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O Mapeamento Digital de Solos mapas, planilhas,etc.) sobre os solos por Hans Jenny (1941), visando não
(MDS) é definido como a “criação e po- e sobre o ambiente (clima, vegetação, apenas explicar as relações entre os
pulação de sistemas espaciais de infor- uso da terra, geologia, geomorfologia, fatores de formação do solo, mas, so-
mação de solos, através do uso de mo- material de origem,etc.). bretudo, predizer quantitativamente os
delos numéricos, para a inferência das O estado da arte em MDS, incluindo solos (classes e/ou propriedades) como
variações espaciais e temporais dos ti- as premissas, os princípios, os méto- funções espaciais. Esse modelo foi de-
pos de solos e de suas propriedades, a dos, as aplicações e os dados neces- nominado de s.c.o.r.p.a.n.:
partir de observações e conhecimento sários para executar o mapeamento Sc,p= f (s.c.o.r.p.a.n.)+ e, onde:
dos solos e de variáveis ambientais cor- digital de classes e propriedades dos
relacionadas” (Lagacherie & McBratney, Sc,p (Solo, classe ou propriedade); s:
solos, foi apresentado de forma ampla
2007). solo, outras propriedades do solo num
por McBratney, Mendonça-Santos e Mi-
dado ponto; c: clima, propriedades
Esta definição traz, em si, os prin- nasny em uma revisão/apresentação de
climáticas do ambiente num dado pon-
cipais componentes do MDS, ou seja, método na revista Geoderma, em 2003,
to; o: organismos, vegetação, atividade
a necessidade de se ter informações intitulada On digital Soil Mapping. Des-
humana; r: topografia, atributos da pai-
de solos georreferenciadas, que pre- de então, essa publicação é considera-
sagem; p: material de origem, litologia;
cisam ser organizadas num sistema da uma referência seminal no assunto,
a: o fator tempo; n: espaço, posição
de informação, para serem usadas em com quase 700 citações nas bases Web
espacial.
modelagens matemáticas e estatísticas, of Science (669) e Scopus (690). Nesse
juntamente com covariáveis ambien- artigo, os autores apresentam uma pro- É uma fórmula generalizada do
tais relacionadas ou que influenciam posta genérica de protocolo para MDS, modelo de Jenny, que inclui a posição
a formação dos solos, para a predição adaptando o modelo de distribuição espacial (n) como condição para o ma-
de classes ou propriedades dos solos, espacial dos solos em função de seus pemaneto digital. Uma outra novidade
em locais não mensurados. Isso im- fatores de formação, inicialmente defi- é a possibilidade de predizer o solo a
plica que tais modelagens e predições nido por Vasily Vasili’evich Dokuchaev, partir de informações de solo existentes
não poderão ser realizadas sem infor- considerado o pai da Pedologia, e, mais (mapas existentes de classes, proprie-
mações prévias (de campo, laboratório, tarde, publicado como modelo teórico dades, relatórios, ou mesmo expert
questionamentos feitos em ‘por quê’, o recurso natural solo de forma muito zar o que irá ocorrer ‘se’.
‘para quê’, ‘o quê’, ‘quem’ e ‘como’. limitada, sobremaneira onde dados Na sequência poderíamos atuar
Essa abordagem emprega valores esté- adequados nem mesmo existem! Além na prevenção, com a preparação e
ticos, de beleza e harmonia para explo- disso, a degradação do solo e a dimi- conscientização da sociedade de
rar e produzir os diversos “papéis” do nuição da sua capacidade em exercer como reagir nas diferentes situ-
solo nos ambientes, vinculando noções suas funções nos ecossistemas podem ações. Embora não se controle a
de risco, vulnerabilidade, adaptabilida- ter impactos irreversíveis em todos os forma como os eventos ocorrem,
de e sustentabilidade. desafios listados. Logo, para garantir a principalmente aqueles de origem
Nesse contexto, a temática de Se- segurança do solo, é fundamental que natural, nossas ações deveriam ser
gurança do Solo (McBratney et al., sejam produzidas informações sobre previamente planejadas buscando
2014) também foi proposta como mais esse recurso natural em escalas mais otimizar recursos, diminuir impac-
uma forma inovadora de integrar dados detalhadas. tos e modificar a forma como usa-
disponíveis sobre os ecossistemas. O A falta de informação adequada tem mos a paisagem.
desenvolvimento sustentável tem à sua gerado prejuízos incalculáveis, além de A Figura 3b exemplifica uma
frente grandes desafios ambientais: se- não permitir que decisões apropriadas sucessão de eventos ocorridos por
gurança alimentar, segurança hídrica, sejam tomadas a respeito da melhor ocasião de elevados volumes de
segurança energética, mitigação das forma de utilizarmos nossos recursos - chuva, no final de junho de 2014,
mudanças climáticas, proteção da bio- entre eles, o solo (Figura 3a). Nossa ca- nas cabeceiras da bacia hidrográfica
diversidade e produção e valoração dos pacidade de antever as consequências do rio Uruguai, na região sul. Qual a
serviços ambientais. O solo tem papel de qualquer evento sobre a paisagem, qualidade e quantidade de informa-
fundamental em meio a todos esses de- seja ele de origem antrópica ou natural, ções disponíveis sobre o solo nessa
safios, os quais estão alinhados com os é, considerando os dados atualmente região? Os dados são adequados
objetivos do desenvolvimento susten- disponíveis, muito limitada. A busca para simulações relacionadas aos
tável pós-2015 das Nações Unidas. por ‘ver antes’, através da simulação, diversos papéis que o solo teve na-
Contudo, até o momento, os mode- demanda que recursos e dados estejam quele evento e em outros que estão
los têm incorporado a informação sobre disponíveis para que possamos visuali- em curso neste exato momento? As
respostas são de que não há dados
adequados sobre o recurso natural
solo e de que nossas ações são de
apagar incêndios depois que eles
ocorrem. Simulamos e prevenimos
O Modelo S.C.O.R.P.A.N. - Covariáveis Ambientais muito pouco, e os eventos catastró-
ficos irão continuar a se suceder.
Sc,p = f (s.c.o.r.p.a.n.) + e
A Ciência do Solo tem, assim,
um papel fundamental a desempe-
nhar, fornecendo subsídios à toma-
S – Solo
da de decisão estratégica e para o
estabelecimento de políticas públi-
C – Clima (temperatura...)
(f) cas sobre o planejamento de uso e
Img. satélite Modelos de regressão o uso sustentável do recurso natu-
O – Mapas de Uso da Terra, linear ral solo. Para tanto, deverá contar
NDVI, Biomassa Modelos lineares com dados e informação de solos
generalizados em escalas adequadas à tomada de
MNT + Derivadas Modelos aditivos decisão, com a harmonização des-
Altitude generalizados ses dados em bases de dados na-
Aspecto Modelos de Árvores cionais, bem como com os recursos
R – Declividade classificação e
tecnológicos disponíveis na atuali-
Perfil de Curvatura regressão
dade, para fornecer à sociedade, de
Curvatura da Superfície Redes Neurais Artificiais
Sistemas de Lógica
forma rápida e a baixo custo, as in-
índice de Umidade (CTI)
P – Litologia Fuzzy formações e conhecimento requeri-
A – Idade (pedogênese) Sistemas (conhecimento) dos. É preciso fornecer não apenas
mapas, mas acesso aos bancos de
N – Localizaçã o espacial (X,Y) dados, informação e conhecimento.
No Brasil, temos a excepcio-
Figura 2 - Covariáveis Ambientais para o MDS, Modelo s.c.o.r.p.a.n. (ilustrado por M.L. Men- nal vantagem do conhecimento de
donça-Santos). solos tropicais e da grande experi-
ência de pedólogos que têm um papel técnicos robustos para a tomada de de- da seguinte forma:
fundamental a desempenhar na cons- cisão e a construção de políticas públi- • Levantamentos de solos de bai-
trução dos modelos quantitativos de cas, estancam todos na não existência xa intensidade, escalas de 1:250.000 a
predição de solos. No entanto, esbarra- no nosso país de dados e informações 1:750.000 - cobrem 84,2% do território
mos todos no problema crucial de um de solos em escala de planejamento, nacional;
país em desenvolvimento, com dimen- quer estadual, municipal ou local. Atu- • Levantamentos de solos de reco-
sões continentais e onde os recursos almente, o país só conta com mapas de nhecimento de média intensidade, es-
naturais (solos, água,etc.) nem sempre solos para 17 estados, em escalas que calas 1:100.000 a 1:250.000) - cobrem
são considerados como estratégicos, variam de 1:100.000 a 1:600.000, repre- 8,6% do território;
finitos e não renováveis em escala hu- sentando aproximadamente 35% do • Levantamentos de solos de reco-
mana. território nacional, além de uma cober- nhecimento de alta intensidade, escalas
Os cientistas de solos no Brasil, que tura de todo o território nas escalas de 1:50.000 a 1:100.00) - cobrem apenas
poderiam estar fornecendo subsídios 1:1.000.000 e 1:5.000.000, distribuídos 1,6% do território;
Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin (lourdes.mendonca@embrapa.br) é pesquisadora da Embrapa Solos - Rio de Janeiro, RJ
Alexandre tem Caten (alexandre.ten.caten@ufsc.br) é professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Curitibanos