Você está na página 1de 45

MÉTODOS DE

INVESTIGAÇÃO
QUALITATIVOS

1
Índice
AULA T1 E TP1 ............................................................................................................................... 3
INTRODUÇÃO E CONCEITOS BASE............................................................................................. 3
AULA T2 E TP2 ............................................................................................................................... 5
MÉTODOS QUALITATIVOS DE RECOLHA DE DADOS: OBSERVAÇÃO ......................................... 5
AULA T3 ....................................................................................................................................... 11
A ENTREVISTA INDIVIDUAL ..................................................................................................... 11
AULA TP3 ..................................................................................................................................... 16
EXERCÍCIOS DE ANÁLISE CRÍTICA DA CONDUÇÃO DE ENTREVISTAS....................................... 16
AULA T4 ....................................................................................................................................... 17
A ENTREVISTA DE GRUPO ....................................................................................................... 17
AULA T5 ....................................................................................................................................... 21
ANÁLISE DE CONTEÚDO .......................................................................................................... 21
AULA T6 E TP6 ............................................................................................................................. 28
CONTINUAÇÃO DA ANÁLISE DE CONTEÚDO........................................................................... 28
AULA T7 ....................................................................................................................................... 28
A ANÁLISE GROUNDED THEORY .............................................................................................. 28
AULA T8 ....................................................................................................................................... 33
QUALIDADE DOS ESTUDOS QUALITATIVOS ............................................................................ 33
AULA TP8 ..................................................................................................................................... 37
QUIZ ONLINE ........................................................................................................................... 37
AULA TP11 ................................................................................................................................... 41
PUBLICAÇÃO DE ESTUDOS QUALITATIVOS: CONVENÇÕES ..................................................... 41
AULA TP12 ................................................................................................................................... 44
CORREÇÃO DE UM EXERCÍCIO ................................................................................................ 44

2
MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO QUALITATIVOS
AULA T1 E TP1
INTRODUÇÃO E CONCEITOS BASE

❖ Se quisermos fazer um estudo quantitativo em relação ao consumo de café


podemos perguntar por exemplo quantas vezes as pessoas bebem café ao dia.
❖ Mas se perguntarmos porque gostam de beber café ou porque é que o café ajuda
em alguma situação já está relacionado com a experiência de beber café ou seja
são dados qualitativos.
❖ A maior parte dos dados qualitativos têm a ver com as palavras, o significado e a
experiência.
❖ Podemos analisar qualitativamente o discurso, fotografias, produções artísticas…

❖ Características da investigação quantitativa:


• Isolar causas e efeitos.
• Operacionalizar relações teóricas.
• Medir e quantificar fenómenos.
• Conceção de planos de investigação que permitam a generalização de
resultados.
• Formular leis gerais.
• Uso de amostras representativas.
• Independência em relação ao objeto.
• Classificação dos fenómenos em termos de frequência e distribuição.
• Maior controlo possível dos fenómenos.
• Redução do papel do investigador.
• Foco na objetividade.
• Quantidade: contagem, medida, distribuição.

❖ Investigação qualitativa vs. Quantitativa


• Desencanto em relação à objetividade.
• Desmistificação da ciência.
• Baixo nível de aplicabilidade dos resultados.
• Dificuldade de transferibilidade para a prática.
• Descrença nas verdades absolutas.

INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA

❖ Conjunto de atividades interpretativas que não privilegia nenhuma prática


metodológica nem pertence a nenhuma disciplina. Alguns dos seus métodos
resultam da combinação de metodologias qualitativas e quantitativas.
❖ Qualidade: “natureza das coisas”

3
• O quê? Como? Quando? Onde? Porquê?
• Significados, conceitos, definições, características, metáforas, símbolos e
descrições.
• Para compreender as nossas vidas, precisamos de investigação
qualitativa.
• Certos elementos de simbolismo, significado ou compreensão exigem que
se considere as perceções e apreensões subjetivas do próprio indivíduo.

❖ Características da investigação qualitativa:


• Ênfase nas qualidades, nos processos (como? Porquê?) e nos significados.
• Natureza socialmente construída da realidade (perspetiva do participante e
sua diversidade).
• Experiência subjetiva: como as pessoas interpretam e experienciam o
mundo ( perceções, crenças, atitudes, processos de pensamento –
perspetiva do outro).
• Relação entre investigador e objeto de estudo.
• Reflexibilidade do investigador.
• Importância do contexto e dos valores como influências para a
investigação.
• Adequação de métodos e teorias (variedade de abordagens e métodos).
• Ênfase em métodos indutivos (do particular para o geral).
• Estratégias metodológicas não podem ser examinadas num vácuo. A
recolha de dados não é alheia a orientações teóricas. Ou seja, tem que
existir uma relação bastante rigorosa entre dados, teorias e análises.
• Motivação para escolher objeto de estudo > desenho da investigação >
análises.
• Grupos mais específicos e menos conhecidos.
• Observação e entrevista.
• Consistência entre o que se quer saber e a forma como se recolhem dados.
• Cada método revela diferentes facetas da mesma realidade simbólica
(impondo perspetivas à realidade).
• É possível a existência de perspetivas diferentes, observando aspetos
particulares da realidade social e simbólica.

❖ Investigação qualitativa:
• Metodologia qualitativa é “tão científica” como metodologia quantitativa.
• Estudo de objetos imprecisos é diferente de
estudo de impreciso de objetos.
• Estudo de dados “equívocos” com base em
análises baseadas em requisitos rigorosos.
• Investigadores qualitativos têm de ser mais
precisos, mais cuidadosos nas suas definições
e procedimentos e mais descritivos na forma
como relatam os seus trabalhos.

4
• Combinando diferentes perspetivas, os investigadores obtêm: uma imagem
melhor, mais substantiva da realidade; um conjunto de símbolos e de
conceitos teóricos mais rico e completo; uma forma de verificar muitos
destes elementos → a este fenómeno dá-se o nome de triangulação.
• Através da triangulação, ou seja, quando usamos mais que um método,
conseguimos aceder a múltiplas perspetivas do mesmo fenómeno e
conseguimos perceber mais dimensões de uma determinada experiência,
que é exatamente a mensagem que as imagens pretendem passar.
• Sempre que pudermos devemos incluir múltiplas perspetivas e se não der
devemos ter noção dessas limitações.
• Existem tensões entre perspetivas que enfatizam padrões mais
“sistemáticos e rigorosos” e perspetivas mais interpretativas.
• Este tipo de investigação é o conjunto de
atividades interpretativas que não privilegia
nenhuma prática metodológica e que não
pertence a nenhuma disciplina.
• Combinação de métodos qualitativos e
quantitativos.
• Tal como demonstram as imagens, o todo é mais
do que a soma das suas partes pois quando nós
estamos a ver só uma parte podemos não
entender tudo.

AULA T2 E TP2
MÉTODOS QUALITATIVOS DE RECOLHA DE DADOS: OBSERVAÇÃO

❖ Competências chave em métodos qualitativos:

❖ Observação:
• Na observação mobilizamos muitos dos nossos sentidos para além da
visão.

5
• Uma das competências-chave em MIQ.
• Perceber razões e motivações
• Método de recolha de dados para aceder ao comportamento dos
participantes.
• Compreender comportamentos.
• Aceder a práticas (como algo se processa) e não a descrições das
mesmas.
• Entrevistas e narrativas constituem relatos de práticas (misturam o que é e
o que esse algo deveria ser).
• Recolha de dados em contexto natural.
• Existe uma diversidade de processos de
observação e do estatuto do observador.
• Não se podem observar processos
biográficos.
• Não é uma estratégia de análise de dados.
• Está associada a procedimentos de análise de dados que privilegiam a
contagem específica de atividades.
• Tipicamente, em investigação qualitativa, os dados são recolhidos em
contextos naturais.

❖ Tipologias de observação:
• Observação encoberta (o observador não sabe que está a ser observado)
VS. Observação aberta (o observador tem plena noção da situação).
• Observação sistemática (Observação baseada numa grelha sistematizada
com objetivos) VS. Observação não sistemática (observador vai para a
observação sem dados nem grelhas, e vai observar o que X faz num
momento).
• Observação em contextos naturais (observação realizada no meio onde ela
ocorre) VS. Observação em situações artificiais (observação simulada e
fora do ambiente natural - como num laboratório por exemplo).
• Auto-observação VS. Observação de outros.
• Observação participante (Observador entra dentro do meio e mistura-se
com os participantes) VS. Observação não participante.(maior distância por
parte do observador levando a uma menor intervenção e a resultados mais
puros).
• Apesar do “vs.” muitas vezes não conseguimos separar os vários tipos de
observação.
• Tendencialmente são usadas: a observação não sistemática; em contextos
naturais; com um equilíbrio entre a auto-observação e a observação dos
outros; e observação participante.
• O ser encoberta ou aberta varia muito com os contextos de estudo.

❖ Tipologias de papéis:
• Participante total → pessoas normais em contextos normais.
• Participante como observador → por exemplo: educadoras fazem um
estudo com crianças.

6
• Observador como participante → interação com participantes (pode haver
influência).
• Mero observador → sem intervenção no objeto de estudo

❖ Papéis do observador:
• Aquilo que distingue os diversos papéis do observador baseia-se na
interação e participação.

• Observação não participante:


➔ Evita intervir no contexto ou fenómeno em estudo.
➔ Segue o fluxo dos acontecimentos.
➔ Comportamento e a interação dos
observados desenrolam-se como se o
investigador não estivesse presente.
➔ Mantém a distância em relação aos
acontecimentos observados, para evitar
influenciá-los → perspetiva externa.
➔ Podemos fazer observações em vídeo.
➔ Baseia-se numa observação encoberta onde se podem omitir informações
por questões éticas.
➔ Público vs. privado.
➔ Preferência por amostras aleatórias e representativas da população.
➔ Procedimentos de categorização na análise de dados.
➔ Testar conceitos teóricos.
➔ Mantém a distância e padrões metodológicos gerais.

• Observação não participante: Fases


➔ Seleção de um cenário/ enquadramento (quando e onde podem ser
observados pessoas e processos relevantes).
➔ Definição do que deve ser documentado no decorrer da observação com
base nos objetivos.
➔ Treino dos observadores para padronizar os processos (estandardização).
➔ Observações descritivas (apresentação inicial e geral do campo de estudo).
➔ Observações focalizadas que se concentram em aspetos relevantes para
responder à questão de investigação.
➔ Observações seletivas dirigidas à captação de aspetos centrais e
nucleares.
➔ Finalização da observação, após atingir a saturação teórica (observações
adicionais não acrescentariam conhecimento adicional).

• Observação não participante: Problemas e limitações


➔ Definir o papel do observador de forma a permitir a permanência no campo
de estudo e a sua observação em simultâneo.
➔ Evitar influenciar o comportamento do participante (assumir uma perspetiva
externa no decurso da interpretação dos dados).

7
➔ Abordagem ao campo de estudo com base numa perspetiva externa
(observação de espaços públicos).
➔ Tentativa de observar os eventos à medida que eles ocorrem naturalmente.
Mas o ato de observar influência sempre o “observado”.
➔ Uso da observação encoberta para eliminar a influência do observador é
eticamente problemática.
➔ Evitamento da interação com os sujeitos e fenómenos em estudo levanta
problemas na análise dos dados e na avaliação das interpretações (limites
no acesso a uma perspetiva interna).

• Observação não participante: Contributos


➔ Triangulação das observações com outras fontes de dados e uso de
diferentes observadores pode levar a uma maior expressividade dos dados.
➔ Diferenças de género (equipas mistas) → acesso e mobilidade (homens);
maior sensibilidade a problemas decorrentes dessas restrições e perigos
(mulheres).
➔ Auto-observação do investigador (entrada no campo, durante o processo
de observação, análise posterior do processo para integração de
impressões implícitas e perceções na reflexão do processo e dos
resultados).

• Observação não participante no processo de investigação:


➔ Enquadramento teórico: análise da produção da realidade social a partir de
uma perspetiva externa.
➔ Objetivo frequente: testar conceitos teóricos com base na sua ocorrência e
distribuição.
➔ Questões de investigação: descrições do estado de certos “mundos de
vida” .
➔ Seleção de situações e pessoas é sistemática com base em critérios de
constituição de uma amostra representativa e seleção aleatória.
➔ Análise de dados: contagem de atividades específicas através de
procedimentos de categorização.

• Observação participante:
➔ Mais comum em investigação qualitativa.
➔ Estratégia de campo que pode combinar,
simultaneamente, análise de documentos, entrevistas
aos participantes e informantes, participação e
observação direta, e introspeção.
➔ Investigador insere-se no campo e observa assumindo
uma perspetiva interna (como de um outro membro do gruo) e influencia o
que se observa através da participação, tentando manter uma perspetiva
externa crítica.
➔ Frequentemente utilizada para o estudo de subculturas.

8
➔ Folhas de registo e esquemas de observação com diferentes graus de
estrutura.
➔ Uso frequente de protocolos de situações, o mais detalhadas possível >
descrições densas do campo.
➔ Uso de notas de campo ou de protocolos estruturados que definem, de
forma concreta, atividades e situações a documentar depende de questões
de investigação e da fase do processo.
➔ Observação descritiva: não restringir a atenção do observador nem limitar
a sua sensibilidade à novidade (evitar protocolos demasiado estruturados).
➔ Observação seletiva: protocolos (e.g., grelhas) detalhados podem ser úteis.
➔ Interesse pelos significados e pela interação humana, vistos da perspetiva
de membros.
➔ Localização no aqui e no agora das situações e cenários do dia a dia.
➔ Teorização enfatiza interpretação e compreensão da existência humana.
➔ Lógica e processo de investigação aberto, flexível e oportunista que requer
uma constante redefinição do que é problemático.
➔ Abordagem de estudo de caso aprofundado.
➔ Papel de participante que envolve o estabelecimento de manutenção de
relações com “nativos”.
➔ Uso da observação direta bem como de outros métodos de recolha de
informação, com base em folhas de registo e esquemas de observação.

• Observação participante: Fases


➔ 1. Tornar-se participante, ganhando acesso ao campo de estudo e pessoas
relevantes.
➔ 2. Observação progride no sentido de se tornar progressivamente mais
concreta e concentrada nos aspetos essenciais para a resposta às
questões de investigação:
a) Observação descritiva: descrições não específicas, determinando a
complexidade do campo e desenvolver questões de investigação mais
específicas. Mais complexo, mais desenvolvimento, mais descrição
densa, mais abrangência de questões.
b) Observação focalizada: processos e problemas essenciais para
respondes às questões de investigação.
c) Observação seletiva: no final da recolha de dados, procura de
evidências e exemplos para o tipo de práticas e processos encontrados
previamente. Seleção de exemplo.

• Observação participante: Problemas e limitações


➔ Dimensões possíveis: espaço, atores, atividades, objetos, atos,
eventos, tempo, objetivos, sentimentos.
➔ Delimitação ou seleção de situações de observação em que o problema em
estudo se torna “visível” → relevantes e interessantes; variação e
variedade.
➔ Acesso ao campo ou subcultura.

9
➔ Uso de pessoas chave (aceitar as perspetivas das pessoas chave de forma
crítica e considerar a possibilidade de só estarem a proporcionar o acesso
a uma parte específica do campo de estudo).
➔ Considerar posições sociais e motivos (aceitação social) > observação das
pessoas chave.
➔ Obter uma perspetiva interna o mais rapidamente possível, mas, em
simultâneo, sistematizar o papel de estranho.
➔ Tornar-se nativo: perigo de perder uma perspetiva externa crítica e de
adotar, sem questionar, os pontos de vistas partilhados no campo em
estudo.
➔ A familiaridade com o campo pode ser um instrumento ou um problema.
➔ Suficiente para uma participação bem sucedida, mas não para uma
observação sistemática (que exige a manutenção da distância de um
“estranho profissional”).
➔ Compromisso: distância vs. compreender através dos olhos do outro.
➔ Nem todos os fenómenos podem ser observados no aqui e no agora (e.g.,
processos biográficos).
➔ Acontecimentos ou práticas pouco frequentes (sorte ou seleção cuidada de
situações) podem levar a que não haja um momento para intervir.
➔ Utilização de entrevistas, indo além da observação de ações (incluindo
verbalizações sobre relações e fatos).
➔ Etnografia como estratégia genérica de investigação que recorre à
interligação entre participação e observação (difícil interligação entre
participação e observação).

• Observação participante: contributos


➔ Elucida acerca do dilema de aumentar a participação (para obter mais
compreensão) e a manutenção da distância (para tornar a compreensão
verificável).
➔ Próxima de uma conceção da investigação qualitativa como um processo:
exige longos períodos no campo, em contato com as pessoas e contextos
em estudo → mais dispendiosa.
➔ Amostragem teórica.

• Observação participante no processo de investigação


➔ Enquadramento teórico: interacionismo simbólico (segundo o qual, as
pessoas agem e interagem com base nos significados dos objetos e da sua
interpretação).
➔ Perguntas de investigação: descrição do campo de estudo e das práticas
que aí ocorrem.
➔ Amostragem: estratégias passo a passo.
➔ Estratégias de codificação para realizar interpretações.

❖ Concluindo…
• Em investigação qualitativa, a observação pode ser utilizada com diferentes
graus de participação do investigador.

10
• Em cada versão, a relação entre rigor metodológico e flexibilidade é
diferente: observação não participante é caracterizada por manter a
distância e manter padrões metodológicos gerais.

AULA T3
A ENTREVISTA INDIVIDUAL

ENTREVISTA INDIVIDUAL
❖ Entrevista como interação social “cara a cara” com o objetivo de
extrair informação.
❖ “Encontro” entre entrevistador e entrevistado.
❖ Se o participante/entrevistado não sentir que está num espaço
protegido mais dificilmente vai partilhar as suas perspetivas.
❖ Recolher informação sobre factos, opiniões, comportamentos,
crenças e atitudes, realizada de forma mais ou menos dirigida.
❖ Processo relacional.
❖ Vários tipos de entrevista, campos de aplicação, finalidade e técnicas associadas.
❖ Aprofundar o conhecimento e compreensão de atitudes, motivações, freios,
crenças…
❖ Compreender realidades pessoais.
❖ Investigar temas pessoais e íntimos.
❖ Esclarecer aspetos “obscuros” obtidos nas entrevistas de grupo ou em inquéritos.
❖ A consistência na utilização do guião de entrevista permite a comparabilidade dos
dados, e estes serão mais estruturados.
❖ Porém o seu uso não deve ser rígido, senão constituirá um obstáculo à entrevista.

❖ Tipos de entrevistas individuais:


• Entrevista estandardizada:
➔ Formalmente estruturada, à partida está tudo muito estruturado
(entrevistas estruturadas)
➔ A ordem das perguntas foi pensada e não pode ser alterada e, portanto,
não existem desvios à ordem das perguntas.
➔ As perguntas foram feitas de uma forma muito especifica que não pode
ser mudada.
➔ Sem ajustamentos no nível da linguagem.
➔ Nenhuma pergunta adicional pode ser acrescentada.
➔ Semelhante no formato a um questionário.
➔ Dá origem aos dados quantitativos.

• Entrevista semi-estandardizada/semiestruturada:
➔ Mais ou menos estruturada, ou seja, têm uma estrutura prévia de
perguntas que foram formuladas de forma cuidadosa, mas que podem

11
ser reordenadas caso o entrevistado, por exemplo, responda a uma
pergunta noutra altura da entrevista.
➔ Uso flexível da formulação inicial das perguntas.
➔ Nível da linguagem pode ser ajustado, ou seja, podemos formular as
perguntas e mudar palavras quando fazemos as perguntas, se
necessário.
➔ Entrevistador pode acrescentar ou eliminar “pistas” entre entrevistas, ou
seja, podemos ir mudando o guião à medida que vamos fazendo a
entrevista.
➔ É muito comum perceber o que é preciso referir no guião para obter
mais informação.
➔ Descobrir o mundo de vida do entrevistado e não conceitos teóricos.

• Entrevista não estandardizada/não estruturada:


➔ Completamente não estruturada; não há qualquer formulação prévia
nem ordem de perguntas
➔ Há uma grande flexibilidade do entrevistador para ir adicionando e
eliminando perguntas.
➔ O nível de linguagem pode ser ajustado.
➔ Pode ser muito complicado fazer o trabalho sem este suporte, e, por
isso, deve ser feito por investigadores mais experientes.

❖ Privilegiamos as entrevistas semiestruturadas pois permitem chegar ao


entrevistado de forma mais fácil e flexível. Com estas existe maior probabilidade de
aceder aos pontos de vista subjetivos do entrevistado (do que numa entrevista
estandardizada ou num questionário).

❖ Entrevista focalizada (Robert Merton):


• É um contributo muito importante.
• Apresentação de um estímulo uniforme → estudo do seu impacto no
entrevistado através da utilização de um guião de entrevista.
• Análise de conteúdo prévia do estímulo (permite distinção/comparação)
entre os fatos objetivos da situação e as definições subjetivas.
• Desenho do guião e condução da entrevista seguem 4 critérios para
garantir o seu equilíbrio:
➔ Não-direção (utilização de vários tipos de questões: não estruturadas,
semiestruturadas e estruturadas). Apoiar o entrevistado a apresentar a
sua perspetiva. Não impor o quadro de referência do entrevistador (uso
flexível do guião).
➔ Especificidade (fazer emergir os elementos específicos que determinam
o significado de um evento para os entrevistados).
➔ Amplitude (assegurar que todos os tópicos relevantes são abordados).
➔ Profundidade e contexto pessoal (avaliação permanente do nível de
profundidade; ênfase nos sentimentos; estilo não diretivo).

• Possíveis dificuldades e limitações:

12
➔ Difícil equilíbrio entre os 4 critérios (e.g., especificidade e profundidade
vs. amplitude).
➔ A preparação do guião da entrevista não permite resolver de antemão
estas dificuldades.
➔ Competência “situacional” do entrevistador.
➔ Experiência prática e treino de tomada de decisões (simulações,
feedback, role play).
➔ A entrevista quase nunca é usada na sua forma pura.

• Contributos e enquadramento:
➔ Critérios gerais de planeamento e condução de entrevistas → princípios
gerais → ponto de partida para a descrição de dilemas → ajuda a decidir
qual o tipo de entrevista mais favorável a uma situação.
➔ Os critérios salientam, as decisões que os entrevistadores têm de tomar
e as prioridades a considerar no decorrer da entrevista.
➔ Dar espaço aos entrevistados para introduzirem as suas perspetivas.
➔ Permite a formulação de hipóteses para estudos quantitativos
posteriores. Permite a interpretação mais aprofundada de resultados
experimentais.
➔ Questões de investigação focam o impacto ou significado de eventos
concretos OU a forma como os entrevistados lidam com as condições
que realizam as suas próprias atividades.

❖ Avaliação de perguntas no contexto de entrevistas:


• Ao ser feita uma pergunta, num determinado momento da entrevista, deve-
se ter em conta diversos aspetos: relevância, não ambiguidade, dimensão
central, facilidade de compreensão, ligação à questão de investigação,
relação entre perguntas, distribuição dos tipos de pergunta.
• Porque é que faço esta pergunta? → Relevância teórica, ligação à questão
de investigação, dimensão central.
• Porque é que formulei a pergunta desta forma? → Fácil de compreender,
não ambígua.
• Porque é que coloquei esta pergunta (ou conjunto de perguntas) neste local
específico do guião? → Relação entre perguntas, distribuição de tipos de
perguntas.

❖ Perguntas de entrevista ≠ Perguntas de investigação:


• Objetivo da entrevista semiestruturada deverá ser descobrir o mundo de
vida do entrevistado (e não conceitos teóricos) → uso de linguagem do dia
a dia.
• Uso consistente de um guião de entrevista assegura a comparabilidade dos
dados e que esses dados serão mais estruturados.
• MAS, o uso rígido do guião pode colocar obstáculos à comunicação e à
expressão das perspetivas subjetivas do entrevistado (assegurar
competências de escuta ativa).

13
❖ Há muitas tipologias de entrevistas semiestruturadas que utilizam diferentes
estratégias para alcançar os mesmos objetivos: maximizar a margem de manobra
dada ao entrevistado para revelar as suas visões; fornecer uma estrutura acerca
do que devem falar; planear pistas adicionais (decidir o que dizer em cada
situação).

❖ Técnicas e competências:
• Cada pergunta deve ser relevante para responder às nossas questões de
investigação.
• A nossa linguagem deve ser percetível e suficientemente correta.
• As perguntas mais sensíveis não devem estar no início da entrevista pois
o nosso objetivo é criar um ambiente, onde a pessoa esteja confortável
connosco. Devemos começar com perguntas mais abertas e acabar de
uma forma positiva → ter uma conversa introdutória no início da entrevista.
• Não devemos incluir conceitos teóricos nas nossas perguntas.
• Tem de haver um silêncio desconfortável (máximo 45 segundos) para que
a pessoa se sinta exatamente desconfortável e o tente preencher com mais
informação. Devemos deixar o entrevistado falar antes de passarmos para
a outra pergunta e por isso o silêncio é uma boa maneira para dizer mais.
• Pode ser importante tentarmos ecoar aquilo que o entrevistado está a dizer
para mostrar que estamos atentos e que estamos a ouvir o que estão a
dizer.
• Evitar interrupções, deixar a pessoa falar, o objetivo é nós falarmos o
mínimo possível.
• Devemos estar preparados.
• Não devemos começar de uma forma abrupta e fria.
• Devemos escutar ativamente sem estarmos distraídos com outras coisas e
mostrar que estamos genuinamente interessados.
• Planear a aparência física: a roupa que levo para entrevistar crianças é
diferente da que levaria se fosse entrevistar um secretário de estado.
• Não devemos esquecer o nosso objetivo.
• Ser natural.
• Escolher um local confortável.
• Não ficar satisfeito com respostas monossilábicas (explorar mais).
• Ser cordial e agradecida.
• Escutar ativamente, tentando fazer pontes entre perguntas e respostas.
• Não ficar frente a frente com o entrevistado.
• Respeitar e treinar.

ETAPAS
❖ PLANEAMENTO:
• Universo e amostra:
➔ Definição do público-alvo.

14
➔ Dimensão e distribuição da amostra: depende do número de
segmentos, diversidade de objetivos e quantidade de informação a
recolher → mais ou menos 30.
• Preparação do guião de entrevista (instrumento) com base em
perguntas que devem ser diferentes das que queremos ver
respondidas (objetivos):
➔ Elaborado de acordo com os objetivos gerais e específicos de estudo,
a estrutura da entrevista e as regras de condução e moderação.
➔ Colocar questões de forma clara, com base na finalidade (para quê) e
nos objetivos (o que queremos saber).
➔ Ter em conta a estrutura mais adequada (do geral para o particular).
➔ Evitar perguntas que orientem respostas, evitar colocar questões longas
e/ou múltiplas questões.

• Seleção dos entrevistados e marcação das entrevistas:


➔ Aplicação de um questionário filtro.
➔ Marcar dia, hora e local da entrevista.

• Preparação do ambiente, materiais a utilizar, formas de registo e


brindes:
➔ Ver tipos de materiais necessários e suportes de registo (de acordo com
os objetivos).

• Reflexão sobre o processo de análise:


➔ Planeamento da análise de conteúdo, tendo em conta quem e como vai
ser realizada a análise da informação.
➔ Reflexão sobre principais categorias a considerar.

❖ CONDUÇÃO / MODERAÇÃO:
• Ter em conta que é uma conversa e não um questionário.
• Explorar cada pergunta.
• Aplicar técnicas de desbloqueio.
• Não estar sempre a olhar para o guião.
• Mostrar atenção e interesse.
• Estrutura geral / momentos:
➔ Apresentação.
➔ Introdução/ fase de aquecimento.
➔ Fase de informação.
➔ Fase de debriefing (finalidade do estudo.

• A relação não deverá ser frente a frente pois dá uma ideia de hierarquia de
poderes, mas sim de lado, de uma forma mais linear.
• Atitude:
➔ Compreensiva e de empatia e com tom não agressivo.
➔ Redução dos enviesamentos.
➔ Controlo da comunicação e dos obstáculos.

15
➔ Motivação para as respostas do entrevistado, dando-lhe um suporte e
encorajamento.

• Obstáculos e enviesamento:
➔ Ter em conta o background, os fatores psicológicos e os
comportamentos entre entrevistador e entrevistado.

• Proibido:
➔ Juízos de valor.
➔ Questões sem resposta.
➔ Responder no lugar do entrevistado.
➔ Questões múltiplas.
➔ Interrogatório.
➔ Falar mais do que ouvir.
➔ Falta de atenção.

• Aconselhável:
➔ Reforços linguísticos e não linguísticos.
➔ Reformulação.
➔ Silêncio.
➔ Síntese.
➔ Questão final aberta.
➔ Conclusão.

❖ Análise de informação.
❖ Relatório/ resultados.

AULA TP3
EXERCÍCIOS DE ANÁLISE CRÍTICA DA CONDUÇÃO DE ENTREVISTAS

❖ Entrevista: exercício prático nº1 → analisar, de forma crítica, a forma como a


entrevista foi conduzida, identificando erros cometidos pela entrevistadora
❖ Erros identificados:
• Ritmos demasiado apressados e falava de maneira brusca.
• Falta de contacto ocular.
• Perguntas de resposta fechada.
• Perguntas que induzem a resposta, que eram feitas de maneira a limitar as
respostas da entrevistada, como se conduzissem a resposta.
• Influenciar respostas (tom de voz).
• Julgamentos de valor ao apontar as incoerências.
• Utilização do telemóvel, que consequentemente levava à distração.
• Pouco interesse/respeito pela participante.
• Interrupções.
• Não dava grande tempo para responder.

16
❖ Entrevista: exercício prático nº2 → Analisar a forma como a entrevista foi
conduzida, identificando melhorias em relação à versão anterior.
❖ Melhorias identificadas:
• Bom ritmo.
• Prestava atenção ao que a entrevistada estava a dizer.
• Escuta ativa.
• Perguntas de resposta aberta.
• Interesse.
• Valorização das respostas.
• Duração da entrevista foi bem maior desta vez.
• Qualidade dos dados obtidos foi maior.
• Usou a técnica de ecoar, repetindo por palavras próprias aquilo que a
entrevistada disse.
• Contudo ainda podia ser melhorada

AULA T4
A ENTREVISTA DE GRUPO

FOCUS GROUP
❖ Recolha de dados em contexto, através da utilização da dinâmica de um grupo que
discute o tópico.
❖ Situação de interação que se aproxima mais da vida real.
❖ Simulações de discursos e conversas do dia a dia.
❖ Método quase-naturalista para estudar a formação de
representações sociais ou o conhecimento social em geral.
❖ Perspetiva interacionista: análise de como um tema é
construído e modificado numa discussão de grupo.
❖ Método pode ser utilizado de forma independente ou em
combinação com outros métodos de recolha de dados.
❖ Foco na dimensão interativa da recolha de dados: uso explícito da interação do
grupo para produzir dados.
❖ O entrevistador tenta induzir um clima social para que as pessoas se sintam
confortáveis a conversar entre si.
❖ Existe um equilíbrio entre a formalidade e a informalidade.
❖ Produzir informalidade na discussão (clima liberal que facilite contributo aberto de
experiências e opiniões).
❖ Evitar conversas paralelas ou histórias/episódios com pouca referência ao tema do
focus group.
❖ Group como unidade de análise.
❖ Acaba por ser um contexto um pouco artificial.

17
❖ Podemos ter um estudo que se baseia pura e simplesmente em focus groups, ou
não.

❖ Os focus groups (grupos focais) são úteis para:


• Conhecer melhor um novo campo de estudo (amplitude de ideias e
sentimentos).
• Formular hipóteses baseadas nos insights dos participantes.
• Examinar diferenças de perspetivas entre grupos.
• Desenvolver guiões de entrevista e questionários.
• Obter as interpretações dos participantes sobre os resultados de estudos
prévios.

❖ Kahoot:
• Os grupos focais normalmente não incluem participantes que se conheçam
apesar de isso causar mais conforto.
• Não são decididos exatamente quantos grupos focais vão ser feitos antes
do estudo. Normalmente precisamos de saber o tipo de dados que
precisamos de recolher antes de sabermos de quantos grupos focais
precisamos.

❖ Dimensão dos grupos: mini grupo (3 a 4 pessoas → mais tempo de participação


individual); grupo médio (7 a 8 pessoas → dinâmica de grupo e participação
individual); grupo criativo (10 pessoas → mais dinâmica de grupo, menos
participação individual).
❖ Composição dos grupos: homogeneidade intra-grupos; heterogeneidade inter-
grupos.
❖ Duração dos grupos: de uma hora a quatro horas e meia (o mais usual são duas
horas e meia).

❖ Conduzir focus groups:


• Número de grupos depende das questões de investigação e do número de
subgrupos diferentes da população necessários.
• Critério de saturação: quer para as entrevistas individuais quer para os
focus groups, este critério diz-nos quando já chega de recolher dados e por
isso é que não podemos saber com exatidão antes de começarmos, o
número de focus groups. Ter em conta a saturação teórica.
• Grupos de estranhos (e não grupos de amigos ou pessoas que se
conhecem muito bem) para não existirem respostas implícitas.
• Grupos heterogéneos vs. grupos homogéneos: maior dinâmica leva a mais
perspetivas. Pouco em comum.
• Tamanho habitual de um focus group: 5-8 participantes.
• Definir as questões de investigação de forma clara.
• Categorias de perguntas: pergunta inicial; perguntas introdutórias;
perguntas de transição; perguntas-chave (2-5); perguntas finais.
• Competências do moderador:
➔ Respeita os participantes e demonstra esse respeito.

18
➔ Compreende o objetivo do estudo e o tópico.
➔ Comunica de forma clara.

❖ Conduzir focus groups: ingredientes básicos:


• Objetivo/questão de investigação definido de forma clara.
• Natureza do grupo.
• Atmosfera/ambiente e relação.
• Facilitador/moderador ouvinte ativo.
• Facilitador/moderador organizado e preparado e deve ouvir com atenção.
• Estrutura e direção, mas contribuição restrita para a discussão.
• Assistente de investigação.
• Análise sistemática.
• Formalidade vs. informalidade → produção de informalidade na discussão
(mais liberal) mas evitar conversas paralelas.
• Grupo como unidade de análise.
• Melhor formato de entrevista é oval (pior é retangular).
• Pode-se usar ou não mesa (sem mesa: pessoas mais expostas; com mesa,
mais à vontade).
• Pelo menos 20-30 minutos de aquecimento.

❖ Planeamento:
• Mais complexo e demorado que o da entrevista individual.
• Elaboração do guião de acordo com os objetivos de estudo.
• Seleção dos entrevistados e elaboração do questionário de seleção.
• Preparação dos materiais a aplicar e de estímulo.
• Preparação do espaço, coffee breal, identificação do participante, sistema
de gravação.
• Brindes para os participantes.

❖ Moderação:
• Estimular a participação de todos.
• Apelo a opiniões complementares.
• Evitar monopolização por parte de algum participante.
• Evitar implicação pessoal.
• Lançar uma “questão-teste” para ter a certeza que todos estão a falar sobre
este assunto.
• Técnicas projetivas e associativas.
• Tentar associar esta dimensão a outras (retrato chinês)

❖ Focus group: limitações e desafios:


• A qualidade dos dados está dependente das competências do moderador.
• Dificuldade em identificar as opiniões e as perspetivas de participantes
individuais.

19
• Em termos práticos, organização nem sempre é fácil (calendarização,
espaço, etc.) e análise é demorada (poupança de tempo não pode ser um
critério de seleção de método).
• Participação é voluntária e um grupo insuficiente pode comparecer a uma
dada sessão.
• Permite a utilização de um número limitado de perguntas (mais ou menos
12).

❖ Focus group: vantagens:


• Permite a recolha de grandes quantidades de informação num curto espaço
de tempo.
• Pode dar origem a “insights” importantes sobre temas que, anteriormente,
não eram bem compreendidos.
• Permite aos investigadores compreenderem como os membros de um
grupo chegam a, ou alteram, determinadas conclusões.
• Coloca os participantes numa posição mais simétrica com os membros do
grupo e com o investigador.
• O moderador pode explorar tópicos relacionados, mas inesperados.
• Normalmente, não exigem estratégias de amostragem complexas.
• Conversa flexível.

❖ Exemplo de focus group:

❖ RESUMINDO:

20
• Entrevista individual:
➔ Mais aprofundamento de conhecimento e compreensão de atitudes.
➔ Mais recolha de informação sobre temas pessoais e íntimos.
➔ Mais compreensão de realidades pessoais.
➔ Mais esclarecimento de aspetos obscuros nas entrevistas de grupo.
• Entrevista de grupo:
➔ Mais riqueza de opiniões.
➔ Mais discussão de realidades em termos globais.
➔ Mais estimulação de novas ideias.
➔ Mais possibilidade de elaboração de hipóteses.
➔ Mais interpretação de resultados quantitativos.

AULA T5
ANÁLISE DE CONTEÚDO

❖ Lista de compras:
• Unidades de registo: informação inicial (alimentos); segmentos de texto.
• Categorias: secção do supermercado. Foi analisado no sentido de extrair
categorias. Identificámos 3 categorias que permitem classificar os itens
(unidades de registo).
❖ Ex.: gavetas de roupa – cuecas numa gaveta, meias noutra, calças noutra, etc.

21
O QUE É?
❖ Operação de codificação e processo de interpretação de dados.
❖ Examinar e interpretar de uma forma cuidada, detalhada e sistemática um corpus
particular de material numa tentativa de identificar padrões, temas, enviesamentos
e significados.
❖ Utilizada por uma variedade de disciplinas, incluindo a sociologia, criminologia,
psicologia, educação, jornalismo, arte e ciência política.
❖ Técnica de investigação que permite a descrição objetiva, sistemática e quantitativa
do conteúdo manifesto da comunicação (Berelson, 1952).
• Objetivos descritivos e classificatórios.
❖ Técnica de investigação que permite fazer inferências replicáveis e válidas dos
dados para o seu contexto (Krippendorff, 1980).
• Não restringe à quantificação.
• Inclui interpretação (atribuição de sentido); inferências sobre a fonte,
situação e destinatário. → inferências: podemos fazer interpretação de
dados.

ANÁLISE DE CONTEÚDO
❖ Corpus: dados que queremos analisar.
❖ Unidade de registo: corpus é dividido em segmentos.
❖ Temas: tópicos e categorias sobre as quais vamos analisar e organizar toda a
informação.
❖ Técnica (por isso não restringe) de tratamento de informação que pode integrar-se
em qualquer tipo de em qualquer tipo de procedimento lógico de investigação e
servir vários níveis de investigação empírica (descritivo, correlacional e causal)
(Vala, 1986).
❖ Análise do quê? → várias formas de comunicação humana: textos escritos,
fotografias, registos vídeo e áudio.
❖ Em análise de conteúdo, as palavras dos participantes podem ser convertidas em
categorias de análise.
❖ Segmentar o corpus em categorias.
❖ Análise de conteúdo não é inerentemente quantitativa nem qualitativa (e pode ser
ambas simultaneamente).
• Debate; tensão.

22
❖ Diferenças em nível de análise e não diferenças na técnica:
• Contagem de elementos do texto permite identificar, organizar, ordenar e
recuperar dados.
• Análise interpretativa dos dados
➔ Como os sujeitos veem os seus mundos e como estas visões se
enquadram na forma como as ciências sociais veem esses temas e
interpretações.

❖ Unidades de registo → Segmentação de dados:


• O corpus deve ser segmentado em categorias. Tendo por base:
➔ Palavras: unidade mais pequena.
➔ Frase
➔ Parágrafos: (inclui mais do que uma ideia) pouco frequente →
dificuldades associadas ao facto de um parágrafo poder conter
numerosos pensamentos.
➔ Itens: unidade completa (livro, carta, discurso, diário, artigo, jornal,
entrevista.
➔ Personagens (pessoas): contar o número de vezes que uma pessoa(s)
é (são) mencionadas(s).

❖ As categorias utilizadas numa análise de conteúdo podem ser determinadas de


uma forma indutiva, dedutiva ou combinando as duas abordagens:
• Abordagem indutiva:
➔ Formulação de categorias a partir dos dados recolhidos.
➔ Investigadores imersos nos documentos para identificar as dimensões
ou temas que parecem significativos para os participantes → parte do
particular para o geral. O investigador formula categorias a partir dos
dados.
➔ A análise começa com os padrões discerníveis no texto, que são
explicados pela aplicação e desenvolvimento de um quadro de
referência teórico.
➔ Partir do texto para encontrar padrões.
➔ Códigos in vivo.
➔ Permite aos investigadores ligar ou enraizar (ground) as categorias nos
dados de que elas derivam.
➔ Ground → permite garantir que as categorias estão enraizadas nos
dados.

• Abordagem dedutiva:
➔ Os investigadores partem de um esquema de categorias sugerido por
uma perspetiva teórica → com base na literatura.
➔ O quadro de referência destina-se a explicar os casos e pode ser usado
para gerar hipóteses (os dados fornecem o meio para testar a hipótese).
➔ Do geral – esquema pré-definido, sugerido numa teoria, para o
particular – o próprio estudo.

23
➔ Muitas vezes a relação entre uma perspetiva teórica e certas
mensagens/textos envolve abordagens indutivas e dedutivas. → no
mesmo estudo podemos usar as 2 abordagens – enriquecem a análise
de dados.
➔ A apresentação das perceções dos sujeitos implica o uso privilegiado
da indução (sem implicar exclusão da dedução).

• Abordagem mista:
➔ Devemos estar atentos a categorias inesperadas mas ter em
consideração as já existentes.

❖ Códigos in vivo: termos literalmente usados pelos participantes.


• Representam os processos comportamentais que explicam ao investigador
como o problema é resolvido ou processado.
• Exemplo: “nerd”, “nite”.

❖ Constructos sociológicos: formulados/construídos pelo analista (e.g., atitude


profissional, orientação para a família).
• Constructos construídos pelo investigador com base na literatura.
• Podem ser revelados durante a codificação mas não refletem
necessariamente a perspetiva consciente do participante.
• Combinação de vários elementos, incluindo o conhecimento do
investigador sobre o domínio de estudo.
• Acrescentam amplitude e profundidade, indo para além dos significados
locais.

❖ Teste de validade interna do sistema de categorias:


• Exaustividade: todas as unidades de registo podem ser
colocadas numa categoria. (Na imagem apresentada, no
retângulo direito, as categorias A e B incorporam todos os
dados).
• Exclusividade: uma unidade de registo só pode ser classificada numa
categoria e não em duas.
➔ Nesta imagem, no retângulo do lado esquerdo não há sobreposição.
➔ As unidades de registo da A não podem ser
classificadas como B → é exclusivo mas não é
exaustivo
• Nesta imagem, mostra o exclusivo (em cima, do lado
esquerdo), mostra o exaustivo (em cima, do lado direito) e
mostra a junção dos dois (na imagem de baixo).

❖ Quantificação: análise de ocorrências, análise avaliativa, análise estrutural.

❖ Análise de ocorrências:
• Permite determinar o interesse da fonte por diferentes objetos ou conteúdos
(> interesse > ocorrência).

24
• Quadro de frequências com duas ou múltiplas entradas (gráficos).
➔ Todas as operações estatísticas permitidas por uma matriz de
frequências são possíveis.

❖ Fidelidade:
• intercodificadores (mais comum) → um intercodificador é um acordo entre
duas pessoas diferentes.
• Intracodificador → pouco comum. Ver se as minhas codificações
correspondem às que fiz há 6 meses atrás. Codifico duas vezes em
diferentes momentos de tempo.

❖ Potencialidades/vantagens:
• Sistemática.
• Permite tratar grande volume de dados e todo o tipo de documentos
(flexível).
• Não obstrutiva ou discreta; frequentemente não reativa (sem
enviesamentos).
• Relação custo-benefício (materiais frequentemente acessíveis).
• Permite estudar processos que ocorrem no decurso de longos períodos de
tempo (tendências sociais).
• Inúmeros domínios de aplicação:
➔ Técnica passível de utilização nos diversos níveis de investigação
empírica.
➔ Passível de utilização com material não estruturado.

❖ Limitações/desvantagens:
• Impossibilidade de testar relações causais entre variáveis.
• Morosa (muito tempo); o custo mais importante é o tempo, e costuma ser
elevado.

FASES DO PROCESSO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO


❖ 1- Identificar questão de investigação (o que pretendemos conhecer? E o que
pretendemos explicar?) e definir um quadro de referência teórico. → assegurar que
a questão de investigação é clara e tem que haver um quadro teórico.

❖ 2- Constituição de um corpus
• Material produzido especificamente para o estudo.
• Documentos produzidos independentemente do estudo (seleção com base
em critérios metodológicos e teóricos explícitos).
➔ Critérios qualitativos: diversidade, heterogeneidade das fontes →
representatividade inclusiva de todos os pontos de vista.
➔ Critérios quantitativos: técnicas de amostragem (representatividade,
aleatoriedade) → representatividade a nível numérico.
• Corpus: terminologia para designar a base que usamos para fazer a nossa
análise.

25
❖ 3- Definição das unidades de análise:
• Unidade de registo: segmento que se caracteriza colocando-o numa
categoria (são possíveis combinações de unidades de registo).
• Unidade de contexto: segmento mais largo de conteúdo que o analista
examina quando caracteriza uma unidade de registo (suporte de validade
e fidelidade).
❖ Segmentação do texto → decidir o grau de detalhe que vamos analisar a
informação → focar nas unidades de registo.

❖ 4- Construção de um sistema de categorias


• Certo número de sinais de linguagem que representam uma variável na
teoria do analista (Hogenraad, 1984).
➔ Termo chave que indica a significação central do conceito que se quer
apreender e de outros indicadores que descrevem o campo semântico
do conceito.
➢ Inclusão de um segmento de dados numa categoria implica
deteção desses indicadores (operação de atribuição de sentido).
• Esta construção tem que estar claramente definida, no entanto pode ser
concebida antes do corpus (ponto 2).

❖ 5- Determinar critérios sistemáticos e objetivos para classificar segmentos de


dados em categorias (analíticas ou baseadas nos dados).
• Definições ou critérios de codificação.
• Escolha de material piloto para testar sistema de codificação.
• Escolha de codificadores/juízes.

❖ 6- Classificar os dados com base nas categorias (revendo categorias ou critérios


de seleção, se necessário).
• Marcadores, post-it, Atlas.ti, NVivo.
• Verificações da fidelidade dos dados.
• É o processo de codificação – aplicar sistema de categorias aa toda a base
de dados.
• Processo através do qual aplicamos as categorias aos dados → codificação
→ processo onde aplicamos as categorias às unidades de registo.
• 33% dos dados, normalmente, devem ser analisados por outros
investigadores

❖ 7- Contar o número de entradas em cada categoria para obter estatísticas


descritivas e para permitir a demonstração da magnitude (proporção de
participantes). Rever dados classificados, procurando padrões.
• Serve para termos ideia da frequência com que cada categoria aparece.

❖ 8- Considerar os padrões obtidos à luz da literatura relevante e/ou da teoria


(ligações possíveis). Oferecer uma explicação para os dados. Relacionar os
resultados com a literatura existente sobre o domínio.

26
PARA TAL, SEGUNDO VALA, É NECESSÁRIO:
❖ 1 – Delimitar o objetivo e definir um quadro de referência teórico.
❖ 2 – Constituição do corpus (diversidade de fontes, várias técnicas de amostragem).
❖ 3 – Construir um sistema de categorias (termo-chave relacionado com o conceito e
respetiva definição) à priori ou posteriori com base em:
• A) exaustividade: todas as unidades de registo podem ser colocadas numa
categoria.
• B) exclusividade: uma unidade de registo só pode ser classificada numa
categoria/ exclusão mútua.
• C) homogeneidade.
• D) pertinência: com base nos objetivos.
• E) objetividade: dicionário de categorias.
❖ 4 – Definição das unidades de análise:
• A) unidades de registo: segmento que se caracteriza colocando-o numa
categoria:
➔ Formais (palavra, frase, personagem).
➔ Informais (tema ou unidade de informação).
• B) unidade de contexto: segmento mais largo de conteúdo que o analista
examina quando caracteriza uma unidade de registo (suporte de validade
e fidelidade).

SEGMENTAÇÃO DOS DADOS: TIPOS DE DISTINÇÕES PARA DEFINIÇÃO DE UNIDADES DE


REGISTO
❖ Distinções físicas: divisão de um corpus em função de tempo, duração, tamanho,
volume (etc.) → insensível à informação fornecida ao analista.
❖ Distinções sintáticas: distinções naturais em termos da gramática do meio utilizado
(e.g., livro, carta, poema, programa de TV, palavras, frases, capítulos).
❖ Distinções categóricas: definição de unidades em função da sua pertença a uma
classe ou categoria (e.g., qualquer designação/referência que possa designar
determinada pessoa, evento, personagem, país, etc.).
❖ Distinções proposicionais: delineamento de unidades com base em construções
particulares (e.g., sujeito, verbo, objeto; verbalização de A, resposta de B aceitação
de A à reposta de B
❖ Distinções temáticas → unidades de significado: riqueza descritiva vs. dificuldade
em fazer segmentação de forma fidedigna.

27
AULA T6 E TP6
CONTINUAÇÃO DA ANÁLISE DE CONTEÚDO
❖ Exemplo da lista de compras: depois de definirmos as categorias, podemos ver
que é exclusivo, porque todos os itens da lista estão cada um em apenas uma das
categorias. Parecem ser exclusivas uma vez que só ficam bem numa das
categorias.
❖ Nota: unidades de significado é um tipo de unidades de registo.
❖ Nota 2: Nesta aula não é apresentada muita matéria pois sendo a continuação da
ula passada, foi sendo acrescentada aos apontamentos da aula passada.

AULA T7
A ANÁLISE GROUNDED THEORY

GROUNDED THEORY
❖ Existem várias abordagens a grounded theory.
❖ Os autores apresentados a negrito foram os grandes contributos: Glaser & Strauss
(1967), Glaser (1978), Strauss & Corbin (1990, 1998), Charmaz (2006).
❖ Contraponto à focalização crescente no modelo hipotético-dedutivo → ênfase na
compreensão de fenómenos e na elaboração de modelos teóricos.
❖ Desenvolvimento (indutivo) de teoria a partir da investigação enraizada nos dados.
❖ Explica (e não apenas descrever).
❖ Vamos nos centrar no Corbin e Strauss → parecia-lhes importante compreender
os fenómenos e a partir daí elaborar modelos teóricos.
❖ Construção da teoria com base em diversos dados – baseada em processos
indutivos de análise.
❖ Na análise de conteúdo o objetivo é diminuir os dados e aqui o objetivo é explicar
um determinado fenómeno.
❖ É uma técnica de investigação que permite a descoberta sistemática da teoria
a partir dos dados da investigação social.
❖ Ideia de descoberta da teoria – teoria não se descobre, é construída pelos
investigadores (por isso era uma expressão criticada).
❖ O desafio de Glaser e Strauss
❖ Questionam metodologias tradicionais (raiz positivista do método cientifico).
Defendem que a análise qualitativa sistemática pode gerar teoria.
❖ Tensões epistemológicas: “descoberta de padrões latentes nos dados”;
investigador como “tábua rasa” vs. “teorizar como ato de construção”;
“agnosticismo teórico”.
❖ Investigador devia partir pra análise de dados para descobrir padrões.
❖ Estar aberto a todas as possibilidades teóricas que podem emergir dos dados.
❖ Esta teoria visa:

28
• Descobrir conceitos e hipóteses relevantes num determinado domínio.
• Compreender processos emergentes do contexto, sem forçar ou ajustar
dados a grelhas teóricas prévias.
❖ Nós compreendemos os processos e fenómenos com base na natureza dos
próprios dados.
❖ As perspetivas teóricas sobre um problema devem estar firmemente enraizadas
nos dados disponíveis.
❖ O processo de análise é interpretativo e o analista é também um instrumento do
processo; a sua análise e a sua interpretação dos dados vão ser determinantes no
resultado final.
❖ Os dados de partida deverão representar adequadamente o fenómeno em análise.
❖ A maneira como o investigador se posiciona, interpreta os dados, etc., tem um
papel determinante no resultado final.
❖ Exigir do investigador que seja claro no processo, é um dos pressupostos para
percebermos o seu modelo teórico.

KAHOOT – ANÁLISE DE CONTEÚDO


❖ 1. Quando todas as unidades de registo podem ser codificadas, temos um sistema
de categorias exaustivo. É exaustivo quando podemos classificar todas as nossas
unidades de registo.
❖ 2. Duas categorias independentes que não podem ser usadas para classificar as
mesmas unidades de registo, são mutuamente exclusivas. A categoria diz respeito
ao conceito que usamos para identificar o significado de uma determinada unidade
de registo. Há diferentes tipos de unidades de registo, podemos segmentar em
frases, parágrafos, etc., e uma delas é com base em unidades de significado (e por
ideias, com base em critérios semânticos e não critérios formais).
❖ 3. Processo que parte dos dados para chegar à teoria – processo indutivo.

❖ Partimos do particular para o geral.


❖ Partimos dos dados para ir construindo um sistema de categorias ou teoria mais
abstrata já indutivo.

29
❖ Partimos dos dados para gerar códigos, depois vemos o que há em comum e
criamos categorias (nível de abstração maior porque já usamos conceitos mais
distantes dos dados), depois usamos temas ou conceitos mais abrangentes, até
chegar à teoria.
❖ É grounded porque é enraizado nos dados.

GROUNDED THEORY: ETAPAS


❖ 1. Codificação aberta:
• Decomposição dos dados em unidades de significado.
• Codificação aberta descritiva (elevado número de conceitos com nível de
abstração reduzido).
• Codificação aberta conceptual (questionamento e comparação constante
→ agregação e renomeação de conceitos e definição das suas
propriedades e dimensões).
• Primeiro decompomos os dados, segmentamos os dados em unidades de
significado (segmentos de texto flexíveis) para ver que ideias é que
encontramos.
• Depois, está em causa identificar o nível de conceitos mas ainda próximo
dos dados que temos – nível de abstração reduzido.
• Por fim, através do questionamento e comparação constante, vamos tentar
perceber que conceitos podem ser agrupados. Para além de identificar
conceitos e pensar bem como podemos juntá-los e designá-los, também
podemos definir as suas propriedades e dimensões.
• Estratégia típica – construção de memorandos – importância da
reflexividade do investigador – construir memorandos sobre a natureza de
uma determinada categoria, são usados para definir as propriedades e
dimensões de uma determinada categoria.

❖ 2. Codificação axial:
• Refinar e distinguir as categorias obtidas com base na codificação aberta
→ progressivamente trabalha-se melhor as categorias.
• Identificar e classificar relações entre categorias → contribui para esse
processo.
• Identificar o paradigma de codificação: contexto e
condições + estratégias = fenómeno/causas →
fenómeno → consequências.
• As relações e categorias obtidas são verificadas,
dedutivamente, regressando ao texto
(questionamento e comparação constante).
• Seleção de categorias mais relevantes/promissoras
para maior desenvolvimento/enriquecimento → para
preparar a fase da codificação seletiva –
identificamos a categoria central e depois a relação dela com as outras
categorias fará com que formemos a nossa teoria.

30
❖ É importante perceber o que encontramos das categorias e quais explicam a causa
do fenómeno, que identificam as estratégias que usamos para explicar os
fenómenos.
❖ Expressam as consequências, em que condições é que o fenómeno emerge.

❖ Podemos fazer ajustes em função da nossa teoria.


❖ Exemplo da codificação.
❖ Destas categorias todas, quais é que se expressavam, captavam ideia de
contextos, explicavam causas e consequências.

❖ 3. Codificação seletiva (fase final):


• Identificação de uma categoria central
➔ Desenvolvimento das suas propriedades e dimensões.
➔ Ligação às restantes categorias através do paradigma de codificação →
especificidade → formulação da teoria.

❖ Chegou a uma categoria central “reagir com estoicismo face a própria dor”. Com
base nas várias fases do processo chegou a esse.

31
❖ Mostra na imagem as propriedade da categoria central.
❖ Conjunto de relações que começaram a contribuir para a professora pensar num
modelo teórico.

❖ Modelo teórico criado com base nas relações da imagem anterior → foi testado
posteriormente.

❖ Outro exemplo onde se veem as diferentes categorias e diferenças entre elas.

GROUNDED THEORY: CARACTERÍSTICAS


❖ Envolvimento simultâneo da recolha e análise dos dados;
❖ Construção de códigos e categorias a partir dos dados e não de hipóteses pré-
concebidas e deduzidas;
❖ Questionamento e comparação constantes;
❖ Desenvolvimento teórico progressivo ao longo de cada passo da recolha e da
análise;
❖ O objetivo é formular uma teoria nossa de questionamento (o que significa,
diferenças entre categorias), é parte integrante do processo e é estratégias típica
desenvolver a nossa teoria nas diferentes fases do processo.
❖ Elaboração de memorandos de categorias, especificando as propriedades,
definindo relações entre categorias…

32
❖ Amostragem orientada para a construção da teoria e não para a representatividade
da população;
❖ Conduzir a revisão da literatura depois de desenvolver uma análise independente
(não é consensual).
❖ Codificação termina após saturação teórica.
❖ Tipicamente é recomendado usar memorandos.
❖ A amostragem é teórica – queremos uma amostra teórica que ajude a
perceber/criar dados significativos para criar teoria sobre um determinado grupo da
população.
❖ Saturação teórica faz parte de todo o processo, parar até retirarmos tudo.

AULA T8
QUALIDADE DOS ESTUDOS QUALITATIVOS

QUALIDADE EM INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA


❖ A preocupação pelo rigor científico deve ser central para quem investiga no âmbito
do paradigma interpretativo.
❖ Os conceitos, técnicas, critérios utilizados em estudos qualitativos, são diferentes
dos utilizados nos estudos quantitativos.
❖ Confiabilidade (trustworthiness): medida em que podemos confiar nos resultados
obtidos (Lincoln & Guba, 1991).
❖ Para chegar à confiabilidade, os autores criaram 4 critérios de confiabilidade:
• Credibilidade (credibility)
➔ Medida em que as (re)construções do investigador reproduzem os
fenómenos em estudo e/ou os pontos de vista dos participantes.
➔ Envolvimento prolongado (investimento de tempo).
➔ Revisão por pares.
➔ Revisão pelos participantes.
➔ Está associado à validade interna. Consiste em saber se os resultados
“existem” efetivamente, se captam adequadamente os pontos de vista
dos participantes.
➔ Estratégias úteis possíveis:
▪ Quanto mais tempo investirmos, mais credível será a interpretação
dos dados, contudo é necessário ter em atenção os recursos
disponíveis e a disponibilidade de todas as partes, por vezes aquilo
que se idealiza não é fazível, é necessário adaptar.
▪ Ajuda a assegurar a credibilidade.
▪ Assegura que os pontos de vista dos participantes são bem
captados, e.g., devolver (dar aos participantes) o sistema de
categorias; manuscrito inicial para que os participantes confirmem
que o seu ponto de vista está, ou não, representado corretamente.

33
▪ Entre outras possíveis.

• Transferibilidade (transferability)
➔ Possibilidade de aplicar os resultados do estudo a outros
contextos.
➔ Fornecer dados descritivos suficientes sobre os participantes e sobre o
contexto.
➔ Descrição densa que represente a diversidade das perspetivas dos
participantes e a forma como estas conduziram à interpretação,
associada à particularização, com informação sobre as características
dos participantes.
➔ Não é sinónimo de generalização (relativa à inferência estatística) de
resultados, dos dados para a população.
➔ Estratégias uteis possíveis:
▪ Ao expor o máximo de informação, damos ao leitor a possibilidade
de perceber a que contextos, os dados recolhidos, são transferíveis
(ou aplicáveis).
▪ A dizer, exatamente, o que foi dito pelo participante, facilitamos ao
leitor que este perceba a que tipo de contextos os dados são
transferíveis.

• Consistência (dependability)
➔ Capacidade de investigadores externos seguirem o método usado
pelo investigador.
➔ Fiabilidade > potencial de replicação dos resultados.
➔ Em que medida é que o investigador passa informação ao ponto de ser
replicável por outros investigadores. Está em causa uma densa
descrição do método, nomeadamente ainda das análises.
➔ Estratégias úteis possíveis:
▪ Auditoria: assegurar que disponibilizamos documentos suficientes
que permitam a outros investigadores replicar o estudo, e.g., notas;
memorandos e instrumentos.

• Confirmabilidade (confirmability)
➔ Capacidade de outros investigadores confirmarem as construções
do investigador.
➔ Auditoria: investigador externo examina de forma sistemática o
processo (registos do investigador, transcrições, guiões de entrevistas,
questionários, listagem de categorias, hipóteses, notas de campo >
materiais dirigidos ao leitor externo).
➔ Seguir pensamento, decisões, recolha e análise dos dados, conclusões.
➔ Possibilidade de reproduzir os passos conducentes a uma interpretação
ou teoria.
➔ Possibilidade de verificar que nenhuma alternativa foi excluída.
➔ Possibilidade de verificar que nenhum desvio influenciou a interpretação
do investigador.

34
➔ Registos > memorandos.
➔ Assegurar que outros investigadores possam confirmar os padrões
(resultados) encontrados.
➔ Este critério está mais focado na interpretação dos resultados.
➔ Estratégias úteis possíveis:
▪ Permite-lhes analisar de forma sistemática registos e memorandos,
para que possam seguir o nosso raciocínio.

❖ Estes 4 critérios, apesar de diferentes, não são independentes, eles completam-se


uns aos outros. As estratégias referidas em cada critério, são propostas, o que não
invalida que se recorram a outras estratégias. É sempre necessário considerar os
recursos disponíveis.

CRITÉRIOS DE QUALIDADE EM INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA: ESTRATÉGIAS ADICIONAIS


❖ Triangulação:
• Critério de qualidade.
• Combinar dois ou mais pontos de vista, fontes de dados, abordagens
teóricas ou métodos de recolha de dados.
• Compreensão mais completa do fenómeno.
• Reflexão com base nas convergências e divergências.
• Assegura a interpretação abrangente.
• Assegura a credibilidade.
• Ter em conta perspetivas teóricas diferentes para uma maior compreensão
dos dados.

❖ Procura e análise de casos negativos:


• Casos ou eventos que não estão alinhados ou contradizem as
interpretações do investigador – outliers.
• Modificação de ideias/pressupostos.
• Procura de novos contextos.
• Interpretação mais rica e aprofundada.
• Não procurar apenas dados que confirmem as suas expectativas, ou seja,
procurar outliers que demonstrem perspetivas diferentes que nos permitem
adequar os nossos pressupostos iniciais e perceber o porquê (como é que
o outliers justifica as suas perspetivas diferentes), permitem a construção
de uma perspetiva mais rica acerca do fenómeno em estudo.

❖ Coerência metodológica:
• Congruência entre a questão de investigação e os componentes do
método.
• Se queremos inferir perceções, falamos com os participantes; se queremos
inferir comportamentos, observamos os participantes.

❖ Adequação da amostra:

35
• Participantes que melhor representam o grupo-alvo ou melhor conhecem o
tópico.

❖ Recolha e análise em simultâneo:


• À medida que avançamos na análise, podemos ir focando em determinados
aspetos.
• Permite perceber a saturação.

❖ Saturação Teórica:
• Parar de recolher dados quando a informação necessária foi recolhida e/ou
quando os pontos de vista dos participantes estão globalmente percebidos.

❖ Ideias surgem dos dados e são confirmadas pelos dados


❖ Desenvolvimento da teoria:
• É difícil, mas tudo o que sejam contributos para perceber melhor
determinada teoria ou até mesmo melhorá-la, devem ser demonstrados.

QUALIDADE EM INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA:


❖ Triangulação (dados, investigadores, teorias, métodos):
• Análise convergente ou não das diferentes perspetivas.
• Investigadores analisam as diferenças ao olharem para os dados.
• Ideia de revisão e validação por parte de alguém de fora.
• Contrastam grupos diferentes.
• Discussão de dados e perspetivas.
• Triangulação de métodos (3 estratégias de recolha de dados – exemplo).
• Acordo interjuizes:
➔ Estimativa do grau de acordo de acordo com as pessoas que fizeram
as categorias.
➔ Está associado a um coeficiente.
➔ Coeficiente do Qui-Quadrado já não.
➔ Utilizar coeficiente/ percentagem para dizer com que fidelidade foi
implementada o sistema de categorias.

❖ Análise de casos negativos:


• Há um padrão de dados, mas há uma perspetiva diferente.

❖ Reflexividade do investigador:
• O investigador deve ser altamente reflexivo sobre tudo o que fez e sobre
a forma como refletiu sobre os dados recolhidos.
• Quando ele está a dizer os seus pressupostos dos dados no sentido de x.
• Diz a perspetiva dele.
• Reflexão sobre os pressupostos.
• Análise interna.

36
❖ Verificações por parte dos participantes:
• Devolvo ao participante.

❖ Trabalho colaborativo:
• Colaboração no processo de codificação.

❖ Auditores externos.
❖ Revisão por pares (feedback critico).
❖ Documentação do processo (audit trail).
❖ Envolvimento prolongado.

❖ Descrições densas.
• Temos a citação dos participantes e descrição de padrões e resultados.
• Utilização de palavras dos participantes (excerto deles).
• Quando o investigador explicou a forma como usou a descrição densa.
• Podemos tê-las sem ter a particularização.

❖ Particularização:
• Referência a características dos participantes – damos informação das
particularidades.
• Não podemos ter particularização sem descrição densa.
• Ex.: (Filipa, 18 anos, pai militar…)
• Referência ao grupo 1 do mestrado – dizemos de onde vem aquilo.

❖ Medidas de credibilidade: triangulação; análise de casos negativos;


reflexibilidade do investigador; verificação dos participantes; trabalho colaborativo;
auditores externos; revisão por parte dos pares; documentação do processo;
envolvimento prolongado; descrições densas; particularização; ligações à teoria;
pode ser feita uma reflexão sobre a posição pessoal do investigador.

AULA TP8
QUIZ ONLINE

37
❖ Exemplo 1:
• “Saliente-se que a matriz de codificação dos dados foi o resultado da
concordância dos 3 avaliadores, coautores deste estudo. Para avaliar o
grau de concordância dos avaliadores relativamente às duas facetas
adicionais, i.e., para calcular o índice de fiabilidade da análise efetuada
pelos 3 avaliadores, procedemos a uma análise de conteúdo pré-
estruturada, conforme descrito em Lima (2003). Deste modo, partindo da
análise feita pelos três avaliadores, em concordância e das unidades de
registo decorrentes do “recorte” feito pelos mesmos, solicitámos a um juiz
independente, externo a todo o processo, coautor do presente estudo, que
procedesse à codificação, numa grelha, das unidades de registo,
acompanhadas das categorias a aplicar, que lhe foram apresentadas, de
forma aleatória. No final, recorrendo ao programa estatístico IBM SPSS
(versão 20.0), foi calculado o Kappa de Cohen a partir das duas
codificações feitas: a primeira codificação – Cod.1 – a dos três avaliadores
e a segunda codificação – Cod. 2 – do juiz independente." (Catré et al.,
2017).
➔ R: trabalho colaborativo ou revisão de pares. Acordo Inter-juízes.

❖ Exemplo 2:
• “os outros” foram sendo objeto de críticas, pela forma como interagem com
os demais, com implicações no seu modus vivendi: «Penso que é
importante não agredir, não ser agredida, não agredir ninguém. É o que é
importante para você viver assim, tranquila, sem remorsos. A religiosidade
não é só ir à igreja. É fazer algo que seja bom para você mas também para
os outros. Há pessoas que vão à igreja, rezam, comungam e maltratam.
São frequentadores assíduos da igreja e maltratam os pais.» [Grupo 1-
Mestrado]" (Catré et al., 2017).
➔ R: Descrição densa (citação do participante) e particularização
(referência ao grupo 1).

❖ Exemplo 3:
• "Uma outra questão abordada pelos jovens foi a gravidez na adolescência:
referem que algumas raparigas ficam grávidas muito cedo e que muitas têm
de deixar de estudar e são expulsas de casa pelos pais, por outro lado
referem que a gravidez é percecionada pelas jovens como algo positivo que
as vai fazer mudar de vida. Início da vida sexual: «A virgindade perde-se
aos 18 anos, quando gostamos de alguém de verdade» "(Gaspar et al.,
2006).
➔ R: Descrição densa (citação participante).

❖ Exemplo 4:
• "De forma a assegurar a fiabilidade do processo de codificação, foi
solicitado a uma investigadora independente que codificasse 33% das
entrevistas, selecionadas aleatoriamente (n = 6), tendo-se obtido um
coeficiente Kappa médio de .75 (DP = .19)." (Albuquerque, 2017).

38
➔ R: Acordo inter-juízes (associado ao “coeficiente de Kappa”).

❖ Exemplo 5:
• "...construíram-se categorias emergentes, elaboradas indutivamente a
partir dos dados, finalizando-se o processo quando se alcançou a
saturação teórica das categorias, o que aconteceu à décima sexta
entrevista analisada." (Albuquerque, 2017).
➔ R: Saturação

❖ Exemplo 6:
• "...as respostas dos participantes foram inicialmente identificadas e
agrupadas pelo primeiro pesquisador, e posteriormente revistas e
validadas por um segundo investigador." (Pinto, Francisco, & Santos,
2017).
➔ R: Triangulação; e a mais correta é trabalho colaborativo ou revisão por
pares.

❖ Exemplo 7:
• "De seguida, são explicitadas todas as subcategorias que emergiram das
duas categorias supramencionadas e interpretadas de acordo com a
literatura, sendo acompanhadas de citações dos participantes, que ajudam
a compreender o significado das mesmas." (Pinto, Francisco, & Santos,
2017).
➔ R: Descrição densa → investigador explicou a forma como usou a
descrição densa.

❖ Exemplo 8:
• "... «O que eu sinto é que passo a ser o homem da casa (risos). A minha
mãe pede mais ajuda, também reparo que ela se esforça mais, por exemplo
para ir buscar à escola ou fazer certas tarefas diárias e nós tentamos ajudá-
la ao máximo.» (Filipa, 18 anos, pai militar com 3 missões)." (Pinto,
Francisco, & Santos, 2017).
➔ R: Descrição densa e particularização.

❖ Exemplo 9:
• "Da temática Especificidades do Sistema de Saúde de Portugal constam,
também, referências à formação/qualificação dos profissionais de saúde
em Portugal. As participantes de origem brasileira relatam situações de
desconhecimento por parte dos profissionais de saúde do país de
acolhimento, referindo a sua pouca especialização (unidades de análise =
11). Já as participantes de origem cabo Verdiana consideram os
profissionais de saúde de Portugal bem qualificados (unidades de análise=
5). (Mourão & Bernardes, 2013).
➔ R: Triangulação → investigador parece estar a ver as divergências nas
perspetivas das 2 participantes. Está a contrastar perspetivas de 2 tipos
de fontes.

39
❖ Exemplo 10:
• "Alguns dados apresentados evidenciam, ainda, perceções sobre pontos
comuns e divergentes entre os sistemas de saúde de Cabo Verde e do
Brasil, comparativamente com o sistema de saúde português, enfatizando-
se os que indiciam diferenças nas instituições e nos profissionais de
referência para as consultas de VSI. Relativamente a Portugal menciona-
se apenas o centro de saúde como referência nas consultas de VSI e no
que se reporta a Cabo Verde indica-se, também, o hospital. Contudo, os
relatos das mães imigrantes cabos Verdiana nesse âmbito deixam
transparecer algumas dúvidas, que poderão relacionar-se com um padrão
de utilização indiscriminado dos recursos de saúde disponíveis no país
(Bäckström, 2009). Para além disso, as mães imigrantes brasileiras
contrapõem a referência ao pediatra do Brasil com o médico de família em
Portugal, relacionando esse facto, em alguns casos, com a formação
inadequada dos profissionais de saúde de Portugal, pela sua menor
especialização. As mães imigrantes cabo Verdiana não se reportam a
nenhum profissional de referência nas consultas de VSI, o que poderá
relacionar-se com o facto de referirem, algumas vezes, não existir médico
de família no seu país de origem. (Mourão & Bernardes, 2013).
➔ R: Triangulação (contrastam grupos diferentes).

❖ Exemplo 11:
• "Dois juízes categorizaram 32% da totalidade dos textos classificados como
sendo de pertinência central e foi calculado o coeficiente kappa para as
variáveis mais estruturais. O acordo inter-juízes (kappa de Cohen) para a
variável tema foi de 0.77 (Quadro 1), para a variável instituições 0.86,
atores 0.92, fonte 1.0 e tom 0.76." (Queirós & Castro, 2013).
➔ R: Acordo inter-juízes.

❖ Exemplo 12:
• "As codificações foram revistas por dois elementos da equipa de
investigação e os desacordos resolvidos caso a caso." (Mouro & Castro,
2018).
➔ R: Trabalho colaborativo ou revisão por pares → colaboração no
processo de codificação.

❖ Exemplo 13:
• "Também se encontraram diferenças entre os dois grupos. O discurso dos
proprietários congregou mais argumentos de contestação do que de apoio
às leis, enquanto nos não proprietários os dois tipos de argumento foram
usados em número equivalente. Verificou-se também que os proprietários
inquiridos recorreram a um leque maior de argumentos de contestação do
que os não proprietários, tendo-se identificado um argumento usado
exclusivamente pelos proprietários, o relativo à tensão entre os níveis
global e local (ver também Mouro, 2011). Estes resultados indicam haver

40
uma construção da resistência às leis mais elaborada por parte dos
proprietários, grupo que se diferencia também pelo uso de mais
argumentos ancorados em conhecimento específico e localizado para
salientar desajustes ao contexto local no que é proposto pela lei." (Mouro
& Castro, 2018).
➔ R: Triangulação → discussão entre o contraste dos proprietários e não
proprietários

❖ Exemplo 14:
• "Com o intuito de compreender a controvérsia relativa ao Convento,
analisou-se a imprensa, tendo sido, durante o período de Agosto a
Dezembro de 2004, recolhidos, em quatro jornais diários, 13 artigos que
discutiam esta questão. Assistimos também a duas sessões públicas
promovidas pelo movimento de moradores, onde os vários interesses e
perspetivas, à exceção do proprietário da construção, estavam
representados. A análise da imprensa e as notas tiradas nestas sessões
ajudaram a reconstruir o contexto representacional da controvérsia. Numa
segunda etapa, realizámos seis entrevistas narrativas..." (Castro & Batel,
2007).
➔ R: Triangulação → triangulação de métodos (3 estratégias de recolha
de dados).

❖ Exemplo 15:
• "Destas entrevistas, emerge a ideia de que deverão ser os moradores a vir
colocar questões e emerge, assim, uma conceção da participação como
sendo, sobretudo, pedagógica: «Entrevistadora – Mas e acha que essa
cultura cívica deve ser criada, deve ser trabalhada, partindo dos moradores,
ou partindo de iniciativas da Câmara, por exemplo, de aproximação? VC –
Eu acho que, eu pessoalmente, e falando como cidadão, eu acho que deve
partir dos moradores. Porque eles é que são a parte interessada» [VC, p.
7]. Por sua vez, o porta-voz dos moradores tem a perspetiva contrária, é o
gabinete que deve promover debates públicos, aproximando-se dos
cidadãos: «... Não houve nenhuma discussão pública por parte das
instituições que deviam tê-la promovido com os habitantes daquela área.
(…)» Parece, então, claro, a partir deste conjunto de divergências, que a lei
genérica que diz respeito ao envolvimento do público tem que ser
interpretada e implementada – e que isto são tudo oportunidades para que
as divergências surjam." (Castro & Batel, 2007).
➔ R: descrição densa (citações); particularização; triangulação (triangular
perspetivas).

AULA TP11
PUBLICAÇÃO DE ESTUDOS QUALITATIVOS: CONVENÇÕES

41
Relatórios científicos: Critérios a considerar na publicação de estudos baseados em
métodos de investigação qualitativos:
❖ Relevância: não pôr palha, apenas informação relevante e útil.
❖ Adequação: o artigo deve ser internamente coerente (e.g., se queremos saber de
prática, “vamos observar comportamento e não perguntar opiniões”).
❖ Transparência: dar informação suficiente para que se perceba o estudo na integra,
assegurado por outro lado que não há informação de ruído.
❖ Rigor: sermos específicos para que percebam o que foi feito e o que se percebeu.

❖ Abstract: “Receita” – transmite o objetivo; informação pertinente sobre os


participantes; suma de resultados, ou seja, é um resumo do que se pretendia
estudar e o que se descobriu.

O que incluir na secção de INTRODUÇÃO?


❖ Explicitar a questão de investigação/ objetivos, com clareza.
❖ Justificar a questão de investigação e estabelecer ligações claras com o
conhecimento prévio (teoria, investigação empírica, politicas) – enquadramento
teórico.
❖ Estabelecer de forma inequívoca a relevância/interesse da questão de investigação
(em termos teóricos, práticos, clínicos ou políticos).

O que incluir na secção de MÉTODO?


❖ Identificar e explicar fontes (participantes, documentos, etc.):
• Quem são? (características sociodemográficas, depende do tema e quais
as características relevantes para o estudo).
• Como foram identificadas (critérios de seleção), justificando adequação
para investigação do fenómeno.
• Que informação receberam sobre o estudo? (consentimento informado,
confidencialidade e anonimato).
• Taxas de participação/recusa? (apenas quando relevante).
• Utilização de múltiplas fontes (triangulação).

❖ Procedimento de recolha de dados (detalhe para permitir que alguém “imite”


o estudo observação, entrevistas, grupos focais, …):
• Descrição detalhada sobre o processo de recolha (o quê? Quando-?
Durante quanto tempo? Onde? Como?)
• Utilização de múltiplos métodos de recolha de dados.
• Justificar adequação dos métodos, tendo em conta as questões de
investigação.
• Relação entre recolha e análise de dados (no trabalho foi sequencial e não
simultâneo).

42
• Justificação da decisão de finalizar a recolha de dados.
• Inclusão de detalhes sobre problemas que surgiram (e como foram
resolvidos).

❖ Contexto:
• Descrição do contexto do estudo e das características relevantes do
investigador (COVID).

❖ Procedimento de análise:
• Unidade de registo (segmentação dos dados).
• Técnicas utilizadas durante a análise
• Tipo de análise descrito em detalhe e justificando (conforme os objetivos).
• Abordagem indutiva ou dedutiva (identificação e definição de códigos).
• Acordo inter-juízes (descrição detalhada e justificação).
• Identificação de procedimentos para assegurar a credibilidade.
• Justificação do tipo de análise em função das questões de investigação.

O que incluir na secção de RESULTADOS?

❖ Utilizar descrição densa; recorrer a citações diretas dos participantes (indicando


critérios de seleção das citações, e.g., aleatório? O que melhor ilustra?).
❖ Triangulação (relato mais rico, robusto e abrangente – incorporação de diferentes
perspetivas).
❖ Analisar/interpretar casos negativos/discrepantes, tentar explicá-los → traz
riqueza ao estudo, tentar perceber o motivo das discrepâncias.
❖ Quantificação, quando apropriado.

O que incluir na secção de DISCUSSÃO?


❖ Em alguns casos, pode fazer sentido integrar a apresentação de resultados e a
discussão do seu significado.
❖ Em estudos qualitativos, há por vezes necessidade de juntar resultados com a
discussão:
• Contextualizar interpretações (baseadas nos dados).
• Reflexividade do investigador.
• Resultados discutidos com base na teoria e na literatura empírica (explicar
contributo).
• Explicitar limitações (nunca terminar um artigo nas limitações) e
relevâncias.

Como avaliar a qualidade de um estudo qualitativo?


❖ De uma forma geral, o investigador explícita o quadro de referência teórico e os
métodos utilizados em cada fase da investigação?
❖ O contexto é descrito de forma clara?
43
❖ A estratégia de amostragem é descrita e justificada de forma clara?
❖ O trabalho de campo é descrito com detalhe?
❖ Os dados (e.g., documentos, transições) podem ser inspecionados de forma
independentemente?
❖ Quando adequado, o investigador utiliza evidências quantitativas para testar
conclusões qualitativas?
❖ O investigador demonstra ter verificado a existência de observações que possam
contradizer ou modificar a análise? – análise de casos negativos.
❖ O investigador apresenta dados originais suficientes para satisfazer o leitor mais
cético em relação à relação entre a interpretação e os dados? Com base em
unidades de registo numeradas e identificando as fontes?

AULA TP12
CORREÇÃO DE UM EXERCÍCIO

❖ INTRODUÇÃO:
• Identificação das lacunas no estado de arte.
• Identificação e análise dos estudos prévios relevantes.
• Demonstração da relevância da questão de investigação.
• Descrição das características relevantes do investigador (reflexividade).
• Descrição do contexto de estudo.
❖ MÉTODO:
• Descrição sociodemográfica dos participantes.
• Informação fornecida aos participantes acerca do estudo.
• Descrição e justificação dos critérios de seleção dos participantes.
• Taxas de participação/ recusa.
• Descrição e justificação dos procedimentos de recolha de dados.
• Descrição e justificação dos procedimentos de análise dos dados.
• Justificação sobre o tamanho da amostra.
• Descrição da relação entre recolha e análise dos dados.
• Identificação de eventuais problemas no processo de recolha de dados (e
estratégias de resolução).
• Procedimentos de consentimento informado.
• Descrição das características relevantes do investigador (reflexividade).
• Identificação e justificação da técnica ou abordagem de análise dos dados.
• Identificação da unidade de registo.
• Acordo inter-juízes.
• Identificação dos procedimentos para assegurar a credibilidade dos
resultados.
• Descrição do contexto de estudo.
• Descrição dos instrumentos de recolha de dados.
44
• Referência ao software de análise de dados utilizado.
• Treino dos investigadores (recolha e análise).

❖ RESULTADOS:
• Inclusão de citações dos participantes.
• Análise dos casos negativos.
• Triangulação de perspetivas.
• Quantificação (número de unidades de registo ou de participantes em cada
tema/ categoria, quando necessário).

❖ DISCUSSÃO:
• Descrição das características relevantes do investigador (reflexividade).
• Análise das limitações do estudo.
• Explicitação do contributo do estudo.
• Interpretação dos resultados com base na teoria e na literatura prévia.
• Análise das implicações do estudo.

45

Você também pode gostar