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Organizadoras
Beatriz Maria Luchese Peruffo
Rosângela Maria Herzer dos Santos
Mulheres no Poder:
trajetória pessoal e profissional
Porto Alegre
OABRS
2018
Copyright © 2018 by Ordem dos Advogados do Brasil
Secção do Rio Grande do Sul
Todos os direitos reservados
Organização técnica
Beatriz Maria Luchese Peruffo
Luciana Almeida da Silva Teixeira
Fernanda Corrêa Osório
Karin Regina Rick Rosa
Rosângela Maria Herzer dos Santos
Recebimento dos textos, diagramação, ficha catalográfica
Jovita Cristina G. dos Santos
Arte da Capa
Carlos Pivetta
M749a
Mulheres no Poder: trajetória pessoal e profissional. Beatriz
Maria Luchese Peruffo; Rosângela Maria Herzer dos
Santos (Organizadoras) – Porto Alegre: OAB/RS, 2018.
237p. il:, 18x25cm.
ISBN: 978-85-62896-07-1
Edição Digital
Disponível em: portaldoaluno.oabrs.org.br
1. Narrativas. 2. Mulheres no Poder. I Título.
CDU: 929
Bibliotecária Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 1517/10º
DIRETORIA/GESTÃO 2016/2018
CONSELHO PEDAGÓGICO
DIRETORIA/GESTÃO 2016/2018
CORREGEDORIA
OABPrev
COOABCred-RS
Palavra do Presidente
Mulher advogada
Apresentação
1
Anexo 01 - Fotos do Evento “Mulheres no Poder.”
14
2
Anexo 02 - Fotos do Evento “Conferências Regionais.”
18
3
Currículo no final do livro.
4
Currículo no final do livro.
19
Nos anos 80, lutamos por uma nova Constituição que, segundo
entendíamos, deveria ter sido vertida em uma assembleia nacional exclusiva,
não congressual.
Definido o modelo congressual, participamos ativamente da
construção do texto, e aqui destaco o trabalho e o empenho do nosso
Presidente Fernando Krieg da Fonseca, de quem tive a honra de integrar a
Diretoria como Vice-Presidente, vindicando a inserção de normas e princípios
em favor da cidadania e do social, bem como o importante princípio da
indispensabilidade dos advogados e das advogadas na administração da
justiça. Festejamos a obra constitucional em uma memorável Conferência
Nacional da Advocacia, realizada em Porto Alegre, no mês de outubro de
1988.
E hoje diante da realidade que nos rodeia, nos inquieta, nos preocupa,
nos atinge, nos mobiliza, abre-se para nós uma nova perspectiva no nosso
ofício, no nosso compromisso com a sociedade, na nossa luta pelo respeito
humano, na nossa atenção contínua, não só quanto à aplicação da lei, mas
quanto à efetiva distribuição da justiça.
Por isso, nossa mobilização para a plena concretização da democracia
procura garantir não somente um convívio social, mas um convívio social
justo, com o engajamento da sociedade em defesa de seus valores
fundamentais.
Nosso desafio – da OAB e de todos os setores organizados da
sociedade civil – é fazer com que o Brasil comece a dar conteúdo a estas duas
palavras vitais para a preservação da dignidade humana: justiça e cidadania.
Sem dúvida, no mundo atual que nos rodeia, outro mundo justo é
possível e cabe a nós fazê-lo possível.
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Adriane Schramm5
Sempre enfrentei desafios, casei muito nova, tive 2 filhos, permaneci
casada por 10 anos, passei por um divórcio traumático, dificultoso e ao
mesmo tempo libertador, com várias cicatrizes de um casamento sofrido, e só
então, aquela menina de 17 anos que teve seus sonhos interrompidos,
começava a partir daquele momento uma nova vida.
Enfrentando o preconceito da família e sociedade, iniciava-se uma
grande batalha, a difícil missão de cuidar dos filhos, voltar aos estudos,
sustentar a casa, e principalmente buscar uma inspiração para continuar,
através do apoio dos meus pais, após muita discussão, comecei a refletir sobre
como seria ter uma vida diferente.
Morando no interior, criada numa família conservadora, passei a me
inserir no mundo político, num meio onde os homens não admitiam mulheres,
5
Prefeita do Município de Maçambará, eleita em 2016.
24
6
Senadora da República
27
entre todos os 594 congressistas pelo site Ranking dos Políticos, que avalia o
desempenho de senadores e deputados federais. Tenho consciência de que esses
reconhecimentos aumentam ainda mais a responsabilidade do meu mandato.
O objetivo, desde a época em que fui forçada a deixar para trás o sonho
de ser médica, foi de retornar ao curso de Medicina após adquirir condições
econômicas para tal.
Foi também assim que tão logo me formei em direito fui convidada a
compor uma chapa na OAB Subseção Uruguaiana, ocupando o cargo de
Delegada da Caixa de Assistência, na qual permaneci por três gestões, até ser
convidada a exercer o cargo de Secretária Geral da Subseção e presidente da
Comissão da Mulher Advogada, funções que exerci com zelo e amor.
Enfim, hoje analisando a pessoa que me tornei, posso dizer que sou
feliz, realizada profissionalmente, com uma família onde prevalece o amor
e a união, com muito a oferecer ao próximo, que é o que torna a nossa vida
essencial para a sociedade e nos traz o verdadeiro sentido de existir.
34
7
Desembargadora do Tribunal de Justiça do RS.
35
8
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(CEDAW), ONU, 1979.
9
http://portuguese.weprinciples.org/Site/UnWomen/
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10
Por toda a eternidade obrigado a empurrar uma pesada pedra montanha acima que, ao
atingir o ápice, rolava para baixo, demandando a repetição perpétua do ato inútil.
11
Albert Camus, O Mito de Sísifo, ensaio de 1941,apud
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mito_de_S%C3%ADsifo
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pessoal, veio com isso uma separação conjugal e um convite para entrar na
política.
Um convite sem muitas pretensões, simplesmente o anseio do novo,
da vontade de ir além, de fazer mais, sem saber o que e nem aonde, então
assim veio o cargo de vereadora, fazer parte do legislativo, uma mulher num
mundo plenamente quase que machista sem conhecer nada, sem ter tido
nenhuma filiação partidária, sem nenhum vínculo e nenhuma relação desse
mundo político.
Depois vieram outras dificuldades e a mesma ansiedade ao redor de
abafar minhas potencialidades, meus ideais, minhas falas e minha crença, a
qual minha trajetória de vida não sucumbiu, e tendo vivido este momento
afirmo que no meu íntimo não mudei.
Tenho vivido naturalmente, galgando espaços de poder, mesmo não
sendo meus principais objetivos. Minhas metas são as relações e as
oportunidades de jamais permitir que o mundo ao meu redor me faça abrir
mão da vontade de fazer um mundo melhor e de acreditar que as relações elas
mudam o mundo, que o ter não pode ser mais que o ser.
Camila Toledo
12
Presidente OAB Soledade/RS
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Claudia Furlanetto13
Nasci em Passo Fundo, numa família muito especial, meu pai mecânico e mãe
do lar, que com toda simplicidade souberam educar eu e meus irmãos para o
respeito às pessoas.
Grande parte da minha formação se deu em escola pública e aos 16 anos
iniciei a vida profissional e continuei a estudar. Trabalhei para pagar a
faculdade e como herança do meu pai recebi meu maior patrimônio: a
EMPATIA.
E foi com este sentimento que iniciei minha caminhada na faculdade de
Educação Física, onde conheci pessoas maravilhosas entre elas este uma
colega surda a qual não conseguia trocar nem olhares… pois, me
envergonhava de não saber sua língua. Então corri para um curso de Língua
Brasileira de Sinais – Libras para poder olhá-la nos olhos e dizer que sentia
13
Mestra em Engenharia de Infraestrutura e Meio Ambiente. Especialista em Educação
Especial e Direitos Humanos - Educadora Física - Tradutora/Intérprete de Libras
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14
Graduada em Pedagogia, pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Mestre e
Doutora em Educação, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul -
PUCRS. Reitora da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, com mandato até 7 de
janeiro de 2021.
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provocadas pelo exíguo tempo para compartilhar com todos os papéis que
vivo como mulher, o que me exigiu abrir mão de muitos fazeres da vida
familiar. Sem falar no fato inédito de ser mulher ocupando um espaço até
então somente ocupado por homens.
O que conto aqui são fragmentos… Teria, ainda, muita história para
contar! Como mãe jovem que fui, precisei interromper meus estudos, superar
as fragilidades e os preconceitos. Mas, com uma garra que só as mulheres
conhecem, me vi levando adiante o sonho de cursar a universidade e ter uma
vida profissional, além da maternidade que consumia 100% do meu tempo e
da minha vida. Superar os desafios de ser mãe e, ao mesmo tempo, estudante;
de ser mãe e ter uma profissão; e, acima de tudo, de ser mulher e ter a
oportunidade de fazer escolhas! Quantos sonhos realizados então! Um deles,
a possibilidade de escolher ocupar este lugar de Reitora, representando, com
muita paixão e respeito, as mulheres educadoras.
15
Mestre em Direito pela UFRGS, Chefe de Gabinete da Presidência do TRE-RS
16
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil.
Brasília: Mapa da Violência, 2015. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br>.
Acesso em: 25 maio 2015, p. 27.
57
17
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral – TSE. Estatísticas Eleitorais 2016 – Eleitorado.
Apresenta quantitativo de eleitores por sexo. Brasília, 04 Maio2016. Disponível em: <
http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais-2016/eleicoes-2016>.
Acesso em: 8 out 2016.
18
INTER-PARLIAMENTARY UNION – IPU. Women in Politics. Comparative Data by
Country. Geneva: Inter-Parliamentary Union, 2017. Disponível em: <
http://www.ipu.org/wmn-e/classif.htm >. Acesso em: 10 Fev. 2017.
19
Dados medidos em Janeiro de 2017. Lembrando que a Arábia Saudita só concedeu voto às
mulheres em 2010, e segue sendo o único país do mundo a proibi-las de dirigir automóveis.
20
OKIN, Susan Moller. O Multiculturalismo é ruim para as mulheres? 2010.
58
21
WORLD BANK, GROUP. World Development Report 2012: Gender Equality and
Development. Relatório. Washington: The International Bank for Reconstruction and
Development / The World Bank, 2012. Disponível em:
<https://siteresources.worldbank.org/INTWDR2012/Resources/7778105-
1299699968583/7786210-1315936222006/Complete-Report.pdf >. Acesso em: 1 Jul. 2016.
22
F́RUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA ṔBLICA - FBSP. 9o Anúrio Brasileiro de
Seguraņa Ṕblica. São Paulo: 2015. Disponível em:
<http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/9o-anuario-brasileiro-de-seguranca-
publica/ >. Acesso em: 08 Jan. 2017.
23
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO et al, Global and regional estimates of
violence against women: prevalence and health effects of intimate partner violence and non
partner sexual violence. Geneva: WHO, 2013, p. 3. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/85239/1/9789241564625_eng.pdf?ua=1>. Acesso
em: 12 Fev. 2016.
24
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU, CONSELHO ECONÔMICO E
SOCIAL – ECOSOC. 2015a Relatório. E/CN.6/2015/3, Nova York, 2015. Review and
appraisal of the implementation of the Beijing Declaration and Platform for Action and the
outcomes of the twenty-third special session of the General Assembly, parágrafo 372, p. 100.
Disponível em: <
http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=E/CN.6/2015/3&referer=http://www.u
nwomen.org/en/digital-library/publications/2015/02/beijing-synthesis-report&Lang=E>.
Acesso em: 4 Jul.2016.
59
uma nova visão de mundo e pode promover maior inclusão das preocupações
específicas de gênero nos espaços de deliberação, viabilizando a
implementação de políticas e programas favoráveis aos direitos das mulheres.
Em matéria de gênero, é preciso impulsionar o processo evolutivo da
humanidade. Sem a participação de mulheres nenhuma democracia é real.
Nas palavras de Mary Wolstonecraft, escritas em 1792: “é por justiça e não
caridade que nosso mundo anseia25”.
25
WOLLSTONECRAFT, Mary. A Vindication of the Rights of Woman. 1792 Apud
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME – UNDP. Human Development
Report 1994. New York: Oxford University Press.
61
26
Vereadora da Câmara de Vereadores de Rio Grande/RS.
62
27
Doutor em Direito pela Unisinos/RS. Professora catedrática adjunta, permanente, da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
65
Adora ler, escrever e ama viajar com a família. Nas viagens sempre
há um tom de aventura, pois natureza, mar e céu é com ela, tendo inclusive
saltado de para-quedas no dia internacional da mulher em 2015 com sua filha
caçula em Novo Hamburgo, parapente e asa delta já voou duas vezes.
Coragem é o seu perfil. Raffting já fez da Índia, cavalgada na fazenda não
pode faltar. Energia é o nome dela.
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Felizmente sou uma pessoa muito espiritualizada e mais uma vez Deus
me segurou pela mão e me mostrou um caminho de luz. Amparada por amigos
que nutriam um grande carinho pelo meu irmão, criamos um Centro Cultural
com o objetivo de ensinar a tradição gaúcha para crianças e jovens em
vulnerabilidade social onde colocaríamos o nome dele e assim
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Diretora da instituição ACCLJB - Itaqui – RS
68
Acredito que cada um de nós vem ao mundo com uma missão, seja
ela qual for e depois de superado o momento da dor intensa consegui
transformar a dor em amor, superei a morte salvando vidas e nos momentos
de saudades intensa recebo um abraço fraterno que traz um sussurro de muito
obrigado, nesse momento ergo as mãos para o céu e agradeço a oportunidade
de ter convivido com meu amado irmão que me ensinou a amar e cultuar
nossas tradições, agradeço pelos meus amigos que sofreram e se reergueram
ao meu lado, a todos aqueles que de uma forma ou outra acreditaram e
investiram nesse sonho mas quero agradecer ,principalmente, a Deus que me
ensinou o verdadeiro sentido do amor e da vida.
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Fue con enorme alegría y orgullo que recibí la invitación para formar
parte de la conferencia de ¨Mulheres no poder¨ y más aún cuando supe que se
haría un libro con los compilados de la narrativa de vida y profesión de
mujeres tan valiosas e importantes para la sociedad como las que pudimos
apreciar y deleitarnos con sus testimonios en la conferencia organizada por la
OAB.
Mi nombre es Florencia de León Rivadavia, nací el día 25/01/1985 en
la ciudad de Melo, departamento de Cerro Largo, Uruguay, hija de Silvia
Rivadavia y Rafael de León. Actualmente tengo 33 años.
Crecí, en un hogar compuesto por mi madre y mi padrastro Henry De
León, quienes fueron siempre grandes referentes de demostrarnos a mi
hermano y a mí de que el trabajo es el mejor medio de lograr la dignidad
moral y económica, que sin esfuerzo y constancia nada se consigue, provengo
de una hogar humilde de personas muy trabajadoras.
29
Abogada.
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expresarme como lo que soy, una mujer, y de esa manera pude ganarme el
reconocimiento y respeto, no sólo de los compañeros de trabajo sino también
de la población reclusa.
En la actualidad me desempeño como abogada sumariante dentro del
Instituto Nacional de Rehabilitación.
Una mujer que sabe, todo le cuesta el doble, porque la determinación
es una puerta de la cual, solo ella tiene la llave. Todas las mujeres que hemos
llegado al desafío de enfrentarnos a cargos donde nuestra tarea es
fundamental, sabemos que llevamos un desafío doble que nuestros colegas
hombres, en primer lugar desafiar el preconcepto, derribar la idea que los
lugares de mando o de poder están solo destinados al sexo masculinos y lo
más desafiante aún, hacer bien nuestro trabajo. Creo ampliamente en la
capacidad del ser humano, en el progreso de la humidad basado en el trabajo,
en el estudio y en el compromiso y eso solo es posible si podemos trabajar en
pie de igualdad hombres y mujeres.
Me gustaría terminar esta simple narrativa, felicitando y agradeciendo
en primer lugar a todas esas mujeres empoderadas que han hecho un espacio
en la OAB para demostrar a la sociedad la importancia del peso del trabajo
de la mujer en todos los ámbitos y por supuesto en el jurídico.
En segundo lugar hacer mías las palabras de la excepcional Marie
Curie: ¨nunca he creído que por ser mujer deba tener tratos especiales, de
creerlo estaría reconociendo que soy inferior a los hombres y yo no soy
inferior a ninguno de ellos.¨
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Professora de Direito Penal - Faculdade Ideau - Mestra em Ciências Criminais - PUCRS
Doutoranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social – Feevale.
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Francine Ávila
Advogada
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Uma Narrativa
31
Desembargadora do TRT4
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ocupado e não à mulher que o ocupa. A inversão dessa ordem é algo a ser
pensado.
Conclusão
As primeiras palavras que ouvi do meu chefe foram: “Já vou deixar
bem claro, não gosto de trabalhar com gaúchos e com mulheres”. Pensei:
“Estou feita!”. Não, não estou falando do Século XIX, mas do ano 2003, no
estado do Mato Grosso do Sul, em Naviraí, cidade onde tomei posse como
delegada de Polícia Federal. Mas antes de contar esse trecho trágico-cômico
da minha vida, vou voltar alguns anos onde essa história começou.
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Delegada da Policia Federal de Rio Grande/RS.
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índios. Tarefa ‘fácil’ para uma policial de 26 anos, com uma ‘longa’
experiência profissional e que teria que comandar uma equipe composta só
por homens.
Por aproximadamente 02 anos trabalhei e aprendi muito naquela
região do país. Investigar e enfrentar o tráfico internacional de drogas e o
contrabando, além de mediar conflitos indígenas, faziam parte da minha
rotina, o que, de fato, ajudou a passar o tempo. Na delegacia, trabalhava com
mais duas mulheres policiais, sendo que uma delas se tornou uma grande
amiga, que carrego no coração até hoje. Todas enfrentávamos o machismo e
o mal humor do chefe administrativo da delegacia, um delegado antigo e
carregado de preconceitos. No final, consegui dobrá-lo um pouco, mostrando
que eu poderia ser uma policial competente, segura e principalmente
dedicada. Ele não compareceu na minha pequena festa de despedida, mas não
perdi nenhuma noite de sono por isso.
Fui removida para Rio Grande para assumir a chefia do Núcleo
Especial de Polícia Marítima – NEPOM, após realizar um curso no Rio de
Janeiro, no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha – CIAGA, onde
aprendi a arte da navegação. Retornando à cidade que adotei, ou que fui
adotada, passei a trabalhar numa delegacia com policiais mais antigos, com
um chefe tranquilo e educado, e com uma escrivã competente e amiga. Com
o passar do tempo, além das atribuições do NEPOM e da rotina de inquéritos
policiais, assumi a substituição da chefia da delegacia e a coordenação da
Comissão Estadual de Segurança Pública nos Portos e Vias Navegáveis –
CESPORTOS/RS. Acredito que aos poucos consegui demonstrar aos meus
colegas que eu poderia realizar um trabalho de qualidade, e que eles poderiam
contar comigo em qualquer situação, inclusive de risco.
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Enfim, passei por diversos desafios e aventuras, mas para encerrar este
depoimento vou relatar brevemente sobre uma missão que realizei no estado
do Mississipi/EUA, no ano de 2009. Como piloto de embarcações da Polícia
Federal, fui convidada para participar como aluna de um curso de formação
de instrutores junto à Marinha americana, o que me deixou muito lisonjeada
e animada. Éramos 20 policiais federais, e como de costume nessa área, eu
era a única mulher. Durante minha estada, descobri que eu era a quinta mulher
a participar do curso, o que me deixou um pouco mais confortável, porém
permaneci, erroneamente, preocupada em não me destoar do grupo e,
principalmente, em não atrapalhar a rotina da base militar. Por mais incrível
que possa parecer, ao passo que fui respeitada enquanto mulher pelos
militares, sem favorecimentos ou regalias, descobri que dentro da minha
instituição havia um delegado, numa posição de destaque, que tentou barrar
a minha viagem, sob a alegação de que eu poderia atrapalhar os demais
colegas homens. O meu maior orgulho é que consegui provar que eu era
capaz, e demonstrar que homens e mulheres podem e devem trabalhar unidos,
sem concorrência ou preconceitos, sempre buscando o melhor para o nosso
país. Como se diz na Marinha do Brasil, ‘Bravo Zulu’ a todas as mulheres no
poder!
Procuro não me definir, pois penso que definições nos limitam e não
existe limite na busca de crescimento e evolução. Sou Bombeira Militar, 1º
operadora e condutora de veículos pesados da Serra Gaúcha do 5º Batalhão
de Bombeiros Militares, instrutora de Prevenção de Incêndios na
comunidade, instrutora de Direito Penal no curso de formação de Bombeiros
Militares, filha, esposa, mãe e principalmente uma amante do Direito.
Natural de Canela, nasci em 13 de agosto de 1989, filha de Jair
Claudiomir Assmann e Marlene Maciel Assmann, casada com o policial
militar Felipe Anunciação e mãe do pequeno Jan Felipe de 7 anos.
De origem humilde, cresci no bairro Canelinha bem como estudei no
Colégio Estadual Neusa Mari Pacheco de turno integral durante minha
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Bombeira Militar. 1º operadora e condutora de veículos pesados da Serra Gaúcha do 5º
Batalhão de Bombeiros Militares, instrutora de Prevenção de Incêndios na comunidade,
instrutora de Direito Penal no curso de formação de Bombeiros Militares.
87
alguém como elas. Mostrei e mostro para meninas e mulheres que somos o
que queremos ser, incentivando a acreditarem em si. Fui eleita por dois anos
consecutivos pela comunidade, como profissional do ano na categoria
Bombeiro, bem como participei do primeiro encontro nacional de bombeiras
militares, que tinha como pauta o “Empoderamento Feminino”, questões de
direito da mulher e da mulher militar.
Nasci para isso, mesmo sem saber, meu destino já estava traçado:
Salvar vidas e ajudar o próximo. Estava no aeroporto em Maceió, de férias
com meu filho e meu esposo, quando pude salvar a vida de uma criança que
estava engasgada, um instante, uma fração de segundos que pareciam horas,
a criança volta a respirar aliviada, após aplicar a manobra de Heimlich, para
alegria e tranquilidade de todos que presenciavam a cena. Olho para meu
esposo e meu filho que choram, e só consigo agradecer a Deus por poder
ajudar.
Minha profissão me escolheu, amo o que faço e não me vejo sem
minha farda, sem a adrenalina com o barulho da sirene indo em direção ao
socorro de uma vítima, mesmo que eu seja a última pessoa que seus olhos
vejam antes de partir. Os tubarões que enfrentei e venci me fizeram
amadurecer e ter a convicção de que posso e devo ajudar outras mulheres com
a minha história de superação pessoal e profissional.
O preconceito está aí, batendo na porta todos os dias, mas nós
mulheres devemos colocar nossa inteligência, sensibilidade e cultura a nosso
serviço, exercitando a responsabilidade na família, na sociedade e na história.
SIM É POSSIVEL!
Agradeço minha família e a Deus, foi através do seu alicerce que tudo
foi possível.
90
Joanna Burigo34
34
Publicitária e Mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela London.
91
“Desde nova, entendi que nosso destino está em nossas mãos. Nasci
em um dos bairros mais humildes de Capão da Canoa (RS), popularmente
chamado de Tiguera. Lá, cresci e fui criada por quatro mulheres incríveis:
avó, mãe, tia e madrinha. Elas foram o que costumo chamar de ´meus 4
pilares´, as pessoas que contribuíram desde sempre para a minha história, por
meio da força, do exemplo, do amor e, principalmente, da fé e dos valores.
Até meus 13 anos, vivi momentos difíceis, de muita luta e trabalho.
Minha avó, Dona Marieta Ferreira Lessa, a Dona Dada, foi meu 1º pilar. Uma
mulher de fibra que, aos 33 anos e viúva, trouxe seus 12 filhos para Capão da
Canoa, sozinha. Com ela, aprendi que trabalhar era a forma correta de educar,
criar e sustentar uma família. Todos os dias íamos juntas até a escola onde ela
trabalhava de merendeira. Nesta época, entendi que não importa a nossa
escolha profissional, devemos trabalhar com amor. E também aprendi o
verdadeiro significado de ´comprometimento naquilo que se faz´. Ainda
adolescente, com a perda da minha avó, minha mãe, Maria Goreti Lessa de
35
Diretora-geral do Acqua Lokos Parque Hotel
95
36
Juíza de Direito da comarca de Santa Cruz do Sul
98
mulheres sofrerão algum tipo de agressão sexual no decorrer das suas vidas.
Porém, é inegável: a maioria das mulheres são afetadas pelo medo e limitam
o seu comportamento em razão do risco permanente de virem a sofrer algum
tipo de violência sexual, em algum momento de suas vidas. Refletir sobre a
forma com que este medo é perpetrado e perpetuado implica conhecer os
pilares sobre os quais está alicerçada a cultura do estupro. O primeiro deles
está relacionado a objetificação do corpo da mulher. Objetificar o corpo
feminino significa valorizar, acima de todos os demais atributos da pessoa, os
seus aspectos físicos. Cotidianamente nos deparamos com situações de
objetificação do corpo feminino. A sexualidade feminina circula de forma
frenética em imagens e textos, sendo comumente associada à mercancia de
produtos de consumo. Somos expostos, diuturnamente, a inúmeros
comerciais sexistas que associam a imagem da mulher hipersexualizada. Eles
reforçam uma das características da cultura patriarcal, qual seja, que o homem
está acima da mulher e exerce sobre ela algum tipo de autoridade.
Muitas propagandas de produtos de limpeza e eletrodomésticos ainda
são direcionadas quase que exclusivamente ao público feminino, numa clara
demonstração de que as questões relativas às atividades “do lar” não
poderiam ou deveriam ser realizadas pelos homens, já que a eles, e somente
a eles, esta reservada a vida pública. De lembrar, que ainda é realidade em
nossa sociedade a distribuição de brinquedos para crianças, conforme o
gênero delas: bonecas e casinha para meninas. Carrinhos e armas para
meninos. Isso vai impactar, sobretudo, na vida adulta deles, repetindo-se um
modelo em que cuidar da casa e dos filhos seriam tarefas exclusivas, ou ao
menos, prevalentes, das mulheres.
Ao se objetificar a mulher deixa-se de percebê-la como sujeito de
direitos, de vontades (de desejo) e de subjetividades. Ou seja, assume-se que
100
Narrativa vereadora
Juliana Martin
37
Presidente Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica – Rio Grande do Sul e Pelotas.
105
Primeiro peço que vocês pensem nos grandes nomes da advocacia hoje em dia.
Quantas mulheres habitam suas memórias? Porque temos dificuldade de ver uma
mulher no controle de um grande escritório?
Hoje no Brasil, a porcentagem de mulheres advogadas é de 47,96%, contra
52,04% de homens. Total de 493.396 mulheres e 535.412 homens.
Nos quatro escritórios que lideram a lista de mais admirados da Análise
Advocacia de 2016, o Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados é o único que possui
49% de sócias, enquanto no Pinheiro Neto Advogados há apenas 10 sócias (12,5% do total
de 80 sócios).
Ou seja, estamos cada vez mais empoderadas, mas não conseguimos ocupar os
espaços que já são nossos. Porque?
Bom, a ABMCJ tenta trabalhar nisso. Com a ocupação dos espaços de poder
por mulheres.
A Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica é uma instituição não-
governamental, sem fins lucrativos e órgão integrante da Federação Internacional das
Mulheres de Carreira Jurídica, com sede itinerante, no pais de domicílio da presidente.
Hoje a presidente é Argentina e, portanto, a sede é Buenos Aires. A federação fundada
em 1928, em Paris/FR, congrega as associações presentes em mais de 70 países. A
Federação por sua vez tem cadeira e voz em organizações internacionais como ONU e
suas agências especializadas Unesco e Unicef.
Estamos engajadas no projeto “He for She” lançado pela Onu Mulher em 2014,
que reforça a ideia do ingresso dos homens na luta pela igualdade de gênero.
Comprovadamente, um homem convence outro homem muito mais rápido que uma
mulher.
Nossa caminhada na ABMCJ já é longa. São 15 anos, ainda que com
pequenas interrupções, que prestamos ajuda à entidade, através da subcomissão de
Pelotas.
De lá, montamos este ano uma chapa mista com nomes de Pelotas e Porto Alegre
106
profissional/mãe.
A ABMCJ está pronta para trabalhar com questões ligadas à igualdade de gênero,
com o preenchimento dos espaços de poder por mulheres que possuem igual aptidão
que os homens para desempenhar as atividades na vida profissional epolítica.
De forma ilustrativa, citamos o evento realizado durante as eleições
municipais de 2016, onde a ABMCJ conclamou todas as candidatas mulheres à
vereadora para que conhecessem as redes de proteção da mulher na cidade, se
aproximassem das bandeiras do movimento feminista e tomassem conhecimento
das estruturas municipais de recebimento de mulheres em situação de abandono.
Outra atividade da Associação que também busca o empoderamento
feminino é a realização de palestras e workshops de capacitação, sobre diversos
assuntos que contribuem para o crescimento profissional.
Ou seja, a ideia da mulher empreendedora no mundo jurídico é buscar
empoderar e capacitar muito mais mulheres para que estas também se deem conta de
suas habilidades e sua importância no meio jurídico.
Uma mulher precisa sempre buscar outras tantas que desconhecem suas
atribuições e informar como podem juntas modificar uma realidade posta.
Não trabalhamos sozinhas. Precisamos umas das outras. Por isso a função das
associações, comissões, conselhos são tão relevantes.
Só poderemos mudar a forma como se enxerga o mundo (que é
extremamente machista) se nos unirmos.
“Sozinhas somos pétalas, unidas somos Rosas.”
Kamila Coelho Albuquerque Barros - Presidente Associação Brasileira de
Mulheres de Carreira Jurídica – Rio Grande do Sul e Pelotas
108
38
Graduada, especialista, mestre e doutora em Direito. Professora universitária e coordenadora dos
Cursos de Direito da UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul, nos campi de Capão da Canoa e
de Montenegro, RS. Advogada, coordenadora do Projeto de Extensão “Quem é Meu Pai?” e
fundadora do ADOTTARE – Grupo de Apoio à Adoção, de Capão da Canoa.
109
Narrativa
Lavina Dias De Souza
Lei Maria da Penha, Lei 11.340/06. Para dar efetividade à Lei, foi necessária a
implementação de uma rede de atendimento às mulheres vítimas de violência
doméstica. Mas não bastava essa implementação para enfrentar a violência, era
necessário pensar na autonomia econômica das mulheres como forma de combate
à violência.
Para enfrentar esse desafio, foi necessário conhecimento teórico e prático,
efetivado através da especialização em Gestão Pública na Perspectiva de Gênero e
Promoção da Igualdade Racial e da troca de conhecimentos e experiências com
gestoras de outros estados e municípios. Dessa forma, através da solidariedade e da
luta das mulheres e de governos comprometidos com essa pauta, fomos
implementando no país as políticas públicas para as mulheres.
Nessa construção coletiva foi fundamental a participação das mulheres das
organizações da sociedade civil, Clubes de mães, movimentos feministas,
associações de bairros, OAB, mulheres rurais, mulheres quilombolas e mulheres da
fronteira, para que os instrumentos públicos criados atendessem às necessidades das
mulheres com todas as suas especificidades.
Ressalta-se que, em 2003, as políticas para as mulheres avançaram no
Brasil, quando foi criada a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, na
Presidência da República. Nesse período, foi implementada em Bagé a Casa
Abrigo, para as Mulheres Vítimas de Violência, e a Coordenadoria da Mulher. No
entanto, os movimentos de mulheres no município já apontavam a necessidade de
implementação de uma Delegacia da Mulher.
O trabalho foi pautado em um sistema que garantisse a efetivação dos
direitos e a cidadania das mulheres, assegurando a participação e o exercício da
cidadania. Por essa razão, foram realizados fóruns, conferencias, encontros,
objetivando a construção coletiva na implementação de políticas públicas que
refletissem a vontade e a necessidade das mulheres bajeenses.
116
39
http://www.tjrs.jus.br/violencia_domestica/documentos/Prisoes-decretadas-casos-violencia-
domestica.pdf
117
Coisas de gurias
Desafios
Luci Duartes
Venho de uma família humilde, onde o maior objetivo de meus pais, Lindor
Duartes e minha mãe Raulina Duartes, já falecidos, era me fazer estudar.
Advogada
Ao começar meu relato preciso dizer que sou uma advogada, feminista,
feliz, determinada, com muitos sonhos, esperanças e grandes amizades.
Filha de Bruno Dorneles Nunes da Silva e Suzana de Carmem Almeida da
Silva, mãe do Guilherme e do Gustavo, casada com Valmor Sônego Teixeira.
Posso afirma que venho de uma família construída com muito amor,
parceira nos meus propósitos e de contínua atuação na minha caminhada,
profissional e pessoal, especialmente pelas atitudes e exemplos.
Sou natural de Itaqui-RS e como muitos estudantes a fim de prosseguir na
academia, após finalizar o 2ª grau na Escola Santa Tereza de Jesus, no ano 1989,
fui morar em Santa Maria- RS, em busca da minha profissão e do meu sonho- Ser
Advogada.
40
Membro da Comissão da Mulher Advogada. Responsável pelo grupo de trabalho – Mulheres no
Poder na Comissão.
127
41
Comandante do posto médico da Guarnição de Cruz Alta
130
atuou como chefe de Laboratório de Análises Clínicas durante três anos. Em 2005,
uma nova transferência a levou para Tabatinga, Amazônia, onde trabalhou
novamente com Análises Clínicas, além do Banco de Sangue, por dois anos.
Trabalhar na Amazônia proporcionou-lhe o contato com outras culturas,
especialmente a indígena, contribuindo significativamente para o seu crescimento
cultural, pessoal e profissional. Com a transferência para o Hospital Militar de Área
de Porto Alegre, em 2007, chefiou o Laboratório de Análises Clínicas por quatro
anos e, nos cinco anos seguintes, a Farmácia Hospitalar deste mesmo Hospital. No
ano de 2009, concluiu o curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO).
Em 2012 realizou curso de Pós-Graduação, na área de Farmácia Hospitalar, no
Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre-RS.
Em 2016, no Brasil, apenas duas Mulheres Farmacêuticas foram nomeadas
para o comando de Postos Médicos, prerrogativa até então de Oficiais Médicos.
Macleine, ainda no posto de Capitão, foi uma delas, sendo nomeada para comandar
o Posto Médico de Guarnição de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, assumindo sua
função em 20 de janeiro de 2017, já promovida ao posto de Major.
Atualmente, como Chefe Farmacêutica do Posto Médico, tem o
compromisso de aprimorar os serviços e elevar a confiança daqueles que depositam
suas vidas em nossas mãos. Busca a excelência nas atividades desenvolvidas, que
se destinam não somente aos militares, mas também à sociedade brasileira através
de ações cívico-sociais (ACISOS) e de respeito à cidadania.
Para que isso se concretize, sua rotina de trabalho inicia às 7h e, entre outras
atividades, realiza reuniões matinais diariamente com o efetivo do Posto, reuniões
semanais com os chefes de seções, como laboratório, farmácia, pronto-atendimento,
fisioterapia e seções administrativas do Posto. As reuniões são necessárias para que
cada chefe saiba onde deve agir com mais esforço para que se alcance o objetivo
proposto. Também são realizadas formaturas militares com o efetivo, duas vezes
por semana, treinamento físico militar centralizado, instruções militares
131
Em todo o lugar
Manuela D´Ávila42
Não foi fácil estar lá em Brasília. Ser mulher na política significava ter
minha idade e meus atributos físicos discutidos com mais importância que minhas
pautas, mas mesmo assim tive um mandato de grandes conquistas. Só que esta
provocação, onde minha aparência importava mais que meus projetos, acabou
servindo de alicerce pra me tornar a política que sou hoje, como em 2013, quando
fiz um discurso emocionado na Tribuna da Câmara por conta dos comentários
machistas de um deputado, que tentava desqualificar os argumentos políticos de
42
Deputada Estadual PCdoB/RS
133
uma denúncia contra corrupção com comentários sobre minha vida privada. Já
naquela época, eu apontava o que era ser mulher na política: ter pouca representação
e poucas vozes.
Em 2014, voltei ao Rio Grande do Sul eleita Deputada Estadual, em outra
votação expressiva, já que, numa das disputas à deputada Federal, fui eleita com o
maior número absoluto de votos. Que baita conquista! Logo no ano seguinte,
aconteceu minha maior revolução: tornei-me mãe de uma menina, a Laura, e a
maternidade me transformou de tal forma que tornou uma das minhas principais
pautas. Minha foto amamentando no Plenário, para garantir o aleitamento exclusivo
até o sexto mês, mesmo tendo apenas quatro meses de licença-maternidade,
viralizou por todo o mundo e, nesta mesma época, me tornei presidenta da Frente
Parlamentar da Primeira Infância.
Optei, em 2016, por não me candidatar à prefeitura, para me dedicar à
maternidade e aos projetos da Assembleia gaúcha e, neste ano, tornei-me
Procuradora Especial da Mulher na Casa. Pela Procuradoria, viabilizamos diversos
projetos institucionais, dentre eles o “Seminário Educação Sem Machismo”, que
busca discutir com professoras e professores uma forma de educar que não reforce
os estereótipos sociais machistas. Neste um ano de projeto, atingimos mais de 15
mil pessoas. Em diversas viagens pelo Estado fiz questão de levar a Laura, que
agora está com 2 anos e 3 meses, e ainda mama. Eu faço isso porque somos
parceiras, porque acredito que inserir as crianças nos debates sociais, ainda que
como expectadoras, faz parte dessa desconstrução tão necessária, e também mostra
a ela, e as outras mulheres da plateia, tantas que são mães, ou que serão, que lugar
de mulher (e de criança) é todo lugar.
Eu gosto de dizer que ética não é bandeira, mas sim obrigação. E, por conta
da minha visão ética da política, foi natural me enveredar pelas pautas que meus
colegas parlamentares não queriam se identificar, como as questões LGBT, o
casamento igualitário, contra o trabalho escravo e a favor da dignidade na moradia.
134
Sou comunista porque acredito que nós todos podemos viver em condições de
igualdade de oportunidades e é meu comunismo que baseia minhas ações e planos
políticos.
Atualmente no parlamento, temos atuado na Comissão de Constituição e
Justiça, na Comissão de Direitos Humanos e na Procuradoria Especial da Mulher,
com as pautas da regularização fundiária e direito à moradia, com a violência
obstétrica, com a defesa do estado forte e contra o desmonte e venda das estatais
gaúchas pelo governo atual, sendo referência na mediação de conflitos.
O debate de política com perspectiva de gênero, já que a reforma trabalhista
vai ser especialmente cruel com as mulheres trabalhadoras, é fundamental. Há toda
uma discussão sobre um Estado Mínimo, mas num país onde as mulheres recebem
menos que os homens, onde gestantes e lactantes poderão ter que trabalhar em
condições insalubres, onde nem a licença maternidade é compatível com os
objetivos da OMS para amamentação exclusiva, defender esse modelo é piorar,
absurdamente, as condições de vida para as mulheres. Porém, nos últimos anos,
tenho visto o crescimento de sororidade entre as mulheres na política percebo que,
mesmo sendo opositoras políticas, concordamos quando o assunto é a violência de
gênero. Eu acredito mesmo na mudança do Brasil, numa mudança educacional, que
passa pela desconstrução diária do machismo. Ser mulher na política é uma
desconstrução diária do machismo, é ter que se mostrar muito mais forte e preparada
para a disputa. É elevar, na última potência, aquela máxima: “lugar de mulher é
onde ela quiser”, e meu trabalho é facilitar, para minha filha e todas as meninas das
gerações mais novas, o acesso a este lugar.
Manuela D´Ávila
Deputada Estadual PCdoB/RS
135
Meu nome é Mara Giselda Soares Rochinhas, tenho 53 anos e tenho uma
trajetória profissional baseada em uma enorme força de vontade, lutas e
aprendizados.
Nasci no interior do município de Bagé, RS, onde vivi minha infância e
adolescência. Fui mãe aos 18 anos de idade. Mudei para a cidade para trabalhar e
continuar os estudos.
Trabalhei durante 20 anos no comércio varejista enquanto cursava ensino
médio e curso de Direito. Graduei em direito em 1998, após fiz pós-graduação em
docência do Ensino superior e também cursei Transações Imobiliárias.
Em 2002 com o CRECI me instalei como corretora de imóveis e advogada
que já atuava como tal, agregando as duas profissões.
43
Graduada em Direito, especialista em Docência, é advogada, corretora de Imóveis, atualmente
está Delegada Adjunta do CRECI 11ªSub-Região/Bagé, RS.
136
Minha história
44
Prefeita da Cidade de Fortaleza dos Valos
138
são como são: aprendi que somos resultado de duas coisas: a hereditariedade, e o
meio ambiente.
Ao olhar para trás percebo que a minha hereditariedade está nos meus laços
sanguíneos, meus avós paternos e maternos (meu avô Jacintho Rossato foi vereador
na cidade de Cruz Alta e minha avó Justina pessoa que dedicou a vida à família);
minha avó materna Vitorina Barchet Giuliani era uma escritora, quase poeta... meu
avô materno Adelino (que não cheguei a conhecer, mas minha mãe contava) era
um defensor da natureza e das nascentes dos rios. Meus pais pessoas que sempre,
sempre trabalharam e ajudaram na comunidade sem pretensões políticas, sempre
ajudaram por querer o bem da comunidade.
Cresci numa família que sabe trabalhar pelos outros, que soube educar seus
filhos na direção do bem, do que é correto e justo! E tenho muito orgulho de
pertencer a essa família, de ser a quarta filha desses sete irmãos. Meu pai agricultor
e minha mãe professora e dona de casa, nos ensinaram a repartir (entre sete irmãos,
como não aprender?) , valores fundamentais como a família, o respeito a todos, a
tolerância, a compreensão, o perdão... entre outros valores que aprendemos pelo
exercício da religiosidade católica (indo à missa, rezando o terço todas as noites em
família, nas reuniões de grupo de famílias por ocasião da páscoa, Romaria de
Fátima e Natal)...
A outra parte é o meio ambiente, onde fui me desenvolvendo: cresci vendo
a luta pela emancipação, eu tinha quatorze anos e fazia campanha pela emancipação
do município, quando aconteceu o plebiscito que nos emancipou de Cruz Alta. Fui
aluna sempre atuante, membro do Centro Cívico Escolar (hoje Grêmio Estudantil),
participava de todas as atividades curriculares e extracurriculares da Escola, sempre
que solicitada.
Acompanhei o município nascer e crescer... Cursei o primeiro grau em
Fortaleza dos Valos, mas a experiência de morar fora de casa (em Cruz Alta) foi
139
pela escolha de fazer Magistério, e trabalhar com o que há de mais nobre: os seres
humanos, a educação!
Fiz concursos e passei, sou professora municipal; Cursei Educação Artística
com Licenciatura em Artes Plásticas; Participei de grupo de jovens na igreja, na
Liturgia, na Coordenação das Invernadas Artísticas do CTG da cidade.
Fui adquirindo experiência trabalhando em outras áreas ou serviços: como
professora de Educação Especial, Educação Infantil e Ensino Fundamental; fui
Diretora de Escola, Diretora de Cultura e Turismo, fiz especializações em Teatro-
Educação, Gestão e Administração Pública.
Paralelamente namorei, casei, constituí família: há 28 anos meu marido
Gilmar - agricultor e dois filhos, sendo a Alice (20 anos) estudante do 5º semestre
de Direito. e João Pedro (15 anos), cursa o 9º ano do Ensino Fundamental.
Concorri pela primeira vez e fui Vereadora na legislatura 2013-2016,
participando das várias comissões da casa, Presidente em 2015, e presidente do
partido de 2013 até maio de 2017.
Fortaleza dos Valos me elegeu a primeira mulher eleita prefeita. Por isso
minha cidade merece a minha mais profunda gratidão e admiração, por ter
acreditado em uma mulher, personificada em minha pessoa, a assumir o maior e
mais importante posto político da cidade. Sou uma pessoa observadora dos
preceitos na busca por justiça e lealdade aos princípios éticos, que faz de nós
mulheres, seres mais sensíveis, porém na mesma proporção, mais determinadas.
Dessa forma, fui tecendo meu caminho e hoje, olho para trás e como se a
vida fosse um desenho formado por pontos que se ligam, percebo que cada ponto,
foi me conduzindo a chegar a esse lugar, aqui, nesse tempo e espaço, nessa
condição, hoje! E assim completo essas ligações e esse desenho onde tudo faz
sentido! E há de se ter fé, acreditar que há um sentido para tudo o que fizemos,
desde que o façamos com amor e com ideais nobres, lembrando que somos seres
sempre em “construção.”
140
45
Secretária-Adjunta da OABRS
141
e das demais irmãs quando ficaram órfãos. Tio Lisboa era um homem com visão
diferenciada e nos anos quarenta fez com que todas as suas cinco irmãs estudassem
e tivessem uma profissão. Não queria que elas dependessem de ninguém.
Meu pai era de uma geração de Santanenses que estudou a partir dos oito
anos de idade no internato em Montevideo, posteriormente tendo ido para o Rio de
Janeiro terminar os estudos no Colégio Dom Pedro II e cursado direito na Faculdade
do Rio Grande do Sul, atual UFRGS. Ao terminar a faculdade volta para Santana
para exercer a profissão, mas com uma visão de mundo ampliada e fugindo dos
parâmetros da cidade. Era o famoso solteirão e bom vivant.
A minha mãe fez magistério em Santa Maria e antes mesmo de formar-se
passou a lecionar ao quinze anos. Depois de formada conseguiu um contrato no
Estado e rumou para Livramento para lecionar. Jovem, bonita, elegante e com uma
cultura acima da média foi morar na casa de amigos da família. Lá disseram-lhe
que havia um jovem advogado santanense que seria um par perfeito para ela – o
Carlitos Vidal. Se conheceram e imediatamente se apaixonaram e casaram-se trinta
dias, a demora foi exigência de meu avô paterno.
O resultado desse casamento foram quatro filhos, três guris mais velhos e
eu. Na minha casa, meus pais reinavam absolutos, sabíamos o que podíamos e o
que não podíamos fazer, mas tudo era conversado e dividido com eles. Não havia
nada proibido, a biblioteca imensa era aberta a todos e líamos diariamente os
jornais.
Como Santana tem sua cidade-irmã Rivera sempre tivemos acesso ao que
havia de melhor na cultura: bons filmes e livros, concertos, recitais, peças de teatro,
folclore e uma miríade de oportunidades para uma mente sedenta como a minha.
Na minha casa quando o assunto era muito delicado meus pais falavam em
francês e meus irmãos Dadado e Totonho em inglês, com isso logo pedi para ir
estudar na Aliança Francesa e no Anglo em Rivera. A relação com meus pais e
irmãos sempre foi muito amorosa e brincávamos muito entre nós, mas gostávamos
142
muito de trazer os amigos para nossa casa. Era muito comum cada um de nós
aparecer com um ou dois amigos para almoçar, estudar ou simplesmente dormir lá.
Os meus pais espertos não reclamavam, pois assim sabiam o que fazíamos e com
quem. Não havia proibição de andar com fulano porque era pobre ou sicrano por
ser negro. A única exigência é que fossem pessoas interessantes e que
acrescentassem alguma coisa nas nossas vidas. Meus pais nos ensinaram que nosso
atos deveriam decorrer nossa decisão e não por determinação ou influência de
outros. Ganhei a minha primeira chave de casa aos oito anos.
A relação com meus irmãos sempre foi muito boa: o Dadado me fez amar
os livros, o Totonho a tecnologia e carros e o Joca mostrou-me como usar os punhos
e ser rápida nas respostas.
Eu cresci dentro do escritório do meu pai que ficava numa parte da nossa
casa e à noite adorava ir com minha mãe na Escola Normal Alceu Wamosy onde
ela lecionava. Portanto, aprendi a importância do trabalho, suas exigências e
também desgostos. Incontáveis vezes vi meu pai trabalhando a noite e o fim de
semana inteiros ou minha mãe corrigindo provas.
Aos quinze anos, por uma questão curricular – o ensino profissionalizante –
tive que vir para Porto Alegre estudar. Fui morar no apartamento da Família meus
irmãos Joca e Dadado. Um desafio e tanto. Ficar numa cidade grande sem meus
pais, nós três gerindo as nossas vidas. Aprendemos administrar a mesada e fazê-la
durar o mês inteiro.
A vida da cidade grande me fascinou e pela primeira vez não passei por
média em tudo, mas sabia que “rodar” de ano era algo impensável na minha família.
Aliás, “rodar”, abandonar os estudos ou não fazer faculdade era algo ~totalmente
fora dos nossos horizontes.
Terminei o Colégio Sévigné com notas razoáveis e ingressei na PUCRS para
fazer direito. Aos seis anos já dizia que seria advogada. Comecei estagiar no último
ano em uma grande indústria e lá permaneci depois de formada. Foi onde aprendi a
143
advogar e que mulheres não são reconhecidas por mais que fizessem. Mas ali foi
onde se descortinou o meu futuro, pois adentrei na Justiça do Trabalho para nunca
mais sair.
Foi na Justiça do Trabalho que aprendi o valor da vida associativa, através
da AGETRA e logo me associei ao Sindicato dos Advogados. Nunca mais
abandonei a luta das entidades representativas de advogados.
Me apaixonei, namorei, me juntei e passei a viver um sonho que achava
impossível. Aos 52 anos conseguir exercer o direito de casar.
Anos depois me tornei presidente da AGETRA e sou diretora do Sindicato
por muitos anos. Comecei na OAB lá pelos anos 90 como instrutora de processos
disciplinares, depois passei a julgadora do TED, mas somente tornei-me conselheira
na gestão do Dr. Levenzon e voltei a sê-lo na gestão do Dr. Cláudio Lamachia. Tive
o privilégio de ser Secretária-Geral Adjunta nas administrações de Marcelo
Bertoluci e Ricardo Breier.
A minha trajetória não foi fácil mas também não foi difícil. Ela é o resultado
de um processo coletivo em que participaram a minha família, meus professores,
meus amigos e colegas. Se cheguei a algum lugar foi por que todos eles de alguma
forma me ajudaram. Ninguém faz nada sozinho.
46
Instrutora de Yoga.
145
47
Presidente da OAB/Subseção Novo Hamburgo- Gestão 2016/2018.
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o privilégio de ser Presidente da Subseção da OAB que abrange todas estas três
cidades tão importantes na minha vida: Novo Hamburgo, Campo Bom e Dois
Irmãos.
Venho de família humilde, com seis irmãos, sendo que sou a única que veio
a obter diploma de ensino superior. Agradeço sempre, em especial à minha mãe,
entre outras pessoas, que com pequenos gestos traçaram um futuro diferente
daquele que poderia ser identificado como o “mais provável” para mim, sobretudo
em um país marcado por uma desigualdade social tão acentuada.
Comecei a trabalhar com 14 anos, idade com a qual passei também a estudar
à noite. Aos 22 anos, me tornei mãe. À época, já havia começado o curso na
faculdade de Direito. Me formei na turma 1986/2 da Unisinos, cuja cerimônia de
formatura ocorreu no dia 09 de janeiro de 1987. Fui aprovada com distinção no meu
trabalho de conclusão, que versou sobre Direito de Família, intitulada “O Princípio
da intransmissibilidade do direito de Alimentos”.
Em julho de 1986, pouco antes da formatura, fui trabalhar como estagiária
no escritório de advocacia do grande advogado Dr. Adalberto Alexandre Snel, onde
permaneci como advogada até o final de 1989. Em março de 1990, abri meu próprio
escritório de advocacia, sem nenhum cliente, “na cara e na coragem”, trabalhando
sozinha. Posteriormente, passei a ter como colega de escritório meu filho, Henrique
Abel, também egresso da Unisinos, hoje Mestre e Doutor por aquela instituição.
Minha vida como mulher de Ordem iniciou ainda quando era estagiaria,
sempre muito envolvida com questões sociais da cidade e colaborando com os
Presidentes da Subseção de Novo Hamburgo. Fui Secretária-Geral nas gestões
1998/2000 e 2001/2003 e Vice-Presidente na gestão 2010/2012. Agora, na gestão
2016/2018, sou a Presidente desta que é a quarta maior Subseção do Rio Grande do
Sul, e exerço a função com imensa satisfação, orgulho e muito trabalho.
148
48
Presidente da Subseção OAB Canela/Gramado.
152
continuarei a contribuir porque a OAB é mais do que uma entidade, é uma família.
Ostento com orgulho todas as menções honrosas e diplomas que a OAB me
agraciou. Aliás, quando eleita diretora tesoureira percebi que a maioria das
mulheres não ocupam este cargo. Bom, eu sou movida a desafios e fui lá e fiz
bonito, modéstia a parte. Dei um choque de gestão, saneei as contas, coloquei a casa
em ordem. Como reconhecimento ao meu trabalho foi indicada por aclamação por
meus pares para concorrer à presidência da Subseção, numa eleição de chapa única.
Passei com louvor no desafio da Tesouraria e estou adorando ser Presidente de
Subseção na qual, aliás, temos 14 Comissões e 9 são presididas por mulheres. Ah!
Minha diretoria tem predominância feminina. Estou rodeada de mulheres de
Ordem, que trabalham forte mostrando seu valor. E não as escolhi pelo gênero, mas
pela reconhecida competência.
No campo político partidário, fui presidente de núcleo feminino, membro da
executiva municipal, candidata a vereadora por dois pleitos e vereadora suplente,
tendo assumido a cadeira legislativa durante um período. Certamente foi o campo
de atuação no qual mais percebi o machismo ao ponto de certa feita ser apresentada
a um então respeitado Senador Gaúcho por uma deputada estadual do Rio Grande
do Sul que sugeriu meu nome para que concorresse ao mesmo cargo ocupado por
ela, por minha região, a Serra. Ele olhou fixamente nos meus olhos e disse “tu tens
chances, pois és muito bonita”. Seria um elogio? Não! Era machismo puro, pois
pouco importava se eu era advogada, se me formei entre os melhores alunos, se
tinha duas especializações, um mestrado e experiência. Só importava o fato de, por
ser mulher, eu ser bonita. Era a única “qualidade” que ele viu em mim. Foi a
primeira vez que me senti ofendida ao ser elogiada! Acabei não concorrendo por
razões diversas, mas daquele dia em diante percebi que por mais qualificada que tu
sejas, o fato de seres uma mulher faz com que teu esforço para provar tua
capacidade seja infinitamente superior à de um homem em condições até inferiores
à tua. E precisamos mudar essa cultura!
153
Talvez por ter uma ótima base familiar e histórias de mulheres bem
resolvidas e empoderadas na minha vida, demorei a enxergar o machismo e
sobrevivi com mais leveza ao ambiente predominantemente masculino da política
e do mercado de trabalho.
Minha bisavó materna era comerciante, algo raro no início do século de XX.
E esse ofício foi continuado pela minha tia-avó. Minha avó paterna foi a primeira
mulher gerente da CEEE (hoje RGE) em Gramado. Foi nomeada por que seu
prenome, Nadir, era indefinido e acharam que ela era homem. Quando chegou para
assumir o posto todos se espantaram ao ver uma mulher. Ah! Me lembrei que ela
casou com 16 anos, enviuvou aos 17, com meu tio recém-nascido ao colo e casou-
se novamente com meu avô, com quem teve mais 7 filhos, inclusive meu pai. E
sempre trabalhou, jamais dependeu do meu avô para sobreviver.
Lembrei que minha mãe, assim como eu, começou a trabalhar aos 13 anos
de idade e hoje tem mais de 50 anos de profissão, sempre empreendendo e nunca
escondendo sua posição de mulher empoderada. É referência no seu ramo de
atividade. Me dei conta que eu e minha irmã seguimos o exemplo de independência,
protagonismo e empoderamento.
Me dei conta que tenho muitos exemplos em casa e por isso não percebi
cada vez que sofri preconceito por ser mulher. Não percebi! Minha base e história
familiar me permitiu não perceber essas situações, mas me dei conta que
exatamente por isso minha responsabilidade é maior, não posso permitir que
aquelas que não tiveram a mesma sorte que eu sofra discriminação por seu gênero
feminino.
E desde então tenho tentado levar essa mensagem de respeito e igualdade.
Eu sou Mariana Melara Reis, 40 anos, mãe, mulher, esposa, filha, advogada,
professora, mestre em direito, presidente da OAB/RS Subseção Canela Gramado
gestão 2016/2018. Eu venci pela competência e é isso que eu desejo a todas as
mulheres: igualdade e respeito.
154
tudo, considerando que essa é graça da vida: tem dias que são de sol, outros dias
são de chuva, e nós precisamos de ambos para viver em equilíbrio.
Sem dúvidas eu acertei quando eu me entreguei à advocacia. Tenho certeza
que eu não seria completa em outra área que não fosse nessa área humana de
trabalhar pela justiça, pelos direitos, pelo equilíbrio da sociedade.
E eu também acertei quando eu me permiti trabalhar com o serviço público
através da política. Eu não almejo ter uma carreira política, mas eu almejo sim é
realizar um bom trabalho nesse mandato. Eu acho que se a eleição me escolheu
pelas minhas propostas, se tiver uma próxima eleição vai me escolher pelo meu
trabalho.
Entretanto meu início na advocacia não está sendo fácil, assim como na
política também não.
Na advocacia sofre-se ao perceber que, a sociedade num todo, quando busca
um profissional para lhe ajudar com aquela situação que está lhe tirando o sono,
busca um profissional pela aparência: que aparenta ter conhecimento, ter
experiência; e inegavelmente está enraizado em nosso inconsciente que a
experiência é sinônimo de idade. E eu, com 21 anos e um escritório, aparentava a
pouca experiência, mas por outro lado eu transbordava vontade de crescer.
Por sua vez, na política quando se é jovem e mulher, acham que você não
vai ter competência, que não vai dar conta, não vai dar a volta... posso afirmar que
existe sim muito julgamento e muita separação de gênero.
Por exemplo, Nova Roma do Sul estaria completando 16 anos sem mulheres
no Legislativo. Um poder legislativo formado só por homens. E ao falar isso já não
dá um medo!? Um pensamento inconsciente de que naquele lugar só entra homem.
Mas em 2016 a história mudou porque foram eleitas 3 mulheres, e agora de 9
vereadores, 33% são mulheres.
Para ocupar uma dessas cadeiras de vereador (a), eu passei por algumas
situações constrangedoras, e é isso que me faz perceber o julgamento, a separação
156
de gênero. Por exemplo, na época de campanha eleitoral, numa das minhas visitas
aos lares, um senhor me questionou:
- Antes de decidir se vou votar em ti, quero saber, “tu és feminista? Porquê
se for, não voto em você!”. Outro exemplo foi depois da campanha, eu já eleita,
numa oportunidade em que encontrei um outro senhor, onde ele me abordou e
mostrou que me conhecia, ele falou:
- Mas eu te conheço! Tu és aquela guria que as pessoas diziam que ia se
eleger só porque é bonita!
E eu não estou aqui me fazendo de vítima, só querendo contar algumas
situações; inclusive que teve outro momento, onde eu me coloquei à disposição para
ser Presidente da chapa para a mesa diretora na Câmara, e na rua muitos me
perguntavam:
- Mas tu tens certeza que quer ser presidente? Será que tu não és muito nova,
não é melhor deixar os outros?
E um último caso, foi num evento só para Presidentes de Câmaras e
assessores, quando eu cheguei na portaria sozinha, e o recepcionista me perguntou:
- Você é da assessoria de imprensa?
Com tudo isso, quero apenas dizer que eu não sou mais que ninguém, mas
eu trago comigo uma vontade de mudar o mundo, mesmo que um pouco, mesmo
que aos poucos, e a minha forma de combater esses julgamentos e a visível
diferenciação de gênero, é: nunca baixar a cabeça e continuar trabalhando com
dedicação. Como vereadora, listo alguns trabalhos realizados especificamente
voltados à valorização do gênero:
- no dia da mulher, realizado uma sessão solene só para as mulheres, onde
os vereadores poderiam apresentar proposições específicas que valorizassem o
gênero;
- apresentei um projeto de lei que cria o dia da mulher novaromense e o
prêmio da mulher destaque, onde todos os anos deve haver uma comemoração e a
157
Meu nome é Marlei Salete Flores, tenho 56 anos e iniciei minha trajetória
profissional, na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, conclui o curso de
Direito em 1993 e passei a atuar como advogada desde então. Fiz cursos de
Especialização em Direito Processual e Direito Previdenciário, área que atuo desde
a graduação.
Minha trajetória sempre foi permeada por muitos desafios, o maior deles foi
me firmar como profissional em uma cidade que não me conhecia pelo pouco tempo
em que aqui estava residindo. Passei a ver os desafios como oportunidades e fui
acolhida como cidadã Rio-Pardense, cresci profissionalmente e criei meus filhos
nessa Tranqueira Invicta. Como para todos, nada vem de forma fácil, mas creio que
para nós mulheres as dificuldades se acentuam pela discriminação de gêneros, os
reveses criados pela dedicação a maternidade, ao lar, a família, dentre tantas outras
49
Advogada, graduada em Direito, especialista em Direito Previdenciário Presidente da OAB
Subseção de Rio Pardo.
159
tarefas que a condição de mulher nos acarreta e ainda precisamos criarmos nossos
espaços num mundo que ainda é predominantemente masculino.
Mas sempre lutei por tudo aquilo que acreditava, passei então a abrir espaço
na minha vida para também participar das causas de minha classe profissional e
passei a integrar cargos dentro da Ordem dos Advogados do Brasil - Subseção de
Rio Pardo. Exerci o cargo de Conselheira de 2007/2009 – Secretaria Geral de
2010/2012 – Presidente da Subseção 2013 /2015 e de 2016/2018. Minha
perspectiva era de que quanto mais visões diferentes, mais chance eu teria de olhar
para todos os ângulos.
Aprendi que apesar de tantas dificuldades, posso olhar tudo que conquistei
e dividir isso com outras mulheres, e incentivar que elas também tornem possível o
que parece impossível para muitos. Basta querer e querer de verdade.
O caminho a ser trilhado ainda é longo, antes que possamos afirmar que a
igualdade entre homens e mulheres de fato existe. No entanto, é muito importante
que as mulheres tenham cada vez mais protagonismo dentro da sociedade. A
conquista de uma mulher será a conquista de todas, cada direito, cargo ou prêmio
conquistado por uma mulher é um avanço para toda a sociedade, e um incentivo a
mais para que outras mulheres também consigam crescer.
Marlei Salete Flores - Advogada, graduada em Direito, especialista em
Direito Previdenciário Presidente da OAB Subseção de Rio Paro.
160
50
Advogada, servidora pública estadual e atualmente desempenha o cargo de Secretária de
Administração no Município de Passo Fundo. Atuou como Assessora Jurídica da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio Grande o Sul. Atuou junto a Diretoria da OAB, Subseção de Passo
Fundo, no Biênio 2010/2012, como Secretária Geral.
161
A Profissionalização do Turismo No RS
Marta Rossi
Marta Rossi
167
Nádia Rodrigues Silveira Gerhard é natural de Porto Alegre, tem 49 anos, filha
única de sargento da Brigada Militar e de professora estadual, é casada e mãe de
três meninos. Formada em Letras, já foi professora, com especialização em
psicologia escolar pela PUCRS.
Hoje é Tenente Coronel da Reserva da Brigada Militar e teve uma trajetória
profissional pioneira na instituição, a qual ingressou em 1989 e atuou por 27 anos,
na linha de frente do policiamento ostensivo. Participou dos cursos de Balística
Forense, na Fundação Educacional e Cultural Padre Landell de Moura, e de
Instrutor de Educação Física, na Escola de Educação Física da BM e na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e de treinamento básico para
busca e localização de artefatos explosivos no Batalhão de Operações Especiais.
No ano de 2007, no posto de Major, foi a primeira mulher designada para comandar
um batalhão de Polícia Militar no Estado do Rio Grande do Sul, assumiu então, o
168
Advogada
Onde então atuou diretamente dando apoio e suporte jurídico nos casos de
crimes raciais.
Em 2017 foi nomeada Coordenadora da Comissão Especial da Igualdade
Racial da OAB Bagé.
Atualmente é Presidente do Conselho Municipal de Igualdade Racial da
cidade de Bagé.
Integra o GT Gênero e Raça da Comissão da Mulher Advogada OAB/RS.
172
51
Reitora da Universidade de Cruz Alta/UNICRUZ. Formada em Fisioterapia pela UNICRUZ.
Mestre e Doutora em Ciências Biológicas/Fisiologia pela UFRGS.
173
O desafio da igualdade
Patricia Xavier Bittencourt52
52
Delegada da ESA/OAB/RS
176
Maria, se tornou auditora fiscal do INSS. Ela serviu de exemplo para a profissional
que sou hoje, e me orgulho todos os dias de ser sua filha.
Minha carreira, como a de muitos profissionais do Direito, começou pelo
estágio. Fiz estágio no Foro Central de Porto Alegre e em alguns escritórios de
advocacia, em uma época em que o Direito Bancário, com o advento do Código de
Defesa do Consumidor, esteve em alta, o que infelizmente não mais acontece. Essa
Lei, cujos dispositivos protegem o hipossuficiente na relação de consumo, foi sendo
vilipendiada aos poucos, e hoje sua força não tem mais o condão de afastar os
abusos cometidos pelas empresas, bancos e grandes corporações, o que é uma
lástima.
Depois dos estágios, fiz a prova da OAB, e já na primeira tentativa, alcancei
o sonho de ser advogada. Assim, exerço essa nobre profissão desde 2001. Advoguei
em escritórios, como contratada, em Porto Alegre e Novo Hamburgo. Hoje, sou
sócia da Gonzales Xavier Advogados Associados S/S, OAB/RS 3.998, sede em
Bagé, com enfoque na advocacia cível, previdenciária e trabalhista.
Posso dizer que a Rainha da Fronteira me proporcionou muito, tanto é que,
embora ame minha cidade natal - Porto Alegre- me considero bajeense de coração.
Nela exerço atualmente as funções de Conselheira da Subseção e Delegada da
Escola Superior de Advocacia. Leciono atualmente as disciplinas de Direito Civil
e Filosofia Geral e Jurídica no Instituto de Desenvolvimento Educacional de Bagé,
onde também tenho a honra de coordenar o Curso de Direito. Tenho alunos
maravilhosos, que me fazem acreditar no futuro do país, com mais justiça e
igualdade.
E por falar em igualdade, é de fundamental importância trazer a lição de
Ronald Dworkin, jusfilósofo americano, que escreveu sobre muitos temas afeitos
ao direito, mas dedicou uma obra somente para exaltar este princípio como uma
virtude soberana, e que jamais poderia passar desapercebida pelos nossos
governantes e políticos. Para ele, deveria haver igualdade de recursos, isto é, as
177
assuntos como sistema viário, ônibus e mobilidade urbana, temas esses que para a
época, pareciam que não tinham vínculo com a engenharia. Como explicar em casa
que se está cursando “engenharia civil”, mas o que gosta de fazer não é construir
casas, prédios? Que existe outra área na engenharia civil e que também é
interessante e que poucos se interessam? Bem, continuei no meu propósito. A
faculdade encerrou no segundo semestre de 1996, e a formatura foi marcada para
08/03/1997, data significativa, Dia Internacional da Mulher. Em março deste ano,
iniciei a especialização em transportes, também na UFRGS, vinculada ao
LASTRAN. Conclui a especialização, iniciei trabalhando em empresa de
Consultoria em Transportes em Porto Alegre, onde trabalhei com softwares da área
e após fui para o Consórcio Operacional da Zona Sul, também em Porto Alegre, o
qual regula todas as empresas de transporte coletivo urbano da zona sul da cidade.
Após essas experiências, no ano de 2001, fui convidada pelo Gerente do Consórcio
que eu trabalhava na época, para prestar consultoria em uma empresa de transporte
coletivo urbano em Passo Fundo. Aceitei o convite, iniciei como consultora, depois
funcionária e com o passar do tempo, me estabeleci na cidade. Muitos foram os
desafios. Naquele momento, a empresa estava passando por várias readequações e
modernizações, em virtude da sucessão familiar devido ao falecimento do fundador,
Sr. Eloy Pinheiro Machado, ocorrido no segundo semestre do ano de 1998. Nesta
época a empresa era de médio porte, com aproximadamente 500 funcionários e os
desafios se apresentavam diariamente. A empresa passou por toda uma
reorganização a partir daquele ano, principalmente nas questões operacionais e
administrativas. Sempre busquei me aperfeiçoar, principalmente quando as
responsabilidades aumentaram. Busquei conhecimento nas áreas de recursos
humanos, gestão organizacional e negociação empresarial. O crescimento na
empresa foi gradativo, através de muito empenho e principalmente embasado pelo
sentimento chave: amar o que se faz.
180
Acredito que você precisa amar o que faz, precisa se sentir desafiado todos
os dias. O trabalho precisa trazer a satisfação de poder ajudar aos outros de alguma
forma, precisa sempre procurar fazer o que tem que ser feito da melhor forma.
Talvez isto seja uma característica minha, mas eu acredito nisso. Gosto de desafios.
Olhando para o cenário, apesar de ter escolhido uma profissão que para a época
podia ser considerada masculina e trabalhar numa atividade com meio
predominantemente masculino, excedendo papéis de comando, poucas foram as
dificuldades com pré-conceitos ou situações similares. Claro que também não posso
dizer que foi fácil, porque “ser mulher” sempre exige “mais” em todos os aspectos.
Mas, essa diferença, que tem existe entre homens e mulheres, eu entendo que
depende de como nós mulheres e mães criarmos nossos filhos ou filhas, ou fomos
criadas. Hoje um dos grandes desafios da minha vida, além dos desafios que se
apresentam diariamente, é educar a minha filha para ser um ser humano consciente
e humano para um mundo com tantas transformações.
181
53
Presidente OAB Subseção Pelotas.
182
Em razão dele, sempre entrei e me senti bem em qualquer lugar, fosse qual
fosse: oficina mecânica, boteco de esquina ou em uma festa da “alta sociedade”.
Nunca tive problemas relativos a não poder ir ou entrar em algum lugar por ser local
de homens, entrava e pronto.
Estudei em colégio coordenado por freiras, colégio Municipal e depois num
colégio coordenado por padres, com visões e normativas, portanto, bem
diferenciadas.
Ao chegar na época de escolher qual profissão seguir, fui fazer a inscrição
no vestibular sem saber se queria educação física (pois praticava esportes desde os
9 anos, o que, diga-se de passagem, continuo a fazer até hoje) ou direito, mas o
senso de justiça, de vontade de lutar pela defesa da cidadania falou mais alto e
acabei optando pelo segundo.
Ao me formar no início de 1990, mudei para Porto Alegre para começar
minha carreira profissional longe da minha terra e lá, em abril do mesmo ano,
comecei a trabalhar junto a Federação dos Trabalhadores no Comércio do Estado
do Rio Grande do Sul.
Passados dois anos e meio, recebi uma proposta excelente do Banco
Bradesco e retornei para Pelotas, dando uma guinada de 90 graus na trajetória
profissional, pois larguei a defesa de trabalhadores para passar a defender patrão.
Foi em Pelotas que comecei o trabalho de Ordem. Fui Conselheira
Subseccional e tesoureira. Nessa época em que era tesoureira, ocorreu uma cisão
no grupo de diretoria e a chapa em que eu concorria como vice-presidente perdeu a
eleição, o que me fez ficar afastada da OAB por seis anos.
Em 2012, recebi um convite para compor a chapa da situação como
tesoureira e a vontade de trabalhar pela e para a Ordem retornou com toda a força.
No processo pré-eleitoral de 2015, quando o mais normal seria o vice concorrer a
presidência, tive a surpresa de ser a escolhida pelo meu presidente para ser sua
sucessora e aqui estou neste cargo de presidente da OAB Subseção Pelotas.
183
Paula Mascarenhas54
54
Prefeita de Pelotas/RS
185
eram reprovados, e aquilo me fez estudar Português como nunca. Não precisei de
muito tempo para me apaixonar por nossa língua, pela literatura e suas
possibilidades de olhares sobre o ser humano, e decidi fazer Vestibular para Letras.
A Faculdade de Letras foi uma revelação em minha vida. Abriu meus horizontes,
me tornou mais sensível, mais observadora, me fez professora. Meu maior sonho
foi realizado três anos depois da formatura: fui aprovada em concurso público e me
tornei professora de Letras da UFPel.
O acaso já tinha me levado a fazer um desvio na vida profissional, mas
aquele que ocorreu em 1998 teve consequências muito mais fortes. Acompanhei
uma amiga a uma inauguração de comitê político, apenas para não a deixar ir só.
Naquela noite, tive outra revelação. O comitê era do então deputado estadual
Bernardo de Souza, que fez um discurso arrasador, a antítese dos velhos jargões da
política. O Bernardo falou sobre felicidade, citou filósofos como Habermas, poetas
como Fernando Pessoa e mostrou o quanto a política podia se aproximar dos dramas
humanos de forma consistente e sensível. Eu me ofereci para colaborar na
campanha e nunca mais saí de perto do Bernardo. Quando ele se reelegeu deputado
estadual, convidou-me para ser sua assessora nas áreas de cultura e educação. Mais
tarde tornei-me a primeira mulher a ser Coordenadora de Bancada na Assembleia
Legislativa. Coordenei a campanha do Bernardo a prefeito de Pelotas em 2004 e
tornei-me sua chefe de gabinete na Prefeitura. Com ele, aprendi o quanto a política
pode ser uma atividade das mais nobres, o quanto ela é transformadora, e como
pode ser feita com humanidade, criatividade e eficiência. Quando o Bernardo saiu
da vida pública, vitimado por uma doença degenerativa, achei que nunca mais eu
me emocionaria com a política. Voltei à vida acadêmica e imaginei que meu
intercurso político estava definitivamente concluído.
Mas o acaso ou a contingência voltou a assolar minha vida. Em 2011,
quando eu fazia meu doutorado em Paris, recebi a visita de um jovem que eu
conhecera atuando como assessor na prefeitura, e que sempre me impressionara
186
Quélen Kopper
Nasci em 1975, fui criada por pais responsáveis e que me mostraram que ser
mulher em uma sociedade machista me exigiria preencher uma série de requisitos,
e que eu não teria o que temer na vida se eu tivesse estudo suficiente para conquistar
minha independência financeira. E que casamento, seria uma consequência e não
uma obrigação. Assim, foi como tudo começou. O que os meus pais não me falaram
é que o conhecimento não apenas dá a chance de uma boa condição de vida, como
liberta também das regras que são impostas a mulher.
Escolhi o meu caminho profissional, me tornei uma advogada, professora
de nível superior e empresária. Como fazer tudo isso acontecer? A resposta é
simples, sou mulher e para nós tudo é possível quando nos permitimos. Neste
caminho, a cada dia, me convencia que era necessária minha participação na
sociedade, na luta pela igualdade das mulheres e foi na Ordem dos Advogados do
Brasil, que juntamente com colegas, também empoderadas, inauguramos a
Comissão da Mulher Advogada em Bagé, no afã de garantir direitos, criamos o
projeto “Viver Legal”. Nele levamos a toda comunidade bajeense a Lei Maria da
190
Penha, que amplia o diálogo sobre os direitos das mulheres e acelera o progresso
na igualdade de gênero, trabalho este, reconhecido academicamente. Hoje, atuamos
também no movimento HeForShe, criado pela ONU Mulheres, Entidade das
Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres.
Realizamos palestras, que representam a OAB- subseção Bagé, que busca
implementar uma visão comum da igualdade de gênero que beneficiará toda a
humanidade. Faço parte também da Comissão da diversidade da OAB – Bagé onde
palestramos à comunidade na Feira do Livro de Bagé sobre o tema “Discurso de
ódio”, que foi premiado na Mostra de Iniciação Científica da Faculdade IDEAU.
Tenho o maior orgulho de representar a minha instituição de classe, OAB –
subseção Bagé na Comissão Estadual da Mulher Advogada. Posso concluir que o
caminho está aberto e a missão vai ser cumprida. Lutaremos e lutaremos pelo direito
a igualdade das mulheres.
Quélen Kopper
OAB/RS 55.593
191
55
Vice-Presidente da OAB - Subseção da Comarca de Capão da Canoa.
192
Dona de Si
Salma Farias Valencio56
Cresci ouvindo algo muito especial do meu pai. Ele sempre falava para mim
e para a minha irmã que uma moça (ele, na sua conservadora e atenciosa maneira
de ser, falava moça e não mulher) tinha um grande valor e que, independentemente
de qualquer coisa, precisava ser “dona de si”. Meu pai sempre nos incentivou a
estudar e a ter uma profissão, para sermos donas de nossas vidas.
Isto fez uma grande diferença em minha vida, nas escolhas que fiz e no
caminho profissional que percorri. Fui incentivada a ser independente e sempre me
causou estranheza a maneira autoritária e preconceituosa com que as pessoas viam
este comportamento. Isto foi fortalecendo em mim uma postura de inquietação e
questionamento em relação aos papeis impostos para homens e mulheres.
Quem viveu nos anos 80, teve sua vida marcada pelas mudanças no cenário
político-econômico e social. Em meio à turbulência de transformações, fiz minha
56
Diretora do Departamento de Políticas para as Mulheres da Secretaria do Desenvolvimento
Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul
194
político, ao mesmo tempo em que, atuava na administração pública nos três níveis:
municipal, estadual e nacional. Trajetória e caminhada árdua, porém, gratificante
quando temos como retorno o entusiasmo de muitas mulheres que se descobrem ou
se redescobrem.
De Vice-Presidente Estadual do núcleo, uma das fundadoras no RS e do
núcleo no Brasil à, hoje, Vice-Presidente Nacional do PMDB Mulher e Diretora do
Departamento de Políticas para as Mulheres do RS, enfrentando diariamente as
dificuldades para estabelecer políticas públicas e ações que se tornem perenes,
transformando-as em políticas de Estado. Buscando, através da promoção da
autonomia das mulheres a prevenção da violência e discriminação.
Uma caminhada na qual fica cada vez mais clara a importância e a urgência
da participação das mulheres em todas as instâncias e esferas de decisões políticas
e sociais. E, para isto, a importância das mulheres se qualificarem e se fortalecerem
para enfrentar os desafios, obstáculos e entraves diários para que se transformem
em protagonistas de própria história, “donas de si”.
Silvana Bastian57
Eu sou Silvana Bastian, tenho 43 anos. Sou uma mulher, mãe, esposa,
profissional, amiga, com muitos papéis perfeitos, imperfeitos e, cada dia, mais
focada no que faz sentido. O que mais me mobiliza é o fato de que sou um ser
humano capaz, competente, cheio de qualidades, defeitos, talentos únicos,
limitações como qualquer ser vivo, independente do meu gênero. Quero ser capaz
de mostrar aos meus filhos que não precisamos separar e sim unir e agregar, e que
suas escolhas possam ser por desejo e não por sexismo.
Acreditando em tudo isso optei em fazer parte de uma organização feminina,
pois acredito que juntas somos mais fortes. Quero e sempre quis fazer a minha parte,
57
Presidente da BPW Porto Alegre –Business and Professional Women –gestão 2016/2018, vice
coordenadora.
Regional da Task Force Internacional BPW BusinessNet
199
sendo ativa e contribuindo para mudar uma história de diferenças de gênero que
nunca entendi, mas que sempre impactou a minha vida. Por isso, aceitei o desafio
de ser presidente da BPW Porto Alegre- Business and Professional Women, pois s
é uma organização com noventa anos da qual comungo com os objetivos e legado,
mas acima de tudo me possibilita colocar a “mão na massa”.
Pois quando iniciei minha carreira ainda muito jovem, ouvia falar das
dificuldades que as mulheres enfrentavam no mercado de trabalho. Cheia de
energia, sonhos, e muito inexperiente pensava que isso não ia acontecer comigo.
Estava certa de que era coisa do passado. Eu tinha a certeza de que já vivia no
futuro... afinal, estávamos na década de 90.
Mudamos de século, recém formada entrei no tão sonhado mundo
corporativo, feliz me sentindo uma vencedora e certa de que havia dado um
importante passo na carreira. No entanto, em cada movimento tive a oportunidade
de experimentar a dor e a frustração da conhecida diferença de gênero. Vivenciei a
diferença salarial, a exclusão, desmandos e toda a sorte de situações tão conhecidas
das mulheres. Me sentindo extremamente desconfortável e sem saber a quem
recorrer, somatizei muitas vezes.
Em uma ocasião o empreendimento em que eu estava á frente da gestão
receberia um prêmio, e eu não fui representar a empresa no evento por ser mulher.
A empresa decidiu enviar um gerente, homem é claro, para representá-la receber o
prêmio. Farta de tudo isso e acreditando que podia escrever a minha história de
forma diferente decidi empreender.
Silvana Maldaner58
Muito se tem avançado nas discussões sobre o papel da mulher e seu
empoderamento.
Desde a revolução industrial, onde máquinas foram substituindo os homens,
que as mulheres tem assumido cada vez mais o papel de gerar renda, trabalho e
produtividade.
Acredito que neste século não precisemos mais queimar sutiãs em praça
pública. Precisamos sim, usar toda a nossa força para mostrar que o mundo precisa
de mais tolerância, de mais inteligência emocional, espiritualidade e espirito de
coletividade.
Já mostramos para o mundo a capacidade de comandar empresas, países,
pilotar aviões e até ser astronauta. Agora precisamos ser a paz que o mundo precisa,
o esteio da família, dos valores, do exemplo e da ética.
58
Formada em Comunicação Social UFSM - Especialista em Comunicação - Mestre em Engenharia
de Produção - Curso na Candem College em Londres/Inglaterra
Ex- Presidente da Associação Prosperidade da Seicho-no-ie do Brasil
202
Silvana Maldaner
Casada, mãe de duas filhas (Dona de 6 cachorros e uma gata)
Formada em Comunicação Social UFSM - Especialista em Comunicação
Mestre em Engenharia de Produção - Curso na Candem College em
Londres/Inglaterra
Ex- Presidente da Associação Prosperidade da Seicho-no-ie do Brasil
silvanamaldaner@terra.com.br
204
59
Presidente da Federasul.
205
ênfase ao fato de que as mudanças estão dentro de cada uma e que é preciso abraçar
as oportunidades porque as mulheres são donas de suas próprias carreiras.
O caminho ainda é longo. Exemplo disto é a fraca presença feminina nos
cargos de executivas e as raras participações nos conselhos de administração das
empresas. A realidade mostra que faltam mulheres nos grupos que decidem nas
Companhias.
A grande virada, na opinião de Simone Leite, está na quebra da barreira
cultural e na necessidade de programas de formação de profissionais para tornar
igual um mundo tão desigual. É injustificável os homens ganharem mais que as
mulheres nos mesmos cargos, quando se sabe que empresa que promove a
diversidade é mais justa, forte e perene.
207
Meu Lema: quem faz o que gosta, faz com Alegria e realização
60
Presidente do SINDILOJAS Passo Fundo/RS.
208
Mulheres No Poder
61
Presidente do IARGS (Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul).
211
o Prêmio Soroptimista Destaque Nacional, a Medalha Dom João VI, voto de louvor
do Conselho Federal da OAB, a Medalha Pontes de Miranda da Academia
Brasileira de Filosofia,
No dia 11 de agosto de 2017, durante as comemorações pelo Dia do
Advogado, numa cerimônia solene, com o teatro lotado, fui distinguida, graças à
generosidade da Direção e do Conselho da OAB/RS, presidida pelo Dr. Ricardo
Breir, com a Portaria de Advogada Emérita. Mais uma vez, emocionada,
tomei conhecimento que era a 1ª mulher gaúcha a receber tal distinção.
Agradeci, penhorada, tal honraria afirmando “quero compartilhar a
homenagem que me foi tributada, com todas as mulheres advogadas gaúchas”.
Atualmente, por indicação do Conselho Federal, fui nomeada Membro
Titular do Comitê de Avaliação e Seleção do Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais do Ministério da Fazenda (CARF), representando a OAB, com mandato até
setembro de 2019.
Relembro minha vida profissional, com: desafios, turbulências e calmarias,
derrotas e vitorias, e agradeço à Deus e a todas as pessoas (e são muitas) que
tornaram possível minha história, pois me deram ensinamentos, auxílio, amizade e
incentivo.
Um preito à minha família: Paulo, marido; Cassiano e Gisele, filhos, Sandra,
nora e Leonardo e Bernardo, netos que encantam a vida e dão forças para
prosseguir...
Agradeço a oportunidade e cumprimento à Dra. Beatriz Perfuro pelo
fecundo trabalho que está realizando à frente da Comissão da Mulher Advogada da
nossa OAB/RS.
4) Juíza Titular do Tribunal Regional Eleitoral do RS (TRE-RS),
representante da classe dos advogados (julho de 1998 a dezembro de 2002).
• Primeira mulher a presidir SESSÕES de julgamento do TRE-RS.
214
DADOS PESSOAIS:
DEMAIS DADOS:
62
Defensora Pública do Estado do Rio Grande do Sul - Uruguaiana/RS
218
como cursá-lo, até então, pois faculdade só fora da cidade, o que, na ocasião, era
impossível para mim devido à vida familiar.
Cursei Direito na PUC Uruguaiana (quando tivemos uma faculdade
em Uruguaiana)
Após, fiz a Escola Superior do Ministério Público em Porto Alegre, e,
posteriormente, Pós-graduação em Direito Processual Civil na PUC, Porto Alegre.
Como se constata, entrei no mundo jurídico após longa caminhada
profissional como professora.
Daí a prestar concurso para Defensora Pública do Estado do Rio Grande do
Sul, foi uma consequência – aprovada no primeiro concurso para Defensor Público
do Estado em 2000, iniciei designada em Cachoeirinha, mas meses após fui
classificada para Uruguaiana onde trabalho como Defensora desde de 2004.
Esta é a minha trajetória, igual a tantas outras, mas que serve para
demonstrar o que podemos, e o quanto podemos.
Foi fácil? Não foi fácil, nada me caiu do céu, tudo foi fruto de muito esforço
e dedicação.
Quando me perguntam se estudei muito para o concurso da Defensoria eu
respondo com a verdade: estudei MUITO, mas MUITO MESMO.
Sempre digo: todos podemos, o que não significa que seja sem esforço. No
meu caso, com muito esforço. (a faculdade de Direito fiz com prazer e por
prazer, não pensava ir tão longe, mas foram surgindo as oportunidades e fui
levando a sério e me dedicando: ganhei a bolsa do Ministério Público Estadual, me
transferi um ano para POA, me dediquei inteiramente aos estudos -aliás, gosto de
estudar até hoje).
Todas nós podemos, portanto, almejar e alcançar uma formação
universitária e, dependendo do interesse e das oportunidades, exercer a profissão
que escolhemos, no caso, como advogadas, defensoras, enfim, atuar na área jurídica
ou em qualquer outra que desejemos.
219
63
prefeita de Dois Irmãos/R S e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos
(AMVRS).
222
cidade. E, mesmo sendo uma estranha no ninho, eu e meus dois filhos, Pablo e
Hohana, fomos muito bem acolhidos na comunidade.
Em 1995, veio o convite para que eu me filiasse ao PMDB e, em 1996,
consegui me eleger a quarta vereadora mais votada da cidade. Em 2000, sem
conquistar a reeleição, assumi a coordenação do Posto de Saúde 24 Horas.
Em 2008, voltei a conquistar a vereança e fui presidente da Câmara nessa
legislatura. Em seguida fui convidada a concorrer como Prefeita, ao lado do atual
vice-prefeito Jerri Adriani Meneghetti (PP), por meio da coalizão (PMDB-PP-
PTB), sagrando-me a primeira prefeita de Dois Irmãos, de uma cidade com cerca
de 30 mil habitantes, sendo a maioria de colonização alemã.
Fico muito orgulhosa e feliz de ter sido eleita prefeita em uma cidade de
cultura alemã. Havia nomes mais tradicionais, homens, brancos, de origem alemã.
E eu, mulher, negra, divorciada, alegre e muito trabalhadora, tive a satisfação de ser
eleita, não por essas qualidades, mas, porque a população acreditou nos projetos
que tenho para o Município.
As pessoas me dizem que inspiro elas, não sei se sou inspiração para alguém,
mas quero incentivar mais mulheres a lutarem pelos seus sonhos e ingressem na
política, o que hoje é algo quase inexistente.
223
O começo
64
Deputada Federal do Estado do Rio Grande do Sul.
226
Educação
Política
Venho de uma família humilde e passei por muitos percalços, nada muito
diferente do que histórias de muitas pessoas que conheço. Aos 5 anos, perdi minha
mãe (Élia Grigollo). Fomos criados pelo pai João, que triste pela perda de seu
grande amor, entregou-se ao alcoolismo até morrer em 2013 vítima de um câncer.
Durante todo este tempo, tivemos o acompanhamento de uma segunda mãe, Maria,
que foi a companheira escolhida pelo pai um ano depois da morte da mãe Élia.
Ainda criança, tive a intuição de que nada seria fácil e que teria que me virar
por conta e risco se quisesse alguma coisa na vida. E assim o fiz. Fui movida pela
intuição e por uma força que todos temos, basta acioná-la sempre que necessário.
65
Jornalista Política
229
Estudei em escolas particulares (sempre com bolsa), mas, na maioria das vezes, em
escolas públicas. Era o patinho feio das turmas, não tive grandes amigos, mas sabia
que tinha que me virar. Fiz o chamado 2º Grau no hoje Instituto Cecy Leite Costa
de Passo Fundo, onde cursei Redator Auxiliar. Foi ali que descobri a vocação para
escrever, incentivada pelo olhar carinhoso da professora de português Lúcia Palma
(in memoriam).
Como sempre tive que fazer as coisas por conta e risco, logo cedo, aos 15
anos, dividia o tempo dos estudos com o trabalho na fábrica de bolachas de uma tia.
Fui empacotadeira de bolachas até sentir necessidade de seguir adiante, quando
procurei a professora Lucia para que me ajudasse a conseguir outro emprego.
Queria ser funcionária de loja. Mas, ela indicou outra possibilidade: uma vaga de
redator no Jornal Diário da Manhã. Fui fazer o teste com o então editor João Vieda
(in memoriam) que me contratou. E do jornalismo nunca mais saí. Não foram dias
fáceis até chegar onde cheguei, mas foi um processo maravilhoso que trilharia
novamente.
De forma simples, do Diário da Manhã como auxiliar de repórter fui para a
Rádio Uirapuru onde tive outros dois grandes professores- Júlio Rosa e Fátima
Trombini, ambos não estão mais entre nós. Em seguida fui para o Jornal O
Nacional, trabalhei muito tempo como correspondente do Correio do Povo, fiz
assessoria de imprensa na Câmara de Vereadores. Por conta do destino, em 1995,
me mudei para Porto Alegre e me aventurei como empresária, numa área longe do
jornalismo. Não deu certo. Fora seis meses longe da profissão que amo e que me
resgatou novamente. Retornei para o Correio do Povo, só que desta vez como
repórter na Capital. Foram oito anos morando em POA, trabalhando no CP e
Assembleia Legislativa.
Em 2003, minha filha, pré-adolescente, resolve retornar a Passo Fundo.
Como a vida é movida por acontecimentos mágicos, também retornei, desta vez
convidada a ser editora do Jornal Diário da Manhã, onde permaneci por seis anos e
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meio. E foi em Passo Fundo, depois de uma longa vivência no jornalismo que decidi
fazer a Faculdade de Jornalismo na UPF. Ingressei em 2004 e me formei em 2009.
Neste período mudei de jornal, saindo do DM e retornando para O Nacional, como
editora, onde estou até hoje.
Meu foco durante bom tempo da vida profissional sempre foi o jornal. Eis
que, em 2014, recebo um grande desafio: fazer televisão, veículo que nunca esteve
nos meus planos. Foi o ano da mudança pessoal e profissional, mais uma vez.
Resolvi encarar e recomeçar. Nunca é tarde para recomeçar. Recomeçarei quantas
vezes forem necessárias, porque esta capacidade é o grande poder da mulher.
Começo meu dia muito cedo: às 7h, entro ao vivo na Rádio UPF com o
programa Café Expresso. Às 9h, assumo a produção na UPFTV. Uma vez por
semana apresento o programa Estúdio 4 e participo de um quadro ao vivo no Hora
da Notícia, chamado Fatos Políticos. À tarde, cumpro a função de editora no Jornal
O Nacional (veículo que tem 93 anos de existência), assino uma coluna diária sobre
política e ainda edito especiais publicados pela empresa, como o Anuário Gigante
do Norte. Aos sábados, pela parte da manhã, ancoro o programa Sem Segredo na
Rádio Uirapuru. O Rádio é a mais nova paixão da minha vida, da forma como ele
se apresenta neste momento. Hoje, eu faço jornal, TV, rádio e me arrisco nas redes
sociais. As plataformas da comunicação são múltiplas e como profissionais
precisamos nos reinventar, atualizar e fazer sempre o melhor, sempre primando pela
informação correta e ética. A credibilidade é a maior marca que um profissional
carrega e eu a preservo como a maior riqueza da minha vida.
Meu nome é Zulmara Izabel Colussi, tenho 53 anos. Sou mãe de Daniela
Lippsten, de 27 anos, advogada e professora. Estou pronta para outros desafios,
reinvenções e recomeços. Afinal, tenho mais 50 anos pela frente (no mínimo).
Zulmara Colussi
Jornalista Política
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Anexo 01: Fotos- Evento Mulheres no Poder- Março /2017 – OAB/RS e TRE
Mulheres nas esferas da política, das instituições e das empresas.
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