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CENTRO UNIVERSITÁRIO SANTO AGOSTINHO – UNIFSA

CURSO: BACHARELADO EM DIREITO


DISCIPLINA: HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
PROFESSORA: MARIA DO SOCORRO RODRIGUES COÊLHO
TURMA: 09T4A

UNIDADE 02: ATIVIDADE COMPLEMENTAR


RESENHA CRÍTICA DO FILME “TEMPO DE MATAR” (1996)

TERESINA/PI
2023
DAVID LEVY
GÊNESIS RIBEIRO
JOÃO PEDRO
KAYKY HONORATO
LUÍS FELIPE
PEDRO VITOR

UNIDADE 02: ATIVIDADE COMPLEMENTAR


RESENHA CRÍTICA DO FILME “TEMPO DE MATAR” (1996)

Atividade Complementar, elaborada como requisito


parcial de avaliação, referente à segunda verificação
de aprendizagem, da disciplina Hermenêutica e
Argumentação Jurídica, ministrada pela Profa. Dra.
Maria do Socorro Rodrigues Coêlho.

TERESINA/PI
2023
SUMÁRIO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO FILME E FICHA TÉCNICA ........................................... 4


2 PERSONAGENS E IMPORTÂNCIA NA CONSTRUÇÃO NARRATIVA ................... 5
3 PERFIL DOS OPERADORES DO DIREITO ................................................................... 7
4 RACISMO: MANIFESTAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS ................................................. 8
5 IMPARCIALIDADE DO JUIZ............................................................................................ 9
6 ACUSAÇÃO VERSUS DEFESA ....................................................................................... 10
7 ARGUMENTAÇÃO FINAL: RAZÃO X EMOÇÃO ...................................................... 10
8 JUSTIÇA LEGAL OU JUSTIÇA ÉTICA? ...................................................................... 12
9 FILME E SEUS ARGUMENTOS ..................................................................................... 12
10 CONTRIBUIÇÕES E REFLEXÕES .............................................................................. 13
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 15
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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO FILME E FICHA TÉCNICA

O filme "Tempo de Matar," dirigido por Joel Schumacher e adaptado do


romance homônimo de John Grisham, mergulha de forma contundente nas águas
complexas da relativização e ponderação de direitos, da política criminal e dos direitos
humanos. Ao explorar um caso de assassinato (racialmente motivado) em uma
pequena cidade do Mississippi, a obra nos confronta com dilemas morais e jurídicos
profundos, que permanecem incrivelmente relevantes mesmo após mais de duas
décadas de seu lançamento.
O filme nos convida a refletir sobre a relativização e ponderação de direitos ao
nos apresentar um caso em que a linha entre justiça e vingança é tênue. O
personagem interpretado por Samuel L. Jackson, Carl Lee Hailey, enfrenta um
julgamento por assassinar os estupradores de sua filha. A questão central aqui é se
ele deve ser absolvido com base em uma defesa de legítima defesa, levando em
consideração o contexto extremamente traumatizante em que o crime ocorreu.
O espectador é levado a questionar se os direitos individuais de Carl Lee em
proteger sua família podem ser ponderados contra o direito à vida dos agressores.
Este é um dilema ético e legal complexo, que nos força a considerar os limites da
aplicação estrita da lei em situações extraordinárias.
A interpretação jurídica hodierna, prismada pelos direitos humanos e pela
hermenêutica contemporânea, nos obriga a questionar as normas legais à luz dos
princípios fundamentais. A obra "Tempo de Matar" nos estimula a fazer exatamente
isso, desafiando-nos a pensar sobre como aplicar a lei de forma justa em situações
excepcionais e moralmente complexas. A busca pela justiça não pode ser reduzida a
uma aplicação mecânica das normas, mas deve incorporar considerações éticas,
sociais e morais.
Em apartada síntese, "Tempo de Matar" é uma obra cinematográfica que vai
além do entretenimento, servindo como um veículo poderoso para a reflexão sobre
questões jurídicas e éticas. Ela nos lembra que o sistema legal é uma ferramenta que
deve servir à justiça, e que a ponderação de direitos, a política criminal e os direitos
humanos devem ser centrais em qualquer discussão sobre aplicação da lei. O filme
permanece como um convite à reflexão profunda e necessária sobre essas questões,
que são tão atuais hoje quanto eram quando foi lançado em 1996.
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Quadro 01 - Ficha técnica e principais personagens do filme "Tempo de Matar".

Ficha Técnica (resumo)


Gênero Drama
Duração 149 min
Direção Joel Schumacher
Roteiro Akiva Goldsman
Baseado em A Time to Kill (romance de John Grisham)
Música Elliot Goldenthal
Cinematografia Peter Menzies Jr.
Edição William Steinkamp
Produtora Regency Enterprises
Distribuição Warner Bros.
Lançamento 24 de julho de 1996
Idioma Inglês
Orçamento US$ 40 milhões
Receita US$ 152.266.007
Elenco (principais personagens)
Matthew McConaughey Jake Tyler Brigance
Sandra Bullock Ellen Roark
Samuel L. Jackson Carl Lee Hailey
Kevin Spacey Rufus Buckley
Oliver Platt Harry Rex Vonner
Rae'Ven Larrymore Kelly Tonya Hailey
Patrick McGoohan Omar Noose (juiz)
Charles S. Dutton Ozzie Walls (xerife)

2 PERSONAGENS E IMPORTÂNCIA NA CONSTRUÇÃO NARRATIVA

Os personagens do filme “Tempo de Matar” são bem desenvolvidos e retratam


diferentes perspectivas sobre os temas abordados. Através dos personagens, o filme
apresenta uma argumentação contundente sobre o racismo, a violência e a justiça.
Jake Tyler Brigance é um advogado jovem de pele clara que acredita na justiça
e igualdade. Ele é o protagonista da história e tem a responsabilidade de defender
Carl Lee Hailey. Jake é um personagem complexo, confrontado com seus próprios
preconceitos ao longo do enredo. Ele representa esperança e busca pela justiça. É
um idealista convicto de que a justiça pode ser alcançada mesmo em um sistema
frequentemente injusto. Além disso, Jake passa por um processo de amadurecimento
conforme aprende e evolui durante o desenrolar do filme.
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Carl Lee Hailey é um pai negro que mata dois homens brancos que estupraram
sua filha. Ele é uma figura trágica levada a cometer um crime terrível por desespero.
Carl Lee simboliza a luta contra o racismo e a violência, sendo vítima dessas questões
e respondendo com violência. É um personagem complexo e controverso que
questiona conceitos de justiça e vingança.
Ellen Roark é uma estudante branca de direito que auxilia Jake Tyler Brigance
na defesa de Carl Lee Hailey. Ela é uma mulher forte e independente, acreditando
firmemente na justiça. Ellen se torna uma importante aliada para Jake, ajudando-o a
enxergar as realidades do racismo no sul dos Estados Unidos. Ela desafia noções de
raça e gênero, defendendo tratamento igualitário para todos. Ellen é fundamental ao
mostrar que a justiça é possível mesmo em um sistema injusto.
Rufus Buckley é o promotor público, branco, responsável por acusar Carl Lee
Hailey de assassinato. Ele é um personagem manipulador e cruel, indiferente à justiça.
Rufus representa o racismo e a injustiça, usando seu poder para perseguir Carl Lee
mesmo sabendo da sua inocência. Como antagonista central da trama, ele evidencia
como o racismo e a injustiça podem prejudicar os inocentes.
Lucien Willbanks é um advogado negro que auxilia Jake Tyler Brigance na
defesa de Carl Lee Hailey. Lucien é experiente e sábio, ajudando Jake a superar os
desafios do caso. Ele simboliza a luta contra o racismo e busca pela justiça. Além
disso, representa sabedoria e experiência dentro do sistema legal, ajudando Jake a
compreender as nuances do caso. Lucien também exerce uma figura paterna
importante para Jake, guiando-o em sua jornada de aprendizado e crescimento.
Há outros personagens relevantes na narrativa, como Ozzie Walls, xerife de
Canton, Mississippi, um homem honesto e justo que tenta proteger Carl Lee. Ozzie se
torna um aliado crucial para Jake, garantindo que o julgamento seja justo. Ethel Twitty,
mãe de Carl Lee, também merece destaque como uma mulher forte e determinada
que dá apoio ao filho. Ela exerce uma figura materna importante durante todo o
processo judicial. Billy Ray Cobb e Tim Nunley são personagens antagonistas
essenciais para a trama, sendo dois homens brancos responsáveis pelo estupro da
filha de Carl Lee. Ambos representam o mal da violência e do racismo na sociedade.
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3 PERFIL DOS OPERADORES DO DIREITO

O filme apresenta um retrato complexo dos operadores do direito envolvidos no


caso de Carl Lee Hailey. Cada um destes personagens tem seu próprio perfil
psicológico, que é influenciado por uma série de fatores, incluindo sua formação, sua
experiência e sua ideologia.

Jake Brigance
Idealismo: Jake Brigance é um advogado jovem e idealista que acredita na
justiça. Ele é determinado a defender Carl Lee, mesmo sabendo que o caso é difícil.
Honestidade e integridade: Brigance é um homem honesto e íntegro, mas
também é impulsivo e corajoso. Ele não tem medo de desafiar o status quo, mesmo
que isso lhe custe a própria vida.
Compaixão: Brigance é um homem compassivo que se preocupa com o bem-
estar de seu cliente. Ele acredita que Carl Lee é um homem inocente que foi levado
ao limite.
Determinação: Brigance é um homem determinado que está disposto a lutar
pelo que acredita. Ele não desistirá de Carl Lee, mesmo quando as chances parecem
estar contra ele.

Promotor Rufus Buckley


Ambição: Rufus Buckley é um promotor ambicioso que está determinado a
ganhar o caso. Ele acredita que Carl Lee é culpado e está disposto a fazer o que for
preciso para condená-lo.
Ardiloso: Buckley é um homem calculista que está sempre pensando no
próximo passo. Ele não tem escrúpulos em usar qualquer estratégia que possa ajudá-
lo a ganhar o caso.
Frio: Buckley é um homem frio e impassível. Ele não se importa com os
sentimentos das vítimas ou dos acusados.
Justiça: Buckley acredita que está fazendo justiça ao perseguir Carl Lee. Ele
acredita que Carl Lee é um criminoso que deve ser punido.

Juiz Omar Noose


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Imparcialidade: O juiz Omar Noose é um homem imparcial que está


determinado a conduzir um julgamento justo. Ele não vai permitir que suas próprias
opiniões ou crenças influenciem sua decisão.
Responsabilidade: Noose é um homem responsável que está ciente da
importância de seu cargo. Ele sabe que sua decisão terá um impacto significativo na
vida de Carl Lee.
Justiça: Noose acredita na justiça e está determinado a garantir que Carl Lee
receba um julgamento justo.

Os advogados de acusação e defesa do filme em análise representam


diferentes perspectivas e motivações. Jake Brigance representa a justiça e a
igualdade, enquanto Rufus Buckley representa a lei e a ordem. O juiz Omar Noose
representa a imparcialidade e a justiça. O filme explora temas como racismo, justiça,
violência e vingança. Os perfis psicológicos dos advogados envolvidos na trama
ajudam a compreender os diferentes aspectos do caso e a complexidade da situação.

4 RACISMO: MANIFESTAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS

No início do filme é retratado um estupro praticado por dois homens brancos,


Billy Ray e James Louis, onde é demonstrada uma menina negra, filha de Carl Lee,
sendo amarrada e sofrendo esse brutal crime. Dessa forma, o filme durante todo o
seu transcorrer retrata o racismo na cidade de Canton e em todo o sistema judiciário
da cidade, de forma que, as manifestações do racismo é vista em diversas passagens
do filme, por exemplo, quando o promotor requereu que a competência do julgamento
ocorra na própria cidade, por ele entender que um júri formado por maioria branco
favorecia a um julgamento em que condenassem Carl pelo os homicídios, ademais, a
atitude do juiz em não analisar as circunstância de todo o caso e apenas levar em
consideração que um homem preto matou dois homens brancos, deixa a sua
imparcialidade viciada, enfatizando ainda mais o racismo estrutural na cidade de
Canton. Além do mais, um momento marcante do filme é o movimento iniciado pelo
grupo Ku Klux Klan, onde eles entendem que os negros estavam “ocupando os
lugares das pessoas brancas”, e que dessa forma inicia-se na cidade um confronto
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com os negros, o que desencadeia e demonstra no decorrer do filme ataques as


pessoas que defendiam Carl Lee, como ataques ao seu advogado de sua assessora.
Por fim, no decorrer do filme evidencia-se as consequências em decorrência
do racismo, como um poder judiciário que não era imparcial e que era
predominantemente formado por pessoas brancas que não concordavam com a luta
dos negros que buscavam seus direitos assim como possuíam as pessoas brancas,
havia assim na cidade de Canton um tratamento distinto entre os brancos e os pretos.

5 IMPARCIALIDADE DO JUIZ

A imparcialidade do juiz é pressuposto para uma decisão legítima e racional,


requisito irrenunciável da atividade jurisdicional. Não se confunde, contudo,
imparcialidade com neutralidade, sendo esta entendida como ausência de influência
da vontade ou da paixão do sujeito no resultado da investigação, o que, na verdade,
é impossível, tendo em vista que todo ser humano tem paixões, valores e interesses
próprios. O juiz jamais pode ser neutro, uma vez que observa o caso concreto a luz
de um referencial teórico, seus valores e modos de vida.
A relação entre imparcialidade do juiz e presunção de inocência é clara. O juiz
deve manter uma postura imparcial e permitir que o devido processo legal siga seu
curso, respeitando a presunção de inocência. Esses conceitos são interdependentes
e formam a base de um sistema de justiça justo e equitativo.
"Tempo de Matar" nos força a questionar até que ponto a imparcialidade do juiz
pode ser mantida em um contexto tão carregado de emoções, preconceitos e tensões.
Ao mesmo tempo, destaca a importância de defender a presunção de inocência como
um pilar central de qualquer sistema de justiça. O filme nos lembra que a presunção
de inocência não é apenas uma formalidade legal, mas um princípio fundamental que
protege os acusados de julgamentos precipitados e injustos.
A imparcialidade do juiz é posta à prova nesse contexto. O juiz (interpretado
por Patrick McGoohan) se encontra diante do desafio de manter uma aparência de
imparcialidade, apesar das profundas divisões raciais que permeiam a comunidade.
Ele é, como sugere a história, um reflexo da tensão entre o ideal de imparcialidade e
a realidade de preconceitos enraizados.
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6 ACUSAÇÃO VERSUS DEFESA

A trama gira em torno de um julgamento de alto perfil que envolve questões de


justiça racial em uma cidade do sul dos Estados Unidos. A relação entre o advogado
de acusação e o advogado de defesa no filme desempenha um papel significativo na
narrativa.
A relação entre Jake Brigance e Rufus Buckley é inicialmente marcada por uma
tensão inerente à natureza adversarial do sistema legal. Buckley está determinado a
condenar Carl Lee pelo assassinato, enquanto Brigance está igualmente decidido a
provar a inocência de seu cliente, com base na alegação de que o ato foi uma resposta
justificável ao estupro de sua filha.
Conforme o julgamento avança, a tensão entre os dois advogados aumenta.
Eles empregam estratégias legais, interrogam testemunhas e fazem discursos
apaixonados para convencer o júri. A relação entre eles torna-se mais hostil à medida
que o caso se desenrola, refletindo a natureza competitiva e adversarial do sistema
legal.
No entanto, ao longo do filme, há momentos em que os personagens revelam
nuances em sua relação. Brigance e Buckley compartilham momentos de respeito
mútuo e entendem a complexidade do caso. Ambos estão cientes do contexto racial
e das tensões subjacentes na cidade, o que adiciona camadas adicionais à dinâmica
entre eles.
A relação entre o advogado de acusação e o advogado de defesa no filme em
questão é representativa das tensões inerentes ao sistema legal, onde ambos os
lados estão comprometidos com sua perspectiva e missão. Embora haja confrontos e
desacordos, o filme também lança luz sobre os momentos em que esses personagens
se veem desafiados por suas próprias convicções e as complexidades do caso em
questão.

7 ARGUMENTAÇÃO FINAL: RAZÃO X EMOÇÃO

No filme “Tempo de Matar”, o gerenciamento de razão e emoção é essencial


para o sucesso do julgamento de Carl Lee Hailey. Coube ao advogado de defesa a
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tarefa de tentar equilibrar os argumentos racionais da lei com os apelos emocionais


do júri.

Direito Objetivo
O direito objetivo é o conjunto de normas e princípios que regem a sociedade.
No caso de Carl Lee Hailey, o direito objetivo é representado pela lei que proíbe o
assassinato. Jake Brigance precisa demonstrar que Carl Lee não cometeu um crime,
pois ele agiu em legítima defesa.
Para isso, Jake Brigance apresenta uma série de argumentos racionais. Ele
argumenta que Carl Lee não teve outra opção a não ser matar os dois homens que
estupraram e assassinaram sua filha. Ele também argumenta que Carl Lee é um
homem de bom caráter, que nunca cometeu um crime antes.

Direito Subjetivo
O direito subjetivo é o conjunto de direitos e garantias individuais dos cidadãos.
No caso de Carl Lee Hailey, o direito subjetivo é representado pelo direito à vida e à
liberdade. Jake Brigance precisa convencer o júri de que Carl Lee merece ser
absolvido, pois ele é um homem inocente que foi vítima de uma injustiça.
Para isso, Jake Brigance apela às emoções do júri. Ele mostra fotos da filha de
Carl Lee, que foi brutalmente assassinada. Ele também conta a história de Carl Lee,
que é um homem simples e trabalhador que foi destroçado pela morte da filha.

No final do julgamento, Jake Brigance faz um discurso apaixonado em defesa


de Carl Lee. Ele apela à empatia do júri, pedindo que eles imaginem o que Carl Lee
passou. Ele também argumenta que a lei não deve ser usada para punir um homem
que foi vítima de uma injustiça.
O discurso de Jake Brigance é um exemplo de retórica eficaz. Ele combina
argumentos racionais com apelos emocionais, criando um impacto poderoso no júri.
O júri absolve Carl Lee Hailey por legítima defesa. O desfecho do julgamento é
uma vitória para a justiça, mas também é um lembrete de que a igualdade racial ainda
é uma luta em curso.
O filme em tela é um retrato realista do sistema judicial americano. Ele mostra
como a lei pode ser usada para oprimir os mais vulneráveis. No caso de Carl Lee
Hailey, a lei foi usada para tentar punir um homem que cometeu um crime por
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vingança. No entanto, o júri entendeu o motivo de Carl Lee ter cometido o crime, e o
absolveu. Esta obra cinematográfica é um apelo à empatia e à justiça. Ele mostra que
a lei deve ser aplicada de forma justa, independentemente da raça ou condição social
do acusado.

8 JUSTIÇA LEGAL OU JUSTIÇA ÉTICA?

A justiça ética se refere à ideia de fazer o que é moralmente correto,


independentemente das regras ou leis. Por outro lado, a justiça legal se refere à
aplicação estrita das leis, regulamentos e procedimentos jurídicos estabelecidos.
Em “Tempo de Matar” é possível traçar uma clara distinção entre estas duas
formas de justiça. Percebe-se a ocorrência da justiça ética, onde o julgamento se deu
conforme o que era ético e justo, onde a decisão foi dentro do que era correto e
adequado, principalmente pelo fato do julgamento ser de um pai dotado de violenta
emoção, que assassinou dois homens que haviam estuprado e violentado gravemente
sua filha, em um contexto de completa injustiça, onde os estupradores iriam poder
pagar uma fiança e ficarem livres. Desse modo, Carl Lee foi inocentado ao final do
filme, sendo feita a justiça ética.

9 FILME E SEUS ARGUMENTOS

Durante o julgamento de Carl Lee Hailey, que é acusado de assassinar os


homens que estupraram sua filha, os advogados empregam vários tipos de
argumentos para influenciar o júri e persuadir a audiência. Aqui estão alguns exemplos
de tipos de argumentos do filme:
Argumento de Autodefesa: Neste argumento o psiquiatra comparece no Júri,
os advogados alegam que o réu agiu em legítima defesa. Jake Brigance utiliza os
argumentos do psiquiatra (Dr. Willard Tyrell) para justificar as ações de Carl Lee
Hailey. Ele argumenta que Carl Lee estava alheio das consequências de seus atos:

"O estupro da Tonya lhe causou uma recaída temporária da realidade(...), o


senhor Hailey vivenciou uma perda da condição de discernimento causado
pelo estupro da filha e como seu Hailey estava alheio à realidade dos seus
atos não podia distinguir o certo do errado."
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Argumento Emocional: Um dos momentos mais poderosos do filme é o


discurso emocional de Jake Brigance em seu encerramento no tribunal. Ele apela às
emoções dos jurados, pedindo-lhes para imaginarem o sofrimento da criança. Jake
diz:

"É a história de uma garotinha voltando para casa da mercearia, em uma


tarde, quero que veja essa garotinha de repente surge uma picape, dois
homens saltam e pegam ela, arrastam ela para o meio do mato, amarram ela,
depois arrancam as roupas do corpo, montam em cima dela, primeiro um,
depois o outro estuprando. Dilacerando sua inocência e pureza com uma
depravação cruel, em uma mistura de bafo bêbado e suor, quando acabaram
depois que destruíram seu útero anulando qualquer chance dela ter filhos de
cumprir sua missão de mãe resolveram usa-la com alvo de pontaria e
começaram a jogar latas de cerveja e jogaram com força provocando
escoriações por todo o corpo depois urinaram nela e a enforcaram. Pegaram
uma corda, imaginem a corda apertando o pescoço dela em um puxão
repentino, ela ficou pendurada sacudindo a perna e os pés, mas sem tocar
no chão o galho da forca não era forte então ele quebrou e ela caiu quando
ela caiu, aí pegaram ela, jogaram na caçamba da picape e foram até a ponte
puseram era em uma muralha e jogaram ela da altura de aproximadamente
de 9 metros, conseguem vê-la? Estuprada? Surrada? O corpo sangrando...
ensopada de urina, ensopada de sêmen, ensopada de sangue, atirada a
morte, conseguem vê-la? Eu quero que imaginem essa garotinha, imaginem
ela branca.”

Argumento de Necessidade: Jake Brigance argumenta que a ação de Carl Lee


foi necessária para proteger sua filha e, portanto, justificável. Ele defende que, dadas
as circunstâncias, qualquer pai faria o mesmo para proteger seu filho. Jake afirma:

"Qualquer homem branco faria a mesma coisa. Você ouviu essa declaração
milhares de vezes. 'Um homem mata um estuprador de seu filho, um homem
branco faria a mesma coisa.'"

Argumento de Justiça Racial: Devido ao contexto racial do sul dos Estados


Unidos, o argumento de justiça racial é fundamental no filme. Jake Brigance
argumenta que o sistema legal é injusto com pessoas negras e que o júri deve
considerar essa injustiça. Ele diz:

"Não, eu não me esqueci de que somos todos filhos de Deus. Mas nós temos
uma justiça separada para brancos e negros. Você não sabe disso?"

10 CONTRIBUIÇÕES E REFLEXÕES

O filme “Tempo de Matar” nos traz várias reflexões acerca da justiça comum,
que em muitos casos pende para um dos lados e acaba tornando-se parcial. Esse é
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o caso do filme em questão, que no contexto histórico em que se passa, o racismo


era predominante nos Estados Unidos, onde a população era predominantemente
branca e o poder judiciário, pendem a condenar mais gravoso o crime de homicídio
cometido por um pai negro, que estava sob influência de violenta emoção pelo fato de
dois homens brancos, racistas, terem estuprado e violentado gravemente sua filha de
10 anos. Desse modo, o filme desenvolve-se sob uma série de ataques racistas contra
o Carl lee e seu advogado Jake Tyler, sendo vários os crimes cometidos por uma
organização racista de supremacia branca que em nada era responsabilizada pelos
ataques e crimes. Enquanto isso, um homem negro estava sob a decisão de um júri
popular de pessoa brancas, como também de um juiz de pele branca que a todo
momento se mostrava favorável para lado da defesa de acusação e desfavorável a
defesa do réu, negando pedidos que não negava para o outro lado, agindo com
tratamento diferente. Ou seja, nota-se uma grande insegurança jurídica diante do caso
concreto. No entanto, Jake Tyler, mesmo diante de todo o sistema racista e o sistema
judiciário notoriamente parcial, encontra formas e argumentos para sensibilizar o júri,
narrando os acontecimentos com a filha de Carl Lee e no final trazendo a maior
reflexão de todas a respeito da igualdade racial, invertendo o contexto do estupro,
imaginando se o crime tivesse ocorrido contra uma garota branca, assim, fazendo com
que o júri popular tenha empatia com o réu, sendo essa a sua última cartada na defesa
de Carl Lee. Dessa maneira, o réu foi inocentado e a justiça foi feita. Portanto, o filme
em comento mostra para os acadêmicos de direito que nenhum caso está perdido ou
ganho, mas que nós como futuros advogados e defensores da lei, nunca deveremos
desistir de nenhuma causa por mais que o contexto seja desfavorável. Ademais, com
esse filme, nota-se a importância do instituto do júri popular, pois o convencimento do
advogado para a votação desse júri, tornou o rumo da sentença totalmente diferente
do que seria caso fosse julgado apenas pelo juiz de direito notoriamente parcial para
o lado da acusação.
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REFERÊNCIAS

KANECO, Eduardo. Tempo de Matar. Leitura Fílmica, 11 mai. 2021. Blog. Disponível em:
https://leiturafilmica.com.br/tempo-de-matar/. Acesso em: 19 out. 2023.

TEMPO de Matar (A Time to Kill). Direção: Joel Schumacher. Roteiro: Akiva Goldsman. Estados Unidos
da América: Warner Bros./Regency Enterprises/Amazon Prime, 1996. Streaming (149 min.). Acesso
em: 12 out. 2023.

WIKIPEDIA. Tempo de Matar. Artigo colaborativo. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Tempo_de_Matar. Acesso em: 12 out. 2023.

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