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1-CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Jorge Volpi defende que a literatura latino-americana era aquela que não
fugia de suas origens, ou seja, que ainda se baseava no realismo mágico, que
abordava a vida do latino-americano, enfim, uma literatura que se importava por ser
e não por vender. Volpi diz ainda que esse tipo de literatura já não existe mais. A
partir do BOOM (movimento literário dos anos 60 e 70 que divulgou amplamente o
trabalho de romancistas latino-americanos na Europa e nos EEUU) e do Realismo
mágico, a literatura hispano-americana obteve um grande público. No entanto, o que
antes era a força dessa literatura, começou a ser sua fraqueza, uma vez que todos
os escritores pareciam repetir fórmulas. Para continuar sobrevivendo, os novos
escritores tinham que abandonar sua raiz latino-americana, visto que o mercado já
estava saturado. Com isso, surgem grupos como McOndo e Crack que, segundo
Volpi, se dedicavam a escapar desta epidemia latino-americana. Para Volpi, o que
resta dessa literatura dos 60 e 70 são seus escritores, tais como Gabriel García
Márquez e Mario Vargas Llosa, a lembrança do realismo mágico e os escritores
atuais que ainda mantém a esperança de conseguir editoras para difundir seus
trabalhos.
Talvez, por ser considerado por muitos como o último escritor latino-
americano, Bolaño tenha recebido uma ampla acolhida na cena literária atual. Essa
recepção do autor na atualidade se verifica tanto no âmbito acadêmico, como nos
círculos de escritores, jornalistas, feiras literárias, saraus ou outros locais. De fato,
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Bolaño pode transitar em um amplo espectro de aceitabilidade que, hoje, o coloca
num espaço de recepção que pode ir do canônico, ao anticanônico, já que suas
ideias e seus temas, as estruturas de seus romances mais badalados, como Los
detectives salvajes e 2666, o tom pouco conciliador com questões ainda polêmicas
no contexto latino-americano e mundial, seu compromisso com a sinceridade na
hora de emitir opiniões sobre literatura ou política, enfim, seu posicionamento no
campo, como diria Pierre Bourdieu (1996), fazem com que Bolaño tenha se
convertido após sua prematura morte em um escritor de culto que, contudo, continua
a desafiar o próprio establishment por sua postura intransigente, por sua ética
rigorosa e inegociável.
2-ELEMENTOS POÉTICOS
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como pontos de inflexão que abrem o relato para uma dimensão temporal ou
narrativa da ordem da parábola ou do símbolo, o que significa narrar desde uma
perspectiva que busca superar seu próprio presente; (III) a importância do sentido do
olhar e o dispositivo do olho e da lente de uma câmera ou tela como mediações no
processo de representação na qual a imagem é uma construção estética, mais do
que uma evocação realista; (IV) a autoficção, que se dá na presença de B em vários
relatos (como apócope de Belano e alter ego de Bolaño), assim como de outros
personagens que representam pessoas conhecidas do entorno do autor, como seu
pai, em um dos contos, sua mãe em outro, etc; (V) a poesia e sua presença
constante na construção de enredos e climas e situações nas quais o personagem
principal de alguns relatos lê e cita autores e tendências que compõe o cenário, o
clima e o espectro de ideias dentro do qual parece que o conto reclama ser lido; (VI)
e, por fim, a sexualidade, que é problematizada sob vários ângulos em diálogos com
debates contemporâneos sobre o gênero.
2.1- A violência
Com diz GINZBURG (2019) a violência está presente em grande parte das
obras cinematográficas atuais. Há quem diga que “cenas de tiros ou lutas corporais
foram consideradas fatores de motivação para o consumo” (GINZBURG, 2019,
p.12). Algumas empresas dedicadas a produzir entretenimento associam
diretamente a expectativa do lucro à inserção de cenas violentas. Na atualidade, a
violência segue presente na TV, nos jogos e, claro, na literatura. Este mesmo autor
diz também que recorrentemente, em todos os meios mencionados, as cenas de
violência podem ser praticadas tanto pelo protagonista quanto pelo antagonista. O
que diferencia é a razão por pratica-la.
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Em Putas asesinas a questão da violência é abordada de diferentes
maneiras: Há a violência física, praticada de diferentes formas, a violência social e a
violência de Estado. Sobre isso discutiremos mais profundamente no tópico a seguir.
2.3- O olhar
2.4- A autoficção
2.5- Poesia
Este é um elemento que se faz muito presente nos textos de Roberto Bolaño por se
relacionar com o elemento anteriormente citado, a autoficção. Este elemento se
apresenta não somente pela citação de obras literárias, mas também de escritores,
filmes, músicas e tudo que se relacione com a arte.
2.6- Sexualidade
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Na filosofia grega clássica a sexualidade é determinada por ser
expressão de duas realidades: a primeira corresponde ao mundo dos
militares que se devem abster de assumir qualquer compromisso que
interfira na tarefa de servir o Estado e o soberano chegando, no caso
da teoria platônica, a propor a implantação de uma comunidade de
eunucos para integrar o exército. A segunda realidade expressa pelo
mundo filosófico grego aponta para a idéia de que o sexo entre
diferentes (heterossexual) não seria manifestação de perfeição,
sendo que aqueles que não encontrassem sua metade perfeita (igual)
viveriam um estado de conformismo e sua finalidade seria meramente
reprodutiva. Os intelectuais e a aristocracia buscariam o amor perfeito
no igual o que seria provavelmente uma forma de apologia da
homossexualidade. Com o advento do cristianismo abole-se o prazer
da esfera da sexualidade deixando esta como mero instrumento de
perpetuação da espécie. Os tempos modernos vêm-se tornando mais
flexíveis e tolerantes com as diversas práticas da sexualidade
colocando esta como expressão de libertação e catarse de todas as
formas de repressão da interioridade sendo que numa sociedade que
hiper-valoriza a sensualidade e a sexualidade chega-se perto de um
“pode tudo” na vivência erótica.
3- ANÁLISE
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A presença dos elementos destacados nos contos
de Putas asesinas
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A autoficção está presente em dez dos treze contos. Esta é uma das
características que faz com que Volpi acredite que Bolaño foi o último escritor latino-
americano. Bolaño traz em seus trabalhos relatos que se acercam muito a sua vida
pessoal, e talvez por isso, três dos outros elementos levantados neste trabalho
sejam utilizados constantemente por Bolaño. Me refiro aqui à violência, à poesia e
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às questões relacionadas ao gênero que serão discutias a seguir. Este elemento por
alguns momentos se apresenta de forma muito acentuada, e outra de formar quase
que oculta, onde para um leigo, que conheça pouco sabre a vida do autor, passaria
despercebido. No conto “Ojo Silva” temos que o narrador participou da resistência
política e que é um exilado. Se comenta também sobre o fato de ser casado, ter um
filho, ter nascido no Chile nos anos 50 e ter morado no México em 1974. E de forma
minuciosa, temos uma passagem do conto onde o narrador pede uma cerveja sem
álcool. Isso porque no período em que escreveu este conto, Bolaño já havia sido
diagnosticado com uma doença no fígado. No conto “Carnet de baile” temos grande
parte da vida de Bolaño escrita alí. Nos é apresentado seu pai boxeador, a ida ao
Chile, a prisão, a ajuda de amigos que o libertaram... enfim, este é um conto que, me
arrisco a dizer, é totalmente autobibliográfico. Nos outros contos em que o elemento
se faz presente, estão características como: imigrante chileno, escritor, nunca haver
frequentado a universidade, dentre outras.
Por fim, o último elemento faz referência as questões de gênero abordada nos
contos de Bolaño. A princípio, podemos comentar sobra a violência de gênero que
mulheres sofrem em muitos dos contos, como por exemplo: “Gómez Palácio”, onde
a diretora tinha medo de ser vista com outra pessoa por seu marido, que segundo
ela, é um cara violento. “Días de 1978”, onde U violenta a sua mulher, e “Putas
asesinas”, já que, ao que tudo indica, a personagem principal foi violentada por Max.
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Outro ponto muito abordado nos contos de Bolaño, ainda dentro deste elemento, é a
homossexualidade. Em muitos dos seus contos esse tema é abordado de forma
rápida, mas não deixando de estar presente. Logo no primeiro conto, “Ojo Silva”,
temos o comentário de um dos personagens que suspeitava da sexualidade do
personagem principal, o que é confirmado posteriormente. No conto “Prefiguración
de Lalo Cura”, a partir do meu ponto de vista, Olegario, um dos personagens, acaba
se apaixonando por Pajarito, o ator pornô. Isso fica claro não só pelo final do conto,
onde Olegario demonstra uma preocupação pelo ator, mas também nas descrições
que o mesmo faz de Pajarito; descrições sempre muito detalhadas e sempre
destacando os pontos positivos deste homem. No conto “Putas asesinas” temos um
breve comentário sobre o preconceito contra gays. Em “El retorno”, temos a relação
homossexual de Villenueve, um renomado estilista francês, com um cadáver. Em
“Buba”, temos um comentário sobre a homossexualidade de um de seus amigos, e
em “Dentista”, em diversos momentos nos é apresentada a possibilidade de que o
personagem principal seja homossexual. Ou seja, a homossexualidade está
presente em metade dos contos da coletânea Putas asesinas.
CONSIDERAÇÃO FINAL
REFERÊNCIA BIBLIORÁFICA;
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ALDAY, Patricia Poblete. Demiugos del mal, en technicolor. In: BAEZA, Felipe A.
Ríos, (Ed). Roberto Bolaño: Ruptura y violencia en la literatura finisecular. México:
Ediciones y Gráficos Eón, S.A de C.V, 2010. Paginação irregular.
BAEZA, Felipe A. Ríos. Arturo Belano: El viajero en el tiempo. In: BAEZA, Felipe A.
Ríos, (Ed). Roberto Bolaño: Ruptura y violencia en la literatura finisecular. México:
Ediciones y Gráficos Eón, S.A de C.V, 2010. Paginação irregular.
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PEREIRA, Antonio Marcos; RIBEIRO, Gustavo Silveira (Orgs.) Toda a orfandade do
mundo. Escritos sobre Roberto Bolaño. Belo Horizonte: Relicário Edições, 2016.
PONCE, Marría Torres. La princesa cyborg. In: BAEZA, Felipe A. Ríos, (Ed). Roberto
Bolaño: Ruptura y violencia en la literatura finisecular. México: Ediciones y Gráficos
Eón, S.A de C.V, 2010. Paginação irregular.
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