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Licenciatura em Psicologia | 3º ano | 2º Semestre

Introdução a Avaliação Psicológica

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

❖ O aparecimento da avaliação psicológica dentro da psicologia resulta, essencialmente, do trabalho de três


autores: Galton, Binet e Cattell.
⬥ Darwin, com as teorias sobre a adaptação das espécies e diferenças individuais
⬥ Galton
▪ Pioneiro da utilização da estatística para estudar diferenças individuais, inclusive no que
toca ao desenvolvimento de escalas e questionários de avaliação;
▪ Concebe o método das correlações
▪ Cria o primeiro laboratório de psicometria
▪ Descreve e mede características humanas como a altura, peso, capacidade respiratória,
etc.
⬥ Cattell
▪ Abre o primeiro laboratório de testes.
▪ Propõe técnicas de avaliação para funções sensoriais, percetivas e motoras.
▪ Propõe o estudo de variados processos psíquicos, como a memória, imaginação,
atenção, etc.
⬥ Binet
▪ Propõe o método subjacente aos testes mentais
▪ Primeiro a apresentar requisitos para provas de avaliação, e condições necessárias para
o desenvolvimento de testes
▪ Conceptualiza o diagnóstico psicológico (centrado na avaliação de inteligência, para a
qual contribui com a escala Binet-Simon)
⬥ APA publica o DSM-I em 1952
⬥ Em 2011 é criada a OPP

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Definição

❖ Processo complexo de resolução de problemas (resposta a questões) que utiliza vários procedimentos
de recolha de dados (testes, entrevistas, análise funcional) que são posteriormente integrados na
produção e confirmação de hipóteses acerca do sujeito e do seu problema.
⬥ É um processo de resolução de problemas, que pode ser visto tendo em conta:
▪ A identificação do problema a resolver (o que supõe a clarificação relativamente ao
pedido de ajuda);
▪ No conteúdo das perguntas (que questões formular, relativamente a que áreas);
▪ Na hierarquização das prioridades em função da centralidade dos problemas (que
problemas selecionar primeiro, por onde começar a investigação);
▪ Na complexidade das tarefas de avaliação (que obrigam à necessidade de ajuizar,
efetuar escolhas e tomar decisões).
⬥ Recorre à utilização clínica de testes psicológicos para facilitar a avaliação da personalidade.

❖ Processo variável, flexível e multifatorial (depende da questão colocada, das pessoas envolvidas,
compromissos temporais e de um número infinito de fatores).
⬥ Como tal, não pode ser reduzido a um conjunto finito de regras específicas, de etapas, ou de
instrumentos.

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❖ Processo através do qual se procura conhecer, compreender ou formar um juízo ou uma opinião acerca
de um sujeito.
⬥ Procedimento para fazer aprendizagens acerca das pessoas, para medir atributos psicológicos,
ou para obter amostras do comportamento psicológico.
⬥ Estudo descritivo, compreensivo e explicativo (em função do caso) do comportamento dos
sujeitos e dos grupos humanos.
▪ Esta atividade é muitas vezes referida como a medida das diferenças individuais, uma
vez que os resultados do processo de avaliação procuram caracterizar o que em cada
sujeito é diferente e singular (e o que é semelhante) relativamente a outros sujeitos.
⬥ Implica a existência de um processo para compreender e ajudar as pessoas a lidar com os seus
problemas.
⬥ Processo de desenvolvimento de representações, tomada de decisões e verificação de hipóteses
acerca do comportamento de outra pessoa em interação com o meio.

Objetivos

❖ Despistagem/rastreio de problemas
⬥ Descrição/identificação de atributos
❖ Compreensão/explicação do caso
⬥ E comunicar essa compreensão ao sujeito
❖ Verificação de hipóteses
❖ Diagnóstico
⬥ Função necessária à diferenciação das condutas e à classificação em psicopatologia
❖ Prognóstico do comportamento futuro
❖ Intervenção
⬥ Planificação da intervenção
⬥ Execução e medida da eficácia da intervenção
❖ Investigação

Contextos de Aplicação

❖ Escolar/educação
❖ Orientação Vocacional
❖ Aconselhamento Psicológico
❖ Clínica/Saúde
❖ Reabilitação física e sensorial
❖ Forense/Justiça
❖ Trabalho/Organizações
❖ Militar
❖ Tráfego
❖ Desporto
❖ Ambiente
❖ Etc.

Conhecimentos Fundamentais

❖ Psicometria, Estatística, Metodologia da investigação, Psicologia do desenvolvimento, Psicologia


cognitiva/processos cognitivos, Teorias da inteligência, Teorias da personalidade, Psicopatologia,
Psicofisiologia, Neuropsicologia, Psicologia Clínica, Psicologia da Saúde, Psicologia Forense, Modelos
psicoterapêuticos, etc.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ENQUANTO COMPETÊNCIA

❖ A avaliação psicológica é uma tarefa profissional, e uma área de especialização, que distingue os
psicólogos de outros especialistas, conferindo-lhes autonomia profissional.
⬥ Segundo o Código Deontológico da OPP, a avaliação psicológica é um ato exclusivo da psicologia
e um elemento distintivo da autonomia técnica dos psicólogos relativamente a outros
profissionais.
❖ Apresenta uma singularidade técnico-científica.

❖ É vista como uma competência essencial para os psicólogos.


⬥ Avaliação: definir características relevantes de indivíduos, grupos, organizações e situações
através de métodos apropriados.
▪ Avaliação individual e avaliação de grupo: realizar avaliação através da entrevista,
administração de testes e observação de indivíduos/grupos num cenário (setting)
relevante para o pedido formulado.
▪ Avaliação organizacional e avaliação situacional: realizar avaliação através da
entrevista, inquéritos e outros métodos e técnicas que são apropriados para o estudo de
organizações/situações num cenário relevante para o pedido formulado
⬥ Desenvolvimento (de intervenções): desenvolver intervenções, serviços, ou produtos na base da
teoria ou de métodos psicológicos para uso por clientes ou psicólogos.
▪ Teste de serviços ou produtos: testar um serviço ou produto e avaliar a sua
praticabilidade/possibilidade, fiabilidade, validade e outras características, considerando
o contexto no qual o produto ou serviço vai ser usado.
▪ Avaliação de produtos ou serviços: avaliar um produto ou serviço relativamente à sua
utilidade, satisfação do cliente, utilização amigável, custos e outros aspetos que são
relevantes no cenário em que o serviço ou produto vai ser usado.
⬥ Avaliação (para intervenção): estabelecer a adequação das intervenções em termos de adesão
ao plano de intervenção e à realização dos objetivos definidos.
▪ Planeamento da avaliação: desenhar um plano para a medida de uma intervenção,
incluído critérios derivados a partir do plano de intervenção e definição de objetivos,
num contexto relevante para o serviço solicitado.
▪ Medida da avaliação: selecionar e aplicar técnicas que são apropriadas para a medida
da eficácia do plano de intervenção, num contexto relevante para o serviço solicitado.
▪ Análise da avaliação: conduzir análises de acordo com o plano de medida, e formular
conclusões acerca da eficácia das intervenções num contexto relevante para o serviço
solicitado.
⬥ Comunicação: proporcionar informação aos clientes de um modo que é adequado para o
satisfazer as necessidades e expectativas dos clientes.
▪ Proporcionar feedback: proporcionar feedback aos clientes, usando meios apropriados
orais ou audiovisuais, num contexto relevante para o serviço solicitado.
▪ Redigir relatórios: redigir relatórios para informar clientes acerca dos resultados da
avaliação, do desenvolvimento de serviços ou produtos, intervenções, e/ou medidas,
num contexto relevante para o serviço solicitado.

AVALIAÇÃO PSICÓLOGICA ENQUANTO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO

❖ De certa forma, a avaliação psicológica implica formulação de juízos e tomadas de decisão (pré-requisito
para uma prática rigorosa e eficaz)
⬥ Relativamente:

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▪ Natureza do problema;
▪ Causas, gravidade e significado dos sintomas;
▪ Diagnóstico;
▪ Prognóstico;
▪ Interlocutores;
▪ Construtos/variáveis (a examinar);
▪ Instrumentos/metodologias de avaliação (questões psicométricas).

❖ Cenários em que caímos em erros ou enviesamentos


⬥ Informação consistente vs. expectativas inflexíveis/rígidas
▪ Relaciona-se com a qualidade da recolha da informação.
● Podemos ter uma recolha organizada e cuidada/consistente que nos permite
boas informações, ou podemos ter uma recolha não tão boa que nos leva a
expectativas inflexíveis e rígidas que nos induzem em erros e enviesamentos.
⬥ Acumulação de informação vs. “confiança excessiva”
▪ Por possuirmos informação a mais, podemos adotar uma confiança excessiva sobre nós
próprios que nos acabará por ser prejudicial.
▪ A quantidade de informação não é sinónimo de qualidade da mesma.
⬥ Investigação, publicações, acumulação de conhecimentos vs. domínio eficaz da informação
▪ Apesar de termos conhecimentos, podemos não o saber aplicar eficazmente.

LIMITAÇÕES DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

❖ No processos de avaliação psicológica, os psicólogos desenvolvem e mantêm um conjunto de estratégias


de raciocínio e de processamento de informação – as heurísticas, esquemas de conhecimento ou
representações cognitivas.
⬥ São estratégias inconscientes, que permitem simplificar e organizar a informação, de modo a
elaborar as apreciações e inferências que vão servir de suporte aos processos de avaliação,
diagnóstico, intervenção, entre outros.
▪ Assim, as heurísticas orientam os processos de formulação de juízos e tomada de
decisão.
⬥ No entanto, estes processos de formulação de juízos e tomada de decisão são:
▪ Elaborados em condições de incerteza;
▪ Problemáticos, uma vez que as heurísticas – por serem elaboradas, muitas vezes, com
pouca informação - podem conduzir a enviesamentos e a erros.

Heurísticas, Enviesamentos e Erros

❖ Tipos de heurísticas
⬥ Heurística da disponibilidade
▪ Quando as inferências formuladas acerca da frequência ou probabilidade de um
acontecimento são excessivamente influenciadas por outros fatores, derivada de uma
facilidade evocação/acesso cognitivo.
● Quanto mais ambíguos são os dados, mais as descrições são influenciadas por
ideias preconcebidas, e que estão mais facilmente disponíveis.
▪ Ou seja, é a tendência para formarmos julgamentos com base na informação mais
rapidamente e facilmente disponível que temos na memória sobre um acontecimento
semelhante, que tenha ocorrido no passado.
● P.e., recordo-me que existem muito mais restaurantes italianos em Lisboa, do
que japoneses. Por isso, assumo que existem mais italianos do que japoneses.

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⬥ Heurística da representatividade
▪ Apreciações relativas à probabilidade de determinada pessoa pertencer a uma
determinada classe ou de determinado acontecimento pode ser prognosticado, a partir
de determinada sequência de antecedentes.
▪ Ou seja, é a tendência para inferir que uma amostra de comportamento num dado
momento é representativo do funcionamento geral da pessoa.
● P.e., assumimos que uma pessoa é sempre ansiosa, por a vermos ansiosa por
ter ficado presa num elevador, quando na verdade não o é, foi apenas naquele
momento específico.
⬥ Heurística do carácter único
▪ Ênfase excessivo no carácter único e singular de casos individuais, havendo uma
negligencia dos dados relativos às distribuições, aos elementos comuns.
▪ É errado assumir que as probabilidades e normas não se aplicam também à avaliação de
casos singulares.
● P.e., assumimos um sintoma como algo nunca visto antes, pois como não
sabíamos, assumimos que é raro/único, e pode não o ser.

❖ Enviesamentos cognitivos
⬥ São erros sistemáticos, traduzidos na tendência para o julgamento se desviar invariavelmente
de uma norma ou critérios de validade aceites.
▪ Preferência subjetivamente fundamentada por uma dada conclusão ou inferência em
detrimento de conclusões alternativas possíveis.
▪ Erros cometidos devido ao uso incorreto da informação disponível.

⬥ Enviesamentos confirmatórios
▪ Associados a um trabalho quase instantâneo de elaboração inicial de concetualizações
ou categorizações acerca do sujeito, tendo por base uma quantidade mínima de
informação.
▪ Ou seja, é tendência para assumir as características de alguém com base em informação
mínima que temos sobre a pessoa. É a formulação de um julgamento inicial que se
mantém inalterado.
● P.e., primeiras impressões são estabelecidas no início da relação e resultam
numa visão da pessoa que se mantém alterada durante imenso tempo.
⬥ Enviesamento a posteriori da previsão
▪ Tendência para assumir, depois do conhecimento de um acontecimento ou dos seus
resultados, que estes são inevitáveis e poderiam ter sido facilmente prognosticados.
▪ Construir racionalmente um caso clínico a posteriori.
● P.e., uma pessoa empregada realiza um mau serviço, logo é inevitável que esta
seja despedida.
⬥ Correlações ilusórias
▪ Interpretações ou atribuições de correlação, ou mesmo de causalidade, entre duas
classes de acontecimentos que não estão correlacionados.
● P.e., uma criança interpreta as manchas do teste de Rorscharch como sendo a
figura de um monstro. O psicólogo irá assumir que essa determinada criança só
possui pensamentos negativos.

❖ Erros
⬥ É definido a partir da existência de consequências indesejadas;
▪ É uma inconsistência entre uma hipótese, conclusão ou inferência.

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▪ É uma crença não comprovada, uma contradição com aquilo que é prescrito por um
modelo de desempenho ótimo.
⬥ Os erro inferenciais sistemáticos podem corresponder ou a uma utilização excessiva de certas
estratégias inferenciais, intuitivas e, geralmente, válidas, ou a um recurso diminuto de
estratégias formais, lógicas ou estatísticas.
⬥ Os erros ocorrem:
▪ Porque as estratégias não são adequadas aos problemas;
▪ Porque a complexidade de informação excede a capacidade cognitiva do avaliador;
▪ Devido a “défices de competência inferencial” ou a “lapsos de desempenho inferencial”
(não utilização de conhecimentos disponíveis).
⬥ Erro fundamental de atribuição
▪ Tendência automática para atribuir a causa de um determinado comportamento a
fatores internos ao indivíduo que o exibiu, em vez de o atribuir a fatores externos ao
mesmo.
● P.e., o professor pode atribuir o insucesso de um aluno seu num determinado
exame a causas internas a si (p.e., falta de competência/capacidade), em vez de
o fazer a causas externas (grau de dificuldade do exame)

Sistemas

❖ O nosso cérebro funciona segundo dois sistemas que entram em competição:


⬥ Um primeiro sistema que é fundado sobre a intuição, é rápido e automático, requerendo uma
energia mínima.
▪ No qual pertencem as heurísticas, os erros e os enviesamentos.
⬥ Um segundo, fundado sobre a razão, lento e refletido, que requer uma energia máxima.

Soluções para Minimizar as Heurísticas

❖ Ter conhecimento e consciência da ação das heurísticas, enviesamentos e erros (ainda que, por si só,
esta familiaridade com as fontes de erro não seja suficiente)
❖ Treino, formação e experiência profissional
❖ Oportunidades para observar; exposição direta e prática a situações concretas; partilhar, em voz alta, os
processos de análise/decisão.
❖ Monitorização da prática, de uma forma sistemática (colocar questões, discutir argumentos, etc.)
❖ O juízo clínico não deve, apenas, depender da intuição
❖ Não basta a “capacidade/conhecimentos/competência), é também necessária performance
❖ Diminuir a “confiança” na memória: registar, consultar registos, dados e informações;
❖ Prestar atenção a causas de natureza contextual/ambiental
❖ Prestar atenção às fontes de incerteza
❖ Maior prudência na formulação de juízos definitivos acerca da pessoa e do(s) seu(s) problema(s)

TESTES DE AVALIAÇÃO

Teste, testagem e avaliação psicológica

❖ Teste: instrumento de medida estandardizado que tem como objetivo a obtenção de dados acerca do
sujeito;
❖ Testagem: conceito mais amplo que o teste, é um processo que engloba a administração, cotação e
eventual interpretação dos resultados individuais de um teste.
❖ Avaliação psicológica

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⬥ Conceito mais amplo e processo mais exigente;


⬥ Ênfase no objeto de avaliação (e contexto);
⬥ Recorre a vários instrumentos e procedimentos;
▪ Instrumentos (testes e outras provas);
▪ Técnicas (entrevista);
▪ História e observação;
▪ Outras fontes
⬥ Merecem especial realce tarefas de inferência e formulação de juízos clínicos, e ainda a
integração de resultados;
⬥ Assim, a avaliação psicológica requer:
▪ Compreensão da personalidade;
▪ Domínio das teorias e modelos de avaliação, diagnóstico e medida;
▪ Conhecimentos de psicometria e construção de instrumentos;
▪ Administração, cotação e interpretação de testes;
▪ Utilização de métodos, técnicas e instrumentos que avaliem as dimensões cognitiva,
afetiva e comportamental.
▪ Reconhecimento das vantagens e limitações dos métodos e instrumentos;
▪ Conceptualizar condições de vida que originem padrões de dados num teste;
▪ Desafiar o próprio juízo associando a presença e ausência de indicadores de teste às
características psicológicas examinadas;
▪ Competências interpessoais/sensibilidade emocional;
▪ Integração da informação, análise e inferência;
▪ Formulação do caso/elaboração de relatórios;
▪ Identificação do problema e recomendações para a intervenção;
▪ Medir os resultados decorrentes da intervenção.

Processo de Construção de Testes de Avaliação

❖ Conceptualização do teste
⬥ Necessidade de realizar o teste
⬥ Revisão da literatura
▪ Já existe esse teste? As suas propriedades psicométricas são satisfatórias?
▪ O que irá medir?
▪ Qual o objetivo?
▪ Existe uma necessidade para este teste?
▪ Quem o utilizará?
▪ Que conteúdo será abrangido?
▪ Como se aplicará?
▪ Qual o formato ideal? Deverá construir-se mais do que uma forma do teste?
▪ Que requisitos deverão deter os profissionais que aplicarem este teste?
▪ Benefícios/danos potenciais da aplicação do teste.
▪ Como se irá conferir significado às pontuações do teste?
⬥ Estudo piloto
▪ Investigação prévia à elaboração de um protótipo do teste (p.e., estudo individual dos
itens);
▪ Tem como objetivo verificar como medir, da melhor forma, o construto ou a variável em
estudo;
▪ Representa uma etapa decisiva para a qualidade do produto final.

⬥ Fatores contextuais na conceptualização do teste a ter em conta:

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▪ Diferenças sociais, políticas, institucionais, linguísticas e culturais;


▪ Legislação do país em que os testes vão ser utilizados;
▪ Diretrizes nacionais e códigos deontológicos já existentes, criados por sociedades
científicas e associações profissionais de psicólogos;
▪ Diferenças relativas à especificidade da avaliação individual vs. avaliação em grupo;
▪ Diferenças relacionadas com o contexto de utilização dos testes (educacional, clínico,
organizacional e outros);
▪ Quem são os destinatários principais dos resultados dos testes (pessoas avaliadas, seus
pais ou encarregados de educação, construtores de testes, entidade patronal ou
outros);
▪ Diferenças quanto às finalidades da avaliação e à utilização dos resultados dos testes
(p.e., para tomar decisões, tal como ocorre na triagem de seleção, ou para facultar
informação de suporte em situações de orientação ou aconselhamento);
▪ Variações no grau em que a situação permite verificar o rigor das interpretações e,
eventualmente, modificá-las em função de informação posterior.

❖ Construção do teste
⬥ Elaboração de escalas (instrumento utilizado para medir algo)
▪ Tipos de escalas
● Nominal
o Inclui categorias de resposta qualitativamente diferentes e
mutuamente exclusivas.
o Atribui-se um número para codificar a resposta.
▪ P.e., “qual é o seu sexo?” (1) masculino ou (2) feminino
● Ordinal
o Admitem ordenação numérica, estabelecendo ordem entre as
categorias
▪ P.e., escalas likert
● Métrica (intervalo rácio)
o Intervalo
▪ Estabelecem ordem, e o maior número corresponde a uma
maior quantidade da variável
▪ O zero é arbitrário, ou seja, não indica ausência da variável.
● P.e., escalas de temperatura
o Rácio
▪ Iguais às de intervalo, mas o zero é absoluto e indica ausência
da variável
● P.e., escalas de cm ou km
● Escala de estimação: palavras ou símbolos relativos à intensidade de uma
característica, emoção ou atitude, e em relação aos quais o sujeito emite o seu
parecer ou opinião.
▪ P.e., “Gosto do meu curso” ( ) verdadeiro ( ) falso.
o Escala de likert: fornece, tradicionalmente, 5 possibilidades de
resposta ao item; contínuo entre discordância e concordância,
aprovação e desaprovação; são muito utilizadas, fáceis de elaborar,
permitem uma estimação somatória.
o Comparação de pares: são apresentados ao sujeito pares de
estímulos, duas afirmações, duas fotografias ou dois objetos, que o

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sujeito terá de comparar. A seguir, o sujeito terá de selecionar um dos


estímulos de acordo com alguma regra.
o Escala Guttman: os itens variam de forma sequencial, das expressões
mais fracas às mais fortes da atitude, crença ou sentimento que se
está a medir.
▪ O tipo de escala escolhida depende da:
● Variável em estudo;
● Público-alvo;
● Contexto da aplicação;
● Preferências do autor.
⬥ Redação dos itens
▪ Quantos itens, e como?
▪ Devemos escrever o dobro dos itens a constar na versão final, criando-se, assim, uma
reserva de itens.
● São necessários/úteis:
o Conhecimentos académicos;
o Ajuda de outros (peritos);
o Recolha de dados junto de diferentes intervenientes.
⬥ Tipos de pergunta
▪ Perguntas de resposta fechada (escolha múltipla, verdadeiros e falsos, associação);
▪ Perguntas de resposta aberta.

❖ Ensaio do teste
⬥ Ensaio com uma amostra com características idênticas à população final;
⬥ Condições de aplicação idênticas (instruções, limite de tempo, etc.);
⬥ 5 a 10 sujeitos por item do teste.

❖ Análise dos itens


⬥ Divide-se em três grupos:
▪ Procedimentos estatísticos
● Índice de dificuldade do item;
● Índice de validade do item
o Desvio padrão; correlação entre pontuação do item a pontuação num
critério;
● Índice de fidedignidade do item
o Análise fatorial/consistência entre itens;
● Índice de discriminação do item.
▪ Análise qualitativa
● Procedimentos não estatísticos para explorar como cada item funciona, em
comparação com outros itens e no face ao teste.
● Pensar em voz alta durante a aplicação da prova;
● Painel de peritos.

TÓPICO QUESTÃO POTENCIAL

Sente que algum item ou aspeto deste teste foi


Sensibilidade cultural discriminatório face a algum grupo de pessoas?
Porquê?

Dimensão do teste Como se sentiu acerca da dimensão do teste, em

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termos de: 1) número total de itens; 2) tempo de


administração

O teste pareceu medir aquilo que esperava que


Face validity (validade aparente)
medisse?

A sua performance no teste foi afetada por alguma


Condições ambientais
condição relacionada com a sala/local?

Estado mental/físico do Como descreveria o seu estado mental enquanto


respondente respondia ao teste?

▪ Outras considerações
● “Adivinhação”
o É importante reconhecer que o adivinhar a resposta pode não ser
totalmente aleatório (p.e., escolha múltipla);
o O problema dos itens não respondidos;
o Fator sorte.
● Imparcialidade do item
o P.e., se um item discrimina as respostas dadas por dois grupos que
não diferem na pontuação geral (homens/mulheres)
● Provas com limite de tempo
o Existe um conjunto de itens que ficará por responder;
o Pode optar-se por considerar apenas os itens respondidos, sob pena
de prejudicar os itens que aparecem em último lugar.

❖ Revisão
⬥ De um novo instrumento
▪ Informação recolhida é utilizada para refinar a versão inicial
▪ Itens são eliminados/reescritos
▪ Forças/fraquezas de cada item
⬥ De um instrumento já existente
▪ No caso de instrumentos já existentes, os mesmos devem ser revistos quando existem
mudanças significativas no domínio de avaliação, ou quando novas condições de
aplicação e interpretação inviabilizam a normal utilização do teste.

⬥ Aspetos que indicam a necessidade de revisão:


▪ Materiais utilizados encontram-se datados;
▪ O conteúdo verbal do teste (instruções, itens, etc.) encontra-se datado;
▪ Devido a mudanças culturais, certas palavras ou expressões são percebidas como
inapropriadas/ofensivas;
▪ As normas do teste deixam de ser adequadas devido a mudanças no grupo para o qual
este foi desenhado;
▪ A validade/fiabilidade, bem como a eficácia de certos itens, pode ser melhorada de
forma significativa;
▪ A teoria de base ao teste existente sofreu melhorias significativas.

❖ Estandardização: processo implementado de forma a introduzir objetividade e uniformidade na


administração, cotação e interpretação do teste.

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⬥ Amostra estandardizada: grupo de indivíduos com os quais a performance dos respondentes


será comparada.

FASOS DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

❖ Consentimento informado
⬥ Obter consentimento informado, isto é:
▪ Dar a conhecer os objetivos da avaliação e os recursos disponíveis para a sua realização;
▪ Obter permissão para conduzir a avaliação.
❖ Identificação/explicitação do pedido
⬥ Identificar o motivo do pedido de avaliação;
⬥ Através de entrevista conhecer o contexto e características da problemática atual;
⬥ Esboçar uma primeira formulação do caso e estabelecer hipóteses;
❖ Planificação da avaliação
⬥ Selecionar de acordo com o ponto 2 as informações que são necessárias recolher através de
instrumentos e outros dados;
▪ Escolher criteriosamente os instrumentos, e outros métodos de recolha de dados.
❖ Recolha de dados (aplicação de provas)
⬥ Identificação da história de desenvolvimento e exame do estado mental;
⬥ Administração dos instrumentos selecionados no ponto 3.
❖ Resultados
⬥ Cotação das provas;
⬥ Redução do problema a pontos fracos e fortes, identificação da quantidade e qualidade dos
problemas.
▪ Isto é, distinguir áreas de bom funcionamento e de mau funcionamento;
▪ Estabelecer a gravidade do problema (ligeira, média ou severa)
▪ E a qualidade (p.e., ter ou não ter depressão)
❖ Validação da formulação
⬥ Formulação mais “definitiva” do caso, com juízos de diagnóstico e prognóstico adequados aos
resultados encontrados;
⬥ Identificar objetivos/hipóteses finais específicas.
❖ Comunicação dos resultados
⬥ Normalmente ocorre sob a forma de um relatório psicológico;
▪ Deve ser adequada/integrada ao motivo do pedido, a quem fez o pedido, e a quem
estamos a devolver a informação;
❖ Tomada de decisão
⬥ Orientação para os próximos passos a seguir (recomendações para seguimento).
❖ Técnicas de intervenção
❖ Monitorização

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ENTREVISTA

❖ Em avaliação psicológica, é o método mais frequentemente utilizado.


⬥ 95% dos psicólogos clínicos recorrem a entrevistas.
⬥ É um instrumento indispensável e insubstituível para obter informações relativas ao sujeito
(desde o seu sofrimento, a dificuldades de vida, a acontecimentos vividos, história, relações com
os outros, etc.), ainda que deva ser complementada por outros métodos.
❖ A entrevista é clínica
⬥ Existem regras técnicas e atitudes a adotar.
⬥ Faz parte do método clínico (centrado no estudo de casos individuais).
▪ O método clínico compreende:
● Entrevista e observação;
● Utilização de instrumentos (p.e., escalas, questionários e inventários clínicos,
testes de inteligência, testes projetivos e outros instrumentos de avaliação da
personalidade).
❖ A comunicação é a chave da entrevista.
⬥ Tem vários objetivos: trocar informações, estabelecer relações, obter nova informação.

DEFINIÇÃO

❖ Entrevista: principal técnica de avaliação, sendo insubstituível e indispensável para o trabalho do


psicólogo.
⬥ Forma de comunicação e de troca verbal, numa situação de face-a-face, orientada para a procura
de informação relevante.
⬥ Usualmente, constitui o primeiro momento de contacto com o sujeito (e pessoas significativas) e
o caso.
▪ Primeiro passo no processo de avaliação e de formulação de hipóteses acerca dos
problemas comunicados e identificados.

❖ Entrevista
⬥ Técnica com elevada flexibilidade
▪ No desenrolar da entrevista, apesar dos objetivos pré-estabelecidos, o/a psicológico/a
deve adaptar-se às características únicas do/a cliente.
⬥ Técnica polivalente
▪ Função motivadora
▪ Função clarificadora
▪ Função terapêutica

OBJETIVOS

❖ Geral: desenvolvimento de hipóteses testáveis acerca dos fatores que contribuem para os atuais
problemas do sujeito e que podem ser relevantes para a posterior planificação da intervenção.

❖ Específicos
⬥ Facultar informação acerca dos problemas subjacentes ao pedido de consulta/avaliação
▪ Funcionamento psicológico do sujeito; identificação do modo como os problemas
afetam o sujeito (p.e., relações familiares, sociais, profissionais/escolares…)
⬥ Obter consentimento informado e estabelecer relação necessário e positivo entre avaliador,
sujeito e outros interlocutores.
⬥ Delimitar e explicitar as fases posteriores da avaliação (processo de avaliação, enquadramento
temporal, assegurar confidencialidade, custos/pagamentos).

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⬥ Solicitar autorização para o envolvimento de outros interlocutores (p.e., professor, outros


familiar)
⬥ Informação obtida a partir da(s) entrevista(s)
▪ Escolha de medidas e de instrumentos de avaliação adicionais
⬥ Identificar preocupações, expectativas, objetivos, perceções, sentimentos acerca do problema
⬥ Precisar áreas “fortes” e áreas “de dificuldade” do sujeito
⬥ Motivação e recursos de existentes para a modificação da situação
⬥ Informação relevante para identificação e análise funcional dos comportamentos-alvo (fatores
que os suscitam e mantêm)
⬥ Informação relevante para a planificação e avaliação da intervenção
⬥ Restituição de informação/entrevista de restituição de informação

❖ Usualmente, as entrevistas são empregues como:


⬥ Instrumentos de despiste (screening) e/ou diagnóstico de problemas

TIPOS DE ENTREVISTA

De acordo com a estruturação

❖ Estruturada
⬥ Vantagens
▪ Maximiza a precisão e a validade;
▪ Minimiza o viés do entrevistador;
▪ Produz dados consistentes;
▪ Especifica o início, duração e quantificação dos sintomas.
⬥ Limitações
▪ Foco no diagnóstico, não na intervenção;
▪ Requer mais treino/formação;
▪ Informação limitada relativa a fatores não diagnósticos;
▪ Entrevistas diagnósticas estruturadas proporcionam resultados dicotómicos acerca da
ausência ou presença de um diagnóstico particular.
❖ Não estruturada, aberta
⬥ Vantagens
▪ Altamente flexível;
▪ Permite adaptação a necessidades de informação mais específicas;
▪ Útil na conceptualização do problema e na planificação da intervenção.
⬥ Limitações
▪ Uma estrutura mínima introduz problemas de fiabilidade e validade;
▪ Dificuldade comparativa entre entrevistas não estruturadas;
▪ Requer nível elevado de competências de entrevista.
❖ Semiestruturada
⬥ Vantagens
▪ Possibilita flexibilidade dentro de um formato estandardizado;
▪ Proporciona um contexto organizativo;
▪ Possibilita seguimento em função de necessidades de informação.
⬥ Limitações
▪ Fiabilidade e validade fracas.

De acordo com a finalidade

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Introdução a Avaliação Psicológica

❖ Diagnóstica
❖ Consultiva
❖ Orientação vocacional
❖ Terapêutica/de aconselhamento
❖ Investigação

De acordo com a temporalidade

❖ Inicial
⬥ Corresponde à fase 2 do processo de avaliação psicológica, em que se procura identificar e
explicitar o pedido.
▪ É importante: clarificar o pedido; compreender os problemas e sentimentos do cliente;
elaborar hipóteses pertinentes.
⬥ O tipo de informação recolhida (geral ou específica) depende das competências do psicólogo,
nomeadamente ao nível da escuta ativa e formulação de perguntas.
▪ A entrevista permite passar de um desconhecimento mútuo ao conhecimento do
paciente, através da utilização de conhecimentos, experiências e técnicas por parte do
clínico.
⬥ A entrevista inicial apresenta três etapas:
▪ Pré-entrevista
● Contacto prévio com o cliente que deverá permitir a recolha de dados acerca
do paciente, motivo da consulta e requerente
▪ Entrevista
● Conhecimento mútuo
o Contacto físico/cumprimentar o paciente
o Sentar
o Clarificar os objetivos da consulta (“solicitou uma consulta porque…”)
● Exploração e identificação do problema
o Fase crítica da entrevista
o Cliente formula problema/pedido de ajuda;
o Psicólogo/a escura (ativamente), observa o comportamento do
cliente, formulando hipóteses;
o Síntese dos problemas apresentados
● Despedida
o Enquadrar o plano de trabalho
o Estabelecer novo compromisso
o Despedida física
▪ Pós-entrevista
● Completar notas que tenha tirado no decorrer da entrevista;
● Anotar impressões;
● Elaborar mapa conceptual dos problemas do paciente
❖ Informação complementar
❖ Anamnese
❖ De devolução/restituição da informação
⬥ Corresponde ao ponto 7 das fases do processo de avaliação psicológica, em que se faz a
comunicação dos resultados.
❖ Alta clínica

De acordo com a idade do entrevistado

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Introdução a Avaliação Psicológica

❖ Crianças e adolescentes
❖ Adultos
⬥ Avaliam-se os relacionamentos, parentalidade, problemas profissionais, limitações físicas e/ou
psicológicas
❖ Idosos

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Atenção

❖ Concentração sobre o outro, e sobre o seu discurso.


⬥ Captar o que não foi dito antes.
❖ Atitude/orientação interna do entrevistador para o destinatário.
❖ Permite restaurar as ligações entre os vários elementos do discurso ou diferentes sequências
aparentemente heterogéneas do discurso do sujeito.
⬥ Todas as palavras usadas, enunciadas, por um sujeito são a priori colocadas sob um mesmo
plano, evitando privilegiar algumas ou minimizar outras.
❖ Atenção clínica numa entrevista
⬥ Pretende ligar/associar tudo o que é presentemente dito ao que já foi dito, estabelecer
aproximações, conexões entre diferentes elementos do mundo interno do sujeito, em uma ou
mais entrevistas.

❖ No entanto, a atenção tem limites:


⬥ Prolongar a duração de uma entrevista não permite acumular informações novas ou aprofundar
a problemática enunciada;
⬥ A atenção será sustentada se for circunscrita no tempo da entrevista.

Benevolência/Bondade

❖ A benevolência refere-se à intenção de fazer o bem, ajudar, analisar, curar;


⬥ Pode ser da parte do psicólogo, relativamente aos sujeito, e do sujeito relativamente a si próprio,
⬥ O entrevistador não deve formular juízos, críticas ou desaprovação relativamente ao sujeito;
▪ Procurando assegurar confiança ao sujeito para este se exprimir livremente.

Confidência

❖ Entrevista clínica pode ser representada como um espaço de confidências: discrição/reserva, segredo,
intimidade.
⬥ Falar numa entrevista clínica implica confiar qualquer coisa íntima a alguém disponível para
acolher através e uma escuta atenta e discreta/reservada.

Conselho/aconselhamento

❖ Dar um concelho é fornecer um testemunho da atenção ao sujeito, não deve ser encarado como uma
ordem imperativa ou obrigatória.
⬥ Não é possível aconselhar sem conhecer.

Conteúdo manifesto e conteúdo latente

❖ Conteúdo manifesto: o que o sujeito efetivamente diz;


❖ Conteúdo latente: representações e significações, por vezes implícitas, associadas ao discurso;
⬥ Aproximação ao funcionamento verdadeiro do sujeito e à maneira como o próprio sujeito se
posiciona relativamente ao seu próprio discurso;

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Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Necessário ter-se atenção ao que é dito e ao modo como é dito: os silêncios, as mudanças
temáticas, os aspetos emocionais são tão importantes como a própria narrativa/discurso.

Contradição/Incongruência

❖ A contradição ou incongruência faz parte de toda a experiência subjetiva, e arriscar a sua exclusão do
discurso de um sujeito pode expulsar toda a manifestação da subjetividade na entrevista clínica.
⬥ A aceitação da contradição pelo entrevistador poderá constituir a primeira abordagem aceitável
para quem sofre (postura clínica).
▪ Aceitação incondicional.
❖ É uma das tarefas do entrevistador apresentar benevolência perante o sujeito que apresenta uma
incongruência.
⬥ Sobretudo para aqueles em que a contradição é uma espécie de drama ou catástrofe.

Escuta

❖ É a tarefa principal do entrevistador clínico, sendo uma condição necessária a qualquer forma de
intervenção.
⬥ É a recusa de matar a palavra do outro, mas também a recusa em cessar/descontinuar a
avaliação no sintoma.
▪ O sintoma pode ser um sinal, uma forma de linguagem.
⬥ No entanto, não é uma aceitação plana/niveladora e sem crítica da palavra do sujeito.
▪ Pressupõe uma disponibilidade sem censura prévia, mas não significa aprovação
sistemática das ideias, factos e gestos do sujeito.
▪ A aprovação, quando tem lugar, é relativa a sentimentos e tem como objetivo permitir a
manifestação de fantasmas e desejos.

Mecanismos de defesa

❖ Repressão
❖ Negação
❖ Formação reativa
❖ Projeção
❖ Racionalização
❖ Regressão
❖ Deslocamento
❖ Sublimação

Transferência e contratransferência

❖ Os fenómenos de transferência desempenham um papel importante nas entrevistas.


⬥ Podem ser observados tanto no paciente (transferência) como no clínico (contratransferência).

❖ A relação que o sujeito estabelece com o outro é função, em parte:


⬥ Da situação real, a entrevista
⬥ E daquilo que cada um é (estrutura da personalidade) e do que cada um traz da sua história, da
sua organização mental e das suas relações passadas.

❖ Transferência: corresponde à reedição de experiências anteriores (p.e., infantis) na relação terapêutica.


⬥ Transposição de modalidades relacionais inconscientes e imaginárias para outra relação (clínica)
❖ Contratransferência: corresponde às reações inconscientes provocadas no psicólogo pelo cliente, fruto da
transferência.

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Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ No fundo, são os feitos do discurso do sujeito sobre os sentimentos inconscientes do


entrevistador.
⬥ A contratransferência comporta duas dimensões:
▪ Uma é constituída por respostas conscientes e inconsciente do entrevistador em relação
à sua problemática pessoal, isto é, aquilo que o discurso do sujeito (entrevistado) pode
lembrar/trazer de volta ao entrevistador.
▪ Por outro lado, estas reações provocadas no psicólogo pelo sujeito, irão auxiliar o clínico
no processo de melhor compreender o cliente.
⬥ Exemplos de manifestações de contratransferência provocadas no clínico:
● Atitude caritativa ou superprotetora
o Esta atitude está subjacente a um forte desejo de reparação, isto é, de
curar e remediar rapidamente o problema.
▪ É uma atitude bem intencionada, mas não resolve nada, nem
é ético.
▪ Não introduzi nenhuma melhoria sendo mesmo prejudicial já
que inferioriza/infantiliza o sujeito, não lhe permitindo
evoluir nem se autonomizar.
▪ Como tal, o sujeito deve ser considerado como um ator de
parte inteira no processo terapêutico (relação entre iguais).
● Esquecer uma sessão de avaliação/psicoterapêutica
● Receber a pessoa com atraso
● Prolongar significativamente a duração de uma entrevista
● Abandonar-se a uma ligeira compaixão
● Pensar noutra coisa
● Associar as intenções do sujeito à sua vida pessoal
⬥ Importante!
▪ É impensável e inútil imaginar poder dominar ou controlar os movimentos originários do
inconsciente.
▪ Necessário reconhecer que estilos de respostas interpessoais, dependentes de
características da personalidade, podem prejudicar o curso da entrevista.

Empatia

❖ É um princípio essencial da psicoterapia e da sua eficácia.


❖ A compreensão empática é uma atitude clínica.
⬥ Não é um estado, mas um movimento constante na relação.
❖ Implica compreender, de maneira exata, o mundo interior do sujeito numa espécie de apreensão
intuitiva.
⬥ Intuição do que se passa no outro, sem esquecer que somos nós próprios;
⬥ Entender, tão exatamente quando possível, as referências internas e as componentes
emocionais de uma outra pessoa e compreendê-las como se fossemos essa outra pessoa;
⬥ Capacidade de compreender o estado mental do outro, identificando-se transitoriamente a esse
outro.
❖ Compreender comporta um risco, o medo da mudança: “se eu compreendo realmente uma pessoa, eu
entro no seu quadro de referência, e é possível que esta compreensão me faça mudar”

❖ Existem duas dimensões na empatia:


⬥ Uma dimensão cognitiva, trata-se de tentar apreender o contexto representacional do sujeito e
compreender o seu ponto de vista;

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Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Uma dimensão afetiva, necessariamente ligada à primeira, onde se trata de se representar e


experienciar o que o sujeito experimenta, sem partilhar as suas crenças e os seus sentimentos.

Identificação

❖ A identificação está necessariamente ligada à empatia.


⬥ Identificar-se com o outro é um processo inconsciente em que um sujeito assimila um aspeto,
uma propriedade, um atributo do outro
⬥ É uma atividade consciente de reconhecimento
▪ Estar parcial e temporalmente no lugar do outro.

INFORMAÇÕES A RECOLHER

Informação demográfica

❖ Data de nascimento, ano de escolaridade, agregado familiar, etc.

Áreas gerais de preocupação

❖ Descrições ou indicações gerais acerca do problema.


⬥ O que é que os traz a esta consulta?
⬥ Diga-me que tipo de problemas ou dificuldades tem tido.

Análise precisa da situação problemática

❖ Questionar de modo a obter descrições objetivas, precisas e pormenorizadas de comportamento


específicos e observáveis e motivos de preocupação.
⬥ O que a leva a dizer que o João é hiperativo?
⬥ Dê-me alguns exemplos…
⬥ Descreva…
❖ Saber quais as condições do meio que circunscrevem o comportamento-alvo
⬥ Análise funcional: obter informações sobre as circunstâncias
▪ Acontecimentos antecedentes
▪ Acontecimento durante/estímulos sequenciais
▪ Acontecimentos posteriores e consequências
● O que é que acontece imediatamente antes do João se levantar do lugar?
● O que é que o professor faz imediatamente depois do João sai do seu lugar?
● O que é que o João faz a seguir?
❖ Saber em que situações e locais específicos o problema se manifesta
⬥ Onde é que estes comportamentos ocorrem habitualmente?
⬥ E quando?

❖ Documentar:
⬥ Natureza específica
⬥ Frequência, duração e intensidade (gravidade)
⬥ Número e combinação de comportamentos
⬥ Circunstâncias de aparecimento do problema (incluindo a idade de aparecimento dos sintomas)
⬥ Natureza crónica dos comportamentos
⬥ Variação temporal e situação de comportamentos e consequências
⬥ Intervenção

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Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Variáveis normativas do desenvolvimento


⬥ Padrões de interação
▪ Criança – pais – professores
▪ Recurso a escalas de avaliação de comportamento

❖ A análise precisa da situação problemática continua até se determinar claramente a existência de um


problema, a sua natureza e extensão, os antecedentes do comportamento-problema e as consequências
que acompanham tal comportamento.

❖ Para a análise e compreensão do problema, devem considerar-se os seguintes aspetos:


⬥ Motivo de consulta;
⬥ Perceber do sujeito;
⬥ Análise do pedido;
⬥ Antecedentes e consequentes;
⬥ Severidade do problema;
⬥ Tentativas de solução;
⬥ Hierarquizar os problemas;
⬥ Definição operativa;
⬥ Hipóteses diagnósticas iniciais;
⬥ Prognóstico.
▪ A análise e compreensão do problema será moldada pelo modelo teórico adotado pelo
clínico.

Informação histórica acerca dos problemas

❖ História de desenvolvimento
❖ História médica
❖ História escolar
❖ História social
❖ Informação acerca de esforços prévios de intervenção

Avaliação das expectativas e objetivos dos mediadores

⬥ Que comportamento gostaria que o João manifestasse nessa situação?


⬥ O que deseja mudar no comportamento do João?
⬥ Qual é o número de interrupções que considera aceitável na sua aula de 45 minutos de
português?

Variáveis relacionadas com a família

❖ História familiar, suporte/recursos na família e na comunidade

Determinação do potencial de medicação do pais e/ou professores

Determinação de condições, objetos, acontecimentos disponíveis que podem ser utilizados como reforços

❖ Depois da entrevista com a criança, é realizada uma breve discussão com os pais e/ou professores acerca
da avaliação e da intervenção
⬥ Conceptualização do problema, estratégias de modificação do comportamento, avaliações
complementares.

Entrevista de restituição/devolução da informação

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Introdução a Avaliação Psicológica

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Introdução a Avaliação Psicológica

PSICÓLOGO ENQUANTO ENTREVISTADOR

Características de um bom entrevistador

❖ Características atitudinais
⬥ Empatia
⬥ Proximidade afetiva
⬥ Competência
⬥ Flexibilidade e tolerância
⬥ Honestidade e ética profissional
❖ Competências de escuta
⬥ Deixar falar
⬥ Escuta ativa
⬥ Baixa reatividade verbal (latência prolongada do entrevistador)
⬥ Silêncios instrumentais
❖ Competências de comunicação – gestão das verbalizações
⬥ Técnica de espelho;
⬥ Dar a palavra
▪ “Continue, por favor”
⬥ Comentários confirmatórios
⬥ Feedback
▪ Reformulação
▪ Feedback sobre o comportamento
⬥ Sinalizar/destacar;
⬥ Interpretação
⬥ Aterragem de para-quedas (confrontação)

Competências básicas de um entrevistador

❖ Conhecimentos técnicos
⬥ Psicopatologia e sistemas de classificação diagnóstica (DSM-5 e CID-10);
⬥ Entrevistas estruturadas de natureza diagnóstica;
⬥ Compreensão do desenvolvimento normal e patológico;
⬥ Consciência da influência do desenvolvimento na apresentação de sintomas;
⬥ Consciência da influência da cultura no desenvolvimento na manifestação de sintomas;
⬥ Conhecimento dos processos de condução da entrevista.
❖ Empatia
⬥ Capacidade para perceber e compreender os sentimentos do cliente, como se o entrevistador os
estivesse a experienciar.
❖ Validação
⬥ Capacidade para usar técnicas verbais e não verbais (expressões faciais, postura corporal) que
comuniquem empatia
❖ Linguagem do entrevistador
⬥ Capacidade para formular questões de uma maneira clara e compreensiva, sem uso do jargão
clínico e considerando o nível escolar, experiências de vida, vocabulário e linguagem do cliente;
▪ A linguagem do entrevistador é o instrumento através do qual os pacientes são
orientados para a especificidade e clareza das suas respostas;
❖ Gestão do tempo
⬥ Capacidade para estimar a duração da entrevista
⬥ Capacidade para estimar o andamento/ritmo apropriado da entrevista

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Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Capacidade para realizar uma avaliação completa no tempo previsto

Princípios gerais e conselhos técnicos

❖ Condições para uma “atitude positiva” do entrevistador


⬥ Atitude positiva de recetividade, acolhimento e disponibilidade para que o sujeito se sinta num
estado de aceitação incondicional – atenção, interesse, afeição e respeito pelos aspetos que o
sujeito julga bem mostrar.
⬥ Centrar-se sobre o que é vivido pelo sujeito e não sobre os factos que ele evoca.
▪ Não interessa tanto os factos objetivos, mas a maneira como o sujeito vive as coisas, as
pessoas e os acontecimentos;
▪ Interessar-se pela pessoa do sujeito, pelo problema (existencial) do ponto de vista do
sujeito, e não pelo problema em sim mesmo, de um ponto de vista objetivo;
▪ Priorizar a subjetividade.
⬥ Manifestar um respeito absoluto (consideração real) pela individualidade do sujeito
▪ A relação é de escuta e compreensão, e não uma relação de julgamento, crítica,
culpabilização, manifestação de perspicácia psicológica ou de dominação por parte do
entrevistador, que impede a comunicação.
▪ Dar o sujeito a certeza de que o entrevistador respeita a sua maneira de ver, viver ou
compreender.
⬥ Estabelecer com o sujeito uma relação de empatia
▪ A empatia permite compreender o outro, perceber as emoções e as significações
pessoais do universo do sujeito sem experimentar as mesmas emoções.
● O esforço do entrevistador deve ser orientado para facilitar a comunicação,
ajudando o sujeito a formular o seu problema
⬥ Considerar o sujeito como alguém com potencialidades e aberto à mudança e não como algo
definido por uma classificação diagnóstica ou determinado pelo seu passado

⬥ Três condições oferecidas pelo psicoterapeuta: congruência, olhar positivo incondicional,


compreensão empática.
▪ A perceção destas condições por parte do cliente facilita neste processo de “descoberta
pessoal” que contribuem para as mudanças no comportamento.

❖ O entrevistador deve
⬥ Experimentar um interesse autêntico pelo sujeito
▪ Interesse compreensivo e benevolente que o cliente possa reconhecer imediatamente
como sincero e verdadeiro.
▪ O sujeito deve sentir-se recebido e “aceite” como um amigo.
⬥ Saber escutar
▪ Ser capaz de deixar o sujeito exprimir-se em toda a sua liberdade sem o contrariar com
as suas próprias opiniões, desejos ou teorias.
▪ Ser capaz, pela sua maneira de ser, de persuadir o sujeito que o entrevistador está a ter
um interesse autêntico pelo que o sujeito está a tentar dizer.
⬥ Ser um bom observador dos comportamentos
▪ Estar atento não apenas às repostas verbais, mas, também, aos comportamentos, às
mudanças de expressão.
● A linguagem verbal, o que é dito, não esgota as possibilidades de comunicação
e avaliação.
⬥ Ser capaz de captar a motivação do seu comportamento
▪ O entrevistador deve conhecer os “pontos fracos” e os “pontos fortes”

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Introdução a Avaliação Psicológica

Técnicas

❖ Técnicas que remetem para comportamentos verbais


⬥ Confrontação
▪ O entrevistador centra-se:
● Na discrepância entre as afirmações do sujeito e o modo como ele se expressa
● Confronta o sujeito com a sua incongruência
● Encoraja o sujeito a explorar essa inconsistência/incoerência
▪ Operacionalmente, a confrontação é uma frase composta por duas partes:
● “o senhor disse que” (1ª parte, em que se repete a mensagem do sujeito) e,
“mas/no entanto…” (2ª parte, em que se apresenta a contradição)
o Exemplo:
▪ O sujeito verbaliza, de cabeça para baixo, e num tom
monocórdico e inexpressivo:
● Entrevistado: “Estou verdadeiramente muito feliz.
Tudo me está a correr bem”.
● Entrevistador: “O senhor diz que está feliz, mas a sua
expressão e tom de voz sugerem outra coisa”
⬥ Clarificação
⬥ Exploração
▪ Algumas áreas requerem uma revisão mais exaustiva do que a inicialmente apresentada
pelo cliente.
● O entrevistador estrutura mais pormenorizadamente o questionamento numa
determinada área.
● Alguns clientes esperam ser questionados acerca de determinados tópicos e
podem interrogar-se porque é que isso não foi/é feito
o O entrevistador não deve ser relutante em explorar áreas
consideradas mais sensíveis
● Exemplo:
o Entrevistado: “no meu grupo observei muitas pessoas a serem
agredidas e roubadas”
o Entrevistador: “teve alguns pesadelos mais tarde?”
⬥ Humor
▪ Progressivo reconhecimento de que o humor pode desempenhar um papel nas
entrevistas clínicas.
● Deve sempre ser usado em benefício do cliente
▪ Positivamente: pode reduzir a ansiedade, facilitar o movimento terapêutico e melhorar
o fluxo/ritmo da entrevista/sessão psicoterapêutica
▪ Negativamente: o cliente pode perceber ou sentir que não está a ser considerado com
seriedade
● Exemplo:
o Entrevistado: “por vezes ajo de forma tão maluca que penso ter uma
dupla personalidade”
o Entrevistador: “nesse caso, os honorários são 50 euros para cada
personalidade”
⬥ Reestruturação/reformulação (reframing)
▪ Técnica por vezes denominada de reestruturação cognitiva
▪ Atitudes, opiniões, crença ou sentimentos são reformulados de modo a assegurar uma
maior adequação à realidade.

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Introdução a Avaliação Psicológica

● Pode facultar ao entrevistado uma nova perspetiva e contribuir para eliminar


algumas auto-verbalizações que são frequentemente irracionais e mal
adaptativas.
● Pode sugerir novos comportamentos e diferentes modos de pensar
o Exemplo:
▪ Entrevistado: “a minha namorada deixou-me por outra
pessoa”
▪ Entrevistador: “embora esteja confrontado com uma situação
difícil e perturbadora, tem agora oportunidade de encontrar
e conhecer uma outra pessoa”.
⬥ Reflexão sobre os sentimentos
⬥ Reflexão sobre os pensamentos/conteúdos cognitivos das afirmações
▪ Técnicas: parafrasear e sumarizar as afirmações do sujeito
● Parafrasear (paraphrasing)
o Frequentemente usada para promover a compreensão e a clarificação
(diferente da reflexão, que é usada sobretudo como instrumento
terapêutico)
▪ Para confirmar junto do cliente que ele está a ser escutado
com atenção;
▪ Para verificar e clarificar as afirmações do sujeito; saber se há
incompreensões, perceções incorretas relativamente às
afirmações do sujeito.
● Sumarizar
o Quando os comentários do sujeito são extensos e/ou confusos;
o Para dar direção e coerência à entrevista
o Para concluir a entrevista
o Proporciona uma introdução a uma entrevista posterior.
▪ Exemplo:
● Entrevistado: “eu oiço vozes e fico confuso”
● Entrevistador: “essas coisas estranhas estão a
perturbá-lo”
▪ Remete para o modo como é transmitida a informação
▪ É importante considerar não apenas o que é dito (conteúdo discursivo) mas, também, a
maneira como é dito (postura, voz, etc.)
▪ Identificação das emoções: ter em consideração a totalidade da mensagem,
identificando as emoções predominantes
▪ Sumarizar os aspetos emocionais daquilo que é comunicado
● Exemplo:
o Entrevistado: “sinto que não estou a avançar nada”
o Entrevistador: “a sua falta de progresso deixa-o frustrado”
⬥ Autorrevelação (self-disclosure)
▪ Tradição da psicoterapia psicanalítica: analista deve manter-se como uma “lousa em
branco” no decurso da psicoterapia para permitir que a transferência se desenvolva.
● De acordo com esta tradição desenvolveu-se a crença de que o terapeuta
(entrevistador) não deve revelar informação pessoal
▪ No presente, considera-se que a autorrevelação pode ser pontualmente usada com
objetivos terapêuticos.
● Exemplo:

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Introdução a Avaliação Psicológica

o Entrevistado: “não consigo aprender como os outros rapazes”


o Entrevistador: “eu também sou disléxico. Tu necessitas unicamente de
apoio educativo especial”
⬥ Questões abertas
⬥ Questões fechadas
⬥ Encorajamentos mínimos
● P.e., “certo” “sim” “estou a ver” “umm humm” “e depois?”
▪ O uso excessivo destes estímulos verbais mínimos pode ter um efeito negativo
● Efeito do tipo papagaio: pessoa que repete insistentemente ou sem reflexão o
que ouve ou lê

❖ Técnicas que remetem para comportamentos não-verbais


⬥ Postura Corporal
▪ Aberta, natural, relaxada, comunicando interesse.
▪ Corpo ligeiramente inclinado para a frente, na direção do sujeito.
▪ Movimentos de aceno com a cabeça.
▪ Expressões faciais apropriadas em relação ao que está a ser discutido.
● Ausência de expressão facial pode sugerir falta de interesse.
● Expressão facial animada, a sua manifestação mais visível é o sorriso.
o O uso apropriado dos sorrisos pode ter um efeito poderoso sobre os
sujeitos, particularmente quando é acompanhado com sinais de
assentimento/aceno feitos com a cabeça.
o O uso contínuo do sorriso torna-se, virtualmente, num estímulo
negativo.
▪ Evitar
● Estar sentado de uma maneira excessivamente rígida (p.e., muito ereta), que
não é uma postura natural
o O sujeito tem dificuldade em ficar relaxado;
● Estar excessivamente relaxado (p.e., sentado com os pés numa cadeira)
o O sujeito pode sentir-se incomodado e hesitar discutir as suas
dificuldades com o entrevistador;
⬥ Contacto visual
▪ É frequentemente indicativo da natureza/qualidade da relação entre as pessoas;
▪ Um bom contacto visual:
● Reforça o entrevistado
● Torna a comunicação mais fácil;
● Situa-se entre o “olhar fixo” e o “olhar evasivo ou fugidio”
o O olhar fixo ou olhar de espanto deixa o cliente inquieto
o O olhar evasivo ou fugidio é sentido como traduzindo desinteresse ou
ansiedade por parte do entrevistador.
▪ O olhar deve:
● Ser natural e direto, sem constituir um “olhar fixo”
● Comparativamente constante
o Quebras frequentes no contacto visual
▪ Sugerem desinteresse e desatenção
▪ Traduzem incapacidade em centrar-se no sujeito e no que ele
comunica
▪ É mais adequado interromper

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Introdução a Avaliação Psicológica

● Quando há um corte a discussão


● Quando uma das partes está a pensar
● Quando se muda de assunto/tópico
▪ Um contacto visual apropriado é uma das componentes de escuta mais importantes no
sentido de sugerir ao sujeito que ele está a ser acompanhado com atenção.
● Exemplo de comportamento visual que pode aumentar/melhorar a
comunicação de uma mensagem complexa:
o Olhar para o sujeito quando ele está a falar;
o Deslocar, ocasionalmente, o olhar para um objeto não muito distante
do sujeito;
o Voltar depois a olhar para o sujeito
⬥ Tomar notas
▪ Depois a entrevista, quando se está mais consciente das questões essenciais;
▪ Durante a entrevista: risco de distrair, perturbar, contrariar o sujeito
⬥ Silêncios
▪ Não têm sempre o mesmo valor/significado
▪ Não traduzem necessariamente uma recusa de comunicação
● São raras vezes vividos como inquietantes, os silêncios longe de extinguirem a
comunicação tornam-na mais intensa e fortemente emocional
▪ Podem constituir uma forma e uma técnica de comunicação (positiva ou negativa)
▪ Existem vários tipos de silêncios, com diferentes significados e consequências
● Necessidade de tempo
o Para pensar, para examinar melhor alguma coisa que está para dizer,
para decidir como continuar alguma coisa que é difícil de discutir
o Para si próprio, para absorver/compreender o que se está a passar, as
implicações do que está a ser dito;
o O entrevistador não deve pensar pelo sujeito, não tem de preencher
todos os silêncios, a menos que esteja num impasse;
o Necessário “dar tempo” ao sujeito para ele “trabalhar o problema”,
“comunicar”, “trazer as coisas para fora”
● Resistência (intervenção de mecanismos de defesa)
o Desejo de evitar, ignorar, denegar questões pessoais
o Desejo de proteger o outro (entrevistador)
● Percebido como uma situação/condição ameaçadora e intimidante
o Pode conduzir a que o entrevistador e/ou o entrevistado sintam
necessidade de falar, de preencher os espaços ou intervalos de
silêncio
● Pode veicular mensagens mais ou menos subtis do tipo:
o “eu quero ir um pouco mais devagar”
o “quero que pense acerca daquilo que acabou de dizer”
o “não aceito aquilo que disse”
o “preciso de confiar em si, estou próximo de falar de um problema que
me perturba”
● Pausas ou silêncios prolongados podem traduzir dificuldade em falar sobre um
determinado assunto
o Significado negativo quando superiores a 10-15 segundos;

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Introdução a Avaliação Psicológica

o Possibilidade de incapacidade de o sujeito clarificar o seu problema;


neste caso o entrevistador é responsável pela continuidade da
comunicação verbal
● Sentimentos de vergonha e dificuldade em relacionar-se com o técnico, medo
de ser descoberto, adivinhado.

❖ Estratégias para fazer questões


⬥ Perguntas abertas
▪ Permitem, numa fase inicial, que o paciente se expresse nas suas próprias palavras, ao
seu ritmo, na ordem que lhe convier.
⬥ Perguntas fechadas
▪ Úteis para confirmar uma informação; restringem a informação e o foco de
investigação.
⬥ Devolver a pergunta
▪ Demonstrando ao paciente que este tem capacidade de chegar à resposta que procura.
⬥ Perguntas facilitadoras
▪ Não criam ambiguidade.
● P.e., o que faz quando fica nervoso?
⬥ Perguntas clarificadoras
▪ Questionar ao paciente qual o seu entendimento de algo em concreto
⬥ Perguntas com “legenda”
▪ Implicam um posicionamento
● P.e., perguntas de sim ou não.
⬥ Perguntas guiadas
⬥ Perguntas de confrontação

❖ Outras intervenções verbais – técnicas de pressão


⬥ Confrontação direta
▪ Confrontar o paciente com informação contraditória
⬥ Limite de tempo
▪ Recordar ao paciente o limite de tempo da entrevista
⬥ Outras regras
▪ Recordar limites estabelecidos com o comportamento durante a entrevista: não fumar,
não abandonar o local, etc.
⬥ Centrar o problema/revisão de sintomas
▪ Ser incisivo nas questões colocadas quando falta objetividade ao discurso do paciente

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Introdução a Avaliação Psicológica

EXAME DO ESTADO MENTAL

❖ O exame do estado mental é uma componente da entrevista inicial.


⬥ Consiste numa combinação ou conjunto de questões e de observações.
⬥ Tem como finalidade estabelecer um perfil, padrão ou quadro objetivo da condução atual do
sujeito, isto é, do estado mental, cognitivo e comportamental do sujeito.
⬥ Considerando/avaliando aspetos verbais e não verbais, a partir de um conjunto de
elementos/parâmetros, numa perspetiva integrativa/compreensiva.
▪ Funcionamento psicológico.
❖ Objetivos/utilidade:
⬥ Estabelecer diagnóstico prévio/provisório e (elementos de) diagnóstico diferencial
⬥ Delinear uma formulação da etiologia da condição atual – isto é, fatores biológicos, psicológicos
e/ou sociais que predispõem, precipitam e mantêm a condição atual.
⬥ Estabelecer a capacidade/funcionamento psicológico do sujeito.
❖ Técnicas
⬥ Entrevista
⬥ Observação do comportamento

Funções Mentais

❖ Consciência
⬥ Do mundo externo para mundo interno
▪ Funções aferentes (atenção, sensoperceção, orientação)
⬥ Do mundo interno para o mundo externo
▪ Funções eferentes (aparência geral, linguagem, psicomotricidade)
⬥ No mundo interno
▪ Funções centrais (memória, humor/afeto, pensamento, funcionamento intelectual)

O QUE ANALISAR?

Observações clínicas

❖ Constituem-se como elemento crucial da entrevista


⬥ Frequentemente, o comportamento do sujeito (em situação de entrevista) sugere o seu
grau/qualidade de funcionamento (normal, patológico, adequado, inadequado).
▪ P.e., problemas de depressão, ansiedade, hiperatividade, mania, podem ser deduzidos a
partir de observações dos comportamentos verbais e não verbais do sujeito
❖ Aparência e aspeto
⬥ Inclui elementos de observação relativos a aspetos físico, comportamental e afetivo
⬥ Apesar de por si só não fornecerem informação clínica relevante, quando integrados num quadro
mais amplo de informação clínica podem contribuir para validar um diagnóstico e
definir/circunscrever as preocupações do sujeito
▪ P.e., ver se a aparência é consoante com a idade, ocupação, estatuto socioeconómico
do sujeito
⬥ Avaliar:
▪ Idade aparente
▪ Modo de se vestir
▪ Asseio (condição da pele, cabelo, barba, unhas, dentes, etc.)
▪ Postura (curvado, cabisbaixo, tensa)
▪ Estado geral de saúde e nutrição
▪ Defeitos e peculiaridades físicas (hereditários, congénitos e adquiridos)
● A avaliação já se inicia antes da entrevista

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Introdução a Avaliação Psicológica

❖ Nível de atividade (psicomotor)


⬥ Inclui elementos de atividade física/movimento (comportamento psicomotor, quer em termos de
quantidade, quer de qualidade)
⬥ Atividade física, movimento atípico observador pode exigir avaliação adicional (p.e., abuso de
substâncias, hiperatividade, comportamento maníaco, tiques, ansiedade, efeitos de medicação)
⬥ O nível de atividade do sujeito pode ser influenciado pela sua condição física, uso de medicação,
capacidade de interação/relacionamento, afeto
▪ P.e., na depressão: lentificação psicomotora, movimentos lentos, discurso e processos
cognitivos lentificados; no comportamento obsessivo-compulsivo: comportamentos
repetitivos
⬥ Integração das funções motrizes e mentais sob o efeito da educação e do desenvolvimento do
sistema nervoso.
⬥ Avaliar:
▪ Velocidade e intensidade da mobilidade geral na marcha, quando sentado e na
gesticulação.
▪ Agitação ou lentificação
▪ Acatisia
▪ Maneirismos
▪ Tiques
▪ Presença de sinais de catatonia
❖ Discurso e Linguagem
⬥ Discurso: é o modo de comunicar. Envolve linguagem verbal, gestos, olhar, expressão facial e
escrita. A linguagem falada é o principal ponto de observação.
⬥ A linguagem/discurso é observável ao longo de todo o processo de entrevista (é um dos
indicadores mais relevantes, para o exame do estado mental; ver: relação linguagem-
pensamento)
⬥ Pode fornecer uma boa estimativa da dimensão comunicacional, incluindo comportamento
social, cognição/funcionamento intelectual, afeto, aspetos específicos de pensamento, obsessões
▪ P.e., vocabulário, compreensibilidade do discurso, pronunciação/articulação, volume,
entoação/tom, velocidade, hesitações, detalhes, tempo de reação, outros elementos
(p.e., incoerência, ecolalia , neologismos, gaguez).
⬥ Avaliar:
▪ Velocidade
● Taquilalia, bradilalia, hesitante, latência para iniciar respostas
▪ Volume (hiperfonia ou hipofonia)
▪ Quantidade: mutismo, monossilábico, prolixo, etc.
▪ Características
❖ Atitude face ao examinado
⬥ Influencia a validade da entrevista e pode ser um indicador de prognóstico da intervenção (p.e.,
adesão ao tratamento)
⬥ Devem ser monitorizados ou verificados aspetos relativos a nível de cooperação, de defesa,
seriedade do sujeito ao facultar informação
▪ P.e., nível de atenção, interesse, cooperação, defesa, postura interpessoal, “qualidade”
da informação facultada ou fornecida pelo sujeito
● Ver: relação sujeito-examinador
● Ver: características de perturbações de personalidade e atitude do sujeito

Consciência/pensamento

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Introdução a Avaliação Psicológica

❖ Indica em que medida o discurso do sujeito reflete os seus processos de pensamento (a partir de
observação em contexto de entrevista)
⬥ Refere-se ao estado de consciência e aos padrões de pensamento.
⬥ Áreas problemáticas surgem frequentemente associadas a perturbações/desordens de
pensamento, mas também podem ocorrer em perturbações severas de humor.
▪ P.e.,
● Discurso: se é espontâneo, coerente, inibido, lentificado, com bloqueios, vago,
ilógico, desorganizado, disperso
● Pensamento: se é relevante, coerente, dirigido/com uma finalidade,
desregrado
● Processos de pensamento: considerando o número de ideias a comunicar,
hesitação, dispersão, coerência.
⬥ Nível de consciência
▪ Determina e facilita as demais
▪ Modificações ou alterações da intensidade e nitidez da consciência
● Vígil: abertura ocular espontânea, estado alerta e responsivo;
● Sonolência: lentificação dos processos ideacionais;
● Obnubilação: rebaixamento geral da capacidade de perceber o ambiente;
● Torpor: em sono, exceto quando estimulado (estímulo forte – resposta leve)
● Coma

Conteúdo de pensamento

❖ Indica áreas de preocupação do sujeito, quer do domínio cognitivo, quer do afetivo (a partir de questões
que são colocadas no âmbito do processo de entrevista).
❖ Inclui tópicos de preocupação que o sujeito experiencia (considerando se são recentes ou crónicos,
quando ocorrem/em que circunstâncias ocorrem)
⬥ P.e.,
▪ Ideias, preocupações (obsessões, compulsões, fobias, homicídio, antissocial), ideação
suicida (historial, tentativas), alucinações e delírios

Afeto e humor

❖ Afeto refere-se às observações clínicas (observação de aspetos emocionais), no momento da entrevista


⬥ P.e., a partir de elementos como contacto visual, expressões faciais, choro, sorriso
⬥ Ver: amplitude, adequabilidade, intensidade, mobilidade/psicomotricidade, nível de ansiedade,
expressão de raiva, humor predominante (eutímico, disfórico, eufórico)
❖ Humor é definido como o padrão de sintomas emocionais que é persistente, ao longo do tempo (de
acordo com a informação reportada pelo sujeito, via questões colocadas no âmbito do processo de
entrevista).

❖ Humor é o estado emocional de longa duração, interno – sintoma relatado.


⬥ É como a pessoa se sente
❖ Afeto é uma manifestação externa da resposta emocional do paciente a eventos – sinal observável
(imediato/quase sempre episódico). É a maneira como aparece para os outros (ligações afetivas)
⬥ Avaliar: linguagem corporal, expressão facial e perguntas diretas
▪ “como se sente hoje?” “como se costuma sentir?”

❖ Qualidade do afeto: tristeza, culpa, alegria, vergonha, etc.


❖ Modulação do afeto: hipermodulação, hipomodulação
❖ Dissociação ideoafetiva: discrepância entre o conteúdo do pensamento e o afeto exteriorizado

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Introdução a Avaliação Psicológica

Cognição/dimensão cognitiva

❖ Refere-se a um conjunto de variáveis/funções cognitivas como memória, concentração/atenção,


capacidade de abstração, inteligência geral, entre outras.
⬥ Inclui, ainda, elementos de dimensão sensorial (acuidade dos sentidos na perceção da
realidade/mundo, nível de consciência, nível de ativação, p.e.)
⬥ Pode fornecer uma boa estimativa do funcionamento cognitivo (ajustado/normal, declínio
ligeiro, deterioração).
❖ Contacto com a realidade
⬥ A partir da avaliação da qualidade da conversação, do fluxo/curso da conversação, da
adequabilidade das respostas do sujeito
❖ Orientação
⬥ Inclui orientação no tempo, no espaço e autorreferência (relativa à própria pessoa)
❖ Concentração
⬥ Refere-se, em geral, à capacidade para manter a atenção
▪ P.e., tarefas de repetição de dígitos, de repetição de séries de números e letras, de
deteção de letras, de adição, subtração
❖ Memória
⬥ Inclui memória de curto prazo e longo prazo
▪ Remota/período de referência de semanas e anos: nomes de anteriores
escolas/professores; o que fez nas últimas férias; aspetos da vida pessoal tendo
referência um acontecimento histórico.
▪ Recente/período de referência de minutos a semanas: última refeição; atividades que
fez há dois dias; memorizar três palavras, para as repetir após intervalo de 5 minutos.
▪ Imediata/período de referência inferior a 1 minuto: repetir sequência de dígitos;
desenhar figura, após breve exposição/visualização do estímulo.
❖ Informação
⬥ Inclui conhecimento de acontecimentos e informação geral do meio/ambiente/histórica
❖ Capacidade de abstração
⬥ Indicador de desenvolvimento cognitivo
▪ P.e., interpretar/significado de provérbios
❖ Juízo/compreensão
⬥ Inclui aspetos relativos à consciência e compreensão das regras/normas sociais e dos valores e à
atuação/comportamento adequado, em determinadas situações sociais
❖ Insight
⬥ Referente à consciência que o sujeito tem da sua situação/condição
⬥ É um elemento crucial no planeamento da intervenção/tratamento
❖ Funcionamento intelectual (geral)
⬥ Inclui funcionamento intelectual atual e prévio
⬥ Permite avaliação da capacidade cognitiva geral; relevante na seleção de tratamento
▪ P.e., vocabulário, conversação, nível de escolaridade, profissão/ocupação, estatuto
socioeconómico

❖ Mini-mental State Examination (MMSE)


⬥ Características
▪ Despistagem/rastreio: insuficiente do ponto de vista diagnóstico, diagnóstico diferencial
▪ Quantificação global do defeito/défice
▪ Fácil aplicação
▪ Rápido, não cronometrado (10 a 15 minutos)
⬥ Orientação (temporal/espacial)

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Introdução a Avaliação Psicológica

▪ “Vou fazer-lhe umas perguntas. A maior parte delas são fáceis. Tente responder o
melhor que for capaz” (dar 1 ponto por cada resposta certa)
● Em que ano estamos? Em que mês? Em que dia? Em que estação do ano? Dia
da semana? País? Em que distrito vive? Em que terra vive? Em que se casa
estamos? Em que andar estamos?
⬥ Retenção
▪ “Vou dizer-lhe três palavras. Queria que as repetisse e que procurasse decorá-las
porque dentro de alguns minutos vou-lhe pedir que me diga essas três palavras. Pera,
gato e bola. Repita as três palavras” (dar 1 ponto por cada resposta certa)
⬥ Atenção e cálculo
▪ “Agora peço-lhe que me diga quantos são 30 menos 3 e que ao número encontrado
volte a subtrair 3 até eu lhe dizer para parar” (dar 1 ponto por cada resposta certa. Parar
ao fim de 5 respostas. Se fizer um erro na subtração, mas continuar a subtrair
corretamente a partir do erro, conta-se como um único erro).
⬥ Linguagem
▪ Dar 1 ponto por cada resposta correta.
● “Leia e cumpra o que diz neste cartão” (mostrar o cartão com a frase “feche os
olhos”), caso o sujeito seja analfabeto, o examinador deverá ler-lhe a frase
● “Escreva uma frase” (a frase deve ter sujeito, verbo e ter sentido para ser
pontuada com 1 ponto. Erros gramaticais ou troca de letras não contam como
erros)
⬥ Capacidade visuo-construtiva
▪ “copie o desenho que lhe vou mostrar” (mostrar o desenho num cartão ou na folha”

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Introdução a Avaliação Psicológica

OBSERVAÇÃO DIRETA

❖ Observação e o método científico;


❖ Transversalidade da observação às diferentes técnicas de avaliação e modelos teóricos;
❖ Estamos perante observação quando:
⬥ Quem observa é um perito (e/ou recebeu formação)
⬥ Se observam factos que ocorrem numa situação natura (ou análoga)
⬥ A observação é sistemática, seguindo um protocolo de registo

ÂMBITO DE UTILIZAÇÃO

❖ Avaliação Psicológica, enquanto processo que recorre a vários informadores, diversos métodos, múltiplos
contextos
⬥ Distinção entre:
▪ Procedimentos de avaliação indireta (p.e., entrevistas, escalas de avaliação do
comportamento)
▪ Procedimentos de avaliação direta (p.e., observação direta)
⬥ Para compreender/pormenorizar as informações obtidas através de entrevistas, de escalas de
avaliação do comportamento (p.e., ver: natureza das dificuldades, local de ocorrência).
⬥ Pode tornar-se um dos mais importantes meios de avaliação em situações em que se avaliam:
▪ Pessoas com atrasos de desenvolvimento
▪ Pessoas muito “resistentes” ao processo avaliativo
▪ Crianças muito pequenas/muito jovens

DEFINIÇÃO

❖ Método para obter amostras de comportamento e determinar situações que sejam clinicamente
relevantes (em relação à avaliação, ao diagnóstico, ao prognóstico e ao planeamento e medida da
intervenção), numa situação natural ou numa situação análoga.
❖ Processo através do qual observadores humanos, utilizando como referência definições operacionais,
registam comportamentos manifestos verbais e/ou motores.

CARACTERÍSTICAS

❖ Observação direta, enquanto método mais objetivo, rigoroso e exato (comparativamente a outros
métodos de avaliação psicológica)
⬥ Mas:
▪ Só vemos o que procuramos;
▪ As observações são “contaminadas” pelos nossos conhecimentos;
▪ Há muitas variáveis (de natureza cognitiva, subjetiva) que não são acessíveis à
observação direta.
❖ O domínio de interesse está circunscrito a comportamentos objetivos
❖ Exige o registo do comportamento quando ele ocorre
❖ Implica o recurso a observadores independentes/imparciais com treino, que coligem informação acerca
do comportamento objetivo
❖ Supõe a existência quer de regras específicas relativas ao momento e contexto das observações, quer de
sistemas/procedimentos de registo das observações (isto é, uso de regras e procedimentos de registo
claramente especificados)
❖ Requer o uso de definições operacionais do comportamento/descrições complementais objetivas,
previamente definidas, que envolvam um grau mínimo de inferência
❖ Envolve algum procedimento para avaliar a fiabilidade do sistema

OBSERVAÇÃO

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Introdução a Avaliação Psicológica

Processo: como observar?

❖ Selecionar os comportamentos relevantes a observar


⬥ Pode variar desde uma resposta única até uma sequência interativa complexa;
❖ Selecionar técnica de registo
⬥ Para simplificar e tornar mais objetivo o processo de observação

Como definir o comportamento observador

❖ Aspetos observáveis do comportamento


⬥ Deve tornar fácil avaliar a sua presença/ausência
⬥ Conjunto de regras práticas de decisão para detetar comportamentos a ser registados e distingui-
los de outras respostas;
⬥ Exemplos de comportamentos marginais/limítrofes (que suscitam dúvidas quando à sua
consideração) e de outros claramente não contemplados pela definição;
⬥ Evitar a ambiguidade inerente a termos gerais ou demasiado vagos (p.e., agressivo, mal-
comportado) e traduzi-los sob a forma de comportamentos específicos (dar pontapés; levantar-
se do lugar)
❖ Descritores subjetivos e objetivos
⬥ Descritos subjetivos
▪ Estar a divertir-se
▪ Lutar
▪ Pintar descuidado
▪ Brincadeira construtiva
⬥ Descritos objetivos
▪ Sorriso aberto
▪ Dar uma palmada
▪ Pintar no papel e na mesa
▪ Pôr cubos em linha

Tipos de observação

❖ Observação naturalista
⬥ Amostra direta do comportamento “tal como ele ocorre”, no tempo e lugar da sua ocorrência
⬥ Método mais direto, menos inferencial
▪ Exemplos:
● Observações em casa
o Interações pais-criança
o Obedecer a regras e a ordens
o Respostas dos pais ao comportamento da criança
● Observações na escola
o Estar sentada e prestar atenção
o Quantidade de trabalho realizado
o Interações estabelecidas com os professores e com os colegas
o Interações no recreio
▪ Limitações
● Método pouco económico
● Exige muito tempo
● Não é adequado para comportamentos muito pouco frequentes ou que só
ocorrem na ausência de outras pessoas

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Introdução a Avaliação Psicológica

● Pode causar reatividade no observado


⬥ Observação participada
▪ É uma variante
▪ Conduzida por pessoas que fazem parte do meio do sujeito ou pelo próprio (auto
monitorização)
▪ Essas pessoas são treinadas a observar e registar os comportamentos.
● Vantagens
o Diminui os custos
o Reduz a potencial reatividade de procedimentos intrusivos
o Útil para comportamentos pouco frequentes ou altamente reativos a
observadores externos
● Limitações
o Inexatidão do observador no uso do sistema de codificação
comportamental
o Enviesamento do observador
▪ História de interação entre observador e observado
▪ Influência do rótulo diagnóstico colocado ao observado
▪ Como tornar a observação participada mais fidedigna e mais válida?
● Fornecendo ao sujeito treino suficiente
● Usando folhas de registo formais para sistematizar as observações
● Usando procedimentos que requeiram um mínimo de tempo e de energia por
parte do observador/sujeito (no caso da auto monitorização)
● Fazendo ocasionalmente verificações de fidedignidade
● Reforçando o observador pela acuidade das suas observações
❖ Observação análoga/laboratorial
⬥ Por exemplo, no consultório.
⬥ Cenários construídos comparáveis ou o mais próximo possível do meio natural
▪ Podemos esperar que quanto mais similares forem as características do meio
laboratorial às do meio natural, mais elevada será a possibilidade de as observações
serem representativas dos comportamentos dos diversos intervenientes em meio
natural.
⬥ Vantagens
▪ Reduz o tempo e custos associados à observação naturalista
▪ Maximiza a possibilidade de o comportamento se manifestar, o que pode ser útil
quando o comportamento apresenta uma frequência reduzida
▪ Útil quando existem restrições físicas à observação naturalista
▪ Permite um maior controlo de variáveis situacionais parasitas (reduzindo-as ou
eliminando-as) ou de variáveis relativas à tarefa (controlando-as, manipulando-as).
⬥ Problemas de generalização:
▪ É usada mais inferência
▪ Até que ponto podemos considerar que os comportamentos manifestados na
clínica/consultório são idênticos aos apresentados na situação natural?
● Tentar tornar a situação na clínica tão semelhante quanto possível da situação
real
❖ Observação do comportamento livre – role-play

❖ Observação naturalista vs análoga/laboratorial

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⬥ Observação naturalista: mais preocupada com a validade externa, isto é, a possibilidade de


generalizar os resultados da observação para contextos de campo relevantes
⬥ Observação análoga: mais preocupada com a validade interna, isto é, possibilidade de afirmar
que a variação nas variáveis independentes é a única que afeta as várias dependentes (aspetos
do comportamento observado).

Dimensão de observação Maior qualidade/rigor Menor qualidade/rigor

Unidade de análise Mais detalhada Menos detalhada

Nível de inferência Baixo Elevado

Tempo do evento Atual Passado ou contínuo

Protocolo Estruturado Semiestruturado

Observador Perito Com pouca formação

Participante Não participante Participante

Situação Natural Análoga

O que observar?

❖ Qual a nossa unidade de observação?


⬥ Objeto (pessoa, grupo, organização) e eventos comportamentais
⬥ Num determinado período temporal
⬥ Diferentes níveis de inferência (p.e., descrição, classificação, explicação)
⬥ Interação das atividades do objeto de avaliação com estímulos físicos e sociais.

❖ Perspetiva ecológico-naturalista
⬥ Não se especificam a priori os comportamentos/atributos a observar
⬥ Observação em tempo real e de forma contínua, sem tempo pré-estabelecido
⬥ A descrição do que é observado realiza-se sobre aspetos verbais e não verbais, podendo ser
encadeados com impressões do observador.

❖ Atributos
⬥ Através da observação comportamental são inferidas determinadas características da pessoa
observada (p.e., nervosismo) e, consequentemente, atributos.
⬥ No momento da observação, o comportamento apresentado (p.e., mexer demasiado as mãos) é
traduzido num determinado atributo (p.e., ansiedade).

⬥ O comportamento observado é descrito na forma de um atributo


⬥ A tradução do comportamento (observado) num atributo pode ser feito em simultâneo (durante
a observação) ou posteriormente
⬥ Na observação de atributos são normalmente utilizados grandes intervalos temporais.

❖ Comportamentos
⬥ De um ponto de vista estritamente comportamental, o que devemos observar é o
comportamento manifesto (motor ou verbal), de forma simples ou agrupado em categorias.

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Introdução a Avaliação Psicológica

▪ P.e., “o aluno está ao telemóvel”, “o aluno está a utilizar o telemóvel para enviar uma
sms”, “o aluno está desatento”.
⬥ Pressupõe a prévia especificação dos comportamentos/classes comportamentais que serão alvo
de observação.
⬥ Esta definição pode ser teórica ou empírica
⬥ O observador deve inferir o mínimo que lhe seja possível
⬥ Deve selecionar-se o período de observação, os sujeitos a observar e registar a duração total de
todo o processo.

❖ Interações
⬥ O foco em termos de unidade de observação é aqui colocado na interação entre pessoas (ou
pessoa e ambiente)
⬥ Particularmente úteis quando se procura estudar relações entre eventos, como seja a interação
entre um casal.
⬥ A unidade de observação (interação) é previamente especificada
⬥ A unidade de observação é, neste caso, constituída por influências recíprocas pessoa-pessoa,
pessoa-grupo ou pessoa-ambiente.
⬥ Deve estar previamente estabelecido quando se irá realizar a observação.

❖ Resultados comportamentais
⬥ Observa-se, normalmente, o resultado de um conjunto de atividades que o sujeito realizou
▪ Em ambientes naturais ou artificiais
⬥ Medidas não reativas
▪ Observação e registo de determinadas respostas sem que o avaliador esteja presente na
situação de avaliação
● Erosão, marca/pegada, arquivo
⬥ Resultados comportamentais do sujeito a partir de tarefas propostas pelo avaliador
⬥ Tanto em ambientes naturais como artificiais, encontramos cenários de recolha de observações
de resultados comportamentais
▪ P.e., número de peças produzidas por um trabalhador
⬥ Algumas características
▪ No caso das medidas não reativas, representam uma excelente forma de recolha de
informação, não sendo afetada pelo enviesamento da presença do psicólogo enquanto
avaliador.
▪ A observação dos resultados de execução de tarefas estandardizadas, maximiza a
possibilidade de comparação de resultados.
▪ Corre o risco de se inferirem atributos dos resultados comportamentais.

O que medir da unidade?

❖ Ocorrência (sim/não): sem relação com o tempo. Pretende apenas registar a ocorrência (ou não) de um
evento comportamental.
❖ Ordem: explicitar a sequência das observações realizadas
❖ Frequência: extensão da ocorrência de um evento num determinado período de tempo.
❖ Duração: começo e término do comportamento; intervalo entre estímulo-resposta; intervalo entre
manifestações sucessivas observadas.
❖ Dimensões qualitativas
⬥ Intensidade/magnitude: grau no qual se manifesta um determinado comportamento (medido
numa escala ordinal).
▪ P.e., intensidade de um dano provocado

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⬥ Adequação: forma como um determinado comportamento se adequa socialmente. Não apenas o


tempo que demorou a realizar uma tarefa (adequação temporal) mas quão bem a realizou.

Técnicas de registo

❖ De modo a controlar os resultados e permitir a replicabilidade dos mesmos, a observação necessita de ser
estruturada através de um protocolo.
⬥ Estruturação
▪ Registos narrativos
● Registos descritivos das observações
● O que é registado?
o Data de registo
o Dados sobre a sessão
o Duração
o Pessoas presentes
o Outras
● Fontes de erro
o Diferente terminologia
o Atribuição de diferentes significados aos mesmos eventos
▪ Escalas de estimação
● Quando é pretendida a quantificação ou qualificação das atividades (p.e.,
frequência, intensidade) do objeto de observação, utilizando:
o Descrições comportamentais específicas
o Atributos previamente estabelecidos
● Observador participante realiza/ou observação em amplos períodos de tempo
(p.e., mãe/pai que observa o comportamento do filho)
● Informação é recolhida em diferido
● As descrições comportamentais usadas podem variar de acordo com nível de
análise, nível de inferência e objetivos
● Descrições/categorias distintas (p.e., comportamentos, atributos)
▪ Protocolos observacionais de comportamentos
● Registos comportamentais
o Aglomeração de eventos comportamentais bem definidos com
(potencial) relevância
▪ Selecionar unidades de análise e elaborar definição operativa
▪ Unidades de medida (p.e., frequência)
▪ Desenho do formato/protocolo de observação
▪ Formação dos observadores
● Matrizes de interação
o Principais características
▪ Mais simples de aplicar do que os códigos de categorias
▪ Tipo de registo aplicável a diversas situações
▪ É utilizado um número reduzido de categorias
comportamentais
▪ Interações diádicas/triádicas
▪ Maior dificuldade: definição operacional dos
comportamentos
o Constatar interações entre ambiente social e comportamento

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Introdução a Avaliação Psicológica

o Útil quando pretendemos avaliar interação entre sujeitos e sujeito-


ambiente, face à mais tradicional observação do comportamento
individual
● Mapas de comportamentos
o Seleção das unidades de análise/observação
o Seleção do local de observação
o Desenvolvimento do protocolo
o Amostragem do comportamento no espaço e no tempo
o Formação dos observadores
o Tipos
▪ Podem ser centrados na pessoa, isto é, acompanhar o
comportamento de um indivíduo no espaço/tempo
▪ Podem ser centrados em locais, isto é, registar o
comportamento de todas as pessoas que passem num
determinado local num dado período de tempo.
o Vantagens
▪ Permite a análise de um determinado conjunto de
comportamentos no espaço-tempo, permitindo uma análise a
relação entre comportamento e variáveis ambientais
▪ Códigos/sistemas de categorias
● Desenvolvimento das categorias (comportamentos e estímulos) e sua definição
● Definição de intervalo/hora de registo
● Vantagens:
o Fornecem informação sobre comportamentos e/ou interações
complexas
o Possibilidade de comparar entre sujeitos e investigações
o Rentabilização da formação do observador, pois a aprendizagem dos
códigos pode ser vir para vários casos
o Estandardização permite garantia de cientificidade
▪ Registo de resultados de comportamentos
● Registo do dia, hora, local, situação
o P.e., quilos de lixo recolhidos; número de peças produzidas por um
trabalhador; número de garrafas consumidas por um alcoólico
● Não requer protocolos complexos
▪ Procedimentos automáticos de registos
● Para aumentar a cientificidade do processo, reduzindo o viés do observador,
foram construídos dispositivos automáticos de registo.
o Meios técnicos de registo
o Dispositivos de registo à distância/ocultos
o Observação através de aparelhos

❖ Conclui-se que a opção por uma determinada técnica de registo deve ter em consideração:
⬥ Complexidade do problema em análise
⬥ Na observação de eventos bem definidos é útil a utilização de catálogos de comportamentos
construídos para o efeito
⬥ Se o problema é interativo, devem ser utilizadas matrizes de interação
⬥ Para problemas complexos, para os quais existam códigos de categorias comportamentais, estes
devem ser utilizados
⬥ Salvaguardando questões éticas, devem ser utilizados registos automáticos sempre que possível

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Amostragem

❖ Quando e/ou quem observar?


⬥ Quando – remete para as questões temporais na observação
▪ Durante quanto tempo se vai realizar a observação?
▪ Quantas sessões se realizarão?
▪ Com que periodicidade?
⬥ Quando e/ou quem observar?
▪ Em que situações observar?
● O comportamento em observação ocorre em que locais/situações?
● De acordo com os objetivos da avaliação, devem ser consideradas as situações
necessárias (p.e., casa, recreio, cantina, sala de aula)
▪ Quem observar?
● Seleção aleatória de indivíduos a observar;
● Seleção de intervalos (de tempo) em função do número de sujeitos a observar
● Seleção de critérios fixo (p.e., sujeito 1, 10, 20, 30 etc.)
● Alternar critério de eleição (observar primeiro sujeitos par e despois ímpar)

Local da observação

❖ Onde observar?
⬥ Situações naturais
▪ Não se eliciam respostas. Qualquer interferência do observador torna esta situação
artificial. Muito útil em situações familiares, institucionais e comunitárias.
▪ A sua aplicação é dificultada quando:
● Os sujeitos não aceitam ser observados na sua vida real;
● Quando os comportamentos a observar sejam de cariz privado;
● Quando existem dificuldades de acesso do psicólogo ao local;
● Os custos são elevados.
⬥ Situações artificiais
▪ Testes situacionais (p.e., assessment centres);
▪ Role-playing, permite a criação de uma situação, como se tivesse ocorrido;
▪ Realidade virtual, permite a recriação (virtual) de uma situação real vivida.
▪ Dependem da qualidade replicável (ou não) da situação;
▪ Apresentam sensibilidade face a intervenções.
▪ Não deve ser utilizada como método isolado.

Cientificidade da avaliação

❖ Até que ponto os dados de observação são objetivos?


❖ Qual o grau de generalização a outros momentos/ambientes?
❖ Até que ponto o que se observa representa tudo o que se deseja ou se supõe observável?
⬥ Fontes de erro
▪ Sujeito observado
● Alteração comportamental resultante do facto de estarem sob observação
● Fatores mediadores da reatividade do sujeito
▪ Observador
● Nível de participação
● Expectativas
● Formação
▪ Do sistema de observação
● Tipo de registo escolhido

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Introdução a Avaliação Psicológica

o Quão claras são as definições?


o Qual o número desejável de categorias?

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ESCALAS DE AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO

❖ Designação/terminologia
⬥ Escalas de avaliação do comportamento
▪ Conjuntos diversificados de itens/perguntas, a serem respondidas por
adultos/mediadores significativos (p.e., pais e professores), em referência ao
comportamento da criança ou do adolescente.
● No caso de adultos, usualmente, respondidas pelo cônjuge.
⬥ Questionários de comportamento
⬥ Inventários de comportamento

❖ Especificidades/características
⬥ Método indireto da avaliação (envolvem descrições retrospetivas do comportamento)
⬥ Forma estandardizada de obter informação junto de pais/professores (avalia a perceção dos
mediadores)
⬥ Juntamente com a entrevista, constituem o principal método de aquisição de informação na fase
inicial do processo de avaliação;
⬥ Podem ser multidimensionais (referentes a larga variedade de problemas/dimensões) ou
unidimensionais (referentes a uma única variável; p.e., hiperatividade).
⬥ Escalas de resposta
▪ Sim/Não
▪ Tipo Likert (neste caso, a permitir avaliar a intensidade, frequência e/ou duração de um
determinado comportamento)

❖ Estratégias de utilização
⬥ Podem ser completadas no início da avaliação
▪ P.e., enviadas previamente pelo correio, para serem preenchidas por pais e/ou
professores
⬥ O recurso a escalas multidimensionais permite:
▪ Despistar pedidos inapropriados;
▪ Clarificar queixas vagas;
▪ Estruturar e focalizar a entrevista (de uma forma mais específica; ou decidir utilizar uma
escala unidimensional).
⬥ Podem ser completadas a seguir à entrevista inicial e à clarificação dos problemas atuais
▪ Ou podem ser usadas como parte de uma entrevista estruturada
⬥ Permite:
▪ Estabelecer linhas para a avaliação funcional do comportamento
▪ Não excluir áreas significativas, de relevância, para a análise e compreensão da situação
problemática

❖ Objetivos/usos mais frequentes


⬥ Como procedimento de despistagem e identificação de problemas/hipótese de diagnóstico
⬥ Na seleção de procedimentos de intervenção
⬥ Na avaliação de intervenções
⬥ Para efeitos de investigação

❖ Principais vantagens
⬥ Aplicação e cotação fáceis, rápidas e económicas
⬥ Dados relativamente fáceis de quantificar
⬥ Em geral, boas qualidades psicométricas

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Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Permitem a obtenção de uma representação global do comportamento de forma estandardizada


e rápida
⬥ Identificação de problemas omitidos através de outros métodos
⬥ Informação específica, de natureza qualitativa
⬥ Versões para pais, professores e para o próprio sujeito (p.e., criança/adolescente)
⬥ Boa fonte de avaliação das perceções dos mediadores

❖ Principais limitações
⬥ Utilidade limitada para o diagnóstico
⬥ Proporcionam apenas uma estimativa transversal da sintomatologia e uma estimativa parcial da
duração dos padrões de sintomas
⬥ Problemas de validade (p.e., efeito de halo contaminador)
⬥ Dificuldade face a comportamentos “internalizantes” e/ou que dificilmente poderão ser
observadas na escola (no caso de questionários para o professor)
⬥ Estimativas poderão não ser rigorosas por incompreensão dos itens o falta de familiaridade com
a amplitude ou diversidade do comportamento “normal”

❖ Questões psicométricas
⬥ Fiabilidade/precisão
▪ Consistência interna
● Deve ser elevada para as escalas unidimensionais, mas não necessariamente
para as multidimensionais
▪ Acordo inter-informadores
● Mais elevado entre pais de crianças “normais” do que entre pais de crianças
encaminhadas para consulta.
● Mais elevado para fatores externalizantes do que para os internalizantes
● Mais elevado para o resultado total e menor para itens individuais
● É possível desacordo pais-professores, sendo, por vezes, dada maior
credibilidade à estimativa de professores
▪ Teste – reteste/estabilidade temporal
● Efeito de prática, isto é, os mesmos informadores tendem a comunicar menos
problemas da 1ª para a 2ª aplicação – por efeito placebo, regressão estatística
para a média, reatividade, efeito de idade, etc.
o Este efeito não se verifica da 2ª para a 3ª avaliação

▪ Formas de aumentar a fiabilidade teste – reteste


● Diminuir intervalos entre avaliações;
● Delimitação do tempo de referência da estimação relativa aos
comportamentos (p.e., as duas últimas semanas);
● Aplicação repetida de instrumentos
⬥ Validade
▪ Discriminar grupos de crianças com problemas clínicos de grupos de crianças “normais”
▪ Relação com o diagnóstico psiquiátrico ou outras medidas de desvio comportamental
▪ Relação com o prognóstico e com a eficácia diferencial de estratégias de intervenção (e
sensibilidade à mudança)
● Estratégias para aumentar a utilidade
o Incluir itens que descrevem competências ou comportamentos
positivamente orientados (e não apenas “negativos”);
o O tempo decorrido entre “o que acontece” e a sua avaliação deve ser
relativamente reduzido

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Introdução a Avaliação Psicológica

o Os critérios de formulação de juízos de intensidade e/ou frequência do


comportamento devem ser definidos
o Normas adequadas
o A alterativa de resposta tipo likert é mais adequada
o Maior número de itens e maios especificidade situacional de itens;
o Treino em procedimentos de observação

MODELO MULTIAXIAL DE ACHENBACH – ASEBA (Achenbach System of Empirically Based Assessment)

❖ Achenbach propôs um modelo multiaxial de avaliação, assente na inclusão de diferentes tipos e fontes de
informação relevantes na avaliação dos problemas comportamentais/emocionais e competências das
crianças e adolescentes.
❖ O sistema de avaliação baseado em evidência empírica (ABESA) consiste num conjunto de questionários
baseados na investigação e prática clínica.
⬥ Foram desenvolvidos e aprimorados durante as últimas décadas.

❖ Os instrumentos do ASEBA visam aumentar a fidelidade e validade da avaliação do funcionamento


socioemocional:
⬥ Através da estandardização
⬥ E do facto de permitirem comparar os resultados entre informadores e com os estudos
existentes.
▪ A base destes instrumentos foi o desenvolvimento da CBLC, que remonta à década de
1960.

❖ É um sistema abrangente de avaliação que avalia as competências, o funcionamento adaptativo e os


problemas comportamentais, emocionais e sociais de crianças e adolescentes (e adultos).

❖ Sugere que a patologia pode ser entendida de melhor tendo por base um modelo dimensional, em
oposição a um modelo categorial.
⬥ A solução dimensional é elaborada a partir de um modelo empírico.
⬥ Assim, o eu determina aquilo que constitui ou não uma síndrome é a agregação de problemas
comportamentais em domínios (subescalas), através da análise fatorial.
▪ Diferente do DSM, em que o constitui ou não a patologia resulta, em larga medida, do
acordo entre clínicos.
❖ O que distingue uma criança de uma amostra normativa, de uma criança de uma amostra clínica é a
frequência dos problemas comportamentais que fazem parte de uma ou mais síndromes.
⬥ Assim, o que parece diferenciar o comportamento normal do patológico é a frequência e a
intensidade das queixas, muito mais do que o tipo de comportamento por si só.

❖ O modelo ASEBA valoriza os aspetos contextuais: avalia e perceção dos diferentes informadores (pais,
professores, criança/adolescente) e considera a dimensão das competência (a nível escolar, social e de
atividades).
⬥ A solução dimensional resolve problemas levantados pelo diagnóstico categorial:
▪ O problema da comorbilidade
▪ O problema do tratamento de casos subclínicos
▪ A natureza adultocêntrica do DSM
⬥ A solução empírica propõe três níveis distintos de análise:
▪ Problemas comportamentais específicos (itens, p.e., rouba)
▪ Subescalas ou fatores resultantes da análise fatorial (p.e., comportamento delinquente)

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Introdução a Avaliação Psicológica

▪ Agregação das subescalas em pontuações de internalização e de externalização (obtidas


a partir de uma análise fatorial de 2ª ordem)

❖ É o sistema de avaliação psicológica mais usado e pesquisado no mundo.


⬥ Foi traduzido em mais de 85 línguas.
⬥ É amplamente citado na literatura internacional.

Objetivos

❖ Avaliar problemas comportamentais, emocionais e sociais;


❖ Competências e funcionamento adaptativo do sujeito

Instrumentos incluídos

❖ O modelo ASEBA funciona como processo estruturado de recolha de informação, não inviabilizando,
portanto, a elaboração de um diagnóstico formal categorial.
❖ Os questionários da bateria ASEBA podem ser utilizados em diferentes contextos, para:
⬥ Definir uma linha de base sobre o funcionamento da criança/Adolescente e aferir se há
necessidade de intervenção
⬥ Identificar problemas e desvios em relação à norma
⬥ Determinar se há necessidade de aprofundar a avaliação
⬥ Auxiliar na identificação de continuidades e descontinuidades no funcionamento das crianças,
em função aos contextos

❖ Instrumentos
⬥ CBCL (Child Behavior Checklist) - pais
⬥ TRF (Teacher’s Report Form) – professores
⬥ YSR (Youth Self-Report) – criança/adolescente
⬥ DOF (Direct Observation Form) – para observação do comportamento da criança/adolescente
⬥ SCICA (Semistructured Clinical Interview for Children and Adolescents) – criança/adolescente

⬥ A CBCL e a TRF podem ser preenchidas por todos os adultos significativos que interagem com a
criança.
▪ Ajudam os profissionais a documentar as semelhanças e as diferenças relatadas no
comportamento da criança/adolescente.
⬥ A YSR é preenchida pelo próprio adolescente, para documentar as semelhanças e diferenças na
forma como o jovem se vê a si próprio e o modo como os outros o percecionam.

❖ Escalas orientadas pelo DSM-5


⬥ O modelo ASEBA viabiliza a adoção de uma perspetiva assente num sistema de diagnóstico
formal, mais utilizado atualmente: o DSM-5
▪ A investigação suporta a existência de associações significativas entre os critérios de
diagnóstico do DSM e os resultados das escalas da bateria ASEBA
▪ Contudo, a força desta associação depende de diversos fatores:
● A formação e orientação teórica de quem faz o diagnóstico;
● A idade da criança que está a ser avaliada;
● Os tipos de problemas apresentados pela criança;
● A informação em que se baseia o diagnóstico;
● A forma como os dados são obtidos e relacionados
● As escalas de síndromes utilizadas para realizar o diagnóstico.

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Introdução a Avaliação Psicológica

❖ Assim,
⬥ As escalas de avaliação do comportamento são elementos fundamentais da avaliação,
principalmente em crianças e adolescentes.
⬥ O modelo ASEBA fornece uma estrutura integrada de avaliação de contextos e competências,
oferecendo uma avaliação multidimensional
⬥ A avaliação a partir dos instrumentos incluídos na ASEBA permite:
▪ Caracterizar a base de funcionamento da criança/adolescente e aferir se há necessidade
de intervenção;
▪ Identificar problemas e desvios em relação à norma;
▪ Determinar o detalhe que é preciso dar à continuidade da avaliação;
▪ Auxiliar na identificação de agentes facilitadores e bloqueadores do comportamento
ajustado da criança/adolescente, em função dos contextos.

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CARACTERÍSTICAS PSICOMÉTRICAS DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

CONCEITOS DE PSICOMETRIA

Psicometria

❖ Os testes psicológicos incluem escalas (p.e., de inteligência, comportamentais), questionários (p.e.,


personalidade) ou inventários (p.e., de sintomas) e são constituídos por itens ou tarefas que incluem
perguntas (testes verbais), problemas a resolver ou manipulação de objetos (nos testes de desempenho,
nos quais o sujeito deve efetuar um certo trabalho de manipulação, executar uma certa tarefa manual,
desenhar).
⬥ Os itens dos testes psicológicos servem de estímulo a respostas ou comportamentos.

❖ A estandardização subjacente ao uso dos testes psicológicos define com precisão as condições de
administração, cotação e interpretação das pontuações obtidas por cada sujeito viabilizando a
comparação dos seus resultados com os obtidos por diferentes indivíduos, com base em normas da
população à qual os indivíduos pertencem considerando variáveis como a idade e/ou a escolaridade,
permitindo assim caracterizar e classificar o sujeito examinado.

❖ A psicometria disponibiliza critérios rigorosos para a fundamentação científica dos testes psicológicos.
❖ O teste psicológico possui um manual técnico: uma publicação elaborada pelos investigadores e/ou
editores que desenvolveram ou adaptaram o teste e que proporciona informação quer relativa à
administração, cotação, interpretação e comunicação dos resultados, quer dados psicométricos relativos
ao desenvolvimento, normas e validação (clínica, educativa…) do instrumento.
⬥ As editoras de teste limitam o acesso a testes psicológicos comercializados de maior
complexidade e exigência de utilização e psicólogos considerando a sua formação e experiência
particulares com esses instrumentos.

❖ A utilização rigorosa de testes psicológicos exige formação especifica, treino supervisionado e certificação.
A exploração aprofundada das pontuações nos testes depende da qualidade dos dados de investigação
psicométrica relativa aos testes utilizados, mas, também, da competência inferencial e do saber do
psicólogo (p.e., diretrizes, linhas orientadoras, normas deontológicas, atualização, uso ético e responsável
dos testes).
⬥ Este quadro referencial contribui para identificar insuficiências das pontuações que devem ser
perspetivadas sempre que possível no âmbito de intervalos de confiança, bem como prevenir
utilizações abusivas.
⬥ As progressivas necessidades de avaliação justificam e explicam o desenvolvimento de novos
testes psicológicos.

❖ O método dos testes é um dos fundamentos da psicologia e um elemento distintivo do seu exercício,
estreitamento associado à identidade profissional dos psicólogos.

Estandardização

❖ Uniformização das condições de administração e cotação de um instrumento de avaliação


❖ Objetivo: assegurar que os instrumentos de avaliação sejam empregues de um modo objetivo, impedindo
que a subjetividade do psicólogo interfira sobre o resultado;
⬥ P.e.,
▪ Respeitar as instruções e a ordem de aplicação dos itens;
▪ Respeitar os limites temporais impostos nos itens/testes cronometrados;

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Introdução a Avaliação Psicológica

▪ Interromper a aplicação da prova após um determinado número, previamente fixado,


de insucessos;
▪ Respeitar os procedimentos de cotação.

Aferição

❖ Processo de adaptação/ajustamento de um instrumento de medida a uma população;


❖ Objetivo: estabelecimento de normas que permitam interpretar os resultados (assegurar a
comparabilidade e interpretação dos resultados brutos);
❖ As normas constituem parâmetros tanto mais adequados para avaliar e interpretar os resultados num
teste quanto mais a amostra de aferição for representativa da população à qual o teste se destina
(população-alvo)
⬥ Inclui a ideia de estudos de validação psicométrica

❖ Método da amostragem estratificada proporcional


⬥ Identificar as variáveis sociodemográficas que se sabe estarem relacionadas com aquilo que o
teste mede;
▪ No caso dos testes psicológicos (inteligência), procura-se identificar sobretudo:
● Idade, nível escolar, nível socioeconómico, nível cultural/educativo e
profissional do sujeito e dos seus progenitores, género, área de residência
(urbana, rural) e região geográfica, tipo de escola frequentada, doenças,
deficiências manifestadas.
⬥ Para cada uma destas variáveis são definidas as respetivas categorias ou estratos.
▪ Para cada categoria, são obtidas as percentagens de pessoas nelas englobadas na
população-alvo (censos nacionais, outras fontes disponíveis).
▪ Nas grandes aferições é impossível selecionar os sujeitos individualmente ao acaso, a
partir da população-alvo no seu todo ou mesmo de estratos específicos dessa
população.
● Neste caso, usar uma unidade de amostragem maior, as escolas, por exemplo.
● Avaliam-se todos os alunos das escolas selecionadas ou procede-se a uma
seleção ao acaso dentro das escolas.

QUALIDADE DE UM INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Fidedignidade/Confiabilidade/Fiabilidade/Precisão

❖ Um instrumento é considerado fiável quando os seus resultados estão isentos de erros de medida
ocasionais, não sistemáticos.
⬥ Preocupa-se com a consistência/concordância entre duas pontuações independentes.
⬥ Traduz o grau de confiança que é possível ter nos resultados de um instrumento de avaliação.

❖ Erro de medida (um teste nunca é 100% fidedigno)


⬥ O resultado verdadeiro + o erro de medida = resultado observado
⬥ Variância do erro
▪ Intervalo de flutuação resultante de fatores casuais (seleção dos itens; disposição do
respondente; temporalidade) vs. em que medida as alterações verificadas se devem a
alterações do respondente (nas variáveis medidas).
● Que percentagem da variância é variância de erro?
▪ Fontes de variância do erro
● Construção (p.e., ambiguidade dos itens)
● Administração

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Introdução a Avaliação Psicológica

● Cotação

❖ Critérios de estimação:
⬥ Estabilidade temporal
▪ Teste-reteste
● Pretende-se saber em que medida o instrumento de avaliação (teste, p.e.)
proporciona os mesmos resultados quando ele é administrado ao mesmo
grupo de sujeito em momentos diferentes (método do teste-reteste).
● Cálculo da correlação de Pearson entre dois conjuntos de resultados.
o O coeficiente de estabilidade varia entre -1 e +1
o O intervalo de tempo entre duas aplicações da mesma prova ao
mesmo grupo de sujeitos é variável: 1 semana, 2 semanas, 1 mês, 1
ano.
o O valor do coeficiente de estabilidade tende a diminuir com o
aumento do intervalo de tempo entre as duas aplicações.
▪ Coeficiente de correlação
● Expressa o grau de relacionamento entre duas pontuações independentes;
● Coeficiente de correlação de Pearson (p);
▪ O método da estabilidade temporal considera apenas uma fonte de erro da medida: a
que está associada aos diferentes momentos de aplicação da prova.
▪ Quanto maior a correlação menos suscetível o teste é de ser influenciado por mudanças
externas.
● Qual o intervalo de tempo ideal entre o teste e o reteste?
o Depende da estabilidade do construto/da variável em análise.
⬥ Consistência interna
▪ Grau em que diferentes partes de um instrumento de avaliação, administrado num
determinado momento, proporcionam resultados homogéneos (consistentes) entre si.
● Pode ser estimada através do:
o Coeficiente alfa de Cronbach (variáveis ordinais)
▪ O coeficiente alfa corresponde à correlação estimada entre o
teste e um outro teste hipotético, do mesmo tamanho,
proveniente do mesmo universo de itens.
▪ O resultado neste índice é tanto mais elevado:
● Quanto mais homogénea for a prova (ou seja,
quanto mais elevadas foram as correlações entre os
itens);
● Quando maior for o tamanho da prova (número de
itens presentes)
o Método da bipartição
▪ Consiste em dividir o teste em duas metades e determinar a
correlação entre elas (entre itens pares e itens ímpares, por
exemplo).
▪ Resultado é corrigido pela fórmula de Spearman-Brown.
● Um valor de consistência interna superior a 0,7 é considerado aceitável.
⬥ Acordo entre avaliadores
▪ Consiste na aplicação e cotação do mesmo instrumento por diferentes profissionais. A
obtenção de resultados concordantes fornece um importante indiciador de
fidedignidade do instrumento.

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Introdução a Avaliação Psicológica

●Examina as fontes de erro que ocorrem aquando da aplicação de um


instrumento de avaliação e que são devidas ao examinador.
● Cálculo do coeficiente de correlação entre os resultados obtidos por dois ou
mais examinadores, quando aplicam a mesma prova aos mesmos sujeitos.
o O coeficiente de acordo varia entre -1 e +1 (acordo perfeito)
⬥ Formas equivalentes
▪ Forma alternada
● Consistência de resposta a diferentes amostras de itens.
● Se a correlação é elevada, sabemos que as diferentes formas são confiáveis,
pois a pontuação não depende da seleção de itens.
o Como podemos garantir que formas são equivalentes?
▪ Se aplicarmos as duas formas de modo consecutivo,
poderemos correlacionar o desempenho nas duas formas.
▪ Split-half (método das metades)
● Neste método, o teste é dividido em metades equivalentes e é testada a
correlação entre estas.
● Confiabilidade do conteúdo.
o Como pode ser feita a divisão?
▪ P.e., itens pares/ímpares

❖ Variáveis que afetam a fiabilidade


⬥ Intervalo teste-reteste
▪ Quando menos o intervalo de tempo entre as duas administrações de um instrumento
de avaliação (ou de formas equivalentes), menor a hipótese de mudança e mais elevada
a fidedignidade.
⬥ Respostas ao acaso
▪ A fidedignidade é tanto maior quanto menos sujeitos responderem aos itens ao acaso.
⬥ Variabilidade dos resultados
▪ Valores mais elevados de fidedignidade são obtidos com amostras heterogéneas
(amostras que tem um grande variabilidade dos resultados)
▪ Valores mais reduzidos são obtidos a partir de amostras muito homogéneas (amostras
que tem uma variância muito reduzida).
⬥ Variações na situação de teste
▪ A fidedignidade é tanto maior quanto menos variações ocorrerem na situação de teste
(falta de motivação, erros de cotação, incompreensão das instruções)
⬥ Tamanho do teste
▪ “um bom teste é um teste longo”

Validade

❖ O que mede o teste?


❖ Quão bem mede o que se propõe medir?
⬥ Adequação das inferências realizadas a partir dos resultados dos testes ou outras formas da
avaliação.
⬥ Wechsler Adult Intelligence Scale-III
⬥ Minnesota Multiphasic Personality Inventory-2
⬥ Hamilton Rating Scale for Depression
⬥ State-Trait Anxiety Inventory
❖ Qual o objetivo do teste?
⬥ Tradicionalmente apto/inapto

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Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Posteriormente predição
❖ Inclui todos os aspetos do conceito a medir?
⬥ Uma medida válida é aquela que inclui diversos aspetos ou facetas, refletindo o peso de cada
uma da medida global.
❖ Possibilidade de a escala refletir outras variáveis/conceitos.

❖ A validação de um instrumento corresponde a um processo dinâmico e, por isso, qualquer instrumento


nunca está definitivamente validado.

❖ Tipos de validade
⬥ Validade aparente/facial
▪ O que parece o teste medir?
▪ Importante para:
● Criar rapport e aceitação da parte dos respondentes;
● Aceitação pública do teste
⬥ Validade de conteúdo
▪ Análise feita por especialistas, para determinar se o teste corresponde às especificações
pormenorizadas daquilo que pretende medir.
▪ Importante para:
● Identificar se a prova tem conteúdo irrelevante;
● Identificar se a prova avalia todas as facetas do conteúdo que pretende medir
⬥ Validade de critério
▪ A validade, baseada na predição de um critério, indica a eficácia do teste de avaliação
em predizer um desempenho individual específico (p.e., inteligência e desempenho
escolar)
● Contaminação do critério
▪ Validade preditiva
● Mede a capacidade de o teste prever um determinado comportamento.
● Útil em contextos onde queremos prever o comportamento
o P.e., recrutamento e seleção; avaliação de risco; prognósticos.
▪ Validade incremental
● Quando acrescentamos novos preditores, quanto é que estes explicam do
critério?
▪ Validade concorrente
● Tem como objetivo o diagnóstico da situação atual
● Sendo relativa a um critério, difere da validade preditiva, uma vez que a
medida do preditor e critério ocorre ao mesmo tempo.
⬥ Validade de construto (convergente e discriminante; análise fatorial)
▪ A validade de construto é um julgamento acerca do quão apropriadas são as inferências
extraídas a partir das pontuações de um teste.
● Requer a acumulação gradual de evidência (informação) proveniente de
múltiplas fontes.
● É o grau em que o teste mede um determinado traço psicológico observável;
● Grau em que o resultado da prova está relacionado significativamente com o
comportamento observável;
● É o tipo de validade mais abrangente e compreensivo uma vez que inclui os
estudo quer da validade de conteúdo, quer da validade empírica a critérios
externos.
▪ Evidência sobre a homogeneidade

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Introdução a Avaliação Psicológica

● As pontuações médias nas dimensões do construto apresentam uma


correlação elevada com a pontuação média do construto
▪ Evidências de mudanças com a idade
● É esperado que determinados domínios (p.e., inteligência) sofram mudanças.
Logo, um teste válido deverá refletir essas mudanças.
▪ Evidências de mudanças entre pré e pós-teste
● O teste deve ser sensível a mudanças que resultam de intervenções (p.e.,
educação formal; psicoterapia; experiência profissional) entre os momentos de
pré e pós-teste
▪ Evidências de grupos contrastantes
● Os scores nos testes variam entre grupos com características distintas (p.e.,
atitudes face à diversidade cultura, entre jovens de diferentes espetros
políticos/ideológicos).

▪ Validade convergente
● Podemos dizer que um construto tem validade convergente quando as
pontuações obtidas apresentam uma correlação elevada (no sentido previsto)
com testes similares.
▪ Validade discriminante
● Um construto tem validade discriminante quando apresenta uma correlação
nula (sem significância estatística) com os scores de outros construtos/variáveis
com os quais não é expectável (teoricamente) que exista uma correlação.
▪ Análise fatorial
● Conjunto de procedimentos matemáticos utilizados para identificar
fatores/características/dimensões nas quais as pessoas podem diferir.
● Exploratória
o Implica a estimação/extração de fatores, decidindo quantos fatores
devem ser retidos.
● Confirmatória
o É testado o ajustamento de uma estrutura fatorial que deriva de uma
proposição teórica.

Sensibilidade

❖ Proporção de pessoas com a condição/perturbação alvo que têm resultado positivo no teste.

Especificidade

❖ Proporção de pessoas sem a condição/perturbação alvo que têm resultado negativo no teste.

Responsividade

❖ Sensibilidade à ocorrência de verdadeiras alterações no estado do sujeito, em oposição a


flutuações/variações aleatórias (erro) a que o teste não deve ser sensível.

Poder preditivo positivo

❖ Proporção de pessoas com resultado positivo no teste que têm a condição alvo

Poder preditivo negativo

❖ Proporção de pessoas com resultado negativo no teste que não têm a condição alvo.

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MODELOS TEÓRICOS EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

❖ Teorias
⬥ Visão do mundo/ponto de vista adotado para olhar a realidade.
⬥ Tentativas sistemáticas de explicar fenómenos, postulando as relações entre esses fenómenos e
um certo número de variáveis explicativas, também elas relacionadas entre si
⬥ Etimologicamente, quer dizer “ver” (tarefa prática de “dar a ver”).
❖ Modelos
⬥ Abordagens conceptuais/conceções particulares acerca dos fenómenos
⬥ Mais particularizados que a teoria, mais específicos, representativos de uma realidade bem
determinada, restringindo a objetivos limitados e bem determinados.
▪ A teoria assegura a coerência do modelo.
⬥ Modelos de avaliação psicológica
▪ Existência de diferentes teorias: categorias distintas de entendimento, diferentes
maneiras de conceber a realidade psicológica
● Pluralidade de registos de avaliação
● Nenhuma teoria e/ou modelo de avaliação consegue lidar com todos os níveis
de análise e não existe um nível adequado de análise único
(incompletude/diversificação)
● Mas cada escolha é uma “implicação” – referenciação que “age” sobre o
avaliador/guia a ação de avaliação
● Problematização/interrogação

MODELOS DE AVALIAÇÃO CENTRADOS NA PESSOA

❖ Ênfase avaliativa centrada no que o sujeito é, o que a pessoa tem, as variáveis inerentes ao organismo
⬥ P.e., o modelo situacional salienta o que o sujeito faz
❖ O objetivo da avaliação é captar a essência da pessoa (aquilo que ela é) com a máxima precisão possível

❖ A conduta é um “sinal”, reflexo externo de variáveis subjacentes/internas (que não podem ser
apreendidas diretamente, mas que determinam o comportamento do sujeito)
⬥ A conduta é relativamente estável, através do tempo e das situações (devido à existência de
traços, fatores, estruturas psicológicas, estruturas de personalidade – construtos hipotéticos com
elevado grau de abstração e possibilidades de operacionalização).
⬥ A conduta é determinada pela organização interna dos traços/fatores (forte componente
constitucional).

Modelo psicométrico, dos traços ou atributos

❖ A conduta está/é determinada pela organização interna dos traços (variáveis internas/construtos
hipotéticos – capacidades, atributos, traços de personalidade, fatores, etc.) do sujeito que têm uma forte
componente constitucional
❖ As respostas do sujeito são interpretadas como “sinais” da variável interna que se procura analisar
⬥ Fator g (Spearman)
⬥ Temperamento (traços temperamentais; traços dinâmicos – motivos (Cattell); fatores de
personalidade – neuroticismo, extroversão, psicoticismo (Eysenck))

❖ Autores principais: Galton, Cattell, Binet, Eysenck, Guilford, Kline


❖ Uso de testes psicológicos e de indicadores, como a Idade Mental (IM), Quociente Intelectual (QI)
⬥ Quantificação dos aspetos psicológicos

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Introdução a Avaliação Psicológica

❖ Objetivo: identificar a estrutura global de personalidade (análise do conjunto de traços que compõem
esse estrutura)
❖ Perspetiva nomotético: determinar leis gerais (análise tendo como referência um grupo normativa)
❖ Metodologias: modelo correlacional, análise fatorial, quantificação de traços ou dimensões relativamente
a um grupo normativo
⬥ Questionários de personalidade; inventários de interesses; escalas e testes de inteligência;
matrizes progressivas de Raven
❖ Objetivo: descrição (identificar as características mais importantes do comportamento do sujeito a partir
dos dados obtidos através de diferentes técnicas de avaliação); classificação (a organização da informação
em função de critérios previamente estabelecidos); predição (estabelecer a previsão probabilístico de
uma conduta futura a partir da conduta atual);
❖ Principal problema/debate: consistência e estabilidade vs. inconsistência e especificidade do
comportamento

Modelo psicodinâmico/psicanalítico

❖ A conduta é determinada por instâncias intrapsíquicas e pulsões/instintos.


⬥ O comportamento é função do organismo (incluindo este elementos fisiológicos e funções
psíquicas, cujas perturbação é a causa dos sintomas neuróticos, psicóticos e histéricos).
⬥ Aparelho psíquico: psiquismo é composto por uma série de instância ou sistemas,
absolutamente independentes da anatomia real do cérebro.

❖ Autores: origem nos trabalhos de Freud


❖ Objetivo
⬥ Análise da estrutura intrapsíquica do sujeito entendida como a resultante do equilíbrio dinâmico
entre diferentes instâncias (etiologia do comportamento)
⬥ Ênfase na história passada (importância da história única, das elaborações mentais/subjetivas, do
motivo latente)
❖ Metodologias
⬥ Método indutivo (a partir das observações clínicas), técnicas clínicas, avaliação idiográfica
⬥ Entrevista livre ou semiestruturada, associação livre, análise dos sonhos, lapsos, técnicas
projetivas
❖ Principais problemas/debate
⬥ Determinismo fisicalista vs. conceção probabilística;
⬥ Cientificidade do modelo/”imune” à refutabilidade, por exemplo;
⬥ A problemática da redução de tensão, por exemplo.

❖ A avaliação psicológica desenvolve-se em tornos em três eixos:


⬥ Sistema dinâmico da conduta (pulsões – redução da tensão; mecanismo de defesa)
⬥ Organização ou estrutura da personalidade (conceção topográfica: conduta consciente, pré-
consciente e inconsciente; conceção estrutural: id, ego e superego)
⬥ Etapas do desenvolvimento (estádios pré-genitais, dos 1 aos 3 anos; estádio do complexo de
édipo, dos 4 aos 7 anos; período de latência, dos 7 aos 12 anos; período genital, puberdade e
adolescência)

Modelo fenomenológico, humanista, existencial

❖ O homem é concebido como um ser com um potencial de crescimento/desenvolvimento positivo, com


capacidade inata e criatividade que o impele para a autorrealização, autoatualização e aperfeiçoamento
(permite recriar-se a si próprio e permite a mudança)
⬥ Homem como ser holístico

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Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Ênfase na consciência de si mesmo e na capacidade de escolha


⬥ Valorização das perceções e experiências subjetivas
▪ Significado atribuído aos acontecimento da realidade, do mundo, das relações com o
outro
▪ Modo como o indivíduo se percebe a si próprio, imagem de si, autoconceito
⬥ Eu real vs. eu ideal
⬥ Primado dos aspetos dinâmicos da conduta relativamente aos aspetos permanentes ou
estruturais (self, organismo, conduta)

❖ Autores: Carl Rogers, influências da psicologia individual, gestalt e existencialismo


❖ Metodologia/processo avaliativo:
⬥ Autoavaliação;
⬥ O essencial é a relação de compreensão empática e de aceitação incondicional;
⬥ Entrevista livre ou não estruturada, incluindo a análise de conteúdo;
⬥ As técnicas projetivas e as provas psicométricas são utilizadas apenas num contexto de
investigação.
❖ Principal problema/debate
⬥ Há avaliação neste modelo?
⬥ Ver: autoavaliação psicológica por parte do sujeito; avaliação no estudo da mudança operada no
autoconceito do sujeito

❖ A avaliação centra-se não naquilo que a pessoa é, mas no potencial que tem para chegar a ser.

MODELOS DE AVALIAÇÃO CENTRADOS EM VARIÁVEIS DA SITUAÇÃO

Modelo comportamental (behaviorismo radical)

❖ Pressupostos conceptuais básicos


⬥ Apenas aceita análise de conduta direta/observável
⬥ Relações funcionais estímulo-resposta
⬥ Comportamento é função da situação, tal como a conduta manifesta
⬥ Ambiente: força autonomia que modela automaticamente e controla a conduta (Bandura)
▪ Uma pessoa não atua sobre o mundo, o mundo não atua sobre ela
❖ Unidades de análise
⬥ A conduta manifesta é suscitada pelas situações.
⬥ Estabelecimento de relações funcionais em termos de leis de aprendizagem
⬥ A conduta é entendida como uma amostra representativa do reportório comportamental que
cada sujeito possui
⬥ Para explicar (e captar) a conduta não é necessária recorrer a construtos hipotéticos; todas as
variáveis intrapsíquicas, tudo o que provém do organismo que não possa ser expresso por
movimentos objetiváveis e mensuráveis, deve ser esquecido.
⬥ Especificidades da conduta em função da similitude das situações
⬥ Medida da mudança é idiográfica (intra-sujeitos) não nomotética (inter-sujeitos)

❖ Aspetos metodológicos
⬥ Observação e experimentação
❖ Objetivos da avaliação
⬥ Predição e controlo da conduta;
⬥ Fases
▪ Avaliação: pré-intervenção (baseline)

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Licenciatura em Psicologia | 3º ano | 2º Semestre
Introdução a Avaliação Psicológica

▪ Pós-intervenção (valorização/apreciação do tipo de intervenção)


❖ Críticas
⬥ Reducionismo, porque elimina os processos internos como unidade de estudo.
▪ Deste modo, são os processos mentais superiores que são excluídos do campo de
investigação.
⬥ A investigação centra-se, assim, em manifestações comportamentais muito moleculares.
⬥ Perde de vista a conceção global do homem
⬥ Entre o estímulo e a resposta ocorrem muito mais coisas do que imaginavam os
comportamentalistas
⬥ Papel excessivo atribuído aos reforços como determinantes da conduta
❖ Vantagens
⬥ Rigor metodológico;
⬥ Desmitificação perturbações psicopatológicas

Modelos mediacionais

❖ Fatores internos (para além das variáveis ambientais) ocupam um papel importante na determinação da
conduta e devem, por isso, ser estudados e analisados.
o Variáveis intervenientes
▪ Motivação
▪ Jogo
▪ Experiências estéticas
o Estímulos, respostas, consequências cobertas/internas vs. intermédias, construtos hipotéticos

❖ Aspetos metodológicos
o Inventários de autorresposta ou autorrelato (meios de acesso no conhecimento de expectativas
e valor do reforço).
o Questionários específicos e criticados por causa do pouco rigor.

MODELOS DE AVALIAÇÃO CENTRADOS NA PESSOA E NA SITUAÇÃO: PERSPETIVA INTERACIONISTA

Modelo cognitivo-comportamental

❖ A conduta é função de um processo contínuo e dinâmico de interação multidirecional (interação de várias


da pessoa e da situação)
⬥ Ênfase no estudo dos processos cobertos/internos
⬥ As variáveis do ambiente ou situacionais incluem as variáveis reais e as percebidas.

❖ A atividade cognitiva do sujeito desempenha um papel importante/ativo no desenvolvimento de condutas


adaptativas (ou inadaptadas) e na criação de padrões afetivos
⬥ Relevância de crenças, atribuições, expectativas, auto-verbalizações
⬥ Análise de padrões de pensamento, pensamentos irracionais, autoinstruções.

❖ Autores: Beck, Cautela, Ellis, Kelly, Mahoney, Meichenbaum


❖ Aspetos metodológicos: observação/introspeção, autorrelatos, auto-registos/monitorização

❖ A avaliação centra-se na análise dos processos cognitivos inadaptados

MODELO DE AVALIAÇÃO BASEADO NA PSICOLOGIA COGNITIVA

Perspetiva piagetiana

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Introdução a Avaliação Psicológica

Avaliação neuropsicológica

Processamento de informação

MODELO CONSTRUTIVISTA, INTERPRETATIVO, HERMENÊUTICO OU QUALITATIVO

❖ Contraria as versões realistas e objetivistas da ciência (questionar o sentido de objetividade, introduzindo


algum relativismo e subjetividade)

❖ O conhecimento (autoconhecimento) resulta de um processo provisório de aproximação constante.


⬥ Todo o conhecimento é interpretativo.
⬥ Não existem verdades absolutas universais.
▪ Probabilidade e viabilidade
▪ Argumentação/diálogo
❖ Importância dos significados e da interpretação (o sujeito é participante ativo na investigação da sua
história de vida e a interpretação é parte da sua história/narrativa)

❖ Visa compreender a ação humana (motivos, valores, crenças, atitudes, intenções, desejos, necessidades e
planos) > processo de construção pessoal e de significado.

❖ A psicoterapia centra-se na reconstrução do sistema de significados pessoais do sujeito.


❖ Metodologias
⬥ Descrição qualitativa, modos narrativos de exposição, análise de caso, entrevistas interativas,
“diários pessoais”
❖ A avaliação não se deve limitar à consideração de défices, mas também de aspetos positivos,
competências, “áreas fortes”.

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Introdução a Avaliação Psicológica

PROCESSOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

TÉCNICAS PROJETIVAS

❖ Permitem explorar personalidade humana, vista como uma estrutura básica e estável, organizada de
forma idiossincrática
⬥ A ambiguidade dos estímulos apresentados permite espelhar a personalidade do respondente;
⬥ Análise das respostas é qualitativa/global

❖ Existem 5 grupos de técnicas projetivas


⬥ Estruturais: recorrem à utilização de material visual pouco estruturado (p.e., Rorschach);
⬥ Temáticas: material visual com diferentes graus de estruturação cuja tarefa é narrar uma história
(p.e., Teste de Aperceção Temática);
⬥ Expressivas: desenho de figuras (p.e., Desenho da Figura Humana);
⬥ Construtivas: material concreto que o sujeito deve organizar;
⬥ Associativas: tarefa verbal/escrita de associar ou completar palavras, frases, contos…

MEDIDAS DE AUTORRELATO

❖ Autorrelato permite inferir sobre a informação armazenada e/ou obter informação sobre o evento atual.
⬥ Sujeito fornece informação verbal sobre:
▪ Comportamento motor;
▪ Respostas fisiológicas;
▪ Pensamentos/cognições;
▪ Emoções;
▪ Experiência subjetiva na relação com comportamentos.
▪ Auto descrição;
▪ Atribuição causal;
▪ Estratégias de resolução de problemas;
▪ Descrição narrativa de eventos pessoais;
▪ Expectativas futuras, planos, projetos, etc.
⬥ Acessibilidade: o autorrelato depende da acessibilidade do sujeito à informação (memória curto
e longo prazo)
⬥ Contrastabilidade: em algumas tipologias de informação é possível verificar a sua veracidade
recorrendo a outras técnicas (observação, medidas psicofisiológicas).
▪ Quando o autorrelato é sobre pensamentos/cognições, assume-se como a vida de
acesso direto.

Procedimentos para recolha de autorrelatos

❖ Questionários, inventários e escalas


⬥ Questões e posicionamento do sujeito face a questões;
⬥ Ordenar um conjunto de afirmações por preferência.
⬥ Escalas de resposta (intervalar).
❖ Auto registo
⬥ Implica estar ciente do próprio comportamento e registá-lo;
⬥ Técnica semiestruturada onde estão definidos comportamentos a registar e condições em que
tal deve ser feito;
⬥ É anotado no momento em que se produz o comportamento.
⬥ Pode ser realizado através de:
▪ Lápis e papel;
▪ Contador de respostas;

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Introdução a Avaliação Psicológica

▪ Dispositivo de tempo;
▪ Dispositivos eletrónicos.
❖ Pensar em voz-alta
⬥ Verbalizar pensamentos/sentimentos ao mesmo tempo que realiza uma dada tarefa;
⬥ Amostra de pensamentos: o psicólogo seleciona um intervalo de tempo (de uma sessão
experimental) sobre o qual o avaliado se deverá pronunciar;
⬥ Registo de eventos: o próprio avaliado assinala algo que considera relevante.
❖ Entrevista
❖ Autobiografia
⬥ Baseada no modelo construtivista representa uma técnica de avaliação da subjetividade, através
da análise narrativa do sujeito.
▪ Expressão narrativa da vida de uma pessoa interpretada e articulada por ela própria
▪ O sujeito expressa, descreve, explica e interpreta a sua experiência subjetiva ao longo
do ciclo de vida.
▪ Tem, muitas vezes, um objetivo terapêutico ao invés de (estritamente) de avaliação.
● Reminiscência.
▪ Outras aplicações: linha da vida.

REGISTOS PSICOFISIOLÓGICOS

❖ Respostas corporais contêm informação relevante para conhecermos uma dada realidade.
⬥ A perceção, pensamento e ação humana repercutem-se em fenómenos físicos.
⬥ Variante objetiva da observação
❖ Psicofisiologia enquanto área de interface entre comportamento e fisiologia do organismo humano

❖ São importantes em diferentes momentos:


⬥ Operacionalização das hipóteses;
⬥ Planificação do tratamento/intervenção;
⬥ Avaliação da intervenção (monitorização)
▪ Artificialidade da situação e validade ecológica.

❖ Embora escondidas, podem ser observáveis graças aos equipamentos que permitem a sua deteção,
amplificação e registo
⬥ Mobilidade dos aparelhos utilizados e naturalidade da observação

❖ Podem ser:
⬥ Periféricas
▪ Resposta eletromiográfica (EMG)
● Avalia nível geral de ativação do organismo, expressões faciais, etc.
● Avalia a atividade elétrica dos músculos estriados;
▪ Movimentos oculares (EOG)
● Atividade resultante da fixação/seguimento visual de um estímulo;
▪ Respiração (profundidade e ritmo)
▪ Atividade cardiovascular
● Ritmo cardíaco
● Volume de contração
● Output cardíaco: ritmo x volume de contração
▪ Temperatura corporal
▪ Excitação sexual
● Útil no tratamento de disfunções

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Introdução a Avaliação Psicológica

● Pletismografia peniana
▪ Respostas eletrodérmicas
● Atividade pré-secretora das glândulas sudoríparas
▪ Respostas pupilográficas
● Mede o tamanho da pupila, que representa um indicador do grau de ativação
emocional
⬥ Centrais
▪ Técnicas eletromagnéticas
● Eletroencefalograma
o Regista a atividade cerebral, através da colocação de elétrodos no
couro cabeludo
● Potenciais evocados
o Sinais elétricos em resposta a um estímulo (sensitivos, visuais,
auditivos)
● Magnetoencefalografia
o Mede o magnetismo gerado pela atividade elétrica do cérebro

❖ Registo das respostas psicofisiológicas


⬥ Deteção do sinal
⬥ Transformação (em sinal elétrico)
⬥ Amplificação do sinal
⬥ Registo
⬥ Conversão (que permita a análise)

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Introdução a Avaliação Psicológica

ÉTICA E DEONTOLOGIA EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

❖ O processo de avaliação psicológica é marcado por um conjunto de julgamentos e tomadas de decisões.


⬥ P.e., que construtos medir? Que instrumentos utilizar? Quando terminar a procura por novas
informações?
❖ Os avaliadores desenvolvem e mantêm um reportório de estratégias de raciocínio, de processamento de
informação: heurísticas, esquemas de conhecimento, representações cognitivas.
⬥ Permitem filtrar, simplificar e organizar a informação e elaborar as apreciações e inferências que
vão servir de suporte aos processos de avaliação, diagnóstico e intervenção.
⬥ Guiam os julgamentos e tomadas de decisão;
⬥ Podem conduzir a enviesamentos cognitivos e à existência de erros.

⬥ Recolher mais informações


▪ Acumulação reduz incerteza
▪ Informação inconsciente pode ser útil
⬥ Terminar o processo de recolha
▪ Informação redundante leva ao encerramento do processo
▪ Informação redundante reforça decisão

CONSIDERAÇÕES LEGAIS E ÉTICAS

❖ Preocupações do público
⬥ Desconhecimento/desconfiança face à utilização de testes
❖ Preocupações dos profissionais
⬥ Qualificações dos avaliadores (test-user)
⬥ Avaliação de pessoas com deficiência
⬥ Administração, cotação e interpretação de testes de forma computorizada
❖ Direitos dos avaliados
⬥ Direito ao consentimento informado
⬥ Direito de ser informado dos resultados dos testes
⬥ O direito à privacidade
⬥ O direito ao mínimo de estigmatização possível
⬥ O direito à manutenção da confidencialidade dos resultados

ÉTICA

❖ Estudo teórico dos princípios que governam as nossas escolhas e práticas;


❖ Reflexão sobre porque é que consideramos determinadas condutas e normas como válidas
o Máximo esforço de cada um no sentido de esclarecer, perante si mesmo, as ideias de bem e de
mal.
❖ Ética da convicção (ou dos deveres)
o Remete para as certezas morais, ou para a determinação absoluta do bem e que fazer de acordo
com os princípios.
❖ Ética da responsabilidade (ou dos fins)
o Associada à ponderação dos meios para alcançar certos resultados, à determinação do conteúdo
de fazer-bem em função de situações particulares;
o Obriga a ter em conta as consequências previsíveis da própria ação.

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Introdução a Avaliação Psicológica

DEONTOLOGIA

❖ Próxima da moral profissional, que propõe códigos de ação ou impõe respostas;


❖ Define leis, normas, imperativos e interditos (as margens da liberdade da profissão).

Código Deontológico

❖ Símbolo e instrumento de trabalho.


❖ Forma de melhorar a fundamentação, credibilidade/respeito e o reconhecimento público de uma
atividade profissional.
❖ Indispensável à dignificação do exercício de uma determinada profissão.
❖ Legitimação de práticas (com sanção às “más práticas”, afirmação do que é “bom” e útil”) vs. Sinal de
desencanto, desilusão, estratégia defensiva de natureza pessoal e corporativa.
❖ Descrições mais genéricas do que é possível
❖ Serve de linha orientadora geral do que é considerado ser uma prática psicológica responsável.

Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses

❖ Este código é um elemento de um edifício constitutivo da dimensão deontológica da Psicologia que será
construído de forma tripartida:
⬥ Legislação (capítulo VI da Lei n.º 57/2008 e demais legislação em vigor aplicável aos diversos
contextos e funções profissionais dos psicólogos.
⬥ O Código Deontológico.
⬥ As diversas linhas específicas de orientação (guidelines), a desenvolver ao longo do tempo, sobre
áreas de aplicação ou problemáticas particulares.

❖ Regulamento n.º 258/2011, nos termos do artigo 77º do Estatuto da Ordem dos Psicólogos Portugueses,
aprovado pela Lei n.º 57/2008, de 4 de setembro, a Ordem elabora, mantém e atualiza o código
deontológico dos psicólogos portugueses.
⬥ Artigo 3.º Atribuições
▪ São atribuições da Ordem dos Psicólogos Portugueses
● A defesa dos interesses gerais dos utentes;
● A representação e a defesa dos interesses gerais da profissão;
● A regulação do acesso e do exercício da profissão;
● Conferir, em exclusivo, os títulos profissionais;
● Conferir, nos termos do seu Estatuto, títulos de especialização profissional;
● A elaboração e a atualização do registo profissional;
● O exercício do poder disciplinar sobre os seus membros;
● A prestação de serviços aos seus membros, no respeitante ao exercício
profissional, designadamente em relação à informação e à formação
profissional;
● A colaboração com as demais entidades da Administração Pública na
prossecução de fins de interesse público relacionados com a profissão;
● A participação na elaboração da legislação que diga respeito à respetiva
profissão;
● A participação nos processos oficiais da acreditação e na avaliação dos cursos
que dão acesso à profissão;
● Quaisquer outras que lhe sejam cometidas por lei.
⬥ Preâmbulo

⬥ Princípios gerais

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Introdução a Avaliação Psicológica

▪ Princípio A: respeito pela dignidade e direitos da pessoa


▪ Princípio B: competência
▪ Princípio C: Responsabilidade
▪ Princípio D: Integridade
▪ Princípio E: beneficência e não-maleficência
● São, por natureza, aspiracionais, pretendem ser orientações para uma
acentuação centrada nos ideais de intervenção psicológica;
● São derivados da moral comum/compartilhada da psicologia pelos psicólogos
portugueses.
● Mesmo quando não decisivos, os princípios devem ser tomados em
consideração, uma vez que providenciam uma coerência intelectual que torna
as normas morais mais flexíveis.
● Constituem um conjunto de pressupostos de atuação consensuais na sua
aceitação, já que são construídos e inspirados nas características naturais da
pessoa.
● Um conjunto de princípios sentidos como intuitivamente corretos que se
flexibilizam na resolução de dilemas éticos.
● Quando os princípios estabelecidos entram em conflito, cabe ao profissional,
em última análise, decidir como resolver o dilema ético surgido, a partir do seu
raciocínio ético.
● Neste processo, os psicólogos podem, e devem, recorrer ao Código
Deontológico ou ao Direito. Devem informar-se sobre os procedimentos usuais
em circunstâncias idênticas, consultar a Comissão de Ética da instituição onde
trabalha, colegas e superiores hierárquicos.

⬥ Princípios específicos
▪ Consentimento informado
● Prática obrigatória
o Proporcionar descrição básica dos objetivos pretendidos com a
prestação de serviços de psicologia;
o Indicar o nome da pessoa que solicita os serviços de psicologia
(quando não se trata do próprio sujeito);
o Explicar os limites da confidencialidade;
o Explicar os serviços para os quais foi solicitado o consentimento
informado em termos compreensíveis.
● Para a avaliação, investigação, terapia
o Consentimento informado para serviços de reabilitação visto como um
contrato relativo a uma tentativa para restaurar o estado pré-mórbido
do paciente
o Direitos e dignidade da pessoa inclui o respeito pela
autodeterminação e autonomia do sujeito;
o Reconhecer e respeitar o direito de a pessoa fazer escolhas relativas a
si própria, mesmo quando o profissional não concorda com uma
decisão particular
o Direito de consentir ou recursar um tratamento ou procedimento
particular no pressuposto que o sujeito é competente para
compreender as escolhas e as respetivas ramificações.
● O consentimento informador é um processo de tomada de decisão partilhara
entre o paciente o psicólogo.

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Introdução a Avaliação Psicológica

● De um ponto de vista ético e moral, há algum consenso que o consentimento


informado se aplica sobretudo à intervenção psicológica.
o Esse acordo é menor em relação à avaliação psicológica em geral
● O Código de Ética não exige que o paciente dê consentimento informado para a
avaliação.
● Dilema
o Obter consentimento informador pode interferir com a validade da
avaliação psicológica (diminuição da participação ao tomar consciência
das potenciais consequências do seu envolvimento)
● Discutível pedir consentimento informado a pessoas cujos défices cognitivos
conhecidos impedem a sua capacidade para compreender, conceptualizar e
evocar informação importante relevante para a sua participação.
● Em populações vulneráveis, como os idosos, é difícil obter o consentimento
informado para investigação (quando estas pessoas não são “competentes”)
● Pacientes com lesão cerebral traumática/TCE severo apresentam
frequentemente uma capacidade diminuída para formular juízos relativos ao
seu tratamento e a decisões relacionadas com o tratamento.
▪ Privacidade e confidencialidade
▪ Relações profissionais
▪ Avaliação psicológica
● A avaliação psicológica corresponde a um processo compreensivo (abrangendo
áreas relacionadas com o pedido de avaliação e os problemas identificados) e
diversificado (recorrendo potencialmente a vários interlocutores e pode
assumir distintos objetivos, reconhece diferentes tipos de informações,
considera variados resultados).
● Pretende igualmente, ser um processo justo (reconhecendo e não penalizando
diferenças relativas a grupos minoritários, incluindo pessoas com deficiências
físicas, sensoriais, linguísticas ou outras fragilidades, a menos que sejam estas
variáveis a mensurar e considerando as consequências dos resultados).
● A avaliação psicológica concretiza-se através do recurso a protocolos válidos e
deve responder a necessidades objetivas de informação, salvaguardando o
respeito pela privacidade da pessoa.
o Natureza da avaliação psicológica
▪ A avaliação psicológica é um ato exclusivo da psicologia e um
elemento distintivo da autonomia técnica dos psicólogos
relativamente a outros profissionais

o Competência específica
▪ As técnicas e instrumentos de avaliação são utilizados por
psicólogos qualificados com base em formação atualizada,
experiência e treino específicos, exceto quando tal uso é
realizado, com supervisão apropriada, com objetivos de
treino ou formação.
o Utilização apropriada
▪ A utilização apropriada de técnicas e instrumentos de
avaliação refere-se à administração, cotação, interpretação
(incluindo o recurso a programas informáticos) e usos da
informação obtida, e requer investigação e evidência de
utilidade.

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Licenciatura em Psicologia | 3º ano | 2º Semestre
Introdução a Avaliação Psicológica

o Consentimento informado para a avaliação


▪ O psicólogo obtém consentimento informado para os
processos de avaliação ou diagnóstico, exceto quando estes
fazem parte das atividades de rotina institucional,
organizacional ou educacional, que correspondam a uma
solicitação regulamentada na lei ou pretendam identificar a
capacidade de tomada de decisão.
o Materiais de avaliação, sua proteção e segurança
▪ O psicólogo tem a responsabilidade de selecionar e utilizar,
de modo apropriado, protocolos de avaliação
suficientemente válidos, atualizados e fundamentados do
ponto de vista científico.
▪ Estes protocolos incluem entrevistas, testes e outros
instrumentos de recomendações e outros tipos de
comunicação.
▪ Os materiais e protocolos de avaliação, incluindo manuais,
itens e sistemas de cotação e interpretação, não são
disponibilizados aos clientes ou a outros profissionais não
qualificados.
▪ O psicólogo assegura a proteção e segurança dos materiais de
avaliação, prevenindo a sua divulgação para o domínio
público.
o Instrumentos
▪ O psicólogo utiliza instrumentos de avaliação que foram
objeto de investigação científica prévia fundamentada, e que
incluem estudos psicométricos relativos à validade e
fiabilidade dos seus resultados com pessoas de populações
específicas examinadas com esses instrumentos, bem como
dados atualizados e representativos de natureza normativa.
▪ O uso de instrumentos supõe um conhecimento rigoroso dos
respetivos manuais, incluindo o domínio de modelos teóricos
subjacentes, condições de administração, cotação,
interpretação bem como o conhecimento da investigação
científica atualizada.
o Dimensões da interpretação
▪ Na interpretação dos resultados, o psicólogo considera o
objetivo da avaliação, variáveis que os testes implicam,
características da pessoa avaliada (incluindo diferenças
individuais – linguísticas, culturais ou outras) e situações ou
contextos que podem reduzir a objetividade ou influenciar os
juízos formulados.
o Comunicação dos resultados
▪ O psicólogo proporciona explicações objetivas acerca da
natureza e finalidades da avaliação, bem como dos limites
dos instrumentos, resultados e interpretações formuladas à
pessoa ou seu representante legal, ou a outros profissionais
ou instituições a quem prestam serviços de avaliação, estes
últimos com o consentimento do cliente.

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Introdução a Avaliação Psicológica

▪ O cliente tem direito de acesso aos resultados da avaliação,


bem como informação adicional relevante para a sua
interpretação.
▪ Preferencialmente, o psicólogo faz uma entrevista de
devolução dos resultados da avaliação, prévia ao envio do
relatório, onde explicam os dados constantes no relatório e
possibilitam ao cliente a manifestação de dúvidas e o seu
esclarecimento.
o Fundamentação dos pareceres
▪ O psicólogo fundamenta a avaliação, as decisões relativas à
intervenção ou as recomendações em dados ou resultados de
testes reconhecidamente úteis e apropriados para os
objetivos gerais e específicos da avaliação.
o Relatórios psicológicos
▪ Os relatórios psicológicos devem ser documentos escritos
objetivos, rigorosos e inteligíveis para o destinatário,
procurando introduzir apenas informação relevante que
permita dar resposta às questões e pedidos de avaliação
considerados pertinentes.
▪ O psicólogo deve ponderar as consequências das informações
disponibilizadas nos relatórios psicológicos, considerar
criticamente o carácter relativo das avaliações e
interpretações, e especificar o alcance, limites e grau de
certeza dos conteúdos comunicados.
▪ Os relatórios incluem como elemento de identificação o
nome do psicólogo e o número da célula profissional.
o Relações profissionais
▪ Se o cliente pretender uma segunda opinião por parte de
outro psicólogo, dados mais completos de avaliação poderão
ser diretamente enviados a este último, para evitar
interpretações incorretas por parte do cliente e assegurar a
segurança e integridade dos materiais de avaliação.
▪ Prática e intervenção psicológicas
▪ Ensino, formação e supervisão psicológicas
▪ Investigação

Problemas/dilemas específicos no domínio da Avaliação Psicológica

❖ Avaliação Psicológica
⬥ Ato de prestação de serviços especializados
⬥ Identidade e domínio de competência dos psicólogos
⬥ Relação científica e profissional
⬥ Atividade “permanentemente em crise”, exercício complexo feito frequentemente em condições
de incerteza, associado à “produção de um discurso verdadeiro acerca do sujeito”

❖ Problemas/dilemas
⬥ A relação profissional positiva com o sujeito e a assimetria da relação;
⬥ A necessidade de investigação dada a ausência de instrumentos de referência convenientemente
estudados;
⬥ Critérios psicométricos subjacentes à seleção de métodos e instrumentos;

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Licenciatura em Psicologia | 3º ano | 2º Semestre
Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Quem pode/deve utilizar instrumentos de avaliação;


⬥ Acesso/divulgação de materiais;
⬥ Do “direito de saber” à comunicação mitigada dos resultados e à elaboração de relatórios
psicológicos;
⬥ Expectativas irrealistas das pessoas e de outros profissionais;
⬥ O uso de categoriais ou rótulos diagnósticos;
⬥ As contrapartidas do exame psicológico;
⬥ Confidencialidade da informação e privacidade;
⬥ Ensino/formação, competência profissional;
⬥ Prática ideal vs. prática possível;
⬥ Tempo da avaliação vs. tempo da instituição
⬥ A avaliação a partir de suportes informáticos.

⬥ Falta de proteção dos materiais de testing


▪ Fotocopiar uma página da folha de protocolo, como exemplo do desempenho do
sujeito, e anexá-la ao relatório (enviado à companhia de seguros, médico, advogado,
professor);
● Mesmo com o consentimento escrito do sujeito esta situação suscita questões
de natureza ética.
o P.e., violação da segurança dos materiais de testing
▪ Incluir itens de um instrumento de avaliação, a sua cotação e a sua interpretação num
livro, capítulo de livro ou artigo (prática largamente aceite na comunidade psicológica);
● Embora a publicação possa ser destinada a psicólogos, não há garantia que não
esteja acessível ou possa ser adquirida nas livrarias por não psicólogos;
● Tal como acontece com a maior parte dos testes, a venda destas publicações
(livros, revistas com instrumentos) deveria ser restringida a psicólogos que
fizessem a prova da sua situação profissional.
⬥ Disseminação do conhecimento relativo a um teste a pessoas não qualificadas
▪ Pode comprometer o valor desse teste (possibilidade de consequências nocivas
resultantes de interpretações incorretas da informação proveniente do teste formuladas
por não psicólogos);
⬥ Acesso livre ou facilitado a materiais de testing, utilização de instrumentos de avaliação
psicológica não restringida a profissionais de psicologia
▪ Depreciação dos instrumentos e da utilidade e valor discriminativo dos resultados
▪ Certificação de quem pode realizar a avaliação psicológica

⬥ Tensão entre direitos individuais e direitos institucionais


▪ O direito do saber
⬥ Dilma entre a necessidade de preservar a integridade profissional e o objetivo de colaboração
e cooperação interdisciplinar
▪ Dilemas éticos que ocorrem devido à falta de compreensão acerca da prática psicológica
por parte de outros profissionais
⬥ Competência, atualização de competências, reconhecimento dos limites de competência
▪ Nenhum psicólogo é necessariamente competente de utilizar todo e qualquer
instrumento de avaliação
▪ Não deve aceitar tarefas de avaliação quando não se encontrar suficientemente
preparado para a sua concretização;
⬥ Exame constante acerca do modo como o psicólogo produz/constrói as suas observações e
toma decisões

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Licenciatura em Psicologia | 3º ano | 2º Semestre
Introdução a Avaliação Psicológica

▪ Psicólogo: centro do processo de avaliação, é da sua responsabilidade a escolha,


aplicação, cotação e interpretação dos resultados.
⬥ Trabalho permanente de reflexão pessoal
▪ Sobre si próprio (autoavaliação/autoconhecimento)
▪ Acerca dos fundamentos, valor e sentido dos seus atos técnicos
▪ No mínimo, o psicólogo deve ser competente, objetivo, preocupado com os melhores
interesses do seu cliente, da profissão e da sociedade.
⬥ Expectativas lógicas que não são possíveis de satisfazer
▪ Valor mágico e completamente objetivo dos resultados nos testes;
▪ Conhecimento completamente objetivo do outro;
▪ Riscos de psicologização.
⬥ Falta de instrumentos de referência convenientemente atualizados, adaptados e aferidos para a
população portuguesa e com estudos junto de grupos específicos (apesar do progressivo e
sistemático incremento de instrumentos disponíveis).
▪ Não há verdadeira liberdade de escolha entre várias opções de avaliação apenas
teoricamente disponíveis (existem no estrangeiro, são relevantes, mas não há estudos
de adaptação entre nós).
⬥ Confiança excessiva no valor quantitativo dos resultados
▪ Uso do QI no diagnóstico de DA, sobredotação, deficiência mental (dificuldades
intelectuais)
⬥ Relatórios psicológicos
▪ Quando excedem o que se sabe em psicologia ou aquilo que os dados suportam
▪ Não precisar o alcance, os limites e grau de certeza dos dados comunicados
⬥ Renúncia às explicações hegemónicas e omnipotentes
▪ A possibilidade de avaliação (e o primado da perceção/visão) deve ser questionada
▪ Atenção à natureza da relação com o outro
⬥ Avaliação psicológica não se esgota numa racionalidade técnico-científica e prática
▪ Não é apenas a psicologia que pode facultar a decisão a tomar, fundar políticas ou ditar
o que é ou deve ser o comportamento ético.

❖ As objeções à possibilidade da avaliação psicológica


❖ Política e moral da avaliação psicológica.

Prática da Avaliação Psicológica

❖ Obrigação ética do psicológico impedir o uso de técnicas de avaliação psicológica por pessoas não
qualificadas, independentemente da disciplina.
❖ É fácil a identificação, por parte dos psicológicos, desta utilização indevida.
⬥ Difícil é resolver tal situação.
❖ Educação (sensibilização) de técnicos não psicológicos, de maneira não condescendente, através da
realização de seminários, para as complexidades da avaliação (cognitiva, comportamental) pode ajudar a
prevenir ou minimizar tais conflitos.
⬥ Sugerir treino em abordagens alternativas, dentro do alcance das práticas e das competências
dos colegas, pode ajudar a promover uma atmosfera de cooperação.
❖ Confidencialidade das informações vs. multiplicação das avaliações e do recurso a diferentes métodos e
interlocutores;
⬥ Manter a confidencialidade e proteger a privacidade dos pacientes pode constituir uma tarefa
difícil para o psicólogo que trabalha em contexto médico interdisciplinar;

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Licenciatura em Psicologia | 3º ano | 2º Semestre
Introdução a Avaliação Psicológica

⬥ Em avaliação neuropsicológica, a aplicação e cotação de testes por não doutorados deve ser feita
sob supervisão de um neuropsicólogo que é um psicólogo licenciado.
⬥ Técnicos são apenas responsáveis pela aplicação e cotação.
⬥ A seleção de testes, a interpretação, a entrevista clínica de pacientes e membros da família, a
comunicação dos resultados e a sua implicação é da única e exclusiva responsabilidade do
psicólogo.
⬥ Riscos do “uso de técnicas de avaliação psicológica por pessoas não qualificadas”

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