Você está na página 1de 6

1

Fichamento: História da Literatura Portuguesa - Renascimento e maneirismo, António José


Saraiva e Óscar Lopes.

● Capítulo I
● Mercado Capitalista
● “A indústria desenvolve-se para além dos quadros corporativos das cidades, e em
certos ramos os artesãos passam a trabalhar por conta de capitalistas empresários.
Há um surto de invenções e melhoramentos técnicos, provocados pela procura
crescente de mercadorias.”( p.171)
● O poder econômico da Igreja Católica X a insubordinação das monarquias X A
reforma protestante.
● “Após uma época de anarquia e de indecisão, define-se a nova fisionomia política e
religiosa da Europa. No concílio de Trento (1545-1563) cortam-se as pontes entre os
dois fragmentos da antiga cristandade: a Península Ibérica torna-se o mais forte
baluarte do mundo católico; as cidades do Reno, do Báltico e do mar do Norte, o
eixo do mundo protestante”(p.172)
● “No fragmento católico desenvolve-se uma reacção conhecida pelo nome de
<<Contra-Reformas>>, que consiste, sob seu aspecto negativo, numa repressão por
meios coactivos de todas as manifestações culturais suspeitas de heterodoxia,
incluindo manifestações toleradas durante épocas anteriores; e sob o aspecto
positivo numa tentativa de restauração da Escolástica, e no regresso a formas
exteriores de devoção. A Inquisição (romana, espanhola e portuguesa) torna-se o
principal instrumento de repressão ideológica. A Companhia de Jesus cabe o papel
principal na difusão do novo catolicismo <<tridentino>>. No mundo protestante, as
condições foram, em geral, mais favoráveis à liberdade de pensamento, assim como
à difusão de uma cultura letrada da pequena burguesia.”(p.173)
● As Guerras/”motivação”:
● “A defesa da fé católica é o pretexto mais frequentemente invocado por esta
aristocracia feudal para as guerras no exterior e as confiscações ou perseguições no
interior. Em contraste, os Países Baixos aparecem como uma federação de cidades
burguesas invocando princípios que mais tarde se diriam democráticos, como o
direito ao autogoverno e à liberdade de crença.”(p.173)
● A crescente burguesia ameaça à monarquia
● “No entanto, mesmo dentro de Portugal e Espanha, a burguesia mercantil não
cessava de progredir, desafiando o monopólio do Estado e o poder da nobreza.
Pouco a pouco domina a praça de Lisboa e o comércio entre o ultramar e a
Europa.”(p.174)
Aspectos culturais: Renascimento, Humanismo e Classicismo
● “O desenvolvimento do comércio, das actividades industriais e das cidades está na
base do grande movimento que se designa pela palavra Renascimento em sentido
lato. A velha cultura clerical não consegue satisfazer as novas necessidades e
aspirações culturais.”(p.174)
● “A descoberta da tipografia em meados do século XV é o resultado da existência de
um público em crescimento, para o qual já não bastava a reprodução manuscrita do
livro. Mas essa invenção, de alcance a princípio insuspeito, além de mostrar à
evidência as possibilidades da técnica, acelerou prodigiosamente a difusão das
ideias e das notícias, e constituiu-se em poderoso factor de transformação da
mentalidade.(p.175)
2

● “É neste contexto que se torna possível uma assimilação muito mais ampla da
cultura greco-latina. Embora alguns autores latinos não fossem ignorados antes do
século XV (especialmente Séneca, Cicero e Ovidio) e muitos lugares-comuns
literários da antiguidade tivessem feito caminho até à literatura cortés através das
obras do clero medieval, certas facetas da cultura clássica eram inassimiláveis pelo
mundo feudal e agrário”(p. 175)
● “É o alargamento da curiosidade a outros aspectos do património cultural antigo em
que, contrariamente à Escolástica, se digni- ficassem as actividades civis, o saber
prático ou especulativo sem directrizes teológicas, o lucro e a operosidade mercantil,
a inteligência e até o corpo humano, a vida terrena”(p. 175)
● “Pouco a pouco, o esquema teológico da Criação, Queda e Redenção serve de
modelo a este outro: Luzes greco-romanas, Trevas «góticas» e monacais, Renascer
da cultura antiga. Daqui a designação de Renascimento, que aliás só mais tarde se
começou a usar explicitamente em relação ao Quattrocento (séc. XV italiano) e a
uma parte (cuja demarcação é problemática) do séc. XVI europeu.”(p. 175)
● A fiel recuperação da escolástica é promovida pelos humanistas
● “Os Humanistas, letrados cuja actividade se exerce geralmente fora da hierarquia
clerical, e que constituem um grupo cada vez mais numeroso. Alguns gozam de
sinecuras eclesiásticas ou seculares, outros exercem funções.”(p. 175)
● “Palavra humanismo com que se designou este movimento, inspirada pelo conceito
de humanitas (o da humanidade, ou qualidade humana, como cultura e estrutura
moral) de Cicero, exprime a crença num conjunto de valores morais e estéticos
universalmente humanos, os quais se achariam definidos tanto nas Escrituras e na
Patristica como na cultura profana da Antiguidade.”(p. 176)
● Os primeiros focos desta cultura «renascida» situam-se em Florença [...] em
Nápoles, sob o domínio dos reis de Aragão; e ainda nas cortes dos burgueses ou
dos condottieri que dominam Milão, Ferrara, Mantua, Rimini, etc”(p. 176)
● “Os métodos de crítica histórico-filológica aplicam-se às Escrituras e à Patrística, nos
seus textos originais hebraicos, gregos e latinos, com o mesmo à-vontade com que
tinham versado autores profanos. Os humanistas arrostam então com a resistência
das velhas universidades, e especialmente das Faculdades de Teologia.”(p. 176)
● “A difusão da cultura clássica é favorecida pelos novos meios técnicos de produção
do livro. Entre outros, Aldo Manúcio, de Veneza, lança-se em 1493 numa vasta
empresa de edição dos clássicos greco-latinos e das obras de exegese dos
Humanistas, precursoras da Reforma.”(p. 177)
● “Os humanistas de 1520-30 atacam directamente a Escolástica. Sob o ponto de
vista pedagógico, o seu ideal é a realização harmoniosa das faculdades morais e
estéticas do indivíduo.”(p. 177)
● “O Humanismo adoptou como modelos as regras, os géneros, as formas métricas,
os recursos estilísticos, a disciplina gramatical dos antigos autores gregos e
romanos.”(p. 179)
● Classicismo
● “O classicismo de inícios do século XVI consistiu, por isso, numa latinização directa,
ou por via dos latinizantes italianos, das diversas literaturas nacionais, quase sempre
feita com o desequilíbrio, o exagero de todas as inovações.“(p. 180)
● “A adopção dos géneros literários, de certas formas métricas de tradição
greco-romana ou quatrocentista italiana, bem como de referências culturais (como a
mitologia), manter-se-á predominante até ao séc. XIX, apesar de certas oscilações a
3

que atenderemos, e isso deu origem no uso do termo <<classicismos>> como nome
genérico de toda a literatura compreendida entre a Idade Média e o Romantismo.
Todavia assistimos, no decorrer destes três séculos, a importantes alterações no
teor de vida, na ideologia e nas formas patentes de sensibilidade artística e literária,
o que recomenda uma periodização diferente.”(p. 180)
● “São numerosos os letrados portugueses relacionados com os principais humanistas
europeus, quer como discípulos, quer como protectores, quer simplesmente como
amigos ou correspondentes.”(p. 181)
● Homens e mulheres letrados e universidades voltadas para o humanismo.
● Livros com acesso restrito, geralmente, só os cortesão tinham acesso - Até 1536
havia escassez na impressão de livros.
● Obras como a de Gil Vicente e de literatura de cordel eram vendidas nas ruas.
● O humanismo influenciou no renascimento, pela escrita em língua latina e pela
criação de gramáticas, sua influência também perpassa os escritores.
● “Como iniciadores dos Descobrimentos marítimos, os Portugueses tiveram um
grande papel no Renascimento. As viagens no largo da costa africana exigiam
numerosos aperfeiçoamentos, adaptações e invenções técnicas.” (p.183)
● “A experiência naval transoceânica levantou dúvidas crescentes de muitas
concepções antigas e de transmissão universitária” (p. 183)
● “Veremos também que em Sá de Miranda e no seu círculo se manifestam
tendências como o culto do texto bíblico, além de críticas tendências sociais
prevalecentes; e que António Ferreira é o porta-voz de alguns ideais característicos
dos Humanistas, como o da superioridade do saber sobre o sangue em
riqueza.”(p.185)
● “O Humanismo como impulso criador e crítico anima, pode dizer-se, a primeira
metade do século XVI e atinge o seu apogeu pouco antes de 1550 como Colégio
Real das Artes e o magistério dos humanistas a ele ligados, incluindo as
representações académicas de teatro clássico”(p.185)
● 1587 - Inquisição em Portugal - proibição de livros - Controle do colégio de Gouveia.
● 1564 - Concílio de Trento.
● 1550 - Silenciamento dos erasmistas - 1580: extinção da geração dos letrados e
gramáticos anti-escolásticos.
● Gil Vicente, Sá Miranda São - exemplos de autores censurados.
● “Nenhum livro podia sair, na segunda metade do século XVI, sem três licenças: a do
Santo Oficio, a do Ordinário eclesiástico na diocese respectiva e a do Paço. O
relator do Santo Ofício examinava o livro em manuscrito e obrigava o autor a
alterá-lo, amputá-lo ou acrescentá-lo, antes de lhe conceder a fórmula «nada contém
contra a nossa Santa Fé e bons costumes». E, assim, desde a segunda metade do
século XVI até à reforma pombalina da Censura, não podemos afirmar que
conhecemos o texto original de uma obra impressa, mas somente um texto ao qual
os censores anuíram.”(p. 186)
● Universidade de Coimbra sob o comando dos Jesuítas.
● Relação com a língua espanhola
● “Esboça-se desta forma uma tendência a dar ao castelhano, língua geral da
Península, preponderância no teatro e nos géneros de grande circulação, como o
romance, ficando o português reduzido à condição de língua regional. Tendência
passageira, resultante como vimos da ausência de uma corte régia em Lisboa, e que
4

deve ter contribuído para a decadência ou falta de continuidade do romance e do


teatro em língua portuguesa.”(p. 188)
● “O Maneirismo, de que só muito recentemente se começou a editar e a identificar
metodicamente a autoria de muita produção poética dispersa, parece acusar a
importância acentuada de certa regressão ascética goticizante, aliás comum noutras
literaturas contemporâneas; quanto no Barroco, não é também difícil descobrir o
germinar de alguns dos seus ingredientes cerca de 1620 e até anteriormente.” (p.
188)
CAPÍTULO II - GIL VICENTE
● “O estudo da obra dramática vicentina deve preceder o das outras personalidades
ou correntes renascentistas, quer por razões cronológicas, quer pelo facto de tal
obra se poder encarar como acabamento das melhores tradições do teatro medievo
europeu.” (p.193)
● Autor de transição da Idade Média para o Renascimento?
● "Ainda não se identificou bem a personalidade de Gil Vicente" (p.193) - Ourives?
alfaiate?
● Cultura artesanal X Cultura literária X Vida (Ourives=rico). Gil Vicente como "mestre
da retórica".
● “O que se sabe a respeito de Gil Vicente reduz-se no seguinte: nasceu à roda de
1465; encenou a sua primeira peça em 1502; foi colaborador do Cancioneiro Geral
de Garcia de Resende. Desempenhou na corte a importante função de organizador
das festas palacianas, como, por exemplo, da recepção em Lisboa à terceira mulher
de D. Manuel. Recebeu tenças e prémios de D. João III.” (p.194)
● Obras em folhetos de cordel - Destas edições, algumas das quais proibidas pela
Inquisição.
● Problemas: Autenticidade e incompletude.
● Origem e estrutura do teatro vicentino: "Durante a Idade média existiu um teatro
religioso"(p. 196) - Representações litúrgicas do Natal e Páscoa.
● Géneros, século XV: os mistérios (Vida de Cristo - NT e AT)
● As moralidades: vícios e virtudes ou tipos psicológicos.
● Os milagres: situações da vida dos Santos, intervenção da Virgem.
● As farsas: popular, intenção satírica.
● As sotties: espécies de farsas com protagonistas <<parvos>>, críticas livres e
aceradas.
● Sermões burlescos: "monólogos recitados por actores ou jograis mascarados com
vestes sacerdotais"(p. 196) ( Falta de documentos para atestar a veracidade)
● “A corte portuguesa era bilíngue sendo Castelhanas todas as esposas dos reis de
Portugal no século XVI”(p. 197) - dialeto semicastelhano, semileonês
● “Vai principalmente aprendendo a observar a própria realidade Nacional: os seus
pastores habituam-se a falar o português rústico e trazem aos espectadores as
preocupações e os desejos próprios de sua condição” (p.198)
● Algumas obras são de transmissão oral.
● “O fôlego poético a complexidade e a variedade de estrutura dramática
desenvolve-se ao longo desta produtiva carreira de 34 anos em que se pode escalar
uma série de inovações mais ou menos notáveis”
● “O ano de 1527 assinala o apogeu da carreira Vicentina”
● Condições de encenação - simples, sem equipe definida.
5

● “A primeira classificação metódica das peças de Gil Vicente deve-se ao filho e editor
do poeta, que as dividiu em autos de devoção, farsas, comédias, tragicomédias e
obras menores, essa classificação é arbitrária pelo menos quantas obras profanas.”
● “Nova” classificação:
● Os autos pastoris;
● Teatro religioso - autos de moralidade. Estas peças estruturam-se como alegóricas -
as personagens são personificações alegóricas ou tipos reais caricaturados;
● Auto da Barca do Inferno- “satira social predomina sobre o de edificação religiosa”;
● A farsa na forma mais simples - a farsa reduz-se a um episódio cômico colhido em
flagrante na vida da personagem típica;
● "Antes quero burro que me ajude que cavalo que me derrube"; ações sem transição.
● “Se analisarmos a estrutura das peças, verificamos que os autos pastoris são farsas
de assunto caracterizadamente campestre; que as farsas mais desenvolvidas, como
a Inês Pereira, constituem, exactamente como os autos cavaleirescos, formas de
teatro de enredo; que, enfim, só quanto ao tema se distinguem facilmente as
alegorias profanas das moralidades.(p.204)
● “Três formas de estrutura cénica: a farsa, simples episódio característico de um caso
ou um tipo social-moral, que tem talvez o seu melhor exemplo em Quem tem
farelos? (autêntica Farsa do Escudeiro); o auto do enredo, com modalidades
exemplificáveis pela Inês Pereira e pelo Amadis de Gaula; e o auto alegórico, quer
religioso, como a dos autos das Barcas, quer profano, como a Frágua do Amor ou o
Triunfo do Inverno. Destas très estruturas, a mais comum e a que integra maior
número de elementos é a do auto alegórico.(p.204)
● “Um teatro de sátira social, um teatro de ideias, um teatro polêmico com tipos sociais
agindo segundo a lógica da sua condição”(p.205)
● Crítica ao clérigo, ao frade.
● “O Escudeiro imita os padrões da nobreza, toca guitarra, perseja, faz serenatas as
filhas dos oficiais Mecânicos, pavoneia-se de bravo e cavaleiro espera seu
acrescentamento que o instalará de vez na nobreza”(p. 208)
● "Nós somos vida das gentes e morte das nossas vidas" auto da Barca do inferno.
● “Quem suporta a carga desta hierarquia social de parasitas e ociosos? Segundo Gil
Vicente, o Lavrador.”(p. 209)
● “concepção tradicional da sociedade em que os lavadores sustentam hierarquia
feudal construída principalmente por clérigo e nobres”(p. 211)
● “Não é difícil descobrir em Gil Vicente uma tendência para racionalizar a ideia de
Deus de forma garantir uma ordem da natureza obedecendo as leis constantes
embora a transcendentes a razão humana pois o sentido da vida está na salvação
pos-mortem”(p. 215)
● A poesia cósmica em Gil Vicente - Gil Vicente cria verdadeiros poemas encenados,
revelando-se um extraordinário poeta de tipo pouco frequente na literatura
portuguesa [...] aberto à inesgotável e pluriforme beleza do vasto mundo.(p. 218)
● Presença de poesia folclórica
● Aspectos estéticos e estilísticos dos Autos Vicentinos - “Gil Vicente é também fiel à
tradição no uso predominante da redondilha maior (verso de sete sílabas) e no modo
de combinar este verso com os seus quebrados, como sucede no Auto da Alma ou
n' O Velho da Horta. Mas sabe usar com mestria o verso mais longo (onže, doze,
treze sílabas).”(p. 222)
6

● “O teatro deixa de ser uma representação plástica da vida; a vida é que se traduz,
na concepção calderoniana, a um palco de alegorias teológicas.” (p. 231)
● “A 1.ª edição de conjunto das obras de Gil Vicente foi publicada em 1562, Lisboa,
com o título Copilaçam de todalas obras de Gil Vicente, pelo filho do autor, LuÍs
Vicente”(p. 231) - Autos proibidos pela inquisição e que sumiram.

Você também pode gostar