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SUMÁRIO

1. PROGRAMA DA DISCIPLINA ........................................................................... 1


1.1 EMENTA .......................................................................................................... 1
1.2 CARGA HORÁRIA TOTAL ................................................................................... 1
1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 1
1.4 METODOLOGIA ................................................................................................ 1
1.5 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................... 1
1.6 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA .......................................................................... 1
CURRICULUM VITAE DO PROFESSOR ....................................................................... 1
2. TEXTO PARA ESTUDO ...................................................................................... 2
2.1 INTRODUÇÃO À SOCIEDADE LIMITADA .............................................................. 2
2.1.1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A SOCIEDADE LIMITADA ............................... 2
2.1.2 NATUREZA JURÍDICA DA SOCIEDADE LIMITADA ............................................... 3
2.1.3 CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA ....................................................... 6
2.2 ASPECTOS PATRIMONIAIS DA SOCIEDADE LIMITADA .........................................12
2.2.1 CAPITAL SOCIAL, PATRIMÔNIO E QUOTAS SOCIAIS .........................................12
2.2.2 AS MUTAÇÕES DO CAPITAL SOCIAL E A PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E NAS PERDAS
..........................................................................................................................22
2.2.3 SOCIEDADE LIMITADA E A LEI Nº 11.638/07...................................................25
2.3 RELAÇÕES INTERNAS NA SOCIEDADE LIMITADA ................................................26
2.3.1 ACORDO DE QUOTISTAS ...............................................................................26
2.3.2 RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO A UM SÓCIO (OU DISSOLUÇÃO PARCIAL)
..........................................................................................................................33
2.3.3 CESSÃO, PENHORA E PARTILHA DE QUOTAS. ..................................................44
2.3.4 DIREITOS E DEVERES DOS SÓCIOS ...............................................................46
2.3.5 ADMINISTRAÇÃO NA SOCIEDADE LIMITADA....................................................47
2.3.6 DELIBERAÇÕES ENTRE SÓCIOS .....................................................................58
2.4 A EXTINÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA .............................................................65
2.4.1 DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO, PARTILHA E EXTINÇÃO DA SOCIEDADE .................65
1

1. PROGRAMA DA DISCIPLINA

1.1 Ementa
Sociedade Limitada. Natureza Jurídica. Responsabilidade dos Sócios. Aplicação das regras
das sociedades simples e Lei nº 6.404/76 às Sociedades Limitadas. Capital Social e
Patrimônio. Quotas Sociais. Acordo de Quotistas. Hipóteses de dissolução parcial sob a
ótica do novo CPC. Direito de retirada, sócio dissidente, sócio remisso, falecimento de sócio
e exclusão de sócio. Cessão, penhora e partilha de quotas. Direitos e Deveres dos Sócios.
Administração nas Sociedades Limitadas. Deliberações. Dissolução, Liquidação, Partilha e
Extinção da Sociedade.

1.2 Carga horária total


24 HORAS/AULA

1.3 Objetivos
Examinar os conceitos pertinentes ao tema, aprofundando as análises por meio de
utilização de casos concretos.

1.4 Metodologia
Adota-se a metodologia participativa na qual as aulas ministradas visam possibilitar a
participação ativa dos alunos não somente na construção e apreensão de conceitos
trabalhados ao longo do curso, mas também na aplicação desses conceitos às suas
atividades práticas.

1.5 Critérios de avaliação


O aluno será avaliado a partir de uma prova escrita, discursiva e individual, com consulta
apenas à legislação não comentada, na qual serão abordadas questões discutidas em sala
de aula (que podem ou não constar expressamente dessa apostila) cuja nota poderá atingir
o conceito 10 (professor está responsável por definir esse critério).

1.6 Bibliografia recomendada


Indicada no corpo da apostila.

Curriculum vitae do professor


Doutorando pela Universidade Complutense de Madrid. Mestre em Direito Econômico e
Desenvolvimento pela UCAM. Especialista em Direito Privado pela UFF. Membro do
Ministério Público do Estado do RJ. Professor convidado, atuando como responsável pelas
disciplinas de Direito Processual Societário e Associações Empresariais no LLM em Direito:
Societário e Mercado de Capitais do FGV Law Program.

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2. TEXTO PARA ESTUDO

2.1 INTRODUÇÃO À SOCIEDADE LIMITADA

2.1.1 Breves considerações sobre a sociedade limitada


O nosso ordenamento jurídico prevê os seguintes modelos de sociedade: sociedade
simples, sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade
limitada, sociedade anônima e sociedade em comandita por ações. Existem, ainda, as
chamadas sociedades despersonificadas (sociedade em conta de participação e a sociedade
em comum) e a EIRELI1.
Como se pode observar, existem diversos tipos societários que estão à disposição
do empreendedor. No entanto, a prática acaba revelando que a sociedade limitada constitui
o modelo de sociedade mais utilizado para a exploração de negócios em nosso país.
Observe, por exemplo, a estatística da Junta Comercial do Rio Grande do Sul,
demonstrando que a sociedade limitada representa mais de 90% dos registros de modelos
societários naquele Estado2:

Esse cenário revela a importância desse tipo societário no desenvolvimento de


negócios em nosso país, já que é o preferido por aqueles que pretendem explorar uma
atividade econômica. A facilidade para a sua constituição, o grau de complexidade de sua
estrutura e a extensão da responsabilidade dos sócios, exatamente como a doutrina
costuma mencionar, são fatores que sustentam esse cenário.

1
Existe uma grande polêmica em torno da natureza jurídica da EIRELI. Esse tema será abordado na aula
específica sobre a EIRELI.
2
http://jucisrs.rs.gov.br/estatisticas , acesso em 18 de novembro de 2017.

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É preciso lembrar que a sociedade limitada representou uma grande inovação no


fim do século XIX, tendo sido criada como modelo para atender aos pequenos produtores,
conjugando pontos positivos pertinentes às sociedades por ações e às sociedades de
caráter pessoal. Assim, reuniu-se nesse tipo societário, por exemplo, a limitação da
responsabilidade de seus integrantes às suas contribuições ao capital social – o que, frise-
se, admite exceções – e o direito de se opor ao ingresso de terceiros indesejados ao quadro
social.
A sociedade limitada surgiu em 1892 na Alemanha, tendo se espalhado pelo mundo
até chegar ao nosso país a partir do Decreto 3.708/1919, o qual permaneceu em vigor até
o advento do Código Civil de 20023. Em razão de sua origem, fixou-se a premissa no
sentido de que a sociedade limitada deveria ser o modelo societário para o
desenvolvimento de pequenos negócios familiares, em que os sócios se relacionam entre
si todos os dias e os funcionários e clientes sabem exatamente quem está à frente da
atividade. Isso não aconteceria na sociedade anônima.
Atualmente, essa conclusão não poderia mais corresponder à realidade, uma vez
que inúmeras multinacionais optaram pelo modelo da sociedade limitada para as suas
subsidiárias4.
A sociedade limitada é, portanto, uma espécie de modelo societário previsto nos
artigos 1.052 a 1.087 do Código Civil de 2002, com ampla utilização na exploração de
atividades econômicas, em razão de suas particularidades, especialmente por conta da
responsabilidade dos seus sócios. Ela deverá ser constituída por, no mínimo, duas pessoas,
podendo ter prazo de duração determinado ou indeterminado.
A seguir, a natureza jurídica da sociedade limitada será analisada mais a fundo
para, então, se dedicar ao estudo das características desse tipo societário.

2.1.2 Natureza jurídica da sociedade limitada


Os doutrinadores buscam em Roma as origens das sociedades comerciais, as quais
representavam a união de esforços para a consecução de determinados trabalhos. A sua
criação não resultava em uma separação patrimonial, tampouco na criação de uma pessoa
jurídica distinta da dos seus sócios. Tinha, porém, como seu principal efeito, a limitação
da responsabilidade: os sócios respondiam pelas dívidas contraídas em nome da sociedade
somente em caso de dolo ou culpa in concreto.5
Nesse passo, dentre um dos elementos característicos da sociedade, a affectio
societatis pode ser definida como o ânimo de se associar, ou seja, o motivo e as razões
pelos quais determinadas pessoas se associam. Seria o ato voluntário presente na evolução
das relações humanas capaz de impulsionar a constituição das primeiras sociedades
comerciais.

3
Sobre a origem histórica da sociedade limitada, sugerimos a leitura de: LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades
Limitadas. 6ª Edição, atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2005.
4
General Motors, Honda, IBM, Nestlé, Toyota, Ford Motors, Firestone e Bayer são exemplos de subsidiárias de
multinacionais que se revestem na forma de sociedades limitadas no Brasil. Dentre as justificativas para essa
opção está a desnecessidade de publicação de seus balanços, o que salvo em situações excepcionais previstas
na Lei das S/A, se faz obrigatório nas sociedades anônimas.
5
ARAÚJO, Alessandra Vasconcellos de; PINTO, Francisco Bilac Moreira. A Affectio Societatis e a Penhora das
Quotas. In: Revista dos Tribunais. Ano 86, v. 736, São Paulo: Editora RT, fev. 1997, pp. 56-57. Segundo os
Autores, o conceito de culpa in concreto seria “espécie de culpa levis, por sua vez, gênero de culpa contratual
(ou em sentido estrito), sendo a culpa in concreto caracterizável levando-se em consideração a atitude do devedor
não com relação ao homem mediano e sim suas ações com relação às suas próprias coisas ou aos seus próprios
interesses (bonus pater famílias)”. Idem.

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É importante notar que não significa o simples consenso presente nos contratos em
geral. Nos dizeres de Waldirio Bulgarelli, a “affectio societatis, além de se constituir em
uma declaração de vontade formal e expressa, revela uma intensidade maior, um plus, em
relação às dos demais contratos.”6 Para o autor, ela pressupõe a vontade de participar “na
comunhão do escopo comum”,7 ou seja, na obtenção de um fim comum, ou melhor ainda,
no enriquecimento em virtude da cooperação de capitais e atividades.
Há, todavia, diversos autores que vêm questionando a relevância do conceito de
affectio societatis, considerando-o ultrapassado e superado pelo conceito de fim social.8
A sociedade limitada surgiu na Alemanha, em 1892. Diferente dos demais tipos
societários, essa surgiu de forma racionalmente orientada a atender as demandas do
desenvolvimento capitalista da época: conjugar a flexibilidade das sociedades tidas como
de pessoas com a limitação da responsabilidade, típica das sociedades anônimas.
As sociedades limitadas surgiram no momento em que pequenos comerciantes não
queriam se associar sob a forma de sociedade anônima – em razão de sua difícil
constituição e de seu funcionamento oneroso e burocrático –, nem sob a forma de
sociedade em nome coletivo – pelo fato de não haver limitação ao patrimônio pessoal dos
sócios quanto às dívidas contraídas pela sociedade.
Restrições à circulação de quinhões societários, separação entre os patrimônios,
voto segundo o valor da quota, livre escolha dos sócios, simplicidade de constituição,
administração personalizada, maleabilidade própria da sociedade de pessoas e estabilidade
do quadro societário, com limitação da responsabilidade própria da sociedade anônima
tornaram a sociedade limitada o modelo societário ideal para pequenos e médios
empreendimentos, mas sem afastar a possibilidade de seu uso para aqueles de grande
porte.
Dessa forma, a sociedade limitada surge com uma estrutura corporativa
(estruturada em órgãos), mas não como instituição, com interesses próprios a par daquele
de obtenção de lucros pelo objeto social. Afastou-se a possibilidade de inserção de
interesses extrassocietários, independentemente da vontade dos sócios.
Em virtude das peculiaridades que lhe assistem, muitos autores questionam como
classificar as sociedades limitadas. A doutrina tradicional classifica as sociedades
comerciais em (i) sociedades de pessoas e (ii) sociedades de capital, de acordo com
o nível de cooperação e colaboração que cada sociedade tem em seu âmago.
Assim, segundo José Waldecy Lucena, as sociedades de pessoas seriam aquelas
cuja criação e funcionamento decorrem do intuitus personae, ou seja, os sócios decidem
criar e administrar uma sociedade em razão do bom relacionamento e da mútua confiança. 9
Por outro lado, as sociedades de capital seriam aquelas nas quais o intuitus pecuniae
é o elemento mais característico. Nesse caso, a importância de ordem pecuniária com que
os sócios podem contribuir para o desenvolvimento de determinado negócio deverá
preponderar sob qualquer outro aspecto de ordem pessoal existente entre eles.
Segundo essa classificação, o intuitus personae prepondera em sociedades cujos
sócios se escolhem mutuamente quando resolvem se associar, normalmente, por meio de

6
BULGARELLI, Waldirio. Sociedades Comerciais. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1998. p. 26.
7
Idem.
8
FRANÇA, Erasmo Valladão Azevedo e Novaes; ADAMEK, Marcelo Vieira von. Affectio societatis: um conceito
jurídico superado no moderno direito societário pelo conceito de fim social. Revista de Direito Mercantil Industrial,
Econômico e Financeiro, v. 149-150, a. CLVII, jan./dez. 2008.
9
LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades Limitadas. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 52.

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5

um contrato. São os sócios que dirigem a sociedade e os terceiros, ao negociarem com a


sociedade, visualizam, de fato, a sua figura.
Já o intuitus pecuniae seria verificado nas sociedades de capitais, principalmente
naquelas cujo capital é representado por ações,10 subscritas livremente, no momento da
criação da sociedade e, após isso, transferíveis a terceiros, em regra, sem quaisquer
restrições. Geralmente, não são todos os sócios que dirigem a empresa. Os credores, nesse
caso, estariam mais preocupados com os números constantes do balanço patrimonial, do
que, propriamente, com os sócios que a constituem.
Destaque-se que a classificação apresentada tem sido alvo de cada vez mais
frequentes críticas doutrinárias, de forma que as classes e suas características têm sido
flexibilizadas pelos aplicadores do direito, à luz do caso concreto.
Ainda assim, a doutrina que adota essa classificação se divide em três principais
correntes. A primeira assegura que a sociedade limitada é uma sociedade de pessoas, a
segunda enxerga a sociedade limitada como uma sociedade de capitais e a terceira a
considera como uma sociedade distinta. Para essa última linha de doutrinadores, a
sociedade limitada não poderia ser classificada em qualquer das duas primeiras hipóteses,
uma vez que nasceu da conjugação de elementos característicos de sociedades de pessoas
e de sociedades de capitais.
Nesse passo, acrescenta Egberto Lacerda Teixeira que a sociedade limitada “tem,
em si mesma, elementos distintivos que a extremam das demais e que justificam
plenamente ser tratada como espécie à parte”. 11
Sendo essa uma das razões, a classificação das sociedades empresárias
considerando a pessoa dos sócios é vista como ultrapassada por parte da doutrina, pois
não está baseada em um critério científico, não havendo, portanto, uma orientação clara
para se enquadrar determinado tipo societário como sociedade de pessoas ou de capitais.
Para essa corrente, os elementos associativos do intuitus personae e do intuitus pecuniae
poderiam ser encontrados em uma mesma sociedade com relação a um ou outro sócio, na
medida em que estão relacionados com a posição que cada um deles assume no grupo
social.
É importante destacar, assim, a perplexidade de Sylvio Marcondes 12 com relação à
deficiência da classificação tradicional das sociedades:

A divisão das sociedades em sociedades de pessoas e sociedades de


capitais fornece uma classificação da qual resulte o exato conceito
da sociedade de responsabilidade limitada? [...] Mesmo que se tome
em conta a situação intermédia da sociedade de responsabilidade
limitada, como verificar, no quadro dessa classificação, o grau de
penetração do intuitus que ora a aproxima das sociedades de
pessoas, ora das sociedades de capitais? Sob que aspectos ela deve
ser tratada como sociedade de capitais ou como sociedades de
pessoas, e qual a posição que lhe cabe entre a sociedade em nome
coletivo e a sociedade anônima, extremos a que deve a sua origem?
A rígida simplicidade do sistema não fornece dados bastantes para

10
Nada impede, no entanto, que em sociedades anônimas de capital fechado o caráter personalíssimo domine a
relação interna entre os sócios.
11
TEIXEIRA, Egberto Lacerda. Das Sociedades Por Quotas de Responsabilidade Limitada. São Paulo: Max
Limonad, 1956. n.15, p. 29.
12
MARCONDES, Sylvio. Questões de Direito Mercantil. Rio de Janeiro: Saraiva, 1977. p. 92.

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6

análise da sociedade de responsabilidade limitada e obtenção dos


elementos que compõem a sua natureza complexa.

A importância do papel exercido por cada sócio é evidente, mas essa questão está
intrinsecamente vinculada à sua responsabilidade interna e externa, sendo que o elemento
associativo do intuitus personae serve apenas para caracterizar o maior ou menor grau de
responsabilidade dos sócios de uma sociedade.
Nesse passo, outra classificação é feita considerando a responsabilidade dos sócios
em relação às obrigações assumidas pela sociedade. Para tanto, deve-se considerar a
responsabilidade dos sócios perante terceiros “caso o patrimônio seja insuficiente para
satisfazer os compromissos assumidos pela sociedade.” 13
Essa obrigação não se confunde com aquela originária dos sócios em contribuir para
com o capital social, na forma e prazo estipulados no respectivo contrato social.
Segundo essa classificação,14 as sociedades poderiam ser divididas em (i)
sociedades em que os sócios respondem, de forma subsidiária, pelos compromissos
sociais; (ii) sociedades em que alguns sócios respondem ilimitadamente e outros somente
pelas contribuições ao capital social; e (iii) sociedades em que todos os sócios limitam a
sua responsabilidade pelas importâncias que subscreveram quando da formação do seu
capital.
Utilizando esse critério, as sociedades outrora consideradas como de capital são
classificadas como de responsabilidade limitada, já que a sua participação não tem
influência direta na vida da sociedade. Logo, a responsabilidade dos sócios perante
terceiros deve ser estritamente limitada à importância a que eles se comprometeram a
investir.
Por outro lado, as sociedades então ditas como de pessoas têm a sua
responsabilidade ilimitada, solidária ou subsidiária em relação às obrigações sociais de
acordo com o papel que cada um dos sócios assume, seja internamente perante os demais
sócios, seja externamente, perante terceiros, os quais estariam preocupados em investigar
a idoneidade e a capacidade econômico-financeira dos sócios, cujo patrimônio poderia ser
utilizado para satisfazer as obrigações da sociedade.

2.1.3 Constituição da sociedade limitada


Ainda com o propósito de introduzir a discussão dos principais aspectos relacionados
ao tipo societário objeto desse estudo, avança-se para a exposição de pontos importante
relacionados à constituição da sociedade limitada.

2.1.3.1 Ato constitutivo: o contrato social


A sociedade limitada se constitui por intermédio de um contrato social firmado entre
os seus sócios. O contrato social deverá conter determinadas cláusulas, denominadas
essenciais, que estão regulamentadas em dois artigos do Código Civil, os artigos 997 e
998,15 aplicáveis às sociedades limitadas por força do art. 1054. Essas cláusulas são
indispensáveis ao registro do instrumento no órgão competente.

13
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 29. ed., rev. atual. e ampliada por Carlos Henrique Abraão. Rio de
Janeiro: Forense, 2005. pp. 200 e 201.
14
Idem.
15
Código Civil. Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de
cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

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Caso não estejam presentes quaisquer desses requisitos, a sociedade não será
regular, pois o seu contrato social será insuscetível de arquivamento.
Deverá necessariamente ser fixado no contrato social da sociedade limitada o valor
do seu capital social, expresso em moeda corrente nacional, podendo esse ser formado
com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação
pecuniária. É vedada, nas sociedades limitadas, a contribuição que consista em prestação
de serviços.16
O contrato social deverá também especificar o número, a espécie e o valor das
quotas de cada sócio, bem como o seu modo e forma de integralização.
Com o advento da Medida Provisória nº 881, de 30 de abril de 2019 (MP da
Liberdade Econômica), foi prevista a possibilidade de sociedade limitada unipessoal, de
momento que o sócio remanescente, se não optar pelas soluções anteriores, poderá
comunicar ao órgão registral que irá se valer da regra contida no Art. 1.052, § único, do
CC: “A sociedade limitada pode ser constituída por uma ou mais pessoas, hipótese em que
se aplicarão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições
sobre o contrato social.”

2.1.3.2 Local de registro da sociedade limitada


A sociedade limitada pode ser classificada em empresária ou simples, de acordo
com a forma de sua organização econômica e a própria atividade escolhida para ser
explorada. É preciso, neste caso, verificar a regra contida no artigo 966 do Código Civil de
2002, na qual pode ser encontrado o conceito de empresário. Essa distinção é importante
para definir o registro público competente para o arquivamento de seus atos constitutivos:
se for uma sociedade empresária deverá ser registrada na Junta Comercial; caso contrário,
os seus atos constitutivos deverão ser arquivados no Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas.
O registro inadequado poderá trazer consequências negativas para os seus sócios.
Essa questão não é relevante em se tratando de uma sociedade anônima, pois ela sempre
será considerada de natureza empresarial e o registro deverá ser sempre realizado na
junta comercial. No entanto, em se tratando de uma sociedade limitada, a escolha do local

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a
denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens,
suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento
do contrato.
Art. 998. Nos trinta dias subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato
social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede.
§ 1° O pedido de inscrição será acompanhado do instrumento autenticado do contrato, e, se algum sócio nele
houver sido representado por procurador, o da respectiva procuração, bem como, se for o caso, da prova de
autorização da autoridade competente.
§ 2° Com todas as indicações enumeradas no artigo antecedente, será a inscrição tomada por termo no livro de
registro próprio, e obedecerá a número de ordem contínua para todas as sociedades inscritas.
16
Art. 1.055, § 2º, Código Civil.

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de registro da sociedade limitada é um fator extremamente importante. Se a opção for


equivocada, registrando-a no Cartório de Registro Civis de Pessoas Jurídicas, quando o
correto seria na junta comercial, por se tratar de uma sociedade empresária, os sócios
poderão responder pelas obrigações sociais. Em alguns casos, poderá ser difícil identificar
o local correto para o seu registro, surgindo dúvidas quanto à sua classificação como
empresária ou não, valendo citar como exemplo a sociedade limitada que realize a
prestação de serviços médico-hospitalar17.

2.1.3.3 Qualificação dos sócios


Os sócios de uma sociedade limitada tanto podem ser pessoas naturais, quanto
podem ser pessoas jurídicas. Nada impede, inclusive, que todos os sócios sejam pessoas
jurídicas.
Em relação à qualificação dos sócios, entende-se que a ausência de seus nomes
ensejará à anulação do contrato social.18 A especificação da nacionalidade dos sócios é
indispensável em consequência das restrições existentes na legislação brasileira acerca da
participação de estrangeiros em algumas sociedades. Como exemplo, podemos mencionar
o caput do art. 222 da Constituição Federal, que dispõe que empresas jornalísticas e de
radiodifusão somente podem ser de propriedade de brasileiros natos ou naturalizados há
mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham
sede no Brasil.19
O estado civil dos sócios pessoas naturais, bem como o regime de seus bens, são
relevantes porque, exceto no regime da separação absoluta, o sócio casado somente
poderá integralizar sua quota no capital social mediante a conferência de bens imóveis se
houver a respectiva outorga conjugal.20
O Código Civil, no art. 977,21 veda a contratação de sociedade entre marido e
mulher quando o regime de bens for o da comunhão universal ou, ainda, nos casos em
que a separação é obrigatória. Busca-se evitar uma confusão patrimonial que burle o
regime de bens do casamento. Há permissão expressa que autoriza a contratação de

17
Há decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro qualificando tal sociedade como sendo
empresária, o que poderá ser considerado como um indicativo: “Requerimento de falência. Efetivação do depósito
elisivo e contestação, sustentando a irregularidade no protesto, porquanto não existiria a indicação do
responsável pelo recebimento da notificação, bem como, a impossibilidade de decretar-se a quebra, por se tratar
de sociedade civil. Afirma, demais disso, o fato de que as notas fiscais não corresponderiam ao que efetivamente
foi negociado entre as partes. Sentença de procedência parcial, que deixou de acolher a pretensão maior, em
razão do depósito elisivo, afastando as demais alegações da defesa. Apelação da requerida. Ausência de vício no
ato do tabelião, porquanto não se revela indispensável a identificação da pessoa que foi intimada. Fé pública de
seus atos. Precedentes do C. STJ. Em que pese a antiga qualificação como sociedade civil, verifica-se que o novo
código adotou a teoria da empresa, qualificando a requerida como sociedade empresária, considerando que a
exploração de atividade associada à área da medicina é elemento da empresa, desenvolvido com profissionalidade
e organização, sujeitando-se, por conseguinte, aos ditames da lei nº 11.101/2005 (lei de falência). Ausência de
demonstração de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito da requerente. Recurso conhecido e
desprovido. Apelação n.º: 2008.001.31703. Des. Mauro Dickstein - Julgamento: 09/09/2008, Décima Sexta
Câmara Cível.
18
LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar,
1996. p. 102.
19
Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de
brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras
que tenham sede no País. Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002.
20
Novo Código Civil Brasileiro:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto
no regime da separação absoluta:
I – alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis. Mesma regra está contida no art. 35 da Lei nº 8.934/94.
21
Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado
no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.

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sociedade entre marido e mulher casados pelo regime da separação de bens e da


comunhão parcial. Importante também salientar o entendimento do Departamento
Nacional de Registro do Comércio de que não há incidência de tal regra àqueles cônjuges
já associados no momento de entrada em vigência do Código Civil de 2002. 22 A Comissão
de Direito de Empresa da III Jornada de Direito Civil, realizada pelo Conselho da Justiça
Federal com o apoio do Superior Tribunal de Justiça, elaborou os seguintes enunciados:

204 – A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob o regime


da comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as
sociedades constituídas após a vigência do Código Civil de 2002.
205 – Adotar as seguintes interpretações sobre o art. 977:
1) a vedação à participação de cônjuges casados nas condições
previstas no artigo refere-se unicamente a uma mesma sociedade;
2) o artigo abrange tanto a participação originária (na constituição
da sociedade) quanto derivada, isto é, fica vedado o ingresso de
sócio casado em sociedade de que já participa o outro cônjuge.

A indicação da profissão do sócio é necessária para que sejam verificados eventuais


impedimentos em razão de sua profissão. Como exemplo, podemos pensar nas sociedades
uniprofissionais.

Igualmente importante é a questão da capacidade. A matéria é tratada no artigo


973, §3º do Código Civil, incluído pela lei 12.399/2011, que determina que em havendo
sócio incapaz (i) o capital social deve estar integralizado, (ii) o incapaz não pode exercer
a administração; e (iii) é necessária a representação/assistência por seus representantes
legais nos atos em que tais sócios intervierem.

2.1.3.4 Responsabilidade dos sócios


Uma das características mais marcantes da sociedade limitada diz respeito à
responsabilidade dos seus sócios. De acordo com o artigo 1.052 do Código Civil, a
responsabilidade de seus sócios será restrita ao valor de suas quotas, mas todos
responderão solidariamente pela integralização do capital social.
A responsabilidade do sócio de uma sociedade limitada corresponde a uma grande
vantagem em relação aos demais tipos societários, principalmente naqueles onde é
prevista a responsabilidade ilimitada dos seus membros, como é o caso da sociedade em
nome coletivo, da sociedade em comandita simples (o sócio comanditado) e a sociedade
em comandita por ações (os diretores).
Essa responsabilidade é limitada ao que falta para a integralização do capital social,
de sorte que se esse já estiver integralizado o sócio não terá mais qualquer tipo de
obrigação. Caso o capital não esteja integralizado, todos os sócios poderão ser
responsabilizados pela parte que faltar para a sua integralização, pois são solidariamente
responsáveis por tal valor.
É importante compreender o alcance dessa responsabilidade sob pena de distorção.
Um exemplo que pode ajudar a eliminar qualquer tipo de confusão pode ser elaborado por
meio da leitura do artigo 1.003, p. único, do Código Civil de 2002, cuja aplicação é

22
Pareceres nºs 50/03 e 125/03 do Departamento Nacional do Registro do Comércio.

Direito Societário - LTDA


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obrigatória para as sociedades limitadas, por força do artigo 1.057, p. único do mesmo
diploma legal.
Confira-se a redação do artigo 1.003, p. único:

“Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação


do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário,
perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como
sócio.”

Uma leitura açodada desse dispositivo poderia nos conduzir a uma interpretação
equivocada, no sentido de que o sócio cessionário seria responsável por todas as dívidas
da sociedade, como se houvesse uma solidariedade entre esse e a sociedade, perante
terceiros. Tal não é, contudo, o sentido do texto. O que o legislador quis dizer é que o sócio
cessionário irá continuar a responder pelas dívidas que tinha como sócio, pelo prazo de
dois anos. Dessa forma, nesse lapso temporal, ele será responsável apenas por aquelas
obrigações que já teria como sócio. E quais seriam as obrigações que ele teria como sócio?
Um exemplo seria a de integralizar o capital social.
Existem diversas exceções a essa regra do artigo 1.052 do CC, como é o caso das
regras contidas nos artigos 1.055, §1º, 1.059 e 1.08 o, todos do Código Civil de 2002.
Também poderiam ser citadas as hipóteses de aplicação da teoria da desconsideração da
personalidade jurídica, da responsabilidade por dívidas tributarias da pessoa jurídica (art.
135 do CTN) e da responsabilidade por dívidas trabalhistas, nos termos do artigo 10-A da
CLT.

2.1.3.5 Nome empresarial da sociedade limitada


De acordo com a regra contida no artigo 1.158 do Código Civil de 2002, o nome
empresarial da sociedade limitada poderá ser das seguintes espécies: firma ou
denominação. Vê-se, portanto, que existe a possibilidade dos sócios de escolherem uma
dessas duas espécies. Deve-se lembrar que a escolha pela firma poderá não ser oportuna,
pois necessariamente deverá conter o nome civil dos sócios e, na saída de um deles, caso
o seu nome apareça na designação da sociedade, obrigatoriamente terá que ser realizada
uma alteração contratual para mudança do nome empresarial em respeito ao princípio da
veracidade, o que não seria necessário caso tivesse sido feita a opção pela denominação.
É importante lembrar que o uso do nome empresarial é privativo dos
administradores e a omissão da palavra limitada determina a responsabilidade solidária e
ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da
sociedade, conforme artigo 1.158, §3º, do CC.

2.1.3.6 Aplicação das regras das sociedades simples e Lei nº 6.404/76

Na época em que estava em vigor o Decreto 3.708/1919, havia uma intensa


discussão acerca da norma que deveria ser utilizada como fonte normativa supletiva da
sociedade por quotas de responsabilidade limitada. Duas posições doutrinárias se
firmaram: a primeira que sustentava a aplicação obrigatória da Lei de Sociedade

Direito Societário - LTDA


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Anônima23; e a segunda, que insistia na utilização, em primeiro lugar, do Código Comercial,


quando fosse omisso o Decreto 3.708/1919.
A nosso sentir, a melhor orientação era aquela defendida por João Eunápio
Borges24:

Mandando, pois, o art. 18 do Dec. 3.708 que se observem, na parte


aplicável, e quando omisso o contrato de uma sociedade por quotas,
a lei das sociedades anônimas, o que está clara e insofismavelmente
afirmado em lei é que a de sociedades anônimas, pelo próprio fato
de ser supletiva do contrato ou dos estatutos, o é igualmente da lei
de sociedades por quotas.

Essa polêmica não ocorrerá após o advento do Código Civil de 2002, por força da
regra disposta no artigo 1.053 e seu parágrafo único. O legislador civilista entendeu que,
na omissão do contrato social, a fonte normativa supletiva deveria ser a norma pertinente
à sociedade simples. Os sócios, se quiserem, podem escolher aplicar supletivamente a Lei
de S/A às sociedades limitadas, mas será preciso fazer expressa menção nesse sentido no
contrato social.
De acordo com a IN 38/2017- DREI, o contrato social poderá prever a regência
supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima, conforme art. 1053,
parágrafo único do Código Civil. E, para fins de registro na Junta Comercial, a regência
supletiva: I – poderá ser prevista de forma expressa; ou II – presumir-se-á pela adoção
de qualquer instituto próprio das sociedades anônimas, desde que compatível com a
natureza da sociedade limitada, tais com: a) Quotas em tesouraria; b) Quotas
preferenciais; c) Conselho de Administração; e d) Conselho Fiscal.
Deve-se notar, contudo, que mesmo naqueles casos em que a norma supletiva seja
a da sociedade simples, ainda será possível recorrer à Lei de S/A pelo emprego da analogia.
Dessa forma, por exemplo, se for apresentada para registro uma alteração do contrato
social de uma sociedade limitada, constando a operação societária conhecida por quotas
em secretaria ou quotas em tesouraria, na qual a sociedade limitada será titular de suas
próprias quotas, será possível recorrer à Lei de S/A por meio da fonte normativa supletiva
ou pelo emprego da analogia, aplicando-se o artigo 30, §1º da Lei 6.404/76. Essa operação

23
Nesse sentido: PEIXOTO, Carlos Fulgêncio da Cunha. A Sociedade por Quotas de responsabilidade Limitada.
Forense, vol. 1, 1958, n. 69, p. 60. É possível compreender a questão por meio do RECURSO ESPECIAL Nº
687.351 – MG, cuja ementa merece ser transcrita: COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. ACÓRDÃO ESTADUAL.
NULIDADE NÃO CONFIGURADA. SOCIEDADE POR COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. ALTERAÇÃO
SOCIAL. AUMENTO DE CAPITAL. INOBSERVÂNCIA DA PROPORÇÃO DAS COTAS. ALEGADO PREJUÍZO A SÓCIO
FALECIDO, POR ERRO. AÇÃO QUE OBJETIVA A RECOMPOSIÇÃO DA PROPORCIONALIDADE ANTERIOR.
PRESCRIÇÃO. APLICABILIDADE SUPLETIVA DA LEGISLAÇÃO COMERCIAL, E, PARTICULARMENTE, DO ART. 286
DA LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS E NÃO DO CÓDIGO CIVIL ANTERIOR. ARTS. 18 DO DECRETO N.
3.708⁄1919, 291 DO CÓDIGO COMERCIAL. EXEGESE. PROCESSO EXTINTO. CPC, ART. 269, IV. SÚMULA N. 98 -
STJ. I. Não padece de nulidade o acórdão que, fundamentadamente, enfrentou as questões essenciais ao deslinde
da controvérsia, apenas que trazendo conclusões contrárias ao interesse da parte irresignada.
II. É bienal o prazo prescricional para anular-se alteração de contrato de elevação de capital de sociedade por
cotas de responsabilidade limitada, em que se sustenta a inobservância do critério da proporcionalidade do
capital, pela aplicação supletiva do art. 286 da Lei n. 6.404⁄1976, segundo o princípio da prevalência da legislação
comercial sobre o Código Civil anterior, preconizado nos arts. 18 do Decreto n. 3.708⁄1919 e 291 da Lei n. 556,
de 25.06.1850. III. "Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm
caráter protelatório" - Súmula n. 98-STJ. V. Recurso especial conhecido em parte e nessa extensão provido.
Extinção do processo, nos termos do art. 269, IV, do CPC
24
Conforme artigo publicado na Revista Forense, vol. 128 p. 353

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societária, cuja admissibilidade é controvertida após o advento do Código Civil de 2002 25,
passou a ser admitida pela IN 38/2017 do DREI.
Para tanto, deverá ser verificado se o contrato social da sociedade limitada contém
a opção pela aplicação supletiva da Lei 6.404/76, pois, nesse caso, a regra das sociedades
anônimas prevista no artigo 30, § 1º será aplicada diretamente. De qualquer modo, ante
a inexistência de qualquer norma nesse sentido no Código Civil de 2002, pode-se recorrer
à analogia para se valer da regra da Lei de S/A para solucionar a omissão.
Como se vê, existem duas formas para aplicarmos a Lei 6.404/1976 às sociedades
limitadas: a primeira, quando o contrato social da sociedade limitada a escolhe como fonte
normativa supletiva; a segunda, por analogia, na hipótese em que a própria regra supletiva
também se revela omissa.
É preciso lembrar, contudo, que nem todas as normas contidas na Lei 6.404/76
poderão ser aplicadas às sociedades limitadas, pois será necessário verificar a sua
compatibilidade com a estrutura desse tipo societário. Nesse sentido, não poderá uma
sociedade limitada ofertar publicamente contratos de investimento coletivo, por serem
incompatíveis com o regime da limitada. A Comissão de Valores Mobiliários – CVM, já foi
obrigada a aplicar multas àquelas sociedades limitadas que ofereceram contratos de
investimento coletivo26 no mercado, atuando como se fossem sociedades anônimas
abertas, como foi o caso da Avestruz Máster27 e da Top Avestruz28.

2.2 ASPECTOS PATRIMONIAIS DA SOCIEDADE LIMITADA

2.2.1 Capital social, patrimônio e quotas sociais


Para o início das atividades de uma sociedade, torna-se necessário o aporte de
recursos indispensáveis à organização da empresa, nos termos do seu objeto social,
cabendo aos sócios a transferência de parte do seu patrimônio para o da pessoa jurídica.
Em contrapartida, recebem quotas da sociedade em valor correspondente.
A sociedade não tem o dever de restituir ou remunerar – embora possa fazê-lo,
desde que atendidos certos pressupostos econômicos e jurídicos – as contribuições dos
sócios, feitas a título de capital, sejam aquelas realizadas no momento da constituição da
sociedade ou a posteriori quando da integralização de quotas subscritas em aumento de
capital. O sócio tem o retorno do seu investimento atrelado ao sucesso ou insucesso da
empresa.
Caso, no decorrer de suas atividades, se faça necessário o aporte de novos
recursos, a sociedade poderá recorrer aos próprios sócios, os quais poderão ampliar a sua
contribuição para o desenvolvimento da empresa e, consequentemente, se apropriar de
um maior número ou um percentual maior de quotas da sociedade.

25
J. E. Tavares Borba admite a realização desta operação mesmo após o advento do Código Civil de 2002,
conforme BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. 12. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010., pág. 118:
“...Neste passo, cabe indagar se as sociedades limitadas continuam autorizadas a adquirir suas próprias quotas.
Deve-se começar pela constatação de que não existe incompatibilidade lógica ou jurídica para essa aquisição,
tanto que na sociedade anônima continua admitida. Além disso, a Lei 6.404/1976 pode ser adotada
contratualmente como legislação supletiva do contrato, atuando nesse caso no sentido de permitir a auto-
aquisição das cotas. Ora, se o contrato pode, por via da supletividade, acolher determinadas regras, poderá
também, e por idênticas razões, incorporar diretamente essas regras...”

26
Contrato de investimento coletivo, quando oferecido publicamente, é uma espécie de valor mobiliário e está
previsto no artigo 2º, Inciso IX, da Lei 6.385/1976.
27
Deliberação da CVM 473.
28
Deliberação da CVM 474.

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Todos esses aportes realizados pelos sócios são registrados como capital social na
contabilidade da sociedade.
Diferentemente disso, vale lembrar que a sociedade poderá também captar
recursos dos sócios a título de mútuo, por exemplo, devendo restituir aos sócios mutuantes
os bens ou dinheiro investidos, acrescidos de uma compensação remuneratória, a qual
independe dos lucros que a sociedade venha a apurar.
No entanto, toda sociedade empresária deve possuir uma quantidade de capital
financeiro próprio formado pelas contribuições dos sócios – denominada como capital social
– para que possa realizar o seu objeto social.
Nesse sentido, José Edwaldo Tavares Borba define capital social como a cifra
contábil que corresponde ao valor dos bens que os sócios transferiram ou se
comprometeram a transferir à sociedade quando da subscrição de sua participação. 29
Trata-se de um valor formal e estático que, salvo em razão de um aumento ou redução
deliberados em assembleia ou reunião de sócios, permanece inalterável durante toda a
vida da sociedade. Não se modifica em razão da real situação financeira da empresa.
Diferencia-se, portanto, do conceito de patrimônio, que é o conjunto de direitos
econômicos e obrigações, incluindo os ativos (dinheiro, créditos, etc.) e os passivos
(impostos, títulos a pagar, etc.). O patrimônio líquido, por sua vez, é um valor real e
dinâmico, que varia de acordo com o sucesso ou insucesso da sociedade. 30
Capital social é o fundo originário e essencial da sociedade, fixado por meio da soma
da contribuição dos sócios – é uma expressão numérica. Patrimônio social é o patrimônio
da sociedade no sentido econômico, compreendendo não só o capital social, mas outros
bens, enfim, tudo o que a sociedade venha a possuir durante a sua existência, inclusive as
dívidas.
Importante lembrar a definição de patrimônio líquido que é a diferença entre o ativo
e o passivo. Sendo o ativo superior ao passivo, a sociedade terá um patrimônio líquido
positivo; se inferior, terá um patrimônio líquido negativo.
No início de uma sociedade, o seu patrimônio se equivale ao capital social. Com o
decorrer das atividades, se o patrimônio líquido exceder o capital, logo a sociedade
acumulará lucros que poderão ser distribuídos aos sócios ou conservados na conta de
reserva ou lucros acumulados.31
Por outro lado, caso o patrimônio líquido seja inferior ao capital em virtude de
prejuízos, não se poderá efetuar qualquer distribuição de lucros aos acionistas. 32 Nessa
hipótese, ainda que o patrimônio líquido seja reduzido a nada, o capital social continuará
o mesmo, conforme consta do estatuto social da sociedade.
Após analisarmos as diferenças entre os conceitos de capital social e patrimônio,
valemo-nos de transcrição do mestre José Luiz Bulhões Pedreira sobre o capital social como

29
BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. 12. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. p. 63.
30
Idem.
31
Exemplos foram criados para explicar o tema: o espanhol Joaquim Garrigues ensina “a propósito, que o capital
social represente um dique que contém as águas (os elementos do ativo) até que este atinja seu nível, sendo só
a partir deste momento que o excedente poderá beneficiar os acionistas, sob a forma de dividendos”. GARRIGUES,
Joaquim. Tratado de derecho mercantil. V.1. T. 2. Madri: Revista de Derecho Mercantil, 1947. p. 637.
32
Importante notar que, nos termos do caput e §1º do artigo 201 da Lei das S.A., o pagamento de dividendos
somente pode ser feito à conta de lucro líquido no exercício e de reserva de lucros (e, excepcionalmente, no caso
de ações preferenciais conforme §5º, artigo 17, à conta de reserva de capital); e que a não observância desta
regra implica responsabilidade solidária dos administradores e fiscais, que deverão repor a importância
distribuída, sem prejuízo da ação penal que no caso couber.

Direito Societário - LTDA


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o montante fixado no estatuto social de uma companhia (contrato social de uma sociedade
limitada):33

[...] é a quantidade do valor financeiro que os sócios declaram


submeter ao regime legal próprio do capital social e que deve existir
no ativo para que a sociedade possa reconhecer lucros e transferir
bens do seu patrimônio para os dos sócios, como dividendo ou preço
de compra das próprias ações.

Nesse passo, conforme já ressaltado anteriormente, o artigo 997, III do Código


Civil, aplicado às sociedades limitadas por força do artigo 1054 do mesmo diploma, dispõe
que quando da constituição da sociedade, o contrato social deverá mencionar o capital
social, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens,
suscetíveis de avaliação pecuniária. Bem como deverá vir expresso no contrato a quota de
cada sócio e o modo como esse irá integralizá-la.

2.2.1.1 A função do capital social


A função do capital social é assegurar à sociedade os instrumentos para a realização
do seu fim e serve como referência de sua força econômica. Um capital social elevado
sugere, em princípio, a solidez de uma companhia, em razão dos recursos ali aportados,
os quais seriam suficientes ao atendimento de suas necessidades. O valor do capital social
será estipulado pelos sócios, de acordo com o porte das atividades a serem desenvolvidas
e demonstrará a força da sociedade. É, por exemplo, um dos primeiros itens a ser analisado
quando a companhia negocia um empréstimo bancário.
Por isso, muitos doutrinadores entendem que a sua função é também dar eficácia
à responsabilidade patrimonial da sociedade como pessoa distinta dos seus sócios. Nesse
caso, o regime do capital social ganharia maior importância nas sociedades de
responsabilidade limitada, uma vez que os credores sociais dependeriam da sua efetividade
para garantir os seus interesses34 e os administradores poderiam tentar pagar com os bens
sociais, que os sócios teriam capitalizado.35
Desde logo, é importante citar Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhões Pedreira que
adicionam outra função do capital social:36

Ao lado disso, o capital social é a sede do poder político da


sociedade, por isso que nele é que se fixam as participações dos
sócios, estruturam-se os centros de poder e se estabelecem as
vantagens ou restrições que tocam a cada acionista.

E ainda acrescentam os renomados mestres:

33
PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Noções de Economia e Finanças para Advogados. In: Instituto de Estudos de
Direito da Economia – IEDE. Rio de Janeiro: IEDE, 1983. p. 415.
34
Segundo Coelho, “no direito inglês a doctrine of capital maintenance defende que o capital das sociedades
serve como um fundo de garantia aos credores”. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. 15. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011.
35
LAMY FILHO, Alfredo. Capital Social. Conceito. Atributos. A Alteração introduzida pela Lei 9.457/97. O Capital
social no sistema jurídico americano. In: Revista Forense, v. 346. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 3.
36
LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. A Lei das S.A. V. II. Rio de Janeiro: Renovar, 1996.
Pareceres, p. 25.

Direito Societário - LTDA


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Toda lei de sociedade anônima dedica, por isso, ao capital social


uma atenção especial na medida em que, “externa corporis”, como
elemento formal, constitui garantia de credores como “cifra de
retenção” (na expressão de Guarrigues) e “interna corporis” é a
condição do exercício do poder empresarial.37

2.2.1.2 Princípios do capital social


A doutrina explica o regime legal do capital social por meio de quatro princípios,
quais sejam: da unidade, da fixidez, da intangibilidade e da realidade.
(i) Princípio da Unidade: cada sociedade tem um único capital social, ainda que
compreenda diversos estabelecimentos. Esse princípio está diretamente relacionado com
o princípio da responsabilidade patrimonial das sociedades, conforme adrede discutido.
(ii) Princípio da Fixidez: o capital social é um valor estático, fixo no contrato social ou
estatuto social e somente pode ser modificado com observância de certas regras legais. 38
A lei regula as diversas modalidades de aumento de capital com objetivo de proteger os
acionistas e somente admite a sua redução quando não prejudique credores, os quais, em
determinada situação, terão prazo fixado em lei para questionar tal redução.
(iii) Princípio da Intangibilidade: os sócios ou administradores da sociedade não podem
transferir os bens do ativo social para os sócios se, em virtude de tal transferência, o
montante do capital social ficar reduzido a valor inferior ao fixado no contrato social da
sociedade limitada (art. 1059 do CC 39) ou estatuto da companhia. Depois de os sócios
realizarem suas contribuições para a sociedade, deixam de ter o direito individual de alterar
o novo patrimônio criado. É claro que esse patrimônio será utilizado em proveito dos sócios,
podendo gerar-lhes dividendos, mas os sócios não podem dispor dele diretamente.40 Como
desdobramentos desse princípio temos, por exemplo, nas sociedades anônimas, a
impossibilidade de a sociedade comprar ou receber em caução suas próprias ações (art.
30 da LSA) e a obrigação de constituir reserva legal (art. 193 da LSA).
(iv) Princípio da Realidade: o capital social estipulado deve ser real, ou seja, deve refletir
fielmente o valor das contribuições dos sócios. Esse princípio explica a existência de
diversos dispositivos legais, incluindo o art. 1055 § 1º do Código Civil, que prevê a
responsabilidade dos sócios pela exata estimação dos bens integralizados por um período
de cinco anos41 e o art. 8 da LSA que exige uma avaliação de bens para a conferência de
bens à sociedade a título de capitalização.

37
Idem.
38
LSA, art. 6º: “O capital social somente poderá ser modificado com observância dos preceitos dessa lei e do
estatuto social (arts. 166 a 174)”.
39
Código Civil. Art. 1.059. Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer
título, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capital.
40
PANTOJA, Teresa Cristina G. Anotações sobre as pessoas jurídicas. In: A Parte Geral do Novo Código Civil:
Estudos na Perspectiva Civil-Constitucional. TEPEDINO, Gustavo (Coord.). 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
p. 90.
41
Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.
§ 1° Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o
prazo de cinco anos da data do registro da sociedade.

Direito Societário - LTDA


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2.2.1.3 A formação do capital social


Para identificar as formas de integralização do capital social valemo-nos, além do
já mencionado artigo 997, IV do CC, das transcrições do art. 7º e do Parágrafo Único do
art. 10 da LSA e do artigo 997, V do Código Civil:

Art. 7º. O capital social poderá ser formado com contribuições em


dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação
em dinheiro.
Art. 10. [...]
Parágrafo Único. Quando a entrada consistir em crédito, o subscritor
ou acionista responderá pela solvência do devedor.
Art. 997 [...]
V – As prestações que se obriga o sócio cujas contribuições consista
em serviços.

Destarte, depreende-se da leitura dos artigos supracitados que a Lei teria previsto
quatro formas para o sócio de uma sociedade limitada realizar o capital por ele subscrito,
quais sejam: (i) dinheiro, (ii) bens e (iii) créditos.
Tanto nas sociedades limitadas quanto nas sociedades anônimas, os sócios
somente poderão se valer desses três meios referidos (dinheiro, bens ou créditos) para
integralização do capital social. Ademais, para as sociedades limitadas há uma vedação
expressa prevista no artigo 1055 § 2º:

Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais,


cabendo uma ou diversas a cada sócio.
§ 2o É vedada contribuição que consista em prestação de serviços.

A contribuição em serviços será possível apenas para as sociedades simples,


diante da permissão do artigo 1006 do Código Civil:

Art. 1.006. O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não


pode, salvo convenção em contrário, empregar-se em atividade
estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela
excluído.

Nas sociedades anônimas, a integralização por dinheiro é a mais frequente e está


consubstanciada na assinatura do boletim de subscrição e no pagamento, em moeda
corrente do País, das ações subscritas pelo acionista, de acordo com os valores e prazos
previstos no referido boletim.42
As contribuições via conferência de bens à sociedade, cessão de crédito ou pela
prestação de serviços merecem nossa especial atenção, conforme segue a seguir.

42
Existem sociedades para as quais, em virtude do seu objeto social, lei especial exige que o seu capital seja
formado apenas por dinheiro (e.g. instituições financeiras em geral), sendo expressamente vedada a contribuição
em bens.

Direito Societário - LTDA


17

2.2.1.4 Dever de contribuição ao capital social


A primeira e principal obrigação contraída pelo sócio ao assinar o contrato social é
a integralização dos valores relativos às quotas representativas do capital social que
subscreveu.
Caso o sócio não adimpla essa obrigação, passa a ser considerado remisso,
aplicando as disposições legais relativas a esse instituto. Se a inadimplência perdurar por
mais de trinta dias da notificação pela sociedade, o sócio ficará constituído em mora e
responderá pelos danos que a sociedade sofrer em decorrência da mora. Nesta hipótese,
de conformidade com os arts. 1.004, 1.031 e 1.058 do CC/2002:

I – a sociedade pode ajuizar ação judicial contra o sócio


inadimplente, para compeli-lo a pagar o valor das quotas subscritas
ou a parcela que falta para a sua total integralização ou, quando for
o caso, para haver a propriedade de bem que o sócio remisso
prometeu incorporar ao capital social;
II – os sócios poderão:
a) por decisão da maioria, excluir o sócio remisso, mediante a
liquidação das quotas por ele já realizadas e a redução proporcional
do capital social, ou reduzir o número de quotas do sócio remisso
ao montante já realizado, reduzindo proporcionalmente o capital
social;
b) tomar para si as quotas do sócio inadimplente ou transferi-las a
terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que
houver pagado, deduzidos dos juros de mora, de outras prestações
ou danos assumidos pela sociedade em virtude da inadimplência e
das despesas realizadas com a cobrança do pagamento necessário
à integralização do capital.

Segundo o art. 1.052 do Código Civil, a responsabilidade dos sócios é restrita ao


valor de suas quotas, porém todos respondem solidariamente pela integralização do
capital. Com efeito, o referido dispositivo estabelece regra da solidariedade dos sócios pela
integralização do capital social, não apenas no de falência, como na vigência do Decreto
nº 3.708/19. Funda-se tal regra no princípio da integridade do capital social, já que esse
é a garantia em primeiro plano dos credores.
Desse modo, cada sócio, em regra, continua respondendo perante a sociedade
apenas pela integralização das quotas subscritas. Entretanto todos os sócios responderão
solidariamente perante terceiros até o montante do valor do capital social total, enquanto
esse não estiver totalmente integralizado.43 Uma vez integralizado o capital social, não há
qualquer obrigação dos sócios de aportar mais recursos na sociedade.
Conforme estipulado no art. 1.055, a integralização do capital social deverá provir
de aporte de dinheiro ou bens, sejam eles móveis ou imóveis, tangíveis ou intangíveis.
Quando integralizado por meio de bens, os sócios responderão solidariamente, pelo prazo

43
“Note-se que o limite da responsabilidade do sócio no Código Civil de 2002 permanece o mesmo: o valor do
total do capital social. Porém, ampliam-se os casos em que os sócios podem ser chamados a responder
solidariamente pela integralização do capital”. CARVALHOSA, Modesto. Apud Comentários ao Código Civil: parte
especial: Do Direito de Empresa (artigos 1.052 a 1.195). AZEVEDO, Antônio Junqueira de (Coord.). V. 13. São
Paulo: Saraiva, 2003. p. 14.

Direito Societário - LTDA


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de cinco anos do registro da sociedade, pela exata estimação dos bens conferidos ao capital
social (art. 1.055, § 1º).
Isso porque, quando se lhe atribui valor diverso do seu valor real, considera-se tal
como se não tivesse sido totalmente integralizado o capital social. Por conseguinte, todos
os sócios responderão solidariamente por essa diferença, ou seja, pelo montante que faltar
(na maioria dos casos) para que se estabeleça a integridade e a consistência do capital
social.44

2.2.1.5 Contribuição em bens, créditos ou serviços


O Código Civil e a LSA facultam aos quotistas e acionistas, respectivamente, que
a sua contribuição seja efetuada mediante a transferência de bens do seu patrimônio para
o da sociedade. Essa permissão legal é muito útil e, em diversos momentos, imprescindível
para a consecução do objeto social da sociedade,45 como nos casos em que o imóvel está
estrategicamente localizado ou uma patente é essencial para aquela atividade empresarial.
Cumpre notar que, ao contrário da Lei nº 6.404/76,46 o Código Civil de 2002 não
regulou47 a integralização do capital em bens nas sociedades limitadas. Destarte, com o
objetivo de evitar fraudes, o Código Civil estabelece uma sistemática de responsabilização
solidária pelo prazo de cinco anos de todos os sócios pela exata estimação do bem conferido
à formação ou aumento do capital por qualquer sócio (art. 1.055, § 1º).48
Com efeito, a forma normalmente empregada na contribuição para o capital social
em bens – corpóreos ou incorpóreos – será a transferência da propriedade do bem para a
sociedade. Contudo, nada impede que essa contribuição se realize de formas diversas, sem
implicar a alienação da propriedade do bem em questão, como na constituição de usufruto.
Cumpre observar que, segundo o artigo 1005 do Código Civil, o sócio que transmitir o
domínio, posse ou uso de bem à sociedade responde pela evicção.

Para os subscritores, a Lei49 fez questão de esclarecer que a sua responsabilidade


é idêntica à de um vendedor, estando eles sujeitos às obrigações previstas no Código Civil,
incluindo a responsabilidade pela evicção dos bens e vícios ocultos (redibitórios).

Cumpre ressaltar que, segundo o art. 117, letra “h”, da LSA, a transferência de
bens estranhos ao objeto social da companhia pelo acionista controlador é modalidade de
exercício abusivo de poder. Na sociedade limitada, também entendemos que os bens
transferidos ao capital social deverão possuir conexão com a atividade desenvolvida pela
sociedade, ou seja, deverão ser úteis à consecução de seu objeto social.

Os bens incorpóreos deverão ser objeto de avaliação, mesmo na sociedade limitada,


pois deverá ser aferido o seu valor. Como se sabe, definir quanto vale uma marca ou uma
patente é tarefa árdua e existem sociedades especializadas que deverão avalizar o

44
Para referências jurisprudenciais sobre as responsabilidades dos sócios, consultar: COELHO, Fábio Ulhoa. A
Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 12-18.
45
CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil: parte especial: Do Direito de Empresa (artigos 1.052 a
1.195). AZEVEDO, Antônio Junqueira de (Coord.). V. 13. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 123.
46
Ver artigo 89 da LSA. Há necessidade de avaliação por peritos e prévia aprovação da Assembleia. (artigo 8 e
122, VI, ambos da LSA).
47
Deverá ser levado em consideração o artigo 35, Inciso VII, Alíneas “a” e “b”, da Lei nº 8.934/94.
48
Cabe ressaltar que apesar de a redação do artigo fazer referência apenas à “data do registro da sociedade”
como termo inicial da contagem do prazo de 05 anos mencionado, dando a entender, a princípio, que se trataria
apenas da hipótese de constituição da sociedade, a responsabilidade solidária dos sócios pela exata avaliação do
bem conferido ao capital social também se estende às hipóteses de aumento de capital.
49
Art. 10, caput, LSA. “A responsabilidade civil dos subscritores ou acionistas que contribuírem com bens para a
formação do capital social será idêntica à do vendedor. [...]”

Direito Societário - LTDA


19

conteúdo econômico destes bens imateriais. Além disso, se for utilizada marca ou patente
para integralização do capital social, deverá ser verificada a própria, utilizada para aquela
determinada sociedade. Por fim, há necessidade de ser realizada a averbação no INPI.
Adicionalmente, também é permitido que os sócios transfiram créditos às
sociedades. Nessa hipótese, ao contrário do que ocorre em cessões de crédito, nas quais
o alienante responde tão somente pela existência do crédito, 50 no caso de contribuição
para o capital social, o sócio fica responsável não apenas pela existência do crédito, mas
também pela solvência do credor.51
Cumpre notar que qualquer cláusula que afaste essas responsabilidades é nula.
Apesar da regra geral forçada no artigo 108 do Código Civil,52 a escritura pública não será
necessária para formalizar esse tipo de transferência de bens imóveis – do sócio para a
sociedade –, vez que há previsão expressa em legislação especial. Trata-se da Lei nº
6015/73 que regula os registros públicos, que em seu artigo 167, I, nº 32 53,54 afasta a
necessidade de escritura pública para esse fim. É título hábil para o registro do instrumento
particular que formalize a integralização do bem à sociedade. É necessário, porém, a
descrição específica dos bens que serão integralizados, em atenção ao princípio da
especialidade. Ressaltamos, ainda, que tal transferência não ocorre a incidência do ITBI
(imposto de transmissão de bens imóveis), por força dos artigos 36 e 37 do Código
Tributário Nacional. In verbis:

Art. 36. Ressalvado o disposto no artigo seguinte, o imposto não


incide sobre a transmissão dos bens ou direitos referidos no artigo
anterior:
I - quando efetuada para sua incorporação ao patrimônio de
pessoa jurídica em pagamento de capital nela subscrito;
II - quando decorrente da incorporação ou da fusão de uma
pessoa jurídica por outra ou com outra.
Parágrafo único. O imposto não incide sobre a transmissão aos
mesmos alienantes, dos bens e direitos adquiridos na forma do
inciso I deste artigo, em decorrência da sua desincorporação do
patrimônio da pessoa jurídica a que foram conferidos.

Art. 37. O disposto no artigo anterior não se aplica quando a pessoa


jurídica adquirente tenha como atividade preponderante a venda ou
locação de propriedade imobiliária ou a cessão de direitos relativos
à sua aquisição.
§ 1º Considera-se caracterizada a atividade preponderante
referida neste artigo quando mais de 50% (cinquenta por cento) da
receita operacional da pessoa jurídica adquirente, nos 2 (dois) anos

50
Art. 295, Código Civil.
51
Art. 1.005 c/c/997, III do Código Civil e art. 10 da LSA.
52
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
53
Vide, ainda, o artigo 35, Inciso VII, Alíneas “a” e “b”, da Lei 8.934/94.
54
Art. 167 - No Registro de Imóveis, além da matrícula, serão feitos. (Renumerado do art. 168 com nova
redação pela Lei nº 6.216, de 1975).
I - o registro: (Redação dada pela Lei nº 6.216, de 1975).
32) da transferência, de imóvel a sociedade, quando integrar quota social;

Direito Societário - LTDA


20

anteriores e nos 2 (dois) anos subsequentes à aquisição, decorrer


de transações mencionadas neste artigo.
§ 2º Se a pessoa jurídica adquirente iniciar suas atividades
após a aquisição, ou menos de 2 (dois) anos antes dela, apurar-se-
á a preponderância referida no parágrafo anterior levando em conta
os 3 (três) primeiros anos seguintes à data da aquisição.
§ 3º Verificada a preponderância referida neste artigo, tornar-
se-á devido o imposto, nos termos da lei vigente à data da
aquisição, sobre o valor do bem ou direito nessa data.
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica à transmissão de
bens ou direitos, quando realizada em conjunto com a da totalidade
do patrimônio da pessoa jurídica alienante.

O Superior Tribunal de Justiça, corretamente, no julgamento dos Embargos de


Declaração opostos no REsp 1027799, manifestou entendimento de que não incide imposto
de renda na integralização de capital social em bens, quando os bens são conferidos à
sociedade por seu valor contábil, conforme se observa do seguinte julgado:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. CONTRADIÇÃO
CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE FÁTICA ENTRE OS
PRECEDENTES QUE FUNDAMENTARAM O PROVIMENTO DO
RECURSO ESPECIAL E O CASO CONCRETO. OPERAÇÃO DE
INTEGRALIZAÇÃO DE AUMENTO DE CAPITAL SOCIAL DE EMPRESA
PELA EMBARGANTE. REPASSE DE AÇÕES DE OUTRA PESSOA
JURÍDICA. VALOR CONTÁBIL. NÃO INCIDÊNCIA DE IRPJ E CSLL.
EMBARGOS DECLARATÓRIOS PARCIALMENTE ACOLHIDOS, COM
EFEITOS MODIFICATIVOS.

1. (...) 2. Objeto principal da lide que consiste em saber se a


conferência, pela ora embargante, de ações de sua propriedade em
empresa coligada ou controlada, sobre as quais foi constituída
reserva de reavaliação, para integralizar capital social de uma
terceira empresa configura alienação capaz de dar ensejo à
incidência de IRPJ e CSLL, naquele exercício, sob o prisma da
geração, por tal operação, de disponibilidade econômica e jurídica
de lucro (interpretação dos artigos 263, § 2º, do RIR/80,
equivalente ao 24 do Decreto-lei 1.598/77 e artigo 43 do CTN).
3. Ocorrência de mera substituição de participação da embargante
de forma direta na empresa cujas ações foram utilizadas para
integralizar capital social de outra, por participação indireta, ainda
permanecendo as ações em seu patrimônio, na mesma proporção
da participação que detinha anteriormente, porquanto ficou
registrado pelas instâncias a quo que a conferência dos bens (ações)
para a integralização do capital em nova empresa se deu pelo
mesmo valor contábil.

Direito Societário - LTDA


21

4. Operação não sujeita à incidência do IRPJ e CSLL por não ter


gerado à embargante aumento na participação dos resultados da
empresa na qual investiu e, portanto, acréscimo patrimonial.
5. Embargos de declaração parcialmente acolhidos, com efeitos
modificativos, para sanar a contradição apontada e, por
consequência, submeter a novo julgamento o recurso especial, do
qual conheço parcialmente e, nessa parte, nego-lhe provimento.
(EDcl no REsp 1027799/CE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/11/2008, DJe 19/11/2008).

Quanto à contribuição em serviços, para as sociedades limitadas existe vedação


expressa, como já mencionado. Importante salientar que, nas sociedades simples, a regra
é que os serviços prestados devem ser afetos à atividade empresarial. Não podem, salvo
convenção expressa em contrário, ser empregados em atividades estranhas à empresa.

2.2.1.6 Empréstimos dos sócios e subcapitalização


Apesar de encontrarmos algumas exceções, 55 podemos afirmar que não há, no
direito pátrio, um controle efetivo da realidade do capital social que pudesse obrigar os
sócios de uma sociedade a recapitalizarem a empresa sempre que haja necessidade.
Por outro lado, Fran Martins56 defende que a lei, ao estabelecer que os sócios são
responsáveis pelo montante do capital social, estaria exigindo dos sócios uma obrigação
de recapitalizar a empresa sempre que o seu capital social seja insuficiente para pagar os
compromissos assumidos pela sociedade. Nesse passo, defendem alguns autores, que
seria caso de desconsideração da personalidade jurídica a subcapitalização de sociedades,
que se manifesta quando o seu capital é evidentemente insuficiente para o exercício da
atividade empresarial.
Com respeito ao tema, José Luiz Bulhões Pedreira discorre sobre a questão com
fundamento no direito comparado: 57

[...] em sistemas jurídicos estrangeiros observa-se a tendência para


configurar como abuso da personificação jurídica e do crédito a
constituição ou o funcionamento da companhia com volume de
capital próprio evidentemente insuficiente para seus negócios ou
com grau de endividamento temerário. Essa insuficiência de capital
próprio é invocada como justificativa para excluir da
responsabilidade dos acionistas pelas dívidas da sociedade.

Confirmando essa posição, Fábio Konder Comparato apresenta o posicionamento


dos tribunais norte-americanos:58

55
Seria o caso das companhias seguradoras que têm de manter determinada reserva técnica de acordo com os
riscos segurados e com as estatísticas que permitem um cálculo probabilístico da ocorrência de sinistros.
56
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro: Forense, 1991. p. 304. Apud PANTOJA, Teresa
Cristina G. Anotações sobre as pessoas jurídicas. In: A Parte Geral do Novo Código Civil: Estudos na Perspectiva
Civil-Constitucional. TEPEDINO, Gustavo (Coord.). 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 95.
57
PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Noções de Economia e Finanças para Advogados. In: Instituto de Estudos de
Direito da Economia – IEDE. Rio de Janeiro: IEDE, 1983. p. 598.
58
COMPARATO, Fábio Konder & SALOMÃO FILHO, Calixto. O poder de controle na sociedade anônima. Rio de
Janeiro: Forense, 2005. p. 451.

Direito Societário - LTDA


22

Nos Estados Unidos, os tribunais fixaram o princípio de que, quando


o capital de uma companhia é manifestamente insuficiente para o
exercício de sua atividade empresarial, o controlador (active
shareholder) não pode opor o princípio da separação patrimonial,
para evitar a execução dos créditos sociais sobre os seus bens, no
caso de insolvabilidade da companhia. A manutenção da exploração
empresarial, nessas condições, representa um risco criado,
deliberadamente, perante terceiros.

Fica claro que a sociedade poderá optar por estabelecer uma proporção de capital
e dívida (equity/debt) para o desenvolvimento da atividade empresarial a que se propõe.
Defende Fábio Ulhoa Coelho que, no caso de recursos obtidos de terceiros pela
companhia, a título de empréstimo, não estariam os sócios sujeitos, nesse particular, a
qualquer responsabilidade em caso de falência da companhia devido à “subcapitalização”.
Por outro lado, se os próprios acionistas tivessem concedido tal empréstimo à companhia,
estaria configurada uma hipótese de subcapitalização, cuja responsabilidade dos sócios
deveria ser averiguada em concreto.
No que tange à responsabilidade do acionista controlador, Fábio Ulhoa Coelho expõe
o seguinte:59

Agora, se a sociedade anônima necessita de recursos para absorver


perdas ou ampliar sua atividade, e os sócios, em vez de prestá-los
a título por capitalização, optam por outra forma, isto é, emprestam
dinheiro para a sociedade ou subscrevem instrumentos de
securitização (debêntures ou commercial paper), então se
configura, nessa situação particular, uma forma de subcapitalização,
em que é cabível pesquisar a responsabilidade do acionista, em
especial do controlador, pelas obrigações sociais; quer dizer,
quando os recursos provenientes do capital social são insuficientes,
ou a companhia os perde, questiona-se se, nesse caso específico,
seria lícito ao sócio prestar os recursos faltantes, na condição de
credor (mutuante ou debenturista), ou se existiria algo como um
dever de capitalizar a companhia.

Por conseguinte, no Brasil, o acionista ou quotista não responde pela


subcapitalização da sociedade, já que a sua responsabilidade está limitada ao capital social
ou ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas, respectivamente. Além disso,
não há, também no direito pátrio, qualquer restrição às contribuições dos sócios mediante
empréstimo.

2.2.2 As mutações do capital social e a participação nos lucros e nas


perdas
Nos itens a seguir serão abordados os eventos próprios que implicam nas
mutações do capital social, tendo em vista o princípio da fixidez estudo anteriormente. Da

59
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. V. II. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 174.

Direito Societário - LTDA


23

mesma forma, considerando a exposição anteriormente feita sobre o princípio da


intangibilidade, a distribuição de lucros da sociedade limitada aos sócios será analisada.

2.2.2.1 Aumento do capital social


Durante a existência da sociedade, os sócios ou administradores podem julgar ser
necessário um aporte adicional de recursos para financiar as atividades da sociedade.
Conforme destacado anteriormente, uma opção para angariar esses novos recursos é
realizar um aumento do capital social. Esse aumento pode ser realizado por novas
contribuições de sócios para a sociedade, ou ainda, pelo aproveitamento de recursos da
própria sociedade, ou seja, em reservas ou lucros acumulados que os sócios deliberam
incorporar ao capital. Esses lucros e reservas foram gerados pela própria sociedade e
poderiam ter sido distribuídos. Caso os sócios optem por incorporar tais valores ao capital
social, esses, sem qualquer desembolso, recebem novas cotas, proporcionais a sua
participação no capital. Essas cotas, assim recebidas, são chamadas de bonificações.
O capital social, que é um valor formal e estático, constitui um fundo de atuação
destinado à atividade social, somente modificável por um ato também formal. O aumento
do capital significa a elevação desse fundo e corresponde, fundamentalmente, às hipóteses
de subscrição ou de incorporação da reserva de lucros. Na subscrição, como vimos,
ingressam novos recursos ou bens na sociedade, que lhe são transferidos pelos
subscritores; na incorporação de reservas e lucros, são recursos da própria sociedade que
passam a integrar a conta de capital.
Nas sociedades limitadas, para que se evite a diluição da participação dos sócios na
sociedade, é assegurado o direito de preferência na subscrição de novas quotas para
aumento do capital social (ou por meio do aumento do valor nominal de cada quota), como
preveem os parágrafos do artigo 1081.60 Assim, até trinta dias após a deliberação que
aprovar o aumento do capital social, terão os sócios preferência para o aumento na
proporção de seus quinhões societários. Esse direito de preferência é um direito patrimonial
que pode ser cedido, aplicando-se as mesmas regras da cessão de quotas.
A decisão de aumentar o capital social somente pode ser tomada se o capital
previsto inicialmente já estiver totalmente integralizado.61
Nas sociedades limitadas, qualquer alteração do capital social deve ser realizada
por intermédio de uma alteração no contrato social. O art. 1071, V do Código Civil
estabelece que qualquer alteração no contrato social depende de anterior deliberação da
assembleia ou reunião de sócios, conforme for o caso. Deve-se ressaltar que, para
alteração do capital, é preciso o quórum qualificado de, pelo menos, 3/4 da participação
societária, segundo o artigo 1076, I do mesmo diploma. Ainda, deve a modificação ser
averbada no Registro competente (Registro Público de Empresas Mercantis), juntamente à
ata da assembleia que autorizar o aumento ou redução.
No caso de redução do capital, se restituirá parte do valor das quotas aos sócios
ou se dispensarão prestações ainda devidas, com diminuição proporcional, em ambos os
casos, do valor nominal das quotas. Entretanto, para eficácia da alteração que diminua o
capital, é preciso o transcurso do prazo de 90 dias da data da publicação da ata da
assembleia que aprovar a redução. Isso porque terão os credores quirografários, por título
líquido anterior a essa data, que se opor a essa deliberação. Entretanto, poderá a sociedade

60
O Art. 171 da LSA prevê o mesmo direito de preferência na subscrição de novas ações em aumento de capital
para os acionistas de sociedades por ações.
61
Art. 1.081 do Código Civil.

Direito Societário - LTDA


24

pagar a dívida ou depositar judicialmente o valor, garantindo, assim, a solvência. Tal


previsão se dá pela diminuição da garantia do credor quando da redução do capital social.

2.2.2.2 Redução do capital social


Da mesma forma que em algumas situações será necessário um aumento do
capital, certas circunstâncias exigirão uma redução do mesmo. Duas causas de redução do
capital são alinhadas pelo legislador, uma fundada no excesso do capital e outra no caso
de haver perdas irreparáveis após a integralização do capital social. Ambas as hipótese
estão sujeitas à aprovação assemblear.62
O excesso no capital traduziria uma situação na qual a cifra referente ao capital
social não guarda correlação com as reais necessidades do objeto social desenvolvido.
Nessa hipótese, deve-se proceder com a restituição de parte do valor das quotas aos
sócios, ou dispensa-se de eventuais prestações devidas (art. 1084 do CC). Como vimos, a
redução nesse caso não poderá ser feita em prejuízo ao direito de terceiros, principalmente
dos credores que não desfrutam de qualquer garantia ou privilégio, os chamados
quirografários. Desse modo, os quirografários com título anterior à data de publicação da
ata da assembleia que autorizou a diminuição do capital, podem, em 90 dias da publicação,
opor-se a essa redução. Assim, é condição de eficácia da decisão a não impugnação ou
prova de quitação de dívida do credor que impugnou. E é o órgão responsável pelo registro
do contrato social alterado que fiscalizará essas condições, segundo os artigos 1.152 e
1.153 do Código Civil.
No caso de perdas irreparáveis, que comprometam sensivelmente o capital social,
a redução se fará proporcionalmente à participação de cada sócio, de modo a evitar que a
participação de cada um seja afetada, conforme prevê o artigo 1083 do Código Civil. Cabe
destacar que nessa hipótese de redução do capital, não há a possibilidade de oposição dos
credores quirografários. Isso porque essa redução apenas é realizada para refletir grandes
perdas já verificadas pela sociedade. A irrealidade exprimiria um capital superior ao
patrimônio da sociedade que, sendo deficitária, passara a ter um capital sem
correspondência patrimonial. Assim, a menor proteção conferida ao credor quirografário
decorre do fato de ser uma redução do capital para adequá-lo à realidade financeira da
sociedade após graves perdas e não meramente um ato discricionário dos sócios, como na
outra hipótese de redução.

2.2.2.3 Participação dos sócios nos lucros e perdas


Como já analisado anteriormente, uma das características principais das
sociedades limitadas, se não a principal, é que os seus sócios possuem responsabilidade
limitada em relação às obrigações assumidas pelas sociedades, respondendo
solidariamente somente pela integralização do capital social. Nesse sentido, o art. 1.008
dispõe que “é nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos
lucros e das perdas”.
Contudo, vale ressaltar que é possível que se atribuam pesos diferentes, para
fins de distribuição de resultados, à participação do sócio no capital e na repartição dos
lucros. Trata-se de uma ferramenta muito utilizada na prática empresarial – a chamada
distribuição desproporcional de dividendos.
Exemplificativamente, os sócios podem acordar no contrato social, em acordo

62
Em Assembleia Geral ou reunião, conforme o previsto no contrato social, e pelo quórum de aprovação de ¾ do
capital social, segundo artigo 1076, I c/c 1071, V.

Direito Societário - LTDA


25

de sócios ou até mesmo em sede de uma assembleia geral que um sócio X, titular de
apenas 10% do capital social da sociedade faça jus a participação nos lucros na ordem de
90%, cabendo aos demais sócios a partilha do saldo dos dividendos.

2.2.2.4 Distribuição de lucros inexistentes


Os sócios estão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a
qualquer título, mesmo que o contrato tenha autorizado tal procedimento, quando tais
lucros ou quantias forem pagos com prejuízo ao capital social realizado (art. 1.059 do CC).
No mesmo sentido, deve-se destacar o artigo 1.009 do Código Civil e o artigo 200 da LSA
que, ao tratarem da sociedade simples e da sociedade por ações, respectivamente,
estabelecem a responsabilização solidária entre administradores e fiscais da sociedade que
distribuir dividendos aos seus acionistas sem observância dos critérios estabelecidos no
mesmo artigo. Há, ainda, a obrigação de repor ao caixa da companhia aquelas quantias
distribuídas indevidamente, sem prejuízo da ação penal cabível.63,64 O fundamento é, mais
uma vez, preservar a integridade e a intangibilidade do capital social. Como já afirmado,
o capital social é a garantia, por excelência, dos credores da sociedade, razão pela qual
somente poderá ser reduzido nos casos e na forma previstos em lei.

2.2.3 Sociedade limitada e a Lei nº 11.638/07


Em dezembro de 2007 foi sancionada a Lei nº 11.638, que altera e revoga alguns
dispositivos das Leis nº 6.404/76 e nº 6.385/76. O diploma legal em questão estende às
sociedades de grande porte, disposições relativas à escrituração, elaboração de
demonstrações financeiras. A lei considera como sendo de grande porte as sociedades que
possuem ativo total superior a R$240.000.000,00 ou receita bruta anual superior a
R$300.000.000,00.65
Desde então, vem se pacificando o entendimento de que realmente há a
obrigatoriedade de que as sociedades limitadas de grande porte sigam as regras relativas
à escrituração e elaboração das demonstrações financeiras previstas na Lei nº 6.404/76.
Por outro lado, instaurou-se grande debate acerca da obrigatoriedade de publicação dessas
demonstrações financeiras.66
Isto porque, apesar de a redação do destacado artigo 3º da Lei nº 11.638/07 não
fazer menção expressa à exigência das sociedades consideradas como de grande parte,

63
De acordo com o artigo 177, § 1º, VI do Código Penal, a distribuição de dividendos fictícios constitui uma
modalidade de fraude, punível com a pena de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
64
Contudo, cumpre notar que os acionistas não são obrigados a restituir os dividendos que em boa-fé tenham
recebido (art. 201, § 2º, LSA).
65
Lei nº 11.638/07: “Art. 3o Aplicam-se às sociedades de grande porte, ainda que não constituídas sob
a forma de sociedades por ações, as disposições da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sobre
escrituração e elaboração de demonstrações financeiras e a obrigatoriedade de auditoria independente por
auditor registrado na Comissão de Valores Mobiliários.
Parágrafo único. Considera-se de grande porte, para os fins exclusivos desta Lei, a sociedade ou conjunto de
sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social anterior, ativo total superior a R$ 240.000.000,00
(duzentos e quarenta milhões de reais) ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões
de reais)”.
66
Segundo notícia vinculada no jornal Valor Econômico de 22 de janeiro de 2009, a juíza da 25ª Vara Federal
deferiu um pedido de liminar suspendendo a aplicação do item 07 da Nota Técnica nº 99 de 2008 do DNRC, a
qual considerava facultativa a publicação das demonstrações financeiras elaboradas por sociedades de grande
porte que não eram constituídas como sociedade por ações. Contudo, segundo notícia vinculado no mesmo jornal
em 13 de fevereiro de 2009 a Sexta Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, em São Paulo,
suspendeu essa mesma liminar.

Direito Societário - LTDA


26

independentemente do tipo societário adotado, de publicação das demonstrações, apenas


tratando de sua escrituração e elaboração, existem opiniões em ambos os sentidos. 67
A questão promete ainda muita polêmica, principalmente pelo fato de que muitas
sociedades, até aqui, optaram por esse tipo societário justamente pelo seu interesse em
não tornar públicas as suas demonstrações, como no caso das grandes multinacionais.
Ainda, deve-se ter em mente que a necessidade de publicação das demonstrações
financeiras implica um pesado custo burocrático para as sociedades que tem que cumprir
essa exigência legal.

2.3 RELAÇÕES INTERNAS NA SOCIEDADE LIMITADA

2.3.1 Acordo de Quotistas


O acordo de sócios, é um negócio jurídico celebrado por dois ou mais sócios,
pessoas naturais ou jurídicas, que tem por finalidade estabelecer normas de caráter político
junto à sociedade (v.g., exercício do direito de voto) ou patrimonial (v.g., constituição de
ônus ou transferência de quotas).
Não é obrigatório que todos os sócios da limitada celebrem o mesmo acordo,
podendo existir mais de um no âmbito da sociedade, celebrado por grupos de sócios
distintos. É usual que se disponha que eventuais novos sócios, que assumam essa condição
em decorrência da aquisição de quotas vinculadas, deverão aderir ao respectivo acordo,
mediante a assinatura de um termo de adesão ou, eventualmente, por meio da celebração
de um aditamento. Nos casos em que um único acordo é celebrado por todos os sócios da
limitada, pode-se dispor que a mesma providência seja exigida, inclusive, daqueles que
venham a subscrever novas quotas criadas pela sociedade.
Adicionalmente, a boa prática das relações societárias tornou usual que a própria
sociedade comparecesse à celebração do acordo, na qualidade de interveniente, ainda que
esse não seja um requisito essencial. Isso porque, com a interveniência, pode-se consignar
expressamente que a sociedade recebeu uma via do acordo para arquivamento em sua
sede, tem integral conhecimento de suas disposições e que fará com que seus
administradores as observem68.
Ao contrário da Lei das S.A. que reservou toda a sua Seção V para regular os
acordos de acionistas, o Código Civil dispôs de maneira sucinta sobre os acordos entre
sócios, reservando-se a tratar, no parágrafo único do art. 997, concernente às sociedades
simples, que “é ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao
disposto no instrumento do contrato.”
Não obstante essa omissão legislativa, a prática evidencia que acordos paralelos ao
contrato social constituem instrumentos frequentemente utilizados para regular as

67
A favor da publicação das demonstrações financeiras podemos destacar Modesto Carvalhosa, (Disponível em:
<www.valor.com.br> em 21 de janeiro de 2008); e Maria Lúcia de A. P. Silva; Thiago Giantomassi (Disponível
em: <www.valor.com.br> em 08 de janeiro de 2008). Defendendo não haver exigência de publicação, podemos
mencionar: Fábio Ulhoa Coelho (Disponível em: <www.valor.com.br> em 22 de janeiro de 2008); e MUSSNICH,
Francisco A. M.; PERES, Fábio Henrique. Breves Considerações sobre Elaboração e Publicação de Demonstrações
Financeiras por Sociedades de Grande Porte à luz da Lei nº 11.638/07. In: Direito Tributário, Societário e a
Reforma da Lei das S/A: Inovações da Lei 11.638. São Paulo: Quartier Latin, 2008. pp. 121 - 131.
68
Nesse sentido, a LSA prevê que a observância pelas companhias decorre do arquivamento em sua sede, e não
de sua interveniência. Nesse sentido: “Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de suas ações,
preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de controle deverão ser observados pela
companhia quando arquivados na sua sede. (...)” A aplicação das normas das sociedades por ações às limitadas
será discutido adiante.

Direito Societário - LTDA


27

relações entre sócios. Portanto, é de extrema relevância avaliar quais dispositivos legais
se aplicam aos acordos de sócios nas sociedades limitadas.
Inicialmente, cabe ressaltar que, enquanto contrato, o acordo de sócios submete-
se às regras aplicáveis a este tipo de negócio jurídico, isto é, às regras gerais das
obrigações e dos contratos. Por exemplo, para que seja válido é necessário que (i) as
partes sejam capazes; (ii) seu objeto seja lícito, possível, determinado ou determinável; e
(iii) adote forma prescrita ou não defesa em lei.
Ainda, diante da leitura do art. 1.053 do Código Civil tem-se que nas omissões do
Capítulo IV do Código Civil, que é dedicado às sociedades limitadas, aplicam-se
subsidiariamente as normas da sociedade simples e supletivamente as normas da
sociedade anônima, nesse último caso desde que haja cláusula expressa69.
Marcelo M. Bertoldi70 vai além e entende que as normas da Lei das S.A. atinentes
ao acordo de acionistas aplicam-se indistintamente às sociedades limitadas, tendo elas
adotado a regência subsidiária ou supletiva. Nesse sentido:

[A] sujeição da sociedade limitada à Lei nº 6.404/76 não se dá


somente quando assim disciplinar o contrato social, mas também
sempre que necessário para a colmatação do sistema legal mediante
sua utilização por analogia, nos termos do art. 4º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro. É o que ocorre com a
disciplina do acordo se sócios na realidade da sociedade limitada (o
acordo de cotistas), pois tal assunto não é tratado nem pelo capitulo
específico da sociedade limitada, tampouco naquele que trata da
sociedade simples. Assim, não resta alternativa senão, por analogia,
aplicar a disciplina do art. 118 ao acordo de cotistas.

Nesse mesmo sentido, no âmbito da IV Jornada de Direito Civil realizada em 2006


pelo Centro de Estudos Judiciários – CEJ do Conselho da Justiça Federal – CJF, aprovou-se
o Enunciado nº 384: “Nas sociedades personificadas previstas no Código Civil, exceto a
cooperativa, é admissível o acordo de sócios, por aplicação analógica das normas relativas
às sociedades por ações pertinentes ao acordo de acionistas”.
Portanto, é perfeitamente possível que se invoquem as normas de interpretação e
executividade, previstas na Lei das S.A para os acordos de acionistas, aos acordos entre
sócios. No entanto, o intérprete deve ter cautela para identificar se tais disposições não
vão ao encontro da própria natureza e estrutura das sociedades limitadas.
Por exemplo, o registro e transferência de ações de emissão de uma companhia se
dão mediante a lavratura em livro próprio, cuja existência é obrigatória, nos termos dos
incisos I e II do art. 100 da Lei das S.A. Nesse sentido, dispõe o parágrafo primeiro do art.
118 da referida lei que a oponibilidade a terceiros depende da averbação da existência do
acordo nos livros de registro e nos certificados de ações, se houver.
A mesma lógica não se aplica às limitadas, tendo em vista que a criação e cessão
de quotas se dá mediante alteração do próprio contrato social que, ao contrário do que

69
O Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI, responsável pela edição de normas técnicas que
orientam as atividades das Juntas Comerciais, posicionou-se de modo diverso. Conforme o inciso II do item 1.4
do Anexo II da IN DREI nº 38/17, a adoção, pela sociedade limitada, de institutos típicos das sociedades anônimas
(quotas em tesouraria, quotas preferenciais, Conselho de Administração e Conselho Fiscal) acarreta a presunção
de adoção da regência supletiva da Lei nº 6.404/76, nos termos do art. 1.053, parágrafo único do Código Civil.
70
BERTOLDI, Marcelo M. Execução Específica do Acordo de Sócios. In: COELHO, Fabio Ulhoa. (Coord.) Tratado
de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2015. p.374

Direito Societário - LTDA


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ocorre nos estatutos das companhias, é o instrumento em que se deve explicitar quem são
os titulares de participação societária da entidade. A solução análoga seria, portanto, incluir
no contrato social cláusula que indique a existência do acordo, conferindo assim eficácia
perante terceiros.
No entanto, há quem vá além e sustente a necessidade de arquivamento do acordo
de sócios no registro público competente. É o caso de Jorge Lobo 71 ao afirmar que “[p]ara
produzir efeitos perante terceiros, o acordo de sócios deve ser registrado no RPEMAA ou
no RCPJ”.
Cumpre mencionar que há, ainda, quem sequer reconhece a oponibilidade a
terceiros dos acordos de sócios. Assim, defende Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa 72:

Nada impede que os sócios de outros tipos societários venham a


celebrar acordos, entre si, para as mesmas hipóteses acima
mencionada e para outras , nos limites da licitude. No entanto, tais
acordos não poderão contar com eficácia externa perante terceiros
tal como se encontra na Lei das S/A, por faltar, justamente, previsão
legal. Assim sendo, seu inadimplemento gerará tão-somente ações
de indenização por perdas e danos contra a parte que der causa ao
rompimento, cabendo ao autor o ônus da prova em tal sentido, não
se podendo, por exemplo, pleitear a nulidade de voto proferido
contra os termos concertados ou a transferência de ações sem o
oferecimento preferencial ali previsto.

2.3.1.1 Cláusulas de voto


Os acordos com cláusula de voto são aqueles que obrigam que seus signatários
predeterminem seus votos antes da realização da assembleia ou reunião de sócios, por
meio de uma reunião prévia.
É imperioso que os sócios regulem com cautela as disposições dessa cláusula, de
modo que se especifiquem as matérias sujeitas ao voto em bloco; bem como se estruture
um procedimento adequado, suficientemente detalhado, prevendo inclusive critérios de
desempate, para se definir o conteúdo do voto em bloco.
Vale ressaltar que os acordos de voto não podem servir de instrumento para prática
de atos que não visem ao melhor interesse social 73 da limitada, tampouco para eximir o
sócio de sua responsabilidade no exercício do seu direito de voto, ou da sua condição de
detentor de poder de controle na sociedade.

2.3.1.2 Cláusulas de bloqueio


A regra geral prevista no Código Civil, nos termos do art. 1.057, é a de que “[n]a
omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja
sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição
de titulares de mais de um quarto do capital social”. Não obstante, trata-se de uma norma
dispositiva, isto é, que admite convenção em sentido diverso pelos sócios da limitada.

71
LOBO, Jorge. Sociedades Limitadas. V. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 271.
72
VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de Direito Comercial, vol. 2. 2.ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2010. p. 176.
73
Art. 115. O acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia; considerar-se-á abusivo o voto
exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem,
vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia ou para outros
acionistas.

Direito Societário - LTDA


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Nesse sentido, as cláusulas de bloqueio visam regular a composição do quadro de


sócios, por meio da restrição à livre cessão e transferência de quotas pelos seus titulares.
Nos acordos de bloqueio, são usuais as cláusulas que disponham sobre: (i) direito
de preferência e direito de primeira oferta (right of first refusal); (ii) período de restrição
à negociação (lock-up); (iii) direito de venda conjunta (tag along); (iv) direito de exigir a
venda (drag along); (v) opção de venda (put option); (vi) opção de compra (call option);
e (vi) cláusula texana (buy or sell/shotgun clause).

2.3.1.3 Os mecanismos de tag along e drag along nas sociedades limitadas


Dois mecanismos provenientes do direito norte-americano que vieram regular
questões de alienação de participação societária são o tag along e o drag along.
Muito comum em acordos de acionistas de sociedades anônimas, o mecanismo do
tag along74 teve sua primeira menção expressa em nossa legislação na Lei nº 6.404, de
15 de dezembro de 1976 (Lei das Sociedades Anônimas), no seu artigo 254 (revogado pela
Lei nº 9.457/97 e posteriormente reintroduzido pela Lei nº 10.303 na forma do artigo 254-
A). Com ele, o acionista controlador de companhia aberta assume a obrigação de só alienar
suas ações para quem se disponha a adquirir também as ações dos minoritários pelo
mesmo preço ou em percentual desse preço previamente definido.
Embora a lei só preveja esse mecanismo na hipótese de alienação de controle de
companhia aberta, nada impede que sócios, inclusive de sociedades de outros tipos, como
a limitada, convencionem a aplicação desse direito a todas ou a determinada categoria de
sócio.75
Na verdade, sob o ponto de vista econômico, esse instrumento tem por objetivo
distribuir as vantagens decorrentes do controle entre o acionista controlador e aqueles por
ele beneficiados, sendo, ainda, uma forma de restringir a circulação das ações objeto do
acordo, pois a venda das ações para terceiros fica condicionada à venda das ações dos
demais signatários do tag along.
Já sob o ponto de vista legal, trata-se de uma promessa unilateral, pela qual o
controlador de uma sociedade se obriga a vender em conjunto a participação do
minoritário, na hipótese de alienação do controle.
Lembramos, nesse ponto, a questão da movimentação de entrada e saída de sócios
abordada. O Código Civil permite que qualquer dos sócios, sem que seja necessário ouvir
os demais, ceda, parcial ou totalmente, as quotas que detém na sociedade limitada,
ressalvado, no entanto, que sócios representando 25% do capital social podem vetar. Para
alguns doutrinadores, seria a preponderância da característica personalista das sociedades
limitadas.

74
Segundo Perin Junior: “A palavra tag pode ser traduzida como ‘etiqueta’, ‘adesivo’ e como o verbo ‘etiquetar’;
por isso, muitos profissionais têm traduzido tag along como sendo o ‘direito de adesão à venda do controle”,
solução satisfatória sob o ponto de vista jurídico. A expressão tag along deve ser traduzida literalmente, isto é,
por ‘fim conjunto’, com vistas a designar o encerramento da sociedade entre controladores e não controladores
em razão da venda ‘simultânea’ de suas ações”. PERIN JUNIOR, Ecio. A Lei N. 10.303/2001 e a Proteção do
Acionista Minoritário. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 109.
75
Segundo Modesto Carvalhosa: “Trata-se de uma disposição contratual que prevê, no caso de venda das ações
detidas por um ou mais signatários do acordo, para os demais pactuantes, o direito de vendê-las conjuntamente
com aqueles. Essa cláusula pode ter por objeto ações de controle e também ações minoritárias. Trata-se de uma
convenção na qual os signatários do acordo ajustam entre si esse direito de venda conjunta. Os credores da
obrigação serão aqueles acionistas signatários que não participaram do negócio de venda com os terceiros.”
CARVALHOSA, Modesto. Acordo de Acionistas: Homenagem a Celso Barbi Filho. São Paulo: Saraiva, 2011, p.
311.

Direito Societário - LTDA


30

Por conseguinte, pode ser aconselhável, conforme for o caso, estabelecer em


contrato social ou em acordo de sócios a previsão do tag along. Apesar de a elevação do
quórum poder também ser possível, essa medida poderia resultar em uma série de
conflitos, a serem resolvidos de maneira subjetiva. Com a proteção aos minoritários de
uma limitada via tag along, estaria estabelecido um critério objetivo para o caso de venda
de participação pelo majoritário.
O segundo mecanismo utilizado é o drag along. Trata-se de uma opção de venda
em que o credor da obrigação é o controlador, que pode exigir o cumprimento da alienação
das ações dos acionistas minoritários convenientes, sempre nos termos do acordo. 76
Segundo tal mecanismo, se o acionista controlador tem proposta de venda de controle
condicionada à venda das ações dos minoritários, esses têm a obrigação de vender a sua
participação ao proponente pelo preço oferecido ao controlador ou por um percentual desse
valor.
Nessa hipótese, o objetivo é ampliar o número de potenciais interessados na
aquisição da sociedade. Por esse motivo, a inclusão de cláusula de drag along prevista em
acordo de acionistas (ou de quotistas) interessa para aqueles grupos empresariais que não
estão dispostos a conviver com minoritários. Diferentemente do tag along, o mecanismo
de drag along não busca a proteção do minoritário, mas sim permitir a alienação do
controle para terceiro não interessado em manter minoritários na sociedade que deseja
controlar.
Novamente, dependendo da estrutura societária e da participação de cada sócio no
capital social de uma sociedade limitada, o mecanismo de drag along pode ser muito
benéfico, tendo em vista as seguidas ondas de fusões e aquisições.

2.3.1.4. Opções de Venda e de Compra (Put and Call Rights)


Além dos instrumentos já descritos, é muito comum que os sócios estipulem, seja
em acordo de sócios, seja em instrumento próprio, opções de venda e de compra da
participação societária que detêm em determinada sociedade. Trata-se de um contrato
unilateral pelo qual uma das partes confere à outra uma opção de exercer ou não um
direito de compra ou venda, segundo termos e condições mutuamente estabelecidos.
A opção de venda, também conhecida como put right, ocorre quando um sócio tem
o direito de vender a sua participação societária ao outro sócio e este tem obrigação de
comprar, quando por aquele requisitado, e mediante o pagamento de preço pré-fixado. Em
razão de sua natureza, esse direito de venda poderá ser exercido ou não pelo sócio, ao
seu exclusivo critério, ou conforme venha a ser estabelecido contratualmente.
A opção de compra ou call right, por sua vez, pode ser definida como o direito
conferido a determinado sócio de comprar a participação societária de outro, o qual estará
obrigado a vender por preço pré-determinado.

2.3.1.5 A EXECUÇÃO ESPECÍFICA DOS ACORDOS DE SÓCIOS


As sociedades limitadas, que preveem em seus contratos a aplicação subsidiária da
Lei das Sociedades Anônimas, podem recorrer ao acordo de quotistas, 77 o qual terá
validade fundamentada no art. 118 da citada Lei, além de fixar sua oponibilidade perante

76
CARVALHOSA, Modesto. Acordo de Acionistas: Homenagem a Celso Barbi Filho. São Paulo: Saraiva, 2011, p.
316.
77
Enunciado 384 da IV Jornada de Direito Civil do CJF — Nas sociedades personificadas previstas no Código Civil,
exceto a cooperativa, é admissível o acordo de sócios, por aplicação analógica das normas relativas às sociedades
por ações pertinentes ao acordo de acionistas.

Direito Societário - LTDA


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a sociedade e terceiros, uma vez cumpridos os requisitos formais previstos no caput do


art. 118 e parágrafo 1º, ou seja, arquivados na sede e averbados nos livros de registro e
nos certificados das ações.78
No caso das sociedades limitadas, essas não possuem livros de registro, tampouco
certificados, assim, para que o acordo de quotistas tenha validade perante terceiros, é
necessário o arquivamento do documento na Junta Comercial, como documento de
interesse da sociedade.79
Como as obrigações emergentes dos acordos de quotistas são de natureza
contratual e pessoal, pode-se dizer que nasce dessa relação, para os sujeitos de direito,
uma pretensão ao seu cumprimento.
É claro que o cumprimento de uma obrigação pode se dar espontaneamente pelo
obrigado, quando esse age por iniciativa própria ou quando provocado pelo titular do
direito. Contudo, em virtude de algum conflito de interesses, poderá ele deixar de cumprir
voluntariamente tal obrigação contratada.
Dessa forma, voltando ao tema do presente trabalho, é comum que sócios
estabeleçam em acordos particulares direitos e obrigações relativas à entrada e saída de
sócios. Como vimos adrede, mecanismos de tag along e drag along, assim como opções
de compra e de venda, podem ser livremente pactuados entre os sócios de uma sociedade
limitada.
A questão é a efetividade desses direitos na prática quando um dos sócios se recusa
a cumprir determinado acordo. É nesse momento que a possibilidade de execução
específica da obrigação por ele assumida se reveste de importância, principalmente sob a
ótica do investidor interessado em investir em determinada sociedade ou projeto.
Nos termos do caput e parágrafo 3º do artigo 118 da Lei das Sociedades Anônimas,
os acordos de acionistas que regulem a compra e a venda de suas ações ou preferência
para adquiri-las deverão ser observados pela sociedade quando arquivados na sua sede, 80
podendo os seus sócios promover a execução específica das obrigações assumidas, nas
condições nele estabelecidas.
Sob o ponto de vista doutrinário, há uma divisão de pensamentos. A divergência
está em considerar caracterizado ou não o acordo de acionistas como título executivo
extrajudicial hábil para a instrução de ação executiva, conforme previsto no artigo 784, III
do novo Código de Processo Civil. Na verdade, a discussão está na questão da liquidez do
título e na forma prática que garanta a obtenção da prestação da obrigação específica.
Destarte, alguns doutrinadores entendem que o acordo de acionistas pode
perfeitamente preencher todos os requisitos para ser considerado um título executivo:
além de formalmente constituído, é também líquido, certo e exigível.
Por outro lado, outros doutrinadores entendem que a certeza de sua existência e a
determinação de seu objeto dependem da comprovação de fatos e da interpretação de
suas cláusulas, o que poderia retirar a liquidez do título, inviabilizando, assim, a ação de

78
TEIXEIRA, Larissa. Acordo de quotistas. In: Tipos societários. FINKELSTEIN, Maria Eugênia Reis; PROENÇA,
José Marcelo Martins (Coord.). São Paulo: Saraiva, 2009. p. 241.
79
Idem.
80
Como documento de interesse da sociedade, é importante que a opção de compra ou venda de participação
societária, tratada como instrumento contratual em separado, seja arquivada na Junta Comercial competente
para que possa ser oponível perante terceiros e, assim, produzir os seguintes efeitos previstos na Lei de Registro
Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, Lei n. 8.934/1994: “Art. 1º [...] I – dar garantia, publicidade,
autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos ao registro na forma
desta Lei; [...].”

Direito Societário - LTDA


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execução. Ou seja, a certeza da sua existência e a determinação de seu objeto estarão


sempre dependentes da interpretação de cláusulas, verificação de fatos, além da própria
aferição da comprovação de prestações recíprocas e sinalagmáticas, emergentes do
negócio bilateral ou plurilateral em que se consubstancia o acordo entre sócios, do qual
emanam obrigações para todas as partes.
Seguindo essa linha de pensamento, o Superior Tribunal de Justiça vem decidindo
que o contrato que depende da verificação e comprovação de fatos e da interpretação de
suas cláusulas não se presta a título executivo, devendo a parte recorrer à ação de
conhecimento, conforme se verifica na ementa do Acórdão proferido pela sua 3ª Turma,
no julgamento de Recurso Especial nº 39567/MG, Relator Ministro Waldemar Zveiter:

PROCESSUAL CIVIL – TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL –


AUSÊNCIA DE LIQUIDEZ, CERTEZA E EXIGIBILIDADE – Título
executivo extrajudicial, previsto no art. 585, II, do CPC, e o
documento que contem a obrigação incondicionada de pagamento
de quantia determinada (ou entrega de coisa fungível) em
momento certo. Os requisitos da certeza, liquidez e
exigibilidade devem estar ínsitos no título. A apuração de
fatos, a atribuição de responsabilidades, a exegese de
cláusulas contratuais tornam necessário o processo de
conhecimento, e descaracterizam o documento como título
executivo. II – Recurso não conhecido. (Os grifos não são do
original)

Em sentido oposto, entendem alguns processualistas que, quando se trata de


obrigação de fazer e de não fazer, o requisito da liquidez do título fica dispensado, por
entender que essas obrigações são sempre líquidas, em vista de sua natureza. Logo, não
existiria impeditivo, para que se verificasse no acordo de acionistas, o requisito da liquidez
que, reunidos aos requisitos da certeza e da exigibilidade, podem perfeitamente dar ensejo
à ação de execução.
Ainda que superada a questão da caracterização do título executivo, a via executiva
poderá não proporcionar ao credor a tutela específica da obrigação, ou seja, a realização
do direito que lhe foi subtraído, culminando em compensação patrimonial. Isso porque na
ação de execução o juiz determinará que o devedor cumpra com a sua obrigação em um
determinado prazo, sob pena de multa diária. Se ainda assim a obrigação não for
adimplida, não restará outra solução ao credor sócio que não a conversão do pedido em
perdas e danos, nos termos do parágrafo único do artigo 821 do novo Código de Processo
Civil – o que não representará o cumprimento da obrigação inadimplida.
Nada obstante, existe ainda a possibilidade de o titular do direito obter, em sentença
a ser proferida no processo de conhecimento, todos os efeitos do contrato não cumprido,
por meio da supressão da vontade da parte inadimplente pela do magistrado. Desde que
fundamentada, caberá também medida cautelar para que se evite o perecimento do direito
do sócio credor.
Vale ainda ressaltar que, compreendendo o ambiente do nosso Judiciário, no qual
decisões finais de mérito levam décadas, medidas extrajudiciais e preventivas poderão ser
estudadas com o objetivo de dar eficácia ao cumprimento das obrigações relacionadas com
a cessão de participação societária estabelecidas em acordo de quotistas.

Direito Societário - LTDA


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Nesse passo, destacamos a utilização do contrato de depósito, previsto nos artigos


627 e ss., e da procuração com poderes irrevogáveis, nos termos do artigo 684, todos do
Código Civil.

2.3.2 Resolução da sociedade em relação a um sócio (ou dissolução


parcial)
O Código Civil regula uma série de eventos que podem ocorrer no âmbito de uma
sociedade limitada e que implicam a resolução dela em relação a um sócio, isto é, na
extinção parcial do vínculo societário com relação a apenas um sócio, e tão somente a ele,
de modo que aquele subsistirá intacto no que se refere aos demais. O instituto é também
referido na doutrina e em julgados de forma recorrente como dissolução parcial, em que
pese a existência de fundadas críticas com relação à sua atecnia81, ou mesmo a salutar
concordância com à adoção de uma ou outra expressão 82. Abaixo, listam-se tais eventos
com seus dispositivos correlatos:
(i) denúncia unilateral pelo sócio – artigo 1.029;
(ii) recesso de sócio – artigo 1.077;
(iii) morte de sócio – artigo 1.028;
(iv) exclusão de sócio – artigos 1.085 e 1.030;
(v) liquidação de quota – artigos 1.026 e 1.030; e
(vi) falência ou insolvência de sócio – artigo 1.030, parágrafo único.
Avança-se então ao estudo particular das hipóteses de resolução da sociedade
limitada em relação a um sócio, o que deve ser feito pela análise conjunta das disposições
do Código Civil de 2002 e do Código de Processo Civil de 2015.

2.3.2.1 Direito de retirada e recesso de sócio


Quando não deseja mais participar de uma sociedade, um sócio depara-se com duas
alternativas. A primeira seria a cessão de sua participação para algum interessado em
adquiri-la. Passadas as questões comerciais do negócio, assim como superadas as
restrições legais ou contratuais83, formaliza-se a sua saída com a celebração de um
instrumento de alteração contratual e sua averbação no registro público competente.
A segunda alternativa seria o exercício do direito de retirada pelo sócio. Nos dizeres
de Fábio Ulhoa Coelho, “trata-se de direito inerente à titularidade de quotas sociais,
denominado também de recesso ou dissidência”. 84 É o direito do sócio de se retirar da
sociedade por ato unilateral, levando os fundos que somente lhe caberiam em caso de
liquidação. Não há de se falar em negociação, mas apenas em uma imposição à pessoa
jurídica, à sociedade, a qual deverá lhe reembolsar no valor de sua participação societária.
Em relação ao exercício do direito de retirada, a lei conferiu condições distintas para
as sociedades limitadas considerando a sua duração e as normas que regem o seu contrato
social.

81
ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção; TURANO, Allan Nascimento. Op. cit. p. 18.
82
ARRUDA, Pablo Gonçalves e. A dissolução (total e parcial) de sociedade no novo CPC. Migalhas de Peso. Rio de
Janeiro, 2016. Disponível em: < http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI234881,71043-
A+dissolucao+total+e+parcial+de+sociedade+no+novo+CPC>. Acesso em 25 de agosto de 2017.
83
O código Civil consagrou o princípio da liberdade da cessão de quotas na omissão do contrato social. A cessão
a outro sócio é livre e independe de consulta aos demais. Quanto ao não sócio, dependerá da não oposição de
titulares que possuem mais de vinte e cinco por cento do capital social.
84
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 8. ed. V. 2. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 434.

Direito Societário - LTDA


34

Nos termos do artigo 1.029 do Código Civil, em sociedades simples por prazo
indeterminado, qualquer dos sócios pode se retirar bastando, para tanto, aviso prévio de
sessenta dias. Se essa mesma sociedade possuir tempo determinado de duração, os seus
sócios estarão obrigados a se manterem vinculados durante todo o período.
As sociedades limitadas possuem tratamento específico no artigo 1.077 do Código
Civil, que determina nos casos em que, por motivo de discordância quanto à alteração
contratual, incorporação ou fusão deliberadas em reunião, o sócio dissidente poderá
retirar-se da sociedade. Por se tratar de uma regra específica sobre o direito de retirada
nas sociedades limitadas que dispõe de modo diverso do estabelecido no art. 1.029,
referente às sociedades simples, não há que se falar na aplicação supletiva de tal
disposição, mesmo que a sociedade limitada seja regida supletivamente por tais normas. 85
Nas sociedades limitadas regidas supletivamente pelas regras das Sociedades
Anônimas, o recesso é cabível nas mesmas circunstâncias do artigo 1.077, quais sejam,
dissidência quanto à alteração contratual, fusão ou incorporação, independentemente do
prazo de duração. Ao eleger a Lei das Sociedades Anônimas como norma de regência, os
sócios renunciam ao direito de retirada imotivada previsto no artigo 1.029 do Código Civil.
Por essa razão, se fará também necessária a ordem judicial autorizando o seu
desligamento.
Vale a pena destacar que, por trás dessa questão, há um aparente conflito de
dispositivos constitucionais. Neste sentido, alguns autores têm sustentado a existência de
um conflito entre o direito à liberdade de associação, o qual permite qualquer indivíduo se
associar, assim como se desligar de uma associação, com fulcro no art. 5º, XX, da
Constituição da República, com o princípio da manutenção da empresa, especialmente em
razão dos empregos e tributos gerados.
Ressalta-se, ainda, que o Col. Superior Tribunal de Justiça tem entendimento no
sentido de admitir a retirada de sócio de sociedades anônimas fechadas, posicionamento
esse que é aplicável também às sociedades limitadas regidas supletivamente pela Lei das
Sociedades Anônimas, como se observa nos Embargos de Divergência em REsp nº 419.174
– SP, da 2ª Seção do STJ, de relatoria do Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em
28.05.2008, cuja ementa encontra-se a seguir:

COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA FAMILIAR. DISSOLUÇÃO


PARCIAL. INEXISTÊNCIA DE AFFECTIO SOCIETATIS.
POSSIBILIDADE. MATÉRIA PACIFICADA.
I. A 2ª Seção, quando do julgamento do EREsp n. 111.294/PR (Rel.
Min. Castro Filho, por maioria, DJU de 10.09.2007), adotou o
entendimento de que é possível a dissolução de sociedade anônima
familiar quando houver quebra da affectio societatis.
II. Embargos conhecidos e providos, para julgar procedente a ação
de
dissolução parcial.” (Informativo 357, do STJ).

85
Neste sentido: GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de Empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195
do Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 373. Em sentido contrário: COELHO, Fábio Ulhoa.
Curso de Direito Comercial. 8. ed. v. 2. São Paulo: Saraiva, 2005, P. 434-435.

Direito Societário - LTDA


35

2.3.2.2 Morte de sócio


Outro evento que pode ensejar o rompimento do vínculo societário entre a
sociedade e um de seus sócios é o falecimento desse. Nessa hipótese, as quotas do sócio
falecido devem ser apuradas tendo como data-base a data o óbito (art. 605, I do
CPC/2015) e seus haveres pagos a seus herdeiros, o que implica o cancelamento das
quotas do de cujus e a consequente redução do capital social da sociedade.
O art. 1.028 do Código Civil deixa claro que essa é uma regra que admite exceções.
Isso porque o contrato social pode regular de forma diferente esse evento, prevendo, por
exemplo, a dissolução total da sociedade ou, até mesmo, admitindo o ingresso de herdeiros
em substituição ao sócio falecido. Sobre tais exceções, válidas são as lições de Alexandre
Ferreira de Assumpção Alves e Allan Nascimento Turano 86:

Em relação às exceções, a primeira trata-se de matéria sujeita à


autonomia da vontade dos quotistas. Refere-se à possibilidade dos
sócios disporem que a morte não implica necessariamente na
apuração dos haveres do falecido e pagamento aos seus herdeiros.

A segunda consiste na possibilidade dos sócios optarem por


dissolver a sociedade. Essa opção pode tanto ser prévia, operando-
se por meio de previsão no contrato social ou em acordo de
quotistas, quanto posterior, mediante consentimento unânime de
todos os remanescentes. Caso não haja acordo entre todos os sócios
nesse sentido, a sociedade não se dissolve.

Os motivos que levam os sócios a optarem pela dissolução são dos


mais variados. Arnoldo Wald explica que “a dissolução da sociedade
pode acontecer em virtude da imprescindibilidade da prestação
devida pelo sócio morto ou, ainda, em face do montante a ser pago
aos herdeiros”.

Por fim, a terceira refere-se à possibilidade dos sócios sobreviventes


acordarem com os herdeiros, legatários ou cônjuge meeiro do
falecido a sua substituição. Nessa seara, é possível que o substituto
seja até mesmo um terceiro que venha a adquirir a participação
societária.

2.3.2.3 Exclusão de Sócio


O Código Civil de 2002 (artigo 1.058) manteve a única previsão de exclusão de
sócio constante do Decreto nº 3.708/1919 (artigo 7º), pertinente ao sócio remisso. Em
legítima preocupação de proteger a integralidade do capital social, admite-se a exclusão
do sócio na falta de integralização das quotas subscritas.
Inovou a lei civil, entretanto, prevendo a possibilidade de excluir o sócio que tornar
impossível ou colocar em risco a continuidade da empresa, tanto por via contratual, se
preenchidos os requisitos legais (artigo 1.085), quanto por via judicial (artigo 1.030,
ressalvado pelo artigo 1.085).

86
ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção; TURANO, Allan Nascimento. Resolução da Sociedade Limitada em
Relação a um Sócio e a Ação de Dissolução Parcial. Curitiba: Juruá Editora, 2016. p.73.

Direito Societário - LTDA


36

Isto porque, além da reconhecida importância das prestações pecuniárias para o


financiamento das atividades sociais, muitas vezes o caráter intuitu personae, presente em
maior ou menor grau nas limitadas, demandará a estipulação, no contrato social, de
obrigações dos sócios de natureza não patrimonial, as quais, uma vez descumpridas,
podem tornar impossível ou colocar em risco a continuidade da empresa.87
Nesse sentido, foi importante ter o Código Civil disciplinado expressamente a
exclusão de sócio de sociedade limitada por causas justas e não apenas pecuniárias.
Retrocede, todavia, exigindo previsão específica de justa causa para que a exclusão possa
ser efetuada extrajudicialmente. Retrocesso, na medida em que, antes do Código Civil de
2002, a matéria já estava superada, havendo consenso doutrinário e jurisprudencial em
que: (i) não havia necessidade de cláusula expressa no contrato social autorizativa da
exclusão; e (ii) a exclusão somente podia assentar-se em justa causa.88 Quanto a esse
último, positivou a lei o entendimento doutrinário, mas perdeu oportunidade de conceituar
o termo justa causa, razão de ensejo para divergências doutrinárias e, certamente,
jurisprudenciais.
Note-se que a exclusão de sócio poderá ser (i) por justa causa ou por demais causas
previstas em lei, (ii) judicial ou extrajudicial; e (iii) em relação a sócio minoritário ou
majoritário, sendo certo que, com relação a este último, a exclusão será realizada apenas
e tão somente por via judicial.
A exclusão por justa causa e a do sócio remisso será sempre proveniente do
descumprimento de um dever, seja este de natureza patrimonial ou pessoal. Trata-se de
modos de rompimento do vínculo societário exclusivos das sociedades contratuais. Nesse
sentido, Fabio Ulhoa Coelho defende que “a rigor, está-se diante de ato jurídico muito
comum, que é a rescisão do contrato por culpa de uma das partes. Como qualquer
contratante, o sócio da limitada que descumpre as obrigações contratadas 89 dá ensejo à
rescisão do contrato.”90
Nesse contexto, configurada a rescisão de relação contratual por culpa do
contratante, resta inequívoca a impossibilidade de deliberação discricionária dos sócios
remanescentes para exclusão de um sócio que não incorreu em ato culposo. 91 Por outro
lado, as demais hipóteses de exclusão são expressamente estabelecidas pela lei não como
uma punição pelo descumprimento de deveres sociais, mas como medida tutelar de
interesses de terceiros ou mesmo para impedir eventuais prejuízos à sociedade.

2.3.2.3.1. De pleno direito


A atual lei civil estabelece duas hipóteses de exclusão de sócio que se operam de
pleno direito, quais sejam (i) a decretação de falência do sócio (artigo 1.030, § 1º); e (ii)
a liquidação da quota a pedido do credor (artigo 1.030, § 1º).
Primeiramente, vale lembrar que, embora as disposições referentes à expulsão de
pleno direito por falência do sócio e por liquidação a pedido de credor estejam previstas

87
VIEIRA, Paulo Albert Weyland; REIS, Ana Paula de Carvalho. As Sociedades Limitadas no Novo Código Civil –
a Limitação de Contratar. In: Revista de Direito Mercantil Industrial, Econômico e Financeiro. V. 127. São Paulo:
Malheiros Editores, p. 46.
88
LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar,
1996. pp. 735 e 730.
89
É importante ter claro que estas obrigações não necessariamente estarão expressas no contrato social,
podendo, ainda, serem negativas ou positivas.
90
COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 132.
91
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
468.

Direito Societário - LTDA


37

dentre as regras específicas de sociedade simples, aplicam-se a todas as limitadas,


inclusive as regidas supletivamente pela da Lei das S.A., uma vez que, como mencionado,
o artigo 1.030 foi ressalvado pelo artigo 1.085.
As hipóteses mencionadas nesse item são causas de exclusão de sócio de pleno
direito, uma vez que esta é impositiva, opera-se extrajudicialmente e independe da
vontade dos sócios. Nesses casos, a expulsão não tem natureza sancionadora, e tendo em
vista que seu fundamento é a proteção de interesses de terceiros (a massa falida ou credor
do sócio), a sociedade e os demais sócios não podem se negar a efetivá-la.

2.3.2.3.2. Exclusão por justa causa


De acordo com o Código Civil, são duas as hipóteses de exclusão por via
extrajudicial que não se operam de pleno direito, sendo essas a exclusão de sócio
minoritário remisso e por justa causa. Como sobre sócio remisso já discorremos
anteriormente, enfoquemos, de logo, o já referido artigo 1.085, começando pelo caput,
que reúne elementos conceituais do instituto da exclusão, enquanto o parágrafo único
regula o procedimento interna corporis:

Art. 1.085 – Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria


dos sócios, representativa de mais da metade do capital social,
entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a
continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável
gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do
contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa
causa.
Parágrafo único – Ressalvado o caso em que haja apenas dois
sócios na sociedade, a exclusão de um sócio somente poderá ser
determinada em reunião ou assembleia especialmente convocada
para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu
comparecimento e o exercício do direito de defesa. (Grifos nossos)

Nesse diapasão, caso o contrato social admita expressamente a possibilidade de


exclusão do sócio por justa causa, basta que se alcance o quórum mínimo previsto no
caput do artigo 1.085, em assembleia especialmente convocada, resguardando o direito
ao contraditório do sócio faltoso, para que o mesmo seja excluído.
Vale salientar que a exclusão extrajudicial por justa causa se restringe aos sócios
minoritários. Alexandre Ferreira de Assumpção Alves e Allan Nascimento Turano92 explicam
que “[u]ma vez que o sócio não pode deliberar sobre sua própria exclusão, não seria
possível atingir o quórum imposto pelo art. 1.085”.
Dúvida surge, entretanto, com relação à definição do termo justa causa, haja vista
a omissão legal. Fábio Ulhoa Coelho entende que, embora a lei brasileira não explicite, é
possível sustentar que o sócio tem, perante os demais e a própria sociedade, um dever de
lealdade, advindo da noção geral de colaboração para o sucesso do empreendimento
comum.93 Assim, a atitude desleal do sócio, configurada quando “seu comportamento

92
ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção; e TURANO, Allan Nascimento. Op. cit. p. 66.
93
No mesmo sentido: CAMPINHO, Sergio. O Direito de Empresa À Luz do Novo Código Civil. 5. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005. p. 214; e LEÃES, L. G. P. de B. Exclusão extrajudicial de sócio em sociedade por quotas. In:
Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 100, pp.
90-91.

Direito Societário - LTDA


38

prejudica o pleno desenvolvimento da empresa explorada pela sociedade”, por si só enseja


a expulsão por justa causa.94
Também já se manifestou entendimento no sentido de que

[...] a justa causa estaria configurada com o inadimplemento de


qualquer dos deveres dirigidos aos sócios, seja do princípio geral da
contribuição pecuniária, seja das demais obrigações que lhes são
imputadas em decorrência de disposição no contrato social, ou
mesmo de sua posição na sociedade.95

Modesto Carvalhosa, comentando o artigo ora tratado, esclarece:

Deve considerar-se como de inegável gravidade com relação à


sociedade, em primeiro lugar, todo ato de sócio que viole a lei.
Também será ato de natureza grave a violação ou o inadimplemento
contratual que resultar na quebra da affectio societatis, porque põe
em risco o desenvolvimento do escopo comum que é o
desenvolvimento das atividades sociais.96

Além disso, representa ato de inegável gravidade a ação ou omissão de um sócio


que, mesmo sem constituir violação da lei ou do contrato social, provoque grave dissídio
no corpo social, implicando também a quebra do affectio societatis. O rompimento do elo
subjetivo, que é essencial à vinculação dos sócios à sociedade, torna a presença desse
sócio cujos interesses estão desagregados do escopo comum, um risco à harmonia do
corpo social, podendo prejudicar o desempenho dos negócios e a continuidade da empresa.
É, ainda, fundamental verificar se, ao sócio que se deseja excluir, pode ser imputada
a culpa pelo ato eventualmente ensejador da exclusão.
Pelo mesmo caminho, segue José Waldecy Lucena:

Ao de início cumpre fazer uma distinção. Se a discórdia entre os


sócios surge porque um deles obrou em infração da lei ou do
contrato, tornando-se sócio remisso, prevaricador, concorrente
desleal, etc., sua exclusão já encontra em tais atos a ‘causa
justificada/justa causa’ para o ato expulsivo (Cód. de Comércio, art.
339; CC/2002. art. 1.085), sem necessidade de se recorrer à
alegação de desarmonia entre eles, para justificar a exclusão.
A discórdia entre os sócios há assim de resultar não de atos ou fatos
que por si só já autorizam a exclusão, mas sim de atos ou fatos que,
se erigirem independentemente em justa causa para exclusão,
acabam por gerar grave desinteligência entre eles, de tal arte a pelo
menos colocar em risco a realização do objeto social e a consecução

94
COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 129-130.
95
VIEIRA, Paulo Albert Weyland; REIS, Ana Paula de Carvalho. As Sociedades Limitadas no Novo Código Civil –
a Limitação de Contratar. In: Revista de Direito Mercantil Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Malheiros
Editores, v. 127, p. 47.
96
CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil. V. 13. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 313-314.

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do objetivo comum dos sócios, que é o de auferirem e partilharem


um proveito econômico.97

Consta-se, assim, que alguns casos de grave discórdia entre os sócios, ou a quebra
do affectio societatis também são vistos por alguns autores98,99,100,101 como causa
justificada para exclusão extrajudicial de minoritário. Deve-se atentar, porém, como bem
disse Modesto Carvalhosa, para possibilidade de “ser imputada a culpa pelo ato
eventualmente ensejador da exclusão” ao sócio que se deseja excluir. Trata-se de questão
muito delicada, uma vez que a discórdia entre os sócios pode se dar por culpa de ninguém,
ou mesmo por culpa do majoritário. Portanto, devemos ter muita prudência em se tratando
de exclusão extrajudicial por quebra de affectio societatis, de modo a evitar arbitrariedades
por parte da maioria.
Inclusive, vale trazer à colação julgado proferido pela Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça, que não reconheceu o pedido de exclusão fundado tão somente na
quebra da affectio societatis:

CIVIL E COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. DISSOLUÇÃO PARCIAL


DE SOCIEDADE. EXCLUSÃO DE SÓCIO. QUEBRA DA AFFECTIO
SOCIETATIS. INSUFICIÊNCIA.
1. A ausência de decisão sobre o dispositivo legal supostamente
violado, não obstante a interposição de embargos de declaração,
impede o conhecimento do recurso especial. Incidência da Súmula
211/STJ.
2. O reexame de fatos e provas em recurso especial é inadmissível.
3. Deficiência de fundamentação do recurso. Incidência da Súmula
284/STF.
4. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o tribunal de origem
se pronuncia de forma clara e precisa sobre a questão posta nos
autos.
5. Para exclusão judicial de sócio, não basta a alegação de
quebra da affectio societatis, mas a demonstração de justa
causa, ou seja, dos motivos que ocasionaram essa quebra.

97
LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar,
1996. pp. 775-776. O autor exemplifica casos de grave desinteligência entre os sócios que não decorram de
violação da lei ou do contrato social, invocando as causas elencadas por Soares Faria e Priscila Maria Pereira
Corrêa da Fonseca: “mais lembram aquelas determinantes da dissolução da sociedade conjugal” (“A Exclusão de
Sócio da Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada no Direito Brasileiro”, palestra in Sociedades Por
Quotas de Responsabilidade Limitada, 1987, Associação dos Advogados de São Paulo, p. 74). Escreveu Soares
de Faria: “Entre os fatos que justificam a exclusão, se no contrato figurasse o motivo genérico de desacordo entre
os sócios, citam-se, entre outros, os seguintes: a) injúrias proferidas contra outro sócio; b) adultério de um dos
sócios com a mulher do outro; c) maus tratos de um dos sócios com o outro; d) excessiva vigilância da parte de
um dos sócios sobre a contabilidade do outro, ou reciprocamente, os subterfúgios empregados por um sócio para
subtrair-se ao controle dos outros; e) desacordo sobre uma importante iniciativa a ser tomada [...]”; Da Exclusão
de Sócios nas Sociedades de Responsabilidade Ilimitada. São Paulo: Livraria Acadêmica, 1926. p. 26), apud
LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar, 1996.
p. 776.
98
LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar,
1996. pp. 775-779.
99
CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil. V. 13. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 313-314.
100
TEIXEIRA, Egberto Lacerda. Das Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada. São Paulo: Max
Limonad, 1956. p. 275.
101
LEÃES, L. G. P. de B. Exclusão extrajudicial de sócio em sociedade por quotas. In: Revista de Direito Mercantil,
Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 100, p. 95.

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6. Recurso especial a que se nega provimento102. (Grifos nossos)

É importante ter claro que a forma contratual de exclusão de sócio somente se


justifica se fundamentada em ato culposo do sócio, donde se conclui que, se a maioria
societária não quer mais continuar a sociedade com o minoritário cumpridor de seus
deveres, resta-lhe apenas a via de rescisão negociada do contrato social.
Nesse passo, cabe ao sócio minoritário expulso, entendendo que não descumpriu
nenhuma de suas obrigações de sócio, se lhe interessar o reingresso na sociedade,
demonstrar em juízo, em sede de ação desconstitutiva da alteração contratual, a
inexistência de fundamento válido para rescisão do contrato em relação a ele. 103
Nas palavras de Sergio Campinho:

Ao sócio que foi excluído na forma do artigo 1.085, assiste postular


a anulação da alteração contratual, comprovando a ausência de
causa justificadora para sua exclusão. A matéria, portanto, sempre
ficará adstrita ao controle judicial,104 bastando provocação por parte
do minoritário excluído.105

Uma vez deliberada a exclusão, não mais ostenta o sócio excluído legitimidade para
requerer a dissolução total ou parcial da sociedade. Poderá pleitear tanto a anulação da
deliberação social que o excluiu, com eventuais perdas e danos, caso pretenda continuar
na sociedade, como, se não satisfeito com o valor atribuído a seus haveres, a correta
apuração destes, com perdas e danos acaso ocorrentes, se não mais desejar integrar o
quadro social.106
Voltando aos requisitos de validade da exclusão extrajudicial, cumpre ressaltar a
obrigatoriedade da previsão expressa, no contrato social, da possibilidade de exclusão por
justa causa. Embora se possa considerar retrocesso ou formalismo excessivo, o sócio
saberá desde o seu ingresso na sociedade sobre a possibilidade de tal exclusão. Entende-
se que a cláusula pode ser genérica, sem necessidade de explicitar as situações nas quais
será aplicada a exclusão.107
Com relação à realização de reunião ou assembleia de sócios especialmente
convocada para esse fim, cabe salientar a importância da concessão do devido
contraditório ao sócio, com vistas a evitar arbitrariedades pela maioria 108. Além disso,
devemos observar que houve uma alteração na redação do § único do Art. 1.085 do CC,

102
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. R.Esp 1129222/PR. Recorrente: Seme Raad e Outro.
Recorrido: Faissal Assad Raad e Outro. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. Julgado em 28 de junho de 2011.

103
COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 134-135.
104
Sobre o controle judicial da exclusão e do mérito do ato de exclusão, consultar: LUCENA, José Waldecy. Das
sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. pp. 750-763.
105
CAMPINHO, Sergio. O Direito de Empresa À Luz do Novo Código Civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
p. 215.
106
LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar,
1996. pp. 749 e 780.
107
GUIMARÃES, Leonardo. Exclusão de Sócio em Sociedades Limitadas no Novo Código Civil. In: Revista de
Direito Mercantil Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Malheiros Editores, v. 129, p. 111.
108
Nas palavras de Fábio Ulhoa Coelho, “é importante destacar que a expulsão do sócio não é medida de
discricionariedade da maioria societária [...]. O sócio que cumpre a obrigação de integralizar a quota do capital
social, nos prazos e pelos valores contratos, e observa o dever de lealdade não pode ser expulso. Não tendo o
sócio ocorrido em ato culposo, não há fundamento para essa forma de rescisão do vínculo contratual.” COELHO,
Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 132.

Direito Societário - LTDA


41

dispensando a sua realização quando haja apenas dois sócios na sociedade. Outro ponto
importante seria observar que ela é condição de validade do ato que seja dada ciência ao
acusado da convocação, para que possa comparecer e, querendo, defender-se.
Não se pode olvidar o princípio universal de direito, segundo o qual toda acusação
há de ser comunicada ao acusado, facultando-lhe o contraditório e a ampla defesa (artigo
5º, LV, Constituição Federal), que, no caso, são exercidos na reunião ou assembleia, nos
termos do artigo 1.085.
Entretanto, a eficácia do ato resta condicionada ainda ao registro da alteração
contratual no órgão competente. Uma vez efetuado o registro da alteração contratual,
deverá ser liquidada a quota do sócio excluído, considerada pelo montante efetivamente
realizado, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada
em balanço especialmente levantado, salvo se o contrato dispuser em contrário (artigo
1.031, aplicado por força do disposto no artigo 1.086). O pagamento será em dinheiro, no
prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em
contrário (artigo 1.031, § 2º).
Com a exclusão do sócio, o capital sofrerá a correspondente redução, salvo se os
demais sócios decidirem entrar com os recursos correspondentes ao valor da quota
liquidada (artigo 1.031, § 1º).
De acordo com o artigo 1.032, de aplicação às sociedades limitadas por força do
artigo 1.086, a exclusão do sócio não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade
pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos depois de averbada a resolução da
sociedade em relação a ele; nem pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se
requerer a averbação. Se os sócios não providenciarem a averbação, o sócio excluído pode
agir por si a fim de permitir o início da fluência do prazo de dois anos.
Lembre-se de que a não observância de quaisquer das formalidades legais
supracitadas enseja ação declaratória de nulidade do ato.109
Por fim, é importante mencionar que o desfazimento dos vínculos contratuais com
o sócio expulso, não extingue a sociedade, permanecendo existentes os vínculos dos sócios
remanescentes, ainda que por até 180 dias, no caso de sociedade composta por apenas
dois sócios. Ademais, os direitos e deveres existentes entre as partes alheias à rescisão
não quedam comprometidos.110

2.3.2.3.3 Exclusão por Justa Causa em Sociedade de Dois Sócios


Não sendo a lei casuística a ponto de disciplinar, especificamente, a questão na
sociedade de apenas dois sócios, a doutrina diverge quanto à admissibilidade da exclusão.
Dentre os que se manifestaram sobre o tema, destacam na posição contrária: Cunha
Peixoto e Rubens Requião. Na posição favorável, destacam-se: Fábio Konder Comparato,
Waldemar Ferreira, José Waldecy Lucena, Priscila Maria Corrêa da Fonseca e Soares
Faria.111

109
CAMPINHO, Sergio. O Direito de Empresa À Luz do Novo Código Civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
p. 215.
110
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
468.
111
Em ordem: PEIXOTO, Cunha. A Sociedade por Cotas de Responsabilidade Ltda. Rio de Janeiro: Forense. 1956,
v. 1, n. 310, p. 272; REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 1980, v. 2, n.
493, p. 283; COMPARATO, Fábio Konder. Exclusão de Sócio nas Sociedades por Cotas de Responsabilidade
Limitada. In: Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais,
v. 25, p. 48; FERREIRA, Waldemar. Sociedades por Quotas. São Paulo: Cia. Gráphico-Editora, Monteiro Lobato,
1925. pp. 117-118; LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de
Janeiro: Renovar, 1996. p. 764; FONSECA, Priscila Maria Corrêa da. A Exclusão de Sócio da Sociedade por Quotas

Direito Societário - LTDA


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Na jurisprudência, vinha prevalecendo a orientação que nega a possibilidade da


exclusão em sociedade de apenas dois sócios.112 Todavia, julgou diversamente o Superior
Tribunal Federal, ao qual, ressalte-se, compete dizer a última palavra sobre a matéria.113
De acordo com o artigo 1.033, IV, de aplicação às sociedades limitadas por força
do artigo 1.087, a sociedade dissolve-se, de pleno direito, na falta de pluralidade de sócios,
não reconstituída no prazo de 180 dias. Deste modo, tendo o majoritário excluído o
minoritário por justa causa, deverá recompor a pluralidade social, no prazo de 180 dias,
ou requerer no Registro de Público de Empresas Mercantis a transformação do registro da
sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade
limitada (“EIRELI”), nos termos do art. 1.033, parágrafo único, e artigo 980-A, § 3º, sem
necessidade de recorrer ao judiciário. Com o advento da Medida Provisória nº 881, de 30
de abril de 2019 (MP da Liberdade Econômica), foi prevista a possibilidade de sociedade
limitada unipessoal, de momento que o sócio remanescente, se não optar pelas soluções
anteriores, poderá comunicar ao órgão registral que irá se valer da regra contida no Art.
1.052, § único, do CC: “A sociedade limitada pode ser constituída por uma ou mais
pessoas, hipótese em que se aplicarão ao documento de constituição do sócio único, no
que couber, as disposições sobre o contrato social.”
Ao minoritário excluído, caso se sinta injustiçado, repita-se, cabe propor ação
anulatória da exclusão.
Já em sociedades de dois sócios, em que cada um deles possua metade do capital,
a solução extrajudicial, salvo se consensual, será impossível. Ou seja, nessa hipótese, o
recurso ao judiciário será inafastável.114,115

2.3.2.3.4 Exclusão por via judicial


Caso o contrato não contemple cláusula permissiva de exclusão contratual, ou
quando o sócio a ser expulso for majoritário, a exclusão será, necessariamente, judicial,
observado o procedimento previsto na Lei nº 13.105 de 2015 – o atual CPC – notadamente
a ação de dissolução parcial.
Dispõe o artigo 1.030, de aplicação às sociedades limitadas por força de ressalva
feita no caput do artigo 1.085, que poderá o sócio ser excluído judicialmente por falta

de Responsabilidade Limitada no Direito Brasileiro, palestra in Sociedades Por Quotas de Responsabilidade


Limitada, 1987, Associação dos Advogados de São Paulo, pp. 82-83; e FARIA, Soares. Da Exclusão de Sócios nas
Sociedades de Responsabilidade Ilimitada. São Paulo: Livraria Acadêmica, 1926. p. 26, pp. 21-22.
112
LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar,
1996. p. 769.
113
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 381-MG. Terceira Turma. Relator: Ministro Waldemar
Zveiter. Julgado em 12 de dezembro de 1989.
114
Para maiores informações acerca da exclusão em sociedade de dois sócios, consultar: LUCENA, José Waldecy.
Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. pp. 764-769.
115
Neste sentido, importante analisar a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: DIREITO EMPRESARIAL.
EXCLUSÃO DE SÓCIO POR FALTA GRAVE NO CUMPRIMENTO DE SUAS FUNÇÕES. DETERMINAÇÃO DE APURAÇÃO
DOS HAVERES CORRESPONDENTES ÀS SUAS QUOTAS. ALEGAÇÃO DE EVENTUAL VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 535,
555 E 561 DO CPC. NÃO CONFIGURAÇÃO. DILAÇÃO PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. PRECLUSÃO. SOCIEDADE
LIMITADA COMPOSTA POR APENAS DOIS SÓCIOS, CADA QUAL DETENTOR DE 50% DAS QUOTAS SOCIAIS,
SENDO QUE A UM DELES, COM A PARTICIPAÇÃO DE TERCEIROS, É IMPUTADO ATO LESIVO À SOCIEDADE
PRATICADO COM VIOLAÇÃO À LEI E AO CONTRATO SOCIAL. NÃO SE MOSTRA RAZOÁVEL IMPOR, NEM
COMPATÍVEL COM A SISTEMÁTICA INFORMAL DE REGÊNCIA DAS SOCIEDADES POR COTAS, EXIGIR MAIORIA
DO CAPITAL, MAIORIA DE SÓCIOS OU AINDA A REALIZAÇÃO DE REUNIÃO DE QUOTISTAS PARA DELIBERAR
SOBRE A POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE/EXCLUSÃO DE
SÓCIO/RESPONSABILIZAÇÃO DE SÓCIO. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. BRASIL. Superior
Tribunal de Justiça. Ag.Rg. no Ag. N. 1203778-RJ. Quarta Turma. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Julgado
em 09 de março de 2010.

Direito Societário - LTDA


43

grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda por incapacidade superveniente,


mediante iniciativa da maioria dos demais sócios.
Assim sendo, em contramão doutrinária e jurisprudencial, mesmo presentes os
demais requisitos para exclusão de minoritário (que o sócio excluendo esteja pondo em
risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade e atingido o
quórum deliberativo de maioria), se não houver cláusula autorizativa de exclusão por justa
causa, a exclusão será procedida judicialmente.
Discorrendo sobre o retrocesso que isso representa, principalmente tendo em vista
a necessidade de se fortalecer o poder da sociedade de autotulelar seus próprios
interesses, ainda que, para isso, tenha de se opor a seus próprios sócios, José Waldecy
Lucena afirma:

Incompreensível, de conseguinte, por mero formalismo, qual a


omissão do contrato em incluir cláusula específica sobre a justa
causa autorizadora da exclusão, relegar-se para via judicial,
sabidamente morosa, a apuração dos atos de inegável gravidade
(sic, 1.085), que estão a travar as atividades empresariais da
sociedade e que a aniquilarão antes mesmo do termo do
processo.116

Com relação à exclusão de sócio majoritário, embora não se refira à lei


expressamente, nada impede que, se fundada em justa causa, seja requerida a exclusão
da maioria em juízo. Sobre o tema, nos adverte Fábio Konder Comparato:

No momento em que o fundamento para exclusão do sócio não é


mais a autonomia da vontade, não é mais uma deliberação sem
controle, sem justa causa, no momento em que esse fundamento é
encontrado por último, em última análise, na preservação da
empresa que está sendo afetada pela conduta irresponsável de um
sócio, não me parece que devamos manter ainda a maioria com o
arbítrio da situação.117

A questão não havia sido enfrentada pelos Tribunais, até que o Superior Tribunal
de Justiça, em verdadeiro leading case, deferiu a dissolução parcial da sociedade em favor
da minoria, excluindo, portanto, a maioria do quadro societário. 118
Lembre-se de que, nos termos do artigo 1.030, a iniciativa dependerá da vontade
da maioria dos minoritários, computada segundo suas participações no capital.
Também no procedimento judicial, se operará a dissolução parcial da sociedade,
mediante reembolso das quotas consideradas pelo montante efetivamente realizado pelo

116
LUCENA, José Waldecy. Das sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Rio de Janeiro: Renovar,
1996. p. 736.
117
COMPARATO, Fábio Konder. Exclusão de Sócio nas Sociedades por Cotas de Responsabilidade Limitada. In:
Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 25, pp. 47-
48.
118
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp n. 61.278-SP. Quarta Turma. Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha.
Julgado em 25 de novembro de 1997.

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sócio inadimplente, com base na situação patrimonial da sociedade à data da dissolução,


conforme balanço especialmente levantado (artigo 1.031).119
Tal como na exclusão por via extrajudicial, a exclusão do sócio não o exime, nem
mesmo seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores ao evento,
até dois anos depois de averbada a resolução da sociedade, nem pelas obrigações
posteriores em igual prazo, enquanto não for requerida a averbação (artigo 1.032).
Ademais, esclareça-se que qualquer que seja a forma da exclusão – judicial ou
extrajudicial – somente será cabível se fundada em justa causa. Na verdade, a diferença
significativa reside na distribuição do ônus da prova. Isto porque, na exclusão extrajudicial,
o controle jurisdicional é realizado a posteriori, cabendo ao excluído provar em juízo que
não descumpriu quaisquer de suas obrigações de sócio. Já na exclusão judicial, compete
aos demais sócios provar a culpa dos sócios cuja expulsão pleiteiam.120
Há, ainda, outra hipótese de exclusão de sócio prevista pela lei, que depende de
prévio procedimento judicial: a incapacidade superveniente do sócio (artigo 1.030, caput).
Isto porque, uma vez que inexiste autorização legal para que seja realizada por meio de
alteração contratual, a sociedade, para excluir o sócio que supervenientemente se tornou
incapaz, depende de decisão judicial nesse sentido.
Por outro lado, vale destacar que não estão os sócios obrigados a promover a ação
judicial, se entenderem não ser prejudicial aos seus interesses ou aos interesses da
sociedade a incapacidade superveniente de seu sócio.
Por fim, cabe mencionar que se admite apenas expulsão de sócio por incapacidade
superveniente. Em outras palavras, caso o sócio seja legalmente considerado incapaz
desde seu ingresso na sociedade e, sendo essa de conhecimento dos sócios
remanescentes, não caberá posterior pleito de exclusão baseada na incapacidade do sócio.

2.3.3 Cessão, penhora e partilha de quotas.


As quotas representam parcela do capital social da sociedade limitada. Elas
pertencem aos sócios e estão sujeitas às regras pertinentes ao bem de natureza móvel.
Assim, elas podem ser objeto de ônus reais (penhor, usufruto, fideicomisso, etc.), assim
como também podem ser penhoradas, conforme prevê o artigo 861 do Novo Processo Civil.
Em caso de falecimento do sócio, deveremos aplicar a regra do artigo 1028 do Código Civil
e, na hipótese de separação do sócio casado, as normas que deverão ser conjugadas serão:
art. 1027 do CC de 2002 e 600, § único do Novo CPC.
No tocante à cessão de quotas, os sócios de uma sociedade limitada poderão optar
por uma estrutura fechada ou por uma estrutura aberta, de acordo com a rigidez de regras
sobre a vida social.

119
Sobre o tema Informativo 420 STJ: EXCLUSÃO. SÓCIO. LTDA. É cediço que a jurisprudência deste Superior
Tribunal já firmou o entendimento, na generalidade dos casos, de que a retirada de sócio de sociedade por quotas
de responsabilidade limitada dá-se pela ação de dissolução parcial, com apuração de haveres, para a qual têm
de ser citados os demais sócios e a sociedade. No entanto, o Min. Relator, pelas peculiaridades do caso concreto,
em que a inicial, datada de 1998, coloca a questão com outra causa de pedir: ação ordinária de indenização
cumulada com danos patrimoniais decorrentes da exclusão anterior do autor da sociedade empresária, concluiu
que não seria necessário anular o processo para inclusão da sociedade como litisconsorte necessário, pois se
trata de processo muito antigo, em que os sócios excluíram o autor por unanimidade, e a sociedade jamais
sustentaria o contrário. Ressaltou, entretanto, que o recurso se liga à decisão interlocutória e, superado o
incidente, a sentença encontrará a solução mais adequada para a questão de fundo. BRASIL. Superior Tribunal
de Justiça. Resp. n. 788.886-SP. Relator: Ministro Sidnei Beneti. Julgado em 15 de dezembro de 2009.
120
COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 134.

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45

Dessa forma, a lei facultou aos sócios disciplinar em seu contrato social as regras
para a cessão de quotas. Assim, por se tratar de direito dispositivo, pode ser objeto de
livre disposição entre as partes, não sendo considerada qualquer imposição legal.
Seguindo esse entendimento, o Código Civil dispõe no artigo 1.057 o seguinte:

Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota,


total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de
audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de
titulares de mais de um quarto do capital social.
Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e
terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a
partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos
sócios anuentes.

Esse dispositivo confirma a tese de que a cessão de quotas é cláusula que pode ser
livremente convencionada pelos sócios, segundo suas conveniências e interesses e
mediante as condições e restrições que possam entender necessário, nos termos do que
vier a ser definido no seu contrato social.
Rubens Requião, em sua obra, reforça esse entendimento tendo em vista a
mudança legislativa decorrente do novo Código Civil:

Trata-se de mudança radical da posição do legislador. O regime legal


anterior ao Código Civil, como descrito, vedava a cessão salvo
consentimento dos demais sócios. No novo regime, o contrato é que
determinará a não cessibilidade das quotas, ou algum regime
especial para que se processe a cessão (oferta a todos os sócios,
direito de preferência, prazos de exercício etc.), pois a lei passou a
admiti-la livremente, entre os sócios, e com direito de oposição ao
ingresso de sócio estranho, deferido a sócios que reúnam um quarto
do capital social.121

Assim, a cessão poderá ser livre inclusive para estranhos, sem sequer haver
necessidade de aprovação unânime dos demais sócios, desde que essa hipótese esteja
refletida no contrato social da sociedade limitada.
Somente no caso de omissão do contrato social é que a lei estabelece que a cessão
deverá ser aprovada na ausência de oposição de sócios representando um quarto do capital
social.122 A anuência deverá ser expressa, já que a lei exige a subscrição dos demais sócios
no instrumento competente.
A cessão terá eficácia a partir da averbação do respectivo instrumento no registro
público competente.123 Interessante notar que, em caso de oposição, ainda que ineficaz à

121
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 25. ed. 1. v. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 481-482.
122
Interessante frisar que, em determinadas legislações estrangeiras, os sócios que não consentirem com a
cessão ou a própria sociedade estariam obrigados a adquirir as quotas do cedente ou indicar outros adquirentes.
In: LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades Limitadas. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 346.
123
Junta Comercial para os atos das sociedades empresárias e Registro Civil de Pessoas Jurídicas para os atos
das sociedades simples.

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46

sociedade e perante terceiros, poderá o negócio jurídico gerar obrigações entre cedente e
cessionário, formando uma espécie de subsociedade. 124
O artigo 1.003 do Código Civil, referido no artigo 1.057, anteriormente transcrito,
disciplina de forma cogente a responsabilidade solidária entre cedente e cessionário,
conforme se segue:

Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente


modificação do contrato social com o consentimento dos demais
sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.
Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do
contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário,
perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como
sócio.

Nos termos da redação supra, a responsabilidade perante a sociedade e terceiros


com relação às obrigações assumidas pelo cedente como sócio perdura por até dois anos
e ambos, cedente e cessionário, serão solidariamente responsáveis. Por isso, é comum a
celebração de documentos de garantia, nos quais são garantidos ao cessionário certos
recursos do cedente no caso de exigência de passivo não previsto no momento da cessão
e que tenha origem anterior à transferência.
Importante destacar que o artigo 1.003 do Código Civil está inserido no capítulo
relativo às Sociedades Simples, aplicando-se às limitadas tão somente no que não for
incompatível com a natureza dessas.
Como, nas sociedades limitadas, a responsabilidade dos sócios é limitada ao
montante devido pela integralização do capital social, estando esse integralizado, os sócios
não possuem obrigações que possam perdurar pelo prazo de 2 (dois) anos previsto no
citado dispositivo legal.
Seria um completo contrassenso impor aos sócios alienantes de quotas uma
responsabilidade maior após a alienação do que a que possuíam enquanto sócios.
Assim, a obrigação que perdurará pelo prazo de 2 (dois) anos após a alienação de
cotas será a de integralizar o capital social (ou ainda a referente à exata estimação do
valor de bens e direitos que forem utilizados na integralização do capital social).
Por fim, a cessão de quotas poderá ser feita por meio de uma alteração do próprio
contrato social ou por instrumento particular ou público, cuja eficácia perante a sociedade
e terceiros se dará com a sua averbação no registro competente. Tanto cedente como
cessionário poderão levar a registro o referido ato (artigo 1.151, § 1º do Código Civil),
devendo esse pedido ser feito dentro de trinta dias da lavratura do ato em que foi aprovada
a cessão.

2.3.4 Direitos e Deveres dos Sócios


Para fins didáticos, os direitos e deveres dos sócios vem sendo (bem como serão
adiante) expostos pormenorizadamente em itens próprios ao longo desse estudo. Com o
intuito de esquematizar os pontos já debatidos, bem como aqueles que ainda serão

124
É muito comum que haja um relacionamento entre cedente e cessionário baseado na figura do “Trustee”,
instituto criado pelo direito norte-americano. Nessa hipótese, enquanto a cessão não tiver sido aprovada pelos
órgãos competentes, o cedente atuará como representante do beneficiário, ou seja, como agente do cessionário,
o qual, na relação interna, é o real proprietário daquela participação societária.

Direito Societário - LTDA


47

analisados, propõe-se as seguintes remissões ao leitor: (i) o dever de contribuição ao


capital social (item 2.2.1.4) (ii) direito de participar dos lucros e das perdas (item 2.2.2.3);
(iii) limitação da responsabilidade dos sócios (item 2.1.3.4); (iv) prazo de
responsabilização do cedente em evento de cessão de quotas (Item 2.3.3); (v) direito de
retirada e de recesso (item 2.3.2.1); (v) direito de ser informado pelos administradores
(item 2.3.5.2); (vi) direito de fiscalizar a condução dos negócios sociais (item 2.3.5.5) e o
(vii) direito de voto (item 2.3.6).
Ainda, de forma geral, pode-se citar (i) o direito de ter seus haveres pagos e
apurados nos casos de resolução da sociedade em relação a um sócio (ou dissolução
parcial) (item 2.3.2); e por fim (ii) os direitos e deveres específicos que venham a ser
pactuados no contrato social ou em acordo de quotistas (item 2.3.1).

2.3.5 Administração na sociedade limitada


O Código Civil de 2002 introduziu alterações significativas na estrutura
administrativa das sociedades limitadas, extinguindo de uma vez por todas o princípio – já
bastante mitigado pela prática da delegação de gerência – de que apenas aos sócios
incumbem a administração e a representação da sociedade.
Foi dado maior rigor à matéria, na medida em que, hoje em dia, a administração
das limitadas em muito se assemelha às sociedades anônimas.125 O Código Civil traz
procedimentos a serem observados pela sociedade quando da nomeação dos membros de
sua administração, bem como na devida prestação de suas contas no período em que
exerceram funções administrativas. Ressalte-se, ainda, a determinação contida no art.
1.065, que obriga a administração a elaborar inventário, balanço patrimonial e balanço de
resultado econômico da sociedade.
A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas, sócios ou não,
designados no contrato social ou em ato separado. O art. 1.060 permite a designação de
pessoas físicas que não fazem parte do quadro social como administradores, desde que
o contrato social preveja tal possibilidade. Todavia, a lei exige um quórum qualificado
para a designação de administrador não sócio: unanimidade, se o capital não estiver
integralizado, ou dois terços, no mínimo, se o capital estiver integralizado (art. 1.061).
Para a designação no contrato social de administrador sócio, a nomeação dependerá
de aprovação do(s) sócio(s) que representem três quartos do capital social. Isto porque
haverá alteração do ato constitutivo da sociedade (art. 1.076, I). Para o administrador
designado em ato apartado, a lei exige aprovação da maioria absoluta (art. 1.076, II). 126
O contrato social pode especificar competências próprias para cada administrador,
ou exigir requisitos especiais para a prática de certos atos – e.g. a assinatura de dois
administradores, ou de um em especial para certos negócios jurídicos. Determinadas
condições de investidura devem estar claramente preceituadas no contrato social, a fim de
estabelecer os deveres e direitos que podem ser contraídos pelo administrador, bem como
assegurar aos terceiros a validade dos atos celebrados com a sociedade. No entanto, nada

125
“Em claro ataque contra o livre arbítrio dos sócios [...], as disposições do Novo Código Civil sobre o tema
evidenciam tentativa clara de aproximar os sistemas deliberativo, administrativo e fiscalizador das limitadas às
formalidades exigidas pela Lei de Sociedades Anônimas, ao prever, pormenorizadamente, em seus artigos 1.060
a 1.080, o modo de funcionamento e regras definidas para a administração, conselho fiscal e assembleia geral
de quotistas.” VIEIRA, Paulo Albert Weyland; REIS, Ana Paula de Carvalho. As Sociedades Limitadas no Novo
Código Civil – a Limitação de Contratar. In: Revista de Direito Mercantil Industrial, Econômico e Financeiro. São
Paulo: Malheiros Editores, 2003, v. 127. p. 40.
126
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
471.

Direito Societário - LTDA


48

impede que a administração seja genérica, quando todos os administradores têm poderes
para praticar quaisquer atos (cf. arts. 1.013 e 1.014). Aliás, essa é a regra quando do
silêncio do contrato social.
Nesse caso, terão os administradores amplos poderes de gestão, excetuadas a
oneração e a alienação de bens imóveis, se estes atos não integrarem o objeto social (art.
1.015), hipótese em que se exige a aprovação da maioria do capital social. 127
Tanto o contrato social quanto o ato em separado podem conter a nomeação de
administradores, dentro de uma perspectiva formal de análise. O “ato em separado” deve
emanar do órgão competente da sociedade para deliberar a nomeação de administradores.
Esse órgão será a assembleia ou reunião de quotistas, conforme o número de sócios da
sociedade (art. 1.071, II).
A investidura do administrador deverá observar formalidades desnecessariamente
inspiradas no modelo do anonimato: termo de posse lavrado no livro de atas da
administração, o qual deverá ser averbado no registro público competente para arquivar
atos da sociedade. Ressalte-se, ainda, que fica sem efeito a nomeação se a assinatura do
termo de posse não ocorrer nos 30 (trinta) dias seguintes ao da designação (art. 1.062).
A administração da sociedade limitada pode ser confiada ao administrador por prazo
determinado ou indeterminado. Se determinado, com o advento do termo extinguem-se
os poderes conferidos pelo contrato e pela lei, sendo necessário renovar o mandato ou
escolher substituto. Outra possibilidade de extinção dos poderes administrativos é a
renúncia por parte do próprio investido ou sua destituição pelos outros sócios. Em relação
à eficácia do ato de renúncia, basta a comunicação escrita do renunciante à sociedade para
que sua manifestação de vontade tenha efeitos internos. Entretanto, para que produza
efeitos contra terceiros, a dita comunicação terá que ser averbada no órgão de registro e
publicada no Diário Oficial, bem como em jornal de grande circulação (art. 1.063 c/c 1.152,
§ 1º).
Em qualquer caso, sejam conferidos ao administrador poderes por prazo
determinado ou indeterminado, pode os sócios destituí-lo a qualquer tempo, em virtude
de sua função de confiabilidade.128 Para o administrador sócio, se a fonte dos poderes for
o contrato, o § 1º do art. 1.063 estabelece que somente se opera pela aprovação de
titulares de quotas correspondentes a mais da metade do capital social, salvo disposição
contratual diversa. Sendo o administrador não sócio, há quem defenda a orientação de que
sua destituição por vontade dos sócios depende de aprovação dos titulares de quotas de
¾ (três quartos) do capital social (art. 1.071, V, e 1.076, I). Se a designação for em ato
separado, seja o administrador sócio ou não sócio, a destituição ocorrerá com o quórum
exigido no art. 1.076, II, ou seja, votos correspondentes a mais da metade do capital
social.

2.3.5.1 Administrador Pessoa Jurídica


Desde a vigência do Decreto nº 3.708/1919, já se discutia na doutrina acerca da
possibilidade de uma pessoa jurídica ser administradora da sociedade. O Código Civil,
segundo o entendimento majoritário, veio sanar esse impasse, embora o tenha feito de
maneira indireta.

Sobre a limitação de poderes dos administradores, vide item 3.2 infra.


127
128
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
472.

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49

Ao estabelecer que a administração pode ser exercida por sócio ou não sócio, e
interpretando-se sistematicamente as disposições relativas à nomeação, investidura e
renúncia do cargo de administrador, chega-se à conclusão óbvia da finalidade legal, qual
seja, a vedação do exercício da administração por pessoa jurídica.129
Ressalte-se, ainda, que o art. 997, VI, de aplicação às sociedades limitadas por
força do art. 1.054, determina a restrição do exercício da administração por pessoa natural.
É nesse contexto que se enquadra a proposta de alteração do Código Civil. O Projeto de
Lei de nº 6.960 encerraria a divergência. Ele propõe a expressão pessoas naturais no artigo
1.060 do Código Civil, clareando a mens legis, verbis: “Art. 1.060. A sociedade limitada é
administrada por uma ou mais pessoas naturais designadas no contrato social ou em ato
separado”. Entretanto, tal proposta, apresentada em 2002, ainda se encontra sujeita à
apreciação do plenário.
Nesse sentido, o Departamento de Registro de Empresa e Integração – DREI, na
Instrução Normativa nº 10, que aprovou o “Manual de Atos de Registro de Sociedade
Limitada”, já firmou sua orientação: “a pessoa jurídica não pode ser administradora”.130

2.3.5.2 Deveres dos Administradores


Conforme bem disse Fábio Ulhoa Coelho, os deveres de diligência, lealdade e de
informar, prescritos aos administradores das sociedades anônimas (arts. 153, 155 e 157
da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 – “Lei das S.A.”), devem ser vistos como
preceitos gerais aplicáveis a qualquer pessoa incumbida de administrar bens ou interesses
alheios.131 Nesse sentido, o art. 1.011 do Código Civil prevê, para os administradores da
sociedade simples (subsidiariamente para os administradores da sociedade limitada), os
deveres de cuidado e diligência que o homem probo costuma empregar na administração
de seus próprios bens e os artigos 1.020, 1.021 e 1.078 do Código Civil estipulam
obrigações relacionadas ao dever de informar.
Segundo o citado Professor:

Para cumprir o dever de diligência, o administrador deve observar,


na condução dos negócios sociais, os preceitos da tecnologia da
administração de empresas, fazendo o que esse conhecimento
recomenda, e deixando de fazer o que ele desaconselha. O
paradigma do administrador diligente é o administrador
profissional.132 (Os grifos não são do original)

Já o dever de lealdade está diretamente ligado ao uso que faz o administrador das
informações a que teve acesso em decorrência de seu cargo. É vedado ao administrador

129
Entendimento diverso encontra apoio na doutrina, uma vez que não tendo restringido expressamente o
exercício da administração por pessoa física, poderia se sustentar que, no silêncio do contrato social, há
possibilidade de se conferir a administração à pessoa jurídica. Vejam-se as seguintes opiniões: MORAES, Luiza
Rangel de. Considerações sobre o Regime Jurídico da Administração nas Sociedades Simples, Limitada e
Anônimas. In: Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais e da Arbitragem. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002. v. 18, p. 45; e TEIXEIRA, Egberto Lacerda. As Sociedades Limitadas e o Projeto do Código Civil.
In: Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, Nova
Série, n. 99, p. 70.
130
Manual de Atos de Registro de Sociedade Limitada, p. 22.
131
COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 51.
132
Ibidem. p. 52. Note-se que, ao se referir ao profissionalismo exigido do administrador de sociedade, não se
refere o autor, necessariamente, ao profissional graduado em Administração de Empresas, já que este requisito
não é exigido do administrador de sociedade limitada.

Direito Societário - LTDA


50

fazer uso de quaisquer informações sabidas em razão do posto que ocupa para beneficiar
a si mesmo ou a terceiros, em detrimento da sociedade. Também não pode utilizar-se de
recursos da sociedade (humanos ou materiais) para propósitos particulares. Por fim, não
pode concorrer com a sociedade ou envolver-se em negócios, quando existente eventual
conflito de interesses.
Certamente, quando em virtude do descumprimento pelo administrador de seus
deveres de atuar como homem diligente e leal, a sociedade sofrer danos, fica o
administrador obrigado a ressarci-los. O mesmo ocorre quando ultrapassar os atos
regulares de gestão ou quando proceder contrariamente ao contrato social ou a lei.
O mestre Fábio Ulhoa Coelho cita alguns exemplos práticos de descumprimento pelo
administrador de seus deveres:

É o caso, por exemplo, do diretor que não cota preços, ao adquirir


insumos para a empresa; que não se dedica a negociações
constantes com os fornecedores sobre valores e condições de
pagamento; que não exige dos empregados o cumprimento integral
da jornada de trabalho; que, identificando uma oportunidade
negocial interessante, aproveita-se para si, mas não para a
sociedade. Nessas situações, as perdas e os lucros cessantes da
pessoa jurídica devem ser indenizados pelo mau administrador. 133

Pode o contrato social, inclusive, estabelecer cláusula garantidora da administração


diligente e leal, por meio de caução nas formas contratuais. Uma vez estabelecida, a
garantia só será levantada após a aprovação das últimas contas apresentadas pelo
administrador que houver deixado o cargo.134

2.3.5.3 Responsabilidades dos Administradores


O capítulo do Código Civil destinado às sociedades limitadas não dispôs
especificamente sobre as responsabilidades dos administradores. Em decorrência, por
força do disposto no art. 1.053, lhes serão aplicadas as regras das sociedades simples ou
das sociedades anônimas, conforme dispuser o contrato social.
Ao optar-se pela aplicação subsidiária da Lei das S.A., se atingirá estrutura
administrativa deveras similar à do anonimato, uma vez que, conforme mencionado, as
regras de administração para as limitadas, previstas pelo Código Civil, foram nitidamente
inspiradas naquelas.
Assim sendo, uma vez que, de acordo com a atual sistemática legal, as
responsabilidades dos administradores das sociedades limitadas regem-se pelas normas
das sociedades simples e não pela lei acionária, 135 apontaremos as regras atinentes às
sociedades simples.
Apesar de estruturalmente antagônicas às regras inspiradoras da estrutura
administrativa das limitadas, as sociedades simples seguiram orientação prevista no
Decreto nº 3.708/1919, segundo a qual os administradores respondem solidariamente

133
COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 52.
134
CAMPINHO, Sérgio. O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil. 8. ed. rev. e atual. de acordo com a Lei
Complementar nº 123/2006 e com a Lei Ordinária nº 11.382/2006. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. pp. 238-239.
135
Isto porque cabe aos sócios, se assim lhes aprouver, optar expressamente, no contrato social, pela aplicação
supletiva da Lei das S.A. (art. 1.053, parágrafo único, do Código Civil).

Direito Societário - LTDA


51

perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções


(art. 1.016).
Ou seja, a regra geral é a da irresponsabilidade pessoal dos administradores pelas
obrigações que contraírem em nome da sociedade. Sua responsabilidade, perante a
sociedade e terceiros, só se dará, como mencionado anteriormente, nos casos de culpa
(estejam estes atos dentro ou fora da sua esfera de competência, aplicando-se tanto a
atos comissivos como omissivos), excesso no uso dos poderes de gestão e violação do
contrato social ou da lei (independente de dolo ou culpa do administrador, pois o ato
praticado com violação à lei ou contrato social não são atos regulares de gestão e, portanto,
geram culpa presumida), como ensina Nelson Eizirik:

Assim, o administrador não é responsável pelos atos regulares de


gestão, que são aqueles atos ordinários de administração. Não há
uma essência do “ato regular de gestão”, devendo como tal ser
entendido aquele praticado nos limites das atribuições dos
administradores e sem violação da lei ou do estatuto.136

Nos casos de prejuízos causados culposamente pelos administradores a terceiros,


a sociedade será responsabilizada pelo ato, podendo exercer direito de regresso contra
o(s) administrador(es).
Em caso de ato regular de gestão, a responsabilidade é apenas da sociedade. A lei
não impõe aos administradores uma obrigação de administrar a sociedade sem cometer
erros. Deve o administrador agir com diligência, boa-fé e sem conflitos de interesses.
Outra peculiaridade do sistema de responsabilidade dos administradores é o fato de
que, para sua apuração não se deve realizar juízo a respeito do mérito, conteúdo ou acerto
da decisão ou do ato praticado pelo administrador. O juízo deve ser de procedimento,
ressalvada a hipótese de conflitos de interesses.137
Ademais, o administrador somente poderá responder civilmente por atos praticados
em sua gestão quando existente o efetivo e comprovado dano à sociedade ou a terceiros
em razão do seu ofício, devendo haver ainda o nexo causal entre o dano e a conduta.
Veda-se, ainda, que os administradores se façam substituir no exercício de suas funções,
ressalvada a constituição de mandatários da sociedade com poderes específicos (art.
1.018).
Ainda, são obrigados os administradores a prestar aos sócios contas justificadas de
sua administração, e apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço
patrimonial e o de resultado econômico (arts. 1.020 e 1.065), de modo a possibilitar aos
sócios – e ao conselho fiscal, se houver – o exercício do controle das atividades dos
administradores.
É importante mencionar que o administrador não será responsável pelos atos ilícitos
praticados por outros administradores, desde que não seja conivente ou que, tomando
conhecimento do ilícito, não tente impedir sua prática. Deve o administrador dissidente
dar ciência do fato aos sócios ou ao conselho fiscal (por meio de reunião/assembleia). 138

136
EIZIRIK, Nelson. Questões de Direito Societário e Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: Forense, 1987. p.102.
137
LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Direito das Companhias. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
p. 1096.
138
CAMPINHO, Sérgio. O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil. 8. ed. rev. e atual. de acordo com a Lei
Complementar nº 123/2006 e com a Lei Ordinária nº 11.382/2006. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 241.

Direito Societário - LTDA


52

Para recair responsabilidade ao administrador por ato praticado por outro


administrador, há necessidade do conhecimento não só do ato, como da ilicitude ou
irregularidade do ato. Ou seja, caso um ato tenha sido praticado por outro administrador,
que esteja em conflito com a lei, contrato social ou com os interesses da sociedade, e o
outro administrador não tenha conhecimento dele, mas sem ter conhecimento da ilicitude
ou irregularidade, não poderá ser responsabilizado.
A aprovação dos resultados – balanço patrimonial e resultado econômico – aceito
sem reservas pelos sócios, salvo hipóteses de erro, dolo ou simulação, desoneram de
responsabilidade os administradores, bem como os membros do conselho fiscal, se
existente (Art. 1.078, III, § 3º, Código Civil). Ressalta-se que prescreve em 3 (três) anos,
contados da data de apresentação do balanço patrimonial do exercício em que ocorreu a
violação, a pretensão da sociedade contra os administradores por atos culposos e
violadores da lei ou do contrato.139 O juiz poderá, ainda, reconhecer a exclusão da
responsabilidade do administrador, se convencido de que este agiu de boa-fé e visando ao
interesse da companhia (Art. 159, § 6º, Lei das S.A.).
Problemas surgem no caso do mau administrador ser o sócio majoritário, capaz de
impedir qualquer ação administrativa ou judicial contra si mesmo. Segundo o professor
Sérgio Campinho, deve-se aplicar analogicamente o § 4º do art. 159 da Lei das S.A.,
mesmo quando o contrato social não estabelecer a regência supletiva da Lei das S.A. (e
assim se aplicariam supletivamente as regras da sociedade simples). Logo, o sócio
minoritário poderia, sempre que ciente das irregularidades da administração, agir como
substituto processual da sociedade.140
O art. 135, III, do Código Tributário Nacional estabelece a responsabilidade pessoal
do administrador pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes dos
atos praticados com excesso de poderes ou infração da lei ou do contrato social.
O tema é ensejador de grandes divergências entre estudiosos e julgadores, uma
vez que o citado dispositivo legal estabelece a responsabilidade pessoal do administrador
por atos praticados “[...] com excesso de poderes ou infração à lei [...]”. Daí se conclui
que o não recolhimento do tributo por si só implica tal responsabilidade ao
administrador.141

139
Neste sentido decidiu o STJ: “SOCIEDADE ANÔNIMA. RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES. CONTAS
APROVADAS PELA AGO. A aprovação das contas sem reservas pela assembleia geral ordinária (AGO), salvo se
anulada, exonera os administradores e diretores de quaisquer responsabilidades (art. 134, § 3º, da Lei n.
6.404/1976, Lei das Sociedades Anônimas). Na espécie, a empresa recorrente ajuizou ação indenizatória para
obter do recorrido (diretor financeiro da empresa) reparação correspondente ao valor das operações (derivativos)
que realizou sem consentimento e que geraram prejuízos em razão da disparidade cambial. Todavia, a regra do
art. 134, § 3º, da lei supradita é especial em relação ao art. 159 do referido diploma legal, de modo que, no caso
de aprovação de contas, não bastaria a prévia deliberação da assembleia geral para a propositura da ação de
responsabilidade civil, como ocorreu na hipótese, mas, mister, antes de tal propositura ou concomitantemente a
ela, o ajuizamento da ação de anulação da assembleia que aprovou as contas da sociedade (art. 286 da
mencionada lei). Salientou-se ainda que, somente após o trânsito em julgado da sentença que acolher a
anulatória (pela ocorrência de erro, dolo, fraude ou simulação), será possível ajuizar a ação de responsabilidade
pertinente. In casu, não é cabível ação de responsabilidade civil contra quem dela, por força de lei e do ato
jurídico perfeito, foi exonerado. Precedentes citados: AgRg no Ag 640.050-RS, DJe 1º/6/2009; AgRg no Ag
950.104-DF, DJe 30/3/2009, e REsp 257.573-DF, DJ 25/6/2001. REsp 1.313.725-SP, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 26/6/2012. STJ, Informativo nº 500.
140
CAMPINHO, Sérgio. O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil. 8. ed. rev. e atual. de acordo com a Lei
Complementar nº 123/2006 e com a Lei Ordinária nº 11.382/2006. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 242.
141
TRIBUTÁRIO. CERTIDÃO NEGATIVA. SÓCIO GERENTE. DÍVIDA DA SOCIEDADE. RESPONSABILIDADE POR
SUBSTITUIÇÃO. 1 - SÓCIO DE SOCIEDADE POR COTA, QUE EXERCIA A ADMINISTRAÇÃO, PORQUE OBRIGADO
A RECOLHER OS TRIBUTOS DEVIDOS PELA SOCIEDADE, CASO NÃO O FAÇA, SUA OMISSÃO, CARACTERIZANDO
INFRAÇÃO A LEI, TORNA-O, POR SUBSTITUIÇÃO, RESPONSÁVEL PELOS DÉBITOS DA SOCIEDADE (CTN, ART.
135, III).

Direito Societário - LTDA


53

Pode ocorrer, todavia, hipótese em que a sociedade limitada não disponha dos
recursos necessários ao recolhimento do tributo, pelo que não pode ser responsabilizado
o administrador que não tenha agido de má-fé. Para melhor esclarecer a questão, Fábio
Ulhoa Coelho chamou esta situação de inadimplemento, em oposição à sonegação. Aos
olhos do professor, o administrador somente poderá ser responsabilizado em caso de
sonegação, quando a sociedade possuía o dinheiro para o pagamento do tributo, mas o
administrador o destinou a outras finalidades, tomando por incorreta as opções adotadas.
Isso porque, diante da impossibilidade de atender a todos os credores da sociedade, se o
administrador deixou de realizar pagamento ao fisco, honrando com outras obrigações
contraídas, será necessário verificar as prioridades quitadas, para estabelecer a
responsabilização do administrador, perante o fisco. A título de exemplo, se o
administrador priorizou o atendimento às dívidas trabalhistas, a opção gerencial deve ser
considerada.142 Atualmente, esse é o entendimento da doutrina e jurisprudência
dominante, inclusive conforme a súmula 430 do STJ, que dispõe que o inadimplemento da
obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do
sócio-gerente.143,144 Não obstante, questão diversa é a responsabilidade tributária
decorrente da dissolução irregular da sociedade. Nesse caso, presume-se dissolvida
irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação
aos órgãos competentes, legitimando assim o redirecionamento da execução fiscal para o
sócio-gerente, conforme súmula 435 do STJ.

2.3.5.4 Teoria Ultra Vires x Teoria da Aparência


A vinculação da sociedade aos atos praticados em seu nome, mas estranhos ao
objeto social, gerou no sistema jurídico de Common Law, a ultra vires doctrine. Em meados
do século XIX, com vistas a evitar desvios de finalidade na administração de sociedade por
ações, e preservar os interesses de investidores, as cortes inglesas começam a formular a
referida teoria.145
De acordo com a formulação da ultra vires doctrine, qualquer ato praticado em
nome da pessoa jurídica que extrapole o objeto social é nulo.
Entretanto, o rigor da teoria ultra vires, em sua formulação inicial, trouxe vários
problemas para as sociedades inglesas. Poucos corriam o risco de contratar com elas sem
que houvesse a inclusão de forma clara e precisa do negócio contratado no objeto social
registrado. Havia de ser indiscutível a inclusão. Tornou-se praxe entre as sociedades a
ampliação ao máximo do objeto social.146

2 - SE A SOCIEDADE TEM DÍVIDA TRIBUTÁRIA, O SÓCIO, QUE EXERCEU A ADMINISTRAÇÃO NO PERÍODO QUE
SURGIU A OBRIGAÇÃO, RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIO, NÃO PODE OBTER CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS
FISCAIS. BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Agravo de Instrumento n.
20040020072352. Sexta Turma Cível. Relator: Jair Soares. Julgado em 14 de fevereiro de 2005.
142
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, direito de empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
477.
143
Ver: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 108.728. Primeira Turma. Relator: Ministro
Néri da Silveira. Julgado em 03 de fevereiro de 1989.
144
Sobre o tema STJ, súmula 430: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só,
a responsabilidade solidária do sócio-gerente. Relator: Ministro Luiz Fux, em 24 de março de 2010.
145
Sobre o surgimento e o desenvolvimento da Teoria Ultra Vires Societatis, veja: COELHO, Fábio Ulhoa. A
Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 67-70.
146
Lembra Fábio Ulhoa Coelho que “como o objeto social, até 1948, era inalterável no direito inglês, os atos
constitutivos das sociedades passaram a ostentar, na cláusula respectiva, uma lista imensa e variada de
atividades econômicas às quais poderiam dedicar-se.” COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo
Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 68.

Direito Societário - LTDA


54

Ao longo do século XX, dilui-se o rigor da teoria. O ato exorbitante do objeto social
(ultra vires societatis – além das forças da sociedade) de nulo passou a ser ineficaz com
relação à sociedade. O terceiro poderia demandar o cumprimento das obrigações do
administrador, mas não da sociedade, que não responderia por tais atos.
Além disso, outra flexibilização da teoria ocorreu em virtude da boa-fé do
contratante, que passou a ter o direito de exigir da própria sociedade o cumprimento da
obrigação extravagante, desde que justificável o desconhecimento da cláusula delimitadora
do objeto social.
Nesse diapasão, inserem-se os defensores da teoria da aparência, se insurgindo na
proteção dos interesses dos terceiros de boa-fé que contratam com a sociedade. Em linhas
gerais, alegam os adeptos dessa teoria que a agilidade e a dinamicidade próprias do
comércio, na maioria das vezes, impedem que o contratante examine com cautela o objeto
social da sociedade com que contrata. Além disso, deve a sociedade arcar com os prejuízos
causados pelo mau administrador, uma vez que foi aquela (por meio de seus sócios) a
responsável pela escolha desse (responsabilidade pela culpa in eligendo).
Até a vigência do Código Civil de 2002, o Direito brasileiro não trazia norma
expressa que consagrasse qualquer das teorias ora tratadas, deixando a cargo da doutrina
e da jurisprudência a solução de impasses.
Rubens Requião nega validade à cláusula restritiva dos poderes da gerência, em
relação a terceiros de boa-fé, sob o argumento de que

[...] é exigir demais, com efeito, no âmbito do comércio, onde as


operações se realizam em massa, e por isso sempre em oposição
com o formalismo que, a todo instante, o terceiro que contrata com
uma sociedade comercial solicite desta a exibição do contrato social,
para verificação dos poderes do gerente [...]. 147

Incluem-se na corrente que nega validade à cláusula restritiva dos poderes da


gerência, Cunha Peixoto,148 Oscar Barreto Filho,149 João Eunápio Borges,150 Nelson
Abrão,151 José Waldecy Lucena,152 dentre outros.153
No entanto, o acórdão proferido nos autos da Apelação Civil nº 10.284, pela 2ª
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de Alagoas, julgado em 23/02/94, de Relatoria do
Desembargador Ayrton Tenório Cavalcanti, acolhendo o princípio da publicidade dos
contratos sociais e a obrigação do contratante de examinar o que estabelece o contrato
social quanto aos poderes de gerência e representação da sociedade, eximiu de
responsabilidade a sociedade por atos praticados por sócio-gerente que agiu com excessos
de poderes.154

147
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 25. ed. V. 1. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 454.
148
PEIXOTO, Cunha. A Sociedade por Cota de Responsabilidade Ltda. Rio de Janeiro: Forense, 1956. p. 318.
149
BARRETO FILHO, Oscar. Órgãos de Administração das Sociedades Limitadas. In: Revista de Direito Mercantil,
Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977, Nova Série, n. 25, p. 72.
150
BORGES, João Eunápio. Curso de Direito Comercial Terrestre. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1971. pp. 301-
364.
151
ABRÃO, Nelson. Sociedades Por Quotas de Responsabilidade Ltda. São Paulo: Saraiva, 1980. p. 100.
152
LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades Limitadas. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. pp. 448-459.
153
Na corrente contrária, filiaram-se os ilustres Waldemar Ferreira (Instituições de Direito Comercial. São Paulo:
Max Limonad, 1954, 4. ed., v. 1, n. 286, p. 376); e Egberto Lacerda Teixeira (Das Sociedades Por Quotas de
Responsabilidade Limitada. São Paulo: Max Limonad, 1956. p. 115).
154
O dito acórdão foi comentado por Alberto Sanyuan Suen, na Revista de Direito Mercantil, n, 105, pp. 209-212.

Direito Societário - LTDA


55

Contudo, aparentemente contra as tendências da época, o Código Civil de 2002


trouxe norma claramente inspirada na teoria ultra vires, de acordo com a qual a prática de
atos evidentemente estranha aos negócios sociais pode ser oposta ao credor como excesso
de poderes do administrador (art. 1.015, parágrafo único, III).
Nos termos do art. 1.015, do Código Civil, o excesso de poderes por parte dos
administradores somente poderá ser oposto a terceiros caso: (i) a limitação de poderes
esteja inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; (ii) prove-se ser conhecida
do terceiro; ou (iii) trate-se de operação evidentemente estranha aos negócios da
sociedade.
Sobre a matéria, não se pode deixar de mencionar enunciado elaborado pela
comissão de Direito de Empresa da III Jornada de Direito Civil, realizada pelo Conselho da
Justiça Federal, com o apoio do Superior Tribunal de Justiça:

219 – Art. 1.015: Está positivada a teoria ultra vires no Direito


brasileiro, com as seguintes ressalvas: (a) o ato ultra vires não
produz efeito apenas com relação à sociedade; (b) sem embargo, a
sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo;
(c) o Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo
os poderes implícitos dos administradores para realizar negócios
acessórios ou conexos ao objeto social, os quais não constituem
operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; (d)
não se aplica o art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da
existência de regra especial de responsabilidade dos
administradores (art. 158, II, Lei nº 6.404/1976).

2.3.5.5 Conselho Fiscal


Foi expressamente prevista no Código Civil de 2002 a possibilidade de criação de
conselho fiscal pela sociedade limitada, paralelamente à assembleia de quotistas ou
reunião de quotistas. Nos moldes do regime das sociedades anônimas, a norma contida no
art. 1.066 restringe o acesso ao conselho fiscal àqueles que estão livres de qualquer
conflito de interesse com a sociedade. Assim, os administradores, empregados, seus
cônjuges, entre outros (art. 1.066, § 1º), estão impedidos de participar do conselho fiscal.
Percebe-se com clareza a intenção do legislador de garantir a independência do conselho
fiscal em benefício do interesse dos sócios minoritários. José Waldecy Lucena ensina que,
na prática societária como o Conselho Fiscal instala-se a pedido dos minoritários,
dificilmente teremos o sócio ou grupo dominante requisitando a criação de um Conselho
Fiscal, e cita Waldírio Bulgarelli:

Claro que a hipótese de o Conselho Fiscal ser instalado por


determinação do próprio controlador é viável, porém de difícil
verificação na prática. Poderá ocorrer nos casos em que o Conselho
Fiscal já estivesse previsto em estatuto antigo a que não se quis
alterar, ou na hipótese em que o controlador queira demonstrar total
isenção, o que certamente não afasta uma eiva de suspicácia de que
assim o faz com certeza de que controlará o órgão. 155

155
LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades Limitadas. 6. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 568.

Direito Societário - LTDA


56

Por isso mesmo, tal como previsto no art. 161, § 4º da Lei das S.A., 156 que visa a
assegurar a participação das minorias acionárias no conselho fiscal, o art. 1.066, § 2º, do
Código Civil, estabelece que os sócios minoritários, que representarem pelo menos vinte
por cento do capital social, têm o direito de eleger, separadamente, um dos membros do
conselho fiscal e o respectivo suplente.
O conselho fiscal é o órgão da sociedade que tem como atribuição fundamental a
fiscalização das atividades negociais desenvolvidas pelos administradores e das
demonstrações financeiras produzidas. Não é órgão obrigatório, como o são a assembleia
de quotistas e ao menos um órgão administrativo. Portanto, para instalação de conselho
fiscal, é necessário que o contrato social (i) o tenha regulado de forma definitiva; (ii)
preveja as hipóteses em que poderá ser instalado; ou (iii) preveja, ao menos, a
possibilidade de instalação.
Antes do advento do Código Civil, o conselho fiscal já era admitido pela
interpretação do art. 18 do Decreto nº 3.708/1919, que, como mencionado, estabelecia a
aplicação da Lei das S.A. como supletiva ao contrato social.
O conselho fiscal está subordinado à assembleia ou reunião de quotistas; prova
desta afirmativa é a eleição e destituição dos conselheiros fiscais pela assembleia. Sua
composição deverá observar o mínimo de três membros e respectivos suplentes, cabendo
ao contrato estipular o número máximo de conselheiros. Esses poderão ser sócios ou não,
mas deverão residir no Brasil (art. 1.066).
A investidura no cargo de conselheiro fiscal segue o mesmo formalismo da
investidura do administrador, ou seja, por meio da assinatura do termo de posse lavrado
no livro de atas e pareceres do conselho fiscal, no qual se mencione o seu nome,
nacionalidade, estado civil, residência e a data da escolha. O exercício de suas funções
será até a próxima assembleia anual, salvo se for destituído ou houver vacância (art.
1.067).
A remuneração do conselheiro fiscal é fixada pela assembleia de quotistas para todo
o período de duração de seu mandato e poderá ser global ou individualmente fixada, tendo
em vista a ausência de imposição legal para uma ou outra (art. 1.068). Todavia, não há
impedimento de que o valor anual seja dividido em pagamentos, sejam mensais ou com
qualquer outra periodicidade.
As atribuições e poderes dos membros do conselho fiscal estão elencados nos
incisos do art. 1.069, os quais não podem ser outorgados a outro órgão da sociedade,
sendo a responsabilidade de seus membros a mesma imputada aos administradores (art.
1.070). Isto é, os conselheiros responderão solidariamente diante da sociedade e dos
terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções (art. 1.016).
Constata-se, portanto, que o controle exercido pelo conselho fiscal sobre a
administração da sociedade é técnico e não político. O controle político é atribuído a outro
órgão da sociedade: a assembleia ou reunião de quotistas.

2.3.5.6 Business judgement rule


Nos EUA, a doutrina e a jurisprudência desenvolveram a ideia que existe uma área
de controle para o controle dos poderes dos administradores. Tal noção foi consolidada no
termo business judgment rule. Esse termo foi desenvolvido pelos tribunais norte-

156
Note-se que, embora tenha o mesmo teor, o art. 161, § 4º da Lei das S.A. prevê o percentual mínimo de 10%
do capital social votante, enquanto o art. 1.066, § 2º, do Código Civil, estabelece o percentual mínimo de 20%
do capital social total.

Direito Societário - LTDA


57

americanos ao estabelecerem que administradores de uma companhia não poderiam ser


responsabilizados pessoalmente por eventuais perdas incorridas em virtude de decisões
administrativas tomadas na medida em que demonstre que se agiu com a devida diligência
e boa-fé.
Esse conceito foi posto em foco a partir da decisão em Otis & Co. v. Pennsylvania
R. Co. de 1945. Nesse caso, um grupo de acionistas de uma companhia ingressou contra
os seus administradores sob o fundamento de que eles teriam falhado em seus deveres ao
não ter obtido o melhor preço possível na venda de valores mobiliários ao negociar apenas
com um investidor, deixando de procurar por um melhor preço, o que teriam resultado na
perda de uma grande quantia. À época, o tribunal decidiu que os administradores tinham
agido de boa-fé e, portanto, não poderiam ser responsabilizados, mesmo que pudessem
ter escolhido uma estratégia equivocada. Desde então, a noção da “business judgment
rule” tem sido desenvolvida pela doutrina e pela jurisprudência norte-americana. O
conceito de “business judgment rule” está diretamente ligado aos deveres fiduciários
incumbidos aos administradores das companhias de atuarem apenas no interesse dos
acionistas e de buscarem proporcionar a eles o maior retorno possível (os chamados
deveres “Revlon”, em alusão ao caso Revlon, Inc. v. MacAndrews & Forbes Holdings, Inc.
de 1986 que serve como precedente).157
A evolução jurisprudencial a respeito do alcance desta doutrina representou um
avanço significativo na concepção jurídica das funções dos administradores sociais. Com o
curso do tempo, a jurisprudência estadunidense desenvolveu, efetivamente, certos
critérios para a aplicação prática da regra da arbitrariedade. Esses foram compilados,
posteriormente, no célebre caso Shlensky v. Wrigley. Em termos gerais, tais critérios
podem ser sintetizados da seguinte maneira: (i) Os juízes não podem intervir na
administração de uma companhia, ainda que as decisões adotadas por seus
administradores não tenham sido bem-sucedidas; (ii) Os juízes não podem estabelecer ou
modificar as políticas internas de uma sociedade. As decisões dos administradores, os quais
foram eleitos pelos sócios, devem prevalecer, a não ser que haja uma atuação fraudulenta;
e (iii). Os juízes não podem tentar impor seus critérios aos administradores sociais que
tenham atuado conforme a lei.158
Sobre esse tópico, vale destacar a recente e interessante decisão de 29 de junho
de 2008, do tribunal de Delaware no caso Ryan vs. Lyondell Chemical Co., no qual se
estabelece a possibilidade de os diretores das companhias situadas em Delaware serem
considerados responsáveis civilmente, caso se comprove a quebra do dever fiduciário
esperado em processos de venda da companhia.

2.3.5.7 Deepening insolvency


A chamada deepening insolvency é uma teoria desenvolvida nos Estados Unidos
que se relaciona com a hipótese de manutenção fraudulenta das atividades da companhia
diante de um claro cenário de insolvência, resultando, assim, em graves danos para a
companhia. Como exemplo de tais práticas: celebração de contratos sem qualquer

157
Para maiores informações acerca desse tema, ver: KLEIN, William A.; RAMSEYER, J. Mark; BAINBRIDGE,
Stephen M. Business Associations: cases and material on agency, partnerships, and corporations. 5. ed. Nova
York: Foundation, 2003; SILVA, Alexandre Couto. Responsabilidade dos Administradores de S/A “business
judgment rule”. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007; e VILLAMIZAR, Francisco Reyes. Derecho Societario en Estados
Unidos, Intoducción Comparada. 2nd ed. Bogotá: Editorial Legis, 2005.
158
BAINBRIDGE, Stephen M. Corporation Law and Economics. New York: Foundation Press, 2002. p. 244.

Direito Societário - LTDA


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pretensão de capacidade futura de cumprimento, aumentando o risco de falência, minando


relações comerciais, etc.
A princípio, a criação dessa teoria se baseou em aspectos de teorias sobre finanças
corporativas. A ideia é que incorrer de forma equivocada em dívidas que não podem ser
pagas pode aumentar substancialmente os custos associados com a insolvência, tais como
as despesas relacionadas ao processo de falência ou recuperação, bem como a perda no
valor dos ativos da companhia.
Assim, pouco a pouco a jurisprudência norte-americana foi reconhecendo a
possibilidade de uma companhia em processo de falência ou de recuperação, ou seus
representantes, poderem exigir ressarcimentos pelos danos causados por diretores,
conselheiros ou profissionais envolvidos com a administração da companhia em momentos
anteriores ao início do processo de falência ou recuperação. Esses administradores ou
profissionais seriam responsáveis pelos danos causados à companhia caso tenham
facilitado ou realizado atos de má administração, ou ainda, contribuído para a maquiagem
de suas demonstrações financeiras, de forma a contribuir para a falência ou para uma
grave perda de ativos da sociedade.
O exemplo clássico é aquele no qual o réu utilizou ou preparou declarações
financeiras fraudulentas inflacionando os ativos sociais para angariar capital em nome da
companhia. Se a publicação das condições financeiras reais levasse a um aumento na
dívida que mais tarde na liquidação fizesse com que os credores arcassem com uma perda
maior do que eles teriam tido se a companhia tivesse sido liquidada antes do financiamento
fraudulento, o réu pode vir a ser processado com base na teoria da deepening insolvency,
sem prejuízo das demais ações judiciais contra os administradores por quebra dos deveres
fiduciários.
Os requisitos para se aplicar essa teoria são diferentes de acordo com a jurisdição
estadual. Em alguns Estados norte-americanos, se exige a ocorrência de fraude. Em outro,
a mera constatação de negligência já é suficiente.
É importante observar que os autores de uma ação baseada na teoria da deepening
insolvency contra administradores devem superar a business judgment rule. Isso porque,
como se mencionou, a presunção é que, ao tomar a decisão, administradores atuaram de
forma informada, com boa-fé e acreditando que a ação tomada era do melhor interesse da
companhia. Contudo, essa presunção é afastada se for demonstrado que a decisão
discutida excede em muito os limites de um julgamento razoável que parece que não pode
ser explicada por qualquer outros que a existência de má-fé.
Destaca-se que o conjunto de réus em potenciais tem sido cada vez mais expandido
pela jurisprudência para incluir todos aqueles que estavam engajados em negócios com
companhia potencialmente em dificuldades financeiras, tais como advogados, contadores,
auditores, assessores financeiros, bancos de investimento, credores, underwriters,
acionistas controladores e partes em contratos importantes.

2.3.6 Deliberações entre sócios


Até 2002, as sociedades limitadas eram regidas pelo Decreto nº 3.708 de 1919,
composto por apenas 19 artigos, permitindo que os sócios tivessem bastante liberdade
para regulamentar a vida da sociedade por meio de normas contratuais.
Com o advento do Código Civil de 2002 e do novo Direito de Empresa, determinadas
matérias das sociedades limitadas passaram a depender da deliberação dos sócios. São
matérias que, por influir profundamente nas relações sociais e na própria estrutura da

Direito Societário - LTDA


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sociedade, o legislador achou por bem que deveriam, necessariamente, emanar de decisão
dos sócios.
De acordo com os artigos 1.071, 1.066, § 1º e 1.068 do referido diploma legal, (i)
a aprovação de contas da administração; (ii) a designação dos administradores, quando
feita em ato separado; (iii) a destituição dos administradores; (iv) o modo de sua
remuneração, quando não estabelecido no contrato; (v) a modificação do contrato social;
(vi) a incorporação, a fusão, e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de
liquidação;159 (vii) a nomeação e destituição dos liquidantes e julgamento de suas contas;
(viii) a aprovação de plano de Recuperação Judicial ou Extrajudicial; 160 e (iv) a eleição do
conselho fiscal e fixação da remuneração de seus membros devem ser submetidas à
reunião ou assembleia de sócios, conforme previsto no contrato social.
Sendo assim, para que sejam válidas e eficazes as decisões concernentes a essas
questões, produzindo efeitos perante os sócios e para a sociedade, é necessária a
observância das formalidades legais para a convocação (competência, modo, ordem do
dia, conhecimento dos sócios), instalação e funcionamento do fórum deliberativo e do
quórum estabelecido para sua aprovação.
Há, por outro lado, deliberações dos sócios atinentes à estratégia geral e gestão
rotineira dos negócios da sociedade que não dependem de formalidade legal para possuir
validade e eficácia e que podem impactar na administração e desenvolvimento da
sociedade. A título de exemplo, mencionamos a alteração do quadro de empregados da
sociedade ou, ainda, a redução de custos administrativos. Não obstante, caso haja
matérias julgadas relevantes ou estratégicas pelos sócios, poderão estabelecer que estas
também dependerão de deliberação dos sócios.
Vale ressaltar que a condição de sócio não se confunde com a de administrador,
ainda que esse cargo possa ser exercido por uma pessoa (natural) que detenha
participação societária na limitada.
Portanto, mesmo que a prática de determinado ato pela sociedade dependa de
prévia deliberação de seus sócios, é fundamental que se compreenda que cabe aos
administradores, ou eventualmente a procuradores, a representação da sociedade.
2.3.6.1 Foro de Deliberação: Assembleia ou Reunião de Sócios
A assembleia de sócios, fonte do poder político e órgão máximo na organização
social, não era regulada pelo Decreto n° 3.708/1919. O Código Civil disciplina esse órgão
de modo muito parecido com as assembleias de acionistas, previstas da Lei nº 6.404/76
(Lei das S.A.), preservando, no entanto, a natureza personalista161 da sociedade limitada.

159
Cumpre salientar que a lei não menciona a cisão da sociedade limitada como matéria sujeita à deliberação
assemblear. Embora não haja referência expressa, a cisão total acarreta a extinção da sociedade, e a parcial a
alteração do contrato; por conseguinte, a decisão está contemplada nos incisos V e VI do artigo 1.071. Segundo
Enunciado nº 227 aprovado na III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “O quórum mínimo
para a deliberação da cisão da sociedade limitada é de três quartos do capital social.”
160
É importante indicar que, no caso de recuperação judicial da empresa, os administradores, se houver urgência
e com autorização dos titulares de mais da metade do capital social, podem requerê-la, o que deve ser ratificado
na assembleia ou reunião seguinte (ROVAI, Armando Luiz. Deliberação nas sociedades limitadas. In: Tipos
societários. FINKELSTEIN, Maria Eugênia; PROENÇA, José Marcelo Martins (Coord.). São Paulo: Saraiva, 2009.
p. 152).
161
Classicamente, a Doutrina reconhece a preponderância da natureza pessoal da relação entre sócios e destes
com o ente social, nas sociedades limitadas. Contudo, este é um conceito que vem sendo mitigado pela literatura
moderna. Sobre o tema, recomenda-se a leitura do seguinte trabalho: FRANÇA, Erasmo Valladão Azevedo e
Novaes; ADAMEK, Marcelo Vieira von. Affectio societatis: um conceito jurídico superado no moderno direito
societário pelo conceito de fim social. Revista de Direito Mercantil Industrial, Econômico e Financeiro, v. 149-150,
a. CLVII, jan./dez. 2008.

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60

O Código Civil adota uma distinção entre reunião e assembleia de sócios. A


assembleia será obrigatória para sociedades com mais de dez sócios (artigo 1.072, § 1º).
Em contrapartida, para as sociedades cujo número de sócios não ultrapassa dez, o contrato
social pode estabelecer que as deliberações sejam adotadas em reunião de sócios, podendo
ainda instituir regras próprias sobre a sua periodicidade, convocação, quórum de
instalação, curso e registro do trabalho (artigos 1.072, § 6º, e 1.079). Se o contrato social
for omisso, aplicar-se-ão às reuniões as regras previstas para as assembleias, sendo
necessário cumpri-las para que as deliberações tomadas sejam válidas.
Sendo as deliberações realizadas em assembleia, é necessário que o seu anúncio
de convocação seja publicado por três vezes, ao menos, sendo a primeira com
antecedência mínima de oito dias para a primeira convocação, e de cinco dias para as
posteriores (artigo 1.152, § 3º).162/163 De acordo com o artigo 1.072, § 2º, estas
formalidades são dispensáveis ou a sua inobservância é sanada quando todos os sócios
comparecerem ou declararem, por escrito, estarem cientes do local, data, hora e ordem
do dia.
Ainda, há que se destacar que as sociedades empresárias que se enquadrem no
conceito legal de microempresa e de empresa de pequeno porte, ambos introduzidos pela
Lei Complementar nº 123/2006 (art. 3º), estão dispensadas da realização de reuniões e
assembleias (art. 70), exceto se houver estipulação em contrário no ato constitutivo ou
em caso de deliberação quanto à exclusão de sócio164.
De qualquer modo, a reunião ou a assembleia tornam-se dispensáveis quando todos
os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas (artigo 1.072 §
3º).
Independentemente de previsão contratual, deverá ser realizada ao menos uma vez
por ano a assembleia de sócios para deliberar as matérias previstas no artigo 1.078: (i)
tomar as contas dos administradores; (ii) deliberar sobre o balanço patrimonial e o
resultado econômico; e (iii) designar administrador, quando for o caso. Outros assuntos
poderão ser incluídos na ordem do dia (artigos 1.066 e 1.068), uma vez que inexiste
limitação de competência para essa assembleia. Os sócios devem cumprir uma ordem de
deliberação das matérias pautadas, iniciando-se os trabalhos pela discussão e votação das
contas, balanço patrimonial e balanço de resultado econômico. Isso porque a desaprovação
das contas ou demonstrações contábeis, influenciam, consideravelmente, na eleição para
recondução dos administradores ao cargo, quando for o caso.165
Tal assembleia, denominada pela doutrina como ordinária (em analogia à
Assembleia Geral Ordinária prevista da Lei das S.A.) ou anual, se realizará nos quatro
meses seguintes ao término do exercício social. A aprovação sem reserva, pelos sócios, do
balanço patrimonial e do de resultado econômico exonera de responsabilidade os membros

162
Nas sociedades limitadas, o edital de convocação de assembleia, se feito com observância do disposto no art.
1.152, § 3º, do Cód. Civil, não é irregular. Sobre o tema: BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Sexta
Turma Cível. Agravo de instrumento n. 2006.00.2.008945-2. Relator: Desembargador Jair Soares. Julgado em
20 de setembro de 2006.
163
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
455.
164
PICCHI, Flávio Augusto. Regras de quórum: espécies, votos em branco e nulos, empate. In: Direito Societário
I. AZEVEDO, Erasmo Valladão; FRANÇA, Novaes (Org.). São Paulo: Quartier Latin, 2009. p. 192. Note-se que o
referido autor explica que no caso das microempresas e das empresas de pequeno porte as reuniões e
assembleias serão substituídas por deliberação representativa do primeiro número inteiro superior à metade do
capital social (art. 70, parágrafo 1º).
165
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
456.

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61

da administração e, se houver, os do conselho fiscal, salvo erro, dolo ou simulação


provados. Nos termos do artigo 1.078, § 4º, extingue-se em dois anos o direito de anular
a aprovação eivada de vício de consentimento do balanço patrimonial e do de resultado
econômico.
A competência para a convocação da assembleia é dos administradores. Tal
atribuição está inserida nos poderes gerais de administração. Excepcionalmente, poderão
os sócios ter legitimidade para convocar assembleia nos casos previstos no artigo 1.073,
I, a saber:166 a) quando os administradores retardarem a convocação, por mais de sessenta
dias, nos casos previstos em lei ou no contrato; b) se titulares de mais de vinte por cento
do capital social formularem aos administradores pedido de convocação fundamentado,
com indicação das matérias a serem tratadas, e esse não houver sido atendido no prazo
de oito dias.
O conselho fiscal, se houver, também poderá convocar a assembleia se os
administradores retardarem a convocação da assembleia anual por mais de trinta dias, ou
sempre que ocorrerem motivos graves e urgentes (artigos 1.073 e 1.069, V). Note-se que
não haverá necessidade de o conselho fiscal aguardar o decurso dos trinta dias se a
convocação for para assembleia extraordinária, pois esta não versa sobre nenhuma das
matérias do artigo 1.078.
A convocação da assembleia deve ser publicada, ao menos, por três vezes, no Diário
Oficial do Estado em que se encontra sediada a sociedade, ou no Diário Oficial da União,
quando a sede da sociedade se localizar no Distrito Federal ou Território. A presença da
integralidade dos sócios na assembleia ou ainda a declaração formal de ciência da mesma
(local, data, hora e ordem do dia) suprem a necessidade de publicação dos anúncios de
convocação.
A assembleia dos sócios instala-se com a presença, em primeira convocação, de
titulares de, no mínimo 3/4 (três quartos) do capital social, e, em segunda, com qualquer
número de sócios. O contrato social pode ampliar este quórum de instalação, mas, se o
reduzir, a cláusula é nula.
A presença de sócios na assembleia em número suficiente para a instalação da
assembleia não assegura a aprovação das matérias previstas na ordem do dia, pois,
dependendo da matéria submetida à deliberação, mesmo que todos os presentes votem
favoravelmente pela sua aprovação, é possível que os quóruns estabelecidos pela lei
(artigo 1.076) não sejam atendidos. Esses quóruns, igualmente aos de instalação, podem
ser ampliados pelo contrato social, mas nunca diminuídos.
O sócio não precisa comparecer pessoalmente à assembleia, podendo ser
representado por outro sócio ou por advogado, mediante outorga de mandato com
especificação dos atos autorizados pelo mandante ao mandatário. O instrumento do
mandato deve ser levado ao registro da sociedade (Registro Público de Empresas

166
Sobre a legitimidade para convocação, acórdão do STJ reconheceu a validade de assembleia de sociedade
limitada convocada pelo sócio titular de 50 % do capital social. Embora a decisão seja fundamentada no antigo
Decreto, o v. acórdão menciona que o artigo 1.073, I, do Código Civil também autoriza a convocação neste caso;
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 493297-SP. Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
Julgado em 24 de junho de 2003. “A egrégia Terceira Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São
Paulo deu provimento ao agravo, nos termos da seguinte ementa: ‘Sociedade Limitada. No silêncio do contrato
e do Decreto-Lei 3708/1919, admite-se a iniciativa do sócio detentor de 50% do capital social para a convocação
de reunião ou assembleia de sócios (como já autorizado no novo Código Civil, art. 1.073, I), por se tratar
de proposição do interesse da sobrevida da sociedade comprometida pela ruptura da affectio societatis. Não
incidência da Lei 6404/1976. Provimento para cassar a decisão que suspendeu a convocação’”. (Os grifos não
são do original).

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62

Mercantis; leia-se, Junta Comercial do Estado da sociedade), juntamente com a ata da


assembleia (artigo 1.074, § 1º).
Nenhum sócio, por si ou na condição de mandatário, pode votar matéria que lhe
diga respeito diretamente (artigo 1.074, § 2º). Esta vedação busca evitar o conflito de
interesses entre sócio e sociedade. Quando houver o conflito, o sócio não deve votar nem
em seu nome nem como mandatário de outro sócio ausente.
Os sócios presentes devem eleger entre si um presidente e um secretário, para
conduzir a assembleia, sempre assegurando o direito à voz e ao voto dos sócios
remanescentes, podendo ainda essas funções recair sobre profissionais contratados da
sociedade (advogados, administradores, etc.), quando rejeitadas por aqueles. 167
As formalidades procedimentais prescritas em lei para a assembleia das sociedades
limitadas tornaram-se similares às das companhias (sociedades anônimas), haja vista (i)
a indicação de presidente e secretário escolhidos dentre os sócios presentes; (ii) a
lavratura, pelo secretário, de uma ata dos trabalhos e deliberações no livro de atas da
assembleia; e (iii) o seu arquivamento no órgão de registro competente (artigo 1.075).
Não obstante, nas sociedades limitadas, o arquivamento e averbação da ata da
assembleia devem ser apresentados ao Registro Público de Empresas Mercantis (artigo
1.075, § 2º) nos vinte dias subsequentes à sua realização; prazo esse inferior, portanto,
ao prazo geral de 30 dias (artigo 1.151, § 1º; Lei n° 8.934/1994, artigo 36).
Embora a lei seja omissa, é muito importante que as presenças sejam registradas
em livro próprio, para a verificação do quórum de instalação, pois pode ocorrer que sócio
divergente vencido em votação recuse-se a assinar o livro de atas, visando a obstar o
alcance do quórum necessário para a validade de certa deliberação. Nesses casos, deve-
se lavrar a ata circunstanciando o acontecido, sendo a declaração dos demais sócios
presentes e a lista de presença provas suficientes para promover o registro.
2.3.6.2 Quórum para Deliberações
O artigo 1.076 dispõe sobre o quórum de deliberação para aprovação das matérias
submetidas à assembleia. Tendo em vista tratar-se de norma de ordem pública, esse
quórum não pode ser reduzido pelos sócios ou pelo contrato social. Portanto, a deliberação
tomada com quórum reduzido será anulável.
Além dos quóruns qualificados estabelecidos no artigo 1.076, como exposto ao
longo do presente, existem outros espalhados pela lei. Cumpre esclarecer que se denomina
quórum qualificado, quando para aprovação da matéria é necessária a concordância de
sócios que representem mais do que a maioria dos presentes.
Isso porque no Código Civil de 2002 também prevaleceu o princípio geral da
maioria, como se extrai do artigo 1.072 combinado com o artigo 1.010, sendo certo que,
em caso de empate, prevalecerá a decisão sufragada por maior número de sócios, e, se
tal persistir, a questão será decidida por via judicial.
Dentre as matérias previstas, destacamos as de maior relevância:
(i) Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem
seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver
oposição de titulares de mais de 1/4 (um quarto) do capital social (artigo 1.057);
(ii) A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação da unanimidade
dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo,
após a integralização (artigo 1.061);

167
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
457.

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63

(iii) A destituição de sócio nomeado administrador no contrato somente se opera pela


aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais da metade do capital social, salvo
disposição contratual diversa. (artigo 1.063 § 1º);
(iv) A modificação do contrato social, incorporação, fusão e dissolução da sociedade, ou a
cessação do estado de liquidação serão tomadas com, no mínimo, 3/4 (três quartos) do
capital social (artigos 1.071, V e VI, e 1.076, I);
(v) A designação dos administradores, quando feita em ato separado, a destituição dos
administradores (exceto se sócio e nomeado no contrato social), o modo de sua
remuneração, quando não estabelecido no contrato, e o pedido de recuperação judicial 168
dependem do voto afirmativo de mais da metade do capital social (artigos 1.071, II, III,
IV e VIII, e 1.076, II) e a exclusão extrajudicial de sócio por justa causa (artigo 1.085); e
(vi) A transformação da sociedade em outro tipo societário depende do consentimento de
todos os sócios, salvo se prevista já no ato constitutivo (artigo 1.114).
As deliberações dos sócios quanto à aprovação das contas dos administradores,
nomeação e destituição dos liquidantes e julgamento de suas contas e nos demais casos
previstos na lei ou no contrato em que não exigem maioria mais elevada serão tomadas
pela maioria de votos dos presentes (artigo 1.076, III).
A princípio, a discordância de um sócio da decisão majoritária não lhe confere o
direito de retirada, salvo nos casos previstos em lei (artigo 1.077). Contudo, quando
houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por
outra, terá o sócio que dissentiu o direito de se retirar nos trinta dias subsequentes à
reunião ou assembleia em que ficou vencido.
Vale lembrar que as deliberações infringentes do contrato social ou da lei tornam
ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram e não de todos os sócios
(artigo 1.080).
Assim, os sócios se vinculam às deliberações sociais em geral, quando em
conformidade com a lei ou com o contrato social, ainda que ausentes ou vencidos nas
votações (artigo 1.072, § 5º). Mas às deliberações que vierem a infringi-los somente
respondem os que as aprovarem, isentando-se os que se tornaram vencidos.
Ainda, como mencionado acima, a aprovação dos resultados – balanço patrimonial
e resultado econômico – aceito sem reservas pelos sócios, salvo hipóteses de erro, dolo
ou simulação, desoneram de responsabilidade os administradores, bem como os membros
do conselho fiscal, se existente.
Contudo, é importante ter claro que no caso de os sócios deliberarem algo contrário
ao contrato social, mas com quórum suficiente para a alteração do mesmo, não há que se
falar em responsabilidade ilimitada, pois se tratará de alteração contratual comum. Por
óbvio, o mesmo não ocorre quando a deliberação afronta a lei. Nesse caso, a sanção é a
responsabilidade ilimitada.

168
Com a revogação do Decreto-lei 7.661/1945 e o advento da lei 11.101/2005, o inciso VIII do artigo 1.071
passou a fazer referência, à luz do artigo 198 da lei 11.101/2005, ao pedido de recuperação judicial, o qual possui
papel próximo ao antes atribuído à concordata. TEPEDINO, Gustavo (org.). Código Civil interpretado conforme a
Constituição da República – vol. III – Rio de Janeiro: Renovar, 2011. p. 213.

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64

2.3.6.3 Quotas preferenciais, em tesouraria e o exercício do direito de voto


A admissibilidade da criação de quotas preferenciais169 e a aquisição de quotas e
sua manutenção em tesouraria170 pelas sociedades limitadas são temas que há muito vêm
sendo objeto de debate.
A discussão ganhou novos contornos171 com a edição, pelo Departamento de
Registro Empresarial e Integração – DREI, da IN DREI nº 38/2017. Isso porque o Anexo II
da referida Instrução Normativa, denominado “Manual de Registro da Sociedade Limitada”,
por meio do seu item 1.4, admitiu a possibilidade de adoção pela limitada de determinados
institutos próprios das sociedades anônimas, se referindo expressamente às quotas
preferenciais e em tesouraria.
Quotas preferenciais são aquelas que concedem aos seus titulares determinadas
vantagens patrimoniais172 ou políticas em relação às quotas ditas ordinárias. Em
contrapartida, é possível (e não necessário) que o contrato social imponha restrições ao
exercício do direito de voto inerente a essas quotas, tanto em caráter específico, limitando
o voto a apenas determinadas matérias, quanto geral, suprimindo por completo esse
direito.
Com relação ao outro instituto, admite-se que a sociedade limitada negocie com
suas próprias quotas173, mantendo-as em tesouraria, desde que utilize seu saldo de lucros
ou reservas para efetivar a respectiva subscrição ou aquisição. Não obstante, importa
consignar que as referidas quotas não conferem à sociedade o direito de votar em suas
próprias deliberações sociais, tampouco o de perceber dividendos174.
Com relação a esse aspecto cabe dedicar-se a análise mais apurada das quotas
preferenciais, que, em uma análise rasa, poderiam ser consideradas prejudiciais ao
resultado de certas deliberações sociais.
Considerando que nas reuniões de sócios e nas assembleias das sociedades
limitadas (i) os votos são computados com base no valor das quotas de cada sócio, (art.
1072 c/c art. 1.010 do CC); e (ii) os quóruns de aprovação das matérias usualmente têm

169
A favor: VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de Direito Comercial, vol. 2. 2.ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2010. p. 420-422. Contrário: CAMPINHO, Sergio. O Direito de Empresa À Luz do Novo Código Civil. 5.
ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
170
A favor: BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. 12. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. p. 139
Contrário: CAMPINHO, Sergio. O Direito de Empresa À Luz do Novo Código Civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2005. p. 168.
171
O extinto Departamento Nacional do Registro do Comércio – DNRC responsável pela edição da, ora revogada,
IN DNRC nº 98/2003 dispunha por meio do item 1.2.16.3 do seu Anexo II que “não cabe para sociedade limitada
a figura da quota preferencial.”
172
Com relação às vantagens das ações preferenciais, instituto que inspirou as quotas preferencias, dispõe a Lei
das S.A.:
Art. 17. As preferências ou vantagens das ações preferenciais podem consistir:
I - em prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo;
II - em prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele; ou
III - na acumulação das preferências e vantagens de que tratam os incisos I e II.
(...)
173
O revogado Decreto nº 3.708 de 1919 dispunha em seu art. 8º que “É licito ás sociedades a que se refere
esta lei adquirir quotas liberadas, desde que o façam com fundos disponíveis e sem ofensa do capital estipulado
no contrato. A aquisição dar-se-á por acordo dos sócios, ou verificada a exclusão de algum socio remisso,
mantendo-se intacto o capital durante o prazo da sociedade.” O atual Código Civil não trouxe dispositivo
correspondente, de modo que se deve aplicar às sociedades regidas supletivamente pela Lei das S.A. o disposto
no art. 30, parágrafo 1º, alínea “b”, no sentido que “Art. 30. A companhia não poderá negociar com as próprias
ações. § 1º Nessa proibição não se compreendem: (...) b) a aquisição, para permanência em tesouraria ou
cancelamento, desde que até o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital
social, ou por doação; (...)”.
174
Cf. LSA. “Art. 30 (...) § 4º As ações adquiridas nos termos da alínea b do § 1º, enquanto mantidas em
tesouraria, não terão direito a dividendo nem a voto.”

Direito Societário - LTDA


65

por base a totalidade do capital social (v.g., art. 1076 CC), seria possível afirmar que a
deliberação de determinadas matérias pode restar prejudicada, caso existam ações
preferenciais?
Para ilustrar a questão suscitada, tome-se por exemplo uma limitada em que as
quotas ordinárias representam 60% (sessenta por cento) do capital social, ao passo que
as quotas preferenciais representam os demais 40% (quarenta por cento). Sendo certo
que o quórum legal para alteração do contrato social é de 75% (setenta e cinco por cento)
do capital social (art. 1.076, I do CC), seria correto dizer que uma deliberação nesse
sentido não poderia ser aprovada nessa limitada? A resposta, por óbvio, só pode ser
negativa.
Portanto, em um cenário em que existam quotas preferenciais, tais dispositivos do
Código Civil precisam sofrer uma releitura, para considerar a totalidade do capital social
votante. Dessa forma, tem-se que as quotas preferenciais não interferem nos quóruns de
deliberação.
Por fim, é válido mencionar que a supressão ao direito de voto não autoriza que a
convocação das assembleias e reuniões não sejam dirigidas aos titulares de quotas
preferenciais, tampouco os impede de delas participar.

2.4 A EXTINÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA

2.4.1 Dissolução, Liquidação, Partilha e Extinção da Sociedade


Avança-se ao estudo do procedimento de extinção da sociedade, isto é, da sucessão
de atos que têm por objetivo promover o encerramento das atividades sociais, com a
liquidação do patrimônio social (apuração de bens, das dívidas, pagamento aos credores,
partilha do remanescente ente os sócios - sentido amplo) e consequente extinção da
pessoa jurídica. A dissolução em sentido amplo divide-se em três momentos: dissolução
de fato, a liquidação e a extinção.
Dissolução em sentido estrito, ou propriamente dita, ocorre quando há uma causa,
um fato jurídico que irá inaugurar o procedimento, previsto na lei ou decisão judicial, e
que desencadeará o procedimento dissolutivo (v.g., morte de um sócio, término do prazo
de duração do contrato ou distrato social).
A sociedade é pessoa jurídica, a personalidade jurídica se adquire com o registro e
não acaba com o encerramento da liquidação, mas com a baixa no registro de empresas.
Durante o processo de dissolução a sociedade em liquidação conserva sua pessoa jurídica,
daí a necessidade da baixa175. Considerando que o sistema adotado pelo direito brasileiro
é o registral e a finalidade de publicidade dos atos de arquivamento, a referida baixa se
faz essencial.

175
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela
subsistirá para os fins de liquidação, até que essa se conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de
direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.

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66

Dentre as espécies de dissolução, pode-se classificá-la como (i) de pleno direito176;


(ii) judicial177; ou (iii) convencional178.
Ocorrida uma causa que dê início ao processo de dissolução, os sócios deverão
nomear um liquidante, a quem caberá proceder com a liquidação da sociedade. O Código
Civil em seu art. 1.103 apresenta um rol de deveres do liquidante, dentre os quais se
destaca ultimar os negócios da sociedade, isto é, concluir os negócios pendentes, realizar
o ativo, pagar o passivo e partilhar o remanescente entre os sócios179.
Uma vez pago o passivo e partilhado entre os sócios o remanescente, o liquidante
deve convocar a assembleia de sócios para realizar a prestação final das contas. Se elas
restarem aprovadas, encerra-se a liquidação, momento em que a sociedade limitada
poderá ser extinta, ao ser averbada o registro próprio a referida ata.
Por fim, cumpre fazer um importante esclarecimento. Nos itens anteriores, estudou-
se o instituto da resolução da sociedade limitada em relação a um sócio, também conhecido
como dissolução parcial. Aquele procedimento não se confunde com o ora em análise.
A apuração de haveres – fase seguinte à resolução da sociedade em relação a um
sócio – diferencia-se da liquidação na medida em que aquela se dá em virtude da
dissolução do vínculo de um sócio em relação à sociedade, ato jurídico que se opera tão
somente entre eles de modo que não há qualquer paralização na consecução do objeto
social. Por sua vez, a liquidação se dá no bojo de um procedimento que se propõe a
acarretar o encerramento das atividades, com a consequente extinção da pessoa jurídica.

176
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade
em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
II - o consenso unânime dos sócios;
III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;
IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;
V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de
concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas
Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de
responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.
(Redação dada pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)
177
Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando:
I - anulada a sua constituição;
II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade.
178
Art. 1.035. O contrato pode prever outras causas de dissolução, a serem verificadas judicialmente quando
contestadas.
179
Art. 1.103. Constituem deveres do liquidante:
I - averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da sociedade;
II - arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que estejam;
III - proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assistência, sempre que possível, dos
administradores, à elaboração do inventário e do balanço geral do ativo e do passivo;
IV - ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o remanescente entre os
sócios ou acionistas;
V - exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a integralização de suas quotas e, se
for o caso, as quantias necessárias, nos limites da responsabilidade de cada um e proporcionalmente à
respectiva participação nas perdas, repartindo-se, entre os sócios solventes e na mesma proporção, o devido
pelo insolvente;
VI - convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar relatório e balanço do estado da
liquidação, prestando conta dos atos praticados durante o semestre, ou sempre que necessário;
VII - confessar a falência da sociedade e pedir concordata, de acordo com as formalidades prescritas para o
tipo de sociedade liquidanda;
VIII - finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as suas contas finais;
IX - averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado pelos sócios, que considerar
encerrada a liquidação.
Parágrafo único. Em todos os atos, documentos ou publicações, o liquidante empregará a firma ou
denominação social sempre seguida da cláusula "em liquidação" e de sua assinatura individual, com a
declaração de sua qualidade.

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Além disso, na dissolução surge um novo órgão o liquidante, enquanto na apuração de


haveres a relação se desenvolve entre o sócio e a sociedade, com o auxílio de um perito a
quem caberá apurar os haveres. Sobre o tema, explicam Alexandre Ferreira de Assumpção
Alves e Allan Nascimento Turano180:

Entende-se, no entanto, que a expressão “dissolução parcial” é


inadequada. Ao longo do desenvolvimento deste estudo, adota-se a
expressão “resolução da sociedade em relação ao sócio”
tecnicamente mais apropriada. Isso porque a desvinculação do sócio
face à sociedade se opera por meio da resolução do contrato, que
se distingue da dissolução. A resolução faz com que o contrato de
sociedade se extinga para um dos sócios, subsistindo todos os seus
efeitos aos demais em virtude de seu aspecto plurilateral. Em
consequência, é procedida a apuração de haveres do sócio ao qual
o contrato se resolve. Ao seu turno, a dissolução implica na extinção
da sociedade empresária enquanto pessoa jurídica após averbação
do ato no registro competente, precedida da nomeação do liquidante
que conduz a alienação do ativo e o pagamento do passivo para que
o excedente possa ser partilhado.

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180
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