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Breve Dicionário da Lírica Camoniana

Classicismo
Movimento (século XV-século XVI) dos artistas que vão buscar à antiguidade greco-romana, à sua
civilização e cultura, as fontes de inspiração e os seus modelos. Desponta nos meados do século XV,
desabrochando em força a partir do século XVI, embora durante muitos anos coexistam a arte medieval e
a arte clássica. Introduzem-se novas formas, novas espécies, novos géneros. O maravilhoso ocidental é
substituído pela mitologia pagã. E porque a razão impera sobre o sentimento, porque os valores
universais se sobrepõem aos individuais, o Classicismo espartilha o sentimento e a inspiração, o que leva
à falta de originalidade; a realidade humana é desprezada enquanto se prepara remotamente a
preocupação formal e vocabular que vai caracterizar a poética do século seguinte. Com base nos
modelos clássicos greco-romanos, este movimento tem as suas normas e estas visam a harmonia, a
simplicidade, o equilíbrio, a precisão, o sentido das proporções em qualquer realização artística, na
literatura como na música, na pintura como na arquitectura. Refira-se, como exemplo na pintura,
Leonardo da Vinci e Rafael. O estudo de Horácio e de Aristóteles, com as suas poéticas, disciplina a
desordem artística medieval. O enriquecimento filosófico e estético que oferece o estudo de Platão,
Homero, Sófocles, Ésquilo, Ovídio, Virgílio e Fídias dá aos valores ocidentais maior dignidade artística e
intelectual. A Itália, detentora dos valores clássicos, latinos e gregos, é considerada o berço deste
movimento, com Dante, Francesco Petrarca e Giovanni Boccaccio.

Humanismo
Movimento intelectual europeu do Renascimento que procurou vigorosamente descobrir e reabilitar a
literatura e o pensamento da Antiguidade Clássica e que tem como interesse central o homem, no pleno
desenvolvimento das suas virtualidades e empenhado na acção, havendo aqui uma nítida oposição à
concepção hierárquica e feudalista do homem medieval.

Maneirismo
Estilo literário intermédio entre a Renascença e o Barroco, cultivado no fim do século XVI e no século
XVII, que acabou por ser a repetição vazia das fórmulas criadas pela arte renascentista. As suas
características principais são as metáforas ousadas, as técnicas de bimembração e de plurimembração, a
correlação, os preciosismos estilísticos e o gosto pela agudeza dos conceitos, que permaneceram no
barroco. O seu mais notável representante entre nós é Camões lírico.

Neoplatonismo
Doutrina religiosa resultante da fusão do platonismo com a teologia; sistema filosófico da Escola de
Alexandria (séculos III a IV), que procurava conciliar os conceitos platónicos com a mística religiosa do
Oriente.

Petrarquismo
Imitação e propagação do estilo poético de Petrarca e da sua obra Canzoniere, motivadas pela aspiração
à perfeição formal que desde muito cedo dominou a poesia portuguesa.

Platonismo
Doutrina filosófica de Platão, filósofo grego (428-348 a. C.), segundo a qual as essências das coisas têm
existência real e independente delas, constituindo as ideias puras ou arquétipos, intemporais e eternas,
de que os objectos são grosseiras imitações sensoriais.
Renascimento em Portugal
Acentua-se, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o processo de centralização do poder
político e económico sob a chefia do rei, iniciado com as campanhas do Norte de África e a exploração do
ouro da Mina. A exploração económica do ultramar faz-se grandemente em regime de monopólio da
Coroa. Apesar dos progressos da burguesia rural e comercial desde o século XIV, ela não conseguiu
evitar que as novas expansões económicas fossem na maior parte absorvidas como renda feudal, sob
formas variadas (rendas da colonização insular e brasileira, monopólios dos "resgates" e "tratos"
ultramarinos, monopólios de produção interna sujeita a direitos "banais", e, finalmente, administração da
Coroa a favor de uma oligarquia), o que dificultou a acumulação do capital propriamente dito e seu
posterior investimento na agricultura e, em geral, na produção interna.

Esta espécie de monopólio comercial ultramarino a favor da nobreza palaciana encontra dificuldades
crescentes, não só por vícios internos do seu funcionamento, mas também porque os ataques vindos do
exterior - de Holandeses, Franceses, Ingleses, aliados por vezes no Oriente a populações locais -
dificultam cada vez mais o domínio militar das estradas e feitorias. O sistema entra em crise por meados
do século XVI. D. João III é obrigado a abandonar algumas praças marroquinas. Realizam-se tentativas
para descobrir novas minas de ouro ou prata na América e na África, mas volta-se depois ao projecto da
guerra africana, tendo em mira a ocupação do reino de Fez. O desastre de Alcácer Quibir vem agravar a
bancarrota económica com o colapso militar e político. A união com Castela apareceu finalmente à maior
parte da camada dirigente como uma saída. E, assim, a Coroa portuguesa integra-se, desde 1580, no
sistema de hegemonia espanhola, que se mantém até finais da Guerra dos Trinta Anos, cerca de meados
do século XVII, como uma extensa coligação de coroas, distintas mas acumuladas sobre a mesma
cabeça imperial ou ligadas entre si pela consanguinidade dos monarcas Habsburgos.

No entanto, mesmo dentro de Portugal e Espanha, a burguesia mercantil não deixava de progredir,
desafiando o monopólio do Estado e o poder da nobreza. Pouco a pouco domina a praça de Lisboa e o
comércio entre o ultramar e a Europa. Grande parte destes homens de negócios descende dos judeus
convertidos à força em 1496 e efectivamente assimilados. Daqui tiram pretexto os círculos dirigentes para
instituir a Inquisição (1536), em teoria dirigida sobretudo contra a prática clandestina do judaísmo. Graças
ao Santo Ofício, estabeleceu-se a discriminação contra os "Cristãos-Novos", verdadeiros ou supostos
descendentes dos Judeus, que eram grande parte dos "homens de negócios", e tentou-se impedir o
acesso deles a postos de direcção no Estado, na Igreja e até na Universidade; ao mesmo tempo que,
através do fisco inquisitorial, se expropriava uma parte dos seus bens. Esta perseguição foi
contraproducente, pois teve, entre outros resultados, o de que muitos cristãos-novos emigraram e
constituíram uma rede internacional com núcleos na Holanda, na França, na Inglaterra, no Brasil, no
Peru, na África e na Índia, pelas malhas da qual passava uma grande parte do comércio mundial. Através
destas relações, a burguesia mercantil portuguesa tende a ganhar um carácter cosmopolita.

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