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RÓTULOS DE ADITIVOS ALIMENTARES

Natália Cristina Ramos


Prof. Volnei Perin Della Giustina
Centro de Educação Profissional Renato Ramos da Silva
3° Módulo – Técnico em Análises Químicas
Trabalho de Tecnologia Química
13/04/2023

RESUMO

Os aditivos alimentares são definidos como qualquer ingrediente adicionado intencionalmente


aos alimentos, sem propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas,
químicas, biológicas ou sensoriais, durante a fabricação, processamento, preparo, tratamento,
embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte ou manipulação de um alimento.
Eles são amplamente utilizados na indústria alimentícia para aumentar o tempo de vida útil
dos produtos, tornar o sabor, a textura e o aroma mais atrativos ao consumidor, substituir
ingredientes para diminuir o número de calorias do produto, entre outras funções. São
classificados em diversas funções, como antioxidantes, estabilizantes, conservantes,
aromatizantes, corantes, emulsificantes, acidulantes, agentes de firmeza e de massa e
reguladores de sabor e de acidez. Apesar de sua importância do ponto de vista industrial, seu
consumo a longo prazo causa efeitos adversos à saúde. Por isso, há uma preocupação em
substituir os aditivos sintéticos pelos naturais. Muitos estudos e testes são desenvolvidos nesse
âmbito para viabilizar essas mudanças, e muitas marcas já são capazes de eliminar substâncias
sintéticas da lista de ingredientes de seus produtos, ou modificá-las por alternativas mais
saudáveis e de origem vegetal ou animal.

Palavras-chave: aditivos alimentares, substitutos, aditivos naturais, aditivos sintéticos.


1 INTRODUÇÃO

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), define o termo aditivo alimentar como
"qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos, sem propósito de nutrir, com
o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a
fabricação, processamento, preparo, tratamento, embalagem, acondicionamento,
armazenagem, transporte ou manipulação de um alimento".

A utilização dos aditivos alimentares justifica-se por razões tecnológicas, sanitárias,


nutricionais ou sensoriais, visando sempre a preservação da qualidade dos alimentos, porém a
utilização segura dos mesmos é fundamental. Sendo assim, os aditivos alimentares devem ser
empregados na menor concentração possível, mas em quantidade suficiente para alcançar o
efeito desejável. Seu uso não deve causar danos à saúde dos consumidores ou promover
interferências no valor nutritivo do alimento. Para tanto, sua utilização deve ser limitada a
alimentos específicos em estrita observação às Boas Práticas de Fabricação (BPF) estabelecidas
pela legislação brasileira (BRASIL,1997; CODEX ALIMENTARIUS, 2014).

Há a necessidade do controle do uso dessas substâncias devido a alguns riscos que podem
oferecer à população e em algumas pessoas em especial, como os indivíduos que são alérgicos
a determinado aditivo alimentício. Na literatura, há informações a respeito de algumas dessas
substâncias que podem causar sérios problemas de saúde como câncer, desenvolvimento de
alergias, hiperatividade, entre outros (ALBUQUERQUE, et al, 2012)

Pokorný (2001) estabelece a diferença entre aditivos naturais e sintéticos: os sintéticos são
produzidos como substâncias puras de composição constante, e são aplicados como tal ou em
misturas bem definidas com outras substâncias. Pelo contrário, os naturais estão disponíveis a
partir de matérias-primas de composição variável. Tanto o teor das substâncias ativas como os
conteúdos de vários outros compostos presentes dependem da variedade da planta, das
condições climáticas, do grau de maturação assim como de muitos outros fatores. Os aditivos
naturais mais amplamente utilizados não são exatamente puramente naturais, mas sim de
natureza idêntica.

O presente trabalho tem como objetivo analisar rótulos de produtos alimentícios, para descrever
os aditivos químicos na composição de cada um, e encontrar potenciais alternativas naturais
para substituir esses aditivos sintéticos.
2 ANÁLISE DE RÓTULOS

Rótulo 1 – óleo de soja da marca Soya.

Figura 1: rótulo de óleo de soja. Fonte: a autora.

Encontra-se os antioxidantes: TBHQ (INS 319) e ácido cítrico (INS 330). TBHQ é a sigla para
Terc-butil-hidroquinona, antioxidante que impede a oxidação da gordura. É um aditivo
sintético, que apesar de já ter sido banido em outros países, ainda é utilizado no Brasil. O ácido
cítrico, por sua vez, é obtido por meio de processos de fermentação e é responsável por
conservar o sabor dos alimentos.

Ambos aditivos podem ser substituídos por opções naturais que contenham substâncias que
também são conservantes: ácidos tartárico (INS 334), ascórbico (vitamina C – INS 300), málico
(INS 296) e acético (INS 260).

No artigo “Replacing synthetic antioxidants in food emulsions with microparticles from green
acerola”, pesquisadores da Universidade de São Paulo concluíram que os compostos
fenólicos extraídos da acerola contém micropartículas com efeito antioxidante satisfatório,
visto que a fruta tem grande concentração de ácido ascórbico (INS 300), e, por isso, poderia
ser usada em escala industrial para substituir os antioxidantes sintéticos.

Rótulo 2 – suco de laranja integral da marca Suq.

Figura 2: rótulo de suco de laranja integral. Fonte: a autora.


O suco é comercializado como sendo “100% suco”, mas observa-se a adição de dois
conservadores: o benzoato de sódio (INS 211) e sorbato de potássio (INS 202). O benzoato de
sódio é um sal de ácido benzóico com propriedade conservante e toxicidade similires ao acido
benzóico. O sorbato de potássio, por sua vez, é um sal de potássio que deriva do ácido ascórbico,
o qual age como um fungicida e bactericida, impedindo a propagação de fungos, mofo, bolores
e bactérias que podem estar presentes no processo de industrialização de muitos alimentos.

No estudo “Aditivos alimentares: será que tem como substituir?”, estudantes de Farmácia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apresentam uma alternativa para substituir o
benzoato de sódio: investir na pasteurização dos alimentos, que é um método de conservação
físico, não envolvendo a adição de substâncias químicas ao produto. Tal método já é bastante
utilizado nas indústrias de refrigerantes em Portugal, o que comprova que é viável de ser
aplicado.

Para eliminar o sorbato de potássio do produto em questão, além de se investir na pasteurização,


pode-se adicionar o próprio ácido ascórbico (INS 300) do qual ele é derivado, extraindo-o de
frutas (como a acerola, conforme o estudo citado no rótulo 1) ou ainda uma pequena quantidade
de suco de limão natural, já que este contém ácido cítrico (INS 330).

Rótulo 3 – margarina da marca Qualy.

Figura 3: rótulo de margarina com sal. Fonte: a autora.

A margarina é conhecida por ser um produto altamente artificial, e isso se confirma com a
quantidade de aditivos descritos no rótulo: lecitina de soja (INS 322) e mono e diglicerídeos de
ácidos graxos (INS 471) – estabilizantes -, sorbato de potássio (INS 202), ácido cítrico (INS
330) – conservantes -, TBHQ (INS 319), edta cálcio dissósico (INS 385) – antioxidantes – e
beta caroteno (INS 160 a(i)) – corante.

Conforme os rótulos anteriores, o sorbato de potássio pode ser substituído pelo ácido ascórbico
(INS 300), o ácido cítrico sintético pelo ácido cítrico natural (obtido do suco de limão) e as
opções ácidos tartárico (INS 334), ascórbico (vitamina C – INS 300), málico (INS 296) ou
acético (INS 260) podem dar lugar aos antioxidantes sintéticos TBHQ e edta cálcio dissósico.

Com o objetivo de eliminar os mono e diglicerídeos de ácidos graxos, pode-se considerar as


misturas de proteínas de clara de ovo e leite com outros produtos, como açúcares, pectina e
ácidos, já que estas são utilizadas comercialmente para produção de substitutos de gordura mais
complexos e completos. Muitas vezes, a microparticulação é utilizada na produção destes
compostos para que as moléculas de proteína obtenham o aspecto de gel e possam ser
percebidas, pelo consumidor, com a mesma textura das gorduras.

A lecitina de soja é um aditivo natural, visto que é uma gordura obtida da soja. No entanto, ela
também pode ser substituída por outra lecitina, a de girassol, que não é transgênica
(geneticamente modificada) como a soja, e não provoca alergia. As lecitinas são todas
classificadas com o número de INS 322 na tabela da ANVISA.

No caso do corante beta caroteno, ele pode ser obtido de fontes naturais, como a cenoura, batata-
doce, alguns frutos de palmeiras, a gema de ovo, cenoura, mamão, laranja e abóbora. Ele pode
ser substituído por outros corantes naturais, como o extrato de urucum, cúrcuma ou páprica, ou
simplesmente ser eliminado da fórmula, visto que sua função é, majoritariamente, estética. Ao
adicionar corantes naturais diferentes na fórmula dos alimentos, fatores de degradação de cada
um devem ser considerados, pois nem todos são compatíveis com os outros ingredientes do
produto ou com a forma que este é produzido (uso de temperaturas elevadas, pH ácido ou
básico, etc).

Rótulo 4 – refrigerante de cola da marca Pepsi.

Figura 4: rótulo do refrigerante de cola Pepsi. Fonte: a autora.

No rótulo do refrigerante de cola em questão, estão descritos os seguintes aditivos: corante


caramelo IV (INS 150d), acidulante ácido fosfórico (INS 338) e edulcorantes: sucralose (INS
955) e acessulfame de potássio (INS 950)
O corante caramelo IV, conhecido por sua toxicidade, pode ser substituído por uma combinação
de corantes naturais, entre eles a antocianina, que é encontrada em plantas superiores, flores e
frutas como amora, cereja, morango, beterraba e uva (vinho), e pode fornecer uma infinidade
de cores, entre o laranja e vermelho, o púrpura e o azul, dependendo do pH do meio em que se
encontra.

O acidulante ácido fosfórico possui o pH muito baixo, menor do que 1. Por isso, para eliminá-
lo seria necessário usar uma concentração mais alta de ácidos obtidos de forma natural, como
o ácido lático (INS 270), que tem pH igual a 3,86; ou, ainda o ácido málico (INS 296), com pH
que varia entre 3,0 e 3,5. Em refrigerantes que não são de cola, os acidulantes artificiais podem
ser trocados pelo ácido cítrico (INS 330).

Os edulcorantes são adoçantes que não conferem um aumento expressivo no valor calórico dos
alimentos. A fim de se eliminar o acessulfame de potássio da composição do produto, pode-se
aumentar a quantidade de sucralose, que é obtida através da sacarose. No entanto, é possível
também modificar os dois aditivos por adoçantes naturais, como a frutose ou o xarope de agave.
Ao executar essas mudanças, o valor calórico da bebida aumentaria, mas seria composta por
substâncias com menos efeitos adversos à saúde.

Rótulo 5 – leite semidesnatado 0% lactose da marca Tirol.

Figura 5: rótulo do leite semidesnatado sem lactose. Fonte: a autora.

No presente rótulo, encontra-se os seguintes aditivos: estabilizantes - INS 451i trifosfato de


sódio (INS 451i), citrato de sódio (INS 331iii), fosfato monossódico (INS 339i) e difosfato
dissódico (INS 450i).

Os estabilizantes são incluídos nos leites UHT para manterem o produto estável, garantindo seu
frescor o mais próximo possível de seu estado original, logo após sair da ordenha. Ao invés de
modificar esses estabilizantes, pode-se considerar a alternativa de eliminá-los da lista de
ingredientes. Sabe-se que essa opção é viável, pois a Nestlé, em 2018, anunciou a retirada total
de estabilizantes de seus leite UHT, ou seja, todos os leites longa vida de Ninho e Molico são
classificados como “clean label”, por não possuírem aditivos.
Essa retirada somente foi possível porque a qualidade dos leites da marca é atestada como
superior à média do mercado. Para tornar essa alternativa viável, a empresa investiu fortemente
em pesquisas nesse setor, tendo como resultado um aprimoramento desde a produção leiteira
até o envase do produto, e dispensando o uso de aditivos.

O investimento nessa mudança é alto em termos monetários, mas com isso cria-se um
diferencial no mercado e atrai-se clientes preocupados em diminuir a ingestão de alimentos com
aditivos químicos.

4 CONCLUSÃO

Conclui-se que muitos dos aditivos sintéticos utilizados na indústria alimentícia poderiam ser
substituídos por alternativas naturais, que cumprem as mesmas funções. Estudos têm sido
realizados para encontrar substâncias conservantes, estabilizantes e antioxidantes em produtos
de origem natural, como frutas e sementes. Além disso, também se entende que, ao aprimorar
alguns processos industriais, como a pasteurização, dispensa-se o uso de aditivos.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, M. V.; SANTOS, S. A.; CERQUEIRA, N. T. V.; SILVA, J. A. Educação


Alimentar: Uma Proposta de Redução do Consumo de Aditivos Alimentares. Arquivo em
PDF.

ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Aditivos Alimentares. Disponível em:


https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs1/1997/prt0540_27_10_1997.html.

ANVISA. Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação.


Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2004/res0216_15_09_2004.html

NESTLÉ ELIMINA ESTABILIZANTE DO LEITE. Engarrafador Moderno, 2018.


Disponível em: https://engarrafadormoderno.com.br/ingredientes/nestle-elimina-estabilizante-
do-leite.
PACHÁ Bruna Proença; CARVALHO Luiz Eduardo R. Aditivos Alimentares: será que tem
como substituir? Disciplina Bromatologia em Saúde, Faculdade de Fármacia - Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: http://bromatopesquisas-
ufrj.blogspot.com/2010/12/aditivos-alimentares-sera-que-tem-como.html

Pokorný, J. (2001). Preparation of Natural Antioxidants. In: Pokorný, J., Yanishlieva, N.,
Gordon, M Antioxidants in food. England: CRC Press. 311-327.

TEIXEIRA, Bianca Ferraz; ARANHA, Jessica Bomtorin; VIEIRA, Thais Maria Ferreira de
Souza. Replacing synthetic antioxidants in food emulsions with microparticles from green
acerola (Malpighia emarginata). Future Foods, v. 5, p. 1-8, 2022. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.fufo.2022.100130.

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