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Ricardo Breier
Rosângela Maria Herzer dos Santos
Alexandre Torres Petry
Matheus Ayres Torres
EDUCAÇÃO JURÍDICA
Coordenadores
Ricardo Breier – Presidente da OAB/RS
Rosângela Maria Herzer dos Santos – Diretora-Geral da ESA/OAB/RS
Alexandre Torres Petry – Diretor da Revista Eletrônica da ESA/OAB/RS
Matheus Ayres Torres – Presidente da CEJ/OAB/RS
Capa
Carlos Henrique Pivetta
26e
Educação Jurídica/Ricardo Breier, Rosângela Maria Herzer dos Santos,
et.al (Coord). – Porto Alegre: OAB/RS.2020. 232p.
ISBN: 978-65-88371-00-8
1. Educação Jurídica. 2. Advocacia. Título
CDU 34:378
CONSELHO PEDAGÓGICO
CORREGEDORIA
Corregedores Adjuntos
Maria Ercília Hostyn Gralha,
Josana Rosolen Rivoli,
Regina Pereira Soares
OABPrev
COOABCred-RS
AGRADECIMENTOS
O e-Book Educação Jurídica é mais uma obra inédita lançada pela OAB/RS, Escola
Superior da Advocacia (ESA) e Comissão de Educação Jurídica, e na qualidade de
Presidente dessa comissão, tenho muito orgulho de apresentá-lo à advocacia e a todos os
operadores do direito que se preocupam com o futuro da educação como um todo e, em
especial, a jurídica.
Juntamente com os trabalhos publicados, essa obra não seria possível sem o
empenho dos membros da Comissão de Educação Jurídica da OAB/RS e o incondicional
apoio da Diretoria da OAB e da ESA – Escola Superior da Advocacia nos trabalhos e
eventos realizado pela Comissão. Nesse sentido devo fazer um agradecimento especial ao
co-organizador do e-Book, Diretor da Revista Eletrônica da ESA e membro da CEJ,
Alexandre Torres Petry por todo o empenho e dedicação na concretização dessa obra.
Por fim, agradeço à minha esposa, professora e membro da CEJ, Monique Pereira,
por possibilitar a minha dedicação e tempo destinado à defesa da advocacia e à condução
dos trabalhos da Comissão. E ao meu filho, João Vicente, com quem aprendo todos os dias
o significado de viver uma vida plena.
APRESENTAÇÃO
Rosângela Maria Herzer dos Santos - Diretora Geral da Escola Superior da Advocacia
da OABRS
10
PREFÁCIO
Boa leitura.
Resumo: O presente artigo tem com objetivo analisar o conflito do direito à educação e do
direito à crença sob a ótica da escusa de consciência, que tem base no artigo 5º, inciso VIII,
da Carta Magna, quanto ao dia de guarda. Por meio de análise dos Tratados Internacionais,
realizou-se uma trajetória histórica da incorporação do direito de liberdade religiosa como
parte da norma jurídica e, com apoio da Constituição Federal, doutrina nacional eexame de
julgados da temática, traçou-se o debate para esclarecer se a inovação trazida pelaLei
13.796/2019, que preencheu a lacuna no inciso VIII do artigo 5º da Constituição Federal,
traz para o estudante a dura escolha entre receber a educação de forma integral, ou manter-
se fiel a sua crença.Ao final, embora tenha-se percebido que a inovação legislativa atenda
os anseios quanto a segurança jurídica para realização de atividades obrigatórias ou provas
em dias e horários alternativos, a privação da convivência com os pares nestes dias e
horários pode interferir no recebimento de todas as competências planejadas pela
Instituição ou curso, para a formação profissional completa.
Palavras-chave: Liberdade Religiosa. Direito à crença. Direito à educação. Dia de guarda.
Prestação alternativa.
INTRODUÇÃO
Previsto no artigo 205 da Constituição Federal de 1988, o Direito à Educação é um
“direito de todos e dever do Estado e da família”, devendo ser “promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade” (BRASIL, 1988) e faz parte dos direitos sociais,
pertencente, portanto, aos Direitos Fundamentais do tipo positivo ou prestacional.
É fundamental, porque é por meio da Educação que se promove o desenvolvimento
pleno do indivíduo, emancipando-o para o exercício da cidadania e o prepara para o
exercício profissional, possibilitando, inclusive, a sua elevação no estrato social.
Por sua elevada relevância na formação do cidadão e do profissional de qualidade, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9.394/1996), inclui entre os
requisitos para aprovação na educação básica (incluindo os níveis fundamental e médio), a
frequencia mínima de 75% do total de horas letivas (artigo 24, inciso VI). Para o âmbito da
Educação Superior, o § 3° do artigo 47estabelece que “é obrigatória a frequência de alunos
1
Bacharel em Direito (ULBRA). E-mail: borgesaarthur@gmail.com.
2
Doutora em Direito (PUCRS). Doutoranda em Educação (ULBRA). Mestre em Direito (UNICURITIBA).
Coordenadora do curso de Direito da Ulbra de São Jerônimo. Membro da CEJ/OABRS. Avaliadora Ad Hoc
do Basis (INEP/MEC). Advogada - OAB/RS 110.911B. E-mail: alessandra.mizuta@gmail.com.
12
3
Artigo 1°, § 4º Todo convocado matriculado em Órgão de Formação de Reserva que seja obrigado a faltar a
suas atividades civis, por fôrça de exercício ou manobras, ou reservista que seja chamado, para fins de
exercício de apresentação das reservas ou cerimônia cívica, do Dia do Reservista, terá suas faltas abonadas
para todos os efeitos. (grifo nosso)
4
§ 5º As instituições de educação superior deverão abonar as faltas do estudante que, em decorrência da
designação de que trata o inciso IV do caput deste artigo, tenha participado de reuniões da CONAES em
horário coincidente com as atividades acadêmicas. (grifo nosso)
13
Podem ser apontados diferentes motivos pelos quais esta é uma das mais antigas
reinvidicações do indivíduo, como a sua afiliação à espiritualidade humana e o cunho
político por vezes a ela associado. Perseguições e atrocidades foram cometidas em nome
da religião, fazendo com que se tornasse urgente “a proteção das opiniões e cultos de
expressão religiosa, que guarda direta relação com aespiritualidade e o modo de conduzir a
vida dos indivíduos e mesmo de comunidades inteiras” (SARLET, 2012, p. 830).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, é o primeiro documento
que se tem conhecimento que trouxe a pauta dos Direitos Humanos. Nela, a proteção a
liberdade de religião está prevista no artigo 18, da seguinte forma:
Portanto, a qualidade do ensino deve ser analisada com base em alguns fatores de
maneira conjunta. Entre eles, deve haver isonomia nas condições de acesso e permanência
na escola, liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar seu pensamento, a arte e o
saber, tanto como o pluralismo de ideias e suas concepções pedagógicas, assim como a
18
Constata-se que, pela crença da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), desde a
criação do mundo já é instituído o sétimo dia (sábado) como dia de descanso. Este
entendimento foi incluído entre os 10 mandamentos5, mais especificamenteno quarto
mandamento, descrito em Êxodo 20:8
Lembra-te do dia de sábado, para o santificar.Seis dias trabalharás e farás toda a
tua obra.Mas o sétimo dia é o sábado doSenhor, teu Deus; não farás nenhum
trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua
serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro;porque, em
seis dias, fez oSenhoros céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo
dia, descansou;por isso,oSenhorabençoou o dia de sábado e o santificou.
(BÍBLIA MISSIONÁRIA, 2018)
5
Os Dez Mandamentos é a Lei que foi escrita ao povo de Israel pelo próprio dedo de Deus no Monte Sinai,
no livro de Êxodo, capítulo 20, que mais tarde foi ressaltado por Jesus que os mesmos podem ser divididos
em dois grandes grupos, os quatro primeiros mandamentos dispõe sobre o amor à Deus, enquanto os seis
últimos declaram sobre o amor ao próximo.
20
Jayme Weingartner Neto ressalta que o dia de guarda deve ser garantido sem
qualquer interferência estatal, pois é caracterizada como uma prerrogativa de foro íntimo
(WEINGARTNER NETO, 2007).
Émile Durkheim (1996), constata que a religião cumpre um papel social muito
importante com as suas cerimônias. E que ao crer em algo, a sociedade se sente completa,
e assim, aproxima os indivíduos, que compartilham esses sentimentos com seus
semelhantes, tornando-se mais íntimos.
A religião, desde a antiguidade, fez parte da vida do ser humano, já explorava esta
vertente Norberto Bobbio:
poder judiciário não são uniformes e os argumentos são diversos diante dos casos
concretos, mantendo, via de regra, o poder discricionário dos magistrados envolvidos.
No Mandado de Segurança impetrado na comarca de São José no Estado de Santa
Catarina, em reexame necessário, foi decidido pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado
de Santa Catarina, pelo Desembargador Carlos José Adilson, que as faltas lançadas durante
o período de descanso sagrado da impetrante, deveriam ser abonadas, constando da ementa
que:
Prevê a legislação estadual que, os estabelecimentos de ensino abonem as faltas
dos acadêmicos que, por crença religiosa, não possam frequentar as aulas
ministradas no período compreendido entre as 18 horas de sexta-feira e as 18
horas de sábado, sendo-lhes facultado o direito de realizar tarefas alternativas
parar suprir as faltas abonadas, dês que devidamente comprovado tratar-se o
aluno de membro de congregação religiosa que observa referidos rituais. (TJSC,
Reexame Necessário em Mandado de Segurança n. 2012.085114-3, de São José,
rel. Des. Carlos Adilson Silva, Terceira Câmara de Direito Público, j. 07-05-
2013).
Em seu voto, o relatormenciona que não se trata de mera justificativa de falta, mas
sim do dever de abono, já que a estudante se prontifica a realizar prestação alternativa de
atividades acadêmicas, em outro horário com o fim de ser aprovada na disciplina.
Em outro caso, foi deferida a participação de estudante no Exame Nacional do
Ensino Médio em dia compatível com o exercício da fé professada:
Conti argumentou no sentido que nos concursos públicos devem se manter de forma
inflexível quanto aos princípios da impessoalidade e da isonomia.
Bastante concisa, a referida lei acrescenta o artigo 7-A na LDB, com a seguinte
redação:
Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou
privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de
consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento,
ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos
de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe
atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes
prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da
Constituição Federal:
I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data
alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua
anuência expressa;
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema,
objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.
§ 1º A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano
de aula do dia da ausência do aluno.
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alternativa de que trata este artigo
substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do
registro de frequência.
Importante observar que não se trata de uma terceira hipótese de abono de faltas
para a Educação Superior, ou mesmo uma possibilidade de abono de faltas para o ensino
básico. A lei determina a aplicação de prova ou aula de reposição, que será realizada em
data alternativa, em turno e horário agendado no qual o aluno possa comparecer e concorde
expressamente. Pode ser solicitado, trabalho escrito ou atividade de pesquisa, nos moldes
que a instituição solicitar.
A prestação alternativa deve observar os parâmetros convencionais, curriculares e o
plano de aula idêntico ao aplicado aos alunos presentes no dia de ausência do discente.
Esta prestação alternativa substituirá de forma integral a atividade principal e o aluno deve
ter acesso ao registro de frequência para regularização do controle de aula.
As instituições de ensino devem implementar de forma progressiva as providências
e adaptações para um funcionamento da melhor forma para o acadêmico e a instituição.
Embora tenha a legislação sanado a dúvida quanto a preservação da garantia da
liberdade religiosa, e portanto de credo e do direito de guardar o sábado, ela manteve
pairando no ar a dúvida quanto a igualdade de oportunidade de aprendizado, já que a
solução dada foi de realização de atividade alternativa para o aluno sabadista.
Ainda que exista a determinação de que se observe os parâmetros curriculares e o
conteúdo do dia para a atividade alterantiva, o fato é que a alternativa dada pode privar o
estudante da interação com seus pares e excluir a possibilidade de absorver todas as
competências pretendidas com a aplicação da tarefa original.
25
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que por um lado possa-se arguir que os cidadãos que vierem a usufruir do
disposto na Lei 13.796/19, estão sendo privilegiadas, e que isso ataca diretamente o
princípio da isonomia, deve-se ponderar outro lado da moeda.
Seria temerário cogitar a hipótese de privilegiode tal grupo, em detrimento da
coletividade, pois deve-se observar que não se configura um ganho simples, já quehá uma
contrapartida que se constitui na prestação alternativa. Esta é uma condicionante para que
sejam compensadas as ausências decorrentes do exercício da crença.
Contudo, conforme invocado logo no início da presente reflexão, percebe-se que
embora a inovação legislativa tenha garantido segurança jurídica quanto a possibilidade de
exercer a liberdade religiosa, inclusive para ausentar-se em atividades obrigatórias ou
provas inclusive no Ensino Superior, o fato é que aparentemente poderá o estudante estar
sendo privado de parte das competências que seus colegas estão tendo acesso.
Se por um lado o exercício da liberdade religiosa garanta o pertencimento a um
determinado grupo, garantido a possibilidade de desenvolver a espiritualidade de forma
próxima àqueles que compartilham das mesmas crenças, por outro, exclui o estudante do
convívio dos demais estudantes, em período regular de realização de atividades.
Mesmo a realização de prova em dia alternativo, que possa parecer uma tarefa
simples de ser reproduzida, merece ser revista com atenção pois existe uma dificuldade que
acompanha uma avaliação alternativa, que seria a ausência da atmosfera existente na
coletividade que desenvolve a mesma tarefa de maneira concomitante.
Portanto, ainda que se possa afirmar que inegáveis benefícios decorrem dessa
inovação, já o reconhecimento do direito afasta a insegurança jurídica, a solução
encontrada pode estar cobrando um preço alto na formação profissional do sabadista.
Espera-se que este não seja o fim da caminhada, que se continue debatendo acerca
de diferentes opções para preservar o direito de liberdade religiosa, mas que ao mesmo
tempo não os prive de receber a formação em sua plenitude.
26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DORES, Isabela Cristina Soares das. O sabatista e a dificuldade no acesso aos cargos
públicos: quando a limitação desconstrói o ser humano. 2016. 42 páginas. Dissertação
(Graduação em Ciências do Estado). – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2016
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 38ª Edição. São
Paulo, Saraiva, 2012, p. 328.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz &Terra, 1967.
Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí/SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo:
Malheiros. 2010.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948. Disponível em: <
http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf >. Acesso em
15 fev. 2019.
SARAIVA. Saiba Quais São os Livros Mais Lidos do Mundo. Disponível em:
https://blog.saraiva.com.br/livros-mais-lidos-do-mundo/. Acesso em: 31 mai. 2019.
SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007.
28
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012.
Resumo: O presente artigo aborda a temática da educação jurídica com foco nas escolas
jurídicas de aperfeiçoamento, as quais se expandiram nas últimas décadas e adquiriram
grande relevância para a educação jurídica brasileira. Inicialmente, analisa-se o contexto
atual da educação jurídica, que é negativo. Após, estuda-se as escolas jurídicas de
aperfeiçoamento que são, pelo menos, 150 no Brasil, apontando-se a importância dessas
escolas para o fortalecimento do nível da cultura jurídica. Apresenta-se como possibilidade
de elevar o nível da educação jurídica a criação de uma Escola pelo Conselho Nacional de
Justiça, que poderia ser uma indutora de qualidade na educação ao estimular boas práticas,
atuar de forma conjunta com as faculdades e produzir densa pesquisa sobre os cursos
jurídicos e a educação que elas promovem. Ao final, conclui-se que a educação jurídica
precisa de transformações efetivas, sendo que as escolas de aperfeiçoamento são
importantes ferramentas para essas necessárias mudanças.
1 INTRODUÇÃO
Inicialmente, esclarece-se que o termo ‘escolas jurídicas de aperfeiçoamento’ é
utilizado para se referir às escolas de aperfeiçoamento existentes em diversas instituições
naárea do Direito, como as Escolas Superiores de Aperfeiçoamento da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), as diversas escolas da Magistratura, do Ministério Público,
da Defensoria Pública, entre tantas outras. Optou-se por não denominá-las de Escolas de
Direito justamente porque essa expressão costuma ser utilizada pelas faculdades de Direito.
Entretanto, porque abordar esse tema se as referidas escolas possuem nichos de
atuação tão específicos? Qual o papel das escolas de aperfeiçoamento para a educação
jurídica? Essas questões são instigantes e perpassarão o presente artigo, que visa
justamente refletir sobre a educação jurídica brasileira, além de apresentar proposições
factíveis que possam ampliar o debate e contribuir para a necessária e desejada
transformação da educação jurídica e, consequentemente, do próprio sistema de justiça
brasileiro.
1
Doutor em Educação UFRGS. Mestre em Direito PUCRS. Especialista em Direito UFRGS. Membro da
Comissão de Educação Jurídica e da Comissão de Estágio e Exame de Ordem da OAB/RS. Diretor da
Revista Eletrônica da ESA-OAB/RS. Editor Executivo da área de Ciências Humanas da Revista Eletrônica
Científica da UERGS. Membro consultor da Comissão Nacional de Educação Jurídica da OAB. Professor e
Advogado.
30
A educação jurídica brasileira não vai bem. Aliás, nunca esteve bem.
Constantemente, utiliza-se a expressão “crise” para se referir ao contexto da educação
jurídica brasileira. Nesse sentido, cita-se Isadora Lazaretti e Giovanni Olsson (2019, p. 90):
A partir do presente estudo foi possível verificar que hoje, se instaura uma grave
crise na educação jurídica brasileira. Manifestada pelo elevado número de cursos
de graduação em Direito aprovados nos últimos anos, pelos índices preocupantes
apontados nas pesquisas quanto ao número cada vez mais crescente de
reprovados no Exame de Ordem, e, ainda, pela quantidade de profissionais
formados em Direito que estão desempregados ou que optaram por se inserir no
mercado de trabalho em área não-jurídica, a investigação dessa temática
apresenta-se relevante e incitante diante da trágica realidade que se verifica
atualmente no Brasil.
2
De acordo com a última Sinopse Estatística da Educação Superior publicada pelo INEP, referente ao ano de
2018, existem 1.303 cursos de Direito no Brasil. Disponível em http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-
estatisticas-da-educacao-superior. Acesso em 08 jun. 2020. Entretanto, considerando a autorização de
abertura de novos cursos, processo que sequer foi interrompido durante a pandemia, acredita-se que o Brasil,
atualmente, já conte com mais de 1.500 faculdades de Direito.
3
A mesma publicação do INEP, Sinopse Estatística da Educação Superior, referente ao ano de 2018, aponta
863.101 matriculados em cursos de Direito num universo de 8.450.755 alunos matriculados na educação
superior, ou seja, os alunos de Direito representam 10,2% do total. Disponível em
http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da-educacao-superior. Acesso em 08 jun. 2020.
4
Conforme a publicação “Exame da Ordem em Números, Vol. IV”, elaborado pela FGV, que analisa os
resultados do Exame da OAB entre 2010 e 2020, a taxa média de aprovação por prova é de apenas 18,7%,
destacando-se que há uma média de 126.999 inscritos por edição do Exame. Disponível em
https://examedeordem.oab.org.br/pdf/exame-de-ordem-em-numeros-IV.pdf. Acesso em 08 jun. 2020.
5
“Concorda-se com a doutrina que a educação jurídica precisa de mudanças, porém, não a partir da
constatação de uma crise como geralmente ocorre, mas sim a partir da constatação da inadequação da
educação jurídica para a realidade brasileira, problema que é histórico e constante.” (PETRY, 2019, p. 139)
31
dura quase 200 anos, ou seja, remonta ao ano de 1827 quando da criação dos primeiros
cursos jurídicos no Brasil.
Obviamente, as características dos cursos, assim como dos estudantes e da
sociedade, alteraram-se muito nesse período, não obstante, a característica em comum é
que essa educação nunca foi adequada e sequer contribuiu de forma efetiva para o
desenvolvimento da justiça no Brasil, país marcado por desigualdades.
Se antes o ensino foi marcado por um elitismo (acessível a poucos) e desconectado
da realidade (características que foram se atenuando ao longo da história, mas que
perduraram fortemente, pelo menos, até a década de 1980), atualmente, o país possui uma
expansão da rede de faculdades de direito (o que ocorreu, principalmente, pelo avanço das
faculdades privadas), as quais ficaram acessíveis, recentemente, a uma grande parte dos
alunos (tanto é que os estudantes de Direito representam a maior categoria de estudantes
dentre todos os cursos universitários, representando cerca de 10%), porém, com um ensino
marcado pela simplificação e pela reprodução de metodologias6, leis e ideias.
É claro que existem boas faculdades de Direito no Brasil, as quais são reconhecidas
nacionalmente e, até, internacionalmente7. Porém, são exceções diante deste quadro.
Crise remonta a algo passageiro, a qual tende a ser superada, inclusive, com a
possibilidade de se retomar a situação anterior. No entanto, será que todos os juristas que
alegama crise da educação jurídica brasileira gostariam que retomássemos alguma situação
anterior? Provavelmente, não. O que todos desejam são mudanças transformadoras na
educação jurídica brasileira, que signifiquem novos paradigmas e rumos diferentes.
Aliás, sobre a retórica da crise, ainda que não se referindo sobre a educação
jurídica, mas sim sobre a terrível situação da pandemia, manifestou-se Boaventura de
Sousa Santos (2020, p. 5) da seguinte forma:
6
E para que não se argumente que o curso de Direito é ‘tradicional’ e, por isso, não poderia ser inovado,
principalmente no que tange às metodologias de ensino e pesquisa, destaca-se o recente artigo de quatro
professoras que apontaram 80 ideias inovadoras e criativas para o ensino do Direito (GARRETSON;
KRAUSE-PHELAN; SIEGEL; THELEN, 2018, p. 33).
7
Destaca-se que as universidades brasileiras possuem pouco prestígio internacional e, consequentemente, as
faculdades de Direito brasileiras também. É difícil definir um ranking e estabelecer critérios de avaliação
universais para todas as instituições de ensino. Ainda assim, existem alguns rankings, sendo que, dentre eles,
cita-se, exemplificativamente, o QS World University Rankings, o qual em 2020, aponta como a melhor
universidade brasileira a USP, que está na posição 116 (atrás, por exemplo, da UBA da Argentina, que está
em 74, e da UNAM do México, que está em 103). A segunda melhor universidade brasileira é a UNICAMP,
que ocupa a posição 214. Disponível em https://www.topuniversities.com/university-rankings/world-
university-rankings/2020. Acesso em 08 jun. 2020.
32
Logo, não pode existir uma crise permanente na educação jurídica, pois, se assim
for, ela não será resolvida. O que precisa ser admitido é que não vivemos uma crise (algo
temporário), mas sim uma realidade que sempre foi deficitária, problemática e com
consequências graves. De tal modo, a posição adotada é que não vivenciamos
propriamente uma crise, mas sim um contexto negativo, o qual teve peculiaridades ao
longo da sua trajetória, mas jamais deixou de ser negativo. Além disso, outra posição é que
esse contexto negativo não pode ser atribuído simplesmente ao elevado número de cursos
jurídicos, pois, mais educação não é algo negativo (ainda mais no caso do Brasil, que
possui taxas de concluintes de cursos superiores pífias se comparadas com outros países da
própria América Latina8). O grande problema é a qualidade da educação jurídica, a qual é
abaixo do aceitável.
O interessante é que, no que tange ao marco legal dos cursos jurídicos, possuímos
uma legislação que permite que as faculdades de Direito tenham cursos promissores e de
elevada qualidade. Aliás, o próprio Boaventura de Sousa Santos, ainda em 2011, ao se
referir sobre as diretrizes dos cursos de Direito, assim se posicionou (2011, p. 92):
A questão que fica em aberto, no entanto, é por que, apesar de todas essas
oportunidades, as escolas de direito no Brasil permanecem incapazes de dar o
salto necessário para um modelo educacional socialmente mais comprometido e
epistemologicamente mais sofisticado.
8
Considerando apenas pessoas entre 25 e 34 anos, segundo relatório de 2019 com dados referentes ao ano de
2018, somente 21% de brasileiros concluíram o ensino superior, enquanto no México 23%, Costa Risca 28%,
Colômbia 29%, Chile 34% e Argentina 40%. Os dados da pesquisa são da Education at a Glance (EAG), que
é uma publicação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que reúne
estatísticas educacionais do Brasil e mais de 40 países, no âmbito do Programa de Indicadores dos Sistemas
Educacionais (INES). É divulgada anualmente, com objetivo de oferecer uma visão geral dos sistemas
educacionais dos países participantes, possibilitando a comparação internacional. Publicação disponível no
site do INEP: http://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/eag/documentos/2019/
EAG_2019_OCDE.pdf. Acesso em 08 jun. 2020.
33
9
Com isso não se está afirmando que as diretrizes curriculares não são passíveis de críticas, até porque as
mesmas poderiam ser melhores. Entretanto, é inegável que as diretrizes foram aperfeiçoadas em relação às
anteriores e que trazem um adequado marco regulatório que permite e induz os cursos a elevarem a qualidade
da educação e de suas práticas.
34
10
A pesquisa realizada foi através de consulta pela internet, ou seja, buscou-se em cada uma das instituições
apontadas a referência à escola. Quando a escola era facilmente identificada, o dado foi contabilizado. Em
alguns casos, existia referência à escola, mas não se identificou, por exemplo, site institucional ou sede da
escola. Nestes casos, os dados não foram considerados. Logo, existe a possibilidade de escolas formais
existirem, mas não terem sido localizadas nessa pesquisa, a qual não visa definir o número exato de escolas
de aperfeiçoamento, mas apresentar uma noção de quantas escolas podemexistir.
11
Disponível em http://www.esdm.com.br. Acesso em 03 jun. 2020.
35
assemelham muito às escolas, mas apenas não possuem a terminologia “escola”, como é o
caso, por exemplo, da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP)12.
Deve-se registar que os governos também possuem escolas, ainda que estas tenham
um leque mais geral de cursos, mas é notável uma quantidade grande de cursos da área do
Direito (estas escolas não foram consideradas para a presente pesquisa, já que não possuem
o foco principal no Direito). Exemplo maior é a Escola Virtual.Gov do governo federal,
que é identificada como o “portal único de Governo para a oferta de capacitação a
distância”13.
Logo, apontar com precisão o número de escolas jurídicas de aperfeiçoamento é
tarefa muito difícil (seria necessário pesquisar em todos os municípios) e verificar com
cada instituição se de fato a escola existe, mas, pelos critérios utilizados, pode-se afirmar
com segurança que existem pelo menos 150 escolas deste tipo no Brasil. Se o nosso país é
usualmente indicado como o que mais possui faculdades de Direito, então, provavelmente,
também deve ser o que mais possui escolas de aperfeiçoamento, pois o número apontado é
impressionante.
Nitidamente, as escolas mais tradicionais e organizadas são as da magistratura,
seguidas pelas escolas de advocacia. Essas já possuem um histórico mais longo, bem como
estruturas mais robustas. Depois, aparecem as escolas ligadas aos Ministérios Públicos
estaduais, que estão presente na maioria dos Estados. As escolas de Defensoria Pública
também estão presentes em grande quantidade nos Estados, mas fica claro que o
surgimento destas escolas ainda é um fenômeno recente14. Já as Procuradorias de Justiça
dos Estados possuem poucas escolas, não obstante, também se constata que a tendência é
que mais escolas sejam criadas no âmbito das procuradorias15. Logo, o surgimento de
escolas de aperfeiçoamento não é um processo finalizado, pelo contrário, ainda está em
expansão, seja na abertura de escolas, seja nos investimentos para as mesmas.
O interessante é que essas escolas surgem, inicialmente, focadasem aperfeiçoar seus
profissionais, ou seja, são voltadas para uma categoria restrita, não sendo abertas ao
12
A AASP (https://www.aasp.org.br) assemelha-se muito às ESA’s, tanto é que atua em parceria com elas.
13
Disponível em https://www.escolavirtual.gov.br/. Acesso em 04 jun. 2020.
14
Nesse sentido, cita-se notícia da Defensoria Pública do Estado de Roraima, que está tentando criar a sua
escola, tanto é que traz a seguinte notícia no seu site: “Em Roraima Escola Superior da Defensoria pode virar
realidade em 2020”. Disponível em http://www.defensoria.rr.def.br/comunicação/noticias/2708-em-roraima-
escola-superior-da-defensoria-pode-virar-realidade-em-2020. Acesso em 02 jun. 2020.
15
Exemplificativamente, cita-se o caso da Procuradoria Geral do Estado do Rio Grande do Sul, a qual teve a
escola criada em recente Decreto de 02/08/2019 pelo Governador. Notícia de 05/08/2019 disponível em:
https://www.pge.rs.gov.br/governador-eduardo-leite-assina-decreto-que-cria-a-escola-superior-de-advocacia-
de-estado-da-pge-rs. Acesso em 02 jun. 2020.
36
público em geral. Numa segunda fase, muitas delas passam a realizar cursos preparatórios
paras suas carreiras, notadamente, as escolas de magistraturas. Numa última fase, a mais
recente, as escolas ampliam as suas atividades, passando a realizar cursos e eventos, os
quais, agora, também passam a ser destinados ao grande público. Também geram
publicações (como revistas e livros). É claro que nem todas possuem as mesmas
características, porém, ainda assim, essa tendência de expansão de atividades é
característica presente em praticamente todas as escolas de aperfeiçoamento na área do
Direito.
Existeaté exemplo de escola profissionalizante que não se limitou a fazer cursos de
formação para a sua classe (fase 1), cursos para concursos e eventos (fase 2) e cursos e
eventos para o público em geral (fase 3), tornando-se efetivamente faculdade de Direito,
como é o caso da FMP – Fundação Escola do Ministério Público do Rio Grande do Sul16,
curso que já se destaca no cenário nacional pela sua elevada qualidade e, inclusive, já
possui curso de Mestrado em Direito.
A fim de mostrar a relevância destas escolas, cabe analisar alguns exemplos.
No que tange à advocacia, a escola mais antiga é a Escola Superior de Advocacia
do Rio Grande do Sul (ESA/RS), a qual foi fundada em 1985 com o objetivo de coordenar
atividades culturais “através de cursos, estudos, seminários, congressos, publicações e
demais programações que visem à elevação do nível cultural dos advogados gaúchos”.17
Passados 35 anos da sua criação, a ESA/RS, de acordo com informações obtidas de seu site
institucional (http://www.esars.org.br), conta com oito salas de aulas e auditório com
capacidade para 350 pessoas (portanto, estrutura física superior a de muitas faculdades de
Direito) ofertando a todos os interessados (e não só advogados) o seguinte:
- Cursos e eventos;
- E-books (abrindo editais para submissão de artigos);
- Biblioteca física e virtual (permitindo empréstimos);
- Pós-graduação em parceria com duas instituições de ensino na área do Direito;
- Revista eletrônica (com edital permanente para submissão de artigos);
16
No site da FMP consta a seguinte mensagem institucional: “A Fundação Escola Superior do Ministério
Público (FMP) foi criada em 30 de novembro de 1983, por Promotores e Procuradores de Justiça do Estado.
É uma Instituição de ensino privado, especializada no ensino jurídico, por isso carrega o nome do Ministério
Público, órgão responsável pela defesa dos interesses da sociedade”. Disponível em
https://www.fmp.edu.br/a-fmp/. Acesso em 04 jun. 2020.
17
Conforme o site institucional da ESA/RS. Disponível em http://www.esars.org.br/historia. Acesso em 05
jun. 2020.
37
Apenas para demonstrar o alcance da ESA/RS, cita-se notícia veiculada no seu site,
com data de 30/03/2020, onde consta “OAB/RS registra, em menos de duas semanas, mais
de 12 mil inscritos em seus cursos EAD gratuitos para este período de quarentena”18. Ora,
ter cerca de mil inscritos por dia em cursos, comprova a alta demanda pelas atividades da
escola (principalmente, cursos e eventos) e o importante papel que a mesma desempenha.
Para ficar no exemplo do Rio Grande do Sul, outra escola que se destaca é a Escola
da AJURIS - Escola Superior da Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul -, instituída
pela Associação dos Juízes do Estado do Rio Grande do Sul oficialmente no ano de 1980
(ainda que a sua história possa remontar ao ano de 1962, quando surgiu em Porto Alegre o
Curso de Preparação para a Judicatura, embrião da Escola Superior da Magistratura).19 A
Escola da AJURIS também oferece um leque grande de opções, conforme abaixo
resumido:
- Cursos preparatórios;
- Eventos diversos;
- Núcleos de estudos;
- Posto dos Juizados Especiais Cíveis;
- Biblioteca;
- Revista para publicação e artigos científicos; e
- Demais publicações (Caderno de literatura, Jornal, Clipping, Boletim Eletrônico,
Informativo Social e Cultural, Dicas Culturais e infantis e Anais de Congressos).
Ao analisar a “missão” e a visão” da Escola da AJURIS, fica nítido que o seu foco
não é apenas na formação dos servidores da sua área de atuação. Eis o que consta no seu
site institucional20:
18
Disponível em http://www.esars.org.br/noticias/oabrs-registra-em-menos-duas-semanas-mais-12-mil-
inscritos-seus-cursos-ead-gratuitos-para-este-perio/42644. Acesso em 05 jun. 2020.
19
Disponível em http://www.escoladaajuris.org.br/esm/institucional/escola-oficial. Acesso em 06 jun. 2020.
20
Disponível em http://www.escoladaajuris.org.br/esm/institucional/missao-visao-e-valores. Acesso em 06
jun. 2020.
38
Missão
Centro de preparação e aperfeiçoamento de magistrados e atores do Sistema de
Justiça, oferecendo profissionalização, ensino e pesquisa, de modo a alavancar a
inovação, a legitimação do Poder Judiciário e influenciar a agenda das questões
emergentes do direito e sociedade.
Visão
Constituir-se num centro de excelência e inquietação jurídico-humanista,
oferecendo cursos de pós-graduação, educação continuada e preparação
profissional, pesquisando e debatendo com a sociedade temas culturais
relevantes.
21
Disponível em http://escola.mpu.mp.br/a-escola/institucional/atuacao. Acesso em 07 jun. 2020.
39
22
Os acadêmicos de Direito necessitam cumprir um percentual deatividades complementares, o qual é
estabelecido por cada instituição de ensino. Entretanto, há um mínimo a ser cumprido, conforme as atuais
Diretrizes Curriculares, estabelecidas pela Resolução CNE/CES nº 5 de 17 de dezembro de 2018, que
estipula no seu art. 13: “O curso de graduação terá até 20% de sua carga horária destinada às atividades
complementares e de prática jurídica.
23
Importante frisar que não se identifica nos avanços tecnológicos em si problemas para a educação jurídica,
até porque, como refere Paulo Freire (2018, p. 28) “humanismo e tecnologia não se excluem”.
24
Não há um sistema formal de escolas devidamente organizadas e em sintonia, ainda assim, utilizou-se a
expressão sistema para se referir a este conjunto de escolas que tem função e objetivos similares.
40
25
Segundo Renato Duro Dias (2020, p. 8), já considerando os desafios da pandemia do coronavírus e as
dificuldades que se apresentarão em decorrência deste lastimável momento, afirma que a educação jurídica
superior “tem pela frente um importante compromisso: produzir formação jurídica para a defesa e
consolidação da democracia brasileira, com vistas à eliminação das desigualdades e ampliação de acesso à
justiça”.
26
Possui apenas 15 anos e, portanto, trata-se de instituição muito recente quando comparada com as demais
instituições do Poder Judiciário brasileiro.
27
Disponível em https://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj/quem-somos/. Acesso em 07 jun. 2020.
41
28
Conforme informações disponíveis no site do CNJ, o referido relatório é a “principal fonte das estatísticas
oficiais do Poder Judiciário”, sendo que “anualmente, desde 2004, o Relatório Justiça em Números divulga a
realidade dos tribunais brasileiros, com muitos detalhamentos da estrutura e litigiosidade, além dos
indicadores e das análises essenciais para subsidiar a Gestão Judiciária brasileira.”. Disponível em
https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/. Acesso em 07 jun. 2020.
42
todo e qualquer educador: transformar positivamente a realidade que o cerca. Nessa linha,
importante destacar os ensinamentos de Zygmunt Bauman (2011, p. 81):
A questão não é como fazer o rio da história retroceder, mas como lutar contra
sua poluição pela miséria humana, como canalizar seu fluxo para conquistar
umadistribuição mais equitativa dos benefícios por ele carregados.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Renato Duro. Educação jurídica brasileira em tempos de pandemia Título. Revista
Pedagogía Universitaria y Didáctica del Derecho, Santiago, v. 7, n. 1 p. 7-8, jan./jun.
2020.
FARIA, Adriana Ancona de; LIMA, Stephane Hilda Barbosa. As novas diretrizes
curriculares nacionais do curso de direito: processo de construção e inovações. In:
RODRIGUES, Horácio Wanderlei (Org.). Educação jurídica no século XXI: novas
diretrizes curriculares nacionais do curso de direito – limites e possibilidades.
Florianópolis: Habitus, 2019.
FREIRE, PAULO. Educação e mudança. 39 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2018.
________. Para uma revolução democrática da justiça. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
Resumo: Este texto se propõe a tratar, concisamente, acerca da educação jurídica sob a
ótica do advogado como entidade essencial à administração da justiça e discutir a respeito
da própria noção de justiça. São trazidos a este estudo alguns conceitos e entendimentos a
respeito dos métodos autocompositivos. O diálogo entre causídico e métodos adequados de
solução de conflitos é firmado a partir da revisão de bibliografia nacional, de publicações
periódicas e de teses acadêmicas.
1 INTRODUÇÃO
1
Advogada, OAB/RS 84.505, bacharel em Direito pela PUCRS, pós-graduada em Direito do Estado pela
UFRGS, mediadora de conflitos formada pela CLIP e pós-graduada em Direito de Família e Mediação pela
FADERGS. alppureur@gmail.com
46
na rotina dos estudantes e dos operadores do Direito, fato é que mediação (e negociação)
não são mecanismos novos. Não estamos diante de um movimento inovador, uma vez que
a figura do mediador esteve sempre presente em nossas vidas, ainda que de forma não
institucionalizada.
Isto posto, este exíguo texto propõe-se a tecer algumas considerações acerca da
noção de acesso à justiça; da relevância da função educacional do advogado quanto à esta
compreensão; das práticas autocompositivas como elementos facilitadores de alcance da
justiça; e, por fim, do papel do causídico como peça chave para o sucesso destes
mecanismos a fim de que se alcance uma verdadeira revolução democrática da justiça.
2
Neste sentido, ABRÃO, R. M. Z., 2009, p. 44: “A evolução dos direitos de individuais até os
transindividuais fez com as decisões e o raciocínio jurídicos tradicionais não mais alcançassem a
complexidade social, o que acaba contribuindo para a erosão da legitimidade dos tribunais”.
48
única e última fonte de legitimidade, [...] a concepção de acesso à justiça também não se
resume ao acesso aos tribunais” (ABRÃO, 2009, p. 152.)
No ano de 2003 o artigo Poderá o direito ser emancipatório?publicado por
Boaventura de Sousa Santos na Revista de Crítica de Ciências Sociais, discorreu sobre a
tênue linha de separação entre regulação e emancipação social e o papel do Direito nesta
(re)construção. Conforme salienta o autor, “este uso do direito vai, frequentemente, para
além do cânone jurídico modernista [e] recorre-se a formas de direito [...] que muitas vezes
não são reconhecidas como tal” (SANTOS, 2003, p. 63). A autocomposição, ainda que
muitas vezes referida como via alternativa, parece amoldar-se nesta linha de pensamento.
O questionamento contido no título é respondido com a proposta de uma revolução
democrática da justiça, por meio da valorização da diversidade jurídica.
Aprofundando este argumento lançado, Sousa Santos publicou o livro Para uma
revolução democrática da justiça no ano de 2008. Nesta obra o autor repensa as
concepções tradicionais e dominantes do direito e o surgimento de diversos movimentos e
organizações sociais por direitos mais justos, mais acessíveis e inteligíveis (SANTOS,
2007). Boaventura de Sousa Santos reafirma e aprofunda a proposição de que só será
possível promover um amplo e adequado acesso à justiça por meio de uma efetiva
revolução democrática da justiça. E esta nova institucionalidade proposta “põe em causa a
simetria liberal moderna em que todo o Estado é de direito e todo o direito é do Estado”
(SANTOS, 2007, p. 79).
Esta revolução, no caso, pressuporia alguns rompimentos. Em primeiro lugar, seria
necessário o rompimento com a cultura paternalista, que está por trás da lógica tradicional
de conflitos. Num segundo momento, deveríamos romper com a cultura positivista,
legalista e formalista, de modo a repensar se direito é apenas o que o Estado diz ser. Após,
exigira-se o rompimento com a cultura do monopólio da justiça por operadores iluminados
e, por fim, impor-se-ia o rompimento com a cultura do litígio que embrenha-se em todos os
campos que o Direito se faz presente.
Valendo-se do título de outro artigo do autor, a indagação latente é: em meio a
tantos meandros teóricos, acadêmicos e sociais, Poderá o direito ser emancipatório
(SANTOS,2003) para o indivíduo? Procura-se crer que sim, a depender, contudo, de como
esse Direito será manejado e, por que não? ensinado – principalmente pelo advogado.
49
Seguindo esta mesma linha de raciocínio, no Brasil, Rosa Maria Zaia Borges Abrão
trabalhou a mediação de conflitos como instrumento democrático de acesso à justiça em
dissertação de mestrado em Direito no ano de 2001 na Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (ABRÃO, 2001). Neste estudo, Abrão discute a mediação de conflitos como
instrumento de acesso à justiça e meio de emancipação dos cidadãos por meio da
reivindicação da resolução de suas próprias conflitivas.
No ano de 2009, na Universidade de São Paulo, a autora desenvolveu tese de
doutorado em filosofia em torno do conceito de phíliacomo critério de inteligibilidade da
mediação comunitária (ABRÃO,2009). O argumento levantado estrutura-se no sentido de
considerar insuficiente o modelo de jurisdição oferecido pelo Estado quando se analisa a
complexidade e a singularidade dos conflitos constitutivos das relações sociais, sendo a
mediação de conflitos potencial ferramenta de tratamento destes conflitos.
Fabiana Marion Spengler aponta para a mesma direção em sua tese de doutorado na
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, do ano de 2007, defendendo uma cultura diversa
no tratamento de conflitos (SPENGLER, 2007). O cerne da tese repousa na dualidade do
antagonismo e da possibilidade de harmonia, além do enfoque no tempo despendido na
análise jurisdicional dos processos submetidos ao Judiciário (enfocando especialmente o
art. 5º, LXXVIII3 da Constituição Federal).
3
Art. 5º, LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
50
contextos e apresentar aos seus clientes as mais diversas opções de tratamento que um
conflito pode ter.
Em outras palavras, causídicos não devem perseguir justiça somente dentro do
perímetro de uma Corte. Cabe a eles educar e informar aqueles que o procuram que a
justiça pode igualmente existir no chão da vida, juntamente daqueles que de fato vivenciam
os conflitos. Assim como pertence a eles o início e o desenrolar da disputa, da mesma
forma a eles cabe conhecer (e conceber) a sua melhor resolução – desde que legalmente
amparadas pelo profissional devidamente habilitado.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
JARDIM, Antônio Guilherme Tanger. Juizados Especiais – sua história, contada por
Antônio Guilherme Tanger Jardim. Revista Páginas de Direito, Porto Alegre, ano 3, nº
118, 24 de setembro de 2003. Disponível em: <http://www.tex.pro.br/home/artigos/121-
artigos-set-2003/4829-juizados-especiais-sua-historia-contada-por-antonio-guilherme-
tanger-jardim>. Acesso em mar. 2020.
Ordem dos Advogados do Brasil – Código de Ética e Disciplina, 1995. Disponível em:
<https://www.oab.org.br/visualizador/19/codigo-de-etica-e-disciplina>. Acesso em mar.
2020.
SANTOS, B. de S. Para uma revolução democrática da justiça. São Paulo: Cortez, 2007.
1. INTRODUÇÃO
1
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (PUC 1987) Advogada desde 1987 e sócia de Roque e
Vasconcellos Advogados Associados; Professora Universitária desde 1989; Bacharel em Relações
Internacionais (UNIRITTER 2016), Pós Graduação em Metodologia do Ensino Superior (UNISINOS
1991), em Direito Público e Privado (UNIRITTER) e em Estratégias e Estudos Internacionais (UFRGS
2018); Mestre em Direito das Relações Internacionais (UDE 2016).
56
em vista que o ensino das Faculdades de Direito ainda é do tipo clássico e, para os
alunos há grande resistência em contextualizar os conteúdos com os fatos da vida e
com o cotidiano jurídico que enfrentarão na prática profissional.
As disciplinas não são independentes, o ensino jurídico não é uma reprodução
em escala e mecânica e assim, mister considerar as experiências, vivências e as
responsabilidades sociais dos alunos que deverão construir suas habilidades e
capacidades com criticidade e de forma global.
As diferentes práticas pedagógicas, no contexto do Ensino Jurídico e do Direito,
devem ser uma realidade proporcionando uma nova vivência aos discentes,
contribuindo para a construção e aprimoramento do saber-fazer no tocante aos
processos de trabalho e enriquecendo o perfil e a formação dos egressos.
Nesta linha de atuação, o conhecimento vai sendo construído pelos alunos e o
professor, com a utilização de suas experiências e interações, em um sistema abertode
conhecimento, interdisciplinar, em instituição que se importe com o desenvolvimento
da pessoa como um todo e com o professor que não é simplesmente um treinador que
adestra alunos.
Necessário para tanto, entender que o espaço educacional é um instrumento para
as transformações que ocorrem no campo do Direito, da Administração e da
Contabilidade, fortalecendo as atividades e ações com rotina diária dos alunos que irão
ser desafiados a enfrentar e conviver com as adversidades e mazelas do mundo jurídico.
Após breve introdução é apresentada uma narrativa de experiência pessoal, que
recapitula experiências de magistério no ensino jurídico superior e norteia a forma de
construção dos significados em sala de aula universitária, de modo socioconstrucionista,
se constituindo em enriquecimento da união de teoria e prática, revelando a comunhão
entre a responsabilidade, com a entrega de habilidades e competências para a formação
dos operadores do Direito.
Importante para iniciar a (re)construir as práticas de ensinança e descrever o(s)
tipo(s) de professora que fui e ainda sou, salientar que em 1987 bacharelei em Ciências
Jurídicas e Sociais pela PUCRS e desde então sou advogada militante, generalista e o
exercício da advocacia sempre foi a base para as aulas no Ensino Superior –
Universitário e a seguir apresento cada um dos relatos experenciais.
57
contrato, cujo objeto era verificar quem eram, quais vínculos e onde estavam os Agentes
Públicos do Estado do Rio Grande do Sul.
Coube aos meus alunos o mapeamento da CEEE e a atividade de ensino, nível
de extensão, foi desempenhada por 02 anos, sendo principal a pesquisa que era realizada
“in locu” nos órgãos públicos, modalidade pesquisa de campo, que motivava a estudar,
mas com margem de intervenção, posto que, era um contrato assumido pela Instituição,
com regras de poder e competência diretas da Administração do Centro de
Desenvolvimento e Tecnologia da ULBRA.
Nesteintervalo, ainda na Universidade Luterana, fui designada para ser
professora das turmas de Direito Administrativo no Campus da ULBRA Gravataí, que
naquele momento, estava com o Campus em construção e as aulas estavam localizadas
na Escola Nossa Senhora dos Anjos.
As disciplinas ministradas eram o Direito Tributário e as Instituições de Direito,
para turmas de no máximo 25 (vinte e cinco) alunos, face à capacidade daquelas salas
de aula que serviam para as turmas de 4ª série e tinham pequenas mesas e cadeiras, além
de paredes com trabalhos das crianças e tal cenário, facilitou o estudo do Direito
Tributário onde dentre outros recursos e após a parte teórica, os alunos faziam jogos,
utilizavam materiais lúdicos e o laboratório de matemática da escola.
O ensino das Instituições de Direito, considerou as vivências e experiências dos
alunos e foi bastante “vivo”, sendo que para esta experiência educativa utilizei a
autoridade da legitimidade e não da legalidade, que surge através da competência e o
desempenho do professor deve estabelecer uma mediação democrática, através da
intersecção da liberdade e igualdade e tal é possível quando a disciplina traz as matérias
de Direito Civil, que trata sobre a vida humana.
Além disso, eram alunos até o 5º nível da Faculdade de Direito que precisam
aprender, compreender e dialogar com os vários aspectos do direito material e
processual, bem como princípios da litigiosidade e conciliações, com necessidade de
desenvolver a pesquisa e a oratória.
A vivência propiciou aos alunos uma forma de trabalho, a partir das práticas
realizadas, no sentido de buscar caminhos para a atuação profissional e para esta
professora, significou o fechamento das atividades com o ensino jurídico na FAPA –
UNIRITTER.
Após 2019 dedico o nobre ministério do magistério ao Projeto Pescar, que é
abrigado pela OABRS, onde converso com os jovens aprendizes sobre a disciplina
deDireito do Trabalho e Departamento Pessoal, mas este voluntariado é uma outra
narrativa.
6. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIGGE, Morris L., Teorias da aprendizagem para professores, São Paulo, EDU, Ed. da
Universidade de São Paulo, 1977.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São
Paulo, Cortez, 1988.
HTTPS://www.conjur.com.br/2019-jun-22/lenio-traca-modelos-professor-investigar-
epidemia-direito? acesso em 02 abril 2020.
69
Bruna Bastos1
Rafael Santos de Oliveira2
INTRODUÇÃO
1
Mestranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSM. Bolsista CAPES. Pós-
graduanda em Educação Transformadora pela PUCRS. Especialista em Direitos Humanos e Questão
Social pela PUCPR. Advogada (OAB/RS nº 114.500). Pesquisadora do CEPEDI/UFSM. E-mail:
bts.bru@gmail.com.
2
Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor Associado I no Departamento
de Direito da Universidade Federal de Santa Maria, em regime de dedicação exclusiva e no Programa de
Pós-Graduação em Direito da UFSM. Coordenador do CEPEDI/UFSM. E-mail: rafael.oliveira@ufsm.br.
70
4
A Covid-19 é uma doença causada pelo coronavírus, uma espécie de zoonóticos, ou seja, um vírus que é
transmitido de animais para pessoas. Os primeiros infectados foram diagnosticados na cidade de Wuhan,
na China, em dezembro de 2019, e a partir de então a doença começou a se propagar para o restante do
mundo, atingindo milhões de pessoas em todos os países. Em janeiro de 2020, a OMS declarou uma
Emergência de Preocupação Internacional e, em março, a Covid-19 foi considerada uma pandemia.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2020)
74
Com efeito, neste ambiente resta pouco espaço para saberes e conhecimentos
não científicos, dotados de outras temporalidades e cujos padrões de
medições diferem daqueles usualmente aceitos pela racionalidade cognitivo-
instrumental, ligada diretamente ao princípio de mercado para o qual
individualismo e concorrência são centrais. (MOASSAB, 2008, p. 02)
Isso significa dizer, ainda que brevemente, que o ensino jurídico precisa ser
modificado, para que o conhecimento do Direito possa privilegiar aspectos
interdisciplinares e interculturais em convergência com as potencialidades das
tecnologias de informação e de comunicação (TIC). Nesse sentido, Boaventura de
Sousa Santos percebe, em seus estudos, que a cultura ocidental, ligada diretamente à
individualidade, criou uma relação monocultural que, sistematicamente, desvaloriza as
políticas de ação afirmativa e não estimula a diversidade e a tolerância. (SANTOS,
2013)
A educação baseada no individualismo, característica latente da sociedade
ocidental contemporânea na qual o Brasil se insere, ignora os valores da comunidade e,
nesse processo, determina a inferioridade de determinadas culturas diversas que não
percebem a sociedade da mesma forma. Esse fenômeno faz com que sejam ignoradas
76
Dessa forma, Boaventura de Sousa Santos pensou em uma ecologia dos saberes
como resposta a essa realidade opressora e preconceituosa. Esse modelo reconhece que
existem outros conhecimentos e que eles podem ser utilizados para diferentes objetivos,
considerando que a ciência é incompleta. A educação precisa passar por uma tradução
direcionada à interculturalidade, ou seja, o processo de ensino-aprendizagem tem que
criar capacidades para a percepção de que existem outras culturas e que cada uma delas
pode contribuir de alguma forma para as outras. É a compreensão de que todos os
saberes e todas as culturas precisam do diálogo, precisam se perceber mutuamente para
gerar um ambiente global de aceitação do diferente e de proteção para com outras
formas de vida. (TAMAYO, 2011)
Assim, considerando a já mencionada crise do ensino jurídico, pensar
alternativas é essencial para a perpetuação de uma educação transformadora, que tem
como elemento condicionante a compreensão da interculturalidade. A educação baseada
na ecologia dos saberes, por apresentar um caráter intercultural, viabiliza a percepção de
que o status quo social é uma incubadora de preconceitos e processos de exclusão, o
que exige questionamentos contínuos do aluno, do professor e do futuro profissional
sobre como contribuir para a formação de uma sociedade mais justa. Essa ideia de
justiça perpassa, essencialmente, a efetividade de direitos humanos fundamentais,
porquanto condiz com a ausência de violações sistemáticas de direitos e de realidades
de exclusão, de opressão e de desprezo. Isso significa dizer que uma ecologia dos
saberes, baseada em uma educação intercultural, é condição para a efetividade de
direitos vinculados à dignidade.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a
uma ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula
(Orgs.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Editora Cortez, 2013. p. 23-57.
80
TAMAYO, Juan José. Boaventura de Sousa Santos: Hacia una sociología de las
ausencias y las emergencias. Utopía y Praxis Latinoamericana, v. 16, n. 54. 2011. p.
41-49. Disponívelem: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4231316.pdf.
Acessoem: 10 jun 2020.
O ensino jurídico no Brasil data de 1828, criado por força da Carta Lei de 11 de
agosto de 1827, promulgada por D. Pedro I. Foi nessa época que surgiram os
principais juristas brasileiros da nossa história, tais como Rui Barbosa (1849-1923),
Tobias Barreto (1839-1889), Clóvis Beviláqua (1859-1944), Teixeira de Freitas (1816-
1883) e Pontes de Miranda (1893-1979).2
1
Membro da Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS, Moderadora do Grupo de Estudos em Direito
Administrativo da Escola Superior da Advocacia – RS, Membro da Comissão de Direitos Humanos da
OAB/RS, Palestrante, Funcionária Pública de Carreira, Advogada da Brigada Militar, Pós-Graduada em
Direito Constitucional pela Fundação do Ministério Público, Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais
pela Uniritter
2
https://jus.com.br/artigos/59984/a-criacao-dos-cursos-juridicos-no-brasil-e-o-dia-do-advogado – acesso
em 08 de junho de 2020
82
Ocorre que, passados quase 200 anos, do início da criação dos cursos jurídicos
no Brasil, o país nunca presenciou uma crise no ensino como a que se tem desvendado
neste século XXI. De fato, a educação jurídica brasileira enfrenta uma grave crise de
conflitos acadêmicos, no sentido de que o Brasil ainda adota o velho discurso da teoria
versus prática como corolário dos debates sobre o ensino jurídico.3
A mencionada crise é cristalinamente vista diante de alguns fatores simples, tais
como os baixos índices de aprovação no Exame da Ordem (se se considerar o Exame
de Ordem Unificado, do II ao XIII, a média de aprovação é de apenas 17,5%), o
desinteresse dos alunos pelas aulas (magistrais em sua quase totalidade), a quantidade
de cursos de Direito que são reprovados em avaliações feitas pela Ordem dos
Advogados do Brasil, através da Comissão Nacional de Educação Jurídica, e ainda
pelas críticas constantes feitas por juristas, tanto no tangente à abordagem dogmático-
jurídica tradicional quanto à mudança paradigmática da filosofia da consciência para a
filosofia da linguagem, e ainda considerando o foco que se tem dado nos cursos de
ensino jurídico à preparação dos alunos para a realização de concursos públicos.4
“Os cursos jurídicos no Brasil possuem em sua quase totalidade uma grade
curricular arcaica (tradicional-ortodoxa), que apenas informa um conteúdo
muito mais voltado à parte teórica do que ao exercício prático e a formação
de profissionais completos. Ainda encontram-se nos dias atuais metodologias
de ensino arcaicas e desestimulantes (baseadas em aulas magistrais), que não
se adequam mais às inovações tecnológicas e a melhor forma de ensinar as
chamadas gerações Y e Z.”5
3
https://www.conjur.com.br/2017-ago-19/campelo-filho-preciso-repensar-ensino-juridico-brasil – acesso
em 08 de junho de 2020
4
https://www.conjur.com.br/2017-ago-19/campelo-filho-preciso-repensar-ensino-juridico-brasil – acesso
em 08 de junho de 2020
5
https://alerochasoares.jusbrasil.com.br/artigos/796774117/como-as-faculdades-de-direito-tem-criado-
robos-da-dogmatica-juridica – acesso em 08 de junho de 2020
83
vez mais rápidos e potentes, chegando à última e mais avançada tecnologia atual a
inteligência artificial.
O que a inteligência artificial busca é reproduzir a atividade mental do homem
em tarefas como a compreensão da linguagem, a aprendizagem e o raciocínio. Essas
tarefas estão associadas à ciência da informação e à ciência cognitiva no padrão de
representação e nas atividades de processamento da informação, estabelecendo limites
nos modelos de construção da representação do conhecimento.6
A necessidade de velocidade na busca e consequentemente resposta da
informação, tem influenciado todos os setores da sociedade, escolas, empresas, pessoas,
de pequenos a grandes comércios, a vida em geral tem sido influenciada pela velocidade
da informação.
Nesse sentido, a elevada qualidade do ensino jurídico nacional tem sido um dos
principais desafios enfrentados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil, instituição incumbida pela Lei n. 8.906/1994 de promover, com exclusividade, a
seleção e a disciplina dos profissionais da advocacia no País.7
O nosso País não deve ser conhecido como a República dos Bacharéis, mas sim
como a república do desenvolvimento e do conhecimento, para isso, a Comissão
Nacional de Educação Jurídica, vem trabalhando fortemente, não contra tudo e todos,
mas contra o uso indevido do Ensino Superior como moeda de troca política.
Diante desse cenário, a regulação da Educação Superior brasileira precisa ser
avaliada e reformulada de forma a permitir que realmente haja uma superação entre as
instituições que são precárias para que possam adquirir qualidade.
O Brasil possui hoje aproximadamente 1.259 cursos de graduação em Direito em
funcionamento, com a possibilidade de preenchimento de 200 mil vagas por ano. Esse
número crescente de cursos em Direito demonstra a fragilidade do sistema de regulação
do ensino superior. O que pode ser notado pelas palavras da secretária executiva do
Ministério da Educação (MEC), Maria Helena Guimarães de Castro, a 2ª pessoa na
linha de comando do Ministério da Educação, que afirmou “o sistema de avaliação do
ensino superior do Brasil é falho.”8
6
https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53827/inteligncia-artificial-aplicado-ao-direito -
acesso em 09 de junho de 2020.
7
https://www.oab.org.br/servicos/oabrecomenda – acesso em 09 de junho de 2020.
8
https://www.conjur.com.br/2018-jan-29/marisvaldo-amado-ensino-juridico-temos-nao-queremos -
acesso em 10 de junho de 2020.
84
Isso é nítido ao percebermos que temos cursos de Direito com uma precariedade
imensa, com bacharéis que não conseguem passar no Exame de Ordem da OAB, o
qual cobra minimamente 50% de acertos em uma prova de oitenta questões na primeira
fase e 60% de conhecimento na segunda fase para alcançar a tão sonhada carteira de
advogado.9
Os alunos buscam essencialmente a qualidade do Ensino preconizada nos
princípios constitucionais, porém, o MEC não prioriza essa garantia legal a partir do
momento em que permite a criação de cursos como o Tecnólogo em Serviços Jurídicos,
um curso, que, além de impossibilitar o exercício profissional, entra em rota de colisão
direta com os profissionais e bacharéis do mercado que atuam em diversas áreas
jurídicas.
Esse cenário precisa ser mudado e repensado realmente no futuro dos estudantes
do curso de direito do Brasil. O conhecimento é fundamental para o desenvolvimento
do país, bem como, a sua precarização seria a ruína da nação, uma vez que bons
advogados precisam de ensino jurídico de qualidade. Não exite mérito em ter “números
de primeiro mundo com uma qualidade de terceiro mundo”. Precisamos ter qualidade e
isso não está sendo atingido nos cursos de direito, tendo em vista os números que
mostram as estatísticas.
Temos hoje uma educação jurídica de impacto, gerada em favor de grandes
números. Contudo, não temos nesse panorama a visão futurista de uma provável
mudança na oferta dos cursos existentes, além de um estudo pormenorizado por parte do
órgão Ministerial sobre a forma de avaliação dessas Instituições de Ensino Superior.10
O atual cenário da educação nacional vem sofrendo mudanças constantes que em
nada tem favorecido a população brasileira. O Ministério da Educação tem trilhado um
caminho na contramão da qualidade do ensino superior. Diante disso, o que fica é a
incerteza da educação jurídica de qualidade e em razão disso, é necessário frear a
proliferação dos cursos jurídicos e demais cursos sem a avaliação da qualidade.11
9
https://www.conjur.com.br/2018-jan-29/marisvaldo-amado-ensino-juridico-temos-nao-queremos –
acesso em 10 de junho de 2020.
10
https://www.conjur.com.br/2018-jan-29/marisvaldo-amado-ensino-juridico-temos-nao-queremos –
acesso em 10 de junho de 2020.
11
http://www.sedep.com.br/artigos/ensino-juridico-que-temos-nao-e-a-educacao-juridica-que-queremos/ -
acesso em 10 de junho de 2020.
85
12
https://alerochasoares.jusbrasil.com.br/artigos/796774117/como-as-faculdades-de-direito-tem-criado-
robos-da-dogmatica-juridica – acesso em 08 de junho de 2020.
13
https://www.conjur.com.br/2014-fev-16/entrevista-marinho-pinto-ex-presidente-ordem-advogados-
portugal – acesso em 08 de junho de 2020.
14
https://www.oabpr.org.br/forum-nacional-de-educacao-juridica-debate-abertura-desenfreada-de-novos-
cursos-de-direito-no-
pais/#:~:text=Entre%20janeiro%20e%20setembro%20de,modalidade%20%C3%A0%20dist%C3%A2nci
a%20aguardam%20avalia%C3%A7%C3%A3o. - acesso em 08 de junho de 2020.
86
cursos criados: 31 no total. Na sequência, estão os estados de São Paulo (27) e Bahia
(21). O Paraná ocupa a 4ª posição.15
Os números da criação desenfreada de cursos direito chamam a atenção e têm
sido foco de manifestações e pareceres emitidos pelo Conselho Federal da OAB.
“O CFOAB, a OAB Paraná e as demais seccionais iniciaram um combate contra
a abertura indiscriminada de cursos de graduação em Direito em todo o país. Chama a
atenção a precariedade dos cursos e a forma de avaliação: o MEC vem concedendo a
autorização desses cursos baseando-se apenas nos instrumentos de avaliação criados por
ele via INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira)
e num padrão decisório estabelecido por ele, criando, assim, um direito líquido incerto
para as instituições”, frisa o advogado Tarcizo Roberto Nascimento, gerente de
assessoramento das Comissões do Conselho Federal da OAB.16
15
https://www.oabpr.org.br/forum-nacional-de-educacao-juridica-debate-abertura-desenfreada-de-novos-
cursos-de-direito-no-pais/ - acesso em 08 de junho de 2020.
16
https://www.oabpr.org.br/forum-nacional-de-educacao-juridica-debate-abertura-desenfreada-de-novos-
cursos-de-direito-no-pais/
17
https://www.oabpr.org.br/forum-nacional-de-educacao-juridica-debate-abertura-desenfreada-de-novos-
cursos-de-direito-no-pais/ acesso em 07 de junho de 2020.
87
18
https://www.oab.org.br/servicos/oabrecomenda – Acesso em 08 de junho de 2020.
19
https://www.oab.org.br/servicos/oabrecomenda – Acesso em 08 de junho de 2020.
20
https://www.oab.org.br/servicos/oabrecomenda – Acesso em 08 de junho de 2020.
21
https://www.oab.org.br/servicos/oabrecomenda – Acesso em 08 de junho de 2020.
88
22
https://tecnoblog.net/263808/o-que-e-inteligencia-artificial/ - Acesso em 10 de junho de 2020.
23
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/11274
/Ensino%20do%20direito%20em%20debate.pdf?sequence=1 – acesso em 08 de junho de 2020.
89
24
https://blogbrasil.westcon.com/quais-os-impactos-da-inteligencia-artificial-na-
educacao#:~:text=Os%20professores%20precisar%C3%A3o%20repensar%20como,o%20perfil%20de%
20seus%20estudantes. - acesso em 06 de junho de 2020.
25
https://blogbrasil.westcon.com/quais-os-impactos-da-inteligencia-artificial-na-educacao – acesso em 09
de junho de 2020.
90
Esta é uma pergunta que surge em todas as áreas da economia nas quais a
inteligência artificial tem avançado. Mais do que uma dúvida, é, para muitos, um medo.
O temor de seu trabalho se tornar dispensável, desnecessário. Se você é um dos que têm
esse receio, fique tranquilo. O uso da inteligência artificial no Direito não vai acabar
com a profissão de advogado.26
Basta lembrar que esse sentimento não é novidade. Quando surgiram os
softwares jurídicos e até ferramentas mais básicas, como os programas de edição de
documentos e planilhas, muitos profissionais também ficaram temerosos.
E, como você já sabe, a função de advogado continua firme e forte. O Direito
não se trata apenas de análises frias e objetivas da lei. Há que se observar questões
éticas e interpretar a subjetividade de cada caso. Um raciocínio que as máquinas não são
capazes de conduzir.
CONCLUSÃO
26
https://fia.com.br/blog/inteligencia-artificial-no-direito/ - acesso em 10 de junho de 2020.
91
disposição da sociedade e, nesse contexto, uma das alternativas que se aponta é o uso da
inteligência artificial dentro do âmbito do ensino jurídico.
A inteligência artificial busca reproduzir a atividade mental do homem em
tarefas como a compreensão da linguagem, a aprendizagem e o raciocínio. Essas tarefas
estão associadas à ciência da informação e à ciência cognitiva no padrão de
representação e nas atividades de processamento da informação, estabelecendo limites
nos modelos de construção da representação do conhecimento.27
O mundo moderno no qual estamos inseridos requer uma capacidade técnica de
ensino diferenciada daquelas em que vivenciamos, uma pedagogia que quase não se
modificou há mais de 200 anos da instituição de cursos jurídicos no Brasil.
A sala de aula não poderá ser mais a mesma a partir da era tecnológica e os
conteúdos, conforme o tempo passa, também devem se adaptar aos novos rumos que a
sociedade impõem. O uso de metodologias à distância, de aplicativos e outras formas
modernas de ensino deverão estar disponíveis para que os alunos consigam obter
sempre os melhores desempenhos acadêmicos.
BIBLIOGRAFIA
GAROFALO, Débora. Como a inteligência artificial pode colaborar com sua aula os
movimentos para criar um ensino mais personalizado, flexível, inclusivo e interativo
passam pela aplicação da inteligência artificial.10 de setembro| 2019 - disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/18312/como-a-inteligencia-artificial-pode-colaborar-
com-sua-aula – acesso em 08 de junho de 2020
SOARES, Alexandre Augusto Rocha. Como as faculdades de direito têm criado robôs
da dogmática jurídica- disponível em:
https://alerochasoares.jusbrasil.com.br/artigos/796774117/como-as-faculdades-de-
direito-tem-criado-robos-da-dogmatica-juridica
AMADO,Marisvaldo Cortez. Ensino jurídico que temos não é a educação jurídica que
queremos - disponível em: http://www.sedep.com.br/artigos/ensino-juridico-que-temos-
nao-e-a-educacao-juridica-que-queremos/ - acesso em 06 de junho de 2020
27
https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53827/inteligncia-artificial-aplicado-ao-direito –
acesso em 08 de junho de 2020.
92
Giuseppe Bachini1
Resumo: Este artigo tem como objetivo principal, refletir sobre a importância da
formação pedagógico-didática para o exercício da docência nas disciplinas dos cursos
de Direito, e para o êxito no processo de ensino e aprendizagem.Para tanto, serão
abordadas as principais características dos docentes do ensino jurídico e a metodologia
de ensino. A questão de investigação foi esta: Que linhas/temas pedagógico-didáticas
são importantes considerar em uma formação continuada de professores a lecionar nos
cursos de Direito? O presente trabalho constitui-se em um estudo de caráter teórico,
com uma abordagem qualitativa, realizada por meio de revisão bibliográfica e método
dedutivo. E teve como motivação de pesquisa minha experiência própria, pois, exerço a
função de docente no ensino superior, lecionando diariamente disciplinas do Direito. No
início do meu magistério, percebi as primeiras dificuldades na falta do conhecimento
pedagógico-didático. No presente trabalho, foi realizado uma pesquisa e reflexão sobre
os cursos de direito e seus professores, trabalhando nas necessidades de formação
pedagógico-didática para o exercício da docência, com foco no ensino superior em
especial na educação jurídica, para que no final pudéssemos propor uma ação de
formação, ainda que simples (apenas alguns temas a serem trabalhados em sessões de
formação ao longo do ano letivo), de forma a ajudar a superar essas carências.
Completamos o interesse da proposta com a planificação de uma ação de formação,
oferecendo aos docentes, com combinações de conceitos teóricos e metodologias
práticas utilizadas na educação jurídica do ensino superior. Os resultados deste estudo,
encontram-se no decorrer deste trabalho.
1. INTRODUÇÃO
1
Professor de Direito no Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia Sul – Riograndense
Câmpus Visconde da Graça – CAVG - Mestre em Educação – IPB/ Portugal - Especialista em Direito
Notarial e Registral - Especialista em Docência e Educação - Advogado no Rio Grande do Sul – OAB/RS
114.386.
94
seja significativa e duradoura, e aquele que não o ignora (e sabe como). Na nossa
perspectiva, a formação pedagógico-didática pode (deve) ajudar nesse desígnio.
Este capítulo refere-se, tal como a designação que lhe foi atribuída sugere, à
apresentação dos fundamentos teóricos que orientam o estudo da investigação, na
perspectiva da formação pedagógico-didática dos docentes que lecionam educação
jurídica nos cursos de Direito.
Em primeiro lugar, a formação para a docência nos cursos superiores não é
muito destacada, principalmente para os que lecionam conteúdos programáticos na
educação jurídica, historicamente sendo vista como uma atividade menor,
desnecessária, ou, até mesmo, como uma perda de tempo. Acredita-se que “quem
souber fazer a intepretação das leis, sabe automaticamente ensinar Direito”, não
havendo preocupações mais profundas com a necessidade da preparação do professor.
Como não acreditamos nesta visão, de que apenas saber fazer é suficiente para ser
professor e porque consideramos o conhecimento pedagógico-didático como essencial
para ser professor de qualquer curso de Direito, referiremo-nos as
teorias/perspectivas/correntes da aprendizagem que evoluíram ao longo dos tempos,
desde o Behaviorismo ao Socioconstrutivismo - que sustentam/suportam diferentes
modelos de ensino-aprendizagem.
3.1. Behaviorismo
Esta passagem inicial alude a dois autores que são referência neste processo de
conhecimento, identificado, como Behaviorismo, o conhecimento condicionado,
conforme Pavlov (1927) e Skinner (1976).
Para o Behaviorismo, o conhecimento é um estado que pode ser alcançado
buscando alternativas e métodos. No Behaviorismo, pela visão de Pavlov (1927),
percebe-se a importância do estímulo para entender o comportamento humano.
Conhecimento Condicionado do sujeito a Estímulos - Respostas, em que Pavlov
promoveu experiências com cães; ao observar a salivação dos cães, quando recebiam a
comida, era o estimulo, já a resposta era a salivação, mas, ao estimular os cães com a
campainha antes de comerem, quando os cães já associavam à comida, salivavam. A
97
3.2. Cognitivismo
3.3. Construtivismo
portuguesa Pires: “aquilo que o aluno já sabe é um fator crítico que afeta a
aprendizagem futura.” (2014).
Ainda de acordo com Pires, na perspectiva do Construtivismo (e dos
construtivistas): “[…] a aprendizagem deverá ser vista como um processo de
construção/reconstrução do conhecimento e o ensino como uma ação facilitadora desse
processo.” (2014).
O Construtivismo vai, assim, além da barreira do aluno como mero espectador,
derrubando-a e ressaltando a ideia de que, para aprender, o aluno deve envolver-se
ativamente no processo de aprendizagem. Um grande referencial do construtivismo é o
Bruner (1961) e sua teoria do Desenvolvimento Cognitivo.
De acordo com as ideias de Bruner (1961) e a teoria do Desenvolvimento
Cognitivo, o desenvolvimento processa-se passando por etapas ou Representações:
ativa, icónica e simbólica, cujo aluno é o foco da aprendizagem. Para Bruner (1961), os
alunos devem descobrir e construir o seu próprio conhecimento, mas, para isso, os
professores devem elaborar e construir os materiais apropriados e conduzir os alunos no
processo. Ou seja, os professores devem ser os mediadores, e os alunos devem interagir
entre si, construindo o conhecimento por descoberta, sempre colocando a importância
do professor como orientador. Agora, iremos abordar outra escola do conhecimento, o
Socioconstrutivismo de Vygotsky.
3.4. Socioconstrutivismo
Percebesse com estas colocações que Vygostsky coloca o professor como grande
promotor, não só da aprendizagem, ao trabalhar o potencial real do aluno, como também
do desenvolvimento psicológico, no qual desenvolve o potencial cognitivo, fazendo
com que o aluno possa ir além do seu desenvolvimento real. O professor deve
aproveitar as experiências de vida do aluno, os seus interesses, as suas relações com o
meio, os seus conhecimentos, afim de o guiar e encorajar na busca de uma
aprendizagem mais elaborada e de nível superior.
Nos itens/parágrafos anteriores, ilustramos as principais “escolas” do
desenvolvimento e da aprendizagem e alguns dos seus principais referenciais, desde o
Behaviorismo, de Pavlov e Skiner, ao Cognitivismo, mais relacionado com Ausubel e
Piaget, como também o Construtivismo, de Bruner, e o Socioconstrutivismo de
Vygostsky. Com essas escolas do pensamento, observamos o quão é importante contar
com formação específica para a docência, integrando diversos componentes na vertente
pedagógica-didática, em que este trabalho possui seu foco, se torna fundamental.
Este componente pedagógica-didática, para cujo desenvolvimento a Formação
Continuada de Professores é de primordial importância, também será objeto de
referência no decorrer deste trabalho, nomeadamente no contexto do desenvolvimento
deste estudo.
Como podemos observar a referida norma, nos deixa claro a preferência por
professores com titulação acadêmica de pós-graduação stricto senso (mestrado ou
doutorado). Mas, ainda assim, a legislação deixa margem para ao menos dois terços do
quadro de docentes de uma universidade ser composta por profissionais que não tem
nenhuma pós-graduação ou seja, sem nenhuma especialização.
Nosso Ministério da Educação - MEC, permite que os colegiados das
universidades tenham autonomia para dentro dos recursos orçamentários disponíveis,
regularem a contratação e dispensa de professores, assim como definirem o plano de
carreira desses profissionais. Assim, é possível ingressar no ensino de nível superior na
condição de professor tendo apenas o diploma de graduação, sem ao menos ter uma
especialização. Entendemos que estas regras apresentam enorme margem para que o
atual cenário do ensino superior jurídico continue com os mesmos problemas.
Em nosso ordenamento jurídico brasileiro, não existe nenhuma norma que exija
formação específica para o exercício do magistério no ensino superior, permitindo, por
conseguinte, que a docência continue, de um modo geral, como a “segunda fonte de
renda” dos profissionais, principalmente na educação jurídica, e assim a profissão de
professor não sendo encarada e valorizada como realmente deveria.
Não diferente dos outros cursos de ensino superior no Brasil, os de Direito
também tem poucas exigências para selecionar seus docentes, talvez este seja o
principal motivo desta crise no ensino jurídico, tendo como reflexo altos índices de
reprovação em concursos na área jurídica, especialmente no exame da Ordem dos
Advogados do Brasil, que é o exame que avalia se os egressos dos cursos jurídicos
possuem o mínimo de conhecimento jurídico necessário para ingressarem no mercado
104
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS
BROOKS, J., & Brooks, M. Construtivismo em salade aula. In: Pires, D. M. (2009).
Educ. Mat. Pesquisa, v.11, n.º 1. São Paulo: 1997. p.145.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. 20ª Ed. Coleção: Magistério
e Formação Pedagógica. São Paulo: Papirus, 2008.
DA SILVA, B. História da Ciência nos Livros Didáticos de Física do 1.º ano do Ensino
Médio no Brasil. 2019. 75 folhas. Dissertação de Mestrado em Ensino da Ciência,
Escola Superior de Educação de Bragança. Bragança/2017.
FERNANDES, I., & Pires, D. As inter- relações CTSA nos manuais escolares de
ciências do 2º CEB. EDUSER: Revista de Educação. 5:2,Ano: 2013. p.35-47.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010.
109
LIBÂNEO, J. C.Didática. São Paulo: Cortez. São Paulo: Editora Loyola, 1990.
VEIGA, Ilma Passos de Alencastro. Didática: O Ensino e Suas Relações. São Paulo:
Papirus, 1997.
1 INTRODUÇÃO
1
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:
halandra@outlook.com.
2
Graduando do décimo semestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e-mail: marciriogessinger@yahoo.com.br.
111
cinco3, tendo sido examinados vinte e dois currículos, apontando, portanto, a um grau
de confiança de 90% com margem de erro de 10%4.
Após, buscou-se interpretar os dados encontrados através do marco teórico da
Teoria Marxista do Direito, auxiliada, igualmente, pela Teoria Marxista da Assistência
Social5, escolhidas em razão de sua capacidade de compreender as instituições jurídicas
e sociais dentro do processo econômico-social capitalista, contexto histórico em que se
busca desenvolver essa pesquisa.
Dessa forma, o artigo se estrutura em seis tópicos, contando o presente: 1)
Introdução; 2) Estado da arte jurisprudencial do Direito Previdenciário; 3) Exposição do
marco teórico; 4) O Direito Previdenciário nos currículos das Faculdades de Direito do
Rio Grande do Sul; 5) Interpretando os dados levantados à luz do marco teórico; e 6)
Conclusão.
3
Informação disponível em: <https://www.altillo.com/pt/universidades/brasil/estado/riograndedosul.asp>.
Acesso em: 18 abr. 2020.
4
Cálculo feito com auxílio de calculadora de amostragem. Disponível em:
<https://pt.surveymonkey.com/mp/margin-of-error-
calculator/?program=7013A000000mweBQAQ&utm_bu=CR&utm_campaign=71700000064157500&ut
m_adgroup=58700005705973492&utm_content=39700052004881791&utm_medium=cpc&utm_source
=adwords&utm_term=p52004881791&utm_kxconfid=s4bvpi0ju&gclid=CjwKCAjwp-
X0BRAFEiwAheRui9Xavdmhe7C76JCAVmFV3A4_zU6bj4HFTBZg0oHrQ69eis1fCbCcdxoCWuQQA
vD_BwE>. Acesso em: 18 abr. 2020.
5
Sabe-se que a Assistência Social é um dos três pilares da Seguridade Social, sendo os outros dois a
Previdência e a Saúde (BAPTISTA; FILHO; REZENDE, 2015), mas o raciocínio desenvolvido dentro
dessa teoria contribui muito à reflexão marxista nos outros dois campos da Seguridade Social.
112
6
O Benefício de Prestação Continuada é o benefício mais importante, apesar de não implementado em
conformidade com o ideário constitucional, provido pela Assistência Social, atendendo mais de 4,5
milhões, independente de contribuição (STOPA, 2019).
7
Uma das possíveis interpretações das crises cíclicas do capitalismo é de que haveria um subconsumo de
bens de consumo originado pela compressão dos salários e dos padrões devidos, acarretando um
enfraquecimento da demanda ao passo que isso gera uma superprodução, visto que há uma necessidade
inerente ao capitalismo de manter a taxa de lucros em crescimento constante, principalmente em uma
sociedade do capital financeiro (CIPOLLA, 2012).
115
Não obstante a Seguridade Social ser constituída por essas três áreas, o Direito
Previdenciário ensinado nas Faculdades de Direito, como o próprio nome indica, se
atém mais à área da Previdência Social do que às demais, conforme se nota da súmula
da cadeira ministrada pela Faculdade de Direito da UFRGS:
8
Súmula da disciplina de Direito Previdenciário da Faculdade de Direito da UFRGS. Disponível em:
<http://www.ufrgs.br/ufrgs/ensino/graduacao/cursos/exibeCurso?cod_curso=310>. Acesso em: 24 abr.
2020.
116
áreas que tratam da matéria de maneira indireta, como seria o caso do Direito
Processual ao servir como regras procedimentais ao Estado para tutelar tais direitos
(GRILLO, 2017). Tendo isso mente, é possível pensar no Direito Previdenciário a partir
desses dois âmbitos: a) o Direito Previdenciário lida diretamente com circulação de
Capital, visto que versa sobre benefícios pecuniários a pessoas que, via de regra,
estariam fora do mercado de consumo sem tal auxílio; e b) o Direito Previdenciário lida
indiretamente com circulação de Capital, uma vez que trata de regras as quais servem de
baliza para que sejam deferidos (ou não) os benefícios previdenciários pelo Estado.
Seguindo essa lógica acerca do Direito Previdenciário sob um prisma marxista,
temos um sujeito de direito que busca uma relação jurídica com a Previdência Social a
fim de lhe ser deferido um benefício pecuniário ao serem cumpridos certos requisitos.
Isso é evidente quando se analisa a Lei nº 8.213/91 (BRASIL, 1991) e vemos que sua
estrutura segue o raciocínio: Capítulo I - Dos Beneficiários (quem pode ser
beneficiário?); Capítulo II - Das Prestações em Geral (quais são os benefícios, quais os
seus requisitos e quais os critérios de cálculo?); e Seção V do Capítulo II - Dos
Benefícios (explica os benefícios em espécie e os requisitos específicos). A título
exemplificativo, para que alguém lhe tenha concedido o auxílio doença, em linhas
gerais, é preciso que tenha feito doze contribuições mensais à Previdência Social e que
tenha ficado incapacitado para o seu trabalho por mais de quinze dias consecutivos e seu
salário-de-benefício será a média aritmética simples dos maiores salários-de-
contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo
(BRASIL, 1991).
Todavia, em razão do seu caráter autofágico e sua necessidade de contínua
expansão, o Capital preda na Previdência Social (e toda Seguridade Social) através das
contrarreformas que visam a sua privatização, conforme esclarece Thais Soares
Caramuru:
9
Foram examinados os currículos disponíveis online, nos seguintes links:
1) PUCRS. Disponível em: <http://www.pucrs.br/direito/curso/bacharelado-em-direito/#curriculos>.
Acesso em: 25 mar. 2020.
2) UFRGS. Disponível em:
<http://www.ufrgs.br/ufrgs/ensino/graduacao/cursos/exibeCurso?cod_curso=310>. Acesso em: 25 mar.
2020.
118
UNIRITTER 10 4 66 OBRIGATÓRIO
FMP NÃO POSSUI X X X
UFSM 10 4 60 OBRIGATÓRIO
UNISINOS 9 ou 10 4 60 OPTATIVO
UNIVERSIDADE DE 10 4 60 OPTATIVO
PASSO FUNDO
FACULDADE JOÃO NÃO POSSUI X X X
PAULO II
UNICRUZ 6 2 30 OBRIGATÓRIO
UNIJUI 10 4 60 OBRIGATÓRIO
ensino; optativo, 9,0%; e não oferecido, 32,0%. Desse modo, constata-se que 41,0% dos
cursos de Direito do Rio Grande do Sul analisados estão em desconformidade com a
Resolução nº 5/2018, que instituiu a obrigatoriedade da cadeira de Direito
Previdenciário na graduação do Direito.
Todavia, os resultados em abstratos não são capazes, per se, de demonstrar como
a matéria de Direito Previdenciário está inserida no currículo do Direito, limitando-se a
dados brutos. Comparando os resultados da disciplina estudada com outras, porém,
revela-se o panorama institucional no qual se insere o Direito Previdenciário,
especialmente vis-à-vis outras cadeiras.
Examinando, por exemplo, qual o tratamento concedido à cadeira de Direito
Empresarial na UFRGS, observa-se que há quatro módulos (Direito Empresarial I, II, III
e IV), sendo o último dois créditos e de trinta horas enquanto os demais, quatro créditos
e sessenta horas, totalizando quatorze créditos e 210 horas.
Por outro lado, na PUCRS, pesquisando sobre os mesmos quesitos supracitados,
mas usando de exemplo a disciplina de Direito Penal, constata-se, igualmente, quatro
módulos (Direito Penal I, II, III e IV), tendo todos uma carga horária de sessenta horas,
perfazendo um total de 240 horas.
Similarmente, analisando os critérios mencionados anteriormente, na UFPEL,
tem-se para Direito Civil cinco módulos (Direito Civil I, II, III, IV e V), cada um com
uma carga horária de 120 horas e possuindo quatro créditos, atingindo vinte créditos e
600 horas.
A carga horária, a quantidade de créditos e o semestre em que se oferece a
disciplina ficam a critério da instituição de ensino, devendo-se respeitar o mínimo
obrigatório, como se nota das resoluções acima e da Lei de Diretrizes e Base. Assim,
cada faculdade de Direito pode escolher como constrói o seu currículo e, a partir dos
dados levantados, pode-se concluir que, dentro do contexto curricular, todas
marginalizam o Direito Previdenciário ao passo que outras chegam a excluí-lo
totalmente. É importante se perguntar o motivo desse comportamento adotado pelas
instituições de ensino e é isso que se busca responder no próximo tópico à luz do marco
teórico apresentado.
121
10
Em certos casos, diretamente ignorada, visto que certas Faculdades de Direito oferecem a cadeira como
eletiva, isso quando oferecida.
122
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
11
E isso inclui a Previdência Social.
123
CARAMURU, Thaís Soares. Fundos de Pensão no Brasil: princípios para uma crítica
marxista. In: Revista Katálysis. Florianópolis. v. 22. n. 3. set.-dez. 2019. pp. 587-596.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
49802019000300587&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 28 abr. 2020.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 20ª ed. Rio de
Janeiro: Forense. 2017.
FLEURY, Sônia. O Estado sem cidadãos: seguridade social na América Latina. Rio de
Janeiro: Fiocruz. 1994. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/jm5wd/pdf/fleury-
9788575412428.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2020.
GRILLO, Marcelo Gomes Franco. Direito Processual e capitalismo. São Paulo: Outras
expressões. 2017.
MASCARO, Alysson Leandro. Direitos Humanos: uma crítica marxista. In: Lua Nova,
São Paulo, n. 101, pp. 109-137, 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-109137/101.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ln/n101/1807-0175-ln-101-00109.pdf>.
Acesso em: 16 mai. 2020.
______. Tema nº 999. Possibilidade de aplicação da regra definitiva prevista no art. 29,
I e II da Lei 8.213/1991, na apuração do salário de benefício, quando mais favorável do
que a regra de transição contida no art. 3º da Lei 9.876/1999, aos Segurados que
ingressaram no sistema antes de 26.11.1999 (data de edição da Lei 9.876/1999).
Leading cases: Recurso Especial nº 1.554.596/SC; e Recurso Especial nº 1.5962.03/PR.
Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Data de julgamento 11 dez. 2019. Data
de afetação: 05 nov. 2018. 2018b. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&ti
po_pesquisa=T&sg_classe=REsp&num_processo_classe=1554596>. Acesso em: 30
mai. 2020.
INTRODUÇÃO
1
Advogada (OAB/RS 100.529). Mestra em Direito pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo/RS. Integrante do Programa de Extensão
Balcão do Trabalhador (Faculdade de Direito-UPF). Endereço eletrônico:
lauracovattidossantos@gmail.com
2
Advogada (OAB/RS 45621). Doutoranda em Ciência Jurídica Univalli/UPF. Mestre em Direito pela
Unisinos, Especialista em Direito Processual Civil e Processo do Trabalho. Docente de Graduação e Pós-
Graduação na Universidade de Passo Fundo-UPF/RS. Coordenadora do Programa de Extensão Balcão do
Trabalhador (Faculdade de Direito- UPF). Endereço eletrônico: mairatonial@upf.br
127
3
Constituição Federal de 1988, artigo 207 - As universidades gozam de autonomia didático-científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei.
128
[...] A partir do momento em que se pensa que esse é seu principal papel, ela
surge em sua dimensão transecular; ela traz em si uma herança cultural,
coletiva, que não é apenas a da nação, mas a da humanidade, ela é
transnacional. Trata-se de torna-la transdisciplinar. Para que isso aconteça,
seria necessário introduzir nela os princípios e os operadores da reforma do
pensamento [...]. São esses princípios e esses operadores que permitirão
religar as disciplinas por meio de uma relação orgânica, sistêmica, deixando
que elas se desenvolvam livremente (MORIN, 2015, p. 126-127).
Esta interação direta constitui uma via de mão dupla para a difusão do
conhecimento e para a interação com as realidades e experiências da
comunidade, resultando em alternativas que contribuem com a melhoria da
qualidade de vida da população e também subsidiando o fazer acadêmico na
sua dinâmica de responder às demandas da sociedade, consolidando, assim, o
comprometimento da UPF com o desenvolvimento sustentável (UPF, 2020c).
4
“Uma das manifestações do caráter comunitário da Universidade se dá por meio da extensão que
aproxima as ações desenvolvidas na Instituição da comunidade à qual está inserida. Na UPF, são mais de
80 projetos e programas de extensão, além de museus Histórico, de Artes Visuais e Zoobotânico e
fomento a grupos artísticos” (UPF, 2020c).
132
5
Por intermédio de ações conjuntas entre alunos, professores e demais pessoas envolvidas com o
Programa de Extensão Balcão do Trabalhador, o atendimento passou a ser oferecido aos trabalhadores –
tanto à classe trabalhadora quanto ao setor empresarial – no Campus III da Universidade de Passo Fundo,
bem como na Agência SINE/FGTAS.
134
6
Para que pudesse atingir seu objetivo primordial – dar atendimento a comunidade –, o Programa de
Extensão Balcão do Trabalhador instalou-se no centro da cidade, em local amplo e acessível, com isso
pretende responder às demandas trabalhistas, em especial as que envolvam os menos favorecidos.
136
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MORIN, Edgar. Ensinar a viver: manifesto para mudar a educação. Tradução de:
Edgard de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco. Porto Alegre: Sulina, 2015.
SANTOS, Laura Covatti dos; TONIAL, Maira Angélica Dal Conte. A divulgação de
cartilhas como políticas públicas educacionais de combate à desinformação. In:
CONSALTÉR, Evandro [et. al.] (Coord.) Mostra em Educação, Obscurantismo
educacional: o papel da pesquisa na formação dos sujeitos [recurso eletrônico]. Passo
Fundo: EDIUPF, 2019. Disponível em:
https://www.upf.br/_uploads/Conteudo/meduc/Anais%20Meduc%202019%20versao%
20com%20ficha%20catalografica.pdf. Acesso em: 08 jun. 2020.
138
UPFTV. Balcão do Trabalhador UPF. Youtube. 21 dez. 2017. 2min32s. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=JoWgBAujVtY. Acesso em: 06 jun. 2020.
INTRODUÇÃO
1
Pós-Doutor em Direito pela URI Santo Ângelo/RS. Doutor em Ciências Jurídicas e SociaispelaUff/RJ.
Mestre em Direito, Cidadania e Desenvolvimento pela Unijuí/RS. Graduado em Direito e Filosofia pela UPF.
Professor da Faculdade de Direitoedo PPGDireito pela UPF. Advogado - OAB/RS 55.559. E-mail:
marcio@upf.br.
140
refletido a partir de uma análise filosófica da ação humana, possibilitando a busca de novas
perspectivas da educação e, neste caso, em especial, à educação jurídica.
Quanto aos conceitos de ação humana e ação pedagógica, deve-se entender que a
pedagogia precisa se ocupar com o sentido e a finalidade da ação em suas dimensões
metodológicas e didática, o que exige dela uma atitude problematizadora e reflexiva, a qual
é conquistada por meio do seu diálogo com a filosofia. Desse diálogo, a pedagogia assume
uma tematização universalista do conceito de ação humana que é própria da filosofia. O
presente estudo analisará o conceito de ação humana, que é própria da filosofia, a partir da
racionalidade habermasiana, onde a ação humana é constituída pela linguagem em seu
sentido pragmático.
Para percorrer o caminho anunciado a presente pesquisa está dividida em três
seções: a) a primeira seção aborda a atualidade da educação superior, bem como busca
localizar as práticas pedagógicas da educação jurídica neste contexto; b) a segunda seção
trata da perspectiva da racionalidade habermasiana a partir da teoria da ação comunicativa
e sua contribuição para uma renovada perspectiva pedagógica; c) a terceira seção analisa as
contribuições da teoria da ação comunicativa para a formação humana na perspectiva,
então, da educação jurídica.
Por fim, cabe dizer que a metodologia no domínio filosófico não ocorre em
separado da própria atividade de pensamento. Por essa razão se diz que a questão do
método já significa uma questão de pensamento. Dessa forma, procedimento metódico de
tal análise caracteriza-se pelos seguintes momentos: análise e esclarecimento de conceitos;
identificação da ideia-chave; e argumentos; tentativa de resumo e reconstrução pessoal do
texto; como método de abordagem utiliza-se o hermenêutico-fenomenológico, no qual a
categoria epistemológica fundamental é a compreensão e a meta é a interpretação dos
fatos.
Segundo observa Goergen (2009, p.58), nos tempos atuais onde a celeridade das
mudanças deixou explícito e consciente o caráter histórico do devir humano, a formação
aparece como projeto individual e coletivo de natureza democrática e partilhada.
De acordo com a filósofa norte-americana Martha Nussbaum, a crise mundial da
educação é uma crise silenciosa, em que países e seus sistemas educacionais estão
descartando imprudentemente, competências indispensáveis para se manter viva a
democracia. Essas competências está ligada às humanidades: a capacidade de pensar
criticamente e a capacidade de imaginar, com simpatia, a situação em que o outro se
encontra (2015, p.08).
Eis segundo Nussbaum, o que se pode denominar de espírito das humanidades: “a
busca do raciocínio crítico, das ideias ousadas, da compreensão empática das diferentes
142
e a preocupação não é a busca pelo entendimento. A ação teleológica é orientada por uma
razão de tipo instrumental, por meio da qual ocorre uma instrumentalização da linguagem
(HABERMAS, 1992, p.137). Nota-se aqui uma relação meio-fim. Na ação teleológica, de
acordo com Habermas, há um comportamento de interesse, isto é, na comunicação com o
outro já penso como posso usá-lo para alcançar o fim proposto.
Na ação normativa, a linguagem é o meio que transmite valores culturais, sendo
entendida como meio de formação de consciência, em sentido limitado. Poderá ainda haver
predomínio de uma razão instrumental, mas também de uma razão comunicativa
(HABERMAS, 1992, p.137).
Na ação dramatúrgica a linguagem é um meio de autopreservação. Aqui também
poderá a linguagem ser entendida como meio de formação de consenso possuindo função
meramente expressiva. Pode estar presente tanto a razão instrumental como a razão
comunicativa (HABERMAS, 1992, p.137).
Por fim, na ação comunicativa há o predomínio da razão comunicativa. A busca
pelo entendimento é a condição de possibilidade da ação comunicativa. O entendimento é
tratado por Habermas como sinônimo de consenso, o qual deve ser conquistado
racionalmente, excluindo-se acordos tácitos, falsos e de aparências. O entendimento deverá
ser resultado de uma argumentação racional (HABERMAS, 1992, p.138).
Habermas (1992, p.138) adverte que os três primeiros modelos de ação, quais
sejam, a teleológica, a normativa e a dramatúrgica apresentam limites em sua
comunicação. Na ação teleológica a linguagem se expressa em relação ao seu próprio fim.
Na ação normativa o limite é de atualizar um acordo normativo existente. E no terceiro
modelo, da ação dramatúrgica, o limite é o de querer criar apenas uma imagem da pessoa.
No entanto, a única vantagem que esses modelos apresentam é de que todos procuram
levar em conta as formas de se expressar a linguagem.
Há que se deixar claro, ainda, que Habermas chama a atenção para o fato de que o
modelo da ação comunicativa possa apresentar o problema de que a linguagem possa ser
reduzida à conversação, isto é, sem interação, onde somente um agente fala e não assume a
postura de escuta.
Para Habermas o entendimento linguístico é o mecanismo de coordenação da ação,
considerando-se que para os indivíduos viverem em sociedade depende-se do
estabelecimento de acordos sociais. Portanto, o entendimento linguístico significa uma
145
meta, um interesse de solidariedade que constitui a vida social, um acordo nas divergências
e contradições para que a convivência entre todos seja possível.
A ação é, segundo Habermas, manifestação linguística, uma vez que ela é a relação
do agente para com um mundo. Nesse sentido, é a relação do ser humano com algo além
dele. No conceito de ação deve estar presente um certo grau de autonomia, o que diferencia
a ação comunicativa de outros modelos de ação.
Os atos de fala formam a ação comunicativa numa tripla dimensão: por meio do
conteúdo proposicional, na medida em que oferece uma relação interpessoal e expressa a
intenção do falante. A ação comunicativa é uma concepção pragmática de linguagem, onde
os atos de entendimento não podem ser vistos somente como uma oração gramatical, mas
sim como uma ação reflexiva do falante com o mundo num sistema onde reúne os três
mundos (objetivo, social e subjetivo), sempre buscando o entendimento.
No conceito de ação comunicativa o indivíduo está relacionado com três mundos:
a) mundo objetivo: natureza (objeto), conhecimento e verdade; b) mundo social: sociedade
(normas), ética e direito; c) mundo subjetivo: personalidade (indivíduo), consciência e
sensibilidade.
Por meio da ação comunicativa falantes e ouvintes estabelecem relações entre si,
integrando os três mundos num sistema com pretensões de validez. Habermas sustenta a
tese de que se um falante quer se entender com um ouvinte sobre algo no mundo, ele
precisa assegurar que seu ato de fala seja inteligível, verdadeiro, correto e expressivo.
Nesse sentido, deve haver coerência entre o dizer teórico e a ação realizada, uma vez que
o ato de fala somente será válido e verdadeiro se não ocorrer contradição no dito e no
praticado.
Desde a década de 1960, em textos anteriores à Teoria da Ação Comunicativa,
Habermas questionou o projeto positivista da razão e sua maneira de postular a verdade e a
objetividade do conhecimento tão-somente em prol do método, escondendo-se, na razão
instrumental, a capacidade de se manipularem as regras formais. O Estado moderno busca
preservar o funcionamento da economia e, para tal, enfrenta dificuldades, tendo em vista
que procura sempre maximizar ou otimizar lucros por meio de uma posição econômica que
lhe seja favorável no mercado internacional, com ênfase ao atendimento do sistema
produtivo, chegando ao modelo esgotado do Estado de bem-estar social.
146
Habermas busca que o Estado volte a ser espaço de integração social e não um
subsistema aliciado pelo sistema econômico, dirigido pelo princípio da acumulação do
capital.
oferecer ao aluno um novo potencial reflexivo para o campo jurídico. Dentro dessa
perspectiva,
a filosofia não tem mais o poder que a tradição lhe atribuía de oferecer um
conhecimento totalizador, definitivo, salvacionista, nem tem a função profética
de prever um futuro e de esclarecer que condições devem ser criadas para que
esse futuro se realize. [...] A tarefa da filosofia atual consiste em delimitar uma
concepção mínima de racionalidade e de esclarecer as confusões que
determinadas concepções de conhecimento – inclusive dela própria – têm
provocado na humanidade. [...] cabe à filosofia trabalhar interativamente com os
outros campos do saber em, pelo menos, dois planos: na busca da compreensão
dos diferentes sentidos dos fazeres humanos e na busca de argumentos válidos
que validem as ações humanas. (MÜHL, 2003a, p. 69-70).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
GOERGEN, Pedro. Formação humana ontem e hoje. In: CENCI, Ângelo Vitório;
DALBOSCO, Cláudio Almir; MÜHL, Eldon Henrique. Sobre filosofia e educação:
racionalidade, diversidade e formação pedagógica. Passo Fundo: Ed.UPF, 2009.
GOMES, Luís Roberto. Teoria crítica e formação política em Habermas. In: DÍAZ,
Andrea; SGRO, Margarita. Teoría crítica de educación y teoria crítica de lasociedad:
perspectivas en diálogo. Tandil: Editorial UNICEN, 2018.
NUSSBAUM, Martha. Sem fins lucrativos. Por que a democracia precisa das
humanidades, Martins Fontes, São Paulo, 2015.
SAVATER, Fernando. O valor de educar. Tradução de Mônica Stahel. São Paulo: Editora
Planeta do Brasil, 2005.
MateoFusalba1
1
Abogado. Contador Público Nacional. Profesor en Educación Media y Superior en la Disciplina de
laAbogacía.Docente e Investigador. SubDirectordel Departamento de DerechodelTrabajo de
laUniversidadMaimónides. Email: mateofusalba@gmail.com.
153
REGIMEN DE TITULOS
El campus posee el acceso a las aulas de cada una de las materias en las que el
Docente está designado y tiene a su disposición las siguientes utilidades, con sus
correspondientes instructivos:
a. Función para subir materiales incluyendo links de sitios externos al Aula Virtual,
siendo:
1. Permite insertar Bloques deTexto, Sitio de interés, Imágenes, Videos.
2. Adjuntar archivos de Material de estudio en formato imagen, video, ZIP, Word,
PDF, Web, Excel, PowerPoint, Video Streaming, Vínculos de Internet y Visor
PDF.
3. Evaluaciones y Recuperatorio.
4. Participar en el foro y Material del foro.
5. Acceso a la Videoconferencia y la sala de Aula Virtual vinculada a ZOOM.
b. Foro de comunicación con los alumnos
c. Mensajería interna del campus a través de la cual podrá enviar y recibir archivos
adjuntos.
d. Videoconferencia. Sala de Aula Virtual.
Cabe destacar que el campus virtual siempre fue un apoyo al dictado de clases
presenciales, siendo un complemento como recursodidáctico, perotomando hoy un
papel relevante en la cursada a distancia.
En relación con la organización ante el pasaje de la educación presencial a la
educación a distancia, la Universidad fortaleció el esquema de soporte al docente y al
alumno, cuyas áreas interactúan entre sí:
Soporte Tecnológico;
Soporte Académico;
Articulación con el Sistema Institucional de Educación a Distancia (SIED).
Acerca de algunas de las acciones que se vienen desarrollando desde el SIED, en
vistas a la nueva modalidad a distancia, se pueden mencionar:
Difusión y creación de los instructivos del uso del Campus Virtual, Aula Virtual y
ZOOM.
Difusión sobre el Desarrollo de Buenas Prácticas de Educación a Distancia.
Capacitación al equipo docente sobre:
• Propuestas de dictado de clases a distancia.
• Uso del Campus.
• Aula Virtual.
161
PRIMER LLAMADO
5. Estrategias de enseñanza:
En las clases teóricas se trabajará sobre la base de las técnicas que se mencionan
a continuación:
Exposición magistral dialogada.
Presentación de interrogantes.
Puesta en común y debate en clase.
Interrogatorios didácticos.
Otras técnicas a criterio del profesor.
Participación en clase.
Respeto por el pensamiento del compañero.
b) Contenidos Actitudinales en la Actividad Práctica:
Sentido de colaboración.
El aporte individual al trabajo colectivo.
La actitud positiva hacia sus compañeros y al docente.
c) Consignas para responder por el alumno en el foro de Aula Virtual.
CONCLUSION
Para finalizar, tal vez sea tiempo de plantear interrogantes más que improvisar
respuestas.
En gran medida, la enseñanza del derecho debe garantizar que el futuro
profesional sea capaz de reconfigurar relaciones muy variadas y adaptarse a situaciones
y roles diversos. Además, debe ser capaz de lidiar con imaginación en momentos
críticos y hacerlo con valentía y empatía.
Sabemos que no asistimos a un proceso planificado de educación a distancia,
sino que experimentamos una educación en el contexto de la emergencia sanitaria,
forzada ante el COVID19. Tal situación,modifica sustancialmente la rutina diaria en
nuestros hogares.
Nuevamente, las nuevas condiciones nos exigen volver apensarlos conceptos
básicos de la enseñanza: que es el aprendizaje, como planificar, en que formas debemos
evaluar, entre otros aspectos del tema. Este es nuestro desafío, como formadores de la
Educación Superior.
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO
A proposta deste texto é abordar o tema da aplicação de novas tecnologias ao
direito, que designa efetivamente múltiplas possibilidades de alteração no modo de
trabalhar em torno de problemáticas jurídicas, no processo judicial ou fora dele. Trata-se
assunto de interesse do universo dos profissionais que atuam a partir de uma
qualificação educacional jurídica, que é trabalhada primordialmente no ensino jurídico,
este termo utilizado para designar o trabalho realizado nas instituições de ensino
superior para formação de profissionais da convencionalmente denominada prática
jurídica – da advocacia, da magistratura, e quaisquer funções se que se queira
1
Pós-Doutor, Doutor e Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Professor da
Graduação e do Mestrado da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e da Universidade FEEVALE.
Advogado OAB/RS 50.202. e-mail: rafaelferreira@furg.br
2
Mestrando em Direito e Justiça Social pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Bacharel em
Direito pela FURG. Advogado OAB/RS 115.929. e-mail: pedrodvh@gmail.com
169
3
Esta afirmação se fundamenta, sobretudo, no elevado grau de repercussão do controle de
constitucionalidade na atual conjuntura do direito brasileiro, em especial no âmbito do Supremo Tribunal
Federal (STF), processo decisório que se sobrepõe à deliberação política legislativa em reiteradas
oportunidades, ora com fundamentos jurídicos, ora esvaziando os critérios jurídicos da decisão (BELLO
et. al., 2019, p. 1784).
171
4
Stuart J. Russel e Peter Norvig distinguem as abordagens dadas à inteligência artificial de acordo com a
ênfase ou objetivo das respectivas tradições científicas que se ocupam da IA. Assim, expõem a ênfase no
pensar humano (thinkinghumanly), pensar racional (thinkingrationally), agir humano (actinghumanly) e
agir racional (actingrationally). Cada abordagem representa uma combinação do interesse entre os
seguintes atributos da inteligência artificial: processos de raciocínio (thought processes andreasoning),
comportamento (behavior), fidelidade à performance humana (fidelitytohuman performance) e
performance ideal ou racionalidade (rationality)(Russel e Norvig, 2010. p. 02.).
172
sentido de atingir o melhor resultado ou, quando há incerteza, o melhor resultado que se
pode esperar”5.
Há conhecimentos científicos e tecnológicos que estão ligados ao
desenvolvimento da inteligência artificial. Um destes é o algoritmo, que contribui de
modo importantíssimo para o funcionamento da computação. Thomas H. Cormen
(2009, p. 5) define a função dos algoritmos na computação como “qualquer
procedimento computacional bem definido que toma determinado valor, ou conjunto de
valores como entrada (input) e produz um valor, ou conjunto de valores, como saída
(output)”6. Alternativamente, Pedro Domingos explica o funcionamento dos algoritmos
de outro modo.
5
“An agent is just something that acts (agent comes from the Latin agere, to do). Of course, computer
programs do something, but computer agents are expected to do more: operate autonomously, perceive
their environment, persist over a prolonged time period, adapt to change, and create and pursue goals. A
rational agent is one that acts so as to achieve the best outcome or, when there is uncertainty, the best
expected outcome”(Russel e Norvig, 2010. p. 4).
6
“Informally, an algorithm is any well-defined computational procedure that takes some value, or set of
values, and as input and produces some value, or set of values, as output. An algorithm is thus a sequence
of computational steps that transform the input into the output. We can also view an algorithm as a tool
for solving a well-specified computational problem. The statement of the problem specifies in general
terms the desired input/output relationship.” (Cormen et. al., 2009. p. 5).
173
procedimentos sem os quais se reconhece ou se garante direitos aos cidadãos. Por outro
lado, o desenvolvimento de instrumentos, métodos, soluções e inovações tem um
incentivo comercial. A aplicação do conhecimento científico será melhor recompensada
em termos de capital na medida em que seja capaz de se tornar necessária para uma
grande quantidade de situações concretas, identificar e atender necessidades – em outras
palavras, quanto mais tiver inserção de mercado.
Especialmente no que diz respeito à aplicação nas instituições públicas, há aqui
uma aplicação de instrumentos na sua capacidade política: a jurisdição e a
administração da justiça são de interesse público e são subordinadas às disposições
legislativas. O modo como se organiza a justiça é uma questão que deve estar sobre
controle político democrático, logo, sua condução não é constituída por fatalidades, mas
por decisões políticas. A aplicação de um instrumento nos procedimentos judiciais não
se justifica pela inovação em si. De modo muito próximo com a questão política, trata-
se do tema numa capacidade administrativa ou gerencial: mais específica que a função
legislativa do Estado, a administração da justiça também dispõe de um grau de
discricionariedade a respeito dos rumos da coisa pública. Do mesmo modo, a iniciativa
privada da advocacia se encontra compelida a conhecer e incorporar novos modos de
trabalhar. Em ambos os casos, é um ganho de eficiência que justificará estas mudanças,
de modo que há uma racionalidade econômica a guiar as decisões políticas e gerenciais.
Nesse ponto deve ser feita uma distinção entre o grau de comprometimento que a
aplicação de novas tecnologias acarreta de acordo com a perspectiva dos atores do
processo. A forma como a advocacia e os atores na condição de partes buscam meios de
aumento de eficiência – por exemplo, a análise de dados do histórico das decisões
judiciais para fundamentar a tomada de decisão no patrocínio da parte (NUNES, 2020)
– tem a finalidade de prover resultados, como sucesso das demandas em seu favor.
Consequentemente, os pedidos podem ser improcedentes dentro do exercício do direito
ao acesso à justiça e do direito à ampla defesa. Em contrapartida, o emprego da
inteligência artificial como instrumento da prestação jurisdicional deve estar submetido
a critérios mais estritos, porque a decisão judicial é a resposta final do Estado a um
pleito. As decisões judiciais devem ser respostas adequadas à Constituição e à
legislação vigente, de modo que está submetida a limites legislativo-jurídicos, portanto,
aquilo que é automatizado no trabalho procedimental da administração pública se torna
uma imposição às partes que postulam decisão judicial, não mais constituindo uma
176
7
Vide Constituição Federal, art. 93, inciso IX.
177
8
“Por fim, insisto: pós-positivismo, não positivismo, Constitucionalismo Contemporâneo e democracia
pressupõem que o Direito possui um elevado grau de autonomia. Isso significa que questões políticas e
morais devem ser debatidas à saciedade nos meios políticos de decisão e que – no âmbito (autônomo) do
Direito – só se podem desconsiderar as decisões políticas tomadas em contraste com o sistema de
garantias construído pela CRFB de 1988. E é exatamente este o plus do Estado Democrático de Direito: a
diminuição do espaço de discricionariedade da política pela Constituição fortalece materialmente os
limites entre Direito, política e moral”(STRECK, 2017, p. 553).
178
CONCLUSÃO
Pode-se afirmar que o ensino jurídico deve passar por uma adaptação como
resposta às novas possibilidades tecnológicas porque existe a necessidade de que os
egressos do curso de direito sejam capazes de compreender conceitos e executar tarefas
que são pressupostos para a realização do trabalho jurídico, como é o caso do processo
9
“A partir disso, há que se ter claro que os princípios são deontológicos e ‘governam’ a Constituição, o
regime e a ordem jurídica. Não são (os princípios) apenas a lei, mas o Direito em toda a sua extensão,
substancialidade, plenitude e abrangência. Os princípios medem-se normativamente, e a importância vital
que assumem para os ordenamentos jurídicos torna-se cada vez mais evidente, sobretudo se lhes
examinarmos a função e a presença no corpo das Constituições contemporâneas, onde aparecem como os
pontos de mais alto destaque e prestígio com que fundamentar na Hermenêutica dos tribunais a
legitimidade dos preceitos da ordem constitucional, Relevante, nesse sentido, contestar a tese de Alexy,
para quem os princípios são mandados de otimização. Tal circunstância enfraquece a força normativa dos
princípios, que são, pois, deontológicos, normas jurídicas com ampla força normativa. Mais do que isto,
princípios são a institucionalização do mundo prático no direito. Os princípios constitucionais são o modo
de superação do modelo das regras do positivismo (lato sensu). Por isso, o Constitucionalismo
Contemporâneo resgata a “realidade perdida”, trazendo para dentro do direito os conflitos sociais e todos
os demais elementos que não faziam parte, até então, das ‘preocupações do positivismo’” (STRECK,
2014, p. 346).
179
eletrônico, que substituiu uma infraestrutura que até pouco tempo continha
procedimentos majoritariamente dependentes de trâmites com documentos de papel,
sendo que o trabalho jurídico se torna cada vez mais dependente de instrumentos e
aplicações do conhecimento científico, os quais estão de certa forma alienados daquilo
que constitui uma formação jurídica. Indo além, os egressos devem ser capazes de
identificar instrumentos e métodos que possibilitem oferecer serviços mais eficientes
num cenário de concorrência, como por exemplo, o da advocacia.
O ponto que fica como consideração final desta argumentação, no entanto, é que
o ensino jurídico é um cenário adequado para capacitar juristas para compreender a
aplicação de novas tecnologias numa capacidade jurídica, teórica e hermenêutica,
sendo a questão primordial a compreensão de problemas jurídicos a partir de critérios
jurídicos, enquanto as outras abordagens a respeito dos instrumentos do trabalho
jurídico são colocadas por uma perspectiva externa, com finalidades próprias, como o
ganho comercial, e desvinculada das problemáticas principais a respeito do direito, das
quais neste momento de Constitucionalismo Contemporâneo pode-se destacar a questão
da superação da discricionariedade objetivista e subjetivista.
Trazer a discussão para o ponto da autonomia do direito não significa rejeitar
novas possibilidades de antemão, ou afirmar a priori que sua aplicação é rejeitável ou
antijurídica. De fato, os instrumentos de que se falou até o momento têm potencial de
melhorar o trabalho e serviços jurídicos, com ganhos para os próprios profissionais e
como melhora de instituições sociais, que se tornariam mais eficientes, inclusive a
jurisdição. O que se afirma é que o ensino jurídico deve ser capaz de formar
profissionais com senso crítico em relação àquilo que se coloca como método de
trabalho, instrumento ou tecnologia com ganho de eficiência, a partir de critérios
jurídicos. O jurista deve ser capaz de identificar, por exemplo, quando a aplicação de
um procedimento em nome da celeridade e da eficiência representa a quebra de uma
garantia processual constitucional. Esta capacidade questionadora, de senso crítico, é
inerente ao que se espera da advocacia, e deve ser aplicada às possibilidades
tecnológicas – um advogado deve ser capaz de exigir fundamentação dos procedimentos
e decisões num processo judicial, exigir uma prestação de contas a respeito do que se
fala a respeito do direito.
Neste ponto, encontra-se as críticas já feitas há algum tempo a respeito do ensino
jurídico, que inclusive partem de uma compreensão a respeito do senso comum teórico
dos juristas (WARAT, 1982). A teoria crítica direcionada às instituições jurídicas e à
180
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MORAIS, José Luis Bolzan de; STRECK, Lenio Luiz. Ciência Política e Teoria Geral
do Estado. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.
SILVA, Nilton Correia da. Notas iniciais sobre a evolução dos algoritmos do VICTOR:
o primeiro projeto de inteligência artificial em supremas cortes do mundo. In:
FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; CARVALHO, Angelo Gamba Prata
de.(Coord.) Tecnologia Jurídica e Direito Digital: II Congresso Internacional de Direito,
Governo e Tecnologia. Belo Horizonte: Fórum, 2018, p. 89-94.
WARAT, Luís Alberto. Saber crítico e senso comum teórico dos juristas. Revista
Sequência. Florianópolis: UFSC, 1982, ISSNe 2177-7055.
183
INTRODUÇÃO
1
Graduanda do 9º semestre, Curso de Direito – Uri Campus de Erechim, E-mail:
simonels17@hotmail.com.
2
Mestre em Direito, Especialista em Direito Processual, Docente Orientador, Professor da URI – Campus
de Erechim, E-mail: lucianoa@uricer.edu.br.
184
Para tanto, Ferreira (2004) destaca que a Resolução 003 do CEF vigorou até
criarem a Portaria nº 1.886 no ano de 1994. O advento dessa nova normativa permitiu
pela primeira vez, desde 1827, que o ensino jurídico passasse por uma flexibilização da
grade curricular, se ajustando às reais necessidades locais, regionais e do mercado de
trabalho. Importante ressaltar que essa Portaria buscou readequar os currículos dos
cursos de Direito a uma realidade social conectada com a globalização e com a
tecnologia.
Ano após ano, o ensino jurídico passa por reforma, contudo, mudanças se
tornam sempre o centro de discussão e análise das consequências práticas e efetivas que
trará para a sociedade bem como para os operadores e para os estudantes do Direito. O
mundo contemporâneo é multifacetado e a realidade jurídica se aprimora e se molda dia
a dia, demonstrando a necessidade de uma formação prática muito mais efetiva e ampla.
Para Rodrigues (2002), o currículo do curso de Direito deve conectar disciplinas
com atividades a fim de possibilitar uma visão ampla e integrada do aparato jurídico,
vinculado com uma formação profissional pautada nas necessidades sociais e voltada
para o mercado de trabalho, além do mais, os cursos de Direito devem possuir um
quadro de docentes qualificados e preparados para integrar o ensino com a pesquisa e a
extensão. Dessa forma, é necessário ter professores que desenvolvam o senso crítico dos
alunos, proporcionando um ensino interdisciplinar que vincule teoria com a prática.
Nesse sentido, Ferreira (2004) certifica e destaca a importância de ter um
currículo assertivo, com conhecimento e conteúdo específico voltado para as exigências
do século XXI, tempos atuais que exigem um novo perfil com habilidades
multifacetadas e transdisciplinar.
Com o intuito de sondar a qualidade do ensino jurídico nos cursos de Direito,
Boaventura e Almeida (2017) mencionam a importante criação do Exame Nacional de
Desempenho dos Estudantes (ENADE) que se deu através da Lei nº 10.861/2004.
Apesar de uma ferramenta expressiva e balizadora, os autores pontuam que os
resultados obtidos ainda sinalizam a necessidade de mudanças e novas diretrizes
precisam ser delineadas, apontando como alternativa a reforma do ensino jurídico e a
maneira de ensinar.
187
Por contar com o privilégio de uma experiência profissional nas mais variadas
áreas jurídicas, acredita-se que aliar a vida prática aos conhecimentos teóricos, acaba
sendo de grande valia, gerando ganhos não somente para a área acadêmica, bem como
para a sociedade, pois o que se aprende em sala de aula hoje, amanhã estará refletindo
no contexto social, através da atuação dos novos profissionais formados, semestre após
semestre.
Nesse diapasão, para Souza (2015) a experiência do docente é significativa para
tornar a vivência jurídica mais palpável aos discentes, todavia, não substitui o
conhecimento pedagógico, pois trazer a experiência para a sala de aula, dependendo de
como ela é exposta, podem tornarem-se meros relatos ou contação de história. Se essa
vida prática for transmitida à luz de objetivos pedagógicos, farão diferença no processo
de ensino e aprendizagem.
Desse modo, Boaventura e Almeida (2017) frisam a necessidade de ressignificar
o ensino jurídico como alternativa de proporcionar ao discente uma aprendizagem
integrada.
Segundo Moraes e Torre (2004) a aprendizagem integrada esta pautada no
processo de evolução, transformação, no qual existe uma construção de novos
significados das coisas ao nosso redor e do mundo em si, essa ressignificação muda as
atitudes e valores das pessoas, espraiando mudanças na vida do ser humano, nas
relações sociais, impactando no modo de pensar, agir, sentir e atuar. Para os autores
mencionados, é a partir da mudança de postura e da adoção de um ensino aberto,
interativo e adaptativo que será possível perfectibilizar a aprendizagem integrada como
uma ferramenta relevante e transformadora.
189
3
TELESSAÚDE DE SÃO PAULO (2020). Caracteriza o coronarívus como uma pandemia, que se
reproduz em uma escala de gravidade, é o pior dos cenários. Ela acontece quando uma epidemia se
estende a níveis mundiais, ou seja, se espalha por diversas regiões do planeta. Em 2009, a gripe A (ou
gripe suína) passou de uma epidemia para uma pandemia quando a Organização Mundial da Saúde
190
se relacionar das pessoas. Essa mudança teve e continua tendo reflexos em todos os
segmentos, seja economia, importação, educação, etc. Com a evolução do coronavírus,
governo federal, estaduais e municipais adotaram medidas de prevenção, o isolamento e
a quarentena4 começaram a fazer parte da rotina das pessoas. A disseminação do
coronavírus fezcom que fosse decretado estado de calamidade pública5, modificando a
rotina de trabalho das pessoas, das escolas, universidades, a vida como um todo já não é
a mesma. Aglomerações de pessoas devem ser evitadas. A principal instrução de
segurança, sempre que possível, é ficar em casa em meio à pandemia do novo
coronavírus.
Em relação as universidades, que somam grande número de pessoas dentro de
uma sala de aula, Lima (2020) ressalta uma importante medida adotada pelo MEC para
amenizar os prejuízos decorrentes pela pandemia do coronavírus. O MEC autorizou a
substituição das disciplinas presenciais em universidades propiciando o ensino a
distância com a utilização de tecnologias de informação e comunicação nos cursos que
estão em andamento. Esta respectiva medida foi publicada no Diário Oficial da União
(DOU) no dia 18 de março do presente ano. A possibilidade de manter o ensino a
distância na grade presencial das universidades objetiva assegurar a rotina dos estudos e
não causar prejuízos aos discentes.
Importante salientar, a publicação da Portaria MEC nº 343, de 17 de março de
2020que autorizou a suspensão das aulas presenciais num período de 30 dias, com a
possibilidade de prorrogação devendo ser avaliada pelo Ministério da Saúde e órgãos de
saúde estadual, municipal e distrital. Após esta Portaria, houve alteração desta, por meio
da Portaria MEC nº 345, de 19 de março de 2020. A Portaria MEC nº 395, de 15 de
abril de 2020, alterou a primeira portaria, prorrogando o prazo previstopor mais 30 dias.
A última portaria ministerial em vigor é a Portaria MEC nº 473, de 12 de maio de 2020,
(OMS) começou a registrar casos nos seis continentes do mundo. E em 11 de março de 2020 o COVID-
19 também passou de epidemia para uma pandemia.
4
BRASIL, LEI nº 13.979/2020, Art. 2º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se:
I - isolamento: separação de pessoas doentes ou contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte,
mercadorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de maneira a evitar a contaminação ou a
propagação do coronavírus; eII - quarentena: restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de
contaminação das pessoas que não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais, meios de
transporte ou mercadorias suspeitos de contaminação, de maneira a evitar a possível contaminação ou a
propagação do coronavírus.
5
DECRETO LEGISLATIVO Nº 6, DE 2020. Reconhece, para os fins do art. 65 da Lei Complementar nº
101, de 4 de maio de 2000, a ocorrência do estado de calamidade pública, nos termos da solicitação do
Presidente da República encaminhada por meio da Mensagem nº 93, de 18 de março de 2020.
191
no qual prorroga o prazo da Portaria MEC nº 343, por mais 30 dias, ou seja, até 14 de
junho de 2020 as aulas seguem suspensas.
Em vista desta suspensão, Estrella e Lima (2020) mencionam que muitas são as
preocupações durante a pandemia do coronavírus. E pautada nessa preocupação, o
Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou no dia 28 de abril, diretrizes para
orientar tanto escolas de educação básica bem como as instituições de ensino superior,
quanto ao procedimento das atividades não presenciais a fim de serem computadas
como hora/aula. Pensando em soluções, o CNE elencou várias atividades/alternativas
que podem ser utilizadas, como exemplo, vídeo-aulas, plataformas virtuais, redes
sociais, programas de televisão ou rádio, material didático impresso, podendo ser
entregue aos pais ou a responsáveis.
A partir de então, todas as instituições de ensino foram se ajustando e se
mobilizando para criar alternativas de enfrentamento ao coronavírus. Estratégias de
educação à distância foram delineadas para garantir e manter as atividades letivas em
plena pandemia.
Segundo Kochhann (2020), a alternativa de enfrentamento da pandemia, do
distanciamento e isolamento social para não paralisar o ensino nas universidades se
baseia no uso das tecnologias educacionais, pois traduzem em novas maneiras de
ensinar e manter contato à distância. Essa nova realidade requer que as universidades se
reinventem, além da mudança de postura e proatividade por parte dos alunos.
O Instituto Semesp frisa que a mudança do presencial para as aulas on-line se
torna mais facilitada para quem fazia o uso, possui expertise e estrutura para essa
modalidade, contudo, traz grandes desafios para as instituições que não usavam ou que
tenham poucas experiências.
Na visão de Quintella (2020) as aulas remotas para o ensino jurídico podem ser
um prenúncio de um futuro inovador e integrado, elencando ainda, que o uso das
tecnologias não deve suprirapenas a necessidade atual, mas devem criar raízes
eamplificar maior interação, pois rompe fronteiras geográficas, os alunos podem
participar de eventos de outras instituições, professores podem trazer outros professores
e palestrantes para contribuir com o conhecimento e enriquecer o debate numa sala de
aula virtual. Além do mais, o ambiente virtual deve ser visto com bons olhos, pois
possibilita um ambiente proveitoso para o estudo, não há ruídos de conversas paralelas
entre outros benefícios. O ensino jurídico deveria se apossar das ferramentas e fazer o
192
uso contínuo do ambiente virtual, pois a ideia do ensino remoto é andar a par com o
ensino presencial pós pandemia, essa ligação agrega muito para o aprendizado do aluno.
É perceptível que a rotina acadêmica ganhou um novo formato nos últimos
meses, sendo assim, é necessária a readequação tanto de docentes como dos alunos. Em
resposta ao cenário atual, o uso da tecnologia a fim de proporcionar salas de aula
virtual, conferências, seminários, webinários e demais eventos virtuais vem crescendo
dia após dia, isso gera mudança de postura, oportuniza e eleva a transmissão de
conhecimento num patamar nunca visto, potencializando o processo de aprendizagem
como um todo, em esfera ampla.
Silva (2020) ressalta que o uso das tecnologias é um meio de enfrentamento para
diminuir distâncias físicas e minimizar os impactos da ausência das aulas presenciais,
contudo, além do uso que não deve ser meramente replicado, deve haver interação do
docente com os alunos a fim de promover debates e troca de opiniões. Cabe ao docente
manter um elo de ligação e motivação para que os alunos interagem, e quanto mais
frequente e de qualidade for essa interação de professor versus alunos, maior será a
aprendizagem e a motivação dos alunos. Importante enfatizar que na modalidade
virtual, no ensino à distância (EAD ou síncrono) o aluno está no centro do processo
educativo, enquanto o docente funciona como um mediador e motivador desse processo,
devendo potencializar os alunos para mudança de comportamento, despertando
proatividade e responsabilidade. Ademais, o autor ainda pontua que o ensino, a
educação pode ser à distância física, mas as tecnologias estão para aproximar e dar
continuidade ao conhecimento, que com certeza continua sendo a esperança e a
motivação de todos.
Nessa linha, Santos Jr e Monteiro (2020) destacam que as ferramentas
tecnológicas são um meio e não um fim para corroborar com a transmissão de
conhecimento, elas sozinhas não conseguem chegar aos objetivos pedagógicos
esperados. Por essa razão, é imprescindível que o docente compreenda o seu papel
diante do processo educacional, o aluno se readeque a nova realidade e da própria
instituição seja corresponsável por estimular e garantir um ensino de qualidade e
permanente. Desse modo, todo o processo dessa integração e uso das tecnologias
precisa garantir a participação de todos, de modo contínuo, igualitário para não gerar
exclusão educacional ou ruptura do contato com o meio acadêmico.
Assim, mostra-se necessário o engajamento do docente e do aluno na nova
forma de se transmitir conhecimento, fazer o ensino acontecer e toda a troca de saberes,
193
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
SILVA, Osvaldo Dias Lopes da.A Estatística e o Ensino Superior em regime não
presencial no período da pandemia por Covid-19. Disponível
em:<https://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/5526>. Acesso em 09 jun. 2020.
1 INTRODUÇÃO
1
Advogada, OAB/PA 29.954, pesquisadora, especialista em Direito Penal e Criminologia (ESMAC).
Bacharela em Direito pela Escola Superior Madre Celeste/PA (2017), ligante da Liga Acadêmica
Jurídico-Criminal- LAJUC (2020). E-mail: tainaesmac@gmail.com.
197
(SANTOS, 2011, apud CAVALCANTE, 2017, p. 42), por sua vez, discorre que a mídia
tem um papel crucial na manutenção do crescente mercado de diplomas, quando “[...]
coloca em pauta a quantidade de brasileiros que ingressam no ensino superior, sem o
devido questionamento sobre quantos deles se graduam ou conseguem um emprego
formal em sua área”.
Igualmente, da leitura de Amaral Filho (2018, p. 10) infere-se que nem as
publicações de textos científicos escaparam desse contexto fluído e ancorado no fetiche
à efemeridade, devido não ser mais preciso“[...] escrever ansiando por possíveis
leitores, capazes de julgar o modo pelo qual nos inserimos no mundo do pensamento,
visto que, na academia, basta que escrevamos para o Lattes”, salvo para aqueles que
ainda estão comprometidos com a educação, a pesquisa e o progresso social substancial
e não meramente forma. Talvez, sejam esses uns dos motivos pelos quais em pleno
século XXI, o questionável culto à prova de múltipla escolha, à sabatina, ao
questionário, à leitura de cansativos e longos textos, isso quando não se tratam de
parcos “manuais receitas de bolo” (PINHO, 2016, p. 2), continuem sendo
majoritariamente adotados por muitas instituições de ensino.
Pois, ao contrário do que é apregoado pelos mais tradicionalistas e
conservadores por si só tais estratégias educacionais não garantem “por quanto tempo à
aprendizagem será retida” (KHAN, 2013 p. 65), assim como não revelam o que
“estamos na verdade conseguindo quando damos as notas [...]” (KHAN, 2013, p. 67) e
muito menos convencem do “que realmente as provas provam [...]” (KHAN, 2013, p.
65), se é que conseguem provar algo. Já que sob o olhar de (BOURDIEU; PASSERON,
2009, p. 21), os exames só propiciam a justificação da “exclusão” e manutenção do
“status”.
Deste modo, construir e buscar meios de implantar estratégias didático-
pedagógicas que possibilitem ir de encontro ao limbo de estudos jurídicos mecanizados
vigentes (CAVALCANTE; REIS NETTO, 2015), possibilitará dinamizar, facilitar e
oxigenar a execução do complexo processo de ensino-aprendizagem.Sem contar na
possibilidade de descortinar a “ligação estreita entre a escola e o sistema produtivo – e a
‘neutralidade’ - reprodução dos valores nacionais assente na meritocracia (ideologia do
dom)” (BOURDIEU; PASSERON, 2009, p. 4), que se retroalimenta por meio da
difusão do “produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação
instantânea, resultados que não exijam tantos esforços prolongados [...]” (BAUMAN, p.
198
18, 2004).O que para Caovilla; Boita e Balbinot (2018) permite o recrudescimento de
práticas coloniais.
Nesta esteira, lutar pela libertação do saber iuris pátrio, que já se encontra
sufocado pelas areias movediças da “mediocridade” (PINHO, 2016, p. 2) se faz
necessário, considerando que cotidianamente os anseios empresariais não medem
esforços para apresentar soluções mágicas para os problemas da educação nacional, sob
a falsa “modéstia de está contribuído para o nosso belo quadro social”(CAVALCANTE,
2017, p. 25), em uma velada substituição entre a formação do “[...] cidadão pelo cliente
ou consumidor” (DOTTA, 2017, p. 56).A propósito,apreende-se das análises
de(SANTOS, 2011) que a educação, notadamente a prestada no ensino superior está
cada vez mais se tornando um joguete dos anseios da economia globalizada, o que
consequentemente vai reverberar no descrédito pela educação pública e no
agigantamento da crise de legitimidade enfrentada pelas Universidades.
Nessa vereda, sabendo-se que a arte serve há tempos como um instrumento
dedenúncia (REIS NETTO, 2019), entende-se que uma das alternativas para atingir o
grau esperado de protagonização do acadêmico de Direito brasileiro e daprópria
materialização das disposições da resolução de n° 05, exarada pelo CNE/CNS, em 17 de
dezembro de 2018,que institui as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação
em Direito, ocorrerá com areal ofertado acesso a saberes que vão além dos
proporcionados pelas disciplinas de cunho dogmático,tendo em vista que “sensibilizar”
(CAVALCANTE; REIS NETTO, 2015, p. 70), em muitos casos é“mais eficiente do
que abstrair um problema imaginário” (CAVALCANTE; REIS NETTO, 2015, p. 70).
Além do mais, tal atitude de longe seria um meio de negar a tradição muito
menos àessencialidade dos estudos dogmáticos, mas sim uma forma de desenvolver
habilidades e competências que visem preparar profissionais aptos a refletir desde os
semestres propedêuticos sobre as vicissitudes da realidade que os cercam e
queespecialmente os incitem a assumir uma postura de enfrentamento em face à
instrumentalização e mercantilizaçãodo Direito.Isto posto, veio a lume o interesse por
investigar quais riquezas metodológicas os recursos lúdicos poderiam ofertar neste
intento.
Eis que, os problemas advindos da implantação do modelo de ensino português a
partir do século XIX (modelo Coimbrão), pautado no irrefutável saber lusitano dos
lentes (nome dado aos primeiros professores do curso de Direito no Brasil), no uso
exacerbado do “juridiquês” (CAVALCANTE; REIS NETTO, 2020, p. 348), no
199
aprisionamento aos conteúdo dos códigos e decretos imperiais, dentre outros aspectos
culminaram em sérios entraves epistemológicos sentidos até hoje, não só em relação à
qualidade da formação dos juristas, mas também na própria ideia que se tem acerca da
Ciência do Direito. Mediante o exposto,o presente estudo questionou quais são os
benefícios do uso de recursos lúdicos na educação jurídica brasileira, para alcançar uma
resposta “de modo consistente e defensável” (QUEIROZ, 2017, p. 17), julgou-se
imprescindível analisar a origem do curso de Direito no Brasil, em seguida tecer
apontamentos a despeito do formato de ensino prussiano, posteriormente dar ênfase à
elucidação do que sejam metodologias ativas e recursos lúdicos. Por fim, com escopo na
densa literatura jurídico-educacional contemporânea, exemplificar propostas
educacionais realizadas em diferentes estados da federação, as quais demonstram como
ferramentas didáticas comumente adotadas no ensino infantil, uma vez adaptadas às
necessidades do público alvo do ensino superior, podem propiciar ambientações
acadêmicas mais atrativas, criativas e re(construtivas), tornando-se, por sua vez, fortes
aliadas no processo de desenvolvimento de um saber iuris eminentemente nacional.
A metodologia da pesquisa perfez-se do uso do método Zetético e datécnica da
revisão bibliográfica. Cabe enfatizar quedevido o eixo central do debate está calcado na
necessidade de criticamente demonstrar a importância dos recursos lúdicos como sendo
uma ferramenta pedagógica que possibilita reavivar a vontade e o prazer de aprender o
Direito, “[...] considerando a importância de educar para múltiplas sabedorias,
criatividades expressivas e reflexivas [...]” (CAOVILLA; BOITA; BALBINOT, 2018,
p. 566), a fim de serem alcançadas benéficas transformações sociais, flerta com estudos
e abordagens decoloniais.
organizações sociais existentes há anos nas terras tupiniquins. Em outros termos, tem-
se que o modelo de ensino lusitano (Coimbrão), impregnado de ideários eurocêntricos,
uma vez, implantado no país recém-independente aumentou ainda mais asilhas “[...]de
letrados num mar de analfabetos” (CARVALHO, 1980 apud ROZEK; SANTIN, 2013.
p. 264).
Sob o ponto de vista decolonial, Caovila, Boitai e Balbinot (2018, p. 568)
aduzem que o monopólio do “poder, do ser e do saber”, deixou marcas indeléveis em
todo o processo de desenvolvimento da cultura iuris pátria. Ratificando o
posicionamento dos autores, Cavalcante e Reis Netto (2020), pormenorizam que na
época imperial o foco central dos cursos localizados em Olinda e São Paulo era
contribuir para o aumento do número de servidores públicos, pois os órgãos do novo
governo precisavam ter suas vagas preenchidas por profissionais habilitados, dando
ensejo ao movimento conhecido como Bacharelismo. Desta feita, questões de ordem
pedagógica foram relegadas para um segundo plano. Dessarte, da República Velha
(1889-1930) até a promulgação da Constituição Federal de 1988, em virtude das
alterações curriculares e de ordem política, mudanças no modo de ver a práxis do
ensino do Direito tornaram-se mais evidentes. Até porque o público alvo do curso
mudou (VERBICARO; SIMÕES; HOMCI, 2020, p. 254).
Posto que, ocultivo centenário da crença, a qual um excelente jurista seria
aquele que soubesse o inteiro teor das leis, dos códigos, que dominasse a arte de
decorar, passou a cair por terra. A mais disto, tem-se que manter uma educação
jurídica alimentada “em peças de uma retórica vazia articulada para enfrentar
formalidades regulatórias” (VERBICARO; SIMÕES; HOMCI, 2020, p. 276) e nos
pilares abaixo descritos, só fará com queos discentes sejam meros fantoches dos
anseios da economia globalizada,vejamos:
proporcionar um futuro mais democrático, participativo e que oferte espaços nos mais
diferentes setores da sociedadeparaas minorias, já que é desolador ver que em pleno
século XXI, ainda persiste uma contraproducente e colonial forma de ensinar o Direito.
Khan (2013, p. 56) aduz que o modelo de ensino prussiano iniciou-se na Prússia,
por volta do século XVIII, sendo esquematizado por Johann GottliebFichte, com o fito
de “[...] não produzir pensadores independentes, mas extrair cidadãos leais e
complacentes, que aprenderiam o valor de se submeter à autoridade dos pais, dos
professores, da Igreja e, em última instância, do rei”. Nesse diapasão,os reflexos
nefastos advindos da simbólica e controversa “estrutura física com mesas e cadeiras
perfiladas, engessadas individualmente, mantendo cada aluno no seu espaço [...]”
(SOUZA; SALGADO, 2019, p. 9),o qual “resulta na promoção dos corpos adestrados”
(FOUCAULT, 1999 apud, SOUZA; SALGADO, 2019, p. 9), mais cedo ou mais tarde
desaguaram na seara jurídica, não à toa, o tema passou a sercada vez mais destacado em
eventos acadêmicos, periódicos, palestras etc.Pois que, o contexto de economia
capitalista contemporâneo independentemente do nível escolar ou área do
conhecimento,“os alunos são transformados em produtos ou mercadorias” (SILVA,
2005, p. 106), com isso “são categorizados apenas em termos de certas características
que os estudantes ideais devem ter: interesse, disciplina, capacidade, inteligência”
(SILVA, 2005, p. 106).Fazendo do “discente, sonhador e idealista” o “algemado
docente de amanhã” (CAVALCANTE;REIS NETTO, 2015, p. 69). Em um círculo
vicioso de alienação e perda da subjetividade.
À vista disto, Verbicaro, Simões e Homci (2020, p. 254) declinam que é vital “a
compreensão de que os cursos universitários não são uma realidade neutra ou regida por
uma inevitabilidade curricular que cabe apenas ser transferidas para os alunos”. Nesse
passo, Khan (2013) responsavelmente rechaça a padronização de transmissão e
obtenção do conhecimento apregoado pelo modelo prussiano, sem eclipsar que até certo
ponto consegue-se perceber o desenvolvimento de habilidades e competências nos
estudantes, não obstante sua base metodológica e epistêmica sernocivamente alienante.
202
Em razãoda “[...] falsa sensação de que ao ministrar aulas pelo viés lúdico, o real
sentido da educação se perde na propagação de atividades aleatórias sem vínculo com
os conteúdos escolares” (SOUZA; SALVADOR, 2019, p. 13). Nesse sentido, como
recurso visual e didático que visafacilitar o entendimento dos princípios norteadores das
metodologias ativas, colacionou-se o esquema abaixo, leiamos.
pessoas que em sua maioria trabalham, possuem filhos de pouca idade, os quais
requerem cuidados redobrados, assim como dispõem de um tempo exíguo, para se
dedicarem às atividades escolares e/ou acadêmicas, comumente matriculam-se nos
turnos da noite, às vezes não conseguem acompanhar os primeiros minutos de aula, ou
quando conseguem estão fadigados e sonolentos, em decorrência da labuta diária.
Robustecendo esta visão Cavalcante e Reis Netto, (2015) justificam:
Pode parecer algo trivial. Porém, sem uma correta condução ao longo do
processo de apreensão do conhecimento jurídico, é natural que nossos
cursos produzam os tão aclamados ‘operadores do direito’, quando, em
verdade, nossa sociedade (nitidamente em crise de valores e instituições)
necessita de ‘realizadores ou transformadores’ da ciência jurídica (grifo
nosso) (CAVALCANTE; REIS NETTO, 2015, p 69).
Segundo, que fazer com que o momento de sala de aula seja realmente produtivo
tornou-se muito mais difícil, já que os professores têm que disputar a atenção dos
estudantes todos os dias, pois “fora a influência direta do uso de métodos de ensino
superados” (CAVALCANTE; REIS NETTO, 2020, p. 358), acrescenta-se que “o
comportamento desatento por parte dos alunos e/ou universitários está associado à
dispersão causada pelo uso de celulares, tablets, laptops, videogames, acesso a redes
sociais e afins” (CAVALCANTE; REIS NETTO, 2020, p. 358), durante o horário de
aula.Por esse prisma, em apertada síntese com fulcro nas colocações de Oliveira (2010),
sinalizam-se quais seriam as riquezas educacionais que podem vir a ser alcançadas com
o adequado uso dos recursos lúdicos:
Aliado a isto, com arrimo nas sábias palavras de Lyra Filho (1982), defende-se
que insistir anacronicamente em propugnar o ato de“Aprender o que é Direito nas
‘obras da ideologia dominante só poderia, evidentemente, servir para um dos dois fins:
ou beijar o chicote com que apanhamos ou vibrá-lo no lombo dos mais pobres, como
nos mande qualquer ditadura” (LYRA FILHO, 1982, p. 14). Neste cotejo, “[...]
reacender a chama da educação jurídica como instrumento de mudança, sobretudo, pela
reaproximação dos principais sujeitos deste processo, o docente e o discente [...]”
206
(CAVALCANTE; REIS NETTO, 2015, p 70), com o passar dos anos certamente “[...]
deterá efeitos cruciais à solução da plurissignificativa crise que enfrentamos no
momento[...]” (CAVALCANTE; REIS NETTO, 2015, p 70).
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1 O método zetético
trabalhada. Nesse turno, Marconi e Lakatos (2003, p. 174) explicam que "Técnica é um
conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte [...]".
Finaliza-se este tópico da metodologia da pesquisa esmiuçando que osubstrato
teórico do artigo ora delineado emergiu da leitura de artigos científicos, livros e
monografias que abordam temas relacionados à educação, pedagogia, ensino-jurídico,
metodologias ativas, e recursos lúdicos.Tendo no exemplo de casos empíricos a
materialização das conclusões obtidas conjuntamente com o referencial teórico. Em
total coerência com o esquema de investigação científica de Veronese (2017, p, 11), o
qual relata que quando a inquietude do pesquisador é entender “Como é aplicado o
direito pelos atores sociais”(VERONESE, 2017, p, 11), o “Foco de análise / Dados a
serem coletados”, (VERONESE, 2017, p, 11), vai luzir de “estudos empíricos”
(VERONESE, 2017, p, 11).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
das metodologias ativas, é necessário que a classe docente esteja preparada para criar,
adaptar, moldar e reinventar modelos de ensino que permitam o diálogo entre teoria e
prática” (ROCHA; MAGALHÃES, 2020, p. 280-281), bem como as estruturas
organizacionais das instituições de ensino quer sejam públicas, quer sejam privadas. Por
fim, encerra-se esta pesquisa com a plena consciência de que todos os objetivos gerais e
específicos, mais a pergunta problema formulada no tópico introdutório foram
cientificamente e pedagogicamente demonstrados. Graças aos referenciais teóricose
metodológicos cuidadosamente adotados.
Ademais, espera-se que as provocações ventiladas possam propiciar o desejo
científico de outros pesquisadores sobre o tema, pois é fato notório que [...] à
construção de um legítimo direito nacional,não meramente antropofágico, mas
verdadeiramente vinculado às várias realidade e potencialidades de nosso Brasil
(grifo nosso)(CAVALCANTE; REIS NETTO, 2015, p. 70), caminha a passos lentos,
mas sem dúvidas poder identificar notadamente pela arte a existência de um problema
tão complexo como este(a crise da educação jurídica brasileira), sem sombra de
dúvidasé o início para a obtenção de respostas e legados pedagógicos que o supere.
REFERÊNCIAS
AMARAL FILHO, F. dos S. Mais um para o Lattes! para quem escrevemos, afinal?
Revista Polêm!ca (Eletrônica da UERJ). v. 18, n. 3, p. 01-12, julho, agosto e setembro,
2018 – DOI: 10.12957/polemica.2018.39420. 1-12. 2018.
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar 2004.
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. Rio de
Janeiro: Campus, 1980.
DEMO, P. A nova LDB: Ranços e avanços. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
214
Resumo: O presente artigo pretende trabalhar com um tema ainda pouco explorado na
área da educação jurídica: a (ausência de) formação pedagógica dos professores de
Direito no Brasil. No primeiro item, faz-se um breve apanhado do papel a ser
desempenhado pelas universidades na sociedade contemporânea, eis que não mais se
sustenta o modelo clássico, ainda vigente, de que as instituições de ensino superior são
simples locais de difusão de saber, sem uma finalidade social e orientadas pelas
demandas estatais. A seguir, passa-se ao estudo da necessidade de formação pedagógica
do professor universitário, pois não basta ser um profissional de destaque em sua área
técnica, mas sim que seja respeitado o professor como um profissional da área da
Educação, exigindo um preparo específico ao desempenho desse mister. Por fim, são
feitas algumas considerações sobre a necessidade de se formular um prática de ensino
do Direito pautada pelo saber pedagógico, isto é, uma “pedagogização” da educação
jurídica tradicional, capaz atingir seus objetivos: formar profissionais aptos a exercer o
seu oficio, com excelência, diante das demandas e complexidades inerentes ao mundo
atual, distintas do cenário tradicional. A técnica de pesquisa empregadas foi,
unicamente, a revisão bibliográfica sobre a temática.
INTRODUÇÃO
1
Advogado – OAB/RS: 84.803 - Mestre em Ciências Criminais (PUCRS) - Especialista em Docência
Superior (PUCRS) - E-mail: william.quadros.silva@outlook.com
218
técnica, mas sim que seja respeitado o professor como um profissional da área da
Educação, exigindo um preparo específico ao desempenho desse mister.
Por fim, são feitas algumas considerações sobre a necessidade de se formular
uma prática de ensino do Direito pautada pelo saber pedagógico, isto é, uma
“pedagogização” da educação jurídica tradicional, capaz atingir seus objetivos: formar
profissionais aptos a exercer o seu oficio, com excelência, diante das demandas e
complexidades inerentes ao mundo atual, distintas do cenário tradicional.
A técnica de pesquisa empregada foi a revisão bibliográfica sobre a temática.
2
Em artigo escrito há mais de quatro décadas, o então professor norte-americano Joseph Axelrod (1972),
pesquisando o perfil dos docentes universitários dos cursos de Humanidades na Universidade da
Califórnia, chegou à conclusão de que haveria 5 (cinco) estilos de ensino, os quais classificou em: 1) o
instrutor (tipo A); 2) o professor que se concentra no conteúdo (tipo B); 3) o professor que se concentra
na instrução (tipo C); 4) o professor que se concentra o intelecto (tipo D); 5) o professor que se concentra
na pessoa (tipo E). Segundo ele, esses tipos poderiam ser separados em 3 (três) grupos: professores que se
focam no conteúdo, na matéria; professores que se focam nos alunos e um meio-termo.
224
Uma das muitas e mais repetidas causas da crise do ensino jurídico no Brasil é a
perpetuidade dos modelos de ensino empiristas, nos quais o formando não aprende
Direito, mas sim um único modo de pensar e reproduzir uma ideologia e que vai de
encontro às exigências do ramo do saber escolhido como profissão.
Segundo as ideias de Bloom (1983), o professor teria a missão de ensinar algo ao
estudante, respeitando-se seu ritmo de aprendizagem e auxiliando-o quando tiver
dificuldades em avançar em sua escala, eis que o objetivo final é o de que o estudante
possua autonomia acadêmica para aprender, não necessitando da “bengala” do
professor. O aluno seria capaz de construir sua própria aprendizagem, consoante seus
saberes e experiências prévias, dentro de um planejamento individual. Em outras
palavras, na linha do autor, o aluno limita-se ao conhecimento, com compreensão rasa e
ainda menor capacidade de aplicação para além dos exemplos de sala de aula. São
226
Nessa linha, podemos expor algumas reflexões de Álvaro Melo Filho (2000) e
que resumem o agir, dentro de sala de aula, da grande maioria das faculdades de Direito,
seja na graduação ou pós-graduação.
Primeiramente, o autor propunha o termo “juspedagogia”, como a técnica para
se ensinar direito o Direito. Depois, centra-se ele na problemática das aulas
essencialmente magistrais, sem interação com o aluno, que não podem se resumir ao
responder dos questionamentos; quer-se um diálogo. Para ele, apenas uma aula
expositiva seria capaz de atender à demanda de se ensinar turmas com mais de 50
(cinquenta) alunos, sem distinção entre eles e apta a “vencer” o conteúdo. E, neste tipo
de aula, não há espaço para o desenvolvimento intelectual do aluno, nos passos de
Bloom (1983). Um único livro-texto é eleito, não havendo contraposição de ideias ou
sequer críticas ao pensamento do doutrinador escolhido pelo professor. O estudante
simplesmente memoriza um único pensamento jurídico, nos exatos limites do conteúdo
que lhe é apresentado (MELLO FILHO, 2000, p. 38-39).
Para o Álvaro Filho (2000, p. 41), o ideal seria substituir o excesso de aulas
expositivas por aulas dialogadas que, como o próprio nome sugere, seriam aulas em que
professor e aluno “conversam” sobre o conteúdo, sem uma clara relação de autoridade
entre eles. Aqui, nas palavras do autor, esse tipo de aula “permite que o enriquecimento
mútuo onde até o professor ‘corre o risco’ de aprender e os alunos passam a pensar o
Direito por si mesmos”. E, consoante visto, isso é, manifestamente, uma das premissas
da teoria construtivista. Mas seria possível em uma classe com dezenas de alunos? Sim,
pois a pesquisa empírica mostrou sua viabilidade.
Outra constatação diz respeito à necessidade de qualificação da atividade
docente. Consoante exposto anteriormente, o professor deve ser um profissional da
educação, não bastando ser um renomado profissional da área jurídica. Neste caso, o
docente amador limita-se a técnicas de ensino pré-dadas e sem capacidade de alteração
ou adaptação ao caso concreto, mantendo-se o círculo vicioso (MELLO FILHO, 2000,
p. 42).
No artigo aqui em comento, Juspedagogia: como ensinar direito o Direito,
Álvaro Melo Filho faz uma lista de 23 sugestões de soluções e questões a serem objeto
de reflexão e enfrentamento no âmbito da educação jurídica. Citamos aquelas que
consideramos mais pertinentes e que teriam um resultado mais útil a curto prazo,
conforme algumas das conclusões feitas após a análise dos dados empíricos coletados
(entrevistas e observação).
228
CONCLUSÃO
Muitas são as explicações para a crise do ensino jurídico, assim como existem
várias soluções para resolver esse problema, contudo, é preciso se fazer um correto
diagnóstico para que se possa identificar as suas raízes e se construir um plano que não
trate apenas do hoje, mas sim que possa servir às demandas futuras também.
Hoje, as universidades não são meros centros de difusão de um saber técnico,
como outrora, quando elas foram criadas séculos atrás. As instituições de ensino
superior possuem uma finalidade social, bem como atendem a interesses
mercadológicos e governamentais, por isso, a literatura, em geral, discrimina os
modelos de ensino universitário em três tipos: alemão, francês e norte-americano. Cada
qual possui raízes históricas e objetivos distintos. O modelo brasileiro está mais
próximo do francês, pois sua finalidade, especialmente no âmbito jurídico, é atender à
demanda da formação de técnicos em Direito que possam atuar para o Estado brasileiro
e preencher as suas vagas.
O professor universitário precisa ser um verdadeiro profissional da educação
para que possa bem exercer o seu mister diante de todas essas demandas sociais,
estatais, além daqueles próprias da sala de aula, isto é: ensinar (bem) e formar um
profissional capaz de exercer o seu ofício depois de formado, com propriedade e
autonomia. O bom professor também precisa ter a humildade de se policiar
constantemente a respeito do sucesso de suas práticas didáticas, adaptando-as às
necessidades cotidianas, sempre mutáveis.
O professor de Direito não pode estar alheio a isso tudo, pois, especialmente, o
seu conhecimento técnico é extremamente variante: a norma jurídica. Ela não se fixa no
texto legal, envolvendo também uma série de fatores legais e extralegais quando da sua
aplicação, o que faz com que o Direito não seja uma Ciência estática, como outras. É
preciso uma forma específica e apropriada de se ensinar Direito que leve em conta as
suas peculiaridades como ramo do saber científico. Por isso, a necessidade da
aproximação do ensino de Direito (tradicional) para com a Pedagogia.
Entretanto, ainda é forte a resistência a essa formação complementar, o que
apenas faz com que crise do ensino jurídico, já reconhecida, apenas se perpetue.
231
REFERÊNCIAS
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DIAS, Marco Antônio Rodrigues. Educação superior: bem público ou serviço comercial
regulamentado pela OMC? In: PANIZZI, Wrana Maria (org.). Universidade: um lugar
fora do poder. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.
MELO FILHO, Álvaro. Juspedagogia: ensinar direito o Direito. OAB Ensino Jurídico:
balanço de uma experiência. Brasília: OAB, Conselho Federal, 2000.
MELO FILHO, Álvaro. Metodologia do ensino jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
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232
MORAES, Roque. É possível ser construtivista no ensino de Ciências? In: ____ (org.)
Construtivismo e ensino de ciências: reflexões epistemológicas e metodológicas. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2008, p. 121.