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E X T T EC

CONTRIBUIÇÕES DA
NEUROCIÊNCIA NA
GARANTIA DE DIREITOS
SOCIAIS: O PAPEL DO
NEUROPSICOPEDAGOGO
INSTITUCIONAL EM ESPAÇOS
NÃO ESCOLARES DE
EDUCAÇÃO

CONTRIBUTIONS OF NEUROSCIENCE
IN THE GUARANTEE OF SOCIAL RIGHTS:
THE ROLE OF THE INSTITUTIONAL
NEUROPSYCHOPEDAGOGUE IN NON-SCHOOL
SPACES OF EDUCATION

AUTOR:

Darlene Maria de Betio Pereira


Pedagoga pela Universidade Norte do Paraná. Pós-graduada
em Educação Especial pela Censupeg. Professora no Centro
Educacional Edusu kids; Araranguá, Santa Catarina, Brasil.
E-mail: darlenedebetio@hotmail.com
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BLUMENAU, SC - VOLUME 11, NO 19 | JAN -JUL, 2023
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RESUMO

O presente artigo analisa o papel do neuropsicopedagogo ins-


titucional e as contribuições das neurociências na socialização
de conhecimentos. O método de investigação foi o estudo de
caso nos espaços não escolares de educação. A hipótese que
orientou o trabalho foi: o trabalho desenvolvido pelo neuropsi-
copedagogo institucional auxilia no desenvolvimento cognitivo
e potencializa as habilidades do público-alvo em vulnerabilida-
de social (crianças e adolescentes). Aplicou-se um instrumen-
to de pesquisa ao público-alvo de dois centros de referência
em atendimento a indivíduos em vulnerabilidade social (CRAS
e Casa de Atendimentos Sociais), bem como se aliou este a um
arcabouço teórico fundamentado nas neurociências e no pa-
pel do Neuropsicopedagogo Institucional na Educação Social.
Inferiu-se que a inserção deste profissional em espaços não es-
colares é primordial no sentido de potencializar a reintegração
pessoal, social e educacional do público-alvo através da identifi-
cação, diagnóstico, reabilitação e prevenção das dificuldades e
distúrbios da aprendizagem.

Palavras-chave: Neurociência. Vulnerabilidade Social. Aprendiza-


gem.

ABSTRACT

This article analyzes the role of the institutional


neuropsychopedagogue and the contributions of neurosciences
in the socialization of knowledge. The research method was the
case study in non-school education spaces. The hypothesis that
guided the work was: the work developed by the institutional
neuropsychopedagogue helps in cognitive development and
enhances the skills of the target audience in social vulnerability
(children and adolescents). A research instrument was applied

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to the target public of two reference centers in assistance to


individuals in social vulnerability (CRAS and Casa de Assistência
Sociais), as well as this was allied to a theoretical framework
based on neurosciences and the role of the Institutional
Neuropsychopedagogue in Social Education. It was inferred
that the insertion of this professional in non-school spaces is
essential in order to enhance the personal, social and educational
reintegration of the target audience through the identification,
diagnosis, rehabilitation and prevention of difficulties and
learning disorders.

Keywords: Neuroscience. Social vulnerability. Learning.

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1 INTRODUÇÃO
A Proteção Social Básica de Assistência Social em espaços
não escolares de educação se destina ao desenvolvimento de
potencialidades, aquisições do indivíduo, e ao fortalecimento
dos vínculos comunitários e familiares para prevenir situações
de risco (SILVA et al., 2018). Dessa maneira, o Centro de
Referência e Assistência Social (CRAS) tem como papel principal
a proteção básica das famílias em situação de vulnerabilidade
social1, atendendo, presencialmente, crianças e adolescentes
através do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
(SCFV), com orientação social, participação em oficinas, entre
outras atividades.

A Lei n° 13.431, aprovada em 2017, estabelece o sistema


de garantia de direitos de crianças e adolescentes vítimas
e testemunhas de violência, garantindo-lhes o acesso ao
conhecimento em situação de vulnerabilidade social (BRASIL,
2017). Nessa vertente, entram as neurociências2 e o profissional
da neuropsicopedagogia institucional a fim de corroborar no
ensino e aprendizagem do público-alvo do terceiro setor,
cabendo, ao neuropsicopedagogo, levar o aluno à reintegração
pessoal, social e educacional com a identificação, o diagnóstico,
reabilitação e a prevenção das dificuldades e dos distúrbios da
aprendizagem (FONSECA, 2014).

Evidenciam-se, neste estudo, as contribuições da neurociência


e do Psicopedagogo ou Neuropsicopedagogo no processo
ensino e aprendizagem. Segundo Laura e Silva (2019, p. 01),

1
O conceito de vulnerabilidade social pode ser aplicado a pessoas que viven-
ciam situações de adversidade em seu cotidiano, ou seja, a vulnerabilidade
social pode estar associada a fatores de risco que afetam negativamente as
pessoas e seu cotidiano (KOLLER, 2012).
2
A Neurociência é conceituada como uma área que estuda o sistema nervoso
central (SNC) e suas ações no corpo humano (COSENZA RM, GUERRA LB,
(2011).

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“a Neurociência é considerada a ciência do cérebro, enquanto


a Educação é conhecida como a ciência do ensino e da
aprendizagem e são próximas porque o cérebro participa do
processo de aprendizagem do indivíduo [...]”. Este suporte se
faz necessário para potencializar a aprendizagem no sentido de
minimizar a exclusão escolar e social oriunda de dificuldades
de aprendizagem e, ainda, contribuir no processo de formação
para a cidadania.

Assim, este artigo analisou o papel do neuropsicopedagogo


institucional e as contribuições das neurociências na socialização
dos conhecimentos. O método de investigação foi o estudo
de caso nos espaços não formais de educação. A hipótese
que orientou o trabalho foi: o trabalho desenvolvido pelo
neuropsicopedagogo institucional auxilia no desenvolvimento
cognitivo e potencializando as habilidades do público-alvo em
vulnerabilidade social (crianças e adolescentes).

Portanto, este trabalho está divido em seções. Na primeira


encontra-se a introdução trazendo a justificativa bem como
os objetivos do referido trabalho. A segunda seção faz uma
revisão da literatura acerca de temática elencada, seguida da
terceira seção que traz a metodologia e por fim os resultados e
conclusões.

2 REVISÃO DA LITERATURA
A educação em espaços não escolares necessita ser tão
eficiente quanto a escolar. Ela busca não somente efetivar o
conteúdo programático, mas formar e transformar cidadãos
para a vida, elevando seu potencial, de tal forma a considerar
o seu conhecimento prévio social, ou seja, resultante do meio
externo em que vive, família, escola e outras interações sociais
que resultam na formação caráter e personalidade do ser social.

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Considera-se o que Piaget (1978, p. 6) diz:

[...] o conhecimento não procede, em suas origens, nem


de um sujeito consciente de si mesmo nem de objetos
já constituídos (do ponto de vista do sujeito) que a ele se
imporiam. O conhecimento resultaria de interações que
se produzem a meio caminho entre os dois, dependendo,
portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em decorrência
de uma indiferenciação completa e não de intercâmbio
entre formas distintas.

A sociedade em que o indivíduo está inserido interfere


concomitantemente em seu ato de pensar e de saber. Vendo-o
como ser social, é viável dizer que o sujeito, tendo em vista seus
direitos e deveres, estará mais propenso a efetivar saberes, a
dialogar e a memorizar. A neurociência sobre a efetivação dos
saberes reitera o uso da repetição e a memorização (CORRÊA,
2020). Para Piaget (1998, p. 12), o desenvolvimento psicológico,
que conduz a criança ao pensamento adulto, “[...] não dependeria
unicamente de fatores psico-biológicos hereditários, nem
simplesmente da pressão do meio físico sobre o espírito, mas,
sobretudo, da influência da vida social sobre o indivíduo”.

Paul Natorp (1913), em seu livro Pedagogia Social (considerado


o primeiro escrito no mundo sobre a Pedagogia Social que
vem respaldando filosoficamente produções acadêmicas
e de formação profissional da área) define o conceito que
fundamenta a ideia de Pedagogia Social. A educação do indivíduo
está condicionada socialmente às condições sociais da cultura
e as condições culturais da vida social. O autor ainda reforça
que uma verdadeira Pedagogia Social não pode se esquivar da
pergunta sobre as leis fundamentais da vida e da comunidade.
Para o autor, a palavra “Pedagogia” não significa somente a
educação da criança nas suas formas tradicionais, mas sim se
refere à obra inteira de elevação do homem ao alto da plena
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humanidade. A Pedagogia Social não é a educação do indivíduo


isolado, mas sim do homem que vive em uma comunidade,
porque a sua finalidade não é somente o indivíduo. Portanto, o
autor torna a Pedagogia uma ciência social, atrelada ao Direito
e a Economia, delineando-se uma Pedagogia Social (NATORP,
1913 apud MACHADO, 2012).

Segundo Graciani (2014, p. 20) “[…] a Pedagogia Social se


caracteriza como uma ciência transversal aberta às necessidades
populares que busca se enraizar na cultura dos povos para,
dialeticamente, construir outras possibilidades sem aniquilar
o passado, mas promovendo a sua superação”. A partir dessa
transversalidade, é possível promover superações e condições
libertadoras, que possibilitem potencialidades para que o
indivíduo desenvolva condições afetivas, intelectuais e morais
para explorar o exercício da cidadania durante o processo
de reconstrução da identidade, como protagonista de uma
dimensão participativa.

A partir de então, entende-se que, de acordo com a Constituição


Federal, no Art. 6º, são direitos sociais: a educação, a saúde,
a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, bem como a assistência aos desamparados, ou
seja, é direito de todo ser social ter acesso à educação, saúde,
alimentação etc. O serviço de Proteção Integral a Família (PAIF)
busca garantir esses direitos, porém, no que diz respeito à
garantia do direito às crianças, não é necessário alimentar
apenas seu corpo, quando seu interior já está figurativamente
quebrado, é preciso primeiro “consertá-lo”.

O serviço social apresenta este diferencial através da Educação


Social, tão importante quanto o ensino regular, em que a criança
e o adolescente poderão se expressar e entender qual seu lugar
no mundo – muitas vezes, distorcido por seus familiares.
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No âmbito regular do ensino formal, o docente não


possui aprofundamento do funcionamento dos processos
neurocognitivos engajados para efetivação da aprendizagem do
sujeito, pois, em seu processo formativo inicial das licenciaturas,
esses conceitos não são aprofundados. Dessa forma, a grade
curricular, trabalhada na educação básica, não contempla todos
os subsídios necessários para desenvolver neles habilidades e
competências formais para lidar com conhecimentos que não
são adquiridos espontaneamente com a concepção de que
as “[...] crianças que recebem estimulação cognitiva escolar
adequada ao seu nível de desenvolvimento ampliarão a
capacidade de resolver problemas de forma mais eficiente e
adaptativa”. Isso reforça a necessidade de um olhar mais amplo
para os conteúdos trabalhados em sala de aula (RIBEIRO, 2018).

Portanto, a partir dessa relação entre educação e estimulação


cognitiva, é possível fazer um paralelo entre educação e
reabilitação cognitiva. Quando um cérebro é bem estimulado,
aumenta-se a conexão entre as células nervosas e suas
sinapses, melhorando-se, consequentemente, a memória
e a capacidade de raciocínio. Isso reafirma a capacidade
intelectual e genética do nosso cérebro para a produção
contínua de neurônios (BONI; WELTER, 2016). De tal forma,
isso elucida sobre a Plasticidade Cerebral, referente ao cérebro
e à sua capacidade de modificação ao longo da vida. Por sua
alta plasticidade, o cérebro humano não está à mercê única
e exclusivamente de elementos e fenômenos externos ao
sujeito (ambiente), tampouco se resume a produto de aspectos
biológicos (inatismo). Em contrapartida, relaciona-se a ambos
(COSTA; SILVA; JACÓBSEN, 2019, p. 65).

Segundo Izquierdo (2011, p. 110):

A plasticidade neuronal ou sináptica se denomina


“conjunto de processos fisiológicos, em nível celular e

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molecular, que explica a capacidade das células nervosas


de modificar suas respostas a determinados estímulos
como função da experiência”. Segundo este pesquisador,
a plasticidade se manifesta através da aprendizagem ou
formação de memórias, seus estudos pontuam que nas
memórias mais complexas, as alterações morfológicas das
sinapses envolvidas mudam de forma mais significativa
(IZQUIERDO, 2011, apud MORAIS; MELO; OLIVEIRA, 2015,
p. 110).

Portanto, mesmo que a criança possa ter sofrido algum trauma,


decorrente do meio externo, seu cérebro é perfeitamente capaz
de reestabelecer conexões, recebendo o estímulo adequado,
de tal forma a reestabelecer conexões neurais e recuperar
sua capacidade cognitiva. A aprendizagem não é algo que se
encontra internamente no sujeito, mas que o conhecimento
está disponível nas redes, em bancos de dados, e pode ser
acessado a partir das conexões as quais permitem fazer essas
novas relações (PILONETTO; RODRIGUES; PAZ, 2018). O trabalho
do neuropsicopedagogo em âmbito escolar ou em espaços não
escolares é o de propor exercícios de estímulos auxiliares as
atividades cerebrais. O cérebro, por sua vez, tem as funções
de receber, selecionar, memorizar e processar os elementos
captados pelos sensores, e a atividade de compreender sobre
esse órgão auxilia no trabalho desse profissional.

3 ESTUDO DE CASO: METODOLOGIA


De acordo com Almeida Santos (2016, p. 40, grifos do autor), a
metodologia tem a função de “[...] mostrar ao aluno, pesquisador
iniciante, como andar no ‘caminho das pedras’ da pesquisa,
ajudá-lo a refletir e instigar um novo olhar sobre o mundo:
um olhar curioso, indagador e criativo”. Quanto à natureza da
pesquisa, trata-se de uma pesquisa qualitativa. Do ponto de vista

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de seus objetivos, conforme aponta Gil (2017), trata-se de uma


pesquisa exploratória, pois objetiva a maior familiaridade com
o problema, tornando-o explícito, ou à construção de hipóteses,
bem como do ponto de vista dos procedimentos técnicos. Logo,
o estudo de caso consiste em: “[...] uma interrogação direta das
pessoas cujo comportamento se deseja conhecer” (GIL, 2017,
p. 56).

Elencaram-se espaços não escolares para aplicação de um


instrumento de pesquisa, a fim de investigar o papel do
neuropsicopedagogo institucional em relação à reintegração
social e educacional. Os locais selecionados foram: o SCFV do
CRAS; e outro espaço que presta assistência às crianças em
situação de vulnerabilidade social que é a Instituição Casa da
Fraternidade.

Por se tratar de um grande número de respondentes, optou-se


pela aplicação de um questionário com 15 questões (sendo 9
de múltipla escolha e 6 descritivas) a 73 crianças e jovens que
frequentam os locais selecionados. Por meio do estudo de caso,
é possível de identificar qual(quais) a(s) maior(es) dificuldade(s)
de aprendizagem de crianças e jovens usuárias do serviço
ofertado pelo terceiro setor. Todavia, os questionamentos
transitaram entre a aprendizagem e as dificuldades encontradas
pelo público-alvo, principalmente em casos de vulnerabilidade
social.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Antes de realizar o questionário, ocorreu uma roda de conversa
com os participantes, na qual eles próprios relataram, em sua
maioria: ter repetido o ano ou ter ficado em (sic) “recuperação”
devido terem mudado muitas vezes de casa, por morarem de
aluguel ou por já terem sido acolhidos e afastados de seus

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irmãos/família, por algum período de tempo, sendo levados a


trocar de escola e sofrer com a mudança de professores e de
conteúdo. Alguns relataram, ainda, ter que sair para trabalhar
com seus pais. Dessa forma, não tinham tempo de realizar as
lições de casa ou de estudar para provas.

O instrumento aplicado nas duas instituições selecionadas


abordou assuntos relacionados ao ambiente escolar e domiciliar,
enfocando o período em que estudam, se se sentem confortáveis
no período no qual foram matriculados, qual a matéria favorita
em aula, e a que menos se identificam (entendendo quais
situações causam maior desprazer, interferindo seriamente nas
questões de aprendizagem). Entre os participantes, a grande
maioria dos respondentes não se identificam com a Língua
Portuguesa, por exemplo, (sic) “adora Matemática”, tendo sua
atenção e memória voltada ao raciocínio lógico e não para
questões de interpretação e de produção textual.

Alguns outros aspectos foram abordados, como qual


sentimento/emoção lhes faz perder o ânimo de estudar/
ir para escola. Dentre as diversas respostas, as mais comuns
citadas foram que: tinham medo de fazer provas, de errar e os
professores brigarem; ou dos colegas rirem; tinham medo de
sofrer bullying; e, ainda, medo de (sic) “apanhar” de seus pais.
Essas, aliás, são sensações que podem lhes causar bloqueio
emocional e de aprendizagem (MACÊDO, 2019, p.10). Algumas
crianças relataram que seus pais exigem ótimas notas, porém,
em seu tempo livre, preferem ficar no celular a estudar.

Foi observado, entre os respondentes, que cerca de 70% teve


dificuldade para a leitura e interpretação das questões. Dois
adolescentes de 14 anos ainda não estavam alfabetizados, e
alguns adolescentes entre 11 e 15 anos tiveram muita dificuldade
em entender questões como “Você é filho único?” ou ainda “O
que gosta de fazer quando não está escola?”. Portanto, estes
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demonstraram, segundo a neurociência, dificuldade cognitiva


de atenção e memória, sem contar a defasagem no quesito
alfabetização e relação entre o “Eu e o Outro” (LAURA; SILVA,
2019, p. 22).

Em suma, as crianças e os jovens da pesquisa incitaram sobre


como queriam ter parques e bibliotecas de livre acesso em
suas escolas, ou, até mesmo, em espaços não escolares, já que
pouco possuem tempo de lazer e descanso. Considerando que
a maioria dos infantes questionados são filhos com múltiplos
irmãos, precisam tomar conta dos menores enquanto os pais
trabalham, tendo que (sic) “dar conta” deles mesmos, seus
afazeres e deveres de casa e, ainda, dos irmãos menores. Dessa
maneira, não conseguem dar a devida atenção a nenhuma de
suas tarefas, exigidas por seus responsáveis.

Dentre seus afazeres favoritos os de maior destaque foram:


mexer no celular/computador, brincar com os irmãos, jogar
videogame e passear com a família. Sendo assim, existe uma
necessidade notória de um atendimento neuropsicopedagógico
no espaço não escolar, haja vista que as crianças e jovens que
passam por situação de vulnerabilidade social acabam tendo,
em sua maioria, comprometimento em seu desenvolvimento
cognitivo, principalmente em questões de alfabetização,
de atenção e de memória. Portanto, em contato com
neuropsicopedagogo, este infante terá maiores possibilidades
de aprendizagem, encontrando-se com formas alternativas de
aprendizagem, que não do ensino formal, regular.

Conforme descrito e ainda com mais detalhes, seguem os


resultados de algumas das questões:

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Fonte: autora (2023)

Fonte: autora (2023)

Dentre os participantes respondentes do questionário, 49,3%


eram meninas e 47,0% meninos.

Fonte: autora (2023)

Apenas 6,8% dos participantes são filhos únicos, os demais


todos possuem mais de um irmão.

Fonte: autora (2023)

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Em sua maioria, os participantes relatam ter que cuidar dos


irmãos menores, por serem de família com múltiplos filhos.

Fonte: autora (2023)

Crianças a partir de 06 anos responderam ao questionário, a


maioria entre 09 e 11 anos; a minoria é adolescente com mais
de 15 anos.

Fonte: autora (2023)

Dentre os respondentes, a grande maioria relata que gostaria


de frequentar um espaço dedicado à aprendizagem, onde
o ensino não fosse no formato regular, tradicional, mas que
fosse dedicado a suas potencialidades. Também relataram
a importância de um ambiente onde tivessem prazer em

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estudar e poder dedicar todo seu tempo a si próprio, sem ter


a preocupação de dar conta dos afazeres domésticos ou de ter
que cuidar de seus irmãos menores.

Conforme representações dos gráficos e referencial citado,


entende-se que a neuropsicopedagogia em espaços não
escolares não é tão somente necessária como essencial,
pois defasagens na aprendizagem podem resultar em danos
irreversíveis na formação de cidadãos.

O profissional deverá preparar um planejamento de acordo com


as potencialidades dos indivíduos, levando-se em consideração
o ambiente em que estão inseridos, necessitando trabalhar em
equipe multidisciplinar. Portanto, será, assim, uma forma de
terapia, em que as crianças e jovens terão liberdade de expor
seus sentimentos e poderão tirar suas dúvidas em quaisquer
aspectos.

A avaliação coletiva ou individual deve acontecer através de


observação do comportamento. Esta pode ocorrer quando
os sujeitos se encontram no espaço coletivo, porém deve ser
concluída individualmente, cabendo, ao profissional, anotar
as observações para aplicar intervenções relevantes para o
paciente.

A escola tem papel de suma importância na formação do


pensamento crítico de cada aluno, deve andar junto com
espaços não escolares de educação e incluir profissionais
psicopedagogos ou neuropsicopedagogos. Afinal, não é
relevante que os conhecimentos entrem em conflito interno no
aluno, mas que ele saiba que ambos os espaços servem para
acolhê-lo, instruí-lo e estimulá-lo a ser ele próprio, deixando de
lado toda forma de preconceito.

O neuropsicopedagogo atuará concomitantemente à uma


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equipe multiprofissional formada por Pedagogo da Assistência


Social (responsável por planejar os assuntos e temas que os
educadores sociais trabalharão), Educador Social (atua em
sala diretamente com os usuários do ambiente) e demais
Técnicos de Referência que sejam atuantes em espaços não
escolares. Ou seja, seus planejamentos de intervenção podem
acontecer de forma integrada e inclusiva, em que tanto o
neuropsicopedagogo ou psicopedagogo quanto o Pedagogo
e o Educador Social terão ciência do nível de desempenho e
desenvolvimento dos usuários atendidos. Utilizarão, ainda,
do auxílio Psicológico que existente no terceiro setor. Então, a
equipe multiprofissional terá uma porcentagem muito maior
de êxito na aprendizagem, não somente do ensino regular, mas
também quanto aos temas recorrentes tais quais a erradicação
do trabalho infantil, bem como da violência sexual, ou violência
contra as mulheres.

Ao neuropsicopedagogo cabe encaminhar estas crianças a


profissionais adequados, como psicólogos ou psiquiatras,
para trabalhar o emocional, fonoaudiólogos, para atuar nas
questões relacionadas à fala e à comunicação, e assim por
diante; todos com um olhar voltado à aprendizagem e para
o encaminhamento feito pela rede socioassistencial. Essa
equipe multiprofissional deverá agir de forma estruturada
e concomitante na intencionalidade de promover o
autoconhecimento e a aprendizagem de crianças vulneráveis,
que, por terem seus direitos violados, não conseguem efetivar o
conhecimento durante seu período escolar, devido à defasagem
cerebral cientificamente comprovada.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a pesquisa realizada, um grande número de
crianças respondentes apresenta situação de vulnerabilidade

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social e, com isso, percebe-se a importância de um profissional


da neuropsicopedagogia em espaços não escolares. Com sua
atuação em equipe multiprofissional, o neuropsicopedagogo
agirá concomitantemente aos demais profissionais da
instituição, buscando sempre promover o bem-estar das
crianças e jovens, levando em conta seu histórico familiar, quais
atividades pratica e gosta de realizar, quais ambientes externos
frequenta, com quem tem contato diário, qual sua roda de
amigos/conversa.

As crianças precisam, além de ter uma boa educação, saúde,


segurança, também de amor e atenção, principalmente por
conta da plasticidade cerebral e sua capacidade de reestabelecer
conexões, ou seja, através do estímulo adequado, instaurar
o senso cognitivo nas crianças, efetivando, dessa forma, a
aprendizagem.

Crianças em vulnerabilidade social, de acordo com a pesquisa


realizada, possuem maiores dificuldades de aprendizagem.
Embasados nessa perspectiva, salienta-se que todo cérebro
é capaz de aprender, porém, necessita ser estimulado, e não
subestimado e rejeitado. Sendo este, então, o papel principal
do neuropsicopedagogo em espaços não escolares: identificar
a potencialidade dos indivíduos, através de um planejamento
criado em conjunto com os demais profissionais. Portanto,
o neuropsicopedagogo dedica sua atenção a uma atuação
baseada em conhecimento dos processos cognitivos e, a partir
disso, intenta suprir as possíveis defasagens educacionais.

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Elaboração de Dissertação. Florianópolis: Universidade Federal de
Santa Catarina – UFSC, 2011.

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BLUMENAU, SC - VOLUME 11, NO 19 | JAN -JUL, 2023
E X T T EC

CONTRIBUIÇÃO DA AUTORA

DMBP é graduada em Pedagogia Neuropsicopedagoga


Institucional e Especialista em Educação.

Recebido em: 19/12/22 Aceito em: 02/03/23

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REVISTA DE EXTENSÃO TECNOLÓGICA - IFC

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