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Coordenadores:

Arnaldo Rizzardo Filho


Christiane Baladão

Autores:
Arnaldo Rizzardo Filho
Christiane Baladão
Cristiane de Mello Mascarenhas
Eduarda Jade Stumer Santos
Eduardo Teixeira Farah
Eva Motta
Fátima Cabeleira Almeida Zucchetto
Laura Schroder Feijó
Matheus da Silva Pitaméia
Rosângela Souza de Souza
Sandy Danielle da Silva Fernandes
Vitor Luís Botton
Vitória de Bona

CADERNO DE RESUMOS DO GRUPO DE ESTUDO REDES CONTRATUAIS

Porto Alegre, 2021


Copyright © 2021 by Ordem dos Advogados do Brasil
Todos os direitos reservados

Coordenadores
Arnaldo Rizzardo Filho
Christiane Baladão

C129

Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais [recurso


eletrônico]. /Arnaldo Rizzardo Filho, Christiane Baladão.
(Coord). -Porto Alegre: OABRS, 2021. 95p.

ISBN: 978-65-88371-17-6

1. Contratos. 2. Redes contratuais. I. Rizzardo Filho, Arnando. II.


Baladão, Christiane. III. Escola Superior de Advocacia/OABRS.

CDU: 347.44

Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10ª/1517

A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos


assinados, são de responsabilidade dos seus autores.

Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul


Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico
CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 5

TEORIA ORGANIZACIONAL .............................................................................................. 7

CHRISTIANE BALADÃO ...................................................................................................... 7

EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................. 10

FÁTIMA CABELEIRA ALMEIDA ZUCCHETTO .................................................................... 15

VITOR LUÍS BOTTON ....................................................................................................... 20

EVA MOTTA .................................................................................................................... 24

CRISTIANE DE MELLO MASCARENHAS............................................................................ 29

ECONOMIA ..................................................................................................................... 33

LAURA SCHROEDER FEIJÓ ............................................................................................... 33

ROSÂNGELA SOUZA DE SOUZA ....................................................................................... 36

EVA MOTTA .................................................................................................................... 41

EDUARDO TEIXEIRA FARAH ............................................................................................ 45

MATHEUS DA SILVA PITAMÉIA ....................................................................................... 52

DIREITO........................................................................................................................... 55

EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................. 55

LAURA SCHROEDER FEIJÓ ............................................................................................... 64

SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES ........................................................................ 70

SOCIOLOGIA ................................................................................................................... 75

ARNALDO RIZZARDO FILHO ............................................................................................ 75

SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES ........................................................................ 80

VITÓRIA DE BONA ........................................................................................................... 91


Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 5

Os interessados e o coordenador
organizaram seminários e discutiram as
primeiras teses e estudos sobre a origem
das redes, as motivações, as justificativas
de décadas atrás e que estão em
consenso com o tempo atual, o conceito

APRESENTAÇÃO das redes, a diversidade da terminologia

À EDIÇÃO DE 2021 – 1º SEMESTRE (redes de cooperação, redes


interorganizacionais, redes de negócios,
redes contratuais), a compreensão de

O Grupo de Estudos de Redes Contratuais ferramenta de estratégia, as formas de

na Escola Superior da Advocacia da constituição/construção, os mecanismos

Ordem dos Advogados do Brasil – de gestão e de governança, dentre outros

Subseção Rio Grande do Sul começou temas que são de relevância para o

seus encontros no segundo semestre de Direito.

2021, com o intuito de estudar o O Grupo busca a interseccionalidade

fenômeno da organização contratual em entre as mais diversas teorias de diversas

formato de rede. No Grupo participam ciências que tratam das redes

pesquisadores, profissionais da área do contratuais. Entendemos que o Direito,

direito, estudantes de graduação e pós ou melhor, os operadores do Direito

graduação. devem parar, respirar, observar a

A partir do Curso de Redes Contratuais sociedade científica em sua volta, e

(quarta edição ocorreu em 2021) e do entender que existem sentidos

número considerável de inscritos, e tendo congruentes em diversas perspectivas

em vista as discussões realizadas nas sociais. Deve-se tirar a venda dos olhos de

aulas, mostrou-se necessário a Themis, afinal de contas, ninguém sabe

continuidade mais aprofundada dos ao certo porque lhe vendaram.

temas multidisciplinares do Curso, que A cada encontro realizado, integrantes do

abrange Teoria Organizacional Grupo apresentaram textos e

(Administração de Empresas), Sociologia, construíram resumo dos mesmos. Esses

Economia e Direito. resumos são aqui apresentados para


Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 6

aqueles que trabalham ou estudam as


redes possam, de forma célere, pesquisar
temas correlatos de seu interesse. Este
caderno, portanto, almeja ser apenas um
“catálogo de resumos”, interdisciplinar,
de literaturas que tratam das redes, para
que sirva de apoio ao início de uma
compreensão mais profunda sobre as
redes contratuais, tanto em termos
profissionais quanto em termos
acadêmicos.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 7

Analysis of Conceptual Configurations in


TEORIA the Study of Inter-organizational
ORGANIZACIONAL Relationships”, de Amalya L. Oliver and
Mark Ebers datado de 1998, para
reconhecer comportamentos,
Christiane Baladão1
semelhanças, vínculos, identidades nas
redes de cooperação interorganizacional
BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge
Renato; REYES JUNIOR, Edgar. O campo de no Brasil.
estudo sobre redes de cooperação
Aldeia pelos Terena de Buriti tem o
interorganizacional no Brasil. Revista de
Administração Contemporânea, v. 14, p. sentido de uma rede dinâmica de
458-477, 2010. relações sociais, histórica e
espacialmente definidas dentro de um
“A sociedade se constitui real ou
mesmo território. E como aldeia, as redes
formalmente a partir de indivíduos
de cooperação tem a capacidade de
associais, que devem ser “socializados”,
“facilitar a realização de ações conjuntas
isto é, constrangidos pela inculcação de
e a transação de recurso para alcançar
representações normativas a se
objetivos organizacionais”.
comportarem de um modo determinado”
Artigos científicos são instrumentos pelos
Eduardo Viveiros de Castro - A
quais o autor, em análise, promove a
inconstância da alma selvagem
discussão, apresenta determinado tema
Resumo: O paper contempla a
e, por meio de métodos aplicados e
compreensão sobre o texto “O Campo de
resultados, submete a comunidade
Estudo sobre Redes de Cooperação
científica a disseminação de determinado
Interorganizacional no Brasil” datado de
conhecimento. E a partir destes artigos, o
2010 que, com a aplicação de
autor trouxe fotografias, cenários com
metodologia comparativa ao artigo
descritivo de tempo, de participantes e do
“Networking Network Studies: An
contexto, pois deste conhecimento

1 entre empreendedoras. Staff e colaboradora na


Graduada em Direito pela PUC/RS, especialista
em Direito e Processo do Trabalho e Especialista produção do AFRO'NTALK'S, um talk show de
em Gestão de Tributos e Planejamento Tributário entrevistas com afroempreendedores, para
pela PUC/RS. Co-criadora do “Projeto Empodera”, inspirar e valorizar, um ato de representatividade
que visa compartilhar conteúdo e conexões parae e de celebração.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 8

disseminado foi possível identificarmos predominância de determinadas


que, no Brasil, os seus indivíduos/atores correntes teóricas encontradas nas
exercem o que predispostos estão pesquisas sobre redes de cooperação
geneticamente: à vida social, pois entre organizações, bem como da tríade
possuem harmonia de interesses em que estas redes são compostas.
decorrência da falta, de uma comum Tríade porque são identificados três
falta, de uma restrição da qual estes elementos, três dimensões, três análises
indivíduos/atores não possuem. que são realizadas para se compreender
O que antecede a rede é a dor. Os estudos as redes de cooperação:
mostram que as redes são iniciadas a indivíduos/atores/antecedentes,
partir da escassez do mercado específico, grupos/relação(elo)/processo e as
da falta de mão de obra qualificada, da organizações/rede/resultados (ganhos
insuficiência de recursos básicos, como das redes).
uma matéria prima específica. A partir A partir destes conceitos quanto à
dessa constatação de não haver e em composição, cientificamente somos
igualdade de hierarquia, colhendo tendenciosos aos porquês, já que os
aprendizagem e inovação a partir dessa materiais examinados visam, em sua
conexão, conexão esta devidamente maioria, a compreensão sobre as razões,
elaborada, pensada, planejada, por os motivos, as vontades pelas quais as
grupos de organizações, com intenção de redes foram realizadas, dando ênfase aos
assim estarem, parte-se desta escassez grupos de organizações existentes, ou
para abundância, designados, nomeados, seja, prepondera-se os estudos sobre as
reconhecidos. motivações que levaram os indivíduos a
E as vontades, que antecedentes seriam se organizarem da forma que estão.
de escassez, durante as vantagens É na perspectiva das razões pelas quais as
obtidas através das redes se sobressaem, redes são constituídas que as pesquisas
em razão desse movimento coletivo, já são em sua maioria tendenciosas, bem
que uma andorinha só não faz verão. como na intenção que há entre os atores,
Os conceitos e apontamentos, este portanto, dentro da linha do tempo da
conhecimento e esta descrição rede, as redes de cooperação
fotográfica das redes foram extraídos da
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 9

interorganizacionais tem suas origens transação, que são frequentemente


como foco. discutidas pelos autores científicos, bem
O porquê do sucesso, as razões de como a teoria das redes sociais, laços
sucesso das redes, já que os estudos sociais estabelecidos que poderão afetar
denotam que as redes de cooperação a rede, afinal, somos a média das pessoas
interorganizacional no Brasil possuem das quais nos conectamos.
maior capacidade de resolução, de Pela natureza composta, interseccional e
alcance dos objetivos pelos quais interdisciplinar a explicação do cenário
constituídas. E por essa busca pelas das redes de cooperação no Brasil torna-
razões de êxito, a compreensão sobre as se mais tangível a partir das principais
ações coletivas e a maneira em que foram correntes teóricas acima referidas, que
mobilizadas para a obtenção do objetivo não abarcam só uma linha de
em comum, ou seja, a teoria sobre as conhecimento por si só mas atestar o
estratégias das redes de cooperação, é efetivo sucesso das redes, já que possível
comum na maioria das discussões. mensurar a capacidade das redes de
Não há o que estranhar, porque se os converter os objetivos antecedentes,
estudos em sua maioria estão vinculados partindo-se de uma ideia de fenômeno.
as causas antecedentes, motivações e Fenômeno este amplamente estudado
intenções das partes a se estabelecerem pela maioria das universidades do sul do
em rede, a estratégia é abordada com país, cujos autores dos artigos estão
frequência, “em compreender as redes vinculados a instituições de ensino que
mais como estratégia das organizações por um período estiveram engajadas no
para competirem”, competitividade, Programa Redes de Cooperação derivado
agora coletiva, impactando de uma política pública estatal que
positivamente nas organizações. implicou na criação de mais de 200 redes
O texto destaca-se, ainda, a teoria de cooperação. A parceira pública e
institucional sobre as redes de privada nos anos 2000 proporcionou à
cooperação, que trata da teoria quanto pesquisadores, mestrandos e doutorando
ao reconhecimento, quanto ao vínculo de material consistente para compreensão
dependência por pertencimento a sobre.
determinada rede e a teoria dos custos de
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 10

Fenômeno ou aldeia, as redes de - Elencar as competências do parceiro;


cooperação interorganizacional do Brasil - Pensar sobre o parceiro como o aliado
ainda demandam de mais estudos do dia de hoje;
científicos sobre a sua existência, - Compartilhar poder e recursos
principalmente atuais, diante da (compartilhar informação de forma
tecnologia, da internet das coisas, da inteligente);
inteligência artificial, que torna - Estruturar aliança estratégica de forma
exponencial e em potencial rede, prudente.
qualquer tipo de negócio. O artigo busca explicar a formação,
implementação e consequências de
alianças estratégicas entre atores
autônomos no campo organizacional. As
empresas colaboradoras experimentam o
aumento da integração e formalização da
Eduarda Jade Stumer Santos2 governança de suas relações
TODEVA, Emanuela; KNOKE, David. Strategic intraorganizacionais. Governança é a
alliances and models of collaboration.
Management decision, 2005 combinação de mecanismos de controle
jurídico e social que visa coordenar e
INTRODUÇÃO salvaguardar os recursos dos aliados,
elencar responsabilidades operacionais e
A literatura internacional já reconheceu
a dividir os retornos das atividades em
um número positivo de resultados para
conjunto.
empresas ativamente engajadas em
Uma aliança estratégica envolve no
alianças estratégicas, tais como aumento
mínimo dois parceiros comerciais que:
no capital, retorno em investimentos e
- Permanecem juridicamente
taxas maiores de sucesso quando
independentes após a formação da
comparadas com integração através de
aliança;
fusões e aquisições.
Aspectos gerais da literatura sobre a
aliança estratégica são:

2
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora Responsabilidade Civil na UFRGS, Assistente
em Direito Contratual Empresarial e jurídica voluntária no SAJU na área de Direito Civil
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 11

- Compartilham os benefícios e controle em não tirar vantagem do outro quando


gerencial da performance das tarefas oportunidades surgem.
estabelecidas;
Motivos estratégicos, intenções e
- Fazem constantes contribuições em uma
escolhas
ou mais áreas estratégicas como
tecnologia ou produtos. Empresas apostam em alianças
A formação de relações em rede é estratégicas por muitos motivos: para
intimamente ligada com a criação de aumentar sua capacidade produtiva, para
normas que promovem confiança e reduzir incertezas em suas estruturas
reciprocidade econômica (social capital). internas e ambientes externos, para
Apesar de relações em rede e capital adquirir vantagens competitivas que
social serem conceitos próximos, não são permitam a o aumento do lucro ou
idênticos. Relações em rede podem gerar ganhos em futuras oportunidades
um capital social corporativo na forma de negociais que irão permitir que estes
prestígio organizacional, reputação, comandem valores de mercado mais
status e reconhecimento de marca. altos na sua comercialização.
Os motivos estratégicos pelos quais
Alianças estratégicas como formas empresas embarcam na formação de
híbridas
alianças são vários:

Quando uma restrição jurídica ou 1) Busca por mercado;

econômica impede uma empresa de usar 2) Aquisição de meios de distribuição;

hierarquia ou controle total como uma 3) Ganhar acesso a nova tecnologia;

solução, esta pode vir a optar por entrar 4) Aprender e internalizar habilidades

em uma aliança para contrariar certas tácitas, coletivas e embutidas.

forças do mercado que ameaçam seu 5) Conquistar integração vertical, recriar e

bem-estar comercial. Alianças combinam estender conexões de fornecimento para

os ativos e capacidades com as incertezas ajuste às mudanças de mercado;

e responsabilidades de todas as partes. 6) Diversificação em novos negócios;

Cooperação efetiva requer 7) Reestruturar e melhorar negócios;

comprometimento sério dos parceiros 8) Compartilhamento de custos e


concentração de recursos;
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 12

9) Desenvolvimento de produtos, organizacional e menos vulnerabilidade


tecnologias e recursos; no compartilhamento de informação
10) Redução de riscos e diversificação de confidencial.
riscos;
11) Alcançar vantagem competitiva; A implementação de alianças
estratégicas
12) Cooperação de potenciais rivais ou
pré-esvaziamento de concorrência; Os problemas da implementação de
13) Especialização conjunta; alianças incluem a escolha de
14) Superação de barreiras legais e mecanismos de governança: ressaltando
regulatórias; a confiança e a reciprocidade entre os
15) legitimação, bandwagon effect parceiros, gerenciando a integração de
(tendência das pessoas fazerem coisas staffs de diferentes culturas
porque outras pessoas também estão organizacionais, resolver conflitos que
fazendo) e seguir tendências da indústria. surjam entre parceiros com expectativas
A decisão de cooperar não é uma ação divergentes sobre a contribuição para a
responsiva, mas fundamentalmente uma sua colaboração etc.
intenção estratégica que busca evoluir as
Contratação relacional
circunstâncias futuras para cada empresa
individual e para a sua relação de Um contrato baseado na confiança
cooperação conjunta. (relational contract) contraria as
As formas de aliança variam com a incertezas associadas a envolvimento
posição das empresas no mercado (líder e independente em negociações. As formas
seguidora) e a importância estratégica de de governança relacional repousam nos
colaborações com o portfolio de trabalho diversos mecanismos de coordenação
de cada parceiro comercial (atividade como normas recíprocas, confiança
principal ou subsidiária). As empresas intraorganizacional e capital social
tendem a proteger sua atividade principal enriquecido por muitas trocas e
e muitos estão dispostos a formar interações sociais. Contrato baseado na
alianças envolvendo atividades confiança abrange não somente termos
secundárias que oferecem um mais não especificados e condições em
amplo escopo do aprendizado contratos complexos e de prazo
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 13

indeterminado, mas também estratégias Mesmo assim, a mais meticulosa


coletivas intraorganizacionais para salvaguarda contratual não providencia
eliminar rivalidade na tácita garantias suficientes para incertezas,
coordenação. ambiguidades e disputas que
Um problema central permanece sendo frequentemente surgem nas operações
sobre a maneira de melhor balancear a cotidianas.
interdependência e o controle com Gerar confiança entre os parceiros é
formas alternativas de governança nas crucial para superar as suspeitas iniciais
alianças estratégicas. A governança se do rival sobre uma possível parceria
propõe a apresentar mecanismos meramente oportunista. Desigualdades
particulares importantes para solução de no poder organizacional indicadas por
conflitos e preservação da relação com disparidades na contribuição de recursos
parceiros. e controladas por cada parceiro pode
impedir a criação da confiança em razão
Gerenciamento da formação da aliança
da disparidade dos parceiros na

A fase de implementação geralmente capacidade em cumprir suas obrigações.

requer que duas empresas autônomas: Alianças iniciais entre parceiros sem

- Reúnam um pouco de recursos humanos experiência prévia frequentemente

e ativos materiais; começam com relações contratuais

- Desenvolvam uma estrutura de formais que expõe os parceiros somente

governança pratica com poder suficiente a riscos pequenos. A reincidência de

e controle; e alianças estratégicas entre parceiros

- Aprendam a como cooperar para experientes é mais prováveis de repousar

benefício mútuo. em intraorganizacional confiança do que

Prudente atenção deve se ter para salvaguardas contra um potencial

selecionar o staff e líderes do projeto, oportunismo do parceiro.

criando uma estrutura formal subsidiária


Confiança e reciprocidade
com seu próprio quadro de diretores e
hierarquia de autoridade interna com O papel das normas de confiança e da
porções igualitárias na divisão de reciprocidade na fase de implementação
participação e controle dos parceiros. da aliança é de sustentar o período de
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 14

teste requerido, que dura entre 6 e 18 Impactos das alianças nos parceiros
meses, no qual os parceiros constroem
Uma tarefa mais difícil é demonstrar que
estáveis e previsíveis estruturas para
as alianças produzem substanciais
governar a sua colaboração, sendo uma
resultados não financeiros como o
institucionalização de implícitas e
aumento da credibilidade organizacional.
explícitas regras e procedimentos.
Alianças estratégicas contribuem para

Alcançando objetivos de aprendizagem melhora na performance de produção


pelos parceiros. Os fatores cruciais não
Alianças estratégicas podem operar como são o número de alianças formadas pelos
canais institucionalizados para transferir parceiros, mas o recurso contributivo do
e criar novas capacidades perfil de cada parceiro. Tanto a inovação
organizacionais. O aprendizado pode quanto os índices de venda aumentam
ocorrer pela exploração em que uma substancialmente se uma empresa
empresa absorve o know-how da outra estiver mais conectada com parceiros
ou pela experiência comum de parceiros ligados a inovação tecnológica e ricos em
na constância da implementação de receita. Tais efeitos são especialmente
acordos colaborativos. A primeira importantes para empresas menores e
dinâmica de aprendizado traduz mais jovens. Assim, empresas obtém
competição, enquanto a última traduz vantagens do capital social corporativo do
uma maior mutualidade e seu parceiro mesmo que a aliança
interdependência. estratégica falhe em atingir os objetivos
Sucesso organizacional em alcançar formais estabelecidos.
objetivos de aprendizagem depende de As percepções de satisfação da relação de
diversas dimensões de conhecimento e parceria inicial e em toda sua extensão
estrutura organizacional como um efetivo aumentaram com parceiros que tinham
processo de informação, aquisição da melhor reputação no gerenciamento de
expertise do parceiro e adoção de qualidade, com processo de decisão
inovações. compartilhada; com semelhanças
estratégicas entre ambos os parceiros.

_______________________________________
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 15

cooperação como meio para as


organizações atingirem melhores
resultados, diferentemente das
Fátima Cabeleira Almeida Zucchetto3
premissas dominantes na área
BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge Renato; estrategista, preconizada por ações
PERUCIA, Alexandre. A visão relacional da
estratégia: evidências empíricas em redes de individualistas e de barganha dentro da
cooperação empresarial. BASE-Revista de
cadeia mercadológica (Gause, 1934;
Administração e Contabilidade da Unisinos, v. 11,
n. 1, p. 47-58, 2014 Barney, 1991).
Essa nova visão teórica traz consigo a
Introdução
necessidade de novas discussões acerca
A colaboração interorganizacional é uma
das afirmações consagradas no campo da
realidade que atrai o interesse crescente
estratégia. Segundo alguns autores (Child
nos estudos organizacionais. Tal
et al., 2005; Zaheer et al., 2010), o
crescimento é significativamente nutrido
entendimento de entidades autônomas
pela dinâmica colaborativa, social e
lutando, isoladamente, para sua
tecnológica, o que estimula e propaga a
sobrevivência no mercado, abre a
prática de ações coletivas entre as
possibilidade, no campo das estratégias
organizações (Castells, 2000). Alianças
coletivas, de uma cooperação mútua com
estratégicas, supply chain, redes, joint
foco no alcance de seus objetivos
ventures, distritos industriais, consórcios
estratégicos (Ibarra e Hansen, 2011).
e associações são exemplos de
Diante desse cenário, o estudo trazido
configurações organizacionais surgidas
pelo presente artigo desenvolve
como consequência desta dinâmica
evidências teóricas e empíricas que
colaborativa. Partindo deste cenário
permitem demonstrar a forma como
crescente em que as organizações estão
algumas organizações têm conquistado
inseridas, novos estudos são necessários
vantagens competitivas por meio de
para o entendimento do processo
práticas de cooperação.
competitivo entre as empresas, a partir
da visão relacional, que observa a

3
Graduada em Direito e Comércio Exterior pela
PUC MG, Pós-Graduada em Direito Notarial e
Registral
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 16

Assim, o artigo parte da teorização acerca da indústria, visão baseada em recursos e


de três perspectivas dominantes no custos de transação (Gulati et al, 2000).
campo da estratégica, quais sejam, O maior expoente na década de 1980,
estrutura da indústria, visão baseada em Michael Porter, trouxe conceitos focados
recursos e custos de transação. Exploram- na estrutura da indústria e consolidou a
se essas perspectivas sob a ótica ideia de que uma estratégia advém de
relacional da estratégia. análise sistemática da indústria ou seu
A visão dominante do campo da segmento. A partir da observância das
estratégia
cinco forças competitivas (Porter, 1986),
Estrutura da indústria que são: (I) ameaça de novos entrantes;
(II) poder de barganha dos fornecedores;
O alcance da harmonia entre cooperação
(III) poder de barganha dos compradores;
e estratégia, com base na visão
(IV) ameaça de produtos substitutos e (V)
dominante do campo da estratégia,
nível de rivalidade concorrencial,
apresenta certa dificuldade, haja vista o
constatou-se a influência que estas
posicionamento doutrinário majoritário.
exercem na formação de preços, custos e
Para Benkler (2011), a competição entre investimentos necessários às empresas.
as empresas é elemento principal no
Com isto, quanto maior a rivalidade entre
campo da estratégia (Benkler, 2011). O
os concorrentes, menor a possibilidade
princípio da exclusão competitiva trazido
de margens superiores de lucro (Porter,
por Gause (1934) é base para muitas
1986).
teorias dispostas acerca da perspectiva
clássica de competição em matéria de Visão baseada em recursos
estratégia. Este autor diz que uma espécie
Na visão baseada em recursos, o foco está
existente em um ambiente de igualdade
na administração dos recursos intangíveis
deve excluir a concorrência e se
ou exclusivos que uma empresa detém,
posicionar como líder, do contrário, não
trazendo para essa uma vantagem
sobreviverá. Partindo dessa premissa,
competitiva. Para Barney (1991), estes
diversos estudos surgiram baseados na
recursos devem possuir quatro
visão dominante, mais precisamente, via
propriedades a fim de proporcionar
três perspectivas, quais sejam: estrutura
vantagem competitiva, que são: valor,
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 17

raridade, imperfeita imitabilidade e isto, a questão central na existência de


dificuldade de substituição, podendo ser custos de transação tem liame com a
divididas em três categorias: recursos confiança nas relações
físicos, recursos humanos e recursos interorganizacionais (Bachmann e
organizacionais. Zaheer, 2008).
Por fim, pode-se notar que as
Custos de transação
perspectivas dominantes no campo da
A terceira perspectiva, conhecida como estratégia, através da estrutura de
custos de transação, se dedica a entender indústria, da visão baseada em recursos e
o custo de produção de uma empresa. dos custos de transação, dizem respeito à
Apurando o custo, pode-se tomar busca da vantagem competitiva entre
decisões em relação à produção interna empresas, onde necessariamente deve
ou contratação no mercado. existir um ganho de um lado e uma perda
Largamente estudada, essa perspectiva de outro (Axelrod, 1984).
foi abordada pela teoria econômica, que Assim, faz-se necessária uma
destacou duas formas de governança das compreensão teórica mais abrangente
atividades econômicas: mercado e dos postulados essenciais das
hierarquia. Segundo Coase (1937), o meio perspectivas dominantes, por meio de
mais eficiente para produção de uma visão relacional, a fim de discutir
determinado produto seria direcionar a possibilidades, como a existência de
produção de seus componentes às resultados positivos para ambos os lados
empresas especializadas, no entanto, da relação.
essa não é a realidade de muitas
empresas, uma vez que essa prática gera A visão relacional da estratégia
custos de transação (Williamsom, 1975).
A partir da década de 1980, a visão
Sempre que uma empresa precisar definir
relacional da estratégia surgiu com maior
e gerenciar suas transações com outra,
força. Direcionada às relações de
haverá custo de transação, muitas vezes
estratégia de cooperação entre as
não tratados pelas empresas, seja na
organizações, a “visão relacional da
negociação e formalização de contratos,
estratégia” engloba uma quantidade de
seja no gerenciamento de clientes. Com
termos, como “estratégias coletivas”,
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 18

“cooperação empresarial” e “relações No decorrer da década de 1980, surgiram


interorganizacionais”, entre outros, novos estudos acerca da compreensão da
muitas vezes entendidos como visão relacional. Nalebuff e
sinônimos, porém, não podem ser Brandenburger (1996), colocaram em
confundidos (Cropper et al., 2008). discussão as consequências das
A consolidação do conceito de estratégias estratégias competitivas e colaborativas,
coletivas foi fruto de estudos de Astley pois uma vez que a visão individualista e
(1984) e de Astley e Fombrun (1983), que competitiva pode trazer perdas às
possibilitou entender que as estratégias organizações, como guerra de preços, a
das empresas não necessariamente visão coletiva e colaborativa pode atrair
devem acontecer por meio de ambientes oportunistas e competidores desleais,
competitivos, traçando várias como o furto de segredos, por exemplo.
alternativas de ações colaborativas de As empresas devem conhecer os pontos
curta e longa duração. positivos e negativos das estratégias
Astley (1984) identificou três visões individuais e coletivas para, então, tomar
organizacionais, resumidas em: suas decisões com base no ambiente em
“cavaleiro solitário” (empresa é pioneira que se inserem e as empresas
e luta contra condições impostas), participantes do negócio (Luo, 2004).
“orientação egocêntrica’ (empresa é Fornecedores e fabricantes dispostos a
autossuficiente e toma ações colaborar colherão maiores benefícios,
independentes) e “orientação militar da uma vez que alcançarão maiores vendas e
estratégia” (organizações vistas como lucros, como no caso da Toyota e seus
inimigas, lutando em ambiente voraz a parceiros (Dyer e Nobeoka, 2000).
fim de conquistar posição estratégica no Com o passar do tempo, ambientes
campo de batalha). dinâmicos dificultam a manutenção da
Em oposição a essas visões, Astley (1984) propriedade ou o controle dos recursos
idealiza a colaboração como conceito de valiosos. Assim, os estudos de Hall (1992,
negócios, convertendo o conceito de 1993) apontam que a cooperação é o
competição para o de cooperação, de caminho mais rápido para as empresas
única organização para grupo de conquistarem recursos intangíveis em
organizações e de separação para união. ambientes exigíveis em conhecimento.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 19

Powell (1998), destaca que a interorganizacionais, via ações coletivas,


competitividade de uma empresa promovendo o aprendizado mútuo,
dependerá muito mais da habilidade em coespecialidade, escala e aumento dos
gerir e coordenar recursos junto a ganhos individuais dos agentes
parceiros do que procurar dominar os envolvidos.
recursos estratégicos. A visão relacional de estratégias estudada
Conforme a visão relacional, a estratégia no presente artigo infere alguns
coletiva traz uma vasta fonte de recursos questionamentos, quais sejam: a
por meio de uma rede de acesso com abordagem da competição individual da
valiosas informações, compartilhamento empresa, baseada na estrutura da
de conhecimento, investimentos indústria, que sugere a possibilidade de
específicos de relacionamento e efetiva alcançar maior competitividade partindo
governança. Com isto, a rede cria um de ações coletivas (Jarillo, 1988; Dyer e
recurso competitivo de difícil imitação, Nobeoka, 2000). As estratégias coletivas
potencializando novas ações conjuntas de auxiliam na visão baseada em recursos,
seus integrantes (Dyer e Singh, 1998); uma vez que ativos construídos em
Gulati, 1999). conjunto também podem gerar estratégia
competitiva eficiente (Hall, 1992, 1993;
Considerações finais Powell, 1998). Ainda, a confiança pode
permitir a redução de custos de
Com base nas evidências constatadas nas
transação, complementando a teoria dos
iniciativas adotadas no Estado do Rio
custos de transação, conforme práticas
Grande do Sul, foi possível consolidar as
nas redes do Rio Grande do Sul.
teorias estudadas. Consoante ao exposto,
a visão relacional de estratégia permite
_______________________________________
melhor entendimento das perspectivas
de estrutura da indústria, da visão
baseada em recursos e dos custos de
transação. A colaboração entre clientes,
fornecedores e concorrentes é
impulsionada pelas redes
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 20

mudanças no ambiente e/ou no mercado,


reduzindo incertezas associadas à
diferentes operações.
Vitor Luís Botton4
As redes de cooperação reúnem
ANTUNES, Junico; BALESTRIN, Alsones;
empreendimentos que possuem
VERSCHOORE, Jorge. Práticas de gestão de redes
de cooperação. São Leopoldo: Unisinos, 2010 objetivos comuns. São dedicadas a
desenvolver ganhos coletivos, sem que as
Inicialmente, para fins de introdução, o
empresas participantes venham a perder
livro aborda sobre um projeto realizado
a sua autonomia de gestão. Assim, unem
em conjunto pelo Governo do Estado do
aspectos ligados a flexibilidade e
Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria
agilidade, e aumentam a escala no
de Desenvolvimento e dos Assuntos
mercado, priorizando a ideia de ganhos
Internacionais, referente às redes de
coletivos na cooperação em rede.
cooperação de empresas estudadas e do
É cediço que as pequenas empresas
Grupo de Estudos em Relações
apresentam dificuldades de competição
Interorganizacionais (GeRedes).
com empresas maiores, em razão de
custos elevados de produção, pequena
PARTE 1 – A gestão de redes de
escala, desconhecimento de mercado,
cooperação empresarial
deficiência em tecnologia, capacitação,
Capítulo 1 – Gestão de redes de obtenção de crédito, entre outros.
cooperação empresarial
Desta forma, as redes de cooperação
empresarial são uma ferramenta
O universo dos negócios está cada vez
organizacional eficaz para a evolução das
mais conectado à nível global, sendo
empresas, principalmente as de menor
assim, a ideia de redes de cooperação
porte, eis que tem o poder de aumentar a
está embasada nos conceitos de
competitividade para as empresas
cooperação e de rede, tendo por objetivo
associadas, por meio de ações
potencializar as organizações a
uniformizadas e padronizadas, que
responderem de forma mais eficaz as

Graduado em Direito pela Universidade Regional de Especialização em Direito Contratual pela


Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Faculdade Cers, Mestrando do PPGDireito da
Frederico Westphalen/RS, Pós-Graduado em nível Faculdade Meridional – IMED.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 21

possibilitam o ganho de escala prazo, baseada em elementos como: o


relacionado com as várias formas de valor da reputação; a interdependência
união entre as empresas, melhorando a dos recursos e das empresas; a
sua fatia de participação no mercado, complementaridade de recursos; a
mantendo a ação flexível das empresas comunicação relacional; a busca
que constituem a rede, na qual cada permanente da flexibilidade; o
membro mantém sua individualidade comprometimento e a ênfase coletiva no
legal. planejamento nas ações; estratégia; o
Em linhas gerais, o processo de gestão é planejamento; a direção; e o staff.
democrático, em que existe uma A ideia central para a formação de redes
participação horizontal e ativa entre as está no fato de que as relações de
empresas envolvidas, abrindo espaço cooperação possam resultar em ganhos
para a participação optativa dos para todos os envolvidos, quais sejam: a
membros nas decisões da rede. Ademais, possibilidade de ampliar a capacidade de
a direção, formada por representantes ação de uma determinada empresa
dos próprios associados, assume as individual a partir de uma perspectiva
decisões operacionais e de controle. No coletiva; ganhos de escala e os ganhos
entanto, nada impede que em redes mais relativos ao poder de mercado; geração
maduras e de maior porte se de soluções coletivas que tende a
profissionalize a gestão executiva da permitir a geração e disponibilização de
rede. soluções a partir da rede na qual a
Outrossim, os associados devem observar empresa se insere; redução dos custos e
que a rede de cooperação deve ser riscos assumidos pelas empresas
percebida como uma “nova empresa”, e associadas; acúmulo de capital social,
que um ponto essencial neste processo ganhos de aprendizagem coletiva.
de gestão é que os ganhos gerados em Deve-se destacar, ainda, a importância
conjunto pelas empresas integrantes dos instrumentos de gestão das redes,
sejam distribuídos da forma mais que podem ser classificados em quatro
igualitária possível. grandes grupos: i) contratuais; ii)
A rede, como uma “nova empresa”, deve estratégicos; iii) decisão; e iv) interação.
traçar objetivos e estratégica de longo
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 22

PARTE 2 - Práticas de Gestão de Redes Destaca-se que o guardião trabalha no


Capítulo 1- Estratégia
acompanhamento da execução do plano
estratégico, podendo ser, inclusive, um
A estratégia é responsável por moldar o
dos associados, sendo visto como uma
processo de desenvolvimento da rede,
figura neutra no processo, o guardião
alinhando as necessidades de cada
pode fiscalizar e encorajar a participação
empresa associada aos objetivos
de todos os atores envolvidos dentro de
coletivos mais amplos. Neste ponto, é
princípios de igualdade.
importante a participação de todos os
No que tange ao alinhamento da empresa
associados da rede na formulação das
com a rede, tem-se a figura do
estratégias, eis que, sem estratégia, uma
“embaixador”, que, propositalmente, não
rede não consegue gerar a
está ligado à diretoria da empresa
competitividade desejada por seus
associada e sim ao quadro de
associados.
funcionários, pois consciente da essência
É importante traçar e definir os objetivos
estratégica a ser conduzida na empresa,
globais, a missão e a análise dos
tem a habilidade de “falar” a língua de
ambientes interno e externo. Ainda é
seus colegas (também funcionários) e de
necessário adotar um padrão, que
entender como tais estratégias-macro da
contribua a agilidade nos processos de
rede, naturalmente de caráter mais
marketing, negociação e expansão.
abstrato, podem resultar em ações
Nas práticas em estratégia pode-se citar
operacionais/práticas dentro da
dois personagens de grande importância:
empresa.
o guardião do planejamento e o
Sendo assim, a ideia do “guardião do
embaixador.
planejamento estratégico”, faz com que
Em algumas redes, o planejamento não é
os proprietários das empresas associadas
seguido na prática pelos associados.
atuem dentro das diretrizes traçadas na
Neste caso, o papel do guardião tem
elaboração do planejamento estratégico.
grande importância, tendo em vista a
O “embaixador” atua no nível operacional
complexidade de se acompanhar a
das empresas, cumprindo um importante
execução eficaz do planejamento
papel no alinhamento da estratégia da
estratégico na rede.
rede com a estratégia da empresa.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 23

Capítulo 2 – Coordenação pode ser feita em dois passos. Em


primeiro lugar ressalta-se a antecipação
A coordenação diminui os conflitos
das necessidades e expectativas dos
operacionais típicos da rotina de
associados. Em um segundo lugar
trabalho. Acordos e tratativas informais
destaca-se a inserção de novos
referentes às responsabilidades e deveres
instrumentos de gestão.
dos associados são de extrema
Para a implementação de novas práticas
importância para validar o disposto nos
é interessante observar: 1) que a prática
contratos das redes. Necessário,
possa ser utilizada na maioria das redes;
também, mecanismos que
2) que não necessite de investimentos
regulamentam, protegem e defendem a
financeiros significativos; 3) e que seja de
maioria dos associados.
fácil aplicação.
A cooperação reduz a rivalidade e
Um exemplo dessas práticas foi a adoção
comportamentos oportunistas entre
de um “termômetro”, que consiste em
aqueles que integram a rede, focando nos
uma ferramenta para capturar as ideias e
ganhos coletivos, tornando as empresas
as percepções dos associados, tendo em
mais próximas e almejando os objetivos
vista que os diretores das redes
comuns. A aproximação entre os
perceberam que recebiam muitas
parceiros pode ser feita por meio de
sugestões de ações e ideias durante o
ações simples, como encontro regulares
decorrer do ano, contudo, essas
dos membros e interação com
sugestões não eram formalizadas, e, no
especialistas e lideranças, envolvendo o
momento de definir as ações anuais,
conjunto dos parceiros.
acabavam por perder as informações e
Por outro lado, as atitudes não desejáveis
ideias lançadas em outros momentos. O
praticadas por membros que integram a
termômetro foi idealizado como
rede podem ser sanadas através de
ferramenta que permite ao gestor da
sanções, vez que previstas em um
rede sentir os interesses, preocupações e
estatuto, ou em outros termos.
nível de comprometimento dos
Importante dar atenção especial a
associados. Outro ponto importante na
questões de gestão que identificam
prática do termômetro é a de adotar
pontos de melhoria na rede, zelando pelo
contribuições dos associados de forma
processo decisório democrático, que
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 24

sigilosa, tendo em vista que alguns processo de coordenação de uma rede de


membros das redes preferem opinar de cooperação.
forma anônima.
Ademais, os autores do livro trouxeram
questionamentos padrões das redes que
mais se destacaram na pesquisa. Assim,
em referência ao desempenho da rede,
Eva Motta5
são formuladas questões considerando os
WEGNER, Douglas; DURAYSKI, Juliana; DE SOUZA
seguintes pontos: a) a diretoria da rede VERSCHOORE FILHO, Jorge Renato. Governança e
eficácia de redes interorganizacionais:
buscou trabalhar as suas necessidades? Comparação entre iniciativas brasileiras de redes
b) a liderança da rede é aberta ao de cooperação. Desenvolvimento em Questão, v.
15, n. 41, 2017
diálogo? c) sugestões de melhoria
realizadas pelos associados foram Governança e eficácia de redes
implantadas por parte da diretoria? d) o interorganizacionais
processo decisório buscou equilibrar os
interesses dos associados? Como práticas gerenciais apontam os
Mais do que apenas um formulário a ser mecanismos de governança podem
preenchido, o termômetro torna-se um potencializar as iniciativas de cooperação
momento periódico e formalizado em em rede?
que todos os associados da rede têm seus Primeiro: pelo conceito de governança de
espaços para se manifestar e rede utilizado pela Teoria dos Custos de
posteriormente debater suas ideias. Transação. A minimização dos custos é
Desta forma, é criada uma cultura onde uma abordagem que pode ser
todos são ouvidos, tendo uma considerada como uma transição entre a
oportunidade que visa incentivar economia clássica e as novas
interações mais próximas e assim configurações de organizações, sendo
contribuir para a consolidação do considerada uma possível explicação para
a origem das redes organizacionais.

5
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional-
IMED e graduada em Ciências Contábeis pela
UFRGS.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 25

Segundo: por estratégia. A governança é “whole network”, e, para tanto, adotou-


caracterizada como uma estrutura dos se a concepção de eficácia como os
elementos de organização e coordenação resultados proporcionados em termos de
internos das redes organizacionais para inovação, aprendizagem, redução de
possibilitar as ações em conjunto. custos, soluções coletivas e legitimidade.
Regularizam práticas de gestão e de
Modos de governança de redes
tomada de decisão, para garantir os
interessados membros-coletividade que A doutrina apresenta três modos básicos
as normas estabelecidas sejam de governança em rede, a partir dos quais
observadas por todos os envolvidos, podem surgir combinações e modelos
gestores e participantes. híbridos:
Dentro da governança é de se exigir a Governança compartilhada: é o mais
atuação de todos de forma ética e simples. Trabalha-se coletivamente como
transparente. É muito sensível esta uma rede, mas não possui estrutura
prática, haja vista as diferenças culturais administrativa formal e exclusiva. Os
de cada associado. Quanto maior o próprios membros de rede tomam todas
número de componentes na rede, mais as decisões e gerenciam as atividades da
complicado se torna. Por isto, os parceria.
instrumentos como Código de Ética, Governança com organização líder:
Estatuto, Regimento, e outras regulações ocorre em relacionamentos verticais, de
existem para regrar e padronizar cliente-fornecedor, nos quais há uma
condutas e padrões operacionais. organização maior e mais poderosa. O
Em sua origem a eficácia era explicada modelo também pode ocorrer em redes
apenas por fatores estruturais e horizontais multilaterais, quando uma
contextuais, como a integração de rede, o organização possui recursos suficientes e
controle externo e a estabilidade do legitimidade para exercer uma posição de
sistema. Mais recentemente têm incluído liderança e governança por meio de uma
outros fatores, como a sustentabilidade organização administrativa da rede.
dos bons processos e o alcance dos Organização Administrativa da Rede
objetivos almejados. Neste estudo, a (OAR): surge em razão da ineficiência das
eficácia é analisada no âmbito da rede ou redes com governança compartilhada e
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 26

dos problemas de dominação e autonomia concedida pelos membros aos


resistência das redes com organizações gestores para tomar decisões. A
líderes. centralização é uma equipe, um grupo
Uma entidade/equipe administrativa com autonomia, que tem a
separada é criada especificamente para responsabilidade pela tomada de
gerenciar a rede e suas atividades, decisões e definir estratégias dentro da
visando coordenar e sustentar a rede. A rede empresarial. Quanto mais membros
gestão de uma rede neste modo tende a em uma rede, maior a divergência de
ser mais eficiente, especialmente quando opiniões sobre temas específicos, tais
comparada com a governança como metas ou estratégias. A imprecisão
compartilhada, que pode se tornar e as discussões excessivas sobre questões
extremamente complexa quando o específicas podem afetar negativamente
número de participantes. o funcionamento da rede;
- Formalização: refere-se ao nível de
Mecanismos de governança
formalização de procedimento e regras,
incluindo respostas predefinidas para
Determinam as regras de funcionamento
diversas situações. A formalização é o
e influenciam nas relações dos
grau em que os procedimentos e as regras
integrantes da rede. Podem estimular ou
são explicitamente formulados para
reduzir a interação e a motivação para
governar as atividades. Ela funciona como
seguir as estratégias coletivas. A
um mecanismo de coordenação que
observância desses mecanismos
reflete o modo como o controle é
influencia na legitimidade interna e
suportado. A formalização oferece
externa das decisões, a agilidade da rede
respostas predefinidas para várias
nas tomadas de decisão e sua capacidade
situações, reduzindo a possibilidade de
na definição e execução de estratégias.
múltiplas interpretações de como atuar e
A seguir as três dimensões de governança
diminuindo o potencial de tensão entre
destacadas na literatura, e que servem de
os membros. Com o crescimento do
base à pesquisa empírica:
número de membros da rede, um
- Centralização das decisões: refere-se ao
aumento do nível de formalização facilita
loocus (que dominam centralizam) das
a compreensão de como a rede funciona
tomadas de decisão na rede e a
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 27

e como os membros devem agir, e atua Procedimentos metodológicos


como um facilitador de ações coletivas O estudo teve como objetivo comparar
para a rede. Quando todas as firmas mecanismos de governança de redes de
realizam as ações previstas e as regras cooperação que proporcionaram
coletivas são cumpridas, um impacto distintos níveis de eficácia às iniciativas.
positivo sobre a eficácia das empresas é Primeira Fase: análise quantitativa em 50
mais provável de ocorrer; redes de cooperação no sul do Brasil.
- Especialização: refere-se à existência de Essas redes foram segmentadas, por
equipes e gestores especializados, que tempo existência, por segmento de
contribuam para a realização das operação e número de associados. Foi
atividades da rede. A dimensão elaborado um questionário de sete
especialização da governança refere-se a perguntas com base nos resultados das
posições específicas dentro das firmas redes e as respostas de eficácia foram
parceiras dedicadas à relação medida pelos pesquisadores especialistas
interorganizacional, com o objetivo de em redes, numa escala de cinco pontos,
desempenhar tarefas relacionadas à variando de 1 (baixa eficácia) e 5 (alta
aliança. No caso de redes de cooperação, eficácia). Posteriormente foram dispostas
a especialização refere-se também à num ranking das 5 redes que
existência de equipes e gestores apresentaram maiores eficácia e 5 redes
especializados dentro da rede, que apresentaram menores eficácia.
objetivando a eficácia de funções e a
contribuição para a realização das Apresentação e análise de resultados
atividades propostas pela rede. Um maior
- Quanto ao modo de governança: redes
nível de especialização em termos de
com maior nível de eficácia utilizaram o
equipes e grupos responsáveis por tarefas
modo de governança por Organização
específicas pode facilitar a eficácia das
Administrativa de Red. Redes com menor
atividades coletivas, quando comparado
nível de eficácia organizam-se por meio
a uma rede em que as responsabilidades
de um modo de governança
estejam concentradas em uma ou poucas
compartilhada;
equipes de trabalho.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 28

- Quanto a centralização das decisões: descritos e registrados; as com maiores


redes com maiores níveis de eficácia níveis de eficácia possuem
optaram pela centralização das decisões normas/regulamentos que são seguidas
por equipes, sem necessidade de consulta por todos os integrantes da rede.
aos demais, resultando em maior
Discussão de resultados. Modo de
agilidade e eficiência. Todas utilizam
governança mecanismos de governança
sistemas informatizados para se
comunicarem (intranet, chat e e-mails). - Redes com maior eficácia: organizadas

Uma delas está investindo software para por meio Organização Administrativa de

melhorar os contatos online, reuniões Redes.

virtuais, compras em conjunto, votação Maior número de membros.

eletrônica para facilitar as decisões. Operacionalização a cargo de consultores

Redes com menores níveis de eficácia e gestores. Centralização nas decisões,

demoram mais para tomar decisões maior formalização das atividades e

porque optaram pela forma colegiada. maior especialização. Os empresários se

Assim, depende do consenso, prática envolvem na gestão estratégica. Garante

torna mais lenta e demorada as decisões, ações coletivas.

prejudicando a eficácia. Seria a mais - Redes com menor eficácia: governança

legitima; compartilhada. Alta legitimidade interna.

- Quanto à especialização: uma rede Depende da participação de todos para

consegue ser mais eficiente com maior funcionar. Dificuldade envolvimento de

potencial de eficácia se adotar conselhos todos os membros ocasionando lentidão

ou equipes especializadas, que assumem para a tomada decisão. Burocracia. Não

diferentes tarefas, proporcionando tem comitês e especialização.

agilidade e fazendo com que muitos - Todas possuem código de ética,

processos ocorram simultaneamente na estatuto, regimento. Redes centralizadas

rede; para serem eficazes exigem maior


formalização. Podem possuir equipes e
Formalização conselhos especializados que fiscalizam a
aderência da regulação. As redes com
Em linhas gerais, as redes com menores
menor eficácia, em regra, não possuem
níveis de ganhos não possuem processos
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 29

equipes e comitês, e apresentam lentidão Demonstraram-se as práticas de


nos processos e pouco envolvimento das Governança de maior eficácia e de menor
pessoas para pensar a rede de forma eficácia.
estratégica.

Conclui-se:

O número de membros da Rede é que


determinará a configuração mais Cristiane de Mello Mascarenhas6
adequada de Governança. O melhor
WEGNER, Douglas. Redes, alianças e parcerias:
modo é Organização Administrativa da ferramentas e práticas para a gestão da
cooperação empresarial. Porto Alegre:
Rede. É indispensável numa Rede com Exclamação,2020

muitos membros.
Capítulo 1 - Redes, alianças e parcerias:
O investimento é o ponto crítico na formas de cooperação empresarial
adoção do modo de governança OAR,
com gestores e consultores contratados. Neste primeiro capítulo o autor analisa o
A centralização é importante para o contexto econômico do momento, no
processo decisório como forma de evitar qual a cooperação entre empresas
excesso de discussões e travar a Rede. alcançou níveis elevados de
Inter-relação dos três mecanismos desenvolvimento e com grande
analisados: importância socioeconômica,
- Centralização implica maior especialmente na Alemanha e na
formalização para garantir a Espanha, e com olhar nessa experiência
disseminação de informações e padrões consolidada aponta caminhos para
desejados; evolução das redes brasileiras.
- Especialização contribui para maior Na Alemanha, cujos primeiros modelos
envolvimento dos membros; de cooperação remontam ao século XIX, a
- Os resultados da pesquisa oferecem cooperação apresenta o mais alto nível de
importante suporte na configuração da desenvolvimento e importância
Governança das Redes. socioeconômica. Atualmente, mais de

6
Graduada em direito pela UFPEL, advogada
inscrita na OAB/RS 49.849.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 30

230.000 empresas do varejo participam As redes alemãs que inicialmente eram


de 310 redes de empresas, em 45 ramos simples centrais de compras (no início do
de atividade e geram 2,4 milhões de século XX), passaram a centrais de
empregos, o que representa um volume serviços e, recentemente, para redes
anual de 490 bilhões de euros em informacionais, com alta integração e
negócios. interdependência dos participantes, de
As redes alemãs estão organizadas e são tal forma integradas que muitas vezes se
representadas por uma entidade apresentam, ao mercado como uma
nacional, a Federação Alemã de Redes e empresa única, embora legalmente se
Centrais de Negócios, denominada mantenham independentes.
Mittelstandsverbund, que defende os
interesses gerais das redes, sugerindo - Exemplo de Rede de empresas bem-
sucedida na Alemanha
políticas públicas de apoio às pequenas
empresas, oferecendo serviços de
A rede ANWR (Ariston-Nord-West-Ring),
suporte e desenvolvimento de projetos
resultou da fusão de várias redes de
de inovação voltados para seus membros.
empresas independentes do ramo de
calçados e materiais esportivos e
No Brasil, a cooperação é bem mais
atualmente atua como uma holding, que
recente, surgiu como resposta dos
controla empresas prestadoras de
pequenos empreendimentos às
serviços, dois bancos e três redes de
dificuldades decorrentes da abertura de
caráter cooperativo às quais os varejistas
mercado iniciada na década de 1990, que
estão vinculados.
possibilitou a entrada de grandes
- Organização da Rede
empresas internacionais e a cooperação
possibilitou às pequenas empresas O sucesso de redes com número

competirem ou concorreram com os expressivo de participantes depende em

grandes conglomerados. grande parte da eficiência e eficácia da

O autor estima que existiam sua governança e gestão.

aproximadamente 1.000 redes de A rede ANWR tem gestão profissional,

empresas e centrais de negócios em com gestores contratados e que tem

atividade no Brasil (SEBRAE, 2016). autonomia para decidir sobre assuntos


Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 31

estratégicos. No entendimento do A seguir, serão apresentadas quatro


presidente da ANWR, uma governança categorias amplas de redes de empresas
realizada pelos próprios empresários da e acordos de cooperação.
rede dificulta o desenvolvimento da rede,
1) Alianças estratégicas e redes
pois não seria possível que o gestor
multiparceiros:
dedicasse o tempo necessário se forma
simultânea para a sua empresa e para a As alianças estratégicas são

rede; e ainda, o gestor representa caracterizadas pelo objetivo comum

também seus próprios interesses. A entre duas organizações que colaboram

gestão profissional protege os interesses entre si por período determinado ou

da rede e evita que um empresário e ao indefinido para alcançar esse objetivo. Só

mesmo tempo gestor, se empenhe mais pode ser considerada estratégica, a

em seus próprios interesses do que nos aliança que se forme com o objetivo de

coletivos. trazer vantagens para pelo menos um dos


parceiros.
- Outras formas de cooperação Quando a parceria se forma entre mais de

Além das redes de empresas, outras duas organizações, tem-se as redes

formas de cooperação também multiparceiros.

despontam como alternativas Outros modelos de cooperação podem

estratégicas para alcançar objetivos ser identificados quando se analisa o grau

diversos, dentre elas, se destacam, as de formalização entre os parceiros,

alianças, parcerias, redes de suprimentos, destacando-se as alianças informais e as

projetos temporários e redes de alianças contratuais.

inovação, que se diferenciam umas das Há também um tipo de aliança em que os

outras em razão do grau de centralização parceiros investem recursos financeiros e

das decisões, dos mecanismos de se tornam acionistas minoritários uns dos

coordenação utilizados e ainda conforme outros e outro, quando os parceiros

os elos da cadeia produtiva em que atuam formam uma nova organização que

as organizações envolvidas. atuara de forma independente, a qual


denomina-se de joint-venture.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 32

As redes ainda podem ser classificadas 3) Redes de Inovação e projetos


em redes horizontais e verticais, confirme colaborativos temporários

o ramo de atuação dos parceiros que


Redes de Inovação se caracterizam pela
formam a rede. Nas redes horizontais, os
coordenação entre três ou mais empresas
integrantes atuam no mesmo elo da
ou organizações independentes que
cadeira produtiva, por exemplo, redes
buscam atingir objetivo comum
formadas por fábricas de móveis, já nas
relacionado à inovação, por exemplo,
redes verticais, as organizações atuam em
para acelerar o desenvolvimento de
elos diferentes da cadeia produtiva.
novos produtos.
Os projetos colaborativos temporários,
2) Redes de Suprimento e redes globais
de produção gênero do qual as redes de inovação são
espécie, se caracterizam pela
Rede de suprimento é aquela formada temporalidade da relação, pois se
por vários parceiros que atuam como formam para um objetivo específico e ao
fornecedores de insumos ou serviços atingi-lo são desfeitas ou remodeladas,
necessários à elaboração de um produto citando-se como exemplo, um projeto de
final. Em geral nesse tipo de cooperação, pesquisa.
a empresa produtora, atua como
coordenadora das demais integrantes da 4) Clusters de Negócios

cadeia de suprimentos.
Clusters são “concentrações geográficas
Quando as redes de suprimento atuam
de empresas de determinado setor de
em diversos países, ocorre a formação de
atividade e companhias correlatas. Estas
redes globais de produção.
podem ser, por exemplo, fornecedoras de
As redes de suprimento podem ser
insumos especiais – componentes,
classificadas em três tipos principais, de
máquinas, serviços – ou provedoras de
acordo com o grau de coordenação:
infraestrutura especializada” (Porter,
Mercados; Governança Ativa, Relacional
1999, in Redes, alianças e parcerias:
e Modular.
ferramentas e práticas para a gestão da
cooperação empresarial). Exemplo: Vale
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 33

do Silício, Polo Vitivinícola da Serra resultados coletivos estabelecidos estão


Gaúcha. diretamente ligados à capacidade dos
participantes de equilibrarem esses
Síntese: o guarda-chuva de redes e
fatores.
formas de cooperação

As empresas vêm utilizando uma grande


variedade de modelos cooperativos como
meio para melhorar a sua
competitividade e alcançar resultados
planejados, contudo, essa variedade de
ECONOMIA
tipos de redes e alianças pode ser Laura Schroeder Feijó7
agrupada em duas categorias amplas, ou
SILVA, Lucas Emanuel da; FARIAS, Tácito Augusto.
seja, os modelos baseados na cooperação
UMA REVISITA A RONALD H. COASE. RDE-Revista
vertical, dentre os quais se destacam as de Desenvolvimento Econômico, v. 3, n. 35, 2017

redes de suprimento, redes de


A obra em análise pretende revisitar as
fornecimento e as franquias e os modelos
contribuições de Ronald Coase para a
baseados na cooperação horizontal, dos
Teoria Econômica por meio do exame dos
quais vale destacar os consórcios, as
fundamentos das suas principais ideias e
redes multiparceiros e as alianças
do contexto em que foram desenvolvidas
estratégicas.
em comparação com a evolução das
A organização e funcionamento das redes
Ciências Econômicas. Em descrição à
depende de diversos fatores, como a
conjuntura, vale referir ter sido Ronald
concentração geográfica dos integrantes,
Coase um importante economista inglês
formalidade da relação, concentração do
do século XX, laureado com o prêmio
poder e o nível de cooperação, e esses
Nobel de Economia de 1991 por mérito,
fatores são fundamentais na governança
especialmente, da elaboração da teoria
da rede. Assim, o funcionamento de uma
dos custos de transação e da teoria da
rede e a sua capacidade de alcançar os
firma, que ganharam destaque com seus

7
Bacharela laureada em Ciências Jurídicas e
Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 34

artigos “The Nature of the Firm”, em mercado – isto é, do sistema de preços –


1937, e “The Problem of Social Cost”, em para transacionar implica em custos
1960. como os de formular contratos, levantar
O seu interesse quanto às diferentes preços, colher informações necessárias,
organizações das firmas, sobretudo os conduzir negociações, inspecionar
processos de integração vertical, resultou produtos, resolver possíveis conflitos,
na construção das teorias da firma e do entre outros. Nesse sentido, em resposta
custo de transação, publicada no artigo à indagação (i), o autor identifica o
“The Nature of the Firm”, em 1937. Esse sentido da existência das firmas sempre
estudo, ao tratar as firmas como um que for mais rentável manter sua
fenômeno econômico – buscando estrutura de administração interna de
entender (i) por que as firmas existem e recursos do que enfrentar os custos de
(ii) do que depende o seu tamanho – transação impostos pelo mercado, e, à
impulsionou a superação do indagação (ii), Ronald Coase percebe que
entendimento de que a empresa seria o crescimento da organização ocorre até
mera abstração que combina insumos a que a realização de uma transação extra
fim de maximizar juros. Considerando o dentro da firma custe o mesmo de realizá-
entendimento de Adam Smith sobre a la no mercado, sendo aspectos
capacidade de coordenação da economia importantes, é claro, os custos
pelo sistema de preços (“The Wealth of transacionais da firma e do mercado, o
Nations”, em 1776), Ronald Coase número de transações da firma, a
identificou que o papel da firma no quantidade e o tamanho de erros
mercado não poderia ser a alocação de cometidos pelo empresário nas
recursos, já que o mercado já fazia isso transações e o preço do fornecimento de
perfeitamente bem, mas sim o de fatores de produção para empresas de
administrar os recursos internamente, maior porte.
evitando os custos de se recorrer ao Outro marco do autor foi a criação do
sistema de preços. chamado Teorema de Coase, que
Dessa percepção se originou a teoria do consistiu na análise de externalidades a
custo de transação, segundo a qual partir da relação entre custos e direitos
Ronald Coase afirma que usar do de propriedade no artigo The Problem of
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 35

Social Cost, em 1960, como crítica à visão caso em que a intervenção


de Arthur Pigou de que o governo deveria governamental seria desnecessária. Por
intervir, mediante tributação ou outro lado, havendo custos de transação,
legislação específica, a fim de restringir os a distribuição inicial dos direitos de
agentes econômicos responsáveis pela propriedade é estabelecida pela
geração de externalidades negativas. legislação vigente, a qual é determinante
Ronald Coase conseguiu demonstrar a para a produção ou não da máxima
simetria do problema da externalidade, economia, caso em que, de fato, a
uma vez que evitar um agente econômico intervenção governamental geraria
de produzir prejuízos a outros significaria consequências e poderia até mesmo
causar prejuízos ao primeiro. Nessa reduzir os custos de transação,
perspectiva, o que se deveria evitar seria especialmente se definisse – para além de
o prejuízo mais grave, considerado o um sistema de direitos disponíveis, que
efeito total, não apenas o marginal. podem ser modificados por decisão das
Seguindo essa lógica, Ronald Coase partes – regras indisponíveis sobre as
percebeu a relevância da definição dos transações.
direitos de propriedade e os impactos do Posto isso, cumpre mencionar, para mais,
sistema jurídico sobre o sistema que as contribuições de que trata o artigo
econômico. Inicialmente, ele constatou analisado sobre a vida e carreira de
que, quando os direitos de propriedade Ronald Coase vão além do espectro
estão desde o começo bem definidos e puramente teórico que envolveu a
não existem custos de transação, a criação das inovadoras e vultuosas teorias
solução da barganha será sempre do dos custos da transação e da firma. Suas
Ótimo de Pareto (conceito que designa ideias formataram e deram peso e
um estado em que os recursos estão reconhecimento à Nova Economia
alocados da maneira mais eficiente Institucional, conferiram maior realismo e
possível, de tal forma que é impossível impulsionaram pesquisas no ramo da
melhorar a posição de um agente sem organização industrial e abriram espaço
piorar outro), independentemente de para o que viria ser o “Law and
como estivessem distribuídos Economics”, bem como proporcionaram
inicialmente os direitos entre as partes, instrumentos para que sucessores e
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 36

críticos aprimorassem suas observações – organizações e ao comércio, é necessária


como Williamson, ao determinar níveis para garantir a geração e distribuição de
dos custos de transação e propor benefícios entre as elites, de forma a
estruturas de governança, e Douglass sustentar a aliança que domina o Estado.
North, ao constatar a Da mesma forma, todas as relações entre
multidimensionalidade dos direitos de os membros do Estado são fortemente
propriedade e a consequente pessoais.
impossibilidade da sua definição prévia De uma forma geral, a opção da literatura
com exatidão. tem sido rotular as sociedades de acordo
com os seus princípios básicos como
_______________________________________
“democracias” e “não democracias”. Não
obstante o entusiasmo da literatura mais
recente acerca do papel das instituições na

AMBIENTE INSTITUCIONAL E economia pela pesquisa das consequências


DESENVOLVIMENTO da democracia para o desenvolvimento,
esta literatura não se motivou a discutir
Rosângela Souza de Souza 8
mais a fundo o conceito de democracia de
FIANI, Ronaldo. Arranjos institucionais e
Dahl, preferindo elaborar seus próprios
desenvolvimento: o papel da coordenação em
estruturas híbridas. Texto para Discussão, 2013 conceitos. O mais sofisticado é o conceito
de Ordem de Acesso Aberto, de North,
Wallis e Weingast (2009).
Instituições são as regras – formais e
informais – que regulam as interações
Uma breve consideração sobre
sociais, na definição já clássica de Davis e instituições políticas
North (1971, p. 6). O Estado natural que,
Cumpre reconhecer que, não obstante a
segundo North, Wallis e Weingast (2009,
importância das políticas na promoção do
p. 38), é uma coalizão fechada entre as
desenvolvimento, as instituições
elites para a partilha de benefícios, a
desempenham também papel
restrição ao desenvolvimento de
significativo, podendo obstaculizar a

8
Graduada em Direito pela PUCRS, Pós-
Graduação em Gestão Pública Municipal UFRGS,
Pós- Graduação em Direito Público ULBRA Canoas.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 37

implementação de políticas uma divisão: de um lado, há teorias que


desenvolvimentistas. Isso se torna adotam um levantamento completo, ou
particularmente problemático no caso em seja, que supõem que as dificuldades
que as regras institucionais devem contratuais podem ser solucionadas
propiciar uma participação adequada de antes do desenvolvimento contratual,
agentes privados em arranjos desde que as provisões contratuais
institucionais. adequadas (na forma de incentivos para
alinhar as preferências do agente com o
Arranjos institucionais e desenvolvimento
principal) sejam adotadas.
A definição de arranjo institucional foi Por outro lado, a teoria dos custos de
estabelecida de forma pioneira por transação apresenta o mesmo enfoque
Davis e North (1971). Um arranjo nos arranjos institucionais; porém, em vez
institucional seria, de acordo com Davis de supor que é possível solucionar
e North (op. cit., p. 7), o conjunto de antecipadamenteos conflitos que podem
regras que governa a forma pela qual surgir, admite que em circunstâncias de
agentes econômicos podem cooperar elevada complexidade e incerteza
e/ou competir. Arranjos institucionais podem ocorrer pois, dada a
são regras que definem a forma racionalidade limitada dos agentes, os
particular como se coordena um contratos tendem a ser incompletos. Em
conjunto específico de atividades presença de ambientes complexos e de
econômicas em uma sociedade (Fiani, elevada incerteza, dada a mesma
2011, p. 4). racionalidade limitada dos agentes, os
Uma primeira divisão ocorre entre as contratos são geralmente incompletos.
abordagens que privilegiam o papel do Isso não apresenta maiores problemas se
ambiente institucional na economia, seja for possível substituir a contraparte na
das regras gerais que governam o setor transação, pois neste caso a pressão
público (na teoria da escolha pública) ou competitiva entre as partes inibirá
o setor privado (teoria dos direitos de qualquer atuação oportunista, que é a
propriedade), seja das abordagens que manipulação de assimetrias de informação
estudam os arranjos institucionais. com o objetivo de realizar ganhos
Entre estas últimas, tem-se novamente indevidos.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 38

Assim, se os ativos envolvidos forem transação acontece necessariamente


específicos e vincularem as partes, para que em um mercado. Por exemplo, Markusen
a transação possa ser preservada, é (2002, p. 6) já apontava que em torno de
preciso constituir um arranjo institucional 30% das transações internacionais não
que promova adaptações e ajustes entre estão sujeitas à possibilidade de
as partes ex post (Oliver Williamson e substituição de contraparte na
Claude Ménard) transação.;
Outro exemplo é o dos setores de
Custos de transação e arranjos
infraestrutura com a presença de empresas
institucionais
privadas reguladas. Williamson (1985, p.
De uma forma geral, um arranjo 326-364) argumentou enfaticamente
institucional especifica quais são os contra as propostas de tentar reproduzir
agentes habilitados a realizar uma a concorrência de mercado em setores de
determinada transação, o objeto (ou os infraestrutura regulados. Uma terceira
objetos) da transação e as formas de fonte de especificidade diz respeito às
interações entre os agentes, no características físicas do ativo. Por
desenvolvimento da transação, estando exemplo, uma broca de grande
o arranjo sujeito aos parâmetros mais resistência vai ter de possuir
gerais do ambiente institucional. características físicas adequadas, e isto
O mercado é um tipo de arranjo tornará a broca específica em relação às
institucional em que as partes podem demais, independentemente de poder
substituir livremente e a qualquer ter o mesmo desenho.
momento sua contraparte na transação, Há ainda a especificidade do capital
uma vez que o ativo transacionado não humano, técnico e cientista de alto nível,
guarda qualquer especificidade, e assim que são exemplos característicos, pois
não existe qualquer vínculo entre sua formação é demorada, não apenas
comprador e vendedor. O mercado que pelos anos de educação necessários, mas
opera essencialmente por meio de também pelo aprendizado prático.
incentivos é o lugar por excelência da Os mercados não são adequados em
adaptação autônoma. Mas antes é transações com ativos de elevada
preciso compreender que nem toda especificidade, pelo fato de que ativos
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 39

específicos possibilitam a manipulação de internamente, passando de uma etapa a


informações e promessas por parte de outra sob controle da burocracia. Ao
agentes que estejam em posição contrário do mercado, agentes
privilegiada na transação (atuação responsáveis por cada etapa do processo
oportunista). produtivo não possuem autonomia,
Por sua vez, um contrato também não é estando sujeitos a um controle
mais suficiente para garantir as centralizado. Empresas privadas e
salvaguardas para a transação, pois com públicas seriam exemplos de arranjos
racionalidade limitada em uma situação de hierárquicos.
complexidade/incerteza, em que há a Diz-se haver adaptação coordenada,
possibilidade de oportunismo pelas partes, pois, frente a mudanças no ambiente da
e o objeto da transação é um ativo transação, a adaptação dos agentes
específico, torna-se difícil antecipar todas envolvidos é coordenada pelos controles
as circunstâncias relevantes que no futuro administrativos, ou seja, pelos comandos
podem vir a afetar a transação. O contrato exercidos por agentes com autoridade
torna-se gravemente incompleto, então é para isto definida hierarquicamente
preciso que se criem arranjos Híbridos combinam incentivos e
institucionais que deem conta das controles administrativos, de forma que
necessidades de ajuste ‘ex post’ aos há elementos que se assemelham ao
termos da transação, à medida que mercado, e elementos que se
circunstâncias imprevistas forem surgindo. assemelham a uma hierarquia. O setor
Ou a alterntiva é recorrer ao judiciário, regulado é um dos exemplos
onde terá uma resolução mais custosa, empregados, há elementos de mercado
onerosa e incerta. na forma de incentivos – a empresa
Esses arranjos ‘ex’ post são os arranjos regulada obtém uma tarifa pelo serviço
institucionais alternativos ao mercado, que presta; porém, ao mesmo tempo, há
que Oliver Williamson denominou, de elementos de hierarquia na forma de
forma genérica, hierárquicos e híbridos. controles administrativos exercidos pelas
A hierarquia corresponde à estrutura agências reguladoras.
verticalmente integrada da firma, em São exemplos de híbridos, ainda: joint
que o processo produtivo flui ventures, alianças estratégicas, cadeias
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 40

de fornecedores, franquias, parcerias O Estado não atua nos arranjos


público-privadas (PPPs), parques institucionais apenas visando deslocar a
tecnológicos, etc. economia de um equilíbrio de Nash
O fato de os híbridos demandarem um “inferior” para um equilíbrio de Nash
centro estratégico não significa que o “superior”.
Estado é um candidato natural a Como indica Chang (2003), e é discutido
desempenhar este papel. Ménard (2010) por Fiani (2011, p. 216-221), a posição do
cita vários casos em que o centro Estado lhe faculta a capacidade de atuar
estratégico é exercido por agentes de forma empreendedora, isto é,
privados, como o franqueador, no caso fornecendo uma visão de futuro que vá
das franquias empresariais. além dos equilíbrios superiores que
eventualmente existam e formule novas
Arranjos híbridos em políticas de
desenvolvimento possibilidades de transformação do
sistema econômico.
Será destacado, em particular, o papel do
Uma vez que ativos específicos são uma
Estado como agente privilegiado para
parte importante do investimento total
exercer a tarefa de centro estratégico em
de uma economia moderna, e uma vez
arranjos institucionais envolvendo
que o processo de desenvolvimento
agentes privados, com vistas ao
provoca mudanças significativas na
desenvolvimento.
estrutura da economia deve-se esperar
Muitas vezes, o Estado é o único agente em
que o processo de desenvolvimento
condições de desempenhar as funções
resulte consequentemente em conflitos.
necessárias para que o processo seja
Dessa forma, como enfatiza Fiani (2011,
bem-sucedido. A primeira função que o
p. 217), “promover o desenvolvimento
Estado deve desempenhar é a de
exige reduzir os conflitos que ele
coordenar os investimentos privados em
provoca” (grifos do original). Desta feita,
ativos específicos rumo a um equilíbrio
o problema do desenvolvimento nunca é
superior, corrigindo, assim, falhas de
exclusivamente econômico, mas também
coordenação, que ocorrem quando a
politico.
incapacidade dos agentes para coordenar
suas ações resulta em um equilíbrioque é
ineficiente.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 41

Conclusão desempenha um processo harmonizador


na economia. N Capítulo 2, Kirzner se
A complexa interação entre instituições e
dedica ao estudo do papel do empresário
políticas, em particular o problema de ‘path
no sistema de preços. Fundamenta seus
dependence’, sugere que há um ganho
argumentos nas teses de Ludwig Von
analítico significativo ao se diferenciar
Mises, que junto com Hayeki foi um dos
instituições de políticas. Contudo, o tema
principais economistas da Escola
que tem assumido mais visibilidade nas
Austríaca. Parte-se de um entendimento
abordagens institucionalistas da questão do
de mercado dinâmico, liberal,
desenvolvimento tem sido o papel do
competitivo e de futuro incerto gerando
ambiente institucional – as liberdades
oportunidade de Lucro Puro. A Teoria da
políticase econômicas. O papel dos arranjos
atividade empresarial de Kirzner é
híbridos, pois englobam, entre outros, os
baseada num dos pontos principais de
arranjos em que o Estado – assumindo o
Mises, de que a coordenação entre os
papel de centro estratégico – atua em
mais variados agentes no mercado não
parceria com o setor privado.
acontece por acaso, mas é resultado do
elemento empresarial.

1. A natureza da atividade empresarial

O autor aduz que a atividade, a intuição


empreendedora econômica é algo lógico
Eva Motta9
racional para todos os indivíduos. Todos
KIRZNER, Israel M. Competição e a atividade
agem sempre procurando obter
empresarial.
LVM Editora, 2017 (Capítulo 2) vantagens econômica. A lógica
empreendedora está no centro da análise
Israel M. Kirzner desenvolve uma teoria
econômica e é ela que promove o
do processo de mercado em que a função
crescimento econômico e o
empresarial assume papel central.
desenvolvimento social. Destaca-se que o
Afirma-se que a atividade empresarial
empresário puro percebe oportunidades

9
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional-
IMED e graduada em Ciências Contábeis pela
UFRGS.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 42

de lucro através da intuição precisa saber onde estão estas


empreendedora que brota do estado de oportunidades inexploradas. A Teoria da
alerta do Tomador de Decisões. Atividade Empresarial também é
chamada por alguns como a Teoria do
2. Tomada de decisão e economização
Preço. O preço se forma através da oferta
A teoria do homem economizador de e procura, pressupondo um ambiente de
Robbins é do conhecimento perfeito, competitividade. O empresário puro
num mundo em equilíbrio. O único precisa descobrir onde os compradores
campo de ação para a tomada de decisão vêm pagando demais e onde os
relaciona-se com a oportunidade de troca vendedores vem recebendo de menos e
de algo que se valoriza pouco por algo suprir essa deficiência oferecendo para
que se valoriza mais. Segundo Kirzner, o comprar por um pouco mais e para
equilíbrio tira das pessoas o pensamento, vender por um pouco menos. Tomador de
impedindo o aprendizado e a vontade de decisão nada tem a fazer num mundo
evoluir. A suposição do pensamento perfeito da economização robbinsiana.
perfeito exclui a função empresarial e não
4. O produtor como empresário
percebem a necessária prática da
concorrência/competividade. Os meios e Por convenção, Kirzner diz que a
fins tem origem na mente das pessoas. A atividade empresarial está nas mãos do
relação entre o conhecimento individual empresário puro e assim, exclui o
e as realidades do mercado fazem parte proprietário de ativos do papel
dos problemas estudados pela Escola empresarial. Divide o mercado em
Austríaca proprietário de recursos (capitalista),
produtor e consumidor final. As decisões
3. O empresário no mercado
empresariais estão nas mãos dos
Os tomadores de decisões estão tomadores de decisão que não possuem
engajados na ação humana Misesiana. nada. Basta que o rendimento da
Estado de alerta empresarial. Num operação seja maior que o custo. O
mundo sem conhecimento perfeito há capitalista incorre nos riscos e incertezas
oportunidades que não foram do investimento.
exploradas. O tomador de decisões
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 43

5. Lucros empresariais ser empresário e proprietário de


recursos.
Um proprietário de recursos como o
economizador robbinsiano procura tirar a 8. Atividade empresarial e conhecimento
maior vantagem possível para a troca de
O que gera oportunidades para lucro
seus ativos no mercado. Um empresário,
empresarial puro é a imperfeição do
pelo seu estado de alerta explora,
conhecimento dos participantes do
especula, busca o lucro na diferença de
mercado. A ignorância abre a
preços entre a compra e a venda. Este
possibilidade de oportunidades
lucro empresarial puro é que agrega valor
inexploradas. Para Kirzner, o
à economia, sendo a força motriz do
conhecimento exigido para a atividade
mercado e da produção. A propriedade e
empresarial é do tipo “saber onde
a atividade empresarial devem ser vistas
procurar o conhecimento de informações
como funções completamente separadas.
concretas de mercado”; o estado de
6. Atividade empresarial, propriedade e alerta é o conhecimento abstrato.
a empresa
9. Atividade empresarial e processo
A empresa surge após os proprietários equilibrador
dos serviços produtivos venderem a um
Kirzner destaca a importância crucial da
empresário os recursos necessários para
atividade empresarial no processo de
produzir alguma mercadoria. Assim, o
equilíbrio do mercado. O empresário
negócio é consequência das decisões
utilizando-se da lei da oferta e da procura
empresariais anteriores. Empresa é uma
e sendo competitivo, procura estar
entidade, logo, não é a mesma coisa que
atento as inúmeras oportunidades de
o empresário puro (tomador de
lucro de um mercado em desequilíbrio
decisões). O papel de capitalista é
que nunca será equilibrado. Na teoria do
necessário para tornar o lucro
mercado é importante neste momento a
empresarial possível. Estes proprietários
noção empresarial. É hora de colocar em
de recursos financiam o empresário
atividade o estado de alerta. De reagir,
porque acham o pagamento do juro
adotando medidas para aproveitar as
atraente. A mesma pessoa pode ser
oportunidades de maximizar os lucros.
empresário e capitalista, bem como pode
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 44

10. A literatura sobre a atividade São elementos centrais na teoria da ação


empresarial
empresarial de Kirzner:
O autor critica as teorias contemporâneas
do preço que ignoram a atividade (1) estado de desequilíbrio, tal que

empresarial. A literatura tem explicado o existem oportunidades de lucro puro;

lucro e não destacado o papel do (2) equilíbrio como compatibilidade de

empresário. O lucro é inseparável da planos (ações e expectativas);

atividade empresarial. Kirzner enfatiza e (3) estado de alerta da função

valoriza a atividade empresarial porque é empresarial para percepção de uma

ela que impulsiona o mercado e traz oportunidade de lucro puro;

desenvolvimento econômico e social. (4) tendência à extinção do lucro puro


(dos erros de decisão/alocação);
11. Atividade empresarial segundo (5) tendência de descoberta de novas
Mises
oportunidades de lucro;
Kirzner construiu a teoria da atividade (6) tendência ao equilíbrio na economia;
empresarial com base em Mises. A (7) impossibilidade do equilíbrio no
importância da ação humana que trouxe mundo REAL
coerência e desenvolvimento à ideia que
se opôs à economização robbinsiana. A
função empresarial exige ação com
práticas competitivas. Os lucros se
originam da ausência de um ajuste entre
o mercado de produtos e o mercado de
fatores e a atividade empresarial bem
sucedida consiste em notar tais
desajustes antes que outros os notem.

12. Considerações finais


Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 45

transação”, tornando-se o clássico


contemporâneo da escola”. Adiante
expõe que “para os institucionalistas, o
Percepções sobre o Institucionalismo papel das instituições que regulam o
ambiente econômico é determinar as
Eduardo Teixeira Farah 10
relações econômicas na sociedade. A
cada tempo as instituições são diferentes,
MACHADO, Vinicius Cassol da Silveira. Oliver
Williamson: uma revisão de literatura. 2016 assim a realidade não se encaixa em
modelos a qualquer momento. As raízes
A autor faz referência ao
mais antigas, que remetem ao
“institucionalismo como a linha de
historicismo econômico alemão, exercem
pensamento oposta ao neoclassicismo
uma influência ímpar nesse modo de
que, em alguns aspectos, pode
pensar. Por conta dessa corrente surge
demonstrar semelhança com o Marxismo,
uma nova linha de pensamento, seu
Keynes e Schumpeter que partia de um
marco enquanto escola de pensamento
enfoque microeconômico para
econômico independente a partir do
sistematizar vínculos do ambiente
trabalho pioneiro dos autores norte-
institucional com as novas trajetórias de
americanos Veblen, Commons e Mitchell.
inovação. A tradição institucionalista

trouxe a possibilidade de se avançar em
Na busca de uma percepção
direção da teoria dinâmica das
contemporânea do institucionalismo, o
instituições. ” Acrescenta que “ainda na
autor reúne “conceitos e ideias tanto do
mesma década, Oliver Williamson e seus
velho quanto do novo institucionalismo,
estudos sobre economia industrial e
ou seja, as instituições não podem existir
mercado de trabalho, com leitura
na ausência de uma ação individual,
inteiramente acessível aos não
subsiste, portanto, uma dependência
economistas, manteve o cerne das
entre instituições e ação humana, onde
relações entre firmas e fornecedores em
uma não existe sem a outra. ” Arremata
vários contextos, introduzindo o marco
que “para os institucionalistas, o papel
conceitual da “abordagem dos custos de

10
Mestre em Direito dos Negócios e da Integração Empresa e da Economia pela FGV; Bacharel em
Regional pela UFRGS; Especialista em Direito da Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 46

das instituições que regulam o ambiente uma empresa internaliza atividades? Com
econômico é determinar as relações um mercado eficiente ela poderia obter
econômicas na sociedade. A cada tempo insumos a um custo inferior, supondo a
as instituições são diferentes, assim a existência de ganhos de eficiência
realidade não se encaixa em modelos a provenientes da divisão do trabalho (...) a
qualquer momento. As raízes mais teoria neoclássica estabelecia que a firma
antigas, que remetem ao historicismo era um mero agente maximizador de
econômico alemão, exercem uma lucro, desprovido de outro interesse que
influência ímpar nesse modo de pensar. não o de obter o maior excedente possível
Por conta dessa corrente surge uma nova dada as expectativas dos agentes e as
linha de pensamento, seu marco condições que prevaleçam no mercado.
enquanto escola de pensamento Embora esse conceito da firma facilitasse
econômico independente a partir do enormemente o trabalho de pesquisa e
trabalho pioneiro dos autores norte- elaboração de modelos de equilíbrio e
americanos Veblen, Commons e Mitchell. crescimento econômico, ele logo se
” O trabalho destaca que “ainda na revelou incapaz de lidar satisfatoriamente
mesma década, Oliver Williamson e seus com realidades mais complexas, tais
estudos sobre economia industrial e como estruturas oligopolistas e
mercado de trabalho, com leitura imperfeições de mercado. Desta forma
inteiramente acessível aos não ela não era capaz de explicar o
economistas, manteve o cerne das surgimento de estruturas oligopolistas
relações entre firmas e fornecedores em dentro do capitalismo, fenômeno sobre o
vários contextos, introduzindo o marco qual a tese maximizadora pouco teria a
conceitual da abordagem dos custos de dizer. ” Por outro lado, foram
transação, tornando-se o clássico apresentadas as percepções de Veblen e
contemporâneo da escola.” Commons que trabalham com três
principais pressupostos em comum
Contribuições Relevantes de Williamson
acordo: “a) a tecnologia não é dada, não
à Teoria Econômica
pode ser isolada como o fazem modelos
Por meio da análise de Coase o estudo neoclássicos; b) não há equilíbrio estável,
lança o questionamento sobre “por que logo é importante estudar como e por que
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 47

surgem os desdobramentos das (Velha Economia Institucional) e a NEI


mudanças na economia; c) atenção ao (Nova Economia Institucional), haja vista
processo, a evolução da economia é que “o arcabouço teórico da NEI enfoca,
gerada por transformações tecnológicas. fundamentalmente, aspectos
” microeconômicos, uma teoria da firma
Destarte, “o velho institucionalismo foi em uma abordagem não convencional.
sendo cunhado através dos moldes de São relevantes para os estudos: a história
uma ciência empírica, diferentemente das econômica, os direitos de propriedade,
teorias ortodoxas, com pobre contato e sistemas comparativos, economia do
carregadas de suposições a respeito do trabalho e formas de organização
real funcionamento da economia. ” Em industrial. Recuperam-se assim conceitos
conexão com a esfera do direito, o estudo importantes de Coase (1937). É
apresenta as principais obras de incorporada a ideia de que da firma para
Commons “Legal foundations of fora poderá existir um mecanismo de
capitalismo” (1924) e “Institucional preço, mas em especial internamente. O
Economics” (1934) e expõe que “nelas o mecanismo de organização é baseado na
direito é formulado pela resposta da hierarquia, logo os contratos não são
escassez e os conflitos de interesse sendo feitos somente por mecanismos de
um processo de resposta às relações entre preços. ”
os indivíduos da sociedade e não algo Coase formula suas ideias baseado nos
simplesmente imposto por um grupo conceitos de custos de transação,
seleto de indivíduos. Para o economista a racionalidade limitada, oportunismo e
instituição será como uma ação coletiva especificidade de ativos. Já North,
que controla, libera e favorece a expansão também ganhador do Prêmio Nobel, se
da ação individual, a instituição aflora da distancia das ideias de Coase e
própria indigência de recursos que seria Williamson, pois analisa as instituições
então sanada com o trabalho físico, como restrições humanamente
sempre claro, que não houvesse restrições inventadas que estruturam as interações
individuais. ” humanas. Os aspectos sociais estão
Por sua vez, Oliver Williamson presentes nos estudos de North, o qual,
estabeleceu as diferenças entre a VEI
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 48

inclusive afirma que “as instituições são Posteriormente, “em 1971 foi publicado
as regras do jogo. ” na American Economic Association o
Nesse diapasão, o autor afirma que “o artigo ‘The Vertical Integration of
grande mérito de Williamson foi ir além Production: Market Failure
de uma crítica ao mainstream e à Considerations’ muito relevante para a
compreensão da firma com o enfoque em carreira de Willamson, especialmente,
custo de produção. Williamson adiciona por ser um trabalho que o levaria para a
um pensamento alternativo. Não estava TCT. Pode-se destacar: a) a ótica da
propondo uma adição à teoria dos custos ortodoxia foi suplantada pela ótica do
de produção, ou seja, tinha como objetivo contrato e governança; b) a racionalidade
a formulação de um pensamento novo é limitada, em contratos complexos é
para um problema antigo e parecia ter incompleto; c) o comportamento durante
exaurido as suas explicações. ” Expõe o o intervalo de execução do contrato
autor que “o economista trabalhou na amplia a ideia de auto interesse simples;
divisão antitruste como, ‘Special d) os custos de transação são positivos,
Economic Assistant to the Head of the condicionados aos atributos de
Antitrust Division of the US Department of transação; e) a adaptação é relevante
Justice’, entre 1966 e 1967. Aquele foi um para o desempenho da firma; f) as
grande salto para formulação de novas decisões da ação institucional decorrem
teorias. No fim da década de 60 a dos níveis de dependência bilateral. ”
liderança e funcionários da Divisão Nesta perspectiva, “a decisão de
Antitruste defendiam, de forma integralizar ou terceirizar um bem ou
predominante, a visão teórica dos preços, serviço foi compreendido por Williamson
analisavam a concorrência com base nos que animado ligou para seu amigo Dan
preços de mercado e custo de produção. McFadden relatando que ampliara sua
Então se uma firma optava por uma compreensão sobre o tema, mas que
verticalização de sua produção acendia encontrava dois grandes desafios: como
uma luz amarela alertando a divisão que colocar todo esse conhecimento e seus
era provável que estava sendo criada uma desdobramentos no papel, e como ter
competição desleal de mercado. ” uma teoria tão completa sobre a firma
sem testá-la empiricamente. ”
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 49

Por meio da expansão dos estudos de organizações, sobre as relações entre


Williamson e “como todos os firmas que não ocorrem por meio dos
desdobramentos do institucionalismo a mercados e sim dos contratos. Se o termo
escola não é fechada em seus conceitos, ‘custo de transação’ é hoje tão comum,
permitindo muitos tipos de abordagem. isso devemos a ambos: Coase pela criação
Logo é possível o desenvolvimento de e Williamson pela difusão. ”
muitas teses a contar do que foi produzido “Recentemente, o neoinstitucionalismo
por Williamson. ” A denominada trilogia reverberou o desenvolvimento
de Williamson é composta pelas obras: econômico, além de ter seus conceitos
“Market and Hierarchies (1975); The disseminados em agências multilaterais.
Economic Institutions of Capitalism Em contrapartida, o arquétipo principal
(1985) e The Mechanisms of Governance foi base de discussões relevantes sobre a
(1996). Estes livros buscam de forma reforma do Estado por autores oriundos
minuciosa a compilação dos vários artigos de outras matrizes teóricas, autores estes
publicados, em que não era possível que recusam o paradigma neoclássico, e
explicar suas ideias de forma agrupada e seu projeto geral: a ideia do
com uma linha contínua de pensamento comportamento maximizador, onde o
devido a restrições estilísticas típicas das Homem Econômico pode ser substituído
publicações da profissão. ” pelo Homem Contratual, sem instituições,
Outro aspecto salientado pelo autor é o que para os neoclássicos é uma ficção,
que “Se Coase foi inovador em trazer um para Oliver Williamson é um modelo
novo ponto de vista, foi Oliver Williamson simples e viável. ”
quem transformou ideias em prática, “A compreensão de Williamson deve
desenvolvendo os fundamentos para começar pelos seus pressupostos que são
estudos na área da Economia das exaustivamente trabalhados em Markets
Organizações, de forma que pudessem and Hierarchies. São eles: a) os custos de
fazer análises pautadas por modelos transação são associados aos modos
realistas. Desde a década de 70, Oliver institucionais de organização; b) a
Williamson se dedica incansavelmente ao tecnologia tem sua importância, mas não
seu modelo, testando hipóteses sobre os é fator fundamental da existência da
mecanismos de governança das firma; c) o centro da análise são as falhas
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 50

de mercado (...) Em Market and com partes do contrato e o contratado


Hierarchies, Williamson destaca que a nada poderá fazer. ”
organização interna da firma é “Definição do limite da firma é difuso
determinante para o seu resultado, de tal quando tratado pela compreensão da
forma que gera vantagens competitivas. firma como um conjunto de contratos. É
Por vezes essa necessidade de importante destacar que as relações se
organização surge com a grande estendem dos domínios da firma e por
incerteza nas transações e, assim, uma vezes podem ocorrer trocas de produtos
busca das firmas por verticalizar com outras firmas, algo como troca de
processos no intuito de diminuir as favores. Em resumo, é clara a visão de
possibilidades de comportamentos Williamson que o principal objetivo da
oportunistas e contratos ineficientes. organização econômica é a economia de
Dessa forma, as falhas de mercado levam custos de transação via compromissos
a firma a verticalizar a produção, ou creditáveis, ou seja, gerar por contratos e
partes dela. ” relações um compromisso de evitar os
“Logo nos primeiros capítulos de The esforços de comportamentos
Economic Institutions of Capitalism são oportunistas. ”
abordadas as já citadas ideias de “Oportunismo, os indivíduos podem tirar
oportunismo, racionalidade limitada, vantagem de duas principais formas: a)
assim como o conceito de transação, no momento de firmar o contrato, ao
intercâmbio e contratos. a) risco moral é incluir cláusula que lhes darão vantagem,
a não compreensão se as partes de um sem que haja uma total compreensão da
contrato farão o que foi combinado se outra parte; b) durante o contrato,
forma satisfatória, e ocorre quando seu deixando de executar o contrato de forma
próprio interesse é inconsistente com os satisfatória, seja por um excesso de
interesses do principal; b) Hold up: esse confiança, seja por pouca fiscalização da
oportunismo ocorre quando um dos lados outra parte. ”
tem uma dependência extrema do outro, “Essa dificuldade de avaliação é decorre
não havendo possibilidade de troca de dos seguintes fatores: 1) racionalidade
contratante, resultando em um grande limitada, visto a dificuldade de avaliar os
poder, visto que é possível não cumprir preços; 2) comportamento oportunista
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 51

pela criação de carteis; 3) especificidade elevados pode a firma optar por não
dos ativos que levam a dependência de efetuar o contrato. ”
poucos fornecedores; 4) assimetria de “A Performance atributes pode ser do
informação, o comprar pode não saber tipo: a) denota a adaptabilidade da firma
sobre a relação entre as firmas e ao mercado e o tipo; b) a capacidade de
desconhecer seus custos (...) o conceito de cooperação. ‘Contract law’ diz respeito à
oportunismo, permite que os agentes necessidade de realização de contratos
atuem estrategicamente na procura de jurídicos formais para proteção da
seu auto interesse sem que isso leve ao transação. ”
colapso da firma, como quando as firmas Por fim, sintetiza o autor que “é possível
usam tecnologias bem padronizadas ou que diferentes gestores tomem diferentes
criam mercados internos de trabalho. decisões em cenários iguais, ou seja, algo
Consequentemente, tanto a inclusão de mais permeia a decisão. A sugestão é que
agentes oportunistas quanto a de a economia comportamental seja a
elementos contrários que reduzem o fronteira da TCT, considerando que nela
impacto deste tipo de comportamento, poderemos encontrar mais respostas
representam maneiras de remodelar a sobre a previsão de comportamento das
realidade. Esta reconstrução da realidade firmas. É possível que o avanço da TCT
deve evitar que a contradição percebida depende de olhar mais a fundo para
no esquema teórico do mainstream dentro das firmas e seus indivíduos, para
reapareça. ” analisar a sua organização e o
“Para a execução dos contratos é comportamento dos indivíduos
necessária a criação de medidas de tomadores de decisão”.
desempenho e controles de resultado,
demandando recursos para essa
atividade das firmas. A atividade de
verificação dos contratos não é um custo
de produção, ao contrário, é um custo
direto oriundo do oportunista. Muitas
vezes quando esses custos são muito
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 52

interdependência das economias


mundiais – produziram novas formas de
desverticalização da produção, com as
A Economia do Conhecimento: uma
contribuição conceitual quais os formatos de rede estão
associados (CAFAGGI, 2011, tradução
Matheus da Silva Pitaméia 11
nossa).
Para conceituar a economia do
BAQUERO, Pablo Marcello. Collaborative Inter-Firm
Innovation In The Frontiers Of The Knwolegde Economy: conhecimento é preciso não confundi-la
Preliminary Remarks Towards Rethinking Private Law For
the New Economy. Cadernos de Programa de pós- com o uso de seus produtos e serviços,
graduação em Direito. UFRGS. Ed. digital. V. 16, nº. 01,
como o emprego de computadores e
pg. 152 a 171. Jan/ago 2021.
CAFAGGI, Fabrizzio. Contractual Networks, Inter-Firm outras tecnologias para gerenciar o
Cooperation and Economic Growth. Disponível em:
<https://www.eui.eu/Documents/DepartmentsCentres/L processo de produção. A economia do
aw/Publications/Introduction.pdf>. Acesso em 26
out.2021. conhecimento, em um primeiro
POWEL, Walter; SNELLMAN, Kaisa. The
Knowledge Economy. Annu. Rev.Socio. Stanford, vislumbre, está ligada ao acúmulo de
California. Vol.30: 199-220. February, 2004.
capital tecnológico, capacitações
SMITH, Keith. What is the ‘knowledge economy’?
Knowledge Intensity and Distributed Knowledge tecnológicas e ciência aplicados à
Bases. The United Nations University, 2002,
Discussion Paper Series, Maasticht, 2002. condução do processo produtivo. Mas a
UNGER, Roberto Mangabeira. A Economia do
Conhecimento. Tradução por Leonardo Castro. administração, coordenação e produção
São Paulo, SP: Autonomia Literária, 2018.
centradas no capital tecnológico, reitere-

A economia do conhecimento, como se, traduz o significado mais superficial de

leciona Unger (2018), tem a tendência de economia do conhecimento. Em uma

mudar radicalmente a cultura moral de segunda visão, de olhar mais profundo, a

produção, fazendo crescer a economia do conhecimento é

discricionariedade e o ânimo de caracterizada por uma centralização do

cooperação entre os agentes da atividade conhecimento na economia: produtos

produtiva. Mudanças políticas e popularizados nas últimas décadas

tecnológicas que levaram à globalização parecem ser a materialização de

das relações econômicas – e a uma maior experimentos e inventivas apoiadas, de

11
Advogado. Formado em direito pela URCAMP,
pós-graduando em gestão, governança e setor
público pela PUCRS.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 53

maneira ampla, no conhecimento. “A objeto mercantil final, estabelecendo


aproximação” – diz o autor – “da relações cooperativas não só entre
produção à imaginação está no coração empresas, mas também com institutos de
da economia do conhecimento, e cada pesquisa, universidades et cetera, o que é
vez mais à medida que se difunde e chamado de movimento de
aprofunda”. Outra característica, é a desverticalização econômica. O autor
promessa intrínseca da Economia do mostra, como exemplo, o processo de
Conhecimento de mudar a cultura moral produção de um Boeing 787, que é, em
de produção, aumentando o grau de verdade, uma produção transnacional
discricionariedade no processo produtivo que integra diversas companhias de
e a cooperação entre os seus agentes. muitos países, cada uma especializada em
Com efeito, a manufatura mecanizada, uma parte, cooperando para o alcance do
para a qual a máquina era apenas um resultado final.
instrumento de repetição, não exigia um A Economia do Conhecimento não está,
grau elevado de discricionariedade no seu no entanto, desenvolvida a pleno
processo, uma vez que a produção se funcionamento. Ao contrário, permanece
dava através de um processo mimético, mais ou menos confinada e modesta nas
dentro de uma organização hierárquica suas consequências práticas possíveis,
(UNGER, 2018). ainda que deixe escoar, em certos lugares,
Mas não só o novo esquema de produção o sumo das suas possibilidades
demanda um aumento da cooperação institucionais reais.
entre seus agentes, senão também a Para que se alcance a máxima potência
própria economia em que estamos das novas formas econômicas, algumas
inseridos. Essa é a lição de Baquero (2021, diretrizes devem ser seguidas. Para
tradução nossa), que situa o início desse Baquero (2021, tradução nossa), os
debate na observação de que grandes modelos emergentes de negócios não
empresas não estavam mais produzindo podem ser tratados – no campo do direito
internamente todas as peças – pelos ordenamentos vigentes
indispensáveis para a montagem dos seus tradicionais, concebidos para os modelos
produtos, mas delegando a outras negociais tradicionais. O grau elevado de
empresas a produção de uma fatia do interdependência entre as empresas,
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 54

além da intensa interação entre elas, desigualdade salarial (…). Pesquisadores


criando deveres de cooperação, geralmente concordam que a mudança
informação e controle de qualidade tecnológica aumentou a demanda por
demanda uma legislação adaptável e que trabalho altamente especializado em
abranja esses problemas de ordem detrimento do trabalho [puramente
contratual. manual] de baixa habilidade”.
No campo jurídico-institucional, Unger A economia do conhecimento exige uma
(2018) sugere que é preciso tornar a ordem de capacidades mais elevadas que
economia do conhecimento socialmente a produção massificada de outrora. O
inclusiva e também sugere inovações de operador da máquina deve possuir, em
ordem legal. Para o autor, o ordenamento certo grau, a mesma capacidade técnica e
jurídico deve servir para ampliar o acesso de seus inventores. Para tanto, a
às oportunidades e recursos para a educação deve abandonar a repetição
inovação e produção, por meio do acesso mecânica de fórmulas e priorizar uma
ao capital e à tecnologia. Além disso, a formação criativa que aumente as
força de trabalho deve ter acesso ao capacidades analíticas. Com relação ao
capital intelectual e dominar as formas de conteúdo, a nova educação para a
desenvolvimento desse sistema de economia do conhecimento deve preferir
produção. o aprofundamento seletivo ao
Mas há outras diretrizes a observar, uma enciclopedismo generalista e, no campo
delas refere-se às capacidades cognitivo- social, a cooperação deve fazer parte, de
educacionais dos agentes operadores. maneira profunda, do processo de
Para Powel e Snellman (2004, tradução aprendizagem.
nossa): A economia do conhecimento não é uma
“há um consenso de que existe uma tendência, deve-se dizer por fim. Mas
discrepância entre as competências de uma realidade que necessita ganhar uma
certa classe de trabalhadores e os tipos de moldura institucional, jurídica e social
empregos que integram a economia do adequada para que alce voo ao infinito de
conhecimento. A evolução tecnológica é suas possibilidades, principalmente no
comumente apontada como fator que diz respeito às atividades econômicas
determinante para a crescente e à superação de desigualdades.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 55

um conjunto de práticas normativas,


práticas de coerção, de sanção social,
políticas e da racionalidade.
Reconhece-se que não existe uma coisa
que poderíamos chamar de contrato
típico; por outro lado, é importante
DIREITO reconhecer que há um conjunto de

Eduarda Jade Stumer Santos12 práticas jurídicas que permitem


identificar historicamente a formação de
Ronaldo Porto Macedo Junior, CONTRATOS
RELACIONAIS E DEFESA DO CONSUMIDOR, Ed. uma identidade conceitual. Trata-se, sim,
Max Limonad, 1998 de descrever categorias que permitam
compreender e operar a experiência
CAPÍTULO IV – ELEMENTOS PARA UMA
TEORIA CONTRATUAL RELACIONAL: contratual – pois não se concebe uma
CONTRATOS DESCONTÍNUOS E relação contratual sem instituições
CONTRATOS RELACIONAIS
estabilizadoras, regras sociais, valores,
1. A teoria relacional: origens e economia e linguagem; a sociedade é

pressupostos fonte primária do contrato.

A teoria dos contratos relacionais, de Ian Uma outra fonte do contrato é a


Macneil, é fruto do desenvolvimento de especialização ou divisão social do
trabalhos empíricos e teóricos de juristas trabalho, a qual conduz a uma forma de
que desde há muito já vinham troca entre bens diferentes produzidos
trabalhando na mesma direção. Serão por pessoas distintas. Um terceiro
analisados os elementos fundamentais elemento seria a liberdade para escolher,
para uma teoria do direito contratual em algum grau de autonomia da vontade.
relacional, com objetivo de criticar os Um quarto elemento, a consciência de

limites da teoria contratual clássica, que o passado desempenha importante

fundada num conceito bastante limitado papel de estabilização de expectativas.

e historicamente determinado de vínculo


contratual. O autor entende por direito

12
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora Responsabilidade Civil na UFRGS, Assistente
em Direito Contratual Empresarial e jurídica voluntária no SAJU na área de Direito Civil.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 56

2. Elementos promissórios e não- Poder; 7) Visão e expectativas dos


promissórios dos contratos participantes.

Dois são os principais tipos de projetores


3. Relações primárias e não-primárias
que encontramos na experiência
contratual desde a antiguidade: (1) Primeira característica distintiva entre os

promessa individual; e (2) comandos, contratos descontínuos e os contratos

status, papel social, parentesco, padrões relacionais: estes exigem intensamente

burocráticos, obrigações religiosas, as relações primárias.

hábitos e outras internalizações. A Distinção entre as relações primárias e as

existência de relações contratuais em relações não-primárias:

andamento, sejam elas hierárquicas ou 1) nas relações primárias os participantes

não, cria expectativas de que trocas interagem como indivíduos únicos e

futuras ocorram, ao menos em parte, em totais; a resposta é a cada pessoa

termos previsíveis. particular e não é transferível para outras

O autor traz dois exemplos pessoas – responde livre e

paradigmáticos para descrever os espontaneamente permitindo que

contratos descontínuos e relacionais: (1) sentimentos entrem na relação.

compra de gasolina numa rodovia – 2) Na relação primária a comunicação é

transação é instantânea, completa, profunda e extensiva, e relações não-

rápida e impessoal; e (2) casamento primárias tendem a restringir-se a modos

tradicional – caráter não exclusivamente formais e públicos de interação.

econômico, com constante possibilidade 3) Nas relações pessoais a satisfação do

de revisão e mudança. indivíduo é preponderante.

Sete elementos da transação contratual: Os contratos relacionais, ao contrário dos

1) Relações primárias e não-primárias e descontínuos, envolvem relações com a

número de participantes; 2) Medida e pessoa integral; relações profundas e

especificidade da transação; 3) Começo, extensivas de comunicação através de

duração e término; 4) Planejamento; 5) uma variedade de modos e elementos

Divisão e compartilhamento de ônus e significativos de satisfação pessoal não

benefícios (cooperação e solidariedade) e econômica.

fontes de apoio moral e econômico; 6)


Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 57

Nos contratos descontínuos puros há 6. Planejamento e visão dos


apenas duas partes. Nos contratos participantes

relacionais, é bastante comum o


Os contratos descontínuos em geral dão
surgimento de verdadeiras redes de
maior atenção à substância das
agentes e participantes, o que aumenta
transações como, por exemplo, o objeto
substancialmente a complexidade interna
da venda, preço, prazo de pagamento.
das relações contratuais; pode haver
Nos contratos relacionais, o
contratos relacionais com apenas duas
planejamento considera outros aspectos
pessoas, como é o caso do casamento. As
como a performance no futuro e a
formas de organização das ‘networks’ de
condução de planejamentos futuros –
produção apoiam-se cada vez mais em
maior flexibilidade é requerida. Nos
elementos de confiança pessoal entre os
contratos relacionais o planejamento vai
agentes envolvidos na transação e
assumindo um caráter menos substantivo
negociação.
e mais processual ou constitucional, e é
por isso que os contratos relacionais
4. Medida e especificidade da transação
dependem inteiramente de cooperação
Medida da transação econômica: um futura, não apenas para o cumprimento
contrato descontínuo puro deve ser do que foi firmado, mas também para o
facilmente monetizado; nos contratos planejamento extensivo de atividades
relacionais, podem envolver a troca de substantivas da relação.
valores não monetizáveis ou, ao menos,
não tão facilmente conversíveis; ex. 6.1. Contratos de adesão e relação de
adesão
contratos de cooperação tecnológica
estabelecidos entre empresas.
Mesmo em relações contratuais
5. Começo, duração e término padronizadas ou de adesão, há uma
diferença substancial entre os contratos
A duração de um contrato descontínuo
relacionais e os contratos descontínuos, à
geralmente é curta. Nos contratos
medida que nos primeiros a adesão se dá
descontínuos, o início e o término da
através de uma relação em curso. Nos
transação são produzidos num momento
contratos de adesão descontínuos
definido e único.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 58

importam na adesão a um planejamento demonstrar-se vantajosa para apenas


(ex. a execução de uma lavagem de carro) uma das partes.
pré-definido, certo e não variável.
7.1. Definição de conceitos:
solidariedade, cooperação e
7. Divisão e compartilhamento de ônus e
comunidade
benefícios (solidariedade, cooperação e
fontes de apoio moral e econômico)
Usualmente os conceitos de

A função do contrato descontínuo é a solidariedade e cooperação são utilizados

troca ou transferência da inteira de maneira intercambiável para definir o

responsabilidade de benefícios e de ônus elemento que mantém as trocas coesas.

particulares de uma parte para a outra. Cooperar é, de fato, dividir com outro

Para a teoria tradicional, os interesses das uma tarefa comum. Para Durkheim, a

partes são antagônicos e individualistas, o solidariedade é o elemento de coesão

que gera certa ambiguidade nesta social (de natureza moral) que permite

definição ao analisar os contratos de aos homens estabelecerem relações de

sociedades. Segundo a orientação cooperação. A solidariedade é definida

privatista, o contrato é um instrumento com o elemento moral pressuposto nas

destinado a resolver interesses em relações de cooperação, entendidas

conflito, pretensões em luta. como divisão com outrem de uma tarefa

A sociedade pertenceria à categoria comum.

desses negócios plurilaterais porque os Cooperação seria a ação ou trabalho de

interesses dos que a constituem um ou mais indivíduos com outros. Todo

convergem para fim comum. O oposto contrato, seja ele descontínuo ou não, é

ocorre nos contratos relacionais, onde os um ato de cooperação. A definição

benefícios e ônus são compartilhados. proposta pelo autor é a de que cooperar

Nos contratos de cooperação, o objetivo é associar-se com outro para benefício

econômico seria a troca de serviços mútuo. A definição integral seria

economicamente combinados. Este “cooperar é associar-se com outro para

serviço não precisa ser necessariamente benefício mútuo ou para divisão mútua

comum para as partes, a troca pode dos ônus”. A mutualidade de benefícios é


Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 59

percebida a partir da ideia de equilíbrio pessoas unidas por interesses comuns, de


substancial nas trocas. maneira que cada elemento do grupo se
Um fator distintivo entre os contratos sinta na obrigação moral de apoiar o(s)
descontínuos e relacionais: contratos outro(s).
descontínuos pressupõem um equilíbrio e
igualdade formais entre as partes 7.2. Solidariedade, confiança (trust) e
contratantes, já nos contratos relacionais cooperação econômica

há uma divisão de ônus e benefícios entre


Diversos estudos desenvolvidos pela
as partes contratantes.
literatura denominada neo-
O acordo ou contrato de cooperação cria
institucionalista ou econômico-
vínculos mais estreitos do que a mera
sociológica têm enfatizado a importância
relação contratual descontínua, à medida
das relações de confiança na formação
que as intenções, expectativas genéricas
das novas estruturas e redes de produção
e compromissos sobre o
econômica, baseadas em “networks”. A
desenvolvimento futuro têm força
confiança vai se tornando um elemento
vinculante.
produtivo mais importante, podendo ser
A relação de solidariedade, em contraste
entendida como a expectativa mútua de
com a relação de cooperação, refere-se a
que, numa troca, nenhuma parte irá
um conjunto de regras mais amplo e
explorar a vulnerabilidade da outra. A
complexo. Ela se reporta a um conjunto
confiança constitui, pois, um dos
de regras de julgamento que impõe um
elementos do conceito de solidariedade.
certo tipo de vinculação essencial entre as
Os estudos têm demonstrado a
suas partes, que as torna articuladas e
importância da criação de mecanismos
reciprocamente afetadas, tendo em vista
institucionais capazes de aumentar o
uma medida que se desenvolve no
nível de confiança nas economias locais
interior mesmo deste conjunto.
de modo, inclusive, a ampliar a sua
Dois sentidos básicos da ideia de
produtividade. A ampliação do poder de
solidariedade: (1) sentido moral que
autogoverno e formação de estruturas
vincula o indivíduo à vida, aos interesses
mais flexíveis de contratação e
e às responsabilidades dum grupo social;
renegociação, como os contratos
e (2) relação de responsabilidade entre
relacionais.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 60

7.3. O dever de cooperar e o dever de acessório de cooperação deixa de ser um


solidariedade princípio subsidiário na interpretação dos
Depois da segunda metade do século XX, contratos, que deve ser invocado apenas
a teoria dos deveres acessórios ou para preencher lacunas, quando os
secundários e ainda os deveres laterais ou demais princípios básicos (autonomia da
correlatos teve ascensão. Para Antunes vontade, vinculatividade da obrigação,
Varela, os deveres secundários de liberdade contratual etc.) não bastem
prestação seriam típicos das obrigações para resolver o problema, e passa a ser
complexas e incluiriam “não só os um princípio básico de todos os contratos
deveres acessórios de prestação principal relacionais, ainda que sua importância
(destinados a preparar o cumprimento ou varie conforme as circunstâncias
a assegurar a perfeita execução da particulares de cada caso. Por fim, o dever
prestação), mas também os deveres de solidariedade impõe a obrigação moral
relativos às prestações substitutivas ou legal de agir em conformidade com
complementares da prestação principal”. determinados valores comunitários, e
O “dever de colaboração ou cooperação” não apenas segundo uma lógica
não constitui o objeto primário da individualista de maximização de
obrigação. Mas os contratos relacionais interesses de caráter econômico.
apontam para uma dimensão não- [...]
acessória, mas sim central, do princípio 10.4. Boa-fé e contratos relacionais
jurídico da cooperação. Cooperação em
A boa-fé pode ser vista como fonte
muitos casos de contratação relacional
primária da responsabilidade contratual,
constitui-se na obrigação principal,
situação em que ela ganha absoluta
porquanto os elementos de preço,
centralidade para a teoria contratual. A
quantidade, prazo de entrega etc. deixam
boa-fé tem o relevante papel de encorajar
de ser perfeitamente definíveis a priori.
a continuidade das relações contratuais.
Em síntese, o caráter acessório dos
O conceito de boa-fé não comporta uma
deveres de cooperação se transfigura,
definição formal, visto que incorporou
pois, de três maneiras. Em primeiro lugar,
elementos da vida efetiva das relações
a cooperação assume um caráter central
contratuais, como os já mencionados
no contrato. Em segundo lugar, o dever
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 61

princípios de reciprocidade, papel de poder limitado de modo a se atingir os


integridade, de solidariedade e parâmetros da decência. O contrato não
harmonização com a matriz social e mais pode ser pensado como a relação
demais normas de ligação. Ela lembra a entre indivíduos atomizados
incompletude dos contratos, o limite da maximizadores de vantagens (econômica
capacidade de previsão humana, os formal), mas antes reporta-se – no
custos e ameaças à solidariedade, as momento da formulação de seus
barreiras insuperáveis para a princípios operacionais – às formas
comunicação perfeita e sem ruídos. Torna concretas de sua efetivação (economia
juridicamente protegido o elemento de substantiva). A boa-fé ajuda a entender a
confiança (trust), evidenciando a solidariedade no mundo contemporâneo
natureza participatória do contrato, que de duas maneiras: (1) pessoas respeitam
envolve comunidades de significados e a boa-fé, reforçando os laços de
práticas sócias, linguagem, normas sociais solidariedade na sociedade como um
e elementos de vinculação não- todo; (2) solidariedade mecânica – o
promissórios (não-contratuais). contrato se presta a finalidades sociais e
morais, e não apenas econômicas e
10.4.1. Implicações da teoria da boa-fé individuais.
para o modelo liberal

10.4.2. O futuro da boa-fé numa


Na era do Direito Social, a boa-fé requer o perspectiva relacional
apagamento da demarcação rígida entre
o direito privado e o direito público. A O paradigma contratual hoje em dia

reintrodução da boa-fé nas descrições do dominante em todos os países

contrato representa parte de um industrializados ocidentais é o

processo de ressocialização do direito neoclássico e não o relacional, mas

contratual (e do direito em geral) que era muitos contratos em nossa sociedade são

exigida antes da tentativa do direito do relacionais, como os contratos de

século XIX de livrar o contrato de seus cooperação, franquia, trabalho e

complicados elementos de moralidade. A formação de redes produtivas e de

boa-fé determina que o direito contratual fornecimento de produtos. A boa-fé

deve ser controlado, e o exercício do permite a fusão do interesse individual


Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 62

egoísta e do interesse pelo outro, o que descontínua, visto ser este o seu modelo
viabiliza a existência de relações de longo paradigmático de análise das relações de
prazo, servindo como mecanismo de troca.
garantia do direito de participação no
11.1. A transaction cost analysis
direito privado de maneira análoga às
garantias civis do cidadão no direito A finalidade da transaction cost é
político – constitui o conjunto de estabelecer estruturas de regulação (ou
garantias dos contratantes nas relações governo) das relações contratuais que
contratuais. A regulação jurídica da boa- apresentem o menor custo possível. Isto
fé e a ampliação de seu uso, a sua pode ser obtido, seja através de relações
extensão e a sua importância constituem hierárquicas dentro de uma empresa,
relevantes fatores de estímulo à criação e seja através de estruturas horizontais de
manutenção de relações de confiança regulação do mercado, seja através de
(trust), solidariedade e cooperação. princípios contratuais.
A transaction cost visa eliminar os custos
11. Teoria neoclássica e os modelos
relacionais: o modelo dos custos da da transação para restabelecer o contrato
transação versus modelo de Macneil descontínuo em seu lugar natural de
igualdade entre as partes, autonomia da
Duas abordagens da teoria relacional: (1) vontade e liberdade contratual.
caracterizada pela análise dos custos da
transação ou transaction cost analysis, 11.2. A visão de Macneil

representada por autores como


Diversamente da transaction cost,
Williamson, Goldberg, Scott e Goetz; (2)
Macneil não vê as relações como
representada por Macaulay, Campbell e
elementos que geram custos de
Macneil, que apesar de terem escrito
transação, dificultando a sua realização,
sobre o assunto, jamais exploraram
mas antes como estruturas de facilitação
totalmente as diferenças entre suas
da transação.
abordagens e a da transaction cost.
A hipotética obtenção de custo de
Entre ambas as teorias há diferença
transação zero não levaria a nada, uma
qualitativa. A transaction cost procura
vez que as relações contratuais somente
desvelar e aliviar os custos da transação
ocorrem em razão e por causa das
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 63

relações que ora são descritas como nascem, assim, não apenas através da
custos. Transaction cost acaba por imposição externa das leis positivas pelo
incorrer na mesma falácia naturalizadora poder soberano, como também a partir
da forma abstrata e ideal do mercado, ao de outras fontes do direito privado, como
entender as relações como custos e não as sanções impostas pelas associações de
como elementos essenciais dos empresários e entidades de auto-
contratos. regulamentação.
Para Macneil, portanto, as negociações Nesse sentido, a cooperação emerge
constantes, a necessidade do como princípio tanto ao nível externo das
replanejamento e o aumento das formas relações contratuais, como também ao
de cooperação e solidariedade não são nível interno, o que faz com que toda
elementos que seriam desnecessários competição seja de algum modo limitada
dentro de uma situação de custo de pela aceitação integral do princípio de
transação zero, mas antes a forma básica cooperação como um conceito operativo
das relações econômicas, especialmente essencial.
dentro de um sistema de especialização Campbell menciona três níveis no
flexível. pensamento de Macneil sobre o conceito
O mercado deve ser corrigido e as de cooperação: no primeiro nível, os
condutas individuais devem fazer aspectos relacionais dos contratos
concessões cooperativas de modo a reportam-se à constituição ontológica
poderem se aproximar do contexto ideal das relações sociais dentro da qual toda a
no qual os indivíduos possam agir individualidade é formada – sociedade
racionalmente, tendo em vista a defesa e como matriz fundamental do contrato.
proteção de seus interesses meramente No segundo nível, os aspectos relacionais
individuais. têm como suporte as políticas legislativas
Para Macneil, a cooperação deixa de ter da sociedade burguesa que fornecem os
um caráter parasitário de ser um limites e forma institucional para a
apêndice da relação antagonista, para se economia de mercado; a forma pela qual
tornar central nos contratos relacionais. tal imposição se faz afeta
Os valores nos contratos, em especial os substancialmente o funcionamento e as
valores de cooperação e da solidariedade, características da ordem de mercado. O
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 64

terceiro nível corresponde às relações de momento, o doutrinador contextualizou


cooperação e solidariedade internas e o tema, distinguindo a noção
externas às práticas de contratação das individualista liberal e democrática de
partes. Há, portanto, uma relação de contrato, presente nos séculos XVIII e XIX,
imbricação e interdependência recíproca da contemporânea. Explicou-se que, com
entre os níveis. o passar do tempo, o contrato deixou de
ser considerado um organismo
independente que trazia um fim consigo
mesmo, e passou a ser notado como
organismo interdependente e
instrumento da ordem jurídica e

Laura Schroeder Feijó13 interesses sociais. Diante da realidade da


complexidade contratual e da evidente
MARINO, Francisco Paulo de Crescenzo. conexão econômica dos contratos,
Contratos coligados no direito brasileiro. Editora
Saraiva. 2009, Caps. 10 e 11 admitiu-se que eles poderiam ser
reconhecidos juridicamente como
O presente resumo tem como objeto os
formadores de um grupo.
capítulos da obra de Francisco Marino
O ponto mais relevante da exposição de
que exploram a doutrina francesa e
Bernard Teyssie foi, sem dúvidas, sua
brasileira sobre coligação contratual,
classificação baseada em dois critérios
tecendo-as precisas críticas. Por meio do
alternativos: a identidade de objeto ou o
texto, pode-se ter uma breve, porém
fim comum/identidade de causa.
vasta, ideia das classificações existentes e
Considerando isso, os grupos contratuais
suas repercussões no que toca aos
foram classificados em (1) cadeias
contratos coligados, assim como
contratuais com identidade de objeto –
diferenciar tal categoria das redes
caracterizadas pela conclusão sucessiva
contratuais.
de contratos, isto é, estrutura linear; e (2)
A análise da doutrina francesa tem início
conjuntos contratuais com fim comum –
com Bernard Teyssie. Em um primeiro

13
Bacharela laureada em Ciências Jurídicas e
Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 65

nos quais os contratos coexistem e relações contratuais – entre partes do


formam estrutura circular em torno de grupo que não possuem relação
um personagem central presente em contratual direta. Esses efeitos atingiriam
todos os contratos. ou não os grupos contratuais conforme
As cadeias contratuais, por sua vez, foram sua classificação e particularidades.
divididas em (1.1) cadeias contratuais por Dentre as consequências decorrentes do
adição – organizadas ou não organizadas, efeito de complexificação que valem ser
com partes iguais ou distintas; e (1.2) destacadas estão o (A em 1.1)
cadeias contratuais por difração – atingimento da invalidade e eficácia de
sucessão de contrato-base e subcontrato, um contrato sobre os demais, nos
podem ter identidade parcial de objeto. contratos subsequentes em cadeia; o (A
Ainda, em vista da importância dos em 2.1) mesmo atingimento ou não, nos
contratos integrantes, os conjuntos conjuntos contratuais interdependentes
contratuais podem ser (2.1) conjuntos consoante sejam divisíveis ou indivisíveis
contratuais interdependentes – divisíveis – a ser requerido pelo personagem
ou indivisíveis (a depender da extinção de central, que pode inclusive suscitar
um acarretar a dos demais ou não, o que exceção de contrato não cumprido caso
pode ser definido pela natureza da os contratos tenham partes iguais; e o (A
operação ou pelas próprias partes); ou em 1.2 e 2.2) seguimento do contrato
(2.2) conjuntos contratuais com acessório à sorte do principal, no que se
dependência unilateral – com estrutura refere aos subcontratos e aos conjuntos
simples ou complexa, composto por contratuais com dependência unilateral.
partes iguais ou distintas. Ademais, a complexificação faria surgir
Quanto aos efeitos dessa união em uma obrigação de fiscalização, em regra,
grupos contratuais, Bernard Teyssie a todos os envolvidos, e imporia uma
percebe a (A) complexificação – em que a interpretação contratual atenta ao grupo
validade e a eficácia de um contrato contratual como um todo.
devem ser analisadas com base na A uniformização do regime jurídico do
validade e eficácia dos demais contratos; grupo contratual, por seu turno, ocorreria
a (B) uniformização – do regime jurídico (B em 1.1 e 2.1) quando expressamente
aplicável ao grupo; e a (C) criação de prevista pelas partes ou pela lei, tendo
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 66

em vista à mesma importância dos Em divergência ao doutrinador francês,


contratos, nas cadeias por adição e nos Francisco Marino entende que os
conjuntos interdependentes; e (B em 1.2 subcontratos constituem coligação em
e 2.2) quando a lei demonstrar a razão de serem concluídos por meio da
necessidade de uniformização ao prever utilização ou aproveitamento da posição
regras de fundo, nos contratos principais jurídica de que se é titular no contrato-
sobre os acessórios dos conjuntos com base em curso, bem como que possuem
dependência unilateral. O último efeito, identidade de fim. Além disso, salienta a
de criação de relações contratuais, diferença entre contratos sucessivos, nos
revelar-se-ia por meio de ações diretas quais a extinção de um é premissa para
entre membros do grupo e de ações por celebração do subsequente, e
responsabilidade contratual – em subcontratos, nos quais a presença do
verdadeira substituição do princípio da contrato-base é essencial à sua
relatividade dos efeitos contratuais pelo celebração. Sobre as cadeias contratuais
da unidade contratual e revisão da noção por adição não organizadas e os
tradicional de terceiro –, que conjuntos contratuais interdependentes
representariam uma generalização das divisíveis, percebe não serem caso de
pontuais previsões legislativas de coligação em prisma jurídico.
possibilidade de ação direta em grupos Após o exame da obra de Bernard Teyssie,
contratuais no Código Civil Francês. Francisco Marino passa a analisar
Apresentados os principais pontos da doutrina francesa posterior,
obra de Bernard Teyssie, com ressalva à representada por Mireille Bacache-
tamanha contribuição do autor ao tema, Gibeili, que buscou adaptar a noção de
Francisco Marino tece críticas à noção de grupo contratual a fim de torná-lo
grupos contratuais empregada. Na sua instrumento dogmático adequado à
visão, os critérios de identidade de objeto identificação dos terceiros passíveis de
e de causa acabam por agrupar espécies sofrer dano contratual em virtude de
que pouco têm em comum, levando a inadimplemento culposo, os quais
resultados excessivos que esvaziam a poderiam ingressar com ações diretas de
categoria do seu sentido operativo. reparação contra os inadimplentes.
Segundo a sua definição, um grupo
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 67

contratual seria uma cadeia linear de obrigação idêntica é acessória em todos


contratos com o mesmo bem como os contratos) ou assimétricos (a
objeto e ao menos duas obrigações de obrigação idêntica é principal em um
natureza idêntica em comum. Ele contrato e acessória em outro), sendo os
ocorreria quando o inadimplemento da últimos translativos (com obrigação de
parte em um primeiro contrato fosse apto dar idêntica) ou não translativos (com
a causar um dano contratual a um obrigação de fazer idêntica).
terceiro (parte em um segundo contrato) Assim, na ótica da autora, da situação de
porque esse é credor de uma obrigação parte de um grupo contratual, seja ela
contratual idêntica à obrigação contratual parte cocontratante – parte no
do inadimplente. procedimento e da norma contratual – ou
Considerando isso, Mireille Bacache- simples parte contratante – parte na
Gibeili classifica os grupos contratuais em norma contratual, mas não no
(1) grupos homogêneos – contratos do procedimento –, adviria a possibilidade
mesmo tipo; e (2) grupos heterogêneos – de ajuizamento de ação direta. Ocorre
contratos de tipo distinto. Os grupos que, como critica Francisco Marino, a sua
homogêneos foram divididos em (1.1) tese não é capaz de delimitar os casos de
cadeias homogêneas translativas – nas coligação contratual juridicamente
quais a obrigação comum aos contratos é relevantes, perdendo algumas
de dar; e (1.2) cadeias homogêneas não subespécies importantes, que passariam
translativas – nas quais a obrigação a ter tratamento comum, assim como
comum aos contratos é de fazer. Os ignora as hipóteses de coligação de
grupos heterogêneos, por seu lado, foram contratos entre as mesmas partes.
divididos em (2.1) cadeias heterogêneas De acordo com Francisco Marino, é
por acidente – com identidade de possível a construção da coligação
obrigações principais, apesar da diferença contratual enquanto instituto com
nos tipos dos contratos; e (2.2) grupos regime jurídico próprio, mas, para isso,
heterogêneos (stricto sensu) – a seu fundamento deve pousar na
identidade de obrigações envolve uma indivisibilidade dos conjuntos contratuais
obrigação acessória em um dos interdependentes, conforme brecha
contratos, podendo ser simétricos (a deixada por Bernard Teyssie que foi
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 68

aprofundada pela doutrina francesa Denis Mazeaud, o conceito de causa


contemporânea. A ideia atual é de adotado pela Corte foi o liame econômico
autonomizar a categoria dos conjuntos irredutível que une os contratos, de modo
contratuais interdependentes ao lado da que, ao se identificar a impossibilidade de
noção de grupos contratuais, já que nos cumprimento de um dos contratos, a
primeiros as ações são plenamente validade ou a eficácia do outro
possíveis pois comumente interpostas (construída em consideração à existência,
entre as partes de algum dos contratos, validade e eficácia do primeiro) é
enquanto o objetivo principal do fatalmente afetada (desprovida de
reconhecimento dos grupos contratuais utilidade) e pode ser retroativa ou
está na fundamentação para ações irretroativamente extinta por ausência de
diretas entre sujeitos não cocontratantes. causa. No entanto, esse entendimento
De fato, a Corte de Cassação vem não é pacífico. No ponto de vista de Anne-
reconhecendo a existência de vários Sophie Lucas-Puget, Jean-Michel
conjuntos contratuais interdependentes Marmayou e Jacques Ghestin, a
e aplicando seus efeitos quando interdependência, se não prevista em lei,
percebida a intenção comum dos deve resultar de uma vontade
envolvidos, a qual impõe a observação de manifestada pelas partes, a qual poderia,
uma economia geral do contrato. Para na concepção dos dois primeiros, até ser
tanto, verificou, em geral, os termos dos objeto de um contrato distinto.
contratos (que muitas vezes referem a Finalizado o estudo dos contratos
afetação do objeto ao outro contrato), as coligados na doutrina francesa e
causas do contrato (percebidas pela constatada a operabilidade dos conjuntos
análise contextual do texto contratual e contratuais interdependentes naquele
das circunstâncias do caso) e se há uma país, Francisco Marino faz um breve
operação econômica em comum. paralelo em relação ao desenvolvimento
Para uma porção de estudiosos da do tema no Brasil a partir de referências a
matéria, o fundamento dos efeitos doutrinadores brasileiros. O autor refere
atribuídos pela Corte a essa categoria de ter sido a coligação contratual abordada
coligação decorreu de uma renovação da já por Pontes de Miranda, que contrapôs
noção de causa contratual. Segundo pluralidade negocial unida e não-unida.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 69

Orlando Gomes, por sua vez, observou agentes para o êxito da operação
diferenças entre a união contratual econômica –, a criação de uma nova
externa – ausente coligação contratual teoria. Com entendimento semelhante,
propriamente dita, já que os contratos Francisco Marino concorda com a
não se completam, nem se excluem –, autonomia teórica da categoria e destaca
com dependência – os contratos se outras diferenças em relação aos
completariam e, se bilaterais, formariam contratos coligados, como o fato de, ao
uma unidade econômica – e alternativa – contrário desses, as redes
os contratos se excluiriam na hipótese de corresponderem a um fenômeno
implemento ou frustração da condição. necessariamente de contratação
Outros diversos pesquisadores empresarial em massa, serem sempre
doutrinadores trataram da coligação estruturadas por uma parte (à qual os
contratual, como Waldirio Bulgarelli, João outros contratantes se ligam), podendo
Alberto Schützer, José Abreu Filho e comportar uma grande quantidade de
Antonio Junqueira de Azevedo, tendo contratos, aliás, fungíveis sob a
alguns deles se manifestado sobre a perspectiva do promotor da rede, e, por
projeção da validade, eficácia e execução fim, justamente em razão dessa abertura,
de um contrato sobre outro, e a caracterizarem-se enquanto divisíveis (a
importância da identificação do fim invalidade ou ineficácia de um contrato
contratual na interpretação dos contratos não afetaria os demais).
coligados. Mereceram menção especial De outro lado, Carlos Nelson Konder foi
os autores Rodrigo Xavier Leonardo e mais abrangente ao cuidar dos chamados
Carlos Nelson Konder, que dedicaram contratos conexos, isto é, aqueles que,
trabalhos especificamente ao tema. além de sua função individual específica,
Rodrigo Xavier Leonardo realizou revelam juntos uma função ulterior.
profunda análise sobre as redes Dessa categoria derivariam as
contratuais, uma espécie de união de subespécies (1) contratos coligados – em
contratos que demandaria, em razão das que as vicissitudes de um contrato afetam
suas peculiaridades – presença de um os outros; e (2) grupos de contratos –
nexo sistemático entre os contratos que contratos com partes diversas e regime
aproximaria a atuação de diversos de responsabilidade contratual
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 70

possibilitador de ações entre coligados, em sinal de que o futuro trará


cocontratantes. Na visão de Francisco notáveis desdobramentos.
Marino, contudo, a categoria dos
contratos conexos seria pouco
operacional por não esclarecer as
Sandy Danielle da Silva Fernandes14
hipóteses em que a função ulterior
CAMPBELL, David; COLLINS, Hugh. Descobrindo
comum teria relevância jurídica e por as dimensões implícitas dos contratos. Para que
serve o Direito Contratual, p. 65-97, 2014
desconsiderar casos de grupos de
contratos sem função ulterior. Enquanto o direito contratual
Posto isso, percebe-se com a obra de contemporâneo concorda que existe mais
Francisco Marino a complexidade teórica a uma relação contratual do que apenas o
da coligação contratual, que apresenta acordo de vontade das partes, o direito
divergências doutrinárias significativas contratual clássico traz o princípio da
tanto na França, como no Brasil. A liberdade contratual em um pedestal, não
robustez de entendimento sobre a considerando, no entanto, que existem
matéria contratual que a compreensão da outros fatores que devem ser
coligação contratual e suas facetas considerados quando da análise de um
exigem resta evidenciada no cabimento contrato. O direito contratual clássico via
de críticas a teorias profundas de a relação negocial como algo desconexo
doutrinadores renomados, na percepção onde não existe continuidade em suas
de detalhes que determinam a distinção obrigações uma vez que a prestação é
das redes contratuais, e, especialmente cumprida.
no Brasil, no tardio desenvolvimento do Nesse sentido, a doutrina clássica sofre ao
tema. Apesar disso, os desafios a não conseguir perceber a existência das
percorrer têm encorajado novos dimensões implícitas dos contratos. Isso
estudiosos a enfrentar os contratos se torna extremamente importante ao
analisarmos contratos relacionais e

14
Advogada, Bacharel em Direito pela Tributário pela Pontificia Universidad Católica de
Universidade da Região da Campanha - URCAMP, Santa Maria de Buenos Aires; Pós-graduanda em
campus Santana do Livramento; Pós-graduada em Advocacia Corporativa pela Fundação do
Direito e Planejamento Tributário pela Ministério Público.
Universidade Estácio de Sá; Mestranda em Direito
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 71

contínuos, por exemplo, vez que tais liberdade de escolha dos indivíduos que
contratos dependem, nas palavras dos celebram o contrato.
autores, de “obrigações dispersas de Formação dos Contratos
cooperação”. A doutrina clássica não olha
para os contratos como forma de De acordo com os autores, dentro de uma

cooperação entre as partes, relação contratual, são as limitações ao

desconsiderando aquilo no entorno de consentimento das partes que se regem

suas partes, bem como aquilo que está mais abertamente às dimensões

implícito naquela relação. implícitas de um contrato. Isso porque,

Os autores, no entanto, indicam que não através da doutrina da influência

existe uma completa negação das indevida, é possível o juiz analisar a

dimensões implícitas dos contratos, e relação social existente entre as partes e

que, sim, em alguns momentos ele é assim vislumbrar se houve algum tipo de

capaz de vislumbrar sua existência, influência de uma sobre a outra. Os

embora seu trato seja inapropriado. autores explicam que, quando da

Enquanto autores clássicos defendem formação do contrato, este é celebrado

que as dimensões implícitas não devem com vícios de erro, a apreciação das

ser incorporadas à análise jurídica, a dimensões implícitas permitirá identificar

análise minuciosa de certas relações vai a parte vulnerável da relação, e se tal

demonstrar que não é sempre deverá ser invalidada dadas as condições

sustentável a teoria de que as relações na qual foi formada.

contratuais são descontínuas e não Em mesmo raciocínio, a doutrina clássica

devem ser ponderadas o contexto social também traz o entendimento que,

do qual se originam (ou no qual estão quando não está claro se o acordo foi

inseridas) tampouco as percepções celebrado, não há obrigação contratual a

implícitas que delas decorrem. As ser cumprida. Para resolver tal problema,

dimensões implícitas aqui discutidas normalmente se utiliza de doutrinas

mostram-se diretamente opostas a ideia como a de embargos de equidade, onde

da teoria clássica que explica a relação procura-se que impedir que determinada

contratual como algo racional, fruto da parte adote comportamento que


contradiga seus comportamentos até o
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 72

momento da relação. Em situação como contextualizar a relação, como é o caso


essa, percebemos que a argumentação do princípio da boa-fé, presente em
jurídica vai acabar recorrendo novamente muitos códigos. A boa-fé não diz respeito
às dimensões implícitas do contrato, apenas a conceitos morais de uma
procurando saber se havia algum tipo de determinada sociedade, mas como se
concordância tácita entre as partes. opera as relações comerciais de
Os autores argumentam que é benéfico à determinado lugar, quais são seus
análise dos contratos considerar a costumes e convenções, permitindo ao
existência de pré-contratos ou contratos intérprete que se deparar com esse
subentendidos para melhor contrato, utilize-os para trazer à tona as
compreensão das dimensões implícitas expectativas implícitas dessa relação.
que eles podem ter, mesmo da fase pré-
Interpretação
contratual.

Mesmo quando da análise interpretativa


Conteúdo das Obrigações Contratuais
de contratos, é imprescindível que essa
No que tange às obrigações contratuais tenha que ter atenção às dimensões
originadas de uma relação contratual, o implícitas deste para que ele faça sentido.
judiciário está mais inclinado para a Os autores explicam que o formalismo do
apreciação das dimensões implícitas do contrato não vai de encontro a procura
contrato. Um exemplo claro disso se dá pela compreensão subentendida da
pela existência de cláusulas relação.
subentendidas em determinada relação. Fuller explica que, da mesma forma que a
Os autores explicam que tais cláusulas interpretação das leis deveria ter o jogo
são a generalização das expectativas de linguagem como último
normais das partes contratantes, questionamento, a relação contratual
inseridas em determinado contexto também compartilha dessa ideia, pois o
comercial onde é celebrado. contrato escrito representa uma
O direito clássico rejeita a tentativa de autorregulação das partes
contextualização de onde originou-se a para aquela relação. A melhor
relação, porém a existência de cláusulas interpretação de um documento
gerais nas normas ajuda o intérprete a contratual vai depender,
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 73

invariavelmente, da compreensão Documentos preliminares são elaborados


implícita deste, vez que se o intérprete se por operadores do direito com a intenção
valer apenas do jogo de linguagem (ou da de expor o planejamento da relação
interpretação ipsis literis) deste não contratual, as circunstâncias que podem
compreenderá que tipo de sistema foi causar uma quebra contratual e qual
empregado pelas partes. seriam os reparos sugeridos.
Embora tal afirmação possa parecer Naturalmente, é impossível que um
contraprodutivo e necessário análise operador vá conseguir prever o detalhar
minuciosa para a identificação do que as todos os nuances de uma relação e
partes tentaram dizer entre as linhas do possibilidades que podem ser abrangidas
documento, os autores explicam que está em caso que contigenciamento.
longe disso ocorrer: em uma tradição Nesse sentido, vemos mais uma vez a
onde o objeto é um veículo ou um imóvel, possibilidade de recorrermos a
está implícito que além do objeto será compreensão das dimensões implícitas
entregue chaves para a utilização de tal da relação: implicitamente as partes não
objeto, considerando que um veículo ou esperam que haverá contingências na
imóvel do qual não se possa ter acesso relação, ou que também não haja
não servirá de propósito algum para a necessidade de executar tais cláusulas.
parte. Enquanto operadores, juristas prezam
pelos contratos preliminares para uma
Contratos Preliminares
garantia implícita da relação para seus
Os autores ponderam qual a relevância
clientes, observando os documentos
dos documentos preliminares na relação,
preliminares com relevância substancial,
e se o reconhecimento das relações
importante ter em mente que estes são
implícitas invalida ou os torna ineficazes.
apenas formalizações incompletas da
Em primeiro momento pode parecer que
transação, que traz outras intenções não
este se torna desnecessário se vamos
descritas (seja implicitamente ou pela
atentar às dimensões implícitas do
impossibilidade de previsão) pelas partes.
contrato, no entanto eles não perdem sua
validade tal facilmente.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 74

Remédios Justificativa para a Incorporação das


Dimensões Implícitas
Em se havendo situação que cause algum
tipo de prejuízo a outra parte, A principal justificativa da doutrina
formalmente, os documentos escritos clássica contra a análise das dimensões
trazem métodos para remediar ou causar implícitas nas relações contratuais se dá
compensação para a parte que teve pelo fato que esta interferiria no princípio
prejuízo. Os autores explicam que isso se da liberdade de contratar. Os autores
dá pelo propósito implícito de apontam que isso está muito longe da
cooperação entre as partes, onde ambos realidade, sendo em primeiro lugar que a
concordam em minimizar os danos se análise meramente das cláusulas
alguma das partes falhar ao cumprir sua expressas do contrato não é uma
prestação, de acordo com o princípio da alternativa prática. Além disso, temos que
minimização do custo-conjunto. fatorar que o contrato escrito não quer
Mas, novamente, existe uma dimensão dizer por si só que é o contrato real
implícita para tais remédios: não estipulado pelas partes.
vislumbrado essa intenção de Os autores vão além: as dimensões
cooperação, o intérprete do contrato implícitas não limitam a liberdade
entenderá que a quebra contratual se deu contratual, mas reforçam essa liberdade,
por motivo diverso (por exemplo, má-fé ampliando os lucros que as partes
da outra parte) e imporá medidas que colheram da relação. Também reforçam
podem onerar demasiadamente a parte os autores que nem todos os contratos
que causou o prejuízo. Medidas estas que são descontextualizados, requerendo
poderiam ser diminuídas, ou mesmo muitas vezes de uma cooperação entre as
relevadas na relação. partes da relação e para isso tais
Também nesse sentido vemos que o contratos podem vir formalizados com
judiciário vai se valer da análise do cláusulas subentendias, incompletos, mas
contexto social que a relação está que a cooperação entre as partes é
inserida: a penalidade a ser utilizada pelo necessária para sua realização.
intérprete deverá estar condizente com Isso se dá principalmente em contratos
os costumes e práticas comerciais onde a de longo-prazo, relacionais e de
relação está inserida. interação, onde não é possível prever
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 75

todas as nuances da relação, mas de A revolução da tecnologia da


tempos em tempos é necessário auxílio informação

jurídico para assegurar a eficiência e


Desde o último quarto do século XX, vive-
segurança das transações, onde deverá se
se um momento de transformação da
ter em consideração que tais relações
“cultura material” impulsionado pelos
possuem dimensões implícitas que regem
mecanismos do novo paradigma
a relação, além daquelas que tenham sido
tecnológico da informação. Esse processo
acordadas previamente ou formalizadas.
de transformação tecnológica se
expandiu exponencialmente em razão da
capacidade da linguagem digital de gerar,

SOCIOLOGIA armazenar, recuperar, processar e


transmitir informações de modo jamais
Arnaldo Rizzardo Filho15 visto. Vive-se, hoje, em um mundo digital,

CASTELLS, M. (1999) A sociedade em rede. São


e a obra de Castells “[...] estuda o
Paulo, Paz e Terra surgimento de uma nova estrutura social,

Castells escreveu, na segunda metade da manifestada sob várias formas conforme

década de 90 do século XX, a trilogia A era a diversidade de culturas e instituições em

da informação: economia, sociedade e todo o planeta. Essa nova estrutura social

cultura, cujo primeiro volume se chama A está associada ao surgimento de um novo

sociedade em rede. Parte desse primeiro modelo de desenvolvimento, o

volume – especificamente os três informacionalismo, historicamente

primeiros capítulos e a conclusão – moldado pela reestruturação do modo

constitui o objeto do presente resumo. capitalista a de produção, no final do

Para dar uma ideia geral do que é século XX”.

discutido a seguir, esclarece-se que Esse momento histórico possui a mesma

Castells pesquisa os efeitos das novas importância da revolução industrial do

tecnologias de informação e século XVIII, por produzir um padrão de

comunicação (TICs) na estrutura social. descontinuidade nas bases materiais da


economia, da sociedade e da cultura.

15
Pós-Graduado em Direito Tributário, MBA em Doutorando em Administração de Empesas,
Empreendedorismo, Inovação e Startup, Professor, Autor.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 76

Mas, diferentemente de qualquer outra microeletrônica). E, com a criação da


revolução, o cerne da atual Internet, na década de 70 do século
transformação refere-se às tecnologias passado, as novas tecnologias da
de informação, processamento e informação difundiram-se amplamente.
comunicação: “O que caracteriza a atual Se a Primeira Revolução Industrial foi
revolução tecnológica não é a britânica, a revolução da tecnologia da
centralidade de conhecimentos e informação foi norte-americana, com
informação, mas a aplicação desses tendência californiana (Vale do Silício).
conhecimentos e dessa informação para No fim da década de 90, o poder de
geração de conhecimentos e de comunicação da Internet, associado aos
dispositivos e de novos progressos em telecomunicação e
processamento/comunicação da computação, provocou outra grande
informação, em um ciclo de mudança tecnológica:
realimentação cumulativo entre a microcomputadores e mainframes
inovação e seu uso”. descentralizados e autônomos,
As novas tecnologias da informação disponíveis à computação universal por
difundiram-se pelo globo com a meio da interconexão de dispositivos de
velocidade da luz em menos de duas processamento de dados, o que permitiu
décadas, entre meados dos anos 70 e 90 a distribuição do poder de comunicação
do século XX, por meio de uma lógica que em uma rede montada ao redor de
é característica dessa revolução servidores da Web que usam o mesmo
tecnológica: a aplicação imediata no protocolo da Internet.
próprio desenvolvimento da tecnologia Cinco são as principais características do
gerada, conectando o mundo por novo paradigma da tecnologia da
intermédio da tecnologia da informação. informação: 1) informação como matéria-
A história da revolução da tecnologia da prima – são criadas tecnologias para agir
informação é breve. Foi durante a sobre a informação, e não apenas
Segunda Guerra Mundial e no período informação para agir sobre a tecnologia,
seguinte que se desenvolveram as como ocorreu no caso das revoluções
tecnologias eletrônicas: o computador tecnológicas anteriores. A revolução
programável e o transitor (fonte da tecnológica não é caracterizada pela
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 77

centralidade de conhecimentos e A nova economia: informacionalismo,


informações, mas por suas aplicações na globalização e funcionamento em rede

geração de mais conhecimentos e


A nova economia é informacional, global
informações, em um ciclo de
e em rede. É informacional porque
realimentação cumulativo; 2) poder de
produtividade e competitividade
penetração – como a informação é uma
econômicas dependem da capacidade de
parte integral de toda atividade humana,
geração, processamento e aplicação
todos os processos de nossa existência
eficiente da informação baseada em
individual e coletiva são diretamente
conhecimentos; é global porque as
moldados (embora não determinados)
principais atividades produtivas estão
pelo novo meio tecnológico; 3) lógica
organizadas em escala global; e é em rede
organizacional – sistemas ou conjuntos de
porque a produtividade e a concorrência
relações passaram a se desenvolver a
ocorrem em uma rede global de interação
partir das novas tecnologias da
interempresarial.
informação; 4) flexibilidade – não apenas
Nesse cenário, o aumento da produção
os processos são reversíveis, mas as
representa o domínio das forças da
organizações e instituições podem ser
natureza pelos indivíduos. A estrutura e a
modificadas e até mesmo
dinâmica de determinado sistema
fundamentalmente alteradas pela
econômico variam conforme os modelos
reorganização de seus componentes; 5)
específicos do aumento da
convergência tecnológica – a
produtividade, de modo que, para
microeletrônica, as telecomunicações e a
identificar a nova economia
optoeletrônica integram-se em sistemas
informacional, deve-se identificar as
de informação.
fontes de produtividade que a
Essas principais características e outras
distinguem.
mais, baseadas no novo paradigma da
O aumento da produção não resulta tão
tecnologia da informação, fundaram uma
somente de adição de mão de obra ou de
nova economia, conforme visto no tópico
capital, mas também de outra fonte,
a seguir.
definida como um “resíduo estatístico” e
descrita por economistas, sociólogos e
historiadores econômicos como
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 78

correspondente a transformações economia, baseada em reestruturação


tecnológicas. Transformações socioeconômica e revolução tecnológica,
tecnológicas geram crescimento é moldada de acordo com os processos
econômico, e, na sociedade atual, a políticos desenvolvidos no Estado e
tecnologia da informação subjaz ao também pelo Estado.
desenvolvimento econômico. A economia global deve ser capaz de
Mas o fato de a tecnologia ser o principal funcionar como uma unidade em tempo
fator que induz a “produtividade” não faz real e em escala planetária. No final do
dela um objeto em si. Investimentos em século XX, a economia mundial conseguiu
tecnologia não são feitos devido à tornar-se global em razão da nova
inovação tecnológica propriamente dita, infraestrutura baseada nas tecnologias da
mas à “lucratividade”. Empresas são informação e comunicação. Essa
verdadeiros agentes do crescimento globalidade envolve os principais
econômico, e, por isso, as instituições processos e elementos do sistema
políticas buscam a maximização da econômico. Por exemplo, as novas
competitividade econômica: tecnologias possibilitam ao capital ser
“lucratividade” e “competitividade” transferido entre contas nos diversos
constituem vetores para a inovação cantos do planeta em curtíssimo prazo. O
tecnológica e o crescimento da capital está, portanto, interconectado em
produtividade. Sabe-se, ainda, que a todo o mundo em razão da tecnologia da
globalização alimenta o crescimento da informação.
produtividade, pois as empresas O surgimento da economia global
melhoram seu desempenho quando impacta, ainda, o “gerenciamento” e a
conseguem concorrer sem limites “distribuição da produção” e o próprio
territoriais. “processo produtivo”. Em uma estrutura
A busca pela lucratividade empresarial e industrial, o mais importante é ocupar o
o fomento estatal em favor da maior número de territórios em todo o
competitividade induziram arranjos dos globo; no novo paradigma, o mais
mais diversos tipos, criando uma nova importante é posicionar a empresa em
economia global, traço mais típico do redes, ganhando vantagem competitiva
capitalismo informacional. A nova em face da sua posição relativa.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 79

A empresa em rede: a cultura, as gerenciamento empresarial, chamados


instituições e as organizações da “toyotismo” e adaptados à economia
economia informacional
global e à produção flexível, em oposição
A economia informacional é ao “fordismo”. E a quarta tendência é a
caracterizada por cultura e instituições formação de redes de empresas a partir
específicas, cuja matriz comum consiste de dois modelos: 1) as redes
na organização de processos produtivos e multidirecionais e 2) os licenciamentos e
de consumo e distribuição. São sistemas as subcontratações de produção sob
organizacionais institucionalizados que controle de uma grande empresa.
formam o novo sistema econômico. Conclusão: a sociedade em rede
A tese de Castells parte do princípio de
Castells conclui sua obra referindo que
que o surgimento da economia
“Redes constituem a nova morfologia
informacional se caracteriza pelo
social de nossas sociedades e a difusão da
desenvolvimento de uma “lógica
lógica de redes modifica de forma
organizacional relacionada com as
substancial a operação e os resultados
transformações tecnológicas”, mas não
dos processos produtivos e de
dependente delas. Tal lógica segue
experiência, poder e cultura. Embora a
quatro tendências. A primeira e mais
forma de organização social em redes
abrangente é a passagem da produção
tenha existido em outros tempos e
em massa (norteada pela integração
espaços, o novo paradigma da tecnologia
vertical, divisão social e técnica de
da informação fornece a base material
trabalho) para a produção flexível, que se
para sua expansão penetrante em toda
adequava melhor à imprevisível demanda
estrutura social”.
do mercado, às transformações
Redes são conjuntos de nós
tecnológicas e às diversificações dos
interconectados. Trata-se de estruturas
mercados. A segunda tendência é “[...] a
abertas que se expandem de forma
crise da grande empresa e a flexibilidade
ilimitada, ou seja, que integram novos nós
das pequenas e médias empresas como
que conseguem se comunicar dentro das
agentes de inovação e fostes de criação
redes quando compartilham os mesmos
de empregos”. A terceira tendência, por
códigos de comunicação.
sua vez, concerne aos novos métodos de
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 80

As redes são apropriadas ao capitalismo organizações sociais e as induzem a


baseado em inovação, globalização, empreender novos tipos de
descentralização, flexibilização e transformações. Também se preocupam
adaptação. E as redes reorganizam, de em identificar os desafios que a serem
forma drástica, as relações de poder. enfrentados pelas organizações não só
como resultado das pressões externadas,
mas também como consequência dos
desenvolvimentos internos da ciência e
teoria das organizações.
Sandy Danielle da Silva Fernandes16
Organização e Estrutura
MAGALHAES, Rodrigo; SANCHEZ, Ron.
Autopoiesis and the Organization of the
Future.Autopoiesis in Organization Theory and Procedimentos são influenciados por
Practice, p. 1-22, 2009 forças informais, menos propensas a
mudanças, e forças formais, mais adeptas
A lacuna de uma estrutura unificada para
a mudanças, enquanto a literatura
explicar o espectro dos fenômenos
clássica os trata de maneira separada, a
organizacionais foi motivador para os
teoria dos sistemas autopoiéticos sugere
autores Magalhães e Sanchez para propor
uma análise integrada dos mesmos.
uma nova teoria baseada nos sistemas
No contexto da teoria dos sistemas
autopoiéticos para preencher tal lacuna.
autopoiéticos, organização significa as
O capítulo em questão se ocupa em
relações necessárias ou rede de normas
fornecer um breve resumo dos princípios
que regem as relações entre os
chaves da teoria dos sistemas
componentes de um sistema e como
autopoiéticos aplicada aos fenômenos
estas relações definem tal sistema. Já
organizacionais. Além disso, também
estrutura significa as relações entre os
buscam discutir a organização do futuro,
componentes que integram o sistema e
a partir de pressões externas que cada
que satisfazem as limitações impostas
vez mais exercem influências nas
pela organização.

16
Advogada, Bacharel em Direito pela Tributário pela Pontificia Universidad Católica de
Universidade da Região da Campanha - URCAMP, Santa Maria de Buenos Aires; Pós-graduanda em
campus Santana do Livramento; Pós-graduada em Advocacia Corporativa pela Fundação do
Direito e Planejamento Tributário pela Ministério Público
Universidade Estácio de Sá; Mestranda em Direito
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 81

Zelony tem organização como redes de através de interações de seus próprios


interação, reação e processos componentes. Assim, a organização dos
identificados pela organização (rede de componentes e os processos que
regras) e são diferenciadas por suas produzem componentes pode
estruturas (manifestação das normas permanecer relativamente invariáveis
aplicadas de coordenação em contextos através de interações e movimentos dos
específicos). Nesse sentido, para haver componentes.
uma mudança na estrutura (processos e Se as relações específicas entre
procedimentos) deve haver componentes ou processos mudarem de
primeiramente uma mudança na maneira substancial, não quer dizer que
organização (regras de comportamento). necessariamente haverá uma mudança
Espejo et at. utilização a expressão na identidade deste sistema: haveria uma
“identidade" para caracterizar o mudança na estrutura do sistema, isso é,
elemento que define a organização, e que na manifestação particular em dado
as relações entre os participantes criam a ambiente.
distinta identidade para uma rede ou Para ser possível essa recursividade
grupo. Nesse sentido, explicam que permitir a evolução da estrutura, o
organizações como fenômenos sociais sistema autopoiético precisar ser fechado
são caracterizados por tanto uma operacionalmente. Esse fechamento
organização e uma estrutura, e as normas operacional implica dizer que há
de interação estabelecidas pela coerência interna que resulta na
organização e sua consequente execução interconexão dos inputs e outputs, o que
pela estrutura formam uma ligação podemos chamar de auto-referência.
recursiva. Nesse aspecto, o fechamento operacional
precisa de alguma forma de auto-
Fechamento Operacional, Auto- referência ao invés de processos mais
Referencialidade e Recursividade específicos de auto-reprodução.

Um sistema que é gerado através de uma Acoplamento Estrutural


organização fechada de processos de
Um sistema nunca é completamente
produção de maneira tal que a mesma
fechado de um ambiente, porque é
organização de processos é reproduzida
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 82

impossível que esse sistema seja Conversas permitem a estruturação do


completamente indiferente ao ambiente processo evoluir e formar a rede, e uma
onde se encontra: ele continuará vez formado, as conversas vão se tornar
sofrendo influências e estímulos do fechadas organizacionalmente e auto-
sistema, ficando assim acoplado a ele. referenciais. Assim, para um componente
Esse conceito permite entender como novo poder tornar-se parte do grupo ele
uma organização pode ser fragmentada e precisa aprender o que os autores
mesmo assim manter uma unidade como chamam de código genético do grupo e
sistema. Isso nos leva a outro conceito, o qual é seu papel na organização. Nesse
de acoplamento frouxo, criado por Weick, sentido é que o indivíduo social se torna
que define organizações como sistemas estruturalmente acoplado a rede social.
de acoplamento frouxo, isso é, uma Organizações transcendem o indivíduo,
situação onde os elementos são pois suas contribuições para o sistema
responsivos (ação em resposta a irão permanecer mesmo que ele seja
perturbações do ambiente) mas mantém excluído do sistema. Para Maturana,
individualidade e identidade esses fenômenos sociais só são possíveis
(manutenção da rede de interações que através das emoções.
define a organização do sistema).
Organizações e Organizando o Futuro
Linguagem e Emoções
Segundo James Marcha, o campo de
Linguagem é o que permite ações serem estudos organizacionais estaria entrando
coordenadas na organização, sendo em uma quarta era de invasão
alcançada através dos componentes da caracterizado pela crescente influência
organização fazendo delimitações úteis de tecnologias de informação e avanços
sobre a organização. Através do método biológicos na vida social e por questões
da linguagem que uma organização climáticas e sustentáveis que o planeta
desenvolve seu próprio processo de está passando.
linguagem e esse resultado expressa seu Como exemplo, temos novas atitudes e
próprio sistema de significados, que por si valores no capitalismo como base para
desenvolve sua própria autopoiese. uma organização econômica. Vemos o
crescimento da conscientização de
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 83

problemas climáticos traz uma nova ética questões e possíveis ações


para companhias mais social, ecológico e organizacionais. O fenômeno que
moralmente preocupado com suas tentamos entender em um contexto
abordagens. Além disso, também organizacional vai depender do nível de
percebemos a preocupação com o contexto, que por sua vez vai depender
trabalhador individual, surgindo das conexões com o evento em análise.
companhias baseadas em trabalhadores Assim, é necessário entender como os
do conhecimento ao invés de componentes individuais contribuem
trabalhadores manuais. para o comportamento de um contexto
Existem também o fenômeno das redes: holístico organizacional, mas também é
organizações autônomas, importante entender como o contexto
descentralizadas e em rede estão se influencia o comportamento de cada
conectando com outras, bem como componente individual.
pessoas também estão nesse ecossistema Parte do paradigma da complexidade é
de redes com outras pessoas. Aliados a entendido também sob o viés da enação,
isso também temos os fenômenos que é a contraparte da autopoiese, onde
tecnológicos, os autores citam o exemplo temos o saber como resultado de um
do sistema operacional Linux que não tem processo de interpretação que surge da
uma estrutura formal de empresa, nem habilidade de entender e permite sentir o
empregados ou capital e seu produto é ambiente que estamos.
gratuito ao público, mesmo assim ele se A teoria dos sistemas autopoiéticos
mostra uma ameaça para outras oferece um modelo de como fenômenos
empresas de software. surgem de interação complexa e não
linear entre agentes heterogêneos. A
Novos Desafios Internos Organizacionais complexidade permite que as dinâmicas
resultantes destas interações sejam
1. Nova Abordagem Epistemológica
explicadas ao descrever o processo de
Inspirada por Complexidade e Não-
Linearidade geração que liga estudos empíricos a
realidade causal. Sistemas sociais podem
A teoria da complexidade não tenta fazer ser vistos como uma classe específica de
previsões detalhas, mas levantar novas sistemas complexos e é a teoria dos
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 84

sistemas autopoiéticos que explica as construção social, não sendo arquitetada


distintas características dessa classe. da mesma forma que uma molécula ou
uma ponte, devendo se ter em conta
2. A busca Por Um Novo Paradigma vários elementos. Naturais (humanos,
Organizacional
comportamentais, intangível) e
À época, literatura era baseada em intencionais (racionais, planejados
organizações de uma análise linear e tangíveis).
reducionista. A teoria dos sistemas Para isso é necessário idealizar modelos a
abertos não resolveu questões. Mas o serem analisados e testados, e
principal se da pelo fato de que concomitantemente o estado de casos de
estudiosos dessa teoria esqueceram-se comparação.
que organizações tem a elemento
4. A natureza em rede de organizações
humano, não estruturas onde o indivíduo
possui um papel ativo ou passivo. Organizações estão cada vez mais sendo
vistas como redes sem substância exceto
3. A Mudança para Prática Trans e
pelo sistema definido pelo seu
Multidisciplinar
conhecimento. A principal característica é
Gibbons et al apontam que existem dois a perspectiva de interações que os
modos de produção de conhecimento na membros organizacionais desenvolvem
sociedade: o primeiro refere-se às ao procurar comunicar com outros
práticas tradicionais de ciência e membros. Através dessas interações, os
pesquisa, com foco em ensaios e análises membros criam ações socialmente
de teorias do mundo social; e o segundo integradas e criam relações em diferentes
que foca no desenvolvimento de ideias níveis.
que tenham relevância e possam ser
5. A integração de arquiteturas sociais e
aplicadas às organizações
tecnológicas em organizações
contemporâneas, para isso é necessário
que exista uma mudança para a prática Novos ativos de conhecimento são
multidisciplinar. encontrados na arquitetura social
A guinada para o segundo modo precisa (através de estruturaras, processos,
ter em conta que uma organização é uma
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 85

cultura, sistemas de administração) e arbitrária do Poder Judiciário nos


também na arquitetura técnica contratos civis e comerciais. Realizando
(informação e comunicação, aplicações) tal propósito através de conceitos
da organização. Esses dois pilares são as indeterminados em sua redação,
vantagens competitivas que as permanece controvertido se tal previsão
companhias podem ter no meio, ao normativa concretizou integralmente o
mesmo tempo que redefinem regras de fim almejado.
desenvolvimento organizacional. O Art. 421-A. Os contratos civis e
desafio é a integração dos estudos com empresariais presumem-se paritários e
teóricos da tecnologia da informação. simétricos até a presença de elementos
concretos que justifiquem o afastamento
dessa presunção, ressalvados os regimes
jurídicos previstos em leis especiais,
garantido também que:
I – as partes negociantes poderão
estabelecer parâmetros objetivos para a
Eduarda Jade Stumer Santos 17
interpretação das cláusulas negociais e de
Santos, Eduarda Jade Stumer, Contornos do art.
421-A do Código Civil pela Lei n° 13.874/2019 /
seus pressupostos de revisão ou de
Eduarda Jade Stumer Santos. – 2020. 73 f. resolução;
Orientador: Gerson Luiz Carlos Branco. Trabalho
de conclusão de curso (Graduação) - II – a alocação de riscos definida pelas
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Faculdade de Direito, Curso de Ciências Jurídicas partes deve ser respeitada e observada; e
e Sociais, Porto Alegre, BR-RS, 2020. 1. Direito
Civil. 2. Liberdade contratual. 3. Paridade e III – a revisão contratual somente
simetria contratual. I. Branco, Gerson Luiz Carlos
ocorrerá de maneira excepcional e

A Medida Provisória n° 881 de 2019, limitada.

posteriormente convertida na Lei n° Em caráter geral, o art. 421-A conferiu

13.874/2019, incluiu o art. 421-A no maior liberdade de negociação entre as

ordenamento do Código Civil brasileiro – partes para definirem o conteúdo

este dispositivo teve, como principal jurídico-semântico das disposições

propósito, reduzir a interferência contratuais pactuadas, além de qualificar

17
Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora Responsabilidade Civil na UFRGS, Assistente
em Direito Contratual Empresarial e jurídica voluntária no SAJU na área de Direito Civil.
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 86

a revisão contratual como excepcional e que abrange tanto contratos civis como
limitada. Estes preceitos, por si só, empresariais e que possui como traço
denotam as ideias de Robert Cooter e distintivo a discussão do conteúdo
Thomas Ulen, pioneiros na análise contratual entre as partes, estas
econômica do Direito, em especial a de geralmente em posição econômica de
que ‘the terms are often more efficient igualdade.
when people agree on them than when a Ainda, a menção individualizada, no caput
lawmaker or conqueror imposes them’. do dispositivo, a contratos civis e
A implicação direta de tais atributos é, contratos empresariais é pertinente à
pois, vincular a compreensão do juízo compreensão do âmbito de sua
sobre à avença contratual não só aos incidência pois, não obstante a unificação
dispositivos normativos legais incidentes das relações obrigacionais, as Cortes
ao tipo contratual, mas precipuamente Superiores ainda apontam a distinção,
aos termos da negociação firmada entre destacando que os primeiros seriam
as partes. A vinculação ao contratado dotados de dirigismo contratual e os
assim proposta em muito ressoa também empresariais, imbuídos de autonomia
as afirmações do Teorema de Ronald privada.
Coase, maior expoente da análise Desta forma, a consequência lógica disso
econômica do Direito da Escola de é a ressalva de aplicação do art. 421-A do
Chicago, de que o melhor resultado Código Civil ao Código de Defesa do
possível é a barganha entre as próprias Consumidor (CDC), aos contratos de
partes, especialmente sem a representação comercial, contratos de
interferência da lei, caso as partes optem franquia, contratos de agência e de
por negociar entre si. distribuição, etc. A expressão ‘elementos
Considerando que o art. 421-A do Código concretos’ presente no caput do
Civil privilegia a interpretação decorrente dispositivo compreende diversas
do conteúdo negociado entre as partes, é possibilidades de exclusão da paridade e
necessário sinalizar que tal dispositivo simetria contratuais, possibilidades estas
dialoga, em sua aplicabilidade, somente que ainda serão melhor definidas pela
com a categoria contratual dos contratos doutrina, baseadas principalmente nas
paritários ou negociados, categoria esta práticas de mercado e riscos usuais
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 87

inerentes ao tipo contratual adotado na equidade sob a ótica do viés


pelas partes e/ou natureza do negócio. econômico e social.
Delineado o âmbito de aplicação do art. Nesse sentido, o art. 421-A do Código Civil
421-A, é preciso comentar sobre a representa o fortalecimento do princípio
presunção relativa – ou juris tantum, ou contratual clássico da autonomia privada
seja, a presunção subsiste até surgir – este sempre limitado pelo princípio da
prova em contrário – de paridade e função social do contrato, o que significa
simetria econômica instalada pelo dizer que a interpretação contratual
dispositivo nos contratos civis e pauta-se pelo contexto social em que este
empresariais. está inserido –, que trata-se da
Apesar de a doutrina em geral considerar autonomia conferida à parte para regular
os vocábulos paridade e simetria o conteúdo da avença e sua disciplina
contratuais como sinônimos, é preciso jurídica, ou seja, o poder inerente ao
compreender que o legislador não contratante de autorregular os próprios
costuma se valer de redação vazia de interesses e suas relações. Considerando
sentido. Aprofundando a distinção, que a concepção moderna de contrato
portanto, tem-se que a paridade, supera a tradução estrita da vontade pura
também tida como contrato negociado das partes, o termo autonomia privada
pela doutrina, traduziria a ideia de que as veio a substituir o vocábulo anterior de
partes contratantes possuem a mesma autonomia da vontade das partes.
capacidade de analisar o texto contratual, No mesmo diapasão e em razão da
aceita-lo e também compreender a atecnia jurídica enfrentada e corrigida na
extensão dos riscos estipulados, sendo o redação do art. 421-A ao tempo da
contrato fruto de uma negociação Medida Provisória n° 881/2019, cumpre
equitativa. Por outro lado, a simetria definir o traço distintivo entre o que
contratual denotaria que o contrato compreende os conceitos de liberdade
representa o resultado da autonomia de contratual e liberdade de contratar. O
vontade exercida por contraentes em primeiro refere-se à liberdade de que a
posição de equilíbrio de realidades parte dispõe para definir e dialogar
econômicas no plano concreto. Desta quanto ao conteúdo contratual (os limites
forma, um contrato paritário seria a soma e definições de seu objeto), enquanto a
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 88

liberdade de contratar versa sobre a para oferecer parâmetros sobre o


liberdade de escolha pela parte no que significado, no contexto do contrato, aos
tange ao seu parceiro contratual e ao institutos jurídicos do adimplemento
momento oportuno em que tal avença é substancial, da onerosidade excessiva e
celebrada. O direito à contratação, de eventos extraordinários – uma vez que
inclusive, é um direito existencial da tais institutos não carregam em si um
personalidade advindo do princípio da parâmetro pré-fixado para que sejam
liberdade. reputados configurados.
Analisando mais detidamente o conteúdo Ao definir a extensão de tais institutos, a
normativo dos incisos do art. 421-A, tem- interpretação posterior do julgador ou
se que o inciso I confere às partes árbitro diante do caso concreto fica
contratantes a possibilidade de conferir vinculada a tais definições, além de
maior densidade normativa para deveres vincular de maneira prévia as partes
anexos contratuais, sendo expoentes contratantes. Tais definições, ao serem
destes os deveres de informação, inseridas no contrato, o tornar um
cooperação e colaboração. instrumento de alocação prévia de riscos
Sendo a boa-fé contratual um parâmetro entre as partes.
ético que impõe deveres de cooperação, Todavia, o permissivo do inciso I não
esta em muito influencia a compreensão autoriza afastar, por exemplo, preceito de
quanto aos parâmetros de incidência do ordem pública ou estipular pela via
art. 421-A, uma vez que tal dispositivo transversa da redação contratual o seu
reflete uma negociação contratual que esvaziamento, de modo que condutas
culmine em um contrato que represente como a descrita terão por consequência o
a realidade e os interesses de seus deslocamento da discussão jurídica para a
contraentes. Nesse sentido, o diálogo validade da cláusula estipulada e não
normativo entre princípios e normas age mais sobre a solução ao impasse
para traduzir com mais clareza os contratual a que se depararam as partes.
parâmetros atinentes à autonomia A seu turno, o inciso II do art. 421-A
privada e sua expressão contratual. determina a observação e respeito, pelo
Ainda, a mesma possibilidade julgador ou árbitro, dos termos de
supramencionada é conferida às partes alocação de riscos definida pelas partes –
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 89

seu sinalagma contratual – num esforço caso de inadimplemento, o mesmo


para balizar a tendência de que a lei tem ocorrendo quando estipulada cláusula
em não atender às particularidades do que limita o dever de indenização ao fixar
negócio entabulado, seja este civil ou um valor pecuniário máximo a ser devido.
empresarial. Como última garantia nas orientações à
As partes, ao dedicarem maior rigor na interpretação judicial dos contratos
construção dos elementos do contrato, paritários e simétricos, civis e
protegem-se não somente da empresariais, o inciso III do art. 421-A visa
interpretação arbitrária do juízo ou a mitigação do dirigismo contratual ao
árbitro ao fornecerem mais elementos reputar a revisão contratual judicial como
para a compreensão da realidade excepcional e limitada. Considerando o
contratual por este, mas também necessário diálogo que tal inciso precisa
protegem a sua confiança recíproca no ter com os artigos do Código Civil que
negócio pactuado, a boa-fé contratual e a abordam o instituto da revisão
legítima expectativa de ambas as partes contratual, quais sejam, arts. 478, 479,
ao conferirem previsibilidade aos efeitos 480 e 317 do Código Civil, verifica-se que
do contrato a longo prazo. o comando normativo em análise é de
Entretanto, a própria alocação de riscos já pouco efeito prático.
possui limitações prévias à redação do Isto porque reputar a revisão contratual
dispositivo por parte da doutrina. A judicial como excepcional e limitada não
exemplo, se da alocação de riscos altera de maneira substancial as
estipulada em contrato pelas partes hipóteses às quais a revisão contratual
decorrer enriquecimento sem causa, incide, ou seja, não provoca quaisquer
onerosidade excessiva ou afronta a alterações no entendimento normativo já
preceito de ordem pública, a alocação de construído pelos demais dispositivos que
riscos será reputada nula ou ineficaz pelo versam sobre o instituto. A revisão
julgador ou árbitro. contratual muito é postulada, todavia a
Como outros exemplos, pode-se citar a jurisprudência consolidada nas Cortes
ilicitude de que se reveste a cláusula que Superiores revela que esta pouco se
exclui a possibilidade de reparação por opera, apesar de doutrina e
perdas e danos pela parte contrária em jurisprudência terem como máxima que a
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 90

revisão contratual é sempre preferível à predisposição de suas cláusulas, a


resolução contratual. unilateralidade e rigidez contratual
Nesse contexto, o inciso III positiva a ideia configurada pelas cláusulas predispostas
de que importam à interpretação e não propostas. Os contratos de adesão
contratual adequada não somente o não se confundem com o conceito
redigido no instrumento contratual, mas reservado aos contratos de consumo,
também o comportamento das partes pois estes levam em conta a qualificação
enquanto na constância da avença, além das partes envolvidas na relação
das práticas de mercado inerentes ao tipo contratual e não a forma de contratação.
negocial entabulado. Todavia, não se ignora excepcionalmente
Pelo exposto, ao menos no tocante à a hipótese de existência de contrato de
revisão contratual, certo é que o art. 421- adesão empresarial, paritário em função
A do Código Civil não possui da confiança e cooperação havida entre
protagonismo de fundamentação, pois a as partes, que atraia a incidência do art.
ideia de excepcionalidade e limitação da 421-A do Código Civil. É um contexto no
revisão contratual já se encontrava qual não há que se falar na ausência de
consolidada no arcabouço jurídico paridade contratual, pois não há
através das ideias de autonomia privada e hipossuficiência de nenhuma ordem –
força obrigatória da convenção – ou seja, inferindo-se deste cenário a importância
antes da positivação do referido da presunção juris tantum de paridade e
dispositivo, o que denota que este simetria contratual.
também não assinala qualquer inovação
normativa.
Por fim, importa salientar a
inaplicabilidade do art. 421-A do Código
Civil aos contratos de adesão em razão do
maior protagonismo conferido ao
dirigismo contratual neste tipo contratual
em comparação ao relegado a tal
dirigismo pelo art. 421-A, sendo os traços
marcantes de tais contratos a
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 91

o processo atual de transformação


tecnológica, mas não depende dele,
sendo manifestada em diferentes formas
Vitória de Bona18
e em vários contextos culturais e

CASTELLS, Manuel et al. A sociedade em institucionais.


rede: do conhecimento à política. A Para alguns, a crise econômica da década
sociedade em rede: do conhecimento à
acção política, p. 17-30, 2005 de 1970 resultou da exaustão do sistema
de produção em massa. Para outros,
CAPÍTULO 3. A empresa em rede: a
cultura, as instituições e as organizações trata-se de uma evolução de longo prazo
da economia informacional
do “fordismo” ao “pós-fordismo”. Mesmo
O que caracteriza o desenvolvimento da com diversas abordagens de diversos
economia informacional global é o seu analistas, se tem os seguintes pontos
surgimento em contextos culturais e fundamentais: a) houve, em meados dos
nacionais diferentes, exercendo anos 70 em diante, uma divisão
influência em todos os países e levando a importante na organização da produção e
uma estrutura de referências dos mercados na economia global; b)
multiculturais. A diversidade de transformações organizacionais
contextos culturais de onde surge e em interagiram com a difusão da tecnologia
que evolui a economia informacional não da informação, mas em geral eram
impede a existência de uma matriz independentes e precederam essa
comum de formas de organização nos difusão nas empresas comerciais; c)
processos produtivos, de consumo e objetivo principal das transformações
distribuição. organizacionais em várias formas era lidar
O surgimento da economia informacional com a incerteza causada pelo ritmo veloz
global se caracteriza pelo das mudanças no ambiente econômico,
desenvolvimento de uma nova lógica institucional e tecnológico da empresa,
organizacional que está relacionada com aumentando a flexibilidade em produção

18
Acadêmica de Direito, cursando o 7º semestre escritório especializado em Direito Tributário –
na Universidade do Vale do Sinos, com formação Grecchi Advogados, dispõe experiência no Poder
complementar em Direito Civil Atual - IARGS e Executivo, no setor da Secretaria da Fazenda, bem
Obrigações e Contratos na Economia em Rede - como no Legislativo da Câmara Municipal.
OAB/ESA. Atua como secretária jurídica no
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 92

e gerenciamento de marketing; c) muitas programação – flexibilidade no produto e


transformações organizacionais visavam no processo.
redefinir os processos de trabalho e as 2 – A empresa de pequeno porte e a crise
práticas de emprego, introduzindo o da empresa de grande porte: mito e
modelo da “produção enxuta”; d) a realidade
administração dos conhecimentos e o
processamento das informações são A segunda tendência enfatizada pelos
essenciais para o desempenho das analistas nos últimos anos é a crise da
organizações que operam na economia grande empresa e a flexibilidade das
informacional global. pequenas e médias empresas, como
agentes de inovação e fontes de criação
1 - Da produção em massa à produção
de empregos. A crise da empresa de
flexível
grande porte é consequência da crise da
A primeira e mais abrangente tendência
produção padronizada em massa, e o
de evolução organizacional identificada, é
renascimento da produção artesanal
a transição da produção em massa para a
personalizada e da especialização flexível
produção flexível, ou do “fordismo” ao
que é mais bem recebido pelas pequenas
“pós-fordismo”.
empresas.
O sistema produtivo flexível surgiu como
A expansão e a conquista dos mercados
uma possível resposta para superar essa
internacionais pelos conglomerados
rigidez, adaptando-se a transformar
empresariais, contando com a crescente
continuamente, sem a pretensão de
demanda de um mundo que se
controlá-la.
industrializa rapidamente, as empresas
O gerenciamento industrial nas décadas
tiveram que mudar suas estruturas
de 80 e 90 introduziram outra forma de
organizacionais, fazendo o uso de
flexibilidade: a flexibilidade dinâmica.
subcontratação de pequenas e médias
Sistemas flexíveis de produção em grande
empresas, cuja vitalidade e flexibilidade
volume, a qual as novas tecnologias
possibilitavam ganhos de produtividade e
permitem a transformação das linhas de
eficiência às grandes empresas, bem
montagem típicas da grande empresa em
como à economia como um todo – uma
unidades de produção de fácil
rede (uma mão lava a outra).
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 93

3 – “Toytismo”: cooperação gerentes- subcontratação ou sob o domínio


trabalhadores, mão-de-obra
financeiro/tecnológico de empresas de
multifuncional, controle de qualidade
total e redução de incertezas grande porte. No entanto, também
tomam a iniciativa de estabelecer
A terceira evolução diz respeito a novos
relações em redes com várias empresas
métodos de gerenciamento, a maior
grandes e com outras menores/médias,
parte oriunda de empresas japonesas. O
encontrando nichos de mercado e
enorme sucesso em produtividade e
empreendimentos coorporativos.
competitividade obtido pelas companhias
Um tipo de rede é o “modelo benetton”.
automobilísticas japonesas foi, em
A malharia italiana, multinacional oriunda
grande parte, atribuída a e essa evolução
de uma pequena empresa familiar da
administrativa, de forma que o
região de Veneto, opera com franquias
“toyotismo” opõe-se a “fordismo”, como
comerciais e conta com cerca de 5 mil
nova fórmula de sucesso, adaptada à
lojas em todo o mundo, para a
economia global e ao sistema produtivo
distribuição exclusiva de seus produtos,
flexível.
sob o mais rígido controle da empresa
Um método norte-americano de
principal. Uma central de feedback online
produção em massa, adaptado para o
de todos os pontos de distribuição e
gerenciamento flexível, utilizando a
mantém o suprimento em estoque, como
especificidade das empresas japonesas,
define as tendências de mercado em
em particular, o relacionamento
relação as formas e cores. O modelo de
cooperativo entre os gerentes e
redes também é eficaz no nível de
trabalhadores é chamado de just in time,
produção, fornecendo o trabalho a
a estabilidade e complementariedade das
pequenas empresas e domicílios na Itália
relações entre a empresa principal e a
e em outros países do Mediterrâneo,
rede de fornecedores são extremamente
como a Turquia. Esse tipo de organização
importantes para implementação desse
em rede é uma forma intermediária de
modelo.
arranjo entre a desintegração vertical por
4- Formação de redes entre empresas meio dos sistemas de subcontratação de
uma grande empresa e as redes
Pequenas e médias empresas muitas
horizontais das pequenas empresas.
vezes ficam sob o controle de sistemas de
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 94

5 – Alianças corporativas estratégicas com base no desempenho; f)


maximização dos contatos com
A interligação de empresas de grande
fornecedores e clientes; g) informação,
porte passou a ser conhecido como
treinamento e retreinamento de
alianças estratégicas. Foram
funcionários em todos os níveis.
especialmente relevantes nos setores da
Nos anos de 70, o modelo da “produção
alta tecnologia; o aceso a mercados e a
enxuta” reduziu custos, mas também
recursos de capital é frequentemente
perpetuou as estruturas organizacionais
trocado por tecnologia e conhecimentos
obsoletas enraizadas na lógica do modelo
industriais; em outros casos, duas ou mais
de produção em massa. Para operar na
empresas empregam esforços conjuntos
nova economia global, caracterizada pela
para desenvolver um novo produto ou
onda de novos concorrentes que usam
aperfeiçoar uma nova tecnologia, em
novas tecnologias e capacidades de
geral sob o patrocínio de governos ou
redução de custos, as grandes empresas
órgãos públicos.
tiveram de tornar-se principalmente mais
6 – A empresa horizontal e as redes eficientes do que econômicas.
globais de empresas
A tecnologia da informação possibilita um
A própria empresa mudou seu modelo sistema flexível de elaboração de
organizacional para adaptar-se às estratégias. Essa estrutura internacional
condições de imprevisibilidade permite que pequenas e médias
introduzidas pela rápida transformação empresas se unam a empresas maiores,
econômica e tecnológica. A principal formando redes capazes de inovar e
mudança pode ser caracterizada como a adaptar-se constantemente. A unidade
mudança de burocracias verticais para a operacional real torna-se o projeto
empresa horizontal. empresarial, possibilitado por uma rede.
A empresa horizontal parece apresentar
7 – A crise do modelo de empresas
sete tendências principais: a) organização
verticais e o desenvolvimento das redes
em torno processo, não na tarefa; b) de empresas
hierarquia horizontal; c) gerenciamento
A estrutura em forma de teia resultante
em equipe; d) medida do desempenho
das alianças estratégicas entre as grandes
pela satisfação do cliente; e) recompensa
empresas é diferente da mudança para a
Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 95

empresa horizontal. O “Toyotismo” é um serão os componentes fundamentais das


modelo de transição entre a produção em organizacionais.
massa padronizada e uma organização de
8 – A tecnologia da informação e a
trabalho mais eficiente, caracterizada
empresa em rede
pela introdução de práticas artesanais,
O obstáculo mais importante na
bem como, pelo envolvimento de
adaptação da empresa vertical às
trabalhadores e fornecedores em um
exigências de flexibilidade da economia
modelo industrial baseado em linhas de
global era a rigidez das culturas
montagem.
coorporativas tradicionais.
O que surge da observação das
A transformação organizacional ocorreu
transformações nas maiores empresas ao
independentemente da transformação
longo das duas últimas décadas do século
tecnológica, como resposta à necessidade
20 não é um novo e melhor medo de
de lidar com um ambiente operacional
produção, mas a crise de um modelo
em constante mudança. Não obstante, a
antigo e poderoso, porém
capacidade de empresas de pequeno e
excessivamente rígido associado à grande
médio porte se conectarem em redes,
empresa vertical e ao controle
entre si e com grandes empresas,
oligopolista dos mercados. Dessa crise,
também passou a depender da
surgiram vários modelos e sistemas
disponibilidade de novas tecnologias,
organizacionais que prosperaram ou
uma vez que o horizonte das redes se
fracassaram de acordo com a sua
tornou global. A integração em redes
adaptabilidade a vários contextos
tornou-se a chave da flexibilidade
institucionais e estruturas competitivas.
organizacional e do desempenho
A experiência histórica recente já oferece
empresarial.
algumas das respostas sobre as novas
formas organizacionais da economia
informacional. Sob diferentes sistemas
organizacionais e por intermédio de
expressões culturais diversas, todas elas
baseiam-se em redes. As redes são e

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