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Paradoxo Zeno quân co

Fernando Ribeiro E. Borges, 07/12/2023

Nascido por volta de 490 a.C, Zenão de Eleia, um dos pensadores pré-
socráticos, deixou sua marca na história ao elaborar o pensamento sobre um
dos mais notórios paradoxos dentro do campo filosófico: a não existência do
movimento das coisas mundanas, resultante da percepção errônea dos
sentidos.

O mesmo trouxe três situações hipotéticas, afim de provar seu ponto:

1. Paradoxo da dicotomia: Se um corpo se move entre os pontos A e B,


seria impossível do mesmo alcançar tal feito, visto que a distância entre
estes pontos pode ser dividida em metades infinitas vezes, o que
resultaria na existência de uma lacuna entre o objeto e seu ponto final.
2. Aquiles e a Tartaruga: O mesmo elaborou uma situação hipotética a qual
é protagonizada por um dos grandes heróis gregos e uma tartaruga, que
participam de uma corrida. Zenão afirma que se a tartaruga larga na
frente, Aquiles nunca seria capaz de alcança-la, pois existirá uma lacuna
impreenchível entre os dois, dado que Aquiles sempre percorreria
metades infinitas do caminho existente entre ele e o animal.
3. A flecha e o alvo: Seguindo a mesma lógica dos outros dois, a flecha
nunca chegaria ao alvo, pois teria que se deslocar até a metade do
caminho, depois a metade da metade, e assim por diante, nunca
chegando ao seu destino.

Mas o que nisto implica na Mecânica Quântica?

O paradoxo Zeno Quântico tem sua origem no princípio de que sucessivas


medidas realizadas em um intervalo de tempo curto o suficiente sobre um
sistema quântico, geraria o colapso da função de onda em seu estado inicial,
evitando desta forma que o mesmo realize uma transição de estado.

Estudado por Misra e Sudarshan em 1976, estes trouxeram um aparato


matemático para descrever a situação de uma partícula com instabilidade, na
qual possui o decaimento muito provável. Inicialmente, ao realizar-se uma
medida de estado antes de decair, temos o primeiro colapso da função de onda
para o estado inicial da partícula, sendo mantido após a realização de mais
medidas em curtos intervalos de tempo, afirmando então que o observador
evitaria a evolução temporal do estado da partícula.

Considerando a situação acima, onde H é o hamiltoniano da partícula em


decaimento, e 𝜓 seu estado em t = 0, temos:

Se verificarmos agora a evolução do sistema para um tempo curto 𝛿𝑡, temos:

No qual, para simplificarmos as contas, escolhemos ℏ = 1. Verificamos agora


que a probabilidade de a partícula ser encontrada neste estado é:

Como o bra-ket ⟨𝜓 |𝜓 ⟩ = 1, ficamos apenas com:

𝑃(𝑡) = 𝑒

Expandiremos este resultado em série de Taylor até a segunda ordem,


centradas em torno do ponto 0, em que obteremos:

Em que iremos ignoras os termos de ordem igual ou superior a 3, ficando


apenas com:
Faremos então sucessivas medidas em um tempo 𝜏 = 𝑡/𝑁 suficientemente
pequeno em relação ao tempo de decaimento, onde N é o número de medidas
realizadas, obtendo a probabilidade:

Em que podemos aproximar este resultado para:

Se pegarmos o comportamento desta probabilidade no qual N tenderá ao


infinito, podemos verificar que este resultado nos dará:

Ou seja, para um grande número de medidas realizadas em um curto intervalo


de tempo, será possível manter o sistema com a função de onda colapsada
para o seu estado inicial.

Ao levar para o pensamento filosófico, os autores do artigo original propuseram


que esta situação levaria ao ‘’salvamento’’ do gato de Schroedinger, visto que
se estamos evitando do átomo decair ao realizar sucessivas medidas, o
veneno na caixa nunca cairia sobre o gato, mantendo-o vivo dentro da caixa.

Apenas anos mais tarde, em 1990, este paradoxo foi comprovado


experimentalmente pelos cientistas Itano, Heizen, Bollinger e Wineland. Eles
elaboraram um aparato onde íons localizados em um estado 1 inicial eram
excitados a partir de uma radio frequência até o estado 2, mas ao mesmo
tempo era incidido pequenos pulsos de raio laser sobre o estado 1, excitando
os mesmos íons ao estado 3, por fim colocando detectores para verificar o
decaimento de 3 para 1. Ao incidir o laser sobre os íons em 1, o sistema
impede que haja transições para o estado 2, evitando que haja a excitação
pelas rádios frequências. O gráfico abaixo mostra que quanto maior o número n
de pulsos emitidos sobre 1, menor seria a probabilidade para a transição de 1
para 2:
Referências:

1. CAVASSIN, Priscila. Efeito Zeno Quântico.


2. ‘’Zenão de Eléia’’, disponível em h ps://brasilescola.uol.com.br/filosofia/zenao.htm,
acessado em 06/12/2023.
3. VENUGOPALAN, Anu. The quantum Zeno effect—watched pots in the quantum
world. Resonance, v. 12, n. 4, p. 52-68, 2007.
4. MISRA, Baidyanath; SUDARSHAN, EC George. The Zeno’s paradox in quantum
theory. Journal of Mathematical Physics, v. 18, n. 4, p. 756-763, 1977.

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