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Atualizado em 19.

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Lacey Smith conheceu seu príncipe encantado, iniciou o curso dos seus sonhos e estava passando
pela melhor fase de sua vida.
Aqueles momentos de dor e desequilíbrio haviam ficado para trás e tudo o que lhe restava era viver
como qualquer outra garota de sua idade.
No entanto, as coisas começam a se complicar quando ela percebe que o mundo cheio de glamour
no qual Thomas Ward está inserido, não é tão excitante assim. E é aí que começam suas dúvidas:
será que ela conseguirá lidar com o peso de namorar um homem tão poderoso?

Além disso, logo cedo ela descobre que a universidade não é para os fracos, que nem todas as
famílias querem o bem de seus pares, que o universo corporativo não é tão excitante assim e que
basta vacilar um pouco, para que problemas do passado voltem para te atormentar.

No segundo volume de WARD, Lacey e Tom terão que aprender a conviver com o ciúme,
armações e inimigos que farão de tudo para destruir esse conto de fadas.
AVISO
NOTA DA REVISORA
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
EPÍLOGO
CAPÍTULO BÔNUS
CONHEÇA A ESTÓRIA DE LOUISE E TONY
TRECHO DE LOUISE STONE
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
FALE COM A AUTORA
Caras leitoras,

Os personagens deste livro são derivados do livro LOUISE STONE, A DEUSA DO AMOR ,
e embora haja menção a alguns personagens deste, o enredo de WARD é independente.
Caso ainda não tenha lido A DEUSA DO AMOR , e queira saber como esta estória
começou, o link do livro estará no final do livro.

Boa leitura,
Cleo Luz.
O texto a seguir foi revisado de acordo com as novas Regras Ortográficas, entretanto,
com o intuito de deixar a leitura mais leve e fluida, a autora usou de linguagem informal em
vários momentos, especialmente nos diálogos, para que estes se aproximassem da comunicação
oral cotidiana, por isso, é possível encontrar objetos que não estão em conformidade com a
Gramática Normativa.
Para fácil diferenciação do leitor, termos coloquiais, gírias, estrangeirismos, neologismos,
regionalismos, termos técnicos, destaques da autora, entre outros, foram grafados em itálico.
Abri as cortinas do meu quarto com um sorriso reluzente no rosto.
Nova York era incrivelmente linda o ano inteiro, mas naquela semana em
especial, eu estava achando a cidade maravilhosa.
Claro que esse meu estado de espírito devia estar apenas refletindo meu
interior, já que nunca estive tão feliz.
Meu namoro com Thomas estava incrível e o curso que escolhi me
surpreendeu de maneira muito positiva. Parecia que, pela primeira vez, minha
vida, sempre tão bagunçada, estava se encaixando e eu me encontrava no
lugar certo.
Quando as aulas iniciaram, eu pensei em deixar o estágio, porém,
mesmo tendo perdido um ano, concluí que lá na empresa aprenderia tanto
quanto em Columbia e decidi não pegar um número muito grande de créditos,
dessa forma, ficaria com tempo livre suficiente para continuar trabalhando.
Isso poderia aumentar meu tempo de universidade, mas me proporcionaria
conhecimento e experiência.
A princípio, Tom foi contra; ele achava que eu não conseguiria
conciliar as duas coisas, porém, ao perceber minha tristeza, acabou aceitando
e abrindo uma exceção para que eu estagiasse nas horas vagas, contanto que
esse tempo não fosse atrapalhar meus estudos.
Além disso, segundo ele, também seria uma forma de me ver todos os
dias e, nesses três meses, desde que iniciei o curso, estava dando muito certo.
Quanto ao nosso relacionamento, a empresa em peso já sabia. E
embora, tanto eu quanto Thomas, tentássemos ser discretos, sempre havia
uma fofoca ou outra, no entanto, resolvi não dar ouvidos a elas. Nós não
estávamos fazendo nada de errado, estávamos apenas apaixonados e não nos
desculparíamos por isso.
Naquele dia eu cheguei ao campus mais cedo e fui diretamente ao
prédio da Low Library[1] para resolver algumas pendências. Quando saí, notei
que alguns alunos já se aglomeravam na escadaria para esperar os integrantes
de suas tribos.
Estava me aproximando da Alma Mater[2] quando vi mais uma cena
bizarra protagonizada por Megan Wilson e seu séquito.
Tom achava engraçado quando eu falava que os filmes conseguiam
retratar quase que com exatidão o que acontecia nos colégios e universidades
e que em Columbia havia uma encarnação de Regina George[3].
Para aumentar o estereótipo, ela era alta e linda, com o corpo bem feito,
cabelos cor de avelã e olhos escuros como a noite, mas frios como uma pedra
de gelo.
Desde que minhas aulas começaram, eu tentava passar despercebida
entre aquelas pessoas, mas isso não me impedia de ver o quanto eram cruéis,
como acontecia naquele momento.
Para variar, ela e suas amigas fúteis estavam fazendo bullying com uma
garota que passava apressadamente diante delas.
Após as “Patricinhas de Beverly Hills” zombarem da menina, ela se foi,
quase tropeçando nas próprias pernas, o que fez todas elas caírem na
gargalhada.
Segui na mesma direção da garota e a encontrei sentada em um dos
bancos próximos à Avery Hall, bem fora do alcance daquelas idiotas.
— Oi, está tudo bem? — perguntei ao me aproximar.
— Está, sim, obrigada por perguntar, mas é melhor se afastar. Se elas te
virem comigo, será seu suicídio social.
Sorri e balancei a cabeça. Eu tinha passado por uma depressão terrível e
superado, não seriam algumas garotas mimadas que iriam me abalar.
— Meu nome é Lacey Smith e, sinceramente, não me importo com a
opinião delas.
A garota sorriu sem jeito e devolveu o cumprimento.
— Amanda Dohler, prazer.
Apertamos as mãos e, depois de me olhar dos pés à cabeça, ela
continuou:
— Você é linda, bem o tipo que Megan procura para se juntar a elas.
Sorri com aquele comentário.
— Obrigada pelo elogio, mas não tenho qualquer intenção de ser amiga
desse tipo de gente.
Enquanto seguíamos para o prédio de Matemática, descobri que
Amanda havia acabado de ser transferida e aquela era sua primeira semana.
Ela, assim como eu, estava no primeiro ano, motivo pelo qual teríamos
algumas das aulas do currículo comum juntas, como a de Cálculo, a primeira
de ambas naquele dia.
Alguns minutos depois de entrarmos na sala de aula, Megan entrou
acompanhada de uma de suas amigas. Por também estarem no primeiro ano,
elas fariam algumas dessas matérias comuns tanto comigo quanto com
Amanda e apenas saber disso já me fazia suspirar de desgosto.
Era possível ver o receio de alguns alunos conforme ela passava e,
como já havia acontecido outras vezes, me lançou um olhar avaliativo.
Percebi que avaliou minhas roupas, que certamente não eram de grife, e se
demorou em meu cabelo.
Tive vontade de revirar os olhos, mas logo o professor entrou, contudo,
antes que eu pudesse respirar aliviada, ela foi se sentar bem perto de mim,
algo que nunca havia acontecido.
Era só o que me faltava, pensei.
A aula começou e a partir daquele momento foquei no conteúdo que
estava sendo passado. Sonhei tanto com aquele curso que jamais perderia
meu tempo com outras coisas.
Eu estava orgulhosa de mim e do quanto estava me esforçando para dar
conta de tudo. Era trabalhoso e cansativo, mas a sensação de ter uma vida
cheia de compromissos e propósitos era maravilhosa e me fazia sentir útil.
Estava a caminho da minha segunda aula quando fui abordada por
Megan.
— Lacey, não é? — perguntou ela, com falsa simpatia.
— Sim, Lacey Smith.
Ela deu um sorrisinho ensaiado e continuou:
— Vi você sentada com a Amanda, mas eu e minhas amigas estamos
dispostas a relevar esse seu engano — disse ela, toda cheia de si.
Não podia acreditar que estava ouvindo aquilo. Mas ela não me
conhecia.
— Oh, mas não foi um engano, querida — falei, tão falsa quanto ela
—, achei Amanda incrível e ficarei super satisfeita se ela me quiser como
amiga. Agora, se me der licença, eu preciso ir — avisei e a deixei falando
sozinha.
Antes de virar no corredor, olhei por cima dos ombros e a vi me
fuzilando com o olhar.
Eu estava na universidade há poucos meses e já tinha arrumado uma
inimiga.
Que ótimo!

Eram 15h quando cheguei ao andar de projetos da Ward Corporation.


Como acontecia todos os dias, recebi aquela chuva de olhares. Talvez fosse
apenas coisa da minha cabeça, mas não conseguia parar de imaginar que, ao
me verem, eles sempre pensavam: lá vem a namoradinha do chefe, cheia de
privilégios.
Abby continuava linha dura comigo, mas acatou a ordem de Tom sem
pestanejar. Contudo, eu não gostava de provocá-la e tentava a todo custo ser
o mais eficiente possível para não entrar em conflito com ela.
Fui direto para minha mesa e comecei a trabalhar. Estava tão envolvida
com o que precisava fazer que, quando dei por mim, o andar já estava
completamente vazio. Na maioria dos dias era assim, eu ficava tão focada que
me esquecia do resto do mundo.
Tom falava que me via pelas câmeras e que as poucas horas que
passava ali rendiam mais do que o dia inteiro de certos funcionários que só
passeavam e conversavam.
No fundo, eu achava que era brincadeira dele, pois todos naquela
empresa eram bastante comprometidos, especialmente em meu setor, com
Abby sempre de olho.
— Que estagiária aplicada — disse Joly, parando em frente à minha
mesa.
— Hey, que surpresa! — falei e me levantei para abraçá-la.
Por causa do meu novo horário de trabalho, era difícil nos
encontrarmos pelos corredores, e depois que minhas aulas começaram, nós
nunca mais saímos, então, estava sentindo muita saudade.
— Eu estava na cafeteria do térreo quando vi Abby saindo e resolvi
comprar isto aqui para você — disse, me entregando uma vitamina de frutas.
— Obrigada, é a minha preferida.
— Que tal um cinema essa semana? Se seu namorado gato deixar,
claro — ela brincou.
Bem que eu queria, mas não sabia quando poderia... Além de passar
quase o dia todo no campus e o restante do tempo na empresa, quando
chegava em casa tinha que estudar ou fazer algum trabalho.
Além disso, precisava dar atenção a Tom. Ainda bem que ele entendia
que estávamos em fases diferentes e me apoiava em meus planos, embora
sempre me fizesse pensar bem em tudo. Até então, coisas que poderiam se
tornar um problema ao namorar um homem mais velho, e com outros
interesses, não existiam entre nós.
— Sempre durmo na casa dele na quarta-feira e nos fins de semana,
mas vou ver se consigo negociar e te aviso.
— Perfeito, te aguardo.
Logo depois que ela saiu, consegui finalizar meu trabalho e dei o dia
por encerrado.
A caminho do elevador, pensei em ligar para Tom, mas acabei
desistindo. Sempre que nos ligávamos, ficávamos um tempão no telefone,
mas naquele dia eu estava cansada demais, com a cabeça fervilhando e louca
para chegar à minha casa.
Aquela rotina era tão nova e tão boa, muito diferente de quando
passava meu tempo pensando em Jace e numa forma de reconquistá-lo.
Os meses de amizade e namoro com Tom me fizeram amadurecer,
enxergar as inúmeras coisas que a vida tinha a me oferecer e perceber que eu
estava sendo muito boba em apostar todas as minhas fichas em um
relacionamento falido.
Quando saí do banho meu celular estava vibrando em cima da cama.
Era ele.
— Oi — atendi.
— Ainda lembra que tem namorado? — ele brincou.
— Claro que sim, só precisava tomar um banho para estar relaxada
antes de te ligar.
— Tudo bem, eu entendo. Bom, queria avisar que terei de ir a
Londres amanhã para resolver alguns problemas.
Eu não gostava de suas viagens, principalmente porque sabia que
esses problemas poderiam envolver sua ex-mulher. Porém, embora
tivéssemos total liberdade para falar qualquer coisa desde que éramos apenas
amigos, eu nunca interferi ou opinei sem que ele pedisse.
— Vai demorar para voltar?
— Vou amanhã e volto na sexta.
— Quer dizer que ficaremos quatro dias sem nos ver? — reclamei, de
brincadeira, mas meu coração estava apertado.
— Sim, por isso pensei que você poderia dormir aqui hoje. Posso
deixá-la na universidade amanhã, antes de ir para o aeroporto.
Fiquei feliz com o convite dele. Era exatamente nisso que eu estava
pensando, mas não queria falar para não parecer a namorada grudenta. Nós
dois nos dávamos muito bem, mas eu ainda tinha minhas incertezas e medos.
Dez anos de diferença não eram muita coisa, mas o fato de eu ter
somente 19 anos quando começamos a sair fazia com que essa diferença se
tornasse maior. Por mais madura que fosse — ou tentasse parecer —,
Thomas já tinha vivido muito mais, tido dezenas de relacionamentos e
experiências que estavam muito longe da minha realidade.
Por isso, eu talvez tivesse uma parcela maior de neuras do que as
mulheres mais velhas, e sabia que, às vezes, Tom percebia minha
insegurança. Nessas horas ele falava ou fazia algo para garantir o quanto
estava satisfeito com o que tínhamos e eu tentava compensar sendo uma
namorada legal e companheira.
Isso não queria dizer que vivíamos em “lua de mel”. Nós já havíamos
discutido algumas vezes com ou sem alguma razão plausível, mas, no final,
sempre nos acertávamos.
— Vou me vestir e em meia hora estarei aí — garanti.
— Combinado.
Joguei o telefone em cima da cama e corri para o meu closet. Ficaria
sem meu namorado o resto da semana, mas ao menos aquela noite seria cheia
de sexo.
Era sempre bom voltar a Londres.
Todavia, mesmo ali, onde cresci e onde estavam todos os meus amigos,
minha rotina sempre foi bem comedida. Eu nunca fui muito de boates, e
ainda que não fosse presunçoso como minha mãe, tinha que admitir que meus
programas eram mais esnobes, com pessoas seletas. Não pelas pessoas em si,
mas pelo potencial que tinham.
Sempre tive em mente conquistar a presidência das empresas da
família, então, precisei fazer esse tipo de articulação desde cedo e me associar
com potenciais investidores e clientes, era primordial para provar que eu
estava pronto.
Após conseguir o tão sonhado cargo de CEO na Ward Corporation, eu
trabalhei por anos para elevar o faturamento e o prestígio do nosso
conglomerado, confiado a mim por meu pai, uma vez que meu irmão nunca
demonstrou muito interesse em fazer parte desse meu sonho e apenas nos
últimos anos desistiu da vida boêmia que tinha e resolveu se aquietar, motivo
pelo qual lhe dei uma chefia.
Ao contrário de mim, Devon tinha um espírito livre. E quando mais
jovem, adorava viajar. Ele odiava rotina, então, trabalhava por alguns meses
comigo, mas logo que se enfastiava, ia embora novamente.
O problema de ele passar tanto tempo fora era ter que aguentar Cybele
sozinho. Ainda desconfiava de que o motivo de suas viagens constantes fosse
exatamente esse: sair de seu radar e não ter que conviver com ela.
Por causa disso, sua atenção era focada em mim, no meu casamento, no
meu desempenho como gestor e esse foi um dos motivos que me levou a
expandir os horizontes. Se não fosse minha mãe, acho que jamais teria
pensado em abrir uma filial em outro país.
Isso não queria dizer que ela tenha me deixado em paz. A distância não
a impedia de entrar em contato incontáveis vezes, por meio de e-mails,
mensagens e telefonemas, tanto para meu celular quanto para minha
secretária, com o intuito de me vencer pelo cansaço, exatamente como vinha
fazendo há 15 dias.
Depois de repetidas negativas, ela informou que, se eu não fosse a
Londres, daria um jeito de me encontrar em Nova York. E embora não a
quisesse ali, em meu território, não cederia às suas chantagens.
Mas meu irmão alertou que ela parecia muito decidida a falar comigo,
então, como teria que participar de várias reuniões e jantares com
funcionários do alto escalão e empresários de Londres, aproveitaria para ir à
sua casa e resolver logo o assunto.
Depois de passar uma noite maravilhosa com Lacey, eu a deixei na
universidade e segui para o hangar, pois meu piloto já estava me esperando.
Quando desembarquei, o motorista da empresa me levou diretamente à
casa onde cresci, e foi só passar pelos portões da propriedade para uma
enxurrada de lembranças me invadir.
Eu não tinha sido uma criança inteiramente infeliz, mas toda aquela
disputa que minha mãe incentivou entre mim e meu irmão rendera
lembranças incômodas.
A porta foi aberta por um mordomo que eu não conhecia, mas isso não
me espantou. Cybele era o tipo de pessoa que tratava a todos com certa
distância e não admitia qualquer tipo de erro de seus empregados. Isso
acabava causando uma troca frequente, e embora o salário fosse atraente, a
intolerância da patroa fazia com que não aguentassem trabalhar ali por muito
tempo.
Segui até a sala principal e enquanto esperava por ela, analisei a nova
decoração.
Minha mãe nunca trabalhou, então, seu tempo era dedicado a comprar
roupas e redecorar sua mansão sem qualquer necessidade.
Fora isso, havia seus encontros com socialites britânicas e sua
incansável luta para se aproximar da realeza. Felicidade para ela era estar
sempre bem relacionada e com muito dinheiro na conta.
Não conseguia entender como alguém podia viver em meio a tanta
ociosidade e futilidade.
— Filho, que bom que você veio — disse ela, radiante.
Cybele estava elegantemente vestida com suas roupas de grife e toda
enfeitada com joias caríssimas, era assim que ela gostava de andar a qualquer
momento.
Lembro que meus colegas de escola sempre falavam da beleza
estonteante de minha mãe, mas eu, que a conhecia muito bem, não conseguia
enxergar nada além de uma mulher que vivia de aparências e de infernizar a
vida de todos a sua volta, principalmente a minha.
— Seja breve, vim para Londres a negócios e esse foi o único tempo
que consegui para vir aqui.
Ela me avaliou por alguns segundos e assentiu.
— Você aceita beber alguma coisa, que tal um café?
— Obrigado, estou bem assim, só preciso saber o que de tão importante
tem para tratar comigo.
Quando percebeu minha frieza, deixou de rodeios e começou a falar
sobre como estavam as coisas na empresa de Londres, sobre suas retiradas
mensais e sobre a manutenção da propriedade de Hertfortshire.
Por mim e Devon, ela teria vendido aquela casa, mas tudo para Cybele
tinha a ver com status e alguém de sua posição, não podia ter apenas uma
casa na cidade, mesmo que apenas os empregados usufruíssem dela.
Como não adiantava argumentar, apenas acatei.
— Anotei todos os seus pontos e vou ver o que posso fazer — falei e
comecei a me levantar.
— Tem mais uma coisa — disse e voltei a me sentar. — Fiquei
sabendo que vai levar sua namorada ao evento da filial de Nova York.
Suspirei, cansado.
Eu já imaginava que Lacey seria uma das pautas daquela conversa.
Como eu não dava mais abertura para saber detalhes de minha vida
pessoal, Cybele mandou investigar quem me acompanharia no evento de
sábado. Ela deveria estar preocupada com o que as pessoas iriam falar, já que
esse evento teria grande repercussão na mídia.
— Sim — falei de forma suscinta.
— Bom, eu vi uma foto de vocês em uma coluna social e queria te
dizer que a achei linda e estou ansiosa para conhecê-la.
Ainda estava surpreso quando ela foi se sentar perto de mim.
— Thomas, sei que nossa relação não foi muito boa ao longo dos anos,
mas acho que a idade e a distância imposta por você e seu irmão estão me
fazendo perceber o quanto errei com vocês.
Bom, por esta eu não esperava. Aquela mulher que estava na minha
frente não parecia a Cybele que me criou.
— Acho meio cedo para se conhecerem — falei, cauteloso.
— Tudo bem, você está certo, mas quando se sentir à vontade para nos
apresentar, é só me ligar, garanto que vamos nos dar muito bem.
Sinceramente eu não acreditava que as coisas seriam assim, mas
assenti, fingindo aceitar.
— Acho ótimo que não queira mais interferir em meus
relacionamentos. Mas estou curioso para saber o porquê dessa mudança
repentina. Finalmente percebeu que suas vontades não fazem a menor
diferença para mim?
Ela semicerrou os olhos por milésimos de segundos, depois sorriu de
forma gentil e me encarou.
— Natalie me fez enxergar que eu estava forçando a barra com vocês.
— Natalie?
— Sim, ela está namorando e me pediu que parasse de tentar interferir
na vida de vocês dois.
Aquilo foi uma surpresa, mas explicava o sumiço de Nat.
Natalie não era uma má pessoa, pena que se deixava levar pelas
loucuras de minha mãe.
Eu ainda não sabia se Cybele era motivada apenas por essa obsessão
em controlar tudo e todos a sua volta ou se era seu ressentimento por meu pai
ter me dado o controle de nossa empresa que a fazia agir assim. De qualquer
forma, parecia que seu intuito era apenas um: me ver infeliz. E eu, tão louco
por sua aprovação, sempre fiz suas vontades, chegando ao cúmulo de me
casar com uma mulher que não amava o suficiente, apenas para vê-la feliz.
No início, Natalie e eu nos demos bem, afinal, ela era apaixonada e
fazia de tudo para nosso casamento dar certo, mas depois de algum tempo
notei que ela estava ficando cada dia mais parecida com minha mãe e, pior
que isso, percebi o quanto Cybele a manipulava, ao ponto de usá-la para
tentar me influenciar em decisões da empresa.
Sem perceber, minha esposa tinha se tornado uma marionete nas mãos
dela e o pouco carinho que eu sentia evaporou.
Não dava para conviver com uma pessoa sem um pingo de
personalidade. Eu tinha sido manipulado por Cybele a vida inteira e não
deixaria que ela usasse outra pessoa para fazer isso de novo. Esse foi um dos
motivos que me fizeram pedir o divórcio e dar outros rumos para a minha
vida.
— Que bom que ela está seguindo em frente.
Cybele parecia calma demais com tudo o que eu falava e isso era bem
estranho. Ela sempre tinha algum argumento e fazia questão de ter a última
palavra no que quer que fosse.
— Nesses últimos meses tenho passado muito tempo sozinha —
continuou —, sinto falta de você e do seu irmão e me sinto muito mal por
saber que o afastamento da nossa família se deve por minha culpa.
A cada minuto aquela conversa ficava mais surreal. Acho que nunca
imaginei que algum dia ela pudesse admitir ter errado sobre qualquer coisa.
— Estou surpreso em escutar tudo isso.
— Eu sei, filho, mas tudo o que quero é reaproximar nossa família, e
para provar isso, prometo não interferir mais em suas escolhas. Vocês dois
são adultos e devem escolher por si mesmos.
Cybele estava me mostrando um lado que eu não pensei que existisse.
Quando me tornei adulto, mas principalmente depois que me livrei do poder
que ela tinha sobre mim, pude enxergar todas as suas nuances e jamais a vi
demonstrar tamanha vulnerabilidade.
— Bom, eu tenho que ir, mas vou pensar em tudo o que falou — foi a
única coisa que disse, precisava processar toda aquela conversa.
Quando me levantei, ela me acompanhou até a porta e me deu um
abraço apertado e demorado, coisa que nunca tinha feito antes; seus carinhos
eram sempre forçados e artificiais, mesmo com Devon.
Antes de eu sair, agradeceu a visita e voltou a me lembrar que queria
conhecer minha namorada.
Assenti e fui embora, ainda atordoado.
Geralmente era impossível ter mais de meia hora de conversa com ela
sem que as coisas terminassem em discussão. Sua vida era tão fútil e vazia
que seu tempo era preenchido tentando infernizar a vida dos filhos.
Mas naquela manhã as coisas tinham sido diferentes e suas palavras
ficaram chicoteando minha mente, me fazendo questionar se ao menos
alguma coisa daquilo poderia ser verdade, se ela realmente estava disposta a
mudar.
Conforme o carro foi se afastando da mansão, comecei a analisar todas
as coisas que minha mãe falou e tentei imaginar como seria ter uma boa
relação com ela. No entanto, minhas memórias estavam preenchidas por
conflitos e não consegui chegar a nenhuma conclusão.
Decidi, então, que era melhor esperar para ver como seria seu
comportamento dali em diante, pois eu sabia que ninguém mudava da noite
para o dia.
Tirando aquilo do caminho, resolvi focar nos negócios. Tentaria
resolver tudo o mais rápido possível e, assim, voltar para minha garota o
quanto antes.
Pensar em Lacey fez sumir toda a amargura que surgia em meu peito
sempre que me encontrava com minha mãe. Ela era um sopro de ar fresco
que fazia minha vida mais leve e, definitivamente, mais feliz.
Thomas chegou à Nova York já no final do dia, por isso, não foi à
empresa. Ele queria ir me buscar, mas pedi que preparasse algo para
comermos, o que ele concordou, mas, ainda assim, mandou o motorista ir me
esperar.
Quando o vi, apenas dei de ombros e agradeci, afinal, estava morrendo
de saudade e quanto antes chegasse à cobertura, antes o veria.
Enquanto seguíamos para lá, me peguei pensando em nosso
relacionamento.
A parte ruim de namorar um homem do nível dele era a quantidade de
compromissos que ele tinha, dentro e fora da empresa. Mas as viagens que
precisava fazer de tempos em tempos, com certeza, era a parte que mais me
incomodava, mesmo sabendo que essa rotina fazia parte de sua vida de
homem bem-sucedido.
Isso também lhe rendia, volta e meia, notícias em jornais e revistas,
tanto de negócios quanto de fofocas.
A Ward Corporation, que já era conhecida desde a época de Larry, pai
de Tom, ficou ainda mais popular devido a bandeira de sustentabilidade que
carregava, mas eu tinha minhas desconfianças de que ter um diretor lindo e
solteiro ajudava, e muito, nesse quesito. Não era raro ver meu namorado
dando alguma entrevista sobre seus ambiciosos projetos sustentáveis. Ele era
o garoto-propaganda perfeito.
Por vários minutos me peguei pensando em como tudo aquilo fugia da
minha simples realidade. Eu era uma pessoa comum, que vivia em um dos
endereços mais caros de Nova York apenas porque meu pai trabalhou muito
para nos deixar bem, mas que não havia qualquer luxo. Mamãe só continuou
vivendo naquele apartamento porque era uma das doces lembranças que ela
possuía do marido.
Quando percebi para onde estava viajando, desanuviei esse tipo de
pensamento que poderia se tornar um gatilho.
Passei pelo luxuoso hall de sua cobertura e o encontrei no meio da sala,
de braços abertos para mim.
Minha semana tinha sido cheia de estresse na universidade, então foi
um alívio estar nos braços do meu amor.
— Acho que nunca senti tanta saudade — falei, me aninhando ainda
mais.
— Eu também, linda — garantiu e tomou a minha boca.
Nós nos beijamos de um jeito esfomeado, apaixonado, mas quando as
coisas estavam esquentando, o telefone dele tocou.
— Desculpe, mas eu preciso atender — disse assim que olhou o
identificador.
— Tudo bem, vou tomar um banho e te espero no quarto.
— Combinado — falou e saudou a pessoa do outro lado da linha.
Sorrindo feito uma boba, fui para o quarto. Após deixar minhas coisas
sobre uma poltrona, entrei no closet, tirei minha roupa e coloquei um robe de
seda que havia comprado para deixar ali, junto com outras coisas. Foi a forma
que encontramos para que eu não precisasse ficar carregando bolsas nos dias
em que decidia dormir em sua cobertura.
Tomei um banho relaxante e, quando terminei, ele ainda não estava no
quarto.
Um pouco contrariada, coloquei meu robe novamente e fui atrás. Ao
chegar à sala, encontrei Tom sentado em uma poltrona, ao lado das janelas
panorâmicas, com o notebook no colo e o celular na orelha.
Torci a boca de um lado para outro e cruzei os braços em frente ao
peito, mostrando toda a minha insatisfação.
Nosso combinado, quando Tom voltava de longas viagens, era ele se
desligar dos negócios e eu, dos estudos, para que pudéssemos aproveitar um
ao outro.
Por causa disso usei todo meu tempo disponível para estudar o
conteúdo que geralmente ficava acumulado para o fim de semana, de forma
que minha intenção era ficar grudada nele o máximo de tempo possível.
Percebendo minha insatisfação, ele pediu um minuto para finalizar a
ligação.
Como era uma ótima namorada, resolvi que daquela vez não faria sua
vontade. Mas não brigaria, apenas usaria as armas que possuía.
Jogando o cabelo todo para o lado, encarei-o de maneira sugestiva e,
sob seu olhar distraído, comecei a desamarrar o robe, deixando-o cair aos
meus pés sobre o tapete.
Nessa hora, a postura desinteressada de Tom mudou e ele levantou as
sobrancelhas, passando os olhos por meu corpo, mas continuou falando.
Sorri e fitei meus pés, que estavam com as unhas pintadas de vermelho,
para depois caminhar em sua direção, feito uma leoa espreitando a sua presa.
Quando estava na frente dele, tirei o notebook de seu colo e montei em
suas coxas, as pernas abertas expondo meu sexo.
Senti sua respiração mudar e logo sua mão direita subiu pela minha
cintura e passeou por minhas costas.
Aproximando-me, encostei a boca em seu pescoço e passei a língua da
base até chegar à orelha, fazendo questão de respirar sobre o rastro que deixei
em sua pele quente e cheirosa, fazendo-o se encolher e me apertar contra si.
Conforme eu rebolava em seu colo e chupava a ponta de sua orelha,
sentia seu pau duro entre minhas pernas. Estava louca para tirar o jeans que
ele estava usando para chegar ao objeto do meu desejo.
Tom estava um pouco ofegante, mas continuou falando e me apertando.
Afastei-me o suficiente para abrir o botão de sua calça e baixar o zíper.
Massageei seu pau por cima da boxer e ele reprimiu um gemido.
Aquela ligação devia ser muito importante ou ele já teria finalizado.
Pensando bem, talvez ele gostasse de toda aquela tensão e da
possibilidade de que a pessoa do outro lado nos escutasse.
Querendo tirar todo o seu controle, ajoelhei-me à sua frente, tirei seu
pau para fora e, sem nenhuma cerimônia, circulei a língua pela glande por
alguns segundos para depois abocanhar seu comprimento até chegar bem
perto da base.
Tom respirou fundo e infiltrou a mão livre em meus cabelos, segurando
firme enquanto eu sugava seu membro, que ficava cada vez mais duro.
Aquela carne quente e rija pulsava entre meus lábios, deixando-me
ainda mais faminta.
Quando comecei a acelerar os movimentos de sobe e desce, passando a
língua em lugares que eu sabia que ele gostava, suas coxas começaram a ficar
inquietas.
— Desculpe, prefeito, mas surgiu um imprevisto, posso retornar em
meia hora para falarmos sobre esse projeto?
Quase engasguei quando descobri que ele estava falando com um
político e olhei para ele com os olhos arregalados, retirando seu pau de minha
boca imediatamente.
— Que ótimo, estamos combinados, então — despediu-se e desligou o
celular.
— Eu sinto muito, Tom — falei, mortificada de vergonha —, não sabia
que era o prefeito — justifiquei, levantando-me.
Tom me encarou com os olhos semicerrados.
— Quer dizer que você gosta de me provocar, não é, Lacey? — disse
com uma voz ameaçadora, pondo-se de pé, e eu quase gargalhei.
Quase.
— Me desculpe, isso não vai se repetir — menti, mordendo o lábio
inferior.
Era uma provocação e ele sabia disso.
Em duas passadas, Tom estava tomando minha boca de modo
selvagem, como se eu o tivesse levado às raias da loucura.
Nós nos beijamos esfomeados, suas mãos passeando por meu corpo
enquanto eu massageava seu pau, naquele instante completamente ereto. Tom
me levou para o quarto e sem muita delicadeza, me virou de costas e me
jogou sobre a cama, de forma que ficasse de bruços. Então, livrou-se das
próprias roupas, colocou um preservativo e veio com tudo para cima de mim.
Eu adorava deixá-lo desse jeito, a ponto de perder a cabeça de tanto
tesão.
Depois de deslizar a boca por meu pescoço e costas, ele abriu minhas
pernas e quase revirei os olhos de prazer quando senti sua língua explorando
os lábios sensíveis e subindo até um ponto nunca explorado antes.
Suas mãos passeavam pelo meu corpo enquanto sua língua me
castigava.
Eu adorava as preliminares que Thomas me proporcionava, sempre me
chupando nos lugares mais improváveis e altamente excitantes.
Segurei firme os lençóis quando ele puxou meu quadril para cima e
colocou um travesseiro embaixo da minha barriga. Agora sim, eu estava
completamente a mercê de sua língua habilidosa, que subia e descia, indo do
meu clitóris sensível ao ânus, o que me deixava mais louca de tesão a cada
segundo.
Quando estava prestes a gozar ele se afastou, abriu ainda mais minhas
pernas e me penetrou firme e forte, enquanto eu gemia embaixo dele,
agarrando firmemente os lençóis.
— Nossa, como você é gostosa... — ele falou enquanto entrava e saía.
Tom brincou com seu pau, que ia e voltava devagar, como se estivesse
me degustando.
Depois de alguns minutos nessa tortura, ele tirou o travesseiro que
havia colocado embaixo de minha barriga, deitou-se sobre minhas costas e
puxou minha cabeça para tomar a minha boca, ao mesmo tempo em que foi
investindo em mim, daquela vez um pouco mais rápido, dedilhando meu
clitóris para intensificar tudo.
Meu Deus, que homem! Aquilo era o céu.
Delirei embaixo dele, sentindo seu pau entrando cada vez mais fundo, e
comecei a erguer a bunda, indo de encontro à sua pelve para garantir mais
contato, mas isso durou no máximo um minuto, pois logo meu corpo se
desmanchou em um orgasmo delicioso.
Vendo que eu tinha chegado ao ápice, ele puxou minha cabeça e me
beijou apaixonadamente enquanto investia mais rápido, até começar a gozar.
Fiquei embaixo dele, sentindo seu peso, mas não tinha forças nem para
reclamar.
Enquanto nos recuperávamos, fiquei inspirando o cheiro de sua pele e
apreciando o brilho que seus olhos exibiam.
Definitivamente ele era o cara mais incrível que já tinha conhecido na
vida.
— O que foi? — perguntou, com uma sobrancelha arqueada, e se
ergueu um pouco sobre mim.
— Às vezes custo a acreditar que tudo isso é meu — brinquei.
— Tudo isso? Seja mais clara — pediu, mas eu sabia que só estava
querendo elogios.
— Bom, você é lindo, atencioso, gostoso — pontuei, dando beijinhos
em seu rosto —, ah, e podre de rico. — Nessa última parte ele gargalhou. —
Mas é sério, não sei o que está fazendo comigo.
— É, parece que não — falou, o cenho um pouco franzido. — O que
você precisa saber é que sou bastante seletivo e sempre soube escolher muito
bem minhas namoradas que, aliás, foram bem poucas.
Sorri, encantada por suas palavras.
— Posso me sentir especial por ter sido escolhida para fazer parte da
sua vida, então?
— Você é especial — falou, charmoso.
Eu amava o jeito como ele me olhava e sentia vontade de falar mais
vezes o quanto eu o amava, mas nem tive oportunidade, já que no instante
seguinte sua boca estava passeando pela minha orelha e nuca.
— Você acabou comigo — resmunguei, ao mesmo tempo em que lhe
dava mais acesso.
— E o fim de semana está apenas começando — sussurrou, arrepiando
todo o meu corpo.
Aquilo era uma promessa clara de muito sexo e momentos
inesquecíveis e eu estava ansiosa para viver tudo aquilo ao lado do homem
que estava me mostrando um outro lado da vida.
O lado bonito, sem toda aquela agonia que vivi no passado.
Sorri e passei a língua pelos lábios.
— Eu mal posso esperar — falei sedutoramente e fui calada com um
beijo.
Meu fim de semana foi perfeito. Tom me levou a restaurantes
maravilhosos, fizemos amor sempre que deu vontade e na segunda-feira eu
estava ótima por ter passado tanto tempo com a pessoa que fazia meu coração
palpitar.
Quando cheguei à universidade, avistei Amanda conversando com um
rapaz e fui ao encontro deles. Assim que ela me viu, começou a acenar
vigorosamente, o que chamou a atenção de seu acompanhante.
— Lacey, que bom que chegou! Este é Bradley Garner, um amigo de
infância meu.
O rapaz, que deveria ter a nossa idade, possuía um porte atlético e rosto
bonito, com olhos esverdeados e cabelos escuros.
— Como vai, Bradley?
— Ótimo, é um prazer te conhecer, Lacey, e pode me chamar de Brad.
— Brad, então — falei quando apertamos as mãos.
Enquanto nos dirigíamos ao prédio de Matemática, Amanda disparou a
falar.
Pelo que disse, os dois fizeram a high school juntos e estava feliz com a
presença dele na universidade.
Nossa conversa não se estendeu muito, pois logo chegamos à sala de
aula.
— Você parece bem animada com a presença do seu amigo —
comentei enquanto nos acomodávamos.
— Por um lado, sim — disse ela, tornando-se automaticamente mais
contida.
— Sem segredinhos por aqui — brinquei.
Nós ficamos grudadas desde que nos encontramos a primeira vez e já a
considerava uma amiga, por isso não me importei de parecer um pouco
enxerida.
— Na verdade, não é um segredo, eu só não tive coragem de falar...
Aquela conversa estava completamente sem sentido e minha cara deve
ter demonstrado isso, porque ela tratou de explicar.
— Brad é ex-namorado da Megan.
Meus olhos se arregalaram.
— Então, você já a conhecia?
Ela balançou a cabeça afirmativamente.
— Por que escondeu de mim?
— Porque nós três frequentamos os mesmos colégios a vida inteira e
sempre foi um inferno. Eu achei que na universidade fosse ser melhor, mas
dei de cara com ela no dia em que fui transferida. Juro que antes de você me
encontrar, já estava pensando em pedir outra transferência e se não
tivéssemos nos tornado amigas, era o que eu teria feito.
— Ainda não entendi por que não me contou.
— Você foi uma das poucas pessoas que não deixou de falar comigo
por causa dele ou dela e fiquei embaraçada em mostrar o quanto eu era
covarde em deixar que ela me tratasse daquele jeito há tanto tempo. Sinto
muito.
Naquele momento a briga delas fez sentido para mim. Quando
presenciei aquele bullying, achei estranho, uma vez que nunca havia visto
Amanda no campus, então achei que era apenas Megan sendo Megan.
— Mas, se eles são ex-namorados, por que ela continua implicando
com você?
Amanda deu de ombros.
— Porque foi ele quem terminou e ela acha que foi por influência
minha. Quer dizer, isso foi só uma desculpa para ela me hostilizar ainda mais,
a verdade é que aquela garota sempre foi um ser humano horrível. Quando
Brad começou a perceber esse lado cruel dela, não quis mais continuar. Você
pode imaginar como ela ficou ao ser dispensada.
Sim, seu ego não deve ter aceitado. Depois que vi como ela tratou
minha amiga, fui pesquisar e descobri que Megan era filha de um empresário
milionário e super influente em Nova York, além de ser um alumni[4] de
Columbia, com doações significativas.
Sei que era maldade de minha parte, mas não pude deixar de pensar se
ela estava ali por mérito ou por causa das contribuições de seu pai, uma vez
que eu a via mais conversando e passeando pelo campus do que estudando.
Brad, por outro lado, tinha ganhado pontos comigo por ter deixado de
conviver com uma criatura tão tóxica.
— Pelo visto teremos muita confusão — brinquei para mostrar que não
ligava para aquilo.
Mas o que falei era verdade, a megera iria infernizar a vida de Amanda
e, provavelmente, a minha também.
— Com toda certeza. Na verdade, eu não acredito que ela queira Brad
de volta, mas jamais vai esquecer o fato de que pode ter dedo meu na decisão
dele, por isso, vai nos infernizar. No entanto, você ainda pode pular desse
barco, antes que Megan o afunde.
Eu jamais deixaria de ser amiga de alguém por causa de uma idiota
qualquer.
— Pular do barco não é uma opção, queridinha. Acostume-se comigo.
Amanda abriu um sorriso tímido, mas verdadeiro, e me abraçou.
— Obrigada.
Antes que nossa conversa pudesse continuar, a cobra chegou, junto
com o professor, e todos ficaram em silêncio.
Enquanto anotava as explicações que estavam sendo dadas, me peguei
sorrindo ao me dar conta de que eu, finalmente, estava tendo uma vida de
verdade, cercada de amigos, patricinhas mimadas e problemas provenientes
do trabalho e da universidade, além de um namorado incrível.
Um ano atrás, a Lacey deprimida e louca por atenção nunca conseguiria
me ver como aquela que estava sentada ali. Mesmo quando namorava Jace,
sabendo que ambos havíamos sido aceitos em Yale, eu me via tão dependente
dele, de todas as formas, que não me achava capaz de ter uma vida paralela
àquela que eu conhecia. Só de saber que algumas aulas nossas poderiam não
ser as mesmas, eu me sentia perdida.
Bem que dizem por aí que cabeça vazia é oficina do Diabo.
Atualmente, mesmo apaixonada, eu tinha tanto para fazer; não me sobrava
tempo para pensar em besteiras ou me abater, afinal, eu queria realizar tantas
coisas que às vezes achava 24 horas para um dia muito pouco.
Ainda estava sorrindo, imensamente feliz, quando o professor nos
dispensou e eu fui correndo para outro prédio, onde se daria minha próxima
aula.
Após as aulas fui direto para empresa, e quando cheguei, um dos meus
colegas avisou que teríamos uma reunião em poucos minutos.
Agradeci, segui para minha mesa e guardei minha bolsa, bem a tempo
de ouvir Abby pedindo a atenção de todos.
Naquela tarde ela estava vestida em um de seus ternos escuros e
elegantes, os cabelos também estavam bem-alinhados e ela exibia a mesma
postura fechada de sempre.
— Boa tarde — disse e correu os olhos pelo setor.
Estávamos todos em pé, ao lado de nossas mesas.
— Como todos sabem, sábado teremos um baile em comemoração ao
primeiro ano da Ward Corporation na América e assim como acontece no
baile anual, promovido no final do ano, lá na Inglaterra, a organização pediu
que alguns dos funcionários contasse uma história inusitada que viveu na
empresa. Eles querem, ao menos, uma pessoa de cada área. Quem se
prontifica?
Ah, e não se esqueça de que temos compromisso no sábado.
As palavras de Tom quando me deixou em casa na noite anterior me
vieram à mente ao ouvir aquilo.
Eu nunca tinha ido a um evento desse porte. E mesmo sabendo que
acabaria me sentindo deslocada, estava ansiosa. Mas não a ponto de me expor
dessa forma, só de imaginar isso já sentia um arrepio tomar meu corpo.
— Qual é, pessoal, precisamos de uma historinha só para que o
Recursos Humanos pare de me ligar.
As pessoas continuaram fazendo cara de paisagem. Eu entendia
completamente. Nosso setor era repleto de nerds e pessoas preocupadas com
seus projetos megalomaníacos. Contar histórias em eventos importantes não
era a praia deles.
— Ok, se mudarem de ideia, estarei em minha sala — disse ela,
conformada.
Antes de encerrar aquela breve reunião, Abby elogiou o trabalho de
todos e disse que a grande maioria estava conseguindo entregar tudo dentro
do prazo estipulado.
Confesso que achei estranho, pois ela dificilmente tecia elogios, por
isso pensei que poderia ser apenas uma forma de convencer alguém a contar a
tal história.
Voltei para minha mesa sentindo um friozinho na barriga. Esse baile
seria minha primeira aparição em público, não com Tom, mas com Thomas
Ward, dono de uma empresa que, em apenas um ano, já estava se
consolidando em Nova York. Obviamente que isso se devia aos anos de
trabalho sólido em Londres, mas nem por isso eu poderia tirar seu mérito.
Além dos funcionários, estariam presentes os maiores empresários do
estado e, muito provavelmente, políticos e isso era algo completamente novo
para mim. Eu tinha receio de errar e, pior, de envergonhar Tom de alguma
forma.
Esse medo surgiu já no dia em que ele me contou sobre essa festa, um
mês atrás. Desde então, estava tentando focar no fato de que o homem que a
cada dia me passava segurança em relação a tudo estaria ao meu lado,
independentemente de qualquer coisa, e isso era reconfortante.
Todos o viam como o todo-poderoso da empresa, O CEO bonitão que
arrancava suspiros até das senhoras bem-casadas. Mas eu sabia quem ele era
fora dali: uma pessoa maravilhosa, cheia de valores e princípios onde quer
que estivesse, um cara forte e sensível que, com sua amizade, tinha
conseguido transformar a minha vida, e um namorado carinhoso e gentil, que
me fazia a mulher mais feliz e amada do mundo.
Sorri sozinha ao pensar nele, mas logo me recompus. Não queria que
ninguém me pegasse sonhando acordada para dar margem para fofocas.
Dentro da empresa eu tentava ser o mais discreta possível em relação
ao nosso namoro, a única com quem eu falava mais abertamente era Joly, não
só por ela ser minha amiga, mas porque não tinha muito contato com o resto
das pessoas.
Por sorte, Tom também era um homem cheio de bom senso, que não
sentia necessidade de mostrar aos outros que estávamos juntos e ambos
estávamos felizes com a relação que tínhamos criado.
Contudo, alguma coisa me dizia que após esse baile o setor de fofocas
da empresa iria ferver.
Um pouco antes de encerrar o expediente, notei que Tori Graves, a
secretária linguaruda do meu antigo chefe, Owen Elliot, estava esperando
para falar com Abby.
As duas se cumprimentaram formalmente e sumiram dentro da sala da
minha chefe.
Tori me fazia lembrar da época em que o Sr. Elliot tentou me assediar e
falou coisas horríveis sobre mim. O fato de ela ter sido indelicada comigo
desde o meu primeiro dia parecia tornar essas lembranças ainda piores.
O ruim era que ninguém, além das pessoas que eram oprimidas por ela,
sabia o quanto a mulher era venenosa.
Quando encerrei meu expediente, às 17h, as duas ainda estavam em
reunião.
Estremeci ao imaginar o que ela poderia ter de tão importante para
tratar com Abby e, sinceramente, não consegui pensar em nada. Embora não
parecesse ser da mesma laia de Tori, minha chefe era uma mulher difícil e,
para piorar, me odiava na mesma medida.
Antes de seguir para fora do prédio, um cheiro de café fresquinho me
envolveu e fui obrigada a parar na cafeteria e comprar um para viagem.
— É com você mesmo que eu quero falar — disse Joly quanto eu
estava na fila, dando-me o maior susto.
— Aproveite que meu coração está na boca e desembuche.
Ela sorriu e balançou a cabeça.
— Já está sabendo da última?
Fiz que não enquanto fazia meu pedido à atendente.
— Parece que Abby teve problemas com sua antiga secretária e Tori
será transferida para o setor de projetos.
Suspirei fundo, completamente frustrada com essa notícia.
Mesmo ficando poucas horas na empresa, seria bem incômodo ter que
trabalhar no mesmo andar que ela novamente.
A única coisa que podia fazer era rezar para que, com uma chefe séria
como a Abby, a roda de fofocas que Tori costumava fazer não virasse padrão
ali também.
O evento beneficente promovido por minha empresa, em comemoração
ao primeiro aniversário da filial americana, havia deixado os funcionários
bem agitados.
Aqueles que vieram da Inglaterra já estavam acostumados com os
bailes que aconteciam na matriz da Ward Corporation em Londres, mas os
novos funcionários mal se continham de ansiedade.
Eu também estava bem animado com a festa em si, mas tinha que
confessar que o fato de ser minha primeira aparição pública com Lacey
estava me deixando em êxtase.
Contudo, o que mais me entusiasmava era a quantidade de instituições
que seriam beneficiadas. Felizmente, aquele era meio que um ritual
promovido pelos milionários, alguns por realmente quererem ajudar quem
precisava e outros porque fazer filantropia era bom para a imagem.
De minha parte, aquele evento não era apenas uma forma de fixar,
definitivamente, meu nome em solo americano, mas também promover o que
aprendi com meu pai. Segundo ele, nós tínhamos a obrigação de fazer algo
por aqueles que possuíam menos que nós. Eu concordava de maneira
irrestrita e pretendia continuar ajudando enquanto pudesse.
— Sua mãe ao telefone, Sr. Ward — Freya avisou.
Já fazia quase um mês que havia voltado de Londres e ela não dera
sinal de vida. Se fosse em outra época, eu certamente arrumaria alguma
desculpa, mas depois das coisas que me falou em nosso último encontro,
estava curioso, por isso pedi que minha secretária transferisse a ligação.
— Boa tarde, Thomas.
— Como vai, mãe?
— Estou bem e sei o quanto você é ocupado, então, obrigada por ter me
atendido.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei.
— Na verdade, gostaria de lhe fazer um pedido.
Fiquei apreensivo, mas nem um pouco surpreso. Quando ela me ligava
era sempre para pedir alguma coisa ou reclamar de algo.
— Pode falar.
— Eu gostaria de fazer uma doação para o evento de sábado, mas não
queria que meu nome fosse divulgado.
Desde que meu pai criou o baile anual, ela foi contra. Sempre disse que
filantropia era uma forma de deixar as pessoas pobres dependentes dos
outros, então, estava admirado.
— Achei que fosse contra filantropia e coisas do gênero.
— Eu sei, querido, mas a vida vai nos ensinando que podemos estar
errados em diversas situações. Eu sempre tive uma vida cheia de luxos e
regalias, mas aprendi que não custa ajudar quem precisa.
Definitivamente, parecia que alguém tinha sequestrado a antiga Cybele
e colocado alguém muito agradável e sensato no lugar. Contudo, como eu
não acreditava em mudanças muito radicais, especialmente em um espaço tão
curto de tempo, ficaria de olhos bem abertos.
— Tudo bem. Vou pedir para Freya cuidar disso.
— Ótimo.
— Fico feliz por ter mudado de ideia quanto a isso.
— Eu também, filho, agora vou deixá-lo trabalhar.
Finalizei a ligação sentindo uma mistura de sensações. Todavia, não
teria como analisar meus sentimentos porque tinha uma reunião com Abby,
no setor de projetos, naquele momento.
Peguei meu paletó, vesti-o e segui para fora da minha sala. Como era
apenas um andar abaixo, dispensei o elevador e desci de escada.
Normalmente esses compromissos eram realizados na sala de reuniões
que ficava no andar da presidência, mas como várias pessoas do mesmo setor
iriam participar, eu decidi descer, afinal, seria uma boa desculpa para ver
Lacey que, por ser estagiária, dificilmente teria autorização de participar das
primeiras discussões de um projeto, que geralmente eram feitas pelos
engenheiros responsáveis e somente depois chegava ao conhecimento dos
demais funcionários.
O setor de projetos era majoritariamente masculino, então, quando
Lacey pediu transferência, eu fiquei com um pouco de receio. Mesmo sendo
apenas amigos na época, eu já sentia um leve ciúme por imaginá-la rodeada
de homens.
E não era para menos, Lacey era incrivelmente bonita, chamava
atenção mesmo sem querer e eu demorei a me acostumar com a ideia.
Quando cheguei ao 11º andar fui recepcionado por Abby, que parecia
ansiosa pela visita. Após cumprimentá-la, passei os olhos pelas baias e
encontrei Lacey à sua mesa, parecendo concentrada.
Segui Abby até a sala onde os projetos eram apresentados e por mais de
duas horas discutimos todos os detalhes referentes aos meus três novos
investimentos.
No fim da discussão, estava satisfeito e ansioso pela próxima reunião,
porque todas as considerações levantadas estariam nos projetos.
— Assim que os engenheiros fizerem as modificações eu marco uma
nova reunião — Abby avisou e nos despedimos.
Olhei ao redor e vi que alguns funcionários já haviam ido embora,
enquanto outros se preparavam para partir. Lacey, por sua vez, continuava
concentrada, como se não tivesse percebido que o expediente já havia
acabado.
— Obrigado, Abby, e bom descanso.
Ela assentiu, entrando em sua sala, e eu caminhei em direção à mesa de
Lacey.
— Que funcionária dedicada — falei perto de seu ouvido e ela se
assustou.
— Não sabia que ainda estava aqui — disse, com a mão no peito e um
sorriso no rosto.
— A reunião demorou um pouco mais que o previsto, por isso, eu não
sabia que ainda estava por aqui — reclamei e ela verificou as horas no relógio
do celular.
Lacey sempre saía após o horário e isso me incomodava, não gostava
que chegasse tarde em casa.
— Não me olhe assim, já vou desligar o computador e ir embora —
falou em sua defesa.
— Se me esperar cinco minutos, eu a levo para sua casa. Ou para a
minha — sugeri.
Eu sentia falta da época em que ela não estudava e ficávamos todos os
dias juntos.
— Nosso combinado é quarta, sexta, sábado e domingo — brincou
enquanto desligava o computador.
Quando se levantou, vi que estava usando um vestido preto e um blazer
da mesma cor por cima. Os cabelos estavam soltos, mas o que chamava
mesmo a atenção eram as curvas delineadas pelo tecido do vestido.
Minha mulher era incrivelmente linda.
— Precisamos discutir esse combinado, algo me diz que estou sendo
prejudicado — fingi protestar e ela sorriu.
— Vamos logo ou vou ter que te agarrar aqui mesmo.
Sorri, me segurando para não fazer exatamente isso, e saímos de mãos
dadas, sem nos importar com a meia dúzia de funcionários que ainda estava
em suas baias.
Já em minha sala, desliguei meu computador e peguei meu celular, que
tinha ficado carregando.
— Como estão as coisas com Abby? — perguntei enquanto guardava
alguns papeis dentro da minha pasta.
— Ela continua meio fechada, mas dizem que sempre foi assim, então,
acho que está tudo bem.
Abby era muito competente no que fazia, mas sua fama de durona já
tinha chegado a todos os setores da empresa. Embora não gostasse do tipo de
chefe que impunha medo nos funcionários, eu entendia seu lado. A maior
parte de seus subordinados eram homens, se ela não se sobrepusesse, seria
comida viva por eles, por isso não reclamava, contanto que suas atitudes não
se transformassem em desrespeito.
— Se tiver qualquer problema, me avise.
— Não terei, mas se houver qualquer coisa, vou tentar resolver sozinha,
não posso te chamar cada vez que alguém falar alguma coisa desnecessária
para mim.
Quanto mais eu convivia com Lacey, mais percebia como sua
personalidade era forte e isso apenas provava que todos os problemas de seu
passado estavam maquiando seu verdadeiro caráter.
— Tudo bem. Vamos?
Ela assentiu e descemos até o subsolo.
— Mamãe pediu para você subir — ela disse, guardando o celular na
bolsa.
— E a filha dela, o que acha disso? — brinquei; eu sabia que Lacey
sempre estudava à noite, depois que chegava do trabalho.
— A filha dela vai adorar — respondeu, me abraçando por dentro do
paletó.
Era completamente novo ter uma relação tão incrível quanto a que
tínhamos. A mãe de Lacey gostava de mim como se eu fosse seu próprio
filho, e por mais que meu pai tenha sido bem presente, foi com ela e seus
mimos que tive uma verdadeira noção do que era ter uma família.
Quando entramos em seu apartamento, Jenna me recebeu com a mesma
simpatia de sempre e, enquanto Lacey tomava banho, ficamos conversando.
Jenna não cansava de me agradecer pela nova fase da filha, pois era
notável o quanto ela parecia feliz e confiante.
Depois de uns dois minutos de conversa, o telefone de Jenna tocou, era
uma de suas amigas a convidando para ir ao cinema.
Minha sogra adorava sair com as amigas, mas sempre se privou disso
para não deixar Lacey sozinha. E, mesmo sabendo o quanto a filha estava
bem, uma mãe como ela sempre estaria em alerta.
— Pode ir, eu fico com ela até você voltar — insisti quando ela
desligou o telefone, declinando o convite.
— Tudo bem, eu vou, prometo não voltar tarde — falou depois de
ponderar um pouco.
— Volte a hora que quiser.
Jenna sorriu e me abraçou antes de voltar a ligar para a amiga,
confirmando que iria.
Quando foi se arrumar, aproveitei para ir até o quarto de Lacey, que
ainda estava no chuveiro.
Sua mesa de estudos estava cheia de livros e o computador, ligado.
Sentei-me em sua poltrona e analisei sua letra bonita e arredondada nos
blocos de anotação extremamente organizados.
Ela era uma aluna incrivelmente dedicada, com toda certeza seria uma
ótima engenheira.
— Já estou indo, vou avisar a Lacey — disse Jenna, entrando no
banheiro da filha, e pude escutar o barulho de secador.
Após me dar um beijo de despedida, minha sogra saiu.
Estava distraído, respondendo uma mensagem do meu irmão, quando
Lacey surgiu enrolada em uma toalha.
— Enfim, sós — ela gracejou, jogando a toalha longe.
Uma das coisas que eu mais amava em Lacey, além de sua
personalidade, era a química que havia entre nós.
Passei os olhos por seus seios com aureolas rosadas e desci, apreciando
suas curvas deliciosas.
Lacey foi até a porta do quarto e a trancou, depois caminhou até mim
com o olhar determinado.
Eu já estava duro só de vê-la desfilando sem roupas, mas quando
montou em meu colo e tomou minha boca, eu perdi completamente o juízo.
Levantei-me com ela agarrada a mim e a coloquei deitada em sua cama.
— Espero que sua mãe demore para voltar — comentei, atacando seu
pescoço, e ela gargalhou.
— Se bem a conheço, nós temos umas três horas pela frente, então,
mostre-me do que é capaz, Sr. Ward.
— Pode ter certeza de que serão as três horas mais prazerosas do seu
dia — falei, atacando sua boca.
Enquanto chupava sua boceta, pensei, furtivamente, que havíamos
ficado todo o fim de semana juntos e, ainda assim, ali estava eu, perdido entre
os cabelos loiros de Lacey Smith.
A semana na universidade tinha sido bem produtiva e cheia de
provocações por parte de Megan Wilson que, pelo jeito, não se conformava
que Brad andasse comigo e Amanda.
Ela gostava de destilar olhares mordazes, cochichar, dar risada, um tipo
de provocação que eu odiava. Parecia que ainda estava no jardim de infância
e não na universidade.
Nos primeiros dias eu até pensei em me afastar de Brad, mas ele foi se
mostrando uma pessoa muito legal, um cara descolado, que fazia piada com
tudo, e decidi que não seria justo perder a oportunidade de fazer amigos por
causa de uma garota mimada.
— Thomas chegou — mamãe avisou e levou uma mão à boca ao me
ver arrumada para o baile daquela noite.
Na hora de escolher o vestido eu fiquei na dúvida entre dois, mas
acabei optando pelo preto, cujo modelo tinha costas nuas e uma saia
esvoaçante.
Eu achei elegante e apostar numa cor básica era sempre uma ótima
opção, ainda mais para mim, que não era acostumada a frequentar eventos
daquele porte.
Segui minha mãe até a sala, onde encontrei meu namorado. Tom estava
elegantemente vestido em um smoking preto e ficou alguns segundos
olhando para mim, deixando-me sem graça.
A fim quebrar o gelo, dei uma voltinha e falei:
— E aí, acertei?
— Sim, direto no meu coração — falou, levando uma mão ao peito.
Mamãe suspirou e eu sorri, indo em sua direção. Tom me passava uma
confiança tão grande, sempre me fazia sentir a mulher mais linda do mundo.
Acho que muito de minha melhora se devia ao fato de ele sempre me
fazer sentir única. Queria que todas as mulheres experimentassem essa
sensação, pois era libertadora.
Antes de sairmos, mamãe deu milhares de recomendações. Na verdade,
ela estava preocupada com a magnitude daquele evento. Mas seu genro a
tranquilizou dizendo que daria tudo certo.
Nós tentamos convencê-la a ir junto, mas ela já tinha marcado uma
viagem com suas amigas. Como eu passava meus fins de semana com meu
namorado, ela sempre inventava algo para fazer. Isso me fazia sentir uma
mistura de felicidade e tristeza por perceber o quanto a havia limitado devido
aos meus problemas.
Foi por isso que a abracei forte e pedi que se divertisse ao máximo, ela
merecia.
Durante o percurso até o local onde seria o evento, Tom falou a
respeito da programação e me avisou que eu, provavelmente, ficaria sozinha
no momento de seu discurso, mas que faria o máximo para que eu não me
sentisse deslocada.
Eu sabia que aquele baile não serviria apenas para diversão, ao menos
para a diretoria. Era nessas festas que muitos acordos eram fechados e de
forma alguma iria monopolizar sua companhia, como se não fosse capaz de
me virar sozinha.
Quando a limusine parou em frente ao local do evento um lindo tapete
vermelho nos esperava.
— Isso aqui é um evento beneficente ou a festa do Oscar? — brinquei e
ele sorriu.
— Vamos? — perguntou e eu anuí, mesmo sentindo o estômago
gelado.
Tom saiu, deu a volta no carro e me ajudou a descer. Assim que me
posicionei ao seu lado, muitos flashs pipocaram em nossa direção.
Nesse momento bateu um nervosismo. Aquele universo era
completamente novo para mim, eu não estava acostumada com todo aquele
glamour e me senti meio perdida, então, fiz o que todos faziam quando
estavam sobre um tapete vermelho, apenas sorri. Faria o meu melhor para
que Thomas se orgulhasse de mim.
Caminhamos alguns passos em direção à grande escadaria que levava à
entrada, mas paramos novamente a pedido dos jornalistas e fotógrafos que
cobriam o evento.
Thomas, já acostumado a tudo aquilo, apenas descansou a mão em
minha cintura e deixou que eles fizessem seu trabalho. Contudo, não
respondeu a nenhuma das perguntas gritadas pelos repórteres, a maioria delas
referentes a mim. Não sabia se sua atitude iria atiçá-los ainda mais ou
acalmá-los, mas fiquei grata.
Após as fotos, seguimos para dentro e uma moça nos guiou entre os
convidados.
Ele parou para cumprimentar algumas pessoas, enquanto eu admirava a
decoração e as maravilhosas flores espalhadas por todos os lados.
Quando já estávamos na metade do salão, comecei a reconhecer alguns
rostos. A primeira com quem troquei olhares foi Abby, que cumprimentou
Thomas com um meneio de cabeça, fingindo que eu não estava ao lado dele.
Imaginei que não deveria ser nada agradável para ela me ver ao lado do
todo-poderoso da empresa.
Tori, que estava sentada ao seu lado, fez questão de me olhar dos pés à
cabeça, como se não acreditasse que eu estava mesmo naquela posição.
Ela, assim como muitas outras pessoas, achava que ele estava apenas
me usando e jamais apareceria em público comigo, então aquele momento
deveria estar sendo embaraçoso para elas, e o veneno, eu tinha certeza,
correria solto.
— As pessoas não param de olhar — sussurrei assim que chegamos à
nossa mesa.
— Normal, você chama muita atenção — ele brincou e puxou a cadeira
para mim.
Antes de ele se sentar, a organizadora do evento se aproximou e
começou a lhe passar alguns detalhes sobre o que aconteceria naquela noite.
Mas na hora em que um garçom passou à sua frente, Tom fez sinal e o rapaz
nos ofereceu duas taças de champanhe.
Enquanto bebericava, pude ver os olhares que meu namorado recebia
das mesas a nossa volta.
O pior era que eu nem podia reclamar. Ele era um homem lindo, alto,
forte, charmoso e simpático, ou seja, o sonho de consumo da maioria das
mulheres.
Além disso, era eu quem tinha direitos sobre tudo aquilo que meus
olhos admiravam, de forma que a única coisa que fiz foi suspirar em
contentamento.
Quando a conversa terminou, ele disse que precisava cumprimentar
algumas pessoas e pediu que eu o acompanhasse, pois não queria me deixar
sozinha.
Todo esse cuidado me deixava cada dia mais apaixonada, por causa
dele eu me sentia mais confiante, mais bonita e muito mais feliz.
Ainda assim, às vezes tinha um pouco de medo do que aconteceria se
um dia terminássemos. Eu não gostava de pensar naquilo, mas precisava ser
realista. Essa era uma das razões por que estava cultivando outras amizades,
de forma alguma queria me sentir perdida outra vez.
Respirei fundo e resolvi esquecer aquele assunto. Nós estávamos em
uma festa e fiz o máximo para ser simpática com quem ele me apresentava.
A grande maioria destas pessoas eram empresários acompanhados por
suas esposas, muitos deles com as filhas, que lançavam olhares gulosos para
o meu namorado que, por sua vez, saudava a todos com o mesmo grau de
simpatia.
Thomas era tão diferente de Jace que eu não conseguia mais me
imaginar namorando alguém da mesma idade que eu.
Eu aprendia muito com ele todos os dias e em todos os sentidos.
Sem contar que ele era um homem que sabia dominar na cama. Tom
despertou um lado sexual que eu não sabia existir, não que eu não gostasse de
sexo antes, mas com ele as coisas eram muito mais intensas e prazerosas.
Continuamos desfilando pelo salão e cumprimentamos dezenas de
pessoas, inclusive minha amiga Joly, que fez o maior escândalo quando me
viu.
Nessa hora eu fiquei vermelha, imaginando o que Thomas estaria
pensando, mas ele apenas sorria de sua espontaneidade.
Quase uma hora depois a organizadora pediu que abríssemos a pista de
dança. Mais uma vez fiquei nervosa, pois não era boa naquilo, ainda mais
com todas aquelas pessoas ao redor. Mas, como sempre, Tom me passou toda
a confiança de que eu precisava para dar os primeiros passos.
Enquanto deslizávamos pelo salão, fui ficando mais calma e consegui
aproveitar pelo menos metade daquela dança. Ele era um ótimo dançarino e,
com passos confiantes e cheios de elegância, me conduziu pelo salão, sob
olhares, em sua maioria invejosos, e flashes de câmeras e celulares.
Eu realmente me senti uma princesa, e aquele momento ficaria
guardado na memória como um dos mais especiais da minha vida.
Quando a segunda música começou, outros casais se juntaram a nós e,
aos poucos, a pista estava cheia, dando-nos a oportunidade de sairmos dali.
Estávamos quase chegando à nossa mesa quando senti o corpo de Tom
se enrijecer e o vi fechar a cara. Ao acompanhar seu olhar, avistei sua mãe e
seu irmão.
— Eu não sabia que eles viriam — falei baixinho e voltamos a
caminhar.
— Nem eu — disse, um tanto irritado.
Ele tinha uma ótima relação com o irmão, mas com a mãe eu já não
poderia falar a mesma coisa.
— Mãe, Devon.
— Desculpe vir sem avisar, querido, mas queríamos fazer uma surpresa
— explicou Cybele com um sorriso.
Tom os cumprimentou, mas eu permaneci parada, esperando para ver o
que iria acontecer.
— E esta deve ser a namoradinha de Thomas — disse a mulher,
caminhando em minha direção.
— Sim, esta é a Lacey, minha namorada.
Cybele me cumprimentou com muita simpatia, me surpreendendo, pois
não esperava essa atitude dela, já que Tom sempre falava o quanto ela queria
que ele voltasse com a ex-esposa.
Quando ela se afastou, foi a vez de Devon me cumprimentar.
Eu já o tinha visto por fotos e sempre o considerei bonito, mas, além
disso, o admirava por sua luta em prol do meio ambiente.
Após as apresentações, nós nos acomodamos na mesa e foi aí que o
clima ficou estranho.
Tom não soltou minha mão, mas logo ele e seu irmão engataram numa
conversa, deixando a mãe dele e eu ali, sem ter o que falar.
Para minha sorte, ou azar, a organizadora do evento apareceu e pediu
que Tom fizesse seu discurso, afirmando que somente depois disso poderia
dar prosseguimento ao programa planejado para aquela noite.
Tom pareceu confortável em me deixar “sozinha”, mas graças a tudo
que ele havia falado com relação a sua mãe, eu já me sentia minimamente
preparada para qualquer grosseria ou comentário maldoso que viesse dela.
Por isso, dei um beijo nele e desejei boa sorte em seu discurso.
Entretanto, no momento em que ele sumiu entre as pessoas, senti um
arrepio descendo pela espinha, que só piorou quando Devon pediu licença
para ir ao bar e me deixou sozinha com aquela mulher.
Respirei fundo, desviei o olhar do palco e encarei Cybele, que estava
com olhos vidrados em mim. Aquele seria o momento ideal para ela jogar
todo seu veneno sobre mim, e por mais que ela fosse uma bruxa, ainda era a
mãe do meu namorado e eu faria de tudo para não perder a cabeça; jamais me
perdoaria se estragasse uma noite tão importante para Tom.
Então, que Deus me ajudasse a ter paciência.
Quando achei que ela não diria nada, ouvi:
— Sei que não nos conhecemos, mas gostaria que soubesse que estou
muito feliz por meu filho ter conseguido encontrar o amor novamente.
Seu comentário me pegou completamente de surpresa, afinal, estava
esperando que me ignorasse ou fizesse algum comentário mordaz, mas não
isso. Aquela não era a postura da Cybele que Tom sempre me descreveu.
Enquanto elaborava uma resposta, analisei o quanto era elegante, com
um belo corpo dentro de um vestido cor de vinho e coberta de joias.
— Que bom que a senhora pensa assim, estamos muito felizes — falei
e mais uma vez ela me lançou um sorriso amigável.
— Pode me chamar de você, afinal, não estou tão velha assim —
brincou e bebericou seu champanhe.
— Desculpe, vou chamá-la pelo nome, então.
Ela assentiu e continuou:
— Não sei se Thomas chegou a comentar, mas nossa relação nunca foi
muito fácil. Só que nos últimos tempos eu andei avaliando minha vida e, não
sei, talvez a distância que ele impôs tenha me feito perceber o quanto sinto
sua falta.
— Thomas é bem reservado com relação a assuntos familiares —
menti.
Eu não conhecia Cybele e não sabia o que ela pretendia com toda
aquela simpatia, então, achei melhor me manter neutra.
— Talvez ele não tenha falado nada porque o relacionamento de vocês
é recente, mas se esse namoro continuar, ele certamente lhe contará. Mas já
quero que saiba que estou disposta a recuperar o carinho do meu filho.
Nunca imaginei que ela pudesse se abrir daquele jeito comigo, num
primeiro encontro, especialmente para falar assuntos particulares. Mas o que
mais me intrigou foi o fato de dizer que sentia falta do filho e queria se
reconciliar com ele. Se fosse verdade, tinha certeza de que Tom ficaria feliz.
— Eu acho ótimo que você esteja disposta a isso, acho que fará muito
bem a ele.
Ela assentiu e segurou minha mão por cima da mesa, os dedos
adornados por lindos anéis com pedras de diamantes e a pele tão macia
quanto flocos de algodão.
— Eu sei que pode parecer prematuro, mas gostaria que me ajudasse
nessa aproximação. Quem sabe vocês poderiam me fazer uma visita? Seria
um prazer recebê-los em minha casa.
— Vou conversar com Thomas sobre o assunto, se ele concordar, será
um prazer — falei para ser simpática.
Fui salva de inventar mais alguma coisa quando anunciaram o nome de
Thomas. Na mesma hora voltei minha atenção para o palco e vi Cybele fazer
o mesmo.
Meu namorado surgiu todo galante, dando boa noite a todos, antes de
começar um belo discurso a respeito da importância da filantropia. Naquele
momento eu esqueci a conversa que estava tendo com a mãe dele e foquei
minha atenção ao que ele falava.
Desde a primeira vez que o vi discursar para o setor jurídico onde eu
trabalhava, já senti que era um líder nato, pois havia um ar de magia quando
ele falava.
Instintivamente desviei meu olhar de sua figura majestosa e corri os
olhos pelo salão, apenas para constatar que as mulheres não conseguiam
disfarçar o fascínio que meu namorado despertava nelas. Ver aquilo era
difícil, eu tinha uma natureza possessiva, mas nada doentio como antes. Se
fosse assim, eu já teria tido várias crises, uma vez que ele era cobiçado por
onde passava.
Mas achava normal sentir ciúmes do homem a quem eu amava, desde
que fosse controlado.
Além do mais, não podia culpá-las, afinal, ele era a personificação dos
lordes ingleses que víamos nos livros: belíssimo, culto e supersedutor.
Após dez minutos de discurso, ele foi aplaudido por todos, inclusive
por mim, que ansiava por sua volta.
— Ele sempre teve muita facilidade em se comunicar — Cybele
comentou quando as pessoas voltaram a se acomodar.
Antes que eu pudesse responder a ela, Devon voltou à mesa e fez
comentários elogiosos sobre o discurso do irmão.
Mas eu mal ouvi, de tão aliviada que estava por ele ter voltado.
Aproveitando a distração deles, pedi licença para ir ao toalete.
Sair de perto de Cybele me deu tempo para respirar; por mais que ela
demonstrasse boas intenções eu ainda não sabia o que pensar sobre tudo
aquilo.
Segui direto para o meu destino e, depois de usar uma das cabines,
peguei meu batom dentro da bolsinha que levei e o retoquei, rezando para
que Tom já estivesse lá quando eu voltasse, pois, sinceramente, eu não estava
sabendo lidar com a contradição que era a mãe dele.
— O que uma sem sal como você está fazendo com o gato do Thomas
Ward? — a voz enjoativa de Megan Wilson soou logo atrás de mim.
Trocamos olhares através do espelho e depois eu me virei para encará-
la.
Megan estava usando um vestido vermelho e seus cabelos estavam
presos em um penteado bem elaborado.
Ela era uma garota muito bonita, o que não combinava com suas
atitudes horríveis.
— Não que seja da sua conta, mas ele é meu namorado — respondi
apenas, ignorando sua provocação.
Talvez, sabendo que eu tinha um namorado, ela percebesse que eu não
queria nada com Brad, além de amizade, e parasse de infernizar minha vida
na universidade.
— Difícil de acreditar — falou, venenosa.
— Com licença, eu tenho que ir — avisei, pegando minha bolsa e
passando por ela.
— Claro, mas esteja ciente de que iremos nos encontrar bastante nesse
tipo de evento.
Pelo que Amanda falou, os pais de Megan tinham muito dinheiro, então
ela talvez estivesse certa, mas naquele momento eu não queria ficar de papo,
por isso simplesmente saí do banheiro.
Para meu alívio, Thomas já estava em seu lugar quando voltei à mesa e
me sentei ao lado dele.
— Desculpe a demora, encontrei uma colega da universidade — menti.
— Tudo bem. Gostou do discurso?
— Sim, você foi incrível — elogiei sob olhar atento de sua mãe e
irmão.
Thomas sorriu, beijou minha testa carinhosamente e voltou a dar
atenção a sua família.
Quem via aquela interação não imaginava que ele tinha passado tanta
coisa na infância, então, eu só rezava para que sua mãe estivesse com boas
intenções, pois ele já tinha se magoado demais.
Contrariando as expectativas, tivemos uma noite agradável. Cybele até
pediu para dançar com Thomas e Devon fez o mesmo comigo.
De longe, parecíamos mesmo uma família muito feliz.
Meu cunhado foi um par adorável e, enquanto dançávamos, ele me deu
várias dicas sobre livros e sites onde eu poderia encontrar muito material para
aquela fase do meu curso.
Quando voltamos à mesa, Cybele avisou que estava cansada e iria
voltar para o hotel, mas pediu que almoçássemos com ela no dia seguinte.
Thomas olhou para mim, como se estivesse jogando aquela
responsabilidade em minhas mãos.
— Claro, Cybele, será um prazer — falei para não quebrar a paz que
reinava naquela noite.
— Ligo amanhã e combinamos o lugar — disse ela, toda animada, e
depois se despediu.
Devon acompanhou a mãe e, quando eles se foram, eu disse:
— Você pode não concordar comigo, mas achei sua mãe bem
simpática.
— Esse é o problema, ela não costuma ser desse jeito, mas, enfim, as
pessoas mudam, vamos acreditar que seja isso mesmo.
Assenti.
Mas quando achei que iríamos voltar à nossa mesa, para que eu pudesse
dar um descanso aos meus pés, que começavam a reclamar, Tom avisou que
ainda precisava falar com um empresário, então, mais uma vez o acompanhei
pelo salão.
— Sua empresa é muito conhecida no ramo da construção civil e
estamos tentando fechar uma parceria com ele há alguns meses — comentou
enquanto caminhávamos entre as mesas.
— Bom, depois daquele discurso até eu quero investir na sua empresa
— brinquei.
Thomas parou, repentinamente, e me deu um beijo de leve nos lábios,
depois pegou minha mão e seguimos à caça do tal empresário.
— Ele está naquela mesa — avisou e deu alguns passos em direção a
um senhor que estava de costas para nós, mas que se virou ao sentir nossa
aproximação.
— Donald, esta é minha namorada, Lacey — disse Tom depois que
eles se cumprimentaram.
O senhor gentilmente me deu a mão e depois sorriu.
— Deixe-me apresentá-los a minha esposa e filha que também é uma
futura engenheira e admira muito os projetos de sua empresa — contou
Donald, simpático, e chamou as duas que estavam na mesa ao lado, mas
quando elas se viraram eu levei um susto.
— Estas são Rose e Megan.
Parecia brincadeira que, de todas aquelas pessoas, Thomas quisesse
fechar negócio com o pai de Megan.
— Lacey! — disse Megan e me deu um abraço empolgado.
Meu Deus, que falsa!
— Como vai, Megan?
— Vocês já se conhecem? — o pai dela perguntou.
— Sim, papai, Lacey também faz engenharia e temos algumas aulas
juntas.
— Que coincidência incrível — o pai dela disse, provavelmente sem
saber das coisas bizarras que a filha fazia pelos corredores da Columbia.
Thomas cumprimentou Megan e a Rose formalmente e depois voltou a
conversar com Donald.
Enquanto isso, fiquei escutando a mãe de Megan tecer elogios ao nosso
curso e dizendo o quanto a filha estava feliz com a universidade.
Eu fiz o possível para ser simpática, mas não via a hora de irmos
embora. E quando Thomas se despediu de Donald, fiquei muito aliviada.
— Temos um compromisso para o próximo fim de semana, espero que
não se importe por ter aceitado sem consultá-la.
— Que compromisso? — perguntei, temerosa.
— Donald fará uma festa em sua casa, nos Hamptons, e perguntou se
eu não queria ir. Eu aceitei, pois será uma forma de estreitarmos os laços e,
quem sabe, fechar esse negócio que vem se arrastando há meses. Dizem que
ele gosta de conhecer a fundo todas as pessoas com quem trabalha ou investe.
Mas não se preocupe, ficaremos na casa que tenho lá.
Se fosse em outras circunstâncias, eu diria que jamais passaria um fim
de semana na companhia de Megan, mas era importante para Thomas, então,
fiz meu papel.
— Tudo bem.
Tom sorriu e parou na calçada em frente ao evento para me dar um
beijo daqueles.
Eu sabia que ele estava agradecendo por eu estar sendo tão
compreensiva, mal sabia ele o quanto esses dias seriam tenebrosos para mim,
ainda mais depois de saber que Megan o achava um gato.
Eu sentia que ela não pouparia esforços em provocar e pedi a Deus
que me ajudasse a segurar meu lado ciumento.
Quando acordei no dia seguinte ao evento da empresa, Thomas já não
se encontrava mais na cama e imaginei que estivesse em seu escritório, lendo
as matérias sobre sua noite de gala.
Aproveitei que estava sozinha e tomei um banho demorado, lavei os
cabelos e depois os sequei.
Estava fazendo isso com toda paciência do mundo, quando me lembrei
de que teríamos que almoçar com Cybele e Devon.
Por esse motivo caprichei ainda mais em cada escovada que dava nos
fios. Aquela mulher era do tipo que sempre estaria bem arrumada e penteada
a qualquer hora do dia e eu não queria fazer feio.
Voltei para o quarto e comecei a procurar a roupa ideal para aquele
acontecimento. Enquanto colocava as peças em frente ao corpo, notei que
havia uma pequena marca arroxeada em meu ombro.
Sorri, lembrando-me das loucuras que fizemos quando chegamos.
Acho que o champanhe e toda a tensão da noite tinham me deixado um
tanto sedenta para ficar sozinha com meu namorado, pois foi só passar pela
porta que as coisas esquentaram.
Thomas era um homem intrigante, um lorde inglês com habilidades
espetaculares na cama, e só de lembrar ficava arrepiada.
Balancei a cabeça para dispersar as lembranças e escolhi um vestido
com decote canoa e saia fluida. O modelo ficou perfeito em meu corpo e
ainda escondeu a marca dos dentes do meu namorado.
Saí descalça pelos corredores, queria saber aonde iríamos para terminar
de me arrumar.
Encontrei Thomas na sala, lendo o jornal.
— Bom dia — falei e já fui me acomodando ao lado dele.
Tom estava de banho tomado, peitoral nu e calça de pijama de seda.
— Bom dia, linda — cumprimentou, carinhoso, e me deu um beijo.
— Onde será o almoço com a sua mãe?
— No Le Bernardin — disse sem muita animação.
— Ah, OK. O Devon também vai?
Ele assentiu.
Menos mal.
— Ei, o que foi? — questionei, passando a mão em seu rosto.
Thomas parecia completamente desconfortável em ter que receber sua
família.
— Tem ideia do quanto isso é embaraçoso? Ela foi estranha comigo a
vida inteira e agora está me tratando desse jeito. Eu, sinceramente, não sei o
que pensar e nem como agir.
Eu tinha exatamente a mesma impressão, mas não poderia desencorajá-
lo, pois sabia o quanto era importante que as coisas se resolvessem entre ele e
sua mãe.
— Vamos dar tempo ao tempo, talvez ela tenha reavaliado tudo o que
aconteceu na vida de vocês e queira consertar as coisas.
Thomas sorriu para mim e atacou minha boca para depois subir uma
mão por dentro do meu vestido.
— Pode ir parando... — falei e tentei me levantar, mas ele me puxou de
volta e caiu por cima de mim.
— Não fuja, gostosa — pediu, mordiscando meu queixo e deixando
meu corpo todo arrepiado.
Tomei a boca de Tom e o beijei, sentindo borboletas no estômago. Se
há alguns meses alguém me dissesse que estaria tão apaixonada por um
homem como ele, eu certamente daria gargalhadas.
Desde que nos vimos pela primeira vez, eu o achei um homem bonito,
mas diferente do meu ex-namorado, com seu estilo descolado, Thomas
parecia ter saído de algum livro de contos de fadas, e estar com alguém assim
era algo tão longe da minha realidade que eu jamais acreditaria.
— Ei, é melhor pararmos por aqui ou vou ter que tomar outro banho,
sem contar que já é tarde, não podemos deixá-los esperando.
Com muita relutância ele se afastou e fomos para o quarto terminar de
nos arrumar.
Tom escolheu uma calça grafite e uma camisa preta, o que, para ele,
que estava sempre de terno, era bem informal.
— Já falei o quanto você é delicioso? — brinquei e apertei a bunda dele
por cima da calça.
— Não me provoque — advertiu baixo e em tom de ameaça, o melhor
tipo de ameaça.
Eu adorava esse jeito dele, como se tudo pudesse acabar em sexo a
qualquer momento.
— Acho que nunca gostei tanto de sexo — admiti.
— Você está tendo um ótimo professor — brincou, todo charmoso.
— Quanto a isso tenho que concordar.
Sorrimos e saímos de mãos dadas do quarto.
O motorista de Tom nos levou a um dos restaurantes mais elegantes de
Nova York e logo na entrada eu fiquei bem impressionada. Já havia passado
por ali várias vezes, mas nunca tinha entrado e, sinceramente, nunca achei
que um dia entraria.
— Esse lugar é chique demais, não sei nem como andar aqui dentro.
Tom soltou uma gargalhada que chamou a atenção dos poucos clientes
que estavam próximos.
— Você não existe, Lacey.
Dei de ombros, adorando sua espontaneidade, e seguimos o rapaz que
nos levou até a mesa onde Cybele e Devon nos aguardavam.
Ela abriu um belo sorriso ao nos ver e se levantou para nos
cumprimentar.
Estava usando um vestido azul turquesa e suas joias brilhavam como o
sol. Tinha quase certeza de que nunca tinha visto uma mulher tão enfeitada
quanto ela.
— Que bom que vocês chegaram — disse ao nos aproximarmos da
mesa.
Devon também se levantou e abraçou o irmão para depois me dar um
beijo no rosto.
Após nos acomodarmos, o primeiro assunto foi o sucesso do evento e
as notas que haviam saído no jornal.
Quando o garçom apareceu para levar o vinho caríssimo que Cybele
havia pedido, todos fizemos nossos pedidos e, quando ele se foi, minha sogra
ofereceu um brinde a nova fase das empresas da família.
Em certo momento do almoço, eu estava distraída observando Devon
falar sobre um novo projeto. Quando desviei o olhar e capturei Cybele me
observando. A forma como me fitava não tinha nem resquícios daquela
doçura de minutos atrás.
Fechei os olhos com o arrepio que atravessou meu corpo e, quando a
encarei de novo, ela me deu um sorriso fraco e voltou sua atenção a Devon.
Eu queria poder dizer que havia me enganado, especialmente porque
não seria justo tirar conclusões precipitadas sobre a mudança de atitude da
mãe de Thomas, afinal, mais do que ninguém, eu torcia para que eles se
dessem bem.
No entanto, não podia ignorar a sensação ruim que senti quando a
peguei me observando daquele jeito frio e desdenhoso.
Poderia compará-la a uma cobra analisando o ponto fraco de sua presa,
mas completamente pronta para dar o bote.
— E quando irão nos visitar em Londres? — ela perguntou depois que
Devon finalizou o assunto.
Thomas tinha péssimas lembranças de sua infância e juventude em
Londres e estava certa de que não faria muita questão dessa viagem,
principalmente porque havia voltado de lá há apenas um mês.
— Preciso avaliar minha agenda, Lacey também tem que ver a questão
de suas aulas.
— Ah, verdade, esqueci que ela ainda está na universidade.
Aquilo soou como uma crítica, como se estivesse falando que eu era
nova demais, inexperiente demais para seu filho brilhante e tão disputado.
Claro que isso poderia ser apenas mais uma de minhas paranoias, só
que eu não me limitaria a acreditar apenas no que estava vendo, era nas
entrelinhas que conseguíamos perceber algumas nuances que, no geral,
ficavam bem escondidas. E algo me dizia que, assim, eu conseguiria
descobrir muito mais a respeito das intenções de minha sogra do que com
suas palavras.
— Mas não acho que seria um problema vocês passarem um fim de
semana lá — ela continuou, soando um tanto manhosa.
— Vamos analisar direitinho nossas agendas e marcaremos uma data.
Cybele pareceu satisfeita com a resposta do filho e mudou de assunto.
Depois de quase três horas e três garrafas de vinho, eu até esqueci do
arrepio que senti com seu olhar avaliador e da pequena alfinetada que ela me
deu. E quando nos despedimos, me fez prometer que iríamos mesmo ver uma
data para visitá-la em Londres.
Eu queria ser mais experiente em avaliar as pessoas, mas achava que
minha idade ou a falta de convivência com aquele tipo de gente poderiam
nublar meu julgamento. No entanto, meu sexto sentido sempre foi bom em
me alertar sobre possíveis enganos, então eu esperava que muito em breve
tivesse uma opinião formada sobre as intenções da minha sogra.
Quando chegamos à cobertura de Tom, eu me sentia meio esgotada,
como se a presença de Cybele me sugasse de alguma maneira, no entanto,
mais uma vez, eu preferi acreditar que era só coisa da minha cabeça.
— Mais vinho? — Tom perguntou, indo à cozinha e voltando com uma
garrafa e duas taças.
— Com certeza! — respondi e desabei no sofá.
Aquele tinha sido o meu primeiro fim de semana acompanhando meu
namorado a um evento coorporativo e depois familiar.
Thomas me apoiava em tudo, então, eu me sentia na obrigação de fazer
o mesmo por ele e me sentia bem em apoiá-lo no que precisasse.
Eu só não podia deixar de ouvir meus instintos que, naquele momento,
me diziam para não baixar a guarda de jeito nenhum.
Era bom eu começar a me acostumar com tudo isso e aprender a ter
jogo de cintura, pois não seria fácil aguentar as pessoas ricas, fúteis e
maldosas que existiam naquele meio. Infelizmente, eu sabia que encontraria
muitas Megan Wilson no meu caminho, mas apenas por Tom eu aprenderia a
melhor maneira de lidar com elas.
O trânsito de Nova York estava tão caótico quanto sempre, mas nem o
mar de carros que estávamos enfrentando para chegar à casa de Lacey
atrapalharia o meu humor.
Como iríamos para os Hamptons no fim de semana, ela optou por não
dormir comigo, para que pudesse adiantar os trabalhos e outras tarefas da
universidade que costumava fazer aos sábados e domingos, enquanto eu
estava no escritório do meu apartamento.
Por causa disso, eu estava morrendo de saudade.
Pensar nela me fez lembrar do baile da empresa. Ela tinha sido incrível
e conseguiu lidar muito bem com a minha mãe. Mesmo que Cybele não
tivesse sido ardilosa como costumava ser, eu sabia que não era uma pessoa
fácil de se engolir, por isso, Lacey me surpreendeu.
Ela conhecia minha história, morria de raiva do que a mulher que me
criou fez comigo e tinha todos os motivos para me desmotivar a tentar
melhorar meu relacionamento com a minha mãe, no entanto, fez exatamente
o contrário, apoiando-me incondicionalmente.
— Achei que não viesse mais — falei assim que ela entregou a mala
para o motorista e entrou no carro, dez minutos após eu ter chegado.
— E deixar de passar dois dias nos Hamptons? — brincou, mas eu não
estava completamente convencido de sua animação.
Após ter me falado que ela e Megan não eram exatamente amigas, eu
tinha certeza de que estava indo mais para me apoiar do que por vontade
mesmo, e isso me fazia amá-la ainda mais.
— Obrigada por ir comigo — falei, para ela saber que eu a entendia, e
dei um beijo demorado em seus lábios.
Como de costume, ela infiltrou as mãos por dentro do meu paletó e
colou o corpo ao meu.
Nunca imaginei que minha decisão de viver em Nova York fosse
refletir em tantas áreas da minha vida. Sim, eu saí de Londres para expandir
meus negócios e tentar conquistar um antigo amor, mas quando minhas
investidas sobre Louise se frustraram, não passou pela minha cabeça que eu
fosse me apaixonar tão perdidamente por uma garota tão incrível.
— Vamos, senão vou te levar de volta para casa e não vamos sair de lá
até segunda — disse a ela, que já gemia baixinho em minha boca, deixando-
me mais duro a cada segundo.
Sem outra opção, eu concordei e abri a porta para que ela entrasse e me
coloquei ao seu lado.
A viagem foi tão tranquila que Lacey acabou dormindo já nos
primeiros minutos de voo. Ela tinha feito um trabalho até de madrugada e não
precisou de muito estímulo de minha parte para ir descansar.
Aproveitei aquele tempo para revisar detalhes da proposta que
pretendia fazer a Donald.
Quando estava na metade do documento, o celular dela vibrou em cima
da mesa, mesmo assim, ela não acordou. Quando apareceu uma mensagem na
tela, inclinei-me para ver se era algo urgente e me deparei com o nome de um
homem. Brad.
Oi, Lacey, vou fazer uma social aqui em casa hoje, se estiver animada,
me avisa.

Forcei minha memória, a fim de me lembrar se Lacey havia me falado


a respeito de algum amigo chamado Brad e não me recordei de nada.
Todavia, não mexi no celular dela, em vez disso, peguei o meu e entrei
em sua principal rede social de fotos.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi que não havia nenhuma
foto de nós dois juntos. Ignorei esse fato, por saber que, realmente, não
éramos o tipo de casal que ficava tirando fotos o tempo todo, e fui direto para
seus contatos, procurando pelo nome do remetente da mensagem.
Não demorou para Brad aparecer e imediatamente entrei em seu perfil,
que era aberto. Comecei a olhar suas postagens e percebi o quanto era novo,
talvez da mesma idade de Lacey. Não podia negar que era um rapaz de ótima
aparência e isso me inquietou.
O próximo fato que percebi, com um pouco de surpresa, foi que alguns
de seus clicks haviam sido tirados em Columbia, o que me fez supor que ele
também estudava lá.
Senti o coração acelerar um pouquinho com aquela novidade, mas
preferi não tirar conclusões precipitadas. Lacey era linda, mas nunca me dera
motivos para desconfiar de nada, além disso, não podia proibi-la de ter
amigos, ainda mais quando estava tão bem.
Saí do perfil do tal Brad, guardei meu celular, peguei o documento e
voltei a ler, mas volta e meia algum pensamento aleatório envolvendo minha
namorada e o rapaz me tirava o foco.
Eu não tinha visto nada de mais no perfil dele, mesmo assim, o fato de
eles parecerem se conhecer tão bem me incomodou. Lacey era preciosa
demais para mim e só de imaginar que ela pudesse se interessar por outra
pessoa, fazia florescer um ciúme que, eu tinha certeza, nunca havia sentido
por ninguém.
Passei alguns segundos olhando para ela. Lacey não era o tipo de garota
que traía, então, não tinha por que ficar enchendo a cabeça com hipóteses
tolas. Essa percepção apenas aumentou quando toquei sua mão e na mesma
hora ela a agarrou, como se precisasse do meu contato.
Permaneci o restante da viagem assim, com uma mão na dela e a outra
segurando o documento, cuja leitura eu consegui finalizar pouco antes de
chegarmos aos Hamptons.
O avião aterrissou em um hangar particular que empresários e famosos
costumavam usar. Isso não impedia que algum paparazzi aparecesse por lá.
Era notório que a cidade ficava enfestada de pessoas cheias de dinheiro
durante as férias e nos fins de semana, bastava saber onde procurar. Todavia,
ainda era um lugar tranquilo.
— Uau, é muito mais incrível do que nas fotos que eu vi — exclamou
Lacey enquanto o carro circulava pelas ruas calmas.
— Acho que essa é a propriedade que a família menos usa. Houve uma
época em que até pensei em me desfazer dela, mas depois desisti — comentei
quando saímos do carro e paramos em frente a mansão que meu pai comprou
quando éramos crianças.
Ele realmente amava os Estados Unidos e estava ali sempre que era
possível. Por incrível que pareça, Cybele também gostava dali e vivia
reformando e mudando a decoração. Imaginava se aquela era sua versão de se
sentir útil.
Durante a semana ela havia me ligado duas vezes e em uma de nossas
conversas comentei que iria para os Hamptons com Lacey. Solícita, ela se
prontificou a falar com os funcionários para deixarem tudo em ordem.
— Ainda bem que não vendeu, eu amei esse lugar — revelou minha
garota, animada com tudo o que via.
Quando passamos pela porta, fiquei impressionado ao ver a mesa posta
com frutas e chocolates, além do vinho branco que fora colocado em um
balde de gelo.
Logo em seguida, uma senhora, que se apresentou como Arenita,
apareceu e informou que nos serviria naquele fim de semana.
Após nos apresentarmos, ela saiu.
— Nossa, sua mãe caprichou na recepção — disse Lacey, pegando uma
uva que estava na bandeja.
— Pois é.
Eu realmente não sabia o que responder. Essas gentilezas vindas de
Cybele eram muito novas para mim e ainda não estava certo se podia confiar
nessa mudança.
Após cada um comer uma porção de frutas, uma trufa de chocolate e
beber uma taça de vinho, subimos para o quarto.
Como ainda faltavam algumas horas para o início da festa de Donald,
chamei Lacey para tomar um banho de banheira comigo.
Claro que uma coisa levou a outra e naquele momento, após termos
feito amor, ela estava sentada à minha frente, as costas contra o meu peito.
— Que roupa se usa para ir a um jantar como esse? — perguntou,
fazendo desenhos nos pelos molhados do meu braço.
— O jantar é bem informal, então, pode usar o que quiser, não precisa
se preocupar — comentei, tentando ajudá-la.
— Homens — disse ela, fingindo um suspiro sofrido. — Acho melhor
começar ou iremos nos atrasar.
Ainda a mantive comigo dentro da água quente por alguns minutos,
mas, por fim, ela se levantou e foi se enxugar.
Lacey era toda macia, gostosa, bem feita. O tipo de mulher que me
deixava louco a qualquer hora do dia, fiquei duro novamente ao ver seu corpo
maravilhoso, mas me segurei e não a puxei de volta para a banheira, senão,
como ela disse, iríamos nos atrasar.

Depois de experimentar uma meia dúzia de vestidos Lacey optou por um


modelo azul marinho e uma sandália alta de modelo descontraído. Estava
maravilhosa.
— Tudo bem? — perguntei a ela enquanto dirigia pelas ruas cheias de
mansões.
— Sim, tudo — respondeu e eu contive um suspiro.
Aquele universo era novo para ela e entendia sua introspecção.
Sabendo disso, eu certamente não marcaria nada sem lhe falar antes, mas
homens do nosso patamar eram ocupados demais, então, quando a
oportunidade surgiu, não tive como recusar e acabei fazendo tudo no
automático.
Eu sei que foi errado, mas estava cobiçando aquele negócio há muito
tempo. Se Donald aceitasse implementar os projetos sustentáveis da minha
empresa em sua rede de empreendimentos, teríamos muito mais visibilidade,
já que ele era conhecido nos quatro cantos dos Estados Unidos.
Estacionei o carro na rua em frente à mansão dos Wilson e seguimos
para a porta de entrada. Não demorou para a governanta nos atender e guiar
para a área externa, onde havia um número considerável de pessoas.
Pelo visto, a festa seria bem maior do que eu imaginara.
— Nossa, quanta gente! — exclamou Lacey, tão admirada quanto eu,
assim que passamos pelas portas duplas.
— Sim — foi tudo o que falei, pois no instante seguinte Donald surgiu,
sorridente, usando uma camisa florida e segurando um copo de uísque.
— Ward, que bom que chegou — disse ele e depois olhou para Lacey.
— Como vai, querida?
Ela sorriu e o cumprimentou antes de ele começar a nos guiar até uma
mesa.
— Fiquem à vontade, bebam alguma coisa e daqui a pouco volto aqui
para conversarmos — Donald avisou e eu concordei com a cabeça.
Naquele momento um garçom, carregando uma bandeja com vários
tipos de bebidas, parou em nossa mesa. Escolhi um uísque com gelo e Lacey,
um coquetel colorido.
Enquanto bebíamos, ambos olhamos ao nosso redor. A casa estava toda
decorada com frutas e flores, e vários convidados tinham colares estilo
havaiano no pescoço.
— Algumas pessoas parecem estar se divertindo bastante — Lacey
comentou, olhando um grande grupo cujas pessoas pareciam bem animadas.
Perto delas, na pista de dança improvisada, algumas dançavam ao som da
salsa que tocava de fundo.
Aquele não era o tipo de festa que eu imaginei que um homem como
Donald Wilson gostasse. Mas isso realmente não era relevante, pois eu estava
ali a negócios. Queria, ao menos, ver se o interesse dele era ou não genuíno.
Lacey e eu estávamos conversando trivialidades quando Wilson surgiu
com a filha ao lado.
— Como vai, Lacey? — perguntou ela, alegre e simpática, após me
cumprimentar.
— Estou bem, Megan, e você?
— Ótima. Por que não deixa os homens falarem sobre negócios e vem
conhecer minhas amigas? — convidou, apontando uma mesa do outro lado
da piscina.
Lacey sorriu fracamente, mas acabou concordando.
Antes de ir, olhou para mim e eu acenei de leve com a cabeça, então ela
replicou meu gesto. Logo, elas estavam se misturando aos convidados.
Donald se acomodou na cadeira à minha frente e, finalmente, pudemos
dar continuidade a uma conversa que havia se iniciado algumas semanas
antes.
À certa altura, ele estava me explicando a respeito de uma área
específica de sua empresa, quando resolvi procurar por Lacey. Eu a avistei no
exato momento em que ela se levantou bruscamente e se encaminhou a
passos rápidos para dentro da casa, sendo seguida por Megan Wilson logo
depois.
Aquilo me deixou imediatamente em alerta; alguma coisa havia
acontecido.
A mansão era muito luxuosa, com salas enormes e um magnífico
jardim na frente e uma praia particular.
A festa estava grandiosa, e se eu não soubesse, diria que estávamos no
Havaí.
Mesmo sabendo que o intuito de ir até ali era estreitar laços comerciais,
eu estava contente porque estar com Tom fazia isso comigo. Mas meu humor
mudou drasticamente quando Megan apareceu com aquele sorriso falso e me
arrastou para a mesa que suas amigas ocupavam.
Pela tranquilidade de Thomas, aquilo devia ter soado como uma
tremenda gentileza feita pela anfitriã. No mínimo pensou que ela estivesse
querendo estreitar laços fraternais comigo.
Mas eu sabia que nada de bom viria daquilo e foi só eu me sentar para
sentir os olhares maldosos direcionados em minha direção.
Elas não conseguiam nem disfarçar o quanto estavam adorando me
colocar naquela situação.
Fiquei imaginando que tipo de criação tiveram, para se tornarem tão
mesquinhas e fúteis, se o dinheiro as tinham deixado assim. Depois me
lembrei de Amanda e outras garotas com quem convivi e que eram tão ricas
quanto, mas muito gentis e simpáticas e vi que tinha mais a ver com criação
do que com o que possuíam.
— Amei sua bolsa, Lily. É nova? — Megan perguntou.
— Ah, sim, é um modelo novo da Hermes, uma edição limitada.
Custou uma pequena fortuna, mas valeu a pena — comentou a amiga, toda
orgulhosa da bolsa em um tom alaranjado que chegava a doer os olhos.
— Eu preciso de uma! — exclamou Megan como se fosse uma questão
de vida ou morte.
— Sua mãe tem contato com os diretores criativos de todas essas
marcas, não será difícil atender a um pedido dela — a tal Lily disse, babando
o ovo de Megan enquanto eu bebia meu drink e escutava aquela conversa
idiota.
— Verdade — concordou a cobra e se virou para mim. — E você,
Lacey, de qual marca gosta mais?
Após lançar a pergunta, Megan olhou para a bolsa preta e pequena que
eu resolvi usar apenas para guardar meu celular e um documento. Bem
diferente da bolsa espalhafatosa de Lily, a minha era discreta e, a meu ver,
bem bonitinha, mas barata.
Isso, assim como meu vestido e sandálias, com certeza não passaram
despercebidos ao radar daquelas patricinhas, que deveriam sentir o “mau
cheiro” das lojas de departamento a quilômetros de distância.
— Nenhuma em especial, não tenho coragem de gastar o valor de um
carro para andar com uma bolsa pendurada no corpo.
As amigas de Megan arregalaram os olhos para o meu comentário.
— Um pensamento típico da classe operária — murmurou uma delas,
alto o bastante para todas ouvirem.
— Mas agora você namora um milionário, Lacey, não pode mais
pensar assim. — As palavras venenosas de Megan me deixaram fervendo de
ódio.
Que garota mais idiota.
— Não é porque namoro um milionário que vou fazê-lo gastar fortunas
com bolsas ou qualquer outro artigo de luxo, isso é ridículo, desnecessário e
completamente fútil, coisa que eu não sou.
Daquela vez as garotas arfaram em uníssono, mas Megan apenas
revirou os olhos, abertamente impaciente com minha resposta, e se inclinou
em minha direção.
— Pois deveria aproveitar para tirar algum lucro daquele bonitão
enquanto pode, quanto tempo acha que vai demorar para ele perceber que
uma pobretona feito você não combina com ele?
Suas amigas nem disfarçaram os sorrisinhos maldosos e o quanto
amaram a resposta que sua amiga me deu.
O ódio que senti de Megan subiu queimando pelas minhas entranhas;
era como se toda a raiva reprimida por tudo que já a tinha visto fazer tivesse
chegado à superfície.
Lembrei-me da sensação que senti quando arrebentei o carro de Jace
com um taco de baseball e das vezes que tentei agredi-lo fisicamente e,
naquele exato momento, a mesma sensação que me atingiu nos segundos que
antecederam as piores merdas que fiz na vida estava ali, na borda.
Para não piorar as coisas, levantei-me bruscamente e saí em direção à
parte interna da casa, precisava me afastar e respirar um ar que não estivesse
contaminado com o veneno daquelas garotas.
Caminhei apressada por entre as pessoas e perguntei a um garçom onde
ficava o banheiro. Ele disse que havia um no final do corredor à direita e eu
agradeci. Mas antes de seguir para lá, peguei um dos coquetéis que estava em
sua bandeja, quem sabe me ajudasse a acalmar os nervos?
Mal havia tomado o primeiro gole quando escutei a voz da bruxa-mor
novamente, pouco antes de chegar ao banheiro.
— A verdade dói, não é, Lacey?
— Sério que vai ficar me perseguindo?
— Estou lhe fazendo um favor, deveria me agradecer.
Eu suspirei profundamente, tentando levar oxigênio e um pouco de
lucidez para as células do meu corpo, que gritavam para eu acertar a cara
daquela patricinha metida a besta.
— Você deve ser muito infeliz para sentir prazer em infernizar a vida
dos outros, ou esse é só mais um distúrbio de gente rica?
Megan arquejou e depois me encarou com todo desdém que possuía em
sua alma.
— Pelo que andei pesquisando, você entende bem sobre esse negócio
de distúrbio.
Quando abri a boca, incrédula, ela sorriu maldosamente e continuou:
— Sim, eu sei. Não foi difícil descobrir uma pequena parcela
vergonhosa do seu passado, começando pelo pedido de restrição de Jace
Morgan.
A cada palavra proferida, o enjoo que comecei a assentir foi piorando.
Megan estava despertando uma parte minha que eu jurei não existir mais.
— Isso não é da sua conta! — berrei, cheia de ódio.
— Com toda certeza, não, mas pode interessar ao meu pai. Ele jamais
fechará negócios com um cara que tem uma delinquente como namorada.
Senti o ódio queimando meu peito e me vi arrancando todos os fios de
cabelo daquela filha da mãe.
A sensação de fazer isso, mesmo que em pensamento, foi maravilhosa.
— Bom, eu adorei arrebentar a cara do meu ex-namorado, então, se
fosse você, ficaria bem longe de mim, pois não teria problema nenhum em
repetir a dose — blefei.
— Está me ameaçando? — perguntou, de olhos arregalados.
— Eu? Claro que não, é só um alerta, nunca se sabe o que uma pessoa
psiquicamente perturbada pode fazer — falei com serenidade e entrei no
banheiro. — Você deveria me agradecer — repeti suas palavras e bati a porta
atrás de mim.
Sentei-me na privada e fiquei por longos minutos tentando me acalmar
e analisando todas as provocações de Megan.
Ainda era difícil de acreditar que ela tenha se dado ao trabalho de
pesquisar meu passado. Um passado que ainda me envergonhava. Embora eu
soubesse que tudo o que ocorreu foi devido à minha depressão, jamais me
perdoaria se minha inconsequência atrapalhasse as negociações de Tom.
Eu fiquei vários minutos ali, e quando saí, ele estava me esperando no
corredor.
Deus queira que Tom não tenha visto minha cena com Megan, nem que
ela tenha falado da ameaça que fiz.
— Megan falou que você se sentiu indisposta — disse ele, preocupado.
— Pois é, deve ter sido a bebida — menti.
Thomas se aproximou e me envolveu nos braços, como sempre fazia
quando percebia que eu não estava bem.
— E como está se sentindo agora? — perguntou, ainda abraçado
comigo.
— Bem, Megan foi muito gentil em me acompanhar até o banheiro.
Ele me encarou, visivelmente aliviado, e depois me deu um beijo casto
nos lábios.
Embora eu quisesse falar o quanto aquela vaca havia me humilhado,
seria um grande balde de água fria para ele se descobrisse que minha relação
com a filha de Donald poderia estragar suas negociações.
Voltamos para a festa de mãos dadas e acabamos nos juntando às
pessoas que nosso anfitrião fez questão de apresentar.
Se não tivesse acontecido aquele incidente com Megan, a noite teria
sido ótima. Entretanto, a todo momento suas palavras voltavam à minha
mente. Fazia tanto tempo que eu não me lembrava como era me sentir
daquele jeito que tive vontade de chorar.
Tom era maravilhoso comigo, mas pela primeira vez eu senti que meu
passado e meus problemas psicológicos poderiam macular nosso
relacionamento.
Percebendo isso, eu respirei fundo e aguentei firme, tentando tratar
aquela situação como um evento isolado.
Não dava para ficar daquele jeito por causa de ameaças de uma garota
mimada, que sentia prazer em infernizar a vida dos outros, então, fiz o meu
melhor para que Tom não percebesse o quanto estava sendo incômodo passar
aqueles momentos ali.
Com um pouco de sorte, ele logo fecharia esse negócio e nos veríamos
livres daquela garota sem noção.
Foi com esse pensamento que me propus a passar o restante do fim de
semana. Não queria que ele percebesse como me senti mal e nem quanto
medo eu tive de voltar a ser aquela garota que ele conheceu vários meses
atrás.
No entanto, não dava para ignorar a vozinha que me dizia que esse era
o tipo de gente que eu iria encontrar na roda de pessoas que Thomas
costumava frequentar, fosse por negócios ou prazer.
Por isso, tinha que começar a me acostumar com tudo isso e aprender a
ter jogo de cintura, pois não seria fácil aguentar todas aquelas pessoas ricas,
fúteis e maldosas. Eu ainda encontraria muitas Megan Wilson no meu
caminho e precisava ser forte.
Tanto por mim quanto por Tom, eu aprenderia a melhor maneira de
lidar com elas.
Acho que eu nunca fiquei tão feliz por voltar à minha rotina de
universidade e trabalho. Embora estivesse em um lugar lindo com a melhor
pessoa, demorou um pouco para me recuperar do embate que tivera com
Megan.
Para minha sorte, ela não apareceu na aula de Cálculo. Eu não sabia
como reagiria se a visse tão cedo.
— Eu não acredito que ela ameaçou melar o negócio do seu namorado
— disse Amanda quando saímos do prédio de Matemática.
Precisava contar para alguém sobre o que acontecera nos Hamptons, e
como Tom e mamãe ficariam preocupados, decidi que Amanda seria a pessoa
ideal, especialmente porque ela já conhecia as maldades de Megan e me
entenderia.
— O problema é que se o pai dela não negociar com Thomas, eu
sempre vou ficar na dúvida se teve dedo dela ou não.
Seguimos pelo campus e paramos em frente à biblioteca, onde abri a
bolsa e peguei dois Snickers que havia comprado de manhã, oferecendo um a
Amanda. Nós tínhamos acabado de almoçar e aquela seria nossa sobremesa.
— Eu conheço muito pouco da família de Megan, mas Brad conviveu
com eles e diz que o pai a mima como se ela tivesse 5 anos, então, não
duvido que ela pudesse influenciá-lo se quisesse.
— Obrigada, estou muito pior agora — zombei e dei uma mordida na
barra de chocolate com recheio de caramelo e amendoim.
— Não estou falando isso para que se sinta mal e sim para que não faça
mais a besteira de ameaçar aquela naja.
— Eu sei que fiz errado, mas fiquei com tanta raiva que não consegui
pensar.
— Tome cuidado com ela, Megan é maquiavélica e vingativa e você
sabe o que pessoas assim fazem quando se sentem ameaçadas, certo?
— Sei, sim, elas atacam — respondi e comi o último pedaço do meu
chocolate.
Nós entramos na biblioteca e pegamos alguns livros. Ao sairmos, nos
separamos, pois tínhamos matérias diferentes. Quando aquela aula acabasse
eu iria para a empresa.
O problema era que eu ainda estava pilhada com as coisas que
aconteceram nos Hamptons, no entanto, tudo desapareceu quando cheguei ao
setor de projetos e vi Tori sentada no lugar da antiga secretária de Abby.
Com toda certeza aquela não era a minha semana.
Passei por ela e fui para a minha mesa sem fazer questão de demonstrar
qualquer simpatia.
Fora Abby e eu, apenas duas outras mulheres trabalhavam no setor de
projetos, e podia apostar que Tori faria amizade facilmente com elas, já que
toda vez que eu chegava ao andar era fuzilada por olhares femininos.
Eu sabia que o prédio inteiro estava dividido. Algumas pessoas
achavam que eu estava me aproveitando do namoro com Thomas para
conseguir regalias na empresa, outras, como Tori, diziam aos quatro ventos
que o Sr. Ward estava apenas se divertindo comigo e poucas viam nosso
namoro como uma espécie de conto de fadas.
Eu sabia que ter aquela fofoqueira no andar seria um prato cheio para
mais especulações venenosas, pois ela não fazia questão de disfarçar seu
desagrado.
Olhar para Tori sempre me fazia recordar de Elliot, meu antigo chefe
do jurídico. Às vezes me pegava pensando o que ele estaria fazendo da vida,
se continuava assediando as mulheres em seu novo emprego.
Eu sentia náuseas toda vez que me lembrava da forma como ele me
tratou, como se eu fosse uma interesseira que estivesse me envolvendo com o
chefe por dinheiro e status.
Ninguém que falava de mim pelos corredores da empresa sabia que ele
havia me salvado de fazer a pior besteira da minha vida.
Tom foi um anjo que apareceu na hora certa e com sua paciência e
gentileza me mostrou que o mundo tinha muito mais a me oferecer, que eu
podia muito mais...
Era a esse tipo de coisa que eu me apegava quando algum pensamento
ruim começava a martelar em minha cabeça.
Namorar um homem experiente tinha muitos benefícios, mas eu
precisava entender que nem tudo seria um mar de rosas, afinal, éramos de
mundos diferentes e para as coisas darem certo, eu precisaria de uma dose
extra de esforço e maturidade, do contrário colocaria tudo a perder.
Balancei a cabeça e suspirei, tentando me acalmar a fim de conseguir
me concentrar no que tinha para fazer. Mas minha concentração se perdeu
quando meu celular tocou.
Voltei minha atenção para o trabalho, mas segundos depois o celular
tocou novamente. Olhei para os lados e, ao ver que não tinha ninguém nos
vigiando, resolvi atender rapidinho.
— Alô.
— Oi, Lacey. É o Brad, você pode falar?
— Se for rápido, sim.
— Desculpe incomodá-la no trabalho, mas queria saber se você pode
me dar uma força com a nossa próxima prova de Cálculo. Eu faltei a
algumas aulas e estou muito perdido.
Brad era muito bom em algumas matérias, mas sempre me pedia ajuda
com Cálculo.
— Do que precisa? — perguntei e corri o olhar pelo andar, pois não
queria que Abby me pegasse em uma ligação particular.
— Pensei que você poderia levar suas anotações e, se tivesse tempo,
me dar uma aula particular sobre o conteúdo da prova, isso salvaria a minha
vida — disse, dramático.
Brad, Amanda e eu estávamos cada dia mais próximos, mas ele e eu
não tínhamos tanta intimidade e, quando ficávamos sozinhos, ainda era um
pouco estranho. Contudo, não deixaria de ajudá-lo por causa disso.
— Claro, a Amanda também está com algumas dúvidas e podemos
estudar juntos — sugeri, para não ficar a sós com ele.
— Ótima ideia, pode ser aqui em casa?
Pensei em recusar, mas também não me sentiria a vontade de levá-lo
até meu apartamento, mesmo que Amanda estivesse junto.
— Se a Amanda for junto, pode ser, sim.
Deixei a condição explícita para não haver interpretação errônea da
parte dele.
— Pensei em marcarmos para amanhã, o que acha? — ele quis saber.
— Ótimo, agora eu preciso desligar, amanhã de manhã combinamos
tudo — falei apressadamente quando vi minha chefe saindo do elevador.
— Ok, até amanhã.
Mal ele se despediu, eu desliguei e guardei o telefone.
Brad era um amor de pessoa, mas toda vez que parava para analisar,
sentia que ele me olhava demais, tentava agradar demais. Eu não tinha muita
experiência com homens e relacionamentos, mas, a meu ver, sua interação
comigo era diferente da que mantinha com Amanda.
Talvez fosse só coisa da minha cabeça. Eu passei tanto tempo obcecada
por Jace, sem ver ninguém ao meu redor, que poderia estar confundindo
nossa amizade com algo mais, apenas por ele ser homem.
De qualquer forma, não era nem hora e nem lugar para pensar naquele
assunto; especialmente porque Abby estava indo em minha direção.
Ela parou em frente à minha mesa e cruzou os braços.
— Como vai, Lacey?
— Ótima, obrigada por perguntar — respondi, achando estranha aquela
atitude.
— Que bom, preciso que você e outros três estagiários do andar, sendo
dois deles de arquitetura, trabalhem em um projeto novo que vai demandar
muita atenção e tempo, inclusive aos sábados. A princípio serão dois por mês,
mas dependendo, os encontros poderão acontecer todos os sábados. Posso
contar com você?
Desde que fui para o setor sonhava com a chance de ser incluída em
algum projeto, então, não tinha outra coisa para falar exceto:
— Claro, venho rezando por uma oportunidade como essa.
Eu fiquei tão empolgada que ela sorriu, o que foi incrível e totalmente
estranho.
— Ótimo, começaremos no próximo sábado, às 8h da manhã.
Abby se afastou, mas eu continuei rindo feito uma boba.
Minha chefe era uma engenheira brilhante e aquela seria a minha
chance de expor a ela e todos, que eu tinha muita vontade de aprender e
demonstrar que eu não era uma garota interesseira que só estava ali porque
caiu nas graças do CEO da empresa.
Eu daria o meu melhor para provar o quanto podia ser boa naquilo.
Naquela tarde eu trabalhei com um sorriso de orelha a orelha, fazendo
mil planos para minha carreira e pensando no quanto aquela atividade extra
contaria em meu currículo.
Eu queria aprender tudo sobre engenharia sustentável. Para ser sincera,
almejava ser um nome reconhecido nessa área, então, todo o esforço valeria a
pena.
No final do dia, Thomas enviou uma mensagem avisando que teria
outro compromisso com Donald em um clube de cavalheiros, mas que
quarta-feira nos veríamos normalmente.
Eu não gostava nada daqueles encontros dele, não que eu desconfiasse
do meu namorado, ele era uma pessoa com índole incontestável, mas após os
últimos acontecimentos, eu estava rezando para que ele fechasse logo aquela
negociação.
Cheguei em casa cansada, mas cheia de alegria. Tomei um café com
minha mãe e, enquanto me deliciava com uma fatia de bolo, que havia
acabado de sair do forno, relatei minha conversa com Abby e o quanto fiquei
feliz em receber aquela notícia.
Mamãe, ao ver a minha felicidade, fez inúmeros elogios a mim e
reafirmou o quanto o namoro com Thomas tinha mudado minha vida para
melhor.
Eu sabia disso, só precisava aprender a lidar com todas as pessoas a sua
volta.
Aquela estava sendo a parte mais difícil para mim. Eu possuía uma
natureza simples e nenhuma paciência para tanta futilidade. Ter que me
encontrar com aquelas dondocas todo fim de semana era complicado.
Antes de dormir, recebi uma ligação de Thomas. Ele comentou meio
por cima que nas próximas semanas teríamos muitos eventos e a grande
maioria na companhia de Donald Wilson.
Suspirei pesadamente ao ouvir aquilo e me joguei na cama, pedindo
forças, pois sabia que Megan estaria junto e não iria facilitar as coisas para
mim.
UM MÊS DEPOIS...

As últimas semanas tinham sido as mais agitadas e desgostosas da


minha vida.
Eu já tinha perdido a conta do número de jantares e eventos aos quais
havia comparecido para acompanhar Thomas e a família Wilson.
Aqueles encontros, além de chatos em sua maioria, me fizeram
perceber que Megan era muito mais asquerosa do que eu poderia imaginar.
Por várias vezes cheguei a pensar que ela estava interessada em meu
namorado, quer dizer, não havia motivo para ela me atacar daquele jeito ou
me hostilizar tanto quando não tinha ninguém por perto para aplaudir sua
performance.
Mas logo percebi que ela era apenas má mesmo.
Na verdade, toda a sua família era esquisita. Sua mãe parecia viver em
Nárnia e o pai, com aquele sorriso e conversa fáceis, não conseguia me
convencer, além disso, a forma como me olhava de vez em quando me
incomodava.
Mas Thomas, sempre tão atento e criterioso, parecia não enxergar nada
além da negociação.
Nosso tempo juntos, aquele em que ficávamos só nós dois, que já havia
diminuído drasticamente devido à agenda cheia de eventos, ficou ainda
menor depois que comecei a trabalhar no projeto em que Abby me incluiu.
Nossa bolha foi se desfazendo aos poucos e o último mês havia me
mostrado um Thomas Ward completamente diferente, parecia que o homem
amoroso havia sucumbido e dado lugar ao empresário implacável, movido
pelo fechamento do próximo negócio.
Não que ele estivesse me tratando mal, Thomas jamais faria isso, mas
ele andava um tanto disperso e até um pouco relapso no que se referia a nós.
Nas poucas vezes em que conversamos sobre a quantidade de eventos que
Donald inventava, ele sempre falava que era assim mesmo, mas que em breve
as coisas iriam ficar mais calmas.
Contudo, isso já durava quase dois meses e tudo só piorava. Não
imaginei que uma negociação em que ambas as partes estavam de acordo
demorasse tanto para ser concluída.
Olhando toda situação de fora, parecia que Donald estava apenas
cozinhando meu namorado. Não que Thomas fosse bobo, pelo que
conversávamos ao final de cada evento, estava estreitando laços com diversos
empresários importantes da cidade, de forma que, a meu ver, ele não parecia
muito preocupado com aquela demora.
Estava saturada de tudo aquilo, mas ele não parecia perceber.
Em uma conversa, eu deixei claro que não conseguia me entender com
Megan. Preferi não entrar em detalhes quanto ao que realmente acontecia
entre nós, pois tinha medo de como ele iria reagir, mas citei o que ela fazia
com Amanda e várias outras pessoas para tentar fazê-lo enxergar que ela era
uma víbora, e Tom me perguntou o que eu queria que ele fizesse, mas eu não
soube o que responder.
Quer dizer, seria justo pedir que ele simplesmente abrisse mão de uma
negociação que lhe renderia tantos frutos?
Pensei em mim. Se ele me pedisse para desistir do curso da minha vida
eu desistiria?
Não, então, eu não disse nada. Tom era, antes de tudo, um empresário e
não poderia ser inserido em uma briga tão infantil quanto aquela que
acontecia entre mim e Megan.
Foi por isso que eu determinei a mim mesma que aguentaria, até que
não fosse mais possível. Quando isso acontecesse, ele teria que ir sozinho aos
compromissos.
Só que essa ideia também não me agradava e eu decidi que resolveria
quando esse dia chegasse.
Balancei a cabeça em desgosto. Meu dilema foi interrompido quando o
telefone da minha mesa começou a tocar.
Suspirei e rezei para que não fosse Thomas com mais um convite de
última hora.
— Alô — falei, seca.
— Uma ligação da mãe do Sr. Ward para você — Tori avisou, em um
tom de desgosto.
Podia imaginar o quanto deveria ser indigesto para ela saber que minha
querida sogra estava ao telefone.
— Pode passar.
No instante seguinte a voz elegante de Cybele Ward surgiu do outro
lado da linha.
— Lacey, querida, desculpe incomodá-la, mas gostaria de fazer um
convite — disse ela, toda simpática.
— Como vai, Cybele? Estou ouvindo.
— Semana que vem é meu aniversário e como será feriado em Nova
York, pensei que você e Thomas poderiam vir para Londres passar uns três
ou quatro dias, o que me diz?
Avaliei rapidamente, o que seria pior: mais almoços e jantares com
Donald ou passar alguns dias em Londres com a minha sogra misteriosa?
Tudo bem que ela parecia ter mudado, mas eu não confiaria logo de
cara. Além disso, já estava com saudades de passar um fim de semana
sozinha com meu namorado, só nós dois em nossa bolha, mas o que eu
poderia fazer?
— É muita gentileza de sua parte. Vou falar com Thomas e ver o que
ele acha — disse, para jogar a responsabilidade para ele.
— Na verdade, nós meio que conversamos e ele deu a entender que, se
você concordasse, iria.
Desmontei na cadeira. Ele teve a mesma ideia que eu, só se esqueceu
de me avisar.
— Ah, se é assim, então nós vamos.
— Perfeito! Vou providenciar uma bela recepção para vocês.
Cybele finalizou a ligação parecendo realmente feliz por eu ter aceitado
o convite, e eu, francamente, não sabia o que pensar.
Não queria ser injusta, agindo com desconfiança, só que, por mais
educada que ela tenha sido desde que a conheci, não sentia sinceridade de sua
parte, tudo parecia um pouco forçado demais. E, por mais maldoso que possa
parecer, isso podia acontecer pela falta de costume em ser gentil.
Dei de ombros mentalmente.
Talvez esses dias em Londres me ajudassem a perceber alguma coisa
que me fizesse descer do muro, pensei logo antes de começar a trabalhar.
O restante daquela tarde passou voando e eu só me levantei da minha
mesa quando finalizei todos os detalhes do relatório de orçamento que um
dos engenheiros havia me pedido.
Quando dei meu expediente por encerrado, o setor estava praticamente
vazio, mas Abby continuava em sua mesa. As paredes de sua sala eram de
vidro e pude ver seu olhar sobre mim enquanto me dirigia ao elevador.
Quando cheguei ao térreo, fui até a cafeteria e comprei um café para
viagem. Ao pisar na calçada, encontrei Joly um pouco afastada da entrada,
fumando um cigarro.
— Desde quando você fuma? — perguntei, um tanto desconfiada.
— Desde que a gerente do jurídico pede coisas e prazos impossíveis —
disse e caminhamos lado a lado enquanto ela falava que Emma Sanders
estava sendo megera que ela até sentia saudade do babaca do Elliot.
Cheguei a parar de caminhar quando ela disse isso.
— Tudo bem, foi mal, eu sei que ele foi um idiota com você, mas
aquela mulher deve ter feito curso nos confins do inferno... — reclamou e eu
gargalhei. Pelo visto, aquela semana estava sendo péssima para nós duas.
— Joga esse cigarro fora e vamos lá para casa, acho que uma taça de
vinho e uma comidinha caseira vão melhorar nosso humor.
Ela sorriu, livrou-se do cigarro e me abraçou.
Como eu não tinha muitas amigas, mamãe sempre ficava feliz quando
Joly aparecia, aquilo dava um ar de normalidade para minha vida, que sempre
foi tão cheia de altos e baixos.
Poucos minutos depois, estávamos em meu apartamento e mamãe se
prontificou a fazer um de seus belos pratos italianos, o que nos deixou
animadas, vinho e massa eram tudo de que eu precisava para ficar bem
pesada e dormir feito uma pedra.
Depois de passar o último fim de semana no automático para agradar
pessoas que eu nunca tinha visto na vida, era reconfortante poder beber e
falar besteira com mamãe e minha melhor amiga.
Enquanto as duas conversavam, cada uma com uma taça de vinho na
mão, aproveitei para tomar um banho e ligar para Thomas. Queria falar sobre
o convite de Cybele. Mas a chamada caiu na caixa de mensagens. Deixei o
telefone carregando no quarto e fui para a cozinha, ligaria mais tarde
novamente.
Quando a comida ficou pronta, nós jantamos sob olhares e suspiros de
aprovação. Mamãe arrasava na cozinha. Depois do jantar, continuamos
bebendo até enxugar a garrafa.
Não comentei com elas sobre os acontecimentos com Megan. Joly era
uma boa amiga, mas trabalhava na empresa e tinha outras amigas lá, por esse
motivo não quis falar sobre os negócios de Tom, até porque nem ele mesmo
sabia se daria certo.
Sem contar que não queria deixar mamãe preocupada ou com a
impressão de que esses eventos cheios de gente rica poderiam estar me
fazendo mal.
Tudo o que desejava era aproveitar aquele momento leve e cheio de
risadas para conseguir esquecer um pouco a tensão dos últimos dias.
E consegui.
Quando Joly se despediu já era quase meia-noite. Assim que ela foi
embora eu dei um beijo em mamãe e fui para o meu quarto para olhar o
celular.
Para minha surpresa, não havia nenhuma chamada ou mensagem de
Thomas.
Achei bem estranho, pois sempre conversávamos e trocávamos
mensagens depois que eu chegava do trabalho.
Escovei os dentes e me preparei para dormir, mas antes tentei ligar
mais uma vez e, novamente, a ligação foi direto para a caixa de mensagem.
Eu esperava que ele tivesse alguma explicação para o fato de, pela
primeira vez desde que começamos a namorar, eu ter ido dormir sem termos
nos falado.
Acordei com uma leve dor de cabeça por causa das taças de vinho que
bebemos na noite anterior e acabei chegando atrasada na universidade. Ainda
estava um pouco aérea quando encontrei Amanda na sala de aula.
— Parece que nossa professora megera está presa na reitoria, para sua
sorte — ela disse assim que me sentei no lugar vago ao seu lado.
— Joly foi lá em casa ontem, bebemos vinho e o resultado é o meu
atraso — justifiquei.
— Está na hora de nos apresentar, você fala tanto dela que já estou
curiosa para conhecê-la.
Sorri e assenti.
Mesmo Joly sendo um pouco mais velha que nós, tinha certeza de que
as duas se dariam muito bem.
— Claro, vamos combinar um cinema ou até mesmo um jantar lá em
casa, será ótimo poder sair com as duas, nós temos temperamentos muito
parecidos. Além disso, se vocês se derem bem, poderão fazer alguma coisa
juntas mesmo quando eu estiver com Tom.
Apenas quando falei o nome do meu namorado foi que me lembrei de
que havia saído tão apressada de casa que não tive tempo de pensar em nada.
Mas o fato de ele não ter me atendido na noite anterior ainda estava me
incomodando muito.
— Bom dia, Lacey — a voz irritante de Megan soou bem ao meu lado.
— Megan — falei sem nenhum entusiasmo, mas resolvi ser educada:
— Como está?
Quem nos visse de longe jamais iria imaginar o quanto aquela garota
era venenosa em nossos encontros fora da universidade, parecia que ela
guardava todas as suas energias e alfinetadas para mim. Sempre com alguma
piada a respeito das minhas roupas, acessórios, maquiagem...
Megan fazia questão de transformar sua futilidade em ataque, adorava
me bombardear com seus comentários maldosos quando ficávamos a sós. Ela
era ótima em me fazer sentir um peixe fora d’água quando estava na
companhia do meu namorado, que vivia cercado de pessoas tão ricas quanto
ele.
Sempre que Thomas comentava sobre restaurantes e viagens, ela se
apressava em citar os lugares que já havia frequentado para deixar claro que
era da mesma estirpe, evidenciando o quanto era sofisticada, ou seja,
exatamente o contrário de mim.
— Com uma ressaca daquelas — disse, como se fôssemos duas amigas
conversando trivialidades. — Imagino que seu namorado deva estar na
mesma situação, pois ele estava muito animado ontem, na festa dos Parker.
Você tem muita sorte, Thomas é um cara incrível.
Após vomitar aquelas palavras propositalmente em cima de mim, como
quem não quer nada, ela saiu rebolando e foi se sentar do outro lado da sala.
Eu demorei um tempo para processar que ela e Thomas estavam na
mesma festa e que talvez esse fosse o motivo para seu telefone estar
desligado.
— Lacey, se seu olhar soltasse fogo, essa universidade estaria em
chamas. Por ter bastante experiência nas provocações da Srta. Wilson, sugiro
que pense bem antes de tomar qualquer decisão — Amanda alertou.
Mas eu não via nada na minha frente. Por alguns segundos meu olhar
ficou nublado de ódio e medo de que meu namorado pudesse estar mentindo
para mim.
Então, para não fazer uma besteira, peguei minhas coisas e saí da sala,
precisava ir para um lugar aberto para poder respirar com calma.
Enquanto atravessava o corredor, senti meu estômago queimar e uma
sensação horrível tomando conta de mim. Será que Thomas havia percebido
que eu não aguentava mais sair todo o fim de semana com eles e, por isso,
fora sozinho?
Senti uma enorme onda de insegurança, além de um ódio descomunal.
Eram as mesmas sensações que me afligiam quando estava desconfiada
de Jace, só que em um nível maior, pois Tom era, indiscutivelmente, o
homem da minha vida. Se ele se interessasse por outra mulher ou se me
enganasse com a idiota da Megan, eu jamais iria me recuperar.
Toda essa sensação de desespero foi tomando conta de mim e
apertando meu peito de um jeito que era até difícil respirar.
— Ei, você está pálida. Venha, sente-se aqui — ouvi Amanda dizer
atrás de mim e me guiar até um dos bancos que ficavam espalhados pelo
campus.
Fiquei dois minutos ali, com os olhos fechados até que a brisa suave da
manhã me acalmou um pouco. Isso, porém, não me fez sentir melhor.
Pelo contrário, me fez pensar nos últimos eventos aos quais fomos,
sempre com a família de Donald, e na forma como Megan se insinuava para
Tom o tempo todo, querendo chamar sua atenção.
Ele nunca me deu motivos para desconfiar, pelo menos, até aquele
momento.
— É só um ataque de ansiedade, já vai passar — avisei a minha amiga,
que parecia muito preocupada.
Para Amanda aquilo poderia parecer histeria descabida por causa de
uma simples provocação, no entanto, para mim, era o pior dos gatilhos.
Eu odiava desconfiar das pessoas, especialmente do cara por quem
estava apaixonada, mas a sequência de fatos tornou tudo difícil.
Thomas sabia dos meus problemas de insegurança, então, por que
diabos não me avisou que iria a uma festa? Por que não me ligou ou mandou
uma mensagem quando voltou?
— Lacey, você já me contou sua história e, pelo visto, Megan também
sabe o bastante para imaginar que esse tipo de coisa pode te desestabilizar,
por favor, não faça as coisas por impulso. Você sabe a cobra que ela é, então,
fale com ele primeiro.
A voz de Amanda era calma, parecia até um anjo falando comigo para
tentar colocar algum juízo em minha cabeça, quando minha vontade era ir
direto para a empresa, entrar na sala de Thomas e perguntar por que ele havia
escondido aquilo de mim.
Enquanto eu divagava, o celular tocou dentro da minha bolsa e no
mesmo instante meu coração se inflamou com a possibilidade de ser ele.
Abri o zíper e peguei o aparelho com a mão trêmula e gelada. Sabia que
não era hora de falar com ele, mas precisava escutar sua voz e, quem sabe,
descobrir o que realmente aconteceu.
— Alô — falei baixo.
— Meu anjo, desculpe não ter retornado antes — disse ele com uma
voz rouca, como se tivesse acabado de acordar.
Perceber isso apenas me fez crer que Megan poderia estar falando a
verdade.
— Tudo bem, teve algum imprevisto? — perguntei para dar a chance
de ele me explicar sem eu ter que pressionar.
— Na verdade, sim. Ontem, no fim do dia, tive uma reunião com
Donald Wilson e ele acabou me arrastando para o aniversário de um amigo.
— Pelo tom de sua voz, dava para notar que ele estava caminhando pela
cobertura enquanto falava, como se estivesse atrasado.
O ódio que eu estava sentindo dele abrandou um pouco quando
alternativas começaram a surgir em minha cabeça.
Megan estava disposta a me ferrar, então, podia ter dedo dela nesse
convite de última hora.
— Entendi — falei, um tanto seca, mas acho que ele nem percebeu.
— Linda, estou atrasado. O que acha de nos encontrarmos mais tarde
para eu te explicar melhor como tudo aconteceu — sugeriu ele e escutei o
barulho do elevador.
— Ah, tudo bem, conversamos mais tarde, então.
Nós desligamos, mas eu percebi que em nenhum momento ele tocou no
nome de Megan, de forma que era mais inteligente esperar até que nós
pudéssemos conversar cara a cara.
— E aí, mais calma?
Dei de ombros e deitei a cabeça em seu ombro.
— Não sei, Amanda, mas você tem razão, primeiro eu preciso falar
com ele para depois tirar minhas conclusões.
Ela assentiu e decidimos não voltar à aula, primeiro porque
receberíamos olhares reprovadores da professora, que detestava alunos que
chegavam depois do horário, e segundo porque não queria ver aquela cobra
novamente.
Enquanto caminhávamos para uma cafeteria, fiquei analisando meu
comportamento. Foi só Megan jogar meia dúzia de palavras em cima de mim
que eu já perdi completamente a vontade de fazer as coisas que se tornaram
corriqueiras. Estava certa de que, se não fosse o apoio de Amanda, teria feito
besteira e ido atrás de Thomas.
Eu não posso voltar àquele padrão, pensei quando entramos no
estabelecimento.
Pedimos um café e enquanto Amanda relembrava as armações de
Megan, percebi o quanto ainda estava vulnerável, parecia que toda aquela
força que me rondava nos últimos meses tinha evaporado no exato momento
em que fui provocada, testada.
Senti-me péssima por quase ter saído dos trilhos. Não podia dar
margem para a velha Lacey tomar as rédeas da minha vida, no entanto, era
muito difícil saber que seu namorado estava na mesma festa que sua arqui-
inimiga sem lhe dizer nada.
O café e as histórias de Amanda me ajudaram a dissipar aqueles
pensamentos ruins, e quando cheguei à segunda aula, estava bem mais
tranquila.
Por sorte, eu amava bastante a aula de engenharia estrutural e consegui
mergulhar profundamente na matéria que o professor estava explicando.
Quando chegou a hora de ir para a empresa, voltei a ficar nervosa e
senti vontade de ligar para Tom e perguntar se ele poderia me atender por
quinze minutos, mas depois desisti.
Ele deveria estar ocupado por ter chegado atrasado e eu só iria
atrapalhar ainda mais. Por isso, segui direto para o setor de projetos e tentei
me concentrar na pilha de coisas que estava sobre minha mesa.
Na universidade, longe dele, tinha sido fácil focar nos estudos, no
entanto, saber que estávamos no mesmo prédio me fez ficar com borboletas
no estômago, o que dificultou bastante minha concentração.
A todo momento eu olhava para o cantinho da tela do computador para
saber a hora. Bebi incontáveis cafezinhos e me levantei mais vezes do que o
normal para ir ao banheiro, tudo isso para ver se as horas passavam mais
rápido.
Minha inquietação não passou despercebida pela Tori. De sua mesa, ela
me olhava de maneira especulativa, louca para saber o que estava me
incomodando. Não duvidava de que já tivesse criado dezenas de teorias nas
quais eu, indubitavelmente, me ferrava.
Quando o expediente acabou, mandei uma mensagem para Tom
pedindo uma carona para casa.
Como de costume, ele solicitou que eu subisse à sua sala. E foi o que
fiz.
Como ele estava apenas um andar acima, fui para as escadas, e a cada
degrau que subia, minhas mãos ficavam mais geladas.
Meu Deus, por que estou nervosa assim?
Senti uma coisa gelada se espalhando pelo meu estômago só de
imaginar que sua explicação poderia não me convencer e que, por causa
disso, pudesse me enlouquecer como havia acontecido com Jace.
Respirando fundo, abri a porta que dava acesso ao último andar e vi
que a secretária não estava mais em sua mesa. A porta de seu escritório,
contudo, estava entreaberta.
Quando a atravessei, ele estava em pé de costas para mim, com o
celular no ouvido e rindo de alguma coisa que a pessoa do outro lado da linha
falou.
Fiquei alguns segundos parada, apenas o observando. Seus ombros
largos, a cintura estreita, as pernas longas... Ele era tão lindo.
Meu coração se apertou só de imaginar que alguém poderia tirá-lo de
mim.
Eu sabia que era um pensamento possessivo, mas ainda estava
vulnerável e precisava de todas as garantias possíveis de que estávamos bem.
— Vamos marcar, sim, Donald, foi ótimo ter estado com vocês — disse
ele, todo animado.
Com vocês?
Será que isso queria dizer que Megan estava mesmo junto com eles ou
ela se aproveitou de alguma informação privilegiada para me atormentar?
Eu não sabia as respostas para essas perguntas, mas estava mais do
que disposta a descobrir. Se não fizesse isso iria enlouquecer.
Quando finalizei a ligação e me virei para a porta, Lacey estava lá,
absolutamente linda em um vestido rosa claro. Seus cabelos loiros estavam
presos, mas a seriedade de seu rosto não combinava com toda aquela beleza.
Nas últimas semanas fomos a uma grande quantidade de jantares e
eventos, tanto com Donald e a família quanto com outros empresários do
ramo, e sabia que isso não a estava agradando muito.
— Venha aqui, princesa — pedi, guardando o celular no bolso e
abrindo os braços para ela.
Lacey deixou a bolsa sobre uma cadeira e caminhou até mim.
Enquanto se aproximava, pude ver que ela não parecia tão animada
como sempre, e imaginei que se devia ao fato de eu não ter atendido seu
telefonema na noite anterior e nem retornado até então.
Como conhecia suas inseguranças, achei melhor resolver as coisas.
Apertei-a em meus braços por alguns segundos, depois me afastei para
encarar seu rosto bonito.
— Suas mãos estão geladas — falei assim que as tomei, a fim de guiá-
la até o sofá que ficava perto do bar.
— Ah, deve ser por causa do ar-condicionado — disse, ainda sem
muito entusiasmo.
Eu lhe ofereci uma bebida antes de nos sentarmos, mas ela recusou.
— Bebi vinho ontem no jantar com minha mãe e Joly, melhor não
beber nada hoje — justificou e fiquei feliz em saber que ela não esteve
sozinha.
Como eu também havia bebido além da conta na noite anterior, peguei
uma água com gás.
— Imagino que esteja chateada por eu não ter atendido sua ligação,
mas garanto que não foi intencional. Meu último compromisso foi com
Donald e quando a reunião avançou, ele sugeriu que a terminássemos em um
restaurante. O problema é que ele não me disse que um conhecido seu havia
fechado o restaurante para comemorar um negócio com alguns amigos.
Ela escutou em silêncio, mas percebi que seus dedos estavam inquietos.
E não podia culpá-la. Eu também fiquei sem reação quando percebi que
ele havia me levado a uma festa, mas, para mim, foi apenas mais uma
oportunidade de ganhar sua confiança. Em momento algum tive a intenção de
flertar com outras mulheres, para ser sincero, eu sequer circulei, nós ficamos
sentados no mesmo lugar durante todo o tempo em que permanecemos lá. A
única mulher que se aproximou foi a filha dele, e apenas para tecer
comentários relativos à Lacey.
— E você bebeu? — quis saber.
— Sim, talvez um pouco demais, na verdade. Donald e eu ficamos tão
absortos na conversa que apenas fomos aceitando as bebidas que os garçons
ofereciam. Estava animado com a possibilidade de fechar um grande contrato
com ele e acabei me esquecendo do resto do mundo. Quando, enfim, me
lembrei do meu celular, ele estava sem bateria, e como cheguei muito tarde
em casa, não quis te incomodar. Me desculpe, não foi por mal.
— Tudo bem, só achei estranho, já que isso nunca aconteceu antes... Eu
senti sua falta, mas já passou.
Fiquei aliviado por saber que ela havia entendido e achei melhor falar
sobre a presença de Megan em nossa mesa, afinal, não tinha nada para
esconder.
— A filha de Donald também estava lá e falou bastante de você.
— Sério? — disse, com as sobrancelhas erguidas em questionamento.
— Sim. Isso me deixou surpreso, por tudo o que me falou, vocês não
eram amigas — comentei.
Mas pensando bem, seria algo normal, uma vez que estudavam no
mesmo lugar e faziam matérias juntas.
Só que eu não sentia tanto entrosamento entre elas quando saíamos, no
entanto, eu ainda achava que era coisa da idade e que logo elas seriam boas
amigas, afinal de contas, se fechássemos negócio, iríamos nos ver com muito
mais frequência e seria terrível se essa animosidade continuasse.
— Também estou surpresa. Nós não temos praticamente nenhum
contato na universidade.
— Estranho, ela inclusive nos convidou para sua festa de aniversário,
que vai acontecer mês que vem. Claro que eu não confirmei — apressei-me
em dizer —, falei que precisava falar com você primeiro.
— A gente pode pensar nesse convite depois? Estou exausta e com
muita saudade — falou, manhosa, e voltou a me abraçar.
Beijei o topo de sua cabeça e permanecemos assim até que ela quebrou
o silêncio.
— Falando em festas, sua mãe nos convidou para ir a Londres semana
que vem, para o aniversário dela. Pediu para que fôssemos na véspera do
feriado e ficássemos alguns dias lá.
— Pois é, ela também me ligou. Pelo visto teremos muitos aniversários
nas próximas semanas, mas só iremos se você quiser.
Os últimos fins de semana tinham sido cheios de compromissos, então,
era melhor deixar uma opção para que Lacey não se sentisse obrigada a
participar de tudo, mesmo que eu quisesse muito que ela estivesse ao meu
lado.
— Thomas, sempre fomos sinceros em nosso relacionamento, então
acho que preciso te falar o que estou sentindo — disse ela, me encarando com
expressão séria. — Eu não fico à vontade nesses eventos, essas pessoas são
muito diferentes daquelas com quem eu costumo conviver. Fora que eu sinto
falta de nós dois.
Eu sabia que Lacey estava acostumada a uma vida pacata e, de certo
modo, eu também. Nunca fui de comparecer a muitos compromissos fora da
minha agenda de trabalho, no entanto, minha empresa ainda estava crescendo
e precisava me juntar a outras já consolidadas nos Estados Unidos. Mas, para
isso, eu teria que interagir com os empresários do ramo.
— Eu sei que tudo isso é muito novo e, acredite, eu me preocupo. Não
quero que se sinta deslocada, mas posso te garantir que não é sempre assim,
há períodos mais conturbados, porém, na maioria do tempo minha agenda
fica bem tranquila — falei, tentando animá-la, já que seria bom para Lacey
conhecer novas pessoas e lugares.
— Tenho medo de te decepcionar...
— Isso não vai acontecer. Se achar que está muito difícil, me fala que
nós vamos chegar a um consenso, só não a quero preocupada assim. Tudo
bem?
Eu não iria forçá-la a fazer o que não queria e nem minimizaria o que
ela estava sentindo, contudo, tinha esperança de que essa resistência caísse
por terra quando ela percebesse que conviver nesse meio poderia beneficiar
sua carreira como engenheira.
Talvez de início fosse complicado para ela se entrosar com essas
pessoas, mas estava confiante de que logo perceberia que esse universo faria
parte de sua vida também. Ela precisava evoluir profissionalmente, e nada
melhor do que construir uma boa rede de network enquanto fazia o curso.
— Tudo bem.
— Ótimo. Agora, o que acha de irmos lá para casa? — Beijei seu
pescoço. — Primeiro um banho de banheira, depois uma comida gostosa e,
então, você na minha cama...
Eu estava louco de saudade dela.
— Tudo bem, você venceu.
Assenti e voltei a abraçá-la.
Levei Lacey para a minha cobertura e foi como se tivéssemos entrado
em nossa bolha particular e perfeita. Não houve conversas chatas, nem
cobranças ou qualquer coisa que pudesse estragar o clima de romance entre
nós.
Ela estava distraída na cozinha, cortando morangos em frente à pia
enquanto eu observava as curvas de seu corpo bem feito, dentro de uma
camisola de seda que mal cobria sua bunda maravilhosa.
Cheguei sorrateiramente por trás dela e esfreguei minha ereção no meio
de sua bunda.
Já tínhamos feito amor durante o banho, mas eu precisava de mais um
pouco da deliciosa sensação de estar dentro dela.
— Hum — ela disse quando colei meu peito em suas costas e subi a
mão por baixo da camisola até encontrar sua boceta.
Deslizei um dedo para dentro, depois outro, e ela se contorceu.
Rapidamente Lacey ficou pronta, completamente melada para mim.
— Esses dedos são mágicos — sussurrou e procurou pela minha boca.
Enquanto nos devorávamos, continuei a estimulando com uma mão,
enquanto me livrava da toalha com a outra.
Usei esta mesma mão para arrastar sua calcinha para o lado e deslizei
meu pau para seu interior quente.
Lacey inclinou o corpo para a frente e empinou a bunda para mim.
Subi sua camisola até a cintura e me deliciei com a cena do meu pau
entrando e saindo, cada vez mais sedento por ela.
— Que delícia, Tom, continua — pediu, manhosa, e aquilo me deixou
louco.
Peguei sua perna direita e apoiei o joelho sobre a bancada para deixá-la
completamente a minha mercê.
Ela apoiou as duas mãos no mármore e aguentou firme enquanto eu a
penetrava cada vez mais rápido, cada vez mais fundo.
— Eu te amo tanto e não me canso dessa boceta apertada... — falei
entre seus lábios.
Minha namorada era uma tentação deliciosa e, para melhorar, nunca
negava sexo, sempre estava louca por mim e eu, por ela.
Quando ela começou a rebolar contra o meu pau, eu aumentei a
velocidade e a castiguei por ser tão provocadora.
— Ah, Tom... — suas palavras se perderam quando chegou ao orgasmo
e senti seu corpo vacilar.
Então, aproveitei e me permiti despejar todo o meu desejo dentro dela.
Era assim que eu gostava de fazer amor com ela, sem barreiras, sentindo a
temperatura daquela boceta me engolindo.
— Eu realmente te amo — sussurrei contra sua boca.
— Eu também, meu amor — respondeu, mordiscando meu lábio.
Saí de dentro dela e vi meu esperma escorrendo por suas coxas.
Segundo ela, aquela era a única parte ruim de transar sem preservativo.
Depois das primeiras semanas de namoro, decidimos, mutuamente,
fazer sexo sem preservativo.
Como ambos estávamos limpos, faltava apenas que ela se decidisse
pelo tipo de método contraceptivo. Desde que isso foi resolvido, nunca mais
precisamos nos preocupar com nada, apenas nos curtíamos quando
queríamos.
Era sempre maravilhoso e eu tinha a impressão de que aquilo nunca
mudaria.
Lacey dormiu antes de mim e aproveitei para ficar observando seus
traços perfeitos. Era tão linda com aquele rosto de anjo e corpo sedutor,
coberto por um fino lençol branco.
Depois do meu deslize, eu fiquei com receio de que ela fosse brigar ou
ter alguma crise, mas não, minha namorada parecia ter entendido o meu lado
e ainda tivemos uma noite maravilhosa.
Eu só precisava fechar logo o negócio com Wilson, pois havia
percebido que ele gostava bastante de uma boa noitada e não se importava de
não estar na companhia de sua esposa.
Eu entendia que longos anos de casamento davam esse tipo de
liberdade a ambas as partes, no entanto, eu não era do mesmo jeito. Uma vez
ou outra, tudo bem, mas nunca gostei de viver em bares ou casas noturnas.
Além disso, Lacey tinha um histórico de ciúme e desconfiança o qual
eu não podia e não queria alimentar.
Além do mais, eu preferia muito mais estar com a minha garota do que
com vários homens em restaurantes, no entanto, havia um contrato milionário
em jogo, talvez o maior que já fechamos nos últimos anos, então, eu teria que
saber dosar o lado comercial da minha vida para que ele não atrapalhasse o
ótimo relacionamento que eu tinha com a minha garota.
Meus pensamentos foram interrompidos pela vibração de seu celular
sobre a mesa de cabeceira.
Nosso relacionamento sempre teve como base a confiança e nunca foi
necessário pedir ou oferecer a senha do celular ao outro. Contudo, embora
tivesse trabalhado muito nos últimos dias, a mensagem que ela recebeu
daquele cara não saiu dos meus pensamentos. E foi por isso que, contrariando
minha natureza, eu peguei o aparelho e li a breve mensagem na tela mesmo.

Obrigado pelas dicas da prova, você é incrível!

Para meu descontentamento, era o tal Brad novamente.


Eu poderia levar aquilo como uma simples troca de mensagens entre
colegas de universidade, mas Lacey era uma mulher linda e inteligente e ele
já tinha percebido. Seu interesse estava muito nítido e isso me enervou.
Mais uma vez aquele ciúme incômodo tomou conta de mim só por
imaginar que ela pudesse se interessar por outra pessoa.
Será que ele não sabia que ela era comprometida?
E será que ela não estava percebendo que ele a estava cortejando? Será
que não via que aqueles convites e pedidos de ajuda eram apenas desculpas
para se aproximar dela?
Eu já fui um calouro e sabia exatamente como eles pensavam. Já tinha
contado muita vantagem sobre com quem havia ficado. Na idade de Brad,
uma garota como Lacey teria sido um belo troféu para se desfilar pelos
corredores de Columbia.
Acontece que eu já era homem feito e não estava disposto a dar espaço
a ninguém, muito menos a um garoto cheio de hormônios que só devia pensar
em sexo.
Ao dizer aquilo a mim mesmo, outro pensamento surgiu.
Ela e eu já havíamos conversado a respeito de nossa diferença de idade.
Lacey era incrivelmente madura e me entendia profundamente. E mesmo que
ela dissesse o mesmo ao meu respeito, às vezes me pegava pensando se isso
não se devia apenas por já ter se acostumado com a ideia de estar com um
homem que se importava com seus sentimentos.
Eu sempre fui muito diferente do moleque que foi seu namorado e era
válido pensar que, comigo, ela se sentisse segura, amada. Mas isso não
necessariamente significava que realmente me amasse de volta. E por mais
doloroso que fosse sequer pensar nisso, a verdade era que Lacey poderia estar
confundindo as coisas.
Por outro lado, a forma como interagíamos, como nos entregávamos,
era intensa demais, verdadeira demais e eu não achava que uma mulher como
ela conseguisse enganar a mim ou a si mesma daquele jeito. E isso me dava
esperança.
Aqueles e vários outros pensamentos me tiraram o sono.
Todavia, por mais inseguro que eu estivesse, estava também decidido a,
no momento oportuno, conversar com ela sobre as investidas desse tal de
Brad.
Precisava apenas descobrir como tocaria no assunto sem revelar que
andei lendo suas mensagens.
Que confusão!
Já era tarde da noite quando o sono me venceu e finalmente pude
envolver Lacey nos braços e encontrar a paz que só ela me proporcionava.
Era coincidência demais Megan estar numa festa de empresários.
Foi por isso que quando Thomas me explicou os motivos de não ter
atendido minhas ligações, eu decidi não fazer drama, não porque não
estivesse mais chateada, mas porque fiquei desconfiada de que havia dedo
dela na história.
A garota me odiava e juntando isso ao fato de estar ciente das
negociações do pai, era bem possível que, em vez de tentar melar o negócio,
ela estivesse empenhada mesmo era em melar meu namoro.
Por achar aquela família muito estranha, existia uma parte de mim que
torcia para que aquela associação não acontecesse, uma vez que isso poderia
significar que o contato entre nós ficaria ainda mais estreito.
Eu sabia que era egoísmo de minha parte pensar assim, só que não
daria para aguentar as grosserias de Megan por muito tempo, e nem poderia
recorrer a Thomas toda vez que ela me humilhasse, até porque a cobra tinha
sido muito esperta ao falar bem de mim quando eles se encontraram no tal
evento.
Precisava admitir que Megan sabia jogar e estava fazendo isso com
maestria. Ao me elogiar para o meu namorado, ela anulava qualquer crítica
que eu pudesse lhe fazer. Se reclamasse de qualquer coisa, pareceria patética
e mesquinha, como se eu estivesse encrencando, por inveja ou ciúme.
Pra piorar, Tom poderia achar que aquela Lacey ciumenta e
destemperada estava aflorando novamente, então, achei melhor não criar
atrito e manter nosso relacionamento na base da confiança, como sempre foi.
Com isso acertado em minha cabeça, decidi que também agiria com
menos emoção e mais razão. Começando por não ficar reclamando de todos
os compromissos aos quais estávamos indo no último mês; já havia falado o
suficiente para ele entender o que eu achava daquela nova rotina.
Sim, eu sabia que Tom era um homem ocupado e já havia ido a alguns
eventos com ele, mas desde Donald as coisas extrapolaram muito. Talvez, se
as pessoas a quem era apresentada não se mostrassem tão afetadas quanto
Megan, fosse mais fácil, mas eu via que grande parte delas era bem
desagradável.
Em meio a tudo isso, eu ainda tinha que lidar com a iminência da
viagem a Londres.
Eram tantas coisas que, quando chegamos à cobertura, eu fiz de tudo
para que entrássemos em nossa bolha e permanecêssemos nela por muito
tempo, apenas nos amando, o que foi fácil, uma vez que Thomas parecia
querer a mesma coisa.
No dia seguinte, ele me deixou na universidade e fui encontrar meu
pequeno grupo.
— Você parece ótima. Pelo visto, já se acertou com seu bonitão —
Amanda comentou assim que me viu.
— Sim, nós conversamos e está tudo bem de novo — afirmei e me virei
para Bradley, a fim de cumprimentá-lo também. — Desculpe não ter
respondido a mensagem ontem à noite, eu já estava dormindo — expliquei,
fazendo menção à mensagem que ele havia me enviado, e ele começou a falar
sobre como se saíra na última prova.
Brad era de outro curso, mas, assim como Amanda e centenas de outros
alunos, fazia algumas das aulas básicas que estavam na minha grade.
Quando o assunto morreu começamos outro, mas logo Amanda se
afastou para comprar um café e nosso amigo se sentou ao meu lado.
— Problemas com Megan? — perguntou e ajeitou os cabelos, que
ficaram ainda mais bagunçados.
Brad sempre estava usando roupa preta, mas elas lhe caíam muito bem,
a cor combinava bastante com ele e realçava seus olhos claros.
— Pois é, sua ex-namorada não me deixa em paz — confessei,
imaginando se Amanda havia lhe falado algo.
— Agora entende por que terminei com ela?
— Entendo e aplaudo.
Ele sorriu e depois me encarou, como fazia de vez em quando.
Algumas vezes o silêncio se entendia ao ponto de eu ficar sem graça e
até um pouco desconfortável.
— Ela ainda fica atrás de você?
A pergunta era bem indiscreta, mas eu tinha curiosidade.
— No início, sim, mas depois ela desistiu. Megan pode parecer rebelde
aos nossos olhos, mas é muito obediente aos pais, ela jamais ficaria com
alguém que Donald não aprovasse.
Essa revelação me deixou com a pulga atrás da orelha.
— Mas vocês namoraram por um bom tempo.
— Nós éramos adolescentes, agora as coisas são diferentes. Donald
nunca gostou muito nem de mim nem da minha família, por mais dinheiro
que tivéssemos. Ele dizia que éramos certinhos demais. Depois de um tempo
eu percebi que também não compactuava com várias coisas, especialmente
com as atitudes de Megan. No fim, foi melhor para todo mundo.
Era a primeira vez que eu via um pai desaprovar um namoro por esse
motivo. A coisa ficava cada vez mais estranha e eu, com mais dúvidas.
— Se ela não quer mais ficar com você, por que diabos fica nessa
perseguição com Amanda?
— Megan sempre sentiu prazer em infernizar a Amanda e isso não tem
nada a ver com o fato de querer reatar. Ela é uma garota má e mesquinha,
mas apenas quando está fora de casa. Na frente do pai ela encena o papel de
filha perfeita.
Aquilo realmente era surpreendente. O natural em uma pessoa que
respeitava aos pais era que estendesse essa educação às demais pessoas, só
que, pelo visto, com Megan era totalmente ao contrário.
Fiquei tentada a fazer mais perguntas, mas Amanda chegou e cada um
foi para sua aula.
Contudo, não consegui me concentrar muito. As coisas com Tom
tinham sido resolvidas, mas o que descobri em relação à Megan podia se
tornar valioso se eu soubesse como usar.
Saber disso me relaxou.
Ao menos até receber uma mensagem de Thomas perguntando da
viagem a Londres.
Eu, francamente, não estava animada para ficar tanto tempo com
Cybele, mas sabia que ele queria acreditar nessa mudança que ela estava
demonstrando e, de certa forma, recuperar um pouco do tempo perdido.
Eu também queria acreditar, por isso, mais uma vez, cedi, para que ele
tivesse a oportunidade de se entender com a mãe.
Só esperava que ela não o magoasse.
Enquanto me dirigia à empresa, me dei conta de que, em poucos dias, o
mar de rosas em que eu vivia começou a ficar bem conturbado.
Tudo começou com a aparição repentina de Cybele e se fortaleceu com
essa obsessão de Thomas em fechar negócio com Donald Wilson. Depois
disso, os ataques de Megan ficaram mais frequentes, o tempo que eu ficava
sozinha com meu namorado diminuiu exponencialmente e nós começamos a
nos estranhar.
Tudo isso me fez sentir saudade da época em que éramos apenas
amigos, das corridas que fazíamos todos os sábados no Central Park, dos
encontros em cafeterias, livrarias e lugares comuns, das horas que
passávamos conversando e, agora eu sabia, flertando.
Claro que eu amava ser a namorada de Thomas Ward, no entanto, o
peso desse papel vinha me deixando exausta e eu tinha medo de não aguentar
a pressão.
Além de tudo isso, ainda tinha que lidar com os olhares fulminantes de
Tori toda vez que chegava ao setor de projetos. Desde que ela se tornou
secretária de Abby as fofocas ao meu respeito voltaram com tudo. Eu sabia
disso porque ela não fazia questão de esconder. A mulher me desprezava
gratuitamente e agia como se fosse blindada. Saber que sua chefe também
não era minha fã talvez lhe desse autonomia para falar o que quisesse sem se
preocupar com retaliações.
Toda essa carga me fez pensar que, se eu apenas estudasse, parte dos
meus problemas se resolveria. No entanto, na mesma hora em que eu pensava
nessa possibilidade, outros pensamentos aleatórios surgiam e eu me lembrava
do quanto aprendia nas poucas horas em que ficava na empresa.
Mas a que custo? Eu precisava pensar nisso. Talvez fosse melhor
encher minha grade no início e deixar para trabalhar nos dois últimos anos,
quando estivesse com aulas mais específicas. Por outro lado, pensar em ficar
geograficamente longe do meu amor me agoniava. Mesmo não nos vendo
todos os dias, era bom saber que ele estava um andar acima de mim.
Sem ter chegado a nenhuma conclusão, resolvi trabalhar. Como estava
mais tranquila naquela tarde, revisei todos os lançamentos e relatórios que
havia feito no dia anterior, antes de entregá-los a Abby, para que não passasse
nenhum erro. Ela adorava me mandar fazer tudo de novo e não queria lhe dar
esse gostinho.
No final do dia, antes de ir para casa, decidi fazer algumas compras, já
que, de acordo com minhas pesquisas, estaria frio em Londres. Para o meu
dia a dia, as roupas que possuía estavam ótimas, mas para lidar com a família
de Thomas eu precisaria de, ao menos, algumas peças mais sofisticadas.
Enquanto perambulava pelas lojas, fiquei imaginando como seria a casa
de Cybele e tentando adivinhar como seriam os dias que passaríamos com
ela.
Outras dúvidas que permearam meus pensamentos diziam respeito à
Natalie. Será que nos encontraríamos com ela? E o mais importante: ela teria
esquecido Thomas?
Havia tantas teorias em minha cabeça, além de uma boa quantidade de
ansiedade, que quando dei por mim, tinha rodado o shopping inteiro, mas
comprado somente metade das coisas que precisaria.
Dei mais uma volta, comprei outras coisas que estavam em minha lista,
e desisti. Faltavam três dias para nossa viagem e não teria tempo de comprar
mais nada, contudo, estava cansada demais e teria que me contentar com o
que havia conseguido.
Já era tarde quando saí do shopping e segui até uma rua mais
movimentada para pegar um táxi.
Em certo momento, tive a sensação de estar sendo seguida, mas quando
olhei para os lados não vi ninguém suspeito, então segui em frente.
No mesmo instante vi um táxi se aproximando e acenei.
Ao entrar, ainda olhei pela janela a fim de achar alguma coisa, mas
tudo o que vi foram transeuntes, alguns andando rapidamente, outros, de
maneira calma, como se não tivessem pressa de chegar a nenhum lugar.
Suspirei e balancei a cabeça. Todos aqueles problemas deveriam estar
mexendo com meu emocional.
Talvez fosse hora de voltar para a terapia.
Pensaria melhor naquele assunto e conversaria com minha mãe, ela
poderia me aconselhar, como sempre havia feito.
Mas não naquela noite. Tudo o que eu desejava era chegar à minha
casa, tomar um belo banho e descansar.
Nós desembarcamos em uma Londres nublada. Eu ainda estava um
pouco chateada com os últimos acontecimentos, mas, internamente, sentia-
me disposta a dar o meu melhor para que aqueles dias fossem um sucesso.
A fim de conseguir tal façanha, tentei me abster de tudo o que se
relacionava à Megan Wilson. Deixei meus problemas com ela em Nova
York, para que pudesse focar no que estava por vir. Afinal, aqueles dias
serviriam tanto para que eu conhecesse melhor a família de Tom quanto para
eles me conhecerem.
Durante a semana, ele e Cybele conversaram quase que diariamente por
telefone e era nítido o quanto isso estava lhe fazendo bem.
Parecia uma criança que finalmente tinha conseguido ganhar a atenção
dos pais.
Até pouco tempo atrás, eu não me preocuparia com a possibilidade de
meu namorado levar a opinião da mãe em consideração, mas desde seu
pedido de desculpas as coisas estavam diferentes. Sua necessidade de
aprovação havia voltado e eu não sabia até que ponto isso poderia influenciar
em nosso relacionamento.
Aquela era uma das coisas que me incomodava ao namorar um homem
mais velho. Com Jace, por mais que tudo fosse confuso e problemático, eu
não sentia o peso de agradar sua família, amigos ou possíveis empresários.
Na nossa idade os problemas eram diferentes e até sem sentido, no
entanto, eu namorava um empresário conhecido e deveria me portar de
acordo, mesmo que isso estivesse tirando a minha paz nos últimos dias.
Do hangar, Thomas pediu que o motorista pegasse um caminho onde
eu poderia ver alguns pontos turísticos, antes de irmos para a casa de Cybele.
Conforme passávamos em frente aos lugares, ele me falava sobre várias
situações que viveu em alguns deles. Isso me divertiu, pois eu adorava saber
coisas sobre seu passado, mas também me fez esquecer, por alguns minutos,
a tensão que havia me consumindo à medida que o dia da viagem se
aproximava.
Saímos da parte urbana de Londres e entramos em uma área repleta de
paisagens e propriedades de tirar o fôlego.
— Aquilo é um castelo? — perguntei, de olhos arregalados, e ele
assentiu.
— Sim, existem muitos por aqui. Grande parte é alugada para eventos,
em sua maioria, festas de casamento.
Fiquei imaginando a fortuna que deveria custar para se casar num
castelo em Londres.
— Uau! — falei, bem impressionada com tudo que meus olhos viam.
Do nada, comecei a imaginar a mim mesma casando com Thomas.
Aquilo era algo que nunca havia passado por minha cabeça, uma vez que
nunca tive um relacionamento equilibrado como o nosso, porém, foi muito
fácil imaginar como seria nossa vida se chegássemos a dar esse passo.
Esse pensamento só roubou alguns segundos do meu tempo, já que
logo estávamos em frente à casa onde Thomas cresceu.
Assim que o carro parou em frente aos portões de ferro branco,
decorado com arabescos, fiquei calada para apreciar a beleza daquela
propriedade.
Como já tinha feito comentários demais a respeito da beleza de
Londres, seus castelos e as casas maravilhosas pelas quais passamos, decidi
que meu silêncio seria mais elegante.
O motorista nos guiou por uma estrada de pedra que cortava o jardim
de grama verde e bem aparada. Na frente da casa havia uma fonte imponente,
que combinava totalmente com o estilo conservador daquele lugar.
— Vamos? — Tom chamou enquanto eu guardava meu celular dentro
da bolsa.
Estava um ventinho frio naquela manhã, mas a beleza e o canto dos
pássaros me deixaram completamente encantada.
Ao pararmos em frente à porta, eu achei que Tom fosse entrar, mas, em
vez disso, ele tocou a campainha e ficamos lá, de mãos dadas, esperando que
alguém atendesse, o que aconteceu segundos depois, por intermédio de um
mordomo.
O senhor, vestido como os mordomos que vemos nos filmes, deveria
ter por volta de 50 anos e nos atendeu cheio de formalidades.
Logo atrás dele dava para ver Cybele, coberta de joias, dentro de um
tubinho creme, chique como sempre. Parecia até que dormia pendurada num
cabide. Ao seu lado estava Devon, vestido de maneira informal e com um
sorriso sincero no rosto.
— Ah, que bom que chegaram, ainda não acredito que aceitaram meu
convite — ela disse, toda simpática, quando nos aproximamos, abrangendo
nós dois em um abraço.
Tom cumprimentou o irmão e, enquanto eu trocava amenidades com
meu cunhado, ele depois voltou a conversar com a mãe, que havia lhe feito
uma pergunta.
No instante seguinte ela nos guiou até a sala de estar.
A cada passo que eu dava, ficava mais impressionada com o que via.
Aquela casa era muito diferente de todas as que eu já tinha visto, era tudo
nitidamente caro, de extremo bom gosto e tão organizado que dava a
impressão de que ninguém vivia ali.
Os primeiros minutos foram cheios de formalidades e perguntas
ensaiadas, mas logo Thomas e Devon começaram a conversar sobre negócios
e Cybele aproveitou para me levar à suíte onde ficaríamos hospedados.
Subimos a escadaria de mármore claro e reluzente e seguimos pelos
amplos corredores decorados com quadros maravilhosos e arranjos de flores
naturais.
Era tudo tão perfeito, tão capa de revista, que tive a impressão de que o
hobby da minha sogra era, mesmo, decorar a casa.
— Este era o quarto de Thomas. Eu fiz pequenas reformas para tirar
aquele ar juvenil. Ele não viu os últimos retoques, já que nunca mais dormiu
aqui, mas acho que vai aprovar — comentou assim que abriu a porta.
A suíte era gigantesca, com uma decoração em tons de branco e creme.
Os detalhes, desde os puxadores às fechaduras, eram dourados,
acompanhando o mesmo bom gosto do restante da casa.
— Eu achei maravilhoso! Na verdade, sua casa toda é incrível.
Ela sorriu.
— São anos de prática, querida, essas paredes já foram pintadas e os
móveis trocados tantas vezes... Não me perdoaria se não ficasse, ao menos,
um pouco apresentável.
Sorri, sem jeito, pois não sabia o que conversar com uma mulher como
ela.
— Fiquei tão feliz por vocês terem aceitado ficar aqui. Sei que ele só
fez isso por causa de você e estou muito agradecida — confessou enquanto
abria as cortinas.
— Não tenho certeza de que tenha sido por causa de mim. Pelo que ele
me falou, parece que vocês estão se entendendo — eu disse, para continuar a
conversa. Aquele era o único assunto que tínhamos em comum e que, eu
sabia, ela tinha bastante interesse.
— Sim, antes nos falávamos uma vez por mês, mais ou menos, e
somente a respeito de negócios. Agora, estamos conversando toda semana e
não apenas sobre isso; está sendo uma fase maravilhosa — garantiu, animada.
Antes que eu pudesse fazer outro comentário, uma funcionária da casa
bateu à porta e pediu licença para colocar toalhas novas no banheiro.
Mal ela terminou de falar, meu celular tocou. Era minha mãe e eu pedi
licença para atender, indo para a sacada. Já Cybele seguiu a moça até o
banheiro.
Quando fui atender o celular, ele tinha parado de tocar e, quando
retornei, caiu na caixa postal. Imaginei que o telefone da minha mãe havia
ficado sem bateria.
Como não sabia se ela me ligaria imediatamente, voltei para o quarto,
bem a tempo de escutar minha sogra chamando a atenção da empregada.
Ela falava baixo, mas era possível escutá-la chamando a moça de
irresponsável, pois as toalhas já deveriam estar no quarto antes de as visitas
chegarem.
Eu fiquei sem reação com o tom grosseiro que usou com aquela pobre
moça, então, para não a deixar sem graça, voltei à sacada e fingi que estava
ao telefone, voltando ao quarto somente depois que a garota saiu, de cabeça
baixa.
Cybele me recebeu com um sorriso doce, como se não tivesse acabado
de destratar uma pessoa.
— Bom, vou deixar você descansar, o almoço será servido em meia
hora — avisou antes de se despedir e fechar a porta.
Sentei-me na cama e fiquei olhando para todo o luxo daquele quarto e
tentando entender como uma pessoa que dizia ter mudado e parecia tão
amável poderia tratar uma funcionária daquele jeito, simplesmente por ela ter
se esquecido de colocar toalhas limpas no banheiro.
Obviamente que a rotina de uma mansão daquele porte deveria ser
rigorosa, mas eu não conseguia entender o porquê de tanta agressividade
devido a uma coisa tão boba.
Mais uma vez me peguei pensando em como aquele mundo era distante
do meu. Eu tinha certeza de que, mesmo que tivesse dinheiro, jamais trataria
a moça que havíamos contratado para ajudar mamãe com a limpeza lá de casa
com tanta grosseria.
Será que todos os ricos eram assim ou fui eu que tive a má sorte de só
me deparar com pessoas de má índole? Esperava que Cybele e Megan
fizessem parte de uma pequena parcela, porque se a maioria fosse tão má eu
não conseguiria aguentar.
Tudo bem que não dava para comparar Cybele a Megan por causa
daquele pequeno episódio, mas alguma coisa me deixou em alerta. Uma das
maiores qualidades de Thomas era a forma respeitosa como agia com seus
funcionários e era inadmissível para mim que uma pessoa maltratasse as
pessoas que a ajudavam.
Deixei as primeiras avalições sobre Cybele de lado e segui para o
banheiro, queria tomar banho e me arrumar para o nosso primeiro almoço em
família.
Como estaríamos em casa, escolhi uma roupa mais informal, composta
por uma calça de linho bege, uma blusa de seda preta e um cardigã longo da
mesma cor.
Quando terminei de me arrumar, mamãe ligou novamente. Ela queria
saber como havia sido a viagem, e após deixá-la tranquila, despedi-me,
prometendo entrar em contato nem que fosse por meio de mensagem.
Depois que desliguei, ainda fiquei vários minutos esperando, mas
quando Thomas não apareceu, eu acabei descendo para me encontrar com
eles.
Ao chegar à sala, ele estava conversando com uma moça muito bonita,
que tinha o estilo muito parecido com o de Cybele em seu vestido de Tweed
pied de poule elegantíssimo e as joias que adornavam seus dedos e pescoço.
Prossegui, com passos silenciosos, esperando que meu namorado me
visse, mas eles continuaram interagindo descontraidamente; a desconhecida
sorria, parecendo animada, enquanto meu namorado continuava falando e
gesticulando.
Curiosamente, quem primeiro sentiu minha presença foi ela e Thomas a
acompanhou.
Antes que eles pudessem falar qualquer coisa, Cybele surgiu
acompanhada por Devon e outro homem que eu não conhecia.
— Deixe-me apresentá-los — disse minha anfitriã, animada, e parou
bem perto de mim. — Estes são Natalie e Gregory, eles vieram buscar um
quadro que comprei em um leilão na semana passada para lhes dar de
presente.
Cybele parecia orgulhosa e, pelo nível de intimidade entre eles — e por
causa do que meus instintos me diziam —, supus que aquela Natalie era a ex-
esposa de Thomas.
— Queridos, esta é Lacey, namorada de Thomas — ela me apresentou,
por fim, e todos nos cumprimentamos.
Thomas, que já havia se posicionado ao meu lado, descansou uma mão
em minha cintura, mas continuou conversando com Natalie, como se ela não
fosse a louca que ele sempre me pintou.
Enquanto eles trocavam amenidades, fiquei observando sua figura alta,
elegante e bem vestida, totalmente condizente com o ex-marido... Foi
impossível não imaginar os dois como um casal
Senti meu estômago se contorcer.
Graças a Deus ela recusou o convite para almoçar e pediu desculpas
por ter chegado numa hora tão inoportuna, mas estava louca para ver o
quadro.
De minha parte, não poderia fazer um escândalo simplesmente por sua
ex ter resolvido aparecer, contudo, se sua visita tivesse sido marcada eu
poderia ter, ao menos, me preparado um pouco antes do “confronto”.
Suspirei fundo, mas silenciosamente, para não perceberem que eu
estava chateada, porém, por dentro, sentia que aquela viagem tinha começado
com o pé esquerdo. Restava saber o que Thomas iria falar sobre a
coincidência daquele encontro.
Durante a refeição Devon e eu permanecemos silenciosos, enquanto
Thomas e Cybele conversaram como velhos amigos. Em nenhum momento
ela se desculpou pela visita inesperada de sua ex-nora.
E por tudo o que Tom havia me confidenciado de sua mãe, eu estava
tentada a achar que foi tudo premeditado.
Óbvio que eu ainda não tinha nenhum motivo para fazer acusações,
mas entendi toda aquela situação como uma forma de Cybele mostrar ao filho
que, se continuasse como estava, acabaria perdendo Natalie definitivamente.
Mas tudo isso era muito estranho. Quer dizer, Thomas havia sido
taxativo quanto ao fato de não querer mais nada com a ex. Mas se ele havia
deixado sua posição clara, por que ela e Cybele continuariam investindo?
Era tudo tão nebuloso. Eu confiava nele, mas sabia que quando duas
mulheres como aquelas se juntavam em prol de algo nada de bom poderia
acontecer.
Olhei para Tom com o coração acelerado, morrendo de medo de que
aquela viagem acabasse significando o fim do nosso namoro.
Parecendo pressentir meu estado de humor, ele pegou minha mão,
levou-a aos lábios e depositou vários beijinhos.
Aquilo me acalmou e eu consegui sorrir, mas quando ele me soltou
senti a apreensão me abater novamente.
Foi por isso que, após o almoço, pedi licença e fui para o quarto com a
desculpa de estar cansada.
Na verdade, eu estava chateada, com ciúmes, querendo entender o que
se passava na cabeça de Cybele e tentando adivinhar o que estava por vir.
Alguns minutos depois Thomas apareceu. Ele viu que eu estava
deitada, mas sabia que não estava dormindo e o meu silêncio apenas lhe
comprovou que havia algo de errado.
— O que foi, linda? —perguntou, sentando-se ao meu lado.
— Nada, só estou cansada da viagem — respondi e puxei as cobertas
até o pescoço.
— Você é tudo, Lacey, menos uma boa mentirosa, então, diga-me o
que está te incomodando.
Eu conhecia meu namorado e sabia que se ele sonhasse que sua mãe
estava armando alguma coisa que poderia me prejudicar, seria a primeira
pessoa a me alertar. Se não estava fazendo isso era porque havia engolido a
história de coincidência que a mãe contou durante o almoço.
E eu não poderia culpá-lo. Natalie estava acompanhada do novo
namorado. Quem iria desconfiar que havia algo por trás, quando nem eu tinha
absoluta certeza?
Ele continuou me olhando e resolvi contar a verdade, omitindo apenas
minhas desconfianças.
— Não gostei de chegar a Londres e dar de cara com a sua ex-mulher.
Thomas assentiu e me encarou.
— Eu imaginei que isso pudesse deixá-la desconfortável, mas mamãe
jurou que foi coincidência. Não sei se é verdade ou não, mas posso te dizer
que fiquei positivamente surpreso. Nunca imaginei que ela fosse seguir em
frente, ao menos por agora, então, vê-la com o namorado foi um alívio. E vai
ser ótimo para nós. Confesso que estava receoso de que Natalie fizesse o
mesmo de sempre, sem respeitar o fato de eu estar acompanhado.
Sabia que Natalie o infernizara com suas tentativas de reatar, mas
mesmo depois de vê-la acompanhada, eu não confiava e nem me sentia à
vontade para estar no mesmo ambiente que ela.
Eu tinha uma natureza ciumenta e nem toda serenidade e paciência de
Thomas iriam mudar isso.
— Ei, não pense besteira, é com você que eu estou e, o mais
importante, eu te amo — ele disse quando percebeu que eu não iria responder
nada.
Sua declaração me deixou um pouco mais calma e acabei sorrindo.
Era apenas o primeiro dia na casa de Cybele e eu já estava fazendo a
maior cena, então, decidi engolir meu mau humor e o abracei apertado.
— Assim que eu gosto — falou e me beijou.
Logo, sua mão entrou por dentro da minha blusa e massageou meu
seio.
— Comporte-se, Thomas.
— Acha que só porque estamos aqui eu não vou me deliciar com esse
seu corpo gostoso? — perguntou, com os lábios colados aos meus, e depois
me devorou.
Quando as coisas começaram a esquentar, Devon bateu à porta e
perguntou se Thomas poderia lhe tirar algumas dúvidas a respeito de um
documento.
— Salva pelo cunhado — murmurei, brincando, e o beijei mais uma
vez antes de ele sair do quarto.
Infelizmente, foi só Thomas desparecer para minhas paranoias voltarem
com força.
Natalie certamente estaria presente na festa de aniversário de Cybele e
eu não tinha ideia de como me comportar. Além disso, ainda tinha a festa em
si. Vendo como Cybele era, estava certa de que seria super glamorosa e eu
me sentiria completamente deslocada.
Estava tão perdida que tive vontade de chorar.
Não estava nem um pouco animada para um evento onde, segundo
Thomas, metade da nata de Londres estaria presente.
Em Nova York as coisas me pareciam um pouco mais fáceis. Thomas
era relativamente novo na cidade e, de certa forma, ainda estava conhecendo
todo mundo. Mas ali era completamente diferente. Ele havia crescido em
meio àquelas pessoas. Eu tinha receio de fazer qualquer besteira na frente
daquela gente rica e metida e acabar envergonhando meu namorado e sua
família.
Meu Deus, ainda tinha essa...
Para não surtar, resolvi pensar no que vestir. Eu não fazia ideia do que
usar. Claro que eu havia levado dois vestidos lindos, mas não sabia se seria
suficiente para Cybele.
Mais uma vez tive medo de envergonhá-los com minha simplicidade.
Claro que, embora estivesse acostumado a andar com mulheres da
estirpe de sua ex, eu sabia que Tom não iria se importar, mas Cybele, Natalie
e os demais, com certeza, fariam um raio-x de mim assim que aparecesse.
E aí começariam as comparações.
Todos os presentes estariam chiques e cobertos de joias. Isso me dava
um tipo de insegurança que eu nunca mais havia sentido.
Uma batida na porta me tirou de meus devaneios e, quase que
instintivamente, pensei que a família do meu namorado adorava perturbar as
visitas.
Era maldoso, mas eu não estava bem.
— Sim — respondi, levantando-me.
— É a Cybele, posso entrar?
Eu não estava nem um pouco a fim de interagir com a minha sogra,
mas uma vez que estava na casa dela, não tinha outro jeito.
— Claro, entre.
Cybele passou pela porta, toda arrumada.
— Sinto muito por incomodá-la, mas Thomas comentou comigo sobre
o que aconteceu antes do almoço e preciso te confessar que a culpa foi toda
minha. Estava bastante empolgada com o quadro e não pensei direito. Me
desculpe — disse, em um tom preocupado, e se aproximou.
— Tudo bem, como Thomas disse, é ótimo que ela tenha seguido em
frente. Espero que seja feliz.
Ela ficou me olhando de um jeito curioso, como se não esperasse
aquele tipo de reação.
— Claro, Thomas passou por poucas e boas nas mãos de Natalie, acho
até que ele tem muita paciência.
Aquela conversa não estava fazendo muito sentido. Até onde eu sabia,
as duas se davam muito bem na época do casamento e, pelo que pude ver,
continuavam amigas.
Foi por isso que permaneci calada.
— Natalie não é má pessoa, mas meu filho é rico, bonito, bem nascido
e qualquer mulher ficaria louca ao perder um partido como ele, seria normal
demorar algum tempo para conseguir se desligar — disse, parecendo
orgulhosa, como se o filho fosse apenas um belo troféu.
Aquilo me irritou.
— Thomas é tudo isso que falou, mas sua maior virtude está nos
valores que possui e isso não tem nada a ver com dinheiro. Ele é gentil,
educado, cheio de princípios, coisas difíceis de encontrar hoje em dia. Além
disso é inteligente e perspicaz, ou seja, o ser humano e CEO perfeito.
— Concordo em partes. Toda essa boa educação custou milhares de
libras com colégios e universidades renomadas. Mas quanto ao resto, você
está certíssima, Thomas é um homem cheio de qualidades.
Tive vontade de revirar os olhos. Ela não tinha ideia de que minhas
palavras foram uma indireta clara à forma como ela tratou a funcionária
algumas horas atrás.
Ela não entendia que educação e gentileza não tinham nada a ver com a
conta bancária, já que ela deveria ter estudado nos melhores colégios e,
mesmo assim, tratava seus funcionários da pior maneira possível.
— Sim, ele é admirável — completei, louca para ela encerrar o assunto.
— É. Bom, há mais uma coisa — disse, cautelosa.
Cybele era um poço de mistério para mim. Não sabia explicar o que me
incomodava nela, mas meu sexto sentido sempre dava sinal quando eu estava
na sua presença.
— Pode falar.
— Estou organizando essa festa há muitos meses, bem antes de você e
Thomas oficializarem o namoro, então não tinha como saber quem deveria ou
não convidar. Como você percebeu, eu me dou muito bem com Natalie, e
também com sua família, e todos eles foram convidados. No entanto, o
quadro agora é outro e vou entender se você quiser que eu cancele o convite.
Eu demorei a assimilar que ela estava colocando em minhas mãos a
responsabilidade de desconvidar pessoas que já eram amigas da família há
muito tempo.
Minha vontade era falar que, por mim, não veria aquela mulher nunca
mais na vida, contudo, não me senti no direito de fazer aquilo. Era o
aniversário dela, na casa dela e não seria justo. Só que, mais do que isso, não
queria demonstrar insegurança, então disse:
— Não precisa desconvidá-los por minha causa, vai ficar tudo bem.
Cybele me ofereceu um sorriso amável e assentiu.
— Ah, eu já ia me esquecendo. Nós iremos tomar o chá da tarde no
Ritz e gostaria muito que fosse conosco.
Eu não estava nem um pouco animada para sair, mas, além de não
querer bancar a chata, isso era algo que eu queria muito fazer quando
estivesse ali, então não tinha para onde fugir.
— Eu vou, sim. A que horas devo estar pronta?
— Às 15h está bom.
— Tudo bem, obrigada — falei antes que ela saísse.
Permaneci deitada até a hora de precisar me arrumar para sair. Naquele
ínterim, Tom não apareceu e supus que ainda estivesse tratando de negócios
com o irmão.
Só esperava que ele não me deixasse sair sozinha com sua mãe. Eu
ainda não estava convencida de sua sinceridade e tinha real receio do que
aquela mulher poderia aprontar.
Thomas estava cego, louco por aprovação e caberia a mim descobrir
se aquela mudança era autêntica ou não. A última coisa que eu queria era que
ele se magoasse novamente.
Após aquele encontro inesperado, eu fiz de tudo para compensar Lacey,
que não tinha ficado nem um pouco à vontade por encontrar Natalie daquele
jeito.
Como o Ritz ficava próximo ao Palácio de Buckingham, após o chá
decidi levá-la até lá.
Cybele, é claro, não foi e aproveitei aquele tempo sozinhos para
reafirmar meu compromisso com ela.
A reação de Lacey, todavia, me surpreendeu de maneira positiva,
mostrando, mais uma vez, o quanto havia amadurecido.
No fim do dia nós voltamos para casa e fomos tomar banho juntos.
Uma coisa levou a outra e fizemos amor embaixo do chuveiro quente,
mostrando com nossos corpos o quanto nos queríamos.
Quando descemos novamente, estávamos ambos mais leves, o que não
passou despercebido ao meu irmão, que nos lançou um sorriso conhecedor, e
por minha mãe, que ficou um bom tempo nos observando.
O jantar foi agradável. Graças a Deus ninguém tocou no nome de
Natalie e tanto Cybele quanto Devon fizeram de tudo para que Lacey se
sentisse à vontade.
Aquilo tirou um pouco do peso que estava sobre os meus ombros.
Mamãe nunca permitiu que eu lhes apresentasse uma mulher a quem não
aprovasse de antemão, e eu, bobo, sempre acatei suas vontades. Era bom
saber que não precisaríamos brigar por causa disso.
No dia seguinte deixei que Lacey dormisse até mais tarde. A casa
estava tomada por funcionários das empresas que organizariam o aniversário
de minha mãe. Por esse motivo, levaria Lacey para almoçar no meu
restaurante favorito, a fim de mantê-la longe daquela confusão.
Devon, que também passaria aqueles dias ali, havia ido a uma boate na
noite anterior e também deveria estar dormindo, pois, quando cheguei para
tomar o café da manhã, Cybele se encontrava sozinha.
— Filho, que bom que acordou, queria mesmo falar com você — disse
ela quando me viu.
— Feliz aniversário — falei e lhe dei um abraço.
— Ah, obrigada, querido.
— Sobre o que queria conversar? — perguntei antes de me servir com
uma xícara de café.
Embora o chá fosse bem mais tradicional na Inglaterra, pelo fato de
meus pais serem ambos americanos nós nos acostumamos a tomar café pela
manhã.
— Conversei com Lacey sobre a família de Natalie, uma vez que eles,
obviamente, foram convidados para o aniversário. Ela foi tão gentil ao falar
que não se importava com a presença deles, mas gostaria de saber sua
opinião.
Mamãe sempre foi muito amiga da família de Natalie e para ela seria
um desastre social ter que desconvidar alguém de uma de suas festas.
— Se a Lacey não se importa, eu também não vou me opor.
— Que bom, menos um problema para resolver.
Como não tínhamos outros assuntos em comum, conversamos a
respeito da empresa e futuros projetos. Por conhecer todos os sobrenomes de
peso nos Estados Unidos, ela ficou animada quando falei sobre as
negociações que pretendia fazer com Donald Wilson. Achava que isso
alavancaria o nome da Ward Corporation no país.
Aquela conversa me deixou ainda mais animado. Naquela semana
tínhamos mais um jantar que acreditava ser decisivo para, finalmente,
entrarmos em acordo. Eu precisava que ele me entregasse os balancetes de
sua empresa, entre outros documentos, mas estava confiante de que logo
fecharíamos negócios.
Aproveitei que uma das funcionárias da casa foi abastecer a mesa e
pedi que ela preparasse uma bandeja de café para Lacey.
Mamãe quis que a própria garota levasse, mas recusei, queria eu
mesmo fazer a gentileza para ela.
Ao passar pelo hall de entrada, vi um arranjo com rosas de várias cores
e resolvi pegar uma delas para dar um toque especial.
Sorri de mim mesmo.
Era uma atitude boba e romântica, mas eu sabia que minha garota iria
gostar.
Lacey ainda estava dormindo quando entrei no quarto, mas não
demorou muito para acordar. Queria acreditar que, mesmo dormindo, podia
sentir minha presença.
Ela se espreguiçou e sorriu ao ver a bandeja sobre a cama.
— Eu, literalmente, namoro um lorde inglês — falou, toda dengosa, e
levou a rosa ao nariz.
Seus cabelos loiros estavam cobrindo os lindos seios e a forma como
olhava para rosa deixou aquela cena perfeita. Ela era perfeita.
— Você merece — falei e empurrei a bandeja para mais perto quando
ela se sentou.
— Será que vou gostar? — perguntou, olhando para os itens tão
diferentes de seu café costumeiro, mas dava para ver que estava excitada com
a probabilidade.
— Experimente e coma apenas o que lhe agradar — sugeri,
oferecendo-lhe a xícara de café.
Lacey tomou alguns goles e depois provou do feijão doce, fazendo uma
careta desaprovadora. Depois provou do cogumelo e também o deixou de
lado.
Sua atitude me fez rir; estava louca para experimentar o tradicional café
da manhã inglês, mas pelo que via, não comeria nem a metade.
Ela pegou um pouco dos ovos mexidos e, por seu sorriso, deu para ver
que havia aprovado.
— Pare de me olhar assim — pediu quando foi tomar mais um pouco
de café e viu que meus olhos estavam em seus seios.
— São perfeitos, não consigo evitar.
Ela sorriu e continuou comendo.
— Animada para a festa? — perguntei e roubei um pedacinho de
bacon.
— Na verdade, estou preocupada sobre o que usar. Acho que o que eu
trouxe é simples demais para o aniversário da sua mãe.
Eu amava tudo o que Lacey usava, para mim, ela estava sempre linda,
mas não queria que se sentisse deslocada.
— Que tal irmos às compras? Assim você pode escolher alguma coisa
que se sinta bem.
Ela fez uma careta e negou com a cabeça.
— Por que não? — questionei.
— Porque aqui se cobra em libras, uma das moedas mais caras do
mundo. Não sei se se lembra, mas eu sou apenas uma estagiária e não
pretendo gastar uma fortuna em um vestido para impressionar pessoas que eu
nem conheço.
Adorava sua simplicidade e a forma como encarava aquele tipo de
situação. Embora eu fosse um homem rico, ela nunca havia me pedido nada.
Num mundo cheio de oportunistas, sua atitude era admirável.
— Primeiramente você não precisa impressionar ninguém, mas também
não quero que se sinta deslocada. Por isso nós vamos sair para fazer compras.
Eu também estou precisando de um smoking novo, assim você me ajuda a
escolher.
Claro que isso não era verdade, mas seria mais fácil convencê-la se
achasse que eu também precisava de alguma coisa.
— Eu vou para te ajudar a escolher suas roupas, mas não me sinto à
vontade sobre você me dar esses presentes.
— Nós iremos passear, olhar vitrines e sair um pouco de casa. Se você
gostar de alguma coisa, nós compramos, mas vamos deixar para decidir isso
depois. Agora, termine de comer.
Lacey assentiu, mesmo um pouco contrariada, e depois que ela tomou
banho e se arrumou nós saímos.
Em vez de ir direto para a loja, resolvi passar por alguns pontos
turísticos. Não teríamos tempo para visitar todos, mas eu queria que ela, ao
menos, os visse e tirasse fotos. Perto das 13h eu a levei ao meu restaurante
favorito e apenas depois de comermos é que seguimos para a Oxford Street
em busca do vestido perfeito.
— O que foi? — perguntei enquanto ela provava o terceiro vestido em
uma das lojas mais exclusivas de Londres.
— Os vestidos daqui custam uma fortuna, pelo amor de Deus! —
exclamou baixinho, assustada com os preços.
Nós éramos tão diferentes naquele quesito. Eu cresci vendo minha mãe
gastando verdadeiras fortunas em joias, bolsas de grife e vestidos de estilistas
famosos. Quando me casei Natalie também tinha o mesmo costume, então,
era novo ter uma mulher à minha volta que não quisesse gastar.
— Pare de olhar o preço das coisas e escolha o que quiser.
Ela se sentou em um dos pufes e me olhou de um jeito triste.
— Uma pessoa me disse um dia desses que eu era uma pobretona e
deveria aproveitar que estava namorando um homem rico para me dar bem.
Se eu aceitar esses presentes, estarei fazendo exatamente o que essa pessoa
sugeriu.
Era difícil acreditar que existisse alguém com tão pouco bom senso a
ponto de falar esse tipo de coisa, todavia, sabia que as pessoas poderiam ser
bem cruéis quando queriam.
— Quem te falou esse absurdo?
— Não interessa, mas fiquei pensando nisso.
— Eu respeito que não queira revelar o nome da pessoa, mas essa ideia
está totalmente ultrapassada. Nós dois sabemos o que sentimos um pelo outro
e de forma alguma eu vou me sentir enganado ou extorquido por te dar
algumas peças de roupas. Sempre cuidarei de você e isso inclui mitigar sua
apreensão quanto à roupa que vai usar numa festa que, se não fosse por mim,
você nem estaria precisando se preocupar.
Seu bico se amenizou e ela me olhou de forma carinhosa.
— Você tem razão — disse depois de um tempo.
— Eu sei, e tenho dinheiro mais que suficiente para deixá-la mais linda
do que já é, sem me fazer qualquer falta. Então, esqueça qualquer besteira
que tenham lhe falado e compre o que quiser.
Lacey sorriu e me abraçou apertado.
— Acho que esse é o sonho de qualquer mulher: um cara bonitão, que
te leva para fazer compras e, além de tudo, é bom de cama.
— Gostei da parte do bom de cama — brinquei e ela sorriu de novo,
mas daquela vez havia um pouco de malícia em seu olhar.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ela se foi.
Enquanto Lacey falava com a vendedora, fiquei imaginando quem
poderia ter falado aquelas coisas para ela. Fiz uma rápida análise e as
primeiras pessoas que surgiram em minha mente foram minha mãe ou
Natalie, no entanto, mamãe parecia estar aceitando bem meu namoro, já
Natalie não teve contato com ela, de forma que sobrava apenas o pessoal da
empresa.
Eu não comentava nada para não a chatear, mas sabia que ainda
falavam sobre nosso relacionamento pelos corredores da Ward Corporation.
Infelizmente, os fofoqueiros profissionais conseguiam esconder seus rastros e
eu ainda não tinha descoberto quem eles eram, porém, podia apostar que se
faziam fofoca a respeito de seu empregador sem qualquer escrúpulo, também
poderiam falar esses absurdos à namorada dele e isso me irritava
profundamente.
Voltei a atenção para a loira escultural que desfilava à minha frente e
me senti ansioso para tê-la ao meu lado na festa daquela noite. Fazia muito
tempo que eu não ia a um evento com a alta sociedade de Londres, mas não
havia melhor lugar para que todos conhecessem e se encantassem com meu
novo amor.
Havia uma quantidade absurda de sacolas enfileiradas no closet do
quarto que eu estava ocupando na casa de Cybele.
No início das nossas compras eu fiquei meio insegura sobre deixar
Thomas gastar tanto dinheiro com roupas, sapatos, bolsas e joias, mas
conforme íamos entrando nas lojas, ele ia falando alguma coisa para me
deixar confortável, depois começava a me elogiar e eu fui ficando seduzida
por tudo o que me cercava.
Além disso, segundo ele, suas empresas estavam crescendo e com isso
teríamos inúmeros eventos para comparecer, sem contar as viagens. Vendo
por esse lado, tive que concordar. Eu não poderia bancar as roupas que
precisaria usar e de forma alguma queria envergonhá-lo, de modo que seria
obrigada a aceitar.
Mas faria isso com parcimônia. Nunca fui consumista e começaria a ser
somente porque não era eu quem estava pagando.
Para me dar privacidade, Tom preferiu ir se arrumar no quarto de
visitas.
A primeira coisa que fiz foi a maquiagem. Nada de mais, apenas o
básico para não ir de cara lavada. A única concessão que fiz foi nos olhos; a
fim de destacá-los, passei lápis preto e caprichei no rímel. Essas duas coisas
fizeram uma diferença enorme.
Nos cabelos eu usei babyliss e, no final, desfiz os cachos para não ficar
marcado.
Cybele chegou a me oferecer seu cabeleireiro, mas recusei
educadamente. Eu tinha um estilo simples e nas poucas vezes que deixei
outras pessoas me arrumarem não gostei muito do resultado.
Com isso pronto, fui me vestir.
O longo escolhido era cor de ameixa, com pontos de brilho por todo o
tecido e saia princesa. As mangas eram longas, o decote quadrado e as costas
completamente nuas.
Rodopiei em frente ao espelho e me orgulhei da minha produção. O
vestido era lindíssimo, com a quantidade certa de sensualidade. A
maquiagem discreta apenas destacava meus traços e meus cabelos longos
estavam selvagemente ondulados.
Sim, eu estava sexy.
Respirei fundo e decidi ir ao quarto onde Thomas estava se arrumando
para saber se ele já estava pronto. Só que ele deve ter tido a mesma ideia, pois
nos encontramos no corredor.
— Nossa! — disse ele ao passar os olhos pelo meu corpo.
— Gostou? — perguntei, rodopiando na frente dele como se fosse
mesmo uma princesa.
— Você está maravilhosa, ofuscará todas as mulheres desta festa —
disse, todo galanteador, e aproximou a boca do meu ouvido —, inclusive a
aniversariante, mas não deixe ela saber — completou, fazendo nós dois
sorrirmos, e eu devolvi o elogio.
Ele estava lindo dentro do smoking que eu havia ajudado a escolher.
Mas isso já era de se esperar.
Enquanto nos encaminhávamos para a escadaria, Thomas disse que
alguns convidados já tinham chegado e que sua mãe os estava recepcionando.
Nós descemos de mãos dadas, sob muitos olhares, inclusive de Natalie,
que se encontrava ali perto com duas outras mulheres.
Eu engoli em seco, me sentindo completamente exposta com tantos
olhares em minha direção, mas me mantive firme.
— Estou nervosa — sussurrei no ouvido de Thomas enquanto
caminhávamos em direção ao salão onde se encontravam a maior parte das
pessoas.
— Fique tranquila, eu estou com você — disse ele, de forma gentil,
para me tranquilizar.
E conseguiu de um jeito que nem saberia explicar.
Thomas havia se tornado um pilar de sustentação muito importante na
minha busca por equilíbrio. Suas palavras tinham o dom de acalmar a minha
alma. Era como se lá nas profundezas das minhas inseguranças eu soubesse
que sempre poderia contar com ele.
Respirei fundo, muito mais calma, e sorri enquanto caminhávamos,
cumprimentando uma pessoa aqui e outra ali.
Todos naquele salão sabiam que Natalie fora casada com Tom que,
naquele momento, apresentava a nova namorada, enquanto sua ex se
encontrava por perto, acompanhada do atual namorado.
Aquilo deveria ser bem esquisito, ou eu é que não possuía sofisticação
suficiente para encarar tudo de maneira tão natural.
Cybele surgiu em nosso campo de visão usando um vestido
deslumbrante, exibindo joias que deveriam valer uma fortuna e os cabelos
loiros presos de maneira simples, mas elegante.
Era uma bela mulher, que aparentava ser muito mais nova do que
realmente era.
— Você está linda, Lacey — disse ela ao me ver e Thomas pareceu
orgulhoso.
— Você também, seu vestido é incrível — retribuí o elogio e ela sorriu,
agradecendo, mas logo pediu licença e se misturou aos convidados para
receber felicitações e elogios por sua beleza e pela organização da festa.
— Champagne? — um garçom ofereceu e eu aceitei.
Thomas preferiu um uísque.
Alguns minutos depois Devon se juntou a nós e começamos a falar
amenidades, incluindo a linda decoração da festa.
Segundo eles, Cybele era expert em oferecer eventos de luxo e isso me
fez pensar que, se Thomas e eu nos casássemos algum dia, era provável que
eu tivesse que organizar algo grandioso também, caso ele resolvesse convidar
seus clientes e associados.
Tentei me imaginar no lugar de Cybele, sendo uma dondoca de luxo, e
a ideia não me agradou. Acho que jamais me acostumaria a ficar em casa o
dia todo, pois amava o curso que fazia e estava louca para trabalhar em minha
área.
— A bruxa da Nat não para de te olhar — Devon disse e eu quase me
engasguei.
Ele aproveitou que Thomas havia se afastado para cumprimentar um
grupo de senhores e acabou soltando essa pérola.
Eu tive poucos encontros com meu cunhado e logo apreendi que, além
de simpático e divertido, ele era muito discreto em relação a tudo, então
estranhei sua observação.
— Achei que gostasse dela — comentei, curiosa.
— Consegui ter mais intimidade com você em poucos encontros do que
com ela durante todo o casamento.
— Bom, ela não parece ser a pessoa mais simpática do mundo, mas
achei que fosse só comigo.
— Não é, não. Infelizmente ela foi criada com muito mimo e, para
piorar, conviveu por tempo demais com Cybele e isso nunca é bom.
— Mas parece que ela está mudando — comentei só para saber sua
opinião.
— É — foi tudo o que ele disse, com aquele ar de alguém que queria
falar mais alguma coisa e se conteve. — Mas fique tranquila, Thomas está
muito apaixonado por você, é isso que interessa — ele emendou.
Tive vontade de perguntar mais, tentar descobrir o que estava
escondendo, mas não me achei no direito. Ele era muito amigo do irmão e eu
tinha certeza de que, se soubesse de algo que o prejudicaria não ficaria
calado.
Por isso apenas sorri em agradecimento e fiquei escutando seus
comentários engraçados a respeito de algumas das pessoas que se
encontravam ali.
Algum tempo depois, uma garota muito bonita se aproximou e, após as
apresentações, pedi licença para ir ao banheiro, mas queria mesmo era deixá-
los sozinhos, pois percebi interesse de ambas as partes.
Antes de sair do salão principal, procurei por Thomas, mas não o
encontrei, então segui para onde achava que ficava o banheiro mais próximo.
Com o andar de cima eu já estava familiarizada, mas o andar de baixo da casa
de Cybele parecia um labirinto.
Segui por um corredor e acabei encontrando uma das funcionárias de
Cybele chorando.
— Está tudo bem? — perguntei e, quando ela levantou a cabeça, vi que
se tratava da garota que havia se esquecido de colocar as toalhas no banheiro.
— Acabei de ser demitida e precisava muito desse trabalho.
A moça estava com um uniforme preto com detalhes em branco; era
muito chique e condizente com a bela mansão.
— Foi Cybele quem a demitiu? — questionei apenas para confirmar.
— Sim, ela me deu dez minutos para dar o fora de sua propriedade.
Eu já tinha visto a forma como Cybele a tratara e não me surpreendeu
que fosse tão intransigente assim. Contudo, não seria justo acusá-la sem saber
os motivos dessa decisão.
— Por que ela te demitiu?
— Na verdade, ela nunca foi com a minha cara, vivia me perseguindo
pela casa e implicando com meu serviço... Eu sei que não devia falar essas
coisas, mas parece que ela sente prazer em fazer isso. O que me consola é
saber que ninguém consegue trabalhar aqui por muito tempo, acho que o
funcionário mais antigo é o mordomo.
Eu estava morrendo de pena dela, mas não sabia ao certo como ajudá-
la.
— Olha, eu não posso interferir nas decisões de Cybele dentro de sua
própria casa, mas meu namorado é filho dela e tem empresas aqui em
Londres. Talvez ele possa te ajudar a conseguir um novo trabalho.
Os olhos da moça se iluminaram e ela sorriu, um pouco mais animada.
— Sério?
— Sim. Qual é o seu nome?
— Eu me chamo Summer.
Lindo nome, linda moça, com seus longos cabelos castanhos e olhos
verde-esmeralda, que se destacavam na pele pálida.
— Me passe seu número, vou falar com ele e entro em contato se
conseguir alguma coisa.
Peguei meu celular na clutch e gravei seu número.
Esperava que desse certo. Summer devia ter a minha idade e parecia
esperta demais para sofrer com os caprichos de Cybele.
Nós nos despedimos e só então pude ir ao banheiro, rezando
internamente para que Thomas conseguisse alguma coisa para ela.
Na volta, acabei me perdendo em meio a tantos corredores. Estava
quase entrando por uma porta entreaberta, para tentar me situar, quando ouvi
uma voz conhecida vindo lá de dentro.
— ... namoradinha.
Eu só escutei o final da frase de Natalie, mas deu para perceber seu
desdém.
Sem querer bisbilhotar, comecei a dar meia volta, mas estaquei e meu
coração começou a bater feito um louco no instante em que escutei a voz da
pessoa que a acompanhava.
— Sim, lindíssima. Mas por que o interesse? Pelo que vi, você também
está namorando — Thomas apontou.
Que diabos eles estavam fazendo sozinhos ali? pensei, mas permaneci
em silêncio, querendo escutar o máximo daquela conversa.
— Sim. — Foi tudo o que ela respondeu.
— Pois saiba que eu acho ótimo que tenha seguido em frente.
— Bom, espero que dure mais do que o seu. Pelo que me lembro, você
não costuma namorar por muito tempo — Natalie provocou.
— Você não mora em Nova York, então... — respondeu ele, deixando
as implicações no ar.
Inclinei o corpo para enxergar melhor e vi Thomas parado, de costas
para mim, enquanto ela andava de um lado a outro.
— Sem problemas, posso me mudar a qualquer momento, adoro o
clima de Nova York.
O quê?
Senti náusea só de imaginar que ela pudesse viver na mesma cidade
que eu.
— Isso não foi um convite e sim a constatação de que, sem você e
minha mãe por perto, minha vida continuará maravilhosa.
Natalie se aproximou, ficando a centímetros do rosto dele.
— Vai dizer que não sente falta das loucuras que fazíamos na cama? —
ela murmurou bem perto da boca dele, o que fez meu estômago revirar pela
milésima vez. — Duvido que aquela pirralha faça as coisas que você gosta.
Ele se esquivou dela e deu um passo atrás.
Àquela altura minha respiração já estava irregular, meus batimentos
completamente erráticos e a adrenalina em alta. Eu estava pronta para
avançar a qualquer momento.
— Quando vai se cansar desse jogo, Natalie? Nós estamos divorciados,
mais do que isso, estamos namorando outras pessoas e você continua presa ao
passado. Não vê o quanto isso é ridículo?
Pelo tom de sua voz, Tom parecia irritado, mas isso não arrefeceu a
raiva que eu estava sentindo por ele ter fugido da festa para ir falar com ela.
— Eu estou sendo paciente com você, mas não vou esperá-lo para
sempre — ela disse e voltou a se aproximar.
— Caia na real! Não existe qualquer possibilidade de voltarmos a ficar
juntos. Não existe mais eu e você, entendeu? Com licença.
Ele se virou para sair, mas ela o impediu, segurando-o pelo braço e o
beijou de surpresa.
Fechei os olhos, bufando de ódio. Empurrei aquela porta com toda a
força, fazendo-a bater na parede, e avancei na direção deles.
Em minha fúria, eu não enxergava mais nada, tudo o que queria era que
aquela vadia se afastasse do meu namorado, então eu a empurrei para longe
dele.
Foi então que tudo ruiu.
Como se fosse em câmera lenta eu vi Natalie se desequilibrar. Ela ainda
tentou agarrar o braço de Tom, mas, sem sucesso, caiu para trás, batendo a
cabeça contra o tampo de uma mesa, antes de desabar no chão.
Somente quando a vi desmaiada foi que me dei conta da merda que
havia feito.
— Ah, meu Deus! — arfei, ainda mais desesperada, quando vi o
sangue escorrendo de sua cabeça e manchando o tapete bege do escritório.
A forma como Thomas olhava para mim, como se não me
reconhecesse, ou como se eu fosse algum bicho e não a garota com quem ele
namorava há seis meses, me deixou péssima.
Eu odiei ver aquele ar de incredulidade em seus olhos, como se ele não
pudesse acreditar que eu pudesse chegar tão longe, como se tudo que relatei
com relação ao meu passado estivesse se materializando à sua frente.
No entanto, ele não disse uma palavra, apenas se abaixou próximo a
Natalie e verificou seu pulso, ao mesmo tempo em que sacava o celular do
bolso e chamava uma ambulância.
Não sei como Cybele descobriu que estávamos no escritório, mas só
emergi do meu transe quando escutei o grito de pavor que ela deu logo atrás
de mim.
— Deus do céu! O que aconteceu aqui? — questionou, levando as
mãos à boca, completamente horrorizada com aquela verdadeira cena de
horror.
Eu estava trêmula, nervosa e morrendo de medo de, daquela vez, ter me
ferrado de verdade.
Mortificada e completamente perdida, virei as costas e saí para não ver
os olhares reprovadores de Tom e Cybele. Corri pelo corredor sem ter ideia
de onde iria parar, esbarrando em Devon, que estava indo em direção ao
escritório.
Desviei-me dele com um pedido de desculpas sussurrado e continuei
correndo.
Passei pela sala a passos largos, desviando de alguns poucos
convidados, e subi as escadas o mais rápido que pude. Quando cheguei ao
andar superior, uma onda de pavor tomou meu corpo e fiquei
instantaneamente tonta, com a visão embaçada, como se todo aquele
nervosismo estivesse chegando a todas as partes do meu corpo.
— Lacey. Lacey!... — Escutei a voz de Devon logo atrás de mim e me
virei bruscamente.
— Eu não quis fazer aquilo... Foi um acidente, eu juro! — balbuciei,
caminhando de um lado a outro, as mãos geladas e o corpo cada vez mais
trêmulo.
As lembranças do dia em que agredi Jace ressurgiram de forma quase
palpável, juntamente com todas as sensações daquele dia. Só que eu não tinha
intenção de machucar a Natalie, só queria que ela se afastasse dele.
Meu Deus! E se em meu descontrole eu tivesse agredido o homem que
eu amava?
— Ei, acalme-se, a ambulância já está vindo.
Devon me abraçou e apenas quando fui obrigada a parar foi que percebi
o quanto estava necessitando daquele apoio.
O pior disso era que eu nem podia cobrar aquilo de Thomas. Por mais
que ele tivesse errado ao aceitar ir conversar com sua ex no escritório,
naquele momento ele precisava garantir que ela fosse para o hospital o
quanto antes.
— Pronto — disse ao perceber que eu havia me acalmado um pouco.
— Agora me conte o que aconteceu. Quando cheguei lá, Tom estava ao
telefone e mamãe não soube me explicar.
— Eu peguei eles dois se beijando e agi por impulso. Na verdade, foi
Natalie quem o agarrou e eu a empurrei para longe, mas ela se
desequilibrou... — parei quando a imagem dela caída no chão, com a cabeça
rodeada de sangue, voltou à minha mente.
Devon suspirou e se afastou, os dedos passeando pelos cabelos
demonstravam o quanto estava angustiado.
— Nat já fez isso outras vezes, quer dizer, já tentou aniquilar outros
relacionamentos do meu irmão. Não estou falando que sua atitude foi correta,
mas ela adora se meter onde não é chamada. Acho que agora vai entender que
beijar o namorado de outra pessoa pode ter consequência — concluiu de
maneira jocosa, para amenizar o clima meio fúnebre.
— Thomas vai me odiar por causa disso, mas na hora eu não pensei em
nada, só queria descontar minha raiva por ela ser tão atrevida.
— Calma, ele pode estar nervoso agora, mas quando Nat estiver bem,
as coisas vão se resolver.
No instante seguinte as sirenes da ambulância soaram e segui até a
janela mais próxima, a fim de ver o que estava acontecendo. Vi o carro
estacionando próximo à fonte e dois paramédicos saindo dela e entrando na
casa correndo.
Poucos minutos depois eles saíram com Natalie sobre uma maca. Ao
seu lado havia um senhor nitidamente preocupado e uma senhora chorando
copiosamente. Ao lado deles estava o namorado de Natalie, tentando consolar
os sogros em meio aos curiosos que cochichavam, provavelmente se
perguntando o que havia acontecido.
Entre elas estavam Tom e Cybele. Eles se aproximaram do casal
desolado e após uma conversa rápida, ele seguiu a ambulância em seu próprio
carro.
Alguns convidados se aglomeraram em volta de Cybele, mas logo ela
os deixou e entrou.
— Eu acabei com a festa dela e com meu namoro, sou um desastre.
— Ei, não fique assim, as coisas vão se resolver.
Devon estava sendo primordial para eu manter a calma, mas a forma
como Thomas me olhou não saía da minha mente. Havia tantas emoções
naquele olhar. Ele parecia tão surpreso e decepcionado que preferiu se calar a
falar algo que pudesse piorar a situação.
— Vou arrumar minhas coisas e esperar por Tom, depois do que houve
não tem clima para permanecermos aqui — falei.
Devon assentiu e avisou que eu poderia chamá-lo a qualquer momento.
Antes de começar a arrumar minha mala, encarei minha figura no
espelho do banheiro e senti raiva do que vi.
A maquiagem estava borrada e o rosto, banhado de lágrimas.
Havia uma confusão de sentimentos dentro de mim. Eu me sentia traída
por ver Thomas conversando a sós com sua ex, depois vinha a raiva por ela
tê-lo beijado e, por fim, a culpa por ter agredido daquela forma, mesmo que
sem intenção.
Lavei o rosto sem pressa, tirei o que sobrou de maquiagem e voltei ao
quarto.
O vestido bonito e caro foi deixando meu corpo aos poucos e, quando
dei por mim, já estava completamente despida daquela Lacey elegante e
sofisticada.
Coloquei um jeans e um suéter simples, sem me importar com o que
minha sogra iria pensar. Depois dos últimos acontecimentos, nada do que eu
fizesse poderia impressioná-la.
Quando estava terminando de arrumar a mala, ela bateu à porta e
entrou.
— Cybele, eu sei que o que eu fiz foi errado, mas não é a melhor hora
para recriminações e julgamentos — alertei —, já estou fazendo isso muito
bem sozinha.
— Estou aqui para ajudá-la, querida. Eu conheço a Natalie e sei como
ela se comporta após algumas taças de champagne.
Aquilo me pegou de surpresa. Eu achava que ela iria me atacar por ter
feito aquilo com sua amada ex-nora.
— Ela estava beijando Thomas e eu perdi a cabeça.
Cybele assentiu e se aproximou.
Ela ainda usava o belo vestido que escolhera para sua suntuosa festa de
aniversário.
— Eu entendo os dois lados da situação, o seu de namorada e o dela de
uma ex que, visivelmente, não conseguiu superar o término, mas o que
importa agora é que nenhum lado saia prejudicado.
— Como assim, prejudicado? — perguntei, sem entender sobre o que
ela estava falando.
— Eu gosto muito de Natalie e eu sei exatamente como seu cérebro
funciona. Quando acordar e perceber o que aconteceu, ela tomará medidas
judiciais contra você, o que eu acho um exagero e talvez até desnecessário,
uma vez que Thomas estava lá e dirá que você não teve a intenção de
machucá-la. No entanto, ela já fez coisas piores por muito menos.
Isso se ela acordar, pensei, o desespero voltando com tudo.
Eu estava encurralada. Mesmo que não acontecesse o pior, eu acabaria
processada.
Na época do Jace eu tinha dezessete anos e, após muita conversa entre
minha mãe, meu médico e os pais dele, eles acabaram retirando a queixa,
contanto que eu respeitasse a medida protetiva.
Não seria mais assim. Quando Natalie percebesse o que poderia fazer
comigo, ela não hesitaria, que melhor forma teria de afastar a namorada do
seu ex? Mesmo que eu não fosse presa, ficaria estigmatizada, sempre haveria
essa mancha em minha ficha e Tom, certamente, não iria querer ficar
envolvido com alguém assim. Não seria bom para os negócios.
— E ainda tem os pais dela, não sabemos o que eles pretendem fazer.
Arregalei os olhos ante aquele novo cenário.
O pavor que senti com todas aquelas perspectivas tomou conta do meu
corpo e deve ter se refletido em meus olhos, pois Cybele se aproximou e
tentou me tranquilizar.
— Acalme-se, Lacey, não adianta se desesperar.
Sua voz era branda, mas eu só conseguia pensar em como seria minha
vida se a família de Natalie realmente decidisse me acusar de agressão,
porque, sim, eles poderiam fazer isso antes mesmo de ela acordar.
— Eu não queria machucá-la, foi um acidente! — falei entre lágrimas.
— Eu sei, querida, mas é a filha deles quem está deitada numa cama de
hospital — argumentou e suspirou, parecendo tão cansada quanto eu.
Fechei os olhos e respirei fundo.
— Converse com eles, Cybele, diga que estou arrependida, que fiz sem
pensar — pedi, me atrapalhando nas palavras.
— Farei isso. Você tem apenas 20 anos, seria terrível manchar o seu
nome com esse tipo de coisa... Mas agora termine de arrumar suas coisas e
espere por Thomas, ele deve voltar em breve. Enquanto isso vou fazer
algumas ligações e tentar acalmar os ânimos.
De todas as pessoas que eu pensei que pudessem me ajudar, Cybele,
com toda certeza, era a menos provável.
Eu achei que ela fosse me jogar na cara toda a minha inaptidão para
estar no meio deles, pensei que fosse me responsabilizar pelo desastre de sua
festa de aniversário, mas em vez disso estava me ajudando da maneira que
podia.
Eu não sabia se toda aquela amabilidade era verdadeira ou não, mas
não podia me concentrar no assunto naquele momento. Eu só conseguia
pensar em Natalie, precisava saber se ela ficaria bem, mas não apenas isso,
também precisava saber o que Thomas faria quando entrasse naquele quarto e
ficasse cara a cara comigo.
Após deixar Natalie no hospital e me certificar de que ela estava bem,
conversei com os pais dela e expliquei, meio por cima, o que aconteceu. Os
dois eram pessoas sensatas e com nomes conhecidos na alta sociedade de
Londres, portanto odiariam ver o nome da filha envolvido em um escândalo.
Nenhum deles iria querer que se espalhasse a notícia de que Natalie ainda
estava correndo atrás e se insinuando para o ex-marido que estava, inclusive,
comprometido com outra.
Sem contar que eles sabiam, melhor que ninguém, do que a filha seria
capaz de fazer para realizar as suas vontades.
Eu também sabia disso e estava me recriminando por ter atendido ao
seu pedido e ido conversar com ela no escritório, mas também sabia que se
não concordasse, era possível que falasse alguma besteira na frente de Lacey,
o que seria desastroso.
Além do mais, eu confiei que seu namoro era sério e nem me passou
pela cabeça que fosse começar com aquela mesma conversa sem fundamento.
Nunca imaginei que lhe dar cinco minutos do meu tempo pudesse causar
tanto transtorno.
Meu Deus, na hora em que vi Lacey indo feito um touro bravo em
nossa direção, e empurrando Natalie para longe de mim, fiquei um pouco
chocado com sua atitude, apesar de ser compreensível devido às
circunstâncias. Todavia, quando tive noção da desgraça resultante daquele
ato, temi que uma tragédia pudesse ter acontecido.
Foi assustador vê-la caindo e se machucando daquela forma.
Tanto que fiquei estático por alguns segundos, sem conseguir mensurar
a gravidade do que havia ocorrido, sem conseguir fazer nada além de olhar
para Lacey com verdadeira incredulidade.
Apenas quando vi o tapete se manchando de sangue foi que acordei e
comecei a agir a fim de resolver aquela situação, começando por conseguir
atendimento médico para Natalie o mais rápido possível.
A próxima coisa que vi foi minha mãe entrando no escritório,
totalmente atônita pelo que estava presenciando, e Lacey correndo de lá.
Logo depois Devon apareceu querendo saber o que havia acontecido,
mas eu estava ao telefone com a central de atendimento e sequer pude
responder. A única coisa que fiz foi murmurar o nome de Lacey e no mesmo
instante ele anuiu, indo atrás dela.
Durante o tempo que levou até a ambulância chegar, mamãe se culpou
por ter mantido o convite à família de Natalie e também por tê-la incentivado
a ir atrás de mim por tanto tempo.
Dividi minha atenção entre monitorar os batimentos cardíacos de Nat
em seu pulso e olhar para Cybele, que parecia realmente triste e arrependida.
Depois que os paramédicos chegaram e prestaram os primeiros
socorros, seguimos para fora sob dezenas de olhares curiosos. Conquanto
ninguém tenha sido indelicado ao ponto de perguntar diretamente o que havia
acontecido, estavam todos imaginando mil cenários. Assim era o ser humano,
especialmente os mimados que faziam parte do círculo de amizade de minha
mãe.
Em meio a tantos murmúrios e especulações, eu apenas agi no modo
automático, mesmo enquanto dirigia atrás da ambulância. Fiquei assim até a
hora em que recebi a notícia de que Natalie estava bem, mas teria que ficar
em observação.
Quando finalmente passei pelos portões da propriedade da minha mãe,
todos os carros já tinham ido embora e sua festa de aniversário, com toda
certeza, estaria nas manchetes do dia seguinte.
Ao falar comigo no telefone, Devon me dissera que ela havia dito a
todos que Natalie havia caído e batido com a cabeça, mas isso não amenizaria
os comentários nas altas rodas.
Após um profundo suspiro, desci do carro e segui para dentro. Os
funcionários já estavam desmontando a decoração e no dia seguinte não
haveria qualquer resquício de festa naquela casa.
Subi os degraus de dois em dois, ansioso para ver Lacey. Quando abri a
porta do meu antigo quarto ela estava na sacada, com as mãos firmemente
apoiadas no parapeito.
— Não se preocupe, eu não vou pular — disse ela e se virou.
Suas feições estavam tristes e os olhos, vermelhos e inchados de tanto
chorar.
Minha garota estava arrasada, mas a verdade era que cada um de nós
tinha uma parcela de culpa naquela situação. Eu, por ter cedido alguns
minutos do meu tempo a Natalie, esta, por ter avançado o sinal, e Lacey por
ter perdido a cabeça.
— Eu sei que você não faria mais esse tipo de coisa — falei, tentando
levar um pouco de normalidade àquele clima pesado.
Ela fechou os olhos, assentindo levemente, e depois me encarou.
— Como Natalie está?
— Foi uma pancada feia, mas graças a Deus está bem. Só ficará em
observação.
— Mas tinha tanto sangue...
— O médico disse que foi porque essa região da cabeça é muito
vascularizada, mas que a Tomografia estava limpa e, fora alguns pontos e
uma dor de cabeça, ela ficará ótima.
— Eu não queria fazer aquilo, Tom, só pretendia tirá-la de perto de
você — Lacey lamentou.
Eu odiava vê-la daquele jeito.
— Não se martirize tanto, nós três erramos. Eu não deveria ter ido
àquele escritório com Natalie, ela não deveria ter me beijado e você deveria
ter mantido a calma, mas o que temos que pensar é que nada de grave
aconteceu.
— Mantido a calma? Era assim que você agiria se visse Jace me
beijando? — questionou ela, irritada.
Lacey era um doce, mas quando saía dos trilhos, falava o que vinha à
mente, sem se preocupar com o tom de voz ou a aspereza.
No entanto, ela não estava errada e eu odiaria vê-la nos braços de outro
homem, ainda mais no de Jace, a quem ela havia amado profundamente.
— Não quero discutir. Como eu disse, nós três erramos e vamos ter que
conviver com isso.
— Você está certo. E agora que essa questão ficou resolvida, preciso
confessar que estou, até agora, tentando entender por que você estava com ela
naquele escritório.
Respirei fundo. Eu sabia que ela não iria esperar para entender a
situação e por isso tentei explicar como as coisas haviam acontecido.
Lacey me escutou com atenção, mas continuava na defensiva quando
terminei.
— O problema não é só ela, Thomas, tem tanta coisa acontecendo,
tantos compromissos... Tudo isso está mexendo com a minha cabeça, às
vezes sinto que estou vivendo em um eterno teatro.
Sabia que deveria estar sendo difícil para Lacey se adaptar à nova vida
na qual eu a estava inserindo, mas isso iria requerer tempo para adaptação e
muita conversa.
Só que eu estava tão esgotado que não conseguiria ajudar nem a mim
mesmo, quanto mais a ela. Entretanto, não queria mais ficar ali.
— Eu sei, mas vamos deixar para conversar sobre isso em Nova York.
Já pedi que o piloto preparasse o avião.
Lacey assentiu, mas permaneceu no lugar, como se não soubesse o que
fazer. Então eu me aproximei e a abracei.
Ela resistiu um pouco; estava chateada, assustada e se sentindo culpada
por tudo que aconteceu, de forma que era normal se sentir perdida. Foi
exatamente por isso que só a soltei depois que ela relaxou por alguns minutos
em meus braços. Não deixaria que se afastasse antes que se tranquilizasse.
Na hora seguinte eu tomei um banho, coloquei uma roupa confortável
para viajar, arrumei as malas e conversei com mamãe.
Como já estava com suas coisas prontas, Lacey ficou ao celular e me
ignorou completamente.
Tentei ser paciente, afinal de contas, se eu tivesse permanecido ao lado
dela durante a festa tudo aquilo poderia ter sido evitado.
Ela devia estar querendo pensar e esse era mais um motivo para
partirmos. Eu tinha certeza de que, longe de Londres, as coisas poderiam se
ajeitar com maior facilidade.
Quando fomos nos despedir, mamãe lamentou mais uma vez o
acontecido e conversou com Lacey de forma carinhosa.
Aquilo me deixou, mais uma vez, surpreso, já que o normal seria ela
fazer algum comentário maldoso referente ao fato de o incidente ter acabado
com sua festa de aniversário. Mas quando Lacey foi se desculpar, ela fez
pouco caso do evento que passara meses preparando e afirmou estar feliz por
não ter acontecido nada pior.
Por fim, parecendo verdadeiramente triste, disse que muito em breve
iria nos visitar em Nova York.
Há alguns meses essa ideia me incomodaria profundamente, mas, ao
contrário, pela primeira vez eu desejei que ela me fizesse uma visita, pois,
apesar de todos os acontecimentos, fora um fim de semana agradável.
Durante o voo Lacey se manteve distante e eu decidi respeitar seu
espaço. Mas fiquei de olho enquanto trocava mensagens com meu irmão. Eu
estava tão agoniado para ir embora que mal nos despedimos direito.
Devon havia gostado bastante de Lacey e a defendeu com afinco.
Mas a verdade era que eu não a culpava e tinha certeza de que a
imagem de Natalie me beijando não se apagaria de sua memória tão cedo. E
aquilo seria um tormento.
O que Lacey não sabia era que eu não tinha sentido nada, foi a mesma
coisa que beijar uma parede, e esperava que, com o tempo, ela esquecesse o
que viu; não por mim, mas para que isso não ficasse a atormentando.
Desembarcamos em Nova York de madrugada e, para minha surpresa e
consternação, ela não quis ir para o meu apartamento. Disse que precisava de
sua casa, de sua mãe e de espaço para avaliar o que tinha feito.
Mesmo contrariado, concordei e a deixei em casa.
Enquanto Lacey seguia para seu quarto, eu fiquei conversando com
Jenna.
Ela era uma mulher muito compreensiva e conhecia por alto minha
conturbada relação com Natalie, por isso lhe expliquei tudo o que havia
acontecido, desde a nossa chegada a Londres até o fatídico incidente,
passando pelo fato de Cybele ter se afeiçoado a Lacey e como isso havia me
deixado aliviado.
Jenna torcia para que um dia eu me reconciliasse com Cybele e ficou
feliz por saber que estávamos nos entendendo.
Depois fez várias perguntas sobre como a filha havia se comportado
após o ocorrido. Minha sogra, assim como eu, tinha medo de que sua
depressão se manifestasse novamente, mas fui categórico em dizer que,
apesar do que ocorreu, sentia que aquela fase obscura havia passado. Lacey
precisava apenas de um tempo para assimilar tudo.
Cerca de meia hora depois eu segui para o meu apartamento e torci para
que as coisas se resolvessem logo, pois a frieza com que fui tratado tinha me
incomodado muito.
Antes de dormir, fiz uma avaliação de tudo que acontecera e, pela
primeira vez, tive medo de Lacey romper comigo.
Nas últimas semanas vinha escutando suas reclamações a respeito do
estilo de vida que eu havia imposto devido ao meu trabalho. Ela,
definitivamente, não estava satisfeita com nosso relacionamento e senti receio
de que o ocorrido em Londres abrisse uma brecha para que começasse a
enxergar uma vida sem mim.
Apenas pensar nisso me desestabilizou.
Eu amava Lacey como nunca amei ninguém, mas também amava o
mundo coorporativo e seus desafios, então, teria que pensar em como agir
para equilibrar aquelas duas paixões.
Tudo parecia estar se encaminhando para um desfecho tranquilo, mas
eu me sentia profundamente chateada com todos os acontecimentos. Foi por
isso que preferi ficar em meu apartamento.
Eu estava confusa, inquieta e um pouco zangada.
Não, muito zangada.
Por mais errada que estivesse em empurrar Natalie e causar todo aquele
transtorno, ainda não tinha engolido o fato de os dois estarem sozinhos
naquele escritório.
Eu sempre fui tão fiel — até em pensamentos —, que para mim era
uma falta grave ele estar conversando com Natalie em um lugar reservado.
Juntando isso à forma como pareciam à vontade no dia em que chegamos a
Londres, foi natural me questionar se Thomas ainda poderia sentir alguma
coisa por ela e estivesse vivendo em algum tipo de negação.
Aqueles dois, nem de longe, pareciam inimigos, e ver tudo aquilo me
fez sofrer profundamente, mas não diminuiu o amor que eu sentia por ele.
Foi por isso que preferi ficar na minha até que me sentisse pronta para
uma conversa mais séria.
No dia seguinte, quando acordei, mamãe e eu conversamos e, embora
Thomas tivesse lhe contado tudo, resolvi explicar as coisas sob minha
perspectiva.
Ela não concordou com a frieza com que o tratei, mas entendeu que eu
deveria tirar aquele tempo para mim e também achou que eu precisava ver a
situação de longe e usar um pouco das coisas que aprendi na terapia com a
Louise para me reequilibrar.
Thomas era muito diferente de Jace, portanto, nossa relação era
completamente diferente também. Além disso, eu me sentia mais forte e
muito mais madura e essa maturidade me deu segurança para me posicionar
mais sobre minhas vontades. Se não fizesse isso, continuaria vivendo a vida
dele.
— Joly chegou! — mamãe avisou.
Como estava precisando de um pouco de normalidade, chamei Amanda
e Joly para almoçarem comigo. Elas prontamente aceitaram e mamãe disse
que faria a comida italiana que nós tanto gostávamos.
Terminei de me vestir, prendi o cabelo em um rabo de cavalo e fui para
a sala, onde Joly conversava amenidades com Amanda, que havia acabado de
chegar.
Ao sentirem minha presença, ambas se calaram para logo depois
começarem a questionar:
— Que cara é essa? Não me diga que terminou com seu bonitão —
falou Joly, sem nenhuma cerimônia.
— Não me diga que Megan tem algo a ver com isso — Amanda
completou e eu comecei a dar risada.
— Olá para vocês também... — brinquei e fui cumprimentá-las com um
abraço.
— Desculpe nossa falta de cerimônia — pediu Amanda quando me
sentei na poltrona que ficava ao lado do sofá, onde elas se acomodaram.
— Foi só uma briga, mas eu preferi ficar em casa hoje.
Brinquei, pois não queria que elas soubessem da gravidade das coisas
que aconteceram em Londres.
— Não sei de onde você tira forças para ignorar um homem daqueles
— disse Joly, se abanando, e eu gargalhei.
— Não pense que está sendo fácil, mas algumas coisas precisam ser
ajustadas em nosso relacionamento e eu não conseguiria pensar se estivesse
com ele — comentei e elas assentiram.
Só eu sabia o quanto estava sendo difícil manter aquele distanciamento,
mas, se abaixasse a guarda, não resolveríamos nada. Thomas estava
precisando de um gelo e eu, de tempo para refletir.
— Mas agora vamos falar de vocês — sugeri para mudar de assunto e
logo Joly começou a relatar sobre a festa para qual havia ido na noite
anterior.
Amanda não era muito de sair, mas acreditava que as coisas iriam
mudar depois daquele domingo, pois as duas pareciam ter encontrado muita
afinidade e era provável que se tornassem boas amigas. Incentivo de minha
parte elas teriam.
O clima descontraído dissipou um pouco as minhas preocupações e por
algumas horas eu consegui relaxar e dar boas risadas com aquelas duas
malucas.
No final do dia, Brad ligou para Amanda, convidando-a para ir a um
novo pub que estava fazendo sucesso aos domingos. Esta, por sua vez, nos
chamou para ir junto.
Joly ficou imediatamente animada, eu, contudo, não achava apropriado.
Thomas não estaria comigo e, se fosse o contrário, sei que não iria gostar.
— Acho melhor não, nós estamos brigados, mas não terminamos.
— Mas lá é bem tranquilo, Lacey. Por ser domingo, eles só abrem das
14h às 23h — explicou Amanda.
— Não sei — murmurei enquanto elas reviravam meu closet em busca
de roupas.
Nós três tínhamos corpos diferentes, mas o biótipo era muito parecido,
de forma que seria possível trocar roupas com facilidade.
— Meu Deus, isso é uma Gucci de verdade? — perguntou Joly,
olhando as prateleiras onde eu guardava bolsas e calçados.
— Sim, ganhei de Thomas nesta viagem. Ele me levou a algumas lojas
e me proporcionou um dia de compras, foi bem legal.
— Uau, deve ser incrível namorar um homem gato e ainda por cima
milionário.
O comentário de Joly me fez imaginar como seriam nossas vidas se
Thomas fosse menos rico e influente. Será que nosso relacionamento seria
melhor sem tanta interferência externa?
— Mas isso não fez muita diferença para mim. Essa foi a primeira vez
que deixei que ele me comprasse coisas caras e só aceitei por causa dos
inúmeros jantares que está inventando toda semana — justifiquei, pois não
queria que me vissem como interesseira. — Eu o amo de verdade e espero
que a gente consiga se entender.
— Claro que vão, mas isso não te impede de sair para beber uma
cerveja e comer alguma coisa com seus amigos — Joly pontuou, colocando
um vestido em frente ao corpo e depois olhando a etiqueta.
— Não sei se vou me sentir à vontade sem ele — falei, confusa quanto
ao que fazer.
— Amiga, na universidade você vive reclamando sobre o caminhão de
compromissos que ele tem fora do escritório. Por que também não pode ter
uma vida longe dele?
Quanto a isso Amanda tinha razão. Thomas vivia saindo para almoços
e jantares em lugares requintados com diversos empresários. Tudo bem que,
mesmo sendo fora da empresa, ele estava trabalhando, mas ainda assim...
— O que acha? — perguntei à minha mãe, que estava encostada no
batente da porta, analisando nossa interação.
— Eu não vejo problema algum em você sair para beber e se divertir
com suas amigas, desde que se comporte — ponderou ela, com uma
piscadela.
Para ser sincera, eu não estava muito a fim de ir, mas fiquei pensando
que, se ficasse em casa, poderia cair em tentação e acabar ligando para ele. E
isso eu não queria fazer, pretendia vê-lo apenas no dia seguinte, lá na
empresa.
— Tudo bem, eu vou, mas é jogo rápido, vou beber uma cerveja, comer
alguma coisa e ir embora.
As meninas me abraçaram e fizeram a maior festa, o que me fez revirar
os olhos, mas também me deixou contente por ver que era tão querida.
Enquanto elas reviravam meu closet, tomei um banho e com a ajuda
delas escolhi uma roupa que acabou sendo uma das que Thomas havia
comprado para mim.
Assim como elas, que além de vestidos, também pegaram acessórios
que combinavam.
Estamos parecendo três versões menos espalhafatosas de Megan,
pensei, com uma careta, e depois dei de ombros, pois não me condenaria
pelas roupas que escolhera, já que elas não mudariam minha essência e era
isso o que importava.
— Eu levo vocês até lá e depois busco, se quiserem — mamãe sugeriu
quando chegamos à sala.
— Não precisa. Joly está de carro e eu posso voltar de táxi, não se
preocupe — avisei.
— Tudo bem, filha, mas não volte tarde, não se esqueça de que amanhã
você tem aula cedo.
Assenti e, antes de sairmos, passei o endereço do local para que ela
ficasse mais tranquila.
O percurso do meu edifício até o pub foi feito na maior festa. Joly
colocou o som bem alto e fomos cantando feito loucas.
Aquilo era novo e divertido para mim, porque nunca tivera a
experiência de sair com as amigas para beber e papear.
Minha vida foi sempre tão cheia de mágoas, remorso e tristeza que o
simples fato de estar na companhia delas já me deixava feliz. Por algumas
horas eu me daria ao luxo de esquecer os problemas e apenas aproveitar a
vida.
Quando chegamos, as primeiras coisas que notei foram a ótima música,
que tocava em um volume agradável, e o público, que era todo jovem, como
nós.
Foi fácil achar o Brad, uma vez que ele esperava por nós no bar,
acompanhado por outro rapaz.
— Este é meu primo Theo — referiu-se ao rapaz após eu ter
apresentado Joly a eles.
Amanda e Theo, que pelo visto já se conheciam, logo engataram numa
conversa animada.
— Fiquei surpreso quando Amanda disse que você também viria —
Brad comentou quando ocupamos uma mesa bem ao lado. Era perceptível o
quanto ele havia gostado da minha presença.
— Pois é, as meninas fizeram a maior campanha e eu acabei cedendo
— limitei-me a dizer, pois não me sentia à vontade para falar com Brad a
respeito dos meus motivos para estar ali.
Em pouco tempo estávamos todos entrosados, conversando
animadamente.
— Esse lugar é demais! — falei quando abri minha quarta cerveja.
Brad e Theo já tinham 21 anos, e eram eles quem estavam comprando nossas
bebidas.
Eu sabia que não deveria estar fazendo aquilo, afinal, teria aula na
manhã seguinte, mas estava gostando da sensação de tranquilidade e
liberdade que tudo ali me proporcionava.
Nos eventos e jantares aos quais ia com Thomas sempre tomava
cuidado para beber apenas o que seria recomendável. Eu só sentia aquele
nível de despreocupação quando estava no apartamento dele.
O que estava vivenciando naquele momento, contudo, era totalmente
diferente. Eu estava rodeada de amigos, bebendo, conversando e dando muita
risada, mesmo estando brigada com meu namorado.
E isso era muito estranho e novo para mim.
Nas vezes em que briguei com Jace eu sentia que meu mundo iria
acabar. Depois, após várias sessões de terapia, descobri que era apenas a
depressão que começava a dar as caras.
O fato de não estar trancada no quarto, chorando feito uma louca e
querendo me jogar da janela devia ser um bom sinal, certo?
Senti orgulho por não ter recorrido aos velhos hábitos.
— Que tal uma rodada de tequila? — Theo sugeriu e todos se olharam
com espanto.
— Eu trabalho amanhã — Joly disse.
— E nós temos aula — falei, olhando para Brad e Amanda, que deu de
ombros.
— Eu topo — respondeu ela e já levantou a mão para chamar o
garçom.
— Qual é, Lacey, você nunca sai com a gente, só uma tequila não fará
mal.
Eu nunca tinha bebido tequila, mas sabia que algumas doses poderiam
fazer estrago.
— Ok, só uma e depois vamos comer alguma coisa e ir embora —
avisei e todos comemoraram.
— Já que todos vão beber, eu também topo — rendeu-se Joly e, mais
uma vez, celebramos, chamando a atenção das pessoas que ocupavam as
mesas mais próximas a nós.
Rapidamente os dois rapazes foram ao bar e voltaram com os copinhos
de shot cheios. Quando eles se acomodaram, cada um pegou o seu e virou de
uma vez.
A bebida desceu ardendo e nem o azedo do limão amenizou a
queimação em minha garganta e estômago.
— Isso é horrível, queima igual fogo — falei, com uma careta,
passando a mão no abdômen que ainda queimava.
Estava certa de que nunca havia bebido algo tão forte.
— Calma que a tonturinha compensa — Joly disse e todos riram.
Em menos de dez minutos entendi o que ela estava falando, pois meu
corpo ficou quente, leve e eu comecei a falar sem parar, coisa típica de quem
bebia um pouquinho a mais.
Quase uma hora depois, Brad pediu outra rodada de tequila e, mais uma
vez, todos beberam, inclusive eu, que àquela altura apenas seguia o bando.
— Meu Deus, isso é loucura, nós temos aula amanhã — lembrei
Amanda.
— Sim, amiga, estamos ferradas — ela disse com a voz enrolada e
depois começou a rir.
Em certo momento da noite deram início a uma sequência de música
mais animada e todos começamos a dançar. Algumas pessoas apenas se
balançaram onde estavam, outras se levantaram de seus lugares e começaram
a se remexer.
Eu fui uma destas. Tinha consciência de que não era uma boa
dançarina, mas depois de todas aquelas cervejas e tequilas, meu corpo já
mexia sozinho.
— Que ritmo diferente, eu amei! — falei para Brad, que havia me
acompanhado.
— Sim, este pub é bem eclético, eles tocam de tudo.
Vendo minha descoordenação, Brad se aproximou e começou a me
ensinar os passos.
Na hora eu nem pensei em recusar, estava alta demais e queria era
remexer o corpo.
Brad posicionou as mãos em meus quadris e mostrou um gingado que
eu não tinha ideia de que ele possuía.
— Uau, você sabe mesmo dançar — elogiei enquanto ele me rodopiava
no pouco espaço que tínhamos.
Brad me virou de um lado a outro, me arrancando gargalhadas e
fazendo meus cabelos voarem pelo ar.
Eu me sentia eufórica como nunca antes, mas toda a minha alegria
desapareceu quando olhei em direção a porta e vi Tom me encarando como
se não estivesse acreditando no que estava vendo.
Fechei os olhos em desgosto e fiquei imaginando o tipo de impressão
que ele deveria estar tendo de mim.
Eu o havia ignorado o dia inteiro para naquele momento me encontrar
nos braços de outro homem, dançando como se o mundo fosse acabar.
Após ter sido completamente ignorado por Lacey no domingo, cogitei
ir até a casa dela para conversarmos.
Todavia, meu desejo começou a duelar com o bom senso. Lacey deixou
claro com suas atitudes que queria um tempo, então, não seria legal de minha
parte desrespeitar isso.
Passei o dia todo nesse empasse até que, por fim, o desespero bateu e
acabei cedendo à vontade que tinha de acertar as coisas com ela.
Eu já estava autorizado a subir sem ter que avisar, por isso Jenna ficou
surpresa quando me viu parado à porta. Depois, pareceu sem jeito ao contar
que Lacey havia saído com suas amigas para jantar, mas que já deveria estar
chegando em casa.
Aquilo foi uma tremenda surpresa. Não que eu desejasse que ela
estivesse se sentindo triste e culpada, mas realmente achei que a encontraria
trancada em seu quarto, remoendo as coisas que aconteceram no fim de
semana.
Saber que em vez disso ela estava se divertindo com seus amigos, como
se nada tivesse acontecido, me deixou encabulado e um pouco puto também.
Por outro lado, eu estava ciente de que, diferente da época em que
namorou Jace, Lacey possuía boas amigas e podia contar com elas para
aqueles momentos. E embora ainda sentisse um gosto amargo na boca devido
ao seu desprendimento, era bom que ela tivesse esse tipo de apoio quando se
sentisse triste.
Se é que ela estivesse triste.
Dissipei aquele tipo de pensamento e liguei, a fim de saber se estava
chegando, mas ela não atendeu. Com medo de que tivesse me ignorado, pedi
para que Jenna ligasse de seu telefone e — graças a Deus —, ela também não
atendeu.
Aquilo significava que o problema não era comigo, mas também
demonstrava que ela estava se divertindo tanto que nem se lembrava do
telefone ou que poderia estar com problemas.
Esta perspectiva nos deixou em alerta.
Por sorte ela havia deixado o endereço do tal pub e eu resolvi ir atrás da
minha namorada.
Enquanto guiava o carro pelas ruas de Nova York, continuei tentando
contato, mas não tive sucesso. O telefone tocava um pouco e depois caía na
caixa postal.
Em frente ao Pub, notei alguns casais conversando, assim como grupos
de amigos.
A recepcionista que ficava logo na entrada me ofereceu uma mesa,
assim como um olhar bem indiscreto, mas eu avisei que só estava ali
procurando uma pessoa.
Ao entrar, parei e passei os olhos pelo ambiente, na esperança de
distinguir Lacey entre todas aquelas pessoas. Muitas delas dançavam ao som
de uma música animada e isso dificultava minha visão.
Por fim eu a encontrei, mas o que vi me deixou completamente
estático.
Ela estava próxima a uma mesa, dançando com um rapaz que logo
depois reconheci como sendo Brad, o cara da universidade.
Senti um ciúme descomunal, motivado pela desconfiança que já me
corroía e abastecido pela indiferença proposital de Lacey naquele dia.
Não demorou para que nossos olhares se cruzassem e o sorriso no rosto
dela sumisse. Isso apenas provava que ela tinha consciência do que estava
fazendo.
Quando a vi pegando suas coisas e se despedindo, virei as costas e saí
para esperá-la do lado de fora. De forma alguma iria querer ter aquela
conversa em público.
Enquanto seguia para o exterior, respirei fundo algumas vezes.
Precisava manter o controle, pois aquela situação era completamente nova
para mim e, se não me acalmasse, acabaria fazendo uma besteira.
Nunca imaginei que aquele domingo terminaria assim, comigo indo
atrás da minha namorada e a encontrando em um bar, nos braços de um
jogador de futebol da universidade.
Será que ela estava se vingando pelas coisas que aconteceram em
Londres? foi a ideia que me ocorreu para justificar aquilo.
— Foi por isso que me evitou o dia todo? — perguntei, irritado, quando
ela se aproximou.
— Você vive saindo pra jantares e até mesmo barzinhos e eu nunca
reclamei! — ela revidou, na defensiva, mas sua voz estava um pouco morosa.
— Para fechar negócios, Lacey, você sabe como as coisas funcionam.
— Está certo — afirmou, de forma meio arrastada —, mas eu não
estava fazendo nada de mais, só dançando com meu amigo.
Eu não duvidava que Lacey não tivesse percebido as intenções daquele
cara, mas não era só isso que estava me deixando furioso. Também existia o
fato de ela estar, nitidamente, embriagada. Aquilo me fez imaginar o que
poderia ter acontecido se eu não tivesse ido buscá-la.
— Ele dança tão bem, Tom, estava até me ensinando — ela continuou e
tentou dançar. — Ops — exclamou ao se desequilibrar um pouco e abriu os
braços em busca de estabilidade.
Balancei a cabeça, desgostoso.
— Você está bêbada — acusei duramente.
— Eu bebi uma, não, duas tequilas — falou, desequilibrando-se outra
vez, e eu a segurei para que não caísse, mas logo a soltei e passei as mãos nos
cabelos em busca de calma.
Lacey não era acostumada a beber e, pelo que eu sabia, ela nunca havia
tomado tequila antes daquela noite. Podia apostar que tinha dedo daquele
delinquente nisso.
Só que não adiantava brigar, ela não tinha qualquer condição de manter
um diálogo coerente.
— Nós precisamos conversar, Lacey, mas antes você precisa se curar
desse porre.
— Eu estou ótima!
— Não está, não. Venha, vou te levar para casa.
— Eu não vou pro seu apartamento — respondeu, irritada.
— Prefere que Jenna a veja nesse estado?
Ela me lançou um olhar raivoso, mas, alguns segundos depois, cedeu.
— Tá bom, eu vou, no entanto, não quero conversar hoje. Não porque
estou bêbada, mas porque estou com sono.
— Sei. Tudo bem, conversaremos amanhã, quando você estiver
descansada — falei, paciente, pois já tínhamos problemas demais para
resolver.
Lacey assentiu e seguimos para o carro, que estava bem ao lado.
Exceto pela ligação que fiz para Jenna, o caminho até minha cobertura
foi silencioso. Estávamos ambos magoados com o caos que nos atingiu.
— Vou tomar um banho e dormir, tenho aula cedo amanhã — ela
avisou, deixando seus brincos e pulseiras sobre sua mesa de cabeceira.
— Quer dizer que se lembrou de que amanhã tem aula?
Lacey me lançou outro olhar cheio de raiva.
— Eu pego você e sua ex-mulher no maior papo, com ela te beijando e
o problema é eu ir em um bar e dançar com meus amigos?
— Se você viu toda a nossa interação, concluiu que eu não estava ali
para um encontro romântico. Nada do que aconteceu, nada do que Natalie
falou, teve importância para mim — afirmei mais uma vez, para que ela
entendesse que aquilo foi apenas um ato impensado da parte de Natalie.
— O fato de não ter importância para você não diminui a dor que senti
ao vê-los juntos.
A forma como ela falou me fez sentir culpado. Lacey tinha histórico
complicado e, sem querer, acabei provocando uma situação que levou suas
emoções ao extremo e aflorou sentimentos que faziam parte do seu passado.
— Eu já pedi desculpas.
— Sim, só que não consigo fazer de conta que as coisas não
aconteceram — protestou, mas então respirou fundo e, parecendo mais
calma, voltou a falar: — Eu vou voltar ao normal, só preciso pensar em tudo
o que aconteceu.
Assenti levemente e ela passou por mim.
Aproveitei aquele tempo para ir ao meu escritório. Queria tomar uma
dose de uísque e ver a agenda no meu celular para saber como seria minha
segunda.
Quando retornei ao quarto, ela já estava dormindo.
Tirei a roupa, permanecendo apenas de cueca e, mesmo ainda estando
chateado, deitei-me ao lado dela e a abracei por trás.
Lacey resmungou um pouco, mas agarrou a mão que eu havia
descansado sobre sua barriga, o que me incentivou a me aproximar mais.
Somente quando encaixei meu corpo ao dela foi que percebi o quanto
estava precisando daquele contato.
A distância que Lacey havia colocado entre nós, a frieza com que vinha
me tratando desde Londres, estava me deixando nervoso.
Mas o que estava me atormentando mesmo era a lembrança dela
dançando com Brad. Juntando isso às mensagens que ele vivia mandando
para ela e à realidade de que eles se encontravam todos os dias na
universidade, era de enlouquecer qualquer um.
Fechei os olhos e fiz o possível para controlar o ciúme que tentava me
consumir.
Eu sempre dei todas as garantias a ela sobre meus sentimentos e
valores, mas talvez a sua pouca idade estivesse atrapalhando seu julgamento.
Eu não me isentava da minha parcela de culpa em relação a tudo o que
aconteceu em Londres, mas também não podia mais fechar os olhos e fingir
que nosso relacionamento não estava passando por uma crise.
Não tinha ideia de que horas o sono me venceu, mas fiquei indignado
quando acordei e percebi que Lacey não estava mais na cama.
Em princípio eu achei que ela estava fugindo da nossa conversa, mas
então encontrei um bilhete em cima do seu travesseiro.

Tom,
Desculpe-me por sair assim, mas minha cabeça está
superbagunçada e estou precisando de um tempo para assimilar tudo o
que anda acontecendo. Acho que, para te fazer feliz, eu tenho que estar
bem. Por isso, não irei dormir com você na quarta-feira, não apenas por
achar que ambos precisamos pensar um pouco, mas porque terei
semana de provas e penso que, se nos virmos, vamos voltar à estaca
zero.
Fique bem,
Beijos, Lacey.

Mais uma vez Lacey Smith me surpreendeu.


Em seu histórico havia ciúmes, depressão, obsessão, perseguição, entre
outras coisas.
Em nosso relacionamento, entretanto, eu fui tão transparente e a deixei
tão à vontade que, pelo que estava vendo, ela tinha se curado, pois não
demonstrava nada daquela loucura que era tão patente um ano atrás.
Sabia que era egoísta da minha parte querer que ela demonstrasse
aquele tipo de sentimento por mim, mas eu era homem, e por mais evoluído
que me considerasse, machucava meu ego saber que ela estava tão bem
quando eu me sentia tão arrasado.
Claro que eu estava feliz por Lacey ter aprendido a lidar com seus
sentimentos. Um dos meus grandes receios tinha a ver com a forma como ela
reagiria caso nosso relacionamento acabasse um dia.
Bom, a resposta estava bem na minha cara.
Sorri, contrariado. Era ridículo um cara da minha idade e tão vivido se
sentir tão mal por ter sido ignorado por uma garota de vinte.
“É isso que dá se relacionar com mulheres muito mais novas”, alfinetou
meu subconsciente.
Balancei a cabeça, amassei o papel com força e o joguei longe, depois
me levantei e fui ao banheiro fazer minha higiene para poder ir trabalhar. Ao
que tudo indicava, era a isso que eu teria que me agarrar até que ela decidisse
me tirar do cantinho da disciplina.
Restava saber se eu conseguiria esperar por tanto tempo.
Fazia quatro dias que havia saído da cama de Thomas deixando apenas
um bilhete. Eu sabia que estava errada em fugir daquela conversa, mas ainda
estava muito magoada e tinha medo de, no calor do momento, falar coisas das
quais pudesse me arrepender depois.
Sem contar que eu não queria que tudo se resolvesse rápido demais
para que ele não tivesse a impressão de que aquele beijo não tinha me afetado
tanto, porque tinha.
Eu nunca traí ninguém nem em pensamento, então, quando a cena de
Natalie beijando meu namorado surgia em minha mente, eu tinha vontade de
explodir de tanta raiva.
— Problemas no paraíso, Lacey? — Tori zombou quando viu a careta
que eu estava fazendo.
— Não é da sua conta — respondi, ríspida.
— Tentei ligar no seu ramal, mas estava desligado.
— Eu me esqueci de encaixar o plugue — menti.
Como a semana estava chegando ao fim, desconectei o fio para evitar
que Thomas ligasse no meu ramal.
Ele respeitou minha vontade por todos aqueles dias, mas eu sabia que
isso iria acabar.
— O Sr. Ward quer falar com você.
E acabou.
Só que não poderia ter sido em pior momento.
Além de imensamente cansada, física e mentalmente, eu ainda estava
com uma TPM daquelas. Traduzindo: não era o meu melhor dia.
— Ele pediu que fosse à presidência — continuou Tori quando não
falei nada.
Suspirei, irritada por ele usar de seu cargo para me obrigar a ir
encontrá-lo.
Por sorte já era final de tarde. Depois da nossa conversa eu poderia ir
para casa tomar um remédio e um belo banho de banheira, para tentar
diminuir as cólicas.
— Ok, eu já estou indo — falei e ela se afastou.
Enquanto o computador desligava, peguei minhas coisas e fui ao
banheiro passar uma água no rosto.
Internamente eu sabia que não estava preparada para aquele assunto,
mas também sabia que Thomas estava louco para ter essa conversa, então,
reuni todas as minhas forças e subi até seu andar.
Freya, a secretária dele há muitos anos, já estava de saída, mas ainda
fez uma brincadeira comigo.
Segundo ela, o humor do nosso chefe estava horrível nos últimos dias e
pediu para eu dar um jeito nele.
Sorri da forma como ela falou e depois segui em frente.
Quando entrei no escritório, Thomas estava em pé, com os quadris
encostados em sua mesa, de braços cruzados e olhando diretamente para
mim.
— Me chamou? — perguntei o óbvio, apenas para puxar conversa.
— Sim.
Fechei a porta, caminhei até o sofá e me sentei.
— Estou ouvindo.
— Vai ficar me evitando até quando?
— Eu te disse que precisava assimilar o que aconteceu — pontuei.
— Mas você já sabe que eu não tinha ideia do que ela pretendia.
— Tem muito mais coisas, Tom, eu já te falei, mas você prefere
ignorar.
Ele estava com uma aparência cansada e eu odiava vê-lo assim, mas
também não conseguia ignorar todas as coisas que estavam me incomodando.
— Desde que nos conhecemos eu fiz tudo para te ver bem, para te fazer
feliz.
— Eu sei e não estou falando de você como pessoa e sim das suas
atitudes, das pessoas que estão fazendo parte da nossa vida nos últimos
tempos... Veja bem, não estou dizendo que quero viver em uma bolha com
você, mas nós precisamos achar um contrapeso e dar um jeito de fazer as
coisas funcionarem novamente.
Ele concordou e ia falar alguma coisa, mas seu celular começou a tocar
e, apesar da careta que fez para a tela, atendeu.
— Como vai, Donald?
Acho que ele percebeu meu desgosto em ouvir aquele nome, pois
apertou os lábios num gesto nitidamente contrariado. Só não sabia se era pela
interrupção ou por meu descontentamento.
— Está com ele agora? — perguntou e me olhou, cauteloso, enquanto
escutava. — Sim, seria uma ótima oportunidade para nos conhecermos.
Tom ouviu o que Donald falava por mais alguns minutos e disse:
— Sim, chego em meia hora, no máximo.
Ouvir aquilo me causou um desgosto tão grande... Além de, mais uma
vez, termos sido interrompidos por Donald Wilson, Thomas ainda encerraria
nossa conversa para ir se encontrar com ele.
— Lacey, sei que o que vou te pedir é difícil e até injusto, mas estou há
dias tentando conhecer um dos sócios de Donald, porém, nossas agendas não
batem. Só que, dependendo dessa conversa, vamos poder fechar um negócio
milionário. Depois disso estarei livre.
Continuei olhando para ele, mas minha boca permaneceu fechada.
Respirando fundo, prosseguiu:
— Eles estão fazendo um happy hour com as respectivas famílias.
Parece que as filhas de ambos começarão a fazer estágio na maior construtora
do país e eles estão comemorando, por isso pensei que você poderia me
acompanhar.
Abaixei a cabeça. Não acreditava que estava fazendo isso de novo.
Tudo o que eu não queria naquele dia era encontrar Donald e Megan,
que, para sorte dela, não tinha se aproximado de mim na Columbia.
Minha vontade era explodir e desentalar tudo o que estava preso em
minha garganta, dizer que nosso relacionamento estava uma merda
justamente por esse tipo de coisa. Contudo, mais uma vez, deixei que a razão
me guiasse e preferi me calar; aquele negócio era importante demais para a
empresa e não seria eu quem iria melar tudo após todo desentendimento e
infelicidade que me causou.
— Tudo bem, eu vou com você — disse, sem vontade nenhuma.
Sorrindo, Tom me abraçou e me deu um beijo leve nos lábios.
Dava para sentir o quanto ele estava eufórico com o possível desfecho
daquelas negociações e acabei me empolgando também, a despeito da cólica
que ia e vinha.
Esperei que ele pegasse suas coisas e seguimos para o tal restaurante.
Thomas, como sempre, estava impecável em um de seus ternos
perfeitos, já eu, usava um vestido preto, com um cintinho branco e fino, um
casaco leve e uma das bolsas que ganhei dele em Londres.
Sentia-me tão esgotada e cansada que nem me preocupei se estaria
vestida a altura para aquele jantar em um dos restaurantes mais chiques da
cidade, mas passei um batom e retoquei o rímel para não aparecer com cara
de doente.
Assim que chegamos ao restaurante, o garçom nos guiou até a mesa
que Donald e seu amigo ocupavam juntamente com Megan e uma garota de
cabelos loiros, que lançou um olhar guloso sobre Thomas.
Que ótimo, ela conseguiu me desagradar logo de cara, pensei, amarga.
Tanto Megan quanto sua amiga, que se chamava Lily, estavam vestidas
de maneira um pouco mais formal, com vestidos bem parecidos com o meu, o
que confirmava a informação referente ao estágio — que era o sonho de
consumo de quase todos os engenheiros —, a diferença era que o de Lily era
vermelho e o de Megan, off-white.
Ambas eram muito bonitas, pena que educação e compaixão passavam
longe.
— Bolsa nova, Lacey? — sussurrou minha algoz, docemente, quando
se levantou para me cumprimentar. — Pelo visto, mudou de ideia e resolveu
usufruir do dinheiro do seu namorado milionário.
Deixei a primeira provocação da noite entrar por um ouvido e sair pelo
outro e apenas cumprimentei os demais.
Lily ficava o tempo todo babando em meu namorado e aquilo só me
deixou ainda mais chateada. A sem noção nem disfarçava o quanto tinha
gostado dele.
— Tudo bem, linda? — Thomas perguntou baixinho.
— Sim, tudo. Você sabe onde fica o toalete? — perguntei e, depois que
ele me orientou, eu pedi licença e segui na direção indicada. Precisava me
afastar da energia ruim que tomava conta daquela mesa.
Depois de usar a cabine, fiquei um tempo respondendo as mensagens
que Joly havia me enviado.
Quando estava prestes a sair do banheiro, meu celular tocou.
— Alô.
— Oi, querida, é Cybele. Desculpe incomodar, mas precisava falar
com você.
— Tudo bem, Cybele, estou ouvindo.
— Eu visitei Natalie, ela já recebeu alta e está em sua casa. Bom, nós
conversamos bastante, e por mais que tenha argumentado, ela está
irredutível em relação a processá-la por agressão.
— Mas foi um acidente, ela sabe disso! — falei em minha defesa.
— Eu também sei, querida, mas Natalie está de posse de algumas
informações suas, tais como uma medida protetiva e laudos médicos, que
você recebeu alguns anos atrás, e disse que os usará no processo.
Fechei os olhos e tive vontade de berrar de tanta fúria.
— Eu não sou mais aquela garota. Tinha problemas com depressão e
posso ter errado em meu antigo relacionamento, mas eu mudei, fiz terapia e
jamais a machucaria de propósito.
— Lacey, eu a entendo e estou do seu lado. Quero que saiba que estou
fazendo o máximo para acalmar os ânimos por aqui — minha sogra disse em
tom calmo, mas isso não me acalmou.
— Obrigada por me avisar, vou conversar com Tom sobre isso.
— Ah, bom, talvez fosse melhor manter as coisas em segredo, por
enquanto. Thomas está tão estressado com a iminência desse negócio, não
queria preocupá-lo mais. Quanto mais afastado desse assunto ele estiver,
melhor, seria péssimo para a Ward Corporation se seu CEO começasse uma
guerra na justiça, e é o que fará, uma vez que você é namorada dele. Então,
vamos tentar mantê-lo à parte o máximo possível, tudo bem?
Ela tinha razão. Eu jamais me perdoaria se minha atitude impensada
respingasse no nome que lhe foi passado por seu pai e do qual ele se
orgulhava tanto.
— Tudo bem, mas, por favor, converse com Natalie e a faça mudar de
ideia. Eu não quero prejudicar o Tom — implorei, sem qualquer pudor.
— Eu estou fazendo de tudo para convencê-la a desistir dessa loucura.
Natalie não percebe que se expor desse jeito não lhe fará bem, mas ela está
irredutível, eu acho... Bom, não interessa o que eu acho — falou, deixando-
me ainda mais ansiosa.
— Claro que interessa o que você acha.
Ela suspirou do outro lado e então jogou a bomba:
— Se a conheço bem, Natalie está vendo nisso uma forma de
barganhar. Penso que só deixaria esse processo de lado se você e Thomas
terminassem, seria uma forma de ela se sentir vingada e também de tentar
investir novamente. Mas é óbvio que isso não é uma opção, porém, eu não
vou desistir, pelo contrário, vou tentar encontrar uma solução para tudo
isso. Não se preocupe por antecipação. Agora eu tenho que ir, fique bem,
querida.
— Claro, obrigada pela ajuda — falei e nos despedimos.
Saí do banheiro e precisei me encostar na parede do corredor para me
recuperar do baque causado por todas aquelas informações.
Meu Deus, quanto desgosto minha mãe sentiria ao saber que, mais uma
vez, sua filha estaria envolvida judicialmente em uma cena de agressão.
Ainda que daquela vez tenha sido acidental, meus antecedentes estariam
expostos para me desmentir e os tabloides de Londres e Nova York iriam se
esbaldar.
Eu só podia imaginar o quanto o sensacionalismo daquele tipo de
notícia poderia prejudicar a empresa de Thomas.
Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi uma voz
conhecida vindo do outro lado da parede.
— Não se preocupe, ele quer tanto fechar negócio com uma empresa já
consolidada que nem se dará conta do que aconteceu — disse Donald.
Cuidadosamente me aproximei da parede para ver se conseguia
enxergá-lo. Eu desconfiava de que ele estivesse ao telefone, mas queria
conferir.
— Sim, mas não será hoje. Ele pode estar desesperado por isso, mas é
esperto. Preciso apresentar mais algumas pessoas dispostas a fazer negócios
reais e lucrativos com ele para aumentar sua confiança, depois disso vamos
conseguir o valor que queremos — garantiu, com total confiança na voz.
Arrisquei olhar para o outro lado e lá estava o pai de Megan próximo
ao bar, falando ao celular.
— Não se preocupe, quando os papéis que mandei preparar estiverem
prontos e eu achar que é seguro, aviso a você. Até mais — ele se despediu e
se foi, provavelmente de volta à mesa.
Eu não entendia nada sobre negócios, mas alguma coisa me dizia que
aquilo não cheirava bem e, pior, tinha quase certeza de que se tratava de
Tom.
Só que o que escutei foi uma conversa unilateral e não poderia acusar
ninguém sem provas.
Voltei para a mesa e vi que Thomas parecia preocupado com minha
demora, por isso logo expliquei que estava em uma ligação.
Ele assentiu, pegou minha mão e voltou à conversa referente a números
e projeções.
Em certo momento da noite, Donald, Vicenzo e Tom pediram licença e
foram ao pátio externo porque Donald queria fumar um charuto. Já as mães
pediram licença e foram ao banheiro para retocar as maquiagens.
— Está calada essa noite, Lacey — Megan comentou.
— Às vezes é melhor ficar em silêncio do que falar um monte de
asneiras — rebati e tomei um pequeno gole do vinho de Tom, sob o olhar
atento das duas. Precisaria de algo mais forte do que um suco para aguentar
aquela noite.
— Ou talvez você seja uma pessoa tão bitolada que não consegue
elaborar uma frase inteligente em um jantar de negócios.
Fiquei olhando para aquela cara deslavada dela, tentando achar motivos
para um ser humano ser tão desprezível daquele jeito.
— O que foi, Lacey, o gato comeu sua língua? — ela continuou
zombando enquanto a idiota ao seu lado ria. — Ou será que essa bolsa foi, na
verdade, uma forma de ele controlar a namorada desequilibrada?
Ouvi-la sugerir que Thomas havia me presenteado com o intuito de me
cercear e ainda trazer à tona meus antigos problemas fez meu ódio borbulhar.
Eu já estava fragilizada com o que havia acontecido em Londres e mais ainda
com o que tinha acabado de ouvir de Cybele, não ficaria aturando as
provocações de Megan Wilson.
Toda aquela rápida análise me fez pensar que só havia um jeito de
acabar com aquele tormento, me livrar de um possível processo movido por
Natalie e, assim, preservar a reputação de Thomas.
Sem que Megan esperasse, peguei a taça e joguei todo seu conteúdo
nela, deixando-a completamente manchada com vinho tinto.
Ela se levantou na mesma hora e me olhou, desacreditada.
Quando desviei o olhar, vi Donald correndo para socorrer a filha
enquanto Vicenzo e Thomas me encaravam com olhos arregalados de
descrédito.
O que vi nos olhos de Tom foi muito pior que em Londres. Ali eu tive
certeza de que ele jamais me perdoaria por, muito possivelmente, ter
estragado a maior negociação de sua vida.
A cena de Lacey jogando bebida em Megan se repetia milhões de vezes
em minha mente. Parecia um pesadelo com tudo que eu mais temi que
acontecesse em nosso namoro.
Em minha cabeça, ela era uma garota equilibrada que só perdeu o juízo
por causa de um namorado babaca que não lhe dava atenção, no entanto,
aquele episódio me deixou perplexo e a coisa só piorou quando vi a forma
como as pessoas ao redor olharam para ela.
Extremamente constrangido, pedi mil desculpas pelo acontecido e tirei
Lacey imediatamente do restaurante.
Durante o trajeto ela tentou explicar, mas pedi que poupasse meu
motorista daquela conversa, então permaneceu em silêncio até que chegamos
à cobertura.
Assim que passamos pela porta eu a segui até o quarto, achando que
poderíamos ter a conversa que ela estava adiando há dias.
Porém, contrariando tudo que eu podia imaginar, Lacey pegou a bolsa
com a qual levou algumas coisas pessoais para meu apartamento, meses atrás,
e a abriu sobre a cama, antes de ir até o closet e arrancar as roupas dos
cabides.
— O que está fazendo? — perguntei quando a vi colocando as peças
dentro da grande bolsa.
Eu já imaginava, mas não queria acreditar.
— Pegando minhas coisas para dar o fora daqui. Eu não aguento mais!
— disse em tom ríspido, sem olhar para mim, e foi esvaziar as gavetas.
— Você faz uma coisa daquela com a filha de um cara com quem estou
negociando há mais de mês e ainda se acha com razão?
Lacey bufou e foi até o banheiro com um nécessaire. Começou a enchê-
la com seus cosméticos e maquiagens.
Meu Deus, eu sabia que não estávamos bem, porém, nunca imaginei
que aquela noite pudesse terminar daquele jeito. Sim, tinha consciência de
que seria uma conversa séria e até mesmo penosa, mas que depois nos
acertaríamos.
Só que ela parecia decidida a ir embora do meu apartamento. E da
minha vida.
— Lacey, fale comigo, o que está acontecendo?
Ela fechou os olhos e suspirou profundamente, como se estivesse
carregando o peso do mundo nos ombros e fosse difícil respirar.
— Eu não aguento mais conviver com pessoas tão tóxicas. Megan é
uma cobra que me inferniza sempre que me vê. Ela vive jogando na minha
cara que sou uma morta de fome, que você não vai ficar comigo por muito
tempo. E antes que fale alguma coisa, eu sei que não sou morta de fome e sei
também que você não é esse tipo de cara, só que não consigo mais fingir que
está tudo bem. Há meses ela vem transformando minha vida num inferno
com suas insinuações e piadinhas, então, dane-se Megan e seu maldito
negócio, não quero mais fazer parte disso.
Nunca tinha visto Lacey tão descontrolada.
— Ei, acalme-se, vamos conversar.
— Não, Thomas! Eu fiquei calma por todas essas semanas para não te
prejudicar e não vou mais fazer isso.
— Você deveria ter me falado.
— Eu falei que Megan é uma bruxa, falei o quanto odiava sair com
Donald e o quanto esses eventos me cansam, mas você sempre colocou panos
quentes — expôs, exasperada. — E o problema não é apenas Megan e esses
intermináveis eventos, tem as coisas que aconteceram em Londres... Acho
melhor pararmos. Minha cabeça está confusa, tudo isso está me fazendo mal
e eu me sinto péssima.
Tinha certeza de que, nem na época em que a conheci, Lacey perdia o
controle com tanta facilidade como atualmente.
— Eu sei que todos esses jantares, associados à universidade e ao
estágio, podem ter te sobrecarregado, mas você não pode sair jogando bebida
nas pessoas todas as vezes que te falarem algum desaforo, senão perde a
razão.
— Você acha que estou desequilibrada, em outras palavras, maluca,
mas o maluco é você em acreditar piamente nessas pessoas.
— Eu não disse isso, Lacey, não coloque palavras em minha boca.
Mais uma vez ela suspirou, nitidamente cansada.
— Tom, nossos mundos são completamente diferentes e eu sabia que
em algum momento isso iria interferir em nossa relação. Apenas aconteceu
antes do que imaginava.
Era surreal ouvir Lacey dizer que não se sentia bem ao meu lado ou das
pessoas com quem eu estava me relacionando. Não queria acreditar que
aquela conversa estava tomando um rumo tão drástico.
— O que está querendo dizer? — perguntei, cauteloso. — Você está
terminando nosso namoro?
— Eu não quero mais ter que fingir que estou gostando dos eventos dos
quais estamos participando, muito menos te envergonhar na frente de pessoas
importantes por não me encaixar, então, sim, eu quero um tempo — ela
afirmou, sem conseguir me olhar nos olhos.
Desde o dia em que me apaixonei por Lacey e decidi correr o risco de
assumir o namoro com uma garota tão nova e problemática que, além de
tudo, era minha funcionária, parecia haver um fantasma me rondando de
todos os lados.
Mas apesar de todas as questões que nosso relacionamento poderia
suscitar, o que mais me preocupava era como ela ficaria caso um dia
terminássemos.
Então, ouvi-la dizer que precisava de um tempo fez um buraco se abrir
em meu peito. Na mesma hora tentei imaginar como seria minha vida sem ela
e cheguei à conclusão de que meu futuro não seria muito auspicioso.
E as coisas apenas pioraram quando me lembrei das mensagens de
Brad. Na mesma hora me perguntei se ele seria o motivo daquela decisão
intempestiva.
Será que minhas negociações com Donald, os eventos e os problemas
com Megan seriam os únicos motivos para aquela resolução?
Eu precisava saber.
— Brad tem alguma coisa a ver com essa decisão repentina?
— Ah, meu Deus, claro que não, o que você está pensando? —
questionou, parecendo horrorizada com minha pergunta.
— Vi as mensagens que ele mandou no seu celular e depois aquela
dança. O que você queria que eu pensasse?
Lacey arregalou os olhos e me encarou, furiosa.
— Você olhou as mensagens do meu celular?
— Por que, não podia? — Meu Deus, estava parecendo um adolescente
e ela estava mais irritada a cada minuto, mas, em vez de estourar, respirou
fundo e respondeu calmamente:
— Brad não tem nada a ver com isso, Thomas, o problema é conosco,
você e eu — explicou e voltou a arrumar suas coisas.
— Você tem certeza de que é isso o que quer?
— Sim, tenho. Não posso pedir que esqueça Donald apenas para não
ser obrigada a me encontrar com ele e sua cria, nunca faria algo assim, por
isso espero que respeite minha decisão. Eu preciso de um tempo longe do seu
universo antes que enlouqueça de verdade.
É claro que eu respeitaria, de forma alguma iria impor minha vontade e
muito menos tentaria seduzi-la para mostrar que estava errada.
Todavia, tinha esperanças de que quando chegasse em casa e pensasse
melhor, muito em breve ela voltasse atrás naquela decisão sem pé nem
cabeça.
— Não precisa levar suas coisas agora, vá para casa e se acalme.
Conversaremos melhor amanhã.
Ela fez que não com a cabeça e guardou o resto de suas coisas.
Eu observei tudo em silêncio, sem acreditar que a garota que tinha meu
coração nas mãos estava me deixando.
Quando terminou, andou em direção à porta, mas antes de sair parou e
me encarou.
— Posso estar tomando a decisão mais errada e precipitada da minha
vida, só que é isso que meu coração está me pedindo para fazer, antes que eu
te prejudique ainda mais.
E com aquelas palavras, Lacey deixou meu quarto.
Demorei alguns segundos para processar que aquilo era, mesmo, um
adeus.
Inacreditável!
Saí correndo, mas quando abri a porta da sala ela já estava dentro do
elevador.
— Lacey... Por favor...
— Não precisa se preocupar comigo, está tudo bem. Só preciso de um
tempo — garantiu e, no instante seguinte, a porta se fechou.
Fiquei olhando para o nada, tentando entender como tudo aquilo havia
acontecido e como não percebi que ela estava tão infeliz ao meu lado.
Senti culpa e um vazio que eu não sabia explicar.
Estava tão acostumado a dar as cartas no jogo, era sempre eu quem
terminava os relacionamentos, de forma que não sabia como era ser
abandonado.
Estava sendo difícil de acreditar que as coisas tivessem chegado ao
ponto de minha namorada se sentir sufocada por me acompanhar a eventos
primordiais para a consolidação e crescimento da minha empresa.
Tinha a esperança de que aquilo tivesse a ver mais com as pessoas com
quem estava convivendo do que com o estilo de vida, porque, se voltássemos,
eu iria querer minha namorada ao meu lado.
Será que eu estava errado?
“Sim, você deveria ter perguntado e não exigido que ela fosse, supondo
que estava tudo bem”, meu subconsciente, mais uma vez, resolveu emitir sua
opinião.
E era verdade, eu deveria ter percebido o que realmente se passava em
sua cabeça, sem tentar justificar sua insatisfação.
Mas só pensei em mim, foi a minha ambição que nos levou àquele
ponto.
Não que fosse deixar passar uma oportunidade de negócios daquele
tamanho, uma coisa não estava ligada à outra e nem eram interdependentes,
mas se tivesse prestado mais atenção, teria manejado tudo com inteligência e
satisfeito a ambos.
Depois de tudo, de que adiantou amar e ser correspondido? Ela estava
decidida a viver longe das coisas que a faziam sofrer, incluindo eu mesmo, e
não poderia fazer nada.
Apreender isso fez uma tristeza e melancolia desconhecidas se
apoderarem de mim.
Toda vez que recordava suas palavras, era como se cacos de vidros
penetrassem meu coração.
Lacey não queria mais ficar comigo e eu não sabia como reagir. Então,
fiz o que estava acostumado a fazer: liguei. E quando ela não atendeu, liguei
novamente e mandei mensagens, mas ela não retornou ou respondeu e isso
apenas aumentou meu desespero, pois não estava preparado para perdê-la,
ainda mais assim, de maneira tão repentina.
Após muito pensar, decidi que era melhor dar um pouco de espaço para
que ela pensasse em sua decisão. Talvez um pouco de distância a fizesse
perceber o erro que estava cometendo.
O desastre seria se Lacey não enxergasse isso.
Eu havia passado toda a sexta-feira trancada em meu quarto, chorando
e lamentando minha má sorte em relacionamentos, sentindo-me triste e
inconformada pelos rumos que minha vida havia tomado nos últimos dias, me
perguntando, uma e outra vez, em que momento me perdi.
Quando o sábado chegou, eu ainda estava me sentindo péssima, mas
preferi focar nos benefícios que nosso término traria.
Assim que soubesse que Tom e eu não estávamos mais juntos, Natalie
iria desistir da ideia de me processar, o que, consequentemente, preservaria o
nome da Ward Corporation. Além disso, não precisaria mais conviver com
Megan. Ainda que acabássemos nos esbarrando pelos corredores da
universidade, eu não seria obrigada a falar com ela e isso era o mais
importante para a minha saúde mental.
Era por isso que, mesmo sofrendo, ficar longe de Thomas naquele
momento seria a melhor solução para todos os meus problemas. Eu só teria
que aprender a lidar com a dor e a saudade que já me dilaceravam por dentro.
Mamãe, por outro lado, não conseguia enxergar as coisas da mesma
forma. Fã assumida de Thomas, achou minha decisão um grande exagero.
Era compreensível. Tudo o que falei foi que estávamos brigando
demais e que eu não conseguia me encaixar no mundo dele, mas escondi a
ameaça de um possível processo. Então, era normal que achasse tudo aquilo
uma grande bobagem.
Ainda assim, entrava em meu quarto várias vezes por dia para ver se
estava tudo bem ou se eu precisava de alguma coisa.
Sempre que ela aparecia eu tentava me fazer de forte, mas mamãe sabia
o quanto estava sofrendo e eu sabia que isso a fazia se lembrar do passado.
Tanto que se ofereceu para falar com Thomas, mas fui categórica em
minha negativa. Se quisesse esquecê-lo, não poderia ficar me encontrando
com ele.
Isso me fez lembrar da empresa. Não tinha certeza se continuaria no
estágio, por isso pedi que mamãe ligasse no Recursos Humanos e apenas
avisasse que eu não estava muito bem, mas que na segunda-feira retornaria.
Até lá, teria decidido o que fazer.
Isso também dependeria de Thomas. Não queria vê-lo tão cedo e o fato
de ele ter tentado entrar em contato algumas vezes, depois que eu saíra de sua
casa, não ajudava em minhas resoluções.
Eu, é claro, não atendi nem respondi suas mensagens e ele não voltou a
tentar. Imaginei que tivesse resolvido me dar o espaço que pedi ou talvez — e
não queria acreditar nisso — tenha ficado ocupado com Donald e seus
amigos.
Resolvi não ficar pensando nisso para não começar a chorar
novamente.
No meio da tarde, mesmo após ter afirmado para mamãe que estava
bem, recebi a visita de minha antiga psicóloga.
Depois de ter passado por alguns psiquiatras após meu surto, foi Louise
Stone quem descobriu o que afligia meu interior e realmente me ajudou a me
entender e superar os problemas de insegurança que me levaram a agir de
maneira tão imprudente.
Foi ela também que, mesmo tendo sido namorada de Tom quando os
dois estudavam em Oxford, disse à minha mãe o quanto ele era incrível, o
que facilitou muito a minha vida.
Entretanto, embora eu a considerasse uma amiga, não sabia se me
sentiria à vontade para conversar a respeito dele. Mas faria o possível. Para
minha mãe pedir à Deusa do Amor que fosse ao nosso apartamento, era
porque estava preocupada e a última coisa que queria era deixá-la assim.
— Posso entrar? — perguntou Louise, colocando metade do corpo para
dentro do meu quarto.
— Pode, claro.
Meu Deus, mais de um ano havia se passado desde que a vira pela
última vez e ela continuava sendo uma das mulheres mais bonitas e elegantes
que já havia conhecido na vida. Era uma vergonha recebê-la parecendo um
caco.
Lou se aproximou da minha cama, puxou uma cadeira e se sentou,
graciosamente, com as belas pernas cruzadas.
— Jenna me falou que você e Thomas terminaram.
— É verdade, mas eu já disse que estou bem.
— Ela está preocupada mesmo assim — falou, dando de ombros.
— Eu sei, mas dessa vez é diferente. Não me sinto rejeitada, sabe,
talvez porque fui eu quem pediu um tempo.
Louise arregalou os olhos e se inclinou para frente.
— Você terminou com Thomas? — perguntou, incrédula.
— Sim.
Ela me encarou com um olhar curioso e depois falou:
— Bom, se quiser se abrir comigo, como amiga, podemos avaliar tudo
depois.
Eu não me sentia completamente à vontade, mas dadas as
circunstâncias, decidi que uma opinião profissional sobre o que estava
acontecendo em minha vida seria bom.
— Nosso relacionamento estava maravilhoso até Thomas ficar meio
obcecado por um negócio que pode levar a Ward Corporation a outro nível,
aqui na América. Como eu não podia passar minha existência sem
experimentar na pele um daqueles clichês que fazem sucesso, encontrei na
universidade a minha própria Regina George. Megan Wilson é o que há de
pior: rica, mimada, petulante, preconceituosa e arrogante.
— Parece um verdadeiro doce — Lou comentou, sarcástica.
— Então, para agravar a minha sina, descubro que o empresário com
quem Tom quer fechar negócio era pai de Megan. O parentesco em si não
teria feito diferença em minha vida se não fosse o fato de, repentinamente, o
número de eventos aos quais íamos não tivesse aumentado e eu começasse a
encontrá-la em praticamente todos os lugares, o que apenas aumentou a
frequência do bullying que se iniciou em Columbia.
— Minha nossa, Lacey, como lidou com ela?
— Eu ignorava seus insultos, porque se não o fizesse, seria tachada de
invejosa e mal-educada já que, para Tom e seu pai, a cobra havia mentido e
dito que tínhamos um ótimo relacionamento na universidade, além de
aproveitar todas as oportunidades para me elogiar, como se realmente
fôssemos boas amigas.
— Vadia! — disse Louise e ambas rimos.
— Sim, e você não sabe do pior. Megan vasculhou meu passado e
começou a me jogar na cara tudo o que aconteceu na época do Jace. Levando
em conta a quantidade enorme de eventos nos quais a encontrei, dá para
imaginar quantas provocações eu tive que engolir para não prejudicar as
negociações de Tom.
— E Thomas nisso tudo, você não falou para ele?
— Não no início. Pode parecer besteira, mas não queria que ele fosse
me defender, sabe, queria eu mesma lutar minhas batalhas.
— É compreensível.
— Mas as coisas começaram a ficar insuportáveis para mim e, quando
contei tudo, ele acabou minimizando as coisas, afinal, Tom não via nada. Na
sua frente Megan era um doce. Quando continuei reclamando, ele pediu que
eu tivesse calma, porque tudo aquilo estava acabando e nossa vida voltaria ao
normal.
— Homens.
— Pois é — falei, triste.
— Foi por isso que terminou com ele?
Fiz que não com a cabeça.
— Como se já não bastasse a Megan, ainda tive que lidar com a mãe e
a ex-esposa de Tom.
Louise arqueou uma sobrancelha e me encarou com mais seriedade.
— Essa foi uma de minhas apreensões quando me ligou contando que
estava iniciando algo com Thomas.
— Você as conhece? — perguntei.
— Não pessoalmente, mas foi por causa da mãe dele que Thomas
rompeu comigo no passado. Depois eu fiquei sabendo que Cybele e meu pai
namoraram quando jovens e que, anos depois, voltou querendo reatar, mas
ele preferiu minha mãe e sua sogra aprontou poucas e boas. Então, quando o
filho comunicou que estava namorando comigo, Cybele disse que jamais me
aceitaria na família e Tom, submisso e carente como era, apenas acatou e
terminou o que tínhamos, se é que podemos dizer assim. De certa forma, eu a
agradeço. Cybele fez muito mal aos meus pais e, se tivéssemos continuado,
teria sido um desastre. Imagine como teria sido se eu aparecesse com o filho
dela em um almoço de domingo; minha família morreria de desgosto —
Louise zombou da própria desgraça, já eu, estava atônita por saber que
Harvey Stone já havia namorado a mãe de Tom.
Que confusão!
— Antes de eu conhecê-la, Cybele havia tentado se redimir. Ela disse
que tinha revisto sua vida e se arrependido muito da forma como agiu e pediu
uma segunda chance.
— Tudo o que conheço sobre ela foi o que escutei de Thomas e dos
meus pais, então não a conheço, mas sei que as pessoas podem realmente
mudar.
— É, bem, ela me tratou muito bem, mas, sei lá, não consigo confiar
completamente nela — comentei.
— Nosso sexto sentido pode ser um aliado muito poderoso nesses casos
e se o seu está apitando, preste atenção nele.
Era o que eu faria.
— E quanto a Natalie? — Lou perguntou.
— Ela é bem misteriosa, meio artificial e transformou minha primeira
visita a Londres em um inferno.
— Sua mãe me contou um pouco do que aconteceu. Quer falar sobre
isso?
Dei de ombros e comecei a contar:
— Era aniversário de Cybele. Em dado momento, vi Thomas
conversando com a ex no escritório. Deu para perceber que era Natalie quem
estava forçando a barra, enquanto ele permanecia na defensiva. Estava tudo
bem até ela beijá-lo... Meu Deus, Louise, foi como se estivesse vendo
vermelho e, sem pensar, eu a empurrei para longe. — Suspirei, lembrar
daquilo ainda me causava mal-estar. — Juro que não tive a intenção de
machucá-la, só que ela se desequilibrou e bateu a cabeça. Depois disso, virou
um pandemônio.
— Posso imaginar — comentou e continuou me avaliando. — Você
sabe que agiu errado ao empurrá-la, certo?
Assenti e estralei os dedos das mãos em um gesto nervoso.
— Sim, eu sei, mas juro que foi diferente das outras vezes, quando
ataquei com o intuito de machucar. Não havia maldade ali, nem desejo de
vingança, só queria que ela saísse de perto dele.
— É bom que tenha essa consciência.
— Tudo isso ocorreu porque eu cheguei ao meu limite. Tom só falava
em Donald ou Cybele e comecei a me sentir sufocada. Com isso, nossa
relação foi ficando desgastada... Nem os momentos em que estávamos juntos,
focados apenas em nós, foram suficientes para salvar nosso namoro.
— O que percebi foi que Tom quis te incluir em seus negócios e isso é
supernormal para empresários megalomaníacos como ele, meu pai e meu
marido, Tony. Todos eles adoram estar com suas mulheres nesse tipo de
evento, no entanto, acho que ele passou um pouco do ponto.
— Sim, e tem a mãe dele e a boa relação que ela ainda cultiva com
Natalie. Continuo em dúvida a respeito de suas atitudes. Algo me diz que
tudo faz parte de um teatro apenas para conseguir a confiança do filho.
— Relações familiares são complicadas mesmo.
— Eu sei. Tom esperou pela aprovação dela a vida inteira, e agora que
estão se entendendo, não tenho coragem de falar algo que vai desanimá-lo,
até porque ela não fez nada. Exceto por um comentário ou outro que me
desagradou, Cybele foi ótima do início ao fim. — Dei de ombros. — Mas
ainda assim, tenho minhas desconfianças.
— Isso é bom, não abaixe a guarda até ter certeza. Mesmo depois,
permaneça ligada.
Balancei a cabeça. Era o que pretendia fazer.
— Quanto a esse negócio, acredito que Thomas vai acabar reavaliando
toda a situação. Ele é um homem rico, um empresário bem conceituado, não
precisa ficar mendigando sociedade com ninguém. Mais cedo ou mais tarde
vai cair na real e perceber que há outras opções que não prejudiquem sua vida
pessoal.
Eu rezava para que ela estivesse certa, pois não voltaria para Thomas
enquanto estivesse cego por aquelas pessoas. Ele poderia estar achando que
era implicância minha, mas sabia o quanto conviver com Megan me fazia
mal.
Louise fez mais algumas perguntas e eu aproveitei aquele momento
para desabafar e isso me fez muito bem.
— Vendo toda a situação de fora, acho que você fez a coisa certa. —
Fiquei feliz por ela ter entendido e me dado razão nessa questão. — E acho
que você e Thomas ainda vão se acertar, mas esse tempo separados pode ser
bom para os dois refletirem.
— Estou me sentindo péssima. Só de pensar nele sinto vontade de
chorar, por outro lado, existe um alívio por não ter que conviver com pessoas
que me faziam tão mal... Bem no fundo, também sinto que nossa situação não
é definitiva, sabe? Tom sempre me passou muita segurança em relação aos
seus sentimentos por mim, mas eu entendi que esse tempo será importante
para nós.
— Você está certíssima, não entenda isso como algo definitivo e não se
entregue à tristeza. Quando um rompimento acontece, as pessoas tendem a
querer anestesiar o sofrimento e a melhor forma de fazer isso é saindo,
bebendo, ficando com outras pessoas... Mas nem sempre isso é o ideal. A
maioria acaba se arrependendo das atitudes impensadas, seja por causa da
ressaca que aparece no dia seguinte, seja por ter ficado com alguém que não
queria apenas para tentar esquecer.
— Eu entendo — afirmei.
— Não estou falando que não deve fazer nada disso. Você teve apenas
dois namorados e ambos ficaram com você por um bom tempo. Se pensarmos
bem, mesmo aos 20 anos, não viveu muita coisa e é normal que queira sair
com seus amigos. Peço apenas que tome cuidado para não se perder. Meu
conselho é que tente manter uma rotina saudável, vai querer estar bem para
quando essa separação acabar.
Eu adorava aquele seu lado otimista, como se todas as situações
bizarras das nossas vidas pudessem ser transformadas com um pouco de
calma e bom senso.
— Estou tão orgulhosa de você, Lacey, essa conversa serviu para
perceber o quanto cresceu e evoluiu desde que foi se consultar comigo pela
primeira vez.
— Obrigada, não sabe como é importante escutar isso de você.
Ela sorriu e apertou minha mão.
— Que tal uma fatia de bolo e um café para animar esta tarde? —
mamãe sugeriu, de repente, entrando no quarto, mas alguma coisa me dizia
que ela estava no corredor escutando nossa conversa.
— Eu topo — falei, me levantando da cama, e fomos todas para a
cozinha.
Louise lanchou conosco e conversamos por mais um tempo a respeito
da minha vida, da evolução que tive naquele último ano.
Segundo ela, estava certa em não aceitar um relacionamento pela
metade e falou que, se algum dia reatássemos, as coisas teriam que ser
diferentes. Garantiu que não seria perfeito, mas disse que eu precisava me
sentir feliz na maior parte do tempo, coisa que não vinha acontecendo.
Então, deu mais alguns conselhos sobre como agir naquela semana pós-
término e algumas dicas para não cair nas armadilhas que minha mente
poderia criar.
Também me indicou livros. Falou que eu deveria sair do quarto e
passar mais tempo com meus amigos, mesmo que não tivesse vontade. Se
não fizesse isso acabaria me afundando na depressão novamente, embora
achasse que isso não iria acontecer.
Foi tão bom expor a ela tudo o que estava acontecendo em minha vida
e depois sentir sua aprovação em cada uma de minhas decisões.
Obviamente ela não achou legal o que fiz com Megan naquele jantar,
muito menos o empurrão em Natalie, mas entendeu que o que antecedeu as
duas situações me levou a fazer aquilo, no entanto, prometi que iria trabalhar
essa fúria dentro de mim.
Quando ela se foi, sentia-me um pouco mais preparada para encarar
uma vida na qual eu não tinha mais Thomas Ward como namorado e usaria o
meu domingo para me acostumar com isso.
Meu primeiro fim de semana com status de solteira foi permeado por
momentos difíceis. Eu me obriguei a sair da cama e tive que reprimir a
vontade de chorar por incontáveis vezes.
Sempre que me lembrava de Tom ou da nossa última briga, sentia que
não aguentaria, mas aí recordava todos os motivos que tinham me levado a
tomar aquela decisão e acabava me acalmando.
A visita de Louise também ajudou. Depois de conversar com ela,
coloquei tudo sob outra perspectiva e foi mais fácil aceitar minha nova
realidade.
Ao chegar à universidade, embora não pretendesse esconder a situação,
fiz o meu melhor para não deixar transparecer o quanto estava sofrendo. Mas
Amanda me conhecia e, assim que me viu, soube que havia algo errado.
Em um primeiro momento, depois que lhe contei tudo, achei que minha
amiga fosse dizer que eu deveria ter pensado melhor antes de agir, mas ela
estava acompanhando todo meu drama de perto, então, a única coisa que fez
foi me abraçar e falar que estava ao meu lado para o que eu precisasse.
Ainda estávamos abraçadas quando Brad se aproximou, com o cenho
franzido em confusão.
— Perdi alguma coisa? — inquiriu ele, sentando-se ao meu lado.
— Nada muito importante, eu apenas entrei para o clube das solteiras
de Nova York e vocês terão que aguentar meu mau humor por alguns dias.
Brad passou um braço pelos meus ombros e me puxou para um abraço.
— Pode contar comigo para o que precisar.
Sorri e o abracei de volta.
— Obrigada — agradeci.
— Sexta vou fazer uma social na minha casa. Se estiverem a fim, serão
bem-vindas.
Ele continuou me olhando e ajeitando meus cabelos para trás dos
ombros.
— Eu acho meio cedo para ir a festas, sem contar que não estou
animada para nada — falei, sem graça, e desviei o olhar para o chão. Não
queria receber nenhum de seus olhares intensos.
— Mais um motivo para irmos. Se você ficar em casa pensando nele,
nunca sairá dessa fossa — Amanda afirmou.
— Vamos ver como vai estar o meu humor até lá.
Como ainda tínhamos mais um tempinho antes da aula, contei a
respeito de minha briga com Megan.
— Eu não acredito que fez isso — Amanda disse, aos risos.
— Aquela cobra conseguiu me tirar dos trilhos. Depois dessa, ou ela
para de me infernizar ou vai me pegar para Cristo com vontade. Mas nem
estou preocupada com isso. O problema é que Thomas e o pai dela viram
apenas essa parte, nenhum deles sabe que, para perder a cabeça, eu já estava
em meu limite devido às suas provocações.
— Pelo que vocês me falaram, acho que você ainda demorou a agir —
Brad apoiou.
Aquilo me deixou feliz, por ter com quem contar, e triste ao mesmo
tempo. Em meu íntimo, era esse o tipo de atitude que eu esperava de Thomas.
Em contrapartida, estava ciente de que ele não sabia o quão maléfica ela
poderia ser, simplesmente porque não me abri.
Tudo o que ele sabia era que eu tinha um longo histórico de distúrbio
psicológico, incluindo agressão, tentativa de suicídio e depressão severa.
Meu silêncio apenas o induziu a acreditar na vitimização de Megan e
nas mentiras que ela deveria ter inventado ao pai para justificar meu
comportamento.
Só que não adiantava chorar pelo leite derramado. Eu havia tomado
uma decisão e precisava seguir adiante, para isso, aproveitaria a companhia
dos meus amigos a fim de que aquela primeira fase fosse mais fácil.
Amanda e Brad, por exemplo, foram primordiais naquela manhã para
que eu não ficasse me martirizando, mas quando as aulas acabaram e segui
para empresa, fiquei com o coração apertado apenas por saber que estaríamos
no mesmo prédio.
Assim que cheguei, fui direto ao RH para falar sobre minha ausência na
sexta-feira. Por sorte, não tinha nenhuma falta e a conversa foi rápida. Tinha
a impressão de que havia sido tranquilo assim porque eles ainda pensavam
que era a namorada do chefe, e não seria eu quem contaria a novidade.
Ao sair de lá fui direto para a minha mesa e comecei a trabalhar.
Por várias vezes pensei se seria prudente continuar meu estágio e decidi
que iria permanecer ali enquanto me fizesse bem. Caso sua presença
começasse a me incomodar, ou vice-versa, eu pediria o desligamento.
Em certo momento da tarde olhei para as câmeras que ficavam no
andar e imaginei se ele ainda me observava por meio delas, mas logo voltei a
trabalhar.
Quase no final do expediente Abby foi à minha mesa para perguntar se
eu estava bem. Também quis saber se poderia contar comigo para continuar
no projeto que estávamos desenvolvendo e, quando lhe disse que sim, ela
pareceu nitidamente satisfeita.
O restante do tempo pareceu se arrastar e, diferente dos outros dias, fiz
de tudo para terminar minhas atividades no tempo correto, pois não tinha
nenhuma vontade de ficar depois do horário.
Graças a Deus, não encontrei Thomas nem no elevador e nem no
térreo, mas me deparei com Joly. Ela estava conversando com uma amiga na
calçada, mas acenou assim que me viu, indicando que eu a esperasse.
— Ei, estava querendo falar com você — disse ela ao me abraçar.
— Espero que seja coisa boa — brinquei e olhei a hora no relógio.
— Na verdade, queria perguntar se está tudo bem com você e o todo-
poderoso.
Embora fosse um pouco bisbilhoteira, Joly era uma amiga leal e sua
pergunta me deixou curiosa. Será que Thomas havia comentado com alguém
que tínhamos terminado?
— Por que fez essa pergunta?
— Lembra que haverá um jantar para o pessoal do andar? Bom, a
princípio seria apenas para os funcionários, mas depois resolveram abrir
exceção para levarem um acompanhante. Bom, uma das meninas que está
organizando esteve no andar hoje e comentou com a secretária de Emma que
era provável que o Sr. Ward fosse sozinho.
Eu me lembrava de ele ter comentado sobre aquele jantar, lembrava
também que lhe dissera que o acompanharia. Bom, pelo visto, já havia se
conformado com o nosso término. Melhor assim.
— Nós terminamos — falei, dando de ombros, e ela arregalou os olhos.
— Sério? Sinto muito, amiga, você está bem?
— Estou triste, é claro, todo término é doloroso e esse não seria
diferente, mas acho que estou lidando muito melhor do que imaginei e vou
ficar bem.
— Tenho certeza que sim, e eu estarei aqui caso precise de um ombro
amigo — disse, apertando minha mão em sinal de apoio.
— Obrigada, querida, mas estou bem.
— Nossa, eu queria ter essa sua frieza. Acho que surtaria se terminasse
com um deus daqueles, especialmente se estivesse apaixonada, como sei que
é o seu caso.
Sorri e mais uma vez dei de ombros.
— Como falei, estou triste e chorei muito no fim de semana, mas
cheguei à conclusão de que não adianta me desgastar. Em vez disso, resolvi
seguir minha vida, focar no que é importante, no que me faz feliz, porque a
verdade é que eu não estava verdadeiramente satisfeita com o rumo que o
nosso relacionamento tomou nas últimas semanas. Você sabe de muito do
que aconteceu.
— Sim, mas ainda assim, estou impressionada com sua maturidade.
— Eu sofri demais no meu último relacionamento, acho que está na
hora de pensar em mim, então, se quiser marcar aquele cinema que sugeriu
mais de um mês atrás, estou disponível.
Joly me abraçou pelos ombros e ambas sorrimos.
Eu a chamei para tomarmos um café e fomos andando até uma
Starbucks que havia ali perto.
Durante o pequeno trajeto, por mais de uma vez tive a sensação de
estarmos sendo observadas, mas sempre que me virava para trás ou procurava
ao redor, não via nada suspeito e imaginei que todo o estresse dos últimos
dias poderia estar criando uma certa paranoia em minha cabeça.
Quando, por fim, cheguei ao meu apartamento, fiquei um pouco
ansiosa para saber se mamãe iria comentar alguma coisa relativa a Tom. No
dia anterior eu havia deixado claro que não queria falar dele, mas podia
apostar que os dois estavam mantendo contato.
Ao falar com ela, fiz o meu melhor para disfarçar minha tristeza.
— Fiz uma lasanha maravilhosa, deve ficar pronta em alguns minutos
— avisou, animada.
Toda aquela situação havia me deixado completamente sem apetite. Eu
só havia tomado uma vitamina no almoço e, à tarde, chupei balas de menta,
além de vários copos de café puro, então, ao saber que teríamos lasanha, meu
estômago reclamou.
— Estou faminta. Vou tomar um banho e já volto.
Segui para o meu quarto e tomei o cuidado de deixar a porta do
banheiro aberta para que minha mãe não ficasse preocupada.
Queria passar por aquilo sem deixá-la paranoica, morrendo de medo de
eu cometer uma besteira a qualquer momento.
Acabei demorando mais do que previra e, quando saí do banheiro,
mamãe estava em meu quarto, guardando algumas roupas.
Vesti meu pijama e me sentei na penteadeira. No segundo seguinte ela
estava atrás de mim, tirando a escova da minha mão.
Ela me encarou através do espelho, sorrindo, e começou a pentear meus
longos cabelos.
— Você parece bem — comentou, desembaraçando os fios.
— Estou sentindo muito a falta dele, mas desta vez é diferente, como se
estivesse mais preparada para passar por este término. Apesar de triste,
depois de todas as coisas ruins que aconteceram, eu me sinto aliviada por não
ter mais que encontrar aquelas pessoas. É nisso que estou me apegando para
manter minha decisão e minha sanidade.
— Estou tão orgulhosa! Como já disse inúmeras vezes, você só deve
ficar em um relacionamento que te faça feliz, só tinha receio de como iria
reagir nessas situações. Estou triste pelo término de vocês, mas orgulhosa por
você estar administrando tão bem seu emocional.
Minha mãe tinha sofrido e se anulado por tempo demais devido aos
meus problemas psicológicos, então, uma de minhas metas era passar por isso
sem deixá-la preocupada.
Ainda me sentia culpada por ter sido uma filha tão egoísta no passado.
Claro que naquela época eu não tinha nem idade nem experiência
suficiente para combater a depressão e suas consequências, mas isso não me
fazia sentir menos mal por saber o quanto fiz minha mãe sofrer.
— Vai ficar tudo bem — garanti, para deixá-la ainda mais tranquila —,
mas agora eu preciso comer porque tenho um monte de coisa para estudar e
um trabalho para terminar.
Ela deu um beijo em minha cabeça e seguimos para a cozinha.
Mamãe foi tirar a carne do forno e eu fui pegar um refrigerante na
geladeira, afinal, não daria para beber vinho, do contrário não conseguiria
fazer tudo que precisava.
Enquanto jantávamos, ela parecia muito mais feliz do que esteve
durante todo o fim de semana e isso se devia ao meu estado de espírito.
Apesar dos episódios descontrolados que protagonizei, eu pretendia
ser forte e passar por aquele mar de sofrimento sem afetar a vida dela, mesmo
que a saudade de Tom estivesse me matando por dentro.
Lacey estava bem. Triste, mas bem, seguindo sua rotina de
universidade e trabalho, como uma forma de ocupar a cabeça.
Eu sabia disso porque mantive contato diário com Jenna; estava
preocupado com o estado emocional de Lacey. E como ela não me atendeu e
nem retornou as mensagens, preferi esperar até que sua raiva passasse.
Em minha cabeça, estávamos apenas dando uma pausa em nosso
relacionamento para que ela colocasse as ideias no lugar.
Isso não queria dizer que simplesmente me esqueceria dela, ainda mais
após Jenna ter me confidenciado que Lacey havia comentado que estava
tendo a sensação de estar sendo seguida. Ela acreditava que fosse coisa de
sua cabeça, devido ao estresse dos últimos dias, mas tanto eu quanto Jenna
tínhamos certeza de que não havia motivos para ela ter aquele tipo de
percepção, então, depois de muito pensar, resolvi contratar um guarda-costas
para tomar conta dela enquanto estivesse na rua.
Poderia parecer um tanto exagerado de minha parte, mas toda aquela
distância me incomodava profundamente e eu precisava, ao menos, me
certificar de que ela estava bem.
Jenna concordou com a minha decisão e, mais que depressa, eu entrei
em contato com Sam, um agente treinado que já havia trabalhado comigo em
Londres. Ele era de minha inteira confiança e seria sua sombra pelos
próximos dias.
Ambos também concordamos em não falar nada para Lacey, uma vez
que ela, certamente, acharia um exagero ou mesmo uma intromissão de
minha parte.
Mas não era nada disso. Nas últimas semanas nós estivemos bastante
em evidência devido ao grande número de aparições em público, juntando
isso ao fato de eu ser um empresário conhecido, pensei que poderia, sim, ter
alguma pessoa mal intencionada a rondando. Havia todo tipo de gente de
olho nas pessoas públicas e não dava para saber o que se passava na cabeça
delas.
Ainda bem que Lacey quis continuar trabalhando. Eu jamais a demitiria
por causa do nosso desentendimento, na verdade, para mim, seria ótimo
poder vê-la nem que fosse pelas câmeras durante o expediente. Aquilo
amenizava um pouco a saudade, mas não os problemas.
No dia seguinte ao ocorrido, liguei para Donald e me desculpei mais
uma vez, todavia, afirmei que Lacey não teria feito aquilo se não tivesse sido
provocada. Ele não teceu comentários e me surpreendeu mais ainda ao dizer
que não deveríamos misturar as coisas.
Concordei imediatamente. Quanto antes finalizássemos aquela
negociação, antes eu me veria livre de tantos compromissos, já que após
assinar os contratos, outras pessoas que compunham meu staff assumiriam e
estava ansioso para isso.
Queria que o tempo passasse logo, mas infelizmente a semana se
arrastou lentamente e eu tive que controlar minha vontade de ir atrás de
Lacey. O que amenizava um pouco minha ansiedade era conversar com Jenna
e Sam, que me informavam sobre todos os passos dela.
As conversas com Jenna me deixavam esperançoso de que muito em
breve tudo se resolveria entre nós. Ela pensava o mesmo, tinha certeza de que
esse tempo seria bom para Lacey aprender a lidar com seus sentimentos.
Os relatórios de Sam eram mais concisos e apenas relatavam seus
passos. Ela continuava indo para a universidade e fazendo o mesmo caminho
diariamente, nada suspeito.
Naquela primeira semana a única coisa de diferente havia sido há três
dias, quando ela foi ao Central Park no final da tarde para correr juntamente
com duas amigas.
Ouvir isso me fez lembrar do início da nossa amizade. Foi durante
aquelas corridas que nos conhecemos melhor, flertamos e descobrimos que
poderíamos ser mais do que simples amigos.
Foi inevitável sentir saudades daquele tempo e da pouca interferência
externa que tínhamos em nossas vidas.
Balancei a cabeça para dissipar os pensamentos que apenas me faziam
sofrer e decidi ir para casa me preparar para o compromisso daquela noite.
Nos últimos dias eu tinha ficado até tarde no escritório para não ter que
enfrentar a solidão da minha cobertura por muito tempo. Lacey não dormia
comigo todos os dias, mas sua presença continuava lá. Saber que nem tão
cedo a veria ali, cantarolando ou assistindo aos seus documentários
preferidos, tornou o ato de estar em casa doloroso.
Depois de arrumado, segui para o restaurante onde aconteceria o tão
esperado jantar dos setores jurídico e contábil.
A princípio Lacey me acompanharia, mas, como isso não seria mais
possível, tirei seu nome da lista. Iria sozinho.
O jantar aconteceria em um restaurante renomado de Manhattan, onde
havia um rooftop que seria fechado para o evento, visando a privacidade de
todos.
Quando lá cheguei os funcionários já estavam acomodados às mesas
dispostas no terraço. A grande maioria estava acompanhada por seus
cônjuges ou namorados.
Entre os poucos solteiros estavam Joly, a amiga de Lacey, e Emma
Sanders, a advogada chefe do setor jurídico que ficara no lugar de Owen
Elliot.
Estar em um jantar numa sexta-feira, sem minha garota ao meu lado,
era totalmente novo para mim. Eu já estava acostumado com sua companhia,
com os sorrisos e a mão que sempre ficava descansada sobre minha coxa,
acariciando e me deixando maluco.
Aquelas lembranças me faziam sofrer. Não estava preparado para viver
sem ela e não sabia se isso aconteceria.
Foi impossível não me questionar o que ela teria planejado para aquela
sexta-feira. Se eu não estivesse ali, estaria em casa ou em uma reunião de
negócios, que geralmente acontecia em bares e restaurantes frequentados pela
alta cúpula de empresários da cidade, muito diferentes dos lugares aos quais
os amigos de Lacey deveriam frequentar, então, as chances de esbarrar com
ela por aí eram quase nulas.
— Fiquei sabendo que sua namorada não viria — Emma comentou,
curiosa.
— É verdade — limitei-me a dizer. Não abriria assuntos pessoais com
uma funcionária, ainda mais sabendo há algum tempo que ela demonstrava
certo interesse por mim.
Não que Emma já tivesse avançado o sinal, mas peguei certos
comentários e olhares que demonstravam sua disposição em ter algo caso eu
lhe desse abertura.
Um homem em minha posição precisava aprender a enxergar quando
uma mulher estava interessada. Devido a isso eu sabia que boa parte das
funcionárias, inclusive algumas comprometidas, não faziam muita questão de
disfarçar a atração que sentiam, fosse por mim, pelo meu dinheiro ou pelo
status.
Quando a notícia do meu término se espalhasse eu teria que aguentar
algumas investidas e isso me irritava por antecipação.
Durante o jantar fiz o máximo possível para me concentrar nos assuntos
abordados na mesa a qual fui direcionado, a rir das piadas que alguns
tentavam fazer e, se fosse sincero, diria que a noite estava sendo agradável.
Eu gostava daquele espírito de confraternização entre os funcionários.
Aprendi com meu pai que um funcionário feliz e agradecido produzia
muito mais, então, mantive essa filosofia após o falecimento dele, mas
sempre mantendo certo distanciamento.
Distanciamento este que estendia aos meus diretores também. Claro
que eles eram mais próximos; eu não conseguiria um feedback autêntico se
não lhes desse certa intimidade, mas isso não queria dizer que podiam se
meter em minha vida, como havia acontecido com Emma no decorrer da
noite.
Ela estava curiosa com a ausência de Lacey e tentou, de forma não
muito discreta, descobrir se estava solteiro novamente. Eu sabia que o fato de
ela não me acompanhar suscitaria especulações, mas não estava disposto a
tocar no assunto, e para não ser grosseiro, apenas desconversei.
Pouco antes de 23h recebi uma mensagem de Sam informando que
Lacey havia saído de casa.
Achei estranho que ela saísse tão pouco tempo após nossa separação,
mas antes de tirar conclusões precipitadas, fiz algumas perguntas e ele me
disse que ela estava na companhia de uma amiga.
Aquilo me deixou um pouco mais aliviado, mas não contente. Todavia,
não tinha o que fazer, então, apenas pedi para que cuidasse dela.
Depois daquela, resolvi me despedir do pessoal e ir para casa.
Assim que cheguei do lado de fora e pedi ao manobrista que buscasse
meu carro, Emma surgiu ao meu lado.
— Também vou encerrar a noite, tenho uma reunião com Abby amanhã
— falou quando a olhei.
— Reunião em pleno sábado? — questionei.
— Sim, ela está trabalhando em um projeto com os estagiários. Eles se
reúnem a cada quinze dias, e como eu tinha algumas coisas para resolver no
escritório amanhã, decidimos nos encontrar para poupar tempo.
Aquela informação foi muito valiosa. Eu havia me esquecido de que
Lacey estava envolvida nesse projeto e que naquele sábado estaria na
empresa.
— Entendi. Boa reunião para vocês e tenha uma boa-noite — falei, à
guisa de despedida, e fui em direção ao meu carro, que havia acabado de
estacionar.
Percebi que Emma ficou desapontada por eu ter encerrado a conversa
tão rápido, mas de forma alguma lhe daria esperança, não apenas porque
ainda estava emocionalmente envolvido com Lacey, mas porque não
pretendia me envolver com outra funcionária. Aquilo nunca havia acontecido
antes dela e não pretendia repetir.
Quando cheguei à cobertura entrei em contato com Sam, que me
informou que ela havia entrado em um prédio próximo ao Central Park e
ficaria lhe esperando do lado de fora.
Fiquei aliviado por saber que tinha alguém cuidando da segurança dela,
mas curioso para saber a quem pertencia o apartamento onde ela e suas
amigas estavam.
Inquieto, fui até o bar e me servi uma generosa dose de uísque.
Minutos depois, já um pouco entorpecido pelo álcool, segui um
impulso e entrei em sua rede social de fotos, mas não havia nenhuma nova.
Há vários dias que Lacey não postava nada.
Rolei a tela e olhei as fotos antigas como uma forma de matar um
pouco da saudade que estava sentindo.
Então, contrariando ainda mais o bom senso que um homem de minha
idade deveria possuir, tive a péssima ideia de ir aos seus contatos e procurar
por Brad.
Antes não o tivesse feito.
Foi um baque ver a foto que ele havia postado há alguns minutos, com
Lacey ao seu lado.
Na foto havia outras pessoas, o que me fez pensar que poderia ser uma
festa de universidade, mas a possibilidade não aplacou a fúria que senti.
Vê-la tão perto dele me incomodou profundamente.
O maldito deveria estar louco para consolar a amiga que acabara de se
separar.
Aquele pensamento me encheu de ódio e um ciúme descomunal,
sentimentos que há muito tempo eu não experimentava.
Observei melhor o rosto de Lacey e isso acabou me acalmando um
pouco. Seu sorriso, embora lindo, estava triste.
Eu sabia que era horrível pensar assim, mas meu lado egoísta gostou de
saber que, mesmo estando rodeada de amigos, seus pensamentos poderiam
estar em mim. Aquilo renovou minhas esperanças de que tudo se resolveria.
Não tinha ideia de quanto tempo fiquei olhando para aquela foto,
fazendo de tudo para que o ciúme não me cegasse, afinal de contas, sempre
fui um homem controlado.
Isso não queria dizer que eu deveria ficar impassível, apenas esperando
o que iria acontecer. Pelo contrário. Precisava traçar um plano de ação, antes
que ela começasse a gostar dessa vida de festas e saídas.
Talvez, se Lacey fosse do tipo baladeira, eu me preocupasse com a
possibilidade de podá-la, só que não era o caso. Alguma coisa me dizia que
estava fazendo aquilo para não entrar no mesmo ciclo depressivo em que
esteve uma vez.
Enquanto estivemos juntos, deixei claro que ela estava livre para fazer
o que quisesse, mas Lacey sempre preferiu estar comigo, eu sabia por
experiência própria que isso não a levaria a lugar algum e apenas a afastaria
de mim.
Eu acordei mais cedo do que precisava, com uma ressaca horrível,
totalmente arrependida de ter ido à festa de Brad e sem nenhuma vontade de
me levantar da cama para ir me reunir com Abby e os outros estagiários lá na
empresa.
Mesmo tendo sido uma social boba, para comemorar nossas boas notas
na última prova, eu me senti mal por estar lá. Fazia menos de uma semana
que tinha rompido com Thomas e, se fosse o contrário, eu teria odiado com
todas as minhas forças.
E aquele era o problema. Eu estava lá, mas minha cabeça só pensava
nele e no que deveria estar fazendo em plena sexta-feira.
Amanda tentou me animar e até me fez beber alguns drinks, mas eu
estava tão fechada que nem a bebida fez efeito, exceto pela dor de cabeça que
estava sentindo naquele momento.
Ainda assim, fiz meu melhor para aguentar firme até às 2h da manhã,
quando me despedi do pessoal e fui embora.
Amanda quis me acompanhar, mas ela estava tão animada que não quis
estragar sua noite. Também não aceitei a carona que Brad me ofereceu.
Mesmo ciente de que Thomas não ficaria sabendo, preferi manter
distância. Principalmente porque também desconfiava que meu amigo tivesse
outras intenções, por isso achei melhor não lhe dar abertura para qualquer
tipo de investida.
Na verdade, se não fosse pela falta que estava sentindo de Tom e a
terrível iminência de não estar com ele numa sexta à noite, não teria aceitado
ir àquela festa.
Só de pensar tinha vontade de chorar.
Para que isso não acontecesse o tempo todo, dei um jeito de preencher
meu tempo para não ficar pensando nele ou na falta que sentia das nossas
conversas, dos seus beijos, da forma como me abraçava quando íamos
dormir...
Por várias vezes eu quase sucumbi à vontade de, ao menos, falar com
ele, mas sempre que pensava em ligar ou responder suas mensagens, as
lembranças dos motivos que me fizeram terminar surgiam como um letreiro
em minha cabeça.
Imagens de Megan, Donald, Cybele e Natalie preenchiam todos os
campos da minha mente e eu só conseguia imaginar as manchetes que
estariam ilustrando as principais revistas e canais sensacionalistas, caso fosse
processada por agressão, e em como mamãe ficaria arrasada.
Foi por isso que, quando Cybele ligou para me deixar a par do que
havia conversado com Natalie, eu avisei que havia terminado com Tom e lhe
dei aval para passar a informação adiante.
Ela ficou alguns segundos calada, mas logo depois disse que estava
triste por nós, embora achasse que, por hora, era o melhor a fazer, pois
obrigaria Natalie a repensar suas intenções.
Eu concordei, mas essa pressão apenas me fez querer ficar longe de
Thomas, mesmo que meu coração gritasse de saudade.
Quando cheguei à empresa passei na cafeteria, que ficava no térreo, e
comprei café para o pessoal. Aquelas reuniões acabaram nos aproximando e
eu estava gostando de ter outros amigos ali, além de Joly.
Já em nosso andar, fui direto para o laboratório de projetos, onde
estávamos desenvolvendo um sistema de esgoto para países em
desenvolvimento que, se patrocinado, ajudaria milhares de pessoas que
viviam sem qualquer infraestrutura.
Além disso, estávamos projetando uma casa com material reciclável de
baixo custo e sistema inteligente, que poderia beneficiar pessoas de países
emergentes.
Eram projetos ambiciosos e eu estava adorando poder fazer parte.
Estudar e trabalhar no que eu mais amava estava sendo primordial para
manter minha sanidade naqueles dias tão difíceis.
— Eu te ajudo com isso — ofereceu Abby quando me viu chegando
com os cafés para viagem.
— Ah, obrigada.
— Fomos as primeiras a chegar — comunicou.
— O restante deve estar chegando — falei, um pouco sem graça, e lhe
ofereci um dos cafés, que ela aceitou com um leve sorriso.
Embora Abby não tivesse se transformado na Miss Simpatia, nossos
encontros quinzenais diminuíram um pouco sua frieza e estava sendo bem
legal e extremamente instrutivo trabalhar com ela.
Esperei uma repreensão por ter faltado na sexta-feira, mas, para minha
surpresa, ela se mostrou bem mais agradável que o normal.
— Está tudo bem, Lacey? — perguntou de repente.
Para minha chefe estar fazendo aquela pergunta era porque eu devia
estar muito pior do que pensava.
— Está, sim — menti.
Abby me encarou, com seu olhar avaliativo, e depois disse:
— Eu te vi chorando no banheiro todos os dias dessa semana.
Seu comentário foi bem indiscreto, mas percebi que ela estava me
dando uma abertura inédita, levando em conta o quanto era fechada.
— Thomas e eu terminamos e não está sendo fácil.
Ela assentiu, com um olhar caridoso, algo que nunca tinha visto em
suas feições.
— Imaginei que fosse isso e sei exatamente o que você está sentindo.
— Sabe?
— Embora não pareça, eu já tive sua idade, Lacey, já me apaixonei e
quebrei a cara diversas vezes.
Aquela informação a deixou mais humana e menos bruxa aos meus
olhos. Também me fez notar que eu não sabia absolutamente nada ao seu
respeito. Não sabia nem mesmo se era casada ou solteira, uma vez que não
usava nenhum anel.
Ouvir aquilo fez aumentar minha noção de que todas as pessoas tinham
algum motivo para serem do jeito que eram, e que, talvez, a casca dura de
Abby tenha sido moldada a partir de muito sofrimento.
E não apenas por assuntos do coração. Abby era negra e tudo o que eu
podia fazer era imaginar o quanto devia ter sido difícil para ela entrar e
ascender naquela profissão.
O bom era que ninguém podia duvidar de sua capacidade. Abby era
ótima em tudo o que fazia, estava sempre estudando e se aprimorando e
merecia todas as honras que o setor de projetos cultivasse.
O fato de tantos estagiários conseguirem emprego logo que saíram dali,
no último ano, se devia muito a ela. Abby não media esforços e ensinava a
todos que quisessem se dar bem, eles tinham que fazer por merecer.
Eu também pensava assim e era como pretendia seguir minha trajetória.
— Demora muito para superar? — brinquei para desanuviar meus
pensamentos.
— Acredito que será difícil esquecer um tipão como nosso chefe, mas
garanto que vai sobreviver — ela devolveu a brincadeira e nós sorrimos em
cumplicidade.
Aquele foi o primeiro momento descontraído que tivemos desde que
estava trabalhando com ela, mas ele logo se dissipou quando os outros
estagiários chegaram.
Todos eles se aproximaram, pegaram seus cafés, com um sorriso de
agradecimento, e em poucos minutos estávamos todos envolvidos no que
precisávamos fazer.
A coisa boa de trabalhar aos sábados era que todo mundo se vestia de
maneira mais despojada. Abby era a única que continuava com suas roupas
formais. Mas aquela quebra de protocolo acabava deixando o clima muito
mais leve e descontraído.
Eu sempre estava de jeans e suéter, pois o ar-condicionado daquela
sala, em especial, era gelado demais.
Por volta das 10h30 percebi certa agitação e vi muitos pescoços se
virando para a porta. Quando fiz o mesmo, deparei-me com nosso CEO nos
observando.
Fiz o máximo para disfarçar a ansiedade que me invadiu, especialmente
quando notei o quanto estava gostoso, vestindo um jeans escuro e um suéter
preto, assim como eu.
Rapidamente me passou pela cabeça que parecia ambos de luto. Fazia
sentido. Ele devia estar sofrendo tanto quanto eu. Ao menos era o que eu
achava.
Desviei o olhar dele e voltei a focar no projeto que um estagiário de
arquitetura tinha acabado de me entregar, como uma forma de administrar
melhor meus batimentos cardíacos e toda mistura de sentimentos que me
invadiu devido à sua presença.
Fazia pouco mais de uma semana que tínhamos terminado, mas em
minha cabeça parecia uma eternidade.
Thomas conversou rapidamente com Abby e se posicionou ao meu
lado. Fechei os olhos por um segundo quando seu delicioso perfume chegou
até mim.
— Bom dia, Lacey — cumprimentou, com as mãos nos bolsos e a
postura relaxada.
Levantei a cabeça lentamente e o encarei. Estava sentindo tanto a sua
falta... Não era justo que ele aparecesse assim, apenas para me provocar.
— Bom dia — respondi, seca. — O que está fazendo aqui? — emendei
baixinho.
— Eu sou o dono, acho que isso me dá direito de ver o que meus
funcionários estão fazendo — falou com sarcasmo.
Fechei a cara e voltei a analisar o projeto. Thomas fez o mesmo.
— Interessante — comentou, após alguns minutos de análise, e se
inclinou ainda mais para ver melhor os cálculos que eu estava fazendo.
— Sim, estou ansiosa para terminarmos — falei, com animação na voz,
mas sem olhar para ele.
Tom estava ali com a clara intenção de me provocar, mas eu não lhe
daria o gostinho de cair em sua armadilha.
Que Deus me ajudasse a manter a sanidade com aquele homem lindo e
perfumado bem ao meu lado.
Voltei a focar no projeto e, para minha sorte, ele se afastou para
conversar com outros estagiários, que pareciam não acreditar que estavam
recebendo toda aquela atenção do dono da empresa.
Thomas passou o resto da manhã e início da tarde conosco e, mesmo
que não fosse nem engenheiro e nem arquiteto, estava há tanto tempo naquele
ramo e era tão interessado que entendia de absolutamente tudo, fato que me
ajudava demais em meus trabalhos. Ele palpitou em vários detalhes, deixando
todos agradecidos e orgulhosos por terem tido o prazer de tê-lo como
professor.
Pouco antes de irmos embora, Abby nos reuniu para dar um recado:
— O dia foi muito produtivo, mas como havia dito a vocês quando falei
sobre o projeto, chegaria um momento em precisaríamos trabalhar todos os
sábados. Bom, esse momento chegou. Nós fizemos muita coisa, mas o prazo
é curto e, se não corrermos, não vamos conseguir terminar a tempo. Isso quer
dizer que até o final do mês iremos nos encontrar todos os sábados, sem hora
para ir embora. Tudo bem? — Cada um de nós concordou. Todos ali estavam
empolgados demais com o projeto para se preocupar em perder alguns
sábados na vida. — Ótimo. Vejo vocês segunda — disse e se foi, dizendo que
tinha outra reunião.
Abby era sempre a última a sair, mas ela sabia que Tom não havia
aparecido na empresa em pleno sábado à toa, então liderou a saída do
pessoal. Já eu, enrolei um pouco, não para ficar sozinha com ele, mas sim
para evitar constrangimento.
Evidentemente que minha vontade era me pendurar no pescoço dele e
não largar nunca mais, mas não podia fazer isso.
Com passos vagarosos, cheguei ao elevador com minha ansiedade em
nível master. Todo o nervosismo, que havia se dissipado naquelas três horas
em que ele ficou por ali, voltou com força total por saber que ficaríamos
sozinhos naquele espaço exíguo.
— Posso pegar o elevador com você? — ele perguntou, logo atrás de
mim.
— Claro — falei, nervosa, e dei um passo para o lado.
Quando o elevador chegou, entramos em silêncio e em silêncio
permanecemos.
Quase ri quando me lembrei da cena em que Anastasia Steele está no
elevador com Christian Grey. Mas embora o quadro fosse muito parecido,
tinha impressão de que ela não estava a ponto de desmaiar como eu me sentia
naquele momento.
O pouco espaço deixou o perfume dele ainda mais evidente e isso
dificultava minha linha de pensamento. Eu adorava tudo naquele homem, o
gosto, o cheiro... Cada centímetro dele.
— Tudo bem, Lacey? Você parece nervosa — enunciou, com o leve
sarcasmo retornando.
Thomas sabia que me afetava, sabia o quanto eu era louca por ele e
estava jogando muito baixo para me fazer mudar de ideia.
— Está tudo bem, só estou cansada — menti e dei graças a Deus
quando chegamos ao térreo.
— Quer uma carona? — ele ofereceu. — Nós poderíamos conversar
sobre nós...
Eu estava morta de cansada e adoraria uma carona, mas se ficasse
sozinha em um carro com ele a última coisa que faria seria conversar.
Além disso, eu não estava preparada.
— Obrigada, mas vou caminhando — falei e fui saindo enquanto ele
impedia que as portas se fechassem.
— Tudo bem — concordou, entendendo as entrelinhas da minha
resposta, e apertou o botão do subsolo. — Tenha um ótimo fim de semana,
Lacey — disse antes de sumir e eu fiquei lá, feito uma estátua.
O que eu queria de verdade era que Tom insistisse, que implorasse por
uma conversa, mas ele permaneceu despreocupado, o que me deixou louca.
“Foi você quem quis isso, Lacey, agora aguente”, meu lado sensato
assinalou.
O maldito homem havia aparecido ali para me desestabilizar com seu
porte de CEO irresistível. Não que eu precisasse de sua presença para que
isso acontecesse, mas tê-lo tão perto, após tantos dias, me deixou ainda mais
apaixonada.
Eu o queria mais que tudo, no entanto, querer não era poder. Havia
muita coisa em jogo e não podia pensar apenas em mim, mesmo que isso
estivesse me matando por dentro.
VINTE DIAS DEPOIS...

Nos últimos dias Thomas havia feito questão de aparecer em todos os


lugares da empresa. Algumas vezes falava comigo, em outras não passava
nem perto e isso estava me deixando louca, já que a cada encontro o homem
parecia mais lindo e provocador.
Mas não foi apenas isso. Ele também fez questão de ir a todos os
nossos encontros de sábado. Abby chegou a brincar comigo, perguntando que
tipo de feitiço eu tinha jogado para estar sendo perseguida daquela forma.
Ela não tinha a menor ideia de que, se eu o tinha enfeitiçado, ele havia
feito o mesmo comigo. Estava sendo horrível permanecer longe, mas quando
eu pensava em jogar tudo para o alto, Cybele me ligava para avisar que, sim,
meu término acalmara Natalie, mas que isso não significava que ela havia
desistido do processo.
A mulher parecia uma bruxa.
Para não enlouquecer, tentava ver o lado bom de ser solteira. Eu tinha
muito mais tempo para estudar e até fazia alguma coisa com meus amigos de
vez em quando, mas nem por isso as coisas ficavam menos difíceis.
Quanto mais o tempo passava, mais distante eu me sentia de Tom.
Ele se mantinha perto fisicamente, mas totalmente distante
emocionalmente. Nem mesmo quando parava em minha mesa parecia
abalado ou desgostoso com nossa distância.
Era como se quisesse mostrar o que eu estava perdendo.
E estava conseguindo.
Thomas Ward estava me dando uma lição daquelas e meus dias se
resumiam a ansiar pelo momento em que ele apareceria no setor de projetos,
ou na cafeteira, ou no elevador... Era um tormento tê-lo tão perto, sentir seu
cheiro e não poder tocar.
Mas isso não era o pior. Meu grande pesadelo era ter que lidar com
Megan, que parecia cada dia mais diabólica.
Só que eu não precisava mais medir as palavras por medo de estragar as
negociações com o pai dela, então, toda vez que ela me falava alguma coisa,
eu respondia à altura. E isso a deixava louca.
— E aí, ansiosa pela apresentação do projeto? — meu professor de
engenharia estrutural perguntou.
— Sim, nervosa, mas ansiosa — respondi enquanto guardava meus
livros na bolsa.
Eu tinha comentado com alguns amigos a respeito do projeto em que
estava inserida e em pouco tempo a boa nova já tinha chegado aos
professores e à reitoria da universidade. Esta entrou em contato com Abby —
que também se formara lá —, perguntando se havia possibilidade de ele ser
apresentado na feira de engenharia e ela concordou.
Foi por isso que precisou correr com o projeto.
Ele já estava quase finalizado, faltando apenas alguns cálculos e testes,
mas, certamente, ficaria pronto para a feira que aconteceria em duas semanas.
De minha parte, fiquei superfeliz e orgulhosa por ter, indiretamente,
promovido isso. Como dissera minha chefe, era uma ótima forma de
influenciar os futuros engenheiros a trabalharem em projetos sustentáveis,
que pudessem ajudar quem precisava.
— Soube que o dono da empresa está ajudando na orientação de vocês.
— É verdade — confirmei.
— Seria ótimo se ele aparecesse no dia da feira. Sei que é um homem
ocupado, mas você conseguiu fazer estágio ainda no primeiro ano, talvez
consiga convencê-lo a ir — sugeriu meu professor, tentando parecer
despretensioso, mas falhando terrivelmente.
Eu fiquei bastante embaraçada, mas imaginei que ele não tivesse ideia
de que eu e meu patrão namorávamos. De qualquer forma, gostei da sua
sugestão. Tom era realmente muito ocupado, porém, não faria mal algum
convidá-lo.
— Vou verificar a possibilidade com minha chefe — falei, sem
prometer nada, e ele assentiu, despedindo-se em seguida.
Terminei de arrumar minhas coisas e segui para a empresa.
Assim como vinha acontecendo diuturnamente, tive a sensação de estar
sendo seguida. No início aquilo me incomodou demais, a ponto de ficar
olhando repetidas vezes para trás, tanto que havia comentado com mamãe.
Mas então aquela sensação se tornou tão comum que eu comecei a
imaginar que era, realmente, coisa da minha cabeça, afinal, ninguém poderia
estar me seguindo todo dia, o dia todo.
Ainda assim, só conseguia ficar aliviada quando chegava à empresa e
passava pela segurança.
Minutos após eu te me acomodado em minha mesa, Abby foi até lá
para tratar de alguns detalhes do projeto que estavam sob minha
responsabilidade.
Deu para ver que também estava animada com a apresentação e,
quando contei a ideia do meu professor, ela concordou que seria perfeito, mas
pediu que eu fizesse o convite, me deixando super sem graça.
Era besteira, afinal, o assunto não tinha nada a ver conosco. Ainda
assim, eu não queria dar o braço a torcer e ligar para ele, especialmente
depois de tê-lo visto acompanhado por Donald no dia anterior.
Ver os dois juntos, tão à vontade na companhia um do outro, enquanto
Thomas lhe mostrava cada andar da empresa, apenas fortaleceu a minha
decisão de não voltar com ele. Não adiantava reatar o namoro e continuar me
incomodando com os mesmos motivos que me levaram a terminar.
Interrompi aqueles pensamentos, que serviam apenas para me chatear, e
foquei no trabalho.
Uma hora depois vi Abby parada em frente à minha mesa, pela segunda
vez naquele dia.
— Pedi a Freya que reservasse 15 minutos para que você fale com
Thomas a respeito daquele assunto. Como ele só tinha tempo agora, você
precisa subir imediatamente, antes que entre em reunião — avisou.
— Não acredito que você fez isso! — exclamei, de olhos arregalados.
— Tique-taque, Lacey — brincou e saiu com um sorrisinho no rosto.
Coloquei-me de pé e ajeitei minha roupa e cabelo como pude. Peguei
meu celular e andei em direção aos elevadores com a ansiedade saindo pelos
poros.
Tori ficou me encarando até eu sumir de sua frente. Ela quase fez uma
festa quando descobriu que Tom e eu havíamos terminado, mas saber da
minha desgraça não aplacou a raiva que sentia por mim. Na verdade, estava
pior desde que Abby se tornou mais amigável comigo.
Ela devia estar se mordendo por nossa chefe andar de segredinhos com
a garota que mais detestava ali.
Bom, o problema era dela.
Em vez do elevador, preferi as escadas. Eram apenas dois lances, mas
me daria um tempo para acalmar meu coração, que batia descompassado
desde o anúncio de Abby.
A recepção da presidência estava silenciosa e Freya, completamente
concentrada.
— Olá, Lacey, o Sr. Ward já está te esperando — disse, simpática, e se
levantou para abrir a porta para mim.
Quando entrei Thomas estava atrás de sua mesa, olhando diretamente
para mim.
Talvez fosse coisa do meu coração bobo, mas parecia que ele estava tão
ansioso quanto eu.
Esperei que Freya fechasse a porta e me aproximei.
Tom ficou olhando para o meu rosto, depois desceu os olhos por meu
corpo e voltou a me encarar.
Eu só estava na presença dele há um minuto e já me sentia tensa,
nervosa e perdida.
— Queria falar comigo? — perguntou com sua voz deliciosa, que eu
adorava ouvir sussurrada ao meu ouvido.
Aquele pensamento me deixou vermelha e, pelo sorrisinho que deu, o
esperto deve ter imaginado que se passava algo censurável pela minha
cabeça.
Com medo de me entregar ainda mais, pigarreei e me sentei à sua
frente antes de responder:
— Sim, sobre o projeto. — Ele fez um meneio e eu continuei: — Acho
que Abby comentou com você que o apresentaremos na feira de engenharia
de Columbia este ano e um dos professores pediu que eu te convidasse para
participar do evento.
Soltei de uma vez, para acabar com aquele assunto o mais rápido
possível.
— Entendo. Quando será?
— Daqui a duas sextas. Nossa apresentação está marcada para as
13h30.
— Certo. Bom, vou verificar minha agenda, mas acho que consigo ir,
sim.
Sorri e ganhei um meio sorriso de volta.
— Muito obrigada por considerar — falei com sinceridade.
Eu amava seu jeito acessível. Tom era um ótimo patrão.
— Não precisa agradecer — ele disse, gentil como sempre, e se
levantou.
Estava lindíssimo dentro de um terno chumbo, com camisa branca e
gravata azul-escura.
— Quer beber alguma coisa, água, café? — ofereceu calmamente,
como se eu não estivesse ali tomando seu precioso tempo.
— Obrigada, mas eu só vim para fazer o convite. Preciso voltar ao
trabalho — falei, já me levantando e caminhando em direção à porta.
— Espere — pediu, segurando meu braço com delicadeza.
O toque arrepiou meu corpo e me fez engolir em seco.
Que saudade...
— Tom, eu preciso ir... — praticamente sussurrei, os olhos fixos no
mármore claro e reluzente, numa tentativa covarde de não ter que encará-lo.
Era a primeira vez que estávamos a sós desde o dia em que terminamos
e a situação mexia comigo mais do que imaginei.
Ele se aproximou por trás, quase colando o corpo ao meu.
— Sinto sua falta — declarou, o hálito quente tocando meu pescoço,
causando arrepios por minha coluna.
Fechei os olhos e senti vontade de chorar.
Suas palavras acariciaram minha alma entristecida de saudade.
— Também sinto, mas as coisas são complicadas, você sabe.
Thomas me virou para si, segurou meu queixo, a fim de levantar meu
rosto, e me puxou para si, deixando nossos rostos a centímetros de distância.
— Eu tenho que ir... — murmurei como a boa covarde que era e tentei
contorná-lo.
Mas fui impedida quando ele agarrou minha cintura com firmeza para
então tomar minha boca.
Sentir o gosto familiar após todos aqueles dias foi a coisa mais
maravilhosa e inexplicável que aconteceu em minha vida.
Eu correspondi ao beijo com loucura e paixão, o peito cheio dos
mesmos sentimentos que se instalaram ali quando comecei a me apaixonar
por ele.
Nada havia mudado. Eu amava Thomas Ward e achava que sempre
amaria.
Deixei que me beijasse, que passasse a mão pelo meu corpo, enquanto
eu fazia o mesmo numa tentativa de aplacar a saudade que estava sentindo.
Quando estava mole de excitação, prestes a tirar a roupa, sem me
importar com quem estivesse lá fora, ele interrompeu nosso beijo e se
afastou.
Assim que estava próximo da sua mesa, voltou a me encarar e disse:
— Agora você pode ir. E não se esqueça de fechar a porta.
Permaneci parada no meio do escritório, feito um dois de paus, com a
boca aberta, olhos arregalados e ainda ofegante, tentando entender o que
estava acontecendo.
Mas não demorei a me dar conta de que, mais uma vez, Tom estava me
dando uma amostra grátis do que eu estava perdendo.
Ignorei seu sorrisinho cínico, levantei o queixo e saí do escritório
fervendo de ódio, não somente dele, mas também de mim, por achá-lo tão
lindo, gostoso e irresistível.
Inferno!
Nos últimos dias, dediquei um tempo considerável a provocar e
perseguir Lacey pela empresa. Minha tática estava dando certo e era nítido o
quanto ela ficava nervosa com minha presença, no bom sentido.
Para me manter próximo, acabei me metendo no projeto gerenciado por
Abby e gostei bastante. Foi bom passar algumas horas vendo Lacey
trabalhando e interagindo com todos os outros estagiários.
Era bom vê-la se empenhando em fazer coisas das quais gostava. A
despeito dos maus sentimentos que tive nos primeiros dias, odiaria vê-la
depressiva por causa do nosso término.
Todavia, mesmo com todas as minhas investidas, Lacey continuava
firme na decisão de não voltar. Isso me fez questionar se existia algum
motivo além dos que ela havia pontuado em nossas discussões.
Bom, se havia, eu teria que encontrar sozinho, pois ela não me falaria.
— Senhor, a Sra. Ward ligou e o Sr. Wilson também — Freya avisou
assim que me retornei da sala de reuniões.
Mamãe tinha ficado sabendo que Lacey e eu havíamos terminado,
provavelmente por intermédio de Devon, e estava insistindo bastante para
que eu fosse a Londres passar um fim de semana com ela.
Apesar de a viagem ser longa e cansativa, cheguei a cogitar a
possibilidade, mas a ideia de deixar Lacey em Nova York não me agradou
nem um pouco.
— Ligue para Donald. Mais tarde eu retorno para minha mãe — pedi e
entrei em minha sala, indo direto para as câmeras de segurança.
Como imaginei, lá estava minha garota, sentada à sua mesa,
concentrada em seu trabalho.
Ultimamente eu parecia um maldito stalker, vigiando-a através do
sistema de segurança e por meio de Jenna e Sam, que me mantinham
informado.
Era um alívio que ela não fosse de sair, se Lacey tivesse começado a
curtir baladas e bares, eu certamente já estaria de cabelos brancos.
Continuei olhando para a tela e observei enquanto trabalhava. Ri ao
lembrar da forma que ela reagiu quando a beijei alguns dias atrás.
Foi uma delícia tê-la em meus braços após tanto tempo de afastamento
e muito difícil me manter indiferente quando a afastei. Entretanto, sabia que
isso iria mexer com ela e, quem sabe, fazê-la enxergar o quanto éramos
perfeitos juntos.
Freya passou a ligação que pedi e eu tive que me concentrar nos
negócios.
Donald Wilson estava diferente nos últimos dias, demonstrando certa
pressa em fechar o negócio, no entanto, ele ainda não havia me entregado
todo o balanço da empresa e eu só assinaria o contrato depois que meu
jurídico analisasse minunciosamente seus documentos.
Jamais fecharia algo sem ter certeza de que minha empresa não seria
prejudicada.
Quando lhe disse isso, ele explodiu do outro lado da linha.
Aquilo não me pegou totalmente de surpresa. Eu tinha a impressão que,
por ser novo, Donald achava que eu não tinha experiência nem malícia
suficiente para perceber certas nuances referentes a grandes negócios.
Não podia estar mais enganado.
Desde cedo meu pai ensinou a mim e a Devon tudo o que tinha de mais
importante antes de fechar um negócio. Os anos que passei à frente da Ward
Corporation apenas me deram mais conhecimento e traquejo, de forma que
não seria enganado.
Em nenhum sentido. Do mesmo jeito que não quero uma empresa
problemática entre minhas parceiras, também não quero um homem com
personalidade dúbia ao meu lado.
Donald não tinha feito nada realmente grave, porém, vinha se
mostrando inconstante. No início das negociações, ele estava agindo como se
tivesse todo o tempo do mundo, me levou a dezenas de eventos e me
apresentou empresários muito promissores.
Então, do nada, ele começa ater pressa e ainda reclama por eu querer
verificar suas contas e constatar se a parceria será ou não benéfica a mim.
Quando viu que havia exagerado no tom, pediu desculpas e finalizou a
ligação.
Mas a pulga não saiu de trás da minha orelha.
Do meu ponto de vista de empresário, suas atitudes não eram um bom
sinal. Mas teria que pensar naquilo depois, pois tinha outra reunião naquele
momento. A última do dia.
Após a reunião, onde fechei mais um negócio sensacional para minha
empresa, um dos empresários sugeriu que fôssemos comemorar em algum
lugar.
Como era sexta-feira, resolvi ir, era melhor estar bebendo na
companhia de alguém que eu mal conhecia, a ficar em meu apartamento
sentindo falta da minha garota.
Seguimos para o bar, que era o point dos happy hour em Nova York
nos últimos meses, e ocupamos uma mesa no lado externo para poder
apreciar o pôr do sol.
O ambiente era muito agradável e por alguns minutos pude relaxar,
enquanto bebia e conversava sobre o negócio que tínhamos fechado e seu
potencial.
— Thomas Ward, que surpresa — escutei a voz de Megan Wilson logo
ao meu lado e me virei.
Ela estava acompanhada da amiga que estivera com ela naquele jantar
desastroso. Seu nome era Lily, se não estivesse enganado.
— Boa tarde, tudo bem como vocês estão?
As duas assentiram e eu as apresentei ao empresário que estava comigo
na mesa.
Wendel, que era solteiro, ficou animado quando viu as garotas e as
convidou para se juntar a nós.
Eu não gostei da ideia, depois do que Lacey falou a respeito de Megan,
minha antipatia por ela apenas cresceu e decidi que ficaria apenas o tempo
necessário para não ser mal-educado, e me despediria.
Pelos próximos minutos, tanto Megan quanto Lily ficavam jogando
charme para nós. Ambas eram mulheres bonitas que, em outros tempos,
poderiam me despertar algum interesse. Naquele momento, entretanto, eu só
conseguia pensar em Lacey e no que ela estaria planejando para o seu fim de
semana
Continuei bebendo meu uísque, observando aquela interação sem
qualquer ânimo, e vendo a rapidez com que os três se entrosaram.
Aproveitei que estavam completamente focados na conversa e mandei
uma mensagem para Sam.
Lacey já deveria ter saído da empresa e eu estava curioso para saber se
ela tinha ido direto para casa ou se suas amigas a tinham arrastado para algum
lugar.
A resposta veio quase que imediato informando que ela havia saído da
empresa na companhia de uma colega de trabalho, que imaginei ser Joly, e
elas tinham ido a um bar.
Mas o que me chamou a atenção foi o endereço do lugar. Eu não podia
acreditar que elas estavam ali, no mesmo lugar que eu.
Rapidamente passei os olhos pelo local, tentando encontrar o rosto
familiar, e a encontrei, olhando diretamente para mim.
Lacey parecia incrédula, não por eu estar ali, mas por estar na mesma
mesa que Megan. Por sua expressão, ela deveria estar pensando que eu era
um grande canalha.
E era o que parecia.
Se já estava sendo difícil convencer Lacey a reatar comigo, depois
daquela cena, as coisas iriam se complicar ainda mais. Teria sorte se ela me
deixasse explicar que eu não tinha um grama de culpa naquela merda toda.
Pedi licença e me levantei da mesa para ir até ela.
Lacey, é claro, virou a cara quando me aproximei.
Respirei fundo e cumprimentei Joly, que na mesma hora deu uma
desculpa qualquer para nos deixar a sós.
— Lacey, não é o que está pensando — apressei-me em dizer.
Ela bebeu seu drink quase que uma vez e depois me encarou.
— Se soubesse o ódio que estou sentindo, ficaria longe — falou sem
olhar em meus olhos e virou o restante da bebida, pedindo outra em seguida.
— Eu cheguei aqui há pouco tempo com o empresário com quem
fechei negócio esta tarde. Megan e Lily surgiram do nada e ele as convidou
para ficar conosco. Eu só ia terminar meu uísque para ir embora sem causar
mal-estar. Por Deus, Lacey, você me conhece.
Minha explicação amenizou um pouco as coisas e ela finalmente me
encarou.
— Tudo bem. A verdade é que eu não tenho motivo para agir assim, a
gente não tem mais nada e eu tenho que aprender a controlar minha
impulsividade — argumentou e levantou o queixo.
— Não temos nada por que você não quer.
— Nós já conversamos sobre isso.
— Sim, mas depois de pensar, decidi que seus motivos não são
suficientes para essa atitude.
— Não são suficientes? Você quer que eu refresque sua memória? —
questionou e tomou do drink, dessa vez, um pequeno gole, antes de se virar
para mim. — Imagine nossas vidas caso reatássemos. Você seria meio que
sócio de Donald e nós teríamos que ir a eventos onde Megan me infernizaria
e eu teria que quebrar a cara dela, afinal, o contrato já estava assinado e eu
não precisaria me preocupar em te atrapalhar. Fora isso, ainda teria que
aguentar sua ex-mulher e todo o pacote — pontuou e balançou a cabeça,
desgostosa. — Eu te amo, Tom, mas não sei lidar com toda essa carga que te
rodeia, será que isso é motivo suficiente?
— Lacey, depois que fecharmos o negócio, nós quase não nos veremos
— tentei explicar.
— Olha só, não adianta discutirmos por algo que não vai dar em nada.
Além disso, acho que suas amigas devem estar estranhando sua ausência. É
melhor você voltar para lá — provocou numa clara demonstração de ciúmes.
— Não me quer de volta, mas está morta de ciúmes — devolvi a
provocação.
Lacey fechou os olhos rapidamente e suspirou.
— Eu te quero, mas não posso ter — respondeu olhando para o copo.
— Como assim, não pode?
Ela se virou e ficou me olhando.
— Eu já falei os motivos.
— Você quer que eu desista da sociedade com Donald? Se isso for te
trazer de volta para mim, eu largo tudo.
Ela ficou em silêncio e quase entendi aquilo como um sim, até ela falar:
— Isso resolveria boa parte dos nossos problemas, mas há outras
coisas, Tom, então, não desista do seu negócio por mim.
Por mais que eu gostasse dela aquilo estava me tirando do sério.
— Lacey, eu já tentei de tudo para te fazer enxergar o quanto você faz
falta em minha vida, mas não sou um adolescente que ficará rastejando por
sua atenção ou por uma segunda chance. Eu preciso querer quem me quer e
você parece já estar seguindo em frente, talvez seja hora de eu fazer o mesmo
— soltei e virei as costas para ir embora.
— Thomas... — ela choramingou e eu me voltei.
— Como você disse, não adianta ficarmos nesse empasse. Eu te dei o
tempo que pediu, depois tentei conversar, mas você não quis... Bom, eu me
cansei. Desde o começo você soube que era um empresário ambicioso que
queria crescer aqui. Também soube desde sempre que minhas empresas
dependem de parcerias e sociedades e para consegui-las, eu preciso conhecer
pessoas, potenciais investidores, se não for assim, nada acontece. Se você não
consegue ser adulta para lidar com isso, então é melhor as coisas ficarem
como estão. Adeus, Lacey.
Eu poderia ser um homem gentil, paciente e apaixonado, mas talvez
Lacey estivesse precisando mesmo era de um pouco de distância, distância de
verdade, para dar valor a tudo que sempre fui para ela.
Exceto pelo beijo que Thomas me deu na terça-feira, minha semana foi
tão ruim quanto eu imaginei que seria quando acordei na segunda pela
manhã.
Claro que ser beijada daquela forma e rejeitada logo depois, apenas
piorou meu ânimo, e quem sofria eram minha mãe e meus amigos, que
tinham que aguentar meu mal humor.
Aí, para fechar com chave de ouro, encontro Thomas acompanhado de
Megan e Lily em um bar, na hora do happy hour.
Eu sabia que não devia ter ido, mas Joly insistiu que fôssemos beber
alguma coisa após o trabalho e acabei indo.
Mas foi horrível encontrá-lo com elas, especialmente porque sabia que
ambas arrastavam asa para o lado dele.
Contudo, foram suas palavras duras que mais me machucaram.
A forma como ele falou comigo foi um choque de realidade e, pela
primeira vez desde que terminamos, eu senti que ele estava jogando a toalha.
O fato de ele não ter aparecido no sábado para ajudar no projeto de
Abby, apenas maturou essa ideia em minha cabeça e me deixou desanimada
pelo resto do fim de semana.
Mas aí, outra semana começou e a esperança de me encontrar com ele e
ver que estava tudo bem, me animou. Só que, diferente do que fez nas últimas
semanas, Thomas não apareceu em qualquer lugar, parecia até que não tinha
ido trabalhar e isso estava me deixando louca.
Eu não sabia se ele estava viajando ou se simplesmente evitou circular
pela empresa, só sabia que nunca mais havia esbarrado com ele.
— Está tudo bem? — Abby perguntou quando a porta do elevador se
fechou com nós duas e a barra de chocolate que eu devorava.
— Deve ser TPM — falei e apertei o botão para o térreo.
— Ou abstinência — brincou —, de chocolate, é claro — finalizou me
fazendo gargalhar.
Eu estava sem sexo desde o rompimento, então, poderia ser tesão
acumulado. Mas isso eu não falaria para ela.
— Você tem notícias de Tom? — perguntei.
Nós duas tínhamos nos aproximado tanto nas últimas semanas, que eu
não conseguia mais me referir ou lembrar dela como a bruxa de antes.
— Me parece que ele vai viajar hoje à noite, talvez por isso tenha
ficado recluso a semana toda — disse, numa clara tentativa de justificar seu
sumiço.
Mas a única coisa em que consegui pensar foi que ele estivera na
empresa a semana toda, apenas não quis me ver. Isso me deixou deprimida.
Quando saímos do elevador, Abby perguntou se eu queria tomar um
café e para não acabar fazendo a besteira de ir parar na cobertura de Tom,
assenti e a segui até a cafeteria do térreo. Como estava vazia, foi fácil
conseguirmos uma mesa.
Assim que a garçonete nos serviu dois cafés e dois pedaços de torta,
notei que Abby estava me encarando.
— O que foi?
— Sei que não é da minha conta, mas é tão nítido que vocês dois se
amam, não entendo por que não voltou com ele ainda — soltou de uma vez.
— Eu queria, mas é complicado.
Não queria falar sobre um assunto tão pessoal. Nós estávamos nos
dando bem, mas não dava para saber como ela reagiria ao tomar
conhecimento do que eu tinha feito.
— Veja bem, Lacey, eu sou bem radical em relação aos homens, mas
Thomas Ward é um dos poucos que conheço com qualidades realmente
impressionantes. E não pense que falo isso porque estou interessada, tenho
um namorado com os mesmos atributos, exceto o dinheiro — brincou, me
fazendo rir, e continuou: — O que estou tentando dizer é que existe um
homem incrível lá fora, que parece te amar muito. Mas também deve haver
uma fila de mulheres apenas esperando uma chance de conquistá-lo. Pense
bem para não se arrepender depois.
As palavras de Abby me deixaram pensativa.
Eu sabia que muitas mulheres o cobiçavam, mas apenas quando escutei
isso da boca de outra pessoa foi que a possibilidade se tornou real.
Thomas me dava tanta certeza de seus sentimentos por mim, que
mesmo depois de separados eu ainda sentia esse vínculo, esse respeito, essa
entrega por parte dele. Mas depois do que me falou e após essa semana de
silêncio, um cenário horrível se desenhou em minha cabeça.
— O que você me falou vai atormentar a minha vida, mas há tanta
coisa envolvida em nosso término, sendo a mais importante o fato de eu não
querer prejudicá-lo... — Parei, antes que falasse demais. — Quer saber,
esquece, é problemático demais.
Ela ainda me olhou por alguns segundos, mas depois cedeu e mudou de
assunto.
Eu estava prestes a pedir outro café, quando vi Emma saindo do
elevador, enquanto Thomas evitava que a porta se fechasse. Exatamente
como fazia comigo.
Vê-lo na companhia daquela mulher deslumbrante me deixou com
vontade de agarrar o pescoço dela. Mas quando vi que ele a seguia, morri de
medo de eles estarem indo para o café e foi um alívio quando passaram
direto.
Isso até eu começar a imaginar para onde estariam indo. Só sosseguei
quando eles continuaram andando, em vez de entrar no carro de Tom.
— Ele podia ser menos bonito — comentei.
Abby sorriu, com olhar penalizado, e disse apenas:
— Concordo.
Voltamos a comer nossas tortas, pedimos outro café e, quase meia hora
depois, estava me despedindo de Abby, que foi para o subsolo pegar o seu
carro.
Quando pisei na calçada, encontrei Joly e Tori fumando um pouco
afastadas dos pedestres. Eu ia passar direto, mas minha amiga me viu e
acenou.
— Jogue essa coisa fora — pedi quando me aproximei e ela balançou a
cabeça em negação.
Tori deu um sorrisinho falso e continuou fumando sem falar nada.
Achei aquilo estranho. Joly sabia da minha aversão a Tori e foi difícil
entender o que elas estavam fazendo juntas.
— Tenho ingressos para uma boate que inaugurou antes de ontem na
Broadway, o que me diz?
Eu estava zero animada para sair, mas não queria mostrar tristeza na
frente de Tori que, com certeza, notou a ausência de Thomas, pois ficava
babando sempre que ele chegava ao andar.
— Claro, por que não?... — falei, dando de ombros.
Joly assentiu, apesar da evidente surpresa, uma vez que eu geralmente
fazia o maior doce antes de aceitar qualquer convite.
— Ótimo, vai ser muito divertido — afirmou, dando uma última
tragada e se despedindo de Tori. — Não fiquei amiga da sua arqui-inimiga,
só precisei do isqueiro dela emprestado — explicou quando nos afastamos.
— Está perdoada — falei e gargalhamos.
— Lacey, sei que não deveria contar essas coisas para você, mas não
consigo me controlar — falou vários minutos depois e imaginei que estivesse
se corroendo sobre abrir a boca ou não.
Parei de caminhar imediatamente e a encarei.
— Que coisas?
— Emma está faltando se jogar em cima do seu gato. Marcou três
reuniões durante a semana e até se ofereceu para o acompanhar à matriz.
Eu notei os olhares que Emma dispensava a Tom desde que começou a
trabalhar na empresa, mas odiei saber que ela estava tentando fisgá-lo.
— Nem sei o que dizer. Na semana passada eu tinha certeza de que
reataríamos um dia, mas depois dessa semana, não sei mais nada.
— Você sabe que adoro sua companhia e as coisas que fazemos nessa
sua fase de solteira, mas se estiver sofrendo, volte com ele — Joly
aconselhou.
Mais uma vez falei que era complicado e desconversei.
Joly era super tranquila e apenas assentiu, antes de começar ame contar
outra fofoca.
— O que foi, Lacey? — Joly perguntou quando me viu olhando
repetidas vezes para trás.
— Aquela sensação de novo, amiga.
Eu já havia comentado com ela sobre a sensação de estar sendo
seguida.
— Deve ser impressão sua — ela disse depois de olhar para os lados e
não achar nada e eu não insisti.
Mamãe nos recebeu com a alegria de sempre e ficou feliz que Joly
estivesse comigo. No outro fim de semana eu passei o sábado e o domingo
trancada em casa, o que a deixou preocupada.
Eu não estava contente com a situação que se estabeleceu entre mim e
Thomas, mas já havia deixado claro que não era mais a mesma. Mais do que
nunca eu tinha convicção de que aquela fase sombria tinha passado e que eu
jamais agiria como antes novamente.
Como era sexta-feira, decidi poupar mamãe da cozinha e pedi uma
pizza, a qual comemos com algumas taças de vinho.
Em nenhum momento elas tocaram no nome de Thomas e eu sabia que
isso era para me resguardar. Mas quando mamãe se recolheu para dormir,
Joly foi se sentar ao meu lado.
— Amiga eu sei que não deveria te mostrar isso, mas acho que você
devia ver — Joly disse com certa agonia e me entregou o celular.
Revirei os olhos.
Ela era aquele tipo de amiga que não conseguia manter a língua dentro
da boca, uma verdadeira fofoqueira e, mesmo assim, eu a amava.
Olhei a foto e logo reconheci Emma. Ela estava em um restaurante
acompanhada de três gerentes do meu antigo andar, além de Thomas, que
estava bem ao lado dela.
Pela localização, eles estavam em algum lugar próximo ao nosso
prédio.
Vê-la com ele, ambos tão bonitos, me fez lembrar da cena do elevador
e conjecturar se poderia, mesmo, estar rolando alguma coisa.
Senti minha garganta fechar ao recordar como fiquei feliz quando eles
não entraram em um carro. Só naquele momento, e com as informações que
Joly me dera, foi que percebi que aquilo não queria dizer nada.
Eles simplesmente foram andando até o local, sem se preocupar com
quem estivesse vendo.
Suspirei, sentindo o gosto do ciúme descendo ácido pela garganta.
— Isso quer dizer que ele não foi para Londres — comentei, quase
chorando.
— Emma deve ter inventado outro compromisso e dado um jeito de
arrastá-lo para lá.
Eu sabia que não tinha nenhum direito de ficar com raiva ou ciúme por
ver Tom na companhia de outras mulheres, mas era inevitável. Eu o amava
demais e só de imaginá-lo com Emma, Megan, Lily, Natalie ou qualquer
outra pessoa, meu coração ficava dilacerado.
— Mais vinho? — Joly perguntou levantando a garrafa pela metade.
— Com certeza, amiga, quero esquecer que meu ex-namorado lindo,
gostoso e atencioso está por aí, livre e desimpedido, sendo objeto de desejo
de outras mulheres.
Beber não era uma atitude inteligente, mas naquele momento era a
única forma de aplacar um pouco da saudade e da tristeza que eu estava
sentindo.
Após duas garrafas de vinho eu já estava me sentindo mais leve e o
ciúme havia abrandado um pouco, já que a bebida amorteceu meus sentidos e
meu juízo.
Isso ficou bem claro quando, lá pelas tantas, Joly começou a me pilhar
para ir a tal boate dos amigos dela e eu acabei aceitando sem nem pestanejar.
Como não pretendia ficar muito tempo, pois no dia seguinte precisava
estar na empresa às 10h00 da manhã para acertar os últimos detalhes do
projeto, não fui acordar mamãe para avisar.
Eu sabia que era uma loucura sair de casa naquele horário, mas estava
tão leve por causa da bebida que deixei a irresponsabilidade tomar conta de
mim e me permiti ser guiada pela louca da Joly que me ajudou a fazer uma
produção em tempo recorde.
Pedimos um taxi e minutos depois já estávamos entrando na boate, que
se encontrava lotada.
— Venha vamos para o bar — sugeriu e me arrastou, mal se desviando
de quem aparecia na frente.
A música estava alta, gostosa, animada e depois do primeiro drink eu
deixei as batidas me levarem.
Nos meus poucos flashes de lucidez, o rosto de Thomas aparecia em
minha mente e eu sentia uma pontada no peito, mas em seguida bebia mais
um pouco do drink que Joly pedira e acabava me esquecendo.
Disse a mim mesma que a melhor forma para manter a cabeça longe
dele, era focar nos motivos que estavam me mantendo longe. E foi o que
tentei fazer.
— Vou fazer xixi — falei para Joly que estava distraída conversando
com um rapaz.
Caminhei por entre as pessoas e dei graças a Deus quando cheguei ao
banheiro. Depois de usar a cabine, lavei as mãos e encarei meu reflexo no
espelho.
Minhas bochechas estavam levemente rosadas por causa do álcool e
meus olhos exibiam aquele brilho de alguém que já tinha bebido além da
conta.
Respirei fundo e decidi voltar para a festa; com alguma sorte, Joly já
teria dado um fora naquele rapaz e poderíamos dançar mais um pouco para
extravasar.
Saí do banheiro distraída e levei um susto ao dar de cara com alguém
que eu achei que nunca mais fosse encontrar.
— Sr. Elliot?
— Como vai, Lacey? — perguntou com um sorriso perverso no canto
da boca.
Ele parecia diferente, duro, maltratado pela vida.
— Bem, mas tenho que ir.
— Nada disso — falou, abrindo um dos lados do paletó e mostrando
uma arma.
Arregalei os olhos, assustada, me perguntando como ele tinha
conseguido entrar armado num lugar tão seguro. Mas meu questionamento
foi interrompido quando ele me puxou para o canto, onde havia um dente[5].
Imaginei que eles fosse colocar um bebedouro naquele espaço, mas ainda não
haviam tido tempo.
— Você e seu namorado idiota ferraram comigo, com a minha carreira
e está na hora de acertar as contas — ele continuou.
— Eu não te fiz nada e Tom sequer te denunciou à polícia.
— Pois é, mas deu um jeito de vazar a notícia para os maiores
escritórios da cidade. Você acha que alguém me contrataria sabendo que fui
demitido por que a namorada de um dos homens mais ricos da cidade me
acusou de assédio? — questionou com ódio e chegou mais perto.
Elliot estava visivelmente alterado e instável, por isso, tive que conter
minha vontade de falar umas verdades.
— Sinto muito por ter tido todos esses problemas, não foi minha
intenção.
Ele avaliou meu pedido de desculpas e depois estreitou os olhos.
— Um pedido de desculpas não vai devolver a vida maravilhosa que eu
tinha e muito menos a minha sanidade. Desde que saí da Ward Corporation
estou procurando um emprego decente e quando não consegui, resolvi que a
única coisa que me restava era me vingar. Então eu te vi andando pela rua e
soube. Você sempre foi a resposta, Lacey, desde o início, quando ficou se
insinuando para mim, apenas para me difamar para o seu namorado, que na
mesma hora esqueceu todos os anos de amizade e me mandou embora sem
nem mesmo me escutar!
Meu Deus, ele não estava apenas alterado, estava realmente louco.
Perceber isso elevou meu medo ao grau máximo, deixando todos os meus
sentidos em alerta.
— Sr. Elliot, Thomas e eu não estamos mais juntos — falei suavemente
e tentei visualizar o corredor, mas ele havia nos escondido.
Parecia até que já conhecia aquele lugar.
E o pior era que não adiantava gritar, com a música daquela altura,
ninguém me ouviria.
— Eu sei que não estão mais juntos, mas ele se importa com você ou
não teria colocado um segurança para segui-la pela cidade.
Arregalei os olhos em surpresa e, inutilmente, procurei por essa pessoa
que eu não tinha ideia de como se parecia.
Será que aquela sensação de estar sendo seguida vinha do louco do
Elliot ou do segurança que Thomas contratou?
Isso era de enlouquecer qualquer um.
Ainda assim, daria tudo para que essa pessoa aparecesse e me tirasse
daquela situação.
— Não se preocupe, eu já me livrei dele, agora você vai fazer
exatamente o que eu pedir ou aquele homem que está conversando com a
Joly, vai colocar uma coisinha em sua bebida para depois fazer o que quiser
com ela. Você decide.
Aquilo só poderia ser um pesadelo! Elliot não estava sozinho e por
causa de mim, minha amiga estava correndo perigo.
— Pelo amor de Deus, o que você quer? — perguntei já um pouco
desesperada.
Ele estreitou os olhos, me encarando fixamente.
— Eu já disse, quero vingança! Eu vou levar você e o maldito Ward vai
ter que pagar para tê-la de volta. Resta saber se ele ainda vai te querer depois
que passar alguns dias comigo.
Arregalei os olhos e arfei.
Era oficial, eu estava aterrorizada com a possibilidade daquele lunático
fazer o que estava prometendo.
— Não precisa ficar assim, eu garanto que vamos nos divertir bastante
— disse olhando para o decote do meu vestido.
— Não, eu não vou deixar — disse, sem convicção nenhuma, quase
chorando.
— Lacey, Lacey, não sofra sem necessidade. Prometo que passar
algumas horas comigo será muito melhor do que as outras opções que se
passam em minha cabeça — garantiu com ar vitorioso, certo de que eu não
tinha outra saída.
— Owen — chamei, tendo o cuidado de usar seu primeiro nome para
ver se surtia algum efeito —, você não está pensando direito nas implicações
disso. Assim que Thomas souber o que você pretende fazer, ele moverá céus
e terras para te encontrar e te fará pagar por todo esse transtorno. Quando isso
acontecer, será seu fim, será que não percebe?
Disse tudo isso, mas eu própria não acreditava que Tom moveria céus e
terras por mim. Não mais. Não depois de eu ter sido horrível com ele.
Elliot soltou uma gargalhada horripilante. Parecia realmente um
maníaco.
— Você acha que eu tenho medo do seu ex-namorado? — perguntou
bem perto do meu rosto. — Não, docinho. Cheguei num estágio em que não
tenho nada a perder, não brinque comigo, apenas ande, quietinha, para
acabarmos logo com isso.
Naquele momento eu me arrependi da minha imprudência em ter saído
de casa sem avisar minha mãe.
Por causa disso ali estava eu, sozinha, nas mãos de um lunático, metida
na maior merda da minha vida.
— E então, Lacey, você vai comigo ou prefere que sua amiga sofra as
consequências?
Estava sendo muito difícil manter distância de Lacey. Só eu sabia o
quanto fora penoso para mim, passar a semana inteira na empresa, sabendo
que ela estava um andar abaixo, e não poder vê-la.
Eu sabia que ambos estávamos sofrendo, mas era necessário para que
ela percebesse que eu não era nenhum moleque bobo.
Para não ceder a velhos hábitos, enchi minha agenda de compromissos
como forma de ocupar o tempo e me manter no andar da presidência até
depois do expediente.
No entanto, não se acabava com velhos hábitos de uma hora para outra,
especialmente um que se iniciou antes mesmo de começarmos a namorar,
quando me vi encantado por minha melhor amiga.
Era estranho e até mesmo doentio, porém, se eu quisesse manter minha
sanidade, precisaria ao menos daquilo, e não me envergonhava de assumir.
Além disso, continuei em contato com Jenna e Sam, sempre dizendo a
mim mesmo que se tratava de sua segurança.
Devido a essa distância — física — autoimposta, a semana se arrastou.
Mas isso foi bom, me deu a oportunidade de lidar com inúmeros pepinos,
alguns novos e outros que deveriam ter sido resolvidos há muito tempo.
Quando fui embora no final do dia, encontrei Emma no elevador e ela
me fez um convite inusitado. Disse que alguns chefes de setores estavam indo
para um happy hour em um bar perto da empresa e pediu que eu fosse junto.
A princípio pensei em recusar, sabia de suas possíveis intenções, mas
depois lembrei o quanto tinha sido bom o último jantar com os funcionários
do jurídico e acabei aceitando.
Assim que chegamos ao bar, fui atingido pelos olhares surpresos dos
meus funcionários que não esperavam por mim, mas se alegraram.
Emma sentou-se ao meu lado e tivemos uma noite regada a vinho e boa
conversa.
Senti que aquelas pessoas realmente gostavam da minha companhia e
decidi que faria aquilo com mais frequência e com outros setores. Seria uma
forma de avaliar mais de perto tudo que acontecia em minha empresa.
Durante a noite, Emma bateu algumas fotos comigo e com o restante do
pessoal, dizendo que era para colocar no mural de funcionários do jurídico e
eu não vi problema algum. Mas quando percebi que ela estava mais solta e
seus olhares mais evidentes, decidi encerrar a noite e fui para casa.
Aquele foi mais um dos eventos aos quais participei numa tentativa
inútil de preencher meu tempo para não ficar pensando nela.
Mal eu tinha entrado na cobertura quando olhei o celular e vi que havia
algumas ligações não atendidas da mãe de Lacey, o que me deixou
imediatamente em alerta.
Retornei imediatamente e ela atendeu, aflita:
— Tom, que bom que atendeu.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei torcendo para que a resposta
fosse negativa.
— Fui dormir e deixei Lacey e Joly na sala, tomando vinho, mas um
tempo depois acordei e não as encontrei no apartamento, além disso,
nenhuma das duas atende o celular. Você pode verificar com Sam onde elas
estão?
— Claro, vou falar com ele agora e retorno.
Eu não queria acreditar que Lacey tivesse sido tão imprudente ao ponto
de sair sem avisar a mãe. Mas não era hora de julgamento e sim de descobrir
onde ela estava.
Liguei para o celular de Sam e ele não atendeu. Então, tentei o do
agente que eu havia contratado para se juntar a ele quando Lacey saía, ou
revezar nas noites tranquilas, e, graças a Deus, ele atendeu no segundo toque.
— Bartosh, você pode me informar onde Lacey está? — perguntei sem
rodeios.
— Ela está com uma amiga em uma boate aqui na Broadway Street.
Estou do lado de fora, mas Sam as seguiu para dentro.
— Estou achando que há um problema. Nenhum dos três atende,
preciso que você vá verificar.
— Entendido. Assim que tiver alguma notícia eu retorno.
— Ok, mas antes me envie o endereço por mensagem.
No caminho até a boate, liguei para Jenna e avisei que estava indo
buscar Lacey e que ela poderia ficar tranquila, mas sabia que enquanto não
visse a filha, não iria sossegar.
Deixei meu carro em uma rua próxima à boate e segui para lá com o
telefone na orelha para falar com Bartosh que, dessa vez, não me atendeu.
Que diabos estava acontecendo?
Passei pela recepção o mais rápido que pude e depois de pegar um
cartão, entrei e comecei a rodar entre as pessoas, estranhando aquela música
alta e a aglomeração que não fazia parte da minha vida.
Para todos os lados havia homens e mulheres dançando, alheios à
minha ansiedade. Dei uma olhada na pista, e nada, depois passei próximo a
cabide do DJ, nada também.
Mais uma vez voltei para perto da entrada e fui em direção ao corredor
que levava aos banheiros, mas não as encontrei.
Mandei uma mensagem para Bartosh e avisei que já estava na boate,
depois, tentei insistentemente ligar no celular de Lacey, mas só caía na caixa
de mensagem.
Quando estava prestes a passar em frente ao banheiro masculino, vi
Bartosh quase carregando Sam para fora. Ele parecia desorientado e havia
uma mancha de sangue em sua camiseta.
— O que houve, Sam?
— Acertaram ele, senhor. Vou deixá-lo aqui com um segurança e vou
procurar pela Srta. Smith.
Ele saiu e eu me agachei ao lado de Sam.
— Quem te acertou?
— Não sei, senhor. A Srta. Smith foi ao banheiro e eu me escondi na
entrada do banheiro masculino para ver quando ela saísse, mas me acertaram
na nuca e só acordei agora. Eu já estou me recuperando e vou ajudar a
procurar por ela.
Deixei ele lá e corri entre as pessoas para perguntar ao segurança mais
próximo se existiam outras saídas. Ninguém teria coragem de tirar duas
garotas pela porta da frente.
Ele disse que fora a saída principal, havia uma saída de emergência que
ficava nos fundos, mas que a porta só abria se a pessoa tivesse o código ou se
o lacre fosse quebrado.
— Eu preciso que você abra. Minha namorada foi sequestrada aqui
dentro e eu tenho certeza de que a tiraram daqui por lá.
O gigante ia protestar, mas eu saí correndo e ele foi atrás.
Assim que passou o cartão chave, abri a porta e encontrei uma rua
estreita e praticamente vazia, exceto por dois funcionários fumando.
Perguntei se eles tinham visto uma garota loira saindo por ali, mas
ninguém nenhum deles soube informar.
Ao virar as costas para voltar à boate, escutei a voz dela, tão baixa, que
pensei estar tendo uma alucinação.
Meu primeiro instinto foi gritar seu nome, mas preferi agir com
prudência e segui até o fim da rua estreita. Quando entrei à direita, vi um
homem e uma mulher iluminados apenas pela luz baixa que vinha da rua
principal.
Ele estava tapando a boca dela enquanto a garota se debatia.
Demorou somente alguns segundos para eu perceber que aquele cabelo
loiro pertencia a Lacey e, quando dei por mim, já estava partindo para cima
do sujeito.
— Afaste-se dela — falei alto, morto de ódio.
— Não chega perto, Tom, ele está armado — Lacey avisou quando o
desgraçado tirou a mão de sua boca para me encarar.
Isso me deu a oportunidade de enxergá-lo e eu fiquei imensamente
surpreso ao ver que se tratava de Owen Elliot, o idiota que havia assediado
Lacey no escritório.
— Melhor escutar sua namoradinha ou as coisas podem ficar bem ruins
para os dois. Já consigo até visualizar a manchete no Times: Corpo de
Empresário multimilionário é encontrado junto ao da namorada em um beco
fétido de Manhattan — proferiu, exalando ódio.
O jeito como falou, o tom sarcástico que usou, como se estivesse se
deliciando com a ideia, me deu a certeza de que Elliot havia enlouquecido.
— Lacey não tem culpa de nada, solte-a e vamos resolver isso com
calma.
Ele fez que não com a cabeça e deslizou o cano do revólver pelo rosto
da minha garota que parecia mais desesperada a cada segundo.
— Vocês merecem cada segundo de pavor que puder oferecer,
acabaram com a minha vida, com a minha carreira. Tudo por causa dessa
aspirante a vadia.
Minha vontade era partir para cima daquele imbecil e fazê-lo engolir
cada uma das palavras nojentas que proferia, mas sabia que se agisse com
precipitação, colocaria a vida de Lacey em risco.
— O que você quer, Elliot, diga seu preço. Eu pago e vamos todos
embora.
Tentei negociar, mas ele continuou em silêncio.
— Você acha que sou idiota, que vou acreditar que você vai me dar o
dinheiro e as coisas ficarão por isso mesmo? Agora mesmo é que eu vou até o
fim.
Pelo menos ainda tinha um pouco de juízo, porque eu, com toda
certeza, não deixaria que ele saísse impune, ainda mais depois de apontar
uma arma para Lacey.
— Pense bem, Elliot, por enquanto você não fez nada de errado, eu lhe
dou dinheiro e cada um segue sua vida.
Ele avaliou e depois encarou minha garota, que estava estática.
E não era para menos, mesmo a alguns metros de distância, eu consegui
perceber o quanto ele parecia desiquilibrado.
Pelo visto, ter perdido seu cargo tinha mexido demais com sua cabeça.
Embora achasse que ele já tinha algum tipo de perturbação.
— Eu não tenho mais nada a perder, Ward, mas ver vocês sofrerem me
daria muito prazer.
Levantei as mãos e andei em direção a eles.
— Nem mais um passo — ele disse e apontou a arma para mim.
Recuei imediatamente, seria estupidez arriscar nossas vidas.
— Diga o que quer, Elliot, me diga e será seu — tentei mais uma vez.
Ele me avaliou cautelosamente depois olhou para ela novamente.
Aquele silêncio me incomodou, era como se ele estivesse decidindo o
que iria fazer.
Então, calmamente ele se afastou alguns passou de Lacey e apontou a
arma para a cabeça dela.
Tive certeza de que ele iria atirar e saber disso fez meu coração parar.
— Abaixe a arma — Bartosh apareceu na rua principal com sua arma
apontada para Elliot e eu nem saberia dizer se senti alívio ou desespero.
Elliot ficou ainda mais irritado e desviou a arma de Lacey para mim.
— Seu filho da mãe, mande esse seu cão de guarda abaixar a arma —
berrou, furioso.
Olhei para Bartosh que atendeu ao meu pedido e baixou a arma
vagarosamente.
Jamais tinha passado por uma situação nem parecida com aquela e não
sabia o que fazer, no entanto, minha maior preocupação era tirar Lacey de
perto dele.
— Fique ao lado do seu chefe. Vá, ou eu atiro nela — disse a Bartosh
que calmamente andou até chegar próximo a mim.
— Vou levar Lacey comigo, ela será minha garantia para escapar e,
depois, minha moeda de troca — falou, se afastando com ela à sua frente,
como um escudo.
Ele não podia levá-la, Lacey já tivera traumas demais, não aguentaria
passar por algo assim.
Mas o que eu poderia fazer para evitar que aquilo terminasse numa
grande tragédia?
Enquanto Elliot me afastava para longe de Thomas e de seu segurança,
várias coisas passaram em minha cabeça. Pensei em acertá-lo, em correr, em
gritar, mas, por fim, deixei que ele me arrastasse.
Jamais me perdoaria se por um ato impensado ele atirasse em Thomas,
afinal, fui eu quem facilitou as coisas quando saí de casa sem avisar e ainda
por cima alcoolizada.
Enquanto nos afastávamos, imaginava mil desfechos para aquela
situação, até que um terceiro homem surgiu na rua principal.
— Vamos manter a calma — Tom pediu e começou a caminhar em
nossa direção.
— Fiquem longe ou eu atiro.
Elliot estava praticamente encurralado e a cada segundo eu tinha a
impressão de que ele iria mesmo atirar em alguém.
Estar naquela situação me fez apreender, pela primeira vez, que a vida
realmente não valia nada. Em um momento eu estava bebendo e dançando
com a minha amiga e no outro, sob a mira de uma arma por causa de
vingança.
— Todos para lá — ele disse apontando na direção de Thomas.
Vagarosamente eles fizeram o que Elliot pediu, este foi me levando
para longe.
— Tenho um carro ali do outro lado e um esconderijo perfeito para nós
dois.
Percebi que ele me levaria de qualquer jeito e aquilo realmente me
desesperou. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Elliot tropeçou
no meio fio e eu aproveitei para correr. Meus saltos atrapalhavam, mas
consegui me esconder atrás do primeiro carro que vi.
Estou salva, pensei, mas então a arma dele disparou em minha direção
e pegou a lateral do veículo.
Soltei um grito de pavor e me encolhi o máximo que pude, sentindo
meu corpo trêmulo e o coração batendo descompassado.
Quando percebi que ele não ia mais atirar em minha direção, levantei a
cabeça para mostrar que estava bem e vi os homens de Tom correndo por
entre os carros na direção de onde Elliot estava.
Thomas me viu e não se conteve, saiu correndo e atravessou a rua para
ir ao meu encontro. Aliviada, eu cheguei a levantar metade do corpo para
recebê-lo com um abraço, mas outro tiro foi disparado, seus passos foram
interrompidos e o vi caindo no chão.
Não, não, não.
Tudo aconteceu muito rápido, eu ainda estava com o grito preso na
garganta quando os dois seguranças imobilizaram Elliot e tiraram a arma de
sua mão.
Com as pernas moles, corri até onde Thomas estava e me ajoelhei aos
prantos ao lado dele.
— Ah, meu Deus, Tom — lamentei, olhando seu ferimento.
— Está tudo bem — ele disse colocando a mão no braço que fora
atingido.
O paletó cinza claro estava todo sujo de sangue, mas desconfiava que
fora só de raspão.
— Já chamamos a polícia e uma ambulância — um dos grandalhões de
Thomas avisou.
— Isso tudo é culpa minha, me perdoe, por favor — pedi, soluçando.
Estava me sentindo tão nervosa e culpada que a bebedeira até tinha
passado.
— O importante é que você está bem e que nada pior aconteceu —
disse para me tranquilizar.
Eu sabia que a culpa por aquela noite quase ter acabado em tragédia
tinha sido minha, mas em minha defesa, eu nunca imaginei que Elliot poderia
ter enlouquecido a ponto de querer nos fazer tanto mal.
Se ele era um advogado tão brilhante, poderia ter arrumado outro
trabalho, mas não, passou seu tempo vago planejando uma maldita vingança.
Enquanto eu chorava ao lado de Tom, escutei as sirenes da polícia e da
ambulância que iria socorrê-lo. Ele parecia calmo e me olhava o tempo todo
para me tranquilizar.
Thomas recebeu os primeiros socorros na calçada mesmo e antes de
entrar na ambulância, ordenou aos seus seguranças que ficassem responsáveis
por achar Joly e ainda conversou com os policiais para que prestássemos
depoimento no dia seguinte.
Mesmo machucado, ele estava tomando as rédeas da situação, enquanto
eu só sabia chorar.
Já no hospital, eu estava me sentindo um alien, com aquele vestido
cheio de brilho e o rosto todo borrado de maquiagem. Sentia-me em choque,
cansada, arrependida. Uma verdadeira confusão de sentimentos.
Fiquei na recepção esperando até que o médico atendesse Thomas e só
sosseguei quando me falaram que ele estava fora de perigo.
Por sorte o tiro não foi muito profundo. Ainda assim, precisou de um
curativo especial para que a ferida não sangrasse, e como bateu a cabeça,
quando caiu na calçada, os médicos acharam melhor deixá-lo em observação
pelo resto da noite.
Quando já estava no quarto, fui autorizada a ficar com ele.
Tom estava com aquela roupa de hospital, o braço enfaixado e o
semblante cansado.
— Eu nem sei o que dizer, meu Deus, eu...
— Lacey, não é hora de falarmos sobre isso. Eu te chamei aqui para
contar que Joly já está em casa, em segurança e que sua mãe está vindo te
buscar — disse, seco, deixando o celular na mesa de apoio.
— Eu não vou te deixar sozinho — rebati.
Ele ficou em silêncio e aquilo estava me deixando enervada e
preocupada.
Thomas era o homem da minha vida e vê-lo baleado me fez perceber
que havia coisas piores do que ter que aguentar os Wilson e um maldito
processo por agressão.
— Tom, eu sei que não é o momento ideal, mas todo o inferno que vivi
na última hora me fez perceber que nossos problemas são pequenos demais
perto de passar uma vida sem você.
Eu queria que ele entendesse meus motivos para ficar longe, que
sentisse que eu estava arrependida e disposta a dar uma chance para o nosso
amor.
— Você passou por muita coisa essa noite, Lacey, melhor
conversarmos outra hora.
Depois de ter ficado por tanto tempo na mira daquela arma, eu tinha
chegado à conclusão que poderia enfrentar qualquer coisa por ele.
— Tom, eu não gosto e não confio em Donald, não sei como vou fazer
para conviver com a cobra da filha dele, muito menos como será enfrentar
uma acusação por agressão da sua ex-mulher, mas tudo isso se tornou um
grão de areia perto da possibilidade de eu não ter você em minha vida —
falei, aos prantos, e me aproximei da cama.
— Acalme-se, Lacey — pediu em tom mais brando e segurou minha
mão.
Limpei o rosto e voltei a encará-lo.
— Eu sempre soube sobre sua posição em relação a Donald e a filha
dele, mas que história é essa de processo por agressão? — perguntou.
— No dia daquele jantar, sua mãe me ligou e avisou que Natalie estava
decidida a me processar por agressão. Eu fiquei apavorada. Minha mãe já
sofreu tanto com esse tipo de coisa... Eu odiaria vê-la passando por tudo isso
novamente. Além disso, Cybele disse que poderia respingar em você ou nas
suas empresas e que seria terrível se a imprensa soubesse que sua ex-mulher e
a atual namorada iriam se enfrentar na justiça.
Tom ficou olhando para mim como se não acreditasse que esse era um
dos motivos que me levaram a pedir um tempo.
— Está querendo dizer que minha mãe te ligou e falou tudo isso?
— Sim, e logo depois que terminamos, ela ligou novamente falando
que estava triste, mas que daria um jeito de tirar aquela ideia da cabeça de
Natalie.
Tom desviou o olhar como se estivesse com raiva do que ouviu.
— Deveria ter me falado sobre isso, Lacey — demandou em tom sério.
— Eu sei, mas como as coisas estavam insustentáveis entre nós, eu
achei melhor dar um tempo para ver se tudo se acalmava. Em minha cabeça,
não era uma situação definitiva, eu só precisava de tempo para que Cybele
convencesse Natalie a não me processar e você resolvesse as negociações
com Donald.
Ele deu uma risada desgostosa e depois acariciou meu rosto.
— Você é tão ingênua que não conseguiu perceber que minha mãe
talvez esteja por trás dessa ideia de processo.
— Depois de tudo que me falou sobre ela, eu até cogitei que poderia ser
isso mesmo, mas Cybele parecia triste com o nosso término e eu jamais
estragaria a boa relação que vocês estavam construindo com uma
desconfiança, por isso achei melhor ficar na minha.
O silêncio de Thomas me deixou preocupada. Caso ele estivesse certo e
Cybele fosse a causadora de todos os problemas que vinham acontecendo
desde Londres, a situação entre eles ficaria insustentável.
— Você não deveria ter me escondido isso, mas no momento não estou
com cabeça para nada. Só quero sair desse hospital e ir para casa.
Thomas estava visivelmente esgotado, triste, decepcionado e eu sentia
que tinha mais a ver comigo do que com Cybele.
Mamãe chegou no minuto seguinte e nossa conversa ficou por aquilo
mesmo.
Enquanto ela me abraçava e falava o quanto estava preocupada, eu só
conseguia pensar em como estava me sentindo péssima por toda aquela
situação.
Para não deixar Thomas ainda mais desgastado, expliquei meio por
cima o que havia acontecido e depois de ela se certificar de que ele estava
bem, fomos até a cafeteria.
Assim que saí do quarto, mamãe tirou seu cardigan e me deu para
vestir, já que meu vestido estava chamando a atenção.
Enquanto caminhávamos pelos corredores, escutei todo tipo de sermão
que uma mãe poderia dar a uma filha e fiquei calada, ela tinha razão de estar
falando todas aquelas coisas.
Assim que nos sentamos na cafeteria, comecei a explicar tudo que
estava acontecendo. Falei sobre Megan, Donald, Cybele e Natalie.
Coloquei todas as cartas na mesa e deixei que ela me julgasse da forma
que quisesse.
— Você passou por muita coisa nas últimas semanas, querida —
concluiu acariciando meus cabelos.
— Eu sei, mamãe e acabei chegando ao meu limite, foi por isso que
terminamos. Mas tudo que passei nas últimas horas, me fez perceber que eu
tenho força para enfrentar qualquer coisa por ele.
Ela assentiu e me abraçou.
— A situação de Thomas e a mãe vai se complicar de novo, mas vamos
esperar que ele entenda o seu lado da situação.
— Eu fui ingênua; ele sempre me falou que a mãe era uma cobra e
torcia para que ele voltasse com Natalie, o problema é que ela parecia tão
amigável e preocupada em ganhar a confiança dele, que eu não imaginei que
pudesse estar armando alguma coisa.
Mamãe me escutou com atenção por vários minutos e quando voltamos
para o quarto, Tom já estava dormindo por causa da medicação.
Mamãe concordou que eu não deveria deixá-lo sozinha, então,
combinamos que eu dormiria no hospital com ele e que ela voltaria no dia
seguinte para me substituir, uma vez que eu precisava ir à delegacia prestar
depoimento.
Assim que ela se foi, arrastei uma poltrona para o lado da cama de
Thomas e segurei sua mão.
Instintivamente, ele a apertou e isso acalmou um pouco meu coração.
Adormeci enquanto rezava pedindo para que as coisas se ajeitassem
entre nós. Eu não aguentava mais ficar separada e torcia para que ele
estivesse pensando o mesmo quando acordasse.
Eu dormi por algumas horas, mas minha ansiedade para resolver minha
vida era tanta, que parecia estar ligada na tomada.
Mamãe chegou cedo ao hospital e ficou com Thomas para eu poder ir
para casa. Lá, eu tomei um belo banho, lavei os cabelos e me arrumei o mais
rápido que pude.
Quando cheguei à delegacia, não demorou para que me chamassem
para depor e por mais de uma hora relatei tudo que tinha acontecido entre
mim e Elliot. Falei sobre como ele me tratava quando era meu chefe e das
insinuações que fez e que culminaram em sua demissão.
Não poupei detalhes, pois sabia que seria importante durante o
processo.
Depois de uma hora e meia de depoimento, fui liberada.
Assim que saí da delegacia, liguei para mamãe para falar como havia
sido e perguntar sobre o estado de Thomas.
Ela me disse que ele estava muito calado e que assim que os médicos
deram alta, agradeceu pelos cuidados e foi embora com seu motorista. A seu
ver, ele parecia bem, mas deixou claro que não queria receber ninguém, pois
precisava descansar.
Era normal que quisesse um tempo para avaliar os últimos
acontecimentos, então, decidi que era melhor eu lhe dar aquele espaço,
mesmo que não fosse esse o desejo do meu coração.
Eu já tinha prestado depoimento, Thomas estava bem e em casa, então
decidi que iria para a empresa. Eu estava atrasada, mas era o último sábado
antes da apresentação do projeto e eu gostaria de ajudar, além do que seria
uma forma de ocupar o meu tempo para não ficar em casa remoendo o que
havia acontecido na noite anterior.
Aproveitei o trajeto para responder as mensagens de Joly, que estava
louca para saber o que havia acontecido. Eu não sabia se Thomas iria abafar o
que aconteceu, então, aproveitei que ela não tinha presenciado todo aquele
terror, para editar um pouco a história, mas não naquele momento quando
estava indo trabalhar. Em vez disso, combinamos de conversar pessoalmente.
Até lá, eu saberia o que falar para ela.
Enquanto caminhava até a empresa, fiquei pensando que não muito
tempo atrás, eu tinha sido a versão feminina de Elliot. Além de perseguir Jace
para todos os lados, ainda o agredi.
Senti vergonha de ter feito esse tipo de coisa, mas levei aquilo como
uma lição. Todo o pavor que vivi nas mãos de Elliot, me fez perceber que
jamais faria algo parecido de novo, que jamais permitiria que alguém sentisse
medo por causa do meu comportamento agressivo.
Aquela breve caminhada também me fez enxergar a vida de um jeito
diferente. Embora eu já me sentisse curada de toda a loucura que me rondava
no passado, foi preciso que eu estivesse do outro lado da situação para ter a
real dimensão da gravidade dos meus atos.
Quando parei em frente ao prédio da Ward Corporation, fiquei alguns
segundos olhando para as letras prateadas do nome e senti uma fisgada no
peito por saber que ele não estaria ali.
Minha vontade era largar tudo e sair correndo atrás de Thomas, mas
entendi que naquele momento ele precisava descansar.
Parei na cafeteria e comprei um expresso para viagem e fui bebericando
até o setor de projetos.
Todos já estavam em suas mesas e eu fiz o máximo para disfarçar o
quanto minha noite tinha sido conturbada.
Liguei meu computador e entrei em alguns sites de fofocas e jornais
locais, mas não havia qualquer nota sobre o incidente da noite anterior, sinal
de que Thomas já havia dado um jeito de abafar as coisas.
Perto do meio dia, eu estava ansiosa para ter notícias dele, mas fiquei
com receio de ligar ou mandar mensagem. Seria terrível se o acordasse e pior
ainda, se ele não me atendesse.
Fiquei pensando nas palavras de minha mãe sobre ele ter falado que
não queria receber ninguém e me questionei se aquilo se estendia a mim.
Será que ele ficaria feliz em me ver?
Essa ideia me animou e imediatamente eu pensei que aquele braço
poderia estar dificultando na hora de tomar banho ou até mesmo para comer.
Então, eu fui à mesa de Abby perguntar se poderia sair mais cedo e ela
aceitou tranquilamente, afinal, já estava quase na hora de ir embora.
Saí de lá com um sorriso de orelha a orelha e cheia de esperança de que
Thomas me recebesse um pouco melhor, já que nossa conversa no hospital
tinha sido um desastre.
Por sorte eu ainda estava autorizada na recepção e minha entrada foi
liberada.
Já dentro do elevador, eu estava com o coração acelerado, era a mesma
emoção de um primeiro encontro. Que loucura.
Enquanto o elevador subia, fiquei pensando no que cozinhar para ele ou
para qual restaurante ligar. Quando estávamos em casa, era sempre ele quem
cozinhava, então, estava na hora de eu fazer uma gentileza.
Mas tudo isso sem avançar o sinal, agindo com calma e inteligência.
Ele estava magoado comigo por não ter confiado nele, mas eu estava
disposta a deixar tudo isso de lado e oferecer uma trégua.
Quando o elevador parou no hall do andar, pensei em apertar a
campainha, mas depois me lembrei que ele sempre esquecia de trancar a
porta e decidi arriscar.
Passei pela porta e demorei alguns segundos para entender que ele não
estava sozinho no apartamento.
Caminhei até a sala e estaquei quando o vi sentado no sofá, com Emma
ao seu lado.
Meu sangue ferveu, tive vontade de berrar de ódio, mas me contive e
disse:
— Ah, me desculpe, eu achei que estivesse sozinho... — falei, já
caminhando em direção a porta.
Minha ira já tinha me colocado em confusões demais, então, era melhor
ir embora.
— Lacey, espere — Thomas pediu quando eu já estava em frente ao
elevador.
— Você está ocupado, desculpe não ter avisado.
— Você sabe que não precisa avisar e antes que pense besteira, Emma
está aqui por causa das coisas que aconteceram ontem.
Minha raiva abrandou um pouco, mas toda minha boa vontade em
querer cuidar dele tinha ido para o espaço.
— Tudo bem, eu imaginei que fosse isso, eu volto outra hora.
Tom assentiu e aquilo me deixou louca.
Ele iria mesmo me deixar ir embora?
— Melhor, depois que Emma sair, vou dormir um pouco, aquela cama
de hospital é horrível — justificou.
Assenti tentando entender que ele estava ferido, cansado e magoado.
Só que eu também estava péssima, mas não imploraria por atenção.
— Até mais, Tom.
Eu falei com esperança de que me pedisse para ficar, mas ele me olhou
e disse:
— Se cuida, Lacey.
— Você também — respondi e entrei no elevador.
Aquela cena parecia muito com uma despedida, e precisei engolir meu
choro, assim como a vontade de explodir, e só desabei quando as portas se
fecharam.
Minha vida estava um grande desastre e se aquela mulher estava ali,
tendo a chance de tentar conquistá-lo, era porque eu tinha sido irresponsável
ao ir àquela boate.
As peças daquele jogo estavam se movendo. Emma estava com todas
as vantagens e eu sabia que não tinha o direito de surtar ou falar qualquer
coisa. Estava na hora de deixar a poeira baixar, nem que para isso eu
precisasse dar espaço para o inimigo.
Já que Thomas morava próximo ao Central Park e ainda era final de
tarde, decidi ir caminhando por dentro do parque para pensar na vida.
Sem contar que era uma forma de demorar para chegar em casa.
Como boa masoquista que era, resolvi parar justamente na Starbucks
em que eu e Tom costumávamos ir depois das nossas corridas.
Pedi meu café preferido e me sentei em uma mesa bem no canto da
janela, para observar as pessoas que passavam.
Dei o primeiro gole e senti certo tipo de consolo, aquele café estava
sendo a única parte boa do meu dia.
Eu estava distraída olhando o pessoal do lado de fora quando Louise
Stone entrou com uma roupa de ginástica rosa fluorescente, chamando a
atenção de todos.
Esperei que ela pegasse sua bebida e quando a vi procurando por uma
mesa levantei o braço e acenei.
Naquele momento, tudo que eu mais precisava na minha vida era de 10
minutos de conversa com ela.
— Lacey, que surpresa boa — ela disse, animada.
— Como vai, Louise? — perguntei, tentando manter o entusiasmo.
— Ótima, aproveitei que Tony foi jogar golfe com papai e resolvi fazer
um pouco de cárdio.
Assenti e conversamos amenidades, até ela perceber minha falta de
ânimo.
— E você, como está? — perguntou.
— Péssima. Se eu te contar tudo que aconteceu nas últimas semanas,
não vai acreditar.
— Vou pedir outro chá e você me conta tudinho.
Assenti e abri o jogo sobre tudo o que havia acontecido nos últimos
dias.
Falei sobre a forma como Tom me perseguiu pela empresa, do ciúme
que senti ao vê-lo com Megan e depois com Emma. Dei detalhes da noite de
terror que vivi nas mãos de Elliot e no desgosto que estava sentindo por
Thomas estar tão fechado comigo.
Ela ouviu pacientemente e quando terminei, quis saber, ansiosa:
— E aí?
— Do meu ponto de vista, Thomas não fez nada além de correr atrás de
você e tentar te proteger, devido a isso, é normal que ele esteja um pouco
esgotado. Quanto ao restante, pelo que você me disse, não consigo enxergar
qualquer interesse da parte dele nem por Megan nem por Emma. A única
coisa que me preocupa é o desapontamento dele com a mãe. Thomas esperou
a vida toda para se dar bem com ela e agora isso.
Eu estava tão focada em meus sentimentos que esqueci que Thomas
estava sofrendo pela decepção que teve com sua mãe.
— Me sinto perdida, Louise, não sei se corro atrás ou se espero a poeira
baixar.
Ela me encarou e depois sorriu.
— Penso que em qualquer caso, o tempo é sempre o melhor remédio.
Thomas é um homem à moda antiga e se ele realmente te ama, pode ter
certeza de que, mais cedo ou mais tarde, irá atrás de você. Seja paciente.
Aquela meia hora de conversa com Louise acalmou a minha alma e me
senti com esperanças de que muito em breve Tom iria me procurar e as
coisas, finalmente, iriam se resolver.
Acho que em toda minha vida nunca me senti tão confuso e
decepcionado.
Eu estava triste por todas as coisas que aconteceram com Lacey,
indignado por saber que Elliot a estava seguindo e profundamente
decepcionado com minha mãe. Ela não havia mudado e nunca mudaria.
Por todos esses motivos preferi passar o final de semana recluso, indo
prestar meu depoimento sobre o ocorrido na boate, apenas na segunda-feira.
Emma me acompanhou e tratou de todos os trâmites legais.
Depois de tudo isso resolvido, decidi trabalhar em casa já que ainda
sentia desconforto no braço, então, pedi que minha secretária cancelasse
minhas reuniões presenciais e enviasse os documentos que precisavam ser
assinados pelo meu motorista.
Aquilo era uma forma de ganhar mais tempo para analisar a situação a
minha volta.
Havia uma luta interna dentro de mim, mas não dava para fugir do
trabalho para sempre, tanto que na quarta pela manhã, eu já estava muito
melhor e resolvi ir para empresa, tinha compromissos que não poderiam mais
ser adiados.
Mas aí, como se não bastassem todos os problemas, fui surpreendido
com a visita de Natalie.
Quando Freya avisou que ela estava na recepção, fiquei surpreso e
irritado, mas decidi recebê-la para dar um ponto final àquela perseguição.
— Obrigada por me receber, Thomas.
— Imagino que o que tenha a dizer seja de grande importância, ou não
iria se deslocar de tão longe.
Ela assentiu, mas na hora notei que seu semblante estava diferente, não
havia ar de deboche, muito menos sorrisinhos de provocação.
— Meu namorado está em Nova York a trabalho e resolvi acompanhá-
lo, esperava poder falar com você. Prometo que serei breve.
— Que ótimo, estou cheio de coisas para resolver.
Com tudo o que aconteceu nos últimos dias, a última coisa que
precisava era de um embate com minha ex.
— A verdade, Tom, é que eu vim me redimir.
— Como é? — questionei.
— Sim, eu não aguento mais viver sob as vontades da sua mãe e para
me libertar, preciso falar o que vem acontecendo há todos esses anos.
Fiquei olhando para Natalie e tentando entender se aquilo era sério ou
fazia parte de mais um plano delas.
— Como assim?
— Na época em que nos separamos, eu realmente perdi a cabeça e
quem esteve lá, me ajudando a recolher os cacos foi ela. Quando me vi forte
de novo, resolvi te infernizar, tinha aquela ideia doentia de, se não é meu, não
será de mais ninguém. E fiquei assim por todo o tempo em que ficamos
separados, sempre com a esperança de que você curtiria aquele período de
solteirice e voltaria para mim.
“Por todo esse tempo, ela esteve lá por mim. Então você foi categórico
quando disse que se eu não assinasse os papéis do divórcio, entraria com o
litigioso. Saber que realmente seria definitivo, acabou comigo, de tal forma,
que eu tomei uma superdosagem de pílulas para dormir.
— Natalie... — sussurrei, eu não sabia daquilo.
— Não se preocupe, já passou, mas no pior momento ela estava lá, nem
minha mãe sabe o que aconteceu. Bom, com o tempo, mais especificamente
depois que você veio para cá, eu fui me dando conta de que não tinha mais
volta e aceitei o nosso rompimento, mas sua mãe, não. Ela tinha idealizado
tanto a nossa vida, que eu acabei fantasiando o mesmo. Quando vi, estava
completamente enredada por suas artimanhas. Se eu soubesse que ela usaria
todo o tempo que passou cuidando de mim como uma arma, não teria me
anulado tanto. Eu simplesmente não consigo dizer não a ela.
— Mas você já é uma mulher.
— Sou, mas eu tinha dezenove anos e era ingênua quando nos casamos.
Mesmo após a separação de corpos, eu permaneci lá, só fui embora quando
você também foi. Foram anos e anos de doutrinação de forma que, ela pedia e
eu simplesmente fazia. Eu te ligava, e aquilo me fazia mal, mas eu não
conseguia negar.
“As coisas começaram a mudar quando eu conheci o Greg. Mesmo sem
saber o tipo de relação que eu e Cybele temos, ele sabe que há alguma coisa
errada e está me ajudando. Tanto que quando ela me contou seus planos, eu
disse que seria a última vez.
— Quais eram os planos e que história é essa de processar a Lacey por
agressão?
— Eu jamais a processaria, tudo isso foi ideia da sua mãe para assustar
Lacey. E quanto a cena no escritório, não era para ela nos ver, tudo o que
Cybele queria era ter fotos e vídeos de nós dois naquela noite para enviá-las à
sua namorada, depois que vocês fossem embora, mas Lacey nos flagrou e as
coisas saíram de controle.
Soltei um suspiro de cansaço ao saber que minha mãe estava por trás de
tudo de ruim que vinha acontecendo, quase causando uma tragédia.
— Isso é loucura! É inacreditável que depois de tudo que conversamos,
ela ainda faça esse tipo de coisa.
— Sua mãe nunca vai mudar, Tom, é uma louca controladora, que quer
viver a vida dos filhos. Mas eu lhe garanto que estou fora de todas essas
armações. Estou realmente apaixonada por Greg e não quero mais ficar atrás
de você nem acabar com seu relacionamento. Se ela quiser controlar a vida de
vocês, terá que fazer isso sozinha. Foi por isso que vim aqui. Quero uma vida
nova e para isso, precisava que soubesse como e porque as coisas
aconteciam.
— Mas para que se sinta livre, terá que contar para o Greg.
— Eu sei e já estou preparada.
— Muito bem. E fique tranquila, vá viver sua vida e esqueça que nós
existimos.
Ela abriu em largo sorriso.
— É o que pretendo fazer — afirmou e tive que sorrir também.
Natalie pegou sua bolsa e antes de sair, disse:
— Desculpe por tudo, Thomas e não se preocupe mais comigo.
De todas as pessoas que poderiam se redimir e pedir desculpas, Natalie
era a menos improvável, mas senti certo alívio por saber que seria um
problema a menos para eu lidar.
Quando ela saiu do escritório, fiquei um tempo pensando em tudo que
ouvi, apenas para chegar à conclusão de que onde tivesse dedo de Cybele
haveria problema e o único jeito de não sermos atingidos, seria nos afastando.
Suspirei profundamente.
Eu precisava ter uma conversa séria e definitiva com minha mãe, mas
antes, precisava pensar no castigo que a fará sofrer tanto quanto nos fez
sofrer por todos aqueles anos.
Ela precisava sentir o quanto manipular as vidas das pessoas a seu bel-
prazer poderia ser prejudicial.

Os dias se arrastaram de maneira enfadonha, mas mantive minha


posição de me manter centrado nos negócios.
Meu braço já estava muito melhor e eu nem sequer estava usando a
tipoia, achei desnecessário.
A única coisa que me incomodava era a saudade que eu sentia de
Lacey.
Já era sexta-feira e estávamos sem nos ver desde o sábado em que ela
saiu do meu apartamento, visivelmente chateada pela presença de Emma.
Eu a entendia, havia deixado claro que não queria receber ninguém, e
quando ela aparece, estou com outra mulher.
Mas a verdade era que muita coisa havia acontecido e eu realmente
precisava pensar. Além disso, quis lhe dar um tempo para fazer o mesmo.
Lacey fora categórica quanto ao nosso término e de forma alguma queria que
ela reconsiderasse apenas por causa do horror que viveu nas mãos de Elliot
ou por causa do que poderia ter me acontecido. Eu a queria por inteiro, de
verdade, sem reservas, sem mentiras e, principalmente, sem medo.
Mas, para isso, nós precisaríamos conversar e colocar as coisas em
ordem.
Pensar nisso me fez lembrar de Londres.
No dia anterior eu liguei para Devon e falei a respeito do tiro de raspão
que levei na boate. Só que o boca grande contou para Cybele e ela não parava
de me ligar.
Eu não sabia se Natalie havia lhe falado sobre sua visita, mas estava
decidido a não atender, queria que ela esperneasse bastante antes que
estivesse à sua frente para dizer como as coisas seriam.
— Senhor, temos um pequeno problema — disse Freya quando passei
pela recepção.
Tinha acabado de sair de um almoço de negócios e pretendia ler um
importante contrato antes da reunião que estava marcada para as 13h30.
— Que problema?
— O senhor tem dois compromissos no mesmo horário: a reunião para
assinar o acordo com o Sr. Wilson e uma participação na feira de engenharia
da Universidade de Columbia.
Eu estava com a cabeça tão focada nos negócios, que acabei
esquecendo completamente do projeto que Lacey e Abby apresentariam na
feira de engenharia da universidade.
Emma tinha me dado carta branca para assinar com a empresa de
Donald e acabei focando apenas nisso.
O problema era que Lacey ficaria me esperando, já que eu havia
prometido que faria o máximo para comparecer.
— E então, senhor, posso preparar a sala de reuniões? — Freya
questionou.
Ali não era a hora e nem o lugar para fazer uma análise existencial, mas
rapidamente pensei em como seria minha vida caso fechasse com Donald.
Lacey e Megan viviam em pé de guerra e mesmo que no hospital ela
parecesse disposta a passar por cima disso, eu sabia que seria uma
convivência difícil e que eu teria que viver apagando incêndios, caso Lacey e
eu continuássemos juntos.
De todos os problemas que ela pontuou, Natalie e Cybele já eram carta
fora do baralho, então, eu precisava decidir se fechava sociedade com Donald
ou se reatava com Lacey, pois as duas coisas seriam insustentáveis a longo
prazo.
Minha semana foi péssima, Tom havia sumido do mapa e eu não sabia
o que fazer.
Respeitei o espaço que ele impôs e não liguei ou mandei mensagem e
mamãe me incentivou a manter essa postura, focando no trabalho e na
universidade.
A conversa com Louise me manteve firme por muitos dias, mas quando
a sexta-feira chegou, eu estava um poço de ansiedade por causa da
apresentação do nosso projeto na feira de engenharia de Columbia.
Quando minha última aula acabou, fui até a lanchonete, comi alguma
coisa e fiquei esperando por Abby e os outros estagiários que participariam
da apresentação do projeto para o reitor, professores e alunos que estivessem
presentes.
Eles não demoraram a chegar e Abby foi falar comigo.
— Como foi a montagem das maquetes? — questionou enquanto
caminhávamos para o ginásio onde os projetos estavam montados.
— Ah, foi tudo perfeito, fiquei de olho.
Ela assentiu e continuamos conversando sobre detalhes da
apresentação.
Eu estava louca para perguntar se Thomas iria, mas ela acabou
adivinhando meus pensamentos.
— Thomas não vem, Lacey. Eu falei com Freya logo depois do almoço
e ela disse que no mesmo horário ele estará assinando um contrato.
Assenti, decepcionada.
Não duvidava nada que tivesse a ver com Donald Wilson, Thomas
esquecia do resto do mundo quando o assunto era essa sociedade.
A despeito do que lhe disse, após tudo o que havia acontecido entre
mim e Megan, nossa convivência seria insustentável e a assinatura desse
contrato, de certa forma, era um sinal de que nosso namoro tinha acabado.
— Tudo bem, a gente pode fazer isso sem ele — falei com falso
entusiasmo.
Seguimos para o setor onde estava nossa mesa e achei incrível a
produção que o setor de marketing havia feito para nós.
Ao redor havia uma estrutura com painéis indicando que aquele era um
projeto dos estagiários da Ward Corporation.
Batemos algumas fotos e assim que os alunos começaram a circular
pela feira, eu me posicionei ao lado de Abby e explicamos aos curiosos como
funcionava nosso projeto.
Eu mergulhei naquilo durante a semana toda e me sentia pronta para
responder qualquer tipo de pergunta, e caso não soubesse, Abby estaria ao
meu lado.
A apresentação seria feita em um pequeno palco onde usaríamos slides
e um projeto 3D, além de uma maquete menor para que todos entendessem a
beleza do que havíamos criado.
Eu estava me preparando para começar a apresentação quando um
burburinho se formou logo atrás de mim.
Virei-me para ver o reitor caminhando ao lado de Thomas e mais
alguns professores.
Pisquei algumas vezes para ter certeza de que não estava vendo uma
miragem e meu coração faltou sair do peito de tanta felicidade.
Diante de todas as incertezas daquela semana, tê-lo ali foi um sopro de
esperança de que tudo daria certo, de que ele se importava comigo.
Tom se afastou um pouco dos professores e caminhou até onde eu
estava.
— Você veio! — falei emocionada.
— Jamais perderia a apresentação da minha futura engenheira — falou,
todo charmoso, e eu quis morrer de amores.
O jeito como falou comigo era o mesmo das épocas em que estávamos
bem, não havia frieza ou distância e isso aqueceu meu coração.
— Já vamos começar — disse Abby logo atrás de mim e tive que
interromper aquele momento para subir no palco com os outros estagiários.
Nosso professor, que era o organizador da feira, abriu as apresentações
e agradeceu a presença de todos. Depois foi a vez de Abby ir até lá e dar a
introdução em nossa apresentação.
Quanto ela terminou, eu e os outros três estagiários começamos a
apresentar nossa parte. Eu estava nervosa com as mãos geladas, mas só durou
alguns minutos. O olhar de admiração de Thomas me incentivou a dar o meu
melhor.
Eu estava tão envolvida e queria tanto fazer aquilo, que não demorou
para me sentir completamente à vontade.
Meus colegas também falaram e depois de meia hora de apresentação,
fomos muito aplaudidos.
No final, Thomas também subiu ao palco e elogiou Abby e seus
estagiários pela iniciativa e depois fez um belo discurso sobre projetos
sustentáveis.
Eu estava ansiosa para falar com ele, mas deixei que os alunos do
primeiro ano o tietassem e que o reitor lhe mostrasse as instalações da
universidade.
Enquanto Thomas era tratado como uma celebridade, eu permaneci no
ginásio atendendo os alunos, já que Abby teve que voltar para a empresa.
Quase uma hora depois, Tom surgiu ao meu lado e eu fiquei ainda mais
nervosa.
— Acho que precisamos conversar — ele disse.
— Precisamos, sim, deixe só eu avisar meus colegas que já estou indo
embora.
O combinado com a equipe era que eu iria acompanhar a montagem da
maquete e eles a desmontagem e transporte até a empresa, então, minha parte
no acordo estava concluída.
Falei rapidamente com eles e retornei para onde Thomas me esperava.
— Podemos ir? — perguntou e estendeu a mão para mim.
— Claro.
Ele me guiou até o carro onde seu motorista já nos esperava.
— Para onde, senhor? — o homem perguntou quando nos acomodamos
no banco de trás.
— Para a cobertura.
Internamente era aquela resposta que eu ansiava escutar.
Tive tanta saudade de ser tratada daquela forma.
Mesmo que não tivéssemos trocado uma palavra sobre nosso
relacionamento, pressenti que as coisas ficariam bem.
Subimos para a cobertura de mãos dadas, conversando sobre o projeto.
Thomas elogiou minha desenvoltura e disse que eu estava deslumbrante
enquanto falava e gesticulava.
Escutei aquele monte de elogios com um sorriso no rosto, mas o que eu
queria mesmo era matar a saudade dele.
Assim que entramos na cobertura, todo aquele papo de engenharia
desapareceu.
Tom me segurou pela cintura e sem qualquer preâmbulo, invadiu minha
boca de um jeito delicioso que me fez gemer em seus lábios.
— E a nossa conversa? — provoquei, ofegante, quando ele começou a
subir a mão por dentro do meu vestido.
— Acho que vai ter que esperar — falou, me pegando no colo e indo
até o sofá mais próximo.
Estávamos famintos um do outro e não havia espaço para nada além do
desejo que sentíamos.
Agarrei sua nuca para poder aprofundar o beijo ao mesmo tempo em
que suas mãos deslizavam por minhas coxas.
O desejo estava nos consumindo feito brasa e tudo em que pensava era
em me entregar sem reservas.
Thomas tirou minha calcinha sem delicadeza e no instante seguinte
estava deslizando para dentro de mim, enquanto me beijava com voracidade.
Fechei os olhos para sentir a deliciosa sensação de tê-lo me
preenchendo por inteiro.
O fato de estarmos ambos vestidos, deixava tudo ainda mais excitante,
tornando aquele um dos sexos mais incríveis que já fizemos.
— Meu Deus, que saudade — declarou, entrando ainda mais fundo e
mordiscando minha orelha.
Eu estava totalmente entregue àquele momento e inebriada pela luxúria
de estar nos braços do homem que eu amava.
Tom entrava e saía de mim rápido, sentindo a mesma urgência de
chegar ao prazer.
Eu sabia que o que estávamos fazendo era sexo puro e irracional, mas
naquele momento precisávamos saciar a sede dos nossos corpos, mais tarde
ambos seríamos recompensados com doses extras de carinho
Meu tesão era tanto, que em poucos minutos estava me desmanchando
embaixo dele, apertando seu corpo contra o meu.
— Gostosa — falou sem deixar de me invadir, até chegar ao ápice.
Enquanto gozava violentamente, deixei que Thomas mordiscasse
minha pele e me apertasse contra si.
Foi libertador sentir que seu desejo por mim não havia mudado.
Tirei os cabelos suados do rosto e o encarei.
— Eu te amo — falei com o coração cheio de alegria.
— Eu também, linda — revidou com um olhar amoroso e me beijou,
mas dessa vez com extremo carinho. — O que acha de um banho de banheira
e uma conversa? — perguntou quando nos separamos.
Assenti, meio sonolenta daquele sexo delicioso e fui carregada pelos
corredores até chegarmos em sua suíte.
Quanta falta eu senti de estar ali em sua cobertura, de olhar suas coisas
e sentir o cheiro de sua casa.
Eram coisas simples, mas que fizeram muita falta nos dias em que
estive longe.
Quando a banheira estava pela metade, terminei de tirar a minha roupa
e entrei.
Thomas foi pegar seus sais de banho antes de se juntar a mim.
Aninhei-me a ele e fiquei grudada, sentindo seu cheiro e desejando que
o tempo parasse naquele momento. Eu me sentia no paraíso.
— Tom, obrigada por ter ido hoje, foi importante demais para mim.
Prometo que vou tentar fazer o mesmo, quer dizer, valorizar mais o que é
importante para você.
— Se está falando isso por causa de Donald, saiba que não farei mais
negócios com ele.
Virei-me bruscamente devido a surpresa que senti com aquela notícia.
— Você não fez isso por minha causa, certo?
— De certa forma, sim, mas não foi só isso que pesou na decisão e sim
minha desconfiança em relação aos relatórios que ele me passou.
— Nossa... — falei sem saber ao certo se deveria demonstrar a
felicidade que estava sentindo por escutar aquilo.
— Eu avaliei bastante e percebi que nosso relacionamento quase
desandou por eu ter misturado demais nossa vida pessoal com os meus
negócios. Embora eu te queira sempre ao meu lado, você não era obrigada a
conviver com alguém que não suportava e se eu tivesse fechado com Donald,
dado o tamanho do negócio, seríamos obrigados a conviver.
— Também pensei bastante nisso.
— Quando Freya me falou que eu tinha dois eventos marcados para a
mesma hora, passei vários minutos avaliando se iria para reunião com ele ou
para sua apresentação. Eu estava saindo da minha sala a caminho de
Columbia, quando Emma saiu do elevador na presidência, aflita por ter
acabado de descobrir que os relatórios de Donald estavam fraudados.
— O que ele estava querendo esconder com isso?
— Que está completamente falido.
— O quê?
Arregalei os olhos e, mais uma vez, me virei para encará-lo.
A única coisa que consegui pensar foi em como Megan poderia meter
toda aquela banca se o pai estava naquela situação.
— Isso mesmo. No início ele se fez de difícil, uma tática para valorizar
suas empresas, mas depois que pedi os balanços para que meu jurídico
analisasse, ele começou a enrolar e a me levar a jantares e eventos com o
intuito de apresentar pessoas importantes. Decerto, em sua cabeça, se me
mostrasse o quanto era influente, eu apenas confiaria e desistiria de analisar o
faturamento de sua empresa.
— Estou muito chocada, muito mesmo — afirmei.
— Quando percebi que ele estava demorando demais para enviar o que
pedi, comecei a ficar desconfiado. Mas aí, tanta coisa aconteceu, que eu me
perdi um pouco. Foi quando ele entregou os documentos. Mas aquela
desconfiança ainda estava viva, e mesmo depois que Emma deu o aval para
negociar, eu me senti pouco à vontade. Sorte que ela descobriu tudo.
— Então, só para garantir. Independentemente de Emma ter descoberto
sobre os relatórios fraudulentos, você iria ao meu encontro?
— Sim, meu amor, já tinha pedido a Freya que cancelasse a reunião e
estava a caminho do elevador quando Emma apareceu.
Eu quis fazer algum comentário sobre a incompetência da advogada,
mas depois desisti. Ele saberia o que fazer com ela.
— Eu a demiti.
— Sério?
— Se eu não tivesse decidido escutar minha intuição, teria fechado um
acordo que provavelmente me levaria a ruína. Emma errou feio ao me dar
carta branca para assinar aquele contrato. Não tinha como permanecer com
ela após um erro como aquele.
Eu sabia que era feio tripudiar sobre a desgraça dos outros, mas o erro
foi muito grande mesmo. Se ela não estivesse louca para fisgar meu
namorado, eu sentiria pena.
— Uau, acho que precisamos de férias — brinquei e me afundei na
banheira.
— Concordo. Que tal alguns dias em Aspen?
Encarei-o feito criança pequena que tinha ganhado um doce e me
pendurei em seu pescoço.
— Eu topo, será incrível!
Nossa conversa na banheira foi bem longa. Ele falou sobre Elliot e o
processo que ele iria responder por tentativa de sequestro e homicídio.
Depois falou que teria um cuidado redobrado na próxima contratação para o
jurídico.
Também confidenciou que recebera a visita de Natalie e contou sobre o
drama pelo qual passava por todos aqueles anos por causa de Cybele.
Juntando isso às coisas que eu já sabia, concluí que a mulher realmente não
gostava de mim e tinha feito o maior teatro.
Thomas disse que teria uma conversa com ela pessoalmente, mas não
disse o que falaria, nem quando e achei melhor deixar que ele resolvesse essa
parte de sua vida sozinho.
Havia muita coisa para ser colocada em ordem em nosso
relacionamento, mas eu sentia que tudo o que aconteceu serviu para nos
mostrar que se estivéssemos juntos, poderíamos superar qualquer coisa.
Já na cama, Thomas me beijou e falou o quanto me amava, me fazendo
sentir paz na mesma hora. Não havia melhor lugar no mundo do que nos
braços dele.
Após nossa reconciliação, Tom e eu estávamos em lua de mel e mais
apaixonados do que nunca; tanto que passamos aquele fim de semana inteiro
trancados na cobertura dele, matando a saudade que sentíamos um do outro.
Nós também voltamos a desfilar de mãos dadas pelos corredores da
empresa para alegria de uns como, Joly e Abby, e tristeza de outros, como
Tory e suas amigas fofoqueiras.
Eu não cabia em mim de tanta felicidade. Parecia que num passe de
mágica a terra tinha voltado ao seu curso e todos os meus problemas
começaram a se resolver.
Como não tinha nenhum feriado próximo, decidimos simplesmente
fugir para Aspen por alguns dias.
Com isso resolvido, fiz o máximo para adiantar trabalhos e estudar os
conteúdos mais importantes, assim, poderíamos ir na quinta após o trabalho e
voltar terça no final do dia.
Esse foi um dos assuntos que conversei com Abby logo após explicar
tudo o que havia acontecido. Ela concordou totalmente que precisávamos sair
um pouco de Nova York e ainda fez piada dizendo que ela não mandava em
nada e que eu deveria pedir permissão ao chefe.
Eu não via daquela forma. Era ela quem mais me ensinava e era a ela
que eu tinha que me reportar e eu respeitava isso, mesmo que já a
considerasse uma amiga.
Abby, com toda certeza, foi uma das pessoas que mais me ajudou nas
semanas em que fiquei separada de Thomas e eu lhe era muito agradecida por
isso.
Mamãe também estava radiante por saber que tínhamos reatado e que
as coisas pareciam melhores do que antes, no entanto, ela continuava
preocupada e achava que Thomas deveria manter meus seguranças para me
proteger de outros malucos como Elliot ou mesmo uma sem noção como
Megan.
Eu, particularmente, achava que havia sido um caso isolado, mas
acataria qualquer coisa que Thomas decidisse. Precisava confessar que ainda
estava um pouco assustada e uma proteção a mais não faria mal.
Quando a quinta-feira finalmente chegou, eu estava um poço de
ansiedade, doida para viajar e poder ir para um lugar ao qual sonhava
conhecer há meses.
— Você parece ótima — Amanda comentou quando saímos da última
aula.
— Depois de todos os problemas dos últimos dias, posso afirmar com
veemência que me sinto ótima.
Amanda me cutucou com o ombro e seguimos para fora do prédio de
matemática. Graças a Deus aquelas aulas de Cálculo estavam acabando.
— Olha as garotas malvadas atacando de novo — ela comentou,
apontando para onde Megan e suas amigas estavam.
Para variar, estavam zombando uma estudante, visivelmente tímida,
como se aquilo fosse seu passatempo preferido.
Desde que Thomas rompeu as negociações com seu pai, eu não tivera o
desprazer de cruzar com ela pelos corredores.
Continuei olhando para ela, cada vez mais irritada. Megan agia como se
fosse a dona do mundo e as demais pessoas, seus súditos.
Enquanto elas riam da garota que estava sentada em um dos degraus,
parecendo não entender o que estava acontecendo, caminhei calmamente na
direção em que elas estavam.
— O que vai fazer, Lacey? — Amanda sussurrou.
— Você vai ver — avisei e parei em frente ao grupinho nojento.
Elas interromperam as risadinhas e comentários desagradáveis quando
sentiram minha presença.
— Uma Hermès? — apontou Sarah ao olhar para a bolsa que eu estava
usando.
A linda bolsa era uma das que eu tinha ganhado de Thomas em
Londres.
— De boba nossa Lacey não tem nada. Não demorou muito para
começar a se aproveitar do namorado milionário — Megan disse, cheia de
sarcasmo e veneno.
Eu a encarei dos pés à cabeça, assim como ela costumava fazer com os
outros; depois olhei para a garota que continuava sentada na escadaria,
provavelmente com medo de suscitar novas ofensas.
— Como você se chama? — perguntei.
— Katlyn — ela respondeu, tão baixo, que eu mal pude escutar.
— Bom, meu nome é Lacey e esta aqui é a Amanda — apresentei e
minha amiga acenou para a garota. — Acho que eu já te vi sozinha por aí e
queria dizer que, se desejar, pode ficar conosco de hoje em diante.
A garota sorriu, totalmente envergonhada, mas agradecida.
— Qual é, Lacey, vai virar defensora das coitadinhas agora? — Megan
reclamou.
Olhei para ela totalmente impassível.
— Vou ser defensora de quem precisar. Já passou da hora de você parar
de fazer bullying com as pessoas como se fosse melhor que elas.
— Mas eu sou melhor — ela disse, toda cheia de si, e suas amigas sem
personalidade concordaram.
— Só porque tem dinheiro?
— Não apenas por isso. Eu vim de uma ótima casta, com tudo: beleza,
inteligência, elegância e sim, muito dinheiro — falou, toda orgulhosa de suas
“qualidades”.
— Se realmente acha isso, deveria rever seus conceitos, pois soube de
fonte segura que seu pai está completamente falido.
Um coro de oh soou, vindo das pessoas que haviam se juntado para ver
o que estava acontecendo.
Suas asseclas, no entanto, a olhavam de boca aberta, esperando uma
explicação.
— Isso é mentira, certo, Megan? — uma delas perguntou quando a
líder permaneceu apenas olhando para mim.
Seu silêncio fez a tensão entre seu grupo aumentar.
— O gato comeu sua língua? — perguntei, cruzando os braços em
frente ao peito.
— Óbvio que é mentira, essa morta de fome não sabe do que está
falando — respondeu rispidamente.
— Ah, mas eu sei, sim. Meu namorado não fechou negócios com seu
pai porque descobriu que ele falsificou os balancetes da própria empresa
numa tentativa de lhe passar a perna. Pelo que soube, você sequer vai poder
continuar estudando aqui, já que seu papai não pode mais pagar a
mensalidade. Se ainda fosse uma aluna exemplar, que estivesse aqui para
estudar e não para se exibir, poderia até conseguir uma bolsa, mas... — dei de
ombros, com falso pesar por aquela vaca. — E se ele não vai poder pagar
nem a universidade, imagine seu botox e o ácido hialurônico que você coloca
nos lábios.
Outro coro de risadas irrompeu ao nosso redor.
— Pare de falar mentiras! — exigiu, irritada, e começou a pegar suas
coisas.
— Acredito que os pais de vocês sejam empresários, certo? —
perguntei às outras garotas e quando elas assentiram, continuei: — Bom,
sigam meu conselho e peçam que eles chequem a saúde financeira dos
Wilson, garanto que terão uma grande surpresa.
As amigas de Megan olharam para ela, mas não havia mais aquela
admiração cega.
Eu sabia que o que estava fazendo era cruel, mas Megan precisava
descer daquele pedestal e parar de tratar as pessoas como lixo.
— Bom, eu tenho que ir, ótimo dia para vocês — falei e saí,
acompanhada por Katlyn e Amanda.
Eu tinha jogado Megan aos leões e torcia para que ela aprendesse que
dinheiro não podia comprar tudo, muito menos a amizade daquelas
patricinhas que demonstraram na cara dela o quanto o fato de o pai de Megan
estar falido as incomodou.
Tinha a impressão de que aquela amizade não aguentaria após todas
aquelas revelações.
— Sério que eles estão falidos? — Amanda perguntou quando já
estávamos a uma boa distância.
— Sim, estão. Eu jamais humilharia uma pessoa desse jeito, mas
alguém precisava mostrar a ela o quanto é ruim ser medido por sua conta
bancária ou por não ter traquejo social, como é seu caso, Amanda. Ela se
aproveita dessas pequenas coisas para se afirmar, sem ligar para como sua
vítima se sentirá.
— Você foi incrível! — disse Katlyn, encantada.
— Não fiz mais que a minha obrigação.
Após conversarmos mais alguns minutos com ela e trocarmos telefone,
nós nos despedimos e fomos para casa.
Thomas iria passar para me pegar assim que saísse de sua última
reunião e iríamos direto para o hangar.
E embora ainda precisasse tomar banho e me arrumar, assim que
cheguei no apartamento, fiz questão de contar para mamãe o que havia feito.
Ela não gostava de linchamento público, mesmo verbal, mas concordou
que foi uma boa lição para que Megan se colocasse no lugar das outras
pessoas.
Depois de me vestir, levei minha mala para a sala e encontrei mamãe
ao telefone, algo totalmente normal, não fosse a forma melosa como falava
com a pessoa do outro lado da linha.
— Que cara de apaixonada é essa, Sra. Jenna? — brinquei quando ela
desligou, e mamãe quase derrubou o telefone com o susto.
Bem típico de quem está aprontando, pensei, vendo-a guardar o
aparelho na bolsa.
— Hmm, bom, agora que as coisas voltaram ao normal, eu posso te
falar — começou, parecendo animada e receosa ao mesmo tempo.
— Falar o quê? Estou curiosa — avisei deixando minha mala próximo
a porta e indo até o sofá para conversar com ela.
— Eu estou namorando — disse, sem rodeios.
— Uau, isso é realmente uma surpresa! — falei, mas logo vi que ela
estava mais nervosa do que aparentava e resolvi acalmá-la: — Mãe, está tudo
bem, estou feliz por você.
— De verdade? — perguntou.
— Claro que sim e torço para que ele seja tão maravilhoso quanto você.
— Ele é, querida. Quando voltar de viagem, marcarei um jantar para
apresentá-los.
— Ficarei ansiosa — falei, sorrindo e a puxei para um abraço. — Tudo
o que eu quero é que você seja feliz, mamãe.
— Obrigada, querida.
Eu estava radiante por saber que depois de tantos anos, ela tinha se
permitido amar novamente. Torcia para que ela fosse tão feliz com ele quanto
havia sido com meu pai.
Aspen me trazia muitas lembranças boas de infância, o que era incrível,
uma vez que nessa fase minha vida era cheia de problemas causados, em
grande parte, pela indiferença e falta de bom senso de minha mãe.
A grande maioria das vezes em que estive ali, foram na companhia do
meu pai e Devon, já que Cybele odiava aquele lugar.
Quando eu e meu irmão percebemos isso, Aspen acabou se
transformando em nosso lugar preferido no mundo, já que era uma forma de
escaparmos da megera por alguns dias.
Talvez por isso tenha feito questão de comprá-la de papai assim que ele
ficou doente, não queria que ela maculasse aquele lugar.
— Que delícia — Lacey disse ao provar um dos pratos do jantar
daquela noite.
Estávamos jantando em um dos meus restaurantes preferidos em Aspen
e ela tinha adorado a comida.
Enquanto comíamos, fiquei observando seus traços. Lacey era uma
garota tão linda, com um corpo tão incrível, que só de me lembrar das coisas
que fizemos durante a tarde, já ficava duro.
Mas não era apenas a beleza dela que me fascinava.
Ela era uma pessoa linda em todos os sentidos, dedicada no trabalho,
estudiosa e uma companheira incrível.
Eu a amava imensamente e senti um medo descomunal quando a vi sob
a mira da arma do maluco do Elliot. Depois daquele susto, eu jamais
permitiria que alguém chegasse tão perto de lhe fazer mal.
Foi por isso que contratei um motorista, que também seria seu guarda
costas, para ficar a sua inteira disposição. Graças a Deus ela concordou, pois
só assim eu conseguiria ficar tranquilo.
Estava cuidando pessoalmente para que Elliot fosse julgado e
condenado por seus crimes e devido as provas e testemunhas, acreditava que
aconteceria muito em breve.
Durante as investigações, descobrimos que Tori, antiga secretária de
Elliot, mantinha-se em contato com ele e também que fora ela quem
informou que Lacey iria estar naquela boate.
Indiretamente, ela participou daquele crime e seria intimada a depor e,
provavelmente, indiciada.
Um dos garçons que facilitou a entrada da arma, também já havia sido
indiciado, de forma que estava tudo indo bem.
Todavia, fiz questão de deixar Lacey de fora de tudo isso. Ela já tinha
problemas demais, não precisava se preocupar com mais isso. Na hora certa
eu revelaria a razão da demissão de Tori.
— O que foi? — perguntou quando percebeu que a estava olhando seu
rosto por tempo demais.
— Você é linda — falei antes de beber um gole de vinho.
Lacey sorriu e corou um pouco antes de colocar uma mecha de cabelo
atrás da orelha.
— Obrigada — sorriu.
Aqueles dias em Aspen estavam sendo maravilhosos e necessários para
voltarmos a ter a mesma sintonia de antes de Donald, Megan, Cybele e Elliot
atormentarem nossas vidas.
Quando saímos do restaurante, caía uma neve fina.
Passei meu braço pelas costas de Lacey até alcançar sua cintura e
caminhamos em direção ao carro com ela aconchegada a mim.
Assim que chegamos em casa, ela subiu para se trocar, e eu fui acender
a lareira.
Com isso feito, fui à adega pegar um vinho e voltei com duas taças
servidas. Estava ansioso para conversar com minha garota e esperava que
tudo saísse como planejado.
Não demorou para ela descer com uma camisola preta coberta com um
robe esvoaçante.
— Parece até um sonho estar assim com você — disse, entrelaçando os
dedos atrás do meu pescoço.
Agarrei sua cintura do jeito que eu gostava e beijei sua boca enquanto
minhas mãos acariciavam suas curvas.
Eu adorava senti-la tão perto, tão entregue.
— Será sempre assim — sussurrei entre seus lábios e a beijei
demoradamente.
Desde a nossa reconciliação, Lacey dormiu todos os dias em minha
cobertura. Foi a forma que encontramos para recuperarmos as últimas
semanas de brigas e incertezas.
Devido a toda essa proximidade, uma ideia começou a rondar meus
pensamentos, mas ainda estava com receio de falar com ela.
Então, antes que as coisas acabassem em sexo, interrompi nosso beijo.
— Vem cá, linda — pedi, sentando em uma poltrona perto da lareira e
a colocando em meu colo.
— Hum, que sério — ela brincou e beijou a ponta do meu nariz.
Ali, enquanto Lacey me encarava e esperava que eu falasse alguma
coisa, minha mente viajou longe e fiz uma breve análise da minha vida
amorosa.
Desde que me envolvi com Louise Stone na universidade, eu nunca
mais senti algo profundo por nenhuma namorada, até conhecer Lacey.
Nossa ligação foi quase que imediata, pelo menos de minha parte.
Lembrava-me que havia me mudado para Nova York e em um primeiro
momento tive o impulso de ir atrás de Louise e, quem sabe, reconquistá-la.
Fiz até mesmo algumas sessões de terapia, como uma forma de me
reaproximar, mas ela foi irredutível, pois já estava interessada em outro cara,
e um homem como eu sabia a hora de tirar o time de campo e foi o que fiz.
Algumas semanas depois de encerrarmos as sessões de terapia, Louise
entrou em contato perguntando se eu não conseguiria uma vaga de estágio
para uma paciente sua que seria engenheira e admirava muito a engenharia
sustentável com a qual trabalhávamos.
Sinceramente, eu não tinha motivo nenhum para atender àquele pedido,
mas alguma coisa dentro de mim gostou de saber que sua paciente admirava
o tipo de negócio no qual eu estava investindo e acabei aceitando que ela
fosse fazer uma entrevista com o setor de Recursos Humanos.
E então, eu vi Lacey Smith pela primeira. Ela estava em pé ao lado da
impressora do setor jurídico, linda e distraída. Foi impossível tirar os olhos de
seu rosto angelical e ainda mais do corpo tentador.
Lacey chamou minha atenção desde o primeiro dia, pela beleza e
também por não parecer não me enxergar, completamente diferente dos
olhares de cobiça das outras funcionárias.
— Tom? — chamou minha atenção e eu sorri.
— Estava lembrando do dia em que nos conhecemos, você estava toda
distraída e nem me notou — recordei.
— Eu estava na minha pior fase, além disso, se ficasse babando como
todas as outras, você não teria se interessado — justificou.
— Só se eu fosse louco — falei apertando seu corpo gostoso contra
meu.
De fato, ela não estava em uma boa fase, tanto a que a impedi de
cometer o pior dos sacrilégios.
Lacey estava emocionalmente abalada e depois de tê-la salvado, me
senti ligado a ela e responsável por sua segurança.
Mas logo surgiu uma atração forte, mas apenas de minha parte.
No entanto, sempre fui um homem paciente e gostava de ser seu amigo,
queria que ela melhorasse e encontrasse sentido na vida e acabei fazendo um
bom trabalho, pois mesmo depois de todos os problemas, brigas e o trauma
do quase sequestro de Elliot, eu poderia afirmar que ela parecia ótima e soube
lidar com todas essas situações.
Senti orgulho de ver o quanto cresceu, amadureceu e se manteve firme
nos momentos mais difíceis.
— Acho que você quer falar alguma coisa e não está sabendo como
começar — tentou adivinhar, mordendo meu lábio inferior.
— Você achou certo — conclui.
— Fala logo, estou curiosa.
— Como você se imagina daqui uns cinco ou seis anos? — perguntei.
Lacey torceu a boca e olhou para o teto como se estivesse pensando.
— Me imagino uma engenheira formada, ainda trabalhando na sua
empresa, me aproveitando do seu corpo, noiva, talvez até mesmo casada, ou
vai me enrolar mais tempo que isso? — ela brincou e eu gargalhei.
— É justamente sobre essas coisas que quero conversar com você —
falei e ela se ajeitou em meu colo.
— Que coisas?
— Sobre o nosso futuro.
— Hum... — disse desconfiada.
— Não pense besteira, estou tentando achar uma forma de passar mais
tempo com você, só isso — falei despreocupado, mas a verdade é que ficar
com ela somente às quartas e no fim de semana era muito pouco.
— Passar mais tempo comigo?
— Sim, me acostumei com você andando nua pela cobertura —
brinquei e ela tapou o rosto com as mãos.
— Eu também amei passar essa semana inteira com você, acho que
nunca fiz tanto sexo.
Sorrimos e um silêncio se estendeu.
— Eu sei que pode parecer precipitado, mas gostaria que fosse morar
comigo — soltei e esperei que ela tivesse alguma reação, mas Lacey ficou me
olhando sem demonstrar nada.
Muitas dúvidas me invadiram, afinal, ela era jovem e tinha o direito de
aproveitar seu tempo de forma diferente.
— Lacey?
— Está me convidando para morar com você? — perguntou se
atrapalhando nas palavras.
— Estou, sim, mas fique à vontade para recusar, se achar que é muito
cedo — dei uma opção. Não queria que se sentisse forçada.
— Tom, a única coisa que me impediria de aceitar seria a preocupação
em deixar minha mãe sozinha, mas ela começou a namorar, então, acho que a
resposta é sim.
— Está falando sério? — perguntei para ter certeza
— Eu ainda não sei como será morar com o meu chefe... mas acredito
que a convivência se mostrará deliciosa — sussurrou na minha orelha, me
deixando todo arrepiado.
— Depois daquele incidente com Elliot eu refleti muito sobre a vida, o
amor, felicidade e principalmente sobre o tempo. Decidi que quero tê-la por
perto todos os dias. Vamos nos esforçar para que dê certo.
Ela assentiu e se aninhou em meu peito.
Com exceção de Natalie, eu nunca tinha morado com outra pessoa, mas
estava ansioso para dividir minha vida com Lacey.
Eu sabia que aquilo era a prévia para um casamento e a ideia me
agradava bastante. A amava aquela mulher e não me imaginava sem ela.
Depois de muito pensar, percebi que a coisa mais difícil eu já tinha
conseguido, que era encontrar a mulher da minha vida, então, nada mais justo
do que esperar que ela realizasse seus sonhos, pois teríamos uma vida inteira
para fazer todo o resto.
ALGUNS ANOS DEPOIS...

Enfim, a tão esperada formatura havia chegado e aquela manhã


ensolarada estava sendo um presente para mim e para todos os formandos
daquele ano.
Um mar de alunos com suas becas azuis, acompanhados por seus
familiares, esperavam ansiosos pelo início da cerimônia de graduação. Eu
inclusive.
Nas últimas semanas eu estava um poço de ansiedade e se não fosse,
com seu temperamento calmo, as palavras de incentivo e as intermináveis
horas de sexo, estaria surtando.
Tinha esperado muito por aquele momento e depois de tanta dedicação,
estresse e horas de sono perdidas, eu me sentia merecedora enquanto estava
ali, de pé, esperando meu nome ser chamado.
Olhei para onde estavam os familiares e procurei por mamãe e Tom,
mas era impossível encontrá-los em meio àquela multidão.
A cerimônia começou com o discurso do presidente, seguido por alguns
outros professores. Naquele momento, entretanto, os alunos já estavam sendo
chamados.
Para não fazer feio, alisei minha beca, ajeitei meu capelo e aproveitei
para respirar fundo, a fim de tentar me acalmar.
Assim que escutei meu nome, tentei segurar ao máximo a emoção, mas
fiz o pequeno percurso com um sorriso emocionado no rosto.
Já com o tubo na mão, sorri para o fotógrafo e enquanto caminhava
para fora do palco, um filme passou em minha cabeça.
Ali se encerrava mais uma fase, talvez a mais bonita, por me sentir
realizada em todos os aspectos da minha vida, e a mais cansativa também.
Contudo, significava que, enfim, eu era uma engenheira formada e com muita
experiência no currículo, já que desde o meu primeiro ano estagiei e
participei de inúmeros projetos na empresa que me acolheu.
Junto com as lembranças dos anos na universidade, vieram todas as
outras, as festas de fraternidade as quais fui, os encontros com colegas...
E em todo e qualquer momento que vivi ali, Tom sempre esteve ao meu
lado.
Embora Thomas Ward fosse uma espécie de celebridade tanto entre os
alunos de arquitetura e engenharia, quanto entre os alunos de Business[6], ao
longo dos anos meus colegas foram se acostumando com sua presença em
nossos encontros e alguns deles ganharam sua simpatia e conseguiram
estágios e até mesmo cargos na empresa.
Foram quatro anos maravilhosos de muito aprendizado.
Eu amei cada segundo que passei ali e guardaria todos aqueles
momentos em um lugar especial da minha memória.
— Nem acredito que conseguimos — Amanda comentou ao lado de
Brad, que se tornara seu namorado há dois anos e, desde então, não se
desgrudaram mais.
Thomas até parou de implicar com ele quando percebeu que meus dois
amigos estavam mesmo apaixonados. Para mim, eles já se gostavam e só não
tinham tentado nada antes por medo de estragar a amizade.
Ainda bem que tentaram, porque eles eram perfeitos juntos.
— Estou ansiosa mesmo é pela festa que Tom providenciou para nós
— ela continuou, animada.
Eu também estava.
Claro que não daria para fazer uma festa para todos os formandos, mas
aqueles que acabaram ficando próximos de nós, foram convidados e a
vontade de começar logo crescia a cada minuto.
Mas primeiro eu teria que discursar para todas aquelas pessoas.
Desde o primeiro ano do curso eu sempre tive destaque pelas notas, e
por me dar bem, gostava de ajudar outros alunos, além de me envolver em
tudo que tinha a ver com minha área.
Com o apoio de Thomas, tive a oportunidade de viajar para os eventos
mais incríveis do mundo e conheci engenheiros renomados, que assinavam
obras espetaculares.
Toda essa procura por conhecimento despertou a admiração dos
professores e principalmente do nosso reitor, que vivia me elogiando.
Quanto a isso, eu ainda achava que sua bajulação se devia às generosas
doações que Thomas fazia pontualmente à universidade, mas aproveitava
para promover eventos ligados a sustentabilidade.
Era por isso que estava ali, esperando para ser apresentada como a
oradora da turma daquele ano.
Eu fiz milhares de rascunhos, pedi dicas para Thomas, que era um
ótimo orador, e treinei, incontáveis vezes, para conseguir expressar toda a
paixão que sentia pelo meu curso.
Ao ouvir meu nome, subi no palco e passei os olhos pela multidão em
busca dele, mas, pela segunda vez, não o encontrei, então, mesmo nervosa,
dei de ombros, segui em frente e cumprimentei o reitor e todo o corpo
docente que se encontrava ali.
Mas apenas quando me virei para a frente e dei bom dia àquelas
centenas de pessoas, foi que me dei conta da minha responsabilidade.
O discurso do orador era um dos pontos altos da cerimônia, por esse
motivo queria dar o meu melhor.
— É uma honra, para mim, ter sido escolhida para fazer esse discurso
— falei, emocionada. — Desde que fiquei sabendo, foram incontáveis papeis
rabiscados e horas de treino em frente ao espelho — nessa parte todos
gargalharam —, até que, por fim, decidi deixar meu coração falar.
“As pessoas que esbarram comigo pelos corredores de Columbia, não
têm ideia de que na época em que decidi cursar engenharia, eu estava
passando pela pior fase da minha vida, enfrentando uma depressão terrível,
onde tudo ao meu redor era triste e sombrio. Meu tempo era dividido entre
chorar, remoer mágoas do passado e perseguir um ex-namorado que não
queria mais nada comigo. Em minha cabeça, a única saída daquele mundo
sem cor era a morte. E embora soubesse que era errado e por mais que
amasse minha mãe, eu tentei me suicidar.
Parei de falar quando minha garganta fechou e não escutei
absolutamente nada. O campus estava em silêncio, os olhares em mim,
esperando que eu continuasse. Mas as lágrimas começaram a descer por meu
rosto e eu tive medo de não conseguir continuar.
Ainda era difícil falar sobre aquilo.
Nesse momento Tom surgiu em meu campo de visão, sorrindo para
mim, me incentivando a prosseguir.
— Só para vocês saberem. Um depressivo recebe gatilhos de toda
parte. Os externos podem vir em forma de bullying ou de uma piadinha que
escutamos e internalizamos. Já gatilhos internos não precisam de nenhum
estímulo externo, por isso, são os piores. O sentimento de inferioridade, que
está sempre presente na cabeça de alguém com depressão, assim como a
culpa ou a simples incapacidade de tomar uma decisão, vão se acumulando
dentro da nossa cabeça, até que não nos resta outra opção senão morrer.
Parei, pois a lembrança foi tão nítida, que apertou meu coração.
— Eu não estou contando essas coisas para comover ninguém, muito
menos para ser mórbida, mas sim para vocês saberem que quando se tem
depressão, o ataque vem de todos os lados. Em meio a essa multidão, podem
existir pessoas que passaram ou estão passando por algo parecido, seja
consigo mesmo, um amigo ou um parente... Você não sabe o que a pessoa ao
seu lado está enfrentando, então, não trate o assunto como frescura e não
banalize, apenas seja gentil.
“Quando uma pessoa não vê alegria em nada, é muito difícil querer
permanecer viva. Mas várias das dezenas de pessoas que cometem suicídio
todos os dias, poderiam ter sido salvas se alguém tivesse sentado ao seu lado
e mostrado que estava ali, ou se tivesse dado a essa pessoa a chance de
conversar, mesmo que para falar besteira... Muitas vezes, alguns segundos na
presença de alguém, podem significar a diferença entre a vida e a morte.
“Por isso, por favor, preste atenção ao seu redor, preste atenção às
pessoas que te cercam, você vai acabar se surpreendendo com o que pode
fazer por alguém ou com o que pode aprender de alguém.
“Foi isso que aconteceu comigo. Naquele dia, Deus enviou um anjo
para me salvar, para me impedir de pular do vigésimo andar de um prédio no
centro da cidade. Foi esse anjo que, contra todo o negativismo inerente na
pessoa depressiva, me mostrou porque eu deveria dar uma chance para a
vida. E eu dei, não só à vida, mas a ele também; meu amigo, meu mentor,
meu amor, o homem da minha vida. Thomas, obrigada por existir e por
continuar sendo meu anjo — falei e todos aplaudiram, olhando para ele, que
só tinha olhos para mim.
Quando o barulho cessou, eu continuei:
— Desde o momento em que fui salva, decidi que iria tentar e foi aí
que renasci das cinzas e mergulhei de cabeça na minha paixão: a engenharia.
Mas pelo que eu expus, vocês podem imaginar que não foi fácil. Pelo
contrário, foi muito difícil me desvincular de certos hábitos, dos pensamentos
negativos que ainda me rondavam. Mas minha paixão pelo curso foi
ganhando espaço, e quando dei por mim, minha vida estava completamente
diferente. A universidade me deu uma nova rotina, amigos, coisas para
pensar e tudo isso preencheu minhas horas com tempo de qualidade.
“E é qualidade de vida que desejo a nós. Vamos correr atrás, sim, das
nossas carreiras, vamos tentar trabalhar em empresas que nos levem em
consideração como um todo e ainda paguem bem. — Nesse momento alguém
da plateia gritou “meu sonho” e todos riram novamente. — Sim, de todos
nós. É por isso que devemos correr atrás dos nossos sonhos, mas sem
perdermos a nossa moral, nem nossos princípios, nem nossa integridade e
muito menos nossa sanidade no caminho, por estar buscando apenas
aumentar os números e atingir metas. Embora deva ser incrível aparecer na
capa da Forbs junto a outros notáveis com menos de 30 — grande parte da
plateia gargalhou com a menção à revista e eu continuei: —, acredito
piamente que não será isso que preencherá seu coração.
“A lição que deixo a partir da experiência que tive, é que devemos
parar de acreditar na ilusão de que somos imortais, para podermos aproveitar
cada minuto da vida intensamente, sem nos compararmos, sem nos darmos
valor demais — acreditem, nós não valemos tanto —, ou nos diminuirmos,
pois na hora certa cada um encontrará o seu caminho e escreverá sua história
e eu espero que, em vez de dizer que não tem ideia da quantia que possui no
banco, você olhe para trás e diga, com orgulho, que não tem ideia de quantos
momentos alegres compartilhou com aqueles a quem você ama. Obrigada.”
Ser aplaudida em pé por todas aquelas pessoas me fez sentir o delicioso
sabor do dever cumprido.
Depois disso a cerimônia foi encerrada, faltando apenas a ocasião mais
esperada pelos formandos: o momento de jogar seus capelos para cima.
E foi lindo ver a alegria autêntica no rosto de cada um. Tinha a
impressão que, naquele momento, eles sentiram o que eu havia sentido
quando desci do palco, o senso de dever cumprido.
Depois de muitos abraços, eu finalmente achei meu namorado e recebi
um beijo daqueles.
— Você foi incrível, estou muito orgulhoso de você, princesa.
Sorri e me pendurei no pescoço dele.
Alguns minutos depois, encontrei mamãe, Terrence, meu padrasto,
Devon. Logo depois apareceu Joly e Rodney, seu namorado há seis meses.
Todos eles me deram os parabéns e seguimos para a cobertura onde seria a
after-party da formatura.
Tom alugou uma limosine para que pudéssemos ir e voltar todos juntos
e o caminho até a cobertura foi regada a muitas risadas e champanhe.
Meu namorado estava fazendo maior mistério sobre como seria a festa,
mas fiz questão de não ficar fazendo perguntas, deixaria que ele fizesse as
coisas como quisesse.
Assim que chegamos ao luxuoso edifício em que morávamos, fomos
direto para o salão de festas que estava ricamente decorado com arranjos de
flores.
Havia paredes inteiras feitas com botões de rosas e aquilo me deixou
tão encantada que fiquei parada na porta de entrada, ainda embasbacada.
— Uau — falei, virando-me para ele —, você sabe que eu amo rosas,
mas isso aqui é um exagero. Um lindo exagero — completei
— Você merece.
Thomas sorriu e me guiou para dentro.
Enquanto cumprimentava meus amigos, tentava analisar cada detalhe
daquela decoração elegante. O salão tinha sido completamente alterado e
vários ambientes foram criados, incluindo um bar e uma pequena pista de
dança. Estava tudo incrível.
Após quase uma hora depois, Thomas bateu um garfo em sua taça de
champanhe e pediu a atenção de todos.
— Imagino que vocês devem estar se perguntando por que uma
decoração tão requintada para uma simples festa de formatura — disse,
despreocupado, e meus amigos concordaram. — Ela ama rosas — ele
completou e as meninas suspiraram. — Lacey — ele disse e me encarou —,
eu torci por todas as suas conquistas, desde uma nota A em Cálculo, até nas
soluções mais mirabolantes que você encontrava para seus projetos cheios de
genialidade. Sempre a admirei por seu caráter, força de vontade, mas
principalmente pela pessoa que é em nosso relacionamento; amorosa,
carinhosa e paciente.
Sorri para ele e me aproximei.
Tom pegou a minha mão e disse.
— Durante todos esses anos vivendo juntos, nós tivemos muitas
experiências, as melhores experiências da minha vida. E mesmo você sendo a
pessoa mais desorganizada que eu conheço — todos riram e eu revirei os
olhos —, decidi que era hora de darmos mais um passo em nosso
relacionamento.
Sussurrei um eu te amo e ele sorriu antes de falar:
— Lacey Smith, você aceita se casar comigo?
Levei as mãos a boca da maneira mais clichê possível e fiquei olhando
para ele sem reação.
Por mais que soubesse que cedo ou tarde esse dia iria chegar, nunca
imaginei que ele fosse fazer o pedido no dia da minha formatura.
Quando eu continuei parada, apenas deixando minhas lágrimas
descerem, ele brincou:
— Talvez isso te ajude a pensar melhor.
E abriu uma caixinha contendo um solitário de diamante.
— É claro que eu aceito, meu amor, só estou surpresa — confessei e
me joguei nos braços dele.
Thomas me beijou sobre os aplausos e risadas dos meus amigos e
familiares.
Ele colocou o anel em meu dedo enquanto mais lágrimas escorriam.
Aquele, com certeza, era um dos dias mais felizes da minha vida.
— Parabéns, filha — mamãe disse quando conseguiu chegar perto de
mim, uma vez todos queriam me dar as felicitações.
— Estou tão feliz, mamãe, parece um sonho — declarei.
— Você merece, meu amor — ela disse enquanto nos abraçávamos.
Em seguida meu padrasto se aproximou.
— Parabéns, querida, estou muito feliz e orgulhoso, você é uma menina
de ouro — elogiou.
Terrence, ou Terry, como o chamávamos, era uma pessoa maravilhosa
que tinha chegado em nossas vidas na hora certa. Ele, com seu jeito amoroso
e companheiro, deixava mamãe cada dia mais apaixonada.
— Obrigada — respondi, emocionada, e ganhei um abraço duplo.
Quando eles se afastaram, peguei uma bebida e fui ficar com Thomas,
Devon.
Eu estava rodeada pelas pessoas que mais gostava e prestes a me casar
com o homem da minha vida.
A vida não podia ser melhor.
Thomas me roubou um beijo e dançamos de testa colada, sussurrando
um ao outro o quanto nos amávamos.
Naquele momento de felicidade, lembrei-me de todas as minhas
intempéries emocionais e me senti abençoada por todas as coisas que havia
conquistado nos últimos anos.
Lembrei-me do caminho que trilhei, dos amigos que fiz, dos lugares
paradisíacos que conheci e, principalmente, do conhecimento que adquiri,
sempre com Tom ao meu lado.
Eu me entreguei de corpo e alma para Thomas Ward e ele, com sua
experiência de vida, me guiou e aconselhou, foi meu amigo, namorado,
amante, professor...
Eu não sabia quem era responsável pelas pessoas que conhecíamos na
vida, se Deus, o destino ou o universo, eu só sabia que tinha muito a
agradecer por cada momento de felicidade, mas, principalmente, pelas
experiências dolorosas. No fim das contas, são elas que nos obrigam a sair de
nossa zona de conforto para, depois, nos presentear com uma vida incrível.
— Ah, meu Deus, eu não acredito que você desmontou esse também —
falei balançando a cabeça e encarando meu filho.
Mamãe e Terry tinham deixado um presente no dia anterior, mas ele já
tinha dado um jeito de acabar com o carrinho.
Christian Ward, era uma criança diferenciada. Em vez de brincar, ele
gostava era de desmontar seus brinquedos e estava quase certa de que não
havia nenhum inteiro.
— Desculpa, mamãe — disse ele escondendo as mãos atrás das costas.
Quando o pegava fazendo arte, sempre me segurava para não rir, para
que ele não começasse a abrir os eletrodomésticos. Mas, no fundo, eu sentia
muito orgulho. Tudo aquilo era um indício de que teríamos mais um
engenheiro na família.
— O que você tem aí atrás? — quis saber e Tom me olhou com um
sorriso no rosto, ele se divertia com nossas pequenas discussões.
Lentamente Chris levou as mãos para a frente e me mostrou uma
pequena chave de fenda.
— Onde você conseguiu isso? — perguntei de olhos semicerrados.
— Peguei na caixa de ferramentas do papai — disse, envergonhado.
Thomas era o tipo de pai bobo que deixava seu filho fazer tudo, parecia
que ele queria ser aquilo que seus pais não foram para ele e com isso eu tinha
que me manter um pouco mais firme.
— Amor, isso aqui não é para criança, você tem que parar de
desmontar seus brinquedos
— Tá bom, mamãe — prometeu (uma promessa vazia como todas as
outras) e saiu da sala.
— Esse garoto é demais! — disse o pai, orgulhoso.
Tom era um pai excepcional e sempre nos revezávamos para dar o
máximo de atenção para o nosso filho.
Éramos apaixonados por nossas profissões, mas sabíamos da
importância de estar presente na vida de Chris.
— Sim, ele só precisa parar de desmontar as coisas.
— É só uma fase, daqui a pouco ele para.
Eu me aninhei ao seu peito e fiquei matando minha saudade.
Ele tinha ficado a semana toda na Alemanha, cuidando da inauguração
de mais uma filial, enquanto eu fiquei em Nova York.
Após a formatura, fui assumindo cada vez mais responsabilidades na
empresa. Sempre dando um jeito de entender como funcionava todos os
setores, absorvendo o máximo de conhecimento necessário para administrar
os negócios.
Tom confiava muito no meu trabalho e acabamos formando uma boa
equipe.
— Devon vem nos visitar no fim de semana — Tom avisou.
— Que ótimo, Chris está com saudades dele — comentei.
Meu cunhado era muito presente em nossas vidas, ao contrário de
Cybele, que após a rejeição dos filhos, tinha se fechado como uma concha,
em vez de fazer uma autocrítica.
Nem em nosso casamento ela compareceu, demonstrando toda sua
hostilidade por mim. Em sua cabeça doentia, as atitudes de Thomas em
relação a ela se deviam ao fato de ele ter se envolvido com alguém de classe
inferior.
Completamente doida.
Só que, por mais errada que ela fosse, eu pensei que pudéssemos tentar
nos dar bem, mas com o passar dos anos, percebemos que a única coisa que
ela queria era voltar a ter poder sobre Thomas, já que com Devon tudo
sempre tinha sido muito mais difícil.
Depois disso nos afastamos de vez. O que fez com que ela tivesse que
mendigar a ao filho mais novo que interferisse.
Por sorte meu cunhado tinha uma ótima relação com Tom e os dois
concordavam que ela poderia viver muito bem com a quantia que ganhava.
O problema é que Cybele gostava de dar festas e jantares suntuosos, o
que corroía grande parte do dinheiro que recebia.
Quando ela percebeu que não tinha qualquer chance de manipular
Thomas, simplesmente se afastou.
Sinceramente foi um alívio. Eu odiaria criar meu pequeno perto de uma
pessoa tão tóxica, e, no final, a única que saía perdendo era ela.
Em contrapartida, mamãe ganhava, e muito. Era uma avó maravilhosa e
recebia do neto o mesmo amor.
Se não fosse o bastante, ela ainda tratava Thomas como um filho e isso
enternecia meu coração. Ficava feliz por ele ter podido experimentar o amor
de mãe por causa de mim, mesmo que sem querer.
Tom me encarou e infiltrou as mãos por dentro da minha blusa.
— Acho que não matei toda minha saudade — murmurou e alcançou a
minha boca, me fazendo derreter na mesma hora.
Como foi desde o início.
Nossa rotina era bem agitada, tanto na empresa quanto em casa, mas
sempre dávamos um jeito de namorar.
Thomas era um romântico incorrigível e me cercava de gentilezas,
eram coisas simples, mas que me deixavam cada vez mais apaixonada.
— Que tal irmos para o quarto resolver esse problema? — brinquei,
mas logo ele tirou a mão de dentro da minha blusa e se ajeitou no sofá.
Virei o corpo para ver o que o tinha distraído e avistei Chris, no
corredor, com o boné de um famoso clube de futebol e segurando sua
bicicleta.
— Já que eu não posso desmontar meus brinquedos, que tal a gente ir
andar de bicicleta no Central Park?
Chris passava maior parte do seu dia na escola e quando chegava em
casa, dividia seu tempo entre as tarefas escolares, jogos de vídeo game e o
desmanche de seus carros. Era por isso que toda vez que ele queria fazer
alguma coisa fora do apartamento, éramos obrigados a aceitar.
Tom e eu trocamos um olhar cheio de pesar e promessas antes de nos
levantarmos.
— Nós vamos trocar de roupa e já voltamos.
Ele assentiu, mas nos seguiu, de bicicleta, pelos corredores.
— Vou esperar vocês aqui — afirmou parando em frente a porta da
nossa suíte.
Quando era mais novo, por muitas vezes, em situações como aquela,
nós o deixamos esperando enquanto nos saciávamos.
Não fazíamos de propósito, era apenas uma consequência do fogo que
nos invadia quando nos juntávamos.
Mas isso acabou criando certo trauma e na medida em que foi
crescendo, nosso filho foi ficando cada vez mais inquieto e, atualmente,
odiava esperar.
Eu não sabia se ele se lembrava, mas sempre que íamos sair, Chris se
arrumava e ficava esperando em nosso quarto, numa forma descarada de nos
apressar.
Em vinte minutos estávamos os três prontos e a caminho do Central
Park.
Assim que chegamos, demos algumas voltas e logo paramos para
descansar sob a sombra de uma arvore.
Chris preferiu ir brincar com outras crianças que estavam ali perto,
enquanto Tom e eu observávamos de longe.
— Ele vai ser bom com as mulheres — meu marido avaliou quando viu
nosso filho ajudando uma menininha que havia caído.
— São apenas crianças — falei, revirando os olhos.
— Eu sei, mas ele é gentil com elas, gosto disso.
— Ele teve em quem se inspirar — elogiei e ganhei um beijo.
Nosso filho cresceu vendo seu pai abrindo a porta do carro para mim,
me enviando flores aleatoriamente e presenciando milhares de outras
gentilezas.
Tudo isso já estava refletindo em sua personalidade.
Sorri enquanto víamos nosso pequeno correr de um lado a outro e
recordei o quanto aquele lugar foi especial para mim na época em que
começamos a nos conhecer.
— O que foi — Tom perguntou.
— Estava me lembrando das nossas corridas — comentei e ele grunhiu,
fazendo eu me arrepiar inteira.
— Eu ficava louco quando te via usando aquelas roupas de ginastica —
ele recordou.
Mesmo com a maternidade, meu corpo não tinha mudado muito e eu
me esforçava para manter uma rotina de exercícios. Thomas fazia o mesmo e,
para mim, estava ainda mais gostoso do que na nossa época de paquera.
— Você continua um gato — elogiei.
— Você também, princesa.
Chris se aproximou e nos chamou para jogar bola com ele.
Tom se levantou e me ajudou a ficar de pé.
Antes de irmos, entretanto, ele me puxou e beijou minha boca, como
havia feito milhares de vezes nos últimos anos e só me soltou porque nosso
pequeno impaciente voltou a nos chamar.
Por mais de uma hora nós corremos pelo campo improvisado e fizemos
a alegria da nossa cria. No final, estávamos cansados, suados, porém,
infinitamente felizes.
Mas, acima de tudo, eu estava orgulhosa, pois minha família, com toda
certeza, era o projeto mais importante e bem sucedido da minha vida.
Finalmente Thomas resolveu me fazer uma visita.
Já havia se passado mais de dois meses desde que Natalie o tinha
visitado e depois que aquela víbora ingrata despejou o que quis, ele resolveu
me evitar de todas as formas possíveis.
Isso significava que eu precisaria usar de toda a minha sagacidade para
trazê-lo de volta para o meu lado.
Thomas sempre viveu em busca da minha aprovação, e era por esse
motivo que estava confiante de que poderia reverter a situação.
Quando o mordomo avisou que ele estava me aguardando na sala,
respirei profundamente e desci para encontrá-lo.
— Filho, que bom que veio — falei e ele se virou sem demonstrar
qualquer emoção.
Bom, pelo menos não parecia com raiva, pensei.
— Serei breve — ele disse por fim.
— Como está seu braço, fiquei tão preocupada.
— Eu estou ótimo, Elliot preso e Lacey perfeita como sempre. Mas não
é sobre isso que quero falar com você.
Minha vontade era abrir seus olhos e fazê-lo enxergar que tudo isso só
aconteceu por causa daquela desqualificada que ele tinha levado para morar
com ele. No entanto, seria muita burrice de minha parte atacar a mulher por
quem ele estava apaixonado. Eu faria isso na hora certa, precisava de cautela
em cada palavra.
— Fico muito feliz que sua namorada esteja bem.
Thomas me lançou um olhar duro.
— Até quando vai fingir que se preocupa? — falou ríspido.
— Querido, eu não sei o que Natalie te disse, mas...
— Escute bem, pois essa será a última conversa que teremos — falou
categórico.
Apesar de estremecer por dentro, eu apenas assenti. Não queria irritá-lo
ainda mais.
— Você mentiu e me manipulou a vida inteira. Durante toda a minha
infância e juventude eu chamei sua atenção, louco para ganhar ao menos um
pouco de aprovação da mulher que me criou, por causa disso, terminei alguns
namoros, iniciei outros e tomei decisões baseadas apenas em sua opinião.
Quando amadureci e percebi que o problema não era comigo, dei várias
chances para que se redimisse... Diferente de Devon, que a desvendou desde
sempre e hoje apenas a tolera, eu tinha um fio de esperança de que você
mudasse. Hoje, eu tenho absoluta certeza de que isso jamais irá acontecer.
— Thomas, filho, eu sei que errei... — tentei, mas ele não deixou.
— Sim, errou e continua errando. O problema é que não tenho mais
paciência e nem vontade de lidar com você.
Thomas era muito diferente do irmão. Ambos sempre foram muito
unidos, apesar de mim, e também muito determinados a seguirem o que
queriam, cada um em sua área, mas enquanto Devon era impulsivo, um
pouco arrogante e muitas vezes frio, Thomas era ponderado, amoroso e
carente de afeto, muito parecido com o pai.
Por isso foi tão fácil manipular estes dois durante tantos anos. Não que
eu não tivesse gostado de Larry, do meu jeito eu o amei, mas sempre fui uma
mulher prática e decidida, não tinha tempo para afagos.
Só que o Thomas que estava na minha frente era um estranho frio,
distante e resoluto como nunca. Ali estava o homem de negócios, não o
menino que adotei como meu quando ainda era quase um bebê.
— O que quer dizer com isso?
— Quero dizer que as regalias que eu lhe proporcionava, por ter me
“criado”, acabaram. Continuarei mantendo a casa e alguns empregados, mas
a partir do próximo mês, só vou liberar o valor que papai estipulou em
testamento, se quiser mais, terá que se virar. Como sei que não vai mover um
dedo para aumentar sua renda, aconselho que diminua as festas e jantares ou
seu dinheiro não durará até o final do mês.
— Você não pode fazer isso comigo — falei irritada. Aquilo só podia
ser um grande pesadelo. — O valor que seu pai me deixou não paga nem um
terço do que eu gasto por mês.
Aquilo não era totalmente verdade, o valor era bom, mas eu não
conseguiria manter o mesmo estilo de vida.
— Posso e vou. Quando eu sair por aquela porta, você será uma página
virada.
— Mas eu tenho direitos.
— Sim e a partir de agora receberá exatamente o que merece. Quando
se casou com papai, você deve ter pensado que estava lidando com um idiota
apaixonado, mas o primeiro golpe veio quando ele exigiu que se casassem
com separação de bens. Naquela época, ele nem a conhecia realmente, mas
fez o que qualquer pessoa prudente faria. Então ele passou a te conhecer de
verdade e veio o segundo golpe... Se quer saber, na minha opinião, ele ainda
foi muito generoso com o que te deixou.
Thomas caminhou até a porta e me lançou um olhar de desprezo antes
falar:
— Tenha absoluta certeza de que não estou ou ficarei triste por esta
resolução e de forma alguma sentirei remorso. Após todos esses anos, eu,
finalmente, entendi que o problema nunca esteve em mim.
Quando a porta bateu às suas costas, eu realmente me dei conta de que
havia perdido completamente o poder que exercia sobre ele.
Fui até as janelas e observei seu carro se afastar e, pela primeira vez em
muitos anos, chorei.
Eu não sabia se era por causa do dinheiro que estava perdendo ou por
causa do que ouvi, mas de repente, me peguei reavaliando, de verdade, minha
relação com meus filhos.
Eu os tinha criado para serem totalmente submissos a mim, mas em
algum momento eu perdi a mão e as coisas desandaram.
Até mesmo Devon, sangue do meu sangue, já havia se afastado e
aparecia apenas quando o irmão estava junto. Era como se formassem um
time. Um time contra mim, que me acostumei desde cedo a sempre vencer.
Andei em direção à imponente escada que levava ao andar superior e
em meio a todo aquele silêncio, percebi que estava completamente só.

FIM
Olá, se gostar do livro, por favor, avalie na Amazon, é realmente importante para mim.
Obrigada, Cléo.

Aviso:
Ainda pode haver alguns erros no texto, que já estão sendo corrigidos. Então, peço que
deixem a opção de Atualização Automática — existente na sua página Dispositivos e
Conteúdo, no site da Amazon —, LIGADA, ou deem uma olhada lá de vez em quando,
para terem sempre a versão atualizada dos meus livros.
CONHEÇA A ESTÓRIA DE LOUISE E TONY

LOUISE STONE – A DEUSA DO AMOR


(Lançamento 2019)

Após uma desilusão amorosa, Louise Stone se fechou para o amor e decidiu estudar com afinco
para entender o universo masculino e, assim, não cometer os mesmos erros do passado.
Todos esses anos de pesquisa foram úteis para sua estabilidade emocional e contribuíram para a
ascensão de sua carreira, tornando-a uma psicóloga renomada e constantemente presente nos talk
shows mais famosos dos Estados Unidos.
Aquela estava sendo a melhor fase de sua vida, pois havia, finalmente, conseguido o equilíbrio
entre vida pessoal e profissional, devido a isso, envolvimentos sentimentais não estavam em seus
planos.

Considerado por todos como um prodígio dos negócios, Tony Osborne era extremamente atraente
e quando não estava comandando o Grupo Osborne, os interesses desse CEO giravam em torno de
festas, mulheres e tudo de melhor que o dinheiro poderia pagar.
Na vida desse belíssimo libertino não havia lugar para relacionamentos sérios, a não ser que a
candidata fosse a aparentemente inacessível Srta. Stone, a mulher que vinha tirando seu sono nos
últimos tempos.

Ela odeia tipos como ele...


Ele admira mulheres como ela...

A Deusa do Amor é um delicioso romance que vai te ajudar a refletir sobre o universo que
envolve as relações amorosas de um jeito apaixonante e divertido.

– DISPONÍVEL NA AMAZON –
TRECHO DE LOUISE STONE

CAPÍTULO UM

Louise

Eu adorava as segundas-feiras e aquela, em especial, estava


maravilhosa. O céu claro e o sol radiante apenas contribuíram para o bom-
humor que sentia desde que acordei.
— A consulta das 10h já chegou — a voz suave de minha assistente
soou ao interfone.
Saí da frente da janela e fui até minha mesa.
— Já estou indo, Beth — respondi e abri a pasta de minha nova
paciente para revisar, rapidamente, seus dados: Katie Hill, 36 anos, recém-
separada…
Caminhei até a porta, ainda com seu prontuário na mão, e a abri para
recebê-la. Apenas por sua aparência pude perceber o quanto ela estava mal.
Os cabelos loiros estavam com a raiz crescida, a pele estava sem brilho, mas
o que realmente sobressaía, eram as grandes olheiras.
Notei que tudo parecia bem pior por causa da roupa que ela usava.
Muito poucas pessoas conseguiam ficar vistosas usando suéter, calça e
sandálias bege.
— Bom dia, Sra. Hill, sou Louise Stone — falei, convidando-a a entrar.
Ela assentiu, visivelmente triste e abatida, e entrou no consultório.
— Demora quanto tempo para você dar um jeito em minha vida? —
perguntou assim que fechei a porta.
Não estranhei a pergunta, já que a maioria das pessoas que eu atendia,
tinha pressa em voltar a viver. De certa forma, eu me reconheci em seu olhar
triste, sabia exatamente o que ela estava passando e todas as fases difíceis que
ainda iria enfrentar.
O término de um relacionamento produzia a mesma sensação fúnebre
do luto, era como se a pessoa que havia nos deixado nunca mais fosse voltar
e nossas vidas ainda dependessem da presença dela.
— Vamos trabalhar para que você saia daqui muito melhor do que
entrou — respondi e apontei uma poltrona confortável, com vista para as
copas das árvores do Central Park.
Comecei a sessão fazendo algumas perguntas básicas, mas notei que
Katie tinha pressa em falar sobre o seu principal infortúnio: a separação.
— Ele me deixou sem nenhuma explicação; estávamos tão bem na
semana anterior...
O problema de mulheres muito apaixonadas, era que às vezes não
conseguiam enxergar os sinais mais óbvios.
— Como era a rotina de vocês nos últimos tempos?
Ela fungou antes de responder.
— Paul estava trabalhando em vários processos e tinha dias que ficava
até tarde na empresa, para dar conta de tudo.
— Vocês têm filhos?
Ela negou.
— Eu não posso engravidar e tenho certeza de que foi por isso que ele
pediu o divórcio.
Katie, assim como noventa por cento das mulheres que eu atendia, se
culpava pelo fim do relacionamento.
— Ele tentou contato depois que saiu de casa?
— Não, parece que eu nunca existi em sua vida… Não entendo como
viramos estranhos da noite para o dia.
Nos poucos minutos em que conversamos, as coisas ficaram bastante
óbvias para mim, mas não para ela. Katie confiava tanto em seu ex-marido,
que não conseguia enxergar nada. Mas se eu lhe dissesse que Paul, talvez,
estivesse com outra mulher, seu quadro pioraria, já que era nítido que ela o
queria de volta. Então, primeiro eu precisava trabalhar bem o seu psicológico,
para que ela entendesse toda a situação por si só, sem que aquilo causasse um
choque ainda maior, o que exigiria uma boa dose de paciência da parte dela.
Também apreendi que aquela mulher estava, nitidamente, sofrendo por
coisas que eles dois não viveram. Ela queria um casamento perfeito, mas Paul
ofereceu migalhas de uma felicidade muito superficial. E mesmo assim, ela
encenara o papel de esposa feliz, sem perceber que, no fundo, estava
deprimida há muito tempo.
Conversamos por mais de uma hora e nesse período ela revelou muitas
coisas que confirmavam as minhas suspeitas, de que havia uma possível
amante na jogada. Paul tinha quarenta e dois anos e, segundo minha
experiência, aquela era uma idade perigosa para alguns homens.
Eles entravam naquela fase em que começavam a reavaliar suas vidas
e, geralmente, se transformavam em adolescentes, muitas vezes trocando suas
esposas por mulheres mais novas, sem se importar com a opinião alheia. O
que interessava era a sensação que vinha junto com aquela mulher. Eles se
sentiam mais jovens e viris.
A sessão acabou e marcamos um horário para a semana seguinte.
Quando saiu do meu consultório, percebi que Katie parecia mais leve do que
quando entrou. Ela era uma ótima pessoa e eu queria muito conseguir ajudá-
la a passar por aquela etapa difícil, sem ficar se humilhando para o idiota do
Paul.
No decorrer do dia tive mais três pacientes e quando o expediente
acabou, às 5h da tarde, eu me sentia cansada e orgulhosa na mesma
proporção. Gostava dessa agitação e, principalmente, de casos complexos que
me tiravam da zona de conforto e me levavam para dentro dos livros e das
cabeças mais inteligentes do mundo; a psicologia era um universo incrível.
No entanto, naquele momento, tudo o que queria era chegar em casa,
beber uma taça de vinho e me afundar em uma banheira de espuma.
Como odiava ficar presa em meio ao mar de carros e buzinas de Nova
York, aluguei um apartamento próximo ao consultório, assim, eu poderia ir
caminhando pelo Central Park ou pela orla do rio Hudson, já que meu prédio
ficava de frente para ele.
Claro que aquilo só era possível porque, apesar de fazer parte da
família Stone e ainda por cima ter ficado conhecida nacionalmente devido à
minha profissão, a vida pacata que eu levava desde que voltei definitivamente
para Nova York não tinha chamado muito a atenção dos paparazzi.
Assim que me instalei, eles me seguiram a fim de flagrar alguma
indiscrição, mas depois que não viram nada de mais após semanas de
perseguição, simplesmente desistiram.
De minha parte, estava mais que agradecida por isso. Diferente de
muitos filhos de famosos, seja de que área fossem, eu odiava ser bajulada ou,
pior, idolatrada por ser filha de Harvey Stone. Para mim, carregar o
sobrenome da família Stone sempre foi um fardo pesado demais, e aquilo só
piorou depois que Romeo resolveu assumir os negócios da família.
Enquanto ele era apenas um playboy mulherengo, eu podia viajar o
mundo sem me preocupar, já que meu pai não achava justo cobrar que eu
assumisse a posição de Romeo nas Indústrias Stone. Não que ele não me
achasse capacitada para tanto, mas porque sabia que era questão de tempo
para que seu herdeiro se cansasse da vida boêmia e, finalmente, tomasse
posse do lugar destinado a ele desde que nascera.
Além disso, apesar de ser mais velha, todos sabiam da aversão que eu
tinha em assumir qualquer cargo na empresa da família. Perdi a conta de
quantas vezes vi meus pais conversando com meu irmão, sobre a importância
de ele se conscientizar do papel que tinha na perpetuação do legado dos
Stone. Aquelas discussões aconteceram ano após ano, mas ele só entrou na
linha depois que conheceu Julie Collins.
Minha cunhada era linda, inteligente, além de muito engenhosa e
conseguiu colocá-lo nos eixos. Foi incrível o milagre que ela operou em
Romeo e aquilo despertou minha curiosidade. Quando vi o quanto meu
irmão, sempre tão namorador e irresponsável, estava de quatro, coloquei na
cabeça que precisava saber que técnicas Julie havia usado para dominá-lo.
Na universidade, os comportamentos masculinos compatíveis com o
dele, sempre me chamaram bastante a atenção, porém, meu irmão cabeça
dura, nunca tinha aceitado fazer parte dos meus estudos malucos.
Contudo, embora tivesse sido uma aluna aplicada e adorando tudo
aquilo, meu diploma ficou na gaveta durante um bom tempo, pois não me
sentia preparada o suficiente para ajudar alguém. Sem contar que, na minha
cabeça, desbravar o mundo e ter experiências reais, soava muito mais atraente
do que passar o dia trancada em uma sala, atendendo pessoas cheias de
problemas.
Portanto, durante alguns anos, viajei pelos países mais incríveis do
mundo, conheci culturas extremamente diferentes e dormi com uma
quantidade considerável de homens, e tudo o que experimentei estava sendo
valioso, desde que resolvera colocar meu conhecimento em prática.
Mas eu não era uma psicóloga convencional, do tipo que apenas se
sentava e ouvia suas pacientes. Claro que isso acontecia nas primeiras
sessões, quando o intuito era conhecer o paciente, mas depois não me atinha
às convenções de forma estrita. Obviamente que cada caso era único, e um de
meus desafios era saber a melhor abordagem a usar, mas descobri ao longo
dos anos que a troca de ideias e experiências, como se faz na terapia em
grupo, pode ser muito mais benéfica a algumas pessoas.
Isso era algo que deixava explícito nos programas de que participava,
para que não houvesse reclamações. Quem quisesse apenas se deitar e falar,
deveria procurar outro profissional. Acreditava que, devido ao meu modo de
ser, muitas de minhas pacientes me consideram uma amiga e eu gostava
disso, gostava de pessoas.
Era por isso que durante minha curta caminhada entre o consultório e
meu apartamento, eu aproveitava para observar o que acontecia ao meu redor.
Os casais apaixonados eram os que mais me chamavam a atenção. De alguma
forma, eu conseguia identificar exatamente em que estágio do relacionamento
eles estavam e isso se tornara meu hobby favorito nos últimos tempos.
Parei na adega que ficava a duas quadras do meu edifício e comprei
uma garrafa de vinho. A rua onde morava era bem pacata e silenciosa, por
isso, quando virei a esquina e notei um pequeno aglomerado de pessoas,
estranhei bastante.
Cheguei mais perto e vi um rapaz engravatado sendo pressionado por
um grupo de senhores já de certa idade. Parei ao lado de uma mulher que
observava a confusão e perguntei qual era o motivo do burburinho.
Ela me encarou e demonstrou muita ansiedade ao falar sobre o assunto.
— Uma construtora comprou vários terrenos aqui pela região, mas
alguns dos donos, a maioria idosos, não autorizaram a venda. Pelo que
entendi, os filhos fizeram tudo por baixo dos panos e agora está a maior
confusão.
Não era novidade que o metro quadrado mais caro da cidade fosse
disputado de forma contumaz e muitas vezes arbitrária.
Despedi-me dela sentindo pena daqueles homens e mulheres de idade,
tendo que lidar com a má fé de seus filhos.
Ao entrar em meu apartamento, tirei as sandálias, larguei minha bolsa
no balcão da cozinha, onde já aproveitei para me servir de uma bela taça de
vinho, e sentei-me na varanda. Após beber o primeiro gole, usufruí a
deliciosa sensação de estar vivendo uma vida perfeita e senti-me agradecida
por isso.
Depois da minha deliciosa taça de vinho e um banho quente, meu corpo
estava totalmente relaxado, então fui para meu escritório, queria trabalhar no
meu mais novo projeto.
Eu adorava montar teorias sobre o comportamento humano e
ultimamente tinha colocado na cabeça que criaria um esquema para ajudar as
mulheres a serem mais sedutoras. Queria dar dicas básicas para que
conseguissem ser espertas a ponto de não se deixarem levar pela lábia
masculina e, de quebra, se aperfeiçoarem na arte da conquista.
Meu modelo piloto de comportamento era perfeito na teoria, o
problema era colocar na prática tudo o que estava no papel, porque para isso,
eu precisava encontrar a vítima ideal, que se enquadrasse em todos os
requisitos, ou seja, um libertino perfeito, o tipo de homem que nunca envolve
o coração em seus jogos de sedução. Apenas assim eu conseguiria testar a
minha teoria, passar os resultados para o papel e, posteriormente, indicar às
minhas pacientes.
Mas enquanto isso não acontecia, eu continuaria estudando, e foi o que
fiz, até tarde.
Quando me deitei na cama para dormir, senti uma deliciosa sensação de
plenitude.
Eu tinha a família perfeita, amigas maravilhosas, o emprego dos sonhos
e nenhum homem para acabar com meu emocional.
A vida, com certeza, não poderia estar melhor.
CAPÍTULO DOIS

Durante a manhã do dia seguinte, atendi duas pacientes com o mesmo


problema: relacionamento abusivo, o que me deixou com o alerta ligado.
Quantas mulheres não estariam vivendo relacionamentos pela metade,
por medo de procurarem alguma ajuda. Aquilo me fez refletir e fiz uma
anotação mental para amadurecer a ideia de ajudar um número maior de
mulheres e não apenas aquelas que poderiam pagar por uma sessão comigo.
— O Sr. Osborne na linha — Beth anunciou, tirando-me de minhas
divagações.
— Pode passar — pedi e girei minha cadeira para admirar a vista do
Central Park. — Anthony — falei, formalmente, assim que ouvi sua voz.
— Já disse que adoro ouvi-la me chamando de Anthony?
Revirei os olhos. Tony Osborne era o meu pesadelo diurno.
— O que você quer desta vez?
— Não fale assim com seu futuro marido.
Não consegui conter uma risada.
— Preferiria ser queimada viva em frente à Wall Street, a me casar com
um devasso como você.
Ele gargalhou do outro lado da linha e me contive para não fazer o
mesmo.
— Que tal um jantar na sexta-feira? — sugeriu, como sempre fazia.
O cara me ligava praticamente todos os dias; parecia que me infernizar
pelo telefone, havia se tornado uma espécie de diversão para ele. Mas a
verdade era que eu também me divertia com sua insistência descabida, por
isso não reclamava.
— Já tenho um compromisso. — Eu não gostava muito da vida noturna
e as sextas eram reservadas para as minhas duas melhores amigas.
— Beber vinho e falar mal dos homens com suas sombras, não me
parece um programa muito interessante. Apesar de que não me importaria
de me juntar a vocês, tenho certeza de que a noite acabaria de forma muito
interessante.
— Estou te esbofeteando mentalmente — falei e ele gargalhou mais
uma vez.
Tony era uma versão piorada de Romeo Stone, embora fosse muito
responsável com seus negócios. Eu sabia que por trás de seus convites para
jantar ou para acompanhá-lo em viagens, havia apenas o intuito de me levar
para cama. E embora eu não visse problema algum com isso, com ele, não
rolaria.
— E que tal no sábado? — ele tentou mais uma vez.
— Não insista, meu irmão te odeia e meu pai não vai muito com a sua
cara, melhor desistir logo — completei.
— Não é nenhum deles que eu quero fazer gozar. — Abri a boca,
incrédula com suas palavras ultrajantes. — Se mudar de ideia, me ligue. —
Ele desligou antes que eu tivesse a chance de responder.
O homem era terrível e, ainda assim, às vezes me perguntava como
seria se algum dia eu sucumbisse ao charme daquele mulherengo.
Deixei esses pensamentos contraproducentes de lado, pois era mais
fácil o inferno congelar antes de isso acontecer, uma vez que o belo homem
era persona non grata na minha família. Meu irmão o odiava com todas as
forças do universo, porque ele andou investindo na minha cunhada, quando
eles dois ainda namoravam. E apesar de nunca ter rolado nada, o ódio de
Romeo se perpetuou.
Fora isso, o Grupo Osborne era o principal rival das Indústrias Stone no
mercado de armas, então, além de enfrentar o pirralho, eu teria que pensar em
me explicar para Harvey Stone, que se orgulhava de ser o número um em
tudo.
Anthony era lindo e devia ser um verdadeiro deus na cama, mas eu não
entraria em conflito com minha família por causa dele.

— Essa blusa ficou linda em você — Beth elogiou quando saí da minha
sala para ir almoçar.
Minha secretária, Bethany Nixon, era uma loira linda e voluptuosa, que
possuía o sorriso mais genuíno que já tinha visto. Ela vivia em uma briga
eterna com a balança e aquilo a deixava bastante deprimida às vezes. Mas
estávamos trabalhando para que ela fizesse alguma coisa a respeito.
Em nossa primeira conversa, eu havia lhe dado duas opções: ou ela
mudava seus hábitos alimentares, que eram bem ruins na maioria das vezes,
além de se esforçar mais em suas atividades físicas ou começava a se aceitar
como era, sem sentir culpa por não conseguir atingir os padrões impostos,
especialmente, pela indústria da moda.
Nossas conversas se baseavam em fortalecer sua mente, porque
independentemente do que ela “escolhesse” para si, tudo dependia de querer.
No dia em que ela colocasse na cabeça que realmente precisava emagrecer,
eu tinha certeza de que conseguiria. O mesmo valia para o caso de ela
resolver parar de olhar seus quilos a mais como algo negativo e se aceitar.
Não adiantava eu ou qualquer pessoa falar, tudo tinha que partir dela. E eu
estaria ao seu lado para o que ela precisasse.
Nós havíamos nos conhecido em uma de minhas visitas às Indústrias
Stone e não senti qualquer receio ou remorso ao roubá-la para mim. Ela era
uma pessoa tão agradável, amorosa, competente e ágil, que, apesar do pouco
tempo em que trabalhávamos juntas, não conseguia imaginar minha vida sem
ela.
— Obrigada, Beth, quer almoçar comigo e com a Amy?
— Sabe que adoro almoçar com vocês, mas tenho horário marcado no
Think Pink. Preciso fazer as unhas, porque tenho um encontro no final de
semana.
Arregalei os olhos e sorri, genuinamente satisfeita.
— Mesmo, que maravilha, espero que dê tudo certo — desejei com
sinceridade e a abracei.
Devido à sua falta de aceitação, Beth tinha problemas em acreditar que,
mesmo estando alguns quilos acima do peso desejado, ela poderia despertar a
atenção dos homens. Graças a Deus, desde que começou a trabalhar comigo,
sua autoestima já havia melhorado bastante e aquilo me deixava imensamente
feliz.
— Bom, eu já vou indo, qualquer coisa, me ligue.
Eu e Amy ficamos de nos encontrar no Manhatta, o restaurante do
momento entre os empresários de Nova York. Ela adorava almoçar lá para
ficar secando os figurões da cidade. Já eu, convivi com tantos homens
daquele meio, que não sentia tanta graça naquela brincadeira, embora
adorasse um homem de terno.
A hostess me guiou pelo restaurante e reconheci muitos rostos
enquanto atravessava o salão. Passamos pelo pianista e paramos ao lado da
mesa, onde uma de minhas melhores amigas estava à minha espera.
Amy Mason era uma típica filhinha de papai criada para ser a
princesinha da casa; prova disso era o conjuntinho cor-de-rosa que ela vestia
naquele momento. Na verdade, o rosa sempre estava presente em alguma
peça ou acessório e quando digo sempre, é sempre mesmo.
Todo aquele estereótipo se completava com o cabelo loiro, bem tratado,
que já estava precisando de um corte, visto que ela sempre o deixava um
pouco acima dos ombros, altura que ele já passara há um bom tempo. Para
completar o visual, ela tinha lindos olhos castanhos com um toque
esverdeado que eu carinhosamente denominava como verde-musgo, para
desespero dela, e um sorriso doce, que encantava qualquer um.
— Amy, você de rosa, que surpresa!
Ela revirou os olhos e me abraçou.
— Sua vaca, eu te liguei a semana toda — reclamou quando nos
sentamos.
— Estou chegando em casa tão cansada do consultório e, mesmo lá,
tem tanta coisa para fazer, que nem sequer me lembro de retornar as ligações
— expliquei.
— Se meu pai tivesse tanto dinheiro quanto o seu, eu jamais iria
trabalhar — gracejou.
Amy não era a primeira pessoa a falar aquele tipo de coisa, mas o que
elas não entendiam, era que eu realmente amava o que fazia e que, embora
meu pai tivesse muito dinheiro, eu não conseguia me imaginar fazendo outra
coisa.
Minha mãe, por exemplo, podia ter tido uma vida de dondoca, após ter
se casado com papai, mas aquilo nunca aconteceu. Ela parou de trabalhar
apenas enquanto Romeo e eu éramos pequenos, mas assim que se sentiu
segura, voltou para as indústrias Stone. E, mesmo depois de ter saído de lá,
nunca parou, estava sempre cuidando da ONG da empresa e, sinceramente, às
vezes achava que ela trabalharia menos, se estivesse em seu emprego
anterior.
Eu não fora criada por pessoas fúteis e possuía uma personalidade
irrequieta, nunca conseguiria, simplesmente, ter uma vida estéril. Além disso,
já tinha sido bancada por tempo suficiente e achava importante conseguir me
virar sem ter que recorrer aos meus pais.
Claro que não seria hipócrita de dizer que não havia gostado de ter tudo
o que desejei, durante a vida toda. Mas em um belo dia, senti que aquilo não
bastava. Eu queria me sentir útil e minha profissão preenchia aquela lacuna.
— Você já faz isso, sua sonsa — falei rindo e ela gargalhou.
A família de Amy trabalhava no ramo da aviação há várias gerações.
Quando o pai dela se aposentou, seu irmão mais velho assumira os negócios,
já ela, continuou brincando de gastar dinheiro. Eu também já tinha passado
por aquela fase, então nunca a julgaria, cada pessoa sabia de si.
— E aí, alguma novidade?
— O de sempre: de casa para o trabalho e vice-versa — falei com uma
careta.
Nessa hora o garçom nos serviu o vinho branco gelado, que ela havia
solicitado antes de eu chegar e aproveitamos para fazer nossos pedidos.
— Está na hora de arrumar alguém — ela comentou.
— Acho que não. Em minha vida os homens estão divididos entre os
que estão mais interessados no meu nome do que em mim, os que só querem
me levar para a cama e se gabar depois e os que me odeiam por eu falar a
verdade sobre eles. A parcela que não se encaixa nesses três conceitos é tão
mínima, que não vou perder meu tempo procurando.
Ela gargalhou
— Fala sério, você é Louise Stone, a Deusa do amor, todos a desejam.
Tive que rir do comentário dela.
Eu sempre estive em destaque, por causa do nome de minha família,
mas como nunca gostei de me expor, passei minha juventude dispensando
convites para participar de qualquer programa, por mais sério que fosse.
Entretanto, quando meus estudos começaram a ser publicados e
comentados, vários programas enviaram convites, todos queriam saber um
pouco mais sobre minha área e apenas pela oportunidade de ajudar outras
pessoas foi que resolvi aceitar. Durante uma dessas entrevistas, em um talk
show, a apresentadora me chamou de Deusa do Amor e, desde então, todos os
jornais e revistas com foco em relacionamentos, além da mídia em geral,
começaram a me chamar assim.
E precisava confessar que adorava. Após minhas primeiras aparições
em rede nacional, a procura pelos meus serviços havia aumentado, mas
depois da disseminação do apelido, ela quase duplicou.
— E o Tony, continua na sua? — ela perguntou, curiosa.
— Continua, acho que ele só vai desistir quando eu ceder.
— Acho ele uma delícia — confessou.
Amy também era uma devoradora de homens, aliás, nós três éramos, o
problema era que ela se apaixonava por todos que passavam por sua cama.
— Pode ficar com ele, se quiser — desdenhei.
— Ainda acho que devia lhe dar uma chance, uma noite, só para ele
desencanar.
Tanto Amy quanto Cindy viviam me incentivando a ficar com Tony.
Confesso que cheguei a considerar a possibilidade, ele era um homem bem
interessante, com um senso de humor que eu apreciava bastante e esse era,
exatamente, o motivo porque eu mantinha distância e sempre desistia daquela
ideia.
Seria muito fácil ficar caída por um tipão como ele.
Cresci vendo minha mãe loucamente apaixonada pelo meu pai, eles
viviam em uma bolha e aquilo me fascinava de uma forma muito positiva.
Na minha pré-adolescência, eu ficava imaginando como seria o meu
futuro marido, se ele usaria ternos bonitos e aqueles perfumes com
fragrâncias deliciosas que meu pai deixava pelo ar.
Harvey Stone se tornou uma referência de homem para mim e,
querendo ou não, Tony Osborne era muito parecido com ele em vários
pontos, inclusive no quesito trocar de mulher como quem troca de roupa.
Minha mãe já havia falado algumas das coisas que passou com o meu
pai e eu morria de pena, ela mesmo admitia que fora boba e perdoou coisa
demais. O bom foi que teve sorte no final, pois viviam um ótimo casamento.
— Transar com os caras na universidade é uma coisa, mas dormir com
um homem que frequenta o mesmo círculo de cavalheiros que meu pai e
Romeo, é suicídio. Se eu transar com Tony, é capaz de sair na capa do Times
no dia seguinte.
Amy balançou a cabeça e deu risada.
— Não acho que Tony seja esse tipo de homem. Duas amigas ficaram
com ele esses tempos e nunca ninguém comentou a respeito.
Era bem típico de homens como ele ficar com um grupo inteiro de
amigas e depois passar por elas como se nada tivesse acontecido.
— Falando no diabo… — praticamente gemi quando vi o objeto de
nossa conversa parando em frente à hostess, exibindo a expressão imponente
que os empresários mais importantes de Nova York envergavam. Aquela era
a mesma fachada que meu pai ostentava quando entrava em algum lugar e
que Romeo estava começando a exibir também. Eles eram poderosos e
sabiam disso.
Desci o olhar por seu corpo, alto e forte na medida certa e tive que
admitir que o homem era um Deus. Sempre usava os cabelos, bastos e
escuros, levemente mais compridos do que os dos CEOs em geral, penteados
para trás. Volta e meia, me pegava pensando em como seria a sensação dos
meus dedos bagunçando aquela cabeleira toda. Mas a cereja do bolo era seu
olhar, que falava tudo, sem que seus lábios precisassem dizer uma palavra.
Outra coisa que eu gostava nele eram os sorrisos e trejeitos que aquela
boca, adornada por uma barba castanha e bem cuidada, apresentava.
Ele era muito charmoso, sem fazer qualquer esforço.
A seu lado estava uma ruiva muito bonita. Era alta, magra e usava um
vestido branco de seda. Os dois formavam um belo casal, embora eu
soubesse que ela deveria ser apenas mais um caso.
— Achei a garota muito magra e aquele vestido não a favoreceu, sem
contar que meu irmão saiu com ela na semana passada — Amy disse com
toda sinceridade que lhe era inerente.
— Tony não está muito preocupado com o que ela está vestindo, afinal,
o plano é tê-la sem roupa. — Nós duas rimos da minha piadinha de mau
gosto.
Naquela hora nossos almoços chegaram e acabei comentando o que ele
havia falado quando me convidou para jantar na sexta-feira.
— Eu estava aqui pensando numa coisa — disse Amy, antes de limpar
a boca com um guardanapo de linho. — Não acredito que o almoço com essa
sem sal, tenha acontecido de repente, o que significa que Tony já estava com
esse encontro marcado quando te convidou para jantar ontem.
— Homens — zombei e ambas rimos, levantando nossas taças para
fazer um brinde.
Eu nunca fui do tipo ciumenta, mas gostava de exclusividade,
principalmente quando a pessoa era tão conhecida quanto eu. Aquela área de
Nova York era frequentada por ricos e famosos, então, não era difícil
encontrar algum paparazzi esperando pela foto perfeita.
— Se eu fosse você, iria até lá para dar um oi — Amy instigou.
— Coitada da garota, ia morrer de ciúmes — falei para a minha amiga.
Eu odiava aquela espécie de competição que as mulheres tinham entre si.
— Ela é uma caça tesouros daquelas, ficou duas vezes com o meu
irmão e já estava pressionando para um namoro; se gostasse dele não estaria
almoçando com outro.
Vendo por aquele lado, Amy podia ter razão, mas algumas mulheres,
após romper um relacionamento, já emendavam em outro, por medo de
ficarem sozinhas. Se aquele fosse o caso da ruiva, gostaria de dizer a ela que
ficaria bem melhor sem Tony, pois aquele ali não iria sossegar tão cedo.
— Seu irmão não é nenhum santo — rebati e Amy revirou os olhos.
— Ele é louco por você, devia lhe dar uma chance.
Apesar de viver sob os holofotes da mídia e ser tão gato e disputado
quanto Tony e Romeo — que mesmo casado e indiferente a qualquer outra
mulher, que não fosse Julie, ainda estava na boca e pensamento de metade
das solteiras de Nova York —, Steve Mason não despertava meu apetite
sexual. Ele era gostoso, mas nunca me lançou aquele olhar predador que
Anthony Osborne luzia 24h por dia e aquilo me dizia que ele talvez sentisse
mais do que atração física por mim. Como sabia que nunca iria querer nada
sério com ele, era melhor nem começar.
— Já falamos sobre isso, Amy. Você me conhece e eu não quero que
haja um clima estranho depois; melhor deixar as coisas como estão.
Ela concordou e continuamos conversando enquanto terminávamos
nossa taça de vinho.
Assim que pagamos a conta e nos levantamos para ir embora, Tony
percebeu a nossa presença e seu rosto se iluminou com um belo sorriso.
Então, cheio de charme, pediu licença para a ruiva e caminhou,
elegantemente, até nós.
— Louise — disse pegando minha mão e a levando aos lábios, em um
gesto galante.
Minha pele se arrepiou com o toque de sua boca.
Em seguida fez o mesmo com Amy, que foi só sorrisos para ele.
— Que prazer revê-lo, fazia tanto tempo que não nos falávamos —
soltei, com sarcasmo e ele gargalhou, chamando a atenção de quem estava
por perto, inclusive da ruiva, que nos olhava com o canto dos olhos.
— Ah, Louise, Louise, você sempre me diverte — confessou, olhando-
me com carinho.
— Então acho que vou ficar mais séria, quem sabe assim, você pare de
me ligar.
Ele riu alto de novo, parecia realmente se divertir com minhas tiradas.
— E o nosso encontro de sexta? — ele perguntou, como se não tivesse
sido dispensado. Era mesmo um caçador.
— Acho que já está tendo um encontro agora — rebati e olhei para a
ruiva, que naquele momento exibia um bico enorme.
— É só uma amiga — justificou, sem dar muita importância. — E
então? — insistiu.
— Como eu te disse, vou sair com Amy e Cindy na sexta — falei,
dando de ombros.
Gentilmente, Amy segurou meu braço e me encarou.
— Oh, eu me esqueci de te falar. Cindy terá que jantar com os pais na
sexta, parece que é aniversário de alguém da família dela e eu terei de ir ver a
apresentação de balé da Hanna, então, você estará livre para jantar com Tony.
Abri a boca e arregalei os olhos quando entendi o que a vaca estava
fazendo.
— Bom, pelo visto, temos um encontro sexta à noite — disse ele, com
ar vitorioso no rosto e tive vontade de socar a minha amiga.
— Anthony… — minha contestação se perdeu quando ele pegou minha
mão e me olhou de um jeito sedutor.
— É só um jantar, Louise, prometo que irá se divertir. Sei que ficarei
frustrado, mas, pelo menos, daremos boas risadas.
Se tinha uma coisa que Tony sabia fazer, era me arrancar sorrisos e ali,
diante dele, foi difícil recusar o maldito convite.
— Eu escolho o lugar, vou com o meu carro e quero estar em casa
antes da meia-noite — falei, contrariada.
— Você manda; te ligo amanhã — falou e se despediu de nós.
Enquanto o via se afastar, ainda custava acreditar que, depois de meses
sem sair com ninguém e após ter rechaçado todos os seus convites, graças à
sonsa da minha amiga, eu teria um encontro com Anthony Osborne, o
libertino mor da cidade.
Que droga!
CAPÍTULO TRÊS

— A Srta. Smith já está aqui — Beth avisou pelo interfone.


— Pode conduzi-la até aqui, por favor — pedi e respirei fundo para me
preparar, esse caso era bem complicado.
Lacey[7] Smith era uma linda garota de dezenove anos. Loira, com
expressivos olhos azul-acinzentados e corpo curvilíneo, ela deixaria qualquer
homem babando, mas havia desenvolvido uma séria dependência emocional
pelo ex-namorado, a ponto de o rapaz entrar na justiça para mantê-la longe.
A obsessão estava tão preocupante, que antes de me procurar, ela já
havia consultado alguns psiquiatras. Entretanto, Jenna, sua mãe, após
pesquisar a respeito dos medicamentos prescritos, quis procurar outras
alternativas. Ela achava que a filha precisava se encontrar e estava
esperançosa de que a terapia seria o melhor caminho.
Eu concordava. Já fazia dois meses que a garota não cometia nenhuma
loucura e, segundo a mãe, ela parecia muito mais equilibrada desde que
começou as sessões comigo.
Mas ainda haveria um longo caminho.
Lacey se apegara tanto àquele rapaz, que não via outras possibilidades
de ser feliz se não fosse ao lado dele, por isso, meu foco era fazê-la enxergar
que havia um mundo de possibilidades esperando por ela e o mais
importante, que ela não dependia de ninguém para ser feliz.
Assim que entrou, percebi que sua pele estava levemente dourada, sinal
de que Jenna havia conseguido tirá-la de casa. A mulher estava sendo minha
grande aliada nessa luta para que a filha voltasse a ter uma vida normal e isso
era importantíssimo, pois aos poucos estávamos conseguindo, o importante
era não desistir.
— Fui à praia no fim de semana — ela disse, um tanto desanimada,
após eu ter comentado que ela parecia mais saudável.
— Isso é ótimo, sair de casa é um grande avanço, você está indo muito
bem, Lacey.
Ela sorriu timidamente e ficou torcendo os dedos em um gesto de
nervoso, parecia ansiosa para falar alguma coisa, por isso lhe dei tempo.
— Jace postou fotos com uma garota. A legenda não falava nada, mas
senti tanta raiva... tive vontade de ir até a casa dele, mas desisti.
Fiquei gratamente surpresa com a revelação.
— Fez a coisa certa, se tivesse ido, acabaria ficando deprimida. Mas
como soube da foto?
Jace tinha pegado tanta aversão à ex-namorada, que a bloqueou de
todas as redes sociais, para que nenhuma informação chegasse até ela.
— Fiz um perfil falso, ele aceitou, o resto você deve imaginar.
Essa revelação, por outro lado, não me causou estranheza. Desde que
começamos as sessões, Lacey havia passado por diversas fases e eu sabia que
em algum momento ela teria uma recaída, isso fazia parte do processo.
Após fazer algumas anotações, ponderei:
— Quando começamos o tratamento, ficou acertado que você o
eliminaria de sua vida. Lembre-se de que uma ferida não cicatriza se todo
dia a pessoa colocar o dedo nela.
Os olhos de Lacey se encheram de lágrimas, mas ela ficou firme e não
desabou.
— Eu sei, Louise, logo depois de ter visto a foto fiquei muito mal.
— Você precisa cortar esse cordão invisível que te liga a ele, pare de
alimentar pensamentos e hábitos do passado. Pode ser duro ouvir isso agora,
mas Jace não faz mais parte da sua vida e você tem que se convencer de que
está muito melhor sem ele.
Diferente de Katie Hill, que tinha um ex-marido machista e traidor,
Jace era o oposto, segundo Jenna, era um ótimo garoto, fazia de tudo pelo
relacionamento dos dois, mas o ciúme e a insegurança de Lacey foram
afastando-o pouco a pouco.
Conforme progredíamos durante as sessões, fui percebendo que a
obsessão de Lacey pelo namorado, na verdade, estava enraizada em um
problema de infância; ela tinha perdido o pai muito cedo, entrou em
depressão por vários anos devido a isso e quando, finalmente, ficou bem,
conheceu Jace. Sem perceber, ela depositou todas as suas esperanças naquele
rapaz.
O problema é que o fardo foi ficando pesado demais e embora gostasse
dela, Jace preferiu pedir um tempo, foi aí que a coisa começou a sair dos
trilhos.
Lacey invadiu a casa dele por inúmeras vezes em busca de uma
reconciliação; quando isso não aconteceu, ela quebrou o carro dele com um
taco de Baseball e ao ser confrontada pelo rapaz, o acertou nas costas,
fazendo-o parar no hospital.
Foi nessa época que os pais dele entraram com uma ordem de restrição
para que Lacey não se aproximasse da propriedade ou do filho e ela vinha
cumprindo o combinado desde então.
Logo no início, cheguei a pensar que se ela melhorasse, acabariam
reatando, afinal, eles se gostavam, mas quando entendi de onde vinha sua
dependência e de como aquilo pesou no relacionamento deles, descartei essa
possibilidade. Lacey precisava se desvencilhar dele completamente ou
sempre haveria uma ligação que ia além do amor e companheirismo
existentes em uma relação saudável.
— Vou excluir a conta — ela disse depois de um tempo.
— É o melhor a fazer, não será saudável ficar olhando o perfil do seu
ex-namorado o tempo todo, só servirá para que sua obsessão aumente cada
dia mais.
— Eu sei, assim que chegar em casa, vou deletar.
Eu sabia, por experiência própria, que Lacey jamais iria excluir o perfil
fake — a única ligação que ainda possuía com Jace —, se não tivesse um
incentivo maior.
— Eu vou te ajudar — falei e me levantei sem lhe dar tempo para
entender minha pretensão. — Em casa, sozinha, você pode vacilar, então,
vamos fazer isso juntas — continuei enquanto pegava o notebook em cima da
mesa e o levava até ela. — Aqui está. Pode usá-lo para deletar a conta nessa
rede social.
Ela ainda hesitou por alguns segundos, mas logo assentiu e pegou o
computador das minhas mãos. Depois de abrir a página, ela digitou o login e
a senha de forma vagarosa, como se não quisesse fazer aquilo, mas acabou
deletando.
Eu sabia que Lacey poderia criar outra conta, ou até mesmo reativar
esta assim que chegasse em casa, mas após ter feito o que ela sabia ser o
certo, pensaria duas vezes e a cada vez esse desejo diminuiria um pouco
mais, pois acabaria se envergonhando de si mesma.
— Você está sendo muito forte, Lacey, logo essa dor vai passar e ainda
vamos dar risada de tudo que conversamos aqui.
Ela deu um sorriso fraco e resolvi mudar o foco. Eu sabia que não
poderia apressar as coisas, contudo, havia um grande desafio pela frente.
Tanto Jace quanto ela tinham sido aceitos em Yale e isso era um problema.
Ela ainda tinha dúvidas se teria forças para e encontrá-lo pelos corredores da
universidade e pelo perfil falso que criou, havia razões para preocupação.
Eu continuaria trabalhando em seu emocional para que ela conseguisse,
pelo menos, tentar, mas tinha minhas dúvidas de que ir para Yale fosse o
ideal. Além de ter a possibilidade de vê-lo todos os dias, ainda tinha a ordem
de restrição, se Lacey não estivesse completamente “curada”, acabaria
arrumando muitos problemas para si mesma.
Por causa disso, não me preocupei muito com horário e a sessão acabou
se estendendo por mais 20 minutos.
— O Sr. Osborne na linha — Beth avisou logo após Lacey ter saído.
Ouvir aquilo me deixou ligeiramente irritada. O homem parecia ter o
dom de saber quando eu estava livre. Além disso, ainda não tinha engolido o
fato de Amy ter armado aquele encontro, então, sentia-me impaciente.
— Pode transferir.
— Louise! — ele disse com sua voz loucamente sedutora.
— O que foi. Surgiu algum compromisso e você me ligou para
desmarcar de última hora? Não se preocupe, não ficarei chateada.
Ele riu com vontade e imediatamente negou.
— De forma alguma. Estou ligando apenas para avisar que vou pegá-
la às 21h.
— Não era esse o combinado — alertei.
— Eu sei, mas deixe-me fazer essa gentileza.
Eu não deveria baixar a guarda, mas não estava fim de ficar discutindo
com ele por causa disso.
— Tudo bem, mas já sabe que…
— Sim, eu sei — ele interrompeu.
— Ótimo, nos vemos à noite.
— Mal posso esperar — falou com voz sedutora mais uma vez.
— Fale normalmente comigo, esse seu tom de conquistador barato não
tem efeito sobre mim.
Ele gargalhou.
— Estou começando a achar que está apaixonada por mim e não sabe
lidar com a situação.
Minha vez de gargalhar.
— Vai sonhando.
— Tony quer ver Louise.
Caí na gargalhada novamente com sua imitação ridícula de um homem
das cavernas.
— Gosto do meio termo, nem tão meloso, nem tão grosseiro —
brinquei para entrar na dele.
— Vou treinar nas próximas horas, prometo.
Balancei a cabeça e sorri.
— Até mais tarde, então.
Desliguei o telefone, peguei minhas coisas e fui para casa.
O que me tranquilizava com relação a esse bendito encontro, era que eu
possuía bastante experiência com homens de seu tipo, então, não teria
nenhum problema em passar algum tempo em sua companhia.
Tony era só um sedutor preocupado em alimentar seu ego desenfreado,
era o tipo de homem que vivia para a libertinagem, deliciando-se em caçar a
próxima vítima, oferecendo uma dose de aventura e prazer, que não duraria
mais do que uma noite.
Sua principal arma, era sempre demonstrar aquela confiança inabalável,
de homem que sabia exatamente como seduzir uma mulher, ou dúzias delas.
Ele tinha um poder de persuasão que anulava completamente suas vítimas,
que se viam rendidas diante de todo aquele encanto.
Sedutores como ele transformavam pessoas em cobaias, quanto mais
mulheres passavam por suas camas, mais experiências eles ganhavam.
Aquele jogo se tornava um vício interessante e as mulheres, apenas uma
história para compartilhar com os amigos.
Homens desse tipo, sabiam do poder que exerciam sobre as pessoas e o
usavam com muita frequência. Inconscientemente, eles analisavam o
comportamento psicológico de suas vítimas e, na maioria das vezes,
conseguiam desvendar necessidades emocionais de grande parte delas.
Toda essa análise, era feita em questão de minutos já que as mulheres
costumavam falar bastante em um primeiro encontro, sem saber que estavam
disponibilizando informações valiosas, para que seu acompanhante usasse no
momento certo.
Tony era a materialização das fantasias de qualquer mulher: um
magnata sedutor, boa pinta e cheio de conversa. Seria difícil para qualquer
mortal resistir a tudo o que aquele deus do Olimpo parecia oferecer. Mas eu
tinha estudado tempo demais e conseguia identificar homens como ele de
longe, então, todas as suas armas seriam inúteis comigo.
De minha parte, tudo o que esperava era dar boas risadas, já que nada
além disso iria acontecer.

Tony
Passei aquele dia de muito bom humor e tudo graças à encantadora
Amy que, de forma astuta, armou para que eu, finalmente, tivesse um
encontro com a estonteante Louise Stone.
Por causa disso, mesmo sendo relativamente cedo para os meus
padrões, assim que a última reunião acabou, eu me levantei, pronto para
encerrar meu dia de trabalho. Sentia-me ansioso pela noite que teria, coisa
que não acontecia há muito tempo.
Pensar nisso fez um sorriso bobo surgir em meu rosto. Aquela mulher
era a personificação de um ser impossível, que despertava todas as minhas
células. Havia algo de fascinante e misterioso nela. Talvez fosse sua aura
confiante e independente, que me deixava completamente seduzido.
A meu ver, Louise era a materialização da intensa fantasia masculina
de uma mulher extremamente sexual, que oferecia prazeres e riscos
inimagináveis.
Desde o princípio dos tempos, os homens buscavam por aventuras,
adrenalina e riscos. Quantos homens poderosos e sensatos, não se
envolveram com amantes em momentos errados, apenas pela emoção que
aquela atitude irracional desencadearia.
Claro que as guerras, a travessia dos mares e o mundo político, supriam
bastante daquela necessidade, mas nada era mais atrativo que o sexo. Por
causa dele, muitos duelos infames e mortais aconteceram.
Nos dias atuais, não havia mais aquele tipo de desafio, o mundo
moderno havia facilitado tanto as coisas, que até aquela intensa emoção que
sentíamos na hora da conquista, deixou de existir.
Enquanto tomava banho para o meu encontro, tentei me lembrar da
última vez em que quisera seduzir uma mulher e não tinha conseguido.
Embora a rotatividade na minha cama fosse grande, meu foco estava sempre
na linda Louise Stone e abandonaria qualquer outra para ter o prazer de
passar algumas horas em sua companhia.
Não que eu estivesse apaixonado, mas os homens eram caçadores natos
e nosso jogo de gato e rato me excitava cada dia mais.
Quando estava precisando de uma dose de descontração, ligava para
seu escritório, pois sabia que seria garantia de boas risadas. Eu adorava cantá-
la, mesmo sabendo que com Louise minhas cantadas não funcionariam, ela
levava tudo na esportiva. Todas as mulheres com quem eu costumava sair,
sempre pareciam tão previsíveis quando comparadas àquela mulher, que
aquilo estava começando a me entediar.
Sua secretária tinha se tornado minha aliada e sempre que eu ligava
num horário em que ela estava atendendo, a simpática Bethany me mandava
uma mensagem avisando quando a consulta acabava.
Louise era uma psicóloga especializada em relacionamentos, que
prometia melhorar a confiança das mulheres e ajudá-las a superar a dor de um
término e recomeçar a vida da melhor forma e o mais rápido possível. Não
era difícil vê-la em Talk Shows ou dando entrevista para Oprah. Tanto que
ficou conhecida em Nova York como A Deusa do amor.
E o pior era que ela realmente sabia do que estava falando. Já tinha
visto muitas de suas entrevistas e por várias vezes, me identifiquei com os
homens que ela descrevia em seus exemplos, nada sutis. A Srta. Stone, havia
encontrado e enumerado nossos principais truques para chegar ao coração
feminino e muitos amigos reclamavam que as coisas em Nova York, já não
eram tão fáceis depois que A Deusa do Amor surgiu na cidade.
Não me importava que ela desvendasse nossos truques ou que
rechaçasse meus convites. Desde que a conheci, eu soube que as coisas
seriam assim, por outro lado, não cheguei onde estava desistindo na primeira
negativa que recebia.
Prova disso era que, após tantos meses cercando Louise, ali estava eu,
parado em frente ao edifício em que ela morava atualmente. Sentia-me tão
inquieto, que até saí do carro. Talvez o fato de ter demorado tanto para
conseguir aquele encontro, estivesse me deixando ansioso para que ela
aparecesse logo.
Já fazia dez minutos que estava aguardando, quando sua silhueta
passou pelas portas de vidro do prédio. Um vestido tom de ameixa flutuava
em volta de seu corpo enquanto seus brincos reluziam a cada passo que ela
dava. Seu perfume era incomparável e a forma como sorriu ao encarar meus
olhos, me deixou sem palavras.
Louise tinha o poder de me fazer parecer um moleque inexperiente,
mas aquilo só durou alguns segundos, pois logo me desencostei do carro e dei
alguns passos para encontrá-la.
— Encantadora como sempre — elogiei e a beijei no rosto, sentindo a
maciez de sua pele.
— O que falei sobre cantadas baratas? — ela brincou.
— Vai me perdoar se disser que pesquisei, exaustivamente, para
escolher o elogio que combinava com você?
Louise sorriu e balançou a cabeça.
— Vamos logo, quero terminar com isso o quanto antes — falou,
desdenhosa, como se estivesse contando os minutos para se livrar da minha
companhia.
Poderia ser idiotice, mas era exatamente aquele tipo de atitude que me
deixava interessado. Aquele distanciamento que impunha entre nós, deixava-
me levemente inseguro, fazendo-me questionar por que diabos meus encantos
não funcionavam com ela.
Louise colocava minha vaidade em jogo. Aquela tentação ambulante
me fazia querer sua aprovação, feito um louco à procura de água no deserto e,
mais do que isso, fazia-me querer provar, que ela não estava imune a mim.
Abri a porta do carro e nos acomodamos lado a lado. Ela parecia
extremamente confortável na minha presença, bem diferente do nervosismo
aparente que as outras mulheres exibiam nos primeiros encontros.
— Posso saber aonde vai me levar? — perguntou virando-se para mim.
— Fiz reservas no Per Se.
— Ótimo, estava mesmo curiosa para ir a esse restaurante —
comentou, com pouco caso, mesmo admitindo ser um lugar onde queria ir.
Eu apenas sorri e começamos a conversar sobre nossos chefs de
cozinha preferidos e assuntos gastronômicos, até chegarmos ao restaurante,
que ficava no 4º andar do Times Warner Center.
Fazia algum tempo que eu queria ir àquele restaurante e nada melhor
que realizar esse desejo ao lado da bela Louise Stone.

Louise

Ao entrarmos no restaurante mais disputado do momento, nos


acomodamos em uma mesa mais reservada. Ele, claramente, queria alguma
privacidade para fazer suas investidas em paz.
Olhamos ao redor e comentamos sobre a linda decoração do
restaurante, depois escolhemos um vinho juntos e ele continuou dando toda
atenção ao que eu falava.
Tony estava representando muito bem seu papel de sedutor.
Aquilo poderia funcionar com outras mulheres, mas não comigo. No
entanto, não podia negar que ele estava se esforçando. Provavelmente porque
esperava que a noite fosse favorável. Havia se produzido de um jeito que
deixaria qualquer mulher babando. Inclusive eu. O fato de não querer nada
com ele, não me deixava imune a toda aquela demonstração de
masculinidade.
Tony era um homem que chamava a atenção, não apenas por sua
beleza, que era unânime entre qualquer mulher, mas pelo charme que
emanava dele, além daquele olhar matador. O homem se tornara um perfeito
lascivo profissional. Tudo nele gritava sexo.
Depois de todas as coisas que li e presenciei, entre pacientes e objetos
de estudo, cheguei à conclusão de que as fêmeas, em geral, nunca se sentiam
desejadas o suficiente. Isso se devia ao fato de, a maioria dos homens, serem
tolos, distraídos e insensíveis. Para essas mulheres, o libertino surgia com
uma promessa de diversão e prazeres sem fim, oferecendo tudo aquilo que
lhes fora negado ao longo dos anos.
Além disso, as mulheres estavam acostumadas a serem reprimidas pela
ideia do casamento, filhos e toda aquela pressão para serem perfeitas e
respeitadas aos olhos da sociedade, mas, intimamente, a maioria sonhava com
um homem sedutor que vivesse para ela, reproduzindo os devaneios criados
por suas mentes cheias de ilusão e desejo.
Libertinos como Tony, eram a fantasia dessas mulheres transformada
em realidade. A fama, a beleza, a lábia sedutora que as encantava e,
principalmente, a reputação de garanhão indomável, fazia com que todas
quisessem cativá-lo, dominá-lo. Mas a verdade era que a maioria ia ficando
pelo caminho.
— Relaxe, Louise, é só um jantar — disse, depois de perceber que eu
estava um pouco inquieta.
— Você sabe que não é só um jantar e que suas expectativas são bem
grandes em relação a nós dois — respondi, depois de um tempo.
— Está tão óbvio assim? — ele perguntou, meio de brincadeira.
— Você precisa entender que, quanto mais óbvia a perseguição, maior
a chance de afugentar a presa.
Ele gargalhou e se recostou na cadeira para me encarar com seus olhos
verdes, que se destacavam ainda mais com a roupa escura que usava.
— Você não é qualquer presa.
Balancei a cabeça. Talvez aquele jantar acabasse se tornando bem
oportuno. Aproveitaria a oportunidade para fazê-lo entender certas coisas de
uma vez por todas.
— Excesso de atenção pode ser interessante em um primeiro momento,
mas depois fica enjoativo, claustrofóbico e, por fim, acaba demonstrando
carência e fraqueza o que, na minha opinião, é uma combinação pouco
sedutora.
Tony pareceu escandalizado com meu pequeno discurso. Sabia que
tinha atingido a parte mais sensível de seu ego e também aquela que não
entendia que sua insistência, dificilmente, lograria sucesso, pelo menos
comigo.
— Se pudesse colocar a mão no meio das minhas pernas, perceberia
que toda essa sua conversa inteligente me deixa excitado.
Foi minha vez de ficar escandalizada e de passar os olhos em volta para
ter certeza de que ninguém tinha escutado o mesmo que eu.
— Meu Deus, Anthony, você não presta.
Ganhei um sorriso enigmático em resposta.
— Eu garanto que no final da noite, seu conceito a meu respeito será
melhor — assegurou e eu apenas concordei com a cabeça.
Logo depois, ele mudou de assunto e se transformou, da água para o
vinho. Seu lado sedutor saiu de cena e deu lugar a um homem diferente que
falava sobre a época de universidade e as coisas que costumava aprontar com
seus amigos.
Por algum tempo, esqueci que era uma mulher especializada em
encontrar falhas em todo tipo de homem e me deixei levar pelas incontáveis
histórias que ele dividiu comigo.
Tony me arrancou gargalhadas e me fez esquecer do tempo. Quando
dei por mim, já havíamos jantado e bebido quase duas garrafas de vinho.
Em alguns momentos eu também comentava sobre coisas que
aconteceram na minha vida, nada muito relevante, mas que tinham a ver com
nossa conversa. Foi em uma dessas vezes, que o peguei me observando de
um jeito peculiar.
— O que foi? — perguntei levando minha quinta taça de vinho aos
lábios.
— A palavra encanto vem do latim incantare e está associado a algo
mágico, que fascina; você tem esse mesmo efeito, Louise.
Engoli o vinho e tentei disfarçar o meu espanto.
— Demorou quanto tempo para decorar essa meia dúzia de palavras?
— zombei para tirar o foco daquele momento.
— Na verdade, faz parte do meu repertório, mas obviamente, não
funcionou com você.
Tony tinha uma grande capacidade de não perder o rebolado diante dos
meus incontáveis cortes. Ele sabia exatamente como agir e o que falar depois
que eu despejava um balde de água fria em nossa conversa.
— Reconheço o esforço em me comparar a uma descrição tão bela, mas
acho que não estou à altura.
— E por que não? — questionou e voltou a encher nossas taças.
Eu não costumava trabalhar de graça e uma hora do meu tempo
comercial, custava uma fortuna, mas a noite com Tony estava sendo
agradável, então, achei que devia isso a ele.
— Há alguns tipos bem específicos de sedutores no mundo e se tivesse
tempo, iria enumerar todos eles para ver qual se adequava melhor a cada um
de nós. Mas isso não vem ao caso agora. O que quero que entenda, é que
nesse jogo eu sei todas as regras e não acho justo que você continue no
escuro.
Suas sobrancelhas negras se ergueram e ele bebeu um longo gole de
vinho, relaxando a expressão logo em seguida.
— Continue.
— Muito bem. As seduções bem-sucedidas, raramente, começam de
um jeito óbvio, ou estratégico; isso pode deixar sua vítima desconfiada. Se
quiser ter uma abordagem de sucesso, mostre uma personalidade marcante,
capaz de irradiar características que mexam com as emoções das pessoas, de
um jeito incontrolável. Resumindo, você precisa deixá-las hipnotizadas por
sua individualidade, a tal ponto, que não percebam sua manipulação, depois
disso, será muito fácil deixá-las apaixonadas, desorientadas e loucas para
conhecerem a sua cama.
Ele ficou me olhando por vários segundos, sem expressar
absolutamente nada e eu, satisfeita com meu discurso, peguei minha taça para
dar mais um gole no meu vinho. Nesta hora, ele começou a bater
palmas, chamando a atenção dos poucos casais que ainda estavam no
restaurante.
— Antes de te buscar em casa, você era apenas um desafio bobo, mas
devo lhe dar os parabéns, acabou de se tornar uma obsessão.
Suspirei e me recostei na cadeira. Toda a minha explicação era para
desencorajá-lo, fazê-lo perceber que nada do que fizesse, iria mudar meus
sentimentos em relação a nós dois. Mas o tiro saiu pela culatra e em vez de
afugentá-lo, tinha atiçado seu modo caçador ainda mais.
Era só o que me faltava.

– LOUISE STONE – A DEUSA DO AMOR | CLÃ STONE 03 –


OUTRAS OBRAS DA AUTORA

10 DIAS PARA ELE SE APAIXONAR


(Lançamento 2020)

Rocco Milano é um ator de origem italiana que se tornou sensação em Hollywood. Fama, sucesso,
dinheiro e milhares de fãs enlouquecidas são uma rotina diária em sua vida. Após um ano intenso, ele
precisa de descanso e anonimato, por isso, decide passar suas férias numa pequena e pitoresca cidade
da Itália.

Cassie Holmes?
Bom, ela é apenas uma maluca que se considera a fã número um de Rocco. Após meses de
perseguição e uma boa dose de sorte, ela descobre exatamente onde ele estará e decide ir para lá.

Alguma chance de isso acabar em romance?

– DISPONÍVEL NA AMAZON –
UM LORDE EM MINHA VIDA

(Lançamento 2020)

Laura Hunt divide seu tempo entre a universidade e o estágio em um dos escritórios de arquitetura
mais famosos de Londres, por esse motivo, relacionamentos não estão em seus planos.
Especialmente porque a seu ver, o amor é algo inventado por filósofos bobos que querem propagar
essa ideia pelo mundo.

No entanto, ela começa a mudar de opinião quando conhece Robert Collins, o novo cliente da
Hankle e West Arquitetura.

Robert é naturalmente charmoso, absolutamente lindo, além de ser um dos homens mais ricos da
Inglaterra; e de um dia para o outro, Laura se vê duvidando de todas as suas convicções, afinal, tudo
o que começa a sentir desde o dia em que o conhece, é forte demais e ela se recusa a aceitar que seja
apenas uma ilusão.

Resta saber se o viúvo sério e extremamente sexy, está disposto a investir no amor novamente.

– DISPONÍVEL NA AMAZON –
HARRY STONE – O PRESIDENTE
(CLÃ STONE 04 – Lançamento 2020)

Harry Stone cresceu em meio ao glamour, dinheiro, status e poder, coisas que sempre foram
comuns ao clã Stone, conhecido não apenas por gerir a maior fábrica de armas do mundo, mas
também pela beleza que transcendia as gerações. Entretanto, desde muito novo demonstrou um
interesse genuíno pela política. Diante disso, seus passos foram calculadamente guiados para que
um dia conseguisse realizar o grande sonho de se tornar Presidente dos Estados Unidos.

Tudo ia muito bem, até ele se dar conta de que não conseguiria chegar ao salão oval, sem ter uma
primeira dama ao seu lado.

Elizabeth Reagan é de uma família tradicional e completamente falida de Washington DC. Ela
cresceu sob o jugo de uma mãe opressora e viu a maior parte de sua vida passar de dentro dos
muros da velha mansão dos Reagan.
Quando ouviu o boato de que Harry Stone estaria à procura de uma esposa, Eleanor Reagan viu no
bilionário a salvação para sua ruína e ela faria de tudo para que um dos melhores partidos dos
Estados Unidos, se interessasse por sua filha.

Preparem-se, pois esse conto de fadas moderno irá aquecer nossos corações.

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ROMEO STONE – O HERDEIRO
(CLÃ STONE 02)

Julie Collins sempre foi muito racional e nunca se rendeu diante de um rosto bonito e um corpo musculoso,
até conhecer Romeo Stone, um playboy lindo e charmoso que está disposto a quebrar sua mais importante
regra só para tê-la em sua cama.

“Mudar para Nova York não era apenas uma promessa de vida independente, eu sentia uma grande necessidade de
descobrir outros mundos e sabores; sair da redoma de vidro onde passei os últimos anos e sentir o verdadeiro gosto
da liberdade.

Eu estava certa dos meus propósitos e bastante animada com a promessa de uma vida nova, mas o destino adora
zombar das pessoas e eis que surge Romeo Stone, a personificação de tudo que eu mais odiava em um homem.

Claro que eu não era imune à beleza dele, porém, um rostinho bonito nunca foi o suficiente para me manter
interessada. Sempre fui muito crítica e racional em relação aos homens e jamais ficaria com um tipo como ele. Pelo
menos até ser rejeitada.

Romeo fez meu ego inflamar, se tornou uma espécie de desafio e eu usaria todos os recursos que tivesse à mão, para
conquistar o homem mais cobiçado de Nova York.”

O segundo livro do Clã Stone, é um delicioso romance que você devorará em pequenas doses para que não acabe
tão cedo.

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HARVEY STONE - O CEO DOS MEUS SONHOS
(CLÃ STONE 01)

MAIS DE 1 MILHÃO DE LEITURAS ONLINES

Alyssa Finger sempre teve como meta, estudar em Harvard e tornar-se uma executiva de sucesso. Por isso ela
nunca se importou com as zombarias que recebia devido às suas roupas largas e coloridas e aos enormes óculos
que adotou como uma espécie de escudo.

Mas um dia, literalmente, esbarra com o homem mais lindo que seus olhos já viram e se apaixona
instantaneamente. Sabendo que nunca será notada, ela se conforma em observá-lo de longe.

Agora, anos depois, ela trabalhará com o homem dos seus sonhos e após uma mudança radical, feita com a ajuda
de seu melhor amigo, Alyssa está pronta para tentar conquistar o coração do bilionário mais cobiçado de Nova
York.

Harvey Stone é o CEO das Indústrias Stone, um dos maiores conglomerados do mundo. Ele é implacável nos
negócios e desde que assumiu a liderança do grupo, praticamente triplicou seu faturamento.

Rodeado por belas mulheres e frequentando os melhores lugares que o dinheiro pode pagar, este sedutor
encontrará em sua nova assistente um grande desafio.

Totalmente seduzido, ele está a ponto de quebrar sua regra número um: jamais se envolver com uma de suas
funcionárias.

Esse é um romance sensual que te fará amar nossos protagonistas, mas também os odiar em vários momentos.
Descubra o porquê após ler o primeiro livro do Clã Stone.

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DICAS PARA ESCREVER ROMANCE
(Lançamento 2020)

Como você começou a escrever?


Como escrever?
Como lançar na Amazon?
Como viver de escrita?

Estas foram algumas das perguntas que recebi ao longo dos anos, tanto de minhas leitoras como de aspirantes a
escritoras.

Como não dava para responder todas que chegavam a mim forma individual, resolvi desenvolver este e-book,
especialmente para quem quer escrever romances e publicá-los na Amazon, mas acredito que as noções básicas
contidas aqui poderão ajudar na criação de qualquer gênero literário.

Espero muito que gostem, desejo que minha experiência sirva de incentivo para futuras escritoras e que minhas
dicas sejam de real ajuda na hora de compor suas estórias.

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GAROTA VIP
(Lançamento 2019)

ELE ERA SUA MISSÃO E SE TORNOU SUA PERDIÇÃO


Zara Maxwell é uma agente secreta treinada para se infiltrar entre os figurões de Washington e descobrir tudo o
que puder sobre eles. Esta esperta espiã usa de sua beleza, habilidade e inteligência fora do normal, para conseguir
cumprir todas as suas missões e segue apenas uma regra: jamais se envolver emocionalmente.

Blake Sullivan, vem de uma família de políticos influentes. Sua expertise e magnetismo tornaram-no
mundialmente conhecido e o fizeram ganhar as últimas eleições para deputado, com uma vantagem assustadora,
despertando a fúria de seus inimigos e a inveja de seus concorrentes.

Blake será a próxima missão de Zara, uma das mais importantes de que já participou, e talvez, a última.

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O DIABO VESTE ARMANI

O DIABO VESTE ARMANI TEVE MAIS DE 3 MILHÕES DE LEITURAS NA INTERNET E CHEGA À AMAZON COM
NOVA VERSÃO, REVISÃO E CENAS EXTRAS.

Mia Banks sempre foi uma exímia jogadora de xadrez e embora sentisse simpatia pelo rei, era a rainha que a
deixava fascinada. Pelo menos até conhecer Rico Salvatore. Lindo, bem-sucedido e arrogante, aquele homem
sempre seria um rei, enquanto ela nunca passaria de um peão bobo e sem graça.

Mesmo achando difícil jogar de igual para igual, com um oponente que fazia seu mundo balançar com apenas um
olhar, ela passa a acreditar que sua inteligência é a principal arma para vencer aquele intenso jogo de sedução.

Ele quer sexo, ela, amor.


Quem vencerá esse delicioso e sensual embate?

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DISPONÍVEL EM FÍSICO NA EDITORA RICO.


LOUCO POR ELA
(Lançamento 2019)

UM AMOR PARA A VIDA TODA

Ainda adolescente, Julia Albernaz se apaixonou por Leonel Brandão, que além de sócio, também era o melhor
amigo de seu pai. Desde então, ela nunca poupou esforços para chamar a atenção de seu amor platônico.

Leonel, por sua vez, achava graça dessa paixonite de Julia, para ele, suas declarações não passavam de brincadeiras
de criança, sem qualquer fundamento.

Depois de muita desilusão, Julia decidiu estudar fora do Brasil, com a esperança de esquecê-lo. Infelizmente,
quando retorna para casa, após cinco anos, descobre que seus sentimentos por Leo não mudaram.

Entretanto, ela não é mais aquela adolescente boba, que vivia implorando por atenção. Julia se tornara uma mulher
madura e confiante, e agora sabia muito bem como lidar com o único homem que virava seu mundo de ponta
cabeça.

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O REI DOS DIAMANTES
(SÉRIE MILIONÁRIOS DE CHICAGO 01)

Andrew Petrov é um russo de temperamento difícil. Lindo, sério, irascível e inegavelmente misterioso, ele vive
para cuidar de seu império construído através da exploração e venda de pedras preciosas. No mundo corporativo é
temido e conhecido como O Rei dos Diamantes, mas intimamente, é um homem atormentado em busca de algo
que imagina nunca poder ter.

Leticia Garcia é uma jovem doce e inocente que foi entregue, contra a própria vontade, a um homem rude e
violento. Durante o dia, sem que ele saiba, Leticia aceita encomendas e cria os mais variados e deliciosos bolos de
Chicago. No entanto, se sente muito infeliz e mesmo não admitindo a si mesma, sonha com o dia em que aquele
homem cruel a libertará e ela finalmente poderá encontrar o amor.

E o que O Rei dos Diamantes tem a ver com uma jovem e sofrida dona de casa?
Venha descobrir nesse delicioso e moderno conto de fadas.

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A GRANDE VIRADA
(SÉRIE MILIONÁRIOS DE CHICAGO 02)

Durante muitos anos, Milena Soares achou que sua jornada na terra, era apenas uma forma de ser castigada por
erros cometidos em alguma vida passada. Ilegal nos Estados Unidos, ela trabalha em uma empresa que presta
serviços de limpeza para grandes corporações e condomínios de luxo.

É através desse trabalho que ela conhece Ross Mayaf, um homem rico e solitário, que tem como único parente, um
neto que não se preocupa nem em saber se o avô está vivo ou morto. Quando Ross fica doente e contrata Milena
como sua dama de companhia, ela vê a oportunidade de realizar o sonho de seu amigo idoso e trazer o neto de volta
para casa.

E a partir daí as coisas começam a mudar drasticamente. Zen Mayaf é o pecado em forma de homem e deixa uma
legião de mulheres apaixonadas por onde passa. É um libertino incorrigível e herdeiro de uma das maiores fortunas
dos Estados Unidos.

Mas nem tudo é um mar de rosas na vida desse garanhão indomável, seu tempo está se esgotando e para assumir o
império dos Mayaf, ele terá que subir ao altar. Milena está mais do que disposta a aceitar esse delicioso desafio, até
se ver frente a frente com uma ex que não medirá esforços para se tornar a nova senhora Mayaf.

Afinal, quem será a escolhida do herdeiro mais cobiçado de Chicago?

– Livro em processo de revisão –


FALE COM A AUTORA

[1]
Antiga biblioteca de Columbia que atualmente abriga a área administrativa do
campus.
[2]
Estátua da deusa Athena que simboliza conhecimento e justiça.
[3]
Uma das meninas más do filme Garotas Malvadas.
[4]
Como são chamados os ex-alunos que se tornam doadores depois de conseguir
seus primeiros milhões.
[5]
Recuo feito na parede para encaixar algum objeto.
[6]
Negócios.
[7]
Pronuncia-se “Leici”.

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