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UNIDADE I

O MUNDO DO TRABALHO
Curso Técnico Integrado em Alimentos

Sociologia III
Profa. Dra. Fabíola Pereira
Conteúdos
■ 1.1 – O trabalho nas diferentes sociedades
■ 1.2 – Modos de produção
■ 1.3 – A sociedade capitalista e o trabalho
■ 1.4 – Trabalho análogo ao escravo

■ 1.5 – Desemprego
■ 1.6 – Trabalho e novas tecnologias
■ Questões orientadoras:

■ 1. Qual a origem do “trabalho”?


■ 2. Quais foram os sentidos atribuídos ao trabalho desde a Antiguidade, passando
pela Idade Média e a inserção na Modernidade;
■ 3. Qual a relação entre o desenvolvimento do capitalismo, o trabalho assalariado, a
exploração e a alienação?
■ 4. Quais as concepções sobre a centralidade ou o lugar ocupado pelo trabalho na
vida em sociedade. Estaria o trabalho fadado ao desaparecimento?
Para começo de conversa
Algumas definições preliminares
■ Trabalho – atividade que transforma a natureza e que depende dos seres humanos
para ser realizado. Integra a relação social de produção (bens e serviços)

■ Emprego – diz respeito ao “vínculo” de trabalho. Está relacionado ao “posto de


trabalho” a ser ocupado de maneira formal.

■ Flexibilização da CLT e suas consequências para a desestabilização das relações


formais de trabalho
1. Trabalho e emprego
■ Trabalho – atividade que transforma a natureza e que depende dos seres humanos
para ser realizado. Integra a relação social de produção (bens e serviços)

■ Emprego – diz respeito ao “vínculo” de trabalho. Está relacionado ao “posto de


trabalho” a ser ocupado de maneira formal.

■ Flexibilização da CLT e suas consequências para a desestabilização das relações


formais de trabalho
“Podemos definir o trabalho, seja remunerado ou não, como a
execução de tarefas que exijam esforço mental e físico, que
tem como objetivo a produção de bens e serviços para
atender necessidades humanas. Uma ocupação, ou um
emprego, é o trabalho feito em troca de um salário ou um
pagamento regular. Em todas as culturas, o trabalho é a base
da economia. O sistema econômico consiste em instituições
que propiciam a produção e a distribuição de bens e serviços.”
(GIDDENS, 2012, p. 627)
■ Todos os tipos de trabalho se encaixam nas definições
tradicionais de emprego remunerado?
■ Trabalho não remunerado – doméstico e a “economia
informal” (transações sem registros formais: pedreiros,
carpinteiros, oficinas, camelôs/popcenter...)

Em suma: padrões de emprego e de trabalho variam


significativamente
■ “Como você sentiria se achasse que nunca conseguiria um emprego?” (GIDDENS,
2012, p. 652)
■ Por que o trabalho ocupa um lugar tão central em nossas vidas?
■ Seria o trabalho mais do que exercer tarefas?
■ Quais suas características centrais?
– 1. Dinheiro: salário para sobreviver
– 2. Atividade: proporciona ambiente estruturado/rotineiro/absorve energias
– 3. Variedade: diferente do ambiente doméstico e suas tarefas
– 4. Temporalidade: ritmos do trabalho e a organização diária
– 5. Sociabilidade: ampliação das redes de contato
– 6. Identidade pessoal e social: contribuição na renda, status social etc
O que você encontra nesta imagem?
Teria a pandemia subvertido estas ordens tradicionais? De que forma?
2. Como foi construído socialmente o
sentido do trabalho?
■ Trabalho e a perda da liberdade
■ Tripalium – instrumento usado para bater o trigo (agricultura)
– Instrumento de tortura (três pontas) – Idade Média
■ Tortura
■ Suplício
■ Condição inferior

Renascimento + alteração no sistema econômico baseado na produção de mercadorias

TRABALHO passa a ser valorizado


Variações dos significados nas diferentes sociedades
ao longo do tempo
■ Antiguidade – Grécia e Roma
– Sem remuneração
– Realizado por escravos
– Produção intelectual e artística realizada pela elite proprietária de terras
■ Idade Média
– Sociedade estamental: clero – nobreza – servos

■ Transição do feudalismo para o capitalismo e a modernidade:


– Relações assalariadas e a mais-valia
Antes de prosseguir...
■ Ao longo da história, a Humanidade organizou diferentes estratégias para suprir
suas necessidades. Tais estratégias geraram estruturas sociais, políticas e
econômicas que tornaram possível o que conhecemos por “Modo de produção”

■ Quais são nossas necessidades?


■ O que produzimos?
■ Como produzimos?
■ Como esta produção chega até as pessoas?
https://www.portalmultiplix.com/noticias/ciencia-tecnologia/tecnologia-pode-ser-aliada-do- https://www.jornaldonoroesteonline.com.br/2016/10/trabalho-coletivo-no-campo-
trabalho-humano-em-projetos-desenvolvidos-na-regiao-serrana melhora.html

https://monitormercantil.com.br/industria-textil-tem-queda-de-9-na-producao-e-
demite-39-mil/
Modos de produção e trabalho
■ Modo de produção comunal primitivo
■ Modo de produção escravista
■ Modo de produção asiático
■ Modo de produção feudal
■ Modo de produção capitalista
■ Modo de produção socialista
PRODUÇÃO (Bens e serviços) MODO DE PRODUÇÃO:
Trabalho 1. FORÇAS PRODUTIVAS
Matéria-prima (meios de produção+trabalho humano)
Instrumentos de produção +
2. RELAÇÕES DE PRODUÇÃO
(entre indivíduos para produzir)
DISTRIBUIÇÃO

CONSUMO

https://hermanoprojetos.com/2017/01/12/trabalho-tecnologia-questoes-eticas
MODO DE PRODUÇÃO COMUNAL PRIMITIVO
COMUNAL PRIMITIVO (sociedades tribais)

Características:

- nomadismo;
- coleta e extração;
- 10.000 aC: cultivo terra: cereais, frutas, legumes e frutas (?)
- cuidado animais;
- sedentarização;
- terra principal meio de produção (sem propriedade privada)
- Em termos gerais NÃO são estruturadas pela atividade que em nossa sociedade
denominamos TRABALHO:

“Integradas ao meio ambiente e a todas as demais atividades, as


tarefas relacionadas à produção não compõem assim, uma esfera
específica da vida, ou seja, não há um “mundo do trabalho” nas
sociedades tribais.” (TOMAZI, 2010, p. 38)
Evolução das horas de trabalho semanal

X
Sociedade da abundância

❖ Ianomâmis (Amazônia): aprox. 3 h/dia (21h/semana)


❖ Guayakis (Paraguai): aprox. 5 h/dias (35h/semana)
❖ Kungs (sul da África): 4h/dia (28h/semana)
MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVO
MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVO

■ Características:
- Senhor detinha a propriedade: terras e instrumentos de produção;
- Relações de domínio de sujeição;
- Controle rígido escravos dominados e regras;
- Desprezo pelo trabalho manual.
Trabalho escravo na atualidade
■ DUDH:
Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a
escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

■ Lei 10.806/2003:
Reduzir alguém à condição análoga a de escravo, quer submetendo-o a
trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em
razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente
à violência.
Para pensar...

❖ Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil casos de trabalho escravo no Brasil: A


maior parte desses trabalhadores (1,2 mil) estava em áreas rurais e 1,1 mil foram
resgatados, segundo o governo federal (https://oglobo.globo.com/economia/em-2018-fiscais-
identificaram-17-mil-casos-de-trabalho-escravo-no-brasil-23409423)

❖ A extinção do Ministério do Trabalho, determinada pela Medida Provisória


870/19, coloca em risco a fiscalização das relações de emprego no País e a
edição de normas protetivas do trabalhador. A afirmação foi feita nesta quarta-
feira (24) por integrantes de entidades ligadas à temática trabalhista, durante
audiência pública realizada pela comissão mista que analisa a MP. (Agência Senado)
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
■ Características:

- Antiguidade oriental: Mesopotâmia e Egito (rios Tigre e Eufrates)


- Sociedades hidráulicas (próximos rios) e estamental (sem mobilidade social)
- Sociedades fechadas (Estado forte, burocracia eficiente – controle total);
- Índia e Egito (antigos) e pré-colombianos, maias e astecas;
- Propriedade estatal (meios de produção e forças de trabalho) / servidão
coletiva (corveia real)
- Grupo mais poderoso: administradores públicos – atuavam em nome do Estado
Trata-se da “forma mais geral de evolução da sociedade
primitiva ou da sociedade civilizada sem classes sociais e
econômicas para a sociedade europeizada dividida em
classes sociais e econômicas, esse modo de produção
estabeleceu-se em diversas regiões além dos reinos que
existiriam na Europa Meridional no final da Antiguidade como
na China antiga e na Índia antiga, mas também na África
antiga e entre os maias, os astecas e os incas.”
MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL
MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL
■ Características:

- Europa ocidental (V – XVI / XIX);


- Divisão senhores-servos;
- Relações de produção: propriedade do senhor sobre a terra e no
trabalho agrícola do servo;
- Senhor Feudal: poder econômico e político;
- Centrada no campo/cidades pouca importância – exército próprio
Pirâmide social
Modo Produção Feudal
MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
■ Características

- Relações assalariadas
- Propriedade privada meios de produção
- Burguesia: proprietária meios produção (fábricas, terras, instrumentos, riquezas...)
- Proletários/trabalhadores: força de trabalho
- Desenvolvimento produção movido pelo lucro
Fases do modo de produção capitalista
■ Capitalismo Comercial: XV - XVIII

■ Capitalismo Industrial: XVIII - XIX

■ Capitalismo Financeiro: XX
– Capitalismo informacional: desdobramento capitalismo financeiro
MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA
MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA
■ Características

- Propriedade coletiva meios de produção;


- Não há empresas privadas;
- Não existem classes sociais;
- Socialismo transição entre o capitalismo e o comunismo
Socialismo real
❖ Revolução Russa (outubro 1917)

❖ Contexto histórico-político-econômico debilitado;


❖ Acentua-se com a I GM (1914-1918)
❖ Tomada de poder pela fração partido social-democrata (Bolchevique)
– defesa revolução proletária / camponesa
❖ Líderes: Lenin e Trotski
Socialismo real

❖ 1922: URSS

❖ Marx: socialismo seria inevitável – desde que estivessem suficientemente


desenvolvidas as forças produtivas (capitalismo);

❖ Morte Lenin: Stalin X Trotski

❖ 1929: Stalin assume o poder


Socialismo real

■ 1930-1940: executados antigos líderes / extinção sovietes / Coletivização forçada


das terras
■ 1947-1991: Guerra Fria
■ 1980-1990: mudanças políticas/econômicas (novos partidos, eleições, abertura
mercado, propriedade privada…)
■ 1991: extinção URSS (adoção economia mercado)
Para contrapor a concepção hegemônica

■ Pierre Clastres – A sociedade contra o Estado

“[...] em diversas sociedades estudadas por etnógrafos na Antropologia, o


entendimento do “trabalho” e da “produção” não passa pelo trabalho individual
nem pelo trabalhar por si mesmo. Nessas sociedades, trabalha-se coletivamente
para suprir as necessidades do grupo e, tão logo a necessidade seja atendida, o
trabalho cessa.” (ARAÚJO, 2017, p. 112-113)
Para compreender o moderno sentido do trabalho
■ Trabalho e seu sentido contemporâneo – cerne da existência – “invenção do
industrialismo”

“[...] atividade que se realiza na esfera pública, solicitada, definida e reconhecida útil
por outros além de nós e, a este título, remunerada. É pelo trabalho remunerado (mais
particularmente, pelo trabalho assalariado) que pertencemos à esfera pública,
adquirimos uma existência e uma identidade sociais (isto é, uma “profissão”), inserimo-
nos em uma rede de relações e de intercâmbios, onde a outros somos equiparados e
sobre os quais vemos conferidos certos direitos, em troca de certos deveres.” (GORZ,
2003, p. 21)
■ Trabalho em sentido antropológico (reprodução da existência) não permite
integração social pois submetido ao universo da “necessidade” e não da
“liberdade”
■ Quem trabalhava na Antiguidade e na Idade Média?
■ Trabalho no mundo antigo: esfera privada – família
■ Trabalho capitalista: esfera pública

“A esfera privada, aquela da família, confundia-se, pois, com a esfera da necessidade


econômica e do trabalho, ao passo que a esfera pública, política, aquela da liberdade,
excluía rigorosamente as atividades necessárias ou úteis da esfera dos ‘assuntos
humanos’”
■ E por um certo período conviveram capitalismo da manufatura, seguido pelo
industrial com indústria doméstica (produção têxtil) - situação que perdura até o
século XVIII
– Articulava-se busca pela sobrevivência com modo de vida: artesãos recebiam
pela “obra” diferentemente do que se passava com “labuta dos servos e dos
trabalhadores por jornada”

• Qual a novidade a partir daí? Imposição do produtores aos fornecedores


• Trata-se de uma mudança cultural e ideológica: a racionalidade econômica foi
desnudada e se sobrepôs aos valores e outras lógicas/fins/interesses (religiosos,
inclusive) que a ela se sobrepunham e que a mantiveram adormecida
Entre os indivíduos: relações monetárias
Entre as classes: relações de forças
Entre o homem e a natureza: relação instrumental

Surgimento classe de operários-proletários despossuídos


Reduzidos força de trabalho

Quanto “custa” o trabalho?


Como calculá-lo a partir do seu rendimento?

Capitalismo industrial (XVIII) – trabalho assalariado (aos que não dispunham de posses
=
venda / aluguel da força de trabalho
■ Qual lugar o ser humano (como operário e portanto, trabalhador) passa a ocupar?
■ Papel da organização científica do trabalho e suas teorias organizacionais –
imposição de lógicas de controle e dominação
■ Como “domar” o elemento humano? Reduzindo pagamentos o que fez aumentar a
exploração e utilizar o trabalho das crianças

“A racionalização econômica do trabalho [...] foi uma revolução, uma subversão do


modo de vida, dos valores, das relações sociais e das relações com a natureza, uma
invenção, no sentido pleno do termo, de algo que jamais existira antes. A atividade
produtiva desfazia-se de seu sentido original, de suas motivações e de seu objeto para
tornar-se simples meio de ganhar um salário. Deixava de fazer parte da vida para
tornar-se meio de ganhar a vida. O tempo de trabalho e o tempo de viver foram
desconectados um do outro...” (GORZ, 2003, p. 30)
Para pensar...
■ A sociedade moderna ficou conhecida como a sociedade do trabalho, ou seja, que
se institui e se organiza pelo e para o trabalho. (ARAÚJO, 2017, p. 112)

■ Como se construiu a ideia de que o trabalho dignifica o homem?

■ Qual o lugar do trabalho em sua vida? Como foi sua socialização? Quando criança
você pensava em ser um/a trabalhador/a ou em ter uma profissão? Existe
diferença?

■ Atualmente, como você percebe o mercado de trabalho? O que você busca? Você
acredita que poderá se realizar plenamente em sua profissão? Qual o significado de
se realizar de maneira plena a partir de uma ocupação profissional?
Referências

■ ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi. Sociologia.
Volume único. São Paulo: Scipione, 2016.
■ GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012.
■ GORZ, André. Metamorfoses do trabalho: crítica da razão econômica. São Paulo:
Annablume, 2003.
■ OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia: Série Brasil. São Paulo: Ática,
2007.

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