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FINANÇAS PÚBLICAS E DIREITO FINANCEIRO

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1-A actividade financeira desenvolvida pelo Estado deve ser vista em três
dimensões. Comenta.
R: A priori, penso ser imprescindível aflorar que esta questão reporta-nos a matéria
atinente a Actividade Financeira do Estado, que consiste, essencialmente, na arrecadação
de receitas para realização de despesas, outrossim no seu controlo.
Sendo assim, esta actividade deve ser vista em três dimensões:
a) Económica: por ser uma actividade que consiste na arrecadação de receitas para
realização de despesas, e para efeito, requer o uso e aplicação de recursos
financeiros necessários a satisfação das necessidades colectivas.
Veremos adiante que esta dimensão coincide com o sentido objectivo de Finanças
Públicas, referido pelo professor Sousa Franco.
b) Política: por ser uma actividade que se realiza numa comunidade politicamente
organizada, o que pressupõe a existência do Estado e da sua organização
administrativa. Essa dimensão é relevante, e, parafraseando o professor Pedro
Soares Martinez, eminentemente política, porque compete ao partido dominante
que tenha ganho as eleições escolher ou definir quais necessidades deverão ser
satisfeitas.
Esta dimensão, coincide com o sentido orgânico de Finanças Públicas, que nos apresenta
o professor Sousa Franco.
c) Jurídica: como trata-se, aqui, duma actividade desenvolvida pelo Estado, importa
que os institutos financeiros estejam organizados com base no critério da justiça,
de tal modo que os encargos e os benefícios públicos sejam distribuídos
equitativamente entre os cidadãos (Eliza Rangel, pag.37).
2- Por que se diz que a cobrança de receitas e a realização de despesas são
actosmeramente instrumentais?
R: Ainda no âmbito da actividade financeira do Estado, diz-se que a cobrança de receitas
e a realização de despesas são actos meramente instrumentais, porque, eles não se
destinam, de per se, em satisfazer as necessidades colectivas, mas sim, a obtenção de
meios monetários que permitem através doutras actividades, concretizar tais satisfações.
Ou seja, o objectivo principal do Estado, é a satisfação das necessidades colectivas e não
a arrecadação de receitas e despesas, estes são, apenas, meios que o Estado usa para
concretizar o seu fim.
Olhai: o estudo das Finanças não se esgota nos actos meramente instrumentais (cobrança
de receitas e realização de despesas), mas também no seu controlo (que consiste em
avaliar se tal actividade está a ser exemplarmente cumprida ou não). A matéria do
controlo é extremamente relevante aquando a abordagem relativa ao Orçamento Geral do
Estado.
3- Distinga necessidade activa de necessidade colectiva, e diga que tipo de relação cada
uma delas estabelece com o preço.
R: Antes de partirmos para a distinção entre necessidade activa ou individual e a
necessidade passiva ou colectiva, penso ser conveniente começarmos por desmistificar
os conceitos. Sendo assim, vejamos:

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Necessidade activa ou individual: tal como o próprio nome sugere activa: o que
pressupõe implicitamente uma acção (facere), ou individual: pressupõe que a
necessidade é particular, ou seja, alheia a uma pessoa. Necessidade activa ou individual,
podemos defini-la, portanto, como necessidade duma pessoa que para sua satisfação
impõe que a mesma adopte um determinado comportamento (facere).
Olhai: as necessidades activas são satisfeitas mediante a utilização de bens, entretanto, a
utilização dos bens implica que as pessoas terão de pagar (preço) pelo consumo, o que
significa que quem não tiver a possibilidade de pagar o preço (que por exemplo é exigido
por um vendedor de alimentos) esse não poderá ter sua necessidade satisfeita, logo, aqui
o preço aparece como factor de exclusão. Sendo assim, é cabível afirmar que o preço
mantém uma relação de conflito com a necessidade activa, porque a sua existência
consubstancia-se num factor de exclusão à satisfação das necessidades de determinados
indivíduos.
Por outro lado, temos as necessidades de satisfação passiva ou colectiva, e tal como o
próprio nome sugere, passiva: significa que não exige uma acção (non facere), colectiva:
para significar que trata-se de necessidade de mais de uma pessoa. Podemos defini-la,
como necessidade de uma ou mais pessoas, que para a sua satisfação não impõe a adopção
de um determinado comportamento (non facere).
Olhai: nas necessidades passivas, ao contrário da primeira, não existe nenhum preço que
serve como factor de exclusão, ou seja, todos os indivíduos podem ver suas necessidades
satisfeitas sem necessitar adoptar algum comportamento, nem pagar nada. A título de
exemplo temos o bem exército, que satisfaz a nossa necessidade de segurança.
Assim sendo, importa referir que por não existir, nas necessidades passiva, e portanto,
não seve como um elemento de exclusão, o preço e as necessidades passiva mantêm uma
relação de indiferença.
Chegado até aqui, e à guisa de conclusão, o que distingue uma necessidade activa duma
necessidade passiva é que, a satisfação da primeira exige do indivíduo a adopção de um
comportamento, enquanto o da segunda não, e como consequência disso, na primeira
existe o preço como fator de exclusão, enquanto na segunda não.
4- Distinga e contra distinga o princípio da inexclusão, irrivalidade, indivisibilidade
como princípio da exclusão, rivalidade e divisibilidade.
R: Fala-se dos princípios mencionados supra no âmbito da matéria relacionada as
necessidades, sendo assim, a primeira distinção e contra distinção, consiste em saber,
quais deles vigoram nas necessidades activas ou nas necessidades passivas, e quais deles
vigoram em ambas. Vejamos:
O princípio da exclusão, rivalidade e divisibilidade vigoram nas necessidades activa, por
isso contra distinguem-se (relacionam-se); enquanto que o princípio da inexclusão,
irrivalidade e Indivisibilidade, vigoram nas necessidades colectiva, por isso contra
distinguem-se mas distinguem-se dos primeiros (que vigoram nas necessidades activa).
Olhai: dentre estes princípios acima mencionados, há alguns deles que vigoram tanto nas
necessidades activa quanto nas necessidades passiva. São estes: o princípio da exclusão,
que contra distingue-se (relaciona-se) do princípio da irrivalidade, pelo facto de existirem,
dentro das necessidades activa, bens cujo consumo é excluível (alimento) mas irrival
(fornecimento de energia eléctrica ou sessão de filmes no cinema).
5- Quais são os principais meios de financiamento do Estado, e qual o mais
privilegiado?

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R: Segundo a professora Eliza Rangel, meios de financiamento do Estado resultam das
receitas que este cobra em consequência da produção de bens e serviços (Eliza Rangel-
pag.54). Os principais meios de financiamento do Estado são:
Imposto: receita tributária instituída pelo Estado ou pela Autarquia (art.102º nº 1, 3 CRA;
art. 8º nº 2 LQOGE). Este é o principal meio de financiamento porque não onera o Estado,
ou seja, o Estado aqui não aparece nem como comprador nem como devedor.
Taxa: receita tributária (art. 102º nº 1 CRA; art. 8º nº 2 LQOGE). Esta distingue-se do
imposto pelo facto de possuir um carácter sinalagmático (há uma contraprestação).
Preço: receita patrimonial, proveniente do património privado do Estado (art. 96º CRA;
Art. 10º nº 2), tais como: renda de prédios, lucros das empresas públicas.
Empréstimo (art. 162º al. d) CRA; art. 7º nº 3 LQOGE- deixa implícito o recurso a
empréstimo ao invés da criação da moeda; art. 11º nº 4 LQOGE): o recurso a este meio
de financiamento não é aconselhável, porque, além de não ser um meio de financiamento
permanente, o Estado torna-se um devedor, porque tem de reembolsar.
6- Taxas são preços autoritariamente fixados. Comenta esta afirmação.
R: Para início de conversa, importa referir que essa é uma afirmação do professor Teixeira
Ribeiro, entretanto, não há consenso na doutrina quanto a esta afirmação, por isso é
susceptível de crítica, pelo seguinte: do ponto de vista jurídico-angolano, as taxas fazem
parte das receitas tributárias (art.102º nº 1 CRA, art. 8º nº 2 LQOGE) razão pela qual têm
um carácter coactivo, pois, a fonte subjacente a sua criação é legal e coactiva ao contrário
dos preços que fazem parte das receitas voluntárias, ou seja, não têm um carácter coactivo
mas consensual.
Portanto, devido a sua natureza jurídica, as taxas não podem ser consideradas preços
autoritariamente fixados.
7- Sempre que o Estado cobra receitas tem em vista a realização de despesas.
Comenta.R: Essa afirmação não corresponde à verdade.
É imprescindível ter em conta que um dos objectivos principais do Estado (enquanto
administração pública) é a satisfação das necessidades públicas, sendo assim, o Estado
pode satisfazer necessidades públicas sem precisar realizar despesas. É a partir daqui que
se fala das receitas extra-fiscais para significar que há situações em que o Estado cobra
receitas não para realizar despesas mas para diminuir o excesso de massa monetária em
circulação (combate à inflação); outras vezes o Estado cobra elevadas taxas aduaneiras
para desincentivar a importação de bens primários (que podem ser produzidos no país)
concomitantemente para incentivar a produção nacional.
8- Por que razão compete ao Estado assegurar o fornecimento de bens públicos?
R: Há, essencialmente, duas razões que concorrem para que o Estado tenha a competência
de assegurar o fornecimento de bens públicos:
Primeiro porque a sua existência assim impõe, já que um dos seus fins é garantir o bem-
estar económico e social (art. 56º CRA).
Segundo porque o Estado tem uma perspectiva de interesse geral e poder de autoridade,
o que lhe permite realizar actividades que outros entes não poderão realizar, por não estar
ao seu alcance (art. 198º CRA).

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9- Qual a necessidade da intervenção do sector público?
R: Essa questão remete-nos a matéria atinente a Public Choise, onde se procura saber qual
necessidade da intervenção do sector público. Fala-se da necessidade da intervenção do
sector público, porque entende-se que o mercado não é eficiente, razão pela qual é
necessária a sua intervenção (do sector público), de modo a afectar recursos para que se
possa proporcionar eficiência económica, através do estabelecimento de igualdade, da
correta distribuição dos rendimentos.
10- Segundo o professor Sousa Franco, em quantos sentidos deve ser visto as
Finanças Públicas, e distinga Finanças públicas de Finanças Privadas.
R: Segundo o professor Sousa Franco as Finanças Públicas devem ser vistas em três
sentidos:
1- Objectivo: para significar que a mesma consiste na afectação de meios económicos
para satisfação das necessidades colectivas (este sentido remete-nos a dimensão
económica da actividade financeira do Estado).
2- Subjectivo: para significar a disciplina científica que estuda a actividade financeira, e
as normas que regem esta actividade.
3- Orgânico: para significar que são os órgãos do Estado que tomam decisões financeiras,
Presidente da República e Parlamento (este sentido remete-nos a dimensão política da
actividade financeira).
As Finanças Públicas distinguem-se das Finanças Privadas em três aspectos:
1- Modo de Financiamento: como já vimos, o modo de financiamento privilegiado das
Finanças Públicas são os impostos, ao passo que das Finanças Privadas são os preços
colocados à disposição no mercado.
2- Finalidade: os fins das Finanças Públicas é a satisfação das necessidades colectivas,
enquanto o das Finanças Privadas é o lucro.
3- Relação entre Receitas e Despesas: nas Finanças Privadas são as receitas que definem
as despesas, enquanto nas Finanças Públicas são as necessidades que definem as despesas.
Olhai: este terceiro elemento de distinção traz consigo muita discussão porque entende-
se que, não obstante as necessidades serem relevantes para definirem as despesas, porém
se as receitas não forem suficientes para cobrirem as despesas, então, as necessidades não
serão satisfeitas, logo, mesmo aqui (nas Finanças Públicas) são também as receitas que
definem as despesas que o poder político achar relevante serem satisfeitas.
11- Segundo os Clássicos, o Estado não devia intervir na Economia. Porquê?
R: Os clássicos (que correspondem ao capitalismo liberal dos finais do século XIX e início
do século XX) foram fortemente influenciados pelo pensamento naturalista, por isso eles
acreditavam que o Estado não devia intervir na Economia, por dois motivos:
Primeiro porque eles entendiam que o mercado já se auto regulava (as leis que regulam
o mercado são tão exatas quanta as leis da física), fala-se aqui da existência da mão
invisível.
Segundo, porque eles entendiam que o Estado não é um agente económico, por isso
devia dedicar-se apenas a prossecução de determinados objectivos, tais como a realização
da justiça, a administração pública, diplomacia e segurança.

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12- Qual a distinção entre uma actividade económica e uma actividade financeira?
Distinga um agente económico dum agente não económico.
R: O que distingue uma actividade financeira duma actividade económica é o seu objecto,
isto é, enquanto o objecto da actividade financeira é a arrecadação de receitas e realização
de despesas com vista a satisfação das necessidades públicas ou privadas, o objecto da
actividade económica é a produção de bens e serviços escassos com vista a satisfação de
necessidades públicas ou privadas.
Um agente económico distingue-se dum agente não económico pelo facto daquele (agente
económico) ser o indivíduo ou grupos de indivíduos que participam directa ou
indirectamente na economia (Ex: uma pessoa, família, empresa); ao passo que agentes
não económicos são aqueles que não participam diretamente na Economia (Ex: Igrejas,
ONG’s).
13- Quais são os princípios que caracterizavam as Finanças Neutras?
R: As finanças neutras correspondem ao período do liberalismo económico do século
XIX a início do século XX, e é caracterizada pelos seguintes princípios:
1- Privatização da Economia: o Estado devia incentivar a iniciativa privada.
2- Sector público reduzido. O Estado devia focar-se as questões ligadas a justiça,
administração pública, segurança, etc.
3- Participação do Estado na riqueza gerada (aqui, importa referir, que a participação
do Estado seria muita, se os objectivos que pretende alcançar forem muitos, e seria
pouca, se os objectivos que pretende alcançar forem poucos) - Fala-se, aqui, do
princípio do mínimo, segundo o qual, a participação do Estado na riqueza gerada
consiste em absorver a menor parcela do rendimento nacional.
4- As Finanças Públicas deviam ser simples porque os funções do Estado também
eram simples e pequenas.
14- Segundo os Clássicos, se os impostos forem insuficientes, o Estado devia agravá-
los, mas nunca recorrer a empréstimos. Comenta esta posição dos Clássicos, e diga
se ela contradiz ou não o princípio do mínimo.
R: A posição dos Clássicos em relação aos empréstimos era clara: não se deve recorrer a
empréstimos. Entretanto, eles admitiam, excepcionalmente, o recurso a empréstimos em
situações caóticas, tais como: Estado de guerra ou calamidade. Não obstante a isso, essa
posição dos Clássicos não contraria em momento nenhum o princípio do mínimo, pois,
tal como vimos, a participação do Estado na riqueza gerada (através da cobrança de
impostos) será muita se os objectivos que pretende alcançar forem muitos, e
sucessivamente.
15- Quais factores estiveram na base da transição do Estado Neutro para o Estado
Intervencionaista?
R: Há dois factores que estiveram na base da transição do Estado Neutro para o Estado
Intervencionista:
O primeiro factor, de Ordem Política marcado pelos seguintes aspectos:
- A passagem do voto censitário ao voto universal (corolário da Revolução Francesa de
1789). O voto censitário era um tipo de sufrágio discriminatório, em que os votos
daqueles que tinham maior capacidade financeira tinha um valor superior ao dos que
tinham menos. Esse factor é relevante e importante por dois motivos: a) já que todos os

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cidadãos podem votar, e o voto de todos tem o mesmo valor, então a maioria tem
prerrogativa de escolher qual modelo de Economia deve ser adoptado (se é o liberal ou
intervencionista); b) como o governo é eleito pelo voto da maioria, então cabe a este,
trabalhar a fim de satisfazer o interesse desta maioria, de tal modo, intervindo na
Economia.
- Surgimento dos partidos políticos Trabalhistas e Socialistas. Partidos, cuja ideologia
impõe a intervenção do Estado na Economia.
- As duas grandes guerras mundiais. Após as duas grandes guerras mundiais, o mundo,
sobretudo a Europa, foi afectado por uma grande crise económica, razão pela qual surge
a necessidade da intervenção do Estado na Economia-para suprir a crise.
- A doutrina social da igreja, que duma forma ou de outra influenciaram o poder político
a intervir na Economia.
O segundo factor, de Ordem Económica marcado pelos seguintes aspectos:
- Os choques petrolíferos no século XX- que impulsionou o surgimento da OPEP.
- A Grande Depressão de 1929-33, fruto da segunda guerra mundial.
- Surgimento de novas teorias económicas. Destaca-se o economista John N. Keynes- que
defendia a intervenção do Estado na vida económica.
- Surgimento de novos conceitos de redistribuição da riqueza- que consiste na
redistribuição dos rendimentos a favor dos que têm um rendimento mais pequeno.
16- Quais são as características das Finanças Intervencionistas?
R: As Finanças Intervencionistas, correspondem ao período neo-liberal do século XX, e
tem as seguintes características:
- O Estado torna-se um agente económico, razão pela qual, passa ter um papel mais activo
na actividade económica.
- Alargamento do sector público. Passa haver dois sectores de actuação do Estado: o
sector público empresarial e o sector público administrativo.
- O empréstimo passa a ser visto como meio normal de financiamento.
- O princípio do mínimo é substituído pelo princípio do ótimo.
17- Qual a distinção entre Finanças Públicas e Direito Financeiro?
R: Há, indubitavelmente, uma clara distinção entre as Finanças Públicas e o Direito
Financeiro. Vejamos:
A primeira consiste na sua natureza, enquanto o Direito Financeiro é um ramo do Direito
Público, logo é concebível dizer que é uma ciência jurídica; as Finanças Públicas, por ser
um domínio da ciência Económica é uma ciência ajurídica.
A segunda distinção, é quanto ao seu conteúdo, enquanto o Direito Financeiro é
normativo porque define as normas que regulam a actividade financeira; as Finanças
Públicas é descritiva porque estuda as normas criadas pelo Direito Financeiro.
18- Cite algumas ciências que se ocupam do fenómeno financeiro.
R: Eis algumas ciências que se ocupam do estudo do fenómeno financeiro:

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- Psicologia Financeira: estuda a actividade financeira do ponto de vista do
comportamento do indivíduo.
- Economia Financeira: estuda a actividade financeira com a sua relação com a Economia.
- Sociologia Financeira: estuda a actividade financeira tendo em conta os grupos sociais.
-Técnica Financeira: estuda os meios adequados para se atingir os fins da actividade
financeira.
- Política Financeira: estuda os meios imediatos da actividade financeira.
19- Debruce sobre o Direito Financeiro, e diga por que é um ramo do Direito
público.
R: Direito Financeiro, é o ramo do Direito público interno que define as normas jurídicas
que regulam a obtenção, gestão, dispêndio e o controlo dos meios e da actividade
financeira. Este está dividido em três áreas, nomeadamente:
-Direito das receitas: que regula a obtenção dos meios financeiros.
Olhai: dentro do Direito das receitas autonomizou-se o Direito tributário (que regula as
receitas tributárias: impostos e taxas); no entanto, por sua vés, dentro do Direito tributário
autonomizou-se o Direito fiscal (que define as normas que regulam a incidência, o
lançamento e a cobrança de impostos).
-Direito das despesas: define as normas que regulam o dispêndio dos meios financeiros
(dita o modo como as despesas serão realizadas).
- Direito da administração financeira ou fazendária: regula a organização dos órgãos
da própria administração financeira ou fazendária.
Como referenciado no exórdio desta abordagem, o Direito Financeiro é ramo do Direito
Público, e isto por razões muito simples, e sem precisarmos recorrer a Sumam Divisa
(matéria atinente a divisão do Direito em dois grandes ramos: público e privado), olhemos
pelo facto de serem as normas do Direito Financeiro que regulam a actividade financeira
desenvolvida pelo Estado e pelas demais pessoas colectivas públicas, outrossim as
relações jurídico-financeiras estabelecidas entre o Estado ou demais pessoa colectiva
pública e o cidadão.
20- Que ramos do Direito mantêm relações com o Direito Financeiro?
R: O Direito Financeiro por ser um ramo do Direito, este mantém relação com outros
ramos do Direito, tais como:
- Direito Constitucional. Todos os demais ramos do Direito mantêm relação com o Direito
Constitucional. Por este conter lex superior e normas normandum, impõe que as
normas jurídico-financeiras tenham seu fundamento na Constituição (art. 102º CRA; 120º
al. C; 126º nº 3, al. b).
- Direito Administrativo: a actividade financeira é, essencialmente, uma actividade
administrativa, por ser desenvolvida pela administração pública (art. 101º CRA).
- Direito Penal: porque a violação das normas financeiras são penalmente punidas.
- Direito das Obrigações: tal como nas Obrigações, no Direito Financeiro há também
prestações: imposto (que é uma obrigação fiscal) e o empréstimo (que é uma obrigação
mútua).

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- Direito Processual Comum: aqui o Direito Financeiro vai buscar as normas que regulam
os contenciosos fiscais.
- Direito Internacional Público: quando o Direito Internacional regula a actividade
financeira internacional.
21- Distinga e contra distinga o Orçamento Geral do Estado com os demais
orçamentos.
R: Orçamento Geral do Estado: documento que prevê todas as receitas que o Estado
pretende cobrar e todas as despesas que pretende realizar, desde que tenha autorização
do parlamento, durante o período financeiro (correspondente ao ano civil-365 dias).
Partindo deste conceito, podemos caracterizar os seguintes elementos constitutivos do
Orçamento:
-Previsão: o orçamento é uma previsão de cobrança de receitas e realização de despesas
futuras.
-Autorização: após ser previsto, a sua execução carece de autorização, por parte do
parlamento (art. 24º LQOGE).
-Limitação temporal: a previsão não é ade termine (ilimitada), mas corresponde a um
período de um ano, nem menos nem mais (art. 4º LQOGE).
Chegados até aqui, urge frisar que, o que distingue o OGE dos demais orçamentos é o
elemento autorização (que existe apenas no OGE), no entanto, o que os contra distingue
é justamente o elemento previsão e a limitação temporal (que contém em todos os
orçamentos).
22- Distinga Orçamento de Exercício de Orçamento de Gerência, e diga se este
confunde-se com Conta Geral Do Estado.
R: Antes de partirmos para distinção, convém olharmos para os conceitos de cada um:
O orçamento de exercício é o documento onde se prevê as receitas que o Estado irá cobrar
e as despesas que irá realizar em virtude dos créditos nascidos a seu favor e das dívidas
que contra si irão surgir durante o período financeiro. É uma previsão de receitas e
despesas na sua fase inicial.
Orçamento de Gerência: documento que prevê as receitas que o Estado irá cobrar,
efetivamente, e as despesas que irá realizar, efetivamente, durante o período financeiro.
É uma previsão de receitas e despesas na fase terminal do orçamento.
Chegado até aqui, podemos ver que, o que distingue um do outro é, essencialmente, o
facto de que o primeiro (orçamento de exercício) faz uma previsão dos encargos e
benefícios a partir do seu surgimento sem nenhuma dedução (avaliação), por isso são
inscritos no documento o valor inicial dos encargos ou benefícios que surgirão a favor ou
contra o Estado; o mesmo não sucede com o orçamento de gerência, pois, este, ao invés
de inscrever os encargos e benefícios que surgirão no início, faz-se uma dedução (avalição
do que se vai realmente cobrar e realizar), e por isso os valores inscritos no orçamento
serão os que serão efetivamente cobrados ou realizados, podendo não ser igual ao valor
inicial.
O Orçamento de Gerência não se confunde com a Conta Geral do Estado, pelo facto desta,
ao contrário do orçamento ser uma efectivação, ou seja, aponta para o passado ao
contrário do orçamento (que aponta sempre para o futuro).

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23- Depois de dizeres quais são as vantagens e desvantagens de cada um dos tipos
de orçamento, diga quais são as funções do OGE.
R: O orçamento de exercício tem a vantagem de elucidar o Estado se as receitas que irá
cobrar (créditos) serão suficiente para cobrir as despesas resultantes das dívidas. No
entanto tem sua desvantagem porque nem sempre os créditos que se pretende arrecadar,
é arrecadado e nem sempre as dívidas são pagas no fim do ano, logo, o orçamento de
exercício não consegue elucidar a situação da Caixa do Estado nem o Tesouro Público,
esta noção quem dá é o orçamento de gerência (Eliza Rangel- pág. 107).
O OGE tem as seguintes funções:
1- Económica. Esta reparte-se em quatro aspectos:
- Permite o relacionamento entre receitas e despesas, isto é, permite saber se as receitas
que se pretende cobrar serão suficientes para cobrir todas as despesas que se pretende
realizar.
A lei quadro impõe que as receitas devem cobrir todas as despesas (art.7º nº 1, 2 LQOGE).
- Permite a fixação das despesas. A fixação das despesas é o total da soma das despesas
de cada um dos sectores do Estado.
A fixação total das despesas é imprescindível para garantir maior controlo e cumprimento
à regra da não compensação (art.8º nº 5 LQOGE).
- Permite estabelecer a distinção entre orçamento das receitas e orçamento das despesas.
O orçamento das receitas é pura estimativa de cobranças, enquanto o orçamento das
despesas é uma previsão dos gastos que os serviços públicos não poderão ultrapassar.
O regime jurídico do orçamento das receitas é mais rigoroso que o das despesas, pelo
facto do primeiro constituir uma mera estimativa, ao passo que o segundo é a previsão de
efectivação do que se cobrou, por isso, urge ser imprescindível o recurso a fiscalização
de modo a impor aos serviços que não devam gastar mais do que as verbas que lhes foi
disponibilizadas (art. 31º nº 1 LQOGE).
- Por ser a exposição do plano financeiro. É no orçamento onde se concretiza o plano de
governação do executivo (art. 120º al. C, CRA, art. 19º LQOGE).
2- Política. Reparte-se em dois aspectos:
- Serve de garantia dos direitos dos cidadãos, ficando assegurada a afectação do
património dos particulares de forma racional e justa.
Olhai: O OGE serve como um instrumento jurídico, dos particulares, de garantia contra
o executivo, a medida em que, o não cumprimento das propostas nele contidas darão ao
cidadão o direito de resistência.
- Por servir de garantia do equilíbrio de poderes (por ser uma autorização do parlamento
ao executivo), art.105º nº 3; 161º al. e) CRA.
3- Jurídica: porque traduz-se na autorização do exercício dos poderes da administração
pública financeira. O orçamento é o fundamento (porque impõe o modo de actuação) e
limite (porque condiciona a utilização de modo arbitrário do dinheiro público) da
administração pública financeira.
24- O OGE é um diploma político ou jurídico?

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R: A resposta a essa pergunta é muito divergente, no entanto, a doutrina angolana (Eliza
Rangel- pág. 114) defende a ideia de que seja de facto um diploma jurídico.
O OGE é um acto político (por ser o plano financeiro do executivo, remete-nos ao último
aspecto da função económica do OGE) aprovado (pelo parlamento, art. 161º al. e) CRA)
sob forma de lei material especial (por ser da iniciativa do presidente, apesar de ser
aprovado pelo parlamento).
25- Distinga OGE da Conta Geral do Estado e da Balança.
R: A Conta Geral do Estado e a Balança são figuras afins do orçamento, entretanto não
se confundem.
O OGE distingue-se da Conta pelo facto do OGE ser uma previsão, e a Conta uma
efectivação.
De igual modo, o orçamento distingue-se da Balança pelo facto dele ser uma previsão,
por isso aponta para o que o Estado fará, enquanto a balança aponta para o presente (o
que está a ser desenvolvido); outro elemento que os distingue é o objecto: enquanto o
objecto do OGE são as receitas e despesas, o objecto da balança são os activos e passivos
que o Estado detém no momento).
26- Depois de dizeres qual o sentido e alcance das regras de organização do
orçamento, diga quais são estas regras.
R: A elaboração e execução do orçamento obedece algumas regras, cujo sentido é manter
e garantir a fiscalização e a transparência, com vista alcançar a boa e fácil execução do
orçamento.
Sendo assim, importa-nos analisar nitidamente cada uma destas regras, que são:
1- Anualidade: o orçamento é anual, coincidindo o ano económico com o ano civil.
Esta regra impõe que a previsão de receitas e despesas, quanto a sua execução
deve ser durante o período de um ano (art.104º nº 1 CRA; art.3º nº 1; 4 LQOGE),
ou seja, o OGE começa a vigorar no dia 1 de Janeiro até 31 de Dezembro.
Entretanto, como podemos ver, ela acarreta consigo uma excepção, na ocorrência dos
orçamentos plurianuais- normalmente ocorre nos casos em que há construções que
duram mais de um ano (Ex: construção duma barragem). A própria Constituição no
art.104º nº 1 faz referência a esta excepção.
2- Plenitude Orçamental: um só orçamento, tudo no orçamento (art.104º nº 2 CRA;
art. 5º LQOGE). Esta regra divide-se em duas:
a) Unidade: para significar que existe apenas um único orçamento. O objectivo
principal é evitar que hajam outros orçamentos que estejam fora do controlo do
parlamento, de modo a garantir maior fiscalização e boa execução do mesmo.
Olhai: por existirem unidades orçamentais que gozam de autonomia financeira faz
com que esta regra tenha uma excepção- porque além do Orçamento geral do Estado
passam existir também, orçamentos próprios das unidades orçamentais (orçamento
do sector público), e como consequência disso surge uma outra excepção a esta regra,
que a da dupla cabimentação (porque tais unidades, têm cabimentadas as despesas
no OGE e no seu próprio orçamento).

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b) Universalidade: impõe que todas as receitas que o Estado pretende cobrar e todas
as despesas que pretende realizar têm de estar fixadas no orçamento, de modo a
evitar desvios e garantir maior fiscalização.
3- Discriminação Orçamental: esta desdobra-se em três, e tem seu alcance no
modo como as receitas e despesas são inscritas no orçamento.
a) Especificação: impõe que as receitas e as despesas devem ser suficientemente
individualizadas. O objectivo desta regra é impedir que as receitas e despesas
sejam inscritas de modo geral e abstrato (art.9º e 13º LQOGE).
b) Não Compensação: todas as receitas e despesas devem ser inscritas no orçamento
sem qualquer dedução ou descontos. O objectivo é evitar que se faça previsão de
receitas líquidas porque pode frustrar a fixação do montante exacto das despesas,
ficando difícil evitar que os gastos sejam feitos além dos créditos orçamentais
atribuídos (art.8º nº 5 LQOGE).
c) Não Consignação: todas as receitas devem servir para cobrir todas as despesas.
Consignar significa, arrecadar receitas para alocar em determinadas despesas, a
regra impõe, portanto, que não se deve proceder de tal forma (art.21º nº 1 al. b)
LQOGE).
Olhai: esta regra também sofre excepção, nos casos em que a própria lei prevê (art.21º nº
1 al. b), nº 2 LQOGE), outrossim nos casos em que as unidades orçamentais gozem de
autonomia financeira, podendo consignar suas receitas para realizarem despesas
específicas.
4- Publicidade: esta regra impõe que após a sua aprovação, o OGE deve ser
publicado no Diário da República (art.3º nº 1 LQOGE). A razão de ser desta regra
é óbvia, já que dissemos que o OGE tem uma natureza jurídica (lei material
especial) concomitantemente por ser um documento de interesse geral (já que é a
exposição do plano financeiro do governo).
5- Equilíbrio: esta é a regra mais controversa, todavia a mais importante, porque
permite avaliar o mérito da actividade financeira do Estado. O equilíbrio pode ser
formal (o OGE está sempre equilibrado nesta perspectiva, por se tratar duma mera
igualdade aritmética, art.7º nº 1 LQOGE) ou material (o problema coloca-se
quanto ao equilíbrio material, porque nem sempre orçamento está materialmente
equilibrado). Devido as controversas, que existem aqui, surgiram quatro teorias
que debruçam sobre o tema, designadamente:
a) Concepção Clássica: que traz o conceito de receitas normais, aquelas
provenientes dos impostos. Segundo estes, o orçamento está equilibrado desde
que as receitas normais servirem para cobrir o total das despesas.
b) Activo da Tesouraria: esta concepção faz referência a distinção entre receitas
e despesas efectivas (a primeira diz respeito àquelas que aumentam o
património monetário do Estado-impostos; a segunda, àquelas que diminuem
o património monetário do Estado-pagamento de salários a função pública) de
receitas e despesas não efectivas (a primeira aumentam o património
monetário do Estado e os seus encargos-empréstimo; a segunda, diminuem o
património monetário do Estado e seus encargos-pagamento de dívidas-
reembolso). Esses, ao contrário dos clássicos, admitem o recurso aos
empréstimos, desde que sirvam para pagar os empréstimos anteriormente
contraídos.
c) Concepção Neo-Clássica: fazem a distinção entre receitas e despesas
ordinárias (aquelas que se repetem qualitativamente todos os anos) de receitas
e despesas extraordinárias (aquelas que não se repetem todos os anos).

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d) Activo Patrimonial do Estado ou Critério do Orçamento Corrente ou de
Capital: este é o critério adoptado pelo nosso ordenamento jurídico (art.7º nº
1, 2 LQOGE). Este critério faz distinção entre receitas e despesas correntes
(aquelas que não alteram o valor do património duradouro do Estado, Ex:
imposto; pagamento de salários a função pública) de receitas e despesas de
capital (aquelas que alteram o valor do património duradouro do Estado, Ex:
empréstimo; construção duma barragem).
Olhai: segundo este critério, o orçamento está equilibrado sempre que as receitas
correntes cobrem o total das despesas correntes, ou quando as despesas de capital são
cobertas pelo total das despesas de capital ou pelo excedente das receitas correntes.
Entretanto, o orçamento está desiquilibrado sempre que as despesas correntes forem
cobertas pelas receitas de capital (nesse caso, entende-se que há um desinvestimento ou
desaforo).
27- Que relação se pode estabelecer entre as funções do OGE com as regras de
organização do Orçamento?
R: As funções do OGE dizem respeito aos fins que o mesmo visa alcançar (concretizar o
plano de governação do executivo, art.120º al. b) , c) CRA, mediante autorização e
controlo do parlamento e do tribunal de contas art. 161º al. e), art. 162º al. b) CRA, tendo
em vista a satisfação das necessidades públicas, art.198º CRA); ao passo que as regras de
elaboração do Orçamento, servem como fundamento (definem como e quando devem ser
inscritas as receitas e as despesas no OGE, art.4º; 8º nº 5 LQOGE) e limite (impõem como
devem ser procedidas a execução do OGE, art.21º al. b); 31º nº 2 LQOGE).
Há algumas funções, ou melhor dizendo, há dois aspectos da função económica do OGE
que relacionam-se com algumas regras de organização do OGE.
Partindo do pressuposto, que já sabemos, porque já vimos acima, quais são as funções e
as regras de organização do OGE, Vejamos:
1- O primeiro aspecto da função económica relaciona-se com a regra do equilíbrio, isto
é, o critério do orçamento corrente ou do activo patrimonial do Estado, já que esta regra
impõe, de igual modo, que o orçamento deve prever os recursos necessários para cobrir
todas as despesas. Portanto, tanto o primeiro aspecto da função económica, quanto a regra
do equilíbrio orçamental, visam garantir o equilíbrio material do orçamento, que se
consubstancia no facto de todas as receitas correntes poderem cobrir todas as despesas
correntes (art.7º nº 1,2 LQOGE).
2- O segundo aspecto da função económica relaciona-se com a regra do orçamento
bruto ou regra da não compensação, porquanto a fixação total das despesas significa a
sua inscrição de forma bruta e não líquida, ou seja, sem qualquer dedução ou
compensação (art.8º nº 5 LQOGE). O objectivo de ambos é evitar que os serviços gastem
mais do que os créditos orçamentais atribuídos.
28- Quais são os objectivos principais da intervenção do Estado na Economia?
R: Os objectivos principais da intervenção do Estado na Economia são: a) redistribuição
do rendimento a favor dos que têm um rendimento mais pequeno; b) estabilidade
económica-estabilidade de emprego, e dos preços a curto e longo prazo; c)
desenvolvimento económico-aumento do rendimento per capita.
29- Como é feita a elaboração do OGE, e por quê é feita pelo presidente da República?

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R: A elaboração do OGE decorre das instruções que emanam do presidente da República
para cada uma das unidades orçamentais (art.120º al. c) CRA; art.19º; 20º nº 1, al. a), b)
LQOGE).
A razão pela qual compete ao presidente a elaboração do OGE é óbvia, já que este é um
documento que concretiza o plano de governação do executivo, então faz todo sentido
caber essa responsabilidade ao presidente da República, na medida em que ele é o titular
do poder executivo (art.120º al, c) CRA).
Olhai: unidades orçamentais são órgãos do Estado ou da autarquia a quem são
consignadas dotações orçamentais próprias (art.14º nº 2 LQOGE).
30- No que consiste a consolidação da proposta orçamental?
R: A priori, penso não ser despiciendo aflorar, que a consolidação da proposta orçamental
é um corolário do processo de elaboração do OGE, que consiste em expurgar/diminuir
todas as despesas que não fazem parte das instruções emanadas pelo presidente da
República aquando a elaboração do OGE.
Este processo de consolidação obedece a dois níveis: art.20º nº 1, al. a), b) LQOGE.
31- O presidente pode fazer alteração a proposta orçamental e ao orçamento
vigente?
R: Sim. O presidente pode fazer alteração a proposta orçamental, nos casos em que o
parlamento tenha votado desfavoravelmente a sua proposta orçamental. Neste caso o
presidente é obrigado a elaborar um outro orçamento ou fazer alterações no que tenha
sido rejeitado de modo a remeter novamente ao parlamento para sua aprovação (art. 24 n
4,5,6,7 LQOGE).
De igual modo, após ter sido aprovada a proposta orçamental pela Assembleia Nacional,
o presidente pode fazer alteração no orçamento vigente, nas seguintes situações:
a) Quando ocorrem situações que outrora não foram previstas na lei orçamental (situações
excepcionais, a título de exemplo: a covid-19), art.26º nº 2, al. c) LQOGE) ou porque as
despesas previstas mostram-se insuficientes (art.26º nº 2, al. a) LQOGE).
b) Quando nota-se irrelevante a realização de determinadas despesas.
32- Quais são os períodos que obedecem a elaboração da proposta orçamental e
por quese recomenda que as instruções à execução do OGE sejam feitas no início?
R: A elaboração do OGE deve obedecer a um período suficientemente curto, para permitir
que o momento da previsão se aproxime o mais possível da cobrança das receitas e
pagamento das despesas, e suficientemente dilatado, para permitir que as previsões se
façam com maior exactidão possível (Eliza Rangel).
A elaboração do OGE obedece a determinados períodos: o primeiro corresponde as
instruções que emanam do presidente as unidades orçamentais (art. 19 LQOGE); o
segundo a consolidação, que é feita a dois níveis, mormente, pelas unidades orçamentais
e pelo órgão central responsável pelo OGE (art. 20.º LOGE); o terceiro, seguido pela
remissão da proposta orçamental ao parlamento até 31 de Outubro (art. 24 n 1,2 LQOGE);
e por fim, vem a discussão e a votação da proposta pelo Parlamento (art.24º nº 3 LQOGE;
art.265º nº 2; 266º e 272º, todos do Regimento da Assembleia Nacional).
Recomenda-se que as instruções sejam feitas no início da execução, de modo a evitar que
se façam gastos exorbitantes nos primeiros meses.

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33- Qual a distinção entre o OGE das receitas e o OGE das despesas?
R: Para início de conversa, creio ser importante referir, que esta pergunta não quer
significar que exista mais de um Orçamento Geral do Estado. O sentido e alcance desta
questão é corolário da divisão do OGE em duas partes: a parte que prevê receitas-
chamado orçamento das receitas, e a parte que prevê as despesas- chamado orçamento
das despesas.
Há uma distinção abismal entre o OGE das receitas e o OGE das despesas, vejamos:
-Em princípio, o OGE das receitas é executado através dos documentos de arrecadação
de receitas (DAR), boletim diário de arrecadação (BDA) e pelo boletim diário de
movimentação de contas (BMC), enquanto o OGE das despesas é executado pelas
unidades orçamentais (órgãos do Estado ou autarquias);
- A segunda distinção cinge-se no facto do OGE das receitas ser uma mera estimativa,
isto é, mera previsão de cobranças; enquanto o OGE das despesas ser a previsão dos
gastos que os serviços não poderão ultrapassar.
Olhai: a execução do OGE das despesas resulta obrigações ao Estado, por isso, procura-
se evitar ônus-encargos desnecessários.
34- No âmbito da execução do orçamento das receitas quanto das despesas, devem
ser observadas algumas regras. Esgrime.
R: Para início de conversa, urge ser necessário referir que a execução do orçamento das
receitas ocorre a partir do momento em que as receitas começam a ser cobradas
(normalmente a partir do dia 1 de Janeiro), de igual modo, a execução do orçamento das
despesas ocorre a partir do momento em que as despesas começam a ser realizadas.
Assim sendo, a execução do orçamento das receitas obedece os seguintes princípios:
a) Princípio da Legalidade: estatui que nenhuma receita podee ser cobrada se não tiver
existência legal, ou seja, as receitas têm de ser criadas por uma lei anterior (art. 3
Decreto-Lei n 16-A de 15 de Dezembro).
b) Previsão: Não basta que as receitas tenha existência legal, necessário é, que elas
estejam prevista no OGE. Só assim elas serão cobradas.
c) Transparência: a cobrança de receitas tem de ser feita de modo transparente, para
evitar desvios ou extorsões, ou seja, o orçamento deve ser suficientemente claro em
dizer quais e como as receitas serão cobradas e o seu valor exato, sem qualquer
dedução.
d) Boa Governação: as receitas são cobradas aos cidadãos (através do imposto),
portanto, importa que a cobrança não seja tanta ao ponto dos cidadãos não serem
capazes de pagar.
A execução do orçamento das despesas obedece os seguintes princípios:
a) Previsão: não se deve cobrar receitas que não estejam previstas. Antes da execução do
orçamento das despesas, tem de haver uma previsão das despesas que serão realizadas.
b) Legalidade: não se deve realizar despesas que não estejam previstas no orçamento.
Este princípio é o limite e fundamento da execução do OGE.
c) Cabimentação: os serviços (unidades orçamentais) não devem realizar despesas que
excedam o montante previsto (art.31º nº 2 LQOGE).

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d) Duodécimo: não se devem realizar despesas que excedam a duodécima parte (art.24º
nº 4 LQOGE). A preocupação do legislador é impedir que o grosso das despesas sejam
realizadas nos primeiros meses, ou seja, evitar o dispêndio dos valores nos primeiros
meses de tal modo, que não tenha valores suficientes para cobrir eventuais necessidades
futuras.
e) Três E- as despesas têm de ser oportunas, adequadas e com menor custo possível-
Economia; têm de ser maximizadas, otimizadas- Eficiência; procura-se fazer muito com
pouco, olhando para relação entre custo e benefício- Eficácia.
Olhai: os princípios de execução do orçamento das despesas, não se confundem com as
etapas sucessivas que observa a execução orçamental das despesas (art.30º nº 2 LQOGE).
35- Em que situação se observa a recondução, e qual a sua relação com a regra do
duodécimo?
R: A recondução, pode ser definida como sendo, o processo de transladação do orçamento
dum ano pra o outro, e isso ocorre, essencialmente em dois momentos: o primeiro
momento ocorre nos casos em que o parlamento não tenha aprovado (dentro do prazo-15
de Dezembro) a proposta orçamental (art.24º nº 4 LQOGE); o segundo momento ocorre
nos períodos em que há eleições, por ser humanamente impossível a elaboração dum
documento tão extenso e complexo durante cerca de 4 Meses.
A execução de qualquer orçamento não pode ser feita sem respeitar a regra do
duodécimo. Sendo assim, não é possível separar a execução do orçamento reconduzido
(ou não) com a regra do duodécimo. Portanto, eles têm uma relação de coincidência.
36- O que entendes por Programação Financeira, e qual a sua relação com a regra
do duodécimo?
R: Programação Financeira: acto praticado pela comissão económica que consiste na
definição de prioridades de despesas que serão realizadas, colocando em causa a
observação a regra do duodécimo.
Portanto têm uma relação de conflito, a medida em que, a regra do duodécimo poderá não
ser observada, se a comissão económica achar que determinadas despesas são mais
relevantes em determinado momento do que as outras.
37- Sobre a Conta diga: o que é, qual o seu objectivo e quais são as modalidades de
controlo.
R: A Conta é um documento que funciona como um meio de controlo de todas operações
em que se desdobra a execução do OGE, de tal modo que, através dela, torna-se possível
a responsabilização dos seus agentes por meio da fiscalização a posteriori (art.58º nº 1
LQOGE). Tal controlo só é possível através duma ciência económica- Contabilidade
pública (cuja função principal é velar pela legalidade e regularidade do dinheiro público).
Existem duas modalidades de controlo: interno e externo (art.63º LQOGE).
O controlo interno é exercido pelo IGAE, ao passo que o controlo externo pela
Assembleia Nacional e o Tribunal de Contas.
O controlo feito pela Assembleia Nacional é importante, já que o orçamento concretiza o
plano de governação, torna-se necessário que o órgão representante do povo, faça
fiscalização de modo a garantir que o OGE seja devidamente executado, sob pena dos

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agentes serem responsabilizados. Outrossim, é importante porque permite o equilíbrio de
poderes.
38- Por que se diz que o controlo feito pela Assembleia Nacional é essencialmente
político e o controlo feito pelo Tribunal de Contas é essencialmente técnico?
R: Penso ser de conhecimento ecumênico que a Assembleia Nacional é um órgão político,
razão pela qual o controlo que ela exerce sobre a execução é um controlo político.
Entretanto o controlo feito pelo Tribunal de Contas é técnico, porque incide sobre a
matéria técnico-jurídica do orçamento. Por sua vés o seu controlo poderá desencadear
uma responsabilização financeira (art.6º Lei Orgânica do Processo do Tribunal de
Contas).
Olhai: as demais modalidades de responsabilização (civil e criminal) estão a cargo do
Ministério Público, junto do Tribunal de Contas.
39- A dívida pública é uma questão de Estado. Comenta com base na doutrina e na
lei.
R: Esta afirmação é verdadeira, por três razões: primeiro porque a dívida pública, que é
feita por quem governa hoje, se não for ressarcida será também dívida de quem governará
amanhã.
Segundo, porque olhando para o conceito de Estado em sentido amplo (que envolve tanto
os cidadãos quanto os órgãos de decisão política- presidente da República e o Parlamento)
veremos que a dívida é feita pelo governo, mas nos casos em que há desinvestimentos,
quem paga é o cidadão, através dos impostos.
Há uma terceira razão, que nos remete ao conceito de Estado enquanto poder, cujo
fundamento encontramos no artigo 162º, al. d) da CRA- porque a dívida pública consiste
numa autorização do Parlamento ao executivo.
1- R: A regra da não dedução ou não compensação é um corolário da regra da
especificação, que tem o seu alcance no modo de como as receitas e as despesas são
inscritas no orçamento. A razão que subjaz a consagração dessa regra (da não dedução)
no ordenamento jurídico angolano, é evitar que se faça previsão de receitas líquidas,
porque pode frustrar a fixação do montante exato das despesas, ficando difícil evitar que
os gastos sejam feitos além dos créditos orçamentais atribuídos (art.8º nº5 LQOGE).
Portanto, tem como objectivo garantir maior controlo.
2- R: Eu acho que sim, mas o professor Teixeira Ribeiro diz que não (esta pergunta foi
tirada no livro dele). Eis o fundamento que ele apresenta: não obstante o Estado ter
criado novo imposto para fazer face as despesas deste serviço, isso não quer dizer que o
imposto servirá só para isso... sendo assim, esse caso não configura uma consignação.
3- R: Relacionam-se a medida em que o Direito Financeiro vai buscar normas do Direito
Processual Comum pra regular os contenciosos fiscais.
4- R: A LQOGE adopta o critério do orçamento corrente, segundo o qual o orçamento
está equilibrado sempre que as receitas correntes servirem para cobrir todas as despesas
correntes, e quando as despesas de capital são cobertas pelas receitas de capital ou pelo
excedente das receitas correntes.
A LQOGE acolhe o critério do equilíbrio formal (aqui o OGE está sempre equilibrado,
trata-se de mera igualdade aritmética) e material (aqui, nem sempre o OGE está
equilibrado), art. 7ºnº1,2 LQOGE. Entretanto, a mesma permite que surjam situações

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deficitárias (nº 3, art.7º), que normalmente ocorrem quando as receitas correntes não
podem cobrir o total das despesas correntes.
5- R: O controlo exercido sobre a execução do orçamento é o controlo concomitante
(feito pelo parlamento (através dos balancetes trimestrais) e pelo tribunal de contas
(através dos inquéritos, consultorias, art. 6º Lei processo do TC) e a posteriori (também
pelo parlamento e o TC).
Após o exercício da actividade financeiro, faz-se o controlo, não mais do orçamento
porque este já foi executado, mas da Conta (art.58ºLQOGE). E este controlo, em
princípio é a posteriori (feito pelo TC e o Parlamento).
Olhai: o controlo da Conta faz-se cerca de dois anos após a execução do OGE.
6- R:As regras da Unidade e da não Consignação, podem ser postas em causa nos casos
em que as unidades orçamentais (órgãos do Estado ou Autarquias) gozam de autonomia
financeira.
No primeiro (Unidade) deixa de existir um único orçamento, passando haver: o
orçamento do Estado e o orçamento do sector público.
No segundo (Não consignação), desde que a lei permita pode se consignar receitas para
determinadas despesas (art.21ºnº2 LQOGE) ou, já que as unidades orçamentais gozam
de autonomia financeira (o que significa que eles podem arrecadar receitas e realizar
despesas), estas podem, de per se, arrecadar receitas para alocar a determinadas
despesas.

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