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ESTUDOS ECONOMICOS,
- - H-

Propagandá Abolicionista e Democratica


SETEMBRO DE (874°A SETEMBRO DE Í883 .

. RIO DE JANEIRO.

A. J. LAMOUREUX & Co.


RIJA SF.TE DE SETEMBRO, 79.
1883.
1'
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A
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Of
Á DEMOCRACIA RURAL BRAZILEIRA
Prin,eira Edição de 500 E xemplares doad o s
á Confederação Abolicionista.
DA G

NDL
DE?Uí-'t)

Png.
lwraonricçÃo. ~Szmà,ario. -Defi~ições e explicaçõ~s-)):ngenhos
. ct::-1~Ú:aes- ·F azet~das centraeS- Exemplos e éscláteci-in <: ntús -
Pi:i mé"iro e,iemplo: . associação espont,uiea · eilt'i"e se·nho,,es ele .
,•engen hos- .$egundo eXemplo: associação espon tan ea e ntre fa.,,_""
zen cl ei ros de café - Te r.ceiro exelnplo:. enge n-ho ~fntral co_rn
11111 ,6 ·proprietarin - Q,rnrtó exe mí)lo: fazenda · cental çle care
fnncl aila po r ini ciativa individual- Quinto exémpl©: auxil-io cio
-: gàvei·-n o geral ou provin cial, Oll d~ ambos, .pa_ra à . crenção <le
enge nh os · centraes e de fazendas cenl nres-TyJ_)o.yankte --
A-' id éa ca rdeal dos engenhos _cen traes e ele faze1_1das centr;tes
-pó_,le se r applicacla a tod os os pro,luclo.s ,las indu s lr-i ns agrícola.
-p-à:,;toril e extractiva -- Pr incipio <1e _ centrali:snçi\o agrícl•tla --:-
-~;u_a definição- Prin cipio de c~ntrnlisa çãn_ind ustrià:1- Sue defi -.
nição . __ - - ..... - •.. : - - • - ... ~ .... - ... ':' .. - . . ·_-·- - .•·- - •• :· - .. l

L -(;Sumlnario. -Os princi"pios ele _centrali; açãq agrícola e ele ce11-


tralisação in<lus lrial perante a Sciencia Economi ca - tAtftcam
estes princiyios a iniciati va individtial, <J es}.liri to de :as$Ociflç:1o!
a Libe rdade?- Têm al~uma cousa ele rnm mtun co m a eentra li- •
sação aclministrativ.a?·_:_Analyse e di scussão das lres íÓrmulas
pri11cipaes da_ centrali sação__ agri_cola ·e ela cen t111li sação inrin s,
ti:ial ~ Nota".el evariante ,la pi'-imeira formula-typo ·- _A ce-nlrn-
l ic;ação agr icola e a ce ntralisação industrial são ,Fealm~n_te boas
appli cn:ções-· do· granrle,-prí·ncipio-~eco n<müco- · da; -_''- ._(li visão di->
trabalho t> -- Exemplo_. nà lavoui'a da , canna elo assucar~ Os
novos princípi os de centralisação agrícola. e ce-utritlisação_in"clus-
trial se rãc, age ntes forte~ e cnnstantes ...do prog1:esso ·nacional --
0 progresso defi.,iirlo pela Sciencia Eçonom ica · ho.clierna -
d
--progresso ·para a_ Agricnltn ra Nacional - O prdgresso' do
Brazil depende da acção com binada rios es ínr,ços progressi,ias
elos Brazilei ros e da influe ncia syi npathica do progresso uni-
versal, - - - •.. - - - - -- . - - - - - - - - - - . . - - - - .. - - -- - - -· . - - ·_- . .. - - , - 9
II. - Su1111nario - A ppli cação dos . princípios ele - ce,;tralisação
agrícola e industrial á prorlucção do caíé - O caíé, o principal
prodnclo agrícola hrazil eiro e m valo r e em peso - 0 caíé hra-
. zi leiro predomina nos mercados dos Esta,los-U nicl,Ós - Co 11 ~
ou-rrentes do ca íé brazileiro em Nova-York - Re•fiexões s.o ciaes
e economicas sobre e<tes concurrentes -- A re1,ul1li<::a de Ve-
nezuela, o principal c0ncu rren tes <:lo caíé tírazileh·<1 -- Vanta-
gens ele sit uação; desvantagens elas outras concl ições ·natur,tes. -
Quae s os portos elos Estados-Unidos que mài i recebem café
brazileiro - O Brazil é o principal prod uctor de café elo mun-
do - -Principaes cô nsn1r1 id ores rle café .- Coucurrentes elo
caíé brazil eiro n os mercadôs da E uropa · -' · Producção
univers al do café na colheita ele 18"72 a 1873- O ca í~ -hrazi-
lêiro nas e_xpos ições nni versa~s ~ Victi,ria em Pariz "em 1867.
Victoria maxima· em Vie,nna em 1873 .. _, __ .. __ ____ . ___ .. __ _
\'!

Pag .
II l.--8,i1m1ta1:íQ.-,:\ coru:urrencia d<r -1\Jexico__.::Sua 1.111ciação em
1.8'76 iia l~ xp,>ôiGão In ternaci<i nal de l'l Lna<lelphia___:Caj}acidacje
do . sój,j: 1\1exiéa1\o para prnclucção elo cnfé - O problema da
"-\b,1}it,I1.p Jffi......;t;· al:h:, nlii resolvicl~ __:;... Cnpi.tàl e in.du~triaJ,ankee.
- ' l ratad·o de- Lil,erclacle cjé Co1nrnerc10 Reciproca. entre· as
Repnhlic,,s rio ~foxit;o e rios ·. Estados Unid,is - Produetos -
ªt~rici -.l-a~ (1<' ~[ e,-.:-ic<:) livre~-,,,- Zoll·_ve 1·ei11 A11,1ericano -A grande
propi:iedad e terdtorial no ~IeJie::o - A Landocracia este ri lisa
i.' sõl<t
110 Novo· como .11.0 V·e l ho l'vlundo - ·Plínio e os Latí-
fundi",; :;- iVlo11lesqtMeu e a Liberdac\e nn .Agric ultura.. ... .. .25"

IV::-Smmnario;,,- \ppl1c,1ção dos p 1·111·ci"pios .de cent,alisaçãa" agn


<.;1JLL ~ }nd ;.1,:-- f:ri"l1f-;.á prrn.lu C~~o do café - Onde se vai Ct)nsurnir
o, €\j-fé_ protlgi.i<IA i1 •t 'Brn·t il - ·I-m11ortancia, e variedade dos
me~rc:1.di-rs-----: \.:unve 1_i e11cia -de daí· a maxima exlensão â cultura
d<) eáfé n .! · l h.az.il - Ut11 n·ovo con~nn:ente ao c.tfé brazileirO
-prt:j•;wan L•Í-s,c-;10 @xl reino ào Me,éliLer rn11eo - () Egyplo.actual
-- ·t:.>.e ll nl_() vi,n rento pro~-ress·iy-u sob _a_, acçã0 do khediva Ismail
- TetTê"IY~ri< d'a :-ittbia e da Abyssií11a conquistados por S.amuél
Bnkér - O café é 11ativü nestas_ i·e~iô~$-· com·o no Yemen ou.
Arabia l<'e.i il - O café dé Ka rtow n, ·,., melhor do Mundo, -na
ol'_i·ni~-u ele · Snl11 uer · Baker"- Fahi-fiénçõt>s_ e succeclaneos -do
calé ~ á co l·a t'>u café de ·sudan - Snaácclima~ão-n<> Brazil
-:- frcarê i>razdei ro dnmmar{t sempre nos Estados Unidos e na
An,,,rit:a do Norte -O café, exceilente auxiliar-tia µropàganda
_- para. a al,,tenção das l1ehidas alcoolicas - O café_brazileiro se
pe 1•m111-,1 l'do- trigo d.,,s E;tado, Unidos - Abolição elos
di~;,t~ ~_lc):0- de iltl[>Of•_l..iç:~(.} rio Lrigu ~ Sua·~ Vantagens - Impor-
Laçii.o -1\o lr[g1:> das r~i5ulrl"ica;, ,1, i 1-'rat,i e do Pacifico - Uma
nu.v.a i11dusl1 ia 11acional inicia.ckt pdo Visco nde d~ Itaborahy.. 33

'
·. V ._;;_ .')111J1'J'IJ,ir-rio.·-:- i\j:-iplicaçã9_ dos priQcipios de ·centi-al isaçâo agri-
C<_>ln e indusl ri ,l]_ ·á p1'9ilucção do café (condizuando) - O
,.s'>11su1110 elo café crescerá inde fini r-lamente coa, o clesenv olvi-
me1110 fl<' ·i-,em-esla1· e 'd o conforto das popul ações s·ob a
influcnvia do pro.gres!i0 tiiii vei·s·a1 - P r'b pag~nda para à desen-
volv imento da cuJturn do ca[é ·no Brazil- Quadro synoplico da
exportay~n do café por toct.\~ as prqvfocias nos exercici0s de
1870 a ·73 -- -Co11<'iições naturaes -nec6~ai-ias á cultura do café
- ·Sua aBd1111açã<_1 no Brazi1 com eçotl pd,,~ prov1ncias d0 Pará
e do Amazo nas ·- EstJJ<iO das condições naturaes de cada pro-
vincià para .. a citltura _do c:ifé- P ro víncia do Amazonas -
l) rodif;i<,, de riqneza_no valle elo · ·l{ io Maximo" - · As flores-
tas · de ' ·S,phonia ela'stica" e ele "Aráucaria" do Brnzil -
Trn l "'lho livre no A:11azonas - Trez rnilhões ele 01.íerarios
despre7.ado, 110 Brazil - O que a ro:ina esclavngisla entend e
po,· -íal'ta de lirnços - Exportação de borracha pelo porto ele
Belém, 11 0 P,ti•á-- Trabalhos de prnpagan<la e estat1stica do
Dr. C->utinh,, na -Exposiç,'j,o U111versal rle Pa ri z de 1867-8 on-
c111-rcntes da borracha .braziléirn - O porto ele G nayaquil no
Pacifico.- Ben e ficios· que os novos princípios de centralisação
agrícola e incl~strial trarão á producçátl da borracha . . . .... . 43
Vi í

'H', -;-- Sumniatio. - Applicaçãci dos pri~1ci pio~ d .· cent'r :1J;s:l.:Jt 1


agncol a e 1ndust11al á 1irodn~ção ~lo ca lé _;_ 1(-.:J:u~.1 J d is con-
rl i<;ões .naturaes de cnda prs:,vi11cia ·p,ra es::; a vuhur~ - Pro-
vínci a elo Marai,hão - Cul tura ela borracha-·e ·cl0 êàcân nos
climas amazonicos - Cu ltu ra do café nos ,planaJtcis - Va nln-
gens das c ult tiras . do"" cµCáo e' ela s_e 1:ing,ueira -- -Cuhllra~·c,I.µ_ -
fum o · nos terreJl OS e-x·hau-i:id os pela · çalln a ele_ ass u.car· ~ --
Creg9ª0 e1n rodas as pr_9vi1·1cias de soêiedad"e.:-; \~ e a~sli nTa~c.fã6
filiaes el o- Ri n de J a,n eiro - E,Golas _non:n aes ,rle agriGIJ-l_tura
pa ra conJbater a 1:otina esclavagistã . .. - - . - ___-__ . ~ . .• ~.: . . . . :·::: 53
V H . - -~·,mwwrio. - Applicação cl<>s princ1.p1os rl e ·cen-u,a:Hs.nçã,,
agrícol a ·e jnclustria1 á prnd ucção do café - E·s tmlo ·Glas cem-'
dições natur~es ele. c·adh p rovi nt·ia 1:1n ra ·essa cu•lt.u r:a {1pontinu--
ando J - P rovíncia elo Pianh'y - Indu stria. pastor-il."~ Cultu1:a
do-café~ Engenhos ·Gentraes e faze nd as centrnes - Pro.l'Íncia
__ do Ceará - A pcovincia mais acliva do norte ~ A qll'e ni elhor
· realiza o desicleratum .ela variedade rle cu huras e de p1'ócl 11 cçã,.1
- Província cio Rio Granrle do N orle - P,·ogressri' act-L>al-
Recnrsos para prosper,idade fut-ura - Prnvi,.c1a da P ar'shyha
el o Norte - Observ,.tções sobre o seu inqne ri to - Mi,eria e
abati111e·nto da Lu l.t ura da cann.a ele assucar - Em1weslim.os a
48 % e 72 ¾ _ao anno - Excellenles condições naluraés ela
provinci~ - Je1n muito a esperar ela çrençãn elas fazenc.la:-.·
centraes e elos engenhos centraes ·..... . ---- .._.: .. -- =-: : ... . . -57

'- UI.- Smnmario. - Appl-icação. dos~ pi'_i-11cipios~: de eefftrn-l i~a-çàn


agrícola .e i11(justrial á proclucção do-cãfé .,,- Es.turló rlas co nrl i-
§Ões naturaes de cada Rro:V.incia 1)ara · ess-a-cult-ura (continu-
ando) - Provinci-a de Perna-in\1uco - Estüdo d·e a:otis trechos
importantes do se u in querito - Suhrl iv1snc ela grande pro-
pn edáde rural - E nunciado do g rave prbble1T1a hnrn a nitari n
do futuro~ Possibilidade- ele urna vantajosa exploração rural
sobre a base <la s ubtliv isãn do solo :- A ce11trãl iSação agri-
cola resolve pl en ameutc o problema._ . . _..... . _·.... _. _. _.

· X.-'.. Simiinario . - Applicação elos principips rle cenlralisação


agrícola e industrial á producção elo ca fé - Esturlo das co n-
clições nat uraes de caria provínci a para 'essa cul tura (contiiut,
ando) - P rov íncia el e Alagôas - Excellentes co ndi ções para
receber os beneficios da cenl rali snçãn agricoJa •e ·indu st ria -
Cultura d o caíé n as collinas do Alto--:Vlundailú - Província r-le
S.ergipe - Serra de Itabaiana, ri ca de mi-nas ele salitre e àde-
quacl a á cul tura do ca fé -: Provincia ela Bahia - A que mel l-1ôr
respondeu ao inqueri to - O esclavagismo ªJil"'n-hado !'! 111 -fla-
grante contradi cção - Falta ele capitaes - :Faha de h ·
Int~rpretação rea l - Esterilisação elo paiz pel _- a1pa)i:m A
goveriu~mental - Prorligios ele· r i_queza natur _<li\,<\~ -s~úe½t"'
provmcta da Bahia - Im·p ortancm e vane ~~~ s uas pro- ·
duGções - O .que se eleve esperar- da ' app (caçao rl os novos _
P,':inctpi?s de ce n_trali sação ng ricola e indli. 1l
·i_al'<~
ã -va:s tissi111~ _ : "
11ov111cta ela Rahta ________ __ __ _____ ___ ,_, _ ___ _______ _ 67
6
. . - -,,~~ ~0S:PU T ,._ 005,

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\" 111 1

.Pq.g.
X. - Sw11mar;o. - Applicnção elo,; princípios de_ce ntralisação agrí-
cola e i11dnsLri al á ' producção d o café - Estu do el as condições
~ nn tur ãe;-; · d e c~Hht.. prov i1lci8. para sua ctrl tuí·a \Contihua!uiv) -
P r ov.i11ci a ;1 <? .F>-q,iri_to-Sànto - T e m já por pri nciµ.al producto
,., café - Ca1~e,,:e u,rgentefnente ~le comm ercio d1recto para a.
l{un,pa e. p:u:~1 - os , Estudos Unid.,s - .. Provin cia do Ri o Ue
J:1 ne.1n~ - A ,primeira _l)a pr,oc~ucçãn do café - A. que mai s
·1t.1c r::1 rá ,co1n as reformas en1 lltscassão - Demon~traçâ ~) com
algai:is.1}10s d,-is hen~íicios por vir - Estudo ?u 1"'r!:! as c0nipa-
.n lllaS ile. ·con1men.:io .J e .café - Devem e lllJJrehender m ais
:\ctiy~m-e1úe· a refo rma das oh:-;oletas pi:aticas d~ 1)repa ra r,
- vtnder e e:--= porfa.r o ,ca íé:- E1nprego daS 1nachinas e ªPl?ª-
rdbns t111 tv i_do:-. a v,1por 11 l'=--sa:-; operaÇÕêS - O barbai:~ systema
dt: provar ã ... ~necas de café - De inon st ração ·c.la inçbnve11iencia
d a~ a l.t.as srt ificiaes ~ Conselhos dos nwstres da Sciencia Eco-
n 0 mic,1 - Demonslraçã.o pratica na e:-pecfalidac\e do con11nercio
dn ca-fé - Qual d eve ser o ve rdadei ro desitleratu,it. dos ag ricul-
tores ·e d os neg,1cian1 es de café-Ap ;.! 111cnt.ar em tudo o inundo
<,l ' l1um é r,, d e consuH1ldores de café e deseilvolVer 11 0 Brazi l a
:;Üa ·p<,tencia prod ucliva. : ··· __ . . .. .. .. . . ---- __ .. __ .7 1
XI. - Sum7J1m·io . - Applicação elos prinet'pios ele cen tral isação
a~ricola e indu-s tria l !Í, pro~lucção do café - Estudo das condi
çõe!:i_na tlínt:es de ·cac~a provincja.J)rrra êSsa cultura (conh:nua.ndo)
- Provín cia ,d e 1Vl inas-Gent"s ~ Predição de St, ·Hilaire -
Necck.. 1dade- urge11te de . funda r a _industria manufactu.reira n esEa
11ro~· in ~ia~ co ração dq l mper i~, - ·Co rrêa l·\ n1ll='lona, o fundador
~h:1. in1.\-~-:--t-1:.ia n:1a!1.uf:1clu!;ei r:1 do a lgodão e rí1 Minas G eraes -
Fo11cbçãu da i11clust na _<].e fe1:ro, d<l :i lgodão, da lã e da seda
,para .nhastt-ce r o lnteri1>1" ela Ame ricn. do Sul - Província <le
S. Paulo - l'fa va 11gt1ar d.a de todo o progresso no Brazil -
S. Paulo f<1i "'a prin1eira prcn,inc ia a empregar o arado 11:1 cul-
1ura do {;afé-=-- 'J"este1nuubn rlo i11 qnerito sob re o esrado da
laY1 iu.ra, ordenado pelo mini stizrin da fazenda- Dacio5 pr~ticos
sob re, o· e mprego do arado na c ultura d o café- Exem pl o de
uma espl-endic\ a v1ctoria sobr e a nHin a da lavoura- O 111onu-
rneuto . agri<:oia ci-e Valenci ennes - Inscripção para o 1~1onu-
mc:111O que se deverá eri gir eí-n Li111e ira ........ __ __ . .. ... _. 77
XII. - S1t111mario. - Applicnção elos ~•rin cipios de cen lrali sação
ag rícola e inrlu süial à prod ucção elo c:iíé - Esludo rlas condi-
ç.ões natura e½ de cada p r ovincia p?.ra essa CL11lura (conti-nuando)
- Proví ncia cio Paraná - Varie<i,,de de climas e Lerre nos -
l'oss il,i]iilad e de innum era s p roducções -Lil'to ral no Oceano
Atlnnti co •· Litt,,ral no A ILo Paran á - Abenura do Alto Pa-
raná ao com inercio do n1undo - Fu11daçãn de um j)o rto franco
junlo ,'.t fó z do I~uassú - Excellen to:ia dn clin1a do Parriná -
·saluh1 idade :- Fertilidade - Atlractivos para· immi g ração -
Flnre,La, de -Ilex e de Arauca1ia - Reformas a in troduzir no
p_reparo e n.a expo rtação do n1ª"lte - Perfumi1 r q)rn blea .fla-
graus - En1pacotar artistiCa111.ente - Ex.em1)los <lns progressos
fcitns pela i ·,du stria portugueza de pois da I" Exp,;sição U n i-
ve rsal. de Lnnclres de 1851 - Demon st ração com algari smos
da importanc ia fina nceira dessas r e formas . ___ . _____ . • ____ . . . 83
IX

Pag.
XIII. - Sumvwrio.- - A11p li c,1ção d,,s l.l<'incipins .ele central, sação ·
ag ricn l~ . e i•ne:.lusu-ial á pi:ocl uL:cãn do café ~ Es_tudo das· co ncl i - .
çôe~ 11 :-l-l uraes ele cada prnv i11 tia para esta cultúra rcou:tinz'tando )
-- l-'rnvi 11 ci·ade Sa,rta Catharinã - Cult ura ela vtnha e da scrla
- Con diçõe:-. rla pn.Je-rern.:1a e ntre as di~ersas culLuras -- Ex..-
en 11 ,lo dns Es tado" de (ksle da lZepubl ic,, No rk-America11a ~
Co 11s iden1ções ee::onnini cas sobre.: a G:u ltura da s~cla - Be neficio.,
dá- irn l,1,tria pa,tor il -- Pruv in. ia d_<i ,.Jiio Gl·ande do Su l - A
que ex·po r la m aior quantidad<.· .de~producto:-. bovl11os -- H..efo1!_
mas ,1 ín troduúr - C ul l-u~a db .. café. nós district,h mais queu1es
do Al tu U rugnay - O mi li taFismo despovüa-mlo o R ier_Gnu1,le
do Su l - EJfe-i,1>s rl< , -rtccrut,qnento é e-la co1:rupção .da' guarda
na ci,n n:-it . -.:: .. - - - - - .. ~ t· -· ~ - · :: : _ - :;.. - -- _ - - ~- : -~ • . ~-,/ ·- ·_ ~ : ~.- _- - - - -,--: - 9I

XIV. - Sw11111a1; ú1. - i\!J1J) ic:ação ,i-.,, Y1,t1çipio's . -,ié--u~ 11 r'í-aiisaçãci


ac: ri cola e i11d nstrial á produc_ç ào cio cb [é __:_ Estudo ·da;; cond i- .
çõ ç~ naturnes d~ c;adn p1'.0 Vi-ncia µará e:;·!;a _cnlt~ra (cdt~tin·ü rt'ndcJ 1

P r11y1ncia de Goy~1z---=-Sell abati111ei110 aclnal ·-=- !nsigllificancia•


da s ua producção - Não pôde· te r n e 1n ag ri c1ílLu rn, nem jndus-
lria, nem cumme(cio se m v i :1.s de cumnlt1nicµção -A 1:iavega
ção a vnpnr cll)_ l\ rag uaya , n pri 11 c1p.tl a:-;p 1r ação de Goyaz -
U problema da catechése -c1os indi<>s do Brazi.J - ~'"' soi-ução
pel o Dr. Cuuto de Maga lh ães - G,,yaz, o po nto de partida
de~sn propagan da ·h un1n 11itari a - _U~neficios a e!--pe r nr d? civ_j-
li:mção d os i ndios do B r az il ----:-- St>hre os. U: ...,tad ns Unidos e
s.ubre as· r~p uhlica~ hi spm1n-ai1)ériciu1as pesnm_'~, gra1)(l e pec--
cado e o grande ç rime de e~Le r m 11rnção e-lo~ i utJ iq~-: Que o
1:lrazi l seja mais feliz na so lu ção d~sse pri,l,fe nm IÚJ11'\a11.ita ri o.. , _99

XV. -- .Su11Í;,u,riô. _:_ Ap[:ilicaçã~ . el os phi,çíp(Ps· ,\e - c'0nti:al is-ação


a~ricn la e indus tr ial 'á prod u0çiio ,!0 ca[é .- _Est:uélo -das _.c omli-
0

ções I at-u r aes.(le cada P rovill'f ia_imr a e~s:i.etilti1ra (ç_ou.tinnándó) ··


l' ruvmcia de i\-la ttn G 1:osso - -Victima de -, uu,s.s a p.ol.il_ica 1ío
!>rata -- Não é 11eCessati::1 a occ"L1pação pennan~ nte <lo R.10 ela ~
l-'n1ta pàra o B r azil Le r can-,inho pa r a NJa~to ç_;.ross ,-• - E 11 unie-
raçãu das vias fl u v1?es .e ter res_lres bra4qeiras· para ,ço1nn1un ica-.
ç,w da capital do I 1nper io com ,toda, as povoaç.õ es ele Matto
Grosso - Ca □ s;ls <la si nguJar po l ilica dos ni>ssos go\·ernanles.
no Prata - A unificação cl.t- raça hespanhola ·aproveita.1á_:a o
Braz il mais , do qne a qualquer outra nação do muuclo __:__ lfo m
p:1 trio_tis~1~.o,; e ., 1nao palriotismo - A arbitrngen: - A paz na::
Amenca do SuL ___ .... ___ ___ .. . . · -- · - ··· __ __ __ -•.• · ---· · 105

XVI. - S11m11ial'ia. - Appli cação tlos prin cípios ele cen;ral isação
agricnla e industrial á prnducção (lo café (continuando) - Da-
dos pratkos -A. cult u ra de cníé ao alcance ela Demoéí-acia
Rum'! cnm a cult ura de fl<>r~s , fr uctos e legumes - 0.-J-i.em-es -
tar, .o p 1·i ncipal promot()r da i mm ig 1:ação - Re for..m~ clt:;, unut
rotin~i. da g"rande lavoura elo café - Como Se çleve prqLeger o
cafeeiro nos primeiros annos - Dados cstatisticos e J!C0 1ton11 -
cos ,h Ct)lt ura ele .çafé nas pr<>vincias ele S Panlo e cio R io rle 0

Janeiro-· As fazendas c,l'ntr.aes rle café devem _fazer todas. as


suas transncções com o.s ea1ancipados, cotn os i1111;n igrante5.;e
X

Pag.
cqm _os colonos, excl us i,va e i·n va riave lm enle, a p.eso ---=- Expo-
~ições agri éofas - Concursos ,·Untes··~ -Ctdtu ra do café por
_.braços livres em S. Paulo - lliv i"rla n aéional ª" se nado r Ver-
,! U.::iro- - O Horãée "Gates brazil eiro ·- Res 1tl-tados ,1_btidos na
· cullura ~o café na colo,iia S ~nador Ve,g·ueiro.... •. . 1 n

XVII. - $ummario. - Appli cação do'.s prin cipio:, de ce ntrali sação


ag,,icola e industrial á prnducçãn do café (continuando) - O _
caso lll ais difficil,.o quarto da introducçi\o desse escripto - ·1;y-
po ·para -a conversão de lllll fl faze nda Ord in ar ia em fazend;-i cen-
tral .-'- Descripção das terra~ reservada¼ á Fazepda Central -
Descripção elo rote-d~} êm~ ncipn.dn, do- i1111ni ~ ran te ou elo co -
lono-=.:. Proporções par a o cn 11fnrto e bem -estar dos emprel-!"a-
, dos da Fa7.end" Lentr'al e dos se us co ntribu intes~ Calculns
~le .rece it; da Faze·ncta (:e11trn] e,i, cai{e em fôrn das terras -
Confronta·çãn <los resultaclos co,n os dados obtidos na s coloni as
particulàres de _S~ l'auJo -Os e ngenhos ce nti"aes de Martinique
<1ão r-6 % a 48 %. de i•en la -Iiqui<la - As fazendas centraes de
café no Brazil ·não podem clar m enos ....••.. . . . ..·..... ·. . . . (! 7
·f \
XVIII. - Swmnario. - Applicação (]os princip.i0,_de cenl r.a li sação
agrícola e inrlustrial á prod ucção do café·1continunndo) - Bem.
es la, . elos colon os nas faze odas de S: Patf!O - ln querilo rio
.Dr. Mãchado 'Nun_es em 1860 - lnqu e rito dn Or. Carvalho de
Mo·rae-s e111 1870 - Vantagens <l .. s no vos princípios ele ce ntrn-
Jisação agrícola sobre a coloni sação por parceri a º" por sala rin
- A propriedade térritonal é a 111ais elevada aspira~ão do
emaJJ cJpado, .<lo ~.i mmí ~rante e do· C(>ln no ---:-:- A prt)prierlade do
solo melh ora o pn•>letano e. rege ne ra o escravo - Opini ão de
J oseph Qarni er. .... ........ .... 123.

XIX. - Summmio. - Applicaf;iiO elos pi"incipios de cen trali sação


agrícola t"ind ustrial á pro<lucçãn no café (continurmdo) - Ap'êr-
feiçoamento elos processos de secou~ o câ fé - Terreiros de
cim e nto de- Portlnnd. - I n_strucções para s ua const rucção -
Darlos para o seu orçanienlo - As machiºnas e os apparelho s-
de seccar o café járnais di spe nsarão de todo os- te rreiros -
Seraca<lor de café G,U:cl,ard, suas va11tagens - Seccarlor de
café Casqnom , aperfei çoado - Seccarló,: ele ·ca fé 'Tartiere -
Está reservado ás fazendas ce ntraes dar a solução çompleta no
interessante problema de. seccar o ca fé indep.end e ntemente das
intemperies .... ·. . .. .... .... . .. .".. : .. .... .... . . .. . . .. . . .. 127

XX. - Summario. - Applicação rins priticipios de centrali sação


agricola e indu st rial á producção do café (continuando) - Ty-
P<?S para orçamento djts ·fazenda~ centraes d e café - Machinas
L1clgern:o.ocl - .Motores hyrlrau li cos - ·Motores a v:tpor - Fa-
ze nda central de I~ categoria - Fazenrla cent1'al de 2~ catego-
ria - Faze nda central de 3ª categoria - Estimativa cln nu-
-mero ele familias ele lavradores necessario a cada um rlestes
treS typos de fazendas centra~, ~ Calcul o approximarlo el a sua
receita bruta_ . ........ ___ . _ . . __ .. ..... ____ .. - . . .. ..----- I 33
XI

XXI. - S1tm111ar;a . - Appliçação llos- principios tie centf:ali~ação


agricola e 111dustrial ã p_roducção _<h1 ·café ( CQntinuando)" - .Por
qlle n:lu ha l!luinbos dc: ventu no.Br.azd - Suas van-tagens -pa1:a
d rena~e111 e i r rigação - .1\p~rfei..çoamenlo dos n1qtures hydrnu-
licos empre~arlo,:,; na Lavoul·a - T11convenienlc~ _.da 1nachina a
vap•• r nJL Agricultura - O lavrador deve quei1nar o 1i1enos pas-
sivei - Co nsel lws de eco 11 ô1111a ru ral '- O monte- pio cios la-
vrarlore:s pobres - Co1n o legar ·t.:t!llf t:(:ÚllOS de i·éis s6 tende um
pedaço ·de te r ra canç,ida - Fa.l_1a de co,nõustiv_el nos engenhos
de assuca_r do N OLte - Recordação.- dos nomes' ele tres bene-
m<!rito:-; da Agr,i cu l turaJ:hazi leira - l{_~sumg elas refor.mas indi-
Gt<las - E:-.timativa dãs vantagens que a_u ferirá ci B"rà zi1 fefor-
ma11do o aclua l syslema ele exportar · cafê.: .•... . . .. s·,··-· .. . 139

XXI L .- S11mma-rio. - Appli~ação d,)s 1"~11;';\pios d_e centralisaçã"o


agr ícola e industrial á prodncção do assuc'!i' - (.;rise_1ia pro-
clucção d" ass ucar _- Nec~ss idaile de rest ringir a sua cult-ura á
lin1ite~ razoaveis - Esla listica da rx-p9rraçãp d.o assucar _e da
a..! uanlente nos ultimos exer~ icius ap·urados - Ü!-i concu.rren-
- tes do '8.sHu.:ar _b!'az.1leiro-O Eg-ypto, o ma:is tenüvel em as!-; ucar
de canna -O nssncar de beterraba - Uma,das industrias mais
pr.,,;1essivas da P'rança - Sua appr':'c iação em 1867 por Michél
Che.valier .. . ..... , .... ,_. ... . . , .... '". . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 7

XX I II. - Sum11}m;io. - Appl icac;ã" dos prÍr)cipios de cent',:~lis~ção


,1gricola e indÚ:,Lri al á pr,><lucção do agsucar (iontiJ1,2u~ndo}-:.. .
Relalorio de Mr. B. Dure,iu na E,p,,sição· Un iversai de 1867-
Estat istica da producção _u.niversal elo áss ucar ---:· Producçã,1 ele
assucar Qe bt:terraba 11a Europa - · Progresso tl~s:..:;a· i 1h!Ustr ia
na In~lale ua e na Fi•a11Ç,'l - Consltmri ·i ndiY:idual ·ole assucai·
nn~ principaes nações elo mund(_) - O cn;1;;tn11., rjo ~s-~ru<.;ar-, iri-
!"lice da riqueza nacional e princiµalmenre ô.o ~h~l11-estar das
poput,ções ... . .... .. .. •.. ... . .. .. . . ..... -. ..... .. .... ,. . ... 153
_,
XXIV. - S ummario. ' - Applicação dos princípios ele ce·ntralisa,ção
agricoh e indust rial á producção do assucar (conti~iuando) -
Eslarislirn dos engenhos ele assucar da província ·c1a Bahia, coi5í
e:;pecificação dos seus motui'es - Quantida1l€! enorn1e ele eqg~-
nhos - Insignificancia de sua 1~í-,,dricção - Desperdicio ·de
fo rça motriz, de combu,tivel e de pessoal - Parallelo com a
producção elo assucar no Egypto com o ,ystenia do.s e11genhos
centraes - Vinte e dous engenhos cenlraes cio Egypto produ.
zern quasi o· triplo do assucar fabricado pelos 893 eni!enhos da
Bahia, cJ,,, q ttacs 282 são a vapor - Refor ma radiql nesse ob-
soleto syst~ma de produzi r assucar . . ... .,..... •. ·· . .. , . 157
Pág.

mais sabias pf!:ginas ele -jo:-;e1.;h Garni er - Sacrilicius que fa-


zi'a m os -·F ran eezes _para sustentar ~ producção de assncar cQm
escravos nas- sp:ls colonias - Exageração dos impnst(ls sobre o
assuca:r - O fisco era pel_o menos Lão prej·udica.do quanto o
povo. :- Foi 1tecessari o o caláclysma de 1848 para 1<:.·rmi-n :1r
çoih todas essns iniquidad es, com indas essas i~1justiças e com
tó.d-as- ess·as m-iserias .. __ 163

XXVT. -c" Sn11t111,tii·io . _;_. j\ pplicação d,is· l'rincipios de ce11tral isaçãt;


agricnla e in ~l ust rial á pr11cl~1cçâo d,) assucar - R.ecorc.lar;~o de
uma ·lição ele Jean Baptis\e Say (contúuiand") - O snJ'h isine1
dos · lavradores de canna de n.ssucar nas colc,11ias foancezas -
·1:I:armon~fl dos i11te 1·e~ses (eg, timos :__ Qnem ú1:1 i s soffria ·_ Os
1
frn.ncezes, os ço lnnos ou os esc i:avos? - Avnliação du ~a-lnrin
do .esc ravo - Q -'lnxn, o jogQ1, a~ncios1dade e a vida dcprav:i.da
dos esl:lavagi·stas.-!..: ·O trabalho clt·shón rado - Systema de cor-
rupçã:o .gera'l ..::.._ Infh1encia pe rni cioSa do esc!avagismo ern todos
os mell1broS· da sociedad e-rlesd e a 1ile.11ina até n cidadão·__ .... ~169

XXVII. = SmmnMiiJ. -: Applicação dos princil'1os ele centrnlisa:


çfü? ,a gricüla. e i!1dnstria::J- á prnducção do ass"uc,H (ronti,ut,índo)
Refutação ela these pi•ecli\ecta dos esclavagis1as: ,". c11\tura da
canna- de assucar só é" pnssivel cDm é-,cravos - ·Exe11q,l.os ele
Cúbn e JV!artinica - ~xe;i1plos rlo Brati l - O ,s ysJerna ele J.ln>"
<lucção do a;%ucar adaptado pelo major Accinly" Lins , de Seri-
n·hael\\ [Pernambuco] - Resultados obtid,;s - Tn1balh o W -
mo de homens ·livres - E~empln na pr,ivincfrl. da - Bahia -
PPoclh, ção cio assncar no e11ge11ho l'i111entel - Desc1·ipçãn do
systé1Í1a adop!ado pelo Dr. ·J oão (;arcez dos Santos. . . I 75
/

. .XXVIIL - Sui'!1;u1_ç.io. - Appl1c:1ção elos princípios de cenlralisa-


- -------- çã-o -agiicõla e inrltlSt(1al ti.. producção dn a:ssncar - Refutação
da these predilecta d"s escla va<•istas : A cu\1 urn da canna de
assucar só. é pos:-;iv.e l c0m esc~avos - D esc ripção do systema
atlopt.ado pelo Dr. João Ga rcez dos Sa.n tos ' (continuando) -
Seus esforços na a-ssem l,l éa prov in cia l ria Bahia - Opposição
dos esclavagistas - Prova praticn: da sua rerorma - Silen cio
calculado dos esclavagis(as sobre a viclorià do engenho Pi-
mentel - Detalhes sobre o regimento cio trabalho - Systerna ·
cooperativo - Utili!-"ação dos meninos - Prepaniçâo e educn -
,ção para a Democracia Rural - Reforma nos l,nbitns de para-
sil ismo e ociosidade dos aggregaclos da lavoura . ... · - --.. ... . 171

XXIX . - Summario, - Applicação dos principios _ de central isa,


ção agrie0la -e ,inclu strial á producção do assucar - Descripção
do systemrr adaptado pelo Dr, João Garcez dos Santos ~contia
n1rando) -D trabalho dos esc ravos • aos domingos - Re nda
annual ele 200$ a 400$ - Econo mia e _fnnd o ele emancipação -
Syn_opse das vantagens obtidas com o sys tema ele ernancij,ação
progressiva no engenho Pnnentd- Accresc_irn o de producção,
acC;._rescitn0 de bem~estax, e principalmente accrescim o de m0-
raliclacle - O fun do ele emancipação na lei ele 28 de Seleml:,ro
de 1871 confiscado - Providencias a tomar. __ _ .. . ....... . . 187
Xlll

Png·.
XXX. - Sw1tmado. ·_ Applicação cl<>s pri11cip1os ele cenlrnlisaçã,.,
agrícola 'e industrial 'I proc!ucção do assuca,· (co11tin11nndo) -
Dadqs sobre os enge nh os cenlrnes, f. ,rnecidos· p<>r G- \i\Ti:Jia111
des Vouers , gove'tnadn r da ilha de San la L11cia. - Q:,;;_enge1ihos
cent1-aes c.le-- MarUn.icrl - , Treze mil e q ui11lientos CO!ltns de
r éis- ernp reg-ndos em seis a,1111'):-; nessa uti li:-;sima refor ma -
Sy:,;tema de a<lmin iSt raçãn - O engen ho central deve comprar
a canna de assucar ~a pe:-.o ans lavradores - Renda li q nida das
companhia, de engenhos centraes rl e 16 % a 48 % - Acções
da companhia do ent!cnho cenlra l l"alacio dnplicandn ,le valor
- influencia geral benefica elos engenh1>s centra.és. ·.... . .... J9r

XXXí:-Su!lt!ltario-App licação dos pri11cípios ele centralisaçã,,


agrícola e industrial á producçãl) du assncar - D.tdns sobre
os engenho.=. centrase, fnrnec id cls p0r G. VVilliarn de:-; . V.ouer:-,
governac! o ,· ela ilha ele Santa Lucia (co1;t111uandu) - Mandar
vir enge11heiros .e mestres ele assucãr da Martinica - ~Especifi-
cação das va,1tagens que deve po .. snir a_ situação ele uin
engenho central - Os engenhos centraes-fóeos de lav r:i-
t'lo res - Appli cação elos novos pi-1ncipios economicos de co-
operação - Proganda dos engenhos · centraes pe'lo Dr. Pedro
Dias Gorcli1ho P:ies Leme - A producçãn rle assutar comes-
cravos es tigmatisáda por A u.rea n - Iíorrores e miserim,- da
ela prnclucção do assucâr -na . America....... 197
XXXII. - Summario. ,_ Applicaçiio cios pr1m·ipios ele ce,;tra-
lisaço agricolâ. e ií1dustrial á prn?jucçãn cio algodão - J~sla-
tistica da exportação -elo alg.odão pelas prnvincias elo lm pe , io
- Premias alcançados pelo algodão brazileiro na Exposição
Universal ele Vien,ia em 1873 - O julgamento dnjni•y int er-
naci·onal - P rovidencias pnra a Iixposiçã.u Universal ele Pl1ila-
clelphia em 1876 .- Especies ele algorloeiros cultivados "" Brazd
- ProviuC:ias e- terrenos ma.is proprio.s para e:~::;a cultura - Re-
forrnas a introduzir - lVIissões aos Estndns-Unidos para o
aperfeiçoa.ni'enlo geral ele lodo systema de cul u ra e prorlucção
ele algnclão .. ___ __ . ____ . _ . _____ . ____ .. ___ . _____ .. ____ .••. 203 .

XXXITI. - Smnmnrio. -Applicação dos princíp ios ele centra-


li sação. agricnla e industrial á producçã0 elo algodãn (conli-
nuanndo) - A co nc.:urre11cia elo Egypto - I~studo da crise
procluzirla pela revolur.ção esclava~ista nos E:--tac\o:-; - Unidos
- A Exposiçãn Universal ele Pariz de 1867 e o '·'premio grande
d(> algodão" - Elasticidade industrial e concurrencia univcrs':11
-~ Soliclarieclade ela familia humana -Na pm<iucçào ele algo-
dão , cn1no e1n todas ns indus trias, ca:be a maxima gloria á
província ele S. Paulo - O engenhei ro T, T. Aubedi1-1
- A medalha ,de ouro de "Manchester Cotton Supply Asso-
ciat1on1' _.:_ P ro vincias que mais se distinguirnm na cr is~ algo-
cloe-ira. _. __ __ .. ____ . ____ __ .. ____ . ___ . _____ ________ .. __ . _ 209

XXXIV. - Sum11111,1io. - Applicação c]l)g princíp ios ele cen.tralisa-


ção agrícola e i nclustrial á producção elo ·algnrliio (contúzuando)
- Dados estatísticos sobre o E gyplo, temível concur ren le no
assucar e no algodão ·- O li vro apresentado pelo Egyplo na
XlV-

Exposição de Vienna de 18.73 - Adverte11cias µara " li vro elo


Brazi'I na Exposição .de Philaclelphia em 1876 - .Superfície
real do Egypto - Pop.t~ação ~ Pa,:allelo com a província de
Serg_ipe - Ue_11 s i,L1de da popuLu;ão do Egypto - Compa.I'ação
·cu111 os picine1pacs paizes da Eusopa - U que seyá u Brazil
quando estivér .povoado como .o l~gypto de hoj é .. __ • __ . .. _. 2 15

XXXV. - Szemmario-: Applicnçã<> dos pri•1cipins de cent rali°sa-


çào agricola e irnh1slrial á proclucçãu do algrnlão - Dados
estaListicos sobre o Egypto, o nosso temivel con..:urrente no
as,uc_ar e no algo~lão (coJttinuado) - O progresso da inslrucção :
pulh!<ica no ..Egypto - Em dez annos a. frequencia das escolas
publicas cr~sceu de 3.000 a 9n,oqo - Progre:;;so nos càrn 1nhus
de ferrp, um para ci 11 co em dez annos - Progress~ nos tele-
graphos e lectncos , um Jiara doze em dez annos - Progresso nas
obras 1=>uillicaS gen1es - Progresso em melhoramentos urhnnos
- Diffict1l rlades 1J<>líticas-c religio sas ·com que tem lutado o Ke:
diva Is1nail - .-\ s ua nl,ra de reíorma ecl_e progr~sso ~onLinúa
~empre - U prog res~o an ima o., povos ao g,rilo - "Rursu~ et
Ultra" - Iv1ais e melhor_ .. . __ ... __ . _; ___ . ____ ... _.. .... _ 2 r 9

XXXVl. - S1t1w11a,io .- Apl'licação dos l'rincipios de centralisa.


ção agricCJltt e industrial á J5roducçãoclo alg<>dão - Dados eHa-
tisticos sobre o F.gypto, o no:-.so temível cuncurrente no assucar
e 110 algodão (continua,11/0) - O progresso na producção do
as,ucar - Superior n qualquer exemplo na agricultura de
qualq11er paiz do mundo-: O Egyptoco\locadoentre a Bahia e
Alagôas ...:_ Os engenhos ce11traes do Ke_diva lsrnail - Sua pro-
ducção---:- Superiori(lade s,1bre os eng~n l1os ce11traes {la Martinica
-Dados soh re o alg,,dão- Cultura e producção-Fabricas de
fiar e· te::cer-Progre.s~o si1~1ult.1neo na cultura e na industí·ia_ _ 223
XXXVII. - Smmnario. - Applicação , los principíos. ele centralisa-
ção agrícola e i11du,tria l á.producção do algodão (Conti1tuando)
A co 1Jcurre.n cia da Ralllia - l{ing Couon, Queen Ramia
- Prci"1iaganda do D,·. J osé de Saldanha ela Gama para a acli-
mação ela Rmnia no Brazil - Terrenos proprios á cultura da
Ramia - Dácios praliCt'lS sobre a sua cultura .,.-- Resultados
eco nomieos - Experiencias em _grande escala da ArgeLia
- Necess idade e urgencia de aux iliar os esforços da Sociedade
Brazileira de Acclimação cio Rio de Janeiro e de promover a
c_reação rlé socíeclacles filíaes em totlas as províncias d" Impeho - 227

XXXV III. - · Su111mario. - Applicação dos princípios ele Ge nlra·


li sação agrícola e industria! á producção cio alg9clão ( Conti-
nuando) - Cultura de algodão por braços livres na prov1ncià
de S. Paulo - Dados praticas exlrahi<lps do inquerito a·o
Dr. João Pedro Carvalho ele _M oraes em 1870 - Cultura do
algoclâcrna província da Bahia - A que ,iiaissoffre por falta de
vias de communícação ·_ Fundação de fabricas de alg-odão
no ri u de S. Franc,eco, para nbnstecer o interior do Braúl
-"e As fabric,)S centraes, de algodão são_nece,sarias e indis-
pe11s.t1eis -- Quem fn11dará o L<Jwell no Braz.íl? - Para\lelo
de Lowell e Ma·nchester. , __ - - ___ . ___ ..... _. - __ - - - - - - - - - - _ 231
\1 .

XV.
!
I Pag.

XXXIX. - Su11t1Jlrt}'io. - Ap licaçiío dos prin cípios !le ·centralisaçãr,.


· agrícola e industrial á _pro,,lucção do a lgoc)ão ( ContÍ1b;tandó ). - : )
Estatísticas das fabricas de algodão existentes 1111 lm1,er10 -
As ínbncas de al~odâo-devem se r pr:i1H.:ipalrnente fun dadas IH>
interior do Bra:til :_ Siluação mals vantaj0:-.a para essas f,ih_rlc:-1s-_
- Enumeração -das localidacfes mais conyenientes nas clí'vers::i~- _
províncias do Imperio - As fabricas E!_e algodão clu rio S. Fran- ·
cisco - Vn.n tâgens da funch\ção de fabricas de algodão . nas
colnnias - A- fabrica dará ·saLirios e i,istrncção atéª''' filhns e
ás frl has dos colonos ..... _ . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . 235

,.~·-·,n... -
·- ' ·~ - 1 - .
Sú11111tario. - Appli cação d os. princípios ele centralisaçãn
ag rí co la e industrial á producçã<> do alg<,dão ( lontimtanâo) -
Vantagens natuf p.és das fabricas de a]g!'rdão estãheleci'rlas 1fo .
Brazil- Exemplos de algumas fabricas dos Estados Uni.rins.:_
A no va industria da extracção do olel1 das se r1entes du algndã-o
- _Dados practicos obtidos n(), 1:!'.sfados-U11idos ....:t_Cu1\1pa11 hi <1
Gossipiana B razileira - Dados f,,rn ecirlos pnr Ga.stineJ .Bey ao
Dr. José de Salâanha da Gama sobre a p11rificélçã·o cl<> o leo das
se111 entes de algodão - Fabrica.-; nn Cairo e t:111 ,\ fexan<,.lria -
Resumo do:-. novos prin c1pips applicados ao algodão - Fabricas
de o leo de seme ntes clt, al;(odão - Fabr icas ele ·fiar e tecer
al"godão - Prnblema economi co ain da se1n snluçã0. 243

XLI. - Summario, - --
Applicaç'ii.n <los p1~ncipios- cl<e centra li saç;;o
ag'ricola-e inil u,trial"á prod ucção do fumo- [mportancin aclual
da s ua cultu ra no Brazil - E' o s11ccessnr n,llo dn can na rle
ass ucar n'os., LerreJlúS exh_auridos - ~ r r_o vas tiradas d_n i11que11itô
sob re. o estado .\ a lavo·u·ra "11:-1. -pi•<lvinci-àda. Bahia -O fu,no .
l,raz ilet ro na E-xpo,ição ele Vie nn a el e 1873 - A industria da
prepa:r~ção do fu mo na Fr.tnça - C,H1ve11ie ncia de mandar
es tudar es ta e:;µecial idade por alguns et1genh eiri>s b razi leiri1~ ~
- Estatística <l ,t exportação elo ínmr; pclas-,<'l iversas provin c1as J
do· lmperio - R eilexões sobre os a lga rismos íornec.idos por
essa estat istic,, .... . ·· ·-·· , ......... _... ... · ~·· .... 251

XLII. - S11mman,1. - Applicação do~ pri 11 cipio, ele centralisação


agi:icola e industrial á prorlucção do~·fom o ( Continuando) -
Dados praticos sobre a cul [ura do ÍU,n q - ·,Escn!-lfa cios terreno_s
- E' indi:-;pe 11savel n en1,prego do arado 1,rr cnllura ~do fumo -
'Aproveitamento escrupu loso de toda~ as makl·ia..; O'rganicas e
l nur ganicas como est n une - Escolha das se m e: iite~ - Nec·e s .
sidade u-rgénte e i,nprescindivel de S-,ciedades ele ,\ cc'liniaçãn
em todas as provincias do Impe ri o - O novo principio de
s.e lecçãn applica,l<i á cul tura do fumo - Milagres p roduz idos
ptla selecção, pela a li me ntação e pela estrumação tecJrn icas na
.,criação dos. animaes e 11a cultura das plantas - Fixação. metho-
di.ca ela época d e. êol heita - Fnzenrlas ·centraes e fahr'icas
centraes para -a cultura e preparação cio íum~ ....... _ .• .. _... 25 7

XLlll.' _- Sum:nario .-:-- i\pplicação _5los pri, '.lfldÍ;Açi',&Jt


agncola e rncl ustnal a producçao ,lo f , ,i,i ,i:1o) -
Benefícios q ue produzirão as fazendas as fabr icas
centraes de lumo - ,Exe,nplo tomado oc!ucçãn eh
XVI

. f'ag.
prov incia d a .- Bãliia - A cullura e a i ndustria dt) íÚmo se rão
agt:nLe:; .seguros rla einancipaçãc;> dos escravos e da r--roi-.pe r idade
da D cmocFacin Rnrn.l Brnz ileira - Uma previsão de Theophilo
01ton i•- l nr•l.n .,t1·ia .rln fumo em Baependy - Umâ sce11a de
la.rnilia puritana do \Termont Oll r[l) :Vfa ..;:-;ac l1trss e tt· realisada no
" Brazi l - Si11 ,;e la ·dernonstração ele que o Tra b<1lb1J e a.Jnrlustria
póclem ~e r accliinac\os neste 1mperio · · -- · · -· · · _-- - - - - ... _.. .. 263

... _ XLIV. - Su1n1nario.-=- I ndagm;ão e discussão (1o.-. meios mais acle-


quadns para re íor nútr a Agricultu ra .Nnc1onal ele conformidade
CO!n os princivios ele centralisaç·l o ag riç_ola e inclnst r ial - Pro-
jeéto ele lei de auxiliei á Agr icultura Nacional - F iança de
~a 1:an tia <\te - j-l'nis em Ou r(;;') - pelo Gover no lm 1ierial - h1te r -
vençãu indi~pl· 11save l das as~ernhléas provinciaes-=- Çompanllias
oa assoda,ões Clll comll1a1ídit., co1n respônsnbilidarle limitada
-Dispensa do ,erviço mtli.tar - Séde no B,-az il - P uhl icirlâ<l e
<ile todasª" npel'ayôes - Fu11do d e reserva para os annos de má
colhe ita-:- E111a1).cipa.ção .dos escravos - Educação e in ~t rucçno
tecl_11J.ica dos lavradores .- Sustentação rio projecto de lei ele .
auxilio á Agr icul'tura Nacil>nal pe rante a Sciencia E cu non1ica -
f>-ri11cipiO .ftuzdanzental. I ntervepção gover namental m ínima:
inter\·enção 11acion.il :nax i!1ut ...... . . . ____ _... . . ___ . __ . _ . 269

XLV. , - S1i11wuwio . - Discus,ão do projecto de lei de aux iHo á


Agricu ltura Nacio11al - Capita l ,,acional - Capital estrangeiro
· - D,ulos estatisticos p<tr a. a snluçi\o ·ele un1 dos mais impor-
tantes prob lemas filla n ce irns elo lmpe rio - Q nantos mil contos
de réis vão tocl11s os nn nos ,do Braii l pnra a Europa e para os
Estados - Unirlos - P,-imeira- es ti mativa pelos lucros liqu 1dós do
cnmtne rcin de l o ngo curso ~ .-\ gnrantia de j uros e 7 % por
30 annos en1 ourb sllperio!- a qu;ilqner outro expediente
ti nanceiro· l·'ª _ra fixar e impor.1ar cap ita~ ·e st rangei fo pa ra o pro-
gresso do Brazil ~ Uma Jiçã" de fi11anças do V isconde de
llaJ:',orahy - Fixação do capital estrhng:ei ru durú,nte ·a crise da
g~·~1gg8t1~ _1~>~1~~~~~~--- ~ ~~1~c~a-r~e- ~r~~J~-~ -~ ~n1µrest i mo nacion al
1
. ·~ _
277
XLVI. - Sw11111ririQ - Di,c ussão do projecto ele !e , rle áux.il io á
A'gricult nra Naciona l ( -Continuando) - O probleina ela fixação
e. da impn.r tação dos capi laes estrange iros no Braz il ---: In- oo:_.......
, strucção e trabalho - Qua l a quanüdade de capital que se póde
fixa r an.nua \me11 1.e neste lrnperio - Alga rismo.s dados pe la
crise financ eira produzida pela g ueIT;t do .P araguay - B il hetes
rio thesmírn em 1868 e em 1869 - Emp res tirno nacir.rnal rle 1868 .
- T1tulos hrnzíle1ros possuidos pelos estnú1geiros em 1869 e
em 1874 - r..::resce ,incessante1~1e11te a cqnfia nça de todas as -
nações nos elelllentos de riq a eza e de prnspe ridacle elo BraziL _ 283

XLV II. - Summario. - Discussão do projecto el e lei .de auxilio á


Ag ricultura Nacional ( Continuando J - Üutra estimativa c io
-ca1Jital remettido ,lo Brazil para a Europa e para os Eslarlos
Un idos . -Algarismo dado por Alexandre He rcu lano - Deter-
minação .rio algarismo méd io, fornec ido pelas tres htpolheses
XVII

-- Pdg.

já discutidas· ,,....: Outro problema financeiro connexo - Que


sornrna póde o Rio .i:le Janeiro imnwiJilisar em me!h-oramentos
urbanos? - R.epu g- nanc.:ia do capital estrangetro em se fixar no
Brazil- Esclavagis n, c, e,-papel-moeda.:.. ........... :,.8 7

XLVIII. - Summa1Ío. - Discussão do projecto de lei ele auxilio á


Agricultura Naciol)al (Continuando) - O expediente financeiro
da gn ra11tii de juros é muit11 superior ao obsoletp e fat al sys~
tema <1os emp 1:estin10,s .estERngeiros - Uma excel'le.nte ma:?irna:
do. Viscon(le de Itaborahy- A paz e o bem-estar sã<,ain cla
melhores agentes ele importação e de fixação de capi,taes dO" q,1e
a garantia d!:! juros-:- O sys ternn. de g~rantia ·de juros te111 a
grande vantagem de não au-gmenlar a divida nacional - O j)he=
nomeno ~nanceiro é inteiramente ana'logo á in1rnig-ra<iis para
o Brnzil, ele iiHlu , trias de ,:rande riqueza- O limite ;lo capita'!
q·ue se p, ,de rá fix a r e importar, só d~pende da força proctuctiva
da 1ndust1.: i.1 agricola e·m solo brazilei1 o - ,\ fi::rnça da garantia
de juros peio governo i.mperial é indispensavel paFa a im-
P"nação de capitaes para o Brazil .. : ._... . . . . : . . ...... . . . . 29l:

XLIX. - Summario. - Disc11s,ii.o do t.irojecto de lei de auxilio á


Ag ricultura Nacional ( Continu,mdo) - O sysrema propos tç,
em parallelo com os projeclns de bancos territoriaes - A ex-
cellente in st ttu•ição <los ba ncos territo riaes é a.inda infelizmente
-irnpossivel neste Irnperio -A França de -1867 nii.o .estava ainda
preparada para essa in s tituição-:- Prtn'a irrecusavel pe.lo re-
. _latorio -de Mich el C h e-v,üier' na B:xp0sição Uni-vei:sal @e Paris
de 1867 - 0., cami nli-0s de, ferro P '! credito sã0":i11dis1,~ nsaveis
u ' u111a nação inchistriosa·- o~ agricultores fran cezes soffre1n as-
1n ês mas pe11uria:-; que os deste Imperio - Uma escola, u1n.a
estação de caminho ele ferro, e um bancQ ten:itocial' en1'-Gada
aldêa do Brazil ...................... . .. ·~ ......... -. . . . 297

L. - Sumnia1-io., Discussão elo projecto éle lei de afixilio ií Agri-


cultura Nacional ( Gonti:1ma1ulo )-Ain'da não é possível fundar- j
nest e Irn perio hancifs territoriaes - Parallelo com a Fra.nça ile --
1867- Necessipade -da agricultma : ern materia de creclito-
Emprest ,m os c,münerciaes. qu ele prazo curto e emprestimos
rumes, hypothecarios ou de praz<J longo-As fazenclas centraes,
os engenh os centraes e as fabricas ce ntraes funccionarão totno "-
bancos para os pequenos lavradores ~ Exemplos praticos nas
colonias particu lares da pro vín cia de S. Paulo. Desenvolvi-
mento e prosperidade da democ,_-acia rural no BraziL ....._.... 303

LI. - ·Summmi<>. - Uma noti cia. - Discussão do projecto de lei


' -de _auxilio á Agricultura Nacional ( Conti,ruando) - E' prnciso
antes ele turlo _educar os lavradores e instruil-os nas praxes
bancarias - Demonstração de Michel Chevalier.- Exe.rnplo do.
Crédit Fonder de France - Provas ptaticas _da impossihíljdacle
dos bancos territoriaes n es te lmper io - Opinião do ex-pre-
s idente ela Bahi_a, senador Cruz Machado - Exemplo de um
ban co p1:ojectaclo para a província · cio· Espjrito · Santo - Os
bancos territoriaes são év1dentemente inapplicaveis á maioria
xvnr
Pag-.
das p rovilrn ias ,loiinperio = As íazenrlas ce ntracs, os enge <i <>s
centi·aes e as· fabri cas ce ntrae~ são . r10Ss ive is•jJ-or ti)da a oa rte
~ -Un)"g-ran ê.Ie 1.)e ri"gô clns hanco!-; te,:ri_to ri :tes - D:iria ,n . maif.i
fo rça aos ·-eleme ntos que o bstam " desenvo lvi me nto e a pros -
peridade_ela P,.gricul tura Naciqnal . . . . ... · ' .. . . . ·. ...... . . 309

L II.--;' Su111;11mrio - Di scnssão <l o prn jecto ele lei de ai; xili o· â A •.: r i:
culttu-a Nac ional ( C"11tinwi,ulo) - Dis tribu ição do ca pital
gara nt ido· pelas . pi:ovincias· elo lmpe ri o - Jus ti ficação pe la.
eS tat is ti ca rln e!X por Lnçfio e da_popul ação escrava- D e mon-.; -
traçã,1 de ·re n.d .i li"q ui eh ele 4 "!Yo - Ampli ação el a lei d e 24 de
Se1em bro de 1873 - Necess irlacle dessn amp li ação de monstrada \-
pela p rovincia <IP Espi ritn Santo - Companhi as e soc iedaeles
e111 comm a ncl.ita rl e res po ns abilid ade limi rncla- São pre feríve is
as com1)a 11hias - O pinião el e Stua rt Mil! -As co mpa nhi as,
como o jury para .o Givel e jJara n c;·im e, são g ran des escola~
J?raticas do syste 1na··represenhil ivo ·- ___ . . ____ • ___ - - - .. - __ - - 315

LilI . - S11,,w.ar,Ó. -, D iscassã<í elo projecto cl"e lei de au xili o á


Agricu ltu ra Na_c ional ( Continuando) - Pr 11jecto ele le i de so-
ciedádes e·m· comm andit a com respo 11 -.;1hi l1darle· li m ilarln :-
EsSa 1ei ff é necessni) a para o d ese-~ vol vi menl n ela ini ciati va
in divid ual e-do es piritn de a.ss,)ciitção no Bi-az il - A puhli:id ad e
e a in_spec_ção dos estahcl eci me11to:-: pe-1 te nce n tcs ás co m 1,an hias
- Educação nacional pa-ra os traha lh os produ ctiv0s - Di~-
cussão elo ~ 50 ·do a rt. r~ do proj ecto de lei ele a u , ilio á A,u i-
cal tm:a N acio na l •- D1ffic i.;l da,le s em levantar e m L o ndre s o
capital 11:ira os caminhos de fe rro gara ntidos - As cl iffi cu ld acles
se rão m ai ores pa ra as em prezas <le en "-!e nhos ce nt raes - l\'f odo
p_ral ico de resolver estas d ifficuldacles _. . . . .. . . .. . : .... . . . ". . 321

LIV . - Summario. - D isc ussão il o projecto el e lei de a uxili o á


Agri cultura Nacional [ Continurmdo ] - J\ i·r,cla ,,. § 5° dõ ar t. 1°
- Con ve~ni eneia de cl Ous contracto s , a separação <las cn nd içõ.e s
t c.l1,1icas e das condições fin anceiras el o e m preza - Exe m plo
frúnado ao~ can1in hos <le fo rro garan tidos - Con t rriclo lech nicn
feito co m o Minister io da A,.:ricu llura -Con lro.to fi nanceiro elo
Mini ste rio el a .Faze nd a - Mocl elo para es te ,ul ti mo contracto
- Intt'r ven ção da D e-legacia do Tf1e3o ui:o Nacim1áL e n1 Lon clr es
- Pagame nto dos j u ros garant idns :_ Qllotas d e am ortização
- Recepção do -capital pelos e0 nccssio nai:ios . . . ... . . ,. . 327

LV. - Summario. - D isc uss1(o el o _prnj ecto (ie lei el e a u xili o á Agri-
cultura Nacional LContinuaudo] - Obser vações ao p rnjecto el e
con tracto para levan tame nto de capital em L o ndres pa ra »s
engenh os. ce ntraes e es tabelecim entos analogos - Aperfeiç!=)a- ·
111en to· a in trod uz ir - E rni ssão cli recl a de " de l•e n tnre s-bo ncls"
pela D~J·e gacia el o T hesourn Nacional em Londres - Venda
ele apoli cés clu,ra nte a guerra elo Paraguay - Vanlagens fi na n-
ceiras dó- ~yste ma p r_opos to - O <l es icl e rat um nésta especia-
lidade- Capital.estran geiro: a clm ini ~_Lração e direcção lechni cas
b raz i)eiras - lm port ancia do p roblema da fixação e da im -
portação el o capifat estran gei,o para o B razi l . . . . . . . . . . . . . . 335
XlX

Pr<g.

-LVI. - Sw1únario . .,- Disc ~ssão . do . !{rnjecto ck .lei d.!'l aux i)i n á
AS! ricultu (a Nacion<'l [ Conti,i uando ] ·-O system"'- prn,1,nst• >
pat~a a. .irr1portaç~to do capital e:;t ran!eiro no J1r<1;zi.l lemhrQ. .,,,º
syste,na .:"y_a n-[, êe" d e. p~estaçãç, êle. c re rlit,, elo E,-Ja<l1J - , ~"• -_
quaSi o ·. syste ma adopu1.do pelo ~nv_e rn n ru .;s \>, pa ra. 0~~er.~
capital e1n Lt>ll(ir es, para os se u\ -c,:1.111111\i os de ferro g~ra11t1d os
- Exposiçãq. d ess·e systema d e,ii1h> a,is banqu eiros Rnthscbil,l -
- A nt e:-; de ~.187l) o g:ove rl1 o i: nsso com mettia 0 !)lesmo et n>
qu~ o -· 1]0:-:.sn - ~oveFrio _ac:t ua l!nenl e - Dem<H1straçã0· dr~~ v.an-·
t. ,gens obtidas - Exe1nplo _e liçãf> para o:,:.. 11~:-;s~s -fi:!1a•nce1_h:~~ -
_T rin ta 1nil contos de· réis a po~1p~tr aos cp n tnl>mnl@s braz·1I e1ros- ,339

LVfl : ~Su,mnrrrio. - D iscussii</ do projeclo de lehle nuxi'li o á-


Agritu!tura Nacional [ Cpntúzu(Tlufo.J - Re/l s xõe.s •suger ida s
pel o § 6° do art. 1'\- Nqta so\fr'e as empr~Z<h de c0 1onis açãii.-
mais fa vu recicl as - . O decreto n. 3.985 de 18 de Se1embro
rle 186 7 ela cc,mpa nhia Brnzil Indust rial e os favores co nced id os ·
a~ é rnprezas c.le inClu:,tri as novas - A ·i>µrocfacia e o func :1011;1-
li srno e m luta com a in du stri a - Os phariseu s d o fisco - Os_
e11 gen hei1os ofTi ciaes - Os politi cos emp~rrndos ~ Uma .co1.11~..
pa nhi a el eve ser u-m Estádo no Ji,taclo - A indi vi"c~ua:l id ade dosê-
dire itos do cid~dão , tlt~s·c rip ta · por _ Pit t - O progresso é â
Libe rdaéle e m acção . __ ... _- - - ........ - - . . . 343

1:,\,-·JII . - Summario. - Disc!ussfüJ do p roject<> d,;: le.i ., d'e au xüio-


á Agricultt,t ra_Naciõnal (co;,ti1t1(f!1Ufo) ~ Co m ,n e nl '1 rio ao ·\\ 7Y (
c'I~ ~rt.. I. _:.: A A~ricult,ura 1:ª-'.' te m ~naior ini migo <:Iu que __ú ,.)
11111,ta rrsmo ·- Prova poy Math l('tt _d e Oornhasle - Os a;i:n- J.
cultoi·es, vic t_im as ~a gue rra e•cla 1-mz arina da , . O l,ypo cr il·a . . 1··- .
...
-parftd0xo ";31 v1,s 1:Jace m par~ , .be llum" - -0 mau palqot1:-;mo
rutn an{) - A egQis t1 ·ca Lh e_o r ia Mo , •·'C ivis K omanus ·=Sutn'\
- Um _ exe m plo da hy pocrisi a el a paz _armada - o, a:fri : '_ ):. -
c,~_J~c)res - devem pet!ir 1n cessant ~1ne11t,e a p,J.z. - Nà.o tetnJ.:íl\
ra zao'de ser paz an11r1e.la n a A1:n e n ca .. .. ,• .. . __ . .. . - . - - - . - - \ íl4J
~ 1~ ~~~~-
LIX. - 8ww1um 'o.· - Disc ussão ri"o projecto el e lei d~. nuxiliõ
á AS!ricullnra Nac io nal - (continu7rndo) -Im portancin ãa .rlis-
posiçâo cio § 8'.' do art. r. Q cl'esse projectn para o desenvolvi- .
me nto da Democracia l~ural Brazi lei ra - Estudo_ it·~- probl e mrt
anal,ig:o na F rança pnr Michel Chevaliei· - Ise nção de- :di~
reitos de importação inclusive os de exped-iente - Ço rnpã-
nhi :1s de dura·çãn illi'1ri 1ada - O regu lame ntari sino lltl I1nperio
.- Ainda a· ra1al lei de 22 ele A"osto ·de 1860 e os seus. nove
in!iniLnS dec1:~tos reg uiame ntar~s - Primeiro ~ tl·~lb alJ;io~ • d(,t
V1sco_nde ele· Itahc,rahy para a re fo rma rlessa lei_ ·._. _. .._.·. _.. -. 35 1

LX. ::_ Summano. -D,scuss ;;b ,fr, p,·ojecto ele J•e i de auxi[i0
á Agricul tura Nacional (continuando) - Fiscalis'! -
·zendas cent1:aes, cl'?s. en~e~i lt os centraes e _rias L . :._
'6"1''U'\:oi,·,4,
- Interessa.r a adnn111straçao 1 o fi sc~, e a repre t~~ l-i nCJt)nAf°
nesta~ em p rezas ,- Edµcar a nasao _para a 1~ , trm .e pa ra o.
trabalho - As companhrn.s es tran ge ira$ te ·10 -~e mpre rep re-
sentantes no Im peri O, e
t1h s tr.ibunaes se -d ~helã.i:ãci 't0doS tis
'1
~ E P U T J,ooS
XX

Pag-,
casos litigiosos - Publiciçlade de todas as . opernções das .
companhias-- Lic;ão' publica pe rpetu" ele Econon1ia Inclus rrial
- E' essa u,,,u d>ts mai.ores van tagens elo systcma Ele cnmpa: · -~
nhias - Opini'ã<-i _-ele Michel _Cl,evalier - . Vantage ns sublimes
da ;1nblicidade- .Futuro dá imprensa ............ ;. . .. . . .. 355
~ . \ -

LXI . ..:;;_ S u11íJJta1·io. - Discussão do projeéto de lei c]e- auxilio


-á Agricultura Nacional [coutimumdo ] .:_ Fundo de réserva
elas com1Jnnhias ··garantidas· prevenindo a h y pothese · de falh,i
conipleta de -trez colhe i tas successivas - O governo não s e
fará co-paJ'tidpante dos rl_ivicl_endos d::,s companhias - Não
· pode1'ão ser sttjeitas a i-1111,osto alg ,1111 como pés,oas coll ec tivas
- Esta c1H1<liçã,> é indi:-tpt!nsavel para l~nportar e fixar oca-
pital; est,~angei r.u na:-.- ernpr_e·21a..:; ,ie fazendas ce ntraes, ., <le
_engenhos cçnLrae.-- e ·de f",tbric:i... C.\.'.! 11tnle:; do _Braz.il - ~eceS-
sidad~cle ~xar. ,> 1nini;ntun do t.::;tpital que deve ser garanlido
· p~lo.c- .gov:,e-rn I para e.ida prqvincia. __ _ . ~ - ... _ - _- .. ___ - . ___ . 3fr1 ·

LXI !.- Sm1t~n<,1rio. ......:Disi;:ussão rlo projecto ele lei · de auxilio


á ' .-\gri c(il-turo. Nacional [.continuando]' - As · companhias ele
fazendn.s. cen trae~, de engenhos cen.traes e ele fabric•as cenLraes,
µoderêls9s - agentés ele enHincipac;ão, de co lon i!'iação, e ·d e
instrucção -technica., ~gricola e in,lt1slrial - Recursos financei-
ros para ~ pag·::i.rnento rlo--. juros garantido.; ás con1panhias
- - Nãn é rle temer que o lmpe,·io faça bancarrôta garnntindo
ju ros · a e 111p rez~s, dr.:stina.las a elevar ao 1nais alto gráo de
prospe ridarle sna Agricultura - Só é ele temer qne o.MEDO
retarde ainda por lnnitos-annos a reali saçã_o de tantos ·beneficios 367

LXII I. - Sum\nw,io . - Co n tra.·,1.irova elo projecto el e lei <le


a.nxil,., á -Agricultura Nacion\l - Syntlrese elas necessidades
acti:aes-da lavo urn -Falta delonheci111é_ntos t-echnicos - Es -
colas noc~nrnas e de do1ningo:(nns fazendas cenlraes, nos enge-
nhos centrae~ e nas fabrica::; centraes. - In!-,trucção technica
irnrnediàta -. e: incessante .--Ensi no immediato pelo espectaculo
.das 1nach)na~ en1 ·1novjme nto_:.,- Escassez de capilaes - Cada
fazenda central, cada engénho central e·cada fabrica central,
·será um verdadeiro banco rural - O cap ,tal será· certo e i nfa -
li velmente empregado 'na lavoura e l1ão em desl?ezas sµmptua -
rias ·e esti:anhas- á Ag ricultura - A , centralisação . agrícola re-
duz a. propurções ' mini mas o capital necessario aos lavradores 373

LXIV. - Summm·io - Contra-prÓ.va elo proj.ecto · ele l~i auxilio á


Agricultura Na.cional (,ontiuuando) - Carencia de braç<>s - .
li'alsiclade dessa proposição - Em paiz algum do mundo ha
falta ,de hon,cns - Os governos da Europ,i manLenrlu o pau- 1
perismo e _impedindo a emigração - Milhares de operarios i_
desaproveitados ou mal aproveitados neste Imperiu por falla t
de vias ele communicação, e 'pe lo estado ele abatimento em que 1
se 'acham a Agricultura e a Industria e'n1 geral - A chave da
-theo,~ a ele ilfn] thus - Dai bem-estar ao Bí·azil e o movimento
· progres'sivo ele sua população excederá, em pouco tempo, á elos
· Estados-Unidos ..•. : ............ .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 379

Lo
XX-[

· Par.
LXV. - S11m111ario. - Contra.prova cio projedo ele lei- ele auxili~ -
.,í_ Agricu ltura Nac ion:i l ( ,·011tinwzndo) - Fal ta de estradas.,.....
J\s vias de con11nunicnção, o~ agentes mais efficazes de çàlõfii"- (
!-.açãn ·-,- As emprezn:-. de cami nh os ele ferrõ de_ven1 ser -sin1ulta- 1
· nnemcnl<' e,nprezas ele co lo1,isação - Abr ir es tradas é col,·>nisar ·
-E' irnpossivel colo nisàr sem vias_ de co mi11i, nicação _;_ _Q i.tn-
m igrante quer bem estar; o capita-1 q ue r segurança; · q.ue r ·paz
- O n1i li tarismo,i11imigo dn colo1ü~ação tanto na Eu_ropa co1i10
na A ,nerica - O símile cio Cast•le Garde n - Prnphecia_ de
Beniami n Frankli n~ O •lesli 1rn da A.rner ica . . •.- · ... -.•....•. .0 • • 385
- -r.
M
LXV1. - S1111111111 1w.- Contra prova .do, project,'fde lei de auxi lio
á Agricultura .NacionaL Falta de estradas., (continuando)::--
, U lll a rêde ele vias ele comrnunicação é u m elemen to inçl ispe,n·
savel á liherclarle do tral,alh.-, - DenJOn,, tração ele M ichel Che•.
va li er - .'\p(?l icaç-ão dessa rheuria ao Brazi l - A morusiela.le
elos nossos camínhos de ferro já ~é n1otivo de mofa na Earopa
- Em part e ,tlgurna da An ,enca tem · sido tfto iles-prewdo o
grandioso e instante problemn. çlas vias ele co111n1111ficação :--:--
Que juízo fará de nós a geração vi-ndoura? ! _., r ••• 391 .
• ••••••

· J.'.\VII..- S11m111ario. - 1 01;tra,iróva do projecto , de lei ele


·aux il to á Agricultnrn. Nacional (continuando) - E;<cesso m,s
impo~tos dê -exportação - Nece ...;sidfl.d.,e de reduzir as des-
pezas <}t: guerra~- O exert_;Íto do!"y .Estaclos.-U nido!-i e o .exer-
c 1tn clu Brnz il - O 1uilit~ r i~mo na -Arnt.r icn do ~ui é um abS1,1i-do
- CO nselhos de V./nsh ingto 1·1 e de rrbnniaz JefferSü n ~obré aS
relações inter-naci,mae;;-=- A l{epublica J\!one-Americana, · ~ -
nãçào mais pacifica dp · mu.ndo - A arb itragem de Genebra
- A Le i de ai:hitrãge.n pnra µ·revenir a·s guerrá..;; ~-- Nec~s.:
sidade e van:tagens de nmn Lei ·anal•:ga. l'ara·o Br'.'zil. . . . ::. ·397

LX VIII. - Summa,-io. - Contra·p r""ª elo projecto. ele , lei de


auxilio á Agricult ura Naciona l (continuando) - E levados im .
pos tos de exportação - ·N ecess idode de estu dar especialmente
o sys tema tnh ut ario do Imperi" - O pi-oje.cto cle, lei de au ·xi li o
á lavoura - Bancos territqriaes - Engenhos centraes -
Bnncus te rr itori ae:-; co m fun do e111 ouro e
emi~sã·rr li vre e m
· suas circu mscripções-:- A1,plicação cios p ri ncipins .c:!.e i:ent1'a·
li saçào agricola e industrial a todos os productós nacionaes -
Garantia de ju ros em ouro - Fiança e não garµ.ntias - Re-
f0n:n as s0c1ae:-;, economicas e financeiras neces~ar-i::!s- :Í proS-
perida0e da Agricul.t u ra Nacional - O axioma cle •Monte 0 qu ieu
- ·A Liberdade, a ·principal promotora dos progresso agrícolas ·
- Conclusàu. • ......... ·...... . .... . .... : . .. : .. .. . . · 405
li
AGRICULTURA

-ES
TRODúC ÇÃ O

Sum mar io.-Definições e e~plicações.- Engenhos ct:ntraês. - F ~ze ndas ce n trae--..


- Exemplos e esclarecim entos.-Pl·i meiro exe mplo: assoc iação_ esJ;>ontanea entre
, se11h0res <le enge11hoS. - S c gu;1do exe mpl o : a!-sociação e.spo1;_tanea entre_for.endeiros
~ç café.- 'l 'erceiro exe l}lplo; en _genho central com ~u m i:-6 p;oprietanfl. - Quar to
-exe111pl u : f~ze nd à>Ccn1rn:l.de cri. fé fundada ROr iniciat{va indivi-lual.-"Q.uin tÔ e'"xcmplo :
auxilio do g<wc mo geral ou provincial , ou de a·m bos. par:a _a C!eação de engen h'os __
centra es e de faz ~ndas cen traes.- Typo -yan ke:e.- A idé~ cardeal çlos engen·h os
Zentraes e de faze ndas ce ntraes póde. ser ~ppl icada a todos - ris prod udos - das
ind ustrias agricot~. pastoril e extractiva. - Prin cipio de centralisaç;i"o agricola.-S\.la·
definição. - P rin ~ii,iq~de centralisaçãÓ industri1l.-Slla defini!ão.>; _ +

- ·~-
D-en ominam os Agronomos actuaimente- e1~gmhos - ce,n-'- ~ ~ 0

fraes e fazmda.r cenfraes ( r) aos estabele_c im entos destinados a_, "- '
preparar, pelos processos technicos e eçonom.icos mai.s
apérfeiçoados, os productos ag riq )las d_e umá ·c erta zona '-
te rri to ria!.
A qu aliticáç1to central. provém .de oceupa r'°~sse e~tabel e-
cimento, rigorosam ente ag rí cola e industrial, qmi;si ·sempre ó
centro da zona territorial, cujos ~ pruductos · ruia:e~ ell e deye
pr-eparar para ei1tregal~os· ao ~o mmercio n 8S melhores co n-
dições de venda -e de 1ucro.

(i:) ; l\s fazendas ' ·normaes" e os engenhos ''rlorm;cies" tê m algu ns pontos de


contacto com as Hfazend~s centraes" e os '·engenh os centraes" ; de§tin am-se, p-o rém,
principalmente ao ensino d o:, melhores proce~s s agricolas; são .verdadt:iramente as -
escolas p t at ic<1s das "fa2:~11das centraes" e dos "cnge11hos ccnt r.aei,.."
- 2 -

Alguns exemP-los tornarão bem clara essa definição, e


estabelecerão, bem explicitamente, os limi tes, que se deve dar
ás eiçpressõ"es------::- eng<:rrho, cenlmes. ê fazendas ceniraes na
technologia-i1g:ronomica hodierna.
r. "· -O~ sen.hores de enge nho, ou os ag1:ict.1ltores em
c:1irna de assúca1' A, B e C, desejando m elh orar o seu sys tema
de produéç_io e,• aüferir maiores lucros, associam-se ·e entregam
a gerenci,a1:Je seus e'stabele'cimentvs a uma só pessoa; reunem
toda~ , as su31-s mac hinas na sitúação mais conveniente para
rece_ber 'L ·c;mna de a~sncar d.ts plantações, e enviar o assucar
e o,, prodi1ctus éonnexos ao mercatio ; forn;arn assim u.m
estabeleciúienro - unico, o q uai conceútra todas as variadas
oper,'.ções, necessarias=para tirar da ,canna de assucar o m~.ximr)
pwveito._
O e·stabel·ecimento, q ue dest'arte fundara,m os se nh()l;es de
engenho A,: B- e C, .' se denomina um engénho ce1itr al.
2. 0 Qs fa;,;end éi-ros ou os agricultores em café Á, B e C,
na intenção· ·c1e melhorar o seu systema de p~oducção e
àufenr maiores __lucros, associam-se e entregam a gerencia cios
seus estàbell'!cimento~ a uma só pessoa; reunem todas as suas
macliinàs na situaçã.o mais conveniente para receber e preparar
o café das sims plàntações, e envial -o ao mercado nas melhores
condições çleJucro" : constitutem assim urna fazenda unira/.
3. 0 (') · senhor do engenho A, assaz rico, philantr6po e
previdente, divide- as suas vastas terras em lo tes, que vende,
afüra, ou árrenda aos seus e1'nancipaclos e colonos nacionaes
o"u estrangeiros~ ~onfia-lh es todos os ·trabalhos da producção
da canna de assúcar; cc,n centra toda a sua attenção na
fabricação do ass.ucar··e dos productos connêxos ; compra as
machina;; e os apparelhos necessar,ios para exercer nas melho-
res condições econom icas a indust1}a saccha1 ina, _e consegue
assim, po1: seu simples esfo rço individual, fundar um engenho
unira!.
, ,.. - ~.º O fazendeiro de café A, rico, philantr6po e previ - .
ciente, desejando estar preparado para o grande dia da
Emancipa.ção, divide a;; . suas vastas fazendas em · lotes, que
-3
vende, af6ra, ou arrend,t aos seus emancip<1dos, à Ünqrii:p-antes,
ou a colonos (1) nacion-aes ou estrangeirns; confià -lhes todos
os- t~abalhos propriamente agricoJ~s até a producção d,o cnfé .:
em cereja; re~erv,i-se sómente as operações, já, ·um taritn
indusn)a,es, de pi'êparac o - café e énvial-o at(_mercado 11~4
nielbÔres condições de ·lucro .; ,<e. ·tem • issiÍ11 'obtido e.levar a
sua ,- fazenda , á \=ategoria de uma .1·; zmda, ~en_fra{, _e, ficar em
condições de pod<c.F esperar, imµerterJito, a· reforma s0ci~-1
maxima de sua Patria.
5. 0 O g<:,verno-µrovincial C'U geral, ou -ambos, _ó.esejim)o
e'stirnulp.r a jniciativa , indi~idua_l e ó , espírito de associação
dos agricultc,res, funda; direcla ou indinrctarhente;- . subve11-
. cionando ou garantindo jurns, um_ estabe\edmehto, com
as melh ore~ conc,!_iç.õ es tedmicas e economºicas para a
producção lio àssucar ou do café,_ e determina , qt1e esse
estabe·Jecimento só se· occupe de _preparaçáo~ e_ compre, aos
agricultores circumv_izinhos a canna de assucar 0'1,_1" c,ifi ·e1;11
cerejz.. ; ess~ estabe~ecime1úo, qüe se rá. "l.Im centro <e. u_m e:Cemplo,
um fóco de alfra;ção ·e u,n estimulo - merecer(_o ~orne dé
engenho ceniral, ou: ele fazenda centr,al, _c onforme sé occ u_par da
pruclucçil.o' do ass ucar o_u do oafé. : , - ·'
·Póde-se .evidentem-ente mul_tiµliéa-r estes exerti_plos ao
infinüo: os cinco, que acabamos de-dar, constit L;em_; µoiém,
os tres typos mais estiinados, e são bastantes ···p ara gu~ar o
leitor na cumprebeµsão elas materias,q.ue vão se r desenvolvidas
neste escriplo. .
Nos , Estadós-Unidos, -na Reµublica-mode\o, h,1 um
Lypo de Centralisação agrícola, digno de espeó,1l - estudo,
E' assim descripto em um dos seus ad_m irâveis periodi cos,
dedicadus á Industria Ag1:icola:
"Em gr:inde nHmero dos Estàdos da confederação
ame ricana, os àg ricultores ,se- consti Luiram em _ asso<;iações
ou companhias, com Q nome de · ' 'grangenri ,1s " -
1 ;:-

4 -
·destas,, as.s q.ciações foi fundada nos Estados Unidos- em _
_ e867; os .q uaes hoje contam 20, ooo com r, 3 r r ,2 26 associados.
0

: No Mjs; Q\lt:i ha 2,150 grangearias.


··. "Ná Pensyl~a1;ia havia, no pr-i ncipio do anno passado,
6 grangearias, hoje ~onta já 800. No Canadá e ~a-C~lifornia
muitas destas·ãss0çiaç_ões se têm fundado tambem.
- "Os sens- fins são variadíssimos, e transcendeni desde a
_communidage dos . mais. si_mplices trabalhos até aos commet-
. timenJos -mais grandioc.os. Assim é que muitas dellas têm
. estabeleci.d o'. bancos de credito _a gÍ·icob, fabricas suas para
· ·construir machirp=ts e instrumentos ruraes ; armazens para-os ter
em·• de_pusitos·; _e_s tabelecimentos para ind ustri"ar em grande os
-productos - 1:uraés. exp_ortar e equipar navios á sua custa. E'
o trabalh_o ,!.grk,,-l ã: arcando- com ,,s }eqnenos capitaes asso-
•. ç_iados, ·não contra os grarnies capitaes, mas .c ontra a mesquii1ha
e dura con<l_ição <los pequenos proprietarios rnraes.
"Dii:-se que isto é uma nação na nação; deve dizer-se,
çom nfais p;:o priedade, que é a parte vital da naç;t•) e a mais
mi,m.eros~, que àchou em si mesma a tórça e a direcção de
qué necessit,1va para µregredir, sem o vexame e as torturas
. d-o: · parasÚisijio . dos _tempos feudaes, que mudou de nome
.

sem n'iudar. de natureza. e de instincto~. "


.;E;'. be m evidente q·ue o systema dos mgenhos cmtraes e
das .faze11rlas . cmlraes se p6de applicar a todos os grandes
·p·r oductõs da agricu ltura nacional : ·ao alg.o dão, ao fumo, ao
cado, ou a qualque1: qutro.
Para o algodão, : por éxemplo, o engenho central se limi-
0

taria a receber ·o algodão em carôço dos lav~radores circumvizi-


nlms, e la ria, com as melhores machinas e pelos mais ape-
feiçoaclos processos, _todas as operações, desde descaroçar, até
prensar e e11fardar, ·para enviai-o açis mercades exportadores
nas melhores condições de venda.
Para o fumo a ,fazenda central receberia a folha ainda
ve'rde dos lavradores circumvizinhos, e faria, com as melhores
.macli°inas e pelos melhores processos conhecidos, todas as
· operações da preparação do fumo para os differentes uses, a
5-
que fosse destinado, de modo a obter sempre o maximo- preço
nos me 1·cados consumidores OLI de _exportação.
:-!esta especil.lidade, aliás tão simples, ainda está tudo
por fa7,er nr; BraziL -
Para o cacáo a fa;,;en ~la centr,,I receberi a os frnctos d os
agricul to res circumvizinhos, e d,u)a ás • seme ntes o melhor
pre paro e o melllllr acondici onamen to para ser exportado
p,,rn os mercad os da Europa e do,, E,;tados Unidos.

• No intui to de 0bter' m;:iior simplicidad1uie e rapidez na ·ex-


posição denom inaremos neste escri pto- "pr21u1;t>10 ríe cenlralisa-
ção agric...,la" ou ' 'principin r!e cenlralisaf-'f!i.-O, applicarlo ás.induslnas.
agrfrola, pastoril e extraclíva" -o prin cipi o, em _virtude do
q ual· tc da a industria ,,gricola oa e\'.tract iva é dividida em
duas part,-s :
-A primei ra, reunindo todas as operações em contacto
immecl iato com o solo ou com a terra;
-A segunda, concenfrando, em estabelecimentos espe~
ciaes, dotados com as melhores condições techn icas e econo -
m1cas, todas as operações n ecessarias para preparar ~os
prn d nr. to~, obtid os na primeira operação, para a exportação
n u_ pa ra o cons umo immediato.
Sob este pon to de vista, mais "'asto e mais compre.hensivo,
o p ri ncipio da centi-al isação agrícola póde ser applicado a
todos os artigos de expo rtação do Brnzil.
Assim a industria pastoril terá tambem fazendas centraes,
qu e comprarão o gado em pé aos criadores, e farão sobi:e elle
todas as operações necess,irias para • obler a carne, o couro,
e todos es productos connexos, · nas melhores condições de
venda no interi or ou n ns mercados estrangeiros.
A gornma elastica, a boi-racha ou a _seringa do .Pará, terá
tambem suas faz t ndas centraes, q ue receberão dos mateiros
o leite das se ri ngueiras, e lh e darão o melhor preparo, afim
de obfer o-mais · alto preço nos mercados da Europa e dos
· Estados~Unidos. ,
/

A'· herva matte do Paraná poderá ser tambe m applicado


. o principio_ da centralisação agrícola : a fazenda centrai
pre.parari:J, a folha, ·colhida pelos mateiros, e acondicionaria
a ·he·r va-mate de ;nodo a al,cançar o maximo preço nos ni e r-
cados das repuqlicas do ·-Prata e do Padfüco.
Com o desenvolvimento progressivo da nação brazileira,
o- principio da centfalisação agrícola se traµsformará em
pnncipzo de · centí-alisação 1i1dustrúd: isto é, d e cada enge-
nho, ,central, de ·cada fazenda central , nascerá uma fabrica
ceniral.
A fazenda central , o engenho · central preparava . os
productos agrícolas para serem exportadc;>s para a Europa
e" pàra os Estados U11idos, e ahi, ainda modificados por uma
in-J ustria mais avançada para o uso dos ~onsumidores. ·
A fabr.ica central brazileira enviará para a '.Euh>pa e
para os Estados Unidos u pruducto agrícola prompto para ser
set immediatameíite consumido.
Assim o café será exportado em p6 ou em . extracto,
sern-pre prornpto a ser immecliatamente usado.
O assucar será _e nviado sempre refinado, érystal isaclo
ou em pó, conforme as exigencias cio m ercado con-
sumidor.
O algodão será exportado fiado e tecid o nas -immensas
Vari.edades, que exigire~11 os mercad c;s consumidores.
O fumo será rem dttido· em .c harutos, em cigarros, em rapé,
de tod.os os modos usados pelos consum-i dores deste pru-
ducto.
O cacáo se rá enviado em chocolate ou em pó, de módo
a dar a esse producto o maximo va lo r merc.1nti-l.
Qualquer o utro producto brnzileirn, emfi m, :-;erá sem pre
exportado já preparado pela industria nacional, de modo a ir
prom1Jto ,a ser consumido na Europa e nos Estados-Unid os,
de_ixando invariavelm ente ?.os agricultores e· aos inclustria es
brazileiros o maximo lucro passivei.
-Quancto sé realizará este desz"de1 a/u1n ?
--Em r88o?
-Em 1890?
Mais cedo ou mais tarde; só Deos o sabe!
NG emlanto este escripto tem por fim esti mular todas a8 -
forças vivas da nação brazileira para que esse desúleralum
se realize o mais cedo que fôr possível.
I.

qurnmario . - Os principias de .centrnlis:ação agricol a e àe ,centrali~ação indu ~tri,rl


perante' a Sciencia Economica. - ;, .-\ tacam estes principi.os a iniciativa individual,
o espirita de assqciação, a Liberdade? - -Têm al.guma _Cousa de commum ~o~
a centralisc1ção :ulmin i::-tr~n-iva? -- Analyse e âi~cussão das tres fonm-1l.a$ pri11cipacs
d a centralis ção agricola e da centralis::i.ção '-:indus.trial -:--- Notavel v:uiante da .
primeirn fo rm.f.- da-typo~·- A centralisação agricola e a r:t::ntrn:lisaçã :, industrial
~ão realmente bo:u; appl icctçõe:s do grnnde p1;nciµio eco11omico da ~• divi,são do
trnhalbo ". - Exempl ~ na lavo ura da ca_n.na de a:._~uc-~r: ~ Os novos prin cipios
de centralisação agricola e de centralisação industri:::i I s ~rão agf:!1ltes fortes e
co1)st:1.ntes do progrc:-.~o nrlcional. - O prOgres::.o definido pela Sciencia Economica
hodierna - O progre~~c;o p:ua a Agricu:tura nacional. - O µrogres~o do Eraz-il
depende da acção combinada dos esforços . progressistas d t»s Brazileiros e ela
influencia ~ympathica do prugresso univt-rsrtl.

Encetando o assumpto espedal deste escrip to, devemos


,resolver, logo na primeira pagina, a toda a evi<.lencia, esta
questão:
- Os princípios de cenlmlisação ag rícola e de cen-
tralis,1çã0 industrial, definidos 11.1 introducção deste trnbalho,
estarãó de acôrJu c,>m os pnnc1p1os fund amentaes da Sciencia
Economica?
:-- Algum desses pnnc1pt0s - ataca, ou p6de vu- atacar, a
iniciativa incli,vjdoal, ,o -~spirito de associação, a Liberdade,
em. uma só palavra?
- Poderão, por acaso,. dar desenvolviment0 ao g_over-
nismo, ao regulamentarismo, a idéas proteccioni~tas, restri-
10

ctivas 011 retrogaclas, como acontece com a central isação


administrativa?
A:nalysem·os ·e discutamos:
Em prin1éirc' · :ga'r haverá, porventu!'a, ~taqt1e á Liberdade?
Este é e) ponto essem:ial.
Sem Liberdade não ha industria,
- A Liberdade · é a mãi , ·é o anjo da g-uMdá <le toda a
irrd ustria.
No .fia! social, e industrial ele I 789, o cel_ebre Rolland,
sumII).arfitndo os resu ltados d_o inquerito da <1gricu ltura e da
industri"a-·franceza, dizi:>. :
'' Par.t out; .e n tou ., je n'ai rien vu de mieux ·que la
Libe1té."
A Sciencia _EcÕ·nomiça nascia entã,i: ainda echoavam,
po_r toda a Fra:~ç~, as v,zes dos pais da_sciencia, de Gourná)',
de Quesnaye do bot'n Turgot; hoje, quasi uin secufo .dep01s,
ainda não foi p·ossivel encontràr melhor fonnLÍla · do qu·e a
do Ministro Rolland:
" _Em qualqu er parte dó mundo, e qualquer que seja a
industria, ,nada melhor •lo que a Liberdade. "
Ora, · bq,sta ;s~ud.a r acuradamente as t_res formulas-typos
de centralisação agrícola ·e industrial, CO(!l as q11aes iniciamos
. este escripto, para reconl1ecer que, bem· .longe ele· atacar-s"e
a Liberdade. não se faz senão abrir-Ihf mais vasto campo, e
dar-lhe inais fortes árm,1s para combater a rotina e .conquistar
o , futu1'(; em e., pfendid.t · victoria.
. Effectivamente, no primeiro typo, os individuos A, B e
e:·fracos peltj isolamento, constituem-se fortes pela assodaça.o;
verifica-se ainda uma vez ã. celebre divisa da industriosa
nação belga: 1 ' L'unzon fait la force . ."
O que não era possível nem ao ind.ivicluo A, nem ao
individuo -B, nem ao inclividub C, está perfeitamente nas ,
forças da associação A, B e C.
Esta forniula-typo tem ainda uma _ variante, . na qual o
principio da associação produz ·muito mais força: é quando
aos agricultores A, B e C se reunem os seus credores K, K' e
- II

K ", e mesnw simples socios capitalistas S, S' e S", e se fónna,


de-st'arte, uma 1'ioderosa associação de agricultores e -de
capitalistas.
E' intuit-ivo que, em todas e_ssa;; _refo rmas· agrícolas,
industriaes e economicas, ~ó d ,"ninam a iniciativa individual
e o espírito da associ,1ção; for.ças todas filhas legitimas da
Liberda.de, perfeit,tm;:nte reconhecidas pela .Scieneia . Eco-
nomica, como os mais pode rosos agentP.S do prog1'es;;o no
seculo. actual.
Nada lia, , pois, a temer.
E o Economista de hoje pócle dizei•, co mo seu pai na
Sciencia - Vincent' el e Gournay:
- La i;;sez faire; laissez passer. -
- Abri e.1paço á úticiaúva i'nrlividual e âo rspirito de
assc,áaçcfo: lançai por ter,:a as Õarrezi-as , qzu · aúula impedem o
lz'v re lra11J:ito na e.,-tnula do progresso.

A segu nda furmu la-typo - é de pum iniciativa ind ividual;


nãll pód e de m ud o algum- offe nd er os ;;ãos principios de
Liberdad e da Scienc ia Eco_nomica. Presupµõe um agricultor
assás ric<>, assás ph i_lantropo, assás previdente, para .tentar ·
por si só uma nJorma inteira.
O caso é possível ; mas eviuentemente ser.t difüci_l e
muito raro.
1
Reuni r riqueza, sabedoria, bonôade e coragem, é ser . um
ente excepciona l:- " R a ,:a Avis''. A tl1eoria não-ficaria, porem; .
cumplet;i se não estudasse esta formula.
Nu8 e8tudos avpliêativu:; demonstraremos tanibem
que as prulmlnlidades dé -bum exito são rea_lmente muito
maio res du que ·pai'ecem- á primeira vista. '
Em todo ~1 caso é u_m exemplo e J\ ITI estimulo .
.Ht cur non?
- E purq ue não, diremos?
A nação bia,z ileira -excede tai1t0 a 8uas i·rmãas em
s(;ntimenLus de benevulencia e caridade que é bem provavel
- 12

que faça pelo coração muito mais do que o utras pela


intelli gencia !

Na terce ira form ula-typo entra, pela primei ra .vez, a


entidade - governo - em concurrencia com a iniciativa
individual e com o espirita de associação.
Ha, pois," perigo re:tl de governismo, ele favoritismo,
de regu lamentarismo e de todos os males, que acompanham
indefectivelmente a acção governamental.
Cumpre, pois, ao Econom ista assign;i.lar cnidadosamente
os pareeis e os e~colh os, para que o batel da Liberdade
~- não mrnfrague n o torvo oceano do monopolio gover-
naníental !
E' evid e ntemente necessario procurar, eom ô maior
escrupulo, combiinaçõ·es, em· que a acçã,o governamental
seja a minim·,i p•)ssivel e a acção da iniciativa individual
tenha o maximo desenvolvimento, a maior exp·ansã.o.
A m elhor combinaçãc , se reconhecerá semp re pnr ·este
simples c.iracter. : - m 1ximum de inici,1tiva individual ;
minimum de intervenção governamental. .
Na parte pr~tica deste escrip to demonstraremos q uai a
melhor combinação · para .o estado actual • de abatimento ·
da arriculturn brazileira. No emtanto podemos ficar desde
já bem tranquillos que os - novos · principios de centrali saçã.o
ag rícola e de central isaç:10 ind ustrial s6 tem de commu m com
.a centralisação admi r1istrati va o nome e as boas q uai idades
tendentes a d.tr cap:t,tl, força, ordem e methodo. ·
Estudando acurada mente o principio d,1 centralisação
agrícola, reconhece-se que elle é, em u"Itima a naly se,
a . applicação á agric ultura do grande pr incipio economico
da divisão dG> trabalho.
A divisão do trabalho se define, na Sciencia Economica
hodierna: o principio (Conomzi:o, em virtude do qual, em uma
industria qualquer, encarrega-se a ~·ada agente rle producção de
executar o menor numero de operações que é possível.
- 13
O principio lht divisão d o tr,tbalho -não foi inventado
p•,r Adam Smith; este grande mestre foi s6m_':!nte o
prim•ei ro a constituir esse principio como um dos mais
import.rntes da Sciencia. Econonüca.
A,lam Smith é parn a divislo do trabalho o mesmo
que Americo Ve,pucio é para a Am erica ; o Christovão
·colombo da divisão do trabalho foi, realmente, esse talento,
emi!1entemente pr,ltic,> e industrial, que constitue ·a supe-
ri ori dade incontestavel da raça anglo-saxonica. ( r)
Para a especialidade, que · é o objec to deste escripto,
p.na a industria agrícola brazileira, um s6 argumento e um
s6 exemplo porão em toda a evidencia ·a importancia do
principio da divisão do trabalho.
E' evidentemente mais facil, entre roo senhores de
en:;enh o, achai• 90 com as habilitações necessarias para
bem plantar e colhei• a canna de ass ucar,' do que ro
capazes de tirar da canna, pc]i ,s systemas hod iernos, ~1
assucar e os proct netos connexos de modo a obter o
maximo lucro.
Se assim é, nada mais racional do que aconselhar a esses
99 senhores de engenho que se limitem a ser simplesmente
plantadores de cànna, deixand-o aos dez outros explorar _a
ind-ustria s,1ccharina, que exige conhecimentos ·technicos,
edificins, maclfinas· e ap pare lh os de elevado custo, isto é,
talento e capi tal, que, por fatalidade, s6 excepcionalmente se
acham reunid os em um só inclivictuo,
Em o utras palavras: d ,. ,s r oo engenllt)s. 90 ~e reduzirão a
plantações de, cann a e I o se constit uirãu em engenlzos· centraes.
Tal é, em te rmos bem -claros, a refo rma, que ordena o
principio ela centrali sação agríco la, sob o ponto de vista tecbnico
da divi s.ão do trabalho.
O argumento foi to1n-.Hln, p,tra mainr evidencia, na
industria saccharil'la - , a mais difficil das industrias ruraes;

(r) Os Economistas norte-americ~nos admtttem um novo principio ccon.omico


que se liga á divisão 'do trab;:i.lho; denominam-n'o 'Inta:rchangeabi!ity-I11termt.ltabilidade'
Em um outro escnpto $!Studaremos detidamente csie novo principio, que sç: applica
principalmente á grâ.nde industria manufactureira.
é, po rém , i.ntuiti.vo..que esse argumento subsiste, com mais ou
menos força, para . quàlguer oütro producto agricola-café,
algodão, fumo, cacáo, etc.
E' inutil , levar 11Jais longe a defeza tios principios dé
central isação ag,i cola e de centra]i ,,ação industrial pe~·ante a
Sciencia Economica.
O poucó, que acaban~os de dizer, é sufficiente para
·demonstrar que esses novos principios. economicos serão
age ntes segur<:>S de .progresso.
E 116s,. definimos c01;1 os mestres da Sciencia Econnmica
-Progresso- :
- O accréscimo da prosperidade p,trticular e, co rn;e-
quenteme nte, da prosperidade naciomtl e uni ve rsal :
O desenvolvinrnnlo da força producLiva ind iv idua.! e
sncial .;
A ex teirsão do do mini o do h o mem sobre a ·n at ureza ;
Ou entã'o :
- .A rnaxirna Libe rda de pc1ra a exµa nsã.o de tod as as
fàculdades do hom em ;
A te rra m ais bem c11.ltivada e mais productiva ;
O capitil sempre c rescen te;
A industria sem [ire prospera ;
A posse natural, legitima e pe rfeitam ente garantida
para cada µessoa, indi vidmd o_u coll ectiva, dos instrumentos
da sua industria e d os resultado.; do seu tra balho;
- O imposto> Jedu~ido ao . minim o, e ig ua lm e11te
repa rtid o; 1 ,

- A acção gove rn ame ntal, c ircumscripta nus limites d,i


0

indi spen.savel.
No µonto d e vi~ú e:;pecial deste esc riptu; nu circ ulo dos
in teress<';~ soc ia,es e econ umicus, · q ut.: cum prehende a ag ri-
cullurn naciunal, .o progresso póde ~e1· re,-um i1Iu n esu
fórmula :
- A . trausfurmaçãu da actual lavoura esclavag ista,
esterilisaclora e rotin eira em industria agrícola livre, Jêrtzü~
zadorcl e progressi-sta
- 15 -
:F, o progresso do Brazil resultará da acção combinada
cios esforços dos seus filhos e da influencia sympathica du
progresso unixersal.
H,L em mecanica raciona:! um prin cipio, que se deno-
mina --pniuipio das forras v1vils.-Este principio se enu11cia
assim:
'' O accrescimo de /orpa 11iva de um move! é igual ao duplo
,lo trabalho da sua força motriz."
Parece que ha _tambem na m e~anica ideal ·c10 progresso
nacional e do progresso univers,11 um principio analugo, que
se póde enunciar_ tambem :
'' O accresczino de /orça viva de uma nhpio isolada, ou da
humamiiade em globo, é igual ao duplo do trabalho progressivo _
dos filhos dessa nação ou de todos os povos em cmnmum. .
b movei é, neste ~imile, ,l nação ou o mund<l percor-
rendo a trajectoria indefinida do p1~og ressi>. As forças motrizes
são os agentes do progresso : são todos os q ne trabalham ,
por mais l1umilde que seja a sua p osição social, par~ melhorar
a sorte ' dos seus semelhantes e ,L supe~ficie du planetl, que
nos foi concedido pelo Creador.
Quando Deus creou o mundo, disse ao mundo:-
Caminha : quando Deus creoti o homem, disse ao
homem : - Trabalha.
A missão do homem é trabalhar; a missão. do mundo é
progre<;l ir-sempre e indefinidamente.
Quem duplica o trabalho cio homen, e o constitúe força
viva para o prog-resso da sua patrià e de todo o mundo, é Deus,
o snhlime agente de todo' o progresso. _
Quando .nós, pobres opera.rios dJ progresso, exte1i1uados
de cansaço, gottejando su6r, deixamos cahir das mã_os a ala-
vanca, ,erguemos os olhos ao céo e lhe enviamos esta prece:-
Deus, multiplicae o nosso trabalho!
..

.
...

II.

Surnmario. - Applicaçã0 dos principius de c en trãlisação ag1icola e industrial á -


producção do café. - O café. o principal -p rocluctl agncola brazileiro em valor
e em peso. - O café brazilei.-o pred,,mina n ,is mercados dos Estados-Unid os. -
Concu rrentcs dQ café brazilciro em No va-York. - !<.cílexões sociaes e econnm ictts
sobre estes concurrentt:s. - - A republica de Venezuela, 1J principal cQ,_ncurrente elo
café brazileiro. - Vantagens de situação ; desvantagens das o utras condições na-
turaes. - Quaes os portos dos Estados-Uuidos que mai~ recebe m c.i.fé bnlZile ii-o. -
O Brazil é o principal productor de café d , mundo - Principa; s consumidores de!
café. - Concun-en tes do café brazileiro nos ·mercados da Europa. - Producçã ,
universa l do café na colheita de 1872 a 1873. - 0 café brazi)eiro nas exposiçê es
universaes. - Victoria em J->ariz em 1867 - -Victoria maxima em V ienna e n~ 1873_

Principiaremos pelo café os estudos de applil'ação dos


princípios ue centralisação ag ricola e industrial. _
E' actualtnente o café o princi pai producto ag rícola do
Brazi l ; competem-l_he, po rtanto, evidentemen te as hon'ras do
primeiro luga r.
No exercício financeiro d e 1872 a· 1873, o válo r official
do café, exportado pelo Brazil, alcanço u 115, 285:466$, quando
o valor official do assucar s6 chegou a 27,725 :672$ e o do
algodão a 26,824:378$000. l r)
A expo rtação do café excede a dos o utrbs pr0ductos
agricolas 'brazileiros, n ão s6 em valor com o tambem ení peso.
Effectivamente, no exerci cio financeiro de r 87 2 a 1873, a
exportação alcançou 209_,772 ,6 53 kil"ogrammas para o café;
e sómente 183,984,224 k il ogrammas µara o assuca1:., e
·44,618,060 ki logrammas para o algod.ão.

[ 11 Vlde relatorio do ministcrio da fazenda. de 18761 pag. ,4:,:,.


- 18 -

Nos mercados elos Estados-Unidos, o café do Brazil leva


vanta~·em _.aos . de todas as outras pi:ocedencias .
No anno de 1873, (>s E~tados-Unidus importáram· :
CafédoBrazil .... - · 206,305,6oolibrasingl ezas(r) ·
Café de outras_procedencias. 62,82.i,742

Importação total - _ 269, r 27,342


Assim, pois, o café importado do Brazil foi m,tis do triµlo
do café proveniente de todas as outr.1s prucedencias.
O seguinte quadro synoptico elem()nstra quaes .sãu os
mais fo rces conCLtrrentés (2) do café elo Bmzi l em Nova-Yo1k
e a importancia de cachl um cios cc,ncurrentes:
QUADRO DA IMPORTAÇÃO DO CAFÉ EM NOVA-YORK (PESOS EM
LIBRAS I!'IGLE:ZAS.)
~ ~
"
~. ..::i
Proéedencins.
Auno
de
Anno
d e·
~ ~ I87J ,.Í872
1
-----,-------'----- -- - ----- - - ----- --------
Braz1l. ___ -_____ _, ____________ ___ _ ___ _ roo,629,360 83,304.960
2 Maracaybo (Venezuela) . __ ---· ___ ___ . . 12,058, l l O 20,947,510
3 JavaeSu rn atra(Oceania _____ .___ _____ _ 9,933,833 17,923,979
4 La Guay ra e Porto-Cabelln (Ve nez uela)- 8,629,306 9,464,905
7,812,502
l7 ~~~f,-~; p~i-;e~ i; E·;i1~p; ( ;~exportaçii~:l
Costa-Rica 'e NovaGranada .. _, ______ _
5,897,740
5,0 18,03 1 u ; 137, 610
4,086,368 3,373,574
8 Diversas procedencias. _______ ________ _ 2,332,826 918,640
9 Porto-Rir.o (Antillrn.s) _______ ___ __ ___ _ 1,377, 824 1,324, 53°
ro Ceylão (India lngle>..a). __ ___ __ _____ __ 1,098,306 3,669,206
II Jamaica (A ntilh as) __ ______ . __ . __. ___ _ -892,8 12 1,614,440
12 Curaçáo (A ntil has) . .. ___________ _ , __ . 426,1 36 , 532,210
13 Hollanda ( reex pnrtação )- _ . ___ . __ . ___ . 203,226 1,089,306
14 Singápura (Indo-China)- . ________ __._ 170, ?72 687,743
15 Cuha .. __ . __ . ___ . . __ . _. _ .. __. _ . __ ... 53,906 5,962
16 Manilha (Mar da Ch ina ) ___ __ __ . · · · - · - -8, 113 107,978
17 Cid ade Bo li varou Angustu ra(Venezuela) 93,641
18 Bombaim (India In g leza)----.: ______ _ 3,892
Total. - - - - . - _- . __ . _ 152,816,669 164,012,588

Este quadru synnpli co é da m aior irn portancia. P,tra o


agriculto r brazileiro, ensina- lhe positivamente qt1aes são os
f1 l Vide "Novo /111,ndo ", Janeiro de 1874, pag. 67.
(2l A partir da Esposição 1..- niversal de Ph iladelphia, em 1876, o café do Mexi co
principiou a s~r considerado como um dos pr.incipaes concurrentes do café brazileiro. A
contiguidade do territorio mexicano, o tratado de commercio e m projecto com os Estados -
Unidos, a extensão das vias ferreas , ligando as duas Hepublicas etc. , etc, dão ao
l\riexico vantagens excepcionaes; não só no mercado do café como no do assucar e
no de todos os outros pro<l,uctos da ~ua industria ag ricola e extractiva.
- - 19 -
seus ,c oncurrentes no ' grnnde mercaclo ele Nova-York; faz-lhe
vér que ha poderosos rivaes, que lutam com a desvantagem 1-
e11urme da distancia; que ha Ceylão na India Ingleza, que
ha Java e Sumatra 'na Ocea11ia, que lia Singapüra na Indo-
Cbina ; que ha,· emfim, m,\ÍS distante de quai.quer outra pró- -
cedeF1cia, l\fanillia, na Ilha . de ' Luçon,, :no Archipelago
das ·Philippinas !
Para o Economista, este quadro vale uma lição iBteira ele
Sci cncia Ecun o mi·c a : é · um argumento .irrécusavel do grande
p í- inci pi o _dc1 solidariedade da familia hu rnarrn !
O agricultor do Brazil, concorrendo para a a lim entação
de Nova- York, com us agricultores da India e da Oceania !
O concurrente, mais forte e melhor situado, é a republica
de Venezuela, que envia café a Nova-York de Maracaibo ; de .
La Guayra, port•J de mar ele Caracas, capita-i"da republica de
Venezuela; ele Puerto Cabello, 110 golfo ''Triste"; e, emfim, -.
de Angustura, . ou Ciudad Bolivar, 1ias Ín;rgens do · rio
- 01;enôco. ·
Não possue, porém, a republica de Venezuela cundições
para a µroducção do café coniP,araveis ás de que dispomos -110
vastíssimo tcrritorio brnzileiro. ·
E' tc1mi.Jem muito interessante saber quaes são os portqs
dos Estados-Unidos que mais recebem o cáfé brazileiro; é o
que perfeitamente clern unstrn o seguinte:
QUADRO DA Ji\JPORTAÇÃO DO CAFÉ DO BRAZIL , NOS PR!NC!PAES PORTOS
DOS ESTADOS-UNIDOS (EM TONELADAS INGLEZAS.)

Portos.

- - '- - - - - - - - - - - - - - - - - · - - - - - - - -
I Nova -Yoik__ ________ __ _________ _ 47,435 40,680
___-,
45,440
2 Baltimore (Maiyland)--- --- ------ _; ____ 25, 545 28,219 39,176
3 Nova-Orleans (Louisiana)-- ------ ----- -. 13,986 JI,133 15,732
4 Galve,tcin(Texas)---------------------- · 2,564 1,608 1,766
5 Mobile(Alabanrn\. ______ ______ , __ ____ __ 1,822 3,998 5,846 _
6 Boston( i' vlassachusels).--- .. ------------ 1, 131 ______ ________ _
7 Charleston (SouthCarolina). ----------- - 806 200 365 .
8 Savannah (Geo,-gia)-------------------- 743 958 964
9 Philaclelphi'a' (Pennsylvania) __: .. . 322 460 ·. 730 _

Somma. __ - - - - ... 94,354 87,256 110,019


- 20-

Para o porto de New ' York temos, em ul tima data,


os segu in tes dados, extrahidns da "Revúla Commercial"
redigída pelu Dr. J. C. Rodrigues:
TA13,ELLA MOSTRANDO A Ill1PORT AÇÃO TOTAL DO CAFÉ El\I NEW YO RK
El\1 1882, COMPARADA COl\I A DE r88r.

1882 1881
NEW YORK :
Libras Lib,as

BraziL. _.. _............. _.... _.. _.. _.. _. 216,225,742


Rio de Janeiro . .. . ..... ·saccos
Santos .. _.... ...... . _.

~:~!~~: ~ ~: :~:: :~: ::::::: .;; 11 ,02 1

1,986,550
Maracaiho .... _... .... .... . . .... . ...... . 32,828,357 30,928,768
Laguayra .... . ........ _............... . 22,927,200 17,300,270
Arnerica Central ... ..................... . 8,652,980 6,432,580
Savanilla ..................... ... ·....... . 8, 790,930 2,982,860
-Angostura ........ ...... ... .. ...... . .. . . 396,113 589,312
Hayti ................ . ... .... .. .... _... . 19,487,250 37,932,860
3,62o,445 2,604,910
ro;t~ic~i~g~-~::::: : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : :
C uraçao . .. . ...... . .. . ...... . .... .. ... . .
2,166,945 4,364,o 'º
30,8!0
Cuba . ..... . ... • . . . ..... ... . ... .. 35, 820
Manilha........ . . .. . . . .. . .... . . . . . .... .
Java e S um atra ... . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
16,679,054 16,586,426
595,696
Singapore. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 633,764
2,385,450
Maca5Sar .. ... . . ... . . .. .. . . .. . . .. .. .. ..
Cey)ão . . ..... . ..... . , . .. .... . ..... .... . 128,980 18,200
259,480
Holl a ncla (Java). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 709,240
Outros._portos ela Europa......... ... . . . . . 2,832,350 1,209,840
Mex ico, Aírica e out ros portos estrangeiros 7,712,820 5,503,900
l- - ----•l - - - - - -
Total . . . .. ....... . .. . ......... . . 3.89,,753,060 334,088,602
De portos elo Sul da Un ião ... ..... ..... . . 1,2 16,670
,_______ - - -
1,834,042
--
.Total... . . .. . ..... . . .. . . . . . . . . . . . . . 390,969,670 335,92;2,644

O Brazil é o primeiro producto r de rnfé de todo o


mundo.
Os estatísticos mais competentes são de opinião que o
Brazil fornece 3 5 e até 60 % de todo o caté apresentado no
mercado universal'.
- 21 -

Orçam a quan tidade de café, consumido a1:i.nualmente,


em 400 a 440 m ilhões de kilogrammas. [r] ·
Os grandes compracÍoies de café são a Europa e os
Estados-Unjdos.
Avali a-se que a Europa compra 70 % e os Estados-
Unidos 30 _% de todo o café emáado àos differenfes mer-
cados do mundo.
Na Europa, os maiores consumido res de café, em_relação
á população, são a Hollanda, a _Belgica, a Suec ia, a Dina-
marca e a Allemanha.
O cons umo pessoal da França, onde os Ca_íés ou Es- i
tam inets são em tão grande numero, é, no em tanto, inferior ao
dos paizes acima enumeradns : chega apenas a 2 ¼ libra~·. ou
pouco mais de um kilogramma por an_no e por hab'itante.
Só istn demonstra a quanti dade de chicorea, que ahi .se
bebe,com a deno_minação de café ! ·
Na Europa, os concurrentes do café braiileiro variam,
conforme os paizes, sob a pressão do obsoleto systema colonial
e das estultas idéas restricti vistas.
Nos mercados - inglezes. é o café de Ceylão e db -
Hindostão, colonias inglezas, o principal concurrente do
café brazi leiro; no Havre e em Ma rselha, é o café de Haiti
e de Porto Rico; na H oll anda e nos merc.ados, que ella
domina. é o café de suas colonias da Oçean.ia, Java e
Sumatra.
A q uestão da _concurrencia do café brazileiro, · -em todos
os mercados .90 mundo, foi magistralmente tratada, á vista
de um sem num ero de documentos fidedignos, pelo
Dr. Nicoláo Jtiaquim Moreira, em se u precioso li vro
Breves considerações sobre a hú!ona e cultura · do cajfeez'ro e
consumo do seu produdo.
D'entre estes documentos é necessario para a these,
que nos occ upa, o seguinte :

[ rJ Vêr sobre tudo que respei ta :10 café a ex:cellente obra II Breves considerações
sobre a historia e curtura do cafeeiro e c ::msum.o de seu proclucto º, pelo D r. Nicoláo
J oaquim IVloreira. Rio de Janeiro- 1873.

·-
QUADRO DA l'RODUCÇÃO UN IVERSAL DE CAFÉ ORÇADA l'ARA A
CO LHEITA DE 1872-73.

I'eso e1n
Paizfs p 1,oducto1es libms

r Braz 1l (r) .... : . .......... . , .. - . .. ... - - .. .. . .. .. . 457,632.000


·2 Java e S_tfmatra (co!onias hol lancl ezas) . . . ..... : .... . 134,400.600
3 Ceylão (coloni a ingleza) ...... . .......... .... .. .. .. 100,800,000
4 L agu ayra e M nracayb o lrepubl ica de Venezue la] .... . 58 1 240,0CJO
S _ S. Domingos [Fepublica c] 1, Haiti J . . .'........ , . . ... . 51 , 968,000
6 Hincloslão [ c11lo nia in gleza ] .................... .. 44,800,000
7 Diversos paizes ...... .... ............. ..... _... . . 2 5, 700, 000
.8 Costa Rica [Arn er ica Ce ntral] .. . .... .. ... __ ... .... . 20,160,000
9 Guatem ala [_Am erica Central] .. .. ... . . .... .. ..... . 13 , 440,000 .

Som ma ... .... ..... .... ... . .. 907,140, ooo

Assim, presen temente, a prnducção rl e café no Brazi-1 é


m ~ior do qu e o triplo .da producção das ilhas d e J ava e Su-
n1atra reunid :i_s, ·e mais cio qu e .o qu a druplo da proc!L1 cção da
ilba ~e Ceylão ..
Nas ex posições nni ve rs,les, nas modern,1s o lympiadas das
sciencias, das a rtes, â,t ;igr icu ltura, da in d ustria e d,, com-
Inercio1-do trabalho, ·_µa ra di zer u nM sô pabvra. em todas as
suas mnurn e ras manifest>\-ções, o c,ifé bra;:ileir,, tem const·guiclo
' as mais esple11clid ,1s victoria~!
.Na, exposi.ção uni versa l de Pariz de r 867 a cornmissão ·
brazileira tomc,u a peito demonstrar que o café br,1ziÍe iro não
tinha supe r111res n o m e rcadü uni ve rsa l; que era, ·pela m6r
parte, café brazileiro ô que Se · via n os m ostra~lores de Pariz
com os ro tul os de Moka, H.1iti, M~ll'tinica, Guadeloupe,
etc ., etc.
A peza r \le a taca r esta.propaganda ele fre nte · i nteres~es co-
lo ni aes fran cezes, o café brnzileiru obteve unrn medalh a de
c,.uro na -pe~_soa dQ il i ,1strnd,1 · fazend eiro da província do Rio
de J a neir,,, n Sr. lVIapoel cb Roclm Leão , .e du as m edalhas
de prata nas pessoas da Barun eza de Sant'Aún~, com ra-

l 1] A expOrt ação do café brazileiro no exercicio de 1-872 - 7'3 foi 1 conforme o rela-
taria do minis terio da fazenda de 1874, de :209, 772, 653 kilogrammas. -
zenda nas raias da província de Mihas....,Geraes . e do: Barão.
de Nova-Fi-iburg,>, da provincia de Rio de .Ja_lieiro.
, Na ex-p osição u·niversal de Vienna de 1873 a vi~tori~_foi
ainda mai-s decisiva.
O ca/é brazile1ro -/oi o imico que oó!eve-Diplot1_1a de Ho,nrá
-o ~aximo .prer:nio' neste c~ncurso univernal. ,_r) '
_ Nem Ceylão, nem Java . nem Sú.rnatra, nem Bo_rnéo, nem
Martinica, nem Guadelou-pe, nem Ha.íti ; i;i-ern Vene·z_uela; nem
qualquer dos outros concurrentes de café brnzilefro coseg\Úo
o_hter en Vienna_Diploma de Honra. - _ _
Além desse aiplóma de honra, q'Lle assrri-nio a mãximã im~
Portáncia, p Éi r haver sido concedido ao café brazileirn _~rn geral,
alc;aHç,u-am ~echlh,1s de progresso os- Srs·. .: Ma1rnêl- d 4
Roçha Leão, Jtisé Pe1·eirn Faro. Visconde de , -J,t~uary e
José Caetano ,de Almeida, todos da proviilcia do Rio â~ ,
Janeiro.
E medalhas de merito, os Srs. : Ántonio - Cornelio _dos
Smto-,, Friburgo & Fill1os, tfi:mb;m d 1 µrn.vinci,1 do Ri~ de ·
Janeiro; J. -Pe ,lro.;o Ri.rretL) -de Albuquerque e o B.irão da Bella
Visfa, da provi~é:ia de S. Paulo. '
Fi.cou assim solerún -~ mente firm,11ict, _ acim t de to'ja e
qualquer. impugnação, a incoritest wel supenárúiade do café -
0

brazileiro !

C•] ·O Brazil obteve ainda outro diploma de honra, ré presentado pela Compaqhia
Florestal Parnnaensc, em sua exposição de pinho brazileiro [Araucariaj e de outras-
madeuas.
III.
/

s ·u mrn ario . - A concurrencia do ~le.xico.- ~ ua iniciação em 1876 na Exposição


Internaciomll de Philadelpliia.-Capacidade do !:.Ólo mexicano para producção do
café.- O problema da .Abolição já se acha ah i resolvido. - Capita'I e industria
yaukee. - Tratado de Liberd_ade de Commercio Reciproc~ entre as Hepublicas dq_
.Mexico e dos Es tados U11idos. -Produc tO:s ag ricolas do Mexico livre.:; -Zollverein
Americano.- A grande prõpriedade territorial no Mexico.- A La11docra<;ia esteri!isa
o sólo no Novo como no Velho lllundo.-Plinio e os La lifundios.- :M ontesquieu e a
Liberdade na Agricultura.

Na Revis/a de Engenharia de 15 de ·Outubi:o de rSSr


escrevemos:
"Deve ina ug urar-se, na primeira quinzena do proximo
mez de Novembro, a exposição de café, pro!)'lovida pelo_
"Centro ela Lavoura e Commercio" : é esse o primeiro resul-
tado pratico da propaganda contra. a concurrencia cio Mexico.
. Essa propaganda, convém lembrar; começou em 1876 ;
fo i iniciada pelo venerando agronomo o DR. N1coLAO JoAQÚIM
MOREIRA, então membro da Commissão Brazileira na Expo.-
sição Interi1-acional de Philadelphia; continuada depois, nas
paginas cio Novo lJ!Iunrlo, pelo l)R. J osE' CARLO~ D.frlfr15JJJS~ - . -
pelos s_e us devotados c~llaborad~res, até J,J.%~\ 1
Hril e1u.a, 0Afi1 · -~
financeiras deste lmpeno obngaram a . ~ ~fu""' a publicação _ 1,9.
desse perioclico, - em in entemente dedica ,Ç ' ~ o prngre._sso e ·á. -r
prosperidade da Naciónalidacle. B1'azileira. " \e,:
. Qos D,i;.filUT/l, 00 ·
- -~ ~---·-
26
A extra.ardi na ria · baixa do café·, no corrente anno de
I 881, despert,rn afinal a .attenção dos interessados. Estudaram ·
a estatística un i-versal do commercio do rnfé, e com prehen •
deram que;' por tqda a p:ute, tratava-se ele du a ma;or
extensão á cultura desse precioso producto. ; ·que havia
Joncurrentes não· só no Continente Americano, como na
Asia, na · Africa e na Oceania; que os_centros de producção
mais loÍ1ginqu_os eram colonias de nações da Europ,1, as
quaes ~sforçav_a m-se por àttenuar as difficuldades da distanéia
por meio de tarifas aduaneiras_ proteccíonistas.
O principal coniprador do ca_fé brazileiro' é a Republica
· dos Estados : Unidos; entre os novos productores de café
está o Mexi-co, . seu limi trophe; em com111unicação . imme-
diata-· com _·s eu_s mais importantes mercados por linhas de
navegação .á vel,t e á vapor, e por vias ferreas, algú1;1às já- em
- trafego, e ou fras em ·acti va construcção.
Simultaneamente· com os caminhos de ferro penetram,
no territorio mexicano, o capital, a. industria e a actividade
yànkee; são elles que vã'o t0rnar poderosíssima a concurrencia·
do café do Mex-ico.
Para produzir café, como para qualque1· outro prodLicto
i-uraJ, são necess::trios ferra arleqúada, capital e agricultores.
Intencionalmente não empregamos a palavra braços; -. porque
neste Império infelizmente ella significa ou o escravo, ou a
· torplssima aspiração de substituil-o pelo chim,-um triste
meio termo entre o· escl'avo e o servo da gléba cios barbaros
tempos de' J~udalismo.
Neste- ponto, prec_isamente, está ·uma das principaes
vantagens da Republica Mexicana sob1'e este Imperio; désde
muito foi Li resolvido o problema da abolição ; a cultura do
café", como todas as outras, é feita pür braços livres.
Quanto á capacidade do s61o mexicano para a pi:_oducção
do café, desde 1875, que o Ministro dos· Estados Unidos no
Mexieo, JOHN W. FosTER, escreveu em se Li · rela.to rio :
. ';ln Mexico, ou r neighb ~ri ng ·republic, there exists the
agricultura! capacity to produce ali the éoffee, that can be
27 -
consumed in the United States, and ,of a quality ,equal tà
the best grown in any country.''
Este relatnrio deve ser considerado como o i,niciador da
propaganda y cwkee para cu.ltura do café no Mexico. · As
poucas palavras citadas affirmam :

r . 0 - Possuir a Republica Mexicana terrenos suffici.entes


para produzir todo o café necessario aos Estados U nid0s;
z. 0 -Ser o c,ifé mexicano de qualidade igual ao melhor
de qualquer outra .proceL1encia.,
O interessantíssimo Relatorio do M.inistro Fo,STER acha-se
reproduzido em seus topicos principaes ~o excellente orgão _
da colonia:Jlankee d.esta capital-The Rio News-, que tanto
se tem distinguido á frente da Prupaganda A_bolicionista.
Quanto ao capital , necessario pai',t a producção do çafé,
elle vai ser fornecido por : agricultmes dos Estados Unidos,
ou pelos capitalistas possuidores de acções dos. cam_inhos de
ferro mexicanos: E ' muito . provavel que as vias ferreas,
penetrando no territorio mexicano, continuem a excellente ·
practica dos Estados Unidos; - de fazerem acquisiçào das
terras marginaes ; de subdividüem-n'as em lotes í-uraes, e de
estabelecerem nellas immigrnn tes como agricultores-pro-
priefa1 ios. ,
Nas zonas, proprias para a cultura do caf~, será infallivel-
mente esse o producto preferido pelos immigrantes. Não
faltarão machinas, apparelhos e utensis para laví·ar a terra;
para plantar e fazer prosperar o caféeiro; para colher-lhes os-
lructos ; JJªra seçcal-os; despolpal-os ou descascal-cs ;
separnl-os, brunil-os; emfim dar ao café as melhores qua]i-
dades possi veis.
A éonc.urrencia nesta especialilbde será verdadeiramente
impossível. Basta lembrar que devemos a um fjlho da
grande Republica, ao infatigavel Enge11heiro Mechanico-
WrLLIAM VAN VLECK LrnGERwoon-a iniciação de todos os
melhoramentos, introduzidos, nestes ui'timos annos, nos
machinismos de ber,ieficiar café.
- 28

Em carta, datada de New YoFlz, em 5 ele Setembro de


1881 , ~ pul:ili cada a 6 de Outubro pelo Jor nal do Commercio,
o benem erito. D R. JosE' CARLOS RODRIGUES, assignala um
perigo mai o r.
- Começa-se a fome nta r .ª idéa de um Tr,itad o de Co m-
m ercio en tre as du::ts Republicas, sendo muito pnssivel a
· introçl.ucção d~ clausula de entrada li vre pa ra o café m ex icano,
volta ndo-se a taxar o café brazil eiro.
Desde muito que, nas paginits do }Vovo Mztwio; e em
varias a rtigos de proi-,aganda no .fornal do Commenio,
. pediam0s, sob a formula economi ca - ZoLLVEREIN A11rnR1-
CANO- um Tratado de Commercio com os Estadüs Unidos,
que nos assegu rasse a entrada li vre de um merrndo, ond e ora
·vendem os' 300 milh ões de libras de café.
·Nestes _artig(:}s dem_onstrnva-se a si ng uhuidade de ser o
partido proteccionista dos Estack,s Unidos o defensor _da
Liberdade de Commercio para o cafi! e para o chá, afim -de
obrigar sua alfa1;idega a tirar · renda ele a ltos direitos sobre as .
manufacturas européas.
Nessa mesma carta do DR. · Jost:' CARLOS RODRIGUES,
citarn ~se algarismos, colligid os pelo Ex-Ministro do Inte rio r
CA~~ ScauRz, para d emonstra r que só o Brazil é interessado
em mante_r linhas de va pores co m os Estados Unidos. Estes
a_lga ri smos são outros tantos arg um en tos poderosíssimos para
11111 · Tratado de Comm ercio entre o Bra:zil e os Estados
Unid_os, ~s tabelecendo a li vre _ permuta do café e do trigo,
seus . prin ci paes prod u e tos agricolas.
A despropo rção do commercio e ntre as du as grand es
· 1Íações do Continente Americano to rna-se cada vez mais
flagrante.
No quinquenio cte 18 60 - 1864 eram estes os a lga-
rism os:
Importação do Brazil. . ..... ... . . _ .· 77.386.864 clolla rs
Exportação dos E~tados Unidos ..... . 2 5. 149.475 clollars

Differen ça .. .. . .
-29-
No quinquenio de '1876-1880 el~varam-se assim·
Importação do I3razil ... : . . .... .... . 213.316.699 dollars
Ex portação dos Est.i.dos Unidos ..... . 39.551 .62 8 dollars

Differença ...... '... . . .


As velha;; e obsoletas rheorias da Balança do Çommeráo
ainda têm SeL;S fan<1.ticos ; a lém d i~to, lu sempre politicos cte·
má fé pant g ritarem ás turbas : - '··Só no utti11Ío quinqumio
pagamos ao Imperio um tributo de quasi I7 4 milhões de dollars !
Plantemo\' café no Mexico e toila essa zmmensa riqueza jica,,á
em nosso poder ."
E lá irão aos milhar~s comprar terras na Republica
vizi nha ! ! ...
A l?ropriedade territorial no Mexico · tern um sími le
n J tavel com a deste Imperio. No a rt igo de Ao. F. DE
FoNTPERTUIS -- ·'Etudes .rur t'Amériqu~. Latine- -LE MÉ~IQUE
- publicado no Jounz,ll tie.r' Eco110111útes de· Março do cor-
rente an no de 188 r, lem o :
'<
"D'ap rés les calculs plus 1·écents,. il éx iste áct uell ement
a u Méxiqu·e 5,724 lz,acien.las et 13 , 3 r 8 ranchos ou fel'lnés. ·
On voit par là combien la petite propriété s'est peu repá.nJue
jusqu'ici sur le sol, et I'on peut harJiment affirmer que .l_es
hacendados, ou gr,md prop1\ étai res, o nt été au Méxique les
fléaux de l'agriculttll'e. Comme á u Cl1i li , au Perou, su.r les
bo rds de _la ·Plata, ils ont fa it d e la campag ne méxicaine ce
q ue les Ghigi, les Borghese, les B trberi ni avaient fait de la
cam pagne ron 1aine .>-- ui1 disert·e n certains en Jroits, e t un
foyer d'i n fecti,m dans d 'autres.''
Na Eu ropa sabem mais de T omb uct u do que de qual-
quer ci dade deste Impe ri o ; quando não, · FoNTPERTurs ·t eria, .
por certo, accrescentado á hed ionda li sta closjl,igellos d'agn~
cultura , dos despovoadores e infecc1onado res do sólo, os
barões escravocratas, que já conseguiraq1 esteri lisar o forti- ·
líssim o valle do P,ua)1yba, e que mantém o. deserto nas
margens das proprias estradas de fe rro !

30 -

O genio colonisador y~•ikee acab uá com. o monopolio


0

territorial no Mexico; .os emprezuios-agricolas e as compa-


nhias das estradas de ferro comprarão a·~ grandes fazendas, e
as distribuirã,o em lotes núrginaes ás vias ferreas e ~s vi,ts
fluv iaes, Em breve, achar-se~l·1a ahi estabelecida uma DEMO-
CRACIA: RuRAL, inte'lligente e prosper?, sabendo tiraF do s6lo .
mexicano os mais ricos e variados pro<lu_c tós.
Não cabe nos limites de um artigo o estudo do mo men-
toso problema da ''Concurrm;ia do Jlf,:xico." Mal temos
podido assignalar asr refvrmas sociaes, políticas, economicas
e financeiras, que sua so lução exige.
Terminaremos, repetindo com PLINIO: - Latifund1á
lTALIAM peNiiderunt; p o rque o~ latifundios nã:o só perde ram
a _Italia, e tem c,rn~ado as principaes miserias financeiras deste
Imperio, como estão barbarisando a Irlanda, e despovoando
as rcgiõe;; agrícolas da propria Inglaterra.
0

E Gurn o i111mortal MoNTESQOIEu:


- L es pays 1u so,it pas1cultivés en ràison de leur fertzlité
mais· e,i n1isoít de leur Liberté. · O q ut significa ser ·fatal e·
infallivel a derr-ota des te Jmperio em éuncurrencia com a
Republica do Me.xico, se cuntiirnar avassallad_o a la'n dl o rds e a
barões feudaes, que exploram não a terra mas sim a míseros
escravos,
A victoria, rieste granr..lioso certamen agrico lo-ind ustrial,
pertencer,{ certamente á nacionalidade, que mais 1? pidamente
fizer a · evol_u-ção progressiva para a DEMOCRACIA RURAL; para
a e-•;ploração directa do sólo por agricultores-prnprieta rios,
trabalhando cum todos us estímulos ele instituições verdadeirn-
mente liberaes; p .irqüe, irrecusavelmente, e a LIBERDADE
u primeiro . agente ua producção."

A 4 de Março ele . 1883 encerrou-se o Congresso dos Esta- .


dos Unidos sem terl tido tempo de approvar 0 tratado de Li -
berdade de Comm ercio reciproca entre essa Republica e ·a do
l\ [exico .
- 31

Já sabe-se, porem, que terão entrada - livre os. seguintés


prodúct9s d() Mexico : ,
1] An imaes vivos, especialm ente i mport,tclos· para
criação;
2J Cevada, nãu cevadinha;
3] Carne de vacca e ovos ;
4j Café ; ·
5J Esparto e outrns hervas com suas polpas parn o
· fabrico · do papel ;
6) Flôres natur.res de todas as especies ; · /
7) Todas as fructas como laranjas, fünões, ananazes,
limas, bananas, mangas, etc.
8) Pelles. de cabra não dirtidas, c,rnros seccos e
salgados, . etc.
9) Linho, canhamo e semelhantes;
10) Bor racha e seu leite;
1 I) Anil, jalapa, páo cam peclie, ·bagas para tinturnria.
e tamaria.
12) Melaço, Assuc,tr até n. 16 do padrão hollandez ;
13) Tabaco , em folha ;
I4) Madeira em bruto. de todas às qualidades, inc:lusive
madeiramento para navios;
15) Salsaparn lha não manufacturada ;
16) Vegetaes frescos ele todas as especies r
~17) · Oleo de palma ou de côco. ·
Agora fica bem evidente q ne não é s6mente para .o car--é
que os lavradores devem temer a concurrericia ·cto ·Mex'icô;
o fumo, o assucar, e até a b,)rracha penetrarão livres ha Re- .
publica dos Estados Unidos, levando immensa vantagem aos
productos similares da lavoura esclavagista d'este Imperio . .
IV.

Su·mm<=1.rio. - ~~pplicação dos principi.os de centralisação agricola e industrial á


producçijo do -café_ - Onde se vai consumir o café' . produzido no BraziL
- Jmportancia e vari~dade dos mercados. - Conveniencia de dar a maxima
extensão á cultura do café no Brazil _-::-;.Um noyo_!,:_oncurrente _ao _café. br.azikiro
preparando-se no (!Xtrtm0 do lvlediterraneo -- O E.gypto actual - Seu movimento
progressivo sob a acção do khediva ·Ismail - .Terrenos da Nubia e da Abyssinia
conquistados por Samuel Baker -Oca.fé é. nativo nestas regiões como .no Yemen
ou Arab ia Feliz . - O café de KartoWn, o melhor do mundo, 'n a opinião de Samuel
Baker. - Falsificaçoes e succe'daneo.s do café - A cola ou café de Sudan - Sua
~cclimação no Brazil - O càfé bra:zileiro dominará sempre nos Es tados-Unidos e na
America "do Norte - O café excellente auxiliar da propaganda para a abste.n ção das
bebidas alcoolicas. - O café brazileiro se permuta pelq trigo dos Estados-Unidos -
Abo lição dos" direitos de importação do tngo. - Suas vantagens. - Import;i,ção do
trigo das republicas do Prata e do PaCL.fico. - Uma novà industria nacional iniciada
pelo Visccinde de Itab"orahy .

Co.n tinu emos a colligir os ·mais importantes dados


estatisticos sob re -a producção e .o consumo do café brazi leiro:
estes dados estatisticos são realmente prem issas indispensaveis
á demonst raç_âo dás theses, que vão ser desenvolvidas nos
s~guintes artigos .
·-A comparação entre a exportação do café do Brazil para
os Estados-Un idos e para a Europa, Cab o da Boa-Espera n ça,
Rio da Prata, etc., póde ser feita á vista dos segui n tes
algarismos :
-34_.:..__

RESUMO DA EXPORTAÇÃO DO CAFÉ P E LO PORTO


DO RIO DE JANEIRO

Em saccas (1)
N. de ord. ,Destinos 1871 1872 1873
l Para os Estados-Unidos. 1.354,355 ]. 130,682 I. 163.563
~ Para a Europa, etc.- ...... r.003,646 . 880,510 824,300
---- '
Sommas. _____ ·----· 2.358,001 2 .011,192 r.987,869
No anno de r 873 a exportação do café, pelo porto do
Rio d_e Janeiro, teve os destinos declarados no seguinte 4uadro,
que demonstra quaes são em todo o mundo os paizes que
mais consomem o café bràzil eiro :
QUADRO DEMONSTRATIVO
DOS DESTINOS DO CAFÉ EXPORTADO PELO PORTO DO
RIO DE JANEIRO EM • I 8 73 ( EM SACCAS )

Ctasszftcarão Ns · de I Pm·tos de d,·stino Nttmeros de


geral 1 o,-dem saccas
Portos rfão declarados .. .
2 Nova-York .. . ..... . . .
3 Hampton Roads ( Vir~
ginia) á ordem .... . 60.243
4 Baltimore ........... . 2 5-57 1
1l
.... 5 Galveston .. . ........ . 15.510
"'o o
~
i::
z 6 Nova-Orleans ........ . 14. 336
o 7 Mobile ............. . 7.900
::;>m .., "O
O' c,l
u 8 Sandy-Hook ( New- Jer-
'd
.s ..,
·;::
·sey ) á ordem . .... .
~ ~
8 9 Charleston .......... .
1o S. Thomaz .....•.....

Total da Amenca do Norte


(saccas) .•. , ....... •, •..... I • 163.569
\
[r] Antes de ~e ·pôr em pratica o systema metrico,o café vinha das fazenda_s em saccas
dt: 4 arroba~-58 kilos e 527 gr. e era exportado em saccas de 5 arrobas-73 kilos , 445 ~r.
1
Actuahnente:, por um convenio entre os exportadores, a sacca de café pesa 60 kd o-
grammas exacfamente, e ascotaçõesofficiaessãofeitas na razão de dez (10) kilogr~mmas.
35 -
I Lisboa (á ordem) .... -.. 126.735
f 2Canal (á ordem) ....... II6.764
3 Hamhurgo ( Alleman ha) 103.049
4 Havre (França) ....... 67 489
5 Bordéos (França) .. . ... 39.54·2
6 Anvers (Belgica). ;_..... · 28.896
oQ) 7 Liverpool (Inglaterra) .. 28. 247
crj
o. o i::: 8 Dronthein (Noruega) .. 15· 57~
o ~
.... s § 9 Londres (Inglaterra) ... 12.842
Q)
:::, <JJ
'v IC• · Baltico (á orde_n1) ...... 10.12-4
f.L-1 .,_.
Q)
. I 1 Finlancli,l (Russia) ..... '9.400
~
12 Diversos portos na ·No-
ruega . . .' .......... 5.9o7
13_ Falmouth (Inglaterra )' .. 3.595
14 Bergen (Noni'ega) , .... , t.900
15 Porto (Portugal) ....... 55° -
\ To_tal da Eur0p.a ('saccas) ..... 577.zoó
I Marselha _(frança) ..... - 72.649
2 Portos do Mediterraneo
oQ) não declarados .. ·...
Gibraltar ( Hespanha á
' 48.351
~
e, 3
.... orderr1 ) ........ _; .. 15.864
B 4 Genova (Italia) ........ 6'. 415
"'.:)

Trieste (Aus'tria) .. . .. ..
Q)

~ 5 2.000
-----
Total do Mediterraneo
(saccas) ........... 1 45- 2 79

Portos não declarados ... . 47.569


2 Portos do Brazil ....... 21.330
-; Cabo da Boa-Esperança. r8.466
UJ 3
o 4 Rio da Prata . . ........ 14.18.)
'v
crj
u 5 Pacifico . , ......... . .. 2 73
....Q) ,, - - -.- -
8
~ Total da Arnerica do Sul
(saccas) ............ IOI.821
-----
Total ' da 'e xportação do
Rio de Janeiro..... r. 987 .8'69
Resumo
1 Estados-Unidos e Ame-
rica do Norte ..... .
2 E!-}ropa (sem o Medi-
terraneo) ...• ·... . . . 577 .zoo
3 Mediterraneo ........ . 1 45- 2 79
4 ·America dó Sul •...... 101.821

Total (sa~cas) • ...•..•


·Este qiíadro, é s6 por si, uma excellente.demonstração
de- uma das mais importantes reformas da agricultura brazi-
1-eira ; __ elle faz ver, a toda a evidencia, a corveniencia e a vanta-
gem de dar a maxznza extensão á cultura do cefé no Brazzl.
Não é possivel . que um prodttcto agricola tenlu mais
importantes. e mais numerosos mercados.
O c~:fé h·azileiro reina; nos Estados•Unidos e no C~nadá,
levando de vencida o café das Antilhas e o de Venezuela,
apezar da d·e svantagem de m_a íor distància.
Na Europa o cat'é brazileiro vai até Dwntheiri aquecei•
os !')nregelados habitantes da Noruega; penetra na Russia
pela Filandia; luta nós mercados da Inglaterra com o café
de Ceylilo e de outras colonias brita nicas; zomba dos direitos
protectores dos 1:etrogrados estad-istas da Europa Central ;
avança ·pelo Mediterraneo até · Trieste, no extremo do mar
Adriatico ; vai até á Grecia e á Turquia e fica ah i frente
a frente com o café do. Oriente ! ·
No Medit~rraneo está prepa1'ando-se um novo e temivel"
cõncurrente ao café brazileiro.
O velho Egypto, galvanisado pelo genio industrial do
khediva Is1i,ail, conco rreu bri!haritementé com o Brazil na
crise do algodão; constituiu-se o primeiro productor de assu-
car" dó mundo, e conquistou, graças a Samuel Baker, o
Fernando Cortez deste sec.ulo, os magnificos terrenos da Nubia
_e d:;i, A,byssinia, onde, no dizer de muitos botanicos, a planta do
café é nativa, como no Yernen ou na Arabia Feliz!
- . 37 -
O illustre Samuel Baker assegura que os terrenos, por elle
conquistados na Nubia na Abyssinia, são excellentes para a
producção do café, e que Kartown produz o melhór café do
mundo l
Que tudo isto seja m<Jtivo para os agric.ultóres brazileiros
se esforçarem na acquisição d;1s melho1'es sementes de café,
na escolha dos terrenos mais apropriados e na mais primorosa
preparação deste precioso prodúcto ! ·
A c~nna do assucar tem varios concurrentes : a betara
raba na Europa Central; o b3rdo ( Acer saccharinus) no
Canadá e nos ' Estados-Unidos; o sorgho ·sacçha;·ifero
[sorgum saccharatum] no Oriente, etc., etc.
O café tem falsificações; não lia, pq rem , producto
algum que ouse lutar lealmente com o café.
Os retalhadores de má fé fazem infusões, mais ou menos
insuportaveis, m isturnndo ·ao café chicurea rI], a ceva.da, o
milho, o arroz, o trigo, etc. ·
Mas a má industria perde n'jsto o tel'npo: -s6· é possível
fazer bom café com verdadeiro café. I._ -
A Atrica exporta uma noz. que denominam kola ou cola,
ou café do Sudan (Nigricia), que é rica em cafei!1a, e que tem
ousado concorrer com café .
A cola é o fructo ela ''Cola arumúiata" da fam'ilia das
Sterculiaceas, que alguns botanicos consideram ·tribu da gran -
de fami la das Malvaceas.
O illustrado Dr. Theodoro ·Peckolt, na sua int~ressante
" Historia das plantas ali~entares e ele gozo do Brazil",.
recomenda a acclimaçãn _.- no Brazil da "Kola", para qué
não falte represe_ntante algum dos productores de cafeina
n'este prodigioso solo, que o Creador destinou a summariar a
flora geral do Universo .
Com effe ito, o Brazil tem já :
O guaraná, o producto mais rico de cafeína, que se co-
nhece no valle cio Amazonas ;

Lr] O café de chicorea não só o usou apresentar-se na Exposição Universal de


Vienna, _como até pretendeu um diploma de honra!! O que não o usará à fraude?!
O cacáo, desde o · Ahia~onas até Ll sul da prnvincia ela
· Bahia;
O café, desde o· Amazonas até o Rio do Grande do Sul;
O chá, desde o Rio de Jàneiw até S. Paulo;
E o · rnate, desde Minas até ao Rio-Grande do Sul.
Qualquer· que seja o desenvolvimento, que venha a tomar
a cultui:a do- café -~u Alto-Egyto, na Nubia e ná Abyssinia,
nunca poderá .o café dessa procedencia atravessar u Atlantico
para vir lutar .cum o café brazileiro nos mercados dai America
do Norte e- <l<JS Estad us Unidos.
Estas·vas.tissi mas e prosperas regiões serão se111 pre abaste-
.cida!'l pel.9 ca-fé brazileir0 principalmente.
Os Estados Unidus aboliram os direitos da importação~
do café ; est;i excellente medida financeim .importa um esti-
mulo a uma p,,pulaçã:u t.le 80 milhões . de habicantes, antes de
· 1890, a usar, sem péas fiscaes, de um tonico, que a moral e a
hygiene estã:u de acco.rdo em µruclamar S9J110 o verdadeiro
succet--sor e substituto d,ts bebidas alcoolicas.
As mulheres dos Estadus Unidus emprehenderam ulti-
nial\1enté uma uusada propaganda para a abolição da venda das
bebidas alcuulicas, quç embrutecem seus filhos .e maridos, , e
são a c~usa de tristíssimos escandalos no lar domestico,
· Possa o café brazileiro auxiliar as intelligentes filhas da grande
Republica norte-americana na santa mis::;ão de · extirpar da
Ameri<.:<~ o vicin que mais degrada a raça anglo-saxonical !
Se é fatalmente necessariu que este ser tão .i'mperfeito
-o humem-tenh:,, um vicio, que es~e vicio seja o do ca~,
qu_e produz apenas uma emb riagu.ez lucicla, e uma uella supe-
rexcitação das faculdad es intellectuaes ; que abandonem
o abuso das bebidas alcoulicas, qne ernbrntecem, degradam
e reduzem o fiumem a um ente estupido, nojento, ridículo e
desprezi vel !
E', na cunsciencia destas verdades, que os governos mais
avançados da Eur, ,pa têm substituiclu, nos seus exerci tos e
nas suas arm,ulas, ,i ração de aguardente· pela do café, con-
correndo assim para extirpar um ·vicio, ,tão frequen:te e tão
fatal entre os soldados e os marinpei,r os.
E' bem de notar o systema ?.ct_ual do commereio entr'~-as
duas maiores nações do Novo,Mundo: o Brazil envia aos
Estados-Unidos, principal;nente café; os _Estados-Unidos
remettem-lhe em · retomo .trigo.
E' ver,Ldeir,un~nte um t permuta de dous generos al\-
menticios de primeira categoria.
·os Estanós-Unidos aboliram os direitos sobre 0.1 café;
porqnc não aboliremos tambem os direitos de imp:ortação '
~obre o trigo ?
Tributar generos alimentícios é um miseravel recurso ti-_
nanceiro.
O trigó é o alimento Lic,s. povos civilisados, disse Michel
Chevalier; a cultura do trigo acompanhou na Europa a
marcha da civilisação. _
A importaçào liv1·e elo trigo seria no Braz.il nm bene- ·
\ -
ficio geral ,; o uso do pão, hoje circumscripto aq litoral, avan-
çaria para o interior, levado pelas vias ferreas, e iria dar -aos
nossos agricultores um aliment" mais energico e mais salutar
do que as farinhas de mandioca, de milh·o, etc., etc. · ,<? -agrÍ- ,
cultor mais _bem alimentado significa o agricultor mais forte,
capaz. de tra-b2.lhar maior numero de horas durnnte o dia;
e de-produzir muito mais riqueza.
Quando viajamos · pelo interí.or do Brazil, corta-nos o
coração vêr, no mais tertil cios paizes do mundo, os camponios ·
definhando, anemiços · e chloroticos, por vicio de alimentas
ç"ão (r).
_A farinha de trigo paga pe!'.a recente tá.rifa lias alfande-
gaJ do Imperio, approvada. pelo decreto n. 5, 5-80 de 3 r" de

. [r] Ha no Brazil uma plaúta que, pela sua riquez~ em- pri"n~ipios azotados, pôde de
algum modo supprir o pão: é a tayóba -"Colocasia esculent_a"-, da tamilia das
Aroidea.-;. , . . .
Esta planta é muit ·1 usada na prnvincia da Bah,ia; nas colonias de S~nta Cathãrina.
os Allemães · adoptaram-n'a • com vanta_g em em _ substituição aos espinafres. Comem-se
a:. folhas prepara,das de todos os rrlo:dos; as tuberas - sãp · excellente â limelltaçãO para-.
porcos, vacas, etC. . - '. . ,_ ,,_
A analyse chimi.ca descobrio nesta planta- o ·'iodp", que é reputado o depurativo
mais energico actnalmente conhecido" (Vide:~ D;·. Peckolt-l-Iis~ori~_das pla.ntàs aJimen-
tares e de gozo do Brazil-, Typogrnphia Llaemmert-1874-Rio de Janeiro). ·
- 40 -

Março de 1874,, 8 rs. ·por· kilogramma na razão de 10% do


seu valor "fficial.
Applicando esta · taxa aos fretes dos nossos cami1ihos.de
ferro, chega-se por um calculo muito simples á conclusão:
que à livre importação do trigo prodt:ziria o beneficio de fazer
ava11çar o seu Ctinsumo de 5 a 10 leguas pelo interior do
Brazil. ·
Nas localidade,, gozando da vantagem da navegação flu-
vial á vela · uu a vapor, com fretes mais baratos do que os
,dos caminhos de ferrn, a zona beneficiada será .tanto mais vasta
quanto maior fôr a reducçãu dos fretes e~1 relação aos cami-
nhos de ferro.
Esperemos que em breve os governos, mais bem inspira 0

dos pelos humanitarios princípios da Sciencia Economica,


concedam aos povos o beneficio da livre permuta dos generos
alimentícios, e que não seja dos ultimas na realização deste
desideralttm o governo brazilei ru.
Cum o desenvolvimento ela immigração européa tomará
sem duvida maiores µroporções a cultura do tr.go nos pl~nal-
tos do P,uaná, de Santa Catbarina e Rio Grande du Sul.
E' tambem possível que, em um proxii110 futuru, o Brazil
importe; em melhores condiçües economicas, trigo das repu-
blicas do Prata e do Pacifico (r ), e, pelo valle do Amazonas,
trigo das vertentes dos Andes, da Bolivia e do Perú.
O trigo deverá então ser importado em grão e preparado
em moinhos brazileiros, de modo a tirar desse producto o ma-
ximo pi'uveito.
Estas idéas foram ventiladas por uccasião da exposição
universal de Cordova em 1·871 ; . acham-se bem desenvolvi-
das no relaturio do Dr. Luiz Alvares dos Santus, impresso
entre t•>s annexos cio reL1torio cio ministerio ela agricultura
do anno de 1872 .

. (1 1 O trigo do Chile é exportado até para a França e para a Inglaterra, onde tem
tido muita aceitação e obtido rtltos preços.
Em 1872 a colheiLa do Chili foi de 504,577,758 litros.
Conviria que o governu imperial aproveitasse a exposição universal de ró de Setembro
de 1875 em Santiago, para desenvolver as relações cummercia1:s t!11tre o Brazil e o Chile
e estabel~cer a permuta immediata' du café brazileiro pelo trigo do Chile.
- 41.

Foi tari1,bem, na previsão desse novo_ramo de commercio_,


que o Visconde de ltaborahy, de saudosa - memoria, isentou
ele direitos de importaçã? pela tarifa da alfandega, approvacla
pelo decreto 11. 4,343 de 2 2 ele Março de 1869, o trigo im-
portado em grão ; esta liberal disposiçã'o foi felizmente con-
seí'vacla na tarifa ela alfandega, approvada pelo decreto
n. 5,580 de 31 ele Março d e' 1874.
V.

Summario.-Applicação dos principias de centralisação, agrico1a e industrial á


producção do caf~ (continuando) - O consumo do café crescerá indefinidamente
com O· desenvolvimento do bem-estar e do conforto das populações sob a influencia
do pro,e;resso universal.-Propaganda para o desenvolvimento da cultura do ~café
no Brazil. Quadro synoptico- da exportação do café por todas as pr0vincias nos
eXercicios de 1870 a 73.-Condições naturaes necessarias á cultüra do café.-Sua .
acclimação no Brnzil começou pelas províncias do Pará e do Amazonas. -Estudo
das condições naturaes de cada província para a cultura do café -;Frov'incia do
Amazonas -Prodígios de riqueza no ,valle do .rRio Maximo" .-As . fforestas de
"Siphonia elastica" e de Arancaria" do Brazil.-Trabalho livre no Amazonas.
-Trez milhões de operarias desprezados no Brazil.-O qu~ aro.tina esclavagista
entende Por falta de braços -Exportação de borracha pelo porto de Belém, no Pará a
-~l;rabalhos de propaganda e estatistica do Dr. Coutinho. n_a exposição universal
de Pariz de 1867 .-Concurrent~s da borracha ::_razileira.-O porto de Guayaquil no
Pacifico. - Bendi.cie;s que os novos princípios àe centralisação agrícola e industtial
trarão á producção da borracha.

Ficáram demonstradas no artigo anterior, com dados :


estatísticos officiaes, a vastidão e a subida importancia do
comniercio de café brazileiro.
O principal comprador do café brazileiro, provamos
exuberantemente, é a grande Republica dos Estados-Unidos.
O café brazileiro penetra neste vastissimo territorio, P-º!
toda a parte, livre de diieitos aduaneiros.
E' a naçãu mais prospera _ do múndo a que mais compra
o café brazileiro.
Não é possível têr melhor fregu_ez.
Provavelmente não decorrerão muitos ànnos •antes que
a Inglaterra, a mãi patria de Richard Cobden e da Liber-
dade do commêrcio, acompanhe os Estados-Unidos em sua
sabia disposição fiscal da abolição dos direi tos de impo rtação
sobre o café ( r).
Na Europa central a Liberdade do commerc io encont1a
mais difficuldades: tem ahi de lutar com a oligarchia e com ó
militarismo, que júlgam que ainda é permittido mattar os
homens á fome para ter exercitas µermanentes de milhões
de soldados !
No emtan~o, os santos princip ias de Liberdade commercial
illuminar.ão, mais tarde ou mais cedo, b mundo inteiro, e o
seu primeiro beneficio será, por certo, permittir aos povos per- .
mutar livrementé os productos necessarios á sua alim entação!
Segqros que o cousumo universal do •_café nunca deixará
sem demanda os prodttctos, ubtidns por um maior desenvolvi-
mento da cultura do café no Brazil, podemos conscienciosa-
mente proseguir na pmpaganda para a extensão -deste lucra-
tivo. ramo de lavoura por todas as províncias do Imperio.
Antes de tudo, cumpre estudar como se acha presente-
menti'! distribuída a cultura do café pelas províncias do Brazil,
e de-terminar depois, muito cuidadosamente, quaes as zonas
do territorio · de cada província que melhores condições
·apresentam para a producção do principal elemento da riqueza
agrícola nacional.
Neste estudo te.remos occasião de combater um velho
pre.c on"eito dos nossos estadístas, que pensão geralm ente que
a cultura do café só é possível nas _provineias de S. Paulo e do
Rio de JaneiÍ-o.
Principiamos por apresentar o seguinte quadro synoptico
da exportação do café pelas differentes províncias do Imperio,
organizado de conformidade com os algarismos, mencionados
relatorio do ministerio da fazenda do anno de 1874.

~
[1) Antes dt: 1836 o e ,fé brazileiro pagava 2 s. 6 d. por libra ele e ntrada nos portos
da Inglaterra, que - protegia- o café de suas calunias, fazendo-os pagar só11~ente 1
s hilling· por libra: em 1836 o café brazileiro passo :1 a pagar r s. 3 d. e o das coln11ias
inglezas 9 pence. Em 1851 findou a obsoleta - protccção - e o c~fé brazileiro, como
todos os outros, ficou pagando 6 penc~s ,ou cerca de 230 rs [Vide Sir Tohnllers-
R.elatorio fia Exposição Uni versai tle Paris em r 867].
QUADRO COMPARATI VO DA EXPORTAÇÃO Do· CAFÉ PELAS DIFFERENTES PRoVINCIAS DO !MPERIO

~ Exercicio de I870 -- 7 r Exercicio de 187I- 72 Exei:cicio de I872- 73


'
;3 · ~
,-----....._, ~
P1ovincias ~ ~
,~~
. ,;,. .
~ ~ Peso em Pe~o em Peso em
Valor official Valor offic ial . Valor oAi,· ial
~ kilos kilos kilos
--
Rio deJaneiro (M inas e Espírito
I
Santo) __________________ .... 192,949,565 71,385:6851/,000 108,448, 403 57,265 :435$000 172,449,797 96,097:494$000

2 S. Pau lo . . ............ . ... ... . 29, 134,225 ro,082:947 ooo 23,105,083 !O, 741:649 000 31,761,593 16,662:693 000 -!'-
ln

:3 3,178,018 1,014: 192 ººº 5,108.270 2,081:930 000 3,99o,448 l , 772: 820 ooo
1 560,289 226: 761 000 311,888 135:206 000 1,562,627 718:2+1 o,.,o
4 -~::!'.:::::::::::::::::: :{::::~:
~ ' 1:519 000 1,727 817 000 3,132
5 P'ernambuco,•.. . . ,..•..... . ~ .... 3.694 1:597 ººº
6 Santa Calha ri na ..... . ... .. •.. . . . ·.. . •·· .. ... '
..... .. . ... .. ·· --··· .... .. . .. ..... .. . . 2,467 1:z-76 ººº
7 Maranhão . . ·. . .• . . . . . . . . . . . . . . 4,819 1:909 ººº 460 320 ººº 1,826 1:239· oon
1
8 Rio-Grande do Sul . . . .•. : .. • ...· 2,490 1:488 ' ººº 4 11 .62 000 734 103 ººº
9 Abgôas . . .. ·; .. . . ; . . .... ·, . . ... 1,388 54'7 000 , ,
,' '. e
- - ,-.,,. ;.
1 '·
Somma ,·, . . . . . ... . .. . . 225,834,488 82, 7'I 5: 048 000 136,976,~71 70,222:41,9; ººº 209,772,653 n5 ,285:46q oo,p
1 '\ "
Antes de qualquer reflexão, devemos lembrar que este
quadro ex prime tão sómente .a exportação do café brazileiro
para os paizes' estrangeiros, e não a, producção total deste
artigo no Brazil. Ha mui tas pn~vincias, que as,á-; produzem
café para consumo proprio, e que _não figuram neste quadro.
E' tambem de notar qne está incluida na província do Rio de
J aneiro o ca(é produzido pelos municipios limitroph es da
l'rovinci a de Minas-Geraes.
Patenteiam, em primeiro lu gaí-, os algarismm:, incluídos
_...-"--·---·----..........._pessé quadro, que a grn nde producção do cate se conce ntra
nas províncias do R io de Jan eiro e de S. Paulo.
A estas províncias seguem-se a da Bahia e a do Ceá rá com
um pwg resso animador ..
Nas cinco provín cias de Pernambuco, Santa Catharina,
Maranhãt•, Rio G rande d.o S ul e Alagôas, as quanticjades de
café exportadas apenas se rvem para dem onstrar esta importante
th ese : - a possibilidade ria cultura do café por to,fas as p1·0-
v1ii,1as rio Imperio.
·Os estudos dos Botanicos e dos Agronomos mais distinctos
tinham, desde muito, estabelecido a possibilidade da cultura
do café em tod os os climas ( r ) ele .temperatura média, com-
prehen dida entre r 2µ e 3 r gráos cen tigrados.
O cafeeiro não pód e supportar a geada. Em S. Paulo
os agricultores intelligentes têm o maior cuidado em resguardar
este lindo e del icado arb usto dos rigores do inverno : ainda
nos ultimos :urn os de r870 a 1873; as geadas inutili saram,
em grande pa rte, os esforços d os mais activos e em-
prehend edmes ag ricultores do Brazil !
As. secciis e os ca lores excessivos são tambem nocivos á
gentil planta do café.
Prefere o cafeeiro as collinas e as meias laranjas, que nã o
' são mui to castigadas p-1los raios do sol.
llluminad os com estes dados da sciencia e da pratica da
cu ltura do café, vamos percorrer as provincias do Imperio e
(1) Vid_e sobre o preconceito de sernecess.a rio terreno de matta virgem para cultura
do café a interessan te "Historia das plantas do Brazil do Dr. Peckolt" Volune 1 1
p~gina 66;
- 47 -
determinar as zo nas mais convenientes p:ua a sua prnducção
em boas condições _e conomicas.
Foi exactamente pelas provincias do Pará e do Amazonas,
as mais septentrionaes cio fmperío, que o c;ifé foi. introduzici o
no Brazil.
Pelas inciagações historicas, ultimamente feitas. p'trece
que. os primeiros cafeeiros, introduzidos no Pará, eram
descendentes desta · romantica plantinha, q 11e_ o devotado
capitão Desclieux levou da França á Martini.ça, regando-a
nos ultimos dias de súa longa e aventurosa viagem com a sna
propria ração de agua!
O café veio de Cayenna ao Pará, apezar das oiosas
prohibições do governo francez, e, ainda nesta opportunidade,
a graciosa planta fornece mais oqtro episodio rnmanti.co, em
que é-protogonista a mulher do governador de Cayenna.
Isso se P<!,Ssou pelo anno de 1761.
Em 1830 o Amazonas exportou 91,000 kilograrnmas ele
café: (1) em 186oapenas3,966 kilogrammas, e, no _e xercicio
financeiro de 1870 -a 1871, a insignificante pa-rcélla de
5 w kilogrammas ! ! ...
O café prosperava, principalmente, no Rio-Negro e no
Solimões; o café de Coary e de Teffé era muito estimado.
O abandono da cultura do café provém·, não da in-
conven.iencia das condições naturaes, fique bem firmado, mas
do facto de ser insufficiente toda povoaçào da· província do
Amaaonas para a explóração dos riquissirnos productos da
indmtria extractiva : a seringa, a borracha ou gôrnma elastica,·
Caoufchou, India-rubber, o guaraná, a sa lsaparrilha. -a castanha,
o cà.cáo, o cedro, ft.uctuando no Amazonas, etc., etç.
Na verdade, uma província, tão exuberantemente dotada
pelo Creador, nào necessita de recorrerá cultura do .café cumo
meio de salvação de crise agricola .
Quando quasi todas as provindas estão oneradas ele
d_ividas, a província do Amazonas prospera de modo a podér
(1) Vide o relataria do presidente da provincia do Amazonas, entre af. inforrnaçõe:-
sobr~ o estado da lavoura, mandadas publicar p.elo ministerio da fazenda-.- Typ•l~1,rap:1i·l
Nac10nal -1874_. ·
ser assim descripta pelo seu presidente, no rec.e nte inquerit'o
sobre o estado da lavoura.
" E'. assim que á província não tem divida funda1a;
nem ha receirs ·actualmente de que sinta necessidade de
contrahil-a; -. no em tanto que o thesouro provincial tem
encargos muitu onerosos. ·
.'' E'. o Amazoi1as . 'uma provincia, que bem retribue os
8 eus e.m pregados ,( r.), decreta verbas avultadas para obras
mporta·ntes ;,.,.,-auxilia a inài.istria com emprestimos não
pequenos; subvenciona generosamente as companhias, que
navegam seus rios; e todos estes serviços se fazem sem que-o
administrador encontre embaraços; sem que a -.: população
soffra imposições vexatorias, e sem ·que para cada· despeza a
fazer seja preciso. crear nova fonte de receita.
" A razão é obvia : a mafor parte da · receita provém do
imp~sto sobre a industria extractiva, ella cresce na proporção
dos productos que . a industria arranca á sua natnFezà rica e
exple-ndida ! " ( 2)
Maravilh Õsa creação de Deus! Prodigioso Amá.zonas !
Que exuberancia de riqueza!
Não hutça, porém, ·o digno presidente da província do
Amazonas receios sobre a decadencia da industria extractiva.
0

Uma estatística, . terminada· em 1874, deu este resultado


para o pessoal emprégado na pro~incia do Amazonas na ex-
tracção da borracha.
Rio Solimões •......•...... ~,270 pessoas
Rio Madeira .............. . .5,95º ,,
Rio Purús ...•............. 4,560 _
Rio Silves ................ . 100
Rio Negro .•.. ............•. 1,800
"
"
Somma .....•... · 15,680

(1) Feli?. Eldorado! Em quasi todil.s as O!ttras provi nc1as bs elnpregados publicos,
mal pagos,~ recebem os 1,rdc::nados com desconto, e, muitas vezes, passam -mezes sem re-
çeber um ceitjl ! ! ! ·
[:2] Vide. "Inforrn:.tções sobre o estadu da lavo!]ra.-Rio de Janeiro, Typographia
Nar.ional. - 1874, pag. 134.
49
As florestas da "Si phonia e lastica" e das plantas conge-
n,~res, que dão a ·· preciosa borracha, se estendem por t0da a
bacia do Amazonas, a maior do mundo, até as µltimas vert~n-
tes do Tapajoz, na bacia da Dia.mantin~, em Matto 'GTosso l ' ...
E' uma floresta immensa, s6 cemparavel ás 'flo1:estas de
pinho brazileiro, da Araucaria brazilienszs, que se estençiem
desde a serra do Picú em l\llinas-Geraes _até á:s serras do .R io
Grande do Sul !
São riquezas essas inesgolaveis, verdadeiros thesouros
nacionaesc que produzirão â' prosperidad~, o be~_-estar de
innumeras gerações por. v,i r ! -
Para cumulo de · felicidade a província do Amazonas é a
que possue menor numero de escravos ~m· to.do o Brazil. [ 1J.
Pàra oAmazonás não hc1, pois, essa ·nu vem·_negra, que a
rotinc1 es'élavagistc1 esforça-se em collocar n@ ~orizonte de
t0dc1s as outrns provincüs.
Para o Amazonas, para _esse pTodigioso emporio, de ri~
quezas naturaes, é absolutamente incliff~rente ·que a _emanci-
µaçào c01n pleta dos escravos no Brazil se rea:lize em I 880 ou
em 1890; boje ou a.manhã. · ·
Os trabalhos da comissão de estatística do min1st~1 ii::> do .
I_mperió dão a villa de Rucellos, e as freguesfas d.e B~rba, -
Arvellos e S. Paulo, sem um só escravo (quando se realizé(rá
este desicleratum para todo o Brazil? );. no munícipio ele Teffé
havia 14 escravos, e no· de Serpa 7 escravos, empregados em
trabalhos niraes; em toda a província do Amazonas só 465
'=scravos, eram emµregados na lavoura!
No enitanto, no exercício de 1870-71, o ultimo citado
pela presidencia na resposta ao inquerito sobré o estado da
lavoura na p1ovincia do Amazonas, a exportação attingio ás
importantes. cifras de 274,879 kilogrammas de cacáo, 956,893
ki logram mas de castanha, 23 ,Soo kilogran;imas de salsa par- -
rilha, 1, 332,463 kilogrninmas de seringa em borracha ~
9,598 kilogrammas de guaraná! !...
(1J ü 1e!ntono rio muusteao da fazenda de 1864 dá 906 e;crayOs na prOvinci'a do'
Amazonas. Este numero é C<1da d1<1 meno1, p01que, · graças a Deus, não ha presente-
mente no B1,c1zil senão causas µaia dmnnuir o null!e:o de esc1avos !

..
50 -
Notai que ·estes são algarismos nfficiaes; cíue quantia
igual, pelei menos, escaparão á vigilancia do füco, nesse infinito ,
archipelago, nesse dedaleo labyrintho de can,ies gigantescos,
de estreitos e de igarápés, que constituem o Amazonas !
Este resultado é obtid0 com o trabalho livre ,de i ndios,
de mestiços, activaclos por immigrantes cearenses, os colo-
nisadores do Norte, comu os paulistanos são os colonisaclores
cio centro e do Sul do Brazil !
H,1, na au.t orizada opinião do inhtig,wel Dr. J osé Vieira
Couto ele· Magalhfies, o Lzvingstone brazileiro, no vastíssimo
planalto -ou arax:á central do Brazil , para mais de um milhão
de índios (1) ; ha tambem, no valle do grandioso S. Fran-
cisco, um milhão de m estiços que, segregados do mundo p(,r
falta de vias de communicaçào, quasi nada coricorrem no
movimento commercial deste paiz; ha, finalmente, perto ele
um milhão de seres que a rotina e a ignorancia consérvam na
escravidão, e que não produzem metade cio que poderia1il
produzir se fo:;sem livres; são, pois, trez milhões de ho mens
desaproveitados e mal aµroveitad<ls neste paiz, em que se
clama todos os dias por falta de braços!
· Verdade é que essa grita de braços é ~1tiasi se mpre a
hypocrita lamentação dos velhos druidas do esclavagismo,
suspirando pelos ominosos tempos em qu e era possível
comprar um homem por oitenta mil réis !
.... . ..... .. ... ; . . .. ... . .
O porto de Belétri, no Pará, é o primeiro exportador de
gomina elastica do mundo.
Foi muito difficil ao illustrado Dr. João Martin s da Silva
Coutinho patentear esta verdade na exposição uni versai de
Paris (2) de 1867.
As estatisticas européas eram tão falhas e ti'lo falsas sobre
este artigo, como sobre o café brazi leiro.

{r) Vide a sua magn ifica 1nemo1·ia-- "Regiões e Raças Selvagen~" na Revista
do Instituto Histor:ico, tomo XXXVI, parte segunda, VI trimestre, 1873.
L2] Vide -o excellente relataria do Dr. Co utinho na exposição de Pari:.i:, Vo-
lume li, pag. 238.
- 51 ,-
A' vista dos· mais fidedignos documentos pôde o Dr. _
Coutinho organizar esta estatistica da producção universál da
' borracha:

Anno Anno
de 1861 de 1865
Paizes productores r-____,;-_~ ~~""'T"\

Pesos em Pesos e11i


kilograinmas kilogram'mas .

I Brazil. ...·- ·- ··--- - ·----······ · -···· 2,315,984 3,773,137


2 In<lia e üceania ............. .. .... . 1,5oo',ooo • 2,250,000
3 Republicas ela America Central e Meri-
dional. .......... . .. . .. . . . ...... . . 750,000 r,125 , 000
4 Africa ...... . ..... . .. . ..... . 50,009 75,000
- - - -- - 1 - - - -
7,223, 137

Na Asiâ, .J maior entrepm,to da borracha é Singapore,


ha extremidade da península de Malaca, em· ~r~nte de. Java;, .
e entre Sumatra e Bornéo.
Pela sua posição excepcional, justamente considerada
uma das primeiras situações do mundo, este porto concentra
as producções da China, do Japão e dessa riquíssima parle ·da
Oceania, deno_minada pelos geographos Malasz'a.
Na America Meridional tem ultimamente tomad0 grande
imp"rtancia, como entreposto de borracha, o porto de Guaya-
quil, no Pacifico, situado na Republica de Eq uad0r, exactà-·
mente em frente ao eixo do vale gigantesco Amazonas!
No exercício financeiro de 1871 a 1872 (1) a exporta- .
ção da borracha brazileira attingio estes bel los algarismos : ·
/ú'log1ammas · Com o valo,· ojjiczal de
Pará ..... . . . .. 5,394,587
1.R 10,043: 169$000
z.R Ceará... ... . .. 286,991 430:664 000
3.º Maranhão.. . ... 9,771 l 5 :007 000
4.º Rio de Janeiro. . 1,817 2 :018 000.
-' - - - -
Ao todo ..... -.. 5,693,166 10,490:858 ooo
Assim pois, já no exercício financeiro de 1871 a 1872
a exportação da borracha. cio Brazil era maior do que a prn-
ducção universal em 186 r ! ! ·

(1) Vi de rela ~orio do ministerio da fazenda d<;- ~8 74. ·


E' de esperar que· uma boa applicação dos princípios de
centralisaç[o agrícola e industri al dêm ao Pará, e, em geral ,
ao váÍle do Amazonas .fazendas cenlraes e .fabricas cenlraes,
para systemati zar a cultura da Siplzonià elastzi:a ; a extracção
do seu precioso látex, ·a preparação da borracha, simples ou
vulcanisil,da, sempre pelos p rocessos mais modernos, de modo
a dar a este producto o maximo va lor mercantil.
VI.

Su1nmario. - Appl icação dos principios de centralisação agricola e iudustrlal fo.


prod~lcção do café. - Estudo d:1s cond ições natur11es ele· cada provincia para esta
cultura. - l?rovi1lcia do \f aranhão. - Cul tur:i. da bnrracha e <lo cacáo no~ climas
amazon icos - C ultura do café nos planaltos. -Vant:tgens d 1!-- c u :turas dó crlcáo e <la
seringueira. -Cultnra do fumo nos tctTenos ex: h~luridus µ'e la canna de ;1ssucar.
-Creação em t )das_ :l.S provincia.-. de soci.edades d e acclimaç.:io filiaes d.a do Rio de
Janei'ro. - Es.cnlas norm:ies de agricultura para c-) mb:\tc!r a rotin t escla.vagista.

E ' ex~ctamente na p rov inc~a d o lY.[aranhão que. principia


a serie de provincias, cuja lavo ura se acha em crise.
No emtan.to esta provincia deixou de responder aD in-
querito sobre o estado da lavo~ua, deteririinado pela ci rcu lar
de 18 d e Outubro d e 1873, d,, mini ste ri o da fazenda
--Porqu e ?- Que m otivo houve para tão g ra ve falu?
N o seu vastissimo ter ri to ri o, de vinte mil leguas quadradas,
tem a província do Maranhão variad os climas, apropriados a
difterentes culturas ; n o emtanto, por fatalidade, os agri-
cultores desta província concentraram seus es forços ·n os dous
productos que exactamente estão · em crise actualmente :. o
ass ucar e o algodão.
Por uma singular coincidencia, o Maranhão occupou
exactamente o quinto Jogar no exercicio financ eiro de 1872
a 1873, entre as provincias mais productoras, tanto de assucar
como de algodão.
-54-
É', pois, evidentemente necessario adoptar novos artigos
de cultura : nos climas amazonicos a borracha e o cacáo; nas
serras e nas collinas o café; em outros termos, junto á foz do
Tury-assú, do ' Pind,rré, do Me,i.rim, do Itapicurú . e do
Munim, o cacáo e a borracha em concurrencia, -·ou melhor,
em auxilio á canna de assucar e ao algudão ;,- nas vertentes dos
grandes rios da província - o café,
Um illustrad,, filho do Maranhão d,wa-nos, ultimamente,
·como razões de preferencia dn caminho de ferro de Caxias a
S, José ~los Matões sobre o de Caxrns a Therczina, ou de Caxias
-a S . .Jnsé dos Cajazeiros:

1 ° Servir o primei ~'O caminho de ferro melhorá prospera

,· cidade âo Amarante, o principal entreposto commercial do


Pi,auhy,
2°· Atrnvéssar uma zona, proµria á cultura do café, quando
0 terreno do caminho ele ferro de Caxias a Theresina é secco e
arido, e impryprio a essa proveitusa culturn.
No quadro synoptico dos principaes expo1üdores de café
a província do lviar»nhão occupa o 7° logar, com as insigni-
ficantes p,trcellas de 4,819 kilogrammas no exercício de
1870-71, de 460 l~ilogrammas no exercício de 1871-72 e de
1,826 kilugrammas no exercício de 1872-73 !
· . - Porq li€ · tão insignificantes alg,trismos q uandó ha ex-
celléntes t~ri·,ts na pro.vincia para a cultura do producto, que
enFiquece o Rio de Janeiru, S. P,rnlv e Ceará? '
- Não é comparnvel ao café de Moka o café da ilha de
S. Luiz?
Não é excellente o café de Vianna, no Pi ndaré_?
- Não é preciO!;O o café do Mearim?
- Porque os valles do Pinda ré e do Mearim não tem
fazendas de café como o vallé do Parabyba do Sul?!
- Porque n:lo se dá u devido desenvolvimento á pro-
ducção do cacáo?
O cacáo é de culturn vantajosissima .
Mil pés de cacáo produzem cerca de 70 arrobas de
-55-
fructl~S (1) O Lt 1,028 ki!ogramrn ,ts em c,td,t culheiu, deix,u;dLi
um Incro liquido de 509$1JOO.
O lindo arbusto do cacáo dura 86 annos !
Mil pés de cacáo podem ser tratados p'.)r um só
trabalhador.
O cacáo brazileiro tem po uco· v,tl or po r ser pessi1!1a-
mente preparado, e m,ll emluhtdo, como todos os nossos pr:o-
ductDs. Cllrnpre que a província do M.1ranhão mand(;! alg uns
e ngen heiros e lavr,1dores intelligentes · a C.mtcas _(Rep u.blica
de· Venezuela) aprende r ahi o.-; processos mciis aperfeiçoados -
de preparação de cacáo.
E' necessario que cad,1 µrovincia faça por si mesmo
todo o possível para salv,1r-se da crise que a a meaça-.
A experiencia de mais de 50 annos deve ter-·l hes sobeja-
mente convencido que a acção do governo central é por suà
natu reza tardia, debil, e quasi semp re in efficaz !
N en hum a província possue tal vez dessa verdade provas
mais evidentes· que a do Maranhão !
Onde fôr póssivel a acclimaçã0 da seringueira (Siphonia
elastica) (2) que, c ultivada regularmente, dá cerca de 4 kilo-
grammas de gomma elasLica em cada colheita, de ve adopta-r-
se, a cultura da preciosa planta, que faz e fará eternamente a
riqueza do valle do Amazonas !
Nesses terrenos, que a rotina chama cansados, e-que •a
chimica agricoia ensina que estão esgotados ou exhaurid _os pela
irracio nal repetição da mesma planta, no m esm o loga r, sem
regímen algu m restaurado ·, devemos aconselhar a plantação do
fumo. Mandai vir sementes de Havan.1; mandai e ngen heiros
aprender os melhor"s processos de plantio e de cultura, e d~i
assim á vossa terra natal uma n ova fonte de riqueza e de pros-
peridade!
(1) Vide a excellente "Noticia sobre a Agricu ltura do Brazil'' pelo muito illusc.._
trado Dr. Nic láo Joaquim :\1oreira,
[2 J O D r. Martins da S llva Coutinho, a quem dcvemo:.os 111::1.is bellos tra~alhos
sobre a "Siphonia elastica", é de opinião que ella póde ser cultivada com vantag ;m
até l guape, na proviHcia de S . Paulo. [Vide o seu precioso. relataria da exposição
uni,·ersal tran ceza de 1867]. . ~
Cumpre lambem t::nsaiar a accl imação da "Ja r.roph a" d> Ce:1rá 1 qut dá tambem
exce\lente borracha.
Repitamos : os aux·ilios do governo central podem ser
mais ou m enus proveitosos ; mas a iniciativa provincial valerá
se mpre muito mais.
-Têm as províncias de S. Paulo e do Çeai-á. porventura
p recisad o da ini ciativa cio governo ge ra•! para pr~greclir ?" .
Para os indi vid nos, cio m esmo modo qu·e para as asso-
ciações ele indivicluos,-municipios, Jistrictos .comarcas o u
províncias-, self help, fa ra da sé, o eJ/orro proprio, valem
sempre mais do que tudo.
Cumpre fundar na capita l do Maranhão uma suciedade de
acclimaç~o, fili al da do Rio Je Jane iro. O Maranhão dispõe
·de tantos filhos de rnru tal-~nto : que elles abandonem a esteril
puliticà, ·e se em preg uem activam ente em salvar a sua tel'ra na-
tal da cnse, em que u"i"a se acha !
Bai:; tava qu e essa sociedade de acclimação resolvesse o im-
porta11te pr0blt ma da introc} ucção da cultu ra da "Siph.onia
elastica" u·u da ,, J atrupba", p•itra prestar ao M a ranhão um ser-
viço real e etEcrno !
No exercicio-finànceiro de : 187 1 a 187 2 o Ceará expo rtou
286,991 kilog,rarnmesd.e gom mf).e !as tica,n o valor de430:664$!
Cad a an n u -.se vé crescer· a ex portação da borracha d<? Ceará !
- Purque n ã u lia de o Maranh ão seguir este exem pl o?
Não s6 no Maranhão, co m o em todas as outras µro-
vmcrns, curn pre crear , sociedades de accl imação e escolas
normaes · de ag ricultura para combater, de frente e ofücaz-
m ente, a rutiba da lavc,u ra escl a vagis ta.
Não é com d iscursos e lamurias que se combate a rotina:
é curn a instrucção pratica; é com experienc1as publicas; é
com exemplos vivos qu e se poderá levar a convicção aos ani-
rn os m ais tímidos e obcecados !
Que as assernbléas provin ciaes nã o poupem es fur çns nem
capi taes : subvencit;nem gen erosamente as sociedades de · ac-
climação e os instirntos de ag ri cultu rn , e tenham certeza d e
qué o íe rtil'issim o s61o d ~ Brazil rec~ mpensará os seus esforços
na razão de ce m para um !
C2=~
1 -

VII

Summario.-Applicaçâo elos principios de centralisação t1.gricola e indüstrial á


producção do café.-Estudo das condiçõe2 11aturaes de cada provincia para essa
cultura (crmtinua.wlo). -Provjncia do Piauhy.-Indu~tria pastoril.-Cultura do café.
- Engenhos centraes e fazend:1s centraes-Provincia do Ceará.-A pl'ovincia mais
acfr,·a do norte -A que melhor reali~a o desideratu m da variedade de cultur~s
e de producção.-Provincia do Rio Grande do Nurte.-Progresso actual --Re-
cursos p~1r:1 prosp<::ri,.:lade íutura -Provincia da Parahyba do Norte -Ob~ervaçõcs
SQbre o S1.;!ll inquerito -:\Iiserias e abatin1ento da• cultura da canna de assucar - __ __,., ... ,....--- _.-~
Emprestimo.s a 48 ºÍn e 72 º/e ao anno - Excellentes condições natuI"aes ·
-da pruvinci::. -Tem muito a esperar da creação das fazendas centraes e dos
~ngenho~ ccntraes .

A vastíssima provincia do Piauhy representa, ao norte


do Imperio, o mesmo papel que o Rio Grande do Sul, no
ce ntro e no sul do Brazil : é a gra11de productora de carne.
Poucas industrias são mais lucrativas do que· a industria
pastoril racionalmente exercida.
O que é preciso, principalmente, ao Piauhy é introduzir
prncessus racionaes de criação de animaes e de preparação dos
prod ,1ctos bnvi nus.
A reforma, que este escriptu propaga, deve ter no Piauhy
especialmente essa missão.
Simultaneamente convirá introduzir a cultura do café
nas collin.as, que bordam as nascentes dos se us bellissimos
rios: o Parnahyba, o Gurgueia, o Piauhy, .o Canindé, o
Poty e o Longa.
- 58 -

As c t1ltu ras da canna de assucar e de algodão devem ser


exclusivamente concentradas nas zo na!> mais adéq.µadas,_ n o
centro das quaes se fundari'ío alguns engenhos centraes e algu-
1nas/azendas ce11-tr,zes para a preparação do algodão . e apro-
veitamen to das suas preciosas semente, .
No quadro da bpu rtação do Imperio o Pi a~1hy só figura
no paragrapho do algodão, e no undecim o Joga r! ! . ...
Cumpre d<H vias fe rreas a esta gmnde província ; applia
ca: r-lh e energicamente os princípios hodi ern os da cent ralisação
agric.ola, e lariçal-a a todo o vapo r na estrada do progresso.
O - Ceaní é o S. Paulo do n , irte : nilo nos c,rnsemos de
repetir !
Foi a unica pr~vincia que, n esses d issolve ntes climas
equa to riaes, ouso u con~truir, por iniciativa prnpria , um ca-
minho de ferro ! ! . . _.
No quadro ge ral da exportação dtJ Im perio o Ceará
occupa um dos mais elistinctos Jogares.
E' a 2ª provi nci,t na exporuçã<> d,t gomma elastica ( I) ;
a 4ª 1u ex portação do café ; a 3ª 1u exportação do algodão ;
a 7"' na exportação do assucar; a 5ª na exportação de' pru-
düctos bovin os !
- Que variedade e que riq ueza de procluctos !
- Qu.e ,prodigiós. de prosperidade não produzirá a cenlra-
lisapâo agrú:ola no Cea rá ?
Quando nessa província se hou ver fundado fiizendas e
éngmhos centraes para o a perfeiçoamento ele se us productos
agricolas, que in esgotaveis fontes ele riqueza n ão se terá cread o?
Não deixare_m os ele mencionar qu e, entre os muitos ele-
mentos de riqueza e prosperidade, conta o Ceará com seus
fertilíssimos campos, que concor rem com os do Piauhy para
abastecer de carne verde e secca os princip,res 1ne rcados do
n orte do Brazil.
A proy,i ncia d o Rio Grande cio Norte segui,t a roti na das

[ 1] A borracha do Ceará é produzi::la principalmentê por um arbusto do genero


"J atropha", o qual, como o genero Siphonia, per-tence á g rande familia dos Eu-
phorbiaceas.
Os. naturaes chamam~n'a Resina de Ivfanissóba.
59
suas visinhas na cultura quasi exclusiva .-da canrta de_assucar e
d·o algodão.
Vivia, esta província triste e esqueci'da, quando o se·u bom
anj\1 da guard'a lhe -deu ·para presidente o Dr. João Capis-
trnnn Bandeira de. Mello Filho. ·
Este devotado a-lministrador está multiplicando esforços
ao
para <Hi · Ri;~- Gr:rnde do Norte escolas, bibliothecas, ca•
naes, caminhos de ferro e cultura do cate.
Deus o auxilie em sua patriotica missão· !
Não faltá m elementos de riqueza ao Rio Grande cio
Nurte, como não faltam á província algum~ deste paiz pric
vilegiado, que, com ra:tão, Americo Vestmcio suppoz ser os
limiÍes dn paraizo terrestrial ! O qu~ falta, poi· toda a parte_,
é iniciativa individual; é espírito de associação-; é emfim <le-
votaçâu real é si ncern aos grandes interesses da nacion.alic!ade
brazileira !
Ü Rio Grnnlle do Norte tem camp ,1s como os do· Ceat'á;
possue, cómo essa provincia, florestas do carnaubeira ( Coper-
niczá ariferaí , que dã.o magnifica cêra vegeta_~ ; tem a serra -da
. Borborema e ?eus differentes rnmaes parn a cultura do cafü ;
ostenta magni licos valles·p,tra a CLtltura dG cacáo, do algodão e
do assucar.
A provinci,t da ·Parahyba do N orté foii uma das q áe. m \; -
lhor respontlemm ao inquéritu, a que se ·m,rndou ·proceder
sobre o e~udo da lavourn no Brazil, por avi~o do Ministerio <la
fazenda de 18 de Outubro de I 873.
Foi relato·r da commissao da capital 0 Dr. José da Cosfa
Machado Junior, um dus parahybanos ·mais <listinctos .pelo s_e u
tãlento e patriotismo.
Seu relat0rio é uma exposição conscienciosa e v·e rda-
deira do estado de abatimento, a qué a clesidia admi11istrativa
deixou chegar ,t lavoura em uma das provinci 4s do Imperio
mais ricamente dotad,ts pelo Creador !
Cumprimus o · triste dever de reprouuzi1: algun, tL"echos
deste documento, pa.ra que tnuos saibam com_o · jaziam élespre
saclos os interesses mais vitaes deste paiz !
- 60 -

A com missão da comarca de Areas disse:


"A razão de s·e r o município, situado em terreno mon-
tanhoso, torna G!emasiadamente c,1.ro o transporte, e-0 baixo
preço, que pela qualidade tem o assucar nos' m_e;·cados de
Mamanguape, capita l e Goyanna, para o~ quaes é rem ettido,
desanima em extremo o agricultor, qu e, po-r essas d Lias causas,
em vez de prod uzir o assuca r, prefe re fazer ra[Md ura e distillar
'·a guardente (! !!), generos qu e são consumid os· nas proprias
fabric_as, ou nas feiras do Município. As vezes acontece que,
absorvendo o frete de uma carga de as,mca r to :lo· o preço
della, acham-se os agricultores na contingencia de transformar
em aguardente (1! !) o assucarquetinhamprodL1zido, e que,
sem aq uella circúmstancia, teria ido ao mercado."
Possa quanto antes o caminho de !'e rro Conde d'Eu dar
tran~porte barato e um mercado seguro aos infelizes lavra-
dores do Brejo da Arêa !
A com missão da comarca de Bananeiras descreve, ne,tes
tristes traços, o abatimento d,1 s ua industria sacc harina :
-''A canna de assucar, que o utr'ora foi aqui o producto
de predilecção, occasionou a mina de muitos proprietarios, e
tem sido consideravelmente desprezada, de m odo que os
poucos ·e ngenhos, actualmente existentes, em nenhum dos
q_uaes )) assucar é ptll'Íficado, não fabricam actualmente mais
de 690,000 kilogramm;i.s de ~ssu c;i.r, e esse mesmo do ínfimo
preço de 900 a I $ 500 por r 5 k il ogramm,.is.
"Quanto ás relaçúes entre os capitalist,1s (se tal nome se
p6de dar aos emprestadores) e os agri c ultores, são de natureza
a irritar qualquer ente, que tenha uma parcella de sentímento
do justo. Em Botborema emp,esta-se do 2% a 4% ao mez,
48% ao anno; em Bananeiras chega-se até a 6% ao m ez
ou_ 72% ao anno !!! "
Ha um periodo deste notavel documento, que se não µóde
lêr sem lagrimas nos olhos .
"Mas, por certo, ninguem dirá que o estado estacionario,
_·-se não retrogrado, da nossa lavoura pos.sa ser attribuido ades-
pezas excessivas dos lavradores com o seu tratamento pes-
61 -

soa! ; a uma vida I uxuo,sa e esplendida, ou me_s mo ao ab-


senteismo ( r ) : não, ainda nesta parte, elles vivem como
· vivera in seus ,P1is, com a ma:or 1nrci m ,mia e frugalidad e. Ci:
lux:o e .a magnificencia, qu e ostent,im os gra-ntles lavi-adores de·
outras provinêias e de outros p,tiz es, lhes são cle,,conhecidos oú
sensatam ente comprehendem que suas fortun,is, seu,, m odicos
lucros, não póderLun• re'iisti r á vo r,tci<hd e d~,s·t sp hinge.
"Nem sequer vivem, como em outras [1artes, ausentes de
seus estabelecimentos ruraes, entregando a sua' (lirecção a
administradores as~alariad os, de ordiría.rin cle,,cuidosos e d es-
leixados, promovendo lllltes seu, prdpri os inte resses do que us
de seus patrões, que, inconscie ntes e imprevide nk:i , nurcham
par;i sua rui na ; ao co ntrari o, ell es m es mos são os admi n is-
· tradores de suas fazendas e os feitores de seu.-; op-crario, ou es-
carvos, poupando assim immensas despezas, e dandu a _mais
conveniente direcção aos trab,dhos ; _hoje, princi"p,tlm ente,
quando o officio de fei t,) r se v.-ti trrnun-io tã > arri-;c_,l ln, é d e
seu intere.,,,e as,im prnticM, se nã, > po r am ,H d> 1u_c ro, ao
menos da humilnidade. "
Em conclições de fertilidad e e ele top O-{ Ll phia pnucas pro-
víncias do Imperio levam vantagem ci PM.,!iyb_t d ,) Norte.
O rio P<trahyba do Norte é um t especie do Nilo; tem
enchentes periodicas, qu e irrigam o sol,) e o e nriquecem, de
humus, de modo a produzir ,l cann.1. do ,L,m cM d ur,1 nte trinta
annos sem• n ecessidade do re plantio !
O algodão prodliz ex:traonlinariam '2nte no., planaltos da
província : duunte a ci-i se m )tiva-h P'~l ,t gue rr,t d .t em·a nci-
pação dos esc r,1vo, n os E,tad ,>3-U nid -», o-; na tumes da P~-
rahyba do Norte, os p eq ue11,J.; lav uJ-J,·e.-;- li vre-;-fiz~r,tm
prodígios de <1ctividade. No ,rnno de_186 5, a Parahy~a do
Norte só foi supera da na prod ucção cio algodão pela ,pro-.
vincia d e Pernambuco_
Na serra da Borbo rema e nos se u, difft!rentes contra-
fortes, o café produz, com o 1u serra d e :VI.tr,tng u pe, no Ceará:
(I) O ab~e nteismo tem log;;,r ent re o infdiz lav1ad or da Para.hyb:1. e o negocia~1te
exportador de Pern am 1.; uco : o lavrador é o rt!ndeiro de [rl 3:11da, o neg0ciante o Lo rd.
que consome em Londres, o fru cto do trabalho do seu rend .::iru.
- 62

ha de breve mente ser ve ndid o no H av re e em 1\ifarsel ha


como legitz"mo café de Moka ! ....
A Parahyba cio Norte poss11e nm · magnifico porto para
o co1,;nnercio transatlantico inte rnacio na l n o Cadedell o e as
m ais b.ellas condições topographicas para a cons tru cção_de
vias ferreas .
E', pois, muito de esperar que a reforma agri co.la, qu e
ora propagam os ; e -qtíe a funda ção de fazendas centraes de
café e de a lgodão e de engen hos cen traes de assucar, sejam
destinalhts a recom pen~a r os labo n osos e sob. rios lav rado res
parahybanos dos sac rificios, que ha secttlos faze m improd u -
ctivam ente ! ....
VIII

Summario.- Applicação dos principias de centralisação agrico la e industrial á


producção do café.-Estudo das condições naturaes de cada provincia para esssa
cultura (contlnuando). -Provincia de Pernambuco.-Estudo de dous trêchos im-
portafltes do seu inquerito.- Subdivisão da grande propriedade rural.-Enunciajo
do grave problema humanitario do futuro.----Possibilidade âe uma vantajosa
exploração rural sobre a base da subdivisão do solo. ----A centralisação agrícola
resolve plenamente o problema.

A provincia de Pernambuco occupa no quadro geral pa


exportação do Imperio um lugar müito clistincto; _n o
exercicio de 1872-1873, foi sim ultaneamente a primeira na
exportação do algodão, do assucar e da aguardente ! '
Na exportação do café occupoü o quinto lu&a r com a
insignificante quota de 3,131 kilogram1mis.
Basta lembrar estes dados estati~ticos ·para dem,onstrar1 á
ultima evidencia, a necessidade de ampliar a cultura do café
em todas as s~ rras dessa importante província.
Pernambuco respondeu muito deficientemente ao \nque-
rito sobre o estado da lavourn, ordenado pelo aviso~circular dó
Mini5terio da fazenda de 18 de Outubro de 1873; sua
resposta contrasta tristem ente ao lado do precioso documento
enviado pela província da Bahia.
Ha, no emtanto, neste d,)cumento dous ·trechos, que
merecem especia l menção neste escripto :
''Em Pernamb uc.o, - diz o re lato ri o do inspecto r da alfan-
dega, o Exm. Sr. D'r. Fabio Alexandrino de Carva lh o 'R eis,
a propriedade ru sti ca tende a fracciona r-se de m ais em mais
por effeito do n"s~,, systema el e ·µa rtilhas entre h erd eiros e da
dirrÍinuição da escrava tura. E, se é certo qne o braço
escravo va i sendo substituído pelo braço livre com proveito
- ria lavoura, não é menus certo que o fraccionamento da pro-
. priedade tem d e a ug m entar os gastos ela producção, augmen-
.tanclo ao m es mo tempo ,t in:períeição da c ultu ra e do
fabrico .
''0 engenho de canna s6 é proclu ctivo quando m ontado
em ponto grande e com largos meios para adquirir machinas
e apparelhos dispendiosos, qu e são_ efficazes para rotear e
fabricar co m perfeição; puis, alé m de ser de primeira intuição
a ecunomia _Lia gra,nd e culLura e m relação á pequena, quanto
aus gastos da prod ucção, está demonstrado qu e os apparellws
moe.lemos tiram -de u111<t mesrpa porção de cann.is muito
maior qu antidad e de ass ucar de melhor qualidac.Je duq ue os
incompletos de que ai nd,1 usam os."
A primeira y_uestão, suscitad,t por este trecho, é a da
subdivisão da grande propriedade.
Mas essa subdivisão é um curollari u infallivel da suprema
lei do progresso -t111i versa l.
"Le probléme de l'm:emi·, disse um grande pensado r,
est. de _ía{re partager à l'zmiver sité ce qui n'est que le par/age
du pd1/ nombre.
"Distribu ír po r todos esse bem esta r, que o utr'ora era
reservado a mui to poucos, eis o grande pru bl ema do futuro."
Q ue um irlnão herda sse, por intciru, a propriedade ter-
t i Lori,11, e que os out ros fica ssem 11,1 111 ise ria, o u fossem
parasitar na tlie ucracia , nu militari smo, l>ll 11a burocracia, era
.' evi den te m ente gu Lhici smu atruz : morreu 11a n oite, · ·mais
lui11in osa do qu e qualquer dia, de 4 de Ag,,stu d·e 1789; ha
quasi roo annc,s : é impossível faz ei-o resuscitar hoje perante
o s;;:culo actual !
Que um sú hom em· possuísse 2 0 legua s quaclrada.s de
. .
tenas e 3,000 de seus semelhantes, foi passivei em tempos de
barbaria e de obscurantismo ; mas evidentemente e-ra um
facto monstruoso, quer sob o ponto de vista-economico, quer
sob o ponto de .vista social !
A segunda .questão :' - a possz"bilidade de uma exploraçãó
lucrativa e progressista ao lado da subdivisão da propriedade
terniorzal - é perfeitamente resolvidá pelo principio da
centralisação agricola.
Um engenho central necessitá de 12,000 toneladas de
canna de assucar por anno : poüco lhe i·mporta que essas
12,000 toneladas lhe sejam fornecidas por 12 lavradores a
I, ooo toneladas cada um ou por 24 a 500 toneladas cada um !
E' preferi:vel o maior numero para evitar conloios e con-
cordatas de alta de preço.
A fazenda central necessita de 200 toneladas de café
em cereja por dia : é lhe, por certo, indifferente que esse
fornecimento lhe seja feito por dous lavradores a roo tone 0 .
]adas cada um, ou por vinte lavradores a 10 toneladas
cada um !
Em qualquer das hypotheses, o maior numero de pro-
ductores trará as innumeras v,tntagens da cóncurrenda, é im-
possibilitará os caprichos e as frnudes do monopolio !
Não escapou esta solução ao digno inspector da alfandega
de Pernambuco; _ elle disse:
''Estas sociedades (as sociedades anony-mas _para a cmtra-
lisação das explorações agrzi:olas) faci!i~ariam, especialmente
qu,into á industria assucareira, a cultura e fabrico em grande
escala, emµr'egando machinas e apparelhos dispendio~os, -
directures babeis e praticos, com a grande vantagem de con-
serv:u perpetuamente conce1~trada a - exploração, com menor
despeza e maior producção relativa, dividindo ao mesmo
tempo a propriedade territorial, e aplainando as difficuldades
das parti lhas por · meio das acções transferi veis. Para cóu-
seguir-se este desideralum basta que o governo abra mão da
tutela, que lhe deu a lei de 22 de Ag0sto -de 1860; pois não
vejo razão para que inspirem maior receio essas companhias,
--:-- 66 -
que funccionam sobre o regímen da publicidade, do que a
_industria particular, que vive nas sombras e muitas vezes
occulta os seus negocios para illudir o povo."
~ reforma dessa lei de 2 2 de Agcisto de 1860 é uma das
necessidades mais urgentes da industria agi-ico la, manufac-
, tureira e com mercial do Brazil.
Essa lei com os seus infinitos regulamentos é um mons-
truoso p?..rto da monomania governamental . neste paiz ;
subsiste desgraçadamente ha 14 annos pela desidi_a geral, com
que taes assumptos são entre n6s tratados !
E-m occasião mais opportuna occupar-nos-hemos muito
detidamente_de lavar esta nodoa d~ ·1egislaçio brazileira !
IX.

Surnmario . - Applicaçãn dos principios de cei:itralisação agricola e industrial á


producção do café. - Estudo das cond_ições naturaes de cada província p a ra es~a
cllltura (cÓ1ltimta11do) -Provinvi:::.de Alagôas .-Excellentes condições para receber
os beneficias da centralisação agricola e indust~ial.- Cultura do café nas ·collinas do
Alto-lVlundahú -Provincia deSergipe.-Serra de Itabaiana, rica àe minas.de salitre
e adequada á cultura do café .- Provincia da Bahia - A que melhor respondeu ao
inquerito - O esclavagismo apanhado em flagrante contradicção - Falta de capi-
taes . - Falta de braços -Interpretação real.- Esterilisação do paiz peio monopolio
governani.enlal - Prodigios de riqueza natural que possue· a provinéia da Bahia . ....!'..
Importancia e ·variedade das suas pro<lucções - O que se deve esperar da appli-
cação dos novos principias de centralisação agricola e industrial á vastissima
prnvincia ela Bahir.

A bel la provincia das Alagôas, graças á garantia de juros,


concedida pelo governo imperial ao seu caminho de ferro
central de Jaraguá a Maceió e á Imperatriz, pe'lo valle do
Mundahú, a~ha-se em excellentes condições para receber os ·
beneficiQs da centralisação agricola, applicada aos grandes
productos - o café, o algodão e o assucar.
As serras, que bordão as nascentes do Mundahú; são -
excellentes para a cultura do café. Em Guaranhuns o clima
é mais frio do que nas serras da provincia do Rio de Janeiro:
ahi já se colhe excellente café.
A presidencia da provincia das Alagôas e os e~prezarios
do caminho de ferro central_devem mandar buscar ao Egypto
sementes do verdadeiro café de Moka, da Nubia e da Abyssinà,
e µromover a cultura desse preciogo prciducto nas collinas - do ~
Alto-Muncl::thú.
68 -

Em dous ou tres annos, exactamente no- tempo .neces-


sario para a construcção do caminho de ferro central, estarão
estes caféeiros fr uctificando, e dando á provincia e a essa
empreza Lmais _uma fonte de riqueza e de prosperidade.
E' inconvenientissimo, sob todos os pontos de ,vista, que
uma provincia, <lutada de excellentes condições naturaes
para a cultura de um sem-nu mero de prncl uctos, se restrinja
á critica expo rtação do alrodão e do a,sucar '.
A província de Sergipe tem uma semelhança de irmã
com~ provincia ,dasAlagôas: dir-se-hia que o rio S. Francisco
chega ao Ocean·o Atlantico, conduzindo em cada mã'o uma
dessas duas :filhas.
Sômente Alagôas está mais avançada na estrada do
progresso: Alagôas já' vio a locomotiva, e - Sergipe ainda
espera ·por esse motor do progresso.
Por_ que- não se emprehende o caminho de ferro de
Aracajú ao Joazeiro, ou, rnelhor,_á Casa-Nova, µelo valle do
rio Vasa-Barris?
A lei de 24 de Setembro de 1873 não foi feit ,l p,lrn
Sergipe?
Não pertence esta provincia á fa mil ia brazileira? Não é
de justiça que a ri1ài-patria lhe estenda tambem a mão e a
conduza até o portico do progresso?
Esse ca,_minho de fe rro de Aracajú á Casa-Nova, no alto
S. Francisco, vai servir, exactamente no mei,) do seu percurso,
a fertil lissima serra de Itabaiana, rica de minas de salitre.
Esta serra produz o caté prodigiosamente.
Com esse caminho de' ferro, e segu ind o o conselho dado
á sua irm ã Alagôas, a provincia de Sergipe consegu-iria in-
troduzir na sua exportação mais dous ricos artigos: o café e
o salitre.
Foi a província da Bahia quem melhor respondeu ao
inqu erito ordenado pelo M inisterio da fazenda.
Oxalá que seja tambem a infeliz mai da fami li a brazi-
leira. a que mais aproveite com as· reformas, que esse precioso
inqueri to vai suscitar!
Tociasas grancies questões: ·
-,- Falta cie instrucção technica;
- Éscassez de capitaes;
- Cuencia de braços ;
- Falta ele vias cie communicação; ",.,_
. - Exageração dos impostos de .exportrição;
forão, mais ou menos· felizmente, mas sempre acurn1amente,
discutidas neste escripto, que irrecusavelmente · marca urna
nova época na historia do trab.tlho n ,J B1·azil.
Só p.enalisa ao philantrópo vêr, de v~z ení quahdo, ahi
apparecer . um desabâfo esclavagis ta, como sóe. ,e m lago tran-
quillo , s~ugir bolhas de gazes m epbiticos das materias em pu-
trefacção no fundo d'agua ! ! . ..
No ·em tanto, esse inqueri to é a prova viva d e que n esêf,l-
vagisrno é o anjo máo, é a causa efficiente de tódas -as des-
graças que•affligem a Bahia.
Vós d izieis: ." ha esiassez 1le capita_PS.. "
O inquerito respondeu: ha 200, o 'oo:000$ ; im1'nobilisa dos
na industria rural l l ...
Vós dizieis: "hafalta de braros."
A estatística respondeu : ha 103,000 escravos... além de
500,000 indigenas no valle do S. Francisco !
- Ha, sim, falta, e, desgraçadamente, muita falta de
instrucção technica, ao mesmo tempo que super,~bundão os
talentos e as. aptidões para todas as sciencias e para: toi'i as ·as
profissões !
- Ha, sim, falta de vias de comrnunicaçãó. quando o
Creador deu á provincia da fülhia um !,torai ·com excellentes
portos no Oceano Athntico, e parallelamente, a 80_leguas,
um outro litoral interno, no Mecliterraneo b1:azileiro,. no alto
S. Francisco, com um sem-numero de portos fluviaes !
- Ha, sim, exageiração de impostos, porque este paiz
tem sido administrado na ignorancia dos santos principias eia
Sciencia Ecunornica, matando-se a iniciativa individual, no seu
berço; suffocando-se o espirita ele associação nas suas mais
tenues manifestações _; aniquilando-se, emfim, todas as a,,pi-
,- 70
rações grandiosas, tanto nas sciencias e nas artes, como na
agricultura, como na industria, e como no commercio ! ! ! •.•
Uma oligarchia eslul ta red uzio-este paiz fertilíssimo a um
esteril deserto, com uma s6 arvore - a mancenilha politica
· - o monopolio governamental ! ! ...

A província da Bahia tem elementos de riqueza, como re-


gião nenhuma sobre o globo: tem diamantes, tem ouro, tein
prata, tem cai>vão de pedra, tem schistos betuminosos, tem
petroleo, tem salitre; a:Jezar de tudo quanto se tem feito para
aniquila-la,-_ enviou ao m ercado universal, ri.o exercício finan-
ceiro de 1872-c1873:
50,127,659 kilogrammas de assucar ;
14,583 , 408 ,, fum o;
3,990,448
" ,, café ; ( 1)
1,479,804
" algodão;
1,187,562 cacáo ! !
Em tão abénçoado solo;--que prodígios de riqueza e de
prosperidade não produziráõ a iniciativa individual e o espírito
de associação em tod,ls as industrias, e principalmente na in-
dustria agrícola ? !

(r] T odo o va!le do S . Francisco produz excellente café da variedade, que nns mer-
~ call~s europeus denominão "Moka" Em S Felippe 1 junto da l\'larn.gogipe, bem perto
do htoral, nessa zona que os Bahianos de nomi11âo ·• Reconcavo" dá um café amare i lo
muito superior ao proveniente de Botucatú, no interior da prnvin cia de S Paulo ~
A~ cer~jas do cãfé amarello de S Fe lippe são elipsoidat.s e tem 15 a 20 millimetros,
no maior d1ametro
· Fica ainda por decidir,'pela analyse chimica, si esse café amarello é mais rico ou mais
p<.1 bre e,11 principias ac tivos do que o café verme lho, e si realmente consÜltle uma va-
ricda_de no"Ya, ou é apena s uma degeneração do café, accl im ado ha muitos annos no
Bra~d [V ide o Annexo ,1. r - Parecer da Sociedade c!e Acclimação sobre o café ama-
rlelo de Botucatú e do General lvlorim 1-
X.

Surnrr1ario.-Applicação don p1in c1p1os ele ceetral isação agricola e industrial á


producção do café.-Estudo das condições naturaes de cada proviucia para sua cul-
tura (continua_udo). Prnvincia elo Espirito-Santo.-Tem j á por· principal producto o
café.-Carece urgentemente de commercio directo p::tra a. Europa e para os Estados-
Unidos. -Provincia. do Rio de Janeiro. -A primeira na prod ucção do c 1fê.-A que
mais lucrará com as reformas em disc ussão -Demo nstração com algarismos dos'
beneficies p·o r vir.-Estudo sobre as companhias de comm~rcio de café.-!Jevem
emprehender mais activamente a reforma d::i.s obsoletas· praticas de preparar, vender
e exportar n café - -Emprego de machinas e app·n elhos movidos a vapor _nessas
operações -O barbaro systema de provar as saccas de café -Demonstração da
inconveniencia das altas artific iaes -Conselhos dos mestres da Sciencia Economica .
-Demonstração pratica n a especialidade do' ~01nmercio db café -Qual deve ser.o
verdadeiro desideratu.111, dos agricuitores e dus negociantes de café.-Augmentar em
t odo o mundo o numero de consumidore<. de café e desenvolver no Rraíil ~ sua
potenc ia productiva .

A provincia do Espírito-Santo tem já por principal pro-


dncto agricola o café.
No anno de 1872, .exportou esta província 6,351,729
kilogram. de café, com o valor official de 2,532:081$650 (r).
· No emtanto, a pro.vincia do Espírito-Santo nfio figura n o
quadro geral da exportação do café brazileiro com um só
kilogramma ! !
-Não tem o Espirito-Santo .o excellente porto da Victoria?!
Porque não ha de exportar CÍ ireclamente o seu café parn a
Europa e para os Estados-Unidos ?
(1) Vide os quadros estatisticos annexos ao relatorio dh conunissão nomeada
pela presidencia do Espirita-Santo para responder ao inquerito do Ministerio da fazenda
so bre o estado da lavoura - Typ Nacional, 1874
- 72 -

Não é verdadeiramente iniq uo a rrancar dfs infelizes


agricultores dessa pobre, província todas as despezas de trans-
porte do Rio. de Ja neiro, de armazenagens; de com missões e
de mais alcavalas a té o momento da exportação ? ·
Se em um paiz, como este, sel)l vias de communicação,
a rotina fiscal obTiga os pro<luctos da (nreliz lavoura a idas e
vindas, sem necessidad e alguma, é que na verdade, quer,
de plano ou -por desidia, levar ao ex tremo da penuria us prin-
cipaes agentes da riqueza nac ional !
Oxalá qt~e, quanto a ntes, um caminho d e ferru, ligando
n excellente por to <la Victoria ao interim da província ele
Minas Geraes, pelo valle do Riu-Doce; o commercio clirecto
e· os Luns principias d e centralisaçãq ag ricola e industrial,
realizem plenamente a e mancipaçiw cb.mmercial da fertilís-
sima proví ncia do Espírito-Santo, e a colloquem entre as
mai~ prosperas desta Nação !
A província Jo Riu de Jan eiro é a primeira productora
do café cio lm perio.
A expo1:tação do an 11 0 de 1867 fo i a m aio r de todas:
a-lcançou 6 importante algarismo de 2,659 , 753 saccas de 5
arrobas uu mais de 194,000 toneladas metricas de café !
Em relação a totlo o Imperio a max ima colheita fui a
exportada no ·exercício financeiro de 1868 ,< 1869, qu e alrnn-
· çou a 228,041,051 kilogrammas ! ·
· Por isso mesmo 4ue a provi ncia tio Rio de Jan ei ro é a
mais importante productora de café, é evid entemente nella
que o_s novos µr inci pios de centralisaçào agrícola e industria l
· tem de produzir os mais imµortanutnt e~ res ultados.
Para dar uma idéa da imµurt an cia dos beneficias a
espe rar desta reformã, Lasta le m brar que, em Agusto de 1874,
10 kilugrnmmas de café eram assjm cot,tdus :
1. 0 D e café lavado de . . ..... ........ . . 6$000 a 7$500
De cate suµerior e finn, de ....... . . 7$100 a 7$500
D e café- 1ª boa, de. ..... . . . . . . . 6$800 a 6$950
De cale - 1 ª reg ular, de ... ....... . ó$550 a 6$700
De café - 1ª ordinaria, de ....... . 5$600 a 5$900
- Z3
Assim, pois, os preços do café variam desde 5$600 até
7$500, isto é, de 1$900 em 10 kilogrammas. :
Orn, é geralmente sabido que é o modo ·de p'reparar que
1
dá o valor ao .café brazileiro.
O café, cuidadosamente limpo e jQeirado, para ter os
grãos todos do mesmo tamanho ; brunido, depois de ter sido
preparado, descascado ou despolpado, nas mdhores machinas,
obtem sempre o maximo preço; quer provenlrn. de · Serra-
abaixo e vá figurar com os títulos de Moka, Martinzqne,
Guadeloupe, etc. , nos rn E!rcados francezes ; 'quer provenhà de -
Serra-acinia, e vá ser vendido como Crylon plantation nos
mercados inglezes.
Ora, as fazendas centraes tomarão o_café dos péquenos
lavradores em cereja, e lhe darão o maximo preço, por meio
das melhores machinas e dos melhores processos de pre-
paração conhecidos.
Supponhamos que dos ·150, 000, 0 00 Jzilogram·m as de
·café, que se pócle consi.d erar a ,c olh éita média da província
do Rio de Janeiro, 50, ooo, 600 kilogram mas tão s6me nte
sejam preparados pelas fazendas centraes, e que ellas consigam
dar pm accrescimo de valor de 1$500 em 10 ki'l-ogrammas ou
de 15 c , réis em kilogran,ma : ter-se-ha para os 50 milhões de
kilogramm às um accrescirno de 7,500:000$0 00 !
Assim, pois, conservadas- todas _as outras circumstancias,
sem conta r a acção benefica vastissima das-fazendas centraes
sobre todos os ramos da cultura do café, bastará que ellas
preparem um terço da colhei_ta média actual da provincia tio
Rio de Janeiro, para que dêm aos seus agricultores um
accrescimo de renda annual nunca inferior a 7, 500:000$000 ! !
Ultimamente fondáral)1-se, no Rio de Janeiro, -trés com-
panhias para o commercio de café :
- A companhia Uniãd Agrzcda, CompanJtia lllfufua de
Lavradores de Ca/é, com escriptorio á rua da Sande n, 43.
Pelos seus estatutos, approvados por decreto n . 5, 2 r 5 do r
de Feveteiro de r874, p6de rece_ber café d~s lavradbre,
accionistas ou não, pa;·a ensaccar e vender em leilão publ'ico,
- 74-
semanal ou quinzenal ; e comprar gene.ros para os lavradores,
expedindo-os para ·o interior, sem commissão de compra.
A compan-hir Comrmrcio de Ca/é, com éscriptorio á
rua dos Benerlictih.os n. 6. Compra e vende café.
A companhia Lavoura e Commerdo, com escriptorio na
praça Vinte Oito de Setembro (largo da Prainha) n . 9.
Compra e vende café, sal e, por excepção, outros gene ros.
.Estas companhias representam um progresso real no
commercio do café: é a applicaç1j,o do fertilíssimo principio
da associação ao mais imp:-)1tante artigo de exportação do
Imperio.
No emtanto, mesmo no limitado circu lo de sua acção,
ainda. muito resta a fazer. Nenhuma dessas companhias
ainda estabeleceu machinismos e apparelhos ( 1) para escolher,
limpar, joeirar, brnnir e ensaccar o café.
' Continuam a fazer este serviço muito rotineiramente, _
a braço de escravos, escanda-lisando o estrangeiro, que visita
o Rio de Janeiro, com scenas de barbaria, que não podem
mais ser vistas, sem muíta dôr, nó anno de 1874 !
Bastava qne o governo imperial tivesse imposto, na ap-
provação dos estatutos destas companhias, a obrigação, ge ral
e commum a outras companhias, de não possuir escravos
e de só e·m pregar braços livres. para ter conseguido limpar, o
Rio de J aneiro dessas immu-ndas tarimbas de escravos, no
centro da capital ; destes. em poeirad<is e velhos armazens !
Teria assim obrigado estas companhias a reformar um
systema ' de trabalho, que não é mais do seculo do vapo r e
dá electricidade ! !
E' tambem rotineiro e barbaro o systema de provar o
café, furando as saccas e lastrando as ruas com esse precioso
fructo. Porque as saccas de café não são numeradas e mar-
cadas com o nome do exportador? Não é s~1fficiente esta
garantia da qualidade do producto? Furamos nós os fardos

{1) Ha no Rio de Janeiro apenas dous estabe lecimentos particulares para


brunir o café, movidos a vapor; Os apparelhos são, porém, ainda muito imperfeitos, e
dão uma fraca idéa do que a indnstria moderna p6de fazer nesta especialidade.
- 75
de algodão ou de canha~aço, que compramos ás fabricas
i nglezas?
E' preciso que o progresso penetre em todas as praticas
commerciaes e agrícolas. Têr telegraphos e locomotivas,
lavrando a terra e exportando os seus prod uctos, como ha cein
annos atraz, é faze r, pel0 menos, um papel ridiculo perante o
mundo civi lisado, que hoje ouve cada uma das nossas pala-
vras, vê cada um de nossos actos, e sente cada uma de
. nossas pulsações, sob a acção magica da electricidadé !...
Logo nos primeiros dias da propaganda para 01ganisação
das companhias de commercio de café, n6s tivemos occasião
de manifestar graves receios de que essa inn_ovação viesse
produzir no Rio de Janeiro, como na Hollanda, no systema
dos leilões de café de Rotterdam, altas artifici-aes e crises
incessantes no cornmercio deste precioso producto.
A ultima e gravíssim a crise, occorrida de Março e Junho
de 1874, no commercio do café do Rio de Janeiro, de-
monstrou que os nossos recei os eram justos e muito fundados.
Infelizmente os negociantes de todos o·s paizes do mundo
têm uma tendencia invencível para produzirem altas artificiaes,
e consti tu írem monopolios, ainda que s6 durem 3 ou 4 dias,
duas ou tres semanas ! !
A Sciencia Economica lhes demonstra, todos os dias,
quão prejudicial é ess~ vicio, herdado dos tempos, em que
não havia nem telegrapho nem vapor !
Na especialidade do cornmercio de ca(é, a cada alta
artificial deste producto corresponde no mercado universal
maior entrada de fraudulenta chicorea e dos outros artigo~,
que podem, mais ou menos, substituir e supprir o café.
Em cada alta de preço do café, este producto perde um
certo· numero de cunsumidores; quando o preço baixa, quasi
sempre s6 uma parte insignificante dos antigos consumidores
volta ao uso do café.
Ha, portanto, sempre perda de consumidores, e conse-
quentemente, baixa real do producto em cada alta artificial,
que se promove e se consegue realizar !
76 -
O interesse, verdadei1'0 e real dos negociantes de café
consiste em tornar este producto ·de consumo tão úniversa)
como o trigc,. Encarecei-o artificialmente é restringir o
numero de consumidores ; tornai-o um artigo de luxo, de
consumo exclus_ivo s6 dos ricos e abastarlos, e, portanto, de -
um pec;iueno numero; porqne infelizmente o maior numero
é pobre !
O escôpo, _que devem prosegm_r torlos, agricultores e
commerciantes, é augm~ntar no exterior o numero de con-
sumidores e no interior a potencia productiva.
'-La puissance productive, disse Michel Chevalier, se
revele par le bon marché des produits et dérive elle - même
dü s~yoir et du capital, sous l'im pulsion de ia lzberté
humaine appliquét à !'industrie."
E', pois, necessario applicar á: industri·a ela producção e
preparação do café a Nberdade humana, o primeiro e o mais
· energico agente de progresso ; clar sciencia e capital á -essa
indústria, afim de qüe ella augmente a sua po!enáa producfiva1
e possa concorrer, e.fficaz e acti vamente, para a riqueza e
prosperidade do Brazil, e, simultaneamente, augmentar a·
somma de bem-estar de toda a humanidade.
Nesse dia, realizadas plenamente estas reformas, a in-
dustria da producção e da preparação do café brazileiro não
terá superior em parte alguma do mundçi.
XI.

Sun:ima.rio. - Applicação dos principies de centc-alisação agricola e industrial á


producção do café.-Estudo das condições naturaes de cadã província pai-a essa
cultura (continuau:do). -Provi,~cia de Nlinas-Geraes.-Predição de S t. Hilai:re.- -
Ne·c essidade úrgente de fundar a industria manufactureira ness.â provincia, coração du
lmperio .- Corrêa PatTlplona, o fundador da industria manufactureira do algodão
em 1\1inas-Geraes.- Fundação da industria de ferro do algodãoi da lã e da seda
para abastecer o interior da America do S ul. -Provincia de S Paul~.~Na vangu ~rda
de todo oprogres::.o no Brazil. - S. Paulo foi a primeira provincia ~ empregar o arado
na cultura do café.-Testemunho do inquerito sobre o estado da lavoura, ordenado
pelo ministerio da fazenda. - Dados praticos sobre o emprego do ara do na
cultura · do café. -Exemplo de uma esplend ida victoria sobrê a rotina da
lavou ra-O monumento agricola de Valenciennes.- Inscripção para o monumento
que se deverá erigir em Limeira.

Para a província de Minas-Geraes não é tão ·sómente


a applicação dos princípios de centralisação agricola, que
devemos pedir, para que o valle do Rio Grande exporte mais
café do que o valle do PcHahyba do Sul, e para que os im-
mensos valles do Sapucahy e do Rio-Verde abasteçam de
fumo o mundo inteiro!
Não: é preciso pedir mais.
E ' preciso fundar dfsde já e, quanto a1_1tes, a industria
.manufactureira sob re largas bases na vastissima provinda de
Mi nas Geraes !
St. Hilaire disse :
"S'zl . éxúte un pays qui jamais puzsse se passerdu res1e
du monde ce sera certaz'nemmt la province do Mzizas".

J,,
Isto não é um e;ogio: é uma pr,lphecia ! Para as
províncias mantrmas do Imperio p6de entrar em · discussão
que sej:-i. melhor ciu peiur enviar o assucar bruto para ser
refinado em Marselha, em Hamburgo ou em Liverpool ;
o algodão para ser fiado e tecido em Manchester ou em Rouen ;
a _lã para ser, fiada e tecida em Verviers o u na Covilhã ;
o fumo para. ser preparado em Bordeos ou, em Hamburgo ;
em uma s6 palavra, qualquer producto nacional para ser
ma-nufacturado e entregue ao consumo ~lém do Atlantico ;
mas, para a província de Minas Geraes, ninguem ousará
affi"rmar que o algodão, prodnzi<h no va ll e ·do Rio-Grande
deva subir e ·descer a alca.n tilada serra da Mantiqüeira ;
subir e descer a pittoresca Serra do Mar; embarcar no Rio de
Janeiro ; percorrer 3, ooo a 4, oo; milhas do Oceano
Atlantico, desembarcar em Liverpool ; subir ao planalto de
Manchester, par~ ser ahi man ufactu rado, e repetir depois a
mesma lopga e custosa viagem para vir vestir os sertanejos
dos confins ele Minas-Geraes !
Essa ve rdade tinha já com p.-ehenclido, ha cem annos•,
Corrêa Pamplona, o fundador da manufactura de algodão na
província de Minas!
Todos sabem a triste lenda desse primeiro balbuciar
da Liberdade no solo brazi leiro: todos sabem que foi
o quebramento dos teareti que trouxe a lnconjidenczizlf
Quando os desditosos ·patriotas, filhos do coração do
Brazil, escreveram o bello motte de Virgílio : Lzbértas qua
sera tamm-queriarn liberdade civi l e politiça e· liberdade
industrial !-
A liberdade e a z"ndustria, disse Theophilo Ottoni, digno
deséendente dos Mineiros de 1790, /em entre si uma filiacão
reciproca!
A Emancip,1çã9 civil e política do Brnzil fez-se em r 882 ;
a <emancipação industrial (r) quando se fará?

j 1 l Em França os producios brazileiros ainJa entram na classificação geral de


"pro.d uetos coloniases'' ' 1denrées colon iaies", ! !
- 79 -
- O que esperamos j:i::1.ra fundar. à gr~nde industria .ma-
nufactureira n'a provincia de Minas Geraes?
- Porque não manrlamos vir de Lowell, da gentil .filba
do Merrimack e da actividade yankee, mac.hinas para fütr e
tecer algodão ?
- Porque não mandamos vir de Verviers machinas de
tecer e fiar lã ?
- Porque não havemos de constituir em Minas Geraes
um centro industrial e m:rnufactureirn para dar produétos
de algodão, de lã, de seda e de ferro, aos hahitantes do
immensü planalto, que se estende da Serra da Mantiqueir(l.
até aos Andes?
Qnànta utopia!
Não ;-jámais !
Continuemos a manclar enterrar no Tamisa ,cinc0 a
seis mil contos de réis em monstruosos encouraçados !
Isto sim.
E' muito justo: é muito sabio : é muito prudente; ·
é muito reflectido ; é eminentemente pratico, e, snbretudo,
muito progressista e muito humanitario !
1 ,
Quanto aos Mineiros, podem perfeitamente contrnuar a
fi~r o algodão entre os dedos !
Desde r 790 que vivem muito bem assim
Nada de reformas precipitadas !
Industrialismo! Mercandlismo !
Que estas pestes, filhas dessa. insupportavel Republica
de _yankees, Jámazs penetrem nesta santa terra/. ..

E' geralmente sabido que a pro_vincia .de S. Paulo é a


segunda productora de café do Imperio; que poss ue .t~rras
de uma fertilidade espantosa para a _producção do café _; que
seus caminhos de ferro avançam ousadamente para· o inte-_
ri q_r do paiz, á procura destas terras do Araraquara, nas quaes
dizem que ha camadas de humus de um metro . de altura! ,
O que está, porém, menos vulgarisado é que, até nesta
especialidade, S. Pau lo tem uma grande gloria :
- 80 -

----'--"S. P áulo foi ·a /;rúneira provináa do Imperio a em -


pregar o arado iza cultura do café."
· A ro t:ina· esélavagista o usava aJfi rmar qu e era impossível
applicar o araqo ,em territs do B razil ?!
- O que não tem t•u sado affirmar a inquicl ade e ·a igno-
rancía ?!! . ..
A esses desatinos cio esclavag ismo respondeu assim o
inquerito da 'provincia ele S. Pau lo :
· "Parece ' fóra de d uvida q ue uma das ca usas de n1io ser
mais prospera a lavoura, é ainda o uso do antigo system a de
plantaçã0; tanto qLie nos municípios, em que já se trabal ha
. com as machinas e instrum entas. agrícolas te 111-se colhido in-
numeras vantagens ; po r exemplo, em L ·i múra, onde existem
cerca de 40 mar.húzas, movidas a vapor, e u1iz sem-uumero
de outras, que ·se movem por meio de agua e de animaes, e
qnde é comesinlzo , o -trabalho aratorio ; na grande e pequena
lavou1Yi."
Em Jul ho de 1868, o nosso amigo W illiam Vari Vleck
L idge rwood deu-nos a seg uin te nota sobre o emprego do
arado na província de S. Paulo, q ue n os ap ressamos a publi-
car n u jornal da Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional,
pan estimulo cios n ossos lavradores :
''0 Sr. Francisco Ign<1cio Amaral Lapa, fazendeiro em
Campinas, tin.ha um cafezal de 35 a nn us ; muitos dos g,tlhos
estavam já tão sec,cos qúe permittia a seus fam ul os utili sarem-
se d'elle com-o lenha.
''Lembrousse ele passar o arado por es te cafezal.
''Fel-o ousadamente, e::ortand u m esmo as raízes s uper-
ficiaes. A principio seccaram algumas fo lhas; mas, em breve,
o cafezal reven.l ece u brilban temen te, e deü uma belli ssima
colheita!
"Um o utro fazendeiro, o Sr. Joaquim Bonifacio d o
Amaral, tinha lambem un: cafezal muito velho, que só dava
uma colheita de tres e m tres a nnos ; passou por elle o arado
sem se importar de cortar as raízes s uperfic:iaes ; obteve dessa
a rte u ma colheita como em cafezal ue quinze annos !
- 81 -

"Não são menos di gnos de menção os optimos resultados,


obtidos pelo E xm. Sr. commendador José Verguefro, com o
emprego do arado, tanto nas plantações do algodão, como
nas de café." ·
Foi difficil e custosa, na França, a propaganda para a
cultura ela beterraba ; a rotina é infelizmente poderosa em
toda a parte do mundo, e, sobretudo, entre os pqvos da
raça latina !
Quando, em 1853 ; a cidade de Valencienn;s reconheceu
praticamente os beneficias, que lhe pred:ziam os agronomos,
construiu um arco de triumpho, não para celebrar batalhas,
mas para eternisar ~s ta grande victoria da paz e do tr~balho :
''Producção de trigo no districto
antes da fabricação do assucar ...... . 353,000 hectolitros
· 'Nume ro de bois ............ . 700
''Pro d ucção de trigo depois ela
industria do assucar . ,............. 421,000 hectolitros
"Numero de bois...... . ...... 11,500"
Mais tarde, quando o Brazil e o mundo estiverem mais
avançados; quando tiverem desapparecido os hediondos ídolos
do militarismo egoístico, atroz e nefando ; quando elles
forem tão ridículos para a humanidade ·como Roldão e
D. Quixote ; então Limeira construirá tambem o seu arco de
triumpho com a simples legenda:
''Limeira foi o primeiro município do Brazil que em-
pregou o arado na cultura do caré."
..

...
XII.

Summario.- Applicação dos princ1p1os de centralisação . agricola e industrial,·á


prqd ucção do café. - Estudo das condições naturaes de cada provinda para essa
cultura {continuando). - Província do Paraná. - Variedade de climas e túrenos.
- Possibilidade de innumeras producções.-Littoral no Oceano Atlantico.-vLittora~
no A lto Paraná. - Abertura do Alto Paraná ao commercio do mundo. - Fundação
de um porto franco junto á fóz do Iguassu.-Excellencia do clima do Paraná.-Salu- ,
bridade. - Fertilidade. - Attractivos para immigração. - Florestas 'de Ilex e de
A raucaria.- Reformas a introduzir no preparo e na exportação do matte.- Per-
tumar com Olea flagra1ts.- Empa_c otar artisticamente.- Exemplos dos progresso~
feitos pela industria portugueza depois da I': Exposição Universal de Londres de . .,
1851.-Demonstração com algarismos da importancia financeira dessas r-eformas.

Não faltam á provincia do Paraná terrenos proprios para


a cultura do café : o que falta ao Paraná, como a todo o
Brazil, são vias de communicação !
Na interessantíssima Estatis!z"ca do Commercío Maritzino
do Brazzl, o Dr. Sebastião Ferreira Soares grupou todos os
nossos artigos de exportação em 107 classes, que se decom-
poriam em _mais de de r,ooo especies !
Pois bem : p6de-se, sem hyperbole, affi.rmar que o
Paraná, por si s6, podia enviar ao mundo estas mil especies
cte artigos de exportação !
Além das especies, mencionadas nessa Estatistica, o
Paraná p6de produzir muitas ,outras, que ainda não figuram
no quadro da _exportação geral do Imperio: o trigo, a
cevada e a a vêa, por exemplo, . que dão no Paraná na razão de
1 para 20 a I para 80 ; a sêda, o vinho, o lupulo e todos os
outrÕs productos da Europa Meridional, que se acclim~rn
maravilhosamente no vastissimo pianalto de Curitiba.
O Paraná, como a provincia da Bahia, tem dous litto-
raes: um sobre o Oceano Atlantico, outro sobre o Alto
Paraná.
O Alto Paraná compete em riqueza~ naturaes com o
Alto S., Francisco.'
A commissão, encarreg-ada de demarcar os limites do
Brazil com o Paraguay, dirigida pelo Dr. Rufino Enéas
Gustavo Galvão, acaba de verificar que a navegação à vapor é
possível no Alto Paraná até muito perto da famos:i- Cascata de
Guayra, ou Salto das Sete Quédas.
· A' m.ontanle desta maravilhosa cascata, a navegação a
vapor foi, desde muito, posta em p~atica até a Colonia Itapura,
na fóz do Tieté, na pro"'.incia de S. Paulo, pelo vapor
Trama ndatahy.
- O que esperamos para abrir este soberbo rio ao com-
mercio do mundo ?
- Porque. não declaramos a franquia da navegação do
Alto Paraná'. ·a té á Cascata d·o Guayra? ·
Por-que não fundamos um porto fluvial franc0, livre de
todos os direitos aduaneiros, na fóz do Iguassú, nesta pre-
destinada sitqação, onde os jesuítas fundáram a cidade de
Santa Maria de lguassú, nma das mais prosperas da Republica
Theocratica de Guayra?
Lembremos-nos das innumeras immensas vantagens, que
trouxe ao Brazil a liberdade do Amazonas, e deixemos, de
uma vez para sempre, essa politica tímida, mesqninha, roti-
neira e tacanha, no interior e no exterior, que conserva o
mais gigantesco paiz do mundo amarrado fatalmente ao
rochedo da ignorancia e da rotina !
Infeliz Prometheo, victima innocente do monopolio
governamental! ! ! ...
85 -
Desapier1ad,1 Jove elos tempos hodiernos : - o gover-
nismo . ..
-Caucasci eterno do Progresso : - o erro . ..
O erro é ig;norancia quà ndo não sahE' : é -rotina quando
não quer :1.prender.
O Progresso é comn a Sciencia: - a amiga de todos na
sublime phrase ele Platão!
IIa-õt " yap tvLÁêV'7',; r/ E'nLôT17'µ1/
Na opinião dos engenheiros José e Francisco Ke!'Ier, (1)
que percorrêram quasi tocla a provinci:1. do PManá, explonui.cln
os rios Ivahy , Tibagy, P,uapan ema e Iguassú, a temperfltura
média anpual no planalto ele Coritiba é de 17º centigrad ós .
A temperatura média no verão é de 19° centígrados. A tem-
peratura méclia no inverno é de 14 º centígrados. São
temperaturas essas, em qne o corpo hum~no não sente nem
calor, nem frio ; mas sim uma sensação geral ele bem estar,
que convida á activiclacle e ao trabalho da intelligencia e d 0
corpo!
Deve ter siclo essa a temperatura do paraíso terre.s tre !
A província do Paraná é muito sactia.
O engenheiro Antonio Rebouças, de saudosa m,em_o ria,
atravessou, c::>m uma brigada exploradura de 30 a 40 homens,
os sertões de Palmeira a Guarapuava, -e de G1,1arapuava ao
Baixo Ivahy, 'sem ·ter necessidade de abrir CJ seu frasco
de quinino!
Nestas condições de clima, de salubridade e de fertilidade
a província do Paraná é a região predestinada para a iro- -
migração espontanea no Brnzil.
No dia, em que o Paraná tiver vias de communkação, os
i'tnmigrantes affiuirão para alli aos C(~lll mil, _como agora.
para os Estados Unidos.
A simples estrada ele rodagem da Graciosa tem feito im-
m1grar para o Paraná cc,lonos de todas as outras províncias
do lmperio !

1
(1) Vide relatorio da 2 ~ Exposição Nacional de 1866, vol. 1,._pag. 568 .
.-· ./"
86 -

Os mesmos engenheiros José e Francisco Keller dão, no


ctocumento _já citado, a seguinte nota, sobre a fertilidade das
terras do Paraná, . que de monstra, á toda a evidencia, o que os
ip1migrantes podem ahi aspir>:r:
" Um · capiLil de 7:000$, empregado na compra de um
terreno de. 4 hectares ( So geiras prussianas ou 8,264 braças
quadradas brazileiias), e em cercas, edificios, . instrumentos
agricolas e g,1do, cujo roteamento fosse feito por uma familia
çle 4 a 5 pesso,is, aptas p,tra toclo~o serviço de-lavoura, daria
( tomando por base os preços mais b,ti -,:os da venda dos pro-
cl uct,1s) um juro ele 15 a 16 % ( ! ! ), sustentando-se e
v~stindo a familia do lavrador com decencia. "
Est,l nota foi fornecida aos engenheiros José e Francisco
Keller pelo Sr. Kalkmann '< ·Javrador de grande pratica".
Orn o conflicto actual entre os la.vradores elo "West",
nos Estados-Unidos, e as companhias dos caminhos ·de ferro
te·rn demonstrado que, nessa região, reputada o .Eldorado dos
I11wzignrnte.r, a terra lavrada com os primorosos instrumentos
norte-americanos, não dá mais ele 5 ¼ % ! !
Proximamente um terço cio que se obtem pelos mais
simples processos no Paraná ! !
. - Que _quantidade de 1mmigrantes não terá o Paraná,
quando tiver vias ele coinmunicação e os proletários da Europa
· tiverem conhecimento destas verdades?! !
O Creador concedeu á província do Paraná floresta~ ( r)
im mensas ele Iüx-paraguaJ,i!nsis, herva-matte, e ele Araucana
brastliensú, ou pinho brazileiro.
Cumpre começar no Paraná por applicar os principias
de cernralisação agricola ao desenvolvimento progressivo
_destas duas im po rt.1ntissimas incl ustrias extractivas.
Tantu o rnatte, como a araucaria, não é exclusivo á
p;.ovincia do Paraná : está verificado que ha florestas de llex
desde o sul da Bahia ,tté u Rio Grande do Sul : e que ha

(r) Ha tambem no 1 vahy fl orestas de larangeiras, que sombrearão, em melhores


dias, os chal c ts d vs immigrantes, t::: lhes darão :i;nuitos meios de variar a alimentação
e de augmentar o seu bem estar!
- 87 -;-
florestas de Araucarzas ou de pinh eiros braz il ei rns, desci e a
serra do Picú até o Ii mice da região das fl ores tas n o Rio-
Grand e do Sul ! !
Estas florestas represen tam um capital incalculavel, ,..
dadiva do Creador á nação brazil eira, a qual espera vias <lé
communicação para entrar em ci'r cula çãà mercantil : são
como outras tantas minas de ouro e prata, de fe rro o u _d e
carvão de pedra, ainda µor explorar! !
E' para o Pcuaná, é para todo o imperin, uma questãçi
da maior importancia a in troclu cção do matte b;.azileiro n ~s
mercados da Europa e ci os Estados-Uniclus.
Durante a Exposição Brazileira, preparntoria da Exposiçãu
Universal de Pariz, ele 1867, o engenheiro Antonio Rebouças,
então representan te da 'provincia . do Euaná, fez os maiores
esforços n,J sentido de introdL1zir, n o mercado do Rio de
Janei r_o e nos m ercad os da Europa, o matte do Paraná.,
A propaga nda foi fe ta -com o malte, primorosamen-te
preparado pelo major Vicente Ferreira ela Luz, em s ua fazenda
de Bareguy ( ro kilom etros d.e Coritiba), e aco ndici onadó em
p equenos pacotes de libra ou ele 459 grammas ele peso, no
valor então ele 640 réis a libra.
Esse matte obteve do jury da Exposição Br·azileira
de 1866 uma nzed..zllza de prata: cons eguii;i, ultimamente, em
Vienna a unica medalha r/e progresso, concedi ela ao matte !
Em Pariz receb eram menção lzonrosa o m a lte do Parnná,
enviado pelos Srs. Firmino José dos Santos Lima e Manoel
José da Cunha Bittencourt.
No C,hile, inform ou, em d:Úa de 9 de No vembro, o
Consulado brazilciro, as marcas de matte, mais estimadas são
as de - Manoel Mir6 , José Miró de F re itas, Ildefonso e
G. J . M. , de Paranaguá.
Do Rio Grande ·do Sul a marca mai s esti mada é a de
Daisson, de S. Jeronymo .
O modo, porque a provincia do Paraná exporta o matte,
não está na altura da _civilisação européa. O matte em súrrão
de couro, p6de ser recebido, sem re·p ugnancia, pel os gatí.Ghos
- 88 -

d,, Rio da Prata: terá, porém, semµre um aspecto estranho,


repugnante e semi-br,rbaro nos mercados de Nova-York ou
Nova-Orleans, de Londres ou dl! Liverpool, do Havr e ou de
M,trselrm, de Hamburgo ou de Trieste !
O matte deve ir á Europa eleg,rntemente acondicionado
em pacotes de kilogramma, de Yz kilogramma, e ele ,¾ de
kilugramm,t, em caixinhas imit,tndo o chá.
E' muito aproveitavel a idéa s11ggerida, em Agosto
de 1874, µelo Dr. J. Cam i11li oá, de perfumar o matte com a
Olea flagrans (4) como os chinezes perfumam o chá.
O malte tem contr,t si a cleficiencia de l!zeina ou cafiina e
de oleos essenciaes.
A deficieucia ele cafeína, se é um senão como artigo de
guzu; é uma v,mtagem como artigo de hygiene; é, por isso,
que -o matte será sempre o cliá mais couveniente para as
moças, !-'ara as pessuas 111::rvosas e para os .convalecentes.
Os co11surnidores Jus µaiz e~ civilisa.dos exigem, presente-
mente, e 1i1 tudus os µroductos o bom e t1 bello.
Celeb remos, nc:sta opµortunidade, o µrogresso, que ha
f..:ito a industria ponugueza, no modu de acondiciohar os seus
geuerus alimenticiÜs, deµuis da primeira exposição universal de
Londres de 1851. Outr'orn os generos portuguezes eram
c:nviados em saccos, em barrilotes e em toscas caixas de pinho;
hoje vem aos nussos m ercados em latas, e m vidros, em caixinhas,
com rutulos , artísticos, dourados e chromolitliographacl os,
cu1110 ou tr' ura só eram acónJic ionadus us artigos de fantas ia
e de 111oda de Pariz.
Tudo isto significa : - .Progresso.
lm_itcemos estes bons exemplos , µreµaremus o matte com
u m es lllu esmero que os cl1inezes preparnm o chá: per-
fumemol-o de mudu a lisongear mais o olfato e o paladar
do cunsumidur : acundicionemo-Jo (S) artisticamente, e elle

[11 A "Olea flagrans" é uma lin da plantinha da familia das " Jasrninaceas '
com floresinhas brancas muito perfumadas. E' já LOmmum nos j ardins do l{io de
Janeiro com o nome de flôr do imperador ou de j asmim do imperador.
l 2J Não se deve esquecer qúe gastar um couro para envolver matte é um disparate
ec011omico. Em rigor talv e~ o involucro valha mais do que a mercadoria.
penetrar~ por toda a parte ; irá tonrnr logar mesmo na mesa
dos mais exigentes gourmets dtt boulevard des Capuànes.
Agora algarismos para dar uma solida base a estes
argumentos.
O Paraná expÕrtou no exercício financeiro de 1872 a _
r 873, segündo o relato rio do Ministerio da fazenda de 1874,
14,375,038 kilogrammas de herva-mfl,tte, no valor official i:Je
3,140:850$, ou no valor médio official dt; 219 réis por
kilogramma.
' · Bastava que o matte, preparado tal como aconsel)1amos,
adquirisse um valor official médio, não de 640 réis a libra,
como o matte apresentado na Exposição Brazíleira de _ r866.,
mas simplesmen!e de 519 réis, por kilogramma, para ter toda
a provincia .do Paraná um lucro de 300 réis, em kilogramma
ele berva-matte exportado; ou, ao todo, no exercício ·de
1872 a 1873, a importante somma de4,312:5r1$400.
QL1atro mil contos de réis ele Iu2ro Iiquiclo ! ! ... -.
.São prodigiosos beneficios economicos, como este, que
tqdas as pruvincias cio impe;·io têm de i'eceber cl<1 applicação,
devotada e activa, dos sãos p~·incipios da centralisação agricola -
e industrial aos seus productos agrícolas!
Os engenhos centraes, as ·fazend,ts centraes e· as fab1:icas
centraes ht o Je realizar, esperemos em Deus, todos estes
milagres ! ! ...
)
XIII.

Summarío.-Applicação dos principies de centralisação agricola e industrial á pro-


ducção do café.-Estudo das condições n~tura.es de cada provincia para esta cul,_
tura (continuando}.-Provincia de Santa Catharina.-Cultura da vinha e da seda. -
0

Condições da preferencia entre as diversas culturas.- Exemplo dos Estados de


Oeste da Republica Norte-Americana. - Considerações economicas sobre a cultura
da seda.-Beneficios da industria pastoril.-Provinçia do Rio Grande do Sul.- A
que exporti maior quantidade de productos "bovinos.-Reformas a introduzir.-C~l-
tura do café nos â istrictos mais quentes do Alto Uruguay.-0 militarismo des-
povo2ndo o Rio Grande do Sul .- Effeitos do recrutamento e da corrupção da
guarda nacional

Pena a província de Santa Catharina não é a cultura do


,café que devemos i:ecommendar, mas sim o desenvolvimento
da cultura da vinha e a producção da seda em grande escala. _
Na província de Santa Catharina, corno ·em todas as
outras, a primeira missão de uma boa reforma agricola é a es-
colha, entre os diversos artigos de producção, co nve nie ntes ao
clima, os ele menor peso e de menor volume e, simultanea-
mente, .J e maior valor mercantil.
De~te modo se conseguirá enriquecer os lavrado res · d0
in terio r, sem cahir no erro dos lavradores do Oeste dos Estados-
Uniclos, que são obrigados a queimar o milh o nas machi~as
a vapo r, na impossibi li dad e de exporta i-o pelos caminhos de
ferro, cujas ta rifas são, fata l e n ecessariame nte, a ltàs. Um ca-
minho de ferro, devemos repetil-o, aos nossos lavradores, é
92 -

das vias de communicação a mais aperfeiçoada ; mas é, por


isso mesmo, de dispendiosa cv11strucção e de muito caro
custeio. Não ha outro meio senão ter tarifas altas, que pos-
sam .pagar o custeio e remunerar os capitaes, immobilis:ldos
na construcção do caminho de ferro.
Ninguem espére c,iminhos de ferro gratuitos ou com
tarifas insignificantes : i~to é uma chimera, quando não é um
erro economico fatalíssimo, como no caso dos governos for-
çarein a reducção das tarifas; ou, que ainda é peior, se consti-
tuirem elles mesmos, com prejuizos evidentes, emprezari0s
unicos e monopolisadores da viação do paiz !
Esta é infelizmente a tendencia actual neste imperio !
Recommend,únos, muito .especialmente, a cultura-da seda,
· tanto á p.roviricia de Santa Catharina, como ás provincias de
Minas Geraes, Rio de Janeiro, S, Paulo e Rio Grande do Sul,
e, por loda a µarte, onde fôr possivel criar quer o Bombyx mon
ou bicho de seda da China e do Japão, seja a Sa!umua aurola,
que dá a seda nativa do Brazil.
A .seda constitue hoje a princiµa l riqueza da Lombardia.
Entre os anne~os do rehttorio do ministerio da Agricultura de
I 87 3 vem uma in,teressan te memoria · d0 Dr. Otto Linger,
enviado á exposição B.1cologica de Roveredo (Italia.)
Ahi se refere q_lle a seda do Brazil, tanto a do Bombyx
mon; como a do Satuntia aurola, foi avaliada em 40 a 50
francos; i4$ a 16$, a libra.
Mesmo o preço ele 14$ a libra é ainda 40 vezes maior do
que o do cafÉ, ao alto preço de 550 rs. a libra, ou r 1$200 pc)r
arroba.
A cu !tu ra da seda p6de ser feita por meninus, por
meninas, por mulheres e até por invalidos.
Póde ser a amoreira ou o rícino cullivado simultanea-
mente com quaesquer outros vegetaes, ex igindo muito pouco'
trà!)alho e· diminuto carital .
Tudo isto demonstra que a cultura da seda é um dos
grandes agentes para a ·organisção e prosperidade da demo-
·cracia rural.
- 93
Deve, pois, merecer a maior solicitude ele tt>dos aquelles,
que desejam sinceramente o progresso e o bem-estar das pqpu-
- )-' ·
lações ru raes. ·
A província de Sitnta Ca Llrnrina, qne po;sue exc@llerites
campos de criação, no plan,llto de Lagos, deve dar tambem a ·
maior attenção ao aperfeiç.iamenLo da industria pastoril.
A criação do gado é sempre uma çlas industrias ruraes
mais lt1 cratívas : é indi spensavel para o conforto do lavrador
e pâra um ' bom systema de afolhamento ou de cultura pelo
systema de rotação.
Sob o ponto de vista da chimica agrícola, a raça bovirnl
funcciona como uma ret,irta natural, que converte admiravel-
1i1ente a grama dos prac1os em fibrina e nos p;incipios azotados
e phosphorados, mais necessarios á alimentação_do hom em.
Os ossos queimados, além de terem muitas applicações
industriaes, dão excellente estrume para todos os vegetaes, que
necessitam de phosphato e de cal.
Nessa admiravel cadêa da criação e da reproducção que
fazia ao celebre Lavoisier di ✓.:er com razão : ·
'' Dans la nalure nen ne se crée: rim ne se per d pas."
Nessa admiravd cadeia, repetimos, em que cada si'!r é
alimento de mn outro, a ordem ✓.:oo l ogic,l cios Ruminantes é
incontestavelmente um dos é!os mais importantes .
E' por isso que · n ão cessaremos de aconselhar, não só á
província de Santa Catharina, como a todas as outra?, que têm
a felicidade de possuir campos _ de criação, a maior attenção e
os maiores desvelos para o desenvolvimento progressivo da
industria pastoril.

A província do Rio Gí·ande , :::p•c· -'- ·


Imperio na exportação dos produ iü(Jla ra
Segundo os dados estatisLicos, co · , relat
ministerio da fazenda de 1874, e • oi tou esta província n
exercício financeiro de 1872-1 873 :
'2c. "'
n r.l" rrf
-: ~...,;;;··-- ~
ºº~ '
- 94-

16,174,491 _kilogrammas de couros em cabello no


valor official de... 10,074:632$000

e 48_7,514 kilogrammas de ca-


bello e crina no
valor official de.... 494:085$000

Ao todo, 16,662,005 kilogrammas valen-


do officialmente .. . ......... . ..... : ro, 568:717$000

Não pouemos aconsellw.r nada de melhorá provincia do


Rio Grande do Sul do que promover devotadamente o aper-
feiçoamento da -industria pastoril e da preparação de todos os
prod uctos connexos .
Um calculo, analogo ao que fizemos para o matte do
Paraná, demonstraria o capital importantíssimo, que se fixaria
na província do Rio Grande do Sul, se, em lugar de exportar
os cuuros em cabello, os enviasse á Europa já curtidos pelos
processos mais aperfeiçoados.
O Dr. José de Saldanha ela Gama, no seu excellente
relatorio sobre a Botanica Applicada na Exposição Universal
de Vienna, em 1873, aconselha a importação do oleo de
betula, Oleum betulimmt ·o u Balsamum lzlhavicum para o cor-
tume dos couros.
E' com esse oleo, batido com gemmas de ovos, que os
Russos dão ao couro o perfume tão caractenst1co, que
distingue e dá alt0 preço ao couro da Russia. ·
Será talvez ,possível acclimar nas montanhas e nas
regiões mais frias de Minas e do Rio Grande do Su l a Betula
alba, que 1iruduz o precioso e perfumado oleo.
E ' mais um interessante problema a resolver pelas
Sociedades de· Acclimação, as quaes, . não cessaremos de
repetir, são uma das primeiras necessidades para o progressivo
desenvolvimento da Agricultura Nacional.
Concurrentemente com a ,industria pastoril, deve-se pro-
mover no Rio Grande cio Su l a cu ltura dos productos de
- 95 -
m ais a lto valo r elo sul da Eu ropa:-- a seda, o vin h ri :(1), o
lupulo, etc, etc. ·
.A província do Rio Grande do Su_L ' ex porta café. O
qu adro synoptico transc ripto n o art. 4" demonstra que elh
occupa · o o itavo lngar entre as províncias, que exportam
café para a E uropa e para os Es'tados U ni dos.
A ci.iltura do café se rá muito prod uc tiva na 'proví n ci a
do Rio Grande Jo Su l, nos district,1s mais qu entes, ribei-
rinhos do A lto Uruguay. e m cond içõ'es ;' de p oder enviar
economicamente este ri co prod ucto ás republicas do Prata
p ela via fluvial do Urnguay, hoje aperfeiçoada pelo ca1í1 inh o
ele ferro orien tal do Salto ele Santa Rosa, e pelo ca1minlio
de ferro a rgenti no da Concorclia a Federacion e· a lVIonte-
Caseros.
O inquerito sob re o estado ela lavoura na província º'2
Rio Gran-de do Sul revelou um facto gravíssimo. A Muni-
cipalidade de Uruguayana inform o u:
"Esta Camara folla em a bsoluto, (2 ) se m, querer fi1z er
recriminações, e inspira 0 se na expressão da _ve rdade; po rq ue
vê o Estado Oriental e a ·Província Argentina de Cornen!es
extensamente povoada de brazilezi·os, que na sua maioria al li se
refugiam, escapando ás tropelias, que .roffrc!m 110 seu paii .. l11vall{io
comsigo o producto do seu Ú·aballw e de sua riqueza. Uma pruva
evid ente do que diz. está em que aqu elles m esmo,s, q ue se em-
p regam no se rviço das estancias, esperam que a idade · us
ponha ao abrigo do duro serviço da guarda naáonal, pai:a
entregarem-se a sim ilhante trabalho. ''Estes braços, q ue de
''alguma fórma estão enriquecendo os paizes visinhos, p, ,de1üm
"entreter a pequena lavo ura do Mnnicipiu, que não é mais
"do que um tribufario cl'aq uellas regiões de procluctos· d'agri--
' 'cu ltura !!., "

. (1) O mumc1p10 de Santa Maria da Boca do Monte já. produz 250 pipas de
vinho e 50 pipas de aguardente de uva. (Vide o inquento sobre o ' estad(? da
lavoura, publicado pelo M inisterio da fazenda, pag. 108.)
[2) Vide a brochura, mandada publicar pelo Ministerio da Fazenda com o titulo
b1.f01 mações sob re o Estado da Lavoura a pg 102.
Attendd bem: cada uma destas tres phrases. é urna Lristis-
s·ima revelação, qu e n os inunda de vergo nha!!
-Brazi!eho,;, que ?e rifugfrmt n o Estado Oriental e em
Co rrie1Jtes ;
-Brazileiros, q.ue escapam ás tropelias, que soffrem em
sua terra natal ;
-Erazileiros, que levam com sigo o producto cio· se u
tra balh o e d.e sua riqu eza;
-Brazileiros tributarias (para .re allimentarem li) das Re-
publicas visinhas ! '. ...
N6s sabíamos que 1:1111 , system ,t adua nei ro, obsoleto e
absu rdo, mantinh a em Uruguayan:1 uni cont P.bando enorm e,
desenfreado!
Nós saGiam os que,, supri na ignorancia da nossa enfatuada
oligarc!iia, principalm ente em Sciencia Economica., povuava de
contrabandistas, el e bocaneiros e flilrnsteiros, o Alto-Uruguay,
v magestuso rio ( r ) que corre s,>lire ametl1ystas e cora linas,
creado por Deus para servir ao cum mercio e á prosperidade
dos predestinados habitantes desla deliciosa região!!
N6s sa bí amos que a Republica Argentina tinha dotado •O
.A ltl~-U ru guay com o caminlio ele f,.,rro de Concorclia a Federa-
cion; que a ·pobre Rep ublica Oriental rião lhe tinh a
ficado somen os, e havia construid o o caminho de fe rro cio
Salto a Santa Rosa.
E que au mesm,l tempo o miliurismn, enxe rtado a
_j'ur/ú;ri n :;,;te imp .o ri.l , se luvi.t 'celeb 1-i.,,td J no Alto Uruguay
bum b,trdeando Al vear ! ! ...
Nús sabíamos tudo isso ... e morrí amos de ·dôr ! !
E no emlanto nós ignorav,un os o acervo de mi serias,
q ue nos veiu revelar u inquerito SlJbre o estado da lavoura em
Uruguay,uu !
• Os al lemães ab,lll dunam Loclos os annos ·aosce m mil a
cara patri,1 : - a Germania - tão amada !

[x] Devem jazer, debaixo, das montanhas de pó, nos escuros archivos das nossas
Secretarias, os inte ressantissimo!- trabalhos, feitos pelo Dr Carlos Pereira Pinto de
1860 a 188opara a navegação a vapor d~ A lto-Uruguay ! ! '
- 97 -
Sab eis po rque atravessa m ( 1) m ~is de trez mi l milhas
de O ceano Atla ntico ?
- Sabeis po rqu e percorrem, po bres peregrinos, cente-
nares d e leg uas no Continente Norte-Am e ricano ?
V ão em busca du '' F ar- W esl " ; vii o em busca da
'' ternz ;,rometlida ", da terra '' L zi!r e ", - ond e .é '' pér mzttülo
viver sem ser obrigado a matar. ' '
N ós quere m os . . . Não: nós pl1a n tasia m os a im-
migração espon tanea, e m a nte mos n o B razil a ig i'eJa oflicial e
um milita rism o bast,t rdo e ri díc ulo! !
E, em loga r de im mig r.tção , vem os os brazil eiros que
emig ram , a ba ndon a m a m ãe- pat ri a, fu g indo ao recmta m ento
e á g ua rda n acional'! !
A g uarda nacio na l !- Q uem diri a que, em tã o p o uc, ,;;
annus, degen eraria em fatal arnrn da oligarc hi,t e d o go ve r-
ni sm o a instituição, d e moc ra tica e li vre, q u,: nossos µaes
fund ara m em 1831, d igna de vVashingto n e de L a faye tte? !. ..
- Qu e m d iria que essa n u b1 e iu sti t uição fica 1ü redL1 zi d a
a uma humilde peça desse hed icmclo mac hin isp10 el ei tornl , co m
o qua l o gove rnism o µ6de faze r, hoje o u a manha n , á vo n tade,
uma cam a ra unan im e ve rmelha, bra nca u u a marella, confu rme
lhe dé r o capricho ?
E o recruta men to ?
- Já viajc,stes pel o se rtão d o Bi-azi l ?
P e rg unta i aos filh os d u inte ri o r d u Marnnhã o, du P iauhy,
d o Ceará, da Pa rab yba, de Pern a mbu co, d,is Alagôas e da
Ba hia - o que é o recruta m enlo ?
A só pa la vra - R e- c ru- ta- m en- to :
- Os paes abandona m filh os e filh as;
- Os m a ridos a bando na m as mulh eres;
fl
(1) Lê~se no O Scie11 tifi.c American " de 2 z el e Agos to de 1874 -- ' ' D r. E. p _ S.
writes from Pskow {R ussia) to in form onr readers that the l\ilen no:1 tites, who are com ing
to th is country in such large numbers, are not leav ing home on account ofany rel ig ious
in to lerance, but merely to a.voz'd comjndsory mi/z'tary service, from w hich the y were
exempt til! the e mancipations of th e serf:i abolished the inequality ! "
Esta pobre g ente fog e da Russia para os Estados- U nidos e fica simul taneamente
livre do militarismo e da ig rej a offi cial ! ! .
Ah! Se houvesse uma ponte sobre o Oceano Atlantico os reis da Europa em breve
teriam ele ir a g uerra co:., suas raposas e com se us j ava lis ! !
-Os filhos abandonam as mães ;
-Os 1;v1:adores abandonam as colheitas;
Todos fogem para as grotas, para os mattos mais cerrados,
para os picos das montanhas mais inacessiveis !
E então começa uma verdadeira caçada, ,a fuzil e a cães,
como outr'ora, antes ele Charles Sumner, de Harri~t Beecher
Stowe e de Abraham Lincoln, se caçavam escravos fugidos nos
pantanos do Mississipi ! ! : ..
Não são senhores perseguindo escravos!
São homens livres perseguindo homens livres!
São brazileiros caçando brazileiros !
São irmãos caçando irmãos ! !
Dizei-nos sinceramente : - não é, na realidade, uma
phantasia; uma utopia, uma chiméra, uma loucura rematada
que um paiz, onde se dão taes horrores, pretenda ter im-
migração espontanea? ! !
XIV.

Summario.-Applicação dos prmc1p10s de centralisação agrico1a · e industrial .á


producção âo café.-Estudo das condições naiuraes de cada provincia para essa
cuitura (Continuaudo).-Provincia de Goyaz.-Seu abatiinento actual.--InSigni-
ficancia da sua producção. -Não póde ter nem agricultura, neín industria, nem
commercio sem vias de comrnunicação.-A navegação a vapor do Araguaya: ·a
principal aspirã.ção de Goyaz __:Q problema da catechése dos indios do Brazil.-
Sua sol11ção pelo Dr. Couto de !V!agalhães.-Goyaz o. ponto êle partida dessa
propaganda humanitaria. - Beneficias a esperar da civilisação dos indios do
Brnzil.-Sobre os Estados Unidos e sobre as republicas hispano-ainericanas pesam
o grande peccado e o grande crime de exterminação dos indios . --Que o Braúl
seja mal.s feliz na solução desse problema humanitario.

A longínqua provincia de Guyaz respondeu ao inquerito


sobre o estado da lavoura, ordenado em 18 de "Outubro de
1873, pelo ministerio da fazenda.
Mais solicitá do que sete de suas irmãs, que gozando de
melhores meios de communicação com o Rio de Janeiro,
commetteram a grande falta de nã0 informar o governo im-
perial sobre o estado de sua principal fonte, não s6 de ..,
prosperidade, como até de subsi8tencia ! !
Causa d6 ver o minguado quadro ela exportação da m-
feliz província de Goyaz ! !
No exercício de 1872 a 1873 toda a exportação s~
·reduzio a:
IOO

I 7, 98 I · bois, garrotes -€ ca vali os ;


8,277 ·couros crús ·ou curtidos ;
3,548 rôlos de fumo ;
E-nada mais!! ...
Uma região fertilíssima-;· vasta de 1,132,560 kilo 0

metros quadrados' ; maior do que o quadrupulo do territorio


da Prussia ; do.tada ·vel,ó Creador de duas grandes estradas
naturaes," dessas _.. g1,1i:"" andam, 1~a bel la expressão de Pascal,
o Araguay,1 e o Tocant'111s !
' E tudo isso subsiste Qa miseria e na decadencia dos
tempos col_o niaes ! !
.Quem sabe se mesmo peior ? ! !. ..
Ah rotina I A li desúha I
_MuÍtos annos já tem decorrido depois que _o devotado
Dr. Couto de Magallrães iniciou a navegação do Araguaya.
Ain(Ja _até hoje -não se resolveu que se· construisse l!ITI kilo-
metro de via fe rrea, de p!ank-road sequer, 11as . secções
encachoeiradas do Araguaya ou do Tocantins. Todos os
auxilios ·se têm reduzido a mesquinhas subvenções, muito
tardias, muito discutidas, muito regateadas, sempre _proble-
maticas !
E' por isso que com toda a razão a resposta ao inquerito
sobre o estado da lavoura colloca em prim-eiro lugar: (1)
· "A falta de vias de communicaçâo faceis pai"a a expor-
tação dos productos, tanto que os lavFadores s6 plantam o
estrictamen te necessario para o consumo local, pur isso que,
sendo caro o preço do transporte, . preferem perder o genero a
exportai-o! ! !"
· A camara . municipal de Goyaz, ·abundando nessas
mesmas idéas, disse :
"Que o melhoramento que mais coi:ivém é fundar-se a
navegação do rio Araguaya, que se fôr feita regularmente,
de modo a estabelecer um frete razoavel, muito animará a
exportação dos productos para o Pará."

(1) ·vide a brochura-Informações sob~e o estado· da lavoura. Rio de Janeiro,


:Yyp Nacionàl, I874, pags. 93 e 94. .
- 101 -

E ainda no importantíssimo assumpto das vias de com-


municação, accrescentou o engenheiro Moraes Jardin::.i ': ·
"Que a posição central da província, onde a exportaç;!.o
e a importação são quasi exclusivamente feitas poi• vias
terrestres, exige mais do que nenhuma outra estradas regu-
lares, que offereçam segurança e commG~os aos viajantes;
entretanto, pouco se ha fizro a este respeito,- devido úto ao
estado sempre precario dos r.efres provinciaes, e ao ditt.zi~ulo
auxilio, esse mesmo ~de gr~nde provez'to;_ que annualmen~e pr~;ia
o goz1erno imperial ás obras publzi:as da provincia. "
A agricultura, a industria, o commercio, a prosperidade,'
emfim, da provineia de Goyaz ·dependem da navegação a
vapor ido Araguaya !
Ha mais de 10 annos que o devotado Dr. Couto de
Magalhães luta com a rotina para _abrir G~az ao_commercio
do mundo!
Ultimamente· escreveu um livro precioso sobre a: catechese
desse milhr\o de indios, q.ue habitam o vastíssimo planalto ou
araxá, que se estende desde o Aríl,guaya até us Andes. '
-O que esperamos para pôr em pratica tão ; sabias con-
selhos?
-Porque não aproveitamos tanta coragem e tanta de-
votação?
Homens, c,Jmo; Couto de Maralhães, só dá Deus um
por seculo a cada nacionalidade!
N'esse philantropico trabalho de catechese dos indios •
do Brazil, Goyaz tem de representar o papel mais importante:
é ahi que se devem formar e preparar os ap:-istolos da civilisa-,.
ção e do progresso, que, instruídos nos idiomas e costumes
dus indígenas, devem partir á sua conq.u ista com o ramo
de oliveira na mão e com o Evangelho no coração.
Quando Ceres-a Agricultura, Pro!Ilethêo -a Industria e
Orph êo-a Sciencia, emprehend.eram a civilisação dos Gregos
primitivos, elles estavam muito mais atrazados na e_strada
do progresso do que os indios do Araguaya e do grande
araxá da Amerid do Sul-.
- 102

Foi Promethêo quem lh es ensinou a fazer fogo. Pois


bem: Ceres, Prometh êo e Orphêo fi:i:eram desses barbaros
a nação, que produzio Socrates, Honiero, Eschylo, Demos-
thenes, Ictinus e Phidias, [r] que ainda. hoje são nossos
mestres na phil oso phia, na poesia epica, no drnma, na
eloquencia, °í1a ai:chitectura e na esculptura.
N6s podemos fazer (z) mai, dus nosso:; índios d o que
fi zera m Ceres, Proníethêo e Orpheêo doe: Gregos primiti-
vos!
Elles não tinham · nem vapor, ríem electricida.dc parn
para auxiliai-os em sua sa nta mi ssão de paz e progresso .
Pondo de parte a questão de caridade · e de humani-
dade, e o muito que devemos aos prim1t1vos poss uidores
desta riquíssima terra, esse milhão de índios valem pelo
menos, 500,000:000$000.
Na industria extrnctiva elles são superiores aos melhores
colonos, que possam os ma ndar vir ela Europa: para co lher
a borracha, o cacáo, a salsaparrilha, a ipecacuanha, o cravo,
u oleo de copahyba e as in.fini tas especiarias, que enriquecem
os senõ ~s do Amazonas, de Goyaz e d e lVIatto-Grosso, não ha
n o mundo colonos, que possam competir com os nossos
índios l
Segui os sabios co11selhos do Dr. Couto de Magalhães!
Conced·ei-llie não 90:000$ annuaes, <;orno elle pede, para
a fundação de collegios e casas ele educação para os filhos dos
indios nms sim 1,000:000$ por anno !
Os · Estados-Unidos (3) e, muito menos, as republicas
[1:) Ictinus, o architecto, e Phidi~s, o esculptor do Parthenon, a obrai prima de
architectura, não só da ·Grecia como de toda a humanidade!
(:.!) Na seu excellente escripto de propaganda para a catechese dos índios
bra.ú lciros (vide a Re\·ista Trimensal do lninituto Historico, tomo XX.XVI, parte II
trimes tre 1 V), o I Jr. Couto )!Iagalhães disse :
''.l:.ntn:: nossos home11us illust res, alguns dos que mais se distinguiram pela fortaleza
de SC:;u caracte_r, pela virtu dt: da perseverança, que não é muito vu lgar entre nós, foram
mesuços." Lnarei entre outros, o padre Diogo Antonio de Feijõ.
Ao excellente exemplo do illustre regente do Imperio podemos, com intima
segurança, additaro do mae:.tro Carlos Gomes, o genio mais extraordinario que nasceu
não só no Brazil, como em toda a America do sul !
l3 l Depois de resolver o problema da Abo lição, a prodigiosa Republica dev.o tou-se
á civ1lisaçâo dos lndio s, Hoje: ha varios estabelecimentos Ue educação para os abori-
gen_e~: é ~uitu interessante lêr as .Estatística~, daudo cumparativamellte us resultados
ubudos na 1nstrucção e educação de 1nd ios e de Africanos.
- 103 -
hispano-americanas, não souberam resolver este bellissin10
problema de civilisação e de c:clridade ! Exterminam barbara-
mente, a ferro e a fogo, o~ infelizes índios!
Nós; que nus prezamos de exceder em sentimentos chris-
tãos a qualquer povo do mundo, realizemos essa obra nova na
America !
Que a geração vindoura Lenha .ao menos um facto a citar,
no qual a raça brazileira super,isse a norte 0 americana ! '
V 6s pedis braços para a agricultura e para a industria
extractiva : eis ahi um milhão de brazileiros, que, supplices,
\!OS extendem os bfaços, pedindo lu z para a a lma, 'pão para a
bocca : lnstrucçào e bulustna.
Seduza ao menos a especulação mercantil. 'São 500 .
mil contos de réis a ganhar com uma despeza de roo:000$ ·
por anno, feita toda no Brazil, construindo escolas, e pagando
a professores brazileiros ! ·
Ainda uma vez :
Aproveitai, emquanto é tempo, a sciencia, a experieB-
cia, a coragem e a devotação de Couto de Magalhães, do
Livingstone brazileiro li.-. .
XV.

Summarto. - Applicação dos princ1p10s de centralisação agricola ,e industriál á


producção do café - Estudo das condições naturaes de cada Prov incia para essa
cultura ( Coniàt1ut11do} - Provinc1a de Ma tto Grosso - Victim rt de nossa politica
no Prata -:-- Não é necessaria a occupação permanente do rio da Prata para o
Brn zil ter caminho para Matto Grosso - Enumeração das vias fluviaes- J:! ter-
restres brazileiras para communicação da capita l do Im perio com todas ,as
povoações de l\tiatto Grosso - Causas da singular política dos nossos governantes
no P rata -- A unificação da raça hespanhola aproveitará ao Brazil mais do que a
qualquer o utra Nação do !Vlundo - Bom patriotis mo e máa patriotismo - .A .ar-
bitragem - A paz na America do Sul.

A Província de ·Matto Grosso, que podia enriquecer-se


abastecendo os m ercados do Prata de cacáo, de café, de bor-
racha, de assucar, de algodão, e de todos os preciosos
produ ctos tropicáes, nem sequ er figura no Quadro Geral da
Exportação do Imperio !
Deba ld e se procura nos quadros E statísticos, annexos ao
R elatori o do Ministerio da Fazenda de 1874 , que producto
exporta a vastissi ma Provincia de Matto Grosso, uma das
Províncias d'es te I!11perio mais ricamente dotadas p elo
Crêad or !
A ·P rovíncia de lVIatto Grosso não respondeu ao in-
querito so bre o estado da lavo ura, ord enad o pelo Ministerio
da Fazend a, em Outubro· de 1873.
---,- I06-

Esta teve razão.


E' irrisorio pergunta·r a Matto Giosso pelo estado de
sua lavoura !
Devia principiar-se por perguntar : Matto Grosso, inva-
dido, saqueado, devastado: in cendiad o pelos Paraguayo~, tem
por acc·a so lavoura ?
Matto Gro~sr> é a tristíssima victima de todos os nossos
erros no Ri o da PJ'ata.
E . o que ha de mais atroz é que os nossos governantes
se desculpam com a Pro\·incia de Ma.tto Grosso para manter
no Rio da Prata uma política inferna( q ue arrasta este Paiz
para uma crise medonha !
Elles dizem : é necessario a in.t ervenção n o rio da Prata
para teri;nos caminho para Matto Grosso !
Que pretexto e qne m entira! Grita horrorisada a topo-
grap~ia d'este Paiz imrnenso !
- Não é brazileiro ,o Rio Madeira, qu e cond uz em linha
recta ao Fórte do Príncipe da Beira, o ponto mais longiq uo e
mais occidentar de Matto Grosso ?
..,- Não é brazileiro o Tap1józ, que dá o mais curto cami-
nho para a cidade de Matto Grosso, pelo confluente Juina, e para
Diamantina e Cuyabá, pel o confluente Arinos?
--- Não são todos brazi leiros o Xingú, o Tocantins, o
Araguaya, cujos valles immensos se estendem até o planalto,
omle se acha a pi cada, unico e produtivo cam inho, que
aÍnda hoje liga Goyaz a Cuyabá?
- Não é brazil eiro o Rio Grande, cujo valle parece uma
linha recta, traçada po r Deos entre a Capi tal do Imperio e a
cidade de Miranda em Matto Grosso?
-:-- Não são brazi leiros o Tieté, o Parapanema, o 'Fibagy
e o Ivahy, que indicam outras tantas linhas rectas con ve rgind o
em Miranda?
- Não é todo brazileiro este predestinado Ig uassú, qu e
vai em linha reem a Coaguazú, a Villa Rica e a Assumpção?
Um cami nh o de ferro n'este valle não tornaria o Parag uay
uma dependencia commercial, perpetua e eterna, do Br~1zil.
- 107 -

Confessai, perante Deos, que creou todos esses grandes


nos pira a felicidade dos habitantes da America do Sul, que
essa vossa eterna occupação do Rio da Prata é um miseravel
pretexto pa'rà alimentar no Brazil a oligarchia e o militarismo!
Vós dissestes, durante a guerra do Paraguay, que ieis
abrir ao Mundo os grandes rios ela Bacia do Prata.
São- passados já quatorze annos !
- Que .tendes feito pela liberdade da navegação do
Alto Euaná?
- Que portos francos . já creastes nq Alto Paraná?
-- O que tendes feito pela liberdade da navegação do
Alto Uruguay?
- Já declarastes Uruguayana, ltaqui e S. Bo1ja por-
tus francos ? ·
, - Mesmo, no rio P,traguay, porque· -não dizeis ao
Mundo que todos os pc,rtos fluvütes de Matto Grosso são fran-
c_os ao corrímercio e á naveg,tção de todos os povos . .
- Temeis por accaso que a Provincia de_Matto Grosso
pr0.spe1e, corno estão pi-osperando as provi_ncias do Am à-
zonas e cio Pará?
-· Temei ~ que; no Alto Uruguay, renasçam as cidades,
que consegui;·am ahi fundar outr'ora os Jesuitas?
- Temeis que o littoral interno da Provincia do Paraná
fique mais rico que ó littoral oceanico? ·
- Temeis que nos valles do Iguassú, do Piquiry e do
lvahy, se reedifiquem cidades, se lavrem os campos, se po_
voem as florestas, de modo a deixar no olvido os decantados
esplendores da Republica Theocratica do Guayra? _
Se não tendes medo d'isso então dizei, por piedade :
- De que é que tendes mêdo ?
- Da unifrcaçãp da raça hespanhola?
Mas isto está escripto : é lei de Deus - a unificação de
todas as grandes raças para o congraçamento final da familia
humana!
-Mas dizeis sincerame~te: não é ridiculo ter medo de
que no Pt'ata se estabeleça uma grande nacionalidade, em
- 108-

co!}dições ele olhar para o Brnzi l de irmão a irmão, sem ciumes


e sem temore$? !
_:'._Capaz -de marchar de par com nosco na vastissim,t
estracta do progresso?
-Tendes medo de de-ixar crear ahi, em Jogar de um
sorveduuro de todas as nossas riquezas, o mais conveniente e
o mais rico mercado de todos os nossos productos?

Dos tempos do obscurantismo ficou um máu patriotismo:


- o patriotismo romano - o patriotismo antigo - que
aspirava á Patria senhora absoluta de todas as terras- e até
( oh deli rio! ) de todos os mares!
, Esse patriotismo dominava ainda fatal m ente os homens
de 1789 e de 1793.
O 'proprio Voltaire, n o seu D/ccionario Philosophico,
no artigo "Patrie" faz consistir o patriotismo em desejar e
fazer. todo o mal possi vel ás o utras nações. ( r)
Era esse mesmo sentim ento egoistico e falso, ~que levava
Palmerston a impedir obstinadamente a abertura do canal
de Suez, e a trazêr a Europa inteira em incessantes intrigas e
em continua rivalidade !
Quando elle exclamava no parlamento inglez o celebre
'' Czvis Romanus Sum "
da ultima verrina de Cícero, e o queria appli car aos inglezes
de hoje, delirava na m,1xi"ma expansão de um sentimento
falso 1 que, se fosse partilhado por todos os seus compatriotas,
torna ri à a Inglaterra, não a nação mais respeitada, mas sim a
nação mais odiada de todo -o mundo! !
Era ainda esse máo patriotismo, que fazia ainda ul tima-
mente chorar Tliiers no parlamento francez, quando se
unificavam as grandes raças italiana e gern:ianica.

111 Jean Baptiste Say deplorando este erro de Voltajre diz: " Que nous sommes
plus beureux, nous, qui, par les simples progres des l~1mihes, avons acquis la certitude
qu'il n'y a d'ennemís que l'ignorance et la perversité; que toutes les nations sont par ,
nature et par leurs intt:rê ts, amies les unes des autres; et que souhaiter de la prosperité
- aux autres peuples, c'est à la fois chérir et servir notre pays ! "
Praza aos céos que estas verdades penetrem quanto antes no acanhado espirita dos
que governam o Brazil !
- 109 -

Deus o fez chorar depnis, mais a proposito, assigna1~d ~)


a tristíssima paz dé Versalhes!
Ha um outro patriotismo ; - o bmn pàtriotismo - o ·
Pf\_triotismo das gerações vindnuras - q11e ~pplica aos povos,.
como aos indiviclnos, o sublime Ev,rngelhr> de Jésus Christo !
Este é o patriotismo de Ricbárd Cobdep:--' ·' · a úzrarnação:
da demo;racia úztelligen!e e lwnest..a " -· o q uaii ·p.éde que se
lancern por _terrn, que se queimem quanto antes no sarúo .
allar da " Paz " todas as bari·eiras; que a.i nda infelizmente.
separam os povos ! !
:::.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... . .
Dizei-nos--;-porque não recorremos á Arbitragem? T:emos
questão alguma nu Rio da Prata, que e4u:vala á qu ~stão-
Alabama?
- A antiga metropole armou, por accaso, contra nós
corsarios ?
-Queimou, por ventura, nossos navios mercantes em
pleno mar?
- Fez, em tempo algum, votos ardentes pelo desmem.-
bramen'to do Im.perio, pelo esphacelam.enro da nossa nacio-
nalidade?
- Forneceu material ele guerra aos rebeldes, protegêo q
esclavagismo e esteve a ponto de reconhecer rebeldes iniq.uos·
como belligerantes?
Nós somos os ricos, os fortes, os prestigiosos l
Elles são pobres, fracos e desconhecidos !
Nós somos 12 milhões contra z milhões.
Nós temos um credito (r) que excede o da Russia, e
de muitos estados na Europa e o de qualquer outro paiz do
Novo Mundo, exceptuando os Estados-Unidos.
Nós somos unidos; elles vivem esphacelados pelo- caudi-
lhisrno,
Sejamos tambem generosos e grandes.

Lr] Em Agosto de ::::874 os titules brazileiros de 5 %. [ emprestimo de 1871 ] eram


cotados a 103, isto é, 12 % mais altos do que os dos outros Paizes ! !
- 110 -

Dêmos ao Mundo um grandioso e nobre exemplo!


Acompú1hemos a raça angln-saxonica na sua sublime
missão de paz e de progresso!
Lavemos todas as miserias dos tempos que já se fora~!
Iniciemo~ a Arbitragem : demos paz perpetua e eterna á
Ameri'ca cio Sul l
Façamos a felicidade desses povos, e Deu s nos recom-
pensará ·em grandeza, em prosperid,tde, em bem estar geral,
e nos constituirá natural1~1ente, pela nossa simples força m:)ral,
sem canhões e sem encouraçados, os a rbitros supremos (1)
neste continente !

(x) '"_Çalvez ao mesmo tempo, que escrevíamos essa pre1ição. o Chile e a Bolivia
escolhiam o Imperador do Brazil para arbiti-o no trat.:"1do de limites de Setembl·o de
d~ •
Não foi por certo por medo <los nossos canhões e dos nossos encouraçã.dos
que o Chile e a Bolivia foram levados a con ferir-n os este titulo de gloria nacional ;
mas sim pela nossa superioridade moral incontestavel sobre todos os estados da America
. do Sul.
"
~XVI.

Summario.-Applicação dos princ1p10s de centralisação agricola e industrial á


pr_o ducção do café (c;ntbum1tdo).-Dados praticos.-A cultura de café ao alcance
da Democracia Rural como a cultura de flores, fructos e legumes,----:-0 bem-estar, o
principal promotor- da immigração.-Reforma de uma rotina da grande lavoura
do café.-Como . se 'deve proteger o cafeeiro nos primeiros annos.-Dados esta-
tisticos e economicos da cultura de café nas provincias de S. Paulo e do Rio de
Janeiro.-As fazendas centraes de café devem fazer todas as suas transacções
com os emarlcipados, com os immigrantes e coni os colonos, exclusiva e inva-
riavelmente, a peso.-Exposiçõcs agricolas.-Concursos ruraes.-Cultura do café
por braços livres em S. Paulo.-Divida nacional ao senador Vergueiro.-0
H orace Gates brazileiro. - Resultados obtidos na cultd.ra d~ café na colonia
Senador Verguei,~o.

A applicação dos princípios de centralisação agricola á


cultura e á preparação do café, a fundação de fazendas cena
traes de café em todas as regiões do Brazil, aptas para sua
producção, trará seguramente beneficias incalculaveis.
A fazenda central permittirá que o emancipado, que 'o
immigrante, . por mais pobre que seja,- cultive uma dezena de
cafeeiros em suas terras, que, no dia mesmo da colheita,
·leve os fructos, sem preparação .alguma, á fazenda central, e os
venda logo, obtendo immediatamente o producto de seus
esforços. A cultura do café ficará, dest'arte, nas •mesmas
- 112 -

condições que a cultura de. fl ores, de 'fructos, de hortaliças, o u


d('! qualquer outro artigo do consumo urbano quotidiano .
Não se pôde calcular a influencia, que só esta _simples
possibilidade terá n o <lesenvoll'im('!nto do bem-estar cios
@mancipados, dos immigrantes e dos colonos, e, consequente-
m ente, na 1:·i queza e na prosperidade nacional.
A fazenda central fnnccionará assim, corno um grande e
pod eroso agente ele emancipaçào, de irnn:1igração e ele
colonisação .
·Poucas plantas, pela sua belleza, pelo perfume das suas
fl ,)res, pela facilidade da sua cultura, pelo alto valor el e seus
productos, podem competir com o ca,fé n esse apostolaclo ele
civilisação e de progresso. E' uma planta de ornamentação
·d e parque e de jardim, que ao mesmo tempo tem em si uma
fonte de ouro! '
O cafeeiro en tra. no rnaximo desenvolvin1ento de sua
producção no quarto armo depois de plantado; não é,
pnrém , r; ro que, logo no seg undo anno,clª uma boa colheitá.
Os agricultores brnzileiros acompanham .a plantação do café
com a cio milho e do feijão: dizem que podem com esta
pratica es·perar a producção do cafeeiro, e que, ao mesmo
tem po, protegem o seu crescimento dando-lhe sombra. D ,1hi
a · maxima da rotina da nossa lavoura: O café gosta de
1mtlzó e de fii:Jâo.
1
Perante a chimica agrícola, porém, esta pratica não póde
ser justificada. Que lim pequeno agricultor, urgi du pela
n ecessidacJ.e, recorra ao milho e ao feijão para pod er passar,
nos dous prim eirns a11110s do desenvolvimento do c,ifeeiro,
nad,t mai s justificavel; seguir, porém, essa ro tina, em uma
cultura 11~rmal, é inteiram ente inclisculpavel.
As duas colheitas de milho e de feijão, que as vossas
terras vos dão, roubam ao terreno uma certa som ma de
prinópios organicos e inorganicos, que, mais tarde ou mais
éedo, farão falta aos vossos cafeeiros. Se os vossos cafeeiros
precisam de sombra n os primeiros tempos, abrigai-os com
ramagens, ou então segui a pratica de· Venezuela, da India,
\
- 113 -

do Yemen, d e Java, das Antilhas, que plàntam, entre os


cafeeiros, arbustos o u arvores de largas folhas . e facil
crescimento .·
O s ingazeiros, Ingá vera, Ingá eclulz's, Inga dulds, das
Minosaceas, L eguminosas, prestam--se perfoitame.n te para
este mis té r assim c omo as banan eiras.
Na escolha destas plan tas procurai se mpre aquellas que
tiram d o sólo o m enor numero de principiàs organicos e
inorgani cos, e tende tambem o c uidado de enterrar escru-
pulosamente junto aos cafee iros todas as folhas, que cahirem ·
destas arvores.
Uma cultura racional se c,1mcte ri sa, cumpre nunca
esqu ecer, pel a restitui ção ao sólo, tão compl eta quanto
possivel~ de todos os principius, que lh e furam .roubados em
cada colb e ta. E' tempo ele abandonar o ferro e o fogo ~ o
unico recurso pa ra ob ter terras ferteis ; é tempo de ad optar os
res taurad ores, os es trum es e _os adu bos. qu·e a chimi ca agricola
aconselha. ( r )
O · cafeeiro paga generosamen te os esfo rços dos agri--
cultores . Um aÍquei re de terra de 5,000 braças quadradas c,u .
24,2 00 metros quadrados póde nut,ri r 8,000 cafeeiros. Em
uma leg ua quadrada, 9,c,oc,.000 braças quadradas, ou em
43,560,000 metros quadrados, pode m-se plantar 4,000,000 de
cafee iros, distantes 3 ·m etros o u 13 ¼ palmos um do outro.
A produ cção de cada cafeeiro depende naturalm ente da
riqueza do solo, dos cuidados do agricultor, dos resta uradores,
dos estrumes, dos fertilisadores, e dos adubos, que se em-
µ regarern, do co rrer das estações e de todas as outras circum-
stancias que co nstituem o que os Agtonomos denominam -
o meio . Vamos n o em tanto resumir aqui os alga rismos mais
aceitos pelos nossos ag ric ultores.
A p1 oducção do cafeeiro va n a desde uma Iibra ou
459 g rarnmas até 2 0 li bras o u 9 k il os 1 80 gramrpas de café

(1) O Sr. A..lex~.ndre \.Yagner, do l~io de J aneiro, faz . neste momento a propa-
ganda para introducção do "kainitn," prodt1cto mineral, rico em sulflto de
potassa, como res taurador das terras esgotadas pela incessan te producção do café.
114 -

pilado, prompto ·para exportação. Em termo médio, um


cafeeíro da · província do Rio de Janeiro produz 2 kilos, e um
da · -provincia .. _cle S. · Pau ln dá 4 kilns de café, prompto pa·ra
êx,pn1:tação. Nos calctilos seguintes adoptamos a média de
j -ki"los de café, prompto para exportaçã,,, como o producto
de .cada caf~eiro . .
Na .provincià do Rio de Janeiro mil cafeeiros dão :
r-oo. arrobas de · café pibd,1 = r,469 kilogrammas, ou
300· alqueires de café em cereja= ro,88r Jitros, nu r73 al-
queires de _café em casquinha= 6,275 litros. Na província
de S. Paulo mil cafeeiros dão: 300 arrobas de café
pilado= 4,,406 kilogrammas. Um trabalhador póde c11idar
de . r,200 ·cafeeiros e.- colher 300 alqueires de cà:fé _o u
ro, 881 litros de café em ,~ereja, correspondentes a roo arrobas_
dé c:xfé t1iladn, ou r,469 kilogramnHs, em 40 dias de se r'viçu.
---Nbs calculos seguin tés adu~itarem"s esL1s rnécl ic1s·: cada
familia de emanciµado, de immigrante, ou de colono, com
u·m ·só adulto, poderá cuidar de 1,000 cafeeirns que · pru-
cluzirão 3,000 kilos de café prompto para exportação em cad,t
anno.
Admitte-se, seg-undo as experienci,1s de Madinier, que
ioo,: kilogrammas de café em cereja correspondem a 15 kilo-
grammas ele café prumpto p ., ra a exportação. No emtanto,
aconsellrnmos muittj especi,1lmente que caéia fazenda central
repita, cuidadosa e escrupulnsament;, as experiencias neces-
S>:rias~ para determinar os preços, pelos quaes devéní pagar a
·colheita, ou o café em cereja de cada emancipado ou de cada
immígrante. ·
Recommendamos que· todas as transacções sejam feitas
exclusivamente a peso; por isso que o peso do café é um
índice seguro da sua riqu eza em princípios organicos e in-
organicos, e, portanto, dos cuidados, que na sua cultura teve
o emancipéldO, o immigrante ou o colono.
Dest'arte o preço das vendas de ·café em cereja será um
premio e um est_imulo constante para o aperfeiçoamento da
cul~ura do café entre todos os fornecedores da fazenda central.

/
- 115 -

- Será, sob ésté ponto de vista, uma verdadeira-' exposição


'agrícola perpetua, ou um concurso rural perma,nenté, -
premiando os esforços dos lavradore~ -pelo excesso dos. preç-o s
devidos aos seus productos. No emtanto esta providencia não
dispensará as exposições provinciaes, as exp-õsições' municipaes
e. os concursos ·ruraes, que são reconhecidam~nte _agentes
poderosos para o progresso em todos os ramos da indust~ia,
rural, , quer na cultura elas plantas, seja· na ·c reação ·ae anim_aes
uteis.
A Notzi:e sur les o!!fec!s exposés par la dirulion de l' Ag!,"Í-
culture à Vienne en 1873 .·par Gustave Henzé demo~sfra, c0m
algarismos eloquentissimos, à benefiea influericia, que têm _ticlo
as exposições e os concursos ruraes sobre o progresso, . na
França, da criação dos animaes, da cultura elas. plantas e das
madiinas, -dos apparelhos e dos utensílios usados na agri-
cultura.
A cultura do café por braços livres, por immigrantes e -
colonos, é um facto consummado, desde muitos_annos, _'na
provincia ·de S: Paulo. Devem esta illustre provinda e,• o
Brazil tão grande beneficio ao senador _Nicoláo Pereira de·
Campos Vergueiro, que fundou em 1847, na sua fazenda de
Ybic~1ba, á legua e meia da cidade de Limeira, a -c,okmia
Sen11dor Verguézro.
Não -é esta por certo a menor das_glorias que illustram
a memoria deste dedicado amigo do Brazil ! A mai_or foi, pot
certo; o · ter sido o primeiro a declarar, com essa n0bre
franqueza, que o caraterisava, nas côrtes portuguezas de: -~82),
que o . Brazil não podia continuar por mais tempo co,lonia
de Portugal. O Senador Vergueiro lembra, nessa circ·umstan-
cia, Horace Gates (r) que, apezar de ingle:z,' foi tam~em o
primeiro a declarar a necessidade da emancipação dos
Estados-Unidos, e a combater depois devidamente na guerra
da independencia.

(1J O general Horace Gates, o heroe de Saratoga, emancipqli tÓdos os seus ·


escravos em !785, nos primeiros dias da emancipação politica dos Estados-Upidos,
demonstrando ~ssim praticamente que lndependencia, Liberdade e Republica são im-
. passiveis em presença da hedionda escravidão.
II6 -

Em uma carta, publicada no :Jornal _do Commer~io, e


datada de 14 de Setembro de 1870, o Sr. José Vergueiro,
illustre filho e succ~ssor do senador Vergue-i ro, apresentou
a interessante estatística da c0lheita de 1869 a 1870 pelos
seus colonos. Nella se demonstra minuciosamente que 49
familias de -colonos, com 140 pessoas maiores de 10 annos,
cuidaram de 130,954 cafeeiros, e colheram 52,232 alq ueires
ou 1,6_94,091 litros de café em cereja. Cada familia cuidon,
pois, ·de 2, b72 cafeeiros! E como as familias erão 49 e os
indivíduos acim a de 10 annos 140, segue-se que cada familia
não t inha, em media, mais de tres individuas capazes ele
trabaJ-hô. No emtanto, continúaremos a adoptar para os
calculas deste escripto r ,ooo cafeeiros por familia, qualquer
que seja o numero de indivíduos do sexo masculino, maiores
de 10 annos e menores de 25, que a componham :
- -Em café limpo, a producção das 49 familia~ ou dos 140
indivíduos, foi de 26, 1 r I arrobas ou 383 , 5r 8 kilogrammas.
Dahi resulta uma producção de 7,826 kilogrammas por
familia de colono.
Não obstante, para afastar toda a suspeita de optim ismo
dos seguintes calculos, n6s comp utaremos invariavelmente
para ·ca:da familia de emancipado, de immigrante ou de colono,
a producção de 3,000 kilogrammas de café, prompto para a
exportação, ou 20;000 kilogrammas de ·café em cereja,
ad0ptando a média obtida por Madinier, de 100 kilos
de café em cereja para 15 kilos de café em estado de ir ao
mercado.
XVII.

Summario.-Applicação dos principias de centralisação agricola e industriai á


producção do café (couti.nua1J.do). - O · caso mais difficil, o quarto da inrtoducção
deste escripto.- Typo para a conversão de uma fazenda ordinaria em fa?"enda ,
central.- Descripção dRs terras reservadas á Faze~da Central.-Desc.ripção 'd o lote
do e:mancipado, do immigrante ou do colono . - Proporções para d cõntorto e.bef'n
estar dos empregadoc. da Fazenda Central e dos seus ê:ontl'ibuintcs. - Calculos de
receita da Fazenda Central em café e em fôro das terras.___.:, Confrontação dos re-
sultados com os dados obtidos nas coloni~s particulares de S. Paulo.- Os engenhos ·
centraes de Marlinique dão ró % a 48 % de renda liquida.-As fazendas centraes de
café no Brazil não podem dar menos.

Com os dados, mencionados no ultimo artigo, os quaes


nos esforçamos pu"r tomar entre as médias mais modestas e
mais autorisadas, vamos fazer uma applicação ao caso mais
difficil que se póde apn:sentar na pratica dos princípios da
centralisação agrícola ; á hypothese figurada em quarto 1ugar
na introducção deste escripto.
Um fazendeirQ, senhor de terras com uma legua de ses-
maria de frente e outro tanto de fundo, emprehende elevar o
seu estabelecimento á posição de fazenda central. No systema
metrico suas terras têm 6,600 metros ele frente e 6,60·0 metros
de fundo ou uma área total de 43,560,000 metros quadra
118 -

dos. (1) Conserva para · si 3.560,000 metros quadrados, e


divide em 20~- lotes de 200,000 metros quadrados cada um os
restantes 40 nül hões de melros· superficiaes.
Na á-rea, que reserva para si, comprehende naturalmente
tod_'JS os _p1:edios de habitaçilo, casas de machi1fas, pai6es, ar-
. mazens, etc., e as melhores terras. Não faz mal que deixe
para os emancipados, immigrantes e colonos as terras
càns11rlas. A te1·ra cansada para o sen ho;· de escravos será_ferti 1
_ para-o enu-11cipado, para o immigrante, para o culono, que a
trnbaJ hará com seus .pruprios braços, _e a regará com o su-ur de
;;_e u rnsto. O suor de u1n homem livre, tr,tbalhando para
assegurar.à bem estar de sua mulher e de seus filhos, tem uma
força ferti lisante, que é impo:;sivel determinar, mesmo aos
mai:; abal"isa,:os professores de chim ica agricola !
• Os 3, ~60,000 metros quadrados, reservados peln pro-
_priet<1.rio, e que -fiJrmarão · as terras proprias da Fazendá.
Centr~l, poderão ter estes destinos:
Metros quad.
i) Para caminhos vicinaes ...... .. .. . . .. .•••...... 100,000
2_) · Area occupacla pelos preclios <le habitação, casas
de inachinfl.s, paióes, arn1azens, etc .. ... ..... . 1,000,000
3) Para jardim, horta, p_omar ............ . : ...... . 60,000
4) Pasto, chiqueiro, gallinheiro, e le. .... .... . . . 400,000
6) Matta coutada para fornecer madeiras ele cons-
trncção, comhustivel e caça .... ·..... .· .. . 2,000,000

Somma . ... . .... .. . 3,560,000'

(1) O C1t!tiva;dcn· Escossez, em uma nota a esta parte, asseve,a que as melhores
lavollias d3: Inglaterra são as que medem de 300 a 400 acres 1 120 a 160 ht:ctares Sei
que e~ta. é em ger.tl .a opi11ião d: •s agronomós ingleze:-; 1nas além de que não con-
traria de modo algum a minha these. porque não é excessiva essa extensão, peço
licença para advertir que se p6de conciliar perfeitamente com as minhas _palavras Não
affinno que uma extensão de 50 a 100 hectares seja sempre a melhor, mas digo que
é a mais vulgar, que .é a média para que parece tender-se com preferencia. E, na
realidade , além das causas deduzidas da cultura propriamente dita, ha outras que,
t!mbura menos poderosas, nãn deixam ptJr isso de iuliuir sobre a extensão da la-
~oura. Uma é a divi:-;;ão dos caµitaes entre o:, re11deiro:-;;, no caso de lavrarem ex-
ploraçfies de 150 a 200 hectares. Os factos tradicionaes, muito mais íavoi-aveis do
que a theoria á pequena e a média cultura, tem resi:.;tido e resistirão prow1velmente
ainqa. Além disto, é minh a opimão que é melhor a medida de 120 â. 160 hectares.
Mesmo com capital sufficientes, é muito Não quero levantar aqui as diversas que~-
tõ es que têm ,elação com o assumpto, e que merecem ser tratadas profu ndamente :
tratei meramente um pont..> de facto. ·
Charles Comtt! no seu " Traité de la Propriete " calcula que na França uma
legua quadrada de terra c-nn 8.ooô,ooo de metros quadrados pod e nutrir T ,200 iudi-
virluos ! :-.Jo Brazil ha fazendeiros que poss uem dez e vinte legu:.:..s quadradas! Actual-
mente as maiores propriedatl~s ruraes da França têm 60 a 100 mi \hõe s de metros
quadrados ou 61000 a 10 ,000 hectares, comprehe.ndendo as terra-; de: plantaç_;io e .as
floresta~ .• 1 Vide " Notice s1ir les ubjects ex posés par la Dlrection Lle l' Ag riculture à
Vienne em 1873 " par Gustn.vl! Henzê:. '
- 119 -

Os caminhos vicinaes foram o rçados com ·cinco' metros de


largura, permittindn perfoil'l.mente o cruzamento de dous
carros e 2 0 kilometros ele extensã0 Quando a Fazenda
Central estiver no auge ela prospe ridade, os caminhos vicin áes
serão su Gcect idos por plank-rortds, ou m esm ,1 por vias ferrea ~
economicas de bitola estreita.
Mencionamos. inten éionalm ente. terras para jardim,
ho rta, pomar, pasto. chiqueiro. ga.llinheiro, ele. Com effeito,
narla é mais triste dn qu'! visitai· uma fazenda actualmente,
e nã r, encontrar um~ flor seq ue r na sala de visitas; não
achar na m esa um legum e, ou um· fructo; não ter ·pr-ra ali-
menta r-se sen ão a b,1rbara carn e secca, 011 alguns legumes
e ca rnes de conserva, importados da Europa !
N ão recmnmendamos aos agricultores ne m o luxo nem
a di ssipaçno. que não se podem harm o nisar c0m a mocJes-
tia, c,1rn cte ri stic,t ria vicia rnral ; mas uma certa elóse de
bem-e~t,1r é evitlenteme n te indispens~vel par,1 , , desenvolvi-
m ento das fa culdades intellectuaes, e tambem para que a
vida do campo não seja odiada , com o Lrma vicia de p ri v.1:ções.
Quanto ao lote de Lerras de cada fam ilia d e emancipadu,
de immi grante au de colon o, pnderá ser assim dist ri buíd o:
1l1e~ros q1tad.

Area occupada pela casa de hab itação, jardim,


pomar, etc..... . ...... ... . .... . I ,000
Para pasto, gallin hei r J, eh iq uei ro, etc .. . . . . .. . . . 29, _o oo
Para mil ca feeiros,_distantes de tres metros .... . . . 10 ,oób
Para plant.lçã,, de generus alim entí cios .. ._.. . . ... . 1 0,000
- Para malta co ntada pala m adeira e lenh a . .. .... . I 5 0,000

Somma..... . . . .. 200,000

O fôro de. cada um desses lo tes de terrn póde ser


fixado em 5$ m ensaes . Só a renda das te rras produzirá, pois,
r 2 :000$ alé m d os lucros, que auferirá o propri etario . ela
exploração da Fazenda Central.
Quanto ao emancipad o, immigrante ou cólono, só-_
m ente os 1 ,000 cafeeiros lh e de ram 20,000 kilogrammas
- 120 -

de café em ceí-eja o u 3,000 kilogrammas de éafé prompto


púa_ exportação, Os 20, 000 ki!'ogramq1as de _café em
cernja, pagos a 90 rs. o kilogramma, ( r) darão ao colono, s6
nesta 'e specialiade, r :8 00$, e lbe permittirilo pag·ar perfeita-
.mente • os 60$ de fôro annual, e amortizar energicamente
qualquer divida, que tenha porventura çontrahido com o
proprietário nos primeiros annos ·do s~u estabelecimento na
Fazenda Central.
Damos propositalmente a cada familia 200,000 m e-
trns qnadr,;dos, cfU 20 hectares, para qtie o emancipado,
imrnigrante• ou colono possam ter terras para pasto e
matta coutada, e importem n o Brazil , as boas praticas de
afolhamento e rotação das colheitas da agricultura européa,
simultane,~mente cmn a ii1dn slria pastoril, que mantern um
certo equil íbrio na fe rtilidade cio solo, e dá á fa milia muitos
e lemento s d e confôrtq_e bem estar.
Suppozemos que tud o qu a nto a familia , estabelecida
na Fazenda Central possa obter da industria pastoril , da
cultura el e generos alimentí cios e de qualquer outra industri a
nua! (2) seja em pregad(J n o accresc im o d o se u l)em-estar:
contamos sómente com a producção em café (3) para o
m ovimento finan ceiro da Fazenda Central.
Quancl·o a Fazenda Central tiver consé!g uido estabelece r
2 00 'familia s poderá contar com 4,000,000 kilogrammas de
café em cereja, o u com 600,000 kil ugrammas de café prompto
para a exportação. A Fazenda Cei1tral terá para rece ita
bruta tod,1 a d_ifferença entre o preço de compra, 600 rs .
[11 O preço de 90 rs o kiiogrãm:na de café em cereja correspo11de 1 na média
de i\•ladinier, de 100 kilos em cereja por 15 kilos de café prompto a 600 rs. o kilo
de café preparado para exportação ou 6:-p 9s dez kilos na cotação do mercado exportador.
(2) Na fazenda da So!edade, em S. Paulo, uma famil ia su issa cuidava perfeita-
mente <le 6, 000 ca feeiros. No emtanto tudos os ca!cu los são rnoJestamente feit,..s
cum mil cafl:!eiros (Vide o rela to riu du Dr Carval ho de l\,Joraes, gag. 3oj
13] U que poderão ganharas familias dos cal,,nos na criação de bich os de seda
de abel ha~, de ga_linhas. de coelhos,_ cie porc_o!;,_ etc. , escapa aus orçame-~ tos , e n~
e ntanto att mge muitas vezes so mmas 1mponan t1s:,;unas.
Em 1869 a França expor~o u_ 29,093, 802_ kil ogrammas de o~os no valor de 36,367, 252
fran cos , ou cerca de 14:ooo:oo'J$, muito m ais do que a ex porlaçao to :al do assucar deste
Imp!!rio no exen;ic_io d7 186ó a 1867, que ._s? ch~gou a II7,704, 113 kilogrammas no valor
o ffi c1al 12,674:427$ (Vide Re lato n o do m1111steno da faze nda de 18 74, pa,.,._ 42 e "Notice
s ·.lr le~ obJects exposés à Vienne, par la Direction de: l'Agricu lt ure en 18~3, par G ustav,::
H enze pag. 21].
- 121 -

o kilogra1mna, e o preço . de rvtnda, que p6de ·.chegar en1


épocas e)(cepcionaes a 1$ rs. o kilogramma.
- Tomaremos a média de 800 rs o kilogramrna / ou de 8$
os dez ki logramm~s, como presentemente ( r874) se fàz , a
cutação official do café.
A receita bruta ela F,tzencla Central será em 600, ooo •kilo-
grarnmas, a 200 rs., 1 2ó:000$000.
, Tomando 50% ou 60:000$ para todas as despezas de
custeio do estabefecimenlo, inclusive fretes, _commissões, etc_.;
ter-se-ha 60 :ovo$ para a receita liquida annual, na especialidãde· -
-café.
Som mando esses 60:000$ aos r 2 :000$000$, procluzidQs
pelos f6ros_das terras, divididas pelos emancipados, imm.igran-
tes 011 colonos, teremos ao todo 72 :000$ para~a renda liquida
dá Faz~nda Central. ·
Ora, as terras e os predios da fazenda, que clescrevemos,
não valem evidentemente no estado actual das cousas
rno:09 0$. O calculo acima lhes dctria, pois, uma,renda liquiqa
annual de 72 % .
Os engenhos centraes ele assucar de ilfartiniqúe
e::;tão dando de rS % a 48 %, e ninguem guererá
pôr em p;tr,dlelo uma fazenda central de café com
um engenho central de assucar ! O producto agricola
pnvilegi.ldo, sem rival, com o triste vencido pela beterrava-!
Todos estes calc_Lt!os têm já a sancção pratica. Tudo ísso,
que figurámos, não é uma utopia. Graças á inicia.ti.vado il lus-
tre senador Vergueiro (r), é uma realichtde pratica, visível e
palpavel a -quem quer que _sej,t, que vá estudar a, provinci'a
de S. Paulo.

(1) E' tambem · ao :--enador Vergueiro qne deve ser conferida a gl~ria de ter ·
introduzido, em 1847, o arado na cultura do café na sua colonia de Ibicaba, no municí-
pio~~ Limeira, em S ~a~1lo. .. - _ . ._ : :
1 emas _ tambem multa satisfaçao em _publicar, como pcdm o 1Wumàjno de
Vas-:.ouras, de 8 de ~ovemliro de 1874, q11e compete aos Drs Christvvã-1 C0rrêa e Castro
e Diogo de Souza e i\ldlu a introducção do arado, antes de 1866, para a cul~uí-a do café nà
provincia do Rio de janeiro, e de aproveitar esta opportumdade para rt:c0nhecer no
Dr. Christovão Corrêa e Castro um dos agricultores mais progressistas, não só do muni-
cipio de Vassouras com,J de toda a província do Rio de Janeiro.
122 -

Em 1870 o Dr. João Pedro Carvalh6 de Moraes foi


encarregadQ pelo governo imperial de um inq uerito sobre as
colonias particu'.lares · da província de S. Paulo. O illustrado
fun~cionario escreveu, em data de 16 de-Setembro de '1870,
um relatorio·, que foi, em muitos pontos, uma verdadeira
revelação !
Verificou que, de 1852 a 1857, trinta e cinco fazendeiros de
diversos muni~ipios, principalmente, de Campinas, Limei ra e
Rio-Claro, tinham fundado 41 colonias com 4,454 individuos,
havendo, pelo menos, entre elles 89 familias brazileiras com
$ºº indivíduos! Ah! se cada provincia do Brazil tivesse tido
um senador Vergueiro ! 1.
Então S. Paulo não seria no Brnzi l uma excepçãq unica,
um facto isolado, um exemplo, um estimulo, e não seriamos
obrigados todos os dias a dizer aos estrangeiros que. visitam .
·este paiz:
" Ide á provincia de S. Paulo, se quer~is saber o que
o mundo p6de esperar da nacionalidade brazileira.''


XVIII.

Summario .-ApÍ>licação dos pnnc1p10s de centralis:=ição agrícola e industrial á


producção do café . (Co1ltinnando.) Hem-estar dos eolonos nas fazendas de
S. Paulo.-lnquerito do Dr. Machado Nunes em 1860.-Inquerito do Dr . Car_
valho de Moraes em 1870 .-Vantagens dos novos principies de centralisação
agricola sobre a colomsação por parceria ou por salario.-A propriedade ter-
ritorial é a mais elevada aspiração do emanc_ipado, do immigrante e do colono.
-A propriedade do solo melhora o proletario e regenera o escravo.-Opiniãó
de Joseph Ç,arnier.

O bem-estar dos colonos da~ fazendas de S. Paulo foi


assim clescripto, a z-6 Je Março ele 1860, pelo Dr. Machad~)
Nunes, encarregado pelo governo imperial de examinar essas
colonias:
"Uma boa parte dos colonos, que têm sido importados
pela província de S. Paulo, contratados pelo systema de
parceria, têm já conseguido pagar suas dividas: alguns se
conse rvam nas mesmas fazendas, ou, se tem passado a
diversas, continuam a viver como culonos pelos mesmos con-
tratos, ou por outros de locação de serviços, e muitos se
acham estabelecidos nas povoações ou nas proxinüdades
dellas, com diversas industrias, o u como proprie_tarios de
pequenas porções de terras, que cultivam por sua conta.
''0s <Jutro, culcnos, pos~u que não se achem em estado
~ 124 -

independente, pórque ainda não pudeum pagar st1:1s clivi cLts,


viveni coml-udo _folgadamente, _produzindo quanto é necessario
para . sua subsistencia, e vão amortizando ns seu.s debito,,
ainda q~1e: lentamente em grande parte, com o producto d"
café, que colhem de pai"ceria; alguns mesmo, e nã0 poucos,
q·ue estão em con d içõ es favoraveis por se;·erri bons tr:1ba-
lhadrn:es· e t~rem filhos, que os aju dam , poss uem verd,uleirrz
abu,1dà11cia , ern suas casas, e ainda lh es s,~l>ram mantimentos,
que vendem.
"Estes colonos vivem geralmente satisfeitos, e os que
.não o e;;l:io é quasi sempre P"rque se acham dominados pela
_idéa de· se poderem libertar das dividas por outro mndo que
não pelo trabidho.
"Pa:ra dar uma idéa do he m-eslar destes colonos, mesmo
·daquell es que àinrla sé acham onerados com um ,1 divida;
bastiu'á dizer que muitos (cal culo em um terço rLts familias)
p_ossuem 7.Jaccas d1 lt'ife e animaes rle montana; não se servindo
'il2sl,s geralmente ·senào para darem seus 'jas.sáos á/ /mvoa(Õi!s
vizin71as, vantagens estas, que a mór par te dos nossos peq1fe7tos
lav1:adores não tem."
Abençoado seja o nome do senador Vergue:ro, que foi
o primeiru a conceder a esses infelizes proletarius d,1 Europa,
que lá morriam de frio e de fome, tantos· beneficios e tanta
somrpa de bem-estar!
'Concluindo· o seu relatorio disse o ili ustrncl,, Dr. Car-
valho ele Moraes :
"A colonisação particul,tr em S . Paulo tem auxilhdo ,1
lav·o ura, existente na província, concorrido para .o aug-rnento
progressivo de sua producção, e creado uma classe ele p equeno.r
propnetarios e capdalútas, cujo numero cresce constantemente.
"Os seus resultados . têm sido _favoraveis aos colonos,
aos proprietarios, bem como ao Estado. Os· contratos, em
que assenta, estão em vigor, ha mais de dez annos, e, durante
es~e tempo, têm sido executados regularmente pelas partes
contratantes, sem dar lugar a desordens nas colonias, nem a
questões judiciaes dignas de nota.
"Assim, pois, essa colonis,1ção preencheu os fin ., , que
tinha de satistazer, e mnstrou qu': offerecia co'ndições de
duração. ·
"E' innegavel, t<1mbem, que está em boas conqições de·
de,envolvimento, porquantlJ generalisam se· o~ colltrat~s,' em
que se l:iasêa; existem diversas co lDnias com um pessoal
avuitado, e, ao lad,, delh.s, um crescido numero de antigos
colonos, estabelecido., em ' posição independente, que, por
seus exemplos e conselhos, concorrem para manter a orderri
e a harmonia nas col<>nias."
- Ora, se tantos e tãn grandes lienefi.cios foram pt'odu-
zidos em S. Paulo pelo imperfeito systemade ,parceria, o que
não é de esperar que ahi produzam os novos principios de
centralisação agricola?
Notai bem : a centralisação rrgricola leva vantagem sobre
o systema de colonisrrção por parceria e seus congeneres em
todlls os capitulos :
r .º Na subdivisào racional das exageradas extensões de
terra, pqssuidas pelos nossos fazendeiros e senhores de · ·
engenho;
z. 0 ·Na consequente e immediata reforma dr, system;1
de cultura ex!énrivo para o systema de cultura z'nlen.rz'vo ;
3.º N .1 infallivel in troducçãn d1s b >as pmticas ;-ur,tes de
afolhamento, de rotação de colheitas e de restituição rro solo,
por meio de restauradores, • de estrumes e de adubos, dos-
princi pios organ icos e inorg,rnicos, extrahidos pelos vegetaes em
cada colheita :
4,2 Pela paga immediata em dinheiro, ao emancipado,
ao immigrante e colono, do café em cereja evitando assim
todas as difficnldades, que tiveram o~ primeiros ensaios de coJo-
nisação particular em S. Paulo;
5. 0 Em s,,tisfazer, desde o primeiro dia, .a maior aspira-
ção do emancipado, immigrante ou do colono-..:.possuir um
pedaço de terra !
E' ·preciso têr viajado pela _E uropa, principalmente; pela
Europa Central, para poder avaliar o ardor, o enthusiasmo com
- 126 -

os proletarios do velho mundo aspiram o titulo de proprieta-


tio cla ,terrâ?
Mas, é na verdade singular : ser proprietario, e s0brettido
ser proprietario da terra, é uma circumstancia que ·quasi
modifica favo1:avelmente as condições mornes do bom.em!
Sobre o emacipado a acção benefica' da propriedade ter-
útorial é ainda maior do que sobre o proletari Ó !
· S.er livre e ser peoprietario é o limite das aspirações do
escravo ri'este miserri~o planeta! . '
· E' essa grande verdade, que o illustre economista Joseph
Garnier exprimi o nestas .eloquentes palavras :
·"Le moyen ·Ie plus efficace et le plus énergique pour
civiliser- les barbares, ou semi bíÍrbares, de l'Europe, de
l'Afrique, de l' Amériq ue et de l'Asie, pour émanciper les serfs
et les esclaves, consiste :1 leur constituer une propriété fonciere
individue!le.,''
Sim : é perfeitamente verdaçle, illustre mestre!
;,O meio mais effi~az e mais energico parn civilisar as
povoações ·barbaras ou semi-barbaras da Eufopa, da Africa,
d'America e da Asia; para emancipar ós servos e os es-
_cravo·s, consiste em constiui r-ll1es uma propriede territorial
individual". !
XIX.

Summario .___.: Applicação dos ,principios de c~ntralisação agrícola e indust-rial á


producção do café [ Continuandol.-Apetfeiçoameilto dos processos de seccar O
café. -Terreiros de cimento de Portland . ..-lnstruc~ões para sua const~ucç_ão;: -
Dados para o seu orçamento,-As machinas e .os apparelhos de seccar o café
Jamais dispensarão de todo os terreiros 1 - Seccador de café Gu.ickard, sua5 van .;
tagens.- Seccador de café Casanova, aperfeiçoado-Seccador de Café Tarliêr.e.-
Está re~ervado ás fazendas centraes dar a solúção completa d~ interessante pro-
blema --a.e seccar o café independentemente das intemperies,

Uma das reformas mais importantes,: que terã t) de realizar


as fazendas centraes de café, será certamente a dos actuaes
processos de seccar o café, - quer em cereja, quer despolp~do.
A mór parte do café brazileiro é depreciado nos mercados
europeus por ter sido secado sobre o chão, ou sobre couros,
adquirindo cheiro de terra, de folhas, ou , de outras substancias
com as quaes, por acaso, ahi tenha estado em contacto. O
café da província da Bahia, .principalmente, tem este grave
defeito.
Os terreiros de seccar café devem ·ser ou ladrilhados de
pedra ou de tijolos, ou revestidos- de cimento. Na escolha
das pedras cÓnvirá preferir as graniticas, e, çlentre · estas, as
varied::,i.des, em que predominar o element_o silicioso.
- 128 -

O tijolo dá máos terreiros : salvo no caso de ser lad'r ilho


de µrim.eira qualidade, vidrado ou esmaltado, qu,1si cumo ,l
porcellana. Os terreiros de cimento, quando bem executados,
são superiores aos de péd.i\1, e mui_to mais ·a os de tijolo.
Com a actu,11 abH11thn:cia deste excellente proJucto nos
mercados brazileiros, e com a crescente faci !idade dos trans-
./
po1 tes, serão sem duvida generalisados os terreiros de cimento.
·Reconimend,tmos que não se confundam os cimentos de
Portland, côr de chumbo, ou mesmo côr de café em grão,
cóm os cimentos romano$; que pudem ter toJas as grndações
de côr de., d~ o bi·anco até açi amareilo ele banu, ·
Devem ser preferido,, sem ;t menor duvida, os cinient()S
Je PurtLrnd, mais resis,tentes, mais duradouros, de pég,t mais
lenta., LLtndo o necessario tempo ·ao' trnbal ho dos pedreiros.
N9s nosslls clim,ts, quasi sempre quentes, a péga do cimeÍlto
romano é tão rap1da que, · a múr parte das vezes, torna _ im-
proficuo o seu emprego.
Entre as marcas de cimento de PmtJand recommendamos :
i . 0 O cimento de Por/lallil, natural de Boulogne-sur-Mer
de L()nquety; Demarle & C., 1uasi exclusivamente empl'ega~o
pelo Corpo de Ponte~ . e Gdç,td,1s, cuja fabrica visitamos t
tivemus já occasião de descrever;
2.º O cimento ' de Portland de Wliite Brothers & C.,
' New-Elms, perto de Londres, que é o n:,iais apreciaJo pelos
engenheiros inglezes;
3.º O cimento de Porth,nd de Robins & C., de Londres,
o. niais. conl1ecido no mei"c,1do do Rio -de J<111ei ro, e que I é
tambem um excelle11te cimento.
-PMa constrnir uin bom terreiro d~ cimento deve princi-
piar-se por estabelecer uma peq L1ena fundação, co,m pcdr<J.
brit1da, cumo µara calçada de para!Lelipipedos: sobre esse lastro
p,ts,;,t-s~ um primeiro emboço com argamassa de cal commum
, e a rêa ; ·termina-se depois o terrei r0 com uma boa rn1:nacl_a, de
I I a 15 mil li metrm ele espessura, de a:rgam,1ss,1 de cimento- de
Pottl.'tnd e arê,1, nas prop;;rçõ~~ de duas partes de cimento
para trez de arê,1 ou de partes igLués de cime11U e ,1r~,1.
129 -

Devem ser tomadas todas as precauções para que a


c:amada de argamassa de cimento adhira perfeitamente· á
. camada de argamassa de cal éommum; o que se obtem .
deixando a superficie desta rugoscl, e molhandp-a ·r-.to momento
cte ·applicar a argamassa de cimento, O fazen-deiru intel_li-
gente, ou o gerente da fazenda central , deverá _acompanhar
pessoalmente este trabalho, do _qual depende a qualidade··
de seu terreiro, um düs prÍl1Gip,1es elementos para a pr,e p,tra-
ç.ã o do café de primeira sorte. _
Com os preços actuaes do Riu de Janeiro, uma braça
qrnulrada, ou 4 metros quadrados e 84 decim 1trus quadra_dos,
üU 484 decímetros quadrados, de terreiro de seccar café,
con:;truid,> segundou methodo acima descripto, custará :
,.
Orçamento de uma braça quadrada de terreiro de cünento
de Portland
Ns. de ordem Especificação PreÇo!:.
I Pedra britad~ .........· ....... . ... ' .. . 5$000
2 Arêa ....... . .... . ................ . 1t.500
3 Cal commum (4 alqs. . 36, 27 . ). , ...• • 2$8'00
4 Barrica de cimento de Portland ......... 10$000
5 Mão de obra. . . . . . . • . . . . . . • . . . . . . . . . 10$000

Sej ,nn 30$ por braça quadrada.


Um terreiro de roo braças qm1dradas (10 braças de frente
sobre ro de fundo) custará 3.000$. Um terreiro de 200
braças quadradas ( 20 braças de frente sobre ro de fundo ou
44 metros sobre 2 2 metros) custará 6 :000$ e poderá prestar
um excell•~nte serviço a uma fazend :1 central de café.
Recommendamus que o, terreiros não sejam .per(eita-
mente planos: • é preferível que tenham quatro inclinações,
quarru aguas, como um telhado, p,1ra faciJ itar a· sua limpeza
e o e:;coament•) das agu,ts e das cbuvas. Grnçc,s á superficie
lisa do cimento, um declive de 1 por 20, em cada uma das
f~ces, será sufüciente.
- 130 -

Coqvém dizer, an_tes d'e deixar este assumpto, que um


bom terreiro será semp re indi spensavel na fazenda central,
ainda· que ella emp re~ue os processos meca nic,>s, o u de simples
aeração, ultimam ente inventados p,tra seccar o caré . '
Na primeira época do processo de se.cca r, o café está
tão sobrecarregado de hum idade, de assucar e de gomma, que
é impossivel' submettê-l·o, sem grave inconveniente, aos appa-
relhos' mecanicos. E ', repet:mos, indispensavel que o café
vá primeiTo ao terreiro abandonar, durante dous ou tres dias,
ao sol e ar livre, o excesso de humidade, que traz a eereja,
e solidificar a gomma e o assucar da sua prJlpa. Quando
se tem conseguido isso, p6de-se cum vantagem terminar a
<;>peraçã0 artificialmente, ist,> é. com c,>1-ren1es de ar aq uecido,
comtanlo que sua temperatura não sej; t tão elev,tda que
cozinhe o café.
Foi privil egiado por dez annos, po r decret<l n. 4, 23 r
de Agosto de 1868, um apparelho in vent,tdo por Egycl io
Guicharcl, para seccar café. A secção de mach in as e appa-
relhos da Socied,tde Auxiliadora da Industria Nacional resumio
assim as vantagens desse invento, sobre o qual se fundavam
então muitas esperan ças :
1.0 Grande ecc,nom ia de tempo : o café póde ser
seccado em 5 até 12 di,ts; quando em terreiro gasta 30, 60
e mesmo 90 di as, conforrne·reg-nlam as chuvas;
2 ,g Grande economia de traba lh Q: evid entemente ficam
supprimidas as operações de estender e recolher o café, de
manhã e á tard e, além dos casos de chuvas repentinas;
3. º Conservar todas as propriedades do café ( r ), sobre
tudo a bella côr e o aroma, e m esmo aperfeiçoal -as, evitando
todo o contacto com a terra e com a poeirn. dos terreiros,
mesmo de pedra e de cimento;
4.º Diminuir o capital immobilisado e as despezas de
custeio, por isso que uma ma.chi na de secear café custa rá evi-
dentemente menos q ue um terreiro de pedra, o u mesmo de

(1) Um fazendeiro do Rio Claro [S. Paulo] informa que o café, secco nos ~pj)a-
relhos Guichard, conserva a.té a sua força de germ inação.
IJI -

ciri1ento, capaz de effec.tuar o rnesmo _serviço. O reque}ente


calcula em :z.s% ·a econo mia nes,te particular;
5 .º Applicar-se u apparelho ao café, tanto em côo2 ou
cereja, · corno despol pado; convindo notar que - . c:;ste appa-
relho permittirá melhorar a c6r e o a-specto geral do café secco
em c6co ou em cereja. de mudo a fazel-o obter os preços do
café despolpad<> ou lavado.
Cahio já no domini,i geral _o privilegio, conc<ô!dido por 8
anno:; a J,i:;i.,, C,1s.rnova de Aoraciaai, ·p .>r d ecreto n. 2,937
ele 20 de Junho de 1862, p,Ha um apparelho, em que o in-
ve ntor pretend_ia seccar o café em 60 horas, utilisand·o como
cornbustivel a casca do proprio café. Este apparelhQ Casa-
nova, mais ou menos a-perfeiçado, está em uso em algun1as
fazendas ela pruvinci,1 do Rio ele Janeiro.
Quctnto ao apparelho Guichard, altribue-se ao seu alto
custo ( 1 5 a 20 contos de réis para pcicler dar 400 ·alq uei'res
de café secco pua dia) a morosidatle, com qü e tem sido pro-
pagado.
No emtanto os fazendeiros, qu e pos,m em este apparelhu,
acham-se satisfeitos com o seu t1abalho: consta-nos tambem
que nesta data estão-se montando dous apparelhos [!uzi-hartÍ
úa província de S. Paulo.
Provavelmente serã.•J as fazendas c.entraes, geridas yor
poderosas companhias, ,ls quaes não faltarão capilaes e _t:_11-
genheirus habilitados, que dirão a ultima palavra .nesta im-
portante questão.
A solução du prnblema já está tão avançada q ~ie sé póJe
assegurar que será facil ás primeirns fazend ,ts centmes, . se1n ·
muito sacrificio, goz,tr das-grandes vantagens. inberéntes aos
apparel hos de seccar o café, sem dependencia cios ' acciclentes
atmospliericos .

.,
y

XX.

Surn rnario. - Applicação dos principias de centralisação agricola e industri.tl ;$.


producção do café (continuando) - Typos para qrçamento das faze adas centraes
de café. - Machinas Lidgerwood. - Motores hydraulicos. - Motores a vapOr. -
Fazenda central dC 11; categoria. - Eazenda central de 2 1•1 categoria - Fazenda.
central de 3~ ctaegoria ---=-Estimativa do numero de familias de lavradores neces::;;ario
a cada um destes tres typos de fazendas centraes . - Calculo approximado da sua
receita bruta.

Muitas e mui váriadas machinas têm sidn invc!n ~ad,ls e


privilegirldas para preparar o café, tanto nq Brazil, como n.t
Europa e nos Estados-Unidos; neste paiz, porém, nenhum,t
pôde ainda vencer, em mais de r 2 annos d.e experiencia, as
machin 1s d.e William Van Vleck Lidgerivooâ, privilegicLLhs
pelos decretos de 21 de Novembro de 1862, 12 <.le ÜLHubrode ,
1867 e 4 de Dezembro de 1872. •
Supporemos por isso que as fazendas centrnes de café
empreguem machinas Lidgerwond.
Eis aqui, nas condições actuaes ( 1874 ) do cambio, o orça-
mento do machinismo, necessario para preparar· 500 arrobas,
ou 7,344 ki logram mas de café, por dia de 9 horas de trabalho
effectivo :
- 134 -
ORÇAMENTO N, l •

( Machiiúsmo p<1ra 500 arrobas - 7,344 kilns de café por dia. )

"'
-o
"'
-o
~ ESPECIFICAÇÃO PREÇOS lil\1 ~S,

o"'
r. 1 despolpaclo r dobrado com cylinrlros de
48 pollegadas e 24 ditas de compri-
mento . . . .. 2 :400$000
2. 1 lavado r de café . .. . . . ............. . 450$000
Transm1ssões correJpond,mtes.
3. 27 pés de eix o rie z ¾ polegach1s, a 6$ o
, .
pe para lransm-issâu ............. .
. i62$000
4. 4 maneies, a z 5$ cada um . . ... .. .. . . 100$000
5. 4 c1rg,>las, a y/p500 cada uma ... . . ... . . 14$000
6. l polia de 36 poll egadas de diametrn e
3 ditas de largura .. . . ..... . . .. .. . 70 1fooo
7. r dita de 14 ditas de dito e 8 ditrrs idem 45$000
8. 1 dita ele 36 d ius de dito e 6 dit.ts idem 55$000
9. I dita de 30 ditas. de dito e 5 ditas iJem 40$000
10. l elita de 16 elitas de d it,t e 5 ditas idem 30$000
r r. elita de 24 ditas d e dittl° e 4 ditas idem 35$000
15. 45 pés de ·co!'l'êa de b,>naclia Je 8 po ll e-
gadas , a 2$ o pé· . . . . . . . . . . ... . .
16. 50 dit,,s de ditas idem de 6 ditas a 1$500
dito ... . . . ....... ... , . .... . . .. . 75$000
17. 60 ditos de dita idem ele 4 ditas, a 1$250
dito ' . . . . . . .. ... . .. ........ : ... 75$000
18. 40 clitus de dita idem ele 4 ditas, a 1$ dito 40$00.0

19. 1 limpador dê café .. ... . ...... . . . .. .


'Ji·ansmissões correJpontlenlts.
20. 1 eixo rle 10 pés, a 6$ · o pé .......... . 6o'fl;ooo
21. 2 1mi.ncaes cu rn as respectivas argolas, a
28$ 500 ..................... . . . 57$000
22. r polia de 36 pollegaelas ele eliarüetro e 6
, ditas de largura . .. . . ... . ....... . . 55'fóoo
23. r dita ele 20 ditas de dito e 6 d"it,1s idc:m 30$000
24. 1 dita de 36 dit,1s ele dito e 8 ditas idem 70$000
2 5. 50 µés de corrêa de sola de 6 pollegadas,
a 1'f500 ·0 pé .. . ; .. .. ....... . . . . . 75 'fooo
26. 40 ditos de ditas idem de4 ditas, a 1$ o pé _ 4o'fooo

Jlfaclzmismo
2 7. d~scascadór . '. ....... . ..... .. . ·... . ·1 ,900$000
28. r ventiladorelobràdo ..... . . ........ . 800$000
29 . 2 separaderes de cobre de 36 pollegadas
ele diametro e I.? pés de compri-
mento .... . ... . ........ ·.... . .. . l :000$.0 00
30. z hrunidores a 800$ ............... . l :600$000
Transmúsões c01-i-esponrlenles
3 1. 60 pÉs de eixo 2 Ys pollegadas de dia-
metro, a 6$ .. . . . .......... . ... . .360$000
32. ro manG1es coril argolas, a 28$500 ... . 285$000
33. r polia de 36 pollegadas cie diametro e
14 ditas de largura .............. . 100$000
34 . 2 ditas de 36 ditas de dito e 12 ditas
de dita ..... .. ............ . .... . 170$000·
35. r dita de 36 ditas de dito e 8 ditas
de di ta .. . .... . . ....... . ..... . . . 70$000
36. r dita de 16 ditas de dito e 5 ditas
ele dita .. . ... . .. . .. . ........... . 30$000
37. r dita ele 36 ditas de dito e 3 ditas
de elita .... . ... . ... . .. .. ....... . 50$000
38. 2 ditas de 5 ditas de dito e 2_½ ditas
de dita ... .... ... . ....... . .. . .. . 20$000 . /

39. 2 ditas de 36 ditas de dito e 6 ditas


de dita ... . ............... . .. . . . 110$000
40. 3 centros para polias de madeira_. .. . . . 90$000
41. .60 pés ele corrêa de sólla de 14 pollega-
das, a 3$500 o pé ............ . . . . zro'ftooo

42. 60 ditos d(, dita ele dita de 12 ditas a 3$. 180$000


43- 45 ditos de dita de dita de 8 ditas a 2$ .. 90$000
. .• 44- 40 ditos de dita de dita de 5 ditas a 1f250 50$.000
45- 60 ditos de dita de dita de 3 ditas a 750 rs. 45$000
46. 80 ditos de dita de dit,i de 2Yz ditas, a
62 5 rs .. _. ....... : .............. . 50$900
80 ditos de dita de dita de 6 dias, a 1$500 120$000
Corréas de sobresalente ........... . 120$000

Somma .......... . . . . ..... .


Sej,t r 2 :000$00'? .
Para mover esses rnachinismos eleve-se dispôr de uma
furç,t de 15 cavalle>s--,·apor. Se a fazenda centr.1! dispuzer ele
• uma qnéda d'agua, com .essa força motriz, poderá ter uma
turbina dessa potencia, com regulador, eixo_ vertical, redas
cohicas para a transmissão, mancaes, luvas· e roo pés ele en- ·
canamento de ferro fundido, por 6:800$000.
No .caso el,'.cepcional de .não dispôr a fazenda central ele
uma quéda cl'ag~ia, empregará uma boa machina a vapor ele 15
cavallos de força, que, completa com aquecedor d'agua, cal-
deira multituh1lar . (systema . ele loc,,motiva ), com fornalha
especial para lenha e s,tbugo, chaminé de ferr,,, bombas de
alimentação! valvulas de segurança, . .encanamentós de con-
clucção de vapor e d'agua e todos os mais accessorios, lhe
cust,úá 9 :000$000.
A::;si m ter-se-ha :

l·-Fazenda cm/1'al de ca_fé com mo/(lr hydr,111/ico.

(Podendo produzir . 500 arrobas, · 7,344 k i l"grarn mas de


café pur dia.)
Custo dos machinismos .... . .......... . 12 :oocíf;ooo
Cuôto do motorhydraulico (15 H i ];.) .. . 6:800$000

Summa .. I 8 :800$000
Seja 19:000$000.
- 137 -

II .- Fazenda central de .crifé ( movida a vapor).


(Podendo produzir 500 arrobas, 7,344 kilos de café por
dia)
Custo dos macliinismos .. ... .......... . I 2 :000$000
Custo da macliina a v;ipor ( I 5 H. P.) .... . fcioo$ooo

Som ma. . . . . . . . . . . . . . 2 r. 000$000


Orçamentos; analogos ao que acabamos de especi-
ficar, dão:

IIl.-Fazmda antral rle ca.fé (com motor hydruHco.) -


(Podendo produzir 2,0 arrobas, 3,672 kilos de café por
dia).
Custo du rnachinismo ............ ,..... 9:000$000
Cu~t" do mutur hydraulico. . .... ........ 4 :600$000

Somma....... .• . . . . . 13·600$000

IV. ----:-Fazmda cmlral, ( movida a vapor)


(Pode ndo produzir 250 arrobas, 3,672 kilos de café por
dia ).
Custo du machinismo ...... . ........... . 9:0'..J0$000
Custo d,1 machina a vapor [10 cavallos] .. . 6:500$000

Sornma •••..•... ...... 15.500$000 °

V.-Ji"uzwda central de c,ifé, ( cum 1110/or hj1,!rattlii:o)


(Podendo proJuzir 80 arrobas, I, I 75 kilus .J e café por
dia.)
Cus lo cio machinismo ................. . 5:000$000
Custo úo motor hydrnufico . . . : . . ...... . 3:200$000

Somm,1 ... . ......... . 8:200$000

Vl.-Faze/l/la ceniral di! ccifé, (m(}vúla a vapor)


(Pode nd o produzir 80 arrobas, r, 175 kilos de café por .
dia.) .
- 138 -

Custo do machinismo ...... .. . ....... . 5:000$000


Custo da machina a vapor (6 cavall os) .. . 3 :800$000

Somma ..... ... . .. .. . 8:800$000


Conforme a media, adoi-,tada pa ra producção annual
de 3,000 kilos de café, prompto para a exportação, por familia
de ema_ncipado, de emigrante ou de colono com um s6 adulto,
chega-se a estes resultados:
·º
I Que a fazend'l central de I .ª classe, com propor-
ções para preparar 7,344 kilos de café por di a, ou 2,203,200
kilos, no anno· de 300 dias de serviço effectivo, necessita do
concurso de 735 familias de lavradores pelo menos ;
2 Que ·a fazenda centrai de 2. ª classe, capaz de preparar
3,672 l{ilos de café ·por dia, ou r, rnr,600 por an no de 300
dias de serviço effectivq, necessit.a do co ncurso de 368 familias
de lavradores pelo menos ; ~
3.º Que a fazenda central -de 3.ªclasse, s6 tendo ·ma-
chinismos para preparar r, r 75 kilos ele café por dia, ou
352,500 kilos por anno de 300 dias de servi ço effectivo, ne-
cessita do concurso de rzo familias de b vrad ores pelo menos.
Adoptanclo o p1·cço de 700 rs. para e-ada kilogramma de
café, vendido nos arrnazens da fazenda central, teremos que
a receita bruta annual será:
r. 0 Para a fazenda central êle r.ª classe, de ... r,542:240$000
2 .º· Para a fazenda central de 2. ª classe, de .. . 77 I: I 20$000
3.º Para afazend,i cen tral de 3•<1- classe, de .. . 246:750$000
XXI.

Surnmal"io -Applicaçãq dos principies de centralisação agricola e industrial á


producção do café (coutinuando). - Por que não ha moinhos de vento no Hra?il.-
Suas vanti:lgens para drenagem e irrigação - Ap.erteiçoamento dos motores hydrau-
lii;os empregados na lavoüra. - Inconvenientes da machinaa vapor na agricultura.-
O lavrador deve queimar o menos passivei. - Conselhos êle economia rural. - O
monte-pio dos lavradores ·pobres - Cumo ltgar cem contos de réis sô tendo um
pedaç0 de terra cansada. - Falta de combustivel nos engenhos de assuca~r do
Norte. - Recordação dos nomes de tres benemeritos da agricultura brazileira. -
Resumo das reformas indicadas. - Estimativa das vantagens que auferirá o Brazil
reformando o actual systema de export.:1.r o café.

Entre os innumeros beneficios, que proporcionarão as


fazendas centraes, elevemos fazer especial menção do aperfei-
çoamento elos motores empregados na lavo ura, e da introduc-
ção de alguns ainda desconhecidos neste paiz.
Impressiona mal aos estrangeiros que visita m os districtos
ruraes deste imperio nãq encontrar um s6 moinho ele vento.
Esse motor, eminentemente agrícola, -tem recebido ultim!l
mente importantes melhoramentos na França, na Inglaterra,
e sobretndo nos Estados-UniJ.,s, graças ao incomparavel e
maravi lhoso genio inventi voyankee .
Lembraremos os moinhos de vento de Berton, de Amedée
Durancl, de Lebleu, os moinhos de vento da Eclipse vVind
Mill Co., Beloit Wisconsin,e o moinho de vento, ultimam ente
(17 de Março de 1874 ) privilegiado nos Estados-Unidos, por
J. N. Dietz de Salina, Salina County, Kansas.
Para os trabalhos de drenagem é irrigação r,s m oinhos de
vemo levam vantagem, sob todos os pontos ele vist:1., a todos
os outros motores
Não deixaremos tambem de lembrar que os m oinhos de
vento, voltejando com suas branc,ls azas, em contraste com o
azul do céo ou com o ve rde-escuro d;i_ 1uxuriante v~getàçno
brazileira , dariam novos encantos aos bellissim os panoramas
1 deste paraiso te rrestre !
Muito ha t:1.mbem que fazer para o bom aproveitamento
das immen_sas cascatas, que a Londacle do Omnipotente con-
c&:deu a esta terra de sua predilec·ç ão.
Reeommenc!amos muito especi;ilm ente o emprego dos
novos e aperfeiçoados motores hydrau licos nas fazendas cen!raes
de café. A machina de vapo r s6 cl;;ver·á apparecer nas fabricas
ce1z/raes para prep,arar oca fé m o ido, em· extrncto, como. cho-
colate, ou de qualquer outro modo, para u consumo imme-
diato. A macbina de vapo r exige combustível ; isto é um
grave incon veniente para a agricultura.
Em these, o agric ultor deve q uei m.ir o m enos possi vel.
Os resid uos do café e de qualquer o utrn procl uclo agrícola são
excellentes restauradores (estrumes, adubos) dos te rrenos, que
deram essa colheita. Não queimeis as rnscas de café, e,
quando oornmetlerdes esse e rro economico apanh,1i, cuidado-
s~mente as cinzas, e utilisai-as como estrnme min eral nos
vossos cafezaes.
Apanhai tudo que sahir dos vossos machinism os de pre-
parar café; misturai com terra e distribui cuidados<imente
esse elemento restaurador pelos vossos caf~eiros.
L êde os manuaes de chimica agrícola, lêde Li ebig, lêde
Kuhlmann, lêde Boitel, e cornprehende reis a subida irnpor-
tancia desse conselho. Aprendereis com · Liebig:
"Que as colheitas são proporcionaes aos princ1p10s
nutritivos, que o s6lo contém e m m enor quantidade (no
múiimum)>· que esses princípios são semelhantes aos élos de
uma corrente, cuja força d epend e, ou deve ser avaliada. pela_
força dos élos mais fracos. "
Boitel vos ensinará :
"Quanto mais progr"esso faz a ag ricultura tanto mais
cresce de importancia a questão dos restauradores do sólo, dos
estrum es o u dos ad ubos para os agricultores. "
E tambem:
"Que a sciencia e a expe ri er::cia demonstram -que todas· as
colheitas-, quaesquer qne ellas s-:jam,-são esterilisantes para
o s6lo qu e as produz."
Ora, o çafé é um producto riq uissi mo dos mais variados
p rincípios chimicos: qaando en lriais uma co lh eita para a
Europ,1 mandais do . Brazi l muitos e muitos kilogrammaS
desses princípi os chimicos que foram extrahidos do sôlÓ. Por
mais rico que seja este sólo, é intuitivo qne, perdendo sem -
pre, ha de chegar um dia em que pouco o u nada ma i_s tenha!
Nesse dia vós di reis; a terra está cansada. Ab,mdonais essa ·
terra, e id es a ferro e fogo sob re a floresta ( 1) vi rgem !
Tud o i.~to é barbaro; é re,1lm entc b trbarissimo: não t.e m
mesmo qualificação possíve l perante a Chimica agrícola e _a
E conomi a rural !
"A Europa está calva (2) disse Humboldt. Se conti -
nua.rmos do mesmo modo teremos em breve d esp .,jad o o
Brazil dos riquí ssi mos cabellos, das prec iosas fl ores tas, qu e a
natureza lhe deu.
R epetim os :
Poupai o mais possíve l as vossas florest.ts. Cada arvore
que se corta é um "capital c resce nte" que se destroe.
Eis aq ui um calcu lo curioso e tambem um bom
consel ho :

(1) Vide Dr . Peckolt . Historia das plantas alimen tares e de gozo do Brazil,
vol. 1, pag. 60 : a demonstração da importante these - "O cafeeiro não necessita de
mata virgem . "
Cumpre lembrar, nesta opportunidade, que se ria uma boa pratica a introduzir na
lavoura do café, estrumar os cafeeiros co m hnmus, tirado dos terrenos .das mais ricas
matas virgens. ·
(2) Trabalha-se agora activam ente na resta uração das florestas O reboisements ''
da Europa. Em 18ó7 j"á a França tinha 60,000 hectares de flores tas artificiaes .
·Em um campo, ou em um pedaço de terra _ cansada,
como vós dizeis, de 500 metros de Cilmprimento sobre 200 me-
tros de fundo, vós podei~ plantar á distancia de 10 metros
r,07 1 pés de arvores <k madeim de lei, das qualidades mais
éstiínadas, e, no., inter·vallos; pl_antar grama de prado. e desti-
nar es;.'-' prndo e es-;a fluresta artificial a pasto de c,1rneiros e mais
tarde mesmo de bois, etc ., etc.
Com os cuidádos necessarios, tereis em 30 ou 40 annos,
pelo men, )~ 1, ooo Hvores, R,O ,lendo dar vigas de madeirn de lei
, de 18 metros de .éomp rimento e 30 centímetros ele esquadria,
que ao preço de hoje, val_:hão nunca menos de 100$ cada
- .urna, ê portanto- as 1,000 vigas 100:000$000.
Eis ahi, pois, um meio bem simples de legar 100:000$
a seus filho~, tendu só um µedaço de terra cansada.
Excellente 111011/e-pio rural s<;m joia nem .entradas
annuiles ! Sem erros ele calculos, e fraudes ele gerentes e
direct, )res.
Lembrai-vos tambem que, durante esses 30 ou 40 annos
o mesrno µedaç,1 de terra cansada, convenientemente tratado,
V<>S, produzirá, com 6 seu pasto, muito dinheiro em leite, em

carne, em l_ã, em couros, e em todos os artigos da ind11s-


t1ü p,tstoril.
O mesmo pensamento se aµplic.1 á flc,resta virgem.
Quandu, -nas vossas matas, encontrardes um pé de ja.c;aranelá,
de 1·inliatic,,, de cedro, ou de · oleo, mand,ti limpar o ter-
reno e m turno par,t dar-lhe mais ar e mais luz, e em alguns
annos, estes cuidados vos serão recompensados_generosamente
pela vend,t da precios,\ madeira.
Não pareçam rxtem por,_rneos esks -conselhos sobre a
cunservaçilu e exµlo ração regul.tl" cbs_ florestas. Ha innu-
rneros enge nhos de assucar 1us pro víncias do Norte que não
tém' ma.is lenh,1. ·
Na crise de 1810 a 1818, por que passot1 a industria sac-
d1ari11a na província ela Baliia, ·dous males aff11gia111 <•S lavra-
dores : a degeneração da canna 11úni11 ou crioula, proveniente
0

da ilha da Madeira, e a falta de combustível.


r43
Recordemos n'esta opportun idade os nomes de dois bene-
meritos da agricu ltura brazileira ;,
O brigadeiro Manuel de Lima Pereira, que introduzia na
B.ihia a canna cayana ou de Cayenne.
E o Dr. Manoel Jacyntho, que invento11 os· apparelh"s de
cozimento com bagaço de canna.
E para fazer justiça completa; devemos tambem lembrar,
antes de mudar de assurnpto, o nome de o utro illustre brazi-
leiro-o marquez de Barbacena, que _mandou vir da Inglaterra
os primeiros apparelhos para cozer o caldo de canna com ba-
gaço, e ao qua_l tambem devemos o primeiro vapor, que veio
ao Brazil, em 1819, para navegar entre a capital da Bahia e a
cidade da Cachoeira .
. .. . .
. . . . . . ............. . . . . . . . .
~ . .. ....
' . . .; . .. . .

Terminaremos o que temos a dizer sobre o c:afé, resu•


mindo os beneficias a esperar d?. applicação dos principi9s
de centrailsação agrícola ao primeiro artigo de producção
nacional.
I. NO PESSOAL

rº Emancipação e regeneração do escravo pela pro-


priedade territorial ;
2° Colonisação por immigrantes espontaneos ou con-
tratados ;
3° Aproveitamento dos índios na agricultura
Catechese ·pela sciencia e pela industria.
4° Creação, desenvolvimento e prosperidade da De-
mocracia Rural no Brazil.

II. NO ll[ATERIAL

1~ Emprego do arado e de todas as outrns machinas no


a.m anha das terras;
2° Emprego de estrumes, adubos e restauradores para
a conservação e multiplicação da força productiva do snln;
3º Emprego _d e_ moto1:e.s hydraulicos de moinhos de
vento e. de machinas a vapor, conforme as circui:nst.mcias,
mas sempre dos typos mais ·aperfeiçoados ;
- 144 -

.4º Emprego dos melhores terreiros e dos melhores


apparelhos de seccar café;
Sº Ernprego das melhores machinas par,, preparar
o café ;
60 Emprego de apparelhos e machinismos para joeirar,
escolher, subdividir em categorias, brunir e ensaccar;
7º A subdivisão do solo com engenhos e fazendas cen-
traes, re unindo todas as vantagens ela grande _propriedade, e
cicabando com todos os vícios e inconvenientes cio monopolio
ter ri to ria 1.
III. NO PESSOAL E NO MATERIAL

rº A educação e a instrucçi'lo, theorica e pratica, as


exposiç(íes agrícolas e i nd ustriaes, e os concursos para estimulo
cios agricultorc;s ;
· 2° O pro,1sresxo, emfim, melhorando incessantemente a
terr,1 e ns seus pruductos e aperfeiçoando o lavrador pelo bem
estar e pela mora!úlade.
o~ principi o,, ele centralisação industrial, applicadus á
. producção do café, far·ão crear fabricas centraes p,tra preparar
o café moido, em ex:tr'acto, em fórma de 'cliocolate ou de qual-
quer outro módo, que o torne pni°prio para o uso imrnediato.
Prnd uzirão vantagens econornicas da maior importancia
as fabric,ts cen traes ele café moido .
· Não se faz, na verdade, idéa da importancia economica
dest,i simples reforma : -- exportar o caré do Brazil moido em
latas, como o chá, em logar de simplesmente pilado e em
s.tccos, c .. m'o se .faz presentemente.
V,uno~ L1zer um calculo com us algarismos dados pelo
Dr. Sebastião Ferre i1'a Soares na sua ,. Escatist1ca do Com-
mercio lVIaritimu du Brazil."
N" exercício de r 869 a r 870 a exportação foi repre-
sentaua por este" alg,irismos:
Café pilado, 186,480,066 kilograrnmas
cum o val"r ulficial de ......... ... .
Café moidu, 122,153 kilogrammas com o
valor official de ....... ... ... . ... .
- 145
O valor official do kilogramma do café moido foi, poi,,,
de 658 réis, actualmente é de 1$ a 1$200 no Rio de Janeiro.
O valor official do kilogramma c:o café pilado (oi, ta:mbem,
de 413 réis, actnalmente é de 560 a 750 réis.
Houve, portanto, uma differença de 245 réis, em kilo-
g-rnmma de café moido ou pilado no exercício financeiro de ,
1869 a 1870. Na preparação o café brazileiro perde cerca de'
20 % no seu peso. Os 186,48°0,066 kilogrnmmas perderiam
37,296,013 kilogrammas ou 37,296 toneladas.
O frete da tonelada de cclfe para a Eurol-'a varia de 25 à
40 shilliÍ1gs. O frete da tonelada de café para os Estados
Unidos regula de 25 a 30 e de 35 a 40 shillings conforme vai,
para o norte ou para o sul. ,
A eliminação dessas 37,296 toneladas produziria ao Brazil
uma economia de 447:552$, supponclo um frete médio
de 12$ p<>r té>neL-ida, inclusive seguro e todas as despezas
occunentes.
Ficariam, pois, 149,184,053 kilogrammas de c,1fé para
, receberem o accres.cimo de v,tlnr de 245 réis, em kilogramma.
Produzi riam para a nova i ndustria brazilei ra a importante
summa de 36, 550:092$985, que, summados aos 447:552$,
procluiidos pela ecunumia d,is fretes, dariam ao Brazil a
som ma total de 36,997 :644$98 5.
Eis o lucro nacional que, no mnumo, produzirá o
progresso na pruducção d9 café brnzileiro !
XXII.

Summario -Applicação dos rrmc1p10s de centralis:lção agricola e industrial á


producçâo do assucar.-Crise na producção d.o assucar.-Necessidade de restringir
a sua cultura a limites razoaveis.- Estatística da exportação do assucar e da
aguardente nos ultimas exerc1cios apurndos.-0s concurrentes do assucar brazileiro.
-O Egypto, o mais temivel em assucar de canna.-0 assucar de beterraba. - Uma
das i11dustrias mã.is progressivas da França.-Sua appreciação em 1867 P,Or Michel
Chevalier.

E' na cultura da canna de assucar que exactamente se


tem manifestado, com maior força, a crise agricola que
opprime actualmente (1874) a lavoura deste Imperio. Basta
este fac lo para demonstrar a conveniencia de restringir a
sua producção a limites razoaveis.
Tratando do café, fizemos propaganda para o des~
envolvimento da sua cu ltura; para a canna de assucar acon-
selharemos, pelo contrario, a restricção de sua lavoura
sómente ás terras, mais especialmente adaptadas a esse vegetal,
e o aperfeiçoamento de todos os detalhes da sua producção.
Em todas as outras terras, principalmente nas dos engenhos,
que a rotina esclavagista denomina cansadas, dever-se-ha
p}antar o fumo, o cacáo, o café, ou qualquer outro producto
acleq uado e de alto valor na e•;portação .
Assim, na provincia da Bahia, a cultura da canna de
assucar deve ser exclusivamente feita nas terras de massapl,
qu e n o i-n q ue rito sobre o estado da lavou ra, fo ram clas-
s ificadas FERTILISSIMAS ., SOBRETUD O PAR A A CANNA, e valendo
de 40$ a 100$ a ta refa de 30 braças q uadradas o u cerca de
145 m etros qu adrad os ( r ) .
O assucar é ô produ cto el e expoi·tação m ais geral neste
Impe ri o . ·De ~uas 20 provín cias, 12 ex portam assucar e o
produ cto a nnexo, a agua rdente. nas proporções in dicadas n os
seguintes quad ros: ( V ide T abdla A ; .
C umpre n ota r q ue, elas provi ncias mari_ti mas, s6 não
fig uram n es te quad ro o Pa rá, o P i.-v11hy, o Es pirito--Santo e o
Pa ran á . T odas es tas províncias produze m. mais o u m enos,
ass ucar para o se u co nsum o; a provincia d o Espírito-Santo,
po r não te r comm ercio di rectn, co ncor re para a exportação do
Ri o de J a nei r•) co m 5 00 a 700,000 ki lng ramm as ele aSS\lCar
po r ann o . (Vi el e Tabella B ) .
Todos estes alga ri sm os são de expo rtação ; os de p rod uc-
ção seri a m infal livelm ente m ui t,i m aiores; in felizm e_n te ain da
n ão temos estatisticas da p roclucção ap ricola do I m pe ri o ! E m
regra geral. a prod ucção da ag ua rdente é simu ltan ea co m a
elo ass ucar. A in d,1 ma is, n"s lu gares mais pob n$ el o in te ri o r,
faz-S'! com a ca nn a ape nas rapaci ura, m el e ag ua rde n te, e
r,fão assucar po r fa lt:1 dos mac hi nismvs e appare lh os necessa rios
á sua fab ricação.
Apeza r do a bati m ento, e m que se ac ha m a inciustria sacha -
rina e a cultura da ca nn a de assu car n este Imperio, con seg ui a
sempre o ass ucar brazileiro, na Ex posição Un iversa l de Vienna
ele 1873, alg um asdisti ncções dignas de 11 0 ta. Effectiva men te
alcançáram Medalhas de Progresso : o Ba rão de Cu tegipe, d ,1
Ba hia, pelo seu ass ucar puri fica ci o : a fa bric1, D o us de Julh o, da
Bahia, p elo seu assu ca r ; o Barão d o Li vra m entu, de Pe rna m-
bu co , pelo seu ass nca r.
E Medalhas -de 1Werito : T. Perei r,1 F aro, do Rio de
Jan eiro., p or seu assu car bruto; G. Ma ngenn , do Rio de
J aneiro, por seu ass uca r b ruto, fab ricado e m 36 horas ; Ma noel

I Vide bifonnações so!n·e o estado da lavoura, pag . 14.


Tabella A, Quadro comparativo da e:z::portação do assucar pehs differentes provinciae do Imperio.

~ ~ Exercicio de 1870a r871 ] Exercicio .de 1871 a 1872 Exercicio de 1872_ a 1873
~~~ PROVINCIAS
{ ~ Peso em ki!os I Valor offiez"al I Peso em kilos I Valor official ] Peso em ldlos ] Va/01 · official

Pernambuco ___ . _. . . . . . . . ... ........ _. 42,346,885 7,524:84ffooo 77,147,131 13, 78, ;928cfi"ooo 97,442,832 15,131;426f.ooo
Bahia ....... . ...... .. . 48,938,302 7,057:642 000 53,884.090 8,132.690 000 50,127,659 6,684: 549 000
10,700,859 1 ' 254:034 000 12,615,736 1,803.883 ººº 13,781,807 1,640:216 000
3,667,182 564:93, 000 9,282,604 1,527:202 000 n,251,532 1, 698:6o8 000
4
t1::~:s_:: :: ::;:: ::::::::::: ··· ····· ·
Parahyba... . .. • . •... . • •. ..... 866.979 99;2 25 000 5,547,514 563.170 000 9,926,858 1,039:138 000
5
6 Maranhão.__ _ ... ____ .. 3,368,30.5 533:351 000 4,501,9 16 667: 707 000 4,882,836 698:854 000
7 Rio-Grande do Norte ..... _.. 1,650,631 l 76: 794 000 4.840,406 502:772 000 3,567,886 331:490 000
8 Ceará .... ..... .. . . . . . . . . . . . . .. •. . . . . 1,290,872 162:582 000 2,109,2ó1 271:324 oOO 1,811,948 232:181 000
9 Rio de Janeiro ....• .......•... .• . . ...•. . 3,097,900 466:377 000 2,51 3,014 650:501 000 I , 182,690 266:919 ººº
10 R io-Grande do Sul.... . . • .... ... ..•• . . 43,54~ 14:869 000 83,814 21:734 000 7,696 2; 197 ººº
II S . Paulo . ..........................•... 1,344 240 000 490 44 oco
12 Santa Catharina . . ........ · - - ' ~~4~
l 2:.i86 000
........ 'II6,983,303 1- ~-
....
1X,!j57 :135
- -ooo
-l l 72,526,740 27,923:148 oool 183,984,224 1 27,725:67'1. 000 +"-
\Q

Tabella B. Quadro com~arativo da exportação da aguardente pelas d:ii':f'erentes provincias do Imperio

Exercicio de 1870 a 1871: Exercicio de 1871 a 187:? Exercício de 1872 a 1873


~i::~~~1 PROVJNCIAS
~ t; V ol. em litros Valor qfficial . Val, em lltros Valor qfficial V(Jl. em litros Valor o.ffici'aL

Pernambuco __ ... __.. . _.............. .. _ 4o7,6,5 70:259$000 1,661,407 220:867$000 1,999,607 278: 180 000
2 Rio de J aneiro ... .. ..... ...•...... .. .. .. 3,619,569 527:350 000 2,621,'-)83 406:668 000 950,460 137:571 000
3 Bahia.... . ........... . .... . .. . . 3,358,187 441:g12 000 2,349,649 199:401 000 6o2,844 87: 132 000
4 Sergipe ... .. ........... . . • . .. . . .... .... . 120,070 12:882 000 14,ó14 · .r :841 ooo 95-875 11:954 000
s Rio Grande do Sul. ..... . . ..... ... ..... . 59,082 10:328 000 1,485 267 000 13,982 II;2f5 000
6 iVfaranhão , _. _... __ .. __ . ... • _.. _ ....• _. . 5,357 1:057 000 21,157 2:876 000 2,401 309 000
7 Santa Catharina ........ . . . . . .. ... ...... 119,328 18:369 000 639 96 000
8 S. Paulo ...... 65 IÓ 000
9 Alagôas ... .. ... 42 8 oool
Somma ..... . .... , 7,689,304 11 082:381 oool 6,67, , 295 1 931 :920 oqo J 3,664,807 1 526:487 oco
- 150

Alves de Souza, de PernamlJllco, yelo seu assucar refinado, e


\V. T. Lins Barros, pelo seu assucar.
Na producçao do café o Brazil é o primeiro paiz do
mundo; accumulamos provas, nos capítulos anteriores, para
dem,.,nstrar que só depende dos brazileiros conservar e firmar
perpetuamente esta posição dominante.
Para a c,lnna ele ass ucar e p::tra o assucar infelizmente
.não é assim. Tem os innurneros concurrentes na cultura ela
canna. ele assucctr; n:l prü.lucção do assucai- m esmo a ..:anna
tem rivaes · muito pocl erosos . E ' preciso encarar corajosa-
mente o .futuro, e esperar o ciia em que o assucar brazileiro s6
s·~j,t e,xportado p,1ra as republicas do Prata e do Pacifico, para
regiões em que é impossível a cu ltura da canna.
Para aggravar ainda mais a situação do assuêar brazil eiro
nos m ercados Europeus, o vice-rei do Egypto, o Khediva
Isrnail, ( r) fundou, nas margens do Nilo, 2 2 engenhos de
assucar, montados com os mais ricos apparelhos e machinis-
mus francezes e inglezes, dirigidos por engenheiros distine,:tos
dessas naciomilid,tdes, e Jispondu dos braços innumeros
dos "fillahs·•. O ''fillah" é, sob o ponto de vista social, um
meiu termo entre o servo da gleba do feudalismo e o escravo,
que o parasitism u europeu introduzio na America.
O a ~sucar do Egyptu domina no Mediterraneo, abunda
nus m ercMlus de lVLu:;eilia, e fa;,-nos uma concurrenci~,
que só é superada pela· do assucar de beterr..tba. Apezar de
todas as vant,tgens naturaes d,l canna de as,;ucar, que vale tres
a quatro vezes a betenaba, a industri,t e urupéa cuncurre vanta-

( 1l (J actual Khédiva do Egypto é incontestaYclmente um dos personàgens mais


celel,n.s e mai :-. sin gulares deste seculo. H.euue o absolutismo e a dissipação luxuósa
urie:ntal a um amor p11-itivo e efficaz pt::lo progresso
E' amigo de Lesseps e de Samnd i:\a .. er; construe c idades, estabelece caminhos
de ferro e abre ca n:ies no Egypto 1 cumu se ado rnasse o parque de um palaçio; funda
acac.ie1uias, insututus e museus 110 Lai1·0 e na A1exandria: faz: do Egypto o primeiro
fonH:c1.· dor de a:gudão durante. a c1·ise de 1861 a 18õ5; t!Stabelece engt:nhos de assucar
l'l.'.) N ilo , 4ue am~st1uinh.am us maisric s dêt ilha de Cuba; conquista mysteri.Jsamente
vasto~ Lt:rrenos da N ubia e da A byss inia para a cultura do café; paga so:o.:io francos a
V.t!rd i µeb .-\ida ; côntrata D'Urmt:villc, collaborador Lie Scalvini no libretto do
"Guaran) '', p.tra poeta diJ Theatro Lyrico do Ca iru; ergue no - parque da expo~ição
de Vit:1ina um µav1lllã .,. que custa urn milhão; dá-o dt: presen te ao archiduque
R!!gni..:r, e, a cada momento, assnmbra a Europa por uma indesc:riptivel mistura de
i 01icntalismu" e de '"yankismo'' <:orno nunca. se vio no mundo!!
1
- 151 - .

josam ente com o assucar estrangeiro, não, sq na Eu i:o p,t ( I )


como no Rio da Prata. A beterraba tem rn% a 11% ele as-
sucar e a industria livre apresenta 5% a 6%; a canna tem
16% a 28% de assucar, e a industria escrava esbanja
13% a 17% deste precioso producto ! ! ...
Com o trabalh o li vre e auxilio dos bons pr, ,cessos
industriaes p6de-se aproveitar 10% a 13% do assucar contido
na canna !
O esclavagismo, como bem observo u Peligot, queimava
assucar !
A beterraba tinha por si a Liberdade e a Scien cia, quando
a canna era esmagada pelo esclavagismo e pela ignorancia !
E a beterraba venceu a canna de assucar ! Prova evide ntis -
sim a de que não póde have r indu stria algu ma prospera sem
Liberdade e sem Instrucção .
E, por isso que, Michel Chevelier disse solemnemente
na introducção aos relatorios da Exposição Universal de Pari z
em 1867 "que a escravidão era universa.lrnente consid erada
como um insulto á civilisação, como um attentado co ntra o
genero humano.
"Aussi aujourd'huil'esclavage est íl zmzversellement regardé,
disse textualmente o illustre mestre em· sua phrase elegante e
vigorosa, comme une z'nsulte à la civz'lisation, comnu 1m attmlat
contre le genrt humain I"
Na exposição uni versal de 1867, a industria do assucar de
b eterraba apresentou-se como uma das industrias mais pros-
peras e mais progressivas.
Michel Chvalier descreveu-a assim:
"La grande industrie du sucre de betteràve, dont les
interêts sont si étroitem_ent liés à ceux de l'agriculture, est
de celles qui font le plus de prog res ; on peut dire ·qu 'ell e
les accumule l'un sur l'autre.

(x] Em 1855 a 1856 havia na França 275 fabricas de asst.ic~rde hetermba, produzin-
do 92 milhões de kilogrammas; em 1866 a 1867 o 11"'-mero .das fahricas alcançt)u a 440
e sua producção 2r6,854, 667 kilogrammas !
E , a rotineira lavoura esclavagista ousava querer lutar com tão podero:,;t 1 ri va l!
"Amélioration de la main cl'ceuvre, économie du com-
-bustible, sG.reté pi us grande dans les m oyens, augmen tation de
rend ement, rapidité'clu trnv,til, rn eilleure qualité des produits,
voi!à ;des résul tats, dout il faut se féliciter, d'au ta nt plus que !e
rôle du sucre dans l'alim entatiun publique dêvient chaque
jo ur plus étenclu."
Tudo isto demonst1·a a n ossa these fundamental.
'' A cultura do assuc,ir rl<!Ve ur limitado no Brazit
. aos lerrmos de fartilulade realmm/,: prodigiosa para cmma _;
para tod os os outros terrenos cumpre adaptar o utros artigos
de ex portação de mais elevadc, preço e de mais facil m er-
cado.
XXIII.

Sum1nario. -Applicação rios principios de centralisação agricola e industrial ;l_


producção do assucar- (continuando) -Relatoi:-io de Mr. B Du1·eau na exposição
I
univ~rsa l de 1867 .- Estatistica da producção universal do assucar.-Producção
do as5ucar de beterraba na Europa. -Progr~<;So d'essa industria na Inglaterra e
na Fr::mça .-Consumo individual do assuca.r nas prin cipaes nações do mundo.-
O consumo do ass ucar, ind1ce da riqueza nacion al e principalmente: do bem-estar
das populações .

Os mais recentes ( r 874) dados, que possu imos, sobre a


prod ucção e o consumo universal do assucar, são os constantes
do aum iravel relatorio de Mr. B. Dureau sobre o estado da in -
dustria desse producto em 1867, por · occasião da 2.~ ex-
posição universal de Paris . Recommendam os muito especial-
m ente aos nossos lanadores a leitura e o estudo deste
magnifico documento, que encerra preciusas li ções sob re
agru n orn ia e prin cipalmente sobre economia rural.
Ahi vem narrada minuciosame nte a historia da industria
do assucar de beterraba, uma das paginas mais g lori osas da
historia agricola e industrial ela França, e, talvez mesmo, um
<los mais bell,JS exemplos dos beneficios imm,ensos, que re-
sultam aos povos do fe liz consorcio da Liberdade humana com
a Scien cia e co m a Industria! Eis aqui um. quadro syn optico,
confeccionado com os alga rismos, fornecidos pelo interes-
santissimo relatorio de iWr. Durea u.
- 154 -
QUADRO SY1'0l'TICO DA P IWDUC<,ÃO UN IVERSAL Do ASSUCAR.

1867 18ó6
Pesos enz Pesos t!lll
PAIZE.S PH0DUCTORES- OBSERVAÇÕES
l.:ilo- lálo-
g-,-a.11z"zns gra,nJJlas

I Europa .. __ ____ ___ _ 650,000,000 674,3501 000 Assucar de beterraba


2 C uba ... . .... . 530 ooo ooo 545 ó36 ooo Assucar de ca nn a
3 Antilhas e Guianas . . 250 000 ººº 223 071 ººº
4 Colonias fra ncezas . I 50 úOO 000 to9 771 000
5 Java. 130 000 000 130 837 000 ,,
6 Bra zil. .. _. .... 130 ooo ooo 119 561 ooo Estes algari smos são realmente
os de ex po rtação, a produc-
ção fo i muito m aio r.
7 'M
. auricia (ilha de Frnnça). 100 oqo oo,:, 1 25 089 ooo Assucar de (;anna
8 Asia .. . ........ . 100 ooo ooo . . . Dito de palmeira
9 Man ilha .... ...... :. 60 ooo ooo . . Dito de can na
10 Pano Rico .... .. . 6o 000 000 58 63g 000
!Vl exico ... .
~~ ~~ :~
11
12 America do No rte ... __ . .. ... .... Assuc~~ de erable.
13 Louisia na .. ....... . 30 ooo ooo 30 ooo ooo Oito de canna
14 C hin a . __ . ... __ .. .. _ _ _. 14 200 000
15 Ilh as de Sandwich .... . 10 000 000 1

16 Egypto ... . .J:0 000 000 A pro d ucção tem decuplado


ultimamente
17 Porto Natal (Africa) 6 000 000 Asc.ucar de canna
18 l-;lespanh, ..... 5 600 000 Provincia d'Gra nada
19 S ião ( A sia). 5 200 000
20 Penang (India). 3 000 000
2 1 Perú. . .... . l 000 000
22 Q ueensland (Oceania) 500 000

Somma .. _... 2 331 500 000

N. B. -Ha ainda 18,000,000 de ga iõe~ de xarope de Sorgho.

QuantÓ á producçãn esp~cial cio assuca r cle beter raba na


Enropa, eis o m odo p o r que foi distribuída em 1866
Prorlucçào dn a.rsumr de beterraba em I866.
1) França ..... __ 216 ,8 50, 0 00 kilogrammas
2) Zollwerein (All e manl1 a) I 92, 5 00, UO(l
3) Russ ia .. .. .. _. 100,000,000
4) Austria .. l 00, 0 0 0 , 0 00

5) Belgica .. 4 0, 000, 000


6) Polon ia . .. 19, 0 0 0 ,000
7) H oll an da .. 6,000,000

Som ma. 674,350,000


A cultura da beterraba na Ingl aterra está progredindo
rapidam ente, tanto para a fab ri cação elo ass nca r e da aguar-
d ente, como pa ra a alimentação tio gado . A proclucção do
1 55 -
assucar de b eterraba foi de 5,800 quintaes em 1872, e de
7,500 quintaes de 112 libras cada um em 1873.
Assim, po is, teremos tambem brevemente até a Ingl.i-
terra concorrendo com " Brazi I na producção do ass uca r !
Decididamente é n écessario restringir e refo rmar radicalmente
a industria saccarina neste imperio !
Apezar das catastrophes, que têm ultimam ente ri ffligido
a desditosa França, a producção do assucar de beterraba tem
progredido sempre. Não se pôde realmente ap_resentar
prova mais convincente em prol desta industria, que constitue
não só uma das glorias da França nos campos do trabalho,
como tambem uma das maravilhas da sciencia applicada no
seculo actual. Effectivamente a producção do assucar de
beterraba foi na Frnnça :
Em 1868 .. ... .... . . . . . . . . . . . 238 ,000. oo o kilog.
Em 1869 . . ........ . ......... . 242,000, 000
Em 1870 (principio da guerra) .. 278 ,000, 000
Em 1871 (fim da g uerra ) . . . . . . . 336, 249 ,6 24
Em 18 7 2 . . . ........ .. . . . ... . . 375,000,000
Em 1873 ................... . . 4 l 5,727, 000
Cultura da beterraba esta lambem progredutdo na Califorma
e no Japão.
Estes numeras demonstr,1111 que a producção ele a,sucn
na França attinge já quasi á prodigiosa export,1çãn d,t illia ele
Cu ba, o primeiro productor de ass ucar de canna no munel,),
e que já é tambem mais do triplo da exp<>rtação deste
Im perio !
E m 1871 cont:i.vam-se nada menos ele 484 fab rica s de
assucar de beterraba na França.
Os mais fortes consumidores de assucar sãn:
1. 0 Os Ing-lezes a 19 kilogrammas por ind;viduo e por
anno.
2. 0 Os Norte-Americanos a 9.
3.º As cidades Anseaticas a 9 .
.4.º A H olla nda a 7 _¼ .
5.'? A França a 7.
6. 0 A Dinama rca a 6.
7.º A'Belgica a 5.
8.<??'A Allemanha a 5.
-9.º A Suissa a 4 ¾·
10. , Portugal a 4 ,½ k ilogr,unrn as por in dividuo e por
an n o .
Os Economistas consideram o cons um o do ass ucar .c omo
um 'indi ce do bem -esta r das populações . A est,ttisti ca, qu e
acaba m os de reprod uzi r, demonstra q ue, na verdacie, os
Economistas têm ra zão; com po ucas excepções, estão al li
collocados os diversos paizes do munciu na posição, que lhes
compete, rea lmente, pela riqu eza nacional e µelo conforto,
de qu e gosam os seus habitantes.
O Brazil n ão figura neste q uaJ ro . Começam a penas
neste Im pe rio o~ trabalhos estati~ticos ;_ têm sido por tfl.l modo
descuidados que n em o problema cap ita l da populaçãu está
ainda, seq uer curn alguma app ro ximação. em caminho de
uma sol ução de confiança .
Infelizmente muitos annos ainda decor rerão antes qu e
possamos sabe r os verdadeiros alga rismos da producção, do
consumo e da exportação dos principaes a rtigos da agricu ltura
nacional!
XXIV.

Su rnn1a r io -Applicação do~ pnnc 1p1os de centr:-ilisaçâu agrícola e industrial á


producção do assuca r (Conti1luaudo) - Esta tistica dos en genhos de ass~c2r da..
provinda da Bahia, com especificf ção dos seus motores.-Quantidade enorme de
engenhos. - Insignificancia de sua producçãJ.- Dcsperdicio de força motriz, dé
combu<.;t ivel e de pessoal . -Parall elo com a producçã.o ào assucar no Egypto com o
systema dos engenhos centraes. - ·l inte e dons e1igt: n hos centraes do Egypto pro-
duze m quasi o triplo do assuca r fahricado pelns 893 engenh os da Bah ia, do~ {}_uaes
28.2 são :'l vapor.~Reforma radical nesse obsoleto s~•stema de produzir assucar.

Do inqu eri to sobre o estad o - ·l h -1-av<rnnt da · c,mna ele


assucar 1u província ela B,1hi ,, o m e lh, ->r d ocument o que traz .
o livro I,~formação sobre o estudo ,la lavm,ra, mandado pu-
blicar pelo ministerio cl,l ·taze nda , cxtrn him os o segu in te:
F.STATISTICA DOS ~NGENHOS DE ASSUCAR DA PROVINCIA D,\ BAHJ"A

-~ Engenltos
~ Situação - - -----~ -,,,- - - - .
i:;
~
j,(}1"
t '"
-lj e. "~. .§
~ 5
freguezias ~
~
CJ e
-,: ,:::: V
'O

Municipio da capital
Brotas ... .
2 Cotegipe. .. 6 .,
9
3 Mar~ . . . . . . ·. 3 3
4 Passé .. 9 ·2 '7
I 18
5 Ma ntoim . 6 -1 - ·- 7
6 Paripe. .. ... 3 3
Município ele Maragogipe
7 S. Bartholomeu .......... . I 7 4 22
8 S. Felippe (1) ........ . .. . 2 92
Município ela Tapera :
9 Tapera ................ . I 16
10 JequiriçáeArêa ........ . . . 5 60
Município de Valença:
1I Cariri, :· . . . . . ...... ... ... . 15 rs
12 Serapohy. . . . . . . . . . . . . .. 8 8
13 Valença .............. . . . 7
Municipio de Nazareth :
14 Aldêa ....... . . . ....... . . 40
I 5 Outras freguezias .... . 68
Município ele S. Francisco:
Monte....... . . . . . .. . 19 l 20
S. Sebastião 28 5 2 35
Soccorro .... . .... . .. . . . . . 9 I I

S. Gonçalo .............. . II 14
2G Catú ................... . 18 41

Município de San to Amaro:


2 r Bom jardim .... . .... . .... . 36 2 40
22 Rio-Fundo ......... . .. . . 23 7 30
23 Santo Amaro e Rosario .... . 39 12 51
24 Oliveira. ·. . .............. . 2 12
25 Saubara ...... . . . . . . ..... . 5
Municipio da Matta de S. João
26 Matta de S. João .... .... . . 23 8 32
:VIunicipiu de Abrantes
27 Abrantes. . .. . .. . 1l
~28 Assú da Torre .... . . . .... . 3 18 17
(t) Houve indeterminação sobre os motores dos engenhos de S. '.Felippe, o que
perturba ~ estatistica nas columnas-De Agua-e-De Anim~e~.
1 59 -
Municipiu do Conde :
29 Conde. . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 43
Municipio da Abbadia ..
30 Abbadja ..... - ..... . .. . . 27
Municipio da Puri-fi:caçào
31 Pedrâo . . . . .. . ... ' .. . .. . . . 2 3
Municipio da Fe ira de Sant'An na
32 Fe ira de San t'Anna . .. . .. . . 6
Municip io de Jaguaripe:
33 J aguaripe .. . ... . .... 3
Municipio de llhéos:
34 ll lié,,s . .. . .. ............ 12

Município de A logoin h as
35 Alagoinlrns . .. . .. .. .. . . .. . . 20 39
Municipio de Cachoeira:
36 Cacheira e Iguape . ....... 18 6 6 12
37 Santo Estevão e Outeiro-Re-
dondo. .... . ........... 20

M unicipio_de I n bambu pe:


39 Inhambupe . . ...... . . . . 1_5

Total. .... . ... 282 893


São, pois, 893 engenhos, já classificados, · além de
inn u meras engen li oca,s, que só fabricam rapadura, mel e
aguardente . . Desses 893 engenhos 282 são a vapor!
Não ha ainda desgraçadamente neste Imperio estatística
da producção agrícola ! _
No em tanto, com os algarismos, fornecidos pelo inq uerito
sobre o estado da lavoura na provincia da Bah ia, nós vamos
. obter um a lgarismo, mui to approximado, da producção total
de assncar nesta província.
- 160 -

Effectivamente tem-se no .exercício de 1872 a 1873:


.Kilog-rs.
. Exportação de assucar para os paize~ estrangeiros 50,127,659
· Exportação de aSS\lCar para as óu tras · províncias I, 138,290

Somma ....... ; ... . 51,265,949


Evidentemente, para ter a prod 11cção_ total s6 devemos
.:...----acçye·s centar á esta som ma o consumo interno.
A falta de vias de communicação divide este Imperio em
duas zonas: a zona do litoral, · que goza, mais ou menos,
de todos os reg,dos da civilisação; e a zona intern:1, que vive
privada de tudo, talvez ainda mais triste e miseravelmente do
que nos tempos coloniaes. Não temo$ aqui espaço para
registrar as dolorosíssimas reflexões, que essa observação nos
suggere ! ! .. _..
Na especialidade, que ora nos occupa, basta lembrar que
os habitantes elo l'itoral usam de assucar, e os do interior,
quando muitu, de mel e de rapadurn ! Assim, em toda .a
população eia provinda da Ba·hia, que orça d~ r 000,000 a
1,200,ooo _habitantes, não h-a com ceneza mai" de 300,000
p.e~soas que façam uso du assucar !
T qmancl,> o consumo de_20 ki.lugrammas por habitante,
maior cfo que o consumo ela propria Inglaterra, que é o
maximo conhecido e só chega a 19 kilogrammas, terem,Js que
o consumo em assucar pelá prcipri·à prnvincia da Rd1ia nãu
excederá de 6,000,000 kilogrammas por _a nno.
Assim, P"demos orçar a prod·ucção total :
Kilogrs.
Exportação p,u-a o estrangeiro ..... . ...... '. . . 50,127,659
Idem para u Imperio .. . . ... .. ....... . . .. . . . I, 138,290
'Cnn,um" da província da B,t!1ia (pelo maximo) 6,000,000

Somma ...... :..... 57,265,949


Ora, o _Khed1 va Ismai t_ lem sómente no Egyptu 2 z en-
genlws centraes, que- lhe produzem r46, 250,000 kilugrammas
de ú,sucar. Assim, µuis, 22 engenhos centraes do Egypto
161

produzem quasi o triplo dos 893 engenhos· da Bahia, dos


·q uaes 282 são a vapor !
Comprehendeis bem que são 282 machinas a vapor",
282 mestres de assucar, 282 machinistas, 282 foguista~,
282 jogos de moendas e assim em diante!
Um pessoal enorme; um material velho, mesquinho,
insufficiente e incapaz! Tudo isso mal gerido e_mal situado;
algumas vezes a clistaiicias impossíveis das boas vias de com-
municação ! Quanta machina _a vapor obsoleta ! Que des-
perdício de combustivel ! Quanus moendas vertic.aesdeixando
no bagaço quasi t"do o assucar l Quanto mestre de assucar
ignorante e rotineiro ! E como synthese e corollario de tudo
isso um desperdicio de tempo, de capital e de pessoal nesta
industria, que exactamente pede braços e pede c, edito
territoriaL
Parece que está sobejamente demonst,'ado, á ultima
evidencia, que é necessario, que é urgente, que é indispensavel
esta reforma radical:
Rnfuzzr todos esses engenhos obsoldos t zinpossiveis a umas
vinle fabricas centraes, dii-igzdas por engenhéiros industriaes,·
mumdas dos apparellzos maú aperfeiçoados, e servidas por vapores
jluviaes ou por vias-yerreas _
/
XXV.

Summario_ -Applicação dos princípios de centralisação agricola e industrial á


producção doassucar. ·(Continuando) .-Recordação de uma \ição de Jean BaJ}tiste
Say sobre a cultura da ca~na de assucar e o esclavagismo . -O assacar e a escravidão
na America·. -Um e.rro fatalissimo de Economia Politica.-0 erro é a causa da -
miseria dos homens. -Uma das mais sabias paginas de Joseph Garnier .-Sacrificios
que faziam os. Frant.e zes p:?.ra sustentar a producção de assucar com escravos nas
suas colonias . -Exageração dos impostos sobre o assucar.-0 fisco eia pelo menos
tão prejudicado quanto o povo.-Foi necessario o cataclysma de 1848 pa':a terminar
com todas essas iniquidades, com todas essas injustiças e com todas essa$ miserias .

No seu admiravel Curso Completo de Economia Politica


Pratica, · Jean Baptiste Say escreveu um capitulo qtié, por
cert_o, nunca foi lido e, muito menos, estudado pelo_s usufruc-
tuarios desta terra. • 1 .
E' o capitulo VI do 2~ volume, que tem ·por ep1graphe:
D.e la mlture dtí rncre et de l'esdavage des 11egres.
Vamos reproduzi-lo _e estuda-lo nos topicos mais con•
nexos com o nosso assumpto.
Começa assim :
' ' Vi o-se; nos tres ultimas seculos, europeus, que se
diziam christâos e -civilisados, renovar, e mesmo de um modo
mais hediondo, o systema dos pagãos e dos barbaros, de -
culti.var a terra com escravos, á força de açoútes. "
Esta pala;ra _",~çoutes" nos desperta tristes reflexões sobre
a pena de áçoutes, que a barbara oligarchia deste Imperio
ainda conserva para os infelizes escravos.
A Coi;istituição abolio neste paiz a pena ele açoutes, como
_todas as outras · penas barbaras, na santa intenção de não
alimentar no povo brazileiro instihctos ele crueldade. -
O bell0 artigo 179 da Constitúição do Imperio diz textual-
mente:
· Artigo 179, § XlX.-"Desde já ficam abolidos os aroutes,
"a tortura, a marca de ferro quente, ". todas as mais penas
'' crueis. •·
Assin,, pois, é bem claro que nenhuma dessas penas bar-
baras, tristes legados ;;_los miserrimos tempos do absolutismo,
p6de figurar nos codigos do Brazi L '
E' es.t ulta e sophistica a objecção que a Constituição não
se·refere a escravos.
Evidentemente refere~se á abolição da pena em absoluto.
A Constituição niio disse, hem plideria dizer, a necedade
que os cidadãos brazileiros não poderiam ser açoitados; çlisse
2im que a barbara pena de açoites não seria jámais executada
no Brazil !
A Cünstituição quiz evidentemente prevenir que, ainda
no anno de 1874, um ministro _da justiça deste Imperie>
assjgnasse trez ou quatro avisos sobre pena de açoutes aos
infelizes escravos.
Foi esta tristíssima prnva de nosso abatimento moral e
de nosso estado de barbaria, que a Constituição quiz prevenir
que dessemas ao mundo civilisado !
A~, Deus de piedade1 que todas estas miserias terminem
quanto antes!

"Os conquistadores, que invadiram as ilhas do golfo do


Mexico, proségue Jean Baptiste Say, não podemlo escravisar ps
indígenas, os extermináram, e foram á costa d'Africa roubar á
força pretos, que nunca lhes tinham feito o menor ma.!,
para cultivar ilhas, que elles occupava s6 pelo direito da
força, e que . elles tinham reduzido a desertos. De tudo isso
resultou um s.ystema de . cultura, que convem ' apreciar em
um curso de Economja Politica .
"Antes de se ter chegado a conhecer bem ós principios
da economia das sociedades, julgava-se qu e convinha a uma
nação culti va r em ~e u territorio todos os artigos para seu con-
sumo, de preforencia a produz:-los, sob outra fórma; e obtê-los
por meio rio commercio, isto é, de preferenóa compra-los aos
estran geiros, ainda mesmo · que se pudesse, dest'a rte, c·o nsegui-
los com m e nor dispendio. Em C(' nseqn encia desse erro,
ligava-se. uma g rand e im portancia a possuir, nos paizes eq.ua-
toriaes, co]onias, onde se c ulti vassem as especiarias, qu e a
E uropa -não podia · produzir. Depois dos ultim os progressos
das_sci e1_1ci.as econom icas, qu e trou xeram a convi cção de con-
sistir todo o progresso indu strial em po<h:r-se adquirir por
m en or preço os m esmos productos, qualquer que seja o meio
pelo qual sejam obtidos, a qüestão se reduzio a saber se o
assucar, por exemplo, fica me11os caro se nd o -cultivado por
n ossas colonias, d.o que qua ndo é com prado por intermedio
do commercio estrangeiro."
R es um e assim nestas eloquentes pa lav ras .o. grande
mestre a ·origem de todas as guerras das nações européas na
lo uca am,bição de possuir as mais•vastas colonias na America;
a histo ria de todas as barbaridades, com m ettidas na extincção
dos infelizes Indios, e o recurso .Sfl;tanico de recorrerá Africa
para povoar com escravos a America. que saqueavam e
ensangu entavam.
Tudo isso não tinha outra base, excepção feita. dos máos
instinctos e dft monornaniá de sang ue, que então depravava a
raça humana, senão um erro de 1-<: conomia Política. E ' por
isso qu e tim mestre, tambem muito illustre, Josep h Garnier,
disse:
'' O melh or meio de m elhorar a sorte ela especie humana,
isto é, de augmentar a producção, ele acti-var -a c_irculação, Ele
to rnar a distribuição mais equitativa, o consumo mais provei-
toso, é o ensino, em geral, e o ensino das vereládes econo-
- 166 -

· micas. em particular. E' tambem ·O melhor meio de obter à


trnnquilli.da~le social, e, ao mesmo tempo, o progresso; porque,
com .a -sc;iencia e co~sciencia das leis economicas, as massas
sãCJ menos levadas a attribuir á sociedade os males, qne vêm
e . que soffi~m; aproveitam mc:lhor as vantagen~ -sociaes, e
procuram, ~m uma direcção mais racional, a~ condições do
seu bem-estar. ,
"A Economia Pcilitica. combatendo os systemas falsos,
os abusos, os precon ceitos, as utopias , e as illusões; mos-
trandu a verdadeira natureza das cousas, contribue poderosa-
. mente para diminuir o erro, isto é, a 111iseria, e ao desenvol-
\'Ímento do bem · estar e d,t moralzdade ~- porque, como disse
l\'lalebranche : - O erro é a causa da miseria dos homens.

•·Havia um m eio simples de decidir a questão, continúa


Jéan Baptir,te Say: era sujeitar a direitos iguaes todo o assucar,
c1ualqu er que fosse a sua prucedencia.
··Os consumidores então comprariam aos paizes, que
furnecessetn unis barntu. Não foi assim que se fez. Para
11, •s ubrigar a preferir o assucar das nossas colonias, sobre-

c,1 1-rcgáram de direitos de entrada o assucar dos paizes


estrnngeiros; que custa me110s. A l·ei que nos ,rege em
França no m o m ento em que escrevo (1828), sujeita o ass ucar
que vem das possessões estrangeiras a direitos, que excedem
de 50 francos (cerca de 18$ da nossa moeda) por quintal
m etricu •( H>o kilngrammas), aos direitos que pag,t o assucar
d ,ts colonias trancezas. .E o que faz suppôr que este assucar
~,the 50 francns mais caro do que o assucar estrangeiro é
qu ê ~e acha sempre algum , que sujeita-se a es tes direitos,
e que, no emtanto, é vendido na França pelo mesmó preço do
assuc,tr das CDlonias francezas . Se o assucar esttangeiro
µ,1gasse u mesmo direi to que o elas colonias francezas, p,,deria
ser vend id o 50 francos mais barato.
"Com esta j)oJlitica an imou-se um,, pruducção desvan-
' Ujus,t ; u m,t prnd uc<;ãu que dá prejuízos ; e para que os
autores desse prejuizo, isto é, os colono~ não o su pporta_ssem,
fizeram-n'o pôr a car&o dos consumidores francezes ·!
"0 consumo actual (1828) do assucar na França orça
por 500,000 quintaes metricos ;. ora, se nós comprássem0s
esta quantidade de assucar na India, ou em nutro paiz. por -
menos 50 francos em cada quintal metrico, é eviden'te que,
mesmo pagando os mesmos direitos de entrada, o quintal
metrico nos sahiria por menos 50 francos, ci que nos produ-
ziria uma economia annual de 25 milhões de francos, que
nós poderiamos destinar á com pra de outros a1;tigos de lié~c
estar, sem que por isso o commercio francez ganhasse menos ;
sem que o thesouro publico sciffresse diminuição nas suas
receitas ! E' mesmo proy,'lvel que o commercio e o thesouro
recebessem mais, porque uma diminuição de 25% no preço
cio assucar augmentaria consideravelmente o seu consumo. "
O que respondiam a estes argumentos .os subios ministros
da França de 1828? Nada.
Do alto de suas cadeihs ministeria~s sorriam de despeito !
''Que utopista incorrigível. que é. o tal mestre desta pretensa
sciencia economica !"
No em tanto elles não viam no horizonte _nem 1830 nem
1848, que devia acabar de uma só vez com todas essas
Jlecedades, com todas estas injustiças, e com todas essas ini-
quidades! Não vião 1848, soffrego e de_satinado, como todo
o revolucionario, lançando por terra um throno, no emtanto
o melhor que jámais se ergueu na França, e emancipando
sem preparação, nem _providencia alguma, em um só dia, _
todos os escravos das colonias francezas ! !
, r•

XXVI.

SumnJ.ario -Applicação dos principios de centralisação agricola e industrial á


producção do assucar.-Reco rdação de uma lição de Jean Baptiste Say (co,;tlm,a:n-
do).-0 sophisma dos lavradores da canna de assucar mis eolonias francezas -
Harmonia dos interesses legitimos. -Q\1em mais s:iffria.-0.s francezes, os colonos ou
os escrn vos ?-Avaliação do sala rio do escravo - O luxo, o jogo, a ociosidade e a
vida depravada dos esclavagistas. -O trabalho de:-.honrado.-Systema de corrupção
geral.-] nfluencia perniciosa do esclavagismo em todos os membros da sociedade
d esde a menina até o cidadão.

Continuemos a estudar Jean Baptiste Say. Não ha


estudo que mais aperfeiçõe e rectifique a intelligencia do que
o da Sciencia Economica. Te1~de sempre junto á vossa cabe-
ceira o Evangelho e um bom l_ivro de Sciencia Economica. O
Evangelho vos ensinará a caridade de homem a homem ; a
Sciencia Economica vos ensinará a caridade de nação a nação.
Jêàn Baptiste Say proségue assim :
"Devemos, perguntarão, sacrificar • os interesses dos
habitantes de Martiniq ue e de Guadeloupe, que são ·nossos
concidadãos, ou ao menos fiihos de nossos concidadãos? Eu
lhe, perguntarei , em réplica, se devemos sacrificar os interesses
cios habitantes da França, que nos são ainda mais íntimos?
Não será melhor, em lugar de ·favorecer uma cultura incon-
veniente, na qual ha de haver por força alguma victima, des-
anima-la e produzir gradualmente uma reforma do systema? !
- r70 -

Isto é tant,1 mais necessario quanto este systema defeituoso não


p6de _lutar vantajosamente contra a força elas cousas.
"Apezar dn sacrificio, que se exige de nós, fazendo pagar
o assucar mais carn, apezar das despezas com a marinha
militar e com as guarnições ; apezar das guerras, que somn_s
obrigados a sustentar para defender as ilhas, que nos produzem
assucar ; apezar dns crimes, que pezam sobre nós, perante a
humanidade, para obter es_sa producção, : não conseguiinos
cousa alguma e os nossos colonos. se arruinam , porque cada
d-ia .s e individam mais!" ·
O poeta ( 1) diria :
. ..... Qual manifesto
Segno d'alto voler !
O mestre Bastiat repeteria :
"Tous les interêts légitimes sont harmoniques. "
Sim : toclos os interesses legítimos são lrnrm c,nicos;
pôclem perfeitam ente subsistir e progredir de accórdo, como
as harm onias de um admiravel crescendo de Meyerbeer ! Per<le
o seu tempo quem julga regar a arvore da sua propriedade
com as lagrimas dos seus ~emelhantes !
E Jean Baptiste Say reforça em nota a sua sublime
observação :
"Os regimentos, que embarcámos para o serviço de
guarnição das colonias, sào dizimados pelas intemperies, e só
partem com extrema repugnancia. Fica ainda pendente uma
questão de dfreito publico: - a C<•nscripção militar cte toctos
·os cidadãos de uma certa idade. de justificação possível quando
é necessario defender o paiz contra uma invasão estrangeira,
p6de ser tolerada quando se trata de ir á America sustentar
pela força um regímen contra a natureza? ! "
S6 Deus sabe quem mais soffreu por todos esses erros e
em todas essas miserias : ..::_ os francezes, os colonos ou , os
escravos? ! Opprimidos e oppressores ; victi mas e algozes ;
certamente eram lodos: - mt'.reravds.

(1) Giuseppe Montanelli. -Tragedia Camma -Atto Primo-Scena I [Dio/aral.


- 171

Continúa Jean Baptiste Say:


"De ond·e provém que as despezas de producção do
assucar são superiores au valor natural do producto? Será da
lavoura com escravos? Será da incapacidade dos lavradores,
ou provirá de difficuldades maiore,; duque existem em outras
localidades? Confe5so que estas differentes questões me
parecem .de solução difficil.
"Sem duvida que é uma especulação, ridicula fazer na
Europa custosos armamen tos de navios para ir a 1,000 leguas
de distancia comprar homem,, transµorta -los depois a mais de
2 , ooo leguas, para outro hemisp li erio, afim de executar afinal
apenas o serviço du st!rvente mais rude. Os riscos do trafico
dos Africanus, do m esmo modo que a vergo(1ha, . inherente a
este infame cummerciu, exigem ser cobertos pelos seus gànhos;
d'abi pr_uvém um alto preço parans pretos intro<lu zid os nas
Antilhas.
"0 comprador tem de p~.gar o juro dn preço de co mpra ;
estes juros devem ser calculad os como nas rendas· vitalicias, por
isso que perde-se o capital em caso d e morte do escravu;
além disso esse juro é sempre ctlev,Hlo porqu e os colonos não
podem obter Jinht!iro por jurus modicos. Ha, além Jisto,
muitos prejuízos n est.i triste mercadoria! Muitos escravos
morrem de dôr, de nostalgia, de excesso de trnbalho ou pelo
suicídio! Ha obrigação de trata-l os nas molestias e, a menos
de ser carrasco (r), de nutri-los durante a velhice. Todas
estas despezas sommadas representam o salario, que se paga a
um opera ria livre, e devem represe ntar em salariu elevado! .
'· Este sala rio será aincfa avaliado mais alto se se consi-
derar o pouco interesse, que o esc ravo tem de trabalhar muito
e Lem. O seu intere:;se im!ll e.I ia to é occ ultar o mais possível
a sua capacidade para u trabalho, por isso que seri infallivel-
mente augrnentada a sua tarda, logo que se reconhecer que
elle póde mais. O preto só tmballia sob u chicute do feitor;

(1] A iniquidade colonial achou solução ao problema; accusavam os cscravc;>s


invahdos de crimes, sujeitos á pena de morte, e recebiam do governo france2 o valor da
sua victima ! . _.
172

mas, além de ser o chicote um estimul-an te muito impe rft! ito,


as chicotadas constiluem rigorosam e nte utí1a especie 9e mão
de obra, qu·e não deixa de ser di spendiosa, pela simples razi\o
de se pagar aos feitores sala rios mai s elevado~ do qu e aos sim-
ples traba:lhadores .
"Emfim, cofn o todas as despezas devem se r computadas
n o julgamento d o velho e obsoléto systema da escrav idão,
tanto as despezas, causadas pei ,,s se nhores com<> pelos subo r-
dinados, recon h tce r-se-ha que, na exp lo ração da terra nas
colonias, fazem •Se gastos enorm es, proveni entes do mod o d e
vida dos lavrado res .
"Dizem ell es qu e o regim en da escraviclão exige que o
senh?r viva cercaclo de fausto, e a lim entacl o de sensualidades.
afim de qu e o escravo se cut!Serve n os limites da submissão e
do. temor. E' preciso que o lavrado r·, sua mulher, se us filhos
e suas filhas, tenham muitos escravos e escravas, occ up·1clos
exclusivamente no seu se rviço particular, e p"rtanto inuteis á
producção rural. Em um calculo bem feito dos gastos da
producçã n, é preciso ajuntar as despezas,c muito mai o res, feitas
com os escravos, e mpregad us nos dive rsos serviços domesticos. ''
Notai em primeiro lugar a verdade da desc ripçiio, feita
po r Jean Baptiste Say.
Fica-se em duvida se elle está descrevendo um a plantação
de canna de assucar ela Ma rtin iq ue o u Guadelou pe ; ou um
engenho de Pernambu co on <la Bahia !
E stá-se presenciando o luxo, o jogo, a vida d e nababo,
que o senhor de escravos affirma qu e são inclispensa veis ao
systema esclavagista ! Parece vêr p,1ssa:r esses in1rnme ra veis
lacaios e mucamas, que cercam cada pess oa da familia do
lavrador!
A menina (e tem de s_e r mãi), ind olente e caprichos;,,
cercada de um sem num ero de muca ma s, que lhe cortam as
unhas das mãos e dos pés, que lh e penteiam o cabello, em-
quanto ella pensa, n ão. .. não se p6de pen sar cercada de .
'escravas, emquanto ella b oceja e espreguiça-se, amollece nd o
o corpo e embrutecendo a alma !
- 1 73

"Conclu;i.mos, diz J ean Baptiste Say, resullcl de tud o


isso um systema vicioso de corrupção, que se op_põe aos mai s
bellos desenv9lvimerítos da industria. O escravo é uin ser
d epravado, o senho r n ão o é menos; n em um nem o utro
p6d e conseguir ser C<:;>mpletamente industri oso, d ep ra'vam até
co m o seu ex:empl o o ho m em livre, qu e não tem escravos. _O.
trabalh o não póde ser honrado (1) no mesmo lugar em qu e
ell'! é considerado infamante . Nos senho res a inacti vidade da
intelligencia é a consequ encia da inactividade do corpo; com
o chicote na mão ·fica o senhor eviclentem ent~ ciispensado d 0
trabalho de raciocinar !. . "

í I] O brigadeiro R ay mundo José da C unha Mattos, em uma inte ressa!'! te memoria


sobre a provinda de Goyaz, confirma com este irisante e xemplo essa these de Jean
Bap tiste Say. ·
"Os e scravos acabara m, pelos motivos que a pontarei quando tratar da população; os
homens livres não querem trabalhar para não se parecerem ou para não se confundirem
com os escravos.
" Lembrados das antigas riquezas de se us maiores, sabendo que e lles possuiam e
trabalhavam com escravos, e que os homens livres ~ão se occupavam no duro serviço da
mineração, conservam-se em apaihia e ociosidade. Ha bem poucos hõmens livres de
nascimen to, que t rabalhem em lavras St!ccas on nos rios : os escravos, ou algum preto
ou pardo liberto, são os que por ventura e, em numero mui diminuto, extrahem o pouco
metal que ainda apparece; e é tão desgraçada esta ge nte, que pa rª' dar pasto á sua
molleza, ou ociosidade, não trabalham emq ua nto lhe dura m algumas oi tavas de ouro que
tiram!"
Tacs são por toda a parte os misera veis resultados da escrnvidao !
(Vide Revista dci Instiluto Historíco, T o mo Vtl , pag. '296 . )
XXVII.

Summario.-Applicação dos principias de centralisação agricola e industr:ial á


producção do assucar. (ContÍ1t11andoJ.-Refutação da these predilecta dos escla-
va&i-stas: A cultura da canna de assucar só é possível com escravos.-Exemplos de
Cuba e Martinica.-Excmplos do Rrazil.-O systema de producção do assucar
adoptado pelo major Acciolly Lins, de Serinhaem [Pernambuco].-Resultados ob-
tidos.-Trabalho C,JffiO de homens livres.-Exemplo na provinda da Bahia.
-:--Pr9ducção do assucar no engenho Pimentel.-Desc~pção do systema ad_o ptado
pelo Dr. João Garcez dos Santos .

A cultura da canna de assucar, dizem os esclavagistas,


só é passivei com escravos. A Sciencia e a expériencia
respondem-lhes: a industria agrícola da canna de assucar,
como qualquer outra industria agrícola, manufactureira ou
commercial, p6de viver e prosperar muito melhor explo-
rada por homens livres do que por escravos.
E n6s exemplificamos: quando as colonias francezas
tinham escravos, viviam (1) a pedir sempre ,Í metropole

[1] No 'já citado rclatoriv de l\L B. Dureau sobre o estado da industi:-ia do assucar
na exposição de Pãriz de 1:867, conâemna assim o emprCgo do!. escravos na producção
do assucar; "Cettt: infériorité (du sucre de canne) tient à des causes cqmplê:xes, que
naus n'hésitons pas à faire remontei- à les esclavcs, odieuse instituition, qui a faussé
tout le mecanisme de la société coloniale et dont l'influence funeste s'est fait sentir
jusqu'à nosjqurs." ·
Assim, ainda em .1867, dezenove annos depois da emancipação dos escravos das
colonias trancezas, realizada em 1848, pesava sobre as colonias francezas a fatalidade da
escravidão, que falseára todo o machmismo da familia e da sociedade colonial!
- 176 -
o obsoleto favor de direitos protectores para amparar o seu
assucar. Presentemente com braços livres, graças aos novos
pn nci pios de cenlra!Lraçâo agn'co!a, gmças aos grandes engenhos
centraes, a industria saccharina dá 18%, 35% e àté 48%
de renda liquida em Martinica! Os famosos engenhos da
ilha de Cul'a, exploradns com escravos e com o maior
luxo, dava1n apenas 4% a 6% de renda!
Respond e r-nos0 hâo : isto se passa ou se passou em
colonias frnn.:ezas e 11~0 no Brazil. E', pois, necessario dar
exemplos deste propriu paii: . Daremos um de Pernambuco
e uutn;, da Bahia.
Em 1871 publicaram os principaes jornaes do Imperio
este artigo :

"0 illusLre liberal µe rnambu cano, o major Accioly Lins,


senhor de engenho de assucar na comarca de Serinhaem
(Pernambuco), dominado pelas inspirações patrioticas e
humanitarias do seu · coraç:Í.o, e desejando dar sincera~ provas
de quanto é imm e1isa a leal dade, com que adhere á reforma
social e política, que pi-etende o partido liberal em _relação ao
dr11milo servil, o Sr. Major Lins praticou -o seguinte :

1 .0 Libertou o ventre ele todas ,ls sli<tS cscrans de,;-


de já;
2. 0
Alforri()u todos os outros· •escravos varões, no prazo
de 10 annos, a contar de 14 de Outubro · de 1869, e fin-
clando-'Se em 14 de Outubro de r 879, de sorte que, . n 'este
-ultimo dia ficarão todos livres, -como se de ventre _li_vre na-sce:;-
sem;
3. 9 Prohibiu que o seu feitor e mais empregados do
engenho castiguem com bordoadas os ditos escravos, . assim
alforriados, durante o espaço de dez annos, no q uai tem
elles a obrigação ainda de servirem no engenho.
' O numero dé escravos do Sr. majur Lins passa d e qua~
renta.
Sobre e;;te acontecimento escreveu elle a um ' amigo a
seguinte carta:
177
"Amigo e sen.hor.-S. C. 16 de Março de 1874.~
Tenho presente o seu prezadu favor, de hontem d~tado, ao
qual respondo, como exige. :
"E' ve1dade o qu e pergunta o nosso amigo do Recife:
ha quatro annus que considerei livre o ventre de nossas es-
cravas; assim como tambem é verdade que marquei a todos
os escravos uma época µara !': ua liberdade, e isto para aquelles
que não pratica rem crime~, não fugirem e me quizerem
servir até á época m,ucada, a qual é de 10 annos, os quaes
cu m ~çaram a seF contados de 14 de Outubro de 1869.
Fiz mais: o meu feitor e mais empregados não podem
castig,u nossos escravos com bordoadas, e só sim com pala-
vras repreh ensiveis .
''Não. estou arrependi<lo do que prntiq uei : o nosso ser-
viço caminha como d'antes, e eu mais descansado porque
tenho ob.servado que o maior numero delles trabalha co'tno
ho.-1uns livres, e nãu po r medo do ·ch-icote do feitor. D e nosso
gr,ven10 nao podemos esporar nada de bom .: é preciso que n6s
mesmos vamos fazendo alguma cousa ·em favor ela liberdade,· a
qual nLmc,t poderemos ter, n e m mesmo desejar, emquanto
Livermos em nosso seio este cancro ela escravntura.
'' Não mandei publicar .esta minha resolução porque não
qneria que se dissesse que eu estava fazendo alarde della. · Se
a p11Lil1caçào deste meu feito s.ervisse ele estimulo, e fizesse
igu aes serem praticados por outros, eu de bom grado acarre-
taria com a odiosidade dos escravucI·atas. No émtaqJo faça o
que bem e ntend er. Desculpe ter sido tão prolixo em minha
resposta. So u se mpre seu amigo attento e ob rigadíssimo.-
Pedro de Barros A. Lim.._ "
O exemplo dad o, na provi ncia da Bahia, não é menos
eLoquer,-Le; const,l da seguinte carta publicada lambem em
var1os jornaes e m r 870 :
'' 111111. Sr.- Em o mez pruximo p,tssado recebi uma
honrosa carta ele V. S ., na qual convidava-me a enviar á
Sociedade Libertadora Sete el e Setembro o titulo garante da
resol ução que tomei de libertar o ventre de todas as minhas
- 178 -

esc;ravas, com a obrigaçíl.o de cuidar dos filh os até · á maiori-


dade; assim como pedia-me dar-lhe uma n•)ti cia precisa· e
minuciosa do regímen econ omico, adaptado no meu engenho
Pímentel, no sentido de dulcificar a condição dos escravos, e
preparar a transição do trabalho forçado para o trabalho liv1·e.
"Neste momento acho-me apenas sujeito a satbfazer a
segu-nda parte da carta recebida pela razão de já ter entregado
á Sociedade Libertad ora Sete de Setembro o autographo do
aqo mais digno de toda a minha vida, por ser aquelle que
mais me approxima do bom Deus, que, em verdade, não der-
ramou seu sangue para a escravidão do homem, e sim pela
liberdade do genero humano.
' ' 'Sem a alta insubordinação do peccado, um filho de
Deus não póde ~er captivo do homem. Sempre pensei que
o _trabalho escravo, condemnavel em these, barharo e impio
na applicação, tendo batido em retirada do mundo 'civilisado,
seria tambem levado de vencida no nosso paiz, no compasso
em que elle se fosse illustrando,
'' Uma instituirão violenta e cruel, sustentada especialmente
no interesse dos maú fortes, não p6de viver 11ulefimilamenle a
ajfrontar o direito e a mrJrat, a contrariar o progresso ria sociedade.
Quem 4uer o mais, deixa o menos.
« Depois de haver completado minha educação, sentin-
docme com gosto pela vida agric0la, procurei estabelecer-me
nella e fazer pór mim alguma cousa. Effectivam ente, em
r 8 57, principiei com cinco · escravos e · alguns trabalhadores
livres a preparar uma fazenda para criação, em terrenos devo-
lutos por mim comprados ao Dr. Barros Pimentel, situados á
margem do rio Ipojuca, e a administrar o engenho Bom Gosto
do meu finado pai .
" Fiz amizade estreita com o trabalho, e, de posse de
algumas idéas boas, comecei a pratica-las e a ter proveito :
proseguia satisfactoriamente, quando, em 1864 , fui eleito
deputado provincial. Entre os eleitos da província manifeste i
minhas idéas em favor do trab;tlho livre, pedindo premios e
favores para ·os lavradores, que primeiro abraçassem esse
1 79

caminho recto, mais legitimo, melhor e mais prospero, 1bai1-


donando o circulo vicioso e espinhoso, onde nossos avos e
nossos pais p,nlcram-se, t onde ainda agora 116s lutamos com vigór
e sem maior _/orltma.
" ·Enlre os philantropos, entre os homens liberaes, meu
pensamento achou apoio e até louvor ; mas a maioria dos
lavradores condemnou-o, e mais de um homem de le,tras,
inscreve1do-m e no cata logo dos utopi stas, contestou-me a
possibilidade de ser pr:=tticado nesta terra aquillo mesmo que
·em o utras se teri1 feito e se está fazendo. - ·
"Urn distincto collega, combatendo-me, disse: A lavoura
do assucar s6 pode vivo· cnm a escravidão. Os homens làJres são
i11rompalirJtú. ( ! ) "
XXVIII.

Surnrnario.-Applicação dos principios de centralisação ag ricola e industrial á


producção do assucar. - Refutação da these predilecta dos esclavagistas. -A cultura .
dri cnnna de assucar só é poss ivel com. escravos.- Descripção do systema adoptadu
pelo Dr. João Garcez dos Santos (conti1tuando).-Seus esforços na assembléa pw-
vincial da Bahia. - Opposição dos esclavagistas.- Prova pratic~ da sua reforma~,
- Silencio calculado dos esclavagi~tas sobre ·a victoria do engenho Pl1neutcl.-
Detalhes sobre o regimento do trabalho.- Systema cooperativo. - Utilisação dÕs
meninos. - Preparação e _educação para a Democracia Rural.-Reforma;nos habitas
de parasitismo Cociosidade dos aggregados da lavoura.

Prosegue nestes termos o ·benemerito Dr. Juão G u·ce1.


dos San tos :
"Todavia, a Assembléa Provincial da B.thia de 1864.
composta em SLJ;t maior parte de uma pleiade illustre de
moços talentosos, approvou o pwjecto ele lei que ap resentei.
concedendo o premio de 2:000$ aos seis primeiros lavmdores,
que, á frente da reforma e com homens livres, produzisseni
5,000 arrobas de assuc;ar em uma sarra.

Interpellado sobre a exeq uibilidade da nova f6 rm a do


trabalho, e vendo opposição e descrença aos meus bons de-
sejos em prol da grande lavoura, perto da qual eu descobrira
sem véo essa situação, que caminha ince rta, clerrn.m,tnclo o
susto, resolvi procurar directamente o ca mp u, onde a minha
- 182

experiencia devia ser tentada para prova certa de minhas


convicçõe!:), de minha sinceridade e de minh,t boa fé.
"Pa ra isso comprei q engen h o Pimenlel com sacrificio;
porque, apezu d.o ~pu io do m eu chorado pai, cont rahi um
debito s u p-:rior a 15 :o:J:J$. O estado da proprieda.de era
desa nim ado r. Nenhuma casa e m bom estado, ruínas geraes .
, O edificio do engenho, _pôdre .e escorndo, ameaçava desabar.
Os apparelh,.1s todus in va lidos e · incapazes de serviço As
cerc.ts, cahidas. As te rras esgotadas ( 1) por urn a rotina longa
e por us,.>s es_tragadores. Os pastos sem beneficio. As la-
vourns sem defesa. Havia no engen ho algumas can nas mal
tratadas, e sómente tres lavradores tinham plantações em
m elho r estado . Possui a eu, n estas ci rcums tancias, I 2 cap-
tivqs, entre! grandes e pequenos, e lh es reuni 5 \'elhos com-
.prados com a esperança de os libe rta r, e . de encam inha-los
para tão nobre fim de companhia, co:n os que eu possuía,
vivendll ness,t agradavel espe rança.
"Re u11i m eus afilhados e amigos, e metti hombros á
em-preza em o rnez de Ab ril, e, com a perseverança e habili-
tações que ténho, reedifiqLtei prornptamen te a casa cio en-
genho, e no dia 1° de Outubro do mesmo anno de 1864 dei
começo á m o,tgem, in,lllgurando exduúvamenle braç,;s livres
na fabricação de as.mcar . Senti serio e vivo prazer. Saudei
o berço de um · co m mettimento esperançoso para o meu
coração e para o meu p,tiz, com o testemunho de cidadãos
impo rta ntes, de visinhos e de amigos competentes para a
apreciação; e todos, observa ndo a verdade do feito, conti-
nuáram a duvidar e.la efficacia do se u progresso, attribuindo-o
a ntes ao ,tffago e condescend encia para com o homem, á

! 1l AinUa os agrono n1o s e os lavrad ores não esLão de accôrdG ~obre o melhor
e:;trume ou rcs1auradur para as terras esgotadas pela ca nna de as~uca.-. Para. a beter-
raba e:- tá reconhecido que a cal augmenta a potencia saccharina, e que Cl humlls e os
e:--trumes azotados augmcntmn desmesuradamente o vulume e o peso das raizes. Os
lavradores de pouca fé abusam na França dos estrumes azot:1dos em prejuizo dos Fabri-
...:a1ues \:: d-:,:; rdinadores {V ide Dureau. '·E• Lat de !'industrie du sucre" - l{aport sur
l' Expositio1 1 Univers<;-lle de Paris de 1867. - J om. XI. p:ig. 299 ). -
U j,rofes~r Gastrnel..l:let, di stincto agrunoino ao serviço do khediva l smail, asst:-
gura qut: o res1duo da extraçao do oleo das semen tes de algodão é dos melhores estrumes
µara.-\ ca nna _;e a~sucar. (Vide Dr. Saldanha da G-ama. i•Relatorio de Bot:m ica app li-
cada na Exp0sição Universal de Vienna 'je !8 73, .
- 183 -

influencia da pa lavra e o estimu lo. a1nl<>go, ao'> primeiros


momentos de en thu siasrno, do qu e ,-Í força do interesse
honesto, do bom estimulo e de um trium pho real.
" Dias depois o Dian'o da Bahia dava noticia da orga-
nisação do trabalho livre no engen ho Pi'meuld, e fazia votos
pela sua prosperidade. E ra o n oticiador o i 11 ustrado patriota
Dr . Luiz Alvares dos Santos, que havia applaudido a idéa,
e mittida na tribuna, e. ainda m ais, em sua demonstração
pratica.
"Seguiram-se os esc riptos, tirbana m e nte trncados -entre
m im e o meu collega o Sr. D r. Mariani, su,,tentando eu as
idéas, nas qu.1 es. então como agora. acho- m e in spirado.
" Voltei á assembléa n'l sessão seguinte, dei con ta do
meu trabalho, e disse que ha via conseguido na safra a
f'. tbricação d e 9,000 e tan tas arrobas de assucar . Espe rei
q ue me interrogassem: estava obrigado a dar exµ li cações aos '
da classe e ans q ue de lla não fossem. F ez-se si lencio, e foi
deixado em paz. Con.tinuei no m esm o ho nroso lugar,
~ntreg ue de corpo e a i ma ao ~erviço ela causa, que . é de tod os,
mas q ue nem t,,dos afagam, es tudando e procedendo do m odo
q ue possa disting uir o m eu nome e fazer a minlrn fort una,
levantando o nom e e a f"rtuna dos m eu s compan h eiros de
acção e a migcs por devução.
" O trabal h o d o meu engen h o está divid id o em duas
partes: 1 °, cullurn da canna; 2°, fabricação do ass uca r.
" A primei r,t parte é feita com os poucos escravos, qu e
te nh o e com os homens livres, que se ap-resentam, promiscua-
mente e sem differença ele appl cação e de govern o; pois a
força maior absorve a menor, e os meus escravos são tratad os
como os que são liv res ; vigiados e dirigidos na execução dos
serviços, uns e o utros por um fei tor, me u imm ed iato delegado,
o qual . e m vez de azorrng uc, tem um simples lapis e papel,
onde esc reve as multas, in corridas por quantos desatlPndem
suas razoavt is advertencias, e, para casos graves, recorre á
minha deliberação, por ser eu o .nnico compete nte para
s ustenta r a o rdem, a disciplina. e a mnral cio estabelecim e nt n
_por meios r~gulares .e tolerados, ainda que fortes e severos.
São estts: em primeiro lugar, a palavra; segundo, multa
pecuniaria; terceiro, prisão simples; quarto, prisão· sem
.alimentos; - quinto, despedida para o homem livre · ( o q'..le
terá semµre lugar quando não se sujeitar voluntariamente ao
castigo, caso em que só a lei póde obrigar), -· passagem do
escravo para outro senhor (hypothese ainda não verificada).
" Os trabalhos começam ás 6 horas da manhã e vão até
ao meio-dia, e elas 2 horas até ás 6 da tarde, quando re-
colhemo-nos todos aos nossos agazalhos, onde repousamos e
restauramos as forças para as fadig,1s cio dia seguinte.
"'A parte fabril é toda desf'mpenhacla por homens livres,
.que sé sujeitam a todos os lugares, 01icle podem ser em-
pregados, recebendo o salario correspunclente á somma do
assucar fabricado. E' pratica minha pagar roe, réis por !]In~
rneladurn ele 17 arrobas de assucar bruto, porque, fazendo
10 m~laduras diarias, percebell} 1$ de jornal cada trabalhador, ·

com excepção do mestre de assucar e cio caixeiro, que ganham


30 réis por fHrnba, e do_ feitur, que ga!1ha 40 réis. Nos
lugares, em que posso empregar meiiinos, faço-o, dancl_:>-lhes
meio ,ah.rio, habituando-os á ordem e á morigeraçãu, facili-
tando-ll1es a alimentaçno, e allivianclo desse peso aos pol;ires
pais.
'· As multas, µagas pelos infractores, são chldas aos em-
pregadus mais assíduos e diligentes. Terminados os trabalhus
du falJ1·icu, prom"vu entre Lodos us trabalhadures a cultum
da crnna por p rupria conta, p,tr~1 o que lhe dispenso tres dias
se1Jun,dmente,. e prestu-ll; ~s u adjL1ctoriu C()nveniente.
"Encaminho-os a contento meu e para u bem nosso:
pur tal meio u empregado fica adstricto ao cl1ãu da casa !abril,
onde tem filiadu seu interesse e sua mel)wr esperança; deixa
de ser um v"gabundo, disposto a largar a casa e o amo da
vespei-a, µara tomar um outro, JJelos simples engodo de uma
casa nova, que lhe promttte um vintem de mais. Os me-
lhores empregados sãu . aquellcs, que reunem a aptidã_o á
prc1tica, circumst,111cia que segli ramente se eleve esperar de

empregados c ::m hecidos, experimentados e afeiçoados ao s6lo ·;


e que será difficil ew terra pouco povoada, onde faltam braços,
e onde os poucos que existem, não encontrando vantagens e
fortes estimu los, com certeza deixarão a boa ordem de qual-
quer trabal_ho vigoroso pelos prazeres da caça, da pesca, da
. vzda e do pande11·0 11 "
XXIX.

Surn mario.- Applicação dos prmc1p10s de centralisação agricola e industrial á


producção do assucar.-Descripção do systema adaptado pelo D;. João Garcez dos
Santos ( continuando) . -0 trabalho dos e·scravos aos domingos. -Renda annua l de
200 a 400$. - Economia e fundo de emancipação. - Synopse das vantagens obtidas
com o systema de emancipação iprogressiva no engenho "Pimentel. " -AccrescimÕ
de producção, accrescimo de bem-estar, e principalmente accrescimo de moralidade. - ·
O fundo de emancipação da lei de 28 de Setembro de 1871 confiscado.- Providencias
a tomar.

O illustre ph ilantropo, o Dr. João Gii-rcez dos Santos,


te rmina nestes termos a descripção da reforma, que introduzio
no engenho Pimentel:
" Os trabalhadores são abrigad"s em casas da propriedade
quando chegam noviços e quando não fazem chou panas á
parte ; disposição que permitto aos que tomam fami lia, ·e que
são pe rmanentes, e assim o desejo. _
" Ç)s meus escravos, que especialmente fazem a cultura
e (,utros trabalhos, tarnbem plantam cannas · para si aos
domingos, dias santos e horas que sobram-lhes das obrigações
marcadas, e o fazem wm eiforç:o herculeo, aj udados de _parentes
e al ugados, de modo q ue o domingo, em vez de ser um dia
m"rlo para a propriedade, é ·talvez aquelle de mais extenso
trab,1lho. Resulta que, chegada a safra, tanto os braços
188

livt.es, como os escravos, concorrem, augmentanclo della a pro-


ducção, e delles o be!D-estar.
"Alguns fazem livres de clespezas 2"00$, 3 00$ e até
400$000 !
"Depois de haver pago restrictamente a cada um a sua
parte, presto-me a receber dos escravos as quantias, que querem
dar-me em cont<l de sua liberdade, pel:;s· quaes lhes pago
premio de 1 % ao m ez, e lhes dou clarez::i.
"Na seguinte safrn a cifra d o d epc1sito augmenta-se, e
_assim successivamente, até qu·e consegllem a carta de liber-
dade, que lhes entrego na expansão de minha maior alegria,
sempre felicitado pe los se us bom; prestimos, uma vez que não
julgo sentimen to christão tributar a virt11cle. (1 )
"A minha base para o valor d e resgate é firmada n o vigor
dã organisação, na posição da idade e da saude, e no prcç,>
que o commercio paga por indi yiduo igu,11, sem recommen-
dação de prestim os . Po r este systema em pouco tempo os
escravos ficam forros, e seus sen ho res ficam ricos; os captivos
ficam el e menos, os amigos de mai s. Os camp os fl o recem ;
as casas solidi ficam -se.
"A transição do trabalho escravo para o trabalho li vre
realiza-se. Direi agora, para concluir esta carta, que já vai
longa, as vantagens que tef/hO conseguido no curto periodo
de seis annos. São ell as ter comp rado uma propriedad e rles-
acreditada e em n;1inas, mostrai-a hoje rica e floreseente. Ter
comprado oito escravos e ter libertado 14 ! Ter praticarlo um
systema de reger a escravidão mais h l1 mano, m enos odioso,
mais vantajoso, m enos estragado r.
''Vêr resol vid0. praticamente e com feliz exito, o pro-
blema dos braços livres para a cultura da canna e para _a fabr i-
cação ·do assucar, produzindo em seis safras 65,000 arrobas.
Ter feito revolução de paz hasteando a bandeira : •- trabalho

( 1) Este pensamento do devotado reformador refere-se a uma das fatalidades mais


atrozes da escravidão: - quanto melhor é o escra vo, mais caro e mais difficll lhe é
emancipar-se! Como é isso hediondo! Ser a virtud e, ser a' bondade um impecilho á
felicidade !
- industria -progresso refl.ectido. Ter emprehendido seguir
sozinho os riscos de um caminho diverso, e ter andado des-
assombrado, sem invejar a marcha dos felizes viajantes da
velha estrada, tão transitad,l e tão mal prepa rada !
"Sei bem que não tenl)(.) talentos para quanto tenho
conseguido; nrns sei m elhor que a Provid encia protege os qu.e
seguem a s ua lei, ·especialmente aquelles que trabalham, a
quem ella prometteu ajudar.
"Uma qualidad~ ufano-me de poss uir: é a perseveranç.t
ingleza, que muita vez faz mais do que o ta1ento. E', sim ,
essa perseve1ança est,nca, que conserva-me no campo da
honr,t, fortalecido na fé d e que cumpro um sagrado dever,
tomando cedo o lugar, qu e nos ass ignalam o dedo de D e us e o
interesse da patria.
'· Não julgo ter sarisfeit,1 a V S. ; agrada-me a convicção
de ter cumprido o dever da respusta com a consciencia, que
tenho, com a franqu ez,t e ve rdad e de que uso. Sou com
muita attenção e extrema sympathia patrício muitoattencioso,
obrigado e criado. - Dr. Joâo Garcez · {os San/os. - Engenho
Pimentel, z 5 de Junho de r 870. "
-Quanto não estaria avançada a solu ção du problema
social maxi rn o do Brazi 1, sem crises e só com progressos, se a
generosa iniciativa do Dr. João Garéez dos Santos e do major
Pedro de B.uros A. Lin~ tivesse encontrado apoio na admi-
nistração superior deste pa1z? Se -o governo tivesse dado u
maior prestigio a estes acLOs de civismo, de c,uiJade e de
patriotismo. dignos ele servir de exemplo e de estimu lo a todos
os lavradores bràzileiros?
Se, aprov.eitanclo tanta devotação e tão rarc,s talentos
aclministrativus. tivesse constituído esses admirnveis cidadãos
os gerentes de engenhos centraes, e os clirectores de escolas
normaes de ag ricultura?
Nada se fez! Nem o m ,tis insignificante auxili o ! Nem
uma só palavra de animação!
- Onde, quando, em que terra e. em que tempo, foi por
acaso previ'clente o monopolio governa.mental ?
- 190

Em materi a de emancipaç:\o uma lei falha e manca, triste


e arrastadà mente execut~da, e mai s np,da ! Nas arcas do
thesouro 4,000 :000$ do -fund o de emancipação ( r ), por qual-
quer pretexto fiscal! · Quatro mil h o m ens ainda escravos por
qt1alquer relaxação admini~trativa! Até, hoje (1874, tres
annos depois!! ) nem a mínima providencia sobre a educação
dos ingenu os e dos emancipados!
Ah ! quando, tranzidus de dôr e de ve rgonha, nos Jern-
brarn os q.ue, ha tres annos, o fisco aferrolha milhares de contos
de ri is, e qu e gem em n os fer ros da escra vid ão outros tantos
hom en~, que a lei ma ndo u li bertar, ficamos em duvida se
ell es qu erem sinceramente a emancipação, ou se tudo isso não
é uma comedia hedionda perante D e us e a humanidade!!! ...

f.1 J O rel~tm;o do minis tro da fazenda dava, em ~ de Maio de 1874, 3,243; 199$840
para 1mport.inc1a -,nrecadada para o fundo de emanc1p~ção, e orçou em 1, 133;070$ M
renda d~sse fund~ 1~ 0 exercicio finan ce iro de 187.; a 1876.
Em nossa op1mán, o melhor emprego a dar a e:,;ses 4,000:oôo$, que deverµ estar j á
ho je no theso uro, será libertar até 20,000 meninos e r;:.e ninas de 10 an ncs de idade e
mand_?--lús ed ucar para a ~gricultu ra e para industria , nas fa zendas centrae~. nos enge-
nhos cent:aes e na s fabn cas centraes, ou então libert ar 4,000 operarios c apazes de
trabalhar rndependentem ente e de concorrerem tambem para a emancipação dos seus
infeliz es irmãos e irm ãs .
XXX.

Summario .-Applicação dos principias de centralisaçã<: agricola e iildustrial á


pr□ dll;cção do assucar. (Couti1t1uutdo).-Dados sobre os engenhos centraes, fqrne-
cidos porG. ,1/illiam des Vouers, governador da ilha de Santa Luc1a. - Os engenhos
centraes da Martinica.-Treze mil e quinhentos contos ds réis emprega~os em seis_
annos nessa utilissima reforma.-Systema de administr~çãc,.-O êhgenho central
deve compraracanna de _assucar á peso aos lavradores.-Renda liquida das càmpa-
nh:ias de engenhos centraes de '16 °/0 a 48 n/0 .-Acções da companhia do engenho
central "Palacio" duplicando de ·valor.-Influ_encia geral benefica d9s engenhos
centraes.

O inqueríto sobre o estado da lavoura na província da


,Bahia trouxe um excellente documento, que lança muita luz
sobre a questão dos engenhos centraes, ou melhor, da appli-
caçã·o dos princípios de cenlralisaç.ão _agrícola á lavoura e á
producção de assucar. E' um officio do adm inistraçJor cio
governo da ilha de Santa Lucia, G. William des Vouers, pro-
movendo a creação de engenhos centraes n_essa ilha. Santa
Luzia ( Sainte Luáe, e Saint Lucia; é uma das pequenas Anti-
lhas, pertencente·s á Inglaterra; fica situada immediatamente ao .
sul da colonia franceza da ilha de Martàzú:a, proximamente
a 25- milhas maritimas.
Este documento principia expondo assim o systema dos
engenhos centraes :
" .O systerna do engenho centrai, cujo princ1 pio é a con-
centração, para o economico e aperfeiçoado fabrico e prod~1c-
ção de assucar, ele um certo numero de fazenclas contribui-
doras, se ben, que até aqui não introduzido nas colonias
inglezas, - tem existido de algum tempo para cã (1) nas ilhas
francezas de :Martinica e Guadelupa.
'' Nestes ultimas seis annos, um capital, excedente a
L. 500,000 libras esterlinas (cerca de I 3, 500:000$), tem sido
despendido em engenhos, levantados _de conforniidade com
este systerna ; e de um relatorio, que o governador de Mar-
tjnica tevé a bundade de me proporcionar, se infere que cios
d"ze _engenh 1 1s de assucar centraes nessa ilha, propriedades
de cumpanhias, oitu estabelecidos com um dispendio, variando
d.e J: 3 I ,200 a J; 1 oo, ooo, começaram a funccionar em
1871. "_
Estes dados estatísticos merecem reflexão.
Em 6 ann11s (2) a pequena ilha de Martinica empregoü
cerca de 13.5000:000$ em engenl1os ·centraes; nã" se pcSde
evide11tem ente apre~entar rnelliur e mais positivo argumento a
fav"r do systema de ce11tr,t!isaçào agrico.la._ Nutemos tarnbem
que os engenhos centraes furnm nwntadus e custeados princi-
palmente por meio de cumpanhias, e que o capital necessario
variou de;[ 31,200 a J; 100,000 uu de 270 :800$ a 900:000$
de moeda brazileira.
Quanto á administração cios <..:ngenhos ce11traes, diz o
govern,1clor de Santa Luzia :
"O m11du , por que todus estes engenlius são aclministr,t-
dos, é o mesmo. A .c,tnna é c()mprada a pesu aus fazendeiros,
e o engenho central a mancfa tra11spurt,~r das plantações, quer
pur t1.;rra, quer por agua, em barcos de vela 011 a \',tppr. ''

. (I] _Attribue-se geralmente a Cai1, da bem cunhecida firma Derosne & Cail, de
Panz, a 1déa da creaçâo dos engenhos centraes, p0r occasião de urna viagem a Martinica
e Gua9e!upa, no intuito de re:--taurar os engenhos de assucar, qu?-si abandonados por
_dc~p~lt? ~os escl,avocr~tas por occ_asião d:i. emancipação em r:nassa pela lei de I848. A
1de1a 1111c1 l _da Lentrahsação Agncola pertence, porém, a Condorcet, o illustre philan-
tropo e patnarcha de 1789.
[2] ~-ª E:::;:posição Univer~al de Londres de 1862 os engenhos centraes de Guade-
lupa, com apparelhos e machinismos de Derosne & Cai!, de Pariz, foram mencionadus
cqm muito~ elogios.
- 193 -
Os engenh.Õs centraes adaptam, pois, a pratica que recom-
meudamus ás fazendas centraes de c,1fé, e que deve ser exigida
como condição especial do systema: compra i11zmediata ao
lavrador a peso dá sua col!J,eita. ,
1
" A carma, continúa o governador · de Santa- Luz ía, é
pela mai<,r parte supprida mediante contratos por uma serie
de annos. O preço pago é o eqúivalente -em dinheiro, con-
forme .ás variações __ do mercado, a uma quantidade fixa de
assucar, con l;ieciJa pelo nome de bowie quatrzême. Esta é a .
qualidade de assucar, fabric,1.d,, pelo systema antigo, sendo
inferior em valor ao fabricado pelo engenho de cerca de l4
francos por quintal inglez de I r2 lilJras. O importe da quan--
tidade acima mencionada é variavel; o mais eleyado é de 6 %
e o mais baixo de 5 %- (r)
"Os dous engenhos, estabelecidos em primeiro lugar m1
Martinica, o François e o Laràne, foram muito felizes em
ter obtido estes contratos á razão de 5. %; mas os outro-;
viram-se obrigados a offerecer melhores condições. A maiuria
paga _?%, e a experiencia tem mostrado que ainda mesmo
esta mais elevada porcentagem deixa considera veis beneficias.''

D emonstram, pois, estes algarismos, á toda a luz , que o


principio de centralisaçõo agriccila, o systema dos eng-enhos
centraes, tornou a industria saccharina, que vegetava misera-
velm ente em Martinica á sombra de direitos protectores, nDs
épocas do esclavagismo (2), uma das industrias mais prosperas
e lncrativas que se podem imaginar! Mais uma prova, além
de tantas outras, que a Liberdade e a Sciencia são elementos .
essenciaes, as unicas bases solidas para a prosperidade de·

lr) · Essa porcentagem é calculada sobre o preço do ass~car, que produzirá a canna,
attenta a sua riqueza saccharina. Devem preceder experiencias accuradas á determinação
d.essa porcentagem.
[s] !\lesmo os sumptuosos engenhos âos esclavocratas çla ilha de · Cuba eram
desgraçadas emprezas industriaes ! Os mais prosperes davam 4 °/ 0 a 6 ºlo de renda
liquida quando muito. Derosne os vio infeccionados pela decomposição de lamaçaes de
mel nos arredores das fabricas! !.
- I94
qmdquer industria . Felicis~ima e providencial luum·nriia,
diria ·o m estre B,istiat, entre o justo, o bom, o t~ til e o
conveniente. \
"As aêções do _engenho central Françoz.r, diz a_in,\la o
precioso documento, que estamos estudando, cuj,o va lor ao par
é de 5.00 francos, estavam ao tempo ela m inha sabida, em
Junho de 1871, a 1,03,0 fran cos: as acções dos engenhos
centracs, que _comprnm canna a 5 ¼%, e que principiaram
trabal\,ar antes claque! !e anno, estão com alt,>s premias,
apezar de ser a taxa usual dos juros em Martinica muito
alta.''
Entre os engenhus centraes de Guadelupa, cita o gover-
nador de Santa Luzia o denomi1mdo U.rine ,:j'Arboussais, que
paga a canna de assucar á b1zãÓ ele 5 Yz %, e que, .apezar de
ter custado ;[ 2 I 6,000 (cerca de r, 944 :000$,) por ter feito
· grandes clespezas _pira seu abastecimento de agua, pôde dis-
tribuir dividendos de 24 % em 1872 , terceiro annn de sua
existencial
Mr. G. vVilliam des Vouers cita ain chi o engenho central
· Palacio: conversou com os lavradores contribuintes e·coin os
accionistas; estavam todos muito satisfeitos, e tinham inkira
fé no bom exito elo systema . . As acções, primitivamenie emit-
tidas a 500 fran cos (cerca d e 200$) era m cotadas a 1,000
francos (400$) : nãQ era possível 0],tê-las. Teve informações
de pesso,ts fid ed ignas que, antes dos engenhos cet'ltraes, as
terras estavam sempre mudando de don r>s, e muitas ab::i.ndo-
nadas : presentemente em torno dos engenhos cen traes floresce
a lavoura.
E', pois, evidente que o engénho central é um res tau-
rador energico: é ~xactamente o elemento de vida, o agente
de progresso, de que necessita a lavoura de assu:::ar ela pro-
vincia da Bahia, e de todas as outras provinci,1s e m condições
analogas.
"De ha mnito que me persuado, diz continuando o
governador de Santa Luzia, qu e a introducçãn d o sy::;temci d os
engen_hos centraes será um grande beneficio para a commn-
- 195 -
a1ida·de, e mm espE'Cialidacle para a importante classe dos pro-
p riet:uius, que se servem de trabalhadores de raça afi·i<',ana (1),
os quaes, embora trabalhando com sensiveis desvam;agens,
contrib ;1em : r nnualm ente com uma porçâl) st1peri0r (agora
rnai;;· de um terÇLl) para ,L safra dos outros lav.radore:;. Nesta
,conform idad e, aproveitei-1~e do estado favoravel da opinião
publica, e. apresent-,i á a.rsemblé.a legúlativa um projecto p..zra
promover a crm.çâo de engenhos ceitlraes. Este prr:Jecto garantia
6 % por CÍJ1co an7los sobre o capital de J.: 100,900 (900:000$),
devendo ser offerecidas J.: z 5, ooo, para subscripção do governo
da ilha á co'mpanhi.a que ltVantasse o prillláro engenho central."
Eis aqui a c have que nos ab rirá esta no va estrada de pro-
gresso : '· A garantia de juros de 7 % em ouro, ou ao cambio
legal de 27 pem:e d,: nul réis, ,le to,lo o captlal ejfatívamente
el!lpreg,,do nos enge1tlzos centraes, nas f.tzen'das _cenh a1:s, ou nas
fabricas centraes, de:;ti nadas á pre p,uação de qualquer dos
productos das inclustri,ls agricoL:i.s ou exti-acti v,is nu Imperio. "
"Assim colliju du.:; relat,,ri,ls, acim ,l refe(idos, qLte o
e ngen hu central M..zritt, que pag,t excl usi va mente a taxa de
6 %. teve um luc10 !iquid,, de 16 .1/z %, n,, primeiro anno de
suas operações (1871 ) e 21 % no seg undo anno (1872) !
Taes Iucros sãu tanto mais n,ltaveis quanto o engenho
central, que os obteve, é o menor 1té aqui estabelecido pelo
0

s upradito syste111ct; fabricou no primeiro dos r!óus annos


mencionados apenas 740 toneladas. Esta 0bservação demonstra
que, mesmo para o ·assucar, não é n ecessario que sejam empre-
gadus avultados capitaes para ·que o p1·incipio da centralisação
agrícola procluz,t os seus ben eticos effeitos; podem haver
c1,genhos centr,tes muitu prusperos de r'", 24 e 3ª classe, do
mesmu modu qLt e indic.ttno3 fazentLt:; cenLrnes de ·café de 1a,
z<!- e 3ª classe.
·' O e-ngenl10 centnd François, contin{rn o govern,idor ele

[1] Desde muito que na ilha de Santa l ,uciai como em todas as outras col1 ,nias ·
ingit::zas, não ha mais escravos . O governador refere-se aos Africanos emancipados ~elo
governo inglez.
Santa Luzia, propriedade de uma companhia, publicou os
seus rendimentos:
Em 1867, primeiro an no das operações ..... , ... 19 %
Em 1868 .... ................ .......... .... 28 %
Em 1860 ...... .. . . ..... . .................. 48 %
Em 1870 (anno da guerra franco-prussiana) . . . .. 36 %
Em 1871 dito dito dito ..... 36 %
Em 1872............. .. . . ................ 35 %
XXXI.

Summario.-Applicação dos princ1p1os de centralis::i.ção agricola e industrial á


producção do assucar. - Dados sobre os engenhos centraes, fornecidos pÕr G.
William des Vouers 1 governador da ilha de Santa Lucia ( Continttando). - Mandar
vir engenheiros e mestres de assucar da Martinica. - Especificação das vantagens
que deve possuir a situação de um engenho central. -Os engenhos centraes fócos
de attracção de lavradores. - Applicaçãa dos novos principias economicos de co~
operação. - Propaganda dos engenhos centraes pelo Dr. Pedro Dias Gordilho Paes
Leme. - A producçâo de assucar com escravos estigmatisada por Aurean. -
Horrores e miserias da producção do assucar na America.

O devotado governador de Santa Luc:a tomou aind,t uma


providencia, que devemos imitar; mandou vir da Martinica
dous engenheiros francezes, especiaes na montagem de
engenhos centraes. "
Não deixaremos tambem de mencionar as vantagens da
situação escolhida para a fundação do primeiro engenho
central na ilha de Santa Lucia, afim de guiar a escolha no
Brazil de situações analogas.
Estas vantagens são :
rº Ter á sua disposição a materia bruta - a canna de
assucar - em abundancia, isto é, estar no centro de plantações
de canna de assucar ; •
2° Ter abundancia d'agua potavel sem obrigar a des-
. pezas de conducçã<=:;
3º T e r um porto fundo, circumdado de terra e, por-
ta nto, abrigado;
4° O cc upar uma posição central em mna costa de
sotavento, unde o mar é co mparalivam ente manso, importante
vantagem para o transpo rte da canna de assucar por agl:a;
5º Possuir terras alt,1s nas circumvisinlianças, para
construir habitações S<tudaveis _para os trabalhad o res. 0 -
governad,,r de Santa Lucia obteve, para esse primeiro el[genho
central, co11traclos por dez annos com os lavradores circum-
visinhos á razã ll de s·%, su b a condição de qu e a porcentagem .
será augment.1cla até 5 _½ % logo que os lucros líquidos do
engenho central excederem de 26 %, e a té 6 %, quando esses
lucros líquidos excederem de 36 %-
Graças a esses C0'1tractos, o engenho central de Santa _
Luci á dispo rA de canm1 suffici ente para o fabri co de rn,tis ele
1,000 ton eladas de ass ucar annualrnente.
O illu strnd o governador cita a producçãn do engenh L)
central Frnnçoú, que foi em 186 7, n o se u primeiro anno de
prndu cção, de 950 tonebdas d e assucar; em 1868 d e 1,200
toneladas. e em e 869 de 1, 550 toneladas de assu car.
Esta progressão demon,,lra ev id ente ment e a força de
attração, que exerce m os engenhos ce ntrnes so bre os pequenus
lavradores, e o estimul o geral, qu e incute .em tuda a ag ri-
cultura nas circ umvi sinhan ças . O, engenhos centrnes P etil
B ourg e l v.larin , que tem distribuído avultadus d1 vide11t lus ,
nàu ch eg,uam a pruduzir -mais de 1 , 4 00 tonehtdas d e assucar
pur annu.
Foi ao engenheiru fran cez H a ru u,tnl qu e o governador
de S,rnta Lucia incumbi., o prujecto e a é'l:ecução do s~ u pri-
meiro engenho central.
O engenhei ro H aro uard tomou pa ra typo o engenho
centr,tl do Pdti B ourg, m u ntadu em 1871 , n,t ilha de Ma r-
tinic,t, aperfeiçoaudo-u com as ulti;:nas inn ovaçües.
Det-llie prJ porções parn fauricar'~em cada sa fra 1,7 50 a
2 ·. 500 toneladas de ass uc,u, quando trabalha r á noi te co m u
accresci 1110 ele m a is alguns a ppá rel hos.
- 199 -
O engen heiro H aro ua rd orçou o engenho central de Santa
L ucia e m ✓ .[ 69 ,000 {cerca de 621 :000$). Apezar de confiar
muito n os calculos desse engen.heiro, qu e se illustrou com a
a construcção do enge nho centrnl Marm, o governador de
Santa Lu cia recommenda que o capital eh empreza ~eja de
L 1000,000 (cerca· de 990 :000), para possibilitar m elhora-
mentos e accrescimos futuros.
Recommenda que se engaje pessoal em Martinica, para
o custeio do estabelecimeulo, e que se adopte o syste ma das
coloni as francezas d e retribuir os empregados com nm p·equeno
sala ri o fixo e uma im po 1ta nte porcentagem nos lucros
líquid os da em preza; isto é, que se adoptem , os novos
p rincipias economicns de cooperação.
Finalisa o gove rnadur G. \Villiam des Voueis o seu inte-
ressa ntí ssim o r,fficio prc,pondo qne o systema da cooperação
tambem se estench aos lav rad u1es.
Lembra, para s~ rvir de base ri os calcul os, qu e se pague
um preço fixo por quintal de assucar, e que se reparta com
os la vradores m etade da receita liquida do engenho central,
excedente de r 5 %, d eduzida uma q uóta rnzoavel para o
fund o de rese rva .
' ' A introclucção d este elemento cooperatz'vo nesra emprez.'.1-
ha d e, sem duvida, diminuir as e ventualidades ele lucros
ex tra ordi na rios , como os do engenho centrnl Fran çois ; mas
to rna rá mais seg uro um dividendo normal de r 5 %.
O Dr. Ped ro .Dias Gordilho Paes L e me, qu e tem sido
in cansavei' na prop,igan:i a pua introd ucção de eugenhos cen-
traes na provincia do Ri o de Janeiro, o nde é um dos mais
distinctos l::ivradores d e canna d e assucar, no interessante
fol heto - '' Engenhos ceniraes na pruvz'ncia do R io de Ja neiro, -
()bservações pra!lC<tS, offerecidas aos Srs. capitalistas desta
praça.-Typ. G. L e uzinger.- 1874. " - resumi o assim ªs
vantagens multiplas do novo systema :
r .<> Os plantadores serão s6 lavrado res, do que lhes
resulta rá
a) R eun ir tod os os seus recursos no trabalho agrícola;
,,- 200 -

b) Remir-se .das dispendiosas montagens dils fabricas;


e) Poupar todos os di ssabores, contratempos e prejuízos
inherentes ao pen osu trabalht> do fabrico;
d) Ter augmentada a receita de 50 %, obtendo igual
augmento de tempo para os trabalh os da lavo ura; e vendendo
a canna pnr preço, equivalente ao que actualmente alcançam
fab ricando ass ucar.
2.º D,n grande desenv.,lvimento a uma nnva i1ylustri,1
proporcionandu. corno po ucas, luciati vv emprego de capitaes .
Nesse m esmo follwtu de propaganda o Dr. Paes L eme
faz es te inte ressante parnllelo entre a c ultura do café e da
- canna do as~ucar no systema dos Engenhos Ctnlraes.
"Na cultura do café cada J_)e:ssoa pód e cuidar de dous
hectares de plantação, e obter 404$400 em terras inferiores,
830$400 em terras de segunda ordem e 1:213$ em terras de
primeira quà lidade .
'· Tomemos, pois, a média de 316$. Cada pessoa póde,
á enxada, amanhar 6 acres d e plantação d.e cannas. Cada
______ ac r~ [}roduz a m éd ia de 28 toneladas, que, marcando apenas
· 8 gráos de densidade saccharina, deve ser vendida a razão de
uma producção de 3 ¼%do valer de 2$ os IO kilogrammas.
Aq ni tem 0s um resultado ·de I: 1 76$. Em vista deste calculo,
e. considerando que aceitamos a média do producto em café,
e que tomamos o mínimo da densidade saccharina, bem como
uma producção de 3 Yz %, quan lo a planta contém 18 %
·de assucar, ninguem dirá que forçamos o calculo em nosso
favor nem partilhará do e rro, ern qu e labora o autor do
R etrospecto. "
Não pomos em duvida que, sob , a benefica acção da
emancipaç~o e dos· engenh<lS centraes, a cultura ela canna de
assucar possa competir em lu cros líquidos com a do · café.
Ficam, porém, ainda em favor do café condições de hyg iene
e de amenidade de traba lh o, que infelizmente não se encon-
tram na c ul tura da canna.
E' por isso Cj ue os escravocatas, b,ttidos victorios::i.men te
pelo traba lho ,ivre e m todas as 0ulras culturas, entrin-
I

201 -

cheiram-se na cultura d,t canna de assucar, ousão ainda


µroclamar que é impossivel a cultura d,1 can;rn sem es-
cravos, a despeitu dus exemplos d,ts cvl,,nias, fr.,ncezas,
,inglews e h ollande;rns (1) 011dea cultura da canna de assucar
por braços livres l'r<».;pera hoje, graç.1s aos engenhos ccntraes,
mais do ·que no temp<1 cios escra1·,1s ! l
Dt·balde llies diz -Dureau, u illustn,do redactnr do
fórnal dos _/abricanles de a.r.ru, ar
"A escravidão am(lrtece as faculdades do senlwr i'!
simult,rneamente supprirne as da creatura intell igente, que
soffre o ~eü jugo ; e a escrnvidào tudo desm ora lisa : não
contribu io pouco a escravidão para esse estado de inferioridade
dos nossos fazendeiros de assucar. Tinha se um administra-
dor, um mestre de assucar e os bois, quando não era o vento,
que tocava as moendas, e não se comprehendia a necessidade
de occupar-se .() proprio _ fazendeiro destas operações procu-
rando o meio ele faze i-as mais economicamente."
Absenteismo, rotina, e iniquidades sem nome e nos
senho res e nos -rrepostos; m iseria, clegraclação, embrute-
ci men ló e toda a sorte de padeci ment\lS mora"s e physicos nos
infelizes escravos!
A planta de canna de assncar acha-se fatalmente ligada á
historia da escravidii.o na America.
Esta planta, qne o 'bom Deus concedeu ao genero hu-
mano, para augmentar o seu confôrto, foi durante seculos
regada co111 lagrimas e com sangue!
As caçadas dos escravos no valle cio Mississi pi com
cães e a tiro; os escrav,,s ali1nentados com raizes de bana-
neiras nas Antilhas; os inval idos entregues á morte na forca
nas colonias francezas; todos esses ho1Tllres du esclavagismo
são tristissimos episodius da historia cio assuéar na America !
Neste lmperio tarnbem houve temµ~, .. . .. .
[11 Us engenhos centraes de Java são citados entre os m~hores. Ha engenhos
centraes não só nas colonias Jrancezas e,1nglezas como até no Mexico, na ilha de Cuba,
e na Luziania. Nos Estados do Sul da. :Republica Norte-Americana os engenhos centraeS
estão pagando os prej ui zos soffridos na guerra da emaricipaçãv.
Como em tudo que é um progresso, como em camlnhos de ferro, como em tele-
grapho::;, es.te imperio, emperrado e rotineiro, será talvez o ultimo paiz do mundo a ter
engenhos centraes !
XXXII.

Summario.-Applicação dos princ1p10s de centralis,?.ção agricola e industrial á


producção do algodão.- Estatistica da exportação do algodão pelas provinciãs do
lmperio.- Premios alcançados pelo algodão brazileiro na exposiçãu miiversal de
Vienna em I873.- O julgamento do jury internacional.-Providencias para a expo-
sição universal de Philadelphia em i876. -Especies de algodoeiros cultivados. :io
Brazil.-Provincias e terrenos mais pr oprios para essa cultura.-Reformas a intro-
duzir.-Missões aos Estados-l)Ilidos para o aperfeiçoamento geral de todo o systema.
de cultura e producção de algodão. ·

O algodão foi n_o ultimo exercício financeiro apurado,


o de 1872-73, o terceiro artigo . no quadro da exportação
geral do Imperio ; só lhe foram superiores o café com
_209,772,653 kilogrammas, no valorofficial de 115,285 :466$,
o assucar com 183,984,224 kilogrammas, no valor official
de 27,725·672$000.
Até o exercicio financeiro de 1871-72, em virtude de
cnse algodoeira, produzida pelo "Conflicto . Americano'' na
jnsta qualificação de Horace Greeley (1) o valor da expor•
tação clu algodão excedeu muito an do assucar. A differença
maxima teve lugar -:xactamente no exercicio financeiro de
1871 -72, ·no qual a exportação do algodão · alcançou
[r] Vide The American Conflict.-A .History of the Great Rebellion in the
U nited States of America.-1860- 1865-by Horace Greeley 1873. Hasfford publis~d
by O. D . Case C. ' '
204 -

83 ,54 3,317 kil o?;ra mm as com


o va lo r official de 46 ,615:609$
q na nclo - o valo r official cio as-
sucar s6 alcanço u 27,92 3:148$ . V
-o
· T a mbem , ~eg und o os da dos o ... ,... v ~o r--. o \O -.r o ,... o '°
M01.0NO.t--.lN0t---N ..r-r

esta tí sti cos do relato ri·n do n1i- -~
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O\ O t--.
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niste ri o da fazen da de 1874, o ~ ~r..::..;...; ,~c-r,..r ......... ~

ô
max im o valo r ela e xpo rtação -~
~

el o ass ucar, desde o exe rc1c10 " a


H
de 1863 a _1864, a té o de 18 72 'Oo 'e1!..
a 1873 fo i el e 29, 264. 904$000
correspon dente· ao exerci cio de
1869, _a 1870, muil~ m e1_10r
qu e c maxim o, ácima m en-
ciionado, da expo rtação do al-
godão .
Doze das 20 provincias do
~rn pe rio, concorrem n a ex-
portação ci o_ algodão, q u e,
com o se sabe, p6de ser va n-
tajosa m ente c ul tivado em todo
o te rrito rio do Brazil.
O q uad ro ao lado de mo ns-
tra a parte, q ue tn m a cada
prov íncia na expo rtação des te
prec ioso p roducto. '
D uas refl exões s usci ta prin-
crpal men te este quadro : São (/)
<
Paulo ad mirave lm ente, coll o- ti
z...,
cada n o segundo lugar entre ?-
o
as p1ovincias proclu cto ras de p::
p.,
algodão pela sua in iciati va e
pela s ua ac tividacte. E a Pa-
ra hyba do Norte, coll ocada n o
sexto lugar pela lata] infl uen cia
ueap .to 1
do comm ercio in d irecto, que ap H N W ~ ~ ~
... 11")\0 t-,.,0() OI ;::

0,tilU_(.JlN
- 205

faz passar por algodão do Recife, uma importante parte do '


a lgodão colhido na Parahyba !
Na ultima exposição universal, em Vieniia, em 1873, o
algodão brazileiro figurou com alguma .distincção não só em
bruto, como já em tecidos. Assim é que obteve_Medalha de
merito o Sr. J. Antonio de Arnujo Filgueiras pelos seus te-
cido;; de algodão, representados por 15 peças de pannos de
varias qualidades e diversos padrões. '
Obtiveram t<lmbem menção honrns1: a fabrica do Qu~i-
mado, na Rthi:ci; J. Ri voJ. dJ. B 1hia; Mascarenhas Irmãos,
de Minas-Geraes.
Quanto ao algodão em bruto, alcançaram medalha de
progrPsso : o Barão de Buique, de Pernambuco, por suas
v.u-iadas amostras d e algodão verde, amarello, etc ; a colonia
cht C,tchoei ra, da Bahia ; J. B. de Bittencourt, tab::!.bem da
Bahi,1 .
Alcançaram medalhas de merito as amostras de algodã•J
dos Srs. : Augusto Frederico de Lacerda, de Pernambuco;
Dr. Lu iz Alvares <los Santos, <la B..thia ([tapicurú); Firmino
Xavier <la Silva, do Paraná; e a camara municipal do Recife,
pela su:i exposição de a lgodão herbaceo. _,

N,, emtantu o resultado geral não foi de modo al·g um


lisongeiro ao amor proprio nacional. Effectivamente a classi-
ficação do j u ry foi :
1 .º Estados Unidos, pelo seu Sea lsland da 'Georgia, de
fio comprido, forte, . brilhante e sedoso, que ainda não foi
excedido:
z .ºo Egypto;
3.º A Argelia;
4, o o Brazil.
Passamos, pois, pelo desar de ser batidos no algodão
pelo Egypto e até pela Argelia ! Que vergonhas nos esperam
em Philadelphia ?!
Em que miseravel pardieiro, em que cas,t velha terá lugar
a Expos ição Nacional Preparatoria? Este Imperin, que
206 -

gasta 5,000:000$000 em um monstruoso e inutil encoura-


çado, yue teril de ficu a cinco milhas ele Montevidési e nunca
poderá. ver Buenos-Ayres, não tem coragem para fazer 'Jm
b<1rraéão sequer para reunir os sc;us prnductos ,para as Exposi-
çõés Universaes !
A Republica Argentina já fez uma Exposição Universal
e·m Cordova; o Chile termina um magnifico palacio para a
sua Exposição de 1875 ; n6s ... Mudemos de assumpto ...
A pennà indignada recusa descrever as desgraças desta terra,
creada pelo Omnipotente por certo para outros destinos!

O gencro Gossipziún da familia elas Malvaceas, ao qual


pertencem todas as especies e vadedades de algodão, com-
prehencle cerca de 1 5 especies; as mais nota veis são :
1 .0 Gossipium i111iirum.
2. 2 · Goss1pitt11t lurbaceum.
3·2 · Gossipium a1'borescms.
4-? Gossib1Úm hírsulum.
5,2 Gossipium brasiliensis.
6. 0 Gossipiun~ releg1osum.
7.2 Gossipium vdifolz'um.
Destas especies querem alguns botanicos que sejam
nativas do Br<1zil tres: G. braszlien.hr, G. nligzornm, 'G. vik-
folíum.
O que está, porém. fór.t de toda a duvida é que n
Brazil p"ssue, quer ,1 . bei1:,1 mar sej:1 n,, interior, especial-
mente nas' margens de S. Francisco, terrenos -excellentes_ p;u,t
a cultura das especies _ mais estimad8s do algodão. Em
tudo o valle do Amazonas ha terrenos muito pruprius para
a cultura d6 alg-odão; infelizmente com a desidia, com que
é Lrntach a immigração, muitas dezenas de annus decorrerão
ainda antes que b8ja P"pulação sufficiente para colher os in-
numeros productus, que a natureza ahi offerece sem mais tra-
1>,ilho do que colher. No M,uanhão o,; terrenus m,triLimos de
Alcantara competem com os da Georgiana pruducçào du
Sea.:...Island.
- 207 -

O algodão da P,1rahyb.1 do Norte obtem qu·-1si sempre


em Liverpool e n <) Havre cotação superior ao d,1s províncias
circumvizi n has. A Bahia prim:1 com o seu a lgodão de
Caeteté. S. Paulo tem em Sorocab:1 um -l1 stricto algodoei1º0
de primeira categoria.
Na província cio Pctraná [1] o algodão herbaceo produz
maravilhosamente: em 155 braças quad:·,1das (ce rca de 750
metros quadrados) colhem-se 200 a rrobas (mais dez, 937 kilo-
grammas de algodão ) havendo algodoeiro qne dá mais de· 150
capulhos ! Ao Rio Grande do Sul, na província ma is meridio-
nal do Imperio, o algodão dá µerfeitamente, imitando o
Sea-Isl and ria razão de um a arroba ou 14 kilogummas e 668
gr,1mrnas por 1 00. pés de algodoeiro .
O que tem demonstrado todas as exposições uni versaes,
á ultima evidencia, é o que o algodão brnzileiro perde 30 a
40% do seu valor por ser m;i.l descaroçoado, e pessimamente
embalado.
Cumpre; pois, enviar missões ele engenheiros aos
Estados- Unidos para nos trazerem os melhores processo; e as
melhores machinas para a producção do algodão ; desde as
sementes e os arados até aos descaroçadores e as prensas de
enfardar.
Esperemos que a iniciativa provincial e o patriotismo do,
nossos engen heiros, com os recursos que lhes proporcíonarão
as companhias proprietarias das fazendas e das fabricas centraes
de algodão, 1:ealizem, quanto antes, ,1s, instantes reformas, que
exigem a cultura e todo o systema de producção du segundo
artigo de lavo ura deste Imperio.

[1] Vide Dr. Nicolau J oaquim Moreira-Noticias sober a Agricultura do Rrazil-


Typograhia N acionl-1 873,
. -,
XXXIII.

S umrn ario.- Applicação dos prmc1p1os de centralisação agricola e in dustrial à


producção do algodão (contilluando).-A concurrencia do Egypto.-Estudo d~
crise· produzida pela revolução esclavag:ista nos Estados Unidos.-A exposição
universal de Pariz de 1867 e o ''premi.o grande do algodão."- ElasticidaJe industrial
e concurrencia un iversal.-Solidariedade da familia humana.-Na producção de
algodão, como em todas as indu.stri;1s, cabe a maxima g loria á provincia de
S. Paulo. -0 engenheiro T . T. Aubertin.-A medalh -:t de ouro da '•Manchester
Cotton Supply Assod.ation . " -Provincias ,que mais se distinguiram na cri.se
a lg odoeira.

No algodão, corno no café , cc,rno no assuca r, nós encon-


tramns n os m ercados europeu s a temível co ncurrencia do
.Egypto. No café é uma previsão : no assucar é já uma
.realidade; no a lgodào é um facto <lesde muito consumad o,
Pa rece de muito bom conselh o envia r ao Egypto uma
co111m•issãu de engenheiros e ag ro nomos brazileiros estudar
este paiz, que, do fundo do l\tlediterraneo, projecta sobre a
E urnp,1 os nrnis preciosos prod uc tos tropic<!es, e nos faz, nesses
mercados, urn a c,mcnrrencia poderosíssima, sob a protecção
da grande vantagem natural da proximidade . . Esta com~
missão nus enviaria tam bem preciosas sementes de café,
r1<1ti 1·0 da N u bia, das magnificas can pas de ass ucar elo Nilo,
e do algodà,, espec ia lmente cul-tirndo no Egypto.
- 210 -

Foi, durante o conflicto norte-americano de 1861 a 1865,


que mais claramente se revelou a temível concurrencia do
Egypto ao algodão brazileiro. O Brazil ele 7,000,000 de
kilogrammas passou a exportar 27 milhões; mas o Egypto
que já exportava 25 a 30 mi lliõeá de kilogrammas an tes do
conf-licto norte-americano, pa~sou a exportar mai,; de 80
milhões. Se o Brazi I levou vant,1g-em na força da prog ressão,
o Egypto excedeu no µéso total das exportações.
Em 1865, exactamente no ponto culminante ela crise
algodoeira, a exportação do algodão foi assim clistribuida: (1)

1. 0 Inciia ingleza ...........•. . .... 446,000,000 libras


0
2. Estados Unidos (inclusive o Mexico) I 90, OUO, 000
3. 0 Eg-ypto ....... . ....... ..... .. ; 177,000,000
4-º Brazil. ........................ . 55,000,000
5.º China ........................ . 36,000,000
6. 0 Littoral do Me<!,iterraneo (sem o
' Egypto ..• ................ .. 27,000,000
9.º Outrrs paizes ...... . . 47,000, 000

Somma . ............ 978,000,000

A concurrencia entre todos os paizes productores de al-


godão, nos annosde 1861 e 1865 e seg uintes. é um dos factos
economicos mais celebres deste secn lo,-- não póde ser lem 0

brado sem suscitar profundas reflexões sobre a sulidariedade


da familia humana.
Quando faltou · a lgodão na Europa ; quando houve séde
de algodão; quando em Manchester, em Rouen, em Lille e
em Mulhouse os operarios vagavam pelas ruas, sombrios, tristes,
e famintos; quando os teares e as machinas de füir paráram,
por falta da preciosa fibra; qnando simultaneamente em
Lyon e Milano as grandes fabricas de seda paráram pelo refl~xo
da mesma crise, faltando-lh e<, seu m elhor freg11ez-os E:;tados-
Unidos; então a India, o Egypto, o Brazil e todos os paizes

(1) Catalogue of the British Section - lntemational Exhibition, Paris 1867


pags. 70 e 71.
- 211 -

do mundo, onJe fui püssivel plaptar algodão, realizáram


lucros enormes n essa cultura,. e, o que foi melhor, cinco
milhões de escravos obtiveram a. sua liberdade!
A Exposição Universal ele Pariz, de r 867, seguindo-se
immediatamente a esta grande revolução social e ~conqmica,'
codi-ficou todos estes acontecimentos e laureou os benemeritos
da indu:;tria e du trabalho c_o m - premio grande· do algodão.
Seis paizes obtiveram essa grande medalha. O Brnzil, o
Egypto, a InJia ingleza, a ltali,1, a Turquia e a Argelia.
Eis aqui um quadro estatístico, que demonstra com
algarismos irrecusaveis-a crise algodoeira.

IMPORTAÇÃO DO ALGODÃO NÀ INGLATERRA

( Em bal<u de 200 kilogra111mas J

Annos Estaclos-Unidos Brazil Egypto Outros paizes 'fota!


1860 ... - 2.512,582 100,157 106,880 557,247. 3,276,866
1861 . 1 1 760,002 94.835 93,425 946,850 2,895,192 -
1862 61,604 II3,903 l 15,276 938,464 1,229 ,247
1863. rn8, 193 1l2,383 168,636 694,134 1,083,346
1864 155,731 167,141 202,465 1,512,385 2,037,723
1865 . 374,661 274,170 268,811 1,305,120 2,222,762
1866 . . -- 955,473 334,989 137,601 1,652,682 3,080,746

Estes algarismos são eloqur::ntissimos.


A crise começa em I 86 I : q uasi tudo se restabelece em
1866. Em 1860, e.x actamente, o supprimento de algoclão na
lnglaterrn alcança o maxirno de 3,276,866; dá-se o -cata-
clysrna n u rte-americano, u su.µprimento desce a quasi um
te1ço; em r863 vem logo a cuncurrencia universal, e, ern
tres annos, em 1866_ , restabelece o suµprimento nc maximu
de tres milhões de libras! E' a elasticidade industrial
funccionanJo ,idmirnvelmente em virtude cla concurren_ç ia
u ui versai.
Foi uma esphera elastic8, que recebeu um choque pela
revoluçãu esclavagista; deformou-se no m o mento da per- ·
cüssão; reagiu, porém, imrned ;atarne.nte pela concurrencia
universal, e readquirio a lurma primitiva, dando ao mundo 0
- 21 2 -

mais gra nd ioso exem plo e a m a is con vincen te prova de soli-


da ri ed ad e da fa m ilia _h nmana e da pe rfe ita ha rm onia de todos
os in te resses legíti m os °!
Se, aband ona n do es te pon to de vista un ive rsa l, baixam os
a considerar especialm ente o B razil , enco ntrarem os, com o
se mpre, na van g ua rda desse m ovim ento ind ustrial a prov inc ia
d e S. Pa ul o !
E is aqui um quadro esta tístico para con fi rm a r, a toda a
e videncia, m ais este titul o ele g loria da im m o rta l p rovín cia:
TABELL A DE E XPO RT AÇÃO DO CAF É;, ALGODÃO, ARROZ, TOUCI-
NHO, TAB ACO E ASSUCAR DA PR0VINCI A D E S. PAULO NOS
D EZ E XE RC I CIOS D E 1861 A 1860 AO D E 1870 A 187'!.

Caft. Algodão. An-oz. Toucinho Tabaco. Assucar.


EXERCIC IOS .
0J 0J @ @ @ @

1861-1862 ...... . 2. 735 . 456 · -··· ···· · 52 663 44 11 3 4 987 3 652


,862-1 873 .. .. ... 2 413 338 87 Il 7 32 9 26 579 4 963 80
1863-1864 . ...... I 6IJ, 729 336 u 8 986 20 229 - 3 539 8 831
1864--1865 .... . .. 2 993 1 5 1 l 197 "4 894 20 426 2 <13 6 5 283
1865-1866 ..... .. 2 242 254 1 94 959 1 10 74 3 20 623 2 334 I 735
, 866--1867 .. .. . .. 2 304 000 235 119 80 237 36 682 4 261 III
18~7-1868 ···· - -- 2 837 SII 6n 971 79 139 24 87 1 IO 100 22
1868-,1869 ···· ·· - 3 71 5 231 536 140 HO 926 18 293 7 25 I 218
1869-1 870 ·· · ··· · - 3 342 251 446 178 21 2 255 29 108 3 794 13
1870 - 18 71 3 270 609 433 937 101 956 ,7 876 4 381 99 2
- -- - -- - - - -
26.465. 531 2 . ,65 . 834 t. rn9 .834 --258 . 8oo 48 546 20 937

E m 186 1 a 1862 S. Paul o n ã o exporta nem um a s6 a rroba


de algodão ; em 1867 a 1868 a ex po rtaçãu al cança o m ax im o
de 611 , 971 arroba:;, ! N es,e m esm o rr nno fa z um max imum
ele 10,1 00 arrobas na expo rtação do fum o e ex porta 2, 837.5 1 I
a rrobas ele café, m ais 100,000 do qu e n o ann o de 18 61 a
1862, em qu e n ão havia ex pu rta do um a só arroba <'e Hlgodão !.
O deficit teve luga r exactam en te 11 0 ass uca r, e es te factn c,m-
~n?a um!1- elas tb e,es prin cipaes dé.ste esc riptn; a ;,o.rsibtlidad<'
e a vaniagem de acompanhar a agricultura, o movime11Jo e as
n ecessúlades do m er cado universal os progressos da úulus fr ia, e de
p riferir sempre a sulfura dos generos mais lucrafivos .
Comm emo mn d·u esta brilh ,rn te victo ria da .:ig ri c ultura da
p,rp,yinci11, d ~ S. I\ tul o, na crise do a lgoçj ão, n ão q evemo,
- 213 -

esquecer o nome do engenheiro J. J. Aubertin, que ct,le-


brisou-se na propagancta para ~ desenvolvimento <lã · cultura
do algodão em _S . Paulo, cturante o conflicto norte-americano_. .
Da prcipagancta Aubertin de 1862, resta-nos um precioso
rlocnmento, é a
"Carta dirigida aos Srs. habitantes da provincia ele São
Paulo por J. J. Aubertin, superintendente cta estrada de ferro
da m esma provincia. S. Pau ln, typographia Litteraria! rua
do Jmperador n. 12, 1862. ''
Esta corrlial e enthusiastica proclamação aos nobres cer-
tames do trabal-ho termina pnr estas memora veis palavras:
'' A cada um d'entre vós. portanto, eu <ligo: - Levante-
se, trabalhe e prepare-se para sua estrada de ferro! Eia, pois,
- avante ! - Onwartl, Forward mui Away.
"A noite é já mui avançaria e o c!ia vem chegando.~
Surge igitnret f;cic.-Et erit Dominus tecum."
Um amigo nos,n vio em uma fahrica de algodão em Itú
o retrato de Aubertin com esta lege nda - O pai do algodão.
Nós vimos e m Génova, no paço da municipalidade, uma
bellis~ima columna de marmore, coroada pelo busto de Chris-
tovão Colombo, onde se guardavam os manuscriptos <l este
illustre Genovez. A prnvinci::i, de S. Paulo_deve a Aubertin,
. um dos mais dedicados prornntore.s da sua grandeza actua 1,·
um .igual testemunho de gratidão. • Essa carta deve passar aos
vindouros dentro de um monumento de marmore, sempre ao
lado da medalha de o uro, offe recida á província de S. Paulo
pela Manchester C,tton Supply Associatinn._
A 2 I de Maio ele I 870, recordemos tambem esta bella
pagina da histnria indu strial de S. Paulo, o vice-presidente e
o secretario da l llfan chesler Cot!rm S1tpp?J! Associahun dirigiram-
se á residencia do ministro brnzilei ro, en ®TI · -~, ·ffA 11- Jfh , .
offereceram a medalha de ouro ria Associ~ al?)p}~\:.remetter a "'4,?
. . ct S P 1 ''~ . -f '
prov111cia e~. au o. · /1·~, ·: ) ·1
__Na mensagem,_ que acompan!10\i. e~ta ho_n rosa offerta, ~ ,fi
manifestaram a sat1sfacção produzida ~i- lo "''}B ido 1rggfft~~---?
. . e1e S . P au 1o 1rnvia
·que a provmcia . ,eito
e · na r Y: ·H-<
· eS-f ã.o_w
.
g ,., ->'-a··1:g-1-l
.._ _
-- ~ - -
2r4 -

dã0, agora c<1nhecido em lVIanchestt'r co m o titul o de a{í;orlão


1{e Saulos . ·L embraram que _ toi Mr. J. J. Aubertin quem
indicou á ,tssoc iação d e Manch ester e m 1861 a feliz prov id e n-
c ia de enviar para S. Paulu as primeiras sementes.
A. dep utação record o u ainda, com muito prazer, que a
província de S . Paulo, por si só, exportára, e m 1869, mai s
algodão do que todo o Brnzil e m qt1 alquer anno :in_terior á
guerra no rte-a m e ricana . Quanta g lo ria para a província de
S. P a ulo!
Porque as províncias do lVIaranhão e da Bahia, tão ricas
d e tal eptos, não acompanham a proviu cia de S. Paul o? Poi·-
que estacionam , ou retrog radam quando S. "Pau lo vôa nas
azas do progresso? As causas são realm ente multi pias e
complexas: mas podem se r grnpadas em uma só: - a mono-
mania j>ohfíca !
Nas pruvincias do no rte, na Parahyba, principalmente no
Ceará, n_as A lagôas deram-se tam bem brilhantes exe mpl os el e
actividade, tanto mais notavei s quanto foram os peq uen os
lavrad ores brazil,-iros, furam braços livres qne se devota ram
mais en e rgicamente á producção do algodão. Tod os estes
factos demonstram á ultima evid enci a que, sob a acção el e
novos estímul os industriaes que, com engenl1 os e J.1zendas
centraes, com vias de communicação e c"m capital abundante,
se real izarão in fal li vel m ente prodígios ele ac tiviclade e de pro-
clucção na agricultura brazileira !
A lavo ura esclavag ista ela canna de assucar, esta, sim, é
ig norante rot in ei ra, emperrada, incapaz de em ul ação e de
qualqu er esforço prngressista ! Ousa e nviar, ai nela hoje, no
anno de 18r5 , .ios m ercados d,t Europa uns saccos ~egros e
immuncl os, o u urnas caixas pesadas e impossíveis, cheias de
uma cousa sem nurne, que s6 se clistin g 11e da terra por estar
sernpredistillanclo uma babafetida, cercada de uma nu ve m de
moscas! ! ! ...
XXXIV.

Sumrn a rio . -Applicação dos principies de centralisação agrícola e industrial á


producção do algodão (continuando). - Dados estatisticos sobre o Egypto, temivel
C0)1currente no assucar e no algodão . -O livro apresentado pelo Egypto na Expo.•
sição de Vienna de 1873. - Advertencias para u livro do Braz,il na Exposição de
Philadelphia em :r87ó. - Su'i,erficie real do Egypto. - Populaç_ão. - Parallelo com
a província de Sergipe. -Densidade da populaçã1) do Egypto. -Comparação com
os principaes paizes da Europa. -O que será o Brazil quando estiver povoado como
o Egypto de hoje.

Não devemos ir adiante serri estudar mais acuradamente


o Egypto agrícola e industrial, que já nos precede nc:is merca -
dos da Europa no assucar e no algodão, e que nos ameaça
com uma concürrenci,1 temível com. o café das regiões da
Nubia .e da Abyssinia, ultim,tmente conquistadas por Samuel
Baker.
Conhece-se neste nosso Brazil mais ou menos o Egypto
historico, ·o Egypto dos Pharaós, de Sesostris e de Cleopati-a;
ignora-se, purém, geralmente, o Egypto moderno, o Egypto
resuscitado pelo Khediva Ismail. E' este Egypto que nos
cump1·e estuda;· nest,1 opportunidade. Ha muita lição para
nós em um p:tiz velho na historia, novo na republic;r da indus-
tria ; reformado, restaurado e lançado a todo o vapor na
eotrada do progresso pelo genin de um só homem!
Devemos ao conselheiro Lopes Netto ter chamado, pela
primeira vez, a nossa attenção para o Egypto hodierno;
216

· encontramo-nos em Roma depois de sua viagem á terra


outr'ora das pyramides e dos liyerogliphos; huje do alg"clão
e do assucar; amanhã cJo algodão, ·du assuc.n e du café. exac~
tamente com" o n<'ISSO Drnzil. Não era mais tempo de ir ao
Egypto; m;1s desde esse dia que o Egypto agrícola e industrial
fieou sendo um dns nossos estudós predi lectos. '
O Egypto do Khediva Ismail revelou-se na crise algo-
doeira ocrnsionada pela re\·olução d"s esclavagistas nos EstaclcÍs
Unidns ; recebêo o se11 baptismo industrial na Exposição
Universal de Pariz de 1867, g,mh,111d 9 um dos celebres grandes
prémios do algoclâo. Era, em 1867, um grande pr"ductor ele
aigudâo; o terceiro d'tnlre todos, sú tendo por superic,res os
Estados Unidos e a India. Na exposição de Vienna de 1873
o Egyfito itppareceu já co1110 grande prJductur de algoclã ci'°l~
_de assücar. :
O Egypto enviou um livru ,á exposiçãu de Vienna de
1873, exaétaá1ente como fez o Brazil. Este livro, do qual
temos em mão üm exemplar e1n francez, tem simplesmente
por titulo:
11.fmistere de l' lntén'eur. Stalúlique tle l' Egyp!e. Année
I873-1290 de l'Hégtie. Le Caire, .Mourés & C.-Im-
prz'ineurs-Ed1/eurs. 1873 .
Prim:ipie1_110!:' por notar que este livro tem formato mais
elegante, e é impresso em _muito melh,,r p;tpel e com melhore.s
typos de qne n nosso ..
Sirva esta observação de advertenci,L para qu(ê o livro cio
Brazil, na exriosição de Philadelphia, não seja impresso em
papel de embrulho, cnm typos velhos e fóra do estylo, e vá dar
~-ma triste idéa de nosrn industria typographica, em um paiz
em que essa bell,l arte disputa a palma a Leipzig, a Londres,
a Pariz e a Tours !
A superficie cio Eg_vpto, propriamente dito (1), é de

(1) . ~o~ mappas o Egypto parece vastissimo, porque 1;omprehende os desertos de


areia movediça, inteiramente impossiveis para a agricultura e para habitação. Feitos os
nece~~?l,rios descontos, o Egypto fica menor do que a Belgica com o seu bem aproveitado
território de 29.455 kilomefros quadrados.
- 217 -

7,000,000 ele fecldans ou de 29,400 kilometros quadrados.


Sua população é de 5,250, ooo habitantes.
0 · lmperio do Brazil tem, pelo livro da exposição de
Vienna de 1873, 12,634,447 kilometros quadrados e uma
população de 12,000, ooo de habitantes, dos quaes talvez s6
oito milhões concorram no movimento commercial do
Imperio.
Em superficie, o Egypto é menor do que a metade
da menor provincia · do Brazil. • Com effeito, Sergipe tem
59,242 kilometros quadrados; emquanto o duplo da super-
ficiedo h'.gyµto realmente cultivada e lrnbilada s6 é de 58,000
kilometros quadrados. Or2, a provincia de Sergipe não cede
em cousa alguma ao Egyptu ; se o paiz do Khediva Ismail
tem o Nilo, !::,ergijJe tem ci rio S. Francisco.
O StJio de Sergipe poderá, puis, pelo menos, sustentar
tantos habitantes C(IJ110 o _E gyptó, isto é, a pupulação futura
de Sergipe será nunc;t inf~rior a 10,500,000 habitantes.
A densidade da população do Egypto é de I 78 habitantes
por kilometro qua,lrado, superior á

Belgica ........ com 1 73 habitantes por kil, q uadraJo


Hollanda ...... 120 ,,
Inglaterra ... .. .. IOI ,,
Italia ...... .... 90 ,,
Allemanba ..... 76 ,,
França ........ ,, 59
Suissa ......... 64
" " "
Dinamarca ..... 48 ,,"
P<>rtuga 1. ...•.. , . 45 ,,
. e a Hespanha ... 33
" "
Qmmto ao 13razil a cada habitante compete, pelo menos,
muitu mais de um kilumetro quadrado!
Se is:;o fosse inJice de riqueza, nenhuma nação seria ma_is
rica do ']Ue a brazileira. Mas é na realidade garantia segura
de um engrandeciniento sem exemplo nos annaes da huma-
nidaJe.
218

Assim, quando o Brazil, muito superior ao Egypto em


condições naturaes, fôr · povoado, como o Egypto de h0je,
á razão de 178 habitantes por kilometro quadrado, a sua popu-
lação será ,;uperior a 2,243,000,000 de habitantes (1).
A imaginação não póde alcançar o que será uma naciô~
nalidade tal, com· a mésma lingua, com a mesma. lei, com a
mesma moeda, com os mesmos pesos e medidas, possuindo
e explorando activamente este solo abençoado, irrigado e
drenado pelo Amazonas, pelo S. Francisco e pel o Paraná l

(1) Este algarismo é muito superior ao do orçamento da actual população do


mundo, que se suppõe do 1,391,030,000 habitantes, assim divididos:-
habitantes

Summa .............. :r,39r,030 1 000 habitantes.


XXXV.

Summario.--App}icação dos principios de centralisação agricola e indus trial á


producção ·do a lgodão.-Dados es tatisticos sobre o Egypto, o nosso temivcl concur-
rente- no assucar e no algodão (contiuuaudo). -O progresso da instru cçã1J publica
no Egypto. - Em dez annos a freqm:nc ia das escolas pnblicas cresceu de 3,000 a
90, coo. - Progrcsso nos caminhos de ferro, um p ara cinco em dez a nnos.-Pro-
gresso n os telegraphos electricos, um para doze em dez ann os.-Progresso nas
obras publicas geraes .-Progresso em melhoramentos urbanos. -Difficuldade~ poli-
ticas e religiosas com que tem lutado o Khediva Ismail.-A sua abra de reforma
e de progresso co ntinúa sempre.- O progresso anima os povos ao grito.-
' 'Rurs~s e t Ultra" .- i\tlais e melhor.

Contin uemos a resumir os dados da estatística do Egypto,


apresentados na Exposi ção Universal de Vienna de 1873,
mais àttinentes ao assumpt o deste escripto.
O Egypto -hodiern o é um a li ção prat ica de reforma
social e d e progresso ag ricola e industrial , acima de toda a
ad _m iraçãu . A nenhum paiz póde essa lição aproveitar mais
cio que au Braz il.
· O Egyp tu liudi erno é tambern uma prova viva do muito
que um humem de genio póde fazer, em 1 0 annos, pe lo
progres~o de sua patria. Este paiz, hye ruglipho e esphinge
eternos, nos revela hoje q uanto um reformad o r devotado
pouerá fazer du Brazil, qu e, graça~ a Deus, po:;súe cond ições
naturaes e suci,ies, infinitamente supe ri o res ás do Egypto.
- 220

Ainda mais: · se um h omem só póde fazer tanto o que


.não conseguirá a Nação inteira,-Rei, Parlamento e CidadãPS
-devotando-se todos, since ra e cordialmente, á sublime obra
de reformar este paiz para a agricultura _ pam a ind11stria ."!
para o com m ercio; querendo todos lançar o Brazil no ca-
mfoho de ferro do prog-1'.esso com maior velocidade do que os
prop1'ios Estados-Unidos?!
Como de razão, o Khediva lsn1ciil enc~tou a reforma de
sua patria pela instrucção publica. E' o alpha de - toda a
reforma industrial. A reforma completa tem por fo rmula geral:
"lnstrucção e Industria. Pão para a alma e pão para o corpo."
Comprehend eis bem: é preciso instruir o povo e dar-lhe
simultan éamente ind~slria; dar-lhe meios de viver pelo tra-
balho, para que a ignorancia e a ociosidade não o ponham á
mercê dos miseraveis corypheu,; de revoluções .
No tempo de Mehemet Ali, antecessôr do Khediva
Ismail, só ·3,000 meninos recebiam instrucção nu Egypto;
no anno de r873 nada menos de 90,000 meninos frequen-
taram as escolas publicas.
E' essa relação de 3, ooo a 90, ooo que nós economistas
denominamos:- Progr-:sso.
O Khediva Ismail foi ainda mais longe. O Egypto tem,
por fatalidade, uma religião, que eleva para os homem, á
altnra de nm dogma a vulupia torpe e embrutecedora, e que
simultaneamente degrada a mulher reduzindu-a a vi l ma.china
de prazer. Em tal religião a mulher nií.o miá escola. O
Khediva Ismail rompeu com o fanatismo musulmann; fundou
em Sioufieh no Cairo, a primeira escola de meninas, que
viram os desgraçados paizes, sujeitos á aviltante religião de
Mahomet I Esta escola é a benefica aurora ela emancipação
da mulher no Oriente.
O orçam ento da · instrucção publica, no tempo de
Mehemet-Ali, era d~ 93,700 francos; presentemente é de
2-, r 25,000 francos! E' .tam bem a relação ele 93. 700 francos
a 2, r 25, ooo francos, empregados na instrucção publica, que
nós economistas denominamos: - Progresso.
- 221

Neste particular ha m uito a reformar entre nós: é evi~


dentemente necessario e indispensavel que um Imperio, que
lança 5 ,000 :000$ nos lôdns do Tamisa, dê aos professores
publicos alguma cousa mais do que o stricto necessario riarà
não morrer de fome !
Depois da instrucção publica as vias de communicaçãÕ
-os caminhos de ferro. Esse é o capitulo das nossas maiõres
vergonhas: seria talvez m elhór passal-o em silencio. Nãn:
é preciso · dizer tudo. Não é incE·nsando covardemente o
amot proptio nacional que se reforma um,1 nação.
Em 1863 o Egypto possuia 245 milhas de caminhos de
fe rro; em 1873 o algarismo attingia a r ,3 20 milhas oli
2,124 kilometros. Mais do duplo dos caminhos de ferro
deste I m perio !
A rêde egypcia cresceu em ro annós na .razão de i
para 5.
Estão já termindos os estudos ele um grande cam inho de
ferro para o Soudan, orçado em cem milhões de francos.
Nós passámos vinte annos para decidir se devíamos ou
n ão g,1rantir juros aos caminhos de ferro!! E, ainda hoje,
reina a singular th eo ria que as pequenas províncias não
devem ter caminhos de ferro. De sorte que por isso mesmo
que estão pubres e atrazadas, não se lhes dá meios de enri-
qu ecer e progred ir! ! .Deus z'llum,úe os nossos governmiles/
Em telegrap hos electri~os o accrescimo em 10 annüs foi
de 582 kilom L:tros de linha em 1863 para 6 1486 kil(lmetros
em r 87 3. Progresso na razão de I para I ll em drz annos i
Em obras publi cas diversas o canal maritimo de Suez,
g loria iinmortal de Lesseps; os melhoramentos d os portos
de Alexandria, de P,>rto-Said, de Porto Su ez ; os canaes
internos de navegação i de irt'igaçâo; innuh1eras pontes
sobre esses canats e sobre braços do Nilo; a restauração e o
augmento do Cairo, ele Alexandria e d e todas as cidades do
Egypto ; o aba~tecimento d'agua e a illumim.ção a g,iz do
Cairo; a a·bertu.a de novas ruas e de bu ulevar-1s para succeder
aos escu ros, immundos e tortuosos beccos das cidades ma-
222 -

hornetanas; ·escolas, lyceus, academias, museus, observat~rio


astronomico em A b.1ssyeh; tlieatros, hoteis, jardins, estatuas,
ernlim, um Egypto redivivo, como nunca ousou fantasiar ne m
S esostris o conquistador, nem Cleopatnt a sed uctora !
Cada umá dessas obras publicas lembra uma nece~sidade
,lÍ1aluga du nnsso Brazil. Levar-nos-hia parn f6rn dos limites
deste escri1'i to o estudo e o parellelo das innumeras reformas
que o Egypto hodierno deve ao Khediva Ismail: nós temos
pressa em voltar ao assucar e ao algodão, e em demonstrar
·prodígios de prugresso agrícola, realizados no curtíssimo prazo
de dez a1rnus, pela vçmtade prngres::;ist<1 ele um s6 homem,
em luta tenaz com um mo11archa cioso; com uma religião
retrograda e embnitecedurc:t, (1) que diz ao povo--gosa e
_embrutece-te - em lugar de dizer-lhe, como a sublime reli-
giãu de Jesus- Cliristo : - trabalha e ennobrece-te !
Só queremos demonstrar que nós brazileiros devemos
ter muita fé e que devemos ter muita coragem! Que a
reforma da agricultura nacional, que se nos antolha tão
difficil, é um problema facillimo em comparação do prublema
granJioso, inaudito, sem e·:emplo na historia d()s povos, que
resuh·eu, não, que está resolvendo o KheJiva Ismai 1, porque
o progre,so não tem limites; bem pelu contrario anima inces-
santemente os povos ás incruentas batalhas da industria com
o seu grito ele guerra predilecto : ·
''Rursus e/ ultra! 11-fais e mdlior !

. [r] Um só exemplo demonEtrará estâ these: -- o~


lavratlores ··egypcios, que
. enriqueceram na crise algodoeira, não comprárnm nen~ terias nein arados; co~1-
práram escravas circassiâ.nas ! !
XXXVI.

Sumrnario. - Applicação dos principios de centraiisação agrícola e industriai á


producção do algodâo.-Dados estatisticos sobre o Egypto, o nosso temivel conp
currente no assucar e n o algodãO (Continuaudo) ....:__ O progresso na producção do
ass ucar . - Superior a qualquer exemplo na agricultura de qualquer paiz do mundo .
- O Egypto c_ollocado entre a Bahia e Alagôas. - Os engenhos centraes do
Khediva I smail. - Sua proiucção. -Superioridadc sobre os engenh<;>s centraes ~da
Martinica. - Dados sobre o algodão. - C ultura e producção. - Fabrica~ de fiar e
tecer.-Prog-resso simultaneo na cultura e na industria .

A extraordinaria rapidez, com que se tem desenvolvido a


producção do assucar n o Egypto, é uma das provas mais
convincentes do muito que temos a espe ra r Lfo estahelec im ento -
de engenhos centraes no Brazil.
Até 1866 a exportação de assucar do Egyptn regulava,
termo médio, por 3,000 quintaes (1) por anno: em 1866 o
algarismo foi apenas de 1,090 qu intaes. E.m 1867 principiam
a expo rtar c,s prim eiros engenhos centraes do Khediva Ismai l,
e, então, com eça um desenvolvim ento progressivn de prn-
ducção e de exportação, verdadeirame nte assom b roso!

_[r] O quintal do Egypto (Kantar) tem 44 .kilogrammase 546 grammas; o quinfal


braztle1ro corre!-.pond1 a a 58 k ilogrammas e 752 grammas.
224

Eis os prodigiosos algarismos :


1866 ... . ...... . ........ . . . 1, 090 q u i n taes d e assucar
1867 .. . ........ . ...... . . . . 54,98 2 ,,
1868 .. . . .. ..... . ..... ... . . 145 ,2 12
1869 . . .. .. . ·... . ... . .... •. .. . 293 ,2 79
1870 . . .. . .... . ... . . ... .. . . 283, 828
1871 ...... . .... . 356,468
"
"
187z........ . . . ... .. . .. • • 456,851 ,,
Eis ahi um progresso na 1,1:oducção do assucar de 1 para
456 no curto prazo de· 7 an nos ! Com razão disse o chef~ da
reparti ção central de estat~sca d(~ Egyyto, E. de R egny-Bey :
"On peut duuter qu e jamais Íl y ait eu exempl e d'une
semblabl e rapidité de dc:vel<>ppem ent dans aucune cultnre, _
dans aucune industri'e ! "
Assim, pois. em 7 annos, a exportação de assucar do
Egypto, de insigni-fica nte que era, pass,iu a se r superior á de
qualquer provin ci,t deste Impe ri o, exceptuadas tão s6mei1te as
provin cias c\e Pernambuco e da Bahia . Com e/feito o quadro
n. 50 cio relatmi o cio mini sterio da fazend2 de 1874 dá para o
exercicio de 1872 a 1873 :
Exportaçã,, de _assucar d e P e.rna mliu co 97,442,832 ki lc,-
grammas.
Dita de dito da Bahia 50, 127,659 ditas .
Dita de dito das Alagôas 13,7 8 1, 807 ditas.
E o Egypto com os se us 456,851 q11intaes, qu e equivalem
a muito mais ele 20,000,000 de kil ()g rammas, já se cullvcou
entre as provincias da Bahia e Alagôas. Se á des itfia e o m edo
n ão deixare m estabelecer engenh os centraes nas províncias ela
Bahia e de Pern,tm buco, em 3 ou 4 a n 1ws estará o Egypto
exporta nd o mais ass uc,ir do que q ualqu e1· provincia deste
lmpe ri o.
O assucar d" Egypto, produzido por engenhos m odelos
e expnrtado ele Alexandria, ex pellirá, em brew, compl eta-
m ente dos m e rcados do M editerraneo as o bsole tas caixas e os
immundo~ saccns, cheios do n ojento ass uca r, qu e fab rica
ainda 11 0 _a nno de 1875 a rotin-1 escravagista des te Impe n,,.
Os engen ltus centraes do Khedi·va Ismail fic,tm nas
~n:1rgens do Nilo e <ius seu,; canaes de juncção. A exportação
é feita rmr v,lpo r. fL t vias ferreas Cú 1u lnc,imo):iv,ls para a
<eu nclu cçãu da canna de a;;sucar e ,para o se rvi ço de trnnsportes
no terrilurio dos engenhos.
Possuem em m:.;chinas e appa.rell:ws w.clu o que tle melhor
te m pruduzido a inJustria na Frnnça e na Inglaterra.·
Os 17 enge nh o,; centraes, que funccionavam em ~873,
produziam ..2,J50,ooo quinütes de as?ucar, ou ce ,·ca de
105,750,990 kilogrammas de assucar; prnducção que já
e xcede á expurtação da -p rovíncia de Pernftml.Juco, mesmo nos -
a nnos mais fe li zes J
D-.:1·em ·est.t r jJ foncci o na ndo mais 5 o utros engenhos
centra es pa,·a pruJuzirem nrni s 900,000 quintaes o u· 40,50·0
tone ladas 111 etricas de ass uca r. Cada um d'esses engen h os
centraes é, pois, em termo médio, da força de pro ducção dé
.8, 100 toneladas metúcas de assucar pur an nu.
Vê-se, pois, que <>S engenhos centraes d.t Marti1lic,t,
<le prodúcçãu d e 1, 5õo a 2,000 toneladas de as> ucar por
an no, perdem tod, .,s os direitos á nossa admira.'ç ão em presença
das collossaes fabricas de assucar do Khediva Ismail l
Os 22 engen li os CC'n traes, que devem, no momento em que
escrevtmos, (Janeiro i875) estar já em p lena actividade, elevam
a expo rtaçã:, amiual do Egypto em ass ucar a 3,250,000 q uin-
taes ou a 146,250,000 kil ogramm·as, algarismo que excede ao
da ex po rtação de tod o.o Imperio, no exe rc ício d e 1870 a 1871 ,
a qual, segundu o rela turio <lo ministerio ela f;i'zencla ele 1874,
fui apenas ele 116,983,308 kil ogra rnm ,is 1
Po,sam estes alga risn ,os convence r aos ·nossos governan -
tes que 11ão devem rec usar garan tia de juros e toda a su rte
de favores · para a Créação neste Imperiu dos engen hos -
centraes, destinados a e rguer a ind ustria de ass1,1 ca r do abali-
111enio em que se acha 1

No algodâu já o Egypto nos excede em proclucçã0 e


em expo rtação. No emtanto o algodão s6 foi aclimad o
226- ,

no Egypto por Jumel em 1820, quarído ·neste)mperio sua


cultura data dos tempos coloniaes, e, querem mesmo alguns
historiadores, que fosse conhecida dos aborígenes ! ,
Eis-aqui os a lgarismos de exportação do algodão pelo
porto de Alexandria, a partir de 1882, época em que pela
revolução esclavagista nos Estados...:.Unidos E-ssa cultura tomou
· urnà 'i mportancia especial :
EXPORTAÇÃO DE ALGODÃO PELO PORTO DE ALEXANDRIA.

<f)
(f)
f=l "'f=l - I
o
z ,...< (f)
o ,....,:
z.,: z z z OBSERVAÇÕES
z
s
C'
< s
C'
--
1662 721,052 1868 r,253,455
L863 r,181,888 '1869 1,289,714 O peso é dado em quin-
1964 1,718,79118801,351,797 taes do Egypto de 44 kilos
1865 2,001,169 1881· r,966,21-5 e 546 grammas.
1866 1,288,762 1882 2,108 ,500
1867 1,260,946 1883 2,013,433
A -cultura do algodão no Egypto ·continúa a progredir.
O caminho de ferro, projectado 'p ara o Soudan, tem por fim
aproveitar vastíssimas regiões para a cultura do algodão .
Ao lado da cultura a industria cio a lgodão.
Em Ale"anclria 38 fabricas produzindo 10,480 peças de
algodão po~ anuo l Só em Alexandria quasi o duplo das
fabricas existentes em todo o Imperio ! No Cairo 107 fa-
bricas para preparar algodão, e fabricas de fa,,endas de linh o
e de algodão.
Por outro lado fabricas de qleo e de seméntes de algo-
dão fundando-se no Cairo e em Alexandria, 'graças aos estudos
de Gastilein-Bey ! '
E n'este Im'perio ? Estaremo3 condemnad, ,s a ficar eter-
namente inferiores até ao Egypto em agricultura e em
industria? ! !
XXXVII.

Summario.-Applicação dos pnnc1ptos de centralisação agricola ~ industrial á


producção do algodão ( Continnando). -A cc,ncun-encia da Ramia. -King Cotton,
Queen Ramia . -Propaganda do Dr. José de Saldanha da Gama para a acclimação
da Ramia no Brazil-Terrenos proprios á cultura da Ramla.-Dados Praticas sobre
a sua cultura.-Resultados economicos.-Experiencias em grande escala na Argelia.
-N ccessidade e urgencia de auxiliar os esforços na Sóciedade Brazileira de Accli-
mação do Rio de Janeiro e de promover a creação de sociedades filiaes em todas as
provincias do lmperio.

A Exposição Universal de Vienna, de r873, revelou um


novo rival do algodão, do linho e do canhamo. E' a Ramia,
Urtica tenacíssima ou [h-fzi:a Utilzs do genero typo da interes-
sante familia das Urticaceas.
O Dr. José de Saldanha da Gama estudo u, em Vienna,
acuradamente esta µ!anta na exp0sição espec ial de Argel;
aconselha com razão sua acclimaçâÓ no Brazil no interes.-
sante relatorio sobre qotanica applicada na Exposição Uni~
versa] de I 873.
Acompanhando o illustre botanico em sua propaganda,
vamus aqui resumir os dados mais n otaveis sobre esta auspi---·
ciosa planta.
A Ramia é originaria da China e espontanea em muitos
-228-

pontos da Asia . Era conhecida pelos antigos sob a ex:p ,-essívai


denominação de Candúi/i Súloms. Sidnn e Tyro eram as duas
opu le ntas capitaes da indu stri osa e commerci ante Phenicia.
Provavelmente os Romanos recebiam do po rto de Sidoll!
a Ramia, produzida na China e em o utros pontos cfa Asia, e a
suppunham na tiva de Sidon . Este e rro ainda hoje se dá para
muitos artigos de commercio, apezar do vapor e da electrici-
dade, que _ta nto faci li tam ,ts communicações, e o ex:acto conhe-
cimento dos recursos do planeta, que habitamos.
U ltimamente (.1) com os prog re~sos da scieocia e da arte
de accli mar, a util íssima planta, pl>r tantos sécu lns esquecida,
fo i de novo chamada a refoar na indust ria. Talvez para que
ell à perdoasse á industria a inj usti ça de tamanho olvido, ofte-
receram-lhe um tlrrono ao lad o do Kitig-Cotton, corôado rei
pela revolt:1ção escl_avagista norte-,tmericana.
Assim, pnis, no munclo industrial temos hPje u,n rei_:__o
A lgodão, e uma rnin ha-:t Ramia; rei e rainha intéiramente
beneficos e innocentes, s6 destinados a augmentar a riqueza
dos p, ,vos industriosos e o bem-est>tr de toda a humanidade!
Oxalá todos os reis e tod,ts as rainhas merecessem as
mesmas bençãos, q ue o King-Cotton e a . Queen-Ramia!
A Ramia é denom inada caloé em Sumatra ; Gombé em Cala-
bar, no. reino de Benin na Africa; Kiparqynas ilhas da Sonda,
na Oceania ; Kara-mous.~J' em Hassans ou Assam na India ,
!)as margens do Brahmaputra .
A principio os bôtanicos suppuzerarn a R,múa simples
[lrtica-mvea; estudos mais apurados demo nstraram que el la
constitue uma especie bem caracte risada pelas suas folhas
grandes, largas, verdes tanto n o lim bo como no dorso, a o
passo que a Urtica-llivea tem de cô r branc,t o do rso d,ts folha~.
Os caules da ramia são muit,l numerosos e ustentam um
vigoroso cresciment\l; chegam a 2 m etros, cerc,t de 9 palmos
de altura. A ramia é muito mais rendosa d(> qne a Urtica

(1) Fol em 1810 que foram remettidas da Ilha de Sumatra para Londres as
primeiras balas de ~'Ramia:" os fabricantes inglezes reconhecer.:i.m logo as suas vantaga ns
e começaram a promnver a sua importação.
- 229 __;

nivea, Rhéa ou Chzna-grass, que agora- é cultivada, com· muito


enthusi'asmo nos Estados-Unidos. .,
A ral!Úa produz excellentemente n·os mesmos terret-i'os que
o algodoeiro ; exige clim,1 ·quente, terreno humido, um ·pouco
arenoso, bem permeavel e '. fôf,, para rião embaraçar o cres-
cimento das raizes. A analyse chi mica demonstra que para
o bom crescimento da planta são· necessarios, principalmente, .
a potassa, a sóda, o pho-s phoro, o chlorureto de sodium e a
cal (r) .
Planta-se a ramia por semente. p·>r estao, tirada da ri:-iz
ou da caule, e pelos rejeitões ou gômos d,ts axillas das ·folhas.
A colheita é feita antes da florescencia, emquanto os caules
estão vereies, afim de que as fibras sejam finas e macias:
Nos bons terrenos a ramúi ·dá 3 e mais colheitas por
anno! Em um hectare, 10,000 metros quadraâos, p6dem
crescer 12 _500 p~s de r,,111,rz. dtn lo 40:i , o::io cw les, pesando
cada um 100 grammas. Ui:n h ectare póde produzir 1,500
li bras ou 750 kil11grammas de fibras, de i-amia no valor ele
1 :200$ em cacLt colheita, isto •é, 3:500$ nas tres colheitas
ann uaes.
Isto em terrenos ele primeira categoria.
Na Argel ia a experiencia com - a cultura da rmma, em
grande escala, conduz a estes dados: Em um hectare ou em
10,000 metros quadrados, podem viver 10,000 pés ele rli'llÍa.
Cada pé de ramía dá 35 caules, i:o,ooo pés dão. p•,r-
tanto, 350,000 caules. Cada cau le -verde pesa 50 grammas.
Os 350,000 caules verdes pesam 17,500 kilogrammas; 100
kilogr,tmmas ele caules verdes produzem 4,230 grammas de
fibras. Os 17,50::i kilogrammas produzirã,i, portanto, 7"4-0
kilogrammas e z 5 grnm mas de fibras no valor de 768 francos.
Cada. colheita de um h~ctare de terra plantado de ramía
produz, pois, 768 francos.
As tres colheitas annuaes darão, portanto, 2,304 francos '
on cerca de 921$600.

LI J Vide para mais detalhes o excellente relatorio do Dr. José de Saldanha da


Gama sob:-e botanica applicada na Exposição Universal de Vienna em 1873.
,. . . . ., ~30
. Exp·eriencias minuciosas te~ demonstrado que a fibra
da ra_m ia é mais elastica, mais tenaz, e 11ia1s solida do que as ·do
linho, do -âzn hamo _e do algodão. Fica, ·pois, dem 9ns'trado que
não devemos · perder tempo em acclimar a ramia no BraziL
Ainda - todo o exposto vem demonstrar, á ultima evidencia,
uma das theses principaes deste escripto :
- A necessidade e a urgencia de dar largos meios e -
· vastos recursos á Sociedade de Acclimação do Rio de Janeiro,
para que ella possa quanto antes cumprir plenamente a sua
sublime l!lissão;
- A ·necessL:ade e a urgencia de .fundar, em todas as
províncias do Imperio, sociedades filiaes de accli mação, gene-
tosamente subvencionadas pelos governos geral e provinciaes.
Calculam de 60 a roo o numero de engenheiros, que
esperam no · Rio de Janeiro que os nossos governantes se
. decidam a construir caminhos de ferro no Brazil.
-;-Porque não se mandam alguns destes engenheiros estu-
dar agronomia e econpmia rural nos paizes, que primam nos
productos, proprios para serem acclimado, no Brazil?
XX·X VIII.

Summario. - Applicação dos pnn c1p1os de centralisação agricola e ind ustrial á


producção do algodão (Con.tbi11,rmdo). - Cultura de algodão por braços livres
na pr_o vincia de S. Paulo. - Dados praticas extrahidos do inquerito do Dr João
Pedro Carvalho de Nforaes em 1870. - Cultura do algodão na provinda da Bahia.-
A que mais soffre por falta de vias de communicação . - Fundação de fabricas de
algodão no rio São Francisco, para abastecer o ~nterior do Brazil. - As fabricas cen
4

traes de algodão ~ão necessarias ê indispensaveis. - Quem fundar~ uma Lowell no


Brazil ?- Parallelo de L owell e Manchester.

No inquêrito do Dr. João Pedro Carvalho de Moraes


sobre a colonisação particular na provincia de S. Paµlo ( 1 ),
encontram -se os seguintes dados sobre a cultura do algodão
com braços livres.
As empreitadas para a cu ltura do a lgodão comprehendem
a plantação, o trnto das plantas e a colhei ta; costu1Tiam fazê-
las com a .c ondição de ter n empreiteiro o uso e gozo dd ter-
reno, e de ser o algodão que se colher, d ividi do entre elle e o
proprietario, ou pago na razão de 1$ a 1$500 por arroba.
Esse preço corresponde á metacte daq uelle por que tem sido
paga geralmen te a arroba de algodão em caroço; em 1869

[1] Vide o Relatorio apresentado ao mínisterio da agricul tura, commercio e obras


publicas, pelo Dr. J P Carvalho de Moraes - 1870-á pags. Sa e seguintes.
- 232 -

--. esse preço chegou a 3$300 na Limeira, 3$5o"o em Constituíção


e 4$ em Sorocaba.
O preço é regulado pelo do , algodão descaroçado : cos-
tumam deduzir .3$ pani as despezas de transporte e ben eficio
elo generq. e do resto dá-se a terça par.te ao empreiteiro. Assim,
nesses termos,. o preço .de 3$ por arroba de algodão coibido
_corr~spo nde a I z$ por arroba de algodãn prompto para a .
exportação.
Quando n empreiteiro limita-se a razer a plantaçãn, o que
não é usnal, o seu serviço é pago na razão de 50$ por alqueire
cle terra de 3.000 braças· quadradas ou de 24,200 metros
quadradus.
Para a colheita os trabalhadores são pagos de 400 a
50·0 rs . por arrob,t sem comida: os Americanos esta belecido,;
em Santa Barbara chegaram a p,1gar 600 rs. por arroba.
Um cultivador pócle plantar e trata.r de alqueire e meio
de terras, isto é, de 7,500 . braç.is qnadrnd,ls ou de 36. 30c,
metros quadrados. Um tal terreno produz, term o médi o, 300
~rrubas ou 4,406 lülogrammas de al.godãu em ça roç<J, <•iu 1oà
·arrol:Jas o u 1,469 kilogr,!mmas de algodão em rama.
Dous Americanos de Santa Barb:ira affirmaram au
Dr. Carva lho de Moraes que tratavam de 3 alqueires de plan-
tação dealgodãn cada um, isto é, de 15 , 000 braç,ls quadrad as
o u 72,600 metros quadrados.
Calcula-se ·que um trabalhador póde colher 4 a 5 arrobas
ist,i é, 58 a 73 kilogrnrnmas de algodão por dia, e zoo a 250
arrobas, ou 2,927 kilogrammas a. 3,672 kilogrammas em tuda
a colheita. Assim, o ganho do trabalhador, em cada colheita,
será de zoo$ a 260$ ou de 300$ a 375$, conf<>rme o ajuste
-' fôr a 1$,ou a 1$500 por arroba. Se o la ; rador vender direc-
t;:;m ente a sua colheita de 300 ,nruhls a ·2$. tera· 600$, ·o u se
conseguir reduzi-las a 100 arrobas descaroçadas, ao preço de
1,0$, obteria- r :000$000.
No inqu eritn sob re o estado da lavo ura na provinci,t da
Bahia se menciuna a· cultura do algodãu como uma das que
mais soffrern pela falta de vias de communicação. Effectiva-
23,3 -

mente os melhores te rrenos algodoeiro s ficam 60 a 80 leguas


distailte do lito ral, e não podem ser transportadas as colheitas
sem despezas de frete de z$ 500 a 4$ por a rroba . . Taes fretes
são im possíveis quando o preço de veúda é, como agorn, de 7$
a 8$500 a arroba. ·
O inquerito faz especial m enção dos terrenos algodoeiros
de Caiteté, especialmente no Gentio, em Almas e Umburanas,
onde rea lmente o producto é excell ente.
O algodão de Caiteté obtem dos expo rtad o res ma is
1.$400 em a rroba do que o elas outras -procedencias; em
Liverpool é sempre pago por nuis 'UIU pemty em libra·.
Qnando teremos fabricas de algodão no S. Francisco, apro-
veitando a força m otriz dos raµidos d esse rnagestoso ri o, e,
sim ultaneamente , o ,preciosn algodão de Caiteté, d e Caiunha-
nha, do Urubú e da Vil la da Barra? Q uand o teremos
caminhos de ferru p,tra o S. 'F r,rncisco? ,Ainda nã,> será tempo,
nem ao m enos, de cumeçar?
Para o algodão d evem(ls incessa ntemente ped.ir n ão só
_[<zzl'lldi:u ce11tral!s como tam bem .fabricas centraes. ·
No exercício de 1869 a 1870 o Brazil importo'u
47,719:749$,775 de faze nd as de algodão, grupadas na classe
XV da act ual ta rifa da alfandega . ( r)
· Nesse exe rciciu .de 1869 a 1870, conforme rerere o rela-
t.o ri o cll' m ini steri o da faz enda de. r 874, o Braz il só exp0rtou ·
43 ,0 24, 06 5 ki log ramm as <le algodão em rama, com o valo r
official de 44 ,033:960$. Assim u va lor do ,a lgodão manu-
fact urado, impo rtado n o lmperio, excedeu de mais de
3,000:000$ o valo r elo algodã" expo rtado em ra m a! ...
Q uando se reflecte acu radamente que o algodão manu-
facturado que imporcamos, paga, cu m pey uenas excepções, o
ex;igeradu imposto de 30 %, e ~e hmça os ol hos po r todo o
lmpe ri o, e só se enc(>ntra um it fabrica de algodão, ainda
fundando-se, no Maranhão, urna em Pernambuco, sete na
Bahia, urna em Minas, cin co 11 0 apenas Rio de Janeiru e cinco ·

[1] Vide a interessante Estatatistica do Commercio Maritimo do Brazil de 1849


a 1870 pelo Dr. Sebastião Ft:rreira Soares.
-234 -
em S. Paulo, 'não se póde deixar de concluir, bem triste-
mente, que ; inda se acha nas fachas da infancia a industria
· deste Imperio !
Abençoado seja quem fundar uma Lowell no · Brazil !
Manchester é triste, .é negra, é escura ! Mas Lowell é tão
alegre, é tiio candida, é tão brilhante ! O céo em Manchester
nem é côr de chumbo, nem é côr de · cobre: é de uma côr ,
inqualificavel e indescriptivel , que vos acabrunha de splten.
As altissimas chaminés das fabricas parecem negras columnas
construidas para sustentar ess~ céo tão baixo e tão escuro!
Em Lowell o céo é azul e diaphano como no BraziL
As elegantes .chaminés <las fabricas parecem magestosas pal-
meiras de espique vermelho e de cinzenta com,L ! Como é
bello e magestoso esse rin Merrimack ! Como é poetica essa
cascatà de ·P awtucket !
Em Manchester, as meninas que trabalham nas fabricas
vestem chita preta; trazem os braços :nús, os cabellos d~s-
grenhados e sujos de algodão !
Dir-se-hia que trajam luto perpetuo pela felicidade,
pelo bem-estar que lhes roubáram !
Em Lowell fica-se em duvida se são operarias ou meninas
ricas, trabalhando por prazer; trajam elegantemente nas mais
lindas côres; trazem os cabellos caprichusame,nte adornados
com flores e com fitas ; têm um ar d e bem-estar ·tão vivo e
tão alegre, que contrasta, logo á primeira vista, com as faces
maciUentas, tristes, pallidas e famintas de suas irmãs de
Manchester !
Lowell é a joven America; Manchester é a velha Europa !
Lowell é a realização do rlesirleratum do bem-estar, pelo qual
combate incessantemente a d emocracia ; Mancbester é a
miseria, filha bastarda da oligarchia, do militarismo e da
igreja governamental ! ! •..
xxxrx~

Summario.-Applicação dos principios · de centralisação agricola e industrial 'á


produr.ção do algodão (Lontúmawlo).-Estatisticas dás fabricas de algodão exis-
tentes no lmp_e rio.-As fabricas d«: a lgodão devem ser principalmente fundadas no
interior do Brazil. - Situação mais "'antajo!'-a para essas fabricas. - Enuineração das
localidades mais convenien tes nas diversas provincias do lmperio.-As fa~bricas,de
algodão do rio S. Franc_isco, - Vantagens da _fundação de faPricas de algodão nas
colonias.-A fabrica dará saiarios e instrucção a té aos filhos e ás filhas dos colonos.

Temos presentemente not1c1as das seg uintes ( I ). fab ricas


e emprezas de fabricas de algodão no Brazil:
Provi11cia do Maranhâo
I. -
1) Em Maio de 1874 os -Srs. · Custodio Gonçalves
Belc hi or e J oaq ui_ni J osé A _lves ap resentaram á presid encia da
província du Maranlião as bases para fundação de uma fabrica
ele algudão, de confônniêlade cum a lei provincial que garantia
juros de 7 ,%. a"té o capital d e 3 00:000$000..

f>) Segui~os a classificação das fabricas da Bah ia, dad; pelo devotado ex-
presidente Cntz Machado; a commissão de inqueri to dassificou-as deste modo:
.1° Fabrica de T odos-os-$.antos, ga!õ;tando222,320 kilogrammas de algodão por anno.
2v Fabrica de Nossa ~enhora do Amparo gastando '177,250 ditai idem.
3° Fabrica de Santo An'toni o do Queimado 1 gasta ndo 92 , 100 àitos idem.
4 11 Fabrica I\•l odelo, gastando 30,300 àitos idem. _
sº Fabrica Conceição Lde V~lença?J gastando 74,450 ditos idem.
6° Fabrica Prog resso, ga!-tando 45,060 ditos idem.
7° Fabrica S. Salvador 1Conceiçâo da Bah ia ?J gastando 36,650 ditos id em.
- 236 _-

. A companhia - <lenomínar-se-ha Companhia Maranhense


dé .Fz'ação e Tecidos.

I.l.-- Províncz'a de Pernambuco ·

2) F~brica de' tecidos de algodao <la Magdalena, per-


tencente aos Srs. Pernambuco, Barroca & C., inaugurada a
31 de Abril ele 1874.

III. --Provinc1'a d.:,, Bahfa


3) Fabrica S .. Carlos do Paraguassú, com o capital de
200:000$, tenrlo sua séde na Cachoeira;
4) Fabrica Nossa Senhora da Pen lia, com-séde na cidarle
da Bahia e capital de 80:000$000;
5) Fabrica Nossa Senhora do Pilar, com séde na cidade
da .Bahia e capital de 200:000$000:
· 6) Fa-brica Modelo com séde na Bahia e capital de
90:000$. Consome 80. 300 kilogrammas de algodão por
annó;
7) Fabrica Conceição, com séde na Bahia e capital
de- 173:896$1 ro. Consome 74,450 kilogrammas de algoclão
por anno:
8) Fabrica Todos os Santos, com série em Valença e
capital · de 280:000$. Consome 222,320 kilogrammas de
algodão por anno ;
9) Fabrica Conceiç?io de Valença, com séde tambem
em Valença e capital de 120:000$000 ..

IV - Província de Mmri"s
to) Fabrica do Cedro. no Taboleiro-Grà:ncle. em o
. município de Curvello, pertencente á firma social Mascarenhas
& Irmão .
II) Fabrica "Industria Machadense" na freguezia de
Santo . Antonio <lo Machado, no município de Alfenas.
Trabalha com motores -hydraulicos e A vapor;
12) Fal-irica de Brumado, junto a Pitanguy, que deve
ser movida por agua.
- 2 37 -
V. - Provzncia do Rio de Jànezi-o

13 ) Fabri ca de Santo Aleixo, propriedade do Exm,


commendador José Antonio-Araujo Filgueiras, que trabalha
com 150 operarios. 2 : 640 fuzos, 52 teares, produzindo annual-
mente 550,000 varas on 605,000 metros de tecidos.e 28,000
1ibras ou 12 ,852 kilngrammas de fio de algodão, n o valor ·
total de 350:000$000 ;
14) A fabrica Santa Thereza, em Paraty, pertencente .
aos Srs. Souza & G., qu e dispõe de 20 teares; occnpa 47 _em-
pregados sendo, 30 meninos de r·o a ! 3 an n os ; _p ossue
432 fusos e produz diariamente, termo méd iõ, r, 500 varas ou
r. 650 metros de fazenda. As machinas são americanas,
fllram f<,rnecidas pnr Milford & Lidgenvood, e produzem com
os ultimns aperteiçoamentos, panno liso e trnnçad o. Esta
fab ri ca succedeu em r 871 a outra de igual nome, situada
tam bem em Paraty, que findou em 186 5 ;
I 5) . A fabrica Brazil Industrial, estabelecida na fazenda
de Macacos, com 409 teares , para produzir annualmente ·
3,990.000 varas ou 4,389,000 metr~s de panno de algodão·
O capital da companhia é de 1,000:000$ ; const;i., porém, que
as despezas alcanç,uam a 1,400:000$. E' o mais importante
estabelecim ento deste ge nero n o Imperio; honra muito aos
seus iniciadores e á devotada directoria que o realizou,
leva nd o de ve ncida imm ensos obstaculos.
16) A fabrica d e S . Pedro de Alcantara, na Rhenania,
em Petropolis, fundada em r 872, com 50 teares, 1,2 00 fuzos e
uma força hydra ulica de r5 a 25 cavallos dynamkos. D eve
emp rega i 80 pessoas e produzir 2,500 varas ou 2,750 metro,
por dia, e portanto cerca de 750,000 varas ou 825,000 metros
por anno de 300 dias uteis;
17) A fabrica da companhia Petropolitana, na Casca-
tinha, perto de Petropolis, com I08 teares e. um capital de
1, 0 0 0:00 0$, dispõe de uma força hydraulica de cerca de
1000 cavallos dynamicos.
- 238 .-
· VI. ....:..._ Provinda de S. Paulo.
r 8) A fabrica de tecidos do major I?iogo Antonio de
Barros, na ma de Miglie,l Carlos, na cidade de S. Paulo.
Pó.de produzir diariamente 800 kilogrammas de fio e 2,400 .
m etros de P-ªnno de algodão n. 3, inglez.
O pessoal dà fabrica é de 1.3 homens, 20 mulheres ~ 69
a
meninas, de l l l 3 annns.
r9) Fabrica de ' S. Luiz, em ltú, que possúe machinis-
mos americanos, importados por intermedio do Sr. W. V. V.
Lidgerwood, capazes de prüduzir 1,5ooya rdas ou 1,365 metros
de algodão grosso por dia. Dispõe de 24 teares.
A _fabrica custou cerca ele 1 oo:o_oo$· : orçam-se os Iucros
1iquidos arinuaes ém cerca de 50 % ! . ·
' 20) Por decreto n. 573 r de 27 de . Agosto de 1874,
fo'ram -approvados os estat~tos da Companhia Industrial Jun-
diahyanna com 140:000$ de capital, destinados a estabelecer
uma fabrica de fiar e tecer algodão,· lãs e outras mate~·ias primas.
21 ) A fabrica do Salto, a uma leg ua de Itú. Tem 50
teares, 18 cardas e 1,600 fu sos. Machinas d.e Platt Brothers,
1oo operarios.
2 2) A fabrica da Cachoeira do Voturantim, no Rio
-S"rocaba, cuja companhia se organi~ou _com o capital de
400:000$000.
23) Fabrica de Santo Antonio em S. José de Parahy-
tinga, inaugurada em 9 de Fevereiro de 187 8. Tem 25 teares,
uma turbina de 50 cavai los . E' devida á iniciativa do fazen-
deiro o Sr. João Aruuca ; é um dos mais bello:, e,emplos do
amor ao progresso ela província de S . Paulo.

São, pois, vinte prnvincias no Brazil, e sómuite vinte


e uma fabricas de algodão!
E deste num ero muitas ai nda em projecto !
Mal toca uma fabrica a cada p;·ovi ncia !
São vinte províncias, e só seis té_m fabricas de algodão!
- 2 39 -
Ha 14 provindas que produzem o algudão, e são ainda
obrigadas a fia-lo entre dedos !
Pobre Im perio !

R ecommendamos muito especialmente que as fabricas de


algodão sejam de preferencia fundadas no interior do paiz e não
nos portos de mar. As fabricas brazileiras devem ter por fim
fornecer panno de algodão .barato aos nossos lavradores; seda
loucura que ellas aspirassem ir concorrer · com as fabricas
inglezas nos mercados estrangeirns. E', pois, no interior do
Brazil que ellas devem ser fundadas.
Assim, no Amazonas, as fabricas de algodão, devem ser
estabelecidas em Manáos, e a montante de Manáos para enviar
os se_us productos, rio acima, até á Boltvia e até o Perú •.
No Maranhão as fahricàs de algodão ·devem ser esta bel e-
. " -
cidas em Caxias, na Barra .da Corda e na Chapada.
No· Piauhy se deverá preferir a prospera cidade ae Ama-
rante, e depois Oeiras, Therezina e Valença.
N_o Ceará a cidade de ·Baturité, que será brevemen:te ligada
ao littoral por via ferrea.
Na prnvincia dl) Rio Grande do Norte em Nuva Cruz,
estação terminal do seu primeiro caminho de ferro.
Na provincia dfl. Parahyba do Norte é a prospera e intel-
ligente cidade do. Brejo d' Areia, centro de vastíssima zona
algodoeira, que_ deve dar lugar parà creação de uma nova
Lowell, na America do Sul.
Em Pernambuco a cidade do Limoeiro, estação terminal
de um caminho de ferro garantido pelo governo imperial,
parece reunir, por ora, as m elhores condições . ·
Em Alagô.1s é a cidade de Imperatriz, que deve receber
a primeira fabrica de algodão.
Em Sergipe, ainda não se determinou o traçado do
primeiro caminho de ferro : nós temos incessantemente acon-
selhado o valle do "Vasa-Barris,"' em direcção ao Joazeiro,
ou melhor á Casa Nova:, aceito este traçado, será na estação
cor-respondente á serra de Itabaina, que se deverá funda.r
a primeira fabric::i de algodão.
N,a provi!1cia da Bahia, é nas margens do magestoso S -.
Francisco que de·,e ter a sua principal séde a manufactnra do
algodão: é na Villa da Bitrra, é em Urubi.í, é em· Carunhühha,
que cu'mptirá fundar grandes fabricas de algodão logo que a
locomotiva chegue ás margens cio Mediterraneo brazileir0.
Na provi_ncia do Espirito-Santo é nas m argens do Rio
Doce, ácima do Porto· do Souza, nas estações elo grande
caminho de ferro da cidade da Victoria a Ouro Preto, que
deverão· ficar as grandes fabricas de ·algodão dessa província,
aproveitando os innum eros cavallos-vapor dos rapiclos e das
ca~catas d~s ··Escadinhas." .
Na província d·o Rio ele Janeiro c!eve-_se preferir as
margens d•) Parahyba, . servidas por vias ferreas, destinadas a
penetrar no interior do Brazil.
Em S. Paulo foi muito bem ~i tu ada a fabrica de Itü :
.c umpre crear mais outras em .Sonicaba, em Limeirn e nas
estaçf'les mais occiclentaes dos camio lrns Jle ferro paulistan os .
Na prodncia do Paràná, a cidade de Curitib,1 póde receber
C()m vantagem a primeira fabrica de algt1dâo; ou então a Ct ilU11ia
de Assunguy, para dar mais animação e mais vida a este
centro de àttracçãn de immi grantes. Mais tcirde, quando as
vias ferreas avançarem màis para vés te, excellentes falJricas de
a'i'g:,dão se• pode rão estabelecer em Guarapuava, em Castro,
e sohretudo na foz do Iguassú, · nesta predestin ,tda situa.ç ãu,
onde os jtcsuitas fu_ndaram a cidad e de Santa Maria.
Na província de Santa Catlrnrina é a prospera c< i! or ia
de Blumenau que deverá receber a primeira fabrica de algodão.
Nã" se faz idfa que influ encia terá s,ibre o futuro de uma
Cl>ionia a creação de uma grande fabrica de algudão, que irá
dar salarios até ás filhinhas dvs colonos !
Na pruvincia do Rio-Grande d;, Sul é nas mar~ e m d,1
Uruguay, aproveitando a força motriz Ju rio, é em Uruguayna,
é em lLaq ui, é em S. Borja, que cunvirá fundar as primeirns
fabricas de algodão. Seria tambem felizmente situada uma
fabrica ele algoêlão em Santa l\Iaria da Bocca do Monte, hem
no Cl•ração d a pr, ,vin cia, onde · vai passar o grande tronco
dos val les do J ac uhy e do lbicuhy .
Na província ele Minas, que, com o já demonstramos
n es te escripto, está prl'destinada a ser essencialmente manufac-
tureira, t"das as grandes zu nas a lgodoeiras devem ter uma
fabrica de algodâ", pelll m en"s.
A patriotica pro vín cia de Min as-Gemes deve fundar em
Bambuhy uma fabrica de algodão i110numental, que lembre
aos vindouros o n"rne d e Conéa-Pamplona; a desditosa incon-
fidencia e -<> L1berla.r qua sera lamm ele I 790 l
Na província de Goyaz, em qualquer porta do Araguaya,
que possa recebe r vapo res, e clisponha de força motriz hy-
draulica, se Jl <'.derá muito vantajosame11te estabelecer fabricas
de algodão .
Na província de Matto-G.rosso uma bella fabrica de
algodã» em C uyabá, se ria evid ente mente um grande agente
para o desen vu lvi m ento da agricultura e da industria nesta
infe licíssima ,µ ruvincia J
XL.

Summs.rio.- Applicação dos principias de centralisação agrícola e industrial á


producção do algodão (continua1uio).-Vantagens naturae.,;. das fabricas de algodão
estabelecidas no Brazil.- Exemplos de algumas fabricas dos·Estados- Unidos.-
A nova industria da extracção do oleo das sementes do algodão.-Dados praticas
obtidos nos Estados-Unidos.- Companhia Gossipiana Brazileira.- Dados forne_
cidos por Gastinel-Bey ao Dr. José de Saldanha <la Gama sobre a purificação do
oleo das semen tes de algodão.-Fabricas no Cairo e em Alexa.ndria. - Resumo dos
novos principioS applicados ao algodão. - Fabricas de oleo de sementes de
a lgodão.-Fabricas de fiar e tecer algodão.-Problema economic:o aitda sem solução.

No prospecto, apresentado em I 870, pelos organisadores


da companhia da fabrica de tecidos de algodão Brazzl Iwlus-
lrúil, vem uma nota muito interessante sobre as vantagens
inherentes a essa industrü,.
Diz ass1 lll :

I. Direitos <le exponação do algodão em


rama e despezas de embarque (1 ) : . II %
II. Frete para a Inglaterra . ...... : . . . 7 %
llI. Despezas de vend,t na inglaterra . . . 3 ¼%
(1) Na pruvincia da l·t~hia1 e em muitas outras, o algodão ·paga 9 % de jmpostos
gcraes e 6 ~-O p!·ovinciaes; ao todo 15 %. .
Esta verba deve ser, pois, elevada a 17 <J,(), dando sómente 2 ~/4) para despezas
de e111b,irque.
244
IV. Frete e despezas de e mbarque do algo-- ·
dão manufacturado, ele 6 a 1 0 %, em
term o médi o ...... .. ..... .... ... ' 8 %
V. Direitos de importação (com addicio-
naes e nova tarifa). ......... .. ... 45 %
VI. Juros de tres mezes sobre o capital
empreg,tdo, desde o dia do paga-
mentv até a data da venda .... 1 ¼ %
VII. Com missão ele c,lmprador o u vencledor 5 %
Somma............ 81 %
~·--.._ Assim, eram em 1870, pel,, m enos, de Sr% do va!tl r
officiàl do alg,1dão as vantagens especiaes. d~ que gozavam as
fabricas de a!godão brazileii,ts. Destes 81 % li ,t 56 % per-
tencentes a dir·eito,; aduaneiro~. que é de esperar não tard em
a ser diminuídos S()h a benefica influencia dos santos prin-
cípios da liberdarle commercial. Ha, porém, 25 % pelo
rnenQ~, devidos ao ocean o Atlantico , o qual se interpõe
entre o Brazil e a Inghtterra; os constantes aperfeiçoamentos
da navegação a vapor tendem a redu zi r os inconvenientes
deste obstacu!o; é, porém, evi d en temente impossível elirnina-
lo_s de todo. Poder-se-lia, pois, assegura r que, em qualquer
tempo, a industria manufacrnreir,t do. algodãn no Brnzil terá
sobre a da Europa uma van tagem nunca menor de 20
a 2 5 %, pela /orça 1talun1l das cousas, úulepeiulenlmzenle rle
qualquer mediria proleccioui.rla.
Nesse mesmo µrospectu do Brazil lnt!us/1 ia/ vêm estes
inte r@ssantes dados ·estatisticos sobre tres fabricas d ns Estados.
Unidos :
I. A fa b i•ica Augusta, montada com um capital de
6oc,$ooo dollars ou cerca de 1, 200:000$000..
Possue dous eclificios de tijolo, cada um de 216 pés, de
comprimento, e 5 andares. Tem 520 teares, 15,048 fusos
com as respectivas mac hin as, as quaes com os edificios, im-
portaram em 425,000 clollars ou 850:000, ficando, portanto,
- 2 45

ainda di~po'liveis 175,000 dolbrs, ou cerca de 350:000$ do


capital da empreza.
Emprega 50::., nperarins :
167 homens a 1,35 dollars 011 2$700 por dia de 11 horas
de trabalho · e
333 mÚlheres a dollar ou 2$ por dia

500 ao todo.
-No ann,,, que findou em Junho ele 1869, m ·.mufacturou
8,068,235 jardas de panno de algudào, empregando 6.362
bah,s de a lgod ão em rnma de 440 libras cada uma. Cach1
tear produz cerca de 51 Yz jarcfas, pur dia.
Nesse mesmo anno p,1gou dividend()s de 20 % e teve
aind ,1 um saldo de 225,515 dollar~, para fund () de reserva.
II. A fabrica de Arizona, estabelecicht na Louisiania,
tem dado dividemlos de · 2+ .¾ s0bre o se u C,Lpital d~ 80,000
d ull.u's ou 160 :000$000.
111. Co.lzuo JiVorks, lambem nos Estados-Unidos, µt1ssue
1,200 teares e 48,232 fusos;. gasta annuaiinente' 4,700 balas
de algodão e produz r 2 milhões de jardas ,d e panric! de
algodão !
A estes exernp lus accrescentaremos u da Companh."a de jia-
rlio e tecirlo.s Lisbo,11mse, cujos magnificos estabeleciment,,s tive-
mos a satisfação de vis ita r a 30 de Setembro de 1872.
A companhia escreveu no seu brazào Industria e P erseve-
rança, e tem c umprido brilhantemente esse bello programma.
Dispõe de um c,1pital de! 500 :000$ fortes. Obteve, no anno
de 1874, a renda liqu ida de 96:865$365 fortes, mais de 19 % !
Teve a feliz inspi ração de distribuir,· em modesta é gra-
ciosa festa industrial, premias aos oito opera ri ps, que 1nais ·se
distinguiram no trabalh o, e ás quatro operarias, que mais
se devotaram ao ens in o cios ap ren ,li z,~s menores. Que
estes exemplos de Portugal sejam de boa liçã11 na terra de seus
filhos! ·

Nasceu ultimam e nte nos Estados-Unidos, e tem prospe-


rado muito, a industria da extracção d,1 nleo das sementes de
àlgodão, que interess'.:1 muito a ,s paizes productores. · Do
l\11vó-.klundq, que tem .,id<l inc:an,,tv:I em fazer a propag,mda
desta nnv,t int!p,;tria para o ilrazil, vamos extrahii• algunsdadoé·,
para que se pussa fazer icléa d,ts vantagens, reservadas nesta
especialidade a11s agricultores e ·, a,ls industriaes brnzileiros.
De mil librns llU 459 kilogrammas de seme_ntes p6de-se
extrabir 18 g.tlCí~s, ôc1 qu.t,i 82 litrn.; de ateite, que nos Esta-
- dus-Unidus valem pert" de 12$000. _
Yz
H,t nessa,; mil libr.ts cerça de 5:i:::i libras ou 229 kilo-
g~·.i,mm,is de: cisei, qtte é muitn rica em µotass t e portanto
excelle11te para é"Lrume ou restauraJor de t.errenos, eril -que
faltar e~re pr.incipiu .utilissimo, e mesmo indispensavel a muitas
culturas.
A massa da semente, dep,liS de extrnhido o oleo, é exéel-
lente p,1m aliment,1çãu do gado e d,ls pt!rcos. De 1869 a
r 874 muitas fabricas se tem estabelecidt> em Nova-Orlea11s
_ i"1ra extrahir u oleo <.ht- ,.;emente du algodão. O professo1
Jnseph Junes, drí faculdade d0 m _edici1rn de N ova-Orleans,
,rna'ly,;ando o resid nu, qne fica depois d,t extracção do tileo,
,tcl1ou-llie grande valor alirnenticiu; oµinou que tinham
-muita razào th agricultores inglezes em p,1gar 8 libr,ts ec;terlí-
n,1s (72$) por tonel,tda desse resíduo, para utili~~1-l\> na ali-
- men:açãl, du gado.
À Louúi,ma Otl C'ompany cons ,me ann11al111ente 15, 660
toneladas ou 855,64o ·arrub,1s de sementes ele algodãt); produz
8,ob5,6c-o galões de ule'u de trnperio1· qualidade e' 6,899 t11ne-
Litlas de mas,;,t . Tem um pessrnli de mais de 100 opernrius.
Em Mobile h,1 urna g,rande fabrica de oleo de algodão,
i.1ue não púde satisfazer ás encrn11me11d ts.
Na L"ui.sial\a hal'ia cincu fa~ricas em Abril de 1874,
g·,1standu 2, 7ou,-o_o o arrub~ts de sementes pur an110, e prudu-
_zindo mais de I. 500, ooo galües '.le o leu. Nu anno de 1873 a
, expurtaçàt1 do • iletJ de sementes de alg,dã,, deste E,Ltd.,_ foi
d_e 34,544 b,L1Tis, al·é m de . 202,873 s,tcco,; de nussa dus
.r.esi duo,.-.
V

2 47

No Rio de J a n eiro fundou --se, em 1873, um a companh ia


para explorar esta excellente if1dnstria, cnm o titulo d_s: Com-
panlua Gossip1ana B1'az1!eira . Seus estatutos foram approva-
d os pelo decreto n . 5. 273 A, de 26 de Abri l de 1873. Tem
por fim ext rahir das sem entes do algoclão:
I. - Oleo para illuminação, rnachinas e fabrico do
sabão (1).
II. - Fios para o fabr ico do papel.
III. - Massa para alimento de a nim aes e ·estrnme dn;;
campos-.
O cap,i tal da companhia é de 200:000$060.
O edificio está quasi terminado; as machinas a chegar :
é de espera r q ue em breve esteja tão auspicio~a emp reza recom-
p ensando largamente os seus accionistas dos sacrificio3 inh e-
rentes ao estabelecim enio el e qualquer industria em u·m paiz
n ovo e inteiramente adve1so a taes commettimentos.
Actualm e1;t e, 1883, acha-se esta fabrica, ciepois ,~ de
. m.uitos revezes. em prosperidade, graças á devotação ' e p·e rse-
verança do honraclo negociante Stan ley Peter You le .
No se u bellissimo relatnrin sobre Botanica Applicada. na,
Exposição de Vienna de 1873, o illustn).do professor Saldanha
da Gama n;gistrou preciosos dados o_btidos pessoalnrnnte de
Gastinel-Bey ( z), sobre a nova industria ·da extracçãn do 0 le<>·
das sem entes ·de a lgodão.
Os trabalhos do agron omo · Gasti'n el-Bey clirigirnm -sê
pri ncipalmen te á purificaçi\u do oleo de nlgodão pnr meio dos
alcalis ca ustic,ís. Foi n nt.oriamente nas sementes do algllciã<>
da especie Gossipú1111 11ittji,lium que o cjistincto profess, ,r ª"
serviço do khediva Ismail obteve os mais bellos res1;1l tado~ .
Estes dados th é;1 ri cos estão já sendo aproveitados indust ria l--
me nte: fnndaram-se logo fabricas de oleo de semerites cie
algodão no Cairo e em Alexan dria .

(1) Nos Estados-Unidos este oleo tem sido empreg::ido na alimentação .em concui·-
rencla com o azeite de oliveira. _
[2l Bey, que significa principe governador. ou sómente pessoa distincta, é um
titulo que o Khediva Ismail concede quasi sempre aos sabias ao serviço do Egypto.
Convém lembrar que conserva e recorda melhor os nomes primitivos do que os taes
ridiculos baronatos a Porto Alegre, a Magalhães, e aos homens mais notaveis deste
Imperio!
Os resídu os da fabri cação co nstitu em , com o j.i m en-
cion2.m os trata ndo <;l a c 11ina de assuca r, um dus m elh ores
estrum es cunli ecidos pa ra esse utilí ssim o vegetal.

A appli cação d,is n ovos prin cípios el e centralisaçâo


agiico la ao al gudâo dá, pelos estud os que aca bam os de faze r,
tres c,teguria:; de estabelecimen tos :
_ l. ,Fazrn das ce1t!racs de alg odão, destin adas a com prar
aos lavrado res o algodâu e m caroço, e procede r a todas as
ope rações necessarias para ex po rtal -o ern rama.
II . F abr icas Ll e u leo de sem en tes d e a lgodão e apro-
veitam ento ele todos os se us residuos ;
III. Fabri cas de foir e tece r al godão.
O q ue d evemus aco nsel ha r ? Q ue se fun de m grandes
cu mpa11hias n os ce ntrusa lgodoeir,.,,;, re unindo as fun cções ele
"faze ndas centraes ", de fa bri cas de oleo el e se m e"tes de
a lgoLlão, e de fabri cas d e fia r e tece r a lgod ã o ( 1) o u pequ en11s
con:i pa nliias explo nmd o isola da m en te m ela urn a destas in te res -
santíssim as indu stri as?
C" nsu ltaud o os mestres J ,1 Sciencia Econo mica, não
pudem os ac har sol ução definiti va sob re es te impo rta nte pro-
bl em a ._ O pr()prill Michel Ch evali er estudo u c uidadosam ente
a ·q uestão n u capitulo V . da quin ta p.tr te da sua a dmi rave l
i11trod ucçào dos rela.to rios da E•; pus içã11 U ni versal de 1867, e
nã<l pode t,i ma r· um a resu lu çã,1.
N ,t propria indu stria d u a.]godã11 ell e citou , comu um d os
m ais prt>Speros exem plus de C(mren lr afàO 11ulus/ri,d, n g ran de
estabelecim ento de Do! Jus Mieg & C . de D ur;-;',1c h (I--Lin t
H.hin ), q ue rece be a,s bala s de algucl ãoe m ram a d us E sta d us-
Uni dos, do Egy pto o u da l nd i,t, e ent rega c hi tas, morin s e
todas as va riedades de tecid us de - r, lgodãu, in teira men t~
µrom pt, ,s j »H ,l a ve nda.

l r l Lembre mos nes ta opportu nidade que, em qualquer hypothese, as machinas de


descar~çar deverão fi car em edific ios i!ó>olados, e, sempre que fôr possi,·e1, in combustiveis,
ou com todas as preca uções contra o fogo.
As machinas de descaroçar, sobre tud o as de se rra tSaw-gins], prod uzem frequen te-
mente calam itoso~ incendios .
- 249 -

Na industria m etallurgica occupa nesta classe o primeiro·


lugar o admiravel estab elecimento do Creusot, de Schneider
& C., qu e explora minas de carvão ele pedra e de ferro, e envia
aos mercados locumot:vas, paquetes a va_por e tudo que se
póde fazer com ferro e- stçn, dos proces.,os antigos ou modernos
denominados aço Be.rsmier, a ro .Marlín, etc., etc.. Apezar
de reconhecer que essa concentração está em flagrante contra-
posição com o grande principi o da Sciencia Economica da -
Di'visão do T,·abalho - o ili ustre mestre deixa o problema sem
solução com estas memoraveis palavras :
., En présence du succes, qui a recompensé les <liverses
tentatives de ·co71cmtNzli'on , que n(/us venons d'énurnerer, , la
critique est desarmée, et il n'est pas possible d'ouvrir ta bouche
1:,i ce n 'est pour luuer. II y a seulement lieu de faire re-
marquer q u'à de t'els établissement il _íautun chif d 'um capacilé .
fort au dessus de la moymne et u1l é/ai major ,i'éhle. Le systeme
de la division s'acco mmode beaucoup mieux d'hommes d'une
capacité ordinaire ; par cela rn éme il repo nd mieux à la
generalité dS!S cas; c'est aux chefa d'industrie à choisir entre
les de ux systemes, dans la plénitude de leur liberté et sous
leur responsabilité· "
XLI.

Summario. -Applicação dos principias de centralisação agricola e industrial á


producção do fumo.-Importancia actual da sua cultura no Brazil-E' o successor
nato da canna de assucar nos terrenos exhauridos.-Provas tiradas ·do inquerito
sobre o estado da lavoura na província da Bahia. -O fumo brazileiro n.i Expo_
sição de Vienna de 1873.-A industria da preparação do fumo na França . . - .
Conveniencia de mandar estudar esta especialidade por alguns engenheiros bra-
zileiros.-Estatistica da exportação do fumo pelas diversas provincias do lmperio.
-Reflexões sobre os algarismos fornecidos por essa estatist~ca.

No estado . critico, em que se acha a lavoura nacional,


deve merecer-nos especial attP-nção o desenvolvimento da
producção do fumo.
E' o tabaco o substituto e o successor natura l da canna
de assucar nos terrenos exhauridos, ou nos terrenos menos
fc:rteis do Brazil. O inquerito (r) sobre o estado da lavou ra
na província da Bahia estudou bem esta importantissima
questão. No parecer do commendador Francisco de Sampaio
Vianna e do negociante Antonio de . Lacerda, membros da
commissão sobre a lavoura, lemos:
' 'Actualinente nenhum genero promelte tanto desenvol-
vimento como o tabaco pela facilidade da su"a cultura, e em

[11 Vide ''lniormações sobre o estado da lavoura."-Río de Janeiro, Typogra-


phia N aciunal---1874, pag. r2.
razão do' desanimo, que lavra entre os cultivadores da C.lnna
pelos embaraços que se lhes antepoem, pela falta de capitaes
e pelo afferro ao Jrabalho bruto do escravo."
"E' o tab:1co cultivado reios pequenos lavradores, visto
_ não exigir capitaes e ser fatillima a sua cultl!ra: o gado e a
formiga não perseguem esta planta, que é colhida em tres a
quatro mezes."
Estas observações dt:monstram que o fumo ha de ser um
dos mais poderosos auxiliares para a prosperidacte t: riqueza
da Democracia Rural Brnzileira, depois de ter servido, na crise
actual, a facilitar a solução do instante problema da Emanci-
pa(j!ãO . . Lamentou, no em tanto, a com missão o abandono,
~m que se tem deixado tão auspiciosa cultura. nestes termos:
"Merece segundo lugar (entre os productos da Bahia) o
tabaco que, pelo pouco cuidado na cultura, só tem consumo
na Allemariha pelas classes menos abastadas, precisando-se
1m portar da Virgínia o que se Cl)nsome nas nossas fabricas de
rapé!!"
O Brazil, importando fumo, a sua planta symbolica !
Que vergonha! Porque não se h:t de acclimar o fumo da
Virgínia neste paiz? ! O Sr. Cruz Machado, então presidente da
Bahia, corroborou o parecer da com missão com estas palavras :
"Tratando da cultura do tabaco não ainda foi bastante
explicita a com missão, nem assignalou as verdadeiras causas da
improficuidade geral daquella planta; negligencia de plantio,.
m6rmente no qlle diz respeit,, á c::ipação e escolh,, _das folhas,
que devem ser conservadas; desprezo absoluto das precauções
im prescindiyeis na preparação claquellas depois do c6rte, e
acond.icionamento do productn. "
. No particular da cultura do fumo como succedaneo do
assucar, ·o Sr. _C ruz Machado t1mbem disse:
"De facto, o fumo é cultivado em larga escala, ha poucos
annos, e isso mesmo pela pequena lavoura, que sempre tem o
cuidado de esco.lher ou teneno novo, dos não utilisados pela ,
grande lavoura, ou terreno abandonado pm esta, e co11vmú11/e-
111enle estrumado pelos amnzaes ! "
- 2 53 -
Vê-se bem que é a Democracia Rural, ainda nascente,
mas já corrigindo os erros da cultura esterilisadora da olygar-
chia esclavagista !
No emtanto são tão vantajosas as condições naturaes do
Brazil para a cultura désta planta, que o fumo brazileiro teIJl
sido sempre muito apreciado em todas as exposições interna-
donae~, e, notoriamente, na Exposição Univer~al de Vienfia
de 1873.
Obtiveram effectivamente iv.ledalha de progrt.sso :
G. A.- Schnorbusch, da Bahia, por seus charutos;
João Paulo Cordeiro, do Rio de Janeiro, pelos seus rapés;
Rochi Costa & . Cunstantino, de Minas, pel•J seu fumo
para _c igarros e cachimbos;
R. Cortina, da Bahia, pelos seus charutos;
Alcançaram a Medalha .de 111erzro:
A. Maria de Brito, de Pernambuco, pelos seus cigar:0s;
Souza Neves & C., do Rio de Janeiro, pelos seuscigarros;
Francisco V icti, do Rio de Janeiro, pelo seu fumo para
cigarros e para cachimbo;
J. C. da Silva Muricy, do Paraná, pelo fumo em rôlsi;
Vioti F.,de Minas Geraes, tambem pelo seu fumo em rôlo;
Varios expositore_s da província do Pará e da Bahi,1 ; ·
Dr. Muricy, do Paraná, pelo seu ftiino em folha ;
Colonia da Cachoeira, da Bahiá, pelo seu fumo em folha;
T. Teixeira Gomes, da Bahia. pelo fumo em folha;
E por seus charutos os expositores da província da Bahia·
F. J. Cardoso.
Moura Irmãos.
C. F. S. da Costa.
E a ddade de Nazareth.
Em Fra1iça a manufactura ou a preparação do fumo
para o cc,nsumo chegou á maior perfeição; é dirigida com ·
todo o rigor téchnico e scientifico, por discipnlos da Escola
Polytechnica, que a<loptam esta especialidade .
A Frlnça tem r 5 grandes fabricas ( Mamifadures natio-
nales, 1·oyales ou ünperiales conforme o govtrno é republicano,
254

mon a rchico rea l ou monarchico


imperia l) situada em Borcleaux,
C hate llerault, Die J•pe; Le H a -
vre, Nantes. Li ! le, Li on, Mar-
sei lles, Morlaix. Paris ( Bercy),
P aris ( G/os Cailfou ), Nancy,
Nice, T u nneins e Toulouse .
São esta be le cim e ntos m o delos;
vercláde iras fabricas ce ntraes,e m
que se pre para o fumo n ão só
cultivado na França, como
cum prado aus paizes estrange i-
ro~, entre us qu aes figura,
m e lli m em qu ~ntidacle do que
em qualidade, este Impe riu.
Se ria muit<> b e m pefüado
o o o
que a Assembléa provincial da
.,..8 g 8 :8 :g §
Ba hia enviasse á França, para ~ .... o,
"""'
....o"'" !% ! ~ 8
O~in
es tud ar praticamente n estas ma- g"!:;-~ ;'e ?i'
. "'
nufacturas, d,1us o u tres enge- "' ~ '6

nheiros e a lguns operarius, e


com e ll es fLrndasse, em Ca-
clrneira e em S. Fel ix fabricas
an/raes, par,1 preparaçãu do
fumo produzido pelos agri c ul-
tures circurnvizinb us.
A pro1·incia d,1 B.liiia é a
primeira pruductorn e ex p u rta - "
E
. ~
d ora di> fumo no Imperio. Dos '. Ul

quadros est,ltist icus du m1111 s-


te ri u da fazen da , an nexos ao
. rela to ri o de 1874, ex trabimus
o q uadro co mparativo, aqui ao
' ]ad·u, q ue d emnu s Lra co m a
-maior evi d e uci a esta ve rd ade :
1ll2JMO 1
A prim e ira rcflexã,,, que ,p ..,. 1N M '<t- ll)'-0 t---00 O'\

O..t2'lll?tN
2 55 -
motiva e~te quadro synoptico, é que, <las vinte províncias
do Imperio,. s6 nove concorrem na exportação do fumo,
quando todo . o territorio do Brnzil possue excellentes_ con-
dições para a cultura desse estimado producto agricola.
Verdadeiramente , s6 tre, provi ncias, a Rthia, o Rio âe
Janeiro, ou melhor Minas, e o Rio Grande do Sul, exportam
em quantidades importantes o fumo. No emtanto, desde o _
valle do Amazonas, que produz o fumo de Borba, junto á f6z
do Madeira, tão procurado dos am-tdores,. até o Rio Grande'
do Sul, que é a terceira provincia productora do fumo , não
ha talvez uma_ legua do vastíssimo territorio deste· Imperio em
que não se possa cultivar com grande proveito o fumo!
A providencia, que aconselhamos á provincia d'l Bahia, é
lambem applicavel ás províncias de Minas G ~raes, do Rio de
Janeiro e do Rio Grande do Sul. A fundação_nestas pro-
vincias de algumas fabricas centraes, <lirigidas por engenheiros,
instruídos nesta especialidade nas admiraveis manufacturas de
tabaco da França, seria infallivelmente um poderoso estimul~
para a extensão da cultura de um producto agr,icola, n<i qua1
só nos leva natura lmente vantagem a ilha de Cuba.
.
XLII.

Summa rio .-Applicação dos p rin cipias de centralisa.ção ag ricola e i11dust1i al á


producção do fumo ( Coutinuanâo). -LJados praticas sobre a cultura do fumo. -
Escolha dos terrenos.-E' indispensavei o emprego do arado na cultura do fumo.-
Aproveitamento escrupuloso de todas as materiaS organicas e inorganicas como
es trume. -Escolha das semente~. -Necessidade urgente e imprescindível de Sacie.
dades de Acclimaçâo em todas as provincias do lmperio, - O n ovo principio de selecçao
app licado á cultura do fumo.-Milagn:s prod uzid os pela selecção, pela alimen.tação.
e pda estrumação tec hnicas na criação dos an imaes e n a c ultura das pla~tas. -
Fixação method ica da época da colheita. -- Fazendas cen traes e fabricas cen traes para
a cultura e preparação do fu mo.

Serão lidas com van tagem, pelos nossos agricultores, às


seguin tes notas so bre a cultura e producção do fumo, ex tra •
hida:<; cio excdlente relataria sobre a Exposição Universal de
1867, ele J. A. Barrai, agronomo muito distincto e redacwr
pr in cipal do jo rnal L'Agnàtlture. Os principaes melh or,t-
mentos introduzidos, na F1:ança, na cultura do forn o, são:
I· "A ·escolha dos terrenos adequados e o processo de
' ' estruma-los. Não plantar senão em terrenos profundamente
·' revolvidus, bem este rcados, para ficar com um alto gráu de
" fertilicladé!, ad ubados, emfim , de modo a poder dar fumu
'' enco rpad o e forte, ou então fum os leves e li s.os, conforme o~
' terren os e as q uai idades exigidas pelos fabricau tes. "
- 258 -

Destes preceitos resulta que é indispensavel empregar o


arado na cultura do fumo. Não haverá para isso a menor
objecção quando se utilisarem terrenos, esgotados pelos repe-
tidos plantios da canna de assucar, por isso que não terão
mais troncos nem raízes capazes de impedir , os movimentos
do arado .
Ao mesmo tempo é nece;;sario introduzir as boas praticas
dos lavractnres do Japão. da China, e presentemente de toda
a Europa, qu.e não perdem uma migalha cte estrume vegetal
ou anim_a l, quer provenha cte estribaria, quer da .propria casa ;
II. '· Pela boa escolha das sem entes. Tentou-se a .
" acclimação de especies nn vas cta Havana, cto Paraguay. da
"Virginia (Frederich) e da Virgínia (Orinoco). Fizeram -se
_" ensaios em pregando as sementes pnras e por via de hybri-
" dação; nas hybridações variou-se a aêção <los sexos tomando
_para pai ora a especie estrangeira, ora a especie indígena. ''
Demonstram tr>dos estes conselhos uma ctas theses funda-
mentaes deste escripto:
"A necessidade, a urgencia, e a _ indispensabilidade da
"fondação, em todas as províncias, de Sociedades de Accli -
,, mação filiaes da do Rio de Janeiro, toctas generosamente-
" subvencionadas pelos governos geral e provinciaes. "
Serão estas sociedades, que irão em auxilio dos ·nossos
lavradores mandando vir as melhores sementes, quer de
fumo, quer de qualquer outro vegetal, fazendo os primeiros
trabalho~ de acclimação, que são sempre difficeis, delicados e
exigem um certo gráo tÍe instrucção e muito amor á_sciencia,
qualidades, · que, infelizm ente, são raras, senão 1:arissimas,
entre os nossos lavradores.
Tenha o governo geral. tenham os governos provinciaes
a coragem de subvencionar generosamente as Sociedades de
Acclimação, e elles serão, em breve, os mais poderosos agentes
da prosperidade da agricultura no Brazil !
Na especialidade do fumo, por que a pr?vincia da Bahia,
que é obriga_da a comprar fumo da Virginia para fabricar rapé
não maneia vir sementes e· não ensaia a sua acclirnação. E '
- 259
possivel qu e n ~o se encontre no vastissi mo territo ri.o da pro-
víncia da Bahia um a n esga de terra, que pussa produzir fumo
exactamente como o da Virginia?

.. ... ..... .
~

III. "Feia selecção das sementes. Outr'óra o lavrado r


"servia-se indi sti nctamente de qu alqu ér semente; agora a
'' D irecção Geral dos Tabacos da França colhe as sementes
'' com o maior cuidado, despresando as das plantas · imper-
" feitas. E' sómente destas sementes escolhidas que os lavra- ·
dores podem se servir. "
Estes preceitos são tambem da maior importancia. Sig_
nificam uma boa applicação d o principio geral da selecção, que
tem produzido verdadeiros milagres, tanto na cultura das
plantas como na criação·dus anim,1es·. E' . aos principias d,1
selecção e da alimen!açrfo technic1 pMa u~ an.irn ,tes o u da estru -
mação sàe1ttijica para . os vegetaes, q ue us ing lezes devem os
bel li ssimos anim aes e vegetaes, que têrn produzido.
E' a Bak ewel l, nome q ue brilha m es mo ao 'lado de Ark-
wight, de WaÜ e de Stephenson, que a Inglaterra dev.e a
invenção dos productos animaes de que hoje se orgulha.
Bakewell criou a raça de carneiros Dishlry, escolh endo os mais
bellos ind ividuas e empregando-os exc lu sivamente como
reproductores : uina alimentação conven iente acabo u por
dar uma raça de carneiros; que se desenvolvem com extra-
ordinaria ravidez, e _q ue tem a mass1. ossea red uzida au mini-
mum.
Na Ex posição de Londres de 1862 ap resen taram os
inglezes o Trigo Gmealogú:o, que é para a agriçultura o que o
Dúlzlry e o Soufh Down são para a c riação J e carneiros. Este
trigo dá bellissimos g rãos na razão de r µc1r,1 804 a I para
1,909 !
E ' assi m que a perseverança ing leza, com a.se lecção e com
o estrume chim ico, teI_D conseguido obter do esteril ~ólo da Grã-
Bretanha prodígios de fertilidade, Jesconhecidos ao Nilo e ás
/ .- 260 -

co-Ionias africanas da R e ma a1Jtiga, onde era digna de ser


citada por Plinio urna proclucçãn de I para I 50 !

IV . . " A fixação metlwclica da época da colheita. Re-


'! conheceu-se que, n o ultim o período ela vegetação, a nicotina
"augme11ta rapidamente, que a p otassa, que favorece a com-
" hustibilidade, diminue muito, e que a folha perde os e1e-
" mentos, 4ue co nstituem um tecido elástico e resi stente.
"Apressando, dentro ele certos limites, a colheita, tem-se
"obtido. frim o menos carregado de _n icotina, mais com bus-
"tive!, mais aromatico, e de um tecido mais resistente e mais
11
'.' gommosn.
Destas boas regras agronomicas resulta qu e é indisµ en-
~avel a chimica agrícola para uma producção racional. Que
os nossos lavradores, ·em lugar ele mandar os filhos estudar
direito, para viverem e morrerem parasitas dn th esouro nacio-
na-, incapazes de produzir uma idéa util , embrutecendo-se e
desmoralísando-se nas int rigas políticas, os mandem para
Inglaterra e· para os Estados Unid os, para a França e para
Alle1nanha, estudar chimica agrícola e agronomia em geral
para augment,tr o seu patrimonio e enriquecer sua terra
natal!
• ••••••• • . • .......... ■ •• ••••••••••••••••••••••• , ••••••

V. "O modo de armazenar o fumo dep()is da colheita.


'' Deu-se grande cuidado ao modo de regular a marcha da
"fermentação, que influe d e um m odo especial sobre a qua-
" !idade do fumo . Estão se fazendo ensaios para seccar arti~
"ficialmente as folhas do fum u, afim de livra-h1s dos est ragos
''pela chuva, pela poeira, t'tc.,etc." ·'
Para cumprir estes u ltimos prece itos estarão perfeitam ente
habilitadas as fazendas centraes e as fabr icas centraes de
fumo.
O estudo. que acabamos de fazer, ele que um dos trechos
cio relatorio do ili ustre agronomo J. A. Barrai, documento qu e
- 261 -

encerra muitos outros dados preciosos, que infelizmente· não


cabem no limitado quadro deste escripto, demonstra bem
claramente qtuntos beneficios produzirá a àpplicaçáo dos
novos princípios de central isação agrícola e industrial á pro -
ctncção cio fumo.
Peçamos,: pois, incessantemente para o fumo, como para
o café, para o assucar e para o algodão :
-Fazendas e engenhos centraes para a producção .
-Fabricas centracs para a preparação.

~ -
..

.
XLIII.

Sumn-iario.-Applicação elos principies ele centralisação ag-ricola e industrial á


producção do fumo (crmtilurnndt1).-Beneficios que produzirão as fazendas
centraes e as fabricas centrae:-i de fümo.-Exemplo tomado sobre a pr.oducção
da proVmcia da Bahia. - A cultura e a industria do fumo serão agentes
seguros da emancil)ação dos escravos e da prosperidade da Democrac ia R:ura 1
Brazileira.-Uma previsão de Theophilo Ottoni.-Industria do f~imo em Baependy.
-Uma scena de familia puritana do Vermont ou do ~•Iassachussett. realisada
no Bra7-il.-Singela demonstração de que o Trabalho e a [ndu::.tria p6dem ser
acclimados n'este Impe rio .

A preparaçfio do fumo, nas diversas especialidades


em que -é consumido, é industria tão simples que nem
os mais retrogradas e os mais etnperrados rotineiros ou-
sarão affirmar que se acha acima cio gráo de civilisação
actual cio povo brazileiro.
Com algum esforço e com alguma perseverança se
c0nseguirá certamente augmentar uma das mais abundantes
fontes de riqueza nacional. Para· demonstrar, á ultima
evidencia, esta proposição raciocinemos sobre a exportação
em fumo na província da Bahia no exercício de 1872-1873.
Foi assim dividida :
264 -
kilog ·r a111mas.

Fumo em charutos ......... 5,321 23 :208$115


Fumo em cigarrns ......• . .. 62 186$000
Fumo em corda .....• .... 1,115,009 47p:>46$213
Fnmo em fülh,1 .... ... ..... ,13,462,122 5,060: 141 $727
F~1mu em rapé ...... ...... 694 1 :948$901

Destes dados se dedun que o preço médio o.fficial d e


kilogramma de charutos, exportado da província da Bahia,
foi de , cerca de 4$400. Se este preço fosse applicado aos
13 milhões de kilogrammas de fumo, exportados em fulha para
ser prepai'ado nas manufacturas da França, de Allemanha e
de Portugal, ter-se-hia nm resultado de 57,200 contos de réis!
Ora, no exe rcício financeiro de 1872 a 1873, toda a
exportação da província da Bahia (r) apenas alcançou
a 17,963:637$128. Assim, pois, só o aperfeiçoamento e o
desenvolvimento da manufactura do fumo triplicaria o
valor da expurtação da província da Bahia ! .••
Para conseguir este magnifico resultado bastará apenas
te r a coragem de faier pequenos s,1crificio~ com a instruc-
çãu ele alguns engenheiros e contra-mestres nas fazendas de
Cnba e na~ fabrica;, da França, e com a fundação ele um
certo numero ele Jabricas centraes nas cidades d.e Cachoeira
e de S. Felix.
Não devemos deixar em olvido· que a cultura e a
industria do fumo nada têm a temer da Emancipação.
Bem, pelo contrario, a Emancipação seria evi denteme nte
11m grande ·estimulo para a genernlisação da cultura d o fu1i10,
que está perfeitamente ao alca nce d ns pequenos agriculto-
res, das familias dl)S emancipados, e dos colonus naciunaes.
E' cultura facilima, muitas vezes espuntanea, que p6de ser
fe ita simultaneamente com as dos o ut ros procl11ctos da agri-
c ulturn. As fabricas centraes dariam occupaçãn ás mulheres,

l 1] Todos estes dados estatisticcs são deduzidos do relato1·io do presidente


Cruz ;\1ncha<l0, de 1 11 . de Março de 1874.
265 -

,ws meninos e meninas, filhos dos emancipados, emquantp os


pais se dedicassem aos trabalhos ruraes.
Dir-se-hia que previ a a benefica influencia da cultura~ da
indu stria do fum o na regeneração social do Brazil o
devotado patriota Tbeophlio Ottoni, quando· escrevia•, em
Baependy (M inas Geraes), em Fevereiro de 1865, esta ·tócan-
te descripção:
·'E a producção do fum o (r) que ora não excede de
400, ooo arrobas (5,87 5,200 ki logram mas) se elevaria .consiçle-
ravelmente.
"Nestes ultim os tempos, d epois que o Rio de Janeiro
ficou mais perto, graças á estrada· de ferro D. Pedro II, passou
a ser tambem fabril a industria do fumo. '
"Ü fabrico do cigarro em palha de milho já con tribue
alguma cousa para a riqueza e ·bem estar de muitas povoa-
ções d este lad o da província. Em Baependy não ha braços
ociosos, e as mai s respeitaveis matro nas presidem diaria-"
m ente ao . fabri co d os cigarros, qu e occupa longos serões.
Neste se rvi ço li a mai s de uma illustre opera ria, que faz a sua
di,tria de 3$a 4$; 2_$ por di a ganham meninas ci e 10 a 12
annos de idade .
·'A exportação se faz para o Rio em mai9r escala mas
tambem se mascatêa em cargueiros, que vão ao Ric, Preto e
au Pa rahyba. Não tenho dados estatísticos sobre o quantum
da pn,ct ucção dos cigarros; posso, porém, asseverar,que são
valiosos us recursos que Baependy tira desta industria.
"U111,t estimave l sen hora, fazendo, o an no µassado, en-
commendas para o Rio, deu, em vez de. dinheiro para as
cumpras, um c1 p,tcotilh,t . de cigMrns, qu e, ve ndida no Rio,
produzio 700$. Era trabalh o de ·familia.
"Em certo dia , das 7 para as 8 lwras ela noite, e u ba tia
palmas á porta de dous me us bons amigvs de Baependy.
O cavalle in .1 , q ue me recebe u. em vez de introduzir-me na

(l} Vide os artig0s do Correlo .11ercantü e o folheto o tltulo "Considerações


sobre a]gumas vias de communicação ferreas e fluviaes a entr,>ncar na estrada de ferro
ferro D. Pedro li e no Rio dt S. Francisco", por Theophilo llcnedicto Ottoni
-Typ. do Correio Il1ercanti7-1865.
- 266 -
1
sala de visitas, levou-me para a d o piano. Ahi, apezar de
q ue quanto p6de dizer-me o , meu ouvido, as .harmonias
de Rossini tivessem condigna exec ução, perdôe a gentil
p ia nista se eu confesso que outro espectaculo enle.vou -me ain-
da mais.
"Era o serão, organ isado tio lad o opposto ao e\º pia no, /
onde uma das donas da casa presidia ao trabalho de suas
encantadoras filhinhas e de meninos seus farnu los, que, todos,
sentados em roda de uma mesa; encartuxavam folhas de fum o
em pa!has de milho.
"Em um aposento interior ou tra das donas da casa dirigia
o serão .d os adultos , todos, se não me e ngano, escravos.
Esta ulti ma senho ra é tal vez a principal introductora da
ind ustria, a que estou alludind o, e que dá con fo rto e mo-
desto bem estar a innumeraveis pessoas aqui.
" Inclinei-m e respeitoso ante a ve neravel ma trona, que
tão eloquentemente symbol isa a mulh er fo rte, que a
Escriptura Sagrada offerece para m odelo de familia.

''Se u va lo r e preço ence rra


''Mais do que as pero las finas
''Da extrem idade da terra."
( Proverbio de Salomão)
''Sóacasa, a qtie rrie acabo de referir, e tres ou quatro
outras, igualm ente respeitaveis, exportam annualmente mais
de dous milhões de cigarros!"

Dir-se-hia o serão de uma fami lia puritana do Ver-


m on t on do Massachussets !
Não: essa scena de industria e de t rabalh o não pas-
sou-se em Lowell , nos E stados-Unidos;· passou-se em Bae-
pendy, em Minas-Geraes, bem no coraçã,) do nosso Brazi l !
Não foi descripta por Harriett Beecher Stowe, a divina sace r-
d otisa da Emancipação; fo i, sim, escripta simpl esmente pelo
nosso compatriota Thophilo Ottoni, pedindo, cheio de grati-
dão, caminhos de ferro para a sua terra natal !
Singela e convincente demonstração de que a Industria
e o Trabâlho não pertencem exclusivamente á America do
Norte; que, mesmo no Brazil, ha bons e bel los elementos de
riqu eza e de pr,>speridade, que s6 esperam melhores dias para
a sua mais am pia manifestação.
(
,'
XLIV.

Surnmario. -Indagação e discussão do.s 'rneios mais adequados para reformar a


agricultura nacional de conformidade com os principios de centralisação ~gricola e
ind us trial.-Projec to da lei de auxilio á Agricultura NaciÕnal.-Fiança de garanti:,
de juros e m ouro pelo Governo Irnperial.-Intervenção indi:-.pcnsavel d~s assembléas
provinciaes.- Compa.n hias ou associações em commandita co m r, ·sponsabilidade
limitada.-Dispensa do serviço militar. - Séde no Brazil.- Publicidatle dt: tod as a~
operações.- Fundo de reserva para os annos de m;\ colh eita.-Emancipação dn!-
escravos.-Ednc~ção e instrucção technica dos lav radores. --S us te ntação do pr,ljecto
de lei de auxil io á agric ultura nacional perante a Sciencia Econ ~,mica.- - Princ1p~t)
fundt.imeutal: Intervenção goven1amental minima: intervenção n::tcionnl maxim:i.

Estudamos, nos capi tnl os anteriores, as circumstancias e


os dados estatísticos mais notaveis da applicação dqs novo_s
principias de CPntralisação agrícola e indu stria l á cultura- e- á
preparação de todos os productos, _con nexos com a cultura do
café,· d o assucar, do algodão e do rumo.
Seri~ muito interessan te fazer estudos analogos para todos
os outros artigos ele producção brazil eira , ~- princi palmentP,
para os provenientes da industria pastoril, que deve marchar
semp re de par com a industria agrícola. Estes estud os
alongariam, porém, por demais este escripto ·: com os quatro
typos já discutidos, facil será a applicação dos novos principios
- 270

economicos a qualquer outro artigu de producção na-


cional.
E', pois, tempo de entrar _na indagação e na discussão
dos meios nrni s adeq uadus para effectuar a desejada reforma
na industria ag rícola, e para activar a creação elas industria s /
inanufactureiras connexas, qL)e se acham já ao alcance do
estado de c ivil isação deste Imperio. Jiilgamos mais pratico e
mais positivo, mais adequado a uma analrBe minuciosa e J
uma discussão ampla, , codificar todas as idéas capitaes dessa
refo rm a ·em um projecto de lei . Seja-nos, pois, permi tticlo,
em a.ttençã() ás exigencias do rnethodu, cl<J clareza e da
simplificação elo debate, qu e v,1m us e ncetar, exh ibir lodo o
nusso pensamento no seguinte:

P rofec!o de l,i de auxilio á agricultura nacional.

A Assembléa Geral resolve :


Art. rº Fica o governo auctorisado a afiançar as
_g-arnntias de juros, concedi.das_pelas asse m biéas provinciaes ás
fazendas centraes, aos e ngenhos cehtraes e .a outros _estabeleci- ,
mentos ,rnalogos, d es tinados a preparar para ex p ortação e para
.o c1,nsum o os pruductos das indust1üs agrícola, extractiva e
pastu_ril sob ,ls seguinte:; bases :
§ rº As fianç,1s serão cuncediuas ao juro de 7 %
durante 30 ann::is, pagos ao eambio par de 27 pence por
mil réis, seja nacional ou estrangeiro() C,l pital empregado na
em µr eza.
§ 2º A somma J.i cap it,11, ao qua l o gove rno fica
aucturizad,> a cunceder fiança de garantia de juros, se rá de
duze 1i t11s mil contos de réis ( 2 00,000 :000$ ) ou o seu equi-
valente em ouro au cambio µar de 27 pence por mil réi s assim
·di::,tribuidos:
A's 1->rovincias da R1hia, Je Pernambuco e de Minas-
Ge r,tes, vinte mi l contos de réis ( 2 0 ,000:000$) a cada uma ;
· .is províncias do !Zio de Janeiro e de S. Paulo, qbinze mil
co1 1Lus ele réis (15,000:000$) a cada üma; ás províncias du
- 271
R io-Gra n de do Sul Pa rá , Cea rá , JVI8 ra nl.1ão·, Alagoas e
P a rà hyb,t do. No rte, dez mil co n'tus de réis ( 10,000 :00?$) a
cada uma ; ás provínci as d,> Am azo nas, Pia uhy, R io .Gra nd e
do No rte, Serg ipe, Es piri to-Sa n to, P,tra ná e San ta°Catha rii1a,,
seis mil con tos de réis (6,000:000$) a meia um a; ·ás pro-
vin ci,ts de G oyaz e M a tto-G r"sso, q uat ro m il ~on tos· de réis
(4,000:000$) a cada u ma : ·
§ 3º As em prezas q ue déseja rem obte r a .fian ça de
gara ntia de ju ros J o governo im pe r-i al, deverãn a presen ta r um a
demonst ração de re nda liquida nunca in fe ri or a 4 %-
§ 4 9 Estas emprezas pode rão ser constit uídas em com_-
pa n hias, ou em associações em com rn an d ita co m respo11sabi -
lidacle lim itada.
§ sº Q ua ndo o capi tal da em preza ti ve r de se r im portado
de pa iz est ran geiro,os con cess io nari os assign a rão nm contracto
com o rn iniste ri o da ag ri cullu ra, n o q ual serão espec ificadas as
cnndi çõ _es techn icas da em preza, e um o ut ro com o mi111 ste ri o
da faze n da para o levan ta mento do ca pita l e m pa iz estran -
, geiro, nas co nd ições· de um em prestim o com ju rns, ·p agos _
pe la delegacia. tio tb esouro nacio na l e m Lon c1 res e sob · su:1
im med iata fi sca lisação.
§ '6° Goz,não estas em prezas de todos os favo 1·es até li nje
. conced ict os ás em prezas de coloni sação e d e . ind ust1·ias n ovas. ,
§ 7º Se rão isen tos do se rviço mil itar todus os em-
prega dos das raze nch1s, <los en genh os e das fab ri cas centraes;
e be m assim todos c,s lavrn d ores, qu e lhes f,, rn ecerem regula r-
m ente, m edi_a n te co ntracto, os prnd uctos de s ua lav, ,ura .
§ 8° As esci-i ptu ras e us titu los ele afora m ento o u
de vend ::i das te rras, pertence ntes ás fazendas cen tiaes, aus
engenh ,,s cen t raes, ás fab ricas cen.traes e aos estabelecim entos
an alogos, n ão pagarão im posto o u e molu me nto a lg um ; os
tabel li ãES cob ra rão nunca m ais ele 1$ por la uda ele escr iptu-ica .
t:m livro; os tít ul os e as publi cas-r6 m1as nãn pagari'lo n.u11·"
sell o além do de esta m pi lha, na razão de 200 réis po 1: la uda
escripta de pape l almaço.
272 -

§ 99 Serãü' isentos de todos os direitos de importação,


.inclusive os de expediente, os seguintes objectos importados
pelas fazen<las centraes, pelos · engenhos centraes, pelas
fabricas centraes ou por P.stabelecimentos analogos:
1'! As machinas motoras, hydrau licas, a vapor, de ar
qüenle, de vento, de gaz ou de qualquer outro agente;
2° As machinas-utensis, as ferramentas e os utensilios;
3" Os a-pparelhos, os vasos, as caldeiras e objectos·
analogos;
4" As sementes, as mudas, as plantas e os enxertos ;
5º Os estrumes, adubos ou restauradores da terra,
nrganicos ou inorganicos, qualquer qué seja a sua composição
e a sua origem.
§ 10. As empre°z:as de fazend,1s centraes, de engenhos
centraes, de fabricas centraes ou de estabelecimentos analogos
serão perpetuas ou de duraçiio illimitada.
§ 1 I. SeràL) fiscaes .1utos dessas em preza os presidentes
das províncias, os presidentes das assem biéas provinciaes e os
inspectores cLt!;i Lhes,iurarias ,das provincias, em que ellas
tiverem seus estabelecimentos.
§ 12. As companhias empreza1üs de fazendas centraes,
de engenhos centraes, ele fabricas centrnes, ou de estabeleci-
mentos analogos, poderão ter sua séde no Brnzil ou tora d'elle;
as companhias estrangeiras, porém, · serão obrigadas a ter re-
presentantes nas capitaes das províncias, onde tiverem seus
esubeleci ment<>s, para tratarem di rectamente com os agentes
d<l governo i m peria 1.
As questões, que se wsciúuem entre o governo, os par-
ticulares e essas cum panhias, serão d ecididas sempre no Brazil;
devendo preferir a decisão pur arbitrus, dos quaes um será
nomeado pelo governo imperial, ou µelo particular, outro pehL
cumpanhicl e o terceiro por accôrdu de amba~ as partes ou
sorteado.
- § 13. As eompanhi,Ls e as associações, 7ue goz,nem da
garantia de juroi, serào obrigadas a ].>LI blicar semestralmente
pela imprensa diatia o relatorio de suas operações ·e o balanço
<lo estado da sua caixa.
Aos agentes dos governos imperial e próvincial deverão
estar sempre patentes todos os livros de escripturação destas
companhias.
'§ 14. As companhias deverão formar um fundo de
reserva com os lucros líquidos excedentes de -12 %- Logo
que esse fundo de reserva attingir 2 r % do capital da ·e m-
f>reza, poderão ser os dividendos distribuídos por inteiro._
Este fundo Je reserva será especialmente destinádo a
occ0rrêr a algum caso de força maior nos estabelecimentos
e a completar os dividendos -até 7 % e'rn qualquer caso de
falha de colheita. -
§ r 5º. O governo nada perceberá quando a renda liquida
· destas em prezas exceder a 7 % ; nenfíuma dellas poderá ser
sujeita , como pessoa collectiva, a imposto algum.
§ 16º. Logo que uma ou mais e1riprezas, em qu~lquer
1~rovi11c1a, .conseguirem realizar à renda liquida de 7 %, o
governo poderá estender o favor da fiança da garantia ' de juros
a outras em prezas dessa mesma . _provincia, - de sorte qÚe a
s~)mma do c_a pital das ernprezas de renda liquida, menor de
7 .%, nunca seja inferi.ur á quantia : determinada. no § 2º para
a di 1a pro,vincia.
§ 17. Entre as diversas emprezas de cada província terão
prererencia para os favores, concedidos por esta lei., aquell~s
que se ,,brigarem a emancipar o maior numero de escravós, a
i_m ponar o mnior num ero de colonos, e a manter o melhor-sys-
i'ema de educação technica n•Js seus estabel"ecimentos;
§ 18. A despez;a. ahnmil cuni u pagamento das fianças
de g,trantia de juros fÍ;_s émpre-:as, ás quaes o governo houver
-applicado os· favores concedidos pela presente lei, será eífec-
tuad,-t pel"s meios orJinarios do orçamento, e, na d<;:ficiencia
destes, pt,r operações de credito no estrangeiro, dando o governo _
de tudo conta annualmente á assernbléa geral.
A1 t. 2º. Ficam revogadas as disposições em contrario.-
2 74 -
O artigo primeiro demonstra que o systema de auxilio
preferido é o da lei de 24 de Setembro <le 1873, de fiança de
garantias de juros ás fazendas centraes, aos engenhos centraes,
ás fabricas . centraes, e a todos 0s estabelec imentos analogos,
destinados a preparar, para a exportação 011 para o consumo.
os p·r oductos das industrias agrie0la~, extractiva e pastoril.
Firmes nos in'-'.iolaveis princípios da Sciencia Economica faze-
mos ·intervir o governo, a grande /orr:a socz'al. como simples
p·r esta?or de seu credito. E' o cumprimento exacto e rigo-
roso do ultimo preceito da lição VII do volume II do Curso de
Economia Política de Michel Chevalier;
"Les gouvernements ont acqnis aujour<l'hui un crédit. si
"étendu qu'ils sont en mesure de le distribuer au li eu de
" recevo i" r. "
,; Une eles fmmes les plus heureu~es et les plus fécondes
"sous lesquelles ils puissent remplir !e rôle de dispensateurs
''. de crédit est, s::i.ns contredit, la garantie d'un minimum
,''d'interêt pour les entreprises d'utilité publiqu e. "
Ü Ea, a governo algum se póde ,1.iiplicar melhor este pre-
ceito do que o governo brazil eiro, cujo credito (1874) na praça
de Londres excede o de qualquer ·paiz do mundn, inclusive a
Russia e a propria R epublica dos Estados-Unidos.
A intervenção das assem biéas provinciaes nio está escripta
neste projecto de lei como um simples tramite administrativo.
Não : visa fins mais altos. Emprehende a educação nacional
para uma liberdade, que só a raça anglo-saxonia conhece pra-
ticamente : a Liberdade lnduslnal.
"A discus.s ão e a administração dos interesses collectivos,
"disse Stuart Mil!, é a grande esco la do patriotismo e a fonte
"dessa intelligencia dos negocios publicos, que foi sempre o
"caracter distinctivo dos pnvus livres."
No dia, em que as assem biéas provinciaes forem obrigadas
a discutir incessantemente com os engenheiros, com os lavra-
dnres, com os homens praticos, os projectos de fazendas cen-
Lraes e de fabricas centraes, os seus deputados serão obrigados ·
a estudar, pelo menos, os princípios fundamentaes da Scie~cia
- 2 75 -
Economica, indispen saveis a qualquer cidadão, quanto mai s
áquelles que ousam tomar a si a sublime e difüciUima -missã-o
<le legislar e de governar os povos l
Não veremo3 mais as assem biéas provinciaes, <l-estinadas
a velar immediatamcnte pelos interesses do povo, sobrecarre-
gando-o de impostos tão improductivos, quão absurdos e _
disparatados! Não veremos mais sessões inteiras esterilisadas
por abstrac tas discussões de politica geral, ou, o que é ainda
mais triste, por degradantes accusaç,ies e -recriminações
i11<li\•iduaes J
.
XLV.

Summario.- .-Discussão do projecto de lei de auxilio á Agri.culturn Nacional. -


Capital nacional.-Capital ·estrangeiro. -Dàdos estátisticos para a solução ·de um dn~
mais importantes problema,s, financeiros do Imperio -Quantos n:iil contos de réis
·v ão todos os annos do 'Brazil para·~ Europa . e para os 1:~tados-Unidos.-Primeira
estimativa pelos ·Jucros liquides do comrrie1cio de lonio clirso.-A garantia dejúr~ --
de 7 °lo por 30 a nnos em ~uro superior a q_ualquer outro eXpe~ie1;1te financeiro , para
fixar e importar capital estrangeiro para o progresso do Brazil.-Uma lição de
.finanças do Visconde de Itaborahy ---:.Fixação ·do capi tal e,strange'iro durante a crise
da guerra do Paraguay.-A verdade sobre o emprestimo_.~ ;ciona l de 1868 .

O §" ·1º do art, 1° do proj<:cto da lei de a uxilio á agricui-


tura nacional diz :
"§ 1º. As fianças se rã, , concedidas -ao juro '- de ·7 %,
durante 30 annos, pagos ao ca_mbio par <le 27 pmce por 1$.
seja nacional ou estrangeiro o capital empregado 11:1 emprez;1 .. ,
E' esta a disposição capital dó pi-ojectn ; úierece, pi>rtant<> ;
a mais minuciosa analyse e a mais ampla discussã<,: · Prind~
piemos - por deterinin ,H os · algarismos· f11ndarnenti.es deste
problema fiirnnceiro.
Denominam geralmente capital 11aáo1tal ao capital que
se póde obter·nas µi~ças com 1nerciaes do Brazil ; cap,;~l eslrrin"
geii"o ao capital que nos· vem principalmente· .Je Londres, qu e,
- 278 -
graças á _sabedoria da raça anglo-sa:rnnia, se .constituio o the-
/ .
snuro do mund,> inteiro. Ora, n o capital nacional se compre-
hendc evidentemente uma grande parte de capital, que real-
mente é estrangeiro. pois pertence aos capitalistas e aos
commerciantt-s estrangeiros, os quaes quasi exclusivamente
fa;:em o granJe commercio de importação e de exportação do
lmpe rio.
Os lucros 11btidos nas oµerações mercantis, realizadas no
Brazil, embarcam periudicamente para a Europa e para os
Estados-Unidos, ou directamente ou por via de Londres. Só
se demoram no Brazil n tempo necessario ás liquidações da~
operações mercantis o u então pa;·a obler uma boa opportuni-
dade d e cambi;>.
As importantes som mas, que estão em bilhetes do the-
souro, em contas correntes e em letras nos bancos, são quasi
wdas desta origem.
Vamos fazer um calculo com os algarismos que nos for-
necem as estatísticas commerciaes <lo Imi.,erio, afim de deter-
111inar, tão aproxim,tclamente quanto for possível, a impor-
tancia do capital ganilLl pelo commercio estrangeiro no Brazil,
e remettido. mais ou menos demoradamente, para a Europa
e para os Esta<los-Ui1id"s,
A e,;tati:;tica do cornmercio marítimo do Brazil, no exer-
ciciu d.e 1869 a 1870, ultim a mente apur;ida pelo i~latigavel
Dr. Seb,u,tião Ferre ira Soares, dá 0s seguintes algarismos:
Jmportação de longo curso. : .... . 169,449:305$240
Exp()rtação de longo curs<l .... .. . 200,235:395$814

Snmma ..•..
Estes são os algarismos officiaes o c,;11 trabando ( 1 j
elevar.i o algarismo real a 400,000:000$000.
Ora, os neg<1ciantes i,nportad,Jres confessam que ganham
20 a 25 % na:; suas transacções; ba, pois, um lucro liquido

valoJ:J ct~~~\:~\i!!~~as são . feitas com valores officiaes , . sempre muito inferiores aos
~ Os homen~ pratic~s nas cousas do Brazil orçam o contrabando em 20º'Ó pelo menos
da som ma offici'al das importações e exportações. · •' ' ,
- 279 -
annual de mais ele 70,000:000$ em ((lei(, o Imperi'o, pel o
menos, que espera em letras d11 thesouro, em contas correntes
nos bancos e em outros títulos, facilmente realizaveis, a.
occasião opportuna de eam li/o favor,wel para se passar para a
Europa e para os Estados-Unidos.
Ha tamhem lucros que passam em m ercadorias e se
realizam f6ra do Brazil.
São ·esses 70,000:000$ , pelo menos, qm· o projec '.o de ·
lei intenta principalmente fixar todos os annos 1w Brazil, com
a segurança da renda liquida de 7 %, paga em o.uro, uu ao
can1bio par de 27 pence por r$Joo.
Esta mesma garantia de juros em ouro facilitará a impor-
tação immediata e directa de cr,pital estrangeiro no Brazil em
maior e~cala <lo que qualquer outro expediei1te financeiro.
Basta, porém, que consigamos fixar 50, 0 00:000$ por anno clo
capítal, accumulacl<l· no Brazil pelo commercio estrangeiro,
para que este paiz. em poucos annns. nà(j tenh'a snperi"or n n
mundo em m ovim ento progressivo.
N6s affirmamos confiadamente i ~"Nenhum expediente
" financeiro é superior á g,lraI'ltia de jl1roS de 7 % e111 ouio. _e
,_, por 30 [l11110S, para fixar na agricultura e na industria!"nacio-
" na! os lucros líquid os d,,s commerciantes estrangeiros, e
"para importar directamente a maior somma de capital
'' estrangeiro com destino ao progressl• do Brazil. ,;
Exige a lealdade de disci pulo e amigo, exige a -verd,:ide
historica, que declaremos desde já que este eiçpeJiente fin-a n-
ceiro não é invenção nossa; pertence ao Viscunde de ltal.J, ,_
rahy, foi por elle usado no dia mais critico das finan ças d,t-
naçâ(• brazil eira. Repitamos a mais importante lição pratica
que nos legou o fundador e o restaurador d \1S finanç,1s d"
Brazil :
"A afflictiva sitnaç11l> ( 1) em que se ;ichuu o thesouro
no começo do corrente e•;ercicio ( r 868. a r 869). sem meios
(1) Vide Relatorio do Ministerio da Fazenda de 1869 1 pag. a. ,
Em 1868, a 22 de i\'laio~ othe5ouro nacional sacou sobre Londres a 16 ¾, um grande
numero de vezes, ao cambio de :i7 ... .
Estivemm•, cumpre lembrar, ás bot'das do abysmo da bancarota.
- 280 -

de acudir _ás dcspezas correntes da guerra, . e muito menos de


pôr-se a.abrigo das reclamações dos credores do Estado, impoz
ao governo a imperiosa necessidade de publicar o decreto de
5 de Agosto :do anno passado (1868), · autorisando a emissão
de 40,ouo:000$ de papel-moeda.
"Tomando esta deliberação, que de certo nâo cabia nas
attrí'b uiçõ es do poder executivo, e cuja approvação venho
·agora pedir, fê-lo o governo no firme proposito de ·não usar
della senão 110 caso de lhe ser impossivel obter por outro
modo, menos prejudicial ·aos interesses publicos, as avultadas
sommas exigidas pelos encargos do thesouro.
"Foi •com este fito que se realizou (r) o emprestimo de
30,000:000$ nominaes, a preço de 90, pa'gos os juros de 6 e
a amortização de 1 % ao cambio par.
"Fazendo esta: operação, estava e ainda·estou convencido
q ue foi mais favoravel do que a emissão de igual numero das
antigas a.polices, as quaes não poderiam então ter obtido mais
de 75 %-
:' E' verdade que, -· nos primeiros semestres, havemos de
despender em pagamento dos juros maior som ma do que nos
custaria o das outras apol ices ; mas como esta differença des-
' appareced logo que o cambio se eleve a 23, é clan,. que o·
thesourn ha de resarcir dahi em diante o prejuízo,. que lhe
resultar da actual" depreciação da moeda circulante.
" Accresce que a operação, a que me refiro, prod uzio o
,., resultado de reter no Brazil não pequena som ma de capitaes.
· '.estrangeiros, e deu aos credores do Estado -e <1-ns povos com .
·".qui;m commerciamos u11) solemne testemunho de não _pre-·
'· tendermos recorrer a novas alterações do padrão monetario. '.',
N:\o é, possível descrever -em mais • singelas ·palav.ras .. u
maior feito financeiro, que se ha realizado no B razil.
Nu momento .sup remo da crise, -dizer-ficai üanqüillos, o
Brazil não fará bancarota ;' necessitamos de 30,000 . c01;1tos cje·

• [ 1 ] , Cumpre trazer' bem á lembrança que o decreto de sse brilhante effiprestimo


n;1.c10na· tem .i data de 15 de Setembro de 1868 e o da emissão de papel-moeda a âata
~e 5 de_ :\..~l1sto de 18.óS. Houve , pois, sóment e um intervallo de 41 dias! E' ti escruj:mlo·
fina~1cc:: 1ro no seu mH1or auge!
réis; mas vos pagaremos juros e a.1p ortização em oaro. Deus
abençôou os esforç, ,s deste grande patriota ; todas as suas
previsões foram plenamen Le realizadas; hoj e. ( I 874) seis a nn os
depois, o cambio está a · 26 ¼ e ·o credito do Brazil não tem
superior errÍ Londres,
Elle bem merecia esta reµaração , esta recompensa do
futuro. Nós pod emos dizer no rigor da ve rdad e:
·' O Visconde de ltaborahy escrevia com lagrirnas,
durante a guerra do ;I:\1n1guay, os algarismos da divi.da
nacional.

Guatdanws fielmente sobre esta operação ·finalicelra, ' tão


mal comprehendicla pelos contemporaneos, · um juízo dó
maior valor financeiro. E' o do redactor da revist~ do llfong;-·
Markd do Ti111.es, o m esmo que, .no principio da guerra: do
Paraguay, annunciava o Brazil como insolvavel e vot 4d'o ;i
infallivel bancarota !
Pois b.em, a 22 de Abril d e 1870, elle cant(?ll a palin odia ·
nestes memoraveis termos:
São altarnente satisfactorias as ul timas noticias do
Braz il , relativamente á situação financeira do lmperio. Por
muito tempo correu geralm ente acreditado o bo;,lto .de que o
governo ia tentar contrahir um emprestimo na praça de
Londres, operação que, quando se não fizesse antes, seria
iniciada logo após a terminação da lut.a no Paraguay. Agora
que acabaram as hostilidades, vê-se que o saldo maximo das
Jespezas da g ue rra ainda por pagar não passará de 50,000:000$,
ou J: 4,375,000, ao cambio actual de 21 pence por t$, ao
passo q ue o governo já rerneLteu para aqui fundus sufficientes
com que fazer face a tud,ls as necessidades µossi veis po r alguns
mezes ai nda.
'' Ao mesmo tempo sabe-se que o Visconde de Itaborahy,
" que tem dirigido a repartição da fazenda com inquestionavel
'' tino, já declarou não ter em mente operáção a lguma dessa
' ' natureza, convencidu de que, com a vo lta da paz, os re-
- 282 -

" cursos do Imperio serão amplamente sufficientes não s6


" para cust~ar todas as actuaes despezas, mas tambem para
" saldar as da guerra !
Durante os mais tristes dias das finanças do Imperio, n6s
fomos testemunhas das solicitações dos banqueiros da Europa ·
junto do Visco_nde de Itaborahy para que elle effectirnsse um
emprestimo externo; chegaram a enviár-lhe agentes especiaes
da Europa! G emprestimo nacional salvou-nos de passar
pelas/orcas caudz'nas, que nos tinham armado os reis do St'ock-
Y,x_c hange ! E, graças a essa admiravel operação, o Visconde
de Ita;borahy pôde escrever na primeira pagina do seu relatorio
de-9 de Maio de 1870, estas sempiternas palavras:
'' Assim, no -fim d~ uma guerra dispendiosíssima, que
_durou cinco longos annos e ceifou tantos milhares de homens,
ostenta o Brazil maior robustez, maior riqueza, ínaiol' pros-
peridade- do que antts della; e, o que é mais, a despeza
publica, apezar de augmentada com os grandes encargos q ne
a guerra nos legou, não excederá á receita ordinaria do
thesoui-o nos é'xercicios de 1870 a 1871 e 1871 a 1872 !
· '' Estes factos attestam os progressos, que vamos fazendo,
e quanto valem os recursos naturaes, de que nos dotou a
Munificencia Divina ! " ·
Singelo hymno de um coração puríssimo, agradecendo
ao Subli~e Arbitro das nações a victoria e os innumeros
beneficios concedidos á sua patria !
,.

XLVL -

Sumrnario. - -Discussão do projecto. cte lei auxilio á Agricultura Nacional (C,m-


tzintanda). -O problema da fixação e da importação dos c..ipitaes estrangeiros no
Hrnzil.---Instntcção e trabalho.-Qual a quantidade de capital que :-e póde fixar
annualmente neste Imperio.-Algarismos dados pela crise .financeira produzida pela
guerra do Parag11ay.-Bi1hetes do thesouro em 1868 e em r8ó9.-Emprestimo
nacional de 1868. -Titulo5 bra:zileiros possuidos pe:os estrangeiros em 1869 e em :r87t
-Cresce incessantemente a confiança de todas as nações nos elementos de iiqueza e
de prosperidade do Brazi.l.

No artigo anterior encetamos o estudo do grande pro-


blema da fixação e da importação dos capitaes estrangeiros no
Brazil.
Não ha problema de maior alcance para as finanças deste
Imperio. Repitamos :
;e Não é possível prestar maior serviço ao Brazil 'do .qu~
'' promover incessantemente a fixação e a importação de
capitaes estrangeiros para suas grandes em prezas de
utilidade publica. "
U 111 dos rn•ais ili ustres mestres da Sciencia Economica,
Joseph Garnier, disse :
"Ce qu'il faut aux pays en retard ce sont des lumieres et
des capitaux, qui viennent de l'étranger en grau-de partie. '' ·
N 6s necessitamos de instrucção e . capital. E como
não é possível construir e:;colas, comprar livros e pagar mestres
sem capital, é pr~ciso resolver simultaneamente o problema do
capital e o problema da instrucção : '' Não se p6de ensinar a
lér a quem tmz fame. "
E' preciso capital para instrucção, e capital para a in-
dustria. E' preciso dar simultaneamente ao povo-instrucção
e trabalho. Dar instrucção aos bnzileiros para que elles
conheçam -perfeitamente toda a extensão de seus direitos e de
seus deveres ; dar-lhes trabalho para que elles possam ser real-
mente livres e independentes !

No problema da fixação dos capitaes . estrangei(·os no


Brazil a primeira questão que se apresenta é :
- Qual a quantidade de capital que se p6de fixar annual-
mente no Brazil ?
Fizemos um calculo no ultimo artigo; foi apenas
consequencía de uma hypothese. Infelizmente esta é uma
questão que escapa aos mais minuciosos trabalhos estatísticos.
No emtanto, a crise economica, produzida pela guerra
do . Paraguay, nos deixou alguns algarismos, capazes de
illuminar-nos na solução deste importante problema. A
extrema .baixa do cambío impossibilitava então as remessas de
capital para· a Europa sem grandes prejuízos ; os negociantes
· estrangeiro, eram por isso obrigados a reter os seus lucros
liquidas no Brazil, em bilhetes do thesouro, principalmente.
No fim do exercício de 1867-1868 havia em circulação
68:850:500$. ( Relatorio de 1869 do Visconde de Itaborahy,
pag. 6). O emprestimo nacional de 30,000:000$ foi orde-
nado pelo decreto n. 4244 de 15 ele Setembro de I 868. Ê.s te
emprestimo foi realisado em sua maior parte pela conversão de
bilhetes do thesouro.
Apezar disso, a pag. 4 do seu relatorio de 1870, o
Visconde de Itaborahy menciona 53,090:745$ em bilhetes do
thesouro; guardando a hypothese, que sustentamos desde o
artigo . an te1:ior, ter-se-ha :
- 285 -

Bilhetes do thes,iuro em 1868 ......... . 68,85 0:500$000


Bilhetes do . thesouro em 1 869 .. . . ..... . 63, rn9: ~n8$000

Differença . . .... . ..... . 5,741 :482$000


Emprestimo nacional de t868 . ........ . 30, ooo :ooo1J;oc.o

Differença .... . ........ . 24,238:518$000


Este outro systema de calcular conduz, pois, a um capital ·
disponivel para ser fixado no Brazil ele 24 a 25,000:000$ por
anuo, só no Rio <le Janeiro; seja 50,000:000$ em todo o
o Imperio. E' possível que no · th esouro - nacional haja
dncumentos com os quaes se possa chegar a um algarismo
mais approximaclo. Não seria, por certo, perdido o tem'po
que se gastasse no apanhamento destes impurtantissimos
algarismos.
Tomando agora o problema por outra face, achamos (1)
estes algarismos : ·
Em JI · de ll.fa1c:o de I869
As apolices ele 6 %, de 5 % e de 4 %, emitticlas em
virtude ela lei de 15 de Novembro de 1-827, t·stavam assim _
distribuidas :
Nacionaes ...... ................. · .•. 12 5; 891: 109 $ 000
Inglezes ........................... . 4,878 :600$000
De <•utras nações . . . . ................ . 3,984 :800$000
Estabelecimentos (bancos, monte-pios etc. 2 5, 654:600$900
Diversos nas províncias .......•.......• 667 :400$80 0

Somma................. 161,076:500$000

Apoiices do emprestimo naci onal :


(Decreto n. 4,244 de 15 ele Setembro de 1868).
Nacion,1es • . • • . . . • . • • . • . . . . • . • . • . . . . 17,518 :000$000
Inglezes............................ 2. 378:500$000
De outras nações.................... 2, 520:500$c,oo
Estabelecimentos (bancos, etc.)........ 7,583:000$000
Somma ........•........ 30, 000:000$000 .
'
Total................... 191 , 076:000$ooq
(1) Vide relatorio de 1869, do Visc-:mde de ltaborahy. -Quadro n. 12.
- 286 -
Assim, o emprestimo.nacional fixou no Brazil 4,899:000$,
qaantia ' , superior á possuida pelos inglezes desde a fun-
dação. do lmperio em a polices da lei de I 5 de Novembro de
. 1827. Todos se lembram o empeliho, que houve no mo-
m ento da e1hissão em obter as apoiices de juro em o u ro -
os brmds - cujo nome se · populariso u então. Sem esse
enthusiasmo dos brnzileircs é muito provavel que maior quan-
tidade de capital estrangei ro se tivesse empregado no
emprestimo nacional.
A 3 r de de l\'Iarço de 1874, conforme refere o rela-
torio do min1sterio da fazenda deste anno, os algarismos eram
os ·seguintes :
Apoiices da lei .de IS · de Novembru de 1827, perten-
centes a
Nacionaes ........•...........•.. ... 163,543 :,600$000
IngLezes ...................... .. . : .. 14' 098. 000$000
D e outras nações .... ... . ........... . 1 9, 598:6 00$000
Estabelecim entos bancus, monte-pio, etc.) 34, 738:100$000
Diversos iras províncias .............. . 25,620 : 100$000
-
Somma................. 257,598:900$000
Apoiices do emprestimo nacional:
Decreto n. 4,244 de 15 de Setembro de 1868, perten-
c, nies a
Naoionaes .......... .- ... ... ........ . I 4, 2 9 1 :000$000
lnglezes ........................... . 2, I z 7 :ooo$opo
D e outfàs nações ............ . .... .. . 3, 6 I 4 :000$000
Estabelecimentos ....... .... . . . . .... . 8,277: 500$000

Somma ............ _. ... . 28,309:500$000

Total. .......... · . .. .... 285,908:400$000


Algarismos todos que demonstram á maior evid encía
que cresce todos o,; dias a confiança da Europa e dos Esta dos
Unidos nos altos destinos, que esperam a Nação Brazileira !
XLVII.

Sun1.mario. -Discussão do projecto de Lei de A1i:>,:ili•J d'Ag ricultura ="racinna l.


(Co11tinunndo ) .-011tra estimaliva di.l capital remettido do 11:-~zil para a Europ.t.
e p al'a os Estados Unidos.-Alga,ismo dado por Alexandre Herculann.-Determi ..
nação do algaris mo médio, fornecido pelas tres hypotheses já dis:utidas. -Outro
problema fimmceiro con!léxo.-Que som ma póde o Rio de Janei1·ó immobilisar ·em
melhoramentos urbanos ?- - ·Repugnanci a do capital estrangeiro em se fixar no Br<lzil.
• - Esclavagismo e papel-moeda.

Ha ainda outro modo de obter, sempre approxznzada-


mente, o algarismo do capital, que o commercio estrange:ro
envia ann ualm en te para a Europa e para os Estados U~idos.
Em uma celebre carta de Alexandre Herculano, aconse-
lhando aos seus patrícios, que não commettam o gravíssimo
erro de contrariar a emigração para o Brazil (até PortugaJ ! ...
q uem tal o diria?) cita o Victor Hugo portuguez · o alga-
rismo de 6000 contos de réis ~ r] como representando a
somma de capital, · que os Portnguezes remettem annual-
mente para a Mãe Patria.
Desses 6000 contos de réis uma parte provem de lucros
commerciaes, e outra de salarios ou Iucros profissionaes ;

l1J O Sr. Dr. Sebastião F erreira Soares, que possne n'este imperio os melhores
dados e:-: tatisticos, eleva este a lgarismo a 10,000 contos de réi~-Vide Esboço da Crise
Commercial de 1864.- Typ. E & H. Laemmert, pag 22).
- 288 -

supporemos q11e, pelo menos, 3000 contos de réis provenham


de lu cros do commercio de importação e exportação.
Ora, no exercicio fin:rnce(ro de 1869-70, apurado pelo
Dr. Sebastião Ferreira Smues. o commercio do Brazil
com Pvrtugal alcançou o algarismo de 18.45 7:958$612
e com o resto elo mundo 336.464:443$743, somma das
impurtações e expnrtações.
Na hypotlie~e d e serem as remessas de capita l para os
Alize; Estrangeiros prnp"rcionaes ao rnuvimento comme rcial
ou á somma das iii1punaçôes e exportações, deveremos
ter que essa somma S de.verá estar para 3ouo contos de réis
na mesma razão de 336 mil contos para 18 n:iil contos.
Esse valor S deverá, pois, na hypothese destes calcul os,
ser ·igual ,t Úz.ooo con tos de réis.
E', poi_s, esta hypotlie~e, finnada: em um algarismo pra-
tico, obti.do pur Alexandre Herculano de negociantes
P, ,rtuguezes, a que dá m,1ior algarismo para o valor do capi tal·,
exportado elo Brazil pelos co m rriercian tes estraµgeirus. -
Recapitulando "s resultados 0btidos nas tres hypotheses,
j;í discu tidas, têmos:
Contos
de Réis
L Calculo na hypothese elo lucro commercial de 20 ¼ ... . 73,000
l I. Cakulo sobre o capital e m bi lh etes <lo Thesouro ...... . 50,000
JTI Ca lculo sobre o algarismo citado por A lexandre Herculano 156,000

Somllla .• ... . 179,000


Media ..•..•. ·--·· ......... . 59,666

· São,_ pois, 59 mil c,ml'.>S de réi;;, m uit•J provavelmente, o


capital que emigra annun lm en le d., Brazil.
• Para que e~te c,1p;tal ,e lixe na nossa patria é preçiso que
ella uffereça aus estrangeiros condiçõe~ dt paz, de muralidade,
de segurança, de liberdade, de ju's tiça, de moderação de
impostos, de progresso e de bem-esta r, que tornem o Brazi'l
realmente muito superio r a qualquer ll Utro paiz do mundo.
E' pre-:iso, em uma só palavra, que o Brazil, tanto pelas con-
dições sociaes como pelas condi ções naturaes, . realize quanto
antes plenamente a previsão de Americo Vespucio (1) o Bra-·
zil : - o limite do paraiso terrestre!-!

Pertence a esta mesma ordém de ideias um problema


.financeiro muito interessante: - Qual a importancia elas eco-
nomias annuaes da capital do Imperio? Ou que sornma
p6de o Rio de Janeiro immobilisar em melhoramentos urba-
nos sem sacrificio de se•i m .. vimento fin,fnc.e iro? Cunsul_tamos
pata solução, deste problema um dos rn,Íis provectos éap1ta-
listas do Rio de· Janeiro e um dos bons ,amigos do Visconde
de Itabc;in1hy : fornece_u-nos estes algarismos :
Calculo approxúnado das economias annuaes da cidade do
Rio de janúto.
1. 0 Depositos na Caixa Econornica 6, 000:000$000
2.0 Depositos em bilhetes do Thesouro __ ______ 15,000:000$000 .
3, Q I)epositos nos Bancos ... , ......•......... 30,000:000$000
4.º Juros de cerca ele 250,000 apoiices ele 6% ...._ 15,ooo:oqo$000

Som.m a ... .- ...... .. .. . . Rs. 66,.000:000$00-:> .


Considerando que 50% desta -somma: seja necessa.ria ªºs
gastos annuaes dos capitalistas, teremos que o Rio de Janeiro
poderia, pelo menos, em pregar 30, ooo - contos de réis-, por
anno, em obras de utilidade publica e em melhoramentos
urban, ,s.
Desde muito que nos impressiona dolorosamente a
repugnancia, que tem o capital estrangeiro em se fixar ·no
Brazil.
Nas companhias industriaes são raríssimos os accionistas
estrangeiros . · Quando indagamos a razão d'esta repugnancia,
que nos é tão prejudicial, respondem-nos invari,ivelmente: -
O papel-mor.da e a escravzdã·o trazem o Brazil 011 conltimo estado
de suspáção para a Europa. Pois bem, é preciso terminar
com o papel-111,;eda e com a escravidâo .
[ 1] Está hoje averiguad;qu~ Americo Ve~pucio, tão calumniado pelos historiadores
do seculo ·xvr, aportou ao Braz1l antes de Pedro Alvares Cabral. · Crê-se qu~, em
Julho de 1499, estivera na foz do rio Apndy ou das Pirnnhas, na actual provincia do Rio
Grande do Norte, com Alonso de Hojeda e Juan de La Cosa.
O cambio fluctua presentemente nas -immediaçães de
26Yz: basta que não prosigamos nos absurdos esbanjamentos
do fatal ~ystema da paz armada, e que affastemos toda a hypo-
these de gueiú. no Prata pàra termos cambio ao pàr.' Pcidér~
se-ha principiar então a reunir effe_ctivamente o papel-moeda,
beneficio tantas vezes promettido pelo legislador quantas
negadas pelo abuso governamental !
Cumpram os, já é tempo, a Lei d e r r de Setembro de
1846 e principalmente o artigo 3° da Lei de 31 de Maio de
1850, que prohibem explicitamentequeseaugmenteasomma
d.e papel ·circulante no Imperio, . qualquer que seja o caso,
qualquer que seja o pretexto. ainda mes_m o temporariamente.
Quanto á escrav i?ão ! . .. . essa nos serve de obstaculo em
~udo e por tudo. Na vida intima, na vida publica, na vida
inte·rnacional, sempre- a· escraYidão como um anathema fatal!
E' a· escravidão, que . impede a emigração espontanea para o
Brazil. E' a esc.r avidão .º primeiro argumento dos governos
eu ropeos contra a ·co.Ionisação no Brazil.
Dizem abertaJpente : Querem escravos brancos agora que
a Inglaterra os impedio de ter esrravos pretos.
Na tristíssima guerra rio Paraguay as sympathias. da
Europa eram manifestamente pelo Paraguay-porque, diziam
elles, são barbaros, é possivel ; mas, pelo menos, não possuem
escravos ! A verdade historica dirá, poré_m, que os . ultimos
escravos paraguayos foram libertados pelo Príncipe, que guiou
o exercito brazileiro ás ultimas victorias no Paraguay.
No emtanto é ·preciso que, em ponto algum, o Br~zil
. seja inferior a qualquer nação do mundo. E para alcançar
quanto antes este apogêo, é necéssario, é urgente, é indispen:
savel acabar, logo que possível fôr, com a escravidão e com o
papel-moeda.
XLVIII.

SurYln:1ario.-Oiscussão do projecto de lei de auxilio á Ag:ri.cultura Nacional


( (,mtinua.ndo)-0 expedie11te fin ancCiro da g::i.ran tia de juros é ml~ito superior
ao obsoleto e fatal systema dos empreslimos estrangeiros.-Uma exc.::elle1~te ~ :;xima
eh Visconde de l_taborahy.-A paz e o bem-est 1r ~ão ainda melhores agentes de
imp11rtação e de fixação de capitaes, do que a garantia de juros. -O .systema d_e
garnn lia de juros tem a grande vantagem de não augmentar a di"" da nacion àl.
-O phenomeno fü1 a~nceiro é inteirnmente a nal ngo á immigrnçâo para o Brazil,
de _ industrias de grande riqueza.--0 iimite do capital que se põderá fixar e
importar. só depende da força prÕ nctiva da industria·.agricola em ·solo brnzi,leirÓ.
--A fiança da garantia de j1iros pelo governo imperial é indispensavel para- a
tmp~irraç~o de capitaes para o Brazil.

O expediente financeiro da garantia de juros · de ·7%,


por 30 annos, pagos em ouro, ou ao cambio par de 27
pence por 111 il réis, é infin itam ente s.uperior ao dos em-
prestimos feitos directamente pelo governo, quer em pai.i
estrnngei ro, quer no proprio paiz.
Primeiro que tudo seria evidentemente um erro finan'-
ceiro palmar e injustificavel levantar um emptesti1'no de
200,000:000$ por · melhor que fosse o seu ·destino. "A·os
. goveinos como aos particulares, disse o Visconde de Itaborahy,
é únpossivel viver contz111tamente de emprestúnos." [ I]
f I l H..elatorio do ministerio da fazenda de lB]o, pag. 4. Vide Canàido Baptista
- S)'ste rna Financial do B1·:1zil-.1. demon~traçfü, oe cumo tem sido fatal ao Brazil
a · 111011uman ia do5 empresiim"os em Londres.
- 292 -

A capacidade dos governos para os emprestimos é


limit.a da: assim, neste . momento, seria ainda .possivel
levantar e~ Londres outrÓ en1prestimo brazileiro de
50,ooci:000$, ao juro real de s.¼'. a s½% a taxa dosjuros
seria infallivelmente maior se pedisfemos 100,000:000$, e
ainda muito maior s·e quizessemos 200,000:000$000 !
E' por estes motivos que aconselhamos a maior sobrie-
dade nus emprestimos: cumpre resistir, como resistia
admiravelmente o Visconde de It~,borahy, nos tempos mais
critf~os elas nossas finanças, ás tentações dos capitalistas e
dos interessados, tanto no paiz como fóra d'elle.
Curopre empregar os maiores esforços para fixar e im-
portar capital estrangeiro no Bra~il, mas sempre por meios
indirectos : na vanguarda destes meios esteja permanente-
·mente a garantia de jmros em ouro, que é simultanea-
mente uma certeza aos capitalistas estrangeiros de que. jamais
perderão empregando as suas reservas em em prezas brazileiras,
e uma · promessa intallivel da extincção do miseravel
papel-moeda no Brazil. Mas cumpre ,repetir incessante-
mente : ' acima da garantia de juros em ouro está a acção
benefica para fixação e importação de capitaes, que resulta
da paz e da maior somma de bem-estar e de progresso, em
todas as suas manifestações, que o Brazil exhibir, em com-
petencia com todas as outras nações do mundo .
O segredo da immigração espontanea · de pessoas e de
riquezas para os Estados-Unidos está nu facto de ser este
paiz o· mais avançado na . estrada do progresso; e, in-
contestavelmente, o que oiferece maior somma de bem-estar
e mais largos _horisontes de futuro aos infelizes proletarios do
Velho-Mundo.

Deve-se ter bem em lembrança que o systema ·de garantia


de juros não faz em rigor augmentar de um ceitil a divida
nacional, propriamente dita. As.:;im, para fixarmos e impor-
tarmos 200 mil contos para salvar e fazer prosperar a nossa
- 2 93 -
agricultura, o governo do Brazil só ·se o briga, pelo . projecto
de lei de aux.ilio á Agricultura Nacional, a pagar 6,000 contos
de réis ém ouro annualmente.
Mas em todas as partes do mundo, já o demonstrámos
exuberantemente nos primeiros artigos deste escripto ; por
toda a parte, em Guadelupa, em Martinica, em Mauritius,
em Java, no Mexico, em Cuba, os engenhos centrqes, as fazen-
das centraes, as fabricas centraes têm _dado 16 % a 48 % de
renda liquida; seria fazer injustiça ao Brazil ousar suppôr qu~
neste paiz a mesma instituição não dê 7 % ! Assim, pois,
em llltima analyse, o governo imperial não fará mais do que
prestar o seu credito; e, quando muito, despender algumas
centenas de contos de réis com o pagamento de garantias de
juros nos primeiros mezes de installação.
Não esqueçamos que a fixação e importação de 200 mil
_contos de capital estrangeiro no Brazil produzirá alta no
cambio e em todos us titulos da divida public'l, e _ facilitará
consideravelmente a urgente operação do resgate do papel-
moeda, e a creação de bancos ruraes com fundo em 0uro. O
effeito financeiro e economico sobre o Brazil será• exactamente
o mesmo que produziria a entrada neste paiz de dt z~ntos
capitalistas inglezes decididos a empreg:u 1,000:000$ cada
um na creãção de fazendas centraes, de engenhos centra~s e
de estabelecimentos analogos.
O responsavel real do capital, que se conseguir d'est'arte,
fixar e importar, é-a terra- o sólo uberrimo do Brazil. Os
accionistas· das companhias de engenhos centr.aes, de fazendas
centraes e de fabricas centr11.es, serão realmente possuidores de
uma certa fracção de propriedade territorial, situada no Brazil.
A garantia <le juros em ouro, do governo imperial, s6 tem 0
effeito de assegurar a estes capitalistas nacionaes e estrangeiros
que desta ope~ação financeira elles recolherão infallivelmente
lucros liquidus entre 7 % e 48 %-
Sob este ponto de vista superior, a somma, que o projecto
de lei de· auxilio á Agricultura Nacional pretende fixar e im-
portar no Brazil, não se limita a 200,000:ooç-$; . ser[o real-
- 294 -
. mente tantãs centenas de milhares de contos quantas compor-
tai a força producfiva da industria agricolá brazileira !
Notemos tambem que, com o systerha de garantia de
juros, n6s conseguimos fixar indefinidamente, por tempo illi-
mitado, o capital estrangeiro no BraziL Neste particular a
garantia de juros equivale a um emprestimo de prazo indefi-
nido; a um emprestimosem taxa de amortização; ou de taxa
de amortisaçiio implícita; e, em todos os casos, a um empres-
timo sem obrigação de ser remido, ou, como quasi sempre
acontece, sem o grande onus de se contrahir novo emprestimo
para pagar o anterior.
Não carece demonstração que é inrlispensavel a fiança da
garnntia de juros pelo governo imperial. O exemplo dos
caminhos cle ferro brazile iros, todos os escriptos de propa-
ganda, toda a polemica, todos os debates, que precederam a
lei de 24 de Setembro d e 1873, demonstraram, á ulti ma evi-
dencia, que o capital estrangeiro não póde entrar, nem fixar-se
no _Brazil, sem a fiança -da gúantia de juros pelo govern~
imperial. -
O do,~umento, que citamos nos arts: XXVIII e XXIX
desc revendo o systema, seg uido na creação do primeiro enge-
nho central em Santa Lucia, é tambem capaz. por si só de
levar a con vicçãu aos mais emperrados.
Erµ Santa Lucia, lembrai-VO§ bem, coloni,t ingleza, sem
1yioeda-papel, com pagam entos em ouro, com ·trabalho pol'.
emancipados, sem escravos, nãu foi possível crear um engenho
central _sem o recurso tinanceiro de g,trantia de juros!
As leis provinciaes da Bahia, do Rio de Janeiro, de Per-
nambuco e do Ri o Grnnde do Norte (4) co~ceden1do garan-
tias de juros aos engenhos centraes, serão, como as leis ana-

(-t) Vi~ e a lei da província do Rio de Janeiro, n. 1,634 de 21 de Dezembro de 1871


gar;mtm_do Juros de 7 % por 33 an nos aos engenhos centraes de capital inferior a
300;000.i 000
A lei da provincia da Bahia é de 4 de Maio de 1874.
A le~ da prov_inc_ia de P~mambuc,> é n. 1 1 1 4 1 de 8 de Junho de 187 f.
A le~ da prov1_nc1_a do H.10 Çrande do N orle é n 7 I 3 de 3 de Setembro de 1874 .
A lei da provmc1a de Sergipe é n. -J75 de 30 de Abril de 1874. ·
- 2 95 -
Jogas para os caminhos de ferro, simples documentos para 11-
historia industrial do Brazil; não têm tido e não podem, infe-
lizmente, ter ainda valor algum pratico. Só pedimos a Deus
que não sejam necessarios, como para os caminhos de ferro,
v-inte annos de propaganda _e de atraso do Brn.zil, para conven-
cer os nossos estadistas desta verdade intuitiva !

..
.
XLIX.

Summario.-Discussão do projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional


(co1tfitl1tmldo).-O systema propm,to em parallelo com os projectos d_e bancos
territonaes .-A excellente instituição dos bancos territoriaes é ainda infelizmente
impossivel neste lmperio.-A França de 1867 não estava ainda p~eparada para essa
instituição. -Prova irrecusavel pelo relatorio de Michel Chevalier na Exposição
Univer:,al de Paris de 1867.-0s caminhos de férro e o credito são indispensaVeis
n'uma nação industriosa.~O~ :!.gricultores francezes soffrem as mesmas penuriãs
que os deste lmµerio.-U1na escola, uma estação de caminho de ferro, e uffi baúco
territorial em cada aldêa do llrazil.

Tem-se preconisado g~ralmente a creação de bancos ter-


ritoriaes como o unico expediente financeiro capaz de salvar a
lavoura nacional da crise pnr que passa actualmente. Cabe-
n,ls o triste dever de demonstrar que esta proposição é um
erro. Os bancos territoriaes, dignos desse nome, são i_m pos-.
síveis C(1m a escravidão, com papel-moeda é sem cadastro ou
estatística territorial.
Em prim eiro lugar
O escravo annulla o valor do solo. E' uma lei econ0-
mica lata! : Bastiat diria uma harmonia necessana é indz's-
pms,1vel entre as leis moraes, sociaes e econnmicas. Esta lei
verificou-se perfeitamente 110s estad ,is esclavagistas eh Uh-ião
Ncirte-A1~ericana. Uma fazenda, um engenho vale pelo
numero de escravos qu e pnssue.
Os bancos não seriam territoriaes : seriam esclavocratas !
E' uma utopia; é 11ma chimera suppôr qtte um capita-
lista estrangeiro seja capaz de confiar um ceitil a taes bancos!
No lmperio, e,;tá pratic,lmente demonstrado, não ha capittl
para a creação de bancos.
Os bancos são instituiçõe~ excellentes, sublimes, se o
quereis ; mas é precis,,, é indispensavel que tenham fundo em
ouro. · Banco emittin lo papel e com fundo em papel, é,
rigorosamente,_nm a instituição de pape lão !
Quanto á estatisticà · te rri to ria!, quanto a cadrastn, é
cousa 'lUe mal cnnh,~cemos de no me! Inthtg,ti do Banco do
Brazi l as torturas por que passa para realizar as h ypothecas, a
que é forç,tdo pelos seus contratos com n governo, sem
·plantas, sem medições, obrig-acio a fiar-se em escr_ipturas e em
demarcações, feitas por pilotos dos tempos coloniaes ! De-
vemos dizer, é triste, é humilhante, nilo agradará; 111,1s é a
pnra verdade .
. Não escre ve mos ri:1.r::i agradar ; escrevemos para reformar.
Digam os:- Este Imµerio ainda nflo está na altura de pos-
suir bancos terri toriaes !
Console-nos ao menos saber q ne a França, cm r 867,
estava ainda tambem muitu longe desse tlesúíeratum. Lêcl e <'
que escreveu Michel Chevalier, exactamente no mom ento, e m
que a bacchanal do segundo imperio fazi,1 suppôr ao mundo
que a França estava no auge da pro~peridade !
O c.tpit. I, da secç. II, parte 5° da Introciucção elo
relatorio da Exposição Universal de 1867 principia demons-
trando a these :
"Infériorité de la France en matiere de banqu es, non
" seu_lement vis-à-vis de !' Angleterre e des E 'tats-Unis, mais
. " de plusieun; petits E'tats du Continent ..'·
Reproduzimos desta demonstração· os períodos mai s ade 0

quados ao objecto deste escripto:


" lJn e bonne constitution du crédit n'est p.as moins in-
- 2 99 -
"dispen sable à un peuple industrieux q ue l'établissement
" d'un réseau de chém i ns de fe r. ''
Notai bem que um povo industrioso necessita tanto de um a
constitt1ição do credito co mo de um a rede de vias ferreas.
" E n debors el es pays peuplés par lcs Anglo-Saxons dans
" les deux hémispheres, on est loin d'apprécier à .leur jusle
•' valeur les instituti lJns de crédit et l'utilité que retire J"indus-
" trie de leur organisalion sur une g rande éc helle."
As boas instituiçües de credito baseam -se nas boas
praticas de liberd ade individual, de espírito de associação, de
independencia, . de Loda a acção governamental, que in feli z-
mente até hoje s6 possu em os inglezes e os seus dign os filhos
da America do Norte.
Nos o utros paizes do mundo o monopoliu gl)ve rna-
m ental abafa o credito e atrophia fatalmente todos os outros
agen tes de actiYi<lade e de prog resso .
" La Frnnce, avec sa grande activ ité, ses manufactures,
"son commcrce, son agricu lture, qni a tant de besuins, reste
"sans autre rec;s,,urce, en fait de b,rnquc:s d'ém.iss ion. que la
"Banque ele France. ento u rée de ses s uc.cursales au nombre de
"70, avec la persµective d' un de ces établ1sse1nents subordunnés
''pour chaq ue départme nt et en cure pourv u que: !e gouverne-__
''n1ent, l'éxige."
Está, pois, bem claro que a agricultura da França de
1867 soffria privações por falta ele bancos territorriaes.
Ora a E.seoc ia tinha n o mesmo anno de 1867 doze bancos
de em missão com 700 bancos filiaes ! Guardando a pro-
porção das populações, a Escossia, calcu lou Michel Chevali e r,
tinha 120 vezes o numero de bancos. q ue possuia a Fr~nça
de 1867 ! Mas o govername nti smo e o milit~rismo, em
lugar de se occu pa rem dos lavradores da F ran ça, svn havam
dar reis á Hespanha ! Esse son ho conve rteu-se em triste pesa-
dêlo, e teve um miserrimo despertar ... em Sédan !
"L'agriculture souffre, conti1tua Chevalier, et surtou.t
"souffrira bientôt plus enco re qu e les inan ufactures, du re-
" g im e du monopol e. Si l'on puuvait librem ent fonder
._ 300 -

"dcs banques, il s'en établirait dans les districts purement


"agricoles, ou le crédit fait défaut si malheureusement. Par
"]e profit qu·'elle dnnn e, la faculté d'émission agirait comme
''.une subv~nti~n pour ces établissements; elle en determi-
"nerait donc la création."
O que aconselha Michel Chevalier á França será, em
um proximo futuro, n6s o esperamos, perfeitamente ap-
plicavel ao Brazil.
Abolida a escí'àvidão, resgatado o papel-moeda, n6s
poderemos en.trar francamente no systema de liberdade dos
bancos. Então veremos, entre as florestas do Brazil, como
vio. Michel Cli"evalier nas dos Estados-Unidos, bancos _d e
emissão de. depositos e de desconto, fnnccionancto perfeita-
mente!
Vêde bem que não somos i111migos dos bancos de emis-
são. Con1baliem,)s hoje esta instituição como innpportuna,
e ainda infelizmente fórn do circulo das cousas possiveis,
no Hrazil ! Mas, pedimos de todo o coração a Deus, que
aproxime o dia em que não haja no Brnzil uma aldeia
que não tenha uma escola, uma estação de caminho de ferro
e 11111 banco territorrial !

Todos os males, de que se ·queixam os nossos lavradores,


soffreram e ainda soffrem os agricultores francezes.
''Chez nous, c!izia Mzi:liel Ch êv,liier, abrúuío o seu curso de
''EcoNOMIA PouncA em I843, le crédit agricole n 'existe pas ;
"il n'y a que l'usure agricole,"
Exactamente, como no Brazil ha usura agricnla: nãO
ha credito rural.
O inquerito sobre o estado da lavoura, mandado levantar
pelo Ministerio da fazenda, revelou que, nas situações mais
fayorecidas, os emprestimos á lavoura são feitos a juros dt>
10 e 12%;110 Rio-Grande do Norte a 24% ea prazo curto (1)
em Minas Geraes vão tambem até 24% com amortizações
[ 1] Vide pag. 89 das "Informações sobre o estado da lavoura."
301 -

de seis mezes, dous e tres annos ( I) em Bananeiras_, pro-


vincia da Parahyba do Norte, a usura .tocou ao limite: 9um-
pre registrar para lição dos vind,,uros esta miserià:
"Cada um, neste município (2) conta com os proprios
recursos; porque não ha capitalistas que empre.s tem a juros,
e, quando se- consegue, independentemente de. hypotheca,
levantar um pequeno ~apitai, é elle sempre com a taxa de
4, 5, e 6% ao mez (72% ao anno ! ! ) o que traz infallivel-
mente a rui na de qu_em a isso se sujeitou para ?Íão dez:var a
/amü/a morrer na penurza, e por ter confiz,/1 na regularidade
das estações, que muitas vezes lhe sãrn1xjids ."
Isto passa-se no Brazil ! E mantemos (18z5) exercitos de
occnp1çflo no Paraguay e esquadras no Paraná, no Paraguay, .
e no Urnguay e no Prata!
Ah! Malebranche, tu tens infinita~ente razão:
L'erreur e.ri la cause rle la misere des hommes
Sim:
O erro é causa da 11úsff1a dos homens.

l 1 l Vide:pag. 114 dessas informações.


[2] Vide pag. 125. Nuta das me:-mas informações

..

L.

Summario. - Discussão do projecto de lei de auxilio á Agricuitura nacional (contz:


nuando).-Aindanão é passivei fundar neste Imperio bancos territoriaes.-Paralielo
cqm a França de I867.- ~ecessidades da agricultura em materia de credito.-Em~
prestimos commerciaes ou de prazo curto e erri.prestimos ruraes, hypothecarios ou de
prazo Jongo.-As fazendas centraes, , os, ~Qgenhos centraes e as fabricas . centraes ·
funccionarão como bancos para os pequenos lavradores. - Exemplos praticas nas
colonias particulares da província de S. P aulo. Desenvolvim~nto e grosperidaêie da
democracia rural no Brazil.

Continuaremos neste artigo a cumprir o triste dever de


demonstrar que é ainda 'impossivel introduzir ne~te Imperià a
excellente instituição dos bancos ruraes.
Para nos dar /coragem nesta dolorosa missão principiare-
mos por citar o q;e se passava em r867 na França, no infeliz
paiz, onde fnmos buscar a semente do monopolio governa-
mental, que, por fatalida<le, se aclimou fl'esta terra de modo a
dar filhos, que pedem meças aos mais vigorosos da terra na-
tal. E' sempre M ichel Chevalier quem falla estu<lando f!.
França, em confrontação com todas as nações do mundo, na
mais brilhante e na mais methodica -de todas as exposições
nniversaes até hoje realizadas. Tarnbem nã_o é possível citar
documento d_e maior valor; nem jámais foi dado a homem
algum escrever, dispcndo de dados estatisticos e de ínforma-
- 304 -
ções pessoaes dos homens mais distinctos de todo o mundo, e
tendo, sob os seu~ olhos, a primoros,1 coilecção dos resultados
maximos, 11btidos pela industria ele todos os povos!
J<:lle disse ·n.aquelle momento solemne:
· ' Vuilà .donc la pénible situation d.tns laquelle se trouve
l'agriculture française: elle est acc,dilée par l'impôt et prati-
quée par uné poµulation 4 ui, 111atériellement, est fort mal
pourvue, et fort négligée sous le rappo rt intellectuel ; el lc est
elénuée ele capitaux, puisqu 'e lle n'a pas une production brute
assez forte pour qu'il !ui reste une produit net de quelque
importance. Spectacle affi ig'el1.11t pour les hommes bi en -
veillants, qui rn udraient vo ir la prospérité publique se. dé-
velopp.er au µrofit d·~ toutes les parties de la nation; source
d'inquiétude pnur les esp rits politiques, qui sentent bien que
j'harmunie socia ie et le bon ordre de la société. sunt à ce
prix ~ ''
Assim, pu is, a situação da agric~iltura franceza, em 1867,
era penosa (péniblt) ; estava, no di ze r d e Chevali e r: rº, accu-
m uiada de impus tos; 2", exercida por uma população sem
Ínstrumel}tos de trabalho; 3", sem instrucção; 4 9 , sem
capitaes.
Notai agora a coincidencia com este Imperio em 1870, e
vede que, por toda a parte, os fructos do monopolio governa-
mental ;;ão semp re cs mesmos. Copiam os textualmente:
" Inform ações sobre o estado da lavoura-Riu cle Janeiro
-Typograpbil1 naciona l.---1874 .--Extracto das informações
prestada;; pelas presidencias de província, pag. IX.
" Causas do enturpecimentu da lavourn: rº, falta de
conhecimentos profession,tes; 2~, escassez de capitaes; 3º, ca-
rencia .de braços; 4°, falta de e~lraJ;1s; 5º, eleva dus impos-
tc,s de impo1~ação !
A no., sa c,Jndição é peio r do que a da França-porque
não te m os estradas e porque não temos braços, isto é, plirqu e
tem,,s escravos!
Rcflecti bem ~obre essa Cllincidencia 1 Dai liberdade,
dai industria, dai bem estar ao Brazil emq uanto é temp o;
amanhã n6s estaremos irremisivelmente .no plano inclinado-
da França e da H espanba !
. . .... . ................ . 1

Na questão especial dos bancos -ruraes Michel Chevalier


disse :
"L'organisation du crédit agricole est également une
mes ure, qui se recomrnande par un caractere particulier 'd'ur-
gence, soit qu'on considere le c;u"Jtivateur comme ex·ploitant,
cas_auqu"l il convient qu'i l lui soit possible d'obtenir, à peu
pres comme le commerçant et !e manufacturier, et sous les
mémes conditions et obligations qu'eux, des avances à court
échéance clans l'interét de ses opérations annuelles, soit qu'il
s'agisse de faciliter les prêts à long tenne, ?ont la propriété
même serait le gagc · moyennant hypotheq ue."
Assim, pois, para qu e o credito agricola seja completo é
n ecessa rio que o lavrado r possa obter:
r.Q- Emprestimos de prazo curto, nas mesmas condições

que · os fa_bricantes e cornmerciant_es, sempre qu e elle neces-


sitar de capital para occo rrer ás necessidades do custeio do seu
engenho o u da sua fazenda, no intervall o das colheitas;
2 .9 Emprestimo de prazo longo, mediante hypotheca das
terms e dos preclios de sua prvp ri edad e, para os grandes me-
lho ra m e ntos e re fo rm as agrícolas.
No caso do~ engen hos centi"aes , das fazendas. centraes, e -
elas fabricas centraes as companhias ou ~1.s sociedades em com-
mand ita prop ri etarias .terão sempre capital excedente ou
credito s uf'fici ente para s;ttisfazer ás despezas do custeio._ Or-
gani sadas com um capita] sufficiente nunca necessitarão · de _
recorre r á hypotheca dos se us bens. Além disso, como as
comp,rnl1i,ts de caminho de ferrn e as o utras C0]11pa11;hias d e
ubras publicas e d e exploração ele industrias, gosarão do
recurso da emissão de obrigações, obligatio:i deben!ures, para.
qualquer caso imprevisto de necessidade urgen·te de capital.
Quanto aos simples lavradores, em contacto· com as
fazendas centraes e com os engenhos centraes, _ as despezas
_necessaria~ para utensis e ferramentas, e adiantamento de
sai~rio_s; serão sempre ·de pouca monta. Nos casos excepcio-
naes encontr~rão seguramente na companhia, proprietaria do
engenho-centrai, da fazenda -central ou da fabrica central, o
seu capitalista ou o· seu banco immediato e natural.- ·
Os lavradores estarão sempre •~m conta corrente com a
companhia, como os colonos com os fazendeiros de S. Paulo.
Dest'arte cada fazenda central, além de ser um f6co indus-
trial. se~á simultaneamente um banco em relações continuas
com os pequen os lavradores.
No inquerito sobre a colonisação particnlar em S. Paulo,
feito pelo Dr. João Pedro Carvalho de Mor;ies em 1870, ha
interessantes exemplos destas contas correntes entre os fazen-
deiros e os colonos ou pequenos lavradores. Citaremos só-
mente para fixar as idéas a colo.n ia Sen~dor Vergueiro, onde,
em 1870, a taxa dos juros, pelos adiantamentos assim como
pelos sal cios, era de 12 % (1).
Assirn, pois, podemos considerar como uma verdade, já
sanccionada pela experiencia no Brazil, esta importantíssima
proposição : - "As fazendas centraes, os engenhos centraes e
as fabricas centraes, serão verdadeiros bancos ruraes, dissemi-
nados por todo o Brazil e em contacto immediato com todas
as categorias de lavradores . "
Não vos escape que as fitzen<:las centraes serão ·outros
tantos agentes para a c'reação, para o desenvc,lvimento e para
a prosperidade da democracia rural no Brazil. A Democracia
Rural é o mais .foi-te tronco da Dem ocracia Nacional. A De-
mocracia Rural é a aspiração secular da escola liberal.
Quando o illustre Ques·nay, o chefe dos physiocratas,
mandava a Luiz XV com pôr para imprensa a celebre phrase :
"Pauvres paysans, pauvre royaume; pauvre royaume. pauvre
roi ... " era a fundação da democracia rural em França, que o
grande mestre tinha na mente e no coração !
A aristocracia ingleza, a mais intelligente e a mais activa,
que jámais existio, tinha por base o monopolio elo s61o !

(I) Vide pag. 78 do mencionado inquento~


- 307 -
Richard Cobden. á frente da Anti-Corn-Law-League, ar-
rancou-lh es esse m o nopnlio. ·Deste dia data a serie de r~for-
mas democraticas e liberaes, que espantam o í9Undo, e trans-
formam pela base esta velha republica aristocratica, que tem_a
sabedoria e a prud '.!ncia el e denominar-se: O R eino Umdo da
Grã Bretanha.
Quem fundou a d mocracia na Inglaterra não foi Oliver
0

Cromwell, foi Richard Cob<len ! F oi n sublime im pressor


ele chitas que ousou <lizer á aristocracia ingleza: - "Não
inatareis mais o povoá fume á sombra cios vossos ·monop9li os _
iniquos!" E. elle realizou essa revolução, talvez mais effec-
tiva que a <le r879, sem guillwtinasesem bayonetas, simples-
mente com :=1.-palavrn. e co m a imprensa.
Foi clesde este <lia, convencida por esta eterna lição, que
a escola liberal repudiou o barbaro direito de revolução. Foi
s6 então que a escola liberal comprehendeu _que eram tão
hedioridos o cutelln de Cromwell e a guilhotina de Marat
como as forcas, as_ rod,ls e os pelourinhos do absolutisino e
como a; fogn eiras e as torturas da inquisição !
Não ha ref,>rma liberal, por mais grandiosa que seja, que
não poss?. ser i-ealizada pela palavra e pela i~prensa . O ap-
pell o á força bruta é sempre um crime, e um crime cont_f"a
irmãos e coi:itra a mãi patria, um crime sem perdão perante
D eus e perante a posteridade. E' a ambiçãn, são os máos
instinctos, que incita m as r,~voluções !
Pa.ra bem servira Patri a, a Liberdade e a Humanidade não
é necessario derramar sangue. Podem os dizer sem temor (1)
de reminiscencias historicas.
Progres.rus ablzorret a sanguíne.

(1) Contra a bem conhecida maxima ''Ecclaesia abhorret a sanguine" prc-testa infe-
lizmente a historia. de todas as religiões.
Até o reformador Calvino fez queimar em Genebra 1 em :1 553, o pobre fanatico
Servet ! . __ _
Para a igreja romana é ocioso até le mbrar os nomes de Catharina de Medieis, de
Torqnemada e do actual cura de Santa Cruz!
.
LI.

Su mmario. - Uma n oticia. -Discussão d oprojecto de lei de auxilio á agricu ltura


n.iciona1 (continuand(})•. - E ' preciso antes de tudo educ~ r, oS l~vrador.e s e instrui-
los nas praxes bancarias. - Demonstrn.ção de ~ lich el Chevalier. - Exempfo do
Crédit F oncier de France. -- Provas praticas da impossibilida de dos bancos territo-
riaes neste Imperio. •- Opinião do ex-presidente da B~hia, senador Cruz ~!fach ada.
- Exemplo de um banco projectado para a provincia do Espit ito-Sa11 to. - Os bancos -
territoriaes s~o evidentemente inapplicaveis á maio1•ia das provincias do Imperio. -
As fazen.das ce~traes, os engenhos centraes e as fabricas centraes são passiveis por
toda a parte. - Um grande perigo dos bancos t.erritoriaes. - Dariam mais força ,
aos eleme:.tos qne obstam o desenvolvimento e a prospe ridade da agnct\ltura
nacional.

Uma noticia antes de proseguirrn os


Foi-nos apres<:ntado, por um amigo, o Sr. enge nh eiro
A. Dolabarntz, rep resentante da bem conhecida fabrica de
Cai! & C., ultimam en te ch egado a esta côrt e.
Como já sabem os n ossos leito res, é a M. Cai! que se
deve, principalmente, a imp ortante refo r111 <1 ag-ricola. que. na
especialidade da producção do assucar, se denomina- E nge -
nh os Centraes .
Tendo ch egado ao conhecimento de M. Cai! que algu-
mas províncias do Im perio ti1íh,tm garantido" juros tl e 7 % ans
capitaes, qu e foss e m empregados no ~ engenhos centraes, e
- 3IO ~

tendo sido consultado por varias pessoas sobre esta especi,1li-


dade, resolveu enviar a~ Brazil o engenh eiro A. D olaha r;:i,tz,
distincto alumno da Escola Central de Pariz, que já demons-
trara~ sua proficiencia montando enge nhos centraes na ilha
da fümniãq ou de Bourbon (Africa), e na província de Gra-
nada (H êspa nha ), onde, graças a condições toµographi,:as
esj.Jeciaes, os engenhos centrnes têin procluziJo res ultados ve r
dadeirnmente ;naravilh usos.
- .
'Ó engenheiro A. Dvlab.u-,1tz vis ituu j.i as prnvincias d,1
Bahia e de Pernambuco, e verificou luver ndlas effecliva m ente
e·:cellentes cundiçõe~ n a turnes para o estabélecimentu de
engenhos centraes. Mas o princi-pal obstac ulo parn a intro~
, ducção. desta excellente reforma agrícola à.cha-se na difficu 1-
dade de obter para ella ca pitaes • . Está bem demo nstrado que
estes capitaes tê m de ser impo rtados da Europa, e que el les
não virão ao Brazil sem a seg uran ça da garanfr1 ele juros pelo
governo imperial.
E', pois, evidentemente necessario que o parlamento e o
_ governo imperia l se combinem p,tra dotar o paiz com um a lei
de fiança de garantia ele juros aus engenl10s centraes, cumo se
ha feito para os caminh os de ferro provinciaes.
Pa"rece-nos excellente a op·pLJrtunid,de; o parlam ento
está funccionando, tem já conhecimento das leis votadas pelas
províncias do Riu ele J;meir,i, fü1hia, Pernambuco, Sergipe e
Rio Grande dv Norte, e dos contratos realizados em vi rtude
dessas )e,is pôde, pois, aproveitar os conhecimentos technicos
éspeciaes do engenheiro A. Dulabaratz para votar esta instante
refurma nas melhores condi ções.
E' assumpto este da m aiu r urgencia e importancia, pois
delle depend~ a s,tlvação da mór parte da la_vo ura do norte du
Irnperio.
Reatemos o fio das n ossas consideraçôes.
Michel Chevalier co ntinüa assim a demonstração das ne-
cessidades dos agric ulto res em materia de credito :
"Quant a u premier ubjet, il n e pourra être atteint que
peu à peu. _ D es b,rnques Ju genre de celles de l'Ecosse y
3II
airleraient vantageusement. L':!s moeurs et les usag_e s des
agriculteurs y ' seraient, des à présent, moins rebelles que
quelques personnes ne se plaisent Í le dire. Il sauraient
avec le temps, prenrlre, aussi bien que d'autres, l'habitude d e
payer ponctuellement à une éché,rnce déterminée, ainsi' que· le _
pratiquent les manúfacturiers et les commerçants, s'ils voyàient
que leur avenir est à ce prix. Les actes législatifs et admin.is-
tratifs qui, dans cette pensée, fa..:iliteraient la mu!.tiplication
des banques; sont comman,lés par la politique non m"oins que,
par J'équité. "
Assim, pois, julgava o illnstre m estre que, ainda em 186-z,
os agricultores francezes não estavam h,thilitados para usar dos
bancos de emprestimos a cürto prazo; que era preciso ainda
educa-los nos hab1!os de ponluakla ü, que caracterisarrí os fabri-
cantes e os negociantes.
" Sur le second point, continúa Michel Chevalier, celui
des prêts sur .hypotheque à longne échéance, la solution du
probleme est plus facile ; il y a trop longtemps déjà que nos
cu ltivateurs l'esperent.
"L'établissement du crédit foncier de France, dont
c'était l',Jbjet, et qui est parvenu aujourd'hui à une éclatante
prosperité; n'a cependant été jusqu'ici que d'une ·mérliocré as-
sistance pour l'agriculture.
"II a fait des prêts bien moins à la propriété territoriale
q u'à la propriété urbaine, c'est-à-dire, sur les maisons bâties ou
à bâtir. II_a consenti, en ce genre, des avances énormes dans
Auis. li a, de plus, fait de fortes avances aux villes . ''
Mudai o nome de Pariz em Rio de Janei:o e tereis um
poucri mais ampliada, a historia do Banco Rural e Hyp0the-
cario do Rio de Janeiro.
Agora, tenhamos coragem de olhai_. para o Brazil. Vamos
<lirectamente á infeliz província eia Bahia.
A Bahia resume as -outras provincias do Brazil, como a
mãi resume os filhos. Abramos o inquerito sobre o estado da
lavoura a pagina 5. Falia .o ~enador Cruz Machado com
- 312 -

aquella franqu e~a, rara e· excepcional-, que sóe desnortêar os


,
nossos estadistas:
"A Cl'e;lçào dos bã ncos-de credi to rural e hypothec:u'io,
para que tddos olham como o (Hie nte, d_'o nde lh es ha cte vir a
sailva,ção paFa a lavo ura, n ão s,llvará, nem pode rá salvar, os
ind.ivid uos arruinados po r não trabalha rem ou n ão sabe rem
trabalhar; parn estes, quando muito, permittirá pagar com
parte do.capital proµrio o debito contra hicl o, qua nd o tal debito
J)ãà e'\cech -certos limites; será e~paça r o mal , um allivi o po r
alguni tempo, até que a geração, educada no verdadeiro espí-
ri to economico, chame a si a 0Tga nis,1ção do serviço, pundo de
accordo com ;as leis da ecnnomia rui-ai, tão negligenciada em
ll l lSSO paiz. ,,

Commente_m os esta sabia · sentenç,l .de condem1ução aos


tão p reco1i isad JS ba ncos ru rnes.
Primeiro qu e tudo, n ing ue m pócl e pretender fundar ban-
cos ruraes e hypothec::t rios 'em todas ·as províncias do Brazil.
Estas proví ncias são vin te, e ha treze, nas quaes é absol uta-
m ente impossivel cu nstituir e fazer func cio nar um banco. O
·inquerito traz um exemplo e urna prova irrecusave-J desta
verdade !
P or decreto imperial n. 5,293 de 3 r de Maio de 1873 fo i
perrµittida a fun dação de um banco na provincia do Espirito-
Santu . Foi impossivel organisar tàl banco. E o inquerito
sobre 0 estadu ela lavo ura, acc rescenta a pag. 78:
"Este faClo cle mollstra, p11is, o que já di ssem os : que,
na provincia, não é possível crearem-se es talJelecimentos de
creJ·ito.
· Assim pois, o vosso exµecl iente füunceiro, ainda qu e ell e
fosse bom, teria o gravíssi m o ·inconvenie n te d e .não ser appli-
cavel á m ,1ioria das provi ncias do Im p e ri o. Vós fa ríeis uma
lei injusta e parcial, desde a sua origem, porque iria beneficiar
se te provincias, deixando no olvid o as treze provincias,
exactamente mais pobres e rr.ais pecessitadas !
Ora, ha. fab ricas cen trnes, de g ráo superior ~os. engen hos
centrnes e ás fazendas centraes, até em 1\/Iadras e Pondichery,
- 313 -
l_á no extremo do Indostão, até na ilha da Reunião na
costa oriental da Africa ; ninguem ousará affirmar que taes
estabelecimentos não estejam ao alcance mesmo das províncias
mais atrazadas deste Im perio.
A segun-da observação do senador Cruz Machaêio é do -
maior alcance .
Se, obrigado por força de um contrato com o governo
imperial, um bane') rural chegasse a emprestar a juros de
6 % 20,000:000$ aos lavrad ores da Bahia, o .effeito prntico'
seria simplesmente a conversão para essa taxa de -outros tántos
mil contos da divida da lavoura, que hoje-.pagam 12 % a
I 5 % ! Talvez não se comprasse nem um so arado! Talvez
não se importasse um só colono ! Talvez não se emanci-
passe um só escravo ! Eram 20,000 :000$ sacrificad·os em
pura perda á rotina, á ignorancia, e á aristocracia rural !
Ab ! não n,,s -atordoem as fanfarras da oligarchia .rural;
não nos illudam os lugubres discursos· dos d1 li°idas d-o escla-
vagismo ! Façamos lei para auxiliar efficazm ente a agri-
. cultura brazileira a caminhar segura e firme na es_trada do
progresso, e não para galvanisar o qu e está condemnado e o
que deve morrer.
" Não posso entrar neste exame, continúa o senador
Cruz Machado, mas não seria difficif provar que nos
20,000:000$ que pezãm sobre a lavoura mui pequena parte é
derivada de melhoramentos, convenientemente dirigidos, que
tenham procurado introduzir . os proprietarios êm seus esta- ·
belecimentos ruraes; mu_i pouco lhe pertence directamente."
Sim, · é verdade; quanto dinheiru, que figura como
divida da lavoura, foi esbanjado no jogo, em eleições, em
bailes, em banquetes e em toda a sorte de dissipações?
Quem não sabe que houve senhor de engenho que cortava
a canna ainda verde, reduzia-a a aguardente, para poder
occorrer immediatamente ás dividas do jogo? . . . (1)

11
r
Il Os agricultores francezes exprimem estes desvarios pelo con-hecido ritão: '
• l\1anger son grain cn h erbe ; " os criadores inglezes dizem tambem: "To eat the
calf on the cow's belly."
- 314 - ·

·« Peçlem todos a c'reação de bancos para· fornecer di-


•n h·e_iro a premio barato ; e é incontestavel que taes estabeleci-
mentos devem p"i·estar serviços aos proprietarios onerados ;
mas sub conditz'one de que melhorem elles de processos em-
preg~dos e tentem resolutamente uma reforma radical, ainda
que condüzida paulatinamente.
" N6s nada temos feito ou creado, ao passo que aquelles
que procuramos imitar, já possuem escolas soberbas comtodo
.o desenvolvimento de que são susceptiveis taes instituições .. .
'' Entl'e n6s, qnde a grande lavoura é ·a que mais
carece de conselhos e direcção, não tendo de mais a mais a
·quem seguir na espinhosa tarefa das transformações e reformas;
resulta a indispensabilidàde de uma prévia educação, mus-
trada e enérgica, para que se possa pôr em realizacão as
medidas complementares, reclamadas pela revolução dos
_tempos .e dos costumes!'
Tudo isso é a pura verdade, dita ingenuamente perante
Deus e perante a Patria. E Deus abençoará sempre a quem ·
tiver a coragem de dizer a verdade ao Brazil.
Cumpramos tambem nós o nosso dever e digamos
fraúcamente :
- Anles de tudo, é necessario principiar por ensinar
Economia rural aos nossos lavradores e.Economia politica aos
q,u e nos governam !

Summario.- Discusssão do projectQ de lei de auxilio á Agricultura Nacional -
(routinuando) .. -Distribuição do capital .g arantido pelas provincias do lmperio.
-Justificação pela Estatistica da exportação e dã. população escrava. - Demon·s-
tração de renda liquida de 4 %.-Ampliação da lei de 24 de Setembro de 1873.
-Necessidade dessa ampliação demonstrada pela _provincia do Espirita Santo.-
Companhias e sociedades em commandita de responsabilidade limitada.-São prc- .
feriveis as companhias.-Opinião · de Stuart Mill.-As companhias, como o 'juiy
para o civel e para o crime, são grandes escolas praticas do systema repre.
sentativo.

Nos. artigos antei-imes ficou plenamente demonstrado


que, nas · circmrn,tancias actuaes ela lav, ,ura nacional, não ha
melhor . expediente financeiro a adopt~r,· para auxilial. a a 0

atravessar a crise actual e preparar-lhe as bases de um ·g rande


futuro, do que "o · emprego da garantia de juros de 7·%, por
30 annos, pagos em ouro ou ao cambio par de 27 peuce por
mil reis, parh creaçiio de fazendas . :centraes, . de engenhos
centraes, de fabricas centraes e de estabelecimentos analogos,
de·stinad·o s a dar o melh<.'r preparo, ·µ·a r.a a' e.x portação e pará
o consumo, aos productos das industrias agrícola, pastoril e
extractiva do Brazil."
Vencidas as objecções e as difficul<fades·, que a ·rotina e o
medo nãu deixarão de suggerir, ficará victori_o so o projecto ·de
lei de auxilio á agricultura nacional, que apresentamos ;
Lodos os uutros paragraphos desse projecto são consequencias
- 316 -
necessai:ias .do primeiro, verdadeiramente simples d isposições
, regulamentares.
Justificam-se por si mesmo.
Assim, para o § 2° do art 1°, que determina o modo de
di8tribuir os 20ô,ooo:000$ garnntidos, ou o seu equivalente
em ouro, ao cambio par de 27 pence por 1$, pelas diversas
proyincias, -basta estudar a seguinte estatística para ganhar
a convicção de que tivemos em vi~ta todas as circumstancias
peculiares a cada provincia, e, muito principalmente, o
, instante problema ela emancipação.
Quadro synoptico da. distribuiQão do capital ga.ra.ntido .

POPULAÇ-ÃO ESCRAVA, DE CONFORIII IDADE COJ\1 A ESTATISTICA DO'


RELATORIO DO MINISTRO DA FAZENDA DE 1874.
RxjJortnção de longo curso, de co,ifôn,uilade cottl a estatisti'cri do cn11nnerdo 11zariti11u;
do Brazil, no e.xerckio tfe 186g- 1870 1 p elo Dr. Sebastião Ferreira Soares .

.,
~
POPULA· EXPORTAÇ.~0 CAPITAL
""' PROVH\CIAS ÇÃO DE
~
ESCRAVA LONGO CURSO GARANTIDO
.._..;
<;

Bahia.. .. .. . . .. . ........ 103.095


1 19, 762: 848$ 20,000:000$
Pernambuco ......... ...
2 66. 499 30,950: 728 20,000: 000
M_inas-Geraes ... .. _. _... 208.103 (") . --- - . - - - .
3 2 0 :000:000
Rio ele Janc1ro __________ 207. 709
4 71,075:231 15,000:000
S._ Paulo . ..•..•.....•..
5 82.843 18,007:584 15,000:000
6 Rio Grande elo Sul ... _.. 83,760 12,91 9:753 10,000:000
7 Maranhão. . • . . . . . ...... 45.121 6,723: 195 10,000:000
8 P.lagôas ...•.... .. ..•. . 19 . 220 6,691:010 10,000:000
9
Ceará ............. ___ .. 17:899 6,400.885 10,000:000
10 Pará .•.... . _..•. .. ..... 15.683 13,239:981 10, 000:000
li iParah y ba . .• .. •........ 14. 172 4.387:46<> 10,000,000
12 ::iergipe .. .•.... .... • _ •. 2 5-35 1 1,482 :450 6,000:000
13 Rio Grande elo Norte .•.. 6.087 3,171: 134 6,000:000
14 Paraná.-- ~ --- ___ .•.... _ 8.012 4 , 162:865 6,000:000
IS Piauhy
Espirito
..... . ..... ···-··
Santo .• ___ _ .• ..
17.591 702:285 6,000:000
r6 18.126 (*} . - - -... - - - 6,000:000
17 Santa-Catharin a ... _ ..... I0. 641 557=163 6,000:000
18 Amazonas ____ .__ . --·· · .. 996 818 6,000:000
19 Matto-Grosso . -
.•.••.... . 2.253 (~) --- -- · ---- 4,000:0, 10
20 Goyaz .. _ .. .. _ .. . .••••. 1.819 (* ) . - . --- -... 4,000:000
Su1nrna ..... . 954.98° 200,235 : 395 200,000:000

(*l As provindas de 1'-finas-Gerae~. Espirito-Santo e Goyaz exportam por inter-


medio do Rio de Janeiro; ·M ato-Grosso, no exercido de 1869 - 18'70, ainda estava
sob a pressão da guerra do Paraguay.
- 3i7 -
O § 3~ do art. 1 •0 do projecto da lei de auxilio á
agricultura nacional (1) diz assim:
' 'As emprezas, que desejarem obter à fiança de garantia
de -juros do governo imperial, deverão apresent_ar uma de.-
monstração de renda liquida nunca inferi'or a 4%.", - '
E' a bem conhecida disposição fundamental da lei n. 2450
de 24 de Setembro· de 1873, que autorisou o governo im'p erial
a afiançar as garantias· de juros dos caminhos de ferro pr:ovin-
ciaes. Não carece justificação.
Essa lei, devemos repetir, é a mais auspiciosa lei · indus-
trial , que se ha votado no Brazil. No emtanto, hoje é tempo,
que estão desvanecidos os rid,iculos temores de 1852 a 1873,
de pedir mais alguma cousa ; de andar mais avante.
E' necessari o mais este portico ao monumento de
1873:
"A assembléa garal resolve :
"Art. 1. ° Fica o governo autorisado a garantir dire-
ctamente uu para prestar fiança de juros de 7%, durantt:
30 annos, pagos em ouro, ou ao cambio par 27 pente
por mil réis, de conformidade com· as leis ns_. 641 de z6 de _
Julho dé 1852 e n. 2,450 de 24 de Sete-mbrn de. 1873,
ás em prezas de caminhos de Lrro que satisfizerem as seguintes
condições.
"1 ·ª Ter obtido garantia · de juros de qualquer assem-
biéa provincial ;
"2. ª Destinar-se a ligar os valles dos grandes rios do
interior dl) Imperio com seus portos de mar;
"3·ª Servir no seu trajecto a minas importantes de
carvão de pedra, ferro, chum·bo, ouro, prata, petroleo, salitre, ·
nitrato de soda, rrarmores e calcereos proprios á fabriéaçã de
cimentos e ao uso nas construcções.
"Art. z.º A somma do capital garantido, em virtude
da presente lei, nãu deverá exceder a 200.000 :000$000.

( 1) O decreto n. 353 de 12 de Julho de 1845, nos art. t6 a 27, estabeleceu o


o jury civel parn as desapropriações, destinadas ás obras publicas. Como todas as disposi-
ções democraticas das nossas leis, esta nunca foi posta em pratica pelos usufructuarfos
d'este lmperio.
....,....,. 318 ~

_"Art. 3.º .Pic_a m revogadas as disposições ·e m contrario."


Ultimamente o correspondente qo Espirito Santo la-
meptavf!, que o governo imperial tivesse dicidido que essa
provini:;ia ainda não estava na ,altura de;! possuir caminho
de ferro. - E' na verdade tristi,ssirno que uma provincia, á
qual~ Deus dotou com o porto da Victoria _e com o magnifico
valle_do rio Doce, esteja condernnada a esperar indefinifa.-
mente por estradas de ferro !
E ' impossivel esperarmos mais tempo para ligar com
o mar o~ valles dos nossos grandes riµs, o Tacatins, o Paraná
· o· São Francisço,. ó P,traná, o Iguassú e o Uruguay!
_ Tenha1~os coragem, e_ r~alizemos quanto antes -os _aus-
piciosos_ ca_minhos de forro, destinados a substituir as secções
encachoeiradas dos nossos grandes rios : notoriamente do
Madeira, do Araguaya, do Tocalins, do S. Francisco, do
Paraná e do Iguassú. Todo o futuro da Agricultura Nacional
e _d a Immigração depende do estabelecimento de boas vias de
communicação.
O.§ 4.º do .art. 1 .9 do prujecto de lei de auxilio á agri-
cultura ~acional é deste teor :
· "Estas em prezas poderão ser _.constitui das em com-
panhias, ou em associações em commandita com responsa-
bilidade limitada."
N6s proferimos as comp,rnhias pela publicidade -~e todas
as suas del iberações. pela discussão em assem biéas, com de-
bate livre de todos os seus interesses. As companhias, re-
pitamos com Stuart Mill, são grandes escolas praticas do
systema representativo. - N,i o;·dem dos interesses, as com-
panhias representam um papel analogu ao J ury UCJ circulo
dos interesses moraes e sociaes.
Companhias industriaes, e jury para o civil e para
o crime, são instituições elementares, indespensaveis a
todus os povos livres _: .
''Le jury, disse Tocqueville, qui est le moyen !e plus
énergique de faire régner le peuple, est aussi !e m:oyen le plus
efficace de lüi apprendre à regner."
319 -
As companhias, como o jury, ensinam os povos a reinar.
E o problema social maximo do seculo enuncia~se assim:
"Educar os povos para serem soberanos. ·
'-'Educar os reis para serem cidadãos."

LIII.

Summa~io.-.Discussão do projecto de lei de auxil io á Agricultura Nacional [~on -


tinuandoJ.- Projecto ·de lei de sociedades em comnumdita com responsabi'idade
limitada .-EsSa lei é necessaria para o desenvolvimento da iniciativa individual e
do espirito de associação no Brazil.-1\ publicidade e a inspecção dos estabelecimen-
tos pertencentes ás companhias. - '•'.d ucação nacional para os trabalhos prod.uctivos.
-Discussão do § sº elo art. 1n do projecto de le i de auxilio á Agricultura .\acional.
- Difficuldades em levantar em Londres o capit~l para os caminhos de ferro garan-
tidos. - As difficuldades serão maiores para as emprezas de engenhos centraes.
- 1\'Iôdo pratico de resolver estas diffic uldades.

Em 1865, o Sr. senacior Nabuco. então mm1stro da j ustiça,


mando u estudar um projectu de lei para c rea r no ;Brazi l socie-
dade em commandita de respunsabi lidacle limi tada, a nalogas
ás permittidas pela lei frnnceza de 22 Je Maio de 1863' e lei-
ingleza, con hecida cum a denom inação de '' T he Compan ies"
(Limited) Act. 1862 ".
Este prujecto cahio no o i vido. Em I 86 5 a nação brã--
zileira estava soffrendo da µeiur das molestias, q ue pód_e
a taca r um a nação- a monomaúia g ue rrei ra. Não lh e era
possível cuid,tr e ntão da agricu ltura e da industria . . Pra;a
aos céos que jámais mi tem tão triste::; dias!!! __ .

As sociedades em cummand ita, ele respo·nsabilidade li rni ta-


da, forão u ltimamente ape rfeiçoadas cum a facu ldad~ de
322
'-.

emittir "obrigações'' (oblzgatz'ons, debenture-bondsí: dest'arte gozam


quasi das mesmas vantagens que as companhias.
Na reforma ag ricola, que estamos estudando, a sociedade
em com mandi ta ·teria a vantagem de satisfazer a vaidade do
proprietario, fazendeiro ou senho r de en genho, ligand o eter-
n ame nte o seu nom eá empreza do engenho central o u da
fazenda cen traf. E m um paiz, e m quê a vaidade é tão do-
minante, esta consideração tem certamente grand e valor
pratico.
Ma..s, voltan do á'o assumpto principal, é na realidad e indes-
culpavel qu e quatro annos já sejam passados depois que o
Omnipotente concedeu-n os term inar victo ri osamente essa
tristíssima g uerra, e que até h oje continue este Imperio sem
u l"!la lei de associações com responsabilidade limitada. T o-
dos sabem os benefícios, que tem produzido tal lei na França.
e na Inglaterra, e os que se esperavam de um a lei analoga
neste paiz: no em ta nto adesid ia dos nossos gove rna n tes vai dei-
_x a ndo a agricultura, a industria e o commercio deste Imperio
sem esse bom m eio de manifestação de ini ciativa indi vidu al
e ·do espírito de associação.
Para a applicação cios principi os de centralisação agrícola
e industrial do Brazi l, p'lra a c reação de fazendas centraes,
de en genh os centraes e ele fabri cas centraes, n ós· preferimos a
orga ni sação em compa nhias, pel os m oti vos já expostos n o
artigo anteri or. No emtanto, para respeitar plenamente a li-
_berdade indi vid ual e o espírito de associação, o projecto de lei
· permitte que associações em commandita, com responsabili-
dade limi tada, se organ isem para expl ora r fazendas centraes,
engenhos ce ntraes, fabricas centraes e estabelecimentcs analo-
gos. Sómen te as associações, que quize rem gozar da garan ti a
el e _juros do g,>verno imperi al, deveráõ, como determina o§
13 art. 1° ( 2), publicar semestralmente,_ pela imprensa diaria,
um relatorio de suas c>perações, o se u balan ço e ter sen~pre

li:] Ver o proj ecto de lei no art. XLI de$ta serie, publicado no "Jornal do
Commercio" de 25 de Fevereiro de 1875 .
patentes aos agentes dos governos geral e provinciãl os seus
livros de escnpturação.
Não vos embarace Ç) sophisma ele que essa_fiscalisação
será inquisitorial, incommoda e insupportavel ás companhias
ou ás associa.ções e m cumi"nandita. Nós podemos assegurar-
vos, de experiencia propria, que as visitas dos agentes dos
governos aos estabelecimentus de curnpanhias respei.taveis s6
produzem beneficios; muitos preco11ceitos, muitas prevenções,
muitos prejuizos se desvanecem com uma simples ·inspecção
dit'ecta e immediat::i, que vale mais do que a leitura de mi-
lhares de officios, de mem o1·iaes e de relaturios dos em pre-
gados subaltern"s-
Bem, pelo contrario, uma das difiiculdades, com que
lutam os ,gerentes das c0mp,mhias, é conseguir que, neste
paiz de apathia e de irnmobilidade, os agentes do governo e
até os proprios accionistas visitem seus estabelecim.e ntos.
Todos querem informações de orelhà : lêr e sobretudo ir vér,
só depois elas maiores instancias. .
Está nos escapando da penna um exe mplo notabilissimo,
I
que por ser muitu recente ainda não é possível citar. Bastará
lembrar, para firmàr as idéas, a clifficuldade que têm os
bancos e as companhias, inclusive " Banco do Brazil, que
concentra em si os maiores interesses desta capiUl e da
província do Rio de Janeiro, em reunir numero sufficiente\ de
accionistas para as assembléas geraes !
Tudo isto demonstra que é necessario educar a geração,
que cresce, para. a agricultura, para a industria, para o com-
mercio, para o trabalho em uma s6 palavra! Até aqui a
educação era meramente política. Sabia-se da academia pará
os collegios eleitoraes, e muitas vezes para as assembléas
legislativas provinciaes, e até para o parlamento nacional.
Dahi essa repugnancia geral para o trabalho productivo.
E' p1eciso reformar tudo isso radicalmente, se não queremos
ter a sorte da França e da Hespanha.

E' digna do mais accurado estudo a disposição do § 59


d0 artigo 1º . do projecto - de lei de· auxilio á Agricultura
Nacion~l, que diz as~im:
· Artig.o 1º § sº~''Quando o capital da ernpreza tiver de
ser impmtado de paiz estrangeiro, os c0ncessionarios ::issigna-
-rão um contrato com o Ministerio da agricultura, no qual
serão es13ecificadas as condições technicas da empreza, e um
outro com o lVIinisterio da fazenda para o levantamento do
capital em paiz estra1igeiro, nas conclições de um emprestimo
-com juros, pagos pela Delegacia do thezouro nacional ·em
Londres, e ~ob sua immediata fiscalisação."
Es-ta -disposição é filha da experiencia, ganha no difi!cil-
limo· trabalho de importar capitaes da Europa para os cami_- .
nhôs de ferro, garantidos pelo governo imperial, em virtude
da lei n. 2,450 de 24 de Setembro de 18.73. Antes da
votação desta lei, diziam capitalistas notaveis, mesmo ele
J;,ondres, que não haveria difficulclade alguma erri levantar
capital para caminhos de ferro com a fiança ele 7 % em ouro
pelo governo i mpérial.
Parecia, na verdade, de razão que, send,.o sempre os
titulos dos ,emprestimos. brazileiros de 5 % cotados entre os
pr.i meiros, não faltariam capitalistas para tomar acções com
juros de 7 % afiançados pelo mesmo governo, e com a
certeza de que o seu rnpital seria empregado em construir
ca171inhos de ferro no Brazil, e não em despezas cie guerra,
. ou em qnaesquer outras improductiv;cis ou pouco etfectivas
para o desenvolvimento de suas riquezas naturaes. _
No emtaritp, a experiencia veio demonstra,r que não era
o systema ado ptado para a execução ela lei de garantia de
j1,iros, o mais efficaz para importar, em condições vantajosas,
o capital estrnngeiro no Brazil. Em primeiro lugar os
ca·pitali·s tas repugnam estas emprezas por ser diminuto o seu
capital. . As emprezas de 3, de 4 e de 5.000:000$ são mal
_recehidas Londres.. Os grancles capítalistas não querem fazer
operações senão sobre milhões de libras . Esta difficnldade
será "<,tinda maior para as em prezas dos engenhos cen tr:i:es,
fazendas centraes, e de fabricas centraes, cujo capital muitas

.,,
vezes será inferior de r, 000:0001!,, e rarissi mas vezes attingi rá
a 2 ,000:0001!, ou a 3 ,ooo:0001f,ooo .
Nós ped im os instantemente aos nossos estadistas a s11a
atten ção para esta di ffic uldacle capital. E' evid entem ente
n ecessarin e indispensavel que o sjrstema, que se tenha cje
adaptar para importação do capital estrangeiro para auxilio .
da Agri cultura Nacional,seja pratico e reali z:wel; quando não,
será mais uma lei sem res u ltad n, m ais um a decepção, m,1is
uma causa de clesa,n mo, senão de d esespero para a lttvoura,
deste Imperio. Dir se-ha: Mas porqu e nãn levantará directa-
m ente o governo impe ri a l us 2 00,000 :000$ necessarios? N6s
já respondemos: po rqu \:! isso seria, além de impossível, o
mai o r, e rro finan cei ro que se poderi,1 com m ette r.
Um emprestinrn, levant,i.d n pelo irnvern o, qualquer que
fosse a sua denominação, se iria reunir aos emprestimos já
existentes, cuncorrer com elles, fazer baix<H a sua cotaçã·;>, e
portanto o credito nacio nal. N o systema da garantia d e
juros, q uem toma emprestado é a em preza; o gove rn o só
responde pelos juros; as te rras; os e,! ificins, as propri edad es
moveis e immoveis, emfim da emrireza, respondem -pelo
capital. ·Deste m odo chega-se ao systema, adaptado pelos
Estados Unidos, .muito bem den o minad o por Michel Che-
valie r preslac;âo de credito do ,E stado, ou ainda ao systema
adoptado pelo governo russo por le mbrança dos banqueiros
R,)tschild.
Em ri go r fin a nceiro as acções dos engenhos centraes,
em i tti das em Lond l'es ,' serão verdadeiras obrigações; ( debmtures
obligalions J, te ndo juros pagos pelo gove rno imp erial e direi t, i
de pri.rneira hyp ,>theca s,>bre todas as propriedades- moveis e
imm oveis da empreza. A operação, sendo toda feit.i péía
D elegacia do thesouro naci o nal em L ondres, terá todo , o
prestigio do Governo imperial, sem ao m esmo temp n dar-lhe
m,lÍs o utro compromisso além dó paga megto dos jurns gai-an-
tidos durante trinta annns.
...

"
LIV.

Summario.-Discussão d_o projecto'" d~ lei de auxilio á Agricultura Nacional (conti-


1e.uando), - Ainda o§ 5'? do art. 1°.- Conveniencia de dous contractos, a separaçã?_
das condições technicas e dás condições financeiras da empreza. - Exemplo tomado
aos caminhos de ferro garantidos.-Contracto technico feito com. o Ministerio da agri-
cultura. -Contrato financeiro do Ministerio da fazenda. - Modelo para este ultimo
contracto.-Intervençãoda Delegacia do Thesouro Nacional em Londres. - Paga-
men to dos juros garantidos. - Quotas de amortização. - Recepção do capital
pelos coucessionarios .

Nós receia mos não ter sido _bem explícitos no artígo ante-
rior, fazendo a exposição <lo modo pratico de cumprir o § 5°
do art. 1º do prnjecto da lei de auxi lio á Agricultura Nacional ;
vamos procurar ser bem claros em tão impbrtante assumpto.
Principiaremos repetindo a letra desta disposição:
Art. rº § 5º Quando o capital da empreza tiver de ser
importado de paiz estrangeiro, os · concessionarios assignarã?
um contracto com o Ministerio da agricu ltura, no qual-serão
especificadas as condições techni cas da em preza, e u rri' outro .
com o ·Ministerio da fazenda para o levantamento do c~pital
em paiz estrangeiro, nas condições de um emprestirn@ ~Gm
juros, pagos pelá Delegacia do Thesouro Nacional em Londres
e sob sua immediata fiscalização.
- 328 -
Em• primeiro lu gar é intuitiva a vantagem da separação
das cÓndições technicas e das financeiras da empreza agrícola
ou industrial. E' inutil que (> capita lista esfrangeiro se veja
obrigado a es tudar, a verificar e a reconhecer os innumeros
cfotalhes technic<>S de uma emprcza agr ícola ou !nd us t ria l.
Para o capitalista tocht a que,tão se -resume na infallibilidade
do pagameuto dos juros em Lo ndres e da respectiva quota de
amo'rtização do ernprestim o .- Quando muito os mais exigentes
quererão ter um :1 certeza de q-ue o se u dinheiro será realmente
ernpregadn em melhornr a agricultura do Imperin, e não em
augrnentaro seu material de gnerra. ou em qualquer outra
despeza improductiva,· o u mesrno cuntraproductiva .
Já tivemus occasião de fazer notar que foi grave erro para
os cami nh os de fenn, garantidos pelo governo imperial pela.
lei n. 2 ,450 de 20 de Setem bro de 1873, enviar µara L"ncires
conlt'ições teclmicas de envo lta com as condições fin..i nceiras
<la empr~za. E' esse um tlus casos q ue a subdivisãu produz
muita clareza, muita simplicidade e diminu_e radicalmente as
difficuldades do problema. Para os caminh os de ferrn ga ran -
tidos nús dissemos :
" Estúdandu estes e, n 1ractus, ·, econ hece-se lugo que não
1

fot'Mh feitos para capit,tlistas, e muito menus para capita listas


e:-;trangeiros, principalmente inglezvs . Não se quiz dizer-lhes
bem ~!aramente que mandassem 1 00,,: 00:000$ µara os cami-
nhqs.·êl.e ferro du Brazil, porque o gove rn o imp erial sú lhes
,assegurava a renda liquid,t de 7%, depois dr ter bem est uda<lo
e .examinado ·to dos os se us calcul,>s de receita e despeza. Se
-'!1este espiritu, · si nceramente liberal, tivessem sidu redigid os 1JS
cont ratos, é evideme ap·enas chegassem a Lon dres os docu-
·mentos das estradas de ft rro garantidas os capi ta listas, que
disputam os nosso~ títulos de 5%. co rreriam a tom,tr acções
· de 7 %, garantidas pelo gove rnu imperial, e, além disso, com
a µropriedade Fea_l de um caminho de !erro , quasi sempre
acompan hado·da doação gratuita de um a vasta zona de terri-
torio de vinte legoas quadradas, mais de 87 1 kilornetros
quadrados ! !
'' Nada disso se tem feito. Para Londres tem id9 µm
sem numero de artigos , de clausulas e de condições financei,ras
e technicas, de mistura umas com as outras; tudo loqgo,
fastidioso, e sem luz para o assumpto ! Fica-se logo ·em ,du-
vida se haverá quem queira a rend,t liquida de 7 % com a
obrigação de lér-, de compreliender, de reflectir, de estudar,
de inquirir e de informar-se <..le !anta minucia technica, de
tantos limites de rampa, de tantos raio, _minim )S de éurva,
etc., etc. ! !
" Mais valem, evidentemente, os 5 % dus bonds
brazileiros, do que 7 % com essa longa aprendizagem.
u
'' Se · q izermos ter estrada de erro, é necessario ·fazer
sacrificios reaes, como temos feito para adquirir material de
guerra. E' µreciso, é indisµensavel tomar uma resolução em
tão momentoso assumptu. A vastidão do nosso territorio
requer um systema completo de estrad,1s de ferro; üellas
dependem o bem estar das populações do interior do paiz e o
desenvolvimento e a prosperidade da sua industria e do seu
commercio. E' esta a verdade, elita com franqueza e com
lealdade, que é_o primeiro dever do mais iqfaLigavel µromotor
du bem estar dos povos -- A i11;prensa ! "
Está, pois, demonstrada a toda a luz a vantagem da sub-
divisão dos contractos dos engenhos cen traes, das fazenda"s
centraes e dos estabelecimentos analogos em dous contractos
distitictos : - Um contracto tuhmco feito com o Ministerio
da agricultura; um contrato ji11a11ceiro com o Ministerio da
fazenda-.
Sobre a redacção do primeiro contracto competirá aps
requerentes apresentar um projecto, que será debatido e cor--
recto pelas Assem biéas provinciaes e por fim pelo ·Ministerio da
agricultura; o qual deverá para isso mandar vir mod~los de
contractos analogos, feitos em Martinica, em Cuba em Santa
Lucia e 'los outros paizes, que nus µrecedp ;a;Q~ - ~·
inslituição dos engenhos centraes. ~ ~~:Í.·
Quanto ao contracto financeiro {f_:,61 1' o
fazenda é especie nova, da . q uai s? á ;mais
' '\;: r 1)
...., •........:·~_$
·,
- 330 -
bons modelos . Ser-nos-ha, poHanto, permittido apresentar
o modelo, a que chegamos depois dos mais conscienciosos
estl1dos· nesse importantissimo assumpto . Ei l-o, já em forma
de decreto, .paramaior simplicidade e clareza:

Decret,; 11. -de I3 de janeiro .de I876.

Autorisa os concessionarios do engenho central Progresso,


situado na margem direita do rio Paraguassú, em frente á
cidade da Cachoeira, na provincia da Bahia, a levantar em
Londres um emprestimo de ;[ .200 , 000 com garantia de juros
de 7 % e sob a fiscalisação eh delegacia: do thesouro nacional.

Attendendo ao que me requereram E. D. & C., con -


cessionarias, pele). lei da assemhléa provincial da Bahia n.
de de 1875, do engenho central Progresso, situado na
marge111 Jireita do rio Paraguassú, em frente á cidade da
Cachoeira, na pro~incia da Bahia, e ao disposto pela lei da
assembléa geral de auxilio á Agricultura Nacional n. de
de 187~ : Hei por bem auctorisal-os a levantar em
Londres por emprestimo o capital de duzentas mil libras ester-
1inas ( J: zoo, ooo ), necessarias para o estabelecimento do
mencionado engenho central, de conformidade com o con-
tracto, approvado pelo decreto n. de de I 876, e de
accôrdo com as clausulas, que com este baixam assignados
pelo ministro e secretario de estado dos / negocios da
fazenda-, etc ., etc.

· Clausulas a que se re_ftre o decreto n. de I 3 de Jamiro de 1876.

I.
Ficam os con~essionarios do engenho central Progresso,
situado na margem direita do rio Paraguassú, em frente da
cidade da Cachoeira~ na província da Bahi~, auctorisados a
levantar um emprestjmo de J: zoo, ooo, destinado especial-
mente para o estabelecimento do mencionado engenho
central.
- '

331
II.
Este emprestimo será denominado - Emprestimo do
engenho central Progresso da_provincja ela Bahia - Imperio
do Brazil em _todas as suas relações officiaes e no Stock-Éx-
change de Londres.

III.
Os juros effectivos deste emprestimo deverão ficar com-
prehendidçis entre 5 % _e 5 ¾ % ao anno. O seu juro
nominal será de 5 %, e o preço da emissão nunca inferior .ao
correspondente a uma renda effectiva de 5 ¾ %.

IV.
O cont~actador deste emprestimo deverá en tregar a
somma de ·;[200,000 na Delegacia do Thesouro Nacional
em Londres em tres prestações : a prim e ira a assignar o res-
pecti vo contracto; a segunda trinta (30) dias depois e a
terceira sessenta (60) dias depois ,ia assigntura dó contracto.

V.
A 2 de Janeiro de cada anno, . ou no seguinte se esse
fôr feriado, e no dia r. 0 ele Julho de cada anno," · ou no
seguinte se esse for feriado, a Delegacia do Tl!esouro Nacional
entregará ao conlractado r -do_ emprestimo a somma, corres-
pondente aos juros vencidos pela taxa estipulada para as
sommas effectivamenle recebidas do cnntractador do ·em-
prestimo até essa rata.
Estes pagamentos serão sempre feitos em moeda corrente
ingleza.
VI.
Os juros serão ·pagos infallivelmente ao contractador
do emprestimo, independente da reó.da · liquida do en-
genho central Progresso, pela q uai só serão responsaveis os
concessi onarios perante o governo imperial.
VII.
-Este emprestimo deverá ser amortizado ao mais tardar
em trinta annos ; no dia em que findar este prazo deverá
ser entregue ao contractador do emprestimo a ultima quota
<le sua amortização pela Delegacia do Thesouro· Naoional em
Londres. ·
VIII.
Os cohcessionarios obrigam-se a entregar semestral-
mente na thesouraria da Bahia a correspondente renda liquida
do engen·h o central Paraguassü, no quantum necessario para
ser pelo governo imperial, empregado no pàgamento
em Lon_dres dos juros do emprestimo e das quotas de amor-
tização.
IX.
O governo imperial terá- hypotheca privilegiada de
todo ó engenho central Progresso e de todo o seu material
movei e immoveJ.
X.
Os concessionarios serão responsaveis perante o go-
\,erno imperial pelo fiel cumprimento das condições ex-
, pressas n'estas clausulas e nas do decrt"to n,. ... de ... de 1876
que approvou o contrato; fei,to com · o Ministerio da agri-
cultura, commercio e obras publicas.

XI.
Satisfeitas éstas clausulas, terão os concessioria,rios do
engenho_central Progresso direit0 de receber da Delegacia
<lo Thesouro Nacional em Londres trinta por cento (30%)
do emprestimo, logo que estiver effectuado o seu pagamento;
trinta por cento (30%) seis mezes depois e quarenta por cento
(40%) um anno depois.
Qualquer destas tres prestações poderá ser realizada em
toda ou em parte no Ri~ de Janeiro ou na Bahia se assim con-
- 333 -
vier aos concessi onarios ; ficando, porém, bem claro que ,,
conversão em moeda brazileira se fará sempre ao camhoi,,
e
par de vinte sete pence ( 2 7d.) por mi I réis.

Tal é em r-esumo o systema, que julgamos· dever ser ad-


optado para o levantamento do capital em Londres para
os engenhos centraes, - para as fazendas centraes; para as
fabricas centraes, e para os estabelecimentos analogos, que
não puderem achar immediatamente no Brazil as sornmas
necessarias para o seu estabelecimento.

'1
..


LV.

s ·ú.mrnario.- Discussão do projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional (confi-


nuando). - Observações ao projecto de contrato para levantamento de _c apital em
Londres para os engenhos centraes e estabelecimentos analogos.-Aperfeiçoamento·
a introduzir. - Emissão directa de ''de~ent11res-bonds'' pela Delegacia do Thesouro
Nacional em Londres. - Verlda de apelices durante a guerra do Paraguay. - Van-
tagens financeiras do systema proposto, - O desideratum nesta especialidade. -
Capital estrangeiro; administração e direcção technicas brazileiras. - lrnportancia
do problema da fixação e da importação do capital estrangeiro para o Brazil.

O modelo, que apresentamos no artigo anterior, para os


contractos, que deverão fazer com o Ministerio da fazenda: os
concessionarios de engenhos centraes ou de estabelecimentos
analogos, expõe, .em toda a sua clareza, o nosso pensar sobre
o melhor systema de levantar capitaes em Londres, não só
para auxilio á Agricultura Nacional, como tambem para as em-
prezas de caminhos de ferro.
Ainda _é possível fazer um aperfeiçoamento a esse systema;
nfio o consignamos logo no projecto para não accumular novi-
dades. Sabemos, por longa ~ triste experiencia, quanto é
difficil reformar. Facilita-se evidentemente uma reforma
fazendo-a parei tlment<' e não em globo, tendo logo a _arçar
coq1 um sem numero de interesses offendidos.
- 336 -
O aperfeiçoamento, que temos em mente, é dispensar o
contratador _d o emprestimo, e emi ttir directamente .a Delegacia
dó thesouro naciona:l em Londres obrigações (obligation.r, de-
benture-bonds), dos engenhos centraes ou das em prezas analo-
ga~ garantidas, ou mais rigorosmnente, com garantia de juros,
afi;rnçada pelo gove rno imperial. E' evidente que, dest'a rte,
se dispensaria o pagamento da commissão do contractadur,
além de varias outras despezas connexas, que avultarão muito
no cas(> de pequenas em prezas.
Quande, por occasião do emprestimo de 1865, se fundou
a Delegacia do Thesouro Nacional em Londres, foi crença geral
qúe a esta repaitição competiriam o levantamento de empres-
timos e todas as operações financeiras do lmperio. Durante
a guerra d o Paraguay o Thesouro Nacional vendia directamente
as suas a()olices no Rio de Janeiro com g rande vantagem s ua
e do,s particular~s. Nós julgamos que o mesmo systema p6de
s.e r adoptado em Londres para a emissão de títulos da divida
externa. 'E' bem cl~ro que a principio su~citar-se-hão oppo-
sições e difficuldades, que, com alguma intelligencia e tena-
cidade, serão certamente vencidas. ,
O que ha de bem positi1·0 neste p~rticular é que o systema
actual não satisfaz: cada emprestirno é occasião- das. mais
graves accusações e recriminações, as quaes, pelo menos, aba-
lam a opinião publicar, e deixam os contribuintes em duvida
se os seus interesses foram ou não escrupu losamen te zelados.
E' bem claro qu,e, antes de tudo, será. necessario dar á
Delegacia do Thesouro Ndci(lnal cm Londres um chefe presti-
gioso, profundamente versado em assumptos financeiros.
Voltando á especialiclacle d,~s em prezas, connexas com a
Agricultura Nacional, nós fa remos notar que, além da inapre-
ciavel vantagem ele se importar o capita l para os engen l1 os
centraes e estabelecimentos analogos nas melhores condições
economicas, que possivel fôr, gozará o Thesouw Nacional,
pelo menos, de todos os juros vencidos desde a data da recep-
ção do emp1:estimo até sua entrega aos concessionarios · para a
applicação na em preza. Assim, por exemplo, sendo o empres-
- 337
timo realizado em dous mezes e as prestações aos concessio-
narios pagas em um anno, gozará evid'entemente o Thesouro
Nacional dos juros durante esse intervall o; os quaes lhe com-
pensarão, por certo, bem largamen te, de todas as despezas
com a Delegacia do Th eso_uro Nacional em Lon-elres,e, princi~
paimente, cum um chefe superior com os ·necessarios talentos
financeiros para effectuar vantajt>samente as diversas operações
de credito, que lhe. forem confiadas.
Por ou tro lado, pelo systcma proposto, s6 ficam verda-
deiramente a cargo dos concessiona.rios os detalhes· technic'os
ela em preza· tódo o movimento finance iro é feito ou direêta-
mente pelo thesouro nacional ou sob suá immediata fiscalisação.
Na hypothese muito desfavoravel de serem os em-
prestimos para auxilio da Agricultura Nacional, negociados a
91 com 5 % de juros ou pela taxa real de 5,494 %, ou quasi
5 Yz %, a formula das annuidades dá que .em menos de
54 .Yz semestres, estará amortizado todo o capital da empreza,
com as quotas semestraes de ¾ %, metade de 1 .½ -%,
differença entre 7 % e S ¼ %-
Suppôz-se nos calculos qlle as quotas de am9 rtização
sejam guardadas no Brazil, como é' de razão e de toda a
con~enicncia, e vençam juros de 6 % ao a1:mo ou 3 % por
_ semestre. Ora, sendo 30 annos sessenta semestres, te.m
evidentemente o Thesouro Nacional a seu favor ainda 5 .Yz
semestres sobre os 54 Yz semestres, necessarios á amorti,;ação;
porque o prazo da garantia de juros é ele 30 airnos ou sessenta
semestres.
Dest'arte, no fim dos 30 annos, estará temido todo o
emµrestirno,sem despender o Thesouro .Nacional mais -do que
o capital e os juros de 5 .½ por cento annuaes. Tudo isto na
liypotl1ese, quasi irnpossivel, dos engenhos centraes brazil~iros
não renderem de 18 a 48 por cento liquidos, como os esta-
belecidos em todos os outros paizes.
Se, por si mples temor de reforma, _se continuar no
1:ystema actual de importar capital de Londres, teremos a pagar
aos capitalistas inglezes nominalmente juros de 7 por cento;
mas effectivamente juros de 9 a 10 por cento, porque quasi
sempre 20 a 30 por cen-to do. capital levantado para as em-
preias ficain em Londres em premias, em commissões, e nas
outras despez~s connexas.
No · caso geral , muito provavel, de engenhos centraes
.prosperos, dando mais 7 por cento de renda liquida, toda a
renda iria, no infeliz systema actual, para Londres ; e, cumpre
lembrar, ha muitos exemplos de· engenhos centraes dando de
2 5 a 48 por c--ento, como já foi demonstrado nos artigos sobre

o assucar.
Não esqueçamos as despezas excessivas, devidas ás
administrações e gerencias inglezas: tudo isso desapparece no
systema, que ora propomos; o qual tende ao sublime des1~
de1alimz : capital inglez, administração e direcção technica
brazileirn·s. Para realizar todos os beneficins enumerados só
é. necessario que o Governo Imperial, seguindo eis sabios con-
selhos de ·Michel Chevalier, preste resolutamente lodo o seu
credito e !Qdo o seu prtsfigío ás em prezas de utilidade_
· publica,
que tiverem de levantar capital em Londres.
Cumpre que o Governo Imperial considere, sincera e
cordialmente, como sua a causa d~s emprezas garan9das, ás
quaes infallivelmente tem de dar! por cen~o de j ~iros fm ou~o,
durante 30 annos, sobre o capital nom1md da ~otnpanhia ,
por menor que seja realmente o capital importado no Brazil
para essas em prezas . Nós pedimos encarecidamente a attenção
dos nossos estadistas e dos nossos legisl adores para este
momentoso problema.
Podem os. rotineiros dizer quanto _ lhes aprouver; nós
repetiremos conscienciosamen'le; '' Não ha actualmente pro-
blema dé maior importancia para o Brazil do que o da fixação
e da importação do capital estrangeiro para ã Agricultura, para
e
a industria µara os caminbós de ferro nacionaes. "
LVI.

Sun:,imar.io. - Discussão do projecto de lei de auxilio .á Ag?"icultura Nac ional


(Contin1{ando). - O systema proposto para a i_mportação do capital estrangeiro no
Brazil- lembra o systema "yankee'' de prestação de credito do Estado.-'E' quasi o
systema adaptado ~peld governo russo, para obter capital em Lond1·cs para os seus
1;aminhos de forro gârantidos. - Exposição desse systema devi40 a.os banqueiros
Rothschild.- Ante5 de 1&70 o governo russo commettia o mesmo erro que O nosso
governo actualmente.-De.monstraçãô das Vantagens obtidas. -;-Exemplo e lição par
os nossos financeiros. - Trinta mil contos de réis a poupar aos contribuintes
br:ilsileiros.

Já tivemos occasião de mencionar, em um dos artigos


an te1:iores, que o systema prnpnsto para-o· levantam ento de
capitaés em Londres para us .engen hos centraes ·e estabele-
cimentos analog"s era ' muito semelhan te ao usado nos
Estados-Unidos e den om inado por Michel C hevalier {J1.1Ú ma
·r1e pr;starrio do ' credito do Estado. No capitulo Ili da Garantia
dos Juros descrevemos esse systema, que c~msiste, e!11 resumo,
. em dar o Esta<lo ás companhias bonds Oll títulos de renda pa ra
negociar 'ou ~ve nd er pelo melhor preço possível, fic~ndo o
T hesouro N aciohal na obrigação de pagar os juros desses bonds.
Q uando as companhias conseguem obte;. ~ma certa . rénda
liquida, são·· obrigadas a reembolsa r o Th.c souro' Naciorial elos
ju ros por elle pagos.
A maior applici,çãn, que se ha feitn hos Estaqos-Unidos
do systema de prestarão de credito, foi . p(;ir occasião da con-
340
strucção do prudigiosn caminl1n de ferro do P,1cifico ou de
Omaha a Sacram~nto da Californ ia. A g.rande republica
concedeu ás duas companhias, que, á porfüi, rea.lizararn a obra
mais admiravel do seculo, '' debenlure brmdr '' de 6 por cento
por 30 annos, no va lor de 53.056'000 dollars, cerca de
·1 06,112:000$! Ao mesmo tempo, em virtude das leis dn
1° ' de Ju lho c\e 1862 e de 2 de Ju lho de 1864. as duas com-
panhias tinham a faculclade de emittir igual import:i.ncia de
debenture bondr, com direi to de primeira hypotheca sobre o
camiPho de fe rro e todo:, os bens moveis e immoveis das
comp_anhias.
· Não propomos jJ este sy.,tema para o Brazil, p:)rque ell e
importaria uma revolução radical em todo . o nosso systema
financejro. Era preciso, antes de tudo, principiar por queima r
essa obsoleta lei de 1860, lei de occa,,ião, que já dura mais de
14 annos, impêd:ndo fatalment: todo o movimento indust ri al
e commercial no paiz ! Reformada essa lei, e educado o
paiz para o systema fina ncia l livre, não haverá melhor
systema a seguir do que o yankee; o qual, em poucos
annos, conseguiu dar á grande Republica mais .c aminhos de
ferro do que os construidos na Europa inteira em 11111 ito mais
·tempo!
Por ora nãú podemos senão contentar-nos com o systema,
a<lo~tado pela Russ ia para levantar capitaes em Londres, para
seus caminhos de fe rr<> garantidos ; system·1 que,. como vamos
demonstrar, é quasi perfeitamen te igua l ao q ue propomos .
'Effectivamente, antes de 1870. a Russia fazia exacta-
mente como o nosso governo; garnntia juros ás em prezas de
caminhos de ferro e deixava-as inteinunente abandonadas na
praça de Londres. Em luta com os agiotas do Stod::-Ex-
change, as emprezas de cam inhos de ferro com 5 por cento
garantidos mal conseguiam obter 70 pur cento sobre suas
acções.
Os. banqueiros Rothsch il d, que são agentes financeirus
da Russia como são des te Imperio, aconsel h:uam á Russia
que mudasse de systema; q ue contrahisse di rectamente os
341

emprestimos em Londres; que passasse então o capital . ás


cmprezas de caminhos de ferrn, obrigancln-as a pagar com a
a sua renda liquida os juros cio emprestim ,i, levantaçl,> peln
governo, e a fazer-lhe um funcl,) ( 2) .ele am nrtisação ele r por
cento.
Este conselho, que é mulafis 11wlandir o pensamento,
contido no projecto que ora sustentamos. procluzio o mais
prodigiosn effeitu. Antes de 1870. cnmn já dissemos, as
acções dos caminhos ele ferro russos, g-arantidos a 5 pnr cen·to,
mal podiam consegn ir 70 por cento: pois bem, com o novo
systema, o governo rnsso pôd ,~ elfectuar do modo mais brilhante
os seguintes empresti mos para os seus caminhos de ferro
garantidos :
l 870 .... . L 12,000,000 a 5 e a ·80 por cento
1871 ....... . L 12,000,noo a 5 e a Sr¼
1872 ....... . L r 5. oo, >, ooo a 5 e a 80
1873 ....... . Í 15,000,000 a 5 e a 93

Somma... L 54,000, 000


Cincoent,t e quatro milhõe., de libras esterlinas levan -=
tados em quatro annos ! E' realmente admiravel ! Neste
momento, Abril de r 875, a ca,a Rothschild _emitte outro
emprestimo russo de L r 5,000,000.
Note-se qne os emprestimos p,tra o~ caminhm de fe~r,>
russos sncce·dem-se de ann•> em ann,>, que a ta-;a de emissã"
vai continuam,~nte subindo desde 80 até 93 por cento. Será·
µossivel dar melht>r de monstração das v,mtagens do ~ystenút
pn,pusto?
Cumpre aind,t mencionar que o emprestimo de 1870,
e;nitttdo a 80 por cento, está hoje cotado a 102 por cento; qi1e
o de 1871 , emittido a Sr Yz p,>r cento, esLi hoje a 100 pur
cento; que o de I 872; em ittidn a 89 pur cento vale hoje
98 por cento; e que, emtim, o de 1873 emittido a 93 por

[ 2 l Nós esperamos que para o Brazil o fundo de amortisação ·possa ser, pelo menos,
de I 1/2 C),-f, differença entre 5 1f-2 % e os 7 %, garantidos pela lei de 24 de Setembro
de 1873.
·- 342

cento; já está cotado no Stock Exchange a 98 por cento .


Antes de· 1870 a cotação das acções dos caminhos de ferro
russ·os, garantidos a 5 por c;1to, era de. 70 por cento, e esttvarn
se mpre frouxas, como menciona o c0rrespondente de L ondres
para o Jornal do Crmu11erc10 em sua carta de 14 de Janeiro
ele 1875. da qual extrahimos estes dados.
Assim, . pois, a Russia ganhou no emp1·estimo de 1870
10 por cento do capital emittido; n o de 1871 . 11 ¼ por cent0;
19 por cento, no de 1872 e 23 por cento, no de 1873 !
Pei:ante taes resultados n u.mericos, praticos, positivos,
quaesquer · razões que adduzissemos seriam fracas e pallidas.
Nós não po·demos senão repetir o pedid u aos nossos estadistas
ele d~rem a mais escrupulosa attenção a este assumpto.
' :::;6 . nos 100,000:000$, garantidos para os caminhos ele
ferro, ha uma economia de 20,000:000$ a 30,000·000$ a
realizar. E, evidentemente, as finanç,ts d o Imperi u não
pern'littem .que, por desidia; Jeixemos repartir pelos ban-
queiros de Lombard Street tão importante somma, fornecida á
custa dos maiores sacrifícios pelos c,mtribuintes brazil eiros ! !
LVII.

Summirio.-Discu~são do projecto de l~i de auxílio á Agricultura Nacioflal. (con-


tinua·ndo)-RcRexões sugeridas pelo§ 6.'> do a~t. 1º--Nota sobre as emPrezas de colo·
nisação mai~ favorecidas.-0 decreto n. 3,985 de .18 de Setembro de 1867 da cori1pa-
nhia Brazil Industrial e os favores concedidos ás emprezas de · industrius novas.
-A burocracia.e o funccionalismo em luta ç:om a industria-Os I}harjz~us do fisco.
-Os engenheiros officiaes.-0s políticos emperrados.• -Uma compatThiã. deve ,ser
um Estado no Estado-A inv~olabiiidade dos <;lireitos do cidadão, descripta por ~itt.
-O progresso é a LiberdaP.e e~ acção.

O § 6. 0 do art . I . 0 do projecto de lei de auxilio á Agri-


cultura Nacional diz assim :
A rt. I 0•

§ 6" Gozarão estas e111pnzas de todos os fiwores aÍé hr,J-e


co11a1lidos ás emprezm· di: colonúação e de i11d11s!rim· novas.
A ·enumeração cios favores, concec1idos ás emprézas dé
colc,nisação. se acha dc:t.ll l1.1d,1mente nos seguintes contractos,
que são reputados os mais vantajosos :
r.º Contracto de 6 de Setembro de 1871, celebrado en-
tre o governo imperial e John Beaton para introducção .e
estab~lecimento ele emigrantes europeus no Brazil ;
2.º Contracto de 30 ele Dt:zenibro de 1871, ceie.brado
entre o governo im periaL e a sociedade colonisadorá ele I 849,
em Hamburgo, para a introeluçft0 e estabelecimen.to de -colo-
- 344-;-
nos na cOl0nia de D. Francisca (Santa Catharina) ou em
outros pontos approvados pelo Ministerio da agricultura .
. ' 3· 2 Contracto de I 5 de Abril de I 872, entre o governo
imperial e ' T. · M; Macka,y ~ W. Hadfield p~ra a importação '
de emigrantes europeus;
4. 0 · Contractn, -approvadópelo decreto n. 5.6_63 de 17
-de funho · de 1874, entre o governo irnperi,il e "Joaquim Cae-
tano Pinto Junior para (mportar no Imperio 100,000 emi-
grantes europeus.
Quanto -aos "favores, concedidos ás em prezas de industrias
novas, não :[)Oilemns ap'resentar melhor resumo do que u
cunstante do decreto n. 3,965 de 18 de Setembro de 1867,
que deu origem á magnifica fabrica tht companhia Brazil
Industrial. Além dos favore:; e isenções, concedidos pela
lei e pel<:>s decrdos do governo imperial, nós desejaríamos
·poder fazer nasc.er um espiri tu ger,d de benevolencia para com
as compa,nhias em todus os Brazileiros, desde os que occu-
p,tm as mais ai tas p·osições suci,tes até os ultimas empregados
publil?os. · · _
S6 as pessoas, que se acham . á test;i: das poucas em-
prezas em actividade nu Império, fazem uma idéa justa da
opposiçlio systeinatica, que ellas soffrem de todos e éle toda a
parte. Como se ainda Íl,ssem puucas as i~numeras difficul-
dades natúraes, que são outros t.tntos obstaculos ao estabele-
cimento de industrias em um pai'z novo, como o nosso, cada .
empregado pu_blico julga ser do seu rigoroso Jever combater,
a ferro e a fogo, as companhias . . · E' o que elles chamam
-11ú1/ar a hydra do nierca11tt!is1110 !
Nessa guerra contra as emprezas, os emprezarios · e as
compa°i1hias, occupam a vangllarJa os agentes do fisco é os en-
genheirus officiaes. Perante _a alfandega as companhias
nu néi têm razão: as isençües de direitos, concedidas por
lei paÍ·a o material importado pelas c9mpanhias, i;ritam
sobretudo os phanseus do fisco. Esquecem-se do progresso
geral do Brazil; s6 vêm a porcentage1n perdida nos direitos
não pagos ,pela companhia;
- 345
Nessa luta · mesquinha dão-se eiiiscdios singularíssimo;;:
a lei co'ncede uma isençã., de direitos de importação; os re-
gulamentos· do Ministe_i:!u tht fazenda a confinnitm, os àv.isos
a explicam ; mas tudo isto, lei, decretos, regulamentos e
avi;;(,s, é insutliciei1te; os inabalaveis agentes ·do fisco exig:em
ns direitos, e c,.,lloca111, a t11do o momento, as_ companhias
no duro dilemma uu de - pagar indevidamente ou· de
perder precioSt) tempt) em um. int~rminavel recurso ao
The,()uro ! ! !
Cada um dos noss,,s leitore:;, que ·têm ,t infelicidade ,le
gerir em prezas no Brazil, e,urá vendo nesse triste quadrà a .
fiel exµo:;ição de um numcru de conflictos, suscit~d'os contra
as cnmpanhias peltis zelosos empregadog da alfandega .
. Q1Ja11to aos, engenl1eiros não é rr:enos injusto e infoó-
dado o seu odio - ás curnpanliias~ No selÍ curto· egoísmo
bzem este apoucado r.1ciocinio :-Seu governo entreg:1r us
cam inlius de ferro e de todas as .obra& pu Gl_icas .ás c·um-
pa.'..1hias, o que será de nus ?...:....Essa miseravel lut~ entre os
engenheir"s otfü.:1<1es · e as ·companhias tambem teve lugaT lia
França ; é mais urn viciu, que develllus á nussa infeliz edú-
cação µor livros franceze,s.
Na França,.;_, Lula contra as companltias só cessou -quando
ellas furam assaz poderosas p,ua ·chamar ao seu serviço todus
os enge11heirus, que lhe fazian1 opposição. Esperemos que
neste Imperio tamb.eú:1 um dia vencerão a iniciativa iridivl-
dual e o espirita ele assuciação.
Ha, cumpre não esquecer, ain<ia üma terceira especié
de inimigos das cornp,tnhias: sãu os puliticos apoucádos,
rotineiros, uligarchas, que enxerg\1111 nas" companhias outros
tantos obstaculus ao seu domínio absoluto sobre todos os
ci_dadãos; á sua incessante asµiração . de monopolisa.r a
,tgricultura, a industria, u commercio, o trnbalho, todás as
·manifestaçoes, emfim, da actividade nacional. ' .Para esses
uma companhia é se!llµreum Esi,uio 110 . .Eslado,. Status zn Sta.tu;
dizem dogmaticamente esses carunchosos- estadistas em velho
latim. E nós dizemos que em uma nação livre, em uma
nação que possue instituições de seif--government, como
a nação brazileira, não s6 cada companhia deve, ser um
Estado no Estado, como cada cidadão deve ser tão respeitado,
dentro do circulo dos seus direitos, como se fosse a mais
forte e a mais respeitavel potencia do mundo!
Escrevendo estas linhas, parece-nos estar ou vindo as
sublimes palavras de Pitt, d t screvendo a inviolabidade do
domicilio d0 cidadão inglez : nós estamos vendo esta chou-
pana, feita de juncos. aberta a todos os ventos ; insultada _
pela _chuva, pela neve, pelo granizo e pela geada: mas res-
peitada, como se fosse UIJ?- templo sagrado, pelo rei e pelos
agentes do rei _!
Dentro · do circulo dos seus direitos, cada cida<]ão é,
deve ser, tem perfeitamente o direito de ser, pela nossa
constituição e pelas nossas leis, um Est::tdo; uma companhia,
uma associação, somma os círculos dos direitos dos cidadãos,
que a compõe ; o seu circulo de direito é o circulo ma-
ximo, que circumscreve os círculos de todos os seus asso-
ciados; esse circul_o é naturalmente maior e mais forte;
e é por isso mesmo que causa assombro, que caDsa medo,
que causa terror aos oligarchas, que querem um povo fraco e
subdividido: um povo de carneiros, tosquiavel ao seu livre
arbítrio, incapaz da menor resistencia ! Não permitta o
Omnipotente que tão miseravel espectaculo jamais seja visto
no Brazil ! Possa bem, pelo contrario, a nossa cara Patria
cumprir a grandiosa missão, que lhe destinou o Creador, pela
iniciativa individual e pelo espírito de associação, filhos·
sublimes da Liberdade.
E assim terernos-Prog-resso-porque o Progresso, já
outros o disseram antes de nós, é pura e simplesmente ,
a Liberdade mz acção !
LVIII.

Summario. - - Discussão do projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacio~al


(continuando). - Commentario ao§ 7° do art. 1°. -A Agricultura não tem maior
inimigo do que o militarismo . .- Prova por Mathieu· de Domb~sle. - Os agricul-
tores victimas da guerra e da paz armada. - O hypocrita p~rado;o "S~ vis pace~
·para bellum." - O máu patriotismo romano. -A ego~stica theoria do ""Civis Ro~ \
manus Sum." - Um exemplo da hypc-crisia da paz arITI.ada. - Os agr~cultotes
devem pedir incessantemente a paz __ Não tem razão de ~er a paz armada na
America.

O § 7º do art. 1° do prujecto de lei de auxilio á Agricul-


tura Nacional (2) é deste teor:
Art. rº § 7º "Serão isento3 do serviço militar todos os
"empregados das fazendas, dos engenhos e das fabricas cen-
traes e todos os lavradores, que lhes fornecerem regularmenJe,
mediante contrato, os productos de sua lavoura. •"
Esta disposição de lei será por si só sufficiente para grupar
em torno de cada estabelecimento central uma população
agrícola e um nucleo colonial. Cada um destes estabeleci-
mentos será a metropole de um territori?, onde o demonio da
guerra não poderá ir procurar victimas.
Horacio disse:
...... Bellaque matribus
Detestata ..... .
Mas, certamente, depois das mãis ningu em tem mais
direito de detestar a guerra do que os agricultores . Um só
exempJ o ·parn fixar as ide,1s. Vamos toma-lo na cultura da
b eta'rraba , a victoriosa ri val da canna de as,mcar. Falla o
celebre agronnmo Mathie11 de Domhasle, um dos mais dis-
tin ctos promoü,res dessa industri ,1, q11e é lioj e um dos mais
fortes 'elem entos da riqu ez,1 da agricultura franceza :
"Au mom ent, ou je fais,1is donner à m es terres le pre-
mier labour · pour la culture de cette année, no, arm ées
entra,ient dans Moscow; lorsqu e j'éta i,,; OCCll!)é à falHiquer .les
produits de cette mêm(' Técol te, ün e manu[ict ure se rvait de
quartier à un dh 1cheme nt el e cosaqnes ! "
Um agricu Itor russo teri"a chorado os seus ccllei, os, d e-
vastados pçlos gran a<leiros de Napoleão; o illustre Mathi eu de
D ombasle vio, entre lagrimas, cosacos aquartelartclo-se no seu
engenho de _assnca_r ele: m:eterraha ! ! .. ..
N_a ultima invasão da Ffünça, a cavallaria p russiana es ma-
·gava cnm as patas dos se~1-s cavallos as searas r.'G -trigo, e os
•u hlànos matavam a :sêde cnm champagne, destinad o ás mesas
dos príncipes !
V êde bem como tuci o isto é hediondo, cnmo tuclo isto é
atroz. Durante a paz sobrecarregavam-vos d e impostos ·para--
sustentar o mili t<1. rismo. Durante a guerra a rrancam-v.os os
filh os para ir mo rrer' e matar ; e:, infallivelm ente, para adqni-
rir nos aca.m pamentos toda a sorte cl ~ vicios, é perder os ha bitos
de sobriedade, de familia1 d e industria e de trabalh o !
Sim, indubitavelmente, os agricultores cievem ci etestar a
guerra . E' a guerrà qu e lh es arranca os mais bell os filh<>s ;
é a g uerra que. lhes roub,t 14 a 27 por cento do q~e produ- _
zem ; é a g ue rra qu e os obri ga a pag-a r 30 a 50 p o r cento do
que consomem ! !
Não nos ili udam os orçamentos parlamentares ; atraz
delles ergue -se medo nho o phantas ma da bancarota; debalde
lhe-Ianç·areis m ontanhas de papel-moeda : - ser·á mais com-
busti ·1el na fogueira, q ue esti ve r consumindo a riqueza
nacional.
Com n atn;phiante syst_ehn eia p>tz armsid,1; com occupa:
ções no estrangeiro; com enconrnçados -monstruos9s, , que
esnrngam os estaleirns do Thamisa , nós conemos seguramente
pelo pla110 inclinado. qne termina iro abysm,1 da bancarota l
Uma ()ligarchia, sem cabeça, -~e·m ~mação, precipita a
· nação ans mais negros destinos !
Não! E' preciso que isto não r,co_nte_ç:1. ,.
Cnmpre que nós lavradores, 'nós industriaes, n1s CO[fl ~
merciantes, ntJs artist~s, -nós opemrios; qt1e nós todos. homen'>
do tn1balhfl, combatamos incessantemente o demonio do mili-
ta-rismo. A oligarthia, que, por toda a parte, m"rre de :i"mo-
res pdo militarismo, repete sempre hypocri tamente o insen-
sato par~doxc1 dos 111saciaveis conq11istadore.s romanos : '' Sz'-
vis pace111 para bfll1tm. " Respondei-lhes qhe este paracf,,xo é
tão absurdo como este: " Quem qmzer /e,r smúlé- fique_semj,,:e
11
dt1 C(ZJJla.
, Dizei-lhes, vós lavrnclures, na VOSS'.-1. singela linguagem:
_ :_ Nunca vi senieiar joio para colher trigü: q~1em -quer colher
trigo semei,1 . trigo. Quem quer .a µ.1z entrega-se á agriéul-
tura, :-í_industria e ao trabáÍh", e nãn se aima · da ,- cábeça até·
a.os pés, como um D. Quixote!
- O qne diri_as de u1n lavrador Q!;le fosse pam. o q1mpo ,
armado de • Ll.nça, espada, espingarda- e . -rewiJ ver? ;w 11 m
insensato; ou eritão t"em en, mente cousa .
mui-to•,d.i:V,êi•sa:,cl
"~ ·, •;,.; ;'" '!,~
ê,-, .
~·. .

que lavrar a terra,


-O que dirias de um cipernrio, qt1e fosse p,Li·aa officit1,1
armado de foc1 e de revolver·"?
E' tem·p~ de arrancar estas velhas mascaras, •· Arm~-se
quem pretende ou ten' em mente a guerra.
Ed, ,uard Lab,_,ulaye disse .dos ror11anos: . ' .Les Ró111ains, .
. . . . une race née ;,oro: ie malhei!]' rl~t monde. "
Effectivamente os romanos legaram á humanidoi.de o máo
patriotismo; o patriotismo inhumano e insensàto da patria
senlzora de todos os outros povos es;ravos ;_ a egoistiça theoria
do" civis romamts sum" ; o militarism~, arma hedionda de .
oppressão durante a paz e ele destruição durante a guerra ;" e,
/

- 350 -
. .
por. fim, a paz arn~a_<;la com o hypocri'ta paradoxo "si vis pa-
,éem para bdlum. "
VêJe o exemplo que ora nos dão os dous paizes do
mundo mais eivados de militarismo: a Prussia e -a França. A
França· sonha •vingança e arma~se contra a Prussia, que p9r seu
lado considera a guerra de ·1870, a reivindicaçfio das miserias
soffridas sob o duro jugo do primeiro Napolei'lo. A Prussi,i
. _a rma se i_)limitacfamente para sustentar as ultimas conquistas
0

e talvez amplia-fas., abusando de um po,ler militar enorme.


No emtanto a França diz á Europa: Armo-me porque
a Pru~sj,1 se arma. E a Prussia desculpa-se por seu lado dil
zendo : Armo-me, porque a França amedronta-me, arínando-
se exagerada111 e.n te.
Todas estas hypocrisim dariam assum pto para uma cume-
dia ridícula, se ·não custassem o sa:ngüe e o suor dos povi)S ; n<l
re;i,lidacle, é um drama hediondo
Se tudo istt) é assim absurdo na velha Europa, quantn
mais na Arnerica. Debalde procuramos um pretexto com uma
s, ,m bra sequer de razão parn u rn t guerra na America ! S6
vemos uns preconceitos vell1os, forrados de n~vo por aquelles
qlie fazem da guerra uma occasião ele enriquecer ·á custa do
~angue e das lagrimas dos seus semelhantes.
Peçamos, pois, encarecidamente, a terminação pela Arbi-
traget11 de todas as questiull.culas, que nos deixou uma diplo-
macia s_o phistica e meticulosa; e exijamos o <:mprego de tod9s
qs recursos nacionaés para o p·rogressivo. desenvolvimento ela
Agrieultma, da Industria e do Comrnercio.
• E vós, agricultores, pedi ôempre a paz, repetindo os bellos
versos de Ovídio:
C'andú/a Fax l10m111es, lrux duelzra firps
Nulnt Pax Cererem, Pacú amica Ceres I
LIX.

Sun"lmario .-Discussã9 dÔ projecto de lei de auxillo á Agricultura Nacional


(continuan®).-Importancia da disposição do§ 8° do art. 1° desse projCctb para o
d_e sen v~lvime:1to da democracia rural bra.zileira. -Estudo de problema analogo na
França, por Michel Chevalier. -Isenção de direitos de importação, inclusi~e os de
expediente. - Coinpanhias de duração illimitada.-0 regulamentarismo no lmperio.
Ainda a fatal lei de 22 de Agosto de 1860 e os. seus nove infinitos decretos regula-
menta.res.-Primeiros trabalhos do Visconde de Itaborahy para a reforma dessa lei.

O § 8° do art. 1° do projecto (2) de lei de auxilio á


agricultura na cional diz :
"§ 8. 0 As e~cripturas e os titulos de aforamento o u de
venda rias terras, pertencentes ás fazendas cen traes, aos enge-
nhos centraes, ás fabr icas centraes e aos estabelecimentos
an.i,lggos não pagarão impo~to ou emolument<.? algum· ; os
tabelliães cobmrão nunca mais de r $ por lauda de escriplura
em li vro; os tit11los e as publicas-fórmas não pagarão outro
selio além do cte estampi lha, na razão de 200 rs. por lauda
escripta de papel almaço."
Está d.isposiçã,) é da maior i m portancia. E ' um grande
incentivo para a subdivisão do solo, para se findar com o
fatal abuso de fazendas e eng_en hos com leg uas e leguas de

[1J Vide o capitulo XLI destes "Estudos." .


- 35 2 -

terras baldi,1s. Este meio indirect,, é mnito mais liberal e


effectivo do que o irnp0sto territorial, que alguns lavr~1dures
tiveram a simplicidacle' de pedir n,.i inqueri-t,J. ·
Em regra geral, agricultores: nunca peçai~ impostos;
é melhor pedir uma praga de gafanhotos ! Está ·perfeita-
mente em v0ssas mãos corrigir o mal de excesso de tnrn., .
A inda uutro conselho : nunca encarregueis ao governo da-
qtri llo que vós mesmo p,,cle is realizar perfeiumente.
A importancia da diminuiçã<> das taxas de transmissão de
propriedade territorial p:1 ra a e reação e para a prusperidade da
Democracza R11r,1,/ foi perfeitamenk ·estudad,1 n.1 França pqr
Michei Chevalier, á vista do "l!-'.xposé des m otif.r du j,rr!fd rlt
loi sur les ventes judiúàú·es d'úmmub,les, les partages e! les
purgcs d'hJ•potheques."
No respectivo i·nqu eritu fi.cáram patenks absurdos fiscaes
{,ies coino ~ste; Ü a_d judicatorio e1u penhora S~>bre ·te ~·enos
pagav_a (3), além dos direitos de registro de transmissão de
pr"priedad·e, · por u111<1 J>rupriedade rural de 27e> francos de
va lor., nada menus de 445 francos de custas!
Lembrem·os que u decn.:t,, que approvou esta ·atroz tarifa
ft.ii as,;ignado por Napoleãu a 16 de Fevereiro de 1807,
exact,unente oito dias depois da batalha de Eylau ! · Pobres
Frnucezes ! Infeliz Agricultura!
N L111Ca a Agricw.l tu ra detestará por · demais a guerra !
Nunca a victi111a detestará por demais o algoz! Com a
mente ainda escaldada pelo fumo d,t polvora de .Eylau ; com
<>S ·_ouvidos ainda aturdo,tdos pelo ri'l1umb0 dus c,rnliões--que
attenção poderia presta·r o s,wguin,ui0 Napoleà" a().r ldmenlos
·rios pobus agriwltori:s Ji'ancczes ? ! I
· O § 9º du art. rº du µroject'.' .de l-ei auxilio á agricultura
nacional é Jesle teor :
' ' Serão isentos de todos os direi tos d,· iní portação,
inclusive os de expediente, os seguintes objectos importados

(2) Vide IVlichel Chevalier-lntroduction aux Rapports du Jury International de


l'Exposition. Uni_v ersel!e de 1867 á 1'ari,.-pag. CCXXXI. ·. . .
- 353 -
pelas fàzendas centraes, pelos engenhos centraes, pelas fabri-
cas centraes ou por· estabelecimentqs analogos .: , .
' ' 1° As machinas motoras hydraulicas, a vapor, de ar
quente, de vento, de gaz, ou de, qualquer-outro-agente;
" 2° As machinas-ute'nsis, as fer-'r amen.tas e os uten- .
silios; '
'' 3º Os apparelhos, os vasos, as caldeiras e os objectos
analogos;
" 4° As sementes; as plantas, as mudas e os enx(:?rtos;
" 5'? Os estrumes, adubos ou .restaurad ores da té;Ta,
organicos ou ·inorganicos, qualquer que s·eja a . sua com-
posição e a sua origem.''
A unica disposi·ção, verdadeiramente nova, deste para-,
grapho, é à isenção de direitos de expediente._ -E' motivada
pela iembrança de que tleváram estes direitos ·á <:n,orii1e .taxa
de 5 por cento durante a guerra do Parnguay, de tris ti's.sima
memoria! E é b um que a agricultura esteja p.revenida contra
qualquer novo ataque de munomania bellicosa 11 0s nossos
governantes.
O § 10 do art. 1º · do projecto de lei ele auxilio á lavou ra
diz:
" § 10. As em prezas de fazendas centraes, ' de eúgenhos
centraes, de fabricas centraes o u ·de estabelecimentus aiialogos
serão perpetuas ou de duração illi mitada. "
Em 1860 o regulamentarismo no Brazil chegou a um tal
ponto, que deixou no olvido os omi nosos tempos de Luiz XIV
e de Colbert. Para pôr um dique a um diluvio de papel-
moeda bancaria fez-se a lei n. 1,083 de 22 de Agosto ele
1860. A monomania regularm entar já ahi fez alguns enxer-
tos; foi, porém, nos decretos successivos, que o regulamen-
tarismo campeou desenfreado !
Foi assim que o decretos n. 2,711 d e 19 de Dezembro de
1860, verdadeiro regu_lamento á lei n. r,083 de 22 de Agosto
de 1860, exigio no-§ sº, art. 5º, que as companhias declara:;-
sem nos seus estatutos o termo da sua duração. Ainda
n ão pud em os encontrar jurisconsulto, que nos désse a razão
- 354
desta pêa fiscal. Monomania de regulamentar, e nada · mais.
Ne p.1s trop gouverner, diziam o mestre Quesnay e o Marquez
d'Argenson. Fuyez la mame anáenne des gouver?iements de
voulozr trop gouverner, repetia St. Just !
Ora, é verdadeiramente absurdo, na especialidad e que
nos occupa, que uma companhia, possuidora de um engenho
central, de· uma fazenda_ central ou de uma fabrica central ,
seja obrigadà, só para satisfazer um capricho do regu lamen -
tarismo, a suspender as suas operações depois de um certo
prazo, e a passar por uma liquidação forçada ! Como é in-
serisa-to o regulamentarismo ! ·Como é esterilisador e male-
fico esse prurido gqvernamental, que intenta reduzir os
cidadãos de um paiz livre a ignobeis automatos !
Em 1870, Íogo que o Visconde de Itaborahy pôde
livrar-seºª dôr° imrnensa, que lhe causava vêr es'coar-se in-
definidamente• o o uro brazileiro nas lodacen tas aguas do
Paraguay, principiou a tratar da. reforma dessa lei de 22 de
Agosto de 1860, que não tem mais razão de ser, e que
reduz o brazileiro a uma especie de Chim. Infelizmente
depois delle nada mais se fez.
LX.

Summario.--Discussão do projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional ( r;on-


tütuando). - Fiscalisaçãçi das fazendas centraes, do~ engenhos centraes e das
fabricas centraes . . . :. . _ Interessar a administraç_ã o, o fisco, e ·a representação nacioI?,al
nestas em prezas. - Educar a Ilação para a . industria e para o trabalho. - As com-
panhias estrangeiras terão sempre representantes no Imperio, e nos seus tribunaes se
deliberarão todos os casos litigiosos. - Publicidade de todas as operações das cÔma
panhias. • - Lição publica perpetua de Economia Industrial.- E' essa uma das
·maiores v;antagens do systema de co_mpanhias. - Opinião de Miéhel' ·Chevalier. -
Vantagens sublimes da publicidade. - 1Futuro da imprensa.

r"
O § 1 do art. r" do projecto ( r) de lei de auxilio á
agricultura nacional diz :
" § r 1. Serão fiscaes natos dessas em prezas os presiden-
t~s das provincias, os presidentes das assembléas provin-.
ciaes e os inspectores das thesourarias em que ellas tive1:am
seus estabelecimentos. "
Assim o governo imperial terá um agente para inspec-
cionar a administração, e outro para a parte _fiscal; o elemen~o
popular terá um representante na_ pessoa d, , pl"esidente da
assembléa pruvincial. Deste modo a lei obrigará não só o
pessoal superior da administração e do fisco a occupar-se de

(I) Vide o art. XLII destes '''Estudos."


· - 356 -
Agron0mia e da Economia agrícola, corno tambem aquelles
que se destinam á vida politica. Estes estudos, indispensaveis
a tod0 o cidadão, serão para o futuro certamente · mais esti-
mados do que o ·si'io neste momento, em que se reputa 'esta-
dista completo quem al,inhava um trecho .de Berrier com u~
· episodio de Byron !
Esta lei obrigati tambem o presidente a v1a1ar nas pro-
vincias e a conhecer as suas condições naturaes. - Não se dará
mais o ê scandalo muito frequente de presidentes, que passam
·mezes e annos entre as paredes dos palacios, dictando ordens
pará ·úma pr0vincia, que elies ·conhecem tanto como a China e
·0 Japão!
Repitamos:-E' necessario, é urgente, é indispensavel
educar esta nª'ção para a agricultura, para o commercio, pa~_a
-~ ·o trabalho, · em _uma s6 palavra ! Deve ser esse .o principal
escôpo_de toçla a reforni_a neste Imperio. Tem sido infeli'z-
mente por demais déscuidadà a educação agrícola e industrial
da nossa mocidade. Diz-se commummente: o Brazil é um
os
pa_iz agricoÍà; ·mas é um triste contraste lançar_ olhos <lo
n~rte ao sul do Ímperio,. e _µ;lo encontrar uma _s6 ~scol~ de
agriculturã ! Nos principaes centros agricoias do Brazil duas
escolas de direito_: ur:na ao Norte em Pernambuco, outra ao
sul erp São Paulo. Dir-se-hiam postadas ahi de proposit~ para
rouba'r á Agricultura os seus melhores e f!lais ricos filhos.
O filho do lavrador. ·deixa o engenho <le seus pú1· e vai
para os cursos_de direito aprender o que? Todos· sabem como
se fazem os. cursos de direito .neste paiz. Os mais estudiosos
lêm muita litteratura, e fazem brilhante figura nas discussões
academicas; os menos estudiosos divertem-se e curam dos
meios indirectos de obter approvações.
Quando voltam ao engenho dos país acham mateni1lismo
toda a vida rural. Para disfarçar o tédio da vida do engenho
leêm, dia e noite, Lamartine ou Musset; Schiller ou Gcerhe para
acompanhar o germanismo da época. E bocejam: '' Ainda
ha de·sgraçados qu e se occupam em moer cannas de assucar l"
- 357 -
Esse moço é um ser perdido para a Agricultura. Edu-
cado em uma es(::ola technica, elle consideraria o engenho de
seu pai comó um precioso laboratorio, como 1'1-m campo de
estudos. de fI!elhoramentos, de aperfeiçoamentos e ôe refor-
mas. - Nas férias, partilharia o trabalho de · sei:1 velho pai;
ajuda-lo-hia com as suas luz~s ; inspirar-lh~-hia ._ o. ·am~r das
reformas agrícolas ; iria predispondo as mais faceis, e prepa-
rando tudo para UfI! futuro melhor. Mas para que? Se é
melhor fazer discursos! Quando o velho pai morre, vende-se
o engenho, ou_deixa-se entregue a um administrador. E' tão
cynica a . vida do campo !. E' melhor a vida. das ·cidades:
fallar nos clubs, nas assem biéas e por toda a ·parte; brilhar,
ser applaudido, ser deputado, ser- ministro, fazer a .paz e a
guerra;· dar leis ao mundo !
-Sabeis qual é o paiz verdade"iramente agrícola?
-E' a Ingl·aterra. Alli ,' sim, ama-se a vid~ rural ácima
de tudo : os mais ricos, os mais nobres s6. vão ás cidades
nas occasiões indispensaveis ; alli tem-se amor ás machinas
rnraes, aos cavallos, aos bois, aos carneiros_; ·a cha-se que
tudo isso é digno, não só de n;)bres e ricos, como de príncipes
e de reis ! :Para prova o sempre lemb(·ado príncipe A:.lberto,
tão caro á. Agricultura como á Industria.
Entre nós o amor da lavoura finda nas lamentações
e nos queiú1mes; ou, então, nas ostentosas promessas dos
relatürios ,1fficiaes.
O alpha de toda a reforma é a educaçãu. E no emtinto,
passão-se annos e annos, e a educação industrial e agrícola
continúa no mund o das aspimções. Tiram-se aos lavradores
os seus proprios filhos; e depois diz-se emphaticarn'ente :
-A lavonra é rotineira; a lavoura não lê; a favour:;i não
quer aprender! Infeliz! dizemos nós, cortam-lhe ·as azas
e ordena·n-lhc! irnn ic.tm~nte :-Vôa !
A verdade é que a educação actu ti é toda pülitin:
e por isso somos unu nação d e pol itico~. Um viajante ingl ez
já disse de n6s ;--materia bruta para o.r empregos publú:os.
Phrase um pouco rude; por demais d ura para a vaidad-e
nacional; mas, no fondo .•. verdadei ra: 1• Os felizes são
·politicos; os infelizes empregados publi cos; O - resto per-
tence a uma classe anonyma, c uj os direi Los e, cujas garantias
ai nda é im_possivel defin ir.

O§ 12." do projecto de lei de au:üli o ,Í. ag ric ul tura. na-


cional.é d'este teor: ·
"§ 12." As comp.tn li ias emprezarias d e fazen Lhls cen-
" t.raes, de enge nhos centraes, d e fabricas centraes ou de esta-
'! belecimentns analogus p:,de rão ter a sua séde no B razil

" fóra d'elle ; as compan hi as est rangeiras, porém , serão


" ob•ri gadas a te r rep1·esenta,ntes nas capitaes d,1s prnvincias,
"unde tiveram seus est tblecim :ntus p:1rn tr,ttarem directa-
mente com os agentes <h gtlVe rll <J imp~ric1l.
" As qu ~stc'"les, qU<: se suscitare m entre o g-,wern o os p,u-
ticula res e essas com p~rnhias, serão deciclidm, sempre no
: , Br,tzil, devendc> preferir a rlecisão por arbitres, dos q uaes
'' um será n omeado pel o g" ve rn o imperial ou pelo particu-
la r,- outro pela Cllmpanliia, e o terceiro por accord o de am-
" lias as parte, o u sorteado. "
E~ta disposiçito· é já bem conh ecida na legislação brazi-
leirn: Fui _introduzida pelo ·V isco n de de Itabora hy, nos pri-
meiros ·tempos deste período, que os hi storiado res denominarão
a Renàsémça Industrial do Braz!l. _ Foi effeccivarnente a lei
geral das docas de 13 de O utub ro de 1869 q-uem in trocluzio
na legislação brazileim este bo111 principio, que facilita e
simplifica muitu as relações do gove;·no imperial com as
C<)rnpanhi as estrangeiras.
A innuv<1ção unica deste paragrapho é a arbitragem
estendida tambem aos pa\-ticulares, di_spo:;ição q ue evidente-
mente é ela maior vantagem e do mais puro liberalismo.
E' deste teor o§ 13. 9 cio art. 1." do projecto de le i de ·
a uxilio á Ag ri c ultura Nacional :
"§ 13.Y As compan hias e as associações, que gozarem
" d,t garantia ele juros, se rão obrigados a publicar semestral -


- 359 -
"mente, pela imprensa diaria, o relatorio de suas operaçüe
" e o b,1.lanço do estado <la sna caixa.
"Aos agentes dos govern,'is imperial e provinci.al ~e-
" verão estas sempre patP.ntes todos ns livrns de .escriptu ração
" destas companhias. "
Não ha vexame algum nesta disposição. Uma cc,mpa-
nhia industrial não tem nem deve ter mysterio~. Gerimos já
companhias nas condições mais deli cadas, que se podem
. · im aginar, e nunca achamos necessario occultar os nos~os a!-
garismó_s, a quem quer que fosse, e muito menos aos agent~s
do governo im per:ial.
A publici<lade é uma das maiores bellezas du systema
das companhias
A historia de uma companhia serve de lição á se-
gúinte: o paiz todo está aprendendo . semp re, com os· docu-
mentos estatísticos de cada emprez;i. industrial deb·1ix,) d_()S
olli éis.
Bem disse Michel Cheval ier :
" On ne sait pas tout le parti que dans la société mo-
" derne, il est possible de tirer de la publicité. · Elle iné1ite
"d'être con~ideré clmme le c<muep iid,, ou l 1 s:111ction de
" la Liberté. Elle est plus qu'un hommage renélu á l'opinion
"publique, el le est une des formes de la S()ueraineté nationalt,
"en ce qu'el le soumêt la gestion eles grandes aJministr~tions
"commerciales ou p ilitiques, à l'e,,:c1m~n de ce souvera in que
'' se nomme public.
Até aqui a imprensa tem servi do quasi exclusivamente á _
política militante e ás necessidades de momento, o paiz vai
pedindo m.tis alg um t cuu .- ;a: que el la seja ,1 in iciado 1·,t de
tndos õs progres,ch e promotora de t,1d,1s as Libez:dades.
A imprensa não póJe faltar a estt s.rnta m'. is~á ,l. · e nós
esperamos que, em breve, a impren-;i erguerá. o nivd 11101·al
e intellectual destc1, 1uç10, con,rí tuin ],.H'! o principa l
agente da sua instrucção, de seu engrandecimento e de s ua
prosperidade !
! \.


LXI.

Summario.-Discussão do projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional [conª


tin1.;a11dnJ. - Fnndo de reserva das comp::inhias garantidas prevenindO a hypothese
de falha completa de trez colheitas successivas -.,. O governo não se fará co-parteci-
pante •ios dividendos das companhias - Não poderão ser s ujeitas a imposto álgum
como pessoas collectivas - Esta condição é indispensavel para importar e fi__xar o _
capital estrangeiro nas e m prezas de fazendas centraes1 de engenhos centraes e de
fabricas centraes do Brazil - Necessidad'e dé fix.:tr o m'inimu~ do capital que. deve
ser garan~ido pelo governo para cada prcvincia

O projecto de lei de auxilio á Agricultura Na,cional ( 1)


diz, no § 14 do art. rº :
§ 14. As companhias deverão formar um fundo de
reserva com os I ucros liq ui dos, excedentes de 12 por cento.
Logo que esse fundo de reserva attingir z r por ce_n to do capital
da em preza, poderão ser os dividendos distribuiclos por i11teiro.
Este fundo de rese rva será especialmente destinado a occorrer
a algum caso de força _maior nos estabelecimentos, e a comple-
tar os dividendos de 7 por centÓ em qualquer anno de falha
de colheita. "
Não carece de justificação este paragrapho cio projecto de
lei de au xilio á Agricultura Nacional. Só devem us pedir_que

[,] Vide o texto deste projecto de iei no artigo XLII desta serie, publicado no
J<'rnal do Conunercio de 25 de Fevereiro de 1875.
se attenda bem que deixamos 2 r por cen to ou tres annos dos
juros garantidos de 7 por centó para ca~c;os de força maior.
Cumpre tei' ta1nbem em lembrança os calcul0s, fei tos no
. eslu.do especial para appli cação dos novos principios de cen-
rral·isação ' agricola e ind ustria·] aos principaes productns do ·
· Brazi l, e os exemplos de toâos os engen hos centraes da Marti-
nica, Guàdel upa e de todos os outros paizes, os quaes têm,
quasi que in'fallivelmente, dividendos de 15 até 48 por cento,
por anno._ Assim podem ficar tranquillos os nossos mais timi-
dos e meticú:losos financelro~ :
"A garantia de juros a-os engenhos centraes nãd levará o
Impefio á bancarota. "
E' deste teol' o § 15 do artigo rº do projecro de lei de
auxilio ã agricultur~ nacional :
"§ r5. · O ·governo nada · pe rceberá quando a renda
liquida destas ~mprezas exceder a 7 por cento : nenhuma
dellas poderá ser sL!jeita, éomo pessoa _ço ll ectiva, a imposto
algum." .
Não sabemos .que máo esririto ins.piroli aos noSSl)S ésta-
c!istas a desgraçada •idéa de que o fisco _devia constituir-se
·accionista forçado de todas as emprezas do Imperio. Os
escanda:los, comméttidos neste particular, têm excedido a tudo
·0 que se ha praticado nos paizes m :1is dominados ·pelo mono-
polio goveniamen tal.
- E'; pois, do nosso dever, nesta opporturiidade, i-eunir
nóssâ 'fraca vof ~ outras mais aulorisadas, que, até no senado,
têm já severa111ente reprehendido a in"reliz inríovação rius duna-
tivos, arrancados ás ernprezas industriaes. T,mto mais neces-
sario se torna o cumprimento deste dever, qm.nto já, ein um
contrato de engenho centml em Pernambuco, se introduzio a
clausula de ·um donativo parn não sabemos ·que obra de
caridade!
Nos paizes onde, como na França, o rnonopolio govcr-
·namental já attingio os limites do socialismo e do 'é ommun is-
m'ó autocraticõ, ha exemplos de co-participação do Estado
no excesso de renda das emprezas além de um certo· li mite.
- 363 -
O systema dos donativos prev10s é; porém, uma exageração
fiscal, que .não consta ter µrecedentes .'em parte..algum.a . · Em
pura razão os taes don ativos sãu ve1:dad~iras m_ul_tás á inicia-
tiva individual e ao espírito de associaçã'o._ Ainda 'não· esJá
organisada a companhia, ainda não se sabe coto q.ue difficul-
dades praticas vai lutar,: e já' ella está obrigada a desfalçar o seu
capital para fazer um donativo forçado, que por vezes orça em·
centenas de contos de réis ! !
A co-participação do fisco, no excesso de · r~n'da., é já u.m
gothicismo , iujustificavel perante o direito e a razão:' o des-
falque do capital de uma_ er:np_reza que n_ã,o_ se s;il;J_~ _ mes.mo
se dará renda algum a a seus accionistas, é urn _ acto mons- _
truoso, que -não resiste ás mais simples noções · de justiça, de
equidade e até de moralidade! Tinha-se medo de emprezas
mu.ito prosperas, e fazia-se por isso todo o possivel para ·reiiu 0

zi-las a um certo limite imaginario de renda. Esse-! zelu fiscal


levou ao extremo opposto: -- a centenares de em prezas sem
renda a lguma, ao tri.;te ma1:asrnu industri~l da -aclualith,de !
E' preciso dizer bem claramente: oi1 as em prezas são
prosperas e 1acham capitaes · ou às ~mprezas sã0 i11felizes. e
afugentam todos os cay.>italistas; Jep,,is (;le terem c;ausadó a
rui na dos poucos bem que ousaram collocar-se na vanguarda do
movimento industrial do paiz. Se õs governos fossem inspi-
rados, o seu maior desideratum, u seu principal ·escôpo ·seri,t a
" applicação das fortunas particulares á realisa~ãoâas grand.es
" emprezas de utilidade publica, e o concurso efipontaneo de
" todas as aptidões e todas as actividades para a creação, para
" o desenvolvimento e para a prosperidade eia indus~ria
'' nacional. "
Ps orçamentos do governu mal chegam para o paga-
mento dos juros da divida publica, parn as despezas qe guerrã
e para os ordenados do pessoal administrativo. São as sobras
dessas verbas, quando ha sobras, que, a muito custo; se ap-
plicam ás despezas de utilidade publica. · Bem claro é, _pois,
que, sem o ~oncurso das fortunsts particulares, muito moros? ou
quasi nullu será o movim ento µrogr essivu do pa.iz. O que us
,g.overnos devem desejar ardentemente são eín prezas prosperas ;
o que el les qevem temer: como uma c,1·l amidade nacional, são
en1 prezas i'nfel izes.
Na especiali d~de, que ora. nos occupa, deve, pois, o
góverno empenh ar todos os seus esforços para que os primeiros
engenhos centraes sejam not~bilissimos pelá sua prosperi_dade,
afim de que os capitalistas se-convençam de que é impossível
empregar melhor as suas for tunas do que na exploração,
segundo os ' principios hodiernos, do fertilissitno só lo, que o
·Creador concede u ao Brazi l.

Diz o § r 6 do art. r O dn projecto de lei de auxi lio á


Agrictilt111a Nacional.
"§ 16. Log_o que uma ou mais emprezas, em qualquer
província, consegu ir realisar à renda liquida de 7 por cento,
o governo poderá estender. o .mesmo favo r a outras emprezas
dessa mesma provinoia, de sõrte que a somma do capital das
emprezas de renda liquida menor de 7 por cento nunca seja
inferior á quantia cleterminada no § 2° para essa província. ~
O escôpo desta disposição é bem claro : quer ella que
cada pro.v incia gose effectivamente do capital garantido, que
para auxilio de sua agricultura fôr votado pelo parlamento. A
experiencia de todos os dias nos demonstra a difficuldade com
· que se cumprem as leis industriaes entre nós : é preciso, pois,
que o legislador se. previna contra as difficuldades dá burocra-
cia e má vontade e inercia do fisco.
Trata3 e de salvar a Agricultu ra Nacion11l de imminente
ruina : é a base principal, senão unica, da riqueza nac ional_
que está em perigo ; não é, pois, o momento de regatear favo-
res, que são rigorosamente soccorros e auxílios em um caso
quasi desesperado .
E' preciso ter em lembrança que todas as nações tê~,
nestes ultimos t~mpos, feito _sacrificios importantissimos para
melhorar sua Agricultura, e qur nós nos achamos, com rai·as
excepções, ainda no triste estado dos tempos coloniaes. Ha
engenhos centraes por todo o mundo, até na Asia, na Africa
e n~ Oceania ; nós ser-em os os uJ.timos ; estamos ainda -discu-
tindo, quando nossa melindrosa posição no mercado uni-
versal do assucar exigia que fossemos dos priméiros a adopta·r
a mais notavel reforma agrícola deste seculo ! ,
LXII.

Summario.-Discus~ã-o do projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional (co,: ..


ti1luando ). - As companhias de fazendas · centraes, de engenhos . centraes e de
fabricas centraes poderosos ::igentes de emancipação, de colonisação, e de instrucção .
technica, agricola e industrial.-Recursos financeiros para pagameiito dos juros
garantidos ás companhias. - Não é de temer que o lmpe_rio faça bancarôta garan-
tindo juros ·a em prezas, destinadas a elevar ao mais alto gráo de prosperidade sua
Agricultura-Só é de tefuer que o l\te:bo retarde ainda por muitos a'nnos a realisação
de tantos beneficios.

A disposição do § 17 do art. 1'! do projeoto de lei de


auxilio á agricultura nacional é assim concebido:·
" §_17. Entre as divers.as emprezas de cada provinda,
terão preferen~ia para os favo res, concedidos pela presente lei,
aquellas que se obrigarem a emancipar o maior numero de
escravos, a importar o maior numero de r.o]onos, e a. manter o
melhor systema ele educação technica -· nos seús -estabeleci-
m entos ."
E ' da maior evidencia que os engenhos centraes, as
fazendas centraes e as fabricas ccntraes serão agentes podero-
sissimos de emancipação e de colonisação. Nestes estapele-
cimentos encontrarão abrigo, instrucção e educação technica
e industrial as crianças emancipadas pela lei de 28 de Se,tem-
bro de 1871.
368 -
As disposições desse §" 17 acha,m-se tambem de accordo
com o art. zQ da lei de 28 de -Setembro de· 1871, que ahi con_-
seguimos introduzir, graças _á benevolencia da commissil'.o
especial da camara dos deputados, e que é deste teor :
"Ü governo poJerá entregar ás associações, por elle aut_ o-
1:isadas, os fillios das escravas, nascidos desde a data dessa lei,
que sejam cedidos ou abandonados pelos senhores dei las, ou
tirados do poder destes em virtude do art. 1g § 6° ( por
máo trato.) •
_ QuantiJ á influencia sobre a colunisação (1), ella será
igHalmente benefica e poderosíssima. Nos estabelecimentos
das companhias dos e n.genh us centraes os cõlonos recem-
c'hegados acharão: casa e salario para P'.'l~sar os primeiros
tempos, e os mais difiicêis, d'a acclimação. Praza aos céos
que com e~tes 200;00Ç);OOQ$ garantidos entre no Brazil .um
milhão de colonos, e se finde, sob a _àcção do maior desen-
v1)l vimefltu e da max_ima prosperidade da Agricultura rn1.cional,
a escravidão na, Arüerica do Su l!
A ultima pr<1virlc;1cia do § I 7 obrigará as fazendas cen-
traes, os engenho~ centraes e as .fabricas centraes a terem
escolas .para a educação dos seus aprendizes e dos seus ope-
rai·ios·. Cada um destes estabelecií11entos realizará, · pois, o
son h ó .querido dos philantrópos brazileiros :-dar a todos os
nossos patrícios instrucção e industria -- Pão para a a lma e
pão para o corpo'.
· E 11a pa~·ed~ principal da eHcula de cada ''engenho
central," de cada "fazenda cen tral " e de cada ''fabrica cen-
tral'' se deverá escreve·r esta singela legenda : ;,Trabalha,
menino; o Bi'azil espera tudo de ti."
Nãu é µossivel encarecer por demais as ,v antapens das
escolas dos engenhos centraes, das fazendas centrae~, e dos
estabtlecimentos analogos para a educação technica cios filhos
dos nossos agricultores. Todas as horas, que não forem em-

(t} Não faltam já, mesmo no Brazil, provas irre.:usaveis d~sta verdade. Em
torno da serraria da companhia Florestal Paranacnse já está uma colonia No Piauhy
já o illtlstre agronomo Parentes teve, em poucos mezes, mais colonos nacionaes do que
os necessarios Pf.ra o custeio das cinc? fazendas do Estado, que lhe toram ~enfiadas t
pregadas nos estudos escolares, serão aproveitadas etn exer-
cícios no campo e nas officinas. Desde os seus primeiros
;innos o menino se familiarisará com a technologia e com o
emprego de todos os utensílios e de todas as machinas ruraes.
Crescerá, por assim dizer, em um meio agrícola, como
crescem as aves no ar e os peixes no mar.
Deste modo conseguiremos que os .filhos dos lavradore$
sejam lavra,dores; que a população rural cresça e progrida; que
a Agricultura prospere pelo concurso de todos os seus filhos,
e que tenha portanto o maximo incremento a riqueza nacional.
E' preçiso ter sempre á vista que é difficilimo fazer um
bom lavradÔr de um moço criado e educado nas cidades, do
mesmo modo que o lavrador .se ad1a sempre deslocado longe
das suas terras.
Em todos os paiies as populações se dividem natural-
mente em populações ruraes e em populações urbanas ; cada
uma com seus habitos, com s uas aptidões e corri Sll'!,S ten-
dencias clistinclas. Para a prosperidade nacional é necessario
que se mantenha um jnsto eq uilíbrio entre as populações
urbanas e as populaç_ões . ru raes.
Nesle Imperio, pela desidia com que tem sido tratada a
Agricultura Nacional, a pÕpulação rural tem sido absoi:vida
pela popuhição urbana. Neste momento a tendencia g:eral,
principalm ente no. '. norte. onde a lavoura agonisa, é vender
os escravos, e ir viver nas cidades dos mesquinhos ordenados
dos empregos publicas. E' assim que fatalmente vai crescendo
a burocracia, ao mesmo tempo que se vai anniquilando a
Agricultura.
Evidentemente é necessario providenciar cotn a maior
energia cun tra tal calamidade, -antes que caia de_ todo em
minas a principal base' da riqueza nacional.
A ult ma ( r) providencia do projecto de lei de ~uxilio á
Agricultura Nacional diz assim :
(I) Para não excitar. susceptibilidades não vem express·a neste projecto de _lei a
prohibição de dar-lhe o governo regulamento. -.
A experiencia tem infdizmente demonstrado que os regulamentos neste Impeno
são sempre muito menos liberaes do que as leis, e ·retardam de mtptos mezes, quando
uão de annos, sua execução.
.§' 18. · A despeza annual com o pagamento das fianças
de garantia de jütos ás emprezas, ás quaes o governo houver
a·p plicado os favores concedidos pel.a presente lei, será
· effecttiada pelos meios ordinarios do orçamento, e, erh falta
élelles, por operaç.ões de credito, dando o governo de tudo
conta annualmente á assembléa geral. "
Recordem os que os 200,000,000$ garantidos, nos termos
do presente ,projecto de lei, não pociem obrigar o governo a
maior despeza· annual çlo que 6,000 contos de réis, ainda que
~e acc_umulem as mais tristes circumstancias. Ora, o relatorio
do ministerio da fazenda de 1874 nos fornece estes precios0s
àlgari sínos :
EXERCICros· DE 1870--- 1871
Receifa orçada pelo calculo proporcional .. 90, 246:486$000
Receita effectivamente arrecadada . ... . . . . 95,885 :278$000

Excesso ... . ... .· ..


EXERCICIO DE 1871-1872
Receita orçaclàpelo calculo proporcional . .. 99, 279:668$000
Receita effectivamente arrecadada .. '. . . . .. 101 , 291:434$000

Excesso. . . . . . . . . 2, or r :766$000
EXERCICIO DE 1872-1873
Receita orçada pelo calculo proporei una!. . . 106,8 r 2 :32 3$000
R~ceita effectivamentearrecadada ...... ,... 108,830:962$000

Excesso .... . ... .


" · E', pois, tão energica a força prog ressi va deste paiz, pre-
dilecto de Deus, que as suas rendas excedem aos proprios
calculus do Thesouro Nacional de dous a cinco mil cc111tos d e
réis em cada anno . No exercício financeiro de 1868 a r869
este excesso atti ngio o prodigioso maxi m o de r 4, r 83 :4 r 5$000 !
Podemos, pois, ficar tranquillos. O Brazil tem recur.,os
sufficientes parn pagar 7 por cento em ouro de 200,oào:006$;
fixados e importados para o desenvolvimento ele sua Agri-
cultura e de sua Industria.
- 371 -

Ah! Mas ha infel izm ente neste . paiz, para annihilar todas
essas esperanç:-ts, um ser fatal, Ürn dernonio, que é fraquiss·i rno
na acção · e· fortíssimo na resistencia; que é inerte para o
movimento e activissimo para a reacção; que é incapaz de
crear, mas está sempre prompto a matar; que é pequeníssimo
como ~gente e grandíssimo coino obstacu lo; que é esteril de
ideias liberaes e progressistas, mas é fertilíssimo em chicanas ;
que é sem coragem para o bem, mas ousadissimo para o mal ;
este Prothêo, esta sphinge, este Mephistophelt;.s da Agric ultnnt,
ela Industria, da L iberdade e do Progresso, neste Imperio, é
- O MEDO.
LXIII.

Surnmario.--Contra-prova de projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional.


-Synthese das necessid ades actuaes da lavoura.-Falta de conhecimento5
technicos.-Escolas nocturnas ~ de domingo nas tazendas centraes, nos engenhos
centraes e nas fabricas centraes.-lnstrucção technica immediata e incess-inte.
-Ensino immediato pelo espectaculo das maehinas em mov:imento. -Escassez de
capitaes.-Cada fazenda central_,_ cada engenho · central, cada fa brica central
será um verd~deiro banco rural.-O capital será certa e infallivelmcnte em-
pregado na lavoura e não em despezas sumptuarias e . estranhas á Agricul-
tura.-A centralisação agricola reduz a proporções mínimas o capital necessario
aos lavradores.

Agora é necessario, antes de terminar estes Est1ulo.r·,


fazer contra-prova do pmjecto de lei d e ~u1 '<ili ,, á Agri-
cultura Nacional. E' indispensavel que abramos o inqueritn
sobre o estado - da lav,)Ura, que enumeremos todas as suas
necessidades capitaes, e demonstremos bem claram ente até
que ponto estas necessidades poderão ser satisfeitas pelas
prcvi dencias, mencionadas no projecto de lei de anxiliu á
Agricultura Nacional.
Ora, a synthese do inq uerito é esta :
Citamos sempre textualmente a pag . . IX das informa-
ções sobre u Estado da lavoura-Rio de Janeiro-Typo-
graphia Nacional-1874-:
- 374 -
I. Falta de cnnhecimentos profissio naes ;
II. Escassez ele capitaes;
JII. Carenci,1 el e_braços;
IV. F,tlta de estradas ;
V. Elevados impostos de exportação .
Principiemos a contra-prova do p rojec ro ou a sua con-
frontação co m estas n ecessidad es prinçip2 es da lavo ura.
A falta ele conhecim entos profissionaes é uma fata l reali-
dade pama Ag ri c ultura Naciona l. Não soa Agricultum, co m o
q In d ustria. cnm o o C<>mmercio soffrem penuria ex trema de
c<1nheeimentús Lec hnicos · c,u profissionaes. Em todo este
vas lissií1w lmperi o, repitd~nos: não ha s6 uma escola te-
clinica l Não ha Üma só escola el e AÍjron omia l Não lia um
s6 mu sêo industria l!
Sem a iniciativa e a ct evotação do architecto Bettenco urt
d>l Silv8. e ela Sociedade A uxiliad ora. da Industria Nacional, os
a rti stas e os ope ra rios bra zi leiros n ª-o teriam, ~em mesmo na
capital do Imperio, ond e ir aprender a d esenhar l l· Nunca;
j ,1 rnais se cuicluu se riam ente em dar a cada brazileiro n e m
seqneT a in stru cção ele me nta r e um _officio ! ! ...
A providencia, qu e so bre o ensin o contém o projecto,
é indirec ta , m as muito· efficaz. Com effeito o § 1 6 do
art. 1 _ç do projecto de lei de a u xili o á Agricultura Naci onal
( I ) d iz:
" . § 16. Entre as d ive rsas ernprews el e cada pro-
" vincia terãu _prefe rencia para os fa vnres con ce cl idos µor esta
" lei aquellas que" se o briga rem a emancipa r o maio r nu-
,. m e ro de escravos, a impo rtar o mai o r num ero ele colonos e
·' manler o melhor syste ma de educação technica n os seus
'' estabelecim entos. "
Assim, poi s, cada fa ze nda central, cada engenho central,
cada fabrica central terá suas escolas nocturnas e de domin-
go:;;, onde s~ ensinarão todos os elementos, necessari.os :-í ecl _u-

Li) Vide o artigo XLI destes "Estudos" no Jornal do Com11ie1·ci'o de 25 de


F~vereiro de 1875
- :375 - ·
ca.ção e in str u cção cio cidadão de um paiz realm e nte livre, e
os principi os teclinicos eh esp ecialidade a que elle d esti nar.
Ahi os meninos e os "pera1·ios terão S<'mpre di,rnte
dos olh os o grandioso cs pec taculo d os m:,gcstosos palacios
<la indu s tria hodierna, p o1·oados ele machinas t'rn movimento,
erg uend o- lhes o espírito, excilando-lltes a actividade, ,1gu-
çandn-l hes a i nte ll igencia, clesenvol vendo- lh es · o espírito
in ventivo, e subl imand o-l h es incess,111temente o cornção até
Deu s, J,e la evid e n cia de qu e lia c reaturas, que p,>clem crear,
como o C reado r ! ! Ahi, sim ," nós cre mos que se · educárão
opera ri.os, artistas e cidadãCJs; qu e: se foi;marão homens como
Franklin, corno Fulton , como \Vatt, comu George Stepi1 t n-
son, entes sub liu1 es, d1gn ns d e um paiz grnnde e livre;
capazes d e leva r o Brazil ao a pogéo que lh e foi d es tinado por
Deus; não nesses ridicul"s vive irns de ,ptss:irinlios, cuns-
truid,,s _so b <t µ ressãn mon a rc ltica, onde, qL~andn muito, se
p c,tl e ri::im ed11çar Chins ! ! ..
Repitam os aind,1 uma vez: l indi~p e11 1;avel ens in M ,l
ler e a escrever e cfar nm 11fficio a tr,d o, ns cidaclãn~ brazileii-, ,s .
E' o 11túú11tu111 de insLru cção e .:e ecl urnç.lll technic,t. E ' u ·
cumprimento mais m esquinh , >, qu e se µóJ e ilM ,t,;,; §§ XXX[[ é
XXXIfI do art. 179 da constituição lirazileira.
As fabricas ce ntraes, ·as faz endas centraes, os enge nh ,,s
centrnes, cnm ce rteza e n si nnão, p el<> menos, a,)s st:us
aprendi zl's a le r e a esc rever; a favrH t: es trumar a teri:a; a
eftectuar todas as boa, p r,1ticas ruraes; a dirigir as machi1us
agrícolas, a e mpreg,u e conce rta i:, e m es mo a fabricar os
ute nsíli os e as nHchinas d esti nad os a pre parar, para a ex -
ponaçiio e para o c<> n su rn o, o café, o assucar, o alg·,1dão e o
fum o, e todos os o ut ros µrocluctos ela agricu ltura brazi leira.
Pocl e rão rivalis::ir. se m desvantagem , com as m elho1·es escolas
technicas e inclust riaes , não só d o Bmzil, como de qualq 11e r
o utro paiz !
Quanto á escassez de capllaes, o prnjecto de lei de an'(ilio
á Ag ri cultura Nac io n al p retc:11d e fi'(ar e im po1tar imm edi,1t:1 -
m ente no Brazil 20:J,000:0 00$ ou o seu equivalente e ni
- 376 - .
ouro ao cambio de 27 pence por 1 $000 . Com·o já ficou
dem on strado, o capital, que se ha de realm en te fixar e im portar,
em virtude dessa: lei, não será limitado . a 200,000 :000$;
cada co mpanhia , que se emancipar da garantia d e juros do
governo, · dá immed iatamente o seu Joga r a uma successora,
que va·i explorar uma nova zona do pa iz, e ampliar dest'arte
por todo o Brazil os ben eficos effeitos dos novos p1'incipios de
ce ntral is'lção agr"icola e indust ria l.
Repitamos. tambem q ue o paiz terá a certe·za e a de-
monstração dia ria pela im µ rensa, pelos visitan-tes espontaneos
e pelos relaturios dos agentes dos governos imperial e pro-
vin cial, que esses 200,000:000$ de reis serão effectivamente
empregados para a prosperida(le da Agrlcultura Nacional.
No systema d.os bancos ruraes e hypoth ecari os com emissão de
p,tpel -moed,t,. tão infelizrn ent e postos em voga, qu em pode rá
a,,egurar a·os brnzi leii·us, ao,; cont ri buintes de todo o Imperio,
que os auxílios; tão custosa mente arrancados ao paiz, não
conti nuarão a ser desbaratados no jogo, nas eleições, em
clcspezas sumptuarias, ou, ainda mesmo, boas e uteis, mas
inteiramente estranhas ao prog resso e á prosperidade da Agri-
cultura Nacional ! ?
Notai que cada faze nda central, que cada engenho central,
que cada fabrica central será um verdadei ro banco rural, sem
,> immin en te perigo das demazias do papel-m oeda . Se rão
bancos ruraes sem aristoc raticas e custosas d irectorias; sem
. interrn ediarios fo rçados; sem advogados, sem m orosas e ca ras
vistorias; se m escri vães, sem juízes e sem chicanas ! Tudo se
reduzirá a urna simples conta corrente, em caderneta, ao
alcance do mais. rude emanciµado e do mais simplori o
camponio !
De um lado na caderneta o café em cerej,t, a canna de
as,mcar, o algodão em caroço, o fumo em folha, o cac,fo em
fructo, fornec idos á fazenda central, ao engenh o central ou á
fabrica central ; do outro lado, os adia ntam e·ntos em dinheiro,
feitns aos emancipados, aos immigrantes, aos colon os, aos
lavradores, ou mesmo aos faze nd eiros!
- 377 -
Tudo istQ, n ós bem sabemos, é si mpl es de mais; por
clemais democratico e popula r para agradar. Não ha logar
para o nepotismo, para , o filhotismo, para a protecção da
clientela e para o regulame nta rismo, q ue acabam redu zi ndo as
instituições com merciaes a misera veis cariçaturas das secretarias
d e estado!
Não vos escape, por o utro lado, que as necessidades dos -
lavradores vão ficar mui to e mu ito red uzidas. Não tendo mais
outr~ mister do q ue lavrar e estrum ar a térra, ficarão õs
lavrad ores livres ele imrnobili sar ca p_itaes importa ntes n os
edificios, nas m achinas e n os apparelhos, necessarios á pre-
paração e conservação do café, d~ ass ucar, do algodão e dos
o utros procluctos. Além disso, ape nas ·o café em cereja esteja
colh ido, apenas a cann,l de assL~car ·esteja cortada, receberão
irnm ediatamente os emanci pad os, os colonos, os lavrado res,
e m dinheiro, ela fazenda central o u do engenho cen.trã.l, o p ro-
dueto dos se us esforços .
Não é possive l fa zer maior beneficio aos lav.rad ores de
b oa fé; realmen te amantes Jo trabalho. Desde j,1, porém,
asseguramos que o proj ecto não agraciará aos rotineiros, aos
esclavagistas, aos ociosos, aos a bsenteistas, que es tão na infeliz
c ren ça de poderem -se consti tuir, por interm ed io dos bancos
de papel-moêda, parasitas do Theso uro Nacional pelo simples
facto de terem adoptado o qualificativo de -- lavradores .
,,.
.
LXIV. •

Summario.-Contra-prova do projecto de le~ de auxilio á Agricultura Nacional.


(coutinuando)-Carenciade braços.-Falsidade dessa proposição.-Em paiz algum
do mundo ha fa lta de homens.-Os governos da Europa man tend~ o pauperismo ·e
impedindo a <::migração.-Milhares de operarias desaproveitados ou mal aproveitados
neste lmperio por falta de vias de communicação 1 e pelo estado de abatimento em
que se achalTl a Agricultura e a Industria em geral--A chave da theoria de Malthus.
-Dai bem-estar ao Brazil e o movimento pro~ressivo de sua população excederá,
em pouc0 tempo, á dos Estados-Un idos.

Ataquemos agora a terceira causa de "ento,pecimento da


lavoura," na phrase do inquer:to official :
III. " Carencià de braços."
Nós princiamos por negar, em absoluto, que não só no
Brazil, como em paiz a lgu!n do mundo, haja falta real de
braços, haja falta real de homens. Acabamos de percorrer o .
que ha de mais notavel no mundo civilisado : não encon-
trámos paiz algum, em que ho uvesse falta de homens.
Vimos, pelo contra ri o, o homem faminto e semi-nú,
tratando o cavallo nedio e vestido de bello e confortave\.
estofo de lã. Vimos as crürnças núas e famintas, mergu-
lhando-se nas -lamas do Tamisa para apànhar os pence, que
lhes atiravam ociosos sem coração. Vimos, bem perto dalli,
cãesinhos passeando em landàws no coll o de egoístas velhas
-'- 380

da ociosa aristocracia. Vimos forjarem-se gl!erras e revolu-


ções para desbastár as· ~opulações. Vimos a n{ulher ...
· Nossa pei, na não pode escrever o que tivemos a desgraça ele
vêr. Vimos os meninos largare;n os livros para apreneler·em
o e•;ercicio de mata-r homens . Vimos, por toda a parte. o
homem, a mulher, e o meníno conendo, corno cães famintos,
atráz · do trabalho e elo salari,,. E, em todos estes paizes, _
ouvimos os parasitas do. capital, cynicos e egoístas, repetirem
a grita :- , Ha falta de brnços ; os salarios estào elevadíssimos;
é preciso impedir a en.;ig1:aç{rn para a America. E os gover-
nos, mais cynicos e mais:-immoraes do que os p:uasitas cio
capital ociOSl\ apressanclo-se··a mancl'lr trancar os seus portos (1)
para que não viesse um s6 homem para o Brazil ! ! ·
Digamos a verdade : - ~ tão clifficil clizêl-a como fazêl-a
comprehender. . Nào, sào os braços, não sr.o ns homens que
faltam a um pai~ : - o que fui ta a este Imperio, como a todos
os pàizes . do mundo, é capital, é industria, .é trabalho, ,é ins-
_trucçâo, é moralidade. Esse máa-estar, que obriga a dizer-
ha· falta de braços-significa re,,lment_e que o_paiz está tào mal
govei'nado que não pôde g:arantir trabalho e pão para os seus
habitantes ! -
:Mas,. direis, estes argumentos pódem ser verdadeiros n,,
velha Europa, esmagad~ µelo pauperismo, . cau~ado pelos
horrores do feudalismo, durante estes misserri.mos seculos,,
que os historiadores denominár:n'n--"Idade médi:i; ." Repli -
camos : não, . estes argumentos são os mesmos nas devidas
proporções para o Byazil como para a velha Europa!
:Vêde a fume de empregos publicos que ha neste Imperio.
E' tão forte como na França, como na HespJ.nha, corno em
qualqner outro paiz • de raça latimt. Neste paiz morre-se
de fon1e por falta de trabalho. Lêde o que publicaram, em
r874, os jornaes desta cé'irte :

(I) Vide nas excellentes cartas de Alexandre Herculano a demonstração des~as


verdad~s em relação á emigração de Portugal para o Brazil.
A /ome 1,a Diama:1fina
'' Um viajante, residente no sul de M·inas, tendo occ. asião
de observa r o estac:lo de miseria a que acha-se reduzida a
infPliz pobreza que habita os terrenos diamantinos, lembrou-se
de abrir uma subscripção, entre o generow povo desta praça,
a favor daquepes infelizes.
" E' tal a miseria que reina na Diamantina, que ·o tra-
balhador não acha alli serviço, nem . recebendo em recom-
pensa tão sómente o pão, como teve occasião de observar o
dito viajante ! ....
" Por aqui póde-se ca lcu la1: o peso de necessidades que
esmaga aquella infeliz populaçã·o . ·
" As familias abastadas St)pportam com difficuld tde
aquelle estado anomalo ou retiram-se, co1110 está" succede11do _;
os pobres, porém, cirregados de famil_ia, não ·podendo arcar
com as despezas de uma mudança~ lá ficam sob a pressão de
todas as privações.
" Dos brazileiros que habitam a costa, poqcos compre-
henderão as difficuldades com que lutam as populações do
interior, por r.1lta de terras ferteis.
'' E nossos immensos sertões?
" Não podem ser povoados sem pontos de apoio prévia-
mente estabelecidos pela força publica, purgue seriam devas-
tados pelos selvagens.
" Aqui vai um, facto para exempln:
'' Ha na provincia de Minas, para não fallar em ou trás,
uma população de mai"s ele 60 mil homens que ficou desem-
pregada pela cessação de industrias locae_,, e ·que se não pócle
converter em população agricola, porque ·não dispõe d~ terras
que prestem ;í agricultu ra!
_ " O braço nacional, que tanto convinha que fosse apro-
veitado utilmente, é uma verdadeira praga para os senhores
· elo solo, . cuja propriedade infesta com o nome ele agg regados.
" O mais vasto e despovoado paiz elo mundo não fornece
terrns a seus habitantes, ou pelo menos não as proporciona
nas .c ondições em que cllas possam ser aproveitadas pelos
- 382

bra.ços que não tem capitaes, ou que os tem em diminuta


escala !
·'' As mattas, . que eram poucas, acàbaram, e, ao passo
. que tanto se falla hoje em escassez de braços, ha populações
no üiterie:rr que morren:J. quasi de fome, e a média do salario
fóra da costa · é de 121/i mensães, menos do que o represen-
t,ido pelo iapi,01 .e amo_rtisação do braço esc)·;1vo.
'' Cond11(dos de uiu tal estado, appellamos para todos os
c(lrnções generosos, ~ para 0s nossos patrícios, em particular,
afim ele mitig.u- .se a fome daquelles infeli~es, a quem serão_
facilitados os meios _para se rétira-rem para terrenos agrícolas .
., Os .Siti. Botelho Azeyeclo & Anclra(je, estapelecidos •á
rua dos Pescadores · n . .3, generosamtnte encarregaram-se de
recdwr as q'tíantias qt 1e ca(Ll um quizer dar - Um Mzneirrulo
.,11! ;111 pruvinàa. - Rio de Janeiro, 26 de Agnsto de 1874."
E~tais agora cunvencidos de que, neste Imperio, como ·
em qLmlquer outro paiz elo mundo, falta bem-estar, falta mo-
.ralidade, falta caridade , falta instrucção, falta capital, falta
. i ndusfria, falia ·m vias de commullicaç1i.o, faltari1, emfim, todos
os elementos neccssarios ao bem-estar cio povo - e á attração
da immigração espuntanea. Mas, repitamos, não faltam
lwrnens !
Eis alii ~o que queria dizer o' illustre Malthus, que os oli-
g.a n has, que os exploradores s3sternaticus da infeliz humani-
dade, tanto calúrnniarnm _para, com sua,s ·hypocritas ·l amurias,
impedir que ~. -
cl,egi,sse ao púvo a voz da verdade!
. ,
! ! ....

Se destes princípios geraes da Sciencia Econnmica fazemos


,-.chquada ;ipfí licaçâo ás circumstancias especiaes ' deste Impe-
rio, achamos que a grita /;dia de braços significa reaimente
uma aspiração retrograda pelos ll!iserrimos tempos, em que era
possirel com pra r um homem por 200$ ou 3-00$. e tarn bem a
resistencia estulta e rotineira para a subdivisão da grande pro-
priedade. Orn, de um lado é absolutamente irnpossi1ie] voltar
aos neíand(Js tt mpos do trafic~ africano; e, de outro lado,
tl do u 1m 1grlSSO agricula tc:m por principal elemento a subdi-
visão do s6lo e a prosperidade da Democracia Rural . Eis ahi
francamente a verdade.
S6 havia um argumento serio em favor da gninr! e prõ -
piradade e da oligarchia rural: a falta de capita·l na Democra-
cia Rural para comprar as grancles ·machi-nas e os rn rns llten-
silios, que exigem presentemente os novos processos de_la v:-,, r
a terra e de preparar os seus productos. Ora, esse argum ento
unico acaba de ·ser victuriosam ente r.espondido pelos novos
principios de centralisação agricol~ e indllstrial.
As companhias, proprietarias de eqgenhns centracs e el e
fazendas centraes, possuem eclificios, machinas e utensilins.
que deixam no olvido o que de melhor tinham os rnai:; ricos
senhores ruraes. Apoiados pelas companhias, os mais pobres
proprietarios ruraes_p6dem lavrar a terra a vapor ; estruma-la
com guano, com os phosphatos e com os ma_is' caros adubos,
e ter os seus procluctos preparados nas mais c.tras e n~s mais
primorosas machinas, fornecidas pela maravilhosa industrü
hodierna.
A verdadeira interpretação ela phrase ofücial - _carenoii
de b1·aços - é que o Imperio necessita de ref,,rm,1s sociaes,
economicas e financeiras importantissimas," que permittam o
aproveitamento de milhares e milhares de indivíduos, que
vegetam nos nossos sertões, e, ao mesmo tempo, attraiam a
immigração espontanea da população superabundante ela Eu-
ropa. Ora, já dissemos por vezes nestes Es!urlr>s, Ó pri nci pa l
attractivo da immigração é a propriedade·laci l e immediata cln
s6 lo. Serão infructiferos, e até contraproducentes, todos ,,s
esforços feitos para substituir colonos aos esc ravos. Só ha um
desgraçado colono que se presta a essa miseranda substituiçã n :
é o infeliz Chim.
Mas, ·ao lado do problema agrícola, está o probl ema
social; introduzir Chins neste Imperio é anniquilar todo o
futuro nacional, sem outro proveito mais el o que g,dvanisar
por alguns dias a moribunda oligarchia rural.
Para o problema da carenàa de braços não ha, pois, em
ultima analyse, senão estas tres so_luções racionaes:
Ig. Al;>olição da escravidão, ·qhle aniquila o escravo e
fulmina o senqor ;
2°. Melhor aproveitamento · da população nacional,
dando-lhe vias de cómmunicação, h1Strucção e industria.
3°. Reformas s001aes, economicas e financeirás, neces-
sarias para que a immigração ache no Brazil elementos de
segurança, de bem-es~ai: e de prosperidade superiores aos dos
Estados Unidos. •
Todas estas soluções são eminentemente liberaes e pro-
gh:ssistas; e nfo ha clú_viclar- são infalliveis porque o Progresso
é a lei de Deus !
LXV.

Summario . - Contraprova do projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional


(conti11u,iud~). - Falta de estradas. - As vias de communicação, os agentes mais
efficazes de colonisação.-As emprezas de caminhos de ferro devem ser simultanea-
~nente emprezas de colonisação.- ...\brir estrac..las é colon isar.-E' impossivel colonisar
sem vias de comm u!1icação. - O immigrante quer bem e:sta r; o capital ·quer
segurança; quer paz.-() militarismo in imig o da colonisação tanto na Europa como
na America. - O simile do Castle Garden.-Prophecia de Benjamin 'Frank1in . - 0
destino da Amei-ica.

A quarta causa de ollorptcimenlo ria lavoura, mencionada


pelo inqueri to, mandado fazer pela circular de 18 de Outubro
ele 1873, cio ministerio ela fazend,1, é:
IV.-F::dta. de estradas.
Agora sim : est,nnos de accô rdo. Neste 1111 perio ha
carencia, ha necessidade, ha ft,me, ha sêde ele vias de com-
municação ! ! Ainda não houve meio de convei;icer aos que
nos governam de que é impossíve l dar um. passo· na estrada
real do progresso sem um a bem planejada rêde de vias de
communicaçãu por tocLJ o Imperio.
Repitamos com o engenheiro Antonio Rebouças: "Abrir
est~-adas é culonúar ", e accrescentem os que '-' sem estradas é im-
possivel colo1~isar " . Um exemp lo, do Brazil mesmo, para que
fique bem gravado em n osso espírito esta prºposição funda-
mental e essencialíssima! ! Fnndaram uma colonia, em uma
certa província, no inte'r ior de matta virgem, sem vià alguma de
communicação com os centros povoados. Por felicidad e os
co.lonos eram excellentes, mori gerados, trabalhad o res, q uei'end o
sinceram ente constituir um patrimonio para si e para se us
filhGs. O prim eiro anno foi tristíssimo : todos os sacrificios ;
todas as privações ;- todos 0s _pesados trabalhos de derrubada ;
todo o· Tl]áo estar de uma época de acclimação ! No segund0
anno excesso de -chuvas: colheita insufficiente. No tercei ro
an.no: ·c olheita. excellente; infelizmente um a peste de ratos do
mattÕ reduzi,1 a c,>ll1eita ao estricto ·n ecessa ri o para a ali-
mentação dos colonos:
Não desanimaram ·; duplicaram antes de àctividade, e,
n o q_uarto anno, a prodígios,, natureza virgem do Brazil re-
.compensoi.t os seus esforços ex uberantemente. Os pa1óes
fic:irah1 cheios até aos tectos ! A prnpucção excedia ás neces-
s idades dns col.on.os durante mai s de tres annos. Era evide nte-
mente necessa rio ,vender e exportar .
Corrio? Por que caminho? Po r que estrada? A via
ele coinmunicaçio unica era uma picada, em qu e viajamos
com a fo uce na mão ; que se confundia, por vezes, com os
arrastões .de macieira, mesmo para· os mateiros da localidade;
que tinha subidas e descidas tão íngrem es, que era necessa rio
apear e conduzir o cavallo pela rédea ! ! . . .
Vender~ exportar: impossível absoluto! Os bravos co-
lonos, qüe tinham lutado corajosamente quatro annos, des-
animaram então, e abancl o nara m a colonia ! 1
-Comprehendeis ago ra ? Uma estrada, m esmo ele ro-
dagem, um plank-road, um caminho de rerro de bitola esfrei,ta,
mesmo de um só trilho, teri a constituíd o essa c,>lonia, h oje
aband onada, um centro prospero de immigração, um foco de
attracção para os innum eros proletarios da velha E uropa !
Lembrai~vo~ sempre destas palavras de Mich el Chevali er,
incluic!as em üma carta assignacla por Napoleão III, aconse-
lhando ao general Mac-Maho n sob re o systema, que devia
seguir no governo ela Argel.i a.
" Le plus .sur moyen d'accroiti-e la populatitm d'une
colonie n'est pas cl'y atLirer à grancls frais et pai• <les pro1úesses,
trop souvent irréalisables, des ,,. nombreu,
.
x ,immigrams;
'-
mais
d'encourager _les efforts des colons déjà établis, ele fa.voriser
le bzen éke et d'assurel leur avenir. Le spectacle de cette pros~
perité est le plus mag'ique appel, que puisse être fait-à la eoí1-
t
fiance eles étrangers.
" Des courants cl' imrnigration ne tardent pas à faire
affluer tous les jours des forces nou velles vers un pays, ou les
capitaux trouvent un heureux placement et le travai] u·n
emploi lucratif. ''
Todos estes sabio~ conselhos se podem resumir em
uma formula economica e social, muito mnem onica :
"0 immigrante quer. bem-estar; o capital qu er segurança :
quer-paz. "
Podeis mu1tiplicar ao infinito o; e~b.rnj ,11n e L1t\ls de
capital e de témpo, qu e fa zeis cum ·a uúlfadatla coloni:;,t.ção
official : a emigração espontanea para o· Brazil lia de inv:u-ia-
velmente seguir a mar~ha ascendente e.lo bem e~tar e do
progresso n'este lmperio.
Ora, uma das condições essenciaes para o bem-estar
elos povos é à abundancia de boas vi'as de communicação .
Nós temos ruins picadas, as .mesmas que nos legaram os
tristes tempos coloniaes, e temos a velleiclade de querer
ter immigração espontanea ! Pretensão que de chimerica ·
passa a ser ridícula !
Os Estados-Unidos, se quizeram ter immigrantes, prin-
cipiaram por dotar o seu vastíssimo territoriq de mais vjas
. ferreas do que possue a Europa inteira !
Tomaram _em Nova-York, a posição mais eslralegíca :
-o Caslle Garden, e reduziram-no a palacio c!_e 1mm1-
grantes-! Não construiram torres, n em casamatas, nem o.,r
armaram com enormes canhões ; plantaram um li·ndo
jardim, e decoraram caprichosamente a casa, destinada a rece-
ber os misera veis <.la Europa, bemvindos da Americà. li vre .
-Quando teremos no Rio de Janeiro um Castle-Gardm?
.:_Um estabelecimento prnprio para a recepção, ~ollocação e
internação dos immigrnntes?
Ha no litoral desta cidad e uma situaçflo que lembra
a do Cf1stle-Garden, · em Nova-York: é tão mal occupa-
da actualmente pelo -arsenal ele guerra. Está se constru-
indo um úovo arsenal: é, pnr certo, muito para desejar qu e
os M.inisteric)s da Guerra e da Agricultura se entend essem
para accelerar a rem oção d 'este arsenal , e que, quanto
antes, se tratasse dé resta urar os actuaes edifici os e pre-
parai-os no estylo do Castle-GaFdtm.
São necessarios sacrificios reaes e muito grandes para
se chegar a alcançar o desúieratum ele uma importanle corrente
de immigração espontanea de pessoas e de capitaes.
Nos Estados-Unidos o problema ela immigração preoccu-
pa, incessantemente, não s6 o governo, como toda a nação .
P6de-se, sen1, grande ernphase, di zer que todo o territorio dos
Esta.dos-Unidos, desde o Oceano Atlantico até ao O cean o
Pacifico, é um immenso éastle-Gardm á espera de emi-
grantes.
Parece que todos os angl os-am ericanos têm gravadas
na consciencia estas propheticas palavras de _ Benjamin
Franklin, o mestre e o fundad or d essa prodigiosa nacionali-
dade:
" To enjoy ali the advantages of the climate, soil,
and situation, in which God an·d nature have placed us;
is as clear a rigmt as th a,i of breathing; and can never lié
justly taken from men but as a punishment for some atroci o us
crime·
'' America has · only to he thankful, and to preserve,
God will finish bis work, a·nd establish their freedom :
and the lovers of liberty will flock from àll parts of Europe
"with their forlunes to participate with us of that freeâ om , as
soon as peace is restored. "
A predicção de Benjamin Franklin cumprio-se em toda
sua ex.tensão. Todos os que no Velho Mundo têm sêdé
de Liberdade; todos os que soffrem frio e fome, emigram
aos milhares para os Estado~-Unidos, levando uns os seus
recursos intellectuaes, outros a sua riqt1eza, outros ,i seu
trabalho, tod0s a vehemente aspiração de melqorar a sua
soi:te.
Na Europa contrariar a emigração é urna atrocidade ,
sem nome, é obrigar a morrer de fome quem deseja ir viver
do seu trabalho. Na Am·e rica pôr obices á immigração é
verdadeiramente uma impiedade, por que é rebellar-se contra
o proprio Deus, que creou a America para asylo dos infelizes
do Velho-Mundo !
• 1

LXVI.

Surnmario.-Contra-prova do projecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional.


Falta de estrndas. (continuando).- Uma rêde ., de vias de communicação é um
elemento indispensave l á liberdade do trabalho.-Demonstração de Michel Che--
valier.-Applicação dessa theoria ao ·Brazil.-A morosidade dos nossos caminhos
de ferro já é motivo de mofa na Ettropa. -Em Pa.rte algu_ma da Arrierica tem sido
tão desprezado o grandio'so e instante problema das vias de communicação .-Que
juizo fará de_nós a geração vindoura? !

Continuemos; continuemos a pedir incessa'ntemente


caminhos de ferro para o Brazil "Clama itaqne, clama ne cesses."
Não será para nós, a mais de meio caminho de vida; será para
a geração vindoura !
Uma rêde de vias de communicação aperfeiçoadas é um
elemento indispensavel á liberdade do trabalho ; é um agente
infallivel e da maxima energia para o desenvolvimento da
prosperidade nacional. Ouvi o grande mestre da sciencia do
progresso neste sublime e inteiramente novo ponto de vista
do grande problema elas vias de communicação:
" La liberté du travai!, dont jouit llll peuple, donne,
jusqu a un certain point, la mésure de la fécondité de son in-
dustrie, toutes les fois qu'il s'agit de populations, qui, comme
- 3.92

· celtes de l'Europe ou ·des Êtats Uriis, éprouvent vivement le


désir d'améliorei· leµr c;ondi~ion en travaillant. (1)
" Mais la libertê du travai! pour qu'elle rende Ies fruits,
qu'elle prómet er qÚi sont virtuellement en elle, ne ·doil pas
· seu lement êtfe 1tomi111ale: c'est-à- dire, simplernent inseri te à
rétat de' prinópe da~s Ies !ois.
'' Il _ne suffit ·même pas qu'en outre les !ois spéciales et
les rég lements évitent de Iui porter atteinte, et que !e systeme
finãncier d u pays s'abstiem~e de. la pàralyser par ses déiégle-
ments e-t' ses intempérnnces. II lui_faut, de plus, l'entourage
des diverses méc,mismes aux:iliaires doués cFune par ticuliei:e
énergíe. ,.
" Nous allons énumerer quelqúes uns de ces mé-
canis,mes.
· " LI est necessaire . que !e pays présente tln systeme de
.voÍí:s de -~01m1iunúation t ,udant aisée l'approvisio11riement ele
l"'iiÚ:jnstl'i·e eí1'é:ornbÚstiblé et en 1hatieres pre mieres, rattachant
les granG!s gisements de minereaux de fer aux .puissants gí:tes
dé charbon·, · Llni ssarH les foyers des productions aüx centres
de éominuriication, et l'inlérieur aux purts de mer. ·"• Ce
sonl eles chemi11S de fe'i", des canaux des rou tes de .tuutes sortes
sa11s éompter les fleuves· et les rivieres améliorés dans leurs
CO~r'S . de, m ãn ieres_ à rester •na vigable tan"t que la g<õlée ne
-~iênt pás les ferme1°. Ce sont encore des services maritimes
établ issai1t de relaüons régulieres, prorn ptes et économiq ues
avec les a'u-tres Iiati:ons'. Le tout compose ulie sorte d~ grand
o utillage, qui' facilite extréáiement aux liommes l'éx:ercice de
leul'S facultés et l'elllrée en possessiun efféctive de la liberté
clu travai!."
Vêde bem , excepto a navegação inter-o'ceanica, q1:1e nos
fui doada·· pela iniciativa anglo-sàxonica, não possuímos ele-
mento alguui para a~xiliar, apoiar e garaúlir a liberdade do
trabalho!

L1J Michd , Chevalier - Introduction aux Rappoi:ts du Jury Intern.itional de


l'Exposition Universelle de 1867, pag . CCCLIII.
. /

393, -
Esses pobres éolonos, que menciohamqs no artigo _a11,te-
rior, abandonandu a sua lavl?u'. rn, po_dtam dizêr: no Br'az-i l
não ha_liberdade do trabalho ! O infeliz call!,ponio ~as mar- ·
gens do Alto S. Francisco, que não pôde expm:tar producto
algum da sua i:ndust1i_a, por falta de estradas e çle c;amil).ho,s ·
de, feiro, p6de tambem repetir : no .Brazil não hã liberdade
do trabalho! Todos os habitantes do interior de Minas,
&, Guyaz e-de Mato-Gro~so podem ta~beiµ repetir unisqí~ os :·
no Brazil não · ha -liberdade do, trabãlho !
E'. · queremos ter iJU migr~ção espont_a nea -? -!• !_ Absurdo l.
Chiméra ! Escarneo !

A desidia inqualificavel, ' com que tem sido -neste paiz.


tratada a questão vital dos caminhos de ferro,já ca_usa asscmhro _
até á propria _Europa ! Aind,i. ultiqiamente um jornal ingle 4
escrevia em um notavel artigo ( J) sobre as finanç~s do IlraziJ· .
estas CÍ,uras, mas verdadeiras palavras:
" A' vista do estad ó lisongeiro das finanças bi"azile.iras,
do facfü_ de haver a receita duplicado no esµaço de dez a~nos,
e haver _annualp1(;nte um sald~ da receità ~obre_a despeza, ·
s_urpreride-nos de alguma fórma que .o governo ttãd applique
somnzas . n~az~res á nalz'zação 'da grande óbra da éwutrucçâo dai
vias-:fi:rreas. 1Vâo ha no mundo paiz que mais. necessúiade te,iha
de estradas de ferro do que o Braztl. · A este respez'to está o Brazil
atraz, não .s6 dos Estados- Unidos, mas aindq das pequenas: e
muitas vezes mal governad_as republicas da Amerú:_a do Sul e da
Amenca Central.
" -Nos Estados-Unidos ha uma milha de estrada de- ferro
pa·ra 56 milhas quadradas de territo rio; no Canadá, u111a para
148 miH;as quadradas, no Chile, uma par:} 298 ; em Costa
Ric2, · uma · pa1:a 318; ·e Honduraói, uma para 638; ~na
Confederaç ~o Argentina, uma paraw955 ; - no Ur üguay, uma

lx] O Clobd, de 5 de ·setembro de 1874, reproduzm este artigt;>; que contém um


sem-numero de epigrammas dos mais ridiculos sobre a desidia, a pusil1al).imidaae e a
.éurteza do gove rno deste pãiz !
- 394 -
para 1,z9 , ·n0 Perú, uma para Í,340; o mesmo pobre
Paraguay, ( o nosso pup1"llo'-! ! ) tem unia milh_a de .via ferreà
para -z,33li · milhas quadradas de superficie, e o anarchico
Mexico, uma inilha pata 3, 435 milhas qt1adradas ! ! Mas o
Brazil; riéo'l~ florescente, tem apenas uma milh'a de estrada de
ferro pàra 7,573 milhas quadradas de territorio ! "
E' · o ~rticulista inglez não âisse que estas 1·ep-itblzquétas, ·
como. na sua estultice sóem dizer os nossos oligarchas, con-
struiram caminhos ele ferro em pampas, como a Republica
Argentina, em .. desertos infestados ele salteadores, como o
Mexico, nos altos e estereis pincaios dos Andés, como o Perú !
· Não disse que nós brazileiros titL beamos em construir
canifnlios' 'de ferro' -~Ós- ·v~iles 'cfo 't Ócantins, 'ciri Parnahyba,
do Paraguassú, db S. Francisco, do JequiLinhonha, do Ri o
.Doce; do Tietê, _d o lvahy, do Ribeira. do Iguassú e do
Tubarão! _Não disse que cada um destes rios encerra cabedaes
pata enriquecer um imperio !
Tambem não disse que o Bi:azil tem \!Ínle provi11cias e
que doze-as províncias do Amazonas, do Pará, elo Maranhão,
do Piauhy, do Rio-Grande do Norte, da Parahyba do Norte,
de -Sergipe, de> Espírito-Santo, do Paraná, de Santa Catharina,
de Goyaz e de Mato-Grosso - ainda não viram uma loco-
motiva no anno de ·1875, 53 annos depois da nossa eman-
cipação política,' z3 annos depois da introducção dos caminhos
de ferro no Imperio _!

- Que juízo Í,i..rá de n'6s a geração vindoura? Qu e dirá,


lendo os innumeros escriptos de propaganda para o des-
envolviment<;> dos caminhos .9e -ferro no Brazil, quando vi r qu e
li.os tempos, que correm, não se faz um discurso, não se escreve
um período, qualquer que seja o assumpt,,, sem rep etir. o
motte, já ridiculo por sediço: - Vias de communicaçã" parn
o Brazil - ! ! ! e que no emtanto cruzam·os o~ braços G
dei xamos as locomotivas argentinas e orientaes · irem beber
ovantes as aguas do nosso Uruguay ; que ·dei xamos us
Argentinos e os Chilenos compÍetarem o primeiro caminho de
- 395 -
ferro interoceanico da America do Sul; que consentimos que
as locomotivas .peruan_as ridicularisem, do alto dos ,A.ndes,
nossas misêraveis locomotivas espreg.uiçando-se, envergonhadas
e timidas, pelas pra.ias, com0 <:e fossim tartarugas?!! ..
. Ah!. a. geração vindoura ha .de ·p~rguntar envergonhada :
- Eram homens ou mulheres_velhas os que governavam então
este rotineiro paiz?
LXVII.

Summario. -Contraprova .do prbjecto de lei de auxilio á Agricultura Nacional


(continuando). - Excesso nos impostos de exportação. - Necessidade de reduzir
as despezas de guerra. - O exercito do5 Estados Unidos e o exercito do Brazil. -
O .milit.::.rismo na America do Sul é um -absurdo. - Conselhos de Washington e de _
Thomaz Jefferson sobf'e as .relações internacionacs. - A Republica Nqrte-Ameri-
cana, a nação mais pacifica do mundo. - A arbitragem _de Genebra - A Lei de
arbitragem para prevenir as guerras . - Necessidade e vantagens de uma Lei
analoga para o Brazil.

·Asª e ultima causa do entorpecimento da -la voura, men-


cionada na Rynthese do inqueri to é :
'' Elevados impostos· de exportarão. "
O-relatorio da commissão da Bahia em seu parecer {r),
éom a epigrnphe: " Impostos Geraes, Provindas e Munici-
paes, sua injlueni:ia ·sobre a Agni:ultura e a Inrlu.rkía da Pro-
vincia " patenteou, do modo mais e,:idente, a exageração, a
- inconveniencia e a improcedencia dos imposto$, q11e pesam
sobre a infeliz Bahia.
Estudai bem esse relatorio.
Não foi escripto ·por um pobre utopista, como nós ,: mas
por um dos mais velhos esta?istas d'este paiz, por um ex-mi- .
nistro da fazenda !
l 1 J Vide ,b,fin·mrrções. sobre o Estado da.,Lnuo.111·a~Rlo-de J 1aneiro--i.Typogr;aph ia
Nacional-1874-pag. 27.
Vereis q ue as alcavalas e os obices, que ainda existem
neste paiz, suffocando a Ágrícultu ra e a Industria; s6 acham
símiles nos o_m inosns tempos de Colhert _e de Lui~ XIV! !
Ah! . E' P!·ec:iso que confesseis :
Um pobre p9vo, suje_ito ao reci•ütamento ou á conscrip:
ção, que· paga 1_4 e 15 por cento pelo que exporta; 30, ·40 e
até màis de 50 por cento pelo q~1e importa, esgu ich·a suor e
sangue, por todl)s os porus, sob a pressão da inéxoravel p(ensa
hydraulica do governamentalismo e do fisco.
- E para. que?
- Para manter exerci tos de occupação no Parag uay !
- Para m'amlà1•· conskui;· enr.óÍ,raç,ados , enormes no
rhamúa!
Qua ;1do a pr~vinéia da B~hia, a desditosa mãi · da nacip~
naliJade 'bí·a_ziÍeirà, vive, ·de~de 1859, esmagada çle ·divinas,
tomando dinheiro a 8 por cento, como ·um qualquer. parti-
cular (1), o govern; manda enterrar nos lodaçáes da i.Jha dos
Cães (Is/e o/ Dogs) cinc<í mil contos Je -réis!!
- · Tem um tal delicto justificação peraffe o senso cóm-
m um, perante a_sã razão?
-· Que lei autliorisou tal despeza?
Ah! No p1:incipio da fundação deste Iinperio; u1i1 ·mi-
nistro da guerra foi accusado, perante o. Parl'arnepto, em sessão
ma-gna, por ter comprado, sem lei, algumas caixas de espin-
gardas ·!
Hoje, por simples espiriLO de imitação :aos desvarios de
militarismo cios candidatos nas eleições de Buenos Ayr~s,
1üalbaratam-se, dizem, '15 mil contos de réis, em armamentos
ina:uditos, e ambas as casas do Parlamento repetem submissas :
-Amen.
Este encouraçado monstruoso estava talvez predestinado
a ser um pretexto eterno de ridiculo á naeiona·hdade brazileira.
· Mui provavelmente iria, com a sua monstruosa qµilha, a 25

. (1) Vide Relatono do :Preside1ite A , C. Cruz Machado-1874-pag, 259.


- 399 -
pés de profúndidadé, e'ncalli'ai', ·em dia de cerração, em , algum
banco do Prata !
E, então, · quand o Argentinos, Orientaes e · Parnguay0s
passas~em, nos seus elegantes vapores am~rica.n c,1s. por ess~ -
velho c:iscó adornado, alquebrado, desmastread·o, j"gt1ete dos
ventos e das ondas, apontariam· entre gai:galhada:s :
- Vêde o monstruoso n avio, que o Imperi'o _eS:cra·1ocrnta
mandou para opprimir-.os povos livres do Prata 1
E algum, com pretenção a philosopho, .i.µróveitari.i. a
opponunidade para exhibir ainda uma vez o velho : - "SiC
semper (yra,,wis. "
V6s lavradores da Bah1a, de Pernaml:iuco, de Maranhão, ·
de Alagôas, da Parahyha do Norte, e de todas as provincias,
que se estorcem, sobrecarregadas de imp'>stns, na mais: extre-
ma penuria, ordena i aos vossos representantés que votem:
- A desoccupação do Paragnay;
.:__A _redLicção das enormes despezas de gu.e~:rn.
Abri o orçamento dest~ IrrÍperio.
Estudai-o verba pl>r ,verba, e recu 1Jhece reis que os serviços
n 'este pa1z são mal pagos, que não é possível fazer reduc-
ções ( r ) importantes e beneficas senão . no o rçaÍnento da
guerra .•
Querem cónduzir-vos, céga e fatalmente, á sorte da França
e· da Hespanha ; di zei -lhes francamente: - Não; n6s quere-
mos ir para os Estados Unid os!
Em 1835. quando Tocqueville visitou ns Estados Unidos,
este ' 'P,liz-Prodigio" tinha 15 milhões de habita ntes e 6,000
soldados!
As· n ossas estatísticas ,ain~a não consegui ram apurar mais
de 8 milh ões de habitaiites, inclusive os escravos, o u cerca de ·
7 milhões de li vrés, e 110 erntanto a lei 11. 2,530 de 9 de Se-
embrn de Í875 fixou ro,ooo soldados em tempo d e' paz e
32, ooo soldados em tempo clt> g uerra ! !
(1) Os telegraphos sHbm~rino e terre~tre pos::-ibilitmn ao gover:10 im perial fazer •
desde já, importantes ecoriomias, mudando as e~taçõe~ nava_e:- do Rio da Prnta para o
ancoradouro ele ~ant;.i Cruz. n:o canal de Sa nt:1 Cathanna. Graças :10 telegrapho:, no!--5a
esquadra pócle occci rrerem algu mas horns a algum conflicto no P1·ata. -
400

Pr'etendé'm fazer do · Brazil a Prussia da America do Sul?


Absurda· chiméra !
_Impossive1 absoluto! _
Vós -prideis comprar ctrúenas "de encouraçados, e milhares
de canhões raiados; mas v6s não podereis jámais plantar o
mil'itarismo na Amei-ica do Sul !
Estudando a aversão á guerra, que ha nos Estad;os Uni-
dos, diz com muita razão Tocqueville : •
"Si d~pui_s Ie co·mm·e ncement du monde les peuples et
" le,~ rois n'aváient e·n v11e que leur utilité rée!Íe, on sâurait
'· à 1iP-ine ce .-que c'esf que la guerre parmi Ies h ommes . .,,
E' bel'n verdade _ Tocqueville:
"Si os povos e os reis, des·de o pr_incipio do mundo, s6
'' tivessem em mira vantagens re_áes, apenas a hurnaríidade
'' sabei·ia a significação da palavrn - Guerra. "
Ouvi agc~ra as mais solemnes palavras do testamento poli- ·
tico dE, Washington.
o · sublime fundad o r dessá maravilhosá nacio~alid_a de deu
consélhos aos seus cidadãos, que n6s brazileiros, tambem
a1n ericanos, devemos seguir escrupulôs,amente.
Elle disse :
'· ~ - regra da nõssà politica deve ser desenvolver relações
" comm erciaes-com as nações estrangeiras, é conservar com
'· ellas o menor num ero de laços politicos que fôr passivei. ', 1
Notai bem : os nossos estadistas fazem justawen1te o con-
tra rio.
Ah ! ridiculo !
"Nossa veraadeira política, continua o imrn or.tal Wash-
.. ington, deve ser não contrahir allianças permanentes com
·' Estado algum ; não quero q ~e sé falte aos compromissos
'' ex isten tes, mas guardemos a · vantagem de não contrahir
"mais n enhum. A honestidade é sempre a melli t)r política :
'' é}~1axima que eu considero igualmente applicavel ás relações
'' internácionaes como aos negocios particulares. "
- Tem sido se?1pre honesta a nossa politica no Rio da
Prnta ?
~ 401 -

A veneração á mãi-patria nos impede responder. Mas


abri, alta noite, no silenci~ e -no isolamento de vosso gabinete
de estudo, a triste historia d<t diplomacia e da guerra no -Rio
ela Prata, e ta12ai com ambas as mão~ o rosto, pará que nem as
proprias paredes saibam que v6s chorastes de vergonha!! !
. ~.

O venerando Washington escreveu tambem ~ ,


"A nação que se entrega a sentimentos hahituaes de
'' amor ou de adio para com outra, torna-se de algum modo
'' sua escrava e é escrava do seu odio ou de seu amor . "
O bom do \Nashington escreveu esta maxirria para o
Brazil . · ·· ·· · · · ·····
- N6s somos escravos. do. Rio da Prata por uns velhos
o<lios,· que nos legáram os miseravejs tempos coloniaes.
O illustre Thomas Jefferson, um dos gr:andes co1i1p~nhei-
ros ele Wash ingt~n e_de Fntnklin, na im·m·o rta_l ubra ·de funda-
ção da Republica Norte-Americana, aconsell;:i,ou tambem ·
''. Os amt;,r icanos não elevem pedir privilegias ás nações
'.' estrangeiras .afim de nãb serem Óbrigad.os tambem a con-
" .cedê-los. "
Não de ve mos, pois, ser tutores elas pequenas republicas
do Prata . Si querem fundir-se na Republi.cá · Argentina,
e~tãn perfeitamente no seu direito, e nós só de~emos esperar
que;•, crescendo em territorio, adquiram tambem mais jui,lo e
mais circumspecção.
Foram esta, sábias e santas maximas de ·vvashington e
de Thomas Jeffersun, de abstenção completa de intervenção
em paiz estrangeiro, que fizeram dos Estados _l!nidos o paiz _
que mais ama a paz em todo o mundo!
E, d'e~se amor á paz, re~u ltou o grande- beneficio de eco-
nomi::J. constante de _sangue e de capitaes com os fataes exer-
ci tos permanentes!
Por outro lado a segurança de ficarem livres do recruta-
mento, da conscripção e dos exagerac.i os impostos europeos .
constitúe os Estados Unidos o "El Doraclg," a terra _prometti'd a
dos em igrai,.tes da infeliz .Europa.
- 402 -

Foi a verdade que Michel Chevalier proçJamou, _n o mo-


mento solemne da Exposição Univé-rsal de Pariz de 1867,
pestas palavras, .que encerram uma grande li ção p.-tra o Brazi l :
" Un des traits Jes plus dign·es éle remarque de la ma-
" niere, _d ont cett~ hàtión a conç\.i et réglé ses destinées,' c'est
" .qu'elle a dirigé les princi pales .efforts de ·soo activité, d e sa
" volonté et . de ·son intelligence, non pas vers la - "guerre,"
" . _._ ou l'Europe se laisse trop facilement entrainer, m11is
" vefs les arts de la - "Paix," - vers l'exploitation des
" · richesses offerles par la nature."

O arbitramento de G enebra é a consequenct:-1. directa dos


santos conselhos de Washington e de Jefferson . A lei, que
ãcaba ·de votar o Congresso dos Estarlos Unidt)S, é tambem
filha directa de Franklm e de Jefferson .
. Esta admiravel e santa _lei, qu·e deve ser tambem votada
pelo Parlamento brazileiro, diz:
- '
' " Considerando que em qualquer · epocha a gue rra é des-
truidora dos interesses materiaes dõs povos, imm oral na sua
tendencia, e contraria aos sentimentos de um povo culto;
" :Considerando tambem que .os litígios occurrentes entre
as nações devem, no interesse da ''Humanidade" e da "Fra-
ternidader ser resolvidos p or meio de a.rhitramentos interna-
donaes; conseguintemen~e:
-Fica pela presepte lei resolvido que o povo dos E sta -
dos Unidos, qu e inclina-se á uma pol íti ca de paz com torlo o
genero humano, que goza de todos os seus beneficios, e espera
·q ue será mantida e universalmenÉe a,foptada, recommend a
por meio dos se us rep res.e ntantes no Congresso, qu e se ad ,)pte
a Arbilràgem em substituição da ·'Guerra.'' Recommenda
mais que os poderes. gove rm,mentaes, que estão investidos do
direitodeconcluir tratados (com o presidente do Senado), que
. provejam, 1:i fôr possível, nos tratados, que d e futuro ce lebrem
os Estados Unidos com as potencias estranhas, a que ni\o possa
a guerra ser declarada por uma das partes contratantes á
outra, sem h.aver envidado todos os esforç_o s para accomm~dar ·
qualquer litigio por meio de um arbitramento imparcial.''
-Porque não aproveitaremos a feliz opport~nidade, que
nós offerece aproxima Exposição Universal do Chile, em 1875,
para firmar, ne_sse templo da Paz; que se está erguendo para
receher a Agricultura, a Industria, o Commercio e o Trabalµo
çle todÓs 'os póvos, ?ara firmar, repetimos estes saç_rosantos
princípios na America do Sul?.
LXVIII.

Sumn~ario.-Contra-prova dp proj ecto de lei de auxilio á Agricultura ~acion:tl


(terminando) -Elevados impostos de exportação.--Necessidade de estudar espe-
cialmente o systema tributaria do Imperio.-O projecto de lei de auxilio á lavoura .
.-Bancos territoriaes. - Engenhos centraes.-Bancos territoriaes com fundo em ouro
e emissão lÍvre em suas circumscripções.-.Applicação dos principies de centrâlisação
agricola e industriai a todoc; os produc tos nacion;;,es.-Garantia de juros em ouro .
-Fiança e não garantias.-Reformas sodai::s, economicas e financeiras neceSsarias á
pros'µeridade dâ Agricultura Nacional -O axioma de Montesquieu.-A Liberdade, a,
principal promotora dos progressos agricolas .-Conclusão.

!!-- quinta e ultim::t "caus3 do entorpecimento da lavoura,"


mencionada pelo inquerito official:
'' Informações sobre o estadr> da lavnura" - Rio de Janeiro
-7ypograplzza Nacional- Ic\'74-foi classificada assim :
- V - Elevados Impostos de Exportação.-- Cremos que
não haverá pessoa ele boa fé, que ouse n egar qne são ~levaclo, ,
que são exaggerados os •impostos de exportação e de impor-
tação, que ora pesam sobre a nação brazileira. Ainda, infeliz-
mente, ha nesse particu lar verdade mais triste : entre os
innumeraveis impostos geraes, provinciaes e municipaes existem
alguns tão fataes á união da familia brazileira e ao desenvol-
vimento da riqueza nacional, como os que havi,1 na Frnnça
antes das reformas de Turgot e de 1 789 ! ! . ·..
Este importantissimo assum pto não pócle ser encetado no
ultimo artigo cl?s Estudos sob a rubrica Agricultura Nacúmal;
ta !vez · nos seja da,do :trata-lo, em occasião oppÓrtuna, sob a
rubrica Riqueza Nacional-Estudos Financeiros . . Neste mo-
m·e nto só devem os r:e unir nossa fraca voz a oütras m ais a uto-
ri sadas, qu_e i.)_1s.t antemente pedem a redu cção dos excessivos
en ~a_i-gos_nacio naes por uma polilica de paz, de industria e de
tmbalho, como, é indispensavel a uma nação ame ricana.

A commissão de fazenda e a commissão es pecial, encar-


regada pela cama r;_t dos Srs deputados de propôr ,os meios de
auxiliar a lavoura, apresentou na · sessão de 20 d,J corrente
m ez (Julho de 1875 ) o seu illustra<l o parecer, e um projecto de
lei para cre;içã,i de bancos <:!e cred ito territo rial ·e de fabricas
ae ntraes de assucar. Nos artigos XLVI, XLVII e XLVIII,
- publicados no J o~·nàl do Commercio de 20 de Março, 31 de
Má rço e 5 éle Ab1il de 1875, procurámos dem onstrar a diffi-
culdade, · serlão imposs.ibilidacle, cl!=! fund a r, em todas ·as pro-
vinci_its do lmpe ri o, vercjadeirl;S bancos territoriaes, sem càdasti'o
ou ~s ta tistica territori ai, com a escraviâ ão e com o papel-
mucda ·.
Ci Lamos o ex emplo ele um · ba nco autorisado, e que foi
imµossivel o rga ni za r e m uma peq uena província, para que
n ão. res tasse a m enll r duvida de q·ue essa medida não podia ser
generalisad,t por todo o Imperi o.
·Com o inqu erito na· m:ào; fizemos ver que o e/feito imme-
diat::i dos banços territo riaes será converter a di vida .' actlfal da
lavoura de juros de 12%. e r8% em juros de 6%; e que todas
as-probabi•Jidades são p ela triste continuação do "st11tu-quo;''
da cultura extensiva; da cultura a fe rro e fogo ; e de todas as
praticas absurdas· dit rotina dos tempos çol oniaes . Repetimos:
.é muito p~)SSivel, e até muito prova.vel, que sejam entre·g ues
á lavoura esses 5q,ooo:000$, e que -delles . não se applique
um conto de réis á compra de um arnd.o ! ! ...
Se a Assembléa Geral, assegurada á nação uma ép0<;:a de
paz, quizesse doptar o 13.ra•zil ·com as reforma!! economicas e
fin a1íceiras, necessarias para a abolição do fa tal papel-moeda,
e para a fund ação de bancos de fund o e\11 o uro e de emissão
.livre ; de bancos escossezes, em uma só palavra ; então os
beneficios, produzidos pelos b.mcos terri~oriaes, sob o ponto
de vista financeiro, compensariam largamente suà deficienci.1
sob o ponto de vifta da refo rma ruraL de ·q ue nra ·prec:s,rnrns.
Nesta hypothese, o auxilio aos hancos · tetritoriaes d evía
ser prestado em. ouro pelo governo irnpÚial; s~r-lhcs-ia
concedida a faculdade de emissão até e triplo ele seu fundo
capital ; suas notas teri'am circu lação nos limites ele sua__
circumscripção; ficando, ipso /ado, revogada a ominosa
lei de 22 de Agosto de 1860, e os seu.; rêspectivos reg ula- .
mentas •
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • ·, ............. ,i · • ! •••••••

O projecto elas illustraela,s commissões só applica os


novos princípios ele cen_tralisação agrícola e industrial ;o
assucar: só perrnitte a funelaçãu de engen hus cenp·aes.
-Purqtie não fa.z~ndas centraes de algodão, de_c~fé, de ft1rn(l,
ou de qua\7uer outro producto. ilas. industrias _ag rícola,
extracti.va e pastoril, exploradas )1~S differentes pro\incias dl,
Imperio?
--Não será inconveniente e irnpolitico privar desse bene-
ficio todas as provincias, que não. se. dedicam á cultura cla
canna de assücar? - Não n ecessitam evidentemente de li1-g~n-
tes reformas a cul1ura e a preparação de todos os outrus
productos brazileiros ?-Não está demon~trado pela collecção
de in formações consu la res, ul timamente publicada, que .é
s6 devida á sua má prcpar0 ção o lugar inferior, que. occu-
pam os procluctos nacionaes nos differentes me.rcados estran-
geiros ~
Nós pediriam os, tambem, por ~mor ti.as instituiç['\es de-
mocraticas e constituci<'maes, que ·a o goveruo s6 ÍOSi,e perrnit-
tido afiançar as garantias ele juros, concediclas pelas .assem-
bléas provinciaes. Cumpre não reforç,tr a centrnlisação:
ella chegou entre nós _ao maxànum absoluto: já excede ás for-
ças de um homem ser ministro n'este Imperio 1
E' indispensavel que a garantia de juro seja em ouro, ou
paga erri papel, convertido . ao cambio-par d e 27 pence por mil
- 408 -

reis, para que possamos importar capital estraligeiro parn os


nuvos estabelecimentos; no Imp_erio, está ex1:1berante-
mente -provado, . não ha capital dispon ivel para em prezas in-
clustriaes.
-Seria muito prudente que, tanto para os bancos ter-
ritoriaes, coa1(> para os estabelecimentos centraes, fixasse o
parlamento ·as soinrnas, destinadss a cada província _: a ex-
_perie1~cia tem ciem_onstrado .que essas destribuições, afinal, são
sempre eivadas de um mau espírito de bairrismo. Além
dessas cu11cliçêi.íes financeiras, convirá, por certo, addicionar
ão projecto medidas tend entes i facilitar as ref~rrnas sociaes
e eaonornjcas, necessa-i'ias ·e indispensaveis á Agricultura Nacio-
nal: resumimos e discutimusas pr'incip.1es n·os art. XLI (í)
e seguintes.
O estu·do do inquerito sobre ·a . lavoura, que é o triste
rói das ,uas mise rias internas; o estudo " das informações
c<JHs1.ilares, que dão o pai lido reflexo dessas miseri::1;s no ex-
terior-, clernonst1°aram á maior evidencia, que os males,
de que soffre a Agricu'Jtu rn N aciunal, não pódem ser curados
ne m com 50, nem cnm 100 úem com 200,000:000$. A Agri-
cultura N,1cional iiece~sita, evidentemente, de auxilias;
n ecessita, porem, ainda niais ele refonúas. O _que existe é
a velha ma,china dos -tempos cio esclavagismo : é preciso
d,u--lhe n·ova machÍl;a tendo por motor-a Liberdade.
Disse_ Montesquieu: '' Les pays ne sont pas cultivés
en rafson de ·l eur fertilité, mais en raisori de leur li-
'' berté . "
Se fossenr necessarias provas para demonstrar esse grande
pe1y;ame11to- do sublime publicista; se todos os paizes do
mundo -não cunfirmassem o axioma de que a sua cultura
não é a proporcional á sua fertilidade, mas sim á som ma das
institui"ções _ livres, de que rea lmente ,gozam ; bastaria para
convencer aos mais emperra<los o ex1:mplo d::t Inglaterra e dos
Estadus-Unidos, os paizes mais livres e os de melhor agri
cu ltu ra de todo o mundo!
L1J \ride Jorna(do Commercio de 25 de Fevereiro de I875.
São, portanto, reformas socia e_s, ecqnomica~. e Jinai:t-
ce i-ras-, dictad,is pelo mai s _puro_ espírito de Liberdade e de
Progresso, os unicos agentei; capaze:, de fundar sobre solidas
bases a prosperidade da Ag,·iculturr. Naçional.
Esta é nossa· ulfima palavra; _ essa é a conclusão destes
imperfeitos estudos sobre o m·a ximo problema da actualidade.

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