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Caro aluno

O Hexag Medicina é, desde 2010, referência na preparação pré-vestibular de candidatos às melhores universidades do Brasil.
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siva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado.
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Fixação: exercícios de múltipla escolha que apresentam um grau de dificuldade médio, buscando a consolidação do aprendizado.
Complementar: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade.
Dissertativo: exercícios dissertativos seguindo a forma da segunda fase dos principais vestibulares do Brasil.
Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano, preparando o aluno para esse tipo de exame.
Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios de múltipla escolha das universidades públicas de São Paulo.
Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios dissertativos da segunda fase das universidades públicas de São Paulo.
Uerj (exame de qualificação): exercícios de múltipla escolha que possibilitam a consolidação do aprendizado para o vestibular da Uerj.
Uerj (exame discursivo): exercícios dissertativos que possibilitam a consolidação do aprendizado para o vestibular da Uerj.
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á-lo a diagnosticar em quais assuntos você encontra mais dificuldade. Essa é uma inovação do material didático. Sempre moderno e
completo, trata-se de um grande aliado para seu sucesso nos vestibulares.
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SUMÁRIO

ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA5
AULAS 9 E 10: ADVÉRBIOS 006
AULAS 11 E 12: PRONOMES PESSOAIS 027
AULAS 13 E 14: PRONOMES DEMONSTRATIVOS E POSSESSIVOS 044
AULAS 15 E 16: PRONOMES RELATIVOS, INTERROGATIVOS E INDEFINIDOS 056

LITERATURA67
AULAS 9 E 10: GREGÓRIO DE MATOS E PADRE ANTONIO VIEIRA 068
AULAS 11 E 12: ESTÉTICA NEOCLÁSSICA: O ARCADISMO 077
AULAS 13 E 14: ESTÉTICA ROMÂNTICA: PROSA PORTUGUESA 088
AULAS 15 E 16: ESTÉTICA ROMÂNTICA: PROSA BRASILEIRA 098
ENTRE
LETRAS

2
CADERNO
DE E.O.
GRAMÁTICA
LC ADVÉRBIOS

AULAS
9 E 10 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1e8 1, 2, 3 e 27

E.O. Aprendizagem IV. “... queremos viver muito e, de preferência, para


sempre jovens?” (ref. 2) – A locução adverbial sugere
que a vida longa será também de qualidade.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Apresentam afirmações corretas as alternativas
PARA SEMPRE JOVEM
a) I e II apenas.
Recentemente, vi na televisão a propaganda de um jipe que saltava b) III e IV apenas.
obstáculos como se fosse um cavalo de corrida. Já tinha visto esse
c) I, II e III apenas.
comercial, mas comecei a prestar atenção na letra da música, so-
ando forte e repetindo a estrofe de uma canção muito conhecida, d) I, II, III e IV.
“forever Young... I wanna live forever and Young...” (para sempre TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
jovem... quero viver para sempre e jovem). 1Será que, realmente,
2
queremos viver muito e, de preferência, para sempre jovens? (...) Morre Steve Jobs, fundador da Apple e revolucionário
O crescimento da população idosa nos países desenvolvidos é da Tecnologia
uma bomba-relógio que já começa a implodir os sistemas pre-
videnciários, despreparados para amparar populações com uma
média de vida em torno de 140 anos. A velhice se tornou uma
epidemia incontrolável nos países desenvolvidos. Sustentar a
população idosa sobrecarrega os jovens, cada vez em menor nú-
mero, pois, nesses países, há também um declínio da natalidade.
Será isso socialmente justo?
Uma pessoa muito longeva consome uma quantidade total de
alimentos muito maior do que as outras, o que contribui para
esgotar mais rapidamente os recursos finitos do planeta 3e agra-
var ainda mais os desequilíbrios sociais. Para que uns poucos À frente da empresa que criou, o executivo foi o res-
possam viver muito, outros 4terão de passar fome. Será que, em ponsável pelo lançamento de aparelhos que mudaram o
um futuro breve, teremos uma guerra de extermínio aos idosos, mundo, como o iPad, o iPhone e o Macintosh.
como na ficção do escritor argentino Bioy Casares, O diário da O Estado de S. Paulo
guerra do porco? Seria uma guerra justa? /.../
CUPERTINO – Morreu, aos 56 anos, Steve Jobs, cofundador
TEIXEIRA, João. Para sempre jovens. In: Revista Filosofia: da Apple. Ele havia renunciado à presidência da empresa em
ciência & vida. Ano VII, n. 92, março-2014, p. 54. agosto, após 14 anos no comando. “Estamos profundamente
entristecidos com o anúncio de que Steve Jobs morreu hoje”,
1. (Epcar (Afa) 2017) Elementos de modalização são
informou a empresa, em um pequeno comunicado. “O brilho,
responsáveis por expressar intenções e pontos de vis-
paixão e energia de Steve são fontes de inúmeras inovações que
ta do enunciador. Por intermédio deles, o enunciador
enriqueceram e melhoraram todas as nossas vidas. O mundo é
inscreve no texto seus julgamentos e opiniões sobre o
imensuravelmente melhor por causa de Steve.”
conteúdo, fornecendo ao interlocutor “pistas” de reco-
nhecimento do efeito de sentido que pretende produzir. Jobs foi responsável por lançamentos de equipamentos que mu-
daram o mundo, como o Macintosh, o iPod, o iPhone e o iPad.
Observe os elementos de modalização destacados nos Ele sofreu por anos de uma forma rara de câncer pancreático e
excertos e as respectivas análises. passou por um transplante de fígado.
I. “... e agravar ainda mais os desequilíbrios sociais.” (...)
(ref. 3) – O advérbio destacado ratifica a ideia de que a
Em 2004, Jobs foi submetido a uma cirurgia para tratamento de
situação que já é caótica vai piorar.
câncer no pâncreas. Cinco anos mais tarde, precisou realizar um
 VOLUME 2

II. “... terão de passar fome.” (ref. 4) – O verbo auxiliar transplante de fígado. Os dois procedimentos são complicadíssi-
utilizado ressalta a total falta de saída para os jovens. mos e de elevado risco para a vida do paciente.
III. “Será que, realmente, queremos viver muito...” (ref. (http://economia.estadao.com.br/noticias/negocos%20tecnologa,morre-
1) – O advérbio utilizado reforça o questionamento so- steve-jobs-fundador-da-apple-e revolucionario-da-tecnologia,87094,0.
bre o desejo de viver muito, presente no senso comum. htm e www.geekaco.com/apple-steve-jobs. Acessado em 10/10/11.)

6  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


2. (G1 - ifal) Na frase: “Estamos profundamente entriste- Digo “Pois não!”.
cidos com o anúncio de que Steve Jobs morreu hoje”, te- E, entre o Sim e o Não,
mos o advérbio de tempo hoje, que pode ser mudado de O Pois Sim e o Pois não,
posição sem alterar o sentido da frase. Indique a alternati- Eu me mantenho
va em que essa mudança não interfere no entendimento. Na contramão.
a) Estamos profundamente entristecidos com hoje o Veja. São Paulo. 26 out. 2005. p. 29
anúncio de que Steve Jobs morreu.
b) Hoje estamos profundamente entristecidos com o Texto 2 - Depois de brincar de referendo...
anúncio de que Steve Jobs morreu. É hora de falar sério
c) Estamos hoje profundamente entristecidos com o
Ganhe o NÃO ou ganhe o SIM, o problema do crime no Brasil vai
anúncio de que Steve Jobs morreu. continuar do mesmo tamanho. Durante quase um mês as autorida-
d) Estamos profundamente entristecidos hoje com o des submeteram o país à propaganda eleitoral de uma questão so-
anúncio de que Steve Jobs morreu. bre a qual a opinião das pessoas, por mais bem-intencionadas, não
e) Estamos profundamente entristecidos com o anún- tem o menor poder. O referendo das armas vai ser lembrado como
cio de que hoje Steve Jobs morreu. um daqueles momentos em que um país entra em transe emocional
e algumas pessoas se convencem de que basta uma torcida muito
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
forte para que se produza um resultado positivo para a sociedade.
CAPÍTULO CII - DE CASADA Em finais de Copa do Mundo essa mobilização é muito apropriada.
O referendo das armas no Brasil tem algo dessa ilusão coletiva de
Imagina um relógio que só tivesse pêndulo, sem mostrador, de que se pode vencer um inimigo poderoso, o crime violento, apenas
maneira que não se vissem as horas escritas. O pêndulo iria de pela repetição de mantras e mediante sinais feitos com as mãos imi-
um lado para outro, mas nenhum sinal externo mostraria a mar- tando o voo da pomba branca da paz. Infelizmente a vida real exige
cha do tempo. Tal foi aquela semana da Tijuca. mais do que boas intenções para seguir o vetor do progresso social.
5
De quando em quando, 1tornávamos ao passado e 2divertíamo- Ganhe o SIM ou o NÃO na proposta de proibir a comercialização
-nos em relembrar as nossas tristezas e calamidades, mas isso de armas, continuará intacto e movimentado o principal cami-
mesmo era um modo de não sairmos de nós. Assim 6vivemos nho que elas percorrem das forjas do metal até as mãos dos
novamente a nossa longa espera de namorados, os anos da ado- bandidos. Esse caminho é a corrupção policial. Se quisesse efe-
lescência, a denúncia 3que está nos primeiros capítulos, e ríamos tivamente diminuir o número de armas em circulação o governo
de José Dias 4que conspirou a nossa desunião, e acabou feste- deveria ter optado por agir silenciosa e drasticamente dentro das
jando o nosso consórcio. organizações policiais. São conhecidos os expedientes usados
por policiais corruptos que deixam as armas escaparem para as
Machado de Assis, Dom Casmurro
mãos dos bandidos em troca de dinheiro.
3. (Mackenzie) “Imagina um relógio que só tivesse pên- O caminho mais comum é a simples venda para os bandidos de
dulo, sem mostrador, de maneira que não se vissem as armas ilegais apreendidas em operações policiais. A apreensão
horas escritas. O pêndulo iria de um lado para outro, não é reportada ao comando policial e, em lugar de serem enca-
mas nenhum sinal externo mostraria a marcha do tem- minhadas para destruição, elas são vendidas aos bandidos. É fre-
po. Tal foi aquela semana da Tijuca.” quente criminosos serem soltos em troca de deixarem a arma com
Considerado o parágrafo transcrito, é CORRETO afirmar: policiais. O MESMO vale para cidadãos pegos com armas ilegais
ou sem licença para o porte. Eles são liberados pagando como pe-
a) A forma verbal no imperativo indica que o narrador dágio a arma que portavam. Policiais corruptos também simulam
se dirige ao leitor tratando-o por “vós”. o roubo, furto ou até a perda da arma oficial. Depois raspam sua
b) A expressão “de maneira que” expressa, no con- numeração e a vendem. A corporação cuida de entregar-lhes uma
texto, ideia de finalidade. nova, que pode vir a ter o MESMO destino. Enquanto esse tráfico
c) Em “de maneira que não se vissem as horas escritas”, não for interrompido, podem ser organizados milhares de referen-
se o verbo “ ver” fosse substituído por “poder ver”, a dos e o problema do crime continuará do MESMO tamanho.
correção gramatical exigiria a forma “pudesse ver”. Shelp, Diogo. Veja. São Paulo. 26 out. 2005. p. 62
d) Se o segundo período fosse iniciado com “Nenhum
sinal externo”, para que se mantivesse o sentido ori- 4. (Pucsp) De acordo com o discurso gramatical tradi-
ginal, a conjunção a ser empregada seria “porém”. cional, advérbio é palavra invariável que expressa cir-
e) Em “TAL foi aquela semana da Tijuca”, o termo cunstância e incide sobre verbos, adjetivos e até mesmo
destacado é um advérbio. advérbios. No entanto, extrapolando esse discurso, sabe-
-se que, como modalizador, em vez de exprimir uma cir-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO cunstância (tempo, lugar, intensidade etc.) relacionada a
um verbo, advérbio ou adjetivo, o advérbio pode revelar
Texto 1 - Poemeu
 VOLUME 2

estados psicológicos do enunciador. Isso se vê em:


(Millôr Fernandes) a) “[...] basta uma torcida MUITO forte para que se
Pedem-me um Não, produza um resultado positivo para a sociedade.”
Digo “Pois sim!”, b) “INFELIZMENTE a vida real exige mais do que boas
Exigem um Sim, intenções para seguir o vetor do progresso social.”

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  7


c) “o governo deveria ter optado por agir SILENCIOSA lidade. 19Nas minhas idas (nem tantas) ao exterior, onde convivi
E DRASTICAMENTE dentro das organizações policiais.” sobretudo com escritores ou professores e estudantes universitá-
d) “A apreensão NÃO é reportada ao comando policial rios - portanto, gente razoavelmente culta -, fui invariavelmente
[...]” surpreendida com a profunda ignorância a respeito de quem,
e) “DEPOIS raspam sua numeração e a vendem.” como e o que somos.
5
- A senhora é brasileira?- comentaram espantados alunos de
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO uma universidade americana famosa. - Mas a senhora é loira!
Texto 1
13
Depois de ler num congresso de escritores em Amsterdam um
trecho de um dos meus romances traduzido em inglês, 17ouvi de
Padre Anselmo olhou 5com tristeza as mulheres ajoelhadas à sua um senhor elegante, dono de um antiquário famoso, que segu-
frente. 2Ia começar a missa e 1sentia-se 6extremamente cansa- rou comovido minhas duas mãos:
do. Onde aquela piedade com que 3celebrava nos seus tempos 7
- Que maravilha! 23Nunca imaginei que no Brasil houvesse pes-
7
de jovem sacerdote, preocupado com a salvação das almas? As soas cultas!
coisas 4haviam mudado. Discutiam-se os novos ritos, as novas 21
Pior ainda, no Canadá alguém exclamou incrédulo:
fórmulas. (...) Sentia-se tímido, vencido, olhando para os fiéis,
pronunciando palavras na língua que falava em casa, 8na rua. A
6
- Escritora brasileira? 22Ué, mas no Brasil existem editoras?
mesma língua dos bêbedos, dos vagabundos, das meretrizes. De 1
A culminância foi a observação de uma crítica berlinense, num
todos. Benzeu-se 9instintivamente: artigo sobre um romance meu editado por lá, acrescentando, a al-
guns elogios, a grave restrição: “porém 8não parece um livro brasi-
- Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo. Amém.
leiro, pois não fala nem de plantas nem de índios nem de bichos”.
BEZERRA, João Clímaco. A vinha dos esquecidos. 12
Diante dos três poemas sobre o Brasil, esquisitos para qual-
Fortaleza: UFC, 2005. p.32-33.
quer brasileiro, 24pensei mais uma vez que 4esse desconheci-
Texto 2 mento não se deve apenas à natural (ou inatural) alienação
estrangeira quanto ao geograficamente fora de seus interesses,
11
Dissertar sobre uma literatura estrangeira supõe, entre muitas, mas também a culpa é nossa. 2Pois o que mais exportamos de
o conhecimento de duas coisas primordiais: ideias gerais sobre nós é o exótico e o folclórico.
literatura e compreensão fácil do idioma desse povo estrangeiro. 15
Em uma feira do livro de Frankfurt, no espaço brasileiro, o que
10
Eu cheguei a entender perfeitamente a língua da Bruzundanga, se via eram livros (não muito bem arrumados), muita caipirinha
isto é, a língua falada pela gente instruída e a escrita por muitos na mesa, e televisões mostrando carnaval, futebol, praia e... mato.
escritores que julguei excelentes; mas aquela em que escreviam
os literatos importantes, solenes, respeitados, nunca consegui
16
E eu, mulher essencialmente urbana, escritora das geografias
entender, porque redigem eles as suas obras, ou antes, os seus interiores de meus personagens neuróticos, 9me senti tão deslo-
livros, em outra muito diferente da usual, outra essa que conside- cada quanto um macaco em uma loja de cristais.
ram como sendo a verdadeira, a lídima, justificando isso por ter 10
Mesmo que tentasse explicar, ninguém acreditaria que eu era
feição antiga de dois séculos ou três. Quanto mais incompreensí- tão brasileira quanto qualquer negra de origem africana venden-
vel é ela, mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que do acarajé nas ruas de Salvador. Porque o Brasil é tudo isso.
não lhe entenderam o escrito. E nem a cor de meu cabelo e olhos, nem meu sobrenome, nem os
BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. Fortaleza: UFC, 2004. p.7. livros que li na infância, 18nem o idioma que falei naquele tempo
além do português, 20me fazem menos nascida e vivida nesta
5. (Ufc) No texto 1, o advérbio ou a locução adverbial terra de tão surpreendentes misturas: imensa, desaproveitada,
que modifica um adjetivo é: instigante e (por que ter medo da palavra?) maravilhosa.
a)com tristeza (ref. 5) (LUFT, Lya. Pensar e transgredir. Rio de
Janeiro: Record, 2005, p. 49-51.)
b)extremamente (ref. 6)
c)de jovem sacerdote (ref. 7) 6. (G1 - cftmg) Todas as palavras destacadas são morfo-
d)na rua (ref. 8) logicamente classificadas como advérbio, EXCETO:
e)instintivamente (ref.9) a) “(...) uma floresta muito POUCO real (...)” (ref. 14)
b) “E, eu, mulher ESSENCIALMENTE urbana (...)” (ref. 16)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
c) “Pior ainda, no CANADÁ alguém exclamou incré-
NÓS, OS BRASILEIROS dulo (...)” (ref. 21)
d) “Pois o que MAIS exportamos de nós é o exótico e
Uma editora europeia me pede que traduza poemas de autores o folclórico (...)” (ref. 2)
estrangeiros sobre o Brasil.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Como sempre, 14eles falam da floresta amazônica, uma floresta
muito pouco real, aliás. Um bosque poético, com 3”mulheres de
 VOLUME 2

PASSO NO RUMO CERTO


corpos alvíssimos espreitando entre os troncos das árvores, e olhos
de serpentes hirtas acariciando esses corpos como dedos amoro- Na semana passada, a claque convocada para a inauguração de
sos”. Não faltam flores azuis, rios cristalinos e tigres mágicos. um aeroporto na cidade mineira de Uberlândia ouviu de Lula a
11
Traduzo os poemas por dever de ofício, mas com uma secreta seguinte frase: “Quero dizer que a crise é extremamente grave.
- e nunca realizada - vontade de inserir ali um grãozinho de rea- Em horas de crise é preciso ter muita paciência para não tomar

8  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


decisão precipitada, não se deixar levar pelo estado emocional, os primeiros a dizer “esqueçam tudo o que escrevi”, se estives-
mas, sim, pela razão”. Embora o presidente já tenha se manifes- sem vivos. Na época não existia internet nem computadores, o
tado a respeito da difícil situação política em diversas ocasiões mundo era totalmente diferente. Eles ficariam chocados se sou-
(não raro para negar a sua realidade, como se tudo não passasse bessem que nossos alunos são impedidos de observar o mundo
de uma alucinação coletiva promovida por prestidigitadores da que os cerca e obrigados a ler teoria escrita 200 ou 2000 anos
elite, mas deixemos isso de lado), foi a primeira vez que ele uniu atrás - o que leva os jovens de hoje a se sentir alienados, confu-
à palavra “crise” um advérbio de intensidade, “extremamente”, sos e sem respostas coerentes para explicar a realidade.
e um adjetivo grandiloquente, “grave”. O encadeamento de Não que eu seja contra livros, muito pelo contrário. Sou a favor
tais termos permite supor que Lula finalmente (no que pode ser de observar primeiro, ler depois. Os livros, se forem bons, confir-
considerado um advérbio de alívio) reconheceu a existência da marão o que você já suspeitava. Ou porão tudo em ordem, de
fissura ética, política e criminosa que há mais de 100 dias se forma esclarecedora. Existem livros antigos maravilhosos, com
aprofunda mais e mais, levando o governo de cambulhada. fatos que não podem ser esquecidos, mas precisam ser dosados
Nessa hipótese, e não se quer aqui evocar o doutor Pangloss, com o aprendizado da observação.
aquele personagem de Voltaire para quem todos vivíamos no Ensinar a observar deveria ser a tarefa número 1 da educação.
melhor dos mundos, é uma ótima notícia o presidente ter ad- Quase metade das grandes descobertas científicas surgiu não da
mitido que o horizonte anda carregado. Pelo simples motivo de lógica, do raciocínio ou do uso de teoria, mas da simples observa-
que, para sanar um problema, qualquer que seja ele, é preciso ção, auxiliada talvez por novos instrumentos, como o telescópio,
antes de mais nada reconhecer sua existência. Caberia agora a o microscópio, o tomógrafo, ou pelo uso de novos algoritmos
Lula contribuir para que a resolução da crise seja efetiva, não matemáticos. Se você tem dificuldade de raciocínio, talvez seja
deixando margem à impressão olfativa de que tudo terminará porque não aprendeu a observar direito, e seu problema nada
em pizza. O presidente volta e meia afirma que não tem como tem a ver com sua cabeça.
interferir no andamento das investigações e das punições. Não é Ensinar a observar não é fácil. Primeiro você precisa eliminar os
verdade. Pelo peso de seu cargo, e sem extrapolar suas atribui- preconceitos, ou pré-conceitos, que são a carga de atitudes e
ções constitucionais, Lula pode, sim, proceder a que corrompidos visões incorretas que alguns nos ensinam e nos impedem de en-
e corrompedores, no Legislativo e no Executivo, sintam na carne xergar o verdadeiro mundo. Há tanta coisa que é escrita hoje
e na biografia que não sairão impunes dos crimes de desvio de simplesmente para defender os interesses do autor ou grupo que
dinheiro público, formação de quadrilha e tráfico de influência. dissemina essa ideia, o que é assustador. Se você quer ter uma
Ao empenhar-se com afinco nesse objetivo, movido pela razão visão independente, aprenda correndo a observar você mesmo.
e sem emocionalismos, o presidente prestaria ao mesmo tempo Quantas vezes não participamos de uma reunião e alguém diz
um grande serviço ao Brasil e a si próprio. “vamos parar de discutir”, no sentido de pensar e tentar “ver” o
(VEJA, Editorial, 07 jul. 2005.) problema de outro ângulo? Quantas vezes a gente simplesmente
7. (Ufpr 2006) Ao fazer menção a um “advérbio de alí- não “enxerga” a questão? Se você realmente quiser ter ideias
vio”, o autor cria uma classificação de advérbio inexis- novas, ser criativo, ser inovador e ter uma opinião independente,
tente na gramática tradicional para um advérbio que aprimore primeiro os seus sentidos. Você estará no caminho certo
representa uma avaliação ou atitude do emissor do tex- para começar a pensar.
to, no caso uma atitude de alívio. Qual dos advérbios (Stephen Kanitz, Observar e pensar. Veja, 04.08.2004. Adaptado)
a seguir, em vez de modificar algum termo da oração,
8. (Fgv) O advérbio “não”, em uma frase do texto, é
denota uma avaliação ou atitude do emissor?
empregado de modo enfático, sem o sentido negativo
a) Além de provocar uma fissura ética, a crise com- que lhe é próprio.
prometerá gravemente a imagem do governo. Assinale a alternativa em que isso ocorre.
b) As atitudes presidenciais devem ser enérgicas para
que a crise seja cuidadosamente resolvida. a) Na época não existia internet nem computadores,
o mundo era totalmente diferente.
c) A fala do presidente mostra que ele agiu precipita-
b) Não que eu seja contra livros, muito pelo contrário.
damente e se deixou dominar pela emoção.
c) Quase metade das descobertas científicas surgiu
d) O presidente se demorou, infelizmente, a reconhe-
não da lógica [...], mas da simples observação.
cer a existência da crise.
d) Quantas vezes não participamos de uma reunião e
e) A crise política provém do fato de alguns políticos
alguém diz “vamos parar de discutir” [...]?
terem agido criminosamente.
e) Quantas vezes a gente simplesmente não “enxer-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ga” a questão?
O primeiro passo para aprender a pensar, curiosamente, é apren- TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
der a observar. Só que isso, infelizmente, não é ensinado. Hoje
nossos alunos são proibidos de observar o mundo, trancafiados TEXTO 1
que ficam numa sala de aula, estrategicamente colocada bem
 VOLUME 2

Valorizar o professor do ciclo básico


longe do dia e da realidade. Nossas escolas nos obrigam a es-
tudar mais os livros de antigamente do que a realidade que nos Como não sou perito em futurologia, devo limitar-me a fazer um
cerca. Observar, para muitos professores, significa ler o que os exercício de observação. Presto atenção ao que se passa na es-
grandes intelectuais do passado observaram - gente como Rous- cola hoje e suponho que, daqui a 25 anos, as tendências atuais
seau, Platão ou Keynes. Só que esses grandes pensadores seriam persistirão com maior ou menor intensidade. Provavelmente, o

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  9


analfabetismo dos adultos terá sido erradicado e o acesso à ins- A Universidade surgiu na civilização porque havia uma neces-
trução primária terá sido generalizado. sidade latente desses bens e legitimou-se pelo reconhecimen-
Tudo indica que a demanda continuará a crescer em relação ao to de sua importância para a humanidade.
ensino secundário e superior. Se os poderes públicos não inves- Portanto, ela nasceu e legitimou-se como instituição social
tirem sistematicamente na expansão desses dois níveis, a escola pública e não como negócio privado, como muitos agora a
média e a universidade serão, em grande parte, privatizadas. querem transformar, inclusive a OMC, contradizendo o pró-
A educação a distância será promovida tanto pelo Estado como prio Adam Smith, o patriarca da economia de mercado, como
pelas instituições particulares. Essa alteração no uso de espaços bem o indica a passagem acima epigrafada, retirada de “A
escolares tradicionais levará a resultados contraditórios. De um Riqueza das Nações”.
lado, aumentará o número de informações e instrumentos didá- As tecnologias podem ser “engenheiradas”, transformando-
ticos de alta precisão. De outro lado, a elaboração pessoal dos -se em produtos de mercado, mas o conhecimento que as ori-
dados e a sua crítica poderão sofrer com a falta de um diálogo ginou é uma conquista da humanidade e, portanto, um bem
sustentado face a face entre o professor e o aluno. público universal, como é o caso, por exemplo, das atividades
É preciso pensar, desde já, nesse desafio que significa aliar efici- do Instituto Politécnico de Zurique, de onde saiu Albert Eins-
ência técnica e profundidade ou densidade cultural. tein, e do laboratório Cavendish da Universidade de Cam-
O risco das avaliações sumárias, por meio de testes, crescerá, pois, bridge, onde se realizaram os experimentos que levaram a
os processos informáticos visam a poupar tempo e reduzir os cam- descobertas fundamentais da física, sem as quais não teriam
pos de ambiguidade e incerteza. Com isso, ficaria ainda mais raro sido possíveis as maravilhas tecnológicas do mundo moder-
o saber que duvida e interroga, esperando com paciência, até no, da lâmpada elétrica à internet. (...)
vislumbrar uma razão que não se esgote no simplismo do certo (SILVA, José M. A. Jornal da Ciência, 22/07/2003. Extraído
versus errado. Poderemos ter especialistas cada vez mais peritos de: http://www.jornaldaciencia.org.br, 15/07/2003.)
nas suas áreas e massas cada vez mais incapazes de entender o
9. (Ita) A única opção em que o advérbio em destaque
mundo que as rodeia. De todo modo, o futuro depende, em larga
indica o ponto de vista do autor é
escala, do que pensamos e fazemos no presente.
Uma coisa me parece certa: o professor do ciclo básico deve ser a) PROVAVELMENTE, o analfabetismo dos adultos
valorizado em termos de preparação e salário, caso contrário, os terá sido erradicado (...) (Texto 1).
mais belos planos ruirão como castelos de cartas. b) Se os poderes públicos não investirem SISTEMATICA-
MENTE na expansão desses dois níveis, (...) (Texto l,).
(BOSI, Alfredo. Caderno Sinapse. Folha de S. Paulo, 29/07/2003.)
c) Estes, por definição, são bens cujo usufruto é NE-
TEXTO 2 CESSARIAMENTE coletivo (...) (Texto 2).
d) (...) e não podem ser apropriados EXCLUSIVAMEN-
Diretrizes de salvação para a Universidade Pública
TE por ninguém (...) (Texto 2).
“... poder-se-ia alegar que não é muito bom o ensino das ma- e) (...) como é o caso da proteção contra vírus de
térias que se costuma lecionar nas universidades. Todavia, não computador, para citar um exemplo atual, embora
fossem essas instituições, tais matérias geralmente não teriam ainda não PLENAMENTE reconhecido. (Texto 2).
sido sequer ensinadas, e tanto o indivíduo como a sociedade so-
freriam muito com a falta delas...” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Adam Smith
CONTAS
(...) A grande característica distintiva de uma Universidade
pública reside na sua qualidade geradora de bens públicos. Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça
Estes, por definição, são bens cujo usufruto é necessariamen- dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas se limitava a
te coletivo e não podem ser apropriados exclusivamente por semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da
ninguém em particular. feira, desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro
Quanto ao grau de abrangência, os bens públicos podem ser ou assinar a orelha de um cabrito.
classificados em locais, nacionais ou universais. Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabe-
O corpo de bombeiros de uma cidade, por exemplo, é um ça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumi-
bem público local, o serviço da guarda costeira de um país é dos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do
um bem público nacional, ao passo que a proteção de áreas amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava,
ambientais importantes do planeta, como a Amazônia, deve rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos mingua-
ser vista como bem público universal, assim como qualquer dos, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não
outra atividade protetora de patrimônios da humanidade ou seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da
de segurança global, como é o caso da proteção contra vírus fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era
de computador, para citar um exemplo mais atual, embora bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, verme-
 VOLUME 2

ainda não plenamente reconhecido. lho, o pescoço inchado. De repente, estourava:


Incluem-se no elenco dos bens públicos as atividades relacio- - Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem
nadas à produção e transmissão da cultura, ao pensamento comer. Quem é do chão não se trepa.
filosófico e às investigações científicas não alinhadas com Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de
qualquer interesse econômico mais imediato. Fabiano. E quando não tinha mais nada para vender, o sertane-

10  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


jo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem.
hora das contas davam-lhe uma ninharia. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, ar- se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples
rependeu-se, enfim deixou a transação meio apalavrada e foi pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
consultar a mulher. Sinhá Vitória mandou os meninos para o O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, 2o
barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão bobo é um Dostoievski.
sementes de várias espécies, realizou somas e diminuições. No Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou
dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrige-
notou que as operações de Sinhá Vitória, como de costume, dife- rado de segunda mão: 3ele disse que o aparelho era novo, pratica-
riam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a mente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai
diferença era proveniente de juros. a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não fun-
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, ciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o apare-
lho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia
via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo.
comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é
Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se desco-
ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranquilo, enquanto o
briu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida assim no
esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto
toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito
vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode rece-
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o va-
ber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas
queiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase:
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era “Até tu, Brutus?”.
preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa, pedia desculpa.
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu
lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim, se- Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no
nhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até estranhara as O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem
contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), acre- passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda cria-
ditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra. ção, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo por bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em compensação os
bobos ganham a vida. 5Bem-aventurados os bobos porque sabem
o tijolo. Na porta, virando-se, enganchou as rosetas das esporas,
sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam
afastou-se tropeçando, os sapatões de couro cru batendo no
que eles sabem.
chão como cascos.(...)
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não con-
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 11ª ed. São
fundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por
Paulo: L. Martins, 1964. 159 p.
exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer
10. (Unirio 2004) “Aí Fabiano baixou a pancada e em Minas!
amunhecou.” Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das
Empregado em registro informal, num processo coesivo casas. É quase impossível evitar o excesso de amor que o bobo
interparágrafo, o advérbio destacado “Aí”, assume se- provoca. É que 6só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o
manticamente o valor de: amor faz o bobo.
a) concessão. LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível
em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/.
b) proporção. Acesso em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado
c) conformidade. no Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970.

d) consequência. 1. (Ime 2018) Na frase “só o bobo é capaz de excesso de


e) conclusão. amor” (referência 6), a semântica da palavra só, nesse
contexto,

E.O. Fixação a) estabelece comparação entre bobos e espertos e


funciona como adjetivo.
b) evidencia a solidão dos que são bobos num mundo
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
em que a quase totalidade das pessoas são espertas.
Das vantagens de ser bobo Funciona como adjetivo.
c) modifica o sentido do substantivo amor, sendo, por
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, isso, um advérbio.
ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase d) incide sobre o adjetivo capaz, intensificando essa
 VOLUME 2

sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz capacidade que apenas os bobos têm. Funciona, por-
alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”. tanto, como advérbio.
1
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os esper- e) tem valor restritivo quanto ao mundo dos que são
tos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem capazes de excesso de amor e funciona como um ad-
originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. vérbio que se refere à palavra bobo.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  11


2. (G1 - ifsp 2017) De acordo com a norma-padrão da Mas, sobretudo, não seja alguém que simplesmente passa pela
Língua Portuguesa e com a gramática normativa e tra- vida. Viva intensamente. Abrace o mundo com a devida paixão
dicional, assinale a alternativa em que o termo destaca- que ele merece. Se perder, faça-o com classe, se vencer, que de-
do tem valor de advérbio. lícia! O mundo pertence a quem se atreve a ser feliz. Aproveite
a) Não há meio mais difícil de trabalhar. cada instante dessa grande aventura.
b) Só preciso de meio metro de aniagem para sacos Agora mesmo, neste __________, sente-se confortavelmente na
de carvão. poltrona, com a coluna ereta e de olhos fechados. Faça vários ciclos
c) Encarou os meninos carvoeiros, esboçando meio de respiração profunda e sinta o ar entrando e saindo. Quando
sorriso. sentir seu corpo relaxado e sua mente mais calma, pense em sua
d) Os carvões caíram no meio da estrada. nova vida, mais leve. Desta maneira você viverá mais facilmente.
e) Achei o menino meio triste, raquítico. Fonte: Revista Gol – Linhas áreas inteligentes

3. (Espm 2017) Quando se perde o grau de investimen- 5. (G1 - ifsul) Sobre o título, são lançadas as seguintes
to, corre-se o risco de uma debandada dos capitais es- afirmações:
trangeiros, aí é preciso tomar medidas mais drásticas I. A palavra embarque é classificada gramaticalmente
do que se desejaria. como verbo e está acompanhada de um advérbio.
Joaquim Levy. II. O sentido conotativo está presente e sugere uma
O vocábulo grifado aí é: mudança de atitude do interlocutor.
III. O sentido figurado minimiza o tom apelativo e re-
a) advérbio, expressando a ideia de “nesse lugar”. sume a narrativa.
b) interjeição, traduzindo ideia de apoio, animação.
c) palavra expletiva (dispensável) ou de realce. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
d) advérbio, expressando ideia de conclusão “então”. a) I, II e III.
e) substantivo, traduzindo ideia de “por outro lado”. b) I e II apenas.
c) II apenas.
4. (Eear 2017) Em qual das alternativas abaixo o advér-
bio em destaque é classificado como advérbio de tempo? d) III apenas.

a) Não gosto de salada excessivamente temperada. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


b) Ele calmamente se trocou, estava com o uniforme
errado.
1
Hoje os conhecimentos se estruturam de modo 3fragmentado,
4
separado, 5compartimentado nas disciplinas. 8Essa situação
c) Aquela vaga na garagem do condomínio finalmente
impede uma visão global, uma visão fundamental e uma visão
será minha.
complexa. 13”Complexidade” vem da palavra latina complexus,
d) Provavelmente trocariam os móveis da casa após
que significa a compreensão dos elementos no seu conjunto.
a mudança.
As disciplinas costumam excluir tudo o que se encontra fora do
9
seu campo de especialização. A literatura, no entanto, é uma área
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
que se situa na inclusão de todas as dimensões humanas. Nada do
EMBARQUE IMEDIATO humano 10lhe é estranho, 6estrangeiro.
A literatura e o teatro são desenvolvidos como meios de ex-
Não basta passar pelos dias. Viva a partir de agora, com pressão, meios de conhecimento, meios de compreensão da
emoção 14
complexidade humana. Assim, podemos ver o primeiro modo
Por Márcia de Luca
de inclusão da literatura: a inclusão da 15complexidade humana.
Neste mundo de turbulências em que estamos vivendo, muitas E vamos ver ainda outras inclusões: a inclusão da personalidade
vezes nos sentimos deprimidos. Em certos momentos, parece que humana, a inclusão da subjetividade humana, e, também, muito
tudo está perdido, não é mesmo? Achamos que tudo está dife- importante, a inclusão; do estrangeiro, do marginalizado, do in-
rente, que as pessoas estão __________. feliz, de todos que ignoramos e desprezamos na vida cotidiana.
Mas aqui e agora, tome uma atitude firme em sua vida. Mude seu A inclusão da 16complexidade humana é necessária porque
jeito negativo de ser, evitando que sua vida seja insignificante. recebemos uma visão mutilada do humano. 11Essa visão, a de
Perdoe erros que você considerava imperdoáveis, troque as pesso- homo sapiens, é uma 17definição do homem pela razão; de homo
as insubstituíveis por gente mais leve e solta. O apego aos outros faber20, do homem como trabalhador; de homo economicus21,
está obsoleto. Nada nem ninguém é insubstituível. Aceite a decep- movido por lucros econômicos. Em resumo, trata-se de uma visão
ção que outros lhe causaram para que você também seja aceito. prosaica, mutilada, 12que esquece o principal22: a relação do sa-
Sim, porque todos, inclusive nós, já decepcionamos alguém. piens/demens, da razão com a demência, com a loucura.
Antes de reagir por impulso, pare, respire fundo. E, só então, Na literatura, encontra-se a inclusão dos problemas humanos
 VOLUME 2

aja, com equilíbrio. Ame profundamente, __________ risadas mais terríveis, coisas 18insuportáveis que nela se tornam supor-
gostosas, abrace, proteja pessoas queridas, faça amigos. Pule táveis. Harold Bloom escreve: 24”Todas as 25grandes obras reve-
de felicidade e não tenha medo de quebrar a cara – se isso lam a universalidade humana através de destinos singulares, de
acontecer, encare com leveza. Se perder alguém nesta vida, so- situações singulares, de épocas singulares”. É essa a razão por
fra comedidamente – e vá em frente, pois tudo passa. que as 19obras-primas atravessam 7séculos, sociedades e nações.

12  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


2
Agora chegamos à parte mais humana da inclusão: a inclusão ção — de que coisas boas acontecem a quem é bom e coisas
do outro para a compreensão humana. A compreensão nos tor- más acontecem a quem merece. 1A tendência a acreditar que o
na mais generosos com relação ao outro23, e o criminoso não é mundo é assim é chamada, na psicologia, de falácia do mundo
unicamente mais visto como criminoso, 26como o Raskolnikov de justo. “Não importa quão liberal ou conservador você seja, al-
Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla. guma noção dela entra na sua reação emocional quando ouve
A literatura, o teatro e o cinema são os melhores meios de com- sobre o sofrimento dos outros”, diz o jornalista David McRaney
preensão e de inclusão do outro. Mas a compreensão se torna no livro “Você não é tão esperto quanto pensa”. 4Ele acres-
centa que, embora muitas pessoas não acreditem consciente-
provisória, esquecemo-nos depois da leitura, da peça e do filme.
mente em carma, no fundo ainda acreditam em alguma versão
Então essa compreensão é que deveria ser introduzida e desen-
disso, adaptando o conceito para a sua própria cultura.
volvida em nossa vida pessoal e social, porque serviria para me-
lhorar as relações humanas, para melhorar a vida social. E dá para entender por que somos levados a pensar assim: viver
Adaptado de: MORIN, Edgar. A inclusão: verdade da
em um mundo injusto e imprevisível é meio assustador e queremos
literatura. In: RÕSING, Tânia et ai. Edgar
Morin: religando nos sentir seguros e no controle. 3O problema é que crer cegamente
fronteiras. Passo Fundo: UPF, 2004. p.13-18 nisso leva a ainda mais injustiças, como o julgamento de que pessoas
pobres ou viciadas em drogas são vagabundas [...], que mulher de
6. (Ufrgs) Considere as seguintes afirmações referentes roupa curta merece ser maltratada ou que programas sociais são um
às marcas de pessoa e de tempo no texto. desperdício de dinheiro e uma muleta para preguiçosos. Todas essas
I. O emprego de primeira pessoa do plural, em referência crenças são falaciosas porque partem do princípio de que o sistema
exclusiva ao autor, produz um efeito de neutralidade. em que vivemos é justo e cada um tem exatamente o que merece.
II. O emprego do advérbio Hoje (ref. 1) permite inferir 2
[...] a falácia do mundo justo desconsidera os inúmeros outros
que a argumentação proposta não é válida para todo e fatores que influenciam quão bem-sucedida a pessoa vai ser, como
qualquer tempo. o local onde ela nasceu, a situação socioeconômica da sua famí-
III. O advérbio Agora (ref. 2) sinaliza a progressão dos lia, os estímulos e situações pelas quais passou ao longo da vida
argumentos apresentados no texto. e o acaso. 5Programas sociais e ações afirmativas não rompem o
equilíbrio natural das coisas, como seus críticos podem crer — pelo
Quais estão corretas? contrário, a ideia é justamente minimizar os efeitos da injustiça
a) Apenas I. social. 6Uma pessoa extremamente pobre pode virar a dona de
b) Apenas II. uma empresa multimilionária, mas o esforço que vai ter de fazer
c) Apenas I e II. para chegar lá é muito maior do que o esforço de alguém nascido
d) Apenas II e III. em uma família rica que sempre teve acesso à melhor educação
e) I, II e III. e a bons contatos. “Se olhar os excluídos e se questionar por que
eles não conseguem sair da pobreza e ter um bom emprego como
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO você, está cometendo a falácia do mundo justo. Está ignorando as
bênçãos não merecidas da sua posição”, diz McRaney.
A falácia do mundo justo e a culpabilização das vítimas Em casos de abusos contra outras pessoas, como bullying ou estu-
Por Ana Carolina Prado pro, a injustiça é ainda maior, pois eles nunca são justificados — e
“É claro que o cara que estuprou é o culpado, mas as mulheres aí a falácia do mundo justo se mostra ainda mais perversa. Portan-
também ficam andando na rua de saia curta e em hora errada!”. to, toda vez que você se sentir movido a dizer coisas como “O estu-
“O hacker que roubou as fotos dessas celebridades nuas está prador é quem está errado, é claro, mas…”, pare por aí. O que vem
errado, mas ninguém mandou tirar as fotos!”. “Se você trabalhar depois do “mas” é quase sempre fruto de uma tendência a ver o
duro vai ser bem-sucedido, não importa quem você seja. Quem mundo de uma forma distorcida só para ele parecer menos injusto.
morreu pobre é porque não se esforçou o bastante.” Você sabe o Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs>.
que essas afirmações têm em comum? Acesso em: 02 set. 2014 (Adaptado)
Há algum tempo falei aqui sobre como os humanos têm di- 7. (G1 - cftmg) O advérbio destacado expressa uma ideia
versas formas de se enganar em relação à ideia que têm de si
de intensidade em:
mesmos, quase sempre para proteger sua autoestima ou para
saciar sua vontade de estar sempre certos. Mas nosso cérebro a) “O problema é que crer cegamente nisso leva a ainda
não nos engana só em relação a como vemos a nós mesmos: mais injustiças, como o julgamento de que pessoas po-
temos também a tendência de nos iludir em relação aos outros bres ou viciadas em drogas são vagabundas [...]”.(ref. 3)
e à vida em geral. E as frases acima exemplificam uma maneira b) “Programas sociais e ações afirmativas não rom-
como isso pode acontecer: por meio da falácia do mundo justo. pem o equilíbrio natural das coisas, como seus críticos
Por exemplo, embora os estupros raramente tenham qualquer coisa a podem crer — pelo contrário, a ideia é justamente
ver com o comportamento ou vestimenta da vítima e sejam normal- minimizar os efeitos da injustiça social.” (ref. 5)
mente cometidos por um conhecido e não por um estranho numa c) “Ele acrescenta que, embora muitas pessoas não
rua deserta, a maioria das campanhas de conscientização são vol- acreditem conscientemente em carma, no fundo ain-
tadas para as mulheres, não para os homens — e trazem a absurda da acreditam em alguma versão disso, adaptando o
 VOLUME 2

mensagem de “não faça algo que poderia levá-la a ser violentada”. conceito para a sua própria cultura”. (ref. 4)
Em um estudo sobre bullying feito em 2010 na Universidade d) “Uma pessoa extremamente pobre pode virar a dona
Linkoping, na Suécia, dos adolescentes culparam a vítima por de uma empresa multimilionária, mas o esforço que vai
ser “um alvo fácil”. Para os pesquisadores, esses julgamentos ter de fazer para chegar lá é muito maior do que o es-
estão relacionados à noção — amplamente difundida na fic- forço de alguém nascido em uma família rica...” (ref. 6)

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  13


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Indique a opção correta em relação ao enunciado.

A garagem de casa a) No enunciado, o advérbio “ali” aponta para os sintagmas


nominais “a garagem de casa” e “uma biblioteca pública”.
1
Com o portão enguiçado, e num 2convite a 3ladrões de livros, a b) O advérbio “ali”, no enunciado em pauta, retoma so-
4
garagem de casa lembra uma biblioteca pública permanente- mente o sintagma “uma biblioteca pública”.
mente aberta para a rua. 5Mas não são 6adeptos de literatura 7os
c) O “ali” refere-se a um lugar imaginário ideal, que
indivíduos que ali se abrigam da chuva ou do sol a pino de verão.
só existe na mente do enunciador.
8
Esses desocupados 9matam o tempo jogando porrinha, ou len-
do os jornais velhos que mamãe amontoa num canto, sentados d) O “ali” é um elemento de coesão no texto em estudo,
nos degraus do escadote com que ela alcança as prateleiras al- como o é também o pronome relativo “que”.
tas. 10Já quando fazem o obséquio de me liberar o espaço, de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
tempos em tempos entro para olhar as estantes onde há de tudo
um pouco, em boa parte remessas de editores estrangeiros que O som da época
têm apreço pelo meu pai. 11Num reduto de literatura tão sortida, Luís Fernando Veríssimo
como bem sabem os habitués de sebos, fascina a perspectiva 21
Desconfio de que ainda nos lembraremos 2destes anos como 5a
de por puro acaso dar com um livro bom. 12Ou by serendipity, época em que vivemos com o acompanhamento dos alarmes de
como dizem os ingleses quando na caça a um tesouro se tem a carro. Os alarmes de carro são a trilha sonora do nosso tempo8:
felicidade de deparar com outro bem, mais precioso ainda. Hoje o som da paranoia justificada.
revejo na mesma prateleira velhos conhecidos, algumas dezenas O alarme é o grito da nossa propriedade de que alguém está
de livros turcos, ou búlgaros ou húngaros, que papai é capaz de querendo tirá-la de nós. É o som 15mais desesperado que um ser
um dia querer destrinchar. Também continua em evidência o livro humano pode produzir – a palavra “socorro!” –, mecanizado,
do poeta romeno Eminescu, que papai ao menos 13tentou ler, padronizado e a todo volume. É 10“socorro!” acrescentado ao
como é fácil inferir das folhas cortadas a espátula. Há uma edi- vocabulário das coisas, como a buzina, a campainha, a música de
ção em alfabeto árabe das Mil e Uma Noites que ele não 14leu, elevador, o 11“ping” que 22avisa que o assado está pronto e todos
mas cujas ilustrações 15admirou longamente, como denunciam os “pings” do computador. Também é um som típico porque ten-
os filetes de cinzas na junção das suas páginas coloridas. Hoje ta compensar a carência mais típica 3da época9, a de segurança.
tenho experiência para saber quantas vezes meu pai 16leu um 7
Os carros pedem socorro porque a sua defesa natural 12– polícia
mesmo livro, posso quase medir quantos minutos ele se 17deteve por perto, boas fechaduras ou respeito de todo o mundo pelo
em cada página. 18E não costumo perder tempo com livros que que é dos outros – não funciona 16mais. 17Só 6lhes resta gritar.
ele nem sequer 19abriu, entre os quais uns poucos eleitos que
mamãe 20teve o capricho de empilhar numa ponta de prateleira, Também é o som da época porque é o som da intimidação. Sua
confiando numa futura redenção. Muitas vezes a vi de manhã- função principal é espantar e substituir todas as outras formas
zinha compadecida dos livros estatelados no escritório, com es- de dissuasão pelo simples terror do barulho. O som da época em
pecial carinho pelos que trazem a foto do autor na capa e que que 1os decibéis substituíram a razão.
papai despreza: parece disco de cantor de rádio. Como os ouvidos são13, de todos os canais dos sentidos, os mais
(Chico Buarque. O irmão alemão. 1 ed. São Paulo. Companhia das difíceis de proteger, foram os escolhidos pela insensibilidade mo-
letras. 2014. p. 60-61.Texto adaptado com o acréscimo do título.) derna para atacar nosso cérebro e apressar nossa imbecilização.
A obra O irmão alemão, último livro de Chico Buarque Pois são tempos literalmente do barulho.
de Holanda, tem como móvel da narrativa a existência O alarme contra roubo de carro também é próprio da época por-
de um desconhecido irmão alemão, fruto de uma aven- que, 18frequentemente, não funciona. 14Ou funciona quando não
tura amorosa que o pai dele, Sérgio Buarque de Holan- deve. 23Ouvem-se tantos alarmes a qualquer hora do dia ou da
da, tivera com uma alemã, lá pelo final da década de 30 noite porque, 19talvez influenciados pela paranoia generalizada,
do século passado. Exatamente quando Hitler ascende eles disparam sozinhos. 24Basta alguém se aproximar do carro
ao poder na Alemanha. Esse fato é real: o jornalista, com uma cara suspeita e eles começam a berrar.
historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, na 20
Decididamente, o som 4do nosso tempo.
época, solteiro, deixou esse filho na Alemanha. Na fa-
VERISSIMO, Luís Fernando. O som da época. Jornal
mília, no entanto, não se falava no assunto. Chico teve, Zero Hora, Porto Alegre, 29 set. 2011.
por acaso, conhecimento dessa aventura do pai em uma
reunião na casa de Manuel Bandeira, por comentário 9. (Unisinos) Assinale a única alternativa correta em re-
feito pelo próprio Bandeira. lação ao emprego de advérbios no texto.
Foi em torno da pretensa busca desse pretenso irmão a) O advérbio “mais” (ref. 15 e 16) expressa a mesma
que Chico Buarque desenvolveu sua narrativa ficcional, circunstância nas duas ocorrências no texto.
o seu romance. b) Com o emprego do advérbio “Só” (ref. 17), o autor
Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Silva: “o que o manifesta o sentido de insuficiência, isto é, o ato de
leitor tem em mãos [...] não é um relato histórico. Rea- gritar é considerado o mínimo que alguém pode fazer
 VOLUME 2

lidade e ficção estão aqui entranhadas numa narrativa diante da violação de seu patrimônio.
que embaralha sem cessar memória biográfica e ficção”. c) O advérbio de tempo “frequentemente” (ref. 18),
8. (Uece) Atente ao enunciado: “Mas não são adeptos embora seja sintaticamente acessório, desempenha um
de literatura os indivíduos que ali se abrigam da chu- papel importante no texto, porque relativiza a afirmação
va ou do sol a pino de verão”. (ref. 5) de que o alarme contra roubo de carro não funciona.

14  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


d) O advérbio “talvez” (ref. 19), por meio do qual o Texto II
autor faz uma afirmação não categórica, poderia ser
Não existe amor em SP*
posicionado no final da frase em que se encontra,
sem acarretar mudança de sentido. Não existe amor em SP
e) O advérbio “Decididamente” (ref. 20), que poderia Um labirinto místico
ser substituído por “De fato” ou “Definitivamente”, Onde os grafites gritam
exprime um menor grau de certeza. Não dá pra descrever
Numa linda frase
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
De um postal tão doce
Texto I cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Existe amor em São Paulo
Buquês são flores mortas
A maior criação do Brasil é a cidade de São Paulo, e calma por- Num lindo arranjo
que isso quem diz não sou eu, é o IBGE*. Arranjo lindo feito pra você
Da escala humana à escala financeira, São Paulo lidera. Mais de Não existe amor em SP
10% das riquezas produzidas no Brasil são produzidas nesta ci- Os bares estão cheios de almas tão vazias
dade. Que família do país não tem um parente trabalhando aqui? A ganância vibra, a vaidade excita
Se São Paulo não tem mar, São Paulo tem um mar de ideias. Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel
O planejamento do Brasil passa tanto pelas torres dos complexos Aqui ninguém vai pro céu
empresarias das avenidas Faria Lima e Berrini quanto pelos pré- (Criolo, disponível em http://www.vagalume.com.br/criolo/nao-
dios da Esplanada dos Ministérios. existe-amor-em-sp.html. Acesso em: 27.01.2012. Adaptado)

O novo ciclo de desenvolvimento do Brasil tem tudo a ver Na letra da música, a sigla SP refere-se à cidade de São
com a cidade. Seu supermundo financeiro faz a cidade evoluir
Paulo e não ao Estado.
sempre de pilha nova, com carga máxima, conectada pelas
antenas de seus 11 milhões de habitantes/seguidores. 10. (G1 - cps) Os advérbios de intensidade contribuem
São pouquíssimas as metrópoles do mundo que contam com para enfatizar a ideia expressa pelo(s) termo(s) a que
área tão extensa de massa cinzenta, com mistura tão completa eles se associam.
de profissionais competentes, cada vez mais especializados. Pensando nisso, assinale a alternativa cujos trechos em
É um ciclo virtuoso: os serviços de alta qualidade atraem tra- destaque comprovam o emprego desse tipo de advérbio.
balhadores de alta qualificação e remuneração, que buscam a) “A maior criação do Brasil é a cidade de São Pau-
mais serviços de ponta, como cultura, saúde, educação, luxo lo...”; “Não existe amor em SP”
e alta gastronomia, que por sua vez atrairão consumidores de b) “O planejamento do Brasil passa tanto pelas torres
outras cidades e países. dos complexos empresariais das avenidas...”; “Um
São Paulo hoje tem capital humano e capital financeiro para labirinto místico / onde os grafites gritam”
encubar qualquer empreendimento. Os galpões industriais que c) “Assim, quando as pessoas querem te ofender, elas
ficaram vazios com a transferência das indústrias da cidade para dizem...”; “Numa linda frase / de um postal tão doce”
outras regiões do Estado e do país são rapidamente reocupados d) “... em São Paulo o trabalho sempre foi muito valo-
por atividades criativas e comerciais. A relativa menor atividade rizado.”; “Os bares estão cheios de almas tão vazias”
industrial (porque a cidade segue potência fabril) foi compensa- e) “... prosperei como tantos outros migrantes e imi-
da pela maior atividade cultural, de feiras e de eventos.
grantes.”; “Aqui ninguém vai pro céu”
Não saí de Salvador para vir para São Paulo, mas acabei che-
gando à metrópole paulista e aqui me desenvolvi em pleni-
tude, prosperei como tantos outros migrantes e imigrantes.
Amo trabalhar e em São Paulo o trabalho sempre foi muito va-
E.O. Complementar
lorizado. Isso é fundamental, porque um dos grandes problemas TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
dessa sociedade tão demandada é o desrespeito ao trabalho.
Agora todo mundo tem opinião
Assim, quando as pessoas querem te ofender, elas dizem: “esse
cara só pensa em trabalho”. Quando querem ofender São Paulo, Meu amigo Adamastor, o gigante, me apareceu hoje de ma-
dizem a mesma bobagem: que a cidade só é boa para trabalhar. nhã, muito cedo, aqui na biblioteca, e disse que vinha a fim
de um cafezinho. 1Mentira, eu sei. 2Quando ele vem tomar um
Mas o que mais uma cidade precisa ser? Se ela é boa para cafezinho é porque está com alguma ideia borbulhando em
trabalhar, o resto será consequência. sua mente.
 VOLUME 2

(Nizan Guanaes, Folha de S. Paulo, 24.01.2012. Adaptado) E estava. 3Depois do primeiro gole e antes do segundo, café
muito quente, ele afirmou que concorda plenamente com a
* IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
democratização da informação. Agora, com o advento da inter-
net, qualquer pessoa, democraticamente, pode externar aquilo
que pensa.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  15


4
Balancei a cabeça, na demonstração de uma quase divergên- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
cia, e seu 5espanto também me espantou. Como assim, ele per-
(...)
guntou, está renegando a democracia6? Pedi com modos a meu
amigo que não 7embaralhasse as coisas. Democracia não é um As angústias dos brasileiros em relação ao português são de
termo 8divinatório, que se aplique sempre, em qualquer situação. duas ordens. Para uma parte da população, a que não teve aces-
so a uma boa escola e, mesmo assim, conseguiu galgar posições,
Ele tomou o segundo gole com certa avidez e 9queimou a língua.
o problema é sobretudo com a gramática. É esse o público que
Bem, voltando ao assunto, nada contra a democratização dos consome avidamente os fascículos e livros do professor Pasquale,
meios para que se divulguem as opiniões, as mais diversas, mais em que as regras básicas do idioma são apresentadas de forma
esdrúxulas, mais inovadoras, e tudo o mais. É um direito que toda clara e bem-humorada. Para o segmento que teve oportunida-
pessoa tem10: emitir opinião. de de estudar em bons colégios, a 1principal dificuldade é com
O que o Adamastor não sabia é que uns dias atrás andei con- clareza. É para satisfazer a essa demanda que um novo tipo de
sultando uns filósofos, alguns antigos, outros modernos, desses profissional surgiu: o professor de português especializado em
que tratam de um 11palavrão que sobrevive até os dias atuais: adestrar funcionários de empresas. Antigamente, os cursos dados
gnoseologia. Isso aí, para dizer teoria do conhecimento. no escritório eram de gramática básica e se destinavam princi-
Sim, e daí?12, ele insistiu. palmente a secretárias. De uns tempos para cá, eles passaram
a atender primordialmente gente de nível superior. Em geral, os
O mal que vejo, continuei, não está na 13enxurrada de opiniões as
professores que atuam em firmas são acadêmicos que fazem
mais isso ou aquilo na internet, e principalmente com a chegada
esse tipo de trabalho esporadicamente para ganhar um dinhei-
do Facebook. Isso sem contar a imensa quantidade de textos
14
apócrifos, muitas vezes até opostos ao pensamento do presu- ro extra. “É fascinante, porque deixamos de viver a teoria para
mido autor, falsamente presumido. A graça está no fato de que enfrentar a língua do mundo real”, diz Antônio Suárez Abreu,
todos, agora, têm opinião sobre tudo. livre-docente pela Universidade de São Paulo (...)
(JOÃO GABRIEL DE LIMA. “Falar e escrever, eis a questão”.
− Mas isso não é bom? VEJA, 7/11/2001, nº 1725)
O gigante15, depois da maldição de Netuno16, tornou-se um ser
2. (Ita) O adjetivo “principal” (ref. 1) permite inferir que
impaciente.
a clareza é apenas um elemento dentro de um conjunto
O fato, em si, não tem importância alguma. O problema é que de dificuldades, talvez o mais significativo. Semelhante
muita gente lê a enxurrada de bobagens que aparecem na internet inferência pode ser realizada pelos advérbios:
não como opinião, mas como conhecimento. O Platão, por exem-
plo, afirmava que opinião (doxa) era o falso conhecimento. O co- a) avidamente, principalmente, primordialmente.
nhecimento verdadeiro (episteme) depende de estudo profundo, b) sobretudo, avidamente, principalmente.
comprovação metódica, teste de validade. Essas coisas de que se c) avidamente, antigamente, principalmente.
vale em geral a ciência. d) sobretudo, principalmente, primordialmente.
e) principalmente, primordialmente, esporadicamente.
O mal que há nessa “democratização” dos veículos é que se for-
mam crenças sem fundamento, mudam-se as opiniões das pes- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
soas, afirmam-se absurdos em que muita pessoa ingênua acaba
acreditando. Sim, porque estudar, comprovar metodicamente, O PODER DA LITERATURA
José Castello
testar a validade, tudo isso dá muito trabalho.
O Adamastor não estava muito convencido da 17justeza dos 1
Em um século dominado pelo virtual e pelo instantâneo, que po-
meus argumentos, mas o café tinha terminado e ele se despediu. der resta à literatura? Ao contrário das imagens, que nos jogam
Texto de Menalton Braff, publicado em 03 de abril de 2015. para fora e para as superfícies, a literatura nos joga para dentro.
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/cultura/agora- Ao contrário da realidade virtual, que é compartilhada e se ba-
todo-mundo-tem-opiniao-7377.html>. Acesso em: 20 abr. 2015. seia na interação, 2a literatura é um ato solitário, nos aprisiona
1. (G1 - ifsul) Analise as afirmativas a seguir. na introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que vi-
vemos, dominado pelo “tempo real” e pela rapidez, a literatura
I. O advérbio agora presente no título do texto tem o
é lenta, é indiferente às pressões do tempo, ignora o imediato e
objetivo de contextualizar no tempo o assunto exposto,
as circunstâncias.
trazendo-o para a atualidade.
Vivemos em um mundo dominado pelas respostas enfáticas e
II. Ao utilizar o termo palavrão (ref.11), o autor chama poderosas, enquanto a literatura se limita a gaguejar perguntas
a atenção do leitor, que pode associá-lo tanto a algo frágeis e vagas. A literatura, portanto, parece caminhar na con-
obsceno como à dificuldade de sua pronúncia. tramão do contemporâneo. Enquanto o mundo se expande, se
III. Pelo contexto, pode-se concluir que o adjetivo apó- reproduz e acelera, 3a literatura contrai, pedindo que paremos
crifos (ref.14) foi empregado com o sentido de falsos, para um mergulho “sem resultados” em nosso próprio interior.
não autênticos. Sim: a literatura – no sentido prático – é inútil. 4Mas ela apenas
parece inútil.
 VOLUME 2

Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)


A literatura não serve para nada – é o que se pensa. A indústria
a) I apenas. editorial tende a reduzi-la a um entretenimento para a beira de
b) II apenas. piscinas e as salas de espera dos aeroportos. De outro lado, a
c) II e III apenas. universidade – em uma direção oposta, mas igualmente impro-
d) I, II e III. dutiva – transforma a literatura em uma “especialidade”, desti-

16  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


nada apenas ao gozo dos pesquisadores e dos doutores. Vou di- nome tinha ainda. 1Era o impressionismo, superando séculos de
zer com todas as letras: são duas formas de matá-la. A primeira, pintura acadêmica. Os impressionistas deixaram o realismo para
por banalização. A segunda, por um esfriamento que a asfixia. a fotografia e se focaram no que ela não podia mostrar: as 2sen-
Nos dois casos, a literatura perde sua potência. 5Tanto quando é sações, a parte subjetiva do que se vê.
vista como “distração”, quanto quando é vista como “objeto de 3
Crescendo durante 4essa 5revolução, Munch – que, aliás, também
estudos”, 6a literatura perde o principal: seu poder de interrogar,
seria 6fotógrafo – achava 7a linguagem dos impressionistas super-
interferir e desestabilizar a existência. 7Contudo, desde os gregos,
ficial e científica, discreta demais para expressar o que sentia. E ele
a literatura conserva um poder que não é de mais ninguém. 8Ela
sentia: Munch tinha uma história familiar trágica: 8perdeu a mãe
lança o sujeito de volta para dentro de si e o leva a encarar o hor-
e uma irmã na infância, teve outra irmã que passou a vida em asi-
ror, as crueldades, a imensa instabilidade e 9o igualmente imenso
los psiquiátricos. 9Tornou-se artista sob forte oposição do pai, que
vazio que carregamos em nosso espírito. Somos seres “normais”,
morreria quando Munch tinha 25 anos e o deixaria na pobreza. O
como nos orgulhamos de dizer. Cultivamos nossos hábitos, ma-
artista sempre viveu na boemia, entre bebedeiras, brigas e roman-
nias e padrões. Emprestamos um grande valor à repetição e ao
ces passageiros, tornando-se amigo do filósofo niilista Hans Jæger,
Mesmo. Acreditamos que somos donos de nós mesmos!
que acreditava que o suicídio era a forma máxima da libertação.
Mas 10leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa, leia Clarice – 11e
você verá que rombo se abre em seu espírito. Verá o quanto tudo 10
Fruto de suas obsessões, 11O Grito não foi seu primeiro quadro,
isso é mentiroso. 12Vivemos imersos em um grande mar que mas o que o tornaria célebre. 12A inspiração veio do que parece
chamamos de realidade, mas que – a literatura desmascara isso ter sido um ataque de pânico, que ele escreveu em seu diário,
– não passa de ilusão. A “realidade” é apenas um pacto que pouco mais de um ano antes do quadro: “Estava andando por
fazemos entre nós para suportar o “real”. A realidade é norma, um caminho com dois amigos – o sol estava se pondo – quando,
é contrato, é repetição, ela é o conhecido e o previsível. O real, de repente, o sol tornou-se vermelho como o sangue. Eu parei,
ao contrário, é instabilidade, surpresa, desassossego. O real é o sentindo-me exausto, e me encostei na cerca – havia sangue e
estranho. línguas de fogo sobre o fiorde negro e a cidade. Meus amigos
(...) continuaram andando, e eu fiquei lá, tremendo de ansiedade – e
A literatura não tem o poder dos mísseis, dos exércitos e das
13
senti um grito infinito atravessando a natureza”.
grandes redes de informação. Seu poder é limitado: é subjetivo. Ali nasceria um novo movimento artístico. 15O Grito seria a pe-
14
13
Ao lançá-lo para dentro, e não para fora, ela se infiltra, como dra fundadora do expressionismo, a principal vanguarda alemã
um veneno, nas pequenas frestas de seu espírito. Mas, 14nele ins- dos anos 1910 aos 1930.
talada pelo ato da leitura, 15que escândalos, que estragos, 16mas Aventuras na História
também que descobertas e que surpresas ela pode deflagrar.
4. (Uece 2017) Sobre o advérbio Ali (referência 14), é
Não é preciso ser um especialista para ler uma ficção. Não é correto afirmar que indica
preciso ostentar títulos, apresentar currículos, ou credenciais. A
literatura é para todos. Dizendo melhor: é para os corajosos ou, a) um lugar distante da pessoa que fala.
pelo menos, para aqueles que ainda valorizam a coragem. b) um lugar diferente do lugar da pessoa que fala.
(...) c) naquele ato, naquelas circunstâncias, naquela con-
http://blogs.oglobo.globo.com/jose-castello/post/o-poder- juntura.
da-literatura-444909.html.Acesso em: 21 de fev 2017. d) hora, aquele momento.
3. (G1 - epcar (Cpcar) 2018) Na afirmativa “Mas ela
apenas parece inútil.” (ref. 4), o advérbio “apenas” e o TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
verbo “parece” reiteram o juízo de valor do autor sobre O acesso 1à Educação é o ponto de partida
a importância da literatura, que para ele Mozart Neves
a) é um entretenimento para a beira de piscinas e
A Educação tem resultados profundos e abrangentes no de-
para as salas de espera dos aeroportos.
senvolvimento de uma sociedade: contribui para o crescimento
b) conserva um poder que não é de mais ninguém,
econômico do país, para a promoção da igualdade e bem-estar
com sua capacidade de lançar o sujeito de volta para
social, e também tem impactos decisivos na vida de cada um.
dentro de si.
Um deles, por exemplo, é na própria renda do trabalhador. Uma
c) é uma especialidade destinada ao gozo dos pesqui-
análise feita __________ alguns anos pelo economista Mar-
sadores e dos doutores.
celo Neri mostrou que, a cada ano a mais de estudo, o brasilei-
d) caminha na contramão do contemporâneo, se con-
ro ganha 15% a mais de salário. Além disso, o estudo também
traindo, enquanto o mundo expande.
mostrou que quem completou o Ensino Fundamental tem 35%
a mais de chances de ocupação que um analfabeto. Esse número
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO sobe para 122% na comparação com alguém que tenha o Ensi-
GRITO no Médio e 387% com Ensino Superior.
Diante disso, o direito do acesso 2à Educação é o ponto de partida
 VOLUME 2

Quadro que fundou o expressionismo nasceu de um


ataque de pânico. na formação de uma pessoa e, consequentemente, no desenvol-
vimento e prosperidade de uma nação. 3Não obstante os avan-
Edvard Munch nasceu em 1863, mesmo ano em que O pique- ços alcançados pelo Brasil nas duas últimas décadas4, 5ainda 6há
nique no bosque, de Édouard Manet, era exposto no Salão dos 7
importantes desafios a superarmos no que tange esse direito. Se
Rejeitados, chamando a atenção para um movimento que nem 8
por um lado conseguimos universalizar o atendimento escolar no

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  17


Ensino Fundamental, temos 9ainda, por outro lado, 2,8 milhões de
crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola. Isso corresponde E.O. Dissertativo
______ um país do tamanho do Uruguai. O desafio, em termos de
acesso, é a universalização da Pré-Escola (crianças de 4 e 5 anos) e 1. (Ufjf-pism 3 2016)
do Ensino Médio (jovens de 15 a 17 anos).
Texto 1
Há outro desafio em jogo10: o de como motivar 5,3 milhões de
Pneumotórax
jovens de 18 a 25 anos que nem estudam e nem trabalham,
a chamada 11“geração nem-nem”, para trazê-12los de volta Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
__________ escola e, posteriormente, 13incluí-los no mundo do A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
trabalho. Isso é essencial para um país que passa por um bônus Tosse, tosse, tosse.
demográfico que se completará, 14segundo os especialistas, em Mandou chamar o médico:
2025. O país, para seu crescimento econômico e sua sustentabi-
– Diga trinta e três.
lidade, não poderá abrir mão de nenhum de seus jovens.
– Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
No Ensino Superior, o 15desafio não é menor. O Brasil tem apenas – Respire.
17% de jovens de 18 a 24 anos matriculados nesse nível de ensi- ...................................................................
no. Em conformidade com o Plano Nacional de Educação (PNE), – O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
o país precisará dobrar esse percentual nos próximos dez anos, direito infiltrado.
ou seja, chegar __________ 33%. Para se ter uma ideia da – Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
complexidade dessa meta, esse era o percentual previsto no PNE
– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
que se concluiu em 2010. Isso exige – sem que haja perda de
Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 16. ed.
qualidade com essa expansão – que a educação básica melhore
Rio de Janeiro, Nova Fronteira. 2000. p. 128.
significativamente, tanto em acesso como em qualidade, toman-
do como referência os atuais índices de aprendizagem escolar. Texto 2
O acesso 16à Educação é, 17portanto, ainda um desafio e, caso
seja efetivado com qualidade, poderá contribuir decisivamen-
te para que o país 18reduza o enorme hiato que separa o seu
desenvolvimento econômico, medido pelo seu Produto Interno
Bruto – PIB (o Brasil é o 7º PIB mundial) e o seu desenvolvimento
social, medido pelo seu Índice de Desenvolvimento Humano –
IDH (o Brasil ocupa a 75ª posição no ranking mundial). Somente
quando o país alinhar 19esses índices nas melhores posições do
ranking mundial, teremos de fato um Brasil com menos desigual-
dade e menos pobreza. Para que isso aconteça, não se conhece
nada melhor do que a Educação.
Disponível em: <http://istoe.com.br/o-acesso-educacao-e-
o-ponto-de-partida/>. Acesso em: 20 mar. 2017)
http://www.estacaosegura.com.br/

5. (G1 - ifsul 2017) Levando-se em consideração as in- Relacione o emprego do advérbio “ainda” na peça pu-
formações explícitas e as implícitas no texto, o advérbio blicitária acima ao tema do texto 1.
ainda (referências 5 e 9) pressupõe, respectivamente, que
a) os desafios em relação ao direito do acesso à edu- 2. (Pucrj) Texto 1
cação brevemente serão solucionados pelo governo e Ensinar exige rigorosidade metódica
as crianças e os jovens de 4 a 17 anos deveriam estar
contemplados pelo atendimento escolar. O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua
prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua
b) os desafios em relação ao direito do acesso à educa-
curiosidade, sua insubmissão. Uma de suas tarefas primordiais é
ção já deveriam ter sido superados e a universalização
do atendimento escolar deveria se estender a crianças e trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que
jovens de 4 a 17 anos. devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis. E esta rigorosi-
dade metódica não tem nada que ver com o discurso “bancário”
c) o Brasil não alcançou avanços no que diz respeito ao
direito do acesso à educação nem à sua universalização, meramente transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo. É
sendo que crianças e jovens estão fora das salas de aula, exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “trata-
seja na Educação Infantil ou no ensino médio. mento” do objeto ou do conteúdo superficialmente feito, mas se
d) os desafios do país em relação ao direito do acesso à alonga à produção das condições em que aprender criticamente
é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de
 VOLUME 2

educação não foram superados no ensino fundamental


e também não houve universalização do acesso à edu- educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos,
cação infantil nem ao ensino médio. rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Faz parte das
condições em que aprender criticamente é possível a pressuposi-
ção por parte dos educandos de que o educador já teve ou conti-
nua tendo experiência da produção de certos saberes e que estes

18  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


não podem a eles, os educandos, ser simplesmente transferidos. Para boa parte deles, no entanto, tais crises se manifestam em
Pelo contrário, nas condições de verdadeira aprendizagem, os transtornos semelhantes. Vividas como rupturas, ainda mais
educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção quando são acompanhadas da separação dos próximos, da per-
e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igual- da da casa ou das paisagens familiares, as crises os confinam em
mente sujeito do processo. Só assim podemos falar realmente de um tempo imediato – sem projeto, sem futuro -, em um espaço
saber ensinado, em que o objeto ensinado é apreendido na sua sem linha de fuga. Despertam feridas antigas, reativam o medo
razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos. do abandono, abalam o sentimento de continuidade de si e a
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários autoestima. Provocam, às vezes, uma perda total de sentido, mas
à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p. 26. podem igualmente estimular a criatividade e a inventividade,
contribuindo para que outros equilíbrios sejam forjados, pois em
Texto 2
nosso psiquismo, como disse René Kaës, uma “crise libera, ao
A tarefa de desenvolver as capacidades intelectuais e morais mesmo tempo, forças de morte e forças de regeneração”. “O
do sujeito universal, como condição de aprimoramento da per- desastre ou a crise são também, e sobretudo, oportunidades”,
sonalidade do indivíduo, juntamente com a inserção social e a escreveram Chamoiseau e Glissant, após a passagem de um
reprodução dos conteúdos culturais da tradição, formam o esteio ciclone. “Quando tudo desmorona ou se vê transformado, são
da intencionalidade educativa moderna. A escola deve assumir o também os rigores ou as impossibilidades que se veem transfor-
compromisso com o desenvolvimento das estruturas mentais do mados. São os improváveis que, de repente, se veem esculpidos
sujeito para que ele seja capaz de operar em níveis de abstração por novas luzes”.
elevada. Essa é uma condição necessária para que os processos A leitura pode garantir essas forças de vida? O que esperar dela
de tomada de consciência superem a racionalidade instrumental – sem vãs ilusões – em lugares onde a crise é particularmente
e habilitem o sujeito frente às possibilidades da competência co- intensa, seja em contextos de guerra ou de repetidas violências,
municativa. de deslocamentos de populações mais ou menos forçados, ou de
Cabe à escola favorecer uma aprendizagem crítica do conheci- vertiginosas recessões econômicas?
mento científico, promover a discursividade dos alunos e a discus- Em tais contextos, crianças, adolescentes e adultos poderiam re-
são pública das formas de racionalidade subjacentes aos proces- descobrir o papel dessa atividade na reconstrução de si mesmos
sos escolares. [...] A construção de uma razão que se descentra é e, além disso, a contribuição única da literatura e da arte para a
condição necessária para que o sujeito reconheça outras razões e atividade psíquica. Para a vida, em suma.
seja capaz de agir com competência no discurso argumentativo,
Michèle Petit, A arte de ler ou como resistir à
fundamental para a racionalidade comunicativa que opera nas adversidade. São Paulo: ed. 34, 2009.
bases de um pensamento refletido, tornando conscientes os seus
esquemas de ação. Texto II
Texto adaptado de LIMA, João Francisco Lopes de. A
reconstrução da tarefa educativa: uma alternativa para a crise e a Paradoxalmente, o caos em que a humanidade corre o risco de
desesperança. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003, p. 103. mergulhar traz em seu bojo sua própria e última oportunidade.
Por quê? Para começar, porque a proximidade do perigo favorece
a) Reescreva a frase abaixo, empregando em outra po-
as instâncias de conscientização, que podem então multiplicar-
sição o advérbio sublinhado. Mantenha o sentido da
-se, ampliar-se e fazer surgir uma grande política de salvação do
frase original.
mundo. E, sobretudo, pela seguinte razão: quando um sistema é
“Só assim podemos falar realmente de saber ensina-
incapaz de resolver seus problemas vitais, ou ele se desintegra,
do” (texto 1)
ou é capaz, dentro de sua própria desintegração, de metamorfo-
b) Explique a concepção de educação que está embu- sear-se num metassistema mais rico, capaz de buscar soluções
tida nos textos 1 e 2. para esses problemas.
Edgar Morin, http://www.comitepaz.org.br
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Texto III
Texto I
O que diz o vento (07/10/1991)
QUAL O PODER DA LEITURA NESTES TEMPOS DIFÍCEIS?
Para o Brasil chegar afinal ao Primeiro Mundo só falta vulcão.
Hoje, é possível dizer que o mundo inteiro é um “espaço em
Uns abalozinhos já têm havido por aí, e cada vez mais frequen-
crise”. Uma crise se estabelece de fato quando transformações
tes. Agora passa por Itu esse vendaval, com tantas vítimas e
de caráter brutal – mesmo se preparadas há tempos -, ou ainda
tantos prejuízos a lastimar. Alguns jornais não tiveram dúvida:
uma violência permanente e generalizada, tornam extensamente
ciclone. Ou tornado, quem sabe.
inoperantes os modos de regulamentação, sociais e psíquicos,
que até então estavam sendo praticados. Ora, a aceleração das Shelley que me desculpe, mas vento me dá nos nervos. Desar-
transformações, o crescimento das desigualdades, das disparida- ruma a gente por dentro. Mas, em matéria de vento, poeta tem
 VOLUME 2

des, a extensão das migrações alteraram ou fizeram desaparecer imunidades. Manuel Bandeira associou à canção do vento a can-
ção da sua vida.
os parâmetros nos quais a vida se desenvolvia, vulnerabilizando
homens, mulheres e crianças, de maneira obviamente bastante O vento varria as luzes, as músicas, os aromas. E a sua vida ficava
distinta, de acordo com os recursos materiais, culturais, afetivos cada vez mais cheia de aromas, de estrelas, de cânticos.
de que dispõem e segundo o lugar onde vivem. Fúria dos elementos, símbolo da instabilidade, o vento é ao mes-

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  19


mo tempo sopro de vida. Uma aragem acompanha sempre os E o bolo inteiro,
anjos. E foi o vento que fez descer sobre os apóstolos as línguas quase intangível,
de fogo do Espírito Santo. Destruidor e salvador, com o vento se guardava bem guardado,
renasce a vida, diz a “Ode to the West Wind”, de Shelley. No com cuidado,
inverno só um poeta romântico entrevê o início da primavera. Di- num armário, alto, fechado,
vindade para os gregos, o vento inquieta porque sacode a apatia impossível.
e a estagnação. (Cora Coralina. Melhores poemas. 2 ed. São Paulo: Global Ed., 2004.)
Com esse poder de levar embora, suponhamos que uma lufada
varresse o Brasil, como na canção do Manuel Bandeira. Que é Vocabulário:
que esse vento benfazejo devia levar embora? Todo mundo sabe 1
testo: camada;
o mundo de males que nos oprime nesta hora. Deviam ser varri- 2
borralho: brasido coberto de cinzas; cinzas quentes,
dos para sempre. Se vento leva e traz, se vento é mudança, não rescaldo;
custa acreditar que, passada a tempestade, vem a bonança. E 3
regrar: traçar linhas ou regras sobre;
com ela, o sopro renovador — garante o poeta. A casa destelha-
4
mana: irmã;
da, a destruição já começou. Vem aí a reconstrução.
4. (G1 - cp2) Observe: “tão fina, tão delgada...” (5ª es-
Otto Lara Resende, Bom dia para nascer: crônicas publicadas na trofe, 4º verso)
Folha de S. Paulo. São Paulo: Cia. das Letras, 2011. Adaptado.
Transcreva, da mesma estrofe, um verso que possui outro
3. (Fgv) Após analisar os seguintes comentários sobre advérbio com valor semelhante ao do destacado acima.
duas passagens do texto I, responda se eles são perti-
nentes ou não, justificando sua resposta. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) Ao empregar, no final do primeiro parágrafo, o advér- Texto I
bio “obviamente”, a autora pretende dizer que a “vulne-
rabilização”, tal como ela ocorre, dispensa comprovação. A DISCIPLINA DO AMOR
b) A expressão “sem vãs ilusões”, no penúltimo parágra- Foi na França, durante a segunda grande guerra. Um jovem tinha
fo, tem a finalidade de relativizar a ideia do “poder da um cachorro que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do
leitura nestes tempos difíceis”. trabalho. Postava-se na esquina, um pouco antes das seis da tarde.
Assim que via o dono, ia correndo ao seu encontro e, na maior ale-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO gria, acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta a casa.
Antiguidades (fragmento) A vila inteira já conhecia o cachorro e as pessoas que passavam fa-
ziam-lhe festinhas e ele correspondia, chegava a correr todo anima-
Quando eu era menina do atrás dos mais íntimos para logo voltar atento ao seu posto e ali
bem pequena, ficar sentado até o momento em que seu dono apontava lá longe.
em nossa casa,
Mas eu avisei que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado.
certos dias da semana
Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo? Continuou a ir diaria-
se fazia um bolo, mente até a esquina, fixo o olhar ansioso naquele único ponto,
assado na panela com um 1testo de 2borralho em cima. a orelha em pé, atenta ao menor ruído que pudesse indicar a
Era um bolo econômico, presença do dono bem-amado. Assim que anoitecia, ele voltava
como tudo, antigamente. para casa e levava a sua vida normal de cachorro até chegar o
Pesado, grosso, pastoso. dia seguinte. Então, disciplinadamente, como se tivesse um reló-
(Por sinal que muito ruim.) gio preso à pata, voltava ao seu posto de espera.
Eu era menina em crescimento. O jovem morreu num bombardeio, mas no pequeno coração do
Gulosa, cachorro não morreu a esperança. Quiseram prendê-lo, distraí-lo.
abria os olhos para aquele bolo Tudo em vão. Quando ia chegando aquela hora ele disparava
que me parecia tão bom para o compromisso assumido, todos os dias. Todos os dias.
e tão gostoso. Com o passar dos anos (a memória dos homens!) as pessoas
A gente mandona lá de casa foram se esquecendo do jovem soldado que não voltou. Ca-
cortava aquele bolo sou-se a noiva com um primo. Os familiares voltaram-se para
com importância. outros familiares. Os amigos, para outros amigos. Só o cachorro
Com atenção. já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a
Seriamente. esperá-lo na sua esquina. As pessoas estranhavam, mas quem
Com vontade de comer o bolo todo. esse cachorro está esperando?... Uma tarde (era inverno) ele lá
Era só olhos e boca e desejo ficou, o focinho sempre voltado para “aquela” direção.
daquele bolo inteiro.
(TELLES, Lygia Fagundes. A disciplina do amor.
Minha irmã mais velha
 VOLUME 2

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 99-100)


governava. 3Regrava.
Me dava uma fatia, Vocabulário:
tão fina, tão delgada... Postar-se - posicionar-se, permanecer em determinado
E fatias iguais às outras 4manas. local
E que ninguém pedisse mais! Apontar - aparecer

20  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Texto II

COMPANHEIRO FIEL
E.O. Objetivas
Se estou trabalhando
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
- seja a que hora for -
Gatinho se deita ao lado TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
do meu computador. A(s) questão(ões) a seguir abordam um texto de um
Se vou para a sala site especializado em esportes com instruções de trei-
e deito no sofá, namento para a corrida olímpica dos 1 500 metros.
ele logo vai pra lá.
Se à mesa me sento Corrida – Prova 1500 metros rasos
a escrever poesia
e da sala me ausento A prova dos 1 500 metros rasos, juntamente com a da milha (1
pela fantasia, 609 metros), característica dos países anglo-saxônicos, é conside-
volto à realidade rada prova tática por excelência, sendo muito importante o conhe-
quando, sem querer, cimento do ritmo e da fórmula a ser utilizada para vencer a prova.
toco de resvés Os especialistas nessas distâncias são considerados completos ho-
numa coisa macia. mens de luta que, após um penoso esforço para resistir ao ataque
Já sei, não pago dez: dos adversários, recorrem a todas as suas energias restantes a fim
é o Gatinho de manter a posição de destaque conseguida durante a corrida,
que sem eu saber sem ceder ao constante assédio dos seus perseguidores.
veio de mansinho [...] Para correr essa distância em um tempo aceitável, deve-se
deitar-se a meus pés. gastar o menor tempo possível no primeiro quarto da prova, de-
vendo-se para tanto sair na frente dos adversários, sendo essen-
(GULLAR, Ferreira. Companheiro fiel. In: Palavras de
encantamento. SãoPaulo: Moderna, 2001. v.1, p.76) cial o completo domínio das pernas, para em seguida normalizar
o ritmo da corrida. No segundo quarto, deve-se diminuir o ritmo,
Vocabulário:
a fim de trabalhar forte no restante da prova, sempre procurando
Resvés - rente, próximo dosar as energias, para não correr o risco de ser surpreendido por
Não pagar dez - não ter dúvida um adversário e ficar sem condições para a luta final.
Deve ser tomado cuidado para não se deixar enganar por algum
Texto III
adversário de condição inferior, que normalmente finge possuir
PSICOLOGIA ANIMAL energias que realmente não tem, com o intuito de minar o bom
Amigos, fiéis e ciumentos corredor, para que o companheiro da mesma equipe possa tirar
proveito da situação e vencer a prova. Assim sendo, o corredor
Quem tem ou já teve cachorros sabe: eles são muito amigos e, experiente saberá manter regularmente as suas passadas, sem
também, superciumentos. Na verdade, eles sentem uma série de deixar-se levar por esse tipo de artimanha. Conhecendo o estado
emoções consideradas humanas, segundo uma pesquisa da Uni- de suas condições pessoais, o corredor saberá se é capaz de um
versidade de Portsmouth, na Inglaterra. Os cientistas analisaram sprint nos 200 metros finais, que é a distância ideal para quebrar
o comportamento de mil cães e seus donos. Registraram cenas a resistência de um adversário pouco experiente.
de ciúme explícito, como um cão interrompendo, sem a menor
O corredor que possui resistência e velocidade pode conduzir a corri-
cerimônia, momentos românticos de seu dono. O estudo de psicó-
da segundo a sua conveniência, impondo os seus próprios meios de
logos e especialistas em comportamento animal desafia a tese de
que somente pessoas e chimpanzés são capazes de experimentar ação. Finalmente, ao ultrapassar um adversário, deve-se fazê-lo de-
as chamadas emoções secundárias como culpa, vergonha, ciúme cidida e folgadamente, procurando sempre impressioná-lo com sua
ou orgulho, embora seja ponto pacífico que cães, gatos e outros ação enérgica. Também deve-se procurar manter sempre uma boa
animais têm emoções primárias, como ansiedade, surpresa e raiva. descontração muscular durante o desenvolvimento da corrida, nunca
levar a cabeça para trás e encurtar as passadas para finalizar a prova.
(REVISTA, Suplemento do jornal O Globo, de 17 de setembro de 2006.)
http://treino-de-corrida.f1cf.com.br
Vocabulário:
Explícito - que é claro 1. (Unesp) Observando as seguintes passagens do texto
Tese - afirmação baseada em estudos científicos apresentado, marque a alternativa em que as duas pa-
Primárias - básicas, primeiras lavras sublinhadas são utilizadas como advérbios:
Secundárias - que vêm em segunda posição a) “não correr o risco de ser surpreendido”.
Ponto pacífico - ideia que se aceita sem discussão b) “finge possuir energias que realmente não tem”.
5. (G1 - cp2) Ainda no 3º. parágrafo do texto I, o nar- c) “deve-se fazê-lo decidida e folgadamente”.
 VOLUME 2

rador afirma que o cão parecia ter “um relógio preso d) “nunca levar a cabeça para trás”.
à pata.” Copie desse texto dois advérbios que deixem e) “forte no restante da prova, sempre procurando dosar”.
clara essa afirmação.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  21


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza,
e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração
A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base um fragmen-
de uma virtude e as virtudes devem ser como os orçamentos: me-
to da crônica Letra de canção e poesia, de Antonio Cicero.
lhor é o saldo que o “deficit”. Como era muito seco de maneiras
Como escrevo poemas e letras de canções, frequentemente per- tinha inimigos, que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato
guntam-me se acho que as letras de canções são poemas. A ex- alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos
pressão “letra de canção” já indica de que modo essa questão deve ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além
ser entendida, pois a palavra “letra” remete à escrita. O que se quer de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo
saber é se a letra, separada da canção, constitui um poema escrito. longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo
“Letra de canção é poema?” Essa formulação é inadequada. modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio
Desde que as vanguardas mostraram que não se pode determi- requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de
nar a priori quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer um homem o que é puro efeito de relações sociais.
coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas na (Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)
página e diz que é um poema, quem provará o contrário?
Neste ponto, parece-me inevitável introduzir um juízo de valor. A 3. (Fuvest 2002) O efeito expressivo obtido em “feroz-
verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é um bom mente honrado” resulta de uma inesperada associação
poema. Entretanto, mesmo esta última pergunta ainda não é sufi- de advérbio com adjetivo, que também se verifica em:
cientemente precisa, pois pode estar a indagar duas coisas distin- a) sorriso maliciosamente inocente.
tas: 1) Se uma letra de canção é necessariamente um bom poema; b) formas graciosamente curvas.
e 2) Se uma letra de canção é possivelmente um bom poema. c) sistema singularmente espantoso.
Quanto à primeira pergunta, é evidente que deve ter uma res- d) opinião simplesmente abusada.
posta negativa. Nenhum poema é necessariamente um bom e) expressão profundamente abatida.
poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; logo,
nenhuma letra é necessariamente um bom poema. Mas talvez o TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
que se deva perguntar é se uma boa letra é necessariamente um
bom poema. Ora, também a essa pergunta a resposta é negati- TEXTO I
va. Quem já não teve a experiência, em relação a uma letra de “O Vale de Santarém é um destes lugares privilegiados pela natu-
canção, de se emocionar com ela ao escutá-la cantada e depois reza, sítios amenos e deleitosos em que as plantas, o ar, a situação,
considerá-la insípida, ao lê-la no papel, sem acompanhamento tudo está numa harmonia suavíssima e perfeita; não há ali nada
musical? Não é difícil entender a razão disso. grandioso nem sublime, mas há uma como simetria de cores, de
Um poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim em si sons, de disposição em tudo quanto se vê e se sente, que não pa-
próprio. Quando o julgamos bom ou ruim, estamos a considerá- rece senão que a paz, a saúde, o sossego do espírito e o repouso
-lo independentemente do fato de que, além de ser um poema, do coração devem viver ali, reinar ali um reinado de amor e bene-
ele tenha qualquer utilidade. O poema se realiza quando é lido: e volência. (...) Imagina-se por aqui o Éden que o primeiro homem
ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural. habitou com a sua inocência e com a virgindade do seu coração.
Já uma letra de canção é heterotélica, isto é, ela não tem o seu À esquerda do vale, e abrigado do norte pela montanha que ali
fim em si própria. Para que a julguemos boa, é necessário e su- se corta quase a pique, está um maciço de verdura do mais belo
ficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de que viço e variedade. (...)
faz parte seja boa. Em outras palavras, se uma letra de canção Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se por entre um claro das
servir para fazer uma boa canção, ela é boa, ainda que seja ile- árvores a janela meio aberta de uma habitação antiga, mas não di-
gível. E a letra pode ser ilegível porque, para se estruturar, para lapidada - (...) A janela é larga e baixa; parece mais ornada e tam-
adquirir determinado colorido, para ter os sons ou as palavras bém mais antiga que o resto do edifício, que todavia mal se vê...”
certas enfatizadas, ela depende da melodia, da harmonia, do rit-
mo, do tom da música à qual se encontra associada. (Almeida Garrett, Viagens na minha terra.)
( Folha de S.Paulo, 16.06.2007.) TEXTO II
2. (Unesp) Nenhum poema é necessariamente um bom “Depois, fatigado do esforço supremo, [o rio] se estende sobre a
poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; terra, e adormece numa linda bacia que a natureza formou, e onde
logo, nenhuma letra é necessariamente um bom poema. o recebe como um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e
O advérbio necessariamente, nas três ocorrências verifi- flores agrestes.
cadas na passagem mencionada, equivale, pelo sentido, a: A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo
e vigor; florestas virgens se estendiam ao longo das margens
a) forçosamente. do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos capitéis
b) raramente.
formados pelos leques das palmeiras.
c) suficientemente.
d) independentemente. Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime
artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elemen-
e) frequentemente.
 VOLUME 2

tos, em que o homem é apenas um simples comparsa. (...)


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Entretanto, via-se à margem direita do rio uma casa larga e es-
paçosa, construída sobre uma eminência e protegida de todos os
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não sou- lados por uma muralha de rocha cortada a pique.”
ber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui
(José de Alencar, O guarani.)
injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de

22  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


TEXTO III Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escre-
“Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço ver aquilo que eventualmente pode se transformar num conto
De estar a ela um dia reclinado: ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como
Ali em vale um monte está mudado: um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o
Quanto pode dos anos o progresso! substitui. E é uma salvação.
Árvores aqui vi tão florescentes, Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia
Que faziam perpétua a primavera: que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva. Es-
Nem troncos vejo agora decadentes.” crever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível,
(Cláudio Manuel da Costa, Sonetos-VII.) é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas
vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que
4. (Unifesp) Com referência ao texto III, a correlação en- não foi abençoada.
tre o advérbio de lugar, o objeto que nele se situa e o tem- Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa”
po de existência (ou vida) deste objeto está correta em vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre um verdadeiro escrever
a) “Aqui” = “fonte” no presente e “árvores florescen- e outro, podem-se passar anos.
tes” no passado. Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros.
b) “Ali” = “vale” no presente e “monte” no presente. (Clarice Lispector. A descoberta do mundo, 1999.)
c) “Aqui” = “fonte”, “árvores florescentes”, “troncos
decadentes” no passado. Escrevendo o roteiro
d) “Aqui” = “fonte”, “árvores florescentes”, “troncos
Escrever um roteiro é um fenômeno espantoso, quase misterioso.
decadentes” no presente.
Num dia você está com as coisas sob controle, no dia seguinte
e) “Ali” = “vale” no passado e “monte” no passado. sob o controle delas, perdido em confusão e incerteza. Num dia
5. (Unicamp 2018) tudo funciona, no outro não; ninguém sabe como ou por quê. É
o processo criativo; que desafia análises; é mágica e maravilha.
Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência de escre-
ver desde o início dos tempos resume-se a uma coisa — es-
crever é sua experiência particular, pessoal. De ninguém mais.
Muita gente contribui para a feitura de um filme, mas o roteirista é
a única pessoa que se senta e encara a folha de papel em branco.
Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sentar-se diaria-
mente diante de seu bloco de notas, máquina de escrever ou com-
putador, colocando palavras no papel. Você tem que investir tempo.
Antes de começar a escrever, você tem que achar tempo
para escrever.
(Bruno Fonseca. Facebook. Disponível em: https://www. Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a escrever?
facebook.com/museumazzaropi/ Acessado em 31/08/2017.)
Depende de você. Eu trabalho cerca de quatro horas por dia,
Considerando os sentidos produzidos pela tirinha, é cinco dias por semana. John Millius escreve uma hora por dia,
correto afirmar que o autor explora o fato de que pala- sete dias por semana, entre 5 e 6 da tarde. Stirling Silliphant,
vras como “ontem”, “hoje” e “amanhã” que escreveu The Towering Inferno (Inferno na Torre), às vezes
a) mudam de sentido dependendo de quem fala. escreve 12 horas por dia. Paul Schrader trabalha com a história
b) adquirem sentido no contexto em que são enunciadas. na cabeça por meses, contando-a para as pessoas até que ele a
c) deslocam-se de um sentido concreto para um abstrato. conheça completamente; então ele “pula na máquina” e a es-
creve em cerca de duas semanas. Depois ele gastará semanas
d) evidenciam o sentido fixo dos advérbios de tempo.
polindo e consertando a história.

E.O. Dissertativas
Você precisa de duas a três horas por dia para escrever um roteiro.
Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo. Se você

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) trabalha em horário integral, ou cuidando da casa e da família,
seu tempo é limitado. Você terá que achar o melhor horário para
escrever. Você é o tipo de pessoa que trabalha melhor pela ma-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO nhã? Ou só vai acordar e ficar alerta no final da tarde? Tarde da
noite pode ser um bom horário. Descubra.
As questões tomam por base uma crônica de Clarice
Lispector (1925-1977) e uma passagem do Manual do (Syd Field. Manual do roteiro, 1995.)
Roteiro, do professor de Técnica do roteiro, consultor e
1. (Unesp) Mas escrever aquilo que eventualmente
conferencista Syd Field.
 VOLUME 2

pode se transformar num conto ou num romance.


Escrever Ao empregar na frase apresentada o advérbio eventu-
almente, o que revela Clarice Lispector sobre a criação
Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro
de um conto ou romance?
por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é
uma maldição, mas uma maldição que salva.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  23


2. (Fuvest) Leia o seguinte texto, extraído de uma bio- presas. Mestre Romão sorriu com tristeza.
grafia do compositor Carlos Gomes. - Aqueles chegam, disse ele, eu saio. Comporei ao menos este
canto que eles poderão tocar...
“No ano seguinte [1860], com o objetivo de consolidar sua for-
mação musical, [Carlos Gomes] mudou-se para o Rio de Janeiro, Sentou-se ao cravo; reproduziu as notas e chegou ao lá...
contra a vontade do pai, para iniciar os estudos no conservatório - Lá, lá, lá...
da cidade. “Uma ideia fixa me acompanha como o meu destino! Nada, não passava adiante. E, contudo, ele sabia música como
Tenho culpa, porventura, por tal cousa, se foi vossemecê que me gente.
deu o gosto pela arte a que me dediquei e se seus esforços e sa-
Lá, dó... lá, mi... lá, si, dó, ré... ré... ré...
crifícios fizeram-me ganhar ambição de glórias futuras?”, escreveu
ao pai, aflito e cheio de remorso por tê-lo contrariado. “Não me Impossível! Nenhuma inspiração. Não exigia uma peça profun-
culpe pelo passo que dei hoje. [...] Nada mais lhe posso dizer nesta damente original, mas enfim alguma coisa, que não fosse de ou-
ocasião, mas afirmo que as minhas intenções são puras e espero tro e se ligasse ao pensamento começado. Voltava ao princípio,
desassossegado a sua bênção e o seu perdão”, completou.” repetia as notas, buscava reaver um retalho da sensação extinta,
lembrava-se da mulher, dos primeiros tempos. Para completar a
http://musicaclassica.folha.com.br
ilusão, deitava os olhos pela janela para o lado dos casadinhos.
a) Sobre o advérbio “porventura”, presente na carta do Estes continuavam ali, com as mãos presas e os braços passados
compositor, o dicionário “Houaiss” informa: “usa-se em nos ombros um do outro; a diferença é que se miravam agora,
frases interrogativas, especialmente em perguntas deli- em vez de olhar para baixo. Mestre Romão, ofegante da moléstia
cadas ou retóricas.” e da impaciência, tornava ao cravo; mas a vista do casal não lhe
Aplica-se ao texto da carta essa informação? Justifi- suprira a inspiração, e as notas seguintes não soavam.
que sua resposta. - Lá... lá... lá...
b) Cite duas palavras, também empregadas pelo composi- Desesperado, deixou o cravo, pegou o papel escrito e rasgou-o.
tor, que atestem, de maneira mais evidente, que, daquela Nesse momento, a moça embebida no olhar do marido, começou
época para hoje, a língua portuguesa sofreu modificações. a cantarolar à toa, inconscientemente, uma coisa nunca antes
cantada nem sabida, na qual cousa um certo lá trazia após si
3. (Fuvest)
uma linda frase musical, justamente a que mestre Romão pro-
I. Para se candidatar a um emprego, o recém-formado curara durante anos sem achar nunca. O mestre ouviu-a com
compete com levas de executivos de altíssimo gabari- tristeza, abanou a cabeça, e à noite expirou.
to, desempregados. O jovem, sem experiência, literal- (Assis, Machado de. “Histórias em Data”. In: Seus 30 Melhores
mente, dança. Contos. Rio de Janeiro; Aguillar, 1961, pp.189-194.)
II. Acostumados às apagadas, às vezes literalmente, ARNALDO ANTUNES
mulheres dos dirigentes do Kremlin, os russos achavam
que ela era influente demais, exibida, arrogante. a palavra não vem
pensa
a) O advérbio “literalmente” está adequadamente em- pensa
pregado nos dois textos? Justifique sua resposta. pensa
b) A que palavra, em II, se refere a expressão “às ve- pensa
zes literalmente”? Qual o duplo sentido produzido e a palavra não vem
pela relação que aí se estabeleceu? nunca
nunca
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO nunca
TORMENTO DO IDEAL (fragmento) nunca
Antero de Quental nunca
Pedindo à forma, em vão, a ideia pura, nunca
Tropeço, em sombras, na matéria dura, nunca
E encontro a imperfeição de quanto existe. nunca
Recebi o batismo dos poetas, (Antunes, Arnaldo- TUDOS, 3ª ed., São Paulo: Iluminuras, 1993.)
E, assentado entre as formas incompletas.
4. (Unesp 1995) Se cotejarmos a expressão “formas
Para sempre fiquei pálido e triste.
incompletas”, do soneto de Antero, com o signo “pala-
(In: Quental, Antero de. Sonetos Escolhidos. São
Paulo: Livr. Exposição, 1966, p.72.) vra”, do poema de Arnaldo Antunes, verificaremos que
ambos os poetas tentam dizer o quanto é difícil para o
CANTIGA DE ESPONSAIS (fragmento) artista comunicar a “ideia pura”, quer dizer, aquilo que,
Machado de Assis em essência, gostaria de exprimir. Esta angústia dos
artistas se projeta num tempo infinito. A partir desse
O princípio do canto rematava em um certo lá; este lá, que lhe
 VOLUME 2

comentário, releia ambos os textos e, a seguir:


caía bem no lugar, era a nota derradeiramente escrita. Mestre
Romão ordenou que lhe levassem o cravo para a sala do fundo, a) Aponte, em cada um desses poemas, os advérbios
que dava para o quintal; era-lhe preciso ar. Pela janela viu na que exprimem esse tempo infinito.
janela dos fundos de outra casa dois casadinhos de oito dias, b) Aponte em qual dos poemas o advérbio, explícita
debruçados com os braços por cima dos ombros, e duas mãos e enfaticamente, determina o modo de ser do poeta.

24  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO feridos, / Pensamentos de vida formulados, / São pensamentos idos
e vividos”. Todo este terceto é de uma beleza grande, que é de um
Primeiro texto:
grande poeta e de um grande artista.
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente, Pretendo ir à cidade no dia primeiro, irei à Secretaria pedir no-
Repousa lá no Céu eternamente tícias suas.
E viva eu cá na terra sempre triste. Abraços de seu amigo
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente, Mário de Alencar
Não te esqueças daquele amor ardente In: Assis, Machado de. Obras Completas de Machado de Assis -
Que já nos olhos meus tão puro viste. Correspondência, São Paulo, Mérito, 1962, pp. 223 - 24.
E se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a dor que me ficou 5. (Unesp) Nos dois sonetos, os poetas se dirigem às suas
Da mágoa, sem remédio, de perder-te, amadas já mortas, em tom triste e lamentoso. Mas se no
Roga a Deus, que teus anos encurtou, de Camões, embora afetivo e apaixonado, parece vigorar
Que tão cedo de cá me leve a ver-te, certo “distanciamento”, no de Machado de Assis parece
Quão cedo de meus olhos te levou. haver uma relação de “proximidade”, na qual o poeta
e companheiro confessa identificar-se e solidarizar-se
In: Camões, Luís de. Obra Completa, Rio de
Janeiro, Aguillar, 1963, p. 269. com a falecida Carolina. Com base nestes comentários,
interprete o papel semântico exercido pelos advérbios
Segundo texto: de lugar nos contextos de ambos os poemas.
A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida, Gabarito
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro E.O. Aprendizagem
Que, a despeito de toda a humana lida, 1. C 2. E 3. E 4. B 5. B
Fez a nossa existência apetecida 6. C 7. D 8. D 9. A 10. D
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
E.O. Fixação
Que eu, se tenho nos olhos malferidos 1. E 2. E 3. D 4. C 5. C
Pensamentos de vida formulados, 6. D 7. D 8. D 9. C 10. D
São pensamentos idos e vividos.
(dedicatória de Relíquias de Casa Velha - 1906) In:
Assis, Machado de. Relíquias de Casa Velha, segunda
ed., Civilização Brasileira / INL, 1977, p. 47.
E.O. Complementar
1. D 2. D 3. B 4. C 5. B
Terceiro texto:

Tijuca, 26 de fevereiro de 1906. E.O. Dissertativo


Meu prezado e ilustre amigo Sr. Machado de Assis. 1. O advérbio de tempo “ainda” indica para a necessidade de ter
Não fui o outro dia ao Garnier, depois da consulta do médico, por- um seguro de vida: haveria tempo suficiente para fazer o seguro
que achei no consultório a convicção que eu receava e me fez triste e, dessa forma, garantir a qualidade de vida. Por sua vez, o Texto
e incapaz de conversa nenhuma. O médico procurou iludir-me, mas 1 não apresenta a ideia de qualidade de vida: após ser diagnosti-
a fisionomia dele e a indicação dos remédios disseram a verdade. cado e não haver possibilidade de cura, o eu lírico é aconselhado
Vim para a Tijuca com grande desalento, que ainda tenho hoje e pelo médico a aproveitar os dias que lhe restam.
agora terei sempre até o último dia. Momentos de prazer e de 2.
esquecimento de mim mesmo, devo-os ao seu livro, que trouxe e a) Só assim podemos realmente falar de saber ensinado.
tenho lido com amor. Se o coração me permitir, escreverei alguma b) Nos dois textos, encontra-se a concepção de uma
coisa sobre ele e que eu desejaria pudesse exprimir dignamente, educação transformadora, que busca formar indivíduos
superiormente, a minha admiração por esse e por todos os livros
conscientes, reflexivos e capazes de atuar na sociedade
seus. Gostei de todas as “Relíquias” muito e muito, mas a página
com autonomia e crítica.
melhor é o soneto “A Carolina”. Lembra-se do que me disse uma
 VOLUME 2

vez a respeito de “Alma minha gentil, que te partiste”? que tinha 3.


a simplicidade sublime de um recado mandado ao céu. É o que eu a) A conclusão não é correta, pois o advérbio “obviamen-
compreendo e sinto melhor que ao outro. Li-o e reli-o e o tenho te” refere-se ao fato de a vulnerabilização acontecer de
de cor. Creio não ter desatendido à menor das palavras dele, que forma diferente com homens, mulheres e crianças e não
todas têm um sentido especial. “Que eu, se tenho nos olhos mal ao fato de dispensar comprovação.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  25


b) O comentário é improcedente, pois a expressão “sem vãs
ilusões” enfatiza a opinião da autora de que não se deve
relativizar o poder da leitura em tempos difíceis, como os
que decorrem atualmente, como tragédias ambientais ou
manifestações de violência nas suas mais diversas formas:
“Em tais contextos, crianças, adolescentes e adultos pode-
riam redescobrir o papel dessa atividade na reconstrução de
si mesmos e, além disso, a contribuição única da literatura
e da arte para a atividade psíquica. Para a vida, em suma”.
4. “Tão” é um advérbio com valor de intensidade, assim como
“mais”, que aparece no verso “Minha irmã mais velha”.
5. "pontualmente", "disciplinadamente", "diariamente".

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. C 2. A 3. A 4. C 5. B

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. Clarice Lispector revela que a criação de um conto ou romance
depende de acontecimentos incertos, casuais, fortuitos.
2.
a) Sim, pois há uma afirmação sob a forma de pergunta, e
isso se justifica pelo fato de, nela, o autor sugerir ter sido
o próprio pai o "culpado" de seu "gosto pela arte", um
gosto que o levaria a contrariar determinações paternas.
b) As formas cousa e vossemecê, hoje desusadas no Bra-
sil, atestam a evolução da língua.
3.
a) Não. Apenas em II está sendo usado de modo ade-
quado. Em II, o verbo DANÇA permite a interpretação
no sentido não literal de: "sair-se mal", "pode-se pre-
judicar".
b) A expressão "as vezes literalmente" refere-se a
"apagadas". Em sentido literal, as mulheres soviéticas
chegam a ser excluídas, suprimindo qualquer referência
sobre elas. Em sentido não-literal, as mulheres soviéticas
são inexpressivas, sem reação.
4.
a) SEMPRE, em Antero, e NUNCA, em Antunes.
b) No poema "Tormento ideal" : "Para sempre fiquei
pálido e triste."
5. Camões: oposição entre os advérbios que se referem à terra e
ao céu. A oposição dá a ideia de distanciamento físico.
Machado: o advérbio (aqui) reflete a proximidade entre o
amante e o objeto de seu amor.
 VOLUME 2

26  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


LC PRONOMES PESSOAIS

AULAS
11 E 12 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27

E.O. Aprendizagem sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que
tenha existido, exista ou venha a existir.
As três atividades e suas respectivas condições têm íntima relação
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO com as condições mais gerais da existência humana: o nascimento
e a morte, a natalidade e a mortalidade. O labor assegura não
A CONDIÇÃO HUMANA
apenas a sobrevivência do indivíduo, mas a vida da espécie. 8O
A Vita Activa e a Condição Humana trabalho e seu produto, o artefato humano, 9emprestam certa per-
manência e durabilidade à futilidade da vida mortal e ao caráter
Com a expressão vita activa, pretendo designar três atividades efêmero do corpo humano. A ação, na medida em que se empe-
humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. Trata-se de ati- nha em fundar e preservar corpos políticos, cria a condição para
vidades fundamentais porque a cada uma delas corresponde a lembrança, ou seja, para a história. 10O labor e o trabalho, bem
uma das condições básicas mediante as quais a vida foi dada como a ação, têm também raízes na natalidade, na medida em
ao homem na Terra. que sua tarefa é produzir e preservar o mundo para 11o constante
1
O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico influxo de recém-chegados que vêm a este mundo na qualidade
do corpo humano, cujos crescimento espontâneo, metabolismo de estranhos, além de prevê-los e levá-los em conta. 12Não obstan-
e eventual declínio têm a ver com as necessidades vitais produ- te, das três atividades, a ação é a mais intimamente relacionada
zidas e introduzidas pelo labor no processo da vida. A condição com a condição humana da natalidade; o novo começo inerente a
humana do labor é a própria vida. cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque
o recém-chegado possui a capacidade de iniciar algo novo, isto é,
O trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da exis- de agir. Neste sentido de iniciativa, todas as atividades humanas
tência humana, existência esta não necessariamente contida no possuem um elemento de ação e, portanto, de natalidade. 13Além
eterno ciclo vital da espécie, e cuja mortalidade não é compensada disto, como a ação é a atividade política por excelência, a natali-
por este último. O trabalho produz um mundo “artificial” de coisas, dade, e não a mortalidade, pode constituir a categoria central do
nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. 2Dentro de pensamento político, em contraposição ao pensamento metafísico.
suas fronteiras habita cada vida individual, embora esse mundo se
destine a sobreviver e a transcender todas as vidas individuais. A A condição humana compreende algo mais que as condições nas
condição humana do trabalho é a mundanidade. quais a vida foi dada ao homem. Os homens são seres condiciona-
dos: tudo aquilo com o qual eles entram em contato torna-se ime-
3
A ação, única atividade que se exerce diretamente entre os ho- diatamente uma condição de sua existência. O mundo no qual trans-
mens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à corre a vita activa consiste em coisas produzidas pelas atividades
condição humana da pluralidade, ao fato de que homens, e não humanas; mas, constantemente, as coisas que devem sua existência
o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos exclusivamente aos homens também condicionam os seus autores
da condição humana têm alguma relação com a política; mas humanos. Além das condições nas quais a vida é dada ao homem
esta pluralidade é especificamente a condição – não apenas a na Terra e, até certo ponto, a partir delas, os homens constantemente
conditio sine qua non, mas a conditio per quam – de toda a criam as suas próprias condições que, a despeito de sua variabilida-
vida política. Assim, o idioma dos romanos – talvez o povo mais de e sua origem humana, possuem a mesma força condicionante
político que conhecemos – empregava como sinônimas as ex- das coisas naturais. O que quer que toque a vida humana ou entre
pressões “viver” e “estar entre os homens” (inter homines esse), em duradoura relação com ela, assume imediatamente o caráter de
ou “morrer” e “deixar de estar entre os homens” (inter homines condição da existência humana. É por isso que os homens, indepen-
esse desinere). 4Mas, em sua forma mais elementar, a condição dentemente do que façam, são sempre seres condicionados. Tudo
humana da ação está implícita até mesmo em Gênesis (macho e o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele é
fêmea Ele os criou), se entendermos que esta versão da criação trazido pelo esforço humano, torna-se parte da condição humana. O
do homem diverge, em princípio, da outra segundo a qual Deus impacto da realidade do mundo sobre a existência humana é sentido
originalmente criou o Homem (adam) – a ele, e não a eles, de e recebido como força condicionante. A objetividade do mundo – o
sorte que a pluralidade dos seres humanos vem a ser o resulta- seu caráter de coisa ou objeto – e a condição humana complemen-
do da multiplicação5. 6A ação seria um luxo desnecessário, uma tam-se uma à outra; por ser uma existência condicionada, a exis-
caprichosa interferência com as leis gerais do comportamento,
 VOLUME 2

tência humana seria impossível sem as coisas, e estas seriam um


se os homens não passassem de repetições interminavelmente amontoado de artigos incoerentes, um não mundo, se esses artigos
reproduzíveis do mesmo modelo, todas dotadas da mesma na- não fossem condicionantes da existência humana.
tureza e essência, tão previsíveis quanto a natureza e a essência
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Tradução
de qualquer outra coisa. 7A pluralidade é a condição da ação de Roberto Raposo: Editora da Universidade de São
humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, Paulo, 1981. pp. 15-17 (texto adaptado).

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  27


5
: Quando se analisa o pensamento político pós-clássico, muito Assim também, a pessoa que desejar aprender ou se mostrar mais
se pode aprender verificando-se qual das duas versões bíblicas eficiente no manejo da língua poderá dispensar a leitura reflexiva
da criação é citada. Assim, é típico da diferença entre os ensi- da gramática, e a aprender somente ouvindo e repetindo como
namentos de Jesus de Nazareth e de Paulo o fato de que Jesus, falam as pessoas instruídas, ou lendo artigos e livros bem escritos.
discutindo a relação entre marido e mulher, refere-se a Gênesis Mas este caminho lhe exigirá, com certeza, mais tempo e esforço.
1:27 “Não tendes lido que quem criou o homem desde o princípio
[...]
fê-los macho e fêmea” (Mateus 19:4), enquanto Paulo, em ocasião (BECHARA, Evanildo. Gramática fácil. Rio de
semelhante, insiste em que a mulher foi criada “do homem” e, Janeiro: Nova Fronteira, 2014, p. 14)
portanto, “para o homem”, embora em seguida atenue um pouco
a dependência: “nem o varão é sem mulher, nem a mulher sem o 2. (G1 - ifal 2018) No texto, as ligações adequadas en-
varão” (1 Cor.11:8-12). A diferença indica muito mais que uma tre as partes que o constituem são fundamentais para
atitude diferente em relação ao papel da mulher. Para Jesus, a fé garantir a ele coerência. Tais ligações podem dar-se por
meio de processos de referência a termos já menciona-
era intimamente relacionada com a ação; para Paulo, a fé rela-
dos no texto ou que nele ainda vão aparecer, retoman-
cionava-se, antes de mais nada, com a salvação. Especialmente
do-se ou antecipando-se as ideias.
interessante a este respeito é Agostinho (De civitate Dei xii.21), que
não só desconsidera inteiramente o que é dito em Gênesis 1:27, No excerto “Mas este caminho lhe exigirá, com certe-
mas vê a diferença entre o homem e o animal no fato de ter sido za, mais tempo e esforço.”, o pronome grifado:
o homem criado unum ac singulum, enquanto se ordenou aos ani- a) retoma “a pessoa que desejar aprender ou se
mais que “passassem a existir vários de uma só vez” (plura simul mostrar mais eficiente no manejo da língua”.
iussit existere). Para Agostinho, a história da criação constitui boa b) foi mal empregado, haja vista que a concor dância
oportunidade para salientar-se o caráter de espécie da vida animal, no singular gera ambiguidade quanto ao seu referente.
em oposição à singularidade da existência humana. c) refere-se textualmente a “a leitura reflexiva da
gramática”.
1. (Ime 2018) Leia atentamente o trecho abaixo desta-
d) pode referir-se tanto a “a leitura reflexiva da gramáti-
cado, retirado do texto.
ca” quanto a “artigos e livros bem escritos”, pois são
Mas, em sua forma mais elementar, a condição humana da ação as ideias mais próximas do pronome em questão.
está implícita até mesmo em Gênesis (macho e fêmea Ele os e) estabelece uma coesão com um elemento externo
criou), se entendermos que esta versão da criação do homem ao texto: seus possíveis leitores.
diverge, em princípio, da outra segundo a qual Deus original-
mente criou o Homem (adam) – a ele, e não a eles, de sorte TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
que a pluralidade dos seres humanos vem a ser o resultado da
multiplicação (referência 4). Quarto de Despejo
Em (macho e fêmea Ele os criou) a forma pronominal
“O grito da favela que tocou a consciência do mundo inteiro”
os refere-se
2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há tempos que eu
a) ao termo latino adam.
pretendia fazer o meu diario. Mas eu pensava que não tinha val-
b) ao elemento catafórico expresso pela palavra Deus.
or e achei que era perder tempo.
c) às palavras Homem e adam simultaneamente.
d) à expressão “pluralidade dos seres humanos”. ...Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar as pessoas que eu con-
heço com mais atenção. Quero enviar sorriso amavel as crianças e
e) às palavras macho e fêmea.
aos operarios.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ...Recebi intimação para comparecer as 8 horas da noite na Del-
egacia do 12. Passei o dia catando papel. A noite os meus pés
Quando alguém visita uma cidade pela primeira vez e se hospe-
doiam tanto que eu não podia andar.
da num hotel, depois das formalidades que o hóspede tem de
atender, recebe do funcionário da recepção um mapa da cidade. Começou chover. Eu ia na Delegacia, ia levar o José Carlos. A
Dessa forma o visitante rapidamente toma conhecimento das intimação era para ele. O José Carlos tem 9 anos.
ruas, avenidas e praças próximas e afastadas do hotel, habilitan- 3 de MAIO. ...Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar
do-se com mais eficiência e rapidez a desfrutar dos pontos mais qualquer coisa. Ganhei bastante verdura. Mas ficou sem efeito,
atrativos que a cidade lhe oferecerá. porque eu não tenho gordura. Os meninos estão nervosos por
não ter o que comer.
A leitura de uma gramática para quem quer conhecer uma
língua será tão proveitosa quanto foi para o nosso visitante 6 de MAIO. De manhã não fui buscar agua. Mandei o João
a leitura do mapa da cidade. Isto porque a gramática procu- carregar. Eu estava contente. Recebi outra intimação. Eu estava
inspirada e os versos eram bonitos e eu esqueci de ir na Del-
ra mostrar como os elementos que compõem uma língua se
egacia. Era 11 horas quando eu recordei do convite do ilustre
estruturam e se organizam para a elaboração de textos, pelos
tenente da 12ª Delegacia.
quais as pessoas se comunicam umas com as outras.
 VOLUME 2

...o que eu aviso aos pretendentes a política, é que o povo não


Está claro que o visitante da cidade, no nosso primeiro exemplo,
tolera a fome. É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la.
desprezando a consulta ao mapa, poderá chegar a conhecer a
cidade; mas, se assim proceder, levará mais tempo, e, nas suas Estão construindo um circo aqui na Rua Araguaia, Circo Theatro Nilo.
andanças, sentirá mais dificuldade de orientação, podendo per- 9 de MAIO. Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz
der-se muitas vezes, ao querer retornar ao hotel. de conta que estou sonhando.

28  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


10 de MAIO. Fui na Delegacia e falei com o Tenente. Que homem 3. (Epcar (Afa)) Quanto ao uso dos pronomes, assinale a
amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na opção que traz uma INFRAÇÃO à norma padrão da língua.
Delegacia na primeira intimação. a) “Estou escrevendo até passar a chuva para mim ir lá
(...) O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. no Senhor Manuel vender os ferros.”
Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas b) “Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-
tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria me a banha e arroz.”
e ao país. Pensei: se ele sabe disso, porque não faz um relatorio c) “...as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do
e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, que tornar-se util a patria e ao país.”
e o Dr Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma d) “É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la.”
pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.
(...) O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
fome. A fome tambem é professora. Quem passa fome aprende
a pensar no proximo e nas crianças. Editorial

11 de MAIO. Dia das mães. O céu está azul e branco. Parece O valor da vida
que até a natureza quer homenagear as mães que atualmente
se sentem infeliz por não realizar os desejos de seus filhos. (...) Hermann A.V. von Tiesenhausen. Diretor executivo do jornal Medicina
O sol vai galgando. Hoje não vai chover. Hoje é o nosso dia. (...) A mistanásia é um termo pouco utilizado nas conversas do dia
A D. Teresinha veio visitar-me. Ela deu-me 15 cruzeiros. Disse- a dia, mas, que, infelizmente, não está tão distante de nossa
me que era para a Vera ir no circo. Mas eu vou deixar o dinheiro realidade. A imprensa registra, sem filtros, o drama de milhares
para comprar pão amanhã, porque eu só tenho 4 cruzeiros.(...) de pacientes e profissionais nos postos de saúde, hospitais e
Ontem eu ganhei metade da cabeça de um porco no frigorifico. prontos-socorros e traduz a dura proximidade com a expressão.
Comemos a carne e guardei os ossos para ferver. E com o caldo
O significado de mistanásia remete à omissão de socorro, à
fiz as batatas. Os meus filhos estão sempre com fome. Quando
negligência. Ela representa a morte miserável, antes da hora. É
eles passam muita fome eles não são exigentes no paladar. (...) conhecida como a eutanásia social. No Brasil, seu flagelo atinge,
Surgiu a noite. As estrelas estão ocultas. O barraco está cheio sobretudo, os mais carentes, que dependem exclusivamente do
de pernilongos. Eu vou acender uma folha de jornal e passar Estado quando o corpo padece.
pelas paredes. É assim que os favelados matam mosquitos.
Um exemplo do que a mistanásia pode causar apareceu em série de
13 de MAIO. Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para reportagens exibida pelo Jornal Nacional (Rede Globo), em janeiro,
mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos que dissecou o drama dos pacientes com câncer no país. A falta de
escravos. Nas prisões os negros eram os bodes expiatorios. Mas tudo torna a larga espera pelo atendimento um duro calvário e, em
os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com desprezo. meio ao desespero, centros de excelência, como o Instituto Nacional
Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz. do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, minguam a céu aberto.
(...) Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está A falência do sistema público de saúde não é só um fenômeno
forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou administrativo ou contábil. Quem dera o fosse. Assim, seria mais
escrevendo até passar a chuva para mim ir lá no Senhor Man- fácil suportá-la, pois contas se arrumam. A questão é que o de-
uel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar sequilíbrio causado por uma gestão feita de pessoas perdidas
arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. (...) Eu ten- em meio ao tiroteio entrou em nossas casas pela porta da frente.
ho dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles
A situação grave, contornada com paliativos, ceifa vidas, inclusive
brada: Viva a mamãe!. A manifestação agrada-me. Mas eu já de crianças e jovens, impedidos de receber aquilo que a Consti-
perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais tuição lhes garante como direito cidadão: o acesso universal, in-
comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a tegral, gratuito e com equidade a serviços de saúde de qualidade.
Dona Ida. Mandei-lhe um bilhete assim:
Nesta edição do jornal Medicina, apresentamos números do valor
“Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouquinho de gordu- da vida e da saúde de cada brasileiro para o setor público. A média
ra, para eu fazer sopa para os meninos. Hoje choveu e não pude nacional não supera osao dia, ou seja, quase nada se comparado a
catar papel. Agradeço. Carolina” outros países com modelos assistenciais semelhantes.
(...) Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a Essa conta acentua a tragédia da morte anunciada em corredores
gente come mais. A Vera começou a pedir comida. E eu não e filas de espera e suscita um questionamento importante, pois os
tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. dados evidenciam que, apesar do pouco destinado, é o mau uso
Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. dos recursos que estão disponíveis que aprofunda a crise.
Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha
O Brasil está diante de um dilema. É hora de rever caminhos,
e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos.
adotar novas posturas, corrigir falhas para não sentenciar a po-
 VOLUME 2

E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escrava- pulação à doença e tirar do estado de coma em que se encontra
tura atual – a fome! o Sistema Único de Saúde (SUS), uma das maiores políticas so-
(DE JESUS, Carolina Maria. Quarto de Despejo.) ciais do mundo e balizador de todo modelo de atenção no País.
Jornal Medicina. Publicação oficial do Conselho
Federal de Medicina. Janeiro 2016.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  29


4. (Fac. Albert Einstein - Medicin) Indique o referente 6. (Insper)
textual a que o pronome destacado faz remissão [5º
parágrafo]:
“A situação grave, contornada com paliativos, ceifa vi-
das, inclusive de crianças e jovens, impedidos de rece-
ber aquilo que a Constituição lhes garante como direito
cidadão: o acesso universal, integral, gratuito e com
equidade a serviços de saúde de qualidade.”
a) Jovens.
b) Crianças e jovens.
c) Crianças.
d) Paliativos e vidas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

EMBARQUE IMEDIATO

Não basta passar pelos dias. Viva a partir de agora, com


emoção
Por Márcia de Luca

Neste mundo de turbulências em que estamos vivendo, muitas


vezes nos sentimos deprimidos. Em certos momentos, parece que
tudo está perdido, não é mesmo? Achamos que tudo está dife- O pronome “ele”, no texto, refere-se
rente, que as pessoas estão ruins.
a) ao autor do livro anunciado, Ernesto Paglia.
Mas aqui e agora, tome uma atitude firme em sua vida. Mude seu b) à expressão “um dos quadros de maior audiência
jeito negativo de ser, evitando que sua vida seja insignificante. do Jornal Nacional”.
Perdoe erros que você considerava imperdoáveis, troque as pesso- c) à expressão “Diário de bordo do JN no ar”.
as insubstituíveis por gente mais leve e solta. O apego aos outros d) à expressão “Escrito por Ernesto Paglia”.
está obsoleto. Nada nem ninguém é insubstituível. Aceite a decep- e) ao segundo descobrimento do Brasil.
ção que outros lhe causaram para que você também seja aceito.
Sim, porque todos, inclusive nós, já decepcionamos alguém.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Antes de reagir por impulso, pare, respire fundo. E, só então, aja,
com equilíbrio. Ame profundamente, dê risadas gostosas, abrace, A(s) questão(ões) está(ão) relacionada(s) ao texto abaixo.
proteja pessoas queridas, faça amigos. Pule de felicidade e não
_____1_____ me perguntam: quantas palavras uma pessoa
tenha medo de quebrar a cara – se isso acontecer, encare com
sabe? Essa 1é uma pergunta importante, 2principalmente para
leveza. Se perder alguém nesta vida, sofra comedidamente – e vá
quem ensina línguas estrangeiras. Seria muito útil para quem
em frente, pois tudo passa. planeja um curso de francês ou japonês ter uma 3estimativa de
Mas, sobretudo, não seja alguém que simplesmente passa pela quantas palavras um nativo conhece; e quantas os alunos pre-
vida. Viva intensamente. Abrace o mundo com a devida paixão cisam aprender para usar a língua com certa facilidade. 4Essas
que ele merece. Se perder, faça-o com classe, se vencer, que de- informações seriam preciosas para quem está preparando um
lícia! O mundo pertence a quem se atreve a ser feliz. Aproveite manual que inclua, 5entre outras coisas, um planejamento cuida-
cada instante dessa grande aventura. doso da introdução 6gradual de vocabulário.
Agora mesmo, neste voo, sente-se confortavelmente na poltrona, À parte isso, a pergunta tem seu interesse próprio. Uma língua
com a coluna ereta e de olhos fechados. Faça vários ciclos de res- não é apenas composta de palavras: ela inclui também regras
piração profunda e sinta o ar entrando e saindo. Quando sentir seu gramaticais e um mundo de outros elementos que também
corpo relaxado e sua mente mais calma, pense em sua nova vida, precisam ser dominados. Mas as palavras são particularmente
mais leve. Desta maneira você viverá mais facilmente. numerosas, e é notável como qualquer pessoa, instruída ou não,
Fonte: Revista Gol – Linhas áreas inteligentes _____2_____ acesso a esse 7acervo imenso de informação com
facilidade e rapidez. Assim, perguntar quantas palavras uma pes-
5. (G1 - ifsul6) Em que trecho a palavra sublinhada NÃO soa sabe é parte do problema geral de o que é que uma pessoa
é um pronome? tem em sua mente e que _____3_____ permite usar a língua,
falando e entendendo.
 VOLUME 2

a) Aceite a decepção que outros lhe causaram.


b) Se perder alguém nesta vida, sofra comedidamente.
8
Antes de mais nada, porém, o que é 9uma palavra? 10Ora, 11al-
guém vai dizer, 12“todo mundo sabe o que é uma palavra”. Mas
c) O mundo pertence a quem se atreve a ser feliz.
não é bem assim. Considere a palavra olho. É muito claro que
d) Se perder, faça-o com classe. isso aí é uma palavra – mas será que olhos é a mesma palavra
(só que no plural)? Ou será outra palavra?

30  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


13
Bom, há razões para responder das duas maneiras: é a mesma seja por ele ser pouco sentido, seja por ser bem suportado, ou
palavra, porque significa a mesma coisa (mas com a ideia de até provocar prazer. É a coragem dos estouvados, dos brigões
plural); e é outra palavra, porque se pronuncia diferentemente ou dos 10impávidos, a coragem dos “durões”, como se diz em
(olhos tem um “s” final que olho não tem, além da 14diferença nossos filmes policiais, e todos sabem que a 2virtude pode não
de timbre das vogais tônicas). 15Entretanto, a razão 16principal ter nada a ver com ela.
por que 17julgamos que olho e olhos sejam a mesma palavra é Isso quer dizer que 1ela é, do ponto de vista moral, totalmente in-
que a relação entre elas é extremamente regular; ou seja, vale diferente? Não é tão simples assim. Mesmo numa situação em
não apenas para esse par, mas para milhares de outros pares de que 3eu agiria apenas por 11egoísmo, pode-se estimar que a ação
elementos da língua: olho/olhos, orelha/orelhas, gato/gatos, etc. generosa (por exemplo, o combate contra um agressor, em vez
E, semanticamente, a relação é a mesma em todos os pares: a da súplica) manifestará maior domínio, maior 13dignidade, maior
forma sem “s” denota um objeto só, a forma com “s” denota 14
liberdade, 15qualidades moralmente significativas e que darão
mais de um objeto. 18Daí se tira uma consequência importante: à coragem, como que por retroação, 5algo de seu valor: sem ser
não é preciso aprender e guardar permanentemente na memória sempre moral, em sua essência, a coragem é aquilo sem o que, não
cada caso individual; aprendemos uma regra geral (“19faz-se o há dúvida, qualquer moral seria impossível ou sem efeito. 4Alguém
plural acrescentando um “s” ao singular”), e estamos prontos. que se entregasse totalmente ao medo que lugar poderia deixar
aos seus deveres? (...) O medo é egoísta. A covardia é egoísta. (...)
Adaptado de: PERINI, Mário A. Semântica lexical.
ReVEL, v. 11, n. 20, 2013. Como virtude, ao contrário, a coragem supõe sempre uma forma
de 7desinteresse, de 8altruísmo ou de 9generosidade. Ela não exclui,
7. (Ufrgs 2018) Assinale a alternativa que preenche cor- sem dúvida, uma certa 16insensibilidade ao medo, até mesmo um
retamente as lacunas 1, 2 e 3, nessa ordem. gosto por ele. Mas não 6os supõe necessariamente. Essa coragem
não é a ausência do medo, é a capacidade de superá-lo, quando
a) Às vezes – têm – lhe
ele existe, por uma vontade mais forte e mais generosa. Já não é
b) Às vezes – tem – lhe (ou já não é apenas) fisiologia, é força de alma, diante do perigo. Já
c) As vezes – têm – o não é uma paixão, é uma virtude, é a condição de todas. Já não é a
d) Às vezes – tem – o coragem dos durões, é a coragem dos doces, e dos heróis.
e) As vezes – têm – lhe André Comte-Sponville. Pequeno tratado das
grandes virtudes. p. 55 a 57 (adaptado).
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Leia o soneto “LXXII”, de Cláudio Manuel da Costa 9. (Pucrs) Quanto ao emprego de pronomes no texto,
(1729-1789), para responder à(s) questão(ões). afirma-se:
Já rompe, Nise, a matutina Aurora 1. O “ela” (ref. 1), retoma “virtude” (ref. 2).
O negro manto, com que a noite escura, 2. Quanto ao sentido, o “eu” (ref. 3), tem valor equiva-
Sufocando do Sol a face pura, lente ao de “alguém” (ref. 4).
Tinha escondido a chama brilhadora. 3. A palavra “algo” (ref. 5), poderia ser substituída
Que alegre, que suave, que sonora pela expressão “um pouco”, sem prejuízo à coerência
Aquela fontezinha aqui murmura! e à correção do texto.
E nestes campos cheios de verdura 4. O “os” (ref. 6), retoma “desinteresses” (ref. 7), “altruís-
Que avultado o prazer tanto melhora! mo” (ref. 8) e “generosidade” (ref. 9).
Só minha alma em fatal melancolia, Estão corretas apenas as afirmativas
Por te não poder ver, Nise adorada,
Não sabe inda que coisa é alegria; a) 1 e 2.
E a suavidade do prazer trocada b) 2 e 3.
Tanto mais aborrece a luz do dia, c) 2 e 4.
Quanto a sombra da noite mais lhe agrada. d) 3 e 4.
(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.) e) 1, 3 e 4.

8. (Uefs 2018) Na terceira estrofe, o pronome “te” ref- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
ere-se a Guardião da brasilidade na América
a) “alma”. Na primeira vez em que esteve no Brasil, o historiador Thomas
b) “melancolia”. Cohen não estava entendendo nada. Logo ao chegar, tinha um
c) “Nise”. encontro com um renomado professor da história da Universida-
d) “coisa”. de de São Paulo. O professor chegou uma hora e meia atrasado
e) “alegria”. e anunciou que precisava viajar em seguida. 2Convidou o jo-
vem Cohen, então com 25 anos, para acompanhá-lo à cidade de
 VOLUME 2

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Franca, onde passaria o fim de semana dando palestras. Cohen
pensou que o professor fizera o convite apenas para compensá-
A coragem (...) só se torna uma 12virtude quando a serviço de -lo pelo desencontro e, polidamente, recusou. 1“Só depois des-
outrem ou de uma causa geral e generosa. Como traço de ca- cobri que os brasileiros são assim mesmo, disponíveis, espontâ-
ráter, a coragem é, sobretudo, uma fraca sensibilidade ao medo, neos”. Diz 3Cohen acabou encantando-se com a informalidade

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  31


dos intelectuais brasileiros, e hoje, passados trinta anos, entende Cerca dedos brasileiros com mais de 18 anos sofrem com o ex-
muito do Brasil. Já visitou o país dezenas de vezes, é fluente em cesso de peso, taxa que nove anos atrás era deJá caíram na faixa
português, especialista na obra do padre Antônio Vieira (1608- da obesidadede nossos conterrâneos. Os que visitam os Estados
1697) e guardião de uma preciosidade: a única biblioteca de- Unidos ficam chocados com o padrão e a prevalência da obesi-
dicada exclusivamente às coisas do Brasil e de Portugal em solo dade. Lá, a dieta e a profusão de alimentos consumidos até em
americano — a The Oliveira Lima Library. [...] elevadores conseguiram a proeza de engordar todo mundo; não
Andre Petry. Revista Veja São Paulo Abril. Edição 2317. escapam japoneses, vietnamitas nem indianos.
Ano 46. N° 16. 17 de abril de 2013, p. 93. As silhuetas de mulheres e homens com mais dequilos pelas ruas
10. (Uepb 2014) Em “Convidou o jovem Cohen, então e shopping centers deixam claro que existe algo profundamen-
com 25 anos, para acompanhá-lo à cidade de Franca, te errado com os hábitos alimentares do país. Nossos números
onde passaria o fim de semana dando palestras” (ref. mostram que caminhamos na esteira deles. Chegaremos lá, é
2), pode-se afirmar que: questão de tempo; pouco tempo.
A possibilidade de ganharmos a vida, sentados na frente do
a) O uso do pronome indica uma referência ao histo-
computador, as comodidades da rotina diária e a oferta genero-
riador, que também vai para a cidade de Franca.
sa de bebidas e alimentos industrializados repletos de gorduras e
b) Em “acompanhá-lo”, o pronome utilizado faz refe- açúcares que nos oferecem a toda hora criaram uma combinação
rência ao jovem Cohen, que viajará com o palestrante. perversa que conspira para o acúmulo de gordura no corpo.
c) O pronome oblíquo em “acompanhá-lo” substitui Os que incorporaram ascalorias em excesso no caminho para
o termo “professor” sem alterar o sentido do texto. Belo Horizonte só o fizeram porque o lanche lhes foi servido.
d) O sentido do enunciado é construído devido ao Milhões de anos de evolução, num mundo com baixa disponibi-
emprego do pronome que faz referência ao convite lidade de recursos, ensinaram o corpo humano a comer a maior
feito pelo professor. quantidade disponível a cada refeição, única forma de sobreviver
e) O pronome oblíquo foi usado para se referir ao aos dias de jejum que fatalmente viriam.
convidado do intelectual brasileiro. Engendrado em tempos de miséria, o cérebro humano está mal
adaptado à fartura. A saciedade à mesa só se instala depois de
E.O. Fixação ingerirmos muito mais calorias do que as necessárias para cobrir
os gastos daquele dia. A seleção natural nos ensinou a não des-
perdiçá-las, o excesso será armazenado sob a forma de gordura.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
O tecido gorduroso não é um reservatório inerte, produz hormô-
Lanchinho de avião nios, libera mediadores químicos que interferem com o metabo-
Drauzio Varella lismo e o equilíbrio entre fome e saciedade. E, o mais grave, dá
A comissária de bordo pede para afivelarmos os cintos e desli- origem a um processo inflamatório crônico que aumenta o risco
de doenças cardiovasculares, diabetes, vários tipos de câncer e
garmos os celulares. O comandante avisa que a decolagem foi
de outros males que infernizam e encurtam a vida moderna.
autorizada, a aeronave ganha velocidade na pista e levanta voo.
Pela janela, São Paulo vira um paliteiro de prédios espetados um Por essas e outras razões, caríssimo leitor, é preciso olhar para a co-
ao lado do outro. Um pouco mais à frente, a periferia inchada, mida como fazemos com a bebida: é bom, mas em excesso faz mal.
com ruas tortuosas e casas sem reboque, abraça o centro da Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 05 set. 2015. (Adaptado).
cidade como se fosse esganá-lo.
1. (G1 - cftmg 2016) A palavra ‘o’, grifada nas senten-
Em poucos minutos, ouve-se um som agudo, sinal de que os
ças a seguir, tem uso equivalente ao de um pronome
computadores podem ser ligados. Junto à porta de entrada, as demonstrativo em:
comissárias se levantam e preparam o carrinho de lanches. De
fileira em fileira, perguntam o que cada passageiro deseja beber. a) O que os leva a devorar no meio da manhã 500
No carrinho, acotovelam-se latas de refrigerantes, a garrafa de calorias adicionais, com gosto de isopor?
café e uma infinidade de pacotes de sucos mais doces do que o b) Os que incorporaram as 500 calorias em excesso
sorriso da mulher amada. O rapaz à minha direita prefere suco de no caminho para Belo Horizonte só o fizeram porque
manga; o da esquerda quer um de pêssego. Agradeço, não quero o lanche lhes foi servido.
nada. A moça estranha: “Nada, mesmo?”. c) As silhuetas de mulheres e homens com mais de
Em seguida, ela nos estende a mão que oferece um objeto ame- 120 quilos pelas ruas e shopping centers deixam
açador, embrulhado em papel branco. Em seu interior, um pão claro que existe algo profundamente errado com os
adocicado cortado ao meio abriga uma fatia de queijo e outra hábitos alimentares do país.
retirada do peito de um peru improvável. No reflexo, encolho d) E, o mais grave, dá origem a um processo inflamatório
as pernas. Se, porventura, um embrulho daqueles lhe escapa da crônico que aumenta o risco de doenças cardiovascu-
mão e cai em meu pé, adeus carreira de maratonista. [...] lares, diabetes, vários tipos de câncer e de outros males
que infernizam e encurtam a vida moderna.
O comandante informa que, em Belo Horizonte, o tempo é bom
 VOLUME 2

e que nosso voo terá duração de 40 minutos. São dez e meia, é


pouco provável que os circunstantes tenham saído de casa em 2. (G1 - ifal 2011) Para responder à questão, considere
jejum. O que os leva a devorar no meio da manhãcalorias adicio- a ideia expressa na fala de Mafalda e analise o diálogo
nais, com gosto de isopor? Qual é o sentido de servir comida em
entre ela e Susanita neste quadrinho de Quino.
voos de 40 minutos?

32  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


"útil" ou "divertida" e foi ganhando um espaço central, a ponto
de a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido.
Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem para
a gravidade do que ocorria. "Como a internet faz parte do dia a
dia dos adolescentes e o isolamento é um comportamento típico
dessa fase da vida, a família raramente detecta o problema antes
de ele ter fugido ao controle", diz um psiquiatra. A ciência, por
sua vez, já tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença.
De saída, o tempo na internet aumenta — até culminar, pasme-
-se, numa rotina de catorze horas diárias, de acordo com o estudo
americano. As situações vividas na rede passam, então, a habitar
mais e mais as conversas. É típico o aparecimento de olheiras
profundas e ainda um ganho de peso relevante, resultado da fre-
quente troca de refeições por sanduíches — que prescindem de
talheres e liberam uma das mãos para o teclado. Gradativamen-
te, a vida social vai se extinguindo. Alerta outra psicóloga: "Se a
Com relação ao emprego dos pronomes oblíquos nas falas pessoa começa a ter mais amigos na rede do que fora dela, é um
das personagens, apenas uma afirmativa a seguir é falsa: sinal claro de que as coisas não vão bem".
a) Percebe-se um sentido de reciprocidade no uso do Os jovens são, de longe, os mais propensos a extrapolar o uso da
pronome feito por Mafalda. internet. Há uma razão estatística para isso — eles respondem
b) No segundo quadrinho, a ausência do TE, na per- por até 90% dos que navegam na rede, a maior fatia —, mas
gunta de Susanita, indicaria que ela entendera per- pesa também uma explicação de fundo mais psicológico, à qual
feitamente a fala de Mafalda. uma recente pesquisa lança luz. Algo como 10% dos entrevis-
c) O emprego dos pronomes oblíquos na fala de Su- tados (viciados ou não) chegam a atribuir à internet uma ma-
sanita, no segundo quadrinho, desencadeia toda a neira de "aliviar os sentimentos negativos", tão típicos de uma
incoerência do diálogo. etapa em que afloram tantas angústias e conflitos. Na rede, os
d) Produzir-se-ia uma relação de coerência no diálo- adolescentes sentem-se ainda mais à vontade para expor suas
go entre as garotas se considerássemos apenas o pri- ideias. Diz um outro psiquiatra: "Num momento em que a pró-
meiro e o terceiro quadrinhos. pria personalidade está por se definir, a internet proporciona um
e) O pronome empregado por Mafalda tem valor reflexivo. ambiente favorável para que eles se expressem livremente". No
perfil daquela minoria que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO geral, uma combinação de baixa autoestima com intolerância à
frustração. Cerca de 50% deles, inclusive, sofrem de depressão,
Quando a rede vira um vício fobia social ou algum transtorno de ansiedade. É nesse cenário
que os múltiplos usos da rede ganham um valor distorcido. Entre
Com o titulo "Preciso de ajuda", fez-se um desabafo aos integran- os que já têm o vicio, a maior adoração é pelas redes de relacio-
tes da comunidade Viciados em Internet Anônimos: "Estou muito namento e pelos jogos on-line, sobretudo por aqueles em que
dependente da web, Não consigo mais viver normalmente. Isso é não existe noção de começo, meio ou fim.
muito sério". Logo obteve resposta de um colega de rede. "Estou
na mesma situação. Hoje, praticamente vivo em frente ao compu- Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo de relevo
tador. Preciso de ajuda." Odiálogo dá a dimensão do tormento sobre o tema, nos Estados Unidos, a dependência em internet é
provocado pela dependência em Internet, um mal que começa a reconhecida — e tratada — como uma doença. Surgiram grupos
ganhar relevo estatístico, à medida que o uso da própria rede se especializados por toda parte. "Muita gente que procura ajuda
dissemina. Segundo pesquisas recém-conduzidas pelo Centro de ainda resiste à ideia de que essa é uma doença", conta um psi-
Recuperação para Dependência de Internet, nos Estados Unidos, cólogo. O prognóstico é bom: em dezoito semanas de sessões
a parcela de viciados representa, nos vários países estudados, de individuais e em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de uso da
5% (como no Brasil) a 10% dos que usam a web — com con- internet. Não seria factível, tampouco desejável, que se mantives-
centração na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são enormes. sem totalmente distantes dela, como se espera, por exemplo, de
Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o doente um alcoólatra em relação à bebida. Com a rede, afinal, descorti-
desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-line por na-se uma nova dimensão de acesso às informações, à produção
uma eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em sociedades
constantes crises de abstinência quando está desconectado, e seu modernas, não faz sentido se privar. Toda a questão gira em tor-
desempenho nas tarefas de natureza intelectual despenca. Dian- no da dose ideal, sobre a qual já existe um consenso acerca do
te da tela do computador, vive, aí sim, momentos de rara euforia. razoável: até duas horas diárias, no caso de crianças e adoles-
Conclui uma psicóloga americana: "O viciado em internet vai, aos centes. Quanto antes a ideia do limite for sedimentada, melhor.
poucos, perdendo os elos com o mundo real até desembocar num Na avaliação de uma das psicólogas, "Os pais não devem temer
o computador, mas, sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de
 VOLUME 2

universo paralelo — e completamente virtual".


forma útil e saudável". Desse modo, reduz-se drasticamente a
Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer possibilidade de que, no futuro, eles enfrentem o drama vivido
uso saudável e produtivo da rede para estabelecer com ela uma hoje pelos jovens viciados.
relação doentia, como a que se revela nas histórias relatadas ao
longo desta reportagem. Em todos os casos, a internet era apenas Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24 de março de 2010. Adaptado.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  33


3. (G1 - col. naval 2011) Assinale a opção em que está – Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem ba-
correto o emprego do pronome pessoal. nheiro? Alguns passageiros riram, outros – por fineza – fingiram
a) Os viciados em Web são reais. Precisamos ajudar-lhes. ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de pri-
b) Podemos ter relacionamentos virtuais, mas não de- meira viagem. Mas ela era um azougue* (...) e não parava de
vemos priorizá-los. badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e
quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o
c) A Internet é útil e pode ser produtiva. Não devemos
atribuí-la a culpa pelo uso exagerado. encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos
por todos os lados.
d) Os filhos mais jovens costumam extrapolar o limite de
horas na internet. Por isso, os pais devem orientar-lhes. O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava
e) Os estragos para os jovens que não sabem tirar parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem.
proveito da Web são enormes. Usam-a compulsiva- Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia
mente, a ponto de perderem os elos com o mundo real. qualquer coisa. Logo veio a pergunta:
– Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era
OGX poderá ficar com campos em caso de recuperação de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.
“A OGX está bastante avisada que, em meio a tudo isso que ela Madama sossegou e os outros passageiros já estavam confor-
está vivendo, ela tem que ter uma fiel observância ao contrato, mados com o término do “show”. Mesmo os que mais se diver-
tem que estar atenta para o cumprimento das cláusulas contra- tiam com ele resolveram abrir jornais, revistas ou se acomodarem
tuais”, afirmou Magda Chambriard, diretora-geral da ANP. para tirar uma pestana durante a viagem.
Entre outras, as cláusulas abrangem fornecimento de garantias, Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela
realização dos planos de desenvolvimento, realização dos planos pedira para ficar do lado da janelinha para ver a paisagem) e gritou:
de avaliação, “enfim, todas as obrigações dos contratos que ela – Puxa vida!!!
tem, essa uma condição ‘sine qua nom’”, completou Magda.
Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a
(Folha de SP, 17.10.2013)
janela e disse:
4. (Espm 2016) Leia as frases do texto: – Olha lá embaixo.
“ela tem que ter uma fiel observância ao contrato” e Eu olhei. E ela acrescentou: – Como nós estamos voando alto, moço.
“as cláusulas abrangem fornecimento de garantias”. Olha só... o pessoal lá embaixo parece formiga.
Se os segmentos grifados forem substituídos por pro- Suspirei e lasquei:
nomes pessoais oblíquos, segundo a norma, teremos: – Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não
a) ter ela; abrangem ele. levantou voo.
b) tê-la; abrangem-nas. <http://atividadeslinguaportuguesa.blogspot.com.
br/2013/08/a-estranha-passageira-estanislaw-ponte.
c) tê-la; abrangem-no.
html> Acesso em: 26.02.2015. Adaptado.
d) tê-lo; abrangem-o.
e) ter a ela; abrangem-no. * azougue: indivíduo que expressa ligeireza; quem é
muito rápido.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
A estranha passageira 5. (G1 - cps 2015) Assinale a alternativa em que o verbo
Stanislaw Ponte Preta e o pronome, entre parênteses, substituem corretamente
as expressões em destaque.
– O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou
com zero hora de voo - e riu nervosinha, coitada. a) O narrador transmitia calma e segurança à passageira.
Depois pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava (transmitia-as)
muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se foi a oportunidade de b) Ele não pôde ler o romance recém-adquirido. (ler-lhes)
ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me c) Antes da decolagem, os viajantes abriam jornais e
distrair na viagem. Suspirei e me fiz de educado respondendo revistas para se distrair. (abriam-os)
que estava às suas ordens. d) Os outros passageiros fingiram ignorar os equívocos
Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros esta- daquela senhora. (ignorar-lhes)
vam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu em- e) A passageira arregalou os olhos ao descobrir a uti-
baraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia aos lidade dos saquinhos. (arregalou-os)
berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A
coisa foi ficando ridícula:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
 VOLUME 2

– Para que esse saquinho aí? – foi a pergunta que fez, num tom
Tu amarás outras mulheres
de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.
E tu me esquecerás!
– É para a senhora usar em caso de necessidade – respondi baixinho. É tão cruel, mas é a vida. E no entretanto
Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos Alguma coisa em ti pertence-me!
adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou: Em mim alguma coisa és tu.

34  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


O lado espiritual do nosso amor 7. (FACISB – UNESP 2015) “Há cerca de meio século
Nos marcou para sempre. apareceu um modo renovado de encará-los como bi-
Oh, vem em pensamento nos meus braços! chos, com todas as ressalvas da ciência e da filosofia.”
Que eu te afeiçoe e acaricie... (3º parágrafo).
(Manuel Bandeira: A Vigília de Hero. In: O RITMO A forma pronominal “los” retoma, no parágrafo, o termo
DISSOLUTO. POESIA COMPLETA E PROSA. 2ª ed.
Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967, p. 224.)
a) povos civilizados.
b) diversos matizes.
6. (Ufscar 2000) Manuel Bandeira usa, no poema, os pro- c) povos primitivos.
nomes pessoais com muitas variações. O pronome pes- d) princípios lógicos.
soal de primeira pessoa do singular, por exemplo, está e) seres privilegiados.
empregado na sua forma reta e nas formas oblíquas (eu,
me, mim). O mesmo acontece com o pronome pessoal de Leia o texto para responder à questão
a) segunda pessoa do singular. Um companheiro de casa que eu tive em estudante, joia entre as
b) terceira pessoa do singular. joias, meu inseparável amigo de recreios e trabalhos, cinco anos, co-
c) primeira pessoa do plural. mete um dia a refinada tolice de morrer. Horas e horas o meu deses-
d) segunda pessoa do plural. pero não conheceu calmante ou refrigério. Doze dias, febril, velara
e) terceira pessoa do plural. eu ao derredor da sua cabeceira, e depois dele morto e glácido1 no
leito, fui eu ainda quem lhe compôs a última toilette2. Alguém que
Leia o texto de Antonio Candido para responder à questão.
vinha às vezes, acordando na minha fraqueza orgânica, caquetiza-
O ponto de vista preponderante nos estudos filosóficos e sociais da por três dias da mais completa abstinência, lembrou-se, na der-
quase até os nossos dias foi, para usar uma expressão corriquei- radeira noite em que velamos, de me trazer do Baltresqui, um paco-
ra, o do adulto, branco, civilizado, que reduz à sua própria reali- tezinho de sanduíches. Oh torpeza da carne! Tanto bastou para que
dade a realidade dos outros. O mundo das crianças, por exemplo, eu, mesmo sem deixar de chorar, pensasse menos no morto, e cada
ou o dos povos estranhos – sobretudo os chamados primitivos vez mais nos sanduíches. A proximidade do repasto3 açulava-me
– era passado por este crivo deformante. Quando lembramos a fome, que a presença do amigo me obrigava a deixar sem vitu-
que Rousseau discerniu há mais de duzentos anos que o meni- alhas4. Venceu por fim a besta, era fatal: e por causa duma pouca
no não é um adulto em miniatura, mas um ser com problemas de vitela com mostarda, surpreendi-me eu a ter ódio aos despojos5
peculiares, devendo o adulto esforçar-se por compreendê-lo em do mais fiel companheiro da minha mocidade! E mais este era um
função de tais problemas, não dos seus próprios; e que, no en- amigo: que será então com os que a gente nem conhece!...
tanto, depois de dois séculos a maioria dos brancos, civilizados, (Fialho de Almeida, “O enterro do Rei D. Luís”. In: Massaud
continua a tratar os seus filhos e alunos como se esta verdade Moisés. Presença da literatura portuguesa, 1974.)
não estivesse consagrada pelos teóricos e pela observação de 1
glácido: gélido.
todo dia, – quando pensamos nisso podemos, comparativamen- 2
toilette: ato de se lavar, vestir etc.
te, avaliar a força da chamada ilusão antropocêntrica. 3
repasto: refeição.
O mais curioso é que, se desejarmos evitá-la, podemos ir ao erro 4
vitualha: comida.
oposto e exagerar as diferenças que há entre os indivíduos, os 5
despojos: restos mortais, cadáver.
grupos, as idades, as civilizações. Querendo, por exemplo, fugir
ao erro de considerar a criança um modelo reduzido, que deve 8. (FAMECA – UNESP 2017) O pronome em destaque
ser ajustado o mais depressa possível às normas da gente gran- está empregado com valor demonstrativo em:
de, podemos acentuar as suas peculiaridades ao ponto de con- a) “surpreendi-me eu a ter ódio aos despojos”.
siderá-la uma espécie de ser diferente, que é preciso tratar como b) “A proximidade do repasto açulava-me a fome”.
se vivesse à parte, num mundo também diferente, – sem norma
c) “lembrou-se, na derradeira noite em que velamos”.
nem barreira, guiado por uma lei obscura da própria evolução,
d) “que será então com os que a gente nem conhece!”.
que acabaria por domesticá-lo.
e) “fui eu ainda quem lhe compôs a última toilette”.
Em relação aos povos primitivos, a oscilação de atitude é igual-
mente acentuada. Nos quatro ou cinco séculos que decorreram Leia um fragmento do conto “Luís Soares”, de Machado
da sua entrada mais ou menos direta para o convívio dos povos de Assis, para responder à questão.
civilizados, eles têm sido considerados pendularmente como bru-
tos e como seres privilegiados, através de concepções que as- A prima Adelaide tinha vinte e quatro anos, e a sua beleza, no
sumem diversos matizes. Há cerca de meio século apareceu um pleno desenvolvimento da sua mocidade, tinha em si o condão
modo renovado de encará-los como bichos, com todas as res- de fazer morrer de amores. Era alta e bem proporcionada; tinha
salvas da ciência e da filosofia. É a teoria famosa de Lévy-Bruhl, uma cabeça modelada pelo tipo antigo; a testa era espaçosa
segundo a qual a mentalidade do primitivo seria, por assim dizer, e alta, os olhos rasgados e negros, o nariz levemente aquilino.
qualitativamente diversa, na medida em que subordina a visão Quem a contemplava durante alguns momentos sentia que ela
 VOLUME 2

do mundo, não a princípios lógicos, como nós, mas a uma espé- tinha todas as energias, a das paixões e a da vontade.
cie de indiferenciação entre sujeito e objeto, entre as categorias Há de lembrar-se o leitor do frio cumprimento trocado entre Ade-
e os corpos, de modo a definir um espírito “pré-lógico”, incapaz laide e seu primo Luís Soares; também se há de lembrar que Soares
de abstrair e de observar o princípio de contradição. disse ao amigo Pires ter sido amado por sua prima. Ligam-se estas
(Literatura e sociedade, 2008. Adaptado.)
duas coisas. A frieza de Adelaide resultava de uma lembrança que

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  35


era dolorosa para a moça; Adelaide amara o primo, não com um As mãos serão reservadas a práticas mais nobres, porque muita
simples amor de primos, que em geral resulta da convivência e não coisa que, até há pouco, ainda dependia delas será resolvida
de uma súbita atração. Amara-o com todo o vigor e calor de sua pelo comando de voz. Hoje, ao tomar certos elevadores, você
alma; mas já então o rapaz iniciava os seus passos em outras regi- já não precisa apertar um botão — basta dizer o número do
ões e ficou indiferente aos afetos da moça. Um amigo que sabia do andar e o bicho o leva até lá. Em breve, poderá fazer isto tam-
segredo perguntou-lhe um dia por que razão não se casava com bém com os eletrodomésticos, do aspirador, que, obedecendo à
Adelaide, ao que o rapaz respondeu friamente: sua ordem verbal, sairá cafungando por conta própria pelo seu
– Quem tem a minha fortuna não se casa; mas se se casa é sempre apartamento, ao chuveiro, que ficará pelando, gelado ou médio
com quem tenha mais. Os bens de Adelaide são a quinta parte dos de acordo com o seu tom de voz.
meus; para ela é negócio da China; para mim é um mau negócio. Enfim, será um admirável mundo novo, como nem Aldous Hu-
O amigo que ouvira esta resposta não deixou de dar uma prova xley4 ousou imaginar.
da sua afeição ao rapaz indo contar tudo à moça, que morava Liberados das tarefas prosaicas, resta ver de que se ocuparão
com o tio. O golpe foi tremendo, não tanto pela certeza que lhe nossas poéticas cabeças. Francamente, não faço muita fé.
dava de não ser amada, como pela circunstância de nem ao me- (www.folha.uol.com.br, 22.05.2017. Adaptado.)
nos ficar-lhe o direito de estima. A confissão de Soares era um
corpo de delito. O confidente oficioso esperava talvez colher os 1
Platão (427 a.C.?-347 a.C.?): filósofo da Grécia Antiga.
despojos da derrota; mas Adelaide, tão depressa ouviu a delação 2
Miguel de Cervantes (1547-1616): escritor espanhol,
como desprezou o delator. [...] criador do personagem D. Quixote.
Quando Soares voltou à casa do tio, a moça achou-se em 3
Humphrey Bogart (1899-1957): ator estadunidense.
dolorosa situação; era obrigada a conviver com um homem 4
Aldous Huxley (1894-1963): escritor inglês, autor do
ao qual nem podia dar apreço. romance Admirável mundo novo.
(Contos fluminenses,1997.)
10. (SÃO CAMILO – UNESP 2018) No contexto do terceiro
9. (FMJ – UNESP 2016) Pela análise do fragmento, é cor- parágrafo, o pronome destacado em “o bicho o leva até
reto afirmar que o narrador lá” refere-se ao
a) opõe-se à tese de que os indivíduos sejam movidos a) andar até o qual se deseja subir ou descer.
por interesse ou egoísmo, por isso aprova a postura b) usuário do elevador, identificado pela palavra “você”.
de Soares a respeito do casamento. c) elevador, que é também chamado de “bicho”.
b) ressalta na figura feminina a fragilidade característi- d) número selecionado ao se acionar o elevador.
ca das heroínas românticas, que se conformam com a e) botão acionado, que faz o elevador se mover.
traição e o abandono.
c) recria na linguagem o determinismo da ciência, im-
pondo às personagens comportamentos ditados pe- E.O. Complementar
los instintos.
Leia o texto de Danuza Leão para responder à questão.
d) participa da narração por meio da exposição de
seus próprios julgamentos sobre fatos e personagens O luxo
e da interação com o leitor.
Mesmo para quem já possui casa, carro, casa de praia etc., sempre
e) expõe seu otimismo em relação à humanidade, visto existirão objetos de desejo. Supondo que você seja uma pessoa
que admira a convicção de Adelaide de que seu amor normal, sem grandes ambições de quadros valiosos e joias ina-
pelo primo será capaz de regenerar o rapaz. creditáveis, quais são as coisas que despertam em você aquela
vontade louca de ter e aquele prazer imenso quando consegue?
Leia o texto de Ruy Castro para responder à questão. Nestes tempos tão modernos, é difícil saber.
Admirável mundo novo Houve uma época em que as coisas mais banais eram uma fes-
ta; uma barra de Toblerone comprada no free-shop enchia de
Os jornais deram: a casa do futuro será fabulosamente inteligente. alegria os corações infantis – e os adultos também. Ganhar de
Pelo que entendi, ela dispensará seu morador de ter de decidir se presente uma camiseta da Banana Republic ou um cinto da Gap
espana ou passa um pano nos móveis, fecha ou abre uma tornei- era o suprassumo do prazer, e fazer uma viagem, uma emoção
ra e dá ou não descarga no vaso. Ou seja, cada vez menos esse indescritível. Tudo era raro, e por isso tão especial. Mas agora
morador precisará usar a própria inteligência na intimidade do lar. os Toblerones são vendidos nos sinais de trânsito, e as camise-
Isso não será de todo mau. O ser humano, descendente de Platão1, tas importadas, nos camelôs. Teoricamente é ótimo: não é mais
Cervantes2 e Humphrey Bogart3, nasceu para coisas mais impor- preciso viajar para ter um pote de mostarda Dijon na geladeira –
tantes do que escolher entre lavar ou deixar de lavar as caçarolas. lembra a festa que foi quando o salmão defumado virou o frango
No futuro, a porta da casa dispensará a chave — abrirá ao con- da classe média alta? Ótimo é, mas a graça mesmo, essa acabou.
tato com a sua impressão digital. As luzes se acenderão assim Em qualquer lugar do mundo você come exatamente as mes-
 VOLUME 2

que você adentrar o recinto e se apagarão à medida que for mas coisas e pode comprar a mesma bolsa no Rio, em São
mudando de aposento. E não só. O ar condicionado ou a cale- Paulo, em Nova York, em Tóquio ou Cingapura, todas rigoro-
fação começará a funcionar automaticamente, de acordo com a samente iguais; as grifes se banalizaram, o que foi lançado na
temperatura; as músicas da sua vida surgirão de alguma fonte no semana passada em Londres já chegou aqui, e ter acesso às
volume que você achar ideal. coisas é apenas uma questão de conta bancária.

36  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Mas apesar de quase tudo ser franqueado, ainda existem coisas Dias depois, chamando-a ele pelo nome, a menina respondeu-lhe:
especiais, únicas, às quais podemos ter acesso; é só procurar, sem ir – Não me chamo mais Berta; meu nome agora é Til.
atrás das modas. De um pequeno restaurante que não faz parte de (José de Alencar, Til)
nenhum guia gastronômico a uma artesã de uma pequena cidade
no interior de Pernambuco; esse restaurante nunca vai ter filiais e 3. (UNITAU – 2014) Quanto aos pronomes destacados
essa bordadeira nunca vai vender suas peças para nenhuma ca- no fragmento de texto acima, assinale a alternativa que
deia de lojas. Esses achados – que não são necessariamente caros indica a que termos se referem:
– são preciosos, porque foi você quem procurou, encontrou, são
a) se (idiota); o (prazer); lhe (Brás).
únicos e só você tem; isso é que eu acho que é o verdadeiro luxo.
b) se (sinal); o (sinal); lhe (Brás).
(Folha de S.Paulo, 18.09.2011. Adaptado.)
c) se (símbolo); o (Brás); lhe (Berta).
1. (UNICID – UNESP 2015) Leia os trechos I e II. d) se (sinal); o (sinal); lhe (Berta).
I. Supondo que você seja uma pessoa normal, sem gran- e) se (sinal); o (prazer); lhe (idiota).
des ambições de quadros valiosos e joias inacreditáveis,
quais são as coisas que despertam em você aquela vonta- 4. (UFU - 2018) Em sua última viagem aos Estados Unidos
de louca de ter e aquele prazer imenso quando consegue? como primeira-ministra, Margaret Tatcher revelou a George
Bush: “Antes de nomear um ministro, peço-lhe para decifrar um
II. Mas apesar de quase tudo ser franqueado, ainda exis-
enigma. A Geoffrey Howe, por exemplo, perguntei: Se é filho de
tem coisas especiais, únicas, às quais podemos ter aces-
seu pai e não é seu irmão, quem é então? Geoffrey Howe res-
so; é só procurar, sem ir atrás das modas.
pondeu: Sou eu. E lhe dei o cargo de chanceler”.
Os verbos destacados nos trechos estão corretos e res- Impressionado, Bush resolveu testar o método com seu vice, Don
pectivamente acompanhados dos pronomes adequa- Quayle. Propôs o mesmo enigma. Quayle pediu um tempo para pen-
dos à coesão do texto e às regras de regência em: sar. Depois, telefonou ansioso para Henry Kissinger, que lhe ensinou:
a) tê-la; o consegue; procurá-lo. – A resposta é “eu”.
b) tê-las; a consegue; procurar-lhe.
Quayle voltou a Bush com ar de triunfo:
c) tê-las; as consegue; procurá-las.
d) ter-lhe; lhe consegue; procurar por elas. – A resposta é Kissinger.
e) ter-lhes; lhes consegue; procurar a elas. Bush bradou, contrariado:
– Não, é Geoffrey Howe.
Leia a charge para responder à questão
(POSSENTI, Sírio. Os humores da língua: análises linguísticas
de piadas. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1998.)

A piada baseia-se na solução de um enigma. Depois de


ser apresentado a um político inglês, Geoffrey Howe, o
enigma é apresentado aos políticos estadunidenses Ge-
orge Bush, Don Quayle e Henry Kissinger. Do ponto de
vista linguístico, o efeito humorístico dessa piada deve-
-se ao fato de que a referência do pronome pessoal na
resposta ao enigma é interpretada equivocadamente por
a) Quayle e Bush.
b) Quayle e Kissinger.
c) Bush e Kissinger.
d) Bush, Quayle e Kissinger.
2. (UNISA – UNESP 2016) De acordo com a norma-pa-
drão, as lacunas da charge devem ser preenchidas, re-
spectivamente, com: E.O. Objetivas
a) feijões – enrolem-nos – vasilha.
b) feijão – enrolem estes – vasilha.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
c) feijões – enrolem-os – vazilha. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
d) feijão – enrolem-os – vazilha.
e) feijões – enrolem eles – vazilha. Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia o poema
“Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-
Para responder à questão, leia o trecho do romance Til, 1987), que integra o livro Claro enigma, publicado ori-
 VOLUME 2

de José de Alencar, reproduzido abaixo: ginalmente em 1951.


Daí em diante aquele sinal, que para o idiota era símbolo da graça, Escurece, e não me seduz
da gentileza e do prazer, tornou-se a imagem de Berta, e não se tatear sequer uma lâmpada.
cansava Brás de o repetir, não por palavras, mas por acenos com os Pois que 1aprouve ao dia findar,
meneios mais extravagantes. aceito a noite.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  37


E com ela aceito que brote 2. (Unifesp 2013) Na oração do 4º parágrafo – [...] para
uma ordem outra de seres que lhe seja atribuído sentido. –, o pronome “lhe” sub-
e coisas não figuradas. stitui a expressão
Braços cruzados. a) um recobrimento.
Vazio de quanto amávamos, b) uma redução.
mais vasto é o céu. Povoações c) linguagem e significação.
surgem do vácuo. d) qualquer matéria significante.
Habito alguma? e) o silêncio.
E nem destaco minha pele
da confluente escuridão. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando. Não era e não podia o pequeno reino lusitano ser uma potência
colonizadora à feição da antiga Grécia. O surto marítimo que
E aquele agressivo espírito enche sua história do século XV não resultara do extravasamento
que o dia 2carreia consigo,
de nenhum excesso de população, mas fora apenas provocado
já não oprime. Assim a paz,
por uma burguesia comercial sedenta de lucros, e que não en-
destroçada.
contrava no reduzido território pátrio satisfação à sua desmedida
Vai durar mil anos, ou ambição. A ascensão do fundador da Casa de Avis ao trono por-
extinguir-se na cor do galo? tuguês trouxe esta burguesia para um primeiro plano. Fora ela
Esta rosa é definitiva, quem, para se livrar da ameaça castelhana e do poder da nobre-
ainda que pobre.
za, representado pela Rainha Leonor Teles, cingira o Mestre de
Imaginação, falsa demente, Avis com a coroa lusitana. Era ela, portanto, quem devia merecer
já te desprezo. E tu, palavra. do novo rei o melhor das suas atenções. Esgotadas as possibili-
No mundo, perene trânsito, dades do reino com as pródigas dádivas reais, restou apenas o
calamo-nos. recurso da expansão externa para contentar os insaciáveis com-
E sem alma, corpo, és suave. panheiros de D. João I.
(Claro enigma, 2012.) Caio Prado Júnior, Evolução política do Brasil. Adaptado.
1
aprazer: causar ou sentir prazer; contentar(-se).
3. (Fuvest 2012) O pronome "ela" da frase "Era ela,
2
carrear: carregar.
portanto, quem devia merecer do novo rei o melhor das
1. (Unifesp 2017) O pronome “te”, empregado no segun- suas atenções", refere-se a
do verso da última estrofe, refere-se a a) “desmedida ambição”.
a) “imaginação”. b) “Casa de Avis”.
b) “palavra”. c) “esta burguesia”.
c) “rosa”. d) “ameaça castelhana”.
e) “Rainha Leonor Teles”.
d) “mundo”.
e) “corpo”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Leia uma passagem do livro A vírgula, do filólogo Celso
Pedro Luft (1921-1995).
O silêncio é a matéria significante por excelência, um continuum
A vírgula no vestibular de português
significante. O real da comunicação é o silêncio. E como o nosso
objeto de reflexão é o discurso, chegamos a uma outra afirmação “Mas, esta, não é suficiente.”
que sucede a essa: o silêncio é o real do discurso. “Porque, as respostas, não satisfazem.”
O homem está “condenado” a significar. Com ou sem palavras, “E por isso, surgem as guerras.”
diante do mundo, há uma injunção à “interpretação”: tudo tem “E muitas vezes, ele não se adapta ao meio em que vive.”
de fazer sentido (qualquer que ele seja). O homem está irreme- “Pois, o homem é um ser social.”
diavelmente constituído pela sua relação com o simbólico. “Muitos porém, se esquecem que...”
Numa certa perspectiva, a dominante nos estudos dos signos, se “A sociedade deve pois, lutar pela justiça social.”
produz uma sobreposição entre linguagem (verbal e não-verbal) Que é que você acha de quem virgula assim?
e significação. Você vai dizer que não aprendeu nada de pontuação quem
Disso decorreu um recobrimento dessas duas noções, resultando semeia assim as vírgulas. Nem poderá dizer outra coisa.
uma redução pela qual qualquer matéria significante fala, isto Ou não lhe ensinaram, ou ensinaram e ele não aprendeu. O
é, é remetida à linguagem (sobretudo verbal) para que lhe seja certo é que ele se formou no curso secundário. Lepidamente,
atribuído sentido. sem maiores dificuldades. Mas a vírgula é um “objeto não
 VOLUME 2

Nessa mesma direção, coloca-se o “império do verbal” em nos- identificado”, para ele.
sas formas sociais: traduz-se o silêncio em palavras. Vê-se assim Para ele? Para eles. Para muitos eles, uma legião. Amanhã
o silêncio como linguagem e perde-se sua especificidade, en- serão doutores, e a vírgula continuará sendo um objeto não
quanto matéria significante distinta da linguagem. identificado. Sim, porque os três ou quatro mil menos fracos
(Eni Orlandi. As formas do silêncio, 1997.) ultrapassam o vestíbulo... Com vírgula ou sem vírgula. Que

38  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


a vírgula, convenhamos, até que é um obstáculo meio frágil, provavelmente não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito. Na-
um risquinho. Objeto não identificado? Não, objeto invisível turalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis e diversos
a olho nu. Pode passar despercebido até a muito olho de objetos que entrei a utilizar com receio, outros que ainda hoje não
lince de examinador... utilizo, porque não sei para que servem.
— A vírgula, ora, direis, a vírgula... Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá
Mas é justamente essa miúda coisa, esse risquinho, que maior um bando de voltas.
informação nos dá sobre as qualidades do ensino da língua Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu
escrita. Sobre o ensino do cerne mesmo da língua: a frase, sua haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem
estrutura, composição e decomposição. me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri.
Da virgulação é que se pode depreender a consciência, o grau Tive abatimentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas
de consciência que tem, quem escreve, do pensamento e de curvas. Acham que andei mal?
sua expressão, do ir-e-vir do raciocínio, das hesitações, das A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e
interpenetrações de ideias, das sequências e interdependên- quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo;
cias, e, linguisticamente, da frase e sua constituição. fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de
As vírgulas erradas, ao contrário, retratam a confusão mental, a possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que
indisciplina do espírito, o mau domínio das ideias e do fraseado. me levaram a obtê-las.
Na minha carreira de professor, fiz muitos testes de pontua- Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram-me as ru-
ção. E sempre ficou clara a relação entre a maneira de pontu- gas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-
ar e o grau de cociente intelectual. -se comigo, as taxas desceram. E os negócios desdobraram-se au-
Conclusão que tirei: os exercícios de pontuação constituem tomaticamente. Automaticamente. Difícil? Nada! Se eles entram
um excelente treino para desenvolver a capacidade de racio- nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os
cinar e construir frases lógicas e equilibradas. braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices
que praticarem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que traba-
Quem ensina ou estuda a sintaxe — que é a teoria da frase
lham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos
(ou o “tratado da construção”, como diziam os gramáticos
antigos) — forçosamente acaba na importância das pausas, que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a
cortes, incidências, nexos, etc., elementos que vão se espelhar boca – e engolem tudo.
na pontuação, quando a mensagem é escrita. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei
a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.
Pontuar bem é ter visão clara da estrutura do pensamento e
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e
da frase. Pontuar bem é governar as rédeas da frase. Pontuar
levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano
bem é ter ordem, no pensar e na expressão.
Padilha. Houve reclamações.
4. (Unesp 2012) Ou não lhe ensinaram, ou ensinaram – Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto vi-
e ele não aprendeu. O certo é que ele se formou no veu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à justiça.
curso secundário. Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho
As palavras colocadas em destaque, nesta passagem, aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos
I. são pronomes pessoais. Gama, que pandegavam no Recife, estudando Direito. Respeitei o
II. são pronomes pessoais do caso reto. engenho do Dr. Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sé-
III. apresentam no contexto o mesmo referente.
rias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira.
IV. pertencem à terceira pessoa do singular.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos
As afirmações corretas estão contidas apenas em:
e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar
a) I e II. d) I, III e IV. o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para
b) II e III. e) II, III e IV. levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de ro-
c) I, II e III. dagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-
-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também
Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano Ra- publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe
mos, para responder à questão. político local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis.
(S. Bernardo, 1996.)
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Men-
donça também se acabou em desgraça. Uma limpeza. Essa gente 5. (UNESP 2019) “Na pedreira perdi um. A alavanca sol-
quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros tou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou
pela cachaça, outros matam-se. viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve
no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: angina e a mulher enforcou-se.” (2o parágrafo) Os prono-
um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, mes sublinhados referem-se, respectivamente, a
o último teve angina e a mulher enforcou-se.
 VOLUME 2

a) “alavanca”, “um”, “viúva e órfãos”.


Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a b) “pedra”, “um”, “meninos”.
aguardente.
c) “pedra”, “alavanca”, “viúva e órfãos”.
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso des-
d) “alavanca”, “pedra”, “viúva e órfãos”.
crevê-la. As partes principais apareceram ou aparecerão; o resto é
dispensável e apenas pode interessar aos arquitetos, homens que e) “alavanca”, “pedra”, “meninos”.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  39


E.O. Dissertativas teve ideia de mandar correr matraca, para o fim de o apregoar
como um rival de Garção2 e de Píndaro3.

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) — Foi um santo remédio, contava a mãe do infeliz a uma co-
madre; foi um santo remédio.
[...]
1. (Fuvest 2018) Leia o texto e responda ao que se pede.
Tal era o sistema. Imagina-se o resto. Cada beleza moral ou mental
Da idade
era atacada no ponto em que a perfeição parecia mais sólida; e o
Não posso aprovar a maneira por que entendemos a duração da efeito era certo. Nem sempre era certo. Casos houve em que a qua-
vida. Vejo que os filósofos lhe assinam* um limite bem menor do lidade predominante resistia a tudo; então, o alienista atacava outra
que o fazemos comumente. (...) Os [homens] que falam de uma parte, aplicando à terapêutica o método da estratégia militar, que
certa duração normal da vida, estabelecem-na pouco além. Tais toma uma fortaleza por um ponto, se por outro o não pode conseguir.
ideias seriam admissíveis se existisse algum privilégio capaz de No fim de cinco meses e meio estava vazia a Casa Verde;
os colocar fora do alcance dos acidentes, tão numerosos, a que todos curados! O vereador Galvão, tão cruelmente afligido
estamos todos expostos e que podem interromper essa duração de moderação e equidade, teve a felicidade de perder um tio;
com que nos acenam. E é pura fantasia imaginar que podemos digo felicidade, porque o tio deixou um testamento ambíguo,
morrer de esgotamento em virtude de uma extrema velhice, e
e ele obteve uma boa interpretação, corrompendo os juízes, e
assim fixar a duração da vida, pois esse gênero de morte é o mais
embaçando os outros herdeiros.
raro de todos. E a isso chamamos morte natural como se fosse
contrário à natureza um homem quebrar a cabeça numa queda, [...]
afogar-se em algum naufrágio, morrer de peste ou de pleurisia; Agora, se imaginais que o alienista ficou radiante ao ver sair
como se na vida comum não esbarrássemos a todo instante o último hóspede da Casa Verde, mostrais com isso que ainda
com esses acidentes. Não nos iludamos com belas palavras; não não conheceis o nosso homem. Plus ultra!4 era a sua divisa.
denominemos natural o que é apenas exceção e guardemos o Não lhe bastava ter descoberto a teoria verdadeira da loucu-
qualificativo para o comum, o geral, o universal. ra; não o contentava ter estabelecido em Itaguaí o reinado
da razão. Plus ultra! Não ficou alegre, ficou preocupado, co-
Morrer de velhice é coisa que se vê raramente, singular e extra-
gitativo; alguma coisa lhe dizia que a teoria nova tinha, em si
ordinária e portanto menos natural do que qualquer outra. É a
mesma, outra e novíssima teoria.
morte que nos espera ao fim da existência, e quanto mais longe
de nós menos direito temos de a esperar. — Vejamos, pensava ele; vejamos se chego enfim à última
verdade.
Michel de Montaigne, Ensaios. Editora 34. Trad. de Sérgio Milliet.
Dizia isto, passeando ao longo da vasta sala, onde fulgurava a
*assinar: fixar, indicar.
mais rica biblioteca dos domínios ultramarinos de Sua Majes-
a) No texto, o autor retifica o que corriqueiramente se tade. Um amplo chambre de damasco, preso à cintura por um
entende por “morte natural”? Justifique. cordão de seda, com borlas de ouro (presente de uma Universi-
b) A que palavra ou expressão se referem, respectiva- dade) envolvia o corpo majestoso e austero do ilustre alienista.
mente, os pronomes destacados no trecho “Vejo que A cabeleira cobria-lhe uma extensa e nobre calva adquirida nas
os filósofos lhe assinam um limite bem menor do que cogitações cotidianas da ciência. Os pés, não delgados e femi-
o fazemos comumente”? ninos, não graúdos e mariolas, mas proporcionados ao vulto,
eram resguardados por um par de sapatos cujas fivelas não
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
passavam de simples e modesto latão. Vede a diferença: — só
Leia o trecho do conto O 1alienista, de Machado de Assis se lhe notava luxo naquilo que era de origem científica; o que
(1839-1908), para responder à(s) questão(ões) a seguir. propriamente vinha dele trazia a cor da moderação e da singe-
leza, virtudes tão ajustadas à pessoa de um sábio.
Era a vez da terapêutica. Simão Bacamarte, ativo e sagaz em
(O alienista, 2014.)
descobrir enfermos, excedeu-se ainda na diligência e penetração
com que principiou a tratá-los. Neste ponto todos os cronistas 1
alienista: médico especialista em doenças mentais.
estão de pleno acordo: o ilustre alienista fez curas pasmosas, que 2
Garção: um dos principais poetas do Neoclassicismo
excitaram a mais viva admiração em Itaguaí. português.
Com efeito, era difícil imaginar mais racional sistema terapêutico. 3
Píndaro: considerado o maior poeta lírico da antiga Grécia.
Estando os loucos divididos por classes, segundo a perfeição moral 4
Plus ultra!: expressão latina que significa “Mais além!”.
que em cada um deles excedia às outras, Simão Bacamarte cuidou
em atacar de frente a qualidade predominante. Suponhamos um 2. (Unesp 2018)
modesto. Ele aplicava a medicação que pudesse incutir-lhe o sen-
timento oposto; e não ia logo às doses máximas, — graduava-as, a) Cite os referentes dos pronomes sublinhados no
conforme o estado, a idade, o temperamento, a posição social do primeiro e no segundo parágrafos.
 VOLUME 2

enfermo. Às vezes bastava uma casaca, uma fita, uma cabeleira, b) Transcreva dois pequenos excertos em que o narra-
uma bengala, para restituir a razão ao alienado; em outros casos dor se dirige diretamente ao leitor.
a moléstia era mais rebelde; recorria então aos anéis de brilhantes,
às distinções honoríficas, etc. Houve um doente, poeta, que resistiu
a tudo. Simão Bacamarte começava a desesperar da cura, quando

40  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro
guerreiro como tu?
Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia o segundo
capítulo do romance Iracema, do escritor José de Alencar – Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras
(1829-1877), publicado em 1865. que teus irmãos já possuíram e hoje têm os meus.

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizon- – Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras,
te, nasceu Iracema. senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.
Iracema, 2006.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais ne- 1
graúna: pássaro de cor negra.
gros que a asa da 1graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. 2
jati: pequena abelha que fabrica delicioso mel.
O favo da 2jati não era doce como seu sorriso, nem a baunilha 3
oiticica: árvore frondosa.
recendia no bosque como seu hálito perfumado. 4
aljôfar: pérola; por extensão: gota.
5
rorejar: banhar.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o ser- 6
mangaba: fruto da mangabeira.
tão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da 7
gará: ave de cor vermelha.
grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava 8
ará: periquito.
apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. 9
uru: pequeno cesto.
Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. 10
crautá: bromélia.
Banhava-lhe o corpo a sombra da 3oiticica, mais fresca do que 11
juçara: palmeira de grandes espinhos.
o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores 12
ignoto: que ou o que é desconhecido.
sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros
13
lesto: ágil, veloz.
ameigavam o canto.
14
uiraçaba: estojo em que se guardavam e transpor-
tavam as flechas.
Iracema saiu do banho: o 4aljôfar d’água ainda a 5roreja, 15
quebrar a flecha: maneira simbólica de se estabele-
como à doce 6mangaba que corou em manhã de chuva. En- cer a paz entre os indígenas.
quanto repousa, empluma das penas do 7gará as flechas de
seu arco e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho 3. (Unesp 2017) Examine o seguinte trecho: “O senti-
próximo, o canto agreste. mento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu.”
A graciosa 8ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às (12º parágrafo)
vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; A quem se refere o pronome “eu”?
outras, remexe o uru9 de palha matizada, onde traz a selvagem
seus perfumes, os alvos fios do 10crautá, as agulhas da 11juçara com Reescreva este trecho em ordem direta, substituindo o
que tece a renda e as tintas de que matiza o algodão. pronome “o” pelo seu referente.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a vir- 4. (Unicamp 2013) Os textos abaixo integram uma
gem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. matéria de divulgação científica sobre o tamanho de
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, criaturas marinhas, ilustrada com fotos dos animais
se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas mencionados.
faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul
triste das águas profundas. 12Ignotas armas e tecidos ignotos TEXTO 1
cobrem-lhe o corpo. Eles nascem com milímetros e alcançam metros de comprimento,
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embe- nadam das praias rasas às águas abissais. Em fotos únicas, pro-
bida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do duzidas em tanques especiais, conheça as medidas dos animais
desconhecido. do fundo do mar.
De primeiro ímpeto, a mão 13lesta caiu sobre a cruz da espa-
da; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião
de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. So-
freu mais d’alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu.
Porém a virgem lançou de si o arco e a 14uiraçaba e correu
para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
A mão que rápida ferira estancou mais rápida e compassiva
o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a 15flecha TEXTO 2
homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo
 VOLUME 2

a ponta farpada. ESCALA MILIMÉTRICA


O guerreiro falou: Enquanto este cavalo-marinho pode chegar a 30 cm, os filhotes
– Quebras comigo a flecha da paz? medem poucos milímetros ao nascer. Eles surgem depois que a
fêmea deposita óvulos em uma bolsa na barriga do macho, que
– Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus é responsável pela fertilização.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  41


ela não nos parecerá menos formosa por isso. Tampouco posso
compreender por que a beleza e a perfeição de uma obra de arte
ou de uma realização intelectual deveriam ser depreciadas por
sua limitação no tempo. Talvez chegue o dia em que os quadros
e estátuas que hoje admiramos se reduzam a pó, ou que nos
suceda uma raça de homens que não mais entenda as obras de
nossos poetas e pensadores, ou que sobrevenha uma era geoló-
gica em que os seres vivos deixem de existir sobre a Terra; mas se
o valor de tudo quanto é belo e perfeito é determinado somente
por seu significado para a nossa vida emocional, não precisa so-
breviver a ela, e portanto independe da duração absoluta.
(Introdução ao narcisismo, 2010. Adaptado.)
(“Escalas Marinhas”, em SuperInteressante,
São Paulo, jun. 2012, p. 72-73.) a) Identifique os referentes dos pronomes sublinhados
no primeiro e no quarto parágrafos.
a) Pode-se afirmar que a compreensão do texto 2 depen-
de da imagem que o acompanha. Destaque do texto a b) Reescreva o trecho “Era incomodado pelo pensamen-
to de que toda aquela beleza estava condenada à extin-
expressão responsável por essa dependência e explique
ção” (1.º parágrafo) na voz ativa.
por que seu funcionamento causa esse efeito.
b) No que diz respeito à organização textual, que dife-
rença se pode apontar entre os dois textos, quanto ao
modo como o pronome ‘eles’ se relaciona com os ter-
Gabarito
mos a que se refere?

5. Leia o trecho do ensaio “A transitoriedade”, de Sigmund E.O. Aprendizagem


Freud (1856-1939), para responder à questão. 1. E 2. A 3. A 4. B 5. B
Algum tempo atrás, fiz um passeio por uma rica paisagem num dia 6. C 7. B 8. C 9. B 10. C
de verão, em companhia de um poeta jovem, mas já famoso. O po-
eta admirava a beleza do cenário que nos rodeava, porém não se
alegrava com ela. Era incomodado pelo pensamento de que toda E.O. Fixação
aquela beleza estava condenada à extinção, pois desapareceria no
1. B 2. E 3. B 4. C 5. E
inverno, e assim também toda a beleza humana e tudo de belo e
nobre que os homens criaram ou poderiam criar. Tudo o mais que, 6. A 7. C 8. D 9. D 10. B
de outro modo, ele teria amado e admirado, lhe parecia despojado
de valor pela transitoriedade que era o destino de tudo.
Sabemos que tal preocupação com a fragilidade do que é belo
E.O. Complementar
e perfeito pode dar origem a duas diferentes tendências na psi- 1. C 2. A 3. B 4. A
que. Uma conduz ao doloroso cansaço do mundo mostrado pelo
jovem poeta; a outra, à rebelião contra o fato constatado. Não,
não é possível que todas essas maravilhas da natureza e da arte,
E.O. Objetivas
do nosso mundo de sentimentos e do mundo lá fora, venham (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
realmente a se desfazer. Seria uma insensatez e uma blasfêmia
1. A 2. D 3. C 4. D 5. A
acreditar nisso. Essas coisas têm de poder subsistir de alguma
forma, subtraídas às influências destruidoras.
Ocorre que essa exigência de imortalidade é tão claramente um E.O. Dissertativas
produto de nossos desejos que não pode reivindicar valor de reali-
dade. Também o que é doloroso pode ser verdadeiro. Eu não pude (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
me decidir a refutar a transitoriedade universal, nem obter uma ex- 1.
ceção para o belo e o perfeito. Mas contestei a visão do poeta pessi- a) Michel de Montaigne contraria o senso comum que as-
mista, de que a transitoriedade do belo implica sua desvalorização. socia a morte natural à que decorre do envelhecimento, já
que, na maioria das vezes, as pessoas morrem de qualquer
Pelo contrário, significa maior valorização! Valor de transitorieda-
tipo de acidente ou doença que as atinge de surpresa em
de é valor de raridade no tempo. A limitação da possibilidade da
qualquer momento da vida. “Morrer de velhice é coisa
fruição aumenta a sua preciosidade. É incompreensível, afirmei,
que se vê raramente, singular e extraordinária e portanto
que a ideia da transitoriedade do belo deva perturbar a alegria
menos natural do que qualquer outra”.
que ele nos proporciona. Quanto à beleza da natureza, ela sem-
 VOLUME 2

pre volta depois que é destruída pelo inverno, e esse retorno bem b) Os pronomes “lhe“ e “o“ referem-se a “duração da
vida“ e a “limite bem menor“, respectivamente.
pode ser considerado eterno, em relação ao nosso tempo de
vida. Vemos desaparecer a beleza do rosto e do corpo humanos 2.
no curso de nossa vida, mas essa brevidade lhes acrescenta mais a) O pronome “se” tem como referente “Simão Bacamarte”
um encanto. Se existir uma flor que floresça apenas uma noite, e “lhe”, “um modesto”.

42  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


b) Os termos verbais “imaginais” e “vede”, modo
imperativo na segunda pessoa do plural (vós), in-
dicam que o narrador se dirige diretamente ao leitor.
3. O pronome “eu” se refere ao próprio narrador. Já o referen-
te do pronome “o” é “sentimento”, como vemos ao reescre-
ver o trecho em ordem direta: “Eu não sei o sentimento que
ele pôs nos olhos e no rosto”.
4.
a) Os pronomes demonstrativos demonstram a posição de
um elemento qualquer em relação à pessoa do discurso, situ-
ando-o no espaço, no tempo ou no próprio discurso. Assim, a
compreensão do texto II depende da visualização da imagem
que acompanha o texto verbal, dependência estabelecida
pelo pronome demonstrativo “este”, elemento catafórico,
que antecede o que vai ser revelado posteriormente.
b) O pronome “eles” do texto I relaciona-se, cata-
foricamente, com a expressão “animais do fundo do
mar”, transcrita posteriormente. Já no texto II, o pro-
nome “eles” é elemento anafórico, pois está relacio-
nado com o termo “filhotes”, citado anteriormente.
5.
a) O pronome “lhe”, no primeiro parágrafo, equivale a “a
ele”, expressão que, no contexto, faz referência ao jovem
poeta. No quarto parágrafo, o pronome “lhes” retoma
“rosto” e “corpo humanos”.
b) Transpondo o enunciado para a voz ativa teremos:
"O pensamento de que toda aquela beleza estava con-
denada à extinção incomodava-o (ou o incomodava)."

 VOLUME 2

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  43


LC PRONOMES DEMONSTRATIVOS E POSSESSIVOS

AULAS
13 E 14 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27

E.O. Aprendizagem 1. (Fmp) Na estruturação do texto, um dos mecanismos


para garantir a coesão textual é a relação que se esta-
belece entre um pronome e seu referente. O referente
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO do pronome destacado está adequadamente indicado
A internet e os direitos autorais entre colchetes em:
a) “Se as novas tecnologias facilitam o entretenimento
1
A internet e outras tecnologias mudaram a rotina das famílias, e aumentam a oferta de bens culturais a consumidores
a vida social e até a sua percepção do mundo. Distâncias pa-
no mundo inteiro, elas são bem-vindas. Mas isso não
recem menores, a ideia de privacidade está em questão, e os
pode acontecer à custa do sagrado direito autoral.”
relacionamentos amorosos ganharam nova dimensão. De forma
(ref. 25) [novas tecnologias]
tão 2avassaladora, que 3quem não participa das redes sociais em
algum momento pode se sentir excluído ou 4desinformado. b) “As novas mídias representam a perspectiva de trabalho
para os criadores a longo prazo. É necessário assegurar a
5
A transformação trazida pela tecnologia, no entanto, não pode sua adequada remuneração” (ref. 17) [novas mídias]
ser confundida com ruptura com tudo o que havia antes. 6Os c) “A internet e outras tecnologias mudaram a rotina das
critérios para avaliar um livro continuam os mesmos, não importa famílias, a vida social e até a sua percepção do mundo.”
se em e-book ou edição de capa dura; 7a relação custo-benefício
(ref. 1) [internet]
de uma compra ainda precisa ser pensada com critério, seja em
e-commerce ou loja de shopping; 8e o cuidado com a publicação d) “impedem assim o pagamento aos filiados à enti-
de uma notícia, o que inclui a sua correta apuração e a clareza do dade dos valores relativos à exibição de seus trabalhos
texto, deve ser o mesmo em site ou jornal de papel. nos canais de áudio e vídeo” (ref. 13) [filiados]
e) “e o cuidado com a publicação de uma notícia, o que
9
O mesmo raciocínio se aplica à propriedade 10intelectual de mú- inclui a sua correta apuração e a clareza do texto, deve
sicas, textos, filmes e quaisquer outras obras, que ganham novas ser o mesmo em site ou jornal de papel” (ref. 8)
formas de exposição com a internet, mas continuam a ter donos.
Da mesma maneira que antes do 11aparecimento das mídias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
digitais. 12Infelizmente, não é dessa forma que parecem pensar
grandes empresas internacionais da internet, que brigam na Jus- VELHO MARINHEIRO
tiça com a União Brasileira das Editoras de Música e 13impedem Homenagem aos marinheiros de sempre... e para sempre.
assim o pagamento aos filiados à entidade dos valores relativos
à exibição de seus trabalhos nos canais de áudio e vídeo. É uma 28
Sou marinheiro porque um dia, muito jovem, estendi meu braço
situação 14inadmissível, que já dura muitos meses. diante da bandeira e jurei lhe dar minha vida.
15
O respeito aos direitos autorais na era da internet é questão Naquele dia de sol a pino, com meu novo uniforme branco, 21senti-
16
vital porque o mercado de CDs só faz encolher. 17As novas mí- -me homem de verdade, como se estivesse dando adeus aos tem-
dias representam a perspectiva de trabalho para os criadores a pos de garoto. 29Ao meu lado, as vozes de outros jovens soavam em
longo prazo. É 18necessário assegurar a sua adequada 19remune- uníssono com a minha, vibrantes, e terminamos com emoção, de
ração e, por extensão, os recursos para que a produção musical peitos estufados e orgulhosos. 5Ao final, minha mãe veio em minha
se sustente a longo prazo. 20A agilidade e a 21onipresença da direção, apressada em me dar um beijo. 20Acariciou-me o rosto e
rede podem – e devem – servir para trazer mais recursos ao com- disse que eu estava lindo de uniforme. 6O dia acabou com a família
positor, e não o contrário. em festa; eu lembro-me bem, fiquei de uniforme até de tarde...
22
Empresas 23jornalísticas, no Brasil e no mundo, também já viram Sou marinheiro, porque aprendi, naquela Escola, o significado
o conteúdo da imprensa profissional ser divulgado na internet nobre de companheirismo. 7Juntos no sofrimento e na alegria,
sem contrapartida alguma ignorando os altos custos de produ- um safando o outro, leais e amigos. Aprendi o que é civismo, res-
ção da notícia. No Brasil, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) peito e disciplina, no princípio, exigidos a cada dia; depois, como
proíbe, por notificação judicial, que se reproduza a íntegra dos parte do meu ser e, assim, para sempre. 23A cada passo havia
textos dos 24associados. um novo esforço esperando e, depois dele, um pequeno sucesso.
 VOLUME 2

25
Se as novas tecnologias facilitam o 26entretenimento e aumen-
26
Minha vida, agora que olho para trás, foi toda de pequenos
tam a oferta de bens culturais a consumidores no mundo 27intei- sucessos. A soma deles foi a minha carreira.
ro, elas são bem-vindas. Mas isso não pode acontecer à custa do 19
No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que era novamente
28
sagrado direito autoral. aluno. Todos sabiam das coisas mais do que eu havia aprendido.
Rio de Janeiro, O Globo, Opinião, 23 abr. 2015, p.16. Adaptado. Só que agora me davam tarefas, incumbências, e esperavam que

44  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


eu as cumprisse bem. 2Pouco a pouco, passei a ser parte da equipe, Glossário
a ser chamado para ajudar, a ser necessário. 8Um dia vi-me ensi- Portaló: abertura no casco de um navio, ou passagem junto
nando aos novatos 12e dei-me conta de que me tornara marinheiro, à balaustrada, por onde as pessoas transitam para fora ou
de fato e de direito, um profissional! 32O navio passou a ser minha
para dentro, e por onde se pode movimentar carga leve.
segunda casa, onde eu permanecia mais tempo, às vezes, do que
na primeira. Conhecia todos, alguns mais até do que meus pa-
2. (Esc. Naval) Em que opção o termo a que se refere o
rentes. Sabia de suas manhas, cacoetes, preocupações e de seus
sonhos. Sem dar conta, meu mundo acabava no costado do navio. pronome sublinhado está indicado corretamente?
9
A soma de tudo que fazemos e vivemos, pelo navio, 14é uma das coi- a) “A cada passo havia um novo esforço esperando e,
sas mais belas, que só há entre nós, em mais nenhum outro lugar. 24Por depois dele, um pequeno sucesso.” (ref. 23) – passo
isso sou marinheiro, porque sei o que é espírito de navio. b) “[...] é uma das coisas mais belas que só há entre nós,
em mais nenhum outro lugar.” (ref. 14) – marinheiros
Bons tempos aqueles das viagens, dávamos um duro danado no
mar, em serviço, postos de combate, adestramento de guerra, dia c) “Até as durezas por que passamos são saborosas ao
e noite. 30O interessante é que em toda nossa vida, 15quando lembrar, talvez porque as vencemos [...].” (ref. 16) – viagens
buscamos as boas recordações, elas vêm desse tempo, das via- d) “Hoje os navios são outros, os marinheiros são out-
gens e dos navios. 16Até 13as durezas por que passamos são sa- ros – sinto-os mais preparados [...].” (ref. 34) – navios
borosas 1ao lembrar, talvez porque as vencemos e fomos adiante. e) “Sofisticado, limpíssimo, nas mãos de uma tripu-
É aquela história dos pequenos sucessos. lação que só pode ser muito competente para man-
A volta ao porto era um acontecimento gostoso, sempre figu- tê-lo pronto.” (ref. 35) – uniforme
rando a mulher. Primeiro a mãe, depois a namorada, a noiva,
a esposa. Muita coisa a contar, a dizer, surpresas de carinho. A TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
comida preferida, o abraço apertado, o beijo quente... e o filho
que, na ausência, foi ensinado a dizer papai. Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de to-
dos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão
31
No início, eu voltava com muitos retratos, principalmente
científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina
quando vinha do estrangeiro, depois, com o tempo, eram
fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de
poucos, até que deixei de levar a máquina. 10Engraçado, 22vo-
dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
cês já perceberam que marinheiro velho dificilmente baixa a
terra com máquina fotográfica? Foi assim comigo. William Blake* sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê
Hoje os navios são outros, os marinheiros são outros - sinto-os
34 não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiên-
mais preparados do que eu era - mas a vida no mar, as viagens, cia própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés
os portos, a volta, estou certo de que são iguais. Sou marinheiro, diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas
por isso sei como é. uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de
Fico agora em casa, querendo saber das coisas da Marinha. E a um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o
cada pedaço que ouço de um amigo, que leio, que vejo, me dá chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não
um orgulho que às vezes chega a entalar na garganta. 4Há pouco viam a beleza. Só viam o lixo.
tempo, voltei a entrar em um navio. Que coisa linda! 35Sofisticado, Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia.
limpíssimo, nas mãos de uma tripulação que só pode ser muito
Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma
competente para mantê-lo pronto. 33Do que me mostraram eu não
pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
sabia muito. Basta dizer que o último navio em que servi já deu
baixa. 17Quando saí de bordo, parei no portaló, voltei-me para a (Rubem Alves, "A complicada arte de ver".
bandeira, inclinei a cabeça... e, minha garganta entalou outra vez. Folha de S. Paulo, 26.10.2004)

Isso é corporativismo; não aquele enxovalhado, que significa *William Blake (1757-1827) foi poeta romântico, pintor
o bem de cada um, protegido à custa do desmerecimento da e gravador inglês. Autor dos livros de poemas Song of
instituição; mas o puro, que significa o bem da instituição, pro- Innocence e Gates of Paradise.
tegido pelo merecimento de cada um.
27
Sou marinheiro e, portanto, sou corporativista. 3. (Fgv) A respeito do pronome DISSO, na primeira linha
do segundo parágrafo, pode-se dizer que é um
Muitas vezes 25a lembrança me retorna aos dias da ativa e mor-
ro de saudades. 18Que bom se pudesse voltar ao começo, vestir a) possessivo de segunda pessoa e se refere ao con-
aquele uniforme novinho — até um pouco grande, ainda recor- teúdo do parágrafo anterior.
do — Jurar Bandeira, ser beijado pela minha falecida mãe... b) demonstrativo combinado com prefixo e se refere
3
Sei que, quando minha hora chegar, no último instante, verei, aos ipês floridos citados a seguir.
em velocidade desconhecida, o navio com meus amigos, minha c) demonstrativo masculino de segunda pessoa e se
 VOLUME 2

mulher, meus filhos, singrando para sempre, indo aonde o mar refere ao poeta William Blake.
encontra o céu... e, se São Pedro estiver no portaló, direi: d) demonstrativo neutro que tem como referência a
– Sou marinheiro, estou embarcando. última frase do parágrafo anterior.
Autor desconhecido. In: Língua portuguesa: leitura e produção de texto. e) possessivo neutro e se refere a Moisés diante da
Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 6-8) sarça ardente.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  45


4. (Espm) Assinale o item em que o pronome destacado 5. (Fgv) Na referência 7, nota-se o pronome possessivo
tenha valor semântico de possessivo: SUA, que se opõe ao pronome NOSSAS (ref. 8). Esse uso
a) "A borboleta, depois de esvoaçar muito em torno de SUA, no texto, é um recurso do autor para demon-
de mim, pousou-ME na testa." (Machado de Assis) strar que os proprietários:
b) "Começo a arrepender-ME deste livro. Não que ele a) Eram, realmente, os donos da nação.
ME canse; eu não tenho que fazer." (Machado de Assis) b) Comportavam-se como se fossem os donos da nação.
c) "Perdi-ME dentro de mim / Porque eu era labirinto" c) Como brasileiros, sentiam-se co-proprietários da nação.
(Mário de Sá Carneiro)
d) Sentiam-se co-proprietários da nação e deveriam
d) "Vou-ME embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do
agir como tais.
rei !" (Manuel Bandeira)
e) "Perdi alguma coisa que ME era essencial, e que já e) Não deveriam sentir-se co-proprietários da nação,
não ME é mais." (Clarice Lispector) mas deveriam agir como tais.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


Um erudito historiador baiano escreveu, em 1844, um libelo TEXTO 1
contra a deslealdade 3da Inglaterra que, afetando ser amiga da
nova nação brasileira, agia em nosso desfavor impedindo que Ilusão Universitária
a lavoura recebesse a preciosa mão de obra africana. Trata-se
do Dr. A. J. Mello Moraes e do seu opúsculo: A Inglaterra e seos Houve um tempo em que, ao ser admitido numa faculdade de
tractados. 4Memoria, na qual previamente se demonstra que a direito, um jovem via seu futuro praticamente assegurado, como
Inglaterra não tem sido leal até o presente no cumprimento dos advogado, juiz ou promotor público. A situação, como se sabe, é
hoje bastante diversa. Mudaram a universidade, o mercado de
seus tractados. Aos Srs. deputados geraes da futura sessão legis-
trabalho e os estudantes, muitos dos quais inadvertidamente
lativa de 1845. Volta aí a indefectível comparação: "2Um inglês
compram a ilusão de que o diploma é condição necessária e su-
trata cem vezes pior um criado branco e seu igual do que nós a
ficiente para o sucesso profissional.
um dos nossos escravos". A proposta de Mello Moraes é simples
e drástica: o gabinete inglês "6ou há de abandonar as suas co- A proliferação dos cursos universitários nos anos 90 e 2000 é a
lônias, por não haver gêneros coloniais para consumo, ou, se as um só tempo sintoma e causa dessas mudanças. Um mercado de
quiser possuir, há de admitir a escravidão". Postulada a íntima trabalho cada vez mais exigente passou a cobrar maior titulação
relação entre produtos coloniais e cativeiro, 1nexo historicamen- dos jovens profissionais. Com isso, aumentou a oferta de cursos
te instituído e consolidado por três séculos, 5o bravo defensor e caiu a qualidade.
da nossa lavoura exorta os deputados gerais, em campanha O fenômeno da multiplicação das faculdades e do declínio da
eleitoral, a cortar as amarras que ligavam o governo imperial ao qualidade acadêmica foi especialmente intenso no campo do
britânico: 9"O Brasil para ser feliz não tem necessidade de tra- direito. Trata-se, afinal, de uma carreira de prestígio, cujo ensino
tados com nação alguma, pois basta somente proteger a agri- é barato. Não exige muito mais do que o professor, livros, uma
cultura, animar a indústria manufatureira, libertar o comércio, lousa e o cilindro de giz.
e franquear seus portos ao mundo inteiro. O Brasil não precisa
Existem hoje 762 cursos jurídicos no país. Em 1993, eles eram
dos favores da Inglaterra". Poucas linhas atrás, Mello Moraes
183. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) acaba de divulgar
via com esperança o aumento das 8nossas exportações de café
a lista das faculdades recomendadas. Das 215 avaliadas, apenas
para os Estados Unidos. O espírito de 1808, que rompera com 60 (28%) receberam o "nihil obstat". A Ordem levou em conta
o monopólio português, demandava agora seu pleno desdobra- conceitos do provão e os resultados do seu próprio exame de
mento. Nada de entraves. credenciamento de bacharéis.
Na esteira do processo de integração pós-colonial dos países la-
A verdade é que nenhum país do mundo é constituído apenas
tino-americanos, o Brasil deveria realizar o princípio mais geral
por advogados, médicos e engenheiros. Apenas uma elite chega
do sistema dando o maior raio possível de ação, legal ou ilegal, a
a formar-se nesses cursos. No Brasil, contudo, criou-se a ilusão de
quem de direito: ao senhor do café, ao senhor de engenho e aos
que a faculdade abre todas as portas. Assim, alunos sem quali-
seus agenciadores da força de trabalho, os traficantes. ficação acadêmica para seguir essas carreiras pagam para obter
Para a classe dominante o óbice maior não vinha, então, do nos- diplomas que não Ihes serão de grande valia. É mais sensato
so Estado constitucional, que representava o latifúndio e dele limitar os cursos e zelar por sua excelência, evitando paliativos
se servia: o obstáculo era interposto pela nova matriz interna- como o exame da Ordem, que é hoje absolutamente necessário
cional, o novo exclusivo, a Inglaterra. Entende-se a reivindicação para proteger o cidadão de advogados incompetentes - o que só
do mais desbridado laissez-faire; entende-se a hostilidade que confirma as graves deficiências do sistema educacional.
despertava entre os proprietários o controle da 7sua nação por (Folha de S. Paulo, 29/01/2004)
um Estado estrangeiro.
TEXTO 2
Mas como o denominador ideológico comum era o liberalismo
econômico, que conhece na época a sua fase áurea, só restava
 VOLUME 2

A Universidade é só o começo
à retórica escravista uma saída para o impasse: mostrar que as
ideias mestras da doutrina clássica, porque justas, deveriam apli- Na última década, a universidade viveu uma espécie de milagre
car-se com justeza às circunstâncias, às peculiaridades nacionais. da multiplicação dos diplomas. O número de graduados cresceu
(Alfredo Bosi. Dialética da Colonização. 3ª ed. São de 225 mil no final dos anos 80 para 325 mil no levantamento
Paulo: Cia. das Letras, 1992, p. 209-210). mais recente do Ministério da Educação em 2000.

46  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


A entrada no mercado de trabalho desse contingente, porém, não Todos os dias a aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a
vem sendo propriamente triunfal como uma festa de formatura. En- aranha lhes arrancava um pedaço. Ficaram cansados. Resolve-
genheiros e educadores, professores e administradores, escritores e ram mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um barco, o mar,
sobretudo empresários têm sussurrado uma frase nos ouvidos des- o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. Venderam o
sas centenas de milhares de novos graduados: "O diploma está nu". que tinham, compraram um barco capaz de atravessar mares e
sobreviver tempestades.
Passaporte tranquilo para o emprego na década de 80, o certifi-
cado superior vem sendo exigido com cada vez mais vistos. Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber. São muitos
os saberes necessários para se navegar. Puseram-se então a es-
Considerado um dos principais pensadores da educação no país,
tudar cada um aquilo que teria de fazer no barco: manutenção
o economista Cláudio de Moura Castro sintetiza a relação atual
do casco, instrumentos de navegação, astronomia, meteorologia,
do diploma com o mercado de trabalho em uma frase: "Ele é
as velas, as cordas, as polias e roldanas, os mastros, o leme, os
necessário, mas não suficiente". O raciocínio é simples. Com o
parafusos, o motor, o radar, o rádio, as ligações elétricas, os ma-
aumento do número de graduados no mercado, quem não tem
um certificado já começa em desvantagem. res, os mapas... Disse cero o poeta: Navegar é preciso, a ciência
da navegação é saber preciso, exige aparelhos, números e me-
Conselheiro-chefe de educação do Banco Interamericano de dições. Barcos se fazem com precisão, astronomia se aprende
Desenvolvimento durante anos, ele compara o sem-diploma a com o rigor da geometria, velas se fazem com saberes exatos
alguém "em um mato sem cachorro no qual os outros usam sobre tecidos, cordas e ventos, instrumentos de navegação não
armas automáticas e você um tacape". Por outro lado, o econo- informam mais ou menos. Assim, eles se tornaram cientistas, es-
mista- educador diz que ter um fuzil, seja lá qual for, não garante pecialistas, cada um na sua – juntos para navegar.
tanta vantagem assim nessa floresta.
Chegou então o momento de grande decisão – para onde nave-
Para Robert Wong, o diagnóstico é semelhante. Só muda a me- gar. Um sugeria as geleiras do sul do Chile, outro os canais dos
táfora. Principal executivo na América do Sul da Korn/Ferry Inter- fiordes da Noruega, um outro queria conhecer os exóticos mares
national, maior empresa de recrutamento de altos executivos do e praias das ilhas do Pacífico, e houve mesmo quem quisesse
mundo, ele equipará a formação acadêmica com a potência do navegar nas rotas de Colombo. E foi então que compreenderam
motor de um carro. que, quando o assunto era a escolha do destino, as ciências que
Equilibrados de mais acessórios, igualado o preço, o motor pode conheciam para nada serviam.
desempatar a escolha do consumidor. "Tudo sendo igual, a esco- De nada valiam, tabelas, gráficos, estatísticas. Os computadores,
laridade faz a diferença." coitados, chamados a dar seu palpite, ficaram em silêncio. Os
Mas assim como Moura Castro, o head hunter defende a ideia de computadores não têm preferências – falta-lhes essa sutil capa-
que um motor turbinado não abre automaticamente as portas do cidade de gostar, que é a essência da vida humana. Perguntados
mercado. Wong conta que no mesmo dia da entrevista à Folha sobre o porto de sua escolha, disseram que não entendiam a
[Jornal "Folha de S. Paulo"] trabalhava na seleção de um executivo pergunta, que não lhes importava para onde se estava indo.
para uma multinacional na qual um dos principais candidatos não Se os barcos se fazem com ciência, a navegação faz-se com
tinha experiência acadêmica. "É um self-made man." sonhos. Infelizmente a ciência, utilíssima, especialista em saber
Brasileiro nascido na China, Wong observa que é em países como como as coisas funcionam, tudo ignora sobre o coração humano.
esses, chamados "em desenvolvimento", que existem mais con- É preciso sonhar para se decidir sobre o destino da navegação.
dições hoje para o sucesso de profissionais como esses, de perfil Mas o coração humano, lugar dos sonhos, ao contrário da ciên-
empreendedor. (...) cia, é coisa preciosa. Disse certo poeta: Viver não é preciso. Pri-
meiro vem o impreciso desejo. Primeiro vem o impreciso desejo
(Cassiano Elek Machado: A universidade é só o começo. Folha
deS. Paulo, 27/07/2002. Disponível na Internet: http://www1. de navegar. Só depois vem a precisa ciência de navegar.
folha.uol.com.br/folha/sinapse. Data de acesso: 24/08/2004)
Naus e navegação têm sido uma das mais poderosas imagens
6. (Ita) Assinale a opção em que a expressão com o pro- na mente dos poetas. Ezra Pound inicia seus Cânticos dizendo: E
nome demonstrativo exige que sejam consideradas in- pois com a nau no mar/ assestamos a quilho contra as vagas...
formações anteriores e posteriores para ser interpretada. Cecília Meireles: Foi, desde sempre, o mar! A solidez da terra,
monótona/ parece-nos fraca ilusão! Queremos a ilusão do gran-
a) esses cursos (Texto 1, 50. parágrafo). de mar / multiplicada em suas malhas de perigo. E Nietzsche:
b) essas carreiras (Texto 1, 50. parágrafo). Amareis a terra de vossos filhos, terra não descoberta, no mar
c) essas centenas de milhares de novos graduados mais distante. Que as vossas velas não se cansem de procurar
(Texto 2, 20. parágrafo). esta terra! O nosso leme nos conduz para a terra dos nossos
d) esse contingente (Texto 2, 10. parágrafo). filhos... Viver é navegar no grande mar!
e) profissionais como esses (Texto 2, 90. parágrafo). Não só os poetas: C. Wright Mills, um sociólogo sábio, compa-
rou a nossa civilização a uma galera que navega pelos mares.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Nos porões estão os remadores. Remam com precisão cada vez
 VOLUME 2

O homem deve reencontrar o Paraíso... maior. A cada novo dia recebem novos, mais perfeitos. O ritmo
da remadas acelera. Sabem tudo sobre a ciência do remar. A
Rubem Alves
galera navega cada vez mais rápido. Mas, perguntados sobre
Era uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós: o porto do destino, respondem os remadores: O porto não nos
moscas presas na enorme teia de aranha que é a vida da cidade. importa. O que importada é a velocidade com que navegamos.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  47


C Wright Mills usou esta metáfora para descrever a nossa civiliza- Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo
ção por meio duma imagem plástica: multiplicam-se os meios téc- Ortográfico.
nicos e científicos ao nosso dispor, que fazem com que as mudan-
ças sejam cada vez mais rápidas; mas não temos ideia alguma de 7. (Efomm 2018) Nas passagens que se seguem apare-
para onde navegamos. Para onde? Somente um navegador louco ce em cada uma delas um pronome átono sublinhado.
ou perdido navegaria sem ter ideia do para onde. Em relação à vida Assinale a alternativa em que esse pronome tem valor
da sociedade, ela contém a busca de uma utopia. Utopia, na lingua- possessivo.
gem comum, é usada como sonho impossível de ser realizado. Mas a) Viviam como todos nós: moscas presas na enorme teia
não é isso. Utopia é um ponto inatingível que indica uma direção. de aranha que é a vida da cidade. Tosos os dias a aranha
Mário Quintana explicou a utopia com um verso: Se as coisas são lhes arrancava um pedaço.
inatingíveis... ora!/ não é um motivo para não querê-las... Que b) Os computadores não têm preferências – falta-lhes
tristes os caminho, se não fora/ A mágica presença das estrelas! essa sutil capacidade de ‘gostar’, que é a essência da
Karl Mannheim, outro sociólogo sábio que poucos leem, já na vida humana.
década de 1920 diagnosticava a doença da nossa civilização: c) Perguntados sobre o porto de sua escolha, disseram
Não temos consciência de direções, não escolhemos direções. que não entendiam a pergunta, que não lhes importa-
Faltam-nos estrelas que nos indiquem o destino. va para onde estavam indo.
Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que são feitas, determina- d) Quando se lhes pergunta: ‘Para onde seu barco está
das pelo pragmatismo da tecnologia (o importante é produzir navegando?’, eles respondem: ‘Isso não é científico’.
o objeto) e pelo objetivismo da ciência (o importante é saber e) E assim ficam os homens comuns abandonados
como funciona), são: Como posso fazer tal coisa? Como posso por aqueles que, por conhecerem mares e estrelas,
resolver este problema concreto em particular? E conclui: E em lhes poderiam mostrar o rumo.
todas essas perguntas sentimos o eco intimista: não preciso de
me preocupar com o todo, ele tomará conta de si mesmo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Pessoas habitadas
Em nossas escolas é isso que se ensina: a precisa ciência da na-
vegação, sem que os estudantes sejam levados a sonhar com as 1
Estava conversando com uma amiga, dia desses. Ela comentava
estrelas. A nau navega veloz e sem rumo. Nas universidades, essa sobre uma terceira pessoa, que eu não conhecia. Descreveu-a
doença assume a forma de peste epidêmica: cada especialista se como sendo 2boa gente, esforçada, ótimo caráter. 3"Só tem um
dedica com paixão e competência, a fazer pesquisas sobre o seu probleminha: 4não é habitada". Rimos. Uma expressão coloquial
parafuso, sua polia, sua vela, seu mastro. na França – habité‚ – mas nunca tinha escutado por estas para-
Dizem que seu dever é produzir conhecimento. Se forem bem- gens e com este sentido. Lembrei-me de uma outra amiga que,
-sucedidas, suas pesquisas serão publicadas em revistas inter- de forma parecida, também costuma dizer 5"aquela ali tem gen-
nacionais. Quando se lhes pergunta: Para onde seu barco está te em casa" quando se refere a 6pessoas que fazem diferença.
navegando?, eles respondem: Isso não é científico. Os sonhos 7
Uma pessoa pode ser altamente confiável, gentil, carinhosa,
não são objetos de conhecimento científico.
simpática, mas, se não é habitada, rapidinho coloca os outros
E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, pra dormir. Uma pessoa habitada é uma pessoa possuída, não
por conhecerem mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. necessariamente pelo demo, ainda que satanás esteja longe de
Não posso pensar a missão das escolas, começando com as crian- ser má referência. Clarice Lispector certa vez escreveu uma carta
ças e continuando com os cientistas, como outra que não a da a Fernando Sabino dizendo que faltava demônio em Berna, onde
realização do dito poeta: Navegar é preciso. Viver não é preciso. morava na ocasião. 8A Suíça, de fato, é um país de contos de fada
É necessário ensinar os precisos saberes da navegação enquanto onde tudo funciona, onde todos são belos, onde a vida parece
ciência. Mas é necessário apontar com imprecisos sinais para os des- uma pintura, um rótulo de chocolate. Mas 9falta uma ebulição
tinos da navegação: A terra dos filhos dos meus filhos, no mar distan- que a salve do marasmo.
te... Na verdade, a ordem verdadeira é a inversa. Primeiro, os homens Retornando ao assunto: pessoas habitadas 10são aquelas possuí-
sonham com navegar. Depois aprendem a ciência da navegação. É das por si mesmas, em diversas versões. Os habitados estão preen-
inútil ensinar a ciência da navegação a quem mora nas montanhas. chidos de indagações, angústias, incertezas, mas não são menos
O meu sonho para a educação foi dito por Bachelard: O uni- felizes 11por causa disso. Não transformam suas "inadequações"
verso tem um destino de felicidade. O homem deve reencontrar em doença, mas em força e curiosidade. Não recuam diante de
o Paraíso. O paraíso é o jardim, lugar de felicidade, prazeres e encruzilhadas, não se amedrontam com transgressões, não ado-
alegrias para os homens e mulheres. Mas há um pesadelo que tam as opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São pessoas
me atormenta: o deserto. Houve um momento em que se viu, por que surpreendem com um gesto ou uma fala fora do script, sem
entre as estrelas, um brilho chamado progresso. Está na bandeira
12
nenhuma disposição para serem bonecos de ventríloquos. Ao
nacional... E, quilha contra as vagas, a galera navega em direção contrário, encantam pela verdade pessoal que defendem. 13Além
ao progresso, a uma velocidade cada vez maior, e ninguém ques- disso, mantêm com a solidão uma relação mais do que cordial.
tiona a direção. E é assim que as florestas são destruídas, os rios 14
Então são as criaturas mais incríveis do universo? Não necessa-
 VOLUME 2

se transformam em esgotos de fezes e veneno, o ar se enche de riamente. Entre os habitados há de tudo, gente fenomenal e tam-
gases, os campos se cobrem de lixo – e tudo ficou feio e triste. bém assassinos, pervertidos e demais malucos que não merecem
Sugiro aos educadores que pensem menos nas tecnologias do abrandamento de pena pelo fato de serem, em certos aspectos,
ensino – psicologias e quinquilharias – e tratem de sonhar, com bastante interessantes. Interessam, mas assustam. Interessam,
os seus alunos, sonhos de um Paraíso. mas causam dano. 15Eu não gostaria de repartir a mesa de um

48  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


restaurante com Hannibal Lecter, "The Cannibal", 16ainda que Pergunta: Diga o senhor.
eu não tenha dúvida de que o personagem imortalizado por An-
Resposta: Tem que se transformar em um semanário. Porque um
thony Hopkins renderia um papo mais estimulante do que uma
semanário tem tempo, são sete 10dias para construir 11suas repor-
conversa com, 17sei lá, Britney Spears, que 18só tem gente em
tagens. Se você lê a Time ou a Newsweek vê que várias pessoas
casa porque está grávida. 12
contribuíram para uma história concreta, que trabalharam nela
Que tenhamos a sorte de esbarrar com seres habitados e ao semanas ou meses, enquanto que em um jornal tudo é feito da
mesmo tempo inofensivos, cujo único mal que possam fazer seja noite para o dia. Um jornal que em 1944 tinha quatro páginas
nos fascinar e nos manter acordados uma madrugada inteira. Ou hoje tem 64, então tem que preencher obsessivamente com no-
a vida inteira, o que é melhor ainda. tícias repetidas, cai na fofoca, não consegue evitar... A crise do
jornalismo, 13então, começou há quase cinquenta anos e é um
MEDEIROS, Martha. In: Org. e Int. SANTOS, Joaquim Ferreira
dos. As
Cem Melhores Crônicas Brasileiras. Objetiva, 324-325. problema muito grave e importante.
Pergunta: Por que é tão grave?
8. (Uece) Considerando as expressões “por causa disso”
(referência 11) e “Além disso” (referência 13), é correto Resposta: Porque é verdade que, como dizia Hegel, a leitura dos
afirmar que
14
jornais é a oração matinal do homem moderno. E 15eu não con-
sigo tomar meu café da manhã se não folheio o jornal; mas é um
a) apenas uma das duas aponta para algo que já foi
ritual quase afetivo e religioso, porque folheio olhando os títulos,
dito no texto.
e por 16eles me dou conta de que quase tudo já sabia na noite
b) as duas sintetizam no pronome (d)isso informações anterior. 17No máximo, leio um editorial ou um artigo de opinião.
que são mencionadas anteriormente no texto. Essa é a crise do jornalismo contemporâneo. E disso não sai!
c) uma das duas ocorrências constitui uma desobe-
diência à orientação da gramática normativa para o Pergunta: Acredita de verdade que não?
uso dos pronomes demonstrativos. Resposta: O jornalismo poderia ter outra função. Estou pensando
d) ambas fazem referência a um elemento pontual em alguém que faça uma crítica cotidiana da Internet, e é algo que
no texto. acontece pouquíssimo. Um jornalismo que me diga: 18“Olha o que
tem na Internet, olha que coisas falsas estão dizendo, reaja a isso,

E.O. Fixação eu te mostro”. E isso pode ser feito tranquilamente. 19No entanto,
ainda 20pensam que o jornal é feito para que seja lido por alguns
velhos senhores 21– já que os jovens não 22leem – que ainda não
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO usam a Internet. Teria que se fazer um jornal que não se torne ape-
nas a crítica da realidade cotidiana, mas também a crítica da rea-
O filósofo e romancista Umberto Eco concedeu uma entrevista ao lidade virtual. Esse é um futuro possível para um bom jornalismo.
Jornal El País em março de 2015, pouco menos de um ano antes
(EL PAÍS. Caderno cultura. 30 de março de 2015.
de sua morte. Na ocasião, o escritor falou sobre o conteúdo de Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/26/
seu último romance, Número Zero, uma ficção sobre o jornalismo cultura/1427393303_512601.html. Acesso em 10 abr. 2016)
inspirada na realidade e sobre as relações da temática da obra com
a atualidade: o papel da imprensa, a Internet e a sociedade. 1. (Upf) Em relação ao uso dos pronomes no texto, é
correto afirmar que:
Pergunta: Agora a realidade e a fantasia têm um terceiro aliado,
a Internet, que mudou por completo o jornalismo. a) “suas” (ref. 11) retoma “dias” (ref. 10).
b) “eu” (ref. 15) é a única marca de subjetividade do texto.
Resposta: A Internet pode ter tomado o lugar do mau jornalismo...
c) “você” (ref. 1 e ref. 3) é uma referência direta ao
Se 1você sabe que está lendo um jornal como EL PAÍS, La Repubblica,
entrevistador.
Il Corriere della Sera…, pode pensar que existe um certo controle da
notícia e confia. 2Por outro lado, se 3você lê um jornal como aqueles d) “eles” (ref. 16) retoma “jornais” (ref. 14).
vespertinos ingleses, sensacionalistas, não confia. Com a Internet e) “te” (ref. 8) pode ampliar a referência para além
acontece o contrário4: confia em tudo porque não sabe diferenciar do interlocutor.
a fonte credenciada da disparatada. Basta pensar no sucesso que TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
faz na Internet qualquer página web que fale de complôs 5ou que
6
invente histórias absurdas: tem um acompanhamento incrível, de O milagre das folhas
internautas e de pessoas importantes que as levam a sério. 1
Não, nunca me acontecem milagres. Ouço falar, e às vezes 2isso
Pergunta: Atualmente é difícil pensar no mundo do jornalismo me basta como esperança. Mas também me revolta: por que
que era protagonizado, aqui na Itália, por pessoas como Piero não a mim? Por que só de ouvir falar? 3Pois já cheguei a ouvir
Ottone e Indro Montanelli… conversas assim, sobre milagres: “Avisou-me que, ao ser dita de-
terminada palavra, um objeto de estimação se quebraria”. 4Meus
Resposta: Mas a crise do jornalismo no mundo começou nos
objetos se quebram banalmente e pelas mãos das empregadas.
anos 1950 e 1960, bem quando chegou a televisão, antes que
eles 7desaparecessem! Até então o jornal 8te contava o que 5
Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou 6daqueles
 VOLUME 2

acontecia na tarde anterior, por isso muitos eram chamados que rolam pedras durante séculos, e não 7daqueles para os quais
jornais da tarde: Corriere della Sera, Le Soir, La Tarde, Evening os seixos já vêm prontos, polidos e brancos. Bem que tenho vi-
Standard… Desde a invenção da televisão9, o jornal te diz pela sões fugitivas antes de adormecer – seria milagre? Mas já me foi
manhã o que você já sabe. E agora é a mesma coisa. O que um tranquilamente explicado que isso até nome tem: cidetismo (sic),
jornal deve fazer? capacidade de projetar no alucinatório as imagens inconscientes.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  49


Milagre, não. Mas as coincidências. 8Vivo de coincidências, vivo 3
Nasceram centenas de outras companhias por todo o país. Esse
de linhas que incidem uma na outra e se cruzam e no cruzamen- mesmo modelo disseminou-se pelo Brasil dos anos 40 em diante,
to formam um leve e instantâneo ponto, tão leve e instantâneo com companhias municipais levando o telefone a cidades meno-
que mais é feito de pudor e segredo: mal eu falasse nele, já esta- res, em um surto de pioneirismo extraordinário.
ria falando em nada. Nos Estados Unidos, o movimento dos "independentes" permi-
9
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando tiu às comunidades rurais estreitar laços, criar amizades, sistemas
pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A de informação, da mesma maneira que as redes sociais de agora.
incidência da linha de milhões de folhas transformadas em uma Através do telefone desenvolveram noticiários sobre o clima, so-
única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a mim. bre a região, relatórios de mercado etc.
10
Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar mo- Os "independentes" chegaram a ter 3 milhões de aparelhos,
destamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha contra 2,5 milhões da Bell.
dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante.
Com a ajuda do J.P.Morgan, o mais influente banco da época, a
11
Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos Bell reestruturou-se em torno da AT&T.
a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa
fetiche morto como lembrança. E também porque sei que novas Em vez de declarar guerra aos "independentes", a nova direção pro-
folhas coincidirão comigo. pôs um trabalho conjunto, facilitando para eles as ligações de longa
distância, desde que trocassem seus sistemas rústicos pelos padrões
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma
12
Bell. Quem não aderisse, não teria ligações de longa distância.
grande delicadeza.
Como resultado, a AT&T matou a concorrência dos "indepen-
LISPECTOR, Clarice. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos.
Organização e introdução. As cem melhores crônicas
dentes" e construiu o mais longevo e poderoso monopólio da
brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 186-187. história, só desmembrado na década de 1980.
O mesmo processo de concentração se repetiu no rádio.
2. (Uece) O pronome “isso” (ref. 2) constitui uma anáfo-
ra. Sobre ele é correto afirmar que No início, o rádio tornou-se uma ferramenta tão democrática e
I. além de anafórico, o “isso” aponta para a posição disseminada quanto a Internet. Não havia controle e qualquer
que o substantivo milagre ocupa no plano do texto, pessoa, adquirindo um kit de rádio, montava sua estação sem fio.
posição de anterioridade. Em 1921 havia 525 estatais transmissoras nos Estados Unidos. Até
II. retoma a expressão “ouço falar” (ouvir falar de mi- o final de 1924, mais de 2 milhões de aparelhos de rádio. Segundo
lagres) e aponta para a anterioridade dessa expressão Tim Wu, autor do importante "Impérios da Comunicação", antes
no texto. da Internet os rádios foram a maior mídia aberta do século.
III. tem conotações afetivas. 4
Repetiu-se o mesmo processo do telefone. À medida que au-
mentava o público e criava escala, o mercado libertário era en-
Estão corretas as complementações contidas em
quadrado pelo poder público e a ocupação do espaço entregue
a) I, II e III. a grupos particulares.
b) I e III somente. Hoje em dia, as concessões de rádio se tornaram ativos de em-
c) II e III somente. presas privadas, as rádios comunitárias são criminalizadas e o
d) I e II somente. exercício pessoal se restringe aos rádios amadores.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Esse é o desafio atual da Internet. Se não for garantida a neu-
tralidade da rede - isto é, o direito de qualquer site ou pessoa de
A Internet e a neutralidade da rede ter acesso à rede, sem privilégios - em breve o grande sonho li-
bertário da Internet terá o mesmo destino do telefone e do rádio.
A Internet vista, unanimemente, como o território livre, a tecno-
logia libertadora que, em muitos países, permitiu o florescimento Luís Nassif. Coluna Econômica. 07/09/2013.
da cidadania, a ampliação das oportunidades de educação, o
3. (Uece) Considere os dois enunciados do último pará-
ambiente para novas empresas e novos empreendedores, para
grafo e atente ao que se diz sobre eles.
o trabalho colaborativo em rede.
I. O pronome “esse”, pelos ensinamentos da gramática
Graças a seu ambiente libertário, internacionalmente ajudou a normativa, aponta para o que vem antes dele (enquan-
derrubar ditaduras e monopólios de mídia, o controle da infor- to o “este” aponta para o que vem depois). No primeiro
mação, tanto por governos como por cartéis. enunciado do último parágrafo – “Esse é o desafio atu-
1
No entanto, não se considere um modelo consolidado. Em al da internet”, no entanto, o que deveria ter sido dito
outros momentos da história surgiram novas tecnologias, pro- antes não foi explicitado linguisticamente.
movendo rupturas, abrindo espaço para a democratização e, no II. Por inferência o leitor fica sabendo qual é o desafio da
momento seguinte, quedaram dominadas por novos cartéis e Internet: conservar-se como um território livre e neutro.
monopólios que se formaram.
III. “em breve o grande sonho libertário da Internet terá
 VOLUME 2

2
Foi assim com o início da telefonia. Enquanto a Bell Co se con- o mesmo destino do telefone e do rádio.” Esse destino
solidava, como grande companhia nacional, surgiram inúmeras consiste em ser a Internet dominada por cartéis (acor-
experiências locais, como a Mesa Telephone, para localidades ru- dos comerciais entre empresas com a finalidade de de-
rais norte-americanas, de tecnologia rudimentar porém útil para terminar os preços e limitar a concorrência) e, portanto,
ligar comunidades agrícolas. passar a ser um espaço privilegiado de liberdade.

50  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Está correto o que se diz apenas em A população que deseja melhores serviços das autoridades precisa
a) I e III. ter a consciência de que uma boa educação, não necessariamente
formal, é fundamental para atender melhor as suas aspirações.
b) III.
c) II e III. (YOKOTA, Paulo. Os problemas da educação no Brasil. Em
http://www.cartacapital.com.br/educacao/os-problemas-
d) I e II. da-educacao-no-brasil-657.html - Com adaptações)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 4. (G1 - col. naval 2015) Em “Ela começa com os pró-
prios pais, que não podem simplesmente terceirizar
Leia o texto e responda à(s) quest(ões) a seguir. essa responsabilidade.” (4º §), o emprego do pronome
destacado está de acordo com a modalidade padrão da
Quando se pergunta à população brasileira, em uma pesquisa de
língua. Em que opção tal fato também ocorre?
opinião, qual seria o problema fundamental do Brasil, a maioria
indica a precariedade da educação. Os entrevistados costumam a) A discussão sobre a precariedade da educação é
apontar que o sistema educacional brasileiro não é capaz de prepa- extremamente proveitosa, mas isto não deve ficar
rar os jovens para a compreensão de textos simples, elaboração de apenas na teoria.
cálculos aritméticos de operações básicas, conhecimento elementar b) Pais e educadores precisam estar juntos no proces-
de física e química, e outros fornecidos pelas escolas fundamentais. so educativo. Esses, orientando as crianças em sala de
[...] aula e aqueles, em casa.
c) A população que deseja melhores serviços das au-
Certa vez, participava de uma reunião de pais e professores em toridades precisa estar atenta a isto: uma boa educa-
uma escola privada brasileira de destaque e notei que muitos ção é fundamental.
pais expressavam o desejo de ter bons professores, salas de
d) Esse relatório que está em minhas mãos é essen-
aula com poucos alunos, mas não se sentiam responsáveis para
cial para a compreensão do que pode ser feito para
participarem ativamente das atividades educacionais, inclusive
melhor a educação no Brasil.
custeando os seus serviços. Se os pais não conseguiam enten-
der que esta aritmética não fecha e que a sua aspiração estaria e) Várias mudanças foram sugeridas para melhorar a edu-
no campo do milagre, parece difícil que consigam transmitir cação, durante o congresso, no ano passado. Este foi um
aos seus filhos o mínimo de educação. período bastante proveitoso.

Para eles, a educação dos filhos não se baseia no aprendizado TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
dos exemplos dados pelos pais.
Que esta educação seja prioritária e ajude a resolver outros
problemas de uma sociedade como a brasileira parece lógico.
No entanto, não se pode pensar que a sua deficiência depende
somente das autoridades. Ela começa com os próprios pais, que
não podem simplesmente terceirizar essa responsabilidade.
Para que haja uma mudança neste quadro é preciso que a so-
ciedade como um todo esteja convencida de que todos precisam
contribuir para tanto, inclusive elegendo representantes que parti-
lhem desta convicção e não estejam pensando somente nos seus Quantas pessoas em sua casa não economizam porque pensam
benefícios pessoais. que o que elas gastam não é suficiente para acabar com a água
do mundo? Agora multiplique pelo número de casas da sua rua,
Sobre a educação formal, aquela que pode ser conseguida nos
muitos cursos que estão se tornando disponíveis no Brasil, no- seu bairro, sua cidade, seu país, do mundo todo, pensando da
ta-se que muitos estão se convencendo de que eles ajudam na mesma maneira.
sua ascensão social, mesmo sendo precários. O número daqueles (Disponível em: http://biaquario.wordpress.
que trabalham para obter o seu sustento e para ajudar a família, com/2010/04/01/hello-world)

e ao mesmo tempo se dispões a fazer um sacrifício adicional


frequentando cursos até noturnos, parece estar aumentando. 5. (Upe) Acerca de alguns recursos linguísticos utiliza-
dos no texto, analise as proposições a seguir.
A demanda por cursos técnicos que elevam suas habilidades I. O enunciado “Quer levar a culpa por isso?” se configura
para o bom exercício da profissão está em alta. É tratada como
como uma pergunta dirigida a qualquer leitor do texto.
prioridade tanto no governo como em instituições representa-
tivas das empresas. O mercado observa a carência de pessoal II. No enunciado “Quer levar a culpa por isso?”, o
qualificado para elevar a eficiência do trabalho. pronome “aponta” para a imagem que está retrata-
da no texto.
Muitos reconhecem que o Brasil é um dos países emergentes
III. No texto que é apresentado abaixo da imagem, os
que estão melhorando, a duras penas, a sua distribuição de ren-
 VOLUME 2

pronomes possessivos em “sua rua, seu bairro, sua ci-


da. Mas, para que este processo de melhoria do bem-estar da
dade, seu país” fazem referência ao termo “pessoas”,
população seja sustentável, há que se conseguir um aumento
da produtividade do trabalho, que permita, também, o aumento no trecho: “Quantas pessoas em sua casa [...].”.
da parcela da renda destinada à poupança, que vai sustentar os IV. O segmento “do mundo todo” é semanticamente
investimentos indispensáveis. equivalente a “de todo o mundo”.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  51


Estão CORRETAS: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) I e III, apenas. PORTÃO
b) II e III, apenas. O portão fica bocejando, aberto
c) I, II e IV, apenas. para os alunos retardatários.
d) III e IV, apenas. Não há pressa em viver
e) I, II, III e IV. nem nas ladeiras duras de subir,
1
quanto mais para estudar a insípida cartilha.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Mas se o pai do menino é da oposição,
à 2ilustríssima autoridade municipal,
prima por sua vez da 3sacratíssima
autoridade nacional,
4
ah, isso não: o vagabundo
ficará mofando lá fora
e leva no boletim uma galáxia de zeros.
A gente aprende muito no portão
fechado.
ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Carlos Drummond de Andrade:
Poesia e Prosa. Editora Nova Aguilar:1988. p. 506-507.

7. (Uece) Atente para o que se afirma sobre os versos


“ah, isso não: o vagabundo ficará mofando lá fora/ e
leva no boletim uma galáxia de zeros” (ref. 4).
I. Eles são construídos sobre duas metáforas hiperbóli-
cas, isto é, metáforas que contêm um exagero.
II. O pronome isso em “ah, isso não”, aponta para um
referente na cena enunciativa.
III. O pronome isso, no poema, aponta para o que é dito
nos dois primeiros versos, sintetizando-os.
Está correto o que se diz em
a) I e II.
b) I, II e III.
c) II e III.
d) I e III.

Leia o fragmento do texto A última crônica, de Fernan-


do Sabino, para responder à questão.

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar


um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento
de escrever. [...]
Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café,
(https://docplayer.com.br/docs-images/67/57915662/ enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu
images/12-0.jpg. Acesso em: 23 jan 2019). quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem as-
sunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os
6. (G1 - epcar (Cpcar) 2018) Sobre a tirinha da Mafalda, as- assuntos que merecem uma crônica.
sinale a alternativa que apresenta uma análise INCORRETA.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se,
a) O segundo quadrinho apresenta uma quebra de numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de
expectativa em relação ao que expressa o adjetivo espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos
presente no primeiro. e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha
b) O uso do pronome demonstrativo “este”, no pri- de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido
meiro quadrinho, justifica-se por se referir a algo que pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as
ainda vai ser apresentado no próximo quadrinho. perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao
c) O vocábulo “droga”, terceiro quadrinho, passou redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a ins-
 VOLUME 2

pelo processo de derivação imprópria e, no contexto, tituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém,
apresenta-se como interjeição. que se preparam para algo mais que matar a fome.
d) Se substituirmos o pronome “nós”, no sexto Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discre-
quadrinho, por “as crianças”, o verbo poderá ser flex- tamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás
ionado na primeira pessoa do plural. na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma.

52  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como do grande público, a posição de chefe do movimento no Brasil.
se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, O que veio depois mostrou que eu tinha razão: o movimento
o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher passou a ser considerado obra de Graça Aranha, e embora “as
suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade datas estejam aí, e as obras”, como argumentou Mário comigo
de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do em carta de 1924, não conseguimos até hoje impor a verdade, a
freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a saber, que nunca fomos discípulos de Graça Aranha. O movimen-
mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, ape- to estava já em plena impulsão quando Graça Aranha chegou
nas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua ex- da Europa, em outubro de 1921, trazendo-nos a sua Estética da
pectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom vida, que nenhum de nós aceitou.
deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, Também, Ribeiro Couto e eu, nunca atacamos publicamente os
pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mestres parnasianos e simbolistas, nunca repudiamos o soneto
mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer nem, de um modo geral, os versos metrificados e rimados. Pouco
coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha me deve o movimento; o que eu devo a ele é enorme. Não só por
aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os intermédio dele vim a tomar conhecimento da arte de vanguarda
observa além de mim. São três velinhas brancas, minúsculas, que na Europa (da literatura e também das artes plásticas e da mú-
a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela sica), como me vi sempre estimulado pela aura de simpatia que
serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como me vinha do grupo paulista.
a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore
(Itinerário de Pasárgada, 1984. Adaptado.)
e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se
a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a 1. (FASM – UNESP) “Não só por intermédio dele vim a
que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra tomar conhecimento da arte de vanguarda na Europa”
você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. (2º parágrafo). O termo “dele” refere-se a
A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas
a) o soneto.
e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura
– ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que b) o movimento.
lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como c) Ribeiro Couto.
a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo d) conhecimento.
de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, e) grupo paulista.
constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sus-
tentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Leia o conto “A cartomante”, de Lima Barreto, para res-
ponder à questão.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como
esse sorriso. Não havia dúvida que naqueles atrasos e atrapalhações de sua
vida, alguma influência misteriosa preponderava. Era ele tentar
(A companheira de viagem, 1965.)
qualquer cousa, logo tudo mudava. Esteve quase para arranjar-
8. (FACISB – UNESP) O pronome este, em destaque no -se na Saúde Pública; mas, assim que obteve um bom “pisto-
texto (4.º parágrafo), funciona como elemento de coe- lão”, toda a política mudou. Se jogava no bicho, era sempre o
são textual e retoma, na frase, o termo grupo seguinte ou o anterior que dava. Tudo parecia mostrar-lhe
que ele não devia ir para adiante. Se não fossem as costuras da
a) pai. mulher, não sabia bem como poderia ter vivido até ali. Há cinco
b) homem. anos que não recebia vintém de seu trabalho. Uma nota de dois
c) dinheiro. mil-réis, se alcançava ter na algibeira por vezes, era obtida com
d) bolso. auxílio de não sabia quantas humilhações, apelando para a ge-
e) garçom. nerosidade dos amigos.
[...]

E.O. Complementar A certeza, porém, de que todas as suas infelicidades vinham de


uma influência misteriosa, deu-lhe mais alento. Se era “coisa fei-
Leia o trecho da crônica de Manuel Bandeira para res- ta”, havia de haver por força quem a desfizesse. Acordou mais
ponder à questão. alegre e se não falou à mulher alegremente era porque ela já
havia saído. Pobre de sua mulher! Avelhantada precocemente,
Foi assim que me vi associado a uma geração que, em verdade, trabalhando que nem uma moura, doente, entretanto a sua fra-
não era a minha, pois, excetuados Paulo Prado, Oswald de An- gilidade transformava-se em energia para manter o casal.
drade e Guilherme de Almeida, todos aqueles rapazes eram em Ela saía, virava a cidade, trazia costuras, recebia dinheiro, e aque-
média uns dez anos mais moços do que eu. A minha colaboração le angustioso lar ia se arrastando, graças aos esforços da esposa.
com ela (como, por outros motivos, também a de Ribeiro Couto)
sempre se fez com restrições. Assim, nem ele nem eu aquies- Bem! As cousas iam mudar!
 VOLUME 2

cemos em tomar parte na homenagem que a revista Klaxon Saiu, foi à venda e consultou o jornal. Havia muitos videntes,
prestou a Graça Aranha, editando um número a este dedicado. espíritas, teósofos anunciados; mas simpatizou com uma carto-
Minha recusa não implicava nenhuma quebra da admiração e mante, cujo anúncio dizia assim: “Madame Dadá, sonâmbula,
estima que sempre votei ao autor de Canaã. Pareceu-me, porém, extralúcida, deita as cartas e desfaz toda espécie de feitiçaria,
que a homenagem iria dar a Graça Aranha, pelo menos aos olhos principalmente a africana. Rua etc.”.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  53


[...] Está correto apenas o que se afirma em
Arranjou, com o primeiro conhecido que encontrou, o dinheiro a) I.
necessário, e correu depressa para a casa de Madame Dadá. b) II.
c) III.
[...]
d) I e II.
Pelo caminho tudo lhe sorria. Era o sol muito claro e doce, um e) II e III.
sol de junho; eram as fisionomias risonhas dos transeuntes; e o
mundo, que até ali lhe aparecia mau e turvo, repentinamente lhe Leia o texto de Regina Dalcastagnè para responder à
surgia claro e doce. questão
Entrou, esperou um pouco, com o coração a lhe saltar do peito. O sorriso dos canalhas
O consulente saiu e ele foi afinal à presença da pitonisa. Era Eles permanecem aí, sorrindo – em reuniões regadas a bom uís-
sua mulher. que, sorrindo – diante de câmeras de televisão, sorrindo – de ter-
(www.spectroeditora.com.br) no e gravata, sorrindo. Parecem felizes, diriam uns, estão de bem
com a vida, pensariam outros, têm belas lembranças, concluiriam
2. (USCS – UNESP) O pronome em destaque expressa então. Sem dúvida! Cada vez que um deles se olha no espelho,
valor possessivo em: preparando-se para aparecer em público, uma súbita alegria o
a) “Pelo caminho tudo lhe sorria.” invade. É um homem impune, e sempre que lembra disso ele
b) “[...] e o mundo, que até ali lhe aparecia mau e sorri. Sorri por todos os sorrisos que roubou.
turvo [...].” Sim, eles permanecem aí e celebram nossa indiferença e nos-
c) “A certeza, porém, [...] deu-lhe mais alento.” sa curta memória. Mas ainda é cedo demais para esquecer, e
d) “Tudo parecia mostrar-lhe que ele não devia ir para o sorriso deles nos avisa disso. Enquanto vamos levando nossa
adiante.” vidinha de todos os dias, preocupados com o preço da gasolina
e) “Entrou, esperou um pouco, com o coração a lhe e a violência das grandes cidades, eles andam pelas ruas, vão ao
saltar do peito.” cinema, frequentam restaurantes, assombram suas vítimas. Que
imensa ilusão pensarmos que estamos em segurança enquanto
3. (UNICID – UNESP) Leia a charge e as afirmações eles sorriem. Se ainda não podemos fazer alguma coisa, temos
ao menos a obrigação de não esquecer.
(O espaço da dor, 1996. Adaptado.)

4. (UNICID – UNESP) [...] o sorriso deles nos avisa disso.


A palavra “disso” é a forma contraída da preposição
“de” com o pronome “isso”. A que termo o pronome
“isso” se refere no texto?
a) sorriso deles
b) permanecem aí
c) ainda é cedo demais para esquecer
d) assombram suas vítimas
e) esquecer

Leia o texto para responder à questão

Os altos índices de aprovação popular do presidente Lula não são


fortuitos. Refletem o ambiente internacional favorável aos países
em desenvolvimento, apesar da crise que atinge o mundo desen-
volvido. Refletem, em especial, os acertos do atual chefe do Estado.
Lula teve o discernimento de manter a política econômica sensa-
ta de seu antecessor. Seu governo conduziu à retomada do cres-
I. De acordo com a norma culta, substituindo-se o pro- cimento e ampliou uma antes incipiente política de transferên-
nome isso por essa situação, obtém-se: O que o governo cias de renda aos estratos sociais mais carentes. A desigualdade
está fazendo quanto à essa situação? social, ainda imensa, começa a se reduzir. Ninguém lhe contesta
II. O pronome isso não retoma uma palavra específica seriamente esses méritos.
das falas e sim o próprio contexto em que as person- Nem por isso seu governo pode julgar-se acima de críticas. O
 VOLUME 2

agens se encontram. direito de inquirir, duvidar e divergir da autoridade pública é o


III. A visão bem humorada que o homem tem da situ- cerne da democracia, que não se resume apenas à preponderân-
ação contrasta com a seriedade com que a mulher a ela cia da vontade da maioria.
se reporta.

54  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Vai longe, aliás, o tempo em que não se respeitavam maiorias no
Brasil. As eleições são livres e diretas, as apurações, confiáveis – e Gabarito
ninguém questiona que o vencedor toma posse e governa.
Se existe risco à vista, é de enfraquecimento do sistema de freios E.O. Aprendizagem
e contrapesos que protege as liberdades públicas e o direito ao 1. D 2. B 3. D 4. A 5. B
dissenso quando se formam ondas eleitorais avassaladoras, ain-
da que passageiras. Nesses períodos, é a imprensa independente 6. E 7. A 8. B
quem emite o primeiro alarme, não sendo outro o motivo do ner-
vosismo presidencial em relação a jornais e revistas nesta altura
da campanha eleitoral.
Pois foi a imprensa quem revelou ao país que uma agência da
E.O. Fixação
Receita Federal plantada no berço político do PT, no ABC paulis- 1. E 2. D 3. D 4. C 5. C
ta, fora convertida em órgão de espionagem clandestina contra 6. B 7. D 8. E
adversários.
Foi a imprensa quem mostrou que o principal gabinete do go-
verno, a assessoria imediata de Lula e de sua candidata Dilma
E.O. Complementar
Rousseff, estava minado por espantosa infiltração de interesses 1. B 2. E 3. B 4. C 5. E
particulares. É de calcular o grau de desleixo para com o dinhei-
ro e os direitos do contribuinte ao longo da vasta extensão do
Estado federal.
Esta Folha procura manter uma orientação de independência,
pluralidade e apartidarismo editoriais, o que redunda em ques-
tionamentos incisivos durante períodos de polarização eleitoral.
Quem acompanha a trajetória do jornal sabe o quanto essa mes-
ma orientação foi incômoda ao governo tucano. Basta lembrar
que Fernando Henrique Cardoso, na entrevista em que se des-
pediu da Presidência, acusou a Folha de haver tentado insuflar
seu impeachment.
Lula e a candidata oficial têm-se limitado até aqui a vituperar a
imprensa, exercendo seu próprio direito à livre expressão, em-
bora em termos incompatíveis com a serenidade requerida no
exercício do cargo que pretendem intercambiar.
Fiquem ambos advertidos, porém, de que tais bravatas somente
redobram a confiança na utilidade pública do jornalismo livre.
Fiquem advertidos de que tentativas de controle da imprensa
serão repudiadas – e qualquer governo terá de violar cláusulas
pétreas da Constituição na aventura temerária de implantá-lo.
Editorial da Folha de S. Paulo, 26 set. 2010.

5. (USF) No trecho: “Esta Folha procura manter uma ori-


entação de independência (...)”, o pronome demonstra-
tivo empregado justifica-se porque
a) localiza o leitor acerca da referência ao posiciona-
mento do jornal.
b) distancia o leitor em relação ao periódico.
c) aproxima o periódico do posicionamento do leitor.
d) demonstra coexistência entre os interesses do
leitor e do autor do texto.
e) localiza o texto em relação ao jornal em que está
publicado.
 VOLUME 2

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  55


LC PRONOMES RELATIVOS,
INTERROGATIVOS E INDEFINIDOS
AULAS
15 E 16 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27

E.O. Aprendizagem 1. (Pucsp 2017) No primeiro parágrafo do editorial, o


pronome relativo destacado
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO a) qualifica Cármen Lúcia e faz alusão a cúpula.
Recado dado ao STF b) retoma posse e relaciona-se a segunda-feira.
c) institui relação de substituição e resgata cúpula.
Editorial. Folha de S.Paulo, 13 set. 2016 d) estabelece relação de posse e refere-se a Cármen Lúcia.
Poucas vezes a posse de um presidente do Supremo Tribunal Fe-
deral se revestiu de tanto simbolismo quanto a de Cármen Lúcia, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
cuja chegada ao comando do órgão de cúpula do Judiciário se
consumou nesta segunda-feira (12). O som da época
Em uma cerimônia simples, a ministra quebrou o protocolo já no Luís Fernando Veríssimo
início de seu discurso. Em vez de cumprimentar primeiro o pre-
sidente da República, Michel Temer (PMDB), Cármen Lúcia con- Desconfio de que ainda nos lembraremos 2destes anos como 5a
21

siderou que a maior autoridade presente era "Sua Excelência, o época em que vivemos com o acompanhamento dos alarmes de
povo" – e, por isso, saudou antes de todos o "cidadão brasileiro". carro. Os alarmes de carro são a trilha sonora do nosso tempo8:
o som da paranoia justificada.
Partisse de outrem, o gesto talvez pudesse ser considerado mero po-
pulismo; vindo da nova presidente do STF, guarda coerência com ou- O alarme é o grito da nossa propriedade de que alguém está
tras iniciativas de valor simbólico semelhante, como abrir mão de car- querendo tirá-la de nós. É o som 15mais desesperado que um ser
ro oficial com motorista ou dispensar a festa em sua própria posse. humano pode produzir – a palavra “socorro!” –, mecanizado,
padronizado e a todo volume. É 10“socorro!” acrescentado ao
Como se pudesse haver dúvidas a respeito disso, Cármen Lú-
cia deixa clara a intenção de, no próximo biênio, conduzir o vocabulário das coisas, como a buzina, a campainha, a música de
STF com a mesma austeridade que pauta sua conduta pessoal. elevador, o 11“ping” que 22avisa que o assado está pronto e todos
"Privilégios são incompatíveis com a República", disse a esta os “pings” do computador. Também é um som típico porque ten-
Folha no ano passado. ta compensar a carência mais típica 3da época9, a de segurança.
7
Os carros pedem socorro porque a sua defesa natural 12– polícia
É de imaginar, assim, que a nova presidente de fato reveja uma por perto, boas fechaduras ou respeito de todo o mundo pelo
das principais bandeiras da agenda corporativista de seu ante- que é dos outros – não funciona 16mais. 17Só 6lhes resta gritar.
cessor, Ricardo Lewandowski: o indefensável aumento salarial
para os ministros do Supremo. Também é o som da época porque é o som da intimidação. Sua
função principal é espantar e substituir todas as outras formas
Não há de ser esse o único contraste entre as gestões. Espera-se
de dissuasão pelo simples terror do barulho. O som da época em
que Cármen Lúcia moralize os gastos com diárias de viagens ofi-
que 1os decibéis substituíram a razão.
ciais no STF, amplie a transparência e a previsibilidade das decisões
do Judiciário e, acima de tudo, resgate o papel disciplinar do Con- Como os ouvidos são13, de todos os canais dos sentidos, os mais
selho Nacional de Justiça, esvaziado sob a batuta de Lewandowski. difíceis de proteger, foram os escolhidos pela insensibilidade mo-
Desfrutando de sólida reputação no meio jurídico, a ministra susci- derna para atacar nosso cérebro e apressar nossa imbecilização.
ta altas expectativas ainda por outro motivo: ela relatou o processo Pois são tempos literalmente do barulho.
do ex-deputado federal Natan Donadon, condenado por desvio de O alarme contra roubo de carro também é próprio da época por-
dinheiro público e primeiro político a ter sua prisão determinada que, 18frequentemente, não funciona. 14Ou funciona quando não
pelo STF desde a promulgação da Constituição de 1988. deve. 23Ouvem-se tantos alarmes a qualquer hora do dia ou da
Daí por que o ministro Celso de Mello se sentiu à vontade para, noite porque, 19talvez influenciados pela paranoia generalizada,
antes do discurso de Cármen Lúcia, proferir palavras duríssimas eles disparam sozinhos. 24Basta alguém se aproximar do carro
contra "os marginais da República, cuja atuação criminosa tem com uma cara suspeita e eles começam a berrar.
o efeito deletério de subverter a dignidade da função política e
Decididamente, o som 4do nosso tempo.
20
 VOLUME 2

da própria atividade governamental".


VERISSIMO, Luís Fernando. O som da época. Jornal
No plenário do Supremo, diversos figurões da política investigados Zero Hora, Porto Alegre, 29 set. 2011.
ou processados por crimes contra o patrimônio público apenas ou-
viam, constrangidos. Que o recado da gestão Cármen Lúcia possa 2. (Unisinos) Leia as seguintes afirmações sobre o em-
ir além do plano simbólico. prego de pronomes e expressões referenciais no texto.

56  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


I. A expressão “(d)estes anos” (ref. 2), que se refere ao berem os familiares, estúdio de gravação de música e oficinas
tempo presente, é retomada, no texto, por “(d)a época” de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação
(ref. 3) e “(d)o nosso tempo” (ref. 4). profissional, cursos educacionais, e o trabalhador recebe uma
II. Na primeira linha, a expressão “em que” (preposição pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer muitas
+ pronome relativo) retoma “a época” (ref. 5) e poderia atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia.
ser substituída pelo pronome relativo “onde” ou pela A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos pre-
expressão “na qual” (“em” + “a qual”). sos, como estupradores e pedófilos, ficam em blocos separados).
III. O pronome oblíquo “lhes” (ref. 6) retoma, no texto, a Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela prisão, mas
expressão “os carros” (ref. 7). é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimen-
tos no mercado interno para abastecer seus refrigeradores.
Sobre as proposições acima, pode-se afirmar que
a) apenas I está correta. Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem pas-
sar por no mínimo dois anos de preparação para o cargo, em
b) apenas II está correta.
um curso superior, tendo como obrigação fundamental mostrar
c) apenas III está correta. respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao
d) apenas I e III estão corretas. mostrarem respeito, os outros também aprenderão a respeitar.
e) apenas II e III estão corretas.
A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ao sistema da maioria dos países, como o brasileiro, americano,
inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a
Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no trata-
mento cruel e na vingança.
O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência
criminal em todo o mundo. No país, a taxa média de reincidência O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacio-
(amplamente admitida, mas nunca comprovada empiricamente) é nais, laborais e comportamentais, e, dessa forma, provar que pode
de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam ter o direito de exercer sua liberdade novamente junto à sociedade.
a cometer algum tipo de crime após saírem da cadeia.
A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte:
Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por que não?" O enquanto lá os presos saem e praticamente não cometem cri-
que esperar de um sistema que propõe reabilitar e reinserir aqueles mes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e
que cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece, para que matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente
essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de depre- colaterais, porque a população manifesta muito mais prazer no
dação total, pouquíssimos programas educacionais e laborais para massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vin-
os detentos, praticamente nenhum incentivo cultural, e, ainda, uma gança é uma festa, dizia Nietzsche).
sinistra cultura (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido
LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto
bom é bandido morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). Avante Brasil e coeditor do Portal atualidadesdodireito.
Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela com.br. Estou no blogdolfg.com.br.

ONU, em 2012, o melhor país para se viver (1º no ranking do ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e pes-
IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante quisadora do Instituto Avante Brasil.
Brasil, o 8º país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá
o sistema carcerário chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.
com.br/noruega-como-modelo-de-reabilitacao-de-
seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é criminosos/. Acessado em 17 de março de 2017.
uma das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma pri-
são em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa reincidência é 3. (Espcex (Aman) 2018) Assinale a opção que contém
de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes um pronome relativo:
que por ali passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reinci-
a) O que esperar de um sistema desses?
dência e o Reino Unido, 50%. A média europeia é 50%.
b) O sistema nada oferece para que tal situação real-
A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter mente aconteça.
seu sistema penal pautado na reabilitação e não na punição por c) Uma cultura sinistra, mas que diverte muitas pessoas.
vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso, não
d) A pena será prorrogada até que a reintegração dos
é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso
presos seja comprovada.
poderá ser condenado à pena máxima prevista pela legislação do
país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente e) Dessa forma, o detento deve provar que pode ter o
reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais direito de exercer sua liberdade.
5 anos, até que sua reintegração seja comprovada.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com
grafites e quadros nos corredores, e no qual as celas não pos-
 VOLUME 2

A imigrante italiana que se formou em nutrição aos 87


suem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso sani- anos escreveu o TCC inteiro à mão
tário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana,
mesa, cadeira e armário, quadro para afixar papéis e fotos, Os cabelos brancos de Luísa Valencic Ficara contrastaram com a
além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, giná- 1
juventude dos colegas durante 2sua formatura. Nascida na 3Itá-
sio de esportes, campo de futebol, chalés para os presos rece- lia, Luísa imigrou para a América do Sul durante a Segunda Guer-

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  57


ra Mundial, viveu em três países sul-americanos e se estabeleceu surgido dos acontecimentos do dia. Embora a conta do YouTube
em Jundiaí, no interior de São Paulo. Aos 87 anos, ela acaba de que compartilhou as imagens com falsos objetivos tenha sido ra-
se formar em nutrição. pidamente tirada do ar, outros veículos as reproduziram dizendo
que eram de Bruxelas.
Dona Luísa, como é conhecida, vive na 4cidade há 40 anos. Após o
falecimento do marido e de sua irmã, ela decidiu voltar a estudar Os vídeos ilusórios são exemplos de um fenômeno que vem
para se manter ocupada. Foi assim que surgiu a ideia de se matri- se tornando cada vez mais comum em quase todas as ma-
cular no curso de nutrição do Centro Universitário Padre Anchieta. térias importantes que tratam de acontecimentos violentos e
A 5graduação foi concluída após seis anos de estudos, com um TCC que ocorrem rapidamente. Reportagens falsas ou ilusórias es-
sobre a cana-de-açúcar no Brasil. Segundo informações do 6Grupo palham-se rapidamente pelas redes sociais e são acessadas por
Anchieta, 7todo o trabalho foi escrito à mão. Colegas, professores organizações jornalísticas respeitáveis, confundindo ainda mais
e funcionários da 8instituição ajudaram com a parte da digitação, um quadro já incrivelmente confuso.
configuração e impressão do trabalho, para apoiar Dona Luísa.
A disseminação e divulgação de falsas informações não têm
Mas a graduação não é o limite para a idosa. Ela, que também nada de novo, mas a internet tornou mais fácil plantar matérias
frequenta aulas de alemão, inglês e francês, já está pensando em e provas falsas e ilusórias, que serão amplamente compartilha-
ingressar em um curso de pós-graduação para continuar estu- das pelo Twitter e pelo Facebook.
dando, segundo contou ao G1.
Alastair Reid, editor administrativo do site First Draft, 1que é
Disponível em: http://www.hypeness.com.br/2017/09/
uma coalizão de organizações 2que se especializam em checar
aimigrante-italiana-que-se-formou-em-nutricaoaos-87-
anos-escreveu-o-tcc-inteiro-a-mao/. Acesso: 23/9/17.
informações e conta com o apoio do Google, disse 3que parte
do problema é que qualquer pessoa 4que publique em plata-
4. (Uece 2018) A notícia acima apresenta elementos formas como o Facebook tem a capacidade de atingir uma
coesivos que ajudam na “costura” temática do texto. A audiência tão ampla quanto aquelas 5que são atingidas por
partir dessa ideia, é correto asseverar que uma organização jornalística. “Pode tratar-se de alguém ten-
a) o pronome “sua” (referência 2) se relaciona à “ju- tando desviar propositalmente a pauta jornalística por motivos
ventude” (referência 1). políticos, ou muitas vezes são apenas pessoas que querem os
b) “todo o trabalho” (referência 8) retoma “gradu- números, os cliques e os compartilhamentos porque querem fa-
ação” (referência 6). zer parte da conversa ou da validade da informação”, disse ele.
“Eles não têm quaisquer padrões de ética, mas têm o mesmo
c) “instituição” (referência 9) substitui “Grupo Anchi-
tipo de distribuição.”
eta” (referência 7).
d) “cidade” (referência 5) refere-se à “Itália” (referência 3). Nesse meio tempo, a rápida divulgação das notícias online e a
concorrência com as redes sociais também aumentaram a pres-
5. (Espcex (Aman) 2017) Assinale a alternativa correta são sobre as organizações jornalísticas para serem as primeiras a
quanto ao emprego do pronome relativo. divulgar cada avanço, ao mesmo tempo em que eliminam alguns
a) Aquele era o homem do qual Miguel devia favores. dos obstáculos que permitem informações equivocadas.
b) Eis um homem de que o caráter é excepcional. Uma página na web não só pode ser atualizada de maneira a
c) Refiro-me ao livro que está sobre a mesa. eliminar qualquer vestígio de uma mensagem falsa, mas, quando
d) Aquele foi um momento onde eu tive grande alegria. muitas pessoas apenas se limitam a registrar qual o website em
e) As pessoas que falei são muito ricas. que estão lendo uma reportagem, a ameaça à reputação é sig-
nificativamente menor que no jornal impresso. Em muitos casos,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO um fragmento de informação, uma fotografia ou um vídeo são
simplesmente bons demais para checar.
Vídeos falsos confundem o público e a imprensa
Alastair Reid disse: “Agora talvez haja mais pressão junto a algu-
Por Jasper Jackson, tradução de Jo Amado.
mas organizações para agirem rapidamente, para clicar, para ser
Cerca de duas horas depois da divulgação dos atentados de ter- a primeira… E há, evidentemente, uma pressão comercial para
ça-feira (22/03) em Bruxelas, apareceu um vídeo no YouTube, sob ter aquele vídeo fantástico, aquela foto fantástica, para ser de
a alegação de que seriam imagens do circuito fechado de tele- maior interesse jornalístico, mais compartilhável e tudo isso pode
visão (CCTV), mostrando uma explosão no aeroporto Zaventem, se sobrepor ao desejo de ser certo.”
da cidade. As imagens rapidamente se espalharam pelas redes
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/terrorismo/videos-
sociais e foram divulgadas por alguns dos principais sites de no- falsos-confundem-o-publico-e-a-imprensa/. (Publicado originalmente
tícias. Depois desse, surgiu outro vídeo, supostamente mostrando no jornal The Guardian em 23/3/2016. Acesso em 30/03/2016.)
uma explosão na estação de metrô Maelbeek, próxima ao Par-
lamento Europeu, e ainda um outro, alegando ser do aeroporto. 6. (Ita 2017) No primeiro período do sexto parágrafo,
a palavra QUE constitui pronome relativo, EXCETO em
Entretanto, nenhum dos vídeos era o que alegava ser. Os três ví-
deos eram gravações de 2011, dois de um atentado ao aeropor- a) [...] que é uma coalizão [...] (ref. 1)
 VOLUME 2

to Domodedovo, de Moscou, e um de uma bomba que explodiu b) [...] que se especializam [...] (ref. 2)
numa estação de metrô de Minsk, capital da Belarus. c) [...] que parte do problema [...] (ref. 3)
As imagens distorcidas dos clipes do circuito fechado de televi- d) [...] que publique em plataformas [...] (ref. 4)
são foram convertidas de cor em preto e branco, horizontalmente e) [...] que são atingidas por uma organização jor-
invertidas, novamente etiquetadas e postadas como se tivessem nalística. (ref. 5)

58  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


7. (G1 - cps) Leia um trecho do poema de Cora Coralina. Segundo a Constituição do país, crianças e adolescentes deveriam
Se temos de esperar, ter preferência na formulação e execução de políticas públicas. O
que seja para colher a semente boa documento ressalta também a condição peculiar da criança e do
que lancamos hoje no solo da vida. (...) adolescente como pessoas em desenvolvimento. No Brasil, nem
todos gozam das mesmas oportunidades: muitos nessa faixa etá-
<http://tinyurl.com/pts55ky> Acesso em: 20.08.2015.
ria estão em situação de exploração sexual, gravidez precoce, de-
A palavra destacada, nesse fragmento, morfologica- pendência química, violência doméstica, evasão escolar.
mente, classifica-se como um
Atualmente um dos temas mais discutidos na agenda política do
a) artigo definido, pois determina o substantivo. país é a redução da maioridade penal. A Proposta de Emenda à
b) artigo indefinido, pois indetermina o substantivo. Constituição (PEC) 171/1993 encontra-se em análise pelo Con-
c) advérbio, pois atribui uma circunstancia ao verbo. gresso Nacional. Criada pelo hoje ex-deputado Benedito Domin-
d) pronome pessoal, pois designa a pessoa do discurso. gos (PP), a proposta prevê que a maioridade penal seja reduzida
e) pronome relativo, pois refere-se a um termo anterior. para 16 anos. Depois de aprovada pela maioria dos deputados
na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a PEC agora
8. (Espm) Assinale o item em que a frase transgrida as é debatida em uma comissão especial da Casa, que tem cerca
normas gramaticais, envolvendo o emprego do prono- de três meses para analisar o projeto. Em seguida, será votado
me relativo: novamente e, se aprovada, seguirá para o Senado.
a) Deputado aceitou sair, pois temia sofrer retaliações Partindo do princípio de que o debate está sendo travado no cam-
em outras comissões cujas as vagas são definidas pe- po da segurança pública, a atual proposta sugere a responsabiliza-
los líderes partidários. ção da juventude pelos altos índices de violência do país. É preciso
b) O comando da Lava Jato, sobre cujas formas deci- apontar que não é a maioridade civil que está em pauta, mas a
sórias ainda pairam dúvidas, resolveu acelerar o passo. penal. Os que desejam a emenda na constituição argumentam
c) O caso, em cujos levantamentos se baseiam, traz que isso resultará na diminuição da criminalidade; que a lei não
de volta à tona discussões sobre a falta de controle pune ou quando pune não é rigorosa o suficiente; se com 16 anos,
na mineração. o jovem possui maturidade intelectual suficiente para votar, logo,
d) ...como resultados positivos em amostras no líqui- também pode ser responsabilizado criminalmente por delitos. Ou
do amniótico de gestantes cujos bebês apresentaram seja, com essa medida, o Estado passaria a reconhecer a maiorida-
microcefalia, no sangue e tecidos de crianças. de de um indivíduo fundamentalmente para puni-lo.
e) Ele gosta de desafios, mas há um cuja solução não Eduardo Alves, sociólogo e um dos diretores do Observatório de
depende dele: a falta de vaga no transporte escolar Favelas, critica o viés pelo qual o assunto é abordado, discutindo
gratuito da Prefeitura. a maioridade pelo aspecto penal e não civil: “Quando se formula
políticas para a juventude é necessário pensar no presente e no
9. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa em que o uso
futuro, pois, o jovem de hoje é o adulto de amanhã. Que tipo
dos pronomes relativos está em acordo com a norma
de adulto formaremos retirando dois anos da juventude? Retirar
culta da Língua Portuguesa.
dois anos significa inclusive uma redução de investimentos em
a) Busca-se uma vida por onde a tolerância seja, de políticas para a juventude, ou seja, consideramos que já há in-
fato, alcançada. vestimento suficiente? Há violência de sobra em nossa sociedade
b) Precisa-se de funcionários com cujo caráter não e a responsabilidade disso é dos adultos e não da juventude.
pairem dúvidas. Cabe aos adultos elaborar políticas que diminuam a violência e
c) São pessoas com quem depositamos toda a confiança. potencializem a cultura de direitos na juventude. Se a responsa-
d) Há situações de onde tiramos forças para prosseguir. bilidade, portanto, é dos adultos, por que diminuir dois anos da
e) José é um candidato de cuja palavra não se deve duvidar. juventude? Por que ampliar o tempo de punição daqueles que
não são os principais responsáveis?”, questionou Alves.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
E A VIOLÊNCIA PRATICADA CONTRA A JUVENTUDE?
A JUVENTUDE MERECE MAIS A maioria das justificativas e a proposta em si da PEC afirma
em suas negativas que pretende combater a violência praticada
Por: Alan Miranda. alan@observatoriodefavelas.org.br
por adolescentes, alargando a faixa etária passível de punição
Aos 16 anos de idade, uma pessoa pode ter inúmeras ocupações, penal. Porém, raramente (ou nunca) aparece na consideração de
anseios, possibilidades e perspectivas de vida em nossa socieda- seus defensores os números alarmantes que retratam a violên-
de. Com 16 anos, geralmente as/os adolescentes estão cursando cia sofrida pelos jovens, como mostra o Índice de Homicídios na
o ensino médio, às vezes fazendo um curso técnico concomitan- Adolescência (IHA) – estudo recentemente divulgado pelo Ob-
te, outros têm a oportunidade de cursar uma língua estrangeira, servatório de Favelas, Unicef, Secretaria de Direitos Humanos e
estudar música, teatro, circo, artes, praticar esportes, viajar para Laboratório de Análise da Violência da UERJ. De acordo com a
 VOLUME 2

outros estados, países, tudo isso partindo de uma perspectiva pesquisa, mais demil adolescentes (12 a 18 anos) poderão ser
otimista. Nesta idade surgem novas responsabilidades: o voto é vítimas de homicídio nos municípios com mais demil habitantes
facultativo e, com a permissão dos pais, pode ser emancipado. entre 2013 e 2019. Os jovens negros são as vítimas mais recor-
Mas ainda é uma fase de experimentação, de descobertas, de rentes. Ou seja, a principal vítima da violência, principalmente a
“primeiras vezes”. violência letal é a juventude.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  59


Para o delegado Orlando Zaconne, há uma inversão de pautas 10. (Ufjf-pism 3 2016) Releia o trecho a seguir:
quando se discute segurança pública no Brasil. “Na verdade, o Além disso, a legislação brasileira já responsabiliza toda pes-
grande tema não é a violência praticada por adolescentes, mas a soa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da
violência praticada contra adolescentes. O Brasil é um dos países Criança e do Adolescente (ECA), o jovem deve merecer medidas
com maiores índices de violência contra a criança e o adolescen- socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano,
te, mas nada disso parece escandalizar a sociedade. E a pauta prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semili-
da redução da maioridade penal serve inclusive para omitir esse berdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade
dado” – disse Zaconne em vídeo de policiais civis contra a re- da infração. Enquanto nas penitenciárias o percentual de reinci-
dução. Além do IHA, existem outras pesquisas relacionadas ao dência no crime é deno sistema socioeducativo esse número cai
tema, que demonstram a deficiência do Estado em cumprir as paraCom efeito, esses dados mostram gargalos da atuação do
leis já existentes, mas pouco aplicadas, no que tange a garantia
Estado nesse âmbito, que a atual proposta parece ignorar.
dos direitos do adolescente e na reintegração social daqueles
que cumpriram pena. Vale lembrar que o Brasil já está compro- O pronome relativo QUE, marcado na última sentença,
metido com pelo menos três pactos internacionais: a Convenção retorna o termo:
da ONU (1948), que considera maioridade penal como 18 anos; a) percentual.
a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José
b) sistema.
da Costa Rica – 1969), que separa o tratamento dado à criança e
ao adolescente do adulto; e a Convenção dos Direitos da Criança c) dados.
(1990), da qual nasceu o Estatuto da Criança e do Adolescente. d) gargalos.
e) proposta.
Além disso, a legislação brasileira já responsabiliza toda pessoa aci-
ma de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), o jovem deve merecer medidas socioeducativas,
como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de ser- E.O. Fixação
viço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. 1. (G1 - col. naval) Em que opção utilizou-se correta-
A medida é aplicada segundo a gravidade da infração. Enquanto mente o pronome relativo?
nas penitenciárias o percentual de reincidência no crime é deno
sistema socioeducativo esse número cai paraCom efeito, esses da- a) Admiro as pessoas as quais os filhos são gentis e
dos mostram gargalos da atuação do Estado nesse âmbito, que a educados a qualquer tempo.
atual proposta parece ignorar. O Sistema Nacional de Atendimento b) A adolescência é a idade onde as pessoas apresen-
Socioeducativo (Sinase) e o Plano Individual de Atendimento (PIA), tam conflitos existenciais.
previstos como ferramentas para reintegração de jovens infratores c) César é o profissional a quem confiei a educação e
à sociedade, chegam a apenasdos adolescentes apreendidos no o futuro dos meus filhos.
Brasil, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). d) A prova em cujos os textos nos baseamos foi apli-
MELHOR PREVENIR QUE REMEDIAR cada há dois anos por esta instituição.
e) Não é possível domesticar animais a quem não se
(...)
ame verdadeiramente.
Embora careça de melhorias e adaptações, o ECA é um dos do-
cumentos que tratam da garantia de direitos da criança e do ado- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
lescente e deveria pautar as ações para essa parte da população. Descrição de gravura
Em entrevista à Revista Fórum, o advogado Ariel de Castro Alves,
Reinaldo Jardim
membro do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e do Mo-
vimento Nacional de Direitos Humanos destacou a importância Eu vejo uma gravura, grande e rasa.
das ações preventivas: “O Estatuto da Criança e do Adolescente No primeiro plano, uma casa.
tem o caráter mais preventivo do que repressivo. Se o ECA fosse À direita da casa, outra casa.
realmente cumprido, sequer teríamos adolescentes cometendo À esquerda da casa, outra casa.
crimes. Se o Estado exclui, o crime inclui. A ausência de políticas Lá no fundo da casa,outra casa.
públicas, programas e serviços de atendimento, conforme prevê
Em frente da casa, uma vala:
a lei, e a fragilidade do sistema de proteção social do país favore-
cem o atual quadro de violência que envolve adolescentes como Onde corre a lama, doutra casa.
vítimas e protagonistas” – explicou Ariel. E no chão da casa,outra vala
Onde corre o esgoto doutra casa.
(...)
Esta casa que eu vejo, não se casa
Sendo a juventude o futuro do país, é preciso debatê-la afirman- Com o que chamamos de uma casa.
do seus valores e potências. Em vez de sugerir redução dos seus Pois as paredes são esburacadas,
direitos, faz-se necessário pensar e criar alternativas para as ne-
Onde passam aranhas e baratas.
cessidades específicas desse grupo. O que está em debate são as
 VOLUME 2

possibilidades de crescimento a que os jovens têm ou deveriam ter E os telhados são folhas de zinco.
acesso. Reivindicar o direito de puni-los como adultos é ceifar direi- E podem cair a qualquer vento
tos e oportunidades e diminuir o tempo da fase mais importante E matar a mulher que mora dentro
da formação humana A nossa juventude merece mais, muito mais! E matar a criança, que está dentro
http://of.org.br/noticias-analises/a-juventude-merece-mais/. Adaptado. Da mulher que mora nessa casa.

60  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Ou da mulher que mora noutra casa. do-nos na maior das confusões, a discutir a propósito de um tudo
É preciso pintar outra gravura ou de um nada, causando-nos a ruína, o desespero e a guerra.
Com casa de argamassa na paisagem 6
Poço não é poço, fundo de um poço não é o fundo de um poço,
Crianças cantando a segurança da vida construída à sua imagem. na voz do provérbio isso significa que a verdade é difícil de re-
velar-se, sua nudez não se exibe na praça pública ao alcance de
2. (G1 - cftrj) O pronome relativo “onde”, de uso recor- qualquer mortal. Mas é o nosso dever, de todos nós, procurar a
rente no texto, refere-se, em cada uma de suas apari- verdade de cada fato, mergulhar na escuridão do poço até en-
ções no texto, respectivamente a: contrar sua luz divina.
a) vala, vala, paredes. “Luz divina” é do juiz, como aliás todo o parágrafo anterior.
b) lama, vala, esburacadas. 18
Ele é tão culto que fala em tom de discurso, gastando pala-
c) vala, esgoto, paredes. vras bonitas, mesmo nas conversas familiares com sua digníssi-
d) lama, esgoto, esburacadas. ma esposa, dona Ernestina. 15“A verdade é o farol que ilumina
minha vida”, costuma repetir-se o meritíssimo, de dedo em ris-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO te, quando, à noite, 1sob um céu de incontáveis estrelas e pouca
luz elétrica, conversamos sobre as novidades do mundo e de
De como o narrador, com certa experiência anterior e agradável, nosso subúrbio. Dona Ernestina, gordíssima, lustrosa de suor e
dispõe-se a retirar a verdade do fundo do poço um tanto quanto débil mental, concorda balançando a cabeça
Minha intenção, minha única intenção, acreditem! é apenas res- de elefante. 5Um farol de luz poderosa, iluminando longe, eis a
tabelecer a verdade. A verdade completa, de tal maneira que ne- verdade do nobre juiz de direito aposentado.
nhuma dúvida persista em torno do comandante Vasco Moscoso Talvez por isso mesmo sua luz não penetre nos escaninhos
21

de Aragão e de suas extraordinárias aventuras. mais próximos, nas ruas de canto, no escondido beco das Três
3
“A verdade está no fundo de um poço”, li certa vez, não me lem- Borboletas onde se abriga, na discreta meia-sombra de uma
bro mais se num livro ou num artigo de jornal. Em todo caso, em casinha entre árvores, 16a formosa e risonha mulata Dondoca,
letra de forma, e como duvidar de afirmação impressa? Eu, pelo cujos pais procuraram o meritíssimo quando Zé Canjiquinha
menos, não costumo discutir, muito menos negar, a literatura e o desapareceu da circulação, viajando para o sul.
jornalismo. E, como se isso não bastasse, 7várias pessoas gradas Passara Dondoca nos peitos, na frase pitoresca do velho Pedro Tor-
repetiram-me a frase, não deixando sequer margem para um erro resmo, pai aflito, e largara a menina ali, sem honra e sem dinheiro:
de revisão a retirar a verdade do poço, a situá-la em melhor abrigo:
– 22No miserê, doutor juiz, no miserê...
paço (“a verdade está no paço real”) ou colo (“a verdade se es-
conde no colo das mulheres belas”), polo (“a verdade fugiu para o O juiz deitou discurso moral, coisa digna de ouvir-se, prometeu
Polo Norte”) ou povo (“a verdade está com o povo”). Frases, todas providências. E, à vista do tocante quadro da vítima a sorrir
elas, parece-me, menos grosseiras, mais elegantes, sem deixar essa entre lágrimas, afrouxou um dinheirinho, pois, sob o peito duro
obscura sensação de abandono e frio inerente à palavra “poço”. da camisa engomada do magistrado, pulsa, por mais difícil que
seja acreditar-se, pulsa um bondoso coração. Prometeu expedir
O meritíssimo dr. Siqueira, juiz aposentado, respeitável e probo ci- ordem de busca e apreensão do “sórdido dom-juan”, esque-
dadão, de lustrosa e erudita careca, explicou-me tratar-se de um cendo-se, no entusiasmo pela causa da virtude ofendida, de
lugar-comum, ou seja, coisa tão clara e sabida a ponto de trans- sua condição de aposentado, sem promotor nem delegado às
formar-se num provérbio, num dito de todo mundo. 19Com sua voz ordens. Interessaria no caso, igualmente, seus amigos da cida-
grave, de inapelável sentença, acrescentou curioso detalhe: 4não só de. O “conquistador barato” teria a paga merecida...
a verdade está no fundo de um poço, mas lá se encontra inteira-
mente nua, 8sem nenhum véu a cobrir-lhe o corpo, sequer as partes E foi ele próprio, tão cônscio é o dr. Siqueira de suas responsabili-
vergonhosas. No fundo do poço e nua. dades de juiz (embora aposentado), dar notícias das providências
à família ofendida e pobre, na moradia distante. Dormia Pedro Tor-
2
O dr. Alberto Siqueira é o cimo, o ponto culminante da cultura resmo, curando a cachaça da véspera; 12labutava no quintal, lavan-
nesse subúrbio de Periperi onde habitamos. 11É ele quem pro- do roupa, a magra Eufrásia, mãe da vítima, e a própria cuidava do
nuncia o discurso do Dois de Julho na pequena praça e o de Sete fogão. 13Desabrochou um sorriso nos lábios carnudos de Dondoca,
de Setembro no grupo escolar, sem falar noutras datas menores tímido mas expressivo, o juiz fitou-a austero, tomou-lhe da mão:
e em brindes de aniversário e batizado. 14Ao juiz devo muito do
– Venho pra repreendê-la...
pouco que sei, a essas conversas noturnas no passeio de sua
casa; devo-lhe respeito e gratidão. Quando ele, com a voz solene – Eu não queria. Foi ele... – choramingou a formosa.
e o gesto preciso, esclarece-me uma dúvida, 10naquele momen- – Muito malfeito – segurava-lhe o braço de carne rija.
to tudo parece-me claro e fácil, nenhuma objeção me assalta.
Depois que o deixo, porém, e ponho-me a pensar no assunto, Desfez-se ela em lágrimas arrependidas e o juiz, para melhor re-
vão-se a facilidade e a evidência, como, por exemplo, nesse caso preendê-la e aconselhá-la, sentou-a no colo, acariciou-lhe as faces,
da verdade. 20Volta tudo a ser obscuro e difícil, busco recordar as beliscou-lhe os braços. Admirável quadro: a severidade implacável
explicações do meritíssimo e não consigo. Uma trapalhada. Mas, do magistrado temperada pela bondade compreensiva do homem.
 VOLUME 2

como duvidar da palavra de homem de tanto saber, as estantes Escondeu Dondoca o rosto envergonhado no ombro confortador,
seus lábios faziam cócegas inocentes no pescoço ilustre.
entulhadas de livros, códigos e tratados? No entanto, por mais
que ele me explique tratar-se apenas de um provérbio popular, Zé Canjiquinha nunca foi encontrado, em compensação Dondo-
muitas vezes encontro-me a pensar nesse poço, certamente pro- ca ficou, desde aquela bem-sucedida visita sob a proteção da
fundo e escuro, onde foi a verdade esconder sua nudez, deixan- justiça, anda hoje nos trinques, ganhou a casinha no beco das

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  61


Três Borboletas, Pedro Torresmo deixou definitivamente de traba- 7
Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido. 3Fabiano a
lhar. Eis aí uma verdade que o farol do juiz não ilumina, 9foi-me princípio concordara com ela, mastigara cálculos, tudo errado.
necessário mergulhar no poço para buscá-la. Aliás, para tudo Tanto para o couro, tanto para a armação. Bem. Poderiam adqui-
contar, a inteira verdade, devo acrescentar ter sido agradável, de- rir o móvel necessário economizando na roupa e no querosene.
leitoso mergulho, pois 17no fundo desse poço estava o colchão de 6
Sinha Vitória respondera que isso era impossível, porque eles
lã de barriguda do leito de Dondoca onde ela me conta – depois vestiam mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se todos ao
que abandono, por volta das dez da noite, a prosa erudita do me- anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam candeeiros na casa.
ritíssimo e de sua volumosa consorte – divertidas intimidades do
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro; São
preclaro magistrado, infelizmente impróprias para letra de fôrma. Paulo: Record; Martins, 1975. p. 42-43.
AMADO, Jorge. Os velhos marinheiros: duas histórias do cais
da Bahia. 23.ed. São Paulo: Martins, s.d., p.p. 71-73 4. (Uff) Marque a alternativa que comenta adequada-
mente o emprego dos pronomes no Texto VIII.
3. (G1 - ifce) Dê a devida atenção ao que se afirma sobre
a) “Fabiano, que não esperava semelhante desatino,
os pronomes relativos destacados nos excertos abaixo,
apenas grunhira: - Hum! hum!” (ref. 1). O pronome rel-
extraídos do texto.
ativo destacado evita a repetição da palavra desatino.
I. Em “A verdade é o farol que ilumina minha vida” – ref. b) “E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pon-
15 – o pronome relativo “que” refere-se à “verdade” e tapé” (ref. 2) / “Fabiano a princípio concordara com ela”
exerce a função sintática de sujeito do verbo iluminar. (ref. 3). Os termos sublinhados são duas formas de ex-
II. Em “(...) a formosa e risonha mulata Dondoca, cujos pressão do pronome pessoal em função de objeto direto.
pais procuraram o Meritíssimo quando Zé Canjiquinha c) “Fabiano (...) deitara-se na rede e pegara no sono” (ref.
desapareceu da circulação, viajando para o sul.” – ref. 4) / “(...) não encontrou motivo para repreendê-los” (ref.
16 – o pronome relativo “cujos”, ainda que concorde 5). Os dois pronomes pessoais grifados possuem o mesmo
em gênero e número com o seu consequente “pais”, referente e servem para marcar uma ação reflexiva.
refere-se ao seu antecedente “a formosa e risonha mu- d) “Sinha Vitória respondera que isso era impossível,
lata Dondoca”, exprimindo uma ideia de posse. porque eles vestiam mar” (ref. 6). Os pronomes de-
stacados retomam o mesmo termo do período anterior.
III. Em “(...) no fundo desse poço estava o colchão de
lã de barriguda do leito de Dondoca onde ela me con- e) “Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido”
ta (...) divertidas intimidades do preclaro magistrado, (ref. 7). A forma sublinhada, contração do demonstrati-
(...)”– ref. 17 – o pronome relativo “onde” refere-se, de vo isso com a preposição em, tem função coesiva, pois
forma mais precisa, ao termo “colchão de lã” e expres- retoma e sintetiza segmento expresso anteriormente.
sa uma ideia de lugar. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Está correto o que se diz apenas em
VORACIDADE
a) apenas I.
b) apenas I e II. Estávamos num cinema nos Estados Unidos. Na nossa frente
c) apenas II e III. sentou-se um americano imenso decidido a não passar fome
d) apenas I e III. antes do filme acabar. 2Trouxera do saguão um balde - literal-
e) I, II e III. mente um balde - de pipocas, sobre as quais 12eles derramam
um líquido amarelo que pode até ser manteiga, e um pacote de
M&M, uma espécie de pastilha envolta em chocolate. 9Intercala-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO va pipocas, pastilhas de chocolates e goles de sua "small" Coke,
TEXTO VIII que era gigantesca, e parecia feliz. 7Fiquei pensando em como
13
tudo naquela sociedade é feito para saciar apetites infantis,
Sinha Vitória que se caracterizam por serem simples mas vorazes. 5As nossas
poltronas eram ótimas, a projeção do filme era perfeita, 10o filme
Sinha Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propó- era um exemplar impecável de engenhosidade técnica e agra-
sito, dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama dável imbecilidade. 1Essa competência é o melhor subproduto
de varas. 1Fabiano, que não esperava semelhante desatino, ape- da voracidade americana por prazeres simples. 16O que atrai nos
nas grunhira: - “Hum! hum!” E amunhecara, porque realmente Estados Unidos é justamente a oportunidade de sermos infantis
mulher é bicho difícil de entender, 4deitara-se na rede e pegara sem parecermos débeis mentais, ou pelo menos sem destoarmos
no sono. Sinha Vitória andara para cima e para baixo, procurando da mentalidade à nossa volta, e de termos ao nosso alcance a re-
em que desabafar. Como achasse tudo em ordem, queixara-se alização de todos os nossos sonhos de criança, quando ninguém
da vida. 2E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé. tinha senso crítico ou remorso.
Avizinhou-se da janela baixa da cozinha, viu os meninos entre- Mas o infantilismo dominante tem seu lado assustador. 3Nenhum
tidos no barreiro, sujos de lama, fabricando bois de barro, que carro de polícia ou de socorro do mundo é tão espalhafatoso
 VOLUME 2

secavam ao sol, sob o pé-de-turco, e 5não encontrou motivo para quanto os americanos. 17Numa sociedade de brinquedos caros,
repreendê-los. Pensou de novo na cama de varas e mentalmen- quanto mais luzes e sirenas mais divertido, mas o espalhafato tam-
te xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinha-se acostumado, mas bém parece criar uma necessidade infantil de catástrofes cada vez
sena mais agradável dormirem numa cama de lastro de couro, maiores. 18O caminho natural do apetite sem restrições é para o
como outras pessoas. caldeirão de pipocas, para a Mega Coke e para a chacina. Existe

62  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


realização infantil mais atraente do que poder entrar numa loja Observando aquele camaleão, percebi outra tática sua. 5Ele tinha
e comprar não um brinquedo igualzinho a uma arma de verda- os olhos salientes, saindo de órbita, não era à toa. 2Ele consegue
de mas a própria arma? Nos Estados Unidos pode. 15De vez em girar cada olho independentemente do outro. Pode girar um olho
quando uma daquelas crianças grandes resolve sair matando todo numa direção e o outro em outra. Isso permite controlar melhor os
mundo, como no cinema, 4mas a maioria dos que compram as movimentos dos predadores ou daqueles que o ameaçam. É como
armas e as munições só quer ter os brinquedos em casa. se ele tivesse duas visões independentes. Pode acompanhar coi-
sas diferentes, em lugares diferentes. Há pessoas que parecem ter
6
Vivemos nas bordas dessa voracidade ao mesmo tempo ingê- essa característica. São capazes de controlar e de agir de maneira
nua e terrível, mas ela não parece entrar nas nossas equações completamente contrária conforme a situação. Sobretudo, quando
econômicas ou no cálculo dos nossos interesses. 14Somos cada se trata de seus interesses, controlam tudo, observam tudo, como
vez mais fascinados e menos críticos 11diante do grande apetite se os dois olhos agissem independentemente. Acho que também
americano e de um projeto de hegemonia chauvinista e prepo- essa característica do camaleão contaminou os humanos.
tente como sempre, agora camuflado pelos mitos de "globaliza-
ção". 8Quando a prudência ensina que se deve olhar os america- E vi, ainda, uma terceira característica naquele lagarto. Ele enro-
nos do ponto de vista das pipocas. lava o rabo no galho da árvore. Assim, sentia-se seguro. Não caía
quando o galho, tocado pelo vento, balançava. Assim, podia-se
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. A mesa voadora. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 63-64.)
permanecer no mesmo lugar por muito tempo. Podia ficar ali, até
quando desejasse ou até quando lhe fosse conveniente. Lem-
5. (G1 - cftmg) O termo em destaque pode ser classi- brei-me de tantas pessoas que se agarram ao posto onde estão
ficado como pronome relativo em todas as orações a e não o deixam por nada. Acontece na área profissional, políti-
seguir, EXCETO em: ca, religiosa, das relações... 3Uma vez conquistada uma posição
hierárquica, a pessoa "enrola ali o rabo", agarra-se a ela, não
a) "(...) eles derramam um líquido amarelo QUE pode a deixa por nada. Mas também acontece no campo das ideias.
até ser manteiga, (...)" (ref. 12) Quantos fixam-se a um pensamento, a uma forma de compreen-
b) "Quando a prudência ensina QUE se deve olhar os der e não são capazes de abrir-se, de avançar? Mais uma vez, a
americanos do ponto de vista das pipocas." (ref. 8) tática do camaleão nos contaminou.
c) "(...) mas a maioria dos QUE compram as armas e as
Sei que as táticas do camaleão penetraram quase todos os âm-
munições só quer ter os brinquedos em casa." (ref. 4)
bitos da organização social. Mas vendo as táticas de defesa da-
d) "(...) tudo naquela sociedade é feito para saciar quele animal, foi impossível não pensar na situação política que
apetites infantis, QUE se caracterizam por serem sim- estamos vivendo hoje, no Brasil. Eu acho que há muitos políticos
ples mas vorazes." (ref. 13) camaleões. Têm a cor da conveniência! Que os camaleões pos-
sam ser descobertos e suas táticas desmascaradas para o cresci-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
mento de nossa democracia e de nossa cidadania.
AS TÁTICAS DO CAMALEÃO (SILVA FILHO, Pe. Genésio Zeferino. In : Boletim Salesiano.
São Paulo: Salesiana, n. 5, set-out. 2005, p. 3)
Outro dia, vi um pequeno lagarto num galho de árvore. Era um
lagarto um pouco diferente dos que já tinha visto. Seus olhos eram 6. (G1 - cftmg) O termo em destaque funciona como
maiores e salientes, como se saíssem da órbita ocular. Também seu pronome relativo, EXCETO em:
rabo não era comum. Ele tinha o rabo enrolado no galho para se a) "Acho QUE o camaleão está em moda hoje!"
segurar. Foi o primeiro lagarto que vi que enrolava o rabo. Apro- b) "Era um lagarto diferente dos QUE já tinha visto."
ximei-me para vê-lo melhor. Ele deu alguns passos para frente, c) "Pensei nas vezes em QUE, por medo, (...) mudei
aproximando-se de algumas folhas verdes. E aí, foi minha surpresa. de cor..."
Foram aparecendo algumas manchas verdes em seu corpo, que d) "...impossível não pensar na situação política QUE
foram crescendo e se espalhando rapidamente por todo o corpo, estamos vivendo..."
até que ele ficasse quase que invisível no meio das folhas. Descobri
que se tratava de um camaleão. Eu nunca tinha visto um camaleão TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
antes. Essa é uma de suas características principais: mudar a cor da
pele de acordo com a situação e com o ambiente em que se en- "Ainda estava sob a impressão da cena meio cômica entre sua
contra. 4Essa possibilidade é sua arma de defesa. Mudando de cor, mãe e seu marido, na hora da despedida. Durante as duas se-
ele consegue esconder-se e não ser percebido pelos predadores. manas da visita da velha, os dois mal se haviam suportado; os
bons dias e as boas tardes soavam a cada momento com uma
Imediatamente, comecei a pensar em situações que pessoalmen- delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis que na hora
te vivi. Pensei nas vezes em que, por medo, por conveniência ou da despedida, antes de entrarem no táxi, a mãe se transformara
mesmo por covardia, mudei de cor, ou não deixei perceber minha em sogra exemplar e o marido se tornara o bom genro. 'Perdoe
verdadeira imagem. Lembrei-me também de muitas pessoas que alguma palavra mal dita', dissera a velha senhora, e Catarina,
conheço: daquelas que mudam de cor facilmente e fogem dos com alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer das ma-
riscos e também daquelas que preferem enfrentar a situação e las nas mãos, gaguejar - perturbado em ser o bom genro. 'Se eu
 VOLUME 2

não trocam de cor. 1O camaleão muda a cor de sua pele, mas não rio, eles pensam que estou louca', pensara Catarina franzindo as
deixa de ser o camaleão de antes. É tanto que, passado o perigo, sobrancelhas. 'Quem casa um filho perde um filho, quem casa
volta à sua cor natural. A mudança é apenas aparente, é apenas uma filha ganha mais um', acrescentara a mãe [...]."
estratégia de defesa. Acho que o camaleão está mesmo em moda (LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. 12ª ed. Rio
hoje! Infelizmente, essa tática do camaleão nos contaminou. de Janeiro: José Olympio, 1982. p. 109-111.)

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  63


7. (Uel) Na frase "Perdoe alguma palavra mal dita": 10. (G1) Em "O casal de índios levou-os à sua aldeia,
a) A ideia de incerteza vem expressa pelo pronome que estava deserta, onde ofereceu frutas aos convida-
indefinido "alguma". dos", temos:
b) A indicação de ordem é representada pela forma a) dois pronomes possessivos e dois pronomes pessoais;
verbal no imperativo. b) um pronome pessoal, um pronome possessivo e
c) A rudeza do falante é expressa pela forma verbal dois pronomes relativos;
imperativa. c) dois pronomes pessoais e dois pronomes relativos;
d) A referência a um momento anterior da narrativa d) um pronome pessoal, um pronome possessivo, um
está representada pela expressão de tempo "mal". pronome relativo e um pronome interrogativo;
e) A palavra "mal" representa o precário nível de ins- e) dois pronomes possessivos e dois pronomes relativos.
trução do personagem.

8. (Ufc) No trecho: "Eu não creio, não posso mais acredi-


tar na bondade ou na virtude de homem algum; todos E.O. Complementar
são mais ou menos ruins, falsos, e indignos; há porém
ALGUNS que sem dúvida com o fim de ser mais nocivos 1. (G1) Destacar a frase em que o pronome relativo está
aos outros, e para produzir maior dano, têm o mereci- corretamente empregado:
mento de dizer a verdade nua e crua, (...)": a) Este é o laboratório em cuja honestidade você
I. ALGUM e ALGUNS são pronomes indefinidos. pode confiar.
II. ALGUNS é sujeito do verbo haver. b) Feliz a nação cujos os filhos temem a Deus.
III. ALGUM equivale a nenhum. c) Vendi aquele sítio maravilhoso, cujo me deixou bas-
Assinale a alternativa correta sobre as assertivas acima: tante triste.
d) Preciso de ajuda, sem a cuja não poderei terminar
a) Apenas I é verdadeira. o trabalho.
b) Apenas II é verdadeira.
e) Os alunos, cujos pais telefonei, concordaram com o
c) Apenas I e II são verdadeiras. adiamento da viagem.
d) Apenas I e III são verdadeiras.
e) I, II e III são verdadeiras. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A MORTE DA PORTA-ESTANDARTE

"Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele 1 Que adianta ao negro ficar olhando para as bandas do Man-
estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra gue ou para os lados da Central?
no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da
casa deserta. ELE, a mulher e os filhos tinham-se habituado à ca- 2 Madureira é longe e a amada só pela madrugada entrará na
marinha escura, pareciam ratos - e a lembrança dos sofrimentos praça, à frente do seu cordão.
passados esmorecera(...). 3 Todos percebem que ele está desassossegado, que uma paixão
– Fabiano, VOCÊ é um homem, exclamou em voz alta. o está queimando por dentro.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam 4 Sua agonia vem da certeza de que é impossível que alguém
admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era um ho-
possa olhar para Rosinha sem se apaixonar. E nem de longe ad-
mem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros.
mite que ela queira repartir o amor.
(...) Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, ALGUÉM
tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: 5 A praça transbordava. (...) Só depois que Rosinha chegasse
– Você é um bicho, Fabiano. começaria o Carnaval.(...)
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho capaz 6 A praça inteira está cantando, tremendo. O corpo de Rosinha
de vencer dificuldades". não tardaria a boiar sobre ela como uma pétala.(...)
9. (Fei) Observe as palavras em destaque no texto: "ele", 7 Acima das vagas humanas os estandartes palpitam como velas.(...)
"você" e "alguém". Assinale a alternativa que analise
8 Dezenas de estandartes pareciam falar, transmitiam mensa-
corretamente sua classe morfológica:
gens ardentes, sacudiam-se, giravam, paravam, desfalecendo,
a) pronome pessoal do caso oblíquo - pronome de- reclinavam-se para beijar, fugiam...(...)
monstrativo - pronome relativo
9 Se quiser agora sair daquele lugar, já não poderá mais, se sente
b) pronome pessoal do caso oblíquo - pronome pos-
sessivo - pronome demonstrativo pregado ali. O gemido cavernoso de uma cuíca próxima ressoa-lhe
fundo no coração. - Cuíca de meu agouro, vai roncar no inferno...(...)
c) pronome demonstrativo - pronome de tratamento
 VOLUME 2

- pronome pessoal do caso reto 10 E está sofrendo o preto. Os felizes estão-se divertindo. Era pre-
d) pronome pessoal do caso reto - pronome demon- ferível ser como os outros, qualquer dos outros a quem a morena
strativo - pronome relativo poderá pertencer ainda, do que ser alguém como ele, de quem ela
e) pronome pessoal do caso reto - pronome de trata- pode escapar. Uma rapariga como Rosinha, a felicidade de tê-la,
mento - pronome indefinido por maior que seja, não é tão grande como o medo de perdê-la.(...)

64  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


11 O negro está hesitante. As horas caminham e o bloco de Ma- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
dureira é capaz de não vir mais. Os turistas ingleses contemplam o
espetáculo à distância, e combinam o medo com a curiosidade.(...) A presidente Dilma ou a presidenta Dilma?

12 No fundo da praça uma correria e começo de pânico. Ouvem-se Laércio Lutibergue


apitos. As portas de aço descem com fragor. As canções das Escolas Essa é a pergunta que mais temos recebido nos últimos dias por
de samba prosseguem mais vivas, sinfonizando o espaço poeirento. e-mail, pelas redes sociais (Twitter e Facebook) e mesmo pesso-
A inglesa velha está afobada, puxa a família, entra por uma almente. Há uma explicação para isso(I): a eleição da primeira
porta semicerrada. mulher à Presidência da República, Dilma Rousseff.
13 - Mataram uma moça!(...) Já falamos deste assunto aqui(II), mas diante do acontecimento do
domingo 31 de outubro e da avalanche de perguntas somos obri-
14 O crime do negro abriu uma clareira silenciosa no meio do
gados a retomá-lo. Gramaticalmente as duas formas estão corretas.
povo. Ficaram todos estarrecidos de espanto vendo Rosinha fe-
Ou seja, pode ser “a presidente Dilma” e “a presidenta Dilma”. Nes-
char os olhos. O preto ajoelhado bebia-lhe mudamente o último
te momento, com base nas ocorrências na imprensa, inclusive no
sorriso, e inclinava a cabeça de um lado para outro como se esti-
Jornal do Commercio, sem dúvida “a presidente” é a mais comum.
vesse contemplando uma criança. (...)
E, se olharmos para o passado da língua, é a mais lógica. Pala-
(Aníbal M. Machado)
vras que vieram do particípio presente do latim, normalmente
2. (Cesgranrio) Em "... qualquer dos outros a quem a terminadas em -ante, -ente e -inte, são invariáveis. O que identifi-
morena poderá pertencer..." (par. 10), o emprego do ca o gênero delas é o artigo ou outro determinante: o/a amante,
pronome relativo obedeceu a regência do verbo. Assi- o/a gerente, meu/minha presidente.
nale a opção em que este emprego está INCORRETO. A língua, contudo, nem sempre é lógica. Muitas vezes ela foge
a) Observe os movimentos da dança de que lhe falei do controle e revela uma face inventiva indiferente às regras. Isso
ontem à noite. ocorreu, por exemplo, com “comediante”, que ganhou o femini-
no “comedianta”; com “infante”, que ganhou “infanta”; com
b) Há grupos humanos em cuja cultura encontramos
“parente”, que ganhou “parenta”; e com “presidente”, que ga-
muitas festas. nhou “presidenta”. Certamente o extralinguístico atuou na for-
c) A deterioração cultural contra a qual o povo lutou mação desses femininos. A versão feminina de um nome de car-
foi inevitável. go destaca com mais força a presença da mulher na sociedade.
d) São grandes as transformações com as quais as
Os mais velhos devem se lembrar do que ocorreu com a indiana
culturas passam.
Indira Gandhi. Começaram chamando-a de “o primeiro-ministro
e) Todos se referiram à fonte de onde foram retiradas Indira Gandhi”; depois, passaram para “a primeiro-ministro”; e
aquelas quadrinhas. terminaram em “a primeira-ministra”. E hoje alguém tem dúvida
de que uma mulher é “primeira-ministra”?
3. (Ufu) Preencha, com pronomes relativos, as lacunas
das orações abaixo. A favor de “presidenta” existe também o aspecto legal. A Lei Fe-
I. "Fisionomia melancólica, fitou o cadáver. Sapatos lus- deral nº 2.749/56 diz que o emprego oficial de nome designativo
de cargo público deve, quanto ao gênero, se ajustar ao sexo do
trosos, ________ brilhava a luz das velas, calça de vinco
funcionário. Ou seja, segundo a lei, os cargos, “se forem generica-
perfeito, paletó negro assentado, as mãos devotas cru-
mente variáveis”, devem assumir “feição masculina ou feminina”.
zadas no peito." (J. Amado)
II. "Cabo Martim, ________ em matéria de educação só Por tudo isso(III), defendemos a adoção do feminino “a presidenta”.
perdia para o próprio Quincas, retirou da cabeça o sur- Apesar de neste momento a maioria, pelo que mostra a imprensa,
preferir “a presidente”. Intuímos, porém, que ocorrerá no Brasil o
rado chapéu, cumprimentou os presentes." (J. Amado)
mesmo(IV) que sucedeu com dois vizinhos nossos. Na Argentina,
III. "Não gostava dessas magricelas, _________ cintura Cristina Kirchner começou sendo chamada de “la presidente” e
a gente nem podia apertar." (J. Amado) hoje é “la presidenta”. O mesmo ocorreu com Michelle Bache-
IV. "Curió, ________ infância em parte decorrera num let, no Chile, que(V) terminou o mandato como “la presidenta”. O
asilo de menores dirigido por padres, buscava na em- tempo dirá se nossa intuição estava certa.
botada memória uma oração completa." (J. Amado) (Texto publicado na coluna "Com todas as letras",
Assinale, a seguir, a alternativa correta. Jornal do Commercio do Recife, em 10/11/2010)

a) Todas as lacunas podem ser preenchidas com o 4. (G1 - ifpe) Releia o texto e observe as palavras nu-
pronome relativo CUJO (A). meradas em destaque. Assinale a alternativa que apon-
b) III e IV podem ser preenchidas com o pronome re- ta corretamente as relações coesivas estabelecidas por
lativo CUJO (A). esses termos.
c) Todas as lacunas podem ser preenchidas com o a) Em (I), o pronome demonstrativo “isso” retoma a
 VOLUME 2

pronome relativo QUE. pergunta polêmica realizada no título do artigo.


d) I e II podem ser preenchidas com o pronome rela- b) Em (II), o advérbio de lugar “aqui” refere-se à colu-
tivo ONDE. na que o autor escreve no Jornal do Commercio.
e) II e III podem ser preenchidas com o pronome re- c) Em (III), a expressão “tudo isso” remete a todas as
lativo QUE. informações explicitadas pelo autor ao longo do texto.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  65


d) Em (IV), o pronome demonstrativo “mesmo” an- O Sr. Plínio Salgado quer acabar com os banhos de mar, porque
tecipa a mudança para o termo “presidenta” na im- as pernas das mulheres se descobrem neles. Não vale a pena. São
prensa brasileira. pernas de concorrentes, para bem dizer nem são pernas. Pensa
e) Em (V), o pronome relativo “que” retoma o termo que temos lá tempo de pensar nessas coisas? Tinha graça que,
antecedente “Chile”. nos banhos de mar, fôssemos espiar as canelas da moça de olhos
estrábicos ou as da mulher que nos impingiu uma moeda falsa.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Não olhamos. Se elas chegarem perto do estribo do bonde cheio,
ficaremos sentados porque pagamos passagem e temos o direito
Mulheres... de ficar sentados. Isto. Somos pouco mais ou menos iguais, apesar
da afirmação da 25mulher do romance. Vão no estribo, se quiserem,
2
__________ 5alguns dias, percorrendo 3__________ salas
de pingente. Ou fiquem junto ao poste. Vão para o diabo. É isto.
6
dum ministério para tratar de 7certo negócio terrivelmente em-
Concorrentes, inimigas. Ou amigas. Dá tudo no mesmo.
brulhado, desses que dão aneurismas e cabelos brancos, eu e
8
um amigo encontramos numerosas funcionárias bonitas. Uma RAMOS, Graciliano. Garranchos. Organização de Thiago Mio
delas forneceu-nos informações bastante vagas: deu-nos dois Salla. Rio de Janeiro: Record, 2012. p. 160-2. (Adaptado)
ou três números e, com os olhos redondos e úmidos, que um 1
O termo alexandrinos refere-se à poesia produzida em
ligeiro estrabismo entortava, pareceu indicar a direção do lugar
estrutura arcaica, com versos de 12 sílabas.
4
__________ os nossos papéis deviam estar.
Corremos a outro ministério e vimos várias 9senhoras difíceis en- 5. (Ucs) Releia o texto da referência 20, aqui transcrito:
tregues a trabalhos incompreensíveis. Não achamos os nossos pa-
péis, é claro. Andamos em departamentos diferentes, voltamos ao Marchei para o guichê dos registrados, onde uma espé-
primeiro ministério, ao segundo, tornamos a voltar, percorremos cie de mulher portadora de óculos e bastante idade se
infinitos 13canais competentes 12– e em toda a parte esbarramos mexia como uma figura de câmara lenta.
com 14senhoras atarefadas, que executavam operações estranhas, Analise as proposições abaixo quanto à veracidade (V)
usavam uma linguagem desesperadamente confusa e recebiam ou à falsidade (F) em relação ao trecho destacado.
indiferentes as nossas queixas e os nossos 15rogos.
( ) O referido trecho contém um pronome relativo us-
Com o 10coração grosso e indignado, resolvi abandonar esse ne-
ado adequadamente.
gócio infeliz e fui 11deitar uma carta ao correio. Tomei lugar na fila,
mas antes que chegasse a minha vez a mulher que vendia selos ( ) Marchei e mexia são dois termos conjugados no
deixou o guichê. Esperei uma 16eternidade a volta dela e fui-me mesmo tempo verbal.
aproximando devagar, na fila. A carta foi pesada, o selo comprado ( ) A palavra bastante está empregada como um ad-
e uma moeda falsa recebida no troco. vérbio de intensidade.
Marchei para o guichê dos registrados, onde uma espécie de
20 A alternativa que completa correta e respectivamente
mulher 17portadora de óculos e bastante idade se mexia como
27 os parênteses, de cima para baixo, é
uma 28figura de câmara lenta. a) V – V – F
21
Enquanto me arrastava seguindo os desgraçados que ali estavam b) F – V – F
sofrendo como eu, pensei nas deputadas, nas telefonistas, na pro- c) V – F – F
fessora primária que me atormentava e nos versos de 29certa poe- d) F – F – V
tisa que em vão tento esquecer. 23Evidentemente nenhuma dessas e) V – V – V
pessoas, deputadas, telefonistas, professora e poetisa, tinha culpa
de haverem corrido mal meus negócios nos ministérios, nenhuma
me dera moeda falsa, e era estupidez responsabilizá-las pela pre-
guiça da 26mulher do 18registrado. 22Mas relacionei todas e julguei
Gabarito
perceber os motivos de certos hábitos novos.
Antigamente, quando uma senhora entrava num 19carro cheio, ha- E.O. Aprendizagem
via sempre sujeitos que se levantavam. Hoje, nos trens da Central, 1. D 2. D 3. C 4. C 5. C
elas viajam espremidas como numa lata de sardinhas.
6. C 7. E 8. A 9. E 10. D
Ninguém fumava nos primeiros bancos dos bondes. Ainda existe
a proibição num aviso gasto e metrificado, que tem o mesmo
valor dos alexandrinos1: ninguém o lê. A autoridade do condutor E.O. Fixação
ficou muito reduzida, e o letreiro proibitivo tornou-se lei como as
1. C 2. A 3. C 4. E 5. B
outras, artigo de regulamento.
Há pouco tempo 30uma senhora declarou num romance que as 6. A 7. A 8. D 9. E 10. B
mulheres são diferentes dos homens. É claro. Mas, 24apesar da
 VOLUME 2

diferença, elas se tornaram nossas concorrentes, e concorrentes


temíveis. Eu queria ver um examinador que tivesse a coragem de E.O. Complementar
reprovar aquela moça de olhos redondos, úmidos e ligeiramente 1. A 2. D 3. B 4. B 5. C
estrábicos, que encontrei um dia destes no corredor do ministé-
rio. Só se ele fosse cego.

66  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


ENTRE
LETRAS

2
CADERNO
DE E.O.
LITERATURA
LC GREGÓRIO DE MATOS E
PADRE ANTONIO VIEIRA
AULAS
9 E 10 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
5 15,16 e 17

E.O. Aprendizagem São o pão cotidiano dos grandes; e assim como o pão se
come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos
os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício
1. (IFSP) O culto exagerado da forma, o rebuscamento, em que os não carreguem, em que os não multem, em
a riqueza de pormenores, o conflito entre o profano e o que os não defraudem, em que os não comam, traguem
sagrado são características: e devorem (...)”
a) do Renascimento. d) do Barroco. No trecho, observa-se que Vieira:
b) da Ilustração. e) do Simbolismo.
I. constrói a argumentação por meio da analogia, o que
c) do Realismo.
constitui um traço característico da prosa vieiriana.
2. (FGV) Foi um movimento literário do século XVII, nas- II. finaliza com uma gradação crescente a fim de dar ên-
cido da crise de valores renascentistas. Caracteriza-se fase à voracidade da exploração sofrida pelos pequenos.
na literatura pelo culto dos contrastes, a preocupação III. afirma, ao estabelecer uma comparação entre os
com o pormenor e a sobrecarga de figuras como a me- humildes e o pão, alimento de consumo diário, que a
táfora, as antíteses, hipérboles e alegorias. Essa lingua- exploração dos pequenos é aceitável porque cotidiana.
gem conflituosa reflete a consciência dos estados con-
Está(ão) correta(s):
traditórios da condição humana. Trata-se do:
a) Romantismo. d) Realismo. a) apenas I. d) apenas II e III.
b) Trovadorismo. e) Barroco. b) apenas I e II. e) I, II e III.
c) Humanismo. c) apenas III.

3. (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) a 5. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche adequa-
afirmações abaixo sobre os dois grandes nomes do bar- damente as lacunas do texto abaixo, na ordem em que
roco brasileiro. aparecem.
( ) A obra poética de Gregório de Matos oscila entre os Padre Antônio Vieira é um dos principais autores do
valores transcendentais e os valores mundanos, exem- _______, movimento em que o homem é conduzido
plificando as tensões do seu tempo. pela _______ e que tem, entre suas características, o
( ) Os sermões do Padre Vieira caracterizam-se por uma _______, com seus jogos de palavras, de imagens e de
construção de imagens desdobradas em numerosos construção, e o _______, o uso de silogismo, processo
exemplos que visam a enfatizar o conteúdo da pregação. racional de demonstrar uma asserção.
( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em seus poemas a) Gongorismo – exaltação vital – Cultismo – preciosismo
e sermões, mostram exacerbados sentimentos patrióti- b) Conceptismo – fé – preciosismo – Gongorismo
cos expressos em linguagem barroca. c) Barroco – depressão vital – Conceptismo –Cultismo
( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom d) Conceptismo – depressão vital – Gongorismo – pre-
dos sermões do Padre Vieira representam duas faces da ciosismo
alma barroca no Brasil. e) Barroco – fé – Cultismo – Conceptismo
( ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos 6. Leia o trecho de um sermão, do Padre Antônio Vieira:
para o desvio operado pela retórica retumbante e vazia.
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um
de cima para baixo, é: estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda
a) V – F – F – F – F. d) F – F – V – V – V. parte e a toda a natureza? O estilo há de ser muito
b) V – V – V – V – F. e) F – F – F – V – V. fácil e muito natural. Compara Cristo o pregar e o se-
c) V – V – F – V – F. mear, porque o semear é uma arte que tem mais de
 VOLUME 2

natureza que de arte.


4. Leia o seguinte fragmento, extraído do “Sermão de O objetivo do autor é:
Santo Antônio”, de Pe. Vieira.
a) destacar que a naturalidade – propriedade da na-
“(...) o pão é comer de todos os dias, que sempre e con- tureza – pode tornar mais claro o estilo das prega-
tinuamente se come: isto é o que padecem os pequenos. ções religiosas.

68  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


b) salientar que o estilo usado na igreja, naquela épo- 9. (UFSM) A respeito da poesia de Gregório de Matos,
ca, não era afetado nem dificultoso. assinale a alternativa INCORRETA.
c) argumentar que a lição de Cristo é desnecessária a) Tematiza motivos de Minas Gerais, onde o po-
para os objetivos da pregação religiosa. eta viveu.
d) lamentar o fato de os sermões serem dirigidos dos b) A lírica religiosa apresenta culpa pelo pecado
púlpitos, excluindo da audiência as pessoas que fica- cometido.
vam fora da igreja. c) As composições satíricas atacam governantes
e) mostrar que, segundo o exemplo de Cristo, pre- da colônia.
gar e semear afetam o estilo, porque são práticas d) O lirismo amoroso é marcado por sensível car-
inconciliáveis. ga erótica.
7. O poeta Gregório de Matos tornou-se importante na e) Apresenta uma divisão entre prazeres terrenos
representação da literatura barroca brasileira porque e salvação eterna.

a) enfatizou a produção poética satírica em detrimen- 10. (ITA) Leia o texto abaixo e as afirmações que se seguem:
to da religiosa.
Que falta nesta cidade? Verdade.
b) pautou sua vida pelo respeito às normas e costu-
Que mais por sua desonra? Honra.
mes sociais e estéticos.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
c) criticou membros do clero e do poder político e O demo a viver se exponha,
exaltou índios e mulatos.
d) apropriou-se de formas e temas do barroco euro- Por mais que a fama a exalta,
peu, adequando-os ao contexto local. Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
8. (UFRGS) Leia o seguinte soneto de Gregório de Matos.
MATOS, G. de. Os melhores poemas de Gregório de
Matos Guerra. Rio de Janeiro: Record, 1990.
Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão lento, I. Mantém uma estrutura formal e rítmica regular.
Que fazendo disfarce do tormento, II. Enfatiza as ideias opostas.
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto. III. Emprega a ordem direta.
O mal, que fora encubro, ou me desminto, IV. Refere-se à cidade de São Paulo.
Dentro no coração é que o sustento: V. Emprega a gradação.
Com que, para penar é sentimento, Então, pode-se dizer que são verdadeiras:
Para não se entender, é labirinto.
a) apenas I, II, IV. d) apenas I, IV, V.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros; b) apenas I, II, V. e) todas.
Da tempestade é o estrondo efeito: c) apenas I, III, V
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.
Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não chegam a vir à boca os tiros E.O. Fixação
Dos combates que vão dentro no peito.
1. (UEPA)
Considere as seguintes afirmações.
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia:
I. O poema é um exemplo da poesia satírica de Gregó- Depois da luz se segue a noite escura,
rio de Matos, a qual lhe valeu a alcunha de “Boca do Em tristes sombras morre a formosura,
Inferno”, por escarnecer de pessoas, situações e cos- Em contínuas tristezas a alegria.
tumes de seu tempo.
Gregório de Matos Guerra
II. Na segunda estrofe, o poema expressa a oposição en-
tre essência e aparência, sustentando que o sofrimento Assinale a alternativa que contém uma característica da
é ocultado aos olhos do mundo. comunicação poética, típica do estilo Barroco, existente
no quarteto acima.
III. Segundo as duas últimas estrofes do poema, a opção
pelo silêncio com relação à dor e às angústias internas a) Reflexão sobre o caráter humano da divindade.
contrapõe-se aos ruídos da natureza. b) Associação da natureza com a permanência da re-
alidade espiritual.
Quais estão corretas?
c) Presença da irreverência satírica do poeta com
a) Apenas I. base no paradoxo.
 VOLUME 2

b) Apenas II. d) Utilização do pleonasmo para reforçar a superiori-


c) Apenas I e II. dade do cristianismo sobre o protestantismo.
d) Apenas II e III. e) Uso de ideias contrastantes com base no recurso
e) I, II e III. da antítese.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  69


TEXTO PARA AS PRÓXIMA QUESTÃO Vocabulário
alarves: que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro,
“Goza, goza da flor da mocidade, ignorante: que ou o que é tolo, parvo, estúpido.
que o tempo trota a toda ligeireza, ressábios: sabor; gosto que se tem depois.
e imprime em toda flor sua pisada. cafres: indivíduo de raça negra.
Ó não aguardes que a madura idade
te converta essa flor, essa beleza, 3. (UFF) Todas as afirmativas sobre a construção estéti-
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.” ca ou a produção textual do poema de Gregório de Ma-
(GREGÓRIO DE MATOS)
tos (Texto) estão adequadas, EXCETO uma. Assinale-a.
a) Existem antíteses, características de textos no pe-
2. Os tercetos acima ilustram: ríodo barroco.
a) caráter de jogo verbal próprio da poesia lírica do b) Há uma personificação, pois a Bahia, ser inanima-
séc. XVI, sustentando uma crítica à preocupação fe- do, é tratada como ser vivo.
minina com a beleza. c) A ausência de métrica aproxima o poema do Mo-
b) jogo metafórico do Barroco, a respeito da fugaci- dernismo.
dade da vida, exaltando gozo do momento. d) O eu lírico usa o vocativo, transformando a Bahia
c) estilo pedagógico da poesia neoclássica, ratifican- em sua interlocutora.
do as reflexões do poeta sobre as mulheres maduras. e) Há diferença de tratamento para os habitantes lo-
d) as características de um romântico, porque fala de cais e os estrangeiros.
flores, terra, sombras.
4. (CFTMG) O Barroco, estilo dominante no século XVII,
e) uma poesia que fala de uma existência mais mate-
relaciona-se à(ao):
rialista do que espiritual, própria da visão de mundo-
nostálgico-cultista. a) ideal do liberalismo e da democracia no Ocidente.
b) evolucionismo, com sua doutrina de seleção natural.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO c) Contrarreforma, na tentativa de retomar a tradição cristã.
Senhora Dona Bahia, d) reaproximação do autor com a natureza serena
nobre e opulenta cidade, e bucólica.
madrasta dos naturais 5. (CFTMG) São características do Barroco, exceto:
e dos estrangeiros madre:
a) sentimento repleto de contradições.
Dizei-me por vida vossa b) soberania da razão em detrimento do conflito.
em que fundais o ditame c) linguagem obscura e expressão indireta das ideias.
de exaltar os que aqui vêm, d) tempo interligado ao fim da beleza e ao tema da morte.
e abater os que aqui nascem?
6. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre o
Se o fazeis pelo interesse padre Antônio Vieira.
de que os estranhos vos gabem,
I. Possui um estilo antigongórico, conceptista, caracterizado
isso os paisanos fariam
pela clareza e pelo rigor sintático, dialético e lógico.
com conhecidas vantagens.
II. Recusa, como cultista, o elemento imagístico, transfor-
E suposto que os louvores mando-o em mero instrumento de convencimento dos fiéis.
em boca própria não valem, III. Recontextualiza passagens do Evangelho, uma vez que
se tem força esta sentença, as vincula às ideias que quer expressar, explorando a ana-
mor força terá a verdade. logia.
Quais estão corretas?
O certo é, pátria minha,
a) Apenas I. d) Apenas II e III.
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram b) Apenas II. e) I, II e III.
desse tempo e dessa idade. c) Apenas I e III.
Haverá duzentos anos,
7. Escolha a alternativa que completa de forma correta
nem tantos podem contar-se,
a frase abaixo:
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade. A linguagem _____, o paradoxo, _____ e o registro das
impressões sensoriais são recursos linguísticos presen-
Então vos pisavam índios, tes na poesia _____.
e vos habitavam cafres,
 VOLUME 2

a) simples – a antítese – parnasiana


hoje chispais fidalguias, b) rebuscada – a antítese – barroca
arrojando personagens.
c) objetiva – a metáfora – simbolista
GREGÓRIO DE MATOS
d) subjetiva – o verso livre – romântica
Nota: entenda-se “Bahia” como cidade. e) detalhada – o subjetivismo – simbolista

70  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


8. (Santa Casa) A preocupação com a brevidade da vida d) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos po-
induz o poeta barroco a assumir uma atitude que: derosos.
a) descrê da misericórdia divina e contesta os valores e) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusita-
da religião. na, não se ocupou de problemas locais.
b) desiste de lutar contra o tempo, menosprezando a
mocidade e a beleza. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
c) se deixa subjugar pelo desânimo e pela apatia dos
céticos. “Não é o homem um mundo pequeno que está dentro
d) se revolta contra os insondáveis desígnios de Deus. do mundo grande, mas é um mundo grande que está
e) quer gozar ao máximo seus dias, enquanto a moci- dentro do pequeno. Baste por prova o coração huma-
dade dura. no, que sendo uma pequena parte do homem, excede
na capacidade a toda a grandeza do mundo. (...) O mar,
9. Com referência ao Barroco, todas as alternativas são com ser um monstro indômito, chegando às areias,
corretas, exceto: pára; as árvores, onde as põem, não se mudam; os pei-
a) O Barroco estabelece contradições entre espírito e xes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros
carne, alma e corpo, morte e vida. animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro
b) O homem centra suas preocupações em seu pró- ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar
prio ser, tendo em mira seu aprimoramento, com base pára, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma am-
na cultura greco-latina. bição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior
c) O Barroco apresenta, como característica marcante, que o mundo, não cabe nele”.
o espírito de tensão, conflito entre tendências opos-
tas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de outro, 2. (FEI) Podemos reconhecer neste trecho do Padre An-
o antropocentrismo renascentista. tônio Vieira:
d) A arte barroca é vinculada à Contrarreforma. a) o caráter argumentativo típico do estilo barroco
e) O Barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso (século XVII).
de hipérbole e de metáforas.
b) a pureza de linguagem e o estilo rebuscado do es-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO critor árcade (século XVIII).
c) uma visão de mundo centrada no homem, própria
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos?
da época romântica (princípio do século XIX).
Um estilo tão empeçado¹, um estilo tão dificultoso, um
d) o racionalismo comum dos escritores da escola re-
estilo tão afetado, um estilo tão encontrado toda a arte
alista (final do século XIX).
e a toda a natureza? Boa razão é também essa. O estilo
há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo e) a consciência da destruição da natureza pelo ho-
comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma mem, típica de um escritor moderno (século XX).
arte que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez 3. (UFSM) Leia a estrofe de Gregório de Matos:
Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores
fazem o sermão em xadrez de palavras. Se uma parte “Ardor em firme coração nascido;
está branco, da outra há de estar negro (...) Como hão pranto por belos olhos derramado;
de ser as palavras? Como as estrelas. As estre las são incêndio em mares de água disfarçado;
muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo rio de neve em fogo convertido.”
da pregação, muito distinto e muito claro. Assinale a alternativa em que os dois versos indicados
(Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira) apresentam metáforas de lágrimas.
empeçado: com obstáculo, com empecilho.
1 a) Versos 1 e 2.
b) Versos 2 e 4.
10. (ESPM) A expressão que traduz a ideia de rebusca-
c) Versos 2 e 3.
mento no estilo é:
d) Versos 3 e 4.
a) “púlpitos”. d) “xadrez de palavras”. e) Versos 1 e 3.
b) “semear”. e) “estrelas”.
c) “céu”. 4. (Fatec) No colégio dos padres, Gregório de Matos
escreveu:

E.O. Complementar “Quando desembarcaste da fragata, meu dom Braço de


Prata, cuidei, que a esta cidade tonta, e fátua*, mandava
1. (UFLavras) Assinale a alternativa CORRETA a respeito a Inquisição alguma estátua, vendo tão espremida sal-
do Padre Antônio Vieira. vajola* visão de palha sobre um mariola*”.
a) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-o para Sorriu, e entregou o escrito a Gonçalo Ravasco.
 VOLUME 2

Gonçalo leu-o, gracejou, entregou-o ao vereador.


justificar todos os acontecimentos políticos e sociais.
O papel passou de mão em mão.
b) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteres-
“A difamação é o teu deus”, disseram, sorrindo.
se por assuntos mundanos.
(Ana Miranda, "Boca do Inferno")
c) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades (*FÁTUA: TOLA;*SALVAJOLA: VARIANTE DE
de que tratava. “SELVAGEM”; *MARIOLA: VELHACO)

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  71


O trecho ilustra: “Não hei de pedir pedindo, senão protestando e argu-
a) a poesia erótica de Gregório de Matos, inspirada mentando; pois esta é a licença e liberdade que tem
na vida nos prostíbulos da cidade da Bahia e que deu quem não pede favor, senão justiça. Se a causa fora só
origem à alcunha do poeta, “Boca do Inferno”. nossa, e eu viera a rogar só por nosso remédio, pedira
favor e misericórdia. Mas como a causa, Senhor, é mais
b) a poesia lírica de Gregório de Matos, voltada para
vossa que nossa, e como venho a requerer por parte
a temática filosófica, em linguagem marcada pelos
de vossa honra e glória, e pelo crédito de vosso nome
recursos da estética barroca.
– Propter nomem tuum – razão é que peça só razão,
c) a poesia satírica de Gregório de Matos, dedicada à justo é que peça só justiça”.
descrição fiel da sociedade da época, utilizando recur- (Fundação Biblioteca Nacional.)
sos expressivos característicos do barroco português.
d) a poesia erótica de Gregório de Matos, caracteriza- a) Como ficou conhecido esse sermão?
da pela crítica aos comportamentos e às autoridades b) A quem se dirige Vieira nesse trecho do sermão?
baianas da época colonial. Justifique com algum exemplo do texto apresentado.
e) a poesia satírica de Gregório de Matos, que repre-
4. O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo
senta, no conjunto de sua obra, uma fuga aos moldes
que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o ca-
barrocos e ataca, no linguajar baiano da época, cos-
minho e a terra boa, em que o trigo caiu, são os diver-
tumes e personalidades. sos corações dos homens. Os espinhos são os corações
5. (UEL) Incêndio em mares d’água disfarçado, Rio de embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias;
neve em fogo convertido. e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os
corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra
Nesses versos de Gregório de Matos ocorre um proce- de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são
dimento comum ao estilo da poesia barroca, qual seja: os corações inquietos e perturbados com a passagem e
tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que
a) a imitação direta dos elementos naturais. vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é
b) a submissão da sintaxe às regras da clareza. pisada a palavra de Deus, porque ou a desatendem, ou
c) a interpenetração de elementos contrastantes. a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações
d) a ordem casual e descontrolada das palavras. bons, ou os homens de bom coração; e nestes prende
e) a exaltação da paisagem nativa. e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e
abundância, que se colhe cento por um...

E.O. Dissertativo
(Padre Vieira, Sermão da Sexagésima)
Pode-se dizer que os sermões de Vieira revestem-se de
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES um jogo intelectual no qual se vê o prazer estético do
autor para pregar a palavra de Deus, por meio de uma
Tinham eles (os holandeses) saído na ilha de Itaparica, linguagem altamente elaborada.
fronteira à Bahia, e aqui, levados de furor herético, de- Explique que comparação conduz o fio argumentativo
ram muitos golpes numa cruz que à porta de uma er- do Padre Vieira neste trecho.
mida estava arvorada. Tornando poucos dias depois, os
nossos, como era costume, os esperaram, e, encontran- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
do com eles ao saltar em terra, a cruz, que antes esten- AO 1VALIMENTO QUE TEM O MENTIR
dia os braços de leste a oeste, se foi torcendo do meio
para cima, ficando o pé imóvel, até que os braços se Mau ofício é mentir, mas proveitoso...
puseram de norte a sul, abertos para os que pelejavam. Tanta mentira, tanta utilidade
(Padre Vieira, Cartas do Brasil, p. 91.) Traz consigo o mentir nesta cidade
Como o diz o mais triste mentiroso.
O trecho apresentado faz parte de uma carta que o Pa-
dre Vieira escreveu para seu superior em Lisboa, quan- Eu, como um ignorante e um baboso,
do estava no Brasil, durante a primeira invasão holan- Me pus a verdadeiro, por vaidade;
Todo o meu 2cabedal meti em verdade
desa ocorrida na Bahia em 1624.
E saí do negócio 3perdidoso.
1. Como Vieira caracteriza os holandeses?
Perdi o principal, que eram verdades,
2. Qual a visão de mundo de Vieira, naquele contexto Perdi os interesses de estimar-me,
histórico, em relação à providência divina na luta entre Perdi-me a mim em tanta 4soledade;
o invasor e as pessoas da terra? Responda utilizando
Deram os meus amigos em deixar-me,
 VOLUME 2

algum exemplo do texto.


5Cobrei ódios e inimizades...
3. Vieira escreveu também um famoso sermão, em 1640, Eu me meto a mentir e a aproveitar-me.
exortando os portugueses a lutar contra os holandeses, GREGÓRIO DE MATOS PIRES, M. L. G. (org.). Poetas
diante da iminente chegada à Bahia de uma esquadra do período barroco. Lisboa: Comunicação, 1985.
invasora. Aqui vai um pequeno trecho desse sermão:

72  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


1
valimento − validade Mas quem viu, tão dilacerados,
2
cabedal − conhecimento olhos, braços e sonhos seus,
3
perdidoso − prejudicado e morreu pelos seus pecados,
4
soledade − solidão falará com Deus.
5
cobrar − receber
Falará, coberta de luzes,
5. O Barroco apresenta duas vertentes: o cultismo, carac- do alto penteado ao rubro artelho.
terizado pela linguagem rebuscada e extravagante, pelos Porque uns expiram sobre cruzes,
jogos de palavras; e o conceptismo, marcado pelo jogo outros, buscando-se no espelho.
de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico. MEIRELES, Cecília. Poesias completas.
Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1973.
O poema de Gregório de Matos, exemplo da estética bar-
roca, insere-se em uma dessas vertentes. Identifique-a e A temática e alguns procedimentos característicos do
justifique sua resposta. Barroco no século XVII foram retomados no poema de
Cecília Meireles.
6. (UFV) Leia atentamente o texto:
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te, 7. O questionamento das concepções do senso comum
Te lembra hoje Deus por sua Igreja; quanto à vaidade sugere uma preocupação também
De pó te faz espelho, em que se veja existente entre os autores barrocos. Identifique, no
A vil matéria, de que quis formar-te. poema, um aspecto da vaidade apresentado negativa-
mente e outro apresentado positivamente.
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,
E como o teu baixel sempre fraqueja 8. O jogo de oposições entre conceitos era um dos re-
Nos mares da vaidade, onde peleja, cursos característicos da literatura barroca. Indique um
Te põe à vista a terra, onde salvar-te. contraste próprio do Barroco que predomina no texto.

Alerta, alerta, pois, que o vento berra. 9. Explique quais são as diferenças entre as modalida-
Se assopra a vaidade e incha o pano, des barrocas do cultismo e do conceptismo.
Na proa a terra tens, amaina e ferra.
Todo o lenho mortal, baixel humano, E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
Se busca a salvação, tome hoje terra,
Que a terra de hoje é porto soberano.
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos.
São Paulo: Cultrix, 1997. p.309. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES
Gregório de Matos expressou em sua obra toda a ten- Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos pei-
são do século XVII, ao abordar os temas predominantes xes” de Antônio Vieira (1608-1697) para responder
do Barroco. Identifique no poema elementos que ates- à(s) quest(ões).
tam o comprometimento do poeta com o respectivo
A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é
momento literário.
que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este,
mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis
TEXTO PARA AS QUESTÕES 7 E 8
uns aos outros, senão que os grandes comem os peque-
MULHER AO ESPELHO nos. [...] Santo Agostinho, que pregava aos homens, para
encarecer a fealdade deste escândalo mostrou-lho nos
Hoje, que seja esta ou aquela, peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão
pouco me importa. feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.
Quero apenas parecer bela, Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso
pois, seja qual for, estou morta. o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para
o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis
Já fui loura, já fui morena,
de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos
já fui Margarida e Beatriz.
outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se
Já fui Maria e Madalena.
comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes
Só não pude ser como quis.
todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e
Que mal faz, esta cor fingida cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas,
do meu cabelo, e do meu rosto, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego?
se tudo é tinta: o mundo, a vida, Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como
hão de comer, e como se hão de comer.
 VOLUME 2

o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira [...]


a moda, que me vai matando. Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, se-
Que me levem pele e caveira não declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque
ao nada, não me importa quando. a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  73


menos podem, e os que menos avultam na república, 5. (Unifesp) Nos versos, o eu lírico deixa evidente que:
estes são os comidos. E não só diz que os comem de a) Uma pessoa se torna desprezível pela ação do nobre.
qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: b) O honesto é quem mais aparenta ser desonesto.
Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das c) Geralmente a riqueza decorre de ações ilícitas.
cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de d) As injúrias, em geral, eliminam as injustiças.
comer os pequenos um por um, poucos a poucos, senão e) O vil e o rico são vítimas de severas injustiças.
que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant 6. (Unifesp) Levando em consideração que, em sua pro-
plebem meam. E de que modo se devoram e comem? Ut dução literária, Gregório de Matos dedicou-se também
cibum panis: não como os outros comeres, senão como à sátira irreverente, pode-se afirmar que os versos se
pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres marcam:
é que, para a carne, há dias de carne, e para o peixe,
a) Pelo sentimentalismo, fruto da sintonia do eu lírico
dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano;
com a sociedade.
porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e b) Pela indiferença, decorrente da omissão do eu líri-
continuadamente se come: e isto é o que padecem os co com a sociedade.
pequenos. São o pão cotidiano dos grandes: e assim c) Pelo negativismo, pois o eu lírico condena a socie-
como pão se come com tudo, assim com tudo, e em tudo dade pelo viés da religião.
são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem d) Pela indignação, advinda de um ideal moralizante
fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não expresso pelo eu lírico.
multem, em que os não defraudem, em que os não co- e) Pela ironia, já que o eu lírico supõe que todas as
mam, traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, pessoas são desonestas.
ut cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes? 7. (Unesp)
(Antônio Vieira. Essencial, 2011.)
A cada canto um grande conselheiro,
1. (Unifesp) No sermão, Vieira critica Que nos quer governar cabana, e vinha,
a) a preguiça desmesurada dos miseráveis. Não sabem governar sua cozinha,
b) a falta de ambição dos miseráveis. E podem governar o mundo inteiro.
c) a ganância excessiva dos poderosos. (...)
d) o excesso de humildade dos miseráveis. Estupendas usuras nos mercados,
e) o excesso de vaidade dos poderosos. Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a Cidade da Bahia.
2. (Unifesp) O primeiro parágrafo permite identificar o Gregório de Matos. "Descreve o que era realmente naquele tempo a
lugar em que o pregador profere seu sermão, a saber, cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa".

a) o mar. d) a aldeia. IN: Obra poética (org: James Amado), 1990.


b) o sertão. e) a cidade. O poema, escrito por Gregório de Matos no século XVII:
c) a floresta. a) representa, de maneira satírica, os governantes e a
desonestidade na Bahia colonial.
3. (Unifesp) Condizente com o teor do sermão está o b) critica a colonização portuguesa e defende, de for-
conteúdo do seguinte provérbio: ma nativista, a independência brasileira.
a) “A tolerância é a virtude do fraco.” c) tem inspiração neoclássica e denuncia os proble-
mas de moradia na capital baiana.
b) “O homem é o lobo do homem.”
d) revela a identidade brasileira, preocupação cons-
c) “Ao homem ousado, a fortuna lhe dá a mão.” tante do modernismo literário.
d) “A fome é a companheira do homem ocioso.” e) valoriza os aspectos formais da construção poética
e) “Quem tem ofício, não morre de fome.” parnasiana.
4. (Fuvest) O barroco no Brasil foi
a) uma manifestação artística de caráter religioso li- E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
mitada às regiões de mineração.
b) uma expressão artística de origem europeia reela-
borada e adaptada às condições locais.
c) um estilo original na pintura, mantendo a tradição TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
manuelina nas edificações. As questões seguintes se baseiam num soneto de Gre-
d) uma criação artística popular predominante em gório de Matos (1623?-1696) e na crônica O SONETO, de
todo o Brasil colônia e no império. Carlos Heitor Cony (1926-).
e) uma produção artística, imposta pelo modelo ab-
solutista português, na época da mineração. AO CONDE DE ERICEYRA D. LUIZ DE MENE-
ZES PEDINDO LOUVORES AO POETA NÃO
 VOLUME 2

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES LHE ACHANDO ELLE PRESTIMO ALGUM.


Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Um soneto começo em vosso gabo;
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Contemos esta regra por primeira,
Com sua língua ao nobre o vil decepa: Já lá vão duas, e esta é a terceira,
O Velhaco maior sempre tem capa. Já este quartetinho está no cabo.

74  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Na quinta torce agora a porca o rabo: dade do poeta, as características de seu estilo e suas
A sexta vá também desta maneira, produções poéticas. Observe, numa leitura do texto,
Na sétima entro já com grã canseira, esse processo de caracterização da personagem e, em
E saio dos quartetos muito brabo. seguida, responda:
Agora nos tercetos que direi? a) Ao referir-se ao discurso da personagem, o cronis-
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais, ta afirma que "seu texto era barroco". Consideran-
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei. do as características do estilo de época denominado
barroco, em que se inscreve a poesia de Gregório de
Nesta vida um soneto já ditei,
Matos, explique o que Cony quis dizer a respeito do
Se desta agora escapo, nunca mais;
estilo de Domingos da Silva Cardim.
Louvado seja Deus, que o acabei.
b) Semelhantemente ao que fez Gregório em seu po-
In: MATOS, Gregório de. OBRA POÉTICA. 2ª ed. ema, embora de modo mais direto, ao apresentar e
Rio de Janeiro: Record, 1990, vol. I, p. 129-30.
descrever Domingos da Silva Cardim, o cronista assu-
O SONETO me uma atitude de deboche, que por vezes beira ao
escárnio. Transcreva duas frases da crônica em que se
Era magro, feio, merecia o superlativo: era magérrimo e caracteriza tal atitude.
feiíssimo. Usava óculos, fumava de piteira, a voz racha-
da, andava mal vestido, mas tinha - milagre jamais expli- 2. (Fuvest) A poesia lírica de Gregório de Matos subdivi-
cado - um carrinho inglês que sempre estava de bateria de-se em amorosa e religiosa.
arriada e precisava ser empurrado. a) Quais são os dois modos contrastantes de ver a
Trabalhava num vespertino, seu texto era barroco, cobria mulher, em sua lírica amorosa?
festividades cívicas e religiosas. Era - segundo o meu pai b) Como aparece em sua lírica religiosa a ideia de
- uma boa alma, embora fosse ruim de corpo. Um dia, me Deus e do pecado?
levou para um canto da redação e recitou-me um soneto
de sua lavra, os olhos faiscando de lascívia contrariada. 3. (Fuvest) Dê argumentos que permitam considerar o
Esqueci o soneto minutos depois. Guardei por uns tem- Padre Antônio Vieira como um expoente tanto da Lite-
pos o final, aquilo que os parnasianos chamavam de ratura Portuguesa quanto da Literatura Brasileira.
"chave de ouro". Transcrito em papel talvez não impres-
sione.
Dito por ele, num canto empoeirado da redação, com
Gabarito
sua voz rachada, a piteira nas mãos trêmulas, era uma
apoteose da dor: "Passei bem junto a ela. E decerto ela E.O. Aprendizagem
nem soube que eu passei tão perto e nem suspeita que 1. D 2. E 3. C 4. B 5. E
eu segui chorando!". O verso quebrado e a exclamação
final faziam parte da poética e das redações daquele 6. A 7. D 8. D 9. A 10. B
tempo.
Chamava-se Cardim. Domingos da Silva Cardim se não
me engano. Casara-se com uma viúva tão feia e magra
E.O. Fixação
1. E 2. B 3. C 4. C 5. B
como ele, também boníssima alma. Não tinham filhos.
Por isso ou aquilo, Cardim apaixonava-se com frequên- 6. C 7. B 8. E 9. B 10. D
cia e, quanto menos correspondido, mais apaixonado
ficava. Deve ter feito outros sonetos, circulou pela reda-
ção um poema pornográfico e anônimo que desde o re- E.O. Complementar
dator-chefe até o contínuo que ia buscar café na esquina 1. C 2. A 3. D 4. E 5. C
atribuíram ao estro do Cardim.
Cardim morreu como um passarinho - naquele tempo
era comum esse tipo de morte. O tempo passou, esqueci E.O. Dissertativo
dele, mas nunca esqueci aquele final de lascívia contra- 1. Na carta, Vieira caracteriza os holandeses como hereges e
riada. Outro dia, bestamente, depois de um dia inglório iconoclastas.
e triste, cara mais uma vez quebrada, me surpreendi re-
2. A contextualização histórica da carta de Vieira deve levar em
citando em causa própria: e ela nem soube que eu passei conta dois dados importantes: a disputa militar que opunha Ho-
tão perto e nem suspeita que eu segui chorando! landa a Portugal e a luta da Igreja católica (representada por Por-
In: CONY, Carlos Heitor. FOLHA DE S. PAULO. tugal) contra o protestantismo (representado pela Holanda). Da
Cad. 1, p. 2 - Opinião, 6/7/97. perspectiva de Vieira, os interesses de Portugal coincidiam com os
 VOLUME 2

1. (Unesp) Em sua crônica, Carlos Heitor Cony apresen- da Igreja, por isso a providência divina agiria em favor de brasilei-
ta, com fino humor, um antigo colega e poeta, um tipo ros e portugueses. No texto, a ação da providência se mostra no
bastante curioso, dado a cultivar sonetos. O cronista, milagre que se opera na cruz: agredida pelos holandeses (“deram
muitos golpes numa cruz”), ela se move sozinha (“a cruz [...] se foi
num processo de reminiscência, aborda a personali-
torcendo do meio para cima, ficando o pé imóvel”).

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  75


3. 2.
a) Trata-se do “Sermão pelo bom sucesso das armas a) A mulher divinizada e a mulher mais terrena e sensual.
de Portugal contra as de Holanda”. b) Como homem, Gregório reconhece-se pecador e Deus
b) O autor se dirige a Deus, como porta-voz da reli- representa a possibilidade de redenção dos pecados.
gião católica, a única que, para ele, tinha legitimida-
3. Vieira passou a maior parte de sua vida entre Portugal, onde
de para representar a vontade de Deus. O sermonista
nasceu, e Brasil. Tanto lá como aqui compôs textos de fina retóri-
pede ajuda na luta contra os holandeses, associados
ao protestantismo. A referência mais direta ao inter- ca, tratando de temas que interessavam à colônia e à metrópole.
locutor aparece no vocativo “Senhor” da seguinte
passagem: “Mas como a causa, Senhor, é mais vossa
que nossa (...)”. Há no texto um bom exemplo da
preocupação do padre Antônio Vieira com temas de
caráter social e de dimensão política. A aproximação
e a comparação da figura de Alexandre Magno, gran-
de conquistador do mundo antigo, com a do pirata
saqueador mostram uma crítica aos valores morais e
a visão ideológica do autor.
4. Na alegoria do padre Antônio Vieira, a comparação, ou melhor,
a metáfora básica, que sustenta todo o desenvolvimento do tre-
cho e as demais comparações, é aquela extraída do texto bíblico
e usada como epígrafe do sermão: “Semen est verbum Dei” − “a
palavra de Deus é semente”.
5. O poema insere-se no conceptismo. O poeta estabelece
um jogo entre os conceitos de mentira e verdade por meio de
um raciocínio lógico, mostrando as consequências da opção
pela verdade.
6. O poeta tem consciência de que o mundo terreno é efêmero e
vão; o sentimento de nulidade diante do poder divino, como em:
"lembra-te Deus, que és só para humilhar-te".
7. A moda que destrói o corpo e a alma de quem a segue. A cons-
ciência da destruição pela vaidade elevará o indivíduo até Deus.
8. Um dentre os contrastes:
• vida e morte
• juventude e velhice
• essência e aparência
9. O Cultismo consiste em o jogo de palavras, preciosismo voca-
bular, erudição e rebuscamento da forma. O conceptismo pauta-
-se em argumentos que se centram na razão, conciso, ordenado
sob os mecanismos da lógica

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. C 2. E 3. B 4. B 5. C

6. D 7. A

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
a) O cronista, ao mencionar barroco, resgata a ideia do
rebuscamento da forma em detrimento do conteúdo.
 VOLUME 2

Usando da ironia, mostra que a poesia de Cardim, pres-


tava-se às funções "menores" da poesia.
b) O escárnio encontra-se em "...embora fosse ruim de
corpo"; "Casara-se com uma viúva tão feia e magra
como ele". Há outras frases.

76  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


LC ESTÉTICA NEOCLÁSSICA: O ARCADISMO

AULAS
11 E 12 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
5 15,16 e 17

E.O. Aprendizagem 2. A análise do trecho permite afirmar que o eu lírico:


a) valoriza os trajes ricos da cidade.
1. “Sobre Bocage, sabemos que foi um homem situa- b) despreza a vida humilde.
do entre dois mundos, entre as regras rígidas de um c) manifesta preocupação religiosa.
Arcadismo decadente, refletindo um mundo racional, d) valoriza os benefícios de sua vida no campo.
ordenado e concreto, e a liberdade de um Romantismo e) apresenta a vida na cidade como mais desejável do
ascendente, quando a literatura se abre à individualida- que a vida no campo.
de e à renovação”. 3. Pode-se afirmar que se destaca no poema:
(WWW.LPM-EDITORES.COM.BR – 03.09.11) a) o racionalismo, característica do Barroco.
b) o conceptismo, característica do Arcadismo.
O comentário acima nos permite concluir que Bocage
c) o cultismo, característica do Barroco.
sofreu a violência simbólica quando uma regra pastoril
d) o teocentrismo, característica do Barroco.
e neoclássica, disfarçada de gosto e verdade inquestio-
náveis, impediu parcialmente a expressão de sua liber- e) o pastoralismo, característica do Arcadismo.
dade criadora. Interprete os versos abaixo e assinale os 4. “É o período que caracteriza principalmente a segun-
que tematizam a resistência a tal regra. da metade do século XVIII, tingindo as artes de uma
a) Só eu (tirano Amor! tirana Sorte!) nova tonalidade burguesa. Vive-se o Século das Luzes,
Só eu por Nise ingrata aborrecido o Iluminismo burguês, que prepara o caminho para a
Para ter fim meu pranto espero a morte. Revolução Francesa.”
b) Ó trevas, que enlutais a Natureza, O texto acima refere-se ao:
Longos ciprestes desta selva anosa, a) Romantismo. d) Realismo.
Mochos de voz sinistra e lamentosa, b) Simbolismo. e) Arcadismo.
Que dissolveis dos fados a incerteza; c) Barroco.
c) Das terras a pior tu és, ó Goa,
Tu pareces mais ermo que cidade, 5. Sobre a poesia épica do Arcadismo, afirma-se:
Mas alojas em ti maior vaidade I. A natureza apresenta-se como “pano de fundo” para
Que Londres, que Paris ou que Lisboa. as ações narradas.
d) Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga, II. O índio é idealizado como herói nacional por libertar
Por cuja escuridão suspiro há tanto! o povo brasileiro do domínio português.
Calada testemunha de meu pranto, III. Seus principais representantes são Basílio da Gama
De meus desgostos secretária antiga! e Santa Rita Durão.
e) Razão, de que me serve o teu socorro Está correto o que se afirma em:
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
a) I e II. c) II e III.
Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro.
b) I e III. d) I, II e III.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
6. As obras literárias marcam diferentes visões de mundo,
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, não apenas dos autores, mas também de épocas históricas
Que viva de guardar alheio gado; distintas. Reflita sobre isso e leia os fragmentos dos poe-
De tosco trato, de expressões grosseiro, mas de Gregório de Matos e de Tomás Antônio Gonzaga.
Dos frios gelo e dos sóis queimado.
Arrependido estou de coração,
Tenho próprio casal e nele assisto; de coração vos busco, dai-me abraços,
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; abraços, que me rendem vossa luz.
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, Luz, que claro me mostra a salvação,
 VOLUME 2

E mais as finas lãs de que me visto. a salvação pretendo em tais abraços,


Graças, Marília bela, misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
Graças à minha estrela! (MATOS. Gregório. Pecador contrito aos pés do Cristo
crucificado. In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura
(fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm, adaptado) brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p.66.)

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  77


Minha bela Marília, tudo passa; 9. O Arcadismo volta aos princípios clássicos greco-roma-
a sorte deste mundo é mal segura; nos e renascentistas. Nesse sentido, a estética árcade cria
se vem depois dos males a ventura, e segue um grupo de preceitos herdados do Classicismo.
vem depois dos prazeres a desgraça. Assinale o trecho poético de Marília de Dirceu que cor-
responde ao preceito em negrito.
Estão os mesmos deuses
sujeitos ao poder do ímpio fado: a) “Verás em cima da espaçosa mesa/altos volumes
Apolo já fugiu do céu brilhante, de enredados feitos;/ver-me-ás folhear os grandes li-
já foi pastor de gado. vros,/ e decidir os pleitos.” – Fugere urbem.
(GONZAGA, Tomás António. Lira XIV. In: TUFANO, Douglas. Estudos de
b) “Enquanto pasta alegre o manso gado,/minha bela
literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p.77.) Marília, nos sentemos/à sombra deste cedro levanta-
do./ Um pouco meditemos/na regular beleza,/que em
Em relação aos poemas, analise a veracidade (V) ou a tudo quanto vive nos descobre/a sábia Natureza.” -
falsidade (F) das proposições abaixo. Locus amoenus.
( ) O poema de Gregório de Matos apresenta um sujeito c) “Se não tivermos lãs e peles finas,/podem mui bem
lírico torturado pelo peso de seus pecados e desejoso cobrir as carnes nossas/as peles dos cordeiros malcur-
de aproximar-se do Divino. tidas,/ e os panos feitos com as lãs mais grossas./Mas
( ) Tomás Antônio Gonzaga, embora pertença ao mesmo ao menos será o teu vestido/por mãos de amor, por
período literário de Gregório de Matos, revela neste po- minhas mãos cosido.” – Inutilia truncat.
ema um sujeito lírico consciente da brevidade da vida. d) “Pela Ninfa, que jaz vertida em Louro,/o grande
( ) Em relação às marcas de religiosidade, a visão anta- Deus Apolo não delira?/Jove, mudado em Touro/e já
gônica que se coloca entre os dois poemas reflete, no mudado em velha não suspira?/Seguir aos Deuses
Barroco, a influência do cristianismo e, no Arcadismo, a nunca foi desdouro./Graças, ó Nise bela,/graças à mi-
da mitologia grega. nha Estrela!” – Carpe diem.
e) “Quando apareces/Na madrugada,/Mal-embrulha-
Assinale a alternativa que preenche corretamente os da/ Na larga roupa,/E desgrenhada/Sem fita, ou flor;/
parênteses, de cima para baixo. Ah! que então brilha/A natureza!/Então se mostra/
a) V – V – V d) F – F – F Tua beleza/Inda maior.” – Aurea mediocritas.
b) V – F – F e) F – V – F

E.O. Fixação
c) V – F – V

7. Leia os versos abaixo:


1. (ESPM)
“Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas Camões, grande Camões, quão semelhante
as peles dos cordeiros mal curtidas, Acho teu 1fado ao meu quando os cotejo!
e os panos feitos com as lãs mais grossas. Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Mas ao menos será o teu vestido 2
Arrostar co sacrílego gigante (...)
por mãos de amor, por minhas mãos cosido.” Ludíbrio, como tu, da sorte dura,
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
A característica presente na poesia árcade, presente no De que só terei paz na sepultura (...)
fragmento acima, é:
(BOCAGE)
a) aurea mediocritas.
b) cultismo. fado = destino
1

arrostar = encarar, afrontar


2
c) ideias iluministas.
d) conflito espiritual. Assinale a afirmação correta sobre o poema.
e) carpe diem. O eu lírico:
8. Coloque no parêntese B ou A conforme a característi- a) Expressa inveja de Camões por não ter tido igual
ca seja do Barroco ou do Arcadismo. sepultura.
b) Compara-se a Camões, fazendo um desabafo en-
( ) predominância da ordem inversa fático da amargura pela infelicidade ao longo de uma
( ) expressão de sentimentos universais e não individuais
existência.
( ) utilização de vocabulário simples
c) Segue o princípio clássico do relatar experiências hu-
( ) grande número de antíteses
( ) preferência por temas religiosos manas negativas aplicáveis a todos.
d) Alterna versos alexandrinos (ou dodecas sílabos)
 VOLUME 2

A sequência correta é: com versos decassílabos.


a) A, A, B, B, B. d) A, A, A, B, B. e) Dirige-se ao “Céu” e ao “Tejo” com a intenção de
aliar-se aos elementos da natureza.
b) A, B, B, A, B. e) B, A, A, B, B.
c) B, A, B, A, B.

78  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES 5. Bocage só não escreveu:
Liberdade, onde estás? Quem te demora? a) poesia satírica d) poesia bucólica
Quem faz que o teu influxo em nós não caia? b) poesia épica e) poesia obscena
Porque (triste de mim!), porque não raia c) poesia pré-romântica
Já na esfera de Lísia* a tua aurora?
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia. LIRA 83
Oh!, venha... Oh!, venha, e trêmulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora! Que diversas que são, Marília, as horas,
que passo na masmorra imunda e feia,
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo, dessas horas felizes, já passadas
Oculta o pátrio amor, torce a vontade, na tua pátria aldeia!
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Então eu me ajuntava com Glauceste;
Movam nossos grilhões tua piedade; e à sombra de alto cedro na campina
Nosso númen tu és, e glória, e tudo, eu versos te compunha, e ele os compunha
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade! à sua cara Eulina.
(BOCAGE)
Cada qual o seu canto aos astros leva;
*Lísia = Portugal de exceder um ao outro qualquer trata;
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa Através o eco agora diz: Marília terna;
dos Textos. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 239.
e logo: Eulina ingrata.
2. (UEPA) O poema de Bocage organiza uma situação
Deixam os mesmos sátiros as grutas:
comunicativa interna em que se verificam os seguintes
um para nós ligeiro move os passos,
elementos fundamentais da comunicação: emissor, re- ouve-nos de mais perto, e faz a flauta
ceptor (contido no próprio texto) e mensagem. No poe- cos pés em mil pedaços.
ma estes elementos são:
a) eu lírico, liberdade e crítica ao despotismo. — Dirceu – clama um pastor – ah! bem merece da cân-
b) poema, liberdade e crítica ao despotismo. dida Marília a formosura.
c) eu lírico, povo português e crítica ao despotismo. E aonde – clama o outro – quer Eulina achar maior ven-
d) eu lírico, liberdade e língua portuguesa. tura?
e) eu lírico, leitor e crítica ao despotismo. Nenhum pastor cuidava do rebanho,
enquanto em nós durava esta porfia;
3. (UEPA) A leitura do soneto bocageano permite afirmar e ela, ó minha amada, só findava
que há entre a subjetividade do poeta e as questões so- depois de acabar-se o dia.
ciais de Portugal uma ampla interação comunicativa.
Marque a alternativa que comprova este comentário. À noite te escrevia na cabana
os versos, que de tarde havia feito;
a) O eu lírico pede ao país que tenha, como ele, paci- mal tos dava e os lia, os guardavas
ência para suportar o despotismo.
no casto e branco peito.
b) A pátria personificada que desmaia, é comparável
ao eu lírico frio e mudo. Beijando os dedos dessa mão formosa,
c) O despotismo é a redenção muito esperada pelo eu banhados com as lágrimas do gosto,
lírico e pela sociedade portuguesa. jurava não cantar mais outras graças
d) A saudade é representada no poema pelas ima- que as graças do teu rosto.
gens do cárcere e do poeta preso por grilhões. Ainda não quebrei o juramento;
e) O eu lírico e a pátria celebram a chegada da liber- eu agora, Marília, não as canto;
dade como um sol que surge no horizonte. mas inda vale mais que os doces versos
4. Sobre Bocage, é incorreto afirmar que: a voz do triste pranto.
(GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu & Cartas Chilenas.
a) como poeta satírico, ironizou contemporâneos seus, São Paulo: Ática, 1997. p. 126-127.)
o clero, a nobreza decadente;
b) houve, notada inclusive por ele mesmo em um 6. (UEL) Com base no poema de Tomás Antônio Gonza-
famoso soneto, uma série de semelhanças entre sua ga, considere as afirmativas a seguir:
vida e a de Camões;
I. Na primeira estrofe do poema, o eu lírico coloca lado
c) em sua obra lírica, o Arcadismo interessou apenas a lado sua situação de prisioneiro político no presente
como postura, aparência, pois, no fundo, o poeta foi
da elaboração do poema e sua situação de estrangeiro
 VOLUME 2

um pré-romântico;
no passado vivido em ambiente urbano.
d) como abriu mão totalmente dos valores neoclássi-
cos, desprezou o apuro formal, o bucolismo e a pos- II. Na sexta estrofe do poema, há o registro da “porfia”,
tura pastoril; ou seja, da disputa obstinada efetivada por meio de pa-
e) o subjetivismo, a confidência de sua vida interior, a lavras, de dois pastores: Dirceu (Tomás Antônio Gonza-
confissão foram elementos frequentes em sua obra lírica. ga) e Glauceste (Cláudio Manuel da Costa).

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  79


III. Nas estrofes de números 7 e 8, depara-se o leitor com Foi um acaso feliz para a nossa literatura esta conjun-
ambiente distinto daquele compartilhado com Glauces- ção de um poeta de meia idade com a menina de dezes-
te, pois agora o ambiente é fechado e restrito ao conví- sete anos. O quarentão é o amoroso refinado, capaz de
vio com a mulher amada. sentir poesia onde o adolescente só vê o embaraçoso
IV. Na última estrofe do poema, o eu lírico afirma con- cotidiano; e a proximidade da velhice intensifica, em
tinuar cantando as graças de outros rostos, embora só relação à moça em flor, um encantamento que mais se
consiga sentir o ambiente fétido e repugnante da prisão. apura pela fuga do tempo e a previsão da morte:
Assinale a alternativa correta. Ah! enquanto os destinos impiedosos
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. não voltam contra nós a face irada,
b) Somente as afirmativas II e III são corretas. façamos, sim, façamos, doce amada,
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. os nossos breves dias mais ditosos.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 9. (Unifesp) Em seu texto, Antonio Candido refere-se ao
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
poeta _____, que tornou _____ como tema de sua lírica.
7. (UEL) Assinale a alternativa que enumera corretamen- Os espaços da frase devem ser preenchidos com:
te as características do Arcadismo brasileiro presentes
a) renascentista Luís Vaz de Camões ... Inês de Castro
no poema de Tomás Antônio Gonzaga.
b) árcade Tomás Antônio Gonzaga ... Marília
a) A presença do ambiente rústico; a transmissão da c) romântico Gonçalves Dias ... a natureza
palavra poética ao autor; a celebração da vida fami- d) romântico Álvares de Azevedo ... a morte
liar; a engenhosa elaboração pictórica do poema de e) árcade Bocage ... Marília
maneira a dominarem as figuras de linguagem.
b) A presença do ambiente nacional; a supressão da 10. (UFRGS) Assinale a alternativa correta em relação a
palavra poética; a celebração da vida familiar; a cons- “O Uruguai”, de Basílio da Gama.
trução pictórica do poema de maneira a dominarem a) Trata-se de um poema épico em que autor ataca o
as figuras de linguagem. governo português.
c) A presença do ambiente urbano; a transmissão da b) O poema representa um marco importante na pas-
palavra poética ao autor; a celebração da vida rústica; a sagem do Arcadismo ao Barroco.
elaboração predominantemente hiperbólica do poema. c) No poema, o autor evidencia simpatia para com
d) A presença de ambiente bucólico; a delegação da as atitudes intervencionistas do Marquês do Pombal.
palavra poética a um pastor; a celebração da vida d) O poema segue a estrutura camoniana de “Os Lu-
síadas”, mantendo o teor tradicional das cinco partes
simples; a clareza, a lógica e a simplicidade na cons-
da epopeia.
trução do poema.
e) O poema narra a luta entre os exércitos português
e) A presença do ambiente nacional; a delegação da e espanhol pela dominação das Missões Jesuíticas.
palavra poética a um pastor; a celebração da vida em
sociedade; a construção racional do poema enfati-
zando o decoro e a discrição. E.O. Complementar
8. (UEL) O ideal horaciano da “áurea mediocridade”, 1. (UFAL) Considere as seguintes afirmações:
tão cultivado pelos poetas árcades, faz-se presente pelo I. Gregório de Matos e Tomás Antônio Gonzaga compu-
registro: seram poesia lírica, mas o talento de ambos encontrou
a) de uma existência em contato com seres míticos, sua expressão máxima nas sátiras.
como é o caso dos sátiros. II. Em MARÍLIA DE DIRCEU, o árcade mineiro buscou figu-
b) de uma vida raciocinante expressa por meio de lin- rar um equilíbrio entre a vida rústica e a cultura ilustrada.
guagem elaborada metaforicamente. III. Cláudio Manuel da Costa confronta a paisagem bu-
c) da aceitação obstinada dos reveses da vida impos- cólica idealizada com a de sua terra natal.
tos pela política. Está inteiramente correto o que vem afirmado SOMEN-
d) do prazer suscitado pelas situações difíceis a serem TE em:
disciplinadamente encaradas. a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III.
e) de uma vida tranquila e amorosa em contato com
2. (FGV) Assinale a alternativa que apresenta ERRO
a natureza sempre amena.
na correlação autor-obra-época, relativamente à lite-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ratura portuguesa.
a) Pe. Antônio Vieira – Sermão da Quarta-feira de Cinzas
Texto extraído de Formação da Literatura Brasileira, de
– Século XVII.
Antônio Candido.
 VOLUME 2

b) Gil Vicente – Auto da Barca do Inferno – Século XVI.


No Brasil, o homem de estudo, de ambição e de sala, que c) Manuel Maria Barbosa du Bocage – Nova Arcádia –
provavelmente era, encontrou condições inteiramente Século XIV.
novas. Ficou talvez mais disponível, e o amor por Doro-
d) Luís de Camões – Os lusíadas – Século XVI.
téia de Seixas o iniciou em ordem nova de sentimentos: o
e) Luís de Camões – Sonetos – Século XVI.
clássico florescimento da primavera no outono.

80  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


3. (UFV) Os árcades, no Brasil, assimilaram as ideias neo- 5. Leia com atenção os juízos estéticos transcritos abai-
clássicas europeias, muitas vezes, reinterpretando, cada xo e marque:
um ao seu estilo, a realidade sociopolítica e cultural do
Juízo I. “Intérprete dos anseios do homem seiscentista
país, como se observa no seguinte fragmento das “Car-
solicitado por ideais em conflito. O fusionismo é a sua
tas Chilenas”:
tendência dominante – tentativa de conciliar, incorpo-
Pretende, Doroteu, o nosso chefe rando contrários.”
erguer uma cadeia majestosa, Juízo II. “Procurando libertar a língua de termos espú-
que possa escurecer a velha fama rios, restituindo-lhe uma sobriedade castiça e o rigor de
da torre de Babel e mais dos grandes, sentido, é a revitalização do pastoralismo e bucolismo.”
custosos edifícios que fizeram,
a) se o primeiro se referir ao BARROCO e o segundo,
para sepulcros seus, os reis do Egito.
ao ARCADISMO.
Talvez, prezado amigo, que imagine
que neste monumento se conserve, b) se o primeiro se referir ao ARCADISMO e o segun-
eterna a sua glória, bem que os povos, do, ao BARROCO.
ingratos, não consagrem ricos bustos c) se ambos se referirem ao BARROCO.
nem montadas estátuas ao seu nome. d) se ambos se referirem ao ARCADISMO.
Desiste, louco chefe, dessa empresa: e) se ambos se referirem à LITERATURA DOS JESUÍTAS
um soberbo edifício levantado no Brasil.
sobre ossos de inocentes, construído

E.O. Dissertativo
com lágrimas dos pobres, nunca serve
de glória ao seu autor, mas sim de opróbrio.
(GONZAGA, Tomás Antônio. "Cartas chilenas". In: COSTA, Cláudio
M. da; GONZAGA, Tomás A.; PEIXOTO, Alvarenga. "A poesia TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
dos inconfidentes". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 196. p. 814.)

Todas as alternativas abaixo apresentam características As questões seguintes tomam por base um soneto do
desse estilo literário, presente nos versos acima citados, poeta neoclássico português Bocage (Manuel Maria
EXCETO: Barbosa du Bocage, 1765-1805) e diálogos de uma se-
quência do filme Bye Bye Brasil (1979), escrito e dirigi-
a) Valorização do ideal da vida simples e tranquila.
do pelo cineasta brasileiro Carlos Diegues.
b) Tendência ao discurso em forma de diálogo do eu poé-
tico com um interlocutor.
CONVITE A MARÍLIA
c) Utilização de linguagem elegante, rebuscada e artificial.
d) Intenções didáticas, expressas no tom de denúncia e Já se afastou de nós o Inverno agreste
sátira. Envolto nos seus úmidos vapores;
e) Caracterização do poeta como um pintor de situações A fértil primavera, a mãe das flores
e não de emoções. O prado ameno de boninas veste:
4. (ESPM) Em todas as alternativas a seguir, há versos Varrendo os ares o sutil nordeste
característicos do Arcadismo, exceto em: Os torna azuis; as aves de mil cores
a) Eu vi o meu semblante numa fonte: Adejam entre Zéfiros e Amores,
Dos anos inda não está cortado; E toma o fresco Tejo a cor celeste:
Os Pastores, que habitam este monte, Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Respeitam o poder do meu cajado; Destes alegres campos a beleza,
b) Ah! enquanto os Destinos impiedosos Destas copadas árvores o abrigo:
Não voltam contra nós a face irada,
Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Façamos, sim façamos, doce amada,
Quanto me agrada mais estar contigo
Os nossos breves dias mais ditosos;
Notando as perfeições da Natureza!
c) Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora. BOCAGE. Obras de Bocage. Porto: Lello & Irmão, 1968, p. 142.)
Ah! não, não fez o Céu, gentil Pastora,
BYE BYE BRASIL
Para glória de Amor igual tesouro;
d) Se estou, Marília, contigo, MULHER NORDESTINA: – Meu santo, minha família foi
Não tenho um leve cuidado; embora, meu santo. Filho, nora, neto..., fiquei só com o
Nem me lembra se são horas meu velho que morreu na semana passada. Agora, que-
De levar à fonte o gado; ro ver o meu povo. Meu santo, me diga, onde é que eles
 VOLUME 2

e) Ó florestas! ó relva amolecida, foram, meu santo?


A cuja sombra, em cujo doce leito LORD CIGANO: – E eu sei lá? Como é que eu vô saber?
É tão macio descansar nos sonhos! Quer dizer... eu sei... eu... Eu tô vendo. Eu estou vendo a
Arvoredo do vale! derramai-me sua família, eles estão a muitas léguas daqui.
Sobre o corpo estendido na indolência
MULHER NORDESTINA: – Vivos?
O tépido frescor e o doce aroma!

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  81


LORD CIGANO: – É, vivos, se acostumando ao lugar novo. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
MULHER NORDESTINA: – A gente se acostuma com De estar a ela um dia reclinado.
tudo... Onde é que eles estão agora, meu santo? Ali em vale um monte está mudado:
LORD CIGANO: – Ah, pera aí, deixa eu ver! Eu tô vendo: Quanto pode dos anos o progresso!
eles estão num vale muito verde onde chove muito, as Árvores aqui vi tão florescentes,
árvores são muito compridas e os rios são grandes fei- Que faziam perpétua a primavera:
to o mar. Tem tanta riqueza lá, Que. ninguém precisa Nem troncos vejo agora decadentes.
trabalhar. Os velhos não morrem nunca e os jovens não
perdem sua força. É uma terra tão verde... Altamira! Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
(In: Filme BYE BYE BRASIL (1979). Produzido por Lucy Meus males, com que tudo degenera!
Barreto. Escrito e dirigido por Carlos Diegues.)
(Cláudio Manuel da Costa. "Sonetos (VLI)". In: RAMOS, Péricles
Os escritores clássicos gregos e latinos produziram cer- Eugênio da Silva (Intr., sel. e notas): POESIA DO OUTRO –
tas fórmulas de expressão que, retomadas ao longo dos ANTOLOGIA. São Paulo: Melhoramentos, 1964, p. 47.)
tempos, chegaram até nossa modernidade. Uma dessas
6. (UFSCar) A crítica literária brasileira tem ressaltado
fórmulas é a chamada tópica do lugar ameno, ou seja,
a evocação literária de um recanto ideal, delicado, ge- que o terceiro verso do poema é aquele que concentra
ralmente bucólico, cuja paz e tranquilidade servem de o tema central. Essa mesma crítica, por outro lado, ano-
palco ao idílio dos amantes e ao sossego da vida. Sim- tou com propriedade a importância do décimo segundo
boliza o porto almejado ou o retorno à felicidade perdi- verso: este verso exprime uma mudança de atitude, que
da. Tomando por base este comentário, releia os textos se corrige nos versos finais graças à descoberta, feita
em pauta e, a seguir, responda as questões abaixo: pelo eu poemático, da verdadeira causa do fenômeno
descrito em todo o poema. Responda:
1. Aponte, na sequência de “Bye Bye Brasil”, dois ele-
a) Qual o tema que o terceiro verso concentra? Trans-
mentos da paisagem descrita por Lord Cigano que ca-
creva outros dois versos que o repercutem.
racterizam Altamira como um lugar ameno.
b) A que causas o eu poemático atribui o fenômeno
2. Localize, no segundo terceto de Bocage, o verso em observado na natureza?
que se estabelece relação opositiva com a tópica do lu-
gar ameno. 7. (UFSCar) O estilo neoclássico, fundamento do Arca-
dismo brasileiro, de que fez parte Cláudio Manuel da
3. Bocage foi um dos mais importantes poetas portu- Costa, caracteriza-se pela utilização das formas clássi-
gueses do neoclassicismo. Nesta época era comum os cas convencionais, pelo enquadramento temático em
poetas adotares pseudônimos em sua lírica. Determine
paisagem bucólica pintada como lugar aprazível, pela
o pseudônimo que ele utilizava e seu significado.
delegação da fala poética a um pastor culto e artista,
4. Toda a poesia de Bocage se nutre das suas vicissitudes pelo gosto das circunstâncias comuns, pelo vocabulário
biográficas. O amor e o erotismo, o ódio e a raiva das de fácil entendimento e por vários outros elementos
ofensas sofridas ou imaginadas, vibram nos seus versos que buscam adequar a sensibilidade, a razão, a natureza
com a intensidade do excesso, que a forma apurada e o e a beleza. Dadas estas informações:
rigor verbal dominam, tornando mais impressionante o a) indique qual a forma convencional clássica em que
seu efeito estético. Determine as duas principais fases se enquadra o poema.
que marcam a sua poesia.
b) transcreva a estrofe do poema em que a expressão
5. (UFV) Ao evidenciar as tendências do Arcadismo bra- da natureza aprazível, situada no passado, domina sobre
sileiro, Antônio Cândido conclui: a expressão do sentimento da personagem poemática.
A poesia pastoral, como tema, talvez esteja vinculada

E.O. Objetivas
ao desenvolvimento da cultura urbana, que, opondo as
linhas artificiais da cidade à paisagem natural, transfor-

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


ma o campo num bem perdido, que encarna facilmente
os sentimentos de frustração.
(CÂNDIDO, Antônio. "Formação da literatura brasileira."
São Paulo: Martins, 1959. p. 54. v.I) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
A partir de uma reflexão sobre a afirmativa transcri- Olha, Marília, as flautas dos pastores
ta acima, fale sobre as manifestações da Natureza na Que bem que soam, como estão cadentes!
poesia árcade. Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
 VOLUME 2

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES Os Zéfiros brincar por entre flores?

Onde estou? Este sítio desconheço: Vê como ali, beijando-se, os Amores


Quem fez diferente aquele prado? Incitam nossos ósculos ardentes!
Tudo outra natureza tem tomado; Ei-las de planta em planta as inocentes,
E em contemplá-lo tímido esmoreço. As vagas borboletas de mil cores.

82  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Naquele arbusto o rouxinol suspira, b) “O ledo passarinho que gorjeia
Ora nas folhas a abelhinha para, Da alma exprimindo a cândida ternura,
Ora nos ares, sussurrando, gira: O rio transparente, que murmura,
Que alegre campo! Que manhã tão clara! E por entre pedrinhas serpenteia:”
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira, c) “Se é doce no recente, ameno Estio
Mais tristeza que a morte me causara. Ver tocar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo as areias e os verdores,
1. (Unifesp) A descrição que o eu-lírico faz do ambiente
é uma forma de mostrar à amada que o amor: Mole e queixoso deslizar-se o rio;”
d) “A loira Fílis na estação das flores,
a) acaba quando a morte chega.
Comigo passeou por este prado
b) tem pouca relação com a natureza.
Mil vezes; por sinal, trazia ao lado
c) deve ser idealizado, mas não realizado.
As Graças, os Prazeres e os Amores.”
d) traz as tristezas e a morte.
e) é inspirado por tudo o que os rodeia. e) “Já sobre o coche de ébano estrelado,
Deu meio giro a Noite escura e feia;
2. (Unifesp 2017) Predomina neste movimento uma tônica Que profundo silêncio me rodeia
mais cosmopolita, intimamente ligada às modas literárias Neste deserto bosque, à luz vedado!”
da Europa, desejando pertencer ao mesmo passado cultu-
ral e seguir os mesmos modelos, o que permitiu incorpo- 5. (Unifesp) Leia o texto para resolver a questão:
rar os produtos intelectuais da colônia inculta ao universo Olha, Marília, as flautas dos pastores
das formas superiores de expressão. Ao lado disso, tal mo- Que bem que soam, como estão cadentes!
vimento continuou os esboços particularistas que vinham Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
do passado local, dando importância relevante tanto ao Os Zéfiros brincar por entre flores?
índio e ao contato de culturas, quanto à descrição da na-
Vê como ali, beijando-se, os Amores
tureza, mesmo que fosse em termos clássicos.
Incitam nossos ósculos ardentes!
(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)
Ei-las de planta em planta as inocentes,
Tal comentário refere-se ao seguinte movimento literá- As vagas borboletas de mil cores.
rio brasileiro:
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
a) Romantismo. d) Barroco. Ora nas folhas a abelhinha para,
b) Classicismo. e) Arcadismo. Ora nos ares, sussurrando, gira:
c) Naturalismo.
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
3. (Unifesp) Leia os versos do poeta português Bocage. Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Vem, oh Marília, vem lograr comigo Mais tristeza que a morte me causara.
Destes alegres campos a beleza, O soneto de Bocage é uma obra do Arcadismo portu-
Destas copadas árvores o abrigo. guês, que apresenta, dentre suas características, o bu-
Deixa louvar da corte a vã grandeza; colismo e a valorização da cultura greco-romana, que
Quanto me agrada mais estar contigo, estão exemplificados, respectivamente, em:
Notando as perfeições da Natureza! a) Tudo o que vês, se eu te não vira / Olha, Marília, as
flautas dos pastores.
Nestes versos: b) Ei-las de planta em planta as inocentes / Naquele ar-
a) o poeta encara o amor de forma negativa por cau- busto o rouxinol suspira.
sa da fugacidade do tempo. c) Que bem que soam, como estão cadentes! / Os Zéfiros
b) a linguagem, altamente subjetiva, denuncia carac- brincar por entre flores?
terísticas pré-românticas do autor. d) Mais tristeza que a morte me causara. / Olha o Tejo a
c) a emoção predomina sobre a razão, numa ânsia de sorrir-se! Olha, não sentes.
se aproveitar o tempo presente. e) Que alegre campo! Que manhã tão clara! / Vê como
d) o amor e a mulher são idealizados pelo poeta, por- ali, beijando-se, os Amores.
tanto, inacessíveis a ele.
6. (Unesp) Os autores deste movimento pregavam a
e) o poeta propõe, em linguagem clara, que se apro-
veite o presente de forma simples junto à natureza. simplicidade, quer nos temas de suas composições, quer
como sistema de vida: aplaudindo os que, na Antiguida-
4. (Unifesp) Assinale a alternativa na qual se pode de- de e na Renascença, fugiam ao burburinho citadino para
tectar nos versos do poeta português Manuel Maria de se isolar nas vilas, pregavam a “áurea mediocridade”, a
Barbosa du Bocage (1765-1805) uma ruptura com a con- dourada mediania existencial, transcorrida sem sobres-
 VOLUME 2

venção arcádica do locus amoenus (“lugar aprazível”). saltos, sem paixões ou desejos. Regressar à Natureza,
a) “Olha, Marília, as flautas dos pastores fundir-se nela, contemplar-lhe a quietude permanente,
buscar as verdades que lhe são imanentes – em suma,
Que bem que soam, como estão cadentes!
perseguir a naturalidade como filosofia de vida.
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre flores?” (Massaud Moisés. Dicionário de termos literários, 2004. Adaptado.)

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  83


O comentário do crítico Massaud Moisés refere-se ao Os dois textos pertencem a artistas bastante afasta-
seguinte movimento literário: dos entre si, no tempo. Trata-se de Bocage (Manuel
a) Arcadismo. Maria Barbosa du Bocage – 1765-1805), poeta neo-
clássico português, e Juca Chaves (Jurandyr Chaves
b) Simbolismo.
– 1938), compositor, intérprete e showman brasileiro.
c) Romantismo. Ambos líricos e sentimentalistas, muitas vezes são ás-
d) Barroco. peros em críticas e sátiras sociais. Lendo-se os poemas
e) Naturalismo. (o de Juca é letra de uma de suas canções), verificamos
que apresentam pontos em comum, embora sejam in-

E.O. Dissertativas
confundíveis pelo estilo e atitudes.

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


1. (Unesp) Observando o que cada poeta diz de si pró-
prio na primeira quadra, verificamos que um deles pri-
vilegia um tipo de características pessoais, enquanto o
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO outro varia a natureza das características que enumera.
Com base nesta observação, releia atentamente ambas
TEXTO I as estrofes e, a seguir, comente as características pesso-
AUTORRETRATO ais enfatizadas por Juca Chaves e Bocage.
JUCA CHAVES
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
Simpático, romântico, solteiro, RECREIOS CAMPESTRES NA
autodidata, poeta, socialista.
Da classe 38, reservista, COMPANHIA DE MARÍLIA
de outubro, 22, Rio de Janeiro. Olha, Marília, as flautas dos pastores
Com a bossa de qualquer bom brasileiro, possuo o sangue Que bem que soam, como estão cadentes!
quente de um artista, Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Sou milionário em senso de humorista, Os Zéfiros brincar por entre as flores?
mas juro que estou duro e sem dinheiro.
Vê como ali beijando-se os Amores
Há quem me julgue um poeta irreverente, mentira, é Incitam nossos ósculos ardentes!
reação da burguesia, Ei-las de planta em planta as inocentes,
que não vive, vegeta falsamente, As vagas borboletas de mil cores!
num mundo de doente hipocrisia.
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Mas o meu mundo é belo e diferente: Ora nas folhas a abelhinha para,
vivo do amor ou vivo de poesia... Ora nos ares sussurrando gira:
E assim eu viverei eternamente,
se não morrer por outra Ana Maria. Que alegre campo! Que manhã tão clara!
(1962, disco RGE. In: História da música popular brasileira, Mas ah! Tudo o que vêz, se eu te não vira,
fascículo número 41, São Paulo, Abril Cultural, 1971.) Mais tristeza que a morte me causara.
(Bocage, OBRAS DE BOCAGE,
TEXTO II Porto: Lello & Irmão Editores, 1968. p. 152)
RETRATO PRÓPRIO (SONETO LXXXI) 2. (Unesp) No soneto acima citado de Manuel Maria
BOCAGE Barbosa du Bocage (1765-1805), verificam-se caracte-
Magro, de olhos azuis, carão moreno, rísticas do estilo neoclássico, de que Bocage é o má-
bem servido de pés, meão na altura, ximo representante em Portugal. Indique duas dessas
triste de facha, o mesmo de figura, características, exemplificando cada uma delas com
nariz alto no meio, e não pequeno: palavras, expressões ou passagens do poema.

Incapaz de assistir num só terreno, 3. (Unesp) Dois versos seguidos deste poema, contras-
mais propenso ao furor do que à ternura tados com outros doze, revelam que o poeta pode ter
bebendo em níveas mãos por taça escura duas reações diferentes e opostas ante a paisagem que
de zelos infernais letal veneno: descreve, de acordo com a ocorrência ou não de um de-
Devoto incensador de mil deidades terminado fato. Partindo deste dado, responda:
(digo, de moças mil) num só momento, a) quais os dois versos a que nos referimos?
e somente no altar amando os frades: b) o que nos revela o poeta neles?
 VOLUME 2

Eis Bocage, em quem luz algum talento;


4. (Unicamp) Nos dois poemas a seguir, Tomás Antônio
saíram dele mesmo estas verdades
Gonzaga e Ricardo Reis refletem, de maneira diferente,
num dia em que se achou mais pachorrento. sobre a passagem do tempo, dela extraindo uma “filo-
(In Obras de Bocage, Porto, Lello & Irmão, 1968, p. 497.) sofia de vida”. Leia-os com atenção:

84  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


LIRA 14 (Parte I) 5. (Unesp) Neste fragmento do romance ALTÉIA, de Cláu-
dio Manuel da Costa, acumulam-se características pecu-
Minha bela Marília, tudo passa; liares do Arcadismo. Releia o texto que lhe apresentamos
a sorte deste mundo é mal segura; e, a seguir:
se vem depois dos males a ventura, a) aponte duas dessas características.
vem depois dos prazeres a desgraça.
b) justifique sua resposta com, pelo menos, duas ci-
.......................................................... tações do texto.

Que havemos de esperar, Marília bela? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


que vão passando os florescentes dias? O URAGUAI (Canto IV) fragmento
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
Este lugar delicioso, e triste,
e pode enfim mudar-se a nossa estrela. Cansada de viver, linha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Ah! não, minha Marília,
Lá reclinada, como que dormia,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
Na branda relva, e nas mimosas flores,
o estrago de roubar ao corpo as forças Tinha a face na mão, e a mão no tronco
e ao semblante a graça. De um fúnebre cipreste, que espalhava
(TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA,”Marília de Dirceu”) Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Quando, Lídia, vier o nosso outono Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Com o inverno que há nele, reservemos Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.
Um pensamento, não para a futura Fogem de a ver assim sobressaltados,
Primavera, que é de outrem, E param cheios de temor ao longe;
Nem para o estio, de quem somos mortos, E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Senão para o que fica do que passa – Que desperte assustada, e irrite o monstro,
O amarelo atual que as folhas vivem E fuja, e apresse no fugir a morte.
E as torna diferentes. (BASÍLIO DA GAMA, José. O URUGUAI. Rio de Janeiro:
Public. da Academia Brasileira, 1941, pp. 78-9.)
(RICARDO REIS, “Odes”)
a) Em que consiste a “filosofia de vida” que a pas- CARAMURU (Canto VI, Estrofe XLII)
sagem do tempo sugere ao eu lírico do poema de Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Tomás Antônio Gonzaga? Pálida a cor, o aspecto moribundo,
b) Ricardo Reis associa a passagem do tempo às es- Com mão já sem vigor, soltando o leme,
tações do ano. Que sentido é dado, em seu poema, Entre as salsas escumas desce ao fundo.
ao outono? Mas na onda do mar, que irado freme,
c) Os dois poetas valorizam o momento presente, em- Tornando a aparecer desde o profundo:
bora o façam de maneira diferente. Em que consiste “Ah Diogo cruel!” disse com mágoa,
essa diferença? E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
(SANTA RITA DURÃO, Fr. José de. CARAMURU.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO São Paulo: Edições Cultura, 1945, p.149.)

ALTÉIA 6. (Unesp) Os textos apresentados correspondem, respec-


tivamente, a fragmentos marcantes dos poemas épicos
Cláudio Manuel Da Costa “O Uraguai” (1769), de Basílio da Gama, e “Caramuru”
(1781), de Santa Rita Durão, poetas neoclássicos brasilei-
Aquele pastor amante, ros. No primeiro, a índia Lindóia, infeliz com a morte do
Que nas úmidas ribeiras marido Cacambo, deixa-se picar por uma serpente, e fale-
Deste cristalino rio ce. No segundo, enfoca-se a índia Moema que, ao ver par-
Guiava as brancas ovelhas; tir seu amado Diogo Álvares, segue a embarcação a nado
e se deixa morrer afogada. Releia os textos e, a seguir:
Aquele, que muitas vezes
Afinando a doce avena, a) aponte o componente nacionalista de ambos os po-
Parou as ligeiras águas, emas que prenuncia uma das linhas temáticas mais ca-
Moveu as bárbaras penhas; racterísticas do Romantismo brasileiro;
b) cite dois escritores românticos brasileiros que se
Sobre uma rocha sentado utilizaram dessa linha temática.
 VOLUME 2

Caladamente se queixa:
Que para formar as vozes, 7. (Fuvest) O indianismo tem uma tradição relativamen-
Teme, que o ar as perceba. te longa na Literatura Brasileira.
(In POEMAS de Cláudio Manuel da Costa. Antes de Alencar quem trouxe o índio para a literatura?
São Paulo: Cultrix, 1966, p. 156.) Cite pelo menos um autor ou uma obra.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  85


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 3. O pseudônimo de Bocage era “Emano Sadino”. Elmano é
uma anagrara de seu primeiro nome “Manuel” e Sadino é uma
RECREIOS CAMPESTRES NA COMPANHIA DE MARÍLIA
referência ao “Rio Sado” que cruza a província de Setúbal de
Olha, Marília, as flautas dos pastores onde o poeta é originário.
Que bem que soam, como estão cadentes! 4. Bocage possui uma primeira fase neoclássica onde traz a esté-
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes tica árcade em sua perspectiva racionalista, pastoralista e bucóli-
Os Zéfiros brincar por entre as flores? ca. Já sua segunda fase é pré-romântica, uma vez que concebe a
Vê como ali beijando-se os Amores ideia de fado (destino) e sua poesia se entristece e aproxima-se
da natureza sombria.
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes, 5. Os árcades tinham por ideal unir a literatura, o homem e a na-
As vagas borboletas de mil cores! tureza em uma poesia pastoril. A natureza – centrada nos campos,
prados – é que permitiria ao homem elevar seus sentimentos de
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
amor e libertar-se dos valores corrompidos pelo progresso. Os árca-
Ora nas folhas a abelhinha para, des propunham uma vida simples, bucólica, longe da cidade.
Ora nos ares sussurrando gira:
6.
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
a) O tema do terceiro verso é a transitoriedade e a
Mas ah! Tudo o que vêz, se eu te não vira, mutabilidade da vida e das coisas, próprio da poesia
Mais tristeza que a morte me causara. neoclássica. Os versos que o repercutem são: “Quem
(Bocage, OBRAS DE BOCAGE, fez diferente aquele sítio?” “Ali em vale um monte
Porto: Lello & Irmão Editores, 1968. p. 152) está mudado.”
b) O “eu lírico” atribui ao progresso como o causador
8. (Unesp) Podemos afirmar, sem exagero, que este so-
da destruição da natureza. Ainda, o “eu poético” está
neto de Bocage, pelas características formais e pelo
turvado pela dor de seus próprios males e infortúnios.
conteúdo, poderia ser assinado por poetas do neoclas-
sicismo brasileiro. Encontra-se no poema aliás, uma pa- 7.
lavra que remete ao título de um livro de poemas de um a) Trata-se de um soneto, cuja forma poética é consti-
dos mais destacados neoclássicos do Brasil. Depois de tuída de dois quartetos e dois tercetos.
avaliar no soneto de Bocage o dado que mencionamos: b) É na terceira estrofe do poema em que o poeta
descreve de modo objetivo a expressão de natureza
a) aponte o nome do poeta e da obra do neoclassicis-
aprazível.
mo brasileiro a que nos referimos;
“Árvores aqui vi tão florescentes,
b) faça um breve comentário sobre o que representa
Que faziam perpétua a primavera:
o título com relação ao conteúdo dessa obra.
Nem troncos vejo agora decadentes.”

Gabarito E.O. Objetivas


(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
E.O. Aprendizagem 1. E 2. E 3. E 4. E 5. E
1. E 2. D 3. E 4. E 5. B
6. A
6. C 7. A 8. E 9. B

E.O. Dissertativas
E.O. Fixação (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. B 2. A 3. B 4. D 5. B
1. Bocage enfatiza a descrição de traços físicos grotescos de sua
6. B 7. D 8. E 9. B 10. C figura. Juca Chaves negligencia a descrição física, procurando
destacar atributos pessoais agradáveis e atrativos.

E.O. Complementar 2. Pastoralismo: “Olha, Marília, as flautas dos pastores”.

1. E 2. C 3. C 4. E 5. A Utilização dos “locos amoenus”: “Que alegre campo! Que ma-


nhã tão clara!”

E.O. Dissertativo 3.
 VOLUME 2

a) “Mas ah! Tudo o que vês, se eu te vira,


1. “vale muito verde... as árvores são muito compridas e os rios Mais tristeza que a morte me causara.”
são grandes feito o mar”... b) Que a sua felicidade está condicionada à presença
2. Em “Deixa louvar da corte a vã grandeza” o poeta contrapõe da amada. Sem ela não é possível a postura epicurista
a natureza ao artificialismo dos palácios. típica dos árcades.

86  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


4.
a) Carpe diem, aproveitar o presente.
b) O declínio da vida.
c) Em Gonzaga, a vida está em sua plenitude, en-
quanto, em Reis, ela parte para o fim.
5.
a) Pastoralismo e bucolismo.
b) “Aquele pastor amante”
“Deste cristalino rio”
6.
a) A figura do índio.
b) José de Alencar e Gonçalves Dias.
7. Basílio da Gama, “Uraguai”.
8.
a) Tomás Antônio Gonzaga, com a obra MARÍLIA DE
DIRCEU.
b) Gonzaga usa o pseudônimo Dirceu para contar seu
amor por Maria Dorotéia, que aparece como Marília.

 VOLUME 2

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  87


LC ESTÉTICA ROMÂNTICA:
PROSA PORTUGUESA
AULAS
13 E 14 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
5 15,16 e 17

E.O. Aprendizagem d) A presença do refrão como em “Oh pescador” re-


toma as cantigas medievais e a poesia popular.
e) A estrutura das rimas AAAB reproduz a estrutura
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
dos sonetos, presentes nos poemas do Classicismo e
BARCA BELA do Arcadismo.
Almeida Garrett 2. Analise as informações:
Pescador da barca bela,
I. Em “Pescador da Barca Bela”, há a presença de ali-
Onde vais pescar com ela. terações.
Que é tão bela, II. O eu lírico do poema aconselha o pescador a de-
Oh pescador? sistir da pescaria, uma vez que este pode ser atraído
pelo canto da sereia
Não vês que a última estrela
III. A figura da sereia é uma metáfora da morte, as-
No céu nublado se vela? sociação própria da poesia barroca, segundo a qual
Colhe a vela, a beleza da mulher ideal está sempre associada às
Oh pescador! mazelas do homem.
Estão corretas:
Deita o lanço com cautela,
a) apenas I. d) II e III.
Que a sereia canta bela...
b) I e II. e) I e III.
Mas cautela, c) apenas III.
Oh pescador!
3. A ficção romântica é repleta de sentimentalismos, in-
Não se enrede a rede nela, quietações, amor como única possibilidade de realização,
Que perdido é remo e vela, personagens burgueses idealizados, culminando sempre
Só de vê-la, com o habitual “... e foram felizes para sempre”.
Oh pescador. Assinale a alternativa que não corresponde à afirmação
acima:
Pescador da barca bela, a) Amor constitui o objetivo fundamental da existência,
Inda é tempo, foge dela, e o casamento, o fim último da vida.
Foge dela b) Não há defesa intransigente do casamento e da con-
Oh pescador! tinência sexual anterior a ele.
c) A frustração amorosa leva, incondicionalmente, à morte.
1. Além dos romances e dos textos dramáticos, Almeida d) Os protagonistas são retratados como personagens
Garrett também se dedicou à escrita de poesia, como belos, puros, corajosos.
em “Barca bela”, um de seus poemas mais célebres. e) A economia burguesa determina os gostos e a ma-
Assinale a alternativa que analisa corretamente a se- neira de ver o mundo ficcional romântico.
melhança do poema com outros movimentos literários.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) “Deita o lanço com cautela/ Que a sereia canta
bela”. A palavra sereia remete à influência mitológi- Eram meados do ano de 33, a operação de Algarve su-
ca, própria do Barroco. cedera milagrosamente aos constitucionais, a esquadra
b) “Pescador da barca bela/ Inda é tempo, foge dela”. de D. Miguel fora tomada, Lisboa estava em poder deles.
A barca à qual o poeta faz referência é uma alusão Os tardios e inúteis esforços dos realistas para retomar
àquela que conduzia as almas ao paraíso nos autos a capital tinham ocupado o resto do verão. Já outubro
 VOLUME 2

de Gil Vicente, no Humanismo. se descoroava de seus últimos frutos, e as folhas come-


çavam a empalidecer e a cair, quando uma sexta-feira,
c) “Não vês que a última estrela/ No céu nublado se
ao pôr do sol, Frei Dinis aparecia no vale mais curvado e
vela”? O uso de versos decassílabos retoma os poe-
mais trêmulo que nunca. Vinha do exército realista que
mas do Arcadismo.
então cercava Lisboa.
(Almeida Garrett, In: “Viagens na minha terra”)

88  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


4. O trecho acima faz menção a um momento específico 7. ESTE INFERNO DE AMAR
da história de Portugal fundamental para a constituição
Este inferno de amar – como eu amo! –
da prosa romântica no país. Trata-se:
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
a) da união da península Ibérica, resultado da união di- Esta chama que alenta e consome,
nástica entre as monarquias de Portugal e da Espanha. Que é a vida – e que a vida destrói -
b) da Revolução do Porto, que exigia o retorno do rei Como é que se veio a atear,
Dom João VI para Lisboa. Quando - ai quando se há de ela apagar?
c) da guerra civil portuguesa, que dividiu liberais e ab-
Eu não sei, não me lembra: o passado,
solutistas.
A outra vida que dantes vivi
d) da invasão de Napoleão em Lisboa, que expulsou o
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
governo do príncipe regente D. João do poder português.
Em que paz tão serena a dormi!
e) da Independência de Portugal, liderada por D. Miguel Oh! que doce era aquele sonhar...
no ano de 1933. Quem me veio, ai de mim! despertar?
5. Assinale a opção que apresenta corretamente o contex- Só me lembra que um dia formoso
to histórico em que se passa a narrativa da Menina dos Eu passei... dava o Sol tanta Luz!
rouxinóis, em Viagens na minha terra, de Almeida Garrett: E os meus olhos, que vagos giravam,
a) O poder absolutista, liderado pelo príncipe regente Em seus olhos ardentes os pus.
D. João, resiste às invasões francesas até 1811, quando Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
transfere-se para o Brasil. Mas nessa hora a viver comecei...
b) O liberalismo triunfa em Portugal através de uma guer- (Almeida Garrett, in ‘Folhas Caídas’)
ra civil que dividiu, no início da década de 1830, boa parte
Considere as afirmações:
das famílias portuguesas.
I. O amor é contraditório, uma vez que o eu lírico sofre
c) Em 1851 instaura-se o movimento de Regeneração,
resultante de uma coligação de setembristas e cartistas. e também sente prazer com seu sentimento.
II. O eu lírico afirma que sua amada só lhe trouxe sofri-
d) As invasões francesas em 1811 obrigaram a famílias
mentos.
portuguesas a se retirarem para suas terras na ilha Ter-
ceira. III. O poema é composto apenas por versos brancos.
Estão corretas:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) apenas I. d) apenas II.
b) I e II. e) I e III.
“Ó Simão, de que céu tão lindo caímos! A hora
c) II e III.
que te escrevo, tu estás para entrar na nau dos
degredados, e eu na sepultura. 8. (UPE-SSA) O Romantismo não é só um período lite-
Que importa morrer, se não podemos jamais ter rário, ele também é um movimento que abarca as artes
nesta vida a nossa esperança de há três anos? plásticas. Assim, analise as imagens a seguir.
Poderias tu com a desesperança e com a vida,
Simão? Eu não podia. Os instantes do dormir
eram os escassos benefícios que Deus me concedia;
a morte é mais que uma necessidade, é uma
misericórdia divina, uma bem-aventurança para
mim.
E que farias tu da vida sem a tua companheira
de martírio? Onde tu irás aviventar o coração que
a desgraça te esmagou, sem o esquecimento da
imagem desta dócil mulher, que seguiu cegamente
a estrela da tua malfadada sorte?!”
Camilo Castelo Branco, in: “ Amor de Perdição”
6. Considerando a leitura do poema e seus conhecimen-
tos sobre o literatura, assinale a afirmativa correta.
a) Tanto o termo “nau de degredados” como “sepul-
tura” são metáforas da morte.
b) A presença da morte é uma característica que já
constava nos poemas pré-românticos de Bocage.
c) O forte desencanto com a fé cristã é uma caracte-
 VOLUME 2

rística em comum com o período barroco.


d) Há no trecho uma alusão à história de Portugal, cons-
trução muito comum nos romances de Almeida Garrett.
e) O teor ultrarromântico do trecho é característico da
primeira geração do romantismo português

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  89


Amo-te, ó cruz, até, quando no vale
Negrejas triste e só,
Núncia do crime, a que deveu a terra
Do assassinado o pó:
(...)
No pedestal musgoso, em que te ergueram
Nossos avós, eu me assentei. Ao longe,
Do presbitério rústico mandava
O sino os simples sons pelas quebradas
Da cordilheira, anunciando o instante
Da ave-maria; da oração singela,
Mas solene, mas santa, em que a voz do homem
Se mistura nos cânticos saudosos,
Que a natureza envia ao Céu no extremo
Raio de sol, pasmado fugitivo
Na tangente deste orbe, ao qual trouxeste
Liberdade e progresso, e que te paga
Com a injúria e o desprezo, e que te inveja
Até, na solidão, o esquecimento!
(Alexandre Herculano, in: “A cruz mutilada”)
Préstito: procissão
Adro: pátio em frente a uma igreja
Acerca dos textos acima, assinale com V as afirmativas Presbitério: igreja
verdadeiras e com F as falsas. Núncia: anunciadora
( ) É possível afirmar que esses textos têm em comum Orbe: mundo
complexos valores ideológicos, próprios da expressão Alexandre Herculano foi um escritor do Romantismo
plástica romântica. português que publicou romances, ensaios, textos his-
( ) A imagem 1 expressa uma das temáticas do Roman- toriográficos e poéticos. Tendo em vista esse movimen-
tismo, isto é, a liberdade contra a tirania. to literário, é possível afirmar que no poema:
( ) A imagem 2 dialoga com o Romantismo por tratar a) o eu lírico está em equilíbrio com sua fé, já que não há
de uma temática cara aos românticos, que é a exaltação
conflito entre a religião e o homem.
do passado histórico e de caráter nacionalista.
b) o eu lírico é melancólico, pois sofre deveras com a
( ) A imagem 3 expressa, de forma dramática, a tragédia
ausência de sua amada.
de um naufrágio. Nessa obra, é possível identificar uma
das características do Romantismo, a hipervalorização c) há a estrutura do soneto clássico, pois todos os versos
dos sentimentos, tanto as do mundo físico natural como são decassílabos.
as emoções pessoais. d) o eu lírico é melancólico, pois embora afirme forte-
( ) A imagem 4 dialoga com a obra de José de Alencar, mente sua fé, reconhece a ingratidão da humanidade
O Uraguai, cuja protagonista é Iracema. em relação à religião.
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: e) a cruz mutilada é uma metáfora do amor desencanta-
do que o poeta sente pela amada.
a) V – V – V – V – F d) V – V – V – F – V
b) F – F – V – V – F e) V – F – V – F – V 2. Assinale a alternativa incorreta sobre o autor Camilo
c) F – V – V – F – F Castelo Branco.
a) Escreveu romances de exagero sentimental.

E.O. Fixação b) Pertenceu à segunda geração do romantismo por-


tuguês.
c) Publicou obras de crítica aos costumes, como Cora-
1.
ção, cabeça e estômago.
Amo-te, ó cruz, no vértice, firmada
De esplêndidas igrejas; d) Seu romance Amor de perdição marca a transição
Amo-te quando à noite, sobre a campa, do Romantismo para o Realismo.
Junto ao cipreste alvejas; e) Tratou em seus romances do amor e dos conflitos
Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos, familiares.
As preces te rodeiam;
3. Assinale a alternativa incorreta sobre o autor Alexan-
Amo-te quando em préstito festivo
 VOLUME 2

dre Herculano.
As multidões te hasteiam;
Amo-te erguida no cruzeiro antigo, a) Assim como Almeida Garrett, engajou-se na luta
No adro do presbitério, pelo liberalismo em Portugal.
Ou quando o morto, impressa no ataúde, b) Pertenceu à primeira geração do Romantismo por-
Guias ao cemitério; tuguês.

90  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


c) Suas peças mais célebres são “Um auto de Gil Vi- Serena-te, pois. Esta carta que mal pode fazer-te, Afon-
cente” e “Frei Luís de Sousa”. so? Não me respondas; mas lê. À mulher perdida relan-
d) Tratou também de momentos da história diferentes ceou o Cristo um olhar de comiseração e ouviu-a. E eu,
do que viveu, como no romance “Eurico, o presbítero”. se visse passar o Cristo, rodeado de infelizes, havia de
e) Por conta da influência dos autores Walter Scott e ajoelhar e dizer-lhe: Senhor! Senhor! É uma desgraça-
Victor Hugo, abandona o romance histórico e passa a da que vos ajoelha e não uma perdida. Infâmias, uma
se dedicar à poesia. só não tenho que a justiça da terra me condene. Estou
acorrentada a um dever imoral, tenho querido espada-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO çá-lo, mas estou pura. Dever imoral... por que, não, Se-
nhor! Vós vistes que eu era inocente; minha mãe e meu
AMOR DE SALVAÇÃO pai estavam convosco.”
Escutava o filho de Eulália o discurso de D. José, lar- (Camilo Castelo Branco. Amor de salvação.
São Paulo: Martin Claret. 2003, pp. 94-95)
deado de facécias, e, por vezes, atendível por umas ra-
zões que se lhe cravavam fundas no espírito. As réplicas 4. (FGV) Certas características da visão que o Romantis-
saíam-lhe frouxas e mesmo timoratas. Já ele se temia mo tem da mulher estão presentes na carta enviada por
de responder coisa de fazer rir o amigo. Violentava sua Teodora a Afonso de Teive. Assinale a alternativa que
condição para o igualar na licença da ideia, e, por vezes, confirma essa afirmação.
no desbragado da frase. Sentia-se por dentro reabrir em a) Objetividade e fragilidade.
nova primavera de alegrias para muitos amores, que b) Sentimentalismo e religiosidade.
se haviam de destruir uns aos outros, a bem do cora- c) Depressão e agressividade.
d) Espontaneidade e altivez.
ção desprendido salutarmente de todos. A sua casa de
e) Senso de humor e rebeldia.
Buenos Aires aborreceu-a por afastada do mundo, boa
tão-somente para tolos infelizes que fiam do anjo da 5. (FGV – adaptada) Escreveu poesia, prosa de ficção,
soledade o despenarem-se, chorando. Mudou residên- historiografia e ensaios. Sua historiografia, profunda-
cia para o centro de Lisboa, entre os salões e os teatros, mente revolucionária, tem suas origens no Romantismo
entre o rebuliço dos botequins e concurso dos passeios. de Victor Hugo e Walter Scott. Foi, porém, na prosa de
Entrou em tudo. As primeiras impressões enjoaram-no; ficção que __________ mais contribuiu para a literatura
mas, à beira dele, estava D. José de Noronha, rodeado portuguesa do séc. XIX. No “Monasticon”, que compre-
dos próceres da bizarriz (sic), todos porfiados em tos- ende dois romances históricos, _________ e _________,
quiarem um dromedário provinciano, que se escondera consegue reunir seus dotes de historiador e ficcionista
em Buenos Aires a delir em prantos uma paixão calosa, quando põe em conflito a paixão amorosa e a vida reli-
trazida lá das serranias minhotas. Ora, Afonso de Teive giosa. O autor e as obras referidos estão na alternativa:
antes queria renegar da virtude, que já muito a medo a) Alexandre Herculano - Cartas de Eco a Narciso - A
lhe segredava os seus antigos ditames, que expor-se Noite no Castelo.
à irrisão de pessoas daquele quilate. É verdade que às b) Camilo Castelo Branco - O santo da montanha -
vezes duas imagens lagrimosas se lhe antepunham: a Amor de perdição.
mãe, e Mafalda. Afonso desconstrangia-se das visões c) Júlio Dinis - Os fidalgos da casa mourisca - As pu-
importunas, e a si se acusava de pueril visionário, não pilas do sr. reitor.
emancipado ainda das crendices do poeta inesperto da d) Almeida Garrett - O arco de Santana - Um auto de
prosa necessária à vida. Gil Vicente.
Escrever, porém, a Teodora, não vingaram as sugestões e) Alexandre Herculano - Eurico, o presbítero - O
monge de Cister.
de D. José. Porventura, outras mulheres superiormente
belas, e agradecidas às suas contemplações, o traziam 6. (Mackenzie) “A tragédia _____, de _____, é conside-
preocupado e algum tanto esquecido da morgada da rada pelos críticos uma das obras-primas do Roman-
Fervença. Mas, um dia, Afonso, numa roda de mancebos tismo português.
a quem dava de almoçar, recebeu esta carta de Teodora: O drama inspira-se num episódio matrimonial, vivido
“Compadeceu-se o Senhor. Passou o furacão. Tenho a no final do século XVI por Madalena de Vilhena, viúva
cabeça fria da beira da sepultura, de onde me ergui. de D. João de Portugal - desaparecido com D. Sebastião,
Aqui estou em pé diante do mundo. Sinto o peso do co- na batalha de Alcácer-Quibir -, e por D. Manuel de Sou-
ração morto no seio; mas vivo eu, Afonso. Meus lábios sa Coutinho. Os dois se casam e têm uma filha, Maria.
já não amaldiçoam, minhas mãos estão postas, meus Passam-se os anos. Eis que, um dia, D. João de Portugal
olhos não choram. O meu cadáver ergueu-se na imobili- regressa, disfarçado de romeiro.”
dade da estátua do sepulcro. Agora não me temas, não
me fujas. Para aí onde estás, que as tuas alegrias devem Assinale a alternativa que preenche corretamente as
ser muito falsas, se a voz duma pobre mulher pode per- lacunas acima.
 VOLUME 2

turbá-las. Olha... se eu hoje te visse, qual foste, ao pé a) Eurico, o presbítero - Alexandre Herculano
de mim, anjo da minha infância, abraçava-te. Se me dis- b) As Pupilas do senhor reitor - Júlio Dinis
sesses que a tua inocência se baqueara à voragem das c) Frei Luís de Sousa - Almeida Garrett
paixões, repelia-te. Eu amo a criança de há cinco anos, e d) Amor de perdição - Camilo Castelo Branco
detesto o homem de hoje. e) Viagens na minha terra – Almeida Garret

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  91


7. Assinale a alternativa incorreta acerca do romance Esse fragmento faz parte da seguinte obra do Roman-
“Viagens na minha terra”. tismo português:
a) É composto por relatos de viagem, digressões e a) Viagens na minha terra, de Almeida Garrett.
narrações.
b) Eurico, o presbítero, de Alexandre Herculano.
b) Na novela “Menina dos rouxinóis”, o contexto his-
tórico refere-se à luta entre pedristas e miguelistas c) Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco.
em Portugal. d) Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.
c) Ao final do romance, o narrador sente-se satisfeito e) A queda dum anjo, de Camilo Castelo Branco.
com os rumos que Portugal tomara
d) O tempo no romance é não linear. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES
e) Há diversas “viagens” metaforizadas no livro.
Amava Simão uma sua vizinha, menina de quinze anos,
8. A partir da leitura de “Viagens na minha terra” de Al- rica herdeira, regularmente bonita e bem-nascida. Da
meida Garrett, assinale qual alternativa apresenta cor- janela do seu quarto é que ele a vira a primeira vez,
retamente o apelido dado à protagonista da história, para amá-la sempre. Não ficara ela incólume da feri-
narrado dentro do romance. da que fizera no coração do vizinho: amou-o também,
a) Menina dos ventos e com mais seriedade que a usual nos seus anos. Os
b) Garota prodígio poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor da
c) Joana de Deus mulher aos quinze anos, como paixão perigosa, única
d) Menina dos rouxinóis e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o
e) Nhinhinha mesmo. Enganam-se ambos. O amor dos quinze anos
é uma brincadeira; é a última manifestação do amor
9. Determine o fato que marca o contexto inicial do Ro- às bonecas; é a tentativa da avezinha que ensaia o voo
mantismo em Portugal e influencia seus primeiros escri- fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe,
tores em sua fase nacionalista. que a está da fronde próxima chamando; tanto sabe a
a) Publicação do livro Mensagem de Fernando Pessoa. primeira o que é amar muito, como a segunda o que é
b) A batalha de Alcácer Quibir. voar para longe. Teresa de Albuquerque devia ser, por-
c) A união da península Ibérica. ventura, uma exceção no seu amor.
d) A vinda da família real portuguesa para o Brasil. (Camilo Castelo Branco , In: “Amor de perdição “)
e) A batalha de Aljubarrota.
2. De acordo com o texto:
10. Em 2004, Ronald Golias e Hebe Camargo protago- a) o amor de Simão e Teresa é visto pelo narrador
nizaram na TV uma versão humorística da obra Romeu como uma brincadeira de criança.
e Julieta, de William Shakespeare. Na história do poeta b) o amor de Simão e Teresa, caracterizado como “amor à
e dramaturgo inglês,“Romeu e Julieta” são dois jovens primeira vista”, foi intenso no início, mas não durou muito.
apaixonados, cujo amor é impedido de concretizar-se
c) Teresa, aos quinze anos, amava como uma avezi-
pelo fato de pertencerem a famílias inimigas. Impossi-
nha que ensaia o voo fora do ninho.
bilitados de viver o amor, morrem ambos.
d) o caso de amor entre Simão e Teresa quebrou as expec-
Na literatura romântica, as personagens que vivem his- tativas do narrador com relação a namoros de juventude.
tória semelhante à das personagens de Shakespeare são e) o amor de Simão e Teresa é prova de que os poetas
a) Joaninha e Carlos, em Viagens na Minha Terra, de e prosadores estão enganados com relação aos rela-
Almeida Garrett. cionamentos juvenis.
b) Iracema e Martim, em Iracema, de José de Alencar.
c) Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, em Amor 3. Assinale a alternativa correta.
de perdição, de Camilo castelo branco. a) A divergência do narrador com relação à concep-
d) Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça, em Memó- ção de amor veiculada pela ficção é prova de que o
rias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio texto pertence ao Realismo.
de Almeida. b) No contexto, a crítica a poetas e prosadores fun-
e) Eurico e Hermengarda, em Eurico, o Presbítero, de ciona como estratégia para o narrador obter credibi-
Alexandre Herculano. lidade dos leitores.
c) A temática do amor não correspondido, implícita
E.O. Complementar no texto, revela-nos um ponto de vista narrativo com-
prometido com a fidelidade aos fatos da realidade.
1. Viram-na, num momento bracejar, não para resistir à d) O estilo romântico do texto é comprovado pela lin-
morte, mas para abraçar-se ao cadáver de Simão, que guagem rebuscada com que o narrador comenta a
 VOLUME 2

uma onda lhe atirou aos braços. O comandante olhou fragilidade do amor entre Simão e Teresa.
para o sítio donde Mariana se atirara, e viu, enleado no e) O aproveitamento de temática amorosa nos mol-
cordame, o avental, e à flor da água, um rolo de papéis des de Romeu e Julieta, de Shakespeare, atesta o es-
que os marujos recolheram na lancha. Eram, como sa- tilo clássico de Camilo Castelo Branco.
bem, a correspondência de Teresa e Simão.

92  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


4. Assinale a alternativa correta. a) O trecho destacado evidencia duas das principais crí-
a) A analogia presente no segundo parágrafo corres- ticas encontradas no livro. Quais críticas seriam essas?
ponde a um argumento do narrador para provar a b) No que diz respeito às marcas semânticas desse
afirmação “Enganam-se ambos”. trecho, é possível perceber que ele é conduzido com
b) A analogia presente no segundo parágrafo contra- uma determinada estratégia em seu começo, e tem
diz a afirmação “Enganam-se ambos”. seu “tom” alterado próximo do final. Descreva sucin-
c) A analogia presente no segundo parágrafo retoma tamente no que consistem esses dois momentos.
e confirma a afirmação feita por poetas e prosadores.
2. Considere os textos:
d) O último período do texto exemplifica a analogia usa-
da pelo narrador no segundo parágrafo. TEXTO I
e) O último período contesta, ironicamente, a afirma-
ção feita pelo narrador no primeiro parágrafo. Meu ser evaporei na lida insana
do tropel de paixões que me arrastava.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
O romance tem de firmar sua duração em alguma espé- em mim quase imortal a essência humana.
cie de utilidade, tal como o estudo da alma, ou a pureza
do dizer. Eu dou mais pelo segundo merecimento; que a De que inúmeros sóis a mente ufana
alma está sobejamente estudada e desvelada nas lite- existência falaz me não dourava!
raturas clássicas. Mas eis sucumbe Natureza escrava
(Camilo Castelo Branco) ao mal, que a vida em sua origem dana.
5. Assinale a(s) opção(ões) verdadeira(s) de acordo com Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
o texto. Esta alma, que sedenta e si não coube,
01) O romance deve ser útil, estudando a alma com no abismo vos sumiu dos desenganos.
linguagem castiça.
Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube
02) A alma foi estudada pelos clássicos, motivo por
ganhe um momento o que perderam anos
que eles perduram.
saiba morrer o que viver não soube.
04) A utilidade do romance está na duração com que
estuda a alma. (Manuel Maria Du Bocage, in “Poemas”)
08) Romance duradouro é o que estuda a alma em lin-
guagem purista, como ocorre nas literaturas clássicas. TEXTO II
16) O romance deve sobreviver antes pela linguagem
Desesperança
castiça que por aspectos psicológicos, que destes há
o suficiente nos clássicos.
Meia-noite bateu, volvendo ao nada
32) A expressão “firmar sua duração” equivale a “ga-
Um dia mais, e caminhando eu sigo!
rantir sua perdurabilidade”.
Vejo-te bem, ó campa misteriosa...

E.O. Dissertativo
Eu vou, eu vou! Breve serei contigo!
Qual tufão, que ao passar agita o pego,
1. Leia o trecho de Coração, cabeça e estômago, e res- Meu plácido existir turvou a sorte:
ponda ao que se pede. Hálito impuro de pulmões ralados
Me diz que neles se assentou a morte:
Era a terceira uma dama quarentona, que frequentava a
casa em que eu me hospedara. Tinha ela um mano, mui- (...)
to mal-encarado e vestido marcialmente, como capitão
da carta, que era. A Sra. D. Catarina bailava gentilmente, Porque escutar o trânsito das horas?
conversava com todos os pespontos de tagarela muito Alguma delas trar-me-á conforto?
lida em Eugenio Sue e conhecia todos os atalhos que Não! Esses golpes, que no bronze ferem,
conduzem à posse dum coração noviço. Declarou-se co- São pura mim como dobrar por morto.
migo e eu, urbanamente, acudi ao seu pejo, confessan- «Morto!, morto!» me clama a consciência:
do que já me tinha primeiro confessado com a eloqu- Diz-mo este respirar rouco e profundo.
ência do silêncio. Trocamos algumas cartas, e numa das Ai!, porque fremes, coração de fogo,
suas me disse ela que era proprietária de bens de raiz, Dentro de um seio corrompido e imundo?
que valiam seis contos de réis, e tinha, afora isso, uns
(Alexandre Herculano, In: “A harpa do crente”)
dez burrinhos em Cacilhas, que anualmente lhe rendiam
cento e cinquenta mil réis. Cuidou que me seduzia com Cite os movimentos literários aos quais cada autor
 VOLUME 2

o suplemento dos burrinhos! Respeito muito os burros, pertence e justifique, a partir de ao menos um ele-
mas tanto não! Não respondi a este artigo. Falei-lhe do mento presente nos poemas acima, a manutenção de
meu coração, assunto sublime de mais para ser cons- algumas características de Bocage na poesia de Ale-
purcado no cadastro dos lucros provenientes do dote xandre Herculano.
quadrúpede de D. Catarina.
(Camilo Castelo Branco)

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  93


3. Leia a introdução de Coração, cabeça e estômago, e 6. Leia o poema abaixo.
responda ao que se pede: A ti! ai, a ti só os meus sentidos
Advertência do Autor à 2ª. Edição Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Folheando novamente os manuscritos de Silvestre da Em ti, por ti deliram.
Silva, encontrei algumas páginas que merecem ser in- Em ti a minha sorte,
tercaladas nesta 2ª. Edição de suas memórias. A simpa- A minha vida em ti;
tia que o meu defunto amigo granjeou postumamente E quando venha a morte,
na república das letras e das tetras impõe-me o dever Será morrer por ti.
de empurrar portas dentro da imortalidade tudo que (Almeida Garrett, In: “Folhas caídas”)
lhe diz respeito. O meu amigo Antônio Augusto Teixei-
Tendo em vista o movimento literário do qual Almeida
ra de Vasconcelos achou que Silvestre algumas vezes
Garret faz parte, aponte quais são os elementos do poema
abusava do vocabulário dos eufemismos. Também me
característicos desse momento da literatura portuguesa.
parece que sim. Mas já agora deixemos o defunto com
a sua responsabilidade e tenhamos esperanças de que 7. Tanto em Coração, cabeça e estômago, de Camilo
ele se salvará primeiro que o autor da Fany, livro queri- Castelo Branco, quanto em Memórias póstumas de
do das famílias! Brás Cubas, de Machado de Assis temos uma narrativa
A introdução de Coração, cabeça e estômago estabele- conduzida por narradores já falecidos, que intentam
fazer uma revisão crítica de suas vidas. Tendo em vista
ce algumas relações com o livro Memórias póstumas de
esse movimento, responda:
Brás Cubas, de Machado de Assis, especialmente por ser
evidenciado o fato de que a narrativa será conduzida a) No que diz respeito ao modo como se encerram
por um “defunto-autor”. Tendo em vista seus conheci- os dois romances, é possível dizer que os narradores
mentos a respeito de Coração, cabeça e estômago, é acabam a história evidenciando pontos de vista pare-
cidos? Responda sucintamente.
possível afirmar que o defunto Silvestre da Silva conduz
a narrativa por conta própria, assim como Brás Cubas? b) Os dois romances apresentam intenções narrativas
de “confissão” por parte de seus narradores. O fato
Justifique sucintamente
de ambos estarem mortos quando a história vem à
4. O trecho abaixo pertence ao romance As pupilas do tona gera algum tipo de implicação nessa confissão?
senhor reitor de Julio Dinis. Trata-se do momento em Responda sucintamente.
que o José das Dornas, pai dos personagens Pedro e Da- 8. O que tu sofrias, nobre coração de mulher pura! Se o
niel, revela ao padre do vilarejo os motivos pelos quais que fazes por esse moço é gratidão ao homem que sal-
não gostaria que Daniel, o filho mais novo, mudasse de vou a vida de teu pai, que rara virtude a tua! Se o amas,
cidade para estudar medicina. se por lhe dar alívio às dores tu mesma lhe desempedes
— Não é isso, Sr. padre Antônio, não é isso o que eu o caminho por onde te ele há de fugir para sempre, que
quero dizer; mas não gostaria de dar aos meus filhos nome darei ao teu heroísmo! Que anjo te fadou o cora-
uma educação desigual. Vê vossa senhoria? São irmãos ção para a santidade desse obscuro martírio?
e, mais tarde, o que tomar melhor carreira e se elevar (Camilo Castelo Branco, In: “Amor de perdição”).
pelo estudo há de desprezar o que seguir a vida do pai,
O romance Amor de perdição, de Camilo Castelo Bran-
a ponto de que os filhos de um e de outro quase nem se
co, é considerado um dos principais livros represen-
conhecerão: é o que mais vezes se vê. Não é uma injus- tantes do Romantismo português. No excerto acima, o
tiça que faço a Pedro a educação que quer dar a Daniel? narrador se mostra comovido com o sentimento de Ma-
Julio Dinis, in: “As pupilas do senhor reitor” riana, já que a jovem garota apaixonada perdidamente
Ao tratar das obras do Romantismo português, o teó- pelo protagonista Simão nunca sequer foi correspondi-
rico Massaud Moisés afirma: “Júlio Dinis tem um pé na da. Analise o trecho e identifique quais características
canoa romântica e outra na realista”. Diante dessa afir- permitem classificar a obra como pertencente ao movi-
mação, explique de que modo o trecho acima se aproxi- mento literário romântico.
ma mais do movimento realista.
5. O enredo de Coração, cabeça e estômago, de Camilo E.O. Objetivas
Castelo Branco, apresenta uma autobiografia narrada
pela personagem Silvestre da Silva, na qual ele narra (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
sua vida pregressa a partir do que ele mesmo chama de
perspectiva do “estômago”. O objetivo dessa narrativa 1. (Unifesp – adaptado)
seria o de evidenciar e criticar as suas perspectivas de SEUS OLHOS
vida anteriores (perspectiva do “coração” e da “cabe-
ça”). Tendo em vista esse movimento do enredo e seus Seus olhos - que eu sei pintar
 VOLUME 2

conhecimentos sobre a obra, responda: O que os meus olhos cegou –


Não tinham luz de brilhar,
a) No que consistiriam as perspectivas do “coração” Era chama de queimar;
e da “cabeça”? E o fogo que a ateou
b) No que consistiria a perspectiva do “estômago”, Vivaz, eterno, divino,
de onde Silvestre da Silva conta sua história? Como facho do Destino.

94  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Divino, eterno! - e suave Como você pode notar, o autor faz referência a duas es-
Ao mesmo tempo: mas grave colas literárias para explicar como AMOR DE PERDIÇÃO
E de tão fatal poder, produziria no público leitor, por ocasião de sua reim-
Que, um só momento que a vi, pressão, uma reação completamente diferente daquela
Queimar toda a alma senti... produzida ao ser publicado pela primeira vez. A partir
Nem ficou mais de meu ser, dessa informação, descreva por que razão a leitura feita
Senão a cinza em que ardi. sobre a obra teria mudado significativamente.
(Almeida Garrett, in ‘Folhas caídas’)
2. (Unicamp) “(...) Eram boas cinco horas da tarde quan-
Da leitura do poema, depreende-se que se trata de do desembarcamos no Terreiro do Paço.
obra do Assim terminou a minha viagem a Santarém; e assim
a) Barroco, no qual se identifica o escapismo psicológico. termina este livro.
b) Arcadismo, no qual se identifica a contenção do sen- Tenho visto alguma coisa do mundo, e apontado algu-
timento. ma coisa do que vi. De todas quantas viagens porém fiz,
c) Romantismo, no qual se identifica a idealização da as que mais me interessaram sempre foram as viagens
mulher. na minha terra.
d) Romantismo, no qual se identifica apenas o amor Se assim pensares, leitor benévolo, quem sabe? pode
à religião. ser que eu tome outra vez o bordão de romeiro, e vá
e) Romantismo, no qual se identifica a busca pelo equi- peregrinando por esse Portugal fora, em busca de his-
tórias para te contar.
líbrio.
Nos caminhos de ferro dos barões é que eu juro não andar.
2. (Unicamp) Sabe-se que Coração, cabeça e estômago é Escusada é a jura, porém.
uma obra atípica na produção ficcional de Camilo Caste-
Se as estradas fossem de papel, fá-las-iam, não digo que não.
lo Branco. Em relação a essa obra, assinale a alternativa
em que todas as características listadas são corretas. Mas de metal!
a) Inclusão da edição do livro como parte do jogo nar- Que tenha o governo juízo, que as faça de pedra, que
rativo; sátira da poesia e das motivações espirituais; pode, e viajaremos com muito prazer e com muita utili-
caracterização do herói como alguém incapaz de amar. dade e proveito na nossa boa terra.”
b) Paródia da vida romântica e natural; espirituali- (Almeida Garrett, Viagens na minha terra. Cotia,
zação das necessidades do corpo; transformação do SP: Ateliê Editorial, 2012, p. 316.)
herói ao longo da narrativa. a) Considerando a crítica ao contexto histórico e po-
c) Descrição da formação do indivíduo; caricatura dos lítico de Portugal, o que significam as referências às
valores e sentimentos românticos; impossibilidade de possíveis estradas de papel, de metal e de pedra?
adaptação do herói à vida social. b) Utilizando elementos do enredo, identifique e des-
d) Caricatura das questões relacionadas ao espírito e creva o personagem do romance que centraliza a críti-
à posição social; elogio irônico das motivações fisio- ca à hipocrisia ideológica e política de Portugal, expres-
lógicas; ridicularização do herói. sa no excerto acima de maneira irônica.

E.O. Dissertativas
3. (Unesp) “Sim, leitor benévolo, e por esta ocasião te
vou explicar como nós hoje em dia fazemos a nossa lite-

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


ratura. Já me não importa guardar segredo; depois des-
ta desgraça, não me importa já nada. Saberás, pois, ó
leitor, como nós outros fazemos o que te fazemos ler”.
1. (Unicamp – adaptado) No prefácio da quinta edição
portuguesa do romance AMOR DE PERDIÇÃO, Camilo Trata-se de um romance, de um drama. Cuidas que va-
Castelo Branco afirmava ironicamente: mos estudar a História, a natureza, os monumentos, as
pinturas, os sepulcros, os edifícios, as memórias da épo-
“Eu não cessarei de dizer mal desta novela que tem a ca? Não seja pateta, senhor leitor, nem cuide que nós o
boçal inocência de não devassar alcovas, a fim de que somos. Desenhar caracteres e situações do vivo da na-
as senhoras a possam ler nas salas, em presença de suas tureza − colori-los das cores verdadeiras da História…
filhas ou de suas mães, e não precisem de esconder-se Isso é trabalho difícil − longo − delicado; exige um estu-
com o livro no seu quarto de banho. Dizem, porém, que do, um talento, e sobretudo um tacto!… Não, senhor, a
o Amor de perdição fez chorar. Mau foi isso. Mas agora, coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico.
como indenização, faz rir: tornou-se cômico pela serie- − Todo o drama e todo o romance precisa de: Uma ou
dade antiga (...). E por isso mesmo se reimprime. O bom
duas damas, Um pai, Dois ou três filhos de dezanove a
 VOLUME 2

senso público relê isto, compara com aquilo, e vinga-se


trinta anos, Um criado velho, Um monstro, encarregado
barrufando(*) com frouxos de riso realista as páginas
que há dez anos aljofarava(**) com lágrimas românticas. de fazer as maldades, Vários tratantes, e algumas pes-
soas capazes para intermédios.
(*) barrufando: variante de borrifando.
Ora bem; vai-se aos figurinos franceses de Dumas, de
(**) aljofarava: orvalhava.
Eugénio Sue, de Vítor Hugo, e recorta a gente, de cada

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  95


um deles, as figuras que precisa, gruda-as sobre uma fo- 2. Bocage é o principal autor do Arcadismo português, e
lha de papel da cor da moda, verde, pardo, azul – como Alexandre Herculano é um dos principais autores do Ro-
fazem as raparigas inglesas aos seus álbuns e scrap- mantismo em Portugal. O poema de Bocage é considerado
-books; forma com elas os grupos e situações que lhe pré-romântico, uma vez que trata, sobretudo, da presen-
parece; não importa que sejam mais ou menos dispara- ça da morte como um alívio para a vida, como em “Deus, ó
tados. Depois vai-se às crônicas, tiram-se uns poucos de Deus!... Quando a morte à luz me roube/ganhe um momento
nomes e palavrões velhos; com os nomes crismam-se o que perderam anos/ saiba morrer o que viver não soube.”.
os figurões; com os palavrões iluminam-se… (estilo de Essa característica é resgatada na poesia de Alexandre Hercula-
pintor pinta-monos). – E aqui está como nós fazemos a no, pois o eu lírico de seu poema revela também a vontade de
nossa literatura original. “ encontrar na morte uma solução para os males da vida, como
em “Vejo-te bem, ó campa misteriosa / Eu vou, eu vou! Breve
(Capítulo. V – fragmento) in Garrett, Almeida.
“Obra Completa – I”, Porto, Lello & Irmão, 1963, pp. 27-28. serei contigo!”.
3. Não. Silvestre da Silva não conduz a narrativa inteiramente.
Almeida Garrett (1799-1854), que pertenceu à primei- Embora a construção do romance nos faça perceber que as his-
ra fase do Romantismo português, é poeta, prosador e tórias ali contadas funcionam como uma confissão pós-morte
dramaturgo dos mais importantes da Literatura Portu- (assim como Brás Cubas), muitos elementos da narrativa são
guesa. Em Viagens na minha terra (1846), mistura, em completados pelo editor do livro. Inclusive, quem conclui a nar-
prosa rica, variada e espirituosa, o relato jornalístico, rativa não é Silvestre, e sim o editor.
a literatura de viagens, as divagações sobre temas da
4. No trecho acima, é possível observar que o José das Dornas
época e os comentários críticos, muitas vezes mordazes,
está preocupado com as diferenças sociais que se estabelece-
sobre a literatura em voga, no período. Releia o texto riam entre os filhos, caso Daniel se tornasse médico. Para ele,
que lhe apresentamos e, a seguir, responda: essa desigualdade poderia arruinar a convivência familiar. Tal
a) A que gêneros literários se refere Almeida Garrett? característica comprova a afirmação de Massaud Moisés, uma
b) Quais os principais defeitos, segundo Garrett, dos vez que o personagem tece uma crítica ao homem citadino de
escritores que elaboravam obras de tais gêneros? seu tempo, fugindo, desse modo, das lamentações melancóli-
cas e sentimentais do movimento romântico, e aproximando-se
da condições materiais do Realismo.
Gabarito 5.
a) A perspectiva do coração marcaria o momento de
E.O. Aprendizagem vida de Silvestre da Silva em que todas as suas atitu-
des eram pautadas pela emoção excessiva, haja vista
1. D 2. B 3. B 4. C 5. B a quantidade de paixões problemáticas que vemos
apresentadas na obra. Já a perspectiva da cabeça seria
6. B 7. A 8. A
aquela em que as atitudes da personagem principal
eram tomadas de excessiva racionalidade, o que tam-
E.O. Fixação bém lhe causou grandes problemas com a sociedade e
1. D 2. D 3. E 4. B 5. E a imprensa portuguesa.
b) A perspectiva do estômago apresentaria um Silves-
6. C 7. C 8. D 9. D 10. C tre da Silva mais maduro, mais sábio e mais experiente.
Suas atitudes agora seriam pautadas por uma “fun-
E.O. Complementar cionalidade” (tal qual um estômago) que conduziria
o narrador a constantes estados agradáveis (sendo,
1. C 2. D 3. B 4. A inclusive, capaz de refletir e criticar os excessos de sua
5. 02 + 16 + 32 = 50 vida pregressa).
6. São elementos próprios do Romantismo: a ênfase no senti-
E.O. Dissertativo mento amoroso e o sofrimento decorrente desse amor, como
em “A ti! ai, a ti só os meus sentidos / Todos num confundidos
1. / Sentem, ouvem, respiram / Em ti, por ti deliram.” e também
a) Percebe-se que há nesse trecho uma forte crítica de a presença da morte, como em “quando venha a morte, / Será
costumes. Evidencia-se a ganância por bens materiais morrer por ti”.
e também a futilidade das mulheres que, à época,
liam em excesso romancistas considerados ruins por 7.
escreverem histórias excessivamente sentimentalistas a) Não, Brás Cubas apresenta ao final da narrativa cer-
(Eugenio Sue). ta “frustração” com sua vida torpe e cínica (embora
considere que há o “saldo” de não ter deixado filhos).
 VOLUME 2

b) No trecho apresentado, temos no começo um tom


mais descritivo/expositivo, no qual o narrador apre- Silvestre Silva encerra sua vida em certa “redenção”
senta características da terceira mulher pela qual se e tranquilidade, pois encontra na vida campestre um
apaixonou. Perto do fim do trecho, temos um “tom” lar, uma esposa e uma vida mais simples (embora isso
mais irônico/sarcástico, no qual o narrador critica os tenha gerado um desinteresse literário no narrador).
interesses escusos da amada.

96  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


b) O fato de os narradores estarem mortos implica
que eles não têm nada a perder em seus processos de
confissão. Toda e qualquer verdade será apresentada,
por mais torpe que seja. Afinal, por estarem mortos,
os narradores não possuem mais compromissos com
a sociedade.
8. O trecho é característico da segunda geração do Roman-
tismo português, pois nele observa-se a presença do exagero
sentimental de um amor idealizado, como em “Se o amas, se
por lhe dar alívio às dores tu mesma lhe desempeces o cami-
nho por onde te ele há de fugir para sempre”, e também a
construção da mulher casta e idealizada, como em “de mulher
pura” e “Que anjo te fadou o coração para a santidade desse
obscuro martírio”.

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. C 2. D

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. A leitura teria mudado significativamente pois, provavelmen-
te, a quinta edição do romance de Camilo já estaria sendo pu-
blicada no momento em que os romances realistas começavam
a ganhar destaque. A partir dessa transformação na preferência
estética da maioria, os livros ultrarromânticos passavam a ser
vistos como cômicos e caricatos.
2.
a) Em Viagens na minha terra, Almeida Garrett cons-
tata a degradação em que se depara Portugal e tece
duras críticas a amplos setores sociais e políticos da
época ao longo de todo o texto. Assim, a metáfora das
estradas de papel ilustra a opção do autor de produzir
um texto que concretizasse a sua preocupação didáti-
ca, enquanto militante político em prol do liberalismo,
de informar e explicar ao povo, sobretudo aquele me-
nos letrado, os acontecimentos de seu tempo. As de
metal simbolizam a industrialização falhada e as de
pedra, o passado histórico de onde é possível efetu-
ar-se, através da lembrança de momentos gloriosos da
história de Portugal, o resgate dos valores que viessem
a conformar a identidade nacional.
b) Carlos, o rebelde que lutou pela causa liberal, não
conseguiu conviver com o universo feminino e acabou
por referendar a ideologia que contestava ao tornar-se
barão, o sucedâneo dos frades. Personagem instável,
dividia-se entre o chamamento do amor e a fidelidade
à causa social. Por um lado, o percurso de desencan-
tos amorosos com Júlia, Laura, Georgina, Soledade e
Joaninha e, por outro, a atração pela causa social que
se resolve na vitória do liberalismo provocam a degra-
dação moral do personagem que, contaminado pelos
 VOLUME 2

males sociais, cede ao materialismo.


3.
a) Dramático - teatro e épico - romance.
b) Imitação, pelos escritores portugueses, aos escritores
franceses. Artificialismo na criação literária.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  97


LC ESTÉTICA ROMÂNTICA:
PROSA BRASILEIRA
AULAS
15 E 16 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
5 15,16 e 17

E.O. Aprendizagem Quando a manhã se levanta


Toda banhada de sol!
1. Leia o trecho de Noite na taverna, de Álvares de [...]
Azevedo. Sou assim, por vício inato.
– Quem eu sou? na verdade fora difícil dizê-lo: corri Ainda hoje gosto de Diva,
muito mundo, a cada instante mudando de nome e de Nem não posso renegar
vida. Fui poeta e como poeta cantei. Fui soldado e ba- Peri, tão pouco índio, é fato,
nhei minha fronte juvenil nos últimos raios de sol da Mas tão brasileiro... Viva,
águia de Waterloo. Apertei ao fogo da batalha a mão Viva José de Alencar!
do homem do século. Bebi numa taverna com Bocage
Manuel Bandeira, Sextilhas românticas.
– o português, ajoelhei-me na Itália sobre o túmulo de
Dante e fui à Grécia para sonhar como Byron naquele 2. Os versos que fazem referência a Peri, protagonista
túmulo das glórias do passado. da obra O guarani, de José de Alencar:
– Quem eu sou? Fui um poeta aos vinte anos, um liberti-
a) exaltam a percepção idealizada presente na litera-
no aos trinta, sou um vagabundo sem pátria e sem cren-
ças aos quarenta. Sentei-me à sombra de todos os sóis, tura indianista brasileira.
beijei lábios de mulheres de todos os países; e de todo b) valorizam, criticamente, a consagração do herói
esse peregrinar, só trouxe duas lembranças – um amor nacional, símbolo de uma tradição literária.
de mulher que morreu nos meus braços na primeira noi- c) denunciam, sarcasticamente, o realismo na descri-
te de embriaguez e de febre – e uma agonia de poeta... ção de mitos nacionais.
Dela tenho uma rosa murcha e a fita que prendia seus d) enaltecem a verossimilhança que norteou a criação
cabelos. Dele olhai... de personagens indígenas.
O velho tirou de um bolso um embrulho: era um len- e) condenam os ideais nacionalistas que imprimiram
ço vermelho o invólucro; desataram-no: dentro estava autenticidade à literatura brasileira.
uma caveira.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
O trecho selecionado recupera a fala de um velho que
interrompe a história, contada pelo jovem Bertram, um O texto a seguir foi retirado do último capítulo do ro-
dos rapazes presentes na taverna. As palavras dessa mance Lucíola, de José de Alencar. Nele, o romancista
personagem expressam, nas entrelinhas, narra os momentos finais vividos pela heroína, ao lado
de Paulo, o seu amado.
a) a confissão do arrependimento pela vida errante
do passado e o desejo de um cotidiano mais regrado. De joelhos à cabeceira eu suplicava-lhe que bebesse o
b) a descrição de cada um dos lugares por onde pas- remédio que a devia salvar.
sou e viveu.
(...)
c) a indignação frente à miséria e às injustiças presen-
ciadas em todos os lugares visitados. O dia se passou na cruel agonia que só compreendem
d) a dificuldade de mostrar-se diante da plateia que aqueles que ajoelhados à borda de um leito viram finar-
escutava a narrativa de Bertram, o segundo, naquela -se gradualmente uma vida querida.
noite, a relatar sua trágica história. Quebrado de fadiga e vencido por uma vigília de tantas
e) o sofrimento de um amante e poeta que, durante noites, tinha insensivelmente adormecido, sentado como
toda a sua peregrinação, não conseguiu realizar-se estava à beira da cama, com os lábios sobre a mão gela-
como Homem. da de Lúcia e a testa apoiada no encosto do leito. O sono
foi curto, povoado de sonhos horríveis; acordei sobres-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
 VOLUME 2

saltado e achei-me reclinado sobre o peito de Lúcia, que


Paisagens da minha terra, se sentara de encontro às almofadas para suster minha
Onde o rouxinol não canta cabeça ao colo, como faria uma terna mãe com seu filho.
– Mas que importa o rouxinol? Mesmo adormecido ela me sorria, me falava, e cobria-
Frio, nevoeiros da serra -me de beijos:

98  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


– Se soubesses que gozo supremo é para mim beijar-te 6. (UFU) Sobre Iracema, de José de Alencar, podemos
neste momento! Agora que o corpo está morto e a car- dizer que:
ne álgida, não sente nem a dor nem o prazer, é a minha 1) as cenas de amor carnal entre Iracema e Martim são
alma só que te beija, que se une à tua e se desprende de tal forma construídas que o leitor as percebe com
parcela por parcela para embeber em teu seio. vivacidade, porque tudo é narrado de forma explícita.
E seus lábios ávidos devoravam-me o rosto de carícias, 2) em Iracema temos o nascimento lendário do Ceará, a
bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos: história de amor entre Iracema e Martim e as manifes-
Se alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria esse tações de ódio das tribos tabajara e potiguara.
bálsamo celeste, meu amigo! 3) Moacir é o filho nascido da união de Iracema e Mar-
Eu soluçava como uma criança. tim. De maneira simbólica ele representa o homem bra-
sileiro, fruto do índio e do branco.
– Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um dia 4) a linguagem do romance Iracema é altamente poéti-
tua noiva! Oh! agora posso te confessar sem receio. Nesta ca, embora o texto esteja em prosa. Alencar consegue
hora não se mente. Eu te amei desde o momento em que te
belos efeitos linguísticos ao abusar de imagens sobre
vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos
imagens, comparações sobre comparações.
juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por instan-
tes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Assinale:
Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode a) se apenas 2 e 4 estiverem corretas.
ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade. b) se apenas 2 e 3 estiverem corretas.
A voz desfaleceu completamente, de extenuada que ela c) se 2, 3 e 4 estiverem corretas.
ficara por esse enérgico esforço. Eu chorava de bruços d) se 1, 3 e 4 estiverem corretas.
sobre o travesseiro, e as suas palavras suspiravam do-
cemente em minha alma, como as dulias dos anjos de- 7. (UFV) O gênero “romance” surgiu no Brasil durante
vem ressoar aos espíritos celestes. o Romantismo e moldou-se segundo os gostos e pre-
ferências da burguesia em ascensão. Com uma temáti-
ALENCAR, José de. Lucíola. Rio de Janeiro: Ática, 1992. p. 124-126.
ca diversificada, logo tornou-se o tipo de leitura mais
3. (UFR-RJ) Representada por personagens de uma obra acessível a essa nova classe social.
do estilo romântico, a cena retratada no texto deixa en- Dentre as afirmativas seguintes, assinale aquela que NÃO
trever a: corresponde às tendências do “romance romântico”.
a) necessidade do apego à vida para viver apenas o a) As obras românticas conhecidas como romance de
momento. “folhetins” caracterizaram-se pelo tom “água-com-
b) intensidade de um amor que transcende o plano -açúcar”, pela presença de elementos pitorescos e
físico. pela superficialidade de seus conflitos.
c) descrição da natureza associada aos personagens. b) O romance romântico identificado como “históri-
d) necessidade de não fugir à realidade para viver um co” retratou os fatos políticos brasileiros da época, e
grande amor. também as correntes materialistas daquela segunda
e) visão maniqueísta da vida, declarada pela heroína. metade do século XIX.
c) As narrativas ambientadas na cidade foram rotula-
4. (PUC-RS) O projeto nacionalista da literatura brasi- das como “romances urbanos”, sendo ainda conheci-
leira realiza-se, na prosa, pela ________ nação, princi- das como obras de “perfis de mulher”, por privilegiar
palmente na obra de ________, que se constituiu como as personagens femininas e seus pequenos conflitos
precursor da possibilidade de ________ da brasilidade. psicológicos.
a) idealização da – José de Alencar – expressão d) O romance “indianista” enfatizou nossa “cor local”
b) exaltação da – Aluísio Azevedo – fundação ao retratar as lendas, os costumes e a linguagem do ín-
dio brasileiro, acentuando ainda mais o cunho naciona-
c) crítica à – Monteiro Lobato – criação
lista do Romantismo.
d) referência à – Joaquim Manuel – tradução de Macedo
e) A narrativa romântica de caráter “regionalista” te-
e) sátira à – Lima Barreto – simulação matizou, de forma idealizada, a vida e os costumes do
“brasileiro” do interior.
5. (ITA) O romance Lucíola pertence à chamada fase
urbana da produção ficcional de José de Alencar. Nes- 8. (PUCSP) A questão central, proposta no roman-
te livro, ce “Senhora”, de José de Alencar é a do casamento.
a) o autor discute a desigualdade social no meio urbano. Considerando a obra como um todo, indique a alter-
b) o autor mostra a prostituição como um grave pro- nativa que NÃO condiz com o enredo do romance.
blema social urbano. a) O casamento é apresentado como uma transação
 VOLUME 2

c) não há uma típica narrativa romântica, pois o autor comercial e, por isso, o romance estrutura-se em qua-
fala de prostituição, que é um tema naturalista. tro partes: preço, quitação, posse, resgate.
d) não existe a presença do amor; há apenas promis- b) Aurélia Camargo, preterida por Fernando Seixas,
cuidade sexual. compra-o e ele, contumaz caça-dote, sujeita-se ao
e) o autor focaliza o drama da prostituição na esfera do constrangimento de uma união por interesse.
indivíduo, mostrando a diferença entre o ser e o parecer.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  99


c) O casamento é só de fachada e a união não se O texto acima está se referindo, respectivamente, aos
consuma, visto que resulta de acordo no qual as apa- escritores:
rências sociais devem ser mantidas. a) José de Alencar e Machado de Assis.
d) A narrativa marca-se pelo choque entre o mundo b) Joaquim Manuel de Macedo e Menotti del Picchia.
do amor idealizado e o mundo da experiência degra- c) Aluísio Azevedo e Machado de Assis.
dante governado pelo dinheiro. d) Manuel Antônio de Almeida e José de Alencar.
e) O romance gira em torno de intrigas amorosas, de e) Euclides da Cunha e Manuel Antônio de Almeida.
desigualdade econômica, mas, com final feliz, porque,
nele, o amor tudo vence. 2. (UFV) Sobre a obra de José de Alencar, Senhora, assi-
nale a alternativa FALSA.
9. (UFRGS) Considere as afirmações abaixo, referentes a) Movida pelo despeito e vingança, apesar do amor
ao romance romântico no Brasil. que ainda sentia por Fernando, Aurélia, personagem
I. A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, inse- central de Senhora, resolve “comprar” o ex-noivo por
re-se na linha primitivista da corrente romântica, em cem contos de réis.
que as personagens vivem em contato constante com b) A despeito da contundente crítica à sociedade bur-
a natureza. guesa, Senhora é uma obra tipicamente romântica, o
que é visível sobretudo na caracterização idealizada
II. Uma das fontes de inspiração do romance Memórias
do amor e da mulher.
de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Al-
c) O narrador de Senhora explora habilmente o con-
meida, é a novela picaresca espanhola. flito básico entre o grande amor de Aurélia e a ver-
III. A heroína de A escrava Isaura, de Bernardo Guima- gonhosa transação que põe Fernando à sua mercê.
rães, é mestiça; porém, na sua apresentação inicial, são d) Preocupado com a análise social e com o objetivo
destacadas sua tez clara “como marfim” e sua beleza de criticar o materialismo e o conflito de classes na
“branca”. sociedade capitalista, Alencar exclui de Senhora qual-
quer abordagem psicológica das personagens.
Quais estão corretas?
e) A dialética do bem e do mal na construção do en-
a) Apenas I. d) Apenas II e III. redo e das personagens de Senhora ganha comple-
b) Apenas II. e) I, II e III. xidade humanística, atingindo um refinamento que
c) Apenas I e II. prenuncia a obra de Machado de Assis.

10. (Mackenzie) “...com a morte do avô, Aurélia recebe 3. (UFRGS) Leia as afirmações abaixo sobre os romances
inesperadamente uma grande herança e torna-se muito “O Guarani” e “lracema”, de José de Alencar.
rica da noite para o dia. Movida pelo despeito, resolve I. Em “O Guarani”, tanto a casa de Mariz, representante
tentar comprar seu ex-noivo; está disposta, no entanto, dos valores lusitanos, quanto os Aimorés, que retratam
a confessar-lhe que ainda o ama e o quer, se ele mostrar o lado negativo da terra americana, são destruídos.
dignidade, recusando a proposta degradante. Ela incum- II. Em “Iracema”, a guardiã do “segredo da jurema”
be seu tutor, Lemos, de propor a Fernando, através de abandona sua tribo para seguir Martim, o homem bran-
negociações secretas, o casamento com uma rica jovem, co por quem se apaixonara.
que poderia oferecer-lhe um dote; em troca, exige que III. Em “O Guarani” e “Iracema”, as personagens indíge-
ele assine um contrato aceitando a condição de vir a co- nas - Peri e Iracema - morrem em circunstâncias trági-
nhecer a noiva apenas alguns dias antes do casamento.” cas, na certeza de que serão vingadas.
As informações anteriores referem-se a importante
obra da prosa romântica brasileira. Quais estão corretas?
Assinale a alternativa em que aparece o nome da mesma. a) Apenas I. d) Apenas II e III.
a) A Moreninha b) Apenas II. e) I, II e III.
b) Inocência c) Apenas I e II.
c) Memórias de um Sargento de Milícias 4. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre a
d) Senhora obra de José de Alencar.
e) Cinco minutos
I. Em Iracema, narram-se as aventuras e desventuras de
Martim Francisco, português, e Iracema, a indígena dos
E.O. Fixação lábios de mel, casal que simboliza a união dos dois po-
vos nas matas brasileiras inexploradas.
1. (UEL) A prosa literária adquiriu consistência com as II. Em Senhora, Aurélia herda uma fortuna que a salva da
obras desses dois grandes romancistas: o primeiro, pelo pobreza e lhe permite comprar um marido, Seixas, de quem
estilo ágil e preciso de seu único romance, que descreve já fora namorada e com quem manterá um casamento per-
 VOLUME 2

pitorescamente os tipos, os ambientes e os costumes turbado por conflitos e acusações mútuas.


do Rio da primeira metade do século XIX; o segundo, III. Em O guarani, as aventuras de Peri, bravo guerreiro
pelo leque de romances que abriu, inspirados tanto na indígena, são norteadas pela necessidade de servir e
vida citadina do Brasil Imperial quanto nas persona- proteger a jovem virgem loira Ceci, cuja integridade fí-
gens míticas e tipos regionais de nossa terra. sica é ameaçada por malfeitores e indígenas perigosos.

100  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Quais estão corretas? 8. (UFSM) “A sociedade, no meio da qual me eduquei,
a) Apenas I. d) Apenas II e III. fez de mim um homem à sua feição. Habituei-me a con-
siderar a riqueza como a primeira força viva da exis-
b) Apenas III. e) I, II e III.
tência e os exemplos ensinavam-me que o casamento
c) Apenas I e II. era meio tão legítimo de adquiri-la, como a herança e
5. (UEL) No romance Iracema, José de Alencar: qualquer honesta especulação.”
No enredo de SENHORA, tal como se depreende do tre-
a) desenvolve, na linha mesma do enredo, valores éticos
cho transcrito, há uma aproximação entre casamento e
e estéticos próprios da sociedade burguesa europeia.
b) busca fundir num mesmo código as imagens de a) recomendações divulgadas pela igreja.
um lirismo romântico e alguns modos de nomeação e b) normas impostas aos escravos.
construção da língua tupi. c) costumes copiados dos indígenas.
c) defende a superioridade da cultura indígena sobre d) leis do tempo da colônia.
a europeia, tal como o demonstra o desfecho desse e) práticas da organização social burguesa.
romance idealizante.
d) faz confluírem o plano lendário e o plano histórico, 9. (UEL) Nesse romance, o autor atingiu três propósitos
o primeiro representado por Martim, e o segundo, por de seu projeto de ficcionista:
Iracema. I. exaltar as virtudes do “homem natural”.
e) dispõe-se a desenvolver a história de uma virgem II. fundir fato histórico e lenda, numa mesma narrativa
que, resistindo ao colonizador, representa o poder da poética.
natureza indomável. III. idealizar o amor que leva à renúncia, ao sacrifício e
6. (UFU) Analise as seguintes afirmativas: à morte.
I. José de Alencar, prosador romântico, escreveu sobre vá- O autor e o romance de que trata o fragmento ante-
rias temáticas. São famosos seus romances sobre a mu- rior são:
lher, dentre os quais podemos citar Diva, Lucíola e Helena. a) Visconde de Taunay e Inocência.
II. Machado de Assis, romancista de grande expressão, b) Machado de Assis e Helena.
também foi poeta. Um de seus poemas é “À Carolina”, c) José de Alencar e Lucíola.
dedicado a sua esposa falecida. d) Machado de Assis e Iaiá Garcia.
III. A literatura jesuítica objetivava tanto a catequese e) José de Alencar e Iracema.
quanto a instrução e teve como expoente o poeta Cláu-
dio Manoel da Costa. 10. (UFV) Sobre o Romantismo brasileiro, é CORRETO
dizer que:
IV. No Barroco literário encontram-se dois estilos: “cul-
tismo”, que se caracteriza pela linguagem rebuscada, a) teve como iniciador o consagrado romancista José
pelo jogo de palavras, e “conceptismo”, que é marcado de Alencar que, com suas obras de cunho indianista,
pelo jogo de ideias, pelos conceitos. revelou o verdadeiro caráter do nativo brasileiro.
b) no tocante à prosa, tem como epígonos as figuras de
V. Ao se estudar a Literatura por períodos, épocas, es-
José de Alencar, Bernardo Guimarães, Manuel Antônio
tilos, é preciso ter em mente que essas divisões são
de Almeida e Castro Alves.
meramente didáticas, porque cada autor tem a sua par-
ticularidade, apesar de pertencer a um conjunto maior. c) em sua segunda fase, apresentou poetas cuja in-
clinação para o mistério e a morte os colocava sob a
Assinale a alternativa que indica as afirmativas corretas.
égide do mal-do-século.
a) I, II e IV. d) II, III e V. d) explorando o lado mais sentimental das figuras femi-
b) II, IV e V. e) III, IV e V. ninas, é um perfeito retrato da mulher do século XVIII,
c) I, III e V. totalmente submissa e sem qualquer expressão social.
e) tematizando as grandes tensões que marcavam a
7. (UFSM) Assinale a alternativa INCORRETA a respeito época, detém-se principalmente na oposição sagrado
da ficção urbana de José de Alencar. × profano.
a) Os relatos oscilam entre a armação folhetinesca e
a percepção da realidade brasileira.
b) No enredo de Senhora, o sentimento amoroso sem-
pre é mais forte que o interesse financeiro.
E.O. Complementar
c) Romances como Senhora relacionam drama indivi- 1. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche corre-
dual e organismo social. tamente as lacunas do enunciado abaixo, na ordem em
 VOLUME 2

d) as personagens frequentemente são donzelas e man- que aparecem.


cebos que participam das rodas da corte. O projeto literário de ______ consistia em “radiogra-
e) Os romances fixam costumes e ações que definem far” o Brasil em sua totalidade. Assim, narrou o passado
uma forma de representar a cidade. indígena, em ______, a sociedade burguesa fluminense
do século XIX, em ______, e o mundo rural em _____.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  101


a) José de Alencar – A moreninha – Til – Iracema a) a estória se passa no século XVI, durante a exploração
b) Joaquim Manuel de Macedo – Iracema – Senhora portuguesa no Amazonas.
– A moreninha b) a principal característica deste romance é que parte
c) Joaquim Manuel de Macedo – Iracema – A more- dele é escrito em prosa, outra parte em versos.
ninha – Til c) apesar de ser um romance indigenista, Iracema tam-
d) José de Alencar – Til – A moreninha – Senhora bém aborda com ênfase a questão da escravidão negra
e) José de Alencar – Iracema – Senhora – Til no Brasil.
d) Iracema é descrita por Alencar como virgem dos lábios
2. (UCS) José de Alencar, um dos mais importantes fic- de mel, com cabelos mais negros que a asa da graúna.
cionistas brasileiros do século XIX, escreveu romances e) a principal característica de Iracema é a objetividade
históricos, regionais, urbanos e indianistas. Leia o frag- da narrativa, que exclui qualquer traço lírico ou subjetivo.
mento do romance O guarani, de José de Alencar.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Caía a tarde.
De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio
No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda
de água que se dirige para o norte, e engrossado com
moça se embalançava indolentemente numa rede de
palha presa aos ramos de uma acácia silvestre [...]. os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas,
torna-se rio caudal.
Os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se
É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enros-
abriam languidamente como para se embeberem de luz
[...]. cando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar
na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosa-
Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor da
mente em seu vasto leito.
gardênia dos nossos campos, orvalhada pelo sereno da
Dir-se-ia que, vassalo e tributário desse rei das águas,
noite [...].
o pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos,
Os longos cabelos louros, enrolados negligentemente
curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde en-
em ricas tranças, descobriam a fronte alva, e caíam em
tão a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas
volta do pescoço presos por uma rendinha finíssima de
fios de palha cor de ouro. [...] como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos
e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso,
Esta moça era Cecília.
sofre o látego* do senhor.
ALENCAR, José de. O Guarani. 25. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 32. Não é neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou qua-
tro léguas acima de sua foz, onde é livre ainda, como o
Em relação à obra O guarani, ou ao fragmento acima filho indômito desta pátria da liberdade.
descrito, assinale a alternativa correta. Aí, Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atra-
a) Neste trecho, a descrição de Cecília revela um ideal vessa as florestas como o tapir, espumando, deixando
de beleza típico da sociedade do Brasil colonial. o pelo esparso pelas pontas do rochedo, e enchendo a
b) A visão de mundo realista está posta no retrato solidão com o estampido de sua carreira. De repente,
harmonioso entre a beleza da jovem e a beleza da falta-lhe o espaço, foge-lhe a terra; o soberbo rio recua
natureza brasileira. um momento para concentrar as suas forças, e precipi-
c) No romance, um dos triângulos amorosos é forma- ta-se de um só arremesso, como o tigre sobre a presa.
do por Cecília, Loredano e Isabel.
(José de Alencar. O Guarani.)
d) No fragmento, a languidez dos olhos de Cecília
(*) látego: chicote.
sugere um certo erotismo, desvinculando a obra do
movimento romântico. 5. (ITA) O trecho anterior, relacionado ao enredo do
e) Na obra, além da idealização da mulher, há elementos romance, cria um cenário que prepara o leitor para o
da idealização do índio, personificado na figura de Peri. conflito entre:
a) espécies do mundo natural.
3. (UEL) Tanto na prosa de José de Alencar quanto na po-
b) nativos e a natureza.
esia de Gonçalves Dias, a figura do índio é caracterizada
c) índios e escravos.
a) com os atributos da honradez de um cavaleiro medieval. d) tribos indígenas.
b) enquanto um herói pagão movido pelas forças da na- e) colonizador e nativos.
tureza.
c) como uma mescla de ingenuidade e violência incon-
trolável. E.O. Dissertativo
d) por meio de uma fiel descrição de seus valores naturais. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
 VOLUME 2

e) da mesma forma como o representava Anchieta em


suas peças. É comum se ter uma prova de língua portuguesa sem
texto-base? Pois é o caso desta. Embora não haja a trans-
4. (UESPI) Romance escrito em 1865, Iracema, de José crição de um texto, há uma obra que serve de base às
de Alencar, aborda fatos e feitos da colonização portu- questões formuladas. Trata-se do livro “Memórias de um
guesa no Brasil. Sobre esta obra, é correto afirmar que: sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida.

102  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


1. (UFC) Memórias de um sargento de milícias tem sido 5. (PUC-RJ)
reconhecido, por alguns críticos e historiadores, enquan-
TEXTO 1
to romance picaresco. A segunda questão aborda a cons-
trução da trama e as características do herói picaresco. Espalham-se, por fim, as sombras da noite.
a) Apresente um traço comum à obra de Almeida e aos O sertanejo que de nada cuidou, que não ouviu as har-
romances picarescos quanto à construção das tramas. monias da tarde, nem reparou nos esplendores do céu,
b) Apresente três características do herói picaresco. que não viu a tristeza a pairar sobre a terra, que de nada
se arreceia, consubstanciado como está com a solidão,
2. (UFAL) para, relanceia os olhos ao derredor de si e, se no lagar
a) Considerando-se o modo pelo qual Gonçalves Dias pressente alguma aguada, por má que seja, apeia-se,
e José de Alencar retrataram a figura do índio em desencilha o cavalo e reunindo logo uns gravetos bem
suas obras, é possível afirmar que estavam sendo fiéis secos, tira fogo do isqueiro, mais por distração do que
aos valores do Romantismo? Por quê? por necessidade.
b) Qual a relação que se pode estabelecer entre a Sente-se deveras feliz. Nada lhe perturba a paz do es-
valorização do indianismo, em Gonçalves Dias e José pírito ou o bem-estar do corpo. Nem sequer monologa,
de Alencar, e o período histórico em que viveram? como qualquer homem acostumado a conversar.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Raros são os seus pensamentos: ou rememora as lé-
guas que andou, ou computa as que tem que vencer
TEXTO I para chegar ao término da viagem.
Abriram-se os braços do guerreiro adormecido e seus No dia seguinte, quando aos clarões da aurora acorda toda
lábios; o nome da virgem ressoou docemente. aquela esplêndida natureza, recomeça ele a caminhar, como
A juruti, que divaga pela floresta, ouve o terno arrulho na véspera, como sempre.
do companheiro; bate as asas, e voa ao aconchegar-se Nada lhe parece mudado no firmamento: as nuvens de
ao tépido ninho. Assim a virgem do sertão aninhou-se si para si são as mesmas. Dá-lhe o Sol, quando muito,
nos braços do guerreiro. os pontos cardeais, e a terra só lhe prende a atenção,
Quando veio a manhã, ainda achou Iracema ali debru- quando algum sinal mais particular pode servir-lhe de
çada, qual borboleta que dormiu no seio do formoso marco miliário na estrada que vai trilhando.
cacto. Em seu lindo semblante acendia o pejo vivos
TAUNAY, Visconde de. Inocência. Disponível em:
rubores; e como entre os arrebóis da manhã cintila o <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
primeiro raio do sol, em suas faces incendiadas rutilava bn000002.pdf>. Acesso em: 20 set. 2012.
o primeiro sorriso da esposa, aurora de fruído amor.
TEXTO 2
(ALENCAR, José de. Iracema. 1865)
Na planície avermelhada, os juazeiros alargavam duas
TEXTO II manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia
inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente
Teresa andavam pouco, mas como haviam repousado bastante
A primeira vez que vi Teresa na areia do rio seco, a viagem progredira bem três lé-
guas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folha-
Achei que ela tinha pernas estúpidas gem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos
Achei também que a cara parecia uma perna pelados da caatinga rala.
Quando vi Teresa de novo Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o fi-
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto lho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha
do corpo na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo,
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a es-
resto do corpo nascesse) pingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho
e a cachorra Baleia iam atrás.
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
das águas. – Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
(BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. 1960) Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da
faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, de-
3. (UFRJ) Qual a mudança que se constata na forma pois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ain-
como é vista a mulher na terceira estrofe do texto II,
 VOLUME 2

da lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se le-


em relação às duas primeiras? vantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro
cantos, zangado, praguejando baixo.
4. (UFRJ) A que estilos literários pertencem os textos I
e II e como se caracteriza a relação amorosa em cada A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso sal-
um deles? picado de manchas brancas que eram ossadas. O voo

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  103


negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bi- TEXTO 2
chos moribundos.
Quando a manhã chuvosa nasceu, as pessoas que pas-
– Anda, excomungado.
savam para o trabalho se aproximavam dos corpos para
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo.
ver se eram conhecidos, seguiam em frente. Lá pelas
Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém
nove horas, Cabeça de Nós Todo, que entrara de serviço
pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato
às sete e trinta, foi ver o corpo do ladrão. Ao retirar
necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Cer-
o lençol de cima do cadáver, concluiu: “É bandido”. O
tamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas
defunto tinha duas tatuagens, a do braço esquerdo era
dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar,
uma mulher de pernas abertas e olhos fechados, a do
não sabia onde.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de direito, são Jorge guerreiro. E, ainda, calçava chinelo
Janeiro: Record, 1986, pp. 9-10. Charlote, vestia calça boquinha, camiseta de linha co-
a) Há uma série de pontos que aproximam e distan- lorida confeccionada por presidiários. Porém, quando
ciam o texto 1 do texto 2. Comente, utilizando as apontou na extremidade direita da praça da Quadra
suas próprias palavras, as diferenças que podem ser Quinze, em seu coração de policial, nos passos que lhe
percebidas em relação à tipologia humana e à descri- apresentavam a imagem do corpo de Francisco, um ner-
ção da natureza nas duas narrativas. vosismo brando foi num crescente ininterrupto até virar
b) A partir da identificação do estilo de época a que o desespero absoluto. O presunto era de um trabalhador.
Visconde de Taunay e Graciliano Ramos estão filiados, LINS, Paulo. Cidade de Deus.
discuta, tomando como referência os textos acima, a São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 55-56.
visão que ambos têm da figura do sertanejo, persona-
6. (PUC-RJ)
gem emblemática na Literatura Brasileira.
a) No último parágrafo do Texto 1, Alencar contrasta
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES a seda e o algodão, o havana e o cigarro de palha.
TEXTO 1 Explique a natureza desse contraste explicitando co-
notações associáveis a tais expressões substantivas.
A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855. b) Reproduzimos a seguir um outro fragmento do li-
Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e com- vro Lucíola, de José de Alencar (um diálogo entre os
panheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; personagens Paulo e Sá).
uma das poucas festas populares da corte. Conforme o – Quem é esta senhora? perguntei a Sá. [...]
costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa – Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita.
e ao longo do cais serpejava nas faldas do outeiro e api- Queres conhecê-la ?
nhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regur- Transforme em discurso indireto a frase sublinhada
gitava com a multidão do povo.
nesse diálogo, dando continuidade à seguinte estru-
Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a espe- tura: Paulo perguntou a Sá quem era aquela senhora.
rança de romper a mole de gente que murava cada uma Este respondeu-lhe que ...
das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca
viração que vinha do mar, contemplando o delicioso pa- 7. (PUC-RJ)
norama da baía e admirando ou criticando as devotas a) O romance “Lucíola”, publicado em 1862, é con-
que também tinham chegado tarde e pareciam satisfei- siderado uma das mais importantes obras de José de
tas com a exibição de seus adornos. Alencar. Cite TRÊS aspectos que marcam o estilo de
Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e época a que se filia o autor, tendo como referência o
conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independen- fragmento selecionado.
te obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena b) Os Textos 1 e 2 são narrativas urbanas que têm
muralha e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. como cenário o Rio de Janeiro. Compare os trechos
Para um provinciano lançado recém-lançado-chegado à dos dois romances anteriormente transcritos, estabe-
corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, lecendo diferenças em relação à percepção da cidade
à doce luz da tarde, uma parte da população desta grande e suas personagens e à linguagem utilizada pelos
cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações? respectivos autores.
Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o afri-
cano puro; todas as posições, desde as ilustrações da po-
lítica, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde
e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro E.O. Enem
até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da 1. (Enem) “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu
sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que cole-
 VOLUME 2

lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a cionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inven-
casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os per- tando o Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-1877), o
fumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático conhecido autor de “O guarani” e “Iracema”, tido como
do havana às acres baforadas do cigarro de palha. o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos da
ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Editora Ática, 1988, p. 12. literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e

104  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


históricos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal, exploração desenfreada das riquezas naturais do país.
autor de peças de teatro, advogado, deputado federal c) construção, em linguagem simples, realista e documen-
e até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das tal, sem fantasia ou exaltação, de uma imagem da terra
múltiplas facetas desse personagem do século XIX, parte que revelou o quanto é grandiosa a natureza brasileira.
de seu acervo inédito será digitalizada. d) expansão dos limites geográficos da terra, que pro-
História Viva, n. 99, 2011. moveu o sentimento de unidade do território nacional
e deu a conhecer os lugares mais distantes do Brasil
Com base no texto, que trata do papel do escritor José aos brasileiros.
de Alencar e da futura digitalização de sua obra, depre- e) valorização da vida urbana e do progresso, em de-
ende-se que: trimento do interior do Brasil, formulando um con-
a) a digitalização dos textos é importante para que ceito de nação centrado nos modelos da nascente
os leitores possam compreender seus romances. burguesia brasileira.
b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi im-
3.(Enem) Pobre Isaura! Sempre e em toda parte esta
portante porque deixou uma vasta obra literária com
contínua importunação de senhores e de escravos, que
temática atemporal.
não a deixam sossegar um só momento! Como não de-
c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio via viver aflito e atribulado aquele coração! Dentro de
da digitalização, demonstra sua importância para a casa contava ela quatro inimigos, cada qual mais por-
história do Brasil Imperial. fiado em roubar-lhe a paz da alma, e torturar-lhe o co-
d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá ração: três amantes, Leôncio, Belchior, e André, e uma
importante papel na preservação da memória linguís- êmula terrível e desapiedada, Rosa. Fácil lhe fora repelir
tica e da identidade nacional. as importunações e insolências dos escravos e criados;
e) o grande romancista José de Alencar é importante mas que seria dela, quando viesse o senhor?!...
porque se destacou por sua temática indianista. GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 1995 (adaptado).
2. (Enem) O SERTÃO E O SERTANEJO A personagem Isaura, como afirma o título do romance,
era uma escrava. No trecho apresentado, os sofrimentos
Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão por que passa a protagonista:
diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e resse-
cado pelo ardor do sol transforma-se em vicejante tape- a) assemelham-se aos das demais escravas do país,
te de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, o que indica o estilo realista da abordagem do
por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha tema da escravidão pelo autor do romance.
do seu isqueiro. Minando à surda na touceira, queda a b) demonstram que, historicamente, os problemas
vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer aragem, vividos pelas escravas brasileiras, como Isaura, eram
por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia mais de ordem sentimental do que física.
e trêmula, como que a contemplar medrosa e vacilan- c) diferem dos que atormentavam as demais escravas
te os espaços imensos que se alongam diante dela. O do Brasil do século XIX, o que revela o caráter idea-
fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir com mais lista da abordagem do tema pelo autor do romance.
lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo até se d) indicam que, quando o assunto era o amor, as es-
extinguir de todo, deixando como sinal da avassaladora cravas brasileiras, de acordo com a abordagem lírica
passagem o alvacento lençol, que lhe foi seguindo os do tema pelo autor, eram tratadas como as demais
velozes passos. Por toda a parte melancolia; de todos mulheres da sociedade.
os lados tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias e) revelam a condição degradante das mulheres es-
copiosa chuva, e parece que uma varinha de fada an- cravas no Brasil, que, como Isaura, de acordo com a
dou por aqueles sombrios recantos a traçar às pressas denúncia feita pelo autor, eram importunadas e tortu-
jardins encantados e nunca vistos. Entra tudo num tra- radas fisicamente pelos seus senhores.
balho íntimo de espantosa atividade.

E.O. UERJ
Transborda a vida. TAUNAY, A. Inocência.
São Paulo: Ática, 1993 (adaptado).

O romance romântico teve fundamental importância


na formação da ideia de nação. Considerando o trecho
Exame de Qualificação
acima, é possível reconhecer que uma das principais e
TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
permanentes contribuições do Romantismo para cons-
trução da identidade da nação é a: TEXTO I
 VOLUME 2

a) possibilidade de apresentar uma dimensão desco- 1 Escreverei minhas “Memórias”, fato mais frequente-
nhecida da natureza nacional, marcada pelo subdesen- mente do que se pensa observado no mundo industrial,
volvimento e pela falta de perspectiva de renovação. artístico, científico e sobretudo no mundo político, onde
b) consciência da exploração da terra pelos coloniza- muita gente boa se faz elogiar e aplaudir em brilhantes
dores e pela classe dominante local, o que coibiu a artigos biográficos tão espontâneos, 1como os ramalhe-

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  105


tes e as coroas de flores que as atrizes compram para Ilha verde onde havia
que lhos atirem na cena os comparsas comissionados. mulheres morenas e nuas
2 Eu reputo esta prática muito justa e muito natural; anhangás a sonhar com histórias de luas
porque não compreendo amor e ainda amor apaixonado e cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés.
mais justificável do que aquele que sentimos pela nossa Depois mudaram-lhe o nome
própria pessoa. pra terra de Santa Cruz.
3 O amor do eu é e sempre será a pedra angular da so- Terra cheia de graça
ciedade humana, o regulador dos sentimentos, o móvel Terra cheia de pássaros
das ações, e o farol do futuro: do amor do eu nasce o Terra cheia de luz.
amor do lar doméstico, deste o amor do município, des-
A grande Terra girassol onde havia guerreiros de tanga
te o amor da província, deste o amor da nação, anéis de
e onças ruivas
uma cadeia de amores que os tolos julgam que sentem
deitadas à sombra das árvores
e tomam ao sério, e que certos maganões envernizam,
mosqueadas de sol.
mistificando a humanidade para simular abnegação e
virtudes que não têm no coração e que eu com a minha Mas como houvesse, em abundância,
exemplar franqueza simplifico, reduzindo todos à sua certa madeira cor de sangue cor de brasa
expressão original e verdadeira, e dizendo, lar, municí- e como o fogo da manhã selvagem
pio, província, nação, têm a flama dos amores que lhes fosse um brasido no carvão noturno da paisagem,
dispenso nos reflexos do amor em que me abraso por e como a Terra fosse de árvores vermelhas
mim mesmo: todos eles são o amor do eu e nada mais. e se houvesse mostrado assaz gentil,
A diferença está em simples nuanças determinadas pela deram-lhe o nome de Brasil.
maior ou menor proporção dos interesses e das conveni-
ências materiais do apaixonado adorador de si mesmo. Brasil cheio de graça
Brasil cheio de pássaros
(MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias do sobrinho de meu tio.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.) Brasil cheio de luz.
(RICARDO, Cassiano. Seleta em prosa e verso.
TEXTO II Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.)

Já dois anos se passaram longe da pátria. Dois anos! Di- 1. (UERJ) O primeiro parágrafo do texto de Joaquim Ma-
ria dois séculos. E durante este tempo tenho contado os nuel de Macedo antecipa que o conteúdo das “Memó-
dias e as horas pelas bagas do pranto que tenho cho- rias” será:
rado. Tenha embora Lisboa os seus mil e um atrativos, a) um brilhante artigo biográfico sobre personalida-
ó eu quero a minha terra; quero respirar o ar natal (...). des mundanas
Nada há que valha a terra natal. 1Tirai o índio do seu b) uma visão muito favorável às ações do narrador au-
ninho e apresentai-o d’improviso em Paris: será por um tobiográfico
momento fascinado diante dessas ruas, desses templos, c) uma observação sobre o mundo industrial, artísti-
desses mármores; mas depois falam-lhe ao coração as co, científico e político
lembranças da pátria, e trocará de bom grado ruas, pra- d) um ressentimento contra os perigos do memorialis-
ças, templos, mármores, pelos campos de sua terra, pela mo nos meios artísticos
sua choupana na encosta do monte, pelos murmúrios
das florestas, pelo correr dos seus rios. Arrancai a plan- 2. (UERJ) Os narradores dos textos I e II apresentam, res-
ta dos climas tropicais e plantai-a na Europa: ela tentará pectivamente, as seguintes atitudes em relação à pátria:
reverdecer, mas cedo pende e murcha, porque lhe falta a) ética – parnasiana
o ar natal, o ar que lhe dá vida e vigor. Como o índio, b) cínica – romântica
prefiro a Portugal e ao mundo inteiro, o meu Brasil, rico, c) romântica – irônica
majestoso, poético, sublime. Como a planta dos trópicos, d) parnasiana – imatura
os climas da Europa enfezam-me a existência, que sinto

E.O. UERJ
fugir no meio dos tormentos da saudade.
(ABREU, Casimiro de. Obras de Casimiro de Abreu.

Exame Discursivo
Rio de Janeiro: MEC, 1955.)

TEXTO III
LADAINHA I TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

Inocência
 VOLUME 2

Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome


de ilha de Vera Cruz. Depois das explicações dadas ao seu hóspede, sentiu-se
Ilha cheia de graça. o mineiro mais despreocupado.
Ilha cheia de pássaros. — Então, disse ele, se quiser, vamos já ver a nossa
Ilha cheia de luz. doentinha.

106  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


— Com muito gosto, concordou Cirino. graúna – pássaro de plumagem negra, canto melodioso
E, saindo da sala, acompanhou Pereira, que o fez passar e hábitos eminentemente sociais
por duas cercas e rodear a casa toda, antes de tomar a livro de horas – livro de preces
porta do fundo, fronteira a magnífico laranjal, naquela secundou – respondeu
ocasião todo pontuado das brancas e olorosas flores. lavrados – na província de Mato Grosso, colares de con-
1
— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o po- tas de ouro e adornos de ouro e prata
mar, todos os dias se juntam tamanhos bandos de graú- lobrigar – enxergar
nas, que é um barulho dos meus pecados. Nocência gos- escabelo – assento
ta muito disso e vem sempre coser debaixo do arvoredo. facultativo – médico
É uma menina esquisita...
1. (UERJ) A caracterização de Inocência confirma só par-
Parando no limiar da porta, continuou com expansão:
cialmente a idealização da heroína romântica.
2
— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lem-
Indique uma característica que Inocência apresenta em
branças e perguntas que me fazem embatucar... Aqui, ha-
via um livro de horas da minha defunta avó... Pois não é comum com as heroínas românticas e outra que a torna
que 3um belo dia ela me pediu que lhe ensinasse a ler? diferente dessas heroínas.
... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse que quisera 2. (UERJ) — Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança
ter nascido princesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o que tem lembranças e perguntas que me fazem embatucar...
é ser princesa? Sei, me secundou ela com toda a clareza, é Aqui, havia um livro de horas da minha defunta avó...
uma moça muito boa, muito bonita, que tem uma coroa de Pois não é que um belo dia ela me pediu que lhe ensi-
diamantes na cabeça, muitos lavrados no pescoço e que nasse a ler?... Que ideia! Ainda há pouco tempo me dis-
manda nos homens... Fiquei meio tonto. 4E se o Sr. visse se que quisera ter nascido princesa... Eu lhe retruquei:
os modos que tem com os bichinhos?! ... Parece que está E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou ela
falando com eles e que os entende... (...) Quando Cirino pe-
com toda a clareza, é uma moça muito boa, muito boni-
netrou no quarto da filha do mineiro, era quase noite, de
ta, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, muitos
maneira que, no primeiro olhar que atirou ao redor de si,
lavrados no pescoço (ref. 2)
só pôde lobrigar, além de diversos trastes de formas anti-
quadas, uma dessas camas, muito em uso no interior; altas O trecho acima faz referência a crenças e valores de
e largas, feitas de tiras de couro engradadas. (...) Inocência e de seu pai, Pereira.
Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, Apresente dois traços do comportamento de cada um
aproximaram-se ambos do leito da enferma que, ache- desses personagens que revelam a diferença de valores
gando ao corpo e puxando para debaixo do queixo uma entre eles. Em seguida, indique a modalidade de roman-
coberta de algodão de Minas, se encolheu toda, e vol- ce em que tais personagens se inserem.
tou-se para os que entravam.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
— Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem
curar-te de vez. A dança dos ossos
— Boas noites, dona, saudou Cirino. A noite, límpida e calma, tinha sucedido a uma tarde
Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jo- de pavorosa tormenta, nas profundas e vastas florestas
vem, no seu papel de médico, se sentava num escabelo que bordam as margens do Paranaíba, nos limites entre
junto à cama e tomava o pulso à doente. as províncias de Minas e de Goiás.
Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o ros- Eu viajava por esses lugares, e acabava de chegar ao por-
to, parte do colo e da cabeça, coberta por um lenço ver- to, ou recebedoria, que há entre as duas províncias. Antes
melho atado por trás da nuca. de entrar na mata, a tempestade tinha me surpreendido
Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era nas vastas e risonhas campinas que se estendem até a
Inocência de beleza deslumbrante. pequena cidade de Catalão, donde eu havia partido.
Do seu rosto, irradiava singela expressão de encantado- Seriam nove a dez horas da noite; junto a um fogo
ra ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno aceso defronte da porta da pequena casa da recebedo-
que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a ria, estava eu, com mais algumas pessoas, aquecendo
franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de proje- os membros resfriados pelo terrível banho que a meu
tarem sombras nas mimosas faces. pesar tomara. A alguns passos de nós se desdobrava
Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca peque- o largo veio do rio, refletindo em uma chispa retorci-
na, e o queixo admiravelmente torneado. da, como uma serpente de fogo, o clarão avermelhado
Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, da fogueira. Por trás de nós estavam os cercados e as
descera um nada a camisinha de crivo que vestia, dei- casinhas dos poucos habitantes desse lugar, e, por trás
xando nu um colo de fascinadora alvura, em que ressal- dessas casinhas, estendiam-se as florestas sem fim.
 VOLUME 2

tava um ou outro sinal de nascença. No meio do silêncio geral e profundo sobressaía o ru-
Razões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo para gido monótono de uma cachoeira próxima, que ora 1es-
sentir a mão fria e um tanto incerta, e não poder atinar trugia como se estivesse a alguns passos de distância,
com o pulso de tão gentil cliente. ora quase se 2esvaecia em abafados murmúrios, confor-
VISCONDE DE TAUNAY Inocência. São Paulo: Ática, 2011. me o correr da viração.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  107


4
No sertão, ao cair da noite, todos tratam de dormir, TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
como os passarinhos. As trevas e o silêncio são sagra- Nasceu o dia e expirou.
dos ao sono, que é o silêncio da alma.
Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da
5
Só o homem nas grandes cidades, o tigre nas florestas,
noite. Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as es-
o 3mocho nas ruínas, as estrelas no céu e o gênio na
trelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente.
solidão do gabinete costumam velar nessas horas que a
natureza consagra ao repouso. Martim se embala docemente; e como a alva rede que
vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamen-
Entretanto, eu e meus companheiros, sem pertencer a
to. Lá o espera a virgem loura dos castos afetos; aqui
nenhuma dessas classes, por uma exceção de regra es-
lhe sorri a virgem morena dos ardentes amores.
távamos acordados a essas horas.
Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos
Meus companheiros eram bons e robustos caboclos,
negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o es-
dessa raça semisselvática e nômade, de origem dúbia
trangeiro, e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem
entre o indígena e o africano, que vagueia pelas infin-
palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai decli-
das florestas que correm ao longo do Paranaíba, e cujos
nando o lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito
nomes, decerto, não se acham inscritos nos assentos
do guerreiro.
das freguesias, e nem figuram nas estatísticas que dão José de Alencar, Iracema.
ao império... não sei quantos milhões de habitantes.
2. (Fuvest) No texto, corresponde a uma das conven-
BERNARDO GUIMARÃES
TUFANO, Douglas (org.) Antologia do conto brasileiro. Do ções com que o Indianismo construía suas represen-
Romantismo ao Modernismo. São Paulo: Moderna, 2005. tações do indígena
a) o emprego de sugestões de cunho mitológico com-
Vocabulário: patíveis com o contexto.
ref. 1: estrugia – vibrava fortemente b) a caracterização da mulher como um ser dócil e
ref. 2: esvaecia – desfalecia desprovido de vontade própria.
ref. 3: mocho – coruja c) a ênfase na efemeridade da vida humana sob os
trópicos.
3. (UERJ) No texto, Bernardo Guimarães emprega dife- d) o uso de vocabulário primitivo e singelo, de extra-
rentes figuras de linguagem. ção oral-popular.
Observe o fragmento: e) a supressão de interdições morais relativas às prá-
“No sertão, ao cair da noite, todos tratam de dormir, ticas eróticas.
como os passarinhos. As trevas e o silêncio são sagra-
dos ao sono, que é o silêncio da alma.” (ref. 4) 3. (Fuvest) É correto afirmar que, no texto, o narrador
Retire desse fragmento uma figura de linguagem, no- a) prioriza a ordem direta da frase, como se pode veri-
meando-a. Explique também a relação entre o emprego ficar nos dois primeiros parágrafos do texto.
dessa figura e a estética romântica. b) usa o verbo “correr” (2º parágrafo) com a mesma
acepção que se verifica na frase “Travam das armas
os rápidos guerreiros, e correm ao campo” (também
E.O. Objetivas extraída do romance Iracema).
c) recorre à adjetivação de caráter objetivo para tor-
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) nar a cena mais real.
d) emprega, a partir do segundo parágrafo, o presen-
1. (Fuvest) “O primeiro cearense, ainda no berço, emi- te do indicativo, visando dar maior vivacidade aos
grava da terra da pátria. Havia aí a predestinação de fatos narrados, aproximando-os do leitor.
uma raça?” e) atribui, nos trechos “aqui lhe sorri” e “lhe entram
n’alma”, valor possessivo ao pronome “lhe”.
Eis aí uma reflexão sob a forma de pergunta que o au-
tor, ______, faz a si mesmo – com toda propriedade, e 4. (Fuvest) Considere as seguintes comparações entre
por motivos que podemos interpretar como pessoais –, “Vidas secas” e “Iracema”:
ao finalizar o romance ______. I. Em ambos os livros, a parte final remete o leitor ao
início da narrativa: em “Vidas secas”, essa recondução
Assinale a alternativa que completa os espaços. marca o retorno de um fenômeno cíclico; em “Iracema”,
a) José Lins do Rego – Menino de engenho a remissão ao início confirma que a história fora contada
b) José de Alencar – Iracema em retrospectiva, reportando-se a uma época anterior à
c) Graciliano Ramos – São Bernardo da abertura da narrativa.
 VOLUME 2

d) Aluísio Azevedo – O mulato II. A necessidade de migrar é tema de que “Vidas se-
e) Graciliano Ramos – Vidas secas cas” trata abertamente. O mesmo tema, entretanto, já
era sugerido no capítulo final de “Iracema”, quando,
referindo-se à condição de migrante de Moacir, “o
primeiro cearense”, o narrador pergunta: “Havia aí a
predestinação de uma raça?”

108  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


III. As duas narrativas elaboram suas tramas ficcionais -se dos minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moço
a partir de indivíduos reais, cuja existência histórica, e goza todos os regalos da sua época; as moças são no
não meramente ficcional, é documentada: é o caso de sarau como as estrelas no céu; estão no seu elemento:
Martim e Moacir, em “Iracema”, e de Fabiano e sinha aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa
Vitória, em “Vidas secas”. nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, às ve-
Está correto o que se afirma em zes, um bravíssimo inopinado, que solta de lá da sala
do jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida no
a) I, somente. d) II e III, somente. écarté, mesmo na ocasião em que a moça se espicha
b) II, somente. e) I, II e III. completamente, desafinando um sustenido; daí a pouco
c) I e II, somente. vão outras, pelos braços de seus pares, se deslizando
pela sala e marchando em seu passeio, mais a compas-
5. (Fuvest) Assim, o amor se transformava tão comple-
so que qualquer de nossos batalhões da Guarda Na-
tamente nessas organizações*, que apresentava três
cional, ao mesmo tempo que conversam sempre sobre
sentimentos bem distintos: um era uma loucura, o outro
uma paixão, o último uma religião. objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas
apreciáveis. Outras criticam de uma gorducha vovó, que
desejava; amava; ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que veio para
adorava. o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram
em casa. Ali vê-se um ataviado dandy que dirige mil fi-
(*organizações = personalidades)
nezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na
(José de Alencar, “O Guarani”) sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é
Neste excerto de “O Guarani”, o narrador caracteriza os essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é
diferentes tipos de amor que três personagens masculi- regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.
nas do romance sentem por Ceci. Mantida a sequência, E o mais é que nós estamos num sarau. Inúmeros ba-
os trechos pontilhados serão preenchidos corretamente téis conduziram da corte para a ilha de... senhoras e
com os nomes de senhores, recomendáveis por caráter e qualidades;
a) Álvaro/ Peri/ D. Diogo. alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a gran-
b) Loredano/ Álvaro/ Peri. de casa, que brilha e mostra em toda a parte borbu-
c) Loredano/ Peri/ D. Diogo. lhar o prazer e o bom gosto.
d) Álvaro/ D. Diogo/ Peri. Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que
e) Loredano/ D. Diogo/ Peri. com aturado empenho se esforçam para ver qual delas
vence em graças, encantos e donaires, certo sobrepuja a
6. (Unifesp) Caracterizou-o sempre um sincero amor pe- travessa Moreninha, princesa daquela festa.
las coisas de sua terra, pela sua gente, e se existe obra
(Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha, 1997.)
que possa ser chamada de brasileira, é a dele. Se seus
assuntos eram o homem e a terra do Brasil, apanhados 7. (Unifesp) A forma como se dá a construção do texto
no Norte, no Sul, no Centro, a forma por que os explora- revela que ele é predominantemente
va era também brasileira, pela sintaxe que empregava
e pelos modismos que introduzia. O Brasil do campo e a) dissertativo, com o objetivo de analisar criticamen-
o das cidades está presente em sua obra, assim como o te o que é um sarau.
homem da sociedade, o homem da rua e o trabalhador b) descritivo, com o objetivo de mostrar o sarau como
rural. Abarcou os aspectos mais variados da nossa sen- uma festa fútil e sem atrativos.
sibilidade e da nossa formação, constituindo sua obra c) narrativo, com o objetivo de contar fatos inusitados
um painel a que nada falta, inclusive o índio, que nela ocorridos em um sarau.
tem participação considerável. d) descritivo, com o objetivo de apresentar as caracte-
(José Paulo Paes e Massaud Moisés (orgs). Pequeno rísticas de um sarau.
dicionário de literatura brasileira, 1980. Adaptado.) e) dissertativo, com o objetivo de relatar as experiên-
cias humanas em um sarau.
Tal comentário refere-se ao escritor
a) Machado de Assis. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
b) Manuel Antônio de Almeida.
c) José de Alencar. TEXTO 1
d) Aluísio Azevedo.
e) Guimarães Rosa.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


 VOLUME 2

Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de te-


lhado abaixo. Em um sarau todo o mundo tem que fa-
zer. O diplomata ajusta, com um copo de champagne na
mão, os mais intrincados negócios; todos murmuram, e
não há quem deixe de ser murmurado. O velho lembra-

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  109


Se admitimos que a [mola do enredo] é o fato de o jo-
vem Seixas casar-se pelo dote, em virtude da educação
que recebera, damos a Alencar o crédito de narrador
realista, capaz de pôr no centro do romance não mais
heróis (...) mas um ser venal, inferior. O que seria falso,
pois o fato não passa de um recurso.
a) Cite uma passagem de Senhora que permita considerar
Seixas como um “herói” e não como um “ser inferior”.
b) “O fato não passa de um recurso”. Considerando
esta afirmação de A. Bosi, explicite as características
do romance SENHORA que permitem considerá-lo
uma obra romântica.
3. (Unicamp) Manuel Antônio deseja contar de que
maneira se vivia no Rio popularesco de D. João VI; as
famílias mal organizadas, os vadios, as procissões, as
festas e as danças, a polícia; o mecanismo dos empe-
nhos, influências, compadrios, punições que determi-
navam certa forma de consciência e se manifestavam
por certos tipos de comportamento (...). O livro apare-
TEXTO 2 ce, pois, como sequência de situações.
(Antônio Cândido. Formação da Literatura Brasileira).
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir
certos ENJOOS: foram os dois morar juntos e daí a um Podemos entender a “sequência de situações” a que se
mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela refere Antônio Cândido como uma série de pequenos
e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho relatos no interior de Memórias de um sargento de mi-
(...) E este nascimento é certamente de tudo o que te- lícias, de Manuel Antônio de Almeida.
mos dito o que mais nos interessa, porque o menino de a) Quem dá unidade, na obra, a essa sequência de
quem falamos é o herói desta história. relatos aparentemente soltos?
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias.) b) Cite um desses relatos e mostre como ele se articu-
la com a linha mestra do romance.
8. (Unifesp) Com base nas informações verbais e visuais,
4. (Fuvest) Observe o seguinte trecho de Til, de José
é CORRETO afirmar que o beliscão de Maria representa: de Alencar, no qual o narrador caracteriza a persona-
a) A cumplicidade na situação de aproximação desen- gem Berta:
cadeada pela pisadela. Contradição viva, seu gênio é o ser e o não ser. Busquem
b) O desdém da quitandeira frente à intenção de apro- nela a graça da moça e encontrarão o estouvamento do
menino; porém mal se apercebam da ilusão, que já a ima-
ximação de Leonardo.
gem da mulher despontará em toda sua esplêndida fas-
c) A condenação à atitude de Leonardo, por supor uma cinação. A antítese banal do anjo-demônio torna-se rea-
intimidade indesejada. lidade nela, em quem se cambiam no sorriso ou no olhar
d) O repúdio da quitandeira à situação, vendo Leonar- a serenidade celeste com os fulvos lampejos da paixão,
do como homem desprezível. à semelhança do firmamento onde ao radiante matiz da
e) A aceitação de uma amizade, mas não de uma apro- aurora sucedem os fulgores sinistros da procela.
ximação íntima entre ambos. a) Segundo o narrador, Berta é uma “contradição viva”,
cujo “gênio é o ser e o não ser”. Como essa caracterís-
tica da personagem se relaciona à principal função que
E.O. Dissertativas ela desempenha na trama do romance?

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


b) Considerando a expressão “anjo-demônio” no con-
texto cultural da época em que foi escrito o romance,
justifica-se o fato de o narrador classificá-la como “an-
títese banal”? Explique resumidamente.
1. (Fuvest) Iracema faz parte da tríade indianista de
José de Alencar, juntamente com outros dois romances: 5. (Unicamp 2013 - Adaptada) Leia.
a) Quais? – (...) Quando o Bugre sai da furna, é mau sinal: vem ao
b) Cada um desses romances teria uma finalidade histó- faro do sangue como a onça. Não foi debalde que lhe
 VOLUME 2

rica. Qual teria sido a intenção do autor com Iracema? deram o nome que tem. E faz garbo disso!
– Então você cuida que ele anda atrás de alguém?
2. (Unicamp) O crítico Alfredo Bosi, em sua ‘História
– Sou capaz de apostar. É uma coisa que toda a gente
Concisa da Literatura Brasileira’, tece algumas conside-
sabe. Onde se encontra Jão Fera, ou houve morte ou
rações sobre o romance ‘Senhora’, de José de Alencar:
não tarda.

110  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Estremeceu Inhá com um ligeiro arrepio, e volvendo em por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe
torno a vista inquieta, aproximou-se do companheiro uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se
para falar-lhe em voz submissa: já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada
– Mas eu tenho-o encontrado tantas vezes, aqui perto, do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tre-
quando vou à casa de Zana, e não apareceu nenhuma mendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto
desgraça. uma declaração em forma, segundo os usos da terra:
– É que anda farejando, ou senão deram-lhe no rasto e levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer
estão-lhe na cola. passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a
– Coitado! Se o prendem! diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e
– Ora qual. Dançará um bocadinho na corda! no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremo-
– Você não tem pena? sos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
– De um malvado, Inhá! Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
– Pois eu tenho! Na ocasião em que Léonie partia pelo braço do amante,
(José de Alencar, Til, em Obra completa, vol. III.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1958, p. 825.) acompanhada até o portão por um séquito de lavadei-
ras, a Rita, no pátio, beliscou a coxa de Jerônimo e so-
O trecho do romance Til transcrito acima evidencia a prou-lhe à meia voz:
ambivalência que caracteriza a personagem Jão Fera ao – Não lhe caia o queixo! ...
longo de toda a narrativa. O cavouqueiro teve um desdenhoso sacudir d’ombros.
Explicite quais são as duas faces dessa ambivalência. – Aquela pra cá nem pintada!
6. (Unicamp 2009) Leia, a seguir, a letra de uma can- E, para deixar bem patente as suas preferências, virou o
ção de Chico Buarque inspirada no romance de José de pé do lado e bateu com o tamanco na canela da mulata.
Alencar, "Iracema - uma lenda do Ceará": – Olha o bruto! ... queixou-se esta, levando a mão ao
lugar da pancada. Sempre há de mostrar que é galego!
Iracema voou Aluísio Azevedo, O cortiço.
Iracema voou
Para a América a) Embora os excertos pertençam a romances de diferen-
Leva roupa de lã tes estilos de época – um é romântico e outro, naturalista
E anda lépida –, é bastante visível que, neles, o modo de representar as
Vê um filme de quando em vez relações de caráter erótico apresenta várias semelhanças.
Essa similaridade é sobretudo pontual, isto é, mais con-
Não domina o idioma inglês
centrada nesses excertos, ou, ao contrário, ela continua a
Lava chão numa casa de chá
ocorrer, ao longo dos romances? Explique resumidamente.
Tem saído ao luar
Com um mímico b) Em ambos os excertos, assim como no conjunto das
Ambiciona estudar obras a que pertencem, é notória a predisposição a retra-
Canto lírico tar as personagens de origem portuguesa de um modo
bastante peculiar, influenciado por uma determinada cor-
Não dá mole pra polícia
rente de opinião, existente no contexto histórico-social dos
Se puder, vai ficando por lá
períodos em que as obras foram escritas. Identifique esse
Tem saudade do Ceará
modo de representar tais personagens e a corrente de opi-
Mas não muita
nião que o influencia. Explique sucintamente.
Uns dias, afoita
Me liga a cobrar: 8. (Unicamp) Os animais desempenham um papel sim-
- É Iracema da América bólico no romance Iracema. Dentre eles, destacam-se
(Chico Buarque, As Cidades. Rio de Janeiro:
Marola Edições Musicais Ltda.,1998.)
o cão Japi e a jandaia (ou ará), que aparecem nos ex-
certos abaixo.
a) Que papel desempenha Iracema no romance de
José de Alencar? E na canção de Chico Buarque? Poti voltou de perseguir o inimigo. (...)
O cão fiel o seguia de perto, lambendo ainda nos pelos
b) Uma das interpretações para o nome da heroína do focinho a marugem do sangue tabajara, de que se
do romance de José de Alencar é de que seja um fartara; o senhor o acariciava satisfeito de sua coragem
anagrama de "América". Isto é, o nome da heroína e dedicação. Fora ele quem salvara Martim (...).
possui as mesmas letras de "América" dispostas em
— Os maus espíritos da floresta podem separar outra
outra ordem. Partindo dessa interpretação, explique
vez o guerreiro branco de seu irmão pitiguara. O cão te
o que distingue a referência à América no romance
seguirá daqui em diante, para que mesmo de longe Poti
daquela que é feita na canção.
 VOLUME 2

acuda a teu chamado.


7. (Fuvest) Leia estes dois excertos das obras indicadas — Mas o cão é teu companheiro e amigo fiel.
e responda ao que se pede. — Mais amigo e companheiro será de Poti, servindo a
(...) Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à bor- seu irmão que a ele. Tu o chamarás Japi; e ele será o pé
da do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído ligeiro com que de longe corramos um para o outro. (...)

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  111


Tanto que os dois guerreiros tocaram as margens do rio, 2.
ouviram o latir do cão, que os chamava, e o grito da ará, a) Ambos retrataram a figura do índio, de modo ideali-
que se lamentava. zado, e exaltaram a pátria. A natureza, em suas obras,
ganha valor em suas descrições. Os autores tinham um
A ará, pousada no jirau fronteiro, alonga para sua for- conhecimento da tradição, dos costumes e da língua dos
mosa senhora os verdes tristes olhos. Desde que o nativos, o que contribuiu às cenas descritas.
guerreiro branco pisou a terra dos tabajaras, Iracema
b) Pode-se afirmar que Gonçalves Dias - participante
a esqueceu. (...) da primeira geração do Romantismo no Brasil - atinge
Iracema lembrou-se que tinha sido ingrata para a jan- o máximo de sua arte no Indianismo. Seus versos dese-
daia esquecendo-a no tempo da felicidade; e agora ela nham um índio portador de sentimentos e de atitudes
vinha para a consolar no tempo da desventura. (...) artificiais, extremamente europeizado. Ainda assim, o
Na seguinte alvorada foi a voz da jandaia que a desper- índio de Gonçalves Dias está mais próximo da realidade
tou. A linda ave não deixou mais sua senhora (…). que o índio de José de Alencar.Este escreveu três obras:
A jandaia pousada no olho da palmeira repetia tris- “O Guarani”, “Iracema” e “Ubirajara”, e torna o índio
um símbolo nacional, o herói da pátria e o elemento for-
temente:
mador de um Novo Mundo. Embora idealizado, Alencar
— Iracema! faz questão de firmar o índio como representante de
Desde então os guerreiros pitiguaras, que passavam nosso passado histórico.
perto da cabana abandonada e ouviam ressoar a voz
3. Na terceira estrofe, a mulher passa a ser vista pelo eu poético
plangente da ave amiga, se afastavam, com a alma
de forma sublime, contrastando com a forma grotesca presente
cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia.
nas estrofes anteriores.
E foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio 4. O texto I pertence ao Romantismo, e o II, ao Modernismo. A
onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio. relação amorosa, no texto I, caracteriza se pelo lirismo e pela
(José de Alencar, Iracema. São Paulo: Ática, 1992, p. 52 e p. 80.) idealização romântica. No texto II, a relação se caracteriza pela
irreverência.
a) Explique o papel simbólico desempenhado pelo cão.
b) Explique o papel simbólico desempenhado pela 5.
jandaia ou ará. a) No texto de Taunay, o sertanejo é representado como
destemido e corajoso, acolhido por uma natureza exube-

Gabarito rante. No texto de Graciliano, o homem cansado, faminto


e miserável, é repelido pela aridez da natureza.
b) Na visão romântica de Taunay há uma idealização da
E.O. Aprendizagem figura do sertanejo, caracterizado muitas vezes como
um herói integrado à natureza. Na visão modernista de
1. E 2. B 3. B 4. A 5. E Graciliano, o sertanejo é apresentado como vítima de um
processo de exploração e degradação político-social.
6. C 7. B 8. C 9. D 10. D
6.
a) Na referida passagem, José de Alencar explora as diferen-
E.O. Fixação ças socioeconômicas entre os personagens da cena urbana
que descreve. Utilizando-se de metonímia, a seda e o ha-
1. D 2. D 3. C 4. E 5. B vana conotam a riqueza e o status das classes socialmente
6. B 7. B 8. E 9. E 10. C privilegiadas, enquanto o algodão e o cigarro de palha evo-
cam a condição desfavorecida das classes populares.
b) Paulo perguntou a Sá quem era aquela senhora. Este
E.O. Complementar respondeu-lhe que não se tratava de uma senhora, mas
sim de uma mulher bonita. Em seguida, perguntou a ele se
1. E 2. E 3. A 4. D 5. E
desejava conhecê-la.
7.
E.O. Dissertativo a) O estilo de época é o Romantismo. Alguns aspectos
1. desse estilo presentes no fragmento do texto em questão
são a descrição minuciosa a visão subjetiva da realidade,
a) Manuel A. de Almeida tem como traço comum a sátira
alguns aspectos que, marcam a vida em sociedade naque-
social, pois abandona a visão da burguesia e assume o le momento histórico, a tensão entre a corte e a província.
popular. Algumas características formais do romance pi-
b) José de Alencar idealiza as belezas naturais da cidade
caresco presentes na obra: história narrada na 3a pessoa e as diferenças socioeconômicas entre seus habitantes,
 VOLUME 2

do singular, cenas rápidas (quadros), a trama segue os utiliza-se de um excessivo descritivismo, com predomínio
passos do herói e a linguagem espontânea. de períodos longos e uso de adjetivação. Já Paulo Lins des-
b) O herói picaresco é aquele que está à margem da creve de forma realista a cena urbana e seus conflitos so-
sociedade, é astucioso, vadio, malandro, o que contraria cioculturais, faz uso de uma linguagem seca e econômica,
aos padrões românticos da época. com períodos curtos e com pouco uso de adjetivos.

112  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


E.O. Enem 5. Jão Fra era um facínora temido por todos (“Onde se encontra
Jão Fera, ou houve morte ou não tarda”), mas despertava piedade
1. D 2. D 3. C em Berta, como se depreende do diálogo de Miguel com Berta: “–
Você não tem pena?/– De um malvado, Inhá!/– Pois eu tenho!”.
E.O. UERJ 6.
Exame de Qualificação a) Iracema desempenha no romance o papel de heroína
romântica. Na canção de Chico Buarque, Iracema desem-
1. B 2. B penha o papel da brasileira exilada que consegue "se
virar", procurando "se dar bem" na América do Norte.
E.O. UERJ b) No romance "Iracema, lenda do Ceará" (e não "Irace-

Exame Discursivo ma - uma lenda do Ceará", de acordo com o enunciado


da questão), o jogo anagramático com o nome da hero-
1. A personagem Inocência apresenta características român- ína faz referência ao Brasil ou, genericamente, à América
ticas como o fato de ser sonhadora, querer ser princesa, pos- do Sul. Já em Iracema voou, o anagrama funciona como
suir uma beleza deslumbrante e aparência física frágil. No en- referência à América do Norte, Estados Unidos.
tanto, o fato de ser iletrada, viver no campo e querer aprender 7.
a ler distancia-a desse perfil idealizado. a) Os romances vinculados ao Naturalismo apresentam
2. Inocência era ousada, vaidosa, queria aprender a ler e tinha enredos cujos personagens cedem irremediavelmente ao
a mente cheia de sonhos. Pereira era repressor e autoritário e destino cego das ‘leis naturais’, assumindo a carnalidade
reprovava os desejos da filha por achá-los esquisitos. Os per- do corpo no centro da narrativa. Assim, em O cortiço, a
sonagens estão inseridos no contexto do romance regionalista. ideia determinista de raça e do meio na construção do
temperamento das personagens é exemplificada na atra-
ção física de Jerônimo por Rita Baiana, e, na sequência, na
E.O. Objetivas degradação moral dos personagens. Já em Memórias de
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) um sargento de milícias, a dinâmica da narrativa pretende
revelar o cotidiano das classes médio-baixas da cidade do
1. B 2. A 3. D 4. C 5. B Rio de Janeiro com bastante humor e que envolvem situa-
6. C 7. D 8. A ções tidas apenas como amorais. Ou seja, embora ambos
os romances apresentem cenas eróticas, mas a temática é
tratada de forma diferente pelos seus autores.
E.O. Dissertativas b) O enredo de Memórias de um sargento de milícias de-
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) corre na época de D. João VI, quando a corte portuguesa
se mudou para o Rio de Janeiro fugindo de Napoleão Bo-
1. naparte, o que transformou o cotidiano dos habitantes do
a) O guarani e Ubirajara. Rio. A chegada do Rei com a aristocracia portuguesa e os
b) Criar a lenda de origem do Ceará. funcionários públicos, com toda a sua formalidade, con-
trastava com a vida simples do povo carioca, com sua vida
2. simples e a sua malandragem sadia. O romance não tece
a) Seixas devolve o dote a Aurélia e recupera sua liberda- crítica moral, apenas apresenta com muito humor o en-
de e sua honra. contro dessas duas culturas tão diferentes e a estratégia
b) A regeneração de Seixas e o final feliz. de sobrevivência das classes populares. Já em O cortiço o
emigrante português é visto sob a ótica da exploração de
3.
forma grosseira e animalesca, subordinado ao contexto
a) O personagem principal, Leonardo filho.
cultural a que foi lançado. Trata-se de romance de cunho
b) Todos os episódios relacionam-se de alguma forma social, cujo enredo se situa no Rio de Janeiro do Segundo
com Leonardo. Desse modo, o aluno pode citar qualquer Império e tem como tema a ambição e a exploração do
um dos eventos vivenciados pelo protagonista ao longo homem pelo próprio homem, em que o português explora
do romance. o brasileiro, apresentado como ser inferior.
4. 8.
a) Essa característica está relacionada ao seu papel de a) Japi representa a fidelidade, o companheirismo e a de-
heroína e mártir, uma defensora que se sacrifica em be- dicação total que caracterizam a verdadeira amizade. Poti,
nefício dos desvalidos. Sua situação social evidencia essa amigo de Martim, entrega-lhe o seu mais fiel companhei-
característica, pois transita entre duas classes sociais dis- ro para que, em caso de dificuldade ou perigo, pudesse
tintas, a saber, a elite e os escravos. Berta era livre, porém acorrer ao seu chamado de socorro.
pobre, não pertencia à classe dominante.
b) Apesar de ter sido esquecida por Iracema quando esta
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b) A classificação é justificada quando se lembra da esco- vivia feliz em companhia de Martim, a ará volta para con-
la literária à qual a obra está inserida, o Romantismo, pois solar a sua senhora, comungando também da tristeza que
é comum encontrar personagens que apresentam caráter o abandono de Martim lhe provocava. Assim, a jandaia
dual e/ou contraditório. representa a amizade sincera, compreensiva e generosa.

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ANOTAÇÕES

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