Você está na página 1de 6

A CLAREZA ARGUMENTATIVA

Na representação da caverna de Platão, o sol e sua luz representam a verdade e o


bem, respectivamente. A clareza é enfatizada como a qualidade transformadora da luz
em uma atmosfera de obscuridade, onde tudo é confuso e indistinto. A verdade faz com
que a obscuridade desapareça e abre espaço para uma clareza onde as coisas se tornam
visíveis e distintas umas das outras. Descartes elogiou a conexão entre verdade, clareza
e distinção.
Um texto que é claro é como um espetáculo de luz que ilumina a obscuridade do
trabalho de escrita. Schopenhauer destaca que escrever de forma incompreensível é
fácil, mas alcançar a clareza é difícil. Quando se trata de estudos e pesquisas
aprofundados, que requerem comunicação precisa e acessível, essa dificuldade é
particularmente evidente.
Apesar das dificuldades, os alunos contemporâneos podem escrever um texto claro
se esforçarem e escrevam com sinceridade. Para a escrita acadêmica, o conselho de
Hume sobre escrever com "sentimentos naturais sem ser óbvios" é particularmente útil
porque o desafio não é evitar o óbvio, mas sim manter a clareza diante da linguagem
técnica da ciência. O maior obstáculo para a clareza é a artificialidade que pode surgir
dos costumes acadêmicos, que tendem a alienar o escritor de sua humanidade e
dificultar a comunicação com um público mais amplo.
Em resumo, a clareza acadêmica que se espera de um texto não se limita aos padrões
de um departamento, mas é uma clareza aberta que combina argumentação lógica com
uma comunicação estética e humana. Kant enfatiza que o leitor de toda publicação
científica espera ser tratado como alguém que merece ser esclarecido. Um bom texto de
divulgação científica deve seguir as mesmas regras que Condillac estabeleceria para
qualquer escritor competente. Embora haja uma diferença entre a clareza lógica do
prosador que procura instruir e a clareza estética do poeta que procura encantar, ambas
são elementos essenciais de um único movimento argumentativo. Podemos dizer que
tanto o poeta quanto o dançarino servem ao prosador para o mesmo objetivo.

CLAREZA LOGICA ARGUMENTATIVA

Nietzsche questiona a origem da lógica no cérebro humano em "A Gaia Ciência",


sugerindo que o ilogismo, que era dominante no início, é a fonte original. Ele compara a
lógica a um instrumento para o pensamento, como um tear manual é um instrumento
para o trabalho humano. Destaca-se o fato de que nem todos os pensamentos possuem
uma base intrinsecamente racional. Por sua vez, Aristóteles queria estabelecer uma
ordem na política da Atenas, permitindo que tanto pensamentos lógicos quanto não
lógicos coexistissem livremente. Para garantir que todos os pensamentos gerassem
discursos que fossem compatíveis com uma cidade bem governada, ele fez da lógica um
instrumento essencial para o discurso.
Um modelo industrial de produção de discursos lógicos ocorreu em certo ponto após
o surgimento da ciência moderna. Nesse modelo, todos os indivíduos foram obrigados a
se tornar operários em uma fábrica de discursos em massa, em vez de continuar sendo
um artesão do pensamento. Essa mudança foi intensificada pela "virada linguística" do
século XX, que apoiou a noção de que os indivíduos poderiam controlar a qualidade
lógica dos discursos de forma colaborativa. Atualmente, o sistema de produção em
massa de conhecimento objetivo emprega esse controle da lógica do discurso, separado
do pensamento livre. É fundamental que os alunos aprendam os princípios lógico-
discursivos pelos quais os produtos discursivos são avaliados.
Karl Popper, em "A Lógica da Pesquisa Científica", estabeleceu que toda monografia
deve expressar logicamente um raciocínio válido e verdadeiro. Essa é a base para os
critérios de avaliação dos produtos discursivos acadêmicos. Os enunciados passíveis de
reprovação são aqueles que não têm lógica, como discursos puramente emocionais, e
aqueles que têm lógica, mas não a verdade, como argumentos baseados em premissas
falsas.
O método pelo qual os discursos acadêmicos são avaliados depende da legitimidade e
autenticidade das proposições apresentadas. Se os enunciados não atenderem aos
padrões de verdade, se apresentarem raciocínios válidos, mas não verdadeiros, se
apresentarem raciocínios verdadeiros, mas inválidos, ou se não expliquem
silogisticamente seus argumentos, os enunciados podem ser reprovados. As
monografias acadêmicas devem ter uma estrutura silogística que reflete as partes do
núcleo silogístico, bem como os raciocínios periféricos que integram os argumentos em
torno do núcleo.

CLAREZA ESTILISTICA

A estética é fundamental para a compreensão e comunicação de conceitos como prazer


e doloroso, belo e feio. Isso é particularmente importante para a divulgação científica,
pois a sensibilidade humana é necessária para a transmissão de informações. Mas a
estética não pode substituir a lógica do discurso. Encontrar a maneira de equilibrar os
aspectos lógicos e estéticos em textos científicos é uma tarefa difícil. As proposições
lógicas são abstratas e requerem contextos específicos para serem compreendidas
plenamente, portanto, Kant afirma que exemplos concretos e esclarecimentos ajudam a
alcançar esse equilíbrio.
É necessário um esforço estético para conectar o mundo abstrato das ideias ao mundo
real dos fenômenos empíricos; isso é especialmente verdadeiro para conceitos mais
abstratos. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles demonstra como a justiça deve ser traduzida
em equidade para se ajustar às circunstâncias reais. Além disso, Kant admite que a
estética de um texto deve ser adaptada ao público-alvo, reconhecendo que os textos
científicos dirigidos a adultos requerem um estilo diferente. Assim, elementos como
histórias, estilo de linguagem, exemplos e metáforas devem ser ajustados para atender
às necessidades de um público específico.
O estilo do texto acadêmico deve ser adaptado às preferências estéticas da comunidade
acadêmica. De acordo com Condillac, repetir uma vez pode ser mais eficaz em alguns
contextos, mas em outros, a repetição pode ser necessária para clareza. Além disso,
como John Stuart Mill observou, para garantir uma recepção favorável, o autor não deve
apenas buscar aprovação intelectual, mas também apelar aos sentimentos humanos, pois
a adesão emocional pode afetar como a tese é vista.
O texto acadêmico deve ser construído com a premissa de que suas proposições
científicas são refutáveis, o que significa que o autor deve justificar e antecipar
quaisquer objeções que possam surgir. Como demonstrado pela habilidade de J.-J.
Rousseau em rebater objeções em seus textos, os alunos são encorajados a familiarizar-
se com técnicas retóricas científicas. Ele respondeu às críticas à sua tese do inatismo
moral da consciência com sagacidade e humor, demonstrando este domínio.
Quando o autor oferece ao leitor um prazer intelectual, como ao contar uma anedota
sagaz, como a do ateu religioso no texto de Rousseau, o texto acadêmico tem uma
qualidade estética.

MODULO 4

A REFERENCIA

O autor cita John Stuart Mill, enfatizando a importância de apelar aos sentimentos
humanos além da aprovação intelectual. Ele enfatiza que os textos acadêmicos devem
ser construídos sob a premissa de que as proposições são refutáveis e que as objeções
devem ser antecipadas, como exemplificado por J.-J. Rousseau. Além disso, refere-se ao
fato de que proporcionar prazer intelectual ao leitor, como por meio de anedotas
inteligentes, melhora a qualidade estética do texto acadêmico.
A regra que se aplica à noção de fenomenologia de Husserl também se aplica à noção
de referência: não há referenciado que não seja referenciado por um referenciado ou
referenciado que não seja referenciado por um referenciado. Considere o caso de Ana,
uma brasileira do século XXI que não sabe nada sobre a obra de Rousseau "O Contrato
Social". No entanto, isso não significa que Ana não esteja envolvida com essa obra; em
vez disso, ela estabelece uma relação de coexistência influente com ela, integrando a
memória comum dos brasileiros.
No entanto, uma relação clara de referência surge entre Ana e o trabalho quando ela o
lê e o compreende. A obra e o leitor ganham muito dessa relação. A obra enriquece a
história individual do leitor porque vem da memória coletiva. O leitor se torna mais
ativo, crítico e talvez mais grato por ter tido essa experiência. Além de saber fazer
referências, o acadêmico também deve saber catalogar as obras que cita, pois essas
obras servem como fontes de pesquisa. O próprio estudante, que escolhe o objeto de sua
pesquisa, decide o estatuto de fonte de pesquisa de uma obra. Portanto, qualquer obra,
independentemente de seu gênero ou suporte, pode ser utilizada como fonte de pesquisa.
O poema "Bela, bela" de Ferreira Gullar não é apenas um poema encantador para os
leitores, mas também pode servir como uma referência para estudos acadêmicos sobre
métodos para atrair leitores com poemas. Neste contexto, o pesquisador se comporta
como Ulisses, amarrando-se ao mastro do navio para resistir ao encanto das sereias. A
prática de catalogar referências protege os estudantes dos encantos acríticos e das
seduções perigosas que podem desviá-los da navegação metódica da pesquisa.

A CITAÇÃO

Compagnon é o primeiro a introduzir o conceito de citação, que é definido como "pôr


em movimento, fazer passar do repouso à ação". No entanto, essa definição, embora
precisa, é incompleta e ampla. Pessoa dá um exemplo prático de como a citação
funciona na leitura de livros, relatando uma experiência pessoal com uma carta de uma
ex-aluna chamada Rose. Rose recita e responde a um ensaio de Rousseau neste relato,
mostrando como a citação torna as ideias contidas nos textos uma força vital. Rose
mostra como a citação pode melhorar uma experiência de leitura, conectando o leitor à
história por meio de gestos como buscar um livro na estante, recitar versos e participar
ativamente da leitura.
Na passagem, o ato de citar é principalmente relacionado a imagens encontradas em
trabalhos autorais, como cartas, principalmente devido às preocupações com a proibição
do plágio nos dias atuais. Os padrões legais e técnicos, como a NBR 10520 da ABNT,
criaram-se para distinguir os trechos enxertados do texto do autor. Eles aconselham o
uso de aspas ou recuo para destacar os enxertos e a inclusão de notas de referência para
identificar com precisão a fonte.

O TRABALHO ACADEMICO

Em 2018, o professor Fiorin enfatiza a etimologia do termo "argumento", que vem do


latim "argumentum", cuja raiz indo-europeia remete à noção de brilho e está relacionada
à palavra "argentum", que significa prata. As qualidades da prata e a argumentação
científica podem ser comparadas devido a essa associação. Isso se deve ao fato de que,
assim como a prata facilita a passagem de elétrons, a argumentação científica também
facilita o fluxo de declarações científicas, particularmente no contexto da comunicação
acadêmica. A argumentação é essencial em ambientes onde a veracidade científica é
discutida, como salas de aula, para equilibrar os pontos de vista dos enunciadores e dos
enunciatários, evitando a perda de energia causada por discursos falaciosos que
bloqueiam o discurso.
A argumentação científica enfrenta desafios como as falácias, que exigem um
"pedágio" do ethos, logos e pathos, assim como a prata pura é rara na natureza. A
mesma forma que o fundidor hebraico precisava purificar o minério para produzir prata
pura, os cientistas precisam trabalhar arduamente para refinar a linguagem natural para
que os enunciados científicos possam ser claramente expressos no texto argumentativo.
A capacidade de refletir a realidade de forma precisa é o que define um bom argumento
científico. A demonstração é uma gramática que descreve o mundo, e a justificação é
uma retórica que revela sua essência.
O discurso reflexivo é comparável ao ouro, à prata e ao silêncio. Acredita-se que a
clareza do discurso acadêmico seja tão clara quanto o brilho do sol, embora não acredite
mais na teoria do espelho, que afirma que os discursos refletem com precisão a
realidade. Depurar a linguagem natural na oficina acadêmica é um desafio que envolve
várias atividades, como aulas, leituras e apresentações, entre outras. "Um argumento é
como um organismo", afirmou, confundindo o trabalho acadêmico com o próprio
processo de argumentação científica.

Toulmin enfatiza a importância da dinâmica entre as partes internas e externas de um


argumento acadêmico e enfatiza o valor de um trabalho bem elaborado. Os estudantes
devem pensar nos critérios de avaliação dos examinadores, que incluem linguagem,
conteúdo e apresentação. Além disso, é essencial assumir a autoria de um trabalho
acadêmico, como escolher um título adequado, apresentar o tema de forma concisa e
escrever o texto com clareza e precisão, mantendo a linguagem adequada e as normas
acadêmicas em mente.

O trabalho acadêmico deve seguir os padrões básicos, como um título relevante, uma
introdução concisa, um desenvolvimento claro e uma conclusão que derive logicamente
do desenvolvimento.
Certifique-se de que o conteúdo do texto esteja relacionado ao tema da pesquisa e que
não inclua informações irrelevantes ou inúteis.
As bases teóricas relacionadas ao tema devem ser destacadas, principalmente quando se
trata de abordagens filosóficas.
Evita usar termos complicados ou antiquados e use uma linguagem simples e fluente.
Substitua passagens imprecisas por frases mais diretas e concisas para ser objetivo.
Para tornar o texto mais objetivo e fácil de entender, substitua opiniões subjetivas por
descrições fenomênicas e geométricas detalhadas.
Evita substituir palavras específicas encontradas na bibliografia por termos técnicos da
área.
Esteja atento às normas gramaticais da língua portuguesa, pois o texto acadêmico é
avaliado pela conformidade com o padrão culto.
Para evitar acusações de plágio e possíveis sanções civis e penais, siga as leis de direitos
autorais e estatutos universitários.

Você também pode gostar