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PEF 3403 – ESTRUTURAS DE CONCRETO II

Universidade de São Paulo


PEF - Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica

Estabilidade Global

Professores
Januário Pellegrino Neto
Túlio Nogueira Bittencourt
Estabilidade Global de Edifícios

• Nesta aula serão vistos os critérios da NBR6118 para avalição da estabilidade


global dos edifícios.
• Veremos que os edifícios, quanto à sua estabilidade, poderão ser classificados
em:
o Estruturas instáveis.
o Estruturas estáveis, mas que não atendem os parâmetros da NBR6118.
o Estruturas estáveis, que atendem os parâmetros normativos, que serão divididas
em:
➢ Estruturas de nós fixos:
onde não será necessária a consideração dos efeitos de 2ª. ordem.
➢ Estruturas de nós móveis:
onde será necessária a consideração dos efeitos de 2ª. ordem.
Estabilidade Global de Edifícios

Exemplo clássico Edifício de concreto armado


• Intuitivamente, temos o conceito
de estabilidade.
• Na figura ao lado esquerdo,
ainda que ambas esferas
estejam em equilíbrio, percebe-
se que a do ponto A, se
submetida a alguma força
horizontal, sairá de sua posição
de equilíbrio, adquirindo uma
nova posição em outro ponto. A
Intuitivo É necessário subsídios que auxiliem a
isso chamamos de equilíbrio
instável.
• Já no ponto B, ainda que avaliação
submetida a uma força, a esfera
retornará à sua posição original NBR 6118:2014, seção 15
de equilíbrio, configurando o
equilíbrio estável.
Estabilidade Global de Edifícios
FV
Dd1
FH
FV
d Dd1 Dd2 Ddn
FH(n)

Efeitos de
2ª. Ordem Efeitos de
(1ª.iteração)
MR= FH.l MR= FH.H+ 2ª. Ordem
RV= FV FV.d RV= FV (nª.iteração)
RH=FH RH=FH+ FV.d/l MR= FH.H+
FV.(d+Dd1+
• Em uma estrutura, ao aplicarmos carregamentos • Porém, após esse deslocamento inicial da Dd2+...+
horizontais e verticais, os nós sofrerão extremidade da barra, o carregamento vertical Dd(n-1) RV= FV
deslocamentos horizontais. passa a ter uma excentricidade em relação à base RH=FH+ FV .(d+Dd1+
• A esse primeiro deslocamento na estrutura, da estrutura, induzindo a esforços e reações de Dd2+...+ Dd(n-1))/l
chamamos de efeito de 1ª. Ordem. apoio adicionais.
• Para simplificar a análise da estrutura acima, • A figura acima mostra a nova configuração de
vamos representá-la por uma única barra em reações de apoio e de forças aplicadas na
balanço, com rigidez equivalente ao do nosso estrutura após a 1ª. Iteração.
edifício, na direção considerada. • As iterações continuam até que a estrutura atinja o
• Ao aplicarmos as resultantes de vento e as equilíbrio na posição deformada, ou então, até sua
cargas verticais totais, teremos um ruína por instabilidade global.
deslocamento no topo da barra.
Estabilidade Global de Edifícios

• O efeito de 2ª.ordem, portanto, é gerado pelo carregamento vertical combinado com a


FV
d Dd1 Dd2 Ddn deformação horizontal inicial da estrutura, causada pelo carregamento de vento.
FH(n)
• Daí, a estrutura pode chegar nas seguintes configurações:
➢ Estrutura Instável: ocorre quando o deslocamento dos nós entre as iterações é
progressivo, ou seja, Dd1 < Dd2 < ... < Dd(n). Nessa situação a estrutura atinge
a ruína.
➢ Estrutura Estável: a estrutura é estável quando o deslocamento dos nós entre
as iterações vai reduzindo de valor até que a estrutura atinja uma configuração
estável deformada, ou seja, Dd1 > Dd2 > ... > Dd(n)=0. Apesar da estrutura ser
RV= FV
estável, isso não significa que está adequada ao uso. A NBR 6118 estabelece limites
RH=FH+ FV .(d+Dd1+
para deformação total do topo do edifício e também entre andares. Dessa forma, ainda
Dd2+...+ Dd(n-1))/l que estável, se a estrutura ultrapassar os limites de deformação prescritos em norma,
deverá ser enrijecida para evitar o desconforto dos usuários e problemas de
compatibilidade de deformação entre os materiais de construção.
Classificação das estruturas de edifícios

Estruturas de nós fixos:


As estruturas são consideradas de nós fixos quando os deslocamentos
horizontais são pequenos e os efeitos globais de 2ª ordem são desprezíveis
(inferiores a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem).

Estrutura de nós móveis:


As estruturas são consideradas de nós móveis quando os deslocamentos
horizontais não são pequenos e os efeitos globais de 2ª ordem são
importantes.
Comportamento não linear de estruturas

Comportamento não-linear:
Pode-se dizer que uma estrutura possui um comportamento não-linear quando
a sua resposta, seja em deslocamentos, esforços ou tensões, é desproporcional
à medida que um carregamento é aplicado.
Comportamento não linear de estruturas

O deslocamento resultante não será proporcional ao acréscimo de carga, isto é,


será um valor diferente de “2.d”. E mais, provavelmente maior que “2.d”. A
resposta da estrutura em termos de deslocamentos terá um comportamento
não-linear à medida que o carregamento é aplicado.
Comportamento não linear de estruturas
• O comportamento não linear das estruturas tem duas origens:

• Não Linearidade Física (NLF): a não linearidade física está ligada ao


comportamento do concreto armado. Com o aumento da intensidade dos
esforços, os elementos estruturais sofrem um processo de fissuração do
concreto na região tracionada. Com isso, essas peças sofrem redução de
inércia. Então, em uma mesma estrutura, podemos ter peças de mesmas
dimensões mas com inércias diferentes, em função do nível de fissuração da
mesma.

• Não Linearidade Geométrica (NLG): diz respeito ao comportamento não


linear da estrutura deformada, onde os deslocamentos gerados pelos
carregamentos não possuem proporcionalidade.
Análise de estruturas de nós móveis

Análise de estruturas de nós móveis:


Na análise de estruturas de nós móveis, devem ser obrigatoriamente
considerados os efeitos da não linearidade física e geométrica. Estes
efeitos podem ser considerados através de uma análise não linear
(por exemplo P-D).

Uma solução aproximada para obtenção dos esforços globais de


segunda ordem pode ser obtida através de uma majoração adicional
dos esforços horizontais por 0,95 z.

Este processo é válido apenas para z ≤ 1,3.


Análise da Estabilidade Global de Edifícios

Como avaliar ?
Análise P-D

Análise não-linear geométrica refinada


Busca iterativa da posição de equilíbrio

Parâmetros de estabilidade
Coeficiente a
Coeficiente z
Análise P-D
Trata-se de um método bastante refinado no qual a posição final de equilíbrio do edifício é obtida iterativamente.
• A partir da discretização do modelo estrutural em um software de análise,
obtém a configuração da estrutura deformada após a análise de 1ª. Ordem.
• A partir daí, são obtidos os esforços adicionais aplicados na estrutura.
• A principal dificuldade do método é que os carregamentos adicionais devem
ser aplicados com a estrutura na sua posição deformada.
• Existem softwares de análise que fazem esse processo de forma automática.
• Com a convergência do processo, obtém-se a posição deformada final da estrutura
e os esforços finais nos elementos estruturais.

FH ,i  3

di =
3EI

DM i = FV ,i  di

DM i
DFi =
Análise de Estabilidade Global - Ec

Na análise da estabilidade global das estruturas, em função do caráter transitório dos


carregamentos de vento, o módulo de elasticidade do concreto pode ser considerando como o
módulo secante majorado em 10%:

Ec = 1,1 Ecs
Consideração aproximada da NLF

Para a análise da estabilidade global dos edifícios, a não linearidade


física pode ser considerada de maneira aproximada:

- Lajes: EI = 0,3 Ec Ic

- Vigas: EI = 0,4 Ec Ic para As’  As


EI = 0,5 Ec Ic para As’ = As

- Pilar: EI = 0,8 Ec Ic
Parâmetro de instabilidade a

Uma estrutura simétrica pode ser considerada como sendo de nós fixos se seu
parâmetro de instabilidade a for menor que a1:

Nk
a = H tot  a1
Ec I c

Sendo:
a1 = 0,2 + 0,1 n, para n ≤ 3;
a1 = 0,6, para n ≥ 4;
n é o numero de níveis acima da fundação;
Htot é a altura total da estrutura medida a partir do topo da fundação;
Nk é o somatório de todas as forças verticais, com seu valor característico;
EcIc representa o somatório dos valores de rigidez de todos os pórticos.

NOTA: O parâmetro de instabilidade a é apenas qualitativo. Quando o parâmetro é atendido e a


estrutura é considerada como de nós fixos, os esforços característicos de dimensionamento serão
os obtidos após a análise de 1ª. ordem. Por outro lado, se a estrutura for de nós móveis, esse
método não fornece uma avaliação da configuração de deformações e esforços finais da estrutura.
Parâmetro de instabilidade a

Pilar equivalente para o cálculo do parâmetro a:


O valor de rigidez EcIc pode ser obtido através da consideração de um pilar
com rigidez equivalente a rigidez da estrutura:

H tot 3
EI eq =
3d
Parâmetro z

Sua formulação foi inteiramente deduzida e criada por engenheiros


brasileiros (Eng. Augusto Carlos VASCONCELOS e Eng. Mário FRANCO) e
tem sido largamente utilizada há vários anos na análise de estabilidade
global de edifícios.

Limitações:
- Dificuldades na avaliação do efeito construtivo;
- Deslocamentos horizontais provocados por cargas verticais;
- Casos de edifícios sujeitos a grandes rotações em planta (torção);

- z ≤ 1,3 (recomendação prática z ≤ 1,2).


Estabilidade Global de Edifícios
Parâmetro de estabilidade  z:
O coeficiente de avaliação da importância dos esforços de 2ª ordem globais é
válido para estrutura reticuladas de no mínimo quatro andares. Dado por:
1
z =
DM tot , d
1−
M 1,tot , d

é a soma dos produtos de todas as forças verticais atuantes na


DM tot ,d = FV ,d  d estrutura, com seus valores de cálculo, pelos deslocamentos
horizontais de seus respectivos pontos de aplicação, obtidos em
primeira ordem.
é a soma dos momentos de todas as forças horizontais, com seus
M 1,tot , d = FH , d  H
valores de cálculo, em relação à base da estrutura

Considera-se que a estrutura é de nós fixos se for obedecida a condição z ≤ 1,1


Estabilidade Global de Edifícios
Coeficiente  f3:

• f1 procura prever a variabilidade do valor da ação, ou seja, considera


que a carga efetivamente aplicada à estrutura real não é 100% exata,
podendo ser maior ou menor que o valor especificado em projeto.

• f2 procura prever a simultaneidade das ações, isto é, a probabilidade de


ocorrência simultânea de ações distintas.

• f3 leva em conta as aproximações feitas em projeto. Vale lembrar que


todo projeto estrutural, por mais que seja elaborado de forma refinada,
é apenas uma simulação simplificada de um edifício real.
Estabilidade Global de Edifícios
Como a norma NBR 6118:2014 trata o  f3:
No item 15.3.1 da NBR 6118:2014, tem-se:

“Pode ser considerada também a formulação de segurança em que se


calculam os efeitos de 2ª ordem das cargas majoradas de f/f3, que
posteriormente são majorados de f3, com f3 = 1,1, ...”

Pelo menos à primeira vista, essa afirmação presente na norma é um


pouco confusa. O que se objetiva com essa consideração é suprir da
análise dos esforços de 2ª ordem, que possui uma resposta não-linear, o
fator do coeficiente de segurança que trata das aproximações de
projeto (f3). Dessa forma, os efeitos de segunda ordem calculados com
valores de cálculo ficam ligeiramente menores, não podendo esquecer,
obviamente, de complementá-los com f3 para obtenção do resultado
final.
Estabilidade Global de Edifícios
A consideração do coeficiente f3 = 1,1 tem influência direta na análise
de uma estrutura com comportamento não linear. Veja, a seguir, um
exemplo bastante simples que procura mostrar a influência do
coeficiente f3 em um cálculo.
Estabilidade Global de Edifícios
• Em resumo, para análise da estabilidade global das edificações, poderemos
ter as seguintes situações:
➢ Edificações até 3 pavimentos:
✓ Nesses casos, utilizar o parâmetro a para avaliação da estabilidade da
estrutura.
✓ Se a estrutura for de nós fixos (a<0,2+0,1.n), a estrutura poderá ser
dimensionada com os resultados dos processamentos de 1ª.ordem.
✓ Se a estrutura for de nós móveis, a análise da estrutura deverá ser feita
através do processo P-D
➢ Edificações acima de 3 pavimentos:
✓ A análise poderá ser feita através do parâmetro a ou do coeficiente z.
✓ Estruturas de nós fixos: o dimensionamento da estrutura será feito com os
resultados dos esforços de 1ª. ordem.
o Parâmetro a
• a ≤ 0,5: estruturas contraventadas por pórticos
• a ≤ 0,6: estruturas contraventadas por pórticos e pilares parede
• a ≤ 0,7: estruturas contraventadas apenas por pilares parede
o Coeficiente z ≤ 1,1

✓ Estruturas de nós móveis:


o Parâmetro a: a deformação e esforços finais da estrutura deverão ser
obtidas pelo processo P-D
o Coeficiente z :
• 1,1 < z ≤ 1,3: os esforços finais nos elementos estruturais
podem ser obtidos multiplicando-se os esforços pelo fator 0,95.
z
• z > 1,3: os esforços finais na estrutura devem ser obtidos pelo
processo P-D

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