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SISTEMATIZAÇÃO

DA ASSISTÊNCIA
EM ENFERMAGEM
Sistematização
da assistência
de enfermagem
e processo de
enfermagem
Eveline Lorena da Silva Amaral

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Descrever o processo de enfermagem.


> Reconhecer a aplicação do processo de enfermagem na prática assistencial.
> Explicar a aplicação do processo de enfermagem no contexto da Sistema-
tização da Assistência de Enfermagem.

Introdução
O processo de enfermagem (PE) é uma abordagem sistemática e estruturada
que os profissionais de enfermagem utilizam para prestar cuidados de saúde de
forma eficiente e segura aos pacientes. Esse processo envolve diversas etapas
interconectadas, que têm como objetivo principal a promoção, a manutenção e
a recuperação da saúde do indivíduo, bem como a prevenção de complicações e
a melhoria da qualidade de vida (Argenta; Adamy; Bitencourt, 2020).
Dessa forma, o PE é contínuo e iterativo, uma vez que as etapas não ocorrem
em uma única sequência, podendo ser revisadas e modificadas conforme a evo-
2 Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem

lução do quadro clínico do paciente. Além disso, o PE é colaborativo, envolvendo


a participação ativa do paciente e o trabalho conjunto com outros profissionais
de saúde para proporcionar uma assistência integral e de qualidade (Barros et
al., 2015).
No contexto da assistência, é importante atentar que o processo de enfer-
magem está inserido em um sistema maior de atribuição e fundamentação da
enfermagem enquanto ciência e profissão, que é a Sistematização da Assistência
de Enfermagem (SAE), a qual se destaca em seu papel fundamental na assistência
à saúde e na busca por melhores resultados para os pacientes, suas família e a
comunidade (Neves, 2020).
Neste capítulo, você vai estudar o processo de enfermagem, sua importância
e suas etapas fundamentais. Exploraremos como o processo se aplica na prática
assistencial, adaptando-se a diferentes contextos clínicos. Além disso, veremos a
relevância do processo de enfermagem dentro da SAE, destacando sua contribuição
para uma assistência mais organizada e baseada em evidências científicas, que
resulta em cuidados seguros e de qualidade.

O processo de enfermagem
O processo de enfermagem (PE) remonta às raízes da enfermagem como
ciência e arte do cuidado. Uma das figuras mais influentes nessa história é
Florence Nightingale, considerada a pioneira da enfermagem moderna, que
compreendeu que era essencial coletar dados detalhados sobre as condições
de saúde dos soldados, bem como sobre o ambiente em que estavam inseridos.
Com base nessas informações, ela identificou fatores que contribuíam para
a alta taxa de mortalidade nos hospitais militares, como a falta de higiene e
a má ventilação (Argenta; Adamy; Bitencourt, 2020).
Essa abordagem pioneira de coleta e análise de dados foi fundamental para
que Florence implementasse intervenções. Suas ações e suas observações
detalhadas proporcionaram uma base sólida para a enfermagem como ciência,
fortalecendo o papel do enfermeiro como um profissional capacitado a tomar
decisões baseadas em evidências para melhorar a saúde e o bem-estar dos
pacientes (McEwen, Wills, 2016).
Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem 3

Com o passar dos anos, a enfermagem se tornou uma disciplina emergente


e baseada em evidências clínicas. As novas teorias de enfermagem foram
surgindo, e o conhecimento em enfermagem crescendo de forma que passam
a ser estabelecidos padrões e novas formas de praticar a enfermagem, com
novas ferramentas e tecnologias para a estratégia do cuidado (Argenta;
Adamy; Bitencourt, 2020).
Inicialmente, o desenvolvimento dos estudos acerca do PE foram se dando
por volta de 1950 e 1960, embora ainda não se usasse esse termo. A ideia era
que o enfermeiro identificasse os problemas e os procedimentos para que
fossem sanados. No entanto, ainda na década de 1960, Yura e Walsh abordaram
em seu livro o PE em quatro fases, que seriam: coleta de dados, planejamento,
intervenção e avaliação. Ainda não havia referência ao termo “diagnóstico de
enfermagem”, uma vez que muitas das soluções de problemas eram pontuais
e não padronizadas (Argenta; Adamy; Bitencourt, 2020; Barros; Bispo, 2017).
É importante observar a etapa de diagnóstico de enfermagem, que apesar
de constar em registros desde a década de 1950, veio a ser incluída pela
década de 1970 em uma publicação da American Nursing Association (ANA),
trazendo um novo olhar do processo de enfermagem, agora em cinco etapas
(Argenta; Adamy; Bitencourt, 2020).
No Brasil, o PE foi estabelecido por meio da enfermeira e professora Wanda
Horta, em seu livro publicado em 1979, intitulado Processo de Enfermagem,
que trouxe uma carga de conhecimento acerca do PE, desde definições,
teorias de enfermagem, até a prática clínica (Almeida et al., 2011; Horta, 1979).
Nesse cenário inicial, Wanda Horta (1979) define o processo de enfermagem
como ações dinâmicas, inter-relacionadas e sistematizadas em seis etapas,
que tem como objetivo a assistência ao indivíduo, à família e à comunidade,
conforme podemos ver na representação da Figura 1.
4 Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem

Histórico de Diagnóstico de
1 2
enfermagem enfermagem

Indivíduo
Prognóstico 6 Família 3 Plano
assistencial
Comunidade

Plano de cuidados ou
Evolução 5 4 prescrição de enfermagem

Figura 1. Processo de enfermagem segundo Wanda Horta, 1979.


Fonte: Horta (1979, p. 35).

Ao longo dos anos, o PE passou a ser reconhecido como um elemento


essencial da prática clínica da enfermagem. Padronizado atualmente com
suas etapas de coleta de dados, diagnóstico de enfermagem, planejamento,
implementação e avaliação, o PE fornece uma estrutura organizada para que
os profissionais de enfermagem prestem cuidados individualizados e seguros
aos pacientes (COFEN, 2009).
Além disso, o PE também desempenhou um papel importante na padro-
nização dos cuidados de enfermagem, garantindo que a assistência prestada
fosse baseada em evidências científicas e práticas recomendadas. Isso ajudou
a elevar a qualidade dos cuidados e a promover a segurança do paciente em
diversas áreas de atuação da enfermagem (Argenta; Adamy; Bitencourt, 2020).
A resolução nº 358 de 2009 do Conselho Federal de Enfermagem, que
dispõe sobre a SAE e o PE, traz que o PE é um instrumental metodológico que
guia a prática profissional e a documentação dos cuidados de enfermagem,
ao mesmo tempo em que evidencia a importância da enfermagem na pres-
tação de assistência à saúde da população, elevando seu reconhecimento
e visibilidade. Para garantir sua eficácia, o PE deve ser embasado por uma
fundamentação teórica, direcionando a coleta de dados, o estabelecimento de
diagnósticos de enfermagem, o planejamento das ações e intervenções, bem
como proporcionando uma base para a avaliação dos resultados alcançados
na assistência prestada (COFEN, 2009).
Dessa forma, podemos observar que o PE teve seu desenvolvimento em
três gerações, como mostra de forma sucinta o Quadro 1.
Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem 5

Quadro 1. Representação geral do aspecto histórico do desenvolvimento


do processo de enfermagem

Geração Termos

Primeira geração — Problemas e procedimentos


1950 a 1970 Yura e Walsh, quatro fases:
„ Coleta de dados
„ Planejamento
„ Intervenção
„ Avaliação

Segunda geração — Inclusão do diagnóstico de enfermagem


1970 a 1990 Raciocínio diagnóstico e pensamento crítico
Padrões da prática de enfermagem, em cinco fases:
„ Coleta de dados
„ Diagnóstico
„ Planejamento
„ Intervenção
„ Avaliação

Terceira geração — PE em cinco etapas


1990 até atual „ Coleta de dados
„ Diagnóstico
„ Planejamento
„ Implementação
„ Avaliação
Inclusão da SAE
Disseminação das taxonomias de enfermagem

Fonte: Argenta, Adamy e Bitencourt (2020), Barros e Bispo (2017).

Processo de enfermagem: etapas e a prática


assistencial

Etapa 1: Coleta de dados (ou histórico de


enfermagem)
A primeira etapa do processo de enfermagem é a coleta de dados, também
conhecida como histórico de enfermagem ou anamnese, em busca de dados
objetivos e subjetivos. É por meio dessa etapa que se estabelecem as bases
para a compreensão integral do paciente, permitindo que o profissional de
enfermagem identifique suas necessidades e seus problemas de saúde e esta-
beleça um plano de cuidados adequado e individualizado (Barros et al., 2015).
6 Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem

A coleta de dados geralmente inicia-se com a entrevista com o paciente


ou seu representante legal, e o enfermeiro deve abordar a pessoa de ma-
neira respeitosa e empática. É fundamental criar um ambiente acolhedor e
seguro para que o paciente se sinta à vontade para compartilhar informações
relevantes e confidenciais.
Durante a entrevista, o enfermeiro explora diversos aspectos da vida
do paciente, incluindo seu histórico de saúde, suas queixas atuais, seus
antecedentes familiares, estilo de vida, hábitos alimentares, padrão de sono,
uso de medicamentos e outros detalhes que podem estar relacionados à sua
saúde. Além disso, são levados em consideração aspectos psicossociais, como
suporte familiar, estresse, crenças e valores culturais, que podem influenciar
o bem-estar geral do indivíduo (Barros, 2022).
A coleta de dados também envolve a avaliação física do paciente. O enfer-
meiro realiza exames e verifica sinais vitais, como pressão arterial, frequência
cardíaca, temperatura e respiração. Observações sobre a aparência geral do
paciente, como cor da pele, nível de consciência e estado nutricional, são
importantes para a avaliação inicial. Além disso, o enfermeiro pode utilizar
ferramentas específicas, como escalas de dor, avaliação do risco de queda
e questionários de triagem, para obter informações adicionais e padronizar
a coleta de dados (Neves, 2020).

Suponha que um enfermeiro recebe um paciente em uma unidade de


internação e descreve na sua evolução o seguinte quadro:
[... Paciente do sexo masculino, recebido às 20h no setor, com 89 anos de
idade e sem acompanhante, deambulado com dificuldade por aparente fraqueza
muscular e com apoio de “bengala”. Relata morar sozinho e em casa; para
deambular, necessita apoiar-se nos móveis ou usar a bengala, pois, além de
“sentir as pernas fracas”, apresenta constantes episódios de tonturas...].
Observe que em poucas palavras, alguns pontos de alerta (problemas)
foram levantados (e estão sublinhados); esses pontos apoiarão a definição do
diagnóstico de enfermagem, conforme será demonstrado na etapa 2.

Etapa 2: Diagnóstico de enfermagem


Após reunir todas as informações relevantes, o enfermeiro analisa e sintetiza
os dados coletados. É nessa etapa que ele identifica os diagnósticos de
enfermagem, que são problemas ou necessidades específicas do paciente
que podem ser tratados pelos cuidados de enfermagem. Esses diagnósticos
são fundamentais para o planejamento e a implementação dos cuidados.
Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem 7

O diagnóstico de enfermagem é uma linguagem padronizada que avalia


condições de saúde sob a perspectiva da enfermagem e, por meio do raciocínio
clínico e pensamento crítico, identifica problemas reais ou potenciais que
podem ser tratados pela equipe, possibilitando a implementação de ações
específicas para alcançar resultados positivos (Barros et al., 2015; COFEN, 2009).
Para realizar o diagnóstico de enfermagem, o enfermeiro utiliza diferentes
sistemas de classificação, como a NANDA International (North American
Nursing Diagnosis Association), que é uma das mais utilizadas em âmbito
mundial. Esses sistemas fornecem uma lista de diagnósticos prontos, com
definições e características que auxiliam na identificação do problema (Her-
dman; Kamitsuru, 2018).
Os diagnósticos de enfermagem seguem uma estrutura padrão, composta
por três partes: o diagnóstico propriamente dito (o problema identificado),
os fatores relacionados (que contribuem para o problema) e as evidências (os
sinais e sintomas que comprovam o diagnóstico). Pautado no breve exemplo
da etapa 1, observe o quadro 2 e suas ligações.

Quadro 2. Estrutura padrão do diagnóstico de enfermagem “risco de queda”

Diagnóstico de enfermagem: Risco de quedas

Fatores relacionados: Evidências:


„ Idade avançada. „ Relato de tonturas.
„ Fraqueza muscular. „ Histórico de quedas anteriores.
„ Uso de medicamentos sedativos. „ Dificuldade para mobilizar-se sem
„ Ambiente fisicamente auxílio.
desfavorável. „ Uso de bengala para locomoção.

Fonte: Adaptado de Herdman e Kamitsuru (2018).

É importante ressaltar que os diagnósticos de enfermagem devem ser


revisados e atualizados conforme a evolução do paciente e a resposta às
intervenções realizadas. A colaboração e a comunicação entre os membros
da equipe de saúde são essenciais para fornecer um cuidado integrado e de
qualidade, centrado nas necessidades individuais de cada paciente (Barros
et al., 2015).

Etapa 3: Planejamento de enfermagem


O planejamento de enfermagem é a terceira etapa no PE, que se concentra
na organização dos resultados esperados, das ações e das intervenções de
8 Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem

enfermagem para atender às necessidades individuais do paciente. Nessa fase,


os enfermeiros avaliam os dados coletados, assim como os diagnósticos de
enfermagem levantados, e utilizam suas habilidades clínicas, conhecimentos
e taxonomias padronizadas para desenvolver um plano de cuidados, a fim de
promover a recuperação e o bem-estar do paciente (Neves, 2020).
O objetivo primordial do planejamento de enfermagem é estabelecer
metas realistas e alcançáveis, bem como selecionar as intervenções apro-
priadas para enfrentar os problemas identificados na fase de diagnóstico de
enfermagem (Barros et al., 2015). Para isso, devem ser levantados os resul-
tados esperados, podendo-se utilizar ferramentas como a Classificação dos
Resultados de Enfermagem, ou Nursing Outcomes Classification (NOC). Para
cada diagnóstico de enfermagem, deve-se levantar os resultados esperados,
e, de acordo com cada resultado, deve-se planejar intervenções (Argenta;
Adamy; Bitencourt, 2020).
Existem diferentes abordagens para desenvolver um plano de cuidados,
como a utilização de taxonomias específicas — exemplos são as do Nursing
Interventions Classification (NIC) e a Classificação Internacional da Prática
de Enfermagem (CIPE®). Essas taxonomias foram criadas com o objetivo de
padronizar a linguagem e a terminologia usadas pelos enfermeiros, ofere-
cendo uma lista abrangente de intervenções de enfermagem (Argenta; Adamy;
Bitencourt, 2020).
A elaboração do plano de cuidados é um processo colaborativo, envolvendo
a participação ativa do paciente (ou de seus familiares, quando necessário).
O enfermeiro precisa fornecer informações claras e compreensíveis ao pa-
ciente, envolvê-lo nas decisões relacionadas ao tratamento e respeitar suas
preferências sempre que possível. Essa abordagem centrada no paciente
promove maior adesão ao tratamento e melhora a qualidade dos cuidados
prestados (Barros et al., 2015).
Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem 9

Quadro 3. Etapa 3 do processo de enfermagem: levantamento de resultados


esperados e intervenções de enfermagem

Diagnóstico de enfermagem: risco de quedas

Resultados esperados Intervenções de enfermagem

„ Usar corretamente os dispositivos „ Orientar o paciente sobre o uso


de apoio de bengala ou andador, conforme
„ Utilizar barras de apoio apropriado
„ Comportamento de prevenção de „ Providenciar corrimãos e barras de
quedas apoio visíveis para as mãos
„ Apoio da família durante „ Identificar comportamentos e
tratamento fatores que afetem o risco de
quedas
„ Orientar o paciente a chamar ajuda
para movimentar-se, conforme
apropriado

Fonte: Adaptado de Moorhead et al. (2016), Bulechek, Butcher e Dochterman (2010).

Etapa 4: Implementação
Nesta fase, os enfermeiros assumem um papel ativo na prestação de cuida-
dos diretos aos pacientes, aplicando as intervenções planejadas na etapa
anterior e adaptando-as conforme necessário para atender às necessidades
individuais de cada paciente (Barros et al., 2015).
A implementação é um processo complexo e abrangente, que requer
habilidades técnicas, conhecimento clínico e uma abordagem holística para
a assistência ao paciente. Além disso, é essencial que os profissionais de
enfermagem estejam em sintonia com a equipe de saúde multidisciplinar,
garantindo uma abordagem integrada e colaborativa (Argenta; Adamy; Bi-
tencourt, 2020).
Durante a implementação, os enfermeiros são responsáveis por diversas
tarefas, como a administração de medicamentos prescritos, a realização de
curativos, a monitorização dos sinais vitais, a orientação de apoio emocional
e educacional ao paciente e seus familiares, entre outras. Eles também devem
observar cuidadosamente a resposta do paciente às intervenções, avaliando
continuamente sua condição e adaptando o plano de cuidados conforme
necessário (Neves, 2020).
Além do cuidado direto ao paciente, a implementação também envolve a
promoção da prevenção de doenças e a manutenção da saúde, incentivando
10 Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem

hábitos saudáveis ​​e fornecendo informações sobre práticas preventivas.


Isso pode incluir aconselhamento sobre dieta, exercícios físicos, vacinação
e outras medidas preventivas.
O enfermeiro pode realizar a prescrição dos cuidados de diversas manei-
ras, de forma que facilite a documentação e visualização por toda equipe,
conforme exemplo do Quadro 4.

Quadro 4: Exemplo de prescrição de enfermagem

O que Como Quando Onde Duração

Levantar Avaliação Durante Casa do Até


comportamentos física do visita paciente diminuição
e fatores que paciente e do domiciliar concreta dos
afetem o risco domicílio fatores de
de quedas risco para
queda

Fonte: Adaptado de Neves (2020).

Etapa 5: Avaliação de enfermagem


Esta etapa consiste na verificação de todas as intervenções realizadas, das
respostas do paciente, das mudanças em seu estado de saúde, bem como da
eficácia das intervenções planejadas e alcance dos resultados esperados. A
avaliação de enfermagem descreve a evolução do quadro clínico do paciente
ao longo do tempo (COREN, 2009).
Essa avaliação minuciosa assegura que nenhum aspecto relevante seja
negligenciado, ajudando o enfermeiro a identificar e reavaliar os resultados,
sendo possível acompanhar a evolução do quadro clínico do paciente ao longo
do tempo, assim como identificar tendências, complicações ou melhorias
em sua condição de saúde (Neves, 2020). O registro adequado dos dados é
fundamental para fins legais e de responsabilidade profissional, proporcio-
nando uma base sólida para qualquer tomada de decisão, assegurando a
qualidade e a segurança dos cuidados prestados ao paciente (COFEN, 2012)
e serve como meio de comunicação entre os membros da equipe de saúde.
A NOC nos permite definir os resultados esperados e tem escalas de
mensuração, tanto para verificar se aquele resultado é compatível com o
paciente, como para avaliar a evolução do paciente conforme as intervenções
Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem 11

foram sendo aplicadas. Podemos observar essa escala em um exemplo,


conforme a Figura 2.

Figura 2. Escala de avaliação de resultado esperado da NOC.


Fonte: Moorhead et al. (2016, p. 204).

O processo de enfermagem e a
Sistematização da Assistência de
Enfermagem
O PE e a SAE são conceitos fundamentais no cuidado de saúde prestado
por enfermeiros aos pacientes. Embora relacionados, esses termos têm
significados distintos e representam etapas diferentes no planejamento e
na execução dos cuidados de enfermagem (Barros et al., 2015).
O PE é uma metodologia sistemática que guia a prática clínica dos enfer-
meiros; já a SAE é um processo mais abrangente que engloba o PE, mas vai
além dele. A SAE é uma forma organizada e padronizada de fornecer cuidados
de enfermagem quanto ao método, pessoal e ferramentas, garantindo a
qualidade e a continuidade do PE (COREN, 2009).
A SAE inclui a implementação de protocolos e padronizações institucionais
para a prática de enfermagem, incorporando as melhores evidências cientí-
ficas disponíveis. Ela não se restringe apenas à aplicação das cinco etapas
do PE, mas também abrange a utilização de sistemas de classificação, o
planejamento registrado, questões gerenciais e administrativas, assim como
criação de normas e rotinas. Além disso, a SAE considera a multidisciplina-
ridade do cuidado (Neves, 2020).
12 Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem

Podemos observar melhor essa representação na Figura 3.

SAE
Resolução COFEN
358/09

Método Dimensionamento
Instrumentos
Científico Resolução COFEN 293/04

Processo/
Teorias de Consulta de Protocolos
Enfermagem Enfermagem Manuais
Impressos

Registros de
Taxonomias
Enfermagem

NANDA I Resoluções:
NIC 191/96
NOC 311/07
CIPE® 358/09
429/12

Figura 3. Esquematização da Sistematização da Assistência de Enfermagem.


Fonte: Santos et al. (2016, p. 13).

Potencialidades e desafios do processo de


enfermagem
A efetivação do PE no dia a dia do enfermeiro encontra diversas barreiras. A
introdução de uma nova metodologia ou sistema requer que os profissionais
alterem suas práticas de trabalho habituais. Muitos enfermeiros podem resistir
à mudança, principalmente se estiverem acostumados com abordagens mais
tradicionais de cuidados (Neves, 2020).
Ainda nesse sentido, o enfermeiro muitas vezes lida com uma carga de
trabalho intensa e inúmeras demandas diárias. A implantação da SAE e a
execução detalhada do PE podem demandar tempo adicional, o que pode
ser percebido como uma dificuldade, levando à adoção de abordagens mais
rápidas e menos sistemáticas (Neves, 2020)
Outra dificuldade seria a falta de capacitação e treinamento, uma vez
que a correta aplicação tanto da SAE, quanto do PE, exige conhecimento e
habilidades específicas. A ausência de treinamento adequado pode levar
Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem 13

à má compreensão dos conceitos e à adoção equivocada da metodologia,


comprometendo sua eficácia (Almeida et al., 2023).
Além disso, a implantação do PE pode exigir a disponibilidade de recursos
tecnológicos, materiais e humanos. A falta de recursos adequados pode
limitar a capacidade do enfermeiro de realizar todas as etapas do processo
de forma completa e eficiente (Neves, 2020).
Embora essas dificuldades possam representar obstáculos para a im-
plantação do PE no dia a dia do enfermeiro, é importante destacar que essas
metodologias têm o potencial de melhorar a qualidade dos cuidados de enfer-
magem, promover a segurança do paciente e favorecer uma abordagem mais
centrada no indivíduo. Com o apoio adequado, treinamento e compreensão
dos benefícios, essas práticas podem ser incorporadas com sucesso na rotina
dos profissionais de enfermagem (Almeida et al., 2023; Neves, 2020).

Estratégias de implantação
Para iniciar a implantação do PE, é essencial que haja um comprometimento
da gestão e liderança da instituição de saúde. O apoio institucional é funda-
mental para garantir que os recursos necessários estejam disponíveis, que
os profissionais recebam treinamentos adequados e que a nova abordagem
seja incorporada à cultura organizacional (Santos et al., 2016).
O primeiro passo é a capacitação dos enfermeiros e demais profissionais
de saúde envolvidos no processo. Treinamentos que abordem os fundamentos
teóricos do PE, a sua aplicação prática e a utilização de sistemas de clas-
sificação de diagnósticos, intervenções e resultados são essenciais para a
correta implementação (Neves, 2020).
A próxima etapa envolve a adaptação da estrutura e dos sistemas de
registro utilizados pela instituição. A implantação do PE demanda uma do-
cumentação detalhada das etapas realizadas, incluindo a coleta de dados,
diagnósticos, planejamento e avaliação (Santos et al., 2016).
A integração da equipe é outro fator crucial para o sucesso da implantação.
É importante promover a comunicação e a colaboração entre os diversos
profissionais de saúde, garantindo que todos estejam alinhados com os
objetivos e as etapas do PE. A multidisciplinaridade fortalece a assistência
ao paciente, evitando lacunas e redundâncias no cuidado (Neves, 2020).
A implantação do PE nos serviços de saúde representa um avanço signifi-
cativo para a qualidade e a segurança da assistência prestada aos pacientes.
Essa abordagem sistemática e baseada em evidências oferece inúmeras
14 Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem

vantagens para os profissionais de enfermagem, pacientes e toda a equipe


de saúde envolvida no cuidado (Neves, 2020).
É importante ressaltar que o PE contribui para a geração de dados e
informações valiosas sobre a prática de enfermagem e os resultados dos
cuidados. Essas informações podem ser utilizadas para aprimorar as práticas,
além de representarem um avanço significativo na qualidade e na eficiência
da assistência prestada. Por meio de uma abordagem sistemática e baseada
em evidências, os profissionais de enfermagem têm a oportunidade de pro-
porcionar cuidados mais seguros, personalizados e eficazes, contribuindo
para o bem-estar e a recuperação dos pacientes.

Referências
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Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-4292012_9263.html. Acesso
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Salvador: COREN - BA, 2016.

Leituras recomendadas
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sobre seu conceito e legislação. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 75, n. 6, 2022.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/StQhMkT39yNK4XsTjLNRbXm/?form
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BENEDET, S. A. et al. Processo de enfermagem: instrumento da sistematização da as-
sistência de enfermagem na percepção dos enfermeiros. Revista de pesquisa Cuidado
é Fundamental Online, v. 8, n. 3, 2016.Disponível em: http://seer.unirio.br/cuidadofun-
damental/article/view/4237. Acesso em: 2 ago. 2023.

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