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043.01 ano 04, jul. 2005

O pensamento de Camillo Boito


Denise Puertas de Araújo

resenha do livro

Os restauradores
Camillo Boito
2002

Arco de Tito, Roma, antes do restauro oitocentista 043.01


Ilustração G.B. Piranesi [CARBONARA, Giovanni. Avvicinamento al
sinopses
Restauro: teoria, storia, monumenti]
como citar

idiomas
A leitura do texto de Camillo Boito, Os restauradores, apresentado na
Conferência feita na Exposição de Turim, em 1884, mostra claramente o original: português
quanto a teoria da Restauração evoluiu a partir de duas teorias
compartilhe
fundamentalmente antagônicas: a de Viollet­le­Duc e a de John Ruskin. O
amadurecimento é claro e é perceptível a proximidade dos princípios usados
na época (fins do XIX e começo do XX) e os de hoje.
043
Em Os restauradores, Boito chama a atenção para o fato de que restauração e
conservação não são a mesma coisa, sendo, com muita freqüência, antônimas.
Os conservadores são tidos como “homens necessários e beneméritos” ao passo
que os restauradores são quase sempre “supérfluos e perigosos”. Dessa
forma, dirige seu discurso sobretudo aos últimos, pregando a precedência da
conservação sobre a restauração e a limitação desta ao mínimo necessário.
Há abordagem em relação a formas de restauração de diversas artes:
escultura, pintura e arquitetura, cada uma tendo suas particularidades e
complexidades. A regra geral para a escultura era a de que não houvesse
completamentos, excetuando­se quando fossem devidamente documentados (1),
pois os mesmos poderiam desfigurar a obra, levando­a por um caminho
totalmente diferente do que aquele previsto por seu autor.

Todas as adições (restaurações sucessivas) deveriam ser descartadas. Em


relação à pintura, preconizava que se deveria saber o momento de parar e
ser a intervenção menor possível. Sobre a arquitetura recaía, em sua
opinião, a maior complexidade: distanciava­se de Ruskin e de le­Duc: do
primeiro, à medida que não aceitava a morte certa dos monumentos e, do
segundo, não aceitando levá­los a um estado que poderia nunca ter existido
antes. Alertava para o perigo da forma de agir de le­Duc em função da
arbitrariedade que a mesma continha e ao que poderia ser sua inevitável
conseqüência: o triunfo do engano. Ao afastar­se das duas teorias, cria, ao
mesmo tempo, uma teoria intermediária entre ambas. Cita e concorda com
Mérimée ao dizer sobre as restaurações: “nem acréscimos, nem supressões”,
ficando evidente o respeito que os acréscimos ao longo da história deveriam
ter e orientando, ao mesmo tempo, a mínima intervenção. Boito admitia
contradições em suas próprias teorias, uma vez que o assunto era
contemporâneo e as mesmas estavam, ainda, em formação.

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Em outros aspectos, muitas vezes as idéias apresentadas aproximavam­se das
de Ruskin, principalmente ao apontar para a pouca intervenção que deveria
existir no monumento. Na verdade, esta aproximação refere­se ao mesmo
princípio fundamental, não alteração substancial do monumento, à medida que
Boito acreditava na necessidade de certas restaurações (2). Outra
característica presente em Ruskin que se desenvolve nessa teoria é a
valorização das ruínas como tal e por isso deve­se entender o
reconhecimento de sua beleza, de seu aspecto pictórico, na qualidade mesma
de ruína. Não há, por parte da teoria aqui analisada, a vontade de que as
mesmas voltassem ao aspecto original do edifício e sim a de que
permanecessem, de fato, como ruínas. Afasta­se aqui um possível
completamento com elementos novos, princípio com certeza adotado por
Viollet­le­Duc. Também o medo em relação à restauração como o grande perigo
distancia o pensamento de Boito dos escritos de le­Duc, aproximando­o, mais
uma vez, a Ruskin.

Em outros momentos, tangenciando le­Duc, o texto mostra exatamente como a


nova forma de pensar a intervenção sobre o legado do passado é a resultante
de equilíbrio entre as proposições deste e outras, um tanto radicais, de
Ruskin. Dessa forma, ao não aceitar a morte inevitável dos monumentos,
propunha, em casos necessários, restaurações que, por serem mínimas,
acabavam eliminando a arbitrariedade de certas ações. A aceitação de todas
as fases históricas presentes numa obra também espraiava os juízos de
valores, na maioria das vezes subjetivos, em relação ao que permaneceria ou
não. Não se desejava mais levar o edifício a um estado inicial e,
fundamentalmente, a um que jamais houvesse existido antes.

Seu discurso representa uma evolução da teoria da restauração a partir da


mesma origem e para o mesmo caminho posteriormente traçado pela Carta de
Atenas de 1931: a revisão e adaptação dos escritos de Ruskin e de Viollet­
le­Duc. A partir do pensamento de Boito, foi feita a separação precisa do
que significava restaurar e do que significava conservar. A importância
dada ao contexto das obras artísticas é percebida sobretudo quando fala da
escultura e, no final do texto, da saída de obras do local de origem.

O texto traz, de forma geral, um amadurecimento dos princípios do restauro,


pondo um fim ao maniqueísmo vigente até então e servindo como grande
contribuição para a reflexão contemporânea sobre o mesmo. Questões como o
embasamento pela documentação e o respeito às fases de uma obra permeiam
todas as intervenções contemporâneas, tendo, portanto, grande importância
em sua práxis.

[esta resenha é uma adaptação de trabalho desenvolvido para a disciplina


“Metodologia e Prática da Reabilitação Urbanística e Arquitetônica” do
programa de Mestrado da FAUUSP.]

notas

Ainda nesse caso, Boito enxerga tal ação apenas como “tolerável”.

Deve­se lembrar que Ruskin aceitava pequenas obras de consolidação (muletas


que aumentassem a sobrevida do monumento). Quando as mesmas perdiam sua
eficácia, ele conformava­se face à morte certa e natural que todo monumento
teria um dia.

sobre o autor

Denise Puertas de Araújo é arquiteta e urbanista formada em 2001 pela


FAUUSP e, atualmente, cursa o mestrado na área de História e Fundamentos da
Arquitetura e do Urbanismo, na mesma faculdade.

comentários

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3 comentários Cl
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Janaina Cunha Guimarães ·Sóci


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Cur
ti
r·Responder·30deout
ubr
ode201414:
47

Débora Freitas ·Facul


dadeESUDA
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r·Responder·8deabr
ilde201520:
09

Paulo Eduardo Pires de Almeida ·Pr


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r·Responder·22demai
ode201519:
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