Você está na página 1de 9

Renascimento e Maneirismo

SARAIVA, José Antônio; Lopes, Oscar. História da Literatura Portuguesa. 9ª


ed. Porto: Bloco Gráfico, 1976.

“Aspectos sociais – Do final do século XV a meados do XVI os principais países


do Ocidente da Europa, seguindo a Itália, que se antecipara pelo menos de um
século, entram decisivamente na fase do capitalismo mercantil, que assim vem
engrenar-se em estruturas agrárias e políticas feudais.” (p. 171)

• Senhores feudais

• Assalariados

• Interesses ultramarinos

“Os bens feudais da Igreja dão origem a constantes conflitos entre a Igreja e os
príncipes.” (p. 172)

• Comércio europeu e intercontinental

• Exploração agrícola

“A necessidade duma reforma religiosa é geralmente admitida, até por


alguns cardeais.” (p. 172)

• Luteranos × Papistas

“No fragmento católico desenvolve-se uma reação conhecida pelo nome de


Contra-Reforma, que consiste, sob seu aspecto negativo, numa repreensão por
meios coactivos de todas as manifestações culturais suspeitas de heterodoxia,
incluindo manifestações toleradas durante épocas anteriores.” (p.173)

“No mundo protestante, as condições foram, em geral, mais favoráveis à


liberdade de pensamento, assim como à difusão de uma cultura letrada de
pequena burguesia.” (p. 173)

“Em Portugal – Acentua-se, após a descoberta do caminho marítimo para a


Índia, o processo de concentração do poder político e econômico sob a chefia
do rei.” (p. 173)

• Exploração do ouro da Mina


• D. João III (séc. XVI) – descobrir novas minas na América e África

Aspectos culturais: Renascimento, Humanismo e Classicismo

“O desenvolvimento do comércio, das actividades industriais e das cidades está


na base do grande movimento que se designa pela palavra Renascimento em
sentido lato.” (p. 174)

• Processo econômico e social

• Descoberta da tipografia (séc. XV);

• Descobrimento do caminho marítimo para Índia e o da América;

• Ciência matemática e experimental (séc. XVI – Galileu);

• Fim das lutas religiosas.

“Renascer da cultura antiga.” (p. 175)

“A palavra humanismo com que se designou este movimento, inspirada pelo


conceito de humanitas (o da humanidade, ou qualidade humana, como cultura e
estrutura moral) de Cícero, exprime a crença num conjunto de valores morais e
estéticos universalmente humanos, os quais se achariam definidos tanto nas
Escrituras e na Patrística como na cultura profana da Antiguidade.” (176)

• Florença

• Escolástica – humanistas – crítica

a) Sob o ponto de vista pedagógico;

b) Dialética e da retórica formalista e disputadoras;

c) Combater o aristotelismo escolástico.

• Representante: Desidério Erasmo.

“O esforço dos Humanistas para criar uma religião, uma filosofia, uma moral e
uma pedagogia que substituíssem as do mundo feudal não consegue todavia
integrar as tendências que se manifestam no Renascimento.” (p. 179)

“O classicismo de inícios do século XVI consistiu, por isso, numa latinização


directa, ou por via dos latinizantes italianos, das diversas literaturas nacionais,
quase sempre feita com o desequilíbrio, o exagero de todas as inovações.” (p.
179)

“A partir de cerca de 1520, avolumam-se os sinais de uma desagregação dos


ideias estéticos do Alto Renascimento. A arte opõe-se à natureza comum, em
vez de lhe procurar a essência.” (p. 180)

• 1520 e 1620

Aspectos gerais do Renascimento em Portugal

“O desabrochar do Humanismo em Portugal realiza-se sob a égide da Coroa,


sendo o Paço o principal foco da cultura literária.” (p. 181)

“Sob os governos de D. Manuel e D. João III, verifica-se uma forte tendência


para intensificação da cultura literária.” (p. 182)

• Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente

“Como iniciadores dos Descobrimentos marítimos, os Portugueses tiveram um


grande papel no Renascimento.” (p. 183)

• Astrolábio, cartografia – Fernão de Magalhães;

• Dicionários do latim clássico;

• Latinização lexical e sintática da língua literária;

• Uso do latim, e (pouco) do grego, em cartas, obras de apologia nacional;

• Gramáticas portuguesas.

O Humanismo serviu como impulso, no séc. XVI, o Colégio Real das Artes e o
magistério dos humanistas ligados, incluindo as representações acadêmicas de
teatro clássico.

Personalidades: Camões, Jorge Ferreira de Vasconcelos, Heitor Pinto e Antônio


Ferreira.

A Contra-Reforma e a união com a Espanha

“Em 1547 é estabelecida definitivamente a Inquisição em Portugal, após


esforços que datavam em 1531.” ( p. 185)
Autores proibidos: Gil Vicente, Bernadim Ribeiro, Sá de Miranda, António
Ferreira.

Licenças: Santo Ofício, Ordinário eclesiástico e Paço.

O teatro decaiu após as criações de Gil Vicente e António Ferreira. Na lírica e


na épica, os padrões renascentistas mal se renovaram. Na prosa, os cronistas
de ordem religiosa se ocuparam e o clero passou a ganhar a posição
predominante.

“A Universidade de Coimbra, que se tornou um dos principais focos da neo-


escolástica no império espanhol e nos restantes países da Contra-Reforma, é
dominada pelos jesuítas, embora as outras principais ordens religiosas tenham
acesso às suas cátedras.” (p. 186)

• Produção impressa em Língua Portuguesa no séc. XVI.

“Um sentimento de frustração, de instabilidade e de desequilíbrio, os violentos


contrastes de grandeza e miséria, os desastres da guerra parecem traduzir-se
esteticamente pelo exagero patético; pelo arroubo místico e pela maceração
estética, pela posição entre a sublimidade da alma e grotesco da carne, entre o
cavaleiresco e o pícaro; por um misto de bizarria fidalga e de pitoresco folclórico;
pela obsessão do irracional; pela pesquisa dos recessos da alma, pela evasão
para o inefável, pela sugestão do inapreensível, subtil e fugidio.” (p. 188)

Ex. de obra: Dom Quixote – Manuel de Cervantes.

Gil Vicente

“O estudo da obra dramática vicentina deve preceder o das outras


personalidades ou correntes renascentistas.” (p. 193)

• Atmosfera humanista

• Teatro

• Colaborador do Cancioneiro Geral de Garcia Resende


“Gil Vicente publicou em vida alguns dos seus autos, em folhetos de cordel.” (p.
194)

• Auto da Barca do Inferno

• Farsa se Inês Pereira

• D. Duardos e o Pranto da Maria Parda

Origens e estruturas do teatro Vicentino

Principais gêneros no séc. XV: mistérios, moralidadades, milagres, farsas,


sotties, sermões burlescos. (p. 196)

Primeira peça vicentina: Auto da Visitação (monólogo). (p. 197)

“Nem todas as fontes vicentinas terão um carácter literário ou dramático. Certos


episódios de farsa podem ser contos de transmissão oral.” (p. 198)

• Tipos sociais das modalidades

Produções na carreira de 34 anos (inovações)

• Auto da Índia (1509)

• Auto de Fé (1510)

• Exortação da Guerra (1514)

• Comédia de Rubena (1520)

Mais importante (e única) dos seus mistérios de perspectiva bíblica: Breve


Sumário da História de Deus (1527). (p. 199)

Distinção dos grupos de peças: Autos pastoris, teatro religioso, farsa, autos
cavaleirescos e alegorias de tema profano. (p. 200-203)

Encontramos em Gil Vicente três formas de estrutura cênica: a farsa, o auto


do enredo e o auto do alegórico. (p. 205)

A mais comum: auto alegórico.


“Diferentemente do que sucede com o teatro clássico, o teatro Vicentino não tem
por propósito apresentar conflitos psicológicos. [...] É um teatro de sátira social,
um teatro de ideias, um teatro polêmico. No palco vicentino não perpassam
caracteres individuais, mas tipos sociais.” (p. 205)

Especificando e distinguindo: tipos humanos, personificações alegóricas,


personalidades bíblicas e míticas, figuras teológicas, Parvo (caso à parte). (p.
205)

Sátira social

Dois tipos (são chamados folclóricos): pastores e outras personagens


rústicas. (p. 206)

O tipo mais observado e satirizado: o clérigo, especialmente o frade. (p. 207)

Gênero parasita ocioso e vadio presente nos autos vicentinos: Escudeiro.


(p. 208)

• Foco de corrupção, rapina e nepotismo

“A sátira anticlerical assim como a satura dos escudeiros são temas tradicionais.”
(p. 211)

“Falta nos autos vicentinos a observação de fenômenos muito típicos do séc.


XVI, como a acumulação de riquezas.” (p. 211)

“É portanto difícil uma destrinça absoluta entre o que há de costanesco e o que


há de popular na obra de Gil Vicente.” (p. 213)

O teatro de ideias

• Primeira metade do séc. XVI

“Oh, vendei-me a paz nos céus/ pois tenho o poder na Terra!” (p. 214)

• Críticas das rezas mecânicas dos cultos dos santos, das romarias.

• Satiriza os pregadores medievais e suas subtilezas escolásticas.

• Fustiga certos supersticiosos que pretendem ver em fenômenos naturais a mão


vingadora de Deus.
A poesia religiosa em Gil Vicente

• Alegoria

• Sobrenatural

• Efeito de oposição entre os dois mundos.

“O Auto da Alma, inspirado no conceito medieval de que o mundo é o mero


trânsito para a vida verdadeira e perdurável, conceito que deu origem a toda uma
literatura.” (p. 217)

A poesia cósmica em Gil Vicente

• Peças alegóricas

“[...] Gil Vicente cria verdadeiros poemas encenados, revelando-se um


extraordinário poeta de tipo pouco frequente na literatura portuguesa [...].” (p.
218)

• Triunfos das estações: Auto dos Quatro Tempos; Triunfo do Inverno.

“Pode-se dizer-se que no teatro vicentino cristaliza-se certo folclore peninsular,


enriquecido com a dupla herança da mitologia clássica, da literatura bíblica, e
ainda com a contribuí dos romances de cavalaria e dos rimances castelhanos,
então em boga na corte.” (218)

Aspectos estéticos e estilísticos dos autos vicentinos

Em Triunfo do Inverno: oscilação entre uma expressão gótica e acumulação


de elementos heterogéneos. (p. 220)

• Arte realista.

• Ressaltam com vigoroso relevo e recorte os tipos sociais.

“Sob o aspecto poético, notaremos a sua diversidade de tons, de temas, de


gêneros e atitudes.” (p. 221)

• Lirismo cortês
Poesia folclórica: antiquíssimos cantares paralelísticos, as serranilhas, as lojas
tradicionais de Natal, as baladas ou rimances (foram exemplos pra Gil).

“Gil Vicente não é sob o ponto de vista linguístico um inovador.” (p. 222)

• Fiel à tradição no uso predominante da redondinha menor.

• Vivacidade na linguagem coloquial (para valorizar a linha corrente).

Dramaturgos populares

“O gosto do teatro desenvolveu-se em Portugal ao longo do séc. XVI, num


público burguês e popular.” (p. 223)

Outro indício de interesse pela literatura: Primeira parte dos autos e comédias
portuguesas (1587) – Afonso Lopes.

“O Índex português de 1581 manda vigiar com atenção as peças de teatro, e


proíbe expressamente toda a crítica a pessoas eclesiásticas – isto é, ao
poderoso e numerosíssimo estrato social de que se alimenta, mais do que
qualquer outro, a sátira vicentina.” (p. 224)

As obras se classificam em: farsa, auto novelesco, auto religioso.

Ex. da primeira categoria: Chiado – Antonio Prestes.

Ex. da segunda categoria: Auto do Duarque de Florença – João Escovar.

Convém distinguir o ato religioso em dois ramos: moraliade vicentina e a


vida dos santos.

Afonso Álvares – contemporâneo de Gil Vicente. (p. 226)

Fusão da tragicomédia

Representa por duas comédias bilíngues de Simão Machado: cunho heróico


(Comédia do cerco de Dio); caráter pastoril e mitológico (Comédia da Pastora
Alfea). (p. 227)

O teatro escolar jesuíta

• Teatro como exercício da conversação latina. (p. 228)


Gêneros mais representados: tragédia bíblica (séc. XVI), fantasia alegórica
(compilação dos autos vicentinos, 1562), tragédia hagiografica (séc. 1619). (p.
228)

“A grande novidade apresentada em Portugal pelo teatro escolar jesuíta foi uma
encenação enriquecida com as criações cenográficas italianas do séc. XVI.” (p.
228)

Criação da escola teatral espanhola

• A partir da obra vicentina (séc. XVII).

• Felipe II de Espanha, em 1598, lança sobre o teatro profano uma proibição. (p.
229)

• Lope ergue uma crítica ao feudalismo.

• Tirso de Molina – Don Juan Tenório – natureza humana irresistivelmente


obssessionada pelo pecado. (p. 230)

Você também pode gostar