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MARGATO
Lígia Pinheiro ISSN: 2317-1308
Abstract: Coping with violence involves multiple actions by different agencies in order to
achieve satisfactory levels of results and control. Legislative power, as an agent of legal norms,
has its role in this contribution. Thus, the normative innovation, object of study, seeks to expand
the performance of security forces, especially the Military Police, in the protection of victims of
domestic violence, through the implementation of immediate protective measures, even before
the appreciation. of the judiciary.
Keywords: Domestic Violence. Protective measures. Military police
.3”
Introdução
Em 13 de maio foi sancionada a Lei nº 13.827/19 que altera a Lei nº11.340/06 –
Lei Maria da Penha -, trazendo inovações legislativas que podem
-
, cada vez
mais, um fenômeno social que atinge governos e populações, tanto global quanto
localmente, no público e no privado, estando seu conceito em constante mutação 4”
1
É oficial da Polícia Militar do Estado de são Paulo, Mestre em Segurança e Ordem Pública pelo Centro
de Altos Estudos em Segurança da Polícia Militar.
2
É oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Mestre em Direito pela FMU, professor de Direito
Constitucional na APMBB.
3
Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU, Um mundo livre da violência contra as mulheres, 1999.
4
JESUS, Damásio de. Violência contra a mulher: aspectos criminais da Lei n. 11.340/2006, 2ª edição,
São Paulo: Saraiva, 2015. p.7.
5
Vigorou no Brasil, no que se refere aos crimes, até a edição do Código Criminal do Império de 1830.
6
Ordenações Filipinas. Livro V, Título XXXVIII.
7
Código Penal do Império
Art. 219. Deflorar mulher virgem, menor de dezasete annos.
Penas - de desterro para fóra da comarca, em que residir a deflorada, por um a tres annos, e de dotar a
esta.
Seguindo-se o casamento, não terão lugar as penas.
8
Código Civil – 1916
Art. 6. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I. Os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos.
II. As mulheres casadas, enquanto subsistir a sociedade conjugal.
III. Os pródigos.
IV. Os silvícolas.
9
Igualdade na visão Aristotélica de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de
sua desigualdade.
10
Marcelo Novelino. Direito Constitucional. p. 392.
11
Fernandes, Valéria Diez Scarance . Lei Maria da Penha: O Processo Penal no Caminho da
Efetividade. p. 15.
12
CRFB - Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
13
CRFB - Art. 5º inc. I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
14
CRFB - Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
...
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
2. Inovação Legislativa
Em 13 de maio de 2019 foi publicada a lei 13.827 que altera a lei 11.340/06 e
confere ao policial (militar ou civil) a possibilidade de aplicar medida protetiva à
mulher, nas localidades que não forem sedes de comarca, para os casos de atual ou
ainda iminente risco à vida ou à integridade física em situação de violência doméstica e
familiar, ainda que seja a seus dependentes, determinando o afastamento imediato do
agressor do lar.
Cabe destacar que dos 645 municípios no Estado de São Paulo, 331 não são sede
de comarca17 (vide anexo), e assim, se não houver delegado de polícia no momento da
violência atual ou iminente, contra à mulher ou seus dependentes, o Policial Militar
poderá determinar o afastamento do agressor do seu lar, por força da inovação
legislativa ora citada, em especial o artigo 12-C e seu inciso III.
Segue abaixo íntegra da publicação:
15
Decreto nº 4.377, de 13 de setembro de 2002.
16
Decreto nº 1.973, de 1º de Agosto de 1996.
17
Comarca é a extensão territorial em que um juiz de direito de primeira instância exerce sua jurisdição.
Corresponde ela, assim, à jurisdição de um tribunal judicial de primeira instância, quer com competência
genérica, quer com competência especializada (cível, criminal, etc.). Seu conceito remete a um critério
estritamente judiciário.
3. Alcance da norma
A inovação apresentada pela lei 13.827/2019 mostra-se atualizada e condizente
com a leitura contemporânea de atuação das polícias militares. A competência
constitucional da polícia militar é extremamente ampla. Senão vejamos:
18
Lançamento do programa SOS Mulher: http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/governo-de-sao-
paulo-lanca-aplicativo-sos-mulher/
19
Lazzarini, Álvaro, A Segurança Pública e o Aperfeiçoamento da polícia no Brasil, Revista de Direito
Administrativo. Rio de Janeiro. Abr./Jun. 1991. p. 52
20
Recurso Extraordinário 1.051.393/SE, já transitado em julgado
Conclusão
As ações afirmativas são medidas de Estado aplicadas em reconhecimento a
necessidade de tratamento desigual aos desiguais, em razão da sua hipossuficiência. A
mulher, por seu gênero, foi historicamente fragilizada e tratada de modo diferente
quando comparado com os homens. Ainda que a atualidade permeie um cenário de
maior conforto e tratamento igualitário, as consequências históricas permanecem e são
por elas que por vezes o legislador insere dispositivos legais que buscam mitigar as
diferenças.
A propositura, objeto desse estudo, vai nesse diapasão, invertendo
imediatamente o polo de interesse. Assim, ao invés da mulher que sofreu a violência
buscar o judiciário para sua proteção, ela será concedida imediatamente (nos casos já
elencados), cabendo ao agressor recorrer ao judiciário e produzir as provas e
conhecimento que bem prouver para demonstrar o contrário.
O grande facilitar e garantidor da real aplicação dos direitos humanos à mulher
vítima de violência passa a ser potencialmente o policial militar. Extensão do Estado em
todas as cidades, 24 horas por dia. Permitindo, imediatamente, que aquela família ora
objeto de brutalidade, possa, minimamente, reestabelecer sua paz. A ordem normativa
infraconstitucional aquiesce e caminha conjuntamente com a ideia proposta pelo
constituinte, ao ampliar, de modo substancial, a competência das polícias militares, face
ao jaez de sua atuação e capilaridade de alcance.
21
(10) LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Vol. 1. Rio de Janeiro: Impetus, 2011. p.
462.
ANEXO