha educação, no então Grupo
Escolar Argentina e, depois, no Othelo Rosa. O segundo sonho devo ao ex-
governador Leonel Brizola por ter me concedido bolsa de estudos integral que
me permitiu estudar e me formar na Escola Normal Rainha da Paz, em Lagoa
Vermelha. Nas férias escolares, trabalhava como balconista para comprar
uniforme e material escolar. No último ano do curso normal, hoje magistério,

6
Senadora da República
27

comecei a trabalhar, à noite, como auxiliar de disciplina em escola pública


próxima e, graças a esse emprego, tive condições para me transferir para Porto
Alegre e começar uma nova etapa na minha vida, pois queria continuar
estudando. Em 1967, passei no vestibular de Comunicação Social da Famecos
PUC/RS, depois de ter sido reprovada no teste psicológico, eliminatório, no
curso de Serviço Social. Não desisti! Naquela época, as mulheres começavam
a buscar mais espaços em profissões nas quais os homens eram maioria.
Novamente uma bolsa de estudos, desta vez da Assembleia Legislativa, me
permitiu cursar a faculdade, na qual me formei em 1970.

Antes de concluir o curso superior busquei, na prática, aquilo que a


faculdade não podia oferecer. Fui produtora na Rádio Guaíba, do programa
Repórter da História e, em seguida, entrei para o quadro do Jornal do
Comércio, como repórter de economia. Como nunca deixei passar as
oportunidades para crescimento profissional, aceitei, anos depois, o desafio
de ser comentarista da TV Difusora (hoje Band RS). Para reforçar o salário
era, ao mesmo tempo, repórter da sucursal do Correio da Manhã, do Rio de
Janeiro, e, igualmente, correspondente da Revista Visão, de São Paulo. Em
1977, iniciei minhas atividades na RBS como repórter de economia,
produtora e apresentadora do programa Panorama Econômico, na TV,
convidada pelo seu fundador, Maurício Sirotsky Sobrinho. Em 1979, ao
acompanhar meu marido Octavio Cardoso, que assumiu diretoria da Caixa
Econômica Federal em Brasília, fui transferida para a RBS na capital federal,
com participação multimídia, voltada para a área política e prioridade com as
questões de interesse regional. Três anos depois, me tornei diretora da
empresa. A atuação junto aos centros decisórios nacionais proporcionou que
estivesse presente nas principais coberturas jornalísticas pelo Grupo RBS, no
Brasil e no exterior, e conhecido pessoalmente grandes lideranças nacionais
28

e personalidades inesquecíveis como o papa João Paulo II, Nelson Mandela,


Deng Xiaoping, Fidel Castro, Xanana Gusmão, Bill Clinton.

Em 2010, depois de quatro décadas no Jornalismo, dos quais 33 na


RBS, desliguei-me da empresa e aceitei o desafio das urnas, conquistando a
vaga ao Senado Federal pelo Partido Progressista, com 3,4 milhões de votos
do eleitorado gaúcho. Neste primeiro mandato posso contabilizar importantes leis
de minha autoria em defesa da saúde, do municipalismo, da produção
agropecuária e outras áreas, que estão em vigor. Destaco a lei que inclui na
cobertura obrigatória dos planos de saúde o tratamento, em casa, contra o câncer,
com remédios de uso oral e a lei que garante, no SUS, o acesso das mulheres com
deficiência a equipamentos adequados no diagnóstico e tratamento dos cânceres
de mama e de colo de útero. De minha autoria, também, a Emenda Constitucional,
já em vigor, que aumentou em 1% a receita do Fundo de Participação dos
Municípios, garantindo mais recursos para as administrações municipais em todo
o país. Para a agricultura, minha lei criando um marco regulatório para a cadeia
produtiva de integração agropecuária está sendo referência em países da América
Latina. Relatei a lei que prevê a reparação da mama na mesma cirurgia para
retirada do tumor e a lei dos 60 dias para o início do tratamento do câncer, a partir
do diagnóstico, ambas pelo SUS. Na área social, relatei a regulamentação da lei
das trabalhadoras domésticas. No total, foram cerca de 90 propostas apresentadas
neste mandato, defendendo a integridade na política e buscando fazer a diferença
na vida dos cidadãos. Todas as minhas proposições são sugeridas pela sociedade.
Assim, tenho recebido o reconhecimento de diversas instituições, entre os quais o
prêmio Octávio Frias de Oliveira, concedido pelo Hospital do Câncer de São
Paulo e cujo cheque de R$ 16 mil repassei ao Instituto do Câncer Infantil, de Porto
Alegre. Em outubro e em novembro de 2017, fui indicada pelo júri do Prêmio
Congresso em Foco como a melhor senadora e escolhida a Melhor Parlamentar
29

entre todos os 594 congressistas pelo site Ranking dos Políticos, que avalia o
desempenho de senadores e deputados federais. Tenho consciência de que esses
reconhecimentos aumentam ainda mais a responsabilidade do meu mandato.

Como presidente da Fundação Milton Campos, instituição de formação


política do Progressistas, tenho apoiado e promovido ações que estimulam a
participação da mulher e dos jovens na atividade política, visando a formação de
novas lideranças.
30

Advogada – Conselheira Seccional

Ana Maria Brongar de Castro


Advogada, especialista em Direito de Família, atuante em causas
cíveis e trabalhistas, natural da cidade fronteira de Uruguaiana-RS.
Penso que minha história de vida principiou com meus antepassados,
quando meus avós maternos se separaram, restando minha avó e minha mãe
sem a confortável condição financeira que o restante da família possuía. Este
fato; todavia, culminou por incentivar minha amada mãe Marlene Brongar a
crescer na vida e passar esta força aos filhos.

Sou a primeira filha do casal Marlene Brongar de Castro e Nilson de


Castro, de um total de quatro filhos, possuindo três queridos irmãos: Maria
Rita, Sandra e Fabio.
Minha aspiração quando criança era me tornar uma grande médica e
já com 17 anos de idade prestei vestibular para cursar medicina na PUC em
Porto Alegre.
31

Porém, a vida me levou a outro caminho. No ano em que ingressaria


na faculdade de medicina, meu pai foi acometido por uma doença grave que
lhe retirou a possibilidade de pagar meus estudos.

Retornei à Uruguaiana e, aos 18 anos de idade tive a oportunidade de


prestar concurso para a Receita Federal, sendo aprovada. Com o salário,
consegui pagar a faculdade de Administração de Empresas, que na época
integrava os cursos do Campus II, da PUC, em Uruguaiana.

Após a conclusão do curso de Administração de Empresas, cursei pós


graduação em Ciências Econômicas, também pela PUC.

O objetivo, desde a época em que fui forçada a deixar para trás o sonho
de ser médica, foi de retornar ao curso de Medicina após adquirir condições
econômicas para tal.

Meu pai, graças a Deus, se recuperou e voltou a trabalhar; todavia,


durante o curso de Administração de Empresas passei a me interessar pelas
cadeiras que continham conteúdos jurídicos, e meus planos começaram a
mudar. Optei, então, por não mais voltar à medicina e passei a cursar a
faculdade de Direito.
Tão logo concluí o curso de direito (dezembro de 1995), cursei a
Escola Superior do Ministério Público; porém, no ano em que iria prestar
concurso fui surpreendida com a dissolução da união que eu então mantinha,
o que me desestruturou a ponto de não conseguir estudar para o concurso e
me forçar a desistir de fazê-lo.
Porém, a vida mais uma vez me mostrou que o caminho era outro, e
separada, com meu escritório de advocacia já montado, comecei a me dedicar
de corpo e alma para o que eu realmente gostava de fazer: advogar.
32

Foi assim que há 22 anos iniciei a minha carreira como advogada


militante, me sentido hoje realizada por estar totalmente inserida no mercado
de trabalho, na atividade que me satisfaz plenamente e que considero a luz
dos meus olhos.

Foi também assim que tão logo me formei em direito fui convidada a
compor uma chapa na OAB Subseção Uruguaiana, ocupando o cargo de
Delegada da Caixa de Assistência, na qual permaneci por três gestões, até ser
convidada a exercer o cargo de Secretária Geral da Subseção e presidente da
Comissão da Mulher Advogada, funções que exerci com zelo e amor.

Neste período em que exerci cargos e fui diretora na OAB Subseção


Uruguaiana, também participei com afinco dos eventos promovidos pela
Seccional.

Com vasto conhecimento de Ordem e arraigada, por amor à classe,


nas atividades da OAB, fui convidada na gestão 2013/2015 a fazer parte da
2ª. Turma do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-RS, função à qual me
dediquei com entusiasmo e profissionalismo e, convidada para na atual
gestão- 2016/2018 - compor o Conselho Seccional da OAB – função que me
traz muito aprendizado, à que me dedico inteiramente, compondo hoje, com
muita honra, a Primeira Câmara Julgadora, o Órgão Especial, o Conselho
Pleno da OAB-RS e a nossa maravilhosa Comissão da Mulher Advogada da
OAB-RS.

Também em Uruguaiana, há cerca de vinte anos passei a integrar um


trabalho voluntário de atendimento jurídico, social e médico às mulheres
vítimas de violência, trabalho este que sempre nos trouxe muito orgulho e
satisfação em poder ajudar, de forma graciosa e com as ferramentas que
33

possuímos nas mãos: nosso trabalho e conhecimento - à estas mulheres tão


sofridas, vítimas de famílias e de uma sociedade desestruturadas.

Meu escritório permanece na cidade de Uruguaiana, sendo que, além


do trabalho junto à Seccional RS, também continuo integrada, em todos os
segmentos, às atividades desenvolvidas pela OAB Subseção Uruguaiana,
além de participar também de vários trabalhos sociais em minha cidade.

Enfim, hoje analisando a pessoa que me tornei, posso dizer que sou
feliz, realizada profissionalmente, com uma família onde prevalece o amor
e a união, com muito a oferecer ao próximo, que é o que torna a nossa vida
essencial para a sociedade e nos traz o verdadeiro sentido de existir.
34

Ana Paula Dalbosco7

Num dos raros diálogos do recente filme “Sob a pele do lobo”, de


Samu Fuentes, quando um caçador que vive sozinho numa região hostil conta
que seu cachorro foi morto por lobos, seu interlocutor sugere o substitua por
uma mulher, “que além de fazer o trabalho da tua casa ainda te fará
companhia”.
A crueza dessa sugestão expõe as vísceras do odioso pensamento
discriminatório contra a mulher, gestado nos milênios da hegemonia do
patriarcado, discriminação essa que a ONU conceituou como sendo “Toda a
distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha, por objeto ou
resultado, prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela
mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do
homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos

7
Desembargadora do Tribunal de Justiça do RS.
35

campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro


campo.”8
Como forma de dar mais efetividade a essa política, a Assembleia
Geral da ONU de julho de 2010, criou uma nova agência: a “ONU Mulheres
– Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e
Empoderamento das Mulheres”. No entanto, a própria ONU tem
reconhecido que, apesar de todos esses esforços a nível global, as
desigualdades de gênero continuam profundamente arraigadas em todas as
sociedades:
“As mulheres têm pouco acesso a um trabalho digno e
enfrentam segregação ocupacional e defasagens de remuneração
vinculadas a gênero. Muitas vezes lhes é negado o acesso a educação
básica e saúde. As mulheres em todas as partes do mundo sofrem
violência e discriminação. Elas têm pouca representação nos
processos políticos e econômicos de tomada de decisão”.9
Da denominação da novel Agência, destaco a expressão
“empoderamento feminino”, significativo neologismo que sempre associo a
um poético texto de Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Me
aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o
horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei.
Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de
caminhar.”
A infindável luta pela igualdade de gêneros, ainda hoje, em pleno
século XXI, se paramenta com as vestes da utopia. Em que pese o conjugado

8
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(CEDAW), ONU, 1979.
9
http://portuguese.weprinciples.org/Site/UnWomen/
36

esforço das Nações Unidas e dos movimentos feministas no âmbito


planetário, a desigualdade entre homens e mulheres permanece
profundamente enraizada nos extratos sociais de todas as nações, das mais
cultas e economicamente mais poderosas, até as menos desenvolvidas. As
mulheres continuam sendo vítimas da violência, não só da psicológica como
até mesmo da física; recebem salários bem inferiores aos dos homens pelo
simples fato de serem mulheres; além de se lhes exigir o cumprimento das
mesmas tarefas domésticas de sempre, paralelamente às atividades
profissionais.
No mundo inteiro, todos os dias, a cada hora e a cada minuto, as
mulheres são submetidas ao jugo das mais diversas e predatórias formas de
opressão. Basta observar-se o entorno familiar, social e profissional onde
vivemos, abrir o jornal ou ingressar nas redes sociais, para nos depararmos
com notícias constrangedoras - como a da menina russa humilhada por
homens brasileiros na recente Copa do Mundo. Ou notícias de determinadas
comunidades islâmicas, com a abominável prática da ablação clitoriana, para
evitar o paranóico temor da infidelidade. Ou os crimes praticados contra as
mulheres em nome do “fundamentalismo religioso”, que vão até a pena de
morte na acusação de adultério. Ou no caso das “dalitis” indianas, que nascem
já condenadas a uma vida de humilhação e violência pelo simples fato de
serem mulheres e pertencerem, numa arbitrária classificação religiosa, a uma
casta inferior. Ou a prática do ‘breast ironing’, em países Africanos e até
mesmo por imigrantes no Reino Unido, na qual “achatam-se” os seis de
meninas de 8 a 14 anos, com o corpo em desenvolvimento, sob a cínica
justificativa de se “protegê-las” contra estupros e assédios sexuais.
Isso tudo obriga a mulher a travar, todos os dias e em todos os
momentos desses dias, uma incessante batalha pela defesa de suas
37

prerrogativas humanas porque, desenganadamente, é disso que aqui se trata,


na medida em que toda a qualquer forma de discriminação fere, no seu âmago,
o conceito de humanidade.
Essa permanente defesa da mulher contra as incessantes agressões ao
seu direito de tratamento paritário com o homem, cria uma tantalizante
situação de desgaste que remete ao mito de Sísifo, condenado pelos deuses ao
suplício da repetição infinita de uma tarefa sem sentido.10
Porém, como demonstrou Albert Camus, temos de extrair um
significado dessa situação: toda a contradição deve ser vivida e testados a sua
razão e os seus limites, ainda que sem maiores esperanças, porque “o absurdo
nunca pode ser aceito, ele exige constante confronto, constante revolta.”11
Isso decorre do indeclinável exercício da liberdade, que intrínseca à nossa
condição humana: estamos sós e temos de escolher. E de muita paixão nesses
processos, porque sem a paixão não se pode viver uma vida plena.
Por isso tudo é que não pode haver, jamais, nem esmorecimento nem
muito menos conformismo. Por isso tudo é que precisamos continuar rolando
a pedra de Sísifo porque, repisa-se Galeano, é para isso que serve a utopia:
para que não deixemos de caminhar.
Essas mudanças devem ser feitas na mais recôndita estrutura moral da
sociedade, o que só se conseguirá a partir da conscientização da grande
interessada, que é própria mulher. Não se pode perder de vista que a repetição,
per secula seculorum, dos mesmos conceitos castradores da liberdade
feminina, acabam não apenas forjando os grilhões da opressão

10
Por toda a eternidade obrigado a empurrar uma pesada pedra montanha acima que, ao
atingir o ápice, rolava para baixo, demandando a repetição perpétua do ato inútil.
11
Albert Camus, O Mito de Sísifo, ensaio de 1941,apud
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mito_de_S%C3%ADsifo
38

institucionalizada, como, o que é ainda pior, se introjetando no próprio modo


de ser e de pensar da mulher.
Disso deriva uma das mais perversas consequências do repetitivo
mantra da “inferioridade do sexo frágil” (!) que é a auto- opressão, a partir da
qual a própria mulher se coloca no plano secundário de servidora do outro, o
que paulatinamente vai erodindo a sua autoestima e sabotando o seu potencial
crescimento.
Esse tóxico processo de solapamento do amor próprio, leva à corrosão
do sentimento de dignidade pessoal, fazendo com que muitas mulheres,
embora vitoriosas no mercado de trabalho, sintam um certo “complexo de
culpa” até mesmo por serem vencedoras, resultante das preconceituosas
ideias, ouvidas desde a mais tenra idade, de que o seu lugar é em casa, de que
deve por primeiro servir ao outro, e de que tem de se colocar como a cerra-
fila da família no que diz com a satisfação de suas necessidades e de um
eventual projeto de felicidade e de crescimento. Daí porque é imperioso que
a mulher esteja em permanente processo de recriação psicológica, no que diz
com o seu status de absoluta paridade e equivalência em relação às
prerrogativas que o homem se concedeu no curso da história.
A compreensão da absoluta igualdade jurídica entre o homem e a
mulher requer, pois, essa visceral transformação. Já dizia Simone de
Beuvoir: “Não se nasce mulher: torna-se! No mesmo norte segue a
reivindicação veemente – que é também um brado de independência - de
Katherine Mansfield: “Quero ser tudo o que sou capaz de me tornar.”
Esse é o nosso definitivo ponto de partida!
Como as organizadoras desta publicação me solicitaram um
testemunho de vida, agora o presto: pautei minha vida de advogada e decidi
39

disputar uma vaga no TJRS pelo denominado “quinto constitucional”,


incondicionalmente, pelo ideário que acima expus.
Tanto o Conselho Seccional da OAB/RS como o Tribunal de Justiça
na elaboração, respectivamente, das listas sêxtuplas e tríplices que integrei,
referendaram meu discurso, quebrando a quase que hegemônica escolha de
homens para esse cargo. Concorri quatro vezes e na última fui a
desembargadora nomeada. Nunca esmoreci nesse trajeto, não abri mão jamais
dessa postura nem, muito menos, das minhas convicções.
Hoje, mais do que nunca, a utopia continua sendo o meu caminho.
40

Mulher acredite no seu ideal

Andréa Dutra Westphal


Chegar ao poder Legislativo foi algo de forma muito simples e
natural, minhas metas e objetivos não eram tão grandiosas na minha vida bem
pelo contrário, vindo de uma criação simples e de bons princípios e por ser a
filha caçula fui levada a crer que seria extremamente prospera, casaria com
um homem bem sucedido e teria facilidades na vida.
Ao longo deste crescimento natural, veio algumas fases a qual aceite
algumas limitações sucumbindo a anseios, desejos e ideologias sobre a minha
vida e minhas capacidades. Foi dentro de uma escola de educação infantil
municipal que consegui extravasar alguns anseios, sonhos e ideais de forma
tão natural e intensa, que ali permiti reavaliar o meu eu e a minha
potencialidade, por vezes não desenvolvida e não trabalhada naturalmente.
Entrei na rede pública Municipal, fui professora de zona rural, tive dois filhos
lindos, dali fui para escola de educação infantil, professora, vice-diretora
chegando a direção, na direção tendo ápice da minha evolução mental e
41

pessoal, veio com isso uma separação conjugal e um convite para entrar na
política.
Um convite sem muitas pretensões, simplesmente o anseio do novo,
da vontade de ir além, de fazer mais, sem saber o que e nem aonde, então
assim veio o cargo de vereadora, fazer parte do legislativo, uma mulher num
mundo plenamente quase que machista sem conhecer nada, sem ter tido
nenhuma filiação partidária, sem nenhum vínculo e nenhuma relação desse
mundo político.
Depois vieram outras dificuldades e a mesma ansiedade ao redor de
abafar minhas potencialidades, meus ideais, minhas falas e minha crença, a
qual minha trajetória de vida não sucumbiu, e tendo vivido este momento
afirmo que no meu íntimo não mudei.
Tenho vivido naturalmente, galgando espaços de poder, mesmo não
sendo meus principais objetivos. Minhas metas são as relações e as
oportunidades de jamais permitir que o mundo ao meu redor me faça abrir
mão da vontade de fazer um mundo melhor e de acreditar que as relações elas
mudam o mundo, que o ter não pode ser mais que o ser.

Andréa Dutra Westphal (Tia Deia)


42

Na arte e na lei: mulheres no poder

Camila Toledo

No ano passado, fui convidada para cantar em um evento de


empoderamento feminino e pra me acompanhar, convidei uma amiga
instrumentista. Escolhemos músicas que nos falavam sobre o poder que
tínhamos. A escolha das intérpretes, compositoras e estilos que
homenagearíamos foi pautada na diversidade da mulher na música. Foi
empolgante preparar um show pra um momento tão importante.

Fomos muito bem recebidas no dia. Recebi um presente das


organizadoras e cumprimentos das painelistas. Qual não foi minha surpresa,
uma das participantes do evento contou a uma das organizadoras que naquele
ano eu havia, junto com um coletivo de mulheres, produzido um festival de
bandas de mulheres. Surpresa e interessada, a mediadora do painel me
convidou pra fazer parte da mesa.
43

O evento que descrevo é o Mulheres no Poder da OAB de 2017 e a


mediadora do painel, a advogada Beatriz Peruffo, da Comissão da Mulher
Advogada. Dois mundos, da música e do direito unidos pelo interesse comum
a todas as mulheres: os desafios que enfrentamos nesse mundo tão masculino.

A mesa, sobre empreendedorismo feminino, foi composta por


mulheres das mais diversas áreas desde empresas de cosméticos à
empreendedorismo negro e a pauta eram os obstáculos que precisamos
ultrapassar diariamente nessa esfera. Todas contaram experiências pessoais
em que transpuseram manifestações de machismos nas mais diversas esferas
e de como isso precisa ser evidenciado e mitigado.

Enquanto ouvia as histórias, me perguntei se o que eu teria pra dizer


seria importante pras mulheres da plateia. Chegada minha vez, entendi que
mesmo trabalhando em profissão tão distinta, aquelas profissionais e eu
compartilhávamos das mesmas lutas cotidianas. Penso que é cada vez mais
evidente que o machismo estrutural tão profundamente naturalizado em nossa
sociedade produz efeitos nocivos análogos em todas as esferas. Por isso
histórias como as daquelas mulheres geram automática identificação em mim,
e as minhas, nelas.

Da minha experiência como artista e produtora, contei da


naturalização da figura do homem como instrumentista, da dificuldade das
mulheres serem respeitadas no meio artístico como produtoras, diretoras,
arranjadoras, posições essas quase sempre ocupadas por homens. Afinal, na
arte, à mulher é autorizado apenas o papel da musa, e não da criadora. Esse
lugar estéril, frágil e dependente que nunca deveria ter sido delegado a nós.
No direito, não é diferente: supõe-se apenas delicadeza da mulher que, dessa
44

forma, precisa provar repetidas vezes que é forte, competente e detentora de


conhecimento.

Eventos como o Mulheres no Poder são iniciativas que aproximam as


mulheres umas das outras. É assim que criamos laços e reeducamos nossos
olhares quanto à sociedade em que vivemos. É perversa a ideia de que
mulheres são naturalmente rivais, e mais perverso ainda esse conceito de
universo "feminino" tão opressor que determina como devemos nos portar
para sermos respeitadas. Esse conceito autoriza violências todos os dias,
desde a mais corriqueira a mais letal.

Foi uma noite pra agradecer. Uma surpreendente oportunidade de


ouvir histórias e aprender com elas. Eu cantei mulheres, sobre mulheres, para
mulheres e ainda tive a chance de falar. E falar sobre desafios que não só
meus. Que sigam se multiplicando as reflexões sobre esse "ser mulher" em
todas esferas e que elas nos aproximem ainda mais.
45

GT Mulheres no Poder da Comissão da Mulher Advogada da OAB – RS

Carina Ruas Balestreri12


Meu nome é Carina Ruas Balestreri, Advogada, casada com Cristian,
mãe apaixonada do Pedro Henrique (16) e Lucas (10). Filha de casal de
professores, que foram sempre a base e estímulo para a minha formação.
Em 1997 iniciei a faculdade de Direito na Universidade de Passo
Fundo, Campus de Soledade, tendo sido graduada em 2003. Minha trajetória
na advocacia teve como marco inicial o ano de 2004 e neste caminho, por
força do ‘bom’ destino, formamos uma equipe de trabalho, constituindo a
0sociedade Muller, Balestreri & Cagliero Advogados Associados, com sede
em Soledade,RS. No ano de 2008 conclui o Curso de Pós-Graduação, em
nível de especialização, em Direito do Trabalho Contemporâneo e Seguridade
Social.
A minha formação acadêmica e inserção no mercado de trabalho,
concomitante a constituição de família, certamente foi um desafio, até mesmo

12
Presidente OAB Soledade/RS
46

porque encontrei todas as adversidades de início de carreira e, principalmente,


pelo papel da mulher na sociedade, na família e no trabalho.
Ainda está intrínseco em nossa cultura, atos discriminatórios contra a
mulher, por vezes de forma muito velada, especialmente dentro de uma
profissão, que embora tenha evoluído muito, possui traços
predominantemente masculinos. Então, certamente a nossa dedicação para se
colocar é intensa, para nos fazer percebidas pelo nosso intelecto, pela nossa
sensibilidade e dinamismo.
Me dediquei a advocacia trabalhista, onde me encontrei e me sinto
realizada. Acredito que quando mulheres alcançam esse status de realização,
de reconhecimento de suas potencialidades, transcendemos a nossa atuação,
exsurgindo a necessidade de contribuir para a transformação da sociedade, de
forma eficaz e efetiva, não com a pecha de que as mulheres estão dominando
o mundo, mas sim as mulheres estão melhorando o mundo.
Em 2010 fui convidada a participar da OAB Subseção de Soledade,
na CMA. Em 2012 fui convidada para compor a chapa da Subseção, onde
com muito orgulho assumi como vice presidência da instituição e em 2016
assumi como Presidente da Subseção. A história das mulheres na instituição
OAB, especialmente Subseção de Soledade, é muito recente, porque na
gestão passada tivemos, então, a primeira presidente mulher e agora, comigo
a segunda.
Mesmo diante de avanços no que diz respeito a igualdade entre
gêneros, as posições de poder ainda são ocupadas em sua grande maioria por
homens.
Mas, nunca é tarde para construirmos uma nova história, quebrarmos
tabus, paradigmas fortes, culturais, assumirmos posições de lideranças em
instituições, e atuarmos como mulheres ativas, na construção da democracia
47

e da cidadania, assumindo um caráter crítico e propositivo na construção de


plataformas feministas, auxiliando sempre no empoderamento feminino.
Ocupemos, então, os espaços de lideranças em instituições e façamos
a nossa parte pela igualdade, respeito e essencialmente a sororidade.

Carina Ruas Balestreri - Presidente OAB Soledade/RS


48

Mestra em Engenharia de Infraestrutura e Meio Ambiente

Claudia Furlanetto13

Nasci em Passo Fundo, numa família muito especial, meu pai mecânico e mãe
do lar, que com toda simplicidade souberam educar eu e meus irmãos para o
respeito às pessoas.
Grande parte da minha formação se deu em escola pública e aos 16 anos
iniciei a vida profissional e continuei a estudar. Trabalhei para pagar a
faculdade e como herança do meu pai recebi meu maior patrimônio: a
EMPATIA.
E foi com este sentimento que iniciei minha caminhada na faculdade de
Educação Física, onde conheci pessoas maravilhosas entre elas este uma
colega surda a qual não conseguia trocar nem olhares… pois, me
envergonhava de não saber sua língua. Então corri para um curso de Língua
Brasileira de Sinais – Libras para poder olhá-la nos olhos e dizer que sentia

13
Mestra em Engenharia de Infraestrutura e Meio Ambiente. Especialista em Educação
Especial e Direitos Humanos - Educadora Física - Tradutora/Intérprete de Libras
49

prazer em conhecê-la. Me apaixonei pela língua, pelas Comunidades Surdas


não parei mais de estudar e virei interprete!
Segui e, pós-graduei nas áreas de Direitos Humanos, Educação Especial,
Infraestrutura e Meio Ambiente. Todo este trajeto se deu a partir do contato
com pessoas que muito me ensinaram e fizeram com que eu conhecesse suas
realidades diversas e as reconhecesse como cidadãos e cidadãs merecedores
de dignidade. Grupos que de tão violados em seus direitos já caminhavam
achando “normal” a falta de “interesse” em incluí-los.
Em meio a tudo isto, graduação, especialização, mestrado e militâncias
ganhei um filho, lindo e querido que se tornou meu parceiro de vida, mas que
virou de ponta cabeça minha rotina e meus sentimentos. Fiquei muito mais
emotiva, cuidadora e infinitamente mais forte para os embates que viriam.
Minha indignação impulsionou o desejo de estudar, fortalecer os movimentos
destes grupos de pessoas, estar junto às suas lutas e ocupar espaços de
representação e ação em prol da defesa dos Direitos Humanos. Cheguei a
Câmara de Vereadores de Passo Fundo após ter sido desafiada por eles a
defender seus espaços e trazer a pauta das pessoas com deficiências e demais
minorias ainda visibilizadas socialmente.
Na Câmara precisei me (re)empoderar e (re)afirmar como mulher num espaço
de 20 homens com histórias diferentes e interesses distintos. O Patriarcado
fortalecido desde as primeiras reuniões plenárias, onde o cumprimento era
dirigido aos colegas vereadores, sem imaginar que uma figura feminina ali
estava, ao lado, com muito conteúdo e a espera de uma oportunidade de se
manifestar e ser ouvida. Então a oportunidade chegou e já no segundo
encontro subi a tribuna e falei em alto e bom tom que eles estavam diante de
uma colega, uma mulher e como todos devia ser cumprimentada como tal,
reconhecendo seu gênero feminino. Ou seja, a partir daquele dia iniciei um
50

trabalho ardo de resistência... só cumprimentava os que me olhavam e diziam:


“boa tarde colegas vereadores e colega vereadora”, não levantava nem atendi
aos comandos dos protocolos: convidamos os vereadores a cantarem o Hino,
a subirem a tribuna, a assumirem seus lugares, etc... lá estava eu... parada,
estática até ser reconhecida. Isto foi mais ou menos durantes uns dois, longos,
anos e a teimosia deu certo para alguns e para outros não houve jeito.
Enfim, entrei na Câmara, fiquei quatro anos aprendi muito e deixei algumas
marcas que para eles não significaram muito para nós valeu demais.
Defendi lá e sigo defendendo os direitos das mulheres, dos negros, das
pessoas com deficiência, de populações indígenas e LGBTT, respeitei e fiz
respeitar diversas religiões pois, como toda mulher, me divido em várias para
dar conta da casa, do filho, do trabalho, das militâncias que fazem parte da
minha constituição e digo com toda a satisfação que dou conta de tudo e, o
melhor, com muita paixão.
FO R MAÇ Ã O
Mestra em Engenharia de Infraestrutura e Meio Ambiente
Especialista em Educação Especial e Direitos Humanos - Educadora Física
Tradutora/Intérprete de Libras
ATUAÇÃO
Professora da disciplina de Língua Brasileira de Sinais com ênfase em
Direitos Humanos – IMED
Articuladora do Arranjo do Desenvolvimento da Educação do Norte Gaúcho
pela IMED
Assessora Técnica das Coordenadorias de Direito e Cidadania da prefeitura
de Passo Fundo.
51

Reitora da Universidade Federal do Rio Grande – FURG


Cleuza Dias14
Para que a gente escreve, se não é para juntar nossos pedacinhos?
Eduardo Galeano
Narrar, contar sua própria história... Mesmo que sejam apenas
fragmentos a serem contados, ou um simples currículo, é sempre um
momento de reflexão e emoção. Emoção, pois ao narrar refletimos e
ressignificamos nossas escolhas, nossos caminhos. É o que me proponho
agora: contar fragmentos de uma trajetória de vida, pessoal e profissional..

Cleuza Maria Sobral Dias é meu nome e estou a dois anos de


completar 60 anos! Ao longo da minha história de vida, como a maioria das
mulheres que todos nós conhecemos, tenho vivenciado vários papéis sociais:
a filha, a mãe, a avó, a mãe-vó, a professora, a reitora. Uma mulher que, acima

14
Graduada em Pedagogia, pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Mestre e
Doutora em Educação, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul -
PUCRS. Reitora da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, com mandato até 7 de
janeiro de 2021.
52

de tudo, experimenta a vida com todas as suas potencialidades e fragilidades,


escolhas e oportunidades. E também dilemas, claro. Muitos deles surgidos ao
decidir que essa mulher queria, também, ocupar um lugar no mundo do
trabalho, para além do universo familiar.

Minha trajetória profissional está pautada, exclusivamente, na


Educação, incluindo todos os níveis de ensino. Foi em 1988 que iniciei minha
atuação como professora, à época como alfabetizadora. Durante doze anos,
construí uma bela experiência com crianças em processo de aprendizagem
da leitura e da escrita, uma oportunidade ímpar de alegrias para quem
compartilhou tantas descobertas! Foi, sem dúvida, um tempo de afirmação
profissional e de identificação com o ser professora. Era a profissão que eu
queria exercer: a docência.

Pedagoga e Doutora em Educação, em 1996, ingressei na


Universidade Federal do Rio Grande – FURG, para atuar como professora
nos cursos de Licenciatura. Ao retomar minhas memórias, percebo que é
neste lugar de educadora de professores que passo a redefinir minhas
concepções de mundo, de educação e de sociedade. É onde também encontro
os pares que comigo defendem direitos humanos fundamentais, tais como
igualdade de gênero e a valorização e os direitos das mulheres no mundo do
trabalho.

É na Universidade, que além de docente, passo a ocupar lugar de


gestora e, de alguma forma lugar de poder, de grandes decisões. O primeiro,
como Diretora do Centro de Atenção Integral a Criança e ao Adolescente -
CAIC/FURG, nos anos de 1997 a 1999, tempo que marcou pela convivência
com a comunidade, com as desigualdades sociais, pelos desafios do processo
de inclusão e pela defesa ao respeito às diferenças.
53

Entre um tempo e outro na Universidade, tive a oportunidade de


realizar um Estágio de Doutoramento na Universidade de Aveiro, em
Portugal no ano de 2001. O tempo vivido nesta outra cidade, neste outro país,
no velho e, ao mesmo tempo, tão novo continente para mim, aliado ao
encontro com outras culturas foi de muitos desafios, pois ser mãe e avó e, ao
mesmo tempo, estudante fora do seu país de origem exigiu de mim escolhas
e decisões para as quais pensava não estar preparada, o que me fez reconhecer
em mim forças e energias que desconhecia, fortalecendo-me como mulher e
como profissional da educação.

Na continuidade da minha história, assumi em 2005, o cargo de Pró-


Reitora de Graduação da FURG, cargo em que atuei até 2012, constituindo-
se num período de trabalho intenso e de muitas responsabilidades, exatamente
no momento em que nossa Universidade viveu um grande processo de
expansão e interiorização. Era a tão sonhada democratização da Educação
Superior! Este era, até então, o cargo de maior responsabilidade que já havia
assumido em minha trajetória profissional.

Mas a vida continua e, com ela, tantos e novos desafios. O próximo


foi em janeiro de 2013, quando, após eleita pela comunidade universitária,
fui nomeada Reitora da Universidade Federal do Rio Grande. Em minhas
mãos, agora, a enorme responsabilidade de ser a primeira mulher Reitora da
FURG. Esse, sem dúvida, é o lugar de maior poder de decisão que já assumi
até hoje. E com esse poder de decisão, ampliaram-se meus horizontes e minha
consciência social e coletiva. É neste espaço que, desde 2013, tenho
vivenciado as maiores realizações e, ao mesmo tempo, os maiores desafios e
dilemas, por ser mulher, mãe, avó e educadora. Certamente, os maiores
desafios são aqueles ligados à intensa jornada de trabalho e às ausências
54

provocadas pelo exíguo tempo para compartilhar com todos os papéis que
vivo como mulher, o que me exigiu abrir mão de muitos fazeres da vida
familiar. Sem falar no fato inédito de ser mulher ocupando um espaço até
então somente ocupado por homens.

O que conto aqui são fragmentos… Teria, ainda, muita história para
contar! Como mãe jovem que fui, precisei interromper meus estudos, superar
as fragilidades e os preconceitos. Mas, com uma garra que só as mulheres
conhecem, me vi levando adiante o sonho de cursar a universidade e ter uma
vida profissional, além da maternidade que consumia 100% do meu tempo e
da minha vida. Superar os desafios de ser mãe e, ao mesmo tempo, estudante;
de ser mãe e ter uma profissão; e, acima de tudo, de ser mulher e ter a
oportunidade de fazer escolhas! Quantos sonhos realizados então! Um deles,
a possibilidade de escolher ocupar este lugar de Reitora, representando, com
muita paixão e respeito, as mulheres educadoras.

Remexendo essas memórias, me faço perguntas mil. Se uma mulher é


mais exigida? Não preciso dizer, todas nós sabemos bem. O quanto dela é
exigido? Muito, não há como negar. E este não é um fenômeno unicamente
brasileiro, no mundo inteiro mulheres, em todas as carreiras, se deparam com
este fenômeno. Como respondo a essas exigências? Com um misto de
competência e serenidade, adquiridas por uma história de vida que me
constituiu, me capacitou e me transformou na mulher que sou hoje.

Sempre precisou voar


Muitas vezes quebrou a cara o coração
a ponta das asas.
Lya Luft
55

Cleuza Maria Sobral Dias é graduada em Pedagogia, pela Universidade


Federal do Rio Grande - FURG, Mestre e Doutora em Educação, pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Reitora
da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, com mandato até 7 de
janeiro de 2021.
56

Por Mais Mulheres no Poder

Débora do Carmo Vicente15

No século XIX, o desafio moral primordial da humanidade era superar


a escravidão. No Século XX, o totalitarismo. Neste século, é superar a
brutalidade infligida a tantas mulheres e meninas em todo o mundo: tráfico
sexual, ataques de ácidos, feminicídios, estupros em massa, discriminações e
desigualdades de todas as formas. As estatísticas globais e nacionais sobre o
abuso e violência contra mulheres e meninas são alarmantes.
O Brasil é o quinto16 país no mundo em número de assassinatos de
mulheres por questões de gênero, e um dos países com menor número de
mulheres em seus parlamentos, embora a maioria do eleitorado seja

15
Mestre em Direito pela UFRGS, Chefe de Gabinete da Presidência do TRE-RS
16
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil.
Brasília: Mapa da Violência, 2015. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br>.
Acesso em: 25 maio 2015, p. 27.
57

feminino17. A União Interparlamentar18, responsável por um ranking que


mede a presença feminina nos parlamentos ao redor do mundo, classificou o
Brasil na 154a posição entre 193 nações avaliadas, atrás de países como a
Somália, Afeganistão e Arábia Saudita19.
Diante desse flagrante quadro de desigualdades é uma grande honra e
satisfação participar desta inovadora obra: Mulheres no Poder. A história e o
Direito perdem com a falta da visão feminina, de suas experiências sociais,
políticas e econômicas. Nas palavras da Professora de Harvard, Gita Sen:
“infelizmente vivemos em um mundo em que as pessoas que produzem
commodities são supervalorizadas, mas aquelas que geram outras pessoas,
não o são”. E é para lutar contra essa tendência universal, de quase todas as
culturas que nos reunimos e nos organizamos em busca do empoderamento
feminino.
Segundo Suzan Okin20: “nenhuma cultura atual, minoritária ou
majoritária, conseguiria ser aprovada no teste de ausência de discriminação
sexual, há uma tendência de todas as culturas, especialmente as religiosas de
negar o papel das mulheres na sociedade e desvalorizar suas características”.
É exemplo disso os mitos fundadores de quase todas sociedades, em uma
combinação de negações do papel das mulheres e de desvalorização das
características femininas.
Pesquisas do Banco Mundial demonstram a maior probabilidade, em

17
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral – TSE. Estatísticas Eleitorais 2016 – Eleitorado.
Apresenta quantitativo de eleitores por sexo. Brasília, 04 Maio2016. Disponível em: <
http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais-2016/eleicoes-2016>.
Acesso em: 8 out 2016.
18
INTER-PARLIAMENTARY UNION – IPU. Women in Politics. Comparative Data by
Country. Geneva: Inter-Parliamentary Union, 2017. Disponível em: <
http://www.ipu.org/wmn-e/classif.htm >. Acesso em: 10 Fev. 2017.
19
Dados medidos em Janeiro de 2017. Lembrando que a Arábia Saudita só concedeu voto às
mulheres em 2010, e segue sendo o único país do mundo a proibi-las de dirigir automóveis.
20
OKIN, Susan Moller. O Multiculturalismo é ruim para as mulheres? 2010.
58

todo o mundo, de mulheres entre 15 e 44 anos serem estupradas do que


contraírem câncer ou sofrerem um acidente de carro 21. No Brasil, foram
registrados 47.646 casos de estupro em 2014, o que significa uma mulher
estuprada a cada onze minutos22. Em 2013, a Organização Mundial da Saúde
classificou a violência contra as mulheres como um problema de saúde
pública global, de “proporções epidêmicas”23. E em 2015, a Organização das
Nações Unidas declarou: “Não há um único país no mundo que tenha
alcançado até o momento a igualdade entre os sexos”24. Dados que
corroboram a noção de desafio universal da desigualdade de gênero, o qual
precisa ser enfrentado.
Atraída pela ampla gama de oportunidades profissionais ligadas à área
da Justiça e dos Direitos Humanos decidi que cursaria Direito. Ainda na
Universidade, fui aprovada por meio de concursos públicos, em 2001, para o
Tribunal Regional do Trabalho da 4a. Região; em 2002, para a Câmara

21
WORLD BANK, GROUP. World Development Report 2012: Gender Equality and
Development. Relatório. Washington: The International Bank for Reconstruction and
Development / The World Bank, 2012. Disponível em:
<https://siteresources.worldbank.org/INTWDR2012/Resources/7778105-
1299699968583/7786210-1315936222006/Complete-Report.pdf >. Acesso em: 1 Jul. 2016.
22
F́RUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA ṔBLICA - FBSP. 9o Anúrio Brasileiro de
Seguraņa Ṕblica. São Paulo: 2015. Disponível em:
<http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/9o-anuario-brasileiro-de-seguranca-
publica/ >. Acesso em: 08 Jan. 2017.
23
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO et al, Global and regional estimates of
violence against women: prevalence and health effects of intimate partner violence and non
partner sexual violence. Geneva: WHO, 2013, p. 3. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/85239/1/9789241564625_eng.pdf?ua=1>. Acesso
em: 12 Fev. 2016.
24
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU, CONSELHO ECONÔMICO E
SOCIAL – ECOSOC. 2015a Relatório. E/CN.6/2015/3, Nova York, 2015. Review and
appraisal of the implementation of the Beijing Declaration and Platform for Action and the
outcomes of the twenty-third special session of the General Assembly, parágrafo 372, p. 100.
Disponível em: <
http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=E/CN.6/2015/3&referer=http://www.u
nwomen.org/en/digital-library/publications/2015/02/beijing-synthesis-report&Lang=E>.
Acesso em: 4 Jul.2016.
59

Municipal de Porto Alegre, onde atuei como Assessora Legislativa nas


Comissões de Direitos Humanos, de Educação, Cultura e de Constituição e
Justiça; e então, em 2004, para o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande
do Sul, onde atualmente exerço o cargo de Chefe de Gabinete da Presidência.
Após concluir duas especializações em Direito, seguindo um desejo
permanente de qualificação, ingressei no final de 2014 no Mestrado em
Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, concluído em julho
de 2017. Nesse período, dediquei-me à pesquisa e ao estudo da desigualdade
de gênero, democracia e participação feminina na política, enfatizando a
proteção dos direitos humanos, conquistas e desafios do direito internacional
na área.
No final de 2015, fui selecionada para participar de fevereiro a maio
de 2016 no Programa de Capacitação Acadêmica da Missão do Brasil junto à
Organização Nações Unidas – ONU, em Nova York, vinculada à minha
pesquisa de mestrado na área de direitos humanos e gênero. Anualmente, em
meados de março, ocorre, na ONU, a CSW – Comission on the Status of
Women, Comissão sobre a Situação Jurídica e Social das Mulheres. Trata-se
da segunda maior reunião organizada pela ONU, atrás apenas da Assembleia
Geral, e é considerada o maior e mais importante encontro jurídico e social
sobre os direitos das mulheres em todo o mundo.
Inspirada e qualificada pelas pesquisas e experiências que vivenciei
na ONU, voltei ainda mais dedicada ao tema e passei a palestrar e ministrar
aulas defendendo maior participação feminina nas esferas de poder e de
tomada de decisão.
A participação das mulheres no poder é de importância crucial, não só
por uma questão de justiça e igualdade, mas de representação democrática,
pluralismo político e principalmente porque a presença feminina possibilita
60

uma nova visão de mundo e pode promover maior inclusão das preocupações
específicas de gênero nos espaços de deliberação, viabilizando a
implementação de políticas e programas favoráveis aos direitos das mulheres.
Em matéria de gênero, é preciso impulsionar o processo evolutivo da
humanidade. Sem a participação de mulheres nenhuma democracia é real.
Nas palavras de Mary Wolstonecraft, escritas em 1792: “é por justiça e não
caridade que nosso mundo anseia25”.

Débora do Carmo Vicente


Mestre em Direito pela UFRGS,
Chefe de Gabinete da Presidência do TRE-RS

25
WOLLSTONECRAFT, Mary. A Vindication of the Rights of Woman. 1792 Apud
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME – UNDP. Human Development
Report 1994. New York: Oxford University Press.
61

Minha trajetória de Luta!

Denise Rodrigues Marques26

Sou a professora Denise, vereadora eleita atualmente cumprindo o


segundo mandato. Minha construção política se inicia quando ainda cursava
o 2º grau, no curso de magistério, no Instituto de Educação Juvenal Miller,
quando participei do Grêmio Estudantil. Experiência um pouco incipiente,
mas fundamental na aproximação com o movimento estudantil e das lutas da
juventude. Depois, ingressei na Universidade Federal do Rio Grande, onde
participei do Diretório Acadêmico de Pedagogia, sendo vice-presidente. Era
final dos anos de 1980 e início dos anos de 1990, quando no país o movimento
sindical ganhava força contra a privatização e desmonte dos serviços
públicos. Nesse espaço de tempo, fui nomeada no concurso público municipal
para exercer o cargo de professora nas séries iniciais e me sindicalizei no
SINTERG (Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Município do Rio
Grande). Fui eleita conselheira, representando minha escola, no conselho

26
Vereadora da Câmara de Vereadores de Rio Grande/RS.
62

geral da categoria. Em 2000, as conselheiras formaram uma chapa para


concorrer à coordenação do sindicato e indicaram meu nome como cabeça de
chapa. Vencemos! Trabalhamos intensamente na coordenação do sindicato,
nos aproximando da base da categoria e na articulação com outros sindicatos
e movimentos sociais. Em 2003 e 2006 fomos reeleitas, continuando um
trabalho em defesa da educação e no avanço dos direitos da categoria e da
classe trabalhadora. Participei dos Conselhos de Saúde, Conselho Regional
de Previdência (INSS), em Pelotas, e do Conselho de Educação, sendo vice-
presidente, em 2010.

No ano de 2007, me filiei no Partido dos Trabalhadores (PT), no qual,


nas eleições de 2008, fui a única mulher a concorrer a uma cadeira no
Legislativo Municipal, ficando como suplente da bancada. Em 2012, mais
experiente, com acúmulo partidário e com experiência como coordenadora
adjunta da 18ª CRE e coordenadora do PRONATEC, me candidatei
novamente, conquistando pela primeira vez uma vaga no parlamento mais
antigo do estado do Rio Grande do Sul, com 946 votos. Em 2016, fui reeleita,
ampliando minha votação para 1.162 votos.

Minha trajetória na política tem sua construção dentro do movimento


sindical e social, tendo como principais bandeiras: o empoderamento das
mulheres; a garantia dos direitos humanos; a ampliação das políticas sociais
nas áreas da educação, da saúde e da segurança, e a defesa dos serviços
públicos num mundo que respeite a diversidade e a sustentabilidade.

Nesses tempos nebulosos e incertos, entendo que só poderemos


superar o desrespeito e a intolerância com o aprofundamento da democracia
e a conscientização da classe trabalhadora. Minha trajetória de luta é forte
63

porque resisto, de forma coletiva, com esta mesma classe operária e


explorada, na esperança de um mundo mais justo para as futuras gerações.

Denise Rodrigues Marques


64

A mulher nas instâncias decisionais no poder público

Elaine Harzheim Macedo27

Diferenciada desde a juventude, Dra. Elaine ingressou na magistratura


no ano de 1982, apesar do preconceito dos examinadores do concurso de que
seria incapaz de conciliar trabalho e família e como iria enfrentar a sociedade
do interior vivendo em união estável. Mesmo passando em segundo lugar com
0,02 de diferença do primeiro colocado, sofreu preconceitos pessoais que seu
colega não passou. Isso é ser mulher! Ser forte e passar por todos os
preconceitos. Assim, seguiu firme e fez uma bela carreira como Magistrada,
atuando em causas complexas como a reintegração da reserva de Itapuã e o
Júri dos Colonos.
Foi a primeira mulher gaúcha a obter o título de doutora em Direito,
tendo ministrado aulas e palestras por todo o Brasil.

27
Doutor em Direito pela Unisinos/RS. Professora catedrática adjunta, permanente, da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
65

Foi magistratura de carreira, sendo promovida para Desembargadora


do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em maio de 1998, onde atuou
até maio de 2014.
No ano de 2013 se tornou Presidente do Tribunal Regional Eleitoral
do Rio Grande do Sul, tendo sido a primeira mulher a assumir o cargo no
Estado.
Está no segundo e último mandato da Presidência do IGADE –
Instituto Gaúcho de Direito Eleitoral, o qual é membro fundadora.
Possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (1972), especialização (1990) e mestrado em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1997) e doutorado em Direito
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2003)
Se dedicou por 30 anos à docência do Processo Civil nas
universidades UNISINOS, ULBRA e hoje é professora catedrática adjunta,
permanente, da PUCRS. Também é professora palestrante da Escola Superior
de Magistratura Ajuris e da ESA - Escola Superior da Advocacia da OAB/RS,
membro editorial da Revista da Ajuris, membro do Instituto dos Advogados
do Rio Grande do Sul e da Associação Brasileira de Direito Processual
Constitucional.
Hoje advoga nas áreas de Direito Civil, Eleitoral e Administrativo em
seu próprio Escritório.

Adora ler, escrever e ama viajar com a família. Nas viagens sempre
há um tom de aventura, pois natureza, mar e céu é com ela, tendo inclusive
saltado de para-quedas no dia internacional da mulher em 2015 com sua filha
caçula em Novo Hamburgo, parapente e asa delta já voou duas vezes.
Coragem é o seu perfil. Raffting já fez da Índia, cavalgada na fazenda não
pode faltar. Energia é o nome dela.
66

É viúva desde 2008, onde perdeu seu grande amor, companheiro e


marido que sempre a estimulou em sua na carreira, ajudando inclusive das
atividades domésticas e na educação de suas duas filhas enquanto ela
despachava os processos em casa ou no Fórum.

Além de parceiros em tudo, não deixavam de aproveitar os bailes nas


cidades em que viveram, inclusive abriram vários bailes, pois sempre foram
dançarinos de paixão e alma. Sem contar as vezes em que ele cantava para ela
na sala de estar com suas filhas – e era música portuguesa com certeza, a
preferida deles. Ele cantava com paixão e a idolatrava, pois ela sempre
contribuiu para um lar equânime e sem preconceito.

Pioneira na academia e na magistratura, Dra. Elaine Macedo é


exemplo de mulher determinada e profissional competente; mãe de garra e de
persistência; amante do conhecimento; amiga de todas as horas, agindo com
muita paixão, intensidade e humildade em tudo que faz.

Elaine Harzheim Macedo


67

Diretora da instituição ACCLJB - Itaqui – RS


Elizéa Lima Bonapace28

Sou natural de Itaqui onde iniciei minha vida profissional como


agropecuarista aos 15 anos. Venho de uma família tradicional, do interior,
formada pelo meu pai Jácomo Bonapace, minha mãe Laize Lima e meu irmão
Jácomo Lima Bonapace todos, infelizmente, já falecidos.

Aprendi a enfrentar a vida muito cedo e com as adversidades impostas,


fui aprendendo e crescendo. Sempre trabalhei e lutei por tudo que acreditava,
minha cultura, minha família, e por ter pais que foram extremamente
caridosos e preocupados com seu meio social, acabei pendendo para esse lado
também e seguindo os passos já trilhados.

Por muitos anos, mais precisamente 36 anos, eu e meu irmão Jácomo


convivemos normalmente como qualquer outro irmão, briga e ajeita, mas
sempre um indispensável ao outro. Em razão de cedo perdermos o pai nossos
laços eram muito estreitos, o que me derrubou quando no dia 20 de maio de
2009 veio a triste notícia de seu assassinato. Meu mundo ruiu, desacreditei de
tudo e quando se sofre uma violência acabamos por ficar violentos, pelo
menos aconteceu comigo.

Felizmente sou uma pessoa muito espiritualizada e mais uma vez Deus
me segurou pela mão e me mostrou um caminho de luz. Amparada por amigos
que nutriam um grande carinho pelo meu irmão, criamos um Centro Cultural
com o objetivo de ensinar a tradição gaúcha para crianças e jovens em
vulnerabilidade social onde colocaríamos o nome dele e assim

28
Diretora da instituição ACCLJB - Itaqui – RS
68

perpetuaríamos sua memória. Ali nasceu a Associação Centro Cultural


Laçadores de Jácomo Bonapace com uma equipe formada por professores,
psicólogos, assistente social que já atendeu mais de 300 crianças e jovens
nesses 8 anos com formações em música e dança, diversos tipos de oficinas
culturais e ainda alfabetização de adultos em convênio com o SENAR onde
durante o ano dessa parceria, desenvolvemos diversos tipos de cursos de
formação profissional e social.

Acredito que cada um de nós vem ao mundo com uma missão, seja
ela qual for e depois de superado o momento da dor intensa consegui
transformar a dor em amor, superei a morte salvando vidas e nos momentos
de saudades intensa recebo um abraço fraterno que traz um sussurro de muito
obrigado, nesse momento ergo as mãos para o céu e agradeço a oportunidade
de ter convivido com meu amado irmão que me ensinou a amar e cultuar
nossas tradições, agradeço pelos meus amigos que sofreram e se reergueram
ao meu lado, a todos aqueles que de uma forma ou outra acreditaram e
investiram nesse sonho mas quero agradecer ,principalmente, a Deus que me
ensinou o verdadeiro sentido do amor e da vida.
69

Florencia de León Rivadavia29

Fue con enorme alegría y orgullo que recibí la invitación para formar
parte de la conferencia de ¨Mulheres no poder¨ y más aún cuando supe que se
haría un libro con los compilados de la narrativa de vida y profesión de
mujeres tan valiosas e importantes para la sociedad como las que pudimos
apreciar y deleitarnos con sus testimonios en la conferencia organizada por la
OAB.
Mi nombre es Florencia de León Rivadavia, nací el día 25/01/1985 en
la ciudad de Melo, departamento de Cerro Largo, Uruguay, hija de Silvia
Rivadavia y Rafael de León. Actualmente tengo 33 años.
Crecí, en un hogar compuesto por mi madre y mi padrastro Henry De
León, quienes fueron siempre grandes referentes de demostrarnos a mi
hermano y a mí de que el trabajo es el mejor medio de lograr la dignidad
moral y económica, que sin esfuerzo y constancia nada se consigue, provengo
de una hogar humilde de personas muy trabajadoras.

29
Abogada.
70

Concurrí en edad escolar Colegio Católico de la Ciudad de Melo


¨Agustín de la Rosa¨ de allí cursé de 2º a 6º año.
Ciclo básico liceal de 1º a 3 º año lo cursé en el Liceo Nº 3 de mi
ciudad natal y bachillerato en el liceo Nº 1 de la misma.
Siempre fui una estudiante esforzada y perseverante, lo que se tradujo
en mis excelentes calificaciones y debido a ello mis padres decidieron hacer
el esfuerzo por darme la oportunidad para estudiar en la Capital la carrera que
yo había decido cursar: Abogacía.
Me toco irme a estudiar en plena crisis económica del 2003, mis
padres con todo tipo de dificultades económicas y laborales confiaron en mí
y con la ayuda de mis abuelos maternos, junto a 5 amigas más, partimos en
busca de la realización de nuestro proyecto personal y profesional.
Fueron tiempos de muchos cambios, nuevos aprendizajes, muchas
inquietudes, de soledades y miedos. Escasos recursos económicos, que nos
unió a todas con la finalidad de poder hacer frente a la carrera que fue lo que
nos impulsó a vivir en la Capital.
Al cabo de un año de estar estudiando, no logré conseguir el beneficio
de la beca del Fondo de Solidaridad, por lo que mis padres ya no podían hacer
frente a mis gastos ni a los suyos. Fue en ese entonces, donde fui a vivir a la
casa de unos parientes lejanos de mi madre.
A fines del 2007 me fui a vivir a una pensión estudiantil ubicada en
Arenal Grande y Paysandú, pero la única estudiante era yo, realmente fue una
época muy dura y económicamente complicada, ya estaba en los últimos años
de la carrera y el consumo de materiales era mayor, fue allí donde salía a
buscar trabajo e ingresé como Procuradora (de facto) en el Estudio Sanes &
Abogados en la Ciudad Vieja, ese mismo año obtuve el título intermedio.
71

Quien fue mi jefe en dicho estudio jurídico, Alberto Sanes, recociendo


mi trabajo y dedicación me fue dando casos para resolver además de las tareas
propias de la procuración que debía llevar a cabo. Al finalizar ese año ya
realizaba el estudio de todos los casos que ingresaban a la firma. Una vez el
Dr. Sanes me preguntó dónde vivía y con quien y le respondí la verdad, que
vivía en el cuarto de una pensión de estudiante donde la única estudiante era
yo y que los demás habitantes eran familias humildes con quienes llevaba una
buena relación, le explique que no podía hacerme cargo de los gastos de un
apartamento sola por el sueldo que ganaba y que la beca era bimensual y de
ayuda mínima. También le comenté, que con una compañera de estudio
estabamos buscando compartir algún departamento pero nos encontrábamos
con la dificultad de la garantía, fue allí donde él me dijo que consiguiera algo
con mi amiga que la garantía me iba a facilitar él, que merecía terminar la
carrera en un lugar digno y al menos con las mínimas comodidades, en la
pensión aprendí A estudiar en el baño por el ruido que había, a levantarme a
las 04:00 AM, porque era a la hora que me podía bañar con agua caliente y
estudiar tranquila, todo ello fue puro aprendizaje de vida y de fortalecer mi
meta que era recibirme y valorar día a día el estar dando un paso más hacia le
objetivo.
Fines del 2007 logramos mudarnos con una compañera para la calle
Cerro Largo casi Barrios Amorin. Cursando mi último año de abogacía en el
año 2008, concurso para un llamado de P.N.U.D (Programa de Naciones
Unidas para el Desarrollo) para ingresar a trabajar en un proyecto de
Fortalecimiento del Poder Judicial Uruguayo (PROFOSJU), obteniendo el
mayor puntaje el 1/07/2008 comencé a trabajar en sus oficinas recorriendo en
los casi tres años que duró el proyecto, más de quince sedes judiciales,
conociendo así a Jueces, Actuarios y funcionarios de todas las Sedes.
72

El 27 de mayo de 2009 obtengo mi título como Dra. En Derecho y


Ciencias Sociales, una meta más que deseada, trabajé mucho para llegar a
ella. El último año dormía 4 horas diarias, el resto del día estudiaba en mi
casa, asistía a facultad y trabajaba. Estudiar, fue sin duda, mi mayor acto de
rebeldía, cuando por varios motivos no haría podido, entre ellos, mínimos:
recursos económicos mínimos, sacrificios de todo tipo, miedo a no poder
resistir a tantos cambios.
En mi vida, siempre me movió el esfuerzo y el ideal de que la
perseverancia me iba a llevar al destino que quería. Estudiar Derecho no fue
una simple elección, fue la vocación que elegí para vivir el resto de mi vida.
Durante el año 2006 trabajé de forma honoraria en el Consultorio Jurídico
Barrial del Centro de Estudiantes de Derecho en el barrio Piedras Blancas.
Allí descubrí que mi profesión podría abrirme muchas puertas, aquí surgió
con más fuerza la idea de que sería un servidora social, haciendo lo que
realmente me gusta.
Junto a esa idea de servir a la sociedad, también nació el proyecto en
una de las clases de Facultad de asistir a la cárcel de mujeres, en aquel
entonces cárcel de cabildo, año 2007 y con un grupo de compañeras a cargo
de la Dra. Porta emprendimos ese desafío de asistir y asesorar a mujeres
privadas de libertad no sólo desde el punto de vista jurídico sino también
humano.
En el año 2010, finaliza el proyecto de PNUD e ingresé como
Abogada del Complejo Habitacional Parque Malvin Alto, como encargada
de jurídica, ejercía como asesora del Consejo ejecutivo, patrocinaba,
ejecutaba deudas, realizaba convenios con deudores, asistía y ejercía de
mediadora entere el Consejo Administrativo y los moradores.
73

En 2011 finaliza mi contrato anual en dicho complejo habitacional y


emprendo mi proyecto de abrir mi Estudio Jurídico en mi ciudad natal, y así
fue, trabajaba de lunes a miércoles y de jueves a sábado en Montevideo,
ejerciendo en la Capital Derecho Penal exclusivamente.
Fueron más de dos años de viajar de la capital a melo, donde la
inestabilidad campeaba en todo mí ser, inestabilidad física, emocional,
espiritual y económica.
A mis 29 años concursé para un llamado en el Instituto Nacional de
Rehabilitación donde obtengo el primer lugar como abogada penitenciaria y
elijo vivir en Rivera, en la frontera de la paz, lugar que une a Brasil con
Uruguay. Ya hace 4 año que resido en esta ciudad, donde los dos primeros
años ejercí la profesión en el centro penitenciario de la ciudad Cárcel de
¨Cerro Carancho¨, me desempeñé como asesora jurídica penitenciaria,
patrocinante del I.N.R en la Zona 2, también dicté talleres jurídicos sociales
a los reclusos de las diferentes cárceles de Rivera (Cárcel de Cerro Carancho,
Cárcel Femenina y Cárcel Granja), asesoré al Comando de las unidades que
represento, así como a todos los internos que estén interesados en saber por
su causa.
Allí empoderé mi lado femenino y le pude dar paso a la mujer en un
ámbito ampliamente masculinizado y machista de ataño. Pude demostrar que
las mujeres con humildad y conocimiento podemos hacer parte de todos los
ámbitos sociales, hubo que trabajar duro para desmitificar que las mujeres
servíamos sólo para estar en el hogar, cuidar de los hijos y la pareja, podemos
eso y mucho más, porque el hecho de ser mujer nos sensibiliza con temas que
la sociedad necesita una respuesta y nos eleva a la responsabilidad de pelearla
por dársela, esa fue una de las tareas más importantes que me he propuesto.
Por el hecho de trabajar en una ambiente masculinizado nunca dejé de lucir y
74

expresarme como lo que soy, una mujer, y de esa manera pude ganarme el
reconocimiento y respeto, no sólo de los compañeros de trabajo sino también
de la población reclusa.
En la actualidad me desempeño como abogada sumariante dentro del
Instituto Nacional de Rehabilitación.
Una mujer que sabe, todo le cuesta el doble, porque la determinación
es una puerta de la cual, solo ella tiene la llave. Todas las mujeres que hemos
llegado al desafío de enfrentarnos a cargos donde nuestra tarea es
fundamental, sabemos que llevamos un desafío doble que nuestros colegas
hombres, en primer lugar desafiar el preconcepto, derribar la idea que los
lugares de mando o de poder están solo destinados al sexo masculinos y lo
más desafiante aún, hacer bien nuestro trabajo. Creo ampliamente en la
capacidad del ser humano, en el progreso de la humidad basado en el trabajo,
en el estudio y en el compromiso y eso solo es posible si podemos trabajar en
pie de igualdad hombres y mujeres.
Me gustaría terminar esta simple narrativa, felicitando y agradeciendo
en primer lugar a todas esas mujeres empoderadas que han hecho un espacio
en la OAB para demostrar a la sociedad la importancia del peso del trabajo
de la mujer en todos los ámbitos y por supuesto en el jurídico.
En segundo lugar hacer mías las palabras de la excepcional Marie
Curie: ¨nunca he creído que por ser mujer deba tener tratos especiales, de
creerlo estaría reconociendo que soy inferior a los hombres y yo no soy
inferior a ninguno de ellos.¨

Florencia de León Rivadavia.


Abogada.
75

Francine Nunes Ávila30

Meu nome é Francine Nunes Ávila, sou advogada atuante na comarca


desde 2009, sócia do escritório Pintos & Ávila Advocacia, Professora de
Direito Penal e Processo Penal na Faculdade Ideau - Bagé, Mestre em
Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul - PUCRS, Doutoranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela
Universidade Feevale.
Minha trajetória junto à OAB começou em 2014, quando criei na
Comarca de Bagé a Comissão da Diversidade Sexual e Gênero, a qual presido
desde então, passadas duas gestões.
Através da Comissão promovo eventos junto à Comunidade Bajeense,
participando de palestras, feiras, levando informação sobre diversidade,
gênero, igualdade racial, dentre outros temas ligados à cidadania e direitos

30
Professora de Direito Penal - Faculdade Ideau - Mestra em Ciências Criminais - PUCRS
Doutoranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social – Feevale.
76

humanos para escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio na


cidade de Bagé.
Por diversas oportunidade orientei trabalhos sobre Diversidade no
Ensino Superior e Coordenei Projetos de Extensão.
Também a Comissão promove dentro da OAB a formação dos
profissionais do Direito para os temas relacionados à diversidade e legislação,
através de palestras e cursos.
Minha trajetória passa por uma luta por reconhecimento e igualdade.
A região da fronteira é um lugar onde o machismo, o racismo e a
homofobia, além de todos os demais preconceitos estão terrivelmente
presentes e são até mesmo enaltecidos por uma cultura gauchesca que
valoriza estas linhas de pensamento e comportamento.
Tais discriminações são vistas inclusive dentro da própria classe da
advocacia, o que precisa ser enfrentado e modificado por meio de um esforço
contínuo.
A luta por igualdade é o que me motiva e talvez me defina, mas
também sou mãe, esposa e filha. Sou mulher, sou batalhadora. Sou alguém
que busca o desenvolvimento social e cultural da região, a equidade entre as
pessoas, as classes, os gêneros e os diversos, atuando sempre no sentido a
desconstruir paradigmas e criar naqueles por quem tenho a oportunidade de
me aproximar, seja como profissional, como professora ou como indivíduo,
um sentimento de alteridade.

Francine Ávila
Advogada
77

Uma Narrativa

Iris Lima de Moraes31

“(...) devemos subir de modo a garantir


que todas as nossas irmãs, independentemente
de classe social, assim como todos os nossos
irmãos, subam conosco. Essa deve ser a dinâmica
social da nossa busca pelo poder.
Angela Davis.
1944, Mulheres, cultura e política.
São Paulo: Boitempo, 2017. p. 17.

Com grata satisfação, recebi convite da Escola Superior de Advocacia


e da Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS, para escrever sobre minha
trajetória pessoal e profissional. Não posso deixar de registrar que recebi
honroso convite para participar da Conferência Regional da Mulher

31
Desembargadora do TRT4
78

Advogada, realizada em novembro de 2017, na Universidade de Caxias do


Sul, Núcleo de Canela. Naquele evento, habilidosamente conduzido pela Dra.
BEATRIZ MARIA LUCHESE PERUFFO, Presidente da Comissão da
Mulher Advogada da OAB/RS, acompanhei os debates travados entre as
advogadas sobre temas que transitaram desde a Lei Maria da Penha até a
necessidade de desenvolver lideranças femininas para garantir efetividade à
representação da mulher advogada no plano institucional. Também tive a
oportunidade de conhecer as brilhantes trajetórias profissionais da Dra.
BEATRIZ MARIA LUCHESSE PERUFFO, da Dra. MARIANA MELARA
REIS, Presidente da Subseção da OAB Canela/Gramado, da empresária
MARTA ROSSI, reconhecida nacionalmente como uma das oito mais
importantes personalidades do mercado no Brasil, da bombeira JESSIKA
ASSMANN, graduada em direito e primeira bombeira militar da região a ser
condutora de veículos pesados e da Dra. MARINA PANAZZOLO, advogada
e vereadora em Nova Roma do Sul.
Em cada narrativa daquelas mulheres, observei as virtudes da
obstinação, generosidade, coragem, inteligência e grande carga de realismo
na condução de suas vidas. Embora de conotação solene, característica
própria dos eventos públicos, notadamente nas carreiras jurídicas, havia
naquele ambiente uma carga de intimismo, pois, oficialmente, suas
organizadoras nos convidavam a falar sobre nossas vidas, a profissão que
escolhemos e os caminhos que trilhamos até chegar ali, naquela Conferência.
Minha trajetória profissional não difere muito daquela trilhada por um
bom número de mulheres. Entrada no mercado de trabalho ainda na
adolescência, recuos e avanços nos estudos, graduação na Faculdade de
Direito em 1984 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
preparação à magistratura e ingresso na carreira em 1990.
79

A decisão pela carreira jurídica surge na década de 1970, por me sentir


atraída para temas sociais e existenciais, afinidade enriquecida pelas leituras
das obras de Emile Zola, John Steinbeck, Dyonélio Machado, Eça de Queiros,
Simone de Beauvoir e Virginia Woolf, entre outros escritores, a cujas obras
tive a felicidade de ter acesso graças ao meu interesse pela leitura.
Posteriormente, fui incentivada pelas inesquecíveis aulas de literatura
ministradas pelo Professor Sergius Gonzaga. Foi na década de 1970, anos de
grandes transformações políticas e sociais no Brasil e no mundo, sob o influxo
das liberdades conquistadas na década anterior, que encontrei inspiração para
decidir estudar Ciências Jurídicas e Sociais, buscando, com isso, não apenas
ter uma profissão, mas também desenvolver minha consciência cidadã, o que,
naturalmente, foi definitivo para refletir sobre preconceitos e culturas
sedimentadas por séculos em relação à mulher.
A realidade vivida, a partir do ingresso na fase adulta, auxiliou a
consolidar, em mim, a ideia de que, no sistema social, cultural, político e
econômico que marca nosso tempo, não se pode tratar da participação
feminina sem antes garantir à mulher o efetivo exercício do direito à
educação, em todas as suas dimensões. Tristemente, enquanto escrevo este
texto, leio em jornal de grande circulação, que dois em cada três analfabetos,
no mundo, são mulheres ou meninas. É a educação, o conhecimento e
autoreconhecimento do gênero mulher, assim culturalmente categorizada,
que vai dar substância ao empoderamento feminino. A proposta deste texto
não me permite deixar de ser autobiográfica e por isso digo que, ao sermos
incentivadas a olhar para traz, também fazemos escolhas, ainda que
intuitivamente, entre o que foi essencial - e por isso ainda continua conosco;
e o que foi apenas evento da vida - e dele já não temos memória.
80

Pensar minha trajetória pessoal e profissional é um exercício


consciente de escolhas e constatação de que, a conjugação do conhecimento,
mais independência econômica, é o que confere à mulher força para promover
transformações culturais, sociais e políticas. Séculos de vivência em
sociedade organizada por hierarquia de gênero, em que a mulher já foi, em
alguns sistemas legais - e ainda o é em outros - tratada como propriedade do
homem, traduzem realidade universal sedimentada, que não se desconstrói
apenas com a vitória pessoal e profissional de algumas de nós.
Somos poucas, ainda. Daí que o empoderamento feminino também
exige de nós projeto pessoal que envolva independência econômica, num
exercício permanente de desconstrução do arraigado e romântico ideal de
encontrar, e lutar para manter consigo, o homem provedor. A dependência
econômica – aqui apenas sob o viés feminino - é talvez a força mais
cerceadora do exercício da cidadania. Também precisamos ser capazes de
ensinar e conscientizar as meninas sobre as definitivas consequências da
gestação precoce, dado que a participação feminina pressupõe também
decisão individual e responsável pela maternidade. Também é digno de
reflexão o discurso formal e midiático de empoderamento feminino, num
contexto de exploração do corpo da mulher para a venda de todo o tipo de
produto e mais instigante, ainda, é a aceitação passiva da maioria das
mulheres em relação a isso. Finalizo dizendo que a narrativa pessoal e
profissional feita por uma mulher provoca reflexão sobre a condição
feminina. Em cada um desses relatos existem pontos de contato com
realidades vividas por outras mulheres e por isso falar sobre o tema é tão
desafiador.
Nossas vitórias individuais, embora valiosas em si, não nos devem
impressionar, pois é preciso lembrar que o respeito, não raro, se deve ao cargo
81

ocupado e não à mulher que o ocupa. A inversão dessa ordem é algo a ser
pensado.

Conclusão

Na perspectiva individual, é gratificante ter ingressado na carreira


jurídica e, por meio dela, ter exercido a advocacia e, após a magistratura. A
advocacia, apesar de exercida por curto espaço de tempo, e a magistratura
exercida durante 27 anos, ambas, tal como o artista que trabalha com argila,
foram moldando minha maneira de ver o mundo, lapidaram algumas virtudes
e exigiram que eu desenvolvesse outras. Sou grata a Deus.
Sob o viés coletivo, temos muito a caminhar para que outras mulheres
se reconheçam como capazes de serem protagonistas de suas próprias
histórias. Assim, relembro o maravilhoso lema adotado nos EUA pela
Associação Nacional das Agremiações de Mulheres de Cor: - “Lifting as we
climb” (“Erguendo-nos enquanto subimos”) (Angela Davis. 1944, Mulheres,
cultura e política. São Paulo: Boitempo, 2017. p. 16).

Iris Lima de Moraes

Canela, 14 de janeiro de 2018.


82

Estou Feita, e Realizada!

Janaina Agostini Braido32

As primeiras palavras que ouvi do meu chefe foram: “Já vou deixar
bem claro, não gosto de trabalhar com gaúchos e com mulheres”. Pensei:
“Estou feita!”. Não, não estou falando do Século XIX, mas do ano 2003, no
estado do Mato Grosso do Sul, em Naviraí, cidade onde tomei posse como
delegada de Polícia Federal. Mas antes de contar esse trecho trágico-cômico
da minha vida, vou voltar alguns anos onde essa história começou.

Desde pequena eu falava que queria ser juíza, apesar de ninguém do


meu círculo familiar ser do meio jurídico. Eu adorava a ideia, mesmo sem
saber ao certo no que consistia a profissão. Minha mãe dizia que eu seria uma
ótima juíza, uma vez que eu era muito brava. Ela acreditava que essa

32
Delegada da Policia Federal de Rio Grande/RS.
83

característica era essencial para uma boa magistrada. Adoro a fantasia


ingênua que as mães elaboram.

Durante a faculdade de Direito (FURG - Rio Grande/RS) fiz estágio


no Ministério Público estadual e na Justiça Federal. Foi um período muito
importante para o meu crescimento, porém eu sentia que faltava algo, sem
saber exatamente o quê. Numa conversa despretensiosa, uma colega do curso
preparatório para concurso, no ano de 2001 em Porto Alegre/RS, relatou o
sonho de ser delegada de Polícia Federal. Como num desenho animado, uma
lâmpada acendeu sobre minha cabeça, e lá permaneceu por meses, até a
realização do concurso.
Pronto, passei! Felicidade máxima; desejo de ajudar a melhorar o meu
país. Entretanto, pasmem, fui chamada de louca por algumas amigas. Afinal
de contas, o que uma mulher quer fazer na polícia? Essa atividade é para
homens! Fui tão impregnada com essas ideias distorcidas, que cortei o meu
longo cabelo e o pintei de castanho escuro para ingressar na Academia
Nacional de Polícia. Lá, descobri que as turmas eram compostas de
aproximadamente 40 alunos, dos quais 07 eram mulheres. Foi um alívio,
confesso. Infelizmente, nos concursos seguintes as provas físicas foram
dificultadas, principalmente no teste de barra, o que eliminou a maioria das
concorrentes.
Era o ano de 2003. Eu estava pronta para morar numa cidade próxima
à fronteira com o Paraguai e enfrentar o novo desafio sozinha, já que o meu
esposo, o meu maior incentivador, permaneceria em Rio Grande. No terceiro
dia em Naviraí/MS, antes mesmo de conhecer o chefe, aquele do início deste
relato, fui enviada para a cidade de Iguatemi/MS, onde 07 fazendas haviam
sido invadidas por uma populosa comunidade indígena. Minha missão:
apaziguar os ânimos e evitar qualquer tipo de violência entre fazendeiros e
84

índios. Tarefa ‘fácil’ para uma policial de 26 anos, com uma ‘longa’
experiência profissional e que teria que comandar uma equipe composta só
por homens.
Por aproximadamente 02 anos trabalhei e aprendi muito naquela
região do país. Investigar e enfrentar o tráfico internacional de drogas e o
contrabando, além de mediar conflitos indígenas, faziam parte da minha
rotina, o que, de fato, ajudou a passar o tempo. Na delegacia, trabalhava com
mais duas mulheres policiais, sendo que uma delas se tornou uma grande
amiga, que carrego no coração até hoje. Todas enfrentávamos o machismo e
o mal humor do chefe administrativo da delegacia, um delegado antigo e
carregado de preconceitos. No final, consegui dobrá-lo um pouco, mostrando
que eu poderia ser uma policial competente, segura e principalmente
dedicada. Ele não compareceu na minha pequena festa de despedida, mas não
perdi nenhuma noite de sono por isso.
Fui removida para Rio Grande para assumir a chefia do Núcleo
Especial de Polícia Marítima – NEPOM, após realizar um curso no Rio de
Janeiro, no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha – CIAGA, onde
aprendi a arte da navegação. Retornando à cidade que adotei, ou que fui
adotada, passei a trabalhar numa delegacia com policiais mais antigos, com
um chefe tranquilo e educado, e com uma escrivã competente e amiga. Com
o passar do tempo, além das atribuições do NEPOM e da rotina de inquéritos
policiais, assumi a substituição da chefia da delegacia e a coordenação da
Comissão Estadual de Segurança Pública nos Portos e Vias Navegáveis –
CESPORTOS/RS. Acredito que aos poucos consegui demonstrar aos meus
colegas que eu poderia realizar um trabalho de qualidade, e que eles poderiam
contar comigo em qualquer situação, inclusive de risco.
85

Enfim, passei por diversos desafios e aventuras, mas para encerrar este
depoimento vou relatar brevemente sobre uma missão que realizei no estado
do Mississipi/EUA, no ano de 2009. Como piloto de embarcações da Polícia
Federal, fui convidada para participar como aluna de um curso de formação
de instrutores junto à Marinha americana, o que me deixou muito lisonjeada
e animada. Éramos 20 policiais federais, e como de costume nessa área, eu
era a única mulher. Durante minha estada, descobri que eu era a quinta mulher
a participar do curso, o que me deixou um pouco mais confortável, porém
permaneci, erroneamente, preocupada em não me destoar do grupo e,
principalmente, em não atrapalhar a rotina da base militar. Por mais incrível
que possa parecer, ao passo que fui respeitada enquanto mulher pelos
militares, sem favorecimentos ou regalias, descobri que dentro da minha
instituição havia um delegado, numa posição de destaque, que tentou barrar
a minha viagem, sob a alegação de que eu poderia atrapalhar os demais
colegas homens. O meu maior orgulho é que consegui provar que eu era
capaz, e demonstrar que homens e mulheres podem e devem trabalhar unidos,
sem concorrência ou preconceitos, sempre buscando o melhor para o nosso
país. Como se diz na Marinha do Brasil, ‘Bravo Zulu’ a todas as mulheres no
poder!

Janaina Agostini Braido


Delegada da Policia Federal de Rio Grande/RS
86

Jéssika Grazieli Maciel Assmann33

Procuro não me definir, pois penso que definições nos limitam e não
existe limite na busca de crescimento e evolução. Sou Bombeira Militar, 1º
operadora e condutora de veículos pesados da Serra Gaúcha do 5º Batalhão
de Bombeiros Militares, instrutora de Prevenção de Incêndios na
comunidade, instrutora de Direito Penal no curso de formação de Bombeiros
Militares, filha, esposa, mãe e principalmente uma amante do Direito.
Natural de Canela, nasci em 13 de agosto de 1989, filha de Jair
Claudiomir Assmann e Marlene Maciel Assmann, casada com o policial
militar Felipe Anunciação e mãe do pequeno Jan Felipe de 7 anos.
De origem humilde, cresci no bairro Canelinha bem como estudei no
Colégio Estadual Neusa Mari Pacheco de turno integral durante minha

33
Bombeira Militar. 1º operadora e condutora de veículos pesados da Serra Gaúcha do 5º
Batalhão de Bombeiros Militares, instrutora de Prevenção de Incêndios na comunidade,
instrutora de Direito Penal no curso de formação de Bombeiros Militares.
87

infância. Com oito anos já realizava minhas primeiras publicações de


histórias no jornal da escola.
Meu sonho de criança sempre foi ser Promotora de Justiça, terminar o
ensino médio e iniciar a faculdade de Direito. Acreditava que ao seguir essa
profissão, poderia ajudar as crianças do meu bairro em estado de
vulnerabilidade, de fome e abandono. Aos 12 anos fui eleita Vereadora Mirim
em Canela.
Aos 16 anos, próximo de concluir o ensino médio a escola realizou
em parceria com a UCS/Canela, um teste vocacional com os alunos na
universidade, lá conheci a coordenadora do curso de Direito que me explicou
como funcionava o fascinante curso que desde criança tinha convicção em
cursar. Nessa visita tive o primeiro choque de realidade da vida adulta, ao
perguntar quanto custaria mensalmente o curso, e para minha surpresa era
muito além do que minha família poderia pagar. Não esqueço da promessa
que fiz a mim mesma ao sair da universidade aquele dia: - “Ainda não sei
como, mas vou cursar e vou me formar”.
Com apenas 17 anos iniciei minha graduação na UCS no curso de
Direito, após ser contemplada com uma Bolsa de Estudos do ENEM. O início
de uma jornada acadêmica que mudou minha vida, cronologicamente me
tornei mãe no ano de 2010, fui eleita Conselheira Tutelar durante os anos de
2011 e 2012, e inclui após concurso público na Brigada Militar como Soldado
Bombeiro em Setembro de 2012.
Nunca foi meu sonho ser militar, bombeira militar, como já mencionei
anteriormente gostaria de ser Promotora, mas por obra do destino meu irmão
que na época era apaixonado pela profissão se inscreveu no concurso público
e minha mãe com a intensão de apoia-lo me inscreveu também para que
estudássemos juntos.
88

Com a aprovação resolvi lutar por essa oportunidade, com objetivo


pessoal de ser independente financeiramente, de ter uma profissão. Passei por
testes físico, médico, toxicológico, psicológico até incluir, após período de
oito meses no curso de formação no município de Taquara.
Neste momento eu amamentava meu filho, foi muito difícil conciliar
a rotina exaustiva de curso, as cobranças militares, a falta de compreensão
dos colegas com a amamentação. Fazia todos os dias o trajeto de Canela a
Taquara, muitas vezes mais de uma vez por dia, para que meu filho tivesse
além do leite materno, minha presença e amor de mãe.
Com o término do curso, não consegui uma vaga em Canela, sendo
classificada para servir no município de Taquara. Continuei fazendo o trajeto
diário, e a situação foi se tornando insustentável, meu tio foi assassinado, meu
filho estava com constipação, segurando o “cocô”, uma referência psicológica
de como gostaria de me segurar junto dele. Sofri assédios morais e físicos no
trabalho em um regimento militar velado, onde praticamente a mulher não
tem voz, sofri um acidente durante uma de minhas tantas idas e vindas, pensei
em desistir, afinal eu estava cursando uma faculdade que me traria um leque
de possibilidades, porque sofrer tanto com algo que não estava dando certo,
que exigia tanto de mim?
Pois bem, mesmo com todas essas adversidades consegui finalmente
minha transferência para Canela, fui muito bem recebida, valorizada como
mulher e profissional. Fui a primeira mulher em mais de 28 municípios que
compõem a Serra Gaúcha, a ser habilitada a dirigir um caminhão de
bombeiros. Primeira mulher Bombeira Militar no Pelotão de Canela, que na
época nem alojamento feminino tinha, ministrei palestras de prevenção para
toda a rede escolar municipal, despertei esperança em muitas crianças,
principalmente as que eram do meu bairro de infância, que viram em mim
89

alguém como elas. Mostrei e mostro para meninas e mulheres que somos o
que queremos ser, incentivando a acreditarem em si. Fui eleita por dois anos
consecutivos pela comunidade, como profissional do ano na categoria
Bombeiro, bem como participei do primeiro encontro nacional de bombeiras
militares, que tinha como pauta o “Empoderamento Feminino”, questões de
direito da mulher e da mulher militar.
Nasci para isso, mesmo sem saber, meu destino já estava traçado:
Salvar vidas e ajudar o próximo. Estava no aeroporto em Maceió, de férias
com meu filho e meu esposo, quando pude salvar a vida de uma criança que
estava engasgada, um instante, uma fração de segundos que pareciam horas,
a criança volta a respirar aliviada, após aplicar a manobra de Heimlich, para
alegria e tranquilidade de todos que presenciavam a cena. Olho para meu
esposo e meu filho que choram, e só consigo agradecer a Deus por poder
ajudar.
Minha profissão me escolheu, amo o que faço e não me vejo sem
minha farda, sem a adrenalina com o barulho da sirene indo em direção ao
socorro de uma vítima, mesmo que eu seja a última pessoa que seus olhos
vejam antes de partir. Os tubarões que enfrentei e venci me fizeram
amadurecer e ter a convicção de que posso e devo ajudar outras mulheres com
a minha história de superação pessoal e profissional.
O preconceito está aí, batendo na porta todos os dias, mas nós
mulheres devemos colocar nossa inteligência, sensibilidade e cultura a nosso
serviço, exercitando a responsabilidade na família, na sociedade e na história.
SIM É POSSIVEL!
Agradeço minha família e a Deus, foi através do seu alicerce que tudo
foi possível.
90

Poder, gênero e raça

Joanna Burigo34

É importante e urgente discutirmos poder pela perspectiva não apenas


de classe, mas também de gênero e raça. Angela Davis, desde pelo menos
1981, vem sendo um grande nome desta proposição. Na nossa era, de
comunicação intensa, não é mais possível dissimular a constatação de que os
corpos que ocupam – ou não – os espaços de poder são marcados por coisas
como gênero e raça.
O Brasil ocupa a 115ª posição no ranking mundial de presença
feminina em Parlamentos, com 9,9%, de acordo com dados do Banco
Mundial e do TSE. Isso significa que estamos atrasados em quase 30 anos,
pois se a média mundial em 2016 era de 23%, em 1990 era 12,7%.
Basta observar nossas casas de representatividade política para
perceber que a maioria das posições de poder é ocupada por homens brancos.

34
Publicitária e Mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London.
91

O mesmo vale para outras instituições, públicas e privadas, e isso não é


exclusividade do Brasil. A composição dos cargos de liderança institucional
é quase sempre um retrato do “Clube do Bolinha” – essa metáfora fofa para
o que é melhor descrito como o que as feministas chamam de “patriarcado”.
A presença maciça de homens – e homens brancos – em postos de decisão
não é interpretativa, ela é factual. Não vê quem não quer.
Não há como negar que o caminho das mulheres para a ocupação de
posições de liderança é pavimentado com muitas barreiras. Um problema
igualmente grande é a falta de barreiras para homens incompetentes. O
argentino Tomas Chamorro-Premuzic, professor de psicologia empresarial da
University College London e Columbia University, recentemente publicou
um artigo interessante em que declara que temos uma tendência a equiparar
“liderança” com características tradicionalmente atribuídas à masculinidade,
o que torna o homem médio mais propenso a ser apontado como líder do que
a mulher média. O resultado, ele declara, “é um sistema patológico que
recompensa os homens por sua incompetência e pune as mulheres por sua
competência, em detrimento de todos”.
O patriarcado é um conceito usado por feministas para nomear o
paradigma que normaliza que as instituições sejam conduzidas por homens.
Por isso expomos e criticamos o patriarcado em muitas frentes, afinal seja no
âmbito pessoal, no social, no econômico ou no político, ainda são os homens
quem mais tem poder para decidir os rumos da sociedade.
Isso não significa que todos os homens estejam no controle de todas
as mulheres. Tomar essa ideia do patriarcado como se fosse um monólito que
enquadra todos os homens como vilões é tão simplista quanto tomar a ideia
do feminismo como monólito que enquadra todas as mulheres como vítimas.
92

Análises sociais requerem pensamento e avaliações matizadas. E isso


serve para os fatos, mas mais ainda para as histórias que vão ser contadas
sobre os fatos, e como e por quem elas são contadas.
Um dos muitos sinais da força narrativa do patriarcado é o estímulo
positivo dado às feminilidades dóceis e decorativas – recentemente revisitada
com o discurso da “bela, recatada e do lar”. A função deste tipo de narrativa
é firmar a noção de que a nós cabem lugares e subjetividades pré-
estabelecidas: a casa, as preocupações estéticas, o bom comportamento.
O que é interessante é que as narrativas sobre o feminino não são
negativas. Beleza e inteligência emocional, por exemplo, são bons atributos.
Mas celebrar feminilidades mansas não nos aproxima do poder.
Se o poder político é o poder de pessoas sobre outras pessoas, o poder
político deveria ser entendido como o poder de servir. E tendem a ser as
mulheres que quem demonstra como pode ser positivo o poder de estar a
serviço de outrem. Mas as mulheres dizem que é preciso mais mulheres no
poder, os negros dizem que é preciso mais negros no poder... e os homens
brancos dizem que isso é bobagem. A importância da representação e da
representatividade é verdadeiramente um mistério para quem sempre se viu
representado.
Para Beatriz Rodrigues Sanchez, pesquisadora do Grupo de Estudos
de Gênero e Política da USP, quando experiências femininas entram no
espaço da política institucional elas têm o potencial de politizar a vida
privada, como é o caso da Lei Maria da Penha, que mobilizou violência
doméstica como assunto de caráter social. Seu estudo partiu da hipótese de
que mais representação política teria como consequência a mais e melhores
políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade de gênero.
93

Mas esperar por representatividade pode levar tempo demais: o


relatório das Nações Unidas que avaliou equidade de gênero em 167 países
em março de 2015 avaliou que, no ritmo atual, serão necessários 81 anos para
se alcançar a paridade de gênero na economia e 50 anos para a igualdade na
representação. Concordo com as conclusões de Sanchez: disputas políticas
não se restringem à seara da política institucional, e são necessárias outras
formas de se fazer política. E para isso, é necessário pensarmos sobre o que
constitui e o poder, e reafirmarmos a ideia de que ele está a nosso serviço, e
não a nosso mando.
Joanna Burigo
Publicitária e Mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London
94

Jomara Costa de Souza35

“Desde nova, entendi que nosso destino está em nossas mãos. Nasci
em um dos bairros mais humildes de Capão da Canoa (RS), popularmente
chamado de Tiguera. Lá, cresci e fui criada por quatro mulheres incríveis:
avó, mãe, tia e madrinha. Elas foram o que costumo chamar de ´meus 4
pilares´, as pessoas que contribuíram desde sempre para a minha história, por
meio da força, do exemplo, do amor e, principalmente, da fé e dos valores.
Até meus 13 anos, vivi momentos difíceis, de muita luta e trabalho.
Minha avó, Dona Marieta Ferreira Lessa, a Dona Dada, foi meu 1º pilar. Uma
mulher de fibra que, aos 33 anos e viúva, trouxe seus 12 filhos para Capão da
Canoa, sozinha. Com ela, aprendi que trabalhar era a forma correta de educar,
criar e sustentar uma família. Todos os dias íamos juntas até a escola onde ela
trabalhava de merendeira. Nesta época, entendi que não importa a nossa
escolha profissional, devemos trabalhar com amor. E também aprendi o
verdadeiro significado de ´comprometimento naquilo que se faz´. Ainda
adolescente, com a perda da minha avó, minha mãe, Maria Goreti Lessa de

35
Diretora-geral do Acqua Lokos Parque Hotel
95

Souza – meu 2º pilar – se tornou minha referência principal. Nela, sempre


percebi muito foco e determinação. Nada a impedia de criar e educar seus
filhos. Lembro que morávamos em uma chácara, e foi lá que aprendi que a
vida é cheia de regras e obrigações. Mesmo vivendo com o básico, nunca
perdemos a essência de valores éticos e morais. Aprendi com minha mãe a
importância de não ser medíocre. E, nesta mesma época, minha tia, Ivone
Lessa, meu 3º pilar, me ensinou, com seu exemplo, uma importante lição:
qualquer mulher pode ter a profissão que quiser. Ela era gerente de uma loja,
e quando a enxerguei fazendo cálculos, em uma mesa só dela, adquiri, sem
pretensão alguma, o fascínio pelo empoderamento da mulher. A conclusão
dessa certeza da independência feminina veio observando a desenvoltura de
minha madrinha, Solange Boff, meu 4º pilar – uma das primeiras corretoras
de Capão da Canoa – interagindo com clientes, investidores e construtores.
Meu olhar atento de admiração por essas quatro mulheres destemidas
e a frente de seu tempo influenciou minha trajetória. Minha vida profissional
teve início com o Magistério. Em seguida, me graduei em Pedagogia
Educacional e me especializei em Psicopedagogia. Trabalhei como
alfabetizadora em escolas do litoral, montei projetos, realizei sonhos e vivi
um período de muito aprendizado. Em 2002, comecei minha caminhada no
Acqua Lokos, como caixa de bilheteria durante as temporadas de Verão. E
foi assim durante alguns anos, até que meu espaço e meu envolvimento com
a empresa aumentaram. De caixa, passei a Coordenadora de Pessoal, e
desenvolvi o call center da instituição. Com o passar do tempo, decidi me
dedicar integralmente ao Acqua Lokos, gerenciando as áreas de Call Center
e Vendas. Assim, em 2011, abri mão da minha carreira nas escolas. Em razão
disso, fui em busca de um MBA em Gestão de Vendas, e de um curso de
Designer de Interiores. Em 2014, assumi a direção do Parque e hoje, junto ao
96

Fabiano Brogni, gerencio 170 colaboradores diretos e mais 200 colaboradores


indiretos durante o Verão, além de cada uma das áreas da empresa e nossos
parceiros.
Ao longo de toda a minha vida, sempre me envolvi com a dança. Por
isso, hoje, o Acqua Lokos possui uma parte artística e cultural bem forte. E,
por sentir falta do momento de lecionar e interagir com as crianças, também
desenvolvi projetos educacionais. Além deles, ofereço, junto à minha equipe,
treinamentos semanais, pois acredito que são nestes momentos que temos a
oportunidade de conversar, explicar, escutar e ensinar a melhor forma de
atender nosso público.
O Parque é um local para somar e integrar. Buscamos a perfeição
diariamente e nossos clientes são nossa maior inspiração. Sempre acreditei
muito neste lugar e, mesmo tendo a Pedagogia como formação, no Acqua
Lokos me encontrei: foi muita sintonia com a equipe e com sua forma de
trabalho. Assim como eu, todos ali acreditam nas pessoas e no quanto a
satisfação pessoal e profissional é capaz de construir coisas novas.
Hoje me orgulho muito da minha história, da minha evolução, e sou
muito grata aos pilares que tive. Por mais que a diferença entre gêneros ainda
exista, aprendi desde nova que mulheres podem liderar e precisam acreditar
no seu potencial. Precisamos desenvolver esse costume nas pessoas, de
entenderem que mulheres são, sim, líderes. Precisamos criar cidadãos
conscientes de que um mundo com igualdade é um local melhor para viver.
Precisamos nos inspirar umas nas outras, sem preconceitos. Nós, mulheres,
devemos nos reconhecer líderes, acreditar umas nas outras. E que possamos
servir de exemplo positivos, independentemente da área e do cargo em que
atuamos. O que precisamos ter claro são nossos valores éticos e morais. Com
eles, vamos prosperar sempre mais.”
97

Por que ainda precisamos falar da cultura do estupro?


Josiane Caleffi Estivalet36

A reflexão que se propõe aqui está relacionada com a pandemia de


violência sexual dos homens contra as mulheres, perpetrada tanto no âmbito
privado quanto no público. Segundo Solnit (2014, p. 192) o termo “cultura do
estupro” foi utilizado pela primeira vez em 1970. Tornou-se popular em 2011,
quando começaram a surgir os protestos contra o hábito de culpar a vítima
pelo crime de estupro. Mas afinal, o que é a “cultura do estupro”? É um tipo
de violência não necessariamente brutal. Ela pode ser sutil, metafórica,
emblemática e, aparentemente, rarefeita.

Trata-se de uma forma de violência simbólica que consiste na


justificação, tolerância ou estímulo ao abuso sexual. Embora o tema seja
objeto de frequente discussão na mídia, muitas vezes motivado por episódios

36
Juíza de Direito da comarca de Santa Cruz do Sul
98

hollywoodianos, como as denúncias de assédio sexual feitas por inúmeras


atrizes contra o diretor Harvey Weinstein, as questões relativas ao mesmo são
enfrentadas com superficialidade e causam constrangimento, silêncio e dor.

O termo “cultura do estupro”, segundo Rebecca Solnit, nos ajudou a


“parar de fingir que o estupro é uma anomalia, que não tem nada a ver com a
cultura de modo geral” (SOLNIT, 2014, p. 167). Embora tenha a maior taxa
de subnotificação no mundo, sabe-se, por exemplo, que no Brasil, no ano de
2015 aconteceu 01 estupros a cada 11 minutos, segundo o Anuário Brasileiro
de Segurança Pública (fonte: http://g1.globo.com/jornal-
hoje/noticia/2016/11/brasil-registra-um-estupro-cada-11-minutos-mostra-
levantamento.html).
Isto corresponde a meio milhão de mulheres estupradas em um ano.
Isto quer dizer que uma parcela significada das mulheres que você
conhece é composta de sobreviventes de algum tipo de violência sexual. Isso
inclui sua namorada ou esposa, suas amigas (inclusive as do facebook e/ou
instagram), suas colegas de aula, de trabalho, a atendente da padaria que você
frequenta, a moça da farmácia, a sua vizinha, a sua prima, talvez sua
professora, suas irmãs e todas as demais mulheres com que você mantém
algum tipo de contato, inclusive a sua mãe! É urgente que se discuta a
violência sexual (contra homens e mulheres) em todas as esferas da
sociedade, de forma profunda, despida de hipocrisia, sem buscar justificar o
injustificável, sem subterfúgios e sem máscaras.
E mais, o tema não pode ficar adstrito ao âmbito da saúde ou da
educação. Devemos reconhecer que se trata de um problema social, que está
na esfera dos direitos humanos e que, de uma forma ou de outra afeta a todos
nós, direta ou indiretamente.
Por óbvio, nem todos os homens são abusadores e nem todas as
99

mulheres sofrerão algum tipo de agressão sexual no decorrer das suas vidas.
Porém, é inegável: a maioria das mulheres são afetadas pelo medo e limitam
o seu comportamento em razão do risco permanente de virem a sofrer algum
tipo de violência sexual, em algum momento de suas vidas. Refletir sobre a
forma com que este medo é perpetrado e perpetuado implica conhecer os
pilares sobre os quais está alicerçada a cultura do estupro. O primeiro deles
está relacionado a objetificação do corpo da mulher. Objetificar o corpo
feminino significa valorizar, acima de todos os demais atributos da pessoa, os
seus aspectos físicos. Cotidianamente nos deparamos com situações de
objetificação do corpo feminino. A sexualidade feminina circula de forma
frenética em imagens e textos, sendo comumente associada à mercancia de
produtos de consumo. Somos expostos, diuturnamente, a inúmeros
comerciais sexistas que associam a imagem da mulher hipersexualizada. Eles
reforçam uma das características da cultura patriarcal, qual seja, que o homem
está acima da mulher e exerce sobre ela algum tipo de autoridade.
Muitas propagandas de produtos de limpeza e eletrodomésticos ainda
são direcionadas quase que exclusivamente ao público feminino, numa clara
demonstração de que as questões relativas às atividades “do lar” não
poderiam ou deveriam ser realizadas pelos homens, já que a eles, e somente
a eles, esta reservada a vida pública. De lembrar, que ainda é realidade em
nossa sociedade a distribuição de brinquedos para crianças, conforme o
gênero delas: bonecas e casinha para meninas. Carrinhos e armas para
meninos. Isso vai impactar, sobretudo, na vida adulta deles, repetindo-se um
modelo em que cuidar da casa e dos filhos seriam tarefas exclusivas, ou ao
menos, prevalentes, das mulheres.
Ao se objetificar a mulher deixa-se de percebê-la como sujeito de
direitos, de vontades (de desejo) e de subjetividades. Ou seja, assume-se que
100

a sua vontade, opinião, sentimentos e necessidades não têm valor algum, de


nada importam. Espera-se dela um comportamento dócil e servil.
Outro pilar sobre o qual se assenta cultura do estupro é o da
banalização da violência contra a mulher. Percebe-se essa banalização não
apenas pelos índices assustadores que indicam o quanto as mulheres são
vítimas de violência mas também pela reprodução, pelo senso comum, de
expressões como “ele não sabe por que bate mas ela sabe por que apanha”,
“tapinha de amor não dói”, “mulher que apanha e continua casada com o
agressor gosta de apanhar”, “em briga de marido e mulher não se mete a
colher”, “ela merecia ser estuprada”, etc.
Existem múltiplas atitudes que podemos tomar para combater a
cultura do estupro e contribuir para uma sociedade mais justa, igualitária e
menos violenta. Opor-se a estereotipação ou objetificação da mulher pode ser
o primeiro passo. Deixar de depreciá-la, exclusivamente pela sua aparência,
em razão do não atender aos padrões estéticos irreais impostos pela mídia,
inclusive no que diz respeito aos seus atributos físicos como cabelo, formato
do corpo, peso e altura é um grande começo.
Valorizar as potencialidades intelectuais das mulheres, naquilo que as
singularizam enquanto indivíduo, considerando a sua completude, as suas
capacidades profissionais e sua competência constitui um desafio,
plenamente alcançável se houver a conscientização de que a igualdade de
direitos e deveres entre homens e mulheres não pode ser uma mera
formalidade. E, o mais importante de tudo, precisamos estar atentos para
identificar e combater atitudes e condutas que, no nosso dia a dia, reforçam a
desigualdade de gênero. Nenhuma violência pode ser tolerada, por mais sutil
e naturalizada que seja. A palavra de ordem é respeito, em todas as suas
dimensões!
101

Josiane Caleffi Estivalet


Juíza de Direito da comarca de Santa Cruz do Sul
102

Narrativa vereadora
Juliana Martin

Juliana Martin é advogada, tem 27 anos, formada pela UNISC (Universidade


Santa Cruz do Sul), pós-graduada em Direito Contratual e Responsabilidade Civil
pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Atualmente
cursa pós-graduação em Direito do Estado pela UFRGS (Universidade Federal do
Rio Grande do Sul). Nas eleições de 2016 se lançou candidata a Vereadora pelo
PMDB e em sua primeira experiência foi eleita com 622 votos.
Natural de Porto Alegre, desde os primeiros dias de vida é moradora de
Capão da Canoa.
O envolvimento com a política surgiu desde muito nova, influenciada pela
participação do pai, Luciano Martin, que sempre militou na política sendo vice-
prefeito, secretário de turismo e na última eleição como candidato a deputado
estadual. A oportunidade de concorrer veio inicialmente, como uma necessidade do
partido em alcançar a cota feminina dentro da chapa proporcional. Porém,
desacreditada da forma como a política tem sido conduzida no país, e impulsionada
pela vontade de fazer o novo, aceitou o desafio de concorrer a uma vaga na Câmara
Municipal. Com uma campanha focada nas redes sociais, com propostas
103

inovadoras, alcançou a expressiva marca de 622 votos e se tornou Vereadora de


Capão de Canoa.
No parlamento atua de forma destacada na pauta da juventude. Por ser a
Vereadora mais jovem da Legislatura, usou o primeiro ano de mandato para
caminhar com projetos que favoreçam o jovem caponense. A bandeira da defesa
dos direitos da mulher será uma tônica do segundo ano, conduzindo pautas que
fortaleçam o protagonismo feminino na sociedade atual.
O ambiente da política é majoritariamente masculino. As mulheres que
transitam neste meio são minoria, porém, a exemplo de Juliana, as parlamentares
espalhadas pelos municípios do Estado, cada vez mais estão se destacando com suas
ações, projetos e ideias inovadoras em prol do pleno desenvolvimento econômico
e social da sociedade. Assim, é de suma importância o envolvimento cada vez mais
acentuado da mulher nos espaços de poder, seja no campo político, jurídico ou em
qualquer esfera da sociedade.
104

Kamila Coelho Albuquerque Barros37

A regra protocolar manda que, ao início da fala, devemos começar saudando


a autoridade máxima presente.
Hoje, plagiando a Min. Carmen Lucia quando da sua posse como Presidente
do STF, que colocou em primeiro lugar “o povo”, quero saudar as advogadas e advogados
aqui presentes ou que assistem esteevento pelo sistema EAD, pois sem estes não existiria
OAB, nem CMA, nem este próprio evento.
Em seguida, não posso deixar de agradecer à Dra Beatriz Maria Luchese Peruffo,
presidente da nossa CMA e, em nome dela, as demais integrantes da Comissão, pois são as
responsáveis pela minha fala de hoje.
Fiquei realmente muito feliz com a possibilidade de falar um pouco da
ABMCJ e de como nos tornamos presidente dessa instituição nacionalmente e
internacionalmente atuante.
Estou dentro do painel “Mulheres Empreendedoras”. Aqui ouvimos(remos)
mulheres do setor de business, empresarial, jurídico interno, empreendedoras negras.
Assim, penso que meu papel é falar da advogada empreendedora.

37
Presidente Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica – Rio Grande do Sul e Pelotas.
105

Primeiro peço que vocês pensem nos grandes nomes da advocacia hoje em dia.
Quantas mulheres habitam suas memórias? Porque temos dificuldade de ver uma
mulher no controle de um grande escritório?
Hoje no Brasil, a porcentagem de mulheres advogadas é de 47,96%, contra
52,04% de homens. Total de 493.396 mulheres e 535.412 homens.
Nos quatro escritórios que lideram a lista de mais admirados da Análise
Advocacia de 2016, o Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados é o único que possui
49% de sócias, enquanto no Pinheiro Neto Advogados há apenas 10 sócias (12,5% do total
de 80 sócios).
Ou seja, estamos cada vez mais empoderadas, mas não conseguimos ocupar os
espaços que já são nossos. Porque?
Bom, a ABMCJ tenta trabalhar nisso. Com a ocupação dos espaços de poder
por mulheres.
A Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica é uma instituição não-
governamental, sem fins lucrativos e órgão integrante da Federação Internacional das
Mulheres de Carreira Jurídica, com sede itinerante, no pais de domicílio da presidente.
Hoje a presidente é Argentina e, portanto, a sede é Buenos Aires. A federação fundada
em 1928, em Paris/FR, congrega as associações presentes em mais de 70 países. A
Federação por sua vez tem cadeira e voz em organizações internacionais como ONU e
suas agências especializadas Unesco e Unicef.
Estamos engajadas no projeto “He for She” lançado pela Onu Mulher em 2014,
que reforça a ideia do ingresso dos homens na luta pela igualdade de gênero.
Comprovadamente, um homem convence outro homem muito mais rápido que uma
mulher.
Nossa caminhada na ABMCJ já é longa. São 15 anos, ainda que com
pequenas interrupções, que prestamos ajuda à entidade, através da subcomissão de
Pelotas.
De lá, montamos este ano uma chapa mista com nomes de Pelotas e Porto Alegre
106

para a eleição da Estadual, que foi eleita por aclamação.


Então hoje em dia estou presidente da ABMCJ subcomissão Pelotas e da ABMCJ
Comissão RS, com muito orgulho.
Somos um total de 25 mulheres na subcomissão de Pelotas. Fora Pelotas, somente
Porto Alegre tem associadas da ABMCJ no estado.
A ideia é neste ano estender as atividades para outras cidades do estado.
Em nível nacional, a ABMCJ tem representação em 20 Estados. Tivemos a
oportunidade de participar de eventos em Goiás e Mato Grosso do Sul. O importante de
tudo isso é ver que aquilo que falamos hoje aqui também é a pauta em nível nacional.
Dentro da ABMCJ ou dentro da CMA/OAB.
Mas não é fácil para uma mulher, com filhos, com escritório próprio, com casa,
ainda ter tempo para exercer funções em espaços como estes.
E essa realidade é a realidade da maioria das mulheres. Dividir seu tempo entre
trabalho efamília.
Criar espaços dentro do ambiente de trabalho que ajudem as mulheres a conciliar
filhos e trabalho é uma bandeira muito interessante.
Aqui no RS tivemos um exemplo dentro do TRT4, que foi pioneiro na criação
de salas de amamentação e creches para crianças dentro de seus prédios. Isso hoje faz parte
do plano Nacional de valorização da Mulher Advogada que saiu de conferências
realizadas pela CMA em todo estado e depois foi levado ao Conselho Federal. Ou seja,
aquilo que é debatido aqui traz efeitos práticos.
E dentro dos escritórios? Conheço um caso de uma colega que conseguiu que o
escritório onde trabalhava alterasse a estrutura para comportar a ida do bebê até o
primeiro ano de vida, todos os dias junto com ela para trabalhar. Em contrapartida, sei
de situações onde a advogada foi afastada do local de trabalho pelo simples fato de
ESTAR grávida.
As estruturas atuais de trabalho estão prontas para uma mulher?
Cabe a nós debater um ambiente de trabalho que atenda as necessidades da
107

profissional/mãe.
A ABMCJ está pronta para trabalhar com questões ligadas à igualdade de gênero,
com o preenchimento dos espaços de poder por mulheres que possuem igual aptidão
que os homens para desempenhar as atividades na vida profissional epolítica.
De forma ilustrativa, citamos o evento realizado durante as eleições
municipais de 2016, onde a ABMCJ conclamou todas as candidatas mulheres à
vereadora para que conhecessem as redes de proteção da mulher na cidade, se
aproximassem das bandeiras do movimento feminista e tomassem conhecimento
das estruturas municipais de recebimento de mulheres em situação de abandono.
Outra atividade da Associação que também busca o empoderamento
feminino é a realização de palestras e workshops de capacitação, sobre diversos
assuntos que contribuem para o crescimento profissional.
Ou seja, a ideia da mulher empreendedora no mundo jurídico é buscar
empoderar e capacitar muito mais mulheres para que estas também se deem conta de
suas habilidades e sua importância no meio jurídico.
Uma mulher precisa sempre buscar outras tantas que desconhecem suas
atribuições e informar como podem juntas modificar uma realidade posta.
Não trabalhamos sozinhas. Precisamos umas das outras. Por isso a função das
associações, comissões, conselhos são tão relevantes.
Só poderemos mudar a forma como se enxerga o mundo (que é
extremamente machista) se nos unirmos.
“Sozinhas somos pétalas, unidas somos Rosas.”
Kamila Coelho Albuquerque Barros - Presidente Associação Brasileira de
Mulheres de Carreira Jurídica – Rio Grande do Sul e Pelotas
108

GT Mulheres no Poder da Comissão da Mulher Advogada da


OAB – RS
Karina Meneghetti Brendler38

Meu nome é Karina Meneghetti Brendler, tenho 39 anos e iniciei minha


trajetória profissional aos 17 anos quando fui selecionada para trabalhar como
técnica administrativa no campus-sede da Universidade de Santa Cruz do Sul –
UNISC. Nesse mesmo ano iniciei minha graduação em Direito.
Aos 21 anos, após colar grau, iniciei um curso de Especialização em Direito
de Família e durante o curso comecei minha trajetória como professora universitária
na Universidade de Passo Fundo – UPF, lecionando Direito em diversos municípios
da região: Passo Fundo, Casca, Soledade, Carazinho e Palmeira das Missões. Nesse

38
Graduada, especialista, mestre e doutora em Direito. Professora universitária e coordenadora dos
Cursos de Direito da UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul, nos campi de Capão da Canoa e
de Montenegro, RS. Advogada, coordenadora do Projeto de Extensão “Quem é Meu Pai?” e
fundadora do ADOTTARE – Grupo de Apoio à Adoção, de Capão da Canoa.
109

meio, senti a necessidade de me adequar ao mercado de trabalho e complementar


meus estudos através de um curso de Mestrado. Conquistei o primeiro lugar na
seleção e ingressei no Mestrado em Direito com bolsa total e com dedicação integral
aos estudos. Nesses dois anos de curso, pude aprender muito, vivenciar experiências
importantes e fundamentais para minha trajetória profissional posterior.
Ao final do Mestrado, então com 25 anos, recebi um convite para fazer o
curso de Doutorado em Direito fora do país. E assim me mudei para a Espanha,
onde vivi por meio ano. O curso de Doutorado me exigiria ainda mais sete anos de
dedicação até sua conclusão e muitas idas e vindas entre Espanha e Brasil para
estudos e reuniões de orientação.
Ao retornar ao Brasil, busquei trabalho na UNISC, minha instituição de
origem, na qual sigo até hoje. Fui recebida de braços abertos por meus professores
de outrora, agora na condição de colega. Na UNISC atuei como docente no campus-
sede, no campus de Venâncio Aires, até me fixar definitivamente em Capão da
Canoa, onde resido até hoje. Defendi minha tese doutoral na Espanha em 2012 e no
ano seguinte fui eleita coordenadora do Curso de Direito da UNISC, em Capão da
Canoa. Fui reeleita em 2015, e novamente em 2017, onde sigo atuando como
coordenadora do curso. Ainda em 2016 fui desafiada a trabalhar na criação de um
novo curso de Direito em Montenegro e em 2017 assumi a coordenação do referido
curso que iniciará suas atividades em agosto de 2018. Em Capão da Canoa também
desenvolvo, desde 2013, um projeto de extensão da UNISC com a comunidade,
chamado “Quem é meu Pai?”, responsável por buscar e regularizar a paternidade
de centenas de crianças sem o nome paterno em seu registro civil. Em 2016, junto
com colegas, fundei o ADOTTARE - Grupo de Apoio à Adoção, de Capão da
Canoa, que atua no município com diversas campanhas de conscientização à adoção
regular, de conscientização à entrega legal de crianças e de apoio aos habilitados
em processo de adoção.
110

Essa trajetória, entretanto, sempre foi permeada por muitos desafios. No


início, desafios financeiros típicos de uma estudante de classe média, com pai
funcionário público e mãe microempresária. Ambos com muitos sonhos e escassos
recursos financeiros. Cursei a minha graduação com bolsa da Universidade e a
paguei com meu trabalho enquanto técnica administrativa da própria Instituição,
estudando à noite e trabalhando durante o dia. Meu curso de especialização só foi
possível porque fui beneficiada com a única bolsa que havia no curso. O Mestrado,
como referido acima, só foi possível porque obtive bolsa de estudo. Bolsas existem,
mas são poucas e concorridas. O curso de Doutorado foi obtido através de convite
da coordenadora do Programa que me concedeu bolsa de estudo também. Nada foi
fácil, mas, ainda que difícil, é possível. Se foi assim para mim, certamente pode ser
para outros... entretanto, nada vem fácil: é necessário trabalhar à noite, em feriados,
em sábados e domingos, nas férias. É necessário buscar as oportunidades!
Outra grande dificuldade que encontrei, mas que todas nós mulheres
encontramos no mercado de trabalho, e com muita força no meio jurídico e
acadêmico foi a discriminação de gênero. No meu sentir, alcançamos a igualdade
numérica, mas ainda buscamos a igualdade de representação; ainda sofremos
reveses profissionais, ao nos dedicarmos à maternidade, e ainda sofremos
discriminação quando disputamos os mesmos espaços profissionais com colegas
homens. Temos a mesma educação, a mesma dedicação, a mesma formação e a
mesma competência técnica, mas temos dupla e tripla jornada; temos o trabalho,
mas ainda somos responsabilizadas quase que integralmente pelos nossos lares e
filhos. Esse talvez seja o maior desafio que nós, mulheres, temos a enfrentar: o de
conquistar e de MANTER nosso espaço, apesar (e sem pesar!) de sermos
MULHERES!

Karina Meneghetti Brendler - Fundadora do ADOTTARE – Grupo de


Apoio à Adoção, de Capão da Canoa.
111

Narrativa
Lavina Dias De Souza

Nascida em Palmares do Sul- RS, em 25 de abril de 1967, moradora de


Capão da Canoa há 38 anos, onde fez magistério e seguiu sua vida pessoal e
profissional.
Mulher de ação, mãe de família (três filhos), graduada em Letras, pós-
graduada em psicopedagogia, cursando pós-graduação em Libras, professora
concursada na rede municipal, uma carreira sempre voltada à área da Educação e
da comunidade em que está inserida. Sempre atuante nas causas dos alunos e da
classe educadora, tarefa que sempre a colocou em cargos de destaque como Direção
de diversas das principais escolas Municipais e que culminou com a escolha da
Professora Lavina para Secretária da Educação de 2013 a 2016. Diversos foram os
Projetos desenvolvidos:
• Implantação do NEJA – Núcleo de Educação de Jovens e Adultos que não
tiveram oportunidade de concluírem os estudos na idade certa. – Modalidade não
presencial para conclusão do Ensino Fundamental na Rede Municipal de Educação
na EMEF Cícero da Silva Brogni;
112

• Implantação do PROERD – Programa Educacional de Resistência às Drogas. –


Em 2014, sendo este programa desenvolvido em Parceria com a Brigada Militar,
atendendo todos alunos do Município;
• Incentivo a atividades Culturais: Criação da Gincana ESTUDANTCHÊ e a
manutenção do Festival de Bandas – ampliação e estímulo à integração com os
demais municípios;
• Construção e Inauguração da EMEF Moacyr de Araújo Pires, no Bairro
Jardim Beira Mar;
• Criação do Projeto BOM DIA - para uso da Padaria Comunitária – onde são
produzidos os pães para a merenda Escolar no município, em parceria com o
Secretaria de Assistência e Inclusão Social; Manutenção do Projeto Oficinas
Multiarte na Casa de Cultura Érico Veríssimo;
• Implantação do Plano Municipal de Educação; Olimpíadas Estudantis –
integração desportiva entre os estudantes do município;
• Feira do Livro em conjunto com atividades de leitura e presença de diversos
autores junto às escolas da rede pública municipal;
• Valorização dos Desfiles Cívicos – atividade de resgate ao civismo e
integração entre as Escolas;
• Seminários de Educação Inclusiva – palestras aos Professores e público
voltado à Educação repensando a real inclusão no Ensino Regular;
• Seminário de Educação Infantil do Litoral Norte – sediado em Capão da
Canoa, realizado em 2014 com abrangência de todos os profissionais da Educação
Infantil dos municípios de Imbé, Tramandaí, Capão da Canoa e Osório;
• Criação de 1000 vagas na Educação Infantil; Aquisição de 4 ônibus para
transporte Escolar (sendo alguns com ar condicionados);
• Eventos de Abertura dos Anos letivos – valorização de todos os arte-
educadores do município, integrando áreas de Cultura, Música, Artes Visuais,
Poesia, Dança, Canto, Teatro e todos outros; Reformas, Ampliações e Construções
113

de diversas escolas da rede pública municipal de ensino; Uniformização dos Alunos


da Rede Municipal;
• Aquisição da Praça adaptada, instalada na Escola Especial Ana Bauer
Felício (única no Litoral Norte), construção da Escola de Educação Infantil, no
Distrito de Arroio Teixeira, uma necessidade da comunidade, obra realizada com
recursos municipais;
Suplente de Vereadora na eleição (2013-2016), Elegeu-se Vereadora com
697 votos em 2016, sendo a representante do sexo feminino mais votada neste
pleito.
Com foco e visão da grande Diversidade do município de Capão, jamais esqueceu
dos bairros e distritos, independente do segmento ou área, primando pela
preocupação e valorização dos Direitos Humanos e da Inclusão das pessoas menos
esclarecidas, realizando visitas periódicas a toda comunidade, para que possa sentir
de perto as necessidades, compartilhar dos anseios, orientando em relação aos seus
direitos e oportunizando acesso à informação e serviços, levando a conquista de
oportunidades. Em suas visitas nos bairros e distritos, identifica crianças em idade
escolar fora da escola e as incluí, informando a buscando a família para a
responsabilidade, é um direito do menos estar inserido no ambiente escolar.
Promove encontros com vários segmentos da comunidade, com temas
variados de projetos, cursos, atividades, ações, direitos e deveres, levando a
comunidade na inserção da área social, da educação, da saúde, promovendo
possibilidade a todos.
Projeto de limpeza, revitalização e uso da Lagoa dos Quadros, uma área
ambiental que estava sem acesso a comunidade, Projeto de tradução e transmissão
em LIBRAS.
Lavina Dias De Souza
114

Os desafios de uma mulher advogada nos espaços de poder e


decisão

Lelia Teresinha Lemos de Quadros

Sou uma mulher advogada, militante feminista, integrante do Diretório


Municipal do meu partido, conselheira nos Conselhos Municipais dos Direitos da
Criança e Adolescente e dos Direitos da Pessoa Idosa, representando a OAB,
subseção Bagé, e integrante da Comissão da Mulher Advogada, Subseção Bagé,
desde 2009. Como mulher e profissional, tenho pautado minha trajetória de vida e
minha trajetória profissional na luta por igualdade, respeito e autonomia para as
mulheres.
Vivemos em uma sociedade cuja construção histórica é machista e
patriarcal. Em razão disso, poucas mulheres ocupam espaços de poder e decisão,
por isso a importância de que mais mulheres ocupem esses espaços e, ao ocupá-los,
utilizem-nos para a defesa dos direitos das mulheres.
Durante sete anos coordenei as políticas para as mulheres no município de
Bagé. Iniciei meu trabalho em 2009, quando ainda estava sendo implementada a
115

Lei Maria da Penha, Lei 11.340/06. Para dar efetividade à Lei, foi necessária a
implementação de uma rede de atendimento às mulheres vítimas de violência
doméstica. Mas não bastava essa implementação para enfrentar a violência, era
necessário pensar na autonomia econômica das mulheres como forma de combate
à violência.
Para enfrentar esse desafio, foi necessário conhecimento teórico e prático,
efetivado através da especialização em Gestão Pública na Perspectiva de Gênero e
Promoção da Igualdade Racial e da troca de conhecimentos e experiências com
gestoras de outros estados e municípios. Dessa forma, através da solidariedade e da
luta das mulheres e de governos comprometidos com essa pauta, fomos
implementando no país as políticas públicas para as mulheres.
Nessa construção coletiva foi fundamental a participação das mulheres das
organizações da sociedade civil, Clubes de mães, movimentos feministas,
associações de bairros, OAB, mulheres rurais, mulheres quilombolas e mulheres da
fronteira, para que os instrumentos públicos criados atendessem às necessidades das
mulheres com todas as suas especificidades.
Ressalta-se que, em 2003, as políticas para as mulheres avançaram no
Brasil, quando foi criada a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, na
Presidência da República. Nesse período, foi implementada em Bagé a Casa
Abrigo, para as Mulheres Vítimas de Violência, e a Coordenadoria da Mulher. No
entanto, os movimentos de mulheres no município já apontavam a necessidade de
implementação de uma Delegacia da Mulher.
O trabalho foi pautado em um sistema que garantisse a efetivação dos
direitos e a cidadania das mulheres, assegurando a participação e o exercício da
cidadania. Por essa razão, foram realizados fóruns, conferencias, encontros,
objetivando a construção coletiva na implementação de políticas públicas que
refletissem a vontade e a necessidade das mulheres bajeenses.
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Portanto, a partir das demandas das mulheres apontadas nos fóruns e


conferencias, foram elaborados planos municipais de políticas para as mulheres e,
com base nesses planos, foram implementadas as políticas públicas necessárias,
com recursos captados junto aos governos municipal, estadual e federal.
Entre as demandas apontadas estava a autonomia, a igualdade no mundo do
trabalho e a cidadania. Para que essas demandas fossem atendidas, foi realizada
uma pesquisa local, com o objetivo de apontar uma capacitação profissional que
garantisse a autonomia econômica das mulheres.
Nesse período, em 2010, com o crescimento de obras no município, havia
uma demanda para esse setor e não havia mão de obra qualificada para atendê-la.
Foi executado, então, o Projeto Mulheres em Construção, com o objetivo de
capacitar mulheres para trabalhar na construção civil, no qual foram selecionadas
mulheres em situação de vulnerabilidade social e mulheres vítimas de violência.
Com a capacitação, as mulheres passaram a trabalhar como ceramistas,
azulejistas, pintoras, pedreiras, instaladoras elétricas e hidráulicas. No início, por
ser um espaço até então ocupado exclusivamente por homens, as empresas tiveram
que adequar seus canteiros de obras. Houve uma certa resistência no início, no
entanto, com o passar do tempo, as mulheres cada vez mais estão ocupando esses
espaços, construindo com competência a história do nosso município.
O enfrentamento à violência doméstica e familiar infelizmente é a maior
demanda enfrentada pelos organismos de políticas para as mulheres e pela
segurança pública. De acordo com os dados do Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul39, Coordenadoria de Violência Doméstica, somente no primeiro semestre de
2017, de janeiro a junho, foram concedidas, no município de Bagé, 372 medidas
protetivas e 87 prisões foram decretadas nesse período.

39
http://www.tjrs.jus.br/violencia_domestica/documentos/Prisoes-decretadas-casos-violencia-
domestica.pdf
117

Nesse sentido, foram implementadas políticas de enfrentamento à violência


contra a mulher. Para isso, foi necessária a articulação e o fortalecimento da rede
de atendimento e enfrentamento à violência doméstica, que reuniu todas as
instituições para uma atuação conjunta no combate a esse problema, iniciando por
uma capacitação da rede.
Para o acolhimento e acompanhamento das mulheres vítimas de violência,
foi criado, em 07 de junho de 2011, o Centro de Referência da Mulher e, em 2014,
a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher – DEAM, que complementou
e qualificou o trabalho realizado pela rede de atendimento à mulher vítima de
violência no município e região.
A Comissão da Mulher Advogada teve importante atuação na
implementação das políticas de enfrentamento à violência no município através da
efetiva participação no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e do Projeto
“Viver Legal .- está na Lei tem que estar na vida”, que, por meio de oficinas e
palestras, informa a comunidade sobre a Lei Maria da Penha e a rede de
atendimento às mulheres vítimas de violência.
Além disso, elaborei e fui coordenadora dos projetos Mulheres da Paz, que
capacitou 100 mulheres para atuar no enfrentamento à violência nos bairros onde
residem, e do Ônibus Lilás, projeto que tinha como objetivo o enfrentamento à
violência doméstica na Zona Rural, em toda a Região da Campanha e Fronteira.
Também fui coordenadora dos projetos de capacitação para mulheres rurais
e quilombolas, atuei no Programa Mulheres Mil, com as mulheres que vivem na
zona rural na fronteira do Brasil com o Uruguai, do Programa de emissão de
documentos das trabalhadoras rurais, e do Projeto Flor, que desenvolveu um
trabalho com as mulheres em situação de prisão.
Realizamos no município três Conferências Municipais da Mulher,
construídas por todas as instituições que integravam a rede de atendimento, e duas
conferências regionais. Participei ainda da organização de duas Conferências da
118

Mulher no Estado do Rio Grande do Sul e duas Conferências Nacionais, além da


participação na Conferência da Mulher Advogada. Representei o Rio Grande do
Sul no Fórum Nacional da Mulher Idosa até janeiro de 2015.
Continuo ministrando palestras nas escolas, fóruns e conferências,
participando de debates e discussões em universidades sobre violência doméstica,
autonomia das mulheres, direitos das mulheres e pessoas idosas.
Durante o período de muito trabalho e realizações fui diagnosticada, em
agosto de 2012, com um câncer de mama, um dos maiores desafios já enfrentados,
que no primeiro momento me deixou sem chão, sem rumo, sem expectativas e com
muito medo. Mas, com o apoio da minha família, esposo, filhos, irmãos, irmãs,
colegas de trabalho, companheiras e companheiros de militância, de estudos e de
vida, consegui passar e vencer as seções de quimioterapia, radioterapia e estou em
tratamento há cinco anos, período que termina em março do próximo ano.
Passei por esse período de sofrimento também com o apoio de pessoas que
eu não imaginava que me queriam tão bem, o que me deu força, coragem e vontade
de viver para continuar o meu caminho na direção de um mundo mais humano,
justo, igualitário e solidário, onde não haja necessidade que se crie políticas de
enfrentamento a nenhum tipo de violência.
Acredito que nós advogadas temos um importante papel na construção de
uma sociedade com mais respeito e igualdade para as mulheres, através do nosso
trabalho, de ações e de posicionamentos que possam desconstituir essa cultura
machista nos espaços que ocupamos.
Feminismo por quê? Porque mulheres e meninas continuam sendo mortas
em nosso país pelo fato de serem mulheres, ou porque tomaram a decisão de acabar
com um relacionamento violento; porque, de janeiro a junho deste ano, 13.806
prisões foram decretadas em nosso estado para que fosse preservada a vida dessas
mulheres e 45.126 medidas protetivas foram concedidas para proteger a vida e a
integridade física das mulheres. É pela vida das mulheres.
119

Coisas de gurias

Ligia Marques Furlanetto

Há quem pense ou difunda que a mulher é um ser frágil, destinado a ocupar


na sociedade posições adequadas a essa sua “condição natural”. Este nunca foi o
meu caso. Quando eu era pequena, não mais que cinco anos, pedi que minha mãe
me cortasse os cabelos curtos, iguais aos dos meninos. É que eu não queria fazer
“coisas de meninas”: eu queria jogar futebol e subir em árvore. E isso não eram
“coisas de menina”, mas sim “coisas de menino”. Como aquelas eram as atividades
socialmente atribuídas aos meninos, pensava eu que, cortando meus cabelos tal a
eles, poderia entrar na turma, e então fazer o que gostava. Minha mãe, que não era
grilada com eventual dúvida sobre minha sexualidade, atendeu. Na verdade, com o
resultado – os cabelos como o dos guris – chorei uma semana. Eu era menina,
feminina, e não queria propriamente aqueles cabelos, só queria era fazer algumas
coisas que não eram atribuídas a mim. O cabelo cresceu e eu continuei jogando
futebol de pés descalços, arranjando confusão com a meninada e subindo em árvore,
e logo aprendi que a coisa não era bem assim: eu poderia exercer papéis que não
me haviam sido socialmente atribuídos em função do meu sexo.
120

Quando me formei em Direito, mesmo que já no século XXI, ainda havia


uma atividade que era “coisa de menino”: Delegado de Polícia. Imaginem só: dirigir
investigações criminais, lidar com delinquentes, chefiar equipes de policiais,
efetuar prisões. Isso era algo que só meninos podiam fazer. Só que não.
Desta vez não pedi para minha mãe me cortar os cabelos como o dos guris:
prestei concurso público e passei. Claro que me perguntaram: concurso para
Delegado de Polícia?! Outros tiveram constrangimento, mas eu vi nas suas
sobrancelhas que pensaram o mesmo. As pessoas foram e ainda são aculturadas
para uma divisão de papéis bem definidos na sociedade, e não conseguem transpor
essa divisão, presas à atribuição social que lhes foi dada. Como se sabe, nessa
divisão, para os homens as chefias, os melhores salários, as posições de liderança e
decisão. Para as mulheres as posições subalternas, os menores salários, o servir e
cumprir. O dado objetivo de realidade de que os homens ganham mais e têm as
melhores posições no mercado de trabalho não é obra do acaso. É o resultado de
uma elaborada normatização social que destinou às mulheres posições subalternas.
Não há dúvidas de que evoluímos muito em matéria de segmentação por
gênero. Mas se alguém lhe sustentar que as atribuições de funções em virtude do
sexo foram suprimidas de nossas instituições e práticas sociais não acredite.
Quando me tornei a primeira mulher a ser titular da maior Delegacia de
minha Cidade por adoção, Rio Grande, com cerca de 20.000 inquéritos policiais,
deparei-me, é claro, com um time de futebol masculino do qual eu deveria ser
treinadora. Em uma situação dessas você já sabe o que pensaram: como é que esta
menina vai “mandar” na gente! Como eu já tinha sofrido com aqueles cabelos curtos
na infância, dessa vez não cogitei de cortá-los de novo. A questão é conquistar o
respeito, trabalhar em igualdade e desfazer os mitos.
Na verdade, o trabalho que as mulheres desempenham em funções de
liderança é um trabalho de desconstrução. Desconstruir o estereótipo de
insuficiência, de fragilidade, de objeto. Não é uma tarefa simples, especialmente no
121

ambiente do sistema de segurança pública. Não é simples porque envolve subverter


o conjunto de normas sociais que a grande maioria dos demais atores que se
encontram nesse cenário ainda seguem. Não é simples porque em uma atividade
que exige tanto de você, você ainda terá que dialogar e desempenhar com tanto ou
mais dedicação outros papéis que você pode também ter escolhido, como os de
esposa e de mãe.
Essa a desconstrução que, construindo versões alternativas aos papéis que
me eram socialmente atribuídos, sempre quis fazer. Por isso, logo que consegui
promover a mobilização necessária, instaurei em Rio Grande a Delegacia da
Mulher, na qual me encontro atualmente, conciliando a titularidade da 3ª Delegacia
de Polícia. Através dela, e com a ajuda indispensável de um time misto, de meninos
e meninas, conseguimos levar a muitas mulheres um porto de refúgio contra
indivíduos nos quais a norma social de superioridade foi introjetada em uma
dimensão tal que acreditam poder exercer a violência moral, física ou sexual contra
mulheres com as quais mantenham relações pessoais. Ainda que não devamos
pensar que o sistema de justiça criminal promoverá a solução do problema da
desigualdade de gênero, sua intervenção assegura que essas violências não ficarão
impunes, e que a norma social de superioridade, com todos os poderes que ela dava
aos seus beneficiários, não pode mais subsistir.
A existência de um conjunto de políticas públicas e a mobilização de atores
públicos e privados é o caminho necessário para que uma grande quantidade de
mulheres possa fazer escolhas mais conscientes para uma vida em igualdade,
alegria e liberdade. É também a direção certa para revogar definitivamente a
construção cultural de que há uma divisão rígida de papéis em um teatro no qual
todos já conhecem de antemão os protagonistas. Enfim, é a maneira pela qual se
pode esperar que nenhuma menina cresça com funções pré-definidas, tolhida de sua
liberdade de escolhas e de um mundo de possibilidades porque o que deseja não são
“coisas de gurias”.
122

Desafios
Luci Duartes

Venho de uma família humilde, onde o maior objetivo de meus pais, Lindor
Duartes e minha mãe Raulina Duartes, já falecidos, era me fazer estudar.

Devido a situação financeira precária comecei a trabalhar aos 13 anos,


sempre estudei em escolas públicas. Formação Profissional Profª de Educação
Física, Orientadora Educacional, especialista em Educação, UFSM.
Há 33 anos Profª Municipal, 20 anos na SMED, coordenando o “Programa
de Controle da Evasão e Disciplina Escolar.” Programa Premiado pela Fundação
Getúlio Vargas, (FGV), no ano de 1988
Programa este que deu origem ao pseudônimo, de “Tia Da Moto”, por
desenvolver o trabalho, como visita às escolas, famílias, instituições.... Usando
uma moto como meio de transporte, onde ao ser avistado pelos os alunos, estes
gritavam “Lá vem à tia da moto.”
123

Minha entrada na política deu-se pelas idas e vindas no meio educacional,


onde percebi a fragilidade com que educadores, educando, famílias estão sendo
tratadas. Aí vem o desejo de trabalhar em prol da valorização e proteção aos nossos
professores e alunos bem como suas famílias. Cheguei à conclusão que só através
de “Leis” poderia tentar mudar um pouco esta realidade, logo, ser Parlamentar para
trabalhar em prol da Educação da Sociedade era o caminho.
Onde já aprovamos a Lei n°6152/2017 que trata sobre a “Lei de Normas de
Convivência Educacional,” Lei que vem em proteção aos educados e aos
educandos. Bem como a Lei nº 6154/2017 que “Cria a Semana Municipal da
Conscientização da Dislexia” E já em tramitação a “Lei das Práticas de
restaurativas.”
Nossa entrada na vida política vem de encontro as minhas convicções de
“Fazer o Bem Sem Olhar a Quem”, pois política para mim é uma “Missão” e não
“Profissão.”
Além também de “Não quero ser melhor que o outro, e sim melhor para o
outro.”
Para chegar até aqui foram muitos desafios que poderiam me levar a desistir
de meus sonhos, mas tive a meu lado pessoas que me incentivaram a ter fé e foco
para buscar a realização de meus sonhos pessoais e profissionais entre tantas
pessoas, a mais importante e fundamental, minha comadre, companheira, parceira;
Vera Lucia Baptista.
Dentre tantos desafios um acidente automobilístico que me levou a ficar de
cadeira de rodas e muletas por um ano, um atentado a vida levando três tiros
(queima de arquivo por estar atuando na recuperação de duas meninas, irmãs
gêmeas, envolvidas em prostituição) e um câncer de mama.
A vida política não me afastou da minha verdadeira paixão que é a educação.
Continuo atuando na SMED, como coordenadora do “Programa de Controle a
124

Evasão e Disciplina Escolar”. Dividindo meu tempo entre o parlamento e minha


atividade de educadora.
Ao me lançar candidata a vereadora assumi o compromisso de continuar a
ser o “porto seguro” dos professores, como sou chamada pelas equipes diretivas e
colegas, e estou levando à risca este compromisso assumido com o magistério
municipal. Nas segundas, quartas e sextas feiras sou totalmente SMED, escolas,
manhã, tarde e noite, nas terças e quintas feiras sou parlamentar, atuando pela
educação, comunidades, sociedade, por uma Santa Maria mais digna, sem esquecer
também os sábados, domingos e feriados que divido meu tempo entre família e
“respingos” às atividades sociais e comunitárias.
Meu maior orgulho como pessoa pública é nunca esquecer minhas origens
e não deixar o “pseudo poder subir à cabeça” e sim fazer desta vida pública um
meio de atender e ajudar as pessoas que vêm a nosso encontro em busca de soluções
para seus problemas e suas mazelas. Vida pública tanto como educadora como
parlamentar.
Trago em meu currículo a certeza de estar contribuindo de forma efetiva
para uma sociedade mais justa, mais humana, mais igualitária, onde todos tenham
os mesmos direitos e deveres.
Como exemplo de sucesso da “Tia da Moto” exemplifica os jovens:
Fernando Nuien, ex Febem, hoje um dos funcionários padrão de uma rede de
supermercados, formado em segurança do trabalho, acadêmico de letras da UFSM,
casado, exemplo de pai e chefe de família; Alex Hernandes, aluno “problema” em
todas escolas que passou, hoje ensino médio completo, meu assessor parlamentar,
chefe de família exemplar; André, ex aluno “problema”, hoje funcionário público;
Bibiana, menina em constante evasão escolar, hoje professora municipal; Lauriane,
ex menina de rua, hoje advogada.
Claro que nesta longa caminhada tive algumas perdas, algumas frustrações,
mas faz parte de nosso crescimento e aprendizagem.
125

Como parlamentar em apenas um ano de mandato considero estar fazendo


um trabalho de relevância para nossa sociedade. Três leis já aprovadas e um grande
número de demandas conquistadas nas áreas da educação, saúde, mobilidade
urbana, infraestrutura, social... Entre tantas outras. Emendas parlamentares, meio
milhão para a saúde e kits “aparelhagem conselhos tutelares”, emendas federais,
através dos deputados Afonso Mota e Pompeu de Mattos.
Assim pretendo continuar atuando, unindo a professora “Tia da Moto” com
a parlamentar “Tia da Moto”. Tudo junto e misturado, pois uma complementa a
outra e ambos, trabalhando pelo melhor de nossa sociedade.
Luci Duartes (Tia da Moto)
126

Advogada

Luciana Almeida da Silva Teixeira40

Ao começar meu relato preciso dizer que sou uma advogada, feminista,
feliz, determinada, com muitos sonhos, esperanças e grandes amizades.
Filha de Bruno Dorneles Nunes da Silva e Suzana de Carmem Almeida da
Silva, mãe do Guilherme e do Gustavo, casada com Valmor Sônego Teixeira.
Posso afirma que venho de uma família construída com muito amor,
parceira nos meus propósitos e de contínua atuação na minha caminhada,
profissional e pessoal, especialmente pelas atitudes e exemplos.
Sou natural de Itaqui-RS e como muitos estudantes a fim de prosseguir na
academia, após finalizar o 2ª grau na Escola Santa Tereza de Jesus, no ano 1989,
fui morar em Santa Maria- RS, em busca da minha profissão e do meu sonho- Ser
Advogada.

40
Membro da Comissão da Mulher Advogada. Responsável pelo grupo de trabalho – Mulheres no
Poder na Comissão.
127

Desde muito cedo, quando perguntavam o que gostaria de ser, a resposta


estava pronta: Ser Advogada!!
E, com apoio dos meus pais, da minha irmã Eliane Petrazzini, também
advogada, e de meus familiares, determinada a estudar, passei a residir em Santa
Maria- RS, cidade que tenho muito carinho, pelas amizades que conquistei e que
estiveram presentes durante minha formação. Amigxs que são muito importantes,
por isso não posso nomear, sob pena de esquecer alguém, pois sair de casa, de um
ambiente muito fraterno e amoroso, ainda na adolescência, não foi tarefa muito
fácil, precisava ter foco, objetivo e amigxs.
Em agosto 1998, formei-me pela Universidade de Cruz Alta –UNICRUZ,
no mesmo mês, adotei Porto Alegre, como minha nova morada.
Atuante desde 2001, com especialização em Direito Civil e Processual Civil,
trabalho na luta pela igualdade de direitos, com base em princípios éticos e de
respeito pelo outro, por maiores garantias constitucionais, engajada na defesa dos
direitos humanos, cidadania e da democracia. Sou membro da Comissão da Mulher
Advogada, estou responsável pelo grupo de trabalho – Mulheres no Poder na
Comissão, o que muito me orgulha em poder participar ativamente na minha
Instituição, OAB/RS e na CMA, principalmente pelo apoio da/os colegas e da
nossa querida Presidente da CMA- Beatriz Peruffo.
Não posso deixar de citar a admiração e os ensinamentos da estimada
professora, Dra. Jussara Reis Prá, que me fez descobrir, que além de advogada,
sempre fui uma mulher feminista, que minha inquietação decorre da perquisição
pela igualdade de direitos e deveres, para construção de uma sociedade melhor,
fraterna e igualitária.
No mesmo sentido, agradeço o nosso Presidente Ricardo Breier, pela
acolhida na Instituição e pela indicação para compor a equipe do GT Raça e
Gênero, sob o olhar e comando do Dr Jorge Terra, que muito me enobrece,
renovando propósitos pessoais e profissionais.
128

A minha trajetória na advocacia se traduz em comprometimento e estudo


diário o que reforço com atualizações e ensinamentos pessoais e profissionais,
constantemente. É claro que dificuldades sempre existem, mas quando trabalhamos
com o que realmente gostamos, elas se tornam apenas meras lembranças e etapas
a serem alcançadas.
Desta forma, procuro através do meu trabalho na advocacia contribuir
efetivamente para uma sociedade mais justa, mais humana, fraterna, mais
igualitária, reafirmando esses conceitos como exemplo de vida que aprendi com
meus pais, com minha famíla, com aqueles que sempre estiveram presentes na
minha caminhada e que de alguma forma me deram força e coragem para seguir a
carreira, acreditando na perpetuação desses ideais para meus filhos, familiares e
amigxs.
129

Minha Trajetória No Exército Brasileiro

Macleine Frantz Machado41

Macleine Frantz Machado, natural de Dom Pedrito-RS, sempre se


interessou pela área da saúde e, por isso, quando era mais nova, planejava fazer
Medicina. No entanto, após entrar no curso de Farmácia e Bioquímica, na
Universidade Católica de Pelotas (UCPel), apaixonou-se pela profissão e decidiu
seguir o ofício. Desde pequena, ela gostava de ver os desfiles do Exército em sua
cidade natal, o que, somado ao incentivo do pai, resultou na união das duas áreas.
Macleine deslocou-se para diversos lugares do país, exercendo as duas
carreiras simultaneamente. No ano de 1997 entrou no Exército Brasileiro, na
Policlínica Militar de Porto Alegre (PMPA), como Aspirante Farmacêutica
Temporária. No ano de 1999 cursou duas pós-graduações, uma em Hematologia
Clínica e outra em Citologia Clínica, ambas na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Em 2001, após ser aprovada em concurso público para a carreira
militar, ingressou na Escola de Saúde do Exército do Rio de Janeiro (ESsEx-RJ) e,
ao término do curso, foi classificada no Hospital de Guarnição de Alegrete, onde

41
Comandante do posto médico da Guarnição de Cruz Alta
130

atuou como chefe de Laboratório de Análises Clínicas durante três anos. Em 2005,
uma nova transferência a levou para Tabatinga, Amazônia, onde trabalhou
novamente com Análises Clínicas, além do Banco de Sangue, por dois anos.
Trabalhar na Amazônia proporcionou-lhe o contato com outras culturas,
especialmente a indígena, contribuindo significativamente para o seu crescimento
cultural, pessoal e profissional. Com a transferência para o Hospital Militar de Área
de Porto Alegre, em 2007, chefiou o Laboratório de Análises Clínicas por quatro
anos e, nos cinco anos seguintes, a Farmácia Hospitalar deste mesmo Hospital. No
ano de 2009, concluiu o curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO).
Em 2012 realizou curso de Pós-Graduação, na área de Farmácia Hospitalar, no
Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre-RS.
Em 2016, no Brasil, apenas duas Mulheres Farmacêuticas foram nomeadas
para o comando de Postos Médicos, prerrogativa até então de Oficiais Médicos.
Macleine, ainda no posto de Capitão, foi uma delas, sendo nomeada para comandar
o Posto Médico de Guarnição de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, assumindo sua
função em 20 de janeiro de 2017, já promovida ao posto de Major.
Atualmente, como Chefe Farmacêutica do Posto Médico, tem o
compromisso de aprimorar os serviços e elevar a confiança daqueles que depositam
suas vidas em nossas mãos. Busca a excelência nas atividades desenvolvidas, que
se destinam não somente aos militares, mas também à sociedade brasileira através
de ações cívico-sociais (ACISOS) e de respeito à cidadania.
Para que isso se concretize, sua rotina de trabalho inicia às 7h e, entre outras
atividades, realiza reuniões matinais diariamente com o efetivo do Posto, reuniões
semanais com os chefes de seções, como laboratório, farmácia, pronto-atendimento,
fisioterapia e seções administrativas do Posto. As reuniões são necessárias para que
cada chefe saiba onde deve agir com mais esforço para que se alcance o objetivo
proposto. Também são realizadas formaturas militares com o efetivo, duas vezes
por semana, treinamento físico militar centralizado, instruções militares
131

semanalmente, provas de tiro e físicas, além de outras missões inerentes ao


Exército.

Major Macleine Frantz Machado


Comandante do posto médico da Guarnição de Cruz Alta
132

Em todo o lugar

Manuela D´Ávila42

Cresci ouvindo de Brizola que um grande Brasil só seria possível com


investimento em educação. Hoje, que estou no cenário político há tantos anos e que
sou mãe, tenho certeza disto. Aliás, comecei minha militância lá nos anos 90,
quando fui vice-presidenta da UNE. De lá para cá fui vereadora, deputada federal e
estadual e concorri à Prefeitura de Porto Alegre e eleita a deputada que melhor
representou a população, recebendo o prêmio Congresso em Foco.

Não foi fácil estar lá em Brasília. Ser mulher na política significava ter
minha idade e meus atributos físicos discutidos com mais importância que minhas
pautas, mas mesmo assim tive um mandato de grandes conquistas. Só que esta
provocação, onde minha aparência importava mais que meus projetos, acabou
servindo de alicerce pra me tornar a política que sou hoje, como em 2013, quando
fiz um discurso emocionado na Tribuna da Câmara por conta dos comentários
machistas de um deputado, que tentava desqualificar os argumentos políticos de

42
Deputada Estadual PCdoB/RS
133

uma denúncia contra corrupção com comentários sobre minha vida privada. Já
naquela época, eu apontava o que era ser mulher na política: ter pouca representação
e poucas vozes.
Em 2014, voltei ao Rio Grande do Sul eleita Deputada Estadual, em outra
votação expressiva, já que, numa das disputas à deputada Federal, fui eleita com o
maior número absoluto de votos. Que baita conquista! Logo no ano seguinte,
aconteceu minha maior revolução: tornei-me mãe de uma menina, a Laura, e a
maternidade me transformou de tal forma que tornou uma das minhas principais
pautas. Minha foto amamentando no Plenário, para garantir o aleitamento exclusivo
até o sexto mês, mesmo tendo apenas quatro meses de licença-maternidade,
viralizou por todo o mundo e, nesta mesma época, me tornei presidenta da Frente
Parlamentar da Primeira Infância.
Optei, em 2016, por não me candidatar à prefeitura, para me dedicar à
maternidade e aos projetos da Assembleia gaúcha e, neste ano, tornei-me
Procuradora Especial da Mulher na Casa. Pela Procuradoria, viabilizamos diversos
projetos institucionais, dentre eles o “Seminário Educação Sem Machismo”, que
busca discutir com professoras e professores uma forma de educar que não reforce
os estereótipos sociais machistas. Neste um ano de projeto, atingimos mais de 15
mil pessoas. Em diversas viagens pelo Estado fiz questão de levar a Laura, que
agora está com 2 anos e 3 meses, e ainda mama. Eu faço isso porque somos
parceiras, porque acredito que inserir as crianças nos debates sociais, ainda que
como expectadoras, faz parte dessa desconstrução tão necessária, e também mostra
a ela, e as outras mulheres da plateia, tantas que são mães, ou que serão, que lugar
de mulher (e de criança) é todo lugar.
Eu gosto de dizer que ética não é bandeira, mas sim obrigação. E, por conta
da minha visão ética da política, foi natural me enveredar pelas pautas que meus
colegas parlamentares não queriam se identificar, como as questões LGBT, o
casamento igualitário, contra o trabalho escravo e a favor da dignidade na moradia.
134

Sou comunista porque acredito que nós todos podemos viver em condições de
igualdade de oportunidades e é meu comunismo que baseia minhas ações e planos
políticos.
Atualmente no parlamento, temos atuado na Comissão de Constituição e
Justiça, na Comissão de Direitos Humanos e na Procuradoria Especial da Mulher,
com as pautas da regularização fundiária e direito à moradia, com a violência
obstétrica, com a defesa do estado forte e contra o desmonte e venda das estatais
gaúchas pelo governo atual, sendo referência na mediação de conflitos.
O debate de política com perspectiva de gênero, já que a reforma trabalhista
vai ser especialmente cruel com as mulheres trabalhadoras, é fundamental. Há toda
uma discussão sobre um Estado Mínimo, mas num país onde as mulheres recebem
menos que os homens, onde gestantes e lactantes poderão ter que trabalhar em
condições insalubres, onde nem a licença maternidade é compatível com os
objetivos da OMS para amamentação exclusiva, defender esse modelo é piorar,
absurdamente, as condições de vida para as mulheres. Porém, nos últimos anos,
tenho visto o crescimento de sororidade entre as mulheres na política percebo que,
mesmo sendo opositoras políticas, concordamos quando o assunto é a violência de
gênero. Eu acredito mesmo na mudança do Brasil, numa mudança educacional, que
passa pela desconstrução diária do machismo. Ser mulher na política é uma
desconstrução diária do machismo, é ter que se mostrar muito mais forte e preparada
para a disputa. É elevar, na última potência, aquela máxima: “lugar de mulher é
onde ela quiser”, e meu trabalho é facilitar, para minha filha e todas as meninas das
gerações mais novas, o acesso a este lugar.

Manuela D´Ávila
Deputada Estadual PCdoB/RS
135

GT Mulheres no Poder da Comissão da Mulher Advogada da


OAB – RS
Mara Rochinhas43

Meu nome é Mara Giselda Soares Rochinhas, tenho 53 anos e tenho uma
trajetória profissional baseada em uma enorme força de vontade, lutas e
aprendizados.
Nasci no interior do município de Bagé, RS, onde vivi minha infância e
adolescência. Fui mãe aos 18 anos de idade. Mudei para a cidade para trabalhar e
continuar os estudos.
Trabalhei durante 20 anos no comércio varejista enquanto cursava ensino
médio e curso de Direito. Graduei em direito em 1998, após fiz pós-graduação em
docência do Ensino superior e também cursei Transações Imobiliárias.
Em 2002 com o CRECI me instalei como corretora de imóveis e advogada
que já atuava como tal, agregando as duas profissões.

43
Graduada em Direito, especialista em Docência, é advogada, corretora de Imóveis, atualmente
está Delegada Adjunta do CRECI 11ªSub-Região/Bagé, RS.
136

Com o crescimento e visando a expansão no ramo imobiliário deixei de ser


corretora pessoa física e constitui Empresa Jurídica Imobiliária em sociedade com
meu filho também corretor de imóveis “Rochinhas & Rochinhas Imobiliária Ltda”
Essa trajetória, entretanto, sempre foi permeada por muitos desafios. No
início, desafios financeiros típicos de uma pessoa que vem de uma família humilde
sem condições de arcar com seus estudos então a única forma de vencer e crescer
na vida profissional é estudando...e estudos nas madrugadas ... finais de semanas
inteiros, já que durante o dia trabalhava de segundas a sábados e a noite estava na
sala de aula. Foram longos anos de muitos sonhos e escassos recursos financeiros.
Não consegui bolsa de estudos paguei tudo com meu trabalho.
Outra grande dificuldade que encontrei no inicio da advocacia e com muita
força no meio jurídico foi a discriminação de gênero do tipo: “Ela é mulher, é
fraquinha”. Na atualidade nota-se que pelo fato de ter muitas mulheres na advocacia
esse preconceito diminuiu e temos que seguir lutando para que acabe.
Mara Giselda Soares Rochinhas
Delegada Adjunta do CRECI 11ªSub-Região/Bagé, RS.
137

Minha história

Marcia Rossatto Fredi44

Ao aceitar repensar e registar minha trajetória de vida para a publicação


“Mulheres no Poder”, relembro parte de meu discurso da posse de prefeita, onde de
certa forma, refiz um pouco da minha história, onde acredito ser um dos momentos
que se esperava ouvir da Prefeita, o que ela pensava sobre o fato de assumir esse
desafio e encarar a administração pública de um município.
Vivemos uma crise de ética na política, por causa de maus políticos; no setor
público vivemos uma crise financeira, por causa de maus gestores (principalmente
no Estado e na União). Porém, foi pensando que podemos reescrever a história, que
devemos começar dando exemplo no menor dos Entes Federados, ou seja, em nosso
município, que assumi o desafio com muita coragem estando determinada a
conquistar ainda mais o respeito da comunidade local, respaldada pela vitória
democrática das urnas.
Quando estudei psicologia da educação, aprendi uma das lições mais
importantes e que me fez compreender muito, sobre como as pessoas são, ou porque

44
Prefeita da Cidade de Fortaleza dos Valos
138

são como são: aprendi que somos resultado de duas coisas: a hereditariedade, e o
meio ambiente.
Ao olhar para trás percebo que a minha hereditariedade está nos meus laços
sanguíneos, meus avós paternos e maternos (meu avô Jacintho Rossato foi vereador
na cidade de Cruz Alta e minha avó Justina pessoa que dedicou a vida à família);
minha avó materna Vitorina Barchet Giuliani era uma escritora, quase poeta... meu
avô materno Adelino (que não cheguei a conhecer, mas minha mãe contava) era
um defensor da natureza e das nascentes dos rios. Meus pais pessoas que sempre,
sempre trabalharam e ajudaram na comunidade sem pretensões políticas, sempre
ajudaram por querer o bem da comunidade.
Cresci numa família que sabe trabalhar pelos outros, que soube educar seus
filhos na direção do bem, do que é correto e justo! E tenho muito orgulho de
pertencer a essa família, de ser a quarta filha desses sete irmãos. Meu pai agricultor
e minha mãe professora e dona de casa, nos ensinaram a repartir (entre sete irmãos,
como não aprender?) , valores fundamentais como a família, o respeito a todos, a
tolerância, a compreensão, o perdão... entre outros valores que aprendemos pelo
exercício da religiosidade católica (indo à missa, rezando o terço todas as noites em
família, nas reuniões de grupo de famílias por ocasião da páscoa, Romaria de
Fátima e Natal)...
A outra parte é o meio ambiente, onde fui me desenvolvendo: cresci vendo
a luta pela emancipação, eu tinha quatorze anos e fazia campanha pela emancipação
do município, quando aconteceu o plebiscito que nos emancipou de Cruz Alta. Fui
aluna sempre atuante, membro do Centro Cívico Escolar (hoje Grêmio Estudantil),
participava de todas as atividades curriculares e extracurriculares da Escola, sempre
que solicitada.
Acompanhei o município nascer e crescer... Cursei o primeiro grau em
Fortaleza dos Valos, mas a experiência de morar fora de casa (em Cruz Alta) foi
139

pela escolha de fazer Magistério, e trabalhar com o que há de mais nobre: os seres
humanos, a educação!
Fiz concursos e passei, sou professora municipal; Cursei Educação Artística
com Licenciatura em Artes Plásticas; Participei de grupo de jovens na igreja, na
Liturgia, na Coordenação das Invernadas Artísticas do CTG da cidade.
Fui adquirindo experiência trabalhando em outras áreas ou serviços: como
professora de Educação Especial, Educação Infantil e Ensino Fundamental; fui
Diretora de Escola, Diretora de Cultura e Turismo, fiz especializações em Teatro-
Educação, Gestão e Administração Pública.
Paralelamente namorei, casei, constituí família: há 28 anos meu marido
Gilmar - agricultor e dois filhos, sendo a Alice (20 anos) estudante do 5º semestre
de Direito. e João Pedro (15 anos), cursa o 9º ano do Ensino Fundamental.
Concorri pela primeira vez e fui Vereadora na legislatura 2013-2016,
participando das várias comissões da casa, Presidente em 2015, e presidente do
partido de 2013 até maio de 2017.
Fortaleza dos Valos me elegeu a primeira mulher eleita prefeita. Por isso
minha cidade merece a minha mais profunda gratidão e admiração, por ter
acreditado em uma mulher, personificada em minha pessoa, a assumir o maior e
mais importante posto político da cidade. Sou uma pessoa observadora dos
preceitos na busca por justiça e lealdade aos princípios éticos, que faz de nós
mulheres, seres mais sensíveis, porém na mesma proporção, mais determinadas.
Dessa forma, fui tecendo meu caminho e hoje, olho para trás e como se a
vida fosse um desenho formado por pontos que se ligam, percebo que cada ponto,
foi me conduzindo a chegar a esse lugar, aqui, nesse tempo e espaço, nessa
condição, hoje! E assim completo essas ligações e esse desenho onde tudo faz
sentido! E há de se ter fé, acreditar que há um sentido para tudo o que fizemos,
desde que o façamos com amor e com ideais nobres, lembrando que somos seres
sempre em “construção.”
140

Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira45

Mulheres no poder. Título forte e impreciso. Afinal o que poderia se


denominar de poder? Poder pode ter centenas de significados. A palavra poder é de
origem latina significa entre tantas outras “ter a faculdade de” ou “possuir força
física, moral ou influência sobre algo ou alguém.”
O exercício de um cargo não expressa a magnitude da palavra e do verbo
poder. A realidade brasileira nos mostra que alguns detentores de altos cargos são
meros títeres e não exercem poder algum. Em contrapartida, alguns indivíduos pela
sua estória de vida e posições firmes têm um poder imensurável.
Não me considero uma mulher no poder, mas alguém que é protagonista da
sua vida.
É impossível narrar a minha trajetória pessoal e profissional sem mencionar
três pessoas: meu pai Carlos, minha mãe Eloah e meu tio Lisboa.
Vou começar pelo tio Lisboa que perdi quando tinha cinco anos. Ele era um
dos irmãos mais velhos de minha mãe, mas aquele que seria crucial nas vidas dela

45
Secretária-Adjunta da OABRS
141

e das demais irmãs quando ficaram órfãos. Tio Lisboa era um homem com visão
diferenciada e nos anos quarenta fez com que todas as suas cinco irmãs estudassem
e tivessem uma profissão. Não queria que elas dependessem de ninguém.
Meu pai era de uma geração de Santanenses que estudou a partir dos oito
anos de idade no internato em Montevideo, posteriormente tendo ido para o Rio de
Janeiro terminar os estudos no Colégio Dom Pedro II e cursado direito na Faculdade
do Rio Grande do Sul, atual UFRGS. Ao terminar a faculdade volta para Santana
para exercer a profissão, mas com uma visão de mundo ampliada e fugindo dos
parâmetros da cidade. Era o famoso solteirão e bom vivant.
A minha mãe fez magistério em Santa Maria e antes mesmo de formar-se
passou a lecionar ao quinze anos. Depois de formada conseguiu um contrato no
Estado e rumou para Livramento para lecionar. Jovem, bonita, elegante e com uma
cultura acima da média foi morar na casa de amigos da família. Lá disseram-lhe
que havia um jovem advogado santanense que seria um par perfeito para ela – o
Carlitos Vidal. Se conheceram e imediatamente se apaixonaram e casaram-se trinta
dias, a demora foi exigência de meu avô paterno.
O resultado desse casamento foram quatro filhos, três guris mais velhos e
eu. Na minha casa, meus pais reinavam absolutos, sabíamos o que podíamos e o
que não podíamos fazer, mas tudo era conversado e dividido com eles. Não havia
nada proibido, a biblioteca imensa era aberta a todos e líamos diariamente os
jornais.
Como Santana tem sua cidade-irmã Rivera sempre tivemos acesso ao que
havia de melhor na cultura: bons filmes e livros, concertos, recitais, peças de teatro,
folclore e uma miríade de oportunidades para uma mente sedenta como a minha.
Na minha casa quando o assunto era muito delicado meus pais falavam em
francês e meus irmãos Dadado e Totonho em inglês, com isso logo pedi para ir
estudar na Aliança Francesa e no Anglo em Rivera. A relação com meus pais e
irmãos sempre foi muito amorosa e brincávamos muito entre nós, mas gostávamos
142

muito de trazer os amigos para nossa casa. Era muito comum cada um de nós
aparecer com um ou dois amigos para almoçar, estudar ou simplesmente dormir lá.
Os meus pais espertos não reclamavam, pois assim sabiam o que fazíamos e com
quem. Não havia proibição de andar com fulano porque era pobre ou sicrano por
ser negro. A única exigência é que fossem pessoas interessantes e que
acrescentassem alguma coisa nas nossas vidas. Meus pais nos ensinaram que nosso
atos deveriam decorrer nossa decisão e não por determinação ou influência de
outros. Ganhei a minha primeira chave de casa aos oito anos.
A relação com meus irmãos sempre foi muito boa: o Dadado me fez amar
os livros, o Totonho a tecnologia e carros e o Joca mostrou-me como usar os punhos
e ser rápida nas respostas.
Eu cresci dentro do escritório do meu pai que ficava numa parte da nossa
casa e à noite adorava ir com minha mãe na Escola Normal Alceu Wamosy onde
ela lecionava. Portanto, aprendi a importância do trabalho, suas exigências e
também desgostos. Incontáveis vezes vi meu pai trabalhando a noite e o fim de
semana inteiros ou minha mãe corrigindo provas.
Aos quinze anos, por uma questão curricular – o ensino profissionalizante –
tive que vir para Porto Alegre estudar. Fui morar no apartamento da Família meus
irmãos Joca e Dadado. Um desafio e tanto. Ficar numa cidade grande sem meus
pais, nós três gerindo as nossas vidas. Aprendemos administrar a mesada e fazê-la
durar o mês inteiro.
A vida da cidade grande me fascinou e pela primeira vez não passei por
média em tudo, mas sabia que “rodar” de ano era algo impensável na minha família.
Aliás, “rodar”, abandonar os estudos ou não fazer faculdade era algo ~totalmente
fora dos nossos horizontes.
Terminei o Colégio Sévigné com notas razoáveis e ingressei na PUCRS para
fazer direito. Aos seis anos já dizia que seria advogada. Comecei estagiar no último
ano em uma grande indústria e lá permaneci depois de formada. Foi onde aprendi a
143

advogar e que mulheres não são reconhecidas por mais que fizessem. Mas ali foi
onde se descortinou o meu futuro, pois adentrei na Justiça do Trabalho para nunca
mais sair.
Foi na Justiça do Trabalho que aprendi o valor da vida associativa, através
da AGETRA e logo me associei ao Sindicato dos Advogados. Nunca mais
abandonei a luta das entidades representativas de advogados.
Me apaixonei, namorei, me juntei e passei a viver um sonho que achava
impossível. Aos 52 anos conseguir exercer o direito de casar.
Anos depois me tornei presidente da AGETRA e sou diretora do Sindicato
por muitos anos. Comecei na OAB lá pelos anos 90 como instrutora de processos
disciplinares, depois passei a julgadora do TED, mas somente tornei-me conselheira
na gestão do Dr. Levenzon e voltei a sê-lo na gestão do Dr. Cláudio Lamachia. Tive
o privilégio de ser Secretária-Geral Adjunta nas administrações de Marcelo
Bertoluci e Ricardo Breier.
A minha trajetória não foi fácil mas também não foi difícil. Ela é o resultado
de um processo coletivo em que participaram a minha família, meus professores,
meus amigos e colegas. Se cheguei a algum lugar foi por que todos eles de alguma
forma me ajudaram. Ninguém faz nada sozinho.

Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira


OAB/RS nº 15.822
144

Maria Jacqueline Brenner Zamberlan46

Meu nome é Maria Jacqueline Brenner Zamberlan. Tenho 60 anos e desde


os 16 me dedico ao aprendizado e ensino do Yoga, essa filosofia de vida milenar,
mas tão atual.
No início não foi fácil, confesso, em plenos anos 80, onde a palavra Yoga
era bem pouco conhecida na cidade onde eu morava.
Mas perseverei e aos poucos fui mostrando a importância dessa filosofia
para que se tenha qualidade de vida, saúde, bem-estar e dessa forma se possa buscar
o autoconhecimento, tão importante nos dias de hoje.
Ministrei aulas em casas de família, clubes, academias, empresas até o
momento em que consegui montar um Centro, lugar onde hoje ministro aulas e
cursos de Instrução.
E o sentimento que tenho é de GRATIDÃO. Por tudo. Pelas dificuldades
(pois elas me ajudaram a crescer), pelas oportunidades (portas que se abriram e eu
soube aproveitar), pelos Mestres que tive e tenho, verdadeiras fontes de Inspiração.

46
Instrutora de Yoga.
145

Hoje me sinto feliz e realizada. A caminhada continua, e eu também, sempre


firme no meu propósito de crescimento e melhoramento oportunizando essa
orientação a todos os que se sentirem chamados.
146

Trajetória pessoal e profissional


Maria Regina Wingert Abel47

Nasci em Novo Hamburgo (embora oficialmente tenha naturalidade de Dois


Irmãos, porque lá fui registrada em razão de boa parte da família, especialmente
paterna, residir naquela cidade) em 19 de novembro de 1958. Meu nome completo
é Maria Regina Wingert Abel, mas tenho utilizado profissionalmente apenas
“Regina Abel” há muitos anos. O nome Maria Regina foi escolhido pelas irmãs do
Hospital Regina, onde nasci, e foi consequência de um parto difícil. Isso levou as
irmãs a fazerem a promessa de que, caso eu sobrevivesse, receberia o nome da Santa
Maria e o nome do hospital, Regina. Meus pais concordaram.
Minha infância, adolescência e o início da fase adulta foram vividos em
Campo Bom, cidade da qual saí quando casei, vindo a residir em Novo Hamburgo,
município no qual resido e trabalho até hoje. Por uma feliz coincidência, hoje tenho

47
Presidente da OAB/Subseção Novo Hamburgo- Gestão 2016/2018.
147

o privilégio de ser Presidente da Subseção da OAB que abrange todas estas três
cidades tão importantes na minha vida: Novo Hamburgo, Campo Bom e Dois
Irmãos.
Venho de família humilde, com seis irmãos, sendo que sou a única que veio
a obter diploma de ensino superior. Agradeço sempre, em especial à minha mãe,
entre outras pessoas, que com pequenos gestos traçaram um futuro diferente
daquele que poderia ser identificado como o “mais provável” para mim, sobretudo
em um país marcado por uma desigualdade social tão acentuada.
Comecei a trabalhar com 14 anos, idade com a qual passei também a estudar
à noite. Aos 22 anos, me tornei mãe. À época, já havia começado o curso na
faculdade de Direito. Me formei na turma 1986/2 da Unisinos, cuja cerimônia de
formatura ocorreu no dia 09 de janeiro de 1987. Fui aprovada com distinção no meu
trabalho de conclusão, que versou sobre Direito de Família, intitulada “O Princípio
da intransmissibilidade do direito de Alimentos”.
Em julho de 1986, pouco antes da formatura, fui trabalhar como estagiária
no escritório de advocacia do grande advogado Dr. Adalberto Alexandre Snel, onde
permaneci como advogada até o final de 1989. Em março de 1990, abri meu próprio
escritório de advocacia, sem nenhum cliente, “na cara e na coragem”, trabalhando
sozinha. Posteriormente, passei a ter como colega de escritório meu filho, Henrique
Abel, também egresso da Unisinos, hoje Mestre e Doutor por aquela instituição.
Minha vida como mulher de Ordem iniciou ainda quando era estagiaria,
sempre muito envolvida com questões sociais da cidade e colaborando com os
Presidentes da Subseção de Novo Hamburgo. Fui Secretária-Geral nas gestões
1998/2000 e 2001/2003 e Vice-Presidente na gestão 2010/2012. Agora, na gestão
2016/2018, sou a Presidente desta que é a quarta maior Subseção do Rio Grande do
Sul, e exerço a função com imensa satisfação, orgulho e muito trabalho.
148

Trabalhando há trinta anos como advogada, jamais deixei de me preocupar


com os menos favorecidos e também com a situação, ainda vergonhosa, na qual
vive inserida a a mulher no nosso país.
As mulheres precisam lutar incansavelmente por espaço e representação.
Jamais devem desistir na busca de igualdade e de condições dignas de trabalho, de
salário digno e de respeito nas relações afetivas. Esta sempre foi e sempre será uma
das minhas bandeiras: a conscientização das mulheres a respeito de seu papel na
sociedade.
Esta é uma síntese da minha vida pessoal e profissional. Se devo agradecer
a alguém, sem dúvida é à minha querida e saudosa mãe, Hilda Wingert, por ter
construído em mim, apesar das muitas dificuldades, todos os fundamentos para uma
vida plena: caráter, honestidade e solidariedade - mas sem nunca coibir a natureza
combativa da minha personalidade, que já aflorava na juventude e já prenunciava a
minha escolha pela advocacia, um sonho que naqueles tempos parecia impossível
e uma profissão que, a depender da minha vontade, exercerei com vigor até o último
dia de minha vida.
Maria Regina Wingert Abel - OAB/RS 22.942 –
149

Carta de Apresentação OAB/RS


Mariana Ferreira dos Santos

Nascida em 21 de fevereiro de 1988, na cidade de Porto Alegre, filha de


bancários, militantes do movimento negro, graduada em Ciências Jurídicas e
Sociais - PUCRS, com pós-graduação em Direito Imobiliário - IDC.
Sempre teve como propósito de vida buscar soluções que auxiliem na
transformação social em prol da redução das desigualdades brasileiras. Desenvolve
negócios na área de construção civil e consultoria jurídica imobiliária há oito anos.
Atua junto a entidades e empresas que possuem foco em desenvolvimento
econômico, sustentabilidade e inclusão social por meio de ações afirmativas e
práticas inclusivas de mercado.
Co-fundadora e membro da Diretoria Nacional da Rede Brasil
Afroempreendedor - REAFRO, desde 2015, entende que o apoio e incentivo ao
empreendedorismo é uma das maiores estratégias para o desenvolvimento social,
profissional e econômico dos indivíduos e da nação.
Como mulher negra, busca trabalhar com a diversidade, integração de
grupos minoritários, com determinação, resiliência e responsabilidade.
150

No ano de 2017, passou a integrar o Grupo de Trabalho: Raça e Gênero,


pertencente à Comissão da Mulher da OAB/RS. Com o projeto OAB Vai a
Comunidade, visita regiões de alta vulnerabilidade social, auxiliando as pessoas a
compreenderem seus direitos e deveres sociais e a exercerem sua cidadania de
forma efetiva.
Objetiva fortalecer as cadeias produtivas da base sócio econômica brasileira
visando processos inovadores, para isso, se engaja em diversas comunidades que
acreditam na melhora deste país através de ações voltadas ao bem estar coletivo e
sustentável.

Mariana Ferreira dos Santos


151

ADVOGADA, PRESIDENTE DA SUBSEÇÃO OAB


CANELA/GRAMADO
Mariana Melara Reis48

Comecei a trabalhar cedo, com 13 anos, fazendo os serviços de rua para as


empresas da minha família. Trabalhei com eventos, sendo assistente de palco no
Festival de Cinema de Gramado e fui garçonete antes de iniciar a faculdade. Passei
no vestibular em 1995 e em que pese meu pai fosse advogado de carreira do Banco
do Brasil, recém aposentado, mas continuando a trabalhar para o Banco, fui estagiar
na Defensoria Pública de Gramado. Depois passei a trabalhar no escritório com meu
pai e quando me formei, em 2001, virei sua sócia. Fiz especializações, vários cursos
de extensão e um mestrado. Me tornei professora universitária.
Na OAB, sempre auxiliei meus pares, entretanto meu primeiro cargo foi
secretária adjunta, passei a diretora tesoureira e hoje sou presidente da Subseção
Canela Gramado. Tenho 17 anos de inscrição na OAB como advogada e destes, 11
são dedicados à Ordem através de cargos eletivos. Não sei quanto tempo mais
ocuparei cargos na minha instituição de classe, mas quando deixar de tê-los

48
Presidente da Subseção OAB Canela/Gramado.
152

continuarei a contribuir porque a OAB é mais do que uma entidade, é uma família.
Ostento com orgulho todas as menções honrosas e diplomas que a OAB me
agraciou. Aliás, quando eleita diretora tesoureira percebi que a maioria das
mulheres não ocupam este cargo. Bom, eu sou movida a desafios e fui lá e fiz
bonito, modéstia a parte. Dei um choque de gestão, saneei as contas, coloquei a casa
em ordem. Como reconhecimento ao meu trabalho foi indicada por aclamação por
meus pares para concorrer à presidência da Subseção, numa eleição de chapa única.
Passei com louvor no desafio da Tesouraria e estou adorando ser Presidente de
Subseção na qual, aliás, temos 14 Comissões e 9 são presididas por mulheres. Ah!
Minha diretoria tem predominância feminina. Estou rodeada de mulheres de
Ordem, que trabalham forte mostrando seu valor. E não as escolhi pelo gênero, mas
pela reconhecida competência.
No campo político partidário, fui presidente de núcleo feminino, membro da
executiva municipal, candidata a vereadora por dois pleitos e vereadora suplente,
tendo assumido a cadeira legislativa durante um período. Certamente foi o campo
de atuação no qual mais percebi o machismo ao ponto de certa feita ser apresentada
a um então respeitado Senador Gaúcho por uma deputada estadual do Rio Grande
do Sul que sugeriu meu nome para que concorresse ao mesmo cargo ocupado por
ela, por minha região, a Serra. Ele olhou fixamente nos meus olhos e disse “tu tens
chances, pois és muito bonita”. Seria um elogio? Não! Era machismo puro, pois
pouco importava se eu era advogada, se me formei entre os melhores alunos, se
tinha duas especializações, um mestrado e experiência. Só importava o fato de, por
ser mulher, eu ser bonita. Era a única “qualidade” que ele viu em mim. Foi a
primeira vez que me senti ofendida ao ser elogiada! Acabei não concorrendo por
razões diversas, mas daquele dia em diante percebi que por mais qualificada que tu
sejas, o fato de seres uma mulher faz com que teu esforço para provar tua
capacidade seja infinitamente superior à de um homem em condições até inferiores
à tua. E precisamos mudar essa cultura!
153

Talvez por ter uma ótima base familiar e histórias de mulheres bem
resolvidas e empoderadas na minha vida, demorei a enxergar o machismo e
sobrevivi com mais leveza ao ambiente predominantemente masculino da política
e do mercado de trabalho.
Minha bisavó materna era comerciante, algo raro no início do século de XX.
E esse ofício foi continuado pela minha tia-avó. Minha avó paterna foi a primeira
mulher gerente da CEEE (hoje RGE) em Gramado. Foi nomeada por que seu
prenome, Nadir, era indefinido e acharam que ela era homem. Quando chegou para
assumir o posto todos se espantaram ao ver uma mulher. Ah! Me lembrei que ela
casou com 16 anos, enviuvou aos 17, com meu tio recém-nascido ao colo e casou-
se novamente com meu avô, com quem teve mais 7 filhos, inclusive meu pai. E
sempre trabalhou, jamais dependeu do meu avô para sobreviver.
Lembrei que minha mãe, assim como eu, começou a trabalhar aos 13 anos
de idade e hoje tem mais de 50 anos de profissão, sempre empreendendo e nunca
escondendo sua posição de mulher empoderada. É referência no seu ramo de
atividade. Me dei conta que eu e minha irmã seguimos o exemplo de independência,
protagonismo e empoderamento.
Me dei conta que tenho muitos exemplos em casa e por isso não percebi
cada vez que sofri preconceito por ser mulher. Não percebi! Minha base e história
familiar me permitiu não perceber essas situações, mas me dei conta que
exatamente por isso minha responsabilidade é maior, não posso permitir que
aquelas que não tiveram a mesma sorte que eu sofra discriminação por seu gênero
feminino.
E desde então tenho tentado levar essa mensagem de respeito e igualdade.
Eu sou Mariana Melara Reis, 40 anos, mãe, mulher, esposa, filha, advogada,
professora, mestre em direito, presidente da OAB/RS Subseção Canela Gramado
gestão 2016/2018. Eu venci pela competência e é isso que eu desejo a todas as
mulheres: igualdade e respeito.
154

Os Desafios De Ser Mulher, Jovem, Advogada E Política


Marina Panazzolo

Me chamo Marina Panazzolo, tenho 24 anos de idade no ano de 2017,


conclui o curso de Direito na Faculdade da Serra Gaúcha - FSG Centro
Universitário em dezembro de 2014, com 21 anos, mesma idade em que ingressei
no quadro da Ordem dos Advogados do Brasil, sob o registro de nº 97.310,
seguidamente abrindo as portas do meu próprio escritório de advocacia. Aos 23
anos fui candidata à vereança em Nova Roma do Sul, sendo eleita com 16% dos
votos válidos do eleitorado. Neste ano de 2017 assumi a Presidência da Câmara de
Vereadores, tendo, consequentemente, que me licenciar pelo período de um ano da
advocacia. Atualmente também sou pós-graduanda em Direito Público.
Quando recebi o convite para contar minha história junto com tantos outros
casos de representatividade feminina, pensei comigo mesma o que eu poderia
agregar, mas por outro lado eu penso que cada um e cada uma de nós leva consigo
uma trajetória de vida especial e, assim como aprendemos, também contribuímos.
Passei alguns dias analisando sobre como eu descreveria o fato de ser
mulher, jovem, advogada e política.... e então decidi que vou falar um pouco sobre
155

tudo, considerando que essa é graça da vida: tem dias que são de sol, outros dias
são de chuva, e nós precisamos de ambos para viver em equilíbrio.
Sem dúvidas eu acertei quando eu me entreguei à advocacia. Tenho certeza
que eu não seria completa em outra área que não fosse nessa área humana de
trabalhar pela justiça, pelos direitos, pelo equilíbrio da sociedade.
E eu também acertei quando eu me permiti trabalhar com o serviço público
através da política. Eu não almejo ter uma carreira política, mas eu almejo sim é
realizar um bom trabalho nesse mandato. Eu acho que se a eleição me escolheu
pelas minhas propostas, se tiver uma próxima eleição vai me escolher pelo meu
trabalho.
Entretanto meu início na advocacia não está sendo fácil, assim como na
política também não.
Na advocacia sofre-se ao perceber que, a sociedade num todo, quando busca
um profissional para lhe ajudar com aquela situação que está lhe tirando o sono,
busca um profissional pela aparência: que aparenta ter conhecimento, ter
experiência; e inegavelmente está enraizado em nosso inconsciente que a
experiência é sinônimo de idade. E eu, com 21 anos e um escritório, aparentava a
pouca experiência, mas por outro lado eu transbordava vontade de crescer.
Por sua vez, na política quando se é jovem e mulher, acham que você não
vai ter competência, que não vai dar conta, não vai dar a volta... posso afirmar que
existe sim muito julgamento e muita separação de gênero.
Por exemplo, Nova Roma do Sul estaria completando 16 anos sem mulheres
no Legislativo. Um poder legislativo formado só por homens. E ao falar isso já não
dá um medo!? Um pensamento inconsciente de que naquele lugar só entra homem.
Mas em 2016 a história mudou porque foram eleitas 3 mulheres, e agora de 9
vereadores, 33% são mulheres.
Para ocupar uma dessas cadeiras de vereador (a), eu passei por algumas
situações constrangedoras, e é isso que me faz perceber o julgamento, a separação
156

de gênero. Por exemplo, na época de campanha eleitoral, numa das minhas visitas
aos lares, um senhor me questionou:
- Antes de decidir se vou votar em ti, quero saber, “tu és feminista? Porquê
se for, não voto em você!”. Outro exemplo foi depois da campanha, eu já eleita,
numa oportunidade em que encontrei um outro senhor, onde ele me abordou e
mostrou que me conhecia, ele falou:
- Mas eu te conheço! Tu és aquela guria que as pessoas diziam que ia se
eleger só porque é bonita!
E eu não estou aqui me fazendo de vítima, só querendo contar algumas
situações; inclusive que teve outro momento, onde eu me coloquei à disposição para
ser Presidente da chapa para a mesa diretora na Câmara, e na rua muitos me
perguntavam:
- Mas tu tens certeza que quer ser presidente? Será que tu não és muito nova,
não é melhor deixar os outros?
E um último caso, foi num evento só para Presidentes de Câmaras e
assessores, quando eu cheguei na portaria sozinha, e o recepcionista me perguntou:
- Você é da assessoria de imprensa?
Com tudo isso, quero apenas dizer que eu não sou mais que ninguém, mas
eu trago comigo uma vontade de mudar o mundo, mesmo que um pouco, mesmo
que aos poucos, e a minha forma de combater esses julgamentos e a visível
diferenciação de gênero, é: nunca baixar a cabeça e continuar trabalhando com
dedicação. Como vereadora, listo alguns trabalhos realizados especificamente
voltados à valorização do gênero:
- no dia da mulher, realizado uma sessão solene só para as mulheres, onde
os vereadores poderiam apresentar proposições específicas que valorizassem o
gênero;
- apresentei um projeto de lei que cria o dia da mulher novaromense e o
prêmio da mulher destaque, onde todos os anos deve haver uma comemoração e a
157

entrega de um prêmio para um munícipe destaque pelas suas atividades na


comunidade;
- outro projeto de lei que obriga os campeonatos esportivos municipais
terem inscrições tanto para times masculinos, quanto para times femininos, sendo
assim um incentivo permanente para o esporte por parte das mulheres;
- também foi criada a galeria das vereadoras, que é um espaço para
homenagear todas as mulheres que já foram vereadoras no município, e também
todas aquelas que ainda serão;
Em 2017 fui a primeira mulher a ser Presidente do Legislativo e a primeira
mulher a ocupar a cadeira de Prefeita, pois assumi interinamente por 3 dias.
Enfim, essa é um pouco da minha história, onde eu trabalho não para que as
mulheres dominem o mundo, mas para que vivamos numa sociedade onde tanto
homem quanto mulher tenham as mesmas condições, até para dominar o mundo, se
quiserem!
Marina Panazzolo
158

Marlei Salete Flores49

Meu nome é Marlei Salete Flores, tenho 56 anos e iniciei minha trajetória
profissional, na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, conclui o curso de
Direito em 1993 e passei a atuar como advogada desde então. Fiz cursos de
Especialização em Direito Processual e Direito Previdenciário, área que atuo desde
a graduação.
Minha trajetória sempre foi permeada por muitos desafios, o maior deles foi
me firmar como profissional em uma cidade que não me conhecia pelo pouco tempo
em que aqui estava residindo. Passei a ver os desafios como oportunidades e fui
acolhida como cidadã Rio-Pardense, cresci profissionalmente e criei meus filhos
nessa Tranqueira Invicta. Como para todos, nada vem de forma fácil, mas creio que
para nós mulheres as dificuldades se acentuam pela discriminação de gêneros, os
reveses criados pela dedicação a maternidade, ao lar, a família, dentre tantas outras

49
Advogada, graduada em Direito, especialista em Direito Previdenciário Presidente da OAB
Subseção de Rio Pardo.
159

tarefas que a condição de mulher nos acarreta e ainda precisamos criarmos nossos
espaços num mundo que ainda é predominantemente masculino.
Mas sempre lutei por tudo aquilo que acreditava, passei então a abrir espaço
na minha vida para também participar das causas de minha classe profissional e
passei a integrar cargos dentro da Ordem dos Advogados do Brasil - Subseção de
Rio Pardo. Exerci o cargo de Conselheira de 2007/2009 – Secretaria Geral de
2010/2012 – Presidente da Subseção 2013 /2015 e de 2016/2018. Minha
perspectiva era de que quanto mais visões diferentes, mais chance eu teria de olhar
para todos os ângulos.
Aprendi que apesar de tantas dificuldades, posso olhar tudo que conquistei
e dividir isso com outras mulheres, e incentivar que elas também tornem possível o
que parece impossível para muitos. Basta querer e querer de verdade.
O caminho a ser trilhado ainda é longo, antes que possamos afirmar que a
igualdade entre homens e mulheres de fato existe. No entanto, é muito importante
que as mulheres tenham cada vez mais protagonismo dentro da sociedade. A
conquista de uma mulher será a conquista de todas, cada direito, cargo ou prêmio
conquistado por uma mulher é um avanço para toda a sociedade, e um incentivo a
mais para que outras mulheres também consigam crescer.
Marlei Salete Flores - Advogada, graduada em Direito, especialista em
Direito Previdenciário Presidente da OAB Subseção de Rio Paro.
160

Marlise Lamaison Soares50

Meu nome é Marlise Lamaison Soares, tenho 47 anos, um filho de 10 anos,


o Murilo, sou advogada, funcionária pública estadual, e desde 2013 exerço o cargo
de Secretária de Administração do Município de Passo Fundo.
Nunca tive pretensões políticas; diria que a “política me escolheu”, e até
hoje vivo um caso de “amor e ódio” com ela.
Tudo iniciou no ano de 2009, quando o então Deputado Estadual, hoje
prefeito de Passo Fundo, Luciano Palma de Azevedo, me fez o convite para
trabalhar com ele na Assembleia Legislativa do Estado. Na época, atuava na
Procuradoria Geral do Estado, no cargo de assessora jurídica, do qual sou
concursada. Mas, como gosto de desafios, e mesmo meu filho tendo apenas um
ano de idade, e morando em Passo Fundo, aceitei o convite, até mesmo porque
queria conhecer melhor os bastidores da política.
Na Assembleia Legislativa tinha como funções a elaboração dos Projetos de
Leis, acompanhava o deputado nas Sessões de votações, nas Comissões, além de
outras atribuições. Passei a viver o dia-a-dia da política, e ver a sua importância na
nossa vida em sociedade, e de como podemos mudar as situações, a vida das
pessoas, fazendo a boa política.
Em 2012, Luciano resolveu candidatar-se a Prefeito, e me convidou para eu
concorrer como vereadora. Como já estava envolvida com a vida política, resolvi
aceitar esse novo desafio. Minha campanha foi feita entre amigos, familiares e
simpatizantes da minha candidatura.

50
Advogada, servidora pública estadual e atualmente desempenha o cargo de Secretária de
Administração no Município de Passo Fundo. Atuou como Assessora Jurídica da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio Grande o Sul. Atuou junto a Diretoria da OAB, Subseção de Passo
Fundo, no Biênio 2010/2012, como Secretária Geral.
161

Nesse período, várias situações marcaram minha campanha, algumas que


me animaram, e me deram forças para continuar, como o carinho das pessoas, mas
outras, como o pedido de “faz o piso da minha casa, que voto em você”; “paga
minha conta de luz, que voto em você”, faziam com que eu desanimasse. Mas,
minha vontade de fazer a boa política, uma política diferente, fora do “toma-lá-dá-
cá” me davam ânimo para continuar.
Embora tenha gasto apenas R$1.200,00, na campanha, que é um valor
ínfimo perto dos valores gastos em campanha eleitoral, cheguei à marca dos 465
votos, o que fez com que eu fosse a mulher mais votada da coligação de doze
partidos políticos, mas não alcancei votos suficientes para me eleger. Assim,
retornei para atuar junto à Procuradoria Geral do Estado.
Em 2013, com a vitória do Luciano Azevedo para Prefeito, recebi o convite
para assumir o cargo Secretária de Administração Município, onde atuo até hoje.
O trabalho requer dedicação 24 horas por dia, sete dias por semana, como diz o
Prefeito, já que a cidade não pode parar e os cidadãos esperam o retorno.
A Secretaria de Administração eu digo ser o pulmão da Prefeitura, pois
tudo passa pela Administração, desde as questões com servidores, que hoje são
quase três mil, até os contratos e licitações. O trabalho na Secretaria é realizado a
partir de seis coordenadorias, e tenho 102 servidores diretos sob minha liderança.
Acho que o trabalho da mulher é um desafio diário, pois o “ser mulher” para
muitos, ainda, infelizmente, é visto com uma certa desconfiança, principalmente na
política. Além disso, temos três turnos de trabalho, pois, ao chegarmos em casa,
temos que cuidar dos filhos, do marido, da casa, e isso tudo sem perder a
sensibilidade. Mas, nós mulheres, temos disciplina e uma intuição aguçada, o que
nos ajuda muito nas milhares de tarefas; somos como que um “polvo”, como
sempre digo.
Acho que já tivemos avanços, já conquistamos muito. Em 2013, foi criada
a Procuradoria Especial da Mulher, no Senado Federal, onde o debate sobre
162

igualdade de direitos entre mulheres e homens passou a ter mais espaço no


legislativo.
Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Só para se ter uma ideia,
no País, embora sendo maior parte do eleitorado mulher, sendo 52,13% do total, e
homens 47,79%, a participação feminina na Câmara dos Deputados é de apenas 54
deputadas de um total de 513. No Senado, a situação é semelhante. São 13 mulheres
de um total de 81 senadores.
De acordo com estudo da ONU elaborado em 2016, no Brasil apenas 9%
dos cargos de direção nos Poderes Executivo e Legislativo são ocupados por
mulheres. O Brasil ocupa uma das últimas posições na lista de 188 países
pesquisados. A participação feminina no comando da política nacional é mais baixa
do que em diversos países de maioria muçulmana, onde as violações de direitos
humanos são frequentes. Superam o Brasil em termos de participação feminina
Países como Jordânia, Síria, Somália, Líbia, Marrocos, Indonésia, Iraque,
Paquistão, Afeganistão, Tunísia.
Entendo que a mudança não é simples, e deve iniciar no sistema de leis. O
que, aliás, já vem ocorrendo. A Lei nº 12.034/09, que impunha aos partidos e às
coligações o preenchimento do número de vagas de, no mínimo, 30%, e, no
máximo, de 70% para candidatos de cada sexo tinha boas intenções. Mas não
funcionava, já que as mulheres serviam apenas para as chamadas candidaturas
laranjas. Mas hoje já avançou, após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
de reservar também essa fatia de 30% do fundo eleitoral para as candidatas nas
disputa proporcional. Agora teremos mais recursos para financiar nossas
candidaturas.
O desafio é diário, mas não podemos desistir de ajudar na construção de um
País melhor para nossos filhos, por isso AVANTE mulheres!!
163

A Profissionalização do Turismo No RS

Marta Rossi

Nasci no ano de 1956 em uma localidade conhecida como Morro Agudo, no


interior de Gramado, no Rio Grande do Sul. Meus pais, Otávio e Anita,
empreendedores natos, deixaram a enxada logo após o meu nascimento e, em busca
de oportunidades, atuaram em várias frentes. Conquistaram sua independência com
a construção de duas pequenas pousadas. Com eles aprendi a buscar o melhor das
oportunidades e não ter medo dos desafios. Aprendi que o trabalho enobrece e que
cada conquista, por menor que seja, deve ser comemorada. Por necessidade,
busquei minha independência financeira aos 17 anos. Meu primeiro emprego foi na
Prefeitura de Gramado, junto à Secretaria de Educação e Cultura, desenvolvendo
projetos que integravam os diferentes grupos culturais da cidade – de estudantes a
artesãos.
Desde cedo aprendi a potencializar a veia empreendedora com dinamismo
e determinação. Entre 1977 e 1979, juntamente com três colegas da faculdade de
Comunicação, criamos e executamos house organs em empresas e entidades do
164

Vale dos Sinos. No ano de 1979, assumi o departamento de Relações Públicas da


Calçados Ortopé e também a gerência do Jornal de Gramado, trabalhando na
implantação deste importante veículo de comunicação da Região das Hortênsias.
Em 1980 assumi a gerência de Relações Públicas do Hotel Serra Azul, onde
implantei um projeto de lazer, inexistente na época na Serra Gaúcha, mudando o
conceito do hotel em relação ao cliente e implantando um dos primeiros cartões de
crédito na hotelaria. Com a fidelização dos clientes o hotel começou a investir em
Turismo de Negócios.
No ano de 1983, passei a comandar a Gerência de Marketing do Hotel
Serrano, estruturando a área de lazer, de comercialização e de negócios. A atuação
foi direta no lançamento de diferentes Pacotes Turísticos para promoção da baixa
temporada. Neste cargo, trabalhei também na criação do primeiro Centro de
Convenções do Estado do Rio Grande do Sul, junto ao Hotel Serrano.
Em 1988 o Centro de Convenções do Serrano estava em fase de conclusão.
Ao lado de Silvia Zorzanello, então gerente geral do hotel, observamos uma
oportunidade de mercado que despontava. Foi então que nos tornamos sócias e, em
01 de abril de 1988, nasceu a empresa Marta Rossi e Silvia Zorzanello Feiras e
Empreendimentos: uma empresa organizadora de eventos. Na época havíamos
identificado esta carência no mercado local.
Criamos e organizamos então, Silvia e eu, um pequeno salão de turismo para
operadoras e agentes de viagens em Gramado. Considerando que as decisões
nacionais sobre a atividade turística passavam longe do Rio Grande do Sul, usamos
a grife Gramado e reunimos pequenas, médias e grandes empresas do setor turístico
em torno do Festival.
O evento, que inicialmente nasceu com o propósito de apresentar o produto
turístico gaúcho para o Brasil, fomentando os negócios do setor, transformou-se em
um dos maiores eventos de negócios do turismo da América Latina. Logo o
FESTURIS alcançou o Brasil, o Mercosul, a América Central e do Norte e expandiu
165

seus horizontes em direção à Europa e Oriente Médio. Hoje é o evento mais


importante do setor no Brasil e um dos que mais gera resultados e negócios para o
trade turístico. Com o FESTURIS profissionalizamos o Turismo em Gramado, na
Região das Hortênsias e no Rio Grande do Sul.
Depois do FESTURIS criamos outros eventos que logo se tornaram
produtos de sucesso como o Chocofest, o Acorde Musical e a Gramado Summit.
Além dos projetos próprios já organizamos mais de dois mil eventos para clientes
que nos procuram pela expertise que temos na área.
As pessoas me perguntam o segredo do crescimento sólido e ordenado e
sempre falo que um deles é saber escutar e implementar as demandas e sugestões
viáveis da equipe e dos clientes. Aliás, é marca da nossa empresa: investir em sua
equipe de profissionais e valorizar os clientes.
Toda sugestão de aprimoramento é registrada e avaliada, para então ser
implementada. A empresa tem como filosofia oferecer o seu melhor para que os
clientes sempre saiam não apenas satisfeitos com o resultado final do evento, mas
encantados com o atendimento da equipe.
Esta trajetória de muito trabalho me trouxe muitas coisas boas como prêmios
e reconhecimento nacional e internacional. Mas considero que o meu maior tesouro
são meu filho, Marcus Vinícius Rossi, e minhas duas netinhas: Helena e Celina. Por
eles e por minha família trabalho muito e busco cada dia melhorar como pessoa e
como mulher, pois sei que sou o exemplo e também uma referência pessoal e
profissional. O legado que quero deixar a eles é o de muita obstinação e a mensagem
que nada é impossível.
30 ANOS
Marta Rossi é uma das executivas mais respeitadas do setor turístico e de
eventos no Brasil. Com dezenas de prêmios e indicações foi recentemente apontada
em publicação nacional como uma das oito mais importantes personalidades que
fizeram história e continuam contribuindo para o mercado no Brasil nos últimos 25
166

anos. Também recebeu, em 2016, o título de Cidadã Emérita de Gramado. Em 2018,


a empresa Rossi & Zorzanello e seu principal evento: o FESTURIS - completam
30 anos.

Marta Rossi
167

Comandante Nádia: pioneirismo feminino na segurança pública

Nádia Rodrigues Silveira Gerhard

Nádia Rodrigues Silveira Gerhard é natural de Porto Alegre, tem 49 anos, filha
única de sargento da Brigada Militar e de professora estadual, é casada e mãe de
três meninos. Formada em Letras, já foi professora, com especialização em
psicologia escolar pela PUCRS.
Hoje é Tenente Coronel da Reserva da Brigada Militar e teve uma trajetória
profissional pioneira na instituição, a qual ingressou em 1989 e atuou por 27 anos,
na linha de frente do policiamento ostensivo. Participou dos cursos de Balística
Forense, na Fundação Educacional e Cultural Padre Landell de Moura, e de
Instrutor de Educação Física, na Escola de Educação Física da BM e na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e de treinamento básico para
busca e localização de artefatos explosivos no Batalhão de Operações Especiais.
No ano de 2007, no posto de Major, foi a primeira mulher designada para comandar
um batalhão de Polícia Militar no Estado do Rio Grande do Sul, assumiu então, o
168

40º BPM, sediado em Estrela, e com responsabilidade administrativa e operacional


em 11 municípios do Vale do Taquari. Em 2012, repetiu o ineditismo, comandando
por três anos na Capital, já como Tenente-Coronel, o 19º BPM, com atuação em
toda a Zona Leste de Porto Alegre.
Nesse mesmo ano, implementou e coordenou a Patrulha Maria da Penha no Rio
Grande do Sul, projeto ousado e pioneiro em âmbito nacional, onde pela primeira
vez na história a Polícia Militar teve como objetivo fazer cumprir as medidas
protetivas de urgência, protegendo as mulheres vítimas de violência doméstica.
Sobre o tema palestrou em vários estados brasileiros e no exterior, em cidades como
Quito, no Equador, e em Washington, nos Estados Unidos, fomentando a
reprodução do projeto em diversas Polícias Militares. Nos primeiros dois anos de
atuação, o trabalho das Patrulhas Maria da Penha garantiu um prêmio, promovido
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, BIRD, em Washington, capital
dos Estados Unidos.
Em 2013, recebeu o prêmio Troféu Guri, homenagem feita anualmente a 10
personalidades que levaram o nome do nosso Estado além das fronteiras do RS.
Atuou como vice-presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, do
Conselho Deliberativo do Programa de Proteção a vítimas e testemunhas
ameaçadas de morte. É autora do Livro “Patrulha Maria da Penha, o impacto da
ação da Polícia Militar no enfrentamento da violência doméstica”. Em 2015, como
Diretora de Justiça na Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos, foi
responsável pela elaboração e publicação do Plano Decenal de Medidas
Socioeducativas do Estado.
Em 2016 a Comandante Nádia, elegeu-se vereadora na Capital dos Gaúchos. Como
parlamentar, tem dedicado o mandato a ações voltadas em especial à Segurança
Pública e à defesa dos direitos da mulher, e propôs diversas ações nesta linha.
169

Também foi eleita procuradora Especial da Mulher na Câmara de Vereadores, e é a


vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e
Segurança Urbana (CEDECONDH).
170

Advogada

Patricia Alves Marques da Silva

Brasileira, Advogada, natural de Bagé.


Data de nascimento - 26/10/1975
No ano de 1989 início a trabalhar como secretária no escritório de
advocacia do Dr. Luiz Alves (seu pai)
Em 1994 ingressou no curso de Direito na Universidade da Região da
Campanha, tendo concluído o curso no ano de 1998.
Desde então exerce suas atividades na área de advocacia na cidade de Bagé
e Região.
Em novembro de 2015 mobilizou junto à comunidade e vereadores a
criação de uma Coordenadoria de Igualdade Racial no município, sendo a mesma
criada em março /2017.
171

Onde então atuou diretamente dando apoio e suporte jurídico nos casos de
crimes raciais.
Em 2017 foi nomeada Coordenadora da Comissão Especial da Igualdade
Racial da OAB Bagé.
Atualmente é Presidente do Conselho Municipal de Igualdade Racial da
cidade de Bagé.
Integra o GT Gênero e Raça da Comissão da Mulher Advogada OAB/RS.
172

Educação como Propósito


Patrícia Dall’Agnol Bianchi51

Sempre tive convicção que seria professora, a educação é meu propósito e


missão. Desde muito pequena minha brincadeira preferida era a de Professora. Sou
filha de professores e claro isso teve influência em minhas escolhas. Cabe aqui uma
curiosidade... Quando fui escolher o curso que realizaria no Ensino Médio optei por
cursar magistério, naquele período, não diferente de hoje, a educação passava por
sérias dificuldades e minha mãe, temendo pelo meu futuro, me convenceu à mudar..
optei então pelo Curso de Auxiliar de Patologia Clínica que acabou me
direcionando para a área da saúde onde fiz minha graduação em Fisioterapia.
Sempre tive em mim um espírito muito forte de solidariedade e cooperação,
o bem do coletivo sempre fez muito sentido para o meu fazer, e isso acabou se
refletindo em representatividade nos diferentes espaços, especialmente como

51
Reitora da Universidade de Cruz Alta/UNICRUZ. Formada em Fisioterapia pela UNICRUZ.
Mestre e Doutora em Ciências Biológicas/Fisiologia pela UFRGS.
173

liderança estudantil, sendo líder de turma, participando de grêmio estudantil,


oradora, etc.
Assim quando terminei meu curso de graduação em Fisioterapia pela
UNICRUZ, já sabia o caminho que precisava trilhar para seguir a carreira docente.
Logo após a realização de Especialização, prestei concurso e iniciei meu trabalho
na UNICRUZ, dei aulas por um ano e solicitei licença para realizar Mestrado e
Doutorado. Neste período, tive a oportunidade de lecionar na Unijuí em Ijuí e Santa
Rosa, e no IPA em Porto Alegre. Quando retornei à Cruz Alta, em 2005 a
Universidade passava pelo pior momento de sua história. Foram dias difíceis para
todos nós, professores, funcionário, alunos e comunidade. Passado o momento mais
crítico, fui convidada a participar do processo de recuperação da Instituição, assumi
a Pró Reitoria de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão, com o desafio de reorganizar
a estrutura da Universidade nesses quesitos e construir as propostas para cursos de
Mestrado. E foi assim que, com 32 anos iniciei minha carreira de gestora. Neste
período presenciei e participei de muitos momentos críticos e importantes para a
reestruturação institucional, foi um período de muitas dificuldades mas de
aprendizado extraordinário. Fiquei como Pro Reitora de 2006 a 2010, após esse
período assumi a Coordenação de Pós Graduação até 2013 e foi então que em 2013
concorri pela primeira vez à Reitoria da UNICRUZ. Não foi algo planejado mas
quando procurada por colegas para representá-los fiquei num primeiro momento
assustada até, mas muito lisonjeada pela credibilidade e representatividade a mim
depositada. Confesso que procurei minha família(naquele momento tendo a filha
caçula um ano e meio), alguns amigos e então decidi aceitar o desafio, tendo a
consciência da responsabilidade que a função exige e o equilíbrio que precisava
estabelecer entre as atividades profissionais e pessoais e familiares. Tenho
trabalhado para contribuir efetivamente com os avanços institucionais, e só tenho
obtido êxito nos projetos propostos porque conto com uma equipe de Pró Reitores
muito presente, competentes e dedicados, um corpo Docente extremamente
174

qualificado e dinâmico e, um corpo técnico funcional muito comprometido e


profissional. Isso tudo deixa a caminhada muito mais leve e serena.
Não são fáceis os caminhos para a realização do projeto de Educação em
nosso país, pois enfrentamos diariamente os reflexos das frágeis políticas públicas
especialmente no que diz respeito ao acesso e permanência dos nossos jovens ao
ensino superior. Mas temos a convicção que um país que tem como objetivo o seu
desenvolvimento não pode abrir mão da educação em seus diferentes níveis.
Apesar de a educação ser um ambiente bastante feminino, a gestão do ensino
superior tem uma cultura de ser executada muito por homens, realidade que aos
poucos vem sendo modificada pela ascensão de mulheres á cargos superiores. Essa
cultura ainda nos faz passar por algumas situações difíceis e constrangedoras, mas
acredito que além do trabalho em si realizado, temos a missão de abrir caminhos
para que mais mulheres possam realizar seus sonhos, nos ambientes em que
desejam estar. Este talvez seja o grande legado.

Patrícia Dall’Agnol Bianchi

Reitora da Universidade de Cruz Alta/UNICRUZ. Formada em


Fisioterapia pela UNICRUZ. Mestre e Doutora em Ciências
Biológicas/Fisiologia pela UFRGS. Casada mãe de dois filhos João Pedro (24
anos) e Cecília(6 anos) e avó de Júlia (4 meses).
175

O desafio da igualdade
Patricia Xavier Bittencourt52

Todos os dias, milhares de mulheres vencem as mais diversas barreiras. A


sociedade nos exige, não só uma postura “adequada”, mas que tenhamos dupla, e
às vezes tripla, jornada de trabalho, o que significa uma sobrecarga enorme em
nossos ombros. Muitas deixam sua casa cedo, pela manhã, enfrentam um dia pesado
de trabalho, voltam para casa com marido e filhos, e algumas ainda tentam conciliar
essa rotina com sua formação educacional. Fato é que essa realidade não é mais
exceção. Nossa vida profissional é permeada por pressões constantes,
compromissos e responsabilidades, com os quais temos de lidar da melhor maneira
possível.
Faço esse relato por que minha mãe, assim como tantas outras mães, se
encaixa perfeitamente nesse perfil. Venho de uma família de mulheres lutadoras.
Minha vó criou muitos filhos. Não teve a chance de estudar, mas estimulou os filhos
a fazê-lo. Assim minha mãe, de professora em escola rural no interior de Santa

52
Delegada da ESA/OAB/RS
176

Maria, se tornou auditora fiscal do INSS. Ela serviu de exemplo para a profissional
que sou hoje, e me orgulho todos os dias de ser sua filha.
Minha carreira, como a de muitos profissionais do Direito, começou pelo
estágio. Fiz estágio no Foro Central de Porto Alegre e em alguns escritórios de
advocacia, em uma época em que o Direito Bancário, com o advento do Código de
Defesa do Consumidor, esteve em alta, o que infelizmente não mais acontece. Essa
Lei, cujos dispositivos protegem o hipossuficiente na relação de consumo, foi sendo
vilipendiada aos poucos, e hoje sua força não tem mais o condão de afastar os
abusos cometidos pelas empresas, bancos e grandes corporações, o que é uma
lástima.
Depois dos estágios, fiz a prova da OAB, e já na primeira tentativa, alcancei
o sonho de ser advogada. Assim, exerço essa nobre profissão desde 2001. Advoguei
em escritórios, como contratada, em Porto Alegre e Novo Hamburgo. Hoje, sou
sócia da Gonzales Xavier Advogados Associados S/S, OAB/RS 3.998, sede em
Bagé, com enfoque na advocacia cível, previdenciária e trabalhista.
Posso dizer que a Rainha da Fronteira me proporcionou muito, tanto é que,
embora ame minha cidade natal - Porto Alegre- me considero bajeense de coração.
Nela exerço atualmente as funções de Conselheira da Subseção e Delegada da
Escola Superior de Advocacia. Leciono atualmente as disciplinas de Direito Civil
e Filosofia Geral e Jurídica no Instituto de Desenvolvimento Educacional de Bagé,
onde também tenho a honra de coordenar o Curso de Direito. Tenho alunos
maravilhosos, que me fazem acreditar no futuro do país, com mais justiça e
igualdade.
E por falar em igualdade, é de fundamental importância trazer a lição de
Ronald Dworkin, jusfilósofo americano, que escreveu sobre muitos temas afeitos
ao direito, mas dedicou uma obra somente para exaltar este princípio como uma
virtude soberana, e que jamais poderia passar desapercebida pelos nossos
governantes e políticos. Para ele, deveria haver igualdade de recursos, isto é, as
177

pessoas deveriam ter acesso aos meios, e ao utilizá-los, fazendo escolhas


conscientes, seriam felizes e atingiriam seus objetivos pessoais. Dessa forma, existe
um real poder de decisão, pois conhecem as consequências de suas escolhas. Não
podemos nós, mulheres, nos intimidar e fugir desse desafio. Devemos, sim, lutar
pela igualdade entre mulheres e homens.
Assim, a sociedade deve se organizar de forma a fornecer os recursos
necessários para que as mulheres possam ter condições de alcançar efetivamente
postos de poder. Trata-se de um pontapé inicial, em que as mulheres, tendo acesso
a saúde, educação e outras garantias básicas, poderão realmente se interessar pela
vida política, e se dedicar a vida profissional, sem que se sintam culpadas ou
divididas.
Em verdade, este breve relato também é uma homenagem. Uma homenagem
às mulheres da minha família, e as milhares de lutadoras que saem de suas casas
todos os dias, buscando a felicidade e um futuro melhor, para os seus e para todos.
Se cheguei aqui, foi caminhando em uma trilha que já foi construída pelas que me
antecederam e me apoiaram. Que seja concretizada a igualdade efetiva entre
homens e mulheres, fazendo com que nós possamos cada vez mais alcançar nossos
objetivos. A igualdade real é um desafio, é um sonho que, se concretizado, tornará
com certeza o futuro muito melhor e mais justo.
Patricia Xavier Bittencourt - Delegada da ESA
178

Os Desafios e a Força Feminina


Paula Bulla

Quando escolhi cursar Engenharia Civil não imaginava que a trajetória da


minha vida seguiria por um caminho alternativo ao da construção. Na minha
família, até então, eu não tinha referência de nenhum engenheiro civil para ter essa
inspiração. Nasci e cresci no interior do estado, na serra, na cidade de Flores da
Cunha, cidade hoje com aproximadamente 28 mil habitantes. Meu pai foi criado na
colônia e depois foi caminhoneiro e teve a sua empresa de transportes de veículos.
E eu, sou a última filha de cinco irmãos. Meu objetivo era cursar na UFRGS
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul), no entanto passei na conceituada
PUC (Pontifícia Universidade Católica), onde cursei o primeiro ano de Engenharia
Civil no ano de 1991. Como não desisti de cursar a faculdade na UFRGS, pois era
um desafio, tentei novamente no ano seguinte o obtive sucesso. Então, em 1992,
consegui transferir muitas disciplinas e iniciei na federal. Durante o curso, como eu
fazia todas as disciplinas oferecidas em cada semestre, não havia turno livre para
estágios em construtoras. Foi neste momento, em 1994, que me candidatei a um
estágio como bolsista do Cnpq no Laboratório de Transportes – LASTRAN. Foi
neste estágio que conheci a área da engenharia que trabalho até hoje: Transportes.
A partir daquele ano, comecei a me interessar, estudar e a gostar cada vez mais de
179

assuntos como sistema viário, ônibus e mobilidade urbana, temas esses que para a
época, pareciam que não tinham vínculo com a engenharia. Como explicar em casa
que se está cursando “engenharia civil”, mas o que gosta de fazer não é construir
casas, prédios? Que existe outra área na engenharia civil e que também é
interessante e que poucos se interessam? Bem, continuei no meu propósito. A
faculdade encerrou no segundo semestre de 1996, e a formatura foi marcada para
08/03/1997, data significativa, Dia Internacional da Mulher. Em março deste ano,
iniciei a especialização em transportes, também na UFRGS, vinculada ao
LASTRAN. Conclui a especialização, iniciei trabalhando em empresa de
Consultoria em Transportes em Porto Alegre, onde trabalhei com softwares da área
e após fui para o Consórcio Operacional da Zona Sul, também em Porto Alegre, o
qual regula todas as empresas de transporte coletivo urbano da zona sul da cidade.
Após essas experiências, no ano de 2001, fui convidada pelo Gerente do Consórcio
que eu trabalhava na época, para prestar consultoria em uma empresa de transporte
coletivo urbano em Passo Fundo. Aceitei o convite, iniciei como consultora, depois
funcionária e com o passar do tempo, me estabeleci na cidade. Muitos foram os
desafios. Naquele momento, a empresa estava passando por várias readequações e
modernizações, em virtude da sucessão familiar devido ao falecimento do fundador,
Sr. Eloy Pinheiro Machado, ocorrido no segundo semestre do ano de 1998. Nesta
época a empresa era de médio porte, com aproximadamente 500 funcionários e os
desafios se apresentavam diariamente. A empresa passou por toda uma
reorganização a partir daquele ano, principalmente nas questões operacionais e
administrativas. Sempre busquei me aperfeiçoar, principalmente quando as
responsabilidades aumentaram. Busquei conhecimento nas áreas de recursos
humanos, gestão organizacional e negociação empresarial. O crescimento na
empresa foi gradativo, através de muito empenho e principalmente embasado pelo
sentimento chave: amar o que se faz.
180

Acredito que você precisa amar o que faz, precisa se sentir desafiado todos
os dias. O trabalho precisa trazer a satisfação de poder ajudar aos outros de alguma
forma, precisa sempre procurar fazer o que tem que ser feito da melhor forma.
Talvez isto seja uma característica minha, mas eu acredito nisso. Gosto de desafios.
Olhando para o cenário, apesar de ter escolhido uma profissão que para a época
podia ser considerada masculina e trabalhar numa atividade com meio
predominantemente masculino, excedendo papéis de comando, poucas foram as
dificuldades com pré-conceitos ou situações similares. Claro que também não posso
dizer que foi fácil, porque “ser mulher” sempre exige “mais” em todos os aspectos.
Mas, essa diferença, que tem existe entre homens e mulheres, eu entendo que
depende de como nós mulheres e mães criarmos nossos filhos ou filhas, ou fomos
criadas. Hoje um dos grandes desafios da minha vida, além dos desafios que se
apresentam diariamente, é educar a minha filha para ser um ser humano consciente
e humano para um mundo com tantas transformações.
181

Presidente OAB Subseção Pelotas

Paula Grill Silva Pereira53

Quando recebi o convite para narrar minha vida pessoal e profissional,


fiquei pensando no que poderia ser relevante e me dei conta que, talvez, o que tenha
me levado a chegar à presidência da OAB Subseção Pelotas tenha sido o fato de
jamais ter programado ou almejado isto.
As coisas foram acontecendo naturalmente.
Filha única, morando até os 6 anos no Paradouro Grill e com mais de 40
empregados à minha volta, era para ter me tornado uma criança insuportável, cheia
de mimos e sem o ímpeto de fazer as coisas por si própria. Quem me salvou disto
(ainda bem!!!) foi meu pai, me trazendo “num cortado”, fazendo com que eu me
virasse sozinha e, desta feita, fazendo com que eu me tornasse independente

53
Presidente OAB Subseção Pelotas.
182

Em razão dele, sempre entrei e me senti bem em qualquer lugar, fosse qual
fosse: oficina mecânica, boteco de esquina ou em uma festa da “alta sociedade”.
Nunca tive problemas relativos a não poder ir ou entrar em algum lugar por ser local
de homens, entrava e pronto.
Estudei em colégio coordenado por freiras, colégio Municipal e depois num
colégio coordenado por padres, com visões e normativas, portanto, bem
diferenciadas.
Ao chegar na época de escolher qual profissão seguir, fui fazer a inscrição
no vestibular sem saber se queria educação física (pois praticava esportes desde os
9 anos, o que, diga-se de passagem, continuo a fazer até hoje) ou direito, mas o
senso de justiça, de vontade de lutar pela defesa da cidadania falou mais alto e
acabei optando pelo segundo.
Ao me formar no início de 1990, mudei para Porto Alegre para começar
minha carreira profissional longe da minha terra e lá, em abril do mesmo ano,
comecei a trabalhar junto a Federação dos Trabalhadores no Comércio do Estado
do Rio Grande do Sul.
Passados dois anos e meio, recebi uma proposta excelente do Banco
Bradesco e retornei para Pelotas, dando uma guinada de 90 graus na trajetória
profissional, pois larguei a defesa de trabalhadores para passar a defender patrão.
Foi em Pelotas que comecei o trabalho de Ordem. Fui Conselheira
Subseccional e tesoureira. Nessa época em que era tesoureira, ocorreu uma cisão
no grupo de diretoria e a chapa em que eu concorria como vice-presidente perdeu a
eleição, o que me fez ficar afastada da OAB por seis anos.
Em 2012, recebi um convite para compor a chapa da situação como
tesoureira e a vontade de trabalhar pela e para a Ordem retornou com toda a força.
No processo pré-eleitoral de 2015, quando o mais normal seria o vice concorrer a
presidência, tive a surpresa de ser a escolhida pelo meu presidente para ser sua
sucessora e aqui estou neste cargo de presidente da OAB Subseção Pelotas.
183

Primeira mulher a presidir a entidade em seus mais de 80 anos de existência,


o que já deveria ter ocorrido muito antes, mas que, por motivos que desconheço,
nenhuma outra sequer havia se candidatado a tanto.
Espero que muitas outras venham a exercer esse e tantos outros cargos, em
todos os setores, sem que continue a necessidade de se ter cota mínima legal.
Para concluir, cito um prefácio de Monteiro Lobato ao livro No carinho da
luz, de Josefina Sarmento Barbosa, 1921:
“A mulher não é inferior nem superior ao homem. é diferente. No dia em
que compreendermos isso a fundo, muitos mal-entendidos desaparecerão da face
da terra.”
184

DE ACASOS, DE ENCONTROS E DE APRENDIZADO

Paula Mascarenhas54

Nasci em 1970, numa família de classe média: pai agricultor e mãe


psicóloga. Desde muito cedo estava estabelecido que eu teria uma vida profissional;
meus sonhos nunca foram os de casar e ter filhos, mas sempre de me tornar
engenheira agrônoma como meu pai, de trabalhar no campo, de ser uma mulher
independente, conforme o exemplo oferecido por minha mãe todos os dias. A
geração dos anos 60 e 70, apesar de ter nascido em plena ditadura, viveu muito a
experiência da liberdade e da autonomia. Éramos os primeiros frutos da luta pela
emancipação feminina, da libertação sexual da mulher e, talvez por isso mesmo,
minha geração não fazia um discurso feminista, mas vivia afirmativamente as
consequências positivas das lutas anteriores.
Minha decisão de cursar Agronomia foi desfeita pelo desafio de um
professor de Português no segundo ano do ensino médio: todos o temiam, muitos

54
Prefeita de Pelotas/RS
185

eram reprovados, e aquilo me fez estudar Português como nunca. Não precisei de
muito tempo para me apaixonar por nossa língua, pela literatura e suas
possibilidades de olhares sobre o ser humano, e decidi fazer Vestibular para Letras.
A Faculdade de Letras foi uma revelação em minha vida. Abriu meus horizontes,
me tornou mais sensível, mais observadora, me fez professora. Meu maior sonho
foi realizado três anos depois da formatura: fui aprovada em concurso público e me
tornei professora de Letras da UFPel.
O acaso já tinha me levado a fazer um desvio na vida profissional, mas
aquele que ocorreu em 1998 teve consequências muito mais fortes. Acompanhei
uma amiga a uma inauguração de comitê político, apenas para não a deixar ir só.
Naquela noite, tive outra revelação. O comitê era do então deputado estadual
Bernardo de Souza, que fez um discurso arrasador, a antítese dos velhos jargões da
política. O Bernardo falou sobre felicidade, citou filósofos como Habermas, poetas
como Fernando Pessoa e mostrou o quanto a política podia se aproximar dos dramas
humanos de forma consistente e sensível. Eu me ofereci para colaborar na
campanha e nunca mais saí de perto do Bernardo. Quando ele se reelegeu deputado
estadual, convidou-me para ser sua assessora nas áreas de cultura e educação. Mais
tarde tornei-me a primeira mulher a ser Coordenadora de Bancada na Assembleia
Legislativa. Coordenei a campanha do Bernardo a prefeito de Pelotas em 2004 e
tornei-me sua chefe de gabinete na Prefeitura. Com ele, aprendi o quanto a política
pode ser uma atividade das mais nobres, o quanto ela é transformadora, e como
pode ser feita com humanidade, criatividade e eficiência. Quando o Bernardo saiu
da vida pública, vitimado por uma doença degenerativa, achei que nunca mais eu
me emocionaria com a política. Voltei à vida acadêmica e imaginei que meu
intercurso político estava definitivamente concluído.
Mas o acaso ou a contingência voltou a assolar minha vida. Em 2011,
quando eu fazia meu doutorado em Paris, recebi a visita de um jovem que eu
conhecera atuando como assessor na prefeitura, e que sempre me impressionara
186

pela inteligência e responsabilidade. Nós tínhamos amigos comuns e nosso contato


durante o mandato do Bernardo como prefeito criou uma atmosfera de simpatia e
afinidade entre nós. Seu nome: Eduardo Leite. Nessa visita, ele, que era então
Presidente da Câmara de Vereadores de Pelotas, me disse que seria candidato a
prefeito e que me imaginava como sua vice-prefeita. Eu levei o convite na
brincadeira, estava há anos afastada da política e não me imaginava voltando. Mas
aquela conversa ficou gravada em mim e reacendeu uma chama antiga. Quando
voltei ao Brasil, procurei o PPS, meu partido naquele momento, e, inesperadamente,
saí, da primeira reunião de que participei, indicada como pré-candidata a prefeita.
O PPS e o PSDB se uniram naquela eleição de 2012 e a dupla Eduardo e Paula
acabou sendo montada e vencendo o pleito.
Os quatro anos como vice-prefeita do Eduardo foram os mais intensos e de
maior aprendizado da minha vida. Nossas afinidades só cresceram durante o
mandato, tornaram-se uma sólida amizade e essa relação de confiança fortaleceu o
governo e criou um anteparo para as tantas ações transformadoras que foram feitas.
O Eduardo foi formado na mesma escola política, pois é filho de um dos mais
próximos secretários que o Bernardo teve em seu primeiro mandato como prefeito
de Pelotas. Ele foi o mais jovem prefeito eleito em nossa cidade e terminou o
mandato com uma aprovação próxima a 90%. Não foram tempos fáceis, tivemos
que comprar muitas brigas, trabalhar para mudar culturas arraigadas, mas fizemos
isso com convicção e com diálogo, planejamos as ações governamentais, fizemos
bons projetos e buscamos recursos que transformaram Pelotas num canteiro de
obras. Quando o Eduardo, em nome de suas convicções, de sua coerência e do valor
que dá à renovação decidiu não concorrer à reeleição, meu nome apareceu como
sua sucessora natural. Sou a primeira mulher eleita prefeita de Pelotas e pela
primeira vez no primeiro turno. Devo este feito ao trabalho e à confiança de muita
gente, mas sei que os fatores determinantes foram a liderança, a capacidade de
gestão e de comunicação do prefeito Eduardo. A população de Pelotas escolheu
187

seguir o mesmo caminho de responsabilidade fiscal, de planejamento e de


transformação. Tenho a enorme responsabilidade de levar adiante esse legado e de
buscar vencer os novos desafios. O primeiro deles, a busca por tornar Pelotas uma
cidade mais humana e mais segura, em que as pessoas possam viver todas as suas
potencialidades e em que a sociedade possa atingir um novo patamar civilizatório,
ao vencer a violência e implantar uma cultura de paz.

Paula Schild Mascarenhas


Prefeita de Pelotas
188

Paula Silva Rovani Weiler

Natural de Tapejara/RS, nascida em 02.12.1974, graduada pela


Universidade de Passo Fundo, em 21.12.1996, Juíza do Trabalho do Tribunal
Regional do Trabalho da 4ª Região, titular da 3ª Vara do Trabalho de Erechim/RS
desde 16.12.2016. Como analista judiciária, também do Tribunal Regional do
Trabalho da 4ª Região, trabalhou de 28.01.99 até o ingresso na magistratura em
01.06.2005.
189

Sou tantas mulheres, com tantas funções

Quélen Kopper

Nasci em 1975, fui criada por pais responsáveis e que me mostraram que ser
mulher em uma sociedade machista me exigiria preencher uma série de requisitos,
e que eu não teria o que temer na vida se eu tivesse estudo suficiente para conquistar
minha independência financeira. E que casamento, seria uma consequência e não
uma obrigação. Assim, foi como tudo começou. O que os meus pais não me falaram
é que o conhecimento não apenas dá a chance de uma boa condição de vida, como
liberta também das regras que são impostas a mulher.
Escolhi o meu caminho profissional, me tornei uma advogada, professora
de nível superior e empresária. Como fazer tudo isso acontecer? A resposta é
simples, sou mulher e para nós tudo é possível quando nos permitimos. Neste
caminho, a cada dia, me convencia que era necessária minha participação na
sociedade, na luta pela igualdade das mulheres e foi na Ordem dos Advogados do
Brasil, que juntamente com colegas, também empoderadas, inauguramos a
Comissão da Mulher Advogada em Bagé, no afã de garantir direitos, criamos o
projeto “Viver Legal”. Nele levamos a toda comunidade bajeense a Lei Maria da
190

Penha, que amplia o diálogo sobre os direitos das mulheres e acelera o progresso
na igualdade de gênero, trabalho este, reconhecido academicamente. Hoje, atuamos
também no movimento HeForShe, criado pela ONU Mulheres, Entidade das
Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres.
Realizamos palestras, que representam a OAB- subseção Bagé, que busca
implementar uma visão comum da igualdade de gênero que beneficiará toda a
humanidade. Faço parte também da Comissão da diversidade da OAB – Bagé onde
palestramos à comunidade na Feira do Livro de Bagé sobre o tema “Discurso de
ódio”, que foi premiado na Mostra de Iniciação Científica da Faculdade IDEAU.
Tenho o maior orgulho de representar a minha instituição de classe, OAB –
subseção Bagé na Comissão Estadual da Mulher Advogada. Posso concluir que o
caminho está aberto e a missão vai ser cumprida. Lutaremos e lutaremos pelo direito
a igualdade das mulheres.

Quélen Kopper
OAB/RS 55.593
191

Rosana Brogni Steinmetz Wainer55

Ainda muito jovenzinha tive o privilégio de ler o livro Pollyanna de Eleanor


H. Porter, quando então aprendi o jogo do contente. Aprendi que na vida nada é
difícil ou impossível. Aprendi que podemos ser tudo aquilo que efetivamente
quisermos. E isso me inspirou. Quis ser profissional, esposa, mãe, mulher, mas
acima de tudo um ser humano com princípios. E nessa vida, tive muitas alegrias,
algumas tristezas, uma tragédia, mas uma vontade imensa de sempre superar.
Superar o que de ruim aconteceu no meu caminho, mas acima de tudo, me superar.
Aprendi desde cedo a cada dia tentar ser um pouco melhor.
E assim o é: Cursei duas faculdades - Estudos Sociais, depois de ter feito
Magistério, Direito e agora recentemente, MBA em Coaching Executivo e de
Negócios.

55
Vice-Presidente da OAB - Subseção da Comarca de Capão da Canoa.
192

Fazem mais de 20 anos que advogo, com orgulho, honestidade e muita


dedicação. Por cerca de 15 anos ocupo o cargo de vice-Presidente da OAB -
Subseção da Comarca de Capão da Canoa.
Titular de meu escritório de advocacia onde exerço meu ofício com muito
amor. Sim, amo o que faço e por isso faço muito bem. Não estou aqui para competir
com ninguém, a não ser comigo mesma.
Carrego nos ombros todas as responsabilidades outorgadas pelos clientes, o
comprometimento com as colegas com as quais tenho a honra de trabalhar. Mas
acima de tudo, a responsabilidade com os amores de minha vida, meus filhos que
são indiscutivelmente o que de melhor trago comigo na vida e no coração.
O poder de cada uma de nós se reflete no que podemos a cada dia mudar e
melhorar na vida das pessoas e na nossa própria. E assim vou seguindo. Buscando
o meu melhor, o melhor para o meu escritório, o melhor para minha família, o
melhor para a nossa Subseção, para a nossa cidade, para o Mundo. Sigo acima de
tudo fazendo a minha parte de modo comprometido, consciente e com muita
gratidão.
193

Dona de Si
Salma Farias Valencio56

Cresci ouvindo algo muito especial do meu pai. Ele sempre falava para mim
e para a minha irmã que uma moça (ele, na sua conservadora e atenciosa maneira
de ser, falava moça e não mulher) tinha um grande valor e que, independentemente
de qualquer coisa, precisava ser “dona de si”. Meu pai sempre nos incentivou a
estudar e a ter uma profissão, para sermos donas de nossas vidas.
Isto fez uma grande diferença em minha vida, nas escolhas que fiz e no
caminho profissional que percorri. Fui incentivada a ser independente e sempre me
causou estranheza a maneira autoritária e preconceituosa com que as pessoas viam
este comportamento. Isto foi fortalecendo em mim uma postura de inquietação e
questionamento em relação aos papeis impostos para homens e mulheres.
Quem viveu nos anos 80, teve sua vida marcada pelas mudanças no cenário
político-econômico e social. Em meio à turbulência de transformações, fiz minha

56
Diretora do Departamento de Políticas para as Mulheres da Secretaria do Desenvolvimento
Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul
194

escolha política. Participei das “Diretas Já!”, me filiei a um partido político – o


PMDB – e comecei a atuar na defesa dos direitos humanos. Iniciei minha trajetória
partidária e, também, minha trajetória profissional atuando na câmara de
vereadores. Paralelo a isso, ingressei na UFRGS, na Faculdade de Comunicação
Social – Relações Públicas.
O ano de 1987 chega e com ele a Assembleia Nacional Constituinte, fui
convidada para a assessoria do Presidente da Subcomissão das Minorias, da Grande
Comissão da Ordem Social. Ainda usavam o termo minorias para se referir a
negros, índios, pessoas com deficiência, mulheres, ou seja, era necessário ouvir uma
grande parcela da sociedade que não tinha voz e era tratada como minoria.
Em meio a muitos assuntos, um se destacava: a defesa e a promoção dos
direitos das mulheres. E em 1988 lá estava eu em SP participando da Fundação da
Confederação das Mulheres do Brasil. Foi crescendo o compromisso em despertar
o interesse de outras mulheres para a participação e liderança política.
Na década de 1990 as mudanças dos anos 80 continuavam ditando
transformações, vivenciamos a Conferência de Beijing e o compromisso de lutar
pelas cotas para que mais mulheres tivessem acesso ao poder. É criada a Bancada
do Batom e o Movimento Mulheres sem Medo do Poder. Com a aprovação da Lei
das Cotas (em 1995), veio o compromisso de ser candidata. Candidata a Vereadora.
Um grande movimento pluripartidário iniciava-se e fomos além da questão
partidária ou eleitoral. Defendemos, em um comício pluripartidário, a questão da
participação política efetiva das mulheres. Não me elegi Vereadora, assim como
todas as mulheres da cidade naquele ano, mas acabei me tornando a Vice-Presidente
Estadual do Grupo de Ação Partidária que, no final da década, iríamos transformar
no PMDB Mulher RS.
A atuação política e profissional foi sendo mesclada e, paralelo a trajetória
de dirigente partidária, foi sendo construída a trajetória profissional de agente
político na administração pública. Atuando como dirigente de núcleo ou de partido
195

político, ao mesmo tempo em que, atuava na administração pública nos três níveis:
municipal, estadual e nacional. Trajetória e caminhada árdua, porém, gratificante
quando temos como retorno o entusiasmo de muitas mulheres que se descobrem ou
se redescobrem.
De Vice-Presidente Estadual do núcleo, uma das fundadoras no RS e do
núcleo no Brasil à, hoje, Vice-Presidente Nacional do PMDB Mulher e Diretora do
Departamento de Políticas para as Mulheres do RS, enfrentando diariamente as
dificuldades para estabelecer políticas públicas e ações que se tornem perenes,
transformando-as em políticas de Estado. Buscando, através da promoção da
autonomia das mulheres a prevenção da violência e discriminação.
Uma caminhada na qual fica cada vez mais clara a importância e a urgência
da participação das mulheres em todas as instâncias e esferas de decisões políticas
e sociais. E, para isto, a importância das mulheres se qualificarem e se fortalecerem
para enfrentar os desafios, obstáculos e entraves diários para que se transformem
em protagonistas de própria história, “donas de si”.

Salma Farias Valencio


196

Sara Gavioli Doeler


Diretora

Ser filha de empresários me proporcionou um contato desde criança ao


mundo do empreendedorismo, sempre motivada a voar, comecei minha vida
profissional aos 17 anos na área de vendas, em uma loja feminina na minha cidade
natal Santiago, aprendendo que em qualquer profissão que eu escolhesse deveria
saber vender, independente de ser serviços, produtos ou conceitos. Nos desafios
diários, buscando vencer os objetivos todos os dias, aprendi a acreditar nos sonhos
e querer verdadeiramente realiza-los.
Juntamente aos primeiros passos profissionais, fui desafiada com a
maternidade, com a chegada do Yuri, meu primogênito, ser mãe jovem me
proporcionou uma evolução espiritual, me fortaleceu para fazer uma grande
mudança em minha vida profissional.
197

Aos 19 anos na faculdade de administração, decidi colocar em prática meu


espírito empreendedor e foi neste momento que idealizei um projeto onde as
pessoas pudessem elevar sua autoestima, em um espaço onde elas se
reconhecessem e vivessem uma excelente experiência de compras, almejando
alicerçar as relações de amizade e confiança com nossos clientes todos os dias,
contribuindo para um mundo com mais amor e felicidade, assim nasceu a Sarah
concept.
Hoje com 16 anos de negócio, temos 3 lojas, nas cidades de Santa Maria,
Santiago e São Pedro do Sul, atuamos no setor de vestuário com produtos de moda
feminina e masculina, representamos marcas reconhecidas por seu designers
autorais e qualidade pemium de seus produtos, no mercado nacional e
internacional, sempre guiada por valores sólidos de integridade e respeito,
excelência de desempenho e foco no cliente.
Sempre com o propósito de contribuir com o associativismo, trocando
conhecimentos e experiências me dediquei a entidades empresariais na cidade de
Santiago, ficando a frente da CDL, Diretoria do jovens empresários e presidência
de feiras locais como a Fecoarti, que me proporcionaram grandes experiências de
vida.
Casada com Elton Doeler, mãe do Yuri e do Benício, tenho como filosofia
de vida, ser feliz todos os dias, e tornar as pessoas que comigo estiverem, mais
felizes também. Ser mulher, mãe, esposa e profissional, é um desafio diário, que
me alimenta e impulsiona para viver intensamente e apreciar cada momento como
sendo único.
Agradeço a Deus por todos os instantes proporcionados, e faço a minha
parte na luta por um mundo melhor, mais igual e mais feliz.
198

Soluções temporariamente alternativas para o objetivo

Silvana Bastian57

Eu sou Silvana Bastian, tenho 43 anos. Sou uma mulher, mãe, esposa,
profissional, amiga, com muitos papéis perfeitos, imperfeitos e, cada dia, mais
focada no que faz sentido. O que mais me mobiliza é o fato de que sou um ser
humano capaz, competente, cheio de qualidades, defeitos, talentos únicos,
limitações como qualquer ser vivo, independente do meu gênero. Quero ser capaz
de mostrar aos meus filhos que não precisamos separar e sim unir e agregar, e que
suas escolhas possam ser por desejo e não por sexismo.
Acreditando em tudo isso optei em fazer parte de uma organização feminina,
pois acredito que juntas somos mais fortes. Quero e sempre quis fazer a minha parte,

57
Presidente da BPW Porto Alegre –Business and Professional Women –gestão 2016/2018, vice
coordenadora.
Regional da Task Force Internacional BPW BusinessNet
199

sendo ativa e contribuindo para mudar uma história de diferenças de gênero que
nunca entendi, mas que sempre impactou a minha vida. Por isso, aceitei o desafio
de ser presidente da BPW Porto Alegre- Business and Professional Women, pois s
é uma organização com noventa anos da qual comungo com os objetivos e legado,
mas acima de tudo me possibilita colocar a “mão na massa”.
Pois quando iniciei minha carreira ainda muito jovem, ouvia falar das
dificuldades que as mulheres enfrentavam no mercado de trabalho. Cheia de
energia, sonhos, e muito inexperiente pensava que isso não ia acontecer comigo.
Estava certa de que era coisa do passado. Eu tinha a certeza de que já vivia no
futuro... afinal, estávamos na década de 90.
Mudamos de século, recém formada entrei no tão sonhado mundo
corporativo, feliz me sentindo uma vencedora e certa de que havia dado um
importante passo na carreira. No entanto, em cada movimento tive a oportunidade
de experimentar a dor e a frustração da conhecida diferença de gênero. Vivenciei a
diferença salarial, a exclusão, desmandos e toda a sorte de situações tão conhecidas
das mulheres. Me sentindo extremamente desconfortável e sem saber a quem
recorrer, somatizei muitas vezes.
Em uma ocasião o empreendimento em que eu estava á frente da gestão
receberia um prêmio, e eu não fui representar a empresa no evento por ser mulher.
A empresa decidiu enviar um gerente, homem é claro, para representá-la receber o
prêmio. Farta de tudo isso e acreditando que podia escrever a minha história de
forma diferente decidi empreender.

Novamente cheia de energia e objetivos, juntamente com a minha sócia,


trouxemos nosso sonho da faculdade que estava engavetado para a prática. Abrimos
nossa empresa na área de T&D ( Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas),
acreditando que agora sem uma estrutura rígida empresarial e com nossos ideais as
200

coisas seriam diferentes. Com empresárias l tivemos a oportunidade de


experimentar outro modelo de discriminação de gênero.
Fomos preteridas para prestação de serviços porque, mesmo que nosso
trabalho fosse excelente, conforme o expressado pelos decisores, a empresa
preferia contratar homens. Ainda hoje , como diretora da minha empresa, quando
acompanho os palestrantes ou consultores parceiros em clientes que estamos
prestando serviço, recebo os parabéns pela performance do “meu marido”. E, já
precisei contratar consultores homens para fazer dupla comigo em projetos, para
conquistar clientes. Uma situação bastante comum, mesmo que a minha expertise
fosse suficiente para conduzir o trabalho sozinha.
Em 16 anos como empresária poderia escrever um livro de situações
insólitas. No entanto algumas experiências marcaram mais, outras me enviaram
direto para a terapia. No fim de tudo, acabei descobrindo que fiquei mais forte.
Entendi que como mulher não posso ser vítima da história. Tenho que buscar, com
sabedoria, construir caminhos para chegar ao objetivo, mesmo que
temporariamente alternativos. Nosso maior poder como mulher é a educação das
novas gerações e compartilhamento de experiências.
Já, como uma pessoa engajada em uma ONG focada no empoderamento e
desenvolvimento da mulher, sempre fico encantada com o poder criador da mulher
e capacidade de se unir, se mobilizar e atuar. No entanto, penso que ainda temos
um caminho muito logo em relação ao comportamento. É necessário revisitarmos
constantemente o sentido da “sororidade” e nos disponibilizarmos a verificar
nossas atitudes constantemente. É muito difícil mudar comportamentos de forma
genuína, que por gerações foram tão fortemente arraigados em nossas histórias.
Mas como sempre, eu acredito nas pessoas e na nossa força criadora e
realizadora. Sei que a evolução da nossa história e dos resultados está em nossas
mãos.
201

Verdadeiro poder da mulher

Silvana Maldaner58
Muito se tem avançado nas discussões sobre o papel da mulher e seu
empoderamento.
Desde a revolução industrial, onde máquinas foram substituindo os homens,
que as mulheres tem assumido cada vez mais o papel de gerar renda, trabalho e
produtividade.
Acredito que neste século não precisemos mais queimar sutiãs em praça
pública. Precisamos sim, usar toda a nossa força para mostrar que o mundo precisa
de mais tolerância, de mais inteligência emocional, espiritualidade e espirito de
coletividade.
Já mostramos para o mundo a capacidade de comandar empresas, países,
pilotar aviões e até ser astronauta. Agora precisamos ser a paz que o mundo precisa,
o esteio da família, dos valores, do exemplo e da ética.

58
Formada em Comunicação Social UFSM - Especialista em Comunicação - Mestre em Engenharia
de Produção - Curso na Candem College em Londres/Inglaterra
Ex- Presidente da Associação Prosperidade da Seicho-no-ie do Brasil
202

Sinceramente o respeito se conquista com a personalidade, a atitude, a


inteligência. Enquanto as mulheres ficarem discutindo a perfumaria, tem algum
homem no congresso nacional votando em leis em benefício próprio. Enquanto a
mulher estiver sofrendo ou morrendo para manter a eterna juventude, tem um filho
com abandono afetivo em casa ou nas ruas.
Minha trajetória pessoal e profissional não foi fácil, não tive incentivos,
apadrinhamentos ou facilidades. Sofri bullying e assédio sexual em diversos
momentos, e nunca, mas nunca deixei que a covardia de algumas pessoas abalasse
minha vontade de crescer, aprender e ser alguém.
Fiz escola pública enfrentando greves todos os anos. Frequentei
universidade pública onde alguns professores passavam todos os alunos com nota
máxima, até aqueles que já haviam desistido do curso. Fiz um mestrado competindo
com professores de todo o Estado. E a minha falta de recursos financeiros se
transformou em minha grande aliada, pois todas as oportunidades de trabalho eu
abraçava e aprendia.
Prestei assessoria para diversos hospitais, públicos e privados, presenciando
as mazelas do sofrimento humano pela falta de assistência à saúde, falta de
planejamento do dinheiro público e principalmente pela falta de ética de muitos
gestores e funcionários.
Desempenhei o papel de consultora e assessora de comunicação e marketing
para várias entidades de classe, como Sindicato da Construção Civil, Sindicato da
Habitação, Sociedade de Medicina, Sociedade de Engenharia e Arquitetura e
inúmeras empresas de diversos segmentos em 20 anos de carreira profissional.
Criei a Revista Interativa há 16 anos com o intuito de valorizar as
potencialidades da cidade e região, bem como oportunizar conteúdo inteligente,
informativo e de entretenimento, além da cobertura social dos principais eventos
que acontecem. Como profissional da comunicação tenho consciência do papel das
mídias na autoestima de uma sociedade.
203

Se hoje conheço mais de 30 países e algumas centenas de cidades, foi graças


a minha interminável curiosidade de conhecer o mundo e como o homem vive em
suas diferentes culturas.
Nós brasileiras somos as mulheres que mais se importam com a beleza e
estética no mundo. Somos o país que mais investe em cirurgias plásticas, e
exposição do corpo feminino e talvez esta pressão faça com que se invertam muito
as prioridades. A mídia convencional também explora de forma demasiada a
sensualidade e a sexualidade precoce, tornando o nosso Brasil o alvo de críticas no
mundo inteiro, como o país do carnaval, sexo sem compromisso e samba.
A mulher que não investir em seu conhecimento, autoconhecimento e acima
de tudo na sua essência, ficará sempre nesta esfera de luta de gênero, de imposição
do ego e de comparativos impostos pela sociedade e no espirito competitivo.
Minha sugestão para todas as mulheres que querem ser a diferença no
mundo é investir mais em leitura, cultura e espiritualidade. Pois a beleza que mais
ressalta numa mulher é o conteúdo que ela transmite, o amor que ela agrega e acima
de tudo a energia da alegria e da gratidão que só uma pessoa feliz pode levar para
dentro de casa, na empresa e ao mundo.

Silvana Maldaner
Casada, mãe de duas filhas (Dona de 6 cachorros e uma gata)
Formada em Comunicação Social UFSM - Especialista em Comunicação
Mestre em Engenharia de Produção - Curso na Candem College em
Londres/Inglaterra
Ex- Presidente da Associação Prosperidade da Seicho-no-ie do Brasil
silvanamaldaner@terra.com.br
204

Narrativa da Presidente da Federasul

Simone Diefenthaeler Leite59

Simone Diefenthaeler Leite nasceu em Estância Velha, uma cidadezinha


de origem alemã na região do Vale do Sinos.
Iniciou sua vida profissional alfabetizando crianças e, depois de cursar a
faculdade de História, passou a lecionar para alunos do ensino médio.
A partir de novas vivências e de sua vocação, Simone dá uma guinada na
vida profissional e, desafiando o desconhecido, cursa Administração de Empresas
e torna-se empresária.
Muda-se para Canoas e integra com muita atitude a vida da cidade.
Conciliando a vida pessoal e profissional dedica-se a novos desafios.
Em 2009 assume a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Canoas e,
contrariando a prática, reduz a carga tributária e amplia a arrecadação. Também
criou o Escritório do Empreendedor desburocratizando e dando agilidade aos
empreendedores.

59
Presidente da Federasul.
205

Em 2011 foi eleita primeira mulher Presidente da Câmara de Indústria


Comércio e Serviços de Canoas e também assumiu a presidência da Parceiros
Voluntários.
Em 2013 assume a Vice-presidência de Integração da Federasul e passa a
circular pelo Estado promovendo o associativismo e a união da classe empresarial.
Em 2014 recebe um convite inusitado e desafiador: a senadora Ana Amélia
a convida a concorrer ao Senado da República e a compor a chapa majoritária da
eleição.
A trajetória continua e em 2016 após 89 anos de história de uma instituição,
Simone vence as eleições e torna-se a primeira mulher presidente de uma Federação
empresarial no Rio Grande do Sul – a Federasul.
Apontada como uma nova liderança gaúcha, a líder empresarial, sempre
com sorriso largo, repete seus mantras: fé, coragem e paixão. E não se cansa de
dizer que sua maior inspiração são seus filhos Zenon e Leonardo. Como mãe
amorosa e dedicada, busca aconchego com a família e com os amigos, seu maior
patrimônio.
A caminhada trouxe vários temas para reflexão. Um deles trata do
protagonismo feminino em áreas nunca antes trilhadas com um saldo ainda muito
baixo nos cargos executivos, embora as mulheres representem mais da metade dos
brasileiros com ensino superior completo.
Simone sabe que as organizações que avançaram na promoção de mulheres
no comando estão registrando benefícios e reconhece que a chave da mudança está
na infância quando os vieses de gênero são construídos e, a partir daí, vai se
moldando a percepção do trajeto a ser seguido.
Consciente de que o fator principal da transformação é a coragem em buscar
caminhos diferentes dos que são tradicionalmente apresentados pela família, na
escola, nas brincadeiras e nas demais referências, a presidente da Federasul dá
206

ênfase ao fato de que as mudanças estão dentro de cada uma e que é preciso abraçar
as oportunidades porque as mulheres são donas de suas próprias carreiras.
O caminho ainda é longo. Exemplo disto é a fraca presença feminina nos
cargos de executivas e as raras participações nos conselhos de administração das
empresas. A realidade mostra que faltam mulheres nos grupos que decidem nas
Companhias.
A grande virada, na opinião de Simone Leite, está na quebra da barreira
cultural e na necessidade de programas de formação de profissionais para tornar
igual um mundo tão desigual. É injustificável os homens ganharem mais que as
mulheres nos mesmos cargos, quando se sabe que empresa que promove a
diversidade é mais justa, forte e perene.
207

Meu Lema: quem faz o que gosta, faz com Alegria e realização

Sueli Morandini Marini60

QUEM SOU? Professora aposentada, empresária, esposa, mãe, vó e estou


presidente do SINDILOJAS Passo Fundo pelo segundo mandato. Como faço o que
gosto de sou feliz, trabalho com muito otimismo, paixão, garra e aquele jeito
feminino de ser: habilidade em ministrar diferentes atividades, simultaneamente,
com flexibilidade, criatividade e sensibilidade.
Minha caminhada teve início como professora do Estado, trabalhava 20
horas e comecei a me indagar: ou trabalho 40 horas na escola ou vou empreender.
Sempre gostei de moda e o Celso (meu esposo) me incentivou e assim iniciei minha
nova jornada. Inicialmente, concomitante com o dar aula, tinha uma confecção.
Nessa época com um grupo de empresários fundamos o Sindicato da
Indústria de Confecção de Passo Fundo (SINDIVEST) e quando presidente criamos

60
Presidente do SINDILOJAS Passo Fundo/RS.
208

a Passo Moda, local de pronta entrega de um grupo de confecções de nossa cidade.


Depois a TENDENZA, loja de moda feminina e masculina na qual atuo até hoje.
Esse espírito de estar na defesa do empreender é uma constância em minha
vida e me levou após 62 anos com homens na presidência, tive a honra, mas também
a grande responsabilidade em ser a primeira mulher no comando do SINDILOJAS
Passo Fundo, uma vez que a história e o próprio presente mostram que ainda são
poucas as mulheres frente aos Sindicatos. Assumir a liderança do setor varejista,
um dos maiores segmentos de nossa cidade é compromisso muito grande, pois
precisamos manter o desenvolvimento, a inovação, capacitando a qualificando o
setor.
Isso vem afirmar que não há barreiras para a mulher, basta fazer parte de um
segmento, estar inserida no contexto para que tenha a oportunidade para liderar.
Agradeço aos associados que acreditaram em mim e no meu trabalho.
Os obstáculos são os mesmos em qualquer lugar. Apesar de 53% dos
empreendedores no país serem mulheres, muitas dificuldades se apresentam, desde
a falta de reconhecimento social até a tipificação do papel da mulher como a maior
responsável pelos cuidados com a família, apesar de já termos avançado muito
nesses dois sentidos.
É preciso que as mulheres empreendedoras enfrentem o seu dia a dia sem
culpa entre a expectativa de mulher, mãe, esposa, vó com o seu trabalho. É preciso
aprender, que cada um dos momentos se deve ter a entrega necessária em qualidade
e não de tempo.
A mulher tem uma ótima capacidade de persuasão e se preocupa com
clientes, fornecedores e colaboradores.
Diferente do homem ela consegue construir um sentimento de comunidade.
Empreendedorismo feminino significa: desafios, multiplicidade de papeis e
o mais importante, não gerar conflito entre família e trabalho. É preciso coordenar
a agenda para que se dê atenção a todas as tarefas (faço uma seleção todos os dias
209

por importância e necessidade de realização) priorizando a família (bem maior que


se tem na vida).
Mulheres! Não basta enfrentar os desafios colocados pela sociedade, é
necessário estar preparada e gostar do que faz, pois precisamos administrar o
negócio sem perder o prazer em executá-lo. Só tem capacidade de ousar, aquela que
confia em si mesma.
Assumam riscos calculados, amem o que fazem e inovem para continuar
obtendo sucesso!

Sueli Morandini Marini


210

Mulheres No Poder

Sulamita Santos Cabral61

Ao receber o convite da Dra. Beatriz Peruffo, digna e diligente Presidente


da Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS, para dar um depoimento sobre a
minha trajetória, como num passe de mágica surgem lembranças da infância, da
juventude, da família, de professores e tantas pessoas que fazem parte da nossa
história.
Nasci em Uruguaiana, cidade da Fronteira –Oeste. Meu pai faleceu quando
eu tinha 12 anos, mas me deixou um legado de amor e confiança. Minha mãe,
funcionária da Alfândega, mulher à frente do seu tempo, viúva aos 38 anos. Ela foi
o esteio da família e dela recebi rígida educação, forte incentivo ao estudo e à
independência pessoal

61
Presidente do IARGS (Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul).
211

Tive uma infância cercada de carinho dos familiares e atenções dos


professores.
Na adolescência fiz dois cursos secundários, Normal (na Escola Nossa
Senhora do Horto) e Cientifico (no Colégio União), simultaneamente.

Sempre desejei ser advogada. Fiz o curso de Direito e o de Jornalismo,


concomitantemente e, ainda, por breve tempo, dei aula em Canoas, trabalhei na
Secretaria de Educação, lecionei no Colégio Potássio Alves.
Aos 20 anos formei-me em Jornalismo (PUCRS) e aos 22 anos colei grau
em Direito (UFRGS), passando a advogar nas áreas civil e tributária. Realizei
Cursos de pós-graduação: Licenciatura em Direito e Legislação Aplicada,
Especialização em Filosofia do Direito, Especialização em Metodologia de ensino
e Mestrado em Direito (PUCRS)
Aprovada em concurso público realizado pela Faculdade de Direito da
UFRGS, durante mais de quinze anos, ministrei aulas de Direito Tributário e Direito
Financeiro, tendo me aposentado na categoria de Professor Adjunto. Tive centenas
de alunos e tenho a satisfação de encontrá-los, frequentemente, desempenhando
elevadas funções na magistratura, ministério público e na advocacia.
Presidi o Tribunal Administrativo de Recursos Fiscais do Estado, (TARF),
órgão colegiado de 2ª instancia administrativa, durante cinco anos, de maio de 1991
a março de1996), sendo a 1ª mulher a assumir o cargo.
No Instituto dos Advogados do RS (IARGS), desempenhei várias funções:
Coordenadora dos Departamentos da área Tributária e Financeira, Diretora
Financeira, Diretora da Escola, Vice-Presidente e, finalmente, em 1997, em chapa
única, eleita Presidente, sendo a 1ª mulher a presidir o Sodalício.
No ano de 1998, fiz parte da lista tríplice elaborada pelo Tribunal de Justiça
do Estado e foi escolhida pelo Presidente da República para integrar o Tribunal
Regional Eleitoral do RS, (TRE/RS) como Juiz Titular, representando a classe dos
212

advogados. Reconduzida no cargo que desempenhei de julho de 1998 a dezembro


de 2002.
Em uma ocasião -estando o Presidente e o Vice-Presidente do órgão, retidos
em importante julgamento no Tribunal de Justiça- com mim era o Juiz mais antigo
(decano), coube-me presidir a sessão do TRE.
Quando sentei na cadeira do Presidente e declarei aberta a sessão, fui
saudada pelos meus pares, com surpresa, pois ignorava, que pela primeira vez, na
história do Tribunal, uma representante do sexo feminino desempenhava tal função.
Passei a integrar o grupo “OAB+” e fui convidada para fazer parte da chapa,
encabeçada pelo advogado Claudio Pacheco Prates Lamechai, como Secretaria
Geral. Chapa eleita e reeleita que governou a OAB/RS de 2007 a 2012. Fui uma
experiência muito gratificante e enriquecedora, pois além da integração com os
colegas e demais operadores do Direito, conheci outras realidades e, pude participar
da grande obra em prol da advocacia e da cidadania, liderada pelo atual Presidente
da OAB Dr. Claudio Lamechai.
Em 2013 fui eleita, em chapa única, novamente, Presidente do IARGS,
tendo sido reeleita para o triênio 2015/2018.O IARGS graças ao trabalho conjunto
de toda a Diretoria, Conselhos, Departamentos e união de seus associados está
cumprindo suas finalidades e juntamente com a OAB luta para aprimorar o Direito
e a Justiça.
Presidi o Colégio de Presidentes dos Institutos dos Advogados do Brasil
(julho 2013 a setembro de 2014).
Faço parte de várias entidades e, ao longo da minha vida, sempre fui tratada
com respeito e consideração, por homens e mulheres, estudei muito e trabalhei com
afinco, pois acredito no esforço, na honestidade e no exemplo.
Participei ativamente de diversos congressos e simpósios, participei de
bancas de concursos e publiquei trabalhos.
Recebi diversas condecorações, entre as quais a Medalha Osvaldo Vergara,
213

o Prêmio Soroptimista Destaque Nacional, a Medalha Dom João VI, voto de louvor
do Conselho Federal da OAB, a Medalha Pontes de Miranda da Academia
Brasileira de Filosofia,
No dia 11 de agosto de 2017, durante as comemorações pelo Dia do
Advogado, numa cerimônia solene, com o teatro lotado, fui distinguida, graças à
generosidade da Direção e do Conselho da OAB/RS, presidida pelo Dr. Ricardo
Breir, com a Portaria de Advogada Emérita. Mais uma vez, emocionada,
tomei conhecimento que era a 1ª mulher gaúcha a receber tal distinção.
Agradeci, penhorada, tal honraria afirmando “quero compartilhar a
homenagem que me foi tributada, com todas as mulheres advogadas gaúchas”.
Atualmente, por indicação do Conselho Federal, fui nomeada Membro
Titular do Comitê de Avaliação e Seleção do Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais do Ministério da Fazenda (CARF), representando a OAB, com mandato até
setembro de 2019.
Relembro minha vida profissional, com: desafios, turbulências e calmarias,
derrotas e vitorias, e agradeço à Deus e a todas as pessoas (e são muitas) que
tornaram possível minha história, pois me deram ensinamentos, auxílio, amizade e
incentivo.
Um preito à minha família: Paulo, marido; Cassiano e Gisele, filhos, Sandra,
nora e Leonardo e Bernardo, netos que encantam a vida e dão forças para
prosseguir...
Agradeço a oportunidade e cumprimento à Dra. Beatriz Perfuro pelo
fecundo trabalho que está realizando à frente da Comissão da Mulher Advogada da
nossa OAB/RS.
4) Juíza Titular do Tribunal Regional Eleitoral do RS (TRE-RS),
representante da classe dos advogados (julho de 1998 a dezembro de 2002).
• Primeira mulher a presidir SESSÕES de julgamento do TRE-RS.
214

5) Presidente eleita do Instituto dos Advogados do RS (1997/1999).


• Primeira mulher Presidente do IARGS.
6) Conselheira Secretária-Geral da Ordem dos Advogados do Brasil do
Estado do Rio Grande do Sul (2007/2009 e reeleita para o período 2009/2011).
7) Reeleita Presidente do Instituto dos Advogados do RS (2013/2015 e
2016/2018).
8) Presidente do Colégio de Presidentes dos Institutos dos Advogados do
Brasil (julho de 2013 a setembro de 2014).
9) Membro Titular do Comitê de Avaliação e Seleção do Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) do Ministério da Fazenda,
representando a OAB (setembro de 2017 a setembro de 2019).

DADOS PESSOAIS:

Natural de Uruguaiana/RS, filha de Gilberto Figueiredo dos Santos e


Rosalina da Silva Santos. Com 5 anos ingressou na Escola Nossa Senhora do Horto,
onde fez o curso primário, ginasial e escola normal. Concomitantemente, realizou
o Curso Científico no Colégio União. É casada com Paulo Tharso Cabral,
engenheiro, mãe de Cassiano e Gisele e avó de Leonardo e Bernardo.

• Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da


UFRGS.
• Bacharel em Jornalismo pela Escola de Jornalismo da PUCRS.
• Curso de Especialização em Filosofia do Direito, ministrado pelo Professor
Titular de Filosofia do Direito da UFRGS, Dr. Armando Pereira da Câmara
(1970/1973).
215

• Curso de Especialização em Metodologia de Ensino para professores de


Ensino Superior.
• Curso de Mestrado, área de concentração Direito Processual Civil na
Faculdade de Direito da PUCRS (1989/1991).
DADOS PROFISSIONAIS:

1) Advogada autônoma, notadamente nas áreas administrativo-financeira e


tributária.
2) Professor (Adjunto), concursada, ministrando as disciplinas de Direito
Tributário e Direito Financeiro da Faculdade de Direito da UFRGS (aposentada).
3) Presidente do Tribunal Administrativo de Recursos Fiscais do Estado do
RS (TARF), maio de 1991 a fevereiro de 1996.
• Primeira mulher Presidente do TARF.
4) Juíza Titular do Tribunal Regional Eleitoral do RS (TRE-RS),
representante da classe dos advogados (julho de 1998 a dezembro de 2002).
• Primeira mulher a presidir SESSÕES de julgamento do TRE-RS.
5) Presidente eleita do Instituto dos Advogados do RS (1997/1999).
• Primeira mulher Presidente do IARGS.
6) Conselheira Secretária-Geral da Ordem dos Advogados do Brasil do
Estado do Rio Grande do Sul (2007/2009 e reeleita para o período 2009/2011).
7) Reeleita Presidente do Instituto dos Advogados do RS (2013/2015 e
2016/2018).
8) Presidente do Colégio de Presidentes dos Institutos dos Advogados do
Brasil (julho de 2013 a setembro de 2014).
9) Membro Titular do Comitê de Avaliação e Seleção do Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) do Ministério da Fazenda,
representando a OAB (setembro de 2017 a setembro de 2019).
216

DEMAIS DADOS:

Possui obras publicadas, realizou inúmeras palestras, participou de diversos


seminários e bancas de concurso, tendo recebido diversas condecorações, entre as
quais a Medalha Osvaldo Vergara, o Prêmio Soroptimista Destaque Nacional, a
Medalha Dom João VI, voto de louvor do Conselho Federal da OAB, a Medalha
Pontes de Miranda da Academia Brasileira de Filosofia e o Título de Advogada
Emérita, sendo a primeira mulher a receber a honraria da OAB/RS.

Sulamita Santos Cabral


Presidente do IARGS
217

Palestra proferida na OAB/2017


Suzana Velo62
Sou cidadã uruguaianense – nascida e criada nesta cidade (com uma
qualidade ou defeito, como queiram, de ser extremamente BAIRRISTA!)
Sou, na minha origem profissional, professora.
Formada em Letras, com pós graduação em Linguística e Letras pela PUC-
POA.
Trabalhei durante três décadas como professora: desde o nível primário,
secundário até o universitário. Cursei a Escola Normal na tradicional Escola Elisa
Valls onde trabalhei. Também dei aulas na Escola Dom Hermeto. Lecionei nos
cursos primário, ginasial, clássico, científico e magistério.
Pois é …..
e quando me aposentei como professora do Estado, resolvi cursar
CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS, curso que sempre me atraiu, mas não havia

62
Defensora Pública do Estado do Rio Grande do Sul - Uruguaiana/RS
218

como cursá-lo, até então, pois faculdade só fora da cidade, o que, na ocasião, era
impossível para mim devido à vida familiar.
Cursei Direito na PUC Uruguaiana (quando tivemos uma faculdade
em Uruguaiana)
Após, fiz a Escola Superior do Ministério Público em Porto Alegre, e,
posteriormente, Pós-graduação em Direito Processual Civil na PUC, Porto Alegre.
Como se constata, entrei no mundo jurídico após longa caminhada
profissional como professora.
Daí a prestar concurso para Defensora Pública do Estado do Rio Grande do
Sul, foi uma consequência – aprovada no primeiro concurso para Defensor Público
do Estado em 2000, iniciei designada em Cachoeirinha, mas meses após fui
classificada para Uruguaiana onde trabalho como Defensora desde de 2004.
Esta é a minha trajetória, igual a tantas outras, mas que serve para
demonstrar o que podemos, e o quanto podemos.
Foi fácil? Não foi fácil, nada me caiu do céu, tudo foi fruto de muito esforço
e dedicação.
Quando me perguntam se estudei muito para o concurso da Defensoria eu
respondo com a verdade: estudei MUITO, mas MUITO MESMO.
Sempre digo: todos podemos, o que não significa que seja sem esforço. No
meu caso, com muito esforço. (a faculdade de Direito fiz com prazer e por
prazer, não pensava ir tão longe, mas foram surgindo as oportunidades e fui
levando a sério e me dedicando: ganhei a bolsa do Ministério Público Estadual, me
transferi um ano para POA, me dediquei inteiramente aos estudos -aliás, gosto de
estudar até hoje).
Todas nós podemos, portanto, almejar e alcançar uma formação
universitária e, dependendo do interesse e das oportunidades, exercer a profissão
que escolhemos, no caso, como advogadas, defensoras, enfim, atuar na área jurídica
ou em qualquer outra que desejemos.
219

Sim, porque trabalhei como advogada antes de fazer o concurso e ser


chamada na Defensoria. Também exerci a função de Procuradora-geral do
Município de Uruguaiana.
Para que todo este histórico? podem estar se perguntando.
Para mostrar o quanto podemos, o quanto devemos lutar por nossos
ideais e por nosso lugar ao sol.
É importante para cada uma, é importante para o gênero feminino, ainda
discriminado em relação a funções, a salário, à competência…
Temos que acreditar, somos poderosas: somos capazes de trabalhar fora e
administrar nossas casas, de cuidar de filhos, somos capazes de fazer mais de uma
coisa ao mesmo tempo….qualidade que, dizem, é unicamente feminina.
Há estudos neste sentido. E há estudos também que concluíram
que...”Quando estão em posição de autoridade, as mulheres melhoram mais a
vida de outras mulheres do que os homens. Com um pouco de poder, elas não
só inspiram outras a se tornarem lideranças como mudam a perspectiva alheia
em relação ao gênero feminino.”
Por tudo isso, precisamos lutar pelos direitos das mulheres, que passam pela
saúde, liberdade, auto-estima, posição firme, e, principalmente , situação financeira.
As mulheres só têm poder quando gozam de independência financeira.
Ao longo de minha vida exerci funções que me enriqueceram,
contribuíram para minha formação pessoal e, acredito, me dignificaram.
Busquei sempre construir pela educação (como professora que sou) e pela
busca da igualdade e dignidade de todos (como Defensora que também sou).
Tenho na relação de alunos, hoje, aqui em minha cidade, um Juiz de Direito,
um Promotor de Justiça, um Procurador da Fazenda, a ex-vice prefeita, o Prefeito
atual, médicos atuantes em Uruguaiana (vários), uma infinidade de destacados
cidadãos e cidadãs, (há, inclusive, um médico de destaque nos Estados Unidos) ,
enfim...sinto muito orgulho do que fiz e, procuro, ainda fazer, pois apesar da idade,
220

não quis me aposentar, ainda.


Com o magistério cresci e procurei fazer com que os outros crescessem;
como Defensora, exerço uma profissão que lida com carências e dificuldades
inimagináveis por que passam aqueles que, sem recursos são, muitas vezes,
carentes de saúde, de educação, de direitos, enfim, de dignidade.
Trago aqui um texto retirado da ZH que me permito publicar pelo
significado para as mulheres, que diz:
“Enquanto houver o Dia da Mulher, do Índio, da Consciência Negra, Lei
Maria da Penha é sinal de que alguns podem mais e outros são esmagados.
Sociedade injusta. Quando a primeira mulher alcançou pelo voto popular a
Presidência da República, quis ela ser chamada PRESIDENTA, o que provocou
reação de setores da mídia. Por que não a PRESIDENTE, se é um substantivo
comum de dois gêneros? - argumentaram. Até a gramática é machista, pois diz que
o masculino sempre prevalece sobre o feminino. Abaixo a gramática, abaixo o
machismo, abaixo os preconceitos. Por uma mulher emancipada, cidadã.”
(ZH 08/3/2013 – Ari Riboldi – professor e escritor)
Ao final, deixo uma singela mensagem:
“Por um mundo em que sejamos:
socialmente iguais,
humanamente diferentes,
totalmente livres”.

Suzana Iara Dora Velo


Defensora Ṕblica do Estado do Rio Grande do Sul Uruguaiana/RS
221

Prefeita de Dois Irmãos/R S e Presidente da Associação dos


Municípios do Vale do Rio dos Sinos (AMVRS)

Tânia Terezinha da Silva63

Nasci em 16 de julho de 1963, em Novo Hamburgo, a filha mais nova de


seis irmãos. Estudei em escolas particulares como bolsista. Recordo que, quando
pequena, era cuidada pelos meus irmãos mais velhos, que me deixavam na pracinha
do bairro em que vivíamos para jogar futebol. Aos nove anos, saía da escola e ia de
ônibus encontrar a mãe, então merendeira de uma escola da prefeitura.
Comecei a trabalhar aos 16 anos, como técnica de enfermagem, profissão
na qual me aposentei, mas ainda pretendo voltar a trabalhar na área da saúde.
Adotei Dois Irmãos no início da década de 1990 ao passar em primeiro lugar
num concurso público para técnico em enfermagem, vindo residir em Dois Irmãos
com a família. Lembro, que na época havia poucas famílias negras morando na

63
prefeita de Dois Irmãos/R S e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos
(AMVRS).
222

cidade. E, mesmo sendo uma estranha no ninho, eu e meus dois filhos, Pablo e
Hohana, fomos muito bem acolhidos na comunidade.
Em 1995, veio o convite para que eu me filiasse ao PMDB e, em 1996,
consegui me eleger a quarta vereadora mais votada da cidade. Em 2000, sem
conquistar a reeleição, assumi a coordenação do Posto de Saúde 24 Horas.
Em 2008, voltei a conquistar a vereança e fui presidente da Câmara nessa
legislatura. Em seguida fui convidada a concorrer como Prefeita, ao lado do atual
vice-prefeito Jerri Adriani Meneghetti (PP), por meio da coalizão (PMDB-PP-
PTB), sagrando-me a primeira prefeita de Dois Irmãos, de uma cidade com cerca
de 30 mil habitantes, sendo a maioria de colonização alemã.
Fico muito orgulhosa e feliz de ter sido eleita prefeita em uma cidade de
cultura alemã. Havia nomes mais tradicionais, homens, brancos, de origem alemã.
E eu, mulher, negra, divorciada, alegre e muito trabalhadora, tive a satisfação de ser
eleita, não por essas qualidades, mas, porque a população acreditou nos projetos
que tenho para o Município.
As pessoas me dizem que inspiro elas, não sei se sou inspiração para alguém,
mas quero incentivar mais mulheres a lutarem pelos seus sonhos e ingressem na
política, o que hoje é algo quase inexistente.
223

Veralba Aparecida Branco Arnold

Veralba Aparecida Branco Arnold, advogada e comerciante, casada com


Renato Arnold, três filhos, Renata Arnold, Lucas Maximiliano Arnold e Bruno
Renato Arnold e um neto, Max da Rosa Arnold, nascido em janeiro de 2018.
Nascida em Lages-SC ,em 24.03.1958, filha de Anibal Vieira Branco e
Malvina Nunes Branco, onde residiu até 1964, quando veio para o Rio Grande do
Sul, mais precisamente para São Leopoldo. Trabalhou no comércio desde 1973
(então com quinze anos), na tradicional loja de ferragens de São Leopoldo,
Ferragem Feldmann, da qual só se desligou após a formatura, em 1.986, no Curso
de Direito pela Universidade do Vale dos Sinos - UNISINOS.
Passou a residir em Novo Hamburgo após o casamento, e iniciou sua
carreira profissional na área da advocacia, trabalhando com o advogado Cilo
Sebastião Flores, seu mentor e sócio, por mais de uma década.
Com a colega Dra. Jussara Maria dos Santos Piva, firmou uma parceria
que segue até os dias de hoje. São mais de 25 anos trabalhando juntas.
Após dedicar-se à advocacia por 22 anos, próxima da aposentadoria
224

previdenciária, e preocupada em permanecer ativa após aposentar-se, voltou às suas


origens e retornou ao comércio, agora como franqueada de uma tradicional grife
de chocolates.
Há dez anos, quando comentou com algumas pessoas sobre a perspectiva de
abrir uma loja Kopenhagen em Novo Hamburgo, foi fortemente desencorajada, sob
o argumento de que a cidade não comportaria uma loja daquelas…
Pessoa determinada e persistente, não se deixou influenciar, e em junho de
2008 abriu a franquia, situada na Av. Dr. Maurício Cardoso. Nesse meio tempo,
abriu mais duas franquias, uma na cidade de Canoas e a outra no Shopping Iguatemi
de Caxias do Sul. Todavia, o que deveria ser uma atividade prazerosa, acabou por
se transformar num grande trabalho, tendo por esta razão vendido a franquia de
Caxias do Sul e encerrado a de Canoas, permanecendo apenas com a de Novo
Hamburgo.
De lá para cá, aposentou-se, mas não se desligou da advocacia, cujo
exercício é árduo, mas dignificante. Reduziu sua atuação, mas segue advogando
com muito orgulho.
Quanto ao comércio, este sim, é atualmente sua ocupação predileta. Ama
estar na loja, onde, nestes dez anos, fez amigos, conheceu muito da sociedade
hamburguense, e convive com pessoas das mais diferentes categorias.
Ressalta que sua caminhada não foi fácil, mas foi possível. Nunca se deixou
abater por cansaço ou dificuldades financeiras.
A palavra que a define é persistência e perseverança.
225

Um infinito por fazer


Yeda Crusius64

Foi um prazer receber o convite da Escola Superior de Advocacia e da


Comissão da Mulher Advogada da OAB-RS, para contribuir a narrativa de minha
trajetória profissional e pessoal para a obra “Mulheres no Poder”. Somos tão
poucas, ainda!

O começo

Nasci um ano antes do fim da Segunda Grande Guerra, a quarta filha em


uma família de seis crianças, formada por filhos de imigrantes italianos e
portugueses.
Nossa casa era aberta aos amigos e ao debate. Livros, revistas e informação
nunca faltaram em um ambiente pautado pela liberdade.

64
Deputada Federal do Estado do Rio Grande do Sul.
226

Educação

Do fundamental ao pós-graduação estudei em São Paulo. Fiz meu mestrado


em Economia na Universidade de Vanderbilt, Tenessee (EUA).
Comecei a trabalhar antes dos dezoito anos, em um período de dificuldade
na família, mudando de colégio para completar o colegial no turno da noite. Nunca
mais parei. Pouco tempo depois entrei para o curso de Economia da USP, única
mulher da turma, como mostra a foto de formatura, em 1966. Um ano depois, já
trabalhando na área, na Federação do Comércio, decidi voltar a estudar e fiz pós-
graduação em Economia do Instituto de Pesquisas Econômicas (IPE-USP).
No final de 1968, já pós-graduada, conquistei uma bolsa para estudar nos
Estados Unidos, para onde fui em 1969. Em Nashville, na Universidade de
Vanderbilt, cursei mestrado em Economia e casei com Carlos Crusius, com quem
havia estudado no IPE. A partir daí dei um novo rumo à minha vida. Nossos dois
filhos, César e Tarsila, nasceram em Porto Alegre, e me premiaram com 4 netos.
Cheguei a Porto Alegre em 1970, casada, para um mundo totalmente novo,
de trabalho, filhos, vida. Prestei concursos de professora para a Faculdade de
Ciências Econômicas, e fiz pesquisas no Instituto de Estudos e Pesquisas
Econômicas (IEPE). No IEPE atuei nos cursos de pós-graduação em Economia
Rural e Sociologia Rural, além da recém-criada pós-graduação em Economia
(PGE), integrada à Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em
Economia (ANPEC).
Além da Universidade, atuei como voluntária, comunicadora e consultora
para a área de Economia.
227

Política

Meu envolvimento político-partidário se iniciou na fundação do PSDB, por


identidade com o estatuto e propostas de seus fundadores. Nasceu a minha opção
pela vida pública partidária.

Em 1993 veio o convite para assumir o Ministério do Planejamento no


Governo Itamar Franco, em um momento importantíssimo da vida nacional,
seguido de três mandatos como deputada federal, um como governadora do Rio
Grande do Sul – quando decretei o déficit zero no segundo ano de minha
administração, interrompendo 37 anos de déficit contínuo. Hoje exerço meu quarto
mandato como deputada federal.

Yeda Crusius - Deputada Federal do Estado do RS.


228

O poder da mulher está na sua capacidade de recomeçar, quantas


vezes forem necessárias
Zulmara Colussi65
Não saberia fazer outra coisa, senão jornalismo. E não saberia viver de outra
forma, senão intuitivamente e com muita paixão pela vida. Sou jornalista por duas
formações: a prática e a acadêmica. A prática veio muito antes da acadêmica e isso
me possibilitou vivências que, talvez, muitos profissionais não tenham.

Venho de uma família humilde e passei por muitos percalços, nada muito
diferente do que histórias de muitas pessoas que conheço. Aos 5 anos, perdi minha
mãe (Élia Grigollo). Fomos criados pelo pai João, que triste pela perda de seu
grande amor, entregou-se ao alcoolismo até morrer em 2013 vítima de um câncer.
Durante todo este tempo, tivemos o acompanhamento de uma segunda mãe, Maria,
que foi a companheira escolhida pelo pai um ano depois da morte da mãe Élia.
Ainda criança, tive a intuição de que nada seria fácil e que teria que me virar
por conta e risco se quisesse alguma coisa na vida. E assim o fiz. Fui movida pela
intuição e por uma força que todos temos, basta acioná-la sempre que necessário.

65
Jornalista Política
229

Estudei em escolas particulares (sempre com bolsa), mas, na maioria das vezes, em
escolas públicas. Era o patinho feio das turmas, não tive grandes amigos, mas sabia
que tinha que me virar. Fiz o chamado 2º Grau no hoje Instituto Cecy Leite Costa
de Passo Fundo, onde cursei Redator Auxiliar. Foi ali que descobri a vocação para
escrever, incentivada pelo olhar carinhoso da professora de português Lúcia Palma
(in memoriam).
Como sempre tive que fazer as coisas por conta e risco, logo cedo, aos 15
anos, dividia o tempo dos estudos com o trabalho na fábrica de bolachas de uma tia.
Fui empacotadeira de bolachas até sentir necessidade de seguir adiante, quando
procurei a professora Lucia para que me ajudasse a conseguir outro emprego.
Queria ser funcionária de loja. Mas, ela indicou outra possibilidade: uma vaga de
redator no Jornal Diário da Manhã. Fui fazer o teste com o então editor João Vieda
(in memoriam) que me contratou. E do jornalismo nunca mais saí. Não foram dias
fáceis até chegar onde cheguei, mas foi um processo maravilhoso que trilharia
novamente.
De forma simples, do Diário da Manhã como auxiliar de repórter fui para a
Rádio Uirapuru onde tive outros dois grandes professores- Júlio Rosa e Fátima
Trombini, ambos não estão mais entre nós. Em seguida fui para o Jornal O
Nacional, trabalhei muito tempo como correspondente do Correio do Povo, fiz
assessoria de imprensa na Câmara de Vereadores. Por conta do destino, em 1995,
me mudei para Porto Alegre e me aventurei como empresária, numa área longe do
jornalismo. Não deu certo. Fora seis meses longe da profissão que amo e que me
resgatou novamente. Retornei para o Correio do Povo, só que desta vez como
repórter na Capital. Foram oito anos morando em POA, trabalhando no CP e
Assembleia Legislativa.
Em 2003, minha filha, pré-adolescente, resolve retornar a Passo Fundo.
Como a vida é movida por acontecimentos mágicos, também retornei, desta vez
convidada a ser editora do Jornal Diário da Manhã, onde permaneci por seis anos e
230

meio. E foi em Passo Fundo, depois de uma longa vivência no jornalismo que decidi
fazer a Faculdade de Jornalismo na UPF. Ingressei em 2004 e me formei em 2009.
Neste período mudei de jornal, saindo do DM e retornando para O Nacional, como
editora, onde estou até hoje.
Meu foco durante bom tempo da vida profissional sempre foi o jornal. Eis
que, em 2014, recebo um grande desafio: fazer televisão, veículo que nunca esteve
nos meus planos. Foi o ano da mudança pessoal e profissional, mais uma vez.
Resolvi encarar e recomeçar. Nunca é tarde para recomeçar. Recomeçarei quantas
vezes forem necessárias, porque esta capacidade é o grande poder da mulher.
Começo meu dia muito cedo: às 7h, entro ao vivo na Rádio UPF com o
programa Café Expresso. Às 9h, assumo a produção na UPFTV. Uma vez por
semana apresento o programa Estúdio 4 e participo de um quadro ao vivo no Hora
da Notícia, chamado Fatos Políticos. À tarde, cumpro a função de editora no Jornal
O Nacional (veículo que tem 93 anos de existência), assino uma coluna diária sobre
política e ainda edito especiais publicados pela empresa, como o Anuário Gigante
do Norte. Aos sábados, pela parte da manhã, ancoro o programa Sem Segredo na
Rádio Uirapuru. O Rádio é a mais nova paixão da minha vida, da forma como ele
se apresenta neste momento. Hoje, eu faço jornal, TV, rádio e me arrisco nas redes
sociais. As plataformas da comunicação são múltiplas e como profissionais
precisamos nos reinventar, atualizar e fazer sempre o melhor, sempre primando pela
informação correta e ética. A credibilidade é a maior marca que um profissional
carrega e eu a preservo como a maior riqueza da minha vida.
Meu nome é Zulmara Izabel Colussi, tenho 53 anos. Sou mãe de Daniela
Lippsten, de 27 anos, advogada e professora. Estou pronta para outros desafios,
reinvenções e recomeços. Afinal, tenho mais 50 anos pela frente (no mínimo).

Zulmara Colussi
Jornalista Política
231

Currículo – Rosângela Maria Herzer dos Santos

Advogada. Especialização em Direito Previdenciário e Especialização em


Docência do Ensino Superior.
Conselheira titular eleita, da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional do Rio
Grande do Sul, gestões: 2007/2009, 2010/2012, 2013/2015, 2016/2018. Diretora
Geral da Escola Superior da Advocacia, da OAB/RS – 2016/2018. Presidente da
Comissão Especial da Tabela de Honorários da OAB/RS – gestões: 2007/2009 –
2010/2012 – 2013/2015 – 2016/2018. Membro da Comissão da Mulher Advogada
da OAB/RS – 2016/2018. Diretora da Regional do Vale dos Sinos da Federasul,
desde 2016. Membro da Comissão Especial do Processo Eletrônico e tecnologias
da OAB/RS – 2007/2012. Presidente da Associação Comercial, Serviços e
Tecnologia de São Leopoldo – 2012/2013. Presidente do Conselho Deliberativo da
Associação Comercial, Serviços e Tecnologia de São Leopoldo – 2014/2015. Vice-
Presidente Jurídica da Associação Comercial, Serviços e Tecnologia de São
Leopoldo – 2006/2011. Membro da Comissão Especial de Seguridade Social e
Previdência Complementar do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil, gestão 2010/2012. Diretora de Comunicação da Escola Superior da
Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Rio Grande do Sul,
gestão 2010/2012. Conselheira da Segunda Câmara de Recursos da Ordem dos
Advogados do Brasil – Seccional do Rio Grande do Sul – gestões 2007/2009 e
2010/2012. Diretora de Benefícios da OAB PREV – Previdência Complementar
dos Advogados do Estado do Rio Grande do Sul, gestão 2009/2011. Diretora de
Cursos Não Presenciais da Escola Superior da Advocacia da Ordem dos Advogados
do Brasil – Seccional do Rio Grande do Sul, gestão 2007/2009. Presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção de São Leopoldo, gestão
2004/2006. Secretária Geral da Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção de São
Leopoldo, gestão 1998/2000. Docente no Curso de Ciências Jurídicas e Sociais da
Universidade do Vale do Rio dos sinos – UNISINOS. Professora convidada da
Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio Grande do Sul - PUC/RS, no
Curso de Especialização em Processo Civil, 2009/2010/2011. Professora
convidada da Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio Grande do Sul -
PUC/RS, no Curso de extensão em Processo Civil – Processo Eletrônico, 2011.
Professora convidada da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC, no Curso de
Especialização em Direito Processual do Trabalho e Previdenciário, 2011.
232

Colaboradora da obra Legislação Social, Coleção EAD, Editora Unisinos,


publicada em 2011. Advogada da ATAPEN - Associação dos Aposentados e
Pensionistas da cidade de São Leopoldo, de 1991 até 2015.
Palestrante convidada em diversas Universidades, Seccionais e Subseções
da OAB e demais Entidades. Agraciada com a Comenda Carlos de Souza Moraes
pela OAB – Subseção de São Leopoldo e Câmara de Vereadores – agosto de 2012.
Agraciada com a Medalha Leonardo Macedônia pela OAB/RS -2009. Participante
de diversas bancas de TCC, como professora orientadora e avaliadora. Presidente
da Comissão Municipal de Emprego da cidade de São Leopoldo – FGTAS
(Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social). Período: 2008/2009.

Currículo – Beatriz Maria Luchese Peruffo

Advogada. Palestrante, Pós-Graduada em Direito Empresarial, pós-


Graduada em Gestão de Pessoas. Conselheira Seccional da OAB/RS, Presidente da
Comissão Estadual da Mulher Advogada da OAB/RS, Membro Consultora da
CNMA – Comissão Nacional da Mulher Advogada do Conselho da OAB,
Presidente da BPW Bento Gonçalves/RS – Bussiness Professional Women -
Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais, Empresária administradora
da Beatriz Peruffo Desenvolvimento Pessoal e Profissional. Fundadora e
Administradora da Rede Mulheres Mais Felizes com mais de 11.000 mulheres
integrantes.
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Anexo 01: Fotos- Evento Mulheres no Poder- Março /2017 – OAB/RS e TRE
Mulheres nas esferas da política, das instituições e das empresas.
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Anexo 02: Fotos - Conferências Regionais de Valorização da Mulher Advogada da


OAB/RS -2017
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