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RESUMO
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), define o termo aditivo alimentar como
"qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos, sem propósito de nutrir, com
o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a
fabricação, processamento, preparo, tratamento, embalagem, acondicionamento,
armazenagem, transporte ou manipulação de um alimento".
Há a necessidade do controle do uso dessas substâncias devido a alguns riscos que podem
oferecer à população e em algumas pessoas em especial, como os indivíduos que são alérgicos
a determinado aditivo alimentício. Na literatura, há informações a respeito de algumas dessas
substâncias que podem causar sérios problemas de saúde como câncer, desenvolvimento de
alergias, hiperatividade, entre outros (ALBUQUERQUE, et al, 2012)
Pokorný (2001) estabelece a diferença entre aditivos naturais e sintéticos: os sintéticos são
produzidos como substâncias puras de composição constante, e são aplicados como tal ou em
misturas bem definidas com outras substâncias. Pelo contrário, os naturais estão disponíveis a
partir de matérias-primas de composição variável. Tanto o teor das substâncias ativas como os
conteúdos de vários outros compostos presentes dependem da variedade da planta, das
condições climáticas, do grau de maturação assim como de muitos outros fatores. Os aditivos
naturais mais amplamente utilizados não são exatamente puramente naturais, mas sim de
natureza idêntica.
O presente trabalho tem como objetivo analisar rótulos de produtos alimentícios, para descrever
os aditivos químicos na composição de cada um, e encontrar potenciais alternativas naturais
para substituir esses aditivos sintéticos.
2 ANÁLISE DE RÓTULOS
Encontra-se os antioxidantes: TBHQ (INS 319) e ácido cítrico (INS 330). TBHQ é a sigla para
Terc-butil-hidroquinona, antioxidante que impede a oxidação da gordura. É um aditivo
sintético, que apesar de já ter sido banido em outros países, ainda é utilizado no Brasil. O ácido
cítrico, por sua vez, é obtido por meio de processos de fermentação e é responsável por
conservar o sabor dos alimentos.
Ambos aditivos podem ser substituídos por opções naturais que contenham substâncias que
também são conservantes: ácidos tartárico (INS 334), ascórbico (vitamina C – INS 300), málico
(INS 296) e acético (INS 260).
No artigo “Replacing synthetic antioxidants in food emulsions with microparticles from green
acerola”, pesquisadores da Universidade de São Paulo concluíram que os compostos
fenólicos extraídos da acerola contém micropartículas com efeito antioxidante satisfatório,
visto que a fruta tem grande concentração de ácido ascórbico (INS 300), e, por isso, poderia
ser usada em escala industrial para substituir os antioxidantes sintéticos.
No estudo “Aditivos alimentares: será que tem como substituir?”, estudantes de Farmácia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apresentam uma alternativa para substituir o
benzoato de sódio: investir na pasteurização dos alimentos, que é um método de conservação
físico, não envolvendo a adição de substâncias químicas ao produto. Tal método já é bastante
utilizado nas indústrias de refrigerantes em Portugal, o que comprova que é viável de ser
aplicado.
A margarina é conhecida por ser um produto altamente artificial, e isso se confirma com a
quantidade de aditivos descritos no rótulo: lecitina de soja (INS 322) e mono e diglicerídeos de
ácidos graxos (INS 471) – estabilizantes -, sorbato de potássio (INS 202), ácido cítrico (INS
330) – conservantes -, TBHQ (INS 319), edta cálcio dissósico (INS 385) – antioxidantes – e
beta caroteno (INS 160 a(i)) – corante.
Conforme os rótulos anteriores, o sorbato de potássio pode ser substituído pelo ácido ascórbico
(INS 300), o ácido cítrico sintético pelo ácido cítrico natural (obtido do suco de limão) e as
opções ácidos tartárico (INS 334), ascórbico (vitamina C – INS 300), málico (INS 296) ou
acético (INS 260) podem dar lugar aos antioxidantes sintéticos TBHQ e edta cálcio dissósico.
A lecitina de soja é um aditivo natural, visto que é uma gordura obtida da soja. No entanto, ela
também pode ser substituída por outra lecitina, a de girassol, que não é transgênica
(geneticamente modificada) como a soja, e não provoca alergia. As lecitinas são todas
classificadas com o número de INS 322 na tabela da ANVISA.
No caso do corante beta caroteno, ele pode ser obtido de fontes naturais, como a cenoura, batata-
doce, alguns frutos de palmeiras, a gema de ovo, cenoura, mamão, laranja e abóbora. Ele pode
ser substituído por outros corantes naturais, como o extrato de urucum, cúrcuma ou páprica, ou
simplesmente ser eliminado da fórmula, visto que sua função é, majoritariamente, estética. Ao
adicionar corantes naturais diferentes na fórmula dos alimentos, fatores de degradação de cada
um devem ser considerados, pois nem todos são compatíveis com os outros ingredientes do
produto ou com a forma que este é produzido (uso de temperaturas elevadas, pH ácido ou
básico, etc).
O acidulante ácido fosfórico possui o pH muito baixo, menor do que 1. Por isso, para eliminá-
lo seria necessário usar uma concentração mais alta de ácidos obtidos de forma natural, como
o ácido lático (INS 270), que tem pH igual a 3,86; ou, ainda o ácido málico (INS 296), com pH
que varia entre 3,0 e 3,5. Em refrigerantes que não são de cola, os acidulantes artificiais podem
ser trocados pelo ácido cítrico (INS 330).
Os edulcorantes são adoçantes que não conferem um aumento expressivo no valor calórico dos
alimentos. A fim de se eliminar o acessulfame de potássio da composição do produto, pode-se
aumentar a quantidade de sucralose, que é obtida através da sacarose. No entanto, é possível
também modificar os dois aditivos por adoçantes naturais, como a frutose ou o xarope de agave.
Ao executar essas mudanças, o valor calórico da bebida aumentaria, mas seria composta por
substâncias com menos efeitos adversos à saúde.
Os estabilizantes são incluídos nos leites UHT para manterem o produto estável, garantindo seu
frescor o mais próximo possível de seu estado original, logo após sair da ordenha. Ao invés de
modificar esses estabilizantes, pode-se considerar a alternativa de eliminá-los da lista de
ingredientes. Sabe-se que essa opção é viável, pois a Nestlé, em 2018, anunciou a retirada total
de estabilizantes de seus leite UHT, ou seja, todos os leites longa vida de Ninho e Molico são
classificados como “clean label”, por não possuírem aditivos.
Essa retirada somente foi possível porque a qualidade dos leites da marca é atestada como
superior à média do mercado. Para tornar essa alternativa viável, a empresa investiu fortemente
em pesquisas nesse setor, tendo como resultado um aprimoramento desde a produção leiteira
até o envase do produto, e dispensando o uso de aditivos.
O investimento nessa mudança é alto em termos monetários, mas com isso cria-se um
diferencial no mercado e atrai-se clientes preocupados em diminuir a ingestão de alimentos com
aditivos químicos.
4 CONCLUSÃO
Conclui-se que muitos dos aditivos sintéticos utilizados na indústria alimentícia poderiam ser
substituídos por alternativas naturais, que cumprem as mesmas funções. Estudos têm sido
realizados para encontrar substâncias conservantes, estabilizantes e antioxidantes em produtos
de origem natural, como frutas e sementes. Além disso, também se entende que, ao aprimorar
alguns processos industriais, como a pasteurização, dispensa-se o uso de aditivos.
REFERÊNCIAS
Pokorný, J. (2001). Preparation of Natural Antioxidants. In: Pokorný, J., Yanishlieva, N.,
Gordon, M Antioxidants in food. England: CRC Press. 311-327.
TEIXEIRA, Bianca Ferraz; ARANHA, Jessica Bomtorin; VIEIRA, Thais Maria Ferreira de
Souza. Replacing synthetic antioxidants in food emulsions with microparticles from green
acerola (Malpighia emarginata). Future Foods, v. 5, p. 1-8, 2022. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.fufo.2022.100130.