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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2
1 ASPECTOS GERAIS ..................................................................................... 3
1.1 O que é execução........................................................................................... 3
1.2 Disposições gerais.......................................................................................... 4
1.3 Princípios informadores da execução ............................................................. 5
1.4 Dos requisitos para realizar qualquer execução ............................................. 5
2 PROCESSO DE EXECUÇÃO ........................................................................ 7
2.1 Aspectos comuns a todas as espécies de execução extrajudicial .................. 7
2.2 Partes ............................................................................................................. 9
2.3 Competência ................................................................................................ 11
2.4 Liquidação .................................................................................................... 11
2.5 Defesa do devedor ....................................................................................... 11
2.6 Execução definitiva e execução provisória ................................................... 12
3 AS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO ............................................... 14
3.1 Entregar coisa .............................................................................................. 15
3.1.1 Entrega de coisa certa .................................................................................. 15
3.1.2 Entrega de coisa incerta ............................................................................... 18
3.2 Obrigação de fazer ....................................................................................... 19
3.2.1 Obrigações de fazer fungíveis ...................................................................... 20
3.2.2 Obrigações de fazer infungíveis ................................................................... 22
3.3 Obrigação de não fazer ................................................................................ 23
3.4 Pagar quantia certa contra devedor solvente ............................................... 24
3.5 Execução contra a Fazenda Pública ............................................................ 47
3.6 Execução de alimentos................................................................................. 49
4 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 51
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INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa


disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser


seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1 ASPECTOS GERAIS

1.1 O que é execução

Quando ocorre o inadimplemento de uma obrigação pactuada entre dois


sujeitos, o pronunciamento judicial que acolha a petensão daquele contrato não se faz
suficiente para satisfazer o postulante, sendo necessário que o executado
efetivamente cumpra o compromisso de fazer, não fazer, pagar ou entregar coisa.
Para isso, o Judiciário é munido do poder de impor o adimplemento, independente da
vontade do devedor.

Entretanto, para o Estado-juiz utilize dos meios legais para a tutela executiva,
é necessário que haja um grau suficiente de certeza, pois a execução obriga que se
tome medidas muitas vezes drásticas contra o executado, invadindo seu patrimônio
para que se possa atingir o fim pleiteado.

Essa certeza é fornecida pelo título executivo, e a lei considera como tal vários
documentos extrajudiciais (produzidos sem intervenção judicial). Eles permitirão a
instauração do processo executivo. Sem eles, o titular do direito deverá ingressar com
um processo de conhecimento. Essa é a forma do judiciário reconhecer a existência
da obrigação. Reconhecida, mas não cumprida em espontaneidade pelo devedor, se
iniciará a fase de cumprimento de sentença, tratada neste curso em disciplina
apartada.

O que distinguirá a fase (ou processo) de conhecimento do procedimento


executivo é sua finalidade. A de conhecimento busca uma sentença em que o juiz
firme o direito, um título executivo judicial. A fase (ou o processo) execução busca a
tomada de medidas concretas para a satisfação do direito já firmado em título, é
quando já se tem a posse de um título judicial ou extrajudicial.

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1.2 Disposições gerais

Cabe salientar, que a presente disciplina é complementar à de cumprimento de


sentença, por partilharem diversas similaridades e procedimentos. Caberá aqui
algumas generalidades aplicáveis a ambas e especificações pertinentes à execução
de título extrajudicial. Para melhor esclarecimento, nas palavras de Castelo:

[...] o caput do art. 771 do NCPC fixa que as disposições deste livro, também,
aplicam-se, no que couber, ou seja, de forma supletiva, aos procedimentos
especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimento do
cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos
processuais que a lei atribuir força executiva.

Dessa forma, a disciplina dos atos executivos realizados no procedimento de


cumprimento de sentença é complementada (de forma supletiva) pelas regras
pertinentes a realização dos atos executivos na execução de títulos
extrajudiciais, que servirão para as execuções (rectius: procedimentos
pertinentes a fase de natureza satisfativa, ou, da fase de passagem do mundo
normativo para a realização das operações transformativas no mundo dos
fatos) em geral.

E isso, em reforço, ao que já era fixado pelo caput do art. 513 do NCPC: “O
cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título,
observando-se, no que couber e conforme a natureza da obrigação, o
disposto no livro II da Parte Especial deste Código.”

Interessante destacar que, o parágrafo único do art. 771 do novo CPC,


inversamente, determina a aplicação subsidiária das disposições referentes
ao processo/fase de conhecimento, particularmente, do cumprimento da
sentença para disciplina do processo/fase de execução.

Isso, também, em reforço ao artigo 318 caput e seu § único, do novo CPC,
que ao abrir a Parte Especial (que trata do processo de conhecimento e do
cumprimento da sentença) fixam a aplicação subsidiária do procedimento
comum aos procedimentos especiais e ao processo de execução: “Parágrafo
Único: O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais
procedimentos especiais e ao processo de execução.”

Outrossim, cumpre observar que o novo CPC em atenção a natureza


executiva de diversos provimentos judiciais com força executiva além da
própria sentença, a eles mais uma vez se refere e oferece conjuntamente
com a técnica do cumprimento da sentença o modelo da execução de títulos
extrajudiciais, de forma supletiva, no que couber (caput do art. 771 do NCPC).

O novo CPC deixa clara a possibilidade da aplicação subsidiária e supletiva


entre procedimentos distintos, inter-relacionando diferentes fases e distintos
processos e tutelas, superando o dogma da mera aplicação subsidiária e
cumulando as técnicas do cumprimento da sentença com a do procedimento
da execução.

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Trata-se de afirmação da somatória das duas técnicas no objetivo da
efetividade do acesso à ordem jurídica justa.

Com tal afirmação da fungibilidade e adaptação dos diferentes


procedimentos, o novo CPC busca a obtenção do resultado máximo do
exercício da atividade jurisdicional, afastando questões relacionadas a
denominada jurisprudência defensiva e as dificuldades impostas pela prática
da praxe forense e de suas múltiplas situações, de forma que adotou essa
solução de forma a atingir o propósito almejado. (CASTELO, 2016. pp. 08-
09)

1.3 Princípios informadores da execução

À execução de título extrajudicial aplicam-se todos os princípios também


aplicáveis ao processo civil e à execução em geral, abordados na disciplina de
Cumprimento de Sentença.

1.4 Dos requisitos para realizar qualquer execução

Independentemente do critério formal para a instauração da tutela executiva


– se provocada por demanda executiva ou sendo uma fase seguinte à ação
cognitiva de prestação –, é certo que tal proteção jurisdicional só pode ser
feita se em tal momento certos requisitos específicos da tutela executiva
estiverem presentes. São eles: a pretensão insatisfeita e o título executivo.
(ABELHA, 2015)

Quanto ao título, determina o art. 783 que “a execução para cobrança de crédito
fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.” (BRASIL, 2015)

Dessa forma, em toda e qualquer atividade executiva é mister que exista um


título executivo, assim entendido como o documento hábil e representativo
de todos os elementos do crédito (norma individualizada) apto a viabilizar a
execução forçada. Sem o título executivo (judicial ou extrajudicial) faltará o
requisito processual exigido pelo CPC (art. 783), que torna viável e adequada
a tutela executiva. Assim, sem o título, faltará “adequado interesse
processual” na obtenção da satisfação pretendida pela via jurisdicional
executiva. (ABELHA, 2015)

Para a presente matéria, necessário elucidar quais títulos se adequam ao


caráter extrajudicial tratado aqui, de acordo com a norma vigente. Conforme elenca
os arts. 784 e ss. do NCPC:

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Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;


II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas)
testemunhas;
IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos
transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real
de garantia e aquele garantido por caução;
VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de
condomínio;
IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na
forma da lei;
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de
condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em
assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;
XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores
de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados,
fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir
força executiva.

§ 1º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título


executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.

§ 2º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não


dependem de homologação para serem executados.

§ 3º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os


requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando
o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação. (BRASIL,
2015)

Mas também, conforme o subsequente art. 785, “a existência de título executivo


extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de
obter título executivo judicial.” (BRASIL, 2015)

Quanto à pretensão insatisfeita, analisemos a exigibilidade da obrigação trazida


pelos arts. 786 e ss.

Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a
obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo.

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Parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para
apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do
título.

Art. 787. Se o devedor não for obrigado a satisfazer sua prestação senão
mediante a contraprestação do credor, este deverá provar que a adimpliu ao
requerer a execução, sob pena de extinção do processo.

Parágrafo único. O executado poderá eximir-se da obrigação, depositando


em juízo a prestação ou a coisa, caso em que o juiz não permitirá que o credor
a receba sem cumprir a contraprestação que lhe tocar.

Art. 788. O credor não poderá iniciar a execução ou nela prosseguir se o


devedor cumprir a obrigação, mas poderá recusar o recebimento da
prestação se ela não corresponder ao direito ou à obrigação estabelecidos
no título executivo, caso em que poderá requerer a execução forçada,
ressalvado ao devedor o direito de embargá-la. (BRASIL, 2015)

2 PROCESSO DE EXECUÇÃO

No processo de execução autônomo, as fases podem ser divididas em:

a) fase postulatória: ajuizamento da ação (petição inicial)

b) fase instrutória: preparação para fase satisfativa (ex.: penhora e avaliação, depósito
da coisa, etc.)

c) fase satisfativa: fim do procedimento executivo, normalmente quando há a


satisfação da pretensão do exequente.

2.1 Aspectos comuns a todas as espécies de execução extrajudicial

De forma genérica, o legislador estabeleceu preceitos básicos aplicáveis a


todos os processos executivos, contidos nos arts. 797 a 805 do CPC. Em todos os
casos, o credor formulará a petição inicial acompanhada do título executivo. Recebida
a inicial, o executado será citado, o que acarretará consequências diversas. Vejamos:

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a) Petição Inicial

O processo de execução nunca se inicia de ofício. Deverá ser peticionado pelo


credor, preenchendo os requisitos dos arts. 319 e 320 do CPC e também o art. 798
que determina requisitos específicos da petição inicial nos procedimentos executivos.

Conforme a obrigação contida no título, deverá indicar o tipo de provimento que


almeja e seu objeto deverá ser líquido certo exigível. Se tratando de quantia,
necessário que acompanha memória de cálculo, índice de correção de taxa de juros
com termos iniciais e finais, periodicidade, se houver, e especificação de desconto
obrigatório realizado. Não é admitida prévia liquidação.

Naturalmente, se indicará o valor da causa, que deve corresponder ao


montante econômico da pretensão, e será acompanhada dos documentos
indispensáveis, mormente o título executivo extrajudicial. Caso incompleta, “o juiz
determinará que o exequente a corrija, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de
indeferimento.” (art. 801). Recebida em temos, citará o executado.

b) Citação do executado

Em se tratando de título executivo extrajudicial, o executado sempre será citado


após o peticionamento do exequente, posto não ter havido fase de conhecimento,
portanto, precisará tomar ciência do processo e termos da inicial.

Na execução são admitidas todas as formas de citação dispostas no NCPC,


até mesmo por carta e mandado com hora certa, o que não se admitia anteriormente.

“Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer revel, será
nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos.”
(Súmula 196 do STJ).

Quanto aos efeitos da citação válida, serão os mesmos do processo de


conhecimento, elencados no art. 240 do CPC:

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• indução de litispendência, o que terá grande relevância para caracterização
da fraude à execução. Para que a alienação de bens capaz de reduzir o
devedor à insolvência possa ser considerada fraudulenta, autorizando o juiz
a, nos próprios autos, declarar-lhe a ineficácia, é indispensável que o devedor
tenha sido citado. O credor pode valer-se dos arts. 799, IX, e 828 para
antecipar a data a partir da qual a fraude fica caracterizada, registrando a
certidão de admissão da execução;

• interrupção da prescrição. Valem as mesmas regras que para o processo


de conhecimento. É o despacho que ordena a citação que interrompe o prazo
de prescrição, mas, se tomadas as providências para que seja feita no prazo
estabelecido em lei (dez dias), a eficácia interruptiva retroage à data da
propositura da demanda (art. 802);

• constituição do devedor em mora. É importante para que possam incidir os


encargos da mora, como juros e multa. Mas a citação só constituirá o devedor
em mora se já não o estiver anteriormente. Nas obrigações a termo, haverá
mora desde a data do vencimento. Nas por atos ilícitos, desde a data do fato
(Súmula 54, do STJ). Não havendo constituição anterior, o devedor estar em
mora a partir da citação. (GONÇALVES, 2016. p. 767)

2.2 Partes

As partes que figuram os polos ativo e passivo na execução de título executivo


extrajudicial não diferem das do cumprimento e sentença. Necessário se faz apenas
um esclarecimento quanto ao polo passivo do inciso IV do art. 779: “o fiador do débito
constante em título extrajudicial”.

À época do Código anterior, em razão de mencionar o art. 568, IV [hoje, art.


779, IV], apenas o fiador judicial entre os legitimados passivos da execução
forçada, chegou-se a afirmar que o Código teria rompido com as tradições do
Regulamento 737 e das Ordenações do Reino, e ainda dos Códigos
estaduais, de modo a excluir do elenco dos títulos executivos extrajudiciais o
contrato de fiança civil ou comercial.

O fiador comum, assim, só seria sujeito passivo de execução quando tivesse


contra si uma sentença condenatória, mas, já então, suportaria a atividade
executiva não mais como simples fiador, e sim como “devedor principal”,
diante da condenação que lhe foi imposta.

Data venia, a restrição não tinha razão de ser. O art. 585, III, do CPC/1973
enumerou como título executivo extrajudicial, não só a fiança judicial, mas
também todos os “contratos de caução”.

Ora, caução é sinônimo de garantia, que em direito privado pode ser


“evidentemente real ou fidejussória”. Por isso, a jurisprudência se consolidou
no sentido de que a fiança como caução pessoal que é configura título
executivo extrajudicial, nos termos do art. 585, III, do CPC de 1973.

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O NCPC pacificou definitivamente o tema, uma vez que o art. 779, IV, ao
arrolar os legitimados passivos para a execução forçada, fala amplamente
em “fiador do débito” constante em título extrajudicial sem qualquer
discriminação entre fiança judicial ou extrajudicial.

Assim, o que se deve exigir do contrato de fiança, para que autorize a coação
executiva, é tão somente que seja representativo de obrigação certa, líquida
e exigível, conforme dispõe o art. 783 do NCPC.

Por outro lado, não admite a lei que a sentença condenatória (título executivo
judicial) obtida apenas contra o devedor afiançado seja também exequível
contra o fiador, que não tiver participado da fase de conhecimento (art. 513,
§ 5º). No caso, o título executivo é a sentença e não o contrato de fiança e,
na sentença, figura como vencido (devedor) apenas o demandado. Se foi
necessária uma sentença, é porque o contrato não era, por si só, título
executivo. Ou porque houve necessidade de acertar, contra o devedor
principal, algo mais que o valor das prestações previstas no contrato. O fato,
porém, de a sentença, na espécie, não ser exequível contra o fiador não
impede que o credor lance mão da execução por título extrajudicial, que terá
por base o contrato de fiança, se este contiver termos suficientes para se
emprestar certeza, liquidez e exigibilidade à obrigação garantida.

Um requisito importante a observar para que a fiança goze da força de título


executivo é o que decorre do impedimento, previsto no art. 1.647, III, do
Código Civil, a que um dos cônjuges preste garantia fidejussória sem
autorização do outro, salvo apenas no caso de casamento sob regime da
separação absoluta de bens. Muito já se discutiu sobre se a fiança pactuada
sem a referida vênia conjugal seria nula em toda extensão ou se prevaleceria
apenas sobre a meação do fiador. O STJ, porém, já superou a divergência e
fez inserir em sua jurisprudência sumulada que “a fiança prestada sem
autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia”
(Súmula, STJ nº 332). A nulidade da fiança, na espécie, portanto, é de pleno
direito e invalida até mesmo a penhora efetivada apenas sobre a meação do
prestador da garantia, conforme entendimento consolidado do STJ, cujo
fundamento se apoia no art. 166, VII, do Código Civil.

Sem embargo da nulidade atribuída à fiança prestada sem a outorga do outro


cônjuge, a jurisprudência consagra a tese de que “a nulidade da fiança só
pode ser demandada pelo cônjuge que não a subscreveu, ou por seus
respectivos herdeiros”. Desse modo, “afasta-se a legitimidade do cônjuge
autor da fiança para alegar sua nulidade, pois a ela deu causa”. Tal
posicionamento, na ótica do STJ, “busca preservar o princípio consagrado na
lei substantiva civil segundo o qual não pode invocar a nulidade do ato aquele
que o praticou, valendo-se da própria ilicitude para desfazer o negócio”.
(THEODORO JR., 2018)

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2.3 Competência

É relativa a competência para execução de título extrajudicial, que deverá ser


analisada conforme as regras gerais do art. 781, observando se há ou não foro de
eleição.

Havendo (possibilidade se tratando de competência relativa), as partes deverão


fixá-lo no título. Ex.: em contrato de locação, constar o foro escolhido pelas partes
para cobrança e execução do alugueis.

Caso não haja, prevalecerá a regra geral de competência de foro do domicílio


do devedor ou o da situação dos bens executados.

Tais regras também são válidas em caso de execução hipotecária, que em vez
de real, possui natureza pessoal, pois executa-se a dívida, mesmo que venha
garantida por direito real.

O art. 46, § 5°, do CPC, tratará da competência das execuções fiscais.

2.4 Liquidação

Não há que se falar em liquidação do quantum debeatur nas execuções de


título executivo extrajudicial, visto que este sempre deverá expressar
uma obrigação certa, líquida e exigível. Doutra forma, perderá sua executividade.

2.5 Defesa do devedor

A defesa do devedor nas execuções de título extrajudicial é feita por meio de


embargos à execução. Diferente do que ocorre no cumprimento de sentença onde a
defesa veiculada por impugnação é incidente do cumprimento, “os embargos têm
natureza de ação cognitiva autônoma vinculada à execução” (GONÇALVES, 2016. p.
788). Por tal razão, também não é possível opor embargos senão para permitir a

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defesa do executado, que poderá alegar o que melhor lhe convir através de todos os
meios de prova. Ao final, será prolatada sentença de acolhimento ou rejeição dos
embargos. “Aquilo que for decidido nos embargos poderá repercutir diretamente na
execução, determinando seu prosseguimento, sua eventual extinção ou a modificação
de atos que nela tenham sido praticados.” (GONÇALVES, 2016. p. 788)

2.6 Execução definitiva e execução provisória

Trata-se de uma classificação que só se aplica ao cumprimento de sentença,


já que a execução de título extrajudicial é sempre e apenas definitiva, conforme
súmula 317 do STJ, que enuncia: “É definitiva a execução de título extrajudicial, ainda
que pendente apelação contra sentença que julgue improcedentes os embargos.”
“Nessas situações, ainda há um risco de reversão do resultado, uma vez que existe
recurso pendente. No entanto, o legislador optou por considerar a execução
definitiva.” (GONÇALVES, 2016. p. 709)

Havendo reversão do julgado, tanto no cumprimento de sentença definitivo


quanto no provisório, o credor responderá por perdas e danos que por ventura sofra
o devedor. Entretanto, há excepcionalidade da execução provisória de título
extrajudicial. Theodoro Jr. destaca:

A Lei nº 11.382, de 06.12.2006, à época do Código anterior, ao reformar o


texto do art. 587 do CPC/1973, promoveu uma grande inovação no regime
de execução provisória, cuja incidência, até então, só ocorria na execução de
sentença. A execução do título extrajudicial era sempre definitiva, e só se
suspendia temporariamente durante o processamento dos embargos do
devedor em primeira instância. Pronunciada sua improcedência ou rejeição,
a apelação que não tinha efeito suspensivo permitia a retomada da execução,
que continuava sendo definitiva, mesmo na pendência do recurso.

A definitividade da execução, em tais circunstâncias, abrangia todos os atos


executivos, inclusive a alienação judicial dos bens penhorados, e a expedição
de carta de arrematação, dispensada a caução. Ocorrido o provimento da
apelação, não se invalidava o ato expropriatório em benefício de terceiro

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(arrematante), e resolvia-se o direito do executado em perdas e danos
reclamáveis do exequente.

[...] Segundo o texto renovado do art. 587, tornar-se-ia temporariamente


provisória a execução dos títulos extrajudiciais após a apelação interposta
contra a sentença que rejeitasse os embargos do devedor. Essa
provisoriedade prevaleceria enquanto não julgado o recurso e se aplicaria
apenas aos casos em que os embargos tivessem sido recebidos com efeito
suspensivo.

A norma foi repetida pelo NCPC, ao dispor que não tem efeito suspensivo a
apelação interposta contra sentença que extingue os embargos à execução
sem resolução do mérito, ou os julga improcedentes (art. 1.012, § 1º, III), caso
em que o apelado (o exequente) “poderá promover o pedido de cumprimento
provisório depois de publicada a sentença”. Isto, obviamente, só pode
acontecer se os embargos estivessem sendo processados com efeito
suspensivo. Caso contrário, não teria sentido falar-se em execução
provisória, porque o efeito suspensivo da apelação nenhuma repercussão
teria sobre o procedimento executivo em andamento. Se os embargos não
tiveram força de suspender a execução, muito menos teria a apelação contra
uma sentença que os rejeitara.

É bom lembrar que, na execução dos títulos extrajudiciais, a regra é a não


suspensividade dos embargos (NCPC, art. 919). A eficácia suspensiva será
excepcional e dependerá de decisão judicial caso a caso, dentro dos
condicionamentos do § 1º do art. 919.

Assim, se os embargos se processaram sem suspender a execução do título


extrajudicial, a interposição de apelação, também sem efeito suspensivo,
nenhuma interferência terá sobre o andamento da execução, que continuará
comandada pelo caráter da definitividade. Se, todavia, aos embargos atribuiu-
se força suspensiva, a eventual apelação contra a sentença que lhes
decretou a improcedência fará que, na pendência do recurso, o andamento
da execução seja possível, mas em caráter de execução provisória.

Isto quer dizer que, sendo definitiva a execução, todos os atos executivos
serão praticáveis, inclusive a alienação dos bens penhorados e o pagamento
ao credor, sem necessidade de caução. Quando for provisória, observar-se-
ão os ditames do art. 520 do NCPC [...].

Todavia, encontrando-se o processo em estágio de agravo em recurso


extraordinário ou recurso especial perante o STF ou o STJ, pode a execução
provisória ocorrer com dispensa da caução, desde que observado o disposto
no art. 521, parágrafo único, do NCPC. Vale dizer: por expressa ressalva de
lei, essa dispensa excepcional de caução não poderá se dar quando presente
manifestamente o risco de a execução provisória provocar “grave dano, de
difícil ou incerta reparação”. (THEODORO JR., 2018)

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Parcelamento da dívida:

Na execução de título extrajudicial admite-se que o executado requeira o


parcelamento da dívida em até 6 parcelas mensais acrescidas de correção monetária
e juros de 1%/mês “reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o depósito
de trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de
advogado” (BRASIL, 2015), no prazo de embargos (art. 916, caput do CPC).

Tal benefício, contudo, não se aplica ao cumprimento de sentença, por


expressa ressalva do § 7º do art. 916. (THEODORO JR., 2018)

3 AS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

“O novo Código, assim como o de 1973, regulou separadamente as execuções


dos títulos extrajudiciais tendo em vista a natureza da prestação a ser obtida do
devedor, classificando-as em:” (THEODORO JR., 2018)

• Entrega de coisa

• Obrigações de fazer e não fazer

• Quantia certa, contra devedor solvente

O NCPC não cuidou da execução por quantia certa contra devedor insolvente.
Entretanto, até que seja editada lei específica, as execuções em curso ou que venham
a ser propostas serão reguladas pelos artigos relativos à matéria constantes do CPC
de 1973 (NCPC, art. 1.052). (THEODORO JR., 2018)

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3.1 Entregar coisa

A entrega de coisa está disciplinada nos arts. 806 a 813 do CPC, divididos entre
coisa certa (806 a 810) e coisa incerta (811 a 813). Esta se diferencia no momento
inicial do processo executivo, devido a necessidade de individualiza-la antes da
execução. Após, é seguido o procedimento para entrega de coisa certa.

3.1.1 Entrega de coisa certa

Coisa certa é a que já se encontra individualizada e determinada no título


executivo. Sendo ele extrajudicial, é tratado nos arts. 806 e ss. do CPC.

No procedimento, apresentada a inicial, o juiz determinará a citação do devedor


para entregar a coisa no prazo de 15 dias (art. 231 do CPC). Do mandado constará
ordem de busca e apreensão ou imissão de posse.

[...] O devedor poderá:

a) entregar a coisa, para satisfazer a obrigação. Será lavrado o termo e, com


o pagamento dos honorários, extinta a execução, a menos que deva
prosseguir para ressarcimento de eventuais frutos ou prejuízos, caso em que
seguirá sob a forma de execução por quantia;

b) não entregar a coisa, caso em que se cumprirá, de imediato, a ordem de


imissão na posse, se o bem for imóvel, ou de busca e apreensão, se móvel,
que já constava do mandado de citação. O juiz pode, ainda, valer-se da multa
como meio de coerção, quando verificar, por exemplo, que o devedor oculta
o bem. Caso a entrega da coisa torne-se impossível, por perecimento,
deterioração ou qualquer outra razão, haverá conversão em perdas e danos,
com liquidação incidente, para apuração do quantum debeatur. Se alienada
a coisa quando já litigiosa, será expedido o mandado contra o terceiro
adquirente. (GONÇALVES, 2016)

Em qualquer das condutas, o devedor terá prazo de 15 dias para opor


embargos, independente da entrega da coisa.

15
Uma das alegações para embargar é que, de boa-fé, tenha realizado
benfeitorias úteis e necessárias, possuindo, portanto, direito de retenção (art. 917, IV),
caso em que pedirá ao juiz a suspensão do cumprimento do mandado de imissão de
posse ou busca e apreensão. Havendo elementos indicativos da razão do devedor,
este preservará o bem em mãos até o ressarcimento das benfeitorias.

Na inexistência ou improcedência dos embargos, a imissão de posse ou a


busca e apreensão tornam-se definitivas.

Na hipótese de deterioração do bem ou impossibilidade de localização,


converter-se-á em perdas e danos (art. 809).

Fluxograma do procedimento na próxima página:

16
*Fluxograma retirado da obra ‘Curso de Direito Processual Civil’ - Humberto Theodoro Jr. 2018.

17
3.1.2 Entrega de coisa incerta

Conforme art. 243 do Código Civil, “a coisa incerta será indicada, ao menos,
pelo gênero e pela quantidade” (BRASIL, 2002), ou seja, não se trata de algo ignorado
ou desconhecido, mas determinável, sendo então necessário sua individualização.
Logo, seu caráter incerto é transitório, pois haverá um momento que cessará.

Ainda, dispõe o art. 244 do mesmo código que: "nas coisas determinadas pelo
gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar
do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigada a prestar
a melhor" (BRASIL, 2002), isto é, na ausência de acordo em sentido contrário, o
devedor escolhe a coisa, e será citado para entregá-la determinada por gênero e
quantidade e individualizada, no prazo de 15 dias (art. 811 do CPC). Entretanto, se
não exercer seu direito de escolha ao tempo da tradição, caberá ao credor (caso já
anteriormente pactuado a escolha por este, deverá indicá-la na petição inicial). Se
ambos omitirem-se da escolha, poderão optar por um terceiro. Caso este não queira
ou não possa, a escolha será judicial.

Na discordância da coisa escolhida, a parte contrária poderá apresentar


impugnação no prazo de 15 dias. O juiz decidirá após análise pericial (se necessário).

Fluxograma do procedimento na próxima página:

18
*Fluxograma retirado da obra ‘Curso de Direito Processual Civil’ - Humberto Theodoro Jr. 2018.

3.2 Obrigação de fazer

As obrigações de fazer são as que há o compromisso do devedor de realizar


prestação em atos ou serviços, que podem ser tanto de natureza imaterial quanto
material.

Diferem-se das obrigações de entregar coisa porque nestas o interesse do


credor consiste apenas na coisa em si, e não na conduta de quem deve. Nas
obrigações de fazer, há interesse direto na atividade ou qualidades pessoais do
devedor.

Há obrigações de fazer fungíveis, em que prescinde de qualidades pessoais e,


portanto, poderão ser cumpridas por outra pessoa. E as infungíveis, que só podem
ser prestadas pelo próprio devedor.

19
Essa distinção tem grande relevância porque, conquanto as execuções de
obrigação de fazer fungíveis e infungíveis possam usar meios de coerção,
somente as primeiras podem valer-se de meios de sub-rogação: só elas
autorizam a prestação por um terceiro, às expensas do devedor. As
infungíveis só poderão valer-se dos meios de coerção, e se eles se revelarem
ineficazes, só restará a conversão em perdas e danos. (GONÇALVES, 2016.
p. 769)

3.2.1 Obrigações de fazer fungíveis

Dispõe-se no art 815 e ss. do CPC.

Em seu procedimento, será determinada a citação do devedor para satisfazer


a obrigação no prazo constante no título executivo. Caso não conste, será fixado pelo
juiz.

Após a citação, correrá tanto o prazo do título (ou fixado pelo juiz) quanto o
prazo de 15 dias para oposição de embargos do devedor, que corre independente do
cumprimento da obrigação. Contagens na forma do art. 231.

Mesmo que seja fungível, é possível que o juiz, de ofício ou a requerimento


da parte, fixe multa periódica, para o não cumprimento. Não sendo eficazes
os meios de coerção, e persistindo o inadimplemento, o credor pode optar
entre a execução específica por sub-rogação ou a conversão em perdas e
danos, que exigirá prévia liquidação incidente (GONÇALVES, 2016. 769-770)

Fluxograma do procedimento na próxima página:

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*Fluxograma retirado da obra ‘Curso de Direito Processual Civil’ - Humberto Theodoro Jr. 2018.

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Execução específica por sub-rogação:

Não cumprindo o devedor a obrigação fungível, há a opção de o credor requerer


que outra pessoa a cumpra às expensas do executado.

Será livremente nomeada pelo juiz uma pessoa idônea, podendo ser
determinado ao credor o fornecimento de indicações.

A pessoa nomeada fará proposta para a realização da obrigação. Examinada


pelo juiz e ouvidas as partes, caso seja acolhida, terá as despesas antecipadas pelo
credor.

Após a prestação do serviço, prosseguirá a oitiva das partes no prazo de 10


dias. Transcorrido prazo sem procedência de eventuais impugnações, a obrigação se
dará por cumprida, executando-se o devedor em relação a quantia antecipada pelo
credor.

Na hipótese de não prestação do serviço ou prestação incompleta, poderá o


exequente solicitar ao juiz a autorização para a conclusão da obra às custas da pessoa
nomeada dentro de 15 dias, havendo também o direito de preferência caso o credor
opte por ele mesmo realizar o serviço, exercendo-o no prazo de 5 dias.

As medidas de sub-rogação são opcionais e, caso o credor considere muito


onerosas ou trabalhosas, pode requerer a aplicação dos meios coercitivos. Sendo
este ineficazes, a conversão em perdas e danos.

3.2.2 Obrigações de fazer infungíveis

Sem a possibilidade da utilização de meios de sub-rogação, o juiz usará de


coerção para que o devedor cumpra a obrigação, valendo-se dos meios do art. 536, §
1° do CPC. Sendo estes ineficazes ou persistindo o devedor na recusa, converter-se-
á em perdas e danos.

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Fluxograma do procedimento:

*Fluxograma retirado da obra ‘Curso de Direito Processual Civil’ - Humberto Theodoro Jr. 2018.

3.3 Obrigação de não fazer

A obrigação de não fazer ocorre quando o devedor pratica um ato que, no título
executivo, se obrigou a abster-se. Uma conduta negativa se torna positiva, pois a partir
do descumprimento, deverá desfazer o ato e, portanto, não há execução de uma
abstenção, já que não pressupõe inércia do devedor, mas execução do desfazimento
do que foi feito de forma indevida, ou seja, da ação. “Se alguém constrói sobre um
terreno em que não poderia, a execução terá por objeto o desfazimento da obra, e
não qualquer abstenção. Não há como executar um non facere, mas apenas um
facere.” (GONÇALVES, 2016. p. 771)

Sendo possível ser desfeito, o devedor será citado para que desfaça, dentro de
um prazo fixado pelo juiz, sob pena de multa. Caso possa ser desfeito por terceiro e
o exequente assim requerer, utilizar-se-á do mesmo procedimento para as obrigações
de fazer.

Não sendo possível ser desfeito, haverá conversão em perdas e danos.

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Fluxograma do procedimento:

*Fluxograma retirado da obra ‘Curso de Direito Processual Civil’ - Humberto Theodoro Jr. 2018.

3.4 Pagar quantia certa contra devedor solvente

O processo de execução das obrigações para pagamento de quantia está


previsto nos arts. 824 e ss. do CPC.

Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens
do executado, ressalvadas as execuções especiais.
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos
e de outros bens.
Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a
todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância
atualizada da dívida, acrescida de juros, custas e honorários advocatícios.
(BRASIL, 2015)

24
A execução por quantia certa é a mais comum. É onde o credor pretende que
o devedor pague quantia determinada em dinheiro.

Em regra, a técnica utilizada é a de sub-rogação, excepcionalmente a coerção


(art. 139, IV do CPC). No inadimplemento, o Estado-juiz toma dinheiro ou bens do
executado em montante suficiente para satisfação do débito. Caso a penhora recaia
sobre dinheiro, o valor será pago ao credor em momento adequado. Caso recaia sobre
bens, necessária será a conversão em dinheiro por meio de alienação, particular ou
por leilão judicial presencial ou eletrônico, exceto se o exequente concordar em ficar
com os bens como meio de pagamento.

De maneira geral, a execução por quantia fundada em título extrajudicial


compreende os seguintes atos:

• petição inicial;
• exame da inicial pelo juiz, do qual pode resultar o seu indeferimento ou
recebimento, com a determinação de que o executado seja citado e intimado
do prazo para o oferecimento de embargos. No despacho inicial, o juiz já
fixará os honorários advocatícios em 10% para a hipótese de pagamento;
• a citação do devedor, para pagar em três dias sob pena de penhora. Se ele
fizer o pagamento dentro do prazo, os honorários fixados no despacho inicial
serão reduzidos à metade. Satisfeita a obrigação, será extinta a execução.
Se não, após os três dias serão feitas a penhora e a avaliação de bens do
devedor;
• com a juntada aos autos do mandado de citação, passa a correr o prazo de
quinze dias para embargos, independentemente de ter ou não havido
penhora. Os honorários advocatícios poderão ser elevados até 20%, quando
rejeitados os embargos. Mesmo que não haja embargos, os honorários
poderão ser elevados ao final do procedimento executivo, levando em conta
o trabalho realizado pelo advogado do exequente;
• se os embargos não forem opostos, se forem recebidos sem efeito
suspensivo, ou se julgados improcedentes, passar-se-á à fase de
expropriação de bens. (GONÇALVES, 2016. p. 771)

Petição inicial:

Embora já mencionada, há algumas particularidades na petição inicial no


processo de execução por quantia certa, que além dos requisitos dos arts. 319 e 320
do CPC, também instruirá a inicial com a memória de cálculo do débito, devendo ser
possível que o magistrado discrimine o valor originário, vencimento, acréscimos e
deduções. Deverá conter todas as exigências do art. 798, parágrafo único do CPC.

25
Caso prefira, o exequente poderá indicar o bem sobre o qual recairá a penhora,
por ter prioridade na indicação.

Examinada a peça vestibular, o juiz concederá 15 dias para emenda-la, se


necessário. Estando em termos, determinará a citação do executado para pagar o
débito em 3 dias sob pena de penhora. Não mais se inclui na citação a determinação
para nomear bens à penhora, já que a prioridade passou ao exequente.

Os honorários serão fixados em 10% para pagamento do exequente. Se pagos


no prazo, o valor será reduzido à metade.

Citação:

Além do exposto acima, a citação serve ao executado para ciência do prazo de


15 dias para opor embargos.

Fluirão dois prazos: 3 dias para pagamento e 15 dias embargar. O primeiro se


inicia a partir da citação, e o segundo quando juntar-se aos autos o mandado
devidamente cumprido.

[...] convém que o mandado seja expedido em duas vias. Feita a citação, o
oficial de justiça reterá uma consigo e devolverá a outra ao cartório para que
seja juntada aos autos. Embora a lei se refira a mandado, não há mais óbice
em que a citação seja feita por carta. Contudo, a penhora e demais atos de
constrição deverão ser feitas sempre por mandado.

O oficial aguardará o pagamento por três dias. Se não ocorrer, com a via do
mandado que reteve consigo, fará a penhora, de preferência daqueles bens
indicados pelo credor. Se não houver indicação, daqueles que, em diligência,
localizar. Se não forem localizados bens, o juiz poderá determinar que o
devedor os indique. Se ele os tiver, e não indicar, haverá ato atentatório à
dignidade da justiça (art. 774, IV, do CPC), que sujeitará o devedor às penas
do art. 774, parágrafo único.

Com a juntada aos autos do mandado de citação, realizada ou não a penhora,


fluirá o prazo de quinze dias para os embargos de devedor. A contagem do
prazo faz-se na forma determinada pelo art. 231 do CPC. (GONÇALVES,
2016. pp. 772-773)

26
Arresto:

Não localizando o executado, mas encontrando seus bens, o art. 830 do CPC
determina que o oficial de justiça proceda com o arresto executivo (realizado antes da
citação), para que os bens não se percam ou desapareçam.

Difere-se da penhora por ser ato preparatório. É realizado com as mesmas


formalidades da penhora, mas apenas converte-se nesta após a citação do
executado. A penhora será sempre posterior.

Para o aperfeiçoamento do arresto, necessário que o meirinho lavre termo


nomeando depositário que se incumbirá na preservação do bem.

Após arresto, o oficial de justiça buscará pelo executado por mais duas vezes
em dias distintos dentro dos 10 dias seguintes. Encontrando-o o citará pessoalmente
convertendo o arresto em penhora. Não o encontrando, procederá a citação ficta por
hora certa se suspeita sua ocultação, ou citação por edital nas circunstâncias previstas
em lei. (art. 256 do CPC).

Conforme Súmula 196 do STJ, “ao executado que, citado por edital ou por hora
certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos.”

Entretanto, ressalta Gonçalves:

Há controvérsia se o curador estaria obrigado a aforá-los, ainda que por


negativa geral, caso não tenha outros elementos. Prevalece, com razão, o
entendimento de que só devem ser apresentados se ele tiver o que alegar,
não sendo admissíveis os opostos por negativa geral, já que não constituem
um incidente de defesa, mas verdadeira ação.

Sem elementos para embargar, o curador acompanhará a execução,


manifestando-se em todos os seus incidentes, para preservar eventuais
direitos do devedor. (GONÇALVES, 2016. p. 773)

27
Da penhora e do depósito:

A penhora é um ato constritivo fundamental a qualquer execução por quantia,


pelo que sua não realização torna impossível alcançar a satisfação do exequente.
Tem a finalidade de individualização dos bens que constituem o patrimônio do
executado e que se afetarão ao pagamento da dívida a ser executada.

Na petição inicial, o exequente já poderá indicar os bens do executado para a


penhora, devido à ordem estabelecida no art. 835 do NCPC, mas que poderá ser
flexibilizada quando for mais conveniente aos interesses das partes e êxito do
processo.

Sem indicação do credor, cumprirá o oficial de justiça a busca dos bens do


devedor, conforme já mencionado, observando as hipóteses do art. 833 do CPC e Lei
n. 8.009/90 quanto a impenhorabilidade. Não localizando bens, o juiz poderá, de ofício
ou a requerimento do exequente, proceder a intimação do executado para indicá-los.
Este, possuindo bens, mas não os indicando, incorrerá em ato atentatório à dignidade
e justiça.

A penhora recai em quantos bens quanto bastem para pagamento do débito e,


para efetivá-la, o oficial de justiça poderá solicitar ordem de arrombamento com,
inclusive, auxílio de força policial determinada pelo juiz, pois enquanto não houver o
depósito, a penhora não se efetivará, pelo que será nomeado um depositário para a
resguarda dos bens.

Estando os bens em outra comarca, haverá expedição de carta precatória para


proceder a penhora.

A penhora de imóveis e veículos automotores:

O art. 845, § 1° do CPC dispõe sobre a penhora de bens imóveis e veículos


automotores, que poderá realizar-se:

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- Por auto, quando por intermédio do oficial de justiça por preferência do exequente
ou razão maior (como recusa do devedor em entregar o bem ao depositário);

- Por termo, quando houver certidão imobiliária nos autos identificando o bem, o que
dispensará a participação e identificação do oficial de justiça. Também ocorre aos
veículos automotores, se apresentada certidão atestando sua existência. A vantagem
da penhora por termo é poder realiza-la até mesmo quando o bem se encontrar em
outra comarca.

Penhora de créditos e penhora no rosto dos autos:

Além dos bens corpóreos, a penhora também pode recair sobre os incorpóreos,
como os créditos. Sendo estes consubstanciados em letra de cambio, cheque, nota
promissória, duplicata, etc., se fará com a apreensão do documento, estando este ou
não em posse do devedor.

Porém, mesmo sem a apreensão, se o terceiro confessar a dívida, será tido


como depositário da importância, considerando-se feita a penhora com:
a) a intimação ao terceiro devedor para que não pague ao executado, seu
credor; ou
b) a intimação ao executado, credor do terceiro, para que não pratique ato de
disposição do crédito. Com a intimação, o terceiro só se exonerará da
obrigação depositando em juízo a importância da dívida.

Se a penhora recair sobre direito e ação do executado, não tendo havido


embargos ou sendo eles rejeitados, o exequente se sub-rogará nos direitos
do executado.

A penhora no rosto dos autos é a que recai sobre eventual direito do


executado, discutido em processo judicial.

Enquanto não julgado o crédito, o devedor tem uma expectativa de direito,


que só vai se transformar em direito efetivo se a sua pretensão for acolhida.

É possível efetuar a penhora dessa expectativa, no processo em que o


executado demanda contra terceiros.

Caso ele se saia vitorioso, a penhora terá por objeto os bens ou créditos que
lhe forem reconhecidos ou adjudicados; caso seja derrotado, ficará sem
efeito.

O nome vem de ela ser realizada nos autos do processo em que o executado
discute o seu direito. O procedimento deve observar o disposto no art. 860.

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O oficial de justiça intima o escrivão que cuida desse processo a anotar no
rosto dos autos que os direitos eventuais do devedor naquele processo estão
penhorados.

Feita a penhora no rosto dos autos, o exequente terá três alternativas:

• aguardar o desfecho do processo em que o executado litiga com terceiro;


• tentar alienar o direito litigioso, o que não será fácil diante das dificuldades
de encontrar arrematantes;
• sub-rogar-se nos direitos do executado, tornando-se titular do direito
litigioso. (GONÇALVES, 2016. p. 774)

Penhora "on-line":

A penhora por meio do Sistema ‘Bacen Jud’, chamada de “penhora on-line”, é


um mecanismo de solicitação eletrônica de informações pelo qual, a comando emitido
pelo juiz ao Banco Central (Bacen), bloqueia as contas bancárias do devedor.

O art. 854 do CPC autoriza o Juiz de Direito, de posse de uma senha


previamente cadastrada, requisitar informações necessárias ao processo. O Bacen
Jud, repassa automaticamente as ordens judiciais para as instituições financeiras
determinando a indisponibilidade de ativos do executado, sem prévio conhecimento
deste.

Nos termos do art. 835, § 1° do CPC, o dinheiro é o bem em que se prioriza a


penhora, logo, não há necessidade de primeiramente tentar a localização de outros,
bastando que o devedor não pague o débito no prazo de 3 dias para que seja
autorizada o bloqueio.

“Feito o bloqueio, o valor será transferido para conta vinculada ao juízo, onde
ficará penhorado até o levantamento pelo credor, sem a necessidade de lavratura de
termo.” (GONÇALVES, 2016. p. 776)

Caso a penhora recaia sobre valores impenhoráveis (como cadernetas de


poupança de até 40 salários mínimos – art. 833, X), o devedor deverá comprovar, no
prazo 5 dias) para eu o juiz determine o desbloqueio em até 24h.

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As instituições financeiras responderão pelos prejuízos causados ao
executado em decorrência da indisponibilidade de ativos financeiros em valor
superior ao indicado na execução ou pelo juiz, bem como pelo não
cancelamento da indisponibilidade no prazo de 24 horas, quando o juiz assim
o determinar. (GONÇALVES, 2016. p. 776)

Penhoras empresariais:

Em quotas ou ações de sociedades personificadas, procedida a penhora (pelo


procedimento específico disposto no art. 861 do CPC), o juiz fixará prazo de até 3
meses para a sociedade apresentar balanço comercial na forma legal, oferecer quotas
ou ações aos sócios (respeitando do direito de preferência contratual ou legal) “e, não
havendo interesse dos sócios na aquisição das ações, proceda à liquidação das
quotas ou das ações, depositado em juízo o valor apurado, em dinheiro.”
(GONÇALVES, 2016. p. 776)

Para a penhora de empresa, de outros estabelecimentos ou semoventes, será


nomeado administrador para apresentar plano de administraçao em dez dias. As
partes em comum acordo poderão escolher o depositário e ajustar a forma de
admnistração que será homologado pelo juiz. “No plano, o administrador deverá
indicar a forma pela qual a empresa ou o estabelecimento será gerido e a forma de
pagamento do exequente, devendo prestar contas de sua gestão.” (GONÇALVES,
2016. p. 776)

Já para a penhora de percentual de faturamento de empresa, trazida no art.


866 do CPC, só haverá deferimento caso o devedor não possua outros bens
penhoráveis ou, mesmo possuindo, forem de insuficientes para adimplir seu débito ou
de dificultosa alienação.

[...] recairá sobre um percentual do faturamento, que deverá ser fixado pelo
juiz, de forma que propicie a satisfação do exequente em tempo razoável,
sem comprometer o exercício da atividade empresarial. Para viabilizar a
penhora, será nomeado um administrador-depositário, o qual deverá
submeter à aprovação judicial a sua forma de atuação, prestando contas
mensalmente e entregando em juízo as quantias recebidas, com os
respectivos balancetes mensais. (GONÇALVES, 2016. p. 776)

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Penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel ou imóvel:

A penhora poderá recair sobre frutos e rendimentos da coisa, em vez da coisa


em si, caso em que o juiz irá deferir quando entender ser o meio mais efetivo para o
exequente e menos gravoso ao executado.

Exigirá que se nomeie administrador-depositário que se investirá de poderes


para a administração e fruição das utilidades e frutos da coisa no lugar do devedor
que perderá seu direito de gozo até a satisfação da dívida. “A nomeação do
administrador-depositário pode recair sobre o exequente ou sobre o executado,
ouvida a parte contrária, e, não havendo acordo, sobre profissional qualificado para o
desempenho da função.” (GONÇALVES, 2016. p. 777)

Um exemplo é a penhora dos alugueis de um imóvel pertencente ao executado.


Neste caso, por se tratar de bem imóvel, necessária a averbação no Cartório de
Registro de Imóveis (art. 844 do CPC). "Caso não se trate de bem imóvel, a eficácia
em relação a terceiros dar-se-á a partir da publicação da decisão que conceda a
medida. [...] Também deverá ser providenciada a averbação da penhora de veículos
e outros bens, sujeitos a registro no órgão competente.” (GONÇALVES, 2016. p. 777)

Averbação da penhora:

A penhora não depende de averbação para sua validade, a averbação possui


a finalidade apenas de torna-la pública e cabe ao credor a sua promoção, necessária
para que não haja alegação de desconhecimento. Cm a averbação, a penhora
presume-se conhecida e é feita averbação gerará presunção pleno conhecimento da
penhora e “é feita pela apresentação de cópia do auto ou do termo ao Cartório de
Registro de Imóveis ou por meio eletrônico (art. 837), não havendo necessidade de
mandado judicial.” (GONÇALVES, 2016. p. 777)

A principal vantagem é que, se o bem for alienado pelo executado, os


adquirentes - tanto o primeiro quanto os subsequentes - não poderão alegar
boa-fé para afastar a fraude à execução. A Súmula 375 do STJ deixa claro
que a alienação de bens após o registro da penhora será considerada em

32
fraude à execução; se anterior, a fraude dependerá de prova de má-fé do
devedor (fica ressalvada a utilização do art. 828 em que há a averbação das
certidões da admissão da execução, a partir do qual estará configurada
também a má-fé). (GONÇALVES, 2016. p. 777)

Substituição do bem penhorado:

De acordo com o art. 847 do CPC, “o executado pode, no prazo de 10 (dez)


dias contado da intimação da penhora, requerer a substituição do bem penhorado,
desde que comprove que lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente.”
(BRASIL, 2015). O procedimento substitutivo será o do art. 853 do CPC.

A substituição poderá ser requerida por qualquer das partes e o juiz deferirá
quando:

- Não obedecer a ordem do art. 835.

- Não incidir sobre os bens legalmente estabelecidos, ato judicial para pagamento ou
contrato (ex: contratos hipotecários em que a penhora recaia sobre o bem hipotecado)

- Recair sobre bens em foro diverso o da execução quando há bens neste

- Recair sobre bens gravados ou já penhorados se houver mais bens livres

- Incidir sobre bens de venda dificultosa

- Fracassar na tentativa de alienação judicial

- O devedor não indicar o valor dos bens ou omitir as indicações legalmente


estabelecidas.

Ainda, prevê o art. 848 que “a penhora pode ser substituída por fiança bancária
ou por seguro garantia judicial, em valor não inferior ao do débito constante da inicial,
acrescido de trinta por cento.” (BRASIL, 2015)

É sempre possível ao devedor requerer a substituição do bem penhorado por


dinheiro, o que será vantajoso para o credor, pois tornará desnecessária a
fase de expropriação judicial. O pedido de substituição por dinheiro não se
confunde com o pagamento, em que o devedor abre mão de qualquer defesa
e concorda em que haja desde logo o levantamento para pôr fim à execução.
(GONÇALVES, 2016. p. 778)

33
Segunda penhora:

A segunda penhora é autorizada pelo art. 851 quando houver anulação da


primeira, ou o produto da alienação dos bens executados não baste para a totalidade
do pagamento, ou houver desistência do exequente quanto à primeira devido ao bem
se encontrar sob litígio ou constrição judicial.

Entretanto, há mais uma possibilidade não elencada: caso em que houver


deterioração do bem penhorado, perecimento ou subtração, o que impossibilitaria sua
execução.

Redução ou ampliação da penhora:

Após a avaliação dos bens penhorados, a penhora poderá sofrer (a


requerimento das partes) redução ou ampliação, quando for concluída desproporção
em relação ao valor da dívida, conforme previsto no art. 874.

O juiz ouvirá a parte contrária e a redução ou ampliação em será se fará após


avaliação para comparar o valor aferido com o débito. No entanto poderá ser feita
antes de avaliação caso a desproporção seja óbvia.

E também, conforme o art. 850, “será admitida a redução ou a ampliação da


penhora, bem como sua transferência para outros bens, se, no curso do processo, o
valor de mercado dos bens penhorados sofrer alteração significativa.” (BRASIL, 2002)

Pluralidade de penhoras sobre o mesmo bem:

Dado que o valor de um bem pode ser suficiente para adimplir mais de um
débito, não haverá impedimento de que sofra mais de uma penhora em diferentes
execuções. Caso isso ocorra, poderá ser levado em hasta pública em qualquer das
execuções e haverá concorrência entre os credores existentes quanto à prioridade
sobre o valor angariado, em consonância com o art. 908 do CPC. Mas, pelo § 2°, “não

34
havendo título legal à preferência, o dinheiro será distribuído entre os concorrentes,
observando-se a anterioridade de cada penhora.” (BRASIL, 2015)

A redação do art. 908 e seus parágrafos permite concluir que, feita a


alienação do bem, os levantamentos deverão obedecer à seguinte ordem:

- primeiro, haverá necessidade de verificar se há algum credor preferencial,


como o trabalhista, o fiscal, com garantia real e o credor condominial. Se
houver mais de um, será preciso verificar a ordem das prelações;
- não havendo credores preferenciais, mas apenas quirografários, respeitar-
se-á a prioridade das penhoras, tendo preferência aquele credor que
promoveu a primeira penhora do bem, e assim sucessivamente. A
prioridade é dada pela efetivação da penhora, e não pela sua averbação
no Registro de Imóveis, nem pela anterioridade do ajuizamento da
execução. Nem sempre terá prioridade de levantamento o credor que
promoveu a execução na qual a hasta pública se realizou. (GONÇALVES,
2016. p. 779) (Grifo do autor)

O depositário:

Conforme o art. 839, caput, do CPC, “considerar-se-á feita a penhora mediante


a apreensão e depósito dos bens, lavrando-se um só auto se as diligências forem
concluídas no mesmo dia" (BRASIL, 2015). Ou seja, somente após os bens se
encontrarem sob a guarda do sepositário é que a penhora estará satisfeita.

A nomeação do depositário constará no auto de penhora, e deverá assiná-lo.


No entanto, ao depositário que não desejar a função é possibilitada a recusa da
nomeação. Conforme súmula 319 do STJ que aduz: “O encargo de depositário de
bens penhorados pode ser expressamente recusado”

O art. 840 do CPC estabelece a ordem de prioridade de nomeação do


depositário. Quando se tratar de penhora de dinheiro, papéis de crédito e
pedras ou metais preciosos, o depósito será feito no Banco do Brasil, na
Caixa Econômica Federal ou no banco do qual o Estado ou o Distrito Federal
possua mais da metade do capital social integralizado. Quando se tratar de
bem imóvel, semovente, imóvel urbano ou direito aquisitivo sobre imóvel
urbano, será feito em poder do depositário judicial. Caso não haja depositário
judicial, os bens ficarão em poder do exequente, mas poderão ficar em poder
do executado se forem de difícil remoção ou se o exequente anuir. Os imóveis
rurais, os direitos aquisitivos sobre imóveis rurais, as máquinas, os utensílios
e os instrumentos necessários ou úteis à atividade agrícola, mediante caução
idônea, ficarão em poder do executado. (GONÇALVES, 2016. pp. 779-780)

35
Responsabilidade do depositário:

O depositário judicial, diferente do contratual, não tem a posse, somente a mera


detenção do bem, se incumbindo de resguardá-lo e apresentá-lo quando for
determinado.

Se o bem for arrematado ou adjudicado, deve entregá-lo ao adquirente,


quando o juiz determinar. Se não o fizer, basta que o adquirente requeira, no
processo de execução, que se expeça mandado de imissão na posse ou
busca e apreensão, não havendo necessidade de propor ação autônoma.

Não há mais a possibilidade de ser decretada a prisão civil do depositário


infiel, mesmo do judicial, afastada pelo STF, que a restringiu tão somente ao
inadimplemento de dívida de alimentos. (GONÇALVES, 2016. p. 780)

Da avaliação de bens:

Ao realizar a penhora, o oficial de justiça deverá promover a avaliação do bem,


utilizando idoneamente de quaisquer informações que estiverem ao alcance
(pesquisas com corretores, imobiliárias, anúncios, classificados em jornais, dados
prestados pelas próprias partes, etc). Entretanto, informará ao juízo a necessidade de
nomeação de um perito caso considere não possuir conhecimento técnico para fazê-
lo, já que há casos em que, devido sua própria natureza, exigem conhecimentos
específicos. No entanto, será medida excepcional e deverá justificar os motivos de
eximir-se.

Quando possível, a avaliação pelo oficial traz grandes vantagens em ganho


de tempo e contenção de despesas.

Se houver designação de perito, os seus honorários serão antecipados pelo


credor, mas incluídos no cálculo do débito. Corno não se trata propriamente
de prova pericial, não é dado às partes formular quesitos ou indicar
assistentes técnicos, uma vez que a finalidade única da diligência é avaliar o
bem. O laudo deverá ser entregue no prazo de 10 dias.

As partes poderão impugnar a avaliação, tanto do oficial de justiça quanto do


perito, cabendo ao juiz decidir se acolhe ou não o laudo. Se necessário, serão
solicitados esclarecimentos ao avaliador. (GONÇALVES, 2016. p. 780)

Ainda, em determinação do art. 871 do CPC, há hipóteses de dispensa da


avaliação. Ela será dispensada quando a estimativa feita por uma parte for aceita pela

36
outra; ou for relativa à mercadorias ou titulos que posuírem cotação na bolsa (com
comprovação através de publicação oficial ou certidão); ou relativa a títulos de dívida
pública, ações de sociedade e títulos de crédito em bolsa, onde o valor será o da
cotação do dia, atestado por publicação em órgão oficial ou certidão, e, ainda, de
veículos automotores ou bens cujo valor médio no mercado possa ser averiguado por
meio de pesquisa realizada por órgão oficiais ou anúncios divulgados em veículos de
comunicação (onde o encargo de comprovar a cotação caberá à quem fizer a
nomeação.

Por fim, também há hipóteses de nova avaliação dos mesmos bens, embora,
em regra não ocorra. São as elecandas no art. 873: quando se constatar ocorrencia
de erro na avaliação ou dolo do avaliador; se verificar que houve aumento ou
diminuição do valor dos bens após a avaliação; ou existir fundada dúvida ante o valor
atribuído a eles na primeira avaliação.

Nos casos em que a penhora for feita por termo nos autos - como a de bens
imóveis - será expedido apenas mandado de avaliação, a ser cumprido pelo
oficial de justiça. (GONÇALVES, 2016. p. 781)

Intimação do executado:

Após formalização da penhora, intimará o executado para que tome


conhecimento do bem penhorado e tenha oportunidade de se manifestar sobre
eventuais equívocos, como, por exemplo, a impenhorabilidade do bem.

A intimação será dirigida ao advogado do devedor, ou à sociedade de


advogados a que ele pertence, salvo se ele não o tiver, caso em que deverá
ser pessoal, de preferência por via postal. Caso a penhora tenha sido feita na
presença do executado, a intimação é dispensável. Reputar-se-á intimado o
executado que tiver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo.
(GONÇALVES, 2016. p. 781)

Outras intimações:

Outras pessoas que não fazem parte da execução também deverão ser
intimadas:

37
- O cônjuge (art. 842) nos casos em que a penhora recair sobre bem imóvel. Ainda
que o bem penhorado pertença a apenas um dos cônjuges. Dispensa-se apenas, se
pertencendo apenas a um, forem casados sob o regime de separação total de bens.

Conquanto a lei se refira à intimação, tem prevalecido o entendimento de que


se trata de verdadeira citação, uma vez que o cônjuge poderá ingressar na
execução, valendo-se até mesmo de embargos de devedor.

Ele poderá valer-se de embargos de terceiro quando quiser livrar da penhora


bens de sua meação, comprovando que não tem responsabilidade pela
dívida; ou de embargos de devedor, quando quiser discutir o débito, e
defender o patrimônio do devedor. (GONÇALVES, 2016. p. 782);

- O credor com garantia real (art. 799, I). Serve a garantir o direito de preferência sobre
a arrematação e sua inobservância gera ineficácia da alienação do bem (art. 804);

- O titular da habitação, uso ou usufruto quando recair a penhora sobre bem gravado
nessas circunstancias;

- O promitente da compra, quando recair sobre bem em que haja registrada promessa
de compra e venda;

- O promitente da venda, quando recair sobre direito de aquisição sobre bem em que
haja registrada promessa de compra e venda.

Expropriação:

A expropriação é o meio pelo qual o exequente obterá a satisfação da tutela


pretendida nas execuções por quantia. Poderá ser feita de três formas:

- Art. 825, I: Adjudicação. É a entrega do bem penhorado ao(s) credor(es) ou terceiros


legitimados para satisfação total ou parcial da dívida.

- Art. 825, II: Alienação dos bens. Presta-se à converter o bem em dinheiro para
pagamento ao credor. Poderá ser particular ou pública (leilão judicial presencial ou
eletrônico).

38
- Art. 825, III: “Apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de
estabelecimentos e de outros bens.” (BRASIL, 2015)

Deve-se respeitar uma ordem de preferência. Primeiramente verificar se existe


interessados na adjudicação do bem. Não havendo, determina-se a alienação.

Prioriza-se a adjudicação pois é realizada sem despesas, enquanto o leilão


judicial implica gastos com intimações e publicação de editais e permite arrematação
por valor inferior à avaliação.

A adjudicação guarda similaridade com a dação em pagamento por haver


apropriação do bem como pagamento da dívida. Difere-se, no entanto, por ser uma
expropriação foçada, enquanto a dação é voluntária.

Se deferida à legitimados diversos do exequente, devem depositar o valor


correspondente a avaliação para ser levantada pelo credor. Não se confunde com
arrematação, pois nesta o bem é colocado em leilão judicial para que qualquer pessoa
interessada possa arrematar, inclusive por valor inferior à avaliação. Até mesmo o
credor, se quiser arrematar o bem por valor inferior, terá de se valer do leilão.

A legitimidade para o requerimento da adjudicação pertence ao próprio credor,


também aos elencados no art. 889, II a VIII e credores concorrentes ante a penhora
de mesmo bem. Além disso, ao cônjuge, companheiro, descendente ou ascendente
do devedor.

Ocorrendo o interesse de mais de um dos legitimados, haverá licitação e aquele


que oferecer o maior valor obterá a preferência. Nesses casos, o bem poderá atingir
valor maior ao da avaliação.

Se requerida pelo credor, o valor da avalição se abaterá no débito e prosseguirá


a execução pelo valor remanescente. No entanto se o valor do bem for maior que o
débito, o credor depositará a diferença.

39
Se deferida aos outros legitimados, estes deverão depositar o valor integral do
bem em juízo, “salvo se o for em favor de algum credor que tenha preferência, na
forma do art. 908 do CPC, caso em que o preço servirá para abater o débito desse
credor, e não daquele que promoveu a execução, onde a hasta for realizada.”
(GONÇALVES, 2016. p. 783)

Alienação por iniciativa particular:

O próprio credor ou corretores credenciados pela autoridade judiciária


procederão a alienação, conforme regras estabelecidas pelo juiz em relação à
publicidade, forma, valor mínimo, condições de pagamento, garantias e comissão de
corretagem (se houver).

Embora a lei não o diga expressamente, o preço mínimo não poderá ser
inferior ao valor da avaliação, mas a questão é controvertida, havendo
aqueles que sustentam que, à míngua de exigência expressa, a venda poderá
ser feita por qualquer preço, desde que não seja vil, devendo o juiz fixá-lo de
antemão. Parece-nos temerária essa solução, diante de eventual urgência do
exequente em receber o que lhe é devido e da dificuldade do juízo em
estabelecer regras a respeito de preço mínimo. Se o bem for imóvel, não
haverá outorga de escritura pública, pois a alienação será formalizada por
termo nos autos, assinado pelo exequente e pelo adquirente do bem, que não
precisa estar representado por advogado e pelo executado, se estiver
presente. O comprador depositará o preço em juízo. (GONÇALVES, 2016. p.
784)

Com a transação consumada, expedirá o mandado de imissão de posse ou


ordem de entrega do bem (bens móveis) ou carta de alienação para registro junto ao
Cartório de Registro de Imóveis (bens imóveis).

Alienação em leilão judicial:

Sem interessados na adjudicação nem mesmo do credor, a expropriação se


fará por leiloeiro público em leilão judicial, exceto quando alienação a cargo de
corretores de bolsa de valores.

40
Sempre que possível, o leilão se fará por meio eletrônico. Na impossibilidade,
será de forma presencial.

“O leilão judicial substitui a hasta pública, prevista no CPC de 1973, como o


mecanismo mais tradicional de conversão dos bens em pecúnia, na execução por
quantia, quando não tiverem se viabilizado as formas preferenciais da adjudicação ou
alienação particular.” (GONÇALVES, 2016. p. 784)

Leilão judicial:

Conforme mencionado, na constância do CPC de 1973, havia a ‘hasta pública’,


que se dividia em ‘praça’ (quando envolvia bens imóveis) e o leilão (quando envolvia
bens móveis). No novo CPC, esse estabelecimento foi substituído pelo ‘leilão judicial’,
abrangendo tanto móveis quanto imóveis, e poderá se realizar nas modalidades
eletrônica e presencial, uma divisão em que não importa o tipo de bem, mas apenas
a forma e realização do leilão.

Na modalidade eletrônica, será seguida a regulamentação do CNJ,


“observadas as garantias processuais das partes, atendendo-se aos princípios da
ampla publicidade, autenticidade e segurança, e com a observância das regras
estabelecidas na legislação sobre a certificação judicial.” (GONÇALVES, 2016. p. 784)

Na modalidade presencial, o juiz determinará o local e designará duas datas


para realização. Uma para arremate dos bens pelo valor da avaliação, e a outra por
qualquer valor, excetuando valores vis (conforme art. 891, “considera-se vil o preço
inferior ao mínimo estipulado pelo juiz e constante do edital, e, não tendo sido fixado
preço mínimo, considera-se vil o preço inferior a cinquenta por cento do valor da
avaliação.” (BRASIL, 2015))

Com a datas designadas, se farão as seguintes intimações:

- Do executado, por seu advogado, ou por carta, mandado, edital, se não tiver
procurador constituído nos autos;

41
- Do coproprietário do bem indivisível, para lhe possibilitar exercício de eventual direito
de preferência;

- Do titular da habitação, uso, usufruto, enfiteuse, direito de superfície, concessão de


uso especial de moradia ou direito real de uso, quando recair a penhora sobre bens
com tais gravames;

- Do proprietário do terreno submetido a enfiteuse, direito de superfície, concessão de


uso especial para moradia ou direito real de uso, quando recair a penhora sobre tais;

- O credor hipotecário, fiduciário, anticrético, pignoratício ou com penhora averbada


anteriormente, quando recair sobre bens com tais gravames, caso não seja o credor,
de qualquer modo, parte na execução;

- Do promitente de compra ou de venda, quando recair penhora em bem sobre o qual


haja promessa de compra e venda registrada ou direito aquisitivo;

- Da União, Estado ou Município, na hipótese de alienação do bem tombado.

Interessa que no leilão tenham interessados, por isso deve ser tornado público
e publicado edital, conforme determinação legal, constando os ditames dos incisos do
art. 886. O edital indicará as duas datas, o valor da avaliação, valor mínimo de venda,
designação de leiloeiro (que poderá ser indicado pelo exequente), e estabelecimento
das condições de pagamento e garantias que podem se prestar o arrematante. Se
não for publicado, haverá nulidade da arrematação.

A forma e o prazo de publicação do edital, a ser feita com antecedência


mínima de cinco dias do leilão, devem respeitar as exigências do art. 887 do
CPC: publicação na rede mundial de computadores ou, não sendo possível
ou verificando o juiz as circunstâncias peculiares do caso, a afixação no local
de costume e a publicação em jornal de ampla circulação, com antecedência
mínima de cinco dias. Se o exequente for beneficiário da justiça gratuita, a
publicação em jornal será substituída por outra no Diário Oficial (art. 98, § 1°,
III, do CPC). (GONÇALVES, 2016. p. 785)

42
O leiloeiro público realizará o leilão onde se encontrar os bens ou local
determinado pelo juiz e será incumbido da publicação do edital e exposição dos bens
ou amostras dos mesmos.

Vencerá a licitação o interessado (qualquer pessoa física ou jurídica, até


mesmo o próprio credor) que oferecer maior valor, com exceção de oferta vil. O valor
deverá ser transferido imediatamente pelo vencedor mediante depósito judicial ou
meio eletrônico (exceto se houver pronunciamento judicial em contrário).

Há também exceções legais em relação a quem poderá licitar, pelo papel


dentro da execução ou pela relação com o devedor.

Não podem licitar: I - os tutores, os curadores, os testamenteiros, os


administradores ou liquidantes, quanto aos bens confiados à sua guarda e
responsabilidade; II - os mandatários, quanto aos bens de cuja administração
ou alienação estejam encarregados; III - o juiz, o membro do Ministério
Público e da Defensoria Pública, o escrivão, o chefe de secretaria e demais
servidores e auxiliares da justiça, em relação aos bens e direitos objeto de
alienação na localidade onde servirem ou a que se estender a sua autoridade;
IV - os servidores públicos em geral, quanto aos bens ou aos direitos da
pessoa jurídica a que servirem ou que estejam sob sua administração direta
ou indireta; V- os leiloeiros e seus prepostos, quanto aos bens de cuja venda
estejam encarregado; VI - os advogados de qualquer das partes.

Também não podem participar o arrematante e o fiador remisso, isto é, que


não tenham feito o pagamento do lanço que fizeram (art. 897).
(GONÇALVES, 2016. p. 786)

No segundo leilão qualquer valor poderá ser oferecido, conquanto naõ seja vil.
Não há previsão legal quanto a esse valor, o juiz deverá fixa-lo antes do leilão,
constando no edital. No entanto, se não o fizer, vil será o valor inferior a 50% do valor
de avaliação.

Se o bem for imóvel pertencente a incapaz, deverá atingir ao menos 80% do


valor da avaliação, do contrário, o leilão será suspenso por até 1 ano. Nesse intervalo,
se houver interessado, requisitará um novo leilão garantindo o oferecimento do valor
avaliado e prestando caução. Em caso de arrependimento, será aplicada multa de 20
do valor da avaliação.

43
Quando a penhora recair sobre quota-parte em bem indivisível, o bem inteiro
irá à leilão, e o equivalente à quota-parte do coproprietário ou cônjuge alheio
à execução deverá recair sobre o produto da alienação do bem. Porém, nesse
caso, não será levada a efeito expropriação por preço inferior ao de avaliação,
para que o coproprietário ou cônjuge alheio à execução não sejam
prejudicados com o recebimento de menos do que lhes era devido.
(GONÇALVES, 2016. p. 786)

Caso quem arremate o bem seja o próprio e único credor da execução, não
precisará exibir o valor, mas se o arremate exceder o montante do crédito, deverá
depositar a diferença em 3 dias.

A aquisição poderá também ser feita em prestações, apresentando o


interessado a proposta por escrito antes do se iniciar o primeiro leilão, caso seja o
valor oferecido o mesmo da avaliação. Ou, antes de iniciar o segundo leilão, no caso
de valor diverso. O art. 895 traz o procedimento.

Se arrematado com êxito, se expedirá o auto com as assinaturas do juiz,


leiloeiro e arrematante.

Haverá prazo de 10 dias para postulação de eventual invalidade ou ineficácia,


caos não observado os requisitos do art. 804, ou a resolução pelo não pagamento do
preço ou prestação da caução.

Não sendo impugnada a arrematação no prazo, será expedida a respectiva


carta. Ela será levada a registro pelo adquirente, no Cartório de Registro de
Imóveis, quando o bem arrematado for imóvel. A partir da expedição da carta,
a invalidação da arrematação só poderá ser postulada em ação própria, na
qual o arrematante figurará como litisconsorte necessário.

O art. 903, § 5°, enumera situações excepcionais em que o arrematante pode


desistir da arrematação, postulando a imediata restituição do depósito que
tiver feito. (GONÇALVES, 2016. pp. 786-787)

Também se incumbirá de depositar em juízo o bem alienado, em 1 dia, e da


prestação de contas em 2, subsequentes ao depósito. E pelo serviço restado fará
direito à comissão fixada em lei ou pelo juiz.

44
Da apropriação de frutos e rendimentos de móvel ou imóvel:

Os arts. 867 a 869 do CPC traz tal meio de expropriação.

Com a penhora deferida sobre os bens, será nomeado um administrador com


poderes de gestão sobre eles, que receberá a posse direta para providenciar a
produção de frutos e rendimentos que servirão ao pagamento do credor.

O devedor ficará com a posse indireta do bem e manterá a propriedade, que


poderá até ser alienada. Aquele que o adquirir saberá da existência do
gravame, que persistirá até que o credor seja pago. Daí a necessidade de
averbação da penhora no Cartório de Registro de Imóveis. (GONÇALVES,
2016. p. 787)

Fluxograma do procedimento:

45
*Fluxograma retirado da obra ‘Curso de Direito Processual Civil’ - Humberto Theodoro Jr. 2018.

46
3.5 Execução contra a Fazenda Pública

Conforme dispõe o art. 100 do Código Civil, “os bens públicos de uso comum
do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua
qualificação, na forma que a lei determinar.” (BRASIL, 2002)

Considerando que a penhora tem por objetivo a alienação, considera-se


impenhoráveis os bens inalienáveis. Assim determina o art. 833 do CPC: “São
impenhoráveis: I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não
sujeitos à execução.” (BRASIL, 2015)

Desta feita, se dá a impossibilidade de execução contra a Fazenda Pública


mediante penhora e expropriação, pelo que novo Código de Processo Civil fixou
procedimento específico para o cumprimento de sentença e para a execução de título
extrajudicial, o que até o código anterior era desfeito pelo mesmo procedimento.

Cumpre ressaltar que, conforme súmula 279 do STJ, “é cabível execução por
título extrajudicial contra a Fazenda Pública”.

A despeito da inovação quanto à separação dos procedimentos de acordo


com a espécie de título, a sistemática de ambas as codificações é a mesma:
não se realiza atividade típica de execução forçada, uma vez que ausente a
expropriação (via penhora e arrematação) ou transferência forçada de bens.
O que se tem é a simples requisição de pagamento, feita entre o Poder
Judiciário e Poder Executivo, conforme dispõem os arts. 534, 535 e 910 do
NCPC, observada a Constituição Federal (art. 100).

Na verdade, há tão somente uma execução imprópria na espécie, cujo


procedimento é, sinteticamente, o seguinte:

Se o credor da Fazenda Pública dispuser de um título executivo extrajudicial,


deverá observar o procedimento do art. 910, cuja diferença do procedimento
de cumprimento de sentença consiste basicamente: (I) na necessidade de
citação do ente público (e não apenas a intimação); (II) na defesa por meio
de embargos a execução (e não por impugnação); e na (III) ampliação da
matéria de defesa a ser eventualmente oposta em sede de embargos à
execução (art. 910, § 2º). De resto, aplica-se o procedimento previsto nos
arts. 534 e 535, por disposição expressa do Código (art. 910, § 3º).
(THEODORO JR., 2018)

47
Quando à defesa da Fazenda Pública, a forma e o conteúdo também serão
diferentes em cada procedimento. É sucinta a abordagem quando se refere ao título
executivo judicial (art. 535), e mais discutível quanto ao extrajudicial (art. 910, § 2º, e
917).

[...] dispõe o art. 917, VI, 14 que, nos embargos à execução fundados em
título extrajudicial, o executado poderá alegar “qualquer matéria que lhe seria
lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento”, além de outras
matérias típicas do processo executivo, como vícios do título executivo,
penhora incorreta, excesso de execução etc. (art. 917, I a V).

[...] os temas suscitáveis pela executada, em síntese são:

(a) Os próprios de quaisquer embargos à execução por quantia certa,


consoante o art. 917: (I) inexequibilidade do título ou inexigibilidade da
obrigação; (II) excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
(III) incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; (IV) qualquer
matéria que seria lícita ao executado deduzir como defesa em processo de
conhecimento.

(b) Os específicos da impugnação ao cumprimento da sentença contra a


Fazenda Pública (art. 535 aplicável, no que couber, à execução dos títulos
extrajudiciais, conforme art. 910, § 3º), a saber:

(I) ilegitimidade de parte; (II) qualquer matéria modificativa ou extintiva da


obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou
prescrição (as demais previsões dos incs. III, IV e V do art. 535 são iguais às
do art. 917, acima enumeradas. (THEODORO JR. 2018)

Fluxograma do procedimento:

48
*Fluxograma retirado da obra ‘Curso de Direito Processual Civil’ - Humberto Theodoro Jr. 2018.

3.6 Execução de alimentos

A execução de alimentos também poderá fundar-se em título extrajudicial,


portanto, não havendo fase de conhecimento, caso em que o executado será citado
para efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da execução em até 3 dias
e das que se vencerem no seu curso, provar que já o fez ou justificar a impossibilidade
de fazê-lo.

São aplicáveis ao processo de execução de alimentos fundadas em título


extrajudicial todas as regras aplicáveis ao cumprimento de sentença, ressalvando que,
por se tratar de um processo autônomo, a defesa não deverá ser apresentada por
impugnação, mas por embargos.

No que concerne à execução por quantia certa para a prestação de alimentos


fundadas em título judicial, é preciso fazer alguma digressão.

49
O CPC prevê os arts. 528-533, que têm por objeto o “cumprimento de
sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão
interlocutória que fixe alimentos”, deixando claro que tanto o regime do título
provisório quanto o definitivo se submetem a esse regramento.

Tratando-se de título executivo judicial haurido em ação de alimentos que


segue o rito da Lei 5.478/1968, o art. 1.072, V, do CPC revogou os arts. 16-
18 da Lei 5.478, de 25 de julho de 1968, de forma que as técnicas
expropriatórias da referida lei estão, agora, compatíveis com a do CPC.

É de dizer ainda que os arts. 911 e ss., que cuidam do processo de execução
da prestação alimentícia (fundado em título extrajudicial), determinam que,
superada a fase postulatória dessa modalidade de execução, segue-se no
que couber nos §§ 2.º a 7.º do art. 528, que tratam do cumprimento de
sentença de prestação de alimentos. (ABELHA, 2015)

Fluxograma do procedimento:

*Fluxograma retirado da obra ‘Curso de Direito Processual Civil’ - Humberto Theodoro Jr. 2018.

50
4 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABELHA, Marcelo. Manual de Execução Civil - Parte III - Liquidação de Sentença.


5 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

ASSIS, Araken de. Cumprimento da Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

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dos Tribunais, 2007.

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BRASIL. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Senado, 1973.

BRASIL. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Senado, 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado,


1988.

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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 319. Disponível em:


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CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. 2. Rio de


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51
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DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. 8 ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

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