Você está na página 1de 24

Espaço e educação: a escola enquanto lugar de

apropriação e significação

Lívia Lima Paiva (Mestranda)


Elizabeth dos Santos Braga (Orientadora)
Área de Concentração: Educação, Linguagem e Psicologia
Linha de Pesquisa: Psicologia e Educação

Novembro/2022
 Geógrafa e educadora
 Atividades de educação não formal desde 2004.
 2015 - ingresso na rede estadual
 2017 - ingresso na rede municipal
 Espaço e educação – primeiras questões:
Por que os estudantes não se interessam pela escola?
Por que existe tanta violência e indisciplina na escola?
 EMEF Solano Trindade ― “Memória, narrativa e a
dimensão discursiva da experiência escolar”, projeto
desenvolvido por Elizabeth dos Santos Braga
O espaço educa? De que forma o espaço educa? A
relação entre a escola e a comunidade constitui as
relações de ensino?
 Velho esquema: sala de aula, lousa, giz parece ser um
fazer cristalizado, uma institucionalização da prática
pedagógica que persiste desde o século XIX.
 Necessidade de questionar disciplinamento espacial
(carteiras enfileiradas, corredores, séries)
 Reinvenção dos espaços-tempo da escola,
 Utilização das áreas externas,
 Saídas pela comunidade,
 Trabalhos de campo
Objetivo geral: analisar a apropriação do espaço da EMEF Ibrahim Nobre pelos
estudantes e educadores a partir das relações de ensino vivenciadas nesse ambiente
pedagógico e a sua relação com a comunidade.
Objetivos específicos:
 Observar o cotidiano escolar da EMEF Ibrahim Nobre, no interior e no exterior das
salas de aula, considerando como se dão as relações de ensino nos diferentes
espaços-tempos da escola: sala de aula, pátio, recreio, entrada e saída, áreas
externas, refeitório, quadra, parque;
 Analisar a apropriação do espaço da EMEF Ibrahim Nobre pela equipe escolar e
pelos alunos, seus usos e práticas espaciais nas áreas externas da escola;
 Investigar, por meio de entrevistas e/ou grupos focais, as ações da EMEF Ibrahim
Nobre direcionadas à comunidade e se essas ações se refletem nas relações de
ensino;
 Pesquisar, por meio de entrevistas e/ou grupos focais, como a comunidade significa
a presença da EMEF Ibrahim no bairro da Vila Alba e no distrito do Rio Pequeno;
 Investigar os sentidos atribuídos pelos estudantes sobre as mudanças na escola
ocorridas a partir do projeto Poética do espaço: literatura, horta, bosque e jardim
no território da Ibrahim.
Perspectiva histórico cultural
 Lev Semionovitch Vigostski (1896 - 1934)
 Teoria do desenvolvimento humano a partir do método marxista do
materialismo histórico-dialético.
 Inaugura uma concepção de desenvolvimento humano que se produz na
história e na cultura, em processos de significação (BRAGA, 2010, p. 20).
 Signo e mediação: instrumento psicológico que “cria novas formas de
processos psicológicos enraizados na cultura” (VIGOTSKI, 2007, p. 34).
▪ Signos, sentidos e significação: “[...] chave para pensar a conversão das
relações sociais em funções mentais” (SMOLKA E NOGUEIRA, 2008, p.
80).
▪ “Produção simultânea de signos e sentidos, relacionada à constituição de
sujeitos [...] Ou seja, os sujeitos são profundamente afetados por signos e
sentidos produzidos nas (e na história das) relações com os outros”
(SMOLKA, 2000, p. 31)
 Relações de ensino - desenvolvimento humano e processos de
ensino/aprendizagem como modos de apropriação da cultura e
participação nas práticas sociais. (SMOLKA, 2007)
 Conceito de vivência (perejivanie) em Vigostski, unidade analítica, Pino
(2010)
[...] na ciência, a análise que decompõe em elementos deve ser
substituída pela análise que articula unidades num todo complexo
(VIGOSTSKI, 2018, p. 77)
 Questão do meio em Vigotski
Lopes (2013), defende o espaço enquanto um dos primeiros processos de
mediação que se tem notícia.
Se a história humana produz o espaço geográfico, as paisagens, os
territórios, os lugares, são esses que possibilitam os próprios processos
humanos (LOPES, 2013, p. 130)
Tradução do russo do termo sredá (Vigotski) por meio, que
[...] tanto pode designar as condições naturais preexistentes ao advento da
espécie humana quanto as condições culturais criadas pelo próprio
homem.(PINO, 2010, p. 743),
 Lugar, espaço apropriado
O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado
pela tríade habitante - identidade - lugar. [...] É o espaço
passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do
corpo. (CARLOS, 2007, p. 17)
 Analisar a construção das redes de significados e sentidos
presentes nas relações sociais envolvidas nos processos de
apropriação dos espaços de vivência, os sentimentos de
pertencimento ou não a esses espaços.
 Haesbaert (2011): toda identidade tem uma dimensão
espacial.
 Psicologia Ambiental: estuda a relação pessoa-espaço. Pol discute
o conceito de apropriação do espaço. Segundo ele:
O ser humano, como a maioria dos outros animais, precisa marcar seu
território, ainda que de forma sofisticada. Precisa de referências estáveis para
ajudá-lo a orientar-se, mas também preservar sua identidade diante de si e
dos outros. (POL, 1996, p. 3, Tradução nossa)
 Para Lefebvre (1978), habitar é apropriar-se. Não é ter propriedade,
é fazer sua obra, apropriar-se de um espaço é também resistir às
violências e as forças de apropriação. Conflito contínuo, em todos
os níveis, que se resolve no plano da imaginação, do imaginário.
[...] Esta dialética entre o singular o e particular no processo de apropriação
do espaço poderia dinamizar o conceito de apropriação do espaço desde
aproximações com a perspectiva Vigotskiana. Ainda, poderíamos pensar que
tanto a ação quanto a identificação simbólica, como partes do processo de
apropriação do espaço, são dadas pelo prisma da vivência, em um processo
de contínuas situações sociais do desenvolvimento que se dão
temporalmente. (PINHEIRO; SILVA, 2018, p. 266 - 267)
 Pesquisa qualitativa de cunho etnográfico (André, 1995)
 Observação participante (Fraser e Gondim, 2004; Marques,
2016)
 Realização de grupos focais e de entrevistas (CRUZ;
MOREIRA; SUCENA, 2002)
 Análise dialógica do discurso enquanto procedimento
metodológico. (BRAIT, 2006; PAULA, 2013)
• EMEF Ibrahim Nobre: Rua Coronel Salvador de Moya, nº 263. Na Vila Alba,
distrito do Rio Pequeno, administrado pela Prefeitura Regional do
Butantã.
• Foi inaugurada no ano de 1970 e iniciou seu funcionamento em 1971.
• Atualmente atende a turmas de 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental I.
• Possui 697 alunos matriculados.
• Grande parte dos alunos da escola é moradora de favelas que se
estendem desde a Avenida do Rio Pequeno até a Polop, constituindo
micro áreas territoriais, sem divisões claras, que se estabelecem em cima
dos córregos ou em suas adjacências. Recebemos também alunos das
comunidades São Remo e Sapé.
• Faixa etária das mães e pais é jovem, varia de 25 a 44 anos.
• Nível de escolaridade da maioria dos responsáveis: Ensino Médio
Completo.
• Nível de rendimento das famílias: baixo, variando de R$ 1.000 a R$3.000.
Imagens da fachada da escola
dos anos 1990, ao longo de sua
história essa escola ficou
conhecida nas redondezas pelo
seguinte jargão: “EMEF
Ibrahim Nobre, entra rico e sai
pobre”.
Equipe escolar realiza caminhada pela favela da Polop, endereço de muitos de nossos
estudantes, 2018.
Mãe de estudante pintando
a parte externa da escola,
2018.

Mães pintando a escada


de acesso à quadra,
2018.
 Professora Orientadora de Sala de Leitura
 Salas de Leitura, projeto de incentivo à leitura, que se apoia “na
compreensão da leitura como prática social e da literatura como objeto
artístico e cultural ao qual todos têm direito, tendo em vista sua função
humanizadora” (SME / COPED, 2020, p. 11).
 Grande área externa inutilizada.
 Aulas de leitura ao ar livre.
 Atividades com o grêmio estudantil de agricultura urbana, com plantio
de coroas de abacaxi, sementes de abóbora, feijões, na tentativa de
desenvolver uma horta escolar.
 Tema do PPP em 2019 foi: “Eu sou nobre: a escola como parte da minha
história”, tendo continuidade em 2020 e 2021.
 Tema da FLIN 2019: “Amigo é escola: páginas de amizade e aprendizado”
 Em 2020, Professora Orientadora de Sala de Leitura, e chegou à escola
um novo professor de Geografia, Eliseu Müzel, determinado a
implementar ali uma agrofloresta.
O PPP deste ano possui o tema: “Girassol que cresce junto / aprende
junto, a semear” valorizando esse nosso trabalho e apontando para
práticas educativas significativas.
Criação de trilhas e aplainamento
Preparação dos canteiros da horta, 2021. do terreno, 2022.

Placas poéticas na área da horta,


em 2022.
Colheita de verduras, 2021
Preparação do terreno para
instalação das mesinhas, 2021.

Área das mesinhas, 2022.


Estudantes realizam atividade
em Árvore da História, 2021.
Construção de

Realização de sarau na Árvore da


História, com arquibancada recém
pintada, em 2021.
Estudantes realizam
atividades de cuidado
com áreas externas da
escola, 2022.
Estudantes
explorando as
diferentes formas
de vida e as
transformações no
espaço da escola,
2022.
Roda de conversa com autor
Plínio Camilo na FLIN, Festa
Literária do Ibrahim Nobre,
2022.
Roda de conversa com autor Luan Luando do
Sarau do Binho na Sala de Leitura, 2022.
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995.
BRAGA, Elizabeth dos Santos. Lev Vigotski-Principais teses. A constituição social do
desenvolvimento. Revista Educação, São Paulo, 2, p. 20-29. 2010.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007.
DAMIANI, Amélia Luisa. A Geografia e a Construção da Cidadania. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri.
(Org.). A Geografia em Sala de Aula. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2008, p. 50-61.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 12ªedição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade, São Paulo: Cortez Editora, 1991.
FREIRE, Paulo. Direitos Humanos e Educação Libertadora: Gestão Democrática da Educação
Pública na Cidade de São Paulo. Organização e Notas de Ana Maria Araújo Freire e Erasto Fortes
Mendonça. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019.
GADOTTI, M. A escola na cidade que educa. Cadernos Cenpec n. 1. 2006
HAESBAERT, Rogério. O espaço importa: dilemas da construção identitário-territorial na
contemporaneidade, In: BASTOS, Liliana Cabral; LOPES, Luiz Paulo da Moita. (Org.). Estudos de
identidade: entre saberes e práticas. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2011.
LEFEBVRE, Henri. De lo rural a lo urbano. 4ª ed. Barcelona: Ediciones Península, 1978.
LOPES, Jader Janer Moreira Tunes; Elizabeth (Org.). A ―Natureza Geográfica do Desenvolvimento
Humano: Diálogos com a Teoria Histórico-Cultural In: O fio tenso que une a psicologia à educação.
Brasília: UniCEUB, p. 125-136, 2013.
PINO, Angel. A criança e seu meio: contribuição de Vigotski ao desenvolvimento da criança e à sua
educação. Psicologia USP, São Paulo: p. 741-756, 2010.
PINHEIRO Ricardo Lana; SILVA, Ana Paula Soares da Apropriação do espaço e psicologia
histórico-cultural: reflexões e apontamentos para possíveis aproximações. Arquivos Brasileiros
de Psicologia n. 70; Rio de Janeiro: p. 259-273, 2018.
POL, Enric La apropiación del espacio. In: IÑIGUEZ Lupicinio; POL, Enric (Org) Cognición,
representación y apropición del espacio. Publicacions Universitat de Barcelona, Monografies
Psico/Socio/Ambientals Barcelona, nº 9, 1996.
Projeto Político Pedagógico EMEF Ibrahim Nobre. Girassol que cresce junto / aprende junto, a
semear. Diretoria Regional de Ensino Butantã, Secretária Municipal de Educação, São Paulo,
2022.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7ª edição. Edusp. São Paulo: 2007.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Sala de leitura:
vivências, saberes e práticas. São Paulo, SME / COPED, 2020.
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. O (im)próprio e o (im)pertinente na apropriação das práticas
sociais. Cadernos CEDES, vol.20, n.50, p. 26-40, 2000.
SMOLKA, Ana Luiza; NOGUEIRA, Ana Lúcia Horta. O desenvolvimento cultural da criança:
mediação, dialogia e (inter)regulação. In: Psicologia, Educação e as Temáticas da Vida
Contemporânea[S.l: s.n.], p. 287 , 2008.
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante; LAPLANE, Adriana Lia Friszman de; NOGUEIRA, Ana Lúcia
Horta; BRAGA, Elizabeth dos Santos. As relações de ensino na escola. In: RIO DE JANEIRO.
Secretaria Municipal de Educação. Multieducação: Relações de ensino. Rio de Janeiro: 2007.
VYGOTSKY, Lev Semyonovich. Psicologia, educação. e desenvolvimento: Escritos de L. S.
Vigostki organização e tradução de Zoia Prestes e Elizabeth Tunes. Expressão Popular. São
Paulo: 2021.
VIGOTSKI, Lev Semionovich. Sete aulas de L.S. Vigotski sobre os fundamentos da pedologia.
Organização e tradução Zoia Prestes , Elizabeth Tunes ; tradução Cláudia da Costa Guimarães
Santana. Epapers: Rio de Janeiro, 2018.

Você também pode gostar