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O DESEJO DO OUTRO COMO MERCADO: UM ESTUDO SOBRE GÊNERO

E TRABALHO NUMA CASA DE SWING EM PERNAMBUCO

Géssika Cecília Carvalho1


Edson Vasconcelos2

Resumo: Este trabalho mostra as relações de gênero e trabalho em uma casa de swing em
Pernambuco. Da mesma forma que a auto-realização e o trabalho se articulam a processos
subjetivos e à formação do caráter humano, identifica-se de que formas isso está implicado quando
se fala sobre gênero e trabalho em estabelecimentos que envolvem sexo. Como pensar as
sexualidades dissidentes e o seu papel na formação das subjetividades e a sua vinculação ao
trabalho nas relações contemporâneas, pensando na interação e no envolvimento entre aspectos
como o mundo do trabalho, dos interesses e dos desejos? Verificou-se envolvimento dos que fazem
parte do staff do estabelecimento, que trazem o sentido de estarem inseridos no trabalho daquela
casa e o nível de envolvimento que cada um possui com o seu trabalho. Para muitos um desejo, para
outros uma fantasia e fetiche. Para os que trabalham com o swing, um pouco de tudo isso junto.
Palavras-chave: Trabalho. Gênero. Swing. Sexualidades dissidentes.

Introdução
Nas últimas décadas, o mercado de trabalho vem passando por expressivas transformações,
que são acompanhadas por mudanças em outros aspectos da realidade social. Temos observado o
crescimento do setor de comércio, o aumento do desemprego, a informalidade nas relações
trabalhistas, a expansão do trabalho autônomo, entre outras, que demandam a recorrência a
estratégias de sobrevivência, tratando o trabalho como opção racional ou como necessidade.
Nesse contexto do trabalho como um dos meios de satisfação das necessidades do indivíduo,
do surgimento de novas necessidades com as mudanças provenientes da globalização nos processos
de sociabilidade, construção de identidade e vinculação (ou desvinculação), manifestou-se o
interesse desse trabalho: verificar os processos de sociabilidade nas relações de trabalho e gênero
em uma casa de swing em Pernambuco, que trata o desejo do outro como oportunidade de mercado,
ao mesmo tempo que expande a interação e possibilita a formação de redes do sexo.
Tal mercado numa casa de swing se configura como uma possibilidade de realização de
desejos e fantasias, portanto mercado sexual, com o diferencial do não pagamento pelo sexo, mas

1
Professora substituta na Universidade Estadual da Paraíba, Brasil. Doutoranda em Sociologia pela Universidade
Estadual da Paraíba, Brasil.
2
Professor na Universidade Estadual da Paraíba, Brasil. Doutorando em Sociologia pela Universidade Estadual da
Paraíba, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
no pagamento para o acesso a um ambiente que propicia a interação entre casais (e por vezes
desacompanhados também) e como consequência a satisfação sexual.
Como metodologia optou-se pela revisão bibliográfica sobre o tema; realização de
observações numa casa de swing no estado de Pernambuco, através do critério de acessibilidade. As
observações ocorreram em dias diferentes da semana (a casa funciona de quinta a domingo), em
festas distintas e com públicos diferenciados (existem dias em que só é permitida a entrada de
casais, outros casais e mulheres desacompanhadas, em outros casais e homens desacompanhados).
Além da observação, foram realizadas entrevistas abertas, com roteiro semi-estruturado, com a
proprietária da casa e com o promoter.

O Swing e as práticas de sexualidades dissidentes


Para contextualizar esse trabalho é necessário esclarecer o que é swing. Swing seria a prática
de relações sexuais entre casais, onde há a troca de parceiros(as) e o contato com experiências
relativas a esse contexto. Com “outras experiências” se quer dizer todo o tipo de atividade da
sexualidade que pode ser conferida levando em conta os parâmetros estabelecidos pelo casal. Desde
a troca de parceiros, a relação entre pessoas do mesmo sexo, a relação com mais de um homem, ou
com mais de uma mulher, ou mesmo a prática do voyerismo (prazer em olhar), do exibicionismo
(prazer em ser visto), ou do sexo no mesmo ambiente sem troca de parceiros.
O swing, por excelência, se coloca com uma prática dissidente. Dissidência tem a ver com
estigma no swing. Colocar o swing à margem significa observá-lo como uma prática não só
considerada anormal, mas também relacionada a estigmas muito conhecidos socialmente. Estigmas
que conjugam as perversões sexuais enquanto uma fuga da normalidade. Sexo dissidente é o que
foge dessa lógica: heterocentrada, medicalizada, legalmente controlada e cientificamente
cartografada.
Weid (2010) constatou em suas pesquisas através de entrevistas com casais praticantes de
swing que tal prática baseada na liberdade sexual não traz somente satisfação momentânea, mas
apresenta benefícios no que concerne ao amor, à intimidade no casamento e ao fortalecimento do
vínculo. A autora ainda menciona Bauman (2004), uma vez que este

Ao refletir sobre a liquidez dos relacionamentos modernos, chama atenção para o avanço
do isolamento do sexo em relação a outros domínios da vida. Espera-se que o sexo seja
autossustentável e autossuficiente para que seja julgado unicamente pela satisfação que
possa trazer por si mesmo (...) Bauman acredita que a “purificação” do sexo permite que a

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prática sexual seja adaptada aos avançados padrões de compra/locação da lógica do
consumo. (WEID, 2010, p. 791)

Gênero e Trabalho
Um dos ambientes imprescindíveis para se compreender como se dão as relações de gênero,
a “disputa” camuflada pelo poder e a busca de autonomia/ conquista de espaço por parte das
mulheres é o trabalho.
Nas últimas décadas, um dos fatos mais importantes foi o crescimento da participação das
mulheres como força de trabalho. No entanto, a inclusão da mão-de-obra feminina denota uma
perspectiva histórica de empecilhos e barreiras impostas a essa inserção, como o poder exercido
pelo marido; a sexualização das ocupações; a maior taxa de desemprego estar concentrada entre as
mulheres; a presença da mulher em trabalhos vulneráveis; as diferenças significativas de
remuneração entre homens e mulheres; o predomínio das mulheres em atividades menos
valorizadas. Todos estes fatores apontam para uma grande desigualdade de gênero nas relações de
trabalho, e podem ser complementados também com a falta de incentivo familiar (a necessidade de
conciliação com o trabalho doméstico e com o cuidado dos filhos - dupla jornada de trabalho), o
assédio moral e sexual, e a discriminação no plano dos direitos sociais.
Nos vários estudos sobre a relação entre a mulher e o trabalho, as principais considerações
apontadas remetem ao paradigma do patriarcado, à divisão sexual do trabalho e à dicotomia
produção/ reprodução. Quanto ao paradigma do patriarcado, este conceito é utilizado para
caracterizar situações de subordinação e discriminação que oprimem a mulher. Pela relação
patriarcal, a mulher é vista como trabalhadora complementar, sendo seu campo de atividade natural
a reprodução da família. Em relação à divisão sexual do trabalho, este termo é utilizado para
designar diferenças de posicionamento de mulheres e homens na estrutura social, abrangendo os
aspectos setoriais, ocupacional e de remuneração; e rege-se por dois princípios organizadores: o
princípio da separação (existem trabalhos próprios de homens e próprios de mulheres) e o princípio
da hierarquização (o trabalho dos homens “vale” mais que o trabalho das mulheres).
Ainda pode-se observar uma dupla exploração das mulheres, no mercado de trabalho e na
família; por este viés, segundo Peña (1981), as mulheres são vistas no sistema capitalista de
produção como úteis em duas perspectivas: por serem trabalhadoras (trabalho na produção) e por
serem mães/ esposas (trabalho na reprodução, criando valores e trabalhadores).
A concepção de trabalho aqui enfatizada está relacionada à capacidade que o homem possui
de transformar a natureza para satisfazer seus anseios e suas necessidades. Para Marx (1988, p.

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145), o trabalho é a “... atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do
natural para satisfazer a necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem
e a natureza, condição natural externa da vida humana”.
Assim, o ato de trabalhar é intrínseco ao ser humano, pertence à condição originária do
indivíduo como meio de sua realização, além de ser uma das formas de satisfação e auto-afirmação
de mulheres e homens. Para este autor, o trabalho é fundamental na vida humana, sendo condição
para sua existência social, e que o torna um ser social. Marx ainda afirma que a história da
realização da vida humana se concretiza pela produção e reprodução da sua existência através do
trabalho.
O sentido do trabalho perpassa muitos aspectos da realidade humana e social. No sentido
objetivo, é o conjunto das atividades e técnicas pelas quais o homem se serve para produzir. Em sua
dimensão subjetiva, abrange a ação do homem enquanto ser dinâmico, a capacidade de agir
racionalmente e realizar-se. Também abarca a dimensão social, pois o trabalho de um indivíduo se
entrelaça com o dos demais.
Por este ângulo, a procura do ser humano por satisfazer suas necessidades tem início
paralelamente à história do trabalho; sendo assim, à medida que uma necessidade é satisfeita, outras
necessidades surgem (como as necessidades de autonomia, realização e auto-estima) e, de tal modo,
é determinada a condição histórica do trabalho.
Sobre a concepção de autonomia, Doyal e Gough (1994) asseguram que esta é uma das
necessidades básicas de todos os seres humanos; todas as pessoas têm direito a que suas
necessidades sejam satisfeitas e cada sujeito social tem o dever e a responsabilidade de ajudar-se
mutuamente para satisfazer às necessidades do outro. Sendo assim,

Somente seres humanos agindo autonomamente podem atingir fins (por mais diferentes que
sejam) e desempenhar deveres (por mais diversos que sejam); por essa razão, para qualquer
visão moral ser coerente, é preciso que reconheça a preservação da vida humana e o
desenvolvimento da autonomia como obrigações básicas. (PLANT et al apud DOYAL e
GOUGH, 1994, p. 97-98).

Do mesmo modo, na literatura sobre satisfação no trabalho é recorrente a interação entre o


Eu e os outros na auto-realização; para que sejam satisfatórias as atividades precisam ser escolhidas
e feitas de forma livre, bem como o indivíduo precisa do reconhecimento dos outros no tocante à

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avaliação e legitimação do seu trabalho e também para dar substância à sua auto-estima. Quanto à
auto-estima, Elster (1992, p. 73) sustenta que

O mais alto valor dos seres humanos é a auto-estima. Em grande medida, a auto-estima de
uma pessoa decorre da estima em que é tida por outros. A estima requer algo que pode ser
estimado, alguma forma de externalização do Eu interior da pessoa. Não adianta ter uma
‘bela alma’ se a alma permanece inefável e muda; o Eu tem de vir a participar do domínio
público.

Logo, a satisfação no trabalho provém de fatores como a oportunidade de utilização das


habilidades e aptidões, a ocasião de aprendizagem propiciada pela atividade produtiva, o
reconhecimento verbal, o trabalho em si e as condições deste, o sentir-se útil e responsável. No
entanto, existem os benefícios que vão além da satisfação no trabalho, como o estímulo interior
oriundo de desempenhar bem seu trabalho e animar a desenvolver a capacidade de realizar tal
trabalho de forma ainda melhor.
Além disso,
O trabalho busca satisfazer as necessidades humanas e, em sua dinâmica, teríamos uma
vida sem sentido. Ele não tem somente o objetivo da exploração e da infelicidade, mas
também persegue a alegria e a felicidade. É o espaço por excelência das manifestações do
indivíduo, no sentido da criatividade e de seu crescimento. O progresso não tem limites, a
cada dia nos deparamos com novas necessidades a serem equacionadas. Por meio do
trabalho, o indivíduo deixa escoar sua subjetividade. (SOUZA NETO; LIBERAL, 2004, p.
29)

A relação entre gênero e trabalho numa casa de swing


Na região Nordeste existe um número reduzido de casas, clubes e outros tipos de
estabelecimentos dedicados à prática do swing. A quantidade varia muito. Estados que possuem,
formalmente, até dois, três estabelecimentos “swinguers”, enquanto outros que não possuem
nenhum. É o caso da Paraíba, por exemplo, que não tem registro de nenhum tipo de casa dedicada a
tal prática. Por outro lado, o estado vizinho, Pernambuco, registra um número de três casas de
swing.
As casas de swing funcionam semanalmente, de quinta a sábado, geralmente no turno da
noite. Recebem um público variado entre casais, homens e mulheres solteiros. A depender do dia,
as casas se abrem dedicadas a um público específico, tudo depende do dia, se a festa terá um tema

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que se restringe a um determinado público. Essas questões irão definir se a casa abrirá para casais,
ou para casais e mulheres solteira, ou mesmo para mulheres, homens e casais como um todo.
Os preços para acesso à casa também variam; homens, mulheres e casais pagam entradas
com valores e bonificações diferentes entre si. Por exemplo, enquanto um homem solteiro pode
chegar a desembolsar R$ 100,00 para entrada na casa em uma noite de quinta-feira; as mulheres
solteiras muitas vezes não pagam nada e os casais pagam um valor mais baixo que os homens. Os
valores variam dependendo do horário e do dia, ainda pode ser revertido em consumação, bem
como em entradas extras para os outros dias, especialmente o sábado, dia da semana no qual as
casas de swing têm um fluxo de presença e participação do público maior.
Sendo assim, temos como objetivos discutir a relação entre gênero, trabalho e
funcionamento de uma casa de swing, na perspectiva da formação de um novo mercado de trabalho
para sexualidades consideradas dissidentes - que fogem ao estereótipo do comum e do permitido -
gerando emprego e renda, transformando o desejo do outro em mercado.
Marx aponta o trabalho como capacidade de produção do necessário para a sobrevivência,
como inerente ao ser humano e como forma de satisfação e auto-afirmação desse sujeito. Por esse
viés, pode-se observar que os sujeitos pesquisados atrelam a identificação com a atividade e o
prazer de realizá-la, porém de formas diferenciadas: a proprietária do estabelecimento – casa de
swing – relata que nunca praticou nenhuma forma de swing; já o promoter não somente é praticante
de swing como sua esposa também trabalha na casa com a venda de produtos eróticos (sex shop).
Marx ainda aponta o trabalho como condição para a existência social e como atividade
social, engendrando a vida social e sendo determinado por ela; logo, no caso estudado, dá-se um
trabalho de formação de redes de casais praticantes de swing através dos contatos estabelecidos
dentro da casa e fora da mesma, ultrapassando os limites geográficos do estabelecimento.
Ainda em Marx temos uma dimensão positiva do trabalho: num primeiro momento essa
atividade humana serve para produção dos meios de sua subsistência, depois para a satisfação de
novas necessidades surgidas no ato primeiro, sendo necessário para que isso aconteça o
estabelecimento de relações com outros indivíduos, reforçando o caráter de trabalho como produção
social. Sendo assim, podemos traçar um paralelo com o surgimento das casas de swing, no
atendimento da satisfação sexual; num primeiro momento o indivíduo tem a necessidade de
compartilhar sua vida com um(a) companheiro(a), depois surgem outras necessidades a partir desta,
de manutenção do relacionamento e de formas de tornar este mais “ movimentado” ou “dinâmico”,

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sendo a casa de swing - enquanto mercado - um locus de pagamento para acesso a outras pessoas
que se identificam com a prática e para a realização de fantasias/ desejos.
Além de Marx, Elster também aponta o trabalho como fator de auto-realização, que se
concretiza como algo superior ao consumo. Para este autor, no consumo o objetivo da atividade é
alcançar a satisfação; já na auto-realização o objetivo é conseguir algo, e a satisfação não é objetivo
imediato da atividade. Dessa forma, afirma que a auto-realização é superior ao consumo porque o
mais alto valor dos humanos é a auto-estima, porém essa advém da estima em que é tida pelos
outros; a realização ou produção de algo pelo qual alguém está disposto a pagar mostra que ela está
sendo útil.
Elster considera que para uma atividade trazer auto-realização deve ter um objetivo externo,
de complexidade adequada e ser um desafio que pode ser enfrentado. No caso estudado, o objetivo
é a satisfação do desejo do outro, através do oferecimento de “serviços” que possibilitarão a
realização do desejo: entrada e circulação nas dependências da casa, que funciona com uma mistura
de opções ao seu público. Em termos arquiteturais possui espaços que se diversificam a partir das
necessidades de cada um. Desde um espaço de interação e entretenimento com as mesmas
características de uma boate tradicional: espaço para dança, bar, mesas e cadeiras confortáveis.
Jogos de luzes que mudam e vão da iluminação para os momentos mais agitados até a penumbra.
Além dessa estrutura, a semelhança com as casas de entretenimento já conhecidas fica por aí, pois é
nos demais cômodos e na oferta dos outros serviços, que as casas de swing se diferenciam.
Ambientes com baixa luminosidade, corredores sem luminosidade onde o público pode
circular sem ser identificado; quartos e suítes de tamanhos diversos, com camas, sofás e banheiros à
disposição; “glory holes”, são cabines com pequenos espaços abertos estrategicamente nos genitais
e em outras zonas erógenas do corpo; outros tipos de cabine para duas, três e quatro pessoas, que
podem ser mantidas com as portas fechadas ou abertas, se assim os seus visitantes quiserem.
Todos esses espaços são de livre circulação, onde qualquer um pode entrar e sair à vontade,
no entanto existem as limitações para a prática, como deixa evidente o slogan do estabelecimento:
onde tudo é possível e nada é obrigatório. As casas de swing funcionam em um horário que vai
entre às 21:00 horas como o momento do início das atividades, e o final da noite como o momento
de término. Muitas vezes o limite é o raiar do sol, enquanto tiver público a casa continua aberta. O
momento de agitação é após às 23:00 horas, período de maior concentração de pessoas. As noites de
sábado geralmente são marcadas como o momento com maior concentração de pessoas, com um
comparecimento em sua maioria, notadamente, de casais e mulheres solteiras.

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Nesses diversos espaços podem-se observar alguns aspectos que movimentam
financeiramente as casas e geram empregos: o consumo de bebidas no bar e objetos eróticos no sex
shop, os quais demandam trabalhadores como garçonetes, seguranças, serviços gerais, barmans,
stripers e DJs. Contudo, não se verificou grande distinção de tarefas associada ao gênero.
A dona do estabelecimento trabalha no ramo há 11 anos; relatou que tudo começou no seu
primeiro período de faculdade de Direito, quando tinha 19 anos, onde um professor percebeu seu
jeito extrovertido e a convidou para administrar algumas festas particulares que o mesmo promovia.
Junto ao marido foi se destacando pela recepção, condução e organização das festas; o que levou a
receber um convite posteriormente para trabalhar numa casa de swing (onde ficou por um ano) e em
seguida à criação de seu próprio espaço. Segundo a mesma, pretende continuar trabalhando por
mais 10 anos nessa área e somente depois se dedicar à área que estudou.
Já o promoter da casa trabalha há 3 anos com swing, no entanto já é praticante há 9. Como
frequentava semanalmente a casa com a esposa, em um das idas participou de uma brincadeira que
foi eleito presidente do swing; em outra situação o locutor (uma espécie de mestre de cerimônias) se
ausentou e o mesmo realizou a função. A partir daí, não só continuou a exercer essa atividade como
também com os contatos com os casais. Dessa forma, o mesmo trabalha, consome e estabelece
vínculos de afinidade no mundo do swing.
Outro aspecto importante a ser considerado é o papel do trabalho na construção do sujeito,
conforme aponta Costa. Relacionar trabalho e subjetividade é pensar na estruturação de uma
sociabilidade atrelada ao trabalho. Por esse ângulo, o trabalho passa a ser objeto de desejo e
obrigação social: este integra e socializa o sujeito, traz vinculação social, constrói identidade,
apresenta formas de dominação e resistência, e reafirma a dinâmica contraditória da economia de
mercado.
Investigar as relações de trabalho em uma casa de swing traz consigo um conjunto de fatores
que precisa ser verificado com cuidado. Da mesma forma que a auto-realização e o trabalho se
articulam a processos subjetivos e à formação do caráter do indivíduo, deve-se ter a cautela
necessária em identificar de que formas isso está implicado quando se fala sobre o trabalho em
estabelecimentos que envolvem o sexo. Como pensar as sexualidades dissidentes e o seu papel na
formação das subjetividades e a sua vinculação ao trabalho nas relações contemporâneas pensando
na interação e no envolvimento entre aspectos como o mundo do trabalho, dos afetos, dos interesses
e dos desejos?

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O que se verificou no estudo aqui apresentado, através da observação e das entrevistas que
foram efetuadas, foi um envolvimento de todos que fazem parte do staff do estabelecimento. Da
proprietária, ao promoter, chegando até à garçonete. Todos eles carregam nas suas falas o sentido
de estarem inseridos no trabalho daquela casa; em suas roupas, na forma de se expressarem, todos
eles deixam implícito o nível de envolvimento que cada um possui com o seu trabalho. Para muitos,
um desejo, para outros, uma fantasia, um fetiche. Para os que trabalham com o swing, um pouco de
tudo isso junto.

Referências

COSTA, Cândida. Nas malhas da instabilidade: os trabalhadores públicos em um cenário de


mudanças. São Luís: EDUFMA, 2008.

DOYAL, L.; GOUGH, I. O direito à satisfação das necessidades. Lua nova. São Paulo, n. 33, p. 97-
121, 1994.

ELSTER, Jon. Auto-realização no trabalho e na política: a concepção marxista da boa vida. Lua
nova. São Paulo, n. 25, p. 61-101, 1992.

GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade. São Paulo: UNESP, 1996.

LAZZARATO, Maurizio. Trabalho imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. Rio de


Janeiro: DP&A, 2001.

MARX, K. O capital. v. 1. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

PEÑA, Maria Valéria Junho. Mulheres e trabalhadoras. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

SOUZA NETO, J. C.; LIBERAL, M. M. C. A metamorfose do trabalho na era da globalização.


São Paulo: Expressão e Arte, 2004.

WEID, O. V. D. Swing, o adultério consentido. Estudos Feministas. Florianópolis, n. 18, p. 789-


810, 2010.

The desire of another as a Market: A study about gender and Market in a Swing’s house in
Pernambuco.

Abstract: This research shows the relations of a gender and work in a swing’s house in
Pernambuco. In the same way that the auto carrying out and the job articulate to a subjective
process and to the formations of human character, identify in which ways those are involved when
it talks about the gender and work in establishments where sex is. How to think about dissidents
sexualities in its role in the formation, of subjectivities and its links to the work on contemporary
relations, thinking about desires? It was verified an involvement of what they do part of the

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establishment staff, which brings a feeling for being inserted on work of that house and the level of
involvement in which one have with its job. For many a desire, for others a fantasy and fetish. For
the ones who works with the swing, a bit of all of it together.
Key words: Work, Gender, Swing, dissidents sexualities.

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