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RESENHA: "Dilemas do planejamento regional e as instituições do

desenvolvimento sustentável."
GALVANESE, Carolina; FAVARETO, Arilson (2014). Dilemas do planejamento regional e as
instituições do desenvolvimento sustentável. Rev. bras. Ci. Soc. [online], vol.29, n.84 [citado
2019-02-27], pp.73-86.

Introdução:

O artigo "Dilemas do Planejamento Regional e as Instituições do


Desenvolvimento Sustentável", de Carolina Galvanese e Arilson Favareto,
discute os desafios do planejamento regional e do desenvolvimento
sustentável, com foco no papel das instituições. Aborda a mudança de
paradigma nas políticas de desenvolvimento regional, a importância das
instituições participativas e os desafios que elas enfrentam. O estudo de caso
do Vale do Ribeira ilustra as fragilidades das estratégias de sustentabilidade e
a necessidade de considerar as realidades locais.

Uma das principais contribuições do artigo é a exploração das diferentes


abordagens teóricas para entender a relação entre economia, meio ambiente e
desenvolvimento sustentável. Ele destaca as limitações das abordagens
tradicionais e argumenta a favor de uma perspectiva mais integrada, que leve
em conta as estruturas sociais e as relações de poder.

Na virada das décadas de 1980 e 1990, assistimos a uma mudança de


paradigma no desenvolvimento regional, marcada por abordagens mais
participativas e territorializadas. Nesse novo contexto, houve um movimento em
direção à diversificação da produção, ao envolvimento da sociedade civil, ao
uso sustentável dos recursos naturais e à criação de instituições voltadas para
a cooperação. A sustentabilidade emergiu como um princípio central,
enfatizando o equilíbrio entre aspectos econômicos, sociais e ambientais.

As instituições participativas desempenham um papel crucial na


promoção do diálogo entre diferentes agentes sociais, na formulação de
políticas públicas mais eficientes e voltadas para a qualidade de vida, na
definição de regras de uso dos recursos naturais e na facilitação da
cooperação entre grupos sociais com diferentes visões de desenvolvimento
territorial.

No entanto, há desafios e limitações a serem enfrentados. Críticas à


visão simplista que automaticamente associa participação e instituições ao
desenvolvimento sustentável precisam ser consideradas. É essencial analisar
as estruturas de poder e os interesses presentes nos contextos regionais,
utilizando teorias sociológicas, como a teoria dos campos de Bourdieu, para
compreender as dinâmicas sociais subjacentes.

O Vale do Ribeira oferece um exemplo concreto dos desafios e


oportunidades do planejamento regional e das instituições participativas.
Revela fragilidades nas estratégias de busca pela sustentabilidade e destaca a
importância de considerar as realidades específicas de cada território.

Economia, Meio Ambiente e a Aposta Institucional:

Os autores exploram a relação entre economia, meio ambiente e


desenvolvimento sustentável, criticando as teorias tradicionais e propondo
alternativas. A economia ambiental é vista como insuficiente, enquanto a
economia ecológica e a nova economia institucional oferecem perspectivas
mais abrangentes. A teoria dos campos de Bourdieu é destacada por
considerar as estruturas sociais e as relações de poder.

Abordando a interseção entre economia, meio ambiente e instituições, é


fundamental reconhecer os desafios das teorias econômicas tradicionais em
incorporar a dimensão ambiental. A economia ambiental enfatiza o papel do
sistema de preços na coordenação das atividades econômicas, enquanto a
economia ecológica ressalta os limites físicos do crescimento econômico e a
importância dos serviços ambientais. A nova economia institucional destaca o
papel das instituições na promoção do desenvolvimento sustentável, embora
enfrentando críticas por não considerar adequadamente as dinâmicas
históricas e sociais.

O Território do Vale do Ribeira como Campo:

O artigo examina o Vale do Ribeira como um campo socioeconômico


complexo, com história, características ambientais e desafios de
desenvolvimento. A região, rica em recursos naturais, enfrenta dificuldades em
traduzi-los em qualidade de vida para a população. A análise do Vale do
Ribeira como um campo socioeconômico destaca a importância de entender as
estruturas sociais e as desigualdades de poder.

O Vale do Ribeira, com sua história de ocupação e características


ambientais distintas, destaca-se como um campo socioeconômico complexo.
Desafios de desenvolvimento, como a tradução dos recursos naturais em
melhorias na qualidade de vida, e questões como desigualdades sociais e
pobreza, evidenciam a necessidade de análise das estruturas sociais e das
relações de poder presentes na região.

Onde as Instituições Encontram as Estruturas Sociais:

A interseção entre instituições e estruturas sociais é fundamental para


compreender como essas entidades moldam comportamentos e influenciam o
funcionamento umas das outras. O caso da barragem de Tijuco Alto
exemplifica como diferentes grupos sociais respondem aos incentivos
institucionais e como isso influencia os debates sobre desenvolvimento
regional, diferentes visões sobre desenvolvimento regional são influenciadas
por estruturas sociais e como as trajetórias de vida dos indivíduos estão ligadas
à distribuição desigual de recursos e poder. A análise das trajetórias de vida
dos envolvidos revela que as percepções sobre a barragem e o
desenvolvimento regional estão relacionadas aos estoques de capital
acumulados.

Conclusão:

A conclusão destaca a evolução das políticas de desenvolvimento


regional, os desafios da participação social e os limites das instituições na
promoção de mudanças significativas. A estrutura social do Vale do Ribeira
molda as dinâmicas de distribuição de recursos e as disposições à ação dos
diferentes grupos sociais, influenciando os resultados dos processos
institucionais. A teoria dos campos de Bourdieu é útil para entender as
estruturas sociais e as assimetrias na distribuição de recursos. O estudo
aponta para a necessidade de aprofundar os estudos sobre as relações entre
instituições e comportamentos, visando desenvolver instrumentos teóricos mais
robustos para promover a sustentabilidade e reduzir as desigualdades.

As políticas de desenvolvimento regional evoluíram de abordagens


centralizadas e generalistas para enfoques mais democráticos e participativos,
destacando a importância da governança local e da promoção do diálogo entre
diferentes atores sociais para enfrentar os desafios do desenvolvimento
sustentável.

Em conclusão, o artigo oferece uma contribuição significativa para o


debate sobre o desenvolvimento regional e a sustentabilidade, destacando a
importância de abordagens integradas que considerem tanto as dimensões
econômicas e ambientais quanto as estruturas sociais e institucionais. No
entanto, também aponta para a necessidade de continuar a aprofundar nossa
compreensão dos desafios enfrentados e das estratégias para superá-los.

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