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questões jurídico-criminais
N
os últimos dias de junho do ano passado, as festas mais animadas do XI
Futebol Resultado Da Partida
Fórum Jurídico de Lisboa, um evento que reúne a elite econômica, política e
Inter Playa Del Carmen X CF Cafetaleros de Chiapas
jurídica do Brasil do outro lado do Atlântico, aconteceram entre restaurantes
Criar conta 2.05portuguesa. Em 3.20
e bares da capital 3.40 havia duas
alguns desses eventos,
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É durante o Fórum Jurídico que Gilmar Mendes, o mais político e belicoso ministro
da Corte, exibe sua figura de ministro poderoso, a tal ponto que o evento ganhou o
jocoso apelido de Gilmarpalooza. A ocasião, porém, é ainda mais especial para a
FGV e Simonsen Leal, um senhor alto, cabelos ralos e rosto pálido. Fundação
respeitada pela produção acadêmica, a FGV é um sinônimo de prestígio em áreas
que vão da economia à administração pública.
A expertise acadêmica, associada à proximidade com o poder político, fez com que
inúmeros professores do quadro da FGV ascendessem a ministro de Estado. Até
hoje foram dezenove, de Eugênio Gudin a Paulo Guedes, incluindo oito presidentes
do Banco Central, de Carlos Langoni a Armínio Fraga. A grande maioria são
economistas de formação liberal, a linha acadêmica da fundação. “O retrato
empírico da economia brasileira no século XX foi moldado pelas estatísticas
produzidas pela FGV. O IBGE somente ocupará essa posição de produtor de
estatísticas na segunda metade da década de 1980”, diz Matheus Assaf Cosendey,
professor de história do pensamento econômico na Universidade de São Paulo.
A mais exitosa delas foi criada em 1997: a FGV Consulting, depois rebatizada como
FGV Projetos. É um braço de consultoria que presta assessoria técnica a empresas e,
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Nos últimos dez anos, a FGV recebeu 1,57 bilhão de reais por meio de 1 107
contratos, boa parte sem licitação. A grande maioria desses acordos (904) foi
celebrada com o governo federal. Outros (162) foram assinados com os estados (cem
deles com o Rio de Janeiro), de acordo com o levantamento feito pela piauí. No
Judiciário, houve 32 contratos, que somaram 33 milhões de reais. A FGV prestou
consultoria para tudo: organização de concursos públicos, “análise do clima
empresarial” no estado do Rio, assessoria na construção de um estaleiro para
submarino nuclear pela Marinha, formação de professores baianos com foco na
educação indígena. Também há contratos vagos, como o “aprimoramento da gestão
judiciária” no Tribunal de Justiça do Pará e a implantação de um “modelo sistêmico
e integrado de governança da segurança pública” em Goiás.
Com seu histórico de serviços ao Executivo, de onde extrai o grosso de suas receitas,
a FGV também começou, a partir da última década, a estabelecer laços com o
Judiciário. Mas a fundação, que décadas atrás tinha uma imagem imaculada, passou
a enfrentar maus bocados. Nos últimos anos, tem sido torpedeada por investigações
do Ministério Público e da Polícia Federal que apontam graves indícios de
malversação de recursos na casa dos milhões de reais, descontrole contábil,
corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Em meio a esse caos, cercar-se
de autoridades do Judiciário, como as que frequentam o Gilmarpalooza em Lisboa,
pode ser uma garantia de bom tratamento nos tribunais.
E
m 1998, um ano depois da criação da FGV Consulting, a Prefeitura do Rio de
Janeiro tornou-se a primeira instituição a questionar as finanças da fundação.
A Procuradoria Geral do Município ingressou com uma ação judicial
solicitando o fim da imunidade tributária da entidade, sob o argumento de
que, com a recém-criada FGV Consulting, a fundação se transformara em uma
empresa privada, lucrando por meio de contratos assinados com o poder público
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Passados cinco anos do início do processo movido pela prefeitura do Rio, surgiram
os primeiros indícios de corrupção na FGV. Em 2003, uma reportagem da revista
IstoÉ revelou que, depois de ganhar bons contratos com o poder público sem
licitação, a FGV Consulting estava subcontratando empresas que pertenciam aos
próprios diretores da fundação para executar o serviço contratado. Dos 29 contratos
assinados pela FGV em 2001 e 2002, com um total de 25,8 milhões de reais, em
valores da época, a fundação repassou 77%, (ou 19,9 milhões), para empresas de
funcionários da fundação, algumas delas dos seus diretores. Na ocasião, Simonsen
Leal confirmou a denúncia, mas justificou: “Só usamos o artifício de subcontratar as
empresas de nossos funcionários para não gerar novos encargos trabalhistas.” O
Ministério Público Federal instaurou inquérito para investigar a denúncia, mas o
caso simplesmente evaporou. Os procuradores não se lembram do que aconteceu, o
MPF não conseguiu localizar o inquérito e ninguém sabe o fim da história.
No mesmo ano de 2003, cinco meses depois da publicação da IstoÉ, a FGV assinou
um contrato de 21,8 milhões, em valores da época, com a Prefeitura de São Paulo,
na gestão de Marta Suplicy. Mais uma vez, a FGV terceirizou a realização dos
serviços. Neste caso, porém, os terceirizados não eram empresas dos diretores da
fundação, mas pessoas físicas e jurídicas ligadas ao PT. Segundo o Ministério
Público, havia um problema adicional: o contrato fora superfaturado em 340% e só
uma parte dos serviços – “incremento da qualidade do processo pedagógico e de
gestão das escolas públicas” – foi efetivamente prestada. Na época, a FGV defendeu
sua contratação sem licitação e negou o superfaturamento. O caso foi parar na 9ª
Vara da Fazenda Pública, em São Paulo, que em 2014 condenou a FGV e a então
secretária municipal de Educação, Maria Aparecida Perez, por improbidade
administrativa. (Há pouco, o Tribunal de Justiça anulou a sentença e determinou
novo julgamento, em razão de falhas processuais.)
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Com mais de duas décadas no Ministério Público, Tavares se viu diante do maior
desafio de sua carreira até então. Conseguiu seis contadores e, com o auxílio dos
promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc),
mergulhou na papelada da FGV. Os promotores e peritos encontraram uma
bagunça contábil completa. A piauí teve acesso a um relatório de 237 páginas que faz
uma descrição minuciosa da situação: os lançamentos contábeis não guardavam
relação com a respectiva conta bancária; ocorriam saques na boca do caixa em
benefício do presidente Simonsen Leal; não havia transparência sobre as finanças
das filiais da fundação, incluindo um escritório em Colônia, na Alemanha.
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procurações de 76 membros ado conselho, ou 60% do total.
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Já se sabia que, dos 28,6 milhões, a FGV Projetos repassou 9,7 milhões para o
Prosper, que, por sua vez, destinou parte do valor para as contas do então
governador Sérgio Cabral, sucessor de Rosinha Garotinho, e seu secretariado. Mas a
piauí apurou que a divisão não parou por aí. Outra parte, 2,1 milhões, foi paga para
uma empresa de fachada, que, por seu turno, repassou um cheque de 251 mil reais
para uma segunda firma, a SFQ Consultoria e Gestão Empresarial. A SFQ – sigla
que coincide com as iniciais de Sérgio Franklin Quintella, vice-presidente da FGV –
fora aberta oito meses depois do leilão do Berj. A descoberta remeteu os
procuradores a um e-mail de 2008, no qual Ricardo Simonsen escreveu: “Se
atendermos essa correria final, a venda sai e todos faturaremos logo.” Demorou três
anos, mas faturaram.
Para acobertar esses desvios, de acordo com o Ministério Público, Simonsen Leal e
Quintella ordenaram à controladoria e à contabilidade da FGV que não houvesse
“lançamento contábil relevante” nos anos de 2006, 2011 e 2013 (os anos da
assinatura do contrato com o governo do Rio e dos pagamentos). Ao tomar
conhecimento do esquema para ocultar os dados, os promotores escreveram: “O
ocupante da cúpula da estrutura fundacional [Simonsen Leal] tem integral
conhecimento das ilegalidades que afloram no seio da entidade que preside e que
deliberadamente se abstém de lhes interromper.”
Diante de tudo isso, o Ministério Público reprovou as contas da FGV referentes aos
anos 2017, 2018 e 2019. A desordem orçamentária e os desfalques de recursos
minavam a imunidade tributária da entidade e, com base nisso, o poder público
poderia pedir à Justiça a cobrança de impostos da fundação. Além do mais, em
agosto de 2020, Tavares e o Gaecc entraram com uma ação na 28ª Vara Cível do
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Tribunal de Justiça pedindo aa revista
destituição dos seis diretores da fundação,
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incluindo
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o presidente e o vice, além da quebra dos sigilos bancário e fiscal das empresas
ligadas aos diretores. A ação caiu como uma bomba nos corredores das duas
imponentes torres em frente à Enseada de Botafogo, na Zona Sul do Rio, onde fica a
sede da FGV. Nunca a poderosa fundação fora tão desafiada pelo Ministério
Público.
A
reação contra o rigor da promotora Tavares e do Gaecc começou em
dezembro de 2019, logo depois da reprovação das contas da FGV. Na
ocasião, o Confies, conselho que reúne fundações de ensino superior do país
(a FGV não integra o órgão), pediu “providências” ao Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) contra a Promotoria de Fundações do Rio. Alegou que o
trabalho da Promotoria “tem causado muita insegurança jurídica” nas fundações
fluminenses e estava “ameaçando a própria sobrevivência” dessas entidades ao
atrasar a análise das suas contas e, em alguns casos, rejeitá-las. O Confies encerrava
pedindo ao CNMP uma liminar que impedisse a Promotoria de reprovar contas das
fundações sempre que a análise ultrapassasse o período de um ano. Pedia também
que suspendesse a rejeição de contas nas análises que haviam desrespeitado esse
prazo – o que contemplava o caso da FGV.
Depois que a Promotoria de fato pediu a saída dos diretores, o CNMP agendou uma
audiência de conciliação para o dia 9 de dezembro de 2020. O que não se sabia até
agora é que, na reunião, um dos advogados da FGV, Fábio Medina Osório, que foi
palestrante do Gilmarpalooza de 2019, propôs um acordo a Tavares: a fundação
retiraria a ação pela sua destituição e, em troca, a promotora faria o mesmo com a
ação na 28ª Vara Cível, na qual pedia o afastamento da diretoria, a quebra dos
sigilos fiscal e bancário e a rejeição das contas da FGV. Tavares recusou o acordo.
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(Fábio Osório confirmou a proposta para a piauí. Tavares não quis dar entrevista.)
No mesmo dia, à tarde, o juiz Eric Scapim Cunha Brandão, substituto da 28ª Vara,
negou a destituição dos diretores e a quebra dos seus sigilos. Brandão apontou
falhas processuais, pois o Ministério Público pedia quebra de sigilo de diretores que
não constavam na ação e ainda pedia um novo administrador para a FGV sem
especificar as atribuições do cargo.
Em torno da 28ª Vara, há toda uma teia de relações. O titular da cadeira de Brandão
era o juiz Daniel Vianna Vargas. Ele é professor do mestrado em políticas públicas
do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), entidade da
qual o ministro Gilmar Mendes é sócio e que, junto com a FGV, promove o Fórum
Jurídico de Lisboa. Dois meses depois da sentença prolatada pelo substituto
Brandão, Vianna Vargas recebeu um convite do ministro Luis Felipe Salomão para
trabalhar em seu gabinete no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Salomão, além de
ministro, é corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o órgão que fiscaliza
os juízes, e um grande amigo da FGV. Hoje em dia, trabalha como coordenador-
geral da FGV Conhecimento, que cuida da organização de concursos públicos para
a contratação de servidores. (O artigo 36 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional,
de 1979, proíbe que juízes ocupem cargos de direção em fundações, mas a assessoria
de Salomão diz que sua função não equivale a “cargo de direção na FGV”.)
O ministro assumiu o caso sem que nenhuma das partes tenha pedido sua
suspeição em razão de sua parceria de longa data com a FGV no Fórum Jurídico de
Lisboa. Além disso, a FGV contratou para sua defesa o advogado Rodrigo
Mudrovitsch, que é advogado particular de Gilmar, seu ex-aluno, também professor
do IDP e um dos palestrantes no Gilmarpalooza, na capital portuguesa. Em cinco
dias, o ministro negou a liminar pedida pelo MP e manteve a decisão do CNMP que
estabelecia o prazo de um ano para análise das contas das fundações. Disse que o
conselho tem autonomia para decidir sobre os atos dos promotores, que, no caso do
Rio, na opinião do ministro, extrapolaram as “regras constitucionais e legais”.
Depois da decisão de Gilmar, o recurso movido por Tavares e pelo Gaecc contra a
sentença de Brandão estava prestes a entrar no Tribunal de Justiça do Rio quando
surgiu outra novidade: Tavares foi surpreendida com a notícia de que os outros
dois promotores haviam assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
Um deles, José Marinho Paulo Junior, acabara de assumir a fiscalização da FGV no
lugar de Tavares. A troca é comum, já que há um rodízio trianual entre os
promotores que fiscalizam fundações, mas a assinatura do TAC chamava a atenção.
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A piauí teve acesso ao documento, que dizia que cabe ao Ministério Público
“estimular a solução consensual e proativa dos conflitos e controvérsias […] a fim
de que seja reduzida a litigiosidade”. Também dizia que o MP aceitara arquivar a
ação civil em que pedia a destituição dos diretores da FGV, as quebras dos sigilos
bancário e fiscal e a rejeição das contas. Por fim, a Promotoria renunciava a quatro
inquéritos civis que investigavam a FGVe o governo estadual por improbidade no
caso do Berj.
Era uma renúncia total a tudo o que fora descoberto e a todas as medidas punitivas.
Em troca, a FGV assumia o compromisso de fazer estudos de “reengenharia
organizacional” e “reestruturação contábil”, repassar 9 milhões de reais a entidades
de assistência social, ceder vagas em seus cursos para servidores públicos estaduais
e doar 250 laptops a escolas – obrigações que foram cumpridas. Embora o TAC
incluísse investigações por improbidade administrativa contra os diretores da
fundação – que eram de responsabilidade de Varas da Fazenda Pública, e não na 28ª
Vara Cível –, o próprio juiz Brandão homologou o acordo.
Com isso, o caso estava enterrado – no STF, no CNMP, no Tribunal de Justiça. Logo
depois da rasteira que levou, Tavares pediu para deixar a Promotoria de Fundações.
Hoje, ela atua em uma vara judicial cível em Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense. Procurada pela piauí, ela não quis se manifestar. Mas aos seus colegas
promotores mais próximos, ouvidos pela reportagem, Tavares costuma dizer que
está decepcionada com o Ministério Público e pensa em abandonar a profissão e o
direito.
Concluídas a troca dos promotores e a assinatura do TAC, nunca mais a FGV teve
problemas com o Ministério Público do Rio de Janeiro. O promotor José Marinho
Paulo Junior, que assumiu a fiscalização da fundação no rodízio, foi um dos
palestrantes do xi Fórum Jurídico de Lisboa. Mediou a mesa “Responsabilidade
social: uma emergência”. Em troca de e-mails com a piauí, disse que o TAC só foi
assinado “após as sucessivas e contundentes derrotas antes sofridas [no Judiciário],
que inviabilizaram o êxito da ação”. As “sucessivas e contundentes derrotas” do
Ministério Público são duas: a manutenção da liminar do CNMP por Gilmar e a
sentença de Brandão, sendo que o recurso ao Tribunal de Justiça nem chegou a ser
julgado. Sobre sua participação no evento da FGV em Lisboa, o promotor disse
“repudiar, com veemência, qualquer insinuação de desvio de atuação”. E completou
com crítica ao trabalho da piauí: “O jornalismo imparcial e comprometido com a
verdade deve lastrear-se nos fatos e não em execráveis aleivosias.”
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A
amizade entre o ministro Gilmar Mendes e a cúpula da FGV remonta a 2002,
quando a fundação criou seu curso de direito, sob a coordenação do jurista
Joaquim Falcão. Um dos objetivos era aproximar o Judiciário da sociedade e
da academia. Quem se incumbiu de construir esse elo foi o advogado Sidnei
Gonzalez dos Santos, que chegara à FGV no ano anterior, vindo da Fundação
Roberto Marinho, onde era superintendente jurídico. Sob a batuta de Gonzalez dos
Santos, a FGV passou a abrir as portas para magistrados ocuparem posições de
professor, palestrante e até jurados em premiações de projetos inovadores no
Judiciário.
Gilmar Mendes tornou-se assíduo nesses eventos. Afinal, além de ministro do STF,
ele era – e ainda é – sócio do IDP, que tem sede em Brasília e filial em São Paulo.
Com 367 professores e cerca de 1,3 mil alunos, o IDP tornou-se conhecido no meio
jurídico por promover eventos com juízes. Deste modo, o IDP e o curso de direito
da FGV encaixaram-se nos seus propósitos como a mão e a luva. Interessava à
fundação e também ao ministro.
Não se sabe se Cunha Campos efetivamente ligou para Gilmar. Procurados pela
reportagem, nem ele nem o ministro quiseram se manifestar. O fato é que Marco
Aurélio Bellizze tornou-se ministro do STJ em setembro de 2011, dois meses após o
e-mail de Campos para Fichtner. A formação do Judiciário brasileiro, como se sabe
desde os tempos do Império, se construiu por meio de relações pessoais, e as
conexões de amizade e parentesco estão sempre presentes nas indicações. Quando
não se trata de nepotismo, não é crime, nem é ilegal, embora arranhe a
impessoalidade que seria ideal nas instituições públicas.
Gilmar Mendes está longe de ser o único a usar sua influência na composição dos
tribunais, mas é o mais longevo. É o decano do Supremo, para onde foi indicado
pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002. “Ele [Gilmar] se dedica
à construção desse poder há muitos anos, por meio de uma ampla teia de relações
políticas”, diz o professor de direito constitucional da USP, Conrado Hübner
Mendes, cuja independência intelectual, em geral agudamente crítica ao Judiciário,
vem causando desconforto entre certas cúpulas dos tribunais – e chegou até a
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22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
O artigo de Hartmann irritou Gilmar Mendes, porque o criticava por ter impedido a
posse de Lula como ministro da então presidente Dilma Rousseff, no ano anterior.
Nas palavras de Hartmann, que não via fundamento jurídico na decisão, Gilmar
“preferiu tomar para si o poder de escolher ministros”. Meses depois, em um
julgamento no STF, Gilmar atacou Joaquim Falcão e Ivar Hartmann, sem citá-los
nominalmente. Acusou-os de usar em vão o “santo nome da Fundação Getulio
Vargas” e chamou-os de “picaretas produzidos em Harvard”, referindo-se ao fato de
que os dois estudaram na universidade americana.
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22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
Joaquim Falcão e Hartmann não quiseram dar entrevista. O certo é que, por decisão
de Simonsen Leal, Falcão deixou a direção do curso de direito da FGV em outubro
de 2017, e a pesquisa do Supremo em Números deixou de existir tempos depois.
(Em janeiro de 2021, Hartmann, autor do artigo, saiu da fundação. Naquele mesmo
ano, Falcão, que continuara como professor da instituição depois de deixar a chefia
do curso de direito, foi demitido.) Ainda antes do fim do Supremo em Números,
todas as pesquisas da FGV – e não apenas as do curso de direito – passaram a ser
submetidas ao crivo de Leal. O mecanismo de avaliação prévia das pesquisas
chama-se “Rede de Pesquisa e Conhecimento Aplicado”.
“O nome engana”, diz um ex-pesquisador da FGV que pede o anonimato para não
se indispor com a direção da fundação. “Apresenta-se como uma estrutura de apoio
à pesquisa, mas dez em cada dez pesquisadores logo perceberam que era uma
estrutura de controle. Muitos tiveram grandes brigas internamente. A diretora dessa
unidade era uma ex-assessora do Carlos Ivan [Simonsen Leal] que despachava todos
os projetos de pesquisa com ele. Não estou exagerando. A estrutura começou a
exigir que qualquer pesquisa que envolvesse a submissão a qualquer edital público
ou privado, ou mesmo recursos internos para custear os pesquisadores, estudo de
campo etc., deveria passar por essa aprovação. Então começaram a ficar comuns os
vetos.”
D
esde 2019, duas delegadas da Polícia Federal do Rio, Paula Ortega Cibulski e
Mariana Zanardi do Prado, vinham conduzindo um inquérito para apurar
minha conta
corrupção, evasão dea divisas
revista
e lavagem de dinheiro na FGV. O caso fora
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22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
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22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
por causa da investigação que estava sendo tocada. Em diálogo captado pela PF,
Duque relembra a cena para um amigo engenheiro: “No ano passado, no corredor
da fundação, Cesar Campos me cerca e fala assim: ‘Ó, eu vou… vou embora!’ Eu
falei: ‘Porra, cê vai embora?’ ‘Vou embora. Vou embora que eles tão me acusando,
tô com medo de ser preso.’”
Outros contratos se seguiram. Depois de 2017, a Marinha firmou mais três acordos
com a FGV, todos com objetivos muito parecidos, que consistiam em apoiar a
construção de um estaleiro naval em Itaguaí, no Rio de Janeiro. Em setembro de
2020, Duque e um gerente técnico da FGV Projetos, Maurício Wanderley Estanislau
da Costa, discutiram em um telefonema quanto iam embolsar em cima dos três
contratos. “Eu queria era decidir com você o que a gente faz com essa questão aí do
valor que você tirou lá do meu prêmio que, pô, eu, particularmente, tô
desconfortável com isso”, disse Estanislau Costa, de acordo com a transcrição a que
a piauí teve acesso. As expressões “rateio” e “prêmio”, segundo a polícia, são
eufemismos para propina.
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22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
Na avaliação das delegadas Cibulski e Prado, o trio da FGV formado por Cunha
Campos, Duque e Santos estava encarregado das “negociações escusas” da FGV
Projetos. Junto com Quintella, os três são qualificados como “líderes da organização
criminosa”. Mas Ricardo Simonsen, o filho do ex-ministro e diretor técnico da FGV
Projetos, também recebeu dinheiro da fundação: entre 2017 e 2018, empresas de
fachada pertencentes a ele receberam 2,4 milhões de reais da entidade. A PF
suspeita que parte desse recurso terminou em uma das seis empresas que ele e sua
mulher mantêm no exterior, três delas em offshores. Documentos da base de dados
Pandora Papers, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, obtidos
pela piauí apontam que duas dessas offshores, sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas,
têm, juntas, 2,37 milhões de dólares em ações. A defesa de Ricardo Simonsen afirma
que o empresário declara todas as suas offshores ao Fisco brasileiro, conforme prevê
a lei. O relatório da Polícia Federal sobre o caso não traz essa informação.
A
Operação Sofisma foi deflagrada na manhã de 17 de novembro de 2022. Os
agentes resolveram batizar a operação com esse nome para mostrar que a
alardeada credibilidade da FGV é enganosa. Enquanto uma equipe de
policiais entrava na sede da fundação em Botafogo, outras ingressavam nos
endereços das casas e empresas dos diretores da fundação. Além de celulares e
notebooks, a PF apreendeu na antiga sala de Duque um documento intitulado
“Mapa de prêmios diretores da Projetos 2009-2019”. A polícia também encontrou na
casa de Quintella (que estava acamado na ocasião) alguns documentos sobre a
Werneck, situada nas Bahamas. Aos agentes, a mulher de Quintella disse que o
dinheiro da conta do marido na Suíça “nunca esteve em território brasileiro”. Sobre
minha conta a origem do recurso, ela deuaduas
revistaexplicações distintas. Primeiro, disse
fazer que vinha
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22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
A FGV agiu rápido. No mesmo dia 17, Simonsen Leal assinou uma procuração
constituindo um advogado para defender a fundação na Operação Sofisma. O
nomeado era Rodrigo Mudrovitsch, o advogado particular de Gilmar Mendes.
Nesses casos, o caminho usual da defesa é ingressar com um habeas corpus na
instância imediatamente superior à 3ª Vara Federal Criminal do Rio – no caso, o
Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Em caso de recusa do habeas corpus no TRF,
caberia então recurso à instância seguinte, o STJ. E, em caso de nova derrota no STJ,
a defesa finalmente recorreria à última instância, o Supremo Tribunal Federal.
Com o caso na mão, Gilmar tinha três caminhos: julgar-se suspeito pelo fato de o
habeas corpus ser assinado por seu advogado particular, rejeitar o pedido afeito ao
direito penal dentro de uma ação cível ou, ignorando esses dois pontos, conceder ou
negar o habeas corpus. O ministro concedeu o habeas corpus e ainda criticou a
“indevida expansão ou universalização da competência da Justiça Federal do Rio de
Janeiro”. Escreveu: “Não é por outro motivo que as defesas dos acusados vêm se
insurgindo há bastante tempo contra essa estratégia inquisitiva. […] Além disso, a
manutenção das medidas constritivas poderá conduzir a graves danos de difícil e
incerta reparação na gestão da Fundação Getúlio Vargas, entidade
internacionalmente conhecida que há muito contribui para o desenvolvimento da
pesquisa no Brasil.”
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Coerente com uma posição que tem defendido desde os tempos do vale-tudo da
Operação Lava Jato, Gilmar explicou sua defesa do sigilo do material apreendido:
“Como muito bem se sabe, não são raros os eventos em que informações
confidenciais, constantes de inquéritos policiais que tramitam sob segredo de
Justiça, são perversamente transmitidas para terceiros, normalmente com o
propósito de atingir a honra e a imagem de investigados.” Em ofício às delegadas
Cibulski e Prado, Gilmar pediu para que fosse discriminado todo o material
apreendido na operação, quis saber se foram extraídas cópias dos conteúdos dos
celulares e computadores apreendidos e quais peritos tiveram acesso aos
equipamentos. As delegadas responderam que não houve sequer acesso aos
celulares e computadores pela PF.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/como-a-fgv-enterrou-investigacoes-de-corrupcao-de-seus-diretores/ 17/23
22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
A piauí enviou onze perguntas para a FGV em agosto do ano passado e mais duas
em meados de fevereiro. Na primeira rodada, entre outras indagações, a revista
perguntou sobre os indícios de desvios, tudo somado, de pelo menos 62,7 milhões
de reais para empresas de fachada ligadas aos diretores da fundação, sobre os
pagamentos a título de bônus que não são previstos em lei no caso de fundações
sem fins lucrativos, sobre eventuais falhas no setor de compliance da entidade e
sobre a pressão dos advogados da FGV para resgatar o material apreendido na
Operação Sofisma em pleno fim de semana. A nota enviada pela FGV tem catorze
parágrafos, dos quais seis dizem que a piauí está publicando material requentado e
defendem a excelência acadêmica da fundação. Segue a íntegra:
Assim, carece, no mínimo, de reflexão o fato de que os temas e respectivos derivativos das
perguntas enviadas pela revista piauí, para o embasamento da matéria que pretende
produzir, já tenham sido repetidos e publicados na mídia nacional, em alguns casos, em mais
de uma centena de vezes nos últimos cinco anos – grande parte em matérias que suprimiam
ou modificavam as respostas enviadas pela instituição.
Com o intuito de contribuir com essa reflexão, a FGV utilizou uma ferramenta de busca da
empresa Knewin (considerada a maior em tecnologia de dados), em relação aos cinco últimos
anos. A amostragem atingiu 215 617 veículos impressos e online, com dezenas de
combinações de palavras e expressões associadas às perguntas ora formuladas. Em três dos
onze questionamentos feitos, em 8 de agosto de 2023, pela piauí, as respostas estavam
contidas, em parte, à exceção dos comunicados oficiais, demonstrando a ocorrência, nos
últimos cinco anos, de 367 perguntas com temas iguais ou correlatos aos que a revista ora
nos submete. Trata-se de uma questão complexa que, acredita-se, ultrapassa, em muito, o
objetivo que deve pautar a piauí de bem informar ao seu público.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/como-a-fgv-enterrou-investigacoes-de-corrupcao-de-seus-diretores/ 18/23
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Afinal, com 78 anos de atividades em prol do desenvolvimento do país, a FGV conta com
reconhecimento internacional quanto ao seu nível de excelência, sendo, atualmente, a terceira
think tank do mundo e, há mais de dez anos, o principal centro de pensar da América
Latina. A FGV tem, há anos, três das cinco escolas de graduação mais bem avaliadas pelo
mec.
A Fundação Getulio Vargas assegura emprego direto, atualmente, para mais de 3 mil
profissionais e possui dezenas de milhares de alunos em seus cursos de graduação e pós-
graduação, online e presenciais. Somente durante a pandemia, a FGV disponibilizou mais de
uma centena de cursos online, inteiramente gratuitos, assegurando conhecimento e
treinamento, naquele grave momento, para cerca de 2 milhões de brasileiros.
A insinuação feita pela revista que todos os governantes, em geral, historicamente, teriam
favorecido a FGV não se sustenta por si só.
A FGV desenvolveu e possui, hoje, projetos que buscam e analisam dados estatísticos dos três
poderes, inclusive sobre o funcionamento do Judiciário, muito mais profundos, relevantes e
precisos do que os dados apresentados pelos pesquisadores do Supremo em Números.
A ação civil pública ajuizada contra a FGV em 2019 foi indeferida por ausência dos
requisitos para sua continuidade e, mesmo assim, a fundação e o MPRJ firmaram um termo
que foi judicialmente homologado, que pôs fim à contenda, sem qualquer reconhecimento de
irregularidade de parte a parte.
minha conta a revista fazer logout
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/como-a-fgv-enterrou-investigacoes-de-corrupcao-de-seus-diretores/ 19/23
22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
As contas e as práticas contábeis da FGV foram, todas, até aqui aprovadas pela Promotoria
de Fundações responsável pelo seu velamento, não restando, portanto, quaisquer
irregularidades em sua contabilidade. Pagamentos de atuação profissional por pessoa jurídica
do prestador é ato legítimo reconhecido como tal pelo Judiciário, em diversos segmentos,
inclusive em relação a contratos firmados entre profissionais e órgãos de imprensa.
Não há qualquer inconsistência legal na eleição dos quadros direcionais da FGV, tanto que
todas as assembleias realizadas até a presente data foram aprovadas pelo Ministério Público
do Estado do Rio de Janeiro, onde são registradas, inclusive, as respectivas atas.
Quanto ao Fórum Jurídico de Lisboa, foi realizado em 2023 pelo décimo primeiro ano e com
parceria com a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Os palestrantes do evento
são reconhecidos professores e líderes, europeus e brasileiros, que discutem temas pertinentes
à Europa e ao Brasil. O evento é aberto ao público e atrai grande interesse da comunidade
acadêmica de brasileiros residentes na Europa, motivo pelo qual, historicamente, ocorre na
capital de Portugal.
C
om a investigação da Polícia Federal praticamente neutralizada, começou a
caça às bruxas. Como corregedor do Conselho Nacional de Justiça, o
ministro Luis Felipe Salomão, o atual coordenador da FGV Conhecimento,
intimou todos os magistrados de plantão no TRF do Rio num fim de semana
de novembro. Em tese, queria esclarecer por que os juízes relutaram em entregar o
material apreendido na Operação Sofisma aos advogados dos investigados. A piauí
pediu ao CNJ informações sobre o que foi investigado a respeito da conduta dos
magistrados e as eventuais punições aplicadas, caso alguém tenha de fato agido de
modo irregular. O CNJ não deu explicações e manteve o caso sob sigilo.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/como-a-fgv-enterrou-investigacoes-de-corrupcao-de-seus-diretores/ 20/23
22/03/2024, 09:07 "Um poder político extraordinário"
A própria atuação do Ministério Público em fundações como a FGV está sob risco.
Em dezembro passado, o advogado Mudrovitsch, na condição de integrante de uma
comissão de juristas formada pelo Senado para revisar e atualizar o Código Civil,
sugeriu uma alteração no artigo 66. Se a sugestão for aceita, o Ministério Público
passará a fiscalizar apenas fundações de “direito público”, deixando de fora as
entidades de “direito privado”, como a FGV. A proposta de Mudrovitsch foi
entregue para o presidente da comissão do Senado. É o ministro Luis Felipe
Salomão, que coordena um braço técnico da FGV.
H
ouve um súbito silêncio quando Carlos Ivan Simonsen Leal começou a
descer as escadas do auditório da FGV em Botafogo, na manhã nublada de
13 de março do ano passado. Fazia quatro meses que a Polícia Federal
invadira aquele mesmo prédio durante uma investigação contra a fundação
septuagenária. Logo atrás de Leal, vinha uma fila das mais altas autoridades da
República e do Rio de Janeiro, cercadas por seguranças. Entre elas, estavam o
ministro Gilmar Mendes, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Ricardo
Cardozo, o procurador-geral do Ministério Público estadual, Luciano Mattos, e o
diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Todos representavam as
instituições envolvidas, em maior ou menor grau, nas investigações contra a FGV
detalhadas nesta reportagem.
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*Este parágrafo foi alterado para refletir uma correção. Uma versão anterior afirmava que
Gilmar Mendes e Carlos Ivan Simonsen Leal haviam jantado no terraço do Hotel Tivoli, no
qual o ministro fumou um charuto e mandou dizer que o consumo daquela noite era por sua
conta. A versão anterior ainda dizia que Gilmar e Simonsen haviam almoçado no Solar dos
Presuntos e, no final do Fórum, haviam se hospedado na Quinta da Romaneira, do banqueiro
André Esteves, dono do BTG Pactual. Todas essas informações, por incorretas, foram
suprimidas da versão atual.
Allan de Abreu
Repórter da piauí, é autor dos livros O Delator, Cocaína: A Rota Caipira e
Cabeça Branca (Record)
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/como-a-fgv-enterrou-investigacoes-de-corrupcao-de-seus-diretores/ 22/23
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Aqui mando eu
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