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Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira

Disciplina de Geografia

Manuel Francisco Fernandes Lima

TEORIAS DEMOGRÁFICAS: MALTHUSIANA E NEOMALTHUSIANA

Santa Cruz do Sul


2024
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho busca sintetizar, de forma concisa sem cometer prolixo,


uma abordagem para as teorias malthusiana e neomalthusiana, respectivamente,
apresentando a teoria destas, as condições que induziram seus respectivos autores
a escrevê-las, e demais reflexões e conclusões acerca destas por parte da
comunidade especializada da área.

TEORIA MALTHUSIANA:

A primeira teoria demográfica concebida foi apresentada ao mundo no ano de


1798, no Ensaio sobre o Princípio da População, obra escrita pelo homem cujo
nome deriva desígnio da teoria: Thomas Robert Malthus (1766-1834), clérigo
anglicano, economista e matemático britânico. Malthus presenciou uma das maiores
mudanças relacionais da humanidade, a “famosa” Revolução Industrial por volta da
segunda metade do século XVIII, o que por sua vez pontuou suas percepções.

Em termos simples, a teoria malthusiana conjectura que a população humana


cresce de forma a não poder, em determinado ponto, ter sua necessidade
alimentícia suprida, levando a fome e miséria generalizadas e elevada taxa de
mortalidade e que para evitar tal destino, haver-se-ia de estipular á toda a parcela
pobre população medidas de controle de natalidade.

Porém, para compreender sua teoria de forma coesa, evidenciarei os dois


pensamentos que embasam a lógica por trás dessa colocação:

Penso que posso fazer dois postulados.

Primeiro, que o alimento é necessário à existência do homem.

Em segundo lugar, que a paixão entre os sexos é necessária

e permanecerá quase no seu estado atual.

(MALTHUS,Thomas.R.,1798.)

Indubitavelmente a causa direta do pensamento malthusiano foi a 1ª


Revolução Industrial. Ela causou mudanças em todas as esferas da sociedade
acompanhada até então. No âmbito populacional, este evento, sob o prisma
malthusiano, se revela angustiante. Malthus coloca que com o avanço dos meios de
produção, uma economia desenvolvida, que traz maior qualidade e expectativa de
vida motiva aos indivíduos reproduzirem-se, tal qual animais em situação de
abundância de recursos. Entretanto mesmo com maior qualidade e expectativa de
vida, isso não implicaria diretamente que os meios de produção agrícolas também
evoluiriam, o que ultimamente coloca o ser humano numa previsão pessimista,
liderada pela fome e miséria.

Em seu primeiro ensaio, o autor estabelece uma relação entre as maneiras e


a abundância de recursos com o casamento e natalidade. O autor determina que
dentro de um Estado hipotético 1, onde toda sua população é virtuosa e igual 2
e
encontra fartura dos meios de subsistência, nenhuma parte da sociedade temeria
providenciar devidamente o amparo a uma possível futura família, causando
casamentos antecipados 3, possibilitando o potencial de crescimento ilimitado da
população, quando nessas condições específicas, ser exercido, levando a um
crescimento humano, segundo suas próprias palavras: “...muito maior do que
qualquer aumento até então conhecido”.

Á luz dessa previsão, ele avalia o crescimento populacional dos EUA como
exemplo, um local em que as duas primeiras variáveis são, segundo seu julgamento,
mais presentes, e a transforma na regra: A população se duplicará a cada 25 anos,
ou em ritmo de uma progressão geométrica, ao passo que os recursos de
subsistência cresceriam ao ritmo de uma progressão aritmética: Malthus pondera a
limitação na terra agriculturável disponível, proclamando que dessa maneira, nunca
haveria como a razão de população e subsídio necessário se equivaler.

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1*
: É colocado como hipotético pois segundo o próprio autor afirma que a humanidade não teria presenciado até então um
Estado em que se encontrassem essas condições.

2*
: O uso de conceitos como virtude e “maneiras simples e puras” são uma “herança” do período que o autor foi pastor da igreja
anglicana. Ele usa esses conceitos para pautar a influência da moral nas questões demográficas.

3*
:Já que, na ausência das condições especificadas, seria tendencioso a ocorrência de casamentos tardios. Entre os mais
pobres, por medo de não suprir a família, e entre os mais afortunados, por medo de piorar sua condição de vida.

A superpopulação não só revela problemas em relação a espaço e nutrição,


mas também instabilidade econômica, criando uma oscilação dentro do intervalo de
25 anos, de períodos de sofrimento e de proporção. Nos períodos de sofrimento a
população atual não poderia ser efetivamente sustentada, causando estagnação do
aumento populacional, porém também o barateamento da mão de obra, dado que
com mais trabalhadores do que trabalho no mercado, o preço do trabalho feito pelo
operário precisa tender a um declínio. Nos períodos de proporção, a mão de obra
abundante reestabeleceria a equivalência do subsídio necessário à população, os
efeitos negativos seriam mitigados a um estado confortável, favorecendo ampliação
da população. Isso gera um ciclo, pois toda vez que a população cresce, há falta de
alimento.

Seguindo esse posicionamento Malthus sugere que, para que se poupasse a


espécie de uma fatalidade fossem empregadas medidas de controle de natalidade
nas camadas mais pobres.

Apesar de na época essa ser uma teoria bem estruturada, Malthus falhou em
sua previsão. O avanço considerado por Malthus em todos os demais aspectos do
mundo não englobava a área da agricultura, colocação contradita pela história, pois
esses mesmos avanços também chegaram ao meio agrícola, fornecendo alimento o
suficiente para o abastecimento da população global, logo a fome e a miséria não
mais poderiam ser atribuídas à insuficiência de produção alimentar, como previu, e a
população também não cresceu em progressão geométrica. É importante denotar
que toda sua análise foi feita a partir do crescimento populacional em um espaço
geográfico limitado, com uma população predominantemente rural , logo não pode
considerar a capacidade de crescimento da oferta de recursos.

Sua teoria também foi colocada como cruel e pessimista, pela crença da
predestinação da miséria humana generalizada e controle da reprodução das
camadas mais carentes por meio do seu chamado “controle moral”, ideias refutadas
com a explosão demográfica.

TEORIA NEOMALTHUSIANA
A teoria malthusiana falhou, e este é um fato inapelável. Contudo, o
crescimento demográfico continuaria sendo uma pauta em destaque. Para prever e
gerir a população nesse cenário, teorias demográficas continuaram a ser
desenvolvidas, usando a teoria malthusiana como ponto de partida.

Nos anos 50, após o fim da Segunda Guerra Mundial e mais de 200 anos
após a primeira aparição da teoria malthusiana, os impactos geopolíticos na ordem
global puderam ser interpretados como catalizadores do crescimento acelerado da
população de países subdesenvolvidos, fato que traz receio, já que sob certo viés,
esse crescimento causaria impacto direto na renda per capita dos países. Isso
acarretaria problemas socioeconômicos, miséria e falta de emprego.

Essa é a chamada Teoria Neomalthusiana, nomeada assim por seus


sustentadores apresentarem de mesmo modo que Malthus que a solução para evitar
esse desfecho trágico é o controle da natalidade, porém desta vez através de
políticas de controle populacional, como o planejamento familiar, acesso facilitado a
métodos contraceptivos, educação sexual e outras medidas para desacelerar o
crescimento populacional.

Um exemplo de um país que adotou essas políticas é a China, que a partir


dos anos 70 vem exercendo a Lei do Filho Único, onde todo e qualquer casal chinês
está limitado a conceber um único filho.

Entretanto é importante ressaltar que, dado ao panorama político mantido


pelo processo da globalização, essa teoria vai de encontro a sua crítica central: pela
ênfase ao controle populacional, esta obscurece outros fatores importantes que
influenciam o desenvolvimento humano, como distribuição de recursos, políticas
econômicas e sistemas sociais. Tanto que em algumas fontes há o debate de se
esta teoria não seria, ao invés, um discurso ideológico.

BIBILIOGRAFIA:
MALTHUS. T.R. Ensaio sobre o princípio da população. 1798. Disponível
em:< https://www.econlib.org/library/Malthus/malPop.html?chapter_num=1#book-
reader>.

GUITARRARA, Paloma. Teoria malthusiana; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/geografia/teoria-malthusiana.htm . Acesso em 16 de
abril de 2024.

Professor Marcílio Ricardo. Teorias demográficas (Malthusianismo,


Neomalthusianismo e reformistas) | Ricardo Marcílio. Youtube, 3 de julho de
2020.Disponível em < https://youtu.be/uEXhfeA44W4?si=EO7vXF8jHnps1oRN>.
Acesso em 14/04/2024.

Pro Enem – Enem 2024. RESUMÃO DE GEOGRAFIA: TEORIAS


DEMOGRÁFICAS | Prof. Leandro Almeida. Youtube, 21 de março de 2019.
Disponível em < https://youtu.be/L2qSkNBYTSM?si=lk6ZWCogQ6ug3bCV>. Acesso
em 16/04/2024.

CALVACANTI, Gabriela. Teoria Neomalthusiana: o que é, características e


diferença da Malthusiana. Estratégia Vestibulares. Disponível em:<
https://vestibulares.estrategia.com/portal/materias/geografia/teoria-neomalthusiana-
caracteristicas-diferenca-da-malthusiana-e-mais/>. Acesso em 14/04/2024.

Mundo Educação. Teoria Neomalthusiana. Disponível em: <


https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/teoria-neomalthusiana.htm>. Acesso
em 14/04/2024

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