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Porto Alegre
OABRS
2019
Copyright © 2019 by Ordem dos Advogados do Brasil
Todos os direitos reservados
Presidente Membros
Andre de Oliveira Schenini Moreira Alexandre Elman Chwartzmann
Alberto Fett
Vice-presidente Carlos Ignacio Schmitt Sant'anna
Maurício Brum Esteves Claudia Denise Gimenez
Cesar Alexandre Leão Barcellos
Secretária Felipe Octaviano Delgado Busnello
Sheila da Silva Peixoto Felipe Pierozan
Gustavo Bahuschewskyj Correa
Kelly Lissandra Bruch
Luiz Gonzaga Silva Adolfo
Maria Cristina Gomes da Silva d'Ornellas
Milton Lucidio Leão Barcellos
Rafael Krás Borges Verardi
Rodrigo Azevedo Pereira
Organizadores
Alexandre Elman Chwartzmann
Gustavo Bahuschewskyj Corrêa
Maurício Brum Esteves
Rosângela Maria Herzer dos Santos
Capa
Carlos Pivetta
C129
Cadernos de Propriedade Intelectual - Coletânea de artigos apresentados no XVIII Ciclo de
Propriedade Intelectual e I Congresso Nacional de Propriedade Intelectual. Alexandre
Elman Chwartzmann. et.al – (Organizador). Porto Alegre: OAB/RS. 2019. 206p.
ISBN: 978-85-62896-16-3
CONSELHO PEDAGÓGICO
Corregedores Adjuntos
Maria Ercília Hostyn Gralha,
Josana Rosolen Rivoli,
Regina Pereira Soares
OABPrev
COOABCred-RS
Estamos devidamente inseridos numa revolução tecnológica, que afeta desde relações
humanas até os mais diferentes de relações profissionais e de trabalho. Mudanças seguem
ocorrendo rapidamente. É nesse ambiente frenético que o Direito vai se posicionando e, muitas
vezes, atuando como mediador ou definidor de parâmetros.
Nesse sentido, debates, estudos, discussões, troca de informações e conhecimento são
fundamentais para atualizar os operadores do Direito. A realização do I Congresso Nacional de
Propriedade Intelectual e o XVIII Ciclo de Propriedade Intelectual, em novembro de 2018,
numa parceria da OAB/RS com a Comissão Especial de Propriedade Intelectual (CEPI),
juntamente com a Escola Superior de Advocacia da OAB/RS (ESA/RS), é um exemplo desta
realidade.
No encontro realizado no TecnoPUCRS, em Porto Alegre, houve debates de extrema
relevância, envolvendo direitos de autor, propriedade industrial, tecnologia da informação e
direitos culturais. Cabe destacar que a riqueza de uma nação não é formada somente pelos bens
materiais, mas também por sua riqueza e seu patrimônio intelectual. Até porque, marcas valem
muito mais do que os terrenos, prédios e bens que elas possuem.
Essas mudanças aceleradas que estamos vivenciando são acompanhadas e monitoradas
pela OAB/RS. Enquanto a sociedade busca se adaptar a novas ferramentas e tecnologias, é
imprescindível que direitos e garantias sejam respeitados.
Em nome da atual Diretora-Geral da ESA/RS, Rosângela Maria Herzer dos Santos, e do
Ex-Presidente da CEPI, Gustavo Bahuschewskyj Corrêa, registro meus cumprimentos pela
realização do evento e pela produção do e-book. Somos entusiastas dessas práticas de registro
e difusão dos conhecimentos, que seguirão recebendo incentivo e reconhecimento da direção
da OAB/RS.
Ricardo Breier
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil/RS
APRESENTAÇÃO
Boa Leitura!!
INTRODUÇÃO
No final dos anos 90, início dos anos 2000, surgia na Ordem dos Advogados do Brasil
Seccional Rio Grande do Sul a primeira comissão a tratar da temática da propriedade Intelectual
no âmbito da OAB. Agora, já tendo adentrado na maioridade, a Comissão Especial de
Propriedade Intelectual (CEPI) tem a alegria de lançar a presente publicação intitulada
Cadernos de Propriedade Intelectual, obra coletiva criada a partir dos artigos apresentados no
XVIII Ciclo de Propriedade Intelectual e I Congresso Nacional de Propriedade Intelectual e que
conta com o apoio da Escola Superior de Advocacia – ESA-OAB/RS. É mais uma contribuição
da CEPI para a comunidade jurídica, na esteira da Cartilha de Propriedade Intelectual lançada
em 2015.
Trata-se de obra composta por dezenove autores(as) que abordam os mais variados
temas da propriedade intelectual, demonstrando a riqueza e diversidade do assunto. Entre eles
podemos citar aspectos de propriedade intelectual e o meio ambiente, o universo do
entretenimento, a questão dos softwares, as indicações geográficas, etc. Todos temas atuais e
relevantes. São artigos de qualidade que serão referenciais tanto para os colegas que atuam
quanto aqueles que pretendem se especializar na matéria.
É inegável o interesse social e a importância da propriedade intelectual para o
desenvolvimento econômico e tecnológico do País. Ocorre, porém, que ainda existe um grande
desconhecimento da matéria e suas potencialidades. Mesmo no âmbito jurídico ainda há muito
trabalho a realizar. Com esses desafios em mente, a CEPI vem, com a participação ativa dos
seus membros, atuando de forma abnegada para promover o conhecimento acerca das criações
intelectuais. Ao longo desses anos, diversas iniciativa foram realizadas, como projetos de
sensibilização das universidades para a criação de disciplinas nos mais variados cursos afetos
ao tema; apoio na criação de Câmara especializada no Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul; participação em consultas públicas; apoios em demandas da casa; realização de
Ciclos de Palestras que rodaram todo interior do Estado; entre outros. É um trabalho coletivo,
com o apoio da OAB/RS, em prol dos advogados e da sociedade como um todo.
Esperamos que façam bom proveito dos artigos que seguem, se inspirem e no ajudem a
construir um país com a cultura da propriedade intelectual, valorizando o trabalho criativo e
conscientes dos direitos que possuem.
Adriano M. G. Bedin1
Resumo: Esse artigo objetiva propiciar uma visão sobre os contratos de transferência de
tecnologia, bem como analisar sua interface com a lei de defesa da concorrência e discorrer
sobre as várias práticas anticoncorrenciais que podem ser perpetradas na transferência de
tecnologia.
Abstract: This article aims to provide a view on technology transfer contracts, as well as to
analyze its interface with the antitrust law and to discuss the various anticompetitive practices
that may be perpetrated in the transfer of technology.
1 INTRODUÇÃO
2 A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
A tecnologia pode ser obtida ao adquirir equipamentos com a mesma incorporada, por
desenvolvimento próprio ou por contratos de transferência de tecnologia. Neste tipo de contrato,
uma pessoa física ou jurídica se obriga a transferir conhecimentos especiais que detém sobre
processos industriais de fabricação, produtos, técnicas, experiências e práticas, em contrapartida
ao pagamento de royalties2. Existem várias vantagens para ambas as partes. Por conta de uma
tecnologia superior, o adquirente assume uma posição mais competitiva no mercado, atrai nova
clientela e pode incrementar seu próprio programa de desenvolvimento, já o concedente, além de
receber royalties, pode utilizar-se de aperfeiçoamento realizados pelo adquirente, entra em
mercados sem riscos e obtém rendimentos novos com uma tecnologia já explorada.3 Deve-se
ainda destacar que o custo para a criação de tecnologia própria, de maneira geral, é maior do que
o valor para obtenção da mesma de quem já a domina.4
Quando nos referimos a contratos de transferência de tecnologia, na realidade estamos
nos referindo a uma multiplicidade de contratos que tem como objeto a transferência de
conhecimentos técnicos de diferentes naturezas. João Marcelo de Lima Assafim divide a
tecnologia em três níveis: um primeiro de tecnologia menor - composto por conhecimentos que
são a expressão das habilidades e experiências de seu criador – que não reúnem os requisitos
necessários para receber uma proteção jurídica própria; um segundo – constituído por
conhecimentos e informações que proporcionam vantagens competitivas sem apresentar um grau
de criatividade intrínseco - já merecedores de um determinado grau de proteção pelo ordenamento
jurídico, e; um terceiro – formado por conhecimentos e informações que satisfazem requisitos
mínimos para merecer uma tutela jurídica específica – capazes de proporcionar um direito de
exclusividade de exploração ao seu criador5. Os conhecimentos do primeiro grupo estão
disponíveis para qualquer interessado e podem ser livremente aproveitados6. Os do segundo
grupo têm valor econômico agregado e são usualmente mantidos em sigilo por seu criador,
encontrando proteção como segredo de indústria e nas regras gerais de repressão a concorrência
2
DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2002.p.3.
3ASSAFIM, João Marcelo de Lima. A transferência de tecnologia no Brasil: aspectos contratuais e
concorrenciais da propriedade industrial. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010. p.26.
4
DINIZ, op.cit., p.4.
5
ASSAFIM, op.cit., p.3.
6
ASSAFIM, loc.cit.
12
desleal7. Por fim, o terceiro grupo compreende conhecimentos amparados pela propriedade
intelectual.
Os conhecimentos protegidos por segredo de indústria podem ser transferidos através
de um contrato de fornecimento de tecnologia. Este é o nome pelo qual é conhecido no Brasil o
contrato de “know-how”, que objetiva a aquisição de técnicas e conhecimentos não protegidos
pela propriedade industrial8. Este tipo de contrato compreende obrigações de dar (plantas, blue
prints, listagens, etc.) e obrigações de fazer (transmitir experiências, técnicas e conhecimentos
práticos)9. O bem negociado neste tipo de contrato é constituído por conhecimentos
confidenciais de caráter tecnológico, em que a perda do caráter sigiloso implicaria na falta de
amparo legal para a proteção das informações10. É o caráter secreto das informações que atrai
as normas repressoras da concorrência desleal e, ainda, que gera o valor econômico para as
empresas, pois a posição competitiva que proporcionam depende de serem mantidas fora do
conhecimento público11.
Os conhecimentos protegidos por um direito de exclusiva são passíveis de transferência
por meio de contratos de licenciamento de uso e exploração. O contrato de licença de patente
[ou de desenho industrial] permite a exploração econômica da patente [ou do desenho] por
terceiro, sendo admissível que recaia tanto sobre a solicitação de patente como sobre a patente
já concedida12. O contrato de licença de uso de programas de computador autoriza o licenciado
a utilizar o programa nas condições estipuladas, nos moldes da legislação do direito autoral,
enquanto no contrato de transferência de tecnologia propriamente dito o autor disponibiliza
informações técnicas do programa em si13. Por fim, o contrato de licença sobre topografia de
circuitos integrados confere ao licenciado o direito, exclusivo ou não, de explorar uma
topografia e de excluir terceiro, sem seu consentimento, de reproduzir dita topografia
protegida14.
7
ASSAFIM, João Marcelo de Lima. A transferência de tecnologia no Brasil: aspectos contratuais e
concorrenciais da propriedade industrial. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010. p.200.
8
DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2002.p.18.
9
BARBOSA, Denis Borges. O contrato de know how. 2002. Disponível em
<http://denisbarbosa.addr.com/paginas/home/pi_tipos_knowhow.html> Acesso em 23 de julho de 2016.p.3
10
FEKETE, Elisabeth Kasznar. O regime jurídico do segredo de indústria e comércio no direito brasileiro.
Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.224.
11
ASSAFIM, op.cit.,p.200.
12
Ibidem. p.157.
13
Ibidem.p.231.
14
ASSAFIM, João Marcelo de Lima. A transferência de tecnologia no Brasil: aspectos contratuais e
concorrenciais da propriedade industrial. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010. p.235.
13
15
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin, 2014. p.147.
16 Ibidem.p.64
17
GRAU-KUNTZ, Karin. O desenho industrial como instrumento de controle econômico do mercado
secundário de peças de reposição de automóveis: uma análise crítica a recente decisão da Secretaria de Direito
Econômico (SDE). Revista Eletrônica do IBPI – Edição Especial. 2013. p.32.Disponível em:
http://ibpieuropa.org/book/326 >. Acesso em: 12 dez. 2016.
18
BRASIL. Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Promulga a Ata Final que Incorpora os Resultados
da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT. Disponível em <
http://www.inpi.gov.br/legislacao-1/27-trips-portugues1.pdf/view>. Acesso em 09 dez. 2016. Artigo 8.2.
14
Para fornecer um panorama geral das possíveis práticas anticoncorrenciais que podem
ocorrer em contratos de transferência de tecnologia, é útil recorrer ao direito comparado. Um
bom ponto de partida é iniciar com os “Nine No-Nos”, uma lista de cláusulas publicada pelo
Departamento de Justiça dos Estados Unidos em 1970 que, se incluídas em contratos de
transferência de tecnologia, seriam consideradas ilícitos per se22. “A regra per se determina
que, uma vez configuradas certas práticas, o ato poderá ser julgado como ilegal sem a
necessidade de aprofundamento da investigação”23. Em outras palavras, a mera inclusão da
cláusula já seria considerada ilegal e não seria necessária qualquer outra análise subsequente.
As cláusulas proibidas eram: cobrar royalties não relacionados de forma razoável com
as vendas dos produtos patenteados; restrições ao comércio do licenciado fora do âmbito das
patentes; exigir do licenciado a compra de material não patenteado do licenciante; pacotes de
licenças obrigatórias; exigir do licenciado a cessão ao licenciante de patentes emitidas após o
acordo de licenciamento ser executado; poder de veto do licenciado sobre concessões de novas
licenças; restrições nas vendas de produtos não patenteados por meio de um processo
19
BRASIL. Lei nº 12529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência;
dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm>. Acesso em 09 dez. 2016. art 36.
20
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014, p.57-58.
21
RODRIGUES JR, Edson Beas. Abuso no exercício de direito da propriedade intelectual e as contribuições do
caso ANFAPE. Revista da ABPI nº 140, p.40, jan/fev de 2016.
22
LILLA, op.cit. p.136.
23
GABAN, Eduardo Molan; DOMINGUES, Juliana Oliveira. Direito antitruste. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
p.83.
15
24
GILBERT, Richard; SHAPIRO, Carl. Antitrust Issues in the Licensing of Intellectual Property:
The Nine No-No's Meet the Nineties. Brooking Papers: Microeconomics 1997. p.284-285.Disponível em: <
http://faculty.haas.berkeley.edu/shapiro/ninenono.pdf>. Acesso em 11 dez 2016.
25
Ibidem.p. 286.
26
FORGIONI, Paula A. Os fundamentos do antitruste. 8ª ed. rev, atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015. p.197.
27
Ibidem p.199.
28
GILBERT, Richard; SHAPIRO, Carl. Antitrust Issues in the Licensing of Intellectual Property:
The Nine No-No's Meet the Nineties. Brooking Papers: Microeconomics 1997. p. 287.
29
GILBERT; SHAPIRO. loc.cit.
16
Estados Unidos como na Europa. As diretrizes americanas tratam como ilícitos per se a fixação
pura de preços, restrições de produção, divisão de mercado entre competidores horizontais,
fixação de preços de revenda e alguns boicotes de grupos. Para determinar se a uma restrição
deste tipo será aplicada a regra per se ou a regra da razão, é feita uma avaliação se pode ser
esperado que a restrição contribua para uma integração de aumento de eficiência da atividade
econômica, se isto for provável será utilizada a regra da razão, em caso contrário aplica-se a
regra per se30. De modo similar, a Europa trabalha com as restrições hard-core, empregando
diferentes tratamentos se a relação é horizontal (concorrentes diretos) ou vertical (diferentes
níveis da cadeia produtiva). Em relações horizontais são restrições proibidas: a fixação de
preços para o licenciado na venda do produto para terceiros; limitações recíprocas de produção;
alocação ou divisão de mercados; restrições ao licenciado de explorar sua própria tecnologia ou
de realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento. Em relações verticais proíbe-se: fixação
de preços mínimos de revenda; restrição dos territórios ou dos consumidores para os quais o
licenciado pode vender de forma passiva; restrição de vendas ativas ou passivas aos usuários
finais por um licenciado que é membro de um sistema de distribuição seletiva31.
30
Ibidem. p.16.
31
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.156.
32
Ibidem. p.7.
33
GILBERT,Richard J. Converging Doctrines? US and EU Antitrust Policy for the Licensing of Intellectual
Property (february 2004). University of California, Berkeley, Competition Policy Working Paper nº CPC04-44.
p.3.Disponível em: < https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=527762>. Acesso em: 11 dez 2016.
34
Ibidem. p.4.
35
Ibidem. p.6.
17
com as diretrizes americanas, a análise das cláusulas restritivas compreende aferir se podem ser
justificadas diante de alternativas menos restritivas, verificando se são “razoavelmente
necessárias”, enquanto na análise da Comissão Europeia as cláusulas devem ser “objetivamente
necessárias”, adotando novamente um critério mais rígido36.
36
Ibidem. p.8.
37
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.19.
38
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.166.
39
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.5.
40
Ibidem. p.6.
41 Ibidem. p.28..
18
42
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.170.
43
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. op.cit. p.27.
44
Ibidem,p.27.
45
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.174.
46
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.30.
47
Ibidem.p.30.
19
48
LILLA, op.cit. p.185.
49
Ibidem. pp.186,187.
50
PROVEDEL, Letícia. Adjudicação e nulidade de patente. In: BARBOSA, Denis Borges.(org.). Reivindicando
a criação usurpada. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010.p.60.
51
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.174.
52
HOVENKAMP, Herbert. IP and Antitrust Policy: A Brief Historical Overview. University of Iowa Legal
Studies Research Paper Number 05-31.December, 2005. p.12-13. Disponível em: <
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=869417>. Acesso em 20 nov. 2016.
53
SILVA, Alberto Luís Camelier da. Desenho Industrial: abuso de direito no mercado de reposição. São Paulo:
Saraiva. 2014. p.94.
20
e peças de reposição; aspiradores e sacos de pó, entre inúmeros outros54. Esta extensão de poder
de mercado de um mercado para outro é explicada pela doutrina da alavancagem, que presume
que uma empresa com monopólio em um mercado sempre terá incentivos para estender este
monopólio para o mercado de um produto complementar, a fim de poder cobrar preços de
monopólio em ambos os mercados e aumentar seus lucros55. Esta teoria considera que uma
empresa com poder de monopólio em um mercado pode usar a alavancagem proporcionada por
este poder para impedir vendas em um segundo mercado e monopolizá-lo56. Nos dias atuais a
venda casada é analisada à luz da regra da razão, pois, apesar de poder resultar em efeitos
anticompetitivos, pode também estar associada a eficiências e efeitos pró-competivivos (que
devem ser sopesados), sendo o acordo questionado se o vendedor tem poder de mercado no
produto vinculante, o arranjo provoca efeitos adversos na concorrência do mercado relevante
do produto vinculado e as justificativas de eficiências não superam os efeitos
anticoncorrenciais57. Podemos citar alguns exemplos de eficiências econômicas que podem
estar relacionadas a vendas casadas, como a redução dos custos de produção, de custos de
transação e de custos informação para os consumidores, bem como proporcionar maior
conveniência e variedade para os mesmos58.
54
GRAU-KUNTZ, Karin. O desenho industrial como instrumento de controle econômico do mercado
secundário de peças de reposição de automóveis: uma análise crítica a recente decisão da Secretaria de Direito
Econômico (SDE). Revista Eletrônica do IBPI – Edição Especial. 2013. p.2. Disponível em:
http://ibpieuropa.org/book/326 >. Acesso em 11 dez. 2016
55
EVANS, David S.; PADILLA, A. Jorge. Designing Antitrust Rules for Assessing Unilateral Practices: A Neo-
Chicago Approach. University of Chicago Law Review: Vol. 72: Iss. 1, Article 5. 2005. p.76. Disponível em:
<http://chicagounbound.uchicago.edu/uclrev/vol72/iss1/5>. Acesso em: 11 dez. 2016.
56
WHINSTON, Michael D. Tying, Foreclose and Exclusion. The American Economic Review. 1990. p.838.
Disponível em: < http://www.haas.berkeley.edu/Courses/Spring2000/BA269D/Whinston90.pdf>. Acesso em: 13
nov. 2016.
57
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.26.
58
AHLBORN, Christian; EVANS, David S.; PADILLA, A. Jorge. The antitrust economics of tying: a farewell to
per se illegality. Antitrust Bulletin 2003. p.3. Disponível em: <
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=381940>. Acesso em 11 dez. 2016.
59
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.174.
60
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. op.cit. p.27.
21
pacotes de licenças podem ser eficientes quando para fabricar um único produto é necessário
licenciar uma multiplicidade de tecnologias relacionadas ao mesmo, tal como um smartphone,
uma vez que a negociação de todas as tecnologias em conjunto reduz os custos de transação 61.
Quando múltiplas empresas controlam patentes que são necessárias para fabricar determinado
produto, o preço total é superior ao que seria cobrado se estes direitos pertencessem e fossem
negociados com um único titular e, ainda, os lucros individuais de cada titular são menores em
presença das patentes complementares dos demais, o que torna interessante se juntarem e criarem
um pacote de licenças, compartilhamento de patentes ou licença cruzada62. As licenças cruzadas
e os compartilhamentos de patentes são semelhantes aos pacotes de licenças, no sentido de que
são acordos entre dois ou mais titulares de direitos de propriedade intelectual diferentes para
licenciar estes direitos entre si ou para terceiros63.
As licenças cruzadas são arranjos contratuais pelos quais dois titulares de patente
concedem licenças recíprocas de suas respectivas tecnologias, de modo que cada parte pode
utilizar a patente da outra64. Sob o pálio dessas licenças cada empresa pode projetar e fabricar
seus produtos sem o medo de infringir as patentes do outro65. Em determinados setores, como o
de semicondutores, grandes empresas buscam obter patentes mais para estar em melhor posição
para negociar estas licenças cruzadas do que para utilizá-las contra terceiros66. Este tipo de licença
é considerado pró-concorrencial se integrar tecnologias complementares, reduzir custos de
transação, eliminar bloqueios de patentes e evitar custosos litígios por contrafação67. No outro
extremo, o direito anticoncorrencial as considera nocivas quando forem utilizadas para a fixação
pura de preços ou para divisão de mercado. Além disso, quando as partes envolvidas mantém
entre si um relacionamento horizontal, as autoridades antitruste verificarão se não é efeito do
61
LILLA, op.cit. p.176.
62
SHAPIRO, Carl. Navigating the Patent Thicket: Cross Licenses, Patent Pools, and Standard Setting. In:
Innovation Policy and the Economy, Volume 1. MIT Press. 2001. p.119. Disponível em: <
http://www.nber.org/chapters/c10778.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2016.
63
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.28.
64
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.190.
65
SHAPIRO, Carl. Technology cross-licensing practices: FTC v. INTEL. In: KWOKA Jr, John E.; LAWRENCE,
J. White. The Antitrust Revolution. New York: Oxford University Press. 2003. p.356.
66
HALL, Bronwyn H.; ZIEDONIS, Rosemarie Ham. The Patent Paradox Revisited: An Empirical Study of
Patenting in the Us Semiconductor Industry, 1979-95. RAND Journal of Economics. p.12. Disponível em: <
https://www.nuffield.ox.ac.uk/economics/papers/2000/w16/hzmay2000.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2016.
67
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. op.cit.p.28.
22
contrato diminuir a competição que ocorreria entre entidades que seriam concorrentes reais ou
potenciais no mercado relevante na ausência da licença cruzada68.
Neste contexto é importante citar o conceito de patentes dependentes, que são patentes
que se sobrepõe, isto é, em que a exploração de qualquer delas é impossível sem infringir as
demais71. Como a introdução de um novo produto no mercado geralmente envolve o
desenvolvimento de várias tecnologias complementares distintas, tais como partes componentes
e processos de fabricação72, isto pode representar um obstáculo. Em teoria, uma empresa pode
simplesmente inventar em torno (invent around) de tecnologias detidas por terceiros e evitar
potenciais problemas, o que pode ser vantajoso dependendo do tempo, viabilidade e custos de
68
US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION.loc.cit.
69
LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.192.
70
GILBERT, Richard J. Antitrust for Patent Pools: A Century of Policy Evolution. Stanford Technology Law
Review 3. 2004. p.1.Disponível em: < https://journals.law.stanford.edu/sites/default/files/stanford-technology-
law-review/online/gilbert-patent-pools.pdf>. Acesso em 12 dez. 2016.
71
LILLA, op.cit. p.190.
72
FERSHTMAN, Chaim; KAMIEN, Morton. Cross Licensing of Complementary Technologies. Kellogg
Graduate School of Manegement. Discussion Paper nº 866. Jan. 1990. p.1. Disponível em: <
http://www.kellogg.northwestern.edu/research/math/papers/866.pdf > . Acesso em 12 dez. 2016.
23
contratação ex ante73. Entretanto, muitas vezes uma empresa que poderia facilmente criar
alternativas para tecnologias complementares nos estágios iniciais do desenvolvimento de
produtos novos, o que a colocaria em uma posição de negociação favorável para licenciar direitos
de propriedade industrial pré-existentes, estaria em uma posição de negociação muito mais fraca
ao descobrir a existência da patente depois de incorporar a tecnologia em projetos ou processos
que são dispendiosos ou difíceis de reimplantar, já que neste ponto a invenção representa um ativo
altamente específico74. Setores estratégicos - como a indústria de semicondutores, biotecnologia,
software e internet – são particularmente sensíveis ao risco de bloqueio de novos produtos que
infringem inadvertidamente patentes publicadas depois de terem sido projetados, risco este que é
especialmente pronunciado em indústrias em que a escolha de padrões técnicos é uma parte
essencial para trazer um novo produto ao mercado, como as indústrias de telecomunicações e
computação75. De acordo com Shapiro, licenças cruzadas e compartilhamento de patentes são
dois métodos efetivos para superar uma rede de direitos de propriedade industrial que impeça a
comercialização de uma tecnologia, mas o autor ressalva que ambos envolvem custos de
transação, inclusive decorrentes da hostilidade histórica do direito antitruste com acordos entre
concorrentes em relação horizontal76.
5 CONCLUSÃO
73
ZIEDONIS, Rosemarie Ham. Fragmented Markets for Technology and the Patent Acquisition Strategies of
Firms, Management Science 50, nº6, jun. 2004. p. 806. Disponível em: <
http://business.illinois.edu/josephm/BA549_Fall%202014/Session%204/4_Ziedonis%20(2004).pdf>. Acesso em:
12 dez. 2016.
74
ZIEDONIS, Rosemarie Ham. Fragmented Markets for Technology and the Patent Acquisition Strategies of
Firms, Management Science 50, nº6, jun. 2004. p. 806. Disponível em: <
http://business.illinois.edu/josephm/BA549_Fall%202014/Session%204/4_Ziedonis%20(2004).pdf>. Acesso em:
12 dez. 2016.
75
SHAPIRO, Carl. Navigating the Patent Thicket: Cross Licenses, Patent Pools, and Standard Setting. In:
Innovation Policy and the Economy, Volume 1. MIT Press. 2001. p.119. Disponível em: <
http://www.nber.org/chapters/c10778.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2016.
76
SHAPIRO, loc.cit.
24
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tying: a farewell to per se illegality. Antitrust Bulletin 2003. Disponível em: <
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4).pdf>. Acesso em 12 dez. 2016.
27
Abstract: The origin of new technology tools began as a challenge to be faced by the
media. The quick and easy access to the breadth of content offered to users through the
virtual environment, allowing the scope and storage of a very large number of any type
of work or creation, is rebelling playback possibilities of works protected by copyright,
and thus generating unrest in the legal field. This study takes care of the legal nature of
copyright music in Brazil. It analyzes the music market not sold and the effects of
technology in its distribution. It is proposed to re-discussion of Law No. 9,610 / 1998
dealing with the matter. We used the method of deductive research in theoretical and
qualitative research, with the use of library materials and legal documents. The constant
development of the media makes clear the degree of importance that modern means of
interaction perform on the coexistence of individuals and economic impacts.
1 INTRODUÇÃO
O Direito Autoral encontra-se regulado pela Lei n° 9.610 de 1998, e busca garantir
ao autor o direito sobre suas obras e criações. Ao criador reserva o direito personalíssimo
e exclusivo de reprodução ou publicação, ou mesmo licenciar ou ceder seu conteúdo.
Moraes (2004, p.38) expõe a relevância dos direitos do autor:
O Direito Autoral é do autor e para o autor, que é o horizonte em relação ao
qual tudo deve ser pensado. Assim como “o sábado foi feito para o homem e
não o homem para o sábado”, o Direito Autoral existe em função do autor, e
não o contrário.
isto, pode o autor permitir que terceiros reproduzam e usem de sua obra, seja de maneira
total ou parcial, para sempre ou por tempo determinado; escolher o local e se haverá custo
para tal reprodução; e ainda, receber o valor de no mínimo 5% sobre o aumento do preço
da revenda (MENEZES, 2007). Assegura-se a viabilidade legal da exploração econômica
da obra por parte do autor, obtendo por meio dela seu proveito pecuniário.
Quando a criação possuir apenas um criador, após seu falecimento, o direito
patrimonial se desloca aos seus herdeiros, perdurando por setenta anos, a serem contados
a partir do dia 1º de janeiro do ano subsequente ao seu óbito. Nas obras em que houver
co-autoria e em sendo indivisíveis, o prazo se inicia a partir da morte do último co-autor.
Ainda em relação aos direitos morais e patrimoniais, Duarte e Pereira (2009, p.
10) esclarecem:
O direito de autor tem por objetivo assegurar ao criador uma participação
financeira e outra moral, no que diz respeito ao uso da obra que criou (isso,
quando não se tratar de uma autorização gratuita). Vale salientar que as obras
é que são protegidas e não os autores. Portanto, é desta forma que eles se
tornam favorecidos dessa proteção. Para tanto, o surgimento do direito de autor
se deu com a criação da obra intelectual, dado que não se pode falar de direito
de autor sem a existência de uma obra. O direito de autor protege as formas de
expressão das ideias e não as ideias, propriamente ditas. É necessário que elas
tomem um corpo físico, expresso mediante um livro, um desenho, um filme ou
etc.
A música é uma das mais antigas e mais populares entre as artes, está presente em
diferentes ramos comerciais e civis, que fazem uso desta buscando maior conforto aos
seus clientes, bem como atraí-los, entre outras diversas aplicações, integrando forma de
expressão artística que constitui o patrimônio cultural de toda a população (DIAS, 2000).
A música é instrumento de linguagem, de expressão e comunicação. Guerreiros Junior
(2005, p. 03) apresenta:
30
A música é parte integrante da vida do homem e até dos animais e das plantas.
O apelo musical estimula e comove. Em quase todos os momentos
significativos da história humana, em reuniões tribais ou familiares, e mais
tarde em encontros políticos, militares ou religiosos a música tem servido
como agente catalisador de emoções e iniciativas. Com música se faz a guerra
e se decreta a paz, coroam-se monarcas, depõem-se tiranos, evocam-se
prazeres e martírios. Uma simples melodia traz a tona os mais recônditos
sentimentos, resgata imagens perdidas, une e afasta pessoas, forma ideologias,
celebra conquistas, homenageia os mortos e entretém a sociedade. É uma arte
abstrata, mas influi de forma irresistível em todos os corações e mentes. É a
companheira inseparável do homem, malgrado e desdenhosa sentença de
Napoleão que a classificou como o mais tolerável dos ruídos.
A cada cd vendido, parte deste valor implica direitos autorais aos músicos e
intérpretes. A cada faixa vendida em lojas online, serviços iTunes ou GooglePlay, por
exemplo, também são devidos direitos autorais aos músicos e intérpretes. Nesses casos,
31
Como se depreende, o universo é bem amplo. Em geral, cerca de 76% dos valores
vão para os músicos, 7% para as associações e o restante para administração do ECAD
(ECAD, 2016a).
32
Dos valores que vão aos músicos, segundo o ECAD (2016a), há uma distribuição
percentual por decisão na assembleia geral do órgão:
Do montante a ser distribuído, 2/3 são direcionados aos compositores,
adaptadores, versionistas e editoras, que são os titulares de direitos de autor, e
1/3 para os intérpretes, produtores fonográficos/gravadoras e músicos
executantes, classificados como titulares de direitos conexos. O valor total
correspondente ao conexo será rateado, cabendo 41,70% para intérpretes,
41,70% para os produtores fonográficos/gravadoras e 16,60% para os músicos
executantes. Vale ressaltar que é de responsabilidade do produtor fonográfico
informar à sua associação, no momento do cadastro do fonograma, se houve
ou não participação de músico executante na gravação.
Com efeito, quando um site vende músicas ou CDs via internet, consiste em
distribuição eletrônica e, por conseguinte, recaem os direitos patrimoniais. Este meio de
vendagem é utilizado por gravadoras a fim de se restabelecerem mediante os impactos
provenientes das novas tecnologias. De outro modo, também caracteriza a distribuição
eletrônica quando o consumidor faz um download da música ou de disco diretamente para
seu gravador de CD ou para a memória de seu computador, escolhendo quais faixas
pretende baixar e, desta forma, criar seus próprios CDs ou listas de reprodução,
procedimento este de fácil acesso após a invenção do formato MP3 (JALIL, 2004).
Inclusive, músicos independentes, buscando ascensão, distribuem suas produções de
maneira gratuita no formato digital (ASSIS, 2009).
Também como forma de distribuição, existem as redes de compartilhamento de
arquivos peer-to-peer (P2P). Sobre o assunto, define Moraes (2012):
34
Ou seja, de um lado estão os autores que defendem seus direitos pessoais com a
finalidade de buscar proteção sobre a exploração econômica de sua música, e do outro,
os consumidores de conteúdo, que visa à liberdade de conhecimento (CARBONI, 2008).
Também, as normas atuais deixam o autor totalmente vulnerável por não haver
previsões específicas de como deve ser feito o recolhimento e a distribuição dos direitos
autorais quanto à execução pública e a venda das obras, além de também não dispor sobre
a tão necessária fiscalização dos órgãos responsáveis por tais atos (permitindo assim, a
livre atuação do ECAD) e, assim, fazendo com que o autor não saiba exatamente o que
lhe é devido. Na avaliação de Abrão (2008, p.36), sobre a Lei 9.610/1998, destaca-se :
O grande saldo desses dez anos, de fato, ficou por conta do que a lei não disse,
do que ela não regulou: o interesse público existente nos direitos autorais, o
acesso da sociedade ao conhecimento, à informação, à cultura daquilo que a
lei considera protegido, isto é, do que se permite o uso público somente após
autorização dos titulares. [...] O abuso dos titulares de direitos na fixação dos
preços e na política de distribuição dos bens culturais protegidos por direitos
autorais fomentou novas discussões dos parâmetros sobre os quais se assentam
a matéria, em relação ao que ninguém se atrevia há anos. [...] Enquanto a nova
lei proíbe a cópia privada de obra protegida, a mídia digital facilita-a com um
simples toque de dedo. [...] No varejo das disposições da lei vigente, ainda nos
debatemos com alguns dispositivos de péssima presença, como o inacreditável
inciso VIII do art. 46, que em sua primeira parte libera o uso público de
36
Pela lei, o ECAD dispõe de livre atuação, uma vez que não existe nenhum artigo em lei
que versa sobre sua fiscalização ou até mesmo sobre possível criação de um órgão estatal
responsável por supervisioná-lo, fazendo com que este aja conforme seus próprios critérios, e
então, contribuindo para um crescimento desenfreado, além de arrecadações e distribuições
duvidosas.
Ascensão (1997, p.624) já reconhecia a necessidade de intervenção estatal nas entidades
de gestão coletiva no Brasil:
As entidades de gestão vêm-se assim revestidas indiretamente de poderes de
autoridade. Tudo isto teria de ter como contrapartida uma demarcação muito
efetiva do estatuto dessas entidades, em que se estabelecesse quais as
responsabilidades que lhes caberiam. Mas, como veremos a seguir, caiu-se no
Brasil numa situação de vazio legal. Esta situação é tanto mais surpreendente
quanto é certo que nas ordens jurídicas estrangeiras que são tomadas como
modelos se multiplicam as providências que disciplinam as entidades de
gestão. Mesmo um relatório de 1989 da OMPI sobre “Gestão coletiva dos
direitos de autor e dos direitos vizinhos”, apesar de obviamente se destinar a
traduzir os interesses das entidades de gestão, não deixa de propugnar uma
série de providências ou meios de disciplina dessas entidades.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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do Brasil, 2003.
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito autoral. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1997.
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Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
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2008.
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2006. Disponível em <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1621>
Acesso em: 18 fev. 2016
1 INTRODUÇÃO
O direito ao meio ambiente equilibrado não significa, exclusivamente, que a
natureza esteja alinhada com o desenvolvimento humano. Representa uma gama de
princípios e de direitos positivados, em um rol não exaustivo e que se complementam.
Para tanto, necessária uma leitura sistêmica e abrangente da Constituição Federal de 1988.
Com a aceitação de que o desenvolvimento sustentável é uma rede pela qual passam todos
os direitos que reconhecem a dignidade da pessoa e, assim, pressupõe condições de
segurança sobre, inclusive, as criações de cunho intelectual, consoante art. 225 da
1
Advogada regularmente inscrita na OAB/RS sob o nº 87.901. Graduada em Direito pela Universidade de
Caxias do Sul e especialista em Direito Constitucional pela Anhanguera-Uniderp LFG. Servidora pública
do Município de Caxias do Sul por cinco anos, possui conhecimento de organização pública. Como
advogada, atua em diversas áreas e atualmente desenvolve estudos nas áreas de Direito Ambiental, Direito
da Moda, Propriedade Intelectual e Direitos Coletivos Femininos.
44
Constituição Federal2 (CF) combinado com art. 5º, incisos XXIII3 e XXIX4 do mesmo
diploma. Tem-se que é resguardada a propriedade, desde que atendida sua função social
e que a interação do homem com o meio natural se dá a partir de sua bagagem cultural
(CUNHA, 2004, p. 40). Nessa leitura, percebe-se que há uma lacuna com relação as
criações coletivas tidas como culturais, já que o direito de autor resguarda somente um
criador.
As criações artísticas ou expressões culturais de grupos indígenas não tem um
respaldo claro na legislação brasileira, uma vez que grafismos são intrínsecos às tradições
e tem tratamento de domínio público, sem qualquer garantia de que sejam referenciadas
com o desenvolvimento dessas tribos e suas expressões mais genuínas. Ademais, há
grande presença da tradição oral, detendo poucos registros escritos e documentados dessa
cultura, desenvolvida ao longo da existência desses povos, que constrói também nossa
identidade como pátria.
Se, por um lado, não há referências na legislação e na literatura para proteção
dessas criações, por outro, eminente é a possibilidade de apropriação desse conhecimento
e transformação em produtos, possíveis de geração de riquezas. Se, na modernidade e na
sociedade de consumo tudo vira negócio, as tradições são passíveis de venda. Dessa
maneira, há uma unidade dialética entre natureza e cultura já que toda formação cultural
é inseparável da natureza, com base na qual se desenvolve (DERANI, 1997, p. 68).
Quando a indústria usa dos conhecimentos de grupos tradicionais para reprodução
de desenhos e estampas, necessário lembrar-se da importância e transmissão dos
grafismos indígenas, que são produto de um grupo determinado, mas não fechado e
limitado, e representam, não só a expressão propriamente, mas também carregam o
desenvolvimento e a história de um povo. A preservação é um substantivo vinculado ao
verbo preservar, indicativa de ação que visa a garantir a integridade e a perenidade de
algo (MARCHESAN, 2007, p. 55).
As garantias de reprodução e a possibilidade de transmissão desses direitos às
futuras gerações não tendo respaldo na legislação, que protege somente o autor, pode ter
2 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
3
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
4
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem
como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
45
estendida sua interpretação ao direito ambiental. Portanto, busca-se criar vínculo entre os
direitos de propriedade intelectual e o direito ambiental, afim de proteger as expressões
culturais como sustentação dos conhecimentos de cada grupo e garantir a transmissão
desses saberes e as possibilidades de reprodução pela indústria, que os monetiza, como
produto final apropriando-se da representação de um povo, gerando riqueza através dessa
propriedade.
A referida convenção protege o direito que o autor dispõe de sobre suas expressões
artísticas, já que são extensões de sua personalidade. A cultura é uma característica
essencial à humanidade e a diversidade cultural constitui patrimônio comum a ser
valorizado, merecendo ser cultivado em benefício de todos.
A Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões
Culturais de 2005, assegura multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos
e sociedades encontram sua expressão5. Em seu texto, leva em conta a importância da
vitalidade das culturas, incluindo as pessoas que pertencem a minorias e povos indígenas.
Resguarda, de igual forma, como se manifestam tais grupos em sua liberdade de criar,
difundir e distribuir as suas expressões culturais tradicionais, bem como de ter acesso a
elas, de modo a favorecer o seu próprio desenvolvimento.
Os direitos de propriedade intelectual têm sua existência justificada pelo interesse
público de: a) reconhecer os autores e inventores pelas suas criações; e de b) estimular
que os mesmos produzam novos produtos e informações para a sociedade. Veronica
Torri, afirma que o objetivo da propriedade intelectual é, na medida do razoável, proteger
o monopólio de seu criador e promover o progresso científico e das artes aplicadas
(TORRI, 2011, p. 37).
Objetiva-se, por consequência, um ciclo contínuo de inovação que trará
conhecimentos e tecnologias que beneficiarão a sociedade e, ainda, o desenvolvimento
econômico (SHERWOOD, 1992, p. 46). Entretanto, as obras intelectuais que possuem
uma dimensão coletiva a legislação autoral pouco reconhece e protege. Não há previsão
de resguardo aos direitos dos grupos que desenvolvem ou mantém obras coletivas, mesmo
sendo afirmada a necessidade de criações de cunho intelectual para o desenvolvimento
econômico e social.
Há a aproximação e vinculação do Direito da Propriedade Intelectual e do Direito
Ambiental quando se propõe a existência de um meio ambiente intelectual e cultural.
Instrumentos do Direito Ambiental são utilizados para aprimorar a tutela jurídica da
propriedade intelectual, uma vez que é de interesse público, tanto manter o meio ambiente
5
III. Definições Artigo 4 – Definições - Para os fins da presente Convenção, fica entendido que:
"Diversidade cultural" refere-se à multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades
encontram sua expressão. Tais expressões são transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades. A
diversidade cultural se manifesta não apenas nas variadas formas pelas quais se expressa, se enriquece e se
transmite o patrimônio cultural da humanidade mediante a variedade das expressões culturais, mas também
através dos diversos modos de criação, produção, difusão, distribuição e fruição das expressões culturais,
quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados.
47
São reconhecidos pela Constituição Federal, em seu art. 2166, como patrimônio
cultural os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira. Ora, se são tratados como bens culturais quaisquer
6
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-
culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico.
50
povos indígenas das Nações Unidas quando se refere a proteção à propriedade intelectual
e comercialização de produtos extraídos em decorrência desse saber.
A transformação desses saberes e desse legado em mercadoria cerceia a plena
formação do indivíduo que será talhado de acordo com o molde de mercado, como agente
invisível e fator preponderante no atual estágio do capitalismo. O patrimônio é a prova
evidente da existência com o passado e alimenta no ser humano uma sensação
reconfortante de continuidade no tempo e de identificação com uma determinada tradição.
Dessa maneira, suprimindo ou deturpando esse legado, haverá uma solução de
continuidade geracional, constituindo uma lacuna de consequências incalculáveis para a
formação da pessoa e para a sua plenitude existencial (MARCHESAN, 2007, p. 70).
O registro de uma marca garante ao titular uma proteção sobre os interesses morais
e materiais decorrentes da sua propriedade intelectual, o registro de bens culturais de
natureza imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro não trata disso (FARIA,
2012, p. 120). A portaria nº 177 da Funai, regulamenta a entrada em terras indígenas de
pessoas interessada em negócios sobre direitos autorais e de imagem indígenas,
reconhecendo que o gozo desses direitos independe de qualquer medida da própria Funai,
facultando a sua participação nas negociações de contratos para atender aos indígenas. O
que se percebe: a arte indígena não é reconhecida como de potencial valoração
econômica. Ainda, a portaria estabelece que os direitos autorais dos povos indígenas
podem ser morais e patrimoniais, individuais e coletivos, reafirma a inalienabilidade,
irrenunciabilidade e autonomia dos direitos morais (FARIA, 2012, p. 76) em que pese
não tratar disso claramente. É histórico e enraizado em nosso desenvolvimento: o que é
de produção dos índios é de todos, sem qualquer cuidado para com os grupos que
desenvolveram e que esses símbolos representam uma vivência de sobrevivência
histórica.
termos uma visão do macro, vendo o todo, deixando de lado o individual, rompendo com
a barreira criada no século passado.
Em que pese as criações coletivas terem respaldo de proteção na legislação, não é
eficaz quando da divisão dos lucros ou reconhecimento dos grupos, já que se entende que
o direito da criação fica vinculado somente a um autor e não a um grupo. Tem-se por
escopo, a busca das garantias de propriedade intelectual quando da reprodução de
grafismos, uma vez que a moda busca formas da natureza como expressão primordial de
seus negócios.
As dificuldades enfrentadas pelos povos indígenas de reconhecimento de suas
obras como valorativas tendem a piorar quando da reprodução em massa dos grafismos
para estampas de peças de roupas. Uma proteção nesses termos ainda é inexistente no
país. Significaria uma lei que para além da segurança jurídica do usuário de expressões
culturais indígenas, uma proteção que faculte aos povos indígenas a possibilidade de dizer
não à apropriação, ao uso indevido ou à adaptação inadequada ou vexatória de suas
expressões (FARIA, 2012, p. 131).
O setor têxtil tem números expressivos na indústria brasileira. Conforme dados de
2017 divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção 7 o
faturamento da cadeia Têxtil e de Confecção foi de US$ 45 bilhões, investimentos no
setor US$ 1.900 milhões, produção média têxtil 1,7 milhão de toneladas. Ainda, segundo
dados da mesma associação, temos a última cadeia têxtil completa do ocidente, o que
significa que temos desde a produção das fibras, como plantação de algodão, até os
desfiles de moda, passando por fiações, tecelagens, beneficiadoras, confecções e forte
varejo.
Moda é expressão não verbal e que através dela se reconhecem os membros de
determinada parcela consumidora. Quando se consome moda, não se busca,
exclusivamente o produto, mas também a imagem que ele vende. Assim, as estampas das
roupas representam também um modo de vida. Se por um lado a proteção das criações é
imprescindível para o reconhecimento de um grupo, por outro, o grupo que consome essa
produção depois de manufaturada em nada contribui para o desenvolvimento do primeiro.
Antes pelo contrário, se falando em grupos indígenas, a reprodução não autorizada de
grafismos gera conflito de identidade e apropriação cultural.
Além disso, os valores que movimentam o setor da moda em momento algum são
revertidos para os criadores dessas estampas. O objetivo da propriedade intelectual é, na
7
Disponível em: <http://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor>. Acesso em: 16 set. 2018.
55
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Gustavo Wentz1
Eduardo Henrique Hamel2
Lilian Hanel Lang3
Resumo: Cada vez mais, os direitos autorais devem estar no centro das preocupações do
mundo jurídico. Isto porque, as novas tecnologias advindas da sociedade informacional,
tendem a relativizar as proteções (sejam elas de cunho moral ou patrimonial) conferidas
pela própria constituição ao criador da obra intelectual, em nome de outros tantos
princípios constitucionais, igualmente fundamentais e socialmente difusos. Desta forma,
a análise da matéria deve sim perpassar por um processo de atualização e adequação, mas
também, pela formação de uma consciência social, quanto à importância da matéria, tanto
para o autor, quanto para a sociedade.
1 INTRODUÇÃO
1
Coordenador e Professor do Curso de Direito de Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas. Mestre em Direito,
Democracia e Sustentabilidade pela Faculdade Meridional – IMED. Beneficiário de Taxa de Mestrado do
Programa de Suporte a Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP) da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Especialista em Direito Civil e Processo Civil
pela Universidade de Passo Fundo - UPF. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de
Passo Fundo – UPF. E-mail: gustavowentz@hotmail.com; gustavowentz@ideau.com.br. Telefone: (54)
3341-6600.
2
Mestre em Direito, Democracia e Sustentabilidade pela Faculdade Meridional - IMED. Docente do Curso
de Direito da Faculdade IDEAU/Getúlio Vargas-RS. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela
Universidade de Passo Fundo – UPF. E-mail: eduardohamel@ideau.com.br. Telefone: (54) 3341-6600.
3
Mestre em História Pela Universidade de Passo Fundo. Pós-graduada em Direito do Trabalho
Contemporâneo e a Seguridade Social pela Universidade de Passo Fundo. Pós-graduada em Gestão Pública
pela Universidade Federal de Santa Maria. Pós-Graduada em Gestão Pública das Organizações de Saúde
pela Universidade Federal de Santa Maria. Graduada em Direito pela Universidade Regional do Alto
Uruguai e das Missões – Campus Erechim. Docente do Curso de Direito da Faculdade IDEAU/Getúlio
Vargas-RS. Email: lilianlang@ideau.com.br Telefone: (54) 3341-6600.
60
2 DIREITOS AUTORAIS
Antes de tudo, é importante que fique claro que o presente trabalho tende a analisar
tão somente os direitos autorais, enquanto direitos ligados aos autores, e não a propriedade
intelectual como um todo.
Os direitos autorais são regulamentados no Brasil pela Lei Federal nº. 9.610/98, e
buscam proteger os direitos dos autores e todos os demais direitos que lhe são conexos
(direitos dos artistas, intérpretes, executantes e produtores, por exemplo). Desta forma, a
utilização do verbo no plural ‘direitos autorais’ tem função de fazer referência tanto aos
direitos do autor propriamente dito, quanto a todos os seus demais direitos conexos.
(AFONSO, 2009, p. 11)
Posto este primordial esclarecimento, já é possível afirmar que os direitos autorais
garantem ao criador a devida proteção da sua criação intelectual em relação a terceiros,
que não podem utilizar destas criações sem a devida autorização do autor, bem como,
fornecem a garantia de que o autor irá receber os proveitos financeiros, advindos da sua
comercialização. (REIS; TOLOTTI, 2009a, p. 66)
61
4 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
[…]
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos
criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
62
Estes direitos morais que detém o autor sobre a sua obra se originam no
reconhecimento de que a obra é efetivamente uma extensão da personalidade de seu
criador, gerando um poderoso vinculo pessoal entre ‘criador e criatura’, o qual não pode
ser quebrado por simples regras de direito material. (AFONSO, 2009, p. 35). Já Poli, ao
manifestar-se sobre esta categoria de direitos, afirma que: “Os direitos da personalidade
são: extrapatrimoniais, absolutos, indisponíveis, imprescritíveis, impenhoráveis,
necessários, vitalícios, essenciais, genéricos e preeminentes.” (2008, p. 30)
A legislação brasileira reconhece a proteção dos direitos morais do autor nos
artigos 24 a 27 da Lei 9.610/98. O Artigo 245 elenca uma série de direitos morais que o
autor detém sobre a sua obra, deixando clara a preocupação do legislador em não apenas
garantir ao autor o reconhecimento do seu trabalho, como também, um direito de
propriedade moral continuo sobre o fruto do seu trabalho intelectual. Por sua vez, os
artigos 25 e 26, reconhecem, respectivamente, o direito moral do diretor de obra
audiovisual, e a proteção dos direitos morais do arquiteto sobre o seu trabalho técnico.6
5
Art. 24. São direitos morais do autor:
I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;
II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor,
na utilização de sua obra;
III - o de conservar a obra inédita;
IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modificações ou à prática de atos que, de
qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;
VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a
circulação ou utilização implicarem afronta à sua reputação e imagem;
VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de
outrem, para o fim de, por meio de processo fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua
memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em todo caso, será
indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado.
§ 1º Por morte do autor, transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I a IV.
§ 2º Compete ao Estado a defesa da integridade e autoria da obra caída em domínio público.
§ 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as prévias indenizações a terceiros, quando couberem.
6
Art. 25. Cabe exclusivamente ao diretor o exercício dos direitos morais sobre a obra audiovisual.
63
Art. 26. O autor poderá repudiar a autoria de projeto arquitetônico alterado sem o seu consentimento durante
a execução ou após a conclusão da construção.
Parágrafo único. O proprietário da construção responde pelos danos que causar ao autor sempre que, após
o repúdio, der como sendo daquele a autoria do projeto repudiado.
7
Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis.
64
econômicos do autor pela sua criação, mas também, as formas de autorização para que
terceiros possam utilizar a sua criação.8
Por sua vez o 379 afirma que a compra de um original ou exemplar da obra não
transfere ao adquirente os proveitos econômicos dela decorrentes. Ou seja, ao adquirir o
exemplar de um livro, por exemplo, o seu adquirente não se sub-roga nos direitos de autor,
o que lhe impede de tirar tantas cópias integrais quanto entender possíveis e comercializá-
las, como se sua criação fosse.
Já artigos 41 e 4210, estabelecem o prazo de proteção a estes direitos patrimoniais,
afirmando serem, atualmente, de setenta anos contados do dia 1º de janeiro do ano
subsequente ao falecimento do autor, ou, tratando-se de mais de um autor, do dia 1º de
janeiro do ano subsequente ao falecimento do ultimo autor, com exceção aos direitos
sobre obras audiovisuais e fotográficas, cujo prazo de setenta anos flui a partir da sua
8
Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica.
Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades,
tais como:
I - a reprodução parcial ou integral;
II - a edição;
III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações;
IV - a tradução para qualquer idioma;
V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;
VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou
exploração da obra;
VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer
outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo
e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou
produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário;
VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante:
a) representação, recitação ou declamação;
b) execução musical;
c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos;
d) radiodifusão sonora ou televisiva;
e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de freqüência coletiva;
f) sonorização ambiental;
g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado;
h) emprego de satélites artificiais;
i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação
similares que venham a ser adotados;
j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;
IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas
de arquivamento do gênero;
X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.
9
Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao adquirente qualquer dos
direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes e os casos previstos nesta Lei.
10
Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano
subsequente ao de seu falecimento, obedecida à ordem sucessória da lei civil.
Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude o caput deste artigo.
Art. 42. Quando a obra literária, artística ou científica realizada em co-autoria for indivisível, o prazo
previsto no artigo anterior será contado da morte do último dos co-autores sobreviventes.
Parágrafo único. Acrescer-se-ão aos dos sobreviventes os direitos do co-autor que falecer sem sucessores.
65
Sem dúvida, vive-se uma nova era, a qual sucedeu ao Estado Contemporâneo,
caracterizado por um novo estilo de pensar, de agir e de se comunicar e que eleva o
conhecimento a um novo patamar, que constitui agora o centro do poder. (PINTO;
PSCHEIDT, 2016)
11
Art. 44. O prazo de proteção aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais e fotográficas será de
setenta anos, a contar de 1° de janeiro do ano subsequente ao de sua divulgação.
66
de cunho econômico), estes direitos passam a ser vistos como um produto de alto valor
agregado, o que exige uma regulamentação cada vez mais eficaz e protetora. (REIS,
TOLOTTI, 2009b, p. 212)
E não só isto, a popularização de programas e aplicativos que permitem a edição
das obras protegidas, acabam, muitas vezes, por ferir o próprio direito moral dos autores,
que veem as suas obras indevidamente modificadas e publicadas fora do seu contexto
original, causando não só o desconforto do autor em relação a modificação, mas também,
uma leitura equivocada para àquela parte da população que virá a conhecê-la apenas a
partir desta modificação indevida, o que também, por via reflexa, causará prejuízos
financeiros (aspecto material do direito autoral) ao criador intelectual.
se, justamente, pela rapidez com propaga dados, informações e arquivos de todos os
gêneros, sem observar se os direitos dos autores destes estão sendo respeitados. (REIS;
TOLOTTI, 2009b, p. 211)
12
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:
I - a reprodução:
a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos,
com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos;
b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas de qualquer natureza;
c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo
proprietário do objeto encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada ou de seus
herdeiros;
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a
reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer
suporte para esses destinatários;
II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por
este, sem intuito de lucro;
III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer
obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o
nome do autor e a origem da obra;
IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua
publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de quem as ministrou;
V - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas e transmissão de rádio e televisão
em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstração à clientela, desde que esses
estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua utilização;
VI - a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar ou, para fins
exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro;
VII - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para produzir prova judiciária ou
administrativa;
VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza,
ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal
da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo
injustificado aos legítimos interesses dos autores.
Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem
lhe implicarem descrédito.
Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas livremente,
por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais
68
Assim, todos aqueles que defendem uma relativização dos direitos do autor sobre
a sua obra, o fazem tendo como ponto de partida a própria liberdade do cidadão. Mais do
que isto, embasam o seu dizeres nos princípios delimitadores da própria sociedade
informacional. “Com efeito, esta situação confronta com o princípio da liberdade da
informação que é inerente à própria existência de uma Sociedade Informacional, além de
70
Talvez, este último caso seja o mais latente na sociedade atual. Isto porque, cada
vez mais, a sociedade tornou-se refém do conteúdo pronto, resumido e entregue na “time
line” da rede social. Não é mais necessário conhecer toda a obra de um autor para entendê-
la, basta que se busque na internet fragmentos, resumos, comentários e a partir daí, retirar
as suas próprias conclusões. Este sim é um verdadeiro desrespeito aos direitos
personalíssimos dos autores, decorrente do desenvolvimento das liberdades pregadas no
âmago da sociedade informacional.
Ou seja, o mesmo artigo 5º da Constituição Federal regulamenta os dois direitos
postos em discussão. Por um lado, consagra os direitos autorais, concedendo ao criador
os direitos exclusivos de utilização, publicação, reprodução, fiscalização e de obtenção
de ganhos econômicos sobre a sua obra, mas, por outro lado, consagra também os direitos
de acesso a informação, à cultura e à educação, conforme previsão dos artigos 5º XIV13 e
20514, ambos da Constituição Federal. (PIRES; ARAÚJO, 2009, p. 217/218)
Mas o questionamento que fica é como resolver o conflito entre estes direitos
constitucionalmente garantidos? As regras da lei da colisão deixam claro que não há
hierarquia entre princípios constitucionais, devendo todos eles serem tratados com o
mesmo peso. E assim sendo, deve o caso concreto fornecer os indícios suficientes para
realização do devido sopesamento, única forma verdadeiramente constitucional de
verificar a prevalência de um princípio em relação a outro. (EPPLE; PIRES, 2009, p. 196)
Para os doutrinadores, defensores de uma prevalência dos direitos fundamentais à
cultura, à educação e à informação, em relação aos direitos fundamentais do autor, a
resposta estaria na limitação deste segundo, imposta pelos requisitos básicos da função
social da propriedade, aplicável, especialmente, em relação à existência de um dever de
promoção do desenvolvimento econômico, cultural e tecnológico. Ou seja, na balança do
sopesamento, a função social da propriedade pesaria contra os direitos autorais. (EPPLE;
PIRES, 2009, p. 196)
Já para os defensores da prevalência dos direitos autorais em relação aos demais,
o argumento seria legalista, ou seja, que a lei prevê apenas poucas regras de exceção, não
13
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
[…]
14
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
72
podendo qualquer outro princípio vir a criar novas limitações. Também o fazem
embasados na essencialidade dos direitos morais do autor sobre a sua criação, o que o
torna oponível contra todos, gozando de um patamar de superioridade pelo próprio
reconhecimento constitucional da matéria.
Pelo que foi exposto até o momento, resta claro que um dos maiores desafios para
a defesa dos direitos autorais está justamente nos avanços tecnológicos, que criaram uma
série de novas ferramentas de utilização das obras protegidas. Neste contexto, o direito é
chamado a responder a um grande desafio, o de adaptar as suas normas, por meio da
edição de leis modernas e atualizadas, que sejam capazes de garantir a devida proteção
aos direitos autorais, garantindo a proteção do exercício dos direitos inerentes aos autores,
sejam eles materiais ou imateriais. (AFONSO, 2009, p. 9)
Mas, o contrário também é verdadeiro. A Lei n º 9.610/98, foi criada ainda antes
da popularização da internet, sendo que não previu (e também nem poderia) uma
categoria especial de proteção aos usuários da rede mundial de computadores que, pro
um motivo ou outro, realizam o dawnload de parte de obar protegida. Neste caso, e se
analisada tão somente a referida Lei, estariam eles cometendo crime de igual importância
e relevância daqueles que “pirateiam” conteúdos protegidos em grande escala. Esta severa
contradição é destacada por Pires e Araujo, quando afirma que:
Sob o prisma dos usuários da internet e das novas tecnologias, com a lei 9.610
de 1998, há uma supressão da maioria de seus direitos enquanto usuários de
obras intelectuais. Assim, se um consumidor adquire um CD em uma loja e o
copia na íntegra ou apenas uma música para o seu MP3 Player, ou ainda se o
usuário da internet realiza o dawnload de uma música ou de um filme para o
seu computador, ele estará transgredindo a lei de direitos autorais, tendo em
vista que a lei não permite a cópia integral das obras intelectuais, permitindo
tão somente a cópia de pequenos trechos para uso privado do copista. Há,
portanto, uma contradição muito forte entre o texto da lei e a realidade das
práticas tecnológicas existentes. (2009, p. 220)
Desta forma, sopesando as razões dos dois lados envolvidos, bem como, os
aspectos do desenvolvimento econômico, cultural e social de cada país, será possível a
adequação da legislação, de forma que não privilegie a tutela dos direitos, ou melhor, dos
interesses daqueles que detém a liderança tecnológica e das indústrias culturais, o que só
reforçaria o sistema de exclusão (real ou potencial) e dificultaria a disseminação do
conhecimento em nível global. (MARQUES, 2011, p. 48)
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
KNIES, Luis Felipe. A evolução tecnológica e o direito de autor. In BOFF, Salete Oro;
PIMENTEL, Luiz Otávio (Orgs.). Propriedade intelectual, gestão da inovação e
desenvolvimento: patentes, marcas, software, cultivares, indicações geográficas, núcleos
de inovação tecnológica. Passo Fundo: IMED, 2009. 187-191.
POLI, Leonardo Macedo. Direito Autoral: parte geral. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
REIS, Jorge Renato dos; TOLOTTI, Stella. O publico não estatal na regulamentação de
uso da obra intelectual. In BOFF, Salete Oro; PIMENTEL, Luiz Otávio (Orgs.).
Propriedade intelectual, gestão da inovação e desenvolvimento: patentes, marcas,
software, cultivares, indicações geográficas, núcleos de inovação tecnológica. Passo
Fundo: IMED, 2009a. 66-79.
REIS, Jorge Renato dos; TOLOTTI, Stella Monson. Os direitos autorais em face das
mudanças tecnológicas: novas perspectivas. In BOFF, Salete Oro; PIMENTEL, Luiz
Otávio (Orgs.). Propriedade intelectual, gestão da inovação e desenvolvimento:
patentes, marcas, software, cultivares, indicações geográficas, núcleos de inovação
tecnológica. Passo Fundo: IMED, 2009b. 210-215.
1 INTRODUÇÃO
1 Doutoranda em Direito Comercial com ênfase em Propriedade Intelectual pela USP. Mestra em Direito
Privado com ênfase em Direito Civil e Empresarial e Especialista em Processo Civil pela UFRGS.
Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS. Advogada atuante por mais de dez anos na
resolução de litígios, pesquisas e consultas sobre litígios comerciais de Direito Civil, Propriedade
Intelectual e Análise Econômica do Direito.
77
O Direito autoral faz parte do Direito civil e sua tutela não depende de nenhuma
formalidade administrativa. A duração da proteção é longa e o uso da obra não é
obrigatório. O requisito principal é a originalidade da obra, a qual só passa a existir para
o ordenamento jurídico e o mercado quando for exposta ou publicada. As ilicitudes que
permeiam o Direito autoral residem na esfera administrativa, civil e penal. São várias as
sanções, que podem ser contratuais ou extracontratuais. Segundo Newton Silveira, o
princípio básico do Direito autoral é a ampla proteção, ou seja, garantia e defesa,
dependendo do que o lesado escolher ou precisar (SILVEIRA, 2014).
As criações da moda são as que estão presentes no âmbito das artes, quais sejam,
os desenhos (o design), que podem figurar nas estampas, nas embalagens e nas próprias
formas das roupas; e as fotografias, as quais não serãoobjeto deste trabalho. Abrão
conceitua o desenho como “um traço delineado com a mão do artista, que lhe imprimirá
um outro traço, o da sua personalidade, sendo uma forma de representação do universo
80
por meio de sinais” (ABRÃO, 2002, p. 29; BITTAR, 2015) na visão e na expressão
daquele que o cria. No caso do mercado da moda, o design é aplicado industrialmente a
fim de gerar lucro através dos produtos aos quais está atrelado, mesmo que seja uma
criação exclusiva. Newton Silveira afirma que, para um desenho voltado à aplicação
industrial ser protegido pela lei de direitos do autor, deve ter valor artístico, ou seja,
“caráter expressivo” (SILVEIRA, 2014).
Os requisitos para uma obra ser protegida pela lei de direitos autorais, segundo
Abrão, é estar dentro do prazo de proteção legal, ser original e exposta por qualquer meio
ou suporte (ABRÃO, 2002, p. 29; BITTAR; 2015; PEDROZO, 2015,p.17-30). O
requisito mais controverso para uma obra ser protegida pela lei de Direitos autorais é a
originalidade. Mackaay e Rousseau afirmam que a linha de pensamento francesa
considera a originalidade das obras a marca da personalidade do autor. Para os franceses,
pouco importa a qualidade artística da criação nem o grau de novidade, mas,
primordialmente, o que vale é “a ideia de que a criação não deve resultar de cópia.”
(MACKAAY; ROUSSEAU, 2015, p. 325). Quanto ao requisito da originalidade, afirma
Bittar que para uma obra ser protegida pelo direito autoral ela precisa ter apenas alguns
traços próprios da personalidade do autor (BITTAR; 2015, p.06). Para Rocha, nas obras
artísticas a originalidade tem por fator determinante a execução pessoal do criador, o que
quer dizer que deve ter a marca da personalidade dele (ROCHA, 2003).
Newton Silveira explica que, quando um produto já existe, mas alguém porventura
inventa uma nova função para ele, não haverá proteção pela lei autoral, apenas pela
propriedade industrial se preencher os requisitos da legislação (SILVEIRA, 2014), porque
não haverá originalidade artística na nova funcionalidade para aquela coisa. Abrão chama
a atenção: não se deve confundir obra original com obra originária. A obra originária é
aquela que dá ensejo a outras adaptadas, como um livro que dá origem a um filme
(ROCHA, 2003). Nesse caso, ambas obras são originais (tanto o livro quanto o filme),
mesmo que versem sobre a mesma história, porque terão originalidade por causa das
expressões criativas de seus autores. Na indústria da moda, é possível comparar o conceito
de Rocha com a inspiração: uma criação pode dar ensejo à outra adaptada, que também
será considerada original desde que tenha o espírito do criador que na outra se inspirou.
Quando um produto tiver originalidade suficiente para ser tutelado pela lei dos Direitos
autorais, não é necessário qualquer registro, a obra é protegidaassim que concretizada
(SILVEIRA, 2014). Por essa razão, segundo Manoel Santos, planos ou esboços não são
81
passíveis de proteção, ou seja, no caso dos estilistas, por exemplo, apenas a obra final é
considerada protegida pelo ordenamento (SANTOS, 2013, p.10). Esta questão é o
cumprimento do requisito de a obra ter sido exposta por qualquer meio ou suporte.
2
Scruggs exemplifica o teste de separabilidade através do caso Mazer v. Stein. Nesse caso, Mazer estava
litigando com Stein pelo direito de obter proteção por meio do copyright de luminárias que estavam sendo
fabricadas com estatuetas de figuras humanas nas bases para as lâmpadas. Por meio do teste de
separabilidade, foi auferido que o elemento artístico era a estatueta de e o elemento útil a lâmpada. A
estatueta artística poderia simplesmente ser destacada da lâmpada acima dela, de modo que a Corte
considerou o objeto passível de proteção. Tradução livre.
3
A questão do desinteresse dos designers americanos pela proteção por meio do copyright pelo fato de o
processo não acompanhar o dinamismo da indústria da moda está mencionada em ambos artigos.
82
O art. 11, parágrafo único, e art. 5.º, inciso VIII, h, da lei de direitos autorais
determina a possibilidade de a pessoa jurídica ser titular de direitos autorais por meio de
criação de obra intelectual ou pela transferência dos direitos referentes a ela. A criação de
autoria de pessoa jurídica pode ocorrer de duas formas: A empresa pode apenas
encomendar a criação, sugerindo ou não um tema. Neste caso, segundo Bittar, os direitos
morais da criação sempre pertencerão à pessoa física do criador e os patrimoniais serão
dispostos de acordo com o contrato do autor com a empresa. A segunda forma é quando
a obra criativa se dá por meio de direção de preposto da empresa, o que ocorre
frequentemente nas companhias de moda através da direção do trabalho do designer
contratado a fim de que siga o estilo da marca, ou seja, o funcionário ou prestador de
serviços apenas realiza a operação, o trabalho mecânico da obra, as diretrizes criativas
são dadas pela pessoa jurídica. Neste caso os direitos morais pertencerão à empresa e
também ao autor, e os patrimoniais, assim como na encomenda da obra, pertencerão a
quem estiver determinado no contrato (BITTAR, 2015). Na medida em que a arte começa
a fazer parte da cadeia de produção de mercadorias, as criações começam a adentrar na
esfera da propriedade industrial, razão pela qual podem ser duplamente protegidas contra
a pirataria, consoante será analisado no próximo sub-capítulo.
à forma, o que dará valor artístico à criação. Não importa se estão também presentes os
requisitos para que seja considerada propriedade industrial (SILVEIRA, 2014).
Consoante Rocha, antes de ser analisado o requisito da originalidade para a
proteção pelo Direito autoral da obra de arte aplicada, é necessário a criação ser artística.
“E estas, para o serem, pressupõem que seja criada no espectador uma qualquer emoção
estética, seja de agrado, ou de desagrado (ROCHA, 2003)”.Santos afirma que a dupla
proteção ocorre com o desenho industrial por causa dele ser, consoante art. 95 da LPI,
forma plástica ornamental. Santos menciona que a dupla proteção pode causar conflitos
porque a lei de direitos autorais e a LPI têm divergências quanto à extensão da tutela,
prazos de exclusividade e requisitos para incidência (SANTOS, 2013), mas não é o que
ocorre, segundo Pedrozo: os requisitos do desenho industrial e consequentemente a dupla
proteção servem para ampliar e complementar a proteção do criador (PEDROZO, 2015,
p.17-30). .
Analisando o contexto brasileiro, Pedrozo e Fernandes destacam que, conforme o
entendimento proferido no Superior Tribunal de Justiça, "estilos, métodos ou técnicas não
são objetos de proteção intelectual" (FERNANDES; PEDROZO, 2015, p. 389 – 405), de
modo que "o estilo, isto é, a tendência, não é protegida por direito autoral"
(FERNANDES; PEDROZO, 2015, p. 389 – 405). Dessa forma, a proteção por direito do
autor é conferida nos casos em que se comprove que "o que havia era mais do que uma
simples tendência no ramo da moda, era a evidência de traços de criatividade e
originalidade nos objetos dos litígios" (FERNANDES; PEDROZO, 2015, p. 389 – 405).
Segundo afirmam Bruch e Oliveira, a proteção por meio da lei de direitos autorais
não existe registro formal da criação (art. 18 da LDA), o que torna este tipo de tutela mais
acessível (BRUCH; OLIVEIRA, 2018, p. 1-29). Giacchetta e Santos afirmam ser a
proteção dada pelo direito autoral também menos burocrática, pois não depende de
registro prévio no INPI e tem prazo maior do que a da LPI. Mas, como simplifica Chaves,
e explicam Giacchetta e Santos, “o fato de o direito autoral não possuir necessidade de
registro constitutivo faz com que seu poder de coerção para fazer cessar eventuais
violações seja menor comparado ao da proteção dada pela LPI”(CHAVES, p. 65-74,
GIACCHETTA; SANTOS, 2018, p. 25-51).,uma vez que o registro, no órgão estatal, por
si só é prova constitutiva do direito adquirido perante a criação (SKIBINSKI, 2017, p.
54-67), “já a validade do Direito autoral sobre determinada obra está fortemente
relacionada ao reconhecimento espontâneo por parte de terceiros, caso contrário será
necessário recorrer ao Poder Judiciário para obtê-lo”, o que não ocorre na proteção pela
84
LPI porque já foi chancelado por órgão estatal, o INPI. De fato, a propriedade intelectual
sempre será alvo de ilicitudes no mundo todo, sendo que a forma como são coibidas
influencia o mercado e a economia, consoante será explicado no próximo capítulo.
4
Consoante Carvalho, “segundo o dicionário Silveira Bueno, pirataria é: “roubo; vandalismo; extorsão;
cópia indevida de programas de informática, fitas de vídeo ou som, etc; levar vida de pirata” (Silveira
Bueno, 1996, p. 507). Quanto à definição de pirata, encontra no mesmo dicionário os seguintes termos:
ladrão, gatuno, sujeito audacioso, espertalhão, malandro, indivíduo que comete pirataria, que não respeita
os direitos de autoria ou de reprodução que vigoram sobre determinadas obras ou produtos (literários,
musicais, de informática e outros), seja produzindo ou utilizando cópias ilegais dessas obras ou produtos.
Dessa forma, pode-se afirmar que a pirataria consiste na violação de direitos autorais. Portanto, todo aquele
que copiar, comercializar ou usar produtos pirateados é considerado um pirata”.
85
5
A Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomercio-RJ), elaborou um estudo
intitulado Pirataria no Brasil: radiografia do Consumo, o qual apura o impacto dos problemas sociais
causados pela pirataria. Nesse sentido, menciona Plácido que PLÁCIDO, “De acordo com dados fornecidos
pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro, aproximadamente dezessete milhões de
brasileiros compraram roupas e acessórios falsificados, somente no ano de 2010. O produto falsificado,
além de prejudicar o próprio consumidor, por geralmente se tratar de item com qualidade inferior e sem
garantia, lesa toda a economia brasileira.”
86
Para auferir uma ilicitude de plágio ou contrafação, Santos explica que existe o
“teste de semelhanças” que é um método de comparação a fim de verificar se há ilicitudes
diante do nível de semelhança entre as obras: É usada uma obra “paradigma” e outra
“objeto de comparação”. “Os laudos periciais geralmente apresentam um quadro
comparativo com a identificação dos elementos semelhantes.” Segundo Santos, o teste
“aplica critérios quantitativos (extensão das semelhanças) e qualitativos (importância das
semelhanças)”. Apesar de no Direito de autor ser mais difícil surgirem criações idênticas,
Santos coloca como excludente de ilicitude quando o autor da segunda obra “nunca teve
acesso nem foi influenciado pela original”, o que hoje somente é possível argumentar se
for uma obra inédita, uma vez que com os avanços tecnológicos o acesso à informação
faz com que qualquer obra previamente publicada possa ser acessível (SANTOS, 2013;
BITELLI, 2006, p. 340-361).
Bittar menciona que com o avanço tecnológico aumentou e facilitou a prática das
cópias sem autorização, o que causa um desestímulo econômico para as criações
(BITTAR; 2015). Nos Estados Unidos, explica Scruggs, de acordo com a câmara de
comércio americana, a comercialização de mercadorias oriundas de violações aos direitos
autorais envolve de US$ 200 a US$ 250 bilhões por ano, e prejudica cerca de 750.000
empregos. No entanto, aumentar a proteção por meio do copyright (os direitos autorais
americanos), segundo o autor, não fará com que estes números sejam zerados porque as
87
6
Kaway explica os knockoffs da seguinte forma: “dois casos menos graves, porém constantes no setor da
moda: as réplicas e os similares. As réplicas (“knock-offs”) são peças produzidas para deliberadamente
imitar a original, na marca e no design, porém não são comercializadas como originais. Os similares (“look-
alikes”), que apesar de serem produzidos para imitar o original, não possuem aparência suficientemente
similar a ponto de serem considerados contrafações.”
89
4 CONCLUSÃO
7
Segundo o jornal Inglês The Guardian, “A Burberry destruiu mais de £ 28 milhões de seus produtos de
moda e cosméticos em 2017 para se proteger contra a falsificação. Acredita-se que os varejistas de luxo
destruam produtos não vendidos para proteger sua propriedade intelectual e o valor da marca. Em outras
palavras, eles fazem isso para evitar que seus produtos sejam vendidos a preços baixos no mercado de
produtos falsificados ou que acabem no mercado cinza com varejistas não oficiais, mas legais, que ficam
de fora dos canais de distribuição aprovados pela marca. De acordo com o último relatório anual da
Burberry, e relatórios da Business of Fashion, a marca trabalha com "incineradores especializados que são
capazes de aproveitar a energia do processo". John Peace, presidente da marca, disse que a destruição de
mercadorias "não é algo que fazemos de bom grado". A empresa também afirmou que tomou o cuidado de
minimizar a quantidade de excesso de estoque que produz e está buscando maneiras de reduzir e "reavaliar"
as sobras. Em novembro de 2017, surgiram produtos não vendidos da H & M sendo queimados no lugar de
carvão na Suécia. A informação recebida é que muitas marcas preferem queimar itens da temporada passada
do que arriscar prejudicar a marca vendendo-os a um preço reduzido, mas poucas admitem isso.” Tradução
livre. https://www.theguardian.com/fashion/2018/jul/20/why-does-burberry-destroy-its-products-q-and-a,
acesso em 26/08/2018. Sobre a agressividade de medidas para proteção da marca.
90
legislativa às ilicitudes que ocorrem no mercado no que tange às criações referentes aos
artigos de moda.
REFERÊNCIAS
ABRÃO, Y. Eliane. Direitos de autor e direitos conexos. São Paulo: Editora do Brasil,
2002.
BITTAR, Carlos Alberto; BITTAR. Direito de Autor. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.
CASTRO, Lucila de. Fashion law: a relevância jurídica da moda. 2015. Disponível em
http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_
id=15833&revista_cadern o=27. Acesso em 05/09/2018.
91
ECHEVERRÍA, Pamela; KNOLL, Susy Inés Bello. Derecho y Moda. São Paulo, 2015.
FERNANDES, Ligia Durrer; PEDROZO, Têmis Chenso da Silva Rabelo. Fashion Law:
a proteção jurídica da moda. Revista de Direito Empresarial, v. 7, p. 389 – 405, Jan -
Fev 2015.
FISCHER, Dr. Fridolin. Design Law in the European fashion sector. February, 2008.
Disponível em http://www.wipo.int/wipo_magazine/ en/2008/01/ article_0006.html.
Acesso em 28/08/2018.
ROSINA, Mônica Steffen Guise. Fashion Law é a nova moda do Direito. Revista
Observatório Itaú Cultural, no 16, jan/jun 2014, p. 106-117. São Paulo: Itaú Cultural.
Disponível em: http://d3nv1jy4u7zmsc.cloudfront.net/wp- content/uploads/2014/06
/OBSERVATORI O16_0.pdf. Acesso em 29/08/2018.
SANTOS, Manoel J. dos. Série GVlaw: propriedade intelectual: Direito autoral. São
Paulo:Saraiva, 10/2013
1
É Mestre em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS (em andamento).
Possui Especialização em Direito da Propriedade Intelectual pela Faculdade de Desenvolvimento do Rio
Grande do Sul – FADERGS (2013). Advogado. Atua como membro da Comissão Especial da Propriedade
Intelectual da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio Grande do Sul – CEPI/OAB-RS.
2
É Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (2016), com estágio de
Doutoramento na Universidade de Alicante (Espanha) pelo PDSE da CAPES. Possui Mestrado em Direito
Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2006) e Especialização em Direito Empresarial pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2005). É professora efetiva do Departamento de
Direito da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, na área de Direito Empresarial. Atua como
pesquisadora do Grupo de Estudos de Direito Autoral e Industrial - GEDAI, vinculado à Universidade
Federal do Paraná, e é líder do Grupo de Estudo e Pesquisa de Direito Empresarial da UFSC -
GEPDE/UFSC.
94
1 INTRODUÇÃO
3
Nesse sentido, cumpre transcrever os ensinamentos de Ronaldo Lemos: “Escrever sobre tecnologia é como duelar com o
tempo: desde o começo já se sabe quem vai rir por último. Por isso mesmo é um desafio fascinante. Quando alguém se debruça
sobre qualquer questão tecnológica do presente, faz isso correndo o risco de que o próprio objeto de reflexão fique obsoleto
(ou deixe de existir ou acabe “fora de moda”) em curto espaço de tempo” LEMOS, Ronaldo. Futuros
possíveis: mídia, cultura, sociedade, direitos. Porto Alegre: Sulina, 2012. Apresentação, s/n.
4
De acordo com a Free Software Foundation: “Um programa é software livre se os usuários possuem as
quatro liberdades essenciais: - A liberdade de executar o programa como você desejar, para qualquer
propósito (liberdade 0). - A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo às suas
necessidades (liberdade 1). Para tanto, acesso ao código-fonte é um pré-requisito. - A liberdade de
redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao próximo (liberdade 2). - A liberdade de distribuir
cópias de suas versões modificadas a outros (liberdade 3). Desta forma, você pode dar a toda comunidade
a chance de beneficiar de suas mudanças. Para tanto, acesso ao código-fonte é um pré-requisito.” FREE
SOFTWARE FOUNDATION. A Definição de Software Livre. Disponível em
<https://www.gnu.org/philosophy/free-sw.html>. Acesso em 30 Set.2015.
5
FREE Software Foundation. What is GNU?. Disponível em <hhttps://www.gnu.org/>. Acesso em 30
Set. 2015.
6
BRASIL Licença Creative Commons GNU GPL [Brasil]. Disponível em:
<http://www.softwarelivre.gov.br/Licencas/LicencaCcGplBr/view>. Acesso em 27 de setembro de 2015.
95
e idealizada pela Free Software Foundation (FSF) com foco, entretanto, aos padrões do
Direito Norte Americano.
Ocorre que, a priori, alguns aspectos desta Licença Geral Pública, que são validas
frente ao Direito Norte Americano, poderiam ser considerados inválidos frente ao direito
pátrio, como é o caso das cláusulas de isenção de garantias e responsabilidades (limitation
of liability and disclaimer of warranties clauses), e.g., gerando a indesejável insegurança
jurídica aos diversos negócios que têm surgido na hodierna economia híbrida.
7
A propósito, vide: CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia,
sociedade e cultura v.1. São Paulo. Paz e Terra, 2013.
96
8
A respeito da sociedade em rede, cumpre trazer os ensinamentos de Manuel Castells: “Uma rede é um
conjunto de nós interconectados. A formação de redes é uma prática humana muito antiga, mas as redes
ganharam vida nova em nossos tempos transformando-se em redes de informação energizadas pela Internet.
As redes têm vantagens extraordinárias como ferramentas de organização em virtude de sua flexibilidade e
adaptabilidade inerentes, características essenciais para se sobreviver e prosperar num ambiente em rápida
mutação. É por isso que as redes estão proliferando em todos os domínios da economia e da sociedade,
desbancando corporações verticalmente organizadas e burocracias centralizadas e superando-as em
desempenho”. CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a
sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 7.
9
"Art. 1º Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem
natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas
automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados
em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.” BRASIL. Lei
9.609, 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de
computador, sua comercialização no País, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9609.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
10
FALCÃO, Joaquim et al. Estudo Sobre o Software Livre comissionado pelo instituto nacional da
tecnologia da informação (ITI). Escola de Direito FGV: Rio de Janeiro: 2005. Disponível em:
<http://www.softwarelivre.gov.br/documentos-oficiais/estudo-sobre-o-software-livre>. Acesso em 07 Out.
2015.
11
FALCÃO, Joaquim et al. Estudo Sobre o Software Livre comissionado pelo instituto nacional da
tecnologia da informação (ITI). Escola de Direito FGV: Rio de Janeiro: 2005. Disponível em:
<http://www.softwarelivre.gov.br/documentos-oficiais/estudo-sobre-o-software-livre>. Acesso em 07 Out.
2015.
12
Neste tocando, importante considerar que o nome/título do programa pode ser objeto de proteção pelo
Direito Macário; eventuais personagens ou figuras públicas (atores, esportistas, etc.) podem ser detentores
97
de direitos de imagem; e a própria embalagem, se caso de software de prateleira, pode ser objeto de proteção
por Desenho Industrial.
13
“Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas
em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: (...) XII - os
programas de computador;”. BRASIL. Lei 9.610, 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a
legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
14
BRASIL. Lei 9.609, 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de
programa de computador, sua comercialização no País, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9609.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
15
“A distinção entre Código-Fonte e Código Objeto perpassa o espaço da presente problematização, e não
constitui-se elemento essencial para o entendimento. Todavia, merece o registro de que a distinção
elementar entre ambos reside no fato de que o Código-Fonte é aquele criado em um editor de textos,
contendo os comandos da linguagem de programação, enquanto que o Código-Objeto é aquele criado pela
conversão do código-fonte em linguagem de máquina. Para fins do presente pré-projeto, os termos serão
utilizados como sinônimos”. PINHO, Márcio Sarroglia. Programação C/C++. PUCRS. Disponível em
<http://www.inf.pucrs.br/~pinho/LaproI/ConceitosBasicos/ConceitosBasicos.htm>. Acesso em 30 Set.
2015.
16
A propósito, vale a transcrição de Denis Barbosa: “Assim é que a idéia de fazer um computador PC tocar
o Hino Nacional Brasileiro é expressa no conjunto de instruções (em linguagem natural): tocar (3a oitava)
dó/semínima, fá/colcheia pontuada, mi/semicolcheia, fá/colcheia pontuada, sol/colcheia, lá/colcheia
pontuada (etc.); codificada em BASIC: PLAY o3 t122 c,f8.,e16,f8.,g16,a8.(etc.). Segundo a lei, ambas
expressões serão dignas de proteção, assim como sua versão em assembly ou em código objeto.”
BARBOSA, Denis Borges. A proteção do software, 2001, p. 3. Disponível em:
<http://denisbarbosa.addr.com/77.DOC>. Acesso em: 30 Set. 2015.
17
Art. 28, da Lei nº 9.610/98. BRASIL. Lei 9.610, 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida
a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
18
Art. 29, I, da Lei nº 9.610/98. BRASIL. Lei 9.610, 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida
a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
19
Art. 29, II, da Lei nº 9.610/98. BRASIL. Lei 9.610, 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida
a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
20
Art. 29, VI e VII, da Lei nº 9.610/98. BRASIL. Lei 9.610, 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e
consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
98
indústria a pleitear cada vez mais proteção - inclusive através do Direito da Propriedade
Industrial -, em sua origem, em meados dos anos de 1970, a abertura do Código (Fonte)
permanecia sendo a regra na computação.21 Justamente para fazer “frente” à tendência de
fechamento dos Códigos Fontes de programas de computador, através do Copyright22, foi
que Richard Stallman encabeçou, em 1984,23 a criação da Free Software Foundation
(FSF24) e a noção de Copyleft,25 para devolver à Sociedade a liberdade de executar, copiar,
distribuir, estudar e melhorar o Software. Desde então, um programa de computador é
considerado Software Livre se os usuários possuem as quatro liberdades essenciais -
executar, copiar, distribuir, estudar, mudar e melhorar o software. Trata-se, portanto, de
uma questão de liberdade, e não de preço.26
21
FALCÃO, Joaquim et al. Estudo Sobre o Software Livre comissionado pelo instituto nacional da
tecnologia da informação (ITI). Escola de Direito FGV: Rio de Janeiro: 2005. Disponível em:
<http://www.softwarelivre.gov.br/documentos-oficiais/estudo-sobre-o-software-livre>. Acesso em 07 Out.
2015.
22
Termo em Inglês equivalente ao sentido de Direito Autoral, no Brasil.
23
A propósito da história da evolução da noção de copyleft e do software livre, vide: CASTELLS, Manuel.
A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar,
2003. p. 17.
24
Acerca da FSF: “The Free Software Foundation (FSF) is a nonprofit with a worldwide mission to promote
computer user freedom and to defend the rights of all free software users”. Tradução livre: “A Free Software
Foundation (FSF) é uma organização sem fins lucrativos com a missão, em todo o mundo, de promover a
liberdade do usuário do computador e defender os direitos de todos os usuários de software livre” FREE
Software Foundation. About. Disponível em: <www.fsf.org>. Acesso em 27 Ago. 2017.
25
STALLMAN, Richard. What is Copyleft? Disponível em <http://www.gnu.org/copyleft/>. Acesso em
30 Set. 2015.
26
FREE Software Foundation. A Definição de Software Livre. Disponível em
<https://www.gnu.org/philosophy/free-sw.html>. Acesso em 30 Set.2015.
27
FREE Software Foundation. What is GNU?. Disponível em <hhttps://www.gnu.org/>. Acesso em 30
Set. 2015.
28
BRASIL Licença Creative Commons GNU GPL [Brasil]. Disponível em:
<http://www.softwarelivre.gov.br/Licencas/LicencaCcGplBr/view>. Acesso em 27 de setembro de 2015.
99
29
A proposito, cumpre trazer à lume Gonzaga Adolfo: “Há basicamente quatro modelos de negócio que
envolvem software livre: (i) distribuição do software open source, acompanhado da posterior venda de
suporte ao mesmo (como usualmente mencionado nos Estados Unidos, ‘distribua a receita e depois abra
um restaurante’), ou ainda adaptação do open source conforme a necessidade do cliente; (ii) conquista de
mercado, pela qual determinado software é distribuído na forma open source , para a posterior venda de
outros produtos vinculados a ele; (iii) incorporação do software open source junto com a venda de
hardware, barateando custos de licença e o preço final do equipamento como um todo; e (iv) oferecimento
de produtos acessórios ao software open source, como cursos, livros, treinamento, desenvolvimento etc.”.
ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva. Obras privadas, benefícios coletivos: a dimensão pública do direito
autoral na sociedade da informação. UNISINOS. Tese. 09 Ago. 2006. p. 238.
<http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/2472>. Acesso em 04 Out. 2015.
30
Segundo Lawrence Lessig, a Internet é a geração da economia híbrida, por excelência. Todos os negócios
advindos com a Internet – o software livre, principalmente - tornar-se-ão híbridos. Acerca do conceito de
economia híbrida, cumpre a transcrição: “Commercial economies build value with money at their core.
Sharing economies build value, ignoring money. Both are critical to life both online and offline. Both will
flourish more as Internet technology develops. But between these two economies, there is an increasingly
important third economy: one that builds upon both the sharing and commercial economies, one that adds
value to each. This third type – the hybrid – will dominate the architecture for commerce on the Web. It
will also radically change de way sharing economies function”. Tradução livre: “As economias comerciais
criam valor com o dinheiro no seu núcleo. Economias do compartilhamento criam valor ignorando o
dinheiro. Ambas são importantes para a vida online e offline. Ambas florescerão mais à medida que a
tecnologia da Internet se desenvolver. Mas entre essas duas economias há uma terceira economia cada vez
mais importante: uma que se baseia tanto na economia compartilhada como nas economias comerciais, que
agrega valor a cada uma. Este terceiro tipo - a economia híbrida - dominará a arquitetura para o comércio
na Web. Também mudará radicalmente a função de compartilhamento de economias”. (tradução nossa).
LESSIG, Lawrence. Remix: making art and commerce thrive in the Hybrid Economy. The Penguin
Press: New York. 2008. p. 177LESSIG, Lawrence. Remix: making art and commerce thrive in the
Hybrid Economy. The Penguin Press: New York. 2008. p. 178.
31
Acerca da FSF: “The Free Software Foundation (FSF) is a nonprofit with a worldwide mission to promote
computer user freedom and to defend the rights of all free software users”. Tradução livre: “A Free Software
Foundation (FSF) é uma organização sem fins lucrativos com a missão, em todo o mundo, de promover a
100
Ocorre que alguns aspectos desta licença geral pública, a priori, poderiam ser
considerados inválidos frente ao direito pátrio. Assim, e.g., as cláusulas de isenção de
garantia32 e responsabilidade33 do desenvolvedor, consideradas válidas frente ao direito
Norte Americano, de acordo o UCC §2-316,34 poderiam ser questionadas como cláusulas
abusivas no Brasil, considerando que o consumidor goza de proteção constitucional, na
condição de Direito Fundamental (Art. 5º, XXXII, da CRFB), e que o sistema
infraconstitucional de Proteção ao Consumidor está embasado no princípio da
vulnerabilidade.35
liberdade do usuário do computador e defender os direitos de todos os usuários de software livre”. FREE
Software Foundation. About. Disponível em: <www.fsf.org>. Acesso em 27 Ago. 2017.
32
Cláusula de isenção de garantias na versão traduzida para o português do GNU GPL: “11. COMO O
PROGRAMA É LICENCIADO SEM CUSTO, NÃO HÁ NENHUMA GARANTIA PARA O
PROGRAMA, NO LIMITE PERMITIDO PELA LEI APLICÁVEL. EXCETO QUANDO DE OUTRA
FORMA ESTABELECIDO POR ESCRITO, OS TITULARES DOS DIREITOS AUTORAIS E/OU
OUTRAS PARTES, FORNECEM O PROGRAMA "NO ESTADO EM QUE SE ENCONTRA", SEM
NENHUMA GARANTIA DE QUALQUER TIPO, TANTO EXPRESSA COMO IMPLÍCITA,
INCLUINDO, DENTRE OUTRAS, AS GARANTIAS IMPLÍCITAS DE COMERCIABILIDADE E
ADEQUAÇÃO A UMA FINALIDADE ESPECÍFICA. O RISCO INTEGRAL QUANTO À
QUALIDADE E DESEMPENHO DO PROGRAMA É ASSUMIDO POR VOCÊ. CASO O PROGRAMA
CONTENHA DEFEITOS, VOCÊ ARCARÁ COM OS CUSTOS DE TODOS OS SERVIÇOS, REPAROS
OU CORREÇÕES NECESSÁRIAS. GOVERNO FEDERAL”(Sic). BRASIL Licença Creative
Commons GNU GPL [Brasil]. Disponível em:
<http://www.softwarelivre.gov.br/Licencas/LicencaCcGplBr/view>. Acesso em 27 de setembro de 2015.
33
Cláusula de isenção de responsabilidade na versão traduzida para o português do GNU GPL: “12. EM
NENHUMA CIRCUNSTÂNCIA, A MENOS QUE EXIGIDO PELA LEI APLICÁVEL OU ACORDADO
POR ESCRITO, QUALQUER TITULAR DE DIREITOS AUTORAIS OU QUALQUER OUTRA PARTE
QUE POSSA MODIFICAR E/OU REDISTRIBUIR O PROGRAMA, CONFORME PERMITIDO
ACIMA, SERÁ RESPONSÁVEL PARA COM VOCÊ POR DANOS, INCLUINDO ENTRE OUTROS,
QUAISQUER DANOS GERAIS, ESPECIAIS, FORTUITOS OU EMERGENTES, ADVINDOS DO USO
OU IMPOSSIBILIDADE DE USO DO PROGRAMA (INCLUINDO, ENTRE OUTROS, PERDAS DE
DADOS OU DADOS SENDO GERADOS DE FORMA IMPRECISA, PERDAS SOFRIDAS POR VOCÊ
OU TERCEIROS OU A IMPOSSIBILIDADE DO PROGRAMA DE OPERAR COM QUAISQUER
OUTROS PROGRAMAS), MESMO QUE ESSE TITULAR, OU OUTRA PARTE, TENHA SIDO
ALERTADA SOBRE A POSSIBILIDADE DE OCORRÊNCIA DESSES DANOS.” (Sic). BRASIL
Licença Creative Commons GNU GPL [Brasil]. Disponível em:
<http://www.softwarelivre.gov.br/Licencas/LicencaCcGplBr/view>. Acesso em 27 de setembro de 2015.
34
ESTADOS Unidos da América. UCC - Uniform Commercial Code (UCC/2002) §2º-316. Exclusion
or Moditification of Warranties. Disponível em <https://www.law.cornell.edu/ucc/2/2-316>. Acesso em 15
Nov. 2016.
35
MIRAGEM, Bruno. Direito do Consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 62.
101
36
A respeito da condição de consumidor-equiparado, cumpre trazer os ensinamentos de Cláudia Lima
Marques: “Em virtude do disposto no art. 29 do CDC, assim como foi interpretado pela jurisprudência, o
legislador brasileiro, para proteger os interesses econômicos dos consumidores, concedeu um novo e
poderoso instrumento (as ações autorizadas pelo CDC e sua ética de boa-fé nas relações negociais) para
que os ‘consumidores-equiparados’ (na maioria, também empresários) combatam as práticas comerciais
abusivas que os lesam diretamente e que, mediatamente, prejudicam os outros consumidores e a harmonia
do mercado”. MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo
regime das relações contratuais. 4ed. Rev., atual. E ampl. São Paulo: RT, 2002.
37
“Migrando o patrimônio para a periferia, deixando ao homem em sua antropomórfica dimensão
intersubjetiva, o centro dos interesses protetivos do sistema jurídico, a propriedade e suas manifestações
passam a guardar um papel instrumental”. ARONNE, Ricardo. Razão & caos no discurso jurídico e
outros ensaios de direito civil-constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 45.
38
FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 25.
39
FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 25.
40
ESTEVES, Maurício Brum. Sistema, Complexidade e Vida Nua: Sobre as Impossibilidades de um
Direito Disciplinar. Artigo extraído de Monografia. PUCRS. 2010. Disponível em
102
atual Sociedade em Rede, quais sejam: “estruturas abertas capazes de expandir de forma
ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja,
desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação”.41 Isso porque, “uma
estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico suscetível de
inovação sem ameaças ao seu equilíbrio”.42
Merece registro, que não bastasse representar objeto novo43 para o Direito e para
a Sociedade, o Software Livre é dotado de uma “realidade tão complexa”,44 que
justificaria, por si só, a relevância econômica e social, e a pertinência da busca por um
regime jurídico próprio e adequado.
<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2011_1/mauricio_esteves.p
df.> Acessado em 18 Nov. 2015.
41
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura v.1.
tradução Roneide Venancio Majer. São Paulo. Paz e Terra, 2013. p. 566.
42
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura v.1.
tradução Roneide Venancio Majer. São Paulo. Paz e Terra, 2013. p. 566.
43
BARBOSA, Denis Borges. A proteção do software, 2001, p. 3. Disponível em:
<http://denisbarbosa.addr.com/77.DOC>. Acesso em: 30 Set. 2015.
44
Merece ênfase a opinião de Gonzaga Adolfo, para quem: “O denominado ‘Software Livre’ é uma
realidade tão complexa que já justificaria uma tese à parte”. ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva. Obras
privadas, benefícios coletivos: a dimensão pública do direito autoral na sociedade da informação.
UNISINOS. Tese. 09 Ago. 2006. p. 238. <http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/2472>.
Acesso em 04 Out. 2015.
45
UNITED Nations. E-Commerce and Development Report 2003, Chapter 4: Free and open-source
software: Implications for ICT policy and development. New York and Geneva, 2003,
UNCTAD/SIDTE/ECB/2003/1. Disponível em <http://unctad.org/en/docs/ecdr2003ch4_en.pdf>. Acesso
em 07 Out. 2015.
46
UNITED Nations. E-Commerce and Development Report 2003, Chapter 4: Free and open-source
software: Implications for ICT policy and development. New York and Geneva, 2003,
UNCTAD/SIDTE/ECB/2003/1. Disponível em <http://unctad.org/en/docs/ecdr2003ch4_en.pdf>. Acesso
em 07 Out. 2015.
103
47
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade.
Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 17.
48
A propósito: “Most importantly, in particular for developing countries, FOSS allows today’s and
tomorrow’s experts and information technology (IT) leaders to acquire skills and advance their knowledge
rapidly. Its technological opposite, closed-source or proprietary software, may not support the information
and communication technology (ICT) development process as well because it requires a significant upfront
investment in license fees for installation and upgrades; it is not always adaptable to local concerns; and its
exclusive or even dominant use may not adequately support the local development of the expert knowledge
and skills needed to fully embrace the information economy. While proprietary software has its place and
role, Governments should consider their policy position on FOSS in the context of their over all agenda and
their ambitions of bridging the digital divide and using ICT for increased, improved trade and
development”. Tradução livre: “Mais importante ainda, em particular para os países em desenvolvimento,
o FOSS permite que especialistas de hoje e de amanhã e líderes da tecnologia da informação (TI) adquiram
habilidades e desenvolvam seus conhecimentos rapidamente. O paradigma tecnológico oposto, de código
fechado ou de software proprietário, pode não suportar o processo de desenvolvimento de tecnologias de
informação e comunicação (TIC), bem como requer um investimento inicial significativo nas taxas de
licença para instalação e atualizações; não é sempre adaptável às preocupações locais; e o seu uso exclusivo
ou mesmo dominante pode não apoiar adequadamente o desenvolvimento local dos conhecimentos
especializados e as habilidades necessárias para abraçar plenamente a economia da informação. Embora o
software proprietário tenha seu lugar e seu papel, os governos devem considerar a posição política no FOSS
no contexto de sua agenda e suas ambições de colmatar a divisão digital e usar as TIC para aumentar o
comércio e o desenvolvimento”. (Tradução nossa). UNITED Nations. E-Commerce and Development
Report 2003, Chapter 4: Free and open-source software: Implications for ICT policy and
development. New York and Geneva, 2003, UNCTAD/SIDTE/ECB/2003/1. Disponível em
<http://unctad.org/en/docs/ecdr2003ch4_en.pdf>. Acesso em 07 Out. 2015.
49
“Se os primeiros tratados de Direito Internacional sobre Propriedade Industrial, como a Convenção da
União de Paris (1883) é importante exemplo, surgiram no contexto da aurora da Modernidade, da
Revolução Industrial e do estopim da “Era dos Impérios” (HOBSBAWM, 2011), perdurando até os
derradeiros momentos que denunciam a falência dos ideais Modernos, o “Crash da Bolsa”, em 1929, e as
Duas Grandes Guerras, o Acordo TRIPS, que marca o desenvolvimento da Propriedade Intelectual no
século XX que possui em seu “DNA” os valores do livre-mercado e do liberalismo político e econômico.”
ESTEVES, Maurício Brum. Por uma análise genealógica dos princípios de direito internacional na
propriedade industrial: a adequação do regramento internacional aos países em desenvolvimento.
Revista Novatio Iuris. v.6 n.1 (2014), p. 89-115, Fadergs, Porto Alegre, 2014. Pg. 101.
50
“Mormente no caso dos países em desenvolvimento, o liberalismo exacerbado de mercado pode não vir
ao encontro das suas pretensões. E, de fato, analisando a questão, percebe-se que o sistema é desequilibrado
e não contempla plenamente os interesses dos países em desenvolvimento, especialmente aqueles mais
pobres exatamente pelo fato de que se atua, como pano de fundo, a teoria da livre concorrência e da
igualdade entre os Estados que, conforme é cediço, não existe entre economias desiguais.” ESTEVES,
Maurício Brum. Por uma análise genealógica dos princípios de direito internacional na propriedade
104
tempos, assim como ser dotado de enorme relevância social, principalmente para os
países em desenvolvimento, as investigações acadêmicas, ao menos no cenário jurídico
pátrio, não têm acompanhando às necessidades da vida concreta. Prova do exposto, é que
para além das tradicionais soluções – Licença Geral Pública do GNU, para Software
Livre, e os “Creative Commons”,57 para obras intelectuais, em geral – pouco se avançou
na última década, acerca dos aspectos jurídicos que envolvem os modelos híbridos e
colaborativos, que nascem com a Sociedade em Rede.
A primeira hipótese é que o regime jurídico aplicável para o Software Livre possa
vir, em parte, do Código de Defesa do Consumidor (CDC),58 da Lei de Software (LS) 59
57
“Qual o estatuto jurídico dessa nova forma de produção? Ou ainda, como pode o direito dar fundamento
a ela? Uma das respostas a esta questão é a criação do modelo colaborativo Creative Commons. Iniciativa
concebida pelo Prof. Lawrence Lessig e atualmente sediada na Universidade de Standford, o Creative
Commons tem por objetivo desenvolver licenças públicas, isto é, licenças jurídicas que possam ser utilizada
por qualquer indivíduo ou entendida, para que seus trabalhos sejam disponibilizados na forma de modelos
abertos”. Lemos, Ronaldo. Direito, tecnologia e cultura. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. p. 82/83.
58
BRASIL. Lei 8.078, 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em 27
Ago. 2017.
59
BRASIL. Lei 9.609, 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de
programa de computador, sua comercialização no País, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9609.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
106
e/ou da Lei de Direitos Autorais (LDA),60 e sua adequação a partir de uma interpretação
sistemática e constitucional das mencionadas Leis, em cotejo, ainda, com as quatro
liberdades obrigatórias de qualquer software livre.61
É atípico, pois não possui previsão expressa no texto do Código Civil. Benéfico e
unilateral, pois, a priori, apenas uma das partes obtém benefício, o usuário.64 Desta forma,
salvo hipótese de culpa ou dolo, deve prevalecer a autonomia da vontade dos contratantes,
sendo válidas as cláusulas de isenção de garantias e responsabilidade, bem como qualquer
disposição contratual semelhante, desde que atendida a função social dos contratos, e
obviamente, as quatro liberdades obrigatórias de qualquer software livre.
60
BRASIL. Lei 9.610, 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos
autorais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
61
Repisa-se as quatro liberdades essenciais: “- A liberdade de executar o programa como você desejar, para
qualquer propósito (liberdade 0). - A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo às suas
necessidades (liberdade 1). Para tanto, acesso ao código-fonte é um pré-requisito. - A liberdade de
redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao próximo (liberdade 2). - A liberdade de distribuir
cópias de suas versões modificadas a outros (liberdade 3). Desta forma, você pode dar a toda comunidade
a chance de beneficiar de suas mudanças. Para tanto, acesso ao código-fonte é um pré-requisito.” FREE
Software Foundation. A Definição de Software Livre. Disponível em
<https://www.gnu.org/philosophy/free-sw.html>. Acesso em 30 Set.2015.
62
BRASIL. Lei 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 27 Ago. 2017.
63
FALCÃO, Joaquim et al. Estudo Sobre o Software Livre comissionado pelo instituto nacional da
tecnologia da informação (ITI). Escola de Direito FGV: Rio de Janeiro: 2005. Disponível em:
<http://www.softwarelivre.gov.br/documentos-oficiais/estudo-sobre-o-software-livre>. Acesso em 07 Out.
2015.
64
“Contrato benéfico é o negócio jurídico em que apenas uma das partes obtém uma vantagem. Como regra
geral, o benefício deve ser um sacrifício.” GOMES, Orlando. Contratos, 20.a edição. Rio de Janeiro:
Forense, 2000 p. 73.
107
65
A propósito: FALCÃO, Joaquim et al. Estudo Sobre o Software Livre comissionado pelo instituto
nacional da tecnologia da informação (ITI). Escola de Direito FGV: Rio de Janeiro: 2005. Disponível
em: <http://www.softwarelivre.gov.br/documentos-oficiais/estudo-sobre-o-software-livre>. Acesso em 07
Out. 2015.
66
Neste sentido, os ensinamentos de Luiz Edson Fachin: “No sistema clássico, a primazia é colocar acima
do que se verifica concretamente a previsão do modelo de relação jurídica. Para evitar que isso turbasse a
compreensão da relação jurídica abstratamente considerada, o que interessa é um paradigma abstrato, que
recolhe a realidade e faz com que a relevância jurídica dos dados se amoldem a essa ordem previamente
estabelecida. É nisso que se visualizam os elementos básicos que integram a relação jurídica, o sujeito, o
objeto, o fato jurídico constitutivo e, por último, a chamada garantia”. FACHIN, Luiz Edson. Teoria
Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 92
108
67
A proposito: “Sua inovação é tão significativa que é considerado uma das raras circunstâncias em que as
estruturas do Direito Autoral foram confrontadas a partir de uma perspectiva de transformação, oriunda da
percepção das limitações inerentes ao regime tradicional quanto ao desenvolvimento do software”.
ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva. Obras privadas, benefícios coletivos: a dimensão pública do direito
autoral na sociedade da informação. UNISINOS. Tese. 09 Ago. 2006. p. 238.
<http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/2472>. Acesso em 04 Out. 2015.
68
A propósito: “A GNU GPL surge também como fenômeno econômico, em que os modos de produção
e criação intelectual tornam-se includentes e colaborativos. Não se trata de uma relação consumerista, em
que existe um fornece dor e um consumidor, cada um com papéis jurídicos distintos. No software livre,
as figuras do consumidor e do fornecedor são mescladas. O consumidor de hoje é potencialmente o
fornecedor de amanhã.” FALCÃO, Joaquim et al. Estudo Sobre o Software Livre comissionado pelo
instituto nacional da tecnologia da informação (ITI). Escola de Direito FGV: Rio de Janeiro: 2005.
Disponível em: <http://www.softwarelivre.gov.br/documentos-oficiais/estudo-sobre-o-software-livre>.
Acesso em 07 Out. 2015.
109
Cumpre repisar, que alguns aspectos da licença geral pública para o software livre
poderiam ser considerados inválidos frente ao direito pátrio. As cláusulas de isenção de
garantia e responsabilidade do desenvolvedor, consideradas válidas frente ao direito
Norte Americano, de acordo o UCC §2-316, poderiam, sim, ser questionadas como
cláusulas abusivas no Brasil, considerando que o consumidor goza de proteção
constitucional, na condição de Direito Fundamental (Art. 5º, XXXII, da CRFB), e que o
sistema infraconstitucional de Proteção ao Consumidor está embasado no princípio da
vulnerabilidade.
REFERÊNCIAS
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civil-constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso
em 05 Out. 1988.
ESTEVES, Maurício Brum. Por uma análise genealógica dos princípios de direito
internacional na propriedade industrial: a adequação do regramento internacional
aos países em desenvolvimento. Revista Novatio Iuris. v.6 n.1 (2014), p. 89-115,
Fadergs, Porto Alegre, 2014.
FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
FALCÃO, Joaquim et al. Estudo Sobre o Software Livre comissionado pelo instituto
nacional da tecnologia da informação (ITI). Escola de Direito FGV: Rio de Janeiro:
2005. Disponível em: <http://www.softwarelivre.gov.br/documentos-oficiais/estudo-
sobre-o-software-livre>. Acesso em 07 Out. 2015.
LEMOS, Ronaldo. Direito, tecnologia e cultura. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
LESSIG, Lawrence. Remix: making art and commerce thrive in the Hybrid
Economy. The Penguin Press: New York. 2008.
MIRAGEM, Bruno. Direito do Consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2008.
TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil – Tomo II. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
UNITED Nations. E-Commerce and Development Report 2003, Chapter 4: Free and
open-source software: Implications for ICT policy and development. New York and
Geneva, 2003, UNCTAD/SIDTE/ECB/2003/1. Disponível em
<http://unctad.org/en/docs/ecdr2003ch4_en.pdf>. Acesso em 07 Out. 2015.
113
Resumo: O presente artigo se propõe a uma breve análise dos reflexos nos direitos
autorais, face a ciência das inteligências artificias que crescem de forma vertiginosa todos
os dias, não podendo a Lei permanecer estagnada respeitando paradigmas ultrapassados
e deixando acontecer confusão e desentendimento, sem esquecer que a essência do direito
autoral é incentivar a criação. De maneira específica, busca suscitar a problemática da
identificação do autor da obra, em casos de criação de novas obras artísticas de forma
autônoma pela inteligência artificial e seus reflexos sociais, econômicos e jurídicos.
Palavras-Chave: inteligência artificial. Direitos autorais.
1 INTRODUÇÃO
Os direitos morais de autor, são os vínculos perenes que unem o criador à sua
obra, para a realização da defesa de sua personalidade. Tais direitos nascem com a criação
da obra, podendo ser manifestados com a simples materialização, ou seja, com sua
inserção na ordem fática, produzindo efeitos por toda a sua existência, mesmo com a
morte do criador, fluindo o direito do ato criativo. (DIAS, 2002).
1
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Pós-graduada
em Direto Empresarial – ênfase na Advocacia Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul - PUCRS. Pós-graduanda em Propriedade Intelectual pela Universidade Candido Mendes.
E-mail: paulalourencomadeira@gmail.com.
114
Assim sendo, impõe-se a prévia consulta ao autor para qualquer uso econômico
da obra, que só será legitimado mediante sua autorização expressa. Isto porque os
vínculos que mantêm o autor unido à obra, mesmo depois de comunicada sobre qualquer
forma, tem o direito de interferir em qualquer outra modalidade não contratada ou surgida
com a evolução tecnológica.
Em suma, o primeiro está ligado a titularidade que pode ser transferida a qualquer
terceiro, seja pessoa física ou jurídica. Os direitos patrimoniais estão intimamente
relacionados com a questão pecuniária/econômica, visam fomentar o mercado. São esses
direitos que em tese garantem aos artistas e divulgadores instrumentos para recuperar o
capital investido. Noutro giro os direitos morais dizem respeito a autoria da obra, o autor
é o criador. Os direitos morais são intransferíveis e irrenunciáveis, ainda que os direitos
econômicos sejam transferidos, o autor continuará a ser o autor da obra para sempre.
Assim, na atual era tecnológica que vivemos, a lei que vislumbra a proteção do
autor não é mais totalmente eficaz, deixando nascer a problemática de se reconhecer quem
é o autor e há quem pertencem os direitos morais de autor nos casos como de obras
oriundas de criação por parte da Inteligência Artificial.
115
No entanto, as suas gravuras e pinturas foram populares em toda a sua vida e sua
reputação como artista manteve-se elevada, e por vinte anos ele ensinou quase todos os
importantes pintores holandeses. Os maiores triunfos criativos de Rembrandt são
exemplificados especialmente nos retratos de seus contemporâneos, autorretratos e
ilustrações de cenas da Bíblia. (FRAZÃO, 2018).
A pintura final – criada por computador – foi feita com uma impressora 3D, para
imitar o mapa de calor, textura e espessura das camadas que um autêntico Rembrandt
teria. O resultado impressiona. Se disposto em um museu, certamente o público
reconheceria o quadro como um autêntico Rembrandt. (IDG NEWS, 2016).
A criação de obras artísticas por inteligência artificial, por sua vez, pode ir muito
além da mera fixação da obra do artista. Quando o artista fizer uso da inteligência artificial
unicamente como instrumento, sob a ótica dos direitos autorais, aplicar-se-á o
consolidado entendimento que vem sendo aplicado em relação aos programas comuns.
Some-se a esse entendimento o disposto do art. 7º da LDA sob o qual são passíveis
de proteção sob o Direito Autoral “criações de espírito, expressas por qualquer meio ou
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no
futuro” e já temos uma problemática no que se refere ao termo “criações do espírito”
utilizado, o que condicionaria a proteção de uma obra intelectual a uma relação com um
agente dotado de um espírito.
Ou seja, não basta que o responsável por aquela obra seja dotado de inteligência,
é necessário que aquela obra seja uma criação do espírito daquele autor. A relação entre
o pensamento e o espírito tem por base um argumento de natureza teológica, sob o qual
o pensamento permite ao ser humano a tomada de decisões que irão, de certa maneira,
influenciar a maneira como o espírito, a alma, será julgada após o momento da morte.
(SCHIRRU, 2016).
Assim, pode-se afirmar, de plano, que a atual legislação pátria não possibilita que
direitos autorais sejam atribuídos os computadores/robôs.
perspectiva. Ou seja, Davies (2011) dá o exemplo dos ateus: se um ateu não acredita que
possui uma alma, um espírito, as suas criações não deveriam ser consideradas como
passíveis de proteção autoral, equivalendo-se a uma obra gerada por um ser inanimado,
como o computador?
Para gerar mais discussões sobre o tema, Davies (2011) propõe ainda uma situação
onde seriam comparadas obras geradas por um clone humano e um agente de inteligência
artificial: ambos seriam criações artificiais, dotadas de inteligência e material biológico,
portanto, o tratamento dado às produções intelectuais de um clone seria o mesmo dado às
produções geradas por um computador?
É bem verdade que a questão do espírito e da alma é algo complexo e que, por si
só, permite a realização de um estudo apenas sob os aspectos teológicos e antropológicos,
haja vista que enquanto a concepção cristã é que seres inanimados não possuem alma,
religiões orientais, por sua vez, entendem que seres inanimados como árvores e
cachoeiras possuem espírito. (SCHIRRU, 2016).
Essas são perguntas atuais, que existem e que as respostas não são simples à luz
da nossa legislação. Nos exemplos citados, a quem pertencem aos direitos autorais dessas
obras caso elas fossem produzidas no Brasil? Seriam protegidas pela atual Lei de Direitos
Autorais (LDA)?
Conforme já exposto o Brasil define autor – direitos morais – como pessoa física.
Neste sentido os computadores/robôs não se enquadrariam como autores. Porém por trás
de toda forma de inteligência artificial há uma programação executada por humanos. Esta
conclusão superficial traz uma falsa certeza de que há respostas rápidas e simples às
indagações.
Falsa certeza, sim, pois desaba através de uma simples analise perfunctória do
problema e da evolução da IA – inteligência artificial – esta pode se desenvolver e
119
Esse cenário gera o argumento de que obras criadas por inteligência artificial de
forma automática e sem intervenção humana, já nasceriam em domínio público.
Afinal, qual seria o interesse de entidades investirem na área se, ao final, elas não
tivessem quaisquer direitos sobre o resultado gerado pelo programa de inteligência
artificial?
Da mesma forma, tal proteção pode ser particularmente relevante para alguns
setores da economia. Exemplo prático disso, são startups do setor de entretenimento que
já estão usando inteligência artificial para criar músicas, cujos direitos de reprodução são
cedidos para empresas das áreas de audiovisual e videogames. (OLIVEIRA, 2018).
Desse modo, países que prezam pela proteção a direitos de propriedade intelectual
não podem ignorar essa nova realidade e deixar de regular a matéria. Nesse sentido, como
regular os direitos autorais relativos a essas criações?
O Copyright, Designs and Patents Act (CDPA) do Reino Unido estabelece, a título
exemplificativo, na sua sessão 9(3) que “nos casos de criação de trabalhos literários,
dramáticos, musicais ou artísticos por computadores, o autor será a pessoa que fez os
arranjos necessários para a criação da obra em questão”.
Como se vê, o CDPA atribui os direitos autorais sobre obras criadas por
inteligência artificial ao sujeito que possibilita a criação da obra pelo computador. No
caso citado no início desse artigo, nos parece claro que, sob esse sistema, os direitos
autorais sobre a obra seriam atribuídos ao grupo que viabilizou a criação do The Next
Rembrandt.
Desse modo, não resta dúvidas de que a legislação brasileira precisará se adaptar,
de modo a garantir a proteção de obras concebidas por inteligência artificial, o que pode
ser feito mediante modificação da atual Lei de Direitos Autorais ou por meio da criação
de um direito sui generis, tratado por legislação específica.
Nesse mister, o legislador deverá atuar com cuidado e editar normas que permitam
a clara identificação do titular dos direitos autorais sobre as obras, mitigando conflitos e
proporcionando segurança jurídica em uma área que será extremamente relevante nas
próximas décadas.
121
4 CONCLUSÃO
Portanto, cada vez mais se fazem necessários estudos sobre o tratamento a ser
concedido pelos direitos autorais às questões da inteligência artificial, bem como
reflexões acerca da necessidade de um diploma legal que esteja atualizado com os últimos
122
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BITTAR, Carlos Alberto. Contornos Atuais do Direito do Autor. 2 ed. rev., atual., e ampl.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.
_______. Direito do Autor. 4 ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro, Forense universitária,
2003.
DE CUPIS, Adriano. I Diritti della Personalità. 2 ed. rev. e atual. Milão: Dott. A Giuffrè
Editore, 1982.
MOSCA, Ana Zan. Inteligência Artificial Novos Desafios ao Direito Autoral. Disponível
em: http://anaclaudiazandomenighi.jusbrasil.com.br/artigos/577337274/inteligenciaarti
_cial-novos-desa_os-ao-direito-autoral. Acesso em: 13/09/2018.
OLIVEIRA, Jaqueline Simas de. Inteligência artificial cria novos desafios na área de
direitos autorais. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-fev-22/jaqueline-
simas-inteligencia-artificial-desafia-direitos-autorais/ Acesso em: 13/09/2018.
123
1 INTRODUÇÃO
1
Membro da Comissão Especial de Propriedade Intelectual da OAB/RS.
125
Ocorre que, diante de qualquer tutela que venha a ser deferida, é provável que a
decisão será prejudicial para alguma das partes envolvidas, que deverá abandonar sua
marca ou seu nome empresarial em detrimento de outro titular. Tal medida, por óbvio,
pode acarretar imensos prejuízos financeiros e é de extrema importância para o
desenvolvimento econômico do país.
A Constituição Federal3 dispõe em seu artigo 5o, inciso XXIX, elevando à direito
fundamental, “a proteção à propriedade das marcas, aos nomes empresariais e a outros
signos distintivos”. Nota-se, portanto, que a nível constitucional, a proteção da
propriedade sobre a marca e ao nome empresarial e título de estabelecimento encontram-
se equiparados, garantindo o constituinte igual proteção a todos os signos.
Neste sentido, Denis Borges Barbosa4 afirma que há interesse público no direito
marcário, com o fim precípuo de proteção ao consumidor:
2
SILVEIRA, Newton. Propriedade intelectual: propriedade industrial, direito de autor, software, cultivares,
nome empresarial, abuso de patentes. Barueri, SP: Manole, 2014, p.13
3
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
4
BARBOSA, Denis Borges. Direito de Precedência ao Registro de Marcas. 2005, p. 10. Disponível em:
http://www.denisbarbosa.addr.com/arquivos/200/propriedade/precedencia.pdf Acesso em: 28 de janeiro de
2017.
127
Há, desta maneira, um interesse geral em que uma marca seja registrada.
Ainda, sustenta o doutrinador que “para o caso das marcas, a cláusula
constitucional finalística vincula a propriedade ao seu uso social – o que representa um
compromisso necessário com a utilidade (uso do direito), com a veracidade e licitude,
sem falar de seus pressupostos de aquisição: a distinguibilidade e a chamada novidade
relativa”5.
Tem-se, portanto, que existe uma tensão entre a finalidade constitucional dos
direitos de propriedade industrial, com os princípios da função social da propriedade e,
ainda, a questão da liberdade concorrencial:
Assim, tais pressupostos precisam ser sopesados quando há conflito entre sinais
distintivos de diferentes titulares, o que tentará se destrinchar adiante.
5 BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à Propriedade Intelectual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003,
p. 133.
6
BARBOSA, Denis Borges. Nota sobre a categoria constitucional da “propriedade das marcas”, 2005, p.
9. Disponível em: http://www.denisbarbosa.addr.com/arquivos/200/propriedade/notamarca2.pdf Acesso
em: 27 de janeiro de 2017.
7
SOUZA, Daniel Adensohn de. Proteção do nome de empresa no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 43.
128
Nota-se que, de acordo com o art. 1.163 do Código Civil, é requisito para a
inscrição do nome empresarial a novidade em relação aos outros efetuados no mesmo
registro (Junta Comercial). Não trata a lei, portanto, da novidade do nome empresarial em
relação às marcas já registradas.
8
BRASIL. Lei nº. 10.406/2002, Código Civil Brasileiro.
9
BRASIL. Lei 8.934/94. Dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá
outras providências.
129
Desta forma, é o sinal que identifica e distingue a pessoa - física ou jurídica - que
exerce a atividade empresarial, configurando-se como direito de personalidade (ou
identidade) da mesma. Karin Grau-Kuntz13 ensina que sem denominação, não há
personalidade jurídica; razão pela qual uma sociedade de fato (irregular), não possui
personalidade jurídica. Ou seja: "o direito ao nome das pessoas jurídicas é um dos direitos
decorrentes da personalidade jurídica".
Newton Silveira15 entende que “por sua natureza, o nome empresarial é direito
exclusivo absoluto, não limitado ao ramo de atividade, de modo que, ao menos quanto às
denominações, não podem coexistir no território nacional duas idênticas”. O doutrinador
faz, contudo, a diferenciação entre o nome empresarial subjetivo e nome empresarial
objetivo:
14
Ibid, p. 25-27.
15
SILVEIRA, Newton. op. cit., p. 19.
16
CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade Industrial, Volume I - Da Propriedade Industrial
e do Objeto dos Direitos, 3ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012, p. 326.
131
Temos, portanto, que o nome comercial, haja vista sua função econômico-
concorrencial, tem sua proteção estendida para todo o território em que haja potencial
concorrência, não havendo, dessarte, limitação territorial preestabelecida, cabendo ao
juiz, no caso concreto, aferir a presença da relação de concorrência. Essa relação de
17
BARBOSA, Denis Borges. Tratado da Propriedade Intelectual, Tomo I. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010, p. 411.
18
SOUZA, Daniel Adensohn de. Op. Cit., p. 155.
132
concorrência, vale dizer, ao passo que fixa o âmbito territorial de proteção, delimita a
extensão da proteção à atividade desenvolvida, ou seja, do campo concorrencial.19
Igual pensamento comunga Fábio Ulhoa Coelho22, para quem “hoje em dia, o
nome empresarial não cumpre mais a função mercadológica do passado. Foi substituído,
na função, pela marca”. Ora, se a marca passou a ser o signo distintivo que, de fato,
distingue um concorrente de outro, o nome empresarial passou a ser uma mera
formalidade no ato do registro do empresário? O doutrinador explica que o nome de
identificação do sujeito que explora a atividade econômica ainda goza de proteção
jurídica pelo motivo de ainda representar a reputação do empresário entre fornecedores e
financiadores, sendo mais importante no meio empresarial, do que no meio de consumo.
19
Ibid., p. 156.
20
SILVEIRA, Newton. Op. cit., p. 19, nota de rodapé nº 1, e p. 99.
21
LEONARDOS, Gabriel Francisco. A proteção ao nome empresarial, in JABUR, Wilson Pinheiro;
SANTOS, Manoel J. Pereira dos (Coords.). Propriedade Intelectual: sinais distintivos e tutela judicial e
administrativa. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 135.
22
COELHO, Fábio Ulhoa. Op. Cit. pp. 240-1.
133
23
SOUZA, Daniel Adensohn de. Op. cit, p. 59.
24
SILVEIRA, Newton. Op. cit., p. 114.
134
Fábio Ulhoa Coelho26 define o título de estabelecimento como "a designação que
o empresário empresta ao local onde desenvolve sua atividade", sendo que não
necessariamente precisa coincidir com o nome empresarial ou a marca.
25
Idem.
26
COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 248.
27
BARBOSA, Denis Borges. Signos de todo Gênero - Títulos de Estabelecimento. Disponível em:
<http://denisbarbosa.addr.com/paginas/home/pi_tipos_signos.html#titulos>. Acesso em: 29 de janeiro de
2017.
28
COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit, p. 248.
135
2.3 Marcas
A Lei 9.279/96, em seus artigos 122 e 123, define que marcas são os sinais
distintivos visualmente perceptíveis, utilizados para identificar produtos ou serviços.
29
SILVEIRA, Newton. Op. cit., p. 114.
30
Ibid, pp. 20-21.
136
31
CERQUEIRA, João da Gama. Op. cit., p. 242.
137
Como exemplo, podemos citar a marca "VEJA", que identifica tanto a revista,
quanto o produto de limpeza ou o calçado; todos de titulares diferentes e sem que causem
confusão ao consumidor.
Marca de alto renome é aquela que, por ser tão famosa em um país, possui
proteção especial em todos os ramos de atividade (vale dizer, em todas as classes de
registro). Este tipo de marca, contudo, precisa ser reconhecida como tal pelo órgão
registral (no Brasil, o INPI), para então gozar desta proteção especial. A marca de alto
renome, portanto, é exceção ao princípio da especialidade, posto que possui proteção
especial estendida a todos os ramos de atividade. As marcas de alto renome vigentes no
Brasil (até dezembro de 2016) podem ser consultadas junto ao INPI33.
32
BARBOSA, Denis Borges. Proteção das Marcas Uma Perspectiva Semiológica. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007, p. 197.
33
INSTITUTO Nacional da Propriedade Industrial. Marcas de Alto Renome em vigência. Disponível em:
<http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/marcas/arquivos/inpi-marcas_-marcas-de-alto-renome-em-
vigencia_-13-12-2016_padrao.pdf>. Acesso em 11 de fevereiro de 2017.
138
De modo a facilitar o estudo, dividimos esta análise entre as três ocorrências mais
comuns levadas ao Poder Judiciário: nome empresarial x nome empresarial; marca x
marca; e nome empresarial e/ou título de estabelecimento x marca.
139
Ocorre que, com as facilidades trazidas pelos meios de comunicação digital atuais
e a proliferação do e-commerce, a atividade da empresa, ainda que apenas registrada em
um Estado, pode ser facilmente prestada em âmbito nacional. Tal fato, por certo, é um
complicador para a análise concorrencial de colidências entre sinais distintivos, uma vez
que a "área de concorrência", nestes casos, poderia ser considerada simplesmente como
o território de toda a federação, através da oferta de bens de consumo e serviços pela
internet.
34
GRAU-KUNTZ, Karin. Op. cit., pp. 71-2.
140
[...]
35
BRASIL. Instrução Normativa DREI nº 15, de 5 de dezembro de 2013, publicado no D.O.U. de 06 de
dezembro de 2013.
141
Denota-se do voto do Relator do caso supracitado que foi realizada uma análise
com base na questão concorrencial existente entre as empresas:
Assim, somente com esta análise subjetiva do caso concreto, poder-se-á chegar a
um julgamento minimamente justo.
A análise de colidências entre marcas, via de regra, é tarefa mais fácil, tendo em
vista a aplicação dos princípios da territorialidade e especialidade, os quais definem de
forma objetiva a extensão e objeto da proteção marcária.
O presente estudo não analisará os ditames para se apurar se uma marca é igual,
semelhante ou imita outra. Assim, para os fins das análises dos conflitos, presumir-se-á
que as marcas já tenham sido analisadas e que há, efetivamente, a colidência dos sinais
em debate.
(...)
3. No caso, a recorrente tem registro de marca que, apesar da conclusão
da Corte de origem de que evoca ao termo comum anglo-saxão "cheese"
(queijo), é incontroverso que ambas assinalam salgadinhos "snacks",
exploram o mesmo mercado consumidor e têm grafia e pronúncia
bastante assemelhadas - hábeis a propiciar confusão ou associação entre
as marcas no mercado consumidor.
(...)
5. A possibilidade de confusão ou associação entre as marcas fica nítida no
caso, pois, como é notório e as próprias embalagens dos produtos da
marca "CHEE.TOS" e "CHEESE.KI.TOS" reproduzidas no corpo do
acórdão recorrido demonstram, o público consumidor alvo do produto
assinalado pelas marcas titularizadas pelas sociedades empresárias em
litígio são as crianças, que têm inegável maior vulnerabilidade, por isso
denominadas pela doutrina - o que encontra supedâneo na inteligência do
37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor - como consumidores
hipervulneráveis.
6. O registro da marca "CHEESE.KI.TOS" violou o artigo 124, XIX, da
Lei da Propriedade Industrial e não atende aos objetivos da Política
Nacional de Relações de Consumo, consoante disposto no artigo 4º, incisos I,
III e VI, do Código de Defesa do Consumidor, sendo de rigor a sua anulação.
7. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1188105⁄RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 05⁄03⁄2013, DJe 12⁄04⁄2013) (grifou-se)
extrapolar os limites de uma classe sempre que, pela relação de afinidade dos
produtos, houver possibilidade de se gerar dúvida no consumidor.
5. Caso concreto em que a concessão do registro pleiteado pela autora
ensejaria, no consumidor, uma provável e inverídica associação dos biscoitos
recheados com as pastilhas TIC TAC comercializadas pelas rés.
6. Indeferimento do registro que deve ser mantido, à luz do art.
124, XIX, da Lei n. 9.279/96.
7. RECURSOS ESPECIAIS PROVIDOS.
(REsp 1340933/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 10/03/2015, DJe 17/03/2015)
O INPI possui sua base de dados própria, na qual estão insertos todos os registros
(e pedidos de registro) de marcas feitos perante aquela autarquia federal, disponíveis para
consulta a todo e qualquer cidadão através de seu portal na internet; todavia, não há
qualquer integração desta base de dados com as bases de dados das Juntas Comerciais de
cada Estado da federação, que sequer são unificados, a nível nacional, pelo Departamento
de Registro Empresarial e Integração (DREI).
36
BARBOSA, Denis Borges. Nota sobre títulos de estabelecimento. Disponível em:
<http://denisbarbosa.addr.com/arquivos/200/propriedade/nota_titulos_estabelecimento.pdf>. Acesso em:
11 de fevereiro de 2017, pp. 18-20.
151
3 CONCLUSÃO
Extrai-se dos julgados colacionados neste estudo que o registro marcário, a priori,
possui uma proteção mais forte e predominante sobre os demais signos distintivos,
especialmente quando se tratam de empresas sediadas em diferentes Estados da
Federação; todavia, o Superior Tribunal de Justiça possui uma tendência ao entendimento
da convivência pacífica entre signos quando não se verifica qualquer concorrência efetiva
entre os titulares.
Soma-se a isso o fato da marca, nos dias de hoje, assumir um papel de maior
importância na atividade empresarial, suplantando a importância do próprio nome
empresarial perante o público consumidor final que, invariavelmente, (re)conhece o
153
fabricante de certo produto simplesmente pela marca do produto (e não por seu nome
empresarial).
Outro exemplo que bem ilustra a importância da marca sobre o nome empresarial
é o sistema de franquias, onde o consumidor final tão somente reconhece o título de
estabelecimento e as marcas dos produtos e serviços ofertados, sendo o nome empresarial
do franqueado absolutamente irrelevante e, quase sempre, ignorado e desconhecido
daquele consumidor que, ao cabo, apenas conhece a marca e nela confia.
Há que se ter em mente que, quando se trata de um conflito gerado por atos
originários de boa-fé (ou, para ser mais específico, quando se trata de uma simples
coincidência no uso de signos distintivos iguais ou semelhantes), invariavelmente uma
das partes sairá vencida no embate, o que por certo gerará grande prejuízo econômico e à
imagem daquela empresa instada a abster-se de utilizar um signo distintivo pelo qual
ganhou reconhecimento junto a seu mercado consumidor.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Denis Borges. Proteção das Marcas Uma Perspectiva Semiológica. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1. São Paulo: Saraiva,
2012.
GRAU-KUNTZ, Karin. Do nome das pessoas jurídicas. São Paulo: Malheiros Editores,
1998.
SOUZA, Daniel Adensohn de. Proteção do nome de empresa no Brasil. São Paulo:
Saraiva, 2013.
156
Resumo: A produção de vinho na Serra Gaúcha inicialmente era para o consumo familiar,
mas com o tempo ganhou espaço no comércio e a exigëncia de um refinamento na sua
produção. Com isso, a qualidade dos vinhos da região, em especial do Vale dos Vinhedos,
com o uso de saberes e técnicas de cultivo foi se aperfeiçoando ao longo dos anos, mas
sempre mantendo a essência histórica de cada família. Acrescido a isso, há a legislação
vigente que mantém protegida a parte comercial via Instituto Nacional de Propriedade
Industrial. Mas, qual é a forma de proteção dada aos elementos culturais que fazem parte
da tradicional elaboração dos vinhos do Vale dos Vinhedos? Na busca dessa resposta é
que este artigo visa demonstrar, por meio da história da colonização italiana na região da
serra gaúcha, até sua obtenção da Denominação de Origem, que há um elemento formador
de tradição e cultura do vinho. Para sua identificação se faz necessário buscar na
bibliografia a história da colonização italiana na região, bem como aprofundar os
conceitos essenciais para o desenvolvimento da pesquisa, tais como cultura e tradição.
Mas foi na análise da legislação protetiva comercial e cultural vigente que já se encontrou
alguns elementos de proteção para a tradição e a cultura do Vale dos Vinhedos. Portanto,
o caminho começa a se delinear para demonstrar que tradição e cultura do vinho são
elementos essenciais na transmissão de saberes e valores para construção de uma
identidade do vinho.
1 INTRODUÇÃO
suas vidas. Essa cultura do vinho, na Região do Vale dos Vinhedos, foi um dos elementos
essenciais para a mesma fosse beneficiada pelas concessões das Indicações Geográficas
e dos seus produtos.
O conceito de Indicação Geográfica pode variar, porém pode se dizer que existe
um marco da proteção na legislação internacional, que foi o Acordo de Madri
(ONU1981), em seguida a Convenção da União de Paris (ONU, 1883) e posteriormente
o Acordo de Lisboa (ONU, 1958). Na legislação brasileira, as Indicações Geográficas
estão substanciadas na Lei 9.279 de 14 de maio de 1996, Lei de Propriedade Industrial
(Brasil, 1996). Cabe ressaltar que no Brasil a Indicação Geográfica pode ser dividida em
dois procedimentos de registro distintos, o primeiro é a Indicação de Procedência (IP) e
o segundo é a Denominação de Origem (DO). Outro ponto importante é que além de
elementos objetivos que diferenciam as formas registro, há elementos que envolvem uma
subjetividade na diferenciação dos procedimentos (Rocha Filho, 2013).
Dispõe sobre as terras devolutas no Império, e acerca das que são possuídas
por titulo de sesmaria sem preenchimento das condições legais. bem como por
simples titulo de posse mansa e pacifica; e determina que, medidas e
demarcadas as primeiras, sejam elas cedidas a titulo oneroso, assim para
empresas particulares, como para o estabelecimento de colonias de nacionaes
e de extrangeiros, autorizado o Governo a promover a colonisação extrangeira
na forma que se declara. (Brasil,1850)
158
Os lotes iniciais de terra tinham dimensões de até 63 hectares, tamanho este que
fugia do padrão em que o agricultor italiano estava acostumado, ou seja, com as pequenas
propriedades rurais da Itália. As dimensões das terras causavam uma certa dificuldade
159
devido ao isolamento das famílias. Não havia condições de acesso, fato que dificultava
as condições de circulação através de caminhos rudimentares ou em forma de picadas
(Dal Pizzol, 2014).
Todo esse processo se iniciou com a chegada dos imigrantes italianos, por essa
razão a colonização da região não pode ser apenas vista como uma simples forma de
ocupação de terras no território brasileiro. Esse processo envolveu questões de cunho
emocional, pois o que foi dado a essas famílias que vieram para o Vale dos Vinhedos, foi
oportunidade de melhorar suas vidas. Para isso tiveram que deixar o seu país para
construir uma nova ligação com esta terra para onde trouxeram todos os seus saberes e
suas tradições.
O vinho sempre foi elemento cultural na tradição da cultura italiana, não sendo
diferente para os colonizadores da região do Vale dos Vinhedos. Segundo Manfio (2016),
boa parte das vinícolas familiares ainda se utiliza das técnicas dos seus antepassados, ou
seja, da tradição do fazer o vinho que é transmitida por gerações.
Essa tradição de transmissão de saberes relacionada à cultura agrícola e familiar
constituída através de um processo histórico gera novas identidades ao agricultor. A
construção da identidade liga o agricultor à terra, pois ela envolve sentimento de
esperança e de oportunidade. Os imigrantes italianos tiveram na terra a oportunidade de
reconstrução de suas vidas e a preservação de suas tradições e cultura
161
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e
afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional.(Brasil, 1988)
Antes de mais nada, há que se frisar a importância de buscar uma definição para
o termo cultura. Na Grécia antiga a cultura era processo de refinamento, entretanto as
artes, ofícios e trabalhos manuais não faziam parte do conceito. A cultura do vinho vai
além de uma manifestação folclórica, que por sua vez é menos abrangente, pois está mais
voltada a crenças, lendas e contos populares. (Rocha Filho, 2017).
Segundo Manfio (2016), termo cultura tem uma definição mais abrangente, pois
a mesma é a manifestação dos valores, do modo de vida dos sentimentos que são
transmitidos ao longo dos anos, já para Claval (1999, p. 63), a cultura é:
162
[...] a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos
e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em outra
escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte. A cultura é herança
transmitida de uma geração a outra.
A região da serra gaúcha conhecida como Vale dos Vinhedos é o encontro de três
municípios Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. A região é composta por
pequenas propriedades rurais com uma variabilidade de vinícolas, tanto do porte familiar
quanto industrial.
Os elementos naturais, com paisagens únicas, junto com a tradição cultural
histórica da imigração italiana foram determinantes para apresentar uma nova identidade
ao vinho gaúcho com suas Indicações Geográficas.
A ideia da Indicação Geográfica tem a sua origem na antiguidade, o famoso
Panteon na Antiga Roma foi construído pelo mármore proveniente de Carrara (Maiorki,
Dallabrida, 2015), já o primeiro Grand Cru que se tem notícia foi o vinho de Falerno,
lembrando que aos prenomes dos filósofos da Grécia antiga eram adicionados os nomes
de suas cidades natal (Rocha. 2017, p.55). Todos esses eram conhecidos e relacionados
por terem uma localidade única de procedência.
164
As certificações nas quais o Vale dos Vinhedos foi agraciado resultaram em fama
e notoriedade aos seus produtos. A obtenção da DO para Região do Vale dos Vinhedos
(Mapa 1) foi de extrema importância, pois conforme BRUCH (2008), a certificação
envolve basicamente dois tipos de valores, um deles, de fator econômico uma vez que o
produto elaborado nessa região agrega um valor monetário, e outro, é o valor do
reconhecimento de um produto elaborado em lugar marcado pela tradição histórica e
cultural.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ligação com a terra viria se intensificar ainda mais, quando um alemão passou
mudas de videiras de casta americana a um imigrante italiano que passeava nas encostas
de serra. No retorno à serra levava uma nova esperança em suas mãos: poder cultivar a
uva e passar a notícia aos demais agricultores italianos.
O poder cultivar a uva trouxe novo sentimento aos imigrantes, com a oportunidade
começar nessa nova terra, a produção de vinhos. A vitivinicultora sempre foi enraizada à
cultura italiana, ainda mais que parte significativa dessas famílias eram do norte da Itália,
região tradicionalmente ligada ao vinho.
O vinho começou a fazer parte da mesa dessas famílias italianas. De início para o
consumo próprio e após, com a diversificação das videiras, com a venda do excedente
para o comércio. No fazer vinho cada família pode transmitir sua história e o saber de
seus antepassados, com técnicas próprias e únicas, e assim transmiti-las às novas
gerações.
mais tarde, de uma forma mais completa, com a Denominação de Origem. Ressalva-se
que esta última só se tornou possível, pois todos os elementos, históricos e culturais da
região foram considerados como essenciais para sua concessão.
O vinho da Região do Vale dos Vinhedos deve ser visto além de um simples
produto, pois ali naquela garrafa, encontram anos de uma história de conquistas, de
saberes, de identidade cultural que devem ser preservadas e protegidas como um
patrimônio cultural brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______ Lei das Terras. Lei n°601 de 18 de setembro de 1850. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L0601-1850.htm. Acesso em: 06/09/2018.
CLAVAL, P. A Geografia Cultural: o estado da arte. In: CORRÊA, R.L. et al. (org.).
Manifestações da Cultura no Espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.
Dal Pizzol, Rinaldo; PASTOR, Luis Vicente Elias. Paisagens dos Vinhedos rio-
grandenses. Bento Gonçalves,2016.
DAL PIZZOL, Rinaldo; SOUZA, Sérgio Inglez de. Memórias do Vinho Gaúcho. Porto
Alegre: AGE, 2014. Vol. 1,
Vinhedos, Pinto Bandeira e Monte Belo (Brasil). Ivanira Falcade. – Porto Alegre:
IGEO/UFRGS, 2011.
1 INTRODUÇÃO
1
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Ritter dos Reis – Uniritter; Advogada; Pós Graduada em
Direito Empresarial pelo Instituto de Desenvolvimento Cultural – IDC; Pós Graduada em Direito de
Propriedade Intelectual pela Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul - FADERGS;
Coordenadora da área de Propriedade Intelectual da Cesar Peres Advocacia Empresarial; e-mail:
vanessa.oliveira@cesarperes.com.br; telefone: (051) 9 9297 3966.
170
Até 1967 o nome empresarial era denominado nome comercial. Com o advento
do Decreto Lei 254/1967, está terminologia foi substituída por “nome de empresa”,
estabelecendo o seguinte conceito para o instituto:
Art. 90. Constitui nome de emprêsa (sic) a firma ou denominação adotada por
pessoa física ou jurídica e pela qual é designada, no exercício de suas
atividades industriais, comerciais, extrativas, agrícolas ou de prestação de
serviços.
estado onde esta tivesse sede, privilégio adquirido mediante arquivamento dos atos
constitutivos no Registro de Comércio local, com a possibilidade de extensão da proteção
à totalidade do território nacional mediante registro no Departamento Nacional de
Propriedade Industrial.
Já o artigo 166 do Decreto Lei 1.005/1969 excluiu a proteção do nome de empresa
perante o Departamento Nacional da Propriedade Industrial, dispondo que a proteção ao
nome empresarial seria adquirida mediante arquivamento dos atos constitutivos da
sociedade no Registro do Comércio ou no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
Muitos anos antes, em 1887, a lei vigente (Lei 3.346 de 14.10.1887) já regulava
os registros de nome empresarial e marca sendo que os pedidos de registro de marca eram
realizados na Junta ou Inspetoria da sede do estabelecimento.
Segundo João da Gama Cerqueira, o nome empresarial aplica-se ao empresário
individual e à sociedade empresária, ou seja, às pessoas físicas ou jurídicas que exercem
a empresa, isto é, atividade econômica organizada de produção e distribuição de bens e
serviços para o mercado. É nome de pessoa e não de estabelecimento2.
Ao se dedicar a qualquer tipo de atividade seja ela comercial ou industrial, a
pessoa física ou jurídica necessita adotar um nome sob o qual passa a exercer suas
atividades e a assinar nos atos a ela referentes3.
Para falar de nome empresarial, Gladston Mamede4, assim refere:
A firma ou razão social é formada pelo nome civil do empresário ou dos sócios
da empresa. Tem esse nome, pois transparece, ao menos em parte, o corpo societário.
O empresário individual deverá adotar como firma individual seu nome civil,
expressando a razão empresarial. Em se tratando de sociedade, igualmente a razão social
deverá estar expressa refletindo a real formação societária, composta do nome de um ou
mais sócios responsáveis pela empresa, sendo obrigatório constar o sobrenome. Se um
2
CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade Industrial. Atualizado por Newton Silveira e
Denis Borges Barbosa. Volume I. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2012. p. 318.
3
CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade Industrial. Atualizado por Newton Silveira e
Denis Borges Barbosa. Volume I. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2012. p.325.
4
MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial.5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 51.
172
dos sócios vem a falecer, a razão social deverá ser modificada5. Em se tratando de
sociedade que contenha mais de um sócio, poderá adotar o nome e sobrenome de um
deles como razão social seguido da expressão “e Companhia” ou “& Cia” e ainda o nome
e sobrenome de todos ou mesmo somente o sobrenome de todos6.
A razão social tem uso obrigatório nas sociedades em que os sócios respondam
com o próprio patrimônio pelas dívidas da pessoa jurídica7. A sociedade limitada, apesar
da inexistência de responsabilidade subsidiária dos sócios também poderá fazer uso da
razão social, entretanto, respeitando ao principio da veracidade, será necessário fazer
constar a expressão limitada ou sua abreviatura8 e na falta, os administradores da
sociedade e os sócios cujos nomes constem na razão social responderão pelas obrigações
sociais9.
Diferentemente da razão social, a denominação social não se submete ao princípio
da veracidade, mas ao da novidade. Isso porque a denominação social poderá fazer
constar no nome empresarial qualquer expressão relacionada ao objeto da sociedade10,
desde que não imite, nem se pareça com denominação social já registrada, causando
confusão. Desta forma temos que: o empresário individual utilizará a firma individual11;
a sociedade limitada poderá fazer uso de firma (razão social) ou denominação social12; a
sociedade cooperativa usará denominação social13; a sociedade anônima usará
denominação social14 e a sociedade em comandita por ações usará firma (razão social) ou
denominação designativa de seu objeto social15.
Ainda, não se pode confundir nome empresarial e título de estabelecimento. O
nome identifica o empresário (firma individual) ou a sociedade (firma ou denominação
social). O título do estabelecimento é como o estabelecimento é chamado, o nome que
consta de sua fachada, também conhecido como nome fantasia. Desta forma, à título de
exemplo, José Soares (firma individual) ou Arroz e Feijão Restaurante Ltda.
(denominação social) poderão ser o nome empresarial do Rango do Bolinha (título do
estabelecimento). Poderá o título do estabelecimento fazer parte da denominação social,
5
Lei 10.406/2002, Artigo 1.165.
6
Lei 10.406/2002, Artigos 1.157 e 1.158, parágrafo primeiro.
7
Lei 10.406/2002, Artigo 1.157.
8
Lei 10.406/2002, Artigo 1.158.
9
Lei 10.406/2002, Artigo 1.158, parágrafo terceiro.
10
Lei 10.406/2002, Artigo 1.158, parágrafo segundo.
11
Lei 10.406/2002, Artigo 1.156.
12
Lei 10.406/2002, Artigo 1.158.
13
Lei 10.406/2002, Artigo 1.159.
14
Lei 10.406/2002, Artigo 1.160.
15
Lei 10.406/2002, Artigo 1.161.
173
16
Lei 10.406/2002, Artigo 1.163.
17
Lei 10.406/2002, Artigo 1.163, parágrafo único.
18
Lei 8.934/1994, artigo 34.
19
Recurso Especial Nº 989.105/PR, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Ministra Nancy
Andrighi, julgado em 08/09/2009.
20
Recurso Especial Nº 989.105/PR, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Ministra Nancy
Andrighi, julgado em 08/09/2009.
174
21
Lei 8.934/1994, artigo 60 e parágrafo primeiro.
22
Decreto 1.800/1996, artigo 61, parágrafo primeiro.
23
Decreto 1.800/1996, artigo 61, parágrafo segundo.
24
O Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) foi redenominado Departamento de
Registro Empresarial e Integração (DREI) e deslocado para a Secretaria Especial da Micro e Pequena
Empresa (SEMPE) a quem foram transferidas parcialmente as competências que vinham sendo exercidas
pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
25
Decreto 1.800/1996, artigo 62, parágrafo segundo.
26
Decreto 1.800/1996, artigo 62, parágrafo terceiro.
175
27
Instrução Normativa nº 5 do DREI, artigo 6º, Parágrafos primeiro e segundo.
28
Lei 10.406/2002, Artigo 55.
29
Lei 10.406/2002, Artigo 1.155.
30
Lei 10.406/2002, Artigo 1.166.
31
Instruções Normativas nº 15 e 20 do DREI, artigos 11, parágrafos primeiro e segundo e artigo 2º,
parágrafo segundo, alínea “a”, respectivamente.
32
Lei 9.279/1996, artigo 124, inciso V.
176
3 DO REGISTRO DE MARCA
33
IDS – Instituto Dannemann Siemsen de Estudos de Propriedade Intelectual. Comentários à Lei de
Propriedade Industrial. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2005. p. 210
34
DI BLASI, Gabriel. A Propriedade Industrial: Os sistemas de marcas, patentes, desenhos industriais
e transferência de tecnologia. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2010. p. 291.
35
DI BLASI, Gabriel. A Propriedade Industrial: Os sistemas de marcas, patentes, desenhos industriais
e transferência de tecnologia. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2010. p. 292.
36
SOARES, José Carlos Tinoco. Marca vs Nome Comercial: Conflitos. São Paulo: Editora Jurídica
Brasileira, 2000. p. 14.
177
Denis Borges Barbosa afirma que “marca é o sinal visualmente representado, que
é configurado com o fim específico de distinguir a origem dos produtos e serviços” 40.
Dentre as diversas funções da marca está, do ponto de vista privado, a de
proporcionar ao seu proprietário o direito de, administrativa ou judicialmente agir contra
seu uso indevido ou não autorizado por terceiro, configurando a concorrência desleal e
do ponto de vista público, a atuação no plano comercial, na defesa do consumidor a fim
de evitar confusão. Com o tempo, ela agrega a seu significado elementos para a aferição
37
SOARES, José Carlos Tinoco. Marca vs Nome Comercial: Conflitos. São Paulo: Editora Jurídica
Brasileira, 2000. p. 14.
38
SOARES, José Carlos Tinoco. Marca vs Nome Comercial: Conflitos. São Paulo: Editora Jurídica
Brasileira, 2000. p. 15/16.
39
SOARES, José Carlos Tinoco. Tratado de Propriedade Industrial. Ed. Resenha Tributária, 1988, São
Paulo, V.I. p. 101.
40
BARBOSA, Denis Borges. Uma Introdução à Propriedade Intelectual. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2003, p. 87.
178
41
Lei 9279/96, art. 129.
42
Lei 9279/96, art. 129, parágrafo primeiro.
43
Lei 9279/96, art. 130.
180
44
Decreto Lei 1.005/1969, artigo 166.
181
sua sede45.
José Carlos Tinoco Soares, em sua obra Marcas vs. Nome Comercial Conflitos46,
refere que o Código Penal sancionado pelo Decreto 847/1890 já trazia em seu texto a
repressão da concorrência desleal através do artigo 353, que considerava violação à marca
a reprodução de marca devidamente registrada e publicada e ainda o uso de nome ou
firma comercial pertencente à terceiro.
O mesmo autor refere que em 1904, através da Lei 1.236 o nome empresarial
poderia ser suscetível de registro como marca desde que revestido de forma distintiva e
nessas condições o registro apenas do elemento verbal não era permitido. O artigo 8º
determinava que “era proibido o registro de marca que contivesse nome comercial ou
firma social de que legitimamente não poderia usar o requerente”47.
Segundo Soares48, o registro do nome comercial como marca, perante o
Departamento Nacional da Propriedade Industrial, para fins de proteção em todo o
território nacional, não supria o arquivamento dos atos constitutivos das empresas perante
as Juntas Comerciais. Tanto é que para o competente registro do nome comercial como
marca no DNPI havia a necessidade de comprovação da existência legal da empresa
mediante a apresentação de certidão ou extrato do contrato social. Por outro lado, quando
o nome comercial contivesse expressão fantasia, a sua proteção somente seria efetivada
se houvesse a devida comprovação de que o interessado possuía sua marca devidamente
registrada.
O Decreto 7.903/1945 instituiu o primeiro Código de Propriedade Industrial e
estabelecia tanto a proteção às marcas quanto ao nome empresarial. Como se vê, os dois
institutos sempre estiveram relacionados.
A Constituição Federal de 1988, através do artigo 5º, inciso XXIX, também não
deixou de proteger os institutos, equiparando-os quanto à natureza jurídica como direito
de propriedade:
“A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para
sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das
marcas, aos nomes de empresas e a ouros signos distintivos, tendo em vista o
45
Decreto 3.346/1887, artigo 4º.
46
SOARES, José Carlos Tinoco. Marca vs Nome Comercial: Conflitos. São Paulo: Editora Jurídica
Brasileira, 2000. p.15.
47
SOARES, José Carlos Tinoco. Marca vs Nome Comercial: Conflitos. São Paulo: Editora Jurídica
Brasileira, 2000. p.15.p. 18.
48
SOARES, José Carlos Tinoco. Marca vs Nome Comercial: Conflitos. São Paulo: Editora Jurídica
Brasileira, 2000. p.15.p. 19.
182
Sobre a colidência entre nome empresarial e marca Fábio Ulhoa Coelho assim se
manifesta:
“[...] a jurisprudência tem normalmente prestigiado a tutela da marca, em
detrimento da do nome empresarial, mesmo quando o registro deste é anterior.
Exige-se, contudo, em função do principio da especificidade, que o titular da
marca e do nome colidentes operem no mesmo segmento de mercado (salvo se
a marca for de alto renome, quando o empresário goza de proteção em todos
os segmentos)” 49.
49
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo. Saraiva. 2010. Volume 1. Página 188.
50
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo. Saraiva. 1998. Volume 1. Página 175.
51
Manual de Marcas do INPI. Instituído pela Resolução INPI/PR nº 177/2017; 2ª Edição, 2017, item 5.11.7.
183
52
Recurso Especial Nº 1.204.488/RS, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Ministra
Nancy Andrighi, julgado em 22/02/2011.
53
Lei 9.279/1996, Artigo 129, parágrafo primeiro.
54
http://www.inpi.gov.br/portal/
184
fazia o uso do nome de boa fé há pelo menos seis meses da data da prioridade ou depósito;
eventual colidência no ramo de atuação das partes e ainda possibilidade concreta de
causar desvio de clientela e/ou confusão ao público consumidor.
Segundo entendimento da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça
proferido no julgamento do Recurso Especial 1.204.488/RS55, para aferir a colidência
entre um nome empresarial e uma marca, não basta se ater ao critério da anterioridade do
registro, devendo ser levado em consideração dois princípios do direito das marcas, quais
sejam, o Princípio da Territorialidade que se refere ao âmbito geográfico de proteção
conferida pelo registro; e o Princípio da Especificidade que refere que a marca está
diretamente ligada ao tipo de produto ou serviço para o qual ela foi registrada mediante
classificação, com exceção das de alto renome que serão protegidas em todos os ramos
de atividade56.
No caso julgado através do RESP 262.643/SP de 09/03/201057, por exemplo, uma
empresa detinha o nome comercial FIORELLA PRODUTOS TÊXTEIS LTDA. e o
registro da marca FIORELLA, expressão idêntica e anterior ao nome empresarial
PRODUTOS FIORELLA LTDA., de outra empresa. Pretendia, então, que esta segunda
se abstivesse de utilizar a expressão pela proteção posterior e diante da exclusividade da
primeira. Entretanto, a Terceira Turma entendeu pela inexistência de emprego indevido
da expressão e consignou ser irrelevante a anterioridade do registro para dirimir o
conflito, por entender que a similitude das denominações não gera confusão entre os
consumidores, especialmente por serem distintas e inconfundíveis as áreas de atividade
das empresas. E complementou:
“A tutela do nome comercial deve ser entendida de modo relativo, como bem
observou a Corte a quo, pois o registro mais antigo gera a proteção no ramo de
atuação da empresa que o detém, mas não impede a utilização do nome em
segmento diverso, sobretudo quando não se verifica qualquer confusão,
prejuízo ou vantagem indevida no seu emprego” 58.
Para que haja violação ao artigo 129 da Lei de Propriedade Industrial e seja
configurada a reprodução ou imitação de marca previamente registrada, a Terceira Turma
55
Recurso Especial Nº 1.204.488/RS, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relatora: Ministra
Nancy Andrighi, julgado em 22/02/2011.
56
Lei 9.279/96, artigo 125.
57
Recurso Especial Nº 262.643/SP, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Vasco Della
Giustina, julgado em 09/03/2010.
58
Recurso Especial Nº 262.643/SP, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Vasco Della
Giustina, julgado em 09/03/2010.
185
do STJ em 08/09/200959 entendeu ser necessário que exista risco de dúvida, erro ou
confusão no mercado entre os produtos ou serviços do mesmo ramo.
No caso específico objeto de julgamento, em que se discutia a identidade entre
duas marcas e nomes empresariais, a Terceira Turma entendeu que apesar da semelhança
nos vocábulos “Arábia” e “Areibian”, não há similitude significativa a ponto de levar o
público consumidor a erro ou confusão, pois há diferença tanto na grafia dos termos
quanto na fonética das palavras. O próprio logotipo de ambas as marcas se diferem.
Assim, os ministros daquela turma entenderam que as marcas não são capazes de causar
confusão ou induzirem os consumidores em erro.
Caso bastante comentado foi o que envolveu o nome empresarial da reconhecida
sociedade empresária GANG COMÉRCIO DE VESTUÁRIO LTDA. que impetrou
mandado de segurança contra o INPI, fundamentado no artigo 124, incisos III e V da Lei
9.279/9660, tendo em vista o referido órgão ter deferido o registro da marca “STREET
CRIME GANG”, depositada em 19/09/1999 na classe 25.10, correspondente à artigos de
vestuário. A empresa alegou que atua desde 27/04/1976 no Rio Grande do Sul com o
nome empresarial GANG COMÉRCIO DE VESTUÁRIO LTDA., tendo tornado a
expressão “Gang” facilmente identificada e com potencial de comercialização no ramo
de vestuário, expandindo-se para Santa Catarina e Paraná. Entretanto, a empresa possui a
proteção do nome empresarial requerida tão somente no Rio Grande do Sul, sem ter
requerido a extensão da proteção às demais unidades federativas. Assim, a Relatora
Ministra Nancy Andrighi expressou o seguinte entendimento no julgamento do Recurso
Especial 1.204.488/RS61:
59
Recurso Especial Nº 989.105/PR, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relatora: Ministra Nancy
Andrighi, julgado em 08/09/2009.
60
Art. 124. Não são registráveis como marca:
[...]
III - expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda
a honra ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou idéia e
sentimento dignos de respeito e veneração;
[...]
V - reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou
nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos;
61
Recurso Especial Nº 1.204.488/RS, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Ministra
Nancy Andrighi, julgado em 22/02/2011.
186
62
Recurso Especial Nº 1.184.867/SC, Quarta Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Ministro Luis
Felipe Salomão, julgado em 15/05/2014.
187
federativas.
Apesar do entendimento fixado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de
Justiça, no sentido de que não bastaria se ater tão somente a anterioridade, mas também
os princípios da territorialidade e especificidade das marcas, o Tribunal de Justiça de
Minas Gerais63 desconsiderou tal decisão ao considerar que diante da existência de
conflito ou impossibilidade de coexistência entre marca e nome empresarial, deverá ser
aplicado o princípio da anterioridade, isto é, deverá prevalecer o registro efetivado em
data anterior.
No caso, as empresas são da mesma família e atuam no mesmo ramo. A empresa
Freoli Distribuidora de Óleos Ltda. arquivou seus atos constitutivos na Junta Comercial
em 06/11/1996, enquanto a empresa Freole Indústria e Comércio de Essências Ltda. ME
se inscreveu na Junta Comercial em 28/01/2005, tendo requerido o registro da marca
perante o INPI em janeiro de 2006. Assim, os Desembargadores decidiram que,
demonstrado o registro da marca em data posterior ao registro da empresa Freoli
Distribuidora de Óleos Ltda. na Junta Comercial, deverá prevalecer o registro do nome
empresarial.
O caso ora exposto apresenta-se de forma no mínimo curiosa, pois os argumentos
utilizados vão de encontro aos entendimentos já expostos pelo STJ anos antes. Muito
acima da anterioridade está o princípio da boa-fé que deveria ter sido considerado nessa
decisão em se tratando da mesma família. Ao que parece, após um desentendimento entre
os membros da mesma família, parte permaneceu com a empresa original, tendo a outra
parte registrado uma nova empresa. Entretanto, ao invés de se utilizarem de um nome
empresarial original, propositalmente registraram a empresa com nome semelhante. Não
bastasse isso, requereram o registro da marca perante o INPI.
O artigo 124, inciso XXIII da LPI refere não serem registráveis como marca sinal que
imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o requerente evidentemente não
poderia desconhecer em razão da sua atividade, se a marca se destinar a distinguir produto
ou serviço idêntico suscetível de causar confusão ou associação com a outra. Assim, no
presente julgado, para fim de argumentar a prevalência do nome empresarial, deveria ter
sido levada em consideração, primordialmente a má-fé daquela parte da família que
registrou posteriormente nome e marca semelhantes.
63
Agravo de Instrumento Nº 1.0024.12.247454-7/001, 11ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, Relator: Rogério Coutinho, julgado em 20/11/2013.
188
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ABREU, Camile Damé. Nome Empresarial versus Marca. O descompasso da tutela dos
direitos dos diferentes signos e dos critérios de solução dos conflitos. Disponível em:
www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11280
Acesso em setembro de 2018.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo. Saraiva. 1998. Vol 1.
________, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo. Saraiva. 2010. Vol 1.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Revista Consultor Jurídico, 6 de março de 2014. Nome em junta comercial pode ser
registrado no INPI. Disponível em http://www.conjur.com.br/2014-mar-06/nome-
inscrito-junta-comercial-registrado-outra-empresa-inpi. Acesso em setembro de 2018.
SOARES, José Carlos Tinoco. Marca vs Nome Comercial: Conflitos. São Paulo: Editora
Jurídica Brasileira, 2000.
Wilson Engelmann1
Daniele Weber S. Leal2
Raquel Von Hohendorff3
Resumo: O avanço das nanotecnologias traz o risco, mas também a promessa de avanço
tecnológico. Surgem novas demandas e crescem as patentes nesta escala. Necessário,
portanto, a adoção de regulação adequada para este sistema. Vislumbra-se a necessária
flexibilização no sistema e regulação das nanos, viabilizada através do Diálogo entre as
Fontes do Direito. Sob quais condições as nanotecnologias inserem-se na
internacionalização do sistema de patentes? Em busca por respostas aptas a esta nova
realidade, adequado seria uma regulação atualizada e apta para auxiliar nas novas
demandas nanotecnológicas e no sistema de patentes, através do Diálogo entre as Fontes
do Direito.
Palavras-chave: Nanotecnologias; risco; internacionalização do sistema de patentes;
flexibilização; regulação; Diálogo entre as fontes do Direito.
1 INTRODUÇÃO
1 Pós-doutor pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha). Doutor e Mestre em Direito Público
pelo Programa de Pós-Graduação em Direito (Mestrado e Doutorado) da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos – UNISINOS/RS/Brasil; Professor deste mesmo Programa das atividades: “Transformações Jurídicas
das Relações Privadas” (Mestrado) e “Os Desafios das Transformações Contemporâneas do Direito
Privado” (Doutorado); Coordenador Executivo do Mestrado Profissional em Direito da Empresa e dos
Negócios da Unisinos; Líder do Grupo de Pesquisa JUSNANO (CNPq); Bolsista de Produtividade em
Pesquisa do CNPq. E-mail: wengelmann@unisinos.br
2
Doutoranda e Mestra em Direito Público pelo Programa de Pós-Graduação em Direito (Mestrado e
Doutorado) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS/RS/Brasil, vinculada à Linha de
Pesquisa “Sociedade, Novos Direitos e Transnacionalização”; Integrante do Grupo de Pesquisa
JUSNANO(CNPq); Especialista em Direito Público pelo Instituto de Educação RS (LFG). Graduada na
Unisinos. Professora da FACCAT -Faculdades Integradas de Taquara-RS, nas disciplinas Metodologia da
Pesquisa, Bioética e Biodireito e Ética Profissional; Advogada. Email: weber.daniele@yahoo.com.br
3
Doutora e Mestre em Direito Público Programa de Pós-Graduação em Direito (Mestrado e Doutorado) da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS/RS/Brasil, vinculada à Linha de Pesquisa “Sociedade,
Novos Direitos e Transnacionalização”; Integrante do Grupo de Pesquisa JUSNANO(CNPq); Professora
do mesmo PPG e graduação Unisinos. Delegada ESA-SL. Advogada. Email: vetraq@gmail.com
193
Portanto, o problema que se pretende enfrentar neste artigo, poderá ser assim
circunscrito: sob quais condições as nanotecnologias estão inseridas no contexto atual da
sociedade e do sistema internacional de patentes? A legislação atual é suficiente para
prestar suporte adequado a estas novas demandas? Não seria necessária uma
flexibilização do sistema jurídico? Baseado na incerteza e busca por respostas jurídicas
aptas a esta nova realidade, necessária a imposição de uma reformulação do paradigma
positivista, possibilitado o Diálogo entre as Fontes do Direito, no intuito de viabilizar
marcos regulatórios mais flexíveis no sistema internacional de patentes e para as
nanotecnologias.
Observa-se desde o início do século XXI a utilização cada vez maior das
nanotecnologias, as quais se inserem no contexto de inovações, o que por consequência
gera uma série de novas demandas da sociedade. Tal escala de tecnologia equivale à
bilionésima parte de um metro, aproximadamente dez vezes o tamanho de um átomo
individual. A sua conceituação dispõe de uma terminologia imprecisa, inexistindo
definições padronizadas internacionalmente (ENGELMANN; BORGES; GOMES, 2014,
p.106). A nanotecnologia consolidou uma dinâmica de rápido desenvolvimento e aplicação
diversificada em virtualmente todos os setores econômicos e não configura uma promessa
ou uma ficção futurista: ela já é uma realidade observada em inúmeros produtos
comercializados por diferentes setores. Dados recentes da Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OECD) indicavam que o mercado de produtos
nanotecnológicos movimentava cerca de US$ 350 bilhões (em 2014) e ainda para 2015,
estimava-se que esse valor seria superior a US$ 1trilhão (MCTI, 2014, p. 03).
Encontram-se nos mais variados setores da vida cotidiana. Esta tecnologia em
ultrapequena escala encontra-se no mercado, sendo amplamente consumidas, como nos
protetores solares, telefones celulares, medicamentos, cosméticos, medicamentos
veterinários, entre outros. Inclusive esse amplo rol é aberto devido ao processo contínuo de
desenvolvimento das nanotecnologias (HOHENDORFF, 2015, p. 09.).
Contudo, apesar da constante presença e aplicação desta nova tecnologia, as
“nanos” não vêm acompanhadas de certeza científica sobre seus efeitos na vida humana e
195
de prata como um novo pesticida, resultado de uma ação judicial movida pelo Centro de
Segurança Alimentar (Center for Food Safety, que é uma organização nacional americana
de interesse público e defesa ambiental, sem fins lucrativos, trabalhando para proteger a
saúde humana e o meio ambiente, reduzir o uso de tecnologias de produção de alimentos
nocivos e à promoção de formas orgânicas e de agricultura sustentável) (EPA, 2016).
Desta maneira, latente a discussão sobre as nanotecnologias, bem como a inserção
destes novos produtos na sociedade, que já os vem consumindo ou empregando no dia-a-
dia, desconsiderando a ausência de regulação, bem como desconhecendo sobre seus
(possíveis) riscos. A nanotecnologia apresenta assim uma ambivalência, de um lado a
promessa benéfica de avanços na medicina e melhoria de desempenho dos produtos (dentre
tantos outros benefícios), e no sentido contrário, a potencialidade de riscos.
Ainda, de encontro a tantas promessas, verifica-se o potencial risco, como no estudo
apresentado nos EUA, o qual afirma existir comprovações de que nanopartículas presentes
em produtos causam danos ao meio ambiente. O estudo, conduzido pela Dra. Cyndee
Gruden, focou apenas um tipo de nanopartícula - as nanopartículas de dióxido de titânio
(TiO2) - que está sendo utilizado em cosméticos e outros produtos de beleza pessoal, na
criação de janelas autolimpantes e em produtos bactericidas. Na pesquisa, ao usar a
bactéria Escherichia coli (E. coli) como cobaia, descobriu-se a grande redução na
sobrevivência do microorganismo em amostras expostas às concentrações mínimas das
nanopartículas de titânio por períodos de menos de uma hora (INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA, 2016). A morte da bactéria deu-se por que as nanopartículas danificam
a membrana externa dos micróbios. Fica nítida aqui a justificada preocupação a respeito
destes materiais.
Torna-se clara a insuficiência do modelo jurídico clássico, onde teria a lei respostas
para os problemas sociais enfrentados e ainda se verifica a necessidade da construção de
uma ordem jurídica que responda às novas demandas da sociedade tecnocientífica.
Primeiramente deve-se observar a conjuntura das patentes em produtos nano, qual
seu crescimento e evolução, correlacionando com os países que a registram, fomentando-
a. É o que se passará a expor.
Primeiro, tomando como fonte a United States Patent and Trademark Office
(USTPO, 2017), verificam-se os seguintes números (limitando-se aos 10 primeiros da lista)
(NPDa, 2017), com sua respectiva evolução desde 2013. Destaque para os Estados Unidos,
que por óbvio possui avanço tecnológico muito maior que países em desenvolvimento (o
que demonstra a estatística):
Figura 1 – Nanotechnology Patents in USPTO
Na União Europeia, pelos dados da EPO (2018), observa-se este panorama sobre
as nanotecnologias (NPDb, 2018):
Figura 2
contrário das maiores potências mundiais). Tomando por base os registros de 1991 a
2010, a situação que se apresentava era a seguinte (SANTANA, ALENCAR,
FERREIRA, 2013, p. 349):
No que tange à tipologia dos pedidos nacionais, esta é a conjuntura (INPI 2016):
Figura 3
de propriedade intelectual vem sendo construído principalmente com base nos seguintes
marcos legais: (i) a CUP – Convenção da União de Paris (1883); (ii) a Convenção da
União de Berna (CUB)- de 1886; (iii) O Acordo TRIPS (1994); e (iv) os TLCs(tratados
de livre comércio)regionais e bilaterais (CHAVES et al, 2007,p. 259).
Apesar de esses objetivos serem válidos e deverem ser bem acolhidos, surgem
dúvidas sobre a possibilidade de se alcançar uma maior harmonização do
sistema de patentes num momento em que existem crescentes preocupações
sobre o seu funcionamento e seu impacto sobre a concorrência e a inovação,
especialmente no âmbito das novas tecnologias. Nesse contexto, surgem
questionamentos por parte dos países em desenvolvimento, dada a profunda
assimetria existente na distribuição das atividades de inovação no contexto
internacional e no uso do sistema de patentes (CORREA, 2007, p. 19).
Entretanto, ocorre que a adoção destes critérios também pode sofrer variações, o
que dependerá da política de cada países, observando-se a realidade diversa entre os
países em desenvolvimento e industrializados. E neste ponto que se fala em flexibilização,
203
pois os países menos avançados podem preferir adotar critérios mais exigentes de
novidade e atividade inventiva, fomentando a concorrência.
desenvolvimentos menores e comuns que podem ser utilizados de maneira eficaz, para
servir de obstáculos à concorrência e restringir inovação (CORREA, 2007, p. 54). Tal
flexibilização é necessária para dar conta da assimetria apresentada entre os países
desenvolvidos e os em desenvolvimento. Da mesma forma, essa adaptação cabe às
nanotecnologias, de maneira que leis fechadas e estanques não fornecerão respostas às
demandas jurídicas apresentadas, principalmente na proteção das patentes. De outra
banda, a internacionalização de patentes (e maior harmonização) deve se valer de uma
avaliação sobre o desenvolvimento, a fim de verificar se a flexibilização de políticas de
PI está compatível com cada país (tendo em vista a assimetria).
Em outras palavras:
Ademais, o ingresso dos princípios no cenário do diálogo entre as fontes do
direito é decisivo para tal mudança, o que assim proporcionam uma
reconstrução dos contornos do “direito subjetivo”. É preciso de categorias que
forneçam o caráter dinâmico e de gênese de direitos a partir de expressões
206
vagas, que assumam e possibilitem novas posições [...]O Direito deverá ser
visto além do texto legal, irradiando a possibilidades de construção do jurídico
num cenário plural e flexível, norteados pelos princípios lastreados a partir do
ser humano, que se materializam nos direitos (dos) humanos – no plano
internacional – e nos direitos fundamentais e na dignidade humana, no plano
interno (ENGELMANN, 2014, p.356).
Como o tema da propriedade intelectual ainda está muito preso ao texto legal, urge
que se caminhe para o diálogo entre as Fontes do Direito, de maneira que esta
remodelação ocorrerá pela substituição do paradigma positivista legalista ainda muito
delimitado (ENGELMANN, 2011, p. 38). Por fim, a propriedade intelectual não poderá
ser um entrave para os espaços projetados nas novas tecnologias, cabendo a imediata
revisão e realinhamento dos marcos normativos aplicáveis, que não podem ficar à mercê
de aprovação legislativa.
a National Institute for Health (NIH) dos Estados Unidos, National Science
Foudation(NSF), ISO, OECD, British Standars Institution (BSI), na união europeia a
Comissão Europeia e Parlamento Europeu, European Medicines Agency, Co-nanomet,
European Agency for Safety and Health at work, dentre outras. Essas diretrizes,
avaliações de risco e recomendações poderão ser aproveitadas para a geração de um
marco normativo interno (ENGELMANN, 2015, p.116).
Por derradeiro, nesse sentido, não há como rejeitar a ideia de uma flexibilização
dos critérios e normativas das patentes com nano (utilizando-se de outras fontes mais
atuais e adequadas para novas demandas e direitos), a fim de possibilitar respostas aptas
para o enfrentamento das complexidades nelas inseridas. O retorno do Direito à
sociedade, de forma suficiente e adequada, prestando suporte às novas demandas das
nanotecnologias e patentes, será dialogando com todas as fontes possíveis do Direito,
buscando em outras diretrizes fundamentos aptos para dar conta desta nova realidade.
Para tal empreendimento, requer-se uma maior flexibilização do sistema legal de
propriedade intelectual, e ainda se busca a superação do paradigma positivista fechado.
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BARRETO, Vicente de Paulo. O fetiche dos direitos humanos e outros temas. 2 ed.
rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013.
USPTO. United States Patent and Trademark Office. Disponível em: <
https://www.uspto.gov/>.Acesso em: 11 abr. 2017.