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Lição 1

INTRODUÇÃO À
HISTÓRIA DA IGREJA

Cada um de nós possui uma herança familiar única. Nós,


crentes, compartilhamos uma herança comum na história da Igreja.
Seja qual for o nosso nível social, localização geográfica ou maturidade
na vida cristã, podemos nos beneficiar do estudo das origens do
Cristianismo, que ocorreram cerca de 2000 anos atrás, e da
expansão e desenvolvimento da Igreja, desde então.
O que é realmente a história, e o que é a Igreja? Vamos definir
estes e outros termos nesta lição inicial para lançarmos o fundamento
do nosso estudo da história da Igreja desde as origens até a Reforma
Protestante, no século XVI. Proporcionaremos também uma base para
a perspectiva cristã da história. Depois, analisaremos resumidamente a
tarefa do histo- riador e a necessidade de equilíbrio em nossa vida
particular e na igreja.
Espera-se que o aluno, ao iniciar o estudo da sua herança
cristã, possa valorizar mais e mais a grandeza de Deus, que criou todas
as coisas e continua a Sua obra no mundo de hoje.
12
Esboço da Lição
– Definição de
História Produto e
processo A
perspectiva cristã
– Definição de Igreja
Interna
Externa
– O historiador em
ação: A evidência
Divisão
temporal Causa
histórica
– O equilíbrio na Igreja

Objetivos da Lição

Ao terminar esta lição, você deverá ser capaz de:


– Definir história e sua perspectiva cristã.
– Definir Igreja sob o ponto de vista interno e externo.
– Descrever o trabalho do historiador.
– Explicar a necessidade de equilíbrio na vida da Igreja.
13
14 TEXTO 1
DEFINIÇÃO DE HISTÓRIA

Produto e processo
História da Igreja

Ao tentarmos definir a palavra história, a nossa definição deve


conter a palavra passado, ou algo relacionado. É difícil definir a palavra
história porque ela tem pelo menos dois significados. Refere-se, em
primeiro lugar, a eventos ocorridos no passado. Ouve-se dizer, por
exemplo, “Tudo isso é história!”. Mas a mesma palavra significa o
estudo do passado. Nesse sentido, refere-se ao processo de
aprendizagem relacionado à investigação do ocorrido, bem como das
suas causas e de seu significado.
Em resumo, a palavra história pode significar aquilo que
aconteceu, ou a investigação daquilo que aconteceu.
A palavra história vem do termo grego historeo. É interessante
notar como esta palavra é usada em o Novo Testamento. O apóstolo

O QUE É HISTÓRIA?
encerravam um dos vários mapas de uma co-
leção de cartas antiquíssima, que a faculdade
Boa parte de minha instrução acadêmica ganhara de um doador que os comprara na
foi tomada numa faculdade de História. Eu França. Eu me perdia naquelas lindas gravu-
ainda posso me recordar, e não creio que um ras, nos desenhos dos continentes, das rotas
dia esquecerei, sobre como estava empolgado comerciais, das evoluções das fronteiras his-
com as primeiras semanas de aula. A sala em tóricas e políticas dos países. Quanta coisa
que nos reunimos para estudar no primeiro por aprender. Quantas informações por assi-
mês não animava muito. Eu a achei menor do milar. Quantas datas por decorar. Eu estava
que pensava que seria, e ainda mais pequena pronto para aprender História. História? O que
quando pensava no que eu merecia. Mas de- é isso? Datas? Informações? Aprender? Deco-
pois de algum tempo, transferiram-nos para rar? Nada disso aconteceu naquela sala e nas
um ambiente maior e à altura de quem éra- aulas ministradas.
mos, futuros historiadores.
Foram quase quatro os anos passados ali, e
A nova sala era realmente impressionante. em nenhum dia, em nenhuma mísera
As suas paredes estavam cobertas por qua- ocasião, qualquer daqueles lindíssimos
dros grandes, medindo mais de um metro mapas foi usa- do. As requintadas molduras
quadrado cada um. E o mais interessante foi foram movimen- tadas apenas por alguns
descobrir que estes quadros tinham frente e curiosos estudantes e mais ninguém. Até
verso. Eles estavam presos às paredes com hoje eu não soube por qualquer dos meus
dobradiças, e como quem abre uma janela ou professores o que é His- tória, mas perdi a
fecha uma porta, era possível olhar o verso de conta das vezes em que es- cutei dizer “o
cada um. Tanto a frente como a parte de trás que a História não é” – frase da qual tomei
de cada um daqueles muitos quadros, daque- ojeriza, pois ela era dita com pe- dantismo
las lindíssimas molduras de madeira maciça, acadêmico, desprezo genuíno a nós e
nenhuma elucidação, nada de prático
ou re-
Paulo usou uma forma da palavra no seu testemunho em Gálatas 1.18: 15
“Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver (historiasia) a Pedro,
e fiquei com ele quinze dias”. O contexto deste versículo, e o fato
de Paulo permanecer quinze dias com Pedro, nos levam a concluir que
a sua visita não foi um acontecimento casual. A palavra grega historasi

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
significa aprender sobre; visitar para conhecer melhor. Paulo quis
aprender mais profundamente sobre sua nova fé.
Deve ficar clara a distinção entre os eventos do passado e a
investigação deles. A história, como evento, não pode mudar, mesmo
com a descoberta de novas evidências, novas causas, ou novos
significados do evento.

A perspectiva cristã
O significado que nós percebemos nos eventos do passado está
relacionado à nossa visão do mundo – nossa filosofia de vida. Para
muitas pessoas, a história representa apenas uma longa lista de datas
e nomes. Para outras, a história (e talvez a própria vida) carece de
sentido. Certo

velador. Apenas uma asneira incompreensível


Perguntados sobre quando nos pediriam que
validada por títulos e diplomas.
memorizássemos os eventos, os acontecimen-
Mas então, o que é História? O passado. Ele tos, os personagens, as suas respostas eram
é a História. A História é o que ficou para trás. que cuidássemos disso sozinhos, pois eles es-
O que aconteceu. Isso é a História. A História é tavam ali para desmistificar-nos as estruturas
isso. O ontem, o minuto anterior. e as conjunturas.

Os debates acadêmicos sobre a História, sua O fato é muito mais que uma data. O fato,
natureza e sua utilidade são tão absolutamen- oras, é o ato, e ele não pode ser mudado, re-
te tomados pelas ideologias que é provável contado, reinterpretado. Pedro Álvares Cabral
que até mesmo os professores da disciplina já descobriu o Brasil, Cristóvão Colombo às Amé-
não possam dizer o que ela é – se é que um dia ricas, os americanos conquistaram o oeste de
souberam. Eles repetem a patacoada de que a seu país. Alegar uma não descoberta pois ha-
História é um agente revolucionário de trans- via índios na terra, elucubrar se o Velho Oes-
formação social, mas sequer podem realmen- te foi conquistado ou perdido, enaltecendo o
te explicar como isso se daria. mito do bom selvagem, é a prática da tolice
dialética. O fato é o ato, e ele é a História.
Um livro de História, um bom, um que valha
a leitura, é feito com pesquisas, com investi- Durante as várias horas semanais de suposta
gações, e até pode conter alguma digressão instrução, ouvi sobre revoluções, resistências,
autoral, desde que nunca despreze o ápice da resiliência social, opressores, oprimidos, a his-
História, que é o fato. Ah, como o fato é im- tória dos vencedores e tantas coisas do tipo,
portante. Ah, como ele é necessário. Ah, como mas nunca soube os nomes e os períodos.
ele é desprezado. Mesmo assim, apesar de tão
Neste ponto da leitura você está pensando
relevante, o fato era lacuna, hiato, espaço va-
em como era sem qualidade a instituição em
zio nas aulas e nas cabeças dos professores.
que estudei. E se eu lhe disser que todos
os
16 escritor britânico fala do “grande montão de poeira chamado
história”. Um industrial norte-americano disse: “A história é uma
bobagem”. Para ambos, a história carecia de algum valor.
Para os cristãos, a história é muito importante porque ela
História da Igreja

revela a atividade de Deus com relação aos homens. Cremos que


Deus se fez homem num determinado lugar e durante um
determinado número de anos. Deus revelou a Sua natureza,
mandando o Seu Filho Jesus Cristo para habitar no tempo e no
espaço. A redenção dos seres humanos, mediante a morte e
sacrifício de Jesus, constitui a maior evidência do trato de Deus
com os homens.
Quando uma pessoa passa a crer em Jesus Cristo, ela está se
entre- gando nas mãos dAquele que nasceu em Belém, foi criado em
Nazaré, ensinou na Galileia, e foi morto em Jerusalém. Já que Jesus
Cristo ressuscitou dentre os mortos, podemos confiar nEle nesta
vida e por toda eternidade.

meus professores, todos, eram dos quadros


De início, a ideia parece razoável e atraen-
docentes das universidades federal e estadual
te: uma coisa seria a História, aquilo que
do Rio de Janeiro, e muitos deles tinham
aconteceu, e outra o seu registro (a histo-
galga- do seus doutorados na portentosa USP,
riografia). A depender das fontes, conforme
o que você pensaria? A conclusão é óbvia: os
as inclinações, os resultados escritos sobre
nossos bons, velhos ou mortos professores de
o passado podem ser múltiplos e (quase)
Histó- ria dos anos de nossa formação
todos válidos. E foi aí que entendi o porquê
elementar é que sabiam o que a História era.
de meus professores não nos falarem nunca,
Diziam-nos os doutores que sua tarefa era jamais, sobre os heróis do Brasil: para eles,
nos ensinar a ligar os pontos. E invariavelmen- esse não era um resultado válido. Simples
te eu me perguntava quais pontos seriam es- assim. Riam-se de D. João VI, escarneciam
ses, pois o resultado de minhas anotações era o Duque de Caxias, abominavam D. Pedro II.
um borrão acadêmico que só faz sentido na Isabel, a princesa redentora do Brasil, abo-
cabeça dos iluminados que o recitaram a mim. licionista convicta, lhes era menos impor-
tante que o soturno Zumbi dos Palmares – o
História e historiografia negro que escravizava outros pretos, estu-
A aula que estabeleceu a diferença entre prava suas mulheres e vendia os seus pares
História e historiografia foi uma das mais pe- de volta aos brancos. Historiografia, eles di-
rigosas que tive. Neste dia nos disseram que ziam. Mentirografia, eu afirmo.
existem histórias, assim mesmo, no plural.
Quem quer aprender o que é História e
Histórias do descobrimento do Brasil. Histó-
como ela deve ser contada, não pode se es-
rias das escravidões. Histórias da Reforma.
quecer de como a Bíblia a faz. Verdade infa-
Histórias sobre qualquer coisa. Neste dia eu
lível e irretocável que é, as Escrituras nunca
vi a carranca tão feia do relativismo. Foi um
escondem o bem e o mal praticados pelas
horror espiritual.
pessoas que povoam suas alvas páginas. Davi
A encarnação de Cristo foi o auge do movimento linear visando a um 17
alvo divino. Vista da perspectiva cristã, a história progride de Gênesis
1.1 (“No princípio ”) até à promessa de Cristo (“Eu voltarei”). Esta
perspectiva
nega a possibilidade de a história ser apenas cíclica, ou repetitiva.

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
Lembro-me de haver pensado, quando ainda era criança: “Os
homens constroem casas de tijolos. O tijolo é feito de barro, porém
Deus fez o barro. E Deus, quem O fez?” Agora entendo que Deus
não foi criado por ninguém; Deus sempre existiu. Embora se
manifeste no tempo cronológico, Ele habita além do tempo.
Segundo Isaías 57.15, Deus vive eternamente.
A Bíblia constitui um relato inspirado da atividade de Deus
neste mundo. No Antigo Testamento, vemos a relação de Deus com
a Sua criação. A história da Igreja constitui-se no relato de homens e
mulheres que andavam com Deus ao longo do tempo e do espaço.
Por ser Deus Todo-Poderoso, Ele mantém o mundo inteiro sob Seu
controle. Talvez seja mais fácil perceber a mão de Deus nas coisas boas
da vida do que nas

e seus horrendos pecados são tão conheci-


Logo, existe apenas uma versão correta e
dos nossos como é o seu epíteto de homem
possível para a História, algo muito mais sério,
segundo o coração de Deus. Tudo está na Bí-
forte e convincente do que uma mera perspec-
blia. Essa é a verdade. E é assim que a história
tiva cristã. Trata-se da verdade do Evangelho,
é feita, contando a verdade, nada além dela.
pois tudo no mundo, absolutamente tudo e
Isso é História. História é isso.
todos, faz parte do plano divino através dos
séculos – mesmo os ateus, os perversos, os
A História e a minha fé em Cristo
ímpios e até os historiadores e os teólogos.
O modo como vemos a História, como traba- Assim, o que podemos dizer sobre a História,
lhamos com ela, é afetado muito diretamente e o modo como a podemos estudar, para ser
conforme aquilo que cremos. Aliás, uma correto, precisa estar absoluta e intimamente
pau- sa: outra bobagem terrível que nos era ligado à Bíblia e ao plano da redenção do ho-
em- purrada goela abaixo nas aulas era o mem em Cristo Jesus.
mito da objetividade. Diziam os professores
sobre o quanto eles eram tão incríveis por
consegui- rem escrever sem paixões e sem
inclinações pessoais quaisquer. Será mesmo?

Sobre a decantada objetividade, tenho uma


pergunta: fossem os historiadores tão obje-
tivos como dizem ser, haveria histórias e his-
toriografias? Certamente que não! Por outro
lado, o mesmo que é dito sobre o adúltero e
assassino Davi nos livros dos Reis faz eco fiel
e igual em todo o restante da Bíblia Sagrada.
Percebe agora?
18 ruins, mas ambas fazem parte do plano divino. O trabalho de Deus
está oculto aos seres humanos. A parábola pronunciada por Cristo
acerca do trigo e do joio (Mt 13.24-30) contribui para explicar a
colheita do bem e do mal através da história.
História da Igreja

Veremos, na lição 2, como Deus operou, mediante o Espírito Santo,


na Igreja primitiva do Novo Testamento. Em cada geração, desde então,
apesar de reveses e corrupção, o Espírito Santo tem operado na Igreja. Nesse
momento, Ele está operando nos acontecimentos para honra e glória de
Deus. E Deus, um dia, concluirá a história conforme o Seu plano divino
(1 Co 15.24).

EXERCÍCIOS
Escreva suas respostas abaixo

1.01 Antes de ler a próxima seção, escreva numa sentença sua definição
da palavra história:

Relacione a coluna “A” à coluna “B”


Associe cada aspecto da história (Coluna A) à sua respectiva descrição (Coluna B):

Coluna “A”
1.02 Os eventos do passado.
1.03 A investigação dos eventos do passado.

Coluna “B”
1. Processo.
2. Produto.

1.04 Vamos supor que o querido aluno esteja caminhando numa


floresta. Acabando de notar um bicho morto, deitado na
trilha, fica pensando: “Um caçador deve ter atirado nesse
animal”.
Descobre, porém, ao examinar o corpo do bicho, que não há 19
feridas. Então você descobre, próximo dali, uma fonte de
água venenosa. Com relação a este incidente, classifique cada
um dos aspectos abaixo indicados como sendo

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
1. história como produto, ou
2. história como processo.
a) Sua descoberta fortuita do corpo do bicho.
b) A morte do animal.
c) Sua conclusão inicial de que o animal fora morto por
causa da ação dos caçadores.

Escreva suas respostas abaixo

1.05 Leia João 1.1-14, especialmente o versículo 14. Segundo este


trecho, qual é a importância do estudo da história para o crente em
Cristo?

1.06 Suponhamos que alguém dê a entender que realmente não


importa se Jesus ressuscitou ou não dentre os mortos. Leia 1
Coríntios 15.17 e escreva a sua resposta concernente a tal
argumento.

1.07 Se a ressurreição de Cristo não tivesse acontecido, como


isto afetaria o evangelismo? (Veja 1 Co 15.14).
20 1.08 Leia Gênesis 1.1-5 e 2 Pedro 3.8. Depois, compare a
eternidade ao tempo.
História da Igreja

1.09 Leia Efésios 1.9-10 e Romanos 11.36. À luz destes versículos


e daquilo que já temos dito acerca da mão de Deus na história,
qual deve ser a atitude do cristão com relação ao estudo da
história?

Marque “C” para Certo e “E” para Errado.

1.10 A história da Igreja é o relato da ação de Deus no tempo.


1.11 O significado da história é o mesmo para o cristão e o não cristão.
1.12 A história é importante para o crente porque Cristo faz
parte da história.

Escreva suas respostas abaixo

1.13 Leia a definição de história que você escreveu (pergunta de estudo


1.01). Agora, prepare uma nova definição dessa palavra,
levando em conta o que você acaba de aprender nesta seção.
TEXTO 2 21
DEFINIÇÃO DE IGREJA

Interna

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
O que significa a palavra igreja? Como já vimos com relação à
palavra história, alguns termos possuem mais de um significado.
Quando alguém diz: “Estão pintando a igreja de branco”, está usando a
palavra igreja para significar um templo, ou edifício. Se alguém diz: “A
Igreja Anglicana crê em Deus”, a palavra igreja significa uma
denominação, ou grupo. Quando dizemos: “A igreja se reúne, às 10:00
horas da manhã, aos domingos”, usamos a palavra igreja para significar
um culto, ou uma reunião religiosa.
No título deste curso, a palavra igreja não significa um templo,
uma denominação, nem um culto religioso. Não acompanharemos
o desenvolvimento de um edifício, de uma confissão de fé pessoal,
ou de uma forma de culto. Mas descobriremos um significado mais
importante inerente à palavra igreja.
Na época neotestamentária, a palavra igreja significava uma
assem- bleia, ou grupo. Jesus assim usou a palavra, referindo-se a
um grupo local de crentes (Mt 18.17) e ao conjunto de todos os
crentes do mundo (Mt 16.18). Embora examinemos a Igreja em
determinado momento como sendo uma congregação local, o nosso
propósito principal será examiná-la como corpo universal.
A figura da Igreja como corpo de Cristo descreve-a como um
organismo. Este organismo é um ser vivente integrado por uma
grande variedade de membros, desempenhando funções distintas, mas
mutua- mente dependentes. Esta figura do corpo de Cristo
proporciona o signi- ficado interno de “igreja”. Paulo desenvolve
esta figura com muitos detalhes em 1 Coríntios 12.

Externa

Além de ser vista como um organismo, a Igreja é também


descrita como uma organização, ou instituição. Como tal, possui uma
estrutura física, forma ritual de culto, cargos e outras características
externas, que são visíveis ao mundo num sentido em que a Igreja
interna, ou viva, não é. O nosso estudo da Igreja e sua história
naturalmente incluirá o aspecto interno, bem como a sua natureza
externa. Veremos a Igreja como testemunha viva e visível que
mostra a ação de Deus entre os
22 homens. Todavia, não devemos cometer o erro de atribuir as falhas
da Igreja ao nosso Santo Deus.
Outros dois termos que se aplicam com frequência à Igreja são: visível
e invisível. Apesar da fraqueza destes termos, eles são úteis para distinguir
História da Igreja

aquelas pessoas que são apenas membros nominais de um “grupo cristão”,


daquelas que são crentes verdadeiros, confiando plenamente na graça de
Cristo. Deus conhece o coração de todos os seres humanos (At 1.24).
Entre os integrantes da igreja visível (instituição), há alguns insinceros que
professam uma fé de aparências. Em contraste, todos os que integram a
Igreja invisível gozam de uma relação especial com Deus, mediante sua fé
ativa e pessoal.
Naturalmente, num curso como este, dedicaremos bastante
tempo ao exame da igreja visível e institucionalizada.
Acompanharemos a sua extensão e a sua relação com o mundo
secular. Por todo o seu desenvol- vimento, desde a encarnação de
Cristo e Sua morte e ressurreição, até o tempo presente, o aspecto
invisível dessa igreja tem sido ativo, impulsio- nando a igreja visível a
buscar reforma e renovação. De fato, a história da Igreja retrata a
tensão entre a Igreja invisível (o povo de Deus nascido do Espírito) e
a igreja visível (uma instituição humana).

EXERCÍCIOS
Escreva suas respostas abaixo

1.14 Suponhamos que uma pessoa afirme que sua igreja seja o
único grupo de crentes verdadeiros. Ela diz que o seu grupo será
o único presente no céu. Qual aspecto da Igreja ela estaria
negligenciando?

1.15 O apóstolo Paulo usou muitas figuras para descrever a


Igreja; uma das suas favoritas se encontra em Efésios 1.22-23.
Em que termos este trecho bíblico descreve a Igreja?
1.16 Leia 1 Coríntios 12 e descreva resumidamente o significado 23
interno da Igreja, como o corpo de Cristo.

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
1.17 Compare a Igreja, como organismo, à igreja, como organização.

1.18 Quando a igreja, como organização externa, fracassa, não demons-


trando a natureza amorosa do seu Fundador, de quem é a
culpa?

1.19 Alguns estudiosos entendem a parábola do joio e do trigo,


em Mateus 13.24-30, como significando a Igreja nos dias de
hoje. Se for certa esta interpretação, o que a parábola ensina
acerca do “joio” que existe na Igreja?

1.20 Associe os aspectos da Igreja (Coluna A) com as respectivas decla-


rações acerca dela (Coluna B):
Coluna “A”
a) João pertence à Igreja Metodista.
b) A Igreja de Cristo é gloriosa.
24 c) A Igreja de Cristo existe em todas as nações e não tem falhas.

Coluna “B”
1. Aspecto externo da igreja.
História da Igreja

2. Aspecto interno da igreja.


3. Ambos.

TEXTO 3
O HISTORIADOR EM AÇÃO

A evidência

O historiador tem a responsabilidade de avaliar a evidência


deixada pelos eventos. Em primeiro lugar, ele investiga e recolhe o
material informativo básico. Pode consistir no relato de uma
testemunha ocular (alguma pessoa que presenciou ou participou do
evento).
Esta seria considerada a fonte primária de informação. Uma
fonte secundária consistiria num relato deixado por alguém sobre
um evento, baseado em suas pesquisas. Em geral, as fontes primá-
rias são mais valorizadas pelos historiadores do que as fontes
secun- dárias. O historiador usa também descobertas arqueológicas,
tais como moedas, monumentos e edifícios. Baseando-se nestas
indica- ções, ele tenta reconstruir os eventos do passado e
determinar o que realmente aconteceu.
Ele avalia a evidência por meio de perguntas, como: “Quem foi
que escreveu isto?”, ou, “Até que ponto isto é confiável?”. Embora ele
saiba que a informação não está completa, continua reunindo
informações para servir de base para suas eventuais conclusões.
Além de fazer um levantamento da evidência do passado, o
historiador procura explicar os acontecimentos, proporcionando
padrões e generalizações, comparações e contrastes, causas e
conse- quências. Sua eventual interpretação é o produto da sua
própria dedicação e imaginação. Assim, o historiador combina as
técnicas e habilidades de um cientista, filósofo e artista em sua
tarefa de escrever a história.
Os historiadores não podem escrever o que desejam que houvesse 25
acontecido, nem aquilo que poderia ter acontecido. Eles devem
tratar daquilo que aconteceu na sua totalidade. Certos eventos e
períodos da história, como o declínio do Império Romano, podem
conduzir um historiador a declarar, como efetivamente fez Edward

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
Gibbon, “A história não passa de um registro de crimes, tolices e
infortúnios”. Entretanto, o historiador cristão conhece a cura. Ele
entende que Deus mandou Seu Filho ao mundo num momento
específico para libertar a humanidade destes “crimes, tolices e
infortúnios” (Jo 3.16,17).

Divisão temporal

Muitos historiadores da Igreja têm observado que a história do


Cristianismo é como a túnica sem costura de Cristo. Eles querem
dizer que há um fluir ininterrupto de acontecimentos. Um evento leva
a outro. Os acontecimentos do século passado contribuem para os
da década passada. Os eventos dos últimos dez anos afetam os
deste ano.
Com o intuito de nos ajudar a lembrar e entender os eventos, o
historiador tenta arrumá-los em blocos temporais. Os historiadores
não estão de acordo acerca de quais divisões são melhores. De fato,
os eventos do passado podem ser divididos cronologicamente
(segundo a ordem do seu acontecimento), geograficamente
(segundo o espaço físico), ou de modo temático (segundo seu
assunto). O quadro a seguir mostra a ordem cronológica de eventos
sugerida por alguns historiadores da Igreja.
33 100 313 590 1054 1305 1517

Igreja Igreja Igreja dos Igreja Idade Igreja dos Igreja da


Apostólica
Primitiva primeiros Média últimos Pré-Reforma
séculos da Intermediária séculos da
Idade Média Idade Média

Se o estimado aluno examinar o índice no início deste livro, perce-


berá que as unidades de estudo estão divididas cronologicamente.
Veja os casos em que são sugeridas divisões geográficas, ou sistemáticas,
pelos títulos ou subtítulos das lições individuais.
NOTA: Às vezes, especialmente nos primeiros dias da Igreja,
é impossível estabelecer as datas exatas de nascimento e morte das
pessoas. Nesses casos, indicamos a data aproximada com a letra “c”
(indicando a palavra latina circa, que quer dizer: aproximadamente).
26 Causa histórica

O historiador lida constantemente com o processo de causa e


efeito histórico para formular as suas conclusões acerca do passado. Ele
deve ter cuidado ao pressupor uma relação de causa e efeito entre
História da Igreja

dois eventos, simplesmente por haver ocorrido um deles após o


outro. Esta tendência é comum entre os seres humanos. Sabemos
evitar o problema em casos óbvios, como quando uma pessoa diz: “Saí
de casa e começou a chover”; não iríamos supor que a sua saída tivesse
causado a chuva! Mas em casos menos óbvios, erramos com
frequência neste aspecto.
O historiador deve lembrar-se de que Deus está no controle de Seu
mundo, e que Ele portanto causa ou permite os eventos históricos.
Em vez de intervir de forma extraordinária ou sobrenatural, Deus
costuma operar através de causas físicas bastante comuns. Ele pode
utilizar uma condição econômica específica, por exemplo, para
produzir um resultado espiritual. Para ilustrar, vejamos que Atos 8.1,4
nos relata que os cristãos fugiram de Jerusalém devido à perseguição
(a causa). E havendo fugido, eles levaram o Evangelho por toda parte
(a consequência). O historiador precisa reconhecer que pode haver
várias causas contribuindo para um só efeito, ou reação. Finalmente,
o historiador deve valorizar o impacto do livre-arbítrio humano
sobre os eventos históricos.

EXERCÍCIOS
Escreva suas respostas abaixo

1.21 Suponhamos que você deseje preparar uma história do movimento


pentecostal na sua região. Quais tipos de materiais você utilizaria?

1.22 Indique quais materiais mencionados na questão anterior se


relacionam às categorias abaixo:
a) Primária
b) Secundária
c) Arqueológica
1.23 O estimado aluno pode ter lido algum livro que diz não haver crentes 27
pentecostais na região ou cidade onde mora, mas sabe perfeitamente
que há, pois tem tido contato com tais crentes. Qual destas
“evidências” é a primária, qual a secundária, e qual você aceitaria
como verdadeira?

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
1.24 Se alguém disser: “Eu não gosto de estudar a história porque
“os fatos ruins do passado me deprimem”, que resposta você
daria?

1.25 Associe o assunto de estudo (Coluna A) com o método mais


apropriado de organização (Coluna B).
Coluna “A”
a) O movimento do tempo geral, desde os dias de
Cristo até o presente.
b) A expansão do Cristianismo a partir de Jerusalém ou
de Roma.
c) Vários líderes da Igreja primitiva.
Coluna “B”
1. Método Cronológico.
2. Método Geográfico.
3. Método Temático.

1.26 Suponhamos que você esteja testemunhando a um indivíduo


que afirme que as pessoas se tornam crentes em Cristo por
serem pobres. Como você responderia a isso?
28 1.27 Defina causa histórica e indique alguns dos perigos a serem
evitados na determinação das causas.
História da Igreja

TEXTO 4
O EQUILÍBRIO NA IGREJA
A vida da Igreja, como a vida particular de qualquer cristão, precisa
de equilíbrio. A Igreja deve satisfazer as necessidades emotivas, ativas e
intelec- tuais dos seres humanos. O seguinte diagrama demonstra este
equilíbrio:
O coração simboliza as nossas emoções. Ele é a parte invisível
da nossa vida cristã; inclui a devoção pessoal, a oração e
o louvor. Pressupõe a nossa entrega a Deus e nossa
obediência ao Seu Espírito. Enfoca a nossa experiência
emocional.
A cabeça é o centro do intelecto. Ela é a parte invisível
da nossa fé cristã. Refere-se à nossa mente, às nossas
declarações teológicas e à nossa lógica. Enfoca o nosso
pensamento a respeito de Deus.
As mãos representam a ação, o nosso serviço ou labor por
amor a Deus. A nossa vida moral e o nosso ministério são
aspectos deste serviço. Por meio da ação, nós, os membros
da Igreja, devemos demonstrar e proclamar a verdade do
Evangelho.

Coração Mãos

Cabeça
Existe sempre o perigo de desequilíbrio quando um indivíduo salienta a 29
sua experiência emocional à custa do conteúdo teológico, ou do serviço
ativo. Semelhantemente, há perigo de desequilíbrio para o cristão que
vive pelo raciocínio, dependendo dos detalhes da sua teologia, deixando
de viver com idoneidade ou de entregar-se a Deus. Finalmente, pode

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
existir desequilíbrio na vida da pessoa que diz que a sua teologia e a
sua experiência religiosa com Deus importam menos que o serviço
cristão que ele presta. Tal pessoa, na sua constante atividade em
benefício dos outros, não consegue atingir a vida cristã sadia e
equilibrada que Deus deseja para cada crente. Não se pode negligenciar
nenhuma parte da vida cristã; semelhantemente, nenhum elemento pode
ser exagerado à custa dos outros. Deus nos quer por inteiro! Ele deseja a
nossa energia, as nossas emoções e a nossa mente.
Ao estudarmos a história da Igreja, descobriremos certos
indivíduos e movimentos que exageraram ou negligenciaram um ou
mais destes três aspectos da vida cristã: coração, cabeça e mãos. Por
exemplo, alguns avivamentos enfatizaram apenas o coração (as emoções)
e negligenciaram a cabeça (a doutrina, ou teologia), e como
consequência disso sofreram prejuízo no crescimento e na eficácia da
Igreja. Se o querido aluno conse- guir reconhecer esta constante tensão
na manutenção de equilíbrio, terá a chave para a compreensão da
história da Igreja.
Nesta lição, nós lançamos os fundamentos do nosso estudo,
estabele- cendo o significado da palavra história e como a história se
relaciona à nossa fé em Jesus Cristo. Estabelecemos que a Igreja é
simultaneamente o corpo de Cristo e a organização física que abrange
(mas não totalmente) o organismo interno. Estabelecemos algumas regras
ou critérios para a evidência histórica, divisão da história e a causa histórica.
Finalmente, observamos a importância do equilíbrio entre o intelecto, a
emoção e a ação. Peçamos a Deus que nos ajude a alcançar em nossa
vida o equilíbrio que tanto O agrada.

EXERCÍCIOS
Relacione a coluna “A” à coluna “B”.
1.28 Suponhamos que você seja convidado para conversar com
grupos de professores em diversas igrejas. Cada grupo sofre de
desequilí- brio. Correlacione a área de desequilíbrio sofrida por
cada grupo de professores à palavra que lhe corresponda.
Coluna “A”
a) Desejam servir na igreja, mas muitos deles criticam
uns aos outros.
30 b) Conhecem bem a Bíblia, mas não desejam dedicar o
seu tempo ao ensino.
c) Comunicam aos alunos seu interesse pessoal, mas há
poucas mudanças quanto à capacidade de
História da Igreja

compreensão da Bíblia por parte dos estudantes.


Coluna “B”
1. Coração.
2. Cabeça.
3. Mãos.

1.29 Alguns cristãos acham que devem retirar-se de todo contato


com o mundo para dedicar-se à oração, ao estudo da Bíblia e
à Teologia. O que está desequilibrado na vida destas
pessoas?

REVISÃO DA LIÇÃO
Escreva suas respostas abaixo

1.30 Qual é a diferença entre a história como produto e a história


como processo?

1.31 Que efeito produz, na atitude do cristão perante a história, o


fato de Deus haver mandado Seu Filho Jesus para habitar no
tempo e no espaço, durante um determinado número de
anos?
Assinale com “x” as alternativas corretas 31

1.32 O cristão, diferentemente do não crente, inclui o seguinte na


sua definição de história:
a) É um relato de eventos passados.

Igreja
Lição 1 - Introdução à História da
b) É um relato do trato de Deus com os homens.
c) É o estudo dos acontecimentos do passado.
d) É o tempo que se repete.

1.33 Um significado não bíblico da palavra igreja é:


a) Uma organização.
b) Um organismo.
c) Um prédio.
d) Todas as alternativas estão corretas.

1.34 Este curso enfatizará a Igreja como


a) grupo universal.
b) congregação local.
c) denominação específica.
d) Todas as alternativas estão corretas.

1.35 Os historiadores estudam mediante o uso de informações obtidas de


a) fontes primárias.
b) fontes secundárias.
c) indicações arqueológicas.
d) Todas as alternativas estão corretas.

1.36 Quando a evidência primária da história contradiz a


evidência secundária, geralmente se aceita como mais
verídica
a) a evidência secundária.
b) a evidência primária.
c) nenhuma dessas evidências.
d) a evidência obtida inicialmente.

Relacione a coluna “A” à coluna “B”


1.37 Associe os aspectos da igreja (Coluna A) com as respectivas carac-
terísticas (Coluna B).
32 Coluna “A”
a) O organismo vivo.
b) A natureza visível.
c) Estrutura organizacional.
História da Igreja

d) A natureza invisível.
e) O corpo de Cristo.
Coluna “B”
1. Externa.
2. Interna.

1.38 Associe o adjetivo (Coluna A) ao respectivo método de dividir


os eventos do passado (Coluna B).
Coluna “A”
a) Segundo o espaço.
b) Segundo o assunto.
c) Segundo o tempo.

Coluna “B”
1. Cronológico.
2. Geográfico.
3. Temático.

1.39 Associe os símbolos (Coluna A) com os aspectos da vida de


um indivíduo e da Igreja considerados necessários para haver
equilí- brio (Coluna B).
Coluna “A”
a) Serviço ativo.
b) Experiência emocional.
c) Pensamentos intelectuais.

Coluna “B”
1. Coração.
2. Cabeça.
3. Mãos.

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