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NOSSOS PASTORES DO PASSADO (Hb 13.

7)

INT.: Alguns de nós, devido ao fato de sermos crentes mais antigos, temos o distintivo de rememorarmos os pastores
da nossa infância ou juventude. Alguns deles nem estão mais do lado de cá do céu. Já completaram sua carreira cristã
com louvor e foram recebidos pelos anjos no seio de Abraão. O autor aos Hebreus não nos perdoaria se nos
esquecêssemos de tais representantes do reino de Deus perante nossa vida cristã. Aliás, é característico mesmo deste
autor colocar à vista de seus leitores exemplos de fé que já partiram para a eternidade. Ele fizera isto no cap. 11,
quando mencionou antigos crentes que completaram sua carreira olhando para Jesus, o Qual ainda havia de vir.
Contemplando-O, ainda que de forma embaçada, mas crendo. Então, ele concita seus leitores a olharem para o
mesmo Senhor, agora o Cristo que já veio, e coloca os antigos como uma plateia que, por assim dizer, nos contempla
da arquibancada, como que torcendo por nós, para que também completemos a nossa. Agora, ele quer dizer que
nossos pastores que já partiram estão também com os patriarcas vitoriosos no Milênio, nos aguardando. Sua fé é
digna de imitação. Se eles pudessem nos ver daquele ponto de onde estão, deveriam dizer de nós: “É isso mesmo,
meus filhos. Estais fazendo conforme nosso ensino e conduta. Em breve nos reencontraremos aqui”.

S. T.: O que se requer de nós, que fomos pastoreados por estes homens de Deus? Que postura devemos ter para com
eles, segundo nos é ensinado pelo autor desta carta?

I – LEMBREMO-NOS DELES
Nossa sociedade atual tem um conceito muito superficial do que significa lembrar. O excesso de atividades e a ânsia
da exigência pelas novidades têm substituído uma memória por outra, sepultando as antigas. Não somente nos
esquecemos de coisas e fatos, mas principalmente de pessoas. Se não das pessoas em si, mas certamente de sua
importância para nós. Claro que não me refiro a pessoas sensíveis, que vivem dizendo: “você se esqueceu de mim,
não é?”, mas com certeza, nossas memórias têm sido frequentemente substituídas e pessoas têm sido esquecidas de
fato.

Mas nosso autor nos ordena: “Lembrai-vos”. A palavra usada aqui, mnemoneuõ, foi também usada por Paulo,
quando exortou a Timóteo: “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos, descendente de Davi,
segundo o meu evangelho” (2Tm 2.8). Com certeza não era um pedido superficial, ao qual Timóteo poderia
responder: “Ah, sim... eu me lembro dEle”. O que você acha que Paulo estava querendo de Timóteo? Lembrar aqui
significa também “fazer menção”. Mas isso não é apenas relatar quando contar um caso a respeito e sim estar sempre
na memória, assim como devemos ter em mente o próprio Senhor.

Então, ele diz: “Lembrai-vos dos condutores vossos”. Não posso deixar de “fazer menção” aqui sobre isto. Nosso
Reverendo foi meu pastor por quase toda minha vida, me guiando mesmo após eu ter sido consagrado ao ministério.
Sua jubilação de hoje não apagará da minha memória seus atos e seu trabalho em favor da minha vida como ovelha
que pertenceu ao seu aprisco, bem como seu pupilo que sou, cuidando de uma igreja debaixo de seus conselhos.
Aliás, a palavra que o autor aos Hebreus usa aqui para “pastores, guias, líderes” é a palavra hegouménõn. A raiz
desta palavra é agõ, que significa “guiar, conduzir, liderar, ir à frente no caminho”. O hegouménõn anda à frente,
tanto em prioridade como em responsabilidade. De fato, não se mensura a responsabilidade de nosso pastor,
entretanto, é inegável a sua prioridade entre todos nós.

Quem foram realmente os nossos guias? O autor responde. Não é qualquer um. O pronome relativo informa: estes
guias, condutores, são “os que” falaram para vós a palavra de Deus! Devemos, por implicação, nos lembrar não
somente deles, mas também da palavra que pregaram. Os crentes são prontos para se lembrarem dos palhaços,
daqueles que promoveram circo e eventos na igreja. Mas são pobres de raciocínio para se lembrarem dos que lhes
falaram a Palavra de Deus! Há pastores atuais que são muito engraçadinhos, outros que são motivadores, muitos são
místicos, mas poucos são os que falam a Palavra de Deus! Por que seríamos atentos em nos lembrar dos irreverentes,
dos falsos mestres, dos bajuladores? Eles deveriam ser banidos de nossas mentes, exceto se for para os
repreendermos e os derrotarmos em confrontos, denúncias e debates, desmascarando-os e os expondo como
impostores e velhacos, que é o que eles são.

II – CONSIDEREMOS O FIM DE SUA VIDA


Agora o autor diz que devemos “considerar” o fim da vida destes homens. Por considerar, ele usa o termo
anatheoreõ. Vem do grego theoria, que significa “observar”. O presente particípio indica uma continuidade de ação,
como nosso gerúndio no português. Ele quer dizer que devemos viver “olhando intensamente, pra cima e pra baixo,
por todos os lados, com muita precisão, prestando muita atenção, atentando profundamente para compreender o
significado mais completo de algo, observando cuidadosamente”. E quando o autor diz que devemos fazer isso para
com o “fim da vida” deles, esse “fim” vem do grego ekbainõ, “marchar, desembarcar, sair”. É muito profundo o
sentido dessa palavra. Pode significar como um homem de Deus terminou sua vida, ou pode significar como a vida
de um homem de Deus foi terminada. O autor está dizendo: “Irmãos, observem sem pestanejar, sem piscar, como foi
que o seu pastor terminou a vida dele, como foi que ele saiu de cena; ou observem atentamente de que forma sua
vida foi ceifada”! De que maneira o espírito deste homem exibiu sua forma vitoriosa de viver para Deus! Mesmo que
ele tenha encerrado sua carreira, a sua marcha final deve ser uma cena mantida diante de nossos olhos.

Paulo disse a famosa frase: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4.7). Aqui, ele se
compara com um soldado, um atleta e um mordomo. Como soldado, ele combateu o bom combate, ele não foi
omisso na guerra e foi vitorioso; como atleta, ele completou a carreira, ele não ficou no meio do caminho, mesmo
cansado, ele chegou lá; e como mordomo, ele guardou a fé, o bom depósito que lhe foi confiado por Deus. Eu posso
olhar para nosso Reverendo e ver no fim de sua vida estas qualidades. Ele sai de cena, se é que realmente sai, de
forma honrosa e sublime. Eu posso ver nele um herói, um soldado que está sendo medalhado ainda em vida. Vejo-o
como o atleta mais vigoroso entre todos nós, como foi Moisés que, à beira da entrada de Canaã, não tinha sequer
uma fragilidade física que o impedisse de entrar ali e ainda ser por mais alguns anos líder do povo de Deus! Vejo
neste pastor uma vida devotada, fielmente dedicada a guardar a fé que uma vez foi dada aos santos. Ele guardou não
somente a sua fé, mas de sua própria família e quem sabe de sua igreja! Sua vida foi entregue ao reino de Deus e ali
se gastou. Ele se consumiu em Deus e em Seu reino. É meu dever observar isso hoje atentamente, diz o autor. Devo
olhar fixamente para onde está sendo sua porta de saída hoje. Ele sai de cena como um vencedor!

Quando você observa a vida de seus pastores e vê neles esse fim de vida, esse fim de carreira, honrado por Deus,
qualificado para a entrada no reino eterno de nosso Senhor Jesus Cristo, então só lhe resta mais uma coisa a fazer –
imitar a fé que eles tiveram!

III – IMITEMOS SUA FÉ


Sendo nosso dever nos lembrar sempre deles e da palavra que pregaram, observando atentamente à forma com que
concluíram sua jornada e seu dever, agora imitai sua fé, diz o autor. O NT recomenda a imitação dos verdadeiros
servos de Deus. Paulo chamou os coríntios, os filipenses e os tessalonicenses para esse dever (1Co 4.16; 11.1; Fp
3.17; 1Ts 1.6; 2Ts 3.7,9). O apóstolo João diz a Gaio: “Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom” (3Jo
11). No caso dos fariseus, Jesus diz para Seus ouvintes não imitarem seu exemplo, mas obedecerem ao seu ensino.
Com isto, entendemos que há um dever em primeiro lugar para com a Palavra, independente da conduta do pregador.
Mas é honroso para o cristianismo ter ambas as coisas, a Palavra e a conduta.

O tema da fé é recorrente e central na carta aos Hebreus. Para o autor, os antigos que não entraram na promessa, foi
por falta de fé (3.19), por isso ele alerta aos seus leitores que afastem de si “perverso coração de incredulidade que
vos afaste do Deus vivo” (v. 12). A prova que eles se tornaram participantes de Cristo era “se, de fato, guarda[ssem]
firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tive[ram]” (v. 14). Ele diz que a palavra não teve proveito para
os antigos hebreus, porque não foi acompanhada pela fé (4.2). Mas os que creem nela entram no descanso (4.3).
Quando ele fala sobre o sacerdócio de Jesus, ele diz que, por causa dEle e de Seu sacrifício, podemos nos aproximar
“com sincero coração, em plena certeza de fé” (10.22). A ordem é que “não abandoneis, portanto, a vossa
confiança; ela tem grande galardão” (10.35). Citando Habacuque (2.3,4), o autor aos Hebreus diz que o justo viverá
por fé e não recuará, mas por meio da fé conservará a sua alma (10.38,39). Sobre o capítulo especial da fé, nem é
necessário falar. É ali que ele define o que é fé (11.1), como os verdadeiros crentes viveram por ela e que sem ela
não se pode agradar a Deus (v. 6). Estes heróis, diz o autor, viveram na expectativa, mesmo sem receber o
cumprimento da promessa, morreram na fé (vs. 13,39)! Então, no cap. 12, o escritor nos mostra quem é o Autor da
fé, Jesus (v. 2). Ele não só é o Autor, mas o Consumador, isto é, o aperfeiçoador, o que leva nossa fé ao seu fim.
Agora, no cap. 13 é que ele fala de tais pastores, os guias dos judeus que se converteram ao cristianismo. Sua carreira
e a forma com que concluíram sua vida são prova de fé verdadeira e perseverante. É essa fé que eles deviam imitar.
E é essa fé que nós devemos imitar.

A sociedade cristã atual tem em mente que cada cristão tem sua fé. A liquidez desta era (Zygmunt Bauman, filósofo
e sociólogo polonês) tem trazido o conceito do relativismo para dentro da igreja. Para os cristãos atuais, a fé é algo
subjetivo, fora de comprovação e não sujeita à discussão. Eis um dos motivos pelos quais os críticos da fé cristã têm
zombado de nós e nos chamado de burros. Mesmo o autor definindo o que é fé, os cristãos atuais, em sua maioria,
não sabem o que fé significa. Ele diz que é um concreto, uma garantia segura das coisas esperadas. Também diz que
é comprovação, uma persuasão do que não se vê. O problema da nossa geração é que ela pensa que fé é crer no que
não existe. Mas não é isso. Você não vê, mas existe. Não é insegurança, não é um salto no escuro, mas o fundamento
firme e concretado de coisas que se esperam. Elas virão. Você pode morrer antes que elas venham, mas elas virão.
Elas não dependem de você as ver, senão não seria fé. Esses pastores morreram na fé, viram muitas promessas
cumpridas e outras não. Mas foram invictos e inabaláveis. Essa é a fé que devemos imitar.

Que tipo de crente é você? Sua fé chega perto da fé do seu pastor, aquele antigo pastor que lhe falou a Palavra de
Deus? Ele demonstrou a firmeza de sua fé, quando provada pelas tribulações, quando questionada pelos incrédulos.
E a sua? É uma fé semelhante, ou é aquela convicção pessoal, que ninguém discute, você tem a sua e eu a minha,
uma fé subjetiva e líquida? Não é proibido você imitar a fé, desde que seja a fé verdadeira e bíblica. Neste caso é até
uma obrigação.

CONC.: Aprendemos hoje que o texto faz menção de pastores do nosso passado. Devem estar em nossa memória de
maneira vívida. Nossa vida cristã deve ser de observação da conduta deles, como chegaram ao fim de sua carreira. E,
finalmente, que lhes imitemos a fé que tiveram.

APLIC.: Nosso autor não nos deixa na obrigação somente de olharmos para nossos pastores antigos. Ele também
diz: “Jesus Cristo, ontem e hoje o mesmo, e para dentro das eras” (v. 8). Nossos pastores passam, mas Jesus perpetra
as eras! Nosso Supremo Pastor não passa, Ele é eterno! Que graça nos concedeu, ao nos dar guias, mesmo que finitos
e passageiros! Que honra para os pastores representá-lO e que honra deve ser para nós nos lembrarmos deles,
considerar sua passagem por nós e lhes imitarmos a fé neste mesmo Senhor, Jesus Cristo! É assim que temos olhado
para nossos pastores, por meio das lentes de Cristo? Os olhos da eternidade nos fazem contemplar as coisas
passageiras com uma perspectiva celestial. É desta forma que devemos olhar, considerar, lembrar e imitar nossos
antigos pastores, por meio das lentes do Supremo e eterno pastor. Em nossa juventude, olhávamos para nossos
pastores com olhar imaturo, por vezes os achávamos exigentes e injustos. Mas com os olhos que se aprofundam para
dentro das eras, como os temos visto hoje?

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