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09/11/2018

UNIVERSIDADE NILTON LINS


CURSO PSICOLOGIA

PSICOLOGIA HOSPITALAR

A MORTE NO CONTEXTO HOSPITALAR

PROFª: JAIDA SOUZA DA COSTA

O HOMEM DIANTE DA MORTE

A morte faz parte da vida, sabemos dela e vivemos em função


deste conhecimento que é coletivo e público;

A morte era anunciada através de um ritual, era importante


ressaltar que precisava de um tempo para ser percebida. Se
ocorresse nas guerras ou após doenças não havia necessidade
de controlar as emoções. Ela podia se fazer anunciar nos
pressentimentos.
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A morte repentina era considerada infamante e vergonhosa, a sua


repentinidade a tornava feia, desonrosa e monstruosa. Nos dias atuais
ela é considerada como boa, porque não causa sofrimento;

A morte clandestina, aquela que não teve testemunhas ou cerimônia.


A que ocorria por causa de assassinato ou acidentes, e neste caso se
proibia uma sepultura cristã. A justificativa era que não havia tempo
para o arrependimento.

Uma cena clássica era assim representada: o


moribundo reunindo os familiares em torno do leito
para as suas últimas recomendações e as despedidas,
como vira fazer todos aqueles que morreram antes.
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Nessa forma de viver o processo de morte percebe-se


duas características principais: a simplicidade das
cerimônias e o fato de ser um evento público. O
moribundo deveria estar no centro das pessoas e o
maior temor era o de morrer só.

No contexto cristão tornava-se importante enterrar os


mortos pertos dos santos, que ofereciam proteção ao
corpo até o dia do julgamento, era uma segurança
para os mortos e também para os vivos.
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Os malditos eram abandonados nos campos, ou nos monturos. Haviam


também cemitérios reservados a suicidas; nestes o caixão eram
passados por cima dos muros. Aliás desde há muito havia problemas
com os rituais fúnebres para os suicidas que, por transgredirem as leis
divinas, não poderiam ser abençoados. Um dos exemplos era cortar-
lhes as mãos ao serem enterrados para que não repetissem o ato.

Em 563 o Concílio de Braga interditou o enterro no interior das


Igrejas, sendo as sepulturas transferidas para perto dos muros
do pátio. As pessoas não mais poderiam ser enterradas perto
do altar (onde o corpo e o sangue do Senhor eram
preparados ou oferecidos) com exceção feita aos Santos
Padres.
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Para se garantir a paz e o repouso das almas após a


morte foram desenvolvidos vários rituais. Era essencial
que, antes da morte, fossem prestadas as honras e a
absolvição, concretizando-se duas ações importantes:
a benção e a purificação.

Uma imagem começa a se desenvolver apresentando a


lamentação dos sobreviventes diante do cadáver, por vezes
desmedida, como forma de desafogar a dor e lidar com a
separação.

O uso da cor preta tinha duas intenções principais:


representar o caráter sombrio da morte e ser a demonstração
de que a pessoa estava em luto.
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As orações aos mortos tinham como objetivo


apaziguá-los e impedi-los de voltar à casa dos vivos;

Com as orações eram lidos os nomes dos mortos. Estas


listas deram origem aos obituários;

No século XVII a presença do corpo morto torna-se


regra, sendo esta missa importante. É também
tradicional a missa de sétimo dia e de um ano;

Os cortejos têm como objetivo acompanhar o morto.


No cortejo quanto maior o número de pessoas, mais
importante era o defunto.
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O corpo passa a ser escondido no caixão porque sua


visão era insuportável;

O caixão também não deveria se apresentar nu,


recebia capas que podiam ser bordadas com temas
macabros, com os brasões da família ou com as iniciais
do defunto.

A ideia de testamento, surge no século XII, propunha


além da transmissão dos bens, ser um ato religioso, por
isso também era obrigatório para pessoas pobres.
Aquele que morria sem testar não podia ser enterrado
nem nas igrejas nem nos cemitérios.
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No século X foi surgindo a inscrição funerária, como uma necessidade


de reafirmar a identidade, constavam os dados de identificação,
data da morte e eventualmente um elogio, posteriormente
acrescentou-se “Aqui jaz” e “Que Deus tenha a sua alma”, O epitáfio
surge como forma de meditar sobre a morte

A cruz era um elemento que indicava o lugar do túmulo;

As máscaras mortuárias tinham como objetivo mostrar a


semelhança com os vivos. No século XX, a maquiagem do
corpo morto é feita para que se tenha a impressão de que a
morte não ocorreu.
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No século XIX, as capelas e jazigos de família passam


também a ocupar lugar no cemitério, com a
possibilidade de reunir os mortos de uma mesma
família. É também um oratório privado onde a família
vem para devoções e onde se pode rezar uma missa.

A MORTE QUE VAI SE TORNANDO SELVAGEM

Com o desenvolvimento da indústria e principalmente


da técnica médica a morte vai se tornando selvagem.
A dor não é mais com o sofrimento do moribundo e sim
com a separação da pessoa amada, com as grandes
rupturas.
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Não é mais o momento da morte que define as coisas,


e sim o modo como a pessoa viveu;

Ocorre a ruptura igreja-cemitério;

A MORTE ANUNCIADA, O PACIENTE E A FAMÍLIA


CONTRIBUIÇÕES DE KüBLER-ROSS

PACIENTE TERMINAL: o rótulo “paciente terminal” é


usado de forma estereotipada para pacientes que
apresentam doenças com prognóstico reservado,
mesmo que estejam em fase de diagnóstico e de
tratamento. Ex: Tipos de câncer, Aids e moléstias
degenerativas.
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ESTÁGIOS NO ENFRENTAMENTO DE PERDAS


SIGNIFICATIVAS

Negação: é muito frequente no momento em que se


recebe qualquer má notícia, especialmente como a da
morte de alguém, ou do agravamento de sua doença com
perspectiva fatal. A negação funciona como um
amortecedor, como uma anestesia temporária para se
ganhar forças e assim mobilizar defesas.

RAIVA

Esta emoção pode tomar o lugar quando a negação


não é mais possível;

Como é possível aceitar que seja a vontade de Deus


tamanho sofrimento e dor?
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BARGANHA

Pode aparecer como uma reparação à ira manifesta diante dos


familiares, profissionais de saúde e frente a deus. Tem-se a ideia de
que, se se prometer bom comportamento e reparação das faltas
anteriormente cometidas, a doença poderá ser vencida, ou ao
menos ter o seu desfecho adiado.

A barganha também pode ser vista no pedido de um tempo extra


para ver um filho se formar ou casar, ou qualquer outra razão com
forte apelo.

DEPRESSÃO

Observa-se o enfraquecimento generalizado,


emagrecimento, sensação de esvaziamento e de
perda. Normalmente o paciente fica mais quieto,
reflexivo, recusa-se a comer, não quer ver as pessoas, e
não quer saber sobre o mundo externo.
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ACEITAÇÃO

A aceitação pode ser o fim de um processo que envolveu a


negação, a raiva, a inveja pela saúde dos outros e a
elaboração a partir de um processo de depressão, o que
possibilitou um movimento de introversão. A uma preparação
para uma grande ação.

A COMUNICAÇÃO DA “NOTÍCIA”

A questão não é dar ou não a “notícia”, e sim como


fazê-lo. É um processo de escuta, de ouvir as perguntas
e detectar os sentimentos.
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As pessoas doentes sabem, ou intuem, o que está


acontecendo com elas, mesmo que não sejam
informadas diretamente. Não contar, ou pretender que
nada está acontecendo, favorece que se crie uma
situação que denominamos de “teatro de má
qualidade”.

O paciente, às vezes, por cortesia ou proteção às pessoas


queridas, evita falar de suas questões mais íntimas. Este
isolamento pode se manifestar num silêncio sem palavras, ou
num palavrório que silencia o que de mais importante tem a ser
compartilhado: sentimentos, dúvidas e questões que se tornam
prementes quando a morte se aproxima. A esta situação
chamamos de “conspiração do silêncio”.
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Outra situação que muito preocupa familiares e profissionais de


saúde é quando o paciente fala de seu desejo de morrer e pede
para que se faça algo para apressar o processo, porque não mais
suporta sofrer.

Ouvir atentamente não significa se comprometer em atender todos


os desejos, mesmo porque alguns são impossíveis, o que concerne
ao desejo de morrer ou matar não poderá ser cumprido.

A escuta é primordial para que descubramos as razões


para tal pedido, tais como: grau de sofrimento
incapacitante e intolerável; um não sentido para a
vida; o desejo de deixar de ser uma sobrecarga para a
família, etc.
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Conscientizar o doente sobre o agravamento do seu quadro não quer


dizer deixá-lo sem saída ou esperança, afirmando que não há nada a
fazer. O paciente sabe o que está acontecendo, mesmo que não se diga
nada: o corpo aponta esta piora, assim como a forma das pessoas se
comportarem; as mudanças nos tratamentos trazem sinais do que está
acontecendo. Não falar sobre estes temas, com intuito de proteger, pode
trazer uma situação de incerteza e isolamento.

A aproximação da morte é uma situação privilegiada


para se lidar com situações inacabadas, rever
prioridades de vida, perceber o sentido de vida. Neste
sentido um diálogo aberto, com perguntas e respostas
é certamente um grande facilitador.
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MORTE NA INFÂNCIA

Kübler-Ross deixa claro de que não se deve poupar as crianças não


se conversando com ela, ou não as deixando participar dos eventos
com os adultos. A maneira de lidar com o sofrimento de forma
construtiva não é evitá-lo e, sim, favorecer a conversa a respeito e o
compartilhamento dos sentimentos.

CUIDADOS PALIATIVOS

Cicely Saunders também foi uma das revolucionárias que


mudaram a face da morte no século XX;

“Pallium” é cobrir, aliviar, como um manto de afeto que


protege, e não esconder, encobrir a doença ou disfarçar
os sintomas.
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A proposta fundamental dos cuidados paliativos é oferecer


conforto, calor e proteção, favorecendo uma sensação de
segurança. A palavra chave é cuidado. Nos programas de
cuidados paliativos não curamos corpos e, sim, cuidamos de
pessoas. Não é um tratamento de segunda classe e, sim, de
alta especificidade.

Os cuidados paliativos estavam vinculados à busca de


uma “boa morte”, com dignidade e menor sofrimento
possível. Por esta razão eram também chamados de
cuidados terminais, ou cuidados no fim da vida.
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Nas mortes consideradas como boas são arrolados os


seguintes aspectos: ter consciência; aceitar; se
preparar; estar em paz e ter dignidade. As mortes ruins
são aquelas onde estes aspectos não estão presentes
e ocorrem: negação, falta de aceitação e forte
expressão de sentimentos, especialmente raiva.

PRINCÍPIOS DOS PROGRAMAS DE CUIDADOS


PALIATIVOS

De acordo com OMS (1990), são os seguintes:

Afirmar a vida e considerar a morte como um processo


normal;

Não apressar ou adiar a morte;

Oferecer alívio da dor e de outros sintomas que causem


sofrimento;
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Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais nos


cuidados aos pacientes;

Oferecer um sistema de apoio para ajudar o paciente a viver


tão ativamente quanto possível até a morte;

Apoiar a família no enfrentamento da doença do paciente e


no seu próprio processo de luto.

CUIDADOS PALIATIVOS NO BRASIL

Em levantamento feito pela Sociedade Brasileira de


Cuidados Paliativos estão arrolados 29 programas de
cuidados paliativos, nas suas mais diversas
modalidades, em vários estados da federação. Quase
todos nasceram de “Grupos de Dor” que assumiram a
assistência integral dos pacientes.
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DESAFIOS A SEREM VENCIDOS NO BRASIL

Ausência de uma política nacional para alívio da dor;

Deficiência na educação de profissionais de saúde e comunidade;

Preocupações quanto ao abuso da morfina e outros opiáceos,


causando restrição na prescrição da morfina;
Limitações na distribuição de drogas para o alívio da dor e outros
sintomas;

Carência de recursos para pesquisa e desenvolvimento em cuidados


paliativos.

BIOÉTICA NAS QUESTÕES DE VIDA E MORTE

A Bioética é o ramo da ética que enfoca questões relativas à vida


humana e à morte, propondo discussões sobre alguns temas,
entre os quais: prolongamento da vida; morrer com dignidade;
eutanásia suicídio assistido. Os princípios bioéticos são conduzidos
a partir do princípio da sacralidade da vida e o princípio do
respeito á autonomia.
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PRINCÍPIO DA SACRALIDADE DA VIDA

A vida constitui um bem – concessão da divindade ou


manifestação de um finalismo intrínseco da natureza. Não
podendo ser interrompida, nem mesmo por expressa
vontade de seu detentor. A vida sempre é digna de ser
vivida, ou seja, estar vivo é sempre um bem independente
das condições em que a existência se apresente.

PRINCÍPIO DE RESPEITO À AUTONOMIA

Pressupõe que se considerem, definitivamente, as livres


escolhas das pessoas, ao se tratar das questões morais.
A autonomia traz a ideia de autogoverno e
autodeterminação
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PRINCÍPIO DA BENEFICIÊNCIA

A equipe age unilateralmente justificando-se com a


ideia de que sabe o que é o melhor para o paciente,
ou seja, considera que este não está preparado para
saber o que é o melhor para si.

SITUAÇÕES ESPECIFÍCAS VOLTADAS PARA A


BIOÉTICA

Existem situações que são específicas para as quais a


bioética tem voltado atenção: pedidos para morrer,
eutanásia, suicídio assistido e distanásia.
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EUTANÁSIA

A eutanásia originalmente definida como a boa morte; no


grego “eu” – bom e “thanatos” – morte. Nos dias de hoje a
isto acrescentou-se mais um sentido: o da indução, ou seja,
um apressamento do processo de morrer.

Só se pode falar em eutanásia se houver um pedido


voluntário e explícito do paciente.

CLASSIFICAÇÕES DA EUTANÁSIA

EUTANÁSIA ATIVA – Ato deliberado de provocar a morte sem


sofrimento do paciente, por fins humanitários. Ex: injeção letal;

EUTANÁSIA PASSIVA – Quando a morte ocorre por omissão proposital


em dar início a uma ação médica que garantiria a perpetuação da
sobrevivência. Significa deixar morrer sem cura o doente cuja vida está
prestes a findar.
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EUTANÁSIA DE DUPLO EFEITO – nos casos em que a morte é


acelerada em consequência de ações médicas que não
visam ao êxito letal, mas sim ao alívio do sofrimento do
paciente. Ex: emprego de morfina para controle da dor,
gerando óbito.

EUTANÁSIA VOLUNTÁRIA – em resposta a vontade expressa


do doente – o que seria um sinônimo de suicídio assistido.

EUTANÁSIA INVOLUNTÁRIA – quando o ato é realizado


contra vontade do enfermo, o que, em linhas gerais
pode ser igualado a “homicídio”;

EUTANÁSIA NÃO VOLUNTÁRIA – quando a vida é


abreviada sem que se conheça a vontade do
paciente.
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SUICÍDIO

SUICÍDIO – Ação que o sujeito faz contra si próprio, e que


resulta em morte;

SUICÍDIO ASSISTIDO – quando há ajuda para a realização de


um suicídio, a pedido. Esta situação é considerada como
crime;

SUICÍDIO PASSIVO – deixar de fazer alguma ação, isso


podendo resultar na morte; Ex. não tomar a medicação.

DISTANÁSIA

É compreendida como a manutenção da vida por


meio de tratamentos desproporcionais, levando a um
processo de morrer prolongado e com sofrimento físico
ou psicológico.
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MISTANÁSIA

Sentido de morte miserável e dolorosa fora e antes do seu tempo,


incluindo:

A falta de acesso ás condições mínimas de vida;

A omissão de socorro à multidão de doentes à margem dos sistemas


de saúde mundo afora;

As consequências dos diferentes tipos de erros médicos;

As práticas de eliminação dos indesejados.

ORTOTANÁSIA

É a morte no seu tempo certo, sem os tratamentos


desproporcionais (distanásia) e sem abreviação do
processo de morrer (eutanásia).
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MENSAGEM

Observar a morte em paz de um ser humano faz-nos lembrar uma estrela


cadente. É uma entre milhões de luzes do céu imenso, que cintila ainda
por um breve momento para desaparecer para sempre na noite sem fim.
Ser terapeuta de um paciente que agoniza é nos conscientizar da
singularidade de cada indivíduo neste oceano imenso da humanidade. É
uma tomada de consciência de nossa finitude, de nosso limitado período
de vida. Kübler-Ross (1998, p. 286).

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