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Introdução à Avaliação

Psicológica
Aula 1- 23 de fevereiro

Docente: Luís Pires - luis.silva.pires@ubi.pt


Frequências: 6 abril e 25 maio

→ A avaliação é algo que define o ser humano, a forma como interagimos, pensamos,
etc. A nível de desenvolvimento é algo que nos acompanha sempre.
→ Mais importante do que os instrumentos (meios) são a observação (do
comportamento, a relação que tem com a pessoa que a acompanha, a forma como
chega) e a entrevista, que definem os instrumentos.
→ É importante entender a natureza do pedido de avaliação: se foi a pessoa que pediu,
se está por obrigação.
→ Premissa da avaliação psicológica = Tudo o que é observável pode ser medido

Avaliação Psicológica: Profissão, Especialidade, Técnica


● Tarefa profissional que distingue os psicólogos de outros especialistas
● Área de especialização
● Autonomia profissional dos psicólogos (ajudou a definir o papel do psicólogo e
é a base da fundação da OPP)
● Singularidade técnico científica
● Identificar aquilo que em cada sujeito é único e específico

2011- Código Deontológico da OPP: A avaliação psicológica é um ato exclusivo da


Psicologia e um elemento distintivo da autonomia técnica dos/as psicólogos/as
relativamente a outros profissionais

EuroPsy: A avaliação como uma competência essencial


● Avaliação: Definir características relevantes de indivíduos, grupos, organizações
e situações através de métodos apropriados
o Avaliação individual: Realizar avaliação através da entrevista,
administração de testes e observação de indivíduos num cenário
(setting) relevante para o pedido formulado
o Avaliação de grupo: Avaliação de grupos
o Avaliação organizacional: Avaliação para o estudo de organizações
o Avaliação situacional: Avaliação para o estudo de situações

● Desenvolvimento: Desenvolver intervenções serviços, ou produtos na base da


teoria ou de métodos psicológicos para uso por clientes ou psicólogos
o Teste de serviços ou produtos: Testar um serviço ou produto e avaliar a
sua praticabilidade/possibilidade fiabilidade, validade e outras
características, considerando o contexto no qual o produto ou serviço
vai ser usado
o Avaliação de produtos ou serviços: Avaliar um produto ou serviço
relativamente à sua utilidade, satisfação do cliente, utilização amigável,
custos e outros aspetos que são relevantes no cenário em que o serviço
ou produto vai ser usado

● Avaliação: Estabelecer a adequação das intervenções em termos de adesão ao


plano de intervenção e à realização dos objetivos definidos
o Planeamento da avaliação: Desenhar um plano para a medida de uma
intervenção, incluindo critérios derivados a partir do plano de
intervenção e definição de objetivos, num contexto relevante para o
serviço solicitado
o Medida da avaliação: Selecionar e aplicar técnicas que são apropriadas
para a medida da eficácia do plano de intervenção, num contexto
relevante para o serviço solicitado
o Análise da avaliação: Conduzir análises de acordo com o plano de
medida e formular conclusões acerca da eficácia das intervenções num
contexto relevante para o serviço solicitado

● Comunicação: Proporcionar informação aos clientes de um modo que é


adequado para o satisfazer as necessidades e expectativas dos clientes
o Proporcionar feedback: Proporcionar feedback aos clientes, usando
meios apropriados orais ou áudio visuais num contexto relevante para o
serviço solicitado
o Redigir Relatórios: Redigir relatórios para informar clientes acerca dos
resultados da avaliação, do desenvolvimento de serviços ou produtos,
intervenções, e/ou medidas num contexto relevante para o serviço
solicitado

Como podemos definir Avaliação Psicológica?


⮚ Rastreio (cognitivo, emocional, de entrevista, etc.) = Avaliação rápida = 15
minutos
⮚ Avaliação ecológica – Instrumentos e medidas que utilizamos para avaliar num
dado contexto
⮚ Processo complexo de resolução de problemas (resposta a questões) que utiliza
vários procedimentos de recolha de dados
⮚ Processo através do qual uma pessoa tenta conhecer, compreender ou formar
um juízo ou uma opinião acerca de uma outra pessoa
⮚ Um bom avaliador precisa deve saber que informação é relevante obter/reunir,
quais as ferramentas/técnicas/instrumentos/testes mais válidos e fiáveis (para
obter essa informação relevante) e os melhores métodos/metodologias para
integrar/interpretar a informação, no sentido de permitir a melhor tomada de
decisão possível. Adicionalmente, deve usar a informação em benefício da
pessoa avaliada (beneficência e não maleficência) e deve, por isso, ser
comunicado/explicitado adequadamente, quer o processo de avaliação quer as
decisões resultantes desse processo

Avaliação Psicológica – Objetivos


● Despistagem/rastreio de problemas
o Descrição (identificação de atributos)
o Compreensão
● Verificação de hipóteses
o Explicação
● Diagnóstico
● Prognóstico
● Planificação da intervenção
● Medida da eficácia da intervenção
● Investigação

Contextos de aplicação da Avaliação Psicológica


● Escolar educativo (Orientação Vocacional, Aconselhamento Psicológico)
● Clínica/ Saúde (Reabilitação)
● Forense/ Justiça
● Trabalho/ Organizações (Militar, Tráfego, Desporto)

História da avaliação psicológica:


O aparecimento da Avaliação Psicológica dentro da ciência psicológica resulta,
essencialmente, do trabalho de três autores:
● Francis Galton
● Alfred Binet
● McKeen Cattell
1805 - Esquirol (Aluno favorito de Philippe Pinel - fundador da Psiquiatria)
- Diferenciação entre insanidade e atraso mental
- Vários graus na definição de atraso mental
- Tentou desenvolver um sistema para classificar as pessoas nestes vários graus de
atraso mental

1840 - Séguin
- Pioneiro no treino de pessoas com atraso mental
- 1837: Abre a primeira escola orientada para o ensino de crianças com atraso mental
1879 – Wundt, considerado um dos fundadores da Psicologia, cria o primeiro
Laboratório de Psicologia no mundo (Universidade de Leipzig, Alemanha)
● No início do séc. XIX, os cientistas/psicólogos experimentais estavam
geralmente mais interessados na identificação de aspetos comuns do
funcionamento humano do que na identificação das diferenças individuais. As
diferenças individuais eram consideradas uma fonte de erro que tornavam a
medida humana inexata

1869 – Francis Galton


- Pioneiro da utilização da estatística para estudar as diferenças individuais
- Pioneiro a documentar a individualidade das impressões digitais incluindo a sua
identificação e classificação
- Pioneiro no desenvolvimento de escalas e questionários de avaliação
- Considerado um dos fundadores da Psicometria → Psicometria: Medir os estados
mentais, o quanto aqueles instrumentos são mais confiáveis. Até que ponto aquele
instrumento de avaliação nos está a dar informação fidedigna
- Método das correlações
- Apresenta o primeiro laboratório de Psicometria
- Pai da Psicologia diferencial
- Foco nas diferenças inter-individuais e inter-grupais
- Procura explicar as exceções e variações face às leis gerais atribuindo uma
importância acrescida à variabilidade
- Posição relativa dos indivíduos/ grupos
- Descrição e medição de caraterísticas humanas como a altura, peso, capacidade
respiratória, acuidade visual, avaliação sensorial, percetiva, motora.

1888 - Cattell abre o primeiro Laboratório de Testes


- Cattell trabalhou no Laboratório de Wundt em Leipzig e também foi aluno de Galton
- Está comprometido com objetividade da avaliação (ao invés da utilização de medidas
introspetivas)
- Propôs técnicas de avaliação para funções sensoriais, percetivas e motoras
1895 - Alfred Binet e Henri - Psicologia Individual
- O objetivo da psicologia individual é o estudo dos diferentes processos psíquicos do
homem
- A atenção deve estar centrada sobre as diferenças individuais nestes processos
- Três grandes problemas da Psicologia Individual
● Estudo das diferenças individuais dos processos psíquicos, sem o estudo
especial das relações com os indivíduos que os apresentam
● Estudo das diferenças psíquicas nos indivíduos isolados ou em grupos de
indivíduos (homens, mulheres, profissões)
● Estudo das relações dos diferentes processos psíquicos no mesmo indivíduo

Alfred Binet
- Considera que o foco da avaliação devem ser as faculdades mentais (psíquicas) –
propôs o estudo de 10 processos psíquicos
- Propõe o método subjacente aos testes mentais (estudo da memória, imagens
mentais, imaginação, atenção, força de vontade)
- Foi o primeiro autora apresentar os requisitos das provas de avaliação:
● Tarefas simples e de r ápida aplicação
● Independentes do avaliador
● Que seja possível comparar resultados obtidos por um observador com os
resultados obtidos por outro
- Conceptualizou o diagnóstico psicológico:
● Exame médico (físico, fisiológico)
● Exame escolar (aprendizagem)
● Diagnóstico psicológico centrado na avaliação da inteligência para a qual Binet
contribuiu com o desenvolvimento da escala Binet-Simon
- Condições para o desenvolvimento dos testes:
● Tão variados quanto possível de maneira a abarcar o maior número possível de
faculdades psíquicas
● Relativos às faculdades psíquicas superiores
● De curta duração para o indivíduo (não mais de 1h30m)
● Diversificados para não fatigar ou aborrecer o sujeito
● Apropriados ao meio do sujeito
● Sem aparelhos complicados, nem Instalação especial

Aula 2- 2 de março

Dois grandes momentos históricos:


● História da avaliação da inteligência (2 abordagens importantes)
o Avaliação projetiva → A personalidade depende das nossas experiências
passadas (definição de self)
o Allport → Aspetos do presente influenciam a nossa personalidade
(questão de traços - traços influenciam o meio e o meio influencia-nos) -
Permite o surgimento de instrumentos de avaliação objetivos
● História avaliação da personalidade

→ Ao longo do tempo têm existido cada vez mais atualizações na construção de


instrumentos de avaliação → Maior número de pessoas a estudar estes fenómenos e a
desenvolver mais testes
Laboratórios:
● Primeiro laboratório: William James - Leipzig
● Principais laboratórios que estudam a inteligência:
o Laboratório de Francis Galton (Inglaterra)
o Laboratório de Wundt (Alemão)

Condições necessárias para o desenvolvimento dos testes:


- Tão variados quanto possível de maneira a abarcar o maior número possível de
faculdades psíquicas
- Relativos às faculdades psíquicas superiores
- De curta duração para o indivíduo (não mais de 1h30m)
- Diversificados para não fatigar ou aborrecer o sujeito
- Apropriados ao meio do sujeito
- Sem aparelhos complicados nem instalação especial

1899 - Binet e Simon começam as primeiras entrevistas metódicas tendo em vista


medir a inteligência
● Preferência por observações mais pormenorizadas com amostras reduzidas que
por observações vagas com amostras importantes reserva em relação às
técnicas estatísticas que segundo Binet sacrificam a sua exatidão e precisão às
observações com grandes números preferência por observações objetivas e
minuciosas, com sujeitos reais, em situações concretas estudos no laboratório e
fora do laboratório

1896 - Ebbinghaus → Teste de complemento para medir capacidade mental (avaliação


da memória)

1903 - Kraepelin → Nova classificação das doenças mentais (demências precoces e


maníaco depressivo)
● Classificação de dois tipos de doentes mentais
o Grupo modificável: Depressão
o Grupo não modificável: Esquizofrenia

1904 – Spearman → Início da análise fatorial das aptidões (deu origem à teoria dos
dois fatores na inteligência – inteligência verbal e inteligência de realização)
● Duas ideias dominantes sobre a inteligência: Fator geral que se encontra
dividida em subdomínios ou várias inteligências
1905 - Binet e Simon apresentam uma escala de diagnóstico do nível intelectual de
crianças normais e anormais

50 anos depois dos trabalhos de Esquirol e Seguin:


● Escala de Binet e Simon - Primeira escala de inteligência
● Apresentada não como um método de medida, mas sobretudo como um
instrumento de experimentação e investigação
● Administração estandardizada: As mesmas instruções e o mesmo formato de
administração para todas as crianças
● Amostra de estandardização: Desenvolvimento de normas com base nas quais o
desempenho de uma criança possa ser comparado com o desempenho de
outras crianças (50 crianças)

1904 - Primeiro teste projetivo de Jung (aluno do psiquiatra suíço Bleuler) e Riklin
(teste de associação de palavras que compreendia no início 400 palavras)
● Estes estudos confirmam a integração e influencia das emoções na capacidade
da memória
1908 - Binet e Simon - Segunda escala de inteligência
● Mais itens
● Invenção da noção de idade mental
● Melhor amostra de estandardização: 300 crianças

1911 - Binet e Simon - Terceira escala de inteligência


● Inclui novos testes e provas para a idade adulta
● Clarificação das qualificações: Inteligência regular, avançada e atraso
● Binet morre

1912 – Stern: Inventa a noção de quociente intelectual (QI)


● Vantagem: Fácil de calcular
● Limite: QI não é comparável em diferentes grupos etários
● Não devemos pensar em trabalhar com humanos, mas sim para humanos
(porque se assim for, os instrumentos estarão a ser mal utilizados – ex: não
desenhar testes específicos para crianças pois estas não possuem um papel
importante na sociedade)

1914 – Woodworth: Cria o primeiro inventário de personalidade de autorresposta,


elaborado para estandardizar as entrevistas psiquiátricas e permitir uma aplicação
massiva no contexto militar
● Desenvolvido durante a Primeira Guerra Mundial
● Projetado para identificar os soldados inaptos para o serviço militar
● Assumia, de forma enganadora, que as respostas dos sujeitos podiam ser
consideradas no seu valor facial
● Estes testes partiram de entrevistas psiquiátricas (utilizadas para construir o
instrumento de avaliação)

1914 – Otis: Primeiros testes coletivos de inteligência


1916 – Izard e Simon: Primeira escala de desenvolvimento da primeira infância -
Precursor do teste de Wechler (adultos)
1916 – Terman: Adaptação e melhoramento da Escala de Binet-Simon
● Esta adaptação aumenta o número de provas e utiliza o quociente de Stern
● 2000 sujeitos (incluindo 400 adultos)
● Prova psicometricamente mais sólida]
● Introdução do termo QI
● QI= Idade Mental / Idade Cronológica

1917 - Pintner e Paterson: Criam a primeira escala de inteligência de realização


1917 - Criada comissão para o exame psicológico dos recrutas sob a iniciativa da
APA/Associação Americana de Psicologia
● Necessidade identificada pelas Forças Armadas dos EUA de testes de aptidão,
de administração colectiva, para uso em larga escala
● Classificação rápida do nível intelectual de um milhão e meio de recrutas
● Testes Army Alpha (para recrutas que sabiam ler) e Army Beta (para recrutas
iletrados)
● Grande desenvolvimento de testes entre I Guerra Mundial e década de 1930
1918 - O teste Army Beta Examination aproximadamente 100 000 recrutas americanos
que não falavam inglês ou iletrados instruções com imagens

1919 - Métodos de seleção de alunos sobredotados (QI acima de 140) – Estudos vão
mostrar que a inteligência esta associada a melhor sucesso quer profissional quer
pessoal, relação social, académico
● Primeiro Serviço de Psicologia Penitenciária
● Primeiros trabalhos estatísticos e psicológicos sobre acidentes de trabalho
1920 - Primeira Conferência Internacional de Psicotécnica e fundação da Associação
Internacional de Psicotécnica (constituído por psicometristas – que constroem
instrumentos de avaliação - e não psicólogos)
● Jung – Personalidade: Dois tipos - Introvertido e extrovertido
● Rorschach – Teste projetivo

Testes de avaliação psicológica:


⮚ Teste de Cubos de Kohs: Reproduzir num intervalo de tempo limitado modelos
que implicam recurso a vários cubos
⮚ Teste de Desenho da Figura Humana: Criado por Goodeenough
⮚ TAT: Teste projetivo de avaliação da personalidade criado por Murray e Morgan
– Solicita-se ao sujeito para “inventar uma história” para cada uma das lâminas
(a pessoa deve contar o que acha que está a acontecer na imagem e o que terá
acontecido antes, criar toda uma narrativa em torno da imagem)
⮚ Teste das matrizes progressivas: Aptidão para aprender figuras sem significação
e identificar o sistema de relações que elas têm entre si
o As pessoas idosas não estavam a ser bem avaliadas neste teste porque
não tinham tempo suficiente para processar a informação. Posto isto o
tempo foi retirado dos testes de inteligência porque o que interessa é
avaliar o número de vezes que se acerta

1939 – Wechsler: Primeira escala de inteligência para adultos


o Este teste consegue diferenciar a inteligência (avaliando várias facetas
da inteligência) do processamento cognitivo (não avalia a memória, a
atenção e etc...), demarcando-se assim dos processos cognitivos

Testes contruídos por Wechsler:


● WAIS - Adultos
● WISC - Crianças (um teste que pode ser utilizado por todos, em
qualquer tempo histórico, o mais universal possível, o autor pegou em todos
os testes e estudos feitos e juntou um pouco de todos no mesmo teste)
1940 - Cattell: Questionário de Personalidade dos 16 fatores
● Análise fatorial: Método para identificar o número mínimo de dimensões
(fatores) que possam explicar o número mais elevado de variáveis
o Traços de personalidade (não se trata de estados temporários, são
disposições relativamente estáveis)
o Não se pode falar em personalidade em crianças

1941 - Testes de capacidades primárias (PMA)


1941 – Goldstein: 5 testes para estudar a deterioração mental acentuada no
pensamento abstrato em sujeitos com lesão cerebral
1942 - Minnesota Multiphasic Personality Inventory (MMPI)
1949 - Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC)

1952 - Código de Ética e Deontologia da APA e DSM I


o Este código de ética vai regular a publicação das ideias e dos testes
construídos porque é inconcebível existirem mais de 1000 instrumentos
para medir os mesmos construtos

1954 – APA: Recomendações técnicas dos testes


1974 - Wechsler Intelligence Scale for Children Revised (WISC R)
1974 - Wechsler Memory Scale (WMS)
1975 – Mini mental state
o Teste de rastreio rápido de processos cognitivos
o MOKA - É mais específico do que o mini mental state (que avalia apenas
se existe ou não demência) pois especifica se o problema cognitivo é
ligeiro, moderado ou profundo

1975-1980 – Crescimento dos métodos de avaliação comportamental


1999 - Standards for Educational and Psychological Testing
2000 – DSM-IV-TR
2011 - Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Aula 3- 9 de março

Testes psicológicos (escalas, questionários, inventários)


● Podem ser instrumentos são meios para um fim. Inferências sobre uma pessoa
ou um conjunto de pessoas
● Podem ser produtos comerciais destinados a profissionais da área da Psicologia
(vários instrumentos que avaliam os mesmos construtos, mas depois são
comercializados por diversas empresas, para garantirem a proteção destes
instrumentos)

Baterias fixas = Aplicamos sempre pela mesma ordem, essa ordem deve ser seguida,
foi testada (a ordem tem influência nos resultados que vamos recolher) ≠ Baterias
flexíveis
● As instruções de um teste são muito importantes (os testes podem ser
utilizados em vários momentos, por qualquer pessoa, sempre da mesma forma)
● Psicometria = avaliar instrumentos de avaliação (em laboratório), se têm
estabilidade temporal, consistência interna, se têm capacidade para avaliar os
construtos que é suposto medirem, em vários momentos ao longo do tempo
Testes computorizados - Falta a humanização. A motivação das pessoas avaliadas difere
quando está presente uma pessoa, mesmo que esteja virtualmente, a aplicar testes
computarizados (Vantagem: Fazer mini relatórios rapidamente)

Instrumentos utilizados para rastreio VS para uma avaliação compreensiva


Rastreio breve
● Permitem de forma rápida fazer uma primeira abordagem ao paciente = 10
minutos)
● Avaliam se a pessoa tem um declínio cognitivo ligeiro/acentuado
● Exemplo: Avaliação cognitiva breve de Addenbrooke
o Nenhuma das baterias avalia os 5 domínios cognitivos
(atenção/concentração, memória, fluência verbal, linguagem e
capacidade visuo-espacial)
o Apenas deteta se existe algum défice ou não, mas não especifica em que
áreas existe esse défice por isso terá de se fazer uma avaliação
compreensiva
Avaliação compreensiva
● De todas as capacidades da linguagem, para ver o que está afetado e que áreas,
para um melhor perfil neuropsicológico = 1h)
● Essenciais para o acompanhamento da doença
● Às vezes é necessário fazer um ajustamento
● Tocam em todos os domínios de avaliação psicológica
● É necessário estabelecer pontos de corte = comparamos pessoas saudáveis com
pessoas pacientes com um dado diagnóstico clínico, todas com a mesma idade,
escolaridade, etc.
● Exemplo: Bateria de Avaliação Neuropsicológica de Coimbra (BANC)
o 15 testes neuropsicológicos que avaliam: orientação, memória,
linguagem, atenção e funções executivas, motricidade e lateralidade

- A falta de memória pode estar relacionada a perturbações de humor


(pessoas com depressão estão menos motivados para responder e
predispostas a responder “não sei ou não consigo” – é uma falta de memória
reversível)
- Pessoas com demência moderada sentem-se confiantes ao responder às
questões e respondem como se estivessem a responder a tudo corretamente,
mas estão a responder tudo mal
- O primeiro e o segundo autor são as pessoas que escreveram o artigo, o
último autor é o líder, aquele que planificou todo o estudo e fez as primeiras
hipóteses, foi a pessoa que teve a ideia

Processo de construção de um instrumento de avaliação:


1) Conceptualização
2) Construção
3) Estudo Piloto/Ensaio
4) Análise /Estudos de Validação
5) Revisão
1) Conceptualização
● Qual é a necessidade ou a pertinência daquilo que eu quero medir?
● Revisão da literatura
o Já existe algum? As suas propriedades psicométricas são satisfatórias?
(que lacunas existem que eu posso colmatar com o meu novo
instrumento)
o O que irá o questionário medir? Qual o objetivo? Quem o utilizará? Que
conteúdo será abrangido? Como se aplicará?
● Estudo piloto/Ensaio
o Investigação prévia à elaboração de um protótipo do teste (e.g., estudo
individual dos itens)
o Tem como objetivo verificar com o medir, da melhor forma, o/a
constructo/variável em estudo
● Fatores contextuais na sua conceptualização
o Legislação, códigos deontológicos, contexto de utilização, destinatários,
finalidade...

→ NOTA: Versão experimental tem o triplo dos itens que terá a versão final!
● É necessário fazer a revisão dos instrumentos já existentes, pedir autorização
para utilizar alguns itens dos testes anteriores no nosso novo teste
● Validade face = Opinião de um perito da área, que vai avaliar a validade e
fiabilidade consoante as teorias e afins
● Validade de conteúdo = Se aqueles itens estão a refletir aquilo que está a ser
medido, se é adequado ao grupo de pessoas a quem se dirige o teste (grupos
focais)
● Às vezes é necessário fazer adaptações de testes originais devido a diferenças
culturais para que possa ser aplicado noutro pais que não o país de origem do
autor original

2) Construção do instrumento
● Elaboração de escalas (Instrumento utilizado para medir algo)
● Tipo de escalas (Nominal, Ordinal, Métrica)
● O tipo de escala escolhida depende da:
o Variável em estudo
o Público-alvo
o Contexto de aplicação
o Preferências do/a(s) autor(es/as)
2.1) Escalas
● Escala de estimação: Palavras ou símbolos relativos à intensidade de uma
caraterística, emoção ou atitude, e em relação aos quais o sujeito emite o seu
parecer ou opinião
● Escala de likert
o Fornece, tradicionalmente, 5 possibilidades de resposta ao item;
o Contínuo entre discordância e concordância, aprovação e desaprovação
o Muito utilizadas, fáceis de elaborar, permitem uma estimação somatória
o Escala visual análoga – O respondente deve indicar a opção com a qual
mais se identifica num continuum que varia entre dois extremos
(resolve o problema da escala de likert – pois o 2 pode corresponder a
poucas vezes - para uma pessoa “pouco” pode significar 2 vezes por ano,
para outra pode significar 2 vezes por mês)
● Comparação de pares: São apresentados ao sujeito pares de estímulos, duas
afirmações, duas fotografias ou dois objetos que o sujeito terá de comparar. A
seguir o sujeito terá de selecionar um dos estímulos de acordo com alguma
regra
● Escala Guttman: Os itens variam de forma sequencial, das expressões mais
fracas às mais fortes da atitude, crença ou sentimento que se está a medir
(avaliar se a pessoa concorda de forma vincada, menos vincada ou não
concorda com a afirmação)

2.2) Redação dos itens


o Devemos escrever o dobro/triplo dos itens a constar na versão final,
criando se, assim, uma reserva de itens
o São necessários/úteis: Conhecimentos académicos; Ajuda de outros
(peritos); Recolha de dados junto de diferentes intervenientes
o Perguntas de resposta fechada: Escolha múltipla; Verdadeiro/falso;
Associação
o Perguntas de resposta aberta.
→ NOTA: A sintomatologia depressiva é diferente em adolescentes e em idosos, por
isso temos de construir um instrumento que avalie especificamente a depressão
apenas nos idosos

2.3) Estudo piloto


o Ensaio com população com características idênticas à população final
o Condições de aplicação idênticas (instruções, limite de tempo, etc);
o 5 a 10 sujeitos por item do teste

Análise dos itens


o Divide-se em três grupos:
1) Procedimentos estatísticos (índice de dificuldade, validade,
fidedignidade e discriminação do item)
▪ Validade = Desvio padrão; correlação entre pontuação do
item e a pontuação num critério
▪ Fidedignidade = Análise fatorial/Consistência entre itens
2) Análise qualitativa (Procedimentos não estatísticos para explorar
como cada item funciona, em comparação com outros itens e no
face ao teste)
▪ Sensibilidade cultural (se é discriminatório face a algum
grupo de pessoas)
▪ Dimensão do teste
▪ Validade de Conteúdo
▪ Condições ambientais
▪ Estado mental/físico do respondente
3) Outras considerações
▪ Adivinhação (é importante reconhecer que o adivinhar a
resposta pode não ser totalmente aleatório – ex: escolha
múltipla)
▪ O problema dos itens não respondidos (missings)
▪ Fator sorte
▪ Imparcialidade do item (Ex: Se um item discrimina as
respostas dadas por dois grupos que não diferem na
pontuação geral (homens/mulheres)
▪ Provas com limite de tempo (Existe um conjunto de itens
que ficará por responder. Pode optar-se por considerar
apenas os itens respondidos, sob pena de prejudicar os
itens que aparecem em último lugar

4) Estudos de validação
● Fiabilidade (teste-reteste, consistência interna (itens, inter-avaliadores)
● Validade
o Validade de
Critério preditiva
e concorrente
o Validade de
Construto
o Validade Facial
● Sensibilidade e
Especificidade

5) Revisão

● Estandardização: Processo implementado de forma a introduzir objetividade e


uniformidade na cotação e interpretação do teste
● Amostra estandardizada: Grupo de indivíduos com os quais a performance dos
respondentes será comparada
● No caso de instrumentos já existentes os mesmos devem ser revistos quando
existem mudanças significativas no domínio de avaliação novas condições de
aplicação e interpretação
● Aspetos que nos indicam a necessidade de revisão do teste:
o Materiais utilizados encontram se datados
o O conteúdo verbal do teste (instruções, itens, etc) encontra-se datado
o Devido a mudanças culturais, certas palavras ou expressões são
percebidas como inapropriadas/ofensivas
o As normas do teste deixaram de ser adequadas devido a mudanças no
grupo para o qual este foi desenhado
o A validade / fiabilidade, bem como a eficácia de certos itens, pode ser
melhorada de forma significativa
o A teoria de base ao teste existente sofreu melhorias significativas

- Estudo “final” = estudo de validação grande, avaliar a fiabilidade (consistência


interna) = todos os itens daquela escala contribuam para aquele construto,
não tem de ser unidimensional
- Consistência interna (de uma população naquele contexto) é diferente de
estrutura interna
- Quanto mais pequena uma escala, mais baixo é o alfa de Cronbach

Aula 4- 16 de março

Avaliação Psicológica: Tomada de decisão


● Formulação de juízos e tomadas de decisão (rotina central, pré-requisito para
uma prática rigorosa e eficaz):
o Natureza do problema, causas, gravidade, significado dos sintomas
o Diagnóstico
o Prognóstico
o Interlocutores
o Constructos/variáveis (a examinar)
o Instrumentos/metodologias de avaliação (questões psicométricas)
● Cenários
o Informação consistente VS Expetativas inflexíveis/rígidas (X)
o Acumulação de informação VS Confiança excessiva (X)
o Investigação, publicações, acumulação de conhecimentos (X) VS
Domínio eficaz da informação
▪ O investigador pode investigar muito sobre o tema, mas não ter
qualquer prática clínica

Tomada de decisão
● Em atividades /processo de Avaliação Psicológica, os psicólogos desenvolvem e
mantêm um reportório de estratégias de raciocínio, de
processamento/elaboração de informação (heurísticas, esquemas de
conhecimento, representações cognitivas)
● Tais estratégias permitem “filtrar”, simplificar e organizar a informação e
elaborar as apreciações e inferências que vão servir de suporte aos processos
de avaliação, diagnóstico, intervenção
● Tais estratégias orientam, portanto, os processos de formulação de juízos e
tomada de decisão
● Estas estratégias são usadas inconscientemente
● Os processos de julgamento/formulação de juízos e tomada de decisão são,
frequente e, muitas vezes, inevitavelmente:
o Elaborados em condições de incerteza
o De valor problemático, na medida em que as referidas estratégias de
raciocínio podem conduzir a enviesamentos cognitivos e a erros

Heurísticas
● Estratégias de simplificação e redução da complexidade da informação
● Regras princípios organizadores estratégias de julgamento inferencial e de
descoberta
● Ajudam a organizar e a simplificar a informação disponível a formular
inferências e a predizer, tendo por base informação escassa e/ ou pouco fiável
● São suscetíveis de enviesar ou distorcer o julgamento e de conduzir a erros

Enviesamentos cognitivos
● Erros sistemáticos, tendência para o julgamento se desviar invariavelmente de
uma norma ou critério aceite de validade
● Preferência subjetivamente fundamentada por uma dada conclusão ou
interferência em detrimento de conclusões alternativas possíveis
● Podem funcionar como tendências a distorcer (ex: processos ou estratégias
cognitivas subjacentes aos erros inferenciais, cometidos devido ao uso
incorreto da informação disponível)

Erro
● Definido a partir da existência de consequências indesejadas
● Inconsistência entre uma hipótese, conclusão ou inferência
● Crença não comprovada … contradição com aquilo que é prescrito por um
modelo de desempenho optimal
● Os erros inferenciais sistemáticos podem corresponder ou a uma utilização
excessiva de certas estratégias inferenciais, intuitivas e, geralmente, válidas ou a
um recurso diminuto de estratégias formais, lógicas ou estatísticas
● Os erros ocorrem:
o Porque as estratégias não são adequadas aos problemas
o Porque a complexidade de informação excede a capacidade cognitiva do
avaliador
o Devido a défices de competência inferencial ou a lapsos de desempenho
inferencial (não utilização de conhecimentos disponíveis)
Enviesamentos confirmatórios
● Tendência geral para codificar, processar e recuperar a informação que é
consistente com um esquema reter, de forma seletiva e sistemática, a
informação que confirma as hipóteses iniciais e resistência a novas evidências
● Associados a um trabalho quase instantâneo de elaboração inicial de
conceptualizações ou categorizações acerca do sujeito tendo por base uma
quantidade mínima de informação
● As primeiras impressões são prevalecentes - Exemplos:
o Primeira entrevista
o “Imagem do cliente”: papel decisivo das quatro primeiras horas de
terapia (2ª - 4ª sessão, num processo de 24 sessões)
o “Impressões diagnósticas”: 30 primeiros segundos de entrevista filmada

Correlações ilusórias
● Interpretações ou atribuições de correlação ou mesmo de causalidade entre
duas classes de acontecimentos que não estão correlacionados
● Baseadas em simples associações de ideias semelhantes ao senso comum sem
suporte empírico ou teoria credível
● Processo mais pronunciado quando há mais informação a ser objeto de
tratamento
● Exemplos características/desempenhos no teste - Desenho da Figura Humana
(“olhos grandes e estranhos”, cabeça grande ou pequena)

Heurística da disponibilidade
● Quando as inferências formuladas, acerca da frequência ou da probabilidade de
um acontecimento/resultado (prognóstico cometer um crime, suicídio, são
excessivamente influenciadas por outros fatores, como a recordação seletiva de
acontecimentos anteriores (casos raros, sucessos inesperados, fracassos,
envolvimento emocional, aparência física), facilidade de evocação/acesso
cognitivo
● Memória: Sobre/sub-estimação VS Novos casos
● Ex: Valorizar uma experiência isolada (concreta, bizarra), em detrimento de
dados empíricos da pesquisa, linhas base valorizar um acontecimento intenso,
mas não representativo
● Quanto mais ambíguos são os dados mais as descrições são influenciadas por
ideias preconcebidas e que estão mais facilmente disponíveis

Heurística da representatividade
● Apreciações relativas à probabilidade de determinada pessoa pertencer a uma
determinada classe (ex: categoria nosológica) ou de determinado
acontecimento poder ser prognosticado a partir de determinada sequência de
antecedentes
● Exemplos:
o Considerar o desempenho de uma pessoa em dada situação/momento
como sendo representativo do seu comportamento em geral ou do seu
estado de funcionamento futuro
o Recurso a um único instrumento ou interlocutor
o Diagnóstico de depressão (MMPI 2)
o Avaliação da inteligência (WISC III, MPCRaven, DAP)
o Diagnóstico de hiperatividade (CBCL, …TRF, YSR);
o Insensibilidade ao tamanho das amostras; amostra versus população
● Importância de dados normativos, linha base do problema

Heurística do caráter único


● Exagera a confiança (no carácter único e singular dos casos individuais (“Nós
não lidamos com grupos, mas com casos únicos”
● Negligencia os dados relativos às distribuições aos elementos comuns
● Erro: Ideia de que probabilidades e normas não se aplicam também à avaliação
de casos singulares

Erro fundamental de atribuição


● Tendência para esquecer ou subestimar a influência de variáveis situacionais na
determinação do comportamento do sujeito (ou as interações com o meio) e
para valorizar excessivamente determinantes internos do comportamento ou
características pessoais (atitudes, mecanismos de defesa, conflitos, traços de
personalidade, capacidades)

Enviesamento a posteriori da previsão


● Tendência para assumir, depois do conhecimento de um acontecimento ou dos
seus resultados, que estes são inevitáveis e poderiam ter sido facilmente
prognosticados
● Erro: Construir racionalmente um caso clínico a posteriori
● Necessário pesquisar argumentos a favor e contra uma determinada
formulação do caso)

→ O nosso cérebro funciona seguindo 2 sistemas que entram em competição


⮚ Sistema 1: Fundado sobre a intuição, é rápido e automático (heurístico)
Requer uma energia mínima
⮚ Sistema 2: Fundado sobre a razão, é lento e refletido
Requer uma energia máxima

Soluções (I)
● Ter conhecimento e consciência da ação das heurísticas, enviesamentos e erros
ainda que, por si só, esta familiaridade com as fontes de erro não seja suficiente)
● Treino, formação e experiência profissional
● Monitorização da prática de uma forma sistemática (colocar questões, discutir
argumentos)
● Oportunidades para observar exposição direta e prática a situações concretas
partilhar, em voz alta, os processos de análise/decisão
o Ex: Existe uma maior diferenciação das zonas do cérebro de um
adolescente ao contrário dos idosos que não existe diferenciação de
áreas cerebrais → Este facto leva-nos a concluir que os idosos tomam
melhores decisões porque englobam mais fatores na tomada de
decisão porque não existem áreas cerebrais diferenciadas

Soluções (II)
● O juízo clínico não deve, apenas, depender da intuição
● Não basta a capacidade/ conhecimentos/ competência é também necessária
performance (não basta saber tudo de côr como se fossemos um robô, é
preciso saber adaptar a linguagem e o discurso)
● Diminuir a “confiança” na memória: registar, consultar registos,
dados/informações
● Prestar atenção a causas de natureza contextual/ambiental
● Prestar atenção às fontes de incerteza
● Maior prudência na formulação de juízos definitivos acerca da pessoa e do(s)
seu(s) problema(s) – Ex: Nunca devemos formular a frase “os resultados
demonstraram”, mas sim “os resultados sugerem que” – é necessário fazer um
exercício mental e pensar o que falta saber, perceber a exatidão do diagnóstico

Soluções (III)
● “O que é que necessito de saber?”
● “Qual a exatidão dos relatos do cliente?”
● “Que informação falta?”
● “Hipóteses explicativas alternativas?” “Que dados são necessários para falsificar
as minhas hipóteses iniciais?” “Os dados podem ser explicados de outro
modo?”
● “Como conseguir fazer a decomposição do problema?”
● Algoritmos, folhas de balanço, diagramas e gráficos, árvores de decisão

Resumidamente:
⮚ Estratégias de raciocínio: Organizar a informação e elaborar inferências que
vão servir de suporte aos processos de avaliação → Formulação de juízo
elaborados em condições de incerteza e podem conduzir a enviesamentos
cognitivos e a erros
⮚ Processamento automático: Acontece com toda a gente, mas os bons
psicólogos estão atentos a isto e tentam evitar erros de processamento,
duvidando sempre das suas estratégias de tomada de decisão
⮚ Erro do caso único: Não se enquadra em nenhum caso clínico

→ Os erros ocorrem porque:


● Estratégias não são adequadas aos problemas
● Complexidade de informação excede a capacidade cognitiva do avaliador
● Difíceis de percecionar ou lapsos de desempenho

⮚ Heurísticas: Simplificar/Filtrar informação para poupar tempo e energia


(forma como se processa a tomada de decisão
⮚ Enviesamento: Algo inconsciente que me pode levar ao erro (se tomar
consciência de que está a corre o enviesamento não existirá erro)
⮚ Enviesamentos confirmatórios: Primeiras impressões – É importante
perceber se a pessoa demonstrou nervosismo por questões de personalidade
ou se teve problemas para estacionar para vir para a consulta

Correlações ilusórias (enviesamentos e erros)


● Interpretações de correlação entre duas classes de acontecimentos que não
estão correlacionados
● Simples associação de ideias sem suporte empírico
● Quanto mais informação tiver que confirma essa relação mais se intensifica o
enviesamento confirmatório

⮚ Heurística da disponibilidade: Recordação seletiva de acontecimentos


anteriores, facilidade de evocação – Ex: Valorizar uma experiência isolada
⮚ Heurística da representatividade: Não podemos avaliar aspetos específicos da
inteligência com amostras de inventários e achar que avaliando um aspeto
estou a avaliar todo o conceito de inteligência por considerarmos ser
representativo – Um atalho que leva ao erro
o Rastreio cognitivo: Se os itens que rastreiam a memória, não podemos
dizer que a pessoa tem problemas de memória, devemos fazer um teste
que avalie apenas e especificamente a memória para tirar esta
conclusão, porque esta pontuação baixa pode estar associada a outro
aspeto que influencia a memória
⮚ Heurística do carater único: Tem de existir idiossincrasia para cada caso, mas
também tem de existir normatividade, tem de se inserir numa classe com
padrões em comum
⮚ Erro fundamental da atribuição: Subestimar alguns aspetos e valorizar
excessivamente outros aspetos
⮚ Enviesamento a posteriori da previsão: Tendência para assumir que os
resultados são previsíveis ou inevitáveis – Ex: Se a pessoa tem Alzheimer já se
espera que venha a desenvolver falhas de memória

Erro aleatório = Não se consegue perceber a origem do erro


Erro sistemático = Teste mal aplicado pelo avaliador (não seguiu as instruções do
instrumento levando a resultados inválidos)

Aula 5- 23 de março

Fases do processo de avaliação


1) Consentimento informado
a. Dar a conhecer os objetivos da avaliação e dar a conhecer os recursos
disponíveis para a sua realização
b. Obter permissão para conduzir a avaliação
2) Identificação/explicitação do pedido
a. Identificar o motivo do pedido de avaliação
b. Através de entrevista conhecer o contexto e características da
problemática atual
c. Esboçar uma primeira formulação do caso e estabelecer hipóteses
3) Planificação da avaliação
a. Selecionar de acordo com o ponto II. as informações que é necessário
recolher através de instrumentos e outros dados
b. Escolher criteriosamente os instrumentos, e outros métodos de recolha
de dados
4) Recolha de dados (aplicação de provas)
a. Identificação da história de desenvolvimento e exame do estado mental
b. Administração dos instrumentos selecionados na fase III
5) Resultados
a. Cotação de provas
b. Redução do problema a pontos fracos e fortes, identificação da
quantidade e qualidade dos problemas
6) Validação da Formulação
a. Formulação mais “definitiva” do caso, com juízos de diagnóstico e
prognóstico adequados aos resultados encontrados
b. Identificar objetivos/hipóteses finais específicas
7) Comunicação dos resultados
a. Normalmente ocorre sob a forma de um Relatório Psicológico
b. Deve ser adequada/integrada ao Motivo do Pedido, a Quem fez o
Pedido, e a quem estamos a devolver a informação
8) Tomada de decisão
a. Orientação para os próximos passos a seguir (Recomendações para
seguimento)
9) Técnicas de intervenção
10) Monitorização

Entrevista
● Principal técnica de avaliação, sendo insubstituível e indispensável para o
trabalho do psicólogo
● Forma de comunicação e de troca verbal numa situação de face a face
orientada para a procura de informação relevante
o Comunicar corresponde a vários objetivos: trocar informações.
Estabelecer relações, “saber o que se sabia antes”
● Usualmente, constitui o primeiro momento de contacto com o sujeito (e
pessoas significativas) e o caso
● Primeiro passo no processo de avaliação e de formulação de hipóteses acerca
dos problemas comunicados e identificados

Objetivos da entrevista
● Geral: Desenvolvimento de hipóteses testáveis acerca dos fatores que
contribuem para os atuais problemas do sujeito e que podem ser relevantes
para a posterior planificação da intervenção
● Facultar informação acerca dos problemas subjacentes ao pedido de
consulta/avaliação → Funcionamento psicológico do sujeito; identificação do
modo como os problemas afetam o sujeito (ex: relações familiares, sociais,
profissionais/escolares)
● Obter consentimento informado e estabelecer relação necessária e positiva
entre avaliador, sujeito e outros interlocutores
● Delimitar e explicitar as fases posteriores da avaliação (processo de avaliação,
enquadramento temporal, assegurar confidencialidade custos/pagamento)
● Solicitar autorização para o envolvimento de outros interlocutores (ex:
professor, outro familiar)
● A informação obtida a partir da(s) entrevista(s) escolha de medidas e de
instrumentos de avaliação adicionais
● Identificar preocupações, expectativas, objetivos, perceções, sentimentos
acerca do problema
● Precisar áreas “e áreas “de dificuldade” do sujeito
● Motivação e recursos existentes para a modificação da situação
● Informação relevante para identificação e análise funcional dos
comportamentos alvo (fatores que os suscitam e mantêm)
● Informação relevante para a planificação e avaliação da intervenção
● Restituição de informação/ entrevista de restituição de informação
o Usualmente, as entrevistas são empregues como: instrumentos de
despiste screening e/ou diagnóstico de problemas

→ Flexibilidade: Se o processo de investigação inclui mais do que uma pessoa


e estas se chateiam temos de perceber se é possível continuar a investigação e
tentar adaptar
→ Se eu já recolhi toda a informação e vou começar a avaliação psicológica,
mas a pessoa nos dá mais informação, nós temos de recolher aquela
informação extra e marcamos mais uma sessão para a avaliação –
flexibilizamos
→ Devemos ter cuidado com a informação que devolvemos às perguntas que
os pacientes fazem sobre nós e sobre a nossa vida
→ É importante adotar a postura de, enquanto estamos com a criança, ela é
única responsável pelo que está a ser dita por ela própria, nós temos de a
tratar como experts, como se eles fossem autónomos e não precisássemos de
confirmar tudo o que é dito com os pais

Entrevista psicológica inicial


⮚ O tipo de informação recolhida (geral ou específica) depende das competências
do/a psicólogo/a, nomeadamente ao nível da escuta ativa e formulação de
perguntas
⮚ Nesta fase, é importante:
o Clarificar o pedido (perceber o porquê e o contexto em que a avaliação
foi solicitada)
o Compreender os problemas e sentimentos do cliente
o Elaborar hipóteses pertinentes (neste ponto é importante também
perceber a quem nos dirigimos, para que possamos fazer a comunicação
dos resultados, de forma eficaz)
⮚ Passar de um desconhecimento mútuo ao conhecimento do paciente →
Através da utilização, por parte do/a psicólogo/a, de conhecimentos,
experiências e técnicas

Técnicas de entrevista
● Técnica com elevada flexibilidade (No desenrolar da entrevista, apesar dos
objetivos pré-estabelecidos, o/a psicólogo/a deve adaptar se às características
únicas do/a cliente)
● Técnica polivalente
o Função motivadora
o Função clarificadora
o Função terapêutica

Áreas ou momentos de avaliação (durante a entrevista)


1) Informação demográfica
o Data de nascimento, ano de escolaridade, agregado familiar)
o Pode ser bom início de conversa, ice-breaker e ir avaliando os recursos
cognitivos e de memória que a pessoa tem, logo aí vemos a capacidade
das pessoas, se respondem de forma vaga, se está orientada no tempo e
no espaço, etc.
o Neste momento, a pessoa pode continuar acompanhada por uma
pessoa, pela mãe, um amigo, marido, filha (é importante deixar a pessoa
acompanhada para que se sinta confortável no início)
2) Áreas gerais de preocupação
o Descrições ou indicações gerais acerca do problema
o O que traz a pessoa à consulta, o tipo de problemas ou dificuldades que
tem tido, etc.
o Nesta fase, o acompanhante tem de ficar lá fora à espera (no caso das
crianças, se a criança não quer de todo deixar a mãe, esta pode ficar
dentro do espaço da consulta, mas sentada longe da criança numa
cadeira e secretária à parte, fora do campo de visão da criança)
3) Análise precisa da situação problemática
o Questionar de modo a obter descrições objetivas, precisas e
pormenorizadas de comportamentos específicos e observáveis, motivo
de preocupação
o Exemplo: O que leva a dizer que o João é hiperativo; dê-me
alguns exemplos; descreva
o Saber quais as condições do meio que circunscrevem o
comportamento-alvo (circunstâncias, acontecimentos que ocorrem
antes/antecedentes, durante/estímulos sequenciais e depois/
consequências → Análise funcional
o Exemplo: O que acontece imediatamente antes do João se
levantar do lugar?
o Devemos desviar as questões sobre o João para a família para
perceber se aconteceu algo que despoletou este
comportamento-alvo
o Devemos perceber em que situações e locais específicos o problema se
manifesta
o Documentar a natureza especifica, a frequência, a duração, a
intensidade, o número e combinação de comportamentos
o Documentar as circunstâncias de aparecimento do problema (incluindo
a idade de aparecimento dos sintomas) e a natureza crónica dos
comportamentos
o Documentar a variação temporal e situacional de comportamentos e
consequências
o Gravidade da situação problemática
o Intervenção
o Perceber as variáveis normativas do desenvolvimento
o Perceber o padrão de interação (com os pais, com os professores) →
Análise funcional
o Recurso a escalas de avaliação de comportamento
▪ A análise precisa da situação problemática continua até se
determinar claramente a existência de um ‘problema a sua
natureza e extensão, os antecedentes do comportamento
problema, as consequências que acompanham tal
comportamento

4) Informação da história acerca dos problemas (história de desenvolvimento,


médica, escolar, social) e informação acerca de esforços prévios de intervenção
(avaliar se já tinha este comportamento e se já foi acompanhado, perceber o
porque dos pais terem desistido das consultas)

5) Avaliação das expectativas e objetivos dos mediadores


o Exemplo: Que comportamento gostaria que o João manifestasse nessa
situação? O que deseja mudar no comportamento do João? Qual é o
número de interrupções que considera aceitável

6) Variáveis relacionadas com a família (história familiar, suporte/recursos na


família e na comunidade)
7) Determinação do potencial de mediação dos pais e ou professores
8) Determinação de reforços (condições, objetos, acontecimentos disponíveis que
podem ser utilizados como reforços)
9) Breve discussão acerca da avaliação (depois da entrevista com a criança é
realizada uma breve discussão com os pais e ou professores acerca da avaliação
e da intervenção)
10) Entrevista de restituição/devolução da informação
o A entrevista, como instrumento de avaliação, continua através da
formulação e implementação da intervenção (neste sentido, ser usada
como medida de eficácia do programa de intervenção)

Entrevista inicial – 3 etapas:


● Pré-entrevista
o Contato prévio com o cliente que deverá permitir a recolha de dados
acerca do paciente, motivo da consulta e requerente
● Entrevista (importante ir avisando o paciente que faltam 15 minutos para
acabar a entrevista para a pessoa saiba que está constrangida no tempo)
o Conhecimento mútuo
▪ Contacto físico / cumprimentar o paciente
▪ Sentar
▪ Clarificar os objetivos da consulta (perceber porque é que a
pessoa solicitou aquela consulta)
o Exploração e identificação do problema
▪ Fase crítica da entrevista
▪ Cliente formula problema/pedido de ajuda
▪ Psicólogo/a escuta (ativamente), observa o comportamento do
cliente, formulando hipóteses
▪ Síntese dos problemas apresentados
o Despedida
▪ Enquadrar o plano de trabalho
▪ Estabelecer novo compromisso
▪ Despedida física
● Pós-entrevista
o Serve para complementar as notas que tenham sido tiradas no decorrer
da entrevista e anotar impressões
o Elaborar mapa concetual dos problemas (juntando informação recolhida
da pessoa, dos pais e dos professores)

Análise e compreensão do problema


→ É moldada pelo modelo teórico utilizado pelo/a psicólogo/a
→ Devem considerar se os seguintes aspetos: motivo de consulta, perceber do
sujeito, análise do pedido, antecedentes e consequentes, severidade do problema,
tentativas de solução, hierarquizar os problemas, definição operativa, hipóteses
diagnósticas iniciais e prognóstico

Exame mental
● Aparência e comportamento; Discurso; Emoções; Pensamentos; Perceções;
Estado cognitivo; Insight

Características de um bom entrevistador


→ Características atitudinais
● Empatia
● Proximidade afetiva
● Competência
● Flexibilidade e tolerância
● Honestidade e ética profissional

→ NOTA: Flexibilidade e tolerância - Precisamos da colaboração do paciente para


conseguirmos estabelecer uma relação terapêutica, necessitamos de incentivar e
promover essa colaboração e atenção → Por esse motivo não devemos insistir se a
criança não quiser, a criança deve responder às perguntas de livre vontade, para se
estabelecer uma relação e as respostas serem consideradas válidas

→ Competências de escuta
● Deixar falar
● Escuta ativa
● Baixa reatividade verbal (latência prolongada do entrevistador)
● Silêncios instrumentais

→ NOTA: O psicólogo consegue recolher informação até quando a pessoa está em


silêncio (através da postura corporal, se está inquieta, se está distraída).
Os silêncios instrumentais podem ser utilizados, por exemplo, para demonstrar ao
paciente que queremos que este desenvolva a resposta ou para darmos tempo à
pessoa para refletir e interiorizar aquilo que foi dito.

→ Competências de comunicação - Gestão de verbalizações


● Estratégias para elicitar respostas/estimular comunicação
o Técnica de espelho
▪ Ex: A pessoa diz “eu sinto-me ansiosa quando estou na escola” e
o psicólogo devolve “acabou de me dizer que se sente ansiosa
quando está na escola. Fale-me mais sobre isso”)
o Dar a palavra (“continue, por favor”)
o Comentários confirmatórios (a pessoa abre-se mais com o psicólogo
porque percebe que está a ser ouvida e compreendida)
o Feedback
▪ Reformulação
▪ Feedback sobre o comportamento
o Sinalizar/destacar
o Interpretação
o Aterragem de para-quedas (confrontação - perceber se a pessoa sabe o
que está ali a fazer na consulta)

● Estratégias para fazer questões


o Perguntas abertas
▪ Permitem, numa fase inicial, que o paciente se expresse nas suas
próprias palavras, ao seu ritmo, na ordem que lhe convier
o Perguntas fechadas
▪ Úteis para confirmar uma informação; restringem a informação e
o foco de investigação
o Devolver a pergunta
▪ Demonstrando ao paciente que este tem capacidade de chegar à
resposta que procura
o Perguntas facilitadora
▪ Não criam ambiguidade (ex: O que faz quando fica nervoso?)
o Perguntas clarificadoras
▪Questionar ao paciente qual o seu entendimento de algo em
concreto
o Perguntas com legenda
▪ Implicam um posicionamento.
o Perguntas guiadas (que já tem a resposta subentendida)
o Perguntas de confrontação

● Outras intervenções verbais – Técnicas de pressão


o Confrontação direta (confrontar o paciente com informação
contraditória)
o Limite de tempo (recordar ao paciente o limite de tempo da entrevista)
o Outras regras (recordar limites estabelecidos para o comportamento
durante a entrevista: não fumar, não abandonar o local)
o Centrar o problema/revisão de sintomas (ser incisivo nas questões
quando falta objetividade ao discurso do paciente)

Tipos de entrevista
● Pelo nível de estruturação: Estruturada; Semiestruturada; Aberta
● De acordo com a sua finalidade: Diagnóstica; Consultiva; Orientação vocacional;
Terapêutica/aconselhamento; Investigação
● Em função da temporalidade: Inicial; Informação complementar; Anamnese; De
devolução; Alta clínica
● Em função da idade: Crianças e adolescentes; Adultos (Relacionamentos;
parentalidade; problemas profissionais; limitações físicas/psicológicas); Idosos

Aula 6- 30 de março

Entrevista → Em Avaliação Psicológica é o método mais básico e mais frequentemente


utilizado; 95% dos psicólogos clínicos usam entrevistas, os outros 5 ocupam
provavelmente posições administrativas.
→ É um instrumento indispensável e insubstituível para obter informações relativas ao
sofrimento do sujeito, dificuldades de vida, acontecimentos vividos, história, relações
com os outros, vida íntima, sonhos, fantasmas.

Entrevista clínica
● Regras técnicas, atitudes (movimentos psíquicos)
● Faz parte do método clínico (centrado no estudo de casos individuais)
● Método clínico compreende:
o Uma clínica de mãos nuas - Entrevista e observação
o Uma clínica instrumental - Escalas, questionários e inventários clínicos,
testes de inteligência, testes projetivos, e outros instrumentos de
avaliação da personalidade

Conceitos em torno de uma entrevista


→ Atenção; Benevolência/Bondade; Confidência; Conselho/Aconselhamento;
Contradição; Conteúdo manifesto e conteúdo latente; Escuta; Defesas; Transferência e
Contra-transferência; Empatia; Identificação

1) Atenção
● Concentração sobre o objeto, sobre o outro, sobre o que não foi dito antes
● Atitude /orientação interna do entrevistador para o destinatário
● Restaurar as ligações entre os vários elementos do discurso ou diferentes
sequências aparentemente heterogéneas do discurso do sujeito
● Atenção igualmente flutuante: Todas as palavras usadas, enunciadas por um
sujeito são à priori colocadas sob um mesmo plano, evitando privilegiar
algumas ou minimizar outras
● Atenção clínica numa entrevista: Ligar/associar tudo o que é presentemente
dito ao que já foi dito, estabelecer aproximações, conexões entre diferentes
elementos do mundo interno do sujeito em uma ou mais entrevistas
● A atenção tem limites:
o Fixar a duração da entrevista [prolongar a duração de uma entrevista
não permite acumular informações novas ou aprofundar a problemática
enunciada]
o Atenção será sustentada se for circunscrita no tempo da entrevista

2) Benevolência
● Neutralidade indulgente/benevolente (Entrevistador e paciente encontram-se
ao mesmo nível para que o paciente se sinta confortável para partilhar
informações com este)
o Intenção de fazer o bem, ajudar, analisar, curar
o Benevolência: um objetivo (sujeito)
o Atenção benevolente do psicólogo e do sujeito relativamente a si
próprio (ex: A pessoa vem com uma atitude muito pouco benevolente
sobre si próprio, que não tem salvação que a culpa é sua e o psicólogo
deve ajudar nesta questão)
o O entrevistador não deve formular juízos, críticas ou desaprovação
relativamente ao sujeito
o Assegurar confiança ao sujeito para este se exprimir livremente.

3) Confidência
● Entrevista clínica pode ser representada como um espaço de confidências:
discrição/reserva, segredo, intimidade, …
● Dizer/falar numa entrevista clínica: Confiar qualquer coisa de íntimo a alguém
disponível para acolher através de uma escuta atenta e discreta/reservada
● Devemos dar ao paciente uma espécie de consentimento informado, dizer que
a informação exposta na consulta não será partilhada com ninguém, e se for
partilhada, informar quem serão as pessoas com as quais vamos partilhar (ex:
psiquiatra). Para além disso, o psicólogo deve explicar um pouco sobre quais
serão as perguntas feitas na entrevista, para deixar a pessoa à vontade
4) Conselho
● Entrevista de aconselhamento: Descobrir por si mesmo (expetativas, receios,
etc.), suspender a guardar inteira disponibilidade, incentivar a precisar o
pedido, acompanhar um trabalho de associação reconhecido pelo sujeito
relativamente ao pedido [problemática do sujeito]
● Conselho: Testemunho da atenção ao sujeito, não uma ordem imperativa ou
obrigatória
Nota: Não é possível aconselhar sem conhecer, a partir de uma
nomenclatura/terminologia, de uma tipologia a priori...

5) Conteúdo manifesto VS latente


● Conteúdo manifesto: O que o sujeito diz
● Conteúdo latente
o Representações e significações, por vezes implícitas, associadas ao
discurso
o Aproximação ao funcionamento verdadeiro do sujeito e à maneira como
o próprio sujeito se posiciona relativamente ao seu próprio discurso
o Atenção ao que é dito e ao modo como é dito os silêncios, as mudanças
temáticas, os aspetos emocionais são tão importantes como a própria
narrativa/discurso

6) Contradição
● Tarefa do entrevistador: Benevolência com que pode sustentar a sua
manifestação, sobretudo nos sujeitos para quem a contradição é uma espécie
de drama ou catástrofe
● A aceitação da contradição pelo entrevistador poderá constituir a primeira
abordagem aceitável para quem sofre (postura clínica)
● A contradição faz parte de toda a experiência subjetiva e arriscar a sua exclusão
do discurso de um sujeito pode expulsar toda a manifestação da subjetividade
na Entrevista Clínica

→ NOTA: É importante perceber as contradições e confrontar o paciente para lhe pedir


que clarifique ou para reorientar a pessoa (ex: quando o psicólogo pede alguma coisa e
a pessoa fez o contrário, talvez o tenha feito porque não percebeu e necessita de ser
reorientada) – Posto isto, a técnica de confrontação não significa apontar o dedo ao
paciente porque se contradisse

● Outras utilidades da técnica da confrontação: Reorientação para a realidade –


Ex: Um paciente que afirma que está sempre triste, chamá-lo à atenção para o
facto de ter mencionado, na semana passada, que teve um momento feliz pode
ajudá-la a reorientá-la e combater esta memória seletiva que se foca apenas
nos acontecimentos negativos (isto pode ajudá-la a não ficar tão desmotivado)
● Às vezes, a pessoa não gosta de ser chamada à atenção pelas suas contradições
e fica na defensiva (neste caso, devemos desistir dessa abordagem)

7) Escuta
● É o “fazer” do entrevistador (clínico), a única manifestação possível do clínico
● Não é uma “intervenção” para falar, mas condição necessária a qualquer forma
de intervenção
● É a recusa de matar a palavra do outro, mas é também a recusa em
cessar/descontinuar a avaliação no sintoma [O sintoma pode ser um sinal, uma
forma de linguagem]
● Não é uma aceitação plana /niveladora e sem crítica da palavra do sujeito
● Pressupõe uma disponibilidade sem censura prévia, mas não significa
aprovação sistemática das ideias, fatos e gestos do sujeito.
● A aprovação, quando tem lugar, é relativa a sentimentos e tem como objetivo
permitir a manifestação de fantasmas e desejos

→ NOTA: O controlo e o poder são partilhados na entrevista


→ O centro da entrevista é o paciente, ele é o responsável por aquilo que está a ser
dito na entrevista
→ Escutar é mais do que ouvir (é também ver, comparar, refletir)
● Ouvir: Perceber o que o outro diz e como diz
● Observar: Postura, gestos, expressão facial
● Comparar: Dissonâncias quando se muda a temática

→ Atitudes importantes na escuta:


● A centralidade da experiência interior
● Não há historiadores ruins
● A resposta está sempre dentro do paciente
● Controlo e poder são compartilhados na entrevista
● Tudo bem se sentir confuso e incerto
● A verdade objetiva nunca é tão simples quanto parece
● Ouça a si mesmo também
● Tudo o que você ouve é modificado pelos filtros do paciente
● Tudo o que você ouve é modificado por seus próprios filtros
● Sempre haverá outra oportunidade de ouvir mais claramente

8) Defesa
- A forma como a pessoa se expressa é muito rotineira e automática e é muito
difícil mudar isso e mudar os mecanismos de defesa porque estão muito internalizados

● Negação: Das poucas que é empregue conscientemente. Recusa a admitir ou


reconhecer a realidade ou uma verdade óbvia
● Deslocamento: Descarregar as frustrações, sentimentos e impulsos numa
pessoa menos ameaçadora ou num objeto
● Dissociação: Desapego mental do seu ambiente em redor, em casos extremos
pode levar à fuga dissociativa (ocorre em casos de maior trauma, a pessoa fala
na situação com o maior detalhe, mas sempre como se estivesse a ver de fora e
como se não tivesse acontecido com ela)
● Fantasia: Tendência a retrair-se para a sua imaginação, para resolver ou evitar
conflito psíquico
● Humor: Uma defesa madura. Fazer piadas sobre que, de outra forma, seria
difícil falar delas
● Identificação: Juntar-se a outra pessoa ou modelar o comportamento, os seus
ideais ou crenças com base no dessa pessoa. Por vezes empregue para escapar
a sentimentos de inveja
● Intelectualização: Usar abstração ou raciocínio científico para evitar uma
experiência direta ou sentimentos difíceis
● Isolamento do afeto: Criar um intervalo/espaço entre uma emoção e a
experiência dessa emoção
● Projeção: Acusar outra pessoa de ter o sentimento que me é difícil expressar
● Racionalização: Usar explicações lógicas ou raciocínios para tomar certos
comportamentos e sentimentos toleráveis, inventar desculpas
● Regressão: Regredir para um momento de desenvolvimento precoce
● Repressão: A exclusão de impulsos ou experiências inaceitáveis da consciência
● Somatização: Expressão de emoção negativa ou conflito físico através do corpo
via sintomas físicos sem causa médica
● Divisão: Pensamento a preto e branco, a incapacidade de integrar os aspetos
bons e maus do self ou de outros
● Sublimação: Canalização de impulsos inaceitáveis para comportamentos mais
socialmente aceitáveis (ex: A pessoa começa a fazer ginásio e várias outras
coisas que não fazia antes, muito provavelmente porque está a tentar fugir de
alguma coisa ou abstrair-se do que a preocupa)

9) Transferência
● Os fenómenos de transferência desempenham papel importante nas
entrevistas
● Os fenómenos de transferência são observáveis tanto no entrevistado (como no
entrevistador nesta última situação contratransferência)
● A relação que o sujeito estabelece com o outro é função:
o em parte da situação real (entrevista)
o em parte daquilo que cada um é (estrutura da personalidade) e do que
cada um traz da sua história, da sua organização mental e das suas
relações passadas
● Transferência: Corresponde a este tipo de transposição para uma dada relação
(de modalidades relacionais inconscientes e puramente imaginárias, que
dependem de experiências anteriores (infantis, …)

10) Contratransferência
● Serve para reconhecer os efeitos do discurso do sujeito sobre os sentimentos
inconscientes do entrevistador
● Conjunto de reações inconscientes do psicólogo (entrevistador) relativamente
ao seu interlocutor e, particularmente, às manifestações de transferência deste
● A contratransferência contra atitude comporta duas dimensões:
o Uma é constituída por respostas específicas conscientes e inconscientes
do entrevistador em relação à sua problemática pessoal, isto é, aquilo
que o discurso do sujeito (pode lembrar/trazer de volta ao
entrevistador)
o Na outra dimensão, converte se num instrumento de diagnóstico as
relações contra-transferênciais induzidas pelo sujeito no entrevistador
vão ajudar este último a compreender melhor o sujeito entrevistado
● Exemplo: Alguns sujeitos podem desencadear movimentos contra
transferênciais específicos junto do entrevistador

● Atitude caritativa ou superprotetora


o Subjacente a um forte desejo de reparação, de cuidar e curar/remediar
rapidamente
o Atitude bem-intencionada, mas que não resolve nada não introduz
nenhuma melhoria sendo mesmo prejudicial já que
inferioriza/infantiliza o sujeito, não lhe permitindo evoluir,
autonomizar-se
o O sujeito deve ser considerado como um ator de parte inteira no
processo terapêutico (relação entre iguais, dimensão ética)

● Outros exemplos de manifestações contra transferênciais por parte do


entrevistador:
o Esquecer uma sessão de avaliação/psicoterapêutica
o Receber a pessoa com atraso
o Prolongar significativamente a duração de uma entrevista,
o Abandonar-se a uma ligeira compaixão
o Pensar noutra(s) coisa(s)
o Associar as intenções do sujeito à sua vida pessoal

● Importante reter:
o É impensável e inútil imaginar poder dominar, controlar os movimentos
originários do inconsciente
o Estilos de resposta interpessoais, dependentes de características da
personalidade, podem prejudicar o curso da entrevista.

→ NOTA: Alguns psicólogos começam, inevitavelmente, a fazer juízos de valor antes de


acabar a entrevista porque já tem muita experiência e já tiveram vários pacientes
parecidos com aquele, tirando conclusões precipitadas (por este motivo só se deve
fazer a avaliação psicológica no final da entrevista)
→ Qualquer psicológico é acompanhado constantemente por outro psicólogo clínico
(fazem psicoterapia)
→ Pode ser mais difícil lidar com a situação de uma criança pequena com depressão
quando o psicólogo também tem uma criança pequena (neste caso, o psicólogo não
consegue ser tão imparcial como teria se a pessoa tivesse uma realidade mais
desfasada da sua)
→ Se o psicólogo não estiver bem a nível psicológico, não pode atender outras
pessoas. Isso não quer dizer que um psicólogo com síndrome de asperger ou com uma
perturbação de ansiedade não possa exercer. Este pode exercer desde que a doença
esteja controlada e isso não interfira na relação terapêutica, nos níveis de atenção, etc.

11) Empatia
● Princípio essencial da psicoterapia e da sua eficácia (conceção humanista da
Psicologia)
● A compreensão empática é uma atitude clínica: Trata-se de compreender, de
maneira exata, o mundo interior do sujeito numa espécie de apreensão
intuitiva:
o Intuição do que se passa no outro, sem esquecer que somos nós
próprios”
o Entender, tão exatamente quanto possível, as referências internas e as
componentes emocionais de uma outra pessoa e compreendê-las como
se fôssemos essa outra pessoa”
o Capacidade de compreender o estado mental do outro identificando-se
transitoriamente a esse outro
● Não é simpatia (não se trata de partilhar um sentimento ou uma crença, mas
sobretudo, de “representar os sentimentos, os desejos e as crenças do outro
● Compreender comporta um risco, o medo da mudança → “Se eu compreendo
realmente uma pessoa, eu entro no seu quadro de referência, e é possível que
esta compreensão me faça mudar”
● Duas dimensões na Empatia
o Uma dimensão cognitiva trata-se de tentar apreender o contexto
representacional do sujeito e compreender o seu ponto de vista
o Uma dimensão afetiva necessariamente ligada à primeira, onde se trata
de se representar e experienciar o que o sujeito experimenta, sem
partilhar as suas crenças e os seus sentimentos
● Não é um estado, mas um movimento constante na relação

→ NOTA: É importante redirecionar a pessoa para o seu ponto de vista quando faz
referência à opinião de outras pessoas, pois o centro da avaliação psicológica é a sua
opinião e não a opinião dos outros

12) Identificação
- Para Freud a noção de Empatia está associada à Identificação
o É um processo inconsciente “um sujeito assimila um aspeto, uma
propriedade, um atributo do outro
o Uma atividade consciente de reconhecimento
o Identificação no sentido de reconhecer sentir o que o sujeito pensa
(“sentir intuitivamente a sua sensibilidade”) [Entrevista, história,
trabalho de reconhecimento]
o Estar parcial e temporalmente no lugar do outro

Entrevista - Relatório
● Produção de relatórios de entrevista.
● Dar conta de um modo de funcionamento psíquico a partir do discurso do
sujeito
● Dar sentido e valor ao que é vivido (emergência do subjetivo)
● O relatório não é a difusão simples de um diagnóstico ou prognóstico, mas
possibilidade de apreender transferência e reações de contratransferência
● O relatório não fecha, mas relança a atividade clínica: escuta, interrogações,
associações suscitadas pelo Relatório
● Relatório após a entrevista [de restituição de informação]

→ NOTA: É importante mencionar no relatório aspetos, como por exemplo, que temas
o paciente evitou, teve mais dificuldade de abordar ou se notou algum desconforto ao
nível da linguagem não verbal

Comportamentos do entrevistador
● Princípios gerais e conselhos técnicos
● Técnicas que remetem para comportamentos verbais
● Técnicas que remetem para comportamentos não verbais
● Formatos de entrevista

1) Condições para uma “atitude positiva do entrevistador” (Carl Rogers)


a. Atitude positiva de recetividade, acolhimento e disponibilidade para
que o sujeito se sinta num estado de aceitação incondicional
b. Centrar-se sobre o que é vivido pelo sujeito
c. Manifestar um respeito absoluto (consideração real) pela
individualidade do sujeito
d. Estabelecer com o sujeito uma relação de empatia
e. Considerar o sujeito como um ser-em-devir, com potencialidades e
aberto à mudança
2) Comportamentos do entrevistador (Andrews)
a. Experimentar um interesse autêntico pelo sujeito.
b. Saber escutar
c. Ser um bom observador dos comportamentos
d. Ser capaz de captar a motivação do seu comportamento

Carl Rogers:
“Atitude positiva de recetividade, acolhimento e disponibilidade” para que o sujeito se
sinta num “estado de aceitação incondicional”
● O contrário de uma atitude de iniciativa que coloca o sujeito na obrigação de
responder
● O sujeito como um convidado
● Atitude positiva significa “calor, atenção, interesse, afeição e respeito” pelos
aspetos que o sujeito julga bem mostrar

Centrar se sobre “o que é vivido pelo sujeito”


● Não se centrar sobre os factos que ele evoca não interessa tanto os factos
objetivos, mas a maneira como o sujeito experiência as coisas, as pessoas e os
acontecimentos
● Interessar-se pela pessoa do sujeito, pelo problema (do ponto de vista do
sujeito e não pelo problema em si mesmo, de um ponto de vista objetivo
● Estar centrado sobre o sujeito e as suas impressões, sentimentos e
pensamentos
→ NOTA: O objetivo não é focarmo-nos no problema em si, mas no problema do ponto
de vista do sujeito. A pessoa não foi à consulta resolver o problema, mas os aspetos
provocados pelo problema (Ex: “Não vejo a minha mãe há 2 anos” – Solução: Visitar a
mãe – A solução para este problema é simples, mas isto não ajuda o paciente a lidar
com aspetos emocionais que o impedem de ir visitar a mãe, acabando por não resolver
de todo o problema existente)

Manifestar um “respeito absoluto (consideração real) pela individualidade do sujeito”


● A relação é de escuta e compreensão e não uma relação de julgamento, crítica,
culpabilização, manifestação de perspicácia psicológica ou de dominação por
parte do entrevistador que impede a comunicação
● Dar ao sujeito a certeza de que o entrevistador respeita a sua maneira de ver,
viver ou compreender

Estabelecer com o sujeito uma “relação de empatia”


● A empatia permite compreender o outro, perceber as emoções e as
significações pessoais do universo do sujeito sem experimentar as mesmas
emoções (ex: ansiedade ou depressão)
● O esforço do entrevistador deve ser orientado para facilitar a comunicação,
ajudando o sujeito a formular o seu problema
● A “compreensão empática não é uma técnica”
● Uma “escala” de empatia (níveis de empatia)
o Podemos ter vários níveis de empatia e perceber se isso faz diferença na
relação terapêutica (EX: Estar ali com a pessoa ou estar ali e sentir com a
pessoa é diferente, há pessoas que nos querem distanciados da sua
realidade, outras querem partilhar a sua dor connosco)

Considerar o sujeito como um “ser-em-devir”, com potencialidades e aberto à


mudança (e não como algo definido por uma classificação diagnóstica ou determinado
pelo seu passado)
● Condições oferecidas pelo psicoterapeuta: Congruência; olhar positivo
incondicional; compreensão empática. A perceção destas condições por parte
do cliente facilita nestes processos de self-discosure, self-exploration,
self-directed e self-discovery que contribuem para a mudanças no
comportamento. Estas alterações constituem elementos no processo de
auto-atualização e são únicos para cada cliente

→ NOTA: Olhar positivo incondicional – A pessoa, às vezes, sente-se fragmentada


porque diferentes pessoas querem que ela seja coisas diferentes, uns incentivam-na a
ser rebelde, outros a ser certinha (a pessoa acaba por se sentir confusa e perdida). O
psicólogo deve aceitá-la como ela é, com o seu lado bom e mau, para que a pessoa se
exponha e que comece a ser verdadeira com ela própria ao nível da sua personalidade
Andrews:
Experimentar um interesse autêntico pelo sujeito
● Interesse compreensivo e benevolente que o cliente possa reconhecer
imediatamente como sincero e verdadeiro
● O sujeito deve sentir se recebido e “aceite” como um amigo
Saber escutar
● Ser capaz de deixar o sujeito exprimir-se em toda a sua liberdade sem o
contrariar com as suas próprias opiniões, desejos ou teoria(s)
● Ser capaz, pela sua maneira de ser, de persuadir o sujeito que o entrevistador
está a ter um interesse autêntico pelo que o sujeito está a tentar dizer
Ser um bom observador dos comportamentos
● Estar atento não apenas às respostas verbais, mas também, aos
comportamentos, às mudanças de expressão
● A linguagem verbal, o que é dito, não esgota as possibilidades de comunicação
e avaliação
Ser capaz de captar a motivação do seu comportamento
● Entrevistador deve conhecer os seus “pontos fracos” e os seus “pontos fortes”

Competências básicas de um entrevistador


1. Conhecimento
● Psicopatologia e sistemas de classificação diagnóstica
● Entrevistas estruturadas de natureza diagnóstica
● Compreensão do desenvolvimento normal e patológico
● Consciência da influência do desenvolvimento na apresentação de
sintomas
● Consciência da influência da cultura no desenvolvimento e
manifestação de sintomas
● Conhecimento dos processos de condução da entrevista
2. Empatia
● Capacidade para perceber e compreender os sentimentos do cliente
como se o entrevistador os estivesse a experienciar
3. Validação
● Capacidade para usar técnicas verbais e não verbais (expressões faciais,
postura corporal) que comuniquem empatia
4. Linguagem do entrevistador
● Capacidade para formular questões de uma maneira clara e
compreensiva, sem uso do jargão clínico e considerando o nível escolar,
experiências de vida, vocabulário e linguagem do cliente
● Linguagem do entrevistador é o instrumento através do qual os
pacientes são orientados para a especificidade e clareza das suas
respostas
5. Gestão de tempo
● Capacidade para estimar a duração da entrevista
● Capacidade para estimar o andamento/ritmo apropriado da entrevista
● Capacidade para realizar uma avaliação completa no tempo previsto
→ A pessoa através da verbalização transporta-se para a situação. É a forma
possível que o psicólogo tem para explorar os problemas do paciente pois não
é possível avaliar as situações no tempo e espaço em que ocorrem
→ É sempre preferível começar sempre pelos pontos fortes do paciente, iniciar
a consulta com assuntos com os quais se sinta mais confortável, para depois
passar aos temas mais sensíveis
→ O estudante de psicologia deve treinar a sua capacidade de empatia – pode fazê-lo
com colegas de turma, procurando comunicar com pessoas que não nos damos tão
bem ou não nos identificamos
→ As perturbações de personalidade são muito difíceis de mudar, porque a pessoa não
sente necessidade de mudar porque não se sente mal ou incapacitada com aquela
psicopatologia
→ As pessoas às vezes conseguem escrever sobre determinada temática, mas não a
conseguem verbalizar!!
→ Psicoterapia - O entrevistado tem o controlo e estabelece os objetivos da entrevista
com o psicólogo, onde este o ajuda a gerir as suas expectativas

Técnicas úteis a serem utilizadas pelo entrevistador


● Competências de escuta que traduzem atenção ao que o sujeito verbaliza
● Modos de abordar a comunicação
o Comportamentos verbais
o Comportamentos não-verbais

Comportamentos verbais

● Técnica: Confrontação
o É uma descrição, não é uma acusação (pois isso suscitaria uma resposta
defensiva)
o O entrevistador chama a atenção para as discrepâncias/contradições
entre: as palavras e ações do sujeito; a perceção do sujeito e a perceção
do entrevistador; os valores pessoais do sujeito e os valores sociais
o O entrevistador centra-se: na discrepância entre as afirmações do
sujeito e o modo como ele se expressa; confronta o sujeito com a sua
incongruência e encoraja o sujeito a explorar essa
inconsistência/incoerência
▪ Às vezes, o psicólogo simplesmente não percebeu bem o que o
entrevistado lhe tentou transmitir, por isso é que é tão
importante a técnica da confrontação e a posterior clarificação
o Operacionalmente, a confrontação é uma frase composta por 2 partes:
▪ 1ª parte – Técnica do espelho: Repetir a mensagem do sujeito,
de forma exata e precisa
▪ 2ª parte – Apresentar a contradição

→ NOTA: A técnica de confrontação não deve ser utilizada com toda a gente e não
pode ser utilizada logo desde o início da entrevista, para que a pessoa não se feche. Só
depois da relação terapêutica estar estabelecida é que devemos utilizar esta técnica

● Técnica: Exploração
o Algumas áreas requerem uma revisão mais exaustiva do que a
inicialmente apresentada pelo cliente
o O entrevistador estrutura mais pormenorizadamente o questionamento
numa determinada área
o Alguns clientes esperam ser questionados acerca de determinados
tópicos e podem interrogar se porque é que isso não foi/é feito
o O entrevistador não deve ser relutante em explorar áreas consideradas
mais sensíveis

● Técnica: Reformulação/Reframing
o Técnica por vezes denominada de reestruturação cognitiva
o Atitudes, opiniões, crenças ou sentimentos são reformulados de modo a
assegurar uma maior adequação à realidade
o Pode facultar ao entrevistado uma nova perspetiva e contribuir para
eliminar algumas auto verbalizações que são frequentemente irracionais
e mal adaptativas
o Pode sugerir novos comportamentos e diferentes modos de pensar

● Técnica: Reflexão sobre os pensamentos (conteúdos cognitivos das afirmações)


o Técnica: Parafrasear e sumarizar as afirmações do sujeito
o Parafrasear
▪ Frequentemente usada para promover a compreensão e a
clarificação (diferente da reflexão que é usada sobretudo como
instrumento terapêutico)
▪ Para confirmar junto do cliente que ele está a ser escutado com
atenção
▪ Para verificar e clarificar as afirmações do sujeito saber se há
incompreensões, perceções incorretas relativamente às
afirmações do sujeito
o Sumarizar
▪ Quando os comentários do sujeito são extensos e/ou confusos

▪ Para dar direção e coerência à entrevista

▪ Para concluir a Entrevista

▪ Proporciona uma introdução a uma Entrevista posterior


o Remete para o modo como é transmitida a informação
o É importante considerar não apenas o que é dito (conteúdo discursivo)
mas, também, a maneira como é dito (postura, voz, etc.)
o Identificação das emoções ter em consideração a totalidade da
mensagem, identificando as emoções predominantes
o Sumarizar os aspetos emocionais daquilo que é comunicado

● Técnica: Humor
o Progressivo reconhecimento que o humor pode desempenhar um papel
nas entrevistas clínicas
o Deve sempre ser usado em benefício do cliente
o Positivamente: Pode reduzir a ansiedade, facilitar o movimento
terapêutico e melhorar o fluxo/ritmo da Entrevista/sessão
psicoterapêutica
o Negativamente: O cliente pode perceber ou sentir que não está a ser
considerado com seriedade

● Técnica: Auto-revelação (Ajuda a que a transferência ocorra, sem que o


psicólogo necessite se revelar demasiado sobre si)
o Tradição da psicoterapia psicanalítica analista deve manter se como uma
‘lousa em branco’ no decurso da psicoterapia para permitir que a
transferência se desenvolva
o De acordo com esta tradição desenvolveu se a crença de que o
terapeuta não deve revelar informação pessoal
o No presente, considera se que a autorrevelação pode ser pontualmente
usada com objetivos terapêuticos
o Exemplo: Caso de um paciente que não se valoriza e acha que não
conseguirá ter uma carreira de sucesso por ser disléxico – Técnica
utilizada psicólogo: “Eu sou psicólogo, sou disléxico e cheguei onde
cheguei, como pode ver não tem mal nenhum ser-se disléxico, só
precisamos de adaptar-nos à situação”

● Técnica: Questões abertas


o Encorajam o cliente a dar a sua perspetiva pessoal/subjetiva acerca da
situação/problema ou a falar dos seus sentimentos

● Técnica: Questões fechadas


o São úteis para obter informação precisa e para ajudar o entrevistado a
centrar-se num ponto específico
o Mas apresentam vários limites:
▪ Produzem menos informação

▪ Impedem o sujeito de explorar e clarificar a situação

▪ De um modo geral devem ser pouco utilizadas (a seguir a uma


questão fechada deve colocar se uma questão aberta)
▪ O recurso excessivo a questões fechadas pode introduzir
incomodidade, aborrecimento e irritação ao sujeito

● Técnica: Encorajamentos mínimos


o Serve para mostrar à pessoa que estou atenta ao que ela está a dizer
o Exemplos: Certo, Sim, Estou a ver, E depois?
o Risco: Uso excessivo destes estímulos verbais mínimos pode ter um
efeito negativo (efeito do tipo papagaio: pessoa que repete
insistentemente ou sem reflexão o que ouve ou lê)
Comportamentos não verbais

● Postura corporal
o Aberta, natural, relaxada, comunicando interesse
o Corpo ligeiramente inclinado para a frente, na direção do sujeito
o Movimentos de aceno com a cabeça
o Expressões faciais apropriadas em relação ao que está a ser discutido
▪ Ausência de expressão facial pode sugerir falta de interesse
▪ Expressão facial animada, a sua manifestação mais visível é o
sorriso
▪ O uso apropriado dos sorrisos pode ter um efeito poderoso
sobre os sujeitos, particularmente quando é acompanhado com
sinais de assentimento/ aceno feitos com a cabeça
▪ O uso contínuo do sorriso torna se, virtualmente, num estímulo
negativo
o Evitar estar sentado de uma maneira excessivamente rígida (p. ex.,
muito ereta), que não é uma postura natural
▪ O sujeito tem dificuldade em ficar relaxado
o Estar excessivamente relaxado (p. ex., sentado com os pés na cadeira)
▪ O sujeito pode sentir se incomodado e hesitar discutir as suas
dificuldades com o entrevistador

● Olhar – Contacto Visual


o É frequentemente indicativo da natureza/qualidade da relação entre as
pessoas
o Um bom contacto visual reforça o entrevistado; torna a comunicação
mais fácil; situa-se entre o “olhar fixo” e o “olhar evasivo ou fugidio”
▪ O “olhar fixo” ou “olhar de espanto” deixa o cliente inquieto
▪ O “olhar evasivo ou fugidio”, é sentido como traduzindo
desinteresse ou ansiedade por parte do entrevistador
o O olhar deve ser natural e direto, sem constituir um “olhar fixo”
o Comparativamente constante
▪ Quebras frequentes no contacto visual sugerem desinteresse,
desatenção; traduzem incapacidade em centrar se no sujeito e
no que ele comunica
o É mais adequado interromper
▪ Quando há um corte na discussão; Quando uma das partes está
a pensar; Quando se muda de assunto/tópico
o Um contacto visual apropriado é uma das componentes de escuta mais
importantes no sentido de sugerir ao sujeito que ele está a ser
acompanhado com atenção
o Exemplo de comportamento visual que pode aumentar/melhorar a
comunicação de uma mensagem complexa
▪ Olhar para o sujeito quando ele está a falar
▪ Deslocar, ocasionalmente, o olhar para um objeto não muito
distante do sujeito
▪ Voltar depois a olhar para o sujeito
o Tomar notas depois a entrevista, quando se está mais consciente das
questões essenciais; durante a entrevista: risco de distrair, perturbar,
contrariar o sujeito

● Silêncios
o Não têm sempre o mesmo valor/significado
o Não traduzem necessariamente uma recusa de comunicação não raras
vezes vividos como inquietantes, os silêncios longe de extinguirem a
comunicação tornam-na mais intensa e fortemente emocional
o Podem constituir uma forma e uma técnica de comunicação (positiva ou
negativa)
o Vários tipos de silêncios, com diferentes significados, traduções e
consequências
▪ Necessidade de tempo:
● Para pensar, para examinar melhor alguma coisa que está
para dizer, para decidir como continuar alguma coisa que
é difícil de discutir
● Para si próprio, para absorver /compreender o que se
está a passar, as implicações do que está a ser dito
● O entrevistador não deve pensar pelo sujeito; não tem de
preencher todos os silêncios, a menos que se esteja num
impasse
● Necessário “dar tempo” ao sujeito para ele “trabalhar o
problema”, “comunicar”, “trazer as coisas para fora”
▪ Resistência [intervenção de mecanismos de defesa]:
● Desejo de evitar, ignorar, denegar questões pessoais
● Desejo de se proteger do outro (entrevistador)
▪ Percebido como uma situação/condição ameaçadora e
intimidante:
● Pode conduzir a que o entrevistador e/ou o entrevistado
sintam necessidade de falar, de preencher os espaços ou
intervalos de silêncio
▪ Pode veicular mensagens subtis do tipo:
● “Eu quero ir um pouco mais devagar”
● “Quero que pense acerca daquilo que acabou de dizer”;
“não aceito aquilo que disse”
● “Preciso de confiar em si”; “estou próximo de falar de um
problema que me perturba”
▪ Pausas ou silêncios prolongados: Dificuldade em falar sobre um
determinado assunto
● Significado negativo quando superiores a 10 15 segundos
● Possibilidade de incapacidade do sujeito clarificar o seu
problema; neste caso o entrevistador é responsável pela
continuidade da comunicação verbal
▪ Sentimentos de vergonha e dificuldade em relacionar se com o
técnico, medo de ser descoberto, adivinhado

Exercício Prático
→ Exemplo da técnica de confrontação (o psicoterapeuta está a confrontar a realidade
atual da paciente com outra realidade)
→ Na pergunta “Parece-lhe muito?” podemos considerar que estamos perante a
técnica de reformulação (tentar trazer a pessoa para a realidade)

Frequência:
- Escolha múltipla e/ou verdadeiro e falso (40%)
- Resposta curta (30%)
- Resposta médio desenvolvimento (30%)
- O teste começa às 9h30m
- Duração: 1h - 1h20m no máximo – Sala 7.02

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