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RESUMO
O ser humano costuma dedicar uma grande parte de sua vida ao trabalho. Se é alto o investimento
de tempo, energia e dedicação, naturalmente, e, talvez, cada vez mais, muito também se espera
da vida profissional na sociedade contemporânea. Dada a relevância que o trabalho tem na vida
das pessoas na contemporaneidade, buscou-se desenvolver uma pesquisa de revisão narrativa,
seguindo uma abordagem qualitativa, de modo a alcançar o objetivo geral deste artigo que seria
o de conhecer as possíveis contribuições da Logoterapia e Análise Existencial ao contexto do
trabalho e das organizações. A centralidade do conceito relativo ao sentido de vida para a
Logoterapia e Análise Existencial contribui e convoca a se pensar a experiência humana a partir
de suas ações, relações e formas de organização. Faz-se, portanto, necessário estabelecer espaços
de reflexão sobre a relação entre sentido e trabalho para o homem e a mulher na
contemporaneidade. Ao final a pesquisa revela que entre as principais implicações do
pensamento Analítico Existencial aplicado ao sentido do trabalho e organizações, estaria a
proposta de se estabelecer empresas mais humanas, requisito necessário para a vivência e
potencialização de sentido no trabalho e nas organizações.
Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 6407-6427, 2023 6407
Palavras-chave: sentido, trabalho, logoterapia, análise existencial.
ABSTRACT
Perhaps it is at work where human beings spend the most time. If the investment of time, energy,
and dedication is high, naturally, and perhaps increasingly so, much is also expected from work
life in contemporary society. Given the relevance that work has in people's lives in contemporary
times, a narrative review research was developed, following a qualitative approach, in order to
achieve the general objective of this article, which is to know the possible contributions of
Logotherapy and Existential Analysis to the context of work and organizations. The centrality of
the concept of the meaning of life for Logotherapy and Existential Analysis contributes and calls
for thinking about human experience based on their actions, relationships, and organizational
forms. It is therefore necessary to establish spaces for reflection on the relationship between
meaning and work for men and women in contemporary times. In conclusion, the research
reveals that among the main implications of Existential Analytical thought applied to the meaning
of work and organizations, would be the proposal to establish more human companies, a
necessary requirement for experiencing and enhancing meaning in work and organizations.
1 INTRODUÇÃO
Valerá a pena dedicar anos de estudos e grande parte do tempo de vida para fazer algo
que não tem sentido? Essa pergunta abre um horizonte de reflexão sobre o trabalho e sobre o
sentido que ele tem para as vidas das pessoas. Talvez é no trabalho onde mais tempo passa o ser
humano, mais ainda quando se leva em conta o tempo de preparação e estudos que muitas
profissões requerem. Se é alto o investimento de tempo, energia e dedicação, naturalmente, e,
talvez, cada vez mais, muito também se espera da vida profissional na sociedade contemporânea.
Não é difícil notar que grande parte da realização pessoal se busca dentro de uma profissão. O
trabalho de uma pessoa é muitas vezes algo mais que simplesmente o trabalho em si, pois
tipicamente se relaciona com diversos aspectos que tornam a experiência de trabalhar cheia de
sentido. O trabalho costuma conectar-se com a vida das pessoas a partir de um conjunto de
relações produtoras de valores e significados: na relação consigo mesmo e com os demais; no
valor e significado da criação de algum produto ou serviço; na experiência de poder oferecer algo
ao mundo, como contribuição ou exercício de uma missão singular; nos papéis sociais
construídos a partir das funções e trabalhados exercidos. Todas estas relações se entrelaçam no
nosso trabalho e adquirem sentido de forma individual e coletiva.
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A relação entre trabalho e sentido tem alcançado relevância na literatura sobre Gestão e
Organizações, na medida em que se compreende o impacto que o trabalho exerce nas pessoas.
Entre as teorias que se dedicam ao estudo das relações entre sentido de vida e trabalho, destaca-
se, no cenário da psicologia, a importante contribuição do psiquiatra austríaco Viktor Emil
Frankl, criador do método psicoterapêutico denominado Logoterapia e Análise Existencial.
Reconhecendo a importância de se estudar a relação entre trabalho e sentido de vida,
justamente pela ampla repercussão que pode ter o trabalho na vida das pessoas na atualidade,
tanto no que se refere a realização existencial como também na produção de sofrimento, buscou-
se desenvolver uma pesquisa de revisão narrativa e descritiva, de modo a se levantar as possíveis
contribuições da Logoterapia e Análise Existencial ao contexto do trabalho e das organizações.
Pretende-se, ainda, a partir da ciência psicológica contribuir para o avanço da discussão acerca
da humanização das relações de trabalho e o consequente incremento da qualidade de vida e da
saúde do trabalhador. A partir da revisão de literatura realizada, encontrou-se relevante material
provindo de livros clássicos de Viktor Frankl, bem como a importante contribuição de autores
mais recentes que tem se dedicado a escrever e a estudar a questão do sentido do trabalho a partir
do viés da Logoterapia e Análise Existencial. Também foi possível localizar a temática do sentido
do trabalho a partir de outros vieses, com crescente relevância também em textos da área de
Gestão de Pessoas. O texto foi organizado de modo abordar brevemente as seguintes temáticas,
dispostas nos tópicos da fundamentação teórica: O pensamento de Viktor Frankl; O Sentido do
Trabalho; O Sentido do Trabalho e as Organizações; A Liderança como promotora de Sentido e
o Sentido como Elemento Transformador. Em seguida, apresenta-se a metodologia e as
considerações finais referentes às questões levantadas nesta pesquisa.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O PENSAMENTO DE VIKTOR FRANKL
Médico, psiquiatra e neurologista, Viktor Emil Frankl criou um método de tratamento
psicológico que denominou Logoterapia. Nascido em Viena, no ano de 1905, deu início a sua
trajetória acadêmica dedicando-se a estudos em Medicina, Psicanálise e Psiquiatria. Doutor em
Filosofia e em Medicina, Frankl em sua carreira acadêmica lecionou em diversas Universidades
como: Harward, Pitsburg, San Diego, Dallas e na Universidade de Viena. Durante o período entre
1942 e 1945, Frankl viveu o que ele mesmo chamou de Experimentum Crucius: experiência de
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sobrevivência vivida em quatro campos de concentração nazistas. Embora que antes mesmo de
sua vivência nos campos de concentração já se utilizava o termo Logoterapia, este acontecimento
foi essencial para a estruturação e difusão do pensamento Frankliano (FRANKL, 2010). Parker
(2022, p. 01) faz o seguinte comentário sobre Frankl:
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compreensão da Logoterapia não se trata, contudo, de algo abstrato, mas sim de uma relação
concreta do sujeito engajado em sua realidade e nas possibilidades valiosas que daí emergem.
A vida em cada realidade específica, única e irrepetível, demanda e clama por uma
resposta. O sentido seria a resposta mais adequada de engajamento pessoal em relação à vida
concreta, e enquanto tal, exige da pessoa uma habilidade de responder orientada por valores, o
que na Logoterapia se estabelece pelo desdobramento da responsabilidade, como response
hability (habilidade de responder), situada na irrepetibilidade de cada existência e de cada
situação e orientada por valores. Frankl propõe, ainda, a existência daquilo que ele mesmo chama
de categorias de valores. Tais categorias representam de forma didática os possíveis “tipos” de
caminhos que por meio deles, na concretude da vida, pode-se encontrar sentido. Estas categorias
de valores são três: Criação, Experiência e Atitude. Respectivamente: 1. Criando um trabalho ou
praticando um ato; 2. Experimentando algo ou encontrando alguém; 3. Pela atitude que tomamos
em relação ao sofrimento inevitável. (FRANKL, 2010)
Ainda que as reflexões do criador da Logoterapia se referissem, primariamente, à questão
da intervenção psicoterapêutica, as repercussões de sua teoria notadamente foram muito além da
clínica. Não demorou para se notar a aplicabilidade de seu pensamento nos mais diversos
contextos, tão logo vários autores, alguns encorajados pelo próprio Frankl, se dedicaram a aplicar
a Logoterapia e Análise Existencial aos contextos da educação, da saúde, do trabalho e da gestão.
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profissão em si, mas sim de nós, fazermos valer, no trabalho, aquilo que em nós há de pessoal e
específico, conferindo à nossa existência o seu “caráter de algo único”. Sobre essa relação, Frankl
(2005, p. 26) apresenta alguns resultados de suas pesquisas:
Neste contexto, uma pesquisa, de alcance mundial, realizada em maio de 2023 pelo World
Economic Forum, estabeleceu um ranking de habilidades essenciais para os trabalhadores,
contando com uma relação de vinte e seis habilidades, das quais destacamos, na Figura 1, as dez
primeiras habilidades mais apontadas pelas empresas dos países pesquisados em todo o mundo.
O relatório do Fórum Econômico Mundial (2023) fornece informações importantes sobre as
lacunas de habilidades e os desafios de aquisição de talentos enfrentados pelas empresas
pesquisadas. Isto demonstra uma clara necessidade de requalificação em todas as áreas. O fato
de que 6 em cada 10 trabalhadores precisarão de requalificação até 2027 é uma estatística
importante que ressalta a necessidade urgente de ação para atender a essa demanda. Contudo, é
preocupante que apenas metade desses trabalhadores tenha acesso a treinamento adequado. Isso
indica um descompasso entre a demanda por reskilling e a disponibilidade de programas de
desenvolvimento de habilidades.
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Outro ponto relevante destacado no relatório é a estimativa de que em média 44% das
competências individuais dos trabalhadores precisam ser atualizadas. Esse percentual demonstra
a necessidade de um esforço colaborativo para garantir o aprendizado contínuo e o
desenvolvimento profissional. Para garantir que os trabalhadores permaneçam relevantes e
produtivos, é importante implementar programas de treinamento que atendam às necessidades
atuais do mercado de trabalho e que estejam em sintonia com o significado do sentido do trabalho
idealizado pelos colaboradores e pelas empresas. Abordando o conceito de sentido do trabalho,
Ortiz et al (2018, p. 41) conceituam como
A percepção afetiva-cognitiva de valores que tem uma pessoa em seu âmbito laboral e
que lhe convidam a agir de um modo particular nas atividades próprias de sua ocupação,
conferindo-lhe à pessoa, identidade pessoal e coerência consigo mesma e com a
organização [...] trata-se de uma experiência que toca a pessoa, compreende a
possibilidade de expressar-se através das atividades laborais e que demarca uma
congruência de valores que gerará ressonância íntima e comunitária.
Os autores propõem, ainda, que o sentido do trabalho depende de uma série de fontes,
sendo a primeira a conexão pessoal, isto é, o fato de que trabalho se conecte com a identidade de
cada pessoa. A segunda é a individuação, que faz que um trabalho seja valioso na medida que
torna a pessoa autônoma. A terceira fonte é a comunhão, ou seja, o trabalho se torna significativo
à medida que permite conexões significativas com os outros e exerce um papel importante para
um grupo ou comunidade. Para Ortiz et al (2018), o sentido do trabalho está relacionado com um
maior bem-estar, compromisso organizacional, satisfação laboral, sentido de vida e satisfação
com a vida em termos gerais; além de maior produtividade e melhor desempenho. Cancian et al.
(2023, p. 384) alertam que
[...] o sujeito ao identificar sucessivas insatisfações, tende a ter uma baixa percepção da
sua qualidade de vida, e por consequência pode adoecer tanto físico, quanto
mentalmente, assim, as insatisfações percebidas por este sujeito pode se difundir
comprometendo também a qualidade de vida dos demais colaboradores, tornando o
ambiente de trabalho tóxico.
Sisodia e Gelb (2020) afirmam que quando não há significado e propósito no ambiente e
no contexto de trabalho, muito especialmente quando nos sentimos desumanizados e
objetificados, ficam muito mais evidentes as experiências de sofrimento emocional e espiritual
relacionado ao contexto laboral. São bastante variadas as realidades de precarização do trabalho
e os consequentes prejuízos a saúde do trabalhador, campo de estudo, cada vez mais,
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indispensável, já que todos almejamos uma sociedade mais ética e humana. É possível citar como
aspectos que merecem atenção e cuidado: o excesso de demandas, a não consideração das
individualidades, o desrespeito aos direitos fundamentais, a baixa remuneração, os ambientes
insalubres, as situações de assédio moral, a não observação de aspectos referentes à segurança
do trabalho, os estilos autoritários de liderança, as discriminações e preconceitos de todos os tipos
e ordens que ainda tão frequentes; além disso é preciso mencionar aqueles sofrimentos que
tornam-se crônicos, em quadros de adoecimento das relações de trabalho, tal como a Síndrome
de Burnout. Não é difícil, portanto, estabelecer uma relação entre a lógica do capitalismo
selvagem, que coloca o lucro e a competição acima das pessoas, e as realidades mencionadas de
sofrimento laboral.
Também é uma questão de lógica afirmar que esses modos de produção de sofrimento no
trabalho, consequentemente, tendem a minar possibilidades de realização de sentido. Sobre isso,
Sisodia e Gelb (2020) defendem a necessidade de se desmistificar e se contrapor a atitude coletiva
que aceita e até acolhe a ideia de que esse é um mundo cruel e competitivo, e que os negócios
nada mais são do que uma corrida, mentalidade que empobrece o valor da vida frente as
exigências de trabalho, na medida que compactua com a submissão irrestrita das relações de
trabalho à lógica de produção. Para estes autores, a vida e o trabalho não deveriam ser encarados
enquanto realidades separadas, mas sim integradas. Em outras palavras, idealiza-se o trabalho
que inclui e potencializa os sentidos vitais, e a vida que encontra sentido, realização e lugar
também por meio do trabalho.
As empresas permeiam nossas vidas. Mais que governos, organizações sem fins
lucrativos ou instituições religiosas, os negócios são uma força dominante na vida
contemporânea, quaisquer que sejam as condições. O modo pela qual elas atuam
exercem um impacto enorme em todos os aspectos da nossa vida: nosso bem-estar
material, nossa saúde física, emocional, mental e espiritual; e nossa habilidade de estar
presente e agora como pais, cônjuges, membros comunitários e cidadãos. (SISODIA;
GELB, 2020. p. 22)
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A competitividade enraizada nas nossas formas de nos relacionarmos acaba por fabricar
desejos, padrões e ideais que passam a pautar referenciais de produção social. As empresas por
vezes são o lugar onde, mais nitidamente, a extrema competitividade é encarnada, e, muitas
vezes, até assumida como um valor. A linguagem e a ética que regem as relações de trabalho
fazem emergir comportamentos análogos a um cenário de batalha, onde se busca, quase que
predatoriamente, alcançar as metas e as fatias de mercado.
Sobre o sentido de vida García-Alandete et al. (2018, p. 03) alertam que: “um baixo nível
de sentido de vida está relacionado à desesperança, depressão, dependência de substâncias,
comportamentos autolesivos e suicídio, entre outras variáveis indicativas de disfunção
psicológica”. Sisodia e Gelb (2020) defendem que o custo humano das “empresas como as
conhecemos”, que seguem o ethos e a linguagem de competição e dominação é inaceitavelmente
alto. Em sua obra Empresas que Curam, os mencionados autores expõem uma pesquisa
conduzida por Jeffrey Pfeffer, professor da Universidade de Stanford, cujos resultados estimam
que ambientes de trabalho estressantes são responsáveis por, pelo menos, 120 mortes de
empregados a cada ano, só nos EUA, sem considerar as experiências de sofrimento que não
chegam à morte, mas são, do mesmo modo, devastadores. Diante dos argumentos expostos,
torna-se necessário repensar as organizações e as relações de trabalho, com a finalidade de se
lançar um olhar alternativo e diferente à lógica do capitalismo selvagem e predatório. É o que
tem defendido, por exemplo, os autores do movimento capitalismo consciente quando propõem
que:
Nesse sentido seria necessário redirecionar e ampliar o olhar dos gestores, para além do
lucro, em direção ao cuidado ético e respeitoso das pessoas, aspecto que deveria ser inegociável
no regimento das empresas.
Os lucros são vistos como o meio para um fim maior, mas não como o fim principal de
um negócio. Embora a rentabilidade a longo prazo seja vista como necessária e
desejável, os lucros a curto prazo não são alcançados à custa de considerações éticas e
ambientais ou de valores humanos mais altos, como o respeito pelos indivíduos.
(O´TOOLE; VOGEL apud SIQUEIRA, 2020, p.72)
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Assim, defende-se um processo de ressignificação das organizações, com efeitos de
humanização, para que estas, consideradas como local de competição, pressão e ansiedade,
pudessem, paulatinamente, se tornar lugar de cooperação, valorização, diversidade e
compartilhamento de sentido e valores. Tal anseio está bastante representado por Sisodia e Gelb
(2020), quando propõem que as empresas em vez de contribuírem para o sofrimento das pessoas,
poderiam se tornar lugar de cura, na medida em que o trabalho se transformasse em um lugar de
criação e compartilhamento de bens, valores e crescimentos pautados nos ideais maiores de bem
comum.
As empresas têm um enorme potencial para fazer bem ao mundo. Muito do bem está
sendo feito atualmente ‘inconscientemente’, simplesmente criando produtos e serviços
que as pessoas valorizam. No entanto, o negócio também pode ser feito muito mais
conscientemente, com um propósito mais elevado e criação de valor ótimo para todos
os principais stakeholders, enquanto cria culturas que aprimoram o desenvolvimento
humano. (SISODIA; GELB, 2020 p. 34).
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significa deslocar o olhar das empresas para um princípio ético e teleológico que, obviamente,
deveria fundamentar todas e quaisquer práticas de organização humana, sob pena de restrição e
até obscurecimento do potencial humano.
Assim denuncia Pattakos (2005) quando afirma que a hiperintenção das pessoas ou de
uma organização pelo lucro, provoca o distanciamento da realização de sentido. Quando não se
tem respeito ou confiança, consequentemente não há suficiente criatividade ou produtividade.
Estabelece-se assim, o círculo vicioso do esvaziamento de sentido nas organizações e no trabalho.
Nosso trabalho é sempre algo tão mais que simplesmente nosso trabalho. É um conjunto
de relações: com nós mesmos, com os demais, com nossos clientes, com os produtos
que desenhamos criamos ou vendemos, com os serviços que oferecemos, com o meio
ambiente e com o impacto que tem o que fazemos no mundo. (PATTAKOS, 2005, p.
06)
As empresas que conseguem que seus trabalhadores encontrem sentido em seu trabalho
costumam ter equipes de pessoas que refletem fielmente o que a empresa é. Para as
empresas, se torna importante dar participação aos trabalhadores no desenho das tarefas,
pois isto demonstrou ser um fator potencializador de sentido.
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Isto abrange construir, reenquadrar e adaptar as relações; expandir, focalizar e conectar
percepções, trabalhando com as motivações, as fortalezas e paixões dos colaboradores. Os líderes
e suas respectivas equipes trabalham de modo uníssono (engajado) priorizando a qualidade no
trabalho e o pleno atendimento do cliente. Rahmadani et al. 2020, p. 03) explicam o quanto é
importante uma relação positiva entre um líder e os seus colaboradores:
O produto ou serviço oferecido pela empresa acabam, também, por refletir o sentido da
organização. O cliente passa a seguir o ideal da empresa tendo sempre atenção aos valores que a
empresa compartilha. O sentido que experimenta o cliente mostra e reflete o valor produzido pela
organização, pois cada serviço ou produto é um reflexo fiel do propósito da organização.
(PATTAKOS, 2005)
Quando se fala de uma identidade e de uma cultura organizacional, não é possível, como
que fazendo uma analogia, compreender a organização enquanto uma comunidade ou um
organismo vivo? Portanto, dotado de uma “personalidade” e de necessidades espirituais? Aqui
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julga-se necessário destacar este sentido. Costa, Araújo e Ferreira (2021, p. 21) apresentam a
seguinte definição sobre cultura organizacional:
O paralelo proposto parece ter a sua lógica na medida em que são encaradas as
organizações enquanto um autêntico fenômeno humano, oriundo do entrelaçamento das
existências que a conformam, não apenas como uma soma de indivíduos, mas na conformação
de um todo significativo com uma dinâmica muito própria.
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stakeholders, instintivamente, sentirão que fazem parte de um todo significativo e a organização
cresce em sinergia e coesão. (PATTAKOS, 2005) Nesse sentido, o líder é aquele que tem,
especialmente, condições de estabelecer e promover contextos favoráveis, ou não, a vivências de
sentido em uma organização. São os gestores os que têm mais possibilidades de tomar decisões
e iniciar mudanças que venham a incidir diretamente no cotidiano da organização.
Quando os dirigentes de uma empresa põem a alma no trabalho, o efeito expansivo pode
ser explosivo. Quando a direção da empresa se compromete com o sentido, seus
empregados podem encontrá-lo com mais facilidade. Mas nem sempre é assim, sem
dúvida que quando a gerência não manifesta interesse pelos valores, resulta mais difícil
honrar o sentido do trabalho. (PATTAKOS, 2005, p. 07)
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precisarão ser atualizadas, e que, para além de habilidades técnicas-tecnológicas, grifa-se a
importância de capacidades interrelacionais como empatia e escuta ativa.
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Logo, para Frankl (2011), nossos esforços sempre se dirigem para o passado: nós nunca
atuamos sobre um futuro, mas sobre aquilo que desejamos conservar como realidades eternas em
nosso passado. O sentido, por sua vez, só pode ser entendido como atualidade, realidade em
execução, vivido na irrepetibilidade de cada situação. Nesse casso, podem se definir valores
como aqueles universais de sentido, que se cristalizaram nas situações típicas que a sociedade
tem de enfrentar. Quando se há vivências de sentido, tais experiências se cristalizam e se
depositam como valores no “celeiro do passado”, passando a configurar-nos enquanto SER.
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que potencializa a experiência humana. Como afirma Penna, (apud ORTIZ et al, 2018, p. 33) “as
organizações que dedicam recursos a criação de sentido no trabalho podem proporcionar um
aumento de 55% na motivação, de 42% na lealdade, de 32% no orgulho e de 20% na
produtividade”. Por fim, Hindi e Frenkel (2022), em seus estudos, chegaram à conclusão de que
a produtividade das empresas que potencializam o sentido do trabalho de forma colaborativa
aumenta, em média 54%, em comparação com as empresas que não agem dessa maneira. Os
autores reforçam que essa atividade de colaboração agrega valor significativo ao aumentar o
desempenho da empresa.
3 METODOLOGIA
A fim de conhecer as possíveis contribuições da Logoterapia e Análise Existencial ao
contexto do trabalho e das organizações, foi realizada uma pesquisa de revisão bibliográfica
narrativa dentro de uma abordagem qualitativa. “A pesquisa bibliográfica tem a finalidade de
recolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas existentes sobre determinado
assunto”. (GERHARDT; SILVEIRA, apud MOREIRA; MENEGAT, 2022, p.25)
Nesse sentido, buscou-se aprimorar, atualizar e contribuir com o conhecimento acerca da
temática em tela, analisando textos de obras já publicadas, artigos ou livros e teses de Doutorado.
As revisões narrativas, ainda que não sigam protocolos sistematizados de busca e seleção de
textos, são consideradas essenciais para o debate de determinadas temáticas, abrindo
possibilidades de futuras abordagens, e colaborando para a atualização do conhecimento.
(SILVA, 2019)
A revisão foi realizada de forma não sistemática no período de dezembro de 2022 a
janeiro de 2023. As buscas se basearam no objetivo da pesquisa, buscando textos de autores que
estudam as seguintes temáticas: Logoterapia, Análise Existencial, Liderança, Sentido de Vida,
Qualidade de Vida, Cultura Organizacional e Colaboração no Trabalho. Foram selecionadas
obras que apresentavam efetiva referência à temática abordada no trabalho, bem como de autores
provindos do mesmo viés teóricos e, também, de outros vieses teóricos que destacam o tema em
tela. A busca bibliográfica foi realizada nas bases de dados Google Acadêmico e de periódicos
científicos classificados, prioritariamente, com o índice Qualis A1 ou A2, complementada com
uma busca ativa nas listas de referências dos trabalhos selecionados. Durante a busca destacaram-
se obras do próprio fundador da Logoterapia, Viktor Frankl, além de autores como Alex Pattakos
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(2005), Ivo Pereira (2017), Efrén Martinez Ortiz et al (2018), García-Alandete et al. (2018),
Rahmadani et al. (2020), Sisodia e Gelb (2020), Davidescu et al. (2020), Costa et al. (2021),
Parker (2022) e Cancian et al. (2023).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O discurso da Logoterapia aplicada à questão do trabalho e das organizações
necessariamente se relaciona com a reivindicação de se propor organizações mais humanas. A
partir do pensamento de Frankl, entende-se que isso se daria nas empresas na medida em que se
tomasse o humano como aspecto central de cuidado, valorização, reconhecimento e
desenvolvimento. Os esforços dos líderes e gestores se voltariam a promoção de relações de
trabalho mais saudáveis e potencializadoras de desenvolvimento. A antiga máxima de que
pessoas felizes fazem uma empresa feliz, e vice-versa, se atualiza na medida em que se entende
que organizações que valorizam as pessoas, seus sentidos e propósitos, colhem como fruto valor,
engajamento e desempenho oferecidos.
Esta pesquisa ressalta que a busca de construir sentido nas organizações não é, no entanto,
algo fácil a se realizar, sobretudo por estarmos falando de um contexto no qual, ainda, parecem
predominar lógicas e dinâmicas que, caracteristicamente, tendem a reduzir a existência das
organizações a fins de produção e lucro. Quando o aspecto financeiro é o único que define o
sentido de uma empresa, desaparecem as decisões éticas, o que despotencializa a possibilidade
de se realizar sentido. Por outro lado, quando a força motriz do processo de decisão passa do
dinheiro as pessoas, se expande a possibilidade de criação de um ecossistema favorável ao
sentido.
Desse modo, a pesquisa identificou que os argumentos apresentados pelos autores da
Análise Existencial e Logoterapia reforçam, incrementam e vão ao encontro daquilo que tem se
falado e defendido em perspectivas atuais de gestão: a importância de transformar a organizações
em locais mais humanos e éticos, capazes de ajudar o mundo e a nós mesmos. E isso tudo conflui
para modelos gerenciais que prezam e que investem em formas de favorecerem relações e
experiências plenas de sentido em suas organizações.
Por fim, este estudo considera que o futuro do trabalho pode ser projetado para produzir
melhores resultados, e são as decisões políticas, o encaminhamento dos negócios e dos
investimentos, todos alinhados com as tomadas de decisão que os líderes tomam hoje que
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determinarão os resultados e o futuro panorama de ação. A esse respeito, espera-se que este artigo
científico contribua para uma agenda ambiciosa de várias partes interessadas para melhor
preparar trabalhadores, empresas, governos, educadores e sociedade civil para as disrupções
futuras e capacitá-los a agir nessas mudanças sociais, ambientais e sociais sempre levando em
consideração o sentido do trabalho para todos os agentes envolvidos.
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