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Coordenadores:

Arnaldo Rizzardo Filho


Christiane Baladão
Alexandre Torres Petry

Autores:
Arnaldo Rizzardo Filho
Christiane Baladão
Cristiane de Mello Mascarenhas
Eduarda Jade Stumer Santos
Eduardo Teixeira Farah
Eva Motta
Fátima Cabeleira Almeida Zucchetto
Laura Schroder Feijó
Lucas Uster
Matheus da Silva Pitaméia
Renata Pozzi Kretzmann
Rosângela Souza de Souza
Sandy Danielle da Silva Fernandes
Víctor Villamil Ferreira
Vitor Luís Botton
Vitória de Bona

CADERNO DE RESUMOS DO GRUPO DE ESTUDOS DE REDES


CONTRATUAIS E ESTRUTURAS DE PLATAFORMA

Porto Alegre, 2022


Copyright © 2022 by Ordem dos Advogados do Brasil
Todos os direitos reservados

Coordenadores
Arnaldo Rizzardo Filho
Christiane Baladão
Alexandre Torres Petry

C129

Caderno de resumos do grupo de estudos redes contratuais e


estruturas de plataforma [recurso eletrônico]. /Arnaldo
Rizzardo Filho, Christiane Baladão. (Coord).2.ed. -Porto Alegre:
OABRS, 2022.122.

ISBN: 978-65-88371-19-0

1. Contratos. 2. Redes contratuais. 3. Estrutura de plataformas I.


Rizzardo Filho, Arnando. II. Baladão, Christiane. III. Escola
Superior de Advocacia/OABRS.

CDU: 347.44
Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10ª/1517

A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos


assinados, são de responsabilidade dos seus autores.

Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul


Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico
CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS
SUMÁRIO

PREFÁCIO........................................................................................................................... 6

À EDIÇÃO DE 2021 – 1º SEMESTRE .................................................................................... 7

À EDIÇÃO DE 2022 1º SEMESTRE ....................................................................................... 8

PLATAFORMAS DIGITAIS ................................................................................................................ 9

CHRIS BALADÃO................................................................................................................. 9

SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES .......................................................................... 11

LUCAS USTER ................................................................................................................... 14

EVA MOTTA ..................................................................................................................... 17

TEORIA ORGANIZACIONAL .......................................................................................................... 21

CHRISTIANE BALADÃO ..................................................................................................... 21

EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................... 24

FÁTIMA CABELEIRA ALMEIDA ZUCCHETTO ...................................................................... 29

VITOR LUÍS BOTTON ........................................................................................................ 33

EVA MOTTA ..................................................................................................................... 38

CRISTIANE DE MELLO MASCARENHAS ............................................................................. 42

ROSÂNGELA SOUZA DE SOUZA ........................................................................................ 46

ECONOMIA .......................................................................................................................................... 49

LAURA SCHROEDER FEIJÓ ................................................................................................ 49

ROSÂNGELA SOUZA DE SOUZA ........................................................................................ 52

EVA MOTTA ..................................................................................................................... 57

EDUARDO TEIXEIRA FARAH.............................................................................................. 60

MATHEUS DA SILVA PITAMÉIA......................................................................................... 66

DIREITO ............................................................................................................................................. 69
EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................... 69

LAURA SCHROEDER FEIJÓ ................................................................................................ 78

SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES .......................................................................... 84

LAURA SCHRODER FEIJÓ .................................................................................................. 88

VÍCTOR VILLAMIL FERREIRA ............................................................................................. 90

SOCIOLOGIA..................................................................................................................................... 96

ARNALDO RIZZARDO FILHO ............................................................................................. 96

SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES ........................................................................ 100

EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................. 105

VITÓRIA DE BONA .......................................................................................................... 111

PALESTRAS ..................................................................................................................................... 115

RENATA POZZI KRETZMANN .......................................................................................... 115


Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

PREFÁCIO pela notável contribuição para o


aperfeiçoamento da advocacia e para a
Honra-me os autores com convite de evolução da Ciência do Direito que tive o
prefaciar a segunda edição do Caderno de orgulho de testemunhar como Diretora de
Resumos do Grupo de Estudos Rede Cursos Permanentes da ESA/RS nesta e na
Contratuais e Estrutura de Plataforma, gestão anterior.
resultado das investigações desenvolvidas
Aos leitores e às leitoras, desejamos uma
no Grupo de Estudos Redes Contratuais da
boa e profícua leitura e que esta obra sirva
Escola Superior da Advocacia do Rio Grande
de inspiração para o debate acerca do
do Sul e da Comissão da Jovem Advocacia.
fenômeno da organização contratual em
Este livro reflete o trabalho comprometido e formato de rede que o Grupo de Estudos
competente dos moderadores dos Grupos Redes Contratuais, conduzido pelo brilhante
de Estudos, atividade esta que proporciona advogado Arnaldo Rizzardo Filho, desde o
à advocacia gaúcha o diálogo e a construção ano de 2021, nos convida a “parar, respirar,
de pontes de conhecimento. Por oportuno, observar a sociedade científica a sua volta, e
há que se destacar o papel dos moderadores entender que existem sentidos congruentes
no enfrentamento dos diversos obstáculos em diversas perspectivas sociais”.
no período de pandemia da COVID-19 para a
continuidade das atividades dos Grupos de Porto Alegre, setembro de 2022.
Estudos. Em um momento de extrema crise,
o trabalho sério e dedicado dos advogados e Fernanda Corrêa Osorio
das advogadas na condução dos Grupos de Diretora de Cursos Permanentes da ESA-
OAB/RS
Estudos, oportunizou a participação de
5.277 pessoas nos encontros virtuais e a
promoção de importantes reflexões acerca
dos novos desafios que se apresentam para
a advocacia.

Aos colegas, Arnaldo Rizzardo Filho,


Alexandre Torres Petry e Christiane Baladão,
organizadores deste e-book, registro a
minha admiração e o meu agradecimento
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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

APRESENTAÇÃO compreensão de ferramenta de estratégia,


À EDIÇÃO DE 2021 – 1º SEMESTRE as formas de constituição/construção, os
mecanismos de gestão e de governança,

O Grupo de Estudos de Redes Contratuais na dentre outros temas que são de relevância

Escola Superior da Advocacia da Ordem dos para o Direito.

Advogados do Brasil – Subseção Rio Grande O Grupo busca a interseccionalidade entre

do Sul começou seus encontros no segundo as mais diversas teorias de diversas ciências

semestre de 2021, com o intuito de estudar que tratam das redes contratuais.

o fenômeno da organização contratual em Entendemos que o Direito, ou melhor, os

formato de rede. No Grupo participam operadores do Direito devem parar, respirar,

pesquisadores, profissionais da área do observar a sociedade científica em sua volta,

direito, estudantes de graduação e pós e entender que existem sentidos

graduação. congruentes em diversas perspectivas

A partir do Curso de Redes Contratuais sociais. Deve-se tirar a venda dos olhos de

(quarta edição ocorreu em 2021) e do Themis, afinal de contas, ninguém sabe ao

número considerável de inscritos, e tendo certo porque lhe vendaram.

em vista as discussões realizadas nas aulas, A cada encontro realizado, integrantes do

mostrou-se necessário a continuidade mais Grupo apresentaram textos e construíram

aprofundada dos temas multidisciplinares resumo dos mesmos. Esses resumos são aqui

do Curso, que abrange Teoria Organizacional apresentados para aqueles que trabalham

(Administração de Empresas), Sociologia, ou estudam as redes possam, de forma

Economia e Direito. célere, pesquisar temas correlatos de seu

Os interessados e o coordenador interesse. Este caderno, portanto, almeja ser

organizaram seminários e discutiram as apenas um “catálogo de resumos”,

primeiras teses e estudos sobre a origem das interdisciplinar, de literaturas que tratam

redes, as motivações, as justificativas de das redes, para que sirva de apoio ao início

décadas atrás e que estão em consenso com de uma compreensão mais profunda sobre

o tempo atual, o conceito das redes, a as redes contratuais, tanto em termos

diversidade da terminologia (redes de profissionais quanto em termos acadêmicos.

cooperação, redes interorganizacionais,


redes de negócios, redes contratuais), a

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

APRESENTAÇÃO crescimento orgânico e celular, onde replicar


À EDIÇÃO DE 2022 1º SEMESTRE é estratégia, é unificação de propósitos e
interesses. Por meio do
O Grupo de Estudos de Redes Contratuais na associativismo/cooperação, colaboração e
Escola Superior da Advocacia da Ordem dos coordenação empresarial, uma modalidade
Advogados do Brasil – Subseção Rio Grande estratégica de exponencializar qualquer tipo
do Sul foi aberto no segundo semestre de de negócio.
2021, com o intuito de estudar o fenômeno Por tratar-se de tema que pode ser
da organização contratual em formato de amplamente discutido por várias ciências, os
rede. participantes a partir de textos selecionados
A partir do curso de Redes Contratuais e do em que versavam sobre os conceitos,
número de inscritos, considerando as teorias, motivações, fundamentos das redes
discussões que foram realizadas nas aulas, contratuais, complementaram-se com
os interessados na continuidade dos estudos estudos envolvendo os atuais modelos de
e demais participantes, já estão na terceira negócio em Economia compartilhada,
edição do Grupo, agora coordenados pelo Economia colaborativa, Relações negociais
Professor Arnaldo Rizzardo Junior e pela estabelecidas de forma individual, Drivers do
advogada Christiane Baladão. Consumo Colaborativo,
Em uma abordagem atualizada e Crowd Companies e Crowdsourcing.
interseccional, as discussões e os estudos Dos textos discutidos, os participantes
geraram a elaboração de artigos pelos apresentaram os resumos que são aqui
participantes, que abrange a Teoria apresentados para aqueles que trabalham
Organizacional (Administração de ou estudam as redes com intuito de ampliar
Empresas), Sociologia, Economia e Direito, o entendimento e a compreensão sobre o
contemplando ainda análise sobre novos tema.
modelos de negócios.
Formatação de negócios em rede significa
pensar no modelo de negócio de cada rede a
partir dos ativos específicos que pretende
explorar e a consequente estruturação
instrumental da rede. Um modelo de

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

distribuída com coordenação em tempo real.


Estamos falando da inteligência e dos
PLATAFORMAS mecanismos que surgiram a partir da
DIGITAIS inteligência tecnológica advinda da Web 2.0,
que compreende a segunda geração de
comunidades e serviços a partir da internet,
Organizações Autônomas Descentralizadas termo popularizado a partir de 2004 pela
(DAOs) empresa americana O'Reilly Media.
Chris Baladão1 Desenvolver soluções de maneira
compartilhada como soma das capacidades
GUIMARÃES, Alysson. Inteligencia Coletiva, DAOs e individuais, a partir da inteligência coletiva e
Teoria Ator-rede.
da acessibilidade ilimitada que os pares, as

“A importância das redes está na capacidade de partes, os indivíduos passam a ter, por fim,
ampliar o poder de ferramentas humanas culturais
uma condução consensual, pressupondo
relacionadas à sociabilidade, economia e a política
(MARGOTO e FERNANDES, 2015)2” sempre que esses indivíduos e esses agentes

Conceituar, colocar em definição, pretendem essa auto-gestão.

determinar os limites é a forma mais Amparada na capacidade distribuída das

pragmática de conseguirmos configurar uma informações que se apresenta a inteligência

compreensão sobre determinado tema, coletiva, é pela cadeia de blocos -

estratégia está identificada neste texto que Blockchain- que as DAOS - Organizações

aborda as semelhanças e as conexões entre Autonomas Descentralizadas estão em

os estudos sobre um tema tão atual que são ferramenta estabelecidas. Uma série de

as Organizações Autônomas blocos encadeados que formam um registro

Descentralizadas. de histórico, chaves públicas e privadas que

Uma nova forma de organização autogerida permitem a permanência de um registro

e autônoma mantida por práticas de público. “Um grande livro contábil, público e

inteligência coletiva, frameworks descentralizado, onde constam de forma

organizacionais a partir de inteligência

1 2
MARGOTO, Julia B.; FERNANDES, Jorge H. C..
Advogada. Formada em Direito pela PUCRS em 2006.
Especialista em Direito e Processo do Trabalho e Inteligência coletiva, redes sociais e capital social: em
cursou especialização de Gestão em Tributos e busca de conexões conceituais. Encontros Bibli:
Planejamento Tributário pela mesma universidade. revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da
informação, v. 20, n. 42, p. 93–108, jan. /abr., 2015
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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

imutável o registro de todas as operações implementados para a estrutura e para a


ocorridas na rede”3 operação da organização (on-chain e off-
A evolução da adoção das práticas em cadeia chain), onde toda a tomada de decisão se
de blocos implicou na formação das DAOS - dará coletivamente.
Organizações Autônomas Descentralizadas O voto aqui é tangibilizado pelo token de
que, portanto, ocorrem e são identificadas governança, primando por uma perspectiva
tão somente no mundo virtual, na internet. de negócios em que o consenso é intrínseco
Estes registros auto executáveis, que ao negócio em si, a partir de mecanismos
decorrem de prévias regras estabelecidas a centralizados de confiança. E nesse sentido,
partir de um pensar sobre o que vai a Teoria ator-rede aborda a forma de evitar
desencadear a formação da ação a hierarquia de agentes, de atores, de
subsequente, há uma auto regulação ajustes que evitem protagonismos,
constante. primando pelo agir em conjunto, em rede. E
Por protocolos, comandos automáticos - os para tanto tem-se a figura do “assemblages”,
contratos inteligentes, onde as ações são redes de influência compreendida a partir da
praticadas a partir de mecanismos de identidade de causa de cada um dos
consenso, uma assembleia é estabelecida. integrantes, pois as ferramentas
Sim, a lógica da tecnologia aqui discutida estabelecidas por esta teoria está vinculada
pode ser facilmente compreendida pela nas maneiras, motivos e circunstâncias que
configuração desse instituto jurídico atores e organizações se assemelham, ou
encontrado em entidades coletivas, órgão seja, efeito ou consequência que, a partir das
que compreende a reunião de pessoas que Organizações Autônomas Descentralizadas -
têm algum interesse comum, com a DAOS, são as propriedades algorítmicas que
finalidade de discutir e deliberar sobre correspondem a capacidade de influência.
temas determinados. Por consequência as Organizações
A partir de um token, uma tecnologia Autônomas Descentralizadas- DAO são as
criptografada que contém em si um poder, redes de influências, o próprio assemblage,
um comando, para completar uma com atores humanos e não humanos, aptos
determinada tarefa, com regras e processos

3
RODRIGUES, Carlos Alexandre. Blockchain e
Criptomoedas. 2. ed.rev - Salvador: EDjusPodivm,
2021, p.26.
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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

e interessados em, coletivamente, alinhar Sandy Danielle da Silva Fernandes4


soluções para problemas comuns.
CAMPOS, César Cunha et al. Cidades Sustentáveis.
Em inicial experimentação e em aplicação
FGV Projetos, 2018. Modelos de negócio em
muito pontual, já encontram-se registros da economia colaborativa: estruturas e impactos no
âmbito das cidades, Rossana Pavinelli.
aplicação das Organizações Autônomas
Descentralizadas- DAO, a maioria aplicada
Economia colaborativa é o contexto que
em serviços financeiros descentralizados,
propiciou o crescimento e popularização das
mas que podem ser identificados em
redes colaborativas: trata-se, muito além de
coletivos de desenvolvedores, de
um novo modelo econômico, de um modelo
trabalhadores, de arte, de comunicação e de
de negócios onde as estruturas de rede
entretenimento.
formam a base deste, tendo inovação,
O que se pretende, por fim, é identificar
tecnologia e capacidade operacional
novas formas de relacionamento e de gestão
excedente como fundamentos principais
de negócios, novas alternativas amparadas
para sua realização. Primeiramente deve-se
no ciberespaço, em que a resolução e oferta
explicar que economia colaborativa não é
tem a inteligência coletiva como
um conceito exatamente novo, pode-se
instrumento, ou seja, ampliar os estudos, as
dizer que ele existe desde que trocas e
análises e as discussões para além da
compartilhamentos de bens e serviços são
tecnologia em si, mas para as implicações
realizados dentro de uma rede de confiança.
sociais da sua adoção.
O artigo aborda a economia colaborativa
com o contexto tecnológico e seu impacto
________________________
por meio da tecnologia.
A autora demonstra como inovação e
colaboração andam lado a lado para causar
disrupção no mercado, focando
principalmente na sustentabilidade e no
consumo racional. A inovação é uma das
principais engrenagens que move a

4
Advogada, Bacharel em Direito pela Universidade da em Direito Tributário pela Pontifícia Universidad
Região da Campanha - URCAMP, campus Santana do Católica de Santa Maria de Buenos Aires; Pós-
Livramento; Pós-graduada em Direito e Planejamento graduanda em Advocacia Corporativa pela Fundação
Tributário pela Universidade Estácio de Sá; Mestranda do Ministério Público.
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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

economia, sendo ela sempre o fator essas disrupções sejam mais fáceis de serem
principal do aprimoramento de alcançadas. Negócios que são realizados
performances e resultados. Joseph pelo modelo da economia compartilhada
Schumpeter tratava-a em dois formatos: a geralmente se debruçam em cima de dois
incremental, referindo-se à melhoria em grandes apelos dos consumidores: a
processos; e a radical, referindo-se ao sustentabilidade e o consumo racional. Por
rompimento dos limites aos quais a inovação conta dessas preocupações dos
incremental se encontra, ocasionando o que consumidores, abre-se espaço para negócios
chama de disrupção criativa. A inovação não mais sustentáveis, utilizando-se da
refere-se apenas a inserção de um novo capacidade excedente disponível. Por conta
produto ou serviço no mercado, mas de sua estrutura e organização, as redes
também a novos ou melhorados processos facilitam que esses apelos se tornem mais
ou métodos ou práticas de negócios, desde acessíveis, tanto para empresas quanto para
que causem algum tipo de disrupção no consumidores.
mercado. Um ótimo exemplo disso está na plataforma
Como exemplo dos modelos colaborativos brasileira "Tem Açúcar?", onde se oferece
focados na ideia de open inovation, a autora um espaço para vizinhos se aproximarem e
traz os processos de inovação ou de realizarem empréstimos e trocas de bens de
produção, realizados a partir de colaboração uso doméstico, sem a necessidade de
externa, muito comum nas áreas desembolso financeiro para tanto. Como
tecnológicas, como é o caso da IBM (que muito bem questiona a autora: "para que
incentiva competições com o escopo de comprar uma furadeira se o uso por ano será
identificar novas soluções para seus de apenas alguns minutos?".
produtos, abrindo seus laboratórios para A estrutura das redes também permite que
usuários e programadores), e da Linux (que a governança das organizações inseridas em
revolucionou o mundo tecnológico ao abrir determinada rede seja diferente daquela de
seu código de software e criar um ambiente organizações mais tradicionais: nas
colaborativo entre usuários). organizações tradicionais o objetivo
A colaboração facilita a troca de principal é o lucro, e as interações internas
conhecimento e de inovação, e por conta são baseadas em relações hierárquicas; já
disso, a estrutura das redes propicia que nas redes o lucro não é exatamente o

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

principal objetivo, podendo muitas vezes de transporte fragmentada em serviços de


estar voltado para os ganhos de eficiência ou mobilidade e compartilhamento de veículos
de escala, ou também na competitividade, e a de saúde e bem-estar subdividida em
que posteriormente será revertido em lucro saúde e em bem-estar e beleza, análise de
para todas as empresas dentro desta rede. dados e reputação e o suporte ao
Além disso, os custos de operação podem empreendedor. Isso demonstra como
ser diminuídos, uma vez que a estrutura das progressivamente tem havido um
redes facilita a operacionalização do crescimento de empresas abraçando a
modelo. estrutura de redes para trazer inovações
Jeremiah Owyang trouxe o conceito voltadas para diversos segmentos da
Honeycomb Grafic, uma colmeia sociedade.
colaborativa para representar um conselho Por último, a autora traz novas categorias
de inovação, tendo dentro desta colmeia para a classificação de modelos de negócios
grandes nomes que operam em modelo de em economia colaborativa. Primeiramente
rede. Essas empresas trazem motivações ela traz compartilhamentos e colaborações
sociais (como sustentabilidade, aumento via pagamento pelo acesso ou pelo uso,
populacional e contato social), motivações nessa categoria encontramos apps mais
econômicas (como financiamento de populares e conhecidos pelos usuários como
startups e recursos inexplorados) e Uber, AirBnb, TruckPad, entre outros. Nesta
capacitadores tecnológicos (como categoria o usuário não possui posse do bem
tecnologias móveis, redes sociais e internet ou serviço oferecido, ele terá apenas o
das coisas) como suas principais técnicas acesso e por ele pagará.
aplicadas aos seus negócios. Na primeira Na segunda categoria traz-se
edição, a Honeycomb indicava-se empresas compartilhamentos e colaborações com
nos setores de transporte, espaço, serviços, custo marginal zero ou próximo de zero,
alimentação, bens de consumo e dinheiro; onde não há uma troca financeira
na segunda edição acrescentou-se os propriamente entre os usuários, mas o lucro
setores de saúde e bem-estar, logística, provém de patrocinadores e da
corporações, utilidades, municípios e comercialização de ações e de espaços
educação; e por fim, na terceira e mais atual publicitários dentro do app. Os exemplos
edição acrescentou-se também os setores que a autora traz são as plataformas Tem

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Açúcar? Waze, e as redes sociais Facebook e de confiança, com fornecedores e


YouTube. Nessa categoria, não há um usuários/clientes; qualidade e agilidade.
incentivo propriamente para as trocas
financeiras, mas sim a ideia de oferecer uma
plataforma para aproximar o ______________________________

compartilhamento entre pessoas.


Na terceira categoria traz-se
compartilhamentos e colaborações para Lucas Uster5
contribuição a questões específicas, com a Panorama das plataformas digitais de consumo
colaborativo no Brasil: uma análise descritiva.
possibilidade de remuneração ou não. Esse Bibiana Giudice da Silva Cezar. Marina Valim
modelo se refere a produção compartilhada Bandeira. Kathiane Benedetti Corso. Filipe Mello
Dorneles. Matheus de Mello Barcellos.
e identificação de soluções, como é o caso
por exemplo da Natura que tem incentivado
Considerações iniciais
o estabelecimento de trocas por meio de
competições e ciclos de inovação, trazendo O artigo consolida o levantamento realizado
diversos representantes da sociedade de pelos autores acerca das plataformas digitais
maneira a impulsionar a produtividade e a de consumo colaborativo no Brasil. Os dados
inovação. foram extraídos do site Consumo
Todas essas categorias trazem fatores Colaborativo
críticos de sucesso em comum por conta do (https://consumocolaborativo.cc/), sendo o
seu modelo, apesar de operarem de intuito apresentar a caracterização das
maneiras diversas, podemos citar: operação plataformas digitais existentes no Brasil,
em rede; baixos custos de entrada; suas categorias e frequência de aparição.
apropriação da chamada capacidade
Consumo colaborativo
operacional excedente; ampliação do
acesso, seja a bens, serviços ou ao A internet trouxe, como benefício, o
conhecimento; estabelecimento de relação comportamento do compartilhamento. As

5
Advogado. Mestre em Direito Civil e Empresarial Legaltechs (AB2L), Membro da Associação Nacional
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul dos Profissionais de Privacidade de Dados (ANPPD),
(UFRGS), Bacharel em Direito pela Universidade Ex-técnico judiciário no Tribunal de Justiça do Rio
Federal do Rio Grande do Sul, Pós-graduado em Grande do Sul, Ex-Chefe de Serviço na Secretaria de
Direito da Proteção de Dados (LGPD) pela Legale, Pós- Recursos Especiais e Extraordinários no Tribunal de
graduado em Direito Empresarial pela Legale, Justiça do Rio Grande do Sul.
Membro da Associação Brasileira de Lawtechs e
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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

pessoas estão diariamente compartilhando É importante destacar que, embora o estudo


coisas. tenha analisado apenas plataformas do tipo
A prática do consumo colaborativo ajuda a site e aplicativo, existem outros tipos de
ampliar a vida útil dos produtos. Um plataformas digitais, tais como grupos e
exemplo de consumo colaborativo é quando páginas de redes sociais virtuais e blogs.
um comprador usa um produto e, após, Contudo, em razão da dificuldade em
disponibiliza-o para que outras pessoas mapear todas essas plataformas, o estudo
possam comprá-lo. focou em analisar aquelas já levantadas e
Outra característica do consumo disponíveis no site Consumo Colaborativo.
colaborativo é que os produtos, ao serem
vendidos, não são considerados meramente Nacionalidade das plataformas digitais e
atividades no Brasil das plataformas
“produtos usados”, que ninguém mais quer,
internacionais
mas sim “produtos de segunda mão” que
podem ser adquiridos por outra pessoa a um Das 111 plataformas digitais de consumo
preço mais acessível. colaborativo que foram identificadas, 76 são
nacionais e 35 são internacionais. Ainda, das
Plataformas digitais
35 internacionais, 28 operam no Brasil.
A popularização dos websites ocorreu ao Constata-se que o Brasil está acompanhando
final da década de 90, em que as pessoas a tendência mundial de consumo
buscavam entretenimento e interação em colaborativo e transformando o modo de
redes sociais virtuais. Nas últimas décadas, consumir e fazer negócios.
os smartphones colaboraram para a
evolução e crescimento do uso das Tipos de plataformas digitais

plataformas, principalmente em razão das Existem diversos tipos de plataformas


possibilidades trazidas pelos aplicativos. digitais. Contudo, o artigo priorizou dois
O grande fator que gerou a expansão dos tipos: os aplicativos e os sites.
aplicativos foi o surgimento das “lojas de Foi identificado que, das 104 plataformas
aplicativos”, local em que é possível realizar observadas, 69 atuam por meio de site e 34
o download de diversos aplicativos por meio de aplicativo móvel. Porém, tem
centralizados em um único local. sido percebido o crescimento da concepção
de aplicativos em detrimento de sites.

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Sistemas de consumo colaborativo O Sistema de Serviços de Produto


compreende uma mentalidade de uso que
O consumo colaborativo pode ser dividido
prioriza o pagamento pelo benefício do
em três sistemas:
produto em si, e não por possuí-lo. Em
a) Sistema de Serviços de Produto;
outras palavras, o consumidor paga pela
b) Mercados de Redistribuição;
utilização do produto sem que precise
c) Estilos de Vida Colaborativos.
adquiri-lo.
Das 104 plataformas observadas, 65% são de
Alguns exemplos são: aluguel de brinquedos
Estilos de Vida Colaborativos, 18% de
infantis, aluguel de objetos de moda e
Sistemas de Serviços de Produto e 17% de
acessórios, aluguel entre pares e
Mercados de Redistribuição.
compartilhamento de automóveis.

Categorias de consumo colaborativo


Mercado de redistribuição

Há diferentes categorias de consumo


Consiste na forma de consumo colaborativo
colaborativo abrangidas pelos sistemas de
baseada na venda ou troca de produtos que
consumo colaborativo.
não são mais utilizados por alguns, porém
Das 30 categorias utilizadas segundo
que podem ser utilizados por outros.
Botsman e Rogers, foram identificadas 16
Essa forma de consumo colaborativo
delas entre as plataformas de consumo
colabora para a reutilização dos produtos,
colaborativo analisadas. Ainda, os autores
reduzindo o desperdício e o consumismo.
acrescentaram 9 categorias e 38
Alguns exemplos são: plataformas de
subcategorias.
brechó, sites de troca de livros, sites de troca
Os autores apresentam o quadro de
de brinquedos infantis.
distribuição das categorias, sendo
observado que as principais categorias são
Estilos de vida colaborativos
as de crowdfunding, aluguel entre pares,
mapeamento colaborativo, crowdsourcing e Consiste na forma de consumo colaborativo
troca livre. em que não são trocados somente bens
tangíveis, mas também ativos intangíveis. As
Categorias de consumo colaborativo do
pessoas com interesses semelhantes
Sistema de Serviços de Produto
procuram dividir e trocar ativos intangíveis
como tempo, espaço, habilidades e dinheiro.
16
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Alguns exemplos são: plataformas de Vêm, a princípio, para facilitar a vida das
crowdfunding, plataformas de mapeamento pessoas. Entretanto, também traz
colaborativo, plataformas de crowdsourcing desconforto, ansiedade e angústia, na
e espaços de coworking. medida da impossibilidade de se
acompanhar todas as mudanças.
Considerações finais A quarta revolução industrial é um amplo
sistema de tecnologias avançadas como
A maior parte das plataformas digitais
inteligência artificial, robótica, internet das
analisadas é do tipo website (sem aplicativo)
coisas e computação em nuvem que estão
e pertencente ao sistema de Estilos de Vida
alterando formas de produção/trabalho e os
Colaborativos. As plataformas digitais estão
modelos de negócios no Brasil e no mundo.
revelando um novo perfil de consumidor: o
Neste contexto, estão as PLATAFORMAS
consumidor que busca a responsabilidade
DIGITAIS, que possibilitaram o surgimento
do consumo consciente. Ainda, constatou-se
do mercado virtual, marketplace ou e-
que o consumo colaborativo no Brasil por
commerce, muitas vezes formatado como
meio de plataformas digitais está
REDES CONTRATUAIS. Estas, por sua vez,
aumentando.
inovam também na forma de ADMINISTRAR,
alterando conceitos:

_________________________________
DE PARA
COMPETIÇÃO COLABORAÇÃO
Eva Motta6 INDIVIDUALISMO COLETIVISMO

TAPSCOTT, Don; WILLIAMS, Anthony D. Plataformas


Nessa configuração, em rede, cujos
para Participação. In: Wikinomics: como a
colaboração em massa pode mudar o seu negócio. participantes são muitos, coletivismo, é
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
necessária uma COORDENAÇÃO, que fixará
regras que disciplinarão estas relações. Em
NELE, vemos e sentimos a velocidade das
especial, no que se refere a ética, confiança,
inovações, impulsionadas pelo
respeito, comportamento, bem como
desenvolvimento de novas tecnologias.

6
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional-
IMED e graduada em Ciências Contábeis pela UFRGS.
17
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

manutenção, padronização de critérios de O que difere uma da outra é o alto


qualidade de produtos e serviços. comissionamento para o controlador da
As PLATAFORMAS DIGITAIS são modelos de REDE.
negócios que muitas vezes estão formatados O compartilhamento acontece através de
como REDES CONTRATUAIS. Na economia, a um software chamado Peer to Peer (ponta a
expressão é utilizada para representar a ponta)
organização entre indivíduos com interesses Peers-to-peers representa uma arquitetura
semelhantes que interagem, normalmente de redes de computadores onde cada um
por meio de plataformas on-line, sem a dos pontos ou nós da rede funcionam tanto
presença de tradicionais intermediários do como cliente quanto como servidor,
mercado. Não há entre os envolvidos vínculo permitindo compartilhamentos de serviços e
societário e/ou empregatício. dados sem a necessidade de um servidor
Nova configuração de negócios que são os central.
pilares da Economia Moderna e da Economia Peer-to Peer lending – (plataforma de
Contemporânea. empréstimo e financiamento coletivo), a
As PLATAFORMAS, também são chamadas primeira em 2005, na Inglaterra7.
de ECONOMIA DE COMPARTILHAMENTO. Para Abramovay 2014, o compartilhamento
Compartilhar o que já existe e está sendo econômico descentraliza as relações
subutilizado, diminuindo custos e contratuais, reduz os custos de transação e
alavancando negócios. Pela tecnologia de implica em relacionamento de confiança.
informação conseguem compartilhar as No Brasil, foram reguladas:
capacidades excedentes de produtos e Pelo Banco Central – Resoluções 4656 e
serviços. Ocorre uma horizontalização das 4657/2018.
relações contratuais. Fintechs são empresas que introduzem
As plataformas podem ser: inovações nos mercados financeiros por
VERTICAIS HORIZONTAIS meio do uso intenso de tecnologia, com
FRANQUIAS ASSOCIAÇÃO
potencial para criar novos modelos de
COMERCIAL
negócios. Atuam por meio de plataformas
peers to peers – UBER peers inc - REDEMAC
online e oferecem serviços digitais

7
RIZZARDO Filho, Arnaldo, Curso de Redes
Contratuais, Livraria do Advogado, 2022, p.147
18
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

inovadores relacionados ao setor. A O conteúdo usado em mashups é


Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a tipicamente código de terceiros através de
Sociedade de Empréstimo entre Pessoas uma interface pública ou de uma API.
(SEP), cujas operações constarão do Sistema API Application Programming Interface
de Informações de Créditos (SCR). (Interface de Programação de Aplicações).
Um tipo de ponte que conectam aplicações,
Pela CVM – Instrução nº588/2017 podendo ser utilizadas para os mais variados
tipos de negócio.
Regulamenta o crowdfunding de Aplicativos e softwares de diversos tipos são
investimento (oferta pública de valores apenas passíveis de construção por meio dos
mobiliários) em sociedades empresárias de padrões e especificações disponibilizados
pequeno porte para captações públicas de pelas APIS.
até 5milhões. Negócio formatado como Depois de ter se popularizado este conceito,
peer-to-peer lending precisa ocorrer por muitos MASHUPS semelhantes eram
meio de plataformas que passaram pelo apresentados diariamente.
processo de autorização junto a CVM. Os mashups com o google, por exemplo,
Este software, surgiu da necessidade de um surgiram para fazer qualquer coisa, desde
cidadão Americano, conciliar a procura de identificar a localização de cenas de crimes
um imóvel com sua localização. até identificar casas de celebridades.
Criou um aplicativo Housingmaps, Assim, estavam entrando em um mundo
(combinou serviço online Craigslist com o onde grandes plataformas abertas para
serviço de mapas do Google) que foi um dos participação servem de base para que
primeiros mashups da web. Para grandes comunidades de parceiros possam
especialistas da área tarefa pouco inovar e criar valor. Expandir seus negócios
complicada. sem precisar aumentar seus custos.
Mashups – é um site personalizado ou Uma plataforma pode ser um serviço de
aplicação web que usa conteúdo de mais de Internet como o google maps, ou como no
uma fonte para criar um novo serviço caso da Amazon, pode incluir um sistema de
completo. (definição Google). comércio eletrônico para armazenar,
comprar e distribuir bens. As empresas
alavancam as plataformas, para parcerias

19
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

com programadores que criam aplicativos 650mil no site www.katrinalist.net. Mais de


para agregar valor. Chamados de um milhão de buscas foram realizadas após
ecossistemas de programadores – redes de o furacão. O notável é que a execução do
parcerias de negócios criadas quando uma projeto People Finder poderia ter exigido do
empresa abre seus serviços de software e estado um vultoso orçamento anual ou até
seus bancos de dados através de uma mais. Porém, o grupo People Finder se
Interface de Programação de Aplicativos reuniu para executá-lo em quatro dias sem
(API). A exemplo, o upload de 40% dos bens custo algum para os contribuintes. Foi a
no eBay agora é feito a partir de sistemas de colaboração em massa das Plataformas
estoque de lojas de terceiros que usam esse abertas, mostrando tudo que tem de
site como canal alternativo de vendas. melhor. Participaram três mil pessoas,
A Amazon permite que 140 mil ligeiramente coordenadas.
programadores externos de software De fato, enquanto a web permanecer
acessem seu banco de dados de produtos e aberta, a inovação prosseguirá de maneira
seus serviços de pagamento para criar suas espontânea.
próprias ofertas.
Dilemas das Plataformas
As plataformas abertas são a colaboração
em massa em ação. Os MASHUPS apresentam um problema
Quando ocorreu o furacão Katrina, foi criado sério porque não oferece proteção para os
um site/aplicativo para encontrar pessoas donos dos dados. O housingmaps era um
que se distanciaram, desapareceram. aplicativo de grande potencial. Entretanto,
Diversos sites foram feitos, mas não Rademacher, seu criador, recuou e aceitou
interagiam, enfim, era como se nada tivesse. um emprego no Google. Motivos: Não era o
Então, numa sexta-feira, David Geilhufe dono dos dados que alimentavam o
reuniu voluntários com bons conhecimentos aplicativo; corria o risco de sofrer ações
de Tecnologia para ordenar o caos. Começou legais do Cariglist por se apropriar de seus
a vasculhar diversos bancos de dados e dados.
Bulletin boards on-line usando processo O Google é uma empresa de liderança
automatizado “screen scraping”. Na noite global, repousa, em grande parte, em uma
de segunda-feira, 50 mil itens haviam sido abordagem aberta da inovação. O Google
processados até chegarem a um total de ficou fascinado com a aplicação do
Housingmaps – aquilo era publicidade e
20
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

protótipo de produto gratuitos. Os mashups


aumentam a visibilidade do Google.
Popularização:
As PLATAFORMAS vieram para democratizar TEORIA
o uso da INTERNET. Facilitam e desenvolvem
o MARKETPLACE, os negócios virtuais.
ORGANIZACIONAL
O Objetivo é permitir que ideias e energias
externas desenvolvam produtos inovadores Christiane Baladão8
que agreguem valor.
A BBC de Londres, que lançou suas próprias BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge Renato;
REYES JUNIOR, Edgar. O campo de estudo sobre
iniciativas de serviços de Internet. No seu redes de cooperação interorganizacional no Brasil.
projeto Backstage, convidou programadores Revista de Administração Contemporânea, v. 14, p.
458-477, 2010.
a criar novos modelos de serviços com base
nos feeds de seu conteúdo, como “A sociedade se constitui real ou
meteorologia, notícias e tráfego. formalmente a partir de indivíduos associais,
O lançamento do projeto foi em junho/2005, que devem ser “socializados”, isto é,
e quase cem novos serviços foram enviados constrangidos pela inculcação de
ao site Backstage. representações normativas a se
Nesse projeto, a BBC disponibilizou através comportarem de um modo determinado”
de Plataforma, para propósitos não Eduardo Viveiros de Castro - A inconstância
comerciais, o acesso a sua biblioteca da alma selvagem
televisiva, a maior do mundo. Resumo: O paper contempla a compreensão
Também a BBC organizou concursos nos sobre o texto “O Campo de Estudo sobre
quais os participantes eram estimulados a Redes de Cooperação Interorganizacional no
remixar conteúdos gerando novas criações Brasil” datado de 2010 que, com a aplicação
de mídia. de metodologia comparativa ao artigo
“Networking Network Studies: An Analysis of
Conceptual Configurations in the Study of

8 compartilhar conteúdo e conexões parae entre


Graduada em Direito pela PUC/RS, especialista em
Direito e Processo do Trabalho e Especialista em empreendedoras. Staff e colaboradora na produção
Gestão de Tributos e Planejamento Tributário pela do AFRO'NTALK'S, um talk show de entrevistas com
PUC/RS. Co-criadora do “Projeto Empodera”, que visa afroempreendedores, para inspirar e valorizar, um
ato de representatividade e de celebração.
21
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Inter-organizational Relationships”, de O que antecede a rede é a dor. Os estudos


Amalya L. Oliver and Mark Ebers datado de mostram que as redes são iniciadas a partir
1998, para reconhecer comportamentos, da escassez do mercado específico, da falta
semelhanças, vínculos, identidades nas de mão de obra qualificada, da insuficiência
redes de cooperação interorganizacional no de recursos básicos, como uma matéria
Brasil. prima específica. A partir dessa constatação
Aldeia pelos Terena de Buriti tem o sentido de não haver e em igualdade de hierarquia,
de uma rede dinâmica de relações sociais, colhendo aprendizagem e inovação a partir
histórica e espacialmente definidas dentro dessa conexão, conexão esta devidamente
de um mesmo território. E como aldeia, as elaborada, pensada, planejada, por grupos
redes de cooperação tem a capacidade de de organizações, com intenção de assim
“facilitar a realização de ações conjuntas e a estarem, parte-se desta escassez para
transação de recurso para alcançar objetivos abundância, designados, nomeados,
organizacionais”. reconhecidos.
Artigos científicos são instrumentos pelos E as vontades, que antecedentes seriam de
quais o autor, em análise, promove a escassez, durante as vantagens obtidas
discussão, apresenta determinado tema e, através das redes se sobressaem, em razão
por meio de métodos aplicados e resultados, desse movimento coletivo, já que uma
submete a comunidade científica a andorinha só não faz verão.
disseminação de determinado Os conceitos e apontamentos, este
conhecimento. E a partir destes artigos, o conhecimento e esta descrição fotográfica
autor trouxe fotografias, cenários com das redes foram extraídos da predominância
descritivo de tempo, de participantes e do de determinadas correntes teóricas
contexto, pois deste conhecimento encontradas nas pesquisas sobre redes de
disseminado foi possível identificarmos que, cooperação entre organizações, bem como
no Brasil, os seus indivíduos/atores exercem da tríade que estas redes são compostas.
o que predispostos estão geneticamente: à Tríade porque são identificados três
vida social, pois possuem harmonia de elementos, três dimensões, três análises que
interesses em decorrência da falta, de uma são realizadas para se compreender as redes
comum falta, de uma restrição da qual estes de cooperação:
indivíduos/atores não possuem. indivíduos/atores/antecedentes,

22
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

grupos/relação(elo)/processo e as das redes de cooperação, é comum na


organizações/rede/resultados (ganhos das maioria das discussões.
redes). Não há o que estranhar, porque se os
A partir destes conceitos quanto à estudos em sua maioria estão vinculados as
composição, cientificamente somos causas antecedentes, motivações e
tendenciosos aos porquês, já que os intenções das partes a se estabelecerem em
materiais examinados visam, em sua rede, a estratégia é abordada com
maioria, a compreensão sobre as razões, os frequência, “em compreender as redes mais
motivos, as vontades pelas quais as redes como estratégia das organizações para
foram realizadas, dando ênfase aos grupos competirem”, competitividade, agora
de organizações existentes, ou seja, coletiva, impactando positivamente nas
prepondera-se os estudos sobre as organizações.
motivações que levaram os indivíduos a se O texto destaca-se, ainda, a teoria
organizarem da forma que estão. institucional sobre as redes de cooperação,
É na perspectiva das razões pelas quais as que trata da teoria quanto ao
redes são constituídas que as pesquisas são reconhecimento, quanto ao vínculo de
em sua maioria tendenciosas, bem como na dependência por pertencimento a
intenção que há entre os atores, portanto, determinada rede e a teoria dos custos de
dentro da linha do tempo da rede, as redes transação, que são frequentemente
de cooperação interorganizacionais tem discutidas pelos autores científicos, bem
suas origens como foco. como a teoria das redes sociais, laços sociais
O porquê do sucesso, as razões de sucesso estabelecidos que poderão afetar a rede,
das redes, já que os estudos denotam que as afinal, somos a média das pessoas das quais
redes de cooperação interorganizacional no nos conectamos.
Brasil possuem maior capacidade de Pela natureza composta, interseccional e
resolução, de alcance dos objetivos pelos interdisciplinar a explicação do cenário das
quais constituídas. E por essa busca pelas redes de cooperação no Brasil torna-se mais
razões de êxito, a compreensão sobre as tangível a partir das principais correntes
ações coletivas e a maneira em que foram teóricas acima referidas, que não abarcam
mobilizadas para a obtenção do objetivo em só uma linha de conhecimento por si só mas
comum, ou seja, a teoria sobre as estratégias atestar o efetivo sucesso das redes, já que

23
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

possível mensurar a capacidade das redes de


converter os objetivos antecedentes, Eduarda Jade Stumer Santos9
partindo-se de uma ideia de fenômeno. TODEVA, Emanuela; KNOKE, David. Strategic
alliances and models of collaboration. Management
Fenômeno este amplamente estudado pela decision, 2005
maioria das universidades do sul do país,
cujos autores dos artigos estão vinculados a Introdução

instituições de ensino que por um período


A literatura internacional já reconheceu um
estiveram engajadas no Programa Redes de
número positivo de resultados para
Cooperação derivado de uma política
empresas ativamente engajadas em alianças
pública estatal que implicou na criação de
estratégicas, tais como aumento no capital,
mais de 200 redes de cooperação. A parceira
retorno em investimentos e taxas maiores
pública e privada nos anos 2000
de sucesso quando comparadas com
proporcionou à pesquisadores, mestrandos
integração através de fusões e aquisições.
e doutorando material consistente para
Aspectos gerais da literatura sobre a aliança
compreensão sobre.
estratégica são:
Fenômeno ou aldeia, as redes de
- Elencar as competências do parceiro;
cooperação interorganizacional do Brasil
- Pensar sobre o parceiro como o aliado do
ainda demandam de mais estudos científicos
dia de hoje;
sobre a sua existência, principalmente
- Compartilhar poder e recursos
atuais, diante da tecnologia, da internet das
(compartilhar informação de forma
coisas, da inteligência artificial, que torna
inteligente);
exponencial e em potencial rede, qualquer
- Estruturar aliança estratégica de forma
tipo de negócio.
prudente.
O artigo busca explicar a formação,
implementação e consequências de alianças
estratégicas entre atores autônomos no
campo organizacional. As empresas
colaboradoras experimentam o aumento da
integração e formalização da governança de

9
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora em Civil na UFRGS, Assistente jurídica voluntária no SAJU
Direito Contratual Empresarial e Responsabilidade na área de Direito Civil
24
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

suas relações intraorganizacionais. controle total como uma solução, esta pode
Governança é a combinação de mecanismos vir a optar por entrar em uma aliança para
de controle jurídico e social que visa contrariar certas forças do mercado que
coordenar e salvaguardar os recursos dos ameaçam seu bem-estar comercial. Alianças
aliados, elencar responsabilidades combinam os ativos e capacidades com as
operacionais e a dividir os retornos das incertezas e responsabilidades de todas as
atividades em conjunto. partes. Cooperação efetiva requer
Uma aliança estratégica envolve no mínimo comprometimento sério dos parceiros em
dois parceiros comerciais que: não tirar vantagem do outro quando
- Permanecem juridicamente independentes oportunidades surgem.
após a formação da aliança;
Motivos estratégicos, intenções e escolhas
- Compartilham os benefícios e controle
gerencial da performance das tarefas Empresas apostam em alianças estratégicas
estabelecidas; por muitos motivos: para aumentar sua
- Fazem constantes contribuições em uma capacidade produtiva, para reduzir
ou mais áreas estratégicas como tecnologia incertezas em suas estruturas internas e
ou produtos. ambientes externos, para adquirir vantagens
A formação de relações em rede é competitivas que permitam a o aumento do
intimamente ligada com a criação de normas lucro ou ganhos em futuras oportunidades
que promovem confiança e reciprocidade negociais que irão permitir que estes
econômica (social capital). Apesar de comandem valores de mercado mais altos na
relações em rede e capital social serem sua comercialização.
conceitos próximos, não são idênticos. Os motivos estratégicos pelos quais
Relações em rede podem gerar um capital empresas embarcam na formação de
social corporativo na forma de prestígio alianças são vários:
organizacional, reputação, status e 1) Busca por mercado;
reconhecimento de marca. 2) Aquisição de meios de distribuição;
3) Ganhar acesso a nova tecnologia;
Alianças estratégicas como formas híbridas
4) Aprender e internalizar habilidades

Quando uma restrição jurídica ou econômica tácitas, coletivas e embutidas.

impede uma empresa de usar hierarquia ou

25
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

5) Conquistar integração vertical, recriar e comercial (atividade principal ou


estender conexões de fornecimento para subsidiária). As empresas tendem a proteger
ajuste às mudanças de mercado; sua atividade principal e muitos estão
6) Diversificação em novos negócios; dispostos a formar alianças envolvendo
7) Reestruturar e melhorar negócios; atividades secundárias que oferecem um
8) Compartilhamento de custos e mais amplo escopo do aprendizado
concentração de recursos; organizacional e menos vulnerabilidade no
9) Desenvolvimento de produtos, compartilhamento de informação
tecnologias e recursos; confidencial.
10) Redução de riscos e diversificação de
riscos; A implementação de alianças estratégicas

11) Alcançar vantagem competitiva;


Os problemas da implementação de alianças
12) Cooperação de potenciais rivais ou pré-
incluem a escolha de mecanismos de
esvaziamento de concorrência;
governança: ressaltando a confiança e a
13) Especialização conjunta;
reciprocidade entre os parceiros,
14) Superação de barreiras legais e
gerenciando a integração de staffs de
regulatórias;
diferentes culturas organizacionais, resolver
15) legitimação, bandwagon effect
conflitos que surjam entre parceiros com
(tendência das pessoas fazerem coisas
expectativas divergentes sobre a
porque outras pessoas também estão
contribuição para a sua colaboração etc.
fazendo) e seguir tendências da indústria.
A decisão de cooperar não é uma ação Contratação relacional
responsiva, mas fundamentalmente uma
Um contrato baseado na confiança
intenção estratégica que busca evoluir as
(relational contract) contraria as incertezas
circunstâncias futuras para cada empresa
associadas a envolvimento independente
individual e para a sua relação de
em negociações. As formas de governança
cooperação conjunta.
relacional repousam nos diversos
As formas de aliança variam com a posição
mecanismos de coordenação como normas
das empresas no mercado (líder e seguidora)
recíprocas, confiança intraorganizacional e
e a importância estratégica de colaborações
capital social enriquecido por muitas trocas
com o portfolio de trabalho de cada parceiro
e interações sociais. Contrato baseado na

26
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

confiança abrange não somente termos não Mesmo assim, a mais meticulosa
especificados e condições em contratos salvaguarda contratual não providencia
complexos e de prazo indeterminado, mas garantias suficientes para incertezas,
também estratégias coletivas ambiguidades e disputas que
intraorganizacionais para eliminar rivalidade frequentemente surgem nas operações
na tácita coordenação. cotidianas.
Um problema central permanece sendo Gerar confiança entre os parceiros é crucial
sobre a maneira de melhor balancear a para superar as suspeitas iniciais do rival
interdependência e o controle com formas sobre uma possível parceria meramente
alternativas de governança nas alianças oportunista. Desigualdades no poder
estratégicas. A governança se propõe a organizacional indicadas por disparidades na
apresentar mecanismos particulares contribuição de recursos e controladas por
importantes para solução de conflitos e cada parceiro pode impedir a criação da
preservação da relação com parceiros. confiança em razão da disparidade dos
parceiros na capacidade em cumprir suas
Gerenciamento da formação da aliança
obrigações. Alianças iniciais entre parceiros

A fase de implementação geralmente requer sem experiência prévia frequentemente

que duas empresas autônomas: começam com relações contratuais formais

- Reúnam um pouco de recursos humanos e que expõe os parceiros somente a riscos

ativos materiais; pequenos. A reincidência de alianças

- Desenvolvam uma estrutura de governança estratégicas entre parceiros experientes é

pratica com poder suficiente e controle; e mais prováveis de repousar em

- Aprendam a como cooperar para benefício intraorganizacional confiança do que

mútuo. salvaguardas contra um potencial

Prudente atenção deve se ter para oportunismo do parceiro.

selecionar o staff e líderes do projeto,


Confiança e reciprocidade
criando uma estrutura formal subsidiária
com seu próprio quadro de diretores e O papel das normas de confiança e da
hierarquia de autoridade interna com reciprocidade na fase de implementação da
porções igualitárias na divisão de aliança é de sustentar o período de teste
participação e controle dos parceiros. requerido, que dura entre 6 e 18 meses, no

27
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

qual os parceiros constroem estáveis e performance de produção pelos parceiros.


previsíveis estruturas para governar a sua Os fatores cruciais não são o número de
colaboração, sendo uma institucionalização alianças formadas pelos parceiros, mas o
de implícitas e explícitas regras e recurso contributivo do perfil de cada
procedimentos. parceiro. Tanto a inovação quanto os índices
de venda aumentam substancialmente se
Alcançando objetivos de aprendizagem uma empresa estiver mais conectada com

Alianças estratégicas podem operar como parceiros ligados a inovação tecnológica e

canais institucionalizados para transferir e ricos em receita. Tais efeitos são

criar novas capacidades organizacionais. O especialmente importantes para empresas

aprendizado pode ocorrer pela exploração menores e mais jovens. Assim, empresas

em que uma empresa absorve o know-how obtém vantagens do capital social

da outra ou pela experiência comum de corporativo do seu parceiro mesmo que a

parceiros na constância da implementação aliança estratégica falhe em atingir os

de acordos colaborativos. A primeira objetivos formais estabelecidos.

dinâmica de aprendizado traduz As percepções de satisfação da relação de

competição, enquanto a última traduz uma parceria inicial e em toda sua extensão

maior mutualidade e interdependência. aumentaram com parceiros que tinham

Sucesso organizacional em alcançar melhor reputação no gerenciamento de

objetivos de aprendizagem depende de qualidade, com processo de decisão

diversas dimensões de conhecimento e compartilhada; com semelhanças

estrutura organizacional como um efetivo estratégicas entre ambos os parceiros.

processo de informação, aquisição da


expertise do parceiro e adoção de inovações.
_______________________________________

Impactos das alianças nos parceiros

Uma tarefa mais difícil é demonstrar que as


alianças produzem substanciais resultados
não financeiros como o aumento da
credibilidade organizacional. Alianças
estratégicas contribuem para melhora na

28
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Fátima Cabeleira Almeida Zucchetto10 barganha dentro da cadeia mercadológica


(Gause, 1934; Barney, 1991).
BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge Renato;
PERUCIA, Alexandre. A visão relacional da estratégia: Essa nova visão teórica traz consigo a
evidências empíricas em redes de cooperação
empresarial. BASE-Revista de Administração e
necessidade de novas discussões acerca das
Contabilidade da Unisinos, v. 11, n. 1, p. 47-58, 2014 afirmações consagradas no campo da

Introdução estratégia. Segundo alguns autores (Child et


al., 2005; Zaheer et al., 2010), o
A colaboração interorganizacional é uma entendimento de entidades autônomas
realidade que atrai o interesse crescente nos lutando, isoladamente, para sua
estudos organizacionais. Tal crescimento é sobrevivência no mercado, abre a
significativamente nutrido pela dinâmica possibilidade, no campo das estratégias
colaborativa, social e tecnológica, o que coletivas, de uma cooperação mútua com
estimula e propaga a prática de ações foco no alcance de seus objetivos
coletivas entre as organizações (Castells, estratégicos (Ibarra e Hansen, 2011).
2000). Alianças estratégicas, supply chain, Diante desse cenário, o estudo trazido pelo
redes, joint ventures, distritos industriais, presente artigo desenvolve evidências
consórcios e associações são exemplos de teóricas e empíricas que permitem
configurações organizacionais surgidas demonstrar a forma como algumas
como consequência desta dinâmica organizações têm conquistado vantagens
colaborativa. Partindo deste cenário competitivas por meio de práticas de
crescente em que as organizações estão cooperação.
inseridas, novos estudos são necessários Assim, o artigo parte da teorização acerca de
para o entendimento do processo três perspectivas dominantes no campo da
competitivo entre as empresas, a partir da estratégica, quais sejam, estrutura da
visão relacional, que observa a cooperação indústria, visão baseada em recursos e
como meio para as organizações atingirem custos de transação. Exploram-se essas
melhores resultados, diferentemente das perspectivas sob a ótica relacional da
premissas dominantes na área estrategista, estratégia.
preconizada por ações individualistas e de

10
Graduada em Direito e Comércio Exterior pela PUC
MG, Pós-Graduada em Direito Notarial e Registral
29
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

barganha dos fornecedores; (III) poder de


A visão dominante do campo da estratégia barganha dos compradores; (IV) ameaça de
Estrutura da indústria
produtos substitutos e (V) nível de rivalidade
O alcance da harmonia entre cooperação e concorrencial, constatou-se a influência que
estratégia, com base na visão dominante do estas exercem na formação de preços,
campo da estratégia, apresenta certa custos e investimentos necessários às
dificuldade, haja vista o posicionamento empresas. Com isto, quanto maior a
doutrinário majoritário. Para Benkler (2011), rivalidade entre os concorrentes, menor a
a competição entre as empresas é elemento possibilidade de margens superiores de
principal no campo da estratégia (Benkler, lucro (Porter, 1986).
2011). O princípio da exclusão competitiva
trazido por Gause (1934) é base para muitas Visão baseada em recursos

teorias dispostas acerca da perspectiva


Na visão baseada em recursos, o foco está na
clássica de competição em matéria de
administração dos recursos intangíveis ou
estratégia. Este autor diz que uma espécie
exclusivos que uma empresa detém,
existente em um ambiente de igualdade
trazendo para essa uma vantagem
deve excluir a concorrência e se posicionar
competitiva. Para Barney (1991), estes
como líder, do contrário, não sobreviverá.
recursos devem possuir quatro propriedades
Partindo dessa premissa, diversos estudos
a fim de proporcionar vantagem
surgiram baseados na visão dominante, mais
competitiva, que são: valor, raridade,
precisamente, via três perspectivas, quais
imperfeita imitabilidade e dificuldade de
sejam: estrutura da indústria, visão baseada
substituição, podendo ser divididas em três
em recursos e custos de transação (Gulati et
categorias: recursos físicos, recursos
al, 2000).
humanos e recursos organizacionais.
O maior expoente na década de 1980,
Custos de transação
Michael Porter, trouxe conceitos focados na
estrutura da indústria e consolidou a ideia de A terceira perspectiva, conhecida como
que uma estratégia advém de análise custos de transação, se dedica a entender o
sistemática da indústria ou seu segmento. A custo de produção de uma empresa.
partir da observância das cinco forças Apurando o custo, pode-se tomar decisões
competitivas (Porter, 1986), que são: (I)
ameaça de novos entrantes; (II) poder de
30
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

em relação à produção interna ou um lado e uma perda de outro (Axelrod,


contratação no mercado. 1984).
Largamente estudada, essa perspectiva foi Assim, faz-se necessária uma compreensão
abordada pela teoria econômica, que teórica mais abrangente dos postulados
destacou duas formas de governança das essenciais das perspectivas dominantes, por
atividades econômicas: mercado e meio de uma visão relacional, a fim de
hierarquia. Segundo Coase (1937), o meio discutir possibilidades, como a existência de
mais eficiente para produção de resultados positivos para ambos os lados da
determinado produto seria direcionar a relação.
produção de seus componentes às empresas
especializadas, no entanto, essa não é a A visão relacional da estratégia

realidade de muitas empresas, uma vez que


A partir da década de 1980, a visão relacional
essa prática gera custos de transação
da estratégia surgiu com maior força.
(Williamsom, 1975).
Direcionada às relações de estratégia de
Sempre que uma empresa precisar definir e
cooperação entre as organizações, a “visão
gerenciar suas transações com outra, haverá
relacional da estratégia” engloba uma
custo de transação, muitas vezes não
quantidade de termos, como “estratégias
tratados pelas empresas, seja na negociação
coletivas”, “cooperação empresarial” e
e formalização de contratos, seja no
“relações interorganizacionais”, entre
gerenciamento de clientes. Com isto, a
outros, muitas vezes entendidos como
questão central na existência de custos de
sinônimos, porém, não podem ser
transação tem liame com a confiança nas
confundidos (Cropper et al., 2008).
relações interorganizacionais (Bachmann e
A consolidação do conceito de estratégias
Zaheer, 2008).
coletivas foi fruto de estudos de Astley
Por fim, pode-se notar que as perspectivas
(1984) e de Astley e Fombrun (1983), que
dominantes no campo da estratégia, através
possibilitou entender que as estratégias das
da estrutura de indústria, da visão baseada
empresas não necessariamente devem
em recursos e dos custos de transação,
acontecer por meio de ambientes
dizem respeito à busca da vantagem
competitivos, traçando várias alternativas
competitiva entre empresas, onde
de ações colaborativas de curta e longa
necessariamente deve existir um ganho de
duração.

31
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Astley (1984) identificou três visões se inserem e as empresas participantes do


organizacionais, resumidas em: “cavaleiro negócio (Luo, 2004). Fornecedores e
solitário” (empresa é pioneira e luta contra fabricantes dispostos a colaborar colherão
condições impostas), “orientação maiores benefícios, uma vez que alcançarão
egocêntrica’ (empresa é autossuficiente e maiores vendas e lucros, como no caso da
toma ações independentes) e “orientação Toyota e seus parceiros (Dyer e Nobeoka,
militar da estratégia” (organizações vistas 2000).
como inimigas, lutando em ambiente voraz a Com o passar do tempo, ambientes
fim de conquistar posição estratégica no dinâmicos dificultam a manutenção da
campo de batalha). propriedade ou o controle dos recursos
Em oposição a essas visões, Astley (1984) valiosos. Assim, os estudos de Hall (1992,
idealiza a colaboração como conceito de 1993) apontam que a cooperação é o
negócios, convertendo o conceito de caminho mais rápido para as empresas
competição para o de cooperação, de única conquistarem recursos intangíveis em
organização para grupo de organizações e de ambientes exigíveis em conhecimento.
separação para união. Powell (1998), destaca que a
No decorrer da década de 1980, surgiram competitividade de uma empresa
novos estudos acerca da compreensão da dependerá muito mais da habilidade em
visão relacional. Nalebuff e Brandenburger gerir e coordenar recursos junto a parceiros
(1996), colocaram em discussão as do que procurar dominar os recursos
consequências das estratégias competitivas estratégicos.
e colaborativas, pois uma vez que a visão Conforme a visão relacional, a estratégia
individualista e competitiva pode trazer coletiva traz uma vasta fonte de recursos por
perdas às organizações, como guerra de meio de uma rede de acesso com valiosas
preços, a visão coletiva e colaborativa pode informações, compartilhamento de
atrair oportunistas e competidores desleais, conhecimento, investimentos específicos de
como o furto de segredos, por exemplo. As relacionamento e efetiva governança. Com
empresas devem conhecer os pontos isto, a rede cria um recurso competitivo de
positivos e negativos das estratégias difícil imitação, potencializando novas ações
individuais e coletivas para, então, tomar conjuntas de seus integrantes (Dyer e Singh,
suas decisões com base no ambiente em que 1998); Gulati, 1999).

32
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Considerações finais confiança pode permitir a redução de custos


de transação, complementando a teoria dos
Com base nas evidências constatadas nas custos de transação, conforme práticas nas
iniciativas adotadas no Estado do Rio Grande redes do Rio Grande do Sul.
do Sul, foi possível consolidar as teorias
estudadas. Consoante ao exposto, a visão _______________________________________
relacional de estratégia permite melhor
entendimento das perspectivas de estrutura
da indústria, da visão baseada em recursos e
Vitor Luís Botton11
dos custos de transação. A colaboração
entre clientes, fornecedores e concorrentes ANTUNES, Junico; BALESTRIN, Alsones;
VERSCHOORE, Jorge. Práticas de gestão de redes de
é impulsionada pelas redes cooperação. São Leopoldo: Unisinos, 2010
interorganizacionais, via ações coletivas,
promovendo o aprendizado mútuo, Inicialmente, para fins de introdução, o livro

coespecialidade, escala e aumento dos aborda sobre um projeto realizado em

ganhos individuais dos agentes envolvidos. conjunto pelo Governo do Estado do Rio

A visão relacional de estratégias estudada no Grande do Sul, por meio da Secretaria de

presente artigo infere alguns Desenvolvimento e dos Assuntos

questionamentos, quais sejam: a abordagem Internacionais, referente às redes de

da competição individual da empresa, cooperação de empresas estudadas e do

baseada na estrutura da indústria, que Grupo de Estudos em Relações

sugere a possibilidade de alcançar maior Interorganizacionais (GeRedes).

competitividade partindo de ações coletivas


(Jarillo, 1988; Dyer e Nobeoka, 2000). As
estratégias coletivas auxiliam na visão
baseada em recursos, uma vez que ativos
construídos em conjunto também podem
gerar estratégia competitiva eficiente (Hall,
1992, 1993; Powell, 1998). Ainda, a

Graduado em Direito pela Universidade Regional Especialização em Direito Contratual pela Faculdade
Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Cers, Mestrando do PPGDireito da Faculdade
Frederico Westphalen/RS, Pós-Graduado em nível de Meridional – IMED.
33
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

PARTE 1 – A gestão de redes de cooperação Desta forma, as redes de cooperação


empresarial empresarial são uma ferramenta
organizacional eficaz para a evolução das
Capítulo 1 – Gestão de redes de cooperação
empresarial empresas, principalmente as de menor
porte, eis que tem o poder de aumentar a
O universo dos negócios está cada vez mais competitividade para as empresas
conectado à nível global, sendo assim, a associadas, por meio de ações uniformizadas
ideia de redes de cooperação está embasada e padronizadas, que possibilitam o ganho de
nos conceitos de cooperação e de rede, escala relacionado com as várias formas de
tendo por objetivo potencializar as união entre as empresas, melhorando a sua
organizações a responderem de forma mais fatia de participação no mercado, mantendo
eficaz as mudanças no ambiente e/ou no a ação flexível das empresas que constituem
mercado, reduzindo incertezas associadas à a rede, na qual cada membro mantém sua
diferentes operações. individualidade legal.
As redes de cooperação reúnem Em linhas gerais, o processo de gestão é
empreendimentos que possuem objetivos democrático, em que existe uma
comuns. São dedicadas a desenvolver participação horizontal e ativa entre as
ganhos coletivos, sem que as empresas empresas envolvidas, abrindo espaço para a
participantes venham a perder a sua participação optativa dos membros nas
autonomia de gestão. Assim, unem aspectos decisões da rede. Ademais, a direção,
ligados a flexibilidade e agilidade, e formada por representantes dos próprios
aumentam a escala no mercado, priorizando associados, assume as decisões operacionais
a ideia de ganhos coletivos na cooperação e de controle. No entanto, nada impede que
em rede. em redes mais maduras e de maior porte se
É cediço que as pequenas empresas profissionalize a gestão executiva da rede.
apresentam dificuldades de competição com Outrossim, os associados devem observar
empresas maiores, em razão de custos que a rede de cooperação deve ser
elevados de produção, pequena escala, percebida como uma “nova empresa”, e que
desconhecimento de mercado, deficiência um ponto essencial neste processo de
em tecnologia, capacitação, obtenção de gestão é que os ganhos gerados em conjunto
crédito, entre outros. pelas empresas integrantes sejam

34
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

distribuídos da forma mais igualitária grupos: i) contratuais; ii) estratégicos; iii)


possível. decisão; e iv) interação.
A rede, como uma “nova empresa”, deve
PARTE 2 - Práticas de Gestão de Redes
traçar objetivos e estratégica de longo prazo,
Capítulo 1- Estratégia
baseada em elementos como: o valor da
reputação; a interdependência dos recursos A estratégia é responsável por moldar o
e das empresas; a complementaridade de processo de desenvolvimento da rede,
recursos; a comunicação relacional; a busca alinhando as necessidades de cada empresa
permanente da flexibilidade; o associada aos objetivos coletivos mais
comprometimento e a ênfase coletiva no amplos. Neste ponto, é importante a
planejamento nas ações; estratégia; o participação de todos os associados da rede
planejamento; a direção; e o staff. na formulação das estratégias, eis que, sem
A ideia central para a formação de redes está estratégia, uma rede não consegue gerar a
no fato de que as relações de cooperação competitividade desejada por seus
possam resultar em ganhos para todos os associados.
envolvidos, quais sejam: a possibilidade de É importante traçar e definir os objetivos
ampliar a capacidade de ação de uma globais, a missão e a análise dos ambientes
determinada empresa individual a partir de interno e externo. Ainda é necessário adotar
uma perspectiva coletiva; ganhos de escala e um padrão, que contribua a agilidade nos
os ganhos relativos ao poder de mercado; processos de marketing, negociação e
geração de soluções coletivas que tende a expansão.
permitir a geração e disponibilização de Nas práticas em estratégia pode-se citar dois
soluções a partir da rede na qual a empresa personagens de grande importância: o
se insere; redução dos custos e riscos guardião do planejamento e o embaixador.
assumidos pelas empresas associadas; Em algumas redes, o planejamento não é
acúmulo de capital social, ganhos de seguido na prática pelos associados. Neste
aprendizagem coletiva. caso, o papel do guardião tem grande
Deve-se destacar, ainda, a importância dos importância, tendo em vista a complexidade
instrumentos de gestão das redes, que de se acompanhar a execução eficaz do
podem ser classificados em quatro grandes planejamento estratégico na rede.

35
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Destaca-se que o guardião trabalha no Capítulo 2 – Coordenação


A coordenação diminui os conflitos
acompanhamento da execução do plano
operacionais típicos da rotina de trabalho.
estratégico, podendo ser, inclusive, um dos
Acordos e tratativas informais referentes às
associados, sendo visto como uma figura
responsabilidades e deveres dos associados
neutra no processo, o guardião pode
são de extrema importância para validar o
fiscalizar e encorajar a participação de todos
disposto nos contratos das redes.
os atores envolvidos dentro de princípios de
Necessário, também, mecanismos que
igualdade.
regulamentam, protegem e defendem a
No que tange ao alinhamento da empresa
maioria dos associados.
com a rede, tem-se a figura do
A cooperação reduz a rivalidade e
“embaixador”, que, propositalmente, não
comportamentos oportunistas entre
está ligado à diretoria da empresa associada
aqueles que integram a rede, focando nos
e sim ao quadro de funcionários, pois
ganhos coletivos, tornando as empresas
consciente da essência estratégica a ser
mais próximas e almejando os objetivos
conduzida na empresa, tem a habilidade de
comuns. A aproximação entre os parceiros
“falar” a língua de seus colegas (também
pode ser feita por meio de ações simples,
funcionários) e de entender como tais
como encontro regulares dos membros e
estratégias-macro da rede, naturalmente de
interação com especialistas e lideranças,
caráter mais abstrato, podem resultar em
envolvendo o conjunto dos parceiros.
ações operacionais/práticas dentro da
Por outro lado, as atitudes não desejáveis
empresa.
praticadas por membros que integram a
Sendo assim, a ideia do “guardião do
rede podem ser sanadas através de sanções,
planejamento estratégico”, faz com que os
vez que previstas em um estatuto, ou em
proprietários das empresas associadas
outros termos.
atuem dentro das diretrizes traçadas na
Importante dar atenção especial a questões
elaboração do planejamento estratégico. O
de gestão que identificam pontos de
“embaixador” atua no nível operacional das
melhoria na rede, zelando pelo processo
empresas, cumprindo um importante papel
decisório democrático, que pode ser feita
no alinhamento da estratégia da rede com a
em dois passos. Em primeiro lugar ressalta-
estratégia da empresa.
se a antecipação das necessidades e
expectativas dos associados. Em um
36
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

segundo lugar destaca-se a inserção de formuladas questões considerando os


novos instrumentos de gestão. seguintes pontos: a) a diretoria da rede
Para a implementação de novas práticas é buscou trabalhar as suas necessidades? b) a
interessante observar: 1) que a prática possa liderança da rede é aberta ao diálogo? c)
ser utilizada na maioria das redes; 2) que não sugestões de melhoria realizadas pelos
necessite de investimentos financeiros associados foram implantadas por parte da
significativos; 3) e que seja de fácil aplicação. diretoria? d) o processo decisório buscou
Um exemplo dessas práticas foi a adoção de equilibrar os interesses dos associados?
um “termômetro”, que consiste em uma Mais do que apenas um formulário a ser
ferramenta para capturar as ideias e as preenchido, o termômetro torna-se um
percepções dos associados, tendo em vista momento periódico e formalizado em que
que os diretores das redes perceberam que todos os associados da rede têm seus
recebiam muitas sugestões de ações e ideias espaços para se manifestar e
durante o decorrer do ano, contudo, essas posteriormente debater suas ideias. Desta
sugestões não eram formalizadas, e, no forma, é criada uma cultura onde todos são
momento de definir as ações anuais, ouvidos, tendo uma oportunidade que visa
acabavam por perder as informações e incentivar interações mais próximas e assim
ideias lançadas em outros momentos. O contribuir para a consolidação do processo
termômetro foi idealizado como ferramenta de coordenação de uma rede de
que permite ao gestor da rede sentir os cooperação.
interesses, preocupações e nível de
comprometimento dos associados. Outro
ponto importante na prática do termômetro
é a de adotar contribuições dos associados
de forma sigilosa, tendo em vista que alguns
membros das redes preferem opinar de
forma anônima.
Ademais, os autores do livro trouxeram
questionamentos padrões das redes que
mais se destacaram na pesquisa. Assim, em
referência ao desempenho da rede, são

37
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Eva Motta12 Dentro da governança é de se exigir a


WEGNER, Douglas; DURAYSKI, Juliana; DE SOUZA atuação de todos de forma ética e
VERSCHOORE FILHO, Jorge Renato. Governança e
eficácia de redes interorganizacionais: Comparação transparente. É muito sensível esta prática,
entre iniciativas brasileiras de redes de cooperação. haja vista as diferenças culturais de cada
Desenvolvimento em Questão, v. 15, n. 41, 2017
associado. Quanto maior o número de
Governança e eficácia de redes componentes na rede, mais complicado se
interorganizacionais torna. Por isto, os instrumentos como
Código de Ética, Estatuto, Regimento, e
Como práticas gerenciais apontam os outras regulações existem para regrar e
mecanismos de governança podem padronizar condutas e padrões
potencializar as iniciativas de cooperação operacionais.
em rede? Em sua origem a eficácia era explicada
Primeiro: pelo conceito de governança de apenas por fatores estruturais e contextuais,
rede utilizado pela Teoria dos Custos de como a integração de rede, o controle
Transação. A minimização dos custos é uma externo e a estabilidade do sistema. Mais
abordagem que pode ser considerada como recentemente têm incluído outros fatores,
uma transição entre a economia clássica e as como a sustentabilidade dos bons processos
novas configurações de organizações, sendo e o alcance dos objetivos almejados. Neste
considerada uma possível explicação para a estudo, a eficácia é analisada no âmbito da
origem das redes organizacionais. rede ou “whole network”, e, para tanto,
Segundo: por estratégia. A governança é adotou-se a concepção de eficácia como os
caracterizada como uma estrutura dos resultados proporcionados em termos de
elementos de organização e coordenação inovação, aprendizagem, redução de custos,
internos das redes organizacionais para soluções coletivas e legitimidade.
possibilitar as ações em conjunto.
Regularizam práticas de gestão e de tomada Modos de governança de redes

de decisão, para garantir os interessados A doutrina apresenta três modos básicos de


membros-coletividade que as normas governança em rede, a partir dos quais
estabelecidas sejam observadas por todos os
envolvidos, gestores e participantes.

12
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional-
IMED e graduada em Ciências Contábeis pela UFRGS.
38
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

podem surgir combinações e modelos se tornar extremamente complexa quando o


híbridos: número de participantes.
Governança compartilhada: é o mais
simples. Trabalha-se coletivamente como Mecanismos de governança

uma rede, mas não possui estrutura


Determinam as regras de funcionamento e
administrativa formal e exclusiva. Os
influenciam nas relações dos integrantes da
próprios membros de rede tomam todas as
rede. Podem estimular ou reduzir a
decisões e gerenciam as atividades da
interação e a motivação para seguir as
parceria.
estratégias coletivas. A observância desses
Governança com organização líder: ocorre
mecanismos influencia na legitimidade
em relacionamentos verticais, de cliente-
interna e externa das decisões, a agilidade
fornecedor, nos quais há uma organização
da rede nas tomadas de decisão e sua
maior e mais poderosa. O modelo também
capacidade na definição e execução de
pode ocorrer em redes horizontais
estratégias.
multilaterais, quando uma organização
A seguir as três dimensões de governança
possui recursos suficientes e legitimidade
destacadas na literatura, e que servem de
para exercer uma posição de liderança e
base à pesquisa empírica:
governança por meio de uma organização
- Centralização das decisões: refere-se ao
administrativa da rede.
loocus (que dominam centralizam) das
Organização Administrativa da Rede (OAR):
tomadas de decisão na rede e a autonomia
surge em razão da ineficiência das redes com
concedida pelos membros aos gestores para
governança compartilhada e dos problemas
tomar decisões. A centralização é uma
de dominação e resistência das redes com
equipe, um grupo com autonomia, que tem
organizações líderes.
a responsabilidade pela tomada de decisões
Uma entidade/equipe administrativa
e definir estratégias dentro da rede
separada é criada especificamente para
empresarial. Quanto mais membros em uma
gerenciar a rede e suas atividades, visando
rede, maior a divergência de opiniões sobre
coordenar e sustentar a rede. A gestão de
temas específicos, tais como metas ou
uma rede neste modo tende a ser mais
estratégias. A imprecisão e as discussões
eficiente, especialmente quando comparada
excessivas sobre questões específicas
com a governança compartilhada, que pode

39
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

podem afetar negativamente o dentro das firmas parceiras dedicadas à


funcionamento da rede; relação interorganizacional, com o objetivo
- Formalização: refere-se ao nível de de desempenhar tarefas relacionadas à
formalização de procedimento e regras, aliança. No caso de redes de cooperação, a
incluindo respostas predefinidas para especialização refere-se também à
diversas situações. A formalização é o grau existência de equipes e gestores
em que os procedimentos e as regras são especializados dentro da rede, objetivando a
explicitamente formulados para governar as eficácia de funções e a contribuição para a
atividades. Ela funciona como um realização das atividades propostas pela
mecanismo de coordenação que reflete o rede. Um maior nível de especialização em
modo como o controle é suportado. A termos de equipes e grupos responsáveis
formalização oferece respostas predefinidas por tarefas específicas pode facilitar a
para várias situações, reduzindo a eficácia das atividades coletivas, quando
possibilidade de múltiplas interpretações de comparado a uma rede em que as
como atuar e diminuindo o potencial de responsabilidades estejam concentradas em
tensão entre os membros. Com o uma ou poucas equipes de trabalho.
crescimento do número de membros da
rede, um aumento do nível de formalização Procedimentos metodológicos

facilita a compreensão de como a rede


O estudo teve como objetivo comparar
funciona e como os membros devem agir, e
mecanismos de governança de redes de
atua como um facilitador de ações coletivas
cooperação que proporcionaram distintos
para a rede. Quando todas as firmas realizam
níveis de eficácia às iniciativas.
as ações previstas e as regras coletivas são
Primeira Fase: análise quantitativa em 50
cumpridas, um impacto positivo sobre a
redes de cooperação no sul do Brasil. Essas
eficácia das empresas é mais provável de
redes foram segmentadas, por tempo
ocorrer;
existência, por segmento de operação e
- Especialização: refere-se à existência de
número de associados. Foi elaborado um
equipes e gestores especializados, que
questionário de sete perguntas com base
contribuam para a realização das atividades
nos resultados das redes e as respostas de
da rede. A dimensão especialização da
eficácia foram medida pelos pesquisadores
governança refere-se a posições específicas
especialistas em redes, numa escala de cinco

40
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

pontos, variando de 1 (baixa eficácia) e 5 - Quanto à especialização: uma rede


(alta eficácia). Posteriormente foram consegue ser mais eficiente com maior
dispostas num ranking das 5 redes que potencial de eficácia se adotar conselhos ou
apresentaram maiores eficácia e 5 redes que equipes especializadas, que assumem
apresentaram menores eficácia. diferentes tarefas, proporcionando agilidade
e fazendo com que muitos processos
Apresentação e análise de resultados ocorram simultaneamente na rede;

- Quanto ao modo de governança: redes com


Formalização
maior nível de eficácia utilizaram o modo de
Em linhas gerais, as redes com menores
governança por Organização Administrativa
níveis de ganhos não possuem processos
de Red. Redes com menor nível de eficácia
descritos e registrados; as com maiores
organizam-se por meio de um modo de
níveis de eficácia possuem
governança compartilhada;
normas/regulamentos que são seguidas por
- Quanto a centralização das decisões: redes
todos os integrantes da rede.
com maiores níveis de eficácia optaram pela
centralização das decisões por equipes, sem
Discussão de resultados. Modo de
necessidade de consulta aos demais, governança mecanismos de governança
resultando em maior agilidade e eficiência.
Todas utilizam sistemas informatizados para - Redes com maior eficácia: organizadas por

se comunicarem (intranet, chat e e-mails). meio Organização Administrativa de Redes.

Uma delas está investindo software para Maior número de membros.

melhorar os contatos online, reuniões Operacionalização a cargo de consultores e

virtuais, compras em conjunto, votação gestores. Centralização nas decisões, maior

eletrônica para facilitar as decisões. Redes formalização das atividades e maior

com menores níveis de eficácia demoram especialização. Os empresários se envolvem

mais para tomar decisões porque optaram na gestão estratégica. Garante ações

pela forma colegiada. Assim, depende do coletivas.

consenso, prática torna mais lenta e - Redes com menor eficácia: governança

demorada as decisões, prejudicando a compartilhada. Alta legitimidade interna.

eficácia. Seria a mais legitima; Depende da participação de todos para


funcionar. Dificuldade envolvimento de

41
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

todos os membros ocasionando lentidão - Centralização implica maior formalização


para a tomada decisão. Burocracia. Não tem para garantir a disseminação de informações
comitês e especialização. e padrões desejados;
- Todas possuem código de ética, estatuto, - Especialização contribui para maior
regimento. Redes centralizadas para serem envolvimento dos membros;
eficazes exigem maior formalização. Podem - Os resultados da pesquisa oferecem
possuir equipes e conselhos especializados importante suporte na configuração da
que fiscalizam a aderência da regulação. As Governança das Redes.
redes com menor eficácia, em regra, não Demonstraram-se as práticas de Governança
possuem equipes e comitês, e apresentam de maior eficácia e de menor eficácia.
lentidão nos processos e pouco
envolvimento das pessoas para pensar a
rede de forma estratégica.
Cristiane de Mello Mascarenhas13

Conclui-se: WEGNER, Douglas. Redes, alianças e parcerias:


ferramentas e práticas para a gestão da cooperação
empresarial. Porto Alegre: Exclamação,2020
O número de membros da Rede é que
determinará a configuração mais adequada Capítulo 1 - Redes, alianças e parcerias:
formas de cooperação empresarial
de Governança. O melhor modo é
Organização Administrativa da Rede. É
Neste primeiro capítulo o autor analisa o
indispensável numa Rede com muitos
contexto econômico do momento, no qual a
membros.
cooperação entre empresas alcançou níveis
O investimento é o ponto crítico na adoção
elevados de desenvolvimento e com grande
do modo de governança OAR, com gestores
importância socioeconômica, especialmente
e consultores contratados. A centralização é
na Alemanha e na Espanha, e com olhar
importante para o processo decisório como
nessa experiência consolidada aponta
forma de evitar excesso de discussões e
caminhos para evolução das redes
travar a Rede. Inter-relação dos três
brasileiras.
mecanismos analisados:
Na Alemanha, cujos primeiros modelos de
cooperação remontam ao século XIX, a

13
Graduada em direito pela UFPEL, advogada inscrita
na OAB/RS 49.849.
42
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

cooperação apresenta o mais alto nível de e centrais de negócios em atividade no Brasil


desenvolvimento e importância (SEBRAE, 2016).
socioeconômica. Atualmente, mais de As redes alemãs que inicialmente eram
230.000 empresas do varejo participam de simples centrais de compras (no início do
310 redes de empresas, em 45 ramos de século XX), passaram a centrais de serviços
atividade e geram 2,4 milhões de empregos, e, recentemente, para redes informacionais,
o que representa um volume anual de 490 com alta integração e interdependência dos
bilhões de euros em negócios. participantes, de tal forma integradas que
As redes alemãs estão organizadas e são muitas vezes se apresentam, ao mercado
representadas por uma entidade nacional, a como uma empresa única, embora
Federação Alemã de Redes e Centrais de legalmente se mantenham independentes.
Negócios, denominada
Mittelstandsverbund, que defende os - Exemplo de Rede de empresas bem-
sucedida na Alemanha
interesses gerais das redes, sugerindo
políticas públicas de apoio às pequenas
A rede ANWR (Ariston-Nord-West-Ring),
empresas, oferecendo serviços de suporte e
resultou da fusão de várias redes de
desenvolvimento de projetos de inovação
empresas independentes do ramo de
voltados para seus membros.
calçados e materiais esportivos e
No Brasil, a cooperação é bem mais recente,
atualmente atua como uma holding, que
surgiu como resposta dos pequenos
controla empresas prestadoras de serviços,
empreendimentos às dificuldades
dois bancos e três redes de caráter
decorrentes da abertura de mercado
cooperativo às quais os varejistas estão
iniciada na década de 1990, que possibilitou
vinculados.
a entrada de grandes empresas
internacionais e a cooperação possibilitou às - Organização da Rede
pequenas empresas competirem ou
O sucesso de redes com número expressivo
concorreram com os grandes
de participantes depende em grande parte
conglomerados.
da eficiência e eficácia da sua governança e
O autor estima que existiam
gestão.
aproximadamente 1.000 redes de empresas
A rede ANWR tem gestão profissional, com
gestores contratados e que tem autonomia
43
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

para decidir sobre assuntos estratégicos. No 1) Alianças estratégicas e redes


entendimento do presidente da ANWR, uma multiparceiros:

governança realizada pelos próprios


As alianças estratégicas são caracterizadas
empresários da rede dificulta o
pelo objetivo comum entre duas
desenvolvimento da rede, pois não seria
organizações que colaboram entre si por
possível que o gestor dedicasse o tempo
período determinado ou indefinido para
necessário se forma simultânea para a sua
alcançar esse objetivo. Só pode ser
empresa e para a rede; e ainda, o gestor
considerada estratégica, a aliança que se
representa também seus próprios
forme com o objetivo de trazer vantagens
interesses. A gestão profissional protege os
para pelo menos um dos parceiros.
interesses da rede e evita que um
Quando a parceria se forma entre mais de
empresário e ao mesmo tempo gestor, se
duas organizações, tem-se as redes
empenhe mais em seus próprios interesses
multiparceiros.
do que nos coletivos.
Outros modelos de cooperação podem ser
identificados quando se analisa o grau de
- Outras formas de cooperação
formalização entre os parceiros,
Além das redes de empresas, outras formas destacando-se as alianças informais e as
de cooperação também despontam como alianças contratuais.
alternativas estratégicas para alcançar Há também um tipo de aliança em que os
objetivos diversos, dentre elas, se destacam, parceiros investem recursos financeiros e se
as alianças, parcerias, redes de suprimentos, tornam acionistas minoritários uns dos
projetos temporários e redes de inovação, outros e outro, quando os parceiros formam
que se diferenciam umas das outras em uma nova organização que atuara de forma
razão do grau de centralização das decisões, independente, a qual denomina-se de joint-
dos mecanismos de coordenação utilizados venture.
e ainda conforme os elos da cadeia As redes ainda podem ser classificadas em
produtiva em que atuam as organizações redes horizontais e verticais, confirme o
envolvidas. ramo de atuação dos parceiros que formam
A seguir, serão apresentadas quatro a rede. Nas redes horizontais, os integrantes
categorias amplas de redes de empresas e atuam no mesmo elo da cadeira produtiva,
acordos de cooperação. por exemplo, redes formadas por fábricas de

44
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

móveis, já nas redes verticais, as Os projetos colaborativos temporários,


organizações atuam em elos diferentes da gênero do qual as redes de inovação são
cadeia produtiva. espécie, se caracterizam pela temporalidade
da relação, pois se formam para um objetivo
2) Redes de Suprimento e redes globais de específico e ao atingi-lo são desfeitas ou
produção
remodeladas, citando-se como exemplo, um
Rede de suprimento é aquela formada por projeto de pesquisa.
vários parceiros que atuam como
4) Clusters de Negócios
fornecedores de insumos ou serviços
necessários à elaboração de um produto Clusters são “concentrações geográficas de
final. Em geral nesse tipo de cooperação, a empresas de determinado setor de atividade
empresa produtora, atua como e companhias correlatas. Estas podem ser,
coordenadora das demais integrantes da por exemplo, fornecedoras de insumos
cadeia de suprimentos. especiais – componentes, máquinas,
Quando as redes de suprimento atuam em serviços – ou provedoras de infraestrutura
diversos países, ocorre a formação de redes especializada” (Porter, 1999, in Redes,
globais de produção. alianças e parcerias: ferramentas e práticas
As redes de suprimento podem ser para a gestão da cooperação empresarial).
classificadas em três tipos principais, de Exemplo: Vale do Silício, Polo Vitivinícola da
acordo com o grau de coordenação: Serra Gaúcha.
Mercados; Governança Ativa, Relacional e
Modular. Síntese: o guarda-chuva de redes e formas
de cooperação
3) Redes de Inovação e projetos
colaborativos temporários As empresas vêm utilizando uma grande
variedade de modelos cooperativos como
Redes de Inovação se caracterizam pela meio para melhorar a sua competitividade e
coordenação entre três ou mais empresas ou alcançar resultados planejados, contudo,
organizações independentes que buscam essa variedade de tipos de redes e alianças
atingir objetivo comum relacionado à pode ser agrupada em duas categorias
inovação, por exemplo, para acelerar o amplas, ou seja, os modelos baseados na
desenvolvimento de novos produtos. cooperação vertical, dentre os quais se

45
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

destacam as redes de suprimento, redes de Curitiba-Pr. Trata-se de uma rede de atores


fornecimento e as franquias e os modelos com objetivos diferentes, mas que visam um
baseados na cooperação horizontal, dos objetivo comum, ou seja, promover o
quais vale destacar os consórcios, as redes trabalho do catador de forma rentável e
multiparceiros e as alianças estratégicas. digna, estimulando conceitos de cidadania e
A organização e funcionamento das redes meio ambiente por meio da alavancagem
depende de diversos fatores, como a econômica dos associados (catadores).
concentração geográfica dos integrantes, Apresenta-se uma estrutura de Redes
formalidade da relação, concentração do Sociais Organizacionais pautadas na
poder e o nível de cooperação, e esses Governança Comunitária e de Parceria,
fatores são fundamentais na governança da tendo em vista que as transformações
rede. Assim, o funcionamento de uma rede sociais dos últimos anos remetem a
e a sua capacidade de alcançar os resultados coletividade ao processo de democratização
coletivos estabelecidos estão diretamente política e à liberação dos mercados, entre
ligados à capacidade dos participantes de outros.
equilibrarem esses fatores. Observa-se, ainda, uma tendência à
descentralização da responsabilidade social,
surgindo o Terceiro Setor como ator ativo da
______________________________ causa pública.
O presente estudo pretendeu contribuir
para a pesquisa na área da administração,
Rosângela Souza de Souza14 mais especificamente nos casos de
governança em redes, pois de acordo com
CRUZ, June Alisson Westarb; MARTINS, Tomaz
(FREEMAN, 1984 apud ROSSONI, 2006) a
Sparano; QUANDT, Carlos Olavo. Redes de
cooperação: um enfoque de governança. Revista interdisciplinaridade é um princípio desse
Alcance, v. 15, n. 2 (Mai-Ago), p. 190-208, 2008.
tipo de estudo
Nesse contexto cabe referir que para
O presente estudo foi desenvolvido junto à
Rodrigues (2006), a palavra rede vem do
Rede de Associações de Catadores de
latim retis, que significa teia. No entender de

14
Graduada em Direito pela PUCRS, Pós- Graduação
em Gestão Pública Municipal UFRGS, Pós- Graduação
em Direito Público ULBRA Canoas.
46
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Marshall (1982) a aglomeração das e a legitimidade do conjunto, dentre outras


organizações em estruturas de redes resulta coisas, e que estabeleçam interação entre
em maior competitividade em relação a atores públicos e privados.
outras organizações dispersas no sistema Franco (2004) diz que a governança deve ser
econômico. associada a co-responsabilização, que está
Outros autores como: Garcia (2001), Porter diretamente ligada a cooperação, à forma de
(1998), Schmitz (1992) e Scott (1994), tomada de decisão coletiva, fluxo de
destacam a capacidade de geração de comunicação, co-realização e ao
vantagens competitivas como uma das desenvolvimento humano e social de todos
principais características da cooperação em os participantes.
rede. Cruz (2006), destaca que a mudança
A estrutura de redes está diretamente provocada pela governança torna as
relacionada à cooperação entre diferentes organizações menos hierárquicas.
atores. Bernier e outros (2003 apud CRUZ, 2006)
A sistemática das redes, de acordo com descrevem governança em quatro tipos
Casarotto e Pires (2001), se apresenta de ideais, sendo eles: governança pública,
duas formas: rede do tipo “topdown”, na governança corporativa, governança
qual uma organização pequena pode tornar- comunitária e governança em parceria.
se fornecedora ou subfornecedora de uma Categ Governa Govern Gover Governan
orias nça ança nança ça em
empresa mãe, e a segunda, é um sistema Pública Corpora Comu Parceria
(Burocra tiva(Me nitária
flexível de organizações considerado o cia rcado)
Hierárq
sustentáculo de sociedades altamente uica)
desenvolvidas (empresas que se unem em Princí Autorid Oportu Confia Deliberaç
pios ade nismo nça ão
consórcio com objetivos amplos ou mais Estad Interven Estado Comu Parceiro,
o cionista, é fraco nidad regulador
restritos). regulad e e do e
or e minimal Bem- distribuid
Para o estudo foi utilizado o conceito dado produto ista estar or
r
por Le Galés (2004, apud CRUZ, 2006), o qual
Merc Fraco, Autorre Barga Instrume
define governança como um processo de ado limitado gulação nha ntos
r e superiore
coordenação de atores para alcançar socializa s de
dor coordena
propósitos próprios, discutidos e definidos ção/recon
hecer
coletivamente, desenvolvendo a orientação fraquezas

47
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Socie Soc. Civil Caridad Solida Associaçã comp


dade fraca, e, riedad o que etitiva
Civil vista benevol e garante )
como ência e os Tipos de governança
um filantro interesses
custo pia sociais; é Fonte: Bernier e outros. (2003 apud CRUZ, 2006).
vista c/
important A Rede estudada remete aos modelos de
e
Gove Centrali Corpora Basea Distribuíd Governança Comunitária e de Governança
rnanç zada tiva e da em a,
em Parceria, onde:
a Hierarq mercan comu parceria.
uicamen til nidad
te es a) Princípios: baseados na confiança
locais
Relaç Propried External Distrit Networki entre os atores, destacando-se a reputação
ões ade ização os ng,
como fator relevante;
entre Estatal Indust clusters,
as riais redes de b) Estado: importante parceiro e
organ associado
izaçõ s regulador, destacando-se a participação do
es
Relaç Hierarq Tecnocr Comu Democrac Ministério Público, Prefeituras e várias
ão uia acia e nidad ia,
com dualism e sistemas secretarias estaduais e municipais.
territ o sociais de
c) Mercado: se observam duas
ório inovação
Inter Benefíci Benefíci Benefí Pluralidad realidades paralelas, a primeira estabelece
esse o o cios e de
geral Público, privado Conju interesses uma forte tendência de barganha entre as
Uniform e soma ntos, , acordos
idade dos intere entre organizações da iniciativa privada,
dos interess sse interesses
interess es coletiv individuai associações, cooperativas e organizações do
es individu o s terceiro setor, a segunda, uma forma de
individu ais
ais coordenação e reconhecimento de
Elabo Tecnocr Corpora Redes Parceria
ração áticas(si tivista, polític institucio necessidades emergentes. Nesse caso, trata-
de mplista simplist a(plur nalizada(
políti e a e alista pluralista se das relações entre organizações de
cas informal formal e e formal)
) inform
terceiro setor, organizações públicas,
al) associações e cooperativas;
Imple Governo Vouche Regula Regulaçã
ment direto(di rs e ção o, d) Sociedade Civil: importante parceria
ação reta e incentiv social (normas e
de não os e leis) e e fortificação da rede, que serve como forma
políti competi fiscais(i organi contratos
cas tiva) ndireta zações (direta e de supervisão dos interesses sociais e grande
e sem competiti
aliado na aproximação e iniciação de novos
competi fins va)
tiva) lucrati trabalhos;
vos(in
direta
e não

48
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

e) Governança: ocorre de forma competitividade é observada com as


cooperativa eventualmente baseando-se empresas privadas, que competem na
nas comunidades locais e por meio de prática de preços junto as associações.
parcerias;
f) Relação entre as organizações: Em O estudo reforça a importância da

geral, baseiam-se no Networking e em redes governança em redes de cooperação como

de associados, em que o contato é uma forma de promover o desenvolvimento

considerado um importante aliado na das organizações e pessoas que,

resolução de conflitos e na alavancagem de isoladamente, não teriam capacidade e

objetivos; competência para obter todos os recursos

g) Relação com o território: situações que o mercado exige. Concluiu o estudo, que

localizadas e particulares são predominantes o fenômeno da governança em redes é um

as relações pela comunidade e, nos casos processo dinâmico e de extrema relevância

gerais, o envolvimento de muitos atores, estratégica para as organizações,

onde possíveis conflitos podem surgir, particularmente com características

partindo-se para a democracia como forma peculiares.

reguladora das relações.


h) Interesse geral: objetivos que
interagem entre si e favorecem a realização
de um objetivo único. Em geral, observa-se
uma pluralidade de interesses individuais;
i) Elaboração de políticas: Estas
ECONOMIA
observam as realidades pluralistas formais e Laura Schroeder Feijó15
informais, havendo a existência de parcerias
SILVA, Lucas Emanuel da; FARIAS, Tácito Augusto.
políticas e, também, institucionalizadas, e
UMA REVISITA A RONALD H. COASE. RDE-Revista de
j) Implementação de políticas: Desenvolvimento Econômico, v. 3, n. 35, 2017

predominância da regulação social e


A obra em análise pretende revisitar as
organizações sem fins lucrativos na prática
contribuições de Ronald Coase para a Teoria
de uma política indireta e não competitiva. A
Econômica por meio do exame dos

15
Bacharela laureada em Ciências Jurídicas e Sociais
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
49
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

fundamentos das suas principais ideias e do bem, mas sim o de administrar os recursos
contexto em que foram desenvolvidas em internamente, evitando os custos de se
comparação com a evolução das Ciências recorrer ao sistema de preços.
Econômicas. Em descrição à conjuntura, vale Dessa percepção se originou a teoria do
referir ter sido Ronald Coase um importante custo de transação, segundo a qual Ronald
economista inglês do século XX, laureado Coase afirma que usar do mercado – isto é,
com o prêmio Nobel de Economia de 1991 do sistema de preços – para transacionar
por mérito, especialmente, da elaboração da implica em custos como os de formular
teoria dos custos de transação e da teoria da contratos, levantar preços, colher
firma, que ganharam destaque com seus informações necessárias, conduzir
artigos “The Nature of the Firm”, em 1937, e negociações, inspecionar produtos, resolver
“The Problem of Social Cost”, em 1960. possíveis conflitos, entre outros. Nesse
O seu interesse quanto às diferentes sentido, em resposta à indagação (i), o autor
organizações das firmas, sobretudo os identifica o sentido da existência das firmas
processos de integração vertical, resultou na sempre que for mais rentável manter sua
construção das teorias da firma e do custo de estrutura de administração interna de
transação, publicada no artigo “The Nature recursos do que enfrentar os custos de
of the Firm”, em 1937. Esse estudo, ao tratar transação impostos pelo mercado, e, à
as firmas como um fenômeno econômico – indagação (ii), Ronald Coase percebe que o
buscando entender (i) por que as firmas crescimento da organização ocorre até que a
existem e (ii) do que depende o seu tamanho realização de uma transação extra dentro da
– impulsionou a superação do entendimento firma custe o mesmo de realizá-la no
de que a empresa seria mera abstração que mercado, sendo aspectos importantes, é
combina insumos a fim de maximizar juros. claro, os custos transacionais da firma e do
Considerando o entendimento de Adam mercado, o número de transações da firma,
Smith sobre a capacidade de coordenação a quantidade e o tamanho de erros
da economia pelo sistema de preços (“The cometidos pelo empresário nas transações e
Wealth of Nations”, em 1776), Ronald Coase o preço do fornecimento de fatores de
identificou que o papel da firma no mercado produção para empresas de maior porte.
não poderia ser a alocação de recursos, já Outro marco do autor foi a criação do
que o mercado já fazia isso perfeitamente chamado Teorema de Coase, que consistiu

50
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

na análise de externalidades a partir da distribuídos inicialmente os direitos entre as


relação entre custos e direitos de partes, caso em que a intervenção
propriedade no artigo The Problem of Social governamental seria desnecessária. Por
Cost, em 1960, como crítica à visão de Arthur outro lado, havendo custos de transação, a
Pigou de que o governo deveria intervir, distribuição inicial dos direitos de
mediante tributação ou legislação propriedade é estabelecida pela legislação
específica, a fim de restringir os agentes vigente, a qual é determinante para a
econômicos responsáveis pela geração de produção ou não da máxima economia, caso
externalidades negativas. Ronald Coase em que, de fato, a intervenção
conseguiu demonstrar a simetria do governamental geraria consequências e
problema da externalidade, uma vez que poderia até mesmo reduzir os custos de
evitar um agente econômico de produzir transação, especialmente se definisse – para
prejuízos a outros significaria causar além de um sistema de direitos disponíveis,
prejuízos ao primeiro. Nessa perspectiva, o que podem ser modificados por decisão das
que se deveria evitar seria o prejuízo mais partes – regras indisponíveis sobre as
grave, considerado o efeito total, não transações.
apenas o marginal. Posto isso, cumpre mencionar, para mais,
Seguindo essa lógica, Ronald Coase que as contribuições de que trata o artigo
percebeu a relevância da definição dos analisado sobre a vida e carreira de Ronald
direitos de propriedade e os impactos do Coase vão além do espectro puramente
sistema jurídico sobre o sistema econômico. teórico que envolveu a criação das
Inicialmente, ele constatou que, quando os inovadoras e vultuosas teorias dos custos da
direitos de propriedade estão desde o transação e da firma. Suas ideias
começo bem definidos e não existem custos formataram e deram peso e
de transação, a solução da barganha será reconhecimento à Nova Economia
sempre do Ótimo de Pareto (conceito que Institucional, conferiram maior realismo e
designa um estado em que os recursos estão impulsionaram pesquisas no ramo da
alocados da maneira mais eficiente possível, organização industrial e abriram espaço para
de tal forma que é impossível melhorar a o que viria ser o “Law and Economics”, bem
posição de um agente sem piorar outro), como proporcionaram instrumentos para
independentemente de como estivessem que sucessores e críticos aprimorassem suas

51
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

observações – como Williamson, ao relações entre os membros do Estado são


determinar níveis dos custos de transação e fortemente pessoais.
propor estruturas de governança, e Douglass De uma forma geral, a opção da literatura tem
North, ao constatar a multidimensionalidade sido rotular as sociedades de acordo com os
dos direitos de propriedade e a consequente seus princípios básicos como “democracias” e
impossibilidade da sua definição prévia com “não democracias”. Não obstante o
exatidão. entusiasmo da literatura mais recente acerca
do papel das instituições na economia pela
pesquisa das consequências da democracia
_______________________________________
para o desenvolvimento, esta literatura não se
AMBIENTE INSTITUCIONAL E
motivou a discutir mais a fundo o conceito de
DESENVOLVIMENTO
democracia de Dahl, preferindo elaborar seus

Rosângela Souza de Souza16 próprios conceitos. O mais sofisticado é o

FIANI, Ronaldo. Arranjos institucionais e conceito de Ordem de Acesso Aberto, de


desenvolvimento: o papel da coordenação em North, Wallis e Weingast (2009).
estruturas híbridas. Texto para Discussão, 2013

Uma breve consideração sobre instituições


políticas
Instituições são as regras – formais e
informais – que regulam as interações Cumpre reconhecer que, não obstante a
sociais, na definição já clássica de Davis e importância das políticas na promoção do
North (1971, p. 6). O Estado natural que, desenvolvimento, as instituições
segundo North, Wallis e Weingast (2009, p. desempenham também papel significativo,
38), é uma coalizão fechada entre as elites podendo obstaculizar a implementação de
para a partilha de benefícios, a restrição ao políticas desenvolvimentistas. Isso se torna
desenvolvimento de organizações e ao particularmente problemático no caso em
comércio, é necessária para garantir a que as regras institucionais devem propiciar
geração e distribuição de benefícios entre as uma participação adequada de agentes
elites, de forma a sustentar a aliança que privados em arranjos institucionais.
domina o Estado. Da mesma forma, todas as

16
Graduada em Direito pela PUCRS, Pós- Graduação
em Gestão Pública Municipal UFRGS, Pós- Graduação
em Direito Público ULBRA Canoas.
52
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Arranjos institucionais e desenvolvimento transação apresenta o mesmo enfoque nos


arranjos institucionais; porém, em vez de
A definição de arranjo institucional foi
supor que é possível solucionar
estabelecida de forma pioneira por Davis e
antecipadamente os conflitos que podem
North (1971). Um arranjo institucional
surgir, admite que em circunstâncias de
seria, de acordo com Davis e North (op.
elevada complexidade e incerteza podem
cit., p. 7), o conjunto de regras que
ocorrer pois, dada a racionalidade limitada
governa a forma pela qual agentes
dos agentes, os contratos tendem a ser
econômicos podem cooperar e/ou competir.
incompletos. Em presença de ambientes
Arranjos institucionais são regras que
complexos e de elevada incerteza, dada a
definem a forma particular como se
mesma racionalidade limitada dos agentes,
coordena um conjunto específico de
os contratos são geralmente incompletos.
atividades econômicas em uma sociedade
Isso não apresenta maiores problemas se for
(Fiani, 2011, p. 4).
possível substituir a contraparte na transação,
Uma primeira divisão ocorre entre as
pois neste caso a pressão competitiva entre
abordagens que privilegiam o papel do
as partes inibirá qualquer atuação
ambiente institucional na economia, seja
oportunista, que é a manipulação de
das regras gerais que governam o setor
assimetrias de informação com o objetivo de
público (na teoria da escolha pública) ou o
realizar ganhos indevidos.
setor privado (teoria dos direitos de
Assim, se os ativos envolvidos forem
propriedade), seja das abordagens que
específicos e vincularem as partes, para que a
estudam os arranjos institucionais.
transação possa ser preservada, é preciso
Entre estas últimas, tem-se novamente uma
constituir um arranjo institucional que
divisão: de um lado, há teorias que adotam
promova adaptações e ajustes entre as
um levantamento completo, ou seja, que
partes ex post (Oliver Williamson e Claude
supõem que as dificuldades contratuais
Ménard)
podem ser solucionadas antes do
desenvolvimento contratual, desde que as
Custos de transação e arranjos
provisões contratuais adequadas (na forma institucionais
de incentivos para alinhar as preferências do
agente com o principal) sejam adotadas. De uma forma geral, um arranjo institucional

Por outro lado, a teoria dos custos de especifica quais são os agentes habilitados a

53
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

realizar uma determinada transação, o características físicas do ativo. Por exemplo,


objeto (ou os objetos) da transação e as uma broca de grande resistência vai ter de
formas de interações entre os agentes, no possuir características físicas adequadas, e
desenvolvimento da transação, estando o isto tornará a broca específica em relação às
arranjo sujeito aos parâmetros mais gerais demais, independentemente de poder ter o
do ambiente institucional. mesmo desenho.
O mercado é um tipo de arranjo Há ainda a especificidade do capital humano,
institucional em que as partes podem técnico e cientista de alto nível, que são
substituir livremente e a qualquer momento exemplos característicos, pois sua formação
sua contraparte na transação, uma vez que é demorada, não apenas pelos anos de
o ativo transacionado não guarda qualquer educação necessários, mas também pelo
especificidade, e assim não existe qualquer aprendizado prático.
vínculo entre comprador e vendedor. O Os mercados não são adequados em
mercado que opera essencialmente por transações com ativos de elevada
meio de incentivos é o lugar por excelência especificidade, pelo fato de que ativos
da adaptação autônoma. Mas antes é específicos possibilitam a manipulação de
preciso compreender que nem toda informações e promessas por parte de
transação acontece necessariamente em agentes que estejam em posição
um mercado. Por exemplo, Markusen (2002, privilegiada na transação (atuação
p. 6) já apontava que em torno de 30% das oportunista).
transações internacionais não estão sujeitas à Por sua vez, um contrato também não é mais
possibilidade de substituição de contraparte suficiente para garantir as salvaguardas para
na transação.; a transação, pois com racionalidade limitada
Outro exemplo é o dos setores de em uma situação de complexidade/incerteza,
infraestrutura com a presença de empresas em que há a possibilidade de oportunismo
privadas reguladas. Williamson (1985, p. pelas partes, e o objeto da transação é um
326-364) argumentou enfaticamente contra ativo específico, torna-se difícil antecipar
as propostas de tentar reproduzir a todas as circunstâncias relevantes que no
concorrência de mercado em setores de futuro podem vir a afetar a transação. O
infraestrutura regulados. Uma terceira fonte contrato torna-se gravemente incompleto,
de especificidade diz respeito às então é preciso que se criem arranjos

54
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

institucionais que deem conta das hierarquia. O setor regulado é um dos


necessidades de ajuste ‘ex post’ aos termos exemplos empregados, há elementos de
da transação, à medida que circunstâncias mercado na forma de incentivos – a
imprevistas forem surgindo. Ou a alterntiva é empresa regulada obtém uma tarifa pelo
recorrer ao judiciário, onde terá uma serviço que presta; porém, ao mesmo
resolução mais custosa, onerosa e incerta. tempo, há elementos de hierarquia na
Esses arranjos ‘ex’ post são os arranjos forma de controles administrativos
institucionais alternativos ao mercado, que exercidos pelas agências reguladoras.
Oliver Williamson denominou, de forma São exemplos de híbridos, ainda: joint
genérica, hierárquicos e híbridos. ventures, alianças estratégicas, cadeias de
A hierarquia corresponde à estrutura fornecedores, franquias, parcerias público-
verticalmente integrada da firma, em que o privadas (PPPs), parques tecnológicos, etc.
processo produtivo flui internamente, O fato de os híbridos demandarem um
passando de uma etapa a outra sob controle centro estratégico não significa que o
da burocracia. Ao contrário do mercado, Estado é um candidato natural a
agentes responsáveis por cada etapa do desempenhar este papel. Ménard (2010)
processo produtivo não possuem cita vários casos em que o centro estratégico
autonomia, estando sujeitos a um controle é exercido por agentes privados, como o
centralizado. Empresas privadas e públicas franqueador, no caso das franquias
seriam exemplos de arranjos hierárquicos. empresariais.
Diz-se haver adaptação coordenada, pois,
frente a mudanças no ambiente da Arranjos híbridos em políticas de
desenvolvimento
transação, a adaptação dos agentes
envolvidos é coordenada pelos controles Será destacado, em particular, o papel do
administrativos, ou seja, pelos comandos Estado como agente privilegiado para
exercidos por agentes com autoridade para exercer a tarefa de centro estratégico em
isto definida hierarquicamente arranjos institucionais envolvendo agentes
Híbridos combinam incentivos e controles privados, com vistas ao desenvolvimento.
administrativos, de forma que há Muitas vezes, o Estado é o único agente em
elementos que se assemelham ao mercado, condições de desempenhar as funções
e elementos que se assemelham a uma necessárias para que o processo seja bem-

55
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

sucedido. A primeira função que o Estado do original). Desta feita, o problema do


deve desempenhar é a de coordenar os desenvolvimento nunca é exclusivamente
investimentos privados em ativos econômico, mas também politico.
específicos rumo a um equilíbrio superior,
corrigindo, assim, falhas de coordenação, Conclusão

que ocorrem quando a incapacidade dos


A complexa interação entre instituições e
agentes para coordenar suas ações resulta
políticas, em particular o problema de ‘ path
em um equilíbrioque é ineficiente.
dependence’, sugere que há um ganho analítico
O Estado não atua nos arranjos institucionais
significativo ao se diferenciar instituições de
apenas visando deslocar a economia de um
políticas. Contudo, o tema que tem assumido
equilíbrio de Nash “inferior” para um
mais visibilidade nas abordagens
equilíbrio de Nash “superior”.
institucionalistas da questão do
Como indica Chang (2003), e é discutido por
desenvolvimento tem sido o papel do ambiente
Fiani (2011, p. 216-221), a posição do Estado
institucional – as liberdades políticas e
lhe faculta a capacidade de atuar de forma
econômicas. O papel dos arranjos híbridos, pois
empreendedora, isto é, fornecendo uma
englobam, entre outros, os arranjos em que o
visão de futuro que vá além dos equilíbrios
Estado – assumindo o papel de centro
superiores que eventualmente existam e
estratégico – atua em parceria com o setor
formule novas possibilidades de
privado.
transformação do sistema econômico.
Uma vez que ativos específicos são uma
parte importante do investimento total de
uma economia moderna, e uma vez que o
processo de desenvolvimento provoca
mudanças significativas na estrutura da
economia deve-se esperar que o processo de
desenvolvimento resulte
consequentemente em conflitos.
Dessa forma, como enfatiza Fiani (2011, p.
217), “promover o desenvolvimento exige
reduzir os conflitos que ele provoca” (grifos

56
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Eva Motta17 econômica. A lógica empreendedora está no


centro da análise econômica e é ela que
KIRZNER, Israel M. Competição e a atividade
empresarial. promove o crescimento econômico e o
LVM Editora, 2017 (Capítulo 2)
desenvolvimento social. Destaca-se que o

Israel M. Kirzner desenvolve uma teoria do empresário puro percebe oportunidades de

processo de mercado em que a função lucro através da intuição empreendedora

empresarial assume papel central. Afirma-se que brota do estado de alerta do Tomador

que a atividade empresarial desempenha de Decisões.

um processo harmonizador na economia. N


2. Tomada de decisão e economização
Capítulo 2, Kirzner se dedica ao estudo do
papel do empresário no sistema de preços. A teoria do homem economizador de
Fundamenta seus argumentos nas teses de Robbins é do conhecimento perfeito, num
Ludwig Von Mises, que junto com Hayeki foi mundo em equilíbrio. O único campo de
um dos principais economistas da Escola ação para a tomada de decisão relaciona-se
Austríaca. Parte-se de um entendimento de com a oportunidade de troca de algo que se
mercado dinâmico, liberal, competitivo e de valoriza pouco por algo que se valoriza mais.
futuro incerto gerando oportunidade de Segundo Kirzner, o equilíbrio tira das
Lucro Puro. A Teoria da atividade pessoas o pensamento, impedindo o
empresarial de Kirzner é baseada num dos aprendizado e a vontade de evoluir. A
pontos principais de Mises, de que a suposição do pensamento perfeito exclui a
coordenação entre os mais variados agentes função empresarial e não percebem a
no mercado não acontece por acaso, mas é necessária prática da
resultado do elemento empresarial. concorrência/competividade. Os meios e
fins tem origem na mente das pessoas. A
1. A natureza da atividade empresarial
relação entre o conhecimento individual e as

O autor aduz que a atividade, a intuição realidades do mercado fazem parte dos

empreendedora econômica é algo lógico problemas estudados pela Escola Austríaca

racional para todos os indivíduos. Todos


agem sempre procurando obter vantagens

17
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional-
IMED e graduada em Ciências Contábeis pela UFRGS.
57
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

3. O empresário no mercado que o rendimento da operação seja maior


que o custo. O capitalista incorre nos riscos
Os tomadores de decisões estão engajados
e incertezas do investimento.
na ação humana Misesiana. Estado de alerta
empresarial. Num mundo sem 5. Lucros empresariais
conhecimento perfeito há oportunidades
que não foram exploradas. O tomador de Um proprietário de recursos como o

decisões precisa saber onde estão estas economizador robbinsiano procura tirar a

oportunidades inexploradas. A Teoria da maior vantagem possível para a troca de

Atividade Empresarial também é chamada seus ativos no mercado. Um empresário,

por alguns como a Teoria do Preço. O preço pelo seu estado de alerta explora, especula,

se forma através da oferta e procura, busca o lucro na diferença de preços entre a

pressupondo um ambiente de compra e a venda. Este lucro empresarial

competitividade. O empresário puro precisa puro é que agrega valor à economia, sendo a

descobrir onde os compradores vêm força motriz do mercado e da produção. A

pagando demais e onde os vendedores vem propriedade e a atividade empresarial

recebendo de menos e suprir essa devem ser vistas como funções

deficiência oferecendo para comprar por um completamente separadas.

pouco mais e para vender por um pouco


6. Atividade empresarial, propriedade e a
menos. Tomador de decisão nada tem a empresa
fazer num mundo perfeito da economização
robbinsiana. A empresa surge após os proprietários dos
serviços produtivos venderem a um
4. O produtor como empresário empresário os recursos necessários para
produzir alguma mercadoria. Assim, o
Por convenção, Kirzner diz que a atividade
negócio é consequência das decisões
empresarial está nas mãos do empresário
empresariais anteriores. Empresa é uma
puro e assim, exclui o proprietário de ativos
entidade, logo, não é a mesma coisa que o
do papel empresarial. Divide o mercado em
empresário puro (tomador de decisões). O
proprietário de recursos (capitalista),
papel de capitalista é necessário para tornar
produtor e consumidor final. As decisões
o lucro empresarial possível. Estes
empresariais estão nas mãos dos tomadores
proprietários de recursos financiam o
de decisão que não possuem nada. Basta
58
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

empresário porque acham o pagamento do medidas para aproveitar as oportunidades


juro atraente. A mesma pessoa pode ser de maximizar os lucros.
empresário e capitalista, bem como pode ser
empresário e proprietário de recursos. 10. A literatura sobre a atividade
empresarial
8. Atividade empresarial e conhecimento
O autor critica as teorias contemporâneas do
O que gera oportunidades para lucro
preço que ignoram a atividade empresarial.
empresarial puro é a imperfeição do
A literatura tem explicado o lucro e não
conhecimento dos participantes do
destacado o papel do empresário. O lucro é
mercado. A ignorância abre a possibilidade
inseparável da atividade empresarial.
de oportunidades inexploradas. Para
Kirzner enfatiza e valoriza a atividade
Kirzner, o conhecimento exigido para a
empresarial porque é ela que impulsiona o
atividade empresarial é do tipo “saber onde
mercado e traz desenvolvimento econômico
procurar o conhecimento de informações
e social.
concretas de mercado”; o estado de alerta é
o conhecimento abstrato.
11. Atividade empresarial segundo Mises

Kirzner construiu a teoria da atividade


9. Atividade empresarial e processo
equilibrador empresarial com base em Mises. A
importância da ação humana que trouxe
Kirzner destaca a importância crucial da
coerência e desenvolvimento à ideia que se
atividade empresarial no processo de
opôs à economização robbinsiana. A função
equilíbrio do mercado. O empresário
empresarial exige ação com práticas
utilizando-se da lei da oferta e da procura e
competitivas. Os lucros se originam da
sendo competitivo, procura estar atento as
ausência de um ajuste entre o mercado de
inúmeras oportunidades de lucro de um
produtos e o mercado de fatores e a
mercado em desequilíbrio que nunca será
atividade empresarial bem sucedida consiste
equilibrado. Na teoria do mercado é
em notar tais desajustes antes que outros os
importante neste momento a noção
notem.
empresarial. É hora de colocar em atividade
o estado de alerta. De reagir, adotando

59
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

12. Considerações finais pode demonstrar semelhança com o


Marxismo, Keynes e Schumpeter que partia
São elementos centrais na teoria da ação
de um enfoque microeconômico para
empresarial de Kirzner:
sistematizar vínculos do ambiente

(1) estado de desequilíbrio, tal que existem institucional com as novas trajetórias de

oportunidades de lucro puro; inovação. A tradição institucionalista trouxe

(2) equilíbrio como compatibilidade de a possibilidade de se avançar em direção da

planos (ações e expectativas); teoria dinâmica das instituições. ”

(3) estado de alerta da função empresarial Acrescenta que “ainda na mesma década,

para percepção de uma oportunidade de Oliver Williamson e seus estudos sobre

lucro puro; economia industrial e mercado de trabalho,

(4) tendência à extinção do lucro puro (dos com leitura inteiramente acessível aos não

erros de decisão/alocação); economistas, manteve o cerne das relações

(5) tendência de descoberta de novas entre firmas e fornecedores em vários

oportunidades de lucro; contextos, introduzindo o marco conceitual

(6) tendência ao equilíbrio na economia; da “abordagem dos custos de transação”,

(7) impossibilidade do equilíbrio no mundo tornando-se o clássico contemporâneo da

REAL escola”. Adiante expõe que “para os


institucionalistas, o papel das instituições
que regulam o ambiente econômico é
determinar as relações econômicas na
Percepções sobre o Institucionalismo sociedade. A cada tempo as instituições são
diferentes, assim a realidade não se encaixa
Eduardo Teixeira Farah 18
em modelos a qualquer momento. As raízes

MACHADO, Vinicius Cassol da Silveira. Oliver mais antigas, que remetem ao historicismo
Williamson: uma revisão de literatura. 2016
econômico alemão, exercem uma influência

A autor faz referência ao “institucionalismo ímpar nesse modo de pensar. Por conta

como a linha de pensamento oposta ao dessa corrente surge uma nova linha de

neoclassicismo que, em alguns aspectos, pensamento, seu marco enquanto escola de

18
Mestre em Direito dos Negócios e da Integração Empresa e da Economia pela FGV; Bacharel em
Regional pela UFRGS; Especialista em Direito da Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS.
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pensamento econômico independente a aos não economistas, manteve o cerne das


partir do trabalho pioneiro dos autores relações entre firmas e fornecedores em
norte-americanos Veblen, Commons e vários contextos, introduzindo o marco
Mitchell. ” conceitual da abordagem dos custos de
Na busca de uma percepção contemporânea transação, tornando-se o clássico
do institucionalismo, o autor reúne contemporâneo da escola. ”
“conceitos e ideias tanto do velho quanto do
novo institucionalismo, ou seja, as Contribuições Relevantes de Williamson à
Teoria Econômica
instituições não podem existir na ausência de
uma ação individual, subsiste, portanto, uma Por meio da análise de Coase o estudo lança
dependência entre instituições e ação o questionamento sobre “por que uma
humana, onde uma não existe sem a outra. ” empresa internaliza atividades? Com um
Arremata que “para os institucionalistas, o mercado eficiente ela poderia obter insumos
papel das instituições que regulam o a um custo inferior, supondo a existência de
ambiente econômico é determinar as ganhos de eficiência provenientes da divisão
relações econômicas na sociedade. A cada do trabalho (...) a teoria neoclássica
tempo as instituições são diferentes, assim a estabelecia que a firma era um mero agente
realidade não se encaixa em modelos a maximizador de lucro, desprovido de outro
qualquer momento. As raízes mais antigas, interesse que não o de obter o maior
que remetem ao historicismo econômico excedente possível dada as expectativas dos
alemão, exercem uma influência ímpar nesse agentes e as condições que prevaleçam no
modo de pensar. Por conta dessa corrente mercado. Embora esse conceito da firma
surge uma nova linha de pensamento, seu facilitasse enormemente o trabalho de
marco enquanto escola de pensamento pesquisa e elaboração de modelos de
econômico independente a partir do equilíbrio e crescimento econômico, ele logo
trabalho pioneiro dos autores norte- se revelou incapaz de lidar satisfatoriamente
americanos Veblen, Commons e Mitchell. ” O com realidades mais complexas, tais como
trabalho destaca que “ainda na mesma estruturas oligopolistas e imperfeições de
década, Oliver Williamson e seus estudos mercado. Desta forma ela não era capaz de
sobre economia industrial e mercado de explicar o surgimento de estruturas
trabalho, com leitura inteiramente acessível oligopolistas dentro do capitalismo,

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fenômeno sobre o qual a tese maximizadora a expansão da ação individual, a instituição


pouco teria a dizer. ” Por outro lado, foram aflora da própria indigência de recursos que
apresentadas as percepções de Veblen e seria então sanada com o trabalho físico,
Commons que trabalham com três principais sempre claro, que não houvesse restrições
pressupostos em comum acordo: “a) a individuais. ”
tecnologia não é dada, não pode ser isolada Por sua vez, Oliver Williamson estabeleceu
como o fazem modelos neoclássicos; b) não as diferenças entre a VEI (Velha Economia
há equilíbrio estável, logo é importante Institucional) e a NEI (Nova Economia
estudar como e por que surgem os Institucional), haja vista que “o arcabouço
desdobramentos das mudanças na teórico da NEI enfoca, fundamentalmente,
economia; c) atenção ao processo, a aspectos microeconômicos, uma teoria da
evolução da economia é gerada por firma em uma abordagem não convencional.
transformações tecnológicas. ” São relevantes para os estudos: a história
Destarte, “o velho institucionalismo foi econômica, os direitos de propriedade,
sendo cunhado através dos moldes de uma sistemas comparativos, economia do
ciência empírica, diferentemente das teorias trabalho e formas de organização industrial.
ortodoxas, com pobre contato e carregadas Recuperam-se assim conceitos importantes
de suposições a respeito do real de Coase (1937). É incorporada a ideia de
funcionamento da economia. ” Em conexão que da firma para fora poderá existir um
com a esfera do direito, o estudo apresenta mecanismo de preço, mas em especial
as principais obras de Commons “Legal internamente. O mecanismo de organização
foundations of capitalismo” (1924) e é baseado na hierarquia, logo os contratos
“Institucional Economics” (1934) e expõe não são feitos somente por mecanismos de
que “nelas o direito é formulado pela preços. ”
resposta da escassez e os conflitos de Coase formula suas ideias baseado nos
interesse sendo um processo de resposta às conceitos de custos de transação,
relações entre os indivíduos da sociedade e racionalidade limitada, oportunismo e
não algo simplesmente imposto por um especificidade de ativos. Já North, também
grupo seleto de indivíduos. Para o ganhador do Prêmio Nobel, se distancia das
economista a instituição será como uma ideias de Coase e Williamson, pois analisa as
ação coletiva que controla, libera e favorece instituições como restrições humanamente

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inventadas que estruturam as interações provável que estava sendo criada uma
humanas. Os aspectos sociais estão competição desleal de mercado. ”
presentes nos estudos de North, o qual, Posteriormente, “em 1971 foi publicado na
inclusive afirma que “as instituições são as American Economic Association o artigo
regras do jogo. ” ‘The Vertical Integration of Production:
Nesse diapasão, o autor afirma que “o Market Failure Considerations’ muito
grande mérito de Williamson foi ir além de relevante para a carreira de Willamson,
uma crítica ao mainstream e à compreensão especialmente, por ser um trabalho que o
da firma com o enfoque em custo de levaria para a TCT. Pode-se destacar: a) a
produção. Williamson adiciona um ótica da ortodoxia foi suplantada pela ótica
pensamento alternativo. Não estava do contrato e governança; b) a racionalidade
propondo uma adição à teoria dos custos de é limitada, em contratos complexos é
produção, ou seja, tinha como objetivo a incompleto; c) o comportamento durante o
formulação de um pensamento novo para intervalo de execução do contrato amplia a
um problema antigo e parecia ter exaurido ideia de auto interesse simples; d) os custos
as suas explicações. ” Expõe o autor que “o de transação são positivos, condicionados
economista trabalhou na divisão antitruste aos atributos de transação; e) a adaptação é
como, ‘Special Economic Assistant to the relevante para o desempenho da firma; f) as
Head of the Antitrust Division of the US decisões da ação institucional decorrem dos
Department of Justice’, entre 1966 e 1967. níveis de dependência bilateral. ” Nesta
Aquele foi um grande salto para formulação perspectiva, “a decisão de integralizar ou
de novas teorias. No fim da década de 60 a terceirizar um bem ou serviço foi
liderança e funcionários da Divisão compreendido por Williamson que animado
Antitruste defendiam, de forma ligou para seu amigo Dan McFadden
predominante, a visão teórica dos preços, relatando que ampliara sua compreensão
analisavam a concorrência com base nos sobre o tema, mas que encontrava dois
preços de mercado e custo de produção. grandes desafios: como colocar todo esse
Então se uma firma optava por uma conhecimento e seus desdobramentos no
verticalização de sua produção acendia uma papel, e como ter uma teoria tão completa
luz amarela alertando a divisão que era sobre a firma sem testá-la empiricamente. ”

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Por meio da expansão dos estudos de que não ocorrem por meio dos mercados e
Williamson e “como todos os sim dos contratos. Se o termo ‘custo de
desdobramentos do institucionalismo a transação’ é hoje tão comum, isso devemos
escola não é fechada em seus conceitos, a ambos: Coase pela criação e Williamson
permitindo muitos tipos de abordagem. Logo pela difusão. ”
é possível o desenvolvimento de muitas teses “Recentemente, o neoinstitucionalismo
a contar do que foi produzido por reverberou o desenvolvimento econômico,
Williamson. ” A denominada trilogia de além de ter seus conceitos disseminados em
Williamson é composta pelas obras: “Market agências multilaterais. Em contrapartida, o
and Hierarchies (1975); The Economic arquétipo principal foi base de discussões
Institutions of Capitalism (1985) e The relevantes sobre a reforma do Estado por
Mechanisms of Governance (1996). Estes autores oriundos de outras matrizes teóricas,
livros buscam de forma minuciosa a autores estes que recusam o paradigma
compilação dos vários artigos publicados, neoclássico, e seu projeto geral: a ideia do
em que não era possível explicar suas ideias comportamento maximizador, onde o
de forma agrupada e com uma linha Homem Econômico pode ser substituído pelo
contínua de pensamento devido a restrições Homem Contratual, sem instituições, o que
estilísticas típicas das publicações da para os neoclássicos é uma ficção, para
profissão. ” Oliver Williamson é um modelo simples e
Outro aspecto salientado pelo autor é que viável. ”
“Se Coase foi inovador em trazer um novo “A compreensão de Williamson deve
ponto de vista, foi Oliver Williamson quem começar pelos seus pressupostos que são
transformou ideias em prática, exaustivamente trabalhados em Markets
desenvolvendo os fundamentos para estudos and Hierarchies. São eles: a) os custos de
na área da Economia das Organizações, de transação são associados aos modos
forma que pudessem fazer análises pautadas institucionais de organização; b) a
por modelos realistas. Desde a década de 70, tecnologia tem sua importância, mas não é
Oliver Williamson se dedica incansavelmente fator fundamental da existência da firma; c)
ao seu modelo, testando hipóteses sobre os o centro da análise são as falhas de mercado
mecanismos de governança das (...) Em Market and Hierarchies, Williamson
organizações, sobre as relações entre firmas destaca que a organização interna da firma

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é determinante para o seu resultado, de tal domínios da firma e por vezes podem ocorrer
forma que gera vantagens competitivas. Por trocas de produtos com outras firmas, algo
vezes essa necessidade de organização surge como troca de favores. Em resumo, é clara a
com a grande incerteza nas transações e, visão de Williamson que o principal objetivo
assim, uma busca das firmas por verticalizar da organização econômica é a economia de
processos no intuito de diminuir as custos de transação via compromissos
possibilidades de comportamentos creditáveis, ou seja, gerar por contratos e
oportunistas e contratos ineficientes. Dessa relações um compromisso de evitar os
forma, as falhas de mercado levam a firma a esforços de comportamentos oportunistas. ”
verticalizar a produção, ou partes dela. ” “Oportunismo, os indivíduos podem tirar
“Logo nos primeiros capítulos de The vantagem de duas principais formas: a) no
Economic Institutions of Capitalism são momento de firmar o contrato, ao incluir
abordadas as já citadas ideias de cláusula que lhes darão vantagem, sem que
oportunismo, racionalidade limitada, assim haja uma total compreensão da outra parte;
como o conceito de transação, intercâmbio e b) durante o contrato, deixando de executar
contratos. a) risco moral é a não o contrato de forma satisfatória, seja por um
compreensão se as partes de um contrato excesso de confiança, seja por pouca
farão o que foi combinado se forma fiscalização da outra parte. ”
satisfatória, e ocorre quando seu próprio “Essa dificuldade de avaliação é decorre dos
interesse é inconsistente com os interesses seguintes fatores: 1) racionalidade limitada,
do principal; b) Hold up: esse oportunismo visto a dificuldade de avaliar os preços; 2)
ocorre quando um dos lados tem uma comportamento oportunista pela criação de
dependência extrema do outro, não havendo carteis; 3) especificidade dos ativos que
possibilidade de troca de contratante, levam a dependência de poucos
resultando em um grande poder, visto que é fornecedores; 4) assimetria de informação, o
possível não cumprir com partes do contrato comprar pode não saber sobre a relação
e o contratado nada poderá fazer. ” entre as firmas e desconhecer seus custos
“Definição do limite da firma é difuso quando (...) o conceito de oportunismo, permite que
tratado pela compreensão da firma como os agentes atuem estrategicamente na
um conjunto de contratos. É importante procura de seu auto interesse sem que isso
destacar que as relações se estendem dos leve ao colapso da firma, como quando as

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firmas usam tecnologias bem padronizadas decisões em cenários iguais, ou seja, algo
ou criam mercados internos de trabalho. mais permeia a decisão. A sugestão é que a
Consequentemente, tanto a inclusão de economia comportamental seja a fronteira
agentes oportunistas quanto a de elementos da TCT, considerando que nela poderemos
contrários que reduzem o impacto deste tipo encontrar mais respostas sobre a previsão de
de comportamento, representam maneiras comportamento das firmas. É possível que o
de remodelar a realidade. Esta reconstrução avanço da TCT depende de olhar mais a
da realidade deve evitar que a contradição fundo para dentro das firmas e seus
percebida no esquema teórico do indivíduos, para analisar a sua organização e
mainstream reapareça. ” o comportamento dos indivíduos tomadores
“Para a execução dos contratos é necessária de decisão”.
a criação de medidas de desempenho e
controles de resultado, demandando
recursos para essa atividade das firmas. A
atividade de verificação dos contratos não é
A Economia do Conhecimento: uma
um custo de produção, ao contrário, é um
contribuição conceitual
custo direto oriundo do oportunista. Muitas
vezes quando esses custos são muito Matheus da Silva Pitaméia19
elevados pode a firma optar por não efetuar
BAQUERO, Pablo Marcello. Collaborative Inter-Firm
o contrato. ” Innovation In The Frontiers Of The Knwolegde Economy:
Preliminary Remarks Towards Rethinking Private Law For
“A Performance atributes pode ser do tipo:
the New Economy. Cadernos de Programa de pós-
a) denota a adaptabilidade da firma ao graduação em Direito. UFRGS. Ed. digital. V. 16, nº. 01, pg.
152 a 171. Jan/ago 2021.
mercado e o tipo; b) a capacidade de CAFAGGI, Fabrizzio. Contractual Networks, Inter-Firm
Cooperation and Economic Growth. Disponível em:
cooperação. ‘Contract law’ diz respeito à <https://www.eui.eu/Documents/DepartmentsCentres/Law
/Publications/Introduction.pdf>. Acesso em 26 out.2021.
necessidade de realização de contratos POWEL, Walter; SNELLMAN, Kaisa. The Knowledge
Economy. Annu. Rev.Socio. Stanford, California.
jurídicos formais para proteção da
Vol.30: 199-220. February, 2004.
transação. ” SMITH, Keith. What is the ‘knowledge economy’?
Knowledge Intensity and Distributed Knowledge
Por fim, sintetiza o autor que “é possível que Bases. The United Nations University, 2002,
Discussion Paper Series, Maasticht, 2002.
diferentes gestores tomem diferentes

19
Advogado. Formado em direito pela URCAMP, pós-
graduando em gestão, governança e setor público
pela PUCRS.
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UNGER, Roberto Mangabeira. A Economia do centralização do conhecimento na


Conhecimento. Tradução por Leonardo Castro. São
Paulo, SP: Autonomia Literária, 2018. economia: produtos popularizados nas
últimas décadas parecem ser a
A economia do conhecimento, como leciona
materialização de experimentos e inventivas
Unger (2018), tem a tendência de mudar
apoiadas, de maneira ampla, no
radicalmente a cultura moral de produção,
conhecimento. “A aproximação” – diz o
fazendo crescer a discricionariedade e o
autor – “da produção à imaginação está no
ânimo de cooperação entre os agentes da
coração da economia do conhecimento, e
atividade produtiva. Mudanças políticas e
cada vez mais à medida que se difunde e
tecnológicas que levaram à globalização das
aprofunda”. Outra característica, é a
relações econômicas – e a uma maior
promessa intrínseca da Economia do
interdependência das economias mundiais –
Conhecimento de mudar a cultura moral de
produziram novas formas de
produção, aumentando o grau de
desverticalização da produção, com as quais
discricionariedade no processo produtivo e a
os formatos de rede estão associados
cooperação entre os seus agentes. Com
(CAFAGGI, 2011, tradução nossa).
efeito, a manufatura mecanizada, para a qual
Para conceituar a economia do
a máquina era apenas um instrumento de
conhecimento é preciso não confundi-la com
repetição, não exigia um grau elevado de
o uso de seus produtos e serviços, como o
discricionariedade no seu processo, uma vez
emprego de computadores e outras
que a produção se dava através de um
tecnologias para gerenciar o processo de
processo mimético, dentro de uma
produção. A economia do conhecimento, em
organização hierárquica (UNGER, 2018).
um primeiro vislumbre, está ligada ao
Mas não só o novo esquema de produção
acúmulo de capital tecnológico, capacitações
demanda um aumento da cooperação entre
tecnológicas e ciência aplicados à condução
seus agentes, senão também a própria
do processo produtivo. Mas a administração,
economia em que estamos inseridos. Essa é
coordenação e produção centradas no
a lição de Baquero (2021, tradução nossa),
capital tecnológico, reitere-se, traduz o
que situa o início desse debate na
significado mais superficial de economia do
observação de que grandes empresas não
conhecimento. Em uma segunda visão, de
estavam mais produzindo internamente
olhar mais profundo, a economia do
todas as peças indispensáveis para a
conhecimento é caracterizada por uma
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montagem dos seus produtos, mas interdependência entre as empresas, além


delegando a outras empresas a produção de da intensa interação entre elas, criando
uma fatia do objeto mercantil final, deveres de cooperação, informação e
estabelecendo relações cooperativas não só controle de qualidade demanda uma
entre empresas, mas também com institutos legislação adaptável e que abranja esses
de pesquisa, universidades et cetera, o que é problemas de ordem contratual.
chamado de movimento de No campo jurídico-institucional, Unger
desverticalização econômica. O autor (2018) sugere que é preciso tornar a
mostra, como exemplo, o processo de economia do conhecimento socialmente
produção de um Boeing 787, que é, em inclusiva e também sugere inovações de
verdade, uma produção transnacional que ordem legal. Para o autor, o ordenamento
integra diversas companhias de muitos jurídico deve servir para ampliar o acesso às
países, cada uma especializada em uma oportunidades e recursos para a inovação e
parte, cooperando para o alcance do produção, por meio do acesso ao capital e à
resultado final. tecnologia. Além disso, a força de trabalho
A Economia do Conhecimento não está, no deve ter acesso ao capital intelectual e
entanto, desenvolvida a pleno dominar as formas de desenvolvimento
funcionamento. Ao contrário, permanece desse sistema de produção.
mais ou menos confinada e modesta nas Mas há outras diretrizes a observar, uma
suas consequências práticas possíveis, ainda delas refere-se às capacidades cognitivo-
que deixe escoar, em certos lugares, o sumo educacionais dos agentes operadores. Para
das suas possibilidades institucionais reais. Powel e Snellman (2004, tradução nossa):
Para que se alcance a máxima potência das “há um consenso de que existe uma
novas formas econômicas, algumas discrepância entre as competências de certa
diretrizes devem ser seguidas. Para Baquero classe de trabalhadores e os tipos de
(2021, tradução nossa), os modelos empregos que integram a economia do
emergentes de negócios não podem ser conhecimento. A evolução tecnológica é
tratados – no campo do direito – pelos comumente apontada como fator
ordenamentos vigentes tradicionais, determinante para a crescente desigualdade
concebidos para os modelos negociais salarial (…). Pesquisadores geralmente
tradicionais. O grau elevado de concordam que a mudança tecnológica

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aumentou a demanda por trabalho


altamente especializado em detrimento do
trabalho [puramente manual] de baixa
DIREITO
habilidade”.
A economia do conhecimento exige uma
Eduarda Jade Stumer Santos20
ordem de capacidades mais elevadas que a
produção massificada de outrora. O Ronaldo Porto Macedo Junior, CONTRATOS
RELACIONAIS E DEFESA DO CONSUMIDOR, Ed. Max
operador da máquina deve possuir, em certo Limonad, 1998

grau, a mesma capacidade técnica e de seus


CAPÍTULO IV – ELEMENTOS PARA UMA
inventores. Para tanto, a educação deve
TEORIA CONTRATUAL RELACIONAL:
abandonar a repetição mecânica de CONTRATOS DESCONTÍNUOS E
CONTRATOS RELACIONAIS
fórmulas e priorizar uma formação criativa
que aumente as capacidades analíticas. Com
1. A teoria relacional: origens e
relação ao conteúdo, a nova educação para a pressupostos
economia do conhecimento deve preferir o
aprofundamento seletivo ao enciclopedismo A teoria dos contratos relacionais, de Ian

generalista e, no campo social, a cooperação Macneil, é fruto do desenvolvimento de

deve fazer parte, de maneira profunda, do trabalhos empíricos e teóricos de juristas

processo de aprendizagem. que desde há muito já vinham trabalhando

A economia do conhecimento não é uma na mesma direção. Serão analisados os

tendência, deve-se dizer por fim. Mas uma elementos fundamentais para uma teoria do

realidade que necessita ganhar uma moldura direito contratual relacional, com objetivo

institucional, jurídica e social adequada para de criticar os limites da teoria contratual

que alce voo ao infinito de suas clássica, fundada num conceito bastante

possibilidades, principalmente no que diz limitado e historicamente determinado de

respeito às atividades econômicas e à vínculo contratual. O autor entende por

superação de desigualdades. direito um conjunto de práticas normativas,


práticas de coerção, de sanção social,
políticas e da racionalidade.

20
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora em Civil na UFRGS, Assistente jurídica voluntária no SAJU
Direito Contratual Empresarial e Responsabilidade na área de Direito Civil.
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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Reconhece-se que não existe uma coisa que internalizações. A existência de relações
poderíamos chamar de contrato típico; por contratuais em andamento, sejam elas
outro lado, é importante reconhecer que há hierárquicas ou não, cria expectativas de que
um conjunto de práticas jurídicas que trocas futuras ocorram, ao menos em parte,
permitem identificar historicamente a em termos previsíveis.
formação de uma identidade conceitual. O autor traz dois exemplos paradigmáticos
Trata-se, sim, de descrever categorias que para descrever os contratos descontínuos e
permitam compreender e operar a relacionais: (1) compra de gasolina numa
experiência contratual – pois não se concebe rodovia – transação é instantânea,
uma relação contratual sem instituições completa, rápida e impessoal; e (2)
estabilizadoras, regras sociais, valores, casamento tradicional – caráter não
economia e linguagem; a sociedade é fonte exclusivamente econômico, com constante
primária do contrato. possibilidade de revisão e mudança.
Uma outra fonte do contrato é a Sete elementos da transação contratual:
especialização ou divisão social do trabalho, 1) Relações primárias e não-primárias e
a qual conduz a uma forma de troca entre número de participantes; 2) Medida e
bens diferentes produzidos por pessoas especificidade da transação; 3) Começo,
distintas. Um terceiro elemento seria a duração e término; 4) Planejamento; 5)
liberdade para escolher, em algum grau de Divisão e compartilhamento de ônus e
autonomia da vontade. Um quarto benefícios (cooperação e solidariedade) e
elemento, a consciência de que o passado fontes de apoio moral e econômico; 6)
desempenha importante papel de Poder; 7) Visão e expectativas dos
estabilização de expectativas. participantes.

2. Elementos promissórios e não- 3. Relações primárias e não-primárias


promissórios dos contratos
Primeira característica distintiva entre os
Dois são os principais tipos de projetores que
contratos descontínuos e os contratos
encontramos na experiência contratual
relacionais: estes exigem intensamente as
desde a antiguidade: (1) promessa
relações primárias.
individual; e (2) comandos, status, papel
Distinção entre as relações primárias e as
social, parentesco, padrões burocráticos,
relações não-primárias:
obrigações religiosas, hábitos e outras
70
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

1) nas relações primárias os participantes agentes envolvidos na transação e


interagem como indivíduos únicos e totais; a negociação.
resposta é a cada pessoa particular e não é
transferível para outras pessoas – responde 4. Medida e especificidade da transação

livre e espontaneamente permitindo que


Medida da transação econômica: um
sentimentos entrem na relação.
contrato descontínuo puro deve ser
2) Na relação primária a comunicação é
facilmente monetizado; nos contratos
profunda e extensiva, e relações não-
relacionais, podem envolver a troca de
primárias tendem a restringir-se a modos
valores não monetizáveis ou, ao menos, não
formais e públicos de interação.
tão facilmente conversíveis; ex. contratos de
3) Nas relações pessoais a satisfação do
cooperação tecnológica estabelecidos entre
indivíduo é preponderante.
empresas.
Os contratos relacionais, ao contrário dos
descontínuos, envolvem relações com a
5. Começo, duração e término
pessoa integral; relações profundas e
extensivas de comunicação através de uma A duração de um contrato descontínuo

variedade de modos e elementos geralmente é curta. Nos contratos

significativos de satisfação pessoal não descontínuos, o início e o término da

econômica. transação são produzidos num momento

Nos contratos descontínuos puros há apenas definido e único.

duas partes. Nos contratos relacionais, é


bastante comum o surgimento de 6. Planejamento e visão dos participantes

verdadeiras redes de agentes e


Os contratos descontínuos em geral dão
participantes, o que aumenta
maior atenção à substância das transações
substancialmente a complexidade interna
como, por exemplo, o objeto da venda,
das relações contratuais; pode haver
preço, prazo de pagamento. Nos contratos
contratos relacionais com apenas duas
relacionais, o planejamento considera
pessoas, como é o caso do casamento. As
outros aspectos como a performance no
formas de organização das ‘networks’ de
futuro e a condução de planejamentos
produção apoiam-se cada vez mais em
futuros – maior flexibilidade é requerida.
elementos de confiança pessoal entre os
Nos contratos relacionais o planejamento vai

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

assumindo um caráter menos substantivo e ambiguidade nesta definição ao analisar os


mais processual ou constitucional, e é por contratos de sociedades. Segundo a
isso que os contratos relacionais dependem orientação privatista, o contrato é um
inteiramente de cooperação futura, não instrumento destinado a resolver interesses
apenas para o cumprimento do que foi em conflito, pretensões em luta.
firmado, mas também para o planejamento A sociedade pertenceria à categoria desses
extensivo de atividades substantivas da negócios plurilaterais porque os interesses
relação. dos que a constituem convergem para fim
comum. O oposto ocorre nos contratos
6.1. Contratos de adesão e relação de relacionais, onde os benefícios e ônus são
adesão
compartilhados.
Mesmo em relações contratuais Nos contratos de cooperação, o objetivo
padronizadas ou de adesão, há uma econômico seria a troca de serviços
diferença substancial entre os contratos economicamente combinados. Este serviço
relacionais e os contratos descontínuos, à não precisa ser necessariamente comum
medida que nos primeiros a adesão se dá para as partes, a troca pode demonstrar-se
através de uma relação em curso. Nos vantajosa para apenas uma das partes.
contratos de adesão descontínuos importam
7.1. Definição de conceitos: solidariedade,
na adesão a um planejamento (ex. a
cooperação e comunidade
execução de uma lavagem de carro) pré-
definido, certo e não variável. Usualmente os conceitos de solidariedade e
cooperação são utilizados de maneira
7. Divisão e compartilhamento de ônus e intercambiável para definir o elemento que
benefícios (solidariedade, cooperação e
mantém as trocas coesas.
fontes de apoio moral e econômico)
Cooperar é, de fato, dividir com outro uma
A função do contrato descontínuo é a troca tarefa comum. Para Durkheim, a
ou transferência da inteira responsabilidade solidariedade é o elemento de coesão social
de benefícios e de ônus particulares de uma (de natureza moral) que permite aos
parte para a outra. Para a teoria tradicional, homens estabelecerem relações de
os interesses das partes são antagônicos e cooperação. A solidariedade é definida com
individualistas, o que gera certa o elemento moral pressuposto nas relações

72
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

de cooperação, entendidas como divisão vinculação essencial entre as suas partes,


com outrem de uma tarefa comum. que as torna articuladas e reciprocamente
Cooperação seria a ação ou trabalho de um afetadas, tendo em vista uma medida que se
ou mais indivíduos com outros. Todo desenvolve no interior mesmo deste
contrato, seja ele descontínuo ou não, é um conjunto.
ato de cooperação. A definição proposta Dois sentidos básicos da ideia de
pelo autor é a de que cooperar é associar-se solidariedade: (1) sentido moral que vincula
com outro para benefício mútuo. A definição o indivíduo à vida, aos interesses e às
integral seria “cooperar é associar-se com responsabilidades dum grupo social; e (2)
outro para benefício mútuo ou para divisão relação de responsabilidade entre pessoas
mútua dos ônus”. A mutualidade de unidas por interesses comuns, de maneira
benefícios é percebida a partir da ideia de que cada elemento do grupo se sinta na
equilíbrio substancial nas trocas. obrigação moral de apoiar o(s) outro(s).
Um fator distintivo entre os contratos
descontínuos e relacionais: contratos 7.2. Solidariedade, confiança (trust) e
cooperação econômica
descontínuos pressupõem um equilíbrio e
igualdade formais entre as partes Diversos estudos desenvolvidos pela
contratantes, já nos contratos relacionais há literatura denominada neo-institucionalista
uma divisão de ônus e benefícios entre as ou econômico-sociológica têm enfatizado a
partes contratantes. importância das relações de confiança na
O acordo ou contrato de cooperação cria formação das novas estruturas e redes de
vínculos mais estreitos do que a mera produção econômica, baseadas em
relação contratual descontínua, à medida “networks”. A confiança vai se tornando um
que as intenções, expectativas genéricas e elemento produtivo mais importante,
compromissos sobre o desenvolvimento podendo ser entendida como a expectativa
futuro têm força vinculante. mútua de que, numa troca, nenhuma parte
A relação de solidariedade, em contraste irá explorar a vulnerabilidade da outra. A
com a relação de cooperação, refere-se a um confiança constitui, pois, um dos elementos
conjunto de regras mais amplo e complexo. do conceito de solidariedade.
Ela se reporta a um conjunto de regras de Os estudos têm demonstrado a importância
julgamento que impõe um certo tipo de da criação de mecanismos institucionais

73
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

capazes de aumentar o nível de confiança quantidade, prazo de entrega etc. deixam de


nas economias locais de modo, inclusive, a ser perfeitamente definíveis a priori.
ampliar a sua produtividade. A ampliação do Em síntese, o caráter acessório dos deveres
poder de autogoverno e formação de de cooperação se transfigura, pois, de três
estruturas mais flexíveis de contratação e maneiras. Em primeiro lugar, a cooperação
renegociação, como os contratos assume um caráter central no contrato. Em
relacionais. segundo lugar, o dever acessório de
cooperação deixa de ser um princípio
7.3. O dever de cooperar e o dever de subsidiário na interpretação dos contratos,
solidariedade
que deve ser invocado apenas para
Depois da segunda metade do século XX, a preencher lacunas, quando os demais
teoria dos deveres acessórios ou princípios básicos (autonomia da vontade,
secundários e ainda os deveres laterais ou vinculatividade da obrigação, liberdade
correlatos teve ascensão. Para Antunes contratual etc.) não bastem para resolver o
Varela, os deveres secundários de prestação problema, e passa a ser um princípio básico
seriam típicos das obrigações complexas e de todos os contratos relacionais, ainda que
incluiriam “não só os deveres acessórios de sua importância varie conforme as
prestação principal (destinados a preparar o circunstâncias particulares de cada caso. Por
cumprimento ou a assegurar a perfeita fim, o dever de solidariedade impõe a
execução da prestação), mas também os obrigação moral legal de agir em
deveres relativos às prestações substitutivas conformidade com determinados valores
ou complementares da prestação principal”. comunitários, e não apenas segundo uma
O “dever de colaboração ou cooperação” lógica individualista de maximização de
não constitui o objeto primário da obrigação. interesses de caráter econômico.
Mas os contratos relacionais apontam para [...]
uma dimensão não-acessória, mas sim
10.4. Boa-fé e contratos relacionais
central, do princípio jurídico da cooperação.
Cooperação em muitos casos de contratação A boa-fé pode ser vista como fonte primária
relacional constitui-se na obrigação da responsabilidade contratual, situação em
principal, porquanto os elementos de preço, que ela ganha absoluta centralidade para a
teoria contratual. A boa-fé tem o relevante

74
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

papel de encorajar a continuidade das contrato de seus complicados elementos de


relações contratuais. O conceito de boa-fé moralidade. A boa-fé determina que o
não comporta uma definição formal, visto direito contratual deve ser controlado, e o
que incorporou elementos da vida efetiva exercício do poder limitado de modo a se
das relações contratuais, como os já atingir os parâmetros da decência. O
mencionados princípios de reciprocidade, contrato não mais pode ser pensado como a
papel de integridade, de solidariedade e relação entre indivíduos atomizados
harmonização com a matriz social e demais maximizadores de vantagens (econômica
normas de ligação. Ela lembra a formal), mas antes reporta-se – no momento
incompletude dos contratos, o limite da da formulação de seus princípios
capacidade de previsão humana, os custos e operacionais – às formas concretas de sua
ameaças à solidariedade, as barreiras efetivação (economia substantiva). A boa-fé
insuperáveis para a comunicação perfeita e ajuda a entender a solidariedade no mundo
sem ruídos. Torna juridicamente protegido o contemporâneo de duas maneiras: (1)
elemento de confiança (trust), evidenciando pessoas respeitam a boa-fé, reforçando os
a natureza participatória do contrato, que laços de solidariedade na sociedade como
envolve comunidades de significados e um todo; (2) solidariedade mecânica – o
práticas sócias, linguagem, normas sociais e contrato se presta a finalidades sociais e
elementos de vinculação não-promissórios morais, e não apenas econômicas e
(não-contratuais). individuais.

10.4.1. Implicações da teoria da boa-fé para 10.4.2. O futuro da boa-fé numa


o modelo liberal perspectiva relacional

Na era do Direito Social, a boa-fé requer o O paradigma contratual hoje em dia


apagamento da demarcação rígida entre o dominante em todos os países
direito privado e o direito público. A industrializados ocidentais é o neoclássico e
reintrodução da boa-fé nas descrições do não o relacional, mas muitos contratos em
contrato representa parte de um processo nossa sociedade são relacionais, como os
de ressocialização do direito contratual (e do contratos de cooperação, franquia, trabalho
direito em geral) que era exigida antes da e formação de redes produtivas e de
tentativa do direito do século XIX de livrar o fornecimento de produtos. A boa-fé permite

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Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

a fusão do interesse individual egoísta e do descontínua, visto ser este o seu modelo
interesse pelo outro, o que viabiliza a paradigmático de análise das relações de
existência de relações de longo prazo, troca.
servindo como mecanismo de garantia do
11.1. A transaction cost analysis
direito de participação no direito privado de
maneira análoga às garantias civis do A finalidade da transaction cost é
cidadão no direito político – constitui o estabelecer estruturas de regulação (ou
conjunto de garantias dos contratantes nas governo) das relações contratuais que
relações contratuais. A regulação jurídica da apresentem o menor custo possível. Isto
boa-fé e a ampliação de seu uso, a sua pode ser obtido, seja através de relações
extensão e a sua importância constituem hierárquicas dentro de uma empresa, seja
relevantes fatores de estímulo à criação e através de estruturas horizontais de
manutenção de relações de confiança regulação do mercado, seja através de
(trust), solidariedade e cooperação. princípios contratuais.
A transaction cost visa eliminar os custos da
11. Teoria neoclássica e os modelos
relacionais: o modelo dos custos da transação para restabelecer o contrato
transação versus modelo de Macneil descontínuo em seu lugar natural de
igualdade entre as partes, autonomia da
Duas abordagens da teoria relacional: (1) vontade e liberdade contratual.
caracterizada pela análise dos custos da
transação ou transaction cost analysis, 11.2. A visão de Macneil

representada por autores como Williamson,


Diversamente da transaction cost, Macneil
Goldberg, Scott e Goetz; (2) representada
não vê as relações como elementos que
por Macaulay, Campbell e Macneil, que
geram custos de transação, dificultando a
apesar de terem escrito sobre o assunto,
sua realização, mas antes como estruturas
jamais exploraram totalmente as diferenças
de facilitação da transação.
entre suas abordagens e a da transaction
A hipotética obtenção de custo de transação
cost.
zero não levaria a nada, uma vez que as
Entre ambas as teorias há diferença
relações contratuais somente ocorrem em
qualitativa. A transaction cost procura
razão e por causa das relações que ora são
desvelar e aliviar os custos da transação
descritas como custos. Transaction cost

76
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

acaba por incorrer na mesma falácia impostas pelas associações de empresários e


naturalizadora da forma abstrata e ideal do entidades de auto-regulamentação.
mercado, ao entender as relações como Nesse sentido, a cooperação emerge como
custos e não como elementos essenciais dos princípio tanto ao nível externo das relações
contratos. contratuais, como também ao nível interno,
Para Macneil, portanto, as negociações o que faz com que toda competição seja de
constantes, a necessidade do algum modo limitada pela aceitação integral
replanejamento e o aumento das formas de do princípio de cooperação como um
cooperação e solidariedade não são conceito operativo essencial.
elementos que seriam desnecessários Campbell menciona três níveis no
dentro de uma situação de custo de pensamento de Macneil sobre o conceito de
transação zero, mas antes a forma básica das cooperação: no primeiro nível, os aspectos
relações econômicas, especialmente dentro relacionais dos contratos reportam-se à
de um sistema de especialização flexível. constituição ontológica das relações sociais
O mercado deve ser corrigido e as condutas dentro da qual toda a individualidade é
individuais devem fazer concessões formada – sociedade como matriz
cooperativas de modo a poderem se fundamental do contrato. No segundo nível,
aproximar do contexto ideal no qual os os aspectos relacionais têm como suporte as
indivíduos possam agir racionalmente, políticas legislativas da sociedade burguesa
tendo em vista a defesa e proteção de seus que fornecem os limites e forma
interesses meramente individuais. institucional para a economia de mercado; a
Para Macneil, a cooperação deixa de ter um forma pela qual tal imposição se faz afeta
caráter parasitário de ser um apêndice da substancialmente o funcionamento e as
relação antagonista, para se tornar central características da ordem de mercado. O
nos contratos relacionais. Os valores nos terceiro nível corresponde às relações de
contratos, em especial os valores de cooperação e solidariedade internas e
cooperação e da solidariedade, nascem, externas às práticas de contratação das
assim, não apenas através da imposição partes. Há, portanto, uma relação de
externa das leis positivas pelo poder imbricação e interdependência recíproca
soberano, como também a partir de outras entre os níveis.
fontes do direito privado, como as sanções

77
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

da evidente conexão econômica dos


contratos, admitiu-se que eles poderiam ser
Laura Schroeder Feijó21
reconhecidos juridicamente como
formadores de um grupo.
MARINO, Francisco Paulo de Crescenzo. Contratos
coligados no direito brasileiro. Editora Saraiva. 2009, O ponto mais relevante da exposição de
Caps. 10 e 11
Bernard Teyssie foi, sem dúvidas, sua
O presente resumo tem como objeto os classificação baseada em dois critérios
capítulos da obra de Francisco Marino que alternativos: a identidade de objeto ou o fim
exploram a doutrina francesa e brasileira comum/identidade de causa. Considerando
sobre coligação contratual, tecendo-as isso, os grupos contratuais foram
precisas críticas. Por meio do texto, pode-se classificados em (1) cadeias contratuais com
ter uma breve, porém vasta, ideia das identidade de objeto – caracterizadas pela
classificações existentes e suas repercussões conclusão sucessiva de contratos, isto é,
no que toca aos contratos coligados, assim estrutura linear; e (2) conjuntos contratuais
como diferenciar tal categoria das redes com fim comum – nos quais os contratos
contratuais. coexistem e formam estrutura circular em
A análise da doutrina francesa tem início torno de um personagem central presente
com Bernard Teyssie. Em um primeiro em todos os contratos.
momento, o doutrinador contextualizou o As cadeias contratuais, por sua vez, foram
tema, distinguindo a noção individualista divididas em (1.1) cadeias contratuais por
liberal e democrática de contrato, presente adição – organizadas ou não organizadas,
nos séculos XVIII e XIX, da contemporânea. com partes iguais ou distintas; e (1.2) cadeias
Explicou-se que, com o passar do tempo, o contratuais por difração – sucessão de
contrato deixou de ser considerado um contrato-base e subcontrato, podem ter
organismo independente que trazia um fim identidade parcial de objeto. Ainda, em vista
consigo mesmo, e passou a ser notado como da importância dos contratos integrantes, os
organismo interdependente e instrumento conjuntos contratuais podem ser (2.1)
da ordem jurídica e interesses sociais. Diante conjuntos contratuais interdependentes –
da realidade da complexidade contratual e divisíveis ou indivisíveis (a depender da

21
Bacharela laureada em Ciências Jurídicas e Sociais
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
78
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

extinção de um acarretar a dos demais ou partes iguais; e o (A em 1.2 e 2.2)


não, o que pode ser definido pela natureza seguimento do contrato acessório à sorte do
da operação ou pelas próprias partes); ou principal, no que se refere aos subcontratos
(2.2) conjuntos contratuais com e aos conjuntos contratuais com
dependência unilateral – com estrutura dependência unilateral. Ademais, a
simples ou complexa, composto por partes complexificação faria surgir uma obrigação
iguais ou distintas. de fiscalização, em regra, a todos os
Quanto aos efeitos dessa união em grupos envolvidos, e imporia uma interpretação
contratuais, Bernard Teyssie percebe a (A) contratual atenta ao grupo contratual como
complexificação – em que a validade e a um todo.
eficácia de um contrato devem ser A uniformização do regime jurídico do grupo
analisadas com base na validade e eficácia contratual, por seu turno, ocorreria (B em
dos demais contratos; a (B) uniformização – 1.1 e 2.1) quando expressamente prevista
do regime jurídico aplicável ao grupo; e a (C) pelas partes ou pela lei, tendo em vista à
criação de relações contratuais – entre mesma importância dos contratos, nas
partes do grupo que não possuem relação cadeias por adição e nos conjuntos
contratual direta. Esses efeitos atingiriam ou interdependentes; e (B em 1.2 e 2.2) quando
não os grupos contratuais conforme sua a lei demonstrar a necessidade de
classificação e particularidades. uniformização ao prever regras de fundo,
Dentre as consequências decorrentes do nos contratos principais sobre os acessórios
efeito de complexificação que valem ser dos conjuntos com dependência unilateral.
destacadas estão o (A em 1.1) atingimento O último efeito, de criação de relações
da invalidade e eficácia de um contrato contratuais, revelar-se-ia por meio de ações
sobre os demais, nos contratos diretas entre membros do grupo e de ações
subsequentes em cadeia; o (A em 2.1) por responsabilidade contratual – em
mesmo atingimento ou não, nos conjuntos verdadeira substituição do princípio da
contratuais interdependentes consoante relatividade dos efeitos contratuais pelo da
sejam divisíveis ou indivisíveis – a ser unidade contratual e revisão da noção
requerido pelo personagem central, que tradicional de terceiro –, que representariam
pode inclusive suscitar exceção de contrato uma generalização das pontuais previsões
não cumprido caso os contratos tenham legislativas de possibilidade de ação direta

79
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

em grupos contratuais no Código Civil francesa posterior, representada por


Francês. Mireille Bacache-Gibeili, que buscou adaptar
Apresentados os principais pontos da obra a noção de grupo contratual a fim de torná-
de Bernard Teyssie, com ressalva à tamanha lo instrumento dogmático adequado à
contribuição do autor ao tema, Francisco identificação dos terceiros passíveis de
Marino tece críticas à noção de grupos sofrer dano contratual em virtude de
contratuais empregada. Na sua visão, os inadimplemento culposo, os quais poderiam
critérios de identidade de objeto e de causa ingressar com ações diretas de reparação
acabam por agrupar espécies que pouco têm contra os inadimplentes. Segundo a sua
em comum, levando a resultados excessivos definição, um grupo contratual seria uma
que esvaziam a categoria do seu sentido cadeia linear de contratos com o mesmo
operativo. bem como objeto e ao menos duas
Em divergência ao doutrinador francês, obrigações de natureza idêntica em comum.
Francisco Marino entende que os Ele ocorreria quando o inadimplemento da
subcontratos constituem coligação em razão parte em um primeiro contrato fosse apto a
de serem concluídos por meio da utilização causar um dano contratual a um terceiro
ou aproveitamento da posição jurídica de (parte em um segundo contrato) porque
que se é titular no contrato-base em curso, esse é credor de uma obrigação contratual
bem como que possuem identidade de fim. idêntica à obrigação contratual do
Além disso, salienta a diferença entre inadimplente.
contratos sucessivos, nos quais a extinção de Considerando isso, Mireille Bacache-Gibeili
um é premissa para celebração do classifica os grupos contratuais em (1)
subsequente, e subcontratos, nos quais a grupos homogêneos – contratos do mesmo
presença do contrato-base é essencial à sua tipo; e (2) grupos heterogêneos – contratos
celebração. Sobre as cadeias contratuais por de tipo distinto. Os grupos homogêneos
adição não organizadas e os conjuntos foram divididos em (1.1) cadeias
contratuais interdependentes divisíveis, homogêneas translativas – nas quais a
percebe não serem caso de coligação em obrigação comum aos contratos é de dar; e
prisma jurídico. (1.2) cadeias homogêneas não translativas –
Após o exame da obra de Bernard Teyssie, nas quais a obrigação comum aos contratos
Francisco Marino passa a analisar doutrina é de fazer. Os grupos heterogêneos, por seu

80
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

lado, foram divididos em (2.1) cadeias enquanto instituto com regime jurídico
heterogêneas por acidente – com identidade próprio, mas, para isso, seu fundamento
de obrigações principais, apesar da diferença deve pousar na indivisibilidade dos
nos tipos dos contratos; e (2.2) grupos conjuntos contratuais interdependentes,
heterogêneos (stricto sensu) – a identidade conforme brecha deixada por Bernard
de obrigações envolve uma obrigação Teyssie que foi aprofundada pela doutrina
acessória em um dos contratos, podendo ser francesa contemporânea. A ideia atual é de
simétricos (a obrigação idêntica é acessória autonomizar a categoria dos conjuntos
em todos os contratos) ou assimétricos (a contratuais interdependentes ao lado da
obrigação idêntica é principal em um noção de grupos contratuais, já que nos
contrato e acessória em outro), sendo os primeiros as ações são plenamente possíveis
últimos translativos (com obrigação de dar pois comumente interpostas entre as partes
idêntica) ou não translativos (com obrigação de algum dos contratos, enquanto o objetivo
de fazer idêntica). principal do reconhecimento dos grupos
Assim, na ótica da autora, da situação de contratuais está na fundamentação para
parte de um grupo contratual, seja ela parte ações diretas entre sujeitos não
cocontratante – parte no procedimento e da cocontratantes.
norma contratual – ou simples parte De fato, a Corte de Cassação vem
contratante – parte na norma contratual, reconhecendo a existência de vários
mas não no procedimento –, adviria a conjuntos contratuais interdependentes e
possibilidade de ajuizamento de ação direta. aplicando seus efeitos quando percebida a
Ocorre que, como critica Francisco Marino, a intenção comum dos envolvidos, a qual
sua tese não é capaz de delimitar os casos de impõe a observação de uma economia geral
coligação contratual juridicamente do contrato. Para tanto, verificou, em geral,
relevantes, perdendo algumas subespécies os termos dos contratos (que muitas vezes
importantes, que passariam a ter referem a afetação do objeto ao outro
tratamento comum, assim como ignora as contrato), as causas do contrato (percebidas
hipóteses de coligação de contratos entre as pela análise contextual do texto contratual e
mesmas partes. das circunstâncias do caso) e se há uma
De acordo com Francisco Marino, é possível operação econômica em comum.
a construção da coligação contratual

81
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Para uma porção de estudiosos da matéria, abordada já por Pontes de Miranda, que
o fundamento dos efeitos atribuídos pela contrapôs pluralidade negocial unida e não-
Corte a essa categoria de coligação decorreu unida. Orlando Gomes, por sua vez,
de uma renovação da noção de causa observou diferenças entre a união
contratual. Segundo Denis Mazeaud, o contratual externa – ausente coligação
conceito de causa adotado pela Corte foi o contratual propriamente dita, já que os
liame econômico irredutível que une os contratos não se completam, nem se
contratos, de modo que, ao se identificar a excluem –, com dependência – os contratos
impossibilidade de cumprimento de um dos se completariam e, se bilaterais, formariam
contratos, a validade ou a eficácia do outro uma unidade econômica – e alternativa – os
(construída em consideração à existência, contratos se excluiriam na hipótese de
validade e eficácia do primeiro) é fatalmente implemento ou frustração da condição.
afetada (desprovida de utilidade) e pode ser Outros diversos pesquisadores
retroativa ou irretroativamente extinta por doutrinadores trataram da coligação
ausência de causa. No entanto, esse contratual, como Waldirio Bulgarelli, João
entendimento não é pacífico. No ponto de Alberto Schützer, José Abreu Filho e Antonio
vista de Anne-Sophie Lucas-Puget, Jean- Junqueira de Azevedo, tendo alguns deles se
Michel Marmayou e Jacques Ghestin, a manifestado sobre a projeção da validade,
interdependência, se não prevista em lei, eficácia e execução de um contrato sobre
deve resultar de uma vontade manifestada outro, e a importância da identificação do
pelas partes, a qual poderia, na concepção fim contratual na interpretação dos
dos dois primeiros, até ser objeto de um contratos coligados. Mereceram menção
contrato distinto. especial os autores Rodrigo Xavier Leonardo
Finalizado o estudo dos contratos coligados e Carlos Nelson Konder, que dedicaram
na doutrina francesa e constatada a trabalhos especificamente ao tema.
operabilidade dos conjuntos contratuais Rodrigo Xavier Leonardo realizou profunda
interdependentes naquele país, Francisco análise sobre as redes contratuais, uma
Marino faz um breve paralelo em relação ao espécie de união de contratos que
desenvolvimento do tema no Brasil a partir demandaria, em razão das suas
de referências a doutrinadores brasileiros. O peculiaridades – presença de um nexo
autor refere ter sido a coligação contratual sistemático entre os contratos que

82
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

aproximaria a atuação de diversos agentes Marino, contudo, a categoria dos contratos


para o êxito da operação econômica –, a conexos seria pouco operacional por não
criação de uma nova teoria. Com esclarecer as hipóteses em que a função
entendimento semelhante, Francisco ulterior comum teria relevância jurídica e
Marino concorda com a autonomia teórica por desconsiderar casos de grupos de
da categoria e destaca outras diferenças em contratos sem função ulterior.
relação aos contratos coligados, como o fato Posto isso, percebe-se com a obra de
de, ao contrário desses, as redes Francisco Marino a complexidade teórica da
corresponderem a um fenômeno coligação contratual, que apresenta
necessariamente de contratação divergências doutrinárias significativas tanto
empresarial em massa, serem sempre na França, como no Brasil. A robustez de
estruturadas por uma parte (à qual os outros entendimento sobre a matéria contratual
contratantes se ligam), podendo comportar que a compreensão da coligação contratual
uma grande quantidade de contratos, aliás, e suas facetas exigem resta evidenciada no
fungíveis sob a perspectiva do promotor da cabimento de críticas a teorias profundas de
rede, e, por fim, justamente em razão dessa doutrinadores renomados, na percepção de
abertura, caracterizarem-se enquanto detalhes que determinam a distinção das
divisíveis (a invalidade ou ineficácia de um redes contratuais, e, especialmente no
contrato não afetaria os demais). Brasil, no tardio desenvolvimento do tema.
De outro lado, Carlos Nelson Konder foi mais Apesar disso, os desafios a percorrer têm
abrangente ao cuidar dos chamados encorajado novos estudiosos a enfrentar os
contratos conexos, isto é, aqueles que, além contratos coligados, em sinal de que o futuro
de sua função individual específica, revelam trará notáveis desdobramentos.
juntos uma função ulterior. Dessa categoria
derivariam as subespécies (1) contratos
coligados – em que as vicissitudes de um
contrato afetam os outros; e (2) grupos de
contratos – contratos com partes diversas e
regime de responsabilidade contratual
possibilitador de ações entre
cocontratantes. Na visão de Francisco

83
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Sandy Danielle da Silva Fernandes22 partes, bem como aquilo que está implícito
naquela relação.
CAMPBELL, David; COLLINS, Hugh. Descobrindo as
dimensões implícitas dos contratos. Para que serve o Os autores, no entanto, indicam que não
Direito Contratual, p. 65-97, 2014
existe uma completa negação das
Enquanto o direito contratual dimensões implícitas dos contratos, e que,
contemporâneo concorda que existe mais a sim, em alguns momentos ele é capaz de
uma relação contratual do que apenas o vislumbrar sua existência, embora seu trato
acordo de vontade das partes, o direito seja inapropriado. Enquanto autores
contratual clássico traz o princípio da clássicos defendem que as dimensões
liberdade contratual em um pedestal, não implícitas não devem ser incorporadas à
considerando, no entanto, que existem análise jurídica, a análise minuciosa de
outros fatores que devem ser considerados certas relações vai demonstrar que não é
quando da análise de um contrato. O direito sempre sustentável a teoria de que as
contratual clássico via a relação negocial relações contratuais são descontínuas e não
como algo desconexo onde não existe devem ser ponderadas o contexto social do
continuidade em suas obrigações uma vez qual se originam (ou no qual estão inseridas)
que a prestação é cumprida. tampouco as percepções implícitas que
Nesse sentido, a doutrina clássica sofre ao delas decorrem. As dimensões implícitas
não conseguir perceber a existência das aqui discutidas mostram-se diretamente
dimensões implícitas dos contratos. Isso se opostas a ideia da teoria clássica que explica
torna extremamente importante ao a relação contratual como algo racional,
analisarmos contratos relacionais e fruto da liberdade de escolha dos indivíduos
contínuos, por exemplo, vez que tais que celebram o contrato.
contratos dependem, nas palavras dos
autores, de “obrigações dispersas de Formação dos Contratos

cooperação”. A doutrina clássica não olha


De acordo com os autores, dentro de uma
para os contratos como forma de
relação contratual, são as limitações ao
cooperação entre as partes,
consentimento das partes que se regem
desconsiderando aquilo no entorno de suas

22
Advogada, Bacharel em Direito pela Universidade Sá; Mestranda em Direito Tributário pela Pontificia
da Região da Campanha - URCAMP, campus Santana Universidad Católica de Santa Maria de Buenos Aires;
do Livramento; Pós-graduada em Direito e Pós-graduanda em Advocacia Corporativa pela
Planejamento Tributário pela Universidade Estácio de Fundação do Ministério Público.
84
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

mais abertamente às dimensões implícitas das dimensões implícitas que eles podem
de um contrato. Isso porque, através da ter, mesmo da fase pré-contratual.
doutrina da influência indevida, é possível o
juiz analisar a relação social existente entre Conteúdo das Obrigações Contratuais

as partes e assim vislumbrar se houve algum


No que tange às obrigações contratuais
tipo de influência de uma sobre a outra. Os
originadas de uma relação contratual, o
autores explicam que, quando da formação
judiciário está mais inclinado para a
do contrato, este é celebrado com vícios de
apreciação das dimensões implícitas do
erro, a apreciação das dimensões implícitas
contrato. Um exemplo claro disso se dá pela
permitirá identificar a parte vulnerável da
existência de cláusulas subentendidas em
relação, e se tal deverá ser invalidada dadas
determinada relação. Os autores explicam
as condições na qual foi formada.
que tais cláusulas são a generalização das
Em mesmo raciocínio, a doutrina clássica
expectativas normais das partes
também traz o entendimento que, quando
contratantes, inseridas em determinado
não está claro se o acordo foi celebrado, não
contexto comercial onde é celebrado.
há obrigação contratual a ser cumprida. Para
O direito clássico rejeita a contextualização
resolver tal problema, normalmente se
de onde originou-se a relação, porém a
utiliza de doutrinas como a de embargos de
existência de cláusulas gerais nas normas
equidade, onde procura-se que impedir que
ajuda o intérprete a contextualizar a relação,
determinada parte adote comportamento
como é o caso do princípio da boa-fé,
que contradiga seus comportamentos até o
presente em muitos códigos. A boa-fé não
momento da relação. Em situação como
diz respeito apenas a conceitos morais de
essa, percebemos que a argumentação
uma determinada sociedade, mas como se
jurídica vai acabar recorrendo novamente às
opera as relações comerciais de
dimensões implícitas do contrato,
determinado lugar, quais são seus costumes
procurando saber se havia algum tipo de
e convenções, permitindo ao intérprete que
concordância tácita entre as partes.
se deparar com esse contrato, utilize-os para
Os autores argumentam que é benéfico à
trazer à tona as expectativas implícitas dessa
análise dos contratos considerar a existência
relação.
de pré-contratos ou contratos
subentendidos para melhor compreensão

85
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Interpretação considerando que um veículo ou imóvel do


qual não se possa ter acesso não servirá de
Mesmo quando da análise interpretativa de
propósito algum para a parte.
contratos, é imprescindível que essa tenha
que ter atenção às dimensões implícitas Contratos Preliminares
deste para que ele faça sentido. Os autores
explicam que o formalismo do contrato não Os autores ponderam qual a relevância dos

vai de encontro a procura pela compreensão documentos preliminares na relação, e se o

subentendida da relação. reconhecimento das relações implícitas

Fuller explica que, da mesma forma que a invalida ou os torna ineficazes. Em primeiro

interpretação das leis deveria ter o jogo de momento pode parecer que este se torna

linguagem como último questionamento, a desnecessário se vamos atentar às

relação contratual também compartilha dimensões implícitas do contrato, no

dessa ideia, pois o contrato escrito entanto eles não perdem sua validade tal

representa uma tentativa de autorregulação facilmente.

das partes para aquela relação. A melhor Documentos preliminares são elaborados

interpretação de um documento contratual por operadores do direito com a intenção de

vai depender, invariavelmente, da expor o planejamento da relação contratual,

compreensão implícita deste, vez que se o as circunstâncias que podem causar uma

intérprete se valer apenas do jogo de quebra contratual e qual seriam os reparos

linguagem (ou da interpretação ipsis literis) sugeridos. Naturalmente, é impossível que

deste não compreenderá que tipo de um operador vá conseguir prever o detalhar

sistema foi empregado pelas partes. todos os nuances de uma relação e

Embora tal afirmação possa parecer possibilidades que podem ser abrangidas em

contraprodutivo e necessária análise caso de 86contingenciamento.

minuciosa para a identificação do que as Nesse sentido, vemos mais uma vez a

partes tentaram dizer entre as linhas do possibilidade de recorrermos a

documento, os autores explicam que está compreensão das dimensões implícitas da

longe disso ocorrer: em uma tradição onde o relação: implicitamente as partes não

objeto é um veículo ou um imóvel, está esperam que haverá contingências na

implícito que além do objeto será entregue relação, ou que também não haja

chaves para a utilização de tal objeto, necessidade de executar tais cláusulas.

86
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Enquanto operadores, juristas prezam pelos prejuízo. Medidas estas que poderiam ser
contratos preliminares para uma garantia diminuídas, ou mesmo relevadas na relação.
implícita da relação para seus clientes, Também nesse sentido vemos que o
observando os documentos preliminares judiciário vai se valer da análise do contexto
com relevância substancial, importante ter social que a relação está inserida: a
em mente que estes são apenas penalidade a ser utilizada pelo intérprete
formalizações incompletas da transação, deverá estar condizente com os costumes e
que traz outras intenções não descritas (seja práticas comerciais onde a relação está
implicitamente ou pela impossibilidade de inserida.
previsão) pelas partes.
Justificativa para a Incorporação das
Remédios Dimensões Implícitas

Em se havendo situação que cause algum A principal justificativa da doutrina clássica

tipo de prejuízo a outra parte, formalmente, contra a análise das dimensões implícitas nas

os documentos escritos trazem métodos relações contratuais se dá pelo fato que esta

para remediar ou causar compensação para interferiria no princípio da liberdade de

a parte que teve prejuízo. Os autores contratar. Os autores apontam que isso está

explicam que isso se dá pelo propósito muito longe da realidade, sendo em

implícito de cooperação entre as partes, primeiro lugar que a análise meramente das

onde ambos concordam em minimizar os cláusulas expressas do contrato não é uma

danos se alguma das partes falhar ao alternativa prática. Além disso, temos que

cumprir sua prestação, de acordo com o fatorar que o contrato escrito não quer dizer

princípio da minimização do custo-conjunto. por si só que é o contrato real estipulado

Mas, novamente, existe uma dimensão pelas partes.

implícita para tais remédios: não Os autores vão além: as dimensões

vislumbrado essa intenção de cooperação, o implícitas não limitam a liberdade

intérprete do contrato entenderá que a contratual, mas reforçam essa liberdade,

quebra contratual se deu por motivo diverso ampliando os lucros que as partes colheram

(por exemplo, má-fé da outra parte) e da relação. Também reforçam os autores

imporá medidas que podem onerar que nem todos os contratos são

demasiadamente a parte que causou o descontextualizados, requerendo muitas

87
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

vezes de uma cooperação entre as partes da tem sido tratado de maneira segura
relação e para isso tais contratos podem vir juridicamente e dogmaticamente pelos
formalizados com cláusulas subentendias, tribunais. Em busca da melhor ferramenta
incompletos, mas que a cooperação entre as de acesso da realidade jurídica em questão,
partes é necessária para sua realização. Marc Amsturz afasta as já conhecidas
Isso se dá principalmente em contratos de casuística e legislação política, por
longo-prazo, relacionais e de interação, onde abrangerem atores limitados, e conclui pela
não é possível prever todas as nuances da necessidade de um terceiro ponto de vista
relação, mas de tempos em tempos é que solucione os problemas jurídicos
necessário auxílio jurídico para assegurar a existentes (qualificação jurídica,
eficiência e segurança das transações, onde características de tipo legal e consequências
deverá se ter em consideração que tais jurídicas das redes contratuais).
relações possuem dimensões implícitas que O autor refere-se a esse caminho como
regem a relação, além daquelas que tenham “jurisprudência sociológica”, embora
sido acordadas previamente ou reconheça não ser um termo exatamente
formalizadas. adequado. O seu intuito é de que, por meio
de práticas de reflexão sociais advindas de
âmbitos parciais da sociedade, ou seja, para
___________________________ além do Direito, sejam constatadas
orientações normativas sociais aptas a
promover uma reconstrução jurídica
LAURA SCHRODER FEIJÓ23
autônoma. Mais especificamente a

Marc Amsturz (ed.). Die vernetzte Wirtschaft: administração de empresas, a análise


Netzwerke als Rechtsproblem. Schulthess: Zürich,
econômica do Direito e teorias sociológicas
2004. p. 11-42.
são áreas de necessária coalisão com o
A obra a ser analisada trata da relação entre Direito para esse fim. Não basta o Direito
as redes contratuais e o Direito, a fim de sozinho, já que o conceito de rede não é
sugerir uma melhor abordagem jurídica legal, nem pode ser subsumido na categoria
desse fenômeno, que, segundo o autor, não de mercado ou de organização, porque

23
Bacharela Laureada em Ciências Jurídicas e Sociais Responsabilidade Civil pela Escola Brasileira de
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Direito.
(2020) e Pós-graduanda em Advocacia Contratual e
88
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

envolve uma coordenação social e e como um incentivo – as vantagens da rede


econômica essencialmente confusa em sempre estão ligadas a vantagens
comparação a esses dois pontos. individuais. Como resposta a essa
À primeira vista, pode-se pensar que a figura estabilização de contradições realizada pelas
da ligação contratual exibe uma redes contratuais, o autor propõe que o
incontestável contradição quando menciona Direito deve efetuar uma “dupla
uma “unidade econômica de contratos constituição de contrato e rede no tipo
distintos”, entretanto, a descrição não só legal” e uma “dupla atribuição seletiva das
corresponde precisamente à realidade dos consequências jurídicas entre parceiros
contratos híbridos integrantes de uma rede contratuais e a rede como um todo”.
contratual, como se mostra fundamental São evidenciadas, então, três características
para ela. É a partir desse entendimento que do tipo legal: a multilateralidade (referências
a tese da coincidentia oppositorum passa a recíprocas dos contratos bilaterais),
fazer total sentido quando o assunto é finalidade da rede (referência ao conteúdo
Direito das redes. A reação do Direito deve do projeto comum da rede) e unidade
permitir a morfogênese, ou seja, a econômica (relação de cooperação
transformação de incompatibilidades juridicamente relevante entre os
externas à rede em contradições participantes da rede). As consequências
internamente sustentáveis, assim como jurídicas, por sua vez, devem observar o
controlar as repercussões dessas resultado de várias contradições estruturais
contradições. das redes: intercâmbio bilateral versus
Melhor explicando, Marc Amsturz denomina associação multilateral (diferenciação entre
“situação de dupla vinculação” essa obrigações da rede, com lealdade
circunstância que exige dos participantes da intensificada em relação à rede – caso em
rede uma obediência simultânea a que garantem a finalidade da rede,
orientações diferentes e contraditórias permitem correções judiciais do contrato e
entre si. Nela, nasce uma “dupla abrem possibilidades variadas de
orientação”, uma individual dos nós da rede cancelamento – e obrigações de lealdade do
e outra coletiva da rede, que funciona ao contrato sinalagmático), concorrência versus
mesmo tempo como uma restrição – todas cooperação (sob as condições de re-entry da
as transações passam por esse teste duplo – diferenciação entre esses dois institutos, nas

89
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

redes há, em verdade, uma “coopetição”, disciplinas indicadas – corresponder a tal


que permite a maximização de benefícios profundidade, de modo a efetivamente
aos participantes, cenário que sinaliza solucionar os problemas delas surgidos de
positivamente a eventual responsabilidade forma coerente com a sua dogmática.
contratual indenizatória de parceiros não
contratuais entre si na rede, bem como de
pessoas externas ao contrato mas dentro da ______________________________

rede, por danos patrimoniais primários) e


atribuição coletiva versus atribuição Víctor Villamil Ferreira24

individual (a depender da atribuição, a


ECHEBARRÍA SÁENZ, J. A. Los grupos por
responsabilidade vai atuar de forma coordinación como instrumento de red. In: RUIZ
PERIS, J. I. (dir.). Nuevas perspectivas del Derecho de
descentralizada, múltipla e seletivamente redes empresariales. Valencia: Tirant lo Blanch,
2012, p. 246-299.
combinada entre a rede e os nós que dela
concretamente participam).
I. Introdução
Ainda, ao analisar a particularidade das
O objetivo do trabalho é estabelecer uma
redes de pesquisa público-privada, qual seja,
relação entre os grupos por coordenação e
possuírem lógicas de ação contraditórias,
as redes empresariais como mecanismos
Marc Amsturz identifica a necessidade de
para levar a cabo atividades de rede.
desenvolvimento de um conceito legal de
A obra parte do pressuposto de que o
interesse de rede passível de utilização
conceito de rede é eminentemente
imediata, com garantia jurídica da
econômico, sendo comum que no Direito
autonomia reflexiva dos participantes da
Empresarial, especialmente no âmbito dos
rede, para que possam equilibrar sua função
contratos de distribuição, sejam utilizados
social e sua contribuição para seu ambiente.
termos econômicos como conceitos
Posto isso, percebe-se da obra em análise a
jurídicos indeterminados que não se
complexidade das redes como atributo
coadunam necessariamente à institutos ou
intrínseco, a ser reconhecido e aprofundado
categorias jurídicas. Como reconhece o
pelos juristas, para que possa o Direito –
autor, o Direito caminha atrás da economia,
utilizando do indispensável papel das outras
buscando tipificar os sucessivos fenômenos

24
Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca.
Advogado.
90
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

de colaboração, integração ou concentração majoritariamente verticais ou uma


econômica. combinação de ambas, inspiradas nos
diferentes tipos de organização dos grupos
Nesse sentido, nos anos sessenta do século
de sociedades, nos quais se substituiriam os
passado, passou-se a denominar o
laços corporativos por laços contratuais, de
fenômeno das redes de colaboração como
interdependência funcional e de
contratos de integração ou contratos de fim
interdependência econômica.
comum. Não obstante, posteriormente se
verificou que tratar o fenômeno das redes a No que se refere à relação entre grupos por
partir da noção de contratos bilaterais não coordenação e redes contratuais, existem,
era suficiente para afrontar todos os assim, três realidades distintas: grupos por
problemas gerados por essa nova realidade. coordenação de estrutura societária (grupos
Em verdade, o fenômeno se manifesta de sociedades), grupos por coordenação de
através de uma rede de contratos bilaterais estrutura contratual (redes contratuais) e
coordenados que criam uma rede de grupos por coordenação de estrutura mista
empresas coordenadas e interdependentes. (societária e contratual).

De acordo com o autor, essa rede se II. Grupos por coordenação de estrutura
comporta como um ente estável, com societária (grupos de sociedades)
independência da incorporação ou exclusão
Como tradicionalmente definido, o grupo de
de membros, que atua de forma coordenada
sociedades se refere à uma unidade
para a obtenção de um fim comum, ainda
econômica que se manifesta por meio de
que existam tensões internas entre seus
diferentes pessoas jurídicas. O que
membros, e que em lugar de configurar sua
caracteriza o grupo de sociedades é a
gestão e funcionamento no âmbito do
direção unitária e o que define o grupo por
regime societário, confia a gestão comercial
subordinação é a dependência ou
à mecanismos de divisão de funções e à
subordinação econômica de alguns
criação de laços de confiança entre os
membros em relação à sociedade
sujeitos independentes que compõem a
dominante. Já nos grupos por coordenação
rede.
não há subordinação, mas
Nesse esquema, as redes contratuais podem
interdependência, com uma colaboração
adotar estruturas muito variadas, podendo
horizontal entre as empresas. Esses grupos
ser predominantemente horizontais,
91
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

podem ser articulados por meio de pela normativa comunitária, pelo Direito da
mecanismos societários, contratuais ou Concorrência, assim como pela
mistos. Administração de empresas, para concluir
Dessa definição, decorre que o grupo por que a direção unitária existiria quando uma
coordenação e a rede empresarial são pessoa ou entidade dispõe de um
conceitos parcialmente coincidentes e que mecanismo de atribuição de competências
não se excluem. que permite a adoção, realização e execução
Contudo há críticas sobre a real existência da de medidas de planejamento, organização e
figura dos grupos por coordenação. Para gestão empresarial.
alguns autores, o conceito de direção A obra estima que essa atribuição da direção
unitária, muitas vezes confundido com a nasce normalmente de um contrato, citando
noção de controle, acabaria por como exemplo a convenção prevista nos
descaracterizar o grupo por coordenação arts. 265 e 272 da Lei de Sociedades
como verdadeiro grupo de sociedades. Anônimas brasileira. E a razão da
O art. 42 do Código de Comércio espanhol, necessidade de contrato é que não existem
prevê que existe um grupo de sociedades nesses grupos os mecanismos de controle
quando uma delas detém, direta ou próprios dos grupos por subordinação, de
indiretamente, controle sobre as demais. modo que por meio desse instrumento se
Nesse sentido, o autor destaca a atribui a direção a um dos membros. Como
ambiguidade presente no grupo por alternativa a esse esquema, existe também a
coordenação, que se encontra em zona possibilidade de atribuição de diferentes
limítrofe entre a concentração e a competências entre os membros, sendo
cooperação ou colaboração. reservado um sistema de assembleia para a
As características do grupo por coordenação decisão de questões fundamentais.
são a direção unitária e a ausência de Assentadas essas bases, o autor trata de
dependência, o que para alguns se vê como diferenciar o grupo por coordenação de
contradição ontológica. Nesse sentido, o outros formatos de colaboração empresarial
trabalho se propõe a comprovar se é como o grupo de interesse econômico, o
possível compaginar ambos conceitos. Para consórcio brasileiro, o agrupamento de
isso, parte da noção de direção unitária interesse económico ou a joint venture. Por
surgida na Aktiengesetz de 1937, passando último, trata ainda sobre a possibilidade de

92
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

uma regulação própria dos grupos por estrutura piramidal, podendo, não obstante,
coordenação, identificando as experiências aproximar-se à estruturas mais paritárias e
brasileira e italiana, e analisando com de coordenação.
profundidade o art. 78 da Lei de As redes contratuais podem ter quatro
Cooperativas espanhola. formas de articulação distintas: um contrato
III. Grupos por coordenação de estrutura multilateral (v.g. consórcios), múltiplos
contratual (redes contratuais) contratos bilaterais interdependentes (v.g.
franquia), um contrato principal e diversos
O autor observa que atualmente existem
contratos bilaterais de execução (v.g.
mais redes empresariais de origem
contrato para compra coletiva), ou um
contratual ou mista que estritamente
contrato estipulado em benefício de
societárias. A razão seria que as redes
terceiro.
contratuais vieram para suprir uma lacuna
entre o tradicional Direito de contratação 1. Contratos multilaterais e grupos por
sinalagmática e o Direito Societário baseado coordenação. Por meio desse modelo, as
no interesse comum dos sócios e na partes acordam fazer ou não fazer algo, não
estrutura corporativa. necessariamente implicando na
transferência de propriedades ou valores,
Conforme o texto, os membros da rede
mas coordenando suas atividades com
possuem interesses homogêneos ou um
algum grau de decisão conjunta, com o sem
interesse comum, mas também possuem
estrutura de gestão independente. Esse
interesses divergentes e incluso
modelo pode ser puramente contratual sem
antagônicos. Esses conflitos costumam ser
estrutura de coordenação (v.g. joint venture)
solucionados mediante o estabelecimento
ou contratual com estrutura de cooperação
de condições gerais ou mediante a divisão de
(v.g. consórcio italiano).
funções entre a rede e outro tipo de
Esse modelo permite que cada parte
estruturas, como sociedades em comum
conserve a sua independência jurídica e
(v.g. cooperativas).
econômica proporcionando uma solução
Em muitas ocasiões, a líder da rede exerce
para a realização de atividades em comum.
funções de supervisão e de mediação de
Pode ser societário, contratual ou misto.
conflitos. Normalmente a estrutura da rede
No caso de que exista contrato, este deveria
se assemelha à dos grupos de sociedades de
regular, ao menos, o seguinte: entrada e
93
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

saída da rede, sistema de poder ou estrutura celebra outro contrato com terceiro para
de governo, divisão de responsabilidade, transportar o produto adquirido, enquanto o
distribuição de lucro, extinção do contrato e produtor contrata um espaço refrigerado
dissolução da rede. para armazenar seu produto.
2. Contratos vinculados e grupos por Modelo em árvore. Uma empresa
coordenação. Nesse caso, a rede é distribuidora (A) contrata com um fabricante
constituída mediante diversos contratos (B) o fornecimento de produtos para suas
bilaterais ou multilaterais entre três ou mais lojas (C). O fabricante (B) impõe cláusulas
partes. Trata-se de contratos complexos que referentes a venda de seus produtos, de
regulam diversas obrigações para um fim modo que a empresa distribuidora (A) impõe
comum. Ao possuir uma finalidade comum, cláusulas de interesse do fabricante no
esses contratos possuem um nível de contrato que celebra com suas lojas (C). Por
interdependência que pode ser considerado outro lado, as lojas (C) demandam a
como um único negócio. Considera-los de diversificação dos produtos com o objetivo
forma isolada seria inapropriado já que uns de atender a demanda dos consumidores, de
são causa de outros, a nulidade de um dos maneira que a distribuidora (A) estrelece em
contratos produz consequências sobre os seu contrato com o fabricante (B) cláusulas
demais. de interesse de suas lojas (C).
As redes que se estabelecem por meios 3. A proliferação de redes contratuais de
desses contratos vinculados normalmente, estrutura coordenada. O trabalho trata
mas não necessariamente, nascem em ainda sobre os grupos de consumidores que
grupos por subordinação, onde a sociedade se organizam de modo a agrupar seu poder
dominante possui um poder hierárquico de compra e com isso poder negociar de
sobre as demais. Nesse sentido, o autor forma coletiva. Em seu parecer, contudo,
exemplifica um caso de modelo de rede essas denominadas centrais de compra ou
linear e outro de modelo de rede em árvore. grupos de compra coletiva (com ou sem
Modelo linear. Um produtor por meio de estrutura cooperativa) se configuram como
uma cooperativa agrária pactua o grupos hierárquicos, e não propriamente
fornecimento de seu produto de maneira como grupos por coordenação, dado que
periódica com um distribuidor final. A partir existe uma entidade dominante que aglutina
deste primeiro contrato, o distribuidor esse poder de compra.

94
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Pelo contrário, em algumas ocasiões poderia admitir tais redes de contratos sob a ótica da
haver um acordo entre partes iguais, livre concorrência. Após detalhado estudo, o
inicialmente concorrentes. A opinião do autor conclui que para verificar se a rede
autor é que tais grupos por coordenação contratual se configura como prática
contratuais ou mistos, que se assentam restritiva da concorrência, é preciso avaliar
sobre a base da interdependência, se no caso concreto (i) a natureza do acordo, (ii)
apresentam hoje como alternativa ao o poder de mercado combinado das partes,
desafio de superar a concorrência extrema e (iii) os fatores estruturais. Foge ao objeto
em um mercado globalizado e como a desse resumo a análise de cada um desses
melhor opção para manter a independência pontos, pelo que se remete o leitor à própria
de seus membros. obra.
V. Conclusões. Em suas conclusões, o autor
IV. O problema da qualificação dos grupos sintetiza as diversas desvantagens do grupo
ou redes coordenadas no direito da
de sociedades por coordenação em face a
concorrência
outros modelos organizativos como os
A obra aborda o enquadramento dado pelo grupos ou redes empresariais por
Direito da Concorrência aos grupos por coordenação com base contratual ou mista.
coordenação societários, contratuais ou O autor observa, ademais, que essas redes
mistos. Não tanto aqueles acordos empresariais estão proliferando como
considerados como horizontais, mas mecanismo para que pequenas e médias
especialmente os verticais, que reúnem empresas possam alcançar a dimensão e
empresários situados em distintos níveis da eficácia necessárias em um mercado
cadeia de distribuição. globalizado sem que precisem abrir mão de
A questão é que onde determinados setores sua independência como ocorre em outros
observam a existência de colaboração ou modelos hierarquizados.
cooperação, o Direito da Concorrência pode Contudo, esses modelos contratuais em
entender que ocorre prática contrária à livre rede carecem de segurança jurídica no
concorrência, especialmente nos casos em âmbito do Direito da Concorrência, o que
que o grupo por coordenação abarca não ocorre com os grupos de sociedades
produção-distribuição-consumo. Nesse pertencentes ao âmbito do Direito
aspecto, a obra analisa a viabilidade de Societário. Essa pode ser a razão pela qual

95
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

muitos agentes econômicos vêm optando, A revolução da tecnologia da informação


ainda, por formatos de cooperação
Desde o último quarto do século XX, vive-se
baseados no Direito Societário ou por
um momento de transformação da “cultura
fórmulas mistas (societária e contratual)
material” impulsionado pelos mecanismos
do novo paradigma tecnológico da
informação. Esse processo de transformação
tecnológica se expandiu exponencialmente
em razão da capacidade da linguagem digital
de gerar, armazenar, recuperar, processar e

SOCIOLOGIA transmitir informações de modo jamais


visto. Vive-se, hoje, em um mundo digital, e
Arnaldo Rizzardo Filho25 a obra de Castells “[...] estuda o surgimento
de uma nova estrutura social, manifestada
CASTELLS, M. (1999) A sociedade em rede. São Paulo,
Paz e Terra sob várias formas conforme a diversidade de
culturas e instituições em todo o planeta.
Castells escreveu, na segunda metade da
Essa nova estrutura social está associada ao
década de 90 do século XX, a trilogia A era da
surgimento de um novo modelo de
informação: economia, sociedade e cultura,
desenvolvimento, o informacionalismo,
cujo primeiro volume se chama A sociedade
historicamente moldado pela reestruturação
em rede. Parte desse primeiro volume –
do modo capitalista a de produção, no final
especificamente os três primeiros capítulos
do século XX”.
e a conclusão – constitui o objeto do
Esse momento histórico possui a mesma
presente resumo. Para dar uma ideia geral
importância da revolução industrial do
do que é discutido a seguir, esclarece-se que
século XVIII, por produzir um padrão de
Castells pesquisa os efeitos das novas
descontinuidade nas bases materiais da
tecnologias de informação e comunicação
economia, da sociedade e da cultura. Mas,
(TICs) na estrutura social.
diferentemente de qualquer outra
revolução, o cerne da atual transformação

25
Pós-Graduado em Direito Tributário, MBA em
Empreendedorismo, Inovação e Startup, Doutorando
em Administração de Empesas, Professor, Autor.
96
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

refere-se às tecnologias de informação, californiana (Vale do Silício). No fim da


processamento e comunicação: “O que década de 90, o poder de comunicação da
caracteriza a atual revolução tecnológica Internet, associado aos novos progressos em
não é a centralidade de conhecimentos e telecomunicação e computação, provocou
informação, mas a aplicação desses outra grande mudança tecnológica:
conhecimentos e dessa informação para microcomputadores e mainframes
geração de conhecimentos e de dispositivos descentralizados e autônomos, disponíveis à
e de processamento/comunicação da computação universal por meio da
informação, em um ciclo de realimentação interconexão de dispositivos de
cumulativo entre a inovação e seu uso”. processamento de dados, o que permitiu a
As novas tecnologias da informação distribuição do poder de comunicação em
difundiram-se pelo globo com a velocidade uma rede montada ao redor de servidores
da luz em menos de duas décadas, entre da Web que usam o mesmo protocolo da
meados dos anos 70 e 90 do século XX, por Internet.
meio de uma lógica que é característica Cinco são as principais características do
dessa revolução tecnológica: a aplicação novo paradigma da tecnologia da
imediata no próprio desenvolvimento da informação: 1) informação como matéria-
tecnologia gerada, conectando o mundo por prima – são criadas tecnologias para agir
intermédio da tecnologia da informação. A sobre a informação, e não apenas
história da revolução da tecnologia da informação para agir sobre a tecnologia,
informação é breve. Foi durante a Segunda como ocorreu no caso das revoluções
Guerra Mundial e no período seguinte que tecnológicas anteriores. A revolução
se desenvolveram as tecnologias tecnológica não é caracterizada pela
eletrônicas: o computador programável e o centralidade de conhecimentos e
transitor (fonte da microeletrônica). E, com informações, mas por suas aplicações na
a criação da Internet, na década de 70 do geração de mais conhecimentos e
século passado, as novas tecnologias da informações, em um ciclo de realimentação
informação difundiram-se amplamente. Se a cumulativo; 2) poder de penetração – como
Primeira Revolução Industrial foi britânica, a a informação é uma parte integral de toda
revolução da tecnologia da informação foi atividade humana, todos os processos de
norte-americana, com tendência nossa existência individual e coletiva são

97
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

diretamente moldados (embora não porque a produtividade e a concorrência


determinados) pelo novo meio tecnológico; ocorrem em uma rede global de interação
3) lógica organizacional – sistemas ou interempresarial.
conjuntos de relações passaram a se Nesse cenário, o aumento da produção
desenvolver a partir das novas tecnologias representa o domínio das forças da natureza
da informação; 4) flexibilidade – não apenas pelos indivíduos. A estrutura e a dinâmica de
os processos são reversíveis, mas as determinado sistema econômico variam
organizações e instituições podem ser conforme os modelos específicos do
modificadas e até mesmo aumento da produtividade, de modo que,
fundamentalmente alteradas pela para identificar a nova economia
reorganização de seus componentes; 5) informacional, deve-se identificar as fontes
convergência tecnológica – a de produtividade que a distinguem.
microeletrônica, as telecomunicações e a O aumento da produção não resulta tão
optoeletrônica integram-se em sistemas de somente de adição de mão de obra ou de
informação. capital, mas também de outra fonte,
Essas principais características e outras mais, definida como um “resíduo estatístico” e
baseadas no novo paradigma da tecnologia descrita por economistas, sociólogos e
da informação, fundaram uma nova historiadores econômicos como
economia, conforme visto no tópico a seguir. correspondente a transformações
tecnológicas. Transformações tecnológicas
A nova economia: informacionalismo, geram crescimento econômico, e, na
globalização e funcionamento em rede
sociedade atual, a tecnologia da informação
A nova economia é informacional, global e subjaz ao desenvolvimento econômico.
em rede. É informacional porque Mas o fato de a tecnologia ser o principal
produtividade e competitividade fator que induz a “produtividade” não faz
econômicas dependem da capacidade de dela um objeto em si. Investimentos em
geração, processamento e aplicação tecnologia não são feitos devido à inovação
eficiente da informação baseada em tecnológica propriamente dita, mas à
conhecimentos; é global porque as “lucratividade”. Empresas são verdadeiros
principais atividades produtivas estão agentes do crescimento econômico, e, por
organizadas em escala global; e é em rede isso, as instituições políticas buscam a

98
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

maximização da competitividade do planeta em curtíssimo prazo. O capital


econômica: “lucratividade” e está, portanto, interconectado em todo o
“competitividade” constituem vetores para mundo em razão da tecnologia da
a inovação tecnológica e o crescimento da informação.
produtividade. Sabe-se, ainda, que a O surgimento da economia global impacta,
globalização alimenta o crescimento da ainda, o “gerenciamento” e a “distribuição
produtividade, pois as empresas melhoram da produção” e o próprio “processo
seu desempenho quando conseguem produtivo”. Em uma estrutura industrial, o
concorrer sem limites territoriais. mais importante é ocupar o maior número
A busca pela lucratividade empresarial e o de territórios em todo o globo; no novo
fomento estatal em favor da paradigma, o mais importante é posicionar a
competitividade induziram arranjos dos empresa em redes, ganhando vantagem
mais diversos tipos, criando uma nova competitiva em face da sua posição relativa.
economia global, traço mais típico do
capitalismo informacional. A nova A empresa em rede: a cultura, as
instituições e as organizações da economia
economia, baseada em reestruturação
informacional
socioeconômica e revolução tecnológica, é
moldada de acordo com os processos A economia informacional é caracterizada

políticos desenvolvidos no Estado e também por cultura e instituições específicas, cuja

pelo Estado. matriz comum consiste na organização de

A economia global deve ser capaz de processos produtivos e de consumo e

funcionar como uma unidade em tempo real distribuição. São sistemas organizacionais

e em escala planetária. No final do século XX, institucionalizados que formam o novo

a economia mundial conseguiu tornar-se sistema econômico.

global em razão da nova infraestrutura A tese de Castells parte do princípio de que

baseada nas tecnologias da informação e o surgimento da economia informacional se

comunicação. Essa globalidade envolve os caracteriza pelo desenvolvimento de uma

principais processos e elementos do sistema “lógica organizacional relacionada com as

econômico. Por exemplo, as novas transformações tecnológicas”, mas não

tecnologias possibilitam ao capital ser dependente delas. Tal lógica segue quatro

transferido entre contas nos diversos cantos tendências. A primeira e mais abrangente é
a passagem da produção em massa
99
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

(norteada pela integração vertical, divisão produtivos e de experiência, poder e cultura.


social e técnica de trabalho) para a produção Embora a forma de organização social em
flexível, que se adequava melhor à redes tenha existido em outros tempos e
imprevisível demanda do mercado, às espaços, o novo paradigma da tecnologia da
transformações tecnológicas e às informação fornece a base material para sua
diversificações dos mercados. A segunda expansão penetrante em toda estrutura
tendência é “[...] a crise da grande empresa social”.
e a flexibilidade das pequenas e médias Redes são conjuntos de nós
empresas como agentes de inovação e fostes interconectados. Trata-se de estruturas
de criação de empregos”. A terceira abertas que se expandem de forma
tendência, por sua vez, concerne aos novos ilimitada, ou seja, que integram novos nós
métodos de gerenciamento empresarial, que conseguem se comunicar dentro das
chamados “toyotismo” e adaptados à redes quando compartilham os mesmos
economia global e à produção flexível, em códigos de comunicação.
oposição ao “fordismo”. E a quarta As redes são apropriadas ao capitalismo
tendência é a formação de redes de baseado em inovação, globalização,
empresas a partir de dois modelos: 1) as descentralização, flexibilização e adaptação.
redes multidirecionais e 2) os licenciamentos E as redes reorganizam, de forma drástica, as
e as subcontratações de produção sob relações de poder.
controle de uma grande empresa.

Conclusão: a sociedade em rede

Sandy Danielle da Silva Fernandes26


Castells conclui sua obra referindo que
“Redes constituem a nova morfologia social MAGALHAES, Rodrigo; SANCHEZ, Ron. Autopoiesis
and the Organization of the Future.Autopoiesis in
de nossas sociedades e a difusão da lógica de Organization Theory and Practice, p. 1-22, 2009
redes modifica de forma substancial a
A lacuna de uma estrutura unificada para
operação e os resultados dos processos
explicar o espectro dos fenômenos

26
Advogada, Bacharel em Direito pela Universidade Sá; Mestranda em Direito Tributário pela Pontificia
da Região da Campanha - URCAMP, campus Santana Universidad Católica de Santa Maria de Buenos Aires;
do Livramento; Pós-graduada em Direito e Pós-graduanda em Advocacia Corporativa pela
Planejamento Tributário pela Universidade Estácio de Fundação do Ministério Público
100
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

organizacionais foi motivador para os entre os componentes que integram o


autores Magalhães e Sanchez para propor sistema e que satisfazem as limitações
uma nova teoria baseada nos sistemas impostas pela organização.
autopoiéticos para preencher tal lacuna. Zelony tem organização como redes de
O capítulo em questão se ocupa em fornecer interação, reação e processos identificados
um breve resumo dos princípios chaves da pela organização (rede de regras) e são
teoria dos sistemas autopoiéticos aplicada
diferenciadas por suas estruturas
aos fenômenos organizacionais. Além disso,
também buscam discutir a organização do (manifestação das normas aplicadas de
futuro, a partir de pressões externas que coordenação em contextos específicos).
cada vez mais exercem influências nas
Nesse sentido, para haver uma mudança na
organizações sociais e as induzem a
empreender novos tipos de transformações. estrutura (processos e procedimentos) deve
Também se preocupam em identificar os haver primeiramente uma mudança na
desafios que a serem enfrentados pelas
organização (regras de comportamento).
organizações não só como resultado das
pressões externadas, mas também como Espejo et at. utilização a expressão
consequência dos desenvolvimentos “identidade" para caracterizar o elemento
internos da ciência e teoria das que define a organização, e que as relações
organizações.
entre os participantes criam a distinta

Organização e Estrutura identidade para uma rede ou grupo. Nesse


sentido, explicam que organizações como
Procedimentos são influenciados por forças fenômenos sociais são caracterizados por
informais, menos propensas a mudanças, e tanto uma organização e uma estrutura, e as
forças formais, mais adeptas a mudanças, normas de interação estabelecidas pela
enquanto a literatura clássica os trata de organização e sua consequente execução
maneira separada, a teoria dos sistemas pela estrutura formam uma ligação
autopoiéticos sugere uma análise integrada recursiva.
dos mesmos.
No contexto da teoria dos sistemas Fechamento Operacional, Auto-
autopoiéticos, organização significa as Referencialidade e Recursividade

relações necessárias ou rede de normas que Um sistema que é gerado através de uma
regem as relações entre os componentes de organização fechada de processos de
um sistema e como estas relações definem produção de maneira tal que a mesma
tal sistema. Já estrutura significa as relações
101
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

organização de processos é reproduzida completamente indiferente ao ambiente


através de interações de seus próprios onde se encontra: ele continuará sofrendo
componentes. Assim, a organização dos influências e estímulos do sistema, ficando
componentes e os processos que produzem assim acoplado a ele.
componentes pode permanecer Esse conceito permite entender como uma
relativamente invariáveis através de organização pode ser fragmentada e mesmo
interações e movimentos dos componentes. assim manter uma unidade como sistema.
Se as relações específicas entre Isso nos leva a outro conceito, o de
componentes ou processos mudarem de acoplamento frouxo, criado por Weick, que
maneira substancial, não quer dizer que define organizações como sistemas de
necessariamente haverá uma mudança na acoplamento frouxo, isso é, uma situação
identidade deste sistema: haveria uma onde os elementos são responsivos (ação
mudança na estrutura do sistema, isso é, na em resposta a perturbações do ambiente)
manifestação particular em dado ambiente. mas mantém individualidade e identidade
Para ser possível essa recursividade permitir (manutenção da rede de interações que
a evolução da estrutura, o sistema define a organização do sistema).
autopoiético precisar ser fechado
operacionalmente. Esse fechamento Linguagem e Emoções

operacional implica dizer que há coerência


Linguagem é o que permite ações serem
interna que resulta na interconexão dos
coordenadas na organização, sendo
inputs e outputs, o que podemos chamar de
alcançada através dos componentes da
auto-referência. Nesse aspecto, o
organização fazendo delimitações úteis
fechamento operacional precisa de alguma
sobre a organização. Através do método da
forma de auto-referência ao invés de
linguagem que uma organização desenvolve
processos mais específicos de auto-
seu próprio processo de linguagem e esse
reprodução.
resultado expressa seu próprio sistema de
significados, que por si desenvolve sua
Acoplamento Estrutural
própria autopoiese.
Um sistema nunca é completamente Conversas permitem a estruturação do
fechado de um ambiente, porque é processo evoluir e formar a rede, e uma vez
impossível que esse sistema seja formado, as conversas vão se tornar

102
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

fechadas organizacionalmente e auto- trabalhador individual, surgindo companhias


referenciais. Assim, para um componente baseadas em trabalhadores do
novo poder tornar-se parte do grupo ele conhecimento ao invés de trabalhadores
precisa aprender o que os autores chamam manuais.
de código genético do grupo e qual é seu Existem também o fenômeno das redes:
papel na organização. Nesse sentido é que o organizações autônomas, descentralizadas e
indivíduo social se torna estruturalmente em rede estão se conectando com outras,
acoplado a rede social. bem como pessoas também estão nesse
Organizações transcendem o indivíduo, pois ecossistema de redes com outras pessoas.
suas contribuições para o sistema irão Aliados a isso também temos os fenômenos
permanecer mesmo que ele seja excluído do tecnológicos, os autores citam o exemplo do
sistema. Para Maturana, esses fenômenos sistema operacional Linux que não tem uma
sociais só são possíveis através das emoções. estrutura formal de empresa, nem
empregados ou capital e seu produto é
Organizações e Organizando o Futuro gratuito ao público, mesmo assim ele se
mostra uma ameaça para outras empresas
Segundo James Marcha, o campo de estudos
de software.
organizacionais estaria entrando em uma
quarta era de invasão caracterizado pela Novos Desafios Internos Organizacionais
crescente influência de tecnologias de
1. Nova Abordagem Epistemológica
informação e avanços biológicos na vida
Inspirada por Complexidade e Não-
social e por questões climáticas e Linearidade
sustentáveis que o planeta está passando.
Como exemplo, temos novas atitudes e A teoria da complexidade não tenta fazer

valores no capitalismo como base para uma previsões detalhas, mas levantar novas

organização econômica. Vemos o questões e possíveis ações organizacionais.

crescimento da conscientização de O fenômeno que tentamos entender em um

problemas climáticos traz uma nova ética contexto organizacional vai depender do

para companhias mais social, ecológico e nível de contexto, que por sua vez vai

moralmente preocupado com suas depender das conexões com o evento em

abordagens. Além disso, também análise. Assim, é necessário entender como

percebemos a preocupação com o os componentes individuais contribuem

103
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

para o comportamento de um contexto pelo fato de que estudiosos dessa teoria


holístico organizacional, mas também é esqueceram-se que organizações tem a
importante entender como o contexto elemento humano, não estruturas onde o
influencia o comportamento de cada indivíduo possui um papel ativo ou passivo.
componente individual.
Parte do paradigma da complexidade é 3. A Mudança para Prática Trans e
entendido também sob o viés da enação, Multidisciplinar

que é a contraparte da autopoiese, onde


Gibbons et al apontam que existem dois
temos o saber como resultado de um
modos de produção de conhecimento na
processo de interpretação que surge da
sociedade: o primeiro refere-se às práticas
habilidade de entender e permite sentir o
tradicionais de ciência e pesquisa, com foco
ambiente que estamos.
em ensaios e análises de teorias do mundo
A teoria dos sistemas autopoiéticos oferece
social; e o segundo que foca no
um modelo de como fenômenos surgem de
desenvolvimento de ideias que tenham
interação complexa e não linear entre
relevância e possam ser aplicadas às
agentes heterogêneos. A complexidade
organizações contemporâneas, para isso é
permite que as dinâmicas resultantes destas
necessário que exista uma mudança para a
interações sejam explicadas ao descrever o
prática multidisciplinar.
processo de geração que liga estudos
A guinada para o segundo modo precisa ter
empíricos a realidade causal. Sistemas
em conta que uma organização é uma
sociais podem ser vistos como uma classe
construção social, não sendo arquitetada da
específica de sistemas complexos e é a teoria
mesma forma que uma molécula ou uma
dos sistemas autopoiéticos que explica as
ponte, devendo se ter em conta vários
distintas características dessa classe.
elementos. Naturais (humanos,

2. A busca Por Um Novo Paradigma comportamentais, intangível) e intencionais


Organizacional (racionais, planejados tangíveis).
Para isso é necessário idealizar modelos a
À época, literatura era baseada em
serem analisados e testados, e
organizações de uma análise linear e
concomitantemente o estado de casos de
reducionista. A teoria dos sistemas abertos
comparação.
não resolveu questões. Mas o principal se da

104
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

4. A natureza em rede de organizações

Organizações estão cada vez mais sendo


Eduarda Jade Stumer Santos27
vistas como redes sem substância exceta
pelo sistema definido pelo seu
Contornos do art. 421-A do Código Civil pela Lei n°
conhecimento. A principal característica é a
13.874/2019 / Eduarda Jade Stumer Santos. – 2020.
perspectiva de interações que os membros 73 f. Orientador: Gerson Luiz Carlos Branco. Trabalho
de conclusão de curso (Graduação) - Universidade
organizacionais desenvolvem ao procurar Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Direito,
Curso de Ciências Jurídicas e Sociais, Porto Alegre,
comunicar com outros membros. Através BR-RS, 2020. 1. Direito Civil. 2. Liberdade contratual.
3. Paridade e simetria contratual. I. Branco, Gerson
dessas interações, os membros criam ações Luiz Carlos
socialmente integradas e criam relações em
A Medida Provisória n° 881 de 2019,
diferentes níveis.
posteriormente convertida na Lei n°

5. A integração de arquiteturas sociais e 13.874/2019, incluiu o art. 421-A no


tecnológicas em organizações ordenamento do Código Civil brasileiro –
este dispositivo teve, como principal
Novos ativos de conhecimento são
propósito, reduzir a interferência arbitrária
encontrados na arquitetura social (através
do Poder Judiciário nos contratos civis e
de estruturaras, processos, cultura, sistemas
comerciais. Realizando tal propósito através
de administração) e também na arquitetura
de conceitos indeterminados em sua
técnica (informação e comunicação,
redação, permanece controvertido se tal
aplicações) da organização. Esses dois
previsão normativa concretizou
pilares são as vantagens competitivas que as
integralmente o fim almejado.
companhias podem ter no meio, ao mesmo
Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais
tempo que redefinem regras de
presumem-se paritários e simétricos até a
desenvolvimento organizacional. O desafio é
presença de elementos concretos que
a integração dos estudos com teóricos da
justifiquem o afastamento dessa presunção,
tecnologia da informação.
ressalvados os regimes jurídicos previstos
em leis especiais, garantido também que:

27
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora em Civil na UFRGS, Assistente jurídica voluntária no SAJU
Direito Contratual Empresarial e Responsabilidade na área de Direito Civil.
105
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

I – as partes negociantes poderão Chicago, de que o melhor resultado possível


estabelecer parâmetros objetivos para a é a barganha entre as próprias partes,
interpretação das cláusulas negociais e de especialmente sem a interferência da lei,
seus pressupostos de revisão ou de caso as partes optem por negociar entre si.
resolução; Considerando que o art. 421-A do Código
II – a alocação de riscos definida pelas partes Civil privilegia a interpretação decorrente do
deve ser respeitada e observada; e conteúdo negociado entre as partes, é
III – a revisão contratual somente ocorrerá necessário sinalizar que tal dispositivo
de maneira excepcional e limitada. dialoga, em sua aplicabilidade, somente com
Em caráter geral, o art. 421-A conferiu maior a categoria contratual dos contratos
liberdade de negociação entre as partes para paritários ou negociados, categoria esta que
definirem o conteúdo jurídico-semântico das abrange tanto contratos civis como
disposições contratuais pactuadas, além de empresariais e que possui como traço
qualificar a revisão contratual como distintivo a discussão do conteúdo
excepcional e limitada. Estes preceitos, por contratual entre as partes, estas geralmente
si só, denotam as ideias de Robert Cooter e em posição econômica de igualdade.
Thomas Ulen, pioneiros na análise Ainda, a menção individualizada, no caput
econômica do Direito, em especial a de que do dispositivo, a contratos civis e contratos
‘the terms are often more efficient when empresariais é pertinente à compreensão do
people agree on them than when a âmbito de sua incidência pois, não obstante
lawmaker or conqueror imposes them’. a unificação das relações obrigacionais, as
A implicação direta de tais atributos é, pois, Cortes Superiores ainda apontam a
vincular a compreensão do juízo sobre à distinção, destacando que os primeiros
avença contratual não só aos dispositivos seriam dotados de dirigismo contratual e os
normativos legais incidentes ao tipo empresariais, imbuídos de autonomia
contratual, mas precipuamente aos termos privada.
da negociação firmada entre as partes. A Desta forma, a consequência lógica disso é a
vinculação ao contratado assim proposta em ressalva de aplicação do art. 421-A do Código
muito ressoa também as afirmações do Civil ao Código de Defesa do Consumidor
Teorema de Ronald Coase, maior expoente (CDC), aos contratos de representação
da análise econômica do Direito da Escola de comercial, contratos de franquia, contratos

106
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

de agência e de distribuição, etc. A simetria contratual denotaria que o contrato


expressão ‘elementos concretos’ presente representa o resultado da autonomia de
no caput do dispositivo compreende vontade exercida por contraentes em
diversas possibilidades de exclusão da posição de equilíbrio de realidades
paridade e simetria contratuais, econômicas no plano concreto. Desta forma,
possibilidades estas que ainda serão melhor um contrato paritário seria a soma na
definidas pela doutrina, baseadas equidade sob a ótica do viés econômico e
principalmente nas práticas de mercado e social.
riscos usuais inerentes ao tipo contratual Nesse sentido, o art. 421-A do Código Civil
adotado pelas partes e/ou natureza do representa o fortalecimento do princípio
negócio. contratual clássico da autonomia privada –
Delineado o âmbito de aplicação do art. 421- este sempre limitado pelo princípio da
A, é preciso comentar sobre a presunção função social do contrato, o que significa
relativa – ou juris tantum, ou seja, a dizer que a interpretação contratual pauta-
presunção subsiste até surgir prova em se pelo contexto social em que este está
contrário – de paridade e simetria inserido –, que trata-se da autonomia
econômica instalada pelo dispositivo nos conferida à parte para regular o conteúdo da
contratos civis e empresariais. avença e sua disciplina jurídica, ou seja, o
Apesar de a doutrina em geral considerar os poder inerente ao contratante de
vocábulos paridade e simetria contratuais autorregular os próprios interesses e suas
como sinônimos, é preciso compreender relações. Considerando que a concepção
que o legislador não costuma se valer de moderna de contrato supera a tradução
redação vazia de sentido. Aprofundando a estrita da vontade pura das partes, o termo
distinção, portanto, tem-se que a paridade, autonomia privada veio a substituir o
também tida como contrato negociado pela vocábulo anterior de autonomia da vontade
doutrina, traduziria a ideia de que as partes das partes.
contratantes possuem a mesma capacidade No mesmo diapasão e em razão da atecnia
de analisar o texto contratual, aceita-lo e jurídica enfrentada e corrigida na redação do
também compreender a extensão dos riscos art. 421-A ao tempo da Medida Provisória n°
estipulados, sendo o contrato fruto de uma 881/2019, cumpre definir o traço distintivo
negociação equitativa. Por outro lado, a entre o que compreende os conceitos de

107
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

liberdade contratual e liberdade de autonomia privada e sua expressão


contratar. O primeiro refere-se à liberdade contratual.
de que a parte dispõe para definir e dialogar Ainda, a mesma possibilidade
quanto ao conteúdo contratual (os limites e supramencionada é conferida às partes para
definições de seu objeto), enquanto a oferecer parâmetros sobre o significado, no
liberdade de contratar versa sobre a contexto do contrato, aos institutos jurídicos
liberdade de escolha pela parte no que tange do adimplemento substancial, da
ao seu parceiro contratual e ao momento onerosidade excessiva e de eventos
oportuno em que tal avença é celebrada. O extraordinários – uma vez que tais institutos
direito à contratação, inclusive, é um direito não carregam em si um parâmetro pré-
existencial da personalidade advindo do fixado para que sejam reputados
princípio da liberdade. configurados.
Analisando mais detidamente o conteúdo Ao definir a extensão de tais institutos, a
normativo dos incisos do art. 421-A, tem-se interpretação posterior do julgador ou
que o inciso I confere às partes contratantes árbitro diante do caso concreto fica
a possibilidade de conferir maior densidade vinculada a tais definições, além de vincular
normativa para deveres anexos contratuais, de maneira prévia as partes contratantes.
sendo expoentes destes os deveres de Tais definições, ao serem inseridas no
informação, cooperação e colaboração. contrato, o tornar um instrumento de
Sendo a boa-fé contratual um parâmetro alocação prévia de riscos entre as partes.
ético que impõe deveres de cooperação, Todavia, o permissivo do inciso I não
esta em muito influencia a compreensão autoriza afastar, por exemplo, preceito de
quanto aos parâmetros de incidência do art. ordem pública ou estipular pela via
421-A, uma vez que tal dispositivo reflete transversa da redação contratual o seu
uma negociação contratual que culmine em esvaziamento, de modo que condutas como
um contrato que represente a realidade e os a descrita terão por consequência o
interesses de seus contraentes. Nesse deslocamento da discussão jurídica para a
sentido, o diálogo normativo entre validade da cláusula estipulada e não mais
princípios e normas age para traduzir com sobre a solução ao impasse contratual a que
mais clareza os parâmetros atinentes à se depararam as partes.

108
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

A seu turno, o inciso II do art. 421-A perdas e danos pela parte contrária em caso
determina a observação e respeito, pelo de inadimplemento, o mesmo ocorrendo
julgador ou árbitro, dos termos de alocação quando estipulada cláusula que limita o
de riscos definida pelas partes – seu dever de indenização ao fixar um valor
sinalagma contratual – num esforço para pecuniário máximo a ser devido.
balizar a tendência de que a lei tem em não Como última garantia nas orientações à
atender às particularidades do negócio interpretação judicial dos contratos
entabulado, seja este civil ou empresarial. paritários e simétricos, civis e empresariais,
As partes, ao dedicarem maior rigor na o inciso III do art. 421-A visa a mitigação do
construção dos elementos do contrato, dirigismo contratual ao reputar a revisão
protegem-se não somente da interpretação contratual judicial como excepcional e
arbitrária do juízo ou árbitro ao fornecerem limitada. Considerando o necessário diálogo
mais elementos para a compreensão da que tal inciso precisa ter com os artigos do
realidade contratual por este, mas também Código Civil que abordam o instituto da
protegem a sua confiança recíproca no revisão contratual, quais sejam, arts. 478,
negócio pactuado, a boa-fé contratual e a 479, 480 e 317 do Código Civil, verifica-se
legítima expectativa de ambas as partes ao que o comando normativo em análise é de
conferirem previsibilidade aos efeitos do pouco efeito prático.
contrato a longo prazo. Isto porque reputar a revisão contratual
Entretanto, a própria alocação de riscos já judicial como excepcional e limitada não
possui limitações prévias à redação do altera de maneira substancial as hipóteses às
dispositivo por parte da doutrina. A quais a revisão contratual incide, ou seja,
exemplo, se da alocação de riscos estipulada não provoca quaisquer alterações no
em contrato pelas partes decorrer entendimento normativo já construído pelos
enriquecimento sem causa, onerosidade demais dispositivos que versam sobre o
excessiva ou afronta a preceito de ordem instituto. A revisão contratual muito é
pública, a alocação de riscos será reputada postulada, todavia a jurisprudência
nula ou ineficaz pelo julgador ou árbitro. consolidada nas Cortes Superiores revela
Como outros exemplos, pode-se citar a que esta pouco se opera, apesar de doutrina
ilicitude de que se reveste a cláusula que e jurisprudência terem como máxima que a
exclui a possibilidade de reparação por

109
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

revisão contratual é sempre preferível à predispostas e não propostas. Os contratos


resolução contratual. de adesão não se confundem com o conceito
Nesse contexto, o inciso III positiva a ideia de reservado aos contratos de consumo, pois
que importam à interpretação contratual estes levam em conta a qualificação das
adequada não somente o redigido no partes envolvidas na relação contratual e
instrumento contratual, mas também o não a forma de contratação.
comportamento das partes enquanto na Todavia, não se ignora excepcionalmente a
constância da avença, além das práticas de hipótese de existência de contrato de
mercado inerentes ao tipo negocial adesão empresarial, paritário em função da
entabulado. confiança e cooperação havida entre as
Pelo exposto, ao menos no tocante à revisão partes, que atraia a incidência do art. 421-A
contratual, certo é que o art. 421-A do do Código Civil. É um contexto no qual não
Código Civil não possui protagonismo de há que se falar na ausência de paridade
fundamentação, pois a ideia de contratual, pois não há hipossuficiência de
excepcionalidade e limitação da revisão nenhuma ordem – inferindo-se deste
contratual já se encontrava consolidada no cenário a importância da presunção juris
arcabouço jurídico através das ideias de tantum de paridade e simetria contratual.
autonomia privada e força obrigatória da
convenção – ou seja, antes da positivação do
_______________________________
referido dispositivo, o que denota que este
também não assinala qualquer inovação
normativa.
Por fim, importa salientar a inaplicabilidade
do art. 421-A do Código Civil aos contratos
de adesão em razão do maior protagonismo
conferido ao dirigismo contratual neste tipo
contratual em comparação ao relegado a tal
dirigismo pelo art. 421-A, sendo os traços
marcantes de tais contratos a predisposição
de suas cláusulas, a unilateralidade e rigidez
contratual configurada pelas cláusulas

110
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Vitória de Bona28 Para alguns, a crise econômica da década de


1970 resultou da exaustão do sistema de
CASTELLS, Manuel et al. A sociedade em rede: do
produção em massa. Para outros, trata-se de
conhecimento à política. A sociedade em rede: do
conhecimento à acção política, p. 17-30, 2005 uma evolução de longo prazo do “fordismo”

CAPÍTULO 3. A empresa em rede: a cultura, ao “pós-fordismo”. Mesmo com diversas


as instituições e as organizações da abordagens de diversos analistas, se tem os
economia informacional
seguintes pontos fundamentais: a) houve,

O que caracteriza o desenvolvimento da em meados dos anos 70 em diante, uma

economia informacional global é o seu divisão importante na organização da

surgimento em contextos culturais e produção e dos mercados na economia

nacionais diferentes, exercendo influência global; b) transformações organizacionais

em todos os países e levando a uma interagiram com a difusão da tecnologia da

estrutura de referências multiculturais. A informação, mas em geral eram

diversidade de contextos culturais de onde independentes e precederam essa difusão

surge e em que evolui a economia nas empresas comerciais; c) objetivo

informacional não impede a existência de principal das transformações

uma matriz comum de formas de organizacionais em várias formas era lidar

organização nos processos produtivos, de com a incerteza causada pelo ritmo veloz das

consumo e distribuição. mudanças no ambiente econômico,

O surgimento da economia informacional institucional e tecnológico da empresa,

global se caracteriza pelo desenvolvimento aumentando a flexibilidade em produção e

de uma nova lógica organizacional que está gerenciamento de marketing; c) muitas

relacionada com o processo atual de transformações organizacionais visavam

transformação tecnológica, mas não redefinir os processos de trabalho e as

depende dele, sendo manifestada em práticas de emprego, introduzindo o modelo

diferentes formas e em vários contextos da “produção enxuta”; d) a administração

culturais e institucionais. dos conhecimentos e o processamento das


informações são essenciais para o

28
Acadêmica de Direito, cursando o 7º semestre na especializado em Direito Tributário – Grecchi
Universidade do Vale do Sinos, com formação Advogados, dispõe experiência no Poder Executivo,
complementar em Direito Civil Atual - IARGS e no setor da Secretaria da Fazenda, bem como no
Obrigações e Contratos na Economia em Rede - Legislativo da Câmara Municipal.
OAB/ESA. Atua como secretária jurídica no escritório
111
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

desempenho das organizações que operam de inovação e fontes de criação de


na economia informacional global. empregos. A crise da empresa de grande
porte é consequência da crise da produção
1 - Da produção em massa à produção padronizada em massa, e o renascimento da
flexível
produção artesanal personalizada e da
A primeira e mais abrangente tendência de especialização flexível que é mais bem
evolução organizacional identificada, é a recebido pelas pequenas empresas.
transição da produção em massa para a A expansão e a conquista dos mercados
produção flexível, ou do “fordismo” ao “pós- internacionais pelos conglomerados
fordismo”. empresariais, contando com a crescente
O sistema produtivo flexível surgiu como demanda de um mundo que se industrializa
uma possível resposta para superar essa rapidamente, as empresas tiveram que
rigidez, adaptando-se a transformar mudar suas estruturas organizacionais,
continuamente, sem a pretensão de fazendo o uso de subcontratação de
controlá-la. pequenas e médias empresas, cuja
O gerenciamento industrial nas décadas de vitalidade e flexibilidade possibilitavam
80 e 90 introduziram outra forma de ganhos de produtividade e eficiência às
flexibilidade: a flexibilidade dinâmica. grandes empresas, bem como à economia
Sistemas flexíveis de produção em grande como um todo – uma rede (uma mão lava a
volume, a qual as novas tecnologias outra).
permitem a transformação das linhas de 3 – “Toytismo”: cooperação gerentes-
trabalhadores, mão-de-obra
montagem típicas da grande empresa em
multifuncional, controle de qualidade total
unidades de produção de fácil programação e redução de incertezas
– flexibilidade no produto e no processo.
A terceira evolução diz respeito a novos
2 – A empresa de pequeno porte e a crise da métodos de gerenciamento, a maior parte
empresa de grande porte: mito e realidade oriunda de empresas japonesas. O enorme
sucesso em produtividade e competitividade
A segunda tendência enfatizada pelos
obtido pelas companhias automobilísticas
analistas nos últimos anos é a crise da
japonesas foi, em grande parte, atribuída a e
grande empresa e a flexibilidade das
essa evolução administrativa, de forma que
pequenas e médias empresas, como agentes
o “toyotismo” opõe-se a “fordismo”, como
112
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

nova fórmula de sucesso, adaptada à mundo, para a distribuição exclusiva de seus


economia global e ao sistema produtivo produtos, sob o mais rígido controle da
flexível. empresa principal. Uma central de feedback
Um método norte-americano de produção online de todos os pontos de distribuição e
em massa, adaptado para o gerenciamento mantém o suprimento em estoque, como
flexível, utilizando a especificidade das define as tendências de mercado em relação
empresas japonesas, em particular, o as formas e cores. O modelo de redes
relacionamento cooperativo entre os também é eficaz no nível de produção,
gerentes e trabalhadores é chamado de just fornecendo o trabalho a pequenas empresas
in time, a estabilidade e e domicílios na Itália e em outros países do
complementariedade das relações entre a Mediterrâneo, como a Turquia. Esse tipo de
empresa principal e a rede de fornecedores organização em rede é uma forma
são extremamente importantes para intermediária de arranjo entre a
implementação desse modelo. desintegração vertical por meio dos sistemas
de subcontratação de uma grande empresa
4- Formação de redes entre empresas e as redes horizontais das pequenas
empresas.
Pequenas e médias empresas muitas vezes
ficam sob o controle de sistemas de
5 – Alianças corporativas estratégicas
subcontratação ou sob o domínio
financeiro/tecnológico de empresas de A interligação de empresas de grande porte
grande porte. No entanto, também tomam a passou a ser conhecido como alianças
iniciativa de estabelecer relações em redes estratégicas. Foram especialmente
com várias empresas grandes e com outras relevantes nos setores da alta tecnologia; o
menores/médias, encontrando nichos de aceso a mercados e a recursos de capital é
mercado e empreendimentos frequentemente trocado por tecnologia e
coorporativos. conhecimentos industriais; em outros casos,
Um tipo de rede é o “modelo benetton”. A duas ou mais empresas empregam esforços
malharia italiana, multinacional oriunda de conjuntos para desenvolver um novo
uma pequena empresa familiar da região de produto ou aperfeiçoar uma nova
Veneto, opera com franquias comerciais e tecnologia, em geral sob o patrocínio de
conta com cerca de 5 mil lojas em todo o governos ou órgãos públicos.

113
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

6 – A empresa horizontal e as redes globais A tecnologia da informação possibilita um


de empresas sistema flexível de elaboração de
estratégias. Essa estrutura internacional
A própria empresa mudou seu modelo
permite que pequenas e médias empresas se
organizacional para adaptar-se às condições
unam a empresas maiores, formando redes
de imprevisibilidade introduzidas pela rápida
capazes de inovar e adaptar-se
transformação econômica e tecnológica. A
constantemente. A unidade operacional real
principal mudança pode ser caracterizada
torna-se o projeto empresarial, possibilitado
como a mudança de burocracias verticais
por uma rede.
para a empresa horizontal.
A empresa horizontal parece apresentar sete
7 – A crise do modelo de empresas verticais
tendências principais: a) organização em e o desenvolvimento das redes de
torno processo, não na tarefa; b) hierarquia empresas
horizontal; c) gerenciamento em equipe; d)
A estrutura em forma de teia resultante das
medida do desempenho pela satisfação do
alianças estratégicas entre as grandes
cliente; e) recompensa com base no
empresas é diferente da mudança para a
desempenho; f) maximização dos contatos
empresa horizontal. O “Toyotismo” é um
com fornecedores e clientes; g) informação,
modelo de transição entre a produção em
treinamento e retreinamento de
massa padronizada e uma organização de
funcionários em todos os níveis.
trabalho mais eficiente, caracterizada pela
Nos anos de 70, o modelo da “produção
introdução de práticas artesanais, bem
enxuta” reduziu custos, mas também
como, pelo envolvimento de trabalhadores e
perpetuou as estruturas organizacionais
fornecedores em um modelo industrial
obsoletas enraizadas na lógica do modelo de
baseado em linhas de montagem.
produção em massa. Para operar na nova
O que surge da observação das
economia global, caracterizada pela onda de
transformações nas maiores empresas ao
novos concorrentes que usam novas
longo das duas últimas décadas do século 20
tecnologias e capacidades de redução de
não é um novo e melhor medo de produção,
custos, as grandes empresas tiveram de
mas a crise de um modelo antigo e
tornar-se principalmente mais eficientes do
poderoso, porém excessivamente rígido
que econômicas.
associado à grande empresa vertical e ao
controle oligopolista dos mercados. Dessa
114
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

crise, surgiram vários modelos e sistemas a depender da disponibilidade de novas


organizacionais que prosperaram ou tecnologias, uma vez que o horizonte das
fracassaram de acordo com a sua redes se tornou global. A integração em
adaptabilidade a vários contextos redes tornou-se a chave da flexibilidade
institucionais e estruturas competitivas. organizacional e do desempenho
A experiência histórica recente já oferece empresarial.
algumas das respostas sobre as novas
____________________________________
formas organizacionais da economia
informacional. Sob diferentes sistemas
PALESTRAS
organizacionais e por intermédio de
expressões culturais diversas, todas elas Renata Pozzi Kretzmann29
baseiam-se em redes. As redes são e serão
os componentes fundamentais das
organizacionais. PROSUMERS NO COMÉRCIO ELETRÔNICO
1 – Alguns princípios do comércio eletrônico

8 – A tecnologia da informação e a empresa


em rede O conceito de Prosumers é aplicado em
vários contextos jurídicos. Pode ser
O obstáculo mais importante na adaptação
examinado no âmbito do comércio
da empresa vertical às exigências de
eletrônico, que tem algumas peculiaridades.
flexibilidade da economia global era a rigidez
O e-commerce, como também é
das culturas coorporativas tradicionais.
denominado, não é uma disciplina com
A transformação organizacional ocorreu
autonomia formal. Não é um novo ramo do
independentemente da transformação
Direito e se vale de institutos de Direito Civil,
tecnológica, como resposta à necessidade
do Direito Empresarial, do Direito do
de lidar com um ambiente operacional em
Consumidor, entre outros. O meio eletrônico
constante mudança. Não obstante, a
é apenas suporte para a contratação; não
capacidade de empresas de pequeno e
configura novo tipo contratual.
médio porte se conectarem em redes, entre
si e com grandes empresas, também passou

29
Mestre em Direito pela UFRGS. Especialista em atuante na área do Direito Civil, com ênfase em
Direito dos Contratos e Responsabilidade Civil pela Direito do Consumidor e Lei Geral de Proteção de
Unisinos. Professora e pesquisadora. Advogada Dados. renatakretzmann@arkadvocacia.com
115
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

Importantes princípios informam o processo comercial, estabelecendo-se um contrato


eletrônico, como o Princípio da Equivalência empresarial. Pode haver, todavia, a atração
funcional, segundo o qual os contratos de regras protetivas se houver
eletrônicos têm o mesmo reconhecimento e microempresas, por exemplo. Se uma
efeitos jurídicos dos pactos firmados de empresa estiver em posição de
outras formas, em ambiente não virtual. vulnerabilidade e as condições fáticas
O Princípio da Conservação e aplicação das autorizarem, o Código de Defesa do
normas jurídicas existentes assume especial Consumidor pode ser aplicado. A análise
relevância pois relembra o intérprete de que deve ser feita em cada situação.
o ordenamento jurídico como um todo Os contratos eletrônicos entre empresas
continua sendo aplicado. As formas e podem ocorrer para aquisição de produtos
repercussões contratuais são as previstas ou prestação de serviços. No comércio
em lei independente do contrato ter sido eletrônico não raro se observa contratos de
firmado via digital. parceria e de prestação de serviços
O Princípio da necessidade de identificação relacionados à suporte tecnológico,
das partes assume papel destacado em desenvolvimento de sites, softwares,
virtude do cenário de não identificação e manutenção de aplicativos, criação de redes
anonimato das redes virtuais. Os de pagamento e outros que servem ao
contratantes devem estar identificados, com propósito de possibilitar a contratação
dados que possibilitem efetiva comunicação. eletrônica.
Encontrar a outra parte é fundamental para Nas contratações entre empresas e
resolver eventuais litígios e buscar consumidores há uma relação de consumo;
ressarcimento por danos, por exemplo. incidentes, por tanto, as regras e princípios
do CDC e de eventual legislação
2 – Diferentes Relações Contratuais no âmbito
extravagante aplicável. As condições da
eletrônico
oferta são importantes e devem ser

Os contratos eletrônicos podem ocorrer observadas tendo em vista a vulnerabilidade

entre empresas, no modelo Business to do consumidor, que se acentua no mundo

Business (B2B); entre empresas e virtual pelas caraterísticas do ambiente, pela

consumidores (B2C) ou entre particulares dificuldade de leitura e compreensão dos

(C2C). No primeiro caso, a relação é termos contratuais e pela ausência de hábito

116
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

de muitos consumidores que há pouco se em consumo compartilhado e cadeia


tempo passaram a comprar nesse meio, escondida, embora nem sempre se perceba
como idosos e analfabetos. o compartilhamento em si. O termo
Nesse modelo, o ambiente virtual deve economia do compartilhamento ficou
proporcionar maior proteção, exigindo-se popular, mas atualmente designa atividades
um dever de informar mais qualificado. O que nada mais são do que a compra e venda
direito de arrependimento do artigo 49 do ou contratação de prestação de serviço ou
CDC deve ser observado e deve-se atentar locação on-line, não havendo propriamente
para as sanções administrativas e judiciais e tecnicamente consumo compartilhado. A
incidentes em caso de cláusulas e práticas superação do modelo de compra-uso-
abusivas no mercado eletrônico. descarte se dá ao se utilizar um bem, seja
O terceiro modelo, o comércio entre móvel ou imóvel, juntamente com outras
particulares, tem sua singularidade. pessoas, de maneira concomitante ou não.
Acontece no espaço de venda de produtos A dita economia do compartilhamento
usados, de locação de produtos próprios e caracteriza-se pela conectividade. O uso
de prestação de serviço em geral, sem que compartilhado em si não é novo, a forma on-
estejam presentes as figuras do consumidor line é a novidade. O novo estilo de vida, a
e do fornecedor. Em geral as normas civis possibilidade de utilização de plataforma
são aplicadas, havendo incidência de colaborativa e a vontade de ter uma
legislação consumeristas em casos especiais utilidade e não uma propriedade fazem
em que a relação se transforma. O vendedor parte desse contexto.
no contrato C2C não é fornecedor: é aquele Há alguma renovação de conceitos. A
que vende artigos em plataformas como economia do compartilhamento vai de
eBay e Elo7, por exemplo. encontro aos conceitos tradicionais e
antagônicos de consumidor e fornecedor.
3 – Contratações por intermédio de
Surge o modelo P2P, embasado na pull-
plataformas digitais
economy ou economia da atração, em que o
É perceptível o aumento dos negócios protagonista central passa a ser o próprio
firmados por intermédio de plataformas que consumidor, com papel fortemente ativo e
oferecem serviços e produtos. Há discussão empoderado. É um modelo de pessoa para
doutrinária sobre a responsabilidade das
empresas que mantem as plataformas. Fala-
117
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

pessoa, supostamente mais igualitário em diversos conjuntos de normas. Pode-se citar


que há troca direta. como exemplo as criações feitas com
Os gatekeepers não são somente aqueles impressoras 3D, as encomendas específicas
que fazem o intermédio do negócio, mas o de produtos personalizados ou a escolha de
tornam possível e estruturado, o que tem determinadas peças com características
implicação direta na qualificação da relação únicas. O adquirente tem um papel ativo e é
como sendo de consumo. A relação, a priori, conhecedor do bem que deseja.
seria puramente civil, já que se baseia entre O termo prosumer é de Alvin Toffler, escritor
dois iguais. e futurista norte-americano, Doutor em
O consumidor que adquire bens e produtos Letras, Leis e Ciência e conhecido pelos seus
nessas plataformas, muitas vezes procura estudos sobre a revolução digital, a
características especificas. Há o surgimento revolução das comunicações e a
de um comércio eletrônico pós-moderno, o singularidade tecnológica. O “prossumidor”
we-commerce, caracterizado por se utilizar é aquele que cria produtos, serviços ou
da arquitetura do comércio eletrônico experiências para uso ou satisfação próprios,
tradicional, mas com uma nova roupagem de excluindo a venda ou a colocação no
colaboração e de conexão entre pares, mercado. A aquisição geralmente é para si.
configurando uma relação de consumo mais São consumidores engajados que
dinâmica, descentralizada, com novos e consomem ideias, ferramentas e recursos
diversificados atores, que modificam a oferecidos pelos fornecedores a fim de
estrutura da relação de consumo. Nesse transformar ou produzir novos produtos ou
contexto, observa-se a figura do prosumer serviços para outros consumidores e capazes
ou prosumidor. de influenciar operações e processos
comerciais já que muitas vezes as suas ideias
4 – A pessoa que cria: os prosumers no
são utilizadas e colocadas em prática pelo
comércio eletrônico
fornecedor. Refere-se que ele está na
A figura do prosumer surge nesse cenário em “fronteira da atividade privada e comercial,
que há comercialização de produtos e de forma que fica difícil enquadrá-lo como
serviços personalizados pelo consumidor ou consumidor ou empresa”.
então uma criação conjunta entre quem É ‘consumidor’ e ‘ator’. Não aceita mais
compra e quem vende ou produz. São passivamente os bens e os serviços
contratos atípicos nos quais há incidência de
118
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

oferecidos a ele. O prosumer é exigente e ativos da internet e da tecnologia, tanto no


não hesita mais em desafiar o poder das âmbito do trabalho como no residencial. Os
marcas. É mais engajado e sensível às prosumers têm esse perfil totalmente
características responsáveis, éticas e adaptado ao mundo virtual e ao comércio
equitativas dos produtos oferecidos. eletrônico.
Em geral, ele é mais reflexivo quanto ao seu 6 – Jurisprudência

comportamento de consumo e muitas vezes


CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.
mais investido no co-design da oferta.
INCIDENTE MANEJADO SOB A ÉGIDE DO
Assim, participa voluntariamente da
NCPC. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.
definição de novos produtos e serviços, para
REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E
que respondam melhor ao ideal comercial,
MORAIS AJUIZADA POR MOTORISTA DE
mas também social.
APLICATIVO UBER. RELAÇÃO DE TRABALHO

5 – O Prosumer no Marketing NÃO CARACTERIZADA. SHARING ECONOMY.


NATUREZA CÍVEL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
Os prosumers ditam tendências, ou seja, eles
ESTADUAL.1. A competência ratione
são influenciadores que geram opiniões
materiae, via de regra, é questão anterior a
importantes – positivas ou negativas -,
qualquer juízo sobre outras espécies de
principalmente via internet. É aquele
competência e, sendo determinada em
consumidor que se envolve com a marca,
função da natureza jurídica da pretensão,
que quer conteúdo porque ele gosta da
decorre diretamente do pedido e da causa
marca e com ela se identifica. Se bem
de pedir deduzidos em juízo.2. Os
engajados eles serão “defensores” da marca
fundamentos de fato e de direito da causa
e da empresa.
não dizem respeito a eventual relação de
Trata-se de um novo perfil de consumidores
emprego havida entre as partes, tampouco
que gostam de estar sempre conectados ao
veiculam a pretensão de recebimento de
trabalho, à família, ao entretenimento.
verbas de natureza trabalhista. A pretensão
Querem soluções fáceis e simples de usar e
decorre do contrato firmado com empresa
querem acessar seus documentos de
detentora de aplicativo de celular, de cunho
qualquer lugar.
eminentemente civil.3. As ferramentas
Geralmente possuem vários dispositivos
tecnológicas disponíveis atualmente
tecnológicos e são usuários frequentes e
permitiram criar uma nova modalidade de

119
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

interação econômica, fazendo surgir a HOSPEDAGEM ATÍPICA. USO NÃO


economia compartilhada (sharing economy), RESIDENCIAL DA UNIDADE CONDOMINIAL.
em que a prestação de serviços por ALTA ROTATIVIDADE, COM POTENCIAL
detentores de veículos particulares é AMEAÇA À SEGURANÇA, AO SOSSEGO E À
intermediada por aplicativos geridos por SAÚDE DOS CONDÔMINOS.
empresas de tecnologia. Nesse processo, os CONTRARIEDADE À CONVENÇÃO DE
motoristas, executores da atividade, atuam CONDOMÍNIO QUE PREVÊ DESTINAÇÃO
como empreendedores individuais, sem RESIDENCIAL. RECURSO IMPROVIDO.1. Os
vínculo de emprego com a empresa conceitos de domicílio e residência
proprietária da plataforma.4. Compete a (CC/2002, arts. 70 a 78), centrados na ideia
Justiça Comum Estadual julgar ação de de permanência e habitualidade, não se
obrigação de fazer c.c. reparação de danos coadunam com as características de
materiais e morais ajuizada por motorista de transitoriedade, eventualidade e
aplicativo pretendendo a reativação de sua temporariedade efêmera, presentes na
conta UBER para que possa voltar a usar o hospedagem, particularmente naqueles
aplicativo e realizar seus serviços.5. Conflito moldes anunciados por meio de plataformas
conhecido para declarar competente a digitais de hospedagem.2. Na hipótese, tem-
Justiça Estadual. (STJ, CC n. 164.544/MG, se um contrato atípico de hospedagem, que
relator Ministro Moura Ribeiro, Segunda se equipara à nova modalidade surgida nos
Seção, julgado em 28/8/2019, DJe de dias atuais, marcados pelos influxos da
4/9/2019.) avançada tecnologia e pelas facilidades de
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. comunicação e acesso proporcionadas pela
CONDOMÍNIO EDILÍCIO RESIDENCIAL. AÇÃO rede mundial da internet, e que se vem
DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. LOCAÇÃO tornando bastante popular, de um lado,
FRACIONADA DE IMÓVEL PARA PESSOAS como forma de incremento ou
SEM VÍNCULO ENTRE SI, POR CURTOS complementação de renda de senhorios, e,
PERÍODOS. CONTRATAÇÕES de outro, de obtenção, por viajantes e
CONCOMITANTES, INDEPENDENTES E outros interessados, de acolhida e abrigo de
INFORMAIS, POR PRAZOS VARIADOS. reduzido custo.3. Trata-se de modalidade
OFERTA POR MEIO DE PLATAFORMAS singela e inovadora de hospedagem de
DIGITAIS ESPECIALIZADAS DIVERSAS. pessoas, sem vínculo entre si, em ambientes

120
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

físicos de estrutura típica residencial adequado a servir de residência temporária


familiar, exercida sem inerente para determinado locatário e, por óbvio,
profissionalismo por aquele que atua na seus familiares ou amigos, por prazo não
produção desse serviço para os superior a noventa dias.(...) o uso de
interessados, sendo a atividade comumente unidades particulares que, por sua natureza,
anunciada por meio de plataformas digitais implique o desvirtuamento daquela
variadas. As ofertas são feitas por finalidade (CC/2002, arts. 1.332, III, e 1.336,
proprietários ou possuidores de imóveis de IV).9. Não obstante, ressalva-se a
padrão residencial, dotados de espaços possibilidade de os próprios condôminos de
ociosos, aptos ou adaptados para acomodar, um condomínio edilício de fim residencial
com certa privacidade e limitado conforto, o deliberarem em assembleia, por maioria
interessado, atendendo, geralmente, à qualificada (de dois terços das frações
demanda de pessoas menos exigentes, ideais), permitir a utilização das unidades
como jovens estudantes ou viajantes, estes condominiais para fins de hospedagem
por motivação turística ou laboral, atraídos atípica, por intermédio de plataformas
pelos baixos preços cobrados.4. Embora digitais ou outra modalidade de oferta,
aparentemente lícita, essa peculiar recente ampliando o uso para além do estritamente
forma de hospedagem não encontra, ainda, residencial e, posteriormente, querendo,
clara definição doutrinária, nem tem incorporarem essa modificação à Convenção
legislação reguladora no Brasil, e, registre- do Condomínio.10. Recurso especial
se, não se confunde com aquelas espécies desprovido.
tradicionais de locação, regidas pela Lei (REsp n. 1.819.075/RS, relator Ministro Luis
8.245/91, nem mesmo com aquela menos Felipe Salomão, relator para acórdão
antiga, genericamente denominada de Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado
aluguel por temporada (art. 48 da Lei de em 20/4/2021, DJe de 27/5/2021.)
Locações).5. Diferentemente do caso sob APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO
exame, a locação por temporada não prevê ESPECIFICADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
aluguel informal e fracionado de quartos FAZER, CUMULADA COM PEDIDOS DE
existentes num imóvel para hospedagem de INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
distintas pessoas estranhas entre si, mas sim ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. APLICATIVO DE
a locação plena e formalizada de imóvel TRANSPORTE DE PASSAGEIROS.

121
Caderno de resumos do grupo de estudos de redes contratuais e estruturas de plataforma

DESCADASTRAMENTO DE MOTORISTA MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.4. VERBA


PARCEIRO.1. A RELAÇÃO JURÍDICA HONORÁRIA SUCUMBENCIAL
ENTRETIDA ENTRE AS PARTES LITIGANTES É MAJORADA.RECURSO DESPROVIDO.M/AC
DE NATUREZA CÍVEL, ESTABELECEBIDA NO 5.578 – S 23.09.2021 – P 23(TJRS, Apelação
CONTEXTO Cível, Nº 50238668920208210001, Décima
DE ECONOMIA COMPARTILHADA (SHARING Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
ECONOMY), POIS A PRESTAÇÃO DOS RS, Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello,
SERVIÇOS DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS Julgado em: 23-09-2021)
- REALIZADA PELO AUTOR - É
Referências – Obras consultadas
INTERMEDIADA PELO APLICATIVO
ADMINISTRADO PELA EMPRESA DE BASSANI, Matheus Linck. A proteção do
prossumidor na geração distribuída de
TECNOLOGIA RÉ. 2. A RÉ DEMONSTRA QUE
energia elétrica. Porto Alegre, 2019. 227 f.
O AUTOR DESCUMPRIU AS REGRAS
Tese (Doutorado em Direito) – Universidade
CONSTANTES NOS "TERMOS DE USO DO
Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de
APLICATIVO" E NO "CÓDIGO DE CONDUTA" Direito, Programa de Pós-Graduação em
Direito, Porto Alegre, 2019. p. 194).
DESTINADOS AOS MOTORISTAS PARCEIROS,
O QUE ENSEJA O IMEDIATO MARQUES, Claudia Lima. Contratos de
serviços em tempos digitais [livro
DESCADASTRAMENTO DA PLATAFORMA. DE
eletrônico]: contribuição para uma nova
OUTRO LADO, O AUTOR-APELANTE NÃO teoria geral dos serviços e princípios de
proteção dos consumidores. São Paulo:
PRODUZ PROVA ALGUMA SOBRE VÍCIO DE
Thomson Reuters Brasil, 2021.
FORMA OU ILICITUDE MATERIAL NA
MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do
CONDUTA IMPUTADA À RÉ-APELADA,
Consumidor. 8. ed. São Paulo: Thomson
NOMEADAMENTE QUANTO AO Reuters Brasil, 2019.
DESCADASTRAMENTO DELE COMO
MUCELIN, Guilherme. Peers Inc.: a nova
MOTORISTA DE APLICATIVO DA estrutura da relação de consumo na
economia do compartilhamento. Revista de
PLATAFORMA DIGITAL DA EMPRESA. 3.
Direito do Consumidor. vol. 118. ano 27. p.
IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS DEDUZIDOS 77-126. São Paulo: Ed. RT, jul.-ago. 2018.
PELO AUTOR, DE REATIVAÇÃO DO SEU
MUCELIN, Guilherme. Conexão online e
CADASTRO COMO MOTORISTA, BEM ASSIM hiperconfiança [livro eletrônico]: os players
da economia do compartilhamento e o
DE CONDENAÇÃO DA RÉ AO PAGAMENTO
Direito do Consumidor. São Paulo: Thomson
DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Reuters Brasil, 2020.

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