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Coordenadores:

Arnaldo Rizzardo Filho


Christiane Baladão
Alexandre Torres Petry

Autores:
Arnaldo Rizzardo Filho
Cesar Augusto Cavazzola Junior
Christiane Baladão
Cristiane de Mello Mascarenhas
Eduarda Jade Stumer Santos
Eduardo Teixeira Farah
Eva Motta
Fátima Cabeleira Almeida Zucchetto
Gabriel Malet de Oliveira
Laura Schroder Feijó
Lucas Uster
Matheus da Silva Pitaméia
Renata Pozzi Kretzmann
Rosângela Souza de Souza
Sandy Danielle da Silva Fernandes
Víctor Villamil Ferreira
Vitor Luís Botton
Vitória de Bona

CADERNO DE RESUMOS DO GRUPO DE ESTUDOS DE REDES


CONTRATUAIS E ESTRUTURAS DE PLATAFORMA

Porto Alegre, 2022


Copyright © 2022 by Ordem dos Advogados do Brasil
Todos os direitos reservados

Coordenadores
Arnaldo Rizzardo Filho
Christiane Baladão
Alexandre Torres Petry

C129

Caderno de resumos do grupo de estudos redes contratuais e


estruturas de plataforma [recurso eletrônico]. /Arnaldo
Rizzardo Filho, Christiane Baladão. (Coord). 3.ed. -Porto
Alegre: OABRS, 2022.p.159.

ISBN: 978-65-88371-21-3

1. Contratos. 2. Redes contratuais. 3. Estrutura de plataformas I.


Rizzardo Filho, Arnando. II. Baladão, Christiane. III. Escola
Superior de Advocacia/OABRS.

CDU: 347.44
Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10ª/1517

A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos


assinados, são de responsabilidade dos seus autores.

Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul


Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico
CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS
SUMÁRIO

PREFÁCIO........................................................................................................................... 6

À 1ª EDIÇÃO DE 2021 – 1º SEMESTRE................................................................................ 7

À 2ª EDIÇÃO DE 2022 1º SEMESTRE .................................................................................. 8

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 9

À 3ª EDIÇÃO – 2022- 2O SEMESTRE ................................................................................... 9

PLATAFORMAS DIGITAIS ...................................................................................................................... 10

CHRIS BALADÃO............................................................................................................... 10

SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES .......................................................................... 12

LUCAS USTER ................................................................................................................... 16

LUCAS USTER ................................................................................................................... 19

EVA MOTTA ..................................................................................................................... 21

BERNARDO ASSUMPÇÃO PINTO BRAVO .......................................................................... 26

GABRIELI MALET DE OLIVEIRA ......................................................................................... 30

TEORIA ORGANIZACIONAL ................................................................................................................... 32

CHRISTIANE BALADÃO ..................................................................................................... 33

EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................... 36

FÁTIMA CABELEIRA ALMEIDA ZUCCHETTO ...................................................................... 40

VITOR LUÍS BOTTON ........................................................................................................ 45

EVA MOTTA ..................................................................................................................... 50

EVA MOTTA ..................................................................................................................... 54

CRISTIANE DE MELLO MASCARENHAS ............................................................................. 60

ROSÂNGELA SOUZA DE SOUZA ........................................................................................ 64

ROSÂNGELA SOUZA DE SOUZA ........................................................................................ 68


CESAR AUGUSTO CAVAZZOLA JUNIOR ............................................................................. 75

VÍCTOR VILLAMIL FERREIRA ............................................................................................. 80

ECONOMIA .......................................................................................................................................... 83

LAURA SCHROEDER FEIJÓ ................................................................................................ 83

ROSÂNGELA SOUZA DE SOUZA ........................................................................................ 86

EVA MOTTA ..................................................................................................................... 91

EDUARDO TEIXEIRA FARAH.............................................................................................. 94

MATHEUS DA SILVA PITAMÉIA....................................................................................... 101

DIREITO ............................................................................................................................................. 104

EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................. 104

LAURA SCHROEDER FEIJÓ .............................................................................................. 112

SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES ........................................................................ 119

LAURA SCHRODER FEIJÓ ................................................................................................ 123

VÍCTOR VILLAMIL FERREIRA ........................................................................................... 125

SOCIOLOGIA ...................................................................................................................................... 131

ARNALDO RIZZARDO FILHO ........................................................................................... 131

SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES ........................................................................ 136

EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................. 141

VITÓRIA DE BONA .......................................................................................................... 147

PALESTRAS ......................................................................................................................................... 152

RENATA POZZI KRETZMANN .......................................................................................... 152


PREFÁCIO 5.277 pessoas nos encontros virtuais e a
promoção de importantes reflexões acerca
dos novos desafios que se apresentam para
Honra-me os autores com convite de
a advocacia. Aos colegas, Arnaldo Rizzardo
prefaciar a terceira edição do Caderno de Filho, Alexandre Torres Petry e Christiane
Resumos do Grupo de Estudos Rede
Baladão, organizadores deste e-book,
Contratuais e Estrutura de Plataforma, registro a minha admiração e o meu
resultado das investigações desenvolvidas agradecimento pela notável contribuição
no Grupo de Estudos Redes Contratuais da
para o aperfeiçoamento da advocacia e para
Escola Superior da Advocacia do Rio Grande a evolução da Ciência do Direito que tive o
do Sul e da Comissão da Jovem Advocacia.
orgulho de testemunhar como Diretora de
Este livro reflete o trabalho comprometido e
Cursos Permanentes da ESA/RS nesta e na
competente dos moderadores dos Grupos
gestão anterior.
de Estudos, atividade esta que proporciona
Aos leitores e às leitoras, desejamos uma
à advocacia gaúcha o diálogo e a construção boa e profícua leitura e que esta obra sirva
de pontes de conhecimento. Por oportuno,
de inspiração para o debate acerca do
há que se destacar o papel dos moderadores
fenômeno da organização contratual em
no enfrentamento dos diversos obstáculos formato de rede que o Grupo de Estudos
no período de pandemia da COVID-19 para a
Redes Contratuais, conduzido pelo brilhante
continuidade das atividades dos Grupos de
advogado Arnaldo Rizzardo Filho, desde o
Estudos. Em um momento de extrema crise, ano de 2021, nos convida a “parar, respirar,
o trabalho sério e dedicado dos advogados e
observar a sociedade científica a sua volta, e
das advogadas na condução dos Grupos de entender que existem sentidos congruentes
Estudos, oportunizou a participação de
em diversas perspectivas sociais”.

Porto Alegre, setembro de 2023.

Fernanda Corrêa Osorio


Diretora de Cursos Permanentes da ESA-OAB/RS

6
APRESENTAÇÃO redes de negócios, redes contratuais), a
compreensão de ferramenta de estratégia,
À 1ª EDIÇÃO DE 2021 – 1º SEMESTRE
as formas de constituição/construção, os
mecanismos de gestão e de governança,
O Grupo de Estudos de Redes Contratuais na dentre outros temas que são de relevância
Escola Superior da Advocacia da Ordem dos para o Direito.
Advogados do Brasil – Subseção Rio Grande O Grupo busca a interseccionalidade entre
do Sul começou seus encontros no segundo as mais diversas teorias de diversas ciências
semestre de 2021, com o intuito de estudar que tratam das redes contratuais.
o fenômeno da organização contratual em Entendemos que o Direito, ou melhor, os
formato de rede. No Grupo participam operadores do Direito devem parar, respirar,
pesquisadores, profissionais da área do observar a sociedade científica em sua volta,
direito, estudantes de graduação e pós e entender que existem sentidos
graduação. congruentes em diversas perspectivas
A partir do Curso de Redes Contratuais sociais. Deve-se tirar a venda dos olhos de
(quarta edição ocorreu em 2021) e do Themis, afinal de contas, ninguém sabe ao
número considerável de inscritos, e tendo certo porque lhe vendaram.
em vista as discussões realizadas nas aulas, A cada encontro realizado, integrantes do
mostrou-se necessário a continuidade mais Grupo apresentaram textos e construíram
aprofundada dos temas multidisciplinares resumo dos mesmos. Esses resumos são aqui
do Curso, que abrange Teoria Organizacional apresentados para aqueles que trabalham
(Administração de Empresas), Sociologia, ou estudam as redes possam, de forma
Economia e Direito. célere, pesquisar temas correlatos de seu
Os interessados e o coordenador interesse. Este caderno, portanto, almeja ser
organizaram seminários e discutiram as apenas um “catálogo de resumos”,
primeiras teses e estudos sobre a origem das interdisciplinar, de literaturas que tratam
redes, as motivações, as justificativas de das redes, para que sirva de apoio ao início
décadas atrás e que estão em consenso com de uma compreensão mais profunda sobre
o tempo atual, o conceito das redes, a as redes contratuais, tanto em termos
diversidade da terminologia (redes de profissionais quanto em termos acadêmicos.
cooperação, redes interorganizacionais,

7
APRESENTAÇÃO Por tratar-se de tema que pode ser
À 2ª EDIÇÃO DE 2022 1º SEMESTRE amplamente discutido por várias ciências, os
participantes a partir de textos selecionados
em que versavam sobre os conceitos,
O Grupo de Estudos de Redes Contratuais na teorias, motivações, fundamentos das redes
Escola Superior da Advocacia da Ordem dos contratuais, complementaram-se com
Advogados do Brasil – Subseção Rio Grande estudos envolvendo os atuais modelos de
do Sul foi aberto no segundo semestre de negócio em Economia compartilhada,
2021, com o intuito de estudar o fenômeno Economia colaborativa, Relações negociais
da organização contratual em formato de estabelecidas de forma individual, Drivers do
rede. Consumo Colaborativo,
A partir do curso de Redes Contratuais e do Crowd Companies e Crowdsourcing.
número de inscritos, considerando as Dos textos discutidos, os participantes
discussões que foram realizadas nas aulas, apresentaram os resumos que são aqui
os interessados na continuidade dos estudos apresentados para aqueles que trabalham
e demais participantes, já estão na terceira ou estudam as redes com intuito de ampliar
edição do Grupo, agora coordenados pelo o entendimento e a compreensão sobre o
Professor Arnaldo Rizzardo Junior e pela tema.
advogada Christiane Baladão.
Em uma abordagem atualizada e
interseccional, as discussões e os estudos
geraram a elaboração de artigos pelos
participantes, que abrange a Teoria
Organizacional (Administração de
Empresas), Sociologia, Economia e Direito,
contemplando ainda análise sobre novos
modelos de negócios.
Formatação de negócios em rede significa
pensar no modelo de negócio de cada rede a
partir dos ativos específicos que pretende
explorar e a consequente estruturação
instrumental da rede. Um modelo de
crescimento orgânico e celular, onde replicar
é estratégia, é unificação de propósitos e
interesses. Por meio do
associativismo/cooperação, colaboração e
coordenação empresarial, uma modalidade
estratégica de exponencializar qualquer tipo
de negócio.

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

APRESENTAÇÃO
À 3ª EDIÇÃO – 2022- 2O SEMESTRE
negócio em Economia compartilhada,
O Grupo de Estudos de Redes Contratuais e Economia colaborativa, Relações negociais
Estruturas de Plataformas, da Escola estabelecidas de forma individual, Drivers do
Superior da Advocacia da Ordem dos Consumo Colaborativo, Crowd Companies e
Advogados do Brasil – Subseção Rio Grande Crowdsourcing.
do Sul, foi aberto no segundo semestre de Dos textos discutidos, os participantes
2021, com o intuito de estudar o fenômeno apresentaram os resumos que são aqui
da organização contratual em formato de apresentados para aqueles que trabalham
rede, chegando agora na 3º edição, sob ou estudam as redes com intuito de ampliar
mediação dos Professores Arnaldo Rizzardo o entendimento e a compreensão sobre o
Filho e Christiane Engelmann Baladão. tema.
Em uma abordagem atualizada e
interseccional, as discussões e os estudos
geraram a elaboração de resumos de artigos
pelos participantes, que abrange a Teoria
Organizacional (Administração de
Empresas), Sociologia, Economia e Direito,
contemplando ainda análise sobre novos
modelos de negócios.
Formatação de negócios em rede significa
pensar no modelo de negócio de cada rede a
partir dos ativos específicos que pretende
explorar e a consequente estruturação
instrumental da rede. Um modelo de
crescimento orgânico e celular, onde replicar
é estratégia, é unificação de propósitos e
interesses. Por meio do
associativismo/cooperação, colaboração e
coordenação empresarial, uma modalidade
estratégica de exponencializar qualquer tipo
de negócio.
Por tratar-se de tema que pode ser
amplamente discutido por várias ciências, os
participantes, a partir de textos selecionados
em que versavam sobre os conceitos,
teorias, motivações, fundamentos das redes
contratuais, complementaram-se com
estudos envolvendo os atuais modelos de
9
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

PLATAFORMAS DIGITAIS

Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs)

Chris Baladão1

GUIMARÃES, Alysson. Inteligencia Coletiva, DAOs e Teoria Ator-rede.

“A importância das redes está na capacidade de ampliar o poder de ferramentas humanas culturais relacionadas à
sociabilidade, economia e a política (MARGOTO e FERNANDES, 2015) 2”

Conceituar, colocar em definição, que compreende a segunda geração de


determinar os limites é a forma mais comunidades e serviços a partir da internet,
pragmática de conseguirmos configurar termo popularizado a partir de 2004 pela
uma compreensão sobre determinado tema, empresa americana O'Reilly Media.
estratégia está identificada neste texto que Desenvolver soluções de maneira
aborda as semelhanças e as conexões entre compartilhada como soma das capacidades
os estudos sobre um tema tão atual que são individuais, a partir da inteligência coletiva e
as Organizações Autônomas da acessibilidade ilimitada que os pares, as
Descentralizadas. partes, os indivíduos passam a ter, por fim,
Uma nova forma de organização autogerida uma condução consensual, pressupondo
e autônoma mantida por práticas de sempre que esses indivíduos e esses agentes
inteligência coletiva, frameworks pretendem essa auto-gestão.
organizacionais a partir de inteligência Amparada na capacidade distribuída das
distribuída com coordenação em tempo informações que se apresenta a inteligência
real. Estamos falando da inteligência e dos coletiva, é pela cadeia de blocos -
mecanismos que surgiram a partir da Blockchain- que as DAOS - Organizações
inteligência tecnológica advinda da Web 2.0, Autonomas Descentralizadas estão em

1
Advogada. Formada em Direito pela PUCRS em 2006. Especialista em Direito e Processo do Trabalho e cursou
especialização de Gestão em Tributos e Planejamento Tributário pela mesma universidade.
2
MARGOTO, Julia B.; FERNANDES, Jorge H. C.. Inteligência coletiva, redes sociais e capital social: em busca de
conexões conceituais. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 20, n. 42, p.
93–108, jan. /abr., 2015
10
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

ferramenta estabelecidas. Uma série de finalidade de discutir e deliberar sobre


blocos encadeados que formam um registro temas determinados.
de histórico, chaves públicas e privadas que A partir de um token, uma tecnologia
permitem a permanência de um registro criptografada que contém em si um poder,
público. “Um grande livro contábil, público e um comando, para completar uma
descentralizado, onde constam de forma determinada tarefa, com regras e processos
imutável o registro de todas as operações implementados para a estrutura e para a
ocorridas na rede”3 operação da organização (on-chain e off-
A evolução da adoção das práticas em cadeia chain), onde toda a tomada de decisão se
de blocos implicou na formação das DAOS - dará coletivamente.
Organizações Autônomas Descentralizadas O voto aqui é tangibilizado pelo token de
que, portanto, ocorrem e são identificadas governança, primando por uma perspectiva
tão somente no mundo virtual, na internet. de negócios em que o consenso é intrínseco
Estes registros auto executáveis, que ao negócio em si, a partir de mecanismos
decorrem de prévias regras estabelecidas a centralizados de confiança. E nesse sentido,
partir de um pensar sobre o que vai a Teoria ator-rede aborda a forma de evitar
desencadear a formação da ação a hierarquia de agentes, de atores, de
subsequente, há uma auto regulação ajustes que evitem protagonismos,
constante. primando pelo agir em conjunto, em rede. E
Por protocolos, comandos automáticos - os para tanto tem-se a figura do “assemblages”,
contratos inteligentes, onde as ações são redes de influência compreendida a partir da
praticadas a partir de mecanismos de identidade de causa de cada um dos
consenso, uma assembleia é estabelecida. integrantes, pois as ferramentas
Sim, a lógica da tecnologia aqui discutida estabelecidas por esta teoria está vinculada
pode ser facilmente compreendida pela nas maneiras, motivos e circunstâncias que
configuração desse instituto jurídico atores e organizações se assemelham, ou
encontrado em entidades coletivas, órgão seja, efeito ou consequência que, a partir das
que compreende a reunião de pessoas que Organizações Autônomas Descentralizadas -
têm algum interesse comum, com a DAOS, são as propriedades algorítmicas que
correspondem a capacidade de influência.

3
RODRIGUES, Carlos Alexandre. Blockchain e Criptomoedas. 2. ed.rev - Salvador: EDjusPodivm, 2021, p.26.
11
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Por consequência as Organizações coletivos de desenvolvedores, de


Autônomas Descentralizadas- DAO são as trabalhadores, de arte, de comunicação e de
redes de influências, o próprio assemblage, entretenimento.
com atores humanos e não humanos, aptos O que se pretende, por fim, é identificar
e interessados em, coletivamente, alinhar novas formas de relacionamento e de gestão
soluções para problemas comuns. de negócios, novas alternativas amparadas
Em inicial experimentação e em aplicação no ciberespaço, em que a resolução e oferta
muito pontual, já encontram-se registros da tem a inteligência coletiva como
aplicação das Organizações Autônomas instrumento, ou seja, ampliar os estudos, as
Descentralizadas- DAO, a maioria aplicada análises e as discussões para além da
em serviços financeiros descentralizados, tecnologia em si, mas para as implicações
mas que podem ser identificados em sociais da sua adoção
.

________________________

Sandy Danielle da Silva Fernandes4

CAMPOS, César Cunha et al. Cidades Sustentáveis. FGV Projetos, 2018. Modelos de negócio em economia
colaborativa: estruturas e impactos no âmbito das cidades, Rossana Pavinelli.

Economia colaborativa é o contexto que para sua realização. Primeiramente deve-se


propiciou o crescimento e popularização das explicar que economia colaborativa não é
redes colaborativas: trata-se, muito além de um conceito exatamente novo, pode-se
um novo modelo econômico, de um modelo dizer que ele existe desde que trocas e
de negócios onde as estruturas de rede compartilhamentos de bens e serviços são
formam a base deste, tendo inovação, realizados dentro de uma rede de confiança.
tecnologia e capacidade operacional O artigo aborda a economia colaborativa
excedente como fundamentos principais

4
Advogada, Bacharel em Direito pela Universidade da em Direito Tributário pela Pontifícia Universidade
Região da Campanha - URCAMP, campus Santana do Católica de Santa Maria de Buenos Aires; Pós-
Livramento; Pós-graduada em Direito e Planejamento graduanda em Advocacia Corporativa pela Fundação
Tributário pela Universidade Estácio de Sá; Mestranda do Ministério Público.
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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

com o contexto tecnológico e seu impacto produtos, abrindo seus laboratórios para
por meio da tecnologia. usuários e programadores), e da Linux (que
A autora demonstra como inovação e revolucionou o mundo tecnológico ao abrir
colaboração andam lado a lado para causar seu código de software e criar um ambiente
disrupção no mercado, focando colaborativo entre usuários).
principalmente na sustentabilidade e no A colaboração facilita a troca de
consumo racional. A inovação é uma das conhecimento e de inovação, e por conta
principais engrenagens que move a disso, a estrutura das redes propicia que
economia, sendo ela sempre o fator essas disrupções sejam mais fáceis de serem
principal do aprimoramento de alcançadas. Negócios que são realizados
performances e resultados. Joseph pelo modelo da economia compartilhada
Schumpeter tratava-a em dois formatos: a geralmente se debruçam em cima de dois
incremental, referindo-se à melhoria em grandes apelos dos consumidores: a
processos; e a radical, referindo-se ao sustentabilidade e o consumo racional. Por
rompimento dos limites aos quais a inovação conta dessas preocupações dos
incremental se encontra, ocasionando o que consumidores, abre-se espaço para negócios
chama de disrupção criativa. A inovação não mais sustentáveis, utilizando-se da
refere-se apenas a inserção de um novo capacidade excedente disponível. Por conta
produto ou serviço no mercado, mas de sua estrutura e organização, as redes
também a novos ou melhorados processos facilitam que esses apelos se tornem mais
ou métodos ou práticas de negócios, desde acessíveis, tanto para empresas quanto para
que causem algum tipo de disrupção no consumidores.
mercado. Um ótimo exemplo disso está na plataforma
Como exemplo dos modelos colaborativos brasileira "Tem Açúcar?", onde se oferece
focados na ideia de open inovation, a autora um espaço para vizinhos se aproximarem e
traz os processos de inovação ou de realizarem empréstimos e trocas de bens de
produção, realizados a partir de colaboração uso doméstico, sem a necessidade de
externa, muito comum nas áreas desembolso financeiro para tanto. Como
tecnológicas, como é o caso da IBM (que muito bem questiona a autora: "para que
incentiva competições com o escopo de comprar uma furadeira se o uso por ano será
identificar novas soluções para seus de apenas alguns minutos?".

13
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

A estrutura das redes também permite que edição, a Honeycomb indicava-se empresas
a governança das organizações inseridas em nos setores de transporte, espaço, serviços,
determinada rede seja diferente daquela de alimentação, bens de consumo e dinheiro;
organizações mais tradicionais: nas na segunda edição acrescentou-se os
organizações tradicionais o objetivo setores de saúde e bem-estar, logística,
principal é o lucro, e as interações internas corporações, utilidades, municípios e
são baseadas em relações hierárquicas; já educação; e por fim, na terceira e mais atual
nas redes o lucro não é exatamente o edição acrescentou-se também os setores
principal objetivo, podendo muitas vezes de transporte fragmentada em serviços de
estar voltado para os ganhos de eficiência ou mobilidade e compartilhamento de veículos
de escala, ou também na competitividade, e a de saúde e bem-estar subdividida em
que posteriormente será revertido em lucro saúde e em bem-estar e beleza, análise de
para todas as empresas dentro desta rede. dados e reputação e o suporte ao
Além disso, os custos de operação podem empreendedor. Isso demonstra como
ser diminuídos, uma vez que a estrutura das progressivamente tem havido um
redes facilita a operacionalização do crescimento de empresas abraçando a
modelo. estrutura de redes para trazer inovações
Jeremiah Owyang trouxe o conceito voltadas para diversos segmentos da
Honeycomb Grafic, uma colmeia sociedade.
colaborativa para representar um conselho Por último, a autora traz novas categorias
de inovação, tendo dentro desta colmeia para a classificação de modelos de negócios
grandes nomes que operam em modelo de em economia colaborativa. Primeiramente
rede. Essas empresas trazem motivações ela traz compartilhamentos e colaborações
sociais (como sustentabilidade, aumento via pagamento pelo acesso ou pelo uso,
populacional e contato social), motivações nessa categoria encontramos apps mais
econômicas (como financiamento de populares e conhecidos pelos usuários como
startups e recursos inexplorados) e Uber, AirBnb, TruckPad, entre outros. Nesta
capacitadores tecnológicos (como categoria o usuário não possui posse do bem
tecnologias móveis, redes sociais e internet ou serviço oferecido, ele terá apenas o
das coisas) como suas principais técnicas acesso e por ele pagará.
aplicadas aos seus negócios. Na primeira

14
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Na segunda categoria traz-se modelo se refere a produção compartilhada


compartilhamentos e colaborações com e identificação de soluções, como é o caso
custo marginal zero ou próximo de zero, por exemplo da Natura que tem incentivado
onde não há uma troca financeira o estabelecimento de trocas por meio de
propriamente entre os usuários, mas o lucro competições e ciclos de inovação, trazendo
provém de patrocinadores e da diversos representantes da sociedade de
comercialização de ações e de espaços maneira a impulsionar a produtividade e a
publicitários dentro do app. Os exemplos inovação.
que a autora traz são as plataformas Tem Todas essas categorias trazem fatores
Açúcar? Waze, e as redes sociais Facebook e críticos de sucesso em comum por conta do
YouTube. Nessa categoria, não há um seu modelo, apesar de operarem de
incentivo propriamente para as trocas maneiras diversas, podemos citar: operação
financeiras, mas sim a ideia de oferecer uma em rede; baixos custos de entrada;
plataforma para aproximar o apropriação da chamada capacidade
compartilhamento entre pessoas. operacional excedente; ampliação do
Na terceira categoria traz-se acesso, seja a bens, serviços ou ao
compartilhamentos e colaborações para conhecimento; estabelecimento de relação
contribuição a questões específicas, com a de confiança, com fornecedores e
possibilidade de remuneração ou não. Esse usuários/clientes; qualidade e agilidade.

_____________________________

15
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

LUCAS USTER5

Panorama das plataformas digitais de consumo colaborativo no Brasil: uma análise descritiva. Bibiana Giudice da
Silva Cezar. Marina Valim Bandeira. Kathiane Benedetti Corso. Filipe Mello Dorneles. Matheus de Mello Barcellos.

Considerações iniciais Outra característica do consumo


colaborativo é que os produtos, ao serem
O artigo consolida o levantamento realizado vendidos, não são considerados meramente
pelos autores acerca das plataformas “produtos usados”, que ninguém mais quer,
digitais de consumo colaborativo no Brasil. mas sim “produtos de segunda mão” que
Os dados foram extraídos do site Consumo podem ser adquiridos por outra pessoa a um
Colaborativo preço mais acessível
(https://consumocolaborativo.cc/), sendo o
intuito apresentar a caracterização das Plataformas digitais

plataformas digitais existentes no Brasil, A popularização dos websites ocorreu ao


suas categorias e frequência de aparição. final da década de 90, em que as pessoas
buscavam entretenimento e interação em
Consumo colaborativo
redes sociais virtuais. Nas últimas décadas,
A internet trouxe, como benefício, o os smartphones colaboraram para a
comportamento do compartilhamento. As evolução e crescimento do uso das
pessoas estão diariamente compartilhando plataformas, principalmente em razão das
coisas. possibilidades trazidas pelos aplicativos.
A prática do consumo colaborativo ajuda a O grande fator que gerou a expansão dos
ampliar a vida útil dos produtos. Um aplicativos foi o surgimento das “lojas de
exemplo de consumo colaborativo é aplicativos”, local em que é possível realizar
quando um comprador usa um produto e, o download de diversos aplicativos
após, disponibiliza-o para que outras centralizados em um único local.
pessoas possam comprá-lo.

5
Advogado. Mestre em Direito Civil e Empresarial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Bacharel
em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pós-graduado em Direito da Proteção de Dados (LGPD)
pela Legale, Pós-graduado em Direito Empresarial pela Legale, Membro da Associação Brasileira de Lawtechs e
Legaltechs (AB2L), Membro da Associação Nacional dos Profissionais de Privacidade de Dados (ANPPD), Ex-técnico
judiciário no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Ex-Chefe de Serviço na Secretaria de Recursos Especiais e
Extraordinários no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
16
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

É importante destacar que, embora o estudo


tenha analisado apenas plataformas do tipo O consumo colaborativo pode ser dividido

site e aplicativo, existem outros tipos de em três sistemas:

plataformas digitais, tais como grupos e a) Sistema de Serviços de Produto;

páginas de redes sociais virtuais e blogs. b) Mercados de Redistribuição;

Contudo, em razão da dificuldade em c) Estilos de Vida Colaborativos.

mapear todas essas plataformas, o estudo Das 104 plataformas observadas, 65% são de

focou em analisar aquelas já levantadas e Estilos de Vida Colaborativos, 18% de

disponíveis no site Consumo Colaborativo. Sistemas de Serviços de Produto e 17% de


Mercados de Redistribuição.
Nacionalidade das plataformas digitais e
atividades no Brasil das plataformas Categorias de consumo colaborativo
internacionais
Há diferentes categorias de consumo

Das 111 plataformas digitais de consumo colaborativo abrangidas pelos sistemas de

colaborativo que foram identificadas, 76 são consumo colaborativo.

nacionais e 35 são internacionais. Ainda, das Das 30 categorias utilizadas segundo

35 internacionais, 28 operam no Brasil. Botsman e Rogers, foram identificadas 16

Constata-se que o Brasil está acompanhando delas entre as plataformas de consumo

a tendência mundial de consumo colaborativo analisadas. Ainda, os autores

colaborativo e transformando o modo de acrescentaram 9 categorias e 38

consumir e fazer negócios. subcategorias.


Os autores apresentam o quadro de
Tipos de plataformas digitais distribuição das categorias, sendo

Existem diversos tipos de plataformas observado que as principais categorias são

digitais. Contudo, o artigo priorizou dois as de crowdfunding, aluguel entre pares,

tipos: os aplicativos e os sites. mapeamento colaborativo, crowdsourcing e


Foi identificado que, das 104 plataformas troca livre.
observadas, 69 atuam por meio de site e 34
Categorias de consumo colaborativo do
por meio de aplicativo móvel. Porém, tem Sistema de Serviços de Produto
sido percebido o crescimento da concepção
de aplicativos em detrimento de sites.
Sistemas de consumo colaborativo
17
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

O Sistema de Serviços de Produto tangíveis, mas também ativos intangíveis. As


compreende uma mentalidade de uso que pessoas com interesses semelhantes
prioriza o pagamento pelo benefício do procuram dividir e trocar ativos intangíveis
produto em si, e não por possuí-lo. Em como tempo, espaço, habilidades e dinheiro.
outras palavras, o consumidor paga pela Alguns exemplos são: plataformas de
utilização do produto sem que precise crowdfunding, plataformas de mapeamento
adquiri-lo. colaborativo, plataformas de crowdsourcing
Alguns exemplos são: aluguel de brinquedos e espaços de coworking.
infantis, aluguel de objetos de moda e
acessórios, aluguel entre pares e Considerações finais

compartilhamento de automóveis.
A maior parte das plataformas digitais
analisadas é do tipo website (sem aplicativo)
Mercado de redistribuição
e pertencente ao sistema de Estilos de Vida
Consiste na forma de consumo colaborativo Colaborativos. As plataformas digitais estão
baseada na venda ou troca de produtos que revelando um novo perfil de consumidor: o
não são mais utilizados por alguns, porém consumidor que busca a responsabilidade
que podem ser utilizados por outros. do consumo consciente. Ainda, constatou-se
Essa forma de consumo colaborativo que o consumo colaborativo no Brasil por
colabora para a reutilização dos produtos, meio de plataformas digitais está
reduzindo o desperdício e o consumismo. aumentando.
Alguns exemplos são: plataformas de
brechó, sites de troca de livros, sites de troca
de brinquedos infantis.

Estilos de vida colaborativos

Consiste na forma de consumo colaborativo


em que não são trocados somente bens

___________________________________

18
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Lucas Uster6

PAVANELLI, Rossana. Modelos de Rede e Inovação: Estudo de Modelos de


Negócios Relacionados à Economia Colaborativa, in CAMPOS, César Cunha et al.
Cidades Sustentáveis. FGV Projetos, 2018.

Considerações iniciais dos tempos, há compartilhamento e trocas


de bens e serviços, o que ocorre
O trecho em questão, extraído do livro
principalmente em razão de uma rede de
Modelos de rede e inovação: Estudo de
confiança estabelecida.
Modelos de Negócios Relacionados à
A novidade está em que, cerca de 10 a 15
Economia Colaborativa, de Rossana
anos pra cá, o impacto dessa colaboração
Pavanelli, traz algumas questões conceituais
aumentou consideravelmente em razão da
acerca da economia colaborativa,
ascensão tecnológica.
abordando os principais conceitos presentes
O conceito de economia colaborativa é
no tema, sendo que o conceito definitivo
baseado em dois pilares: o do
ainda está em formação.
compartilhamento e o da colaboração. No
Os modelos de negócio baseados em
que diz respeito a compartilhamento,
economia colaborativa estão ganhando cada
compreendem-se os bens e serviços que
vez mais espaço visto que trazem à tona
podem ser compartilhados por tempo
questões relacionadas à concorrência,
determinado entre pessoas com a finalidade
ganhos incrementais e eficiência
de atender a necessidades específicas
operacional, além de contribuírem para a
dessas. Aqui, o uso se sobrepõe à posse.
melhoria de modelos tradicionais.
Já a colaboração importa dizer que vai além
Conceito de economia colaborativa do compartilhamento e pode ser estendida
para buscar soluções para desafios
O conceito de economia colaborativa não é identificados, como, por exemplo, através de
novo. A autora aponta que, desde o início ações de crowdsourcing.

6
Advogado. Mestre em Direito Civil e Empresarial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Bacharel
em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pós-graduado em Direito da Proteção de Dados (LGPD)
pela Legale, Pós-graduado em Direito Empresarial pela Legale, Membro da Associação Brasileira de Lawtechs e
Legaltechs (AB2L), Membro da Associação Nacional dos Profissionais de Privacidade de Dados (ANPPD), Ex-técnico
judiciário no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Ex-Chefe de Serviço na Secretaria de Recursos Especiais e
Extraordinários no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
19
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

De forma ampla, ambos os conceitos Consumo colaborativo: É o consumo racional


constituem formas distintas de colaboração, baseado na troca, na partilha e que prioriza
que pode ser de um para um (peer to peer), o uso à propriedade;
ou de um para muitos. Peer-to-peer: relação negocial entre duas
Os negócios que surgem fundamentados na pessoas, em que uma atua como provedora
economia compartilhada possuem dois e a outra como usuária da solução;
grandes apelos: sustentabilidade e consumo Drivers do consumo colaborativo: é a
racional. Ainda, a autora ressalta o benefício inovação tecnológica, o consumo consciente
de renda adicional para os ofertantes, e o compartilhamento de crenças e valores;
principalmente em tempos de crise. Peer-to-business: Semelhante ao peer-to-
Alguns exemplos de plataformas de peer, porém o indivíduo atua como
economia colaborativa são a “Tem açúcar?”, fornecedor de solução para corporações;
em que a vizinhança pode promover o Crowd companies: Organizações construídas
empréstimo de produtos domésticos, a a partir do coletivo para operar plataformas
Fleety, plataforma para compartilhamento de colaboração livre;
de veículos, a Uber e o Airbnb, que também Crowdsourcing: Estrutura de colaboração
se baseiam em rede. coletiva em organizações públicas ou
Em relação aos modelos colaborativos, privadas com a finalidade de solucionar
podem ser exemplificados com os centros de desafios;
colaboração e inovação de grandes Crowdfunding: Estrutura de financiamento
empresas como o da IBM e Natura. coletivo para finalidades diversas.

Conceitos centrais relacionados à economia


Colmeia da economia colaborativa -
colaborativa e à economia compartilhada
Jeremiah Owyang – Crowd Companies

Economia colaborativa: é a economia


Owyang propôs, em 2014, a primeira
apoiada em redes, que faz oposição a
representação da colmeia da economia
instituições centralizadas;
colaborativa, denominada de Honeycomb
Economia compartilhada: é o modelo
Grafic, a qual representa seis segmentos:
econômico baseado no compartilhamento
transporte, espaço, serviços, alimentação,
de bens e serviços subutilizados com ou sem
bens de consumo e dinheiro. Após,
ganho monetário;
acrescentou saúde e bem-estar, logística,
20
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

corporações, utilidades, municípios e a) Prestadores de serviço: são aqueles


educação. que compartilham bens e/ou serviços, tanto
Trata-se de representação que alude à de forma ocasional quanto de forma
necessidade do trabalho conjunto para o profissional;
crescimento e fortalecimento da estrutura, e b) Intermediários: são as plataformas
é esse o conceito por traz da colaboração. que conectam os fornecedores aos usuários,
podendo inclusive oferecer serviços
Atores centrais do modelo colaborativo adicionais para facilitar as transações;
Usuários/consumidores: são aqueles que,
Na economia colaborativa, as transações com a internet, usufruem dos bens e serviços
econômicas podem ou não estarem voltadas compartilhados, tanto pagando por isso
para a obtenção de lucro. A Comissão quanto pela simples troca ou empréstimo.
Europeia aponta três atores principais desse
modelo de negócio:

_________________________________

Eva Motta7

TAPSCOTT, Don; WILLIAMS, Anthony D. Plataformas para Participação. In: Wikinomics: como a colaboração em
massa pode mudar o seu negócio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

NELE, vemos e sentimos a velocidade das desconforto, ansiedade e angústia, na


inovações, impulsionadas pelo medida da impossibilidade de se
desenvolvimento de novas tecnologias. acompanhar todas as mudanças.
Vêm, a princípio, para facilitar a vida das A quarta revolução industrial é um amplo
pessoas. Entretanto, também traz sistema de tecnologias avançadas como

7
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional-IMED e graduada em Ciências Contábeis pela UFRGS.
21
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

inteligência artificial, robótica, internet das mercado. Não há entre os envolvidos vínculo
coisas e computação em nuvem que estão societário e/ou empregatício.
alterando formas de produção/trabalho e os Nova configuração de negócios que são os
modelos de negócios no Brasil e no mundo. pilares da Economia Moderna e da Economia
Neste contexto, estão as PLATAFORMAS Contemporânea.
DIGITAIS, que possibilitaram o surgimento As PLATAFORMAS, também são chamadas
do mercado virtual, marketplace ou e- de ECONOMIA DE COMPARTILHAMENTO.
commerce, muitas vezes formatado como Compartilhar o que já existe e está sendo
REDES CONTRATUAIS. Estas, por sua vez, subutilizado, diminuindo custos e
inovam também na forma de ADMINISTRAR, alavancando negócios. Pela tecnologia de
alterando conceitos: informação conseguem compartilhar as
DE PARA capacidades excedentes de produtos e
COMPETIÇÃO COLABORAÇÃO serviços. Ocorre uma horizontalização das
INDIVIDUALISMO COLETIVISMO
relações contratuais.
As plataformas podem ser:
Nessa configuração, em rede, cujos
VERTICAIS HORIZONTAIS
participantes são muitos, coletivismo, é FRANQUIAS ASSOCIAÇÃO
necessária uma COORDENAÇÃO, que fixará COMERCIAL

regras que disciplinarão estas relações. Em peers to peers – UBER peers inc - REDEMAC

especial, no que se refere a ética, confiança,


respeito, comportamento, bem como O que difere uma da outra é o alto

manutenção, padronização de critérios de comissionamento para o controlador da

qualidade de produtos e serviços. REDE.

As PLATAFORMAS DIGITAIS são modelos de O compartilhamento acontece através de

negócios que muitas vezes estão formatados um software chamado Peer to Peer (ponta a

como REDES CONTRATUAIS. Na economia, a ponta)

expressão é utilizada para representar a Peers-to-peers representa uma arquitetura

organização entre indivíduos com interesses de redes de computadores onde cada um

semelhantes que interagem, normalmente dos pontos ou nós da rede funcionam tanto

por meio de plataformas on-line, sem a como cliente quanto como servidor,

presença de tradicionais intermediários do permitindo compartilhamentos de serviços e

22
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

dados sem a necessidade de um servidor peer-to-peer lending precisa ocorrer por


central. meio de plataformas que passaram pelo
Peer-to Peer lending – (plataforma de processo de autorização junto a CVM.
empréstimo e financiamento coletivo), a Este software, surgiu da necessidade de um
primeira em 2005, na Inglaterra8. cidadão Americano, conciliar a procura de
Para Abramovay 2014, o compartilhamento um imóvel com sua localização.
econômico descentraliza as relações Criou um aplicativo Housingmaps,
contratuais, reduz os custos de transação e (combinou serviço online Craigslist com o
implica em relacionamento de confiança. serviço de mapas do Google) que foi um dos
No Brasil, foram reguladas: primeiros mashups da web. Para
Pelo Banco Central – Resoluções 4656 e especialistas da área tarefa pouco
4657/2018. complicada.
Fintechs são empresas que introduzem Mashups – é um site personalizado ou
inovações nos mercados financeiros por aplicação web que usa conteúdo de mais de
meio do uso intenso de tecnologia, com uma fonte para criar um novo serviço
potencial para criar novos modelos de completo. (definição Google).
negócios. Atuam por meio de plataformas O conteúdo usado em mashups é
online e oferecem serviços digitais tipicamente código de terceiros através de
inovadores relacionados ao setor. A uma interface pública ou de uma API.
Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a API Application Programming Interface
Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (Interface de Programação de Aplicações).
(SEP), cujas operações constarão do Sistema Um tipo de ponte que conectam aplicações,
de Informações de Créditos (SCR). podendo ser utilizadas para os mais variados
tipos de negócio.
Pela CVM – Instrução Nº588/2017
Aplicativos e softwares de diversos tipos são
Regulamenta o crowdfunding de apenas passíveis de construção por meio dos
investimento (oferta pública de valores padrões e especificações disponibilizados
mobiliários) em sociedades empresárias de pelas APIS.
pequeno porte para captações públicas de
até 5milhões. Negócio formatado como

8
RIZZARDO Filho, Arnaldo, Curso de Redes Contratuais, Livraria do Advogado, 2022, p.147.
23
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Depois de ter se popularizado este conceito, A Amazon permite que 140 mil
muitos MASHUPS semelhantes eram programadores externos de software
apresentados diariamente. acessem seu banco de dados de produtos e
Os mashups com o google, por exemplo, seus serviços de pagamento para criar suas
surgiram para fazer qualquer coisa, desde próprias ofertas.
identificar a localização de cenas de crimes As plataformas abertas são a colaboração
até identificar casas de celebridades. em massa em ação.
Assim, estavam entrando em um mundo Quando ocorreu o furacão Katrina, foi criado
onde grandes plataformas abertas para um site/aplicativo para encontrar pessoas
participação servem de base para que que se distanciaram, desapareceram.
grandes comunidades de parceiros possam Diversos sites foram feitos, mas não
inovar e criar valor. Expandir seus negócios interagiam, enfim, era como se nada tivesse.
sem precisar aumentar seus custos. Então, numa sexta-feira, David Geilhufe
Uma plataforma pode ser um serviço de reuniu voluntários com bons conhecimentos
Internet como o google maps, ou como no de Tecnologia para ordenar o caos. Começou
caso da Amazon, pode incluir um sistema de a vasculhar diversos bancos de dados e
comércio eletrônico para armazenar, Bulletin boards on-line usando processo
comprar e distribuir bens. As empresas automatizado “screen scraping”. Na noite
alavancam as plataformas, para parcerias de segunda-feira, 50 mil itens haviam sido
com programadores que criam aplicativos processados até chegarem a um total de
para agregar valor. Chamados de 650mil no site www.katrinalist.net. Mais de
ecossistemas de programadores – redes de um milhão de buscas foram realizadas após
parcerias de negócios criadas quando uma o furacão. O notável é que a execução do
empresa abre seus serviços de software e projeto People Finder poderia ter exigido do
seus bancos de dados através de uma estado um vultoso orçamento anual ou até
Interface de Programação de Aplicativos mais. Porém, o grupo People Finder se
(API). A exemplo, o upload de 40% dos bens reuniu para executá-lo em quatro dias sem
no eBay agora é feito a partir de sistemas de custo algum para os contribuintes. Foi a
estoque de lojas de terceiros que usam esse colaboração em massa das Plataformas
site como canal alternativo de vendas. abertas, mostrando tudo que tem de

24
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

melhor. Participaram três mil pessoas, Popularização:


ligeiramente coordenadas.
As PLATAFORMAS vieram para democratizar
De fato, enquanto a web permanecer
o uso da INTERNET. Facilitam e desenvolvem
aberta, a inovação prosseguirá de maneira
o MARKETPLACE, os negócios virtuais.
espontânea.
O Objetivo é permitir que ideias e energias
Dilemas das plataformas
externas desenvolvam produtos inovadores
Os MASHUPS apresentam um problema que agreguem valor.
sério porque não oferece proteção para os A BBC de Londres, que lançou suas próprias
donos dos dados. O housingmaps era um iniciativas de serviços de Internet. No seu
aplicativo de grande potencial. Entretanto, projeto Backstage, convidou programadores
Rademacher, seu criador, recuou e aceitou a criar novos modelos de serviços com base
um emprego no Google. Motivos: Não era o nos feeds de seu conteúdo, como
dono dos dados que alimentavam o meteorologia, notícias e tráfego.
aplicativo; corria o risco de sofrer ações O lançamento do projeto foi em junho/2005,
legais do Cariglist por se apropriar de seus e quase cem novos serviços foram enviados
dados. ao site Backstage.
O Google é uma empresa de liderança Nesse projeto, a BBC disponibilizou através
global, repousa, em grande parte, em uma de Plataforma, para propósitos não
abordagem aberta da inovação. O Google comerciais, o acesso a sua biblioteca
ficou fascinado com a aplicação do televisiva, a maior do mundo.
Housingmaps – aquilo era publicidade e Também a BBC organizou concursos nos
protótipo de produto gratuitos. Os mashups quais os participantes eram estimulados a
aumentam a visibilidade do Google. remixar conteúdos gerando novas criações
de mídia.

__________________________________________

25
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Bernardo Assumpção Pinto Bravo9

SALES, Raissa Karen Leitinho; AMARO, Ana Carla; BALDI, Vania. Construindo Confiança em
Plataformas Digitais Para Partilhar Estilos de Vida Colaborativos em Contextos Sustentáveis.
Comunicação e sociedade, n. 39, p. 223-247, 2021.

Como construir confiança entre sustentável, adotando as seguintes balizas:


desconhecidos cuja primeira interação se organizações não comerciais; envolver a
dará por meio de uma plataforma digital? troca social não monetizadas; promover
Bombardeando os usuários com o máximo experiência em Portugal.
de informações ou intimando-os ao Seguindo essas premissas utilizaram para
preenchimento de uma bagatela de estudos as plataformas Volunteers Base, The
formulários sobre seus dados pessoais! Vale Poosh e WWOOF Portugal, cujos motes são
a reflexão, pois, conforme demonstra o promover a experiência real de troca de
estudo em análise, os caminhos não são experiência colaborativa de vida sustentável
dicotômicos, eis que existe uma gama de em projetos de bio-arquitetura em zona
estratégias utilizadas em ambientes digitais rural, projetos de educação em ecovilas, de
com a finalidade de estreitar os laços entre permacultura em sítios, entre outras
os usuários. atividades correlacionadas.
Desta forma, o objetivo do estudo é fazer um Em um primeiro momento, o estudo divaga
recorte no tema e através da análise dos por diversos elementos do universo
termos de uso e serviço das plataformas plataforma digital, indicando a importância
estudadas encontrar diretrizes/nortes que do design dos ambientes digitais e suas
possam ser seguidos pelos seus gestores, estratégias específicas para trazer a
visando a construção da confiança. Para confiança e romper este primeiro “gelo”
tanto compara casuisticamente os entre os usuários desconhecidos e entre os
documentos de 3 (três) plataformas digitais usuários e a própria plataforma, destacando
(p vs p) que fazem a intermediação de a força da confiança em quebrar barreiras e
usuários que buscam a troca de experiência diminuir as complexidades e
de vida colaborativa “onlife” em contexto consequentemente proporcionar mais

9
Bernardo Assumpção Pinto Bravo. Advogado. Formado em Direito pela UCAM-RJ. Contato:
bernardo@pbravo.adv.br.
26
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

qualidade nas relações interpessoais, palavras, buscando reconhecer os discursos


apontando a comunicação como a chave promovidos pelas plataformas nos
mestra para alcançar esse fim. documentos reguladores.
Seguindo as inspirações descritas acima, o Tal feita permitiu as autoras verificarem os
texto menciona diversos autores e suas diferentes caminhos utilizados por cada
pesquisas e percepções acerca da plataforma na tentativa de construir
construção da confiança nas plataformas confiança com os usuários e também
digitais no contexto da economia apontar algumas interseções ocorridas nos
compartilhada, indicando os mais variados seus discursos, sendo a Volunteers Base a
caminhos para o alcance da reciprocidade e mais voltada para a experiência e nas
confiança entre as partes, cabendo destacar informações dos projetos, bem como no
as preocupações com a segurança e cumprimento dos compromissos dos
privacidade, a qualidade da informação, os usuários, enquanto a WWOOF Portugal
recursos de comunicação e os documentos envereda para a preocupação com os dados
que regulam a utilização e a participação nas dos usuários, colocando o assunto como o
experiências. cerne da sua filosofia, já a The Poosh foca na
Em outra oportunidade, leva-se em relação entre os utilizadores e a plataforma
consideração as questões político-sociais, e entre os próprios utilizadores.
como a cultura e regra da comunidade, Repare que na análise dos documentos as
indicando ser de suma importância a autoras mencionam não terem encontrado
promoção pelas plataformas de políticas a palavras comuns de grande relevância que
fim de institucionalizar uma cultura ética pudessem apontar uma correlação nos
entre os membros da comunidade, evitando discursos das três plataformas estudadas, no
o surgimento de questões complexas que entanto, na observação da ocorrência entre
diminuam a sensação de mutualidade entre as palavras e suas conexidades, foram
eles. identificadas interseções no conteúdo dos
Quanto aos termos de uso e política das documentos reguladores das plataformas
plataformas, as autoras analisaram os dados em estudo.
recolhidos tratando-os em duas fases: a Diante destas observações, chegaram à
primeira utilizando de estatística textual conclusão que os discursos das plataformas
para inferir a ocorrência e associação entre estudadas, de uma forma geral, não diferem

27
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

de qualquer documento com conteúdo Em seguida, na segunda fase, os documentos


relacionado a segurança e privacidade de foram submetidos a uma análise de
usuários; com a cultura e regras destas conteúdo com o intuito de aprofundar o
comunidades; e com a qualidade da tratamento e gerar uma codificação
tecnologia e da informação utilizadas nestas descritiva, o que resultou em 20 diretrizes,
plataformas, trazendo urgência na separadas em três categorias: “práticas e
necessidade de se estabelecerem diretrizes condutas”, “condições” e “segurança e
que possam construir a confiança nas privacidade”.
plataformas.

O estudo traz esse código como auxílio para dados e da. privacidade dos utilizadores. Por
os gestores e utilizadores das plataformas último, mas não menos importante, a
trilhem o caminho da confiança, indicando categoria “condições”, onde encontramos
como categoria mais relevante a “práticas e um direito elencado pelas plataformas e três
condutas”, onde se encontram 11 (onze) compromissos que perpassam a
diretrizes que dizem respeito aos princípios, participação dos utilizadores.
às responsabilidades, aos compromissos e Por meio do método de estudo utilizado,
deveres dos sujeitos nas experiências, em através da quantidade de diretrizes
seguida indicam a categoria “segurança e adotadas por cada uma das codificações de
privacidade”, que versa sobre a cada plataformas, é possível compreender
responsabilidade e medidas de utilização das melhor suas filosofias, deixando
plataformas, a proteção e segurança dos transparecer que a Volunteers Base, de uma
28
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

forma geral, demonstra uma preocupação Na comparação entre a WWOOF Portugal e


maior com as diretrizes “princípio para a Volunteers Base há um maior encontro de
partilha e troca”, “compromisso diretrizes (princípio para partilha e troca,
infocomunicacional do utilizador” e compromisso infocomunicacional da
“princípio da transparência”. A The Poosh plataforma, compromisso
prioriza as seguintes diretrizes: infocomunicacional do utilizador,
“responsabilidade do utilizador”; “isenções responsabilidade da plataforma,
de responsabilidade da plataforma” e responsabilidade do utilizador), atenuando
“princípio de respeito e direitos humanos”, as discrepâncias, no entanto, duas diretrizes
já a WWOOF Portugal, estabelece não mencionadas pela Volunteers Base são
“compromisso infocomunicacional da de suma importância para a WWOOF
plataforma”, “responsabilidade de utilização Portugal, quais sejam: “responsabilidade da
dos dados pela plataforma” e “dever da utilização dos dados pela plataforma” e
plataforma sobre a obrigação por lei” “dever da plataforma sobre a obrigação por
lei”.
Em outro ato o estudo evidencia os pontos
Diante disso, fica claro no estudo que as
de interseção e distanciamento entre as
plataformas digitais de estilo de vida
codificações das plataformas, cabendo
colaborativo em contexto sustentável têm a
destacar na comparação entre WWOOF
noção da importância de recomendar e
Portugal e a The Poosh cinco diretrizes
estabelecer a confiança como norte nas
comumente consideradas (responsabilidade
relações decorrentes do convívio entre elas
do utilizador, compromisso
e seus utilizadores e entre os próprios
infocomunicacional da plataforma, isenções
utilizadores, entretanto, o cerne da questão
de responsabilidade da plataforma e
consiste em como fazê-lo. As autoras,
responsabilidade da plataforma), mesmo
apontam uma bussola para este e outros
que entre elas exista preponderância sobre
segmentos, por meio do estudo dos códigos
umas às outras, os dados não deixam de ser
regulamentares das plataformas,
importantes. No quesito maior discrepância
identificando 20 diretrizes, divididas em três
entres elas está a desconsideração por parte
categorias, com o intuito de orientar tanto
da The Poosh quanto a diretriz “dever da
os utilizadores quanto as plataformas na
plataforma sobre a obrigação por lei”.
busca de maior transparência e confiança,

29
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

contudo, deixam claro que os documentos situação específica, já que as plataformas


reguladores devem estar em constante são orgânica e por isso tendem a
debate e devem se adequar para cada transformações constantes.

________________________________________

Gabrieli Malet de Oliveira10

CODINA, José Nicolás Barragán; RODRÍGUEZ, Pablo Guerra; VILLALPANDO, Paula. Modelos de
negocios basados en el concepto de economía colaborativa: análisis de factores característicos y
casos ilustrativos. Daena: International Journal of Good Conscience,
v. 12, n. 3, p. 101-123, 2017.

No capítulo 03, o autor apresenta e esclarece nós interconectados, caracterizada como


os modelos de negócios relacionados à uma “[...] estrutura social em rede como um
economia colaborativa. Esclarece que o sistema aberto, altamente dinâmico,
fenômeno dos negócios em rede se suscetível a invar sem afetar seu equilíbrio.”
intensificou no século XX, a partir do final a Nesse sentido, configuram elementos para o
década de 60, criando uma comunicação estabelecimento das redes contratuais a (i.)
recíproca e colaborativa entre as partes, ao interação, (ii.) os objetivos comuns, (iii.) a
encontro do mútuo interesse das partes gestão; e (iv.) os ganhos competitivos,
integrantes do negócio. conforme as características abaixo:
Segundo Castells (1999), as redes
contratuais consistem em um conjunto de
Interação Objetivos Comuns Gestão Ganhos competitivos
Conectividade; Acessar recursos; Instrumentos Escala e poder de mercado;
Identidade, Exercer assimetria; contratuais; Soluções coletivas;
complexidade, Buscar reciprocidade; Instrumentos Redução de custos e riscos;
autenticidade; Ganhar estabilidade; estratégicos; Acúmulo de capital social;
Laços fortes e laços Atingir legitimidade; e Instrumentos Aprendizagem coletiva;
fracos; Possibilitar de tomada de Inovação colaborativa.
Densidade e cliques; flexibilidade. decisão; e
Equivalência, buracos e Instrumentos
autonomia estrutural; de integração.

10
Advogada. Pós graduanda em Direito Civil e Processo Civil pela FMP/RS. gabrielimaleto@gmail.com
30
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Centralidade e
proximidade;
Poder de bonacich

Ademais, os autores Rothwell (1995) e Balestrin e Vershcoore (2016) classificam os negócios em


seis gerações, de acordo com a tabela abaixo:

1ª Geração 2ª Geração 3ª Geração 4ª Geração 5ª Geração 6ª Geração (2000+)


(1950-1965) (1965-1970) (1970-1980) (1985-1995) (1995-2000)

Tecnologia; Emergente Alinhamento Modelo de Sistema aberto e Open motivation; e


Gestão limitação de estratégico de inovação colaborativo; e participação da
Centralizada recursos; pesquisa e integrado; Pesquisa e sociedade, dos
de pesquisa Popularizaçã desenvolviment equipes de desenvolviment clientes,
e o de o de acordo com pesquisa e o integrado com fornecedores,
desenvolvim tecnologias; a necessidade desenvolviment diversos agentes instituições públicas
ento; Competição do mercado; e o trabalhando (universidades no processo de
Recursos do mercado; Projetos com governo, por pesquisa e do
limitados; e e multidisciplinar fornecedores; e exemplo). desenvolvimento
Pouca Custo- es. Joint Ventures. (internet).
interação benefício
com para
unidades de inovação.
negócios.

31
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

No capítulo 04, os autores discorrem acerca Os modelos de negócio baseados na


do papel da inovação e da colaboração nos economia compartilhada, como regra,
novos modelos de negócio e quais são os baseiam-se na sustentabilidade social,
desafios aos modelos de negócio ambiental e econômica em razão do
tradicionais. Nessa linha, Schumpeter consumo racional de recursos financeiros.
(1934) assevera que as inovações passam a Isso porque, na inovação aberta, há um
ser categorizadas como (i.) um novo bem ou compartilhamento e uma cooperação de
um novo patamar de qualidade para um bem pesquisa e desenvolvimento entre órgãos
já existente; (ii.) um novo método de governamentais, outras sociedades e
produção; (iii.) a abertura de um novo universidades. Por essa razão, há uma
mercado; (iv.) a utilização de novas fontes de economia de recursos com pesquisa,
insumos e matérias-primas; (v.) uma nova desenvolvimento e propriedade intelectual.
organização.

_____________________

32
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

TEORIA ORGANIZACIONAL

Christiane Baladão11

BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge Renato; REYES JUNIOR, Edgar. O campo de estudo sobre redes de
cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, v. 14, p. 458-477, 2010.

“A sociedade se constitui real ou Aldeia pelos Terena de Buriti tem o sentido


formalmente a partir de indivíduos associais, de uma rede dinâmica de relações sociais,
que devem ser “socializados”, isto é, histórica e espacialmente definidas dentro
constrangidos pela inculcação de de um mesmo território. E como aldeia, as
representações normativas a se redes de cooperação tem a capacidade de
comportarem de um modo determinado” “facilitar a realização de ações conjuntas e a
Eduardo Viveiros de Castro - A inconstância transação de recurso para alcançar objetivos
da alma selvagem organizacionais”.
Resumo: O paper contempla a compreensão Artigos científicos são instrumentos pelos
sobre o texto “O Campo de Estudo sobre quais o autor, em análise, promove a
Redes de Cooperação Interorganizacional no discussão, apresenta determinado tema e,
Brasil” datado de 2010 que, com a aplicação por meio de métodos aplicados e resultados,
de metodologia comparativa ao artigo submete a comunidade científica a
“Networking Network Studies: An Analysis of disseminação de determinado
Conceptual Configurations in the Study of conhecimento. E a partir destes artigos, o
Inter-organizational Relationships”, de autor trouxe fotografias, cenários com
Amalya L. Oliver and Mark Ebers datado de descritivo de tempo, de participantes e do
1998, para reconhecer comportamentos, contexto, pois deste conhecimento
semelhanças, vínculos, identidades nas disseminado foi possível identificarmos que,
redes de cooperação interorganizacional no no Brasil, os seus indivíduos/atores exercem
Brasil. o que predispostos estão geneticamente: à

11
Graduada em Direito pela PUC/RS, especialista em Direito e Processo do Trabalho e Especialista em Gestão de
Tributos e Planejamento Tributário pela PUC/RS. Co-criadora do “Projeto Empodera”, que visa compartilhar
conteúdo e conexões parae entre empreendedoras. Staff e colaboradora na produção do AFRO'NTALK'S, um talk
show de entrevistas com afroempreendedores, para inspirar e valorizar, um ato de representatividade e de
celebração.
33
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

vida social, pois possuem harmonia de Tríade porque são identificados três
interesses em decorrência da falta, de uma elementos, três dimensões, três análises que
comum falta, de uma restrição da qual estes são realizadas para se compreender as redes
indivíduos/atores não possuem. de cooperação:
O que antecede a rede é a dor. Os estudos indivíduos/atores/antecedentes,
mostram que as redes são iniciadas a partir grupos/relação(elo)/processo e as
da escassez do mercado específico, da falta organizações/rede/resultados (ganhos das
de mão de obra qualificada, da insuficiência redes).
de recursos básicos, como uma matéria A partir destes conceitos quanto à
prima específica. A partir dessa constatação composição, cientificamente somos
de não haver e em igualdade de hierarquia, tendenciosos aos porquês, já que os
colhendo aprendizagem e inovação a partir materiais examinados visam, em sua
dessa conexão, conexão esta devidamente maioria, a compreensão sobre as razões, os
elaborada, pensada, planejada, por grupos motivos, as vontades pelas quais as redes
de organizações, com intenção de assim foram realizadas, dando ênfase aos grupos
estarem, parte-se desta escassez para de organizações existentes, ou seja,
abundância, designados, nomeados, prepondera-se os estudos sobre as
reconhecidos. motivações que levaram os indivíduos a se
E as vontades, que antecedentes seriam de organizarem da forma que estão.
escassez, durante as vantagens obtidas É na perspectiva das razões pelas quais as
através das redes se sobressaem, em razão redes são constituídas que as pesquisas são
desse movimento coletivo, já que uma em sua maioria tendenciosas, bem como na
andorinha só não faz verão. intenção que há entre os atores, portanto,
Os conceitos e apontamentos, este dentro da linha do tempo da rede, as redes
conhecimento e esta descrição fotográfica de cooperação interorganizacionais tem
das redes foram extraídos da predominância suas origens como foco.
de determinadas correntes teóricas O porquê do sucesso, as razões de sucesso
encontradas nas pesquisas sobre redes de das redes, já que os estudos denotam que as
cooperação entre organizações, bem como redes de cooperação interorganizacional no
da tríade que estas redes são compostas. Brasil possuem maior capacidade de
resolução, de alcance dos objetivos pelos

34
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

quais constituídas. E por essa busca pelas Pela natureza composta, interseccional e
razões de êxito, a compreensão sobre as interdisciplinar a explicação do cenário das
ações coletivas e a maneira em que foram redes de cooperação no Brasil torna-se mais
mobilizadas para a obtenção do objetivo em tangível a partir das principais correntes
comum, ou seja, a teoria sobre as estratégias teóricas acima referidas, que não abarcam
das redes de cooperação, é comum na só uma linha de conhecimento por si só mas
maioria das discussões. atestar o efetivo sucesso das redes, já que
Não há o que estranhar, porque se os possível mensurar a capacidade das redes de
estudos em sua maioria estão vinculados as converter os objetivos antecedentes,
causas antecedentes, motivações e partindo-se de uma ideia de fenômeno.
intenções das partes a se estabelecerem em Fenômeno este amplamente estudado pela
rede, a estratégia é abordada com maioria das universidades do sul do país,
frequência, “em compreender as redes mais cujos autores dos artigos estão vinculados a
como estratégia das organizações para instituições de ensino que por um período
competirem”, competitividade, agora estiveram engajadas no Programa Redes de
coletiva, impactando positivamente nas Cooperação derivado de uma política
organizações. pública estatal que implicou na criação de
O texto destaca-se, ainda, a teoria mais de 200 redes de cooperação. A parceira
institucional sobre as redes de cooperação, pública e privada nos anos 2000
que trata da teoria quanto ao proporcionou à pesquisadores, mestrandos
reconhecimento, quanto ao vínculo de e doutorando material consistente para
dependência por pertencimento a compreensão sobre.
determinada rede e a teoria dos custos de Fenômeno ou aldeia, as redes de
transação, que são frequentemente cooperação interorganizacional do Brasil
discutidas pelos autores científicos, bem ainda demandam de mais estudos científicos
como a teoria das redes sociais, laços sociais sobre a sua existência, principalmente
estabelecidos que poderão afetar a rede, atuais, diante da tecnologia, da internet das
afinal, somos a média das pessoas das quais coisas, da inteligência artificial, que torna
nos conectamos. exponencial e em potencial rede, qualquer
tipo de negócio.

35
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Eduarda Jade Stumer Santos12


TODEVA, Emanuela; KNOKE, David. Strategic alliances and models of collaboration. Management
decision, 2005.

Introdução

A literatura internacional já reconheceu um colaboradoras experimentam o aumento da


número positivo de resultados para integração e formalização da governança de
empresas ativamente engajadas em alianças suas relações intraorganizacionais.
estratégicas, tais como aumento no capital, Governança é a combinação de mecanismos
retorno em investimentos e taxas maiores de controle jurídico e social que visa
de sucesso quando comparadas com coordenar e salvaguardar os recursos dos
integração através de fusões e aquisições. aliados, elencar responsabilidades
Aspectos gerais da literatura sobre a aliança operacionais e a dividir os retornos das
estratégica são: atividades em conjunto.
- Elencar as competências do parceiro; Uma aliança estratégica envolve no mínimo
- Pensar sobre o parceiro como o aliado do dois parceiros comerciais que:
dia de hoje; - Permanecem juridicamente independentes
- Compartilhar poder e recursos após a formação da aliança;
(compartilhar informação de forma - Compartilham os benefícios e controle
inteligente); gerencial da performance das tarefas
- Estruturar aliança estratégica de forma estabelecidas;
prudente. - Fazem constantes contribuições em uma
O artigo busca explicar a formação, ou mais áreas estratégicas como tecnologia
implementação e consequências de alianças ou produtos.
estratégicas entre atores autônomos no A formação de relações em rede é
campo organizacional. As empresas intimamente ligada com a criação de normas

12
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora em Direito Contratual Empresarial e Responsabilidade
Civil na UFRGS, Assistente jurídica voluntária no SAJU na área de Direito Civil

36
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

que promovem confiança e reciprocidade negociais que irão permitir que estes
econômica (social capital). Apesar de comandem valores de mercado mais altos na
relações em rede e capital social serem sua comercialização.
conceitos próximos, não são idênticos. Os motivos estratégicos pelos quais
Relações em rede podem gerar um capital empresas embarcam na formação de
social corporativo na forma de prestígio alianças são vários:
organizacional, reputação, status e 1) Busca por mercado;
reconhecimento de marca. 2) Aquisição de meios de distribuição;
3) Ganhar acesso a nova tecnologia;
Alianças estratégicas como formas híbridas
4) Aprender e internalizar habilidades

Quando uma restrição jurídica ou econômica tácitas, coletivas e embutidas.

impede uma empresa de usar hierarquia ou 5) Conquistar integração vertical, recriar e

controle total como uma solução, esta pode estender conexões de fornecimento para

vir a optar por entrar em uma aliança para ajuste às mudanças de mercado;

contrariar certas forças do mercado que 6) Diversificação em novos negócios;

ameaçam seu bem-estar comercial. Alianças 7) Reestruturar e melhorar negócios;

combinam os ativos e capacidades com as 8) Compartilhamento de custos e

incertezas e responsabilidades de todas as concentração de recursos;

partes. Cooperação efetiva requer 9) Desenvolvimento de produtos,

comprometimento sério dos parceiros em tecnologias e recursos;

não tirar vantagem do outro quando 10) Redução de riscos e diversificação de

oportunidades surgem. riscos;


11) Alcançar vantagem competitiva;
Motivos estratégicos, intenções e escolhas 12) Cooperação de potenciais rivais ou pré-
esvaziamento de concorrência;
Empresas apostam em alianças estratégicas
13) Especialização conjunta;
por muitos motivos: para aumentar sua
14) Superação de barreiras legais e
capacidade produtiva, para reduzir
regulatórias;
incertezas em suas estruturas internas e
15) legitimação, bandwagon effect
ambientes externos, para adquirir vantagens
(tendência das pessoas fazerem coisas
competitivas que permitam a o aumento do
lucro ou ganhos em futuras oportunidades

37
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

porque outras pessoas também estão expectativas divergentes sobre a


fazendo) e seguir tendências da indústria. contribuição para a sua colaboração etc.
A decisão de cooperar não é uma ação Contratação relacional
responsiva, mas fundamentalmente uma
Um contrato baseado na confiança
intenção estratégica que busca evoluir as
(relational contract) contraria as incertezas
circunstâncias futuras para cada empresa
associadas a envolvimento independente
individual e para a sua relação de
em negociações. As formas de governança
cooperação conjunta.
relacional repousam nos diversos
As formas de aliança variam com a posição
mecanismos de coordenação como normas
das empresas no mercado (líder e seguidora)
recíprocas, confiança intraorganizacional e
e a importância estratégica de colaborações
capital social enriquecido por muitas trocas
com o portfolio de trabalho de cada parceiro
e interações sociais. Contrato baseado na
comercial (atividade principal ou
confiança abrange não somente termos não
subsidiária). As empresas tendem a proteger
especificados e condições em contratos
sua atividade principal e muitos estão
complexos e de prazo indeterminado, mas
dispostos a formar alianças envolvendo
também estratégias coletivas
atividades secundárias que oferecem um
intraorganizacionais para eliminar rivalidade
mais amplo escopo do aprendizado
na tácita coordenação.
organizacional e menos vulnerabilidade no
Um problema central permanece sendo
compartilhamento de informação
sobre a maneira de melhor balancear a
confidencial.
interdependência e o controle com formas

A implementação de alianças estratégicas alternativas de governança nas alianças


estratégicas. A governança se propõe a
Os problemas da implementação de alianças
apresentar mecanismos particulares
incluem a escolha de mecanismos de
importantes para solução de conflitos e
governança: ressaltando a confiança e a
preservação da relação com parceiros.
reciprocidade entre os parceiros,
gerenciando a integração de staffs de Gerenciamento da formação da aliança
diferentes culturas organizacionais, resolver
A fase de implementação geralmente requer
conflitos que surjam entre parceiros com
que duas empresas autônomas:

38
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

- Reúnam um pouco de recursos humanos e que expõe os parceiros somente a riscos


ativos materiais; pequenos. A reincidência de alianças
- Desenvolvam uma estrutura de governança estratégicas entre parceiros experientes é
pratica com poder suficiente e controle; e mais prováveis de repousar em
- Aprendam a como cooperar para benefício intraorganizacional confiança do que
mútuo. salvaguardas contra um potencial
Prudente atenção deve se ter para oportunismo do parceiro.
selecionar o staff e líderes do projeto,
Confiança e reciprocidade
criando uma estrutura formal subsidiária
com seu próprio quadro de diretores e O papel das normas de confiança e da
hierarquia de autoridade interna com reciprocidade na fase de implementação da
porções igualitárias na divisão de aliança é de sustentar o período de teste
participação e controle dos parceiros. requerido, que dura entre 6 e 18 meses, no
Mesmo assim, a mais meticulosa qual os parceiros constroem estáveis e
salvaguarda contratual não providencia previsíveis estruturas para governar a sua
garantias suficientes para incertezas, colaboração, sendo uma institucionalização
ambiguidades e disputas que de implícitas e explícitas regras e
frequentemente surgem nas operações procedimentos.
cotidianas.
Gerar confiança entre os parceiros é crucial Alcançando objetivos de aprendizagem

para superar as suspeitas iniciais do rival Alianças estratégicas podem operar como
sobre uma possível parceria meramente canais institucionalizados para transferir e
oportunista. Desigualdades no poder criar novas capacidades organizacionais. O
organizacional indicadas por disparidades na aprendizado pode ocorrer pela exploração
contribuição de recursos e controladas por em que uma empresa absorve o know-how
cada parceiro pode impedir a criação da da outra ou pela experiência comum de
confiança em razão da disparidade dos parceiros na constância da implementação
parceiros na capacidade em cumprir suas de acordos colaborativos. A primeira
obrigações. Alianças iniciais entre parceiros dinâmica de aprendizado traduz
sem experiência prévia frequentemente competição, enquanto a última traduz uma
começam com relações contratuais formais maior mutualidade e interdependência.

39
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Sucesso organizacional em alcançar de venda aumentam substancialmente se


objetivos de aprendizagem depende de uma empresa estiver mais conectada com
diversas dimensões de conhecimento e parceiros ligados a inovação tecnológica e
estrutura organizacional como um efetivo ricos em receita. Tais efeitos são
processo de informação, aquisição da especialmente importantes para empresas
expertise do parceiro e adoção de inovações. menores e mais jovens. Assim, empresas
obtém vantagens do capital social
Impactos das alianças nos parceiros
corporativo do seu parceiro mesmo que a
Uma tarefa mais difícil é demonstrar que as aliança estratégica falhe em atingir os
alianças produzem substanciais resultados objetivos formais estabelecidos.
não financeiros como o aumento da As percepções de satisfação da relação de
credibilidade organizacional. Alianças parceria inicial e em toda sua extensão
estratégicas contribuem para melhora na aumentaram com parceiros que tinham
performance de produção pelos parceiros. melhor reputação no gerenciamento de
Os fatores cruciais não são o número de qualidade, com processo de decisão
alianças formadas pelos parceiros, mas o compartilhada; com semelhanças
recurso contributivo do perfil de cada estratégicas entre ambos os parceiros.
parceiro. Tanto a inovação quanto os índices

_______________________________________

Fátima Cabeleira Almeida Zucchetto13

BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge Renato; PERUCIA, Alexandre. A visão relacional da estratégia:
evidências empíricas em redes de cooperação empresarial. BASE-Revista de Administração e Contabilidade
da Unisinos, v. 11, n. 1, p. 47-58, 2014

Introdução

A colaboração interorganizacional é uma colaborativa, social e tecnológica, o que


realidade que atrai o interesse crescente nos estimula e propaga a prática de ações
estudos organizacionais. Tal crescimento é coletivas entre as organizações (Castells,
significativamente nutrido pela dinâmica 2000). Alianças estratégicas, supply chain,

13
Graduada em Direito e Comércio Exterior pela PUC MG, Pós-Graduada em Direito Notarial e Registral
40
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

redes, joint ventures, distritos industriais, demonstrar a forma como algumas


consórcios e associações são exemplos de organizações têm conquistado vantagens
configurações organizacionais surgidas competitivas por meio de práticas de
como consequência desta dinâmica cooperação.
colaborativa. Partindo deste cenário Assim, o artigo parte da teorização acerca de
crescente em que as organizações estão três perspectivas dominantes no campo da
inseridas, novos estudos são necessários estratégica, quais sejam, estrutura da
para o entendimento do processo indústria, visão baseada em recursos e
competitivo entre as empresas, a partir da custos de transação. Exploram-se essas
visão relacional, que observa a cooperação perspectivas sob a ótica relacional da
como meio para as organizações atingirem estratégia.
melhores resultados, diferentemente das
A visão dominante do campo da estratégia
premissas dominantes na área estrategista,
Estrutura da indústria
preconizada por ações individualistas e de
O alcance da harmonia entre cooperação e
barganha dentro da cadeia mercadológica
estratégia, com base na visão dominante do
(Gause, 1934; Barney, 1991).
campo da estratégia, apresenta certa
Essa nova visão teórica traz consigo a
dificuldade, haja vista o posicionamento
necessidade de novas discussões acerca das
doutrinário majoritário. Para Benkler (2011),
afirmações consagradas no campo da
a competição entre as empresas é elemento
estratégia. Segundo alguns autores (Child et
principal no campo da estratégia (Benkler,
al., 2005; Zaheer et al., 2010), o
2011). O princípio da exclusão competitiva
entendimento de entidades autônomas
trazido por Gause (1934) é base para muitas
lutando, isoladamente, para sua
teorias dispostas acerca da perspectiva
sobrevivência no mercado, abre a
clássica de competição em matéria de
possibilidade, no campo das estratégias
estratégia. Este autor diz que uma espécie
coletivas, de uma cooperação mútua com
existente em um ambiente de igualdade
foco no alcance de seus objetivos
deve excluir a concorrência e se posicionar
estratégicos (Ibarra e Hansen, 2011).
como líder, do contrário, não sobreviverá.
Diante desse cenário, o estudo trazido pelo
Partindo dessa premissa, diversos estudos
presente artigo desenvolve evidências
surgiram baseados na visão dominante, mais
teóricas e empíricas que permitem
precisamente, via três perspectivas, quais
41
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

sejam: estrutura da indústria, visão baseada imperfeita imitabilidade e dificuldade de


em recursos e custos de transação (Gulati et substituição, podendo ser divididas em três
al, 2000). categorias: recursos físicos, recursos
O maior expoente na década de 1980, humanos e recursos organizacionais.
Michael Porter, trouxe conceitos focados na
Custos de transação
estrutura da indústria e consolidou a ideia de
que uma estratégia advém de análise A terceira perspectiva, conhecida como
sistemática da indústria ou seu segmento. A custos de transação, se dedica a entender o
partir da observância das cinco forças custo de produção de uma empresa.
competitivas (Porter, 1986), que são: (I) Apurando o custo, pode-se tomar decisões
ameaça de novos entrantes; (II) poder de em relação à produção interna ou
barganha dos fornecedores; (III) poder de contratação no mercado.
barganha dos compradores; (IV) ameaça de Largamente estudada, essa perspectiva foi
produtos substitutos e (V) nível de rivalidade abordada pela teoria econômica, que
concorrencial, constatou-se a influência que destacou duas formas de governança das
estas exercem na formação de preços, atividades econômicas: mercado e
custos e investimentos necessários às hierarquia. Segundo Coase (1937), o meio
empresas. Com isto, quanto maior a mais eficiente para produção de
rivalidade entre os concorrentes, menor a determinado produto seria direcionar a
possibilidade de margens superiores de produção de seus componentes às empresas
lucro (Porter, 1986). especializadas, no entanto, essa não é a
realidade de muitas empresas, uma vez que
Visão baseada em recursos
essa prática gera custos de transação

Na visão baseada em recursos, o foco está na (Williamsom, 1975).

administração dos recursos intangíveis ou Sempre que uma empresa precisar definir e

exclusivos que uma empresa detém, gerenciar suas transações com outra, haverá

trazendo para essa uma vantagem custo de transação, muitas vezes não

competitiva. Para Barney (1991), estes tratados pelas empresas, seja na negociação

recursos devem possuir quatro propriedades e formalização de contratos, seja no

a fim de proporcionar vantagem gerenciamento de clientes. Com isto, a

competitiva, que são: valor, raridade, questão central na existência de custos de

42
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

transação tem liame com a confiança nas sinônimos, porém, não podem ser
relações interorganizacionais (Bachmann e confundidos (Cropper et al., 2008).
Zaheer, 2008). A consolidação do conceito de estratégias
Por fim, pode-se notar que as perspectivas coletivas foi fruto de estudos de Astley
dominantes no campo da estratégia, através (1984) e de Astley e Fombrun (1983), que
da estrutura de indústria, da visão baseada possibilitou entender que as estratégias das
em recursos e dos custos de transação, empresas não necessariamente devem
dizem respeito à busca da vantagem acontecer por meio de ambientes
competitiva entre empresas, onde competitivos, traçando várias alternativas
necessariamente deve existir um ganho de de ações colaborativas de curta e longa
um lado e uma perda de outro (Axelrod, duração.
1984). Astley (1984) identificou três visões
Assim, faz-se necessária uma compreensão organizacionais, resumidas em: “cavaleiro
teórica mais abrangente dos postulados solitário” (empresa é pioneira e luta contra
essenciais das perspectivas dominantes, por condições impostas), “orientação
meio de uma visão relacional, a fim de egocêntrica’ (empresa é autossuficiente e
discutir possibilidades, como a existência de toma ações independentes) e “orientação
resultados positivos para ambos os lados da militar da estratégia” (organizações vistas
relação. como inimigas, lutando em ambiente voraz a
fim de conquistar posição estratégica no
A visão relacional da estratégia
campo de batalha).

A partir da década de 1980, a visão relacional Em oposição a essas visões, Astley (1984)

da estratégia surgiu com maior força. idealiza a colaboração como conceito de

Direcionada às relações de estratégia de negócios, convertendo o conceito de

cooperação entre as organizações, a “visão competição para o de cooperação, de única

relacional da estratégia” engloba uma organização para grupo de organizações e de

quantidade de termos, como “estratégias separação para união.

coletivas”, “cooperação empresarial” e No decorrer da década de 1980, surgiram

“relações interorganizacionais”, entre novos estudos acerca da compreensão da

outros, muitas vezes entendidos como visão relacional. Nalebuff e Brandenburger


(1996), colocaram em discussão as

43
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

consequências das estratégias competitivas do que procurar dominar os recursos


e colaborativas, pois uma vez que a visão estratégicos.
individualista e competitiva pode trazer Conforme a visão relacional, a estratégia
perdas às organizações, como guerra de coletiva traz uma vasta fonte de recursos por
preços, a visão coletiva e colaborativa pode meio de uma rede de acesso com valiosas
atrair oportunistas e competidores desleais, informações, compartilhamento de
como o furto de segredos, por exemplo. As conhecimento, investimentos específicos de
empresas devem conhecer os pontos relacionamento e efetiva governança. Com
positivos e negativos das estratégias isto, a rede cria um recurso competitivo de
individuais e coletivas para, então, tomar difícil imitação, potencializando novas ações
suas decisões com base no ambiente em que conjuntas de seus integrantes (Dyer e Singh,
se inserem e as empresas participantes do 1998); Gulati, 1999).
negócio (Luo, 2004). Fornecedores e
Considerações finais
fabricantes dispostos a colaborar colherão
maiores benefícios, uma vez que alcançarão Com base nas evidências constatadas nas
maiores vendas e lucros, como no caso da iniciativas adotadas no Estado do Rio Grande
Toyota e seus parceiros (Dyer e Nobeoka, do Sul, foi possível consolidar as teorias
2000). estudadas. Consoante ao exposto, a visão
Com o passar do tempo, ambientes relacional de estratégia permite melhor
dinâmicos dificultam a manutenção da entendimento das perspectivas de estrutura
propriedade ou o controle dos recursos da indústria, da visão baseada em recursos e
valiosos. Assim, os estudos de Hall (1992, dos custos de transação. A colaboração
1993) apontam que a cooperação é o entre clientes, fornecedores e concorrentes
caminho mais rápido para as empresas é impulsionada pelas redes
conquistarem recursos intangíveis em interorganizacionais, via ações coletivas,
ambientes exigíveis em conhecimento. promovendo o aprendizado mútuo,
Powell (1998), destaca que a coespecialidade, escala e aumento dos
competitividade de uma empresa ganhos individuais dos agentes envolvidos.
dependerá muito mais da habilidade em A visão relacional de estratégias estudada no
gerir e coordenar recursos junto a parceiros presente artigo infere alguns
questionamentos, quais sejam: a abordagem

44
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

da competição individual da empresa, 1992, 1993; Powell, 1998). Ainda, a


baseada na estrutura da indústria, que confiança pode permitir a redução de custos
sugere a possibilidade de alcançar maior de transação, complementando a teoria dos
competitividade partindo de ações coletivas custos de transação, conforme práticas nas
(Jarillo, 1988; Dyer e Nobeoka, 2000). As redes do Rio Grande do Sul.
estratégias coletivas auxiliam na visão
baseada em recursos, uma vez que ativos
construídos em conjunto também podem
gerar estratégia competitiva eficiente (Hall,

_______________________________________

Vitor Luís Botton14

ANTUNES, Junico; BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge. Práticas de gestão de redes de


cooperação. São Leopoldo: Unisinos, 2010

Inicialmente, para fins de introdução, o livro PARTE 1 – A gestão de redes de cooperação


empresarial
aborda sobre um projeto realizado em
conjunto pelo Governo do Estado do Rio Capítulo 1 – Gestão de redes de cooperação
empresarial
Grande do Sul, por meio da Secretaria de
Desenvolvimento e dos Assuntos
O universo dos negócios está cada vez mais
Internacionais, referente às redes de
conectado à nível global, sendo assim, a
cooperação de empresas estudadas e do
ideia de redes de cooperação está embasada
Grupo de Estudos em Relações
nos conceitos de cooperação e de rede,
Interorganizacionais (GeRedes).
tendo por objetivo potencializar as
organizações a responderem de forma mais

Graduado em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus
Frederico Westphalen/RS, Pós-Graduado em nível de Especialização em Direito Contratual pela Faculdade
Cers, Mestrando do PPGDireito da Faculdade Meridional – IMED.
45
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

eficaz as mudanças no ambiente e/ou no a ação flexível das empresas que constituem
mercado, reduzindo incertezas associadas à a rede, na qual cada membro mantém sua
diferentes operações. individualidade legal.
As redes de cooperação reúnem Em linhas gerais, o processo de gestão é
empreendimentos que possuem objetivos democrático, em que existe uma
comuns. São dedicadas a desenvolver participação horizontal e ativa entre as
ganhos coletivos, sem que as empresas empresas envolvidas, abrindo espaço para a
participantes venham a perder a sua participação optativa dos membros nas
autonomia de gestão. Assim, unem aspectos decisões da rede. Ademais, a direção,
ligados a flexibilidade e agilidade, e formada por representantes dos próprios
aumentam a escala no mercado, priorizando associados, assume as decisões operacionais
a ideia de ganhos coletivos na cooperação e de controle. No entanto, nada impede que
em rede. em redes mais maduras e de maior porte se
É cediço que as pequenas empresas profissionalize a gestão executiva da rede.
apresentam dificuldades de competição com Outrossim, os associados devem observar
empresas maiores, em razão de custos que a rede de cooperação deve ser
elevados de produção, pequena escala, percebida como uma “nova empresa”, e que
desconhecimento de mercado, deficiência um ponto essencial neste processo de
em tecnologia, capacitação, obtenção de gestão é que os ganhos gerados em conjunto
crédito, entre outros. pelas empresas integrantes sejam
Desta forma, as redes de cooperação distribuídos da forma mais igualitária
empresarial são uma ferramenta possível.
organizacional eficaz para a evolução das A rede, como uma “nova empresa”, deve
empresas, principalmente as de menor traçar objetivos e estratégica de longo prazo,
porte, eis que tem o poder de aumentar a baseada em elementos como: o valor da
competitividade para as empresas reputação; a interdependência dos recursos
associadas, por meio de ações uniformizadas e das empresas; a complementaridade de
e padronizadas, que possibilitam o ganho de recursos; a comunicação relacional; a busca
escala relacionado com as várias formas de permanente da flexibilidade; o
união entre as empresas, melhorando a sua comprometimento e a ênfase coletiva no
fatia de participação no mercado, mantendo

46
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

planejamento nas ações; estratégia; o na formulação das estratégias, eis que, sem
planejamento; a direção; e o staff. estratégia, uma rede não consegue gerar a
A ideia central para a formação de redes está competitividade desejada por seus
no fato de que as relações de cooperação associados.
possam resultar em ganhos para todos os É importante traçar e definir os objetivos
envolvidos, quais sejam: a possibilidade de globais, a missão e a análise dos ambientes
ampliar a capacidade de ação de uma interno e externo. Ainda é necessário adotar
determinada empresa individual a partir de um padrão, que contribua a agilidade nos
uma perspectiva coletiva; ganhos de escala e processos de marketing, negociação e
os ganhos relativos ao poder de mercado; expansão.
geração de soluções coletivas que tende a Nas práticas em estratégia pode-se citar dois
permitir a geração e disponibilização de personagens de grande importância: o
soluções a partir da rede na qual a empresa guardião do planejamento e o embaixador.
se insere; redução dos custos e riscos Em algumas redes, o planejamento não é
assumidos pelas empresas associadas; seguido na prática pelos associados. Neste
acúmulo de capital social, ganhos de caso, o papel do guardião tem grande
aprendizagem coletiva. importância, tendo em vista a complexidade
Deve-se destacar, ainda, a importância dos de se acompanhar a execução eficaz do
instrumentos de gestão das redes, que planejamento estratégico na rede.
podem ser classificados em quatro grandes Destaca-se que o guardião trabalha no
grupos: i) contratuais; ii) estratégicos; iii) acompanhamento da execução do plano
decisão; e iv) interação. estratégico, podendo ser, inclusive, um dos
associados, sendo visto como uma figura
PARTE 2 - Práticas de Gestão de Redes
neutra no processo, o guardião pode
Capítulo 1- Estratégia
fiscalizar e encorajar a participação de todos
A estratégia é responsável por moldar o os atores envolvidos dentro de princípios de
processo de desenvolvimento da rede, igualdade.
alinhando as necessidades de cada empresa No que tange ao alinhamento da empresa
associada aos objetivos coletivos mais com a rede, tem-se a figura do
amplos. Neste ponto, é importante a “embaixador”, que, propositalmente, não
participação de todos os associados da rede está ligado à diretoria da empresa associada

47
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

e sim ao quadro de funcionários, pois aqueles que integram a rede, focando nos
consciente da essência estratégica a ser ganhos coletivos, tornando as empresas
conduzida na empresa, tem a habilidade de mais próximas e almejando os objetivos
“falar” a língua de seus colegas (também comuns. A aproximação entre os parceiros
funcionários) e de entender como tais pode ser feita por meio de ações simples,
estratégias-macro da rede, naturalmente de como encontro regulares dos membros e
caráter mais abstrato, podem resultar em interação com especialistas e lideranças,
ações operacionais/práticas dentro da envolvendo o conjunto dos parceiros.
empresa. Por outro lado, as atitudes não desejáveis
Sendo assim, a ideia do “guardião do praticadas por membros que integram a
planejamento estratégico”, faz com que os rede podem ser sanadas através de sanções,
proprietários das empresas associadas vez que previstas em um estatuto, ou em
atuem dentro das diretrizes traçadas na outros termos.
elaboração do planejamento estratégico. O Importante dar atenção especial a questões
“embaixador” atua no nível operacional das de gestão que identificam pontos de
empresas, cumprindo um importante papel melhoria na rede, zelando pelo processo
no alinhamento da estratégia da rede com a decisório democrático, que pode ser feita
estratégia da empresa. em dois passos. Em primeiro lugar ressalta-
se a antecipação das necessidades e
Capítulo 2 – Coordenação expectativas dos associados. Em um
segundo lugar destaca-se a inserção de
A coordenação diminui os conflitos
novos instrumentos de gestão.
operacionais típicos da rotina de trabalho.
Para a implementação de novas práticas é
Acordos e tratativas informais referentes às
interessante observar: 1) que a prática possa
responsabilidades e deveres dos associados
ser utilizada na maioria das redes; 2) que não
são de extrema importância para validar o
necessite de investimentos financeiros
disposto nos contratos das redes.
significativos; 3) e que seja de fácil aplicação.
Necessário, também, mecanismos que
Um exemplo dessas práticas foi a adoção de
regulamentam, protegem e defendem a
um “termômetro”, que consiste em uma
maioria dos associados.
ferramenta para capturar as ideias e as
A cooperação reduz a rivalidade e
percepções dos associados, tendo em vista
comportamentos oportunistas entre

48
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

que os diretores das redes perceberam que formuladas questões considerando os


recebiam muitas sugestões de ações e ideias seguintes pontos: a) a diretoria da rede
durante o decorrer do ano, contudo, essas buscou trabalhar as suas necessidades? b) a
sugestões não eram formalizadas, e, no liderança da rede é aberta ao diálogo? c)
momento de definir as ações anuais, sugestões de melhoria realizadas pelos
acabavam por perder as informações e associados foram implantadas por parte da
ideias lançadas em outros momentos. O diretoria? d) o processo decisório buscou
termômetro foi idealizado como ferramenta equilibrar os interesses dos associados?
que permite ao gestor da rede sentir os Mais do que apenas um formulário a ser
interesses, preocupações e nível de preenchido, o termômetro torna-se um
comprometimento dos associados. Outro momento periódico e formalizado em que
ponto importante na prática do termômetro todos os associados da rede têm seus
é a de adotar contribuições dos associados espaços para se manifestar e
de forma sigilosa, tendo em vista que alguns posteriormente debater suas ideias. Desta
membros das redes preferem opinar de forma, é criada uma cultura onde todos são
forma anônima. ouvidos, tendo uma oportunidade que visa
Ademais, os autores do livro trouxeram incentivar interações mais próximas e assim
questionamentos padrões das redes que contribuir para a consolidação do processo
mais se destacaram na pesquisa. Assim, em de coordenação de uma rede de
referência ao desempenho da rede, são cooperação.

_________________________________________________

49
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Eva Motta15
WEGNER, Douglas; DURAYSKI, Juliana; DE SOUZA VERSCHOORE FILHO, Jorge Renato. Governança e eficácia de
redes interorganizacionais: Comparação entre iniciativas brasileiras de redes de cooperação. Desenvolvimento
em Questão, v. 15, n. 41, 2017

Governança e eficácia de redes


interorganizacionais

Como práticas gerenciais apontam os Dentro da governança é de se exigir a


mecanismos de governança podem atuação de todos de forma ética e
potencializar as iniciativas de cooperação transparente. É muito sensível esta prática,
em rede? haja vista as diferenças culturais de cada
Primeiro: pelo conceito de governança de associado. Quanto maior o número de
rede utilizado pela Teoria dos Custos de componentes na rede, mais complicado se
Transação. A minimização dos custos é uma torna. Por isto, os instrumentos como
abordagem que pode ser considerada como Código de Ética, Estatuto, Regimento, e
uma transição entre a economia clássica e as outras regulações existem para regrar e
novas configurações de organizações, sendo padronizar condutas e padrões
considerada uma possível explicação para a operacionais.
origem das redes organizacionais. Em sua origem a eficácia era explicada
Segundo: por estratégia. A governança é apenas por fatores estruturais e contextuais,
caracterizada como uma estrutura dos como a integração de rede, o controle
elementos de organização e coordenação externo e a estabilidade do sistema. Mais
internos das redes organizacionais para recentemente têm incluído outros fatores,
possibilitar as ações em conjunto. como a sustentabilidade dos bons processos
Regularizam práticas de gestão e de tomada e o alcance dos objetivos almejados. Neste
de decisão, para garantir os interessados estudo, a eficácia é analisada no âmbito da
membros-coletividade que as normas rede ou “whole network”, e, para tanto,
estabelecidas sejam observadas por todos os adotou-se a concepção de eficácia como os
envolvidos, gestores e participantes. resultados proporcionados em termos de

15
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional-IMED e graduada em Ciências Contábeis pela UFRGS.
50
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

inovação, aprendizagem, redução de custos, Uma entidade/equipe administrativa


soluções coletivas e legitimidade. separada é criada especificamente para
gerenciar a rede e suas atividades, visando
Modos de governança de redes
coordenar e sustentar a rede. A gestão de
A doutrina apresenta três modos básicos de uma rede neste modo tende a ser mais
governança em rede, a partir dos quais eficiente, especialmente quando comparada
podem surgir combinações e modelos com a governança compartilhada, que pode
híbridos: se tornar extremamente complexa quando o
Governança compartilhada: é o mais número de participantes.
simples. Trabalha-se coletivamente como
Mecanismos de governança
uma rede, mas não possui estrutura
administrativa formal e exclusiva. Os Determinam as regras de funcionamento e
próprios membros de rede tomam todas as influenciam nas relações dos integrantes da
decisões e gerenciam as atividades da rede. Podem estimular ou reduzir a
parceria. interação e a motivação para seguir as
Governança com organização líder: ocorre estratégias coletivas. A observância desses
em relacionamentos verticais, de cliente- mecanismos influencia na legitimidade
fornecedor, nos quais há uma organização interna e externa das decisões, a agilidade
maior e mais poderosa. O modelo também da rede nas tomadas de decisão e sua
pode ocorrer em redes horizontais capacidade na definição e execução de
multilaterais, quando uma organização estratégias.
possui recursos suficientes e legitimidade A seguir as três dimensões de governança
para exercer uma posição de liderança e destacadas na literatura, e que servem de
governança por meio de uma organização base à pesquisa empírica:
administrativa da rede. - Centralização das decisões: refere-se ao
Organização Administrativa da Rede (OAR): loocus (que dominam centralizam) das
surge em razão da ineficiência das redes com tomadas de decisão na rede e a autonomia
governança compartilhada e dos problemas concedida pelos membros aos gestores para
de dominação e resistência das redes com tomar decisões. A centralização é uma
organizações líderes. equipe, um grupo com autonomia, que tem
a responsabilidade pela tomada de decisões

51
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

e definir estratégias dentro da rede eficácia das empresas é mais provável de


empresarial. Quanto mais membros em uma ocorrer;
rede, maior a divergência de opiniões sobre - Especialização: refere-se à existência de
temas específicos, tais como metas ou equipes e gestores especializados, que
estratégias. A imprecisão e as discussões contribuam para a realização das atividades
excessivas sobre questões específicas da rede. A dimensão especialização da
podem afetar negativamente o governança refere-se a posições específicas
funcionamento da rede; dentro das firmas parceiras dedicadas à
- Formalização: refere-se ao nível de relação interorganizacional, com o objetivo
formalização de procedimento e regras, de desempenhar tarefas relacionadas à
incluindo respostas predefinidas para aliança. No caso de redes de cooperação, a
diversas situações. A formalização é o grau especialização refere-se também à
em que os procedimentos e as regras são existência de equipes e gestores
explicitamente formulados para governar as especializados dentro da rede, objetivando a
atividades. Ela funciona como um eficácia de funções e a contribuição para a
mecanismo de coordenação que reflete o realização das atividades propostas pela
modo como o controle é suportado. A rede. Um maior nível de especialização em
formalização oferece respostas predefinidas termos de equipes e grupos responsáveis
para várias situações, reduzindo a por tarefas específicas pode facilitar a
possibilidade de múltiplas interpretações de eficácia das atividades coletivas, quando
como atuar e diminuindo o potencial de comparado a uma rede em que as
tensão entre os membros. Com o responsabilidades estejam concentradas em
crescimento do número de membros da uma ou poucas equipes de trabalho.
rede, um aumento do nível de formalização
Procedimentos metodológicos
facilita a compreensão de como a rede
funciona e como os membros devem agir, e O estudo teve como objetivo comparar
atua como um facilitador de ações coletivas mecanismos de governança de redes de
para a rede. Quando todas as firmas realizam cooperação que proporcionaram distintos
as ações previstas e as regras coletivas são níveis de eficácia às iniciativas.
cumpridas, um impacto positivo sobre a Primeira Fase: análise quantitativa em 50
redes de cooperação no sul do Brasil. Essas

52
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

redes foram segmentadas, por tempo com menores níveis de eficácia demoram
existência, por segmento de operação e mais para tomar decisões porque optaram
número de associados. Foi elaborado um pela forma colegiada. Assim, depende do
questionário de sete perguntas com base consenso, prática torna mais lenta e
nos resultados das redes e as respostas de demorada as decisões, prejudicando a
eficácia foram medida pelos pesquisadores eficácia. Seria a mais legitima;
especialistas em redes, numa escala de cinco - Quanto à especialização: uma rede
pontos, variando de 1 (baixa eficácia) e 5 consegue ser mais eficiente com maior
(alta eficácia). Posteriormente foram potencial de eficácia se adotar conselhos ou
dispostas num ranking das 5 redes que equipes especializadas, que assumem
apresentaram maiores eficácia e 5 redes que diferentes tarefas, proporcionando agilidade
apresentaram menores eficácia. e fazendo com que muitos processos
ocorram simultaneamente na rede;
Apresentação e análise de resultados
Formalização
- Quanto ao modo de governança: redes com
maior nível de eficácia utilizaram o modo de Em linhas gerais, as redes com menores
governança por Organização Administrativa níveis de ganhos não possuem processos
de Red. Redes com menor nível de eficácia descritos e registrados; as com maiores
organizam-se por meio de um modo de níveis de eficácia possuem
governança compartilhada; normas/regulamentos que são seguidas por
- Quanto a centralização das decisões: redes todos os integrantes da rede.
com maiores níveis de eficácia optaram pela
Discussão de resultados. Modo de
centralização das decisões por equipes, sem
governança mecanismos de governança
necessidade de consulta aos demais,
resultando em maior agilidade e eficiência. - Redes com maior eficácia: organizadas por
Todas utilizam sistemas informatizados para meio Organização Administrativa de Redes.
se comunicarem (intranet, chat e e-mails). Maior número de membros.
Uma delas está investindo software para Operacionalização a cargo de consultores e
melhorar os contatos online, reuniões gestores. Centralização nas decisões, maior
virtuais, compras em conjunto, votação formalização das atividades e maior
eletrônica para facilitar as decisões. Redes especialização. Os empresários se envolvem

53
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

na gestão estratégica. Garante ações Organização Administrativa da Rede. É


coletivas. indispensável numa Rede com muitos
- Redes com menor eficácia: governança membros.
compartilhada. Alta legitimidade interna. O investimento é o ponto crítico na adoção
Depende da participação de todos para do modo de governança OAR, com gestores
funcionar. Dificuldade envolvimento de e consultores contratados. A centralização é
todos os membros ocasionando lentidão importante para o processo decisório como
para a tomada decisão. Burocracia. Não tem forma de evitar excesso de discussões e
comitês e especialização. travar a Rede. Inter-relação dos três
- Todas possuem código de ética, estatuto, mecanismos analisados:
regimento. Redes centralizadas para serem - Centralização implica maior formalização
eficazes exigem maior formalização. Podem para garantir a disseminação de informações
possuir equipes e conselhos especializados e padrões desejados;
que fiscalizam a aderência da regulação. As - Especialização contribui para maior
redes com menor eficácia, em regra, não envolvimento dos membros;
possuem equipes e comitês, e apresentam - Os resultados da pesquisa oferecem
lentidão nos processos e pouco importante suporte na configuração da
envolvimento das pessoas para pensar a Governança das Redes.
rede de forma estratégica. Demonstraram-se as práticas de Governança
de maior eficácia e de menor eficácia.
Conclui-se:

O número de membros da Rede é que


determinará a configuração mais adequada
de Governança. O melhor modo é

____________________________________

54
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Eva Motta16

PERUSIA, A.; ORSOLIN, G. Práticas de gestão de redes de cooperação. 2010.

Formadas por empresas com interesses GESTÃO de uma REDE de cooperação é


comuns, as redes de cooperação imprescindível para que alcancem os
incrementam a competitividade de um resultados pretendidos.
determinado setor. É possível identificá-las O associado para alinhar-se à rede de
em segmentos do varejo, como cooperação, precisa incorporar o espirito
supermercados e farmácias, e também em cooperativo na busca dos resultados
indústrias e serviços. Para Jorge Verschoore, desejados, ou seja, o sucesso. Na REDE de
professor de Estratégia e Redes de cooperação individualismo é substituído
Cooperação da Unisinos, a principal pelo coletivo e a competição pela
vantagem de atuar em cooperação está cooperação. Esses autores pesquisaram 16
relacionada ao poder de barganha que as redes de cooperação, identificaram como
empresas possuem ao participar.17 Balestrin boas práticas para a Estrutura de Gestão:
e Verschore (2016, p.2914) ensinam que as FINANCIABILIDADE DA REDE e USO DA
“Redes de cooperação pressupõem três TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO como
condições fundamentais: objetivos comuns instrumentos de gestão da rede.
e coletivos, interação que decorrem da
obrigação de cooperar e de se protegerem e 1. Estrutura da Rede:
a coordenação através da gestão e 1.1 – Financiabilidade da Rede
governança.”
A implementação de uma Rede de
Estrutura da rede (capitulo 4) cooperação exige demanda de recursos
financeiros para investimentos em
Um planejamento é a base de qualquer
construção de instalações, aquisição de
negócio. Os autores referidos ensinam que a
máquinas, (computadores) sistemas e
elaboração de uma ESTRUTURA para

16
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional- IMED e graduada em Ciências Contábeis pela UFRGS.
17
https://sebraers.com.br/franquias-cooperacao/redes-de-cooperacao-uniao-para-o-fortalecimento-das-empresas/

55
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

programas para a área de TI e ainda A realização de eventos pela rede é dividida


marketing. fundamentalmente, em três etapas:
Primeiro, é preciso analisar a capacidade da planejamento, execução e avaliação de
rede em gerar recursos para sua subsistência resultados.
e para a execução de projetos em benefício Priorizar boas negociações com os
da cooperação. A falta de recursos fornecedores parceiros, também podem ser
financeiros pode limitar seu crescimento e consideradas fonte de recursos.
sua sustentabilidade.
Os recursos oriundos dos associados são as 1.2- Facilidades/Instalações

joias e mensalidades, mas na tentativa de


Pode-se dizer que é a infraestrutura
não os onerar com eventuais chamadas
necessária para que a REDE funcione. Sede
extras, buscam alternativas de
física do escritório e do centro de
financiamento. Na pesquisa, os autores
distribuição, elemento humano,
verificaram que uma fórmula bem-sucedida
funcionários e gestores. Incluir o
de captação de recursos era a realização de
investimento em marketing e tecnologia da
eventos, que também conseguia aumentar a
informação com todos os recursos
visibilidade e a importância da rede no
disponíveis e indispensáveis para o
mercado. Os eventos podem ser feira,
desenvolvimento dos negócios da REDE. A
workshop, treinamento, baile, festa
comunicação da Gestão com seus associados
temática, jantar, etc... Também há a
é facilitada e agilizada através das
possibilidade de locação de espaços para
ferramentas da internet. As normas
parceiros e a possibilidade de conseguirem
regulatórias da REDE cooperativa que
patrocinadores.
buscam uniformizar procedimentos bem
Nestes eventos, a rede e seus fornecedores
como toda a logística de aquisição e venda
se aproximam, gerando maiores laços,
de insumos e produtos, ainda do transporte,
NETWORKING.
podem ser conhecidas ou encontradas no
Os fornecedores têm oportunidade de
site da REDE.
apresentar seus produtos para associados da
Os pesquisadores observaram que a gestão
rede e para os lojistas da região, bem como
profissional é mais eficiente e eficaz do que
é uma boa ocasião para captar novos sócios.
a realizada exclusivamente por associados.
Os proprietários das empresas associadas

56
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

precisam se envolver na gestão de seus compartilhamento de informações,


negócios. Além disso se diminui a chance utilizando a tecnologia. Para isto,
para o conflito de interesses. A gestão implementaram um processo da tecnologia
executiva realizada por profissionais é estruturante, que consistiu em:
considerada uma boa prática na execução da aprimoramento da estrutura de TI,
governança corporativa. tornando-a mais amigável no acesso às
informações essenciais via sistema/site.
1.3 - Uso da tecnologia da informação Utilizar a tecnologia para toda comunicação
com a rede, de forma a induzir o uso pelo
Certamente, do uso da tecnologia depende associado, por necessidade. O associado
também a expansão e a perenidade da REDE. depende da informação, sem ela estaria
É um importante instrumento na comprometendo sua operacionalização e
ESTRUTURA da REDE e de apoio para a dessa forma há uma comunicação com
GESTÃO. Na pesquisa dos autores, simetria, segurança e controle sobre
identificaram que a estrutura de TI era informações.
subutilizada, pouco acesso. Assim, vinham Processo de negociação (capitulo 5)
agregando pouco na melhoria da
comunicação e consequentemente na No ambiente das redes de cooperação os
qualidade dos serviços e resultados negócios gerados coletivamente, possibilitam
econômicos das redes. melhor negociação. É a prática mais
Dada a importância dessa ferramenta, demandada, que motiva e atrai os
buscaram entender quais os desafios empresários a se associarem. O SEBRAE indica
deveriam ser enfrentados. Concluíram que em seu site, que poucas empresas sobrevivem
alguns associados não tinham familiaridade mais de 04 anos, tendo como razão a
com a Internet, dificultando o acesso à área concorrência das grandes lojas/magazines,
restrita do site. As informações eram que pela quantidade oferecem preços mais
realizadas por e-mail, ocasionando um competitivos.
grande volume deles e que sequer muitos
liam. Como já comentado, a negociação, é

Diante disso, era necessário mudar a cultura, também uma fonte de recursos financeiros,

incentivar entre os associados o se for bem desempenhada.

57
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

A compra de produtos em maiores No roteiro para um processo de seleção de


quantidades traz benefícios, como melhores Fornecedores, são considerados:
condições de pagamento e compra por a) credibilidade do fornecedor
preços mais competitivos. Facilita o acesso a b) qualidade do produto ou serviço
fornecedores e parceiros estratégicos. c) prazo de entrega;
d) logística de atendimento e
Em se tratando de redes cooperativas, é abrangência
possível especializar os funcionários e) garantias oferecidas pelos
envolvidos na prática da negociação. fornecedores.
Oportunizar que se qualifiquem, estudando Realizada a compra, o desempenho do
e adquirindo o conhecimento de técnicas de fornecedor deve ser monitorado para
negociação para obter melhores condições contribuir na melhoria do processo de
de preço e qualidade, possibilitando maiores negociação
lucros para a REDE.

Processo de expansão (capítulo 6)


Os autores, a partir de Bortolaso (2009),
apresentam um Processo de negociação
1.Segundo o SEDAI-RS, o processo de
para seguir:
expansão, tem quatro princípios
norteadores de atuação:
- Formalizar o processo prospecção,
cadastramento e seleção de fornecedores.
a) Primeiro: criação de redes de um
- Fazer uso das tecnologias de informação
mesmo segmento-cooperação horizontal;
para comprar on-line.
b) Segundo: constituição de uma
- Oferecer um sistema de intranet que
entidade associativa sem fins lucrativos,
interligue os associados ao sistema de
destinada à busca dos objetivos comuns dos
informações gerenciais da rede.
associados;
- Estabelecer negociações que atinjam todos
c) Terceiro: expansão das redes,
os associados de forma simétrica.
ampliação do número de associados.
- Definir procedimentos efetivos para
d) Quarto: define o princípio da
gerenciar o relacionamento.
independência, a partir do qual as empresas
associadas devem manter sua autonomia de
decisão.
58
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

O terceiro princípio é o chamado processo associados (Bortolaso, 2009). A equipe não é


de expansão, que aborda os seguintes fixa, por isto importante a documentação.
aspectos para a admissão de novos Este processo de expansão amplia a
associados: visibilidade da REDE. O processo é
a) Critérios de seleção de novos transparente e preestabelecido pelos
associados adotados pela rede-define o associados, em conformidade com
perfil do associado desejado, sendo exigido planejamento estratégico e aprovado pela
uma documentação mínima para ser assembleia geral
avaliada. 2. Práticas de processo de expansão
b) O segundo aspecto é como se 2.1-Um plano de expansão está previsto no
apresenta o novo associado na rede e o Programa das Redes de Cooperação,
integra nos trabalhos em andamento, entretanto a maioria não tem. Assim, há
acompanhando nos seus primeiros passos. risco de aceitarem um associado que não
c) Terceiro: a conscientização do novo seja de acordo com o perfil desejado.
associado com relação a forma de trabalho 2.2 - A boa prática consiste na sensibilização
da rede, destacando as diferenças da gestão do candidato avaliando se está alinhado com
de uma organização tradicional em relação a os objetivos da rede. Para esta prática há
Rede Cooperativa. Neste momento é uma aproximação com a Rede. Acontece
explicado os procedimentos operacionais: antes da aprovação definitiva. Aprovado, é
cadastro do novo associado, cadastramento formalizado o convite com preenchimento
junto a fornecedores e esclarecem como é o da proposta que deve ser aprovada pela
acesso aos benefícios. assembleia geral. A ausência da prática
d) Por fim, o item processo de expansão aumenta a possibilidade de conflitos de
trata da documentação dos processos opinião. Caso ocorra alguma
relacionados à expansão do número de desconformidade, é possível a exclusão.
associados da rede. Analisado o conteúdo, 3. A cerimônia da posse
aplicação e os resultados do plano de Valorização do momento em que marca a
expansão. entrada do associado na rede destacando a
O processo de expansão é executado pelas importância da participação e afirmando
equipes de trabalho composta por compromisso com a rede de cooperação.

59
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Cristiane de Mello Mascarenhas18

WEGNER, Douglas. Redes, alianças e parcerias: ferramentas e práticas para a gestão da


cooperação empresarial. Porto Alegre: Exclamação,2020

Capítulo 1 - Redes, alianças e


parcerias: formas de cooperação
empresarial

Neste primeiro capítulo o autor analisa As redes alemãs estão organizadas e são
o contexto econômico do momento, no representadas por uma entidade
qual a cooperação entre empresas nacional, a Federação Alemã de Redes e
alcançou níveis elevados de Centrais de Negócios, denominada
desenvolvimento e com grande Mittelstandsverbund, que defende os
importância socioeconômica, interesses gerais das redes, sugerindo
especialmente na Alemanha e na políticas públicas de apoio às pequenas
Espanha, e com olhar nessa experiência empresas, oferecendo serviços de
consolidada aponta caminhos para suporte e desenvolvimento de projetos
evolução das redes brasileiras. de inovação voltados para seus
Na Alemanha, cujos primeiros modelos membros.
de cooperação remontam ao século XIX, No Brasil, a cooperação é bem mais
a cooperação apresenta o mais alto recente, surgiu como resposta dos
nível de desenvolvimento e importância pequenos empreendimentos às
socioeconômica. Atualmente, mais de dificuldades decorrentes da abertura de
230.000 empresas do varejo participam mercado iniciada na década de 1990,
de 310 redes de empresas, em 45 ramos que possibilitou a entrada de grandes
de atividade e geram 2,4 milhões de empresas internacionais e a cooperação
empregos, o que representa um volume possibilitou às pequenas empresas
anual de 490 bilhões de euros em competirem ou concorreram com os
negócios. grandes conglomerados.

18
Graduada em direito pela UFPEL, advogada inscrita na OAB/RS 49.849.
60
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

O autor estima que existiam grande parte da eficiência e eficácia da


aproximadamente 1.000 redes de sua governança e gestão.
empresas e centrais de negócios em A rede ANWR tem gestão profissional,
atividade no Brasil (SEBRAE, 2016). com gestores contratados e que tem
As redes alemãs que inicialmente eram autonomia para decidir sobre assuntos
simples centrais de compras (no início estratégicos. No entendimento do
do século XX), passaram a centrais de presidente da ANWR, uma governança
serviços e, recentemente, para redes realizada pelos próprios empresários da
informacionais, com alta integração e rede dificulta o desenvolvimento da
interdependência dos participantes, de rede, pois não seria possível que o
tal forma integradas que muitas vezes se gestor dedicasse o tempo necessário se
apresentam, ao mercado como uma forma simultânea para a sua empresa e
empresa única, embora legalmente se para a rede; e ainda, o gestor representa
mantenham independentes. também seus próprios interesses. A
gestão profissional protege os
- Exemplo de Rede de empresas bem-
interesses da rede e evita que um
sucedida na Alemanha
empresário e ao mesmo tempo gestor,
A rede ANWR (Ariston-Nord-West- se empenhe mais em seus próprios
Ring), resultou da fusão de várias redes interesses do que nos coletivos.
de empresas independentes do ramo de
- Outras formas de cooperação
calçados e materiais esportivos e
atualmente atua como uma holding, Além das redes de empresas, outras
que controla empresas prestadoras de formas de cooperação também
serviços, dois bancos e três redes de despontam como alternativas
caráter cooperativo às quais os estratégicas para alcançar objetivos
varejistas estão vinculados. diversos, dentre elas, se destacam, as
alianças, parcerias, redes de
- Organização da Rede,
suprimentos, projetos temporários e

O sucesso de redes com número redes de inovação, que se diferenciam

expressivo de participantes depende em umas das outras em razão do grau de


centralização das decisões, dos

61
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

mecanismos de coordenação utilizados minoritários uns dos outros e outro,


e ainda conforme os elos da cadeia quando os parceiros formam uma nova
produtiva em que atuam as organização que atuara de forma
organizações envolvidas. independente, a qual denomina-se de
A seguir, serão apresentadas quatro joint-venture.
categorias amplas de redes de empresas As redes ainda podem ser classificadas
e acordos de cooperação. em redes horizontais e verticais,
confirme o ramo de atuação dos
1) Alianças estratégicas e redes parceiros que formam a rede. Nas redes
multiparceiros: horizontais, os integrantes atuam no
mesmo elo da cadeira produtiva, por
As alianças estratégicas são exemplo, redes formadas por fábricas
caracterizadas pelo objetivo comum de móveis, já nas redes verticais, as
entre duas organizações que colaboram organizações atuam em elos diferentes
entre si por período determinado ou da cadeia produtiva.
indefinido para alcançar esse objetivo.
Só pode ser considerada estratégica, a 2) Redes de suprimento e redes
globais de produção
aliança que se forme com o objetivo de
trazer vantagens para pelo menos um Rede de suprimento é aquela formada
dos parceiros. por vários parceiros que atuam como
Quando a parceria se forma entre mais fornecedores de insumos ou serviços
de duas organizações, tem-se as redes necessários à elaboração de um produto
multiparceiros. final. Em geral nesse tipo de
Outros modelos de cooperação podem cooperação, a empresa produtora, atua
ser identificados quando se analisa o como coordenadora das demais
grau de formalização entre os parceiros, integrantes da cadeia de suprimentos.
destacando-se as alianças informais e as Quando as redes de suprimento atuam
alianças contratuais. em diversos países, ocorre a formação
Há também um tipo de aliança em que de redes globais de produção.
os parceiros investem recursos As redes de suprimento podem ser
financeiros e se tornam acionistas classificadas em três tipos principais, de

62
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

acordo com o grau de coordenação: ferramentas e práticas para a gestão da


Mercados; Governança Ativa, Relacional cooperação empresarial). Exemplo: Vale
e Modular. do Silício, Polo Vitivinícola da Serra
Gaúcha.
3) Redes de inovação e projetos
colaborativos temporários Síntese: o guarda-chuva de redes e
formas de cooperação
Redes de Inovação se caracterizam pela
coordenação entre três ou mais As empresas vêm utilizando uma grande
empresas ou organizações variedade de modelos cooperativos
independentes que buscam atingir como meio para melhorar a sua
objetivo comum relacionado à competitividade e alcançar resultados
inovação, por exemplo, para acelerar o planejados, contudo, essa variedade de
desenvolvimento de novos produtos. tipos de redes e alianças pode ser
Os projetos colaborativos temporários, agrupada em duas categorias amplas,
gênero do qual as redes de inovação são ou seja, os modelos baseados na
espécie, se caracterizam pela cooperação vertical, dentre os quais se
temporalidade da relação, pois se destacam as redes de suprimento, redes
formam para um objetivo específico e de fornecimento e as franquias e os
ao atingi-lo são desfeitas ou modelos baseados na cooperação
remodeladas, citando-se como horizontal, dos quais vale destacar os
exemplo, um projeto de pesquisa. consórcios, as redes multiparceiros e as
alianças estratégicas.
4) Clusters de negócios
A organização e funcionamento das

Clusters são “concentrações geográficas redes depende de diversos fatores,

de empresas de determinado setor de como a concentração geográfica dos

atividade e companhias correlatas. Estas integrantes, formalidade da relação,

podem ser, por exemplo, fornecedoras concentração do poder e o nível de

de insumos especiais – componentes, cooperação, e esses fatores são

máquinas, serviços – ou provedoras de fundamentais na governança da rede.

infraestrutura especializada” (Porter, Assim, o funcionamento de uma rede e

1999, in Redes, alianças e parcerias: a sua capacidade de alcançar os

63
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

resultados coletivos estabelecidos estão participantes de equilibrarem esses


diretamente ligados à capacidade dos fatores.

______________________________

Rosângela Souza de Souza19

CRUZ, June Alisson Westarb; MARTINS, Tomaz Sparano; QUANDT, Carlos Olavo. Redes de cooperação:
um enfoque de governança. Revista Alcance, v. 15, n. 2 (Mai-Ago), p. 190-208, 2008.

O presente estudo foi desenvolvido junto à Observa-se, ainda, uma tendência à


Rede de Associações de Catadores de descentralização da responsabilidade social,
Curitiba-Pr. Trata-se de uma rede de atores surgindo o Terceiro Setor como ator ativo da
com objetivos diferentes, mas que visam um causa pública.
objetivo comum, ou seja, promover o O presente estudo pretendeu contribuir
trabalho do catador de forma rentável e para a pesquisa na área da administração,
digna, estimulando conceitos de cidadania e mais especificamente nos casos de
meio ambiente por meio da alavancagem governança em redes, pois de acordo com
econômica dos associados (catadores). (FREEMAN, 1984 apud ROSSONI, 2006) a
Apresenta-se uma estrutura de Redes interdisciplinaridade é um princípio desse
Sociais Organizacionais pautadas na tipo de estudo
Governança Comunitária e de Parceria, Nesse contexto cabe referir que para
tendo em vista que as transformações Rodrigues (2006), a palavra rede vem do
sociais dos últimos anos remetem a latim retis, que significa teia. No entender de
coletividade ao processo de democratização Marshall (1982) a aglomeração das
política e à liberação dos mercados, entre organizações em estruturas
outros.

19
Graduada em Direito pela PUCRS, Pós- Graduação em Gestão Pública Municipal UFRGS, Pós- Graduação
em Direito Público ULBRA Canoas.

64
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

de redes resulta em maior competitividade coisas, e que estabeleçam interação entre


em relação a outras organizações dispersas atores públicos e privados.
no sistema econômico. Franco (2004) diz que a governança deve ser
Outros autores como: Garcia (2001), Porter associada a co-responsabilização, que está
(1998), Schmitz (1992) e Scott (1994), diretamente ligada a cooperação, à forma de
destacam a capacidade de geração de tomada de decisão coletiva, fluxo de
vantagens competitivas como uma das comunicação, co-realização e ao
principais características da cooperação em desenvolvimento humano e social de todos
rede. os participantes.
A estrutura de redes está diretamente Cruz (2006), destaca que a mudança
relacionada à cooperação entre diferentes provocada pela governança torna as
atores. organizações menos hierárquicas.
A sistemática das redes, de acordo com Bernier e outros (2003 apud CRUZ, 2006)
Casarotto e Pires (2001), se apresenta de descrevem governança em quatro tipos
duas formas: rede do tipo “topdown”, na ideais, sendo eles: governança pública,
qual uma organização pequena pode tornar- governança corporativa, governança
se fornecedora ou subfornecedora de uma comunitária e governança em parceria.
empresa mãe, e a segunda, é um sistema
flexível de organizações considerado o
sustentáculo de sociedades altamente
desenvolvidas (empresas que se unem em
consórcio com objetivos amplos ou mais
restritos).
Para o estudo foi utilizado o conceito dado
por Le Galés (2004, apud CRUZ, 2006), o qual
define governança como um processo de
coordenação de atores para alcançar
propósitos próprios, discutidos e definidos
coletivamente, desenvolvendo a orientação
e a legitimidade do conjunto, dentre outras

65
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Categorias Governança Pública Governança Governança Governança em


(Burocracia Corporativa(Merca Comunitária Parceria
Hierárquica) do)
Princípios Autoridade Oportunismo Confiança Deliberação
Estado Intervencionista, Estado é fraco e Comunidade Parceiro, regulador e
regulador e minimalista do Bem-estar distribuidor
produtor
Mercado Fraco, limitador e Autorregulação Barganha Instrumentos
socializador superiores de
coordenação/reconhec
er fraquezas
Sociedade Soc. Civil fraca, vista Caridade, Solidariedade Associação que garante
Civil como um custo benevolência e os interesses sociais; é
filantropia vista c/ importante
Governança Centralizada Corporativa e Baseada em Distribuída, parceria.
Hierarquicamente mercantil comunidades
locais
Relações Propriedade Estatal Externalização Distritos Networking, clusters,
entre as Industriais redes de associados
organizações
Relação com Hierarquia Tecnocracia e Comunidade Democracia, sistemas
território dualismo sociais de inovação
Interesse Benefício Público, Benefício privado e Benefícios Pluralidade de
geral Uniformidade dos soma dos Conjuntos, interesses, acordos
interesses interesses interesse entre interesses
individuais individuais coletivo individuais
Elaboração Tecnocráticas(simpl Corporativista, Redes Parceria
de políticas ista e informal) simplista e formal política(pluralis institucionalizada(plura
ta e informal) lista e formal)
Implementaç Governo Vouchers e Regulação Regulação, (normas e
ão de direto(direta e não incentivos social e leis) e contratos(direta
políticas competitiva) fiscais(indireta e organizações e competitiva)
competitiva) sem fins
lucrativos(indir
eta e não
competitiva)
Tipos de governança
Fonte: Bernier e outros. (2003 apud CRUZ, 2006).

A Rede estudada remete aos modelos de b) Estado: importante parceiro e


Governança Comunitária e de Governança regulador, destacando-se a participação do
em Parceria, onde: Ministério Público, Prefeituras e várias
secretarias estaduais e municipais.
a) Princípios: baseados na confiança
c) Mercado: se observam duas
entre os atores, destacando-se a reputação
realidades paralelas, a primeira estabelece
como fator relevante;
uma forte tendência de barganha entre as

66
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

organizações da iniciativa privada, partindo-se para a democracia como forma


associações, cooperativas e organizações do reguladora das relações.
terceiro setor, a segunda, uma forma de h) Interesse geral: objetivos que
coordenação e reconhecimento de interagem entre si e favorecem a realização
necessidades emergentes. Nesse caso, trata- de um objetivo único. Em geral, observa-se
se das relações entre organizações de uma pluralidade de interesses individuais;
terceiro setor, organizações públicas, i) Elaboração de políticas: Estas
associações e cooperativas; observam as realidades pluralistas formais e
d) Sociedade Civil: importante parceria informais, havendo a existência de parcerias
e fortificação da rede, que serve como forma políticas e, também, institucionalizadas, e
de supervisão dos interesses sociais e grande j) Implementação de políticas:
aliado na aproximação e iniciação de novos predominância da regulação social e
trabalhos; organizações sem fins lucrativos na prática
e) Governança: ocorre de forma de uma política indireta e não competitiva. A
cooperativa eventualmente baseando-se competitividade é observada com as
nas comunidades locais e por meio de empresas privadas, que competem na
parcerias; prática de preços junto as associações.
f) Relação entre as organizações: Em O estudo reforça a importância da
geral, baseiam-se no Networking e em redes governança em redes de cooperação como
de associados, em que o contato é uma forma de promover o desenvolvimento
considerado um importante aliado na das organizações e pessoas que,
resolução de conflitos e na alavancagem de isoladamente, não teriam capacidade e
objetivos; competência para obter todos os recursos
g) Relação com o território: situações que o mercado exige. Concluiu o estudo, que
localizadas e particulares são predominantes o fenômeno da governança em redes é um
as relações pela comunidade e, nos casos processo dinâmico e de extrema relevância
gerais, o envolvimento de muitos atores, estratégica para as organizações,
onde possíveis conflitos podem surgir, particularmente com características
peculiares
.
____________________________________

67
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Rosângela Souza de Souza20

DAWSON, Angus; HIRT, Martin; SCANLAN, Jay. The economic essentials of digital
strategy. 2016.

Em julho de 2015, um grande tubarão Os invasores digitais agora são capazes de


branco atacou o surfista australiano Mick interromper os modelos de negócios
Fanning. Fanning diria mais tarde que, existentes – geralmente além das fronteiras
imediatamente antes do ataque, ele teve a nacionais. O Snapchat deu um forte impulso
estranha sensação de que estava sendo à mídia tradicional ao distribuir conteúdo
perseguido. Ele então se virou e viu a em uma infraestrutura de “plataforma
barbatana. Felizmente, Fanning saiu ileso. como serviço”. As aplicações de mapas via
Mas o incidente repercutiu no mundo do internet fixa ou móvel romperam o domínio
surf. A narrativa inicial visa a fazer um das empresas de GPS sobre o mercado de
comparativo entre o medo dos tubarões e a navegação pessoal.
empolgação de surfar ondas gigantes, com Startups e atacantes estabelecidos são
as ameaças e oportunidades da capazes de morder antes que suas vítimas
digitalização. vejam a barbatana. Empresas de ponta
A digitalização de processos é uma fonte de estão mergulhando profundamente no
inquietação, mas a sensação de não ser mundo dos invasores. Eles estão buscando
possível prever de onde surgirá um ataque aproveitar as novas tecnologias e
aos negócios cria um nível diferente de repensando seus modelos de negócios. Mas
preocupação. A disrupção nos modelos de eles estão cada vez mais preocupados com
negócios, os quais cruzam fronteiras o fato de não ser suficiente enfrentar o
nacionais podem gerar muitas inquietações ‘tubarão ‘que eles não podem ver.
nos mercados, nas empresas, nas pessoas
de forma geral.

Graduada em Direito pela PUCRS, Pós- Graduanda em Gestão Pública Municipal UFRGS, Pós- Graduação
20

em Direito Público ULBRA Canoas.

68
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Forças mais profundas para esclarecer as fontes da disrupção


digital e as condições em que ela ocorre.
O CEO de uma seguradora visitou o Vale do
Investigamos oferta e demanda ao longo de
Silício para ver como as empresas de
um “continuum”: o quanto seus elementos
tecnologia estavam mudando o setor. Os
constitutivos mudam. Trabalhamos muito
membros da equipe fizeram um balanço de
com executivos para entender a situação de
tudo o que viram e determinaram quem
suas empresas.
poderia prejudicar seus negócios.
Projetamos nossa abordagem para permitir
Elaboraram uma lista, que incluía muitas
que os líderes estruturem e concentrem
startups de seguros, mas também gigantes
suas discussões decompondo efeitos
da tecnologia como Google e Uber. A
complexos e difíceis de entender. A
equipe logo determinou quem precisaria
tecnologia digital torna acessível, ou
ser monitorado, quais parcerias seriam
“expõe”, fontes de fornecimento que antes
buscadas.
eram impossíveis ou antieconômicas. (no
A CEO, então ponderou que: "Será, que não
topo da figura abaixo)
precisamos nos concentrar mais na
Trabalhamos com executivos para entender
natureza das disrupções que ocorrerão em
a situação de suas empresas no espaço
nossa área, e menos nas empresas
digital. Nossa abordagem é uma espécie de
disruptivas atuais?" Referiu, ainda, que por
barômetro que mede antecipadamente a
certo, nos próximos dez anos grandes
suscetibilidade de uma empresa a uma
empresas do setor terão desaparecido, mas
determinada ameaça ou janela de
"Até isso ocorrer, teremos sofrido o
oportunidade. Projetamos nossa
impacto brutal da disrupção. E o que
abordagem para permitir que os líderes
podemos fazer para antecipar essas
estruturem e concentrem suas discussões
tendências para que nós mesmos nos
decompondo efeitos complexos e difíceis
tornemos disruptores?"
de entender.O guia rápido para avaliar a
O digital “torna tudo novo”. Assim, se faz
situação da sua organização separando
necessário uma reflexão sobre as forças
realidades de modismos e identificando
mais profunda subjacentes a essa
ameaças, oportunidades e as grandes
transformação. Tomamos os fundamentos
prioridades digitais.
da oferta, demanda e dinâmica do mercado

69
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

21

necessidade, por conveniência ou para


Realinhando mercados
aumentar os lucros.
O Airbnb não construiu uma propriedade,
Normalmente, começamos a discussão na
simplesmente trouxe quartos "ociosos" para
parte superior do modelo. Na parte superior
o mercado. O Uber nunca comprou um carro
direita, a tecnologia digital torna acessíveis,
novo, o que fez foi retirar (e adaptar) carros
ou “expõe”, fontes de suprimento que eram
que estavam subutilizados. Em ambos os
antes impossíveis (ou no mínimo não
casos, embora pouco tenha mudado nas
econômicas). Na parte superior esquerda, a
forças subjacentes de oferta e demanda, o
digitalização elimina distorções na procura,
valor de mercado das empresas mudou.
proporcionando aos clientes informações
Demanda não atendida com expectativa
mais completas e separando (ou, em alguns
crescente
casos, reagrupando) aspectos de produtos e
serviços que eram anteriormente Até a era digital, os amantes da música eram
combinados (ou mantidos separados) por obrigados a comprar álbuns inteiros. Hoje, os
ouvintes pagam ao Spotify uma taxa de

21
https://www.mckinsey.com/~/media/mckinsey/business%20functions/strategy%20and%20corporate%20finance
/our%20insights/the%20economic%20essentials%20of%20digital%20strategy/digital%20distruption%20cm%202.p
df
70
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

assinatura única e podem ouvir as faixas que corresponde às melhores práticas globais. Se
quiserem à vontade. O mesmo aconteceu com algum desses indicadores estiver presente, é
fotografias e imagens, que os consumidores sinal de que há uma oportunidade de
não precisam mais revelar. Eles também transformação e disrupção digital.
podem reservar passagens instantaneamente
Exposição de novas ofertas
on-line, ignorando os agentes de viagens.
Os consumidores estão usando a tecnologia
A digitalização permite que novas fontes
digital para impor a sua vontade. Uma
entrem nos mercados de produtos e de
“purificação” da demanda, que ocorre à
trabalho de maneiras, que até então eram
medida que os clientes satisfazem suas
quase impossíveis. Como o “software come
necessidades e desejos anteriormente não
o mundo” – mesmo em mercados
atendidos. Os clientes não comparam mais
industrializados – as empresas podem
as ofertas de uma empresa com as de seus
liberar a oferta onde quer que haja ativos
rivais diretos, hoje, as experiências que eles
subutilizados. Quais são os indicadores de
têm com a Apple, Amazon ou ESPN são o
disrupção potencial à medida que as
novo padrão para todas as suas experiências
empresas revelam fontes de fornecimento
de consumo.
até então inacessíveis.
As pessoas estão se acostumando a ter suas
Os invasores são capazes de reunir
necessidades atendidas no local que
virtualmente capacidade redundante,
escolherem, na hora que determinarem e,
digitalizar mão de obra ou recursos físicos e
muitas vezes, de forma gratuita. Sua
tirar proveito da economia colaborativa.
empresa não pode oferecer isso a eles? Pois
Custos fixos ou custos que não variam
é muito provável que em breve outro
constantemente com o aumento do volume
descubra como oferecer. O modelo de
são altos. Graças a esses indicadores, os
negócios de uma empresa pode ser
invasores são capazes de provocar uma
vulnerável se qualquer uma dessas coisas for
perturbação.
verdadeira.
A vulnerabilidade, quanto a este item é: uso
O cliente não consegue o que quer onde e
parcial de produtos pelos clientes, produção
quando quer. O cliente tem que subsidiar
inelástica em relação ao preço, oferta
outros clientes de alguma forma. A
variável ou imprevisível, os custos fixos ou os
experiência de usuário do cliente não
invariáveis são altos

71
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

A formaçao de um novo mercado tradicionais, que contam com altos custos de


infraestrutura física ou proteção regulatória
Sem formadores de mercado, a oferta não
– ficarão vulneráveis. Essas forças
utilizada e a demanda latente permanecem
obscurecem os limites e as definições das
fora do mercado. O ‘AdWords’ do ‘Google’
indústrias e tornam os resultados mais
reduziu os custos de pesquisa ao fornecer
extremos.
pesquisa gratuita para buscadores de
À medida que os mercados evoluem, as
informações e uso de palavras-chave para
expectativas dos clientes aumentam. As
anunciantes pagantes. O’ iFixit’ deu mais
empresas atendem às altas expectativas
transparência aos custos dos provedores,
com novas propostas de valor que dão às
mostrando cortes de eletrônicos
pessoas o que elas não sabiam que queriam.
amplamente consumidos.
Poucas pessoas poderiam explicitamente
Para avaliar a vulnerabilidade de um dado
desejar ter a internet em seus bolsos – até
mercado a novos tipos de formadores de
que os smartphones introduziram essa
mercado é preciso (entre outros aspectos)
possibilidade. Dar aos clientes a capacidade
analisar o grau da dificuldade das transações
de escolher sua própria música e combiná-la
para os clientes. Nesse sentido, a
teve o efeito de uma demanda não
vulnerabilidade pode relacionar-se a:
distorcida.
grandes assimetrias de informação entre
clientes e fornecedores, alto custo de busca,
Propostas de valor nova e aprimorada
taxas e etapas oriundas de intermediários,
Muitos avanços nos modelos de negócios
longos “lead times” para concluir
B2B22 dependem de condições como
transações.
monitoramento remoto e comunicação
Mudanças extremas máquina a máquina. A Philips oferece aos
clientes aplicativos como um
As empresas precisam entender uma série
enriquecimento digital de suas soluções de
de mudanças radicais subjacentes às forças
iluminação no mundo físico. A Google Nest
de oferta e demanda específicas de cada
melhora termostatos domésticos. A FedEx
setor ou ecossistema. As empresas

22 diretamente para o consumidor final, ou seja, uma


A sigla B2B significa business-to-business, uma
expressão em inglês para indicar uma empresa que pessoa física.
faz negócio com outras empresas. Ela é o oposto de
um negócio B2C (business-to-customer), que vende
72
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

fornece informações em tempo real sobre o monetizar a curva para os clientes, fornece
andamento das entregas. Os clientes têm uma nova experiência de usuário atraente e
novas propostas de valor, que aprimoram reduzir os custos de produção e distribuição.
aquelas que existiam. As redundâncias da cadeia de valor criam
A vulnerabilidade atrela-se: a informações ambiente que elimina intermediários
ou mídias que enriqueçam muito o produto; lincando o cliente diretamente. Os canais
oferecer um produto físico, enquanto o digitais podem substituir redes físicas e de
desejo do cliente é um conectado, varejo.
defasagem de informações entre a compra e
Plataformas em hiperescala
o rastreio do produto, a necessidade de
repetir a compra do produto, aluguel de
Empresas como Apple, Tencent e Google
carro.
estão desconstruindo as definições
tradicionais da indústria, ampliando as
Sistema de negócio repensado
categorias de produtos e segmentos de
Entregar essas novas propostas de valor, por
clientes. Os proprietários dessas plataformas
sua vez, requer repensar ou reimaginar os
de hiperescala têm uma alavanca
sistemas de negócios subjacentes. As
operacional significativa da automação de
empresas tradicionais, que há muito se
processos, algoritmos e efeitos de rede. Em
concentram no aperfeiçoamento de suas
mercados específicos de produtos ou
cadeias de valor do setor costumam
serviços, os proprietários de plataformas
desconfiar de novos participantes que
geralmente têm objetivos diferentes dos
introduzem maneiras inteiramente novas de
players tradicionais do setor. Nesse sentido,
gerar receita. As forças que atuam nesta
plataformas de hiperescala podem
área do modelo mudam a forma como as
atrapalhar as empresas tradicionais. Os
cadeias de valor funcionam.
modelos de negócios existentes cobram
Canais digitais e serviços virtualizados
pelas informações solicitadas pelos clientes.
podem substituir ou remodelar redes físicas
Não existe um conjunto único e integrado de
e de varejo. Walmart e Zara integraram
ferramentas para gerenciar interações entre
digitalmente suas cadeias de suprimentos,
usuários e fornecedores em um setor. Esses
criando operações mais baratas e eficazes. O
fatores incentivam os provedores de
New York Times virtualizou jornais para

73
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

plataforma a capturar usuários e provedores unem para fornecer um roteiro abrangente


oferecendo acesso gratuito às informações. para possíveis interrupções digitais.
Os indicadores de disrupção nessa zona: As empresas receberão feedback
modelos de negócios existentes cobram por instantâneo via telemática sobre a qualidade
informações solicitadas pelos clientes, não da direção. Eles esperam uma taxa diferente
há conjunto de ferramentas único e dependendo de estacionarem seu carro em
integrado para administrar as interações uma garagem, em um estacionamento
entre usuários e fornecedores em uma seguro ou em uma rua mal iluminada em um
indústria, o potencial para efeitos de rede é bairro perigoso. Se o valor se traduzir em
alto. informações privilegiadas, as seguradoras de
veículos precisarão entender quem, no
Identificar vulnerabilidades e ecossistema tradicional de seguros, será
oportunidades no seu negócio capaz de reunir e lucrar.
A disrupção digital pode ser um jogo
Os executivos podem usá-lo para considerar
perigoso, especialmente quando alguns
tudo de uma vez – seu próprio negócio, a
jogadores ainda estão fora de vista. Ao
cadeia de suprimentos, a subindústria e a
submeter as fontes de disrupção a uma
indústria em geral. Eles podem então
análise sistemática, os executivos podem
identificar todo o espectro de oportunidades
entender melhor as ameaças que enfrentam
e ameaças, tanto as mais visíveis quanto as
no mundo digital.
mais ocultas. Todas essas forças e fatores se

_________________________________________

74
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Cesar Augusto Cavazzola Junior23

DE SOUZA DUTRA, Ivan; ZACCARELLI, Sérgio Baptista; DOS SANTOS, Sílvio Aparecido. As redes
empresariais de negócios e o seu poder competitivo: racionalidade lógica ou estratégica?. Revista de
Negócios, v. 13, n. 1, p. 11-27, 2008.

1. O objetivo deste trabalho foi analisar se organizar grupalmente formando Redes


como as empresas se organizam sob a forma Empresariais, comumente chamadas de
de uma rede empresarial de negócios, Redes de Negócios, para competir com as
denominada Rede de Negócios, formada em redes formadas pelos seus concorrentes.
cooperação para competir com outro grupo 3. Existe uma premissa básica na formação
de empresas que atua no mesmo setor ou das Redes de Negócios: a constatação de
segmento empresarial. A partir de uma que, em alguns setores e ou segmentos de
discussão do conceito de Rede de Negócios, negócios, a vantagem competitiva da
o estudo faz uma análise teórica e empírica atuação em grupo organizado sob a forma
de um caso de rede formada pelo consórcio de rede pode ser mais facilmente
modular da Volkswagen Caminhões e Ônibus conquistada do que pela atuação isolada e
– operações da América do Sul, em não articulada de uma ou várias empresas.
Resende/RJ. Nesse aspecto, a busca de sinergia entre a
2. A necessidade de enfrentar a competição força e as competências de cada empresa
em mercados globais provocou nas últimas permitiu o crescimento da formação das
duas décadas mudanças aceleradas nos parcerias e alianças estratégicas mesmo
modelos de gestão e de operação das entre concorrentes. As novas tecnologias de
empresas. Historicamente, viu-se a informação, com o uso intensivo de sistemas
competição sob o ângulo de uma empresa integrados, as facilidades de comunicação
concorrendo com as empresas que eram entre pessoas e empresas, além da abertura
consideradas as suas concorrentes. Agora, dos mercados no mundo, são fatores que
em alguns setores, as empresas passaram a

23
Advogado (OAB/RS 83.859). Mestre em Direito (Unisinos). Membro da CSI (OAB/RS). Autor dos livros “Manual de
Direito Desportivo” (EDIPRO, 2014), “Bacamarte” (Giostri, 2016) e coautor de outras obras. Editor e articulista da
Lócus Online. Contato: cesar.cavazzola@gmail.com.
75
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

facilitaram e estimularam o surgimento da corporações tornaram-se flexíveis, com a


atuação das empresas em rede. equalização do fluxo da produção versus a
4. Para os autores, o ponto central a demanda (“Firma Flexível”, organização
justificar a existência de uma Rede de hierárquica, mas externamente
Negócios parece estar quando se verifica “horizontalizada”). Com a equivalência das
que um negócio desiste de concorrer de firmas para cortarem custos, incrementarem
forma isolada para se juntar a outros, com os níveis de qualidade e proverem
objetivo de ganhar vantagem competitiva. flexibilidade ao mesmo tempo, novamente
5. Os anos 1960 uma firma de sucesso os competidores mudaram nos anos 1990,
possuía uma organização hierárquica, quando os líderes industriais introduziram
racional e burocrática, quando o mercado mais inovação em seus produtos, com a
exigia preço e a firma dirigia esforços para finalidade de se distinguirem no mercado
incrementar a sua eficiência (“Firma (“Firma Inovadora”, marcada pelo
Eficiente”). Nos anos 1970, com a quebra de desempenho interno e exclusividade de
barreiras comerciais ao redor do mundo, produtos, por meio da “inovatividade”). Já
decorreu um efeito de crescimento no nos anos de 1990, uma minoria de
mercado global, com intensificação da pesquisadores interessada em estratégia
competição sobre preço, momento em que competitiva havia descoberto o poder
as empresas líderes passaram a se competitivo dos agrupamentos e das redes
diferenciarem pela qualidade (“Firma de negócios, ponto em que os interesses em
Qualidade”). Na passagem para os anos comum orientavam a estratégia para uma
1980, setores industriais sofreram saturação cooperação entre as empresas, com a
em suas capacidades e com lucros em descoberta do poder competitivo de
queda; consequentemente, as firmas agrupamentos de negócios, quando os
procuraram alternativas e as novas negócios de algumas cidades se
tecnologias introduziram novas concentravam geograficamente para
oportunidades de renovação ou melhoria produzir um determinado produto, trazendo
dos processos e produtos, ampliaram-se as vantagem competitiva no mercado mundial.
linhas de produtos com desenhos Os últimos 20 anos, o campo do
atualizados, adicionados ao preço e à conhecimento tem recebido um forte
qualidade em termos mundiais; as incremento de pesquisas sobre Redes de

76
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Negócios, despertado por variados facilitar a comunicação com o menor nível


interesses. de ruídos entre seus participantes; (c)
6.Compilação dos Principais Aspectos sobre Coerência e Reciprocidade – confiança e
O Que é Redes de Negócios e Quais as Suas cooperação sobre interesses compartilhados
Características. Formas complexas de entre os objetivos da rede e atores; (d) Poder
organizações, constituídas por: (a) Elos que – um exercício assimétrico econômico ou
proporcionam inter-relações; trocas entre o político de influência ou controle de um
ambiente interno da rede e o externo negócio sobre o outro; (e) Necessidade – na
(inputs/outputs), com certa liberalidade; (b) dependência ou escassez de recursos ou na
Elos (nós) formados por atores ou negócios velocidade de adaptabilidade das
que detém poder ou prevalência e dão organizações; (f) Economia – infraestrutura
sustentação à rede; (c) Objetivos ou para a sua sobrevivência ou
interesses em comum; (d) Regras em comum autossustentabilidade, a gerar desempenho
(formais ou informais); (e) Orientação em vantagens econômicas, ou para o
interna que busca a eficiência/eficácia (ou processamento e a transmissão da
uma homeostasia ou adaptabilidade); (f) informação que se tornam fontes
Atores ou negócios com certo grau individual fundamentais de produtividade e
de independência, ou não dependência em resultados; (g) Flexibilidade – na
relação à rede; (g) Atores ou negócios propriedade de independência de cada
pressionados por um ambiente econômico negócio ou na capacidade de adaptação ou
e/ou social em comum; (h) Estrutura coletiva reorganização em novas estruturas,
de autocontrole e recuperação de ambientes, valores e crenças; (h)
resultados; (i) Cultura e aprendizagem Aprendizagem ou Co-evolução – a
própria e co-evolução. capacidade de aprender e crescer
7. Componentes. (a) Estruturação e conhecimento, evoluir no coletivo ou co-
Conjunto – a capacidade coletiva de evoluir. Campo de ação dos negócios que
organização em um sistema de comunicação pode induzir as várias formações e formas de
e atividades para objetivos em comum; rede, conforme contingência.
capacidade de aglomeração em dimensões 8. Em síntese, a orientação conceitual para
geográficas, de atividades, etc.; (b) a definição de uma rede de negócios pode
Conectividade – a capacidade estrutural de partir da eliminação dos excessos e

77
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

convergência para oito características mais integrada e maior, criando maior poder de
evidentes que foram propostas aqui: 1) competitividade.
compartilhamento de recursos; 2) práticas 11. Foi analisada a vantagem competitiva
informais ou regras; 3) competências alcançada pelo consórcio modular da
sinérgicas ou complementares; 4) Volkswagen Veículos Comerciais (VWC), no
reciprocidade; 5) aprendizagem ou co- mercado brasileiro de ônibus e caminhões
evolução; 6) poder de troca; 7) posição ou frente aos seus concorrentes. O principal
espaço ocupado na rede; 8) alinhamento da objetivo foi entender como se define
proposta de valor. estratégia diante da prática de uma Rede de
9. Torna-se difícil a visualização física de Negócios em concorrência com outros
uma Rede de Negócios. A dificuldade não negócios ou empresas.
está na complexidade dos dados e 12. No período entre 1960 e 1990, as
informações, ou da própria rede, mas na corporações passaram por diversas fases
forma de pensar como elas existem. Propõe- evolutivas, na busca da competitividade e
se que, para entender como a estratégia conquista do mercado mundial. A partir de
ocorre nestas redes é preciso deixar de meados da década de 1980, este ambiente
racionalizar de forma lógica e passar a mutante e de alta concorrência forçou o
racionalizar de forma estratégica. setor automobilístico a repensar os seus
10. Então, as Redes de Negócios podem modelos de gestão, aumentou a exigência
ser definidas como ‘sistemas’, cujas partes das qualificações das empresas envolvidas e
mais importantes são as empresas que forçou um incremento do segmento de
possuem negócios e se dedicam a um autopeças. Constatou-se o processo de
determinado tipo de produto, passando a “outsourcing” não somente com a entrega
ter no seu conjunto, um poder de competir de peças e componentes, mas de
muito maior do que as empresas subsistemas montados (módulos), com
consideradas isoladamente. A essência das participação direta no processo de
redes de negócios foi evidenciada: cada montagem do produto final dentro das
organização separada se especializa no que instalações das montadoras. Isto deu origem
faz melhor, explorando as vantagens de ser aos condomínios industriais. A evolução do
menor, aproveitando as vantagens de estar condomínio industrial para o modelo de
consórcio modular pôde ser observada na

78
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

VWC. Neste modelo, os principais cooperação entre empresas e negócios; c) a


fornecedores para a montagem de fidelização entre as empresas participantes.
caminhões e chassis de ônibus estão dentro Também pode ser observada a ação de
da fábrica, o que permite encomendas sob empresa com mais poder de negociação,
medida pelos frotistas e transportadores que teve a capacidade de unir e coordenar
autônomos. Na forma de relacionamento os parceiros do primeiro nível da cadeia
entre a WVC e os fornecedores, a linha de produtiva e que influencia toda rede.
montagem é segmentada em módulos sem a Algumas evidências podem ser destacadas
manufatura de peças. Cada módulo é como resultados desta ação: (a) A
operado por um fornecedor ou consórcio de estabilização e equilíbrio do fluxo do sistema
fornecedores. Todas as operações, com a otimização dos canais de marketing;
investimentos e garantia no módulo são (b) O aumento no poder de negociação e a
realizados pelos fornecedores. Cabe à introdução de inovações em processos e
montadora a supervisão e teste dos veículos. produtos; (c) Os rendimentos cresceram
O sistema foi concebido para a produção em com o ganho na escala de produção e com
ciclo menor e com custos mais baixos do que um portfólio de produtos mais flexível. O
o tradicional modelo de montagem do setor. resultado mais importante foi a vantagem
13. Ao verificar que o consórcio é regido por competitiva alcançada, com resultados para
um contrato entre os sete fornecedores, o maior desempenho no mercado de
justifica-se a natureza da cooperação em um atuação.
sistema lógico. Os membros do sistema 15. Um executivo da VWC mundial expôs:
foram considerados parceiros que foram [...] “Resende é interessante porque reage a
escolhidos por critérios de capacitação mercados voláteis. É uma operação lucrativa
financeira, tecnológica e de qualidade de e extremamente flexível”. A empresa central
serviços com a posição global no mercado. desta Rede de Negócios tem maior poder de
Asseguraram contratualmente a eles a negociação. Então, faz-se necessário
exclusividade e longevidade. destacar que a Rede de Negócios da VWC
14. Assim a Rede de Negócios da WVC está formada para competir com vantagem
(caminhões e ônibus) obteve os seguintes sobre as empresas concorrentes que não
efeitos: a) a especialização do trabalho para estejam organizadas sob a forma de uma
a alta competitividade; b) a integração e rede de negócios.

79
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

16. Nas Redes de Negócios estratégicas o executivos de empresas já necessitam


poder de competição decorre da existência aplicar o pensamento estratégico, para
de um pensamento estratégico que reúne e garantir que os integrantes da mesma terão
define uma estratégia de comportamento em conjunto uma força maior em relação
coletivo de sinergia, de complementação e aos seus concorrentes, se comparado com
agregação de valor. Diante de tais motivos, uma atuação de forma isolada e
na própria origem da formação da rede, os desarticulada.
_____________________________________________________

Víctor Villamil Ferreira24

LAWRENCE, Thomas B.; HARDY, Cynthia; PHILLIPS, Nelson. Institutional Effects of


Interorganizational Collaboration: The Emergence of Proto- Institutions. In: The Academy of
Management Journal, Vol. 45, Nº. 1 (Feb., 2002), pp. 281-290.

O trabalho se estrutura em (1) revisão da comunicação continua e que é


literatura sobre colaboração e teoria independente do mercado ou de
institucional, (2) descrição da metodologia mecanismos de controle. Entendemos,
utilizada para o estudo do caso, (3) portanto, que o conceito exclui qualquer
apresentação dos resultados da análise, e (4) hierarquia.
conclusões com aportes ao estudo da Essa definição pode incluir diversos tipos de
colaboração e teoria institucional. acordo de colaboração (como consórcios,
alianças, joint ventures, mesas-redondas,
Colaboração e teoria institucional
redes e associações). A definição adotada,
- Colaboração e estruturação
contudo, se diferencia das relações
interoranizacionais nas quais a relação é de
Os autores adotam a definição de
mercado (relações de fornecimento de bens
colaboração como uma relação
ou serviços) ou baseada em relação de
interorganizacional de cooperação, que se
autoridade (como agências reguladoras).
fundamenta em um processo de

24
Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca, com estágio de pesquisa na Universidade de Roma La
Sapienza; Mestre em Direito pela Universidade de Zaragoza; Bacharel em Direito pela PUCRS. Advogado.
80
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

A distinção é chave, pois onde há hierarquia instituições. Aquelas representam os


a relação se estabelece com contornos bem primeiros passos do processo de criação de
definidos e utiliza mecanismos já existentes. uma instituição. A formação da instituição
São utilizados procedimentos elaborados depende do tipo de colaboração empregada.
externamente, não pelos próprios parceiros. A partir dessa premissa, chega-se ao
Essas relações não fariam parte do conceito propósito do estudo que é identificar as
de colaboração. características das colaborações que são
Ao contrário, as relações de colaboração capazes de criar novas instituições.
seriam mais complexas, e impulsionariam o
Estudo de caso
surgimento de novos tipos de acordos,
normas e práticas. Há uma certa
O estudo de caso se centra em uma ONG
informalidade nos procedimentos adotados,
europeia que atua na Palestina. Devido à
que são elaborados internamente, não vem
peculiar situação da região, a ONG viu a
de fora.
necessidade e a oportunidade de colaborar
com outras entidades.
- Colaboração e inovação institucional
Os dados foram organizados de modo a
poder criar uma escala de elementos através
Os autores sugerem que a colaboração pode
dos quais a colaboração levou à criação de
atuar na formação de novos tipos de
proto-instituições. Assim, foi avaliado o
instituições, sendo instituição o conjunto de
envolvimento e a integração entre as partes.
práticas, técnicas ou regras amplamente
difundidas e utilizadas. Resultados e discussão
A partir daí se formula também o conceito de
Em primeiro lugar, se analisa o tipo de
proto-instituições, que seriam o conjunto de
interação entre as partes, verificando a
práticas, técnicas ou regras ainda pouco
profundidade e o âmbito da relação. No que
difundidas e utilizadas, mas com o potencial
se refere a profundidade da relação, ela
para se tornarem verdadeiras instituições,
pode ser rasa se há interação somente entre
ou seja, serem amplamente difundidas e
os administradores das partes ou profunda
adotadas.
se há interação entre seus colaboradores.
Nesse esquema, nem todas as proto-
Além disso, interessa também examinar o
instituições se tornarão verdadeiras
âmbito dessa colaboração, que pode ser

81
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

restrito quando há interação somente entre integração envolvem: (1) interações com
as partes ou amplo quando há interação terceiros, (2) acordos de representação, (3)
também com terceiros. fluxos de informações multidirecionais.
Em segundo lugar, interessa distinguir o tipo O envolvimento facilita a aprendizagem
de estrutura constituído, que pode ser de interorganizacional necessária para a criação
doação quando uma parte simplesmente de novas práticas, técnicas e regras. A
cede recursos para que outra realize suas integração facilita a transmissão dessas
próprias atividades, de parceria quando práticas, técnicas e regras para além das
ambas trabalham juntas por seus próprios organizações evolvidas. Colaborações que
objetivos ou de representação quando as têm altos níveis de envolvimento entre as
partes chegam a trabalhar pelos objetivos partes e que estão altamente integradas em
umas das outras. seu campo de atuação serão positivamente
Por último, é importante observar como se associadas à criação de novas proto-
dá o fluxo de informações entre as partes. Ele instituições.
pode ser unidirecional quando somente uma
Conclusões
parte aprende da outra, bidirecional quando
ambas trocam conhecimentos ou
Os autores concluem que as organizações
multidirecional quando as partes e terceiros
que desejem mudanças institucionais devem
aprendem uns com os outros.
observar não somente a relação com seus
Aplicando esses critérios, a análise se centra
parceiros, mas também o modo como a
em verificar em que tipos de colaboração
colaboração se integra à própria
entre as partes foram criadas novas práticas,
organização.
técnicas e regras que se difundiram e que
Organizações que se concentram somente
foram reproduzidas além da própria relação
no próprio negócio podem obter vantagens
bilateral. A conclusão é que para isso ocorra
competitivas, mas podem estar renunciando
deve haver altos níveis de envolvimento e
à oportunidade de realizar mudanças no
integração.
campo em que operam.
Altos níveis de envolvimento implicam: (1)
O estudo demonstra que altos níveis de
interações profundas entre os participantes,
integração e envolvimento são positivos
(2) acordos de parceria e (3) fluxos de
também em estágios iniciais, fazendo com
informações bilaterais. Altos níveis de

82
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

que as organizações possam superar colaboração pode afetar outras


limitações de tamanho ou recursos. organizações criando novas instituições,
O trabalho conclui que a colaboração entre entendidas como o conjunto de práticas,
instituições pode ter efeitos secundários técnicas ou regras.
positivos que vão além das inovações e
conexões criadas entre as partes. A

____________________________________

ECONOMIA
Laura Schroeder Feijó25

SILVA, Lucas Emanuel da; FARIAS, Tácito Augusto. UMA REVISITA A RONALD H. COASE. RDE-Revista de
Desenvolvimento Econômico, v. 3, n. 35, 2017

A obra em análise pretende revisitar as artigos “The Nature of the Firm”, em 1937, e
contribuições de Ronald Coase para a Teoria “The Problem of Social Cost”, em 1960.
Econômica por meio do exame dos O seu interesse quanto às diferentes
fundamentos das suas principais ideias e do organizações das firmas, sobretudo os
contexto em que foram desenvolvidas em processos de integração vertical, resultou na
comparação com a evolução das Ciências construção das teorias da firma e do custo de
Econômicas. Em descrição à conjuntura, vale transação, publicada no artigo “The Nature
referir ter sido Ronald Coase um importante of the Firm”, em 1937. Esse estudo, ao tratar
economista inglês do século XX, laureado as firmas como um fenômeno econômico –
com o prêmio Nobel de Economia de 1991 buscando entender (i) por que as firmas
por mérito, especialmente, da elaboração da existem e (ii) do que depende o seu tamanho
teoria dos custos de transação e da teoria da – impulsionou a superação do entendimento
firma, que ganharam destaque com seus de que a empresa seria mera abstração que
combina insumos a fim de maximizar juros.

25
Bacharela laureada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
83
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Considerando o entendimento de Adam mercado, o número de transações da firma,


Smith sobre a capacidade de coordenação a quantidade e o tamanho de erros
da economia pelo sistema de preços (“The cometidos pelo empresário nas transações e
Wealth of Nations”, em 1776), Ronald Coase o preço do fornecimento de fatores de
identificou que o papel da firma no mercado produção para empresas de maior porte.
não poderia ser a alocação de recursos, já Outro marco do autor foi a criação do
que o mercado já fazia isso perfeitamente chamado Teorema de Coase, que consistiu
bem, mas sim o de administrar os recursos na análise de externalidades a partir da
internamente, evitando os custos de se relação entre custos e direitos de
recorrer ao sistema de preços. propriedade no artigo The Problem of Social
Dessa percepção se originou a teoria do Cost, em 1960, como crítica à visão de Arthur
custo de transação, segundo a qual Ronald Pigou de que o governo deveria intervir,
Coase afirma que usar do mercado – isto é, mediante tributação ou legislação
do sistema de preços – para transacionar específica, a fim de restringir os agentes
implica em custos como os de formular econômicos responsáveis pela geração de
contratos, levantar preços, colher externalidades negativas. Ronald Coase
informações necessárias, conduzir conseguiu demonstrar a simetria do
negociações, inspecionar produtos, resolver problema da externalidade, uma vez que
possíveis conflitos, entre outros. Nesse evitar um agente econômico de produzir
sentido, em resposta à indagação (i), o autor prejuízos a outros significaria causar
identifica o sentido da existência das firmas prejuízos ao primeiro. Nessa perspectiva, o
sempre que for mais rentável manter sua que se deveria evitar seria o prejuízo mais
estrutura de administração interna de grave, considerado o efeito total, não
recursos do que enfrentar os custos de apenas o marginal.
transação impostos pelo mercado, e, à Seguindo essa lógica, Ronald Coase
indagação (ii), Ronald Coase percebe que o percebeu a relevância da definição dos
crescimento da organização ocorre até que a direitos de propriedade e os impactos do
realização de uma transação extra dentro da sistema jurídico sobre o sistema econômico.
firma custe o mesmo de realizá-la no Inicialmente, ele constatou que, quando os
mercado, sendo aspectos importantes, é direitos de propriedade estão desde o
claro, os custos transacionais da firma e do começo bem definidos e não existem custos

84
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

de transação, a solução da barganha será Posto isso, cumpre mencionar, para mais,
sempre do Ótimo de Pareto (conceito que que as contribuições de que trata o artigo
designa um estado em que os recursos estão analisado sobre a vida e carreira de Ronald
alocados da maneira mais eficiente possível, Coase vão além do espectro puramente
de tal forma que é impossível melhorar a teórico que envolveu a criação das
posição de um agente sem piorar outro), inovadoras e vultuosas teorias dos custos da
independentemente de como estivessem transação e da firma. Suas ideias
distribuídos inicialmente os direitos entre as formataram e deram peso e
partes, caso em que a intervenção reconhecimento à Nova Economia
governamental seria desnecessária. Por Institucional, conferiram maior realismo e
outro lado, havendo custos de transação, a impulsionaram pesquisas no ramo da
distribuição inicial dos direitos de organização industrial e abriram espaço para
propriedade é estabelecida pela legislação o que viria ser o “Law and Economics”, bem
vigente, a qual é determinante para a como proporcionaram instrumentos para
produção ou não da máxima economia, caso que sucessores e críticos aprimorassem suas
em que, de fato, a intervenção observações – como Williamson, ao
governamental geraria consequências e determinar níveis dos custos de transação e
poderia até mesmo reduzir os custos de propor estruturas de governança, e Douglass
transação, especialmente se definisse – para North, ao constatar a multidimensionalidade
além de um sistema de direitos disponíveis, dos direitos de propriedade e a consequente
que podem ser modificados por decisão das impossibilidade da sua definição prévia com
partes – regras indisponíveis sobre as exatidão.
transações.

__________________________

85
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

AMBIENTE INSTITUCIONAL E DESENVOLVIMENTO

Rosângela Souza de Souza26

FIANI, Ronaldo. Arranjos institucionais e desenvolvimento: o papel da coordenação em estruturas híbridas. Texto
para Discussão, 2013

Instituições são as regras – formais e da democracia para o desenvolvimento, esta


informais – que regulam as interações literatura não se motivou a discutir mais a
sociais, na definição já clássica de Davis e fundo o conceito de democracia de Dahl,
North (1971, p. 6). O Estado natural que, preferindo elaborar seus próprios conceitos.
segundo North, Wallis e Weingast (2009, p. O mais sofisticado é o conceito de Ordem de
38), é uma coalizão fechada entre as elites Acesso Aberto, de North, Wallis e Weingast
para a partilha de benefícios, a restrição ao (2009).
desenvolvimento de organizações e ao Uma breve consideração sobre instituições
comércio, é necessária para garantir a políticas

geração e distribuição de benefícios entre as


Cumpre reconhecer que, não obstante a
elites, de forma a sustentar a aliança que
importância das políticas na promoção do
domina o Estado. Da mesma forma, todas as
desenvolvimento, as instituições
relações entre os membros do Estado são
desempenham também papel significativo,
fortemente pessoais.
podendo obstaculizar a implementação de
De uma forma geral, a opção da literatura
políticas desenvolvimentistas. Isso se torna
tem sido rotular as sociedades de acordo
particularmente problemático no caso em
com os seus princípios básicos como
que as regras institucionais devem propiciar
“democracias” e “não democracias”. Não
uma participação adequada de agentes
obstante o entusiasmo da literatura mais
privados em arranjos institucionais.
recente acerca do papel das instituições na
economia pela pesquisa das consequências

26
Graduada em Direito pela PUCRS, Pós- Graduação em Gestão Pública Municipal UFRGS, Pós- Graduação em Direito
Público ULBRA Canoas.
86
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Arranjos institucionais e desenvolvimento transação apresenta o mesmo enfoque nos


arranjos institucionais; porém, em vez de
A definição de arranjo institucional foi
supor que é possível solucionar
estabelecida de forma pioneira por Davis e
antecipadamente os conflitos que podem
North (1971). Um arranjo institucional
surgir, admite que em circunstâncias de
seria, de acordo com Davis e North (op.
elevada complexidade e incerteza podem
cit., p. 7), o conjunto de regras que
ocorrer pois, dada a racionalidade limitada
governa a forma pela qual agentes
dos agentes, os contratos tendem a ser
econômicos podem cooperar e/ou competir.
incompletos. Em presença de ambientes
Arranjos institucionais são regras que
complexos e de elevada incerteza, dada a
definem a forma particular como se
mesma racionalidade limitada dos agentes,
coordena um conjunto específico de
os contratos são geralmente incompletos.
atividades econômicas em uma sociedade
Isso não apresenta maiores problemas se for
(Fiani, 2011, p. 4).
possível substituir a contraparte na transação,
Uma primeira divisão ocorre entre as
pois neste caso a pressão competitiva entre
abordagens que privilegiam o papel do
as partes inibirá qualquer atuação
ambiente institucional na economia, seja
oportunista, que é a manipulação de
das regras gerais que governam o setor
assimetrias de informação com o objetivo de
público (na teoria da escolha pública) ou o
realizar ganhos indevidos.
setor privado (teoria dos direitos de
Assim, se os ativos envolvidos forem
propriedade), seja das abordagens que
específicos e vincularem as partes, para que a
estudam os arranjos institucionais.
transação possa ser preservada, é preciso
Entre estas últimas, tem-se novamente uma
constituir um arranjo institucional que
divisão: de um lado, há teorias que adotam
promova adaptações e ajustes entre as
um levantamento completo, ou seja, que
partes ex post (Oliver Williamson e Claude
supõem que as dificuldades contratuais
Ménard)
podem ser solucionadas antes do
desenvolvimento contratual, desde que as
Custos de transação e arranjos
provisões contratuais adequadas (na forma institucionais
de incentivos para alinhar as preferências do
agente com o principal) sejam adotadas. De uma forma geral, um arranjo institucional

Por outro lado, a teoria dos custos de especifica quais são os agentes habilitados a

87
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

realizar uma determinada transação, o características físicas do ativo. Por exemplo,


objeto (ou os objetos) da transação e as uma broca de grande resistência vai ter de
formas de interações entre os agentes, no possuir características físicas adequadas, e
desenvolvimento da transação, estando o isto tornará a broca específica em relação às
arranjo sujeito aos parâmetros mais gerais demais, independentemente de poder ter o
do ambiente institucional. mesmo desenho.
O mercado é um tipo de arranjo Há ainda a especificidade do capital humano,
institucional em que as partes podem técnico e cientista de alto nível, que são
substituir livremente e a qualquer momento exemplos característicos, pois sua formação
sua contraparte na transação, uma vez que é demorada, não apenas pelos anos de
o ativo transacionado não guarda qualquer educação necessários, mas também pelo
especificidade, e assim não existe qualquer aprendizado prático.
vínculo entre comprador e vendedor. O Os mercados não são adequados em
mercado que opera essencialmente por transações com ativos de elevada
meio de incentivos é o lugar por excelência especificidade, pelo fato de que ativos
da adaptação autônoma. Mas antes é específicos possibilitam a manipulação de
preciso compreender que nem toda informações e promessas por parte de
transação acontece necessariamente em agentes que estejam em posição
um mercado. Por exemplo, Markusen (2002, privilegiada na transação (atuação
p. 6) já apontava que em torno de 30% das oportunista).
transações internacionais não estão sujeitas à Por sua vez, um contrato também não é mais
possibilidade de substituição de contraparte suficiente para garantir as salvaguardas para
na transação.; a transação, pois com racionalidade limitada
Outro exemplo é o dos setores de em uma situação de
infraestrutura com a presença de empresas complexidade/incerteza, em que há a
privadas reguladas. Williamson (1985, p. possibilidade de oportunismo pelas partes, e
326-364) argumentou enfaticamente contra o objeto da transação é um ativo específico,
as propostas de tentar reproduzir a torna-se difícil antecipar todas as
concorrência de mercado em setores de circunstâncias relevantes que no futuro
infraestrutura regulados. Uma terceira fonte podem vir a afetar a transação. O contrato
de especificidade diz respeito às torna-se gravemente incompleto, então é

88
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

preciso que se criem arranjos institucionais elementos que se assemelham a uma


que deem conta das necessidades de ajuste hierarquia. O setor regulado é um dos
‘ex post’ aos termos da transação, à medida exemplos empregados, há elementos de
que circunstâncias imprevistas forem mercado na forma de incentivos – a empresa
surgindo. Ou a alterntiva é recorrer ao regulada obtém uma tarifa pelo serviço que
judiciário, onde terá uma resolução mais presta; porém, ao mesmo tempo, há
custosa, onerosa e incerta. elementos de hierarquia na forma de
Esses arranjos ‘ex’ post são os arranjos controles administrativos exercidos pelas
institucionais alternativos ao mercado, que agências reguladoras.
Oliver Williamson denominou, de forma São exemplos de híbridos, ainda: joint
genérica, hierárquicos e híbridos. ventures, alianças estratégicas, cadeias de
A hierarquia corresponde à estrutura fornecedores, franquias, parcerias público-
verticalmente integrada da firma, em que o privadas (PPPs), parques tecnológicos, etc.
processo produtivo flui internamente, O fato de os híbridos demandarem um
passando de uma etapa a outra sob controle centro estratégico não significa que o Estado
da burocracia. Ao contrário do mercado, é um candidato natural a desempenhar este
agentes responsáveis por cada etapa do papel. Ménard (2010) cita vários casos em
processo produtivo não possuem que o centro estratégico é exercido por
autonomia, estando sujeitos a um controle agentes privados, como o franqueador, no
centralizado. Empresas privadas e públicas caso das franquias empresariais.
seriam exemplos de arranjos hierárquicos.
Diz-se haver adaptação coordenada, pois, Arranjos híbridos em políticas de
desenvolvimento
frente a mudanças no ambiente da
transação, a adaptação dos agentes Será destacado, em particular, o papel do
envolvidos é coordenada pelos controles Estado como agente privilegiado para
administrativos, ou seja, pelos comandos exercer a tarefa de centro estratégico em
exercidos por agentes com autoridade para arranjos institucionais envolvendo agentes
isto definida hierarquicamente privados, com vistas ao desenvolvimento.
Híbridos combinam incentivos e controles Muitas vezes, o Estado é o único agente em
administrativos, de forma que há elementos condições de desempenhar as funções
que se assemelham ao mercado, e necessárias para que o processo seja bem-

89
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

sucedido. A primeira função que o Estado desenvolvimento resulte


deve desempenhar é a de coordenar os consequentemente em conflitos.
investimentos privados em ativos Dessa forma, como enfatiza Fiani (2011, p.
específicos rumo a um equilíbrio superior, 217), “promover o desenvolvimento exige
corrigindo, assim, falhas de coordenação, reduzir os conflitos que ele provoca” (grifos
que ocorrem quando a incapacidade dos do original). Desta feita, o problema do
agentes para coordenar suas ações resulta desenvolvimento nunca é exclusivamente
em um equilíbrioque é ineficiente. econômico, mas também politico.
O Estado não atua nos arranjos institucionais
apenas visando deslocar a economia de um Conclusão

equilíbrio de Nash “inferior” para um


A complexa interação entre instituições e
equilíbrio de Nash “superior”.
políticas, em particular o problema de
Como indica Chang (2003), e é discutido por
‘ path dependence’, sugere que há um
Fiani (2011, p. 216-221), a posição do Estado
ganho analítico significativo ao se
lhe faculta a capacidade de atuar de forma
diferenciar instituições de políticas.
empreendedora, isto é, fornecendo uma
Contudo, o tema que tem assumido mais
visão de futuro que vá além dos equilíbrios
visibilidade nas abordagens
superiores que eventualmente existam e
institucionalistas da questão do
formule novas possibilidades de
desenvolvimento tem sido o papel do
transformação do sistema econômico.
ambiente institucional – as liberdades
Uma vez que ativos específicos são uma
políticase econômicas. O papel dos arranjos
parte importante do investimento total de
híbridos, pois englobam, entre outros, os
uma economia moderna, e uma vez que o
arranjos em que o Estado – assumindo o
processo de desenvolvimento provoca
papel de centro estratégico – atua em
mudanças significativas na estrutura da
parceria com o setor privado.
economia deve-se esperar que o processo de

90
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Eva Motta27

KIRZNER, Israel M. Competição e a atividade empresarial. LVM Editora, 2017 (Capítulo 2)

Israel M. Kirzner desenvolve uma teoria do econômica. A lógica empreendedora está no


processo de mercado em que a função centro da análise econômica e é ela que
empresarial assume papel central. Afirma-se promove o crescimento econômico e o
que a atividade empresarial desempenha desenvolvimento social. Destaca-se que o
um processo harmonizador na economia. N empresário puro percebe oportunidades de
Capítulo 2, Kirzner se dedica ao estudo do lucro através da intuição empreendedora
papel do empresário no sistema de preços. que brota do estado de alerta do Tomador
Fundamenta seus argumentos nas teses de de Decisões.
Ludwig Von Mises, que junto com Hayeki foi
um dos principais economistas da Escola 2. Tomada de decisão e economização

Austríaca. Parte-se de um entendimento de


A teoria do homem economizador de
mercado dinâmico, liberal, competitivo e de
Robbins é do conhecimento perfeito, num
futuro incerto gerando oportunidade de
mundo em equilíbrio. O único campo de
Lucro Puro. A Teoria da atividade
ação para a tomada de decisão relaciona-se
empresarial de Kirzner é baseada num dos
com a oportunidade de troca de algo que se
pontos principais de Mises, de que a
valoriza pouco por algo que se valoriza mais.
coordenação entre os mais variados agentes
Segundo Kirzner, o equilíbrio tira das
no mercado não acontece por acaso, mas é
pessoas o pensamento, impedindo o
resultado do elemento empresarial.
aprendizado e a vontade de evoluir. A
suposição do pensamento perfeito exclui a
1. A natureza da atividade empresarial
função empresarial e não percebem a
O autor aduz que a atividade, a intuição necessária prática da
empreendedora econômica é algo lógico concorrência/competividade. Os meios e
racional para todos os indivíduos. Todos fins tem origem na mente das pessoas. A
agem sempre procurando obter vantagens relação entre o conhecimento individual e as

27
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional-IMED e graduada em Ciências Contábeis pela UFRGS.
91
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

realidades do mercado fazem parte dos produtor e consumidor final. As decisões


problemas estudados pela Escola Austríaca. empresariais estão nas mãos dos tomadores
de decisão que não possuem nada. Basta
3. O empresário no mercado que o rendimento da operação seja maior
que o custo. O capitalista incorre nos riscos
Os tomadores de decisões estão engajados
e incertezas do investimento.
na ação humana Misesiana. Estado de alerta
empresarial. Num mundo sem
5. Lucros empresariais
conhecimento perfeito há oportunidades
que não foram exploradas. O tomador de Um proprietário de recursos como o
decisões precisa saber onde estão estas economizador robbinsiano procura tirar a
oportunidades inexploradas. A Teoria da maior vantagem possível para a troca de
Atividade Empresarial também é chamada seus ativos no mercado. Um empresário,
por alguns como a Teoria do Preço. O preço pelo seu estado de alerta explora, especula,
se forma através da oferta e procura, busca o lucro na diferença de preços entre a
pressupondo um ambiente de compra e a venda. Este lucro empresarial
competitividade. O empresário puro precisa puro é que agrega valor à economia, sendo a
descobrir onde os compradores vêm força motriz do mercado e da produção. A
pagando demais e onde os vendedores vem propriedade e a atividade empresarial
recebendo de menos e suprir essa devem ser vistas como funções
deficiência oferecendo para comprar por um completamente separadas.
pouco mais e para vender por um pouco
6. Atividade empresarial, propriedade e a
menos. Tomador de decisão nada tem a
empresa
fazer num mundo perfeito da economização
robbinsiana. A empresa surge após os proprietários dos
serviços produtivos venderem a um
4. O produtor como empresário empresário os recursos necessários para
produzir alguma mercadoria. Assim, o
Por convenção, Kirzner diz que a atividade
negócio é consequência das decisões
empresarial está nas mãos do empresário
empresariais anteriores. Empresa é uma
puro e assim, exclui o proprietário de ativos
entidade, logo, não é a mesma coisa que o
do papel empresarial. Divide o mercado em
empresário puro (tomador de decisões). O
proprietário de recursos (capitalista),
92
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

papel de capitalista é necessário para tornar empresarial. É hora de colocar em atividade


o lucro empresarial possível. Estes o estado de alerta. De reagir, adotando
proprietários de recursos financiam o medidas para aproveitar as oportunidades
empresário porque acham o pagamento do de maximizar os lucros.
juro atraente. A mesma pessoa pode ser
empresário e capitalista, bem como pode ser 10. A literatura sobre a atividade
empresarial
empresário e proprietário de recursos.
O autor critica as teorias contemporâneas do
8. Atividade empresarial e conhecimento
preço que ignoram a atividade empresarial.
O que gera oportunidades para lucro A literatura tem explicado o lucro e não
empresarial puro é a imperfeição do destacado o papel do empresário. O lucro é
conhecimento dos participantes do inseparável da atividade empresarial.
mercado. A ignorância abre a possibilidade Kirzner enfatiza e valoriza a atividade
de oportunidades inexploradas. Para empresarial porque é ela que impulsiona o
Kirzner, o conhecimento exigido para a mercado e traz desenvolvimento econômico
atividade empresarial é do tipo “saber onde e social.
procurar o conhecimento de informações
concretas de mercado”; o estado de alerta é 11. Atividade empresarial segundo Mises

o conhecimento abstrato. Kirzner construiu a teoria da atividade


empresarial com base em Mises. A
9. Atividade empresarial e processo
equilibrador importância da ação humana que trouxe
coerência e desenvolvimento à ideia que se
Kirzner destaca a importância crucial da
opôs à economização robbinsiana. A função
atividade empresarial no processo de
empresarial exige ação com práticas
equilíbrio do mercado. O empresário
competitivas. Os lucros se originam da
utilizando-se da lei da oferta e da procura e
ausência de um ajuste entre o mercado de
sendo competitivo, procura estar atento as
produtos e o mercado de fatores e a
inúmeras oportunidades de lucro de um
atividade empresarial bem sucedida consiste
mercado em desequilíbrio que nunca será
em notar tais desajustes antes que outros os
equilibrado. Na teoria do mercado é
notem.
importante neste momento a noção

93
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

12. Considerações finais

São elementos centrais na teoria da ação


empresarial de Kirzner:

(1) estado de desequilíbrio, tal que existem


oportunidades de lucro puro;
(2) equilíbrio como compatibilidade de
planos (ações e expectativas);
(3) estado de alerta da função empresarial
para percepção de uma oportunidade de
lucro puro;
(4) tendência à extinção do lucro puro (dos
erros de decisão/alocação);
(5) tendência de descoberta de novas
oportunidades de lucro;
(6) tendência ao equilíbrio na economia;
(7) impossibilidade do equilíbrio no mundo
REAL

___________________________________

Percepções sobre o Institucionalismo

Eduardo Teixeira Farah28

MACHADO, Vinicius Cassol da Silveira. Oliver Williamson: uma revisão de literatura. 2016

A autor faz referência ao “institucionalismo pode demonstrar semelhança com o


como a linha de pensamento oposta ao Marxismo, Keynes e Schumpeter que partia
neoclassicismo que, em alguns aspectos, de um enfoque microeconômico para

28
Mestre em Direito dos Negócios e da Integração Regional pela UFRGS; Especialista em Direito da Empresa e da
Economia pela FGV; Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS.
94
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

sistematizar vínculos do ambiente Na busca de uma percepção contemporânea


institucional com as novas trajetórias de do institucionalismo, o autor reúne
inovação. A tradição institucionalista trouxe “conceitos e ideias tanto do velho quanto do
a possibilidade de se avançar em direção da novo institucionalismo, ou seja, as
teoria dinâmica das instituições. ” instituições não podem existir na ausência de
Acrescenta que “ainda na mesma década, uma ação individual, subsiste, portanto, uma
Oliver Williamson e seus estudos sobre dependência entre instituições e ação
economia industrial e mercado de trabalho, humana, onde uma não existe sem a outra. ”
com leitura inteiramente acessível aos não Arremata que “para os institucionalistas, o
economistas, manteve o cerne das relações papel das instituições que regulam o
entre firmas e fornecedores em vários ambiente econômico é determinar as
contextos, introduzindo o marco conceitual relações econômicas na sociedade. A cada
da “abordagem dos custos de transação”, tempo as instituições são diferentes, assim a
tornando-se o clássico contemporâneo da realidade não se encaixa em modelos a
escola”. Adiante expõe que “para os qualquer momento. As raízes mais antigas,
institucionalistas, o papel das instituições que remetem ao historicismo econômico
que regulam o ambiente econômico é alemão, exercem uma influência ímpar nesse
determinar as relações econômicas na modo de pensar. Por conta dessa corrente
sociedade. A cada tempo as instituições são surge uma nova linha de pensamento, seu
diferentes, assim a realidade não se encaixa marco enquanto escola de pensamento
em modelos a qualquer momento. As raízes econômico independente a partir do
mais antigas, que remetem ao historicismo trabalho pioneiro dos autores norte-
econômico alemão, exercem uma influência americanos Veblen, Commons e Mitchell. ” O
ímpar nesse modo de pensar. Por conta trabalho destaca que “ainda na mesma
dessa corrente surge uma nova linha de década, Oliver Williamson e seus estudos
pensamento, seu marco enquanto escola de sobre economia industrial e mercado de
pensamento econômico independente a trabalho, com leitura inteiramente acessível
partir do trabalho pioneiro dos autores aos não economistas, manteve o cerne das
norte-americanos Veblen, Commons e relações entre firmas e fornecedores em
Mitchell. ” vários contextos, introduzindo o marco
conceitual da abordagem dos custos de

95
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

transação, tornando-se o clássico tecnologia não é dada, não pode ser isolada
contemporâneo da escola. ” como o fazem modelos neoclássicos; b) não
há equilíbrio estável, logo é importante
Contribuições Relevantes de Williamson à
estudar como e por que surgem os
Teoria Econômica
desdobramentos das mudanças na
Por meio da análise de Coase o estudo lança economia; c) atenção ao processo, a
o questionamento sobre “por que uma evolução da economia é gerada por
empresa internaliza atividades? Com um transformações tecnológicas. ”
mercado eficiente ela poderia obter insumos Destarte, “o velho institucionalismo foi
a um custo inferior, supondo a existência de sendo cunhado através dos moldes de uma
ganhos de eficiência provenientes da divisão ciência empírica, diferentemente das teorias
do trabalho (...) a teoria neoclássica ortodoxas, com pobre contato e carregadas
estabelecia que a firma era um mero agente de suposições a respeito do real
maximizador de lucro, desprovido de outro funcionamento da economia. ” Em conexão
interesse que não o de obter o maior com a esfera do direito, o estudo apresenta
excedente possível dada as expectativas dos as principais obras de Commons “Legal
agentes e as condições que prevaleçam no foundations of capitalismo” (1924) e
mercado. Embora esse conceito da firma “Institucional Economics” (1934) e expõe
facilitasse enormemente o trabalho de que “nelas o direito é formulado pela
pesquisa e elaboração de modelos de resposta da escassez e os conflitos de
equilíbrio e crescimento econômico, ele logo interesse sendo um processo de resposta às
se revelou incapaz de lidar satisfatoriamente relações entre os indivíduos da sociedade e
com realidades mais complexas, tais como não algo simplesmente imposto por um
estruturas oligopolistas e imperfeições de grupo seleto de indivíduos. Para o
mercado. Desta forma ela não era capaz de economista a instituição será como uma
explicar o surgimento de estruturas ação coletiva que controla, libera e favorece
oligopolistas dentro do capitalismo, a expansão da ação individual, a instituição
fenômeno sobre o qual a tese maximizadora aflora da própria indigência de recursos que
pouco teria a dizer. ” Por outro lado, foram seria então sanada com o trabalho físico,
apresentadas as percepções de Veblen e sempre claro, que não houvesse restrições
Commons que trabalham com três principais individuais. ”
pressupostos em comum acordo: “a) a
96
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Por sua vez, Oliver Williamson estabeleceu Nesse diapasão, o autor afirma que “o
as diferenças entre a VEI (Velha Economia grande mérito de Williamson foi ir além de
Institucional) e a NEI (Nova Economia uma crítica ao mainstream e à compreensão
Institucional), haja vista que “o arcabouço da firma com o enfoque em custo de
teórico da NEI enfoca, fundamentalmente, produção. Williamson adiciona um
aspectos microeconômicos, uma teoria da pensamento alternativo. Não estava
firma em uma abordagem não convencional. propondo uma adição à teoria dos custos de
São relevantes para os estudos: a história produção, ou seja, tinha como objetivo a
econômica, os direitos de propriedade, formulação de um pensamento novo para
sistemas comparativos, economia do um problema antigo e parecia ter exaurido
trabalho e formas de organização industrial. as suas explicações. ” Expõe o autor que “o
Recuperam-se assim conceitos importantes economista trabalhou na divisão antitruste
de Coase (1937). É incorporada a ideia de como, ‘Special Economic Assistant to the
que da firma para fora poderá existir um Head of the Antitrust Division of the US
mecanismo de preço, mas em especial Department of Justice’, entre 1966 e 1967.
internamente. O mecanismo de organização Aquele foi um grande salto para formulação
é baseado na hierarquia, logo os contratos de novas teorias. No fim da década de 60 a
não são feitos somente por mecanismos de liderança e funcionários da Divisão
preços. ” Antitruste defendiam, de forma
Coase formula suas ideias baseado nos predominante, a visão teórica dos preços,
conceitos de custos de transação, analisavam a concorrência com base nos
racionalidade limitada, oportunismo e preços de mercado e custo de produção.
especificidade de ativos. Já North, também Então se uma firma optava por uma
ganhador do Prêmio Nobel, se distancia das verticalização de sua produção acendia uma
ideias de Coase e Williamson, pois analisa as luz amarela alertando a divisão que era
instituições como restrições humanamente provável que estava sendo criada uma
inventadas que estruturam as interações competição desleal de mercado. ”
humanas. Os aspectos sociais estão Posteriormente, “em 1971 foi publicado na
presentes nos estudos de North, o qual, American Economic Association o artigo
inclusive afirma que “as instituições são as ‘The Vertical Integration of Production:
regras do jogo. ” Market Failure Considerations’ muito

97
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

relevante para a carreira de Willamson, Williamson. ” A denominada trilogia de


especialmente, por ser um trabalho que o Williamson é composta pelas obras: “Market
levaria para a TCT. Pode-se destacar: a) a and Hierarchies (1975); The Economic
ótica da ortodoxia foi suplantada pela ótica Institutions of Capitalism (1985) e The
do contrato e governança; b) a racionalidade Mechanisms of Governance (1996). Estes
é limitada, em contratos complexos é livros buscam de forma minuciosa a
incompleto; c) o comportamento durante o compilação dos vários artigos publicados,
intervalo de execução do contrato amplia a em que não era possível explicar suas ideias
ideia de auto interesse simples; d) os custos de forma agrupada e com uma linha
de transação são positivos, condicionados contínua de pensamento devido a restrições
aos atributos de transação; e) a adaptação é estilísticas típicas das publicações da
relevante para o desempenho da firma; f) as profissão. ”
decisões da ação institucional decorrem dos Outro aspecto salientado pelo autor é que
níveis de dependência bilateral. ” Nesta “Se Coase foi inovador em trazer um novo
perspectiva, “a decisão de integralizar ou ponto de vista, foi Oliver Williamson quem
terceirizar um bem ou serviço foi transformou ideias em prática,
compreendido por Williamson que animado desenvolvendo os fundamentos para estudos
ligou para seu amigo Dan McFadden na área da Economia das Organizações, de
relatando que ampliara sua compreensão forma que pudessem fazer análises pautadas
sobre o tema, mas que encontrava dois por modelos realistas. Desde a década de 70,
grandes desafios: como colocar todo esse Oliver Williamson se dedica incansavelmente
conhecimento e seus desdobramentos no ao seu modelo, testando hipóteses sobre os
papel, e como ter uma teoria tão completa mecanismos de governança das
sobre a firma sem testá-la empiricamente. ” organizações, sobre as relações entre firmas
Por meio da expansão dos estudos de que não ocorrem por meio dos mercados e
Williamson e “como todos os sim dos contratos. Se o termo ‘custo de
desdobramentos do institucionalismo a transação’ é hoje tão comum, isso devemos
escola não é fechada em seus conceitos, a ambos: Coase pela criação e Williamson
permitindo muitos tipos de abordagem. Logo pela difusão. ”
é possível o desenvolvimento de muitas teses “Recentemente, o neoinstitucionalismo
a contar do que foi produzido por reverberou o desenvolvimento econômico,

98
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

além de ter seus conceitos disseminados em oportunistas e contratos ineficientes. Dessa


agências multilaterais. Em contrapartida, o forma, as falhas de mercado levam a firma a
arquétipo principal foi base de discussões verticalizar a produção, ou partes dela. ”
relevantes sobre a reforma do Estado por “Logo nos primeiros capítulos de The
autores oriundos de outras matrizes teóricas, Economic Institutions of Capitalism são
autores estes que recusam o paradigma abordadas as já citadas ideias de
neoclássico, e seu projeto geral: a ideia do oportunismo, racionalidade limitada, assim
comportamento maximizador, onde o como o conceito de transação, intercâmbio e
Homem Econômico pode ser substituído pelo contratos. a) risco moral é a não
Homem Contratual, sem instituições, o que compreensão se as partes de um contrato
para os neoclássicos é uma ficção, para farão o que foi combinado se forma
Oliver Williamson é um modelo simples e satisfatória, e ocorre quando seu próprio
viável. ” interesse é inconsistente com os interesses
“A compreensão de Williamson deve do principal; b) Hold up: esse oportunismo
começar pelos seus pressupostos que são ocorre quando um dos lados tem uma
exaustivamente trabalhados em Markets dependência extrema do outro, não havendo
and Hierarchies. São eles: a) os custos de possibilidade de troca de contratante,
transação são associados aos modos resultando em um grande poder, visto que é
institucionais de organização; b) a possível não cumprir com partes do contrato
tecnologia tem sua importância, mas não é e o contratado nada poderá fazer. ”
fator fundamental da existência da firma; c) “Definição do limite da firma é difuso quando
o centro da análise são as falhas de mercado tratado pela compreensão da firma como
(...) Em Market and Hierarchies, Williamson um conjunto de contratos. É importante
destaca que a organização interna da firma destacar que as relações se estendem dos
é determinante para o seu resultado, de tal domínios da firma e por vezes podem ocorrer
forma que gera vantagens competitivas. Por trocas de produtos com outras firmas, algo
vezes essa necessidade de organização surge como troca de favores. Em resumo, é clara a
com a grande incerteza nas transações e, visão de Williamson que o principal objetivo
assim, uma busca das firmas por verticalizar da organização econômica é a economia de
processos no intuito de diminuir as custos de transação via compromissos
possibilidades de comportamentos creditáveis, ou seja, gerar por contratos e

99
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

relações um compromisso de evitar os da realidade deve evitar que a contradição


esforços de comportamentos oportunistas. ” percebida no esquema teórico do
“Oportunismo, os indivíduos podem tirar mainstream reapareça. ”
vantagem de duas principais formas: a) no “Para a execução dos contratos é necessária
momento de firmar o contrato, ao incluir a criação de medidas de desempenho e
cláusula que lhes darão vantagem, sem que controles de resultado, demandando
haja uma total compreensão da outra parte; recursos para essa atividade das firmas. A
b) durante o contrato, deixando de executar atividade de verificação dos contratos não é
o contrato de forma satisfatória, seja por um um custo de produção, ao contrário, é um
excesso de confiança, seja por pouca custo direto oriundo do oportunista. Muitas
fiscalização da outra parte. ” vezes quando esses custos são muito
“Essa dificuldade de avaliação é decorre dos elevados pode a firma optar por não efetuar
seguintes fatores: 1) racionalidade limitada, o contrato. ”
visto a dificuldade de avaliar os preços; 2) “A Performance atributes pode ser do tipo:
comportamento oportunista pela criação de a) denota a adaptabilidade da firma ao
carteis; 3) especificidade dos ativos que mercado e o tipo; b) a capacidade de
levam a dependência de poucos cooperação. ‘Contract law’ diz respeito à
fornecedores; 4) assimetria de informação, o necessidade de realização de contratos
comprar pode não saber sobre a relação jurídicos formais para proteção da
entre as firmas e desconhecer seus custos transação. ”
(...) o conceito de oportunismo, permite que Por fim, sintetiza o autor que “é possível que
os agentes atuem estrategicamente na diferentes gestores tomem diferentes
procura de seu auto interesse sem que isso decisões em cenários iguais, ou seja, algo
leve ao colapso da firma, como quando as mais permeia a decisão. A sugestão é que a
firmas usam tecnologias bem padronizadas economia comportamental seja a fronteira
ou criam mercados internos de trabalho. da TCT, considerando que nela poderemos
Consequentemente, tanto a inclusão de encontrar mais respostas sobre a previsão de
agentes oportunistas quanto a de elementos comportamento das firmas. É possível que o
contrários que reduzem o impacto deste tipo avanço da TCT depende de olhar mais a
de comportamento, representam maneiras fundo para dentro das firmas e seus
de remodelar a realidade. Esta reconstrução indivíduos, para analisar a sua organização e

100
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

o comportamento dos indivíduos tomadores


de decisão”.

_____________________________________

A ECONOMIA DO CONHECIMENTO: UMA CONTRIBUIÇÃO CONCEITUAL

Matheus da Silva Pitaméia29

BAQUERO, Pablo Marcello. Collaborative Inter-Firm Innovation In The Frontiers Of The Knwolegde Economy: Preliminary
Remarks Towards Rethinking Private Law For the New Economy. Cadernos de Programa de pós-graduação em Direito.
UFRGS. Ed. digital. V. 16, nº. 01, pg. 152 a 171. Jan/ago 2021.
CAFAGGI, Fabrizzio. Contractual Networks, Inter-Firm Cooperation and Economic Growth. Disponível em:
<https://www.eui.eu/Documents/DepartmentsCentres/Law/Publications/Introduction.pdf>. Acesso em 26 out.2021.
POWEL, Walter; SNELLMAN, Kaisa. The Knowledge Economy. Annu. Rev.Socio. Stanford, California. Vol.30: 199-220.
February, 2004.
SMITH, Keith. What is the ‘knowledge economy’? Knowledge Intensity and Distributed Knowledge Bases. The United
Nations University, 2002, Discussion Paper Series, Maasticht, 2002.
UNGER, Roberto Mangabeira. A Economia do Conhecimento. Tradução por Leonardo Castro. São Paulo, SP:
Autonomia Literária, 2018

A economia do conhecimento, como leciona os formatos de rede estão associados


Unger (2018), tem a tendência de mudar (CAFAGGI, 2011, tradução nossa).
radicalmente a cultura moral de produção, Para conceituar a economia do
fazendo crescer a discricionariedade e o conhecimento é preciso não confundi-la com
ânimo de cooperação entre os agentes da o uso de seus produtos e serviços, como o
atividade produtiva. Mudanças políticas e emprego de computadores e outras
tecnológicas que levaram à globalização das tecnologias para gerenciar o processo de
relações econômicas – e a uma maior produção. A economia do conhecimento, em
interdependência das economias mundiais – um primeiro vislumbre, está ligada ao
produziram novas formas de acúmulo de capital tecnológico, capacitações
desverticalização da produção, com as quais tecnológicas e ciência aplicados à condução
do processo produtivo. Mas a administração,

29
Advogado. Formado em direito pela URCAMP, pós-graduando em gestão, governança e setor público pela PUCRS.
101
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

coordenação e produção centradas no economia em que estamos inseridos. Essa é


capital tecnológico, reitere-se, traduz o a lição de Baquero (2021, tradução nossa),
significado mais superficial de economia do que situa o início desse debate na
conhecimento. Em uma segunda visão, de observação de que grandes empresas não
olhar mais profundo, a economia do estavam mais produzindo internamente
conhecimento é caracterizada por uma todas as peças indispensáveis para a
centralização do conhecimento na montagem dos seus produtos, mas
economia: produtos popularizados nas delegando a outras empresas a produção de
últimas décadas parecem ser a uma fatia do objeto mercantil final,
materialização de experimentos e inventivas estabelecendo relações cooperativas não só
apoiadas, de maneira ampla, no entre empresas, mas também com institutos
conhecimento. “A aproximação” – diz o de pesquisa, universidades et cetera, o que é
autor – “da produção à imaginação está no chamado de movimento de
coração da economia do conhecimento, e desverticalização econômica. O autor
cada vez mais à medida que se difunde e mostra, como exemplo, o processo de
aprofunda”. Outra característica, é a produção de um Boeing 787, que é, em
promessa intrínseca da Economia do verdade, uma produção transnacional que
Conhecimento de mudar a cultura moral de integra diversas companhias de muitos
produção, aumentando o grau de países, cada uma especializada em uma
discricionariedade no processo produtivo e a parte, cooperando para o alcance do
cooperação entre os seus agentes. Com resultado final.
efeito, a manufatura mecanizada, para a qual A Economia do Conhecimento não está, no
a máquina era apenas um instrumento de entanto, desenvolvida a pleno
repetição, não exigia um grau elevado de funcionamento. Ao contrário, permanece
discricionariedade no seu processo, uma vez mais ou menos confinada e modesta nas
que a produção se dava através de um suas consequências práticas possíveis, ainda
processo mimético, dentro de uma que deixe escoar, em certos lugares, o sumo
organização hierárquica (UNGER, 2018). das suas possibilidades institucionais reais.
Mas não só o novo esquema de produção Para que se alcance a máxima potência das
demanda um aumento da cooperação entre novas formas econômicas, algumas
seus agentes, senão também a própria diretrizes devem ser seguidas. Para Baquero

102
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

(2021, tradução nossa), os modelos empregos que integram a economia do


emergentes de negócios não podem ser conhecimento. A evolução tecnológica é
tratados – no campo do direito – pelos comumente apontada como fator
ordenamentos vigentes tradicionais, determinante para a crescente desigualdade
concebidos para os modelos negociais salarial (…). Pesquisadores geralmente
tradicionais. O grau elevado de concordam que a mudança tecnológica
interdependência entre as empresas, além aumentou a demanda por trabalho
da intensa interação entre elas, criando altamente especializado em detrimento do
deveres de cooperação, informação e trabalho [puramente manual] de baixa
controle de qualidade demanda uma habilidade”.
legislação adaptável e que abranja esses A economia do conhecimento exige uma
problemas de ordem contratual. ordem de capacidades mais elevadas que a
No campo jurídico-institucional, Unger produção massificada de outrora. O
(2018) sugere que é preciso tornar a operador da máquina deve possuir, em certo
economia do conhecimento socialmente grau, a mesma capacidade técnica e de seus
inclusiva e também sugere inovações de inventores. Para tanto, a educação deve
ordem legal. Para o autor, o ordenamento abandonar a repetição mecânica de
jurídico deve servir para ampliar o acesso às fórmulas e priorizar uma formação criativa
oportunidades e recursos para a inovação e que aumente as capacidades analíticas. Com
produção, por meio do acesso ao capital e à relação ao conteúdo, a nova educação para a
tecnologia. Além disso, a força de trabalho economia do conhecimento deve preferir o
deve ter acesso ao capital intelectual e aprofundamento seletivo ao enciclopedismo
dominar as formas de desenvolvimento generalista e, no campo social, a cooperação
desse sistema de produção. deve fazer parte, de maneira profunda, do
Mas há outras diretrizes a observar, uma processo de aprendizagem.
delas refere-se às capacidades cognitivo- A economia do conhecimento não é uma
educacionais dos agentes operadores. Para tendência, deve-se dizer por fim. Mas uma
Powel e Snellman (2004, tradução nossa): realidade que necessita ganhar uma moldura
“há um consenso de que existe uma institucional, jurídica e social adequada para
discrepância entre as competências de certa que alce voo ao infinito de suas
classe de trabalhadores e os tipos de possibilidades, principalmente no que diz

103
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

respeito às atividades econômicas e à


superação de desigualdades.

___________________________________

DIREITO

Eduarda Jade Stumer Santos30

Ronaldo Porto Macedo Junior, CONTRATOS RELACIONAIS E DEFESA DO CONSUMIDOR, Ed. Max Limonad, 1998

CAPÍTULO IV – ELEMENTOS PARA UMA práticas de coerção, de sanção social,


TEORIA CONTRATUAL RELACIONAL:
políticas e da racionalidade.
CONTRATOS DESCONTÍNUOS E
CONTRATOS RELACIONAIS Reconhece-se que não existe uma coisa que
poderíamos chamar de contrato típico; por
1. A teoria relacional: origens e
outro lado, é importante reconhecer que há
pressupostos
um conjunto de práticas jurídicas que

A teoria dos contratos relacionais, de Ian permitem identificar historicamente a

Macneil, é fruto do desenvolvimento de formação de uma identidade conceitual.

trabalhos empíricos e teóricos de juristas Trata-se, sim, de descrever categorias que

que desde há muito já vinham trabalhando permitam compreender e operar a

na mesma direção. Serão analisados os experiência contratual – pois não se concebe

elementos fundamentais para uma teoria do uma relação contratual sem instituições

direito contratual relacional, com objetivo estabilizadoras, regras sociais, valores,

de criticar os limites da teoria contratual economia e linguagem; a sociedade é fonte

clássica, fundada num conceito bastante primária do contrato.

limitado e historicamente determinado de Uma outra fonte do contrato é a

vínculo contratual. O autor entende por especialização ou divisão social do trabalho,

direito um conjunto de práticas normativas, a qual conduz a uma forma de troca entre

30
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora em Direito Contratual Empresarial e Responsabilidade Civil na
UFRGS, Assistente jurídica voluntária no SAJU na área de Direito Civil.
104
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

bens diferentes produzidos por pessoas especificidade da transação; 3) Começo,


distintas. Um terceiro elemento seria a duração e término; 4) Planejamento; 5)
liberdade para escolher, em algum grau de Divisão e compartilhamento de ônus e
autonomia da vontade. Um quarto benefícios (cooperação e solidariedade) e
elemento, a consciência de que o passado fontes de apoio moral e econômico; 6)
desempenha importante papel de Poder; 7) Visão e expectativas dos
estabilização de expectativas. participantes.

2. Elementos promissórios e não- 3. Relações primárias e não-primárias


promissórios dos contratos
Primeira característica distintiva entre os
Dois são os principais tipos de projetores que
contratos descontínuos e os contratos
encontramos na experiência contratual
relacionais: estes exigem intensamente as
desde a antiguidade: (1) promessa
relações primárias.
individual; e (2) comandos, status, papel
Distinção entre as relações primárias e as
social, parentesco, padrões burocráticos,
relações não-primárias:
obrigações religiosas, hábitos e outras
1) nas relações primárias os participantes
internalizações. A existência de relações
interagem como indivíduos únicos e totais; a
contratuais em andamento, sejam elas
resposta é a cada pessoa particular e não é
hierárquicas ou não, cria expectativas de que
transferível para outras pessoas – responde
trocas futuras ocorram, ao menos em parte,
livre e espontaneamente permitindo que
em termos previsíveis.
sentimentos entrem na relação.
O autor traz dois exemplos paradigmáticos
2) Na relação primária a comunicação é
para descrever os contratos descontínuos e
profunda e extensiva, e relações não-
relacionais: (1) compra de gasolina numa
primárias tendem a restringir-se a modos
rodovia – transação é instantânea,
formais e públicos de interação.
completa, rápida e impessoal; e (2)
3) Nas relações pessoais a satisfação do
casamento tradicional – caráter não
indivíduo é preponderante.
exclusivamente econômico, com constante
Os contratos relacionais, ao contrário dos
possibilidade de revisão e mudança.
descontínuos, envolvem relações com a
Sete elementos da transação contratual:
pessoa integral; relações profundas e
1) Relações primárias e não-primárias e
extensivas de comunicação através de uma
número de participantes; 2) Medida e
105
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

variedade de modos e elementos descontínuos, o início e o término da


significativos de satisfação pessoal não transação são produzidos num momento
econômica. definido e único.
Nos contratos descontínuos puros há apenas
6. Planejamento e visão dos participantes
duas partes. Nos contratos relacionais, é
bastante comum o surgimento de Os contratos descontínuos em geral dão
verdadeiras redes de agentes e maior atenção à substância das transações
participantes, o que aumenta como, por exemplo, o objeto da venda,
substancialmente a complexidade interna preço, prazo de pagamento. Nos contratos
das relações contratuais; pode haver relacionais, o planejamento considera
contratos relacionais com apenas duas outros aspectos como a performance no
pessoas, como é o caso do casamento. As futuro e a condução de planejamentos
formas de organização das ‘networks’ de futuros – maior flexibilidade é requerida.
produção apoiam-se cada vez mais em Nos contratos relacionais o planejamento
elementos de confiança pessoal entre os vai assumindo um caráter menos
agentes envolvidos na transação e substantivo e mais processual ou
negociação. constitucional, e é por isso que os contratos
relacionais dependem inteiramente de
4. Medida e especificidade da transação
cooperação futura, não apenas para o

Medida da transação econômica: um cumprimento do que foi firmado, mas

contrato descontínuo puro deve ser também para o planejamento extensivo de

facilmente monetizado; nos contratos atividades substantivas da relação.

relacionais, podem envolver a troca de


6.1. Contratos de adesão e relação de
valores não monetizáveis ou, ao menos, não
adesão
tão facilmente conversíveis; ex. contratos de
cooperação tecnológica estabelecidos entre Mesmo em relações contratuais

empresas. padronizadas ou de adesão, há uma


diferença substancial entre os contratos
5. Começo, duração e término relacionais e os contratos descontínuos, à

A duração de um contrato descontínuo medida que nos primeiros a adesão se dá

geralmente é curta. Nos contratos através de uma relação em curso. Nos

106
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

contratos de adesão descontínuos importam 7.1. Definição de conceitos: solidariedade,


na adesão a um planejamento (ex. a cooperação e comunidade

execução de uma lavagem de carro) pré-


Usualmente os conceitos de solidariedade e
definido, certo e não variável.
cooperação são utilizados de maneira

7. Divisão e compartilhamento de ônus e intercambiável para definir o elemento que


benefícios (solidariedade, cooperação e mantém as trocas coesas.
fontes de apoio moral e econômico)
Cooperar é, de fato, dividir com outro uma

A função do contrato descontínuo é a troca tarefa comum. Para Durkheim, a

ou transferência da inteira responsabilidade solidariedade é o elemento de coesão social

de benefícios e de ônus particulares de uma (de natureza moral) que permite aos

parte para a outra. Para a teoria tradicional, homens estabelecerem relações de

os interesses das partes são antagônicos e cooperação. A solidariedade é definida com

individualistas, o que gera certa o elemento moral pressuposto nas relações

ambiguidade nesta definição ao analisar os de cooperação, entendidas como divisão

contratos de sociedades. Segundo a com outrem de uma tarefa comum.

orientação privatista, o contrato é um Cooperação seria a ação ou trabalho de um

instrumento destinado a resolver interesses ou mais indivíduos com outros. Todo

em conflito, pretensões em luta. contrato, seja ele descontínuo ou não, é um

A sociedade pertenceria à categoria desses ato de cooperação. A definição proposta

negócios plurilaterais porque os interesses pelo autor é a de que cooperar é associar-se

dos que a constituem convergem para fim com outro para benefício mútuo. A definição

comum. O oposto ocorre nos contratos integral seria “cooperar é associar-se com

relacionais, onde os benefícios e ônus são outro para benefício mútuo ou para divisão

compartilhados. mútua dos ônus”. A mutualidade de

Nos contratos de cooperação, o objetivo benefícios é percebida a partir da ideia de

econômico seria a troca de serviços equilíbrio substancial nas trocas.

economicamente combinados. Este serviço Um fator distintivo entre os contratos

não precisa ser necessariamente comum descontínuos e relacionais: contratos

para as partes, a troca pode demonstrar-se descontínuos pressupõem um equilíbrio e

vantajosa para apenas uma das partes. igualdade formais entre as partes
contratantes, já nos contratos relacionais há
107
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

uma divisão de ônus e benefícios entre as ou econômico-sociológica têm enfatizado a


partes contratantes. importância das relações de confiança na
O acordo ou contrato de cooperação cria formação das novas estruturas e redes de
vínculos mais estreitos do que a mera produção econômica, baseadas em
relação contratual descontínua, à medida “networks”. A confiança vai se tornando um
que as intenções, expectativas genéricas e elemento produtivo mais importante,
compromissos sobre o desenvolvimento podendo ser entendida como a expectativa
futuro têm força vinculante. mútua de que, numa troca, nenhuma parte
A relação de solidariedade, em contraste irá explorar a vulnerabilidade da outra. A
com a relação de cooperação, refere-se a um confiança constitui, pois, um dos elementos
conjunto de regras mais amplo e complexo. do conceito de solidariedade.
Ela se reporta a um conjunto de regras de Os estudos têm demonstrado a importância
julgamento que impõe um certo tipo de da criação de mecanismos institucionais
vinculação essencial entre as suas partes, capazes de aumentar o nível de confiança
que as torna articuladas e reciprocamente nas economias locais de modo, inclusive, a
afetadas, tendo em vista uma medida que se ampliar a sua produtividade. A ampliação do
desenvolve no interior mesmo deste poder de autogoverno e formação de
conjunto. estruturas mais flexíveis de contratação e
Dois sentidos básicos da ideia de renegociação, como os contratos
solidariedade: (1) sentido moral que vincula relacionais.
o indivíduo à vida, aos interesses e às
responsabilidades dum grupo social; e (2) 7.3. O dever de cooperar e o dever de
solidariedade
relação de responsabilidade entre pessoas
unidas por interesses comuns, de maneira Depois da segunda metade do século XX, a
que cada elemento do grupo se sinta na teoria dos deveres acessórios ou
obrigação moral de apoiar o(s) outro(s). secundários e ainda os deveres laterais ou
correlatos teve ascensão. Para Antunes
7.2. Solidariedade, confiança (trust) e
Varela, os deveres secundários de prestação
cooperação econômica
seriam típicos das obrigações complexas e
Diversos estudos desenvolvidos pela incluiriam “não só os deveres acessórios de
literatura denominada neo-institucionalista prestação principal (destinados a preparar o

108
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

cumprimento ou a assegurar a perfeita obrigação moral legal de agir em


execução da prestação), mas também os conformidade com determinados valores
deveres relativos às prestações substitutivas comunitários, e não apenas segundo uma
ou complementares da prestação principal”. lógica individualista de maximização de
O “dever de colaboração ou cooperação” interesses de caráter econômico.
não constitui o objeto primário da obrigação. [...]
Mas os contratos relacionais apontam para 10.4. Boa-fé e contratos relacionais
uma dimensão não-acessória, mas sim
A boa-fé pode ser vista como fonte primária
central, do princípio jurídico da cooperação.
da responsabilidade contratual, situação em
Cooperação em muitos casos de contratação
que ela ganha absoluta centralidade para a
relacional constitui-se na obrigação
teoria contratual. A boa-fé tem o relevante
principal, porquanto os elementos de preço,
papel de encorajar a continuidade das
quantidade, prazo de entrega etc. deixam de
relações contratuais. O conceito de boa-fé
ser perfeitamente definíveis a priori.
não comporta uma definição formal, visto
Em síntese, o caráter acessório dos deveres
que incorporou elementos da vida efetiva
de cooperação se transfigura, pois, de três
das relações contratuais, como os já
maneiras. Em primeiro lugar, a cooperação
mencionados princípios de reciprocidade,
assume um caráter central no contrato. Em
papel de integridade, de solidariedade e
segundo lugar, o dever acessório de
harmonização com a matriz social e demais
cooperação deixa de ser um princípio
normas de ligação. Ela lembra a
subsidiário na interpretação dos contratos,
incompletude dos contratos, o limite da
que deve ser invocado apenas para
capacidade de previsão humana, os custos e
preencher lacunas, quando os demais
ameaças à solidariedade, as barreiras
princípios básicos (autonomia da vontade,
insuperáveis para a comunicação perfeita e
vinculatividade da obrigação, liberdade
sem ruídos. Torna juridicamente protegido o
contratual etc.) não bastem para resolver o
elemento de confiança (trust), evidenciando
problema, e passa a ser um princípio básico
a natureza participatória do contrato, que
de todos os contratos relacionais, ainda que
envolve comunidades de significados e
sua importância varie conforme as
práticas sócias, linguagem, normas sociais e
circunstâncias particulares de cada caso. Por
elementos de vinculação não-promissórios
fim, o dever de solidariedade impõe a
(não-contratuais).
109
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

10.4.1. Implicações da teoria da boa-fé para 10.4.2. O futuro da boa-fé numa


o modelo liberal perspectiva relacional

Na era do Direito Social, a boa-fé requer o O paradigma contratual hoje em dia


apagamento da demarcação rígida entre o dominante em todos os países
direito privado e o direito público. A industrializados ocidentais é o neoclássico e
reintrodução da boa-fé nas descrições do não o relacional, mas muitos contratos em
contrato representa parte de um processo nossa sociedade são relacionais, como os
de ressocialização do direito contratual (e do contratos de cooperação, franquia, trabalho
direito em geral) que era exigida antes da e formação de redes produtivas e de
tentativa do direito do século XIX de livrar o fornecimento de produtos. A boa-fé permite
contrato de seus complicados elementos de a fusão do interesse individual egoísta e do
moralidade. A boa-fé determina que o interesse pelo outro, o que viabiliza a
direito contratual deve ser controlado, e o existência de relações de longo prazo,
exercício do poder limitado de modo a se servindo como mecanismo de garantia do
atingir os parâmetros da decência. O direito de participação no direito privado de
contrato não mais pode ser pensado como a maneira análoga às garantias civis do
relação entre indivíduos atomizados cidadão no direito político – constitui o
maximizadores de vantagens (econômica conjunto de garantias dos contratantes nas
formal), mas antes reporta-se – no momento relações contratuais. A regulação jurídica da
da formulação de seus princípios boa-fé e a ampliação de seu uso, a sua
operacionais – às formas concretas de sua extensão e a sua importância constituem
efetivação (economia substantiva). A boa-fé relevantes fatores de estímulo à criação e
ajuda a entender a solidariedade no mundo manutenção de relações de confiança
contemporâneo de duas maneiras: (1) (trust), solidariedade e cooperação.
pessoas respeitam a boa-fé, reforçando os
11. Teoria neoclássica e os modelos
laços de solidariedade na sociedade como
relacionais: o modelo dos custos da
um todo; (2) solidariedade mecânica – o transação versus modelo de Macneil
contrato se presta a finalidades sociais e
morais, e não apenas econômicas e Duas abordagens da teoria relacional: (1)
individuais. caracterizada pela análise dos custos da
transação ou transaction cost analysis,

110
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

representada por autores como Williamson, 11.2. A visão de Macneil


Goldberg, Scott e Goetz; (2) representada
Diversamente da transaction cost, Macneil
por Macaulay, Campbell e Macneil, que
não vê as relações como elementos que
apesar de terem escrito sobre o assunto,
geram custos de transação, dificultando a
jamais exploraram totalmente as diferenças
sua realização, mas antes como estruturas
entre suas abordagens e a da transaction
de facilitação da transação.
cost.
A hipotética obtenção de custo de transação
Entre ambas as teorias há diferença
zero não levaria a nada, uma vez que as
qualitativa. A transaction cost procura
relações contratuais somente ocorrem em
desvelar e aliviar os custos da transação
razão e por causa das relações que ora são
descontínua, visto ser este o seu modelo
descritas como custos. Transaction cost
paradigmático de análise das relações de
acaba por incorrer na mesma falácia
troca.
naturalizadora da forma abstrata e ideal do

11.1. A transaction cost analysis mercado, ao entender as relações como


custos e não como elementos essenciais dos
A finalidade da transaction cost é
contratos.
estabelecer estruturas de regulação (ou
Para Macneil, portanto, as negociações
governo) das relações contratuais que
constantes, a necessidade do
apresentem o menor custo possível. Isto
replanejamento e o aumento das formas de
pode ser obtido, seja através de relações
cooperação e solidariedade não são
hierárquicas dentro de uma empresa, seja
elementos que seriam desnecessários
através de estruturas horizontais de
dentro de uma situação de custo de
regulação do mercado, seja através de
transação zero, mas antes a forma básica das
princípios contratuais.
relações econômicas, especialmente dentro
A transaction cost visa eliminar os custos da
de um sistema de especialização flexível.
transação para restabelecer o contrato
O mercado deve ser corrigido e as condutas
descontínuo em seu lugar natural de
individuais devem fazer concessões
igualdade entre as partes, autonomia da
cooperativas de modo a poderem se
vontade e liberdade contratual.
aproximar do contexto ideal no qual os
indivíduos possam agir racionalmente,

111
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

tendo em vista a defesa e proteção de seus Campbell menciona três níveis no


interesses meramente individuais. pensamento de Macneil sobre o conceito de
Para Macneil, a cooperação deixa de ter um cooperação: no primeiro nível, os aspectos
caráter parasitário de ser um apêndice da relacionais dos contratos reportam-se à
relação antagonista, para se tornar central constituição ontológica das relações sociais
nos contratos relacionais. Os valores nos dentro da qual toda a individualidade é
contratos, em especial os valores de formada – sociedade como matriz
cooperação e da solidariedade, nascem, fundamental do contrato. No segundo nível,
assim, não apenas através da imposição os aspectos relacionais têm como suporte as
externa das leis positivas pelo poder políticas legislativas da sociedade burguesa
soberano, como também a partir de outras que fornecem os limites e forma
fontes do direito privado, como as sanções institucional para a economia de mercado; a
impostas pelas associações de empresários e forma pela qual tal imposição se faz afeta
entidades de auto-regulamentação. substancialmente o funcionamento e as
Nesse sentido, a cooperação emerge como características da ordem de mercado. O
princípio tanto ao nível externo das relações terceiro nível corresponde às relações de
contratuais, como também ao nível interno, cooperação e solidariedade internas e
o que faz com que toda competição seja de externas às práticas de contratação das
algum modo limitada pela aceitação integral partes. Há, portanto, uma relação de
do princípio de cooperação como um imbricação e interdependência recíproca
conceito operativo essencial. entre os níveis.

___________________________________

112
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Laura Schroeder Feijó31

MARINO, Francisco Paulo de Crescenzo. Contratos coligados no direito brasileiro. Editora Saraiva. 2009,
Caps. 10 e 11

O presente resumo tem como objeto os reconhecidos juridicamente como


capítulos da obra de Francisco Marino que formadores de um grupo.
exploram a doutrina francesa e brasileira O ponto mais relevante da exposição de
sobre coligação contratual, tecendo-as Bernard Teyssie foi, sem dúvidas, sua
precisas críticas. Por meio do texto, pode-se classificação baseada em dois critérios
ter uma breve, porém vasta, ideia das alternativos: a identidade de objeto ou o fim
classificações existentes e suas repercussões comum/identidade de causa. Considerando
no que toca aos contratos coligados, assim isso, os grupos contratuais foram
como diferenciar tal categoria das redes classificados em (1) cadeias contratuais com
contratuais. identidade de objeto – caracterizadas pela
A análise da doutrina francesa tem início conclusão sucessiva de contratos, isto é,
com Bernard Teyssie. Em um primeiro estrutura linear; e (2) conjuntos contratuais
momento, o doutrinador contextualizou o com fim comum – nos quais os contratos
tema, distinguindo a noção individualista coexistem e formam estrutura circular em
liberal e democrática de contrato, presente torno de um personagem central presente
nos séculos XVIII e XIX, da contemporânea. em todos os contratos.
Explicou-se que, com o passar do tempo, o As cadeias contratuais, por sua vez, foram
contrato deixou de ser considerado um divididas em (1.1) cadeias contratuais por
organismo independente que trazia um fim adição – organizadas ou não organizadas,
consigo mesmo, e passou a ser notado como com partes iguais ou distintas; e (1.2) cadeias
organismo interdependente e instrumento contratuais por difração – sucessão de
da ordem jurídica e interesses sociais. Diante contrato-base e subcontrato, podem ter
da realidade da complexidade contratual e identidade parcial de objeto. Ainda, em vista
da evidente conexão econômica dos da importância dos contratos integrantes, os
contratos, admitiu-se que eles poderiam ser conjuntos contratuais podem ser (2.1)

31
Bacharela laureada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
113
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

conjuntos contratuais interdependentes – pode inclusive suscitar exceção de contrato


divisíveis ou indivisíveis (a depender da não cumprido caso os contratos tenham
extinção de um acarretar a dos demais ou partes iguais; e o (A em 1.2 e 2.2)
não, o que pode ser definido pela natureza seguimento do contrato acessório à sorte do
da operação ou pelas próprias partes); ou principal, no que se refere aos subcontratos
(2.2) conjuntos contratuais com e aos conjuntos contratuais com
dependência unilateral – com estrutura dependência unilateral. Ademais, a
simples ou complexa, composto por partes complexificação faria surgir uma obrigação
iguais ou distintas. de fiscalização, em regra, a todos os
Quanto aos efeitos dessa união em grupos envolvidos, e imporia uma interpretação
contratuais, Bernard Teyssie percebe a (A) contratual atenta ao grupo contratual como
complexificação – em que a validade e a um todo.
eficácia de um contrato devem ser A uniformização do regime jurídico do grupo
analisadas com base na validade e eficácia contratual, por seu turno, ocorreria (B em
dos demais contratos; a (B) uniformização – 1.1 e 2.1) quando expressamente prevista
do regime jurídico aplicável ao grupo; e a (C) pelas partes ou pela lei, tendo em vista à
criação de relações contratuais – entre mesma importância dos contratos, nas
partes do grupo que não possuem relação cadeias por adição e nos conjuntos
contratual direta. Esses efeitos atingiriam ou interdependentes; e (B em 1.2 e 2.2) quando
não os grupos contratuais conforme sua a lei demonstrar a necessidade de
classificação e particularidades. uniformização ao prever regras de fundo,
Dentre as consequências decorrentes do nos contratos principais sobre os acessórios
efeito de complexificação que valem ser dos conjuntos com dependência unilateral.
destacadas estão o (A em 1.1) atingimento O último efeito, de criação de relações
da invalidade e eficácia de um contrato contratuais, revelar-se-ia por meio de ações
sobre os demais, nos contratos diretas entre membros do grupo e de ações
subsequentes em cadeia; o (A em 2.1) por responsabilidade contratual – em
mesmo atingimento ou não, nos conjuntos verdadeira substituição do princípio da
contratuais interdependentes consoante relatividade dos efeitos contratuais pelo da
sejam divisíveis ou indivisíveis – a ser unidade contratual e revisão da noção
requerido pelo personagem central, que tradicional de terceiro –, que representariam

114
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

uma generalização das pontuais previsões Após o exame da obra de Bernard Teyssie,
legislativas de possibilidade de ação direta Francisco Marino passa a analisar doutrina
em grupos contratuais no Código Civil francesa posterior, representada por
Francês. Mireille Bacache-Gibeili, que buscou adaptar
Apresentados os principais pontos da obra a noção de grupo contratual a fim de torná-
de Bernard Teyssie, com ressalva à tamanha lo instrumento dogmático adequado à
contribuição do autor ao tema, Francisco identificação dos terceiros passíveis de
Marino tece críticas à noção de grupos sofrer dano contratual em virtude de
contratuais empregada. Na sua visão, os inadimplemento culposo, os quais poderiam
critérios de identidade de objeto e de causa ingressar com ações diretas de reparação
acabam por agrupar espécies que pouco têm contra os inadimplentes. Segundo a sua
em comum, levando a resultados excessivos definição, um grupo contratual seria uma
que esvaziam a categoria do seu sentido cadeia linear de contratos com o mesmo
operativo. bem como objeto e ao menos duas
Em divergência ao doutrinador francês, obrigações de natureza idêntica em comum.
Francisco Marino entende que os Ele ocorreria quando o inadimplemento da
subcontratos constituem coligação em razão parte em um primeiro contrato fosse apto a
de serem concluídos por meio da utilização causar um dano contratual a um terceiro
ou aproveitamento da posição jurídica de (parte em um segundo contrato) porque
que se é titular no contrato-base em curso, esse é credor de uma obrigação contratual
bem como que possuem identidade de fim. idêntica à obrigação contratual do
Além disso, salienta a diferença entre inadimplente.
contratos sucessivos, nos quais a extinção de Considerando isso, Mireille Bacache-Gibeili
um é premissa para celebração do classifica os grupos contratuais em (1)
subsequente, e subcontratos, nos quais a grupos homogêneos – contratos do mesmo
presença do contrato-base é essencial à sua tipo; e (2) grupos heterogêneos – contratos
celebração. Sobre as cadeias contratuais por de tipo distinto. Os grupos homogêneos
adição não organizadas e os conjuntos foram divididos em (1.1) cadeias
contratuais interdependentes divisíveis, homogêneas translativas – nas quais a
percebe não serem caso de coligação em obrigação comum aos contratos é de dar; e
prisma jurídico. (1.2) cadeias homogêneas não translativas –

115
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

nas quais a obrigação comum aos contratos De acordo com Francisco Marino, é possível
é de fazer. Os grupos heterogêneos, por seu a construção da coligação contratual
lado, foram divididos em (2.1) cadeias enquanto instituto com regime jurídico
heterogêneas por acidente – com identidade próprio, mas, para isso, seu fundamento
de obrigações principais, apesar da diferença deve pousar na indivisibilidade dos
nos tipos dos contratos; e (2.2) grupos conjuntos contratuais interdependentes,
heterogêneos (stricto sensu) – a identidade conforme brecha deixada por Bernard
de obrigações envolve uma obrigação Teyssie que foi aprofundada pela doutrina
acessória em um dos contratos, podendo ser francesa contemporânea. A ideia atual é de
simétricos (a obrigação idêntica é acessória autonomizar a categoria dos conjuntos
em todos os contratos) ou assimétricos (a contratuais interdependentes ao lado da
obrigação idêntica é principal em um noção de grupos contratuais, já que nos
contrato e acessória em outro), sendo os primeiros as ações são plenamente possíveis
últimos translativos (com obrigação de dar pois comumente interpostas entre as partes
idêntica) ou não translativos (com obrigação de algum dos contratos, enquanto o objetivo
de fazer idêntica). principal do reconhecimento dos grupos
Assim, na ótica da autora, da situação de contratuais está na fundamentação para
parte de um grupo contratual, seja ela parte ações diretas entre sujeitos não
cocontratante – parte no procedimento e da cocontratantes.
norma contratual – ou simples parte De fato, a Corte de Cassação vem
contratante – parte na norma contratual, reconhecendo a existência de vários
mas não no procedimento –, adviria a conjuntos contratuais interdependentes e
possibilidade de ajuizamento de ação direta. aplicando seus efeitos quando percebida a
Ocorre que, como critica Francisco Marino, a intenção comum dos envolvidos, a qual
sua tese não é capaz de delimitar os casos de impõe a observação de uma economia geral
coligação contratual juridicamente do contrato. Para tanto, verificou, em geral,
relevantes, perdendo algumas subespécies os termos dos contratos (que muitas vezes
importantes, que passariam a ter referem a afetação do objeto ao outro
tratamento comum, assim como ignora as contrato), as causas do contrato (percebidas
hipóteses de coligação de contratos entre as pela análise contextual do texto contratual e
mesmas partes.

116
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

das circunstâncias do caso) e se há uma de referências a doutrinadores brasileiros. O


operação econômica em comum. autor refere ter sido a coligação contratual
Para uma porção de estudiosos da matéria, abordada já por Pontes de Miranda, que
o fundamento dos efeitos atribuídos pela contrapôs pluralidade negocial unida e não-
Corte a essa categoria de coligação decorreu unida. Orlando Gomes, por sua vez,
de uma renovação da noção de causa observou diferenças entre a união
contratual. Segundo Denis Mazeaud, o contratual externa – ausente coligação
conceito de causa adotado pela Corte foi o contratual propriamente dita, já que os
liame econômico irredutível que une os contratos não se completam, nem se
contratos, de modo que, ao se identificar a excluem –, com dependência – os contratos
impossibilidade de cumprimento de um dos se completariam e, se bilaterais, formariam
contratos, a validade ou a eficácia do outro uma unidade econômica – e alternativa – os
(construída em consideração à existência, contratos se excluiriam na hipótese de
validade e eficácia do primeiro) é fatalmente implemento ou frustração da condição.
afetada (desprovida de utilidade) e pode ser Outros diversos pesquisadores
retroativa ou irretroativamente extinta por doutrinadores trataram da coligação
ausência de causa. No entanto, esse contratual, como Waldirio Bulgarelli, João
entendimento não é pacífico. No ponto de Alberto Schützer, José Abreu Filho e Antonio
vista de Anne-Sophie Lucas-Puget, Jean- Junqueira de Azevedo, tendo alguns deles se
Michel Marmayou e Jacques Ghestin, a manifestado sobre a projeção da validade,
interdependência, se não prevista em lei, eficácia e execução de um contrato sobre
deve resultar de uma vontade manifestada outro, e a importância da identificação do
pelas partes, a qual poderia, na concepção fim contratual na interpretação dos
dos dois primeiros, até ser objeto de um contratos coligados. Mereceram menção
contrato distinto. especial os autores Rodrigo Xavier Leonardo
Finalizado o estudo dos contratos coligados e Carlos Nelson Konder, que dedicaram
na doutrina francesa e constatada a trabalhos especificamente ao tema.
operabilidade dos conjuntos contratuais Rodrigo Xavier Leonardo realizou profunda
interdependentes naquele país, Francisco análise sobre as redes contratuais, uma
Marino faz um breve paralelo em relação ao espécie de união de contratos que
desenvolvimento do tema no Brasil a partir demandaria, em razão das suas

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

peculiaridades – presença de um nexo contrato afetam os outros; e (2) grupos de


sistemático entre os contratos que contratos – contratos com partes diversas e
aproximaria a atuação de diversos agentes regime de responsabilidade contratual
para o êxito da operação econômica –, a possibilitador de ações entre
criação de uma nova teoria. Com cocontratantes. Na visão de Francisco
entendimento semelhante, Francisco Marino, contudo, a categoria dos contratos
Marino concorda com a autonomia teórica conexos seria pouco operacional por não
da categoria e destaca outras diferenças em esclarecer as hipóteses em que a função
relação aos contratos coligados, como o fato ulterior comum teria relevância jurídica e
de, ao contrário desses, as redes por desconsiderar casos de grupos de
corresponderem a um fenômeno contratos sem função ulterior.
necessariamente de contratação Posto isso, percebe-se com a obra de
empresarial em massa, serem sempre Francisco Marino a complexidade teórica da
estruturadas por uma parte (à qual os outros coligação contratual, que apresenta
contratantes se ligam), podendo comportar divergências doutrinárias significativas tanto
uma grande quantidade de contratos, aliás, na França, como no Brasil. A robustez de
fungíveis sob a perspectiva do promotor da entendimento sobre a matéria contratual
rede, e, por fim, justamente em razão dessa que a compreensão da coligação contratual
abertura, caracterizarem-se enquanto e suas facetas exigem resta evidenciada no
divisíveis (a invalidade ou ineficácia de um cabimento de críticas a teorias profundas de
contrato não afetaria os demais). doutrinadores renomados, na percepção de
De outro lado, Carlos Nelson Konder foi mais detalhes que determinam a distinção das
abrangente ao cuidar dos chamados redes contratuais, e, especialmente no
contratos conexos, isto é, aqueles que, além Brasil, no tardio desenvolvimento do tema.
de sua função individual específica, revelam Apesar disso, os desafios a percorrer têm
juntos uma função ulterior. Dessa categoria encorajado novos estudiosos a enfrentar os
derivariam as subespécies (1) contratos contratos coligados, em sinal de que o futuro
coligados – em que as vicissitudes de um trará notáveis desdobramentos.

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Sandy Danielle da Silva Fernandes32

CAMPBELL, David; COLLINS, Hugh. Descobrindo as dimensões implícitas dos contratos. Para que serve o Direito
Contratual, p. 65-97, 2014

Enquanto o direito contratual desconsiderando aquilo no entorno de suas


contemporâneo concorda que existe mais a partes, bem como aquilo que está implícito
uma relação contratual do que apenas o naquela relação.
acordo de vontade das partes, o direito Os autores, no entanto, indicam que não
contratual clássico traz o princípio da existe uma completa negação das
liberdade contratual em um pedestal, não dimensões implícitas dos contratos, e que,
considerando, no entanto, que existem sim, em alguns momentos ele é capaz de
outros fatores que devem ser considerados vislumbrar sua existência, embora seu trato
quando da análise de um contrato. O direito seja inapropriado. Enquanto autores
contratual clássico via a relação negocial clássicos defendem que as dimensões
como algo desconexo onde não existe implícitas não devem ser incorporadas à
continuidade em suas obrigações uma vez análise jurídica, a análise minuciosa de
que a prestação é cumprida. certas relações vai demonstrar que não é
Nesse sentido, a doutrina clássica sofre ao sempre sustentável a teoria de que as
não conseguir perceber a existência das relações contratuais são descontínuas e não
dimensões implícitas dos contratos. Isso se devem ser ponderadas o contexto social do
torna extremamente importante ao qual se originam (ou no qual estão inseridas)
analisarmos contratos relacionais e tampouco as percepções implícitas que
contínuos, por exemplo, vez que tais delas decorrem. As dimensões implícitas
contratos dependem, nas palavras dos aqui discutidas mostram-se diretamente
autores, de “obrigações dispersas de opostas a ideia da teoria clássica que explica
cooperação”. A doutrina clássica não olha a relação contratual como algo racional,
para os contratos como forma de fruto da liberdade de escolha dos indivíduos
cooperação entre as partes, que celebram o contrato.

32
Advogada, Bacharel em Direito pela Universidade da Região da Campanha - URCAMP, campus Santana do
Livramento; Pós-graduada em Direito e Planejamento Tributário pela Universidade Estácio de Sá; Mestranda em
Direito Tributário pela Pontificia Universidad Católica de Santa Maria de Buenos Aires; Pós-graduanda em Advocacia
Corporativa pela Fundação do Ministério Público.
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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Formação dos Contratos Os autores argumentam que é benéfico à


análise dos contratos considerar a existência
De acordo com os autores, dentro de uma
de pré-contratos ou contratos
relação contratual, são as limitações ao
subentendidos para melhor compreensão
consentimento das partes que se regem
das dimensões implícitas que eles podem
mais abertamente às dimensões implícitas
ter, mesmo da fase pré-contratual.
de um contrato. Isso porque, através da
doutrina da influência indevida, é possível o Conteúdo das Obrigações Contratuais
juiz analisar a relação social existente entre
No que tange às obrigações contratuais
as partes e assim vislumbrar se houve algum
originadas de uma relação contratual, o
tipo de influência de uma sobre a outra. Os
judiciário está mais inclinado para a
autores explicam que, quando da formação
apreciação das dimensões implícitas do
do contrato, este é celebrado com vícios de
contrato. Um exemplo claro disso se dá pela
erro, a apreciação das dimensões implícitas
existência de cláusulas subentendidas em
permitirá identificar a parte vulnerável da
determinada relação. Os autores explicam
relação, e se tal deverá ser invalidada dadas
que tais cláusulas são a generalização das
as condições na qual foi formada.
expectativas normais das partes
Em mesmo raciocínio, a doutrina clássica
contratantes, inseridas em determinado
também traz o entendimento que, quando
contexto comercial onde é celebrado.
não está claro se o acordo foi celebrado, não
O direito clássico rejeita a contextualização
há obrigação contratual a ser cumprida. Para
de onde originou-se a relação, porém a
resolver tal problema, normalmente se
existência de cláusulas gerais nas normas
utiliza de doutrinas como a de embargos de
ajuda o intérprete a contextualizar a relação,
equidade, onde procura-se que impedir que
como é o caso do princípio da boa-fé,
determinada parte adote comportamento
presente em muitos códigos. A boa-fé não
que contradiga seus comportamentos até o
diz respeito apenas a conceitos morais de
momento da relação. Em situação como
uma determinada sociedade, mas como se
essa, percebemos que a argumentação
opera as relações comerciais de
jurídica vai acabar recorrendo novamente às
determinado lugar, quais são seus costumes
dimensões implícitas do contrato,
e convenções, permitindo ao intérprete que
procurando saber se havia algum tipo de
se deparar com esse contrato, utilize-os para
concordância tácita entre as partes.

120
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

trazer à tona as expectativas implícitas dessa objeto é um veículo ou um imóvel, está


relação. implícito que além do objeto será entregue
chaves para a utilização de tal objeto,
Interpretação
considerando que um veículo ou imóvel do
Mesmo quando da análise interpretativa de qual não se possa ter acesso não servirá de
contratos, é imprescindível que essa tenha propósito algum para a parte.
que ter atenção às dimensões implícitas
Contratos Preliminares
deste para que ele faça sentido. Os autores
explicam que o formalismo do contrato não Os autores ponderam qual a relevância dos
vai de encontro a procura pela compreensão documentos preliminares na relação, e se o
subentendida da relação. reconhecimento das relações implícitas
Fuller explica que, da mesma forma que a invalida ou os torna ineficazes. Em primeiro
interpretação das leis deveria ter o jogo de momento pode parecer que este se torna
linguagem como último questionamento, a desnecessário se vamos atentar às
relação contratual também compartilha dimensões implícitas do contrato, no
dessa ideia, pois o contrato escrito entanto eles não perdem sua validade tal
representa uma tentativa de autorregulação facilmente.
das partes para aquela relação. A melhor Documentos preliminares são elaborados
interpretação de um documento contratual por operadores do direito com a intenção de
vai depender, invariavelmente, da expor o planejamento da relação contratual,
compreensão implícita deste, vez que se o as circunstâncias que podem causar uma
intérprete se valer apenas do jogo de quebra contratual e qual seriam os reparos
linguagem (ou da interpretação ipsis literis) sugeridos. Naturalmente, é impossível que
deste não compreenderá que tipo de um operador vá conseguir prever o detalhar
sistema foi empregado pelas partes. todos os nuances de uma relação e
Embora tal afirmação possa parecer possibilidades que podem ser abrangidas em
contraprodutivo e necessária análise caso de contingenciamento.
minuciosa para a identificação do que as Nesse sentido, vemos mais uma vez a
partes tentaram dizer entre as linhas do possibilidade de recorrermos a
documento, os autores explicam que está compreensão das dimensões implícitas da
longe disso ocorrer: em uma tradição onde o relação: implicitamente as partes não

121
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

esperam que haverá contingências na (por exemplo, má-fé da outra parte) e


relação, ou que também não haja imporá medidas que podem onerar
necessidade de executar tais cláusulas. demasiadamente a parte que causou o
Enquanto operadores, juristas prezam pelos prejuízo. Medidas estas que poderiam ser
contratos preliminares para uma garantia diminuídas, ou mesmo relevadas na relação.
implícita da relação para seus clientes, Também nesse sentido vemos que o
observando os documentos preliminares judiciário vai se valer da análise do contexto
com relevância substancial, importante ter social que a relação está inserida: a
em mente que estes são apenas penalidade a ser utilizada pelo intérprete
formalizações incompletas da transação, deverá estar condizente com os costumes e
que traz outras intenções não descritas (seja práticas comerciais onde a relação está
implicitamente ou pela impossibilidade de inserida.
previsão) pelas partes.
Justificativa para a Incorporação das
Remédios Dimensões Implícitas

Em se havendo situação que cause algum A principal justificativa da doutrina clássica

tipo de prejuízo a outra parte, formalmente, contra a análise das dimensões implícitas nas

os documentos escritos trazem métodos relações contratuais se dá pelo fato que esta

para remediar ou causar compensação para interferiria no princípio da liberdade de

a parte que teve prejuízo. Os autores contratar. Os autores apontam que isso está

explicam que isso se dá pelo propósito muito longe da realidade, sendo em

implícito de cooperação entre as partes, primeiro lugar que a análise meramente das

onde ambos concordam em minimizar os cláusulas expressas do contrato não é uma

danos se alguma das partes falhar ao alternativa prática. Além disso, temos que

cumprir sua prestação, de acordo com o fatorar que o contrato escrito não quer dizer

princípio da minimização do custo-conjunto. por si só que é o contrato real estipulado

Mas, novamente, existe uma dimensão pelas partes.

implícita para tais remédios: não Os autores vão além: as dimensões

vislumbrado essa intenção de cooperação, o implícitas não limitam a liberdade

intérprete do contrato entenderá que a contratual, mas reforçam essa liberdade,

quebra contratual se deu por motivo diverso ampliando os lucros que as partes colheram

122
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

da relação. Também reforçam os autores não é possível prever todas as nuances da


que nem todos os contratos são relação, mas de tempos em tempos é
descontextualizados, requerendo muitas necessário auxílio jurídico para assegurar a
vezes de uma cooperação entre as partes da eficiência e segurança das transações, onde
relação e para isso tais contratos podem vir deverá se ter em consideração que tais
formalizados com cláusulas subentendias, relações possuem dimensões implícitas que
incompletos, mas que a cooperação entre as regem a relação, além daquelas que tenham
partes é necessária para sua realização. sido acordadas previamente ou
Isso se dá principalmente em contratos de formalizadas.
longo-prazo, relacionais e de interação, onde

____________________________
_ Laura Schroder Feijó33

Marc Amsturz (ed.). Die vernetzte Wirtschaft: Netzwerke als Rechtsproblem. Schulthess: Zürich,
2004. p. 11-42.

A obra a ser analisada trata da relação entre que solucione os problemas jurídicos
as redes contratuais e o Direito, a fim de existentes (qualificação jurídica,
sugerir uma melhor abordagem jurídica características de tipo legal e consequências
desse fenômeno, que, segundo o autor, não jurídicas das redes contratuais).
tem sido tratado de maneira segura O autor refere-se a esse caminho como
juridicamente e dogmaticamente pelos “jurisprudência sociológica”, embora
tribunais. Em busca da melhor ferramenta reconheça não ser um termo exatamente
de acesso da realidade jurídica em questão, adequado. O seu intuito é de que, por meio
Marc Amsturz afasta as já conhecidas de práticas de reflexão sociais advindas de
casuística e legislação política, por âmbitos parciais da sociedade, ou seja, para
abrangerem atores limitados, e conclui pela além do Direito, sejam constatadas
necessidade de um terceiro ponto de vista orientações normativas sociais aptas a

33
Bacharela Laureada em Ciências Jurídicas e Sociais Pós-graduanda em Advocacia Contratual e
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2020) e Responsabilidade Civil pela Escola Brasileira de Direito.
123
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

promover uma reconstrução jurídica Melhor explicando, Marc Amsturz denomina


autônoma. Mais especificamente a “situação de dupla vinculação” essa
administração de empresas, a análise circunstância que exige dos participantes da
econômica do Direito e teorias sociológicas rede uma obediência simultânea a
são áreas de necessária coalisão com o orientações diferentes e contraditórias
Direito para esse fim. Não basta o Direito entre si. Nela, nasce uma “dupla
sozinho, já que o conceito de rede não é orientação”, uma individual dos nós da rede
legal, nem pode ser subsumido na categoria e outra coletiva da rede, que funciona ao
de mercado ou de organização, porque mesmo tempo como uma restrição – todas
envolve uma coordenação social e as transações passam por esse teste duplo –
econômica essencialmente confusa em e como um incentivo – as vantagens da rede
comparação a esses dois pontos. sempre estão ligadas a vantagens
À primeira vista, pode-se pensar que a figura individuais. Como resposta a essa
da ligação contratual exibe uma estabilização de contradições realizada pelas
incontestável contradição quando menciona redes contratuais, o autor propõe que o
uma “unidade econômica de contratos Direito deve efetuar uma “dupla
distintos”, entretanto, a descrição não só constituição de contrato e rede no tipo
corresponde precisamente à realidade dos legal” e uma “dupla atribuição seletiva das
contratos híbridos integrantes de uma rede consequências jurídicas entre parceiros
contratual, como se mostra fundamental contratuais e a rede como um todo”.
para ela. É a partir desse entendimento que São evidenciadas, então, três características
a tese da coincidentia oppositorum passa a do tipo legal: a multilateralidade (referências
fazer total sentido quando o assunto é recíprocas dos contratos bilaterais),
Direito das redes. A reação do Direito deve finalidade da rede (referência ao conteúdo
permitir a morfogênese, ou seja, a do projeto comum da rede) e unidade
transformação de incompatibilidades econômica (relação de cooperação
externas à rede em contradições juridicamente relevante entre os
internamente sustentáveis, assim como participantes da rede). As consequências
controlar as repercussões dessas jurídicas, por sua vez, devem observar o
contradições. resultado de várias contradições estruturais
das redes: intercâmbio bilateral versus

124
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

associação multilateral (diferenciação entre combinada entre a rede e os nós que dela
obrigações da rede, com lealdade concretamente participam).
intensificada em relação à rede – caso em Ainda, ao analisar a particularidade das
que garantem a finalidade da rede, redes de pesquisa público-privada, qual seja,
permitem correções judiciais do contrato e possuírem lógicas de ação contraditórias,
abrem possibilidades variadas de Marc Amsturz identifica a necessidade de
cancelamento – e obrigações de lealdade do desenvolvimento de um conceito legal de
contrato sinalagmático), concorrência versus interesse de rede passível de utilização
cooperação (sob as condições de re-entry da imediata, com garantia jurídica da
diferenciação entre esses dois institutos, nas autonomia reflexiva dos participantes da
redes há, em verdade, uma “coopetição”, rede, para que possam equilibrar sua função
que permite a maximização de benefícios social e sua contribuição para seu ambiente.
aos participantes, cenário que sinaliza Posto isso, percebe-se da obra em análise a
positivamente a eventual responsabilidade complexidade das redes como atributo
contratual indenizatória de parceiros não intrínseco, a ser reconhecido e aprofundado
contratuais entre si na rede, bem como de pelos juristas, para que possa o Direito –
pessoas externas ao contrato mas dentro da utilizando do indispensável papel das outras
rede, por danos patrimoniais primários) e
disciplinas indicadas – corresponder a tal
atribuição coletiva versus atribuição profundidade, de modo a efetivamente
individual (a depender da atribuição, a solucionar os problemas delas surgidos de
responsabilidade vai atuar de forma forma coerente com a sua dogmática.
descentralizada, múltipla e seletivamente

_____________________________

125
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Víctor Villamil Ferreira34

ECHEBARRÍA SÁENZ, J. A. Los grupos por coordinación como


instrumento de red. In: RUIZ PERIS, J. I. (dir.). Nuevas perspectivas del Derecho
de redes empresariales. Valencia: Tirant lo Blanch, 2012, p. 246-299.

I. Introdução partir da noção de contratos bilaterais não


era suficiente para afrontar todos os
O objetivo do trabalho é estabelecer uma
problemas gerados por essa nova realidade.
relação entre os grupos por coordenação e
Em verdade, o fenômeno se manifesta
as redes empresariais como mecanismos
através de uma rede de contratos bilaterais
para levar a cabo atividades de rede.
coordenados que criam uma rede de
A obra parte do pressuposto de que o
empresas coordenadas e interdependentes.
conceito de rede é eminentemente
econômico, sendo comum que no Direito De acordo com o autor, essa rede se
Empresarial, especialmente no âmbito dos comporta como um ente estável, com
contratos de distribuição, sejam utilizados independência da incorporação ou exclusão
termos econômicos como conceitos de membros, que atua de forma coordenada
jurídicos indeterminados que não se para a obtenção de um fim comum, ainda
coadunam necessariamente à institutos ou que existam tensões internas entre seus
categorias jurídicas. Como reconhece o membros, e que em lugar de configurar sua
autor, o Direito caminha atrás da economia, gestão e funcionamento no âmbito do
buscando tipificar os sucessivos fenômenos regime societário, confia a gestão comercial
de colaboração, integração ou concentração à mecanismos de divisão de funções e à
econômica. criação de laços de confiança entre os
sujeitos independentes que compõem a
Nesse sentido, nos anos sessenta do século
rede.
passado, passou-se a denominar o
fenômeno das redes de colaboração como Nesse esquema, as redes contratuais podem
contratos de integração ou contratos de fim adotar estruturas muito variadas, podendo
comum. Não obstante, posteriormente se ser predominantemente horizontais,
verificou que tratar o fenômeno das redes a majoritariamente verticais ou uma

34
Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca. Advogado.
126
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

combinação de ambas, inspiradas nos mecanismos societários, contratuais ou


diferentes tipos de organização dos grupos mistos.
de sociedades, nos quais se substituiriam os Dessa definição, decorre que o grupo por
laços corporativos por laços contratuais, de coordenação e a rede empresarial são
interdependência funcional e de conceitos parcialmente coincidentes e que
interdependência econômica. não se excluem.
Contudo há críticas sobre a real existência da
No que se refere à relação entre grupos por
figura dos grupos por coordenação. Para
coordenação e redes contratuais, existem,
alguns autores, o conceito de direção
assim, três realidades distintas: grupos por
unitária, muitas vezes confundido com a
coordenação de estrutura societária (grupos
noção de controle, acabaria por
de sociedades), grupos por coordenação de
descaracterizar o grupo por coordenação
estrutura contratual (redes contratuais) e
como verdadeiro grupo de sociedades.
grupos por coordenação de estrutura mista
O art. 42 do Código de Comércio espanhol,
(societária e contratual).
prevê que existe um grupo de sociedades
II. Grupos por coordenação de estrutura
quando uma delas detém, direta ou
societária (grupos de sociedades)
indiretamente, controle sobre as demais.
Como tradicionalmente definido, o grupo de Nesse sentido, o autor destaca a
sociedades se refere à uma unidade ambiguidade presente no grupo por
econômica que se manifesta por meio de coordenação, que se encontra em zona
diferentes pessoas jurídicas. O que limítrofe entre a concentração e a
caracteriza o grupo de sociedades é a cooperação ou colaboração.
direção unitária e o que define o grupo por As características do grupo por coordenação
subordinação é a dependência ou são a direção unitária e a ausência de
subordinação econômica de alguns dependência, o que para alguns se vê como
membros em relação à sociedade contradição ontológica. Nesse sentido, o
dominante. Já nos grupos por coordenação trabalho se propõe a comprovar se é
não há subordinação, mas possível compaginar ambos conceitos. Para
interdependência, com uma colaboração isso, parte da noção de direção unitária
horizontal entre as empresas. Esses grupos surgida na Aktiengesetz de 1937, passando
podem ser articulados por meio de pela normativa comunitária, pelo Direito da

127
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Concorrência, assim como pela coordenação, identificando as experiências


Administração de empresas, para concluir brasileira e italiana, e analisando com
que a direção unitária existiria quando uma profundidade o art. 78 da Lei de
pessoa ou entidade dispõe de um Cooperativas espanhola.
mecanismo de atribuição de competências III. Grupos por coordenação de estrutura
que permite a adoção, realização e execução contratual (redes contratuais)
de medidas de planejamento, organização e
O autor observa que atualmente existem
gestão empresarial.
mais redes empresariais de origem
A obra estima que essa atribuição da direção
contratual ou mista que estritamente
nasce normalmente de um contrato, citando
societárias. A razão seria que as redes
como exemplo a convenção prevista nos
contratuais vieram para suprir uma lacuna
arts. 265 e 272 da Lei de Sociedades
entre o tradicional Direito de contratação
Anônimas brasileira. E a razão da
sinalagmática e o Direito Societário baseado
necessidade de contrato é que não existem
no interesse comum dos sócios e na
nesses grupos os mecanismos de controle
estrutura corporativa.
próprios dos grupos por subordinação, de
Conforme o texto, os membros da rede
modo que por meio desse instrumento se
possuem interesses homogêneos ou um
atribui a direção a um dos membros. Como
interesse comum, mas também possuem
alternativa a esse esquema, existe também a
interesses divergentes e incluso
possibilidade de atribuição de diferentes
antagônicos. Esses conflitos costumam ser
competências entre os membros, sendo
solucionados mediante o estabelecimento
reservado um sistema de assembleia para a
de condições gerais ou mediante a divisão de
decisão de questões fundamentais.
funções entre a rede e outro tipo de
Assentadas essas bases, o autor trata de
estruturas, como sociedades em comum
diferenciar o grupo por coordenação de
(v.g. cooperativas).
outros formatos de colaboração empresarial
Em muitas ocasiões, a líder da rede exerce
como o grupo de interesse econômico, o
funções de supervisão e de mediação de
consórcio brasileiro, o agrupamento de
conflitos. Normalmente a estrutura da rede
interesse económico ou a joint venture. Por
se assemelha à dos grupos de sociedades de
último, trata ainda sobre a possibilidade de
estrutura piramidal, podendo, não obstante,
uma regulação própria dos grupos por

128
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

aproximar-se à estruturas mais paritárias e de governo, divisão de responsabilidade,


de coordenação. distribuição de lucro, extinção do contrato e
As redes contratuais podem ter quatro dissolução da rede.
formas de articulação distintas: um contrato 2. Contratos vinculados e grupos por
multilateral (v.g. consórcios), múltiplos coordenação. Nesse caso, a rede é
contratos bilaterais interdependentes (v.g. constituída mediante diversos contratos
franquia), um contrato principal e diversos bilaterais ou multilaterais entre três ou mais
contratos bilaterais de execução (v.g. partes. Trata-se de contratos complexos que
contrato para compra coletiva), ou um regulam diversas obrigações para um fim
contrato estipulado em benefício de comum. Ao possuir uma finalidade comum,
terceiro. esses contratos possuem um nível de
1. Contratos multilaterais e grupos por interdependência que pode ser considerado
coordenação. Por meio desse modelo, as como um único negócio. Considera-los de
partes acordam fazer ou não fazer algo, não forma isolada seria inapropriado já que uns
necessariamente implicando na são causa de outros, a nulidade de um dos
transferência de propriedades ou valores, contratos produz consequências sobre os
mas coordenando suas atividades com demais.
algum grau de decisão conjunta, com o sem As redes que se estabelecem por meios
estrutura de gestão independente. Esse desses contratos vinculados normalmente,
modelo pode ser puramente contratual sem mas não necessariamente, nascem em
estrutura de coordenação (v.g. joint venture) grupos por subordinação, onde a sociedade
ou contratual com estrutura de cooperação dominante possui um poder hierárquico
(v.g. consórcio italiano). sobre as demais. Nesse sentido, o autor
Esse modelo permite que cada parte exemplifica um caso de modelo de rede
conserve a sua independência jurídica e linear e outro de modelo de rede em árvore.
econômica proporcionando uma solução Modelo linear. Um produtor por meio de
para a realização de atividades em comum. uma cooperativa agrária pactua o
Pode ser societário, contratual ou misto. fornecimento de seu produto de maneira
No caso de que exista contrato, este deveria periódica com um distribuidor final. A partir
regular, ao menos, o seguinte: entrada e deste primeiro contrato, o distribuidor
saída da rede, sistema de poder ou estrutura celebra outro contrato com terceiro para

129
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

transportar o produto adquirido, enquanto o Pelo contrário, em algumas ocasiões poderia


produtor contrata um espaço refrigerado haver um acordo entre partes iguais,
para armazenar seu produto. inicialmente concorrentes. A opinião do
Modelo em árvore. Uma empresa autor é que tais grupos por coordenação
distribuidora (A) contrata com um fabricante contratuais ou mistos, que se assentam
(B) o fornecimento de produtos para suas sobre a base da interdependência, se
lojas (C). O fabricante (B) impõe cláusulas apresentam hoje como alternativa ao
referentes a venda de seus produtos, de desafio de superar a concorrência extrema
modo que a empresa distribuidora (A) impõe em um mercado globalizado e como a
cláusulas de interesse do fabricante no melhor opção para manter a independência
contrato que celebra com suas lojas (C). Por de seus membros.
outro lado, as lojas (C) demandam a
diversificação dos produtos com o objetivo IV. O problema da qualificação dos grupos
ou redes coordenadas no direito da
de atender a demanda dos consumidores, de concorrência
maneira que a distribuidora (A) estrelece em
seu contrato com o fabricante (B) cláusulas A obra aborda o enquadramento dado pelo

de interesse de suas lojas (C). Direito da Concorrência aos grupos por

3. A proliferação de redes contratuais de coordenação societários, contratuais ou

estrutura coordenada. O trabalho trata mistos. Não tanto aqueles acordos

ainda sobre os grupos de consumidores que considerados como horizontais, mas

se organizam de modo a agrupar seu poder especialmente os verticais, que reúnem

de compra e com isso poder negociar de empresários situados em distintos níveis da

forma coletiva. Em seu parecer, contudo, cadeia de distribuição.

essas denominadas centrais de compra ou A questão é que onde determinados setores

grupos de compra coletiva (com ou sem observam a existência de colaboração ou

estrutura cooperativa) se configuram como cooperação, o Direito da Concorrência pode

grupos hierárquicos, e não propriamente entender que ocorre prática contrária à livre

como grupos por coordenação, dado que concorrência, especialmente nos casos em

existe uma entidade dominante que aglutina que o grupo por coordenação abarca

esse poder de compra. produção-distribuição-consumo. Nesse


aspecto, a obra analisa a viabilidade de
admitir tais redes de contratos sob a ótica da
130
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

livre concorrência. Após detalhado estudo, o empresariais estão proliferando como


autor conclui que para verificar se a rede mecanismo para que pequenas e médias
contratual se configura como prática empresas possam alcançar a dimensão e
restritiva da concorrência, é preciso avaliar eficácia necessárias em um mercado
no caso concreto (i) a natureza do acordo, (ii) globalizado sem que precisem abrir mão de
o poder de mercado combinado das partes, sua independência como ocorre em outros
e (iii) os fatores estruturais. Foge ao objeto modelos hierarquizados.
desse resumo a análise de cada um desses Contudo, esses modelos contratuais em
pontos, pelo que se remete o leitor à própria rede carecem de segurança jurídica no
obra. âmbito do Direito da Concorrência, o que
V. Conclusões. Em suas conclusões, o autor não ocorre com os grupos de sociedades
sintetiza as diversas desvantagens do grupo pertencentes ao âmbito do Direito
de sociedades por coordenação em face a Societário. Essa pode ser a razão pela qual
outros modelos organizativos como os muitos agentes econômicos vêm optando,
grupos ou redes empresariais por ainda, por formatos de cooperação
coordenação com base contratual ou mista. baseados no Direito Societário ou por
O autor observa, ademais, que essas redes fórmulas mistas (societária e contratual)

________________________

SOCIOLOGIA
Arnaldo Rizzardo Filho35

CASTELLS, M. (1999) A sociedade em rede. São Paulo, Paz e Terra

Castells escreveu, na segunda metade da cujo primeiro volume se chama A sociedade


década de 90 do século XX, a trilogia A era da em rede. Parte desse primeiro volume –
informação: economia, sociedade e cultura, especificamente os três primeiros capítulos

35
Pós-Graduado em Direito Tributário, MBA em Empreendedorismo, Inovação e Startup, Doutorando em
Administração de Empesas, Professor, Autor.
131
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

e a conclusão – constitui o objeto do descontinuidade nas bases materiais da


presente resumo. Para dar uma ideia geral economia, da sociedade e da cultura. Mas,
do que é discutido a seguir, esclarece-se que diferentemente de qualquer outra
Castells pesquisa os efeitos das novas revolução, o cerne da atual transformação
tecnologias de informação e comunicação refere-se às tecnologias de informação,
(TICs) na estrutura social. processamento e comunicação: “O que
caracteriza a atual revolução tecnológica
A revolução da tecnologia da informação
não é a centralidade de conhecimentos e

Desde o último quarto do século XX, vive-se informação, mas a aplicação desses

um momento de transformação da “cultura conhecimentos e dessa informação para

material” impulsionado pelos mecanismos geração de conhecimentos e de dispositivos

do novo paradigma tecnológico da e de processamento/comunicação da

informação. Esse processo de transformação informação, em um ciclo de realimentação

tecnológica se expandiu exponencialmente cumulativo entre a inovação e seu uso”.

em razão da capacidade da linguagem digital As novas tecnologias da informação

de gerar, armazenar, recuperar, processar e difundiram-se pelo globo com a velocidade

transmitir informações de modo jamais da luz em menos de duas décadas, entre

visto. Vive-se, hoje, em um mundo digital, e meados dos anos 70 e 90 do século XX, por

a obra de Castells “[...] estuda o surgimento meio de uma lógica que é característica

de uma nova estrutura social, manifestada dessa revolução tecnológica: a aplicação

sob várias formas conforme a diversidade de imediata no próprio desenvolvimento da

culturas e instituições em todo o planeta. tecnologia gerada, conectando o mundo por

Essa nova estrutura social está associada ao intermédio da tecnologia da informação. A

surgimento de um novo modelo de história da revolução da tecnologia da

desenvolvimento, o informacionalismo, informação é breve. Foi durante a Segunda

historicamente moldado pela reestruturação Guerra Mundial e no período seguinte que

do modo capitalista a de produção, no final se desenvolveram as tecnologias

do século XX”. eletrônicas: o computador programável e o

Esse momento histórico possui a mesma transitor (fonte da microeletrônica). E, com

importância da revolução industrial do a criação da Internet, na década de 70 do

século XVIII, por produzir um padrão de século passado, as novas tecnologias da

132
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

informação difundiram-se amplamente. Se a informações, mas por suas aplicações na


Primeira Revolução Industrial foi britânica, a geração de mais conhecimentos e
revolução da tecnologia da informação foi informações, em um ciclo de realimentação
norte-americana, com tendência cumulativo; 2) poder de penetração – como
californiana (Vale do Silício). No fim da a informação é uma parte integral de toda
década de 90, o poder de comunicação da atividade humana, todos os processos de
Internet, associado aos novos progressos em nossa existência individual e coletiva são
telecomunicação e computação, provocou diretamente moldados (embora não
outra grande mudança tecnológica: determinados) pelo novo meio tecnológico;
microcomputadores e mainframes 3) lógica organizacional – sistemas ou
descentralizados e autônomos, disponíveis à conjuntos de relações passaram a se
computação universal por meio da desenvolver a partir das novas tecnologias
interconexão de dispositivos de da informação; 4) flexibilidade – não apenas
processamento de dados, o que permitiu a os processos são reversíveis, mas as
distribuição do poder de comunicação em organizações e instituições podem ser
uma rede montada ao redor de servidores modificadas e até mesmo
da Web que usam o mesmo protocolo da fundamentalmente alteradas pela
Internet. reorganização de seus componentes; 5)
Cinco são as principais características do convergência tecnológica – a
novo paradigma da tecnologia da microeletrônica, as telecomunicações e a
informação: 1) informação como matéria- optoeletrônica integram-se em sistemas de
prima – são criadas tecnologias para agir informação.
sobre a informação, e não apenas Essas principais características e outras mais,
informação para agir sobre a tecnologia, baseadas no novo paradigma da tecnologia
como ocorreu no caso das revoluções da informação, fundaram uma nova
tecnológicas anteriores. A revolução economia, conforme visto no tópico a seguir.
tecnológica não é caracterizada pela
centralidade de conhecimentos e

133
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

A nova economia: informacionalismo, geram crescimento econômico, e, na


globalização e funcionamento em rede sociedade atual, a tecnologia da informação
subjaz ao desenvolvimento econômico.
A nova economia é informacional, global e
Mas o fato de a tecnologia ser o principal
em rede. É informacional porque
fator que induz a “produtividade” não faz
produtividade e competitividade
dela um objeto em si. Investimentos em
econômicas dependem da capacidade de
tecnologia não são feitos devido à inovação
geração, processamento e aplicação
tecnológica propriamente dita, mas à
eficiente da informação baseada em
“lucratividade”. Empresas são verdadeiros
conhecimentos; é global porque as
agentes do crescimento econômico, e, por
principais atividades produtivas estão
isso, as instituições políticas buscam a
organizadas em escala global; e é em rede
maximização da competitividade
porque a produtividade e a concorrência
econômica: “lucratividade” e
ocorrem em uma rede global de interação
“competitividade” constituem vetores para
interempresarial.
a inovação tecnológica e o crescimento da
Nesse cenário, o aumento da produção
produtividade. Sabe-se, ainda, que a
representa o domínio das forças da natureza
globalização alimenta o crescimento da
pelos indivíduos. A estrutura e a dinâmica de
produtividade, pois as empresas melhoram
determinado sistema econômico variam
seu desempenho quando conseguem
conforme os modelos específicos do
concorrer sem limites territoriais.
aumento da produtividade, de modo que,
A busca pela lucratividade empresarial e o
para identificar a nova economia
fomento estatal em favor da
informacional, deve-se identificar as fontes
competitividade induziram arranjos dos
de produtividade que a distinguem.
mais diversos tipos, criando uma nova
O aumento da produção não resulta tão
economia global, traço mais típico do
somente de adição de mão de obra ou de
capitalismo informacional. A nova
capital, mas também de outra fonte,
economia, baseada em reestruturação
definida como um “resíduo estatístico” e
socioeconômica e revolução tecnológica, é
descrita por economistas, sociólogos e
moldada de acordo com os processos
historiadores econômicos como
políticos desenvolvidos no Estado e também
correspondente a transformações
pelo Estado.
tecnológicas. Transformações tecnológicas

134
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

A economia global deve ser capaz de distribuição. São sistemas organizacionais


funcionar como uma unidade em tempo real institucionalizados que formam o novo
e em escala planetária. No final do século XX, sistema econômico.
a economia mundial conseguiu tornar-se A tese de Castells parte do princípio de que
global em razão da nova infraestrutura o surgimento da economia informacional se
baseada nas tecnologias da informação e caracteriza pelo desenvolvimento de uma
comunicação. Essa globalidade envolve os “lógica organizacional relacionada com as
principais processos e elementos do sistema transformações tecnológicas”, mas não
econômico. Por exemplo, as novas dependente delas. Tal lógica segue quatro
tecnologias possibilitam ao capital ser tendências. A primeira e mais abrangente é
transferido entre contas nos diversos cantos a passagem da produção em massa
do planeta em curtíssimo prazo. O capital (norteada pela integração vertical, divisão
está, portanto, interconectado em todo o social e técnica de trabalho) para a produção
mundo em razão da tecnologia da flexível, que se adequava melhor à
informação. imprevisível demanda do mercado, às
O surgimento da economia global impacta, transformações tecnológicas e às
ainda, o “gerenciamento” e a “distribuição diversificações dos mercados. A segunda
da produção” e o próprio “processo tendência é “[...] a crise da grande empresa
produtivo”. Em uma estrutura industrial, o e a flexibilidade das pequenas e médias
mais importante é ocupar o maior número empresas como agentes de inovação e fostes
de territórios em todo o globo; no novo de criação de empregos”. A terceira
paradigma, o mais importante é posicionar a tendência, por sua vez, concerne aos novos
empresa em redes, ganhando vantagem métodos de gerenciamento empresarial,
competitiva em face da sua posição relativa. chamados “toyotismo” e adaptados à
economia global e à produção flexível, em
A empresa em rede: a cultura, as oposição ao “fordismo”. E a quarta
instituições e as organizações da economia
tendência é a formação de redes de
informacional
empresas a partir de dois modelos: 1) as
A economia informacional é caracterizada redes multidirecionais e 2) os licenciamentos
por cultura e instituições específicas, cuja e as subcontratações de produção sob
matriz comum consiste na organização de controle de uma grande empresa.
processos produtivos e de consumo e
135
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Conclusão: a sociedade em rede Redes são conjuntos de nós


interconectados. Trata-se de estruturas
Castells conclui sua obra referindo que abertas que se expandem de forma
“Redes constituem a nova morfologia social ilimitada, ou seja, que integram novos nós
de nossas sociedades e a difusão da lógica de que conseguem se comunicar dentro das
redes modifica de forma substancial a redes quando compartilham os mesmos
operação e os resultados dos processos códigos de comunicação.
produtivos e de experiência, poder e cultura. As redes são apropriadas ao capitalismo
Embora a forma de organização social em baseado em inovação, globalização,
redes tenha existido em outros tempos e descentralização, flexibilização e adaptação.
espaços, o novo paradigma da tecnologia da E as redes reorganizam, de forma drástica, as
informação fornece a base material para sua relações de poder.
expansão penetrante em toda estrutura
social”.

_____________________________

Sandy Danielle da Silva Fernandes36

MAGALHAES, Rodrigo; SANCHEZ, Ron. Autopoiesis and the Organization of the Future.Autopoiesis in Organization
Theory and Practice, p. 1-22, 2009

A lacuna de uma estrutura unificada para O capítulo em questão se ocupa em fornecer


explicar o espectro dos fenômenos um breve resumo dos princípios chaves da
teoria dos sistemas autopoiéticos aplicada
organizacionais foi motivador para os
aos fenômenos organizacionais. Além disso,
autores Magalhães e Sanchez para propor também buscam discutir a organização do
uma nova teoria baseada nos sistemas futuro, a partir de pressões externas que
cada vez mais exercem influências nas
autopoiéticos para preencher tal lacuna.
organizações sociais e as induzem a
empreender novos tipos de transformações.

36
Advogada, Bacharel em Direito pela Universidade da Região da Campanha - URCAMP, campus Santana do
Livramento; Pós-graduada em Direito e Planejamento Tributário pela Universidade Estácio de Sá; Mestranda em
Direito Tributário pela Pontificia Universidad Católica de Santa Maria de Buenos Aires; Pós-graduanda em Advocacia
Corporativa pela Fundação do Ministério Público
136
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Também se preocupam em identificar os haver primeiramente uma mudança na


desafios que a serem enfrentados pelas organização (regras de comportamento).
organizações não só como resultado das
Espejo et at. utilização a expressão
pressões externadas, mas também como
consequência dos desenvolvimentos “identidade" para caracterizar o elemento
internos da ciência e teoria das que define a organização, e que as relações
organizações.
entre os participantes criam a distinta
identidade para uma rede ou grupo. Nesse
Organização e Estrutura
sentido, explicam que organizações como
Procedimentos são influenciados por forças fenômenos sociais são caracterizados por
informais, menos propensas a mudanças, e tanto uma organização e uma estrutura, e as
forças formais, mais adeptas a mudanças, normas de interação estabelecidas pela
enquanto a literatura clássica os trata de organização e sua consequente execução
maneira separada, a teoria dos sistemas pela estrutura formam uma ligação
autopoiéticos sugere uma análise integrada recursiva.
dos mesmos.
No contexto da teoria dos sistemas Fechamento Operacional, Auto-
Referencialidade e Recursividade
autopoiéticos, organização significa as
relações necessárias ou rede de normas que Um sistema que é gerado através de uma
regem as relações entre os componentes de organização fechada de processos de
um sistema e como estas relações definem produção de maneira tal que a mesma
tal sistema. Já estrutura significa as relações organização de processos é reproduzida
entre os componentes que integram o através de interações de seus próprios
sistema e que satisfazem as limitações componentes. Assim, a organização dos
impostas pela organização. componentes e os processos que produzem
Zelony tem organização como redes de componentes pode permanecer
interação, reação e processos identificados relativamente invariáveis através de
pela organização (rede de regras) e são interações e movimentos dos componentes.
diferenciadas por suas estruturas Se as relações específicas entre
(manifestação das normas aplicadas de componentes ou processos mudarem de
coordenação em contextos específicos). maneira substancial, não quer dizer que
Nesse sentido, para haver uma mudança na necessariamente haverá uma mudança na
estrutura (processos e procedimentos) deve
137
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

identidade deste sistema: haveria uma onde os elementos são responsivos (ação
mudança na estrutura do sistema, isso é, na em resposta a perturbações do ambiente)
manifestação particular em dado ambiente. mas mantém individualidade e identidade
Para ser possível essa recursividade permitir (manutenção da rede de interações que
a evolução da estrutura, o sistema define a organização do sistema).
autopoiético precisar ser fechado
operacionalmente. Esse fechamento Linguagem e Emoções

operacional implica dizer que há coerência


Linguagem é o que permite ações serem
interna que resulta na interconexão dos
coordenadas na organização, sendo
inputs e outputs, o que podemos chamar de
alcançada através dos componentes da
auto-referência. Nesse aspecto, o
organização fazendo delimitações úteis
fechamento operacional precisa de alguma
sobre a organização. Através do método da
forma de auto-referência ao invés de
linguagem que uma organização desenvolve
processos mais específicos de auto-
seu próprio processo de linguagem e esse
reprodução.
resultado expressa seu próprio sistema de
significados, que por si desenvolve sua
Acoplamento Estrutural
própria autopoiese.
Um sistema nunca é completamente Conversas permitem a estruturação do
fechado de um ambiente, porque é processo evoluir e formar a rede, e uma vez
impossível que esse sistema seja formado, as conversas vão se tornar
completamente indiferente ao ambiente fechadas organizacionalmente e auto-
onde se encontra: ele continuará sofrendo referenciais. Assim, para um componente
influências e estímulos do sistema, ficando novo poder tornar-se parte do grupo ele
assim acoplado a ele. precisa aprender o que os autores chamam
Esse conceito permite entender como uma de código genético do grupo e qual é seu
organização pode ser fragmentada e mesmo papel na organização. Nesse sentido é que o
assim manter uma unidade como sistema. indivíduo social se torna estruturalmente
Isso nos leva a outro conceito, o de acoplado a rede social.
acoplamento frouxo, criado por Weick, que Organizações transcendem o indivíduo, pois
define organizações como sistemas de suas contribuições para o sistema irão
acoplamento frouxo, isso é, uma situação permanecer mesmo que ele seja excluído do

138
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

sistema. Para Maturana, esses fenômenos sistema operacional Linux que não tem uma
sociais só são possíveis através das emoções. estrutura formal de empresa, nem
empregados ou capital e seu produto é
Organizações e Organizando o Futuro gratuito ao público, mesmo assim ele se
mostra uma ameaça para outras empresas
Segundo James Marcha, o campo de estudos
de software.
organizacionais estaria entrando em uma
quarta era de invasão caracterizado pela Novos Desafios Internos Organizacionais
crescente influência de tecnologias de
1. Nova Abordagem Epistemológica
informação e avanços biológicos na vida
Inspirada por Complexidade e Não-
social e por questões climáticas e Linearidade
sustentáveis que o planeta está passando.
Como exemplo, temos novas atitudes e A teoria da complexidade não tenta fazer

valores no capitalismo como base para uma previsões detalhas, mas levantar novas

organização econômica. Vemos o questões e possíveis ações organizacionais.

crescimento da conscientização de O fenômeno que tentamos entender em um

problemas climáticos traz uma nova ética contexto organizacional vai depender do

para companhias mais social, ecológico e nível de contexto, que por sua vez vai

moralmente preocupado com suas depender das conexões com o evento em

abordagens. Além disso, também análise. Assim, é necessário entender como

percebemos a preocupação com o os componentes individuais contribuem

trabalhador individual, surgindo companhias para o comportamento de um contexto

baseadas em trabalhadores do holístico organizacional, mas também é

conhecimento ao invés de trabalhadores importante entender como o contexto

manuais. influencia o comportamento de cada

Existem também o fenômeno das redes: componente individual.

organizações autônomas, descentralizadas e Parte do paradigma da complexidade é

em rede estão se conectando com outras, entendido também sob o viés da enação,

bem como pessoas também estão nesse que é a contraparte da autopoiese, onde

ecossistema de redes com outras pessoas. temos o saber como resultado de um

Aliados a isso também temos os fenômenos processo de interpretação que surge da

tecnológicos, os autores citam o exemplo do


139
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

habilidade de entender e permite sentir o tradicionais de ciência e pesquisa, com foco


ambiente que estamos. em ensaios e análises de teorias do mundo
A teoria dos sistemas autopoiéticos oferece social; e o segundo que foca no
um modelo de como fenômenos surgem de desenvolvimento de ideias que tenham
interação complexa e não linear entre relevância e possam ser aplicadas às
agentes heterogêneos. A complexidade organizações contemporâneas, para isso é
permite que as dinâmicas resultantes destas necessário que exista uma mudança para a
interações sejam explicadas ao descrever o prática multidisciplinar.
processo de geração que liga estudos A guinada para o segundo modo precisa ter
empíricos a realidade causal. Sistemas em conta que uma organização é uma
sociais podem ser vistos como uma classe construção social, não sendo arquitetada da
específica de sistemas complexos e é a teoria mesma forma que uma molécula ou uma
dos sistemas autopoiéticos que explica as ponte, devendo se ter em conta vários
distintas características dessa classe. elementos. Naturais (humanos,
comportamentais, intangível) e intencionais
2. A busca Por Um Novo Paradigma (racionais, planejados tangíveis).
Organizacional
Para isso é necessário idealizar modelos a
À época, literatura era baseada em serem analisados e testados, e
organizações de uma análise linear e concomitantemente o estado de casos de
reducionista. A teoria dos sistemas abertos comparação.
não resolveu questões. Mas o principal se da
4. A natureza em rede de organizações
pelo fato de que estudiosos dessa teoria
esqueceram-se que organizações tem a Organizações estão cada vez mais sendo
elemento humano, não estruturas onde o vistas como redes sem substância exceta
indivíduo possui um papel ativo ou passivo. pelo sistema definido pelo seu
conhecimento. A principal característica é a
3. A Mudança para Prática Trans e
Multidisciplinar perspectiva de interações que os membros
organizacionais desenvolvem ao procurar
Gibbons et al apontam que existem dois comunicar com outros membros. Através
modos de produção de conhecimento na dessas interações, os membros criam ações
sociedade: o primeiro refere-se às práticas

140
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

socialmente integradas e criam relações em


diferentes níveis.

5. A integração de arquiteturas sociais e


tecnológicas em organizações

Novos ativos de conhecimento são


encontrados na arquitetura social (através
de estruturaras, processos, cultura, sistemas
de administração) e também na arquitetura
técnica (informação e comunicação,
aplicações) da organização. Esses dois
pilares são as vantagens competitivas que as
companhias podem ter no meio, ao mesmo
tempo que redefinem regras de
desenvolvimento organizacional. O desafio é
a integração dos estudos com teóricos da
tecnologia da informação.

Eduarda Jade Stumer Santos37

Contornos do art. 421-A do Código Civil pela Lei n° 13.874/2019 / Eduarda Jade Stumer Santos. – 2020. 73 f.
Orientador: Gerson Luiz Carlos Branco. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) - Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Faculdade de Direito, Curso de Ciências Jurídicas e Sociais, Porto Alegre, BR-RS, 2020. 1. Direito Civil.
2. Liberdade contratual. 3. Paridade e simetria contratual. I. Branco, Gerson Luiz Carlos

A Medida Provisória n° 881 de 2019, este dispositivo teve, como principal


posteriormente convertida na Lei n° propósito, reduzir a interferência arbitrária
13.874/2019, incluiu o art. 421-A no do Poder Judiciário nos contratos civis e
ordenamento do Código Civil brasileiro – comerciais. Realizando tal propósito através

37
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora em Direito Contratual Empresarial e Responsabilidade Civil na
UFRGS, Assistente jurídica voluntária no SAJU na área de Direito Civil.
141
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

de conceitos indeterminados em sua A implicação direta de tais atributos é, pois,


redação, permanece controvertido se tal vincular a compreensão do juízo sobre à
previsão normativa concretizou avença contratual não só aos dispositivos
integralmente o fim almejado. normativos legais incidentes ao tipo
Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais contratual, mas precipuamente aos termos
presumem-se paritários e simétricos até a da negociação firmada entre as partes. A
presença de elementos concretos que vinculação ao contratado assim proposta em
justifiquem o afastamento dessa presunção, muito ressoa também as afirmações do
ressalvados os regimes jurídicos previstos Teorema de Ronald Coase, maior expoente
em leis especiais, garantido também que: da análise econômica do Direito da Escola de
I – as partes negociantes poderão Chicago, de que o melhor resultado possível
estabelecer parâmetros objetivos para a é a barganha entre as próprias partes,
interpretação das cláusulas negociais e de especialmente sem a interferência da lei,
seus pressupostos de revisão ou de caso as partes optem por negociar entre si.
resolução; Considerando que o art. 421-A do Código
II – a alocação de riscos definida pelas partes Civil privilegia a interpretação decorrente do
deve ser respeitada e observada; e conteúdo negociado entre as partes, é
III – a revisão contratual somente ocorrerá necessário sinalizar que tal dispositivo
de maneira excepcional e limitada. dialoga, em sua aplicabilidade, somente com
Em caráter geral, o art. 421-A conferiu maior a categoria contratual dos contratos
liberdade de negociação entre as partes para paritários ou negociados, categoria esta que
definirem o conteúdo jurídico-semântico das abrange tanto contratos civis como
disposições contratuais pactuadas, além de empresariais e que possui como traço
qualificar a revisão contratual como distintivo a discussão do conteúdo
excepcional e limitada. Estes preceitos, por contratual entre as partes, estas geralmente
si só, denotam as ideias de Robert Cooter e em posição econômica de igualdade.
Thomas Ulen, pioneiros na análise Ainda, a menção individualizada, no caput
econômica do Direito, em especial a de que do dispositivo, a contratos civis e contratos
‘the terms are often more efficient when empresariais é pertinente à compreensão do
people agree on them than when a âmbito de sua incidência pois, não obstante
lawmaker or conqueror imposes them’. a unificação das relações obrigacionais, as

142
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Cortes Superiores ainda apontam a que o legislador não costuma se valer de


distinção, destacando que os primeiros redação vazia de sentido. Aprofundando a
seriam dotados de dirigismo contratual e os distinção, portanto, tem-se que a paridade,
empresariais, imbuídos de autonomia também tida como contrato negociado pela
privada. doutrina, traduziria a ideia de que as partes
Desta forma, a consequência lógica disso é a contratantes possuem a mesma capacidade
ressalva de aplicação do art. 421-A do Código de analisar o texto contratual, aceita-lo e
Civil ao Código de Defesa do Consumidor também compreender a extensão dos riscos
(CDC), aos contratos de representação estipulados, sendo o contrato fruto de uma
comercial, contratos de franquia, contratos negociação equitativa. Por outro lado, a
de agência e de distribuição, etc. A simetria contratual denotaria que o contrato
expressão ‘elementos concretos’ presente representa o resultado da autonomia de
no caput do dispositivo compreende vontade exercida por contraentes em
diversas possibilidades de exclusão da posição de equilíbrio de realidades
paridade e simetria contratuais, econômicas no plano concreto. Desta forma,
possibilidades estas que ainda serão melhor um contrato paritário seria a soma na
definidas pela doutrina, baseadas equidade sob a ótica do viés econômico e
principalmente nas práticas de mercado e social.
riscos usuais inerentes ao tipo contratual Nesse sentido, o art. 421-A do Código Civil
adotado pelas partes e/ou natureza do representa o fortalecimento do princípio
negócio. contratual clássico da autonomia privada –
Delineado o âmbito de aplicação do art. 421- este sempre limitado pelo princípio da
A, é preciso comentar sobre a presunção função social do contrato, o que significa
relativa – ou juris tantum, ou seja, a dizer que a interpretação contratual pauta-
presunção subsiste até surgir prova em se pelo contexto social em que este está
contrário – de paridade e simetria inserido –, que trata-se da autonomia
econômica instalada pelo dispositivo nos conferida à parte para regular o conteúdo da
contratos civis e empresariais. avença e sua disciplina jurídica, ou seja, o
Apesar de a doutrina em geral considerar os poder inerente ao contratante de
vocábulos paridade e simetria contratuais autorregular os próprios interesses e suas
como sinônimos, é preciso compreender relações. Considerando que a concepção

143
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

moderna de contrato supera a tradução esta em muito influencia a compreensão


estrita da vontade pura das partes, o termo quanto aos parâmetros de incidência do art.
autonomia privada veio a substituir o 421-A, uma vez que tal dispositivo reflete
vocábulo anterior de autonomia da vontade uma negociação contratual que culmine em
das partes. um contrato que represente a realidade e os
No mesmo diapasão e em razão da atecnia interesses de seus contraentes. Nesse
jurídica enfrentada e corrigida na redação do sentido, o diálogo normativo entre
art. 421-A ao tempo da Medida Provisória n° princípios e normas age para traduzir com
881/2019, cumpre definir o traço distintivo mais clareza os parâmetros atinentes à
entre o que compreende os conceitos de autonomia privada e sua expressão
liberdade contratual e liberdade de contratual.
contratar. O primeiro refere-se à liberdade Ainda, a mesma possibilidade
de que a parte dispõe para definir e dialogar supramencionada é conferida às partes para
quanto ao conteúdo contratual (os limites e oferecer parâmetros sobre o significado, no
definições de seu objeto), enquanto a contexto do contrato, aos institutos jurídicos
liberdade de contratar versa sobre a do adimplemento substancial, da
liberdade de escolha pela parte no que tange onerosidade excessiva e de eventos
ao seu parceiro contratual e ao momento extraordinários – uma vez que tais institutos
oportuno em que tal avença é celebrada. O não carregam em si um parâmetro pré-
direito à contratação, inclusive, é um direito fixado para que sejam reputados
existencial da personalidade advindo do configurados.
princípio da liberdade. Ao definir a extensão de tais institutos, a
Analisando mais detidamente o conteúdo interpretação posterior do julgador ou
normativo dos incisos do art. 421-A, tem-se árbitro diante do caso concreto fica
que o inciso I confere às partes contratantes vinculada a tais definições, além de vincular
a possibilidade de conferir maior densidade de maneira prévia as partes contratantes.
normativa para deveres anexos contratuais, Tais definições, ao serem inseridas no
sendo expoentes destes os deveres de contrato, o tornar um instrumento de
informação, cooperação e colaboração. alocação prévia de riscos entre as partes.
Sendo a boa-fé contratual um parâmetro Todavia, o permissivo do inciso I não
ético que impõe deveres de cooperação, autoriza afastar, por exemplo, preceito de

144
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

ordem pública ou estipular pela via em contrato pelas partes decorrer


transversa da redação contratual o seu enriquecimento sem causa, onerosidade
esvaziamento, de modo que condutas como excessiva ou afronta a preceito de ordem
a descrita terão por consequência o pública, a alocação de riscos será reputada
deslocamento da discussão jurídica para a nula ou ineficaz pelo julgador ou árbitro.
validade da cláusula estipulada e não mais Como outros exemplos, pode-se citar a
sobre a solução ao impasse contratual a que ilicitude de que se reveste a cláusula que
se depararam as partes. exclui a possibilidade de reparação por
A seu turno, o inciso II do art. 421-A perdas e danos pela parte contrária em caso
determina a observação e respeito, pelo de inadimplemento, o mesmo ocorrendo
julgador ou árbitro, dos termos de alocação quando estipulada cláusula que limita o
de riscos definida pelas partes – seu dever de indenização ao fixar um valor
sinalagma contratual – num esforço para pecuniário máximo a ser devido.
balizar a tendência de que a lei tem em não Como última garantia nas orientações à
atender às particularidades do negócio interpretação judicial dos contratos
entabulado, seja este civil ou empresarial. paritários e simétricos, civis e empresariais,
As partes, ao dedicarem maior rigor na o inciso III do art. 421-A visa a mitigação do
construção dos elementos do contrato, dirigismo contratual ao reputar a revisão
protegem-se não somente da interpretação contratual judicial como excepcional e
arbitrária do juízo ou árbitro ao fornecerem limitada. Considerando o necessário diálogo
mais elementos para a compreensão da que tal inciso precisa ter com os artigos do
realidade contratual por este, mas também Código Civil que abordam o instituto da
protegem a sua confiança recíproca no revisão contratual, quais sejam, arts. 478,
negócio pactuado, a boa-fé contratual e a 479, 480 e 317 do Código Civil, verifica-se
legítima expectativa de ambas as partes ao que o comando normativo em análise é de
conferirem previsibilidade aos efeitos do pouco efeito prático.
contrato a longo prazo. Isto porque reputar a revisão contratual
Entretanto, a própria alocação de riscos já judicial como excepcional e limitada não
possui limitações prévias à redação do altera de maneira substancial as hipóteses às
dispositivo por parte da doutrina. A quais a revisão contratual incide, ou seja,
exemplo, se da alocação de riscos estipulada não provoca quaisquer alterações no

145
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

entendimento normativo já construído pelos de adesão em razão do maior protagonismo


demais dispositivos que versam sobre o conferido ao dirigismo contratual neste tipo
instituto. A revisão contratual muito é contratual em comparação ao relegado a tal
postulada, todavia a jurisprudência dirigismo pelo art. 421-A, sendo os traços
consolidada nas Cortes Superiores revela marcantes de tais contratos a predisposição
que esta pouco se opera, apesar de doutrina de suas cláusulas, a unilateralidade e rigidez
e jurisprudência terem como máxima que a contratual configurada pelas cláusulas
revisão contratual é sempre preferível à predispostas e não propostas. Os contratos
resolução contratual. de adesão não se confundem com o conceito
Nesse contexto, o inciso III positiva a ideia de reservado aos contratos de consumo, pois
que importam à interpretação contratual estes levam em conta a qualificação das
adequada não somente o redigido no partes envolvidas na relação contratual e
instrumento contratual, mas também o não a forma de contratação.
comportamento das partes enquanto na Todavia, não se ignora excepcionalmente a
constância da avença, além das práticas de hipótese de existência de contrato de
mercado inerentes ao tipo negocial adesão empresarial, paritário em função da
entabulado. confiança e cooperação havida entre as
Pelo exposto, ao menos no tocante à revisão partes, que atraia a incidência do art. 421-A
contratual, certo é que o art. 421-A do do Código Civil. É um contexto no qual não
Código Civil não possui protagonismo de há que se falar na ausência de paridade
fundamentação, pois a ideia de contratual, pois não há hipossuficiência de
excepcionalidade e limitação da revisão nenhuma ordem – inferindo-se deste
contratual já se encontrava consolidada no cenário a importância da presunção juris
arcabouço jurídico através das ideias de tantum de paridade e simetria contratual.
autonomia privada e força obrigatória da
convenção – ou seja, antes da positivação do
_______________________________
referido dispositivo, o que denota que este
também não assinala qualquer inovação
normativa.
Por fim, importa salientar a inaplicabilidade
do art. 421-A do Código Civil aos contratos

146
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Vitória de Bona38

CASTELLS, Manuel et al. A sociedade em rede: do conhecimento à política. A sociedade em rede: do conhecimento à
acção política, p. 17-30, 2005

CAPÍTULO 3. A empresa em rede: a cultura, Para alguns, a crise econômica da década de


as instituições e as organizações da 1970 resultou da exaustão do sistema de
economia informacional
produção em massa. Para outros, trata-se de
O que caracteriza o desenvolvimento da uma evolução de longo prazo do “fordismo”
economia informacional global é o seu ao “pós-fordismo”. Mesmo com diversas
surgimento em contextos culturais e abordagens de diversos analistas, se tem os
nacionais diferentes, exercendo influência seguintes pontos fundamentais: a) houve,
em todos os países e levando a uma em meados dos anos 70 em diante, uma
estrutura de referências multiculturais. A divisão importante na organização da
diversidade de contextos culturais de onde produção e dos mercados na economia
surge e em que evolui a economia global; b) transformações organizacionais
informacional não impede a existência de interagiram com a difusão da tecnologia da
uma matriz comum de formas de informação, mas em geral eram
organização nos processos produtivos, de independentes e precederam essa difusão
consumo e distribuição. nas empresas comerciais; c) objetivo
O surgimento da economia informacional principal das transformações
global se caracteriza pelo desenvolvimento organizacionais em várias formas era lidar
de uma nova lógica organizacional que está com a incerteza causada pelo ritmo veloz das
relacionada com o processo atual de mudanças no ambiente econômico,
transformação tecnológica, mas não institucional e tecnológico da empresa,
depende dele, sendo manifestada em aumentando a flexibilidade em produção e
diferentes formas e em vários contextos gerenciamento de marketing; c) muitas
culturais e institucionais. transformações organizacionais visavam
redefinir os processos de trabalho e as

38
Acadêmica de Direito, cursando o 7º semestre na Universidade do Vale do Sinos, com formação complementar
em Direito Civil Atual - IARGS e Obrigações e Contratos na Economia em Rede - OAB/ESA. Atua como secretária
jurídica no escritório especializado em Direito Tributário – Grecchi Advogados, dispõe experiência no Poder
Executivo, no setor da Secretaria da Fazenda, bem como no Legislativo da Câmara Municipal.
147
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

práticas de emprego, introduzindo o modelo A segunda tendência enfatizada pelos


da “produção enxuta”; d) a administração analistas nos últimos anos é a crise da
dos conhecimentos e o processamento das grande empresa e a flexibilidade das
informações são essenciais para o pequenas e médias empresas, como agentes
desempenho das organizações que operam de inovação e fontes de criação de
na economia informacional global. empregos. A crise da empresa de grande
porte é consequência da crise da produção
1 - Da produção em massa à produção padronizada em massa, e o renascimento da
flexível
produção artesanal personalizada e da
A primeira e mais abrangente tendência de especialização flexível que é mais bem
evolução organizacional identificada, é a recebido pelas pequenas empresas.
transição da produção em massa para a A expansão e a conquista dos mercados
produção flexível, ou do “fordismo” ao “pós- internacionais pelos conglomerados
fordismo”. empresariais, contando com a crescente
O sistema produtivo flexível surgiu como demanda de um mundo que se industrializa
uma possível resposta para superar essa rapidamente, as empresas tiveram que
rigidez, adaptando-se a transformar mudar suas estruturas organizacionais,
continuamente, sem a pretensão de fazendo o uso de subcontratação de
controlá-la. pequenas e médias empresas, cuja
O gerenciamento industrial nas décadas de vitalidade e flexibilidade possibilitavam
80 e 90 introduziram outra forma de ganhos de produtividade e eficiência às
flexibilidade: a flexibilidade dinâmica. grandes empresas, bem como à economia
Sistemas flexíveis de produção em grande como um todo – uma rede (uma mão lava a
volume, a qual as novas tecnologias outra).
permitem a transformação das linhas de 3 – “Toytismo”: cooperação gerentes-
trabalhadores, mão-de-obra
montagem típicas da grande empresa em
multifuncional, controle de qualidade total
unidades de produção de fácil programação e redução de incertezas
– flexibilidade no produto e no processo.
A terceira evolução diz respeito a novos
2 – A empresa de pequeno porte e a crise da métodos de gerenciamento, a maior parte
empresa de grande porte: mito e realidade oriunda de empresas japonesas. O enorme
sucesso em produtividade e competitividade
148
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

obtido pelas companhias automobilísticas Um tipo de rede é o “modelo benetton”. A


japonesas foi, em grande parte, atribuída a e malharia italiana, multinacional oriunda de
essa evolução administrativa, de forma que uma pequena empresa familiar da região de
o “toyotismo” opõe-se a “fordismo”, como Veneto, opera com franquias comerciais e
nova fórmula de sucesso, adaptada à conta com cerca de 5 mil lojas em todo o
economia global e ao sistema produtivo mundo, para a distribuição exclusiva de seus
flexível. produtos, sob o mais rígido controle da
Um método norte-americano de produção empresa principal. Uma central de feedback
em massa, adaptado para o gerenciamento online de todos os pontos de distribuição e
flexível, utilizando a especificidade das mantém o suprimento em estoque, como
empresas japonesas, em particular, o define as tendências de mercado em relação
relacionamento cooperativo entre os as formas e cores. O modelo de redes
gerentes e trabalhadores é chamado de just também é eficaz no nível de produção,
in time, a estabilidade e fornecendo o trabalho a pequenas empresas
complementariedade das relações entre a e domicílios na Itália e em outros países do
empresa principal e a rede de fornecedores Mediterrâneo, como a Turquia. Esse tipo de
são extremamente importantes para organização em rede é uma forma
implementação desse modelo. intermediária de arranjo entre a
desintegração vertical por meio dos sistemas
4- Formação de redes entre empresas de subcontratação de uma grande empresa
e as redes horizontais das pequenas
Pequenas e médias empresas muitas vezes
empresas.
ficam sob o controle de sistemas de
subcontratação ou sob o domínio
5 – Alianças corporativas estratégicas
financeiro/tecnológico de empresas de
grande porte. No entanto, também tomam a A interligação de empresas de grande porte
iniciativa de estabelecer relações em redes passou a ser conhecido como alianças
com várias empresas grandes e com outras estratégicas. Foram especialmente
menores/médias, encontrando nichos de relevantes nos setores da alta tecnologia; o
mercado e empreendimentos aceso a mercados e a recursos de capital é
coorporativos. frequentemente trocado por tecnologia e
conhecimentos industriais; em outros casos,

149
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

duas ou mais empresas empregam esforços tecnologias e capacidades de redução de


conjuntos para desenvolver um novo custos, as grandes empresas tiveram de
produto ou aperfeiçoar uma nova tornar-se principalmente mais eficientes do
tecnologia, em geral sob o patrocínio de que econômicas.
governos ou órgãos públicos. A tecnologia da informação possibilita um
6 – A empresa horizontal e as redes globais sistema flexível de elaboração de
de empresas estratégias. Essa estrutura internacional
permite que pequenas e médias empresas se
A própria empresa mudou seu modelo
unam a empresas maiores, formando redes
organizacional para adaptar-se às condições
capazes de inovar e adaptar-se
de imprevisibilidade introduzidas pela rápida
constantemente. A unidade operacional real
transformação econômica e tecnológica. A
torna-se o projeto empresarial, possibilitado
principal mudança pode ser caracterizada
por uma rede.
como a mudança de burocracias verticais
para a empresa horizontal.
7 – A crise do modelo de empresas verticais
A empresa horizontal parece apresentar sete e o desenvolvimento das redes de
tendências principais: a) organização em empresas
torno processo, não na tarefa; b) hierarquia
A estrutura em forma de teia resultante das
horizontal; c) gerenciamento em equipe; d)
alianças estratégicas entre as grandes
medida do desempenho pela satisfação do
empresas é diferente da mudança para a
cliente; e) recompensa com base no
empresa horizontal. O “Toyotismo” é um
desempenho; f) maximização dos contatos
modelo de transição entre a produção em
com fornecedores e clientes; g) informação,
massa padronizada e uma organização de
treinamento e retreinamento de
trabalho mais eficiente, caracterizada pela
funcionários em todos os níveis.
introdução de práticas artesanais, bem
Nos anos de 70, o modelo da “produção
como, pelo envolvimento de trabalhadores e
enxuta” reduziu custos, mas também
fornecedores em um modelo industrial
perpetuou as estruturas organizacionais
baseado em linhas de montagem.
obsoletas enraizadas na lógica do modelo de
O que surge da observação das
produção em massa. Para operar na nova
transformações nas maiores empresas ao
economia global, caracterizada pela onda de
longo das duas últimas décadas do século 20
novos concorrentes que usam novas
não é um novo e melhor medo de produção,
150
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

mas a crise de um modelo antigo e médio porte se conectarem em redes, entre


poderoso, porém excessivamente rígido si e com grandes empresas, também passou
associado à grande empresa vertical e ao a depender da disponibilidade de novas
controle oligopolista dos mercados. Dessa tecnologias, uma vez que o horizonte das
crise, surgiram vários modelos e sistemas redes se tornou global. A integração em
organizacionais que prosperaram ou redes tornou-se a chave da flexibilidade
fracassaram de acordo com a sua organizacional e do desempenho
adaptabilidade a vários contextos empresarial.
institucionais e estruturas competitivas.
A experiência histórica recente já oferece
algumas das respostas sobre as novas
formas organizacionais da economia
informacional. Sob diferentes sistemas
organizacionais e por intermédio de
expressões culturais diversas, todas elas
baseiam-se em redes. As redes são e serão
os componentes fundamentais das
organizacionais.

8 – A tecnologia da informação e a empresa


em rede

O obstáculo mais importante na adaptação


da empresa vertical às exigências de
flexibilidade da economia global era a rigidez
das culturas coorporativas tradicionais.
A transformação organizacional ocorreu
independentemente da transformação
tecnológica, como resposta à necessidade
de lidar com um ambiente operacional em
constante mudança. Não obstante, a
capacidade de empresas de pequeno e

151
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

______________________________

PALESTRAS

Renata Pozzi Kretzmann39

PROSUMERS NO COMÉRCIO ELETRÔNICO

1 – Alguns princípios do comércio eletrônico

O Princípio da Conservação e aplicação das


O conceito de Prosumers é aplicado em normas jurídicas existentes assume especial
vários contextos jurídicos. Pode ser relevância pois relembra o intérprete de que
examinado no âmbito do comércio o ordenamento jurídico como um todo
eletrônico, que tem algumas peculiaridades. continua sendo aplicado. As formas e
O e-commerce, como também é repercussões contratuais são as previstas
denominado, não é uma disciplina com em lei independente do contrato ter sido
autonomia formal. Não é um novo ramo do firmado via digital.
Direito e se vale de institutos de Direito Civil, O Princípio da necessidade de identificação
do Direito Empresarial, do Direito do das partes assume papel destacado em
Consumidor, entre outros. O meio eletrônico virtude do cenário de não identificação e
é apenas suporte para a contratação; não anonimato das redes virtuais. Os
configura novo tipo contratual. contratantes devem estar identificados, com
Importantes princípios informam o processo dados que possibilitem efetiva comunicação.
eletrônico, como o Princípio da Equivalência Encontrar a outra parte é fundamental para
funcional, segundo o qual os contratos resolver eventuais litígios e buscar
eletrônicos têm o mesmo reconhecimento e ressarcimento por danos, por exemplo.
efeitos jurídicos dos pactos firmados de
outras formas, em ambiente não virtual. 2 – Diferentes Relações Contratuais no
âmbito eletrônico

39
Mestre em Direito pela UFRGS. Especialista em Direito dos Contratos e Responsabilidade Civil pela Unisinos.
Professora e pesquisadora. Advogada atuante na área do Direito Civil, com ênfase em Direito do Consumidor e Lei
Geral de Proteção de Dados. renatakretzmann@arkadvocacia.com
152
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

observadas tendo em vista a vulnerabilidade


Os contratos eletrônicos podem ocorrer
do consumidor, que se acentua no mundo
entre empresas, no modelo Business to
virtual pelas caraterísticas do ambiente, pela
Business (B2B); entre empresas e
dificuldade de leitura e compreensão dos
consumidores (B2C) ou entre particulares
termos contratuais e pela ausência de hábito
(C2C). No primeiro caso, a relação é
de muitos consumidores que há pouco
comercial, estabelecendo-se um contrato
tempo passaram a comprar nesse meio,
empresarial. Pode haver, todavia, a atração
como idosos e analfabetos.
de regras protetivas se houver
Nesse modelo, o ambiente virtual deve
microempresas, por exemplo. Se uma
proporcionar maior proteção, exigindo-se
empresa estiver em posição de
um dever de informar mais qualificado. O
vulnerabilidade e as condições fáticas
direito de arrependimento do artigo 49 do
autorizarem, o Código de Defesa do
CDC deve ser observado e deve-se atentar
Consumidor pode ser aplicado. A análise
para as sanções administrativas e judiciais
deve ser feita em cada situação.
incidentes em caso de cláusulas e práticas
Os contratos eletrônicos entre empresas
abusivas no mercado eletrônico.
podem ocorrer para aquisição de produtos
O terceiro modelo, o comércio entre
ou prestação de serviços. No comércio
particulares, tem sua singularidade.
eletrônico não raro se observa contratos de
Acontece no espaço de venda de produtos
parceria e de prestação de serviços
usados, de locação de produtos próprios e
relacionados à suporte tecnológico,
de prestação de serviço em geral, sem que
desenvolvimento de sites, softwares,
estejam presentes as figuras do consumidor
manutenção de aplicativos, criação de redes
e do fornecedor. Em geral as normas civis
de pagamento e outros que servem ao
são aplicadas, havendo incidência de
propósito de possibilitar a contratação
legislação consumeristas em casos especiais
eletrônica.
em que a relação se transforma. O vendedor
Nas contratações entre empresas e
no contrato C2C não é fornecedor: é aquele
consumidores há uma relação de consumo;
que vende artigos em plataformas como
incidentes, por tanto, as regras e princípios
eBay e Elo7, por exemplo.
do CDC e de eventual legislação
extravagante aplicável. As condições da 3 – Contratações por intermédio de
oferta são importantes e devem ser plataformas digitais

153
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Surge o modelo P2P, embasado na pull-


É perceptível o aumento dos negócios
economy ou economia da atração, em que o
firmados por intermédio de plataformas que
protagonista central passa a ser o próprio
oferecem serviços e produtos. Há discussão
consumidor, com papel fortemente ativo e
doutrinária sobre a responsabilidade das
empoderado. É um modelo de pessoa para
empresas que mantem as plataformas. Fala-
pessoa, supostamente mais igualitário em
se em consumo compartilhado e cadeia
que há troca direta.
escondida, embora nem sempre se perceba
Os gatekeepers não são somente aqueles
o compartilhamento em si. O termo
que fazem o intermédio do negócio, mas o
economia do compartilhamento ficou
tornam possível e estruturado, o que tem
popular, mas atualmente designa atividades
implicação direta na qualificação da relação
que nada mais são do que a compra e venda
como sendo de consumo. A relação, a priori,
ou contratação de prestação de serviço ou
seria puramente civil, já que se baseia entre
locação on-line, não havendo propriamente
dois iguais.
e tecnicamente consumo compartilhado. A
O consumidor que adquire bens e produtos
superação do modelo de compra-uso-
nessas plataformas, muitas vezes procura
descarte se dá ao se utilizar um bem, seja
características especificas. Há o surgimento
móvel ou imóvel, juntamente com outras
de um comércio eletrônico pós-moderno, o
pessoas, de maneira concomitante ou não.
we-commerce, caracterizado por se utilizar
A dita economia do compartilhamento
da arquitetura do comércio eletrônico
caracteriza-se pela conectividade. O uso
tradicional, mas com uma nova roupagem de
compartilhado em si não é novo, a forma on-
colaboração e de conexão entre pares,
line é a novidade. O novo estilo de vida, a
configurando uma relação de consumo mais
possibilidade de utilização de plataforma
dinâmica, descentralizada, com novos e
colaborativa e a vontade de ter uma
diversificados atores, que modificam a
utilidade e não uma propriedade fazem
estrutura da relação de consumo. Nesse
parte desse contexto.
contexto, observa-se a figura do prosumer
Há alguma renovação de conceitos. A
ou prosumidor.
economia do compartilhamento vai de
encontro aos conceitos tradicionais e 4 – A pessoa que cria: os prosumers no
antagônicos de consumidor e fornecedor. comércio eletrônico

154
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

A figura do prosumer surge nesse cenário em fornecedor. Refere-se que ele está na
que há comercialização de produtos e “fronteira da atividade privada e comercial,
serviços personalizados pelo consumidor ou de forma que fica difícil enquadrá-lo como
então uma criação conjunta entre quem consumidor ou empresa”.
compra e quem vende ou produz. São É ‘consumidor’ e ‘ator’. Não aceita mais
contratos atípicos nos quais há incidência de passivamente os bens e os serviços
diversos conjuntos de normas. Pode-se citar oferecidos a ele. O prosumer é exigente e
como exemplo as criações feitas com não hesita mais em desafiar o poder das
impressoras 3D, as encomendas específicas marcas. É mais engajado e sensível às
de produtos personalizados ou a escolha de características responsáveis, éticas e
determinadas peças com características equitativas dos produtos oferecidos.
únicas. O adquirente tem um papel ativo e é Em geral, ele é mais reflexivo quanto ao seu
conhecedor do bem que deseja. comportamento de consumo e muitas vezes
O termo prosumer é de Alvin Toffler, escritor mais investido no co-design da oferta.
e futurista norte-americano, Doutor em Assim, participa voluntariamente da
Letras, Leis e Ciência e conhecido pelos seus definição de novos produtos e serviços, para
estudos sobre a revolução digital, a que respondam melhor ao ideal comercial,
revolução das comunicações e a mas também social.
singularidade tecnológica. O “prossumidor”
5 – O Prosumer no Marketing
é aquele que cria produtos, serviços ou
experiências para uso ou satisfação próprios, Os prosumers ditam tendências, ou seja, eles
excluindo a venda ou a colocação no são influenciadores que geram opiniões
mercado. A aquisição geralmente é para si. importantes – positivas ou negativas -,
São consumidores engajados que principalmente via internet. É aquele
consomem ideias, ferramentas e recursos consumidor que se envolve com a marca,
oferecidos pelos fornecedores a fim de que quer conteúdo porque ele gosta da
transformar ou produzir novos produtos ou marca e com ela se identifica. Se bem
serviços para outros consumidores e capazes engajados eles serão “defensores” da marca
de influenciar operações e processos e da empresa.
comerciais já que muitas vezes as suas ideias Trata-se de um novo perfil de consumidores
são utilizadas e colocadas em prática pelo que gostam de estar sempre conectados ao

155
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

trabalho, à família, ao entretenimento. veiculam a pretensão de recebimento de


Querem soluções fáceis e simples de usar e verbas de natureza trabalhista. A pretensão
querem acessar seus documentos de decorre do contrato firmado com empresa
qualquer lugar. detentora de aplicativo de celular, de cunho
Geralmente possuem vários dispositivos eminentemente civil.3. As ferramentas
tecnológicos e são usuários frequentes e tecnológicas disponíveis atualmente
ativos da internet e da tecnologia, tanto no permitiram criar uma nova modalidade de
âmbito do trabalho como no residencial. Os interação econômica, fazendo surgir a
prosumers têm esse perfil totalmente economia compartilhada (sharing economy),
adaptado ao mundo virtual e ao comércio em que a prestação de serviços por
eletrônico. detentores de veículos particulares é
intermediada por aplicativos geridos por
6 – Jurisprudência
empresas de tecnologia. Nesse processo, os
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. motoristas, executores da atividade, atuam
INCIDENTE MANEJADO SOB A ÉGIDE DO como empreendedores individuais, sem
NCPC. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. vínculo de emprego com a empresa
REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E proprietária da plataforma.4. Compete a
MORAIS AJUIZADA POR MOTORISTA DE Justiça Comum Estadual julgar ação de
APLICATIVO UBER. RELAÇÃO DE TRABALHO obrigação de fazer c.c. reparação de danos
NÃO CARACTERIZADA. SHARING ECONOMY. materiais e morais ajuizada por motorista de
NATUREZA CÍVEL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO aplicativo pretendendo a reativação de sua
ESTADUAL.1. A competência ratione conta UBER para que possa voltar a usar o
materiae, via de regra, é questão anterior a aplicativo e realizar seus serviços.5. Conflito
qualquer juízo sobre outras espécies de conhecido para declarar competente a
competência e, sendo determinada em Justiça Estadual. (STJ, CC n. 164.544/MG,
função da natureza jurídica da pretensão, relator Ministro Moura Ribeiro, Segunda
decorre diretamente do pedido e da causa Seção, julgado em 28/8/2019, DJe de
de pedir deduzidos em juízo.2. Os 4/9/2019.)
fundamentos de fato e de direito da causa DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
não dizem respeito a eventual relação de CONDOMÍNIO EDILÍCIO RESIDENCIAL. AÇÃO
emprego havida entre as partes, tampouco DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. LOCAÇÃO

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

FRACIONADA DE IMÓVEL PARA PESSOAS como forma de incremento ou


SEM VÍNCULO ENTRE SI, POR CURTOS complementação de renda de senhorios, e,
PERÍODOS. CONTRATAÇÕES de outro, de obtenção, por viajantes e
CONCOMITANTES, INDEPENDENTES E outros interessados, de acolhida e abrigo de
INFORMAIS, POR PRAZOS VARIADOS. reduzido custo.3. Trata-se de modalidade
OFERTA POR MEIO DE PLATAFORMAS singela e inovadora de hospedagem de
DIGITAIS ESPECIALIZADAS DIVERSAS. pessoas, sem vínculo entre si, em ambientes
HOSPEDAGEM ATÍPICA. USO NÃO físicos de estrutura típica residencial
RESIDENCIAL DA UNIDADE CONDOMINIAL. familiar, exercida sem inerente
ALTA ROTATIVIDADE, COM POTENCIAL profissionalismo por aquele que atua na
AMEAÇA À SEGURANÇA, AO SOSSEGO E À produção desse serviço para os
SAÚDE DOS CONDÔMINOS. interessados, sendo a atividade comumente
CONTRARIEDADE À CONVENÇÃO DE anunciada por meio de plataformas digitais
CONDOMÍNIO QUE PREVÊ DESTINAÇÃO variadas. As ofertas são feitas por
RESIDENCIAL. RECURSO IMPROVIDO.1. Os proprietários ou possuidores de imóveis de
conceitos de domicílio e residência padrão residencial, dotados de espaços
(CC/2002, arts. 70 a 78), centrados na ideia ociosos, aptos ou adaptados para acomodar,
de permanência e habitualidade, não se com certa privacidade e limitado conforto, o
coadunam com as características de interessado, atendendo, geralmente, à
transitoriedade, eventualidade e demanda de pessoas menos exigentes,
temporariedade efêmera, presentes na como jovens estudantes ou viajantes, estes
hospedagem, particularmente naqueles por motivação turística ou laboral, atraídos
moldes anunciados por meio de plataformas pelos baixos preços cobrados.4. Embora
digitais de hospedagem.2. Na hipótese, tem- aparentemente lícita, essa peculiar recente
se um contrato atípico de hospedagem, que forma de hospedagem não encontra, ainda,
se equipara à nova modalidade surgida nos clara definição doutrinária, nem tem
dias atuais, marcados pelos influxos da legislação reguladora no Brasil, e, registre-
avançada tecnologia e pelas facilidades de se, não se confunde com aquelas espécies
comunicação e acesso proporcionadas pela tradicionais de locação, regidas pela Lei
rede mundial da internet, e que se vem 8.245/91, nem mesmo com aquela menos
tornando bastante popular, de um lado, antiga, genericamente denominada de

157
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

aluguel por temporada (art. 48 da Lei de Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado
Locações).5. Diferentemente do caso sob em 20/4/2021, DJe de 27/5/2021.)
exame, a locação por temporada não prevê APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO
aluguel informal e fracionado de quartos ESPECIFICADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
existentes num imóvel para hospedagem de FAZER, CUMULADA COM PEDIDOS DE
distintas pessoas estranhas entre si, mas sim INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
a locação plena e formalizada de imóvel ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. APLICATIVO DE
adequado a servir de residência temporária TRANSPORTE DE PASSAGEIROS.
para determinado locatário e, por óbvio, DESCADASTRAMENTO DE MOTORISTA
seus familiares ou amigos, por prazo não PARCEIRO.1. A RELAÇÃO JURÍDICA
superior a noventa dias.(...) o uso de ENTRETIDA ENTRE AS PARTES LITIGANTES É
unidades particulares que, por sua natureza, DE NATUREZA CÍVEL, ESTABELECEBIDA NO
implique o desvirtuamento daquela CONTEXTO
finalidade (CC/2002, arts. 1.332, III, e 1.336, DE ECONOMIA COMPARTILHADA (SHARING
IV).9. Não obstante, ressalva-se a ECONOMY), POIS A PRESTAÇÃO DOS
possibilidade de os próprios condôminos de SERVIÇOS DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
um condomínio edilício de fim residencial - REALIZADA PELO AUTOR - É
deliberarem em assembleia, por maioria INTERMEDIADA PELO APLICATIVO
qualificada (de dois terços das frações ADMINISTRADO PELA EMPRESA DE
ideais), permitir a utilização das unidades TECNOLOGIA RÉ. 2. A RÉ DEMONSTRA QUE
condominiais para fins de hospedagem O AUTOR DESCUMPRIU AS REGRAS
atípica, por intermédio de plataformas CONSTANTES NOS "TERMOS DE USO DO
digitais ou outra modalidade de oferta, APLICATIVO" E NO "CÓDIGO DE CONDUTA"
ampliando o uso para além do estritamente DESTINADOS AOS MOTORISTAS PARCEIROS,
residencial e, posteriormente, querendo, O QUE ENSEJA O IMEDIATO
incorporarem essa modificação à Convenção DESCADASTRAMENTO DA PLATAFORMA. DE
do Condomínio.10. Recurso especial OUTRO LADO, O AUTOR-APELANTE NÃO
desprovido. PRODUZ PROVA ALGUMA SOBRE VÍCIO DE
(REsp n. 1.819.075/RS, relator Ministro Luis FORMA OU ILICITUDE MATERIAL NA
Felipe Salomão, relator para acórdão CONDUTA IMPUTADA À RÉ-APELADA,
NOMEADAMENTE QUANTO AO

158
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

DESCADASTRAMENTO DELE COMO MUCELIN, Guilherme. Peers Inc.: a nova


estrutura da relação de consumo na
MOTORISTA DE APLICATIVO DA
economia do compartilhamento. Revista de
PLATAFORMA DIGITAL DA EMPRESA. 3. Direito do Consumidor. vol. 118. ano 27. p.
77-126. São Paulo: Ed. RT, jul.-ago. 2018.
IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS DEDUZIDOS
PELO AUTOR, DE REATIVAÇÃO DO SEU MUCELIN, Guilherme. Conexão online e
hiperconfiança [livro eletrônico]: os players
CADASTRO COMO MOTORISTA, BEM ASSIM
da economia do compartilhamento e o
DE CONDENAÇÃO DA RÉ AO PAGAMENTO Direito do Consumidor. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2020.
DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.4. VERBA
HONORÁRIA SUCUMBENCIAL
MAJORADA.RECURSO DESPROVIDO.M/AC
5.578 – S 23.09.2021 – P 23(TJRS, Apelação
Cível, Nº 50238668920208210001, Décima
Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello,
Julgado em: 23-09-2021)

Referências – Obras consultadas

BASSANI, Matheus Linck. A proteção do


prossumidor na geração distribuída de
energia elétrica. Porto Alegre, 2019. 227 f.

Tese (Doutorado em Direito) – Universidade


Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de
Direito, Programa de Pós-Graduação em
Direito, Porto Alegre, 2019. p. 194).

MARQUES, Claudia Lima. Contratos de


serviços em tempos digitais [livro
eletrônico]: contribuição para uma nova
teoria geral dos serviços e princípios de
proteção dos consumidores. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2021.

MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do


Consumidor. 8. ed. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2019.

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