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clorpromazina+
Os esquemas terapêuticos emprega Hospital Banco de Olhos de Porto Ale foram classificadas como grau III, e 3
dos . no uso destas drogas envolvem, gre, o qual consistia na medida da delas apresentaram impregnação do
comumente, terapia a longo prazo, de acuidade visual, retinoscopia biomi endotélio corneano. Nove pacientes
vido à doença psiquiátrica subjacente, croscopia e fundoscopia. (4 0 , 9 %) apresentaram grau II, sendo
nornlalmente de difícil controle através A fim de avaliannos as alterações do que nenhuma delas apresentou altera
do tratamento clínico ou psicoterápico, cristalino, estabelecemos mna classifi ções corneanas. Finalmente, 6 pacien
obrigando o uso da medicação por perí cação, em graus crescentes, conforme a tes (27,3 %) apresentaram grau l, e ne
odos prolongados, muitas vezes de for sua gravidade, na seguinte ordem: nhuma destas apresentou qualquer alte
ma permanente ao longo da vida. ração que comprometesse a córnea.
Os anti-psicóticos, como qualquer GRA U O: sem alterações oculares: Portanto, todas as pacientes que tive
outra droga, são capazes de produzir GRA U I: pigmentação bilateral discreta ram comprometimento ocular, apresen
efeitos prejudiciais ao organismo, pa da cápsula anterior do cristalino, na taram, no mímino, opacificação bilate
ralelos àqueles efeitos benéficos que área pupilar, de aspecto disciforme. ral do cristalino. Os dados obtidos são
buscamos quando instituímos a medi GRA UII: pigmentação bilateral discreta mostrados no gráfico 1 .
cação. da cápsula anterior do cristalino, porém O exame do fundo-de-olho mostrou
Já em 1 958, efeitos oculares adver já delimitando o formato de estrela. se alterado em 6 pacientes. Destas três
sos foram notados em pacientes que fa GRA U III: Pigmentação bilateral mode apresentavam escavação glaucomatosa
ziam uso de clorpromazina 1 2 . A partir rada da cápsula anterior do cristalino da papila, uma apresentava alterações
de então, vários têm sido os relatos que em fonna de estrela. hipertensivas na vascularização reti
correlacionam o uso de clorpromazina GRA U IV: pigmentação bilateral acen niana compatível com o grau 2 da clas
com o aparecimento de opacidades do tuada da cápsula anterior do cristalino si ficação de Keith e Wagener (KW2),
cristalino e da córnea. Tais opacidades, em forma de estrela. outra mostrava drusas no pólo posterior
consistem em depósitos granulares, lo e a última apresentava hialose aste
calizados preferencialmente na porção Após a fase de exames, procedeu-se róide . Nenhuma destas alterações foi
anterior do cristalino, onde freqüente à revisão dos prontuários das pacientes, atribuída ao uso da clorpromazina
mente assumem aspecto de catarata colhendo-se dados dos últimos 10 anos (CPZ).
estelar, e porção posterior da córnea. a respeito do padrão de uso e da dose de Apesar das dificuldades encontradas
No presente trabalho, estudamos as clorpromazina.
na obtenção de infonnações, a acui
alterações oculares encontradas em 3 8
dade visual não se mostrou alterada
pacientes psiquiátricos crôliicos inter RESULTADOS pelas opaci ficações oculares secundá
nados no Hospital Psiquiátrico São
rias ao uso de altas doses de clorpro
Pedro de Porto Alegre (HPSP), correla
Entre as 3 8 pacientes examinadas, mazina. As variações do nonnal foram
cionando-as com o uso de clorpro
22 (5 7,9 %) delas apresentavam alguma atribuídas a erros de refração e a pre
maZÍna.
alteração ocular. sença de catarata em sua grande maio
Na distribuição confonne o grau de ria de origem senil.
CASUÍSTICA E MÉTODOS impregnação do cristalino, observamos Ao analisarmos, retrospectivamente,
que 3 pacientes, o que corresponde a de acordo com a dose total de clorpro
No periodo de dezembro de 1 99 I a 1 3 ,6% dos pacientes com alguma mazina utilizada pelos pacientes nos
dezembro de 1 992, foram examinados alteração ocular, apresentaram grau últimos 1 0 anos, observamos uma inci-
38 pacientes psiquiátricos crônicos in IV. Destas, todas
ternados no Hospital Psiquiátrico São apresentaram im
Pedro , que faziam uso de clorpro GRÁFICO 1
pregnação do en Frequência de opacificações oculares, por grau, em pacientes
mazina. Todos os pacientes eram do dotélio corneano, em uso a longo prazo de clorpromazina. .
sexo femiriino, devido às dificuldades sendo que unla pa
operacionais que encontramos para ciente apresentou,
examinarmos os pacientes das unidades associada à pig
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masculinas. A idade das pacientes va mentação lenticu E
[
.91
riou entre 25 e 72 anos, com média de lar e endotel ial , o �::!!O
50.7 anos. Das 3 8 pacientes 2 1 (55 .3 %) pigmentação do � 1
eram brancas, 1 7 (44,7%) pretas. terço posterior do c:
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As pacientes foram submetidas a e stroma. Quatro
Grau de Opacificação
exame oftalmológico especializado, no pacientes (1 8,2%)
QUADRO 1
Observamos 6 pacientes que haviam
interrompido o uso de clorpromazi n a
Freqüência de opacificaçõeoOculares em relação a dose lolal de clorpromazina, em gramas.
há mais de 3 anos. Dentre estas pacien
Do s e Pacienles com Pacienles sem Tolal tes, 4 apresentavam alterações de grau
em gramas opacificação ocular opacificação Ocular variando entre I e II e 2 pacientes não
Na % NI % NI % apresentavam alterações. Outras 2 pa
Acima 1 000 4 1 00 O O 4 11 cientes também haviam cessado o trata
500-999 5 50 5 50 10 26 mento, mas há menos de 3 anos, e
200-499 8 62 5 38 13 34 ambas apre sentavam opacificações
-200 5 45 6 55 11 29 oculares, uma com grau II e a outra
Tolal 22 16 38 1 00 com grau IV.
DISCUSSÃO
dência maior de alterações pigmentares çada, a dose total necessária para pro Os dados que obtivemos mostram
nos pacientes submetidos a doses ele vocar opacificações oculares é compa que de um total de 3 8 pacientes que
vadas, conforme mostra o quadro 1 . rativamente menor que nos pacientes faziam uso de clorpromazina, 22 pa
Se fracionarmos os pacientes com mais jovens. cientes (57 ,9%) apresentaram e feitos
opacificação ocular nos 4 grupos que Analisando o quadro acima, obser oculares adversos, manifestados por
fizemos re ferência anteriormente e , va-se que a dose total média nos pa opacificação do cristal ino ou da córnea.
compararnlOs com a dose total de cientes com opacificação ocular e ida Todas as 22 pacientes apresentaram
clorpromazina utilizada, em gramas, é de superior a 60 anos foi de 26 1 gra� pigmentação b ilateral do cristalino,
possível percebermos, novamente, 'que mas, bem menor que nos outros grupos sendo que 6 delas ( 1 5 , 8%) apresenta
altas doses totais determinam altera etários. Isto pode sugerir uma maior ram pigmentação corneana concomi
ções oculares mais intensas, conforme suscetibilidade nos pacientes com ida tante (gráfico 1 ) .
constata�se no quadro 2. de mais avançada. N a nossa série , a s alterações d o
Corroborando a afirmação acima, A incidência de alterações oculares cristalino foram a s manifestações ocu
podemos calcular a dose total média nos 2 1 pacientes de cor branca que fa lares mais freqüentemente encontradas
utilizada em cada grupo, através da ziam uso de clorpromazina foi de 57%, e o envolvimento da córnea sempre
simples soma da dose total de todos os enquanto que nos negros foi de 59%. esteve associado a graus elevados (III
pacientes de um determinado grupo, e Com relação à regressão das opa e IV) . Estes dados corroboram a im
posterior divisão pelo número total de cificações do cristalino e da córnea, 3 pressão da literatura mundial 2. 4. 5 . S. I I .
pacientes por grupo. Ao compararmos, pacientes foram acompanhadas, através 12.
As alterações cristal ineanas con- .
então, a média das doses totais de clor de fotodocwnentação, por um períodó sistiram em depósitos granulares de
promazina a cada diferente grau de al de aproximadamente I ano após a in pigm entos na cápsula anterior, cuj o
terações oculares, obtemos o seguinte terrupção do uso de clorpromazina. formato e intensidade mostraram-se
gráfico (Gráfico 2); Observou-se um decréscimo no grau da dependentes da dose tofal ! de clor
Analisando-se a incidência por faixa opacificação, ainda que tenha havido a promazina. Inicialmente, estas altera
etária, observamos uma tendência au persistência desta anormalidade. ções apresentam-se como um depósito
mentada entre 4" e 6a décadas, com um
declínio a partir da 7a década, conforme
mostra o quadro 3 . Entretanto, salienta
mos que dos 5 pacientes com idade su Q UADRO 2
perior a 60 anos que não apresentaram FreqUência de opacificações oculares, por grau, em relação a dose total de clorpromazina, em gramas:
alterações oculares, 3 receberam dose
D ose Grau IV Grau III Grau II Grau I Grau O Tota l
total de clorpromazina inferior a 70 em g ramas NI % NI % NI % NI % N° % N° %
gramas nos últimos 10 anos (o que cor
responde a uma dose total baixa) . Por Acima 1 000 3 75 1 25 O O O O O O 4 11
500-999 O O 3 30 2 20 O O 5 50 10 26
outro lado, ao confrontarmos a incidên
200-499 O O O O 6 46 2 15 5 39 13 34
cia por faixa etária com a dose total -200 O O O O 1 9 36 6 55 11 29
média de clorpromazina, observaremos
que nos pacientes de idade mais avan- Tolal 3 4 9 6 16 38 1 00
GRÁFICO 2
1 1 , 12, 13
, Paranhos 9, com graus I e II. A grande maioria dos
Freqüência de opacilicaçoos oculares, por grau, em relação contu d o , sugere autores também têm observado um
à dose total média de CPZ em gramas
ser o tempo o fa- maior comprometimento do endotélio
tor de maior im come ano do que do estroma. Johnson
portância, embora 6, entretanto, observou a ocorrência de
este autor não te- ceratopatia epitelial, semelhante àque
I_
nha fe i to uma la induzida pela cloroquina; em pa
:-;.1oW m6d. do CPZ correlação com a cient e s usuários crôn i co s de clor
dose total , promazina. Na nossa série, nenhuma
Todas as pa paciente teve comprometimento epi
cientes com dis telial .
tribui ção disci A natureza das alterações corneanas
OPAU I , S, 8, 1 2
form e dos pig e lenticulares . não é conhecida .
branqui çada. Estes dados também são paciente mo strou comprometimento As opaci ficações em formato este
semelhantes aos descritos por outros estromal , sendo que esta foi a paciente lar, até pouco tempo atrás, eram pa
I I,
au t o r e s 5. 12
. C las s i fi cam o s as que util izou a maior quantidade de tognomônicas do uso de altas doses de
alterações do cristal ino em 4 grupos, clorpromazina ( 1 376 gramas). As opa clorpromazina s. Todavia, estudos re
desde a distribuição d isciforme ini cial cidades corneanas nunca apareceram centes mostraram catarata estelar em
até uma acentuada catarata estelar. isoladas , embora isto esteja descrito na pacientes ambulatoriais não usuários de
A observaçã,o de nossos achados l iteratura 6. Estas alterações mostra clorpromazina 10
.
mostra uma nítida correlação entre as ram-se dependentes da intensidade das A s u s c e t i b i l i d a d e às alterações
pacientes submetidas a doses elevadas alterações do cristal ino, sendo en corneanas e lenticulares parece aumen
de clorpromazina e a intensidade das contradas em 75% das pacientes com tar com a idade, de acordo com os nos
alterações oculares. Vários trabalhos grau III e em 1 00% das pacientes
com sos resultados (nos idosos a dose total
têm sugerido idéia semelhante 3, 4 , S, 7 , 8, grau IV, não aparecendo nas pacientes ne cessária para o aparec imento das
opaci ficações parece ser menor do que
nos i ndivíduos mais j ovens) . Não foram
QUADRO 3 encontradas alterações do fundo de
Frequência de opacHicações oculares em relação à faixa etária e a dose total média de clorpromazina. olho secwldárias à clorpromazina, e a
acuidade visual não se mostrou alterada
Faixa Etária Pacientes com Pacientes sem
pelas opaci fi caçõe s oculares , o que
opacHicação ocular opacHicação ocular
também é consoante com a maioria dos
N" % Média dose total (g) N' % Média dose total (g) autores 1 , 7, 8, I I , É interessante salientar a
presença de relatos na l iteratura de per
20-29 t 25% 1 . 259 3 75% 531
30-39 6 1 00% 520 O 0% O da da função visual devido às opacida
40- 49 4 67% 751 2 33% 355 des do cristalino e da córnea 12
e , mais
50-59 8 57% 396 6 43% 295 raramente , a uma de generação pig
60 ou + 3 37% 261 5 63% 171
mentar retiniana irreversível produzida