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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo compreender como a arquitetura pode influenciar no processo
de ensino-aprendizagem infantil, buscando um diálogo entre a arquitetura e a proposta pedagógica,
valorizando o entorno onde está inserida, estimulando o brincar e as demais atividades pedagógicas.
Busca também identificar não somente a influência que os espaços bem projetados possuem no
desenvolvimento e aprendizado das crianças, mas também a importância do brincar, abordando sua
relevância, pois não é só a sala de aula que favorece a aquisição de conhecimento. Apesar da
existência de diversos projetos voltados para melhoria dos espaços educacionais, na prática isso
pouco acontece, de fato. Para concretização desse trabalho, foram utilizados métodos de pesquisa
de caráter qualitativo e exploratório, fundamentados em coleta de dados referente às pesquisas
bibliográficas. Para finalizar, foram usados métodos de pesquisa observacional, com o intuito de
adquirir dados dos espaços das creches e escolas municipais da cidade de Itabirinha MG. A pesquisa
concluiu que a arquitetura escolar influencia no processo de ensino-aprendizagem das crianças e que
aos espaços voltados para a educação infantil na cidade de Itabirinha precisam de mais atenção e
melhorias para que, de fato, possa se concretizar o aprendizado de maneira mais divertida e
prazerosa.
De acordo com o levantamento realizado pelo movimento “Todos pela Educação”, baseado
no Censo Escolar de 2015, somente 4,5% das escolas brasileiras possuem todos os
quesitos previstos em lei em relação à infraestrutura escolar. A Lei do Plano Nacional de
Educação (PNE) leva em consideração em relação à infraestrutura a presença de energia
elétrica; abastecimento de água tratada; esgoto sanitário; manejo de resíduos sólidos;
espaços para prática esportiva e bens culturais e laboratório de ciências. Considerando
também a acessibilidade às pessoas com deficiência (Tokarnia, 2016).
Nesse contexto, mediante aos dados aqui explicitados, surge a preocupação em relação à
edificação escolar, pois a mesma exerce um papel importante no processo educativo das
crianças.
2.REFERENCIAL TEÓRICO
São quase sempre mal localizadas, expostas ao barulho, à poeira e ao perigo das
estradas. Não só não são atraentes como, muitas vezes, são até repulsivas tanto na
aparência interna, como externa, pois construídas com a maior economia possível de
material e de mão de obra. [...] São muito pequenas, sem espaço suficiente para a
circulação dos alunos; são mal iluminadas, mal ventiladas e mal aquecidas. Os
móveis escolares não são ajustados aos alunos [...] as escolas são desprovidas de
material [e] em seu redor não há jardim e nem flores. (BUFFA; PINTO, 2002, p.19)
Após a Segunda Guerra Mundial, a sociedade foi em busca de novas tendências, dando
abertura para o modernismo nas artes, arquitetura e educação. Um número considerável de
educadores, dentre eles Maria Montessori, influenciou a arquitetura escolar, para adequá-la
à população carente e os ambientes passaram a ser projetados para a escala das crianças
(Kowaltowski, 2011).1
No período Republicano, no final do século XIX, iniciou-se a construção de prédios para fins
exclusivamente escolares. Esses prédios deveriam ser monumentais e que marcassem a
paisagem urbana. Conforme Buffa e Pino, os “prédios grandes, arejados, bonitos,
destinados a cumprir a sua finalidade principal, a de ser escola, testemunham a valorização
que o Estado dava ao ensino e serviam, ainda, que a população admirasse” (BUFFA;
PINTO, 2002, p. 122).
A partir de 1930, houve alterações nos projetos de escolas, novos ambientes foram
introduzidos como a sala de leitura, museu, biblioteca e auditório em decorrência de novas
demandas e layout da sala de aula (Melo GOMES, 2012).
Os anos de 1960 marcaram a ascensão dos arquitetos Afonso Eduardo Reidy e Oscar
Niemeyer, apresentando projetos significativos de edificações públicas ligadas ao
modernismo. Deste modo, os prédios escolares da época possuíam qualidades espaciais
grandiosas; o diferencial aparecia através da implantação dos blocos no terreno, com
espaços mais abertos, garantindo a fluidez. A arquitetura mais limpa não fazia mais menção
à história; surgiu a presença de brises o que garantia também a visibilidade (Carvalho,
2009).
Ainda segundo Carvalho (2009) entre os anos 70 e 80 marcados pelo período pós-moderno,
surgiu o uso de peças pré-moldadas nas edificações escolares, a partir da necessidade de
uma produção rápida e econômica. Boa parte dessas escolas foi implantada em regiões
periféricas com o objetivo de conceder a essas obras um valor sociocultural e assim melhor
exibi-las. Exemplo desse tipo de edificação localizado no Rio de Janeiro foram os Centros
Integrados de Educação Pública (CIEPs), com mais de 500 unidades para todo o Estado.
Já a partir dos anos 2000 surgiram os centros educacionais unificados (CEUs). Conforme
Kowaltowski (2011) os CEUs foram criados especificamente em regiões sem infraestrutura
no intuito de integrar a comunidade com a escola; são incluídas ali as necessidades da
comunidade tais como bibliotecas públicas, teatro, piscinas e área de lazer e de estimulo à
cultura da população.
Os estudiosos do tema afirmam que a escola do século XXI vem sendo discutida, sobretudo,
em relação às influências através do meio de comunicação e tecnologia. Outro fator é em
relação à sustentabilidade, conforto e psicologia ambiental. Por esses e outros fatores, é de
suma importância um estudo do sistema de ensino educacional e dos próprios espaços
físicos, para idealização de novas escolas (Souza, 2018).
Desse modo o espaço físico pode ser compreendido como um elemento curricular, pois
possibilita oportunidades de aprendizagem através de interações entre as crianças e objetos
existentes. É um elemento a mais e um aliado do professor no processo educativo (Horn,
2004). Os estudos de Frago e Escolano confirmam que “o espaço não é neutro. Ele também
educa” (Frago; ESCOLANO, 1998, p. 75).
Hoje temos uma tecnologia que cada dia mais está presente nos espaços escolares e no
cotidiano das crianças. Doris Kowaltowski, em uma palestra sobre como unir arquitetura e
pedagogia, chama a atenção para o desafio de manter essas crianças dentro do ambiente
escolar. Ela ressalta: “As crianças de hoje não são as mesmas de 50 anos atrás, e junto
com elas veio a tecnologia, que consome boa parte do tempo dos alunos” (Kowaltowski,
2018).
Para isso a evolução nos métodos de ensino e o uso da tecnologia nas escolas precisam vir
acompanhados de novos conceitos de espaços escolares. O espaço escolar tradicional não
atende a essa evolução, uma vez que se faz necessário atender as demandas atuais, afirma
o arquiteto indiano e especialista em design escolar Prakash Nair (lima, 2017).
As crianças como objeto de pesquisa [...] anseiam por um espaço mais colorido,
onde possam brincar, movimentar-se, ser mais livres, onde suas individualidades e
sejam respeitadas; possam fazer amizades e ter contato com a natureza. Quanto aos
profissionais [...] não concebem o espaço como elemento curricular e não tem
clareza nos conceitos que norteiam o tema. (EVANGELISTA, 2016, p. 9)
Pode-se dizer que o espaço físico escolar com uma boa arquitetura influencia positivamente
no aprendizado do aluno. É possível projetar ambientes escolares que proporcionem uma
boa convivência entre os alunos, de tal modo que eles possam sentir-se confortáveis e
instigados a produzir suas atividades escolares (Barbosa 2008 apud Kowaltowski, 2011).
Doris Kowaltowski em uma entrevista cedida ao “O Estado de São Paulo” relata uma
pesquisa feita na Inglaterra que comparou escolas bem cuidadas, bem construídas
arquitetonicamente, com aquelas menos cuidadas. Foram analisadas em provas de
matemática e inglês, e constatou-se que nas escolas bem cuidadas os alunos tiraram 25%
mais nas pontuações escolares (Kowaltowski, 2018).
De acordo com os estudos realizados até então se pode dizer que o espaço exerce uma
influência em relação ao ensino-aprendizagem, que ele também é um mediador nesse
processo. Que através de uma boa organização arquitetônica do espaço pode-se criar
novos conceitos de espaços escolares que consigam manter essa nova geração estudantil
nas escolas.
Todos esses benefícios do brincar devem ser reforçados no meio escolar, uma vez que a
brincadeira facilita o aprendizado. Vera Bruxel reforça: “A escola é um espaço pedagógico
que entre a variedade de atividades propostas, deve possibilitar também o brincar”
(BRUXEL, 2005, p. 10). Ela acredita que o papel do professor em relação ao brincar é
diversificar o lugar das brincadeiras, proporcionando atividades não só no interior da sala de
aula, mas também fora dela, possibilitando assim interações, desafiadoras, significativas e
prazerosas.
A brincadeira é uma linguagem natural da criança, e já se sabe que ela deve estar presente
nas escolas desde a educação infantil, fazendo com que o aluno se expresse através das
atividades lúdicas. Considerando-se como lúdicas, a partir da concepção de França,
segundo o qual “as brincadeiras, os jogos, a música, a arte, a expressão corporal, ou seja,
atividades que mantenham a espontaneidade das crianças” (FRANÇA, 2010, p. 9). Paulo
Almeida também chama a atenção do fato de que a escola deve ser o facilitador no
processo de desenvolvimento do homem, e completa:
É certo que não podemos nos escusar de reconhecer a importância de atividades
obrigatórias em nossa sociedade, não estamos, absolutamente, defendendo a
ociosidade e a irresponsabilidade. O que nos move, doravante, é a percepção de que
o homem é o agente no processo de seu próprio desenvolvimento e de que a escola,
o ensino em geral, deve ser um facilitador desse processo de desenvolvimento; ao
que acrescentamos, de forma significativa, responsável e prazerosa, ou seja, lúdica.
(ALMEIDA, 2007, p. 45)
A partir da compreensão dos autores citados pode-se dizer que, para uma escola que se
proponha ao sucesso pedagógico e a formação de cidadão, o lúdico é essencial. Essa ação
educativa é a aprendizagem na esfera cognitiva, relacional e pessoal (Dallabona; Mendes,
2004).
Para que isso aconteça e que se obtenham resultados positivos, não se pode esquecer a
necessidade de os espaços estarem adequados para tal. Horn (2004) chama atenção para a
importância dada ao educador, de organizar o espaço de modo que, quanto mais bem
organizado o espaço tanto mais ele se torna desafiador. Esses espaços devem propor
ambientes próprios para a realização das atividades, dentre elas a leitura e a escrita, contar
histórias, repouso, higiene, alimentação, atividades físicas e demais atividades
supervisionadas (Zamberlan; Basani; Araldi, 2007).
Outra proposta pedagógica que vem sendo bastante utilizada no Brasil é a metodologia de
Reggio Emilia, com a qual se implantou o uso do ateliê em suas escolas; um espaço
pensado e conceituado através desse método. Vale ressaltar que o uso do ateliê é muito
importante para a concretização do ensino aprendizado. Os professores e alunos têm a
possibilidade de explorar seus projetos com experiências e pesquisas. “Muitos dos projetos
e pesquisas da escola acontecem nesse espaço, porque este é um lugar especial, uma
oficina, um depósito, com objetos e instrumentos que podem gerar fazeres e pensares,
despertando as cem linguagens” (Barbosa; Horn, 2008, p.120).2
Vale a pena evidenciar a importância dos postulados de Friedrich Froebel (1782-1852) que
valorizam a importância das atividades que ajudam a criança em seu desenvolvimento
pedagógico. A escola para crianças pequenas necessitaria dispor de lugares para as
mesmas terem contato com a natureza e com os animais. Horn exemplifica:
Ele considera ainda, que seria sumamente proveitosa a introdução das verdadeiras
horas de trabalho manual na educação das crianças, desejando criar um amplo
jardim, onde elas “floresciam” como as plantas, regadas pelo espirito feminino.
(HORN, 2004, p. 30).
Decroly (1871-1932), juntamente com Froebel e Montessori, foi um dos responsáveis pelo
começo da concepção segundo a qual a criança passa a ser vista como um ser ativo
(Wajskop, 1995). Ele valoriza o espaço exterior como parte no processo de aprendizado, do
conhecimento e como despertador da curiosidade infantil. Esses espaços deveriam possuir
áreas verdes e animais, para que as crianças pudessem acompanhar as estações do ano e
da evolução natural (Elali, 2003).
Hoje a educação infantil está relacionada como sendo parte do sistema educacional,
deixando de ser de caráter assistencial, desde a Constituição Federal de 1988. Também
ficou estabelecida a divisão de responsabilidades entre os entes da federação. Os
municípios passaram a ficar responsáveis pela educação infantil. E através da Emenda
Constitucional n° 59 de 11 de novembro de 2009 a pré-escola passou a ser faixa etária do
ensino obrigatório, ampliando de quatro aos dezessete anos (BRASIL, 2009). Surgindo a
necessidade de aumentar a disponibilidade de vagas nas escolas (Ostrowski, 2016).
De acordo com o Censo Escolar de 2017, as escolas públicas brasileiras ainda possuem
grande deficiência no que diz respeito à infraestrutura. Em relação à educação infantil, etapa
que está sendo pesquisada, apenas 61,1% das unidades possui banheiros adequados e
somente 33,9% possuem berçários. Nas creches, que acolhem crianças na faixa etária que
vai até três anos de idade, apenas 57,6% contam com parque infantil. Em se tratando da
pré-escola que vai de quatro a cinco anos, esse percentual cai para 42,7%. Em relação às
áreas verdes, somente 29,6% das creches e 27,3% das pré-escolas contam com esses
espaços em suas instalações (MARTINS, 2018).
Ainda de acordo com Martins (2018) baseado no Censo Escolar 2017, a acessibilidade para
pessoas portadoras de alguma deficiência locomotiva, nas instituições infantis é escassa.
Somente 26,1% das creches e 25,1% das pré-escolas possuem dependências adequadas.
Em relação aos banheiros adaptados, estão presentes em apenas 32,1% das escolas
infantis.
De um modo geral, apenas 4,5% das escolas públicas no Brasil possuem todos os quesitos
previstos em lei em relação à infraestrutura escolar, levando em consideração a presença
de energia elétrica; abastecimento de água tratada; esgoto sanitário; manejo de resíduos
sólidos; espaços para prática esportiva e bens culturais e laboratório de ciências e
acessibilidade ás pessoas portadoras de deficiência. O Plano Nacional de Educação (PNE)
estipulou que, até 2024 toda escola pública deve conter os quesitos previstos em lei em
relação à infraestrutura escolar de qualidade (Tokarnia, 2016).
Neste contexto, a partir das observações citadas, pode-se afirmar que a cidade
necessita de espaços adequados destinados às crianças, principalmente de 0 a 5 anos.
Espaços estes que venham contribuir para o bem-estar das crianças, favorecendo a
interação das mesmas e proporcionando o brincar e as demais atividades.
3.METODOLOGIA
Em relação à pesquisa física, a mesma foi feita através da biblioteca da Universidade Vale
do Rio Doce (UNIVALE), onde foram encontrados livros que abrangiam aspectos
relacionados ao tema. A pesquisa digital foi efetuada através do portal de periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e no website
Google Acadêmico. Foram usados os descritores: Arquitetura Escolar, Educação Infantil e
Atividade Lúdicas. Foram selecionados 112 materiais relacionados ao tema, alguns deles
foram escolhidos através da leitura dos resumos e introduções, na busca de compreender a
relação da arquitetura com o aprendizado infantil e as principais atividades que favorecem o
aprendizado infantil no âmbito escolar e os espaços escolares.
4.RESULTADOS
5.CONCLUSÃO
Ao que se sabe, a escola é uma instituição de ensino, mas também enriquece no aspecto
social, cultural e pessoal. As instituições de ensino precisam se adequar aos novos sistemas
de ensino educacional, idealizando espaços que favoreçam a relação do estudante com o
aprendizado, se tornando um elemento a mais e um aliado do professor no processo
educativo.
No decorrer deste trabalho, e a partir de alguns dados apontados, percebeu-se a
necessidade da melhoria dos espaços escolares e da comunicação entre os arquitetos e
educadores no processo de criação do projeto e os demais profissionais que irão usufruir do
espaço.
Sendo assim, será proposta, para próxima etapa do trabalho, uma escola infantil na qual
valoriza o espaço físico, tornando-o um aliado no processo educativo das crianças. Como
proposta de anteprojeto arquitetônico, serão apresentados espaços voltados para crianças
na faixa etária de zero a cinco anos. Tais espaços serão divididos entre internos e externos,
valorizando o brincar, as demais atividades pedagógicas e valorizando a integração com a
natureza.
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, cores, sons, aromas: a organização dos
espaços na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.
KOWALTOWSKI, Doris. Espaço na Escola. 2018 (22 min 05 s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=plMXx327bTg > Acesso em: 14 jun. 2019.
SAYEJ, Nadja, Uma escola finlandesa ainda melhor. On line, 01 set. 2013.
Disponível em: < https://finland.fi/pt/vida-amp-sociedade/uma-escola-finlandesa-
ainda-melhor/ > Acesso em: 2 jun. 2019.
SILVA, Hosana Ferreira da. O trabalho lúdico no processo ensino
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Graduação em Pedagogia) – Centro de Ciências Exatas e Tecnologia.
Universidade Norte do Paraná, Palmares, 2015. Disponível em:
<https://www.passeidireto.com/arquivo/55514582/a-importancia-de-brincar-no-
processo-ens-2- > Acesso em: 12 jun. 2019.
SOUZA, Larissa Negris, Arquitetura escolar, parâmetros de projeto e
modalidades de aprendizagem. 2018.190 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura,
Tecnologia e Cidade) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e
Cidade, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade de
Campinas, Campinas, 2018. Disponível em:
<http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/331683 >Acesso em: 04 jun. 2019.