Você está na página 1de 15

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E DAS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Castro, Genilda Maria da Silva1


Sousa, Edna Maria de2

RESUMO
Este artigo relata a utilização de brincadeiras como ferramenta lúdica na Educação
Infantil, visando uma aprendizagem significativa que valoriza os aspectos
socioculturais das crianças, bem como seus direitos constitucionais. A pesquisa
buscou observar a maneira como o brincar/as brincadeiras são inseridas no cotidiano
escolar e como estas contribuem para o processo de ensino-aprendizagem no
desenvolvimento da construção de novos saberes. Trata-se de uma pesquisa
bibliográfica, de natureza aplicada, abordagem qualitativa, descritiva. Foi possível
perceber que brincadeiras mediadas, empregadas de forma planejada e orientada
contribui de maneira positiva, uma vez que auxiliam no desenvolvimento integral das
crianças, favorecendo os aspectos psicológicos, cognitivo, físico, motor, social, sobre
tudo na consolidação dos seus valores éticos.

Palavras-chave: Brincadeiras mediadas. Ludicidade. Valorização infantil. Direitos.

ABSTRACT
This article reports the use of play as a playful tool in early childhood education, aiming
at a meaningful learning that values the sociocultural aspects of children, as well as
their constitutional rights. The research aimed to observe the way the play is inserted
in the daily school and how they contribute to the teaching-learning process in the
development of the construction of new knowledge. It is a bibliographical research, of
applied nature, qualitative, descriptive approach. It was possible to realize that
mediated play, used in a planned and oriented way, contributes positively, since it
helps in the integral development of children, favoring the psychological, cognitive,
physical, motor, social aspects, above all in the consolidation of their ethical values.

Keywords: Mediated games. Playfulness. Child valorization. Rights

1
Pedagoga. Pós-graduanda em Psicopedagogia Clinica e Institucional pela Faculdade de Ciências
Humanas Esuda – Campus Recife. E-mail: genildagsilva23@hotmail.com.
2
Professora, Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
1
1 INTRODUÇÃO

O presente artigo aborda a temática do brincar e das brincadeiras e suas


possíveis implicações no processo de ensino-aprendizagem dos alunos da Educação
Infantil. Esse tema não é atual, mas é relevante na medida em que traz consigo a
importância de refletir e entender a brincadeira como um canal para promoção da
aprendizagem efetiva, na medida que influencia capacidades como a atenção, a
imaginação, a memória e o raciocínio das crianças.
Dentre os principais atrativos para a crianças, o brincar é fundamental, além de
ser um direito. É importante que em todo o período que abrange a educação infantil
as brincadeiras sejam introduzidas. Kishimoto (2010, p. 1) acrescenta: “o brincar é
uma ação livre, [...]; dá prazer, [...] relaxa, envolve, ensina regras, linguagens,
desenvolve habilidade e introduz a criança no mundo imaginário”. Uma das formais
mais comum ao comportamento infantil é o brincar, sendo condição essencial ao
desenvolvimento de qualquer criança.
Nesse cenário, é durante as brincadeiras que se oportuniza as crianças o poder
de tomar decisões, expressar seus sentimentos e seus valores, além de se conhecer
como sujeito atuante, conhecer aos outros e o mundo. Estimula-se a partilha, a
expressão de sua singularidade e identidade por meio de suas expressões corporais,
sensoriais, pelas diversas formas de linguagem, na busca pela solução de problemas,
bem como a criatividade (KISHIMOTO, 2010).
O brincar e as brincadeiras estão presente na vida da criança, desde a sua
vivência familiar as atividades diversas realizadas por ela, não podendo estar
dissociado do processo educativo, viabilizando o processo educacional e de formação
cidadã.
Para atingir o objetivo principal da pesquisa, no caso, compreender quais as
implicações do uso das brincadeiras no ensino da Educação Infantil, foram seguidos
alguns passos. A princípio, contextualiza-se o leitor acerca do que é a ludicidade e
sua ligação com o processo de aprendizagem. Em seguida, expõe-se a importância
das brincadeiras para as crianças, além da visão legal sobre o ato de brincar. E por
fim, a partir da análise dos pontos anteriores, estabelecem-se elos e associações

2
entre o que diz a literatura específica da área com exemplo da aplicabilidade na prática
educacional.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A ludicidade e a aprendizagem

Visto que a brincadeira é uma ação inata à vida infantil, onde sua realização
promove a satisfação e estimula o prazer a quem a pratica, a ludicidade precisa ser
inserida de forma significativa para que os alunos possam construir sua identidade,
agucem sua criatividade, possam compreender sua realidade (MENDES, 2014).
As atividades lúdicas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem auxiliam
na construção de uma prática que integra e emancipa, uma que vez favorece a
aquisição de conhecimento do educando. O lúdico surge como estratégia pedagógica
que serve para estimular a gênese de conhecimento humano, a progressão de
diferentes habilidade, e como ferramenta de crescimento pessoal (FREITAS & SALVI,
2007).
O conceito epistemológico da palavra lúdico, tem sua origem na palavra latina
“ludus” que significa “jogo”. Não estando confinado a apenas este conceito, o lúdico
acompanhou as pesquisas acerca de Psicomotricidade. O lúdico assumi um traço que
extrapolam as demarcações do simples ato de brincar (FREITAS & SALVI, 2007).
Segundo Lucci (1999):

A afirmação central da valorização do brincar encontra-se em Santo Tomás


de Aquino: Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae – o
brincar é necessário para a vida humana. Esta recreação pelo brincar – e a
afirmação de Tomás pode parecer surpreendente à primeira vista – é tanto
mais necessária para o intelectual, que é por assim dizer, quem mais
desgasta as forças da alma, arrancando-a do sensível. E sendo os bens
sensíveis naturais ao ser humano, “as atividades racionais são as que mais
querem o brincar”. Daí decorre importantes consequências para a filosofia da
educação; o ensino não pode ser aborrecido e enfadonho: o fastidium é um
grave obstáculo para a aprendizagem. (LUCCI, 1999, p. 3).

Ainda para Luckesi (2000, p. 97) a ludicidade se dá por atividades que


proporcionam “experiências de plenitude e envolvimento por inteiro, dentro de padrões
flexíveis e saudáveis”. Por sua vez, as atividades que envolvem um caráter de

3
ludicidade podem ser analisadas segundo seus objetivos de acordo com o nível, etapa
e modalidade de ensino:

a) Objetivos das atividades lúdicas na Educação Infantil: visam o


desenvolvimento das áreas psicomotoras, perceptivas, de atenção, raciocínio
e estimulação para o contato com os objetos; b) Objetivos das atividades
lúdicas no Ensino Fundamental: visam desenvolver no aluno as suas
potencialidades intelectuais, físicas e criativas, permeadas pelo
desenvolvimento social e interpessoal; c) Objetivos das atividades lúdicas no
Ensino Médio: visam a participação, a solidariedade, a cooperação, o respeito
do aluno a si mesmo e ao outro, a análise crítica, a reflexão, a motivação e a
participação em sala de aula e o prazer de aprender a aprender; d) Objetivos
das atividades lúdicas na educação de jovens e adultos (EJA): visam uma
aprendizagem adequada à realidade do aluno e da sociedade em que está
inserido; e) Objetivos das atividades lúdicas para a Terceira Idade: visam
promover o conhecimento e a convivência com diferentes colegas de maneira
natural, espontânea e responsável (FREITAS & SALVI, 2007, p. 7).

Ainda para Silva et al. (2017):

A utilização do lúdico no processo ensino-aprendizagem permite uma


aprendizagem prática e divertida, tendo em vista que as crianças não são
meros seres passivos, mas sujeitos ativos do conhecimento. O professor
assume o papel de facilitador do conhecimento e a criança exerce a função
de agente no desenvolvimento de sua própria aprendizagem. A interação e a
socialização proporcionadas pelo lúdico como ferramenta pedagógica
adentra para a melhoria do processo educacional, pois brincando a criança
trabalha a psicomotricidade, vivencia momentos de fantasia, de faz- deconta,
como também momentos de realidade, de autoconhecimento e conhecimento
do outro, tudo numa mesma situação. Desse modo, brincando a criança
aprende e prepara-se para a fase adulta, quando a convivência harmoniosa
com o outro é pressuposto de saúde social (SILVA et al., 2017, p. 3).

2.2 A importância das brincadeiras para as crianças e sua utilização no cenário


escolar

Um dos períodos cruciais para formação do ser humano é a Educação Infantil,


este nível educacional possui alunos com características e necessidades específicas.
Logo, é essencial valorizar as vivências por meio de atividades apropriadas ao cenário
infantil (lúdicas e que estimulem a imaginação), garantindo assim o interesse e a
motivação dos alunos. Brincar permite as crianças entrar em um mundo imaginário
onde tudo pose ser possível. A brincadeira permite à criança a construção de novas
formas de interagir com o mundo, com outros e consigo (MENDES, 2014).

4
Olusoga (2011, p. 75) acrescenta que “a teoria social-cultural apresenta o
desenvolvimento e o brincar das crianças como processos fundamentalmente sociais,
sendo essencial manter a identidade cultural pela oferta de brincadeiras às crianças”.
Assim, faz-se necessário ofertar às crianças um ambiente estimulante, materiais
adequados e espaços para interagirem e desenvolverem competências.
Neste cenário, é de fundamental importância a participação dos professores,
como agente que valorizam as brincadeiras e colocam em prática com as crianças.
No momento em que a criança brinca, ela estabelece uma relação com seu corpo, e
expressa por meio de movimentos e gestos que a representam, que representa seu
entendimento e percepção de mundo (MENDES, 2014).
O brincar e as brincadeiras promovem sociabilidade, uma vez que possibilita
estreitar laços afetivos, gerando interação e integração ao grupo. Serrão (1999)
endossa:

É importante o papel dos professores para aplicar o conhecimento do valor


do brincar, agindo na prática, com as crianças. Brincando, a criança
representa a relação do corpo e movimento, traduzido e o expressa através
de gestos, e este por sua vez, relaciona-se com a apresentação, a
compreensão e a percepção do mundo que a criança possui. A sociabilidade
das brincadeiras e jogos permitem que se crie laços emocionais, integração
produtiva e unidade do grupo (SERRÃO, 1999, p. 99).

Por terem características diversas, as escolhas pelas diversos tipos de


brincadeiras integra seu crescimento pessoal, levando em consideração seus desejos,
vontades, medos, capacidades e potenciais. Oliveira et al. (2010) corroboram com a
temática:

A brincadeira é tão importante para o desenvolvimento humano que até


mesmo quando ocorrem brigas ela contribui para o crescimento e a
aprendizagem. Negociar perspectivas, convencer o opositor, conquistar
adesões para uma causa, descer, abrir mão, lutar por um ponto de vista, tudo
isso ensina a viver (OLIVEIRA et al., 2010, p. 119).

O ato de brincar é o que distingue o mundo das crianças ao dos adultos. Ao


dissociar o mundo adulto do infantil, os educadores, por sua vez, utilizam o lúdico na
educação, por reconhecer a importância das brincadeiras na vida das crianças, sobre
tudo nas que integram a educação infantil. Como principal atividade na infância, a
5
brincadeira é a forma primordial pela qual as crianças iniciam seu processo de
aprendizagem (MENDES, 2014). A brincadeira para Vigotsky (1984):

Cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-a a desejar, relacionando


os seus desejos a um “eu” fictício, ao seu papel na brincadeira e suas regras.
Dessa maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas pelo
brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação e
moralidade (VIGOTSKY, 1984, p.114).

Logo, a brincadeira é a oportunidade de aprendizagem ainda na infância,


visando a aquisição de regras que serão levadas por toda a vida. O brincar deve ser
levado a sério, pois requer atenção e concentração (Macedo, 2005).
Se as brincadeiras forem desenvolvidas pela utilização de brinquedos, alguns
aspectos devem ser considerados: quanto a durabilidade, atratividade, se é adequado
e apropriado ao uso e a idade; não deve estimular o preconceito (seja de gênero,
classe ou etnia) e a violência, além de poder incluir brinquedos confeccionados pelos
próprios alunos, pais e professores (KISHIMOTO, 2010).
Kishimoto (2010) salienta que devemos considerar:

TAMANHO: o brinquedo, em suas partes e no todo, precisa ser duas vezes


maior e mais largo do que a mão fechada da criança (punho);
DURABILIDADE: o brinquedo não pode se quebrar com facilidade ― vidros
e garrafas plásticas são os mais perigosos; CORDAS E CORDÕES: esses
dispositivos podem enroscar-se no pescoço da criança; BORDAS
CORTANTES OU PONTAS: brinquedos com essas características devem ser
eliminados; NÃO TÓXICOS: brinquedos com tintas ou materiais tóxicos
devem ser eliminados, pois o bebê os coloca na boca. NÃO INFLAMÁVEL: é
preciso assegurar-se de que o brinquedo não pega fogo; LAVÁVEL, FEITO
COM MATERIAIS QUE PODEM SER LIMPOS: essa recomendação se aplica
especialmente às bonecas e brinquedos estofados; DIVERTIDO: é
importante assegurar que o brinquedo seja atraente e interessante
(KISHIMOTO, 2010, p. 2).

Além dos cuidados quanto os aspectos dos brinquedos, as brincadeiras quando


inseridas no cenário educacional não podem ser aplicadas de forma livre e sem
intenção. Nas Diretrizes Curriculares da Educação Infantil, apresenta como eixos
norteadores das práticas pedagógicas as interações e a brincadeira, retratados no Art.
9º (BRASIL, 2009; KISHIMOTO, 2010).
Quando mediadas, as brincadeiras permitem a interação com a professora
tornando o ato mais rico, complexo e de qualidade; a interação com outras crianças
garantindo a produção e recriação do repertório infantil de forma lúdica; com
6
brinquedos e matérias por meio da diversidade das formas, texturas, cores e outras
especificidades que auxiliam a criança na construção da sua concepção de mundo;
entre a criança e o ambiente, a organização do ambiente físico reflete na concepção
que a instituição oferta a criança.

2.3 O olhar legal acerca do brincar

A Lei N 8.069 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA


(BRASIL, 1990), apresenta abordagem que serve de subsídio ao tema proposta desta
pesquisa. Em seu Art. 3º, diz:

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes


à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990,
p.1).

Cabe também ao processo educativo oportunizar e facilitar o processo


educacional do aluno. No Capítulo II, do Direito à Liberdade, ao Respeito e à
Dignidade, o Art. 16º, nos incisos: “II – opinião e expressão; IV – brincar, praticar
esportes e divertir-se”, deixam claro que as brincadeiras são ferramentas que integram
o direito constitucional da criança na educação infantil (BRASIL, 1990).
Por fim, o Art. 53º apresenta que “a criança e o adolescente têm direito à
educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício
da cidadania e a qualificação para o trabalho”, acrescenta-se no inciso “II – direito de
ser respeitado por seus educadores” (BRASIL, 1990).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996), por
sua vez, também estabelece princípios norteadores da educação nacional, em seu
Art. 3º, nos incisos “II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura,
o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e concepções pedagógicas
e IV – respeito à liberdade e apreço a tolerância”.
A as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009)
em seu Art. 7º versa sobre a proposta pedagógica das instituições de Educação
7
Infantil, diz em seu inciso: “V - construindo novas formas de sociabilidade e de
subjetividade comprometidas com a ludicidades [...]”. Acrescenta em seu Art. 8º:

A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como


objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e
articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens,
assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao
respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras
crianças (BRASIL, 2009, p.2).

Logo, inserir brincadeiras no processo de ensino das crianças como ferramenta


mediadora, é mais que presar pelo processo educativo, é sobre tudo respeitar seu
direito constitucional.

3 METODOLOGIA

O foco desta pesquisa foi compreender de que forma o brincar auxilia no


processo de ensino-aprendizagem da Educação Infantil. Para tal, foi utilizada uma
investigação de caráter exploratório e de abordagem qualitativa, que como explica
Weber (1970) tem o intuito de atingir precisamente o conhecimento de um fenômeno
histórico, em seu significado e singularidade. Aliado a uma argumentação teórica para
fundamentar as análises.
A pesquisa se apresenta como um instrumento teórico-metodológico para que
se construa conhecimento (DEMO, 2000). Outro ponto que coloca Luna (2000), é que
a pesquisa visa a gênese do saber, com relevância teórica e social, estudo este que
busca preencher uma lacuna no conhecimento disponível em uma determinada área
de saber.
No cenário acadêmico, uma das pesquisas mais utilizadas é a pesquisa
bibliográfica, que consiste em uma das etapas da investigação em busca do
conhecimento científico. Essa requer tempo, dedicação e atenção por parte de quem
resolve seguir por este caminho, visto se tratar de um trabalho minucioso.
Portanto, a presente investigação está baseada na pesquisa bibliográfica, que
Pizzani et al. (2012) justificam como:

8
A revisão da literatura sobre as principais teorias que norteiam o trabalho
científico. Essa revisão é o que chamamos de levantamento bibliográfico ou
revisão bibliográfica, a qual pode ser realizada em livros, periódicos, artigo de
jornais, sites da Internet entre outras fontes (PIZZANI et al., 2012, p.2).

Gil (2002, p. 48) enfatiza que “a pesquisa bibliográfica é realizada a partir de


material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Para
a construção da presente pesquisa recorreu-se a literaturas diversas e referências que
facilitaram na construção do conhecimento sobre novas tendências pedagógicas, o
uso da ludicidade na educação e o processo de aprendizagem mediado por
brincadeiras. Logo, foram utilizados: revistas, sites (Scielo Brasil, Google Acadêmico,
Novas Escola), trabalhos acadêmicos, artigos científicos (com os descritores:
ludicidade e brincadeiras na educação) e bibliografias relacionadas à temática.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para as crianças o ato de brincar faz parte do campo das necessidades, é neste
momento que elas expressa os mais diversos sentimentos (alegrias, tristezas,
autoconfiança), além do senso de responsabilidade, respeito, cuidado, limites. O
brincar abre espaço para diversidade de pensamentos e ideias, auxilia na construção
de senso comum, para consolidar a interação com o outro (DACROCE, 2015). Iremos
observar exemplos de como o brincar e as brincadeiras contribuem para o processo
de ensino-aprendizagem na educação infantil.
Santos & Pessoa (2015) realizaram a pesquisa na brinquedoteca da UFPB,
fazendo observação física do espaço, bem como buscando aparato na literatura
específica da área. Entrevistaram as brinquedistas e a coordenadora. Por meio do
trabalho desenvolvido, puderam observar que as brincadeiras são fundamentais para
o processo de desenvolvimento das crianças, mesmo que por vezes as escolas não
valorizem esta ferramenta pedagógica.
Para as autoras foi possível desmistificar conceitos como:

[...] Entendemos as diferenças entre as brincadeiras, jogos e brinquedos.


Entendemos o brincar como uma condição essencial para o desenvolvimento
da criança. Pois, através do brincar a criança se conhece melhor e interage
com a ambiente que vive, desenvolve suas habilidades, sua inteligência,

9
imaginação e criatividade. Brincar é uma experiência única, facilita no
processo de socialização, devido às situações que elas vivenciam com as
outras crianças; brincar é uma atividade lúdica e prazerosa (Santos & Pessoa,
2015, p. 32).

Dacroce & Frazão (2016) desenvolveram sua pesquisa em um centro municipal


em Sinop no Mato Grosso - MT. Durante a rotina de observação, estava em
andamento o projeto “Valorização do ser humano” que tinha por objetivo a formação
de melhores cidadão, por meio do estímulo aos valores éticos essenciais a vida.
Segundo as autoras:

A docente aproveitava todos os momentos para construir brincadeiras e jogos


juntamente com as crianças e seguia a todo instante orientando e intervindo
de forma lúdica, no intuito de favorecer a construção desses novos saberes
dentre eles estavam elencados: Respeito, Responsabilidade, Disciplina,
Compaixão, Perseverança, Honestidade, Trabalho, Cuidado, Justiça,
Generosidade, Lealdade, Gratidão, Confiança, Dignidade, Amizade,
Organização, Otimismo (Dacroce & Frazão, 2016, p.119).

Conforme a pesquisa das autoras, o brincar e as brincadeiras quando mediada


de forma lúdica:

O lúdico favoreceu a construção de conceitos de regras psicossociais, bem


como nos aspectos físicos e cognitivos. Assim, o lúdico veio proporcionar um
desenvolvimento sadio e harmonioso para as crianças, mas, é preciso saber
entrar no mundo da criança, no seu sonho, no seu jogo e, a partir daí, jogar
com ela. Quanto mais espaço lúdico as unidades escolares e a sociedade
proporcionar, mais alegre, espontânea, criativa, autônoma e afetiva a criança
será. Assim sendo, se propõe, aos educadores infantis, transformar o brincar
em trabalho pedagógico para que experimentem o verdadeiro significado da
aprendizagem com desejo e prazer. É fascinante ver como as crianças se
evolvem em um mundo imaginário e faz deste mundo encantador, para isso
buscam-se novas maneiras de ensinar por meio do lúdico uma educação de
qualidade que consiga ir ao encontro dos interesses e necessidades da
criança (Dacroce & Frazão, 2016, p. 125-126).

Ao brincar a criança se torna mais independente, estimula sua sensibilidade,


desenvolvem habilidades, exercita a criatividade, imaginação, inteligência, aprende
regras e limites, diminui a agressividade, e desenvolve sua adaptação social (Dacroce
& Frazão).
Medeiros (2017) analisou a importância da brincadeira no contexto escolar em
uma escola municipal de Tenente Laurentino Cruz no Rio Grande do Norte-RN. A
autora realizou entrevista a uma das docentes da unidade, sobre quais são as

10
contribuições que as brincadeiras podem proporcionar para o desenvolvimento
aprendizagem de seus alunos.
Segundo a docente entrevistada:

A brincadeira promove a aprendizagem e faz com que aprendam com


qualidade. Pois, quando há a junção da brincadeira com o conceitual a
criança vai aprender melhor. Tendo em vista que está contribui de forma em
que as crianças se envolvem de uma maneira prazerosa, provocando o
desenvolvimento da aprendizagem das crianças (MEDEIROS, 2017, p. 21).

Além disto, quando indagada sobre a relação das brincadeiras com os demais
recursos pedagógicos, observa-se que a docente tem noção de que a criança aprende
na medida que brinca. Reconhecendo as brincadeiras como atividade significativa no
processo de aprendizagem. A docente acrescenta que as crianças reagem de maneira
participativa quando há momentos de brincadeiras, quando diz:

De fato a brincadeira tem grande influência nesse processo, pois possibilita


um desenvolvimento interacional, contribuindo para o respeito com os outros
coleguinhas. É através dela que nós professores podemos perceber a
maneira de ser de cada criança. Brincando ela vai se desenvolver e crescer
cognitivamente e socialmente (MEDEIROS, 2017, p. 22).

Por meio do discurso da docente, percebe-se que as brincadeiras contribuem


para o desenvolvimento tanto cognitivo quanto social das crianças, e que a
colaboradora compreende a importância dessa ferramenta pedagógica.
As crianças possuem a necessidade de descobrir o mundo brincando, por meio
de atividades que dê liberdade, que proporcione prazer a elas, pois assim irão de
sentir livres para usar sua imaginação, expressar fantasias, emoções, anseios e
experiências, é por meio destes instrumentos que elas entram em contato e assimilam
o real do imaginário, realizando um contato com o meio social (CARMO et al., 2017).
Por fim, Kishimoto (2010) contribui com uma série de sugestões de brinquedos
e materiais que podem ser utilizados, mediante a idade dos alunos, na educação
Infantil.

IDADES SUGESTÕES DE BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA EDUCAÇÃO


INFANTIL

11
Bebês Chocalhos, móbiles sonoros, sinos, brinquedos para morder, bolas de 40
(0 a 1 ano e cm e menores, blocos macios, livros e imagens coloridos, brinquedos de
meio) empilhar, encaixar, espelhos.
Objetos com diferentes texturas (mole, rugoso, liso, duro) e coloridos, que
fazem som (brinquedos musicais ou que emitem som), de movimento
(carros e objetos para empurrar), para encher e esvaziar.
Brinquedos de parque. Brinquedos para bater. Cesto com objetos de
materiais naturais, metal e de uso cotidiano. Colcha, rede e colchonete.
Bichinhos de pelúcia. Estruturas com blocos de espuma para subir, descer,
entrar em túneis.
Crianças Túneis, caixas e espaços para entrar e esconder-se, brinquedos para
pequenas empurrar, puxar, bolas, quebra-cabeças simples, brinquedos de bater,
(1 ano e livros de história, fantoches e teatro, blocos, encaixes, jogos de memória e
meio a 3 de percurso, animais de pelúcia, bonecos/as, massinha e tinturas de dedo.
anos e 11 Bonecas/os, brinquedos, mobiliário e acessórios para o faz de conta.
meses) Sucata doméstica e industrial e materiais da natureza. Sacolas e latas com
objetos diversos de uso cotidiano para exploração. TV, computador,
aparelho de som, CD.
Triciclos e carrinhos para empurrar e dirigir. Tanques de areia, brinquedos
de areia e água, estruturas para trepar, subir, descer, balançar, esconder.
Bola, corda, bambolê, papagaio, perna de pau, amarelinha. Materiais de
artes e construções.
Tecidos diversos. Bandinha rítmica
Crianças Boliches, jogos de percurso, memória, quebra-cabeça, dominó, blocos
Maiores lógicos, loto, jogos de profissões e com outros temas. Materiais de arte,
Pré- pintura, desenho. CD com músicas, danças. Jogos de construção,
escolares brinquedos para faz de conta e acessórios para brincar, teatro e fantoches.
(4 e 5 anos Materiais e brinquedos estruturados e não estruturados. Bandinha rítmica.
e 11 meses) Brinquedos de parque. Tanques de areia e materiais diversos para
brincadeiras na água e areia.
Sucata doméstica e industrial, materiais da natureza. Papéis, papelão,
cartonados, revistas, jornais, gibis, cartazes e folhas de propaganda.
Bola, corda, bambolê, pião, papagaio, 5 marias, bilboquê, perna de pau,
amarelinha, varetas gigantes.
Triciclos, carrinhos, equipamentos de parque.
Livros infantis, letras móveis, material dourado, globo, mapas, lupas,
balança, peneiras, copinhos e colheres de medida, gravador, TV, máquina
fotográfica, aparelho de som, computador, impressora.
Fonte: Kishimoto (2010, p. 17-18).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O equívoco que muitos docentes cometem por não integrar ao cotidiano


educacional as brincadeiras, pode estar em não refletirem sobre o brincar de forma
livre ao brincar dirigido, o que implica diretamente na qualidade formativa da educação
infantil. As brincadeiras integradas ao processo educativo visam estimular os alunos
nos mais diversos aspectos, seja cultural, social, físico, motor, ético, dentre outros. É
fundamental que os docentes busquem ferramentas para tornar o processo de ensino-
12
aprendizagem prazeroso, destituído da tradicionalidade que não respeita o aluno em
sua totalidade.
O próprio Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, bem como a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, firmam como direito da criança o
respeito à liberdade e a liberdade de aprender, encontrando no ato de brincar uma
forma de se expressar e se fazer perceber, colocando neste momentos seus
pensamentos e sua forma de interagir com o mundo. A importância das brincadeiras
está relacionada a própria cultura da infância, uma vez que se apresenta como
ferramenta para a criança aprender, se expressar e se desenvolver.
Mais que brincar ou que integrar brincadeiras na rotina escolar das crianças,
estimular o processo de ensino-aprendizagem de forma lúdica é estimular de forma
prazerosa os alunos. É romper as barreiras de educação tradicional, engessada e sem
graça.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei Nº 8.069, de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 de
dezembro de 2019.

______. Resolução Nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Diretrizes curriculares


Nacionais para a Educação Infantil. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=3749
-resolucao-dcnei-dez-2009&category_slug=fevereiro-2010-pdf&Itemid=30192.
Acesso em 05 de dezembro de 2019.

CARMO, C. P.; VEIGA, E. C. F.; CINTRA, R. C. G. G.; LIMA, S. S. C. A ludicidade


na educação infantil: aprendizagem e desenvolvimento. 13 p., 2017. Disponível
em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/23662_12144.pdf. Acesso em 05 de
dezembro de 2019

DACROCE, M.; FRAZÃO, C. S. O lúdico na educação infantil: um relato de


aprendizagem significativa no processo de desenvolvimento intelectual e de
interação social da criança. Revista Internacional de apoyo a la inclusion, logopedia,
sociedade y multiculturalidad. V. 2, N. 4, 15 p. 2016.

DEMO, P. Pesquisa e Construção de conhecimento: metodologia científica no


caminho de Habernas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, p.13-125, 2000.
13
FREITAS, E. S.; SALVI, R. F. A ludicidade e a aprendizagem significativa voltada
para o ensino de geografia. 23 p., 2007. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/89-4.pdf. Acesso em 25
de novembro de 2019.

GIL, A. C. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, p. 48, 2002.

KISHIMOTO, T. M. Brinquedos e Brincadeiras na educação Infantil. Anais do I


Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais. Belo Hohizonte,
20 p., 2010.

LUCCI, E. A. A escola pública e o lúdico. Disponível em:


http://www.hottopos.com/videtur18/elian.htm. Acesso em 01 de dezembro de 2019.

LUCKESI, C. Desenvolvimento dos estados de consciência e ludicidade. In:


LUCKESI, C (org.). Ensaios de ludopedagogia. N.1, Salvador UFBA/FACED, 2000.

LUNA, Sergio Vasconcelos. Planejamento de Pesquisa: uma introdução. São Paulo:


Educ, p. 15, 2000.

MACEDO, L. Aprender com jogos e situações problemas. Porto Alegre: Artmed,


2005.

MEDEIROS, M. L. P. S. A brincadeira e suas contribuições na Educação Infantil.


Monografia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 26 p. 2017.

MENDES, F. M. S. Brincar e aprender: a importância do lúdico para as crianças.


Monografia de Especialização. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 28 p.
2014.

OLIVEIRA, V. B.; SOLÉ, M. B.; FORTUNA, T. R. Brincar com o outro caminho da


saúde e bem-estar. Petrópolis: Vozes, 2010.

OLUSOGA, Y. Nós não brincamos assim aqui: perspectivas sociais, culturais e


de gênero sobre a brincadeira. Brincadeiras: ensinar para a vida. Porto Alegre:
Artmede, 2011.

PIZZANI, L.; SILVA, R. C.; BELLO, S. F.; HAYASHI, M. C. P. I. A arte da pesquisa


bibliográfica na busca do conhecimento. Revista Digital de Biblioteconomia e
Ciência da informação. V.10, N.1, Campinas: ISSN 1678-765X, p.53-66, 2012.

SANTOS, G. L.; PESSOA, J. N. A importância do brincar no desenvolvimento da


criança. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal da Paraíba. 41 p.,

14
2015. Disponível em:
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/2427/1/GLS25082016.pdf.
Acesso em: 07 de dezembro de 2019.

SERRÃO, M. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: FTD, 1999.

SILVA. F. L.; CARVALHO, G. P.; RODRIGUES, C. M. A. Relação entre o lúdico e a


aprendizagem. 14 p., 2017. Disponível em:
http://bia.ifpi.edu.br:8080/jspui/bitstream/prefix/151/1/Rela%C3%A7%C3%A3o%20e
ntre%20o%20l%C3%BAdico%20e%20a%20aprendizagem.pdf. Acesso em 26 de
novembro de 2019.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 7ª Ed., São Paulo: Martins Fontes,


224 p., 1984.

WEBER, M. The methodological foundation sociology. In: Sociological Theory: A


Book of Readings (L. A. Coser & B. Rosemberg, eds). 3ª ed. Toronto: The Macmillan
Company, p. 248-258, 1970.

15

Você também pode gostar